espiritismo - r. a. ranieri - o abismo

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R. A. RANIERI O ABISMO 11 Edio 34 milheiro 1997 Nota: A Diretoria desta Editora no possui remunerao e objetiva a.divulgao da Doutrina Esprita e do movimento da Fraternidade. Produo da Capa: Rob Desenho da Capa: Wagner de Castro Produo Editorial: Maria Cristina Pires

Editora da Fraternidade S/C Ltda. Sede - Guaratinguet (SP) Rua lvares Cabral, 381 - Cx. Postal 248 Fone/Fax: (0125)22^983 CEP 12500-000-Guaratinguet-SP Escritrio - So Paulo (SP): Rua Santo Alberto, 305 - Santo Amaro Telefone: (011)521-8333 CEP04676-041-So Paulo-S FICHA CATALOGRAFICA FEITA NA EDITORA Assim est escrito: No fars para ti imagem de escultura, nem alguma semelhana do que h em cima nos cus, nem em baixo na terra, nem nas guas debaixo da terra. XODO Cap. 20, v 4 E ningum no cu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia abrir o livro, nem olhar para ele. Apocalipse Cap. 5 v 3 E ouvi a toda a criatura que est no cu e na terra, e debaixo da terra, e que est no mar... Apocalipse Cap. 5 v 13 133.91R157a.3.acd. Ranieri, R. A., 1920 - O abismo: obra medinica / Rafael Amrico Ranieri / orientada pelo Esprito Andr Luiz. - 3.a edio - Guaratinguet (SP), Editora Fraternidade, 1987 1. Espiritismo 2. Psicografia I. Ttulo Indice para catlogo sistemtico I. Inscritos psicografados: Espiritismo 133.91 E vi descer do cu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mo. E prendeu o drago, a antiga serpente, que o Diabo e Satans, e amarrou-o por mil anos. E lanou-o no abismo, e ali o encerrou, e ps selo sobre ele, para que mais no engane as naes, at que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo. Apocalipse Cap. 20 v 1, 2, 3 Estranho Caminho Meu pensamento foi assaltado por vibraes violentas vindas do seio da Terra. Senti como se um poderoso aparelho detonador me atingisse as fibras mais nti, mas e me precipitasse em sintonia com a morte. No era medo o que eu sentia , mas era uma sensao quase que de terror. Foras desconhecidas agiam no meu subconsciente e me atraiam para perigoso abismo. A princpio pensei que me desintegraria , mas a seguir compreendi que a exploso se dera dentro de mim mesmo. As clulas de meu organismo espiritual entravam em vertiginoso movimento como se uma verdadeira exploso atmica se realizara no meu interior. Tinha a impresso de que tudo girava dentro de mim. As clulas haviam se precipitado numa corrida louca de libertao. Centenas, milharesj milhes, em corrida vertiginosa.

Minha mente tudo observava como que assombrada com o imprio de clulas que se desmoronava. Embora tudo aquilo fosse eu mesmo compreendia a insignificncia que somos no emaranhado das leis que nos governam. Imensa era a minha ignorncia e grandiosa e infinita a sabedoria de Deus! O cosmo interior da minha individualidade se mantinha como um firmamento cheio de estrelas e planetas. Os astros em meio ao conglomerado de clulas dispersadas marchavam no vrtice acelerado. No perdi a conscincia, contudo senti que girava em mim mesmo e que minha conscincia estava aparentemente desgovernada. Meu ser crescia, crescia sempre como se eu me tornara de repente enorme boneco de borracha porosa que se dilatasse indefinidamente. Quiz gritar algu, mas vezes , mas a voz morria-me na garganta como se sufocada por mo de ferro. Acovardei-me e entreguei-me vontade de Deus. No alto brilharam as estrelas e a tive a impresso de que caminhava ao encontro dos as-tras. Mergulhei no firmamento e subi, subi sempre. L embaixo comeou a ficar a Terra, perdida no oceano do universo. No sabia a que alturas haveria de atingir , mas via o mundo fugir de mim como a criana que contempla a sua bolinha de vidro perder-se nas guas do mar. Orcus De repente, senti que no estava sozinho. A meu lado estava Orcus que me contemplava afetuosamente. Olhei-o com ateno e verifiquei que era uma criatura formidvel. Longos cabelos brancos, ligeiramente enrolados como se fossem cordas desciam-lhe pelos ombros. Rosto enorme, redondo "aquadradado" sobre um pescoo taurino e peito descomunal. A tnica aberta ao peito dava-lhe ao conjunto a expresso de um dos antigos profetas, talvez Isaas ou Pedro, o apstolo. O cu repleto de estrelas parecia conter-nos apenas a ns dois estabilizados no espao por uma fora que equilibrava a lei de gravidade. Aps o delrio vertiginoso das clulas em debandada meu ser comeou a serenar-se e eu me senti como se fosse uma criatura de dimenses despropositadas, imensas. Eu estava "cado dentro de mim mesmo". Orcus contemplava-me com amor e de seus olhos comearam a partir em minha direo partculas ou centelhas de luz que vinham me atingir o ser. Recebi-as a princpio no corao e fui tomado de uma sensao de conforto retemperado por energias novas. Em seguida estendeu-me o Esprito a dextra cintilante e ondas esquisitas se desprenderam dela vindo atingir-me a casa mental. Aos poucos sob este novo influxo, principiei a diminuir-me lentamente e a voltar ao que poderia chamar, de "estado normal". Restabeleci-me interiormente sob o domnio espiritual de Orcus que me transfundia poderosas foras emitidas de seu poderoso organismo. Como um enfermo que se levanta do leito, equilibrei-me no Infinito. Na distncia imensurvel giravam os mundos em turbilho. Olhei a Terra: ainda estava l em baixo, perdida na vastido do universo. Aonde estamos, Orcus? interroguei. Entre as esferas do sistema solar, porm a uma distncia de 325.000 kms da Terra respondeu Orcus. Estamos aqui na realidade ou apenas uma impresso que temos desse deslocamento? No, no impresso. Estamos aqui mesmo. Fomos deslocados ao impulso da fora mental, que nos arrastou o organismo em direo ao infinito. Voc, meu filho, sofreu um processo de liberao parcial das clulas perispirituais afim de adquirir "leveza" para a viagem. Eu como j estou habituado ao "clima de mais alto" no tive necessidade de passar por esse sofrimento.

Tornei a contemplar o Infinito e meu olhar inabituado ao panorama prodigioso de milhes e milhes de astros em carreira alucinante parecia submetido ininterruptamente a detonaes interiores que iriam explodir o globo ocular. Tive a ideia que as pupilas estavam sendo dilatadas ao contacto das imagens novas do infinito portadoras de teor vibratrio diferente da vibrao terrestre. E assim, por longo tempo, me embebi na contemplao do Universo. A Terra Daqui, meu filho, contemplar a Terra disse Orcus O planeta gira no espao a milhes de anos Impulsionado pelas foras vivas da Vida. Como ele, trilhes e trilhes de outros giram na marcha ascencional dos mundos. E neles a vida se expande em todas as for, mas e em mltiplas manifestaes. Contemplei a Terra que semelhava realmente uma laranja de formato irregular e estranho. No era a forma redonda que nos representada nas escolas e ginsios do orbe , mas sim um corpo repleto de salincias e tocado de luz e sombra nas eminncias e nas reentrncias. Vales profundos e picos elevados, superfcie brilhante luz do sol indicando as grandes , massas d'gua. De fato, quela distncia, todos os proble, mas terrestres perdiam o interesse. De que valiam as lutas e guerras humanas? De nada. Vamos a Terra e compreendamos que o Homem gasta imensas energias por nada. Visto de longe, o nosso mundo era modesto departamento de educao no turbilho do Cosmo. Observe bem, acrescentou Orcus, e poder ver o desenho dos continentes e dos pases recortados perfeitamente. Busquei ansioso com o olhar o continente Americano e particularmente o Brasil. L estavam modelados na Crosta Terrestre acompanhando a marcha do mundo. Ligeiro colorido marrem terroso sob uma nvoa plmbea cobria os continentes. Verifiquei que o meu olhar, agora dilatado, atravessava com relativa facilidade a grande extenso pertencente faixa da atmosfera terrestre. No pude me deter melhor na anlise de nossa casa planetria porque Orcus me informou: Prepare-se para descer. Aqui, meu amigo, iniciaremos a nossa jornada em demanda das profundidades e dos abismos onde habitam os Gnios da sombra e do mal. Senti uma espcie de calafrio. Como mergulhadores, abraados, comeamos a descer. A mente de Orcus qual poderoso motor vibrava aceleradamente. Minha mente, porm, no podia acompanhar-lhe o ritmo na descida vertiginosa e eu, agarrado a ele, precipitei-me naquela estranha aventura ao encontro do Abismo. Na Sub-Crosta Nossa mente sentia o impacto das vibraes csmicas que nos atingia na descida vertiginosa. O Globo Terrestre aproximava-se no imenso mar do espao etreo. Orcus era um grande pssaro que se precipitava numa velocidade indescritvel. Aos poucos percebemos a faixa da atmosfera terrena, de cor plmbea, como um rio que cortasse repentinamente as guas do oceano. A nossa frente surgiam os continentes enquanto a Casa Terrestre rodava sobre si mesma. O turbilho da mente em altssima frequncia vibratria atravessava as grandes , massas de radiaes que como vasto cinturo circundavam o Globo. Percebi que centenas de tonalidades de cor misturadas compunham a crosta terrestre, predominando no Mitunto o amarelo, o marrom e o vermelho.

Notei que repentinamente penetrvamos camada mais densa. - , mas como? A crosta da Terra? - Estamos atravessando a crosta disse Orcus. Sim, a crosta da Terra. Voc no pode compreender bem o problema porque ainda v com os olhos de homem do mundo. Eu, porm, vejo com os olhos do esprito. - , mas a terra no compacta, dura, intransponvel? - No, no bem isso. A Terra , compacta e oferece resistncia aos corpos de certa densidade como os que existem na sua superfcie. O homem pela sua densidade fsica e pela densidade dos objetos que fazem parte de seu mundo encontra a terra dura, difcil de ser vencida ou "varada". , mas para a densidade dos espritos a crosta terrestre como voc est vendo, apenas um turbilho de poeira em movimento. De fato, ns agora percorramos extensa faixa de poeira em movimento semelhante poeira que se levanta na superfcie do Globo quando este varrido por um forte vento. Na realidade, no encontrvamos ali a terra que ns to bem conhecemos e com a qual convivemos. No oferecia resistncia nossa passagem e somente nos lembrava uma camada mais espessa de atmosfera. Fiquei assombrado. Nunca supuz que se pudesse penetrar daquela forma o seio da terra! , mas, e o calor? No diz a cincia que a cada trinta e trs metros de descida corresponde o aumento gradativo de um grau de calor? E o que tem isso? verdadeira a afirmativa cientfica terrestre, , mas isso no nos impede de penetrar terra a dentro nem nos atinge. Calei-me, de novo admirado. Enquanto meditava, prosseguia na descida vertiginosa sob o controle poderoso de Orcus. Vamos parar exclamou o Esprito, de repente. Pude observar que nos aproximvamos de imensas cordilheiras que exibiam pinculos inaccessveis se vistos de baixo. Alm deles, nas profundezas, abismos escuros se abriam aos nossos olhos acostumados agora viso panormica das alturas. Orcus segurou-me fortemente e compreendi que diminuamos a velocidade como dois torpedos que chegassem ao objetivo. Em seguida pousamos na ponta de um penhasco. Vencemos, felizmente, a "poeira terrestre" explicou o mensageiro. Aqui, por um pouco, estaremos seguros. Ficamos de p. Ventos midos gemiam naquelas regies sombrias. Leve claridade se filtrava atravs da poeira que turbilhonava acima de nossas cabeas. As cristas abruptas encharcadas de estranho lquido escorregadio lanavam-se perigosamente das alturas. Eu nunca vira na terra coisa igual. Eram centenas e milhares perdidas na vastido do Abismo. A princpio no se via ningum. Tudo silencioso e soturno. Parecia o fim do mundo ou o incio da Criao. Do silncio e das trevas uma espcie de terror caminhava para ns. Olhei Orcus: era assim mesmo uma figura impressionante. No foi por aqui que passou Dante? perguntei. No, ele seguiu outro caminho esclareceu Orcus. Dante buscava outras regies. No entanto, se for permitido, passaremos um dia por onde ele passou. Senti um arrepio. Estaramos a caminho do Inferno? Gabriel Orcus passou lentamente a mo espalmada sobre meus olhos. Pensei que ia ter uma vertigem. Cintilaes de grande intensidade invadiam-me as pupilas dilatadas. Parecia-me que um sol de luz branca penetrava-me a mente e que eu ofuscado, iria precipitar-me das alturas.

Sbito, em pleno abismo, estarrecido, divisei for, mas difanas, puras, cristalinas, que se moviam sobre os rochedos e os penhascos. For, mas anglicas movimentavam-se naquelas vastides. Figuras de pureza lirial transportavam-se atravs do espao. No podia eu ainda perceb-las em toda a sua nitidez , mas sabia que eram for, mas semelhantes s for, mas humanas, porm transparentes e feitas de luz. A nossa frente numa distncia indescritvel para o pensamento humano, contemplei uma criatura de grandeza excepcional e de uma perfeio assombrosa. Tio belo que produzia na minha alma verdadeira vertigem. Acreditei enlouquecer. Pousado no penhasco mais elevado e pontiagudo, com longas asas descendolhe sobre as espduas cintilantes um Anjo de Sublime e Divina beleza dominava o abismo. Aquele Gabriel, que assiste diante de Deus, declarou Orcus com acento carinhoso e profundo. Senti que o meu instrutor ao dizer essas palavras falara como quem expressa um sentimento que eu desconhecia. Eram respeito e amoi' ao mesmo tempo e tambm era uma revelao que me fazia. Levantei o olhar para o Anjo e verifiquei que de seu corao poderosas foras jorravam sobre o abismo e pouco a pouco milhares de cintilaes como uma chuva de estrelas iluminavam frouxamente as sombras. No fundo for, mas estranhas tocadas pela luz principiavam a mover-se. Gemidos e soluos elevaram-se ento das trevas e contemplei horrorizado hordas inteiras de milhes de criaturas que agarradas ao "solo" ou ocultas nas reentrncias arrastavam-se como animais naquelas vastides. Lembravam rpteis, ou largatas* que no se animavam a ver a luz. Aquilo que voc v, meu filho, exclamou Orcus, so uma infinidade de seres que pela permanncia no mal conquistaram a infelicidade de vagar nas trevas do selo da Terra. Agarram-se agora desesperados Me Terra como crianas cegas que desejassem sugar os seus netos fortes e ubertosos. Na realidade alimentam-se agora do magnetismo terrestre e vagam inconscientes, paralizados no interior de si mesmos como "les, mas humanas" incapazes de gravitar para Deus. Meus olhos encheram-se de lgri, mas. No sei dizer porque, estranhos soluos vieram-me garganta e uma espcie de estranha compaixo assaltoume a alma alastrando-se por todo o meu organismo espiritual. Gabriel sobre o abismo parecia amoroso pssaro de dimenses indescritveis alimentando o abismo como sol que do alto do firmamento aumenta a Terra. Sob a Luz do Sol Espiritual Era claro que no poderamos nos aproximar do Anjo. A luz intensa que explodia de sua alma ofuscava os nossos olhos. Estamos a uma distncia incalculvel de Gabriel! esclareceu Orcus, e mesmo que quizssemos ir at l no poderamos. Lembra-se da "parbola de Lzaro" no Evangelho? A nossa situao quase a mesma. Fiquei silencioso. Como somos insignificantes perante a grandeza da Vida! Da misria daquelas criaturas rojadas no solo, de rastos, at a Perfeio daquele Anjo pairando sobre o Abismo havia uma distncia de milhes de "anos-evoluo". Gabriel era a Luz e aqueles Infelizes representavam as trevas mais Intensas. Ns, porm, no ramos nem luz nem sombras. Evidentemente, eu pensava tudo isso de mim mesmo, porque Orcus era tambm, em face da minha indigncia espiritual, um Gigante iluminado. O Esprito, por certo acompanhava-me o pensamento, porque carinhosamente me abraou e disse: Meu filho, diante da Grandeza de Deus, todos so infinitamente pequenos. No entanto, todos ns po deremos marchar ao encontro da Luz, o

que j uma bno divina, no acha? Concordei com ele. Sem mais palavra, levando-me pela mo, Orcus iniciou a descida pelos despenhadeiros de declives. O vo nessas zonas mais baixas no se tornariam possvel , mas alm de perdermos as melhores oportunidades de aprendizado, levantaramos um clamor intil, pois que essas criaturas que vivem nas trevas acreditariam que somos enviados celestes para salv-las, explicou Orcus. Agora iremos a p. Infelizmente, pouco podera mos fazer em favor delas. Permanecem na mais "rgida inconscincia". Orcus calou-se, e foi descendo. Os caminhos eram sinuosos e a terra escura, de um marron fechado e escorregadia. Com imenso cuidado fomos vencendo as imensas distncias que nos separavam das , massas espirituais inferiores de "forma humana" que jaziam nas trevas. A proporo que descamos notei que paredes enormes subiam o abismo. Pareciam os "cayons" de que nos falam os viajores que passam pelo Mxico. Tentei olhar para cima e to grande era a altura que meus olhos de novo sentiram vertigem. Os paredes prumo projetavam-se como lanas para o alto. Parecamos duas formigas caminhando por entre montanhas. De repente, Orcus estacou. A nossa frente, numa espcie de furna, um verdadeiro gigante completamente nu obstruia-nos o caminho. Tamanho descomunal, espduas nuas, corpo de uma cor semelhante prata, cabelos encaracolados. Velho, de uma velhice moa, porm, que parecia no ter idade. Isto , tinha-se a impresso que aquela criatura era milenar e que no entanto "parara no tempo". Parecia um deus antigo. Quem sois? perguntou-nos ele. Somos humildes viajores em busca de consolo ao nosso sofrimento. No sabeis que estais nos infernos e que aqui no h consolo nem esperana? Aqueles que entram no podem mais sair porque se at aqui vieram por terem a alma endurecida no mal. Compreendendo, disse Orcus, , mas para Deus nada impossvel e todo pecador arrependido encontrar a oportunidade de salvar-se. No, no! no h oportunidade para os maus! To forte foi o berro do gigante que a sua voz ecoou por todo o abismo e ao mesmo tempo uma onda esfusi-ante de gritos de desespero levantou-se por toda a parte. Desespero e dor. Aquelas for, mas agarradas ao "solo" gemeram e gritaram assombrosamente. Um verdadeiro turbilho se fez em mim. Pensei que ia perder os sentidos. , mas Orcus delicadamente colocou a mo sobre meus ombros e restabeleci. Voltem, voltem! No ouvem a minha voz? estertorou o gigante. Daqui ningum sair nem voltar! Para trs! Para trs! Senti um grande medo e vi-me pequenino e frgil em face daqueles dois gigantes: Orcus e Palton. Este era o nome do Guardador do primeiro portal no primeiro declive por onde entrramos. Coisa estranha, sem saber explicar como, percebi que uma luz de muito alto atingia Palaton. Luz suave, de luar. Olhei e vi que um raio saf irino descia como um fio pela ponta do penhasco onde se postara Gabriel e atingira o Gigante. Este encolheu-se todo, agarrou-se s rochas escondendo o rosto e disse, como uma criana amuada: Podem passar, podem passar protegidos da Luz. Ns passamos, silenciosos. Eu tremia. Orcus, sereno, porm rgido e enrgico. Parecia uma esttua. No ousei olh-lo porque ele mesmo me assustava naquelas solides. Em breve chegamos a um estreitamento do caminho na rocha que mal dava para passar um homem.

As pedras eram quase negras, midas e escorregadias. Um limo pegajoso descia por elas. Sentamos em nossas pernas e em nossa tnica a umidade viscosa. O caminho estreito terminava numa srie infinita e incontvel de pequenos degraus. Desam! Desam o Abismo! exclamou atrs de ns Palaton. L no fundo esto aqueles que no tm mula esperana! Fiquei transido de pavor. Orcus, porm, caminhava sempre como quem sabia o que queria e o que buscava. Na Cova Estacamos. A nossos ps enorme cova se abria como se fosse uma bacia funda e larga, recoberta de limo e umidade. Percebi que o terreno se tornava mais viscoso, escorregadio. Estvamos parados borda do novo abismo. Deveria ter uns oitenta metros de dimetro de boca por uns quinze de profundidade, , mas era uma cova estranha. Dentro dela "for, mas esquisitas" se movimentavam. Centenas de criaturas arrastavam-se no solo como "les, mas". Fiquei atnito. Orcus segurou-me a mo. Andavam unidas aquelas les, mas de forma humana como se um instinto muito forte as ligasse. Verifiquei que formavam como que uma pasta animada que se movimentava. Orcus levantou a dextra e fez um sinal. Do alto, Gabriel enviou-nos um novo raio de luz espiritual que clareou a cova. Era espantoso contemplar aquela , massa que se Agarrava desesperadamente terra. So seres que perderam a conscincia informou o Esprito. Repare que parecem cegos. Acompanhei a observao de Orcus e verifiquei que de fato no demonstravam enxergar coisa alguma. Plpebras cadas, fechadas ou semi-cerradas, peitos, barrigas e rostos colados no cho viscoso caminhavam como serpentes ou minhocas. Algu, mas eram brancas, , mas a maioria era da cor do terreno: marron escuro quase negro. Poderamos conversar com alguns deles? perguntei. No, impossvel. No ouvem, no falam e no vem. O pensamento desses seres est quase paralizado. Tanto se imantaram s coisas da terra que instalaram em si mesmos o magnetismo terrestre como fonte de vida interior. So aqueles que no acreditaram em Deus nem na existncia da alma embora no tenham praticado grande mal entre os homens. Mentalizaram o nada e se tornaram inconscientes. O sentimento de Deus e a crena na imortalidade imprimem ao pensamento uma velocidade maior e ao "corpo espiritual" maior intensidade de frequncia celular do organismo espiritual. O homem pedra se tornar pedra. Gravitamos para a superconscincia ou retornamos inconscincia. Ser no universo conquistar graus cada vez mais adiantados de conscincia. Fiquei pensativo e silencioso. Orcus, porm, afagou-me a fronte com carinho e vi que em mim mesmo intensas vibraes despertavam para percepes diferentes. Na cova, aqueles seres rolavam ignorantes do que lhes acontecia. No poderiam, provavelmente, compreender o que se passava com eles. Como era triste a situao dos que se julgando conhecedores de toda a sabedoria perderam-se a si mesmos na inconscincia e no mal! E agora, o que acontecer com eles? interroguei aflito. Permanecero neste estado at que um dia a for a da lei os arraste de novo para a superfcie... Superfcie? Sim, superfcie. Para a crosta terrestre onde voc habita. Eles vieram de

l e ho de retornar para l. A lei de asceno descreve um crculo perfeito e amparar novamente os filhos do seu amor. Gabriel desviara o raio luminoso e a sombra do abismo cobrira outra vez os infelizes. Vamos, convidou-me Orcus, ainda temos muito que descer. Olhei. A nossa frente, o caminho e a sombra. Prosseguimos descendo. Mais Abaixo Meu pensamento fervilhava. No podia compreender a situao daquelas criaturas inconscientes que ficaram na cova. Cegas, presas ao solo numa nsia incontida de abraarem-se com a terra... Nisto, fomos surpreendidos por enorme serpente de cor escura, que se atravessou em nosso caminho. Quiz gritar , mas Orcus tapou-me delicadamente a boca com a mo. A serpente passou por ns sem nos perceber. Contudo, de repente, voltou-se para nos ver e ento eu soltei um horroroso grito de espanto e terror. A serpente possua cara de homem e nos olhava com os olhos chamejantes. A cara presa casca deixava entrever um ser "humano" escravizado a terrvel priso. O olhar do "ofidio" era de tristeza e dor. Duas lgri, mas rolavam-lhe dos olhos tristes... Piedade !Piedade! suplicou-nos com acento tristonho. No pude deixar de chorar. Estranha comoo dominou-me o ser. Como te cha, mas? interroguei. Para que desejas saber meu nome? Aqueles que caram tanto no tm mais nome. Contemplei-a assombrado e cheio de piedade. Como era dolorosa a sua situao! Porque vives assim escravizado roupagem de uma serpente? Egosta e mau reduzi meu corpo espiritual forma rastejante que agora vs. Jamais tive um pensamento de amor para quem quer que seja e nunca estendi a mo ao pobre e ao sofredor. Como castigo, perdi as mos e rolo nos abismos. Orcus apertou-me a mo e um fluxo magntico penetrou-me o ser dando-me novo nimo. S o tempo poder arrastar-te das sombras para a luz. Nada poderemos fazer infelizmente disse Orcus. A serpente, ouvindo isso, deslizou para regio mais escura e perdeu-se em meio a fantstica vegetao que crescia junto s rochas. Pitei Orcus frente a frente e percebi que seus olhos tambm se marejaram de lgri, mas. Meu filho, compreendo o seu espanto , mas nada podemos diante da Lei. Quem assume compromissos com a Lei fica obrigado a pagar at o ltimo ceitil. Os seres que se fecham no egosmo e na indiferena ou se precipitam no mal, destroem por si mesmos os tecidos perispirituais e iniciam a desagregao do organsmo psquico. Ningum comete o mal impunemente. Deus Em Sua Infinita Bondade permite que aqueles que caram retornem superfcie aps sofrimentos extraordinrios. Aquela serpente apenas retornou a for, mas inferiores porque j passara na escala evolutiva dos seres. Assim, todos aqueles que se desviaram d Lei precipitam-se a si mesmos na degradao das for, mas inferiores. E depois interroguei estacionam ou a queda no tem fim? Todos os seres podem subir ou podem descer. Todavia, como a misericrdia de Deus infinita, cada vez que um esprito "cai" a Providncia Divina o ampara em Suas Mos cheias de amor e o ser estaciona no tempo e no espao. O nosso amigo "Serpente" estacio nou h seis

milnios, no tempo, e desceu a regies inferiores, no espao. Alguns conquistam as altitudes e os cimos, outros estacionam nos abismos. No descem contudo ao desamparo. Em toda parte est a Casa de Deus e labutam mos misericordiosas. O escafandro de "casca" que ostenta o nosso amigo a misericrdia divina em forma de vestimenta protetora. Por enquanto perdeu apenas os membros, se continuar "caindo" dentro de si mesmo perder a conscincia... E depois?... E depois?... Depois? contemplou-me Orcus tristemente se prosseguir, se desagregar completamente. Ento haver a segunda morte... Meditao no Sub-Solo Eu ainda estava preocupado com o problema da segunda morte sem compreender na realidade o que acontecia com os seres que se precipitavam nos "abismos interiores", quando fomos surpreendidos pelos gritos de fantsticas aves negras que, em bando, cortavam os espaos abismais. Pareciam enormes morcegos de asas sem penas, porm revestidas de leve plo ou penugem. Agarrei-me a Orcus, assustado. Ele, contudo, disse-me naturalmente: Observe que tambm exibem estranhas fisionomias de criaturas humanas. Realmente, as aves eram outros tantos condenados s deformaes das for, mas perispirituais. Rostos humanos ou ex-humanos saltavam de entre as asas escuras que sindiam as camadas de poeira do abismo. Sobrevoavam pncaros pontiagudos e atravessavam zonas levemente dominadas pelos raios de luz irradiada por Gabriel. Parecia-nos, todavia, que voavam a quilmetros de distncia do Anjo colocado sobre o Abismo. Orcus continuou descendo e eu acompanhei-o silencioso certo de que descamos a regies "pouco frequentadas" pelos seres mais conscientes do mundo. Detivemo-nos margem de enorme rio de guas prateadas que em turbilho rolava a nossos ps. Nova surpresa se estampara em meus olhos. Orcus percebeu porque me disse. As guas deste rio que se chama platino lembra a prata lquida. No fundo da terra correm diversos rios dessa natureza. Grandes , massas lquidas formam o interior do nosso mundo, como se v... Apontou-me Orcus com o dedo em riste as guas turbilhonantes e exclamou: Contemple! Contemple bem firme essas guas que correm e veja o que elas levam! Abri os olhos desmesurados ao contemplar o rio. Centenas de milhares de criaturas desgrenhadas e inconscientes rolavam em meio s guas como que arrastadas e batidas u, mas contra as outras no turbilho escachoante. Esses so aqueles que se deixaram dominar por todas as paixes e agora dormem na fria das guas desencadeadas sobre si mesmos. Ouvi a voz de Orcus como quem escuta um grito lancinante de dor porque minha viso agora ampliada sentia que aqueles desgraados lutavam para alcanar as margens do rio e no o conseguiam. Quanto mais lutavam contra a impetuosidade das guas mais estas os arrastavam e abraavam em fria incontida. As vezes for, mas feminis se agarravam a for, mas , masculinas na nsia desesperada e m. No pude contempl-los por muito tempo porque eu tambm comecei a sentir em mim o tumulto de paixes desenfreadas. Orcus protegeu-me, no entanto, com a sua serenidade superior e eu voltei paz de esprito.

Seguimos por um estreito trilho que margeava o rio at defrontarmos enorme rochedo de pedras nuas por onde o caminho, apertado atravessava. Sinuosa, escura, estreita, e nauseante era a estrada aberta no rochedo. Tnel feito por mos divinas ou diablicas? No sabemos. Do outro lado, uma espcie de campina onde algu, mas rvores esquisitas levantavam os galhos retorcidos nos esperavam. Aquelas rvores tambm pareciam for, mas vivas de seres que se "vegetalizavam"... Esbocei um pensamento estranho. Orcus imediatamente, lendo-me as imagens mentais, esclareceu: Realmente, meu caro, h os que se precipitaram nas for, mas vegetais e vivem agora aprisionados no que se poderia chamar de inrcia aparente... So coraes aflitos e inteligncias que foram caindo, caindo, e atingindo a inconscincia comearam a percorrer para trs a escala da evoluo... Iro at o mineral e descero um pouco mais. Nessa ocasio podero sofrer uma espcie de exploso atmica que desagregar o prprio ser. Dizemos exploso atmica como quem usa expresso j inteligvel na Terra. Na realidade uma desagregao intercelular , mas to distante de uma exploso atmica como a velocidade do som para a velocidade da luz. Estaquei assombrado. J sei o que est pensando colaborou Orcus isso no acontece! Eu no dissera nada , mas a percepo do Espirito era muito viva. O centro da conscincia que constitue o verdadeiro ser eterno no se desagrega , mas volta a um estado to grande de inconscincia que como se no existisse como ser dotado de possibilidades divinas. " certo que um dia retornar na viagem de volta como quem cansado da permanncia no quase nada reiniciasse a conquista de Deus. H no Universo correntes de vida que arrastam para baixo ou para cima, para dentro ou para fora, para o ser ou para o no ser. Evoluir conquistar graus cada vez mais adiantados de conscincia. E conquistar graus de conscincia simplesmente conhecer-se a si mesmo. Tinha razo o "Velho Scrates..." Percebi que Orcus me fazia grandiosas revelaes e que um impulso novo me conduzia pelos caminhos do Conhecimento. O Drago Percebi que proporo que penetrvamos no Imprio Terrestre uma terrvel angstia tentava dominar-nos o corao. Ao mesmo tempo sentia que foras de mais alto, talvez as irradiaes de Gabriel, auxiliavam-nos na marcha. Ali, no me sentia agora to seguro como antes. Tudo que nos rodeava parecia ter vida e dentro de cada pedra ou no interior de cada acidente do caminho estranhas for, mas sepultadas ansiavam por se comunicar conosco. Orcas estava sereno. Eu, porm, submetido quelas impresses desconcertantes, arrastava-me um pouco aturdido como se nvoas esquisitas invadissem-me a mente. Orcus passou-me a mo delicada sobre a testa e disse: Nada tema. O que sente a aproximao cada vez mais intensa dos olhos do Drago. Drago? Quem o Drago? balbuciei. Meu filho, em todas as pocas da humanidade, o Drago simbolizou as foras do mal ou a legio de seres revoltados que lutam contra Jesus. No se recorda de Satans? E o mesmo smbolo. No entanto, aqui ns encontramos realmente figuras que representam o Drago que se ope a Deus. H sempre no fundo da Terra um Drago que domina o Imprio dos Drages , mas isto no somente na Terra, em todos os mundos de vibrao semelhante Terra existem os filhos do drago ou seja aqueles que no querem aceitar a lei de Deus e s evoluem sob a fora compulsria da mesma Lei.

, mas existe ento nesta regio um ser que se diz o Drago? Existe, grande, enorme e terrvel. possvel que voc o veja e que tambm conhea os seus filhos. Calei-me. Um silncio sem limites tomara conta de minha alma. Olhei para o alto e, estarrecido, verifiquei que Gabriel era apenas um ponto luminoso na distncia, como uma estrela em pleno firmamento. Havamos descido centenas ou milhares de quilmetros. Terra a dentro havamos penetrado nas profundezas do Abismo. Onde me levaria ainda Orcus? O amigo pareceu compreender-me porque segredou: Agradea a Deus a oportunidade porque Jesus tambm desceu a estas regies antes de subir para nosso Pai Celestial. Profundidade e Superfcie Ainda no andramos muito e defrontamos imenso lago de guas paradas, de um verde muito claro e transparente. Toque-o com o dedo aconselhou Orcus. Abaixei-me e toquei as guas. Assombro e estupor encheram-me a alma e cobriram-me a fisionomia. No havia possibilidade de mergulhar o dedo ou a mo naquela gua. Era u'a , massa gelatinosa e esquisita. Levantei-me assustado e afastei-me um pouco. Na , massa Hquido-gelatinosa eu vira um rosto que me olhava. An-liosa e doloridamente. E quanto mais eu olhava outroi muitos me contemplavam cheios de angustia como M me implorassem algo que eu no saberia dizer. Devoravam-me com os olhos. Lembrei-me de Dante. Seria eu um novo Dante e fitaria no inferno? Volteime para Orcus, tambm eu cheio daquela temvel tristeza e pungente angstia que emanava daqueles seres. Quem ramos ns? Seria ele o Alighieri ou seria eu? s tu Virglio e sou eu o Dante ou s o Dante e sou eu Virglio? Orcus sorriu tristonho. Meu filho, o Abismo o mesmo, apenas isso. Sairemos daqui, como entramos, pelo amor de Deus. As palavras e os pensamentos de Dante ao mundo foram truncados, modificados, alterados, para satisfazer aqueles que vendem a prpria alma se preciso for. Retornamos ao Abismo para restabelecer a Verdade. Tem medo? Olhei-o angustiado e voltei a contemplar na gelatina aqueles que me olhavam como quem olha velho conhecido. O olhar daquelas criaturas era triste e dolorido e parecia brazas de fogo a queimar-me a alma. Porque esto a? interroguei. Perderam a forma humana. Degradados pela permanncia no mal, desceram at o mais profundo abismo e no tm mais "corpo espiritual". Por isso, no podero reencarnar to cedo. A Bondade Divina porm permite que estacionem nessa , massa difusa, informe e vaga que os conter por muitos sculos e milnios. Nos braos amorosos da Terra e em seu seio de me, lentamente, se recuperaro para reiniciar a marcha de volta. Esto na profundidade e anseiam pela superfcie. A superfcie para eles a superfcie da Terra onde os homens vivem e representa para essas criaturas uma espcie de cu ou de esfera superior. Se os homens l em cima suspiram pelo cu ou lutam por subir as esferas superiores, estes seres aqui anseiam por renascer na Terra como quem conquistar verdadeiro cu. Oportunidade Divina Eu bem no me refizera do espanto, quando Orcus apontou-me uma turba sombria, verdadeira multido de criaturas esfarrapadas e tristes, cobertas por mantos ou panos cor terrosa, colocadas no lado oposto do lago.

Contemplavam-nos de longe com os olhos voltados para o cho. Temiam talvez contemplar-nos. Compacta multido de seres irreconhecveis aos homens da Terra. Fisionomias patibulares e angustiadas. Silenciosos, profundamente silenciosos. Os ps mergulhavam no charco formado pelas guas do lago que ali formava uma espcie de praia. Aqueles, mais do que estes, disse o Grande Espirito anseiam por reencarnar na Superfcie. No tio no Templo da Inconscincia ainda e por isso compreendem que retornar ao mundo em corpo de carne como respirar um pouco de oxignio puro. A reencarnao, meu filho, bno de Deus e oportunidade divina. A conquista de um corpo na Terra concesso pouco compreendida pelo homem. A permanncia no Mio dessa horda que voc v que levou muita gente a acreditar no Inferno Eterno. Dante foi claro os homens e os frades de seu tempo com as mos do Drago deturparam-lhe a obra. Cabe-nos a tarefa de contribuir para o restabelecimento da verdade. Eu quero! Eu quero! bradou uma voz do outro lado do lago, interrompendonos a meditao. O que queres? perguntou Orcus. Quero voltar! ajuda-me. Eu quero! Eu quero! Eu quero! gritaram milhares de vozes enchendo o abismo de rumor de ondas de oceano que semelhavam quebrar em praias distantes. Depois, gritos horrveis e tristonhos de angstia sem fim sucederam-se aos primeiros berros. Gemidos lancinantes, uivos, gargalhadas e choros de verdadeiros loucos. Deixa-nos voltar Superfcie! Deixa-nos, Anjo do Abismo! Encheram-se-me os olhos novamente de lgrimas. Orcus deteve-se tambm cheio de palidez e tristeza como quem desejasse fazer alguma coisa e no pudesse. Vi-lhe o corao cortado por mil dores e a alma cheia de compaixo. De repente, porm, um vozerio diferente sucedeu ao tumulto anterior. Estalos estranhos, como se chicotes de capataz azorragassem escravos na senzala. Raios cortaram o espao e a onda "sub-humana" recuou espavorida... - O que isso? interroguei assustado. So os drages esclareceu Orcus. Os terrveis drages, perversas entidades que governam estes ermos com intensa crueldade. Incapazes de cumprir as leis de Deus, organizam-se para o Mal. Escravizam e fazem sofrer. Quedei-me com o corao a bater descompassado. O vozerio, ao som da vergasta, desapareceu nas trevas mais profundas. Voltei a contemplar o lago. L estavam aquelas caras estranhas a me olharem estranhamente. O Imprio dos Drages Comeamos a sentir os primeiros sinais do Imprio dos Drages disse Orcus. Alm destas zonas mandam eles, por Misericrdia Divina. No entendi bem, porque Orcus contemplou-me como um pai a um filho e ensinou: Tudo que ocorre no Universo depende da Miseriordla Divina. Mesmo o mal? Mesmo o mal. Deus no violenta conscincias nem constrange ningum. Organizou as suas leis que governam os fenmenos naturais de todo o Universo e dentro delas os seres se movem. O mal a ausncia de bem. No entanto, o mal apenas resultado da inconscincia das criaturas. Os drages vivem porque as leis divinas permitem que eles vivam e fazem

sofrer porque as leis divinas permitem que faam sofrer. Um dia, a fora mesma da lei, os arrastar de novo superfcie para sofrer por sua vez e viver. Como seriam os drages? Enquanto Orcus me ensinava, meu pensamento percorria outros caminhos. Ele percebeu porque esclareceu logo: So seres maus, perversos, terrveis. Endurecidos por muitos milnios de maldade. Isto aqui um verdadeiro inferno, mas no Inferno Eterno. S o Bem pode ser eterno. O mal no. O mal ausncia de bem assim como a sombra somente ou simplesmente ausncia da luz. Fiquei ouvindo no ntimo de mim mesmo aquelas palavras sbias. O silncio enchera agora as naves do abismo. Parecia que tudo emudecera. Voltramos a ser outra vez criaturas solitrias e insignificantes em face daquelas penhas e daquelas profundidades. L em cima, Gabriel governava silencioso e fiel. Olhei-o. Uma espcie de vertigem atingiu-me a alma. Tinha a impresso que o abismo era em cima e no onde estvamos. A distncia esmagava-nos. O Anjo cintilava ainda como estrela solitria. Imensa ave de asas espalmadas com um sol de Deus. Ouvimos, no entanto, um rugido ensurdecedor. Estremeceu o abismo e todo som, toda palavra ou todo o pensamento silenciara ao estertor daquele grito desumano. Senti o corao esmagado por um terror indizvel. Devo ter empalidecido porque Orcus me abraou e disse: No se aterrorize. o Drago. No pude responder nem interrogar. Parecia-me que outra morte, mais terrvel e mais pungente me destruiria a vida. Aquele grito estava cheio de vibraes terrorizantes e penetrara-me as fibras mais ntimas do ser. Contudo, caminhvamos ao seu encontro. A princpio uma sombra mais espessa encheu o abismo para logo em seguida uma claridade maior nos atingir. Gabriel enviava-nos maior soma de luminosidade a nossos ps seres estranhos exibiam as faces cadavricas e patibulares reunidos como crocodilos inofensivos e apalermados. Olhei-os estarrecido. Homens-monstros e homens-fera como que magnetizados pela "Luz" arrastaram-se nai reentrncias do caminho solitrio. A voz estentrica do Drago talvez lhes tivesse paralisado ao porque alguns ofereciam olhares aterrorizados e tristes como se houvessem recebido em cheio em plena alma punhaladas de infinita dor. Se quizssemos poderamos afag-los com a mo como se fossem animais domsticos inofensivos, mas observei que assim que acabvamos de passar por eles, uma onda de gritos, uivos e expresses de revolta nascia no meio deles. Voltando-me para v-los, contemplei-os em luta uns com os outros entredevorando-se como ces. Eram um bando de feras momentaneamente paralizados pela Luz ou imobilizados pelo terror do Drago. Legio Iamos prosseguir quando ouvimos os sons de uma espcie de batalho que marchava. A cinquenta metros abaixo de ns, numa praa aberta, em formao militar, criaturas que lembravam os soldados egpcios, de saiote e de capacete, marchavam em direo ao fundo da praa. Notei-lhes as fisionomias de cor amarelada terrosa e o olhar fixo como sonmbulos que cumprissem fielmente uma obrigao. Bem formados, obedeciam a um chefe e deveriam se constituir de cerca de quinhentos "homens" mais ou menos. frente dois deles sopesavam pequeno cofre apoiado em um estrado cujas

cintilaes metlicas lembravam o ouro, porm avermelhado. - O que levam naquela caixa? perguntei. Os pergaminhos da sua lei informou Orcus. Imitam os Judeus do Templo de Jerusalm. Aquilo simboliza a arca. Alis, no Egito Antigo tambm era assim. E pela Lei se dirigem, mas quem faz essa lei o ser a quem chamamos Drago e que a Igreja denomina Lucifer. No momento, est prisioneiro, acorrentado, no centro da praa. Olhe l e veja bem que no centro mesmo dessa praa onde se observa uma espcie de "fonte luminosa" existe algum acorrentado. Procurei contemplar e observar melhor e quedei-me assombrado. Sob pesadas correntes, um ser como jamais foi dado ver a criaturas da superfcie da Terra ali se encontrava prisioneiro. Conquanto a fisinomia lembrasse a fisionomia de um homem ou de um espirito d forma humana, estava to distanciado de nossa espcie quanto um dinossauro de um homem. Descomunal, perna que lembravam colunas de um edifcio, ps que mediam muitos metros de altura, braos cabeludos, embora de pele amarelada e ao mesmo tempo esfogueada, rosto enorme de mais de quinze metros onde dois olhos maus lanavam chamas. s vezes uivava ou gemia. Porque no arrebenta as correntes indaguei. O Senhor no permite. Contudo lhe foi concedido por Deus certo tempo de liberdade e em breve reinar livre das amarras com permisso divina. O monstro libertar-se? Fiquei paralisado. Aquele Como? Seria possvel? Sim. Deus em Sua Misericrdia lhe dar oportunidade para redimir-se. Segundo estamos informados ter a concesso de subir em breve tempo superfcie da Terra e estabelecer uma luta contra o Bem durante mil dias (1). (1) No nos foi permitido pelo Plano Superior esclarecer a significao ou espao de tempo designado por "mil dias". (Nota do Orientador Espiritual). Depois, ser vencido. Os homens ficaro nessa poca entregues ao seu livre arbtrio, exclusivamente a ele. Apenas os bons espritos os ampararo distncia. Isto se dar porque nessa ocasio o homem decidir o destino do Mundo. Os que forem verdadeiramente bons subiro a regies mais altas de conscincia e os que somente "parecerem bons" rolaro nos abismos da inconscincia. - Mas isso no uma temeridade, um mal? Deus permite o que chamamos o mal para que muitos melhorem. A presena do drago por em risco apenas aqueles que ainda no consolidaram o bem em si mesmos. - E o Drago o que lucra com isso? Sua conscincia culpada ter oportunidade de aproveitar a experincia humana assim como receber da Terra vibraes transformadoras que h milnios o homem lana na superfcie. Os drages tambm fazem parte da criao divina. A parte mais embrutecida da Terra. Lembram os mamutes, os brontozauros e os saurios. So a natureza primitiva que retm os elementos primrios e embrionrios de nosso sistema. O Monstro Observei que o batalho estacou e que algumas daquelas criaturas foram se prostrar aos ps do monstro. Rendiam ou pareciam render-lhe humildemente culto como se ele fosse um Deus. Orcus passou-me dextra frente aos olhos e senti que minhas percepes se ampliaram grandemente como se eu, de sbito, colocara poderoso binculo. Passei a v-los de perto, como se estivessem ao alcance de minhas mos. Recuei aterrado. Aqueles espritos possuam um s e nico olho em plena

testa e a fisionomia cansada lembrava animais antidiluvianos. A pele terrosa semelhava couro endurecido e spero. O olho era grande e a pupila fixa exibia raios de sangue em todas as direes. O Drago pareceu sorrir satisfeito e acalmou. Tive a impresso que falavalhes uma lngua estranha, talvez por gesto porque todos se curvaram. Logo depois, prorrompeu um alarido ensurdecedor. De toda a parte ento, como se sassem das prprias rochas, saltaram criaturas esquisitas, de todas as for, mas e feies e foram se ajoelhar contritas na praa. Vi seres que se arrastavam dolorosamente na nsia de se aproximarem o mais possvel. Cobras e largatos, macacoides e aves negras que se dirigiam para o Drago a fim de lhe prestar homenagem. Acreditei que toda a criao inferior do mundo ali se reunia sob a fora de poderoso magnetismo. O ambiente encheu-se de um medonho mistrio e nvoas atordoantes levantaram-se do solo como se ali se houvesse aberto um pantanal. De repente, por mais estranho que parea, o monstro elevou a voz e eu pude entend-lo simplesmente pela linguagem do pensamento. Filhos dos Drages! bradou ele a nossa hora se aproxima. H sculos espero, acorrentado aqui, prisioneiro e escravo desse que se diz Senhor da Vida espera da libertao. Mas um dia haveremos de vencer. Em breve, liberto, comandarei pessoalmente as nossas hostes e ento invadiremos a superfcie. Um alarido estentrico sucedeu s suas palavras. Aqueles seres apticos, terrosos e automatizados grunhiram nas profundezas dos abismos e elevaram vozes desumanas em frenticos clamores de alegria. - Venceremos! Venceremos! clamaram eles. Sairei para a luz do sol continuou o Drago e aprisionaremos as atoas que nos pertencem, pois os filhos do crime por direito divino so propriedade dos Drages! Novo clamor de contentamento se elevou da multido. Os espritos militarizados batiam com os ps no solo fazendo coro multido oculta por entre as pedras. Aguardem! Aguardem, filhos das Trevas. Combateremos a Luz e haveremos de venc-la! Bem no dissera ele isso e uma rajada de luz em catadupas desceu do alto ensolarando o Abismo. Gritaria ensurdecedora respondeu quela demonstrao do Mundo Superior, todavia espavoridos aqueles milhares de espritos possuidores das mais estranhas formas atiraram-se uns contra os outros em corrida louca para se esconderem na escurido. Gabriel talvez ouvindo a arenga do Drago enviara-nos a sua luz e o seu poder. E aqueles seres infelizes e inferiores sentiam-se queimar e cegar-se ao contato da luminosidade sublime do Anjo. Desesperados chocavam-se nas trevas e mergulhavam nas reentrncias e nas fendas como animais desorientados que houvessem perdido a noo de dignidade e de amor prprio. Na praa, em pouco, permanecia somente o Drago, vencido e despeitado, voltado para o cho, sofrendo a cruel amargura da derrota. Assim mesmo murmurou: s forte e poderoso, Anjo do Abismo, mas no te temo. Liberto, subirei para lutar. Punhos fechados, fez um gesto de desafio para o Alto. Orcus concentrou-se, porm, cheio de humildade no silncio da orao. Pelas Trevas mais Densas

A escurido voltou a dominar o Abismo. Embuados nas trevas, prosseguimos nossa jornada no seio da Terra. O silncio sucedera ao tumulto. Sbito, um ser estranho e terrvel se atravessou em nosso caminho. Possuia asas longas e corpo de lagarto. Enorme e repelente. Olhei-o assombrado. Era um verdadeiro Drago com a forma tradicional que a mente humana representa na Terra. Uma lngua fina e vitratil saa-lhe da boca e dois olhos chamejantes lanavam chispas. Seria um ser inteligente ou era de fato um simples animal sem conscincia? Eu estava enganado. Encarou-nos de frente e obstruindo-nos a passagem exclamou, numa linguagem mental semelhante que fora usada pelo "rei acorrentado": - O que quereis em nossos domnios? No temeis, criaturas infelizes? Orcus olhou e disse: Afasta-te, irmo, ns somos filhos do Cordeiro e buscamos as profundidades para aprender e progredir! O animal afastou-se aterrado e, aps, lanando um grito bestial atirou-se nas profundezas. Um arrepio percorreu-me a alma. Contemplei os penhascos e senti-me imensamente s. Orcus compreendeu-me a indeciso e a luta ntima porque me falou: realmente, esse, um esprito terrvel que exibe a forma tradicional do Drago conhecido pelos homens. Aqui, encontraremos a cada passo espritos envergando formas animalescas que vivem no abismo. Aqueles que fogem luz do sol encontram ainda assim em Deus a misericrdia e o amparo. Descem aos abismos de sombra metamorfoseando-se na decadncia ou na degenerescncia da forma. Embora o esprito no retrograde, a forma contudo, degrada-se quando a mente estaciona no mal ou no pecado. Poder o perisprito at desintegrar e a mente, quem sabe, tambm poder atingir os limites da desintegrao? A nossos ps comecei a perceber olhos estranhos que pareciam fincados na terra e "feies patibulares" refletiam-se no solo. De repente, senti que por toda a parte uma legio de seres diablicos acompanhavam nossos passos e o meu corao encheu-se de temor. Valeria pena descer mais? Orcus, paternalmente, beijou-me a fronte e afagou-me carinhosamente. Nada tema. O Senhor est conosco. s trevas no prevalecero contra a luz e o Mal no vencer o Bem jamais. Esses seres que habitam o Abismo so de fato criaturas que "desceram em si mesmas at o fundo dos abismos mais insondveis". Perderam o controle da mente consciente e caminham na descida vertiginosa. Passaro numa espcie de retrospecto pela fieira da animalidade atravs da qual um dia ascendero a estgios superiores da conscincia. Cairo, contudo, provavelmente, no se perdero. Nos mais recuados infernos penetra a Bondade de Deus, nosso Pai, para salvar os que esto perdidos... Compreendi o quanto estava enganada a Igreja Catlica que embora identificando o Verdadeiro Inferno, errara, considerando eternas as penas e sofrimentos por que haveriam de passar os seres que se condenaram a si mesmos. Jesus tambm um dia descera aos abismos, aps a morte na Cruz, mas ali fora gloriosamente numa demonstrao de Suprema humildade. Abracei-me a Orcus. L em cima numa distncia que se me afigurava sem limites, ficara o mundo. Como era bela a superfcie e como era suave a vida humana! Estaria ainda l em cima o meu pobre corpo fsico ou eu tambm agora era apenas uma sombra espiritual nos caminhos tenebrosos das quedas humanas ou espirituais?

Sbito, defrontamos extensa muralha sobre a qual uma espcie de ra gigantesca debruava-se recordando vegetaes seculares existentes na Superfcie da Terra. Folhas grossas e enormes parecendo orelhas de elefantes. Silncio Sepulcral pairava sobre ela. O que haveria do lado de l? Notamos que estreita porta dava passagem na muralha. Um capim muito verde estendia-se a nossos ps. Penetramos pela porta a dentro, rvores esparsas punham no ambiente uma estranha nostalgia. Grama e rvores semelhantes s da Terra, embora rvores esquisitas de cor avermelhada enroscassem-se umas nas outras como se fossem criaturas abraadas no supremo delrio. Habitao rstica, de pedra vulcnica, por onde vegetao luxuriante se agarrava, erguia suas paredes singelas. Batemos. Abriu-se uma porta. E um anjo de porte majestoso e fisionomia impressionantemente bela estendeu-nos a mo. Era um jovem de augusta beleza. Tnica simples e difana e pele lirial. Seu rosto tambm no demonstrava sexo. Parecia um jovem de idade eterna e parecia ao mesmo tempo um ser do sexo feminino. Eu sou Atafon , falou-nos ele com voz profundamente doce. E controlo os caminhos do Abismo mais profundo. Entramos. L dentro, um verdadeiro lar nos esperava. Fiquei encantado. Jamais poderia supor que onde Deus em sua Misericrdia colocara os espritos do Mal, colocara por sua vez para ampar-los, anjos do Paraso. Atafon Contemplei as linhas perfeitas de Atafon. Era como se eu visse uma figura irreal que tornara o ambiente j to fantstico mais irreal ainda. Perfeio absoluta para os meus olhos de espirito mortal. Olhou-me carinhosamente e perguntou a Orcus: - O nosso amigo, pelo que vejo, ainda desfruta das alegrias da reencarnao na Terra, no certo? - Sim. Respondeu Orcus. Permitiu o Senhor que descesse comigo ao fundo dos abismos. Tem compromissos milenares com a esfera fsica e com os abismos. Atafon pareceu compreender porque sorriu satisfeito e acrescentou: Terei prazer em facultar a descida sob proteo aos Grandes Abismos. At certo ponto, eu mesmo os acompanharei. Contudo, de longe os "Guardas Abismais" vigiaro. Creio que o ltimo mortal que esteve em nossos domnios, tendo entrado pela regio de leste foi Dante. Ningum mais veio. Senti terrvel choque ao ouvir essas palavras. Parecia-me imensa a responsabilidade que caa sobre os meus ombros. De fato, completou Orcus, mas a mensagem de Dante foi deturpada pelos padres, seus irmos, que desejavam adaptar o Abismo s suas necessidades mais imediatas. Pretendemos reavivar de maneira gradativa os conhecimentos terrestres sobre as zonas do Abismo. Um vento frio comeou a soprar l fora e uma onda imensa de queixumes perpassava neles. Embora as paredes do lar de Atafon abafassem os sons, ainda assim, ouvamos. So os lamentos das almas desesperadas, disse ele, que atravs da acstica dos penhascos vm at ns. Esse vento frio o Teon. Sopra as mesmas horas todos os dias e dessa forma podem os infelizes que habitam estas zonas ter uma ideia de tempo, como se fosse um relgio. Retornando sempre aps o mesmo espao de tempo estabeleceu uma certa medida para os espritos que aqui habitam de modo a que se consolem. A incapacidade para medir o tempo uma das provas mais dolorosas destes abismos. A sensao de "eternidade na dor" produz em cada ser uma profunda angstia que desperta neles uma revolta contra Deus... A "fora da Lei" faz com que retornem pouco a pouco superfcie. No

h injustia de Deus nem a perda de "compreenso do tempo" um castigo. Os seres que no acionaram a mente no sentido da meditao e do trabalho cristo verdadeiros ou espirituais tendem a estacionar no tempo e a cair no espao. Se prosseguem nesse caminho da inconscincia atingiro um dia a desintegrao do prprio organismo perispiritual... Eu j recebera algumas noes esparsas da Segunda Morte, por isso no me surpreendi, mas fiquei temeroso. Atafon bateu-me no ombro com familiaridade e perguntou: Onde est Orcindo? Diante dessa pergunta, ento, me surpreendi extraordinariamente. No me lembrava mais de Orcindo. Viera conosco ou no? Coisa estranha! Onde o deixramos? Um calafrio percorreu-me o organismo. Estaria eu j sob a influncia do Abismo e estaria perdendo tambm a noo de tempo? No saberia mais dizer quando deixara a superfcie. Pareciam-me sculos aquelas horas passadas no Abismo. Seriam horas? Orcus percebeu minha luta intima porque disse: No procure medir o tempo aqui. Para o esprito um minuto pode representar uma eternidade. Abracei-me a ele agradecido e duas grossas lgrimas rolaram-me dos olhos como se eu repousasse nos braos de meu pai. Atafon contemplou-nos carinhosamente e animou: Nada temam. Descerei com vocs at s regies prximas do centro. Gabriel protege-nos de mais alto. Contudo, busquem orar sempre porque estamos em plenos domnios do Drago. Os Homens Com Atafon, a situao era diferente e a descida tornou-se mais fcil, apesar do adiantamento inegvel de Orcus. As sombras iluminavam-se passagem do Anjo e a luz que se irradiava de seu organismo era um verdadeiro arco-iris multicolorido. Um silncio profundo sucedia-se proporo que avanvamos. Sbito, comecei a ouvir em mim mesmo a voz do silncio. Parecia-me que o silncio era feito de sons. Aquilo surpreendeu-me mais que tudo. Atafon sorriu. Est ouvindo o silncio, meu caro? Se os homens compreendessem as surpresas do silncio no seriam to barulhentos. O que isso que escuto? perguntei-lhe. Nada, meu filho. Na quietude destas profundidades, cessado o barulho exterior, voc passa a ouvir-se a si mesmo. O que voc est ouvindo a vibrao de seu prprio organismo perispiritual. voc que vibra intensamente em voc mesmo. So os sons da sua alma. Fiquei pensativo. Aquilo era realmente estranho, mas era a verdade. Dentro de mim um som agudo vibrava intensamente. Orcus calara-se. A descida conquanto mais fcil, ainda assim oferecia perigos. Havia caminhos gelatinosos e escorregadios. De repente, divisamos na distncia figuras enormes semelhantes a navios encalhados no fundo do mar. Assustei-me. Atafon acalmou-nos com carinho. - No se assustem. O que pensa voc que aquilo? Respondi-lhe: - Monstros estacionados no tempo e no espao. Atafon sorriu e Orcus deu uma risada alegre que retumbou em todo o Abismo. Quando vim aqui pela primeira vez pensei a mesma coisa. No, no so monstros, meu amigo. Aquilo uma cidade subterrnea. Uma cidade ?! A voz sufocara-se-me na garganta. Quer dizer que so prdios?

Sim. So prdios. Enormes construes de origem espiritual inferior. Envoltas pelas nvoas midas das profundidades, as torres dos prdios escuras, pontiagudas, elevavam-se no meio da neblina. Em torno, porm, um silncio de morte. E l habitam seres? Sim. Semelhantes aos homens, todavia, em pssimas condies espirituais. Prepare-se para ver o pior. Um arrepio percorreu-me o organismo. Teria eu foras para suportar essas vises do Abismo? Atafon compreendeu-me a luta interior. De seu organismo, na altura do corao, uma luz azul de maravilhosa pureza aflorou como uma rosa e em breves instantes comecei a receber-lhe os raios em pleno corao e na regio do crebro. Notei que Orcus por sua vez recebia os efeitos da luz. Uma calma divina penetrou-me a alma e a mente pacificou-se como por encanto. Agora percebamos melhor as construes em estilo medieval em parte. O resto assemelhava-se de alguma forma aos palcios dos doges. Havia, contudo, agrupamentos de habitaes parecidas com as nossas favelas mais sujas. Enfim, uma mistura de estilos e combinaes de arquitetura. Dir-seia que a loucura de algum diablico arquiteto resolvera estabelecer ali a confuso de toda a arte do mundo. Atafon explicou: - Ali residem espritos de todas as qualidades e tipos. Artistas, poetas, escritores, pintores, engenheiros, homem comuns se se poderia ainda hoje classific-los de conformidade com suas atividades da poca em que estiveram na superfcie da Terra. H neles, porm, um sinal de identidade que lhes comum e que os rene no mesmo lugar: a indiferena Lei de Deus e a permanncia no mal. Isso que os rene. - E esto a? - gaguejei. - Esto. Vocs os vero. Senti de novo aquele calafrio que me acompanhava desde a superfcie. Como seriam? pensei. Orcus apertou-me a mo com carinho. O influxo da luz me reajustou. Estvamos agora atravessando os prticos da cidade. Havia um porto enorme em arco e julguei por um momento ver ali a inscrio que Dante descrevera com tanta perfeio: "Deixai aqui toda esperana, vs que entrais". Mas no era. O que estava escrito era coisa diferente. Dizia apenas: "No amamos Deus. Nosso mestre o Drago". Atafon sorriu com indulgncia. Esses seres querem demonstrar o seu desprezo a Deus com essa inscrio. Deus, todavia, h de am-los sempre at que um dia retornem ao domnio da Lei. O que os homens e os espritos pensam de Deus nada representa para Ele que Pai amigo e justo e os aguardar de braos abertos at o final dos sculos. A habitam os espritos maus que ainda pensam que so homens. Aquela expresso de Atafon abalou-me profundamente o ser. Porque no so mais "espritos de homens" e algum pode deixar de ser? Atafon contemplou-me com profundo amor no olhar. O embrutecimento da criatura espiritual pode lev-la a perder as caractersticas de homens, que uma conquista superior do esprito que sobe. A animabilidade caracterstica do esprito que desce, que estaciona ou que est em evoluo. O ensinamento calara-me de maneira irrespondvel na mente e trouxera-me profunda meditao. Agarrei com mais fora a mo de Orcus que caminhava junto comigo,

amparando-me. Havamos chegado cidade e o calamento das ruas lembraram-me uma das ruas das velhas cidades coloniais do Imprio Portugus. A Cidade do Mal As pedras eram escuras, as paredes das casas midas de uma umidade indefinvel. A gua escorria sem cessar e sem que se soubesse de onde vinha. Portas carcomidas, um hlito de morte e terror penetrava todas as coisas. Batemos na primeira casa. A porta entreaberta deixou ver uma criatura horripilante que nos fitava desesperada. Cabelos desgrenhados e olhos esgazeados. A face descarnada dava-nos a ideia de algum dominado pela lepra. Era uma mulher. Desfigurada, s longinquamente nos lembraria um ser humano. Comeamos a perceber porque Atafon nos dissera que eram espritos maus que ainda pensam que so homens..." A mulher no nos disse nada. Sabamos, no entanto, que havia nela o desespero sem nome. A luz de Atafon, provavelmente, deixara-a distncia e garantia-nos a visita. Retiramo-nos silenciosos. Viu? No lhe disse que se preparasse para o pior? Eu devia estar terrivelmente plido porque sentia-me tremer intensamente. Orcus abraou-me com afeio e dele uma corrente eletro-magntica desprendeu-se alcanando-me todo o esprito. Prosseguimos os trs na ruela escura e ftida. Se a humanidade soubesse o que existe aqui embaixo! exclamei com um profundo suspiro. A humanidade j foi informada do que existe esclareceu Orcus , o que ela acredita porm que isso constitui um inferno eterno. No h eternidade no Mal. A Lei de Deus no fez o inferno eterno. O que existe so zonas infernais onde as conscincias culpadas se renem atradas por imposio inexorvel da Lei de Afinidade. O esprito sob o impulso da Lei de evoluo aperfeioa-se, adquire leveza e sobe. Da mesma forma, se estaciona no mal, embrutece-se, torna-se pesado e desce. Essa uma lei ainda desconhecida dos homens, mas que funciona rigorosamente nos planos espirituais e tanto atinge o esprito encarnado quanto o desencarnado. o que poderamos chamar peso especifico do perisprito. O responsvel, no entanto, por isso a mente. Quando a mente abriga pensamentos de baixa vibrao determinam eles o nascimento de sentimentos inferiores de natureza materializante que agem diretamente sobre ps fios que constituem a rede vibratria do perisprito produzindo correntes mais lentas o que o tornar mais pesado e mais grosseiro. O fenmeno contrrio, isto , quando a mente abriga pensamentos de ordem superior ou de alta vibrao, nascem os sentimentos de projeo superior que produzem correntes vibratrias mais velozes trazendo como consequncia direta maior leveza do perisprito. Como um balo, o esprito busca ento, as alturas espirituais ou desce s profundezas do abismo... Orcus calou-se. Uma interrogao pairava, contudo, no meu esprito. E depois? Depois, continuou Orcus a lei da maternidade terrestre determina que o esprito que desceu s profundidades estacione nas trevas enquanto que a Terra em seu seio amoroso e amigo, como um enorme tero, lhe d novamente o impulso da vida que no cessa. E o esprito "cado" recomea a marcha de asceno para alcanar um dia a luz da superfcie... As palavras de Orcus repercutiam ainda no meu ser como estranha sinfonia de ensinamentos profundos. Minha mente lutava desesperada para compreender tudo aquilo que me parecia

um sonho fantstico e mau. Na sombra, percebamos que medida que avanvamos, seres esquisitos se escondiam nos ngulos mais escuros dos caminhos. Evidentemente, a cidade inteira era habitada. Atafon conduziu-nos por estreitos e torrveis caminhos. Uma abertura em rocha viva deu-nos passagem para extenso corredor mais mido ainda. Onde iramos ns? Orcus manteve-se silencioso e Atafon ganhando um pouco nossa frente deixou que de sbito suave luz de luar se lhe irradiasse do ser. Branda e pura, a luminosidade derramava-se-lhe dos tecidos como tnue claridade atravs de lmpada fluorescente. O caminho iluminou-se francamente, mas de modo a permitir-nos a marcha em perfeita segurana. Orcus cochichou-me paternalmente: Atafon est usando apenas um pouco mais de sua vibrao com o objetivo nico de facilitar nossa caminhada. Os seres inferiores, todavia, que habitam as trevas j sabem que estamos por aqui. Se Atafon usasse mais luz causaria enorme perturbao nestes domnios porque essas criaturas sentemse queimar incidncia da luz. De resto, voc j viu isso... Compreendi o que Orcus me dizia. Realmente, era um fato impressionante aquele. Os espritos que vivem nas trevas e tm a treva em si mesmos no suportam a luz. Ofuscam-se e sofrem ao mesmo tempo queimaduras dolorosas. For isso, imenso cuidado mantm as entidades mais elevadas a fim de no surpreend-los com o seu poder. Assim como Deus, oculto no Infinito, no exibe escandalosamente a sua fora e o seu poder, tambm os espritos superiores envolvem na humildade o seu conhecimento e as suas conquistas. Ningum pode ou tem o direito de estabelecer a desordem na "Casa do Pai". Jesus ensinou-nos a humildade de tal forma que o homem ainda no descobriu que nos mais longnquos recantos do Universo a humildade Lei. Lei de vida e evoluo, progresso e asceno espiritual. Sem ela nada se conquista nas esferas da vida imortal. Continuamos penetrando atravs da rocha com Atafon frente. De repente, enorme salo, todo de rocha avermelhada como imensa fogueira descortinou-se-nos aos olhos. Uma figura estranha de ano com um s olho na testa, segurando nas mos poderosas, enorme molho de chaves de mais de dois palmos de tamanho cada uma, veio at ns. Aterrorizei-me e senti um apavorante impulso para fugir, mas Atafon conteve-me com um gesto. A criatura aproximou-se-lhe humildemente. Que quereis Anjo do Abismo? aqui estou para servir-vos. O ano vestia roupa de tecido semelhante ao couro. A cabea grande de macrocfalo, balanava-lhe nos ombros como um globo oscilante e os braos excessivamente longos contrastavam-lhe com o corpo curto. As pernas grossas, no entanto, suportavam-lhe a esquisita estrutura. Venho em visita de inspeo disse Atafon e trago amigos. No pude conter um grito de terror. Pelos cantos da gruta mida, frouxamente iluminada por uma lanterna esverdeada, seres patibulares jaziam acorrentados. O ano mantinha as chaves daquelas correntes. Orcus abafou-me os soluos abraando-me com paternal amor. As lgrimas insopitveis saltavam-me dos olhos incontrolados. Era insuportvel aquela viso. Meus sentimentos ainda no submetidos a uma disciplina que capaz de nos dar a compaixo sem o desvairamento traiam-me a condio inferior. O ano contemplou-me por um minuto como se estivesse em dvida, mas a presena de Orcus e Atafon salvaram-me. Enquanto Atafon se adiantava para os seres horripilantes que estavam na sombra, Orcus murmurou: Se por ventura voc pudesse ter chegado aqui sozinho, as suas lgrimas que na superfcie so prova de sublimidade e amor, aqui seriam motivo para que voc tambm fosse acorrentado junto com aquelas criaturas

ali. Acompanhei com os olhos o gesto de Orcus expresso em sua mo estendida, e recebi em todo o meu organismo um arrepio medonho de pavor. Compreendi que naquelas regies s duas condies credenciavam o esprito: ou imensa elevao espiritual ou prodigioso atrazo prximo da inconscincia. Os espritos de sublime posio eram respeitados e os espritos maus que governavam as trevas podiam se mover. O resto era impiedosamente escravizado. Uma lgrima nos olhos era um sinal de perigo. Poderamos ser arrastados a sofrimentos inauditos. A serena superioridade dos que sabiam amar sem se perder mantinha os verdugos distncia. fraqueza dos simplesmente bem intencionados no os amedrontava. Quo difcil me era aproximar daquelas criaturas acorrentadas! Um cheiro nauseabundo tresandava-lhes do organismo. Os membros pareciam putrefatos e os olhos injetados perdidos na face semelhavam duas plidas e pequeninas luas. Chamei a ateno de Orcus para o fato de possurem dois olhos. Orcus esclareceu: Estes so espritos que desceram recentemente s profundezas deste abismo. Todavia, repare bem que trazem os olhos vidrados ou opacos. No possuem viso. Gastaram os olhos na "Terra" naquilo que os homens poderiam denominar de "hipnotismo sensual". O desejo e a sensualidade exercida pelas vistas na nsia do desejo da mulher do prximo ou a aplicao do magnetismo visual para a conquista e amor de baixo padro desgastam as fibras do perisprito e cega a criatura por muitos milnios. So cegos de amor e paixo. Quedei-me pensativo e silencioso. Nunca havia suposto l na superfcie que os olhos que ardem na paixo desenfreada dos sentidos estavam condenados destruio. O amor cheio de maldade destri o prprio veculo pelo qual se transmite. Orcus demonstrou com um olhar compreender minhas profundas reflexes e aduziu ao meu pensamento: O que voc est pensando, meu filho, corresponde mais exata realidade, todavia bom esclarecer que o olhar carinhoso e amigo, verdadeiramente sincero, aplicado no amor verdadeiro que obedece ao cumprimento da Lei, constri pupilas luminosas para a imortalidade. a mesma lei que estabelece as probabilidades de subida e descida que estudamos anteriormente. O amor ao mal e s coisas da matria materializa. O amor ao bem e s coisas do esprito, espiritualiza. Tudo em toda a parte, toca-se de luz e sombra. A mesma energia depende apenas de direo. por isso que o Evangelho bssola... A observao judiciosa de Orcus calou-me fundo. Atafon dirigia-se mais para o interior e notei que se aproximava daquelas criaturas "descarnadas", expresso que usamos a fim de dar uma ideia da condio delas. Verificamos que os seus perispritos, conquanto organismos de natureza eletro-magntica e infinitamente distanciados daquilo que chamamos carne apresentavam-se dilacerados exibindo membros onde faltavam pedaos enormes. maioria exibia rbitas vazias. E dizemos a maioria porque ali se alinhavam em verdadeira multido de alguns milhares. O salo como imenso plat lembrava prodigiosa laje sobre a qual as criaturas inconscientes ou semi-conscientes permaneciam abandonadas em um estado que se no era a morte tambm no era a vida. Uma mulher cujos membros dilacerados e enfraquecidos lembravam rvore seca, desgalhada, batida pela fria da tempestade, falou-nos ininteligivelmente. Paramos tentando ouvi-la. Sabe quem essa? interrogou Orcus. Olhei a mulher como quem contempla uma runa inimaginvel e no pude me recordar daquelas feies monstruosas. Quem seria?

A mulher de Csar... Meu olhar ansioso buscou Orcus. Quiz saber mais. Ele compreendeu, mas no me disse nada. Vi que no lhe convinha me revelar mais. Uma estranha fora, contudo, desde quela hora me atraiu para aquela mulher. Teria sido eu aquele Csar? Qual deles? Tomei-me de compaixo. Orcus, porm, alertou-me. Por mais tenhamos amado algum algumas vezes a criatura se lana em precipcios to profundos que nada podemos fazer em seu favor. S a Lei de Deus, inexorvel, dura, mas misericordiosa, salva os que esto aparentemente perdidos. Cada um se salva por si mesmo ao influxo da misericrdia do Pai. "Descer e subir" so foras da vida. Caminhei olhando para trs. Orcus arrastava-me pela mo. Entre os mulambos e o horror daquela forma cada no mal eu sentia um corao que no me amara, mas a quem eu sempre amei. Voc no foi Csar acrescentou Orcus mas apenas algum que a amou. Ela que sempre sonhou com o esplendor das cortes e dos reinados, renunciando ao verdadeiro amor foi caindo, de queda em queda at o ponto que voc viu. Naqueles olhos vidrados e na sua inconscincia ainda sonha com as multides e com os palcios dos csares. Est coberta de ouro e prpura. Para ns, no entanto, s exibe podrido e lama. Contudo, um dia, retornar ao Paraso. O Reino de Deus, meu filho, feito de simplicidade e amor. Os tesouros desse reino so apenas a afeio verdadeira e o amor imortal. Orcus cessou de falar. Atafon que se distanciara fez um aceno com a mo. Apressamo-nos. Um grupo de "homens" amontoados uns sobre os outros como uma pilha de capim ou palha aguardva-nos para estudo. Pareciam esqueletos de for, mas pa-tibulares. Embora no exibissem revestimento na ossada lisa, gemiam como se possussem garganta e lngua. Estranhos gemidos saiam do monturo! Contemplamos o espetculo inaudito! Em meio ossada, vozes murmuravam palavras de paixo e dor. Que criaturas so essas? perguntei profundamente surpreendido. So os espritos daqueles que acreditaram firmemente que aps a morte nada restaria deles e seriam apenas esqueletos abandonados. To grande foi a mentalizao nesse sentido que adquiriram a forma que voc v. A resposta de Orcus de uma certa maneira deixou-me aterrorizado. Jamais imaginara to grande a fora do pensamento. Sentem-se eles realmente como se fossem esqueletos. O perisprito moldou-se nova forma e provavelmente se andassem pelo mundo seriam vistos por alguns como assombraes em for, mas esquelticas. Muitos tm saido assim na superfcie... Um calafrio percorreu-me a coluna... Estava diante de fatos novos para mim. Nunca Dante me surgiu to respeitvel na conscincia. Compreendi o verdadeiro sentido de sua histria e fiquei imaginando quo enorme foi o seu sofrimento por no ser compreendido na superfcie da Terra. Acreditaram no mundo que ele houvesse sido somente um artista. certo que ningum sups que o assunto de seus poemas fosse verdadeiro, real. Provavelmente, eu encontraria resistncia maior ou semelhante na Crosta. Valeria pena? Quem serve por amor ao servio e tem a Deus por Pai e Jesus por irmo, no pode deter-se para informar-se se o que pensam os homens a seu respeito... falou-me Orcus mansamente como que respondendo s minhas angustiosas interrogaes mentais. Palavras sbias que eu no tentaria sequer discutir. Atafon prosseguia percorrendo o imenso rochedo onde os espritos infelizes fizeram por desgraa o seu ninho de sofrimento. Seres estranhos

entremeavam-se quelas for, mas. Alguns pareciam serpentes, lagartos e drages menores. Outros exibiam to horrorosa fisionomia que os enfermos da superfcie ao lado deles seriam criaturas de sublime beleza. Defrontramos agora uma infinidade de espritos que exibiam formas dilaceradas. Espantou-me o fato. Nem sempre possuam as pernas e os braos. Havia os que apenas apresentavam a cabea e o tronco. Estranho reunirem-se eles numa espcie de panela aberta no vasto rochedo em forma de prato. Aninhavam-se uns aos outros como crianas, dominados por um sono inquieto. Misturavam-se, aconchegavam-se uns nos outros como que procurando calor. A maioria ostentava um crnio limpo, brilhante, sem cabelos; outros, apenas recoberto por uma penugem rala. A maioria lembrava crianas com a fisionomia de velhos milenares cuja boca adquiria a feio de meninos que esto chupando bico. Os olhos fundos absolutamente fechados. Na realidade, eram seres voltados para dentro de si mesmos num esquisito movimento mental interior. O exterior no lhes fazia conta e para eles deixara de existir. Semelhavam fetos amontoados no tero materno. No era a primeira vez que eu contemplava criaturas s quais faltavam membros, mas eram sempre homens da Terra. O fato de existirem espritos mutilados impressionava-me profundamente. Orcus no deixou de perceber-me as dificuldades internas e a luta do pensamento para adaptar-se quela realidade nova. De fato, meu caro, sempre chocante a observao detalhada da degradao da forma em qualquer reino da criatura no universo. O esprito no retrograda, todavia a forma tem possibilidade de desgastar-se, dilacerar-se e degradar-se at dissolver-se. Voc no se lembra do ensinamento relativamente Segunda Morte? O princpio no novo, como vemos, e foi expresso pessoalmente por nosso Excelso Mestre. Senti como terrvel impacto mental o lembrete de Orcus. No havia por onde fugir. E isso a segunda morte? interroguei visivel mente assustado. No, esta ainda no a segunda morte, mas poder ser encarada como a agonia... Compreendi a profundidade da observao. Quer dizer que esses so enfermos a caminho da dissoluo perispiritual? Se no reagirem a tempo, iro decaindo em si mesmos cada vez mais at atingirem os limites marcados pela Lei para a garantia da unio celular. A de sintegrao do perispirito pode ocorrer tanto quanto ocorre no mundo a desintegrao do corpo fsico. A lei que rege a unio celular perispiritual a mesma, apenas funciona de maneira diferente. Enquanto que o corpo fsico vive submetido ao equilbrio da alimentao constituda por alimentos comuns e oxignio e a sua manuteno depende somente de um processo da vida, o perispirito que o intermedirio na aglutinao celular do corpo fsico que o garante, por sua vez mantm-se unicamente pelo poder da mente. O desvario mental inicia a destruio do perispirito assim como a elevao da mente d incio jornada de construo no s do prprio perispirito, mas tambm de veculos mais elevados. A criatura constri ou destri-se a si mesma... Orcus fitou-me amoroso e o meu pensamento sob o influxo do poder de sua palavra sbia galopou no terreno da meditao pura. As for, mas ali estavam a nossos ps, dilaceradas, mutiladas, horrveis... E haviam sido "homens" talvez belos e venturosos, um dia, na superfcie! Na realidade, em nosso mundo, os homens sonhavam com o cu, mas aqueles ali seriam imensamente felizes se pudessem simplesmente atingir a superfcie da crosta terrestre. Todavia, ainda estavam descendo. E quantos

no mundo, distrados e insensatos estavam iniciando a descida para a destruio total ou parcial? Descer e subir so problemas de direo... dissera Orcus. De fato, compreendia eu agora a sabedoria da assertiva. S descendo sombra mais espessa que poderemos entender a luz. Atafon, no entanto, prosseguia, e por isso no pudemos nos deter. A Ave Enquanto caminhvamos na plataforma de pedra, observamos que uma sombra esquisita parecia nos acompanhar. Atafon fez-nos um gesto discreto indicando-nos a necessidade de manter silncio e prosseguir com coragem. Confesso que no me sentia muito seguro e que minhas pernas tremiam. Contornvamos extenso lago de guas prateadas. O rochedo alto, projetavase sobre o lago assustadoramente. Provavelmente, deveramos parecer na distncia infinitamente pequenos. ramos trs criaturas insignificantes sobre imenso rochedo, apesar da enorme estatura de Atafon e de Orcus. Os seres respeitavam-nos, mas a natureza ali, sombria e fantstica, criava tudo de modo descomunal. Precipcios sem fim, escarpas perigosas, umidade capaz de arrastar a despenhadeiros. S a luminosidade de Atafon e Orcus clareava as sombras. O ano seguia-nos conduzindo uma espcie de lanterna semelhante quelas que os lanterneiros usam nas estaes de estrada de ferro. Marchava arrastado, porm respeitoso. Via-se que estava submetido e escravizado ao magnetismo de Atafon que exercia sobre ele enorme poder. Era uma criatura apavorante. Fcies que lembrava o gorila antropide, ancestral do homem. Olhar vidrado, parado, face terrosa. A luz de sua lanterna mal daria para clarear-lhe os passos. Parecia, no entanto enxergar perfeitamente nas trevas. Essas criaturas falou-nos Atafon acostumaram-se s trevas e enxergam com facilidade nos abismos. Vivem na sombra e amam a sombra. Por isso, no os inquieta aquilo que para os mortais seria o pavor e a morte. O vulto, do outro lado do lago, acompanhva-nos silenciosamente. De sbito, ouvimos um grito medonho que reboou multiplicado muitas vezes pelo eco na imensido dos penhascos. Parei estarrecido. Era uma voz de ave e de animal ante-diluviano. Sufocado pelo terror no pude andar um passo. Um frio intenso percorreu-me todo o organismo. Orcus amparou-me carinhoso e Atafon estendeu a mo espalmada em direo ao lago. Vibraes magnticas partiram-lhe dos dedos distendidos como fagulhas eltricas de um prodigioso maarico. As sombras sobre o lago iluminaram-se e ns vimos quela luz verde-azulada um enorme monstro que atravs de dois olhos de fogo nos contemplava. Deveria ter mais de cem metros de altura minha viso assombrada. No sabia eu se o seu tamanho era natural assim ou se minhas pupilas dilatadas causavam-me angustiosa alucinao. Preto, mais preto que todas as noites. Era uma ave gigantesca. Asas negras enormes, peito descomunal, bico como duas ps de moinho, olhos qual duas fogueiras. Uma pele cascorenta semelhante pele que recobre o bico dos perus recobria-lhe o bico e descia-lhe pelo pescoo semi-pelado. Lembrava um enorme corvo. Em sua fisionomia, no entanto, estarrecedoramente, percebiam-se os traos de um ser humano. Os ps de grandes dimenses por sua vez recordavam longiquamente as mos humanas. Crescia a minha angstia sem limites. distncia, porm, entre ns e ele era extensssima. O lago garantia-nos a imunidade mesmo se ali no estivesse Atafon. As centelhas precipitadas e projetadas pelas mos do Grande Esprito atravessavam a extenso do lago e atingiam a criatura em pleno peito na regio do corao e entravam-lhe pelos olhos maus. Recebendo-as, aquietouse silencioso ao nosso olhar.

Esse que vocs vm foi na Terra um monstro sem entranhas que destruiu milhes de criaturas na conquista do poder explicou Atafon. As civilizaes antigas guardaram o seu nome como o de uma fera indomvel. Nasceu e renasceu enquanto a misericrdia divina lhe permitiu as maravilhosas oportunidades de reingresso na carne abenoada. Depois, comeou a cair por fora da lei at que a prpria forma lhe tomou as feies do pensamento tenebroso. Manteve a fora dos conquistadores e das feras, e o porte da ave que sonha voar e governar de cima. terrivelmente temido nestas regies. Todavia, se a forma que a lei lhe permitiu agora no o despertar para a asceno continuar caindo mais, de forma em forma degradada at o fim... As palavras do anjo vibraram com estranhos acentos em minha alma. Contemplei o monstro numa nsia sem limites de saber quem fora ele na Terra, Orcus contudo segredou-me: No temos permisso da Lei para revelar essas criaturas, to grande a transformao que apresentam. A revelao simples e pura das personalidades que animaram na superfcie causaria tal impacto mental ao homem que vo seria o nosso servio. A prudncia nessas regies a melhor garantia para o cado. Se os homens soubessem o seu nome sintonizar-se-iam com ele no campo da vibrao, emitindo e recebendo, e em breve o monstro tambm vibraria em direo superfcie, de tal maneira que no demoraria o mundo a sentir-lhe as imensas perturbaes em forma de terremotos, guerras e desordens sem nome. No aterrorizou-se voc apenas com o seu grito? A interrogao de Orcus calou-me fundo no esprito j to abalado. Seria eu capaz de prosseguir em marcha? Orcus identificando-me as indagaes, acrescentou: No se esquea, meu filho, que estamos somente no limiar dos abismos... No pretendemos de uma s vez sobrecarregar-lhe a mente desacostumada s imagens pouco comuns. Outras Criaturas A grande ave abria e fechava o bico enorme como se deglutisse alguma coisa. Tnhamos a impresso de que o cansao dominava-lhe o organismo. Todavia, Orcus esclareceu: - Nestas profundezas, os seres que aqui residem quase sempre sentem-se ansiados pela atmosfera asfixiante e de baixa vibrao. Embora ferozes, maus e desvairados, no conseguem sobrepor-se s foras da natureza... No obstante aduziu Atafon que ainda mantinha a mo estendida em direo ao pssaro esses grandes seres do mal expedem instrues para a superfcie atravs de outras criaturas que l em cima lhes cumprem as ordens rigorosamente acreditando-se instrumentos da Grande Justia. Interferem na vida humana e de certa forma justificam a teoria de que o diabo disputa a alma do homem. De resto, em quase todas as religies antigas encontramos referncias luta entre o Bem e o Mal, desde a Babilnia at India. Nas anotaes relacionadas com a histria de Kri-shna e com os estudos que falam de Vichn e de Or-muz, encontraremos sempre a luta entre o Bem e o Mal numa perfeita constante. Espritos de menor porte que ainda vivem na atmosfera da Crosta terrestre recebem-lhes as advertncias e cumprem-lhes as ordens. lgico que dentro do esquema divino por efeito das leis de Deus tudo se enquadra na Justia Divina. Acontece, porm, que o que poderia ser feito com amor realiza-se simplesmente com excessiva justia. tafon silenciou e ns, assombrados, notamos que de sbito o bicho abriu o bico de maneira diferente e uma voz cavernosa pareceu sair-lhe em pleno peito. Que desejais em nossos domnios, Anjo do Abismo? No sabeis que nestas trevas governamos ns, os filhos dos Drages? Porque perturbai-nos o

trabalho pacfico em prol da Justia do Mundo? Senti-me gelar. Orcus agarrou-me mais firme no brao como quem compreende a minha situao interior. Atafon demorou algum tempo a responder, depois clamou com voz argentina por cima do lago: Como filhos do Cordeiro e Guardio dos Abismos, fazemos uma viagem de estudos e aprendizado. Compete-nos informar s esferas mais altas de que maneira est sendo aplicada a justia nestes rinces. Nosso dever nos impe o trabalho. Se vs aplicais a justia, cabe a mim e a outros guardies fiscaliz-la. Representamos, tambm, de alguma forma a Vontade de Deus nestas profundidades. O pssaro deu-nos a ideia de que estava satisfeito com a resposta. Contudo bocejou estranhamente. Pareceu-nos que pequenas chamas saltavam-lhe da boca. Seria luz? Aps, voltou a dizer: Compreendo e acato as ordens de cima, das Esferas que governam o Orbe e os Abismos, respeito-o como guarda-abismal, mas e essas criaturas que o acompanham? Que direito tm de penetrar em nossos domnios? J venceram elas o bem e o mal, j alcanaram possibilidades superiores? Um grande silncio se fez. Porque ento vm nos perturbar desrespeitando nossas leis continuou mais feroz agora em seguida pausa sem resposta. Atafon voltou, no entanto, sereno e humilde. Receberam ordens superiores para visitar os abismos em viagem de estudo. Foi-lhes permitido percorrer estas regies e anotar relacionando o trabalho da Justia que se exerce atravs dos Drages para conhecimento dos homens. A palavra de Atafon pareceu tocar-lhe a vaidade e o orgulho porque tivemos a impresso estranha de que atrs do bico prodigioso e em plenos olhos havia um sorriso de gosto e de alegria. Bom, se esto credenciados para contar ao Mundo a obra notvel que os Drages realizam no fundo da Terra para harmonia da Criao nada temos a dizer e nem faremos um gesto para impedir. Podeis percorrer os domnios que esto sob minha responsabilidade e que o domnio dos seres que j conquistaram poder para dominar e asas que nos libertam do solo. Assombrei-me com a interpretao sibilina que aquela criatura procurava dar de sua escravido na forma. Eles no admitem segredou-me Orcus de maneira alguma que estejam se degradando na forma pela permanncia na imantao do mal. Querem fazer crer que o bico, os olhos de fogo, as asas negras, os ps semi-humanos e tudo o mais so conquista gloriosa. No vem a prpria forma destorcida como um crcere chaguento e terrvel. Sonham que so seres que adquiriram maiores possibilidades. Com esse pensamento adaptam-se s novas condies de vida nestas zonas infernais. Era espantoso tudo aquilo! No entanto, passamos a compreender que Deus em Sua Misericrdia permite que os seres adaptem a prpria conscincia ao ambiente onde vivem a fim de que no se desesperem ainda mais no caminho da dissoluo. Orcus aplaudiu-me o raciocnio. Eu no cabia em mim mesmo de espanto e admirao ante a ave que fala. H muitos seres alados como esse por aqui? interroguei Orcus ansiosamente. Atafon, porm, respondeu-me: Uma infinidade. Tudo na obra de Deus grandioso. Existem aos milhes e o Abismo por sua vez subdividido em um nmero muito grande de departamentos. Dante identificou nove crculos principais na zona leste. Acreditou que houvesse visitado todo o Abismo! Na realidade no percorreu

nem um tero destas zonas. Deveria voltar. No entanto, to grande foi a celeuma que levantou em seu tempo que as Entidades Superiores consideraram que o Homem Terrestre ainda no possua condies espirituais para saber mais. E as suas viagens foram definitivamente encerradas. Ele que era escritor e mdium ao mesmo tempo, retornou ento simplesmente sua atividade de escritor que exerceu at morte, passando a escrever somente sobre coisas do mundo. Atafon silenciou e eu fiquei meditando no apontamento cheio de sabedoria que me indicava a dualidade da natureza do poeta florentino. Em verdade, pareceu-me sensato que pudesse ele exercer com idoneidade os dois ministrios. Continuamos penetrando na regio dos abismos. Um cheiro nauseabundo invadia agora nossas narinas. Exalaes ftidas subiam das cavidades e o estreito caminho ora percorrido semelhava mais um corredor apertado dentro do qual nos mantnhamos prisioneiros. Deixamos o rochedo extenso e havamos, terra a dentro, tomado uma direo que mais ainda nos conduzia a profundidades. Provavelmente, pouca gente na "terra" acreditaria em semelhantes construes subterrneas. O calor ali se fazia sentir de maneira sensvel. Pela primeira vez notei que proporo que descamos o calor mais nos sufocava. Era tanto mais estranho visto que at aquele momento havamos gozado de uma temperatura que se no era tpida pelo menos era suportvel. No sofrramos ainda variao de temperatura. Orcus orientou-me: Meu filho, aquela teoria terrestre de que o calor subterrneo aumenta um grau cada 33 metros que se desce no interior da terra comea a funcionar nesta zona. E porque no havamos sentido esse calor antes? interroguei aflito. Havia uma relao de equilbrio entre a vibrao de nosso perisprito e o calor existente nas regies por onde passvamos. Aqui, porm, a vibrao ambiente mais lenta e pesada que a vibrao de nosso perisprito, alm disso, ocorre um fenmeno importante, desconhecido dos homens do mundo e dos cientistas mais arrojados. Depois de uma certa penetrao para baixo o aumento de calor no se faz somente na relao de 33 metros por grau. A relao diferente e menor. Isto , cada 15 metros aumenta um grau e a proporo vai se reduzindo em metros pela metade o que trs em consequncia um aumento lgico no aumento dos graus. Quer dizer que se depois de certa distncia aumenta um grau cada 15 metros, e em seguida cada 7,50, etc. etc. isto apenas significa que o nmero de graus vai simplesmente dobrando medida que se desce na direo do centro. O ensinamento era novo e revolucionrio. Evidentemente, era uma observao que viria interessar cincia humana no futuro... De fato, o calor aumentava proporo que avanvamos. Estvamos na ponta do rochedo e atingramos uma zona de intensa lama de carater vulcnico. Senti que meus ps agora pisavam em massa mole, escura, de cor cinzento chumbo. Seria o comeo do lago prateado?