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KAREN ANDRESSA PILOTTI
O ECOTURISMO COMO FORMA DE LAZER PARA PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA VISUAL
CANOAS, 2010.
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KAREN ANDRESSA PILOTTI
O ECOTURISMO COMO FORMA DE LAZER PARA PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA VISUAL
Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de
Turismo do Centro Universitário La Salle-
Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção
do grau de Bacharel em Turismo.
Orientação: Profª. Me. Luciana Raquel Babinski
CANOAS, 2010.
2
Aos meus pais pelo amor e
valores que me ensinaram.
A meu irmão, pelo apoio incondicional.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço as orientações da professora Me. Luciana Babinski pelo auxílio e
palavras de incentivo.
Agradeço, também, ao Sr. Rotechild Prestes pelo apoio e disposição em
ajudar.
4
“Só se vê bem com o coração, o essencial
é invisível aos olhos” (Antoine de Saint
Exupérry).
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RESUMO
Este trabalho trata sobre a temática de atividades de ecoturismo para pessoas com
deficiência visual. Teve-se como objetivo verificar quais as atividades de lazer
existentes para esse grupo e a maneira como são praticadas no segmento de
ecoturismo, através de estudo realizado sobre a ONG Caminhadores RS. A
metodologia utilizada foi a pesquisa de corte qualitativo do tipo exploratório-
descritivo através de levantamento bibliográfico, buscas em sites e periódicos e
entrevista realizada com o Sr. Rotechild Prestes, sendo ele um dos fundadores da
ONG. O trabalho apresenta, num primeiro momento, a pesquisa teórica e,
posteriormente, o estudo da ONG Caminhadores RS por ser essa uma organização
que realiza atividades de lazer em meio à natureza, destinada a pessoas com
qualquer tipo de deficiência. Através desse estudo, constatou-se que a prática de
atividades de lazer realizadas em meio à natureza é aplicável às pessoas que não
enxergam por utilizar do estímulo de todos os sentidos do corpo humano, não
sendo, portanto, essencial nesses exercícios o sentido da visão. Verificou-se que a
ONG estudada apresenta alguns roteiros específicos para esse grupo, como trilha
ecológica, rapel, tirolesa, entre outras, que desenvolve suas atividades
gratuitamente com o auxílio de diversos voluntários das mais diversas áreas de
atuação, dispostos a propiciar às pessoas com deficiência o usufruto do turismo de
lazer.
Palavras-chaves: Lazer; Turismo; Caminhadores RS; Ecoturismo; Deficiência
visual.
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ABSTRACT
This work deals with the subject matter of the ecotourism activities for people with
visual impairment. The objective was to check what the existing activities for this
group were and the way they were carried out in the ecotourism segment, through a
study on the ONG Caminhadores RS. A qualitative methodology of exploratory
descriptive nature was used, through literature survey and an interview with Mr.
Rotechild Prestes, one of the founders of the ONG. The work initially presents the
theoretical research and, subsequently, the study on the ONG Caminhadores RS, on
account of it being an organization that offers leisure activities in natural surroundings
for people with any sort of disability. The study revealed that the practice of leisure
activities in natural surroundings is viable for people who cannot see, since all the
senses are used in these exercises, and thus the sense of sight is not essential. The
research found that the ONG studied makes available a number of specific programs
for this group, such as nature trails, zip-line and rappel, and that it carries out its
activities for free with the help of several volunteers, from various different
professional backgrounds, willing to provide the enjoyment of leisure tourism for
people with disabilities.
Key-words: Leisure; Tourism; Caminhadores RS; Ecotourism; Visual impairment.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................8
2 LAZER E TURISMO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL..................12
2.1Histórico do lazer................................................................................................12
2.2 Conceitos de lazer..............................................................................................16
2.3 Turismo como atividade de lazer......................................................................19
2.4 Histórico do turismo..........................................................................................20
2.5 Teoria do turismo...............................................................................................23
2.6 Ecoturismo como segmento da oferta turística..............................................26
2.7 Deficiência visual...............................................................................................29
2.8 O ecoturismo como atividade de inclusão para pessoas com deficiência
visual ........................................................................................................................32
3 ONG CAMINHADORES RS – UMA PROPOSTA DE TURISMO INCLUSIVO......35
3.1 O que são ONG’s?..............................................................................................35
3.1.1 Surgimento de ONG´s.......................................................................................36
3.2 ONG Caminhadores RS.....................................................................................38
3.2.1 Histórico da ONG Caminhadores......................................................................39
3.2.2 Recursos humanos...........................................................................................40
3.2.3 Atividades desenvolvidas pela ONG Caminhadores RS ..................................42
3.2.4 Métodos de trabalho, matérias e equipamentos utilizados...............................43
3.2.5 Meios de divulgação..........................................................................................44
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................46
REFERÊNCIAS..........................................................................................................49
APÊNDICE (A) - Modelo de Perguntas para entrevista semi-estruturada com o Sr.
Rotechild Prestes......................................................................................54
ANEXO (A) - Panfleto de divulgação da ONG Caminhadores RS expostos nos
postos de Informações Turísticas de Porto Alegre....................................55
ANEXO (B) - ONG Caminhadores palestra para os alunos do curso de turismo
Unilasalle/Canoas......................................................................................56
ANEXO (C) - Acessibilidade Siga Essa Idéia.............................................................57
ANEXO (D) - Símbolo acessibilidade para pessoas com deficiência visual...............58
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1 INTRODUÇÃO
Segundo Godoy et. al. (2000), vive-se um momento histórico, o qual, vários
segmentos sociais lutam pelo direito de inclusão na sociedade. Cada vez mais os
deficientes lutam pelo seu espaço de igualdade, porém ainda não se observa
grandes movimentos por parte dos demais para de fato integrá-los.
As pessoas com deficiência, não têm acesso aos direitos que devem pertencer a todos: educação, saúde, trabalho, locomoção, transporte, esporte, cultura e lazer. Leis têm sido criadas para a garantia desses direitos, o que já é um grande passo. Mas, apesar delas, percebemos que nós excluímos as pessoas que consideramos diferentes (GODOY et. al., 2000, p. 6).
No exterior, com a aprovação do Americans with Desabilities Act - ADA (lei
para portadores de deficiência), em 26 de julho de 1990 abrangeu-se uma série de
modificações em diversos serviços para tornar as instalações acessíveis a
portadores de deficiência (GOELDNER et. al., 2002). Contudo, ainda não suficiente.
A luta dessas pessoas é diária e cotidiana, pois reivindicam uma série de
modificações, como: melhorias de infraestrutura, leis específicas e também o direito
ao lazer.
Quando se trata de lazer, logo se pensa em turismo. É inegável a forte relação
entre ambos e, por isso, dentro das diversas segmentações que o turismo
apresenta, pensou-se que o mais viável aos deficientes, não apenas visuais, mas
também auditivos e cadeirantes, possa ser o ecoturismo, sendo então uma boa
maneira de integrá-los e dar-lhes o direito ao lazer.
Dentro dessa perspectiva, entende-se ecoturismo como uma atividade de lazer
turístico e sustentável, em meio à natureza, que busca a conscientização da
preservação do meio natural, procurando sempre diminuir os impactos causados no
ambiente (MACHADO, 2005).
Levando o deficiente visual para a natureza de forma a preservá-la, o sentido
da visão não é extremamente necessário, uma vez que se pode explorar os outros
sentidos como o tato e o olfato, despertando novas sensações nessas pessoas, bem
como o entrosamento com aqueles que não são portadores de nenhuma deficiência.
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Permite-se dizer que:
A vida imaginativa do cego não deriva da sua incapacidade física primária, mas das relações sociais que tal incapacidade traz consigo. Os inconvenientes e desilusões fundamentais que a cegueira implica, raras vezes produzem perturbações emocionais, pois tais conflitos são desenvolvidos no esforço supremo de dominar o ambiente social (MARTIN; BUENO, 2003, p. 126).
Se considerado o ecoturismo como uma possibilidade de lazer e integração
social entre as pessoas com deficiência visual, é preciso ter alguns cuidados
especiais. Faz-se necessário que os trabalhadores da área do turismo estejam
conscientes disso e preparados para recebê-los, pois:
A sociedade exige que os indivíduos cegos apreciem as coisas como os videntes, oferecendo como consequência, um conceito irreal e idealizado. Para que isso seja evitado, é imprescindível que o indivíduo tenha uma experiência sensorial o mais completa possível, ao mesmo tempo acompanhada de explicações claras e concretas que ajudem uma compreensão (MARTIN; BUENO, 2003 p. 112).
Haukeland (apud ROSS, 2002) conceitua turismo social como o direito de
todos viajarem, independente da condição social ou econômica e considera a
viagem de férias vista como qualquer outro direito humano.
Foram estabelecidas normas para eliminar os obstáculos físicos para pessoas inválidas nos hotéis em outras áreas da vida. No entanto, medidas políticas mais diretas, por meio das quais grupos de pessoas socialmente excluídos são introduzidos no mundo do turismo, ainda não foram aprovadas [...]. Até agora, essas tentativas têm permanecido no domínio da iniciativa privada por meio de instituições de caridade e grupos de interesses específicos (ROSS, 2002, p. 35).
Para que não ocorra nenhum equívoco e para que se tenha um preparo nessa
área é preciso que, antes de tudo, se tenha um interesse em mudar essa situação.
Se analisado além do lado social, também o econômico, percebe-se que “esse
grupo constitui um excelente mercado potencial para viagens, se as estruturas e os
mecanismos forem adequados para seu uso e usufruto” (GOELDNER et. al. 2002, p.
222). Ainda para o autor (2002), segundo pesquisas já realizadas anteriormente,
observa-se que a maioria das dificuldades encontradas pelos deficientes parecia
acontecer justamente nas instalações recreacionais.
Considerando as possibilidades e as dimensões envolvidas nas atividades de
lazer e turismo para as pessoas com deficiência visual, busca-se, neste trabalho,
verificar quais são as atividades de lazer existentes para esse grupo e a
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maneira como são praticadas no segmento de ecoturismo, através de estudo
realizado sobre a ONG Caminhadores RS.
Dentro dessa temática, os objetivos específicos dessa pesquisa são:
descrever a ONG Caminhadores RS quanto ao histórico, estrutura, recursos
humanos e metodologia utilizados;
conhecer como os profissionais da ONG agem para inserir os portadores de
deficiência no turismo;
identificar quais as dificuldades encontradas pelos profissionais dessa ONG ao
executar esse tipo de atividade;
relacionar ecoturismo como possibilidade de lazer para os que não possuem o
sentido da visão desenvolvido.
Referente às questões de pesquisa, apresenta as seguintes indagações:
qual o preparo ou a especialização técnica dos colaboradores da ONG
Caminhadores RS?
o número de atividades nesse segmento se encontra em expansão?
qual a quantidade de roteiros oferecidos pela ONG Caminhadores RS?
as pessoas com deficiência visual demonstram interesse em viajar?
Para a realização desse trabalho, adotou-se a pesquisa de corte qualitativo,
uma vez que os resultados extraídos não podem ser quantificados; do tipo
exploratório-descritivo, que envolve levantamento bibliográfico e documental,
entrevistas não padronizadas, com o objetivo de proporcionar uma visão geral do
tema com a descrição das características de determinado grupo (GIL, 1999).
Como instrumento de coleta de dados utilizou-se fotografias e entrevista semi-
estruturada com representante da ONG Caminhadores RS, com um modelo de
questões abertas e previamente estipuladas, em que o informante tem a
possibilidade de discorrer sobre o tema proposto.
Contudo, o capítulo dois do trabalho, trata do lazer e turismo para pessoas
com deficiência visual, apresentando histórico e conceitos do lazer e do turismo,
além de esclarecer ao leitor sobre deficiência visual e ecoturismo. No capítulo três,
portanto, apresenta-se a ONG Caminhadores RS, com suas atividades, histórico e
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métodos de trabalho, juntamente com a parte teórica sobre histórico e conceitos de
ONGs no Brasil e no mundo.
Finaliza-se o trabalho com análise das informações coletadas através de
pesquisa bibliográfica, participação da pesquisadora em palestras e entrevista
concedida por um representante da ONG Caminhadores RS, na tentativa de atender
aos objetivos e questionamentos propostos.
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2 LAZER E TURISMO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
De acordo com Sassaki (1999), as pessoas com deficiência encontram muita
dificuldade para ter acesso aos esportes, turismo, lazer e recreação. O lazer é um
fator importantíssimo na vida de qualquer pessoa, pois pode melhorar o
desempenho em diversas áreas, como a saúde, a resistência física, a motivação e a
autoimagem.
Segundo o autor (1999), no passado a maioria dos lugares, como cinemas,
teatros, hotéis, museus e restaurantes eram inacessíveis a esse público, mas
paulatinamente a situação está mudando.
Neste capitulo, portanto, será discutido a inclusão das pessoas com deficiência
visual no turismo como forma de atividade de lazer, apresentando histórico e
conceitos de lazer e turismo, conceito de ecoturismo e nomenclatura quanto à
deficiência visual.
2.1 Histórico do lazer
Algumas noções de lazer se enraizaram na Grécia durante a Antiguidade. O
filósofo Aristóteles utilizava o termo skholé: “mesmo que não seja possível fazer uma
correlação imediata entre skholé e o lazer, compreender o primeiro é de grande
importância para refletirmos sobre o processo de constituição histórica do segundo”
(GOMES, 2008, p. 21).
Segundo De Grazi (apud GOMES, 2008), a palavra skholé era um termo que
significava um tempo dedicado a si mesmo e que gerava prazer intrínseco, no qual,
o ócio era visto como um estado filosófico onde se cultivava a mente e que seria
alcançado apenas por aqueles que conseguiam libertar-se da necessidade de
trabalhar. O trabalho produtivo era visto como indigno e não virtuoso.
Neste sentido, o ócio (skholé) significava para os gregos, desprendimento das tarefas servis, condição propícia à contemplação, à reflexão e a sabedoria. [...] Os filósofos eram adeptos da tese de que os tesouros do espírito eram frutos do ócio (GOMES, 2008, p. 21).
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Para Gomes (2008) as considerações gregas influenciaram o pensamento
ocidental no que se refere às noções de lazer e trabalho, assumindo contraditórias
relações. O trabalho visto como algo penoso e o lazer como o seu contraponto,
atrelando o lazer aos princípios de prazer, satisfação, liberdade, deleite, reflexão e
realização.
O período da Idade Média foi marcado pelo estabelecimento de feudos e a
imposição da igreja. Pregava-se que os servos deviam trabalhar arduamente para
assim conquistar um espaço no céu. O prazer e o ócio eram vistos como pecado.
Julgava-se o lazer como algo ruim para a sociedade:
Todos os seguidores do protestantismo deveriam, assim, entregar-se inteiramente ao trabalho e as boas obras, evitando o consumo supérfluo e as tentações para a vadiagem, para o relaxamento e para a prossecução de prazeres pessoais. Ao lazer foi negada a possibilidade de ser gozado como ócio, a grande virtude enfatizada pelos antigos, por isso o identificaria com a preguiça, um pecado capital (GOMES, 2008, p. 42)
A intensa dedicação ao trabalho era valorizada e, os poucos, momentos de
lazer deviam ser controlados, pois era pernicioso e possibilitava a degradação moral.
Segundo Melo e Alves (2003, p. 6), foi no final do século XVIII, que se
artificializou o tempo de não-trabalho, o que fez então surgir o que hoje
denominamos de lazer. Nesse período ocorreu a chamada Revolução Industrial, na
qual os trabalhadores migravam do campo para a cidade em busca de emprego nas
fábricas.
O tempo de vida passou a ser demarcado pela jornada de trabalho e entre os
trabalhadores estavam desde crianças até idosos. O trabalho era exaustivo e o
tempo que se tinha de descanso era utilizado para dormir, além disso, as condições
de pobreza eram notáveis e a qualidade de vida era péssima.
De acordo com Gomes (2008), as cidades se desenvolveram em torno das
fábricas e quem não conseguisse emprego era “tachado de „desocupado‟ cuja
ociosidade era vista como uma ameaça constante para a ordem social”. Para Choay
(apud GOMES, 2008) a desordem dos centros urbanos provocou uma série de
transformações a fim de estabelecer a ordem desse espaço. Foram racionalizadas
as vias de acesso, criou-se estações para acelerar o transporte, bairros residenciais
para os privilegiados, inaugurou-se grandes lojas, hotéis, cafeterias e prédios para
alugar. Os operários deslocaram-se para os subúrbios, segmentando o espaço
urbano e instalando-se em locais distintos a moradia, ao trabalho e ao lazer.
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É importante ressaltar que foi nesse período que ocorreu a invenção do relógio,
dividindo os períodos em tempo de trabalho, tempo de estudo e tempo livre,
fragmentando o tempo nas sociedades. Essa fragmentação se tornou “uma pressão
discreta, comedida, uniforme e desprovida de violência, mas que nem por isso se faz
menos onipresente, e à qual é impossível escapar” (ELIAS apud GOMES, 2008, p.
53).
O novo modelo de trabalho dividia a população nos detentores dos meios de
produção (classe dominante) e nos que trabalhavam para eles (camadas populares),
porém os pertencentes à última classe não suportaram por muito tempo essa
situação exploratória e passaram a reivindicar mudanças na forma de trabalho.
Encontravam-se em tabernas, feiras, entre outros, para discutir a situação.
Nesse processo, o controle das diversões populares (tabernas, feiras, jogos, etc.) passou a ser encarado como dimensão fundamental. As diversões eram entendidas como perigosas e perniciosas já que, além de se oporem à lógica de trabalho árduo, eram uma forma de manutenção dos antigos estilos de vida que tanto incomodavam aos que preconizavam uma nova ordenação. Sem falar que, eram nos momentos de lazer que os trabalhadores se reuniam, tomavam consciência de sua situação de opressão e entabulavam estratégias de luta e de resistência (MELO; ALVES, 2003, p. 8).
Para a camada dominante, era interessante manter a pobreza, uma vez que,
isso significava total dependência do trabalho, pois quanto mais pobre, mais o
indivíduo precisava trabalhar.
Essa camada tentou então reordenar as atividades de divertimento da camada
popular (touradas, brigas de galo) modificando-as de forma que pudesse controlar
esse tempo fora do trabalho, oferecendo então, as atividades já existentes, mas
agora de maneira controlada com bandas de música e grupos festivos, como forma
de limitar a população a pagar para assisti-las. Porém, mesmo com esses
espetáculos realizados em clubes, em meio a elite, a população se dividia entre
essas atividades e as práticas antigas, organizadas pelos próprios populares.
Contudo, para Melo e Alves (2003) o fenômeno do lazer foi gerado “da tensão
entre as classes sociais e da ocorrência contínua e complexa de
controle/resistência, adequação/subversão” (MELO e ALVES, 2003, p.10).
No contexto atual, o tempo destinado ao lazer aumentou devido à redução da
jornada de trabalho, porém:
Se o acesso ao trabalho e a educação em nosso meio ainda se encontra demasiadamente restrito, o acesso ao lazer fica muito mais limitado ainda,
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principalmente por ser, equivocadamente considerado como um produto supérfluo e dispensável para muitas pessoas (GOMES, 2008, p. 73).
Ainda conforme Gomes (2008), nos últimos tempos o lazer vem ganhando
cada vez mais importância em razão de sua descoberta como um mercado capaz de
gerar lucros significativos. Em todo o mundo a área de lazer atrai investimentos
consideráveis, principalmente no setor de viagens e turismo. Para Melo e Alves
(2003, p. 13) é cada vez mais comum encontrar o lazer associado à alienação, “não
pensar em nada” e “desligar a mente”.
De acordo com Gomes (2008), uma sociedade dominada pela lógica da
produção e do consumo alienado de bens e serviços habilita-se a produzir o lazer
como uma de suas valiosas mercadorias, enquanto que deveria representar uma
condição para a promoção da qualidade de vida que, segundo a Organização
Mundial da Saúde (1994), significa "a percepção do indivíduo de sua posição na
vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação
aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações" (WHOQOL GROUP,
1994). Pode-se afirmar que, em relação ao lazer:
Não há preocupação com uma análise mais consistente sobre o seu significado sociocultural e político na vida das pessoas, bem como sobre as contradições que o permeiam em nosso contexto. Concebido apenas pela lógica de mercado, ao lazer restaria promover o entretenimento e a distração alienantes, algo para se matar o tempo e para escapar do tédio
(GOMES, 2008, p. 77).
O lazer perdeu parte de seu real significado, bastando a ser caracterizado
apenas como descanso e parte do consumo (MELO; ALVES, 2003, p. 11). Os meios
de comunicação influenciaram diretamente para essa concepção de lazer para
venda. No entanto, ao mesmo tempo em que o lazer se encaminha para essa visão,
surgem novos estudiosos da área para alertar sobre a sua real concepção e
abrangência, conforme será mencionado no próximo tópico a ser discutido.
Vale ressaltar que organismos internacionais já recomendam a expansão de
áreas livres para beneficiar a vida nos espaços urbanos, recomendando que:
toda a residência disponha, à distância de no máximo 200 metros, de uma praça ou parque para crianças e idosos; que no máximo 2000 metros de suas residências os habitantes dispunha de uma área maior, como a do parque da Aclimação
1, para o lazer de fim de semana dos habitantes
(CAMARGO, 2003, p. 66).
1 Parque localizado no bairro Aclimação na cidade de São Paulo-SP com 112.200 m², que oferece sanitário para cadeirantes e
atividades de lazer como exposição de obras de arte, pista de Cooper, caminhadas, trilhas, aparelhos de ginástica, paraciclos, quadra de campo, playground e biblioteca, além de espaço destinado a preservação da fauna e flora local (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2008).
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Além disso, alerta-se para a importância de haver grandes parques ao longo
das regiões metropolitanas que permitam a prática do lazer, do passeio e a
realização de atividades em espaços abertos (CAMARGO, 2003).
2.2 Conceitos de lazer
Há muitas controvérsias quanto à real origem da palavra lazer. A etimologia da
palavra lazer é originária do latim, dos termos licere e licet. Esses termos significam
permitido, poder, ter o direito (TORRINHA apud GOMES, 2008). Há também outras
explicações para a origem da palavra, uma vez que, no século XIII, se usava o
vocábulo lezer com o significado de preguiça, pouca vontade de trabalhar
(MACHADO apud GOMES, 2008). O termo pode ser advindo do inglês, laisure com
o sinônimo de vagar, comodidade, ou então pode ser originado do francês, loisir com
o significado de vagar, comodidade, espaço, descanso, folga.
Dumazedier (1999) comenta a existência de quatro definições distintas para o
lazer:
- A definição número um diz que o lazer não é uma categoria e sim um estilo de
comportamento e pode ser encontrado nas mais diversas atividades, inclusive
no trabalho profissional. Afirma que toda atividade pode vir a ser um lazer, pois
“pode-se trabalhar com música, estudar brincando, lavar a louça ouvindo rádio,
promover um comício político com desfiles de balizas, misturar o erotismo ao
sagrado, etc.” (DUMAZEDIER, 1999, p. 88);
- A definição número dois situa o lazer somente com respeito ao trabalho
profissional, como se lazer fosse resumido ao não-trabalho. Essa definição,
porém, confunde por detrás da palavra lazer realidades sociais heterogêneas,
relacionadas às categorias da economia e da sociologia do trabalho;
Condiciona também a possibilidade de lazer principalmente para as donas-de-casa e mãe de família, com demasiada frequência esquecidas na sociologia do lazer. Este setor de tempo fora do trabalho profissional onde se exercem as obrigações parentais conjugais, familiais dependem não da sociologia do lazer, mas da sociologia da família. Mas na relação entre lazeres familiais e lazeres individuais ou coletivos, a sociologia do lazer poderia cooperar utilmente com a sociologia da família (DUMAZEDIER 1999, p. 89).
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- A definição número três exclui do lazer as obrigações doméstico-familiais. No
entanto, inclui as obrigações sócio-espirituais e sócio-políticas. Isso implica em
obrigações sociais às quais a participação na sociedade política é uma
exigência institucional desse tipo de sociedade e não do indivíduo e, por essa
razão, essas obrigações não podem ser consideradas como um lazer entre
outros lazeres;
- A definição de número quatro relaciona o lazer ao direito da pessoa dispor de
um tempo em que a finalidade é primeiramente a auto-satisfação. É um tempo
em que o indivíduo se libera descansando da fadiga e divertindo-se do tédio.
“Esse tempo disponível não é resultado de uma decisão do indivíduo e sim o
resultado de uma evolução da economia e da sociedade” (DUMAZEDIER,
1999, p. 92).
Dentro dessa definição, são quatro os caracteres específicos e constitutivos do
lazer: caráter liberatório, caráter desinteressado, caráter hedonístico e caráter
pessoal. Respectivamente, o primeiro caráter indica que o lazer resulta de uma livre
escolha, mas não se excluí lazer de toda obrigação, implica a liberação das
obrigações institucionais enquanto o segundo caráter mostra que:
O lazer não está fundamentalmente submetido a fim lucrativo algum, como o trabalho profissional, a fim utilitário algum, como as obrigações domésticas, a fim ideológico ou proselitístico algum, como os deveres políticos ou espirituais (DUMAZEDIER 1999, p. 95).
O lazer é marcado pela busca de um estado de satisfação e essa busca é de
natureza hedonística, pois:
A procura do prazer, da felicidade ou da alegria é um dos traços fundamentais do lazer da sociedade moderna. Ninguém é ligado à atividade de lazer por uma necessidade material ou por um imperativo moral ou jurídico da sociedade (DUMAZEDIER, 1999, p. 96).
O lazer também é de caráter pessoal, pois responde às necessidades do
indivíduo, face às obrigações impostas pela sociedade. O lazer oferece ao indivíduo
a possibilidade de libertar-se das fadigas físicas ou nervosas, libertar-se do tédio
cotidiano e permite que se saia da rotina e dos estereótipos.
Contudo, o conceito clássico de lazer é definido por Dumazedier como:
conjunto de ocupações as quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após
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livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (DUMAZEDIER, 1973, p. 34).
Para Marcellino (2002), muitas vezes o lazer é associado às atividades
recreativas ou a eventos de massa. Até mesmo na denominação de órgãos públicos
a utilização da palavra lazer não obedece a critérios definidos. Afirma que, além do
descanso e do divertimento, o lazer permite um desenvolvimento pessoal e social.
Segundo o autor, o lazer não pode ser entendido separadamente, longe das
outras esferas sociais.
A admissão da importância do lazer na vida moderna significa considerá-lo um tempo privilegiado para a vivência de valores que contribuam para mudanças de ordem moral e cultural [...] O lazer não pode ser entendido como simples assimilador de tensões ou alguma coisa boa que ajude a conviver com as injustiças sociais. (MARCELLINO, 2002, p. 15).
Para Melo e Alves (2003, p. 29): “O lazer é um fenômeno moderno, surgido
com a artificialização do tempo de trabalho, típica do modelo de produção fabril
desenvolvido a partir da Revolução Industrial”.
Os autores afirmam também que as atividades de lazer são observáveis no
tempo livre das obrigações, o que não significa que as mesmas não existem, mas
que apenas encontram-se em menor grau de obrigatoriedade. Além disso, a busca
pelo prazer é comum, mas essa busca não é exclusiva dos momentos de lazer.
Conceituam também as atividades de lazer como atividades culturais, englobando
suas diversas linguagens e manifestações (MELO; ALVES, 2003).
Para Gomes (2008) o lazer vai além da mera realização de atividades. É um
campo da vida humana e social que possui características próprias ocorridas em
tempo/espaço específico. O lazer inclui diversas manifestações da cultura, como
jogo, brincadeira, festa, viagem entre outros, também o ócio, uma vez que esta
manifestação cultural pode constituir notáveis experiências de lazer como um
convite à meditação, à contemplação, à reflexão ou relaxamento.
Referente à classificação das atividades de lazer, Camargo (2003) considera
que a mais satisfatória é a de Dumazedier por classificar as atividades de lazer
baseado no interesse cultural de cada atividade, como:
- físicas: desejo de exercitar-se fisicamente, como caminhadas, ginástica e
esporte;
- manuais: atividades ligadas ao prazer de manipular, explorar a natureza,
como cultivar hortaliças, crochê e tricô;
19
- intelectuais: satisfação da curiosidade, busca do conhecimento, como jornais
e revistas;
- artísticas: busca do imaginário, do sonho, do encantamento, como cinema,
teatro e literatura;
- sociais: quando o interesse é centrado nas pessoas: jogos, passeios, visitas a
parentes e amigos, frequência em associações.
Porém, o autor não considera essa classificação perfeita, uma vez que acredita
ser conveniente acrescentar mais uma área de interesse cultural ao lazer: o turístico,
o qual é possível que seja o único que consiga abarcar, se não todos, grande parte
dos demais interesses.
2.3 Turismo como atividade de lazer
Se consideradas as aspirações ligadas ao lazer que envolvem interesses
artísticos, físicos, manuais, intelectuais e sociais, observa-se que as atividades
turísticas são oportunidades privilegiadas para satisfação de todos eles. Se
observado os aspectos econômicos, as atividades de turismo, entendidas como
manifestações culturais, configuram-se, ainda que de modo não exclusivo, como
práticas de lazer. Esse entendimento significa que os interesses turísticos estão
incluídos entre os conteúdos culturais do lazer (MARCELLINO, 2002).
O interesse cultural central dos indivíduos que buscam esse gênero de
atividade é a mudança de paisagem, ritmo e estilo de vida. De todas as atividades
de lazer, o turismo é certamente a que mais provoca ansiedade nos indivíduos
(CAMARGO, 2003). Ainda de acordo com o autor, o fato de conhecer novos lugares,
formas de vida e alterar a rotina cotidiana utilizando o tempo nobre de férias ou fins
de semana deveriam merecer menos descaso por parte da sociedade, pois o setor
econômico do turismo, centrado nas excelentes possibilidades comerciais que toda
essa expectativa gera, certamente não é capaz de atender a todas as suas
implicações.
Marcellino (2002) entende que o turismo, enquanto atividade de lazer, envolve
três dimensões: imaginação, ação e recordação. O imaginário antecede a viagem. A
20
pessoa sai à procura de informações, folhetos, fotos, vídeos, etc. Tudo que lhe
permita um referencial para “curtir” a viagem, por antecipação.
O real é a vivência da viagem em si e a recordação é o prolongamento da
viagem, que não termina na volta. Quanto maior for o envolvimento, maior será o
prolongamento em termos de recordações de imagens e sensações que incluem a
socialização no círculo dos amigos e familiares, pelas narrativas, mostras de fotos,
de vídeos, etc.
A partir disso, entende-se que:
Longe de ser considerado simplesmente uma futilidade, ou “um desfile superficial por lugares diferentes”, o turismo pode e deve ser entendido como uma atividade cultural de lazer, oportunidade de conhecimento, de enriquecimento da sensibilidade, de percepção social e experiências sugestivas (MARCELLINO, 2002, p. 74).
2.4 Histórico do turismo
Embora haja muitas versões para o início do turismo, um dos grandes marcos
para e explosão da atividade turística que conhecemos hoje foi a organização de
viagens elaboradas por Thomas Cook na Inglaterra.
Segundo Trigo (2008), Cook nasceu de uma família pobre em Derbyshire, em
1808. Permaneceu na escola até os dez anos de idade, devido aos poucos recursos
financeiros. Seus primeiros empregos foram desde ajudante de jardineiro, torneador
de madeiras em marcenarias, até missionário batista local e leitor público da Bíblia.
Como leitor público da Bíblia, em 1841 Thomas Cook estava vinculado ao
“movimento da temperança” 2 contra a ingestão de bebidas alcoólicas. Cook
convenceu os donos da estrada de ferro Midland Railway Co. a colocar um trem
especial entre Leicester e Loughborough em função de um encontro dos membros
da Liga de Temperança. Segundo Barreto (2003), ele juntou 570 pessoas, comprou
e revendeu os bilhetes.
Em 1846, elaborou guias turísticos para os viajantes e deu início a “excursão
organizada”.
2 Movimento de cunho religioso contra o consumo de bebidas alcoólicas (TRIGO, 2008).
21
A partir de então, Cook intensificou suas relações comerciais com a Midland,
proporcionando lazer aos membros do grupo e depois para o público em geral,
operando em escala comercial. Cook iniciou sua agência, pioneira no mundo,
denominada de Thomas Cook & Son e, mais tarde, elaborou o primeiro Grand Tour3
(TRIGO, 2000).
No entanto, de acordo com Barreto (2003), para muitos autores, o turismo
iniciou no século VIII a. C., em função de, na Grécia, as pessoas viajarem para as
competições dos Jogos Olímpicos. Outros autores julgam que os primeiros viajantes
foram os fenícios, por terem inventado o comércio e a moeda. Algumas pesquisas
apontam ainda que, há 13 mil anos, nos Pirineus Franceses os habitantes das
cavernas viajavam até o mar e retornavam.
É muito provável que se fosse realizada uma pesquisa em tempos anteriores, e em outras culturas além da Greco-romana, encontrar-se-iam antecedentes ainda mais remotos, chagando-se a supor que o ser humano sempre viajou, seja definitivamente (migrando) ou temporariamente (retornando) (BARRETO, 2003 p. 44).
Com a construção de estradas entre o século II a.C e II d.C, os romanos foram
os primeiros a viajar por “lazer” 4. Eles iam a praias e aos spas5, buscando
divertimento e cura. Entre os séculos I e IX eram intensas as peregrinações à
Jerusalém, Roma e, posteriormente, à Compostela.
No início do século IX o peregrino francês Aymeric Picaud escreveu cinco
volumes com histórias do apóstolo Santiago e com um roteiro de viagem indicando
como chegar até a tumba de Santiago de Compostela partindo da França. Este foi
considerado o primeiro guia turístico impresso.
Na Idade Média, as antigas estradas foram destruídas e, como a população se
organizava em feudos, raros eram os deslocamentos já que não havia comércio. Só
se realizavam viagens em casos de extrema necessidade, como questões
administrativas, oficiais ou por causa da fé.
Durante as cruzadas, organizadas para recuperar o Santo Sepulcro6 eram
muitos os viajantes (peregrinos, soldados e mercadores), transformando as
pousadas, que antes eram caridosas, em atividades lucrativas. Nessa época, iniciou
também o intercâmbio de alunos e professores nas universidades europeias.
3 Viagem de objetivo educacional de jovens ricos para a Europa (TRIGO, 2008).
4 A palavra lazer encontra-se entre aspas por, nesta época, ainda não ser denominada desta forma (GOMES, 2008).
5 Deriva da expressão latina "salus per aquam", que traduzida à letra significa, saúde pela água (SOARES, 2008).
6 Local onde, de acordo com o cristianismo, Jesus ressuscitou após ser crucificado e sepultado. (BARRETO, 2003).
22
Mais tarde, o século XV foi marcado pelas viagens transoceânicas de
descobertas. “Essas viagens despertaram para a existência de um mundo novo que
todos passaram a querer conhecer” (BARRETO, 2003 p. 47).
Segundo Barreto (2003), no século XVI, surgiu o primeiro hotel no mundo, o
Wekalet-Al-Ghury, no Cairo (Egito), a fim de atender os mercadores. Na mesma
época surgiram as carruagens na Itália e ocorriam algumas viagens de prazer. Havia
cerca de doze spas no continente para pobres e doentes que contavam com
atividades de entretenimento. Nesses spas, pessoas que não eram pobres nem
doentes começaram a frequentá-los, com o objetivo de usufruir das atividades
oferecidas, o que fez com que fossem criados spas somente para ricos.
No início do século XVIII, turistas passaram a visitar a Itália, o que era motivo
de muito prestígio. No mesmo período aconteceu, em Manchester (Inglaterra), a
Revolução Industrial, marcando o início do capitalismo organizado. Assim, o turismo
passou a ter uma visão mais humanista e mais educativa, com interesse cultural.
Esse tipo de turismo mais humanizado foi chamado de turismo neoclássico em que
se considerava a viagem como um aprendizado.
De acordo com Barreto (2003, p.53), o final do século XVIII e todo o século XIX
foram marcados por uma nova motivação, que seria o prazer do descanso e a
contemplação das paisagens. Após a industrialização, a natureza passou a ser vista
como algo que deveria ser preservado e apreciado.
O turismo moderno, do século XIX, foi marcado pela melhoria nos transportes,
além da melhoria na segurança, salubridade e alfabetização crescente. Com o
tratamento das águas e esgoto, diminui o risco de doenças como cólera e tifo; o
maior índice de alfabetização proporcionou a maior leitura de jornais informativos,
que estimulavam ainda mais o desejo de viajar. Os trabalhadores reivindicaram mais
tempo de lazer.
Nos acampamentos as atividades eram organizadas e o governo inglês adotou,
em 1915, o uso do passaporte, possibilitando o controle do tráfego de turistas.
No período entre guerras, as férias passaram a ser remuneradas e pessoas de
classes menos favorecidas começaram a viajar e aspirar uma viagem de férias, e o
sistema de crediário foi implantado.
Segundo Barreto (2003), durante a Segunda Guerra Mundial o turismo ficou
praticamente paralisado, mas com o fim da guerra, é criada a IATA (International Air
of Transport Association) com o propósito de regular o direito aéreo. Ocorreu nesse
23
período a formação de mercados de consumo de massa globais, incrementando o
sistema turístico.
Em 1949, foi vendido o primeiro pacote aéreo e, a partir de 1957, o turismo
aéreo passou a ser muito utilizado em razão da rapidez de deslocamento e pela
introdução de tarifas turísticas e econômicas por avião.
Em meados de 1960, começaram a surgir as operadoras turísticas e, no final
da década, o sistema all incluse tour7 passou a ser responsável pela maior parte do
movimento turístico. Pouco tempo depois o número de agências aumentou em
consequência do crescimento das companhias aéreas. Essas agências atuavam
principalmente como revendedoras de passagens aéreas.
A hotelaria passou por uma modificação e foram criados os motor-hotels
(hotéis com estacionamento em beira de estradas) em função da popularização do
automóvel. Surgiram as primeiras escolas de hotelaria na suíça e começou a era
das grandes cadeias de hotéis padronizados. Os spas precisaram se dedicar a
outros segmentos, pois as pessoas deixaram de acreditar no poder curativo das
águas termais.
Na década de 70, despertou-se a preocupação com o meio ambiente e hoje o
turismo é uma das atividades que o mais preserva, o que não significa que essa
atividade não seja poluidora. Surgem órgãos de turismo encarregados de organizar,
administrar e proporcionar a superestrutura turística, nos quais se destaca a criação
do Ministério do Turismo em 2003, devido à sua grande representatividade no país.
2.5 Teoria do turismo
De acordo com ANDRADE (2002), a forma e a estruturação do termo turismo
não deixam dúvidas de sua origem francesa e acredita-se que os termos turismo e
turista se originam das palavras francesas tourisme e touriste. No entanto, a
explicação mais comum é a utilizada por Barreto (2003), informando que o
substantivo turismo é um neologismo que expressa a ação do verbo to tour, que
significa “dar uma volta”, mas que já tinha uma conotação específica, como, por
7 Expressão utilizada para designar que todas as refeições estão inclusas no pacote turístico (BARRETO, 2003).
24
exemplo, quando utilizada através da expressão to make a tour, que significava
fazer um percurso de ida e volta com características peculiares quanto aos locais a
serem visitados, tempo de permanência e motivações.
Para caracterizar turismo, são muitos os conceitos. Para Andrade (2002) a
conceituação ideal é:
Turismo é o complexo de atividades e serviços relacionados aos deslocamentos, transportes, alojamentos, alimentação, circulação de produtos típicos, atividades relacionadas aos movimentos culturais, visitas lazer e entretenimento (ANDRADE, 2002, p. 38).
A definição de turismo dada pela Organização Mundial do Turismo (OMT)
identifica-o como: “Soma de relações e de serviços resultantes de um câmbio de
residência temporário e voluntário motivado por razões alheias a negócios ou
profissionais” (DE LA TORRE apud BARRETO, 2003, p.12).
Segundo a World Tourism Organization (WTO), turismo compreende “as
atividades de pessoas que viajam e permanecem em locais fora de seu ambiente
usual, por não mais de um ano consecutivo, para fins de lazer, negócios e outros”.
Esse conceito possibilita a identificação de turismo entre países e refere-se a todas
as atividades de visitantes e turistas (OMT apud LICKORISH; JENKINS, 2000, p.
53).
No entanto, para Gastal e Moesch (2007) não é obrigatório que o turista saia
de seu ambiente usual para praticar o turismo. As autoras acreditam que “o turismo
pode ter significado também para os moradores da cidade em duas interfaces
importantes, que têm sido chamadas de turismo cidadão”.
Isso porque as cidades apresentam diversidade de espaços, ideias,
comportamentos e culturas que seus moradores ou usuários devem ser incentivados
a decifrá-la e compartilhá-la. “Esse movimento irá transformar as pessoas em
turistas, que irão, no deslocamento, apropriar-se com maior competência dos
espaços e situações, num novo exercício de cidadania” (GASTAL; MOESCH, 2007,
p. 59).
Para Camargo (2003), embora o destino a praias, montanhas, casas de campo
e locais históricos sejam a principal intenção das pessoas quando se fala em
atividades turísticas, em escala social a cidade onde se reside, acaba sendo o
principal espaço turístico, o que mostra que o turismo não abrange apenas longas
viagens.
25
É importante ressaltar, para fins de definição, que há também uma
classificação quanto ao público turístico. Segundo recomendações das Nações
Unidas (ONU) e da União Internacional dos Organismos Oficiais de Turismo
(UIOOT) os consumidores de produtos turísticos são classificados em turistas,
excursionistas e visitantes.
Turista é a pessoas que, livre e espontaneamente, por período limitado, viaja para fora do local de sua residência habitual, a fim de exercer ações que por sua natureza e pelo conjunto das relações delas decorrentes, classificam-se em algum dos tipos, das modalidades e das formas de turismo (ANDRADE, 2002, p. 43).
Andrade (2002) conceitua excursionista como aquele que viaja e permanece
menos de 24 horas em receptivo ou localidade que não seja o de sua residência fixa
ou habitual, mas sem pernoitar no local visitado.
Visitantes não são apenas os hóspedes de embarcações ancoradas nos cais
de cidades portuárias e em proximidades litorâneas, mas também pessoas que se
hospedam temporariamente em residências de familiares, acampamentos ou
instituições não-comerciais de hospedagem e serviços, desde que fora de seus
domicílios habituais ou permanentes (ANDRADE, 2002).
No entanto, como já dito anteriormente, para Gastal e Moesch (2007) existe
ainda o turista cidadão, que representa aqueles que realizam atividades de turismo
dentro da própria localidade em que vivem, pois:
A cidadania, se associada ao Turismo, encaminharia outras possibilidades de construção do sujeito histórico, aquele em condições de expressar e de se apropriar das suas circunstâncias espaciais e temporais, seja como sujeito histórico urbano, seja como sujeito histórico planetário. A contribuição do Turismo viria na contramão dos meios de comunicação, que levam a um encolhimento da esfera pública, permitindo justamente que as pessoas voltem a frequentá-la, reaprendendo a ali exercitar a sua voz (GASTAL; MOESCH, 2007, p. 56).
Para as autoras (2007) é preciso que os moradores compreendam e dominem
a realidade dos espaços em que vivem através do conhecimento da cidade em que
habitam para assim poderem participar ativamente das políticas locais.
26
2.6 Ecoturismo como segmento da oferta turística
Nos últimos anos, surgiram muitos novos tipos de turismo, tanto por iniciativa
do mercado, para oferecer novos produtos, quanto por iniciativa dos turistas que
buscam novos destinos e vivências. A partir do ano 2000 começam a surgir no Brasil
estudos sobre segmentação com base nos trabalhos realizados no exterior, a fim de
desenvolver novos métodos de estudo da segmentação turística no país. Mesmo
que os seres humanos não sejam passíveis de enquadramentos rígidos, já que
poucos turistas se dedicam exclusivamente a um tipo de atividade, a segmentação
se faz importante, pois “as pessoas não querem ser parte de um coletivo
indiferenciado [...], as pessoas querem exclusividade” (PANOSSO NETTO;
ANSARAH, 2009, p. 15).
Segundo Dias e Cassar (2005), a segmentação permite trabalhar com grupos
que apresentam interesses coincidentes, permitindo que aumente a sua
possibilidade de comunicação.
Para Petrocchi (2004) a segmentação é a divisão do mercado, composto por
turistas potenciais, em subgrupos homogêneos, que podem ser diferenciados quanto
ao local de origem, padrões comportamentais, atitudes, características
demográficas, perfil psicográfico, etc.
No turismo, vários são os segmentos para as mais diversas modalidades,
como: turismo cultural, turismo científico, turismo pedagógico, turismo de negócios,
agroturismo, turismo de compras, turismo de eventos, turismo social, entre outros.
Dentro dessa proposta de segmentação, neste trabalho optou-se por utilizar do
ecoturismo para incluir os deficientes visuais nas práticas de atividades de lazer,
segundo Marinho e Bruhns (2003), por permitir um contato com a natureza,
provocando sensações através dos outros sentidos. Isso sem esquecer-se da
importância da sustentabilidade e da sensibilização ambiental, características
fundamentais do ecoturismo.
No Brasil, esse segmento tem sido considerado como uma modalidade do
turismo capaz de proporcionar lazer associado à conservação do meio ambiente,
sendo uma nova forma de utilização do tempo livre que envolve contato,
aprendizado e diversão com baixo impacto na natureza (RODRIGUES, 2003).
27
Para Machado (2005) o compromisso do ecoturismo é organizar um turismo
capaz de promover o desenvolvimento de maneira que garanta a manutenção da
biodiversidade. O turismo deve integralizar valores ambientais, culturais sociais e
econômicas, considerando o bem-estar das pessoas envolvidas, além de buscar a
cidadania ecológica com a expectativa de uma melhor qualidade de vida, para hoje e
para o amanhã.
No Brasil, o conceito de ecoturismo reconhecido tanto pelo Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), quanto pelo Instituto Brasileiro
de Turismo (Embratur) é o que classifica ecoturismo como:
Segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca formação de uma consciência ambientalista través da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas (MACHADO, 2005, p. 27).
A organização The Ecoturism Society que luta por um turismo sustentável,
define o ecoturismo como “a viagem responsável a áreas naturais, visando preservar
o meio ambiente e promover o bem-estar da população local” (HAWKINS apud
MACHADO, 2005, p. 27). Ainda segundo Machado (2005), todos os conceitos
abrigam-se no turismo sustentável e buscam promover o contato do visitante com o
meio, gerando recursos capazes de sustentar o projeto, cuidando do espaço
utilizado com vistas à sua manutenção no futuro.
A definição mais abrangente de Wallace e Pierce diz que o ecoturismo é:
A viagem a áreas naturais relativamente intocadas, para o estudo, o divertimento, ou a assistência voluntária. É a viagem em que há preocupação com a flora, a fauna, a geologia e os ecossistemas de uma área, assim como com as pessoas (guardiãs) que vivem nas vizinhanças, suas necessidades, sua cultura e seu relacionamento com a terra. O ecoturismo encara as áreas naturais como “a casa de todos nós” num sentido global (“eco” significando casa), mas também especificamente a “casa dos habitantes da vizinhança”. Ele é visto como uma ferramenta para a conservação e o desenvolvimento sustentável – especialmente nas áreas onde a população local é solicitada a abrir mão do uso predatório dos recursos naturais em favor de outros tipos de uso (WALLACE e PIERCE apud FENNEL, 2002, p. 49).
Referente à questão de manutenção dos espaços que está intimamente
relacionado ao ecoturismo, é importante diferenciar espaço de conservação e
espaço de preservação:
No ecoturismo, utilizamos o termo conservação para as áreas que possibilitem a visitação pública e prática de determinadas atividades compatíveis com a manutenção dos espaços. Já preservação diz respeito
28
às áreas intangíveis para o visitante, nas quais nenhuma possibilidade de visitação é oferecida (MACHADO, 2005, p. 25).
Trigo (2005) traz como exemplo de local para atividades de ecoturismo: os
parques naturais por serem uma das classificações de unidades de conservação
onde é permitida a visitação com fins específicos, sendo a atividade turística
permitida nesses parques.
Ainda de acordo com Trigo (2005), as atividades turísticas em áreas naturais
se encontram em expansão e recebem a denominação de ecoturismo. Para o autor:
A viagem a áreas naturais com objetivos específicos, para conhecer a história do meio ambiente, compreender a cultura e cuidar para não alterar a integridade do ecossistema, ao mesmo tempo em que produz oportunidades econômicas que fazem com que a preservação de recursos naturais seja benéfica à população local, é o princípio primordial para o ecoturismo. Espera-se com esse processo simbiótico, que a produção de relações turismo – espaço natural – comunidades locais gere resultados positivos que vêm a iniciar as bases de sustentabilidade local (TRIGO, 2005, p. 568).
É comum vincular-se o ecoturismo ao conceito de desenvolvimento
sustentável, que significa para a União Mundial pela Natureza (UICN), o Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e o Fundo Mundial da Natureza
(WWF) “melhorar a qualidade da vida humana, sem rebaixar a capacidade de carga
dos ecossistemas que as sustentam” (RODRIGUES, 2003, p. 32). A Comissão
Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, definiu desenvolvimento
sustentável como:
o “desenvolvimento” que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. Portanto, quando afirmamos que o ecoturismo é uma alternativa sustentável, estamos considerando seus limites dentro desta concepção (RODRIGUES, 2003, p. 54).
Diante da proposta de turismo sustentável, várias são as modalidades do
turismo, como: turismo de natureza, turismo ecocientífico, turismo de aventura e
turismo rural (MACHADO, 2005, p. 29) que, embora possuam características
diferentes, todas propiciam um contato com a natureza, tendo como embasamento a
sustentabilidade.
Entre as práticas do ecoturismo estão as caminhadas, trilhas ecológicas,
percursos de bicicleta ou à cavalo, contatos com a população residente, além de
outras atividades (RODRIGUES, 2003, p. 59).
29
Contudo, conforme Swanson (apud MEDONÇA; NEIMAN 2005), o ecoturismo
possui cinco principais componentes que permitem abranger o que é entendido
como o novo paradigma ambiental:
- Valorização da natureza a partir de seu próprio valor; - Planejamento e ação para controlar riscos, pessoais e universais; - Reconhecimento de limites reais para o crescimento; - Entendimento das necessidades de uma nova sociedade; - Estímulo à participação de indivíduos que não são necessariamente envolvidos no mercado ou no governo (SWANSON apud; MENDONÇA; NEIMAN 2005, p. 7).
Esse último item vincula-se ao fato de que essas pessoas não parecem estar
envolvidas no mercado ou no governo. Diante disso, esta pesquisa trata das
pessoas com deficiência visual. Portanto, no tópico a seguir será discutida a
nomenclatura referente às pessoas com deficiência visual para, posteriormente,
relacionar-se o ecoturismo adaptado para esse grupo.
2.7 Deficiência visual
Antes de relacionar o ecoturismo com uma atividade de inclusão para pessoas
com deficiência visual, é importante definir, primeiramente, o que é caracterizado
como deficiência visual, devido às diversas confusões existentes sobre a
nomenclatura e o conceito. Essas confusões ocorrem porque, segundo Panosso
Netto e Ansarah (2009), o conceito de deficiência em geral pode variar em função do
contexto.
No Brasil, o censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) no ano 2000 (apud PANOSSO NETTO; ANSARAH, 2009),
adotou como critério de definição para deficiência visual:
- alguma dificuldade permanente de enxergar (quando a pessoa apresenta
alguma dificuldade, ainda que usando óculos ou lentes de contato);
- grande dificuldade permanente de enxergar (quando a pessoa declara ter
grande dificuldade para ver, ainda que usando óculos ou lentes de contato);
- incapaz de enxergar (quando a pessoa se declara ser totalmente cega);
30
Para o Ministério do Turismo (BRASIL, 2006) pessoa com deficiência é a que:
possui limitação ou incapacidade para o desempenho de algum tipo de atividade e deficiência visual como: acuidade visual
8 igual ou menor que
0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores (BRASIL, 2006, p.16).
Quanto à nomenclatura, o IBGE adota o termo como pessoa “portadora de
deficiência”, mas também é comum ser utilizado o termo adotado pela Organização
das Nações Unidas (ONU) como “pessoa com deficiência” (PANOSSO NETTO;
ANSARAH, 2009, p.467). Dessa forma, por serem nomenclaturas utilizadas por
órgãos de importância representativa, ambas podem ser utilizadas, uma vez que,
ambas são consideradas corretas.
No entanto, há discussões quanto ao uso da expressão “pessoa portadora de
deficiência”, pois:
Cabe esclarecer que o termo "portadores" implica em algo que se "porta", que é possível se desvencilhar tão logo se queira ou chegue-se a um destino. Remete, ainda, a algo temporário, como portar um talão de cheques, portar um documento ou ser portador de uma doença. A deficiência, na maioria das vezes, é algo permanente, não cabendo o termo "portadores". Além disso, quando se rotula alguém como "portador de deficiência", nota-se que a deficiência passa a ser "a marca" principal da pessoa, em detrimento de sua condição humana (SILVA, 2009).
Por esse motivo, a nomenclatura mais usual e que enfrenta menos distorções
para os estudiosos da área, é pessoa com deficiência. É evitado o uso da expressão
“portador de necessidades especiais”, muito difundida pelo senso comum, porque
essa expressão abrange de forma geral pessoas portadoras de qualquer tipo de
deficiência: mental, física, pessoas obesas, idosos com dificuldade de locomoção,
gestantes, pessoas com estatura extremamente alta ou baixa, pessoas fraturadas,
crianças de colo. Essas pessoas
Poderiam, constituir outro(s) segmento(s) como o da terceira idade ou, ainda, a condição temporária da limitação poderia ser superada pela existência de equipamentos e serviços já adequados às pessoas portadoras de deficiências permanentes (PANOSSO NETTO; ANSARAH, 2009, p. 467).
8 Acuidade visual é identificada como sensação de visão confusa, escuridão, visão nebulosa, como se houvesse uma película
no olho, independentemente de que se possa ler a letra pequena a curta distância ou não (JOSE apud MARTÍN; BUENO,
2003, p. 37).
31
Referente aos tipos de deficiência visual, de acordo com Martin e Bueno
(2003), é classificada em três níveis, sendo eles:
- deficiência visual profunda (impossibilidade de realizar tarefas que requeiram
visão de detalhes);
- deficiência visual severa (impossibilidade de realizar tarefas visuais com
precisão, necessitando de ajuda);
- deficiência visual moderada (possibilidade de realizar tarefas visuais como a
de indivíduos com visão normal com ajuda de iluminação adequada).
Dentro dos diversos tipos de deficiência visual, a cegueira pode ser definida,
segundo American College of Sports Medicine (ACSM) (apud CRÓS et. al. 2006),
como:
- Cegueira por acuidade: significa possuir visão de 20/200 pés ou inferior, com a melhor correção (uso de óculos). É a habilidade de ver em 20 pés ou 6,096 metros, o que o olho normal vê em 200 pés ou 60,96 metros (ou seja, 1/10 ou menos que a visão normal), onde 1pé = 30,48 cm. - Cegueira por campo visual: significa ter um campo visual menor do que 10° de visão central - ter uma visão de túnel. - Cegueira total ou "não percepção de luz": é a ausência de percepção visual ou a inabilidade de reconhecer uma luz intensa exposta diretamente no olho (CRÓS et. al. 2006, s/p).
Para o Ministério da Educação e do Desporto (apud CRÓS et. al. 2006) a
diferença entre pessoa cega e pessoa com baixa visão diferencia-se da seguinte
forma:
Pessoa Cega: é aquela que possui perda total ou resíduo mínimo de visão, necessitando do método Braille
9 como meio de leitura e escrita e/ou outros
métodos, recursos didáticos e equipamentos especiais para o processo ensino-aprendizagem.
Pessoa com baixa visão: é aquela que possui resíduos visuais em grau que permitam ler textos impressos à tinta, desde que se empreguem recursos didáticos e equipamentos especiais, excluindo as deficiências facilmente corrigidas pelo uso adequado de lentes (CRÓS et. al. 2006, s/p.).
Isso faz com que não seja ofensivo e nem errado denominar uma pessoa como
cega, quando esta realmente apresentar cegueira.
Diante de tais nomenclaturas, para fins deste trabalho, será utilizada a
nomenclatura pessoa com deficiência visual, por ser de maior abrangência, não
sendo limitada apenas àquelas pessoas que têm diagnosticada a cegueira e
9 Método de leitura e escrita que serve como meio de comunicação entre cegos. Criado na França em 1835 pelo jovem cego
Louis Braille (CERQUEIRA, 2002).
32
também por ser o conceito adotado pelo Ministério do Turismo, sendo este, um
órgão de grande representatividade no turismo.
2.8 Ecoturismo como atividade de inclusão para pessoas com deficiência
visual
Segundo Marinho e Bruhns (2003), a busca por aventuras na natureza permite
um reencontro com a subjetividade, representa uma possibilidade de reaproximação
com estados de surpresa, medo, repugnância, constituídos num ambiente natural
em função do contato com a flora, fauna, amplitude, altura, água e outros,
produzindo, ao final, paz e “leveza”.
Ainda de acordo com os autores, o olhar não é de suma importância no contato
com a natureza:
O olhar posiciona as pessoas como espectadoras e observadoras, não necessariamente num alto grau de envolvimento com a cena, pois explora o campo visual, abstraindo alguns objetos, perspectivas e pontos de interesse. Os outros sentidos atingem como sensações (gosto do limão, textura de uma rocha, som do vento) (MARINHO; BRUHNS, 2003, p. 42).
Caminhar por uma trilha num ambiente natural, requer que se enfrentem
obstáculos e dificuldades, o que pode ser um exercício dos sentidos, auxiliando na
interpretação do meio através de uma ética de respeito e de redescobrimento do
ambiente (MARINHO; BRUHNS, 2003).
Além disto, esse contato com o ambiente natural, quando realizado através de
uma atividade esportiva, como uma caminhada por uma trilha, pode provocar ao
praticante “uma experiência de contemplação, filtrada por valores e concepções de
vida, pode emergir, bem como um sentimento de união pelo pertencimento a um
cosmo comum fundamentado numa ética do respeito e do redescobrimento”
(MARINHO; BRUHNS, 2003, p. 42).
Para Machado (2005) uma das características mais fortes de uma trilha é que
tem como seu objetivo propiciar uma experiência enriquecedora para o visitante,
provocando superação de limites.
As atividades na natureza proporcionam não apenas a preocupação com a
conservação do meio ambiente e a superação de desafios, mas também uma
33
interação com os demais pertencentes do grupo. A interação e a inclusão são de
extrema valia e significado para as pessoas com deficiência, uma vez que, para
Martín e Bueno (2003) a pessoa com deficiência sempre fez parte da categoria de
excluídos sociais. A sociedade sempre teve uma atitude ambivalente com as
pessoas com deficiência visual considerando-a, em sua maioria, como uma pessoa
indefesa. Aqueles capazes de ver julgam uma vida sem visão, como algo horrível,
despertando o sentimento de piedade. Essa atitude, influência diretamente o
portador de deficiência visual quanto à sua autoimagem e seu papel social.
“Para muitos cegos, a carga mais pesada pode não ser a cegueira, mas a
atitude do vidente para com eles [...], a maioria dos cegos vive com forte sentimento
de solidão apesar de aparentemente se mostrarem sociáveis e espontâneos”
(MARTÍN; BUENO, 2003, p. 125).
Nessa relação com um grupo social, extremamente importante para os
portadores de deficiência visual, o lazer surge como uma atividade prazerosa, capaz
de proporcionar inclusão social com os demais. Porém, antes de dar-se continuidade
ao tema, se faz necessário para fins de esclarecimento que se compreenda a
diferença entre atividade integrada e atividade inclusiva:
São chamadas atividades integradas (quando a pessoa com deficiência consegue participar de atividades de lazer não adaptadas) e atividades inclusivas (quando os programas de lazer são modificados para que pessoas com deficiência possam participar juntamente com as pessoas em geral) (SASSAKI apud PANOSSO NETTO; ANSARAH, 2009, p. 474).
Como atividade inclusiva, o ecoturismo pode ser adaptado para que as
pessoas com deficiência visual possam praticá-la juntamente com os não portadores
de deficiência. Além disso, a atividade acarreta grandes benefícios aos portadores
de deficiência visual:
As atividades realizadas em áreas naturais como exercícios físicos, recreação e contemplação da natureza proporcionam uma riqueza de estímulos visuais, sonoros, olfativos, táteis e sinestésicos. Além desses benefícios, especialistas e usuários ressaltam que as atividades turístico-recreativas permitem ao deficiente visual a superação dos seus próprios limites, a promoção da autoestima, da sua socialização e de uma visão holística sobre os espaços que compõem a cidade, facilitando a formação do sujeito, a compreensão e orientação espacial. (JULIÃO; IKEMOTO, 2006, p. 1).
Segundo entrevista concedida pelo representante da ONG Caminhadores RS,
Sr. Rotechild Prestes, no dia 15 de outubro de 2010, o turismo inclusivo é uma
realidade para a qual o Brasil deve dispor de maior atenção para que o turismo seja
34
realmente acessível a todos. Para que isso seja possível, é preciso que os locais
sejam preparados ou adaptados, permitindo que qualquer indivíduo tenha acesso
aos pontos turísticos.
Contudo, mesmo que aos poucos estejam surgindo estudos sobre o quão
importante é uma prática de lazer para a pessoa com deficiência, o quão capaz o
lazer é de representar uma prática de inclusão e que o número de pessoas com
deficiência seja significativo no país, ainda são poucos os serviços disponíveis nas
áreas de lazer e turismo para esse segmento (DE FARIA; FERREIRA; CARVALHO,
2010).
Por essa razão, no capítulo a seguir, será apresentado a ONG Caminhadores
RS, por ser uma das pioneiras a proporcionar esse tipo de atividade em Porto
Alegre, Rio Grande do Sul, mostrando que atividades para um turismo inclusivo são
possíveis.
35
3 ONG CAMINHADORES RS – UMA PROPOSTA DE TURISMO INCLUSIVO
Neste capítulo será abordado o conceito de Organização não-governamental,
bem como suas características e o surgimento das mesmas. Posteriormente, será
apresentada a ONG Caminhadores RS, por tratar-se de uma organização que busca
proporcionar às pessoas com deficiência a oportunidade de usufruir de atividades de
lazer em meio à natureza.
3.1 O que são ONGs?
Segundo Montenegro (1994), embora haja certa dificuldade em se estabelecer
uma definição precisa quanto às ONGs, pode-se conceituá-las como:
Um tipo particular de organizações que não dependem nem econômica nem institucionalmente do Estado, que se dedicam a tarefas de promoção social, educação, comunicação e investigação/experimentação, sem fins de lucro, e cujo objetivo final é a melhoria da qualidade de vida dos setores mais oprimidos (GROSSI apud MONTENEGRO, 1994, p. 10).
No entanto, o fato de se usar a palavra não-governamental, não quer dizer que
sejam uma oposição ao Estado e nem que sejam independentes das verbas
estatais. Muitas dessas organizações, inclusive, implementam as políticas públicas
em parceria com o Estado e suas manutenções financeiras podem depender do
poder público. É importante lembrar ainda que as ONGs não têm função de obter
lucro, ou seja, não visam o acumulo de capital (MONTENEGRO, 1994).
Para Reis (2009) as ONGs são:
Organizações estruturadas, localizadas fora do aparato do Estado, voltadas para a produção de bens e serviços públicos e que, via de regra, obtêm seus recursos por meio de projetos submetidos a agências financiadoras e/ou empresas privadas. São organziações que respondem a necessidade coletivas e que frequentemente devem combinar uma atividade executada em moldes não capitalistas e oferecer estes produtos ao mercado (REIS, 2009, p.28).
Montenegro (1994) retoma ainda que, embora a denominação de ONG seja a
mais comum no Brasil, há também outras denominações como, por exemplo:
organizações não-governamentais de desenvolvimento (ONGD), associações
36
privadas de desenvolvimento (APD), organizações voluntárias privadas dedicadas
ao desenvolvimento (OVPDD), entre outras.
Para Monteiro (200-), o termo ONG foi usado pela primeira vez em 1950, pela
ONU (Organização das Nações Unidas), para definir organizações que não tivessem
ligação alguma com o governo, porém, atualmente esse quadro não é mais o
mesmo, uma vez que as ONGs possuem uma finalidade pública e, geralmente,
apresentam objetivos de caráter social ou ambiental e precisam de uma estrutura
legal e formal para defender voluntariamente o interesse de todos.
Em face dessa transformação, faz-se necessário analisar, no texto a seguir, o
surgimento das ONGs e seu desenvolvimento.
3.1.1 O surgimento das ONGs e seu desenvolvimento
De acordo com De Carvalho (1995), desde o fim dos anos 1960 a abrangência
das discussões referentes à ideia de autogoverno, passou a ser mundial. Surgiram
de maneira crescente grupos organizados para administrar a vida comunitária.
Nas comunidades em que o poder público era ineficiente, esses grupos,
passaram a buscar o atendimento de suas necessidades básicas, como saúde,
moradia, educação e trabalho.
Nos anos 1970, com uma espécie de crise da governabilidade, esses grupos
muito bem organizados, ao contrário do poder público, se estabeleceram nos países
desenvolvidos e se espalharam por todo o mundo.
Essas organizações eram anti-estatais, não-hierárquicas ou piramidais, pois a
autoridade era discutida através de assembleias com todos os membros, formando
um sistema no qual as regras ao invés de serem criadas de cima para baixo, eram
advindas de baixo para cima (DE CARVALHO, 1995).
Ainda para o autor (1995), nos anos 1980, nos Estados Unidos, o sentimento
de autogoverno era generalizado, onde: “o poder social era tomado como alternativa
ao poder político, considerado incapaz e fragilizado, senão corrupto e ilegítimo, para
representar as demandas da cidadania” (DE CARVALHO, 1995, p. 14).
Paralelamente, na Europa, era comum a existência de organizações
filantrópicas voluntárias, como a Cruz Vermelha, associações religiosas e
37
missionárias, ativistas pacifistas que formavam as ONGs internacionais, também
denominadas INGO s que respeitavam normas da ONU: rotatividade da liderança,
independência financeira, diversidade de motivos e de heterogeneidade cultural dos
membros (DE CARVALHO, 1995).
No Brasil, o surgimento das ONGs ocorreu no período da ditadura militar. Eram
formadas por grupos de caráter político-religiosos atuantes nas periferias das
cidades.
Segundo Steil (apud REIS, 2009), esses grupos primeiramente tinham como
foco as reivindicações dos trabalhadores que eram relativas basicamente a saúde,
educação, saneamento, entre outros. Depois, num segundo momento, passaram a
abranger outras dimensões da vida social, passando então a buscar o fim do
preconceito sexual e racial, bem como a preservação do meio ambiente.
Ainda conforme o autor, esses movimentos contavam com o apoio de
intelectuais, algumas igrejas e partidos de esquerda que escaparam do exílio.
Para Muçouça (apud REIS, 2009) a conferência das Nações Unidas sobre
meio ambiente e desenvolvimento denominada de ECO 92, realizada no Rio de
Janeiro, em 1992, foi a primeira vez que as ONGs definitivamente ganharam papel
de destaque e se reconheceu publicamente sua importância.
Para Reis (2009), a partir dessa década, as ONGs passam a ter mais
autonomia com o apoio da fundação ABONG (Associação Brasileira de ONGs), que
representa as ONGs no país e controla as mesmas para que não ocorra uma
proliferação desenfreada.
A partir da institucionalização das ONGs, parte da responsabilidade social, que
antes pertencia ao Estado na sua totalidade, passa a ser da sociedade civil. No
entanto, observa-se que é interessante que o Estado e ONGs trabalhem em união e
sem que um se sobressaia ao outro, ou que haja transferência de responsabilidades
de um para outro.
No final da década de 1990, com o período de crise, as ONGs que antes se
caracterizavam quase que por sua oposição ao governo, passam a buscar
financiamento advindos do Estado e muitas das grandes ONGs se fragmentam
formando outras menores (REIS, 2009).
Com a segmentação e com o fim da militância, surge a especialização dessas
organizações que começam a se adequar ao mercado de serviços, o que as obriga
a tornarem-se autossustentáveis.
38
Os valores políticos que estiveram ligados a militância de esquerda, que esteve à frente das primeiras ONGs, parecem dar lugar aos interesses voltados para ações que visem resultados que possam ser medidos e avaliados por parâmetros estabelecidos dentro do modelo de “projetos-sociais”. (REIS, 2009, p. 32).
Adaptadas ao mercado, as ONGs passam a estabelecer um novo modelo de
relação entre a sociedade civil e o Estado. Para Vilanova (2005), foi a partir dos
anos 1990 que as ONGs passaram a ser mais visadas através da divulgação da
mídia e eventos promovidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
3.2 ONG Caminhadores RS
Segundo informações obtidas através do blog oficial da Caminhadores RS
(2010) e palestra efetuada pelo presidente da ONG, Sr. Rotechild Prestes, realizada
no dia 15 de outubro de 2010, no Centro Universitário Lasalle – Unilasalle (ANEXO
B), a ONG Caminhadores RS é uma organização não-governamental, sem fins
lucrativos e privada, pois todas as ações são custeadas pela equipe da ONG, sem
nunca haver usufruído de dinheiro público para sua sustentação. No entanto,
atualmente por determinação do Ministério do Turismo, a ONG teve que
regulamentar-se de acordo com a legislação, para poder receber recursos do
governo. Isso porque a ONG planeja realizar ações de maior abrangência no futuro
próximo.
A ONG realiza atividades de lazer através de roteiros turísticos na cidade de
Porto Alegre/RS e demais localidades próximas.
A organização se tornou um importante projeto de caráter inclusivo que busca,
como principal objetivo, proporcionar às pessoas com deficiência a possibilidade de
conhecer e contemplar os atrativos, antes inacessíveis devido à falta de agências de
turismo especializadas nesse segmento e a falta de infraestrutura adaptada nos
pontos turísticos.
A Caminhadores RS não possui sede física. As reuniões da equipe da diretoria
e todos os associados são realizadas dentro de um espaço cedido pela Secretaria
de Turismo de Porto Alegre. Contudo, planeja-se que, em 2015, se adquira uma
sede própria em Porto Alegre.
39
3.2.1 Histórico ONG Caminhadores RS
De acordo com informações extraídas do blog da ONG (2010), notícia
publicada pelo Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e palestra realizada
pelo Sr. Rotechild Prestes realizada no Unilasalle (2010) (ANEXO C), a história da
Caminhadores RS, começou quando o Sr. Rotechild Prestes foi convidado a guiar
um grupo de escoteiros no Parque Natural do Morro do Osso em Porto Alegre. Na
ocasião, havia no grupo uma menina que possuía deficiência múltipla (física e
intelectual) que não poderia realizar o passeio pelo parque em razão de não haver
infraestrutura acessível no local para pessoas com limitações físicas e mentais.
Deparado com tal situação, o Sr. Rotechild decidiu entrar em contato com
amigos e parceiros para proporcionar à menina a possibilidade de realizar o passeio.
Como na época ainda não possuía uma cadeira adaptada, pensou-se em chamar
um montanhista de renome na cidade, para auxiliar no deslocamento.
Segundo relato em palestra do Sr. Rotechild, após esse fato, surge em Porto
Alegre – RS, no ano de 2002, a ONG Caminhadores RS. Com a formação de um
grupo de pessoas que partilhavam dos mesmos ideais, incluindo turismólogos, guias
de turismo e outros, oriundos de um movimento juvenil e reunidos pelo prazer de
estarem em contato com a natureza, deu-se início à ONG Caminhadores RS.
O objetivo principal, desde o surgimento da ONG, é o de levar o ecoturismo,
turismo de aventura, esporte e lazer para o grupo de pessoas com qualquer área da
deficiência, sendo todos os passeios gratuitos para quem quiser participar.
Desde a constituição da ONG, passaram a executar roteiros para pessoas que
antes não poderiam realizá-los como, por exemplo, cadeirantes, surdos e cegos, a
fim de que esse grupo de pessoas pudesse usufruir dessa prática de turismo em
meio à natureza.
Passados oito anos, a ONG conta com o reconhecimento do Ministério do
Turismo, da Secretária de Turismo do Estado do Rio Grande do Sul, do município de
Porto Alegre, de pessoas que se destacam no meio do turismo e de instituições de
ensino, como faculdades e cursos técnicos. Assim, podem continuar mostrando a
importância de haver uma dedicação para esse grupo que abrange as pessoas com
deficiência.
40
A organização também se preocupa em fazer a verificação para saber como
está a conservação da infraestrutura dos locais públicos que são destinados à
acessibilidade (ANEXO D), uma vez que, muitas vezes esses locais são criados,
mas não há uma manutenção, o que consequentemente os deixa inutilizáveis.
O primeiro roteiro elaborado foi conduzido para o turismo em um dos parques
de Porto Alegre, voltado para os cadeirantes. Depois foi aberto para todos que
tivessem qualquer tipo de deficiência, passando a ser um turismo acessível a todos.
Durante um ano, os roteiros foram realizados dentro de unidades de conservação
existentes na cidade.
Após essa experiência, começou a surgir novas ideias e propostas de novas
atividades e roteiros, o que fez com que a ONG executasse novos roteiros, dando
continuidade ao trabalho.
Atualmente, dentro dessa proposta de turismo acessível para todos, a
Caminhadores RS oferece nove roteiros que já foram realizados com sucesso.
Segundo informações obtidas na palestra realizada pelo Sr. Rotechild Prestes
(Unilasalle, 2010), no ano de 2006, foi lançado o 1º mapa de Turismo Adaptado do
Brasil, durante o Fórum Mundial de Turismo de maneira que a cidade de Porto
Alegre e seus pontos turísticos foram mapeados para orientar as pessoas com
deficiência sobre quais atrativos turísticos realmente são acessíveis.
Desde o ano de 2007, criou-se um programa chamado “Conhecendo as
diferenças”, o qual algum representante da ONG realiza palestras por todo o estado
gaúcho para esclarecer as dúvidas do público e também sensibilizar para a questão
da acessibilidade e quebra de preconceitos.
3.2.2 Recursos humanos
A ONG Caminhadores RS conta com doze pessoas idealizadoras do projeto e
que trabalham ativamente na organização, além do auxílio dos quarenta voluntários.
Segundo entrevista concedida pelo representante e presidente da ONG
(APÊNDICE A), Sr. Rotechild, dentre esses voluntários, encontram-se pessoas de
diversas áreas de atuação. Pode-se citar, por exemplo, os turismólogos que atuam
no planejamento do roteiro com ajuda de biólogos e geógrafos para elaborar roteiros
41
que visem a sustentabilidade. O guia de turismo que conduz os grupos de visitantes,
além do auxílio fundamental de pessoas das áreas médica, da Educação Física, da
área de segurança e de socorrismo.
No primeiro roteiro executado no Parque do Morro do Osso, na zona sul de
Porto Alegre, em 2002, foram necessárias quatro pessoas para acompanhar um
único cadeirante. No entanto, com o ganho de uma segunda cadeira, mais moderna,
é necessária apenas uma pessoa para levar a cadeira.
As pessoas que ajudam a colocar e recolocar o turista com deficiência física na
cadeira de rodas são chamados de cuidadores. É necessário que esses cuidadores
tenham conhecimento de primeiros-socorros e da parte biológica de cada visitante,
pois cada lesão tem sua peculiaridade e precisa ser respeitada para evitar acidentes
ou ocorrência de outras lesões.
A determinação do número de colaboradores necessários para realizar um
roteiro, depende do tipo de atividade que será realizada. Segundo entrevista
concedida pelo Sr. Rotechild, para fazer um roteiro de aventura são necessários de
seis a sete pessoas. Porém, se for um roteiro num centro histórico que envolve
menor possibilidade de risco ao participante pode-se precisar de menos, entre cinco
pessoas.
A média de colaboradores, portanto, fica aproximadamente no número de sete
pessoas, pois são necessários tantos colaboradores para esse tipo de atividade ao
público que tem alguma limitação física por possuir grande valor de risco de lesão e
envolver um número grande de profissionais.
Para o Sr. Rotechild, é importante lembrar que qualquer pessoa que tenha o
interesse em participar e ajudar será acolhido pela ONG. Muitos voluntários não são
participantes fixos e prestam serviços em um único dia da atividade. Porém, para
quem quer continuar como voluntário, a própria ONG propõe que as pessoas façam
curso de voluntariado, procurem cursos gratuitos, sempre aconselhados pela própria
organização que, além da orientação, oferece capacitações com profissionais da
área médica, para que possam passar informações referentes a como lidar com os
variados tipos de deficiência.
Referente à motivação em trabalhar com esse segmento, segundo entrevista
concedida pelo Sr. Rotechild Prestes, essa se encontra no fazer o bem para o
próximo. Para ele, quando se depara com histórias tristes de pessoas que nunca
visitaram determinado atrativo por não terem condições de chegar até o local
42
sozinhas, em função de uma limitação física, é o que o faz querer continuar
trabalhando nisso e é o que lhe motiva ainda mais. Percebe que o Brasil, de forma
geral, é um país rico na sua natureza e muitos desses locais não são explorados,
tendo muito a ser feito nesse sentido.
Acredita que o contato com a natureza faz bem a todos independente da
limitação que as pessoas possam apresentar, pois é um momento de reencontro
com o meio ambiente. Ressalta ainda que, para esse tipo de trabalho, é preciso que
o colaborador tenha muito claro e bem resolvido o assunto deficiência para tratar o
tema com naturalidade, além de gostar do que faz e ser simpático ao assunto,
dedicando-se ao trabalho com seriedade e respeito.
3.2.3 Atividades desenvolvidas pela ONG Caminhadores RS
Durante os oito anos de existência da organização, muitas são as atividades e
tipologias de turismo executadas: rapel, trilhas ecológicas, turismo náutico, turismo
de praia, ecoturismo, turismo de aventura, turismo off road, turismo histórico. Essas
são algumas das experiências já vivenciadas e atividades que podem ser
disponibilizadas para aqueles que possuem qualquer tipo de deficiência.
Dentre as mais recentes, mencionadas pelo Sr. Rotechild, pode-se citar:
Turismo histórico pelo Centro de Porto Alegre, com o objetivo de
conhecimento dos prédios históricos e enriquecimento cultural;
Ecoturismo no Morro do Osso, que é um parque municipal localizado em
Porto Alegre e que já possui um banheiro adaptado;
Turismo no Parque da Redenção, sendo esse um dos principais parques da
cidade de Porto Alegre, que possui 18 pontos turísticos;
Roteiro Turístico no Parque do SESI, localizado na cidade de Caxias do
Sul/RS;
Turismo náutico, realizando passeios de barco na cidade de Porto Alegre;
Turismo de aventura no Alpen Park, em Canela/RS, por ser um espaço
destinado a essa modalidade;
43
Linha Turismo de Porto Alegre, que é um ônibus turístico, panorâmico que
passa pelos principais atrativos da cidade;
Turismo off-Road, que é o turismo a bordo de caminhonetes e jipes para
conhecer as belezas de Porto Alegre, nos locais onde há estradas e ou ruas
que propiciem esse tipo de atividade sem agredir o ambiente;
Contemplação da paisagem, no Morro da Polícia em Porto Alegre para
cadeirantes.
Dentre essas atividades, exceto o último item, todos são adaptáveis para
qualquer área da deficiência, inclusive a visual. Basta que haja pessoas desse grupo
de deficiência interessadas em praticar essas atividades.
Os passeios ocorrem, geralmente, uma vez por mês, aos finais de semana e
feriados e tem durabilidade de um dia. As atividades são executadas com essa
frequência porque a maioria dos colaboradores da ONG são voluntários que
possuem outro trabalho fixo e prestam esse serviço gratuito durante seu tempo livre.
Por essa razão, em consenso entre os colaboradores estipulou-se essa rotatividade
de atividades.
O roteiro sempre é um pouco mais longo do que o proposto pelas agências de
viagem, pela questão do deslocamento do público cadeirante ser um pouco mais
lento.
Até o momento, embora já tenha havido interesse, a Caminhadores RS ainda
não realiza roteiros para fora do estado. Porém, existe a perspectiva de que, em
breve, se realize esse tipo de roteiro mais longo.
3.2.4 Métodos de trabalho, matérias e equipamentos utilizados
A partir do momento o qual uma pessoa que apresente uma limitação física
deseje realizar uma atividade de lazer, imediatamente prepara-se um roteiro e
verifica-se o quadro de voluntários registrados na ONG que possuam disponibilidade
para trabalhar na data e horário marcados com o visitante. Busca-se com empresas
ou pessoas parceiras da organização o empréstimo dos equipamentos necessários,
bem como novos voluntários que estejam dispostos e disponíveis para auxiliar.
44
Para realizar atividades voltadas ao público com deficiência visual em trilhas,
por exemplo, é utilizado o cabo guia, que consiste em uma corda com vários nós.
Cada pessoa segura em um nó para manter um distanciamento correto entre cada
indivíduo e o guia de turismo segue à frente conduzindo a corda e explanando sobre
o local, respeitando o tempo do grupo para sentir os cheiros, perceber o contato com
o meio ambiente e tocá-lo.
No caso do passeio Linha Turismo em Porto Alegre, que é um passeio de
ônibus panorâmico pela cidade, o guia acompanha narrando e explicando os locais
por onde o ônibus passa bem como os atrativos, para que assim as pessoas com
deficiência visual possam contemplá-lo.
É interessante ressaltar que, para cada atividade e cada área de deficiência do
visitante, é necessário um equipamento especial, sendo, portanto, utilizados os mais
diversos materiais. Dentre esses: cadeiras de rodas adaptadas, ferramentas para
construção de rampa móvel quando necessário, mapa que indique os locais onde
existem a acessibilidade, entre outros mais específicos para o turismo de aventura.
No caso de ser um roteiro voltado especificamente para as pessoas com
deficiência visual não são necessários muitos equipamentos, utiliza-se cabo guia,
bengala e cardápio em Braille, quando necessário. Nesse caso, é muito importante
que o guia de turismo tenha uma linguagem apropriada e conhecimento sobre esse
tipo de deficiência para propiciar às pessoas que não enxergam, uma descrição do
ambiente em que se encontram, para que assim possam compreender o meio e
sintam-se confortáveis e seguras durante a realização das atividades.
3.2.5 Meios de divulgação
Como meio de divulgação, a organização utiliza de um blog na Internet e
distribuição de panfletos (ANEXO A) nos postos de informação turística de Porto
Alegre. Para quem deseja realizar o roteiro, basta entrar em contato com a
Secretaria de Turismo, tanto do estado do Rio Grande do Sul quanto da cidade de
Porto Alegre, ou então entrar em contato direto com a ONG.
45
De acordo com o Sr. Rotechild, representante da ONG, o método mais
tradicional como o “boca-a-boca” e as palestras realizadas pelo estado é o que tem
levado mais pessoas a entrarem em contato com a Caminhadores RS.
46
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos capítulos descritos ao longo desta pesquisa, verificou-se que o
número de pessoas com deficiência visual é bastante significativo no país, que ao
longo dos anos legislações têm sido criadas para defender os direitos desse grupo,
mas que, na prática, depara-se com a realidade de que ainda há muito trabalho a
fazer para que se possa incluí-los em todas as atividades, sejam elas de trabalho,
educação, até mesmo lazer e turismo.
Porém, mesmo que a infraestrututa turística no país seja precária, uma vez que
muitos restaurantes não possuam cardápio em Braille e que sejam poucos os locais
onde se encontra o piso tátil, por exemplo, percebe-se que é viável a criação de
roteiros adaptados, pois se constatou, através de estudo das atividades da ONG
Caminhadores RS, que é possível realizar atividades de lazer em meio a natureza,
como: rapel, tirolesa, trilhas ecológicas e passeios de barco, voltados para o público
com deficiência visual.
Para que essas atividades aconteçam, basta que os profissionais atuantes no
turismo tenham interesse em realizá-las e que as pessoas não tenham receio em
lidar com as diferenças, mas sim as reconheçam e as compreendam para que,
assim, possam tratá-las com respeito e naturalidade.
Constatou-se, a partir da entrevista com o Sr. Rotechild Prestes, que os
colaboradores da ONG atuam nessa área porque realmente gostam e apreciam
aquilo que fazem e que as dificuldades físicas de se trabalhar com esse segmento
assumem papel de pouca importância, já que a gratificação de ajudar ao próximo se
sobressai a esses contratempos.
A ideia desse tipo de atividade, não é provocar uma sensibilização para as
pessoas que enxergam, fundamentada na piedade. O objetivo é que todos vejam a
pessoa com a limitação física como possuidora dos mesmos direitos que os demais,
incluindo o de desfrutar do lazer e do turismo.
Referente à questão do ecoturismo, percebeu-se que o mesmo contempla os
outros sentidos do corpo humano, fazendo com que o olhar não seja o sentido
principal para essa prática de lazer.
O contato com a natureza proporciona ao deficiente visual a percepção do
ambiente desconhecido através dos cheiros que se identificam dos recursos naturais
47
pelo tato, o poder tocar e sentir cada folha de árvore, os sons produzidos pelo
barulho das plantas e ou dos animais.
Isso tudo pode proporcionar, tanto para aqueles que não enxergam, quanto
para os que possuem visão normal, uma sensação única e inusitada, que
inicialmente pode causar medo e insegurança, mas depois se atinge o prazer da
contemplação da natureza.
Além do mais, as atividades de ecoturismo servem também para a interação
social, em que pessoas com ou sem deficiência possam compartilhar do mesmo
sentimento criando-se uma atividade social prazerosa. Com isso, é possível a
execução de um turismo inclusivo que, independente da limitação, todos participem
do mesmo direito ao lazer.
A ONG Caminhadores RS é um exemplo a ser seguido, pois, mesmo sem
recursos financeiros suficientes, consegue desenvolver seu trabalho ao longo de oito
anos, apostando num turismo que visa sustentabilidade e inclusão. O método de
trabalho adotado por essa organização vai de acordo aos conceitos de ONG
mencionados pelos autores. Percebe-se que a teoria está de encontro com a prática.
É interessante citar que em buscas realizadas em sites na Internet, verificou-se
que esse tipo de turismo voltado para pessoas com deficiência visual ocorre em
poucos destinos turísticos, sendo também poucas as agências de viagem que
contemplam esse segmento. Pode-se observar que a própria ONG estudada neste
trabalho, não tem seus roteiros direcionados exclusivamente para pessoas que não
enxergam ou possuam dificuldades para ver. No entanto, foi objeto de estudo por
ser umas das poucas que abrange esse grupo no município de Porto Alegre e na
região metropolitana.
Por fim, observou-se que este trabalho foi de grande significado para o
aprendizado da pesquisadora, por poder expressar conceitos absorvidos ao longo
do currículo acadêmico, além do senso investigativo e autonomia pessoal.
Os métodos utilizados para a coleta de dados se restringiu a entrevista semi-
estruturada e fotografias, em razão do curto período de tempo para execução deste
trabalho de conclusão de curso, não sendo possível a observação participante por
parte da pesquisadora.
Contudo, entende-se que um trabalho de conclusão de curso possui suas
limitações não apenas em razão do tempo disponível para seu preparo, mas por ser
a primeira experiência efetiva da pesquisadora nessa função. Por essa razão é
48
importante ressaltar que um trabalho de conclusão de curso abrange o tema de
forma geral e ampla, deixando sempre abertas novas indagações a serem
pesquisadas e respondidas.
Ainda há muito para investigar referente ao tema, visto que poderia ser
bastante produtivo e interessante verificar qual a percepção por parte dos
voluntários da ONG ou qual a percepção dessas atividades por parte dos
praticantes, quais suas limitações e anseios encontrados, bem como avaliação geral
dos roteiros. Por essa razão, espera-se que este trabalho sirva de base para
projetos futuros que abranjam o tema de maneira diversificada.
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APÊNDICE A
Modelo de perguntas para entrevista semi-estruturada com o Sr. Rotechild Prestes.
1. O que você entende por turismo?
2. Qual a motivação em trabalhar com pessoas com deficiência?
3. Qual a motivação percebida por parte da pessoa com deficiência?
4. Percebe um retorno positivo por pare do visitante?
5. Quais as dificuldades de se trabalhar com pessoas com deficiência?
6. Quantos colaboradores são necessários?
7. Como fazer para tornar-se um voluntário?
8. Como são selecionados os colaboradores?
9. Há cursos de capacitação para os voluntários?
10. Há algum turismólogo na equipe?
11. Como é divulgado o trabalho?
12. Como as pessoas com deficiência visual fazem para participar?
13. A ONG cria e realiza roteiros?
14. Se sim, Como é planejado o roteiro?
15. Existem roteiros longos?
16. Qual a duração das atividades?
17. Com que frequência ocorrem as atividades?
18. Possui uma sede?
19. Como se sustenta a ONG?
20. Quais são os equipamentos utilizados?
21. Como são adquiridos?
22. Quanto às pessoas com deficiência visual, quais os cuidados especiais?
23. Porque diante de diversos segmentos do turismo, a Caminhadores RS
trabalha com o ecoturismo para pessoas com deficiência visual?
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ANEXO A
Panfleto de divulgação da ONG Caminhadores RS expostos nos postos de
Informações Turísticas de Porto Alegre
Fonte: Caminhadores RS (2010).
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ANEXO B
ONG Caminhadores palestra para os alunos do curso de turismo Unilasalle/Canoas
Palestra “Acessibilidade no Turismo”, realizada pelo Sr. Rotechild Prestes no dia
15/10/2010 no Centro Universitário Lasalle – Unilasalle
Fonte: Caminhadores RS (2010).
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ANEXO C
Acessibilidade Siga Essa Ideia
Sr. Rotechild Prestes palestrando aos alunos dos cursos Superiores de Tecnologia
em Gestão de Recursos Humanos e Superior de Tecnologia em Hotelaria, com o
tema “Acessibilidade Siga Essa Ideia”.
Fonte: Caminhadores RS (2010).
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ANEXO D
Símbolo acessibilidade para pessoas com deficiência visual
Link: O que é Acessibilidade?
Fonte: Instituto Percepções (2010).