thesis bioconstrução ecoturismo

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Como o ecoturismo poderá promover a bioconstrução

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  • Universidade de Lisboa

    Faculdade de Cincias

    Departamento de Biologia Animal

    O Ecoturismo como propulsor da Bioconstruo no PNSACV

    Miguel Bossa Gomes da Silva

    Dissertao

    Mestrado em Ecologia e Gesto Ambiental

    2015

  • Universidade de Lisboa

    Faculdade de Cincias

    Departamento de Biologia Animal

    O Ecoturismo como propulsor da Bioconstruo no PNSACV

    Miguel Bossa Gomes da Silva

    Dissertao orientada por:

    Professor Doutor Jos Guerreiro da Silva

    Professor Mrio Baptista Coelho

    Mestrado em Ecologia e Gesto Ambiental

    2015

  • i

    AGRADECIMENTOS

    Aos Professores Mrio Baptista Coelho e Jos Guerreiro da Silva, pois esta dissertao s

    pde ser realizada e concluda graas ao seu apoio e orientao, durante as aulas e durante a ela-

    borao da dissertao.

    Professora Filomena Magalhes, pela enorme disponibilidade que sempre teve para me

    ajudar e dar conselhos.

    A todos os meus colegas, que ao longo de todos os anos me tm aturado e ajudado imen-

    so.

    Aos meus pais, Maria Joo e Jos Manuel e, os meus irmos Raquel e David, por toda a

    pacincia e por todo o apoio que sempre me deram ao longo do meu percurso escolar, por nunca

    me deixarem desistir e sempre me motivarem e incentivarem a fazer o que mais gosto. Muito

    obrigado.

    Francisca, por toda a ajuda e apoio que me tem dado ao longo destes anos, pela imensa

    pacincia e por me guiar em todos os momentos, pela ajuda na elaborao e na reviso da tese.

    Obrigado por todo o incentivo e amizade.

  • ii

    RESUMO

    O sector do turismo uma das maiores fontes de rendimento para Portugal e, continua em

    franco crescimento. Na ltima dcada, o ecoturismo tem visto novas formas para se desenvolver,

    fruto de novas tendncias e interesses por parte dos novos ecoturistas, que procuram acima de

    tudo uma experincia de contacto com a natureza e com o patrimnio cultural.

    A presente dissertao pretende introduzir a bioconstruo como uma inovao, no seg-

    mento de alojamento na rea protegida do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicen-

    tina, sendo por isso uma proposta ao nvel do ecoturismo. Esta uma rea protegida que, preci-

    samente pelo seu imenso valor e interesse para conservao, faz parte da Rede de Reservas Bio-

    genticas da Europa.

    O consumo de recursos naturais, resultante da atividade turstica, no sustentvel. A bio-

    construo permite introduzir uma alternativa aos modos de construo vigentes, no segmento de

    alojamento. No Concelho de Odemira, tal como no resto do Alentejo, h uma tradio de constru-

    o em terra, baseada na disponibilidade de matrias-primas e nas caractersticas granulomtricas

    do solo, que j vem sendo explorada desde o tempo dos Califados Muulmanos na Pennsula Ib-

    rica.

    Para criar um ecoresort no PNSACV, temos de ser capazes de aprender com o passado e

    reintroduzir a utilizao de certas tcnicas vernculas (s quais hoje chamamos bioconstruo,

    uma vez que apenas utilizam matrias-primas locais, obtidas na natureza e com pouco processa-

    mento) ao mesmo tempo que beneficiamos da tecnologia existente. A adoo de tcnicas de bio-

    construo alternativas abre caminho para um nicho de mercado baseado na conservao e pro-

    teo do ambiente natural com vista visitao de reas protegidas.

    Palavras-chave: Bioconstruo; Ecoturismo; Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vi-

    centina; Concelho de Odemira; Ecoresort.

  • iii

    ABSTRACT

    The tourism sector is one of the foremost sources of income in Portugal and, continues

    growing. On the last decade, ecotourism has seen new ways of development, resulting from new

    trends and interests from the new ecotourists, who seek above all an experience of contact with

    nature and with cultural heritage.

    The present thesis pretends to introduce natural building as an innovation, on the accom-

    modation segment on the protected area of Southwest Alentejo and Vicentine Coast Natural Park,

    as is being a proposal at ecotourism level. This is a protected area which, precisely for its immense

    value and conservation interest, is part of the European Network of Biogenetic Reserves.

    The natural resource consumption, resulting from touristic activity, is not sustainable. Nat-

    ural building allows introducing an alternative to the present building ways, on the segment of

    accommodation. In the Odemira Municipality, as in all the remainder of Alentejo, there is an earth

    building tradition, based on the availability of raw material and the soils granulometric composi-

    tion, which have been explored since the times of the Muslim Caliphs in the Iberian Peninsula.

    To create an ecoresort on PNSACV, weve got to be capable of learning from the past and

    reintroduce the use of certain vernacular techniques (which today we call natural building, as they

    solely use local raw materials, obtained from nature with low processed) as we benefit from the

    existing technology. The adoption of alternative natural building techniques opens a way to a mar-

    ket niche based on conservation and protection of the natural environment in order to visit pro-

    tected areas.

    Keywords: Natural building; Ecotourism; Southwest Alentejo and Vicentine Coast Natural Park;

    Odemira Municipality; Ecoresort.

  • iv

    NDICE

    1. INTRODUO 1

    1.1 Conceito de Bioconstruo 1

    1.2 Origens histricas da Bioconstruo, no mundo 1

    1.3 Origens histricas da Bioconstruo, em Portugal 3

    1.4 Desenvolvimento do conceito de bioconstruo como forma de arquitetura moderna 4

    1.5 Enquadramento do tema no Ecoturismo e Turismo de Natureza em Portugal 5

    1.6 mbito e Objetivos do trabalho 7

    1.6.1 Necessidade de infraestruturas de alojamento 7

    1.6.2 Enquadramento do tema na Ecologia e Gesto Ambiental 8

    1.6.3 Objetivos 9

    1.7 Justificao da escolha do tema, regio e rea 10

    2. REA DE ESTUDO 11

    2.1. Caracterizao do PNSACV 11

    2.2. Instrumentos de gesto territorial aplicveis 12

    2.2.1. Plano de Ordenamento do Parque Natural Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina

    12

    2.2.2. Plano de Ordenamento da Orla Costeira Sines-Burgau 12

    2.2.3. Rede Natura 2000 13

    2.2.4. Plano Especial de Ordenamento do Territrio - Plano de Bacia Hidrogrfica do Mira

    15

    2.3. Caracterizao do Concelho de Odemira 15

    3. METODOLOGIA 17

    3.1. Pesquisa bibliogrfica 17

    4. RESULTADOS 19

    4.1. Definio de ecoresort 19

    4.1.1. Requisitos para reconhecimento de empreendimentos de turismo de natureza 20

    4.1.2. Normas para a instalao de um ecoresort 23

    4.1.2.1. Segurana contra incndios 23

  • v

    4.1.2.2. Higiene 23

    4.1.2.3. Rudo 23

    4.1.2.4. Eficincia energtica 24

    4.1.2.5. Segurana contra sismos 26

    4.1.2.6. Resduos Slidos Urbanos 26

    4.1.2.7. Saneamento e Escoamento de guas 26

    4.1.2.8. Abastecimento de gua 27

    4.2. Tcnicas e materiais propostos para a bioconstruo de um ecoresort 27

    5. DISCUSSO 31

    5.1. Descrio do projeto 31

    5.2. Caracterizao e tipologia de um ecoresort 32

    5.2.1. O caso do ZMAR como ecoresort no PNSACV 33

    5.3. Casos existentes a latitudes semelhantes 35

    5.4. Adequabilidade da bioconstruo 37

    5.5. Porqu obter certificao ambiental? 38

    5.5.1. Tipos de certificao ambiental num empreendimento turstico 39

    5.5.2. Certificao de Sistemas de Gesto Ambiental 43

    6. VALORIZAO 45

    6.1. Diversificao da oferta existente 45

    6.2. Efeito contgio 45

    6.3. Conservao da natureza 45

    6.4. Estmulo economia local 46

    6.5. Atrao de novos residentes 46

    6.6. Objetivo estratgico Produo de um manual de bioconstruo 46

    7. CONCLUSO 47

    8. BIBLIOGRAFIA 49

    ANEXO I 55

    ANEXO II 60

  • vi

    LISTA DE SIGLAS E ACRNIMOS

    CSIRO Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation

    DL Decreto-Lei

    ETA Estao de Tratamento de guas

    ETAR Estao de Tratamento de guas Residuais

    ICBO International Conference of Building Officials

    ICNB Instituto da Conservao da Natureza e da Biodiversidade (atual ICNF)

    ICNF Instituto da Conservao da Natureza e das Florestas (ex-ICNB)

    IUCN Unio Internacional para a Conservao da Natureza

    NUTS Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins Estatsticos

    PBH Plano de Bacia Hidrogrfica

    PDM Plano Diretor Municipal

    PENT Plano Estratgico Nacional do Turismo

    PEOT Plano Especial de Ordenamento do Territrio

    PNPOT Programa Nacional de Poltica de Ordenamento do Territrio

    PNSACV Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina

    PNTN Programa Nacional de Turismo de Natureza

    POGPNSACV Plano de Ordenamento e Gesto do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa

    Vicentina

    POOC Plano de Ordenamento da Orla Costeira

    POPNSACV Plano de Ordenamento do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicenti-

    na

    RAN Reserva Agrcola Nacional

  • vii

    REN Reserva Ecolgica Nacional

    RNAP Rede Nacional de reas Protegidas

    SIC Stio de Importncia Comunitria

    TN Turismo de Natureza

    ZEC Zona Especial de Conservao

    ZPE Zona de Proteo Especial

  • viii

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    1

    1. INTRODUO

    1.1 Conceito de Bioconstruo

    Bioconstruo, tambm chamada de construo natural ou bioarquitetura, refere-se a uma

    vasta gama de sistemas, processos de construo e materiais que colocam grande enfse nas

    questes da sustentabilidade, responsabilidade ambiental e utilizao racional e eficaz dos recur-

    sos.

    As formas de atingir essa sustentabilidade no se resumem apenas construo, passam

    tambm pela utilizao de materiais naturais e duradouros, que sejam pouco ou nada processa-

    dos. So portanto utilizados materiais locais, que existam em abundncia ou que sejam renov-

    veis, bem como aqueles materiais que podem ser reciclados ou resgatados, para minimizar o uso

    de matrias-primas e produzir um bom ambiente para viver.

    A bioconstruo depende acima de tudo do trabalho humano, ao invs do trabalho de m-

    quinas e tecnologia [1]. Esta depende da ecologia, geologia e clima, ou seja, das caractersticas do

    local da construo em si e das necessidades dos construtores e utilizadores [1].

    A utilizao de materiais simples essencial pois s assim se pode libertar o ambiente na-

    tural do fardo e impactos da construo convencional.

    1.2 Origens histricas da Bioconstruo, no mundo

    Este tipo de construo teve o seu incio quando se deu a Revoluo Neoltica, cerca de

    10.000 a.C. Com a aquisio de tcnicas de agricultura e pastoreio, deixou de haver necessidade

    de o homem continuar a ser nmada e este sedentarizou-se [2]. Essa sedentarizao f-lo come-

    ar a criar moradias fixas que eventualmente evoluram para as primeiras vilas [2]. Nestas moradi-

    as fixas, os primeiros construtores utilizaram principalmente materiais locais como terra, madeira

    ou pedras e, foram aos poucos desenvolvendo mtodos e tcnicas que duram at aos dias de hoje

    [2].

    Os vestgios destas antigas construes naturais podem ser encontrados um pouco por to-

    dos os continentes excepto na Antrtida, numa variedade de ambientes que incluem desde regi-

    es com clima temperado a hmido, semirido a deserto, montanhoso a tropical [3]. A disponibi-

    lidade de materiais e o design apropriado s condies climticas parecem ser os fatores que favo-

    receram a sua utilizao.

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    2

    Alguns dos mais antigos exemplos descobertos de construo natural remontam precisa-

    mente ao Neoltico. Nos locais arqueolgicos de Yangshao e Longshan (figuras 1 e 2, ver Anexo I),

    na China, foram encontradas evidncias do uso de taipa que datam cerca de 5000 a.C. [4]. Estima-

    se que cerca do ano 2000 a.C. as tcnicas de taipa eram amplamente utilizadas na China para er-

    guer muros e solidificar as fundaes das casas [4].

    No Norte de frica e Mdio Oriente tambm se fazem construes tradicionais em adobe.

    As mais antigas deste gnero remontam a cerca de 2000 a.C. e ainda so utilizadas nos dias de

    hoje, na Sria (figura 3, ver Anexo I). Noutro exemplo de construo em adobe, temos o maior

    complexo alguma vez construdo, erguido por volta do sculo V a.C., a cidadela de Bam ou Arg-

    Bam, na provncia de Kerman no Iro, ironicamente sofreu enormes danos que a destruram quase

    por completo, num sismo a 26 de Dezembro de 2003 (figura 4, ver Anexo I).

    Tambm na China temos mais alguns exemplos da durabilidade e resistncia das constru-

    es em taipa. Parte da Grande Muralha da China em Jiayuguan (figura 5, ver Anexo I) e uma torre

    de vigia em Dunhuang (figura 6, ver Anexo I), ambas na provncia de Gansu, datam cerca do sculo

    II a.C. e podem ser observadas ainda de p e com grande parte do seu esplendor intocado.

    As construes em adobe, tambm foram utilizadas por volta do sculo V pelos povos ind-

    genas no continente Americano, tanto os ndios-Americanos como os Meso americanos e os povos

    dos Andes [5]. Estes utilizavam mos cheias de lama juntamente com pedras para erguer muros e

    paredes [5], at chegada dos colonos Espanhis que os ensinaram a produzir tijolos de adobe.

    Os Espanhis j utilizavam os tijolos de adobe desde o sculo VIII, o que tornava o processo de

    produo e construo mais simples e econmico [6]. Na Amrica do Norte temos, entre outros, o

    exemplo dos penhascos de Mesa Verde, no estado do Colorado nos EUA, construdos pelo povo

    Anasazi por volta do sculo XII. Como se pode observar (figura 7, ver Anexo I) estes construam os

    seus pueblos num local elevado para obter proteo e faziam-no com o formato de complexos de

    apartamentos, recorrendo a pedra, adobe e madeira [7].

    Dos povos andinos temos alguns exemplos no Peru, so tambm trs dos maiores comple-

    xos no mundo feitos em adobe. Huacas de Moche (figura 8, ver Anexo I, com Huaca de la Luna

    mais perto e Huaca del Sol ao fundo) construdas pelo povo Moche por volta do sculo V [8]; Chan

    Chan (figura 9, ver Anexo I) construdo pelo povo Chimor por volta do sculo XV, era a capital do

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    3

    seu reino e nela chegaram a viver 30.000 habitantes [8]; Tambo Colorado (figura 10, ver Anexo I)

    construdo pelo povo Inca tambm por volta do sculo XV [8].

    No Noroeste Africano, temos dois outros exemplos ainda utilizados nos dias de hoje, con-

    tudo estes esto em risco, devido ao progresso e difuso de materiais de construo mais mo-

    dernos [9]. Foram ambos desenvolvidos em meados do sculo XVIII e aproveitam os escassos

    recursos disponveis no local [9] (figuras 11 e 12, ver Anexo I).

    1.3 Origens histricas da Bioconstruo, em Portugal

    J em Portugal, os primeiros registos da introduo e utilizao de taipa remontam ao s-

    culo X, durante o domnio Muulmano [10]. Contudo ter sido durante o perodo dos Califados

    Almorvida e Almada, que dominaram o Sul do pas entre os anos de 1086 e 1250, que esta tc-

    nica foi mais difundida e amplamente utilizada na construo de habitaes e fortificaes como

    castelos e torres de vigia [10]. A fraca pluviosidade, ausncia de grandes pedras, os reduzidos cus-

    tos de construo e a existncia abundante de matria-prima com as caractersticas adequadas,

    foram factores decisivos para o desenvolvimento e disseminao da construo em taipa no Alen-

    tejo e Algarve, durante o perodo islmico [11]. A sua utilizao continuou e, j no sculo XVI, v-

    rias igrejas, ermidas, moinhos de vento e hospitais so erguidos com recurso a esta tcnica [11].

    Eventualmente a utilizao destas tcnicas veio a ser posta de parte, talvez a inveno do

    tijolo furado e do cimento, a sua industrializao e o desenvolvimento dos meios de transporte

    tenham provocado a marginalizao da tecnologia construtiva em taipa [11].

    Em alguns locais, o modo de construo manteve-se tradicional, contudo em muitas zonas

    do Baixo Alentejo e Algarve, a tcnica de construo em taipa acabaria mesmo por ser abandona-

    da na segunda metade do sculo passado [11].

    Em Portugal, um dos bons exemplos de construo militar em taipa, o Castelo de Paderne

    (figura 13, ver Anexo I), no Concelho de Albufeira. Na verdade, o castelo foi erguido sobre um pri-

    mitivo castro romano do sc. II a.C. e posteriormente foi parcialmente reconstrudo com taipa

    pelos Almadas, entre os sculos XI e XII, durante a ltima fase da ocupao muulmana da penn-

    sula [12, 13, 14].

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    4

    1.4 Desenvolvimento do conceito de bioconstruo como forma de arquitetura moderna

    J no sculo XX, o conceito de arquitetura orgnica foi desenvolvido por Frank Lloyd

    Wright, quando em 1934 projetou a Casa da Cascata (figura 14, ver Anexo I). Este acreditava que

    uma casa deve nascer para atender s necessidades das pessoas, como um organismo vivo. A sua

    convico era de que os edifcios influenciam profundamente as pessoas que neles residem [15].

    Esta foi praticamente erguida sobre uma pequena queda de gua e serviu-se dos elementos natu-

    rais como pedras, vegetao e gua presentes no local [15]. Talvez tenha sido a primeira constru-

    o moderna combinada com o meio envolvente e, pode ter sido o motor que levou busca de

    novas ideias baseadas em conceitos bastante antigos.

    Foi durante os anos 60 e 70 do sculo XX, que realmente surgiu o conceito de bioconstru-

    o ou construo natural. Tudo se deveu aos ativistas do movimento hippie que adotaram o con-

    ceito de regresso terra [16], criado por Bolton Hall por volta de 1908 [17]. Assim, alguns indiv-

    duos decidiram contestar os modos de construo vigentes e comearam a construir para si pr-

    prios, utilizando maioritariamente materiais locais e tcnicas tradicionais, em conjunto com tcni-

    cas de agricultura orgnica, reciclagem e energias alternativas.

    Durante a dcada de 70, a crise energtica levou a ateno do pblico a voltar-se para as

    questes dos recursos naturais e para a eficincia energtica [18]. Muito foi investigado e escrito

    sobre sistemas de energia alternativa ou uso sustentvel dos recursos, contudo, a opinio pblica

    e os governos, ainda no estavam preparados para tal mudana e isto resultou numa certa apatia

    durante a dcada de 80 [18].

    Contudo, a bioconstruo j estava em curso. Entre outros, o arquiteto Michael Reynolds

    considerou que a arquitetura convencional era intil e tinha falhado no seu propsito, que era

    manter as pessoas ligadas terra e ao ambiente que nos rodeia. Assim, em 1972 foi para Taos, no

    estado do Novo Mxico nos EUA e, construiu a sua primeira casa radicalmente sustentvel (figura

    15, ver Anexo I) feita com recurso a materiais reciclados e resgatados, como pneus, latas de alu-

    mnio ou garrafas de plstico, em conjunto com muita terra e outros materiais [19]. O seu objetivo

    era construir a primeira casa off-grid, que se conseguisse sustentar livre de toda e qualquer rede e,

    que fosse ao mesmo tempo extremamente resistente. E tal como o prprio afirma, no documen-

    trio Garbage Warrior de 2007 (http://www.youtube.com/watch?v=UNYFlcV9R1w acedido a

    02 de Fevereiro de 2014), mal ele sabia o progresso, que estava a fazer. A verdade que o con-

    seguiu de tal maneira que a sua primeira casa ainda est de p e ele prprio habita nela.

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    5

    A criatividade a principal fonte de inovao, que por sua vez, considerada o principal

    motor de crescimento e riqueza, enquanto factor fundamental para melhorias no domnio social e

    instrumento essencial para enfrentar desafios globais, como as alteraes climticas e o desenvol-

    vimento sustentvel [20].

    1.5 Enquadramento do tema no Ecoturismo e Turismo de Natureza em Portugal

    Para o turismo se desenvolver de forma sustentvel nas reas protegidas, ao mesmo tem-

    po que respeita os modos de vida das populaes locais e as condies em que estes vivem, ne-

    cessrio que seja planeada e gerida toda a visitao, as atividades recreativas e a indstria turstica

    [22]. muito importante que hoje, sejam geridos os recursos e os visitantes, de maneira a que

    amanh tambm tenhamos a qualidade e os valores que estes locais representam [22].

    O aumento do interesse no ecoturismo ou no turismo sustentvel, uma resposta a essas

    preocupaes, na qual as reas protegidas esto muito bem posicionadas para tirar partido destas

    tendncias que incorporam os valores partilhados pelos viajantes [22]. at frequente dizer que

    os turistas so atrados por destinos que tenham uma reputao positiva e que adotam ativamen-

    te altos padres ambientais de turismo [22]. Torna-se ento importante que os gestores traba-

    lhem para manter e melhorar o valor e, que procurem altos padres de qualidade nos seus parcei-

    ros, de modo a assegurar que as reas protegidas se mantm apelativas para os visitantes, geran-

    do um ciclo entre a qualidade dos recursos e a qualidade do servio turstico prestado [22].

    Em Portugal, o turismo de natureza tem o seu incio com a criao do Programa Nacional

    de Turismo de Natureza (PNTN), pela Resoluo do Conselho de Ministros n112/98 de 25 de

    Agosto, contudo, tem o seu quadro legal definido pelo Decreto-Lei n 47/99 de 16 de Fevereiro,

    que regula e estabelece medidas para o desenvolvimento sustentvel das reas protegidas. J o

    regime jurdico que rege a instalao, explorao e o funcionamento dos empreendimentos turs-

    ticos definido pelo Decreto-Lei n39/2008 de 7 de Maro, alterado pelos Decretos-Lei

    n228/2009 e n15/2014, respetivamente.

    O turismo de natureza visa promover e afirmar os valores e potencialidades do Sistema Na-

    cional de reas Classificadas e, pressupe a prtica de atividades diversificadas que vo desde o

    usufruto da natureza e da paisagem, prtica de desportos de natureza e outras, como o contacto

    com o ambiente rural e a cultura local [49]. Assim, os produtos tursticos devem promover e valo-

    rizar os recursos naturais, paisagsticos e culturais, no sentido do enriquecimento do produto e da

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    6

    promoo das respetivas atividades [48]. A estratgia utilizada para o turismo de natureza a de

    oferecer esse mesmo patrimnio natural, arquitetnico, paisagstico e cultural [49], tendo em vis-

    ta um produto turstico que permita aos visitantes contemplar e desfrutar em tranquilidade, re-

    pouso e autenticidade, ao mesmo tempo que se promovem atividades de natureza como despor-

    tos ou observao de fauna e flora fruto da variedade de paisagens e da elevada diversidade de

    habitats naturais a curta distncia entre eles [48]. A verdade, que existe uma necessidade de

    desenvolver infraestruturas e contedos, especializar o servio/experincia a oferecer e desenvol-

    ver boas prticas de sustentabilidade em toda a cadeia de valor do produto [48].

    A legislao que enquadra as tipologias de empreendimentos tursticos o Decreto-Lei n

    39/2008, contudo mais adiante ser exposto detalhadamente o seu contexto legal e as suas defi-

    nies. De entre as vrias tipologias, optou-se pelo resort, pois este constitudo por ncleos de

    instalaes funcionalmente interdependentes e situados em espaos com continuidade territorial,

    destinados a prestar servios complementares de apoio a turistas, sujeitos a uma administrao

    comum de servios partilhados e de equipamentos de utilizao comum [25]. Assim, as infraestru-

    turas a desenvolver so os resorts, nos quais oferecido um conjunto variado de atividades e ex-

    perincias, sendo que muitos destes resorts podem, em si mesmos, ser um destino de frias [55].

    Estes so totalmente planeados com cuidado pelo uso do solo, infraestruturas, equipamentos e

    servios e, submetidos a uma gesto integrada com regras de funcionamento bastante rgidas,

    cumpridas por todos os prestadores de servio que neles operam [55]. O tipo de resort, quanto ao

    grau de sofisticao e controlo, dever ser de 4 gerao, ou seja, muito sofisticado e que oferece

    variadssimas oportunidades de lazer e diverso aos seus utilizadores e, com muito controlo na

    disciplina interna dos colaboradores que operam dentro do resort [55].

    neste sentido que a bioconstruo pode ser uma oportunidade e um agente benfico pa-

    ra os resorts, contribuindo para estes se tornarem em ecoresorts, ou seja, conjuntos tursticos de

    natureza que se focam na oferta de atividades e experincias de contacto com o patrimnio natu-

    ral, cultural e gastronmico da regio, bem como de observao de fauna e flora locais ou despor-

    tos de natureza [55]. Permitindo aproveitar, ao mesmo tempo, o crescimento do mercado estima-

    do entre 8% a 12%; as novas necessidades dos utilizadores a satisfazer como a preocupao ambi-

    ental, a variedade de atividades, a sensao de exclusividade ou as novas experincias; o apareci-

    mento de novos segmentos de mercado que ofeream ao turista a possibilidade de desfrutar dos

    seus hobbies e uma grande quantidade de atividades interativas ou que se foquem no pas e no

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    7

    clima muito afvel; e acima de tudo erros de concorrncia como erros de posicionamento do pro-

    duto, erros no modelo de negcio ou nos sistemas de gesto [55].

    Com a bioconstruo de um empreendimento turstico de tipologia ecoresort, pretende-se

    gerar um contributo do turismo para o ambiente e a economia, ao mesmo tempo que promove a

    equidade, o desenvolvimento e a qualidade de vida da comunidade acolhedora [48]. Pretende-se

    que melhore as condies de visitao do local e proporcione uma experincia de qualidade ao

    visitante atravs da qualidade da acomodao, de atraces locais e do impacto econmico no

    mercado local [48]. Tal ir resultar na valorizao dos recursos, melhoria das condies de acolhi-

    mento e suportes de interpretao, manuteno de uma boa rede de informao, incentivo de

    boas prticas ambientais, promoo de itinerrios e propostas de servios estruturados, bem co-

    mo o desenvolvimento de pacotes de turismo de natureza [48]. Pretende-se acima de tudo que

    este se afirme como um veculo de desenvolvimento de longo prazo, gerador de emprego e rique-

    za, contribuindo para a preservao e conservao dos recursos naturais [48].

    1.6 mbito e Objetivos do trabalho

    1.6.1 Necessidade de infraestruturas de alojamento

    Todas as reas protegidas, com exceo das de categoria Ia da IUCN, requerem algum tipo

    de estruturas de visitao e alojamento [22]. Enquanto algumas reas Protegidas raramente so

    visitadas, outras acomodam grande nmero de visitantes, ou seja, as infraestruturas tursticas de-

    vem ser cuidadosamente planeadas, devendo reflectir os valores da rea protegida [22]. Estas

    reas protegidas, alm de naturais, so tambm espaos culturais onde habitam comunidades,

    que devero possuir todos os servios necessrios para satisfazer os visitantes ao mesmo tempo

    que minimizam os impactos negativos no ambiente [22].

    Segundo o Turismo de Portugal, na regio do Alentejo, no ano de 2013 foram registadas

    cerca de 905.000 dormidas, j no ano de 2014 entre os meses de Janeiro e Setembro, foram regis-

    tadas cerca de 1.059.000 [63]. Para o PNSACV, o ICNF publicou no seu site o nmero de visitantes

    que procuraram a Sede e Centros de Interpretao. Em 2012 foram 6.525 visitantes e em 2013

    foram 7.528 visitantes [66]. J o nmero de visitantes que usufruram de visitas guiadas, em 2013,

    foi de 339 visitantes [66].

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    8

    Os servios disponveis aos visitantes, tanto estimulam a visitao e utilizao dum parque

    como tambm direcionam esse uso, ou seja, sempre que possvel as infraestruturas e os servios

    devem ajudar a potenciar os valores e a temtica dos parques [22]. Uma boa conceo faz com

    que os visitantes se sintam mais confortveis e recetivos em relao ao local que esto a visitar e,

    a verdade que os visitantes que se sentem bem cuidados, valorizam mais os locais que visitam e

    esto mais disponveis para participar na sua proteo [22]. Na verdade, um sinal de uma rea

    protegida bem gerida o de que o planeamento das infraestruturas e servios esto focados na

    compreenso das necessidades dos visitantes [22]. O planeamento no necessita de ser dispendi-

    oso, por vezes at o sucesso depende de solues simples e fcil manuteno [22].

    1.6.2 Enquadramento do tema na Ecologia e Gesto Ambiental

    A ideia de um modelo de ecoresort surgiu da necessidade de contribuir para uma alternati-

    va ao alojamento turstico no PNSACV e fazer uma anlise da adequabilidade da bioconstruo e

    da sua aplicabilidade ao ecoturismo em reas protegidas. Um ecoresort que se enquadre no turis-

    mo de natureza e reintegre os turistas com a natureza e com as comunidades locais, ao promover

    e desenvolver ao invs de invadir e degradar, tentando dar resposta aos problemas do turismo

    massificado nesta regio. Surge tambm como resultado da crescente procura por turismo ecol-

    gico, por turistas cada vez mais escolarizados, informados, conscientes e responsveis.

    Foi escolhido o PNSACV pois corresponde ao trecho mais importante de litoral selvagem da

    Europa do sul, fazendo parte da Rede de Reservas Biogenticas do Conselho da Europa desde

    1998.

    Esta proposta para um modelo de ecoresort refere-se a uma infraestrutura de alojamento

    sustentvel a aplicar no parque, como uma forma de promover a visitao, ao atrair os turistas

    ambientalmente conscientes que procuram acima de tudo uma experincia nica de contacto com

    a natureza ao mesmo tempo que se procuram afastar das tpicas urbanizaes e rotas de turismo,

    promovendo tambm a sustentabilidade, a boa utilizao e racionalizao dos recursos, mas tam-

    bm como um modo de promover a conservao ao estar envolvido em projetos e programas.

    Esta proposta refere-se oferta de um produto que o prprio meio ambiente do parque.

    Para o alojamento turstico se desenvolver de forma sustentvel nas reas protegidas, ao

    mesmo tempo que respeita os modos de vida das populaes locais e as condies em que estes

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    9

    vivem, necessrio que o alojamento seja planeado e gerido, bem como toda a visitao, as ativi-

    dades recreativas e a indstria turstica [22]. muito importante que hoje, sejam geridos os recur-

    sos e os visitantes, de maneira a que amanh tambm tenhamos a qualidade e os valores que es-

    tes locais representam [22].

    O aumento do interesse no ecoturismo ou no turismo sustentvel uma resposta a essas

    preocupaes, na qual as reas protegidas esto muito bem posicionadas para tirar partido destas

    tendncias, que incorporam os valores partilhados pelos viajantes [22]. Os turistas so atrados

    por destinos que tenham uma reputao positiva e que adotam ativamente altos padres ambien-

    tais de turismo [22]. Torna-se ento importante que os gestores procurem altos padres nos seus

    parceiros, de modo a assegurar que as reas se mantm apelativas para os visitantes, gerando um

    ciclo entre a qualidade dos recursos e a qualidade do servio turstico prestado [22].

    1.6.3 Objetivos

    Para a elaborao desta investigao foi estabelecido um objetivo principal,

    1. Perceber em que medida a bioconstruo poder contribuir para o Turismo de Natureza no

    PNSACV;

    E foram estabelecidos dois objetivos secundrios,

    2. Fazer uma anlise da adequabilidade da bioconstruo de um ecoresort no PNSACV;

    3. Perceber que medidas inovadoras, do ponto de vista da Gesto Ambiental, podem ser

    aplicadas no segmento de alojamento no PNSACV.

    Assim o objetivo principal deste trabalho perceber em que medida a bioconstruo pode-

    r ser contributiva para o Turismo de Natureza. Tendo como objetivos secundrios, fazer uma an-

    lise da adequabilidade da bioconstruo de um ecoresort, a aplicar no PNSACV e, como poder

    melhorar conceptualmente, o que j existe ao permitir que a bioconstruo (neste caso, a cons-

    truo em terra) introduza medidas inovadoras do ponto de vista da Gesto Ambiental, que sejam

    utilizadas de forma sistemtica em futuros projetos tursticos, como construo responsvel,

    consciente e sustentvel, que promova uma ligao natural entre o utilizador e o meio, permitindo

    assim que se promova mutuamente, a Bioconstruo e o Ecoturismo.

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    10

    1.7 Justificao da escolha do tema, regio e rea

    O tema escolhido (bioconstruo), a regio (concelho de Odemira, no Baixo Alentejo) e a

    rea protegida (PNSACV), foram escolhidos cada um pelas suas razes.

    O tema, escolhido por apresentar uma pequena alternativa para vrios problemas existen-

    tes nos nossos dias, como a escassez de recursos. Estas apresentam-se como construes respon-

    sveis, orgnicas e relativamente fceis de concretizar, o que faz com que sejam muito interessan-

    tes e apetecveis, tendo-se tornado num smbolo de sustentabilidade.

    A regio, escolhida essencialmente porque toda a regio do Baixo Alentejo tem uma gran-

    de tradio de construo em terra com mais de dez sculos. As caractersticas da composio dos

    solos so as ideais para este tipo de construes, contudo a longa tradio foi-se perdendo a partir

    dos anos 50 [21], sendo necessrio e ideal recuperar essa tradio, trazendo-a para o sculo XXI.

    A rea protegida, o PNSACV, escolhida no mbito do mestrado em Ecologia e Gesto Ambi-

    ental. Esta apresenta uma enorme riqueza e biodiversidade, correspondendo ao trecho mais im-

    portante de litoral selvagem da Europa do Sul, uma vez que a baixa densidade de populao resi-

    dente e a reduzida interveno humana permitem uma grande diversidade de espcies e habitats,

    muitos deles exclusivos a nvel mundial [23]. Ainda assim, esta sofre de um crescimento exponen-

    cial da presso demogrfica sobre a faixa costeira, fruto da oferta/procura turstica de massas, que

    em ltimo caso, poder levar destruio dos habitats naturais e descaracterizao da paisa-

    gem, pondo em causa a sua integridade e o seu futuro [50].

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    11

    2. REA DE ESTUDO

    2.1 Caracterizao do PNSACV

    O Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) localizado no sudo-

    este da Pennsula Ibrica, em Portugal Continental (NUTS I), abrange parte dos distritos de Set-

    bal, Beja e Faro [23]. Este desenvolve-se desde a ribeira da Junqueira e praia de S. Torpes, a norte

    de Porto Covo, no concelho de Sines, at ao limite do concelho de Vila do Bispo, na praia do Bur-

    gau, passando pelos concelhos de Odemira e Aljezur [23]. No que respeita s regies estatsticas, a

    rea de estudo integra Portugal Continental (NUTS I), regio do Alentejo (NUTS II), sub-regio do

    Alentejo Litoral (NUTS III) e a regio do Algarve (NUTS II), sub-regio do Algarve (NUTS III) [23].

    Tal como se pode observar na tabela 1 (ver Anexo II), da rea do parque, 5,3% so perten-

    centes ao Concelho de Sines, 52% ao Concelho de Odemira, 23,8% ao Concelho de Aljezur e 18,9%

    ao concelho de Vila do Bispo [23].

    O PNSACV composto por duas faixas, uma de rea terrestre e uma de rea martima, o

    que faz deste uma AP de categoria V, de acordo com a IUCN. A extensa zona costeira arenosa tem

    cerca de 60.567 ha de rea terrestre com uma largura varivel, sendo mnima (0,5 km) a norte de

    Porto Covo e mxima (18km) no concelho de Odemira [23]. A faixa de rea martima tem cerca de

    28.858 ha com uma largura constante (2 km) que acompanha toda a extenso do parque (110

    km), de norte a sul [23].

    uma rea que possui grande diversidade paisagstica e ecolgica, apresentando uma linha

    de costa caracterizada, genericamente, por arribas elevadas, cortadas por barrancos profundos,

    pequenas praias, ribeiras e linhas de gua temporrias, esturios e sapais que albergam uma

    grande diversidade de habitats [23]. de realar a prtica de uma agricultura variada, de extensas

    charnecas, onde ocorrem localmente reas florestadas, o que permite e contribui para a existncia

    de uma extraordinria riqueza faunstica e florstica, que inclui algumas espcies endmicas, raras

    ou mesmo ameaadas de extino [23]. Ao valor natural acresce um patrimnio histrico, arqueo-

    lgico e cultural muito relevante no contexto nacional e comunitrio [23].

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    12

    2.2 Instrumentos de gesto territorial aplicveis

    2.2.1 Plano de Ordenamento do PNSACV

    A rea de estudo PNSACV, apresenta caractersticas biofsicas raras no contexto nacional

    e internacional. Este territrio foi inicialmente classificado como Paisagem Protegida, atravs do

    Decreto-Lei n 241/88, de 7 de Julho e, posteriormente reclassificado como Parque Natural pelo

    Decreto Regulamentar n 26/95, de 21 de Setembro [23].

    O PNSACV faz parte integrante da Rede Nacional de reas Protegidas, geridas pelo Instituto

    de Conservao da Natureza e das Florestas, de acordo com o estipulado no Decreto-Lei n.

    142/2008, de 24 de Julho [23].

    O avano do conhecimento sobre os valores naturais, paisagsticos e culturais, bem como a

    necessidade de aperfeioar as formas de gesto, aliada evoluo do quadro legal de Ordena-

    mento das reas Protegidas, conduziram elaborao do Plano de Ordenamento do Parque Natu-

    ral do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (POPNSACV), aprovado pelo Decreto Regulamentar

    n 33/95, de 11 de Dezembro [23], alterado pelo Decreto Regulamentar n 9/99, de 15 de Junho e,

    pela Resoluo do Concelho de Ministros n. 11-B/2011 de 4 de Fevereiro.

    O Regulamento do POPNSACV define seis reas de proteo (tabela 2, ver Anexo II), para

    as quais esto previstas, para alm do disposto nos artigos 2. e 3., proibies especficas e atos

    condicionados [23].

    2.2.2 Plano de Ordenamento da Orla Costeira Sines-Burgau

    O Plano de Ordenamento da Orla Costeira Sines-Burgau foi aprovado pela Resoluo do

    Conselho de Ministros n. 152/98, 30 de Dezembro [23].

    Este plano incide sobre a faixa litoral e abrange parte dos concelhos de Aljezur, Odemira,

    Sines e Vila do Bispo e, visa ordenar os diferentes usos e atividades especficos da orla costeira,

    classificar e regulamentar o uso balnear, valorizar e qualificar as praias consideradas estratgicas

    por motivos ambientais ou tursticos, orientar o desenvolvimento de atividades especficas da orla

    costeira e, defender e conservar a natureza [53]. A rea de interveno do POOC Sines-Burgau

    divide-se, para efeitos de ocupao e uso, em quatro classes de espaos (tabela 3, ver Anexo II)

    [53]. Na rea de interveno do POOC, so aplicadas as condicionantes resultantes de outros re-

    gimes jurdicos, nomeadamente: Reserva Ecolgica Nacional, Reserva Biogentica de Sagres, Re-

    serva Agrcola Nacional, Domnio Pblico Hdrico, Proteo a imveis classificados, Proteo a fa-

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    13

    ris, Proteo a marcos geodsicos, Proteo a postos da Guarda Fiscal, Proteo Estao Radio-

    naval de Sagres / Radiofaris VOR/DME, Proteo a rodovias e Proteo s reas florestais [53].

    2.2.3 Rede Natura 2000

    Ao nvel comunitrio, o PNSACV foi designado como parte integrante da Rede Natura 2000,

    em virtude da aplicao da Diretiva n. 79/409/CEE, do Conselho, de 2 de Abril, relativa conser-

    vao das aves selvagens (Diretiva Aves) e da Diretiva n. 92/43/CEE, do Conselho, de 21 de Maio,

    relativa preservao dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens (Diretiva Habitats)

    [23].

    A transposio das Diretivas Aves e Habitats para o ordenamento jurdico portugus foi

    efetuada pelo Decreto-Lei n. 140/99, de 24 de Abril, com as alteraes contempladas no Decreto-

    Lei n. 49/2005, de 24 de Fevereiro [23].

    Parte da rea do Parque Natural foi proposta como SIC, no mbito da Lista Nacional de S-

    tios (Costa Vicentina: PTCON0012), atravs da Resoluo do Conselho de Ministros n. 142/97, de

    28 de Agosto (ao abrigo da Diretiva Habitats) [23].

    De acordo com a ficha relativa ao Sitio da Costa Sudoeste, a ocupao agrcola muito di-

    versificada, incluindo sistemas e culturas tradicionais associadas agropecuria, culturas de se-

    queiro, pomares e hortejos tradicionais, com exceo do Aproveitamento Hidroagrcola do Mira

    [23].

    O Stio Costa Sudoeste apresenta uma grande diversidade de habitats costeiros, incluindo

    sapais, falsias, sistemas dunares e sistemas lagunares [23]. So de salientar, pela sua singularida-

    de, as falsias litorais e reas adjacentes, expostas a ventos marinhos carregados de salsugem,

    onde ocorrem comunidades endmicas apenas deste Stio, tais como as de matos baixos, de ca-

    rcter prioritrio [23].

    Destacam-se igualmente os matos sobre areias consolidadas, com diversos habitats priori-

    trios, caso das comunidades de tojais (Ulex sp.), tojais-urzais e tojais-estevais, os matagais de

    zimbro (Juniperus sp.), e os pinhais (Pinus sp.) com origem em arborizaes ou regenerao natu-

    ral, com vegetao de subcoberto sucessionalmente evoluda, no sujeita a mobilizaes ou roa

    recente [23]. Referncia tambm para os matos de areias dunares, litorais ou interiores, domina-

    dos pelo gnero Stauracanthus e outros arbustos espinhosos, onde so observveis inmeros en-

    demismos florsticos portugueses e ibricos [23].

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    14

    Importantes so ainda os charcos temporrios mediterrnicos e as charnecas hmidas

    atlnticas meridionais [23]. Aqui se congrega um notvel patrimnio florstico, de extrema impor-

    tncia cientfica a nvel mundial, constituindo-se como uma das reas europeias de maior biodi-

    versidade florstica, com especial profuso de endemismos nacionais, muitos deles ocorrendo so-

    mente neste Stio [23].

    Os sistemas costeiros apresentam ambientes de substrato mvel e rochoso, muito diversi-

    ficados e estruturados [23]. Neste contexto, importa sublinhar a ocorrncia de recifes e de grutas

    marinhas submersas ou semi-submersas [23].

    Posteriormente, parte da rea do Parque Natural obteve a classificao de ZPE da Costa

    Sudoeste (PTZPE0015), pelo Decreto-Lei n. 384-B/99, de 23 de Setembro (ao abrigo da Diretiva

    Aves) [23].

    A ZPE da Costa Sudoeste reconhecidamente uma das reas com maior importncia para a

    conservao da avifauna, constituindo um importante corredor migratrio para aves planadoras,

    aves marinhas e passeriformes migradores transarianos [23]. A diversidade que alberga (cerca de

    230 espcies de presena regular e cerca de 40 de presena irregular ou acidental, incluindo deze-

    nas de espcies migradoras de passagem), e as particularidades que algumas populaes apresen-

    tam, conferem-lhe um valor inigualvel no contexto da conservao das aves a nvel nacional e

    internacional [23]. Entre as espcies mais emblemticas destacam-se a guia de bonelli (Aquila

    fasciata (Vieillot, 1822)), guia cobreira (Circaetus gallicus (Gmelin, 1788)), Falco peregrino (Falco

    peregrinus (Tunstall, 1771)), Gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax (Linnaeus, 1758))

    e Pombo-das-rochas (Columba livia (Gmelin, 1789)) [23].

    De salientar que constitui o nico local a nvel mundial onde a Cegonha branca (Ciconia ci-

    conia (Linnaeus, 1758)) nidifica em falsias marinhas e o ltimo local de nidificao de guia pes-

    queira (Pandion haliaetus (Linnaeus, 1758)) em Portugal [23].

    Fora do perodo reprodutor, as reas de agricultura extensiva no planalto adjacente costa

    so importantes para algumas espcies de aves esteprias, com realce para o Siso (Tetrax tetrax

    (Linnaeus, 1758)), Alcaravo (Burhinus oedicnemus (Linnaeus, 1758)), Abibe (Vanellus vanellus

    (Linnaeus, 1758)) e Tarambola dourada (Pluvialis apricaria (Linnaeus, 1758)) [23].

    A gesto da Rede Natura 2000 objeto de um plano sectorial, elaborado nos termos do

    Decreto-Lei n. 380/99, de 22 de Setembro [23]. A Resoluo do Conselho de Ministros n. 115-

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    15

    A/2008, de 21 de Julho, aprova o Plano Sectorial da Rede Natura 2000 relativo ao territrio do

    continente [23].

    2.2.4 Plano Especial de Ordenamento do Territrio Plano de Bacia

    Hidrogrfica do Mira

    O Plano de Bacia Hidrogrfica do Mira (PBH do Mira) foi aprovado pelo Decreto Regula-

    mentar n 5/2002, de 8 de Fevereiro, com uma vigncia de oito anos e uma reviso no prazo m-

    ximo de seis anos [23]. Trata-se de um plano sectorial que pretende estabelecer uma estratgia

    racional de gesto e utilizao da bacia hidrogrfica do Mira, em articulao com o ordenamento

    do territrio e a conservao da natureza [23].

    A bacia hidrogrfica do Rio Mira cobre um total de 1.767 km2, dos quais 1.582 km2 corres-

    pondem bacia prpria do rio Mira e os restantes 185 km2 aos cursos de gua da plataforma lito-

    ral, que se estende de Porto Covo linha de separao da bacia da ribeira de Odeceixe [23]. A rea

    do PBH do Mira abrange total ou parcialmente cinco concelhos, pertencentes aos distritos de Beja

    e Setbal, embora os concelhos de Sines e Santiago do Cacm tenham uma expresso territorial e

    demogrfica muito reduzida, no tendo o primeiro sido sequer considerado [23].

    2.3 Caracterizao do Concelho de Odemira

    O concelho de Odemira caracteriza-se pela imensa diversidade paisagstica, estendendo-se

    entre a plancie, a serra e o mar, num total de 1720,25 km2 [24]. Em rea, este o maior concelho

    de todo o pas, apesar de ter apenas pouco mais de 26 mil habitantes [24].

    O seu territrio dividido por 13 freguesias: Relquias, Sabia, So Lus, So Martinho das

    Amoreiras, Vila Nova de Milfontes, Luzianes-Gare, Boavista dos Pinheiros, Longueira/Almograve,

    Colos, Santa Clara-a-Velha, So Salvador e Santa Maria, So Teotnio e Vale Santiago [24].

    O concelho encontra-se organizado segundo trs faixas territoriais/econmicas distintas, a

    faixa litoral, a faixa central e a faixa interior [24].

    Na faixa litoral surgem pequenas praias que recortam as falsias e os portos de pesca tradi-

    cionais que disponibilizam as melhores riquezas gastronmicas da costa portuguesa [24]. Dos seus

    55 km de costa atlntica, 12 km so de praia, das quais merecem destaque: Malho, Milfontes,

    Franquia, Farol, Furnas, Almograve, Zambujeira e Carvalhal, pois proporcionam uma combinao

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    16

    perfeita de repouso e beleza natural [24]. Toda a zona costeira do concelho est integrada no

    PNSACV [24]. O litoral conhece a maior expresso do turismo concelhio nos seus principais aglo-

    merados urbanos de vocao turstica, sobretudo nas localidades de Vila Nova de Milfontes, Al-

    mograve e Zambujeira do Mar (alojamento, empresas de animao e restaurao) [24]. No litoral

    ocorre tambm o grosso da produo pecuria, fundamentalmente a produo de gado bovino

    (Bos taurus (Linnaeus, 1758)) da raa Limousine e de Holstein Frsia e, o fundamental da produo

    agrcola do territrio, designadamente a horticultura, fruticultura e floricultura intensiva [24]. To-

    da esta rea beneficia da infraestrutura de rega do Mira e de um microclima assente em geada

    zero [24].

    A faixa central, recortando o concelho de sul para norte, faz a transio orogrfica entre a

    charneca, dominante na faixa litoral, e a serra, dominante na faixa interior [24]. Neste espao en-

    contramos os principais aglomerados urbanos do Concelho, tais como S. Teotnio, Boavista dos

    Pinheiros, Odemira e S. Lus [24]. Esta faixa central corresponde ao espao dos servios pblicos,

    das principais unidades comerciais e dos principais parques de fixao de empresas [24].

    A faixa interior do concelho, marcada por uma orografia bastante acidentada, palco para

    a maior mancha florestal do pas, quer seja ela autctone como o Sobreiro (Quercus suber (Linna-

    eus, 1753)) e Azinheira (Quercus ilex (Linnaeus, 1753)), quer seja extica como os Eucaliptos (Eu-

    calyptus spp. (Brutelle, 1788) [24].

    Associado a essa mancha florestal, o sector agrcola e pecurio de sequeiro extensivo (bo-

    vinicultura, ovinicultura e caprinocultura) marcam a paisagem fsica e econmica de uma grande

    rea do concelho que estruturada, a sul, pela barragem de Santa Clara-a-Velha e a norte pela

    integrao na tradicional plancie alentejana [24].

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    17

    3. METODOLOGIA

    3.1 Pesquisa Bibliogrfica

    Para realizar este trabalho foi fundamental efetuar pesquisas bibliogrficas, de modo a en-

    contrar referncias sobre o tipo de construo verncula e tradicional do Baixo Alentejo, compre-

    ender o leque de conceitos e tcnicas de bioconstruo existentes e, perceber quais se adequam,

    pelo seu carcter tradicional e pelo seu valor, a ser utilizadas num projeto ecoturstico, no conce-

    lho de Odemira e no corao do PNSACV. Juntamente com a pesquisa bibliogrfica, a pesquisa

    online permitiu investigar o tipo de construo tradicional da regio e o que j existe feito nesta e

    outras reas sobre bioconstruo, para perceber o que tem sido feito e como tem sido feito, ou

    seja, perceber como a bioconstruo pode ser utilizada em reas protegidas e em projetos seme-

    lhantes de ecoturismo.

    Foram tambm consultados os instrumentos de ordenamento e gesto do PNSACV de mo-

    do a compreender como se processa a autoridade no seu domnio, bem como os documentos le-

    gais que regulamentam o Turismo de Natureza em Portugal, de modo a perceber de que forma

    est planeada e estruturada toda a oferta turstica.

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    18

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    19

    4. RESULTADOS

    4.1 Definio de ecoresort

    De acordo com o Decreto-Lei n. 39/2008, de 7 de Maro, alterado pelo Decreto-Lei

    n.15/2014, de 23 de Janeiro, so definidos resort (conjunto turstico) e empreendimento de tu-

    rismo de natureza.

    O artigo 15 define noo de resorts ou conjuntos tursticos, os empreendimentos turs-

    ticos constitudos por ncleos de instalaes funcionalmente interdependentes, situados em espa-

    os com continuidade territorial, ainda que atravessados por estradas municipais e caminhos mu-

    nicipais j existentes, linhas de gua e faixas de terreno afetas a funes de proteo e conserva-

    o de recursos naturais, destinados a proporcionar alojamento e servios complementares de

    apoio a turistas, sujeitos a uma administrao comum de servios partilhados e de equipamentos

    de utilizao comum, que integrem pelo menos dois empreendimentos tursticos de um dos tipos

    previstos no n. 1 do artigo 4., sendo obrigatoriamente um deles um estabelecimento hoteleiro.

    [25].

    Ou seja, um resort tem de integrar obrigatoriamente um estabelecimento hoteleiro e pelo

    menos um dos tipos previstos de empreendimento turstico, so eles, aldeamentos tursticos,

    apartamentos tursticos, empreendimentos de turismo de habitao, empreendimentos de turis-

    mo em espao rural ou parques de campismo e caravanismo.

    O artigo 20 define noo de empreendimentos de turismo de natureza, os empreendi-

    mentos tursticos que se destinem a prestar servio de alojamento a turistas em reas classificadas

    ou noutras reas com valores naturais, dispondo para o seu funcionamento de um adequado con-

    junto de instalaes, estruturas e equipamentos e servios complementares relacionados com a

    animao ambiental, a visitao de reas naturais, o desporto de natureza e a interpretao ambi-

    ental, podem ser reconhecidos como turismo de natureza ou associados a uma marca nacional de

    reas classificadas, pelo Instituto de Conservao da Natureza e das Florestas, I. P., de acordo com

    os critrios definidos por portaria dos membros do Governo responsveis pelas reas da conserva-

    o da natureza e do turismo. [25].

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    20

    Assim, segundo as definies presentes na lei e, aps fazer um cruzamento das duas (arti-

    gos 15 e 20), um ecoresort ou conjunto turstico de natureza, pode ser definido como um em-

    preendimento turstico que integre pelo menos um estabelecimento hoteleiro e outro tipo de em-

    preendimento turstico, que se destinem a prestar servio de alojamento a turistas em reas clas-

    sificadas ou outras com valores naturais, dispondo de um adequado conjunto de instalaes, es-

    truturas, equipamentos e servios complementares relacionados com a animao ambiental, a

    visitao de reas naturais, o desporto de natureza e a interpretao ambiental.

    4.1.1 Requisitos para o reconhecimento de empreendimentos de turismo

    de natureza

    Os critrios para o reconhecimento de empreendimentos de turismo de natureza so defi-

    nidos no n1 do art. 2 da Portaria n 261/2009 [51]. Assim, para um ecoresort ser reconhecido

    como tal, dever cumprir os requisitos obrigatrios definidos por portaria quanto a,

    Disponibilizao de informao aos clientes sobre a fauna, flora e geologia locais;

    Disponibilizao de informao sobre a formao dos colaboradores em matrias

    correlacionadas com a conservao da natureza e da biodiversidade;

    Disponibilizao de informao sobre a adoo de boas prticas ambientais;

    Disponibilizao de informao aos clientes sobre a origem e modos de produo

    dos produtos alimentares utilizados;

    Uso predominante de flora local nos espaos exteriores do empreendimento,

    exceto nas reas de uso agrcola e jardins histricos;

    Disponibilizao de informao sobre servios complementares que garantam a

    possibilidade de usufruto do patrimnio natural da regio por parte dos clientes,

    nomeadamente atravs da animao turstica, visitao das reas naturais,

    desporto de natureza ou interpretao ambiental.

    Devero tambm ser cumpridos critrios obrigatrios (para resorts ou conjuntos tursticos)

    quanto s prticas ambientais, presentes no Anexo I - Portaria n261/09,

    Fonte de abastecimento de gua: Quando o empreendimento turstico no estiver

    ligado rede pblica de gua, o gestor do empreendimento deve assegurar que a

    utilizao da sua fonte de abastecimento tem um impacto ambiental reduzido, sem

    prejuzo da exigncia de origem devidamente controlada de gua destinada ao

    consumo humano;

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    21

    Caudal de gua das torneiras e chuveiros: O caudal da gua das torneiras e

    chuveiros no pode exceder 12 L/min;

    Utilizao das luzes: Se as luzes do quarto no se desligarem automaticamente,

    deve existir informao facilmente acessvel que pea aos hspedes para

    desligarem as luzes antes de sarem do quarto;

    Utilizao do aquecimento e do ar condicionado: Se o aquecimento ou ar

    condicionado no se desligarem automaticamente quando as janelas esto abertas,

    deve existir informao facilmente acessvel que chame a ateno dos hspedes

    para a necessidade de fecharem as janelas quando o aquecimento ou ar

    condicionado esto ligados;

    Muda de toalhas e lenis: Os hspedes devem ser informados de que, de acordo

    com a poltica ambiental do empreendimento, os lenis e as toalhas apenas sero

    mudados a pedido dos hspedes ou, na ausncia deste, de acordo com o mnimo

    legalmente exigido;

    Transporte de resduos: Caso as autoridades locais responsveis pela gesto dos

    resduos no faam a recolha dos resduos no empreendimento turstico ou na sua

    proximidade, este dever garantir o transporte dos seus resduos para um local

    adequado, velando para limitar o mnimo possvel estes transportes.

    Podero tambm ser cumpridos critrios opcionais (para resorts ou conjuntos tursticos)

    quanto s prticas ambientais, presentes no Anexo I - Portaria n261/09,

    Ar condicionado: Os sistemas de ar condicionado devem ter uma eficincia

    energtica de, pelo menos, classe B, em conformidade com a Diretiva n 2002/CE,

    da Comisso, de 22 de Maro, relativa aplicao da Diretiva n 92/75/CEE, do

    Conselho, no que respeita etiquetagem energtica dos aparelhos domsticos de

    ar condicionado (dois), ou uma eficincia energtica correspondente;

    Isolamento das janelas: Todas as janelas devem ter um grau adequadamente

    elevado de isolamento trmico em funo do clima local e proporcionar um nvel de

    isolamento acstico apropriado;

    Eficincia energtica das lmpadas eltricas: Pelo menos 60% de todas as lmpadas

    eltricas no alojamento devem ter uma eficincia energtica classe A, em

    conformidade com a Diretiva n 92/75/CEE, do Conselho, e, no que respeita

    rotulagem energtica das lmpadas eltricas instaladas em locais em que

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    22

    provvel que devam permanecer ligadas durante mais de 5 horas por dia, estas

    devem ter uma eficincia energtica de classe A, em conformidade com a Diretiva

    n 98/11/CE;

    Produtos descartveis: Com exceo dos casos em que seja exigido por lei, nenhum

    dos seguintes produtos descartveis ser utilizado nas unidades de alojamento

    Produtos de toilette de utilizao nica (por exe. champ, sabonete, touca de

    banho, etc.), sem prejuzo da substituio de produtos usados sempre que mude o

    utente; e unidades de restaurante Copos, chvenas, pratos e talheres;

    Jardinagem: As reas verdes devem ser geridas sem a utilizao de pesticidas ou em

    conformidade com os princpios da agricultura biolgica. As flores e os jardins

    devem ser regados, habitualmente, antes do pico do sol ou depois do pr-do-sol, e

    apenas nas regies em que as condies regionais e climticas o justificarem;

    Recipientes para o lixo nas casas de banho: Cada casa de banho deve dispor de um

    recipiente adequado para o lixo, que os hspedes devem ser convidados a utilizar,

    em vez da sanita, para determinados tipos de resduos;

    Perdas de gua: O pessoal do empreendimento deve ser formado para controlar

    diariamente a existncia de perdas de gua visveis e tomar as medidas adequadas

    conforme necessrio. Os hspedes devem ser convidados a comunicar quaisquer

    perdas de gua ao pessoal;

    Utilizao de desinfetantes: Os desinfetantes s devem ser utilizados quando

    necessrio para cumprir requisitos de higiene legais. O pessoal deve receber

    formao para no exceder as doses recomendadas de detergente ou desinfetante,

    indicadas nas embalagens.

    Ao abrigo do n 2 do art. 7 da Portaria n261/09, 12/03, os conjuntos tursticos (resorts)

    de dimenso superior a 3 ha esto dispensados da adoo do conjunto de critrios de boas prti-

    cas ambientais obrigatrias e opcionais, desde que disponham um dos seguintes sistemas de

    gesto ambiental ISO 14001, EMAS ou Rtulo Ecolgico Comunitrio, aplicveis a servios de

    alojamento turstico.

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    23

    4.1.2 Normas para a instalao de um ecoresort

    De acordo com o artigo 5 do DL n. 39/2008, de 7 de Maro, a instalao de empreendi-

    mentos tursticos deve cumprir as normas definidas no regime jurdico e as normas aplicveis s

    construes em geral, designadamente em matria de segurana contra incndios, higiene, rudo,

    eficincia energtica, segurana contra riscos naturais, saneamento e abastecimento de gua [25].

    4.1.2.1 Segurana contra incndios

    Todas as construes com menos de 30 metros de altura devero resistir ao fogo no mni-

    mo 30 minutos [33]. Segundo os padres de construo alemes, DIN 4102 parte 1, toda a terra,

    mesmo a que contm palha, considerada no-combustvel se a sua densidade for igual ou supe-

    rior a 1700 kg/m3 [33].

    Testes realizados pelo CSIRO, demonstraram que uma parede em bloco de terra com

    250mm de espessura resistiu ao fogo durante 4 horas e que uma parede em bloco de terra com

    150mm resistiu durante 3 horas e 41 minutos [34].

    4.1.2.2 Higiene

    A terra no-txica, no-poluente e respira, libertando vapor de gua do interior, o que

    por si s cria uma atmosfera e um edifcio mais saudvel, seguro e extremamente confortvel para

    viver [34]. Na verdade, a reduo da utilizao de materiais e produtos potencialmente danosos

    para o organismo, juntamente com uma boa escolha dos produtos utilizados, permite que haja

    boa ventilao dentro de casa para remover quaisquer poluentes no ar [35]. Utilizar plantas inte-

    riores que tambm permitem melhorar a qualidade do ar interior e, no caso da utilizao de mate-

    riais problemticos, estes devem ser separados por divisrias ou coberturas eficazes, o que far

    com que, no geral, se melhore muito a qualidade do ar interior numa casa, reduzir as alergias, irri-

    taes e doenas [35].

    4.1.2.3 Rudo

    Uma das melhores formas de insular contra o som possuir uma massa monoltica, que as

    construes em terra providenciam muito bem [35]. As construes em terra possuem uma

    enorme capacidade de reverberao e no geram ecos fortes como outros materiais de constru-

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    24

    o convencional, sendo assim possvel manter o rudo abaixo dos valores mximos de 35 a 40 dB

    [35].

    4.1.2.4 Eficincia energtica

    A sua construo deve estar sempre orientada em relao ao sol, para Sul no caso de Por-

    tugal, de modo a permitir o mximo ganho de energia solar, o que ir permitir reduzir a necessi-

    dade de utilizao de iluminao artificial pelo maior aproveitamento da iluminao natural e, ir

    permitir tambm uma maior climatizao interior em pocas frias [36]. Contudo deve-se tambm

    dar enfase ventilao natural atravs do design e da existncia de condutas que vo permitir

    baixar a temperatura interior em pocas quentes [36]. Deve-se tambm promover a utilizao das

    condies do local e do clima, abrigando-a na sua vertente que menos sol capta, Norte no caso de

    Portugal, e que est sujeita a ventos mais fortes [36].

    Estas construes devem tambm ter massa trmica inerte s flutuaes de temperatura

    ao longo do dia [36]. Por exemplo, quando as temperaturas exteriores variam ao longo do dia,

    uma grande massa trmica dentro da rea insulada da construo serve para nivelar a variao da

    temperatura, uma vez que esta ir absorver a energia quando o ambiente em seu redor estiver

    mais quente (deixando o interior mais fresco) e ir libertar energia quando o ambiente em seu

    redor estiver mais frio (deixando o interior mais quente), sem nunca chegar a um equilbrio trmi-

    co [36]. Neste caso, a terra e os materiais argilosos possuem a massa trmica ideal devido sua

    elevada densidade [36].

    necessrio adquirir energia no local atravs de fontes de energia renovvel e no poluen-

    te, por meio de painis solares ou turbinas elicas. Estas fontes vo permitir que funcione um sis-

    tema eltrico para iluminao, aquecimento/arrefecimento, bombeamento de gua, confeo de

    alimentos entre outros.

    Para o caso das cozinhas e confeo de alimentao, existem duas outras alternativas

    energia eltrica. Em primeiro lugar, um espelho parablico de reflexo de energia solar criado por

    Wolfgang Scheffler, em 1986, chamado de Espelho de Scheffler (figura 16), este capta e redirecio-

    na os raios solares para um foco central que ir incidir num ponto onde est instalado um suporte

    para uma panela, um tacho ou afins [37]. Em segundo lugar, um sistema de captao e utilizao

    de biogs (figura 17) libertado pela decomposio de matria orgnica, que depois armazenado

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    25

    e canalizado para o fogo (a matria proveniente de apenas um balde de resduos orgnicos, per-

    mite a possibilidade de cozinhar durante cerca de duas horas), no fim, quando a matria esta to-

    talmente decomposta e, o gs utilizado na totalidade, sobra um lquido escuro e concentrado em

    nutrientes que muito bom para utilizar como adubo [38].

    A introduo de telhados verdes permite que estes ajam como regulador de temperatura,

    permite tambm que funcionem como coletores de gua e permite que nessa rea seja feita al-

    guma produo de vegetais, ervas aromticas ou que seja apenas um jardim com beleza esttica

    [36]. Do mesmo modo, pequenas estufas interiores podem auxiliar na produo de alimentos [19].

    Figura 16 Senhora a cozinhar com recurso a um espelho de Scheffler SK12, frica do Sul (http://solarcooking.org/images/scr/photor.jpg - acedido a 20 de Maro de 2014)

    Figura 17 Depsito/coletor de biogs na aldeia solar de Tamera, Portugal (http://www.tamera.org/project-groups/autonomy-technology/autonomy-technology/biogas/ - acedido a 21 de Maro de 2014)

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    26

    4.1.2.5 Segurana contra sismos

    De acordo com o Mapa de Intensidades Ssmicas Mximas (Plano Regional de Ordenamen-

    to do Territrio do Alentejo, 2007), o concelho de Odemira onde se inserir o ecoresort, encontra-

    se numa zona de sismicidade moderada a elevada, de grau de intensidade VII e VIII, o que significa

    que a velocidade de pico da atividade ssmica dever variar, no mximo, entre 0,1g e 0,27g respe-

    tivamente [23].

    Os testes ssmicos efetuados ao superadobe foram feitos na Califrnia, a entidade respon-

    svel pela realizao dos testes ssmicos foi a ICBO (International Conference of Building Officials)

    e, por ser uma zona ssmica em que a velocidade de pico pode atingir 0,4g, todos os testes foram

    extremamente rigorosos [32]. De incio, foi aplicada uma fora de 390kg/m2 numa estrutura com

    4,5m de altura, tendo a fora sido aumentada at ultrapassar os limites da zona ssmica em ques-

    to [32]. A resistncia da estrutura foi muito boa, esta no sofreu qualquer deflao ou falha es-

    trutural, tendo a tcnica sido aprovada para construo em Fevereiro de 1996 [32].

    4.1.2.6 Resduos Slidos Urbanos

    A reduo da produo de lixo deve ser feita atravs da diminuio do uso de produtos

    embalados ou descartveis e, ao mesmo tempo optar por recipientes de vidro e loia em vez de

    plsticos.

    Todos os materiais devem ser reaproveitados e reciclados, aumentando o seu tempo de vi-

    da e tornando-os em materiais cradle-to-cradle em vez de cradle-to-grave, permitindo dar-lhes

    uma nova vida e reduzir a pegada ecolgica primria e secundria.

    Quanto aos resduos orgnicos, deve ser feita a compostagem de todo o material orgnico,

    de forma a criar um composto frtil que ser utilizado como adubo em hortas e jardins.

    4.1.2.7 Saneamento e Escoamento de guas

    Deve ser feito o tratamento das guas residuais e guas cinzentas de modo a completar o

    ciclo de reutilizao da gua e permitir que seja reutilizada o mximo de vezes possvel, por exem-

    plo, a gua dos lavatrios e dos banhos deve ser filtrada e limpa atravs de um sistema chamado

    de Fito-ETAR ou ETAR de Macrfitas, para ser reutilizada nos mesmos ou nos autoclismos, sendo

    por fim limpa de novo para uso nas regas ou lavagens exteriores. Este ciclo de reutilizao da gua

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    27

    refere-se ao mximo de utilizaes que uma certa quantidade de gua pode ter, em vez de ter

    uma nica utilizao e ser descartada.

    Devem-se utilizar sistemas alternativos de esgotos. No caso das casas de banho devem ser

    utilizadas as casas de banho secas ou de composto orgnico, que vo poupar entre 5 a 10 L de

    gua por descarga e vo produzir um adubo rico em nutrientes que pode ser utilizado nas hortas

    ou jardins.

    Deve-se tambm diminuir o uso de produtos qumicos e sintticos, que muitas vezes vo

    parar a lenis de gua e, causam altos nveis de poluio e degradao ambiental, privilegiando o

    uso de produtos naturais ou pouco processados.

    4.1.2.8 Abastecimento de gua

    Deve existir sempre fornecimento de boa gua canalizada, contudo deve-se privilegiar a

    captao de guas pluviais para consumo, atravs da utilizao de reservatrios ou lagoas artifici-

    ais, bem como a utilizao de gua de poos de coleta e, deve-se tambm reaproveitar as guas

    cinzentas em espaos que no exijam gua de boa qualidade.

    4.2 Tcnicas e materiais propostos para a bioconstruo de um ecoresort

    Os mtodos propostos em que nos vamos focar neste trabalho, talvez sejam os que melhor

    se adaptam e que so mais utilizados neste tipo de construes, so a Taipa, o Cob e o Adobe [39].

    A matria-prima principal a terra, contudo noutras latitudes so utilizados diferentes materiais

    consoante a disponibilidade de matria-prima e o rigor do clima, desde os iglus feitos inteiramente

    de uma espessa parede de gelo para abrigar do frio s palhotas feitas de paus e uma fina camada

    de lama para abrigar do calor.

    Taipa uma tcnica que consiste em compactar a terra, num estado ligeiramente humede-

    cido, que depositada entre taipais e disposta em camadas, com o auxlio de um mao ou um pi-

    lo [40]. por isso um sistema de elevao de paredes construdas fiada, com as juntas desen-

    contradas [40].

    Os moldes tradicionais, os taipais, so geralmente feitos de madeira e servem para conter a

    terra devendo portanto ter elevada rigidez para suportar as tenses elevadas e o impacto da com-

    pactao [40]. Os maos que geralmente so usados tm entre 4 e 9 Kg de massa de modo a eli-

    minar qualquer espao vazio na terra [41]. A terra utilizada para construir em taipa pode ser are-

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    28

    nosa, com alguma gravilha e alguma argila, podendo ser tambm adicionada alguma fibra vegetal

    como a palha ou fibra animal como a l de ovelha para aumentar a resistncia mecnica trao

    [41]. Uma das composies possveis da terra destinada a taipa deve conter cerca de 15-20% de

    argila como componente aglutinador, 20-35% de silte, 40-50% de areia como componente de rigi-

    dez e at 15% de gravilha como componente de resistncia mecnica [41].

    Adobe uma tcnica que consiste em moldar a terra, num estado hmido mas no exces-

    sivamente molhado [41]. Esta pode-se aplicar diretamente mo, por camadas ou pode-se mol-

    dar primeiro em forma de tijolos para depois serem aplicados [41].

    Tradicionalmente o adobe amassado com os ps ou mos, contudo pode ser utilizada

    uma betoneira para simplificar e acelerar o processo [42]. As formas geralmente utilizadas para

    produzir um tijolo de adobe so de madeira, mas podem tambm ser utilizados moldes de metal

    [42]. Aps os blocos sarem da forma so deixados a secar, preferencialmente sombra, at atin-

    girem a dureza pretendida, para depois serem utilizados como um tijolo convencional [42].

    A grande diferena entre a composio do adobe e da taipa, a ausncia de gravilha no

    adobe, de modo a facilitar a moldagem. A terra utilizada para construo em adobe tambm deve-

    r ser arenosa e misturada com alguma argila, podendo tal como a taipa, ser misturada alguma

    fibra de modo a aumentar a sua resistncia mecnica [41].

    Uma das composies possveis da terra destinada a adobe deve conter cerca de 15-18%

    de argila, 10-28% de silte e 55-75% de areia [41]. A esta mistura adicionada gua, de modo a se

    obter uma pasta passvel de ser moldada [41].

    Cob uma tcnica semelhante ao Adobe, que consiste em empilhar a terra, num estado

    hmido mas no excessivamente molhado. Este aplica-se diretamente mo, por camadas, de

    modo a erguer paredes extremamente resistentes. Tradicionalmente o cob tambm amassado

    com os ps ou mos, contudo pode ser utilizada uma betoneira para simplificar e acelerar o pro-

    cesso. A grande diferena entre o cob e o adobe a utilizao obrigatria de palha na composio

    do cob, de modo a lhe conferir maior resistncia mecnica e estabilidade aquando da sua aplica-

    o, uma vez que este totalmente trabalhado mo. A terra utilizada para construo em cob

    tambm dever ser arenosa e misturada com alguma argila. Uma das composies possveis da

    terra destinada a cob deve conter cerca de 18-25% de argila, 70-75% de areia e 5-10% de palha. A

    esta mistura tambm adicionada gua, de modo a se obter uma pasta passvel de ser moldada

    [39].

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    29

    Em 1984, o arquiteto Irano-americano Nader Khalili, desenvolveu um mtodo inovador e

    de baixo impacto a que chamou Superadobe, que reunia todas as vantagens dos trs referidos

    anteriormente, mas em que a estrutura da construo era feita com auxlio de sacos de polipropi-

    leno [43].

    Este mtodo inovador foi criado com um nico objetivo, simplificar a forma de construo

    de abrigos enquanto se focava nas questes do aquecimento global, para possibilitar a constru-

    o mais rpida enquanto os custos eram reduzidos e, criar um mtodo que fosse fcil de utilizar

    principalmente em reas que sofreram grandes desastres naturais ou guerras [43]. O conceito foi

    originalmente apresentado NASA para dar resposta s suas necessidades de construir habitats

    na Lua e Marte [43].

    Este baseou-se na ideia dos sacos de areia que so utilizados nas guerras para fazer abrigos

    e bunkers [32]. A tcnica consiste em encher mangas de sacos de polipropileno com terra, extrada

    no local, dispondo-as horizontalmente em camadas (figuras 18 e 19) [32]. Ao utilizar as mangas,

    pode ser feita uma montagem contnua de forma a aumentar a resistncia da construo [32].

    Os sacos so enchidos com terra local e j na sua posio final so humedecidos e compac-

    tados com um pilo [32]. Idealmente a terra utilizada para construo em superadobe tambm

    dever ser arenosa e misturada com alguma argila, de modo a no permitir que a humidade as-

    cendente do solo se acumule em excesso dentro dos sacos [32]. Uma das composies possveis

    da terra destinada a superadobe deve conter cerca de 30% de argila e 70% de areia [32].

    O superadobe oferece assim maior integridade estrutural que o adobe, maior plasticidade

    que a taipa e maior rapidez de construo que o cob [32]. Ao mesmo tempo que no necessrio

    um tipo especifico de solo para que funcione na perfeio, no necessrio que este seque e cure

    como o adobe, no necessrio erguer uma estrutura temporria para conter a terra como na

    taipa, nem necessrio que a terra assente durante algum tempo antes de se continuar o trabalho

    em altura como no cob [32].

    O seu criador patenteou este mtodo, contudo a sua tecnologia oferecida gratuitamente

    para todos no mundo a poderem utilizar [43]. Adicionalmente obteve aprovao nos rigorosos

    testes de resistncia sismicidade no estado da Califrnia [43].

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    30

    Figura 18 Trabalho de construo de uma casa em superadobe, EUA, fotografia tirada em 2006 (http://www.busyboo.com/2008/10/13/superadobe-earth-home/ - acedida a 07 de Maro de 2014)

    Figura 19 Produto final de construo em superadobe, EUA, fotografia tirada em 2004 (http://sharksandmarmalade.files.wordpress.com/2012/04/212-058-earthbag-3-cmyk.jpg - acedi-da a 07 de Maro de 2014)

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    31

    5. DISCUSSO

    5.1 Descrio do projeto

    Um dos objetivos desta dissertao perceber se se poderia contribuir para o turismo de

    natureza no PNSACV, atravs de um projeto de bioconstruo que se focaria num nicho de merca-

    do pouco explorado, fazendo tambm uma anlise da adequabilidade da bioconstruo e, perce-

    ber como esta e os seus princpios podem ser transformados e aplicados no desenvolvimento de

    futuros ecoresorts no PNSACV, dando-lhes o que lhes falta ao nvel de produo e estrutura, da

    utilizao eficaz e eficiente de recursos, da poluio visual e envolvimento no meio ambiente atra-

    vs do biomimetismo, para criar um modelo sustentvel de alojamento.

    Para se classificar como ecoresort, necessrio ter uma construo completamente res-

    ponsvel, consciente e sustentvel, que promova uma ligao natural entre o utilizador e o meio

    onde se encontra. Assim, um ecoresort s o poder ser quando tiver todas as caractersticas e re-

    quisitos exigidos.

    Um ecoresort deve ser literalmente um resort ecolgico e no apenas um resort que tem

    alguns painis solares, que recicla os desperdcios e que trata a gua. Existem alguns bons exem-

    plos, contudo esse ainda no o padro comum e esses so geralmente considerados como ex-

    tremamente radicais.

    Geralmente pensa-se que para ser considerado um ecoresort, este apenas tem de seguir

    alguns critrios para se considerar como verde [28]. Contudo, existem diferentes tons de verde

    [28].

    Atualmente um ecoresort todo aquele que construdo e mantido com materiais de ori-

    gem sustentvel; que localizado em reas protegidas ou reas excecionalmente naturais; que

    possui um design solar passivo, o que implica a reduo das reas de superfcie dos edifcios e ja-

    nelas orientadas a Sul para maximizar o ganho solar; que produz o mnimo impacto ambiental; que

    d oportunidade aos visitantes de aprender sobre os ecossistemas circundantes; que mantem um

    compromisso de conservao ambiental; que gerido pelas comunidades locais ou em estreita

    ligao com estes, gerando emprego e formas de preservar a cultura local [26].

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    32

    A bioconstruo pode ser aplicada nos ecoresorts pois baseia-se na necessidade de reduzir

    radicalmente o impacto ambiental das construes e outros sistemas de suporte, ao mesmo tem-

    po que se reduzem os consumos e os custos de produo, sem que para isso se tenha de sacrificar

    o conforto, a higiene, a segurana e a esttica. Esta deve promover a gesto e utilizao eficiente

    de energia, gua e outros recursos.

    5.2 Caracterizao e tipologia de um ecoresort

    O turismo sustentvel ou responsvel pretende responder s necessidades dos turistas

    sem comprometer ou prejudicar as regies de acolhimento. Assim, o ecoresort deve funcionar

    como um intermedirio entre as necessidades das comunidades e os desejos dos turistas, sendo

    no ecoresort que o turista vai satisfazer a sua vontade de estar em pleno contacto com a natureza

    e, disfrutar e consumir de forma responsvel.

    Um ecoresort um resort especificamente voltado para a ecologia, com fortes polticas e

    prticas ambientais [26]. Estes diferem dos tradicionais resorts pois esto estruturalmente dese-

    nhados para reduzir o impacto ambiental, tm geralmente certificao ambiental e ajudam a fi-

    nanciar a economia local. Estes reduzem a sua pegada de carbono ao utilizar guas cinzentas e da

    chuva, detergentes no-txicos ou naturais, fontes de energia renovvel (tais como solar ou eli-

    ca) entre outros. Tambm incentivam o consumo de alimentos orgnicos locais, a utilizao efici-

    ente da energia, o uso de utenslios no descartveis ou utilizao de transportes verdes [26].

    uma estncia de frias que possui acomodao, alimentao e entretenimento, em que os seus

    principais focos so a conservao e visitao de reas Protegidas bem como a promoo da sus-

    tentabilidade local [27]. tambm uma instalao que toma todas as medidas necessrias para

    reduzir ao mximo a sua pegada ecolgica, tem o objetivo de ensinar todos os seus princpios aos

    seus hspedes e trabalha para promover as comunidades locais [28]. Assim, a sua sustentabilidade

    deve incidir em trs vertentes: ambiente, sociedade e economia.

    O turismo em si tem um enorme impacto sobre o meio ambiente, desde as emisses de

    carbono provenientes dos transportes ao lixo criado por descarte e alimentao. Nas reas prote-

    gidas esse impacto torna-se mais grave e problemtico, uma vez que a introduo de influncias

    externas num local extremamente frgil pode levar sua rpida degradao [29].

    Os ecoresorts devem estar posicionados no centro de toda a conservao ambiental, uma

    vez que esse o objeto da visitao, e permitem que o ecoturista, ambientalmente consciente,

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    33

    disfrute destes locais extremamente frgeis, atravs de experincias nicas e por meios que exer-

    cem baixo impacto ambiental [29].

    Outro dos benefcios da escolha de um ecoresort o contributo para o envolvimento e de-

    senvolvimento das comunidades locais [29]. Estes devem estar eticamente interligados com as

    comunidades ao integr-las em diversos projetos que os iro beneficiar e, que devero tambm

    incentivar a produo e o consumo local, o uso de mo-de-obra local e o pagamento de salrios

    justos, o que por sua vez ir estimular a economia local [29].

    5.2.1 O caso do ZMAR como ecoresort no PNSACV

    No PNSACV, existe um empreendimento turstico que pode ser considerado ecoresort, o

    ZMAR. Construdo em plena rea Protegida, na Zambujeira do Mar, com recurso a fundos Euro-

    peus, um exemplo de ecoresort que se aproxima do modelo em discusso.

    Para estes, o ecoturismo uma prtica de pessoas esclarecidas, bem informadas e consci-

    entes que procuram desenvolvimento sustentvel; uma prtica menos explorativa e agressiva pa-

    ra a cultura e o meio ambiente locais; uma forma de minimizar o impacto ambiental; uma forma

    de patrocinar a conservao ambiental; promover a igualdade nas comunidades locais, aumento

    do conhecimento cultural, intercultural e ambiental; uma ao financeiramente vivel e aberta a

    todos [30].

    Nas suas polticas ambientais, estes definiram os grandes objetivos de garantir que a esta-

    dia ou visita se faa de forma sustentvel, com um impacto reduzido sobre o ambiente, nunca es-

    quecendo a qualidade dos servios de hotelaria e servios complementares; assegurar a utilizao

    racional dos recursos e energia; obter satisfao, confiana e preferncia dos clientes e visitantes;

    garantir a segurana alimentar; garantir a segurana dos equipamentos de diverso e desporto;

    assegurar o cumprimento dos requisitos legais aplicveis ao servio assegurados pelo empreendi-

    mento; melhorar continuamente o nvel de formao e desempenho dos colaboradores, ao nvel

    da qualidade, ambiente e segurana alimentar; procurar a sua melhoria contnua atravs da defi-

    nio de objetivos e metas e o seu seguimento peridico [30].

    Nas suas prticas ambientais, estes definiram que o empreendimento foi concebido para

    se integrar no cenrio natural e conservar os recursos naturais, empregando sempre que possvel

    materiais renovveis tais como a pedra e a madeira. Assim, considera-se que o ZMAR de cons-

    truo ecolgica, que tem atitudes ecolgicas e que transmite e educa os visitantes com base nos

    seus princpios ambientais [30].

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

    34

    de construo ecolgica pois todas as construes so em madeira, proveniente de flo-

    restas certificadas em que a sustentabilidade garantida por a taxa de crescimento superar a taxa

    de corte de rvores; a madeira apresenta inmeras vantagens entre as quais o conforto trmico,

    isolamento acstico, poupana energtica, baixo teor de humidade, elevada resistncia ao fogo,

    maior capacidade antisssmica, maior durabilidade, fcil manuteno, reduzido custo de conserva-

    o e de reciclagem da matria-prima; os edifcios esto orientados de forma a terem sombra e

    para que o ar circule livremente; os edifcios esto assentes sobre estacas de madeira de modo a

    reduzir a impermeabilizao dos solos; todas as estradas, vias de circulao, estacionamentos e

    parques de caravanas esto construdos sem impermeabilizao dos solos; cada edifcio tem um

    painel solar trmico, lmpadas de baixo consumo, torneiras com temporizador e autoclismos com

    descarga dupla; utilizao de claraboias em locais sem janelas para privilegiar a iluminao natu-

    ral; os postes de iluminao tm painis solares fotovoltaicos que permitem reduo de 28 tone-

    ladas/ano de CO2; a energia solar trmica utilizada no aquecimento da gua para as instalaes

    sanitrias, cozinhas e spa; utilizado plstico reciclado em todo o mobilirio exterior e sinaltica;

    por fim a existncia de uma ETA e uma ETAR, a ETA trata as guas provenientes da Barragem de

    Santa Clara para serem utilizadas no ZMAR e por sua vez a ETAR trata as guas residuais com o

    objetivo de as utilizar para a rega dos espaos pblicos comuns [30].

    de atitudes ecolgicas pois a circulao de automveis limitada dentro do ZMAR ao uti-

    lizarem carrinhos eltricos com painis solares para reduzir emisses de CO2; procuram utilizar o

    mnimo de papel e sempre reciclado; utilizam equipamentos eltricos eficientes; utilizam a pro-

    gramao econmica nas mquinas de lavar; tentam utilizar produtos de limpeza naturais e bio-

    degradveis com o mnimo de componentes qumicos possveis; privilegiam as relaes com for-

    necedores locais de forma a dinamizar a economia local e sempre que possvel comprar produtos

    dentro do pas para reduzir as emisses de CO2 do transporte; tambm feita a recolha e recicla-

    gem de rolhas de cortia, consumveis informticos, material eletrnico, pilhas, papel e carto,

    vidro, plstico e metal [30].

    Transmite e educa os visitantes com base nos seus princpios ambientais uma vez que tem

    em funcionamento um Centro de Interpretao Ambiental onde se pode aprender sobre a fauna e

    flora, o clima e os vestgios ancestrais da regio; possuem um monitor onde passam mensagens e

    factos ambientais para alertar para a urgncia de adotar boas prticas ambientais; realizam

    workshops relacionados com educao ambiental [30].

  • O Ecoturismo como propulsor da bioconstruo

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    5.3 Casos existentes a latitudes semelhantes

    A preocupao com o meio ambiente, com os consumos e os desperdcios, com a gesto

    eficaz e eficiente, te