sabedoria do abismo

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“Em memória de meu pai, a quem agradeço por me incentivar o dom da Escrita.”

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Introdução

“O diabo é feito das ruínas de Deus”

-Eliphas Levi

A palavra Cabalah, vem do Hebraico e significa “receber”, se referindo a uma tradição recebida e passada a diante. É um sistema esotérico que teve origem provavelmente suméria, e foi passado aos Hebreus durante seu contato com outros povos. Os Hebreus teriam então sintetizado este sistema para melhor compreender e adaptado as suas próprias crenças e mitologia.

Atualmente existem diversas ramificações da Cabalah, envolvendo numerologia, esquemas diversificados de padrões da Árvore da Vida e até mesmo relações e sincretismos modernos com outros cultos e religiões adaptados para se encaixarem na cabalah, como muitos autores fazem com a Umbanda, por exemplo, nos dias atuais. Não há como dizer que estes sincretismos recentes estejam errados ou equivocados de alguma forma, deve-se apenas ter em mente que não fazem parte de nenhum dos cultos citados, em suas raízes e tradições originais.

A árvore da vida da Cabalah, uma de suas mais marcantes simbologias, pode ser considerada um rascunho do Universo, sintetizado para que nossa compreensão humana pudesse absorver pelo menos um trecho mínimo do conhecimento natural que nos cerca. É interessante também citarmos que não apenas os sumérios e posteriormente os Hebreus sintetizaram as formas do Macrocosmo em forma de uma árvore. Os Eslavos, os Nórdicos e até mesmos os Africanos realizaram esse simbolismo, de modo que as raízes da árvore tocavam o submundo e os deuses inferiores, o tronco passava pelo mundo físico e a copa atingia as alturas do céu e as manifestações superioras.

Simbolizada nos mitos judaicos cristãos pela “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal”, este diagrama simplificado nos guia como um mapa até nossa divindade, não importando a senda ou corrente filosófica que seguimos. Enquanto o lado de LVX (Otz Chiim, a Árvore da Vida) contém as Sephiras responsáveis pelas emanações da Ordem, por trás delas há as Qliphas responsáveis pelas emanações caóticas da existência.

Segundo a mitologia judaica, em Ain ( A existência sem limites) houve um - אין

“movimento” constritivo denominado Tzim Tzum (צמצום), que terminou por aprisionar o Caos primordial em dez emanações representadas pelas esferas Sephiróticas e pelos números de 0 a 10. Samael, o Anjo serpente, cujo nome significa “Veneno de Deus” teria introduzido na criação o Caos através do fruto de Daath (Sabedoria) oferecido a Adão e Eva ainda no Paraíso. Este ato da Serpente teria mudado todo curso da “ordem” imposta pelo arquiteto universal, o Demiurgo limitador de formas.

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Através da Queda de Daath, surgem as Qliphots. Do hebraico, a palavra significa “Casca” ou “Concha” se referindo justamente a um espaço vazio, ausente de criação onde apenas o Caos e a liberdade reinam, e onde os poderes do demiurgo não alcançam. Assim como as terras de Nod para onde Caim foi exilado, não há a presença do Deus cristão (YHWH) no que foi denominado Sitra Ahra, ou “Outro Lado”. Um universo a parte, onde o potencial de divindade do ser humano pode ser totalmente exercido através do seu espírito e de sua mente, sem a interferência e necessidade de corpos de carne.

As energias que fluem pelas Sephiras de Otz Chiim são intensificações das emanações demiúrgicas de IHWH que chegam ao plano físico, enquanto as emanações de HWHI (Yahvajoth, Deus Averso, primordial a entidade “Satan”.) se erguem do abismo caótico para adentrar no reino material.

Logicamente, para alcançarem-se estes espaços “vazios” e se tornar algo além de uma mera alma humana é necessário primeiramente sofrer uma mudança a partir do contato com estas esferas existentes catalogadas na árvore de NOX (Árvore da Morte ou Otz Daath) e os caminhos que as ligam. Deve-se adentrar no Abismo de Daath representado pelo fruto proibido do mito de Adão e Eva e enfrentar Chorozon, o Guardião do Abismo.

Estas esferas não são meramente planos. Mas uma rede de energia que inclui partes do plano Astral, Físico, entidades, e a própria energia que emana destas “conchas” presentes no Sitra Ahra e adentram o nosso Universo. As Qliphots são o próprio fluxo e influxo energético, ou seja, a presença ou não de determinadas energias em determinado local.

Chorozon é a entidade consciente que representa o espelho negro de nossos próprios medos e terrores, desde a ancestralidade até o presente momento. É necessário superar a nós mesmos, pois somos nossos piores inimigos, para provarmos do fruto da sabedoria do bem e do mal e “morrermos” metaforicamente para renascermos como deuses no Sitra Ahra.

Acima de tudo, trabalhar com as Qliphots é superar os seus próprios defeitos, despindo-se deles a cada trilhar de cada esfera, lapidando seu Ego até atingir a sua forma perfeita e ideal. A preparação para se tornar algo superior ao que se é neste momento. Sem nunca sucumbir a fraquezas desnecessárias.

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Mão Direita e Mão Esquerda

No ocultismo moderno temos uma interessante cisão entre filosofias supostamente antagônicas e baseadas na Cabalah, esquematizada pela árvore da vida.

Temos de um lado a “Mão Direita”, baseada especialmente em princípios cristãos de caridade, altruísmo, bondade e perdão. Religiões que normalmente possuíram um intenso contato com o cristianismo, como a Umbanda Brasileira, terminam por originar sistemas mágicos que se adéquam a esta descrição. São marcantes aqui as limitações impostas para que o praticante ande “na linha” de determinados dogmas morais e éticos em relação à mágica. Não ferir outras pessoas, a rejeição de sacrifícios de sangue e a proibição do contato com determinadas energias (isto inclui as Qliphots) e entidades são fortemente presentes. Tais proibições normalmente não se dão diretamente, mas através de uma “coação” feita por ameaças de punições divinas como “karmas”, reencarnações e até mesmo através das alegações feitas por alguns de que “determinado caminho é nocivo”. Estes praticantes seriam os seguidores da “Árvore da Vida”, variando seus princípios pelos três pilares constituintes da mesma (Severidade, Temperança e Misericórdia).

A “Mão Esquerda” se refere à árvore da “Morte” e as Qliphots. Sua nomenclatura é derivada da “Vama Marga” (em Sânscrito, “Mão Esquerda”) e é um caminho considerado algo “sinistro” devido a forte presença da quebra de paradigmas sociais e religiosos. Esta “quebra” de mentalidade para os praticantes de Yoga normalmente se dá com a ingestão de carne vermelha, alguns tipos de vinhos e algumas posições sexuais tidas como tabus dentro da cultura hindu. Para um ocidental, as próprias Qliphots podem representar a quebra dessas imposições sociais.

O que os praticantes da “mão direita” tanto temem e denominam “Magia negra” é, portanto nada mais que a auto superação e obliteração de alguns aspectos do “eu” para a união plena com sua própria Subconsciência, seu Abismo interior. Não tem a ver com magia sexual ou ritos de destruição. Tem a ver justamente com o oposto. Deixar este mundo para trás e começar uma jornada em um próximo nível. Este é o lado incompreendido das emanações consideradas “Satânicas” (adversárias), opostas a criação, das Qliphots. Não se perder e chegar ao outro lado com a consciência intacta, sem se fragmentar e sem se entregar aos prazeres e torturas deste “caminho”.

É válido lembrar também ao leitor que não existe um “certo ou errado”. Não há verdades absolutas ou certezas dentro do ocultismo. Por mais que se divida a filosofia do ocultismo em dois caminhos na teoria, na prática eles ocorrem todos simultaneamente. Ninguém é unicamente bondoso e altruísta, reagimos em nossa defesa quando necessário. E ninguém é totalmente livre, ainda somos presos as amarras de

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nossa consciência e a nossas limitações. “Direita e Esquerda” ocorrem de forma misturada e às vezes até mesmo indistinta. O mundo é composto afinal de Luz e Trevas e é impossível enxergar sem o contraste que ambos proporcionam.

A árvore da vida e sua sombra

Literatura oculta

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Um fator importante de expressão dentro do Ocultismo é a Arte. O Universo é um macrocosmo, e o homem, seu fruto proibido, é um Microcosmo equivalente. Somos estrelas dançantes em meio à escuridão e as ciências ocultas nos auxiliam a entender a nós mesmos a ao meio que nos cerca. E não há nada mais humano que a Arte.

Seja como forma de expressão de desejos reprimidos, ou como forma de fazer acontecer de alguma forma ritualística obscura um ato o qual você descreve em seu texto ou retrata em sua pintura.

A Arte é a Alma.

Na primeira parte deste livro alguns contos de influência “qliphótica” serão contados, como forma de expressar melhor o real significado das Qliphots e seus caminhos. Tais contos misturam em si fatos fictícios e alguns fatos reais inseridos, seja de experiências com mágica ou relatos da vida de um ocultista. Alguns deles contêm em si fatos de meu próprio interesse, em uma tentativa de fazê-los se manifestar no mundo físico. Mas em todos está presente a simbologia Mágica necessária para entender estas emanações energéticas que inspiraram estas páginas.

Quando os poderes ocultos e metafísicos só podem ser comprovados através de experiências, não há nada melhor para relatá-los do que um conjunto de experiências reais, miscigenados com a ficção. O foco aqui são os simbolismos internos a estes textos, que se comunicam diretamente com o subconsciente do leitor. Esta comunicação entre os símbolos passados e o seu Abismo interno, sendo a única forma ideal de se falar sobre emanações abissais do Macrocosmo. Antes de tentar rituais e práticas, é necessário absorver totalmente estas metáforas de forma a se entender o que está fazendo. Sem essa compreensão, qualquer ritual será receita de um desastre.

Antes de cada história ser contada, as informações sobre a esfera serão detalhadas para que possa haver relação entre os simbolismos. Cada esfera Qliphótica é regida por um planeta astrológico que influencia suas características e está diretamente ligado a astrologia. Uma carta de tarô que contém os simbolismos sincretizados com a esfera ao longo dos anos pelos praticantes deste oráculo, que além de poder representar a influência desta emanação na vida do consulente, também serve como sigilo durante rituais envolvendo as Qliphots.

Por fim, cada esfera possui uma entidade regente, que representa uma personificação consciente daquela emanação energética. Estes regentes são os onze demônios do abismo do Caos, responsáveis pela manutenção destas esferas. Estas entidades são correspondentes aos onze guerreiros de Tiamat, A Mãe Dragão na mitologia Suméria.

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Contos de Influência Qliphotica

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A árvore da Morte

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תגרירוןThagiriron

Thagiriron

Demônio: BelphegorSignificado: Litígio / Processo JurídicoDescrição: DisputaPoder: DiscussãoPlaneta: SolTarô: O Sol

Thagiriron é talvez uma das Qliphot mais importantes da árvore de NOX. É o centro da estrutura, e consequentemente o centro do ser humano. É a Qliphot oposta a Tipharet, a Sephira do Sol, da beleza interior, do amor próprio e do individualismo.

Thagiriron significa “Litígio”, ou processo judicial. Tal nome tem relação com a palavra “Shatan”, que em hebraico representa “aquele que acusa”. O poder desta emanação energética é a Discussão, a disputa. Enquanto sua contraparte luminosa remete ao poder de argumentação e a personalidades fortes, que chamam para si a atenção, Thagiriron rege as personalidades egoístas e egóicas que se voltam para si mesmos.

Enquanto Tipharet pode ser associado ao messias cristão e a sua “luz”, sua contraparte obscura é associada ao Anticristo, a Besta 666 citada na bíblia cristã. O demônio regente, Belphegor era um Deus do povo Moabita (descendentes de Moab e Amon, filhos do incesto de Ló com suas filhas), considerado o senhor das invenções. Seu aspecto era o de um velho barbudo cuja língua possuía o formato de um pênis. Quando enfurecido, tomava a forma de uma besta que se assemelhava a um lobo grotesco. Sua regência em Thagiriron toma forma nos magos da idade média, cuja aparência entrava em decadência devido a seu comprometimento unicamente com o conhecimento e com suas invenções. A sede de poder da alma passando para o corpo.

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O lado luminoso está associado ao intelecto racional, aos pensamentos lógicos. Enquanto o lado negro adapta-se a inteligência instintiva, o raciocínio rápido, os impulsos. Um adepto completo deve saber quando e como utilizar-se de ambos os lados para tornar-se completo, do contrário uma hora ele irá falhar em sua jornada.

Estes aspectos da consciência racional e instintiva separam o que os antigos gregos

denominavam κακοδαίμων (kakodaimōn) ou espírito maligno e ἀ γαθ ὸ ς δαίμων (Agathodaemon), o espírito nobre. Ambos eram a consciência dual do ser humano externalizada na forma de entidades. No ocultismo atual, temos essas entidades interiores citadas nos trabalhos de diversas ordens e correntes filosóficas como a Thelema e o Satanismo, na forma do SAG (Sagrado Anjo Guardião), a consciência superior do homem, que guia a verdadeira Vontade e o DG (Demônio Guardião) que é a consciência instintiva e primal, o próprio impulso de sobrevivência vivo.

Ambas estas entidades existem em todos nós, e são por muitas vezes mais poderosas que os demônios evocados e até mesmo que as correntes de energia qliphóticas. No entanto são muito mais difíceis de serem trabalhadas devido ao alto risco de se contatá-las. Um erro e a sua própria personalidade pode ser devorada para sempre pelo seu subconsciente. Por isso é algo a ser feito apenas por pessoas com um alto grau de experiência. Os trabalhos com estes entes, para despertá-los, são feitos utilizando-se emanações dessas duas esferas.

Ambas, Tipharet e Thagiriron são esferas solares. Mesmo que o sol da Qlipha seja negativo e negro, ele ainda ilumina. Sua luz negra revela a realidade e destrói as ilusões. É o sol do submundo, a luz interna do Abismo da mente.

O sol negro é o motor do Caos. É ele que guia a matéria negra que constitui o Universo. O astro por trás do astro, que guia a escuridão e cria a dualidade, o contraste que nos permite enxergar o mundo como ele realmente é.

Thagiriron, nos trabalhos mágicos é representado por um Sol Negro, ou figuras feitas em ouro (ou material dourado semelhante). O número 666, correspondendo a besta do apocalipse, a carta de tarô correspondente, ou mesmo a figura de um dragão vermelho pode ser utilizado para canalizar o fluxo desta energia.

Os rituais envolvendo Thagiriron são utilizados para aumentar a confiança, introspecção, iluminação e contatos com o subconsciente, que devem ser feitos com cautela. Trabalhos onde se peça a manifestação ou mera presença do Demônio Guardião também são feitos nesta esfera de atuação.

***

Schwarze Sonne

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Em completo silêncio, o General olhava fixamente na direção do oficial que lhe passara o telefone. Não olhava necessariamente para o soldado, mas para algum ponto perdido entre ele e a parede ao fundo da mansão.

A voz do outro lado desligou o telefone, um sinal súbito da cruel realidade. O Reich acabara de cair. Soldados das forças dos Aliados invadiam Berlim, com uma potência devastadora. As linhas de contato com o Führer já haviam sido perdidas. O General estava sozinho, em sua mansão de onde coordenava as ações da Schutzstaffel, a famigerada SS.

A maior parte dos soldados estava nas ruas ou com o Führer. Apenas os guardas pessoais e mais confiáveis estavam com ele. Cerca de dez ou doze homens armados. A julgar pelos sons nas ruas, em breve sua mansão seria invadida. As forças aliadas o levariam como um troféu. Isso não podia acontecer.

Havia uma tentativa. Talvez, uma forma de escapar.

O General soltou o telefone sobre o gancho com convicção. Correu para sua sala particular e começou a revirar suas gavetas, atirando os conteúdos no chão. Folhas soltas voavam pela sala, quando ele ergueu o caderno em sinal de triunfo. Os deuses não podiam, afinal, serem tão cruéis com quem tentou reviver a velha Alemanha em sua velha forma, conforme os costumes de seus antepassados.

Ordenou que os últimos homens se dirigissem até o salão mais interno da casa. Ele tentaria uma última e desesperada saída para aquela guerra. Um último triunfo, ainda que ocasionado pela derrota.

O salão era realmente grande, e todos os homens conseguiram se posicionar em perfeita ordem, formando um círculo ao redor do grande sol negro no chão, feito com pedras de mármore negro.

O General se ajoelhou sobre o chão frio. Abriu o caderno e começou a folhear rapidamente as páginas, chegando a rasgar algumas. Os soldados o encaravam, estarrecidos, mas haviam recebido ordens para não se manifestarem a menos que alguém adentrasse o salão, executando sem perguntas o invasor.

Cada vez mais o General dava indícios de ter ficado louco. Ele recitava imprecações em alemão, de forma cada vez mais rápida e intensa, lendo as páginas daquele caderno. Os soldados sabiam da fixação de seu superior por ocultismo e magia negra, mas não esperavam ser mortos sem a mínima tentativa de escapatória, por causa daquele louco.

Puderam ouvir quando a porta da frente estourou. Os Aliados haviam entrado. Os soldados remanescentes da velha SS engatilharam seus fuzis, se entreolhando sem esperanças.

Os passos no corredor aumentavam cada vez mais a velocidade e a intensidade. Haviam ouvido a voz do General. Estavam arrombando a porta, utilizando alguma

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forma de aríete portátil. Com uma última saudação ao Führer, os soldados encararam a porta e dispararam com seus fuzis.

Mas as balas nunca chegaram a seu destino.

Um vórtice negro se abriu, durante menos de um segundo. Todos os seres vivos dentro daquela sala foram sugados e despejados em algum lugar do Universo.

As forças do eixo invadiram a sala, habitada apenas pela grande figura de um Sol Negro no meio do mármore branco e folhas chamuscadas, ainda flutuando no ar.

A única coisa que se passou pela mente do líder daquele pequeno contingente que invadira a mansão do General, foi como diabos explicar isto em um relatório de forma sã.

***

Falsa Aurora

E seu eu lhe disser que este conto não é sobre guerreiros, generais nazistas, demônios ou entidades? E se tudo isso for, na verdade, sobre você. Sobre os seus fundamentos, motivos e capacidade.

Não, eu não me importo com nada disso. Nem o mundo se importa. Muito pelo contrário eu diria, quanto menor você for, mais o mundo se alimentará de você.

Não é questão de poder aquisitivo, carros ou mulheres. É questão de influência sobre os outros e especialmente sobre si mesmo. Sem autocontrole, você não controla nada. Nem mesmo a energia.

Por que sempre que tentamos pensar sobre nós mesmos algo impede? Porque não querem que você pense. Então é exatamente isso o que você fará agora. Pensar.

Pare de ler tudo que passam pra você. Escreva algo. Pare de aceitar toda realidade que te impõe. Teste sua realidade. Seja sincero consigo mesmo pelo menos uma vez na vida e admita a sua incapacidade.

Esmague o Ego. Destrua sua imagem. Você não é sua roupa ou seu corpo ou o nome que te deram. Todos nós estamos em decomposição, agora mesmo enquanto você lê isso.

Isso não é sobre o que você pensa de si mesmo. É sobre o que você é. E você não é uma Estrela. Você é uma falsa aurora que tenta brilhar com algo que não é seu.

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Somente aqueles que se consomem totalmente podem emitir alguma luz. E somente quando estamos na escuridão nós podemos ver a Estrela da Manhã.

***

Os Caminhos Qliphóticos

Os caminhos ou túneis da Noite, conhecidos sistemas que utilizem referências egípcias como túneis de Seth, ou como “kalas” no livro de Kennet Grant, “Nightside of Eden”, são os caminhos por onde as energias das esferas fluem. Estes caminhos terminam por emanar sua própria energia e influenciar a seu próprio modo partes do Plano Astral e o próprio Plano Físico e seus habitantes.

Esses túneis são como Qliphas secundárias, localizadas juntas as dez conchas maiores. São menos influentes, mas são a ligação entre uma forma de emanação e outra, como se a energia formasse um “degrade” conforme mudasse sua atuação. Por serem considerados também Qliphas secundárias, sua numeração começa a partir do Onze, ou seja, segue logo após a décima esfera de Thaumiel.

No capítulo final, durante a parte prática deste livro, será demonstrado como se trabalhar com cada Qliphot e com cada um dos vinte e dois caminhos complementares destes fluxos energéticos.

Estes fluxos nunca são estáticos ou estagnados. Eles são uma constante movimentação, as quais podem associar a falange dos Exus presente na umbanda/kimbanda e cujo símbolo é um tridente e também aos Corvos Negros, representantes da dispersão e movimentação. A força vinda da direção oposta, que força o mundo a se mover, e traz o Caos para destruir a estagnação da Ordem.

Cada dissertação sobre cada caminho será seguida de alguns breves versos, que servem como uma forma de sigilo de acesso a esta manifestação energética. O jogo de palavras inteiras pode, assim como os riscos que formam um selo, servir como um sigilo para determinado fim. É o princípio dos mantras e evocações faladas ou cantadas.

Através destes túneis de escuridão é possível alcançar a verdadeira luz negra, e libertar-se das prisões ilusórias. Somente esta luz vista das trevas traz o verdadeiro conhecimento, enquanto a luz de ilusões proporcionada nada além da cegueira cultivada entre a grande massa deste mundo de futilidades.

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***

24 - Nianthiel

O vigésimo quarto túnel se chama Nianthiel e é associado à letra (“Nun”). Seu número é 160 e corresponde a palavra LNSK, “Oferenda de bebida”, uma das formas de sacramento com esta energia e as entidades relacionadas a ela.

Também regido pelo signo de escorpião, Nianthiel são as águas negras onde residem os senhores do Tempo, da degeneração e da Morte, o Arcano do tarô que rege esta Qlipha secundária. É a purificação que faz parte da Iniciação (do túnel anterior) sendo realizada através do processo de putrefação. É a transição, o Nigredo da Alquimia.

O esqueleto segurando uma foice e vestido com uma mortalha é o símbolo desta emanação. É o Falcifer, o portador da Foice que introduz a Morte no mundo físico, para que se possa adentrar nos planos etéreos. Os animais relacionados são o Lobo e o Corvo que representam a morte.

Aqui se encontram os segredos mais profundos da Necromancia, dos controles da energia da Morte física e da transição de planos, da viagem astral e magickas de destruição de inimigos. Quando lidar com Nianthiel, o adepto deve ficar atendo a uma entidade de nome Necheshteron, que assombra este túnel e pode causar sérios problemas. É sempre necessária proteção triplicada ao lidar com esta entidade.

A consequência de ser aprisionado por estas energias são a atração pela morte, a doença sexual da Necrofilia, Canibalismo, psicopatia entre outras perversões.

É uma emanação muito presente em cemitérios e locais de tragédias e assassinatos, que são ideais para a realização de rituais relacionados a ela. As entidades que tem correlação com esta energia costumam ser muito famosas no meio ocultista e religioso em geral, como os guardiões de cemitérios (Exu Caveira, Baron Samedi, San La Muerte) e quaisquer deidades ligadas ao submundo e transição do plano físico para a vida etérea, comumente chamada de Morte.

***

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Nianthiel

Dois cadáveres se erguem

Para dançar

E girar e girar

Até onde o limite das Foices

Pode Alcançar

E o seu mundo morrerá

Morrerá

Dois cadáveres se erguem

Para dançar...

***

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Este é um “preview” para demonstrar o livro e seus objetivos. Todos os direitos autorais pertencem ao autor e não deve ser reproduzido/alterado sem permissão do

mesmo.

Foram escolhidos aqui aleatoriamente dois trechos da Árvore da Morte para serem expostos. O resto da obra pode ser adquirida em:

https://www.clubedeautores.com.br/book/144498--Sabedoria_do_Abismo

11!

Malachi Azi Dahaka.

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