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Universidade de Brasília JOSLEA SILVA RODRIGUES O ENSINO DO ESPORTE EM ESCOLAS DA ZONA RURAL DE SÃO LUÍS-MA São Luís-MA 2007

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Universidade de Brasília

JOSLEA SILVA RODRIGUES

O ENSINO DO ESPORTE EM ESCOLAS DA ZONA RURAL DE SÃO

LUÍS-MA

São Luís-MA

2007

JOSLEA SILVA RODRIGUES

O ENSINO DO ESPORTE EM ESCOLAS DA ZONA RURAL SE SÃO

LUÍS-MA

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Prof. Ms. Alex Fabiano Santos Bezerra

São Luís

2007

RODRIGUES, Joslea S.

O ensino do esporte em escolas da zona rural de São Luís-MA. São Luís, 2007.

38 p.

Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007.

1. Esporte escolar 2. Ensino 3. Zona rural.

JOSLEA SILVA RODRIGUES

O ENSINO DO ESPORTE EM ESCOLAS DA ZONA RURAL DE SÃO

LUÍS-MA

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:

Presidente: P

U

Membro: Professor Doutor PAULO HENRIQUE AZEVEDO

São Luís (MA), 04 de julho de 2007.

rofessor Mestre ALEX FABIANO SANTOS BEZERRA niversidade Federal do Maranhão

Universidade de Brasília

A Deus e Jesus Cristo nosso Senhor. A meus pais, pelo grande incentivo a todo instante.

AGRADECIMENTOS

A Deus e Jesus Cristo nosso Senhor pela vida e os caminhos guiados.

Aos meus pais pelo amor, dedicação, incentivo, confiança e apoio em minha vida.

Ao meu orientador e amigo Prof. Ms. Alex Fabiano Santos Bezerra, que muito contribui para

meu amadurecimento pessoal e profissional, por sua valiosa orientação, compreensão,

paciência, dedicação, incentivo e respeito.

Aos meus irmãos pelo carinho e apoio.

A meu namorado André Machado pela dedicação, companheirismo e presença constantes

nesta caminhada.

Ao Ministério do Esporte pela oportunidade de participar de um curso de especialização à

distância.

Aos professores Omar Cutrim e Iran Cabral pela colaboração na produção deste trabalho.

A todos aqueles que, direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração desta

monografia.

"A exuberância do conhecimento científico vai, freqüentemente, lado a lado com uma total penúria de sabedoria"

Rubem Alves

RESUMO

O processo de ensino do conteúdo Esporte nas aulas de Educação Física em escolas da zona

rural da cidade são Luís-MA constitui o objetivo deste estudo, especificamente o modelo de

esporte aplicado em escolas da zona rural, o nível de participação em competições esportivas,

a metodologia aplicada ao ensino dos esportes e os elementos de inclusão social que foram

estudados anteriormente, tendo um resultado satisfatório, neste abordamos os elementos de

inclusão social proporcionados à partir dos esportes como principal foco de estudo. A

pesquisa envolveu um delineamento descritivo em duas escolas da zona rural da cidade de

São Luís, participaram do estudo dois professores de Educação Física, utilizamos como

instrumento de análise uma entrevista semi-estruturada destinada aos professores de Educação

Física, com o objetivo de analisar sua metodologia e conteúdos trabalhados referentes às aulas

ministradas, bem como a política de ação da escola. Além disso, foram realizadas num total

de 3 observações das aulas com os alunos. Os resultados apontaram que o esporte na zona

rural vem sendo realizado de forma satisfatória, onde o esporte tem recebido um trato

pedagógico, incluindo elementos como, diversificação de movimentos, a cooperação, a

autonomia, e claro a inclusão. Conclui-se que apesar de algumas dificuldades enfrentadas no

meio rural, como a ausência de matérias esportivos, de espaço físico nas escolas para as

práticas esportivas, ou seja, a uma grande carência de políticas sociais voltadas

principalmente para as atividades de esporte e lazer, ainda encontramos um bom trabalho

sendo realizado em prol do esporte escolar.

PALAVRAS CHAVE: Esporte escolar; ensino e zona rural.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 8

1.1 O problema............................................................................................................ 10

1.2 Objetivos................................................................................................................ 10

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................. 10

2.1 instituição escolar e educação física...................................................................... 10

2.2 O esporte no contexto escolar................................................................................ 18

2.3 O esporte no município de São Luís-MA .............................................................. 22

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................................................. 23

3.1 Universo da pesquisa............................................................................................. 23

3.2 Característica da pesquisa...................................................................................... 23

3.3 População alvo ....................................................................................................... 23

3.4 Instrumentos de análise .......................................................................................... 24

3.5 Procedimento de coleta de dados ........................................................................... 24

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...................................................... 25

4.1 O ensino dos esportes ............................................................................................. 25

4.2 O futebol nas aulas de educação física .................................................................. 27

4.3 Trato pedagógico dado à competição..................................................................... 29

4.4 Recursos materiais e espaços destinados ao ensino dos esportes........................... 30

5 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 32

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 34

APÊNDICES................................................................................................................. 38

1 INTRODUÇÃO

1.1 O Problema

No Sistema Educacional brasileiro, que ainda possui um quadro de grande

precariedade, são as escolas da zona rural que mais sofrem com esta disparidade,

principalmente em relação ao material humano disponível para o trabalho pedagógico, à infra-

estrutura e a falta de condições de trabalho, ou seja as escolas da zona rural recebem pouca

assistência de políticas públicas sociais. Há uma grande carência de políticas sociais voltadas

principalmente para as atividades de esporte e lazer.

Outro fator que contribui para o grande abismo social entre o rural e o urbano é a

falta de acesso à educação que a população tem, sendo isto verificado pelo baixo nível de

instrução. Esse acesso se dá de maneira mais fácil em regiões economicamente rentáveis,

onde existe um retorno de capital, deixando um excedente a ser utilizado para a educação, não

ocorrendo o mesmo em regiões mais esmas. Este problema tem raízes históricas, pois o meio

rural brasileiro, até o fim do século XX, era essencialmente composto por latifúndios.

Existe uma grande evasão ou falta ao trabalho, pouco interesse em lecionar nesses

locais, por parte dos professores, em relação às escolas da zona rural, isto ocorre devido à

distância, o que acarreta dificuldades financeiras e em relação ao tempo de deslocamento.

Além de todos os entraves administrativos citados acima, no que se refere

diretamente ao esporte, poucas são as iniciativas tanto por parte do governo, assim como da

gestão escolar, no sentido de diversificar as atividades esportivas uma vez que elas se limitam

somente à prática de Futebol. A falta de material didático dificulta o trabalho pedagógico com

outras atividades, que estimulam tanto o aspecto físico como o aspecto psicológico dos

alunos, uma vez que diversificam as atividades e trabalham com o lúdico.

Por outro lado, o meio rural possibilita certas vantagens que facilitam a prática

pedagógica do esporte, como espaço físico disponível, o interesse dos alunos em participarem

das atividades propostas, como também o envolvimento da comunidade nas ações sociais da

escola.

Hoje, o esporte é considerado um dos maiores fenômenos sociais desde o último

século. Este processo contribuiu para que o esporte adquirisse múltiplas possibilidades,

despertando interesse em vários setores como, o setor político, o econômico, o social, o

cultural, o educacional, entre outros.

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O presente estudo destina-se a analisar e enriquecer o processo de ensino-

aprendizagem do esporte escolar na zona rural, buscando a compreensão sobre o

desenvolvimento, o sentido e os significados do ensino do esporte em instituições escolares.

Considerando que a iniciação à prática esportiva se dá na maioria das vezes no

âmbito escolar e, normalmente em forma de atividade extracurricular, é onde verificamos que

são nestes ambientes que podem ser encontrados fatores positivos e negativos no que

constituem atualmente a problematização do tema. Esta é uma realidade de São Luís-MA,

principalmente na zona rural, onde as escolas são as principais responsáveis pelo ensino do

esporte, principalmente relacionadas à iniciação de crianças e jovens nas mais variadas

práticas esportivas.

Nesta perspectiva, dentre as escolas que possuem um trabalho sistemático com o

esporte escolar no município de São Luís-MA, podemos citar as escolas particulares, que

utilizam o esporte como instrumento de marketing, mas são nas escolas públicas que realizam

programas voltados para o ensino do esporte que verificamos um trabalho de inclusão social,

onde abrange não só os alunos, mas toda comunidade.

O tema desperta vários debates teóricos, mas especificamente sobre os pontos

positivos e negativos do esporte. No primeiro caso o esporte é visto como a salvação para os

problemas sociais, políticos, econômicos e culturais, já no segundo, enxerga-o como

regulador da sociedade, mascarando toda essa problemática. E em outras discussões, as

críticas ao esporte se baseia em aspectos como exclusão, imposição de regras, padronizações e

alto-rendimento.

Tais constatações, por exemplo, foram adquiridas a partir da vivencia no Programa

Segundo Tempo, onde observamos diversos aspectos referentes à problemática do esporte e o

processo de inclusão social, além claro, do Curso de Especialização em Esporte Escolar

oferecido pelo Ministério do Esporte em parceria com a Universidade de Brasília – UNB, pois

proporcionou valiosas discussões sobre o ensino dos esportes no âmbito escolar.

Desta forma, há necessidade de compreender se o ensino do esporte tem apenas

trabalhado a simples repetição de movimento, de gestos, através da técnica e movimentos

táticos, visando apenas reprodução do modelo de esporte espetáculo, ou se existe realmente

um trato pedagógico com os alunos, contribuindo para sua formação.

Com isso, buscou-se no presente trabalho analisar o processo de ensino

aprendizagem do esporte, levando como referência o sentido e significado deste conteúdo da

disciplina Educação Física em escolas da zona rural do município de São Luís-MA.

10

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Analisar o processo de ensino do Esporte nas aulas de Educação Física em escolas

da zona rural da cidade São Luís-MA.

1.2.2 Objetivos específicos

• Caracterizar o modelo de esporte aplicado em escolas da zona rural;

• Levantar o nível de participação de escolas da zona rural em competições

esportivas;

• Analisar a metodologia aplicada ao ensino dos esportes;

• Verificar os elementos de inclusão social proporcionados à partir dos esportes.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica que serviu de base para este estudo dedicou-se à

questão da Instituição Escolar e da Educação Física, em seguida o Esporte no Contexto

Escolar e a Caracterização do esporte no município de São Luís.

2.1 Instituição escolar e Educação Física

A instituição escolar vem sendo questionada de acordo com suas maneiras de agir,

seja no sentido de absolver e aceitar imposições dos sistemas estatais ou com o que tem (re)

produzido aos alunos.

A escola que historicamente utiliza-se de métodos para o ensino de regras,

disciplina dos alunos, necessita hoje de uma modificação/transformação em busca de uma

autonomia. Temos que lembrar que as escolas não são iguais, cada uma deve agir de forma

diversificada e contextualizada. Uma escola oferecida à classe menos favorecida difere de

uma escola localizada em uma área de classe alta.

11

Estas diferenças são o que possibilitam à escola conquistar e desenvolver sua

autonomia, com capacidade de solucionar problemas existentes nos diferentes meios em que

estão inseridas, no caso dos jogos e esportes, ampliando as atividades escolares,

transformando o conteúdo em algo desejável pelos alunos.

A Educação Física, enquanto disciplina curricular do Sistema Educacional tem

buscado seu reconhecimento por parte dos alunos e educadores. O esporte que se configurou

um dos maiores fenômenos culturais desta sociedade no último século (TUBINO, 1991) tem

contribuído de maneira significativa, enquanto conteúdo da educação física, para endossar tal

afirmação.

No entanto a Educação Física foi acompanhada no decorrer da história de

inúmeros episódios, como diria Castellani Filho (1988) cenários de uma peça teatral, os quais

“usaram” esta disciplina para os mais diversos fins, e estes acompanhados de suas

problemáticas. Dentro destes “cenários” ora militarista, ora métodos ginásticos, ora

esportivização, ora aptidão física etc., constituíram a forma de pensar a Educação Física na

escola e na sociedade.

Faz-se necessário diante deste quadro, uma escola cidadã, onde vise o rompimento

com o modelo de sociedade que impõe, controla, exige, que vê as pessoas como

consumidores.

Desta forma, este processo tem levado várias mudanças no ensino da Educação

Física, onde as escolas levam para seu interior esta perspectiva. Como exemplo, podemos

citar as competições escolares, que buscam estratégias de marketing para conseguirem

patrocínio para suas equipes, sendo também um meio da escola promover sua imagem. Não

significa que a escola deixe de realizar competições ou participar destas, mas a maneira que

aderem a este processo, adotando fatores que podem prejudicar os alunos, como até mesmo o

treinamento esportivo visando a conquista do título sem ao menos problematizar/ tematizar o

esporte para que os alunos tenham um conhecimento deste conteúdo. “A própria prática das

aulas regulares sofre de alguma forma com esta influência, tendo em vista que os alunos e

também alguns professores buscam fazer de sua prática algo semelhante ao desporto

profissional”. (FARIA JÚNIOR, 1997, p. 53)

“ O que preocupa nesse fenômeno, além de comercialização do esporte no interior das escolas particulares, é a desqualificação de uma possível intervenção de caráter amplo e educativo do ensino de Educação Física sobre todos os alunos em favor de uma intervenção especializada e seletiva do treinamento desportivo na escola (mais próxima do que se faz em clubes esportivos), em que somente alguns alunos, aqueles considerados melhores técnica e fisicamente, são selecionados para participar (VAGO,1996 p. 11).

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A Educação Física é uma prática pedagógica que no âmbito escolar trabalha os

temas da cultura corporal, que são os jogos e brincadeiras, o esporte, as danças, a ginástica e

as lutas, conteúdos estes historicamente construídos pelo homem.

Especificamente, os esportes caracterizados por uma construção histórica, foram

originados por influência e evolução de vários jogos e brincadeiras. O futebol, por exemplo, é

um esporte construído por um interessante processo histórico-cultural. Este teve sua origem

marcada pelos jogos de bolas presentes na cultura lúdica da época de sua criação.

Vários fatos históricos marcaram e foram levantados através de questionamentos

para compreender a inserção da Educação Física na instituição escolar. Como exemplos

podemos citar as influências médicas e militares, questionamentos sobre as suas articulações

com teorias raciais que propugnavam a melhoria da raça, a sua adesão à psicomotricidade,

entre outros.

Com estas transformações históricas que a Educação Física enfrenta, os

professores perceberam a necessidade de ultrapassar a fase de questionamentos, visando a

formulação de outras possibilidades de construir e buscar novas formas de participação da

Educação Física na escola.

Desta forma, foram surgindo novas propostas de ensino da Educação Física,

através de secretarias municipais e estaduais de educação e também por grupos de estudiosos

da área.

Com as leis, diretrizes parâmetros, com propostas de ensino para a educação

brasileira, vive-se mais um grande momento histórico da Educação Física. Vejamos agora um

pouco sobre o percurso da educação física para se configurar enquanto componente curricular

da educação básica.

A inserção da educação física no currículo escolar foi influenciada por momentos

históricos fora do processo educacional que acabaram sendo inseridos na educação brasileira.

A Educação Física surge juntamente com o nascimento da escola na sociedade

moderna, com a burguesia, chamada de Ginástica, sendo bastante influenciada pelos métodos

ginásticos.

Historicamente sua legitimação foi dada por fatos ocorridos na sociedade. O

primeiro argumento para justificar a presença da educação física na escola teve influência da

instituição médica, com discurso médico higienista e a Eugenia da raça, fundamentada por

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aspectos biológicos, anátomo-fisiológicos do corpo e dos movimentos que este realiza. Tinha

o intuito de regenerar a raça, defender a pátria, entre outros.

Outra influência muito marcante foi da instituição militar, onde militares

adotaram os métodos já iniciados na época. Segundo BRACHT (1992):

“(...) a instituição militar inclui historicamente a exercitação corporal com o objetivo do desenvolvimento da aptidão física e do que se convencionou chamar de “ formação do caráter” - auto-disciplina, hábitos higiênicos, capacidade de suportar a dor, coragem, respeito à hierarquia”. (p.10)

A contribuição do Regulamento n° 7 foi fundamental para romper a concepção

higienista e impulsionar a educação física Militarista. Sofrendo esta no final década de 30 e

início da 40, uma desmilitarização com a criação das primeiras escolas civis e de formação de

professores.

Com o fim da 2ª Guerra Mundial e da Ditadura do Estado Novo o fenômeno

esportivo rapidamente começa a se desenvolver no âmbito da educação brasileira. Sendo esta

uma outra marcante influência da Educação Física na escola.

Com isso, surgem os ditos movimentos “renovadores” (Coletivos de Autores,

1992), que inclui a psicomotricidade, que buscou a quebra da visão esportivizada da

Educação Física.

Observamos a influência das instituições (médica, militar, esportiva) para

legitimarem a presença da Educação Física na escola, no decorrer da história de acordo com o

contexto político da sociedade.

Desta forma, muitos são os argumentos utilizados pelos profissionais para

justificar a inserção da educação Física no currículo escolar. As principais categorias

levantadas por Bracht (2003) são:

1 Formação intergral do ser humano – tem como esforço relacionar a idéia de

formação global do ser humano, defende a concepção de ser humano total, com a intenção de

fugir da dicotomia entre corpo e mente. Desta forma, utiliza o argumento da formação

integral, alegando que a Educação física não é só cuidar do corpo, do físico, mas sim do todo.

Sendo que este argumento não é exclusivo desta disciplina, não podemos dizer que a

educação física vai contribuir para a formação integral do ser humano, porque não é somente

ela que trabalha com esta perspectiva. Observamos assim, que somente este argumento não

serve para justificar a importância da educação física na escola.

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2 Categoria da Socialização – está acoplada ao ensino do esporte, sendo este

considerado como tendo um papel socializador entre os alunos. Alegam que a Educação física

é importante na escola por que os alunos vão se socializar através do esporte. Este argumento

utilizado por esta categoria dá uma interpretação de que somente a Educação Física trabalha

socialização, como se nenhuma outra disciplina também trabalhasse.

3 Argumentos a partir de uma lógica generalizante: “formação do cidadão

crítico”; “EF centro da vida escolar” – nesta categoria a “Educação Física é construída com

um tom generalizante que, em alguns casos, chega a uma supervalorização deste componente

curricular” (BRACHT, 2003, p. 58)

4 Inserção num projeto interdisciplinar – esta justifica a Educação Física na

escola como sendo uma auxiliar na aprendizagem de outras disciplinas, utilizando-se da

educação psicomotora.

5 Argumento da compensação - coloca que a importância da Educação física é de

compensar as atividades de sala de aula.

Estas categorias camuflam a dificuldade do professor caracterizar a especificidade

da Educação Física, nenhum destes argumentos explica o que é específico da Educação Física

e sim somente para que serve.

A Educação Física vem buscando historicamente argumentos para se justificar no

currículo escolar. Passando por aspectos da legalidade e legitimidade. (Ibid). Legalidade

como argumento da força, onde dá o caráter legal para a inserção desta disciplina na escola,

ligada às leis que a determina. A legitimidade é a força do argumento, neste caso, ligado a que

argumentos utilizamos para justificar a presença da Educação Física na escola.

A perspectiva para superar o problema da legitimidade da educação física no

currículo escolar é uma tarefa permanente, tendo uma necessidade de afirmá-la como uma

disciplina nos molde da organização dos currículos.

Então , qual deve ser a identidade da educação Física na escola? Qual o saber

próprio da Educação física ou sua especificidade na escola?

Para entender o que é Educação Física na escola é necessário entender a sua

construção histórica, pois a Educação física é uma prática social historicamente construída.

Para isso precisamos fazer uma discussão de cunho epistemológico sobre as três

concepções de objeto de estudo da Educação física, que Brach (2003) as classificam da

seguinte forma:

1 Atividade Física, Atividade físico-esportivas e recreativas – justificam

que a função da Educação Física é o desenvolvimento da aptidão física, a partir de

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atividades físicas, buscando fundamentos da concepção médica, biológica. Utiliza o

argumento de que somente a EF desenvolverá a aptidão física, o condicionamento físico

dos alunos;

2 Movimento humano, movimento corporal humano, motricidade humana

– para esta concepção, a única disciplina que trabalha o movimento humano é a EF.

Concepção esta fruto da aprendizagem motora, com influência da Psicologia. Utiliza-se

do argumento de que a EF é para auxiliar as outras disciplinas, trabalhando noções de

espaço, tempo, etc;

3 Cultura Corporal, cultura corporal de movimentos ou cultura de

movimento – enfatiza que temos um conhecimento clássico, construído historicamente,

culturalmente, que são os temas da cultura corporal. Utiliza o argumento de que os

alunos têm que ter acesso à todos os conteúdos, têm que saber jogar, dançar, e ao

mesmo tempo saber por que brincar, por que dançar.

A diferença entre a segunda e a terceira concepção é que para a segunda o

movimento é natural, é da natureza humana, descontextualiza o movimento da sua cultura,

entende o movimento fora do contexto cultural. Já a terceira acredita que o movimento é

construído historicamente. Historicamente o homem vem sistematizando-o.

O aspecto da legislação foi determinante para legalizar a Educação física na

escola.

A primeira referência legal para o ensino da Educação Física foi em 1885, através

do regulamento da Instrução Primária e Secundária no Município da Corte, estendida ao Rio

de janeiro no Colégio Pedro II, exigindo os exercícios ginásticos.

A constituição de 1937 fez referência que nenhuma escola funcionaria se não

oferecesse a EF como obrigatória. A Lei n° 6251/75 cria normas gerais sobre o esporte, com

objetivos da melhoria da aptidão física da população, aumento da população estudantil e

popular nas práticas esportivas e o aprimoramento técnico dos esportistas para melhorar o

desempenho das representações nacionais, mostrando uma imagem de um Brasil em

desenvolvimento. A Educação Física passa a ter um decreto lei especifico, que normatizava

desde a sua concepção, conteúdos e organização deste.

A partir daí a Educação Física passa por influências críticas, a nova Lei de

Diretrizes e Bases –LDB n° 9394/96 extingue o decreto, onde dizia que a Educação Física era

uma atividade, a nova lei flexibiliza a organização do ensino da EF e a entende como

componente curricular da educação básica. Esta lei destina um único parágrafo do artigo 26,

estabelecendo que:

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3° A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos.

Os estudiosos da área explicam três processos relacionados à nova lei, são eles: o

da Inserção; permanência e exclusão. (SOUSA, 1997)

Inserção – a lei anterior não fazia referência à presença da EF na educação infantil,

a nova lei, diz que é obrigatória a oferta da EF na educação infantil.

Permanência – permanece a EF no Ensino Fundamental e Médio

Exclusão - educação de Jovens e adultos (não faz nenhuma referência ao ensino

supletivo) e Educação Superior (fica a critério de cada universidade)

Nos cursos noturnos acabou o caráter obrigatório, sendo que a escola não oferece,

e se oferecer o aluno não é obrigado.

Com relação à concepção de Educação Física a nova lei não dispensa ninguém,

por que não é mais consideradas atividade, e sim componente curricular. Na categoria

avaliação o que mudou da antiga para a nova, foi que para a lei anterior a EF tinha que fazer a

verificação do controle de freqüência (75% de presença nas aulas), não tinha verificação de

conhecimento, já que era considerada atividade. A nova lei separa verificação do

conhecimento do controle de freqüência. O aluno tem direito de freqüentar 75% do total da

carga horária escolar. Desta forma, o aluno pode faltar todas as aulas de EF e não ficar

reprovado, se continuar somente pelo critério de freqüência há a possibilidade da EF

desaparecer.

Após dois anos da promulgação da nova LDB, o Conselho Nacional de Educação,

através de sua Câmara de Educação Básica, instituiu em 1998 outro dispositivo legal, que são

as Diretrizes Curriculares nacionais para o Ensino Fundamental. Estas são compostas por um

conjunto de definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedimentos da

Educação Básica, consideradas obrigatórias para a fundamentação das práticas pedagógicas

das escolas do Ensino Fundamental.

A atitude do Conselho Estadual de Educação do maranhão, que através do parecer

nº 028/2002-CEE, reafirmou a obrigatoriedade da Educação Física no âmbito escolar, devido

a um fato polêmico em uma escola estadual, o Complexo Educacional Governador Edson

Lobão – CEGEL, sobre reprovação de alunos na disciplina educação Física.

Com os ordenamentos legais citados acima, percebemos que ainda se faz

necessário o argumento da força da lei, como meio de inserção da educação Física na grade

curricular.

17

È na flexibilização da lei, nas incertezas, nas lutas incansáveis de professores a

educação física está inserida na escola, tentando a todo instante encontrar-se num tempo e

espaço pedagógico, visando conquistar sua legitimidade enquanto componente curricular.

Devemos ressaltar a importância das tendências pedagógicas da prática escolar, a

Pedagogia Liberal e a progressista defendida por Libâneo (2003) e a pedagogia histórico-

crítica e educação escolar que é defendida por Saviani (1995), que é também chamada de

Pedagogia Dialética, sendo de preferência do autor a denominação de Pedagogia Histórico-

crítica, já que o outro termo, há diferentes interpretações, uma é que é deslocada do

desenvolvimento histórico real, outra como troca de idéias, contraposições de opiniões, entre

outras.

Mas o objetivo neste momento não é discuti-las ou analisá-las profundamente, mas

sim destacar a contribuição dada para a construção de Concepções e tendências da

Educação Física Escolar.

A partir destas concepções vários autores foram se identificando e tornando-se

adeptos de outras abordagens surgidas com o desenvolvimento do conhecimento produzido na

Educação Física

Um fato ainda bastante discutido é a questão das abordagens pedagógicas da

Educação Físicas Escolar, oriundas das críticas ao modelo tradicional e mecanicista da

educação física, sendo que cada uma defende tal disciplina de acordo com sua temática

principal.

Segundo Darido (2003) As principais abordagens são, a Desenvolvimentista,

Construtiva, Crítico-superadora, crítico-emancipatória e a Sistêmica, onde têm em comum,

como já citado acima, o rompimento com o modelo mecanicista.

Também não temos o intuito de aprofundá-las, mas iremos ressaltar como cada

uma delas abordam o conteúdo esporte.

A desenvolvimentista que tem como colaborador o professor Go Tani, destaca que

os conteúdos devem progredir das habilidades básicas para as mais complexas.

Na construtiva, defendida pelo professor João Batista Freire tem como temática

principal a cultura popular, o jogo e o lúdico. Tem o jogo como método mais importante para

se ensinar, pois ao mesmo tempo em que joga, brinca e aprende.

Segundo a crítico-superadora a educação física é uma área de conhecimento que

trata da cultura corporal, tematizando os jogos, o esporte, a ginástica e as danças. Sendo o

trabalho mais importante publicado desta abordagem o livro “Metodologia do Ensino de

Educação Física” do Coletivo de Autores (1992).

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Na abordagem critico-emancipatória que tem como defensor Elenor Kunz, tem

como objetivo transformar pedagogicamente e didaticamente ensino do esporte, de forma a

refletir sobre a prática e emancipação dos educandos.

E por fim, a sistêmica tem como colaborador o professor Mauro Betti. De acordo

com esta abordagem, as ações são trabalhadas de forma a introduzir o educando no mundo da

cultura física com a temática cultura corporal, usufruindo, reproduzindo e o seu caráter

cultural, através de vivências do esporte, da ginástica, da dança e dos jogos.

A parir destes conhecimentos os professores têm mais facilidade em realizar a

prática pedagógica adequada ao contexto em que está inserida. Em tentar elaborar um

conceito da educação física enquanto disciplinar curricular relacionada à sua vivência

profissional.

É necessário que os professores se identifiquem com algumas das abordagens

citadas (ou não, mas que pelo menos justifiquem a sua prática pedagógica, já que não é adepto

de tais abordagens, significando que estão em busca de outras que as justificam). Pois estas

lhes proporcionam um esclarecimento dos fatores que envolvem a Educação Física na escola.

Desta forma, os professores de educação física precisam de algo que sustentem a

sua prática e organização, de modo a proporcionar aos alunos um trabalho direcionado e com

objetivos definidos.

Educação Física é, portanto, uma prática pedagógica e social que tem como objeto de estudo o movimento corporal humano, que se expressa por meio do jogo, do esporte, da ginástica, da dança e da luta. É uma prática que buscar desenvolver e construir este movimento enquanto conhecimento, expressão, prazer, integração pessoal e social, de modo questionador/transformador. O conhecimento de que trata a Educação Física se refere à cultura corporal/movimento (JEBER, 1997, p.123) .

2. 2 O esporte no contexto escolar

A escola é um lugar de produção de cultura, e claro a Educação Física não deixa

de está neste processo, sendo a única disciplina curricular que proporciona o acesso à cultura

corporal, onde o esporte como elemento construído historicamente e praticado culturalmente

na sociedade deve ser escolarizado e incorporado à cultura escolar (VAGO, 1996).

O esporte globalizado definido por Bitencourt (1997) como fenômeno moderno é

considerada uma mercadoria manipulada pela indústria cultural. Esta indústria se apropria do

esporte e transfere à sociedade imagens, idéias, mitos e símbolos de grandes atletas, que

vendem apoiados nestes enfoques, vários carros, cigarros e cervejas, ou seja, a indústria se

19

utiliza do desempenho do atleta no esporte e passa a vender mercadoria, tirando assim a

liberdade dos atletas, ficando dependentes dos interesses dos grandes empresários, se

transformando em objeto da indústria de consumo.

Enquanto objeto da indústria cultural e da cultura de consumo, o esporte

globalizado tem ditado as normas de sua prática em diferentes instâncias (Ibid., p. 94).

Uma delas é o da educação, e mais precisamente o da Educação Física Escolar, onde o

esporte que é um dos conteúdos desta disciplina, é trabalhado em uma ótica do modelo

neoliberal. Sendo que escolas, principalmente particulares, utilizam-se do processo de

terceirização, definido por Vago (1997, p. 11) como “uma proliferação demasiada das

chamadas escolinhas de esporte, também chamado treinamento desportivo”.

Nas grandes estratégias do modelo neoliberal em relação á Educação Física

podemos citar também o marketing esportivo, como exemplo, nada melhor que o futebol

para expressar esta mercantilização. O futebol movimenta a economia, a política de uma

sociedade capitalista que se utiliza deste para gerar lucro. Não que exista somente aquele

futebol jogado nos campinhos dos bairros, nas escolas, nas ruas entre outros. Mas o que

predomina no mercado financeiro é o futebol espetáculo, que se tornou uma forma de

exploração pelo marketing.

O marketing passa ao consumidor a idéia de que o esporte tem “uma imagem,

considerada positiva, de saúde, jovialidade, coragem, audácia, alegria dentre outros”.

(Faria Júnior, 1997, p. 53). Sendo que esta ligação positiva do esporte com a saúde pode

ser enganosa e prejudicial a esta, como o autor coloca.

O esporte como fenômeno social transformou-se em um produto cultural

valorizado mundialmente, principalmente no sentido econômico. Vários são os investimentos

visando melhores resultados. Este exerce forte influência na sociedade e conseqüentemente é

influenciado pela mesma. Sociedade esta de consumo, que visa a acumulação do capital, o

lucro. Diante disto, o esporte é tratado como mercadoria.

O esporte espetáculo repercute nas aulas de Educação Física, mas claro que isto

depende de certa forma do professor responsável por esta disciplina que deve ter uma posição

crítica aos fatores políticos, econômicos e sociais que envolvem este fenômeno. Com isso

deverá direcionar um trabalho fazendo com que os alunos também entendam este processo

dentro do contexto em que estão inseridos, ou seja, a realidade vivida pelos alunos, sejam eles

pertencentes à classe dominante ou classe trabalhadora, sendo que o enfoque não será igual,

20

mesmo por que os objetivos das classes são totalmente diferentes, uma visando a manutenção

da ideologia dominante e a outra a transformação social.

O esporte inserido na cultura escolar tem sido tratado como mercadoria de uma

sociedade capitalista, incorporando valores definidos pelos seguidores deste modelo, como

por exemplo a competição, a performance, a seleção, a conquista de títulos, entre outros. Pelo

menos as práticas culturais esportivas estão dentro da escola, mas o tratamento dado por esta

instituição para o esporte é bastante questionável. É necessário que os profissionais da

Educação Física Escolar tomem consciência de seu papel nesta instituição, o de produtores de

cultura, o que é um desafio diante do processo dominante.

Os alunos são influenciados pelo Esporte Globalizado no momento em que este

desperta um mundo imaginário, criando e recriando situações que não condizem com o

contexto em que estão inseridos. A vontade de vencer, de conquistar títulos, de se tornar um

campeão conhecido mundialmente, de crescer financeiramente através do esporte é passada

pelo marketing esportivo, que ver isto como forma de mobilizar pessoas para compra de

determinada mercadoria, seja um tênis, um boné, um carro, até mesmo um cigarro, uma

cerveja (VAGO, 1996).

Desta forma, é necessário que os professores de Educação Física incorporem uma

posição crítica às questões relacionadas ao modelo neoliberal para discuti-las com seus

alunos, questionando até que ponto isto é relevante e necessário para a formação humana.

O esporte é muitas vezes confundido com a Educação Física, porém o esporte

pertence à Educação Física que é a disciplina pedagógica aonde ele é trabalhado. Na

Educação Física Escolar o esporte tem sido ou foi o centro de debates por várias décadas, pelo

motivo de que foi o conteúdo hegemônico das aulas; por se tornar a expressão dominante da

cultura corporal de movimento no mundo moderno; pela sua alegada contribuição para a

educação e a saúde que era uma das bases de legitimação da área; porque a escola era vista

como uma via de contribuição para o desenvolvimento das “bases” e porque surgiram dúvidas

quanto ao valor educativo do esporte (ibid).

O esporte é um fenômeno sócio-político-cultural, é um elemento construído

historicamente pelo homem e está culturalmente presente na sociedade da

humanidade.(TUBINO, 1992)

Nas instituições de ensino, o esporte é importante por vários motivos, por ser um

dos conteúdos da educação física, de ser a escola uma agência de promoção e difusão da

cultura e até mesmo por uma questão de justiça social, uma vez que em outras agências o

21

acesso ao esporte será restrito a um número reduzido de crianças e de jovens clientes de

academias e/ou de escolas de esportes (VAGO, 1996)

Para este autor, a influência do esporte no sistema escolar é de tal magnitude que

temos, então, não o Esporte da escola, mas sim o esporte na escola. Isso indica a subordinação

da educação física aos códigos/sentido da instituição esportiva, caracterizando-se o esporte na

escola como um prolongamento da instituição esportiva. O esporte determina, dessa forma, o

conteúdo de ensino da Educação Física, estabelecendo também novas relações entre professor

e aluno, que passam da relação professor-instrutor e aluno-recruta para a de professor-

treinador e aluno-atleta.

O esporte com seus princípios do esporte de alto rendimento continua sendo fator

determinante nas aulas de Educação Física sobre os demais temas da cultura corporal como a

ginástica, o jogo, a dança e as lutas.

Segundo Vago (1996) o esporte, hoje na escola necessita de uma re-significação

ou uma re-estruturação considerando a importância e riqueza desse conteúdo para as aulas de

Educação Física e para a formação humana.

Devemos lembrar que, a crítica não é ao esporte em si, mas ao modo como ele é

tratado e ensinado na escola. A busca incessante pelo rendimento é o que definitivamente não

cabe ao esporte escolar, este deve contribuir de forma mais positiva para a formação geral dos

alunos e não apenas aos aspectos técnico/ tático esportivo.

No âmbito escolar, o esporte será oferecido na mesma proporção que os outros

componentes da cultura corporal de movimento, como os jogos e brincadeiras, as danças,

ginástica e as lutas e os alunos devem vivenciar ou experimentar e não treinar assiduamente

os esportes.

O esporte enquanto conteúdo da educação física Escolar tem grande significância

pedagógica, e não deve reproduzir os valores do esporte-espetáculo, do esporte de alto-

rendimento, mas sim, assumir valores, como a inclusão de todos na sua prática, favorecendo

ao ensino valores morais e sociais preparando-os para a vida, possibilitar situações prazerosas

e marcantes, contribuir para aquisição do gosto pela prática esportiva e pela atividade física.

(Ibid).

Desta forma, cabe ao professor de Educação Física incorporar uma visão mais

critica, que se preocupa e também dispor de maior tempo para discutir sobre questões que o

esporte-espetáculo fornece, oferecendo aos alunos situações-problema para irem em busca de

uma resposta, realizar conversas com os alunos ter conhecimento dos interesses e

22

necessidades dos mesmos naquela aula e possibilitar espaço para que consigam se expressar e

desenvolver uma visão crítica as questões levantadas.

2.3 Esporte Educacional no município de São Luís-MA

A tentativa de realizar o esporte Educacional em nosso município vem de muitos

anos, tendo envolvimento em programas como, Esporte Para Todos, Esporte Solidário e o

Segundo Tempo. Elaborar programas de esportes é uma meta de todo o estado, mas vários são

os argumentos para justificar a ausência deste nos municípios, tais como, falta de estrutura

física, financeira, entre outros.

Não basta simplesmente realizar jogos, torneios para dizer que há o esporte

educacional, é necessário realizar todo um estudo na área, elaborar, planejar e claro, executar,

buscando trabalhar todos os seus PRINCÍPIOS, tais como, totalidade, co-educação,

emancipação, participação, cooperação e regionalismo.

O esporte só pode ser instrumento de alguma questão maior se for conduzido por

uma pedagogia de qualidade e ainda não chegamos a este estágio, claro, sem esquecer dos

profissionais que tentam fazer de sua prática algo nestes moldes.

O conceito de esporte educacional na escola poderia ser perfeitamente substituído

por esporte escolar. O fato de estar mais vinculado ao sistema esportivo e não ao sistema

educacional/ escolar pode não ser uma potencialidade. Aqui é importante destacar que o

sistema esportivo, dependendo da metodologia utilizada poderia ser traduzido em

potencialidade.

No âmbito nacional, as políticas nacionais para o esporte educacional se deparam

por dois momentos relacionados à implantação de programas para o Esporte Escolar. Tais

como, o Programa Esporte na Escola, o Projeto Esporte Brasil que tinham a escola como um

"Celeiro Esportivo", de onde surgiriam expoentes para o esporte de alto rendimento com

representação nacional e a idéia de um “Brasil potência olímpica”.

Tais programas não tinham em sua essência os princípios do esporte educacional.

Foram citados neste estudo, pois contribuiu de diversificadas formas para o modelo de esporte

que vem sendo trabalhado em escolas do Maranhão.

23

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Universo da pesquisa

A pesquisa foi realizada em duas escolas, uma (01) da rede estadual e uma (01) da

rede municipal de ensino localizadas na zona rural de São Luís-MA, são elas: Centro de

Ensino Médio MÁRIO MEIRELES e Unidade de Educação Básica URUATI

respectivamente. Optamos em utilizar tais escolas por ser elas, entre as escolas públicas, onde

está concentrado um grande trabalho voltado para prática esportiva com participação em

jogos escolares.

3.2 Característica da pesquisa

Este estudo apresenta um delineamento descritivo qualitativo, haja vista, a

necessidade de se retratar o ensino do esporte em escolas da zona rural. Optamos pelo método

descritivo, como método a fim de analisar o processo de ensino do conteúdo Esporte nas aulas

de Educação Física em escolas da zona rural da cidade são Luís-MA. Desta forma, pode-se

dar um perfil através de um corte transversal por meio do conteúdo esporte ensinado em

escolas da zona rural.

3.3 População alvo

Participaram deste estudo, professores responsáveis pelo ensino dos esportes, bem

como os alunos regularmente matriculados nas respectivas escolas e os gestores. Para facilitar

nossa investigação designamos um total de 02 (duas) escolas do universo escolhido, para

participarem do estudo.

Concentramos nossas intenções nos professores de Educação Física responsáveis

pelo ensino dos esportes na escola.

Entre as 02 escolas que foram escolhidas pelo critério de escolha intencional, todas

as turmas de cada contexto, participaram exclusivamente do estudo. O processo de escolha da

24

amostra ocorreu de forma proposital, pois o universo a ser pesquisado apresenta-se bastante

limitado em escolhas.

3.4 Instrumentos de análise

Para obtermos as informações necessárias ao cumprimento dos objetivos da

pesquisa, utilizamos uma entrevista semi-estruturada destinada aos professores de Educação

Física, com o objetivo de analisar sua metodologia e conteúdos trabalhados referentes às aulas

ministradas, bem como a política de ação da escola. Além disso, foram realizadas num total

de 3 observações das aulas com os alunos, a fim de percebemos o envolvimento destes com as

práticas propostas. Nessa Ficha de observação concentramos o foco de atenção nos alunos, em

seu envolvimento/participação nas aulas, a relação entre os colegas e o professor.

3.5 Procedimentos de coleta de dados

Inicialmente entramos em contato com a Secretaria de esporte do estado do

Maranhão, as Secretarias Municipal e Estadual de educação, onde solicitamos documentos

com informações sobre a quantidade e endereços das escolas da zona rural.

Após esse procedimento, acompanhamos as aulas de esporte, assim como,

realizamos as entrevistas com os professores, e observamos as aulas, tendo como foco os

alunos. Tais informações foram levantadas no período de novembro de 2006 a março de 2007.

25

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados serão apresentados e discutidos seguindo as categorias de análises

estipuladas nos objetivos deste estudo.

Assim nossas categorias de análise foram: modelo de ensino do esporte aplicado

em escolas da zona rural; a metodologia aplicada ao ensino dos esportes; os elementos de

inclusão social proporcionados à partir dos esportes, o nível de participação de escolas da

zona rural em competições esportivas, além do tempo e espaço destinados ao ensino dos

esportes, recursos didáticos e as principais dificuldades de trabalho.

4.1 O Ensino dos Esportes

Para traçarmos uma análise sobre o ensino dos esportes, devemos abordar as

formas de ensinar esportes e os princípios pedagógicos que devem nortear o ensino dos

esportes.

Fazendo referência à pedagogia do esporte, Sousa e Scaglia enfatizam que:

O ensinar, também na Educação Física em geral e no esporte em específico, não deve se caracterizar numa intervenção simples de transmissão de conhecimento ou imitação de gestos, em que o aluno seja apenas um receptor passivo, acrítico, inocente e indefeso. Ensinar esportes deve ser entendido como uma prática pedagógica, desenvolvida dentro de um processo de ensino-aprendizagem, que leve em conta o sujeito aluno, seu contexto, além de seus vários ambientes relacionáveis, criando possibilidades para a construção desse conhecimento, inserindo e fazendo interagir o que o aluno já sabe com o novo, ampliando-se, assim, sua bagagem cultural. (SOUSA E SCAGLIA, 2004, p. 13)

Os professores entrevistados trabalham o esporte na concepção da PEDAGOGIA

DO ESPORTE, sendo esta defendida pelos autores citados acima. Os professores possuem

uma postura onde não se preocupam em modelar os alunos à semelhança, mas sim de mediar

processos que possibilitem a aquisição de uma grande bagagem de experiências motoras.

Estes visam sempre manter algo que direcione sua pratica pedagógica, apontando fatores que

são inerentes ao ato de ensinar, sendo que para isso sempre estão obtendo conhecimento sobre

o processos de ensino aprendizagem no esporte.

26

Para o ensino do esporte utilizam uma metodologia que permite ao aluno

vivenciar um processo de ensino-aprendizagem, onde através da capacidade de exploração, o

aluno constrói não apenas um gesto motor, mais sim uma conduta motora.

A partir do nosso levantamento, percebeu-se que as escolas pesquisadas trabalham

o esporte baseado na Pedagogia da Autonomia em Esportes, pois os alunos se envolvem e

participam mais, desenvolvendo autonomia. Trabalham nesta perspectiva com o intuito de

promover dentro das aulas oportunidades para que os alunos desenvolvam autonomia, não só

dentro do jogo, mas também em outras decisões e atividades diárias, capacidade de resolução

de problemas de jogo e criatividade, fazendo com que ele cresça dentro do esporte de forma

dependente. Tendo mais liberdade de participação em um ambiente que proporciona um

maior número de possibilidades de desenvolvimento de habilidades motoras, cognitivas,

sociais, entre outras, para o jogo. Esta evidência se confirmou quando observamos nas aulas

que o professor variava atividades individuais, pequenos e grandes grupos diversificando

objetivos e evidenciando a participação de todos.

Nesta abordagem o jogos é conceituado como sendo um sistema em constante

modificação, com isso, utilizam pequenos jogos e problemas gerados pelas modificações das

regras e concentram as aulas no desenvolvimento da técnica através da compreensão do jogo

e da capacidade de suprir as necessidades geradas pelos jogos.

Freire (2003) apud Sousa e Scaglia (2004) destaca quatro princípios

pedagógicos que devem nortear o ensino dos esportes. São eles:

1. Ensinar esportes a todos

O autor refere-se à necessidade de se ensinar o Futebol, por exemplo, não

discriminando os que têm menos habilidades para o jogo. Sendo que as atividades (jogos,

brincadeiras) se adaptam aos jogadores e não o contrario. Uma determinada brincadeira, como

por exemplo, João bobo, e tanto realizada para uma criança na fase de iniciação como para

atletas profissionais do esporte.

A inclusão é um dos princípios que esta presente na pratica pedagógica dos

professores das escolas pesquisadas. Todo conteúdo trabalhado nas aulas sempre é abordado

estas questões, todos devem vivenciar-aprender, seja o esporte, os jogos e brincadeiras, as

danças, ginásticas e as lutas. No caso destas escolas trabalham apenas com o esporte, mas a

inclusão está presente.

27

2. Ensinar bem esporte a todos

O principio da excelência enfatiza que, não basta ensinar, deve-se ensinar bem a

todos, ou seja, aqueles que já jogam bem devem aprender a jogar melhor e os que pouco

sabem precisam avançar em seus conhecimentos.

Nas aulas de esportes da UEB URUATI e CEM MÁRIO MEIRELES são

desenvolvidas baseadas neste principio, pois possibilita aos alunos um maior contato com o

conteúdo, aumentando gradualmente o nível de dificuldade, de forma a mantê-los em

constantes desafios, facilitando assim a aprendizagem.

3. Ensinar mais que esporte a todos

Ensinar mais que esporte a todos se refere à questão de que não basta o ensino se

restringir somente a pratica do futebol, mas possibilitar o resgate de valores éticos e morais

utilizando-se criticamente destes valores.

No inicio e no final de cada aula sempre è de suma importância a realização de

rodas de discussões proporcionando uma reflexão critica do conteúdo a ser estudado.

4. Ensinar a gostar de esporte

Este princípio é o da tomada de consciência das ações à medida que desenvolvem

autonomia na vida e no esporte.

Oportunizar situações que gerem condições para que os alunos se sintam

competentes para jogar, e autônomos no sentido de compreenderem suas ações tanto no jogo

como alem dele.

4.1.1 O Futebol nas aulas de educação Física

Para a prática do Futebol pode-se trabalhar nas aulas várias brincadeiras e jogos

para acentuar o lado lúdico desta prática esportiva, com o objetivo de proporcionar aos alunos

a aquisição das habilidades solicitadas na modalidade. E também atividades diversificadas,

enfatizando não a simples repetição, mas a diversificação de movimentos. È necessário

28

trabalharmos jogos que possibilitem as correções técnicas do gesto, sendo que com algumas

adaptações, até mesmo criando e recriando tem significativa contribuição no processo de

iniciação nas modalidades esportivas.

As duas escolas pesquisadas trabalham com a prática do Futebol, um projeto

oferecido a todos os alunos e aberto à comunidade. Há também o Beach Soccer e o Futsal.

Mas, o conteúdo de maior interesse dos alunos é o Futebol, e devido a área possuir vários

campos para a prática deste esporte, torna-se mais acessível, pois caracteriza a cultura local.

Constata-se que as escolas trabalham o Futebol, levando em consideração alguns

pontos norteadores da prática pedagógica deste esporte, como a diversificação (do

movimento), a inclusão (não apenas dos mais aptos, com estatura mais elevada, mas de todos,

sem exclusão), a cooperação (através da união das ações individuais para solução de

problemas) e a autonomia (praticar o esporte de acordo com seus interesses, conhecendo e

tomando gosto pela pratica).

Foi observado durante as aulas e através da fala dos professores que as afirmações

acima condiz com sua prática, trabalhando com a diversificação do movimento, com a

inclusão e não apenas o simples treinamento de equipes com significados diferentes, com

repetição do movimento, exercícios sincronizados com alto grau de dificuldade, restrição

somente aos aspectos técnicos da modalidade. Portanto, o ensino do Futebol nas escolas

pesquisadas ocorrem de maneira agradável e descontraídas.

Para o professor da escola U.I URUATI, o nível de participação de escolas da zona

rural em competições esportivas é muito significativo, pois o objetivo não é somente pela

competição em si, mas pelo o que os alunos conhecerão de “novo”, pelo envolvimento e

satisfação de participar, pela vivência de novos ambientes, pela troca de experiência com

pessoas de outras escolas e comunidade. Isso deve ser levado em conta haja a vista, a

distância dessas escolas do centro urbano da cidade, onde geralmente as competições são

realizadas.

Participam, além dos torneios internos da própria escola e dos bairros, participam

também dos Jogos Escolares Maranhenses –JEMs, principal competição escolar do estado do

Maranhão. E sempre com bons resultados chegando á primeira colocação. Com isso desperta

mais interesse de continuar praticando Futebol e valoriza a comunidade da zona rural.

29

4.1 Trato pedagógico dado à competição

Nas observações das aulas, verificamos que, na pratica do esporte, os alunos da

zona rural de São Luís, demonstram atitudes de individualidade, onde sempre tem um ou

outro aluno que quer ser o mais forte, o mais habilidoso, sempre vencer, isto acontece por que

está incorporado ilusões, sonhos transmitidos de forma errônea e que precisam ser trabalhado

e discutido durante as aulas. Os professores aproveitam estes momentos para abordar a

problemática e discutir com os alunos estes elementos, de forma a tentar esclarecer e mostrar

os caminhos positivos e negativos.

Vejamos o que os autores nos falam a respeito: Acreditamos que a competição é um elemento motivador para a participação nos jogos esportivos que não deve ser menosprezado. No entanto existe a necessidade, a nosso ver, de determinar, embora seja difícil fazê-lo, os limites entre a desejabilidade e a indesejabilidade da competição, ou ainda o ‘tipo’ de competição (BRACHT, 1992, p.110).

Ao perguntarmos aos professores das duas escolas pesquisadas sobre o trato

pedagógico dado à competição em suas aulas, tivemos como resposta que esta “está presente

em tudo na vida”, “tudo gira em torno da competição”, e que participando destas atividades

têm a oportunidade de vivenciar tais situações, para melhorar tanto em sentido ao esporte,

como em sua vida pessoal, procurando sempre o equilíbrio para administrar as conseqüências.

Citaram também que trabalham no sentido da inclusão, todos participando com respeito

contribuindo assim para a formação dos alunos.

É indiscutível que a competição está sempre presente nas aulas de Educação

Física, mas é fundamental trabalhá-la de forma a tematizá-la, refletindo seus benefícios e seus

significados.

As aulas de Educação Física devem possibilitar princípios básicos de ensino para a

formação e construção de valores de seus alunos. Esses princípios devem proporcionar a

garantia de inclusão e participação de todos, o respeito a corporeidade singular dos alunos, o

privilégio do caráter lúdico, a reflexão sobre as práticas competitivas, a problematização dos

valores estéticos de nossa cultura com relação as práticas corporais, entre outros.

30

4. 3 Recursos materiais e espaços destinados ao ensino dos esportes,

Os recursos utilizados pelos professores nas aulas de Educação Física são em sua

maioria bolas, cones, etc. Neste caso, não é por há falta de interesse em estar reivindicando o

que é de direito dos alunos, pois os professores solicitam constantemente à escola tais

revursos.

No entanto, sabemos que os professores fazem verdadeiros “milagres” para

tornarem suas aulas mais atrativas. A afirmação que temos é que devemos ser “criativos” ou

então devemos “reciclar sucata” para construir o próprio material de aula. Isto é perigoso, pois

exclui do Poder público sua obrigação para com a educação.

Em escolas do Maranhão, o espaço físico é um fator muito complicado, os

profissionais acabam justificando a falta de organização de suas aulas, de trabalhar todos os

conteúdos, pela a ausência de espaço adequado ou de material didático. Mas afirmam que na

medida do possível satisfazem às necessidades dos alunos. Porém reforçam que algumas

grandes escolas já apresentam uma melhor estrutura em relação à que trabalham, mostrando

assim que não têm compromisso em tentar desenvolver um trabalho que se adeque ao

contexto socioeconômico em que sua escola está inserida, ou pelo menos lutar para conquistar

e transformar uma realidade que vem sendo discriminada e excluída dos benefícios a que têm

direitos.

No caso da U.I URUATI não há espaço para as aulas de Educação Física, as aulas

são realizadas em campos de futebol próximos à escola. Essas iniciativas do professor deve

ser parabenizada, haja vista, que ele poderia justificar que “não tem espaço”, logo não tem

aula de educação Física

No CEM MÁRIO MEILRELES não é diferente, apesar da escola ter uma grande

estrutura física, como várias salas, biblioteca, pátio, etc., não há espaço para as práticas

esportivas. Esta escola foi construída pelo Consórcio de Alumínio do Maranhão - ALUMAR

em parceria com o Governo do Estado do Maranhão. A Construção da quadra esportiva

também está sendo patrocinada pela ALUMAR, mas o projeto está “engavetado”. Segundo

relato do professor de Educação física desta escola, a justificativa dada pela Secretaria de

Educação do Estado do Maranhão, é que tem que se fazer um estudo de solo na região, sendo

que nunca providenciaram tal fato.

31

Enquanto o espaço físico fica no campo das abstrações, o professor de Educação

Física cria novos espaços e possibilidades a fim de atender uma demanda considerável de

alunos que urgem por uma Educação física de qualidade.

Em se tratando do perfil de engajamento dos alunos da zona rural em atividades

motoras, é notório o interesse destes, haja vista, que são carentes de ações educativas, e

quando estas são oportunizadas o fervor da participação é evidente. Muito destes professores

justificam que preferem trabalhar em escolas da zona rural por cauda destas questões, pois

comentam informalmente que os alunos da zona urbana estão “viciados” em modelos

culturalmente estabelecidos.

Assim, qualquer modelo implantado nestas escolas da zona rural são bem aceitos.

Desta forma, fica melhor ainda se tais modelos fossem pedagogicamente corretos, pois mais

ainda aos alunos da zona rural, o compromisso educacional deve ser bem mais evidenciado.

32

5 CONCLUSÃO

Com base nos estudos, podemos concluir que o ensino do esporte nas duas escolas

da zona rural pesquisadas encontram-se em condições favoráveis em relação à proposta da

escola. Mas, è fundamental lembrar da importância da Educação física escolar, o esporte não

deve ser o único conteúdo a ser trabalhado, e sim proporcionar aos alunos outras práticas

corporais como os jogos, as danças, a ginástica e as lutas.

Neste trabalho foi abordado e discutido que os professores devem ter uma postura

onde não se preocupem em modelar os alunos à semelhança, mas sim deve mediar processos

que possibilitem a aquisição de uma grande bagagem de experiências motoras.

O professor deve ter sempre em manter algo que direcione sua pratica pedagógica,

apontando fatores que são inerentes ao ato de ensinar, sendo que para isso há necessidade de

obter conhecimento sobre as teorias pedagógicas e seus processos de ensino aprendizagem.

Após o conteúdo selecionado é necessário saber como trabalhá-lo, quais os

procedimentos que serão aplicados para alcançar os objetivos pré-determinados. É

fundamental que o professor elabore a partir de uma concepção ampla, abrangendo questões

teóricas, conceituais, metodológicas e valorativas.

Em suma, o tratamento pedagógico ao ensino dos esportes nas escolas pesquisadas ao

nosso ver tem sido satisfatório, pois há uma organização e sistematização deste conteúdo.

Deixando claro que no ensino de determinado esporte os fundamentos são os mesmos, o que

diferencia o processo de ensino aprendizagem é a organização, sistematização e o

planejamento. Diante do potencial dos demais conteúdos da Educação Física, o não

predomínio do esporte pode contribuir de forma mais significativa para a formação humana.

No entanto, o que não deve ocorrer é do esporte se tornar o único conteúdo a ser trabalhado

como acontece em várias escolas que privilegiam este, deixando de trabalhar outros conteúdos

da Educação física, já citados, que são os jogos e brincadeiras, as danças, a ginástica e as

lutas.

Devemos considerar este trabalho como ponto de partida para vários estudos nesta

área no estado do Maranhão, que carece de produções científicas como forma de subsidiar a

prática pedagógica dos professores de educação física.

Este estudo sugere, medidas imediatas que venham contribuir para o

desenvolvimento do esporte na zona rural, tais como, uma maior sensibilização por parte dos

professores, não tendo receio em trabalhar nesta área, de maneira que possa ampliar o quadro

de discussões que abordem a realidade da zona rural. Faz-se necessário que os órgãos

33

públicos responsáveis olhem com outros olhos a necessidade do meio rural, a carência de

políticas públicas voltada para o esporte deve ser superada, assim como às escolas devem

valorizar a Educação Física enquanto componente curricular que trabalhe não só o esporte,

mas todos os elementos da cultura corporal. As condições objetivas de ensino devem ser

observadas e resolvidas, como os recursos materiais disponíveis, o adicional financeiro para o

deslocamento dos professores, tendo em vista a grande evasão dos mesmos.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - Roteiro de Entrevista Destinado aos Professores de Educação Física

Responsáveis Pelo Ensino Dos Esportes Em Escolas Da Zona Rural De São Luís-MA.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Escola em que trabalha: _____________________________________

Modalidade Esportiva: _______________________________________

Sessões de aula por semana: __________________________________

Formação profissional: ______________________________________

Gênero: ( ) M ( ) F

1. Quais as expectativas dos alunos em relação ao modelo de esporte aplicado em sua

escola?

2. Quais as principais dificuldades de trabalho encontradas em sua escola?

3. Quais os recursos mais utilizados em suas aulas? A escola dá assistência em relação

aos materiais esportivos?

4. Os espaços destinados às aulas são satisfatórios para a prática esportiva em sua

escola? Comente.

5. Você segue algum modelo de ensino dos esportes? Baseado em que princípio?

6. Em suas aulas são desenvolvidos elementos de inclusão social através do ensino dos

esportes? De que forma?

7. Qual o nível de participação de sua escola em competições esportivas?

8. Ao ensinar esporte, qual o trato pedagógico dado à competição?

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APÊNDICE B - Roteiro De Observação Das Aulas De Esportes Em Escolas Da Zona Rural

De São Luís-Ma.

1. ALUNOS

# Participação

Envolvimento na aula

Observação/participação

São receptivos ao professor?

Decidem sobre a aula?

Comportamentos manifestados

Relação entre os alunos

2. PROFESSOR

# Didática

Modelo/método de ensino

# Atividades

Mais trabalhadas

Há interesse dos alunos