r a ranieri - andrÉ luiz - o abismo

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  • 8/4/2019 R A RANIERI - ANDR LUIZ - O ABISMO

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    http://www.consciesp.com.brINVESTINDO NO FUTURO ATRAVS DO ESTUDO QUE PROMOVE MUDANAS.

    R.A. RANIERI

    O ABISMOOrientado pelo Esprito

    ANDR LUIZ

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    Neste livro o autor nos conduz por um mundo diametralmente oposto de tudo aquiloque conhecemos. Desespero, dor e angstia assombram, tal a sua narrativa dantesca.

    proporo que vai revelando os abismos e sub-abismos, novos e indescritveisquadros se deparam, onde vivem seres horripilantes e com aspectos disformes queperderam a forma humana, degradados pela permanncia no mal, no possuindo "corpoespiritual". Perderam o controle da mente consciente e caminham na descida vertiginosa

    para os mais recuados abismos, onde vo cumprir as penas impostas pela prtica do malnas suas vrias reencarnaes. No entanto, o livro esclarecedor, pois o orientadorespiritual desta obra afirma que o Esprito no retrograda, mas a sua forma perispiritualsim. uma advertncia queles que ainda no compreenderam a razo da necessidadeda prtica do amor ao prximo e da caridade.

    O esprito no retrogradamas a forma perispiritual se degrada.

    ANDR LUIZ

    Assim est escrito:No fars para ti imagem de escultura, nem alguma semelhana do que h em cima nos cus, nemem baixo na terra, nem nas guas debaixo da terra.XODOCap. 20, v 4E ningum no cu, nem na terra, nem debaixo da terra,podia abrir o livro, nem olharpara ele.ApocalipseCap. 5 v 3E ouvi a toda a criatura que est no cu e na terra, e debaixo da terra, e que est no mar...ApocalipseCap. 5 v 13

    E vi descer do cu um anjo, que tinha a chave doabismo, e uma grande cadeia na sua mo.E prendeu o drago, a antiga serpente, que oDiabo e Satans, e amarrou-o por mil anos.E lanou-o no abismo, e ali o encerrou, e ps selosobre ele, para que mais no engane as naes, atque os mil anos se acabem.E depois importa que seja solto por um pouco detempo.Apocalipse Cap. 20 v 1, 2, 3

    ndice

    I .............. Estranho CaminhoII ............. OrcusIII ......... A TerraIV ........... Na Sub-Crosta16V ............. Gabriel19VI ........... Sob a Luz do Sol EspiritualVII .......... Na CovaVIII ........ Mais AbaixoIX ........... Meditao no sub-soloX ............ O DragoXI ............ Profundidade e SuperfcieXII .......... Oportunidade DivinaXII ......... O Imprio dos Drages

    XIV ......... LegioXV ......... O MonstroXVI ........ Pelas Trevas mais Densas

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    XVII........ AtafonXVIII ...... Os "Homens"XIX ........ A Cidade do MalXX ......... A AveXXI ........ Outras CriaturasXXII ....... As Corujas

    XXIII ...... Homens-RsXXIV ...... Notaes de OrcusXXV........ Ensinamentos NovosXXVI ..... Na GelatinaXXVII ..... Meditaes nas ProfundezasXXVIII.... Na Casa de NetunoXXIX ..... As OvasXXX ....... Indicaes sobre o Poder MentalXXXI ..... A MontanhaXXXII ..... A Volta de AtafonXXXIII.... Buscando a SadaXXXIV ... As Portas LibertadorasXXXV .... Libertos

    Uma Explicao sem Importncia

    1 - Estranho Caminho

    Meu pensamento foi assaltado por vibraes violentas vindas do seio da Terra. Senticomo se um poderoso aparelho detonador me atingisse as fibras mais ntimas e me

    precipitasse em sintonia com a morte. No era medo o que eu sentia mas era umasensao quase que de terror. Foras desconhecidas agiam no meu subconsciente e meatraiam para perigoso abismo. A princpio pensei que me desintegraria mas a seguircompreendi que a exploso se dera dentro de mim mesmo. As clulas de meu

    organismo espiritual entravam em vertiginoso movimento como se uma verdadeiraexploso atmica se realizara no meu interior. Tinha a impresso de que tudo giravadentro de mim. As clulas haviam se precipitado numa corrida louca de libertao.Centenas, milhares, milhes, em corrida vertiginosa.Minha mente tudo observava como que assombrada com o imprio de clulas que sedesmoronava. Embora tudo aquilo fosse eu mesmo compreendia a insignificncia quesomos no emaranhado das leis que nos governam. Imensa era a minha ignorncia egrandiosa e infinita a sabedoria de Deus! O cosmo interior da minha individualidade semantinha como um firmamento cheio de estrelas e planetas. Os astros em meio aoconglomerado de clulas dispersadas marchavam no vrtice acelerado. No perdi aconscincia, contudo senti que girava em mim mesmo e que minha conscincia estava

    aparentemente desgovernada. Meu ser crescia, crescia sempre como se eu me tomara derepente enorme boneco de borracha porosa que se dilatasse indefinidamente. Quiz gritaralgumas vezes mas a voz morria-me na garganta como se sufocada por mo de ferro.Acovardei-me e entreguei-me vontade de Deus. No alto brilharam as estrelas e a tivea impresso de que caminhava ao encontro dos astros. Mergulhei no Armamento e subi,subi sempre. L embaixo comeou a ficar a Terra, perdida no oceano do universo. Nosabia a que alturas haveria de atingir mas via o mundo fugir de mim como a criana quecontempla a sua bolinha de vidro perder-se nas guas do mar.

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    2 Orcus

    De repente, senti que no estava sozinho.A meu lado estava Orcus que me contemplava afetuosamente. Olhei-o com ateno everifiquei que era uma criatura formidvel. Longos cabelos brancos, ligeiramenteenrolados como se fossem cordas desciam-lhe pelos ombros. Rosto enorme, redondo"aquadradado" sobre um pescoo taurino e peito descomunal. A tnica aberta ao peitodava-lhe ao conjunto a expresso de um dos antigos profetas, talvez Isaas ou Pedro, oapstolo.O cu repleto de estrelas parecia conter-nos apenas a ns dois estabilizados noespao por uma fora que equilibrava a lei de gravidade. Aps o delrio vertiginoso dasclulas em debandada meu ser comeou a serenar-se e eu me senti como se fosse umacriatura de dimenses despropositadas, imensas. Eu estava "cado dentro de mimmesmo". Orcus contemplava-me com amor e de seus olhos comearam a partir em

    minha direo partculas ou centelhas de luz que vinham me atingir o ser.Recebi-as a princpio no corao e fui tomado de uma sensao de confortoretemperado por energias novas. Em seguida estendeu-me o Esprito a destra cintilante eondas esquisitas se desprenderam dela vindo atingir-me a casa mental.Aos poucos sob este novo influxo, principiei a diminuir-me lentamente e a voltar aoque poderia chamar de "estado normal". Restabeleci-me interiormente sob o domnioespiritual de Orcus que me transfundia poderosas foras emitidas de seu poderosoorganismo. Como um enfermo que se levanta do leito, equilibrei-me no Infinito. Nadistncia imensurvel giravam os mundos em turbilho.Olhei a Terra: ainda estava l em baixo, perdida na vastido do universo.

    Onde estamos, Orcus? interroguei.

    Entre as esferas do sistema solar, porm a uma distncia de 325.000 km da Terra respondeu Orcus. Estamos aqui na realidade ou apenas uma impresso que temos dessedeslocamento?

    No, no impresso. Estamos aqui mesmo. Fomos deslocados ao impulso dafora mental, que nos arrastou o organismo em direo ao infinito. Voc, meu filho,sofreu um processo de liberao parcial das clulas perispirituais afim de adquirir"leveza" para a viagem. Eu como j estou habituado ao "clima de mais alto" no tivenecessidade de passar por esse sofrimento. Tornei a contemplar o Infinito e meu olharinabituado ao panorama prodigioso de milhes e milhes de astros em carreiraalucinante parecia submetido ininterruptamente a detonaes interiores que iriam

    explodir o globo ocular. Tive a idia que as pupilas estavam sendo dilatadas ao contactodas imagens novas do infinito portadoras de teor vibratrio diferente da vibraoterrestre. E assim, por longo tempo, me embebi na contemplao do Universo.

    3 - A Terra

    Daqui, meu filho, contemplar a Terra disse Orcus O planeta gira no espao amilhes de anos impulsionado pelas foras vivas da Vida. Como ele, trilhes e trilhesde outros giram na marcha ascensional dos mundos. E neles a vida se expande em todasas formas e em mltiplas manifestaes. Contemplei a Terra que semelhava realmente

    uma laranja de formato irregular e estranho. No era a forma redonda que nos representada nas escolas e ginsios do orbe mas sim um corpo repleto de salincias e

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    tocado de luz e sombra nas eminncias e nas reentrncias. Vales profundos e picoselevados, superfcie brilhante luz do sol indicandoas grandes massas d'gua. De fato, quela distncia, todos os problemas terrestres

    perdiam o interesse. De que valiam as lutas e guerras humanas? De nada. Vamos aTerra e compreendamos que o Homem gasta imensas energias por nada. Visto de

    longe, o nosso mundo era modesto departamento de educao no turbilho do Cosmo. Observe bem, acrescentou Orcus, e poder ver o desenho dos continentes e dospases recortados perfeitamente. Busquei ansioso com o olhar o continente Americano eparticularmente o Brasil. L estavam modelados na Crosta Terrestre acompanhando amarcha do mundo. Ligeiro colorido marrom terroso sob uma nvoa plmbea cobria oscontinentes. Verifiquei que o meu olhar, agora dilatado, atravessava com relativafacilidade a grande extenso pertencente faixa da atmosfera terrestre.

    No pude me deter melhor na anlise de nossa casa planetria porque Orcus meinformou: Prepare-se para descer. Aqui, meu amigo, iniciaremos a nossa jornada emdemanda das profundidades e dos abismos onde habitam os Gnios da sombra e do mal.Senti uma espcie de calafrio. Como mergulhadores, abraados) comeamos a descer. A

    mente de Orcus qual poderoso motor vibrava aceleradamente. Minha mente, porm, nopodia acompanhar-lhe o ritmo na descida vertiginosa e eu, agarrado a ele, precipitei-menaquela estranha aventura ao encontro do Abismo.

    4 - Na Sub-Crosta

    Nossa mente sentia o impacto das vibraes csmicas que nos atingia na descidavertiginosa. O Globo Terrestre aproximava-se no imenso mar do espao etreo. Orcusera um grande pssaro que se precipitava numa velocidade indescritvel.Aos poucos percebemos a faixa da atmosfera terrena, de cor plmbea, como um rio que

    cortasse repentinamente as guas do oceano. nossa frente surgiam os continentesenquanto a Casa Terrestre rodava sobre si mesma. O turbilho da mente em altssimafreqncia vibratria atravessava as grandes massas de radiaes que como vastocinturo circundavam o Globo. Percebi que centenas de tonalidades de cor misturadascompunham a crosta terrestre, predominando no entanto o amarelo, o marrom e overmelho. Notei que repentinamente penetrvamos camada mais densa.Mas como? a crosta da terra?

    Estamos atravessando a crosta disse Orcus. Sim, a crosta da Terra. Voc no pode compreender bem o problema porqueainda v com os olhos de homem do mundo. Eu, porm, vejo com os olhos do esprito.

    Mas a terra no compacta, dura, intransponvel?

    No, no bem isso. A Terra ,compacta e oferece resistncia aos corpos decerta densidade como os que existem na sua superfcie. O homem pela sua densidadefsica e pela densidade dos objetos que fazem parte de seu mundo encontra a terra dura,difcil de ser vencida ou "varada". Mas para a densidade dos espritos a crosta terrestre como voc est vendo, apenas um turbilho de poeira em movimento.De fato, ns agora percorramos extensa faixa de poeira em movimento semelhante poeira que se levanta na superfcie do Globo quando este varrido por um forte vento.

    Na realidade, no encontrvamos ali a terra que ns to bem conhecemos e com a qualconvivemos. No oferecia resistncia nossa passagem e somente nos lembrava umacamada mais espessa de atmosfera. Fiquei assombrado. Nunca supuz que se pudesse

    penetrar daquela forma o seio da terra! Mas, e o calor? No diz a cincia que a cada trinta e trs metros de descidacorresponde o aumento gradativo de um grau de calor?

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    E o que tem isso? verdadeira a afirmativa cientfica terrestre, mas isso no nosimpede de penetrar terra a dentro nem nos atinge.Calei-me, de novo admirado. Enquanto meditava, prosseguia na descida vertiginosasob o controle poderoso de Orcus.

    Vamos parar exclamou o Esprito, de repente. Pude observar que nos

    aproximvamos de imensascordilheiras que exibiam pinculos inaccessveis se vistos de baixo. Alm deles, nasprofundezas, abismos escuros se abriam aos nossos olhos acostumados agora visopanormica das alturas. Orcus segurou-me fortemente e compreendi que diminuamos avelocidade como dois torpedos que chegassem ao objetivo. Em seguida pousamos na

    ponta de um penhasco. Vencemos, felizmente, a "poeira terrestre" explicou o mensageiro. Aqui, por umpouco, estaremos seguros. Ficamos de p. Ventos midos gemiam naquelas regiessombrias. Leve claridade se filtrava atravs da poeira que turbilhonava acima de nossascabeas. As cristas abruptas encharcadas de estranho lquido escorregadio lanavam-se

    perigosamente das alturas. Eu nunca vira na terra coisa igual. Eram centenas e milhares

    perdidas na vastido do Abismo. A princpio no se via ningum. Tudo silencioso esoturno. Parecia o fim do mundo ou o incio da Criao. Do silncio e das trevas umaespcie de terror caminhava para ns. Olhei Orcus: era assim mesmo uma figuraimpressionante. No foi por aqui que passou Dante?

    perguntei. No, ele seguiu outro caminho esclareceu Orcus. Dante buscava outrasregies. No entanto, se for permitido, passaremos um dia por onde ele passou.Senti um arrepio. Estaramos a caminho do Inferno?

    5 Gabriel

    Orcus passou lentamente a mo espalmada sobre meus olhos. Pensei que ia ter umavertigem. Cintilaes de grande intensidade invadiam-me as pupilas dilatadas.Pareciame que um sol de luz branca penetrava-me a mente e que eu, ofuscado, iria

    precipitarme das alturas. Sbito, em pleno abismo, estarrecido, divisei formas difanas,puras, cristalinas, que se moviam sobre os rochedos e os penhascos. Formas anglicasmovimentavam-se naquelas vastides. Figuras de pureza lirial transportavam-se atravsdo espao. No podia eu ainda perceb-las em toda a sua nitidez mas sabia que eramformas semelhantes s formas humanas, porm transparentes e feitas de luz. nossa frente numa distncia indescritvel para o pensamento humano, contempleiuma criatura de grandeza excepcional e de uma perfeio assombrosa. To belo que

    produzia na minha alma verdadeira vertigem. Acreditei enlouquecer.Pousado no penhasco mais elevado e pontiagudo, com longas asas descendo-lhe sobreas espduas cintilantes um Anjo de Sublime e Divina beleza dominava o abismo.

    Aquele Gabriel, que assiste diante de Deus, declarou Orcus com acentocarinhoso e profundo. Senti que o meu instrutor ao dizer essas palavras falara comoquem expressa um sentimento que eu desconhecia. Eram respeito e amor ao mesmotempo e tambm era uma revelao que me fazia. Levantei o olhar para o Anjo everifiquei que de seu corao poderosas foras jorravam sobre o abismo e pouco a

    pouco milhares de cintilaes como uma chuva de estrelas iluminavam frouxamente assombras. No fundo formas estranhas tocadas pela luz principiavam a mover-se.Gemidos e soluos elevaram-se ento das trevas e contemplei horrorizado hordasinteiras de milhes de criaturas que agarradas ao "solo" ou ocultas nas reentrncias

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    arrastavam-se como animais naquelas vastides. Lembravam rpteis, ou lagartas queno se animavam a ver a luz.

    Aquilo que voc v, meu filho, exclamou Orcus, so uma infinidade de seres quepela permanncia no mal conquistaram a infelicidade de vagar nas trevas do seio daTerra. Agarram-se agora desesperados Me Terra como crianas cegas que desejassem

    sugar os seus seios fortes e ubertosos. Na realidade alimentam-se agora do magnetismoterrestre e vagam inconscientes, paralisadas no interior de si mesmos como "lesmashumanas" incapazes de gravitar para Deus.Meus olhos encheram-se de lgrimas. No sei dizer por que, estranhos soluosvieram-me garganta e uma espcie de estranha compaixo assaltou-me a almaalastrando-se por todo o meu organismo espiritual. Gabriel sobre o abismo pareciaamoroso pssaro de dimenses indescritveis alimentando o abismo como sol que doalto do firmamento alimenta a Terra.

    6 - Sob a Luz do Sol Espiritual

    Era claro que no poderamos nos aproximar do Anjo. A luz intensa que explodiade sua alma ofuscava os nossos olhos.

    Estamos a uma distncia incalculvel de Gabriel! esclareceu Orcus, emesmo que quisssemos ir at l no poderamos. Lembra-se da "parbola de Lzaro"no Evangelho? A nossa situao quase a mesma. Fiquei silencioso. Como somosinsignificantes perante grandeza da Vida! Da misria daquelas criaturas rojadas nosolo, de rastos, at a Perfeio daquele Anjo pairando sobre o Abismo havia umadistncia de milhes de "anos-evoluo". Gabriel era a Luz e aqueles infelizesrepresentavam as trevas mais intensas. Ns, porm, no ramos nem luz nem sombras.Evidentemente, eu pensava tudo isso de mim mesmo, porque Orcus era tambm, em

    face da minha indigncia espiritual, um Gigante iluminado. O Esprito, por certoacompanhava-me o pensamento, porque carinhosamente me abraou e disse: Meu filho, diante da Grandeza de Deus, todos so infinitamente pequenos. Noentanto, todos ns poderemos marchar ao encontro da Luz, o que j uma bnodivina, no acha? Concordei com ele.Sem mais palavra, levando-me pela mo, Orcus iniciou a descida pelos despenhadeirosde declives.

    O vo nessas zonas mais baixas no se torna impossvel mas alm de perdermos asmelhores oportunidades de aprendizado, levantaramos um clamor intil, pois que essascriaturas que vivem nas trevas acreditariam que somos enviados celestes para salv-las,

    explicou Orcus. Agora iremos a p. Infelizmente, pouco poderamos fazer em favor

    delas. Permanecem na mais "rgida inconscincia".Orcus calou-se, e foi descendo.Os caminhos eram sinuosos e a terra escura, de um marrom fechado e escorregadia.Com imenso cuidado fomos vencendo as imensas distncias que nos separavam dasmassas espirituais inferiores de "forma humana" que jaziam nas trevas. proporo quedescamos notei que paredes enormes subiam o abismo. Pareciam os "cnions" de quenos falam os viajores que passam pelo Mxico. Tentei olhar para cima e to grande eraa altura que meus olhos de novo sentiram vertigem. Os paredes prumo projetavam-secomo lanas para o alto. Parecamos duas formigas caminhando por entre montanhas.De repente, Orcus estacou. nossa frente, numa espcie de furna, um verdadeirogigante completamente nu obstruia-nos o caminho. Tamanho descomunal, espduas

    nuas, corpo de uma cor semelhante prata, cabelos encaracolados. Velho, de umavelhice moa, porm, que parecia no ter idade. Isto , tinha-se a impresso que aquela

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    criatura era milenar e que no entanto "parar no tempo". Parecia um deus antigo. Quem sois? perguntou-nos ele. Somos humildes viajores em busca de consolo ao nosso sofrimento. No sabeis que estais nos infernos e que aqui no h consolo nem esperana?Aqueles que entram no podem mais sair porque se at aqui vieram por terem a alma

    endurecida no mal. Compreendendo, disse Orcus, mas para Deus nada impossvel e todo pecadorarrependido encontrar a oportunidade de salvar-se.

    No, no! no h oportunidade para os maus! To forte foi o berro do gigante que asua voz ecoou por todo o abismo e ao mesmo tempo uma onda esfuziante de gritos dedesespero levantou-se por toda a parte. Desespero e dor. Aquelas formas agarradas ao"solo" gemeram e gritaram assombrosamente. Um verdadeiro turbilho se fez em mim.Pensei que ia perder os sentidos. Mas Orcus delicadamente colocou a mo sobre meusombros e restabeleci. Voltem, voltem! No ouvem a minha voz? estertorou ogigante. Daqui ningum sair nem voltar! Para trs! Para trs!Senti um grande medo e vi-me pequenino e frgil em face daqueles dois gigantes: Orcus

    e Palaton. Este era o nome do Guardador do primeiro portal no primeiro declive poronde entrramos. Coisa estranha, sem saber explicar como, percebi que uma luz demuito alto atingia Palaton. Luz suave, de luar. Olhei e vi que um raio safirino desciacomo um fio pela ponta do penhasco onde se postara Gabriel e atingira o Gigante. Esteencolheu-se todo, agarrou-se s rochas escondendo o rosto e disse, como uma crianaamuada: Podem passar, podem passar protegidos da Luz.

    Ns passamos, silenciosos. Eu tremia. Orcus, sereno, porm rgido e enrgico. Pareciauma esttua. No ousei olh-lo porque ele mesmo me assustava naquelas solides.Em breve chegamos a um estreitamento do caminho na rocha que mal dava para passarum homem. As pedras eram quase negras, midas e escorregadias. Um limo pegajosodescia por elas. Sentamos em nossas pernas e em nossa tnica a umidade viscosa. Ocaminho estreito terminava numa srie infinita e incontvel de pequenos degraus.

    Desam! Desam o Abismo! exclamou atrs de ns Palaton. L no fundo estoaqueles que no tm mais esperana! Fiquei transido de pavor. Orcus, porm,caminhava sempre como quem sabia o que queria e o que buscava.

    7 - Na Cova

    Estacamos. A nossos ps enorme cova se abria como se fosse uma bacia funda elarga, recoberta de limo e umidade. Percebi que o terreno se tornava mais viscoso,escorregadio. Estvamos parados borda do novo abismo. Deveria ter uns oitenta

    metros de dimetro de boca por uns quinze de profundidade, mas era uma covaestranha. Dentro dela "formas esquisitas" se movimentavam.Centenas de criaturas arrastavam-se no solo como "lesmas".Fiquei atnito. Orcus segurou-me a mo. Andavam unidas aquelas lesmas de formahumana como se um instinto muito forte as ligasse. Verifiquei que formavam como queuma pasta animada que se movimentava. Orcus levantou a destra e fez um sinal. Doalto, Gabriel enviou-nos um novo raio de luz espiritual que clareou a cova.Era espantoso contemplar aquela massa que se agarrava desesperadamente terra.

    So seres que perderam a conscincia informou o Esprito. Repare queparecem cegos. Acompanhei a observao de Orcus e verifiquei quede fato no demonstravam enxergar coisa alguma. Plpebras cadas, fechadas ou

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    semicerradas, peitos, barrigas e rostos colados no cho viscoso caminhavam comoserpentes ou minhocas. Algumas eram brancas, mas a maioria era da cor do terreno:marrom escuro quase negro.

    Poderamos conversar com alguns deles? perguntei. No, impossvel. No ouvem, no falam e no vem. O pensamento desses seres

    est quase paralisado. Tanto se imantaram s coisas da terra que instalaram em simesmos o magnetismo terrestre como fonte de vida interior. So aqueles que noacreditaram em Deus nem na existncia da alma embora no tenham praticado grandemal entre os homens. Mentalizaram o nada e se tornaram inconscientes. O sentimentode Deus e a crena na imortalidade imprimem ao pensamento uma velocidade maior eao "corpo espiritual" maior intensidade de freqncia celular do organismo espiritual.O homem pedra se tornar pedra. Gravitamos para a superconscincia ou retornamos inconscincia. Ser no universo conquistar graus cada vez mais adiantados deconscincia. Fiquei pensativo e silencioso. Orcus, porm, afagou-me a fronte comcarinho e vi que em mim mesmo intensas vibraes despertavam para percepesdiferentes. Na cova, aqueles seres rolavam ignorantes do que lhes acontecia. No

    poderiam, provavelmente, compreender o que se passava com eles. Como era triste asituao dos que se julgando conhecedores de toda a sabedoria perderam-se a si mesmosna inconscincia e no mal! E agora, o que acontecer com eles? interroguei aflito.

    Permanecero neste estado at que um dia a fora da lei os arraste de novo para asuperfcie...

    Superfcie? Sim, superfcie. Para a crosta terrestre onde voc habita. Eles vieram de l e hode retornar para l. A lei de asceno descreve um crculo perfeito e ampararnovamente os filhos do seu amor.

    Gabriel desviara o raio luminoso e a sombra do abismo cobrira outra vez osinfelizes.

    Vamos; convidou-me Orcus, ainda temos muito que descer.Olhei. nossa frente, o caminho e a sombra. Prosseguimos descendo.

    8 - Mais Abaixo

    Meu pensamento fervilhava. No podia compreender a situao daquelas criaturasinconscientes que ficaram na cova. Cegas, presas ao solo numa nsia incontida deabraarem-se com a terra...

    Nisto, fomos surpreendidos por enorme serpente de cor escura, que se atravessouem nosso caminho. Quiz gritar mas Orcus tapou-me delicadamente a boca com a mo.A serpente passou por ns sem nos perceber. Contudo, de repente, voltou-se para nos

    ver e ento eu soltei um horroroso grito de espanto e terror.A serpente possua cara de homem e nos olhava com os olhos chamejantes. A cara presa casca deixava entrever um ser "humano" escravizado a terrvel priso.O olhar do "ofdio" era de tristeza e dor. Duas lgrimas rolavam-lhe dos olhos tristes...

    Piedade .'Piedade! suplicou-nos com acento tristonho.No pude deixar de chorar. Estranha comoo dominou-me o ser. Como te chamas? interroguei. Para que desejas saber meu nome? Aqueles que caram tanto no tm mais nome.Contemplei-a assombrado e cheio de piedade. Como era dolorosa a sua situao!

    Porque vives assim escravizado roupagem de uma serpente? Egosta e mau reduzi meu corpo espiritual forma rastejante que agora vs. Jamais

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    tive um pensamento de amor para quem quer que seja e nunca estendi a mo ao pobre eao sofredor. Como castigo, perdi as mos e rolo nos abismos. Orcus apertou-me a mo eum fluxo magntico penetrou-me o ser dando-me novonimo.

    S o tempo poder arrastar-te das sombras para a luz. Nada poderemos fazer

    infelizmente disse Orcus. A serpente, ouvindo isso, deslizou para regio mais escurae perdeu-se em meio a fantstica vegetao que crescia junto as rochas. Fitei Orcusfrente a frente e percebi que seus olhos tambm se marejaram de lgrimas.

    Meu filho, compreendo o seu espanto mas nada podemos diante da Lei. Quemassume compromissos com u Lei fica obrigado a pagar at o ltimo ceitil. Os seres quese fecham no egosmo e na indiferena ou se precipitam no mal, destroem por simesmos os tecidos perispirituais e iniciam a desagregao do organismo psquico.

    Ningum comete o mal impunemente. Deus em Sua Infinita Bondade permite queaqueles que caram retornem superfcie aps sofrimentos extraordinrios. Aquelaserpente apenas retornou a formas inferiores por que j passara na escala evolutiva dosseres. Assim, todos aqueles que se desviaram da Lei precipitam-se a si mesmos na

    degradao das formas inferiores. E depois interroguei estacionam ou a que da no tem fim? Todos os seres podem subir ou podem descer. Todavia, como a misericrdia deDeus infinita, cada vez que um esprito "cai" a Providncia Divina o ampara cm SuasMos cheias de amor e o ser estaciona no tempo e no espao. O nosso amigo "Serpente"estacionou h seis milnios, no tempo, e desceu a regies inferiores, no espao. Algunsconquistam as altitudes e os cimos, outros estacionam nos abismos. No descem ontudoao desamparo. Em toda parte est a Casa de Deus e labutam mos misericordiosas. Oescafandro de "casca" que ostenta o nosso amigo a misericrdia divina em forma devestimenta protetora. Por enquanto perdeu apenas os membros, se continuar "caindo"dentro de si mesmo perder a conscincia...

    E depois?... E depois?... Depois? contemplou-me Orcus tristemente se prosseguir, se desagregarcompletamente. Ento h ver a segunda morte...

    9 -Meditao no Sub-Solo

    Eu ainda estava preocupado com o problema da segunda morte sem compreender narealidade o que acontecia com os seres que se precipitavam nos "abismos interiores",quando fomos surpreendidos pelos gritos de fantsticas aves negras que, em bando,cortavam os espaos abismais. Pareciam enormes morcegos de asas sem penas, porm

    revestidas de leve plo ou penugem. Agarrei-me a Orcus, assustado.Ele, contudo, disse-me naturalmente:

    Observe que tambm exibem estranhas fisionomias de criaturas humanas.Realmente, as aves eram outros tantos condenados s deformaes das formas

    perispirituais. Rostos humanos ou ex-humanos saltavam de entre as asas escuras quesindiam as camadas de poeira do abismo.Sobrevoavam pncaros pontiagudos e atravessavam zonas levemente dominadas pelosraios de luz irradiada por Gabriel. Parecia-nos, todavia, que voavam a quilmetros dedistncia do Anjo colocado sobre o Abismo.Orcus continuou descendo e eu acompanhei-o silencioso certo de que descamos aregies "pouco freqentadas" pelos seres mais conscientes do mundo.Detivemo-nos margem de enorme rio de guas pra-l

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    Orcus percebeu porque me disse. As guas deste rio que se chama platino lembra a prata lquida. No fundo da terracorrem diversos rios dessa natureza. Grandes massas lquidas formam o interior donosso mundo, como se v... Apontou-me Orcus com o dedo em riste as guasturbilhonantes e exclamou:

    Contemple! Contemple bem firme essas guas que correm e veja o que elaslevam! Abri os olhos desmesurados ao contemplar o rio. Centenas de milhares decriaturas desgrenhadas e inconscientes rolavam em meio s guas como que arrastadas e

    batidas umas contra as outras no turbilho escachoante. Esses so aqueles que se deixaram dominar por todas as paixes e agora dormemna fria das guas desencadeadas sobre si mesmos.Ouvi a voz de Orcus como quem escuta um grito lancinante de dor porque minhaviso agora ampliada gentia que aqueles desgraados lutavam para alcanar i margensdo rio e no o conseguiam. Quanto mais lutavam contra a impetuosidade das guas maisestas 01 arrastavam e abraavam em fria incontida. s vezes formas feminis seagarravam a formas masculinas na nsia desesperada e m.

    No pude contempl-los por muito tempo porque eu tambm comecei a sentir em mimo tumulto de paixes desenfreadas. Orcus protegeu-me, no entanto, com a suaserenidade superiore eu voltei paz de esprito.Seguimos por um estreito trilho que margeava o rio at defrontarmos enorme rochedode pedras nuas por onde o caminho, apertado atravessava.Sinuosa, escura, estreita, e nauseante era a estrada aberta no rochedo.Tnel feito por mos divinas ou diablicas? No sabemos.Do outro lado, uma espcie de campina onde algumas rvores esquisitas levantavam osgalhos retorcidos nos esperavam. Aquelas rvores tambm pareciam formas vivas deseres que se "vegetalizavam"... Esbocei um pensamento estranho. Orcus imediatamente,lendo-me as imagens mentais, esclareceu:

    Realmente, meu caro, h os que se precipitaram nas formas vegetais e vivem agoraaprisionados no que se poderia chamar de inrcia aparente... So coraes aflitos einteligncias que foram caindo, caindo, e atingindo a inconscincia comearam a

    percorrer para trs aescala da evoluo... Iro at o mineral e descero um pouco mais.Nessa ocasio podero sofrer uma espcie de exploso atmica que desagregar oprprio ser. Dizemos exploso atmica como quem usa expresso j inteligvel naTerra. Na realidade uma desagregao intercelular mas to distante de uma explosoatmica como a velocidade do som para a velocidade da luz. Estaquei assombrado.

    J sei o que est pensando colaborou Orcus isso no acontece!Eu no dissera nada mas a percepo do Esprito era muito viva.

    O centro da conscincia que constitui o verdadeiro ser eterno no se desagregamas volta a um estado to grande de inconscincia que como se no existisse como serdotado de possibilidades divinas. certo que um dia retornar na viagem de volta comoquem cansado da permanncia no quase nada reiniciasse a conquista de Deus. H noUniverso correntes de vida que arrastam para baixo ou para cima, para dentro ou parafora, para o ser ou para o no ser. Evoluir conquistar graus cada vez mais adiantadosde conscincia. E conquistar graus de conscincia simplesmente conhecer-se a simesmo. Tinha razo o "Velho Scrates..." Percebi que Orcus me fazia grandiosasrevelaes e que um impulso novo me conduzia pelos caminhos do Conhecimento.

    10 - O Drago

    Percebi que proporo que penetrvamos no Imprio Terrestre uma terrvel

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    angstia tentava dominar-nos o corao. Ao mesmo tempo sentia que foras de maisalto, talvez as irradiaes de Gabriel, auxiliavam-nos na marcha.Ali, no me sentia agora to seguro como antes. Tudo que nos rodeava parecia tervida e dentro de cada pedra ou no interior de cada acidente do caminho estranhasformas sepultadas ansiavam por se comunicar conosco.

    Orcus estava sereno. Eu, porm, submetido quelas impresses desconcertantes,arrastava-me um pouco aturdido como se nvoas esquisitas invadissem-me a mente.Orcus passou-me a mo delicada sobre a testa e disse:

    Nada tema. O que sente a aproximao cada vez mais intensa dos olhos do Drago. Drago? Quem o Drago? balbuciei. Meu filho, em todas as pocas da humanidade, o Drago simbolizou as foras do malou a legio de seres revoltados que lutam contra Jesus. No se recorda de Satans? omesmo smbolo. No entanto, aqui ns encontramos realmente figuras que representam oDrago que se ope a Deus. H sempre no fundo da Terra um Drago que domina oImprio dos Drages mas isto no somente na Terra, em todos os mundos de vibraosemelhante Terra existem os filhos do drago ou seja aqueles que no querem aceitar a

    lei de Deus e s evoluem sob a fora compulsria da mesma Lei. Mas existe ento nesta regio um ser que se diz o Drago? Existe, grande, enorme e terrvel. possvel que voc o veja e que tambm conheaos seus filhos. Calei-me. Um silncio sem limites tomara conta de minha alma. Olhei

    para o alto e, estarrecido, verifiquei que Gabriel era apenas um ponto luminoso nadistncia, como uma estrela em pleno firmamento.Havamos descido centenas ou milhares de quilmetros. Terra a dentro havamos

    penetrado nas profundezas do Abismo. Onde me levaria ainda Orcus? O amigo pareceucompreender-me porque segredou: Agradea a Deus a oportunidade porque Jesustambm desceu a estas regies antes de subir para nosso Pai Celestial.

    11 - Profundidade e Superfcie

    Ainda no andramos muito e defrontamos imenso lago de guas paradas, de um verdemuito claro e transparente.

    Toque-o com o dedo aconselhou Orcus.Abaixei-me e toquei as guas. Assombro e estupor encheram-me a alma e cobriram-mea fisionomia. No havia possibilidade de mergulhar o dedo ou a mo naquela gua. Erauma massa gelatinosa e esquisita. Levantei-me assustado e afastei-me um pouco. Namassa lquido-gelatinosa eu vira um rosto que me olhava. Ansiosa e doloridamente. Equanto mais eu olhava outros muitos me contemplavam cheios de angstia como me

    implorassem algo que eu no saberia dizer. Devoravam-me com os olhos.Lembrei-me de Dante. Seria eu um novo Dante e estaria no inferno? Voltei-me paraOrcus, tambm eu cheio daquela temvel tristeza e pungente angstia que emanavadaqueles seres. Quem ramos ns? Seria ele o Alighieri ou seria eu?

    s tu Virglio e sou eu o Dante ou s o Dante e sou eu Virglio?Orcus sorriu tristonho. Meu filho, o Abismo o mesmo, apenas isso. Sairemos daqui,como entramos, pelo amor de Deus. As palavras e os pensamentos de Dante ao mundoforam truncados, modificados, alterados, para satisfazer aqueles que vendem a prpriaalma se preciso for. Retornamos ao Abismo para restabelecer a Verdade. Tem medo?Olhei-o angustiado e voltei a contemplar na gelatina aqueles que me olhavam comoquem olha velho conhecido. O olhar daquelas criaturas era triste e dolorido e parecia

    brazas de fogo a queimar-me a alma. Porque esto a? interroguei.

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    Perderam a forma humana. Degradados pela permanncia no mal, desceram at omais profundo abismo e no tm mais "corpo espiritual". Por isso, no poderoreencarnar to cedo. A Bondade Divina porm permite que estacionem nessa massadifusa, informe e vagaque os conter por muitos sculos e milnios. Nos braos amorosos da Terra e em seu

    seio de me, lentamente, se recuperaro para reiniciar a marcha de volta. Esto naprofundidade e anseiam pela superfcie. A superfcie para eles a superfcie da Terraonde os homens vivem e representa para essas criaturas uma espcie de cu ou de esferasuperior. Se os homens l em cima suspiram pelo cu ou lutam por subir as esferassuperiores, estes seres aqui anseiam por renascer na Terra como quem conquistarverdadeiro cu.

    12 - Oportunidade Divina

    Eu bem no me refizera do espanto, quando Orcus apontou-me uma turba sombria,

    verdadeira multido de criaturas esfarrapadas e tristes, cobertas por mantos ou panos corterrosa, colocadas no lado oposto do lago. Contemplavam-nos de longe com os olhosvoltados para o cho. Temiam talvez contemplar-nos.Compacta multido de seres irreconhecveis aos homens da Terra. Fisionomias

    patibulares e angustiadas. Silenciosos, profundamente silenciosos. Os ps mergulhavamno charco formado pelas guas do lago que ali formava uma espcie de praia.

    Aqueles, mais do que estes, disse o Grande Esprito anseiam por reencarnarna Superfcie. No esto no Templo da Inconscincia ainda e por isso compreendemqueretornar ao mundo em corpo de carne como respirar um pouco de oxignio puro. Areencarnao, meu filho, bno de Deus e oportunidade divina. A conquista de um

    corpo na Terra concesso pouco compreendida pelo homem. A permanncia no .seiodessa horda que voc v que levou muita gente a acreditar no Inferno Eterno. Dantefoi claro mas os homens e os frades de seu tempo com as mos do Drago deturparam-lhe a obra. Cabe-nos a tarefa de contribuir para o restabelecimento da verdade.

    Eu quero! Eu quero! bradou uma voz do outro lado do lago, interrompendo-nos ameditao.

    O que queres? perguntou Orcus. Quero voltar! ajuda-me. Eu quero! Eu quero! Eu quero! gritaram milhares de vozes enchendo o abismo derumor de ondas de oceano que semelhavam quebrar em praias distantes...Depois, gritos horrveis e tristonhos de angstia sem fim sucederam-se aos primeiros

    berros. Gemidos lancinantes, uivos, gargalhadas e choros de verdadeiros loucos. Deixa-nos voltar Superfcie! Deixa-nos, Anjo do Abismo!Encheram-se-me os olhos novamente de lgrimas. Orcus deteve-se tambm cheio de

    palidez e tristeza como quem desejasse fazer alguma coisa e no pudesse. Vi-lhe ocorao cortado por mil dores e a alma cheia de compaixo.De repente, porm, um vozerio diferente sucedeu ao tumulto anterior. Estalos estranhos,como se chicotes de capataz azorragassem escravos na senzala.Raios cortaram o espao e a onda "sub-humana" recuou espavorida...O que isso? interroguei assustado.

    So os drages esclareceu Orcus. Os terrveis drages, perversas entidadesque governam estes ermos com intensa crueldade. Incapazes de cumprir as leis de Deus,organizam-se para o Mal. Escravizam e fazem sofrer. Quedei-me com o corao a baterdescompassado. O vozerio, ao som da vergasta, desapareceu nas trevas mais profundas.

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    Voltei a contemplar o lago. L estavam aquelas caras estranhas a me olharemestranhamente ...

    13 - O Imprio dos Drages

    Comeamos a sentir os primeiros sinais do Imprio dos Drages disse Orcus.Alm destas zonas mandam eles, por Misericrdia Divina.

    No entendi bem, porque Orcus contemplou-me como um pai a um filho e ensinou: Tudo que ocorre no Universo depende da Misericrdia Divina. Mesmo o mal? Mesmo o mal. Deus no violenta conscincias nem constrange ningum.Organizou as suas leis que governam os fenmenos naturais de todo o Universo edentrodelas os seres se movem. O mal a ausncia de bem. No entanto, o mal apenasresultado da inconscincia das criaturas. Os drages vivem porque as leis divinas

    permitem que eles vivam e fazem sofrer porque as leis divinas permitem que faamsofrer. Um dia, a fora mesma da lei, os arrastar de novo superfcie para sofrer porsua vez e viver.Como seriam os drages?Enquanto Orcus me ensinava, meu pensamento percorria outros caminhos.Ele percebeu porque esclareceu logo:

    So seres maus, perversos, terrveis. Endurecidos por muitos milnios de maldade.Isto aqui um verdadeiro inferno mas no Inferno Eterno. S o Bem pode ser eterno.O mal no. O mal ausncia de bem assim como a sombra somente ou simplesmenteausncia da luz. Fiquei ouvindo no ntimo de mim mesmo aquelas palavras sbias. Osilncio enchera agora as naves do abismo. Parecia que tudo emudecera.

    Voltramos a ser outra vez criaturas solitrias e insignificantes em face daquelas penhase daquelas profundidades. L em cima, Gabriel governava silencioso e fiel.Olhei-o. Uma espcie de vertigem atingiu-me a alma. Tinha a impresso que o abismoera em cima e no onde estvamos. A distncia esmagava-nos.O Anjo cintilava ainda como estrela solitria. Imensa ave de asas espalmadas com umsol de Deus. Ouvimos, no entanto, um rugido ensurdecedor. Estremeceu o abismo etodo som, toda palavra ou todo o pensamento silenciara ao estertor daquele gritodesumano. Senti o corao esmagado por um terror in-dizvel. Devo ter empalidecido

    porque Orcus me abraou e disse: No se aterrorize. o Drago.No pude responder nem interrogar. Parecia-me que outra morte, mais terrvel e mais

    pungente me destruiria a vida. Aquele grito estava cheio de vibraes aterrorizantes epenetrara-me as fibras mais ntimas do ser. Contudo, caminhvamos ao seu encontro.A princpio uma sombra mais espessa encheu o abismo para logo em seguida umaclaridade maior nos atingir. Gabriel enviava-nos maior soma de luminosidade I a nossos

    ps seres estranhos exibiam as faces cadavricas e patibulares reunidos como crocodilosinofensivos e apalermados. Olhei-os estarrecido. Homens-monstros e homens-ferascomo que magnetizados pela "Luz" arrastaram-se nas reentrncias do caminho solitrio.A voz estentrica do Drago talvez lhes tivesse paralizado a ao porque algunsofereciam olhares aterrorizados e tristes como se houvessem recebido em cheio em

    plena alma punhaladas de infinita dor. Se quisssemos poderamos afag-los com a mocomo se fossem animais domsticos inofensivos. Mas observei que assim queacabvamos de passar por eles, uma onda de gritos, uivos e expresses de revolta nasciano meio deles. Voltando-me para v-los, contemplei-os em luta uns com os outros

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    entredevorando-se como ces. Eram um bando de feras momentaneamente paralizadospela Luz ou imobilizados pelo terror do Drago.

    14 Legio

    amos prosseguir quando ouvimos os sons de uma espcie de batalho que marchava.A cinqenta metros abaixo de ns, numa praa aberta, em formao militar, criaturasque lembravam os soldados egpcios, de saiote e de capacete, marchavam em direo aofundo da praa. Notei-lhes as fisionomias de cor amarelada terrosa e o olhar fixo comosonmbulos que cumprissem fielmente uma obrigao.Bem formados, obedeciam a um chefe e deveriam se constituir de cerca de quinhentos"homens" mais ou menos. frente dois deles sopesavam pequeno cofre apoiado em umestrado cujas cintilaes metlicas lembravam o ouro, porm avermelhado.O que levam naquela caixa? perguntei.

    Os pergaminhos da sua lei informou Orcus. Imitam os Judeus do Templo de

    Jerusalm. Aquilo simboliza a arca. Alis, no Egito Antigo tambm era assim. E pelaLei se dirigem. Mas quem faz essa lei o ser a quem chamamos Drago e que a Igrejadenomina Lcifer. No momento, est prisioneiro, acorrentado, no centro da praa. Olhel e veja bem que no centro mesmo dessa praa onde se observa uma espcie de "fonteluminosa" existe algum acorrentado. Procurei contemplar e observar melhor e quedei-me assombrado. Sob pesadas correntes, um ser como jamais foi dado ver a criaturas dasuperfcie da Terra ali se encontrava prisioneiro. Conquanto a fisionomia lembrasse afisionomia de um homem ou de um esprito de forma humana, estava to distanciado denossa espcie quanto um dinossauro de um homem. Descomunal, perna que lembravamcolunas de um edifcio, ps que mediam muitos metros de altura, braos cabeludos,embora de pele amarelada e ao mesmo tempo esfogueada, rosto enorme e mais de

    quinze metros onde dois olhos maus avanavam chamas.s vezes uivava ou gemia. Porque no arrebenta as correntes indaguei. O Senhor no permite. Contudo lhe foi concedido por Deus certo tempo deliberdade e em breve reinar livre das amarras com permisso divina.Fiquei paralisado. Aquele monstro libertar-se? Como? Seria possvel?

    Sim. Deus em Sua Misericrdia lhe dar oportunidade para redimir-se. Segundoestamos informados ter a concesso de subir em breve tempo superfcie da Terra eestabelecer uma luta contra o Bem durante mil dias. Depois, ser vencido. Os homensficaro nessa poca entregues ao seu livre arbtrio, exclusivamente a ele. Apenas os

    bons espritos os ampararo distncia. Isto se dar porque nessa ocasio o homem

    decidir o destino do Mundo. Os que forem verdadeiramente bons subiro a regiesmais altas de conscincia e os que somente "parecerem bons" rolaro nos abismos dainconscincia.

    Mas isso no uma temeridade, um mal? Deus permite o que chamamos o mal para que muitos melhorem. A presena dodrago por em risco apenas aqueles que ainda no consolidaram o bem em si mesmos.

    E o Drago o que lucra com isso? Sua conscincia culpada ter oportunidade de aproveitar a experincia humana assimcomo receber da Terra vibraes transformadoras que h milnios o homem lana nasuperfcie. Os drages tambm fazem parte da criao divina. A parte mais embrutecidada Terra. Lembram os mamutes, os brontossauros e os surios. So a natureza primitivaque retm os elementos primrios e embrionrios de nosso sistema.

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    15 - O Monstro

    Observei que o batalho estacou e que algumas daquelas criaturas foram se prostraraos ps do monstro. Rendiam ou pareciam render-lhe humildemente culto como se elefosse um Deus. Orcus passou-me a destra frente aos olhos e senti que minhas

    percepes se ampliaram grandemente como se eu, de sbito, colocara poderosobinculo. Passei a velos de perto, como se estivessem ao alcance de minhas mos.Recuei aterrado. Aqueles espritos possuam um s e nico olho em plena testa e afisionomia cansada lembrava animais antediluvianos. A pele terrosa semelhava couroendurecido e spero. O olho era grande e a pupila fixa exibia raios de sangue em todasas direes. O Drago pareceu sorrir satisfeito e acalmou. Tive a impresso que falava-lhes uma lngua estranha, talvez por gesto porque todos se curvaram. Logo depois,

    prorrompeu um alarido ensurdecedor. De toda a parte ento, como se sassem dasprprias rochas, saltaram criaturas esquisitas, de todas as formas e feies e foram seajoelhar contritas na praa. Vi seres que se arrastavam dolorosamente na nsia de seaproximarem o mais possvel. Cobras e lagartos, macacoides e aves negras que sedirigiam para o Drago a fim de lhe prestar homenagem.Acreditei que toda a criao inferior do mundo ali se reunia sob a fora de poderosomagnetismo. O ambiente encheu-se de um medonho mistrio e nvoas atordoanteslevantaram-se do solo como se ali se houvesse aberto um pantanal.De repente, por mais estranho que parea, o monstro elevou a voz e eu pude entend-losimplesmente pela linguagem do pensamento.

    Filhos dos Drages! bradou ele a nossa hora se aproxima. H sculos espero,acorrentado aqui, prisioneiro e escravo desse que se diz Senhor da Vida espera dalibertao. Mas um dia haveremos de vencer. Em breve, liberto, comandarei

    pessoalmente as nossas hostes e ento invadiremos a superfcie.

    Um alarido estentrico sucedeu s suas palavras. Aqueles seres apticos, terrosos eautomatizados grunhiram nas profundezas dos abismos e elevaram vozes desumanas emfrenticos clamores de alegria.

    Venceremos! venceremos! clamaram eles. Sairei para a luz do sol continuou o Drago e aprisionaremos as almas que nospertencem, pois os filhos do crime por direito divino so propriedade dos Drages!Novo clamor de contentamento se elevou da multido. Os espritos militarizados batiamcom os ps no solo fazendo coro multido oculta por entre as pedras.

    Aguardem! Aguardem, filhos das Trevas. Combateremos a Luz e haveremos devenc-la! Bem no dissera ele isso e uma rajada de luz em catadupas desceu do altoensolarando o Abismo. Gritaria ensurdecedora respondeu quela demonstrao do

    Mundo Superior, todavia espavoridos aqueles milhares de espritos possuidores dasmais estranhas formas atiraram-se uns contra os outros em corrida louca para seesconderem na escurido. Gabriel talvez ouvindo a arenga do Drago enviara-nos a sualuz e o seu poder. E aqueles seres infelizes e inferiores sentiam-se queimar e cegar-se aocontato da luminosidade sublime do Anjo. Desesperados chocavam-se nas trevas emergulhavam nas reentrncias e nas fendas como animais desorientados que houvessem

    perdido a noo de dignidade e de amor prprio. Na praa, em pouco, permaneciasomente o Drago, vencido e despeitado, voltado para o cho, sofrendo a cruelamargura da derrota. Assim mesmo murmurou:

    s forte e poderoso, Anjo do Abismo, mas no te temo. Liberto, subirei para lutar!Punhos fechados, fez um gesto de desafio para o Alto. Orcus concentrou-se, porm,

    cheio de humildade no silncio da orao.

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    16 - Pelas Trevas mais Densas

    A escurido voltou a dominar o Abismo. Embuados nas trevas, prosseguimos nossajornada no seio da Terra. O silncio sucedera ao tumulto. Sbito, um ser estranho eterrvel se atravessou em nosso caminho. Possua asas longas e corpo de lagarto.

    Enorme e repelente. Olhei-o assombrado. Era um verdadeiro Drago com a formatradicional que a mente humana representa na Terra. Uma lngua fina e vibrtil saa-lheda boca e dois olhos chamejantes lanavam chispas. Seria um ser inteligente ou era defato um simples animal sem conscincia? Eu estava enganado. Encarou-nos de frente eobstruindo-nos a passagem exclamou, numa linguagem mental semelhante que forausada pelo "rei acorrentado":

    O que quereis em nossos domnios? No temeis, \ criaturas infelizes?Orcus olhou e disse:

    Afasta-te, irmo, ns somos filhos do Cordeiro e buscamos as profundidades paraaprender e progredir! O animal afastou-se aterrado e, aps, lanando um grito bestialatirou-se nas profundezas. Um arrepio percorreu-me a alma. Contemplei os penhascos esenti-me imensamente s. Orcus compreendeu-me a indeciso e a luta ntima porque mefalou:

    realmente, esse, um esprito terrvel que exibe a forma tradicional do Dragoconhecido pelos homens. Aqui, encontraremos a cada passo espritos envergandoformas animalescas que vivem no abismo. Aqueles que fogem luz do sol encontramainda assim em Deus a misericrdia e o amparo. Descem aos abismos de sombrametamorfoseando-se na decadncia ou na degenerescncia da forma. Embora o espritono retrograde, a forma contudo, degrada-se quando a mente estaciona no mal ou no

    pecado. Poder o perisprito at desintegrar e a mente, quem sabe, tambm poderatingir os limites da desintegrao? A nossos ps comecei a perceber olhos estranhos

    que pareciam fincados na terra e "feies patibulares" refletiam-se no solo. De repente,senti que por toda a parte uma legio de seres diablicos acompanhavam nossos passose o meu corao encheu-se de temor. Valeria pena descer mais?Orcus, paternalmente, beijou-me a fronte e afagou-me carinhosamente.

    Nada tema. O Senhor est conosco. As trevas no prevalecero contra a luz e o Malno vencer o Bem jamais. Esses seres que habitam o Abismo so de fato criaturas que"desceram em si mesmas at o fundo dos abismos mais insondveis". Perderam ocontrole da mente consciente e caminham na descida vertiginosa. Passaro numaespcie de retrospecto pela fieira da animalidade atravs da qual um dia ascendero aestgios superiores da conscincia. Cairo, contudo, provavelmente, no se perdero.

    Nos mais recuados infernos penetra a Bondade de Deus, nosso Pai, para salvar os que

    esto perdidos... Compreendi o quanto estava enganada a Igreja Catlica que emboraidentificando o Verdadeiro Inferno, errara, considerando eternas as penas e sofrimentospor que haveriam de passar os seres que se condenaram a si mesmos.Jesus tambm um dia descera aos abismos, aps a morte na Cruz, mas ali foragloriosamente numa demonstrao de Suprema humildade. Abracei-me a Orcus. L emcima numa distncia que se me afigurava sem limites, ficara o mundo.Como era bela a superfcie e como era suave a vida humana!Estaria ainda l em cima o meu pobre corpo fsico ou eu tambm agora era apenas umasombra espiritual nos caminhos tenebrosos das quedas humanas ou espirituais?Sbito, defrontamos extensa muralha sobre a qual uma espcie de ragigantesca debruava-se recordando vegetaes seculares existentes na Superfcie

    da Terra. Folhas grossas e enormes parecendo orelhas de elefantes.Silncio sepulcral pairava sobre ela. O que haveria do lado de l? Notamos

  • 8/4/2019 R A RANIERI - ANDR LUIZ - O ABISMO

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    que estreita porta dava passagem na muralha. Um capim muito verde estendia-se anossos ps. Penetramos pela porta a dentro, rvores esparsas punham no ambiente umaestranha nostalgia. Grama o rvores semelhantes s da Terra, embora rvores esquisitasde coravermelhada enroscassem-se umas nas outras como se fossem criaturas

    abraadas no supremo delrio. Habitao rstica, de pedra vulcnica, por ondevegetao luxuriante se agarrava, erguia suas paredes singelas.Batemos. Abriu-se uma porta. E um anjo de porte majestoso e fisionomiaimpressionantemente bela estendeu-nos a mo. Era um jovem de augusta beleza.Tnica simples e difana e pele lirial. Seu rosto tambm no demonstrava sexo.Parecia um jovem de idade eterna e parecia ao mesmo tempo ura ser do sexofeminino.

    Eu sou Atafon , falou-nos ele com voz profundamente doce. E controloos caminhos do Abismo mais profundo. Entramos. L dentro, um verdadeiro lar nosesperava. Fiquei encantado. Jamais poderia supor que onde Deus em sua Misericrdiacolocara os espritos do Mal, colocara por sua vez para ampar-los, anjos do Paraso.

    17 Atafon

    Contemplei as linhas perfeitas de Atafon. Era como se eu visse uma figura irreal quetornara o ambiente j to fantstico mais irreal ainda. Perfeio absoluta para os meusolhos de esprito mortal. Olhou-me carinhosamente e perguntou a Orcus:

    O nosso amigo, pelo que vejo, ainda desfruta das alegrias da reencarnao naTerra, no certo?

    Sim. Respondeu Orcus. Permitiu o Senhor que descesse comigo ao fundo dosabismos. Tem compromissos milenares com a esfera fsica e com os abismos.

    Atafon pareceu compreender porque sorriu satisfeito e acrescentou: Terei prazer em facultar a descida sob proteo aos Grandes Abismos. At certoponto, eu mesmo os acompanharei. Contudo, de longe os "Guardas Abismais" vigiaro.Creio que o ltimo mortal que esteve em nossos domnios, tendo entrado pela regio deleste foi Dante. Ningum mais veio. Senti terrvel choque ao ouvir essas palavras.Parecia-me imensa a responsabilidade que caa sobre os meus ombros.

    De fato, completou Orcus, mas a mensagem de Dante foi deturpada pelospadres, seus irmos, que desejavam adaptar o Abismo s suas necessidades maisimediatas. Pretendemos reavivar de maneira gradativa os conhecimentos terrestres sobreas zonas do Abismo. Um vento frio comeou a soprar l fora e uma onda imensa dequeixumes perpassava neles. Embora as paredes do lar de Atafon abafassem os sons,

    ainda assim, ouvamos. So os lamentos das almas desesperadas, disse ele, que atravs da acstica dospenhascos vm at ns. Esse vento frio o Teon. Sopra s mesmas horas todos os dias edessa forma podem os infelizes que habitam estas zonas ter uma idia de tempo, comose fosse um relgio.Retornando sempre aps o mesmo espao de tempo estabeleceu uma certa medida

    para os espritos que aqui habitam de modo a que se consolem. A incapacidade paramedir o tempo uma das provas mais dolorosas destes abismos. A sensao de"eternidade na dor" produz em cada ser uma profunda angstia que desperta neles umarevolta contra Deus...

    A "fora da Lei" faz com que retornem pouco a pouco superfcie. No hinjustia de Deus nem a perda de "compreenso do tempo" um castigo. Os seres queno acionaram a mente no sentido da meditao e do trabalho cristo verdadeiros ou

  • 8/4/2019 R A RANIERI - ANDR LUIZ - O ABISMO

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    espirituais tendem a estacionar no tempo e a cair no espao. Se prosseguem nessecaminho da inconscincia atingiro um dia a desintegrao do prprio organismo

    perispiritual... Eu j recebera algumas noes esparsas da Segunda Morte, por isso nome surpreendi, mas fiquei temeroso.Atafon bateu-me no ombro com familiaridade e perguntou:

    Onde est Orcindo? Diante dessa pergunta, ento, me surpreendiextraordinariamente. No me lembrava mais de Orcindo. Viera conosco ou no? Coisaestranha! Onde o deixramos? Um calafrio percorreu-me o organismo. Estaria eu j soba influncia do Abismo e estaria perdendo tambm a noo de tempo?

    No saberia mais dizer quando deixara a superfcie. Pareciam-me sculos aquelashoras passadas no Abismo. Seriam horas? Orcus percebeu minha luta ntima porquedisse:

    No procure medir o tempo aqui. Para o esprito um minuto pode representaruma eternidade. Abracei-me a ele agradecido e duas grossas lgrimas rolaram-me dosolhos como se eu repousasse nos braos de meu pai.Atafon contemplou-nos carinhosamente e animou:

    Nada temam. Descerei com vocs at s regies prximas do centro.Gabriel protege-nos de mais alto. Contudo, busquem orar sempre porque estamosem plenos domnios do Drago.

    18 - Os "Homens"

    Com Atafon, a situao era diferente e a descida tornou-se mais fcil, apesar doadiantamento inegvel de Orcus. As sombras iluminavam-se passagem do Anjo e a

    luz que se irradiava de seu organismo era um verdadeiro arco-ris multicolorido. Umsilncio profundo sucedia-se proporo que avanvamos. Sbito, comecei a ouvir emmim mesmo a voz do silncio. Parecia-me que o silncio era feito de sons. Aquilosurpreendeu-me mais que tudo. Atafon sorriu.

    Est ouvindo o silncio, meu caro? Se os homens compreendessem as surpresasdo silncio no se riam to barulhentos.

    O que isso que escuto? perguntei-lhe. Nada, meu filho. Na quietude destas profundidades, cessado o barulho exterior,voc passa a ouvir-sea si mesmo.O que voc est ouvindo a vibrao de seu prprioorganismoperispiritual. voc que vibra intensamente em voc mesmo. So os sons dasua alma. Fiquei pensativo. Aquilo era realmente estranho mas era a verdade. Dentro demim um som agudo vibrava intensamente. Orcus calara-se. A descida conquanto maisfcil, ainda assim oferecia perigos. Havia caminhos gelatinosos e escorregadios. Derepente, divisamos na distncia figuras enormes semelhantes a navios encalhados nofundo do mar. Assustei-me. Atafon acalmou-nos com carinho.

    No se assustem. O que pensa voc que aquilo?Respondi-lhe:

    Monstros estacionados no tempo e no espao. Atafon sorriu e Orcus deu uma risadaalegre que retumbou em todo o Abismo.

    Quando vim aqui pela primeira vez pensei a mesma coisa.No, no so monstros, meu amigo. Aquilo uma cidade subterrnea.

    Uma cidade ? ! A voz sufocara-se-me na garganta. Quer dizer que so prdios?

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    Sim. So prdios. Enormes construes de origem espiritual inferior.Envoltas pelas nvoas midas das profundidades, as torres dos prdios escuras,

    pontiagudas, elevavam-se no meio da neblina. Em torno, porm, um silncio de morte. E l habitam seres? Sim. Semelhantes aos homens, todavia, em pssimas condies espirituais.

    Prepare-se para ver o pior. Um arrepio percorreu-me o organismo. Teria eu foras parasuportar essas vises do Abismo? Atafon compreendeu-me a luta interior. De seuorganismo, na altura do corao, uma luz azul de maravilhosa pureza aflorou como umarosa e em breves instantes comecei a receber-lhe os raios em pleno corao e na regiodo crebro. Notei que Orcus por sua vez recebia os efeitos da luz. Uma calma divina

    penetrou-me a alma e a mente pacificou-se como por encanto.Agora percebamos melhor as construes em estilo medieval em parte. O restoassemelhava-se de alguma forma aos palcios dos doges. Havia, contudo, agrupamentosde habitaes parecidas com as nossas favelas mais sujas. Enfim, uma mistura de estilose combinaes de arquitetura. Dir-se-ia que a loucura de algum diablico arquitetoresolvera estabelecer ali a confuso de toda a arte do mundo. Atafon explicou:

    Ali residem espritos de todas as qualidades e tipos. Artistas, poetas, escritores,pintores, engenheiros, homem comuns se se poderia ainda hoje classific-los deconformidade com suas atividades da poca em que estiveram na superfcie da Terra.H neles, porm, um sinal de identidade que lhes comum e que os rene no mesmolugar:

    a indiferena Lei de Deus e a permanncia no mal. Isso que os rene. E esto a? gaguejei. Esto. Vocs os vero.Senti de novo aquele calafrio que me acompanhava desde a superfcie. Comoseriam? pensei. Orcus apertou-me a mo com carinho. O influxo da luz me reajustou.Estvamos agora atravessando os prticos da cidade. Havia um porto enorme em arcoe julguei por um momento ver ali a inscrio que antes descrevera com tanta perfeio:"Deixai aqui toda esperana, vs que entrais".Mas no era. O que estava escrito era coisa diferente. Dizia apenas:"No amamos Deus. Nosso mestre o Drago". Atafon sorriu com indulgncia.

    Esses seres querem demonstrar o seu desprezo a Deus, com essa inscrio.Deus, todavia, h de am-los sempre at que um dia retornem ao domnio da Lei. O queos homens e os espritos pensam de Deus nada representa para Ele que Pai amigo e

    justo e os aguardar de braos abertos at o final dos sculos. A habitam os espritosmaus que ainda pensam que so homens. Aquela expresso de Atafon abalou-me

    profundamente o ser.

    Porque no so mais "espritos de homens" e algum pode deixar de ser?Atafon contemplou-me com profundo amor no olhar. O embrutecimento da criatura espiritual pode lev-la a perder as caractersticasde homens, que uma conquista superior do esprito que sobe. A animalidade caracterstica do esprito que desce, que estaciona ou que est em evoluo.O ensinamento calara-me de maneira irrespondvel na mente e trouxera-me

    profunda meditao. Agarrei com mais fora a mo de Orcus que caminhava juntocomigo, amparandome. Havamos chegado na cidade e o calamento das ruaslembraram-me uma das ruas das velhas cidades coloniais do Imprio Portugus.

    19 - A Cidade do Mal

    As pedras eram escuras, as paredes das casas midas de uma umidade indefinvel. A

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    gua escorria sem cessar e sem que se soubesse de onde vinha. Portas carcomidas, umhlito de morte e terror penetrava todas as coisas.Batemos na primeira casa. A porta entreaberta deixou ver uma criatura horripilante,que nos fitava desesperada. Cabelos desgrenhados e olhos esgazeados. A facedescarnada dava-nos a idia de algum dominado pela lepra. Era uma mulher.

    Desfigurada, s longinquamente nos lembraria um ser humano. Comeamos a perceberporque Atafon nos dissera que eram espritos maus que ainda pensam que sohomens..." A mulher no nos disse nada.Sabamos, no entanto, que havia nela odesespero sem nome.A luz de Atafon,provavelmente, deixara-a distncia e garantia-nos a visita. Retiramo-nos silenciosos.

    Viu? No lhe disse que se preparasse para o pior?Eu devia estar terrivelmente plido porque sentia-me tremer intensamente.Orcus abraou-me com afeio e dele uma corrente eletro-magntica desprendeu-sealcanando-me todo o esprito. Prosseguimos os trs na ruela escura e ftida.

    Se a humanidade soubesse o que existe aqui em baixo! exclamei com umprofundo suspiro. A humanidade j foi informada do que existe esclareceu Orcus

    , o que ela acredita porm que isso constitui um inferno eterno. No h eternidadeno Mal. A Lei de Deus no fez o inferno eterno. O que existe so zonas infernais ondeas conscincias culpadas se renem atradas por imposio inexorvel da Lei deAfinidade. O esprito sob o impulso da Lei de evoluo aperfeioa-se, adquire leveza esobe. Da mesma forma, se estaciona no mal, embrutece-se, torna-se pesado e desce.Essa uma lei ainda desconhecida dos homens mas que funciona rigorosamente nos

    planos espirituais e tanto atinge o esprito encarnado quanto o desencarnado. o quepoderamos chamar peso especfico do perisprito. O responsvel, no entanto, por isso a mente. Quando a mente abriga pensamentos de baixa vibrao determinam eles onascimento de sentimentos inferiores de natureza materializante que agem diretamentesobre os fios que constituem a rede vibratria do perisprito produzindo correntes maislentas o que o tornar mais pesado e mais grosseiro. O fenmeno contrrio, isto ,quando a mente abriga pensamentos de ordem superior ou de alta vibrao, nascem ossentimentos de projeo superior que produzem correntes vibratrias mais velozestrazendo como conseqncia direta maior leveza do perisprito. Como um balo, oesprito busca ento, as alturas espirituais ou desce s profundezas do abismo...Orcus calou-se. Uma interrogao pairava, contudo, no meu esprito. E depois... ?

    Depois, continuou Orcus a lei da maternidade terrestre determina que oesprito que desceu s profundidades estacione nas trevas enquanto que a Terra em seuseio amoroso e amigo, como um enorme tero, lhe d novamente o impulso da vida queno cessa. E o esprito "cado" recomea a marcha de asceno para alcanar um dia a

    luz da superfcie... As palavras de Orcus repercutiam ainda no meu ser como estranhasinfonia de ensinamentos profundos. Minha mente lutava desesperada paracompreender tudo aquilo que me parecia um sonho fantstico e mau. Na sombra,

    percebamos que medida que avanvamos, seres esquisitos se escondiam nos ngulosmais escuros dos caminhos. Evidentemente, a cidade inteira era habitada. Atafonconduziu-nos por estreitos e terrveis caminhos. Uma abertura em rocha viva deu-nos

    passagem para extenso corredor mais mido ainda. Onde iramos ns?Orcus manteve-se silencioso e Atafon ganhando um pouco nossa frente deixou quede sbito suave luz de luar se lhe irradiasse do ser. Branda e pura, a luminosidadederramava-se-lhe dos tecidos como tnue claridade atravs de lmpada fluorescente.O caminho iluminou-se francamente mas de modo a permitir-nos a marcha em

    perfeita segurana. Orcus cochichou-me paternalmente: Atafon est usando apenas um pouco mais de sua vibrao com o objetivo nico

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    de facilitar nossa caminhada. Os seres inferiores, todavia, que habitam as trevas jsabem que estamos por aqui. Se Atafon usasse mais luz causaria enorme perturbaonestes domnios porque essas criaturas sentem-se queimar incidncia da luz. De resto,voc j viu isso... Compreendi o que Orcus me dizia. Realmente, era um fatoimpressionante aquele. Os espritos que vivem nas trevas e tm a treva em si mesmos

    no suportam a luz. Ofuscam-se e sofrem ao mesmo tempo queimaduras dolorosas. Porisso, imenso cuidado mantm as entidades mais elevadas a fim de no surpreend-loscom o seu poder. Assim como Deus, oculto no Infinito, no exibe escandalosamente asua fora e o seu poder, tambm os espritos superiores envolvem na humildade o seuconhecimento e as suas conquistas. Ningum pode ou tem o direito der estabelecer adesordem na "Casa do Pai". Jesus ensinou-nos a humildade de tal forma que o homemainda no descobriu que nos mais longnquos recantos do Universo a humildade Lei.Lei de vida e evoluo, progresso e asceno espiritual. Sem ela nada se conquistanas esferas da vida imortal. Continuamos penetrando atravs da rocha com Atafon frente. De repente, enorme salo, todo de rocha avermelhada como imensa fogueiradescortinou-se-nos aos olhos. Uma figura estranha de ano com um s olho na testa,

    segurando nas mos poderosas enorme molho de chaves de mais de dois palmos detamanho cada uma, veio at ns. Aterrorizei-me e senti um apavorante impulso parafugir mas Atafon conteve-me com um gesto.A criatura aproximou-se-lhe humildemente.

    Que quereis Anjo do Abismo? aqui estou para servir-vos.O ano vestia roupa de tecido semelhante ao couro. A cabea grande demacrocfalo, balanava-lhe nos ombros como um globo oscilante e os braosexcessivamente longos contrastavam-lhe com o corpo curto. As pernas grossas, noentanto, suportavam-lhe a esquisita estrutura.

    Venho em visita de inspeo disse Atafon e trago amigos.No pude conter um grito de terror. Pelos cantos da gruta mida, frouxamenteiluminada por uma lanterna esverdeada, seres patibulares jaziam acorrentados. O anomantinha as chaves daquelas correntes. Orcus abafou-me os soluos abraando-me com

    paternal amor. As lgrimas insopitveis saltavam-me dos olhos incontrolados. Erainsuportvel aquela viso. Meus sentimentos ainda no submetidos a uma disciplina que capaz de nos dar a compaixo sem o desvairamento traiam-me a condio inferior.O ano contemplou-me por um minuto como se estivesse em dvida mas a presena deOrcus e Atafon salvaram-me. Enquanto Atafon se adiantava para os seres horripilantesque estavam na sombra, Orcus murmurou:

    Se por ventura voc pudesse ter chegado aqui sozinho, as suas lgrimas que nasuperfcie so prova de sublimidade e amor, aqui seriam motivo para que voc tambm

    fosse acorrentado junto com aquelas criaturas ali.Acompanhei com os olhos o gesto de Orcus expresso em sua mo estendida, e recebiem todo o meu organismo um arrepio medonho de pavor. Compreendi que naquelasregies s duas condies credenciavam o esprito: ou imensa elevao espiritual ou

    prodigioso atraso prximo da inconscincia. Os espritos de sublime posio eramrespeitados e os espritos maus que governavam as trevas podiam se mover. O resto eraimpiedosamente escravizado. Uma lgrima nos olhos era um sinal de perigo.Poderamos ser arrastados a sofrimentos inauditos. A serena superioridade dos quesabiam amar sem se perder mantinha os verdugos distncia. A fraqueza dossimplesmente bem intencionados no os amedrontava. Quo difcil me era aproximardaquelas criaturas acorrentadas! Um cheiro nauseabundo tresandava-lhes do organismo.

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    Os membros pareciam putrefatos e os olhos injetados perdidos na face semelhavamduas plidas e pequeninas luas. Chamei a ateno de Orcus para o fato de possuremdois olhos. Orcus esclareceu:

    Estes so espritos que desceram recentemente s profundezas deste abismo.Todavia, repare bem que trazem os olhos vidrados ou opacos. No possuem viso.

    Gastaram os olhos na "Terra" naquilo que os homens poderiam denominar de"hipnotismo sensual". O desejo e a sensualidade exercida pelas vistas na nsia do desejoda mulher do prximo ou a aplicao do magnetismo visual para a conquista e amor de

    baixo padro desgastam as fibras do perisprito e cega a criatura por muitos milnios.So cegos de amor e paixo. Quedei-me pensativo e silencioso. Nunca havia suposto lna superfcie que os olhos que ardem na paixo desenfreada dos sentidos estavamcondenados destruio. O amor cheio de maldade destri o prprio veculo pelo qualse transmite. Orcus demonstrou com um olhar compreender minhas profundas reflexese aduziu ao meu pensamento:

    O que voc est pensando, meu filho, corresponde mais exata realidade, todavia bom esclarecer que o olhar carinhoso e amigo, verdadeiramente sincero, aplicado no

    amor verdadeiro que obedece ao cumprimento da Lei, constri pupilas luminosas para aimortalidade. a mesma lei que estabelece as probabilidades de subida e descida queestudamos anteriormente. O amor ao mal e s coisas da matria materializa. O amor ao

    bem e s coisas do esprito, espiritualiza. Tudo em toda a parte, toca-se de luz e sombra.A mesma energia depende apenas de direo. por isso que o Evangelho bssola...A observao judiciosa de Orcus calou-me fundo. Atafon dirigia-se mais para o interiore notei que se aproximava daquelas criaturas "descarnadas", expresso que usamos afim de dar uma idia da condio delas. Verificamos que os seus perispritos, conquantoorganismos de natureza eletromagntica e infinitamente distanciados daquilo quechamamos carne apresentavam-se dilacerados exibindo membros onde faltavam

    pedaos enormes. A maioria exibia rbitas vazias. E dizemos a maioria porque ali sealinhavam em verdadeira multido de alguns milhares. O salo como imenso platlembrava prodigiosa laje sobre a qual as criaturas inconscientes ou semi-conscientes

    permaneciam abandonadas em um estado que se no era a morte tambm no era avida.Uma mulher cujos membros dilacerados e enfraquecidos lembravam rvore seca,desgalhada, batida pela fria da tempestade, falou-nos ininteligivelmente. Paramostentando ouvi-la.

    Sabe quem essa? interrogou Orcus.Olhei a mulher como quem contempla uma runa inimaginvel e no pude merecordar daquelas feies monstruosas. Quem seria?

    A mulher de Csar... Meu olhar ansioso buscou Orcus. Quiz saber mais. Ele

    compreendeu mas no me disse nada. Vi que no lhe convinha me revelar mais. Umaestranha fora, contudo, desde aquela hora me atraiu para aquela mulher. Teria sido euaquele Csar? Qual deles? Tomei-me de compaixo. Orcus, porm, alertou-me.

    Por mais tenhamos amado algum algumas vezes a criatura se lana emprecipcios to profundos que nada podemos fazer em seu favor. S a Lei de Deus,inexorvel, dura, mas misericordiosa, salva os que esto aparentemente perdidos. Cadaum se salva por si mesmo ao influxo da misericrdia do Pai. "Descer e subir" so forasda vida. Caminhei olhando para trs. Orcus arrastava-me pela mo. Entre os molambose o horror daquela forma cada no mal eu sentia um corao que no me amara mas aquem eu sempre amei.

    Voc no foi Csar i acrescentou Orcus mas apenas algum que a amou.

    Ela que sempre sonhou com o esplendor das cortes e dos reinados, renunciando aoverdadeiro amor foi caindo, de queda em queda at o ponto que voc viu. Naqueles

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    olhos vidrados e na sua inconscincia ainda sonha com as multides e com os palciosdos csares. Est coberta de ouro e prpura. Para ns, no entanto, s exibe podrido elama. Contudo, um dia, retornar ao Paraso. O Reino de Deus, meu filho, feito desimplicidade e amor. Os tesouros desse reino so apenas a afeio verdadeira e o amorimortal.

    Orcus cessou de falar. Atafon que se distanciara fez um aceno com a mo.Apressamo-nos. Um grupo de "homens" amontoados uns sobre os outros como umapilha de capim ou palha aguardava-nos para estudo. Pareciam esqueletos de formaspatibulares. Embora no exibissem revestimento na ossada lisa, gemiam como sepossussem garganta e lngua. Estranhos gemidos saiam do monturo!Contemplamos o espetculo inaudito! Em meio ossada vozes murmuravam

    palavras de paixo e dor. Que criaturas so essas? perguntei profundamente surpreendido. So os espritos daqueles que acreditaram firmemente que aps a morte nadarestaria deles e se riam apenas esqueletos abandonados. To grande foi a mentalizaonesse sentido que adquiriram a forma que voc v.

    A resposta de Orcus de uma certa maneira deixou-me aterrorizado. Jamais imaginarato grande a fora do pensamento.

    Sentem-se eles realmente como se fossem esqueletos. O perisprito moldou-se nova forma e provavelmente se andassem pelo mundo seriam vistos por alguns comoassombraes em formas esquelticas. Mui tos tm sado assim na superfcie...Um calafrio percorreu-me a coluna... Estava diante de fatos novos para mim. NuncaDante me surgiu to respeitvel na conscincia. Compreendi o verdadeiro sentido de suahistria e fiquei imaginando quo enorme foi o seu sofrimento por no sercompreendido na superfcie da Terra. Acreditaram no mundo que ele houvesse sidosomente um artista. certo que ningum sups que o assunto de seus poemas fosseverdadeiro, real. Provavelmente, eu encontraria resistncia maior ou semelhante naCrosta. Valeria pena?

    Quem serve por amor ao servio e tem a Deus por Pai e Jesus por irmo, nopode deter-se para informar-se se o que pensam os homens a seu respeito... falou-me Orcus mansamente como que respondendo s minhas angustiosasinterrogaes mentais. Palavras sbias que eu no tentaria sequer discutir.Atafon prosseguia percorrendo o imenso rochedo onde os espritos infelizes fizeram

    por desgraa o seu ninho de sofrimento. Seres estranhos entremeavam-se quelasformas. Alguns pareciam serpentes, lagartos e drages menores. Outros exibiam tohorrorosa fisionomia que os enfermos da superfcie ao lado deles seriam criaturas desublime beleza. Defrontramos agora uma infinidade de espritos que exibiam formas

    dilaceradas.Espantou-me o fato. Nem sempre possuam as pernas e os braos. Havia osque apenas apresentavam a cabea e o tronco. Estranho reunirem-se eles numa espciede panela aberta no vasto rochedo em forma de prato. Aninhavam-se uns aos outroscomo crianas, dominados por um sono inquieto. Misturavam-se, aconchegavam-se unsnos outros como que procurando calor. A maioria ostentava um crnio limpo, brilhante,sem cabelos; outros, apenas recoberto por uma penugem rala. A maioria lembravacrianas com a fisionomia de velhos milenares cuja boca adquiria a feio de meninosque esto chupando bico. Os olhos fundos absolutamente fechados.

    Na realidade, eram seres voltados para dentro de si mesmos num esquisitomovimento mental interior. O exterior no lhes fazia conta e para eles deixara de existir.Semelhavam fetos amontoados no tero materno. No era a primeira vez que eu

    contemplava criaturas s quais faltavam membros, mas eram sempre homens da Terra.O fato de existirem espritos mutilados impressionava-me profundamente.

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    Orcus no deixou de perceber-me as dificuldades internas e a luta do pensamentopara adaptar-se quela realidade nova. De fato, meu caro, sempre chocante aobservao detalhada da degradao da forma em qualquer reino da criatura nouniverso. O esprito no retrograda, todavia a forma tem possibilidade de desgastar-se,dilacerar-se e degradar-se at dissolver-se.

    Voc no se lembra do ensinamento relativamente Segunda Morte? O princpio no novo, como vemos, e foi expresso pessoalmente por nosso Excelso Mestre.Senti como terrvel impacto mental o lembrete de Orcus. No havia por onde fugir.

    E isso a segunda morte? interroguei visivelmente assustado. No, esta ainda no a segunda morte mas poder ser encarada como a agonia...Compreendi a profundidade da observao.

    Quer dizer que esses so enfermos a caminho da dissoluo perispiritual? Se no reagirem a tempo, iro decaindo em si mesmos cada vez mais atatingirem os limites marcados pela Lei para a garantia da unio celular. A desintegraodo perisprito pode ocorrer tanto quanto ocorre no mundo a desintegrao do corpofsico. A lei que rege a unio celular perispiritual a mesma, apenas funciona de

    maneira diferente. Enquanto que o corpo fsico vive submetido ao equilbrio daalimentao constituda por alimentos comuns e oxignio e a sua manuteno dependesomente de um processo da vida, o perisprito que o intermedirio na aglutinaocelular do corpo fsico que o garante, por sua vez mantm-se unicamente pelo poder damente. O desvario mental inicia a destruio do perisprito assim como a elevao damente d incio jornada de construo no s do prprio perisprito mas tambm deveculos mais elevados. A criatura constri ou destri-se a si mesma...Orcus fitou-me amoroso e o meu pensamento sob o influxo do poder de sua palavrasbia galopou no terreno da meditao pura. As formas ali estavam a nossos ps,dilaceradas, mutiladas, horrveis... E haviam sido "homens" talvez belos e venturosos,um dia, na superfcie! Na realidade em nosso mundo, os homens sonhavam com o cu,mas aqueles ali seriam imensamente felizes se pudessem simplesmente atingir asuperfcie da crosta terrestre. Todavia, ainda estavam descendo. E quantos no mundo,distrados e insensatos estavam iniciando a descida para a destruio total ou parcial?Descer e subir so problemas de direo... dissera Orcus. De fato, compreendiaeu agora a sabedoria da assertiva. S descendo sombra mais espessa que poderemosentender a luz. Atafon, no entanto, prosseguia, e por isso no pudemos nos deter.

    20 - A Ave

    Enquanto caminhvamos na plataforma de pedra, observamos que uma sombra

    esquisita parecia nos acompanhar. Atafon fez-nos um gesto discreto indicando-nos anecessidade de manter silncio e prosseguir com coragem. Confesso que no me sentiamuito seguro e que minhas pernas tremiam. Contornvamos extenso lago de guas

    prateadas. O rochedo alto, projetava-se sobre o lago assustadoramente. Provavelmente,deveramos parecer na distncia infinitamente pequenos. ramos trs criaturasinsignificantes sobre imenso rochedo, apesar da enorme estatura de Atafon e de Orcus.Os seres respeitavam-nos mas a natureza ali, sombria e fantstica, criava tudo de mododescomunal. Precipcios sem fim, escarpas perigosas, umidade capaz de arrastar adespenhadeiros. S a luminosidade de Atafon e Orcus clareava as sombras. O anoseguia-nos conduzindo uma espcie de lanterna semelhante quelas que os lanterneirosusam nas estaes de estrada de ferro. Marchava arrastado, porm respeitoso. Via-seque estava submetido e escravizado ao magnetismo de Atafon que exercia sobre eleenorme poder. Era uma criatura apavorante. Fcies que lembrava o gorila antropide,

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    ancestral do homem. Olhar vidrado, parado, face terrosa. A luz de sua lanterna mal dariapara clarear-lhe os passos. Parecia, no entanto enxergar perfeitamente nas trevas. Essas criaturas falou-nos Atafon acostumaram-se s trevas e enxergamcom facilidade nos abismos. Vivem, na sombra e amam a sombra. Por isso, no osinquieta aquilo que para os mortais seria o pavor e a morte.

    O vulto, do outro lado do lago, acompanhva-nos silenciosamente. De sbito,ouvimos um grito medonho que reboou multiplicado muitas vezes pelo eco naimensido dos penhascos. Parei estarrecido. Era uma voz de ave e de animalantediluviano. Sufocado pelo terror no pude andar um passo. Um frio intenso

    percorreu-me todo o organismo. Orcus amparou-me carinhoso e Atafon estendeu a moespalmada em direo ao lago. Vibraes magnticas partiram-lhe dos dedosdistendidos como fagulhas eltricas de um prodigioso maarico. As sombras sobre olago iluminaram-se e ns vimos quela luz verde-azulada um enorme monstro queatravs de dois olhos de fogo nos contemplava. Deveria ter mais de cem metros dealtura minha viso assombrada. No sabia eu se o seu tamanho era natural assim ou seminhas pupilas dilatadas causavam-me angustiosa alucinao. Preto, mais preto que

    todas as noites. Era uma ave gigantesca. Asas negras enormes, peito descomunal, bicocomo duas ps de moinho, olhos qual duas fogueiras. Uma pele cascorenta semelhante

    pele que recobre o bico dos perus recobria-lhe o bico e descia-lhe pelo pescoo semi-pelado. Lembrava um enorme corvo. Em sua fisionomia, no entanto,estarrecedoramente, percebiam-se os traos de um ser humano. Os ps de grandesdimenses por sua vez recordavam longinquamente as mos humanas. Crescia a minhaangstia sem limites. A distncia, porm, entre ns e ele era extensssima. O lagogarantia-nos a imunidade mesmo se ali no estivesse Atafon.As centelhas precipitadas e projetadas pelas mos do Grande Esprito atravessavama extenso do lago e atingiam a criatura em pleno peito na regio do corao eentravam-lhe pelos olhos maus. Recebendo-as, aquietou-se silencioso ao nosso olhar.

    Esse que vocs vm foi na Terra um monstro sem entranhas que destruiu milhesde criaturas na conquista do poder explicou Atafon. As civilizaes antigasguardaramo seu nome como o de uma fera indomvel. Nasceu e renasceu enquanto amisericrdia divina lhe permitiu as maravilhosas oportunidades de reingresso na carneabenoada. Depois, comeou a, cair por fora da lei at que a prpria forma lhe tomouas feies do pensamento tenebroso. Manteve a fora dos conquistadores e das feras, e o

    porte da ave que sonha voar e governar de cima. terrivelmente temido nestas regies.Todavia, se a forma que a lei lhe permitiu agora no o despertar para a ascenocontinuar caindo mais, de forma em forma degradada at o fim...As palavras do anjo vibraram com estranhos acentos em minha alma. Contemplei o

    monstro numa nsia sem limites de saber quem fora ele na Terra, Orcus contudosegredou-me: No temos permisso da Lei para revelar essas criaturas, to grande atransformao que apresentam. A revelao simples e pura das personalidades queanimaram na superfcie causaria tal impacto mental ao homem que vo seria o nossoservio. A prudncia nessas regies a melhor garantia para o cado. Se os homenssoubessem o seu nome sintonizar-se-iam com ele no campo da vibrao, emitindo erecebendo, e em breve o monstro tambm vibraria em direo superfcie, de talmaneira que- no demoraria o mundo a sentir-lhe as imensas perturbaes em forma deterremotos, guerras e desordens sem nome. No aterrorizou-se voc apenas com o seugrito? A interrogao de Orcus calou-me fundo no esprito j to abalado. Seria eu

    capaz de prosseguir em marcha? es, acrescentou: No se esquea, meu filho,que estamos somente no limiar dos abismos...

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    No pretendemos de uma s vez sobrecarregar-lhe a mente desacostumada simagens pouco comuns.

    21 - Outras Criaturas

    A grande ave abria e fechava o bico enorme como se deglutisse alguma coisa.Tnhamos a impresso de que o cansao dominava-lhe o organismo. Todavia, Orcusesclareceu:

    Nestas profundezas, os seres que aqui residem quase sempre sentem-se ansiadospela atmosfera asfixiante e de baixa vibrao. Embora ferozes, maus e desvairados, noconseguem sobrepor-se s foras da natureza ...

    No obstante aduziu Atafon que ainda mantinha a mo estendida em direoao pssaro esses grandes seres do mal expedem instrues para a superfcie atravsde outras criaturas que l em cima lhes cumprem as ordens rigorosamente acreditandoseinstrumentos da Grande Justia. Interferem na vida humana e de certa forma

    justificam a teoria de que o diabo disputa a alma do homem. De resto, em quase todas asreligies antigas encontramos referncias luta entre o Bem e o Mal, desde a Babilniaat ndia. Nas anotaes relacionadas com a histria de Krishna e com os estudos quefalam de Vichn e de Ormuz, encontraremos sempre a luta entre o Bem e o Mal numa

    perfeita constante. Espritos de menor porte que ainda vivem na atmosfera da Crostaterrestre recebem-lhes as advertncias e cumprem-lhes as ordens. lgico que dentrodo esquema divino por efeito das leis de Deus tudo se enquadra na Justia Divina.Acontece, porm, que o que poderia ser feito com amor realiza-se simplesmente comexcessiva justia. Atafon silenciou e ns, assombrados, notamos que de sbito o bichoabriu o bico de maneira diferente e uma voz cavernosa pareceu sair-lhe em pleno peito.

    Que desejais em nossos domnios, Anjo do Abismo? No sabeis que nestas trevas

    governamos ns, os filhos dos Drages? Porque perturbai-nos o trabalho pacfico emprol da Justia do Mundo? Senti-me gelar. Orcus agarrou-me mais firme no brao comoquem compreende a minha situao interior. Atafon demorou algum tempo a responder,depois clamou com voz argentina por cima do lago:

    Como filhos do Cordeiro e Guardio dos Abismos, fazemos uma viagem deestudos e aprendizado. Compete-nos informar s esferas mais altas de que maneira estsendo aplicada a justia nestes rinces. Nosso dever nos impe o trabalho. Se vsaplicais a justia, cabe a mim e a outros guardies fiscaliz-la. Representamos, tambm,de alguma forma a Vontade de Deus nestas profundidades.O pssaro deu-nos a idia de que estava satisfeito com a resposta. Contudo bocejouestranhamente. Pareceu-nos que pequenas chamas saltavam-lhe da boca. Seria luz?

    Aps, voltou a dizer: Compreendo e acato as ordens de cima, das Esferas que governam o Orbe e osAbismos, respeito-o como guarda-abismal, mas e essas criaturas que o acompanham?Que direito tm de penetrar em nossos domnios? J venceram elas o bem e o mal, jalcanaram possibilidades superiores?Um grande silncio se fez.

    Porque ento vm nos perturbar desrespeitando nossas leis continuou maisferoz agora em seguida pausa sem resposta.Atafon voltou, no entanto, sereno e humilde.

    Receberam ordens superiores para visitar os abismos em viagem de estudo. Foilhespermitido percorrer estas regies e anotar relacionando o trabalho da Justia que seexerce atravs dos Drages para conhecimento dos homens.A palavra de Atafon pareceu tocar-lhe a vaidade e o orgulho porque tivemos a

  • 8/4/2019 R A RANIERI - ANDR LUIZ - O ABISMO

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    impresso estranha de que atrs do bico prodigioso e em plenos olhos havia um sorrisode gosto e de alegria.

    Bom, se esto credenciados para contar ao Mundo a obra notvel que osDrages realizam no fundo da Terra para harmonia da Criao nada temos a dizer enem faremos um gesto para impedir. Podeis percorrer os domnios que esto sob minha

    responsabilidade e que o domnio dos seres que j conquistaram poder para dominar easas que nos libertam do solo. Assombrei-me com a interpretao sibilina que aquelacriatura procurava dar de sua escravido na forma.

    Eles no admitem segredou-me Orcus de maneira alguma que estejam sedegradando na forma pela permanncia na imantao do mal. Querem fazer crer que o

    bico, os olhos de fogo; as asas negras, os ps semi-humanos e tudo o mais so conquistagloriosa. No vm a prpria forma destorcida como um crcere chaguento e terrvel.Sonham que so seres que adquiriram maiores possibilidades. Com esse