o direito na pós-modernidade

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  • 7/31/2019 O direito na ps-modernidade

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    O direito na ps-modernidade

    Eduardo Carlos Bianca Bittar*

    Sumrio: 1. O debate ps-moderno; 2. Modernidade: ordem e progresso?; 3. Os reflexos daps-modernidade no campo do direito; Concluses. Referncias.

    * Livre-docente e Doutor. Professor Associado do Departamento de Filosofia e Teoria Geral doDireito da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo, nos cursos de graduao e ps-graduao. Professor e pesquisador do Programa de Mestrado em Direitos Humanos do UniFIEO.

    Presidente da Associao Nacional de Direitos Humanos (ANDHEP) e Pesquisador-snior do Ncleode Estudos da Violncia (NEV-USP).

    Resumo: A reflexo investiga a noo de ps-modernidade e situa os seus reflexos no campo do

    direito, tema este que no somente representa umfoco importante de pesquisa no estado contempor-neo do debate jurdico, como se torna chave reflexivade fundamental destaque para operar com as mudan-as paradigmticas no interior do sistema jurdico.

    Palavras-chave: Modernidade; Ps-modernidade;Crise; Transio paradigmtica.

    Abstract: It intends to be an analysis of thepost-modernity and its consequences to the

    law system right can not be understood withan analysis of the changing society of thist ime , and the inves t iga t ion in tends tounders tand th i s ques t ions th rough thephilosophical way.

    Keywords: Modernity; Post-modernity; crisis;transition.

    1 A ps-modernidade: conceituao e definio

    A expresso ps-modernidade batiza um contexto scio-histrico particular, quese funda na base de reflexes crticas acerca do esgotamento dos paradigmas ins-titudos e construdos pela modernidade ocidental. A expresso polmica e nogera unanimidades, assim como seu uso no somente contestado como tambmse associa a diversas reaes ou a concepes divergentes. A literatura a respeitodo tema prdiga, mas as interpretaes do fenmeno so as mais divergentes.Ademais, outras expresses j foram indicadas para designar estestatus quo, comsuas diversas projees sobre a vida humana, dentre elas supermodernidade

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    (Georges Balandier) e modernidade reflexiva (Ulrich Beck), sem lograr o mesmoxito ou o mesmo emprego expandido na literatura especializada1.

    Apesar de toda a problemtica que envolve a afirmao desta expresso, elaparece ter ganhado maior alento no vocabulrio filosfico e sociolgico (Lyotard,Habermas, Beck, Bauman, Boaventura de Souza Santos) contemporneo, e terentrado definitivamente para a linguagem corrente. O curioso perceber que estaj a primeira caracterstica da ps-modernidade: a incapacidade de gerar consen-sos2.

    Mesmo entre os que aceitam o uso do termo para designar um estado atual decoisas, um processo de modificaes que se projeta sobre as diversas dimenses daexperincia contempornea de mundo (valores, hbitos, aes grupais, necessida-

    des coletivas, concepes, regras sociais, modos de organizao institucional...),no h sequer unanimidade na determinao da data-marco para o incio desteprocesso.

    Muito menos que prender-se a datas e referncias estanques e aceitandomesmo os riscos inerentes ao uso e emprego da expresso ps-modernidade entende-se interessante a identificao deste processo de ruptura como modo de sediferenciar e de se designar com clareza o perodo de transio irrompido no finaldo sculo XX e que possui por trao principal a superao dos paradigmas erigidos

    ao longo da modernidade.A sensao de crise, em amplas magnitudes e alcanando diversos aspectosda vida no sculo XX, estava sensivelmente presente nos anos 1960, momento emque diversos movimentos globais de protesto e revolta, caracteristicamente

    1 Para muitos, acima da prpria literatura na rea, a afirmao da ps-modernidade ter-se-ia dado como marco poltico-referencial da figura de Margaret Thatcher e de seu modelo poltico: MargaretThatcher deve ter compreendido esse estado das coisas de modo intuitivo ao inventar o slogan queafirma que no existe de modo algum algo como a sociedade. Ela o fenmeno propriamente ps-moderno (HABERMAS, A constelao ps-nacional: ensaios polticos, Littera-Mundi, 2001, p.76). Para Bauman: No em toda parte, porm, que essas condies parecem, hoje, estar prevalecen-do: numa poca que Anthony Giddens chama de modernidade tardia, Ulrich Beck de modernidadereflexiva, Georges Balandier de supermodernidade, e que eu tenho preferido (junto com muitosoutros) chamar de ps-moderna: o tempo em que vivemos agora, na nossa parte do mundo (ou,antes, viver nessa poca delimita o que vemos como a nossa parte do mundo) (BAUMAN. O mal-estar da ps-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 30).2 Nisto est o que h de mais prprio na expresso, conforme indica Boaventura de Souza Santos:Como todas as transies so simultaneamente semi-invisveis e semicegas, impossvel nomearcom exactido a situao actual. Talvez seja por isso que a designao inadequada de ps-moderno

    se tornou to popular. Mas, por essa mesma razo, este termo autntico na sua inadequao(SANTOS, A crtica da razo indolente: contra o desperdcio da experincia. So Paulo: Cortez,2001, p. 50).

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    antimodernistas, eclodiam no sentido de identificar novas formas de combater aracionalidade brutalizante da vida sob os paradigmas modernos. Se Habermas apontaos anos 1950 e 1960 como favorveis ao surgimento da ps-modernidade, a culmi-

    nncia de grande significao desta inteira efervescncia cultural, social e polticaocorre em 1968, em todas as partes do mundo, com as marcantes manifestaesestudantis, preparando-se o terreno para o advento de novas identidades3.

    O esfacelamento da modernidade e a percepo desta sensao de passa-gem tornam os olhos filosficos da contemporaneidade crticos de todo o imperialis-mo da racionalidade moderna. Questionar a modernidade significa pensar o que amodernidade ou, ainda, ao que ela serviu e o que trouxe de resultados para a vidasocial desde sua concepo. No lodaal do em que a filosofia do ps-guerra se

    encontrava, a conscincia dos destinos da modernidade ainda era muito parcamen-te entrevista. Alis, a est j a raiz de toda a dificuldade: se o termo modernidade(modernismo) , em si, um termo ambguo, o que dizer do termo ps-modernidade(ps-modernismo), que carrega em sua estrutura semntica dupla carga de ambi-gidades?4

    A ps-modernidade chega para se instalar definitivamente, mas a modernidadeainda no deixou de estar presente entre ns, e isto fato. Suas verdades, seuspreceitos, seus princpios, suas instituies, seus valores (impregnados do iderioburgus, capitalista e liberal)5, ainda permeiam grande parte das prticas institucionais

    3 Embora fracassado, ao menos a partir dos seus prprios termos, o movimento de 1968 tem de serconsiderado, no entanto, o arauto cultural e poltico da subseqente virada para o ps-modernismo.Em algum ponto entre 1968 e 1972, portanto, vemos o ps-modernismo emergir como um movimentomaduro, embora ainda incoerente, a partir da crislida do movimento antimoderno dos anos 60"(HARVEY. A condio ps-moderna. So Paulo: Loyola, 1992, p. 44).4 Quem assinala esta peculiaridade do termo ps-modernismo Harvey: Quanto ao sentido dotermo, talvez s haja concordncia em afirmar que o ps-modernismo representa alguma espcie dereao ao modernismo ou de afastamento dele. Como o sentido de modernismo tambm muitoconfuso, a reao ou afastamento conhecido como ps-modernismo o duplamente (HARVEY. Acondio ps-moderna. So Paulo: Loyola, 1992, p. 19).5 esclarecedora a lio de Boaventura sobre o paralelismo entre capitalismo e modernidade: Amodernidade ocidental e o capitalismo so dois processos histricos diferentes e autnomos. Oparadigma scio-cultural da modernidade surgiu entre o sculo XVI e os finais do sculo XVIII, antesde o capitalismo industrial se ter tornado dominante nos actuais pases centrais. A partir da, os doisprocessos convergiram e entrecruzaram-se, mas, apesar disso, as condies e a dinmica do desenvol-vimento de cada um mantiveram-se separadas e relativamente autnomas. A modernidade no pressu-punha o capitalismo como modo de produo prprio. Na verdade, concebido enquanto modo deproduo, o socialismo marxista tambm, tal como o capitalismo, parte constitutiva da modernidade.Por outro lado, o capitalismo, longe de pressupor as premissas scio-culturais da modernidade para

    se desenvolver, coexistiu e at progrediu em condies consideradas pr-modernas ou mesmoantimodernas (SANTOS. A crtica da razo indolente: contra o desperdcio da experincia. SoPaulo: Cortez, 2001, p. 49).

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    e sociais, de modo que a simples superao imediata da modernidade iluso. Ob-viamente, nenhum processo histrico instaura uma nova ordem, ou uma nova fontede inspirao de valores sociais, do dia para a noite, e o viver transitivo exatamen-

    te um viver intertemporal, ou seja, entre dois tempos, entre dois universos de valores enfim, entre passado erodido e presente multifrio.

    A ps-modernidade, no sendo apenas um movimento intelectual ou, muitomenos, um conjunto de idias crticas quanto modernidade, vem sendo esculpidana realidade a partir da prpria mudana dos valores, dos costumes, dos hbitossociais, das instituies, sendo que algumas conquistas e desestruturaes sociaisatestam o estado em que se vive em meio a uma transio. No entanto, a ps-modernidade foi efetivamente constatada, identificada e descrita, assim como bati-

    zada e nomeada, a partir de uma tomada de conscincia das mudanas que vinhamacontecendo e dos rumos tomados pela cultura, pela filosofia e pela sociologia con-temporneas (A filosofia e o espelho da natureza, de Richard Rorty; A condiops-moderna, de Jean-Franois Lyotard, com datao de 1979)6, dando-se preemi-nente destaque para a repercusso do texto de Lyotard.

    Mas a instaurao de uma nova ordem, que irrompe trazendo novas concep-es e novos modos de ser, no se faz sem quebras abruptas e sem resistncias.Por se tratar de um movimento que est em franco processo de produo, desenro-lando-se sob os olhos dos prprios narradores envolvidos, a linha histrica da ps-modernidade ainda muito tenuemente percebida e muito sutilmente afeita a fortesdescries tericas. Alis, mais mitos e lendas, mais fantasias e iluses esto pre-sentes do que propriamente reais condies empricas que comprovem esta ou aquelaqualidade da ps-modernidade, ou mesmo qual o rumo a ser tomado pelas socieda-des a partir das modificaes introduzidas ao longo destas ltimas dcadas.

    Em poucas palavras, quer-se dizer que se sabe menos sobre a ps-modernidadedo que efetivamente acerca dela se especula. O enevoado difano domina o cen-rio a ponto de tornar-se turva a viso para contemplar o horizonte. H um grande

    af cabalstico, ou at mesmo apocalptico, nas tentativas de anteviso das conse-qncias e dos possveis frutos advindos da introduo de novos padres de condutasocial com a ps-modernidade. Neste contexto poucas certezas so certas, a noser aquela que afirma que o certo no haver certezas7.

    6 Cf. LEMERT. Ps-modernismo no o que voc pensa. So Paulo: Loyola, 2000, p. 126.7 Quem odeia bestas, sapos, aberraes ps-modernas e outras coisas sombrias do tipo pode emalgum momento ter exagerado, mas no est errado em se preocupar como se preocupou. O

    mundo moderno est passando por alguma espcie de mudana. Mesmo os que desejariam ocontrrio admitem isso (LEMERT. Ps-modernismo no o que voc pensa. So Paulo:Loyola, 2000, p. 37).

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    Como se vem afirmando, a ps-modernidade no surge como algo pensado,no fruto de uma corrente filosfica. Muito menos constitui um grupo unitrio ehomogneo de valores ou modificaes facilmente identificveis, mas configura

    como que uma fora subterrnea a irromper na superfcie somente para mostrarseu vigor, aqui e ali, trazendo instabilidade, eroses e erupes, sentidas como aba-los da segurana territorial na qual se encontravam anteriormente instaladas asestruturas valorativas e as vigas conceptuais da modernidade. Certa sensao deinstabilidade, de incerteza, de indeterminismo paira no ar, simultaneamente a fluxose ondas de determinismo, de estabilidade conservadora, de certezas e de verdadesmodernas.

    As revolues que se processam afetam sobretudo a dimenso do cultural8.

    Ora, esta afetao do cultural, por bvio, gera um choque de culturas entre o novoe o velho, que, at que se estabilizem as crenas e se estabelecem consensos dehomogeneidade, gera expectativas, como si ocorrer sempre no plano cultural. assim que se pensa estar diretamente relacionada a temtica enfocada como temacentral destas reflexes, tendo em vista que todo cerne das questes jurdicas estimplantado no cerne das questes culturais. Qualquer afetao dos modos pelosquais a cultura feita traduz-se, quase que imediatamente, em solues ou crises,em modificaes ou alteraes, em inovaes ou em retrocessos, que afetam dire-tamente o mundus iuris.

    Se o Direito pressupe certa estabilizao de valores majoritrios ouconsensuais para que a norma exera seu poder de escolha de contedos normativos,a pergunta, num momento transitivo, acaba sendo: quais os consensos possveisnum mundo em transformao? Ento passam a ser debates correntes: clonar pes-soas ou proibir cientistas de realizar experincias genticas com seres humanos?;autorizar casamentos entre homossexuais ou proibir a constituio destas socieda-des maritais?; diminuir a idade penal e reconhecer a incapacidade da sociedade deatrair novas geraes conscincia social ou deixar relativamente impunes atroci-

    dades cometidas por menores? Diferentemente de como se concebia o Direito comocentro de especulaes na ideologia burguesa e iluminista dos sculos XVIII e XIX,passa-se a conceb-lo, em meio a tantas transformaes scio-culturais, como um

    8 Para checar a revoluo operada pelo ps-modernismo necessrio observar suas intromisses nomundo da cultura. o que afirma Lemert: Mal se precisa dizer que o ps-modernismo tem algo a vercom o que alegadamente acontece com o modernismo. Assim, se o modernismo a cultura da IdadeModerna (ou simplesmente da modernidade), ps-modernismo se relaciona com o colapso do moder-nismo. Logo, se se quer encontrar o ps-modernismo, necessrio antes de tudo olhar a cultura no

    porque a cultura seja a nica coisa importante do mundo, mas porque um aspecto particularmentesensvel da vida social (LEMERT. Ps-modernismo no o que voc pensa. So Paulo: Loyola,2000, p. 43).

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    processo em transformao, permevel s novas demandas e adaptado aos novosatores sociais.

    certo que tantas turbulncias conceituais e valorativas no haveriam deproduzir, como conseqncia, seno a criao de um cenrio marcante de embatesideolgicos acerca das prprias caractersticas centrais da ps-modernidade. Todoprocesso cultural sempre um processo de reavaliao e de revalorao: a histriadas culturas a traduo disto. No entanto, quando a intensificao das modifica-es reclama uma lavagem simultnea, intensa e profunda de todas as dimensespelas quais se espraiam as atividades sociais (pense-se nas transformaes doshbitos de consumo, dos modelos de comportamento, das atitudes sexuais, dos sen-tidos da moda, da vertiginosa acelerao das relaes de comunicao, das trans-

    formaes institucionais, na requalificao das concepes de trabalho etc.), est-se mais do que diante de um simples processo de confronto de geraes com valo-res diferentes est-se diante da mudana de uma poca, de uma transiointertemporal, fator de polmicas, rejeies, ansiedades e clamor social. Por isso oque h de curioso nesta expresso a grande capacidade que possui de gerardissensos e questionamentos. H, assim, duas grandes faces: 1. a dos que en-frentam a ps-modernidade com otimismo; 2. a dos que identificam na ps-modernidade motivos suficientes para a xenofobia e a averso.

    A capacidade para gerar atrao ou alergia, a capacidade para causar des-lumbre ou medo, a capacidade para originar excitao ou insegurana um atributoespecfico do novo. A experincia nova, por no vivida e incalculada, traz o grmenda intranqilidade pela conseqncia. Restam, ento, as perguntas: onde tudo istovai nos levar?; o que isto haver de causar?; o que bom e o que mau no meio detodas estas mudanas?; onde est o porto seguro?; por que as coisas devem mudarse estavam boas no modo como se conduziam? Projetada sobre a idia de ps-modernidade est toda uma carga de ansiedade inerente ao processo de vivncia donovo (de um novo contraditrio, onde valores novos se apresentam como

    contravalores, que sobrevivem em ondas de contestao ao lado de valores velhos),que descortina dimenses tentadoras e saborosas para os que possuem paladar pelodesconhecido, mas que causam, com a mesma intensidade, o desgosto daqueles quetm paladar pelo trivial.

    Portanto, aps ter ouvido tantas concepes e destacado a protoformao doconceito de ps-modernidade, ante tantas tentativas, recidivas, idas-e-vindas emtorno da expresso, assume-se os riscos de t-la prxima como modus designandide um tempo, de um momento, de uma sensao coletiva, que passa a ganhar corponas ltimas dcadas e pode receber o nome de ps-modernidade, com todas asmazelas implicadas na expresso. Se h imprecises e h contestaes, em meio aeste tiroteio que parece interessante assinalar-se o que se entende e o que seassume como ps-modernidade.

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    A ps-modernidade, na acepo que se entende cabvel, o estado reflexivoda sociedade ante suas prprias mazelas, capaz de gerar um revisionismo de seumodus actuandi, especialmente considerada a condio de superao do modelo

    moderno de organizao da vida e da sociedade. Nem s de superao se entendeviver a ps-modernidade, pois o revisionismo crtico implica praticar a escavaodos erros do passado para a preparao de novas condies de vida.

    A ps-modernidade menos um estado de coisas, exatamente porque ela uma condio processante de um amadurecimento social, poltico, econmico e cul-tural, que haver de alargar-se por muitas dcadas at sua consolidao. Ela noencerra a modernidade, pois inaugura sua mescla com os restos da modernidade.Do modo como se pode compreend-la, deixa de ser vista somente como um con-

    junto de condies ambientais para ser vista como certa percepo que parte dasconscincias acerca da ausncia de limites e de segurana, num contexto de trans-formaes, capaz de gerar uma procura (ainda no exaurida) acerca de outrosreferenciais possveis para a estruturao da vida (cognitiva, psicolgica, afetiva,relacional etc.) e do projeto social (justia, economia, burocracia, emprego, produ-o, trabalho etc.)9.

    2 Modernidade: ordem e progresso?

    A ps-modernidade vem sendo construda sobre os escombros da modernidade.Sabendo-se que os medievais acreditavam em Deus, sacralizavam rituais de vidaem nome de Deus e cometiam barbaridades em nome de Deus, os modernos desco-briram um novo Deus, a quem se devota igualmente a mesma dedicao febril ecega: o progresso10. Totemizado, este novo Deus da era das luzes polariza as ener-

    9 A sensao de insegurana e a percepo das diversas formas de esmagamento dos controles doindivduo sobre si mesmo j eram percebidos nas dcadas de 50 e 60 pela Escola de Frankfurt, comose percebe por esta anlise de Horkheimer: Nessa poca de grandes negcios, o empresrio indepen-dente no mais uma figura tpica. O homem comum acha cada vez mais difcil planejar para os seusherdeiros e mesmo para o seu futuro remoto. O indivduo contemporneo pode ter mais oportunida-des do que seus ancestrais, mas suas perspectivas concretas tm prazo cada vez mais curto. O futurono entra rigorosamente em suas transaes. Ele sente apenas que no estar perdido inteiramente seconservar a sua eficincia e a ligao com sua corporao, associao etc. Assim, o sujeito da razoindividual tende a tornar-se um ego, encolhido, cativo do presente evanescente, esquecendo o uso dasfunes intelectuais pelas quais outrora era capaz de transcender a sua real posio na realidade(HORKHEIMER. Eclipse da razo. So Paulo: Centauro, 2003, p. 142).10 A terra prometida uma das tantas imagens teolgicas da f no progresso, que fundam a histriada salvao e, por conseguinte, o conceito mesmo de histria (BORGES. Crtica e teorias da crise.Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994, p. 136).

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    gias sociais focando olhares entusiasmados no amor abstrato ao futuro prometido,ao mesmo tempo em que d alento a processos de desintegrao e provoca profun-das distores na vida social11. As promessas nascidas com a modernidade se con-

    vertem em realizaes materiais inegveis12. Mas a cincia, ao mesmo tempo, con-verteu a natureza em produto, e uma vez tornada produto sob a lupa de investigaodo cientista, tambm se tornou produto na esteira de produo capitalista. AfirmaHorkheimer que la naturaleza es considerada hoy ms que nunca como un meroinstrumento de los hombres. Es el objeto de una explotacin total, que no conoceobjetivo alguno puesto por la razn, y, por lo tanto, ningn lmite. El imperialismolimitado del hombre jams se ve saciado []13.

    O pragmatismo insacivel, que de tudo retira a aura, nascido desse processo,

    que se infla da idia progressista, o mesmo que alimenta os processos de acelera-da destruio do mundo natural e exausto do ambiente fsico sobre o qual se lastreiaa prpria sobrevivncia da humanidade. Em nome do progresso conseguiu-se umregresso to ilimitado que ameaa colocar a humanidade toda sob uma catastrficae irreversvel barbarizao. Mas esta advertncia j havia sido feita por Adorno eHorkheimer, quando afirmam: A maldio do progresso irrefrevel a irrefrevelregresso14. Com isso, o auge da civilizao sua prpria aniquilao, e dessaforma se realiza a dialtica do esclarecimento.

    Mais que isto, o processo de afirmao das sucessivas etapas do capital, doindustrial ao financeiro, do nacional ao global, condicionou a identidade humana aum processo de alienao de sua prpria natureza, onde o instrumento se converteem fim e os meios operam independentemente do ingrediente humano. Com amodernidade abriu-se campo para a possibilidade de instrumentalizao da razo,que agora se converte na inoperncia de uma razo que tolera o convvio com adegradao humana, com a violncia e com a fome.

    No fundo, se trata de perceber que as promessas da modernidade haveriam,paradoxalmente, de conduzir a Auschwitz, que pode ser considerado o trauma do

    11 O progresso, que j foi a manifestao mais extrema do otimismo radical e uma promessa defelicidade universalmente compartilhada e permanente, se afastou totalmente em direo ao plooposto, distpico e fatalista da antecipao: ele agora representa a ameaa de uma mudana inexorvele inescapvel que, em vez de augurar a paz e o sossego, pressagia somente a crise e a tenso e impedeque haja um momento de descanso (BAUMAN. Tempos lquidos. So Paulo: Zahar, 2007, p. 16).12 No podemos negar o progresso tcnico e material; ningum quer hoje voltar candeia de azeite e escravido em que pesem os problemas com o meio ambiente e com a formalizao do direito masso inevitveis a considerao da idia mesma de progresso e a sensao de que nessa rea do conhe-cimento e da argumentao no demos ainda um bom passo adiante (BORGES. Crtica e teorias da

    crise. So Paulo: Zahar, 1994, p. 228).13 HORKHEIMER. Crtica de la razn instrumental. Madrid: Trotta, 2006, p. 127.14 ADORNO; HORKHEIMER. Dialtica do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985, p. 46.

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    sculo XX, quando os ideais daAufklrung15 do sculo XVIII foram transforma-dos em aparato para a realizao de Tnatos16. O pensamento de Freud no deixade ser sensvel a esta profunda contradio, o paradoxo da civilizao moderna

    ocidental17. Este movimento prprio da dialtica da modernidade, que ainda nocessou de operar e que se desdobra com as mais recentes transformaes do capi-talismo toyotista mundializado, continua a produzir seus efeitos. Desta forma quenosso tempo se torna uma sucessiva onda de manifestaes de violncia, atentados,genocdios, guerras e formas de dominao, que tornam a assinatura deste tempomuito mais afim com a dimenso de Tnatos do que com a de Eros18. QuandoTnatos ecoa em nosso tempo, a condio hodierna se v marcada pela indelvelmarca da ressonncia do medo, do temor, da violncia, do trauma psicossocial, de

    cujas ondulaes no se podem libertar os indivduos do hoje19

    . Suas ressonnciastornam inaudveis as vozes que falam a favor de Eros.

    Trata-se, portanto, de desmistificar a idia moderna de progresso. idia deprogresso esto ligados falsos predicados daquilo que o capitalismo por si s no capaz de fazer. A idia de progresso est associada imagem de um andar para a

    15 Seu contedo reduzia-se na verdade a isto: todoAufklrung, at agora, no o era autenticamente eimpedia, ao contrrio, a realizao do verdadeiroAufklrung (WIGGERSHAUS. A Escola de Frank-

    furt: histria, desenvolvimento terico, significao poltica. Rio de Janeiro: Difel, 2002, p. 364).16 Um dos poucos aforismos indubitveis da Psicanlise que o nascimento de qualquer formapsquica traumtico. Qual o trauma fundamental de nosso tempo; digamos, da segunda metade doSculo XX? (HERRMANN, Psicanlise e poltica: no mundo em que vivemos. In: Percurso. Revis-ta de Psicanlise. So Paulo: Instituto Sedes Sapientiae, ano XVIII, n. 6, 1, 2006, p. 19).17 As provas aduzidas por Freud tm duplo aspecto: primeiro, deriva-as analiticamente da teoria dosinstintos; e, segundo, encontra analise terica corroborada pelas grandes doenas e descontentamen-tos da civilizao contempornea: um ciclo ampliado de guerras, perseguies ubquas, anti-semitismo,genocdio, intolerncia e a imposio de iluses, trabalho forado, doena e misria, no meio de umariqueza e conhecimento crescentes (MARCUSE. Eros e civilizao: uma interpretao filosfica dopensamento de Freud. Rio de Janeiro: LTC, 1999, p. 83).18 Contudo, voltando ao poltico, a violncia desmedida dos prprios atentados terroristas, includaa imolao do agente, , em escala, uma reproduo bastante convincente do Grande Atentado quecontinua suspenso sobre nossas cabeas e ativo na psique social, assim como o so as medidasprofilticas e retaliatrias das potncias militares. Digamos que se trata de suicdios coletivizados. Emconjunto, e s em conjunto so compreensveis, metaforizam pequenas guerras finais, uma atrs daoutra (HERRMANN, Psicanlise e poltica: no mundo em que vivemos. In: Percurso. Revista dePsicanlise. So Paulo: Instituto Sedes Sapientiae, ano XVIII, n. 6, 1, 2006, p. 21).19 Clausewitz afirmou, no sem algum cinismo, que a guerra a continuao da poltica por outrosmeios, e seu dito tornou-se lugar comum. A guerra que no houve, no entanto, tirou as coisas de seuslugares comuns. Porque ela est em curso, a poltica de nosso tempo. Seria mais rigoroso, pois,

    concluir que a poltica tem sido continuao da guerra por outros meios, menos fragorosos, s vezesmais cruis (HERRMANN, Psicanlise e poltica: no mundo em que vivemos. In: Percurso. Revistade Psicanlise. So Paulo: Instituto Sedes Sapientiae, ano XVIII, n. 6, 1, 2006, p. 24).

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    frente. Na base dessa filosofia da histria forjou-se boa parte das instituies eidias que marcaram a identidade do discurso moderno. Ser que esta imagemsobrevive intacta? Geralmente se costuma medir tais passos pela quantificao

    de ndices econmicos, mas no geral esses ndices esto dissociados de ndices dedesenvolvimento humano. A falcia contida na crena na idia de progresso, e queparece funcionar como superestrutura social para a legitimao das aes de afir-mao do capital em direo ao futuro, se expressa pelo fato de que andando paraa frente tambm se marcha para trs. Como afirma Benjamim: Para que falarde progresso a um mundo que afunda na rigidez cadavrica?20 O progresso pres-supe dialeticamente crise, de modo que nenhuma crise do capitalismo acidental,mas parte do processo de afirmao do prprio capital. Um mundo tomado por essa

    lgica, cuja expanso se d na base do neoliberalismo internacional, um mundotomado por uma parelha de foras que torna incontornvel e irreversvel a marchaem direo a catstrofes cada vez mais cclicas, profundas e arrasadoras, tanto doponto de vista produtivo quanto do ponto de vista econmico e do ponto de vistanatural.

    A razo instrumental, que converteu a natureza em objeto da volpia do pro-gresso e do incremento do poder (Macht), acessria da planificao capitalista, amesma que orienta e d condies de expanso ao capital global contemporneo, oqual fundando iluses de vida que se esgotam em consumo e posse faz com que

    se respire atualmente uma atmosfera na qual se sente em suspenso o cheiro demorte. Nosso mundo tem odor de morte porque foi convertido em praa de conver-gncia das mltiplas foras do capital mundial. A carnificina implcita provocadapela volpia do ter tolerada por parecer faltarem-lhe autoria e culpados diretos. Equando no h a quem imputar direta e visualmente a culpa, parece que a responsa-bilidade se dilui para o sistema. E, quando se olha para o sistema, ele parece auto-maticamente responder: assim que as coisas funcionam. No h outro modo.Ao menos, essa a lei de Fukuyama.

    Apesar da aparente vitria do capital, a questo problemtica do capitalismono parece se resolver, pois permanece ameaada sua sobrevivncia futura porlimitaes que se daro a partir da escassez de recursos e de uma radical interven-o natural sobre os processos econmico-mundiais hodiernos. O fim da histria,nos muitos sentidos que esta expresso comporta, tem sido evocado com muitaconstncia por diversas correntes tericas contemporneas o que se processa,todavia, no o fim da histria, mas o fim de uma histria. O discurso modernopromoveu s alturas a idia de que haveria a vitria da civilizao, mas o que se vive o comeo do fim de uma barbrie, a explorao do homem pelo homem, o que

    20 BENJAMIN, Parque central. In: Obras escolhidas III. So Paulo: Brasiliense, 1989, p. 171.

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    Certamente, como massa de manobra, este modelo parece ser mais condizente. Noentanto, como sentimento, o conformismo derrotista serve de alento ao processo deacovardamento que, antes mesmo de viver a tentativa de intervir na histria, encon-

    tra nela uma histria j narrada e pr-determinada. O mal que acomete a sociedadecontempornea e seus valores o mal-estar na ps-modernidade26.

    3 Os reflexos da ps-modernidade no campo do direito

    A ps-modernidade, entendida como perodo de reviso das heranas mo-dernas e como momento histrico de transio no qual se ressente o conjunto dosdescalabros da modernidade, produz rupturas e introduz novas definiesaxiolgicas, das quais os primeiros benefcios diretos se podem colher para ossistemas jurdicos contemporneos (a arbitragem, a conciliao, o pluralismo jur-dico, entre outras prticas jurdicas)27, e causaram em parte o abalo ainda noplenamente solucionado de estruturas tradicionais, nos mbitos das polticas pbli-cas, da organizao do Estado e na eficcia do direito como instrumento de con-trole social.

    De qualquer forma, a primeira percepo do advento da ps-modernidade ede sua projeo no mbito jurdico a de crise, em seu sentido original (krsis, gr.

    = ruptura, quebra)28. A noo de crise vem contextualizada, crescentemente, numavivncia maior da prpria crise do capitalismo solidamente constitudo, aliceradoem fortes concepes presenciais do Estado intervencionista, condies materi-ais de expanso dos mercados, amplo espao para a dominao e a hegemoniadas novas ideologias pregadas pela mdia e pelos meios de comunicao, desco-bertas cientficas pluralizando os usos da natureza, polticas internacionaisfortalecedoras da conscincia de mercado e da expanso multinacional, desen-volvimento acelerado dos meios de transporte que encurtaram distncia e reduzi-ram custos, amplo progresso tecnolgico e mecnico etc., que um capitalismo

    26 A respeito, vide: BAUMAN. O mal-estar na ps-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.27 A respeito, vide: WOLKMER. Pluralismo jurdico: fundamentos de uma nova cultura no direito.3. ed. So Paulo: Alfa-mega, 2001, ps. 183-210.28 O conceito de crise tambm possui sua histria: O conceito de crise, desenvolvido na tragdiaclssica, tem tambm uma contrapartida no conceito de crise encontrado na idia de histria enquantosalvao. Esta margem de pensamento entrou nas teorias evolucionistas sociais do sculo XIX atravsda filosofia da histria do sculo XVIII. Pois Marx desenvolveu, pela primeira vez, um conceito

    cientfico-social de crises sistmicas; diante destes antecedentes que falamos hoje de crises sociaisou econmicas (HABERMAS. A crise de legitimao no capitalismo tardio. Rio de Janeiro:Tempo Brasileiro, 1999, p. 12).

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    do perodo fordista29 e keynesiano30 do ps-guerra (1945-1973), hoje em direoa um toyotismo.

    O perodo progressista, de enriquecimento e estabilidade do capitalismo, logodeu sinais de exausto, provocando as primeiras desordens. Os anos dourados dapropaganda, da msica, do sonho americano, da imigrao para o continente ameri-cano, da reconstruo do ps-guerra, da corrida espacial, da conquista da Lua, logose transformaram em anos de chumbo, com conseqncias scio-econmicas asmais nefastas. Isto porque juntamente com a crise econmica adveio a crise doprprio Estado, tais os comprometimentos entre as duas instncias31.

    No se trata de uma mera crise econmica por desestabilidade monetria ouespeculativa, mas sim de algo estrutural para a sociedade, capaz de afetar as eco-

    nomias mais estveis do planeta32, projetando-se da seguinte para Habermas: tendocomo ponto de origem o sistema econmico, uma crise econmica de cartersistmico; tendo como ponto de origem o sistema poltico, uma crise de racionalidadede carter sistmico e uma crise de legitimao (identidade); tendo como ponto deorigem o sistema scio-cultural, uma crise de motivao33.

    Juntamente com estes fatos, os conflitos deixam de ter a proporo e a pers-pectiva de conflitos individuais e passam a conflitos conjunturais, coletivos,associativos, difusos, transindividuais, motivando o colapso das formas tradicionais

    29 A data inicial simblica do fordismo deve por certo ser 1914, quando Henry Ford introduziu seudia de 8 horas e 5 dlares como recompensa para os trabalhadores da linha automtica de montagemde carros que ele estabelecera no ano anterior em Dearbon, Michigan (HARVEY. A condio ps-moderna. So Paulo: Loyola, 1992, p. 121).30 Os princpios da administrao cientfica, de F. W. Taylor um influente tratado que descreviacomo a produtividade do trabalho podia ser radicalmente aumentada atravs da decomposio de cadaprocesso de trabalho em movimentos componentes e da organizao de tarefas de trabalho fragmen-tadas segundo, padres rigorosos de tempo e estudo do movimento , tinham sido publicados, afinal,em 1911" (HARVEY. A condio ps-moderna. So Paulo: Loyola, 1992, p. 121).31 Se as tendncias crise econmica persistem no capitalismo avanado, isto indica que as aesgovernamentais, intervindo no processo de realizao, obedecem no menos que os processos detroca, s leis econmicas operando espontaneamente (HABERMAS. A crise de legitimao nocapitalismo tardio. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1999, p. 63).32 Vivemos hoje numa poca caracterizada tanto pelo lento declnio do imprio americano, quenasceu dos escombros dos imprios britnico, francs e holands, entre outros, como pela sbitaqueda da vasta ordem imperial da Unio Sovitica. Se h, como se diz, uma nova ordem mundial, trata-se na melhor das hipteses da nervosa ordem da fala sobre, e da denncia de, mltiplas vozes que,devido a seu silncio at agora longo, no tinham sido realmente consideradas vozes de outros indiv-duos que de fato existem (LEMERT. Ps-modernismo no o que voc pensa. So Paulo: Loyola,

    2000, p. 148).33 Cf. HABERMAS. A crise de legitimao no capitalismo tardio. Rio de Janeiro: Tempo Brasilei-ro, 1999, p. 62.

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    de se atender a demandas para as quais somente se conheciam mecanismos tpicosdo Estado liberal, estruturado sobre as categorias do individual e do burgus. Enfra-quecido capitalisticamente (1965/1973)34, o Estado perdia um de seus maiores

    arcabouos de manuteno da hegemonia social e de monoplio da violncia: alegislao35. Passa-se a perceber, a partir da dcada de 1970, um crescimento abruptodas taxas de criminalidade, pobreza, diferenas sociais, crises e movimentos detrabalhadores, mobilizaes, greves e guerrilhas civis, formas pelas quais a socieda-de reage ao processo de sua complexizao perante a cultura ps-moderna emascenso. A eroso trazida introduz um processo de transio, ao qual, comBoaventura de Souza Santos, est-se chamando de transio paradigmtica, o queno se faz sem estremecimentos naturais e sem muitas turbulncias, algumas j

    enfrentadas, outras ainda a enfrentar36

    .Percebe-se, neste contexto de crise, que o mundo um projeto inacabado; ahistria seu eixo de movimentao e realizao. Em contnua construo e re-construo de seus valores, a humanidade no pode prescindir de longos processosde maturao axiolgica. A ingenuidade das idias que constituem o cerne das pro-postas da modernidade ter acreditado que se tratava de respostas definitivas paraos problemas humanos e que o modelo da cincia cartesiana era suficiente paraexplicar e devassar a verdade de todas as coisas. O positivismo, por sua vez, exa-cerbou o raciocnio segundo o qual a evoluo humana ter-se-ia dado pela supera-

    o das etapas mtica e metafsica era positiva, era da cincia. A iluso daobjetividade havia alcanado o pensamento ocidental.

    34 De modo mais geral, o perodo de 1965 a 1973 tornou cada vez mais evidente a incapacidade dofordismo e do keynesianismo de conter as contradies inerentes ao capitalismo (HARVEY. Acondio ps-moderna. So Paulo: Loyola, 1992, p. 135).35 Quando se detecta a crise, Habermas prope a seguinte observao: 1. Crise econmica: a) oaparelho do Estado age como rgo executivo inconsciente, maneira natural, da lei do valor; b) oaparelho do Estado age como agente planejador do capital monopolista unificado; 2. Crise deracionalidade: ocorre a destruio da racionalidade administrativa atravs de: c) interesses opostosdos capitalistas individuais; d) produo (necessria para contnua existncia) de estruturas alheias aosistema; 3. Crise de legitimao: e) limites sistemticos; f) efeitos colaterais no-desejados (politizao)das intervenes administrativas na tradio cultural; g) crise de motivao; h) eroso de tradiesimportantes para a existncia contnua do sistema; i) sobrecarga atravs de sistemas universalistas devalores e novas necessidades) (HABERMAS. A crise de legitimao no capitalismo tardio.Riode Janeiro: Tempo Brasileiro, 1999, p. 67).36 Nesta transio, adensam-se os conflitos, multiplicam-se as formas de inconsistncia do sistemaoficial, idealizado para retratar uma sociedade moldada sob cnones e princpios liberais, burgueses,capitalistas, progressistas e cientificistas: Uma transio paradigmtica um longo processo carac-terizado por uma suspenso anormal das determinaes sociais que d origem a novos perigos,

    riscos e inseguranas, mas que tambm aumenta as oportunidades para a inovao, a criatividade e aopo moral (SANTOS. A crtica da razo indolente: contra o desperdcio da experincia. SoPaulo: Cortez, 2001, p. 186).

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    Desta forma se forjaram os principais paradigmas do Estado de Direito e dadogmtica jurdica durante o sculo XIX. Concebeu-se, neste sentido, a experinciade um Estado legalista, que se movimenta a partir de uma imensa mirade de textos

    normativos, atos burocrticos, expedientes dispendiosos, mas que, vivenciando acrise contempornea, incapaz de conter delitos os mais banais ou mesmo darefetividade a normas de importncia social reconhecida. Enquanto as normas e osatos administrativos, as portarias e os expedientes burocrticos se reproduzem,multiplicam e pluralizam, tambm os crimes, atrocidades, contradies sistmicas,atos abusivos e a corrupo aumentam sua participao na desconstituio do es-pao de respeitabilidade do ordenamento jurdico.

    Validade, legalidade, ordem, impositividade, eram considerados valores supre-

    mos de um ordenamento que operava como uma razo cientfica para a disciplinaoda ordem e da desordem sociais. O Estado liberal nasce sob estes dsticos e crista-liza toda uma cultura jurdica que haver de contaminar as mentalidades do sculoXX, mantendo-se estvel at os mais notveis sinais de crise desmascararem aspretenses de validade universal e objetividade, de igualdade formal e de regramentosocial sancionado atribudos ao ordenamento jurdico. O legal e o racional (poder esaber, na leitura foucaultiana) se somam para o combate ao ilegal e ao irracional,que so condenados ao exlio social, estranheza, ao poro, priso37.

    Neste sentido, contemporaneamente, percebe-se que a legalidade deixa deser princpio de efetividade do Estado Democrtico de Direito e passa a ser medidade conteno ideolgica das mazelas formais do sistema jurdico. Trata-se de expe-diente ideolgico porque mantm a estrutura social intacta, ou seja, no intervm defato na realidade histrica e concreta na qual se encontram os agentes sociais,construindo-se apenas no sentido de sustentar a justificativa do sistema. Neste sen-tido que promessas irrealizveis, normas abusivamente programticas, conceitosvagos so texto constitucional sem o respectivo conseqente na realidade social.H, percebe-se, todo um conjunto de necessidades vivendo e convivendo com uma

    demanda reprimida por justia social.Os tradicionais paradigmas que serviram bem ao Estado de Direito do sculo

    XIX no se encaixam mais para formar a pea articulada de que necessita o Estadocontemporneo para a execuo de polticas pblicas efetivas. Assim, perdem sig-nificao: a universalidade da lei, pois os atores sociais possuem caractersticaspeculiares no divisveis pela legislao abstrata; o princpio da objetividade do

    37 E estes nmeros so expressivos mesmo em sociedade industrializadas e ditas de Primeiro Mundo:

    Todo ano, um milho e meio de americanos povoam as prises americanas. Cerca de quatro e meiomilhes de americanos adultos esto sob alguma forma de controle judicial (BAUMAN. O mal-estar da ps-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 59).

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    direito, que o torna formalmente isento de qualquer contaminao de foras polti-cas, quando se sabe que toda a legislao vem formulada na base de negociaespolticas e partidrias; a idia da conteno do arbtrio pela lei, fator em descrdito

    frente ineficcia e inefetividade das atitudes de combate corrupo e s taxaselevadssimas de impunidade; a regra de igualdade perante a lei, como garantia daindistino e do deferimento dos mesmos direitos a sujeitos igualmente capazes eprodutivos no mercado, quando se sabe que as oportunidades so maiores para unse menores para outros; a idia de que a codificao representaria uma obra cient-fico-legislativa, obra-prima do saber jurdico, com disciplina nica e sistemtica dasmatrias por ele versadas, insuscetveis de lacunas e de erronias, possibilitando aexegese harmnica do sistema, quando se sabe que os cdigos possuem o mesmo

    potencial de dissincronia com as mudanas sociais que os demais textos normativos;a tripartio clara das competncias das esferas e das instncias do poder comoforma de manter o equilbrio do Estado, o que na prtica resulta em dissintonia entreas polticas legislativas, as polticas judicirias e as polticas administrativas e gover-namentais, criando Estados simultneos orientados por valores desconexos; a idiada democracia representativa como fomento igualdade de todos e realizao davontade geral rousseauniana, quando se sabe que a populao vive merc dosusos e abusos na publicidade, no discurso e na manipulao polticas; a intocabilidadeda soberania, como forma de garantia da esfera de atuao com exclusividade dos

    poderes legislativos, jurisdicionais e executivos em bases territoriais fixas e determi-nadas na ordem internacional, quando se sabe que a interface da internacionalizaodos mercados e da interdependncia econmica tornam inevitvel o processo deintegrao; a garantia de direitos universais de primeira gerao, como forma deexpressar a proteo pessoa humana, o que na prtica ainda pouco se incorporous realizaes scio-econmicas; a garantia da existncia da jurisdio como ga-rantia de acesso a direitos, quando se sabe que, em verdade, a justia se diferenciapara ricos e pobres, pelos modos como se pratica e pelas deficincias reais deacesso que possui.

    Enquanto se fala em princpio da legalidade, em respeito aos direitos funda-mentais etc., detentos so espancados sob a custdia carcerria do Estado, pessoasso violentadas em nmero crescente nas ruas dos grandes centros urbanos, mu-lheres so estupradas em ruas ausentes de fiscalizao e policiamento, taxas insu-portveis de crianas morrem de fome e, inexplicavelmente, doentes morrem emfilas de hospitais... Em lugar das certezas modernas (verdade, cincia, ordem, re-gra, poder central, norma, cdigo, capital, produo, propriedade, sistema etc.), ou-tro quadro se instaura em seu lugar, com indcios e caractersticas da mudana

    paradigmtica, identificveis a partir de algumas palavras: desmantelamento; desa-gregao; banalizao; abalo; desordem; ilegalidade; contracultura; ineficcia.

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    Eis o quadro da ps-modernidade na caracterizao do scio-jurdico, procu-rando-se acentuar a importncia da revitalizao de valores perdidos durante amodernidade como modo de aquietao de diversas questes candentes no plano da

    justia social. O surreal na caracterizao do quadro est propriamente nodescompasso, ou na contradio, entre a ordem formal (irreal) e a ordem social(real). Eis o que desafia o direito, bem como a cincia do direito, de um modo geral,a repensar seus prprios conceitos, prticas, valores e paradigmas.

    Concluses

    Cumpre dizer que esta investigao em torno dos reflexos da ps-modernidadeno Direito traz como reflexo um mapeamento filosfico, numa linha emprica dequestionamento, das principais perplexidades retiradas da vivncia quotidiana dofenmeno jurdico. Muito menos voltada para a dissecao formal do objeto depesquisa, muito menos dedicada elucidao meramente terica da problemtica, adiscusso trazida ao longo das pginas deste trabalho repousa, invariavelmente,sobre as diversas esferas a social, a cultural, a poltica e a econmica vividascontemporaneamente, com nfase para a realidade brasileira.

    A ps-modernidade identificada conceitualmente, estudada na boca dos te-

    ricos, mas sobretudo vista em sua real condio, ou seja, como fase histrica res-ponsvel por modificaes e alteraes imprevisveis no contexto das relaes hu-manas e, por conseqncia, no contexto das relaes scio-jurdicas. A ps-modernidade trouxe progressos, trouxe importantes aquisies e talvez representeuma importante fase de superao da humanidade de seus cnones e de seus valo-res, sobretudo aqueles de inspirao moderna. O que se quis foi recensear como ofenmeno jurdico vem vivenciando este momento de passagem, do moderno aops-moderno. Ainda mais, procurou-se estudar o conjunto de elementos determinantesque marcam a contradio da tradio jurdica, em grande parte formada ao longoda modernidade (Revoluo Francesa, quebra do absolutismo, ascenso da cincia,declaraes de direitos, formao do Estado, ascenso da burguesia, expanso doliberalismo econmico, controle democrtico do despotismo poltico, consolidaodo positivismo jurdico, desenvolvimento das tecnologias dogmticas, consolidaoda cincia do direito etc.), com as inovaes trazidas pela ps-modernidade vidasocial.

    Ora, a crise, em seus diversos aspectos (econmico, poltico, cultural, moral,burocrtico etc.), tem sido a geradora de um estado de alta combusto social, pois

    as sociopatias se multiplicam sem soluo material ou formal e inclusive revelia doEstado, aquele ente moral criado pela cultura moderna como sendo o responsvel

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    pelo controle dos comportamentos sociais e pela pacificao do convvio social. Osdesvios sentidos e vividos ao longo deste processo so, por sua vez, causa de novosconflitos, que se renovam e multiplicam em novas perspectivas, em grau mais ace-

    lerado e complexo que a prpria velocidade e capacidade do Estado de Direito deadministr-los. Lanando as bases de um debate sobre a qualidade do direito que sequer, em face do direito que se tem, o artigo apresenta a sua utilidade para todatentativa de recomear, no interior da cultura do direito, a partir de novas bases.

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