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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ANA RUSMERG GIMÉNEZ LEDESMA CAROLINE DE CARVALHO RIBEIRO HENRIQUE FAILLACE RANZEIRO DE BRAGANÇA O DIFERENCIAL DA APLICAÇÃO DA METODOLOGIA “THE NATURAL STEP” NA PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NITERÓI 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO TECNOLÓGICO

GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

ANA RUSMERG GIMÉNEZ LEDESMA

CAROLINE DE CARVALHO RIBEIRO

HENRIQUE FAILLACE RANZEIRO DE BRAGANÇA

O DIFERENCIAL DA APLICAÇÃO DA METODOLOGIA “THE

NATURAL STEP” NA PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

NITERÓI

2007

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ANA RUSMERG GIMÉNEZ LEDESMA

CAROLINE DE CARVALHO RIBEIRO

HENRIQUE FAILLACE RANZEIRO DE BRAGANÇA

O DIFERENCIAL DA APLICAÇÃO DA METODOLOGIA “THE

NATURAL STEP” NA PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

Projeto Final apresentado ao Curso de

Graduação em Engenharia de Produção da

Universidade Federal Fluminense, como

requisito parcial para aquisição do Grau de

Engenheiro de Produção.

Orientadora: Profª. D. Sc. MARA TELLES SALLES

Niterói

2007

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ANA RUSMERG GIMÉNEZ LEDESMA

CAROLINE DE CARVALHO RIBEIRO

HENRIQUE FAILLACE RANZEIRO DE BRAGANÇA

O DIFERENCIAL DA APLICAÇÃO DA METODOLOGIA “THE

NATURAL STEP” NA PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

Projeto Final apresentado ao Curso de

Graduação em Engenharia de Produção da

Universidade Federal Fluminense, como

requisito parcial para aquisição do Grau de

Engenheiro de Produção.

Aprovada em julho de 2007.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Profª. D. Sc. MARA TELES SALES - Orientadora

Universidade Federal Fluminense – Departamento de Engenharia de Produção

___________________________________________________________________

Prof. M. Sc. CARLOS HENRIQUES VENTURA DO ROSÁRIO OLIVEIRA

Universidade Federal Fluminense – Departamento de Engenharia de Elétrica

___________________________________________________________________

Prof. D. Sc. GILSON BRITO ALVES LIMA

Universidade Federal Fluminense – Departamento de Engenharia de Produção

___________________________________________________________________

Profª. M. Sc. MARIA HELENA CAMPOS SOARES DE MELLO

Universidade Federal Fluminense – Departamento de Engenharia de Produção

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4

Agradecimentos

Agradecemos primeiramente a Deus e aos excelentes acadêmicos do curso de

Engenharia de Produção da UFF pela multiplicação de conhecimentos e por todas as

experiências transmitidas que nos auxiliaram na realização deste Projeto Final de Graduação.

Em particular, ressaltamos nossa gratidão à Professora Orientadora Mara Salles, por

suas infinitas paciência e didática em nos direcionar ao melhor desempenho em tópico tão

nobre e importante como a sustentabilidade. Agradecemos também todo o apoio do Professor

Osvaldo Quelhas e da Professora Josely Nunes Villela na pesquisa detalhada sobre The

Natural Step.

Nossos agradecimentos também a todos os colegas e pessoas do entorno acadêmico

que fizeram da UFF um lugar propício para nosso crescimento pessoal e profissional. E

finalmente aos nossos pais, familiares e amigos que nos transmitiram apoio e confiança

incondicionais em todas as exigências relacionadas à concretização do Curso de Engenharia

de Produção da UFF.

Sinceramente,

Ana, Caroline e Henrique

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS: ...........................................................................................................................7 LISTA DE TABELAS............................................................................................................................8

RESUMO ...........................................................................................................................................9

ABSTRACT....................................................................................................................................10

CAPÍTULO I..................................................................................................................................11

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................11

1.1. Conteúdo global.............................................................................................................11 1.2. O Problema....................................................................................................................13 1.3. Uma Introdução à Sustentabilidade...............................................................................14

1.3.1. Em busca de um Sistema para Gestão Ambiental ..................................................15 1.3.2. A percepção diferenciada .......................................................................................16

1.4. Objetivos........................................................................................................................17 1.4.1. Objetivo Geral ........................................................................................................17 1.4.2. Objetivos Específicos .............................................................................................17

1.5. Delimitação do tema......................................................................................................17 CAPÍTULO II................................................................................................................................19

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................................19

2.1. Histórico da Cultura Global sobre o Desenvolvimento Sustentável .............................19 2.1.1. Introdução...............................................................................................................19 2.1.2. Anos 50 e 60: As Origens das Preocupações Ambientais ......................................19 2.1.3. Anos 70: A Conferência de Estocolmo e as Declarações da ONU ........................21 2.1.4. Anos 80: O Planejamento Ambiental .....................................................................23 2.1.5. O Conceito de Desenvolvimento Sustentável ........................................................24 2.1.6. Anos 90: Globalização dos Conceitos e Sistematização das Ações Ambientais ...25 2.1.7. Anos 2000: O Desenvolvimento Sustentável Hoje ................................................27

2.2. A Gestão Ambiental ......................................................................................................29 2.3. Agenda 21......................................................................................................................30

2.3.1. Agenda 21 no Brasil ...............................................................................................30 2.3.2. Agendas 21 Locais .................................................................................................31

2.4. ISO 14000......................................................................................................................32 2.5. Responsabilidade Social Empresarial (RSE).................................................................34 2.6. The Natural Step............................................................................................................35

2.6.1. Introdução à Plataforma TNS.................................................................................36 2.6.2. Do paradigma do cilindro à realidade do funil .......................................................38 2.6.3. Estrutura de referência do TNS ..............................................................................40 2.6.4. O Planejamento em Sistemas Complexos ..............................................................41 2.6.5. Os Cinco Níveis Hierárquicos para o Planejamento de Sistemas Complexos .......41 2.6.6. Modelo de cinco níveis para o desenvolvimento sustentável.................................43 2.6.7. Aplicando a Plataforma TNS − Análise ABCD .....................................................49

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6

CAPÍTULO III..............................................................................................................................52

3. METODOLOGIA ............................................................................................................................52

3.1. Introdução......................................................................................................................52 3.2. Métodos de abordagem..................................................................................................52 3.3. Métodos de procedimentos............................................................................................53 3.4. O método empregado.....................................................................................................53 3.5. Questões ........................................................................................................................54

CAPÍTULO IV..............................................................................................................................55

4. RESULTADOS DAS ANÁLISES...................................................................................................55

4.1. Visão crítica...................................................................................................................55 4.2. Propostas factíveis .........................................................................................................55

4.2.1. The Natural Step e Sistemas de Gestão Ambiental ................................................55 4.2.2. Sistemas de Gestão da Sustentabilidade.................................................................56 4.2.3. O Diferencial da estrutura sistêmica da Plataforma TNS como base para a reformulação de práticas com vista à sustentabilidade...................................................59 4.2.4. Programas Educacionais e o TNS: “A Personificação da Sustentabilidade” .........60

4.3. Casos de sucesso............................................................................................................63 4.3.1. McDonald’s Corporation − Suécia .........................................................................63 4.3.2. Nike, Inc. ................................................................................................................63 4.3.3. Nissan Motor Company Ltda. ................................................................................64

4.4. The Natural Step à luz da Engenharia de Produção ......................................................65 CAPÍTULO V................................................................................................................................67

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................................................67

5.1. Conclusões.....................................................................................................................67 5.2. Sugestões para trabalhos futuros ...................................................................................68

BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................................69

ANEXOS...........................................................................................................................................72

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LISTA DE FIGURAS:

Figura 1: Linha do tempo da Sustentabilidade.........................................................................20 Figura 2: As oito metas do milênio ..........................................................................................28 Figura 3: Logotipo da organização The Natural Step (TNS) ...................................................36 Figura 4: Ciclos Naturais..........................................................................................................37 Figura 5: Ciclos Naturais – como nós influenciamos...............................................................37 Figura 6: O Paradigma do Cilindro ..........................................................................................38 Figura 7: O Paradigma do Funil ...............................................................................................39 Figura 8: O Resgate da Sociedade Sustentável ........................................................................40 Figura 9: Os cinco níveis hierárquicos .....................................................................................43 Figura 10: O Paradigma do Funil na Análise ABCD ...............................................................50 Figura 11: ISO 14001 – Estrutura de um Sistema de Gestão Ambiental .................................56 Figura 12: Melhorias obtidas com a integração do TNS a um SGA ........................................57 Figura 13: Imagens do curso virtual da Nissan sobre meio ambiente ......................................64 Figura 14: The Natural Step & PDCA .....................................................................................66

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Diferenças entre os paradigmas do cilindro e do funil .............................................39 Tabela 2: As quatro condições sistêmicas ................................................................................47 Tabela 3: A dimensão social.....................................................................................................47 Tabela 4: Mapeando sistemas em sua organização ..................................................................51

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RESUMO

A sustentabilidade revela-se como essencial componente estratégico de diversas

organizações. Empresas, governos e universidades são exemplos de instituições que

vivenciam um processo gradual de promoção do desenvolvimento sustentável. Este trabalho

descreve o progresso de conscientização da sociedade em relação ao uso racional dos recursos

naturais e a preservação do meio ambiente, de forma estruturada nos três pilares − econômico,

social e ambiental − que movem o cenário mundial, referindo-se à evolução histórica do

conceito de desenvolvimento sustentável. Apresenta-se a metodologia The Natural Step

(TNS) como uma estrutura bem- sucedida em proporcionar às organizações uma plataforma

diferencial, que viabiliza a disposição das considerações ambientais de modo sistemático e as

integra à estratégia, visando sua prosperidade no longo prazo. Aplica-se, ainda, a Plataforma

TNS no meio corporativo, integrada aos Sistemas de Gestão Ambiental, e no ambiente

acadêmico, promovendo-se a identificação de elos entre o comportamento humano e o bem-

estar da sociedade e do planeta. Finalmente, este estudo contempla casos de sucesso de The

Natural Step em grandes corporações, buscando ser uma contribuição para a difusão desta

metodologia no Brasil.

Palavras-chave: The Natural Step, sustentabilidade, planejamento estratégico

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ABSTRACT

Sustainability reveals itself as an essential strategic component of several

organizations. Companies, governments and universities are examples of institutions that are

going through a gradual process of promotion of the sustainable development. This work

describes the progress of raising awareness within society about the rational use of natural

resources and environment conservancy, structured in three pillars - economic, social and

environmental - and refers to the evolution of sustainable development concept. The Natural

Step (TNS) methodology is presented as a successful framework for providing organizations

with a innovative platform that links environmental aspects to strategy focusing on building

long term value. TNS framework is applied in business - integrated with Environmental

Management Systems - and in academic fields - providing an understanding of the link

between human behavior and sustainability. At last, this work presents successful case studies

of how major corporations have implemented The Natural Step and it was developed to be a

contribution to the diffusion of this methodology in Brazil.

Keywords: The Natural Step, sustainability, strategic planning

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CAPÍTULO I

1. INTRODUÇÃO

1.1. Conteúdo global

Ao analisar o meio ambiente como um terreno contestado material e simbolicamente,

Acselrad elabora a noção de conflitos ambientais como "aqueles envolvendo grupos sociais

com modos diferenciados de apropriação, uso e significação do território, tendo origem

quando pelo menos um dos grupos tem a continuidade das formas sociais de apropriação do

meio que desenvolvem ameaçada por impactos indesejáveis – transmitidos pelo solo, água, ar

ou sistemas vivos – decorrentes do exercício das práticas de outros grupos" (ACSELRAD,

2004).

Os problemas relativos à poluição e à escassez de recursos para a produção industrial

não passaram despercebidos pelos paladinos do desenvolvimentismo, sendo paulatinamente

incorporados como "variáveis ambientais" legítimas no debate sobre a sociedade industrial.

Nesse sentido, uma certa despolitização do debate ecológico foi ocorrendo na mesma medida

em que as forças hegemônicas da sociedade reconheciam e institucionalizavam aqueles temas

ambientais que não colocavam em cheque o modelo de sociedade vigente.

Foi assim que a década de 90 consagrou o termo Desenvolvimento Sustentável (DS)

como um campo de reconhecimento da chamada "crise ambiental" em escala planetária. Crise

entendida enquanto realidade objetivamente dada - e proposição para conciliação e consenso

entre os conflitos de fundo colocados pela crítica ambiental à sociedade industrial. Neste

processo, a natureza é entendida meramente como uma variável a ser manejada, administrada,

gerida, tradição racionalista burocrática e iluminista, de tal forma a não obstaculizar a

concepção hegemônica de desenvolvimento.

A natureza – como realidade externa à sociedade e às relações sociais – é então

assimilada e equacionada apenas como recurso para a produção. No sentido de legitimar esse

discurso oficial, muitas ONGs e movimentos ambientalistas – antes portadores de um contra-

discurso ao desenvolvimentismo – foram convidados à participação e à parceria. O

ambientalismo de resultados incorporou a negociação como palavra de ordem.

Para se ter uma visão crítica e refletir sobre os aspectos relacionados à utilização dos

recursos do meio ambiente, é necessário analisar e reavaliar a nossa forma de vida: o que se

consome, como se produzem determinados produtos, o que custam as coisas que se deseja

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possuir, que valor se dá às coisas que se possui e com quem se compartilha esses valores.

Seria interessante pensar na diferença entre a produção de bens de consumo para as

necessidades essenciais do ser humano como alimentos, vestuários e transportes e a

exploração extensiva da Terra até seu total esgotamento.

Por trás destas diferenças, há uma visão do Homem como produtor de bens para

satisfazer suas necessidades essenciais em contraste com o Homem que age como explorador

dos recursos para conseguir o máximo de vantagem para si, em uma busca permanente de

maiores oportunidades de ganho.

Para se atingir uma situação de equilíbrio entre estilos de consumo, estilos de

produção e estilos de vida e se ver como parte complementar do processo de satisfação das

necessidades humanas, seria preciso comprometer-se todos os dias, não apenas com a

transformação individual, como também com a transformação da sociedade em que se vive.

Quando se consumir, basicamente, aquilo que satisfaz às necessidades essenciais, o

consumo orientará a produção nessa direção e, por conseguinte, o estilo de vida que se

sustenta será baseado no respeito pela vida e pela própria natureza. A partir desse

compromisso, o Homem será considerado como protagonista de uma mudança de atitudes que

o converterá em colaborador no cuidado com o planeta Terra.

Leis (1995) faz uma abordagem interessante da dualidade Terra – Mundo, na qual, ao

contrário do nosso mundo, a Terra se apresenta como uma unidade de sistemas altamente

equilibrados e estáveis, ao passo que o nosso mundo apresenta-se com instituições e políticas

há muito tempo em declínio, valores, práticas e instituições que já não produzem ordem.

Na sua opinião, a exemplo de Albert Schweitzer, citado por Erich Fromm (1987), o

mundo precisa de um novo discernimento, de uma teoria de ação social para uma nova ordem

política com valores mais profundos. Destaca-se a necessidade de emergência de uma visão

consensual do passado e do futuro e uma profunda transformação da humanidade, com maior

solidariedade e cooperação entre culturas, nações, indivíduos e espécies. Leis (1995) acredita

que poderosas manifestações da crise ecológica global estejam gerando condições para que a

humanidade se torne mais espiritualizada e menos materialista e então possa imaginar e

realizar uma reforma criativa de suas subjetividade e objetividade.

O desenvolvimento sustentável e a cooperação internacional teriam como requisito um

esforço de todos os atores, um consenso de organizações globais que os viabilizem, isto é, a

necessidade de uma participação universal, pelo menos de uma massa crítica de cidadãos

conscientes.

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1.2. O Problema

Os regimes políticos atuais, baseados na lógica do mercado e orientados para a

exacerbação do consumo material, não muito atentos com o uso racional dos recursos naturais

e a preservação do meio ambiente, parecem incapazes de conceber e implantar políticas

condutivas à sustentabilidade.

Muitas são as previsões e diversos são os programas para viabilizar a adoção de um

sistema de desenvolvimento sustentável, porém poucos são os resultados alcançados.

De acordo com a Hipótese de Gaia defendida pelo cientista James Lovelock,

“qualquer organismo que afeta o ambiente de maneira negativa acabará por ser eliminado”.

Sendo assim, Lovelock fez a seguinte previsão: “Como o aquecimento global foi provocado

pelo homem, está claro que corremos o risco de ser extintos. Até o fim do século, é provável

que cerca de 80% da população humana desapareça. Os 20% restantes vão viver no Ártico e

em alguns poucos oásis em outros continentes, onde as temperaturas forem mais baixas e

houver um pouco de chuva. Na América Latina, por exemplo, esses refúgios vão se

concentrar na Cordilheira dos Andes e em outros lugares altos. O Canadá, a Sibéria, o Japão,

a Noruega e a Suécia provavelmente continuarão habitáveis. A maioria das regiões tropicais,

incluindo praticamente todo o território brasileiro, será demasiadamente quente e seca para ser

habitada. O mesmo ocorrerá na maior parte dos Estados Unidos, da China, da Austrália e da

Europa. Não será um mundo agradável. As condições de sobrevivência no futuro serão muito

difíceis. Essa é a vingança de Gaia.” (LOVELOCK, 2006).

Lovelock afirmou que o desenvolvimento sustentável deveria ter sido aplicado há 200

anos atrás quando havia apenas 1 bilhão de pessoas no mundo, pois dessa forma a situação

seria bem diferente da que se encontra atualmente. Para ele a única opção seria substituir as

fontes de energia mais comuns por usinas nucleares, mais limpas do que hidrelétricas ou

termoelétricas. Ele argumentou: “O gás carbônico vai nos matar se não fizermos nada a

respeito. As pessoas têm medo do lixo atômico, mas isso é um mito. A quantidade de resíduos

produzidos pelas usinas nucleares é irrisória e não causa grandes problemas ambientais. A

energia nuclear, no entanto, não é uma solução, e sim uma medida para ganharmos tempo. A

roda do aquecimento global já está em movimento, e não há como freá-la.” (LOVELOCK,

2006).

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14

1.3. Uma Introdução à Sustentabilidade

As exigências da sociedade em relação à qualidade ambiental dos produtos oferecidos

no mercado têm estimulado uma gama cada vez maior de empresas a aderir voluntariamente a

ações ambientais. Tratando-se de uma tendência já quase consolidada nos países

desenvolvidos, a preocupação com a natureza e, conseqüentemente, a adoção de sistemas

“limpos” ou menos poluentes são elementos que estimulam o surgimento de uma nova

configuração no meio industrial mundial.

Essa cobrança do mercado global leva a uma cronologia retrospectiva dos temas que

induziram à criação do caminho até o momento traçado e percorrido pela preocupação com a

esfera ambiental que compromete o planeta e acende a luz do conceito de desenvolvimento

sustentável. Em princípios da década de 1980, o esforço pelo desenvolvimento parecia ter

fracassado. Grandes áreas do globo eram compostas de economias estagnadas e altamente

endividadas. Essa década é conhecida na América Latina com “a década perdida”. Ao mesmo

tempo, o meio ambiente era mal gerenciado, se é que estava sujeito alguma forma de gestão.

Sob o ponto de vista das Nações Unidas, nem o Programa de Desenvolvimento (United

Nations Development Programme – UNDP) nem o Programa Ambiental (United Nations

Environment Programme - UNEP) pareciam muito eficazes.

Com o desenvolvimento e com o meio ambiente em crise, grupos de cidadãos que

lutavam por uma ou por outra dessas causas mantinham debates intensos sobre qual deles

deveria ser priorizado. Com o intuito de solucionar essas questões, a Assembléia Geral das

Nações Unidas aprovou, em 1993, uma resolução que constituía uma comissão para definir

novas trajetórias. Desse modo, formou-se a Comissão Mundial sobre Meio ambiente e

Desenvolvimento (World Commission on Environment and Development – WCED),

composta de 21 membros, sob a presidência da ex-ministra do meio ambiente da Noruega,

Gro Harlem Brundtland.

Duas iniciativas da Comissão tiveram um impacto duradouro. Em seu relatório de

1987, Our Common Future (Nosso Futuro Comum), ela defendeu o conceito de

desenvolvimento sustentável e, nas últimas páginas do mesmo relatório, solicitou que fossem

feitos os preparativos para uma Conferência Internacional sobre desenvolvimento sustentável,

que finalmente foi realizada em 1992, como o Earth Summit daquele ano, no Rio de Janeiro.

Abordou-se na WCDE, em 1987, que longe de reivindicar-se a interrupção do

crescimento econômico, reconhecia-se que os problemas de pobreza e subdesenvolvimento

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não poderiam ser resolvidos sem o ingresso em uma nova era de crescimento, na qual os

países em desenvolvimento desempenhariam papel importante e colheriam benefícios

expressivos.

Buscando maior credibilidade, as empresas têm sido levadas – perante a realidade

econômica, social e ambiental expostas nas ações e preocupações de organizações como a

própria WCED – a demonstrar comprometimento dentro da problemática traçada, aderindo

aos paradigmas determinados pela demanda de mercado que gradativamente vem dando

maior importância ao futuro e às conseqüências das atividades presentes.

1.3.1. Em busca de um Sistema para Gestão Ambiental

A ISO 14000 é um exemplo das possibilidades de aplicabilidade destas diretrizes para

a gestão ambiental. A série ISO 14000, conforme Lima e Silva (1999), surge com o advento

da ECO-92 para atender a uma demanda por uma norma internacional, capaz de padronizar os

procedimentos em nível mundial. A partir daquela Conferência Mundial do Meio Ambiente,

realizada no Rio de Janeiro, criou-se um grupo denominado de Technical Commite e n° 207

da International Organization for Standardization (ISO), designado para elaborar uma série

de normas relativas à gestão ambiental que receberam o código 14000, com o intuito de serem

reconhecidas como a série ISO 14000.

Com a ISO 14000, as organizações empresariais têm parâmetros para criar sua

sistemática de gestão voltada aos aspectos ambientais. Uma das principais diretrizes aponta à

alta direção de cada empresa para que estabeleça uma política de compromisso com objetivos

e metas ambientais – da otimização de aproveitamento de matérias, com redução de

desperdícios, a redução de poluição gerada e a difusão de informações sobre preservação

ambiental junto ao corpo funcional e a comunidade local, entre outras.

Não obstante ao fato de que a humanidade já esteja sinalizando sua busca por

caminhos que a levem à sustentabilidade, este processo ainda não apresenta indicadores

prontos, estando esta caminhada longe de chegar ao seu final. Desde as conferências mundiais

sobre o meio ambiente de Estocolmo-72, Rio-92 e Johannesburg-2002, várias possibilidades

têm sido discutidas, com alguns avanços e também retrocessos, por conta de alguns países

desenvolvidos, que resistem em não mudar seus conceitos.

Alinhada à busca da sustentabilidade e munida de fundamentos baseados em

princípios científicos, ecológicos e sociais e de um processo de desenvolvimento que conduz

a um resultado favorável para todo o sistema, entram em cena neste escopo, outras

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16

ferramentas especialmente desenhadas para acelerar o desenvolvimento sustentável global

ajustando suas respectivas estruturas aos diversos sistemas organizacionais, conforme forem

incorporados. Dentre estes, notamos como os mais usufruídos, o Sistema de Gestão

Ambiental (SGA) – que permite à empresa avaliar a eficácia dos procedimentos destinados a

definir a sua política e os seus objetivos ambientais, atuar em conformidade com esses

procedimentos e demonstrar a outros grupos como os objetivos traçados foram atingidos – e a

Agenda 21 – programa de ação global para viabilizar a adoção do desenvolvimento

sustentável e ambientalmente racional em todos os países.

Nesse contexto introduzimos a visão da metodologia The Natural Step (TNS) –

organização de consultoria e pesquisa internacional, que trabalha com os usuários de recursos

do planeta, gerando soluções, modelos e instrumentos projetados nos princípios da

sustentabilidade plena. A metodologia utiliza uma plataforma adequada para lidar com

sistemas complexos, composta de cinco níveis: “Sistema”, “Sucesso”, “Estratégia”, “Ações” e

“Instrumentos”. A visão de sucesso é definida por meio de backcasting ao invés de previsões

ou cenários, antevendo a condição de sustentabilidade pretendida para o futuro, com base em

quatro princípios sustentáveis, cientificamente validados. Por meio da Análise ABCD

indicada no nível “Estratégia” e praticada no nível “Ações” é possível mapear a realidade

atual, identificando não-conformidades ou violações das quatro condições sistêmicas, que

devem ser corrigidas de modo a aproximar a empresa do ideal sustentável.

1.3.2. A percepção diferenciada

Transformar sociedade moderna de modo que ela viva de acordo com seus recursos,

tornou-se o foco desafiador da nossa época. Defender este consenso de maneira a facilitar a

aplicação de seu verdadeiro conceito, princípios e caráter operacional de um mundo

sustentável no âmbito de qualquer tipo de organização, tornou-se um jogo de mercado,

dificultando ainda mais a conscientização real do problema.

Em virtude deste panorama, tendo uma célula viva como ponto de partida, o Dr. Karl-

Henrik Robèrt Oncologista e professor de Teoria de Recursos Materiais, na Universidade de

Gotemburgo, na Suécia, convencido de que a homogeneidade ideológica sobre como atender

as exigências mais básicas da vida não só era possível, mas também a chave para fazer

avançar a sustentabilidade , elaborou em 1989, uma estrutura de referência para planejamento

estratégico, considerando o sucesso futuro – a sustentabilidade social e ecológica – como

ponto de partida. Consolidando então a definição de quatro condições sistêmicas essenciais

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para manutenção da vida na Terra, que aliados a uma metodologia ampla sobre como aplicá-

las estrategicamente concretiza a estrutura de planejamento do The Natural Step. Desta forma,

o fundador do movimento The Natural Step concede-nos brilhantemente o entendimento das

condições não-negociáveis de uma sociedade sustentável.

A Plataforma TNS oferece um modelo científico, muito inspirado e operacional, para

auxiliar tanto indivíduos, quanto como corporações, a estabelecer um novo conceito de

atitudes prioritárias para a sobrevivência humana. É uma indicação explicita, e um desafio a

nossa astúcia intelectual, de como nos – Homo (esperamos) Sapiens – podemos adequar de

maneira responsável a nossa maneira de pensar e agir para tornar a participação humana útil

ao mundo, de forma a deixar um legado positivo as gerações futuras.

The Natural Step proporciona um arcabouço inteligente, uma bússola para nos guiar na

estrada do futuro, e é um instrumento importante para todos os que buscam um novo modelo

mental para conduzir seus interesse rumo a um futuro sustentável.

1.4. Objetivos

1.4.1. Objetivo Geral

O principal objetivo deste trabalho é de apresentar em uma só obra um estudo que

evidencie a evolução dos sistemas e ferramentas de gestão ambiental, analisando a

bibliografia mundial a respeito do tema.

1.4.2. Objetivos Específicos

Como objetivos intermediários e específicos são focalizados os diversos marcos

evolutivos, como representantes na evolução do tema de Sistemas de Gestão Ambiental e suas

contribuições ao longo do tempo, no sentido da busca dos sistemas aplicáveis à produção

sustentável.

1.5. Delimitação do tema

A abordagem principal será a apresentação da metodologia aplicada na Plataforma

TNS pela organização de consultoria The Natural Step (TNS) e suas vantagens na aplicação

dos seus conceitos básicos de planejamento sistêmico, não só em organizações como também

em estruturas formadas pelas diversidades culturais, pessoais, entre outras, além de

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primordialmente ressaltar que a incorporação dos princípios geradores do pensamento

sistêmico como forma de redefinição dos conceitos pessoais intrínsecos refletirá

possivelmente, de maneira mais aguda, os verdadeiros benefícios econômico, social e

ambiental que existem nas readequações desses conceitos e atitudes e na formulação de

formas de incorporação dessas práticas às atividades do cotidiano.

O trabalho não tem como proposta detalhar os demais sistemas e ferramentas

disponíveis na área de Gestão do Meio Ambiente.

1.6. Organização do trabalho

Este trabalho está estruturado em cinco capítulos, sendo o Capítulo I dedicado a

apresentar a situação atual nos três pilares − econômico, social e ambiental − que movem o

cenário mundial. Contextualizando a necessidade da conscientização do uso racional dos

recursos naturais e a preservação do meio ambiente. Apontando também os objetivos que o

estudo aqui realizado terá com relação a estas questões, ajustando-as nas abordagens gerais e

especificas da problemática.

O Capítulo II apresenta a fundamentação teórica, descrevendo cronologicamente a

evolução histórica da preocupação refletida em torno da Sustentabilidade através de diversas

ações que firmaram o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Ainda, nesse capítulo, o

objeto de estudo em questão, a Plataforma TNS, será melhor detalhada evidenciando seus

conceitos estratégicos à adaptação das organizações nos moldes sustentáveis.

O Capítulo III apresenta os diversos métodos de abordagens e procedimentos

utilizados em pesquisa acadêmico-científica. Em seguida descreve a estratégia escolhida para

a composição deste trabalho e sua justificativa.

O Capítulo IV expõe, através de exemplos, a aplicação da Plataforma TNS em grandes

corporações, inclusive de forma combinada com Sistemas de Gestão Ambiental, gerando

Sistemas de Gestão da Sustentabilidade. Além disso, apresenta algumas críticas a The Natural

Step e uma forma de compreender a complexa relação existente entre os problemas relativos à

sustentabilidade e o comportamento humano.

Finalmente, o Capítulo V apresenta as considerações finais do estudo, a conclusão do

projeto e as sugestões para os trabalhos futuros.

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CAPÍTULO II

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Histórico da Cultura Global sobre o Desenvolvimento Sustentável 2.1.1. Introdução

O relevante impacto positivo da participação de empresas nos índices de

sustentabilidade sobre seu valor de mercado tem atraído um número cada vez maior de

companhias a se adequarem às práticas de gestão responsável. Em teoria, a participação em

um índice de sustentabilidade atesta que a organização possui boas práticas de sócio-

ambientais, transparência e um frutífero relacionamento com seus stakeholders1. Na prática,

em certos setores, participar desses índices, geralmente, impulsiona substanciais ganhos

financeiros.

A busca pela excelência em “Gestão Responsável”, “Meio Ambiente” e “Governança

Corporativa” – principais tópicos abordados pelo Índice de Sustentabilidade Empresarial da

Bovespa e pelos “Dow Jones Sustainability Indexes” – é recente; a preocupação da

comunidade internacional com os limites do desenvolvimento do planeta, entretanto, data da

década de 50, quando a deterioração ambiental e sua relação com o estilo de crescimento

econômico já eram objeto de estudo internacional (BARROS, 2002).

2.1.2. Anos 50 e 60: As Origens das Preocupações Ambientais

O teólogo luterano Albert Schweitzer – filósofo, organista intérprete de Bach e médico

missionário – recebeu em 1952 o Prêmio Nobel da Paz por popularizar a ética ambiental e

pelos seus esforços em defesa da “Irmandade das Nações”. Durante conferência em 20 de

outubro de 1952 na Academia Francesa de Ciências (Paris), sobre o tema “O problema da

ética na evolução do pensamento”, ele declarou: “quando o homem aprender a respeitar até o

menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu

semelhante”.

1 Dentro do conceito de Responsabilidade Social Empresarial que vem sendo desenvolvido pelas empresas, no entanto, o público alvo deixa de ser apenas o consumidor e passa a englobar um número muito maior de pessoas e empresas. São os chamados stakeholders. O termo stakeholders foi criado para designar todas as pessoas ou empresas que, de alguma forma, são influenciadas pelas ações de uma organização.

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Figura 1: Linha do tempo da Sustentabilidade

Fonte: Os Autores

Na década de 60, houve, nos Estados Unidos uma profunda mudança na atitude do

povo americano com relação à necessidade de normas ambientais federais, suscitada pela obra

“Silent Spring” (Primavera Silenciosa), de Rachel Carson, uma bióloga marinha norte-

americana que incitou os políticos à ação. O livro, publicado em 1962, liderou o início de uma

nova concepção na história humana: a preocupação com os rumos do desenvolvimento

próprio da sociedade industrial.

“Primavera Silenciosa” relata os efeitos da má utilização dos pesticidas e inseticidas

químico-sintéticos, alertando sobre as conseqüências danosas ao meio ambiente em função

das inúmeras ações humanas.

Carson iniciou o debate sobre o custo ambiental dessa contaminação para o homem.

Ela já alertava sobre os prejuízos do uso de produtos químicos no controle de pragas e

doenças, advertindo que estavam interferindo nas defesas naturais do próprio ambiente e

dizia: “nós permitimos que esses produtos químicos fossem utilizados com pouca ou nenhuma

pesquisa prévia sobre seu efeito no solo, na água, animais selvagens e sobre o próprio

homem”.

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A mensagem de Carson era diretamente dirigida para o uso indiscriminado do DDT:

barato e de fácil produção, foi aclamado como o pesticida universal e tornou-se o mais

amplamente utilizado dos novos pesticidas sintéticos antes que seus efeitos ambientais

tivessem sido intensivamente estudados. O livro teve os direitos comprados por uma

multinacional de agroquímica, o que impede sua republicação. Ainda assim, algumas das

substâncias listadas pela autora sofreram restrições e até mesmo foram proibidas.

Tornava-se notável, nos mesmos anos 60, o desgaste do modelo de crescimento

econômico implementado no pós-guerra, que previa um intenso crescimento através de

investimento de capital e exploração dos recursos naturais, com o intuito de favorecer apenas

um modelo econômico. Era inexistente, dessa forma, uma preocupação explícita em relação à

poluição ou a desequilíbrios ambientais. Esse modelo esgotou-se a partir do momento em que

o meio ambiente não fornecia mais recursos que pudessem ser explorados sem provocar danos

diretos ao ser humano (AMBIENTEBRASIL, 2007).

2.1.3. Anos 70: A Conferência de Estocolmo e as Declarações da ONU

A reflexão e a busca por um novo modelo econômico fizeram-se então

imprescindíveis. Surge, então, o primeiro documento que formaliza essas discussões: “Limites

do Crescimento”, relatório que foi publicado em 1972 por um grupo interdisciplinar do

Massachussets Institute Technology (MIT), liderado por Dennis L. Meadows, tendo sido

preparado para o Clube de Roma – que, fundado em 1968, congrega cientistas, economistas e

altos funcionários governamentais, com a finalidade de interpretar o que foi denominado, sob

uma perspectiva ecológica, “sistema global”. O relatório foi então apresentado na I

Conferência sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo, realizada pela ONU no mesmo ano

(AMBIENTEBRASIL, 2007).

Os estudos de Meadows concluíram que, mantidas as taxas de crescimento da

poluição, da industrialização, da produção de alimentos e da exploração dos recursos naturais,

o limite de desenvolvimento do planeta seria atingido, no máximo, em 100 anos, provocando

uma repentina diminuição da população mundial e da capacidade industrial. O estudo recorria

ao neo-malthusianismo como solução para a iminente catástrofe: dessa forma, o pesquisador

propõe o congelamento do crescimento populacional e industrial, atacando fortemente várias

teorias de crescimento econômico.

Era evidente que a posição de Meadows refletia os interesses do “primeiro mundo”,

pois o congelamento mundial do crescimento da indústria significava que os países

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subdesenvolvidos – muitos deles com riquíssimas reservas minerais – não deveriam crescer,

para que essas reservas fossem efetivamente exploradas pelas indústrias que já existiam no

“primeiro mundo”.

O Clube de Bariloche – que contou com a participação de estudiosos brasileiros, como

o professor Amílcar Herrera (UNICAMP) – respondeu a esse posicionamento, apresentando

um elemento novo à discussão do aproveitamento de reservas naturais: a tecnologia. Criticou-

se o crescimento acelerado e sem planejamento, porém a estagnação não seria apresentada

como resposta e sim a utilização de tecnologia para o melhor aproveitamento das reservas. O

avanço nas técnicas de extração permitiria, por exemplo, que jazidas com percentual baixo de

matéria-prima fossem aproveitadas. Alterariam-se, assim, as previsões de esgotamento das

reservas. O clube de Bariloche deu, neste sentido, a resposta do na época chamado de

“terceiro mundo”, que lutava contra a imposição de limites de crescimento

(AMBIENTEBRASIL, 2007).

As discussões da Conferência de Estocolmo também priorizaram a urgência do

estabelecimento de políticas globais de controle da poluição do ar e da água, as medidas a fim

de reduzir a chuva ácida e a preocupação com o consumo de recursos naturais não-renováveis.

Além disso, a Conferência levou à estruturação do setor ambiental em diversos países, como o

Brasil, onde foram posteriormente criados os principais órgãos de meio ambiente tanto ao

nível federal (IBAMA) como estadual (como FEEMA-Rio de Janeiro e CETESB-São Paulo).

Também estruturaram-se os primeiros movimentos ambientalistas que, na década de 80,

ocorreram conduzidos por entidades que foram denominadas ONGs – Organizações Não

Governamentais (AMBIENTEBRASIL, 2007).

Em 1973, o canadense Maurice Strong desenvolveu o conceito de

ecodesenvolvimento, cujos princípios foram formulados por Ignacy Sachs. Os caminhos do

desenvolvimento seriam seis: satisfação das necessidades básicas; solidariedade com as

gerações futuras; participação da população envolvida; preservação dos recursos naturais e do

meio ambiente; elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança social e

respeito a outras culturas; programas de educação. Esses princípios estabeleciam como foco

as regiões subdesenvolvidas, consistindo também de uma crítica à sociedade industrial. As

discussões relacionadas ao ecodesenvolvimento abriram caminho para o surgimento do

conceito de desenvolvimento sustentável (ALTENFELDER, 2004).

A teoria de ecodesenvolvimento utilizou como base para sua elaboração a resolução

dos problemas das regiões rurais da Ásia, da África e da América Latina, que sofreram

enorme extração de recursos naturais para o desenvolvimento industrial da Europa. Strong

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aproxima, neste sentido, países desenvolvidos e em desenvolvimento para a discussão de

problemas ambientais. Esta teoria contraria os interesses das grandes economias industriais,

na medida em que as responsabiliza pela criação de áreas periféricas.

A Declaração de Cocoyok, publicada em 1974, resultante da reunião da UNCTAD

(Conferência das Nações Unidas sobre Comércio-Desenvolvimento) e do UNEP (Programa

de Meio Ambiente das Nações Unidas) também inflamou o debate sobre sustentabilidade. Ela

inferia que a destruição ambiental dos continentes é resultante da pobreza, que levava a

população carente à superutilização do solo e dos recursos naturais. Os países industrializados

contribuíam para esse quadro com altos índices de consumo. Para a ONU, não há apenas um

limite mínimo de recursos para proporcionar bem-estar ao indivíduo; há também um máximo.

(Nesse sentido, inclusive, foi criado no Brasil em 2001 o Instituto Akatu, cuja missão é

educar, sensibilizar e mobilizar a sociedade para o consumo consciente)

(AMBIENTEBRASIL, 2007).

No ano seguinte, 1975, a ONU voltou a participar da elaboração de um outro relatório,

o Dag-Hammarskjöld, preparado pela fundação de mesmo nome, em 1975, com colaboração

de políticos e pesquisadores de 48 países. O Relatório Dag-Hammarskjöld completa o de

Cocoyok, afirmando que as potências coloniais concentraram as melhores terras das colônias

nas mãos de uma minoria, forçando a população pobre a usar outros solos, promovendo a

devastação ambiental. Os dois relatórios têm em comum a exigência de mudanças nas

estruturas de propriedade do campo e a rejeição pelos governos dos países industrializados

(AMBIENTEBRASIL, 2007).

2.1.4. Anos 80: O Planejamento Ambiental

Os anos 80 caracterizaram-se pelas ações de Planejamento Ambiental: os conceitos de

proteção ao Meio Ambiente receberam maior projeção e acidentes de impacto como os

vazamentos de petróleo do navio Exxon Valdez, no Alasca e de isocianata de metila (gás

letal) em Bhopal, na Índia – matando 2.000 pessoas – levaram a mudanças nas políticas

oficiais de Meio Ambiente e nos conceitos de gerenciamento ambiental das indústrias.

Em 1980 foi lançado em Nova York o documento: "A Estratégia Mundial para a

Conservação", elaborado sob o patrocínio e supervisão do Programa das Nações Unidas para

o Meio Ambiente (PNUMA), da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN)

e do Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF). Esse documento explorou, basicamente,

as interfaces entre conservação de espécies e ecossistemas e entre manutenção da vida no

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planeta e a preservação da diversidade biológica, empregando-se pela primeira vez o conceito

de Desenvolvimento Sustentável.

Em 1986 foi publicada no Brasil a Resolução 01 do CONAMA – Conselho Nacional

de Meio Ambiente, instituindo a obrigatoriedade da realização de Estudos de Impactos

Ambientais para qualquer empreendimento público ou privado que apresentasse impacto aos

meios físicos, biológico ou sócio-econômico na região a ser implantado.

Já em 1987, provou-se que o cloro dos compostos de clorofluorcarbono (CFC) era um

dos principais agentes da redução da camada de ozônio. Representantes de 57 países

assinaram no Canadá o Protocolo de Montreal, comprometendo-se a reduzir a produção de

CFC pela metade até 1999. Em junho de 1990, o acordo, aderido por mais de 90 nações, foi

ratificado pela ONU (Organização das Nações Unidas), determinando o fim gradativo da

produção de CFC até 2010.

No mesmo ano de 1987, a Comissão da ONU para o Meio Ambiente e

Desenvolvimento (UNCED), na ocasião dirigida pela norueguesa Gro Harlem Brundtland e

M. Khalid, apresentou o documento “Our Common Future” (Nosso Futuro Comum),

conhecido posteriormente como Relatório Brundtland. No Relatório define-se, pela primeira

vez, o conceito de desenvolvimento sustentável, presente anteriormente no documento "A

Estratégia Mundial para a Conservação": "desenvolvimento sustentável é aquele

desenvolvimento que satisfaz às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das

futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades".

Apesar da clareza deste conceito, o seu emprego generalizado, muitas vezes sem

conhecimento de causa, tem gerado discrepâncias sobre o seu verdadeiro sentido,

provavelmente pelos vastos temas que envolve: atividade econômica, meio ambiente e o bem-

estar da sociedade atual e futura. A idéia reflete equilíbrio entre tecnologia e ambiente,

conciliando os paradigmas do desenvolvimento com a saúde do planeta a curto, médio e

principalmente, longo prazo.

2.1.5. O Conceito de Desenvolvimento Sustentável

A partir da definição de desenvolvimento sustentável pelo Relatório Brundtland, de

1987, pode-se perceber que tal conceito não diz respeito apenas ao impacto da atividade

econômica no meio ambiente. Desenvolvimento sustentável se refere principalmente às

conseqüências dessa relação na qualidade de vida e no bem-estar da sociedade, tanto presente

quanto futura. Atividade econômica, meio ambiente e bem-estar da sociedade formam o tripé

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básico no qual se apóia a idéia de desenvolvimento sustentável. A aplicação do conceito à

realidade requer, no entanto, uma série de medidas tanto por parte do poder público como da

iniciativa privada, assim como exige um consenso internacional. É preciso frisar ainda a

participação de movimentos sociais, constituídos principalmente na forma de ONGs

(Organizações Não-Governamentais), na busca por melhores condições de vida associadas à

preservação do meio ambiente e a uma condução da economia adequada a tais exigências

(AMBIENTEBRASIL, 2007).

O Relatório de Brundtland não apresenta as críticas à sociedade industrial que

caracterizaram os documentos anteriores e demanda crescimento tanto em países

industrializados como em subdesenvolvidos – inclusive ligando a superação da pobreza nestes

últimos ao crescimento contínuo dos primeiros. Por esses motivos, foi bem aceito pela

comunidade internacional.

Segundo o Relatório, há uma série de medidas que devem ser tomadas pelos Estados

nacionais (AMBIENTEBRASIL, 2007):

a) limitação do crescimento populacional;

b) garantia de alimentação a longo prazo;

c) preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;

d) diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitem

o uso de fontes energéticas renováveis;

e) aumento da produção industrial nos países não-industrializados à base de

tecnologias ecologicamente adaptadas;

f) controle da urbanização selvagem e integração entre campo e cidades menores;

g) as necessidades básicas devem ser satisfeitas.

No nível internacional, as metas propostas pelo Relatório são as seguintes

(AMBIENTEBRASIL, 2007):

1) as organizações devem adotar a estratégia de desenvolvimento sustentável;

2) a comunidade internacional deve proteger os ecossistemas supranacionais como a

Antártica, os oceanos e o espaço;

3) guerras devem ser banidas;

4) a ONU deve implantar um programa de desenvolvimento sustentável.

2.1.6. Anos 90: Globalização dos Conceitos e Sistematização das Ações Ambientais

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Durante a década de 90 o reconhecimento da importância da Gestão Ambiental levou

muitas empresas a incluir em seus Planejamentos Estratégicos diversos aspectos ambientais.

Entre 3 e 14 de junho de 1992, num esforço maciço para reconciliar as interações entre

o desenvolvimento humano e o meio ambiente e por ocasião do 20º aniversário da

Conferência de Estocolmo, organizou-se, no Rio de Janeiro, o maior evento de caráter

intergovernamental do gênero até então: a Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida como Rio-92 ou ECO-92, que

reuniu legisladores, diplomatas, cientistas, a mídia, e representantes de organizações não-

governamentais (ONGs) de 179 países e contou com a participação de 100 chefes de Estado

(AMBIENTEBRASIL, 2007).

Registrou-se na ECO-92 o efetivo crescimento do interesse mundial pelo futuro do

planeta e muitos países deixaram de ignorar as relações entre desenvolvimento sócio-

econômico e modificações no meio ambiente. Entretanto, as discussões foram ofuscadas pela

delegação dos Estados Unidos, que forçou a retirada dos cronogramas para a eliminação da

emissão de CO2 (que constavam do acordo sobre o clima) e não assinou a convenção sobre a

biodiversidade.

O evento enfocou a procura de meios de cooperação entre as nações para lidar com

problemas ambientais globais como poluição, mudança climática, destruição da camada de

ozônio, uso e gestão dos recursos marinhos e de água doce, desmatamento, desertificação e

degradação do solo, resíduos perigosos e a perda da diversidade biológica. A ECO-92

originou diversos documentos, como a Carta da Terra, a Declaração de Princípios sobre

Florestas, a Convenção sobre Diversidade Biológica e a Agenda 21.

A Agenda 21 se revelou um programa pioneiro de ação internacional sobre questões

ambientais e desenvolvimentistas, voltado à cooperação internacional e ao desenvolvimento

de políticas para o Século XXI. Suas recomendações incluíram novas formas de educação,

preservação de recursos naturais e participação no planejamento de uma economia

sustentável. Ela apresentou um plano de ação para alcançar os objetivos do desenvolvimento

sustentável em 40 capítulos, com base nos documentos elaborados pelos diversos

participantes do processo de discussão durante todo o período anterior (UICN, WWF,

Comissão Brundtland, PNUMA, IPCC).

Em 1997 foi realizada na cidade de Kyoto, no Japão, uma conferência sobre mudança

no clima, que deu origem ao Protocolo de Kyoto. São seus principais objetivos:

• Estabilizar a concentração de gases que provocam o efeito estufa em níveis toleráveis

que não impliquem em mudanças prejudiciais no clima;

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• Reduzir em no mínimo 5,2% as emissões combinadas de dióxido de carbono dos

países industrializados no período de 2008 a 2012, considerando como base o ano de

1990;

• Estabelecer diretrizes para os países:

- Políticas de eficiência energética;

- Tecnologias limpas, entre outras.

• Minimizar efeitos nos países em desenvolvimento.

O Protocolo de Kyoto provocou o surgimento de um novo modelo de exploração

econômica e técnica de desenvolvimento. Ao lado de conceitos inovadores como de

responsabilidade comum mas diferenciada – no caso da distribuição de encargos entre países

desenvolvidos e aqueles ainda em desenvolvimento – traz também a figura central do

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e de seu reflexo maior, o Mercado de

Carbono.

2.1.7. Anos 2000: O Desenvolvimento Sustentável Hoje

Durante a Conferência do Milênio, promovida pela Organização das Nações Unidas

em setembro de 2000, 191 países – a maioria dos quais representados na conferência por seus

chefes de estado ou governo – subscreveram um documento-síntese dos avanços alcançados

na construção de valores e objetivos comuns entre os povos: a Declaração do Milênio. Ela

estabeleceu um compromisso compartilhado para enfrentar os desafios globais mais urgentes

nos campos econômico, social e ambiental, composto pelas chamadas Metas de

Desenvolvimento do Milênio ou MDMs (Millennium Development Goals - MDGs) (UNPD,

2002).

As oito metas fixadas pela Conferência do Milênio são:

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Figura 2: As oito metas do milênio

Fonte: http://www.undp.org.br, acessado em 16 de junho de 2007

Dada essa lista de oito metas internacionais comuns, 18 objetivos e mais de 40

indicadores foram definidos conjuntamente pela ONU, Banco Mundial, FMI e OCDE, tendo

em vista possibilitar um entendimento e avaliação uniformes dos MDMs, nos níveis global,

regional e nacional. As metas definidas devem ser atingidas, em sua maioria, num período de

25 anos (entre 1990 e 2015). Os MDMs devem ser ajustados de modo a levar em conta as

especificidades nacionais. Assim, cada país deverá adaptar as metas e os objetivos fixados

internacionalmente e adicionar outras metas e objetivos relevantes para a sua situação

específica.

Além disso, de 26 de agosto a 4 de setembro de 2002, a Organização das Nações

Unidas (ONU) promoveu, em Johannesburg, na África do Sul, a Conferência da Cúpula

Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, denominada Rio+10, com o objetivo de fazer

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um balanço das lições aprendidas e resultados práticos obtidos a partir dos acordos firmados

entre os países que participaram da Rio-92.

Em Johannesburg, os representantes governamentais trabalharam com base em agenda

e documentos discutidos e preparados previamente, nas chamadas PrepCom - Sessões

preparatórias da Conferência.

Entre os objetivos da Rio+10 estava o de chamar a atenção da opinião pública mundial

para a urgência do cumprimento das ações e promessas da Rio-92 e das conferências da ONU

dos anos 90, como as de direitos humanos (Viena-93), de desenvolvimento social

(Copenhague-95), Habitat II (Istambul-96) e Segurança Alimentar (Roma-96).

A Rio+10 foi uma conferência que pretendeu alcançar um consenso na avaliação geral

das condições atuais e nas prioridades para ações futuras. As decisões foram dirigidas a fim

de reforçar compromissos de todas as partes para que os objetivos da Agenda 21 sejam

alcançados. Uma agenda bem definida irá encorajar discussões sobre descobertas no setor

ambiental (floresta, oceano, clima, energia, água potável) e nas áreas de Economia, novas

tecnologias e globalização.

2.2. A Gestão Ambiental

A ameaça à sobrevivência humana em face da degradação dos recursos naturais, a

extinção das espécies da fauna e flora e o aquecimento da temperatura devido à emissão de

gases poluentes são alguns dos fatores que fizeram a questão ambiental ocupar um lugar de

destaque nos debates internacionais. O meio ambiente da empresa é constituído por diversas

formas de relacionamento, considerando as disciplinas gerenciais, as técnicas e o processo de

produção junto às instalações e ao meio interno e externo, incluindo-se também a relação

entre mercado, cliente, fornecedores, comunidade e consumidor. Neste sentido, o

gerenciamento ambiental não pode separar nem ignorar o conceito de ambiente empresarial

em seus objetivos, pois o desenvolvimento deste conceito possibilita melhores resultados nas

relações internas e externas, com melhorias na produtividade, na qualidade e nos negócios

(AMBIENTEBRASIL, 2007).

Considerando todas essas novas formas de exploração empresarial, a implantação de

um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) é a resposta dada pelas empresas para controlar os

impactos causados, isto é, representa uma mudança organizacional, motivada pela

internalização ambiental e externalização de práticas que integram o meio ambiente e a

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produção. Dentre os inúmeros benefícios alcançados destacam-se alguns, como: a redução dos

custos ambientais, menores riscos de infrações e multas, aumento de produtividade, melhoria

da competitividade e surgimento de alternativas tecnológicas inovadoras, além da melhoria da

imagem corporativa perante os diversos atores que interagem com o empreendimento

(stakeholders).

Atualmente, há diversos programas, normas e metodologias que têm por objetivo

incentivar e desenvolver nas empresas a prática da sustentabilidade. A seguir serão destacados

alguns destes mecanismos. Porém apenas a organização de consultoria The Natural Step será

detalhada pelo fato de ser o objeto de estudo em questão e também pelo fato de que os demais

assuntos já são de domínio público e bastante explorados pela literatura.

2.3. Agenda 21

Um grande passo para nortear a prática de ações sob o conceito do desenvolvimento

sustentável foi a elaboração e o lançamento da Agenda 21 Global na Conferência das Nações

Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, (ECO-92).

A Agenda 21 é um programa de ações para o qual contribuíram governos e instituições

da sociedade civil de 179 países, constituindo a mais ousada e abrangente tentativa já

realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento,

conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica (Rits – Rede

de informações para o terceiro setor).

Na verdade, a Agenda 21 aprovada pelos países tem a função de servir como base para

que cada um desses países elabore e implemente sua própria Agenda 21 Nacional.

2.3.1. Agenda 21 no Brasil

A partir da Agenda 21 Global, todos os países que assinaram o acordo assumiram o

compromisso de elaborar e implementar sua própria Agenda 21 Nacional.

A Agenda 21 Nacional deveria adequar-se à realidade de cada país e de acordo com as

diferenças sócio-econômico-ambientais, sempre em conformidade com os princípios e

acordos da Agenda 21 Global (Rits – Rede de informações para o terceiro setor).

A metodologia empregada internacionalmente para a elaboração das agendas 21

nacionais contemplava a participação de diferentes níveis do governo, o setor produtivo e a

sociedade civil organizada.

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31

No Brasil foi criada – por decreto do Presidente da República em fevereiro de 1997 – a

Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21, no âmbito da Câmara

de Políticas dos Recursos Naturais, com as atribuições de (1) propor estratégias de

desenvolvimento sustentável e (2) coordenar, elaborar e acompanhar a implementação

daquela Agenda.

A Comissão tem sua formação fixa e poderá, sempre que necessário, instituir grupos

de trabalho temáticos. Cabe ao Ministério do Meio Ambiente prover o apoio técnico-

administrativo necessário ao funcionamento da Comissão.

Um fator relevante da Agenda Brasileira em relação às demais experiências no mundo

é a opção pela inclusão das Agendas Locais.

Em um país de dimensões continentais e de múltiplas diferenças, a criação das

Agendas Locais torna-se condição indispensável para o êxito do programa.

2.3.2. Agendas 21 Locais

A Agenda 21 Brasileira tem como opção a criação de Agendas 21 Locais. A proposta

é que cada cidade faça sua Agenda 21 Local com a participação da sociedade civil.

Assim como cada país, cada cidade deve adequar sua Agenda à sua realidade e às suas

diferentes situações e condições, sempre considerando os seguintes princípios gerais:

• participação e cidadania;

• respeito às comunidades e diferenças culturais;

• integração;

• melhoria do padrão de vida das comunidades;

• diminuição das desigualdades sociais;

• mudança de mentalidades.

Os compromissos assumidos pelos representantes dos países que aprovaram a Agenda

21 Global são muito claros e objetivos. preservar as florestas e as nascentes, buscar

substitutos para o CFC e outras substâncias que destroem a camada de ozônio, proibir a pesca

destrutiva, buscar novas fontes de energia renováveis, reduzir o lixo produzido e encontrar

combustíveis alternativos são alguns dos compromissos que devem ser traduzidos em ações,

quando couber, na formulação de cada Agenda 21 Local.

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2.4. ISO 14000

A International Organization for Standardization (ISO) é uma organização não-

governamental sediada em Genebra, fundada em 23 de fevereiro de 1947 com o objetivo de

ser o fórum internacional de normalização, atuando como entidade harmonizadora das

diversas agências nacionais.

Noventa e cinco por cento da produção mundial estão representados na ISO por mais

de uma centena de países-membros, os quais são classificados em P (Participantes) e O

(Observadores). A diferença fundamental entre ambos é o direito de votação que os membros

P têm nos vários Comitês Técnicos, Subcomitês e Grupos de Trabalho.

Para exercer seus direitos, é exigido que os países estejam em dia com suas cotas

anuais de participação e atuem de forma direta no processo de elaboração e aperfeiçoamento

das normas.

Entre suas normas está a Série ISO 14000, cujo objetivo geral é fornecer assistência

para as organizações na implantação ou no aprimoramento de um Sistema de Gestão

Ambiental (SGA), visando reduzir os impactos ambientais gerados na produção (inclui

matérias-primas), transporte, uso e disposição final do produto (descarte). Ela é consistente

com o desenvolvimento sustentável e é compatível com diferentes estruturas culturais, sociais

e organizacionais (AMBIENTEBRASIL, 2007).

Um SGA oferece ordem e consistência para os esforços organizacionais no

atendimento às preocupações ambientais através de alocação de recursos, definição de

responsabilidades, avaliações correntes das práticas, procedimentos e processos.

A ISO 14000 oferece diretrizes para o desenvolvimento e para a implementação de

princípios e sistemas de gestão ambiental, bem como sua coordenação com outros sistemas

gerenciais. Tais diretrizes são aplicáveis a qualquer organização – independente do tamanho,

tipo ou nível de maturidade – que esteja interessada em desenvolver, implementar e/ou

aprimorar um SGA. Estas são destinadas ao uso interno como uma ferramenta gerencial

voluntária, não sendo apropriada para uso por parte de entidades de Certificação/Registro de

SGA, como uma norma de especificações. As diretrizes baseiam-se nos elementos centrais da

especificação para SGA encontrados na ISO 14001 e incluem importantes elementos

adicionais para um Sistema de Gestão Ambiental amplo.

O ciclo do SGA segue a visão básica de uma organização que subscreve os seguintes

princípios:

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• Princípio 1

Uma organização deve focalizar aquilo que precisa ser feito - deve assegurar

comprometimento ao SGA e definir sua política.

• Princípio 2

Uma organização deve formular um plano para cumprir com sua política ambiental.

• Princípio 3

Para uma efetiva implantação, uma organização deve desenvolver as capacidades e

apoiar os mecanismos necessários para o alcance de suas políticas, objetivos e metas.

• Princípio 4

Uma organização deve medir, monitorar e avaliar sua performance ambiental.

• Princípio 5

Uma organização deve rever e continuamente aperfeiçoar seu sistema de gestão

ambiental, com o objetivo de aprimorar sua performance ambiental geral.

Dado que a Série ISO 14000 consiste em um conjunto de normas ambientais

voluntárias, as quais, em última instância, visam contribuir para a melhoria da qualidade do

meio ambiente, pode-se afirmar que o somatório de esforços individuais das empresas

contribui, em parte, para que se atinja o que atualmente é denominado de desenvolvimento

sustentável.

A certificação ISO 14000 auxiliará as empresas que vêem a preservação ambiental não

como um empecilho, mas como um fator de sucesso para se posicionarem no mercado, ou

seja, uma oportunidade de ascensão regional, nacional e internacional. Pois entre as vantagens

para a empresa estão o acesso a novos mercados; a redução e/ou eliminação de acidentes

ambientais, evitando, com isso, custos de remediação; o incentivo ao uso racional de energia e

dos recursos naturais; a redução do risco de sanções do Poder Público (multas) e facilidade ao

acesso a algumas linhas de crédito. Referente aos consumidores, estes possuirão maiores

informações sobre a origem da matéria-prima e composição dos produtos, podendo optar, no

momento da compra, por bens e serviços menos agressivos ao meio ambiente.

A partir de um SGA, a empresa passa a incentivar a reciclagem, buscar matérias-

primas e processos produtivos menos impactantes, buscando racionalizar o uso dos recursos

naturais renováveis e não-renováveis. Dessa forma, a implantação do SGA poderá possibilitar

o desenvolvimento de processos produtivos mais limpos, bem como de produtos menos

nocivos ao meio ambiente.

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Uma vez que a gestão ambiental visa corrigir problemas ambientais, decorrentes da

produção e consumo de bens que geram contaminações físicas e/ou externalidades negativas,

a sociedade de muito se beneficia de sua relevância no meio empresarial.

Por outro lado, existem algumas críticas em relação às normas da ISO 14000. Uma

delas seria a não exigência de indicadores de desempenho ambiental. De acordo com Marcelo

Kós Silveira Campos, gerente de assuntos técnicos da Associação Brasileira da Indústria

Química (Abiquim) que participou desde o início do processo de elaboração da norma

internacional, a maior dificuldade foi incluir o desempenho ambiental na série, dados a

desconfiança na efetividade da norma e os diferentes graus de maturidade da indústria ao

redor do mundo.

Outra crítica observada está na falta de um sistema amplo de gestão, isto é, a tendência

atual é a integração dos sistemas de gestão de qualidade, ambiente, saúde e segurança, pois

essas áreas são interdependentes. Esses campos, dependendo do ramo de atividade

empresarial, podem apresentar focos diferentes, mas no tema de gestão são pouco variáveis e

possuem muitos pontos comuns. O tripé básico da globalização desses sistemas consiste na

elaboração de normas homogêneas, na padronização das auditorias e no treinamento dos

auditores. Sendo assim, sempre haverá uma base comum a todos e elementos específicos por

ramo de atividade ou empresa.

2.5. Responsabilidade Social Empresarial (RSE)

Durante muito tempo, as empresas foram pressionadas a focar apenas na combinação:

qualidade dos produtos, preço competitivo e maximização do lucro. Nos tempos atuais, uma

nova visão do mundo organizacional alerta para questões como a governança corporativa, a

diversidade de aspectos sócio-culturais e econômicos e um maior respeito e garantia aos

direitos humanos como sendo indispensáveis à atuação responsável.

A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) revela-se uma atividade intrínseca ao

negócio da empresa. É uma forma de gestão empresarial que, segundo Grajew, envolve uma

atitude estratégica focada na ética, na qualidade das relações com os stakeholders e na

geração de valor. Como conseqüências, virão: “valorização da imagem institucional e da

marca, maior lealdade de todos os públicos, principalmente dos consumidores, maior

capacidade de recrutar e reter talentos, flexibilidade e capacidade de adaptação e longevidade”

(GRAJEW, 2003).

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A RSE surge como resgate da função social da empresa, cujo objetivo principal é

promover o desenvolvimento humano sustentável, que atualmente transcende o aspecto

ambiental e se estende por diversas áreas (social, cultural, econômica, política). No cenário

atual, a concepção que se tem é de que a responsabilidade empresarial está muito além de

manter o lucro de seus acionistas e dirigentes. As companhias passaram a repensar seus papéis

e formas de conduzir seus negócios, vindo a ser co-responsáveis pelo desenvolvimento das

comunidades nas quais estão inseridas, adotando ações que influenciem o bem-estar comum.

O conceito de RSE foi lançado no Conselho Empresarial Mundial para o

Desenvolvimento Sustentável em 1998, na Holanda. Já no Brasil, o movimento surgiu tendo

como base uma série de iniciativas de movimentos empresariais. Nacionalmente, a

organização que promove a RSE com maior destaque é o Instituto Ethos.

A responsabilidade social vem se mostrando um fator decisivo para o

desenvolvimento e o crescimento das empresas. Cresce a conscientização por parte da

sociedade do papel imprescindível que as organizações têm frente às questões sociais, assim

como a cobrança por uma atuação responsável e uma postura que explicite a preocupação

com tais questões.

Há um momento de transição da preferência dos consumidores em direção à

valorização de produtos de empresas que não têm envolvimento em corrupção, são

transparentes em seus negócios, respeitam o meio ambiente e a comunidade.

Além disso, os profissionais mais éticos preferem trabalhar em empresas que

valorizem a qualidade de vida de seus funcionários e respeitem seus direitos. A expressiva

desigualdade social do Brasil ressalta ainda mais o tema, fazendo com que a responsabilidade

social surja como uma aliada do desenvolvimento das comunidades, transformando as

empresas em agentes de uma renovação cultural e unindo diferentes atores em prol do bem-

estar social dentro e fora das organizações empresariais.

2.6. The Natural Step

Convencido de que o consenso sobre como atender às exigências mais básicas da vida

não só era possível, como também essencial para fazer avançar a sustentabilidade, Karl-

Henrik Robèrt, médico sueco especialista em câncer, realizou com sucesso a tarefa

extraordinariamente difícil da concordância, entre os cientistas, sobre os princípios

fundamentais para uma sociedade sustentável. Para colocar em prática esses princípios,

Robért adotou uma estrutura de cinco níveis que possibilita o planejamento estratégico rumo à

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sustentabilidade, tendo como ideal uma nova cultura que compreende a vida de modo

sistêmico e o compartilhamento da responsabilidade social e ambiental (ROBÈRT, 2002).

The Natural Step (TNS) é uma organização de consultoria e pesquisa idealizada e

fundada por Robèrt em abril de 1989 na Suécia que hoje atua em organizações de todo o

mundo, gerando soluções, modelos e ferramentas concebidas especialmente para acelerar a

sustentabilidade global.

Figura 3: Logotipo da organização The Natural Step (TNS)

Fonte: TNS Brasil

Os conceitos do TNS permitem que os administradores do mais alto escalão das

companhias encarem as considerações ambientais de forma sistemática e as integrem na

estratégia da corporação, visando a prosperidade no longo prazo. Aceito por um número

crescente de empresas, universidades e municipalidades, o TNS trabalha para melhorar o

desempenho econômico das empresas por meio da aceitação dos preceitos sustentáveis que

orientam as melhores práticas ambientais e sociais, representando um diferencial em relação à

concorrência que mantém os padrões tradicionais.

2.6.1. Introdução à Plataforma TNS

A Plataforma TNS consiste em um modelo sistêmico de gerenciamento estratégico das

organizações em direção à sustentabilidade, composto por quatro princípios relacionados ao

desenvolvimento sustentável. A capacidade da ecosfera de sustentar a produtividade e a

biodiversidade dos ecossistemas e assim atender às demandas da sociedade por serviços e

recursos depende de interações muito complexas entre diversas espécies dentro dos

ecossistemas e entre os ecossistemas e o mundo geofísico circunvizinho.

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Figura 4: Ciclos Naturais Fonte: TNS Brasil

A não-sustentabilidade significa uma degradação sistêmica dessa capacidade que as

atividades humanas têm gerado nos últimos 200 anos, na era industrial, principalmente pela

incrível expansão do uso de energia fóssil. Devido à complexidade da ecosfera essa

degradação é percebida como uma gama muito diversa de sintomas (mudanças climáticas,

efeitos tóxicos, doenças, perda da biodiversidade, perda da produtividade no solo cultivável e

nas regiões pesqueiras, desigualdade social e tensões sócio-políticas) (ROBÈRT, 2002).

Figura 5: Ciclos Naturais – como nós influenciamos. Fonte: TNS Brasil

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2.6.2. Do paradigma do cilindro à realidade do funil

Para explicar os efeitos da não-sustentabilidade (o declínio da capacidade da ecosfera

de sustentar a nossa economia atual e a própria vida) e a necessária mudança de paradigma

para o modelo sustentável, Robèrt utiliza a seguinte metáfora: inicialmente a sociedade possui

uma falsa percepção de desenvolvimento, como se estivesse em um caminho cilíndrico que

permitiria a continuidade do crescimento, apesar dos impactos sócio-ambientais, que seriam o

preço pago pelos benefícios de uma sociedade industrializada.

Figura 6: O Paradigma do Cilindro

Fonte: TNS Brasil

Entretanto, uma nova percepção se forma quando se atenta para a diminuição da

capacidade de autodepuração de resíduos, a capacidade de renovação dos ecossistemas, a

pureza e a disponibilidade de recursos, além da justiça e da equidade entre os povos. As

colheitas intensivas em excesso, a remoção e substituição e outras formas prejudiciais de

manipulação física causam a perda da produtividade de florestas, terras produtivas e

pesqueiros (mesmo que as colheitas e as capturas possam aumentar durante algum tempo). A

conseqüência é que essas bases de recursos vitais requerem uma inversão de recursos cada

vez maior (fertilizantes, pesticidas) para a mesma colheita ou captura. Ao mesmo tempo, os

ecossistemas estão sujeitos a concentrações cada vez maiores de substâncias que causam

mudanças climáticas e os poluem. Há de se considerar, ainda, agravantes como aumento

populacional, demanda global e pressão do mercado.

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Finalmente, cada vez mais pessoas na Terra contribuem para o efeito do funil; per

capita, as paredes do funil fecham-se ainda mais.

Figura 7: O Paradigma do Funil

Fonte: TNS Brasil

Definem-se em detalhes as diferenças entre os paradigmas do cilindro e do funil:

Tabela 1: Diferenças entre os paradigmas do cilindro e do funil

Fonte: TNS Brasil

C IL IN D R O F U N ILN a fa ls a p e rc e p ç ã o d e c ilin d ro , a c re d ita - s e q u e :

E m u m a p e rs p e c t iv a s is tê m ic a , a r e a lid a d e é :

Im p a c to s s o c ia is e e c o ló g ic o s s ã o e v e n to s is o la d o s

E s s e s im p a c to s e s tã o c o n e c ta d o s e n t re s i . S ã o e r ro s s is tê m ic o s in e re n te s a o n o s s o p ro c e s s o d e s o c ie d a d e

Im p a c to s s o c ia is e e c o ló g ic o s v ã o e v ê m . A s i tu a ç ã o n ã o i rá s e a g ra v a r

O p o te n c ia l d a s o c ie d a d e e s tá e m d e c l ín io . A s c o n d iç õ e s e s s e n c ia is a o b e m e s ta r s o c ia l e e c o ló g ic o s ã o d e te r io ra d a s p ro g re s s iv a m e n te

S u s te n ta b i l id a d e é a v is ã o i r re a l d e s o n h a d o re s e m re la ç ã o a u m a m u n d o p e r fe i to

A q u e s tã o d o D S é a lc a n ç a rm o s a o m e n o s u m a fo rm a d e c i l in d ro ( re a l iz a n d o a s c o n d iç õ e s m ín im a s p a ra o D S )

O s im p a c to s q u e te m o s s ã o a q u e le s q u e v e m o s

O s p io re s im p a c to s s ã o a q u e le s q u e n ã o v e m o s

Im p a c to s e c o ló g ic o s e s o c ia is p o d e m s e r c o n s id e ra d o s c o m o c u s to d o a tu a l b e m e s ta r e c o n ô m ic o

N ã o e x is te fu tu ro , s e ja p a ra a e c o n o m ia o u p a ra o b e m e s ta r , a o m e n o s q u e o s e r ro s s is tê m ic o s s e ja m e r ra d ic a d o s

M e io A m b ie n te = A u m e n to d e c u s to O D S s e rv e p a ra e r ra d ic a r d e fo rm a e s t ra té g ic a o s e r ro s s is tê m ic o s a u m c u s to m ín im o p o s s ív e l

G e s tã o A m b ie n ta l p o d e s e r fe i ta e m d e p a r ta m e n to is o la d o d a s p r in c ip a is d e c is õ e s

Q u e s tã o e s t ra té g ic a a s e r t ra ta d a p e lo s p r in c ip a is e x e c u t iv o s d a e m p re s a

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A mesma metáfora é utilizada para explicar o beneficio resultante de evitar que as

paredes do funil se fechem, promovendo atividades para a sua abertura: para empresas e

governos que contribuem para o estreitamento do funil em relação às nossas condições de

saúde, bem-estar e prosperidade, as paredes do funil se traduzirão como custos cada vez mais

altos para a administração do lixo, impostos, seguros, reservas, empréstimos, perda de

credibilidade no mercado e perda de participação no mercado em relação aos demais que

estejam habilmente considerando esses aspectos no seu plano para o futuro.

Figura 8: O Resgate da Sociedade Sustentável

Fonte: TNS Brasil

2.6.3. Estrutura de referência do TNS

A estrutura de referência do TNS foi elaborada para proporcionar ao público em geral,

à comunidade científica e às pessoas encarregadas de tomar decisões nas empresas e na

política, um modelo de pensamento que possibilite planejar e avaliar as atividades do ponto de

vista da sustentabilidade futura. Esta estrutura de referência do TNS é aplicada no diálogo, na

solução de problemas, no planejamento estratégico e como princípio norteador para a adoção

de ferramentas compatíveis (dentre as quais Análise do Ciclo de Vida, Agenda 21,

Capitalismo Natural, ISO 14001, BSC Sustainability), adequadas a cada caso.

A estrutura de referência é composta por cinco níveis – Sistema, Sucesso, “Estratégia”,

Ações e Instrumentos – e inclui metáforas, princípios e um modelo próprio de análise.

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2.6.4. O Planejamento em Sistemas Complexos

Para se obter soluções para problemas complexos é necessária uma perspectiva capaz

de abranger a situação em sua totalidade. Para isso, utiliza-se uma abordagem sistêmica que

possibilite criar o entendimento sobre o sistema como um todo, bem como sobre as conexões

existentes dentro deste.

O sistema pode ser comparado a uma árvore. Os troncos e os galhos representam os

princípios fundamentais deste sistema e as folhas representam a complexidade e os detalhes.

Sem os troncos e galhos, as folhas não possuem apoio.

Quando o processo do pensamento sistêmico é estimulado, o ser humano apresenta

fácil entendimento e adaptação deste, uma vez que o pensar sistêmico é intrínseco ao ser

(HOUSE, 2006).

A importância da abordagem sistêmica:

• a perspectiva sistêmica possibilita olhar o sistema como um todo, e não apenas o

enfoque das partes;

• a maneira como as partes de um sistema estão organizadas determina o desempenho

do todo;

• não se devem ignorar as condições sistêmicas básicas e esperar que este sistema

continue funcionando sem problemas;

• as partes são inter-dependentes;

• sistemas necessitam ter todas as suas partes presentes para que possam realizar seu

propósito.

2.6.5. Os Cinco Níveis Hierárquicos para o Planejamento de Sistemas Complexos

Não só é possível descrever os princípios relacionados a sistemas complexos, como

também planejar dentro destes sistemas. É possível discernir cinco níveis interdependentes, e

aplicá-los como plataforma ou framework para o desenvolvimento sustentável (HOUSE,

2006).

1) Nível Sistema

O sistema deve ser todo descrito, com todas as partes e processos que o constitui,

inter-relacionamentos e funções, dentro do qual todo o planejamento deve ocorrer. É o

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cenário no qual irá atuar. Para evitar o reducionismo, é essencial iniciar-se com uma

visualização geral - “visão da águia”. Isto serve para identificar os princípios básicos

que descreve o sistema com seus principais componentes, inter-relacionamentos e

aspectos essenciais do funcionamento até que maiores níveis de detalhamento sejam

abordados.

2) Nível Sucesso

“Quais princípios se expressam quando nos tornamos bem sucedidos no sistema?”

Para obter sucesso em ações é primordial ter-se claro onde se quer chegar. O sucesso

não é pré-determinado globalmente, ele está diretamente relacionado com o sistema

onde se atuará.

3) Nível Estratégia

“Qual metodologia precisa ser usada para que o planejamento estratégico seja bem

sucedido?”

Este nível descreve os princípios estratégicos para alcançar-se o sucesso no sistema.

Ele descreve o percurso a ser trilhado para se atingir o sucesso proposto. O nível 3 não

deve ser confundido com o nível 2 – sucesso, pois o nível estratégico está relacionado

aos processos necessários para alcançar o objetivo final, enquanto o objetivo em si

deve ser descrito dentro do seu próprio nível – sucesso.

4) Nível Ações

Quais medidas devem ser integradas ao planejamento estratégico para viabilizar a

concretização dos princípios necessários para o sucesso?

Neste nível deve-se descrever as ações tangíveis que ocorrem no sentido de

estrategicamente (nível 3) alcançarmos o sucesso (nível 2) no sistema (nível 1). É

neste nível os eventos isolados dentro do processo podem ser descritos. O nível 4, não

deve ser confundido com o nível 2 (sucesso) ou 1 (sistema). Determinadas ações são

tão comuns que são confundidas com princípios/estratégias. Caso ocorra alguma

destas confusões, existe um grande risco de se resolver um problema e gerar outro.

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5) Nível Instrumentos

Neste nível, são descritas as diferentes ferramentas capazes de auxiliar a execução das

Ações (nível 4) que sejam Estratégicas (nível 3) para alcançar o Sucesso (nível 2)

dentro do Sistema (nível 1).

A figura 9 descreve a dinâmica dos cinco níveis hierárquicos:

Figura 9: Os cinco níveis hierárquicos

Fonte: LATEC – Universidade Federal Fluminense

2.6.6. Modelo de cinco níveis para o desenvolvimento sustentável

“Como aplicar o modelo dos cinco níveis hierárquicos ao sistema Terra e às questões

do Desenvolvimento Sustentável?”

O Sistema (nível 1) neste caso será a biosfera com suas sociedades, Sucesso (nível 2)

no Sistema será a sociedade sustentável dentro da biosfera, Estratégias (nível 3) será o

Desenvolvimento Sustentável Estratégico, Ações (nível 4) serão todas as ações concretas que

são realizadas e Instrumentos (nível 5) serão os manuais e ferramentas.

O coração deste processo de planejamento e cooperação está no nível 2 – Sucesso. Ele

deve informar as estratégias, as ações e a elaboração dos instrumentos.

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1) Nível Sistema – A Sociedade na Biosfera

Para chegar a uma definição de sucesso (nível 2) – neste caso a sustentabilidade –

precisa-se conhecer suficientemente o sistema biosfera (nível 1), as interações com a

sociedade humana e fluxos de materiais entre os dois.

Dentro de uma perspectiva geral, pode-se constatar que a sustentabilidade está

relacionada a dois fundamentos básicos: um ecossistema robusto e saudável, e um tecido

social igualmente forte. Existe uma relação complexa entre as dimensões sociais e ecológicas

da insustentabilidade: de um lado, a dependência da sustentabilidade social da

sustentabilidade ecológica tem se tornado cada vez mais evidente; de outro, a sustentabilidade

ecológica tornou-se dependente da sustentabilidade social.

Conclui-se que a relação entre esse sistema gerará um ciclo vicioso de inter-

dependência com resultados negativos de exploração por parte da sociedade. O resultado final

de tal processo de desenvolvimento insustentável será um período de aumento de violência,

alienação, ódio e a falta de confiança. Conseqüentemente, várias formas de barbarismo se

desenvolverão.

Essa dinâmica – ameaça ecológica que leva a uma intranqüilidade social, resultando

em mais ameaças ecológicas – está na base dos padrões de insustentabilidade e

comportamentos. Uma armadilha dentro da qual vivem os seres humanos. Guerras em função

de recursos naturais (petróleo, água potável, solo cultivável) e terrorismo que se agrava a cada

dia. Pode-se concluir que a “saúde humana” não pode ser completamente definida apenas pelo

nível pontual, necessita-se da perspectiva sistêmica para definí-la em escala global.

2) Nível Sucesso – Princípios Básicos para Sociedade Sustentável na Biosfera

Após entender o sistema, é necessário definir o que é considerado sucesso. Para chegar

à definição dos princípios da sustentabilidade (o segundo dos cinco níveis), é preciso

identificar-se os mecanismos através dos quais a situação se manifesta ou se agrava.

A sustentabilidade não significa uma situação idealista sem impactos. Precisamos, no

mínimo, realizar a abertura do funil, e avançar rumo à restauração – recuperação dos recursos

extraídos da Terra, tais como: recuperação de áreas desertificadas, despoluição de lagos e rios

e resgate da fé nas comunidades, que sofrem com a ausência de significado para suas vidas.

Para tanto, é necessário compreender os princípios básicos que durante um período de

aproximadamente 3,5 bilhões de anos de evolução possibilitaram aos ecossistemas se

tornarem provedores de serviços (como ar e água potável) e recursos (como matéria-prima) de

que necessitamos para a manutenção da sociedade humana.

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3) Nível Estratégia – Desenvolvimento Sustentável Estratégico

“Como devemos planejar? Qual metodologia precisa ser usada para o planejamento

estratégico, de modo que possamos ser bem sucedidos?”

Com o intuito de auxiliar os processos de tomada de decisão relacionados ao

desenvolvimento sustentável, lidando-se com a complexidade de suas variáveis de forma

abrangente e sistemática, é essencial adotar-se as lógicas do pensamento upstream (rio acima)

nas cadeias de causa-efeito e do backcasting ao executar o planejamento.

Pensamento upstream

Os problemas são resolvidos com o pensamento upstream relacionado à prevenção,

adotando-se medidas para eliminar as origens subjacentes dos problemas ao invés de

consertá-los depois de terem ocorrido. Há três fortes razões para isso, considerando a cadeia

de causa-efeito: (1) em sistemas complexos nunca se conhecem exatamente todas as

conseqüências das ações realizadas; (2) convém evitar complexos reparos em downstream (rio

abaixo) e (3) ações corretivas podem ser adotadas quando é tarde demais. Conclusivamente, o

pensamento upstream é indicado no estudo dos complexos sintomas da natureza decorrentes

do desenvolvimento não-sustentável e também na análise das causas sociais desses sintomas.

Backcasting

É um método de planejamento que substitui a análise baseada em previsões. No

backcasting projeta-se um ideal de sucesso para o futuro e em seguida planeja-se o que deve

ser feito para alcançá-lo. É uma medida eficaz para lidar com sistemas complexos, ajustando-

se o conjunto de variáveis de forma que cada atividade seja uma base lógica para a

subseqüente.

A metodologia predominante para o trabalho de planejamento com grandes grupos é

conhecida como forecasting (Previsão). Em termos práticos significa: visualizar um futuro

que seja melhor do que a realidade atual, no sentido de não haver os problemas que foram ou

são enfrentados até o momento.

Os problemas a resolver são definidos por: (1) problemas atuais; (2) problemas vistos

em relação à história passada. Por ser “hoje” o ponto de partida, o julgamento é feito com

base no que é considerado realista hoje. Neste contexto, o processo de planejamento tem o

objetivo implícito de corrigir os problemas atuais e uma suposição implícita que ao resolver

esses problemas a sociedade se tornará mais resistente em relação aos problemas futuros.

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Desse modo, no planejamento concreto existem três diferenças significantes entre

backcasting e forecasting:

• O backcasting é limitado apenas pela criatividade gerada. Não é limitado, como o

forecasting, pela capacidade de avaliar o passado e o presente em alto nível de

detalhamento;

• O backcasting não impõe restrições nas escolhas das ações; existem diversas formas

de se atingir uma meta. O efeito em rede do backcasting é melhorar a probabilidade de

que as ações tomadas irão levar ao sucesso;

• Finalmente, o backcasting não exige um campo de trabalho constante e estático. Com

um ponto em mente é possível manter a direção, e ajustar-se segundo as modificações

das condições.

4) Nível Ações – Ações / Atitudes concretas tomadas para a Sustentabilidade

“Quais são os princípios essenciais para uma sociedade sustentável na Biosfera?

Aonde estamos indo? Quais princípios se expressam quando alcançamos o sucesso no

sistema?”

Há quatro princípios básicos para a sustentabilidade no sistema ecosfera/sociedade –

são os princípios que definem a abertura do funil: são as condições sistêmicas. As primeiras

três condições foram desenvolvidas como mecanismos funcionalmente diferentes para a não-

sustentabilidade ecológica – os quais podem destruir a capacidade da ecosfera de sustentar a

humanidade. Então, busca-se juntamente o contrário de cada um desses mecanismos. A quarta

condição é a condição básica com relação ao nosso uso dos recursos na sociedade, para

possibilitar a satisfação das outras três condições.

CONDIÇÃO SISTÊMICA OBJETIVO FINAL DE SUSTENTABILIDADE MÉTODOS SUGERIDOS

1

Na sociedade sustentável, a natureza não está sujeita

a concentrações sistematicamente

crescentes de substâncias extraídas da crosta

terrestre.

Para uma organização ou empresa é eliminar a

contribuição para os aumentos sistemáticos nas concentrações

da crosta terrestre.

Substituir certos minerais que são escassos na natureza por outros que são mais abundantes, usar todos os materiais de mineração de modo

eficiente e reduzir sistematicamente a dependência de combustíveis

fósseis.

2

Na sociedade sustentável, a natureza não está sujeita

a concentrações sistematicamente

crescentes de substâncias produzidas pela

sociedade.

Para uma organização ou empresa é eliminar a

contribuição para os aumentos sistemáticos de concentrações de substâncias produzidas pela

sociedade.

Substituir sistematicamente certos compostos persistentes e

antinaturais pelos que normalmente são abundantes ou que se

decompõem mais facilmente na natureza, e usar todas as substâncias

produzidas pela sociedade de maneira eficiente.

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3

Na sociedade sustentável, a natureza não está sujeita

à degradação sistematicamente

crescente por meios físicos.

Para uma organização ou empresa é eliminar a contribuição para a

degradação física sistemática da natureza, com colheitas

excessivas, inovações e outras formas de modificação.

Só tirar recursos de ecossistemas bem-administrados, perseguir sistematicamente o uso mais

produtivo e eficiente tanto dos recursos quanto da terra, e agir com

precaução em todos os tipos de modificações da natureza.

4

Na sociedade organização ou empresa deve-se contribuir o máximo

possível para a sustentabilidade, as

necessidades humanas são satisfeitas em todo o

mundo.

Para uma atender às necessidades humanas na

nossa sociedade e em todo o mundo e, acima de todas as

substituições e medidas tomadas para atingir os três

primeiros objetivos.

Usar todos os nossos recursos de maneira eficaz, razoável e com

responsabilidade, de modo que as necessidades de todas as pessoas,

cuja vida influenciamos no momento, e as necessidades futuras dos que ainda não nasceram tenham as melhores possibilidades de serem

atendidas.

Tabela 2: As quatro condições sistêmicas

Fonte: The Natural Step - Karl-Henrik Robèrt

Por violar as Condições Sistemas é que a sociedade causa o estreitamento das paredes

do funil. De acordo com a discussão geral a respeito, é muito complicado fazer uma descrição

detalhada de todos os sintomas que se manifestam na natureza devido à violação desses

princípios.

Tabela 3: A dimensão social

Fonte: Apostila TNS Wills H.

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A Metodologia TNS propõe, dessa forma, uma estratégia que contempla três

componentes importantes para a integração organizacional rumo ao desenvolvimento

sustentável:

I) Abordagem passo a passo

Significa fazer perguntas pertinentes rio acima com respeito às Condições Sistêmicas.

“Essas atividades diminuem a nossa dependência da contribuição para a violação atual das

Condições Sistêmicas pela sociedade?” “Diminuímos sistematicamente: a) a nossa demanda

de combustíveis fósseis e do uso dissipativo de metais (Condições Sistêmicas 1 e 4); b) o

nosso uso de compostos antinaturais persistentes (Condição Sistêmicas 2); c) qualquer

atividade que viole fisicamente a vitalidade dos ecossistemas (Condição Sistêmica 3); d)

desperdiçando recursos, utilizando métodos mais sofisticados para atender às necessidades

humanas (Condição Sistêmica 4)?”.

II) Bases flexíveis

Para ligar tecnicamente o longo prazo ao curto prazo, é necessária uma estratégia de

planejamento que simultaneamente assegure que cada etapa seja uma base flexível para

atividades futuras de acordo com as Condições Sistêmicas.

Assim, evitam-se os becos sem saída – mitigando-se atividades que, embora possam

violar as Condições Sistêmicas em menor grau, são difíceis de ser posteriormente

aperfeiçoadas segundo a mesma orientação. Isso é especialmente importante em caso de

grandes investimentos e que assim vinculam recursos por períodos relativamente longos.

Um exemplo de um beco sem saída seria investir pesadamente no desenvolvimento de

motores com mais eficiência energética (Condição Sistêmica 4), negligenciando a

oportunidade de desenvolver uma tecnologia para usuários de outro tipo de energia além dos

combustíveis fósseis (Condição Sistêmica 1).

III) Fruta ao alcance da mão

Para vincular economicamente o curto prazo ao longo prazo, precisa-se priorizar as

“bases flexíveis” que tenham possibilidade de, além de buscar o sucesso futuro, oferecer

também a sustentabilidade financeira dos projetos, encontrando, por exemplo, atividades que

possam economizar recursos, identificando uma necessidade crescente do mercado ou

utilizando uma estrutura já existente.

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Um exemplo é a introdução das células fotovoltaicas em projetos onde estão as

alternativas atualmente mais baratas, ou até mesmo a única possível – como uso das células

fotovoltaicas em satélites, relógios, calculadoras ou cortadores de grama com funcionamento

independente.

Juntos, esses três componentes constituem um conjunto de idéias que possibilitam

vincular pequena escala com larga escala, rio acima com rio abaixo, economia com ecologia e

curto prazo com longo prazo.

5) Nível Instrumentos – Ferramentas para o Desenvolvimento Sustentável

Instrumentos podem ser categorizados dentro de três principais tipos:

• Instrumentos Estratégicos: são instrumentos que servem para assegurar as Ações

(nível 4), em consonância com os Princípios Estratégicos (nível 3), para melhorar as

probabilidades de alcançar o Sucesso (nível 2), no Sistema (nível 1).

• Instrumentos de Sistemas: realizam medições diretas no Sistema (nível 1) no sentido

de aprender mais sobre o sistema, ou estudar sobre sua degradação ou melhorias.

• Instrumentos de Capacitação: contribuem para que as pessoas possam aprender sobre

sustentabilidade (nível 2) e o desenvolvimento sustentável (nível 3).

2.6.7. Aplicando a Plataforma TNS − Análise ABCD

A estrutura do TNS permite, através da formação de uma corrente de trabalho em

equipe, a criação do planejamento sistêmico referenciando princípios de sucesso futuros

dentro das condições propostas pelo pensamento sistêmico do TNS sintetizadas nas Quatro

Condições Sistêmicas citadas anteriormente. Dessa forma, sugere-se que um dos objetivos das

empresas seja não contribuir para a violação dessas condições.

Para isso, entender as diferenças entre as empresas e vinculá-las a uma “linguagem

comum” por meio da qual as mesmas possam promover o intercâmbio ou a adaptação das

informações em direção ao desenvolvimento sustentável torna-se crucial. Além disso, quando

as variáveis da sustentabilidade são adicionadas, deve-se compreender a forma com a qual

diversos estrategistas pensam.

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Figura 10: O Paradigma do Funil na Análise ABCD

Fonte: The Natural Step – Brasil

Essa estruturação analítica resultou no que finalmente denominou-se “Análise

ABCD”. A análise ABCD é o instrumento específico desenvolvido e promovido pelo The

Natural Step para aplicação do backcasting a partir de princípios do sucesso e possui quatro

etapas:

• Etapa “A” - Compartilhando a Plataforma TNS

Partilhar a estrutura de referência com a equipe. Debater o funil, os mecanismos pelos

quais as empresas que atingiram as suas paredes. As Condições Sistêmicas que

definem a abertura do funil. Analisar os benefícios que as estratégias podem trazer

para evitar as paredes do funil.

• Etapa “B” - Mapeamento Inicial e Análise da Situação Atual

Com o auxilio de ferramentas de análise ambiental, a equipe focaliza-se nas operações

atuais e questiona a relação com as condições sistêmicas, mapeando a dependência de

fluxos de necessidades dentro dos processos produtivos e as matérias-primas

relacionadas a eles.

Mapeando Sistemas em Organizações

Tarefa Objetivo

1. Identificar os processos principais.

Produtos, processos, serviços da organização e

as etapas de processamento que constitui cada

processo.

Entendimento e esclarecimento sobre o

componente e o processo relacionados aos

produtos e serviços da organização

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2. Identificar as etapas dentro de cada

processo.

Entendimento sobre cada etapa do processo.

Podem variar entre 2 ou mais 10 etapas.

3. Em cada etapa do processo, descrever os

fluxos de entrada.

Energia e materiais – sólidos, líquidos e gasosos

– na organização e nas suas origens.

Entendimento e esclarecimento sobre todos os

materiais e energia entrando na organização e

suas origens.

4. Em cada etapa de processo descrever os

fluxos de saída.

Resíduos sólidos, líquidos e gasosos da

organização e seu destino final.

Entendimento e esclarecimento sobre todos os

materiais e energia que saem da organização e

seus destinos.

5. Desenhar um diagrama do seu sistema.

Mapa da organização como sistema, detalhando

os processos, entrada de energia e materiais,

saída do material e destino final na ecosfera.

Entendimento e esclarecimento sobre origens e

destinos dos fluxos críticos de energia e

materiais na organização e relações com a

ecosfera.

Tabela 4: Mapeando sistemas em sua organização

Fonte: Apostila TNS Wills H.

• Etapa “C” - Criando uma Visão Clara e Convincente

A etapa C estimula, através da incorporação conceitual das condições sistêmicas, a

geração de idéias e propostas direcionadas a soluções dos processos atuais e à visão

sólida do futuro sustentável, sem a possibilidade de abertura de teorias ou atitudes

restritivas para o andamento desta incitação.

• Etapa “D” - Estabelecendo Prioridades e Ações Práticas

As soluções da Etapa “C” são priorizadas em um programa de atividades inicias para a

mudança. Existem três critérios pelos quais são selecionadas as soluções de alta

prioridade. Formulam-se então três perguntas a elas relacionadas:

1. Esta medida irá nos aproximar dos princípios do sucesso (ex.: princípios da

sustentabilidade)?

2. Esta medida viabilizará a criação de uma plataforma técnica flexível, possível de

ser aprimorada mais tarde?

3. A medida será sustentável social, ambiental e economicamente?

A resposta positiva para estas três questões significa que as medidas servirão como

marco para alcance do sucesso futuro. A Análise ABCD, quando praticada, aumenta a

contribuição e o sentido de responsabilidade na equipe.

A Plataforma TNS em si pode funcionar como um instrumento de comunicação e

interação social no ambiente interno da organização.

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CAPÍTULO III 3. METODOLOGIA

3.1. Introdução

Sabendo-se que a pesquisa acadêmico-científica não é produto de mera reprodução de

conhecimento socialmente acumulado, deve-se entendê-la no contexto da formação como “a

realização concreta de uma investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as

normas da metodologia consagradas pela ciência. É o método de abordagem do problema em

estudo que caracteriza o aspecto científico de uma pesquisa” (RUIZ, 1982).

Em termos gerais, uma pesquisa acadêmico-científica pode ser entendida como um

“trabalho empreendido metodologicamente quando surge um problema para o qual se procura

a solução adequada de natureza científica” (SALOMON, 1991). Consultando assim a

literatura na área, os métodos podem ser subdivididos em métodos de abordagem e métodos

de procedimentos (LAKATOS e MARCONI, 1995).

3.2. Métodos de abordagem

• Dedutivo: parte de teorias e leis mais gerais para a ocorrência de fenômenos

particulares.

• Indutivo: o estudo ou abordagem dos fenômenos caminha para planos cada vez mais

abrangentes, indo das constatações mais particulares às leis e teorias mais gerais.

• Hipotético-dedutivo: que se inicia pela percepção de uma lacuna nos conhecimentos

acerca da qual formula hipóteses e, pelo processo dedutivo, testa a ocorrência de

fenômenos abrangidos pela hipótese.

• Dialético: que penetra o mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da

contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na natureza e na

sociedade.

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3.3. Métodos de procedimentos

• Histórico: Parte do princípio de que as atuais formas de vida e de agir na vida social,

as instituições e os costumes têm origem no passado, por isso é importante pesquisar

suas raízes para compreender sua natureza e função.

• Monográfico: Para Lakatos e Marconi (1996) é “um estudo sobre um tema específico

ou particular de suficiente valor representativo e que obedece a rigorosa metodologia.

Investiga determinado assunto não só em profundidade, mas em todos os seus ângulos

e aspectos, dependendo dos fins a que se destina”.

• Comparativo: Consiste em investigar coisas ou fatos e explicá-los segundo suas

semelhanças e suas diferenças. Geralmente o método comparativo aborda duas séries

de natureza análoga tomadas de meios sociais ou de outra área do saber, a fim de

detectar o que é comum a ambos. Este método é de grande valia e sua aplicação se

presta nas diversas áreas das ciências, principalmente nas ciências sociais. Esta

utilização deve-se pela possibilidade que o estudo oferece de trabalhar com grandes

grupamentos humanos em universos populacionais diferentes e até distanciados pelo

espaço geográfico. (FACHIN, 2001).

• Etnográfico: Estudo e descrição de um povo, sua língua, raça, religião e cultura.

• Estatístico: Método que implica em números, percentuais, análises estatísticas,

probabilidades e está quase sempre associado à pesquisa quantitativa. “Este método se

fundamenta nos conjuntos de procedimentos apoiados na teoria da amostragem e,

como tal, é indispensável no estudo de certos aspectos da realidade social em que se

pretenda medir o grau de correlação entre dois ou mais fenômenos” (FACHIN, 2001).

Para o emprego desse método, necessariamente o pesquisador deve ter conhecimentos

das noções básicas de estatística e saber como aplicá-las. O método estatístico se

relaciona com dois termos principais: população e universo.

3.4. O método empregado

O presente trabalho apresenta a abordagem da dialética descrevendo a realidade e

refletindo-a, não a interpretando, porém incentivando a reflexão acerca da mesma. Sua lógica

leva a uma seqüência de argumentação e contestação, organizada em três momentos: tese,

antítese e síntese.

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Em sendo um trabalho monográfico, é necessário que este se baseie em pesquisa

bibliográfica nacional e internacional. Portanto, a partir daí é que se configura o trabalho.

E, como no Brasil não se encontra publicada nenhuma aplicação prática de maneira

impressa sobre o tema TNS, não se pode fazer nenhuma pesquisa de campo para verificar

resultados.

Busca-se também, por meio do procedimento metodológico exploratório ou qualitativo

analisar as publicações já existentes (livros, jornais, revistas), assim como as outras fontes de

material informativo que ainda não receberam tratamento analítico ou formal, porém possuem

relevância de conteúdo (relatórios, tabelas, etc.) que referenciam o tema da sustentabilidade,

bem como os eventos e acontecimentos mundiais de maior relevância sobre o

desenvolvimento sustentável.

3.5. Questões

Levantam-se as seguintes questões relevantes:

• Como surgiram e evoluíram os conceitos do desenvolvimento sustentável?

• Quais os resultados das ações motivadas pelas inquietudes e problemáticas

evidenciadas nos meios econômico, social e ambiental?

• É realmente possível se desenvolver sustentavelmente?

• O que é preciso fazer para se alcançar a sustentabilidade? Quais são as ferramentas

disponibilizadas atualmente?

Define-se também, com maior detalhamento, a necessidade de ações preventivas e

corretivas, através de mecanismos e ferramentas que direcionem as organizações a essas

práticas.

A utilização dessas metodologias de pesquisa deve reunir as informações relevantes e

necessárias ao pleno atendimento do objetivo proposto por este trabalho. Desta maneira, as

respostas para estas e outras questões, que surgirão ao longo da obra, deverão ser esclarecidas.

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CAPÍTULO IV

4. RESULTADOS DAS ANÁLISES

4.1. Visão crítica

A promoção internacional do TNS como a base de um consenso científico em

sustentabilidade não é universalmente aceita. Há, na comunidade científica, alguns

representantes de opiniões contrárias, como Paul Upham, doutor do Departamento de

Ciências Ambientais e Geográficas do Reino Unido, que liderou o estudo “Scientific

Consensus on Sustentability: the case of The Natural Step”.

Segundo Upham, o TNS possui uma base mais ética e política do que propriamente

científica, por consistir em um conjunto de princípios minimalistas – de forma a conseguir

alcançar o consenso – e pelo fato de que para o TNS a contribuição científica não é

considerada conclusiva: opiniões pedagógicas, políticas e éticas são também fontes legítimas

de julgamento no The Natural Step. Além disso, o TNS não apenas analisa as ações das

organizações de uma forma defensiva cientificamente: ele exorta-as a mudar suas formas de

agir (UPHAM, 2000).

4.2. Propostas factíveis

4.2.1. The Natural Step e Sistemas de Gestão Ambiental

A utilização da Plataforma TNS como uma ferramenta de planejamento estratégico

viabiliza que as empresas identifiquem os riscos e as oportunidades associados ao desafio da

sustentabilidade. Ela provê uma visão clara e uma definição rigorosa de sustentabilidade,

sendo uma verdadeira bússola para as companhias que buscam o desenvolvimento

sustentável.

Entretanto, como o TNS não é um processo prescritivo, é muito importante para as

empresas integrá-lo a um Sistema de Gerenciamento Ambiental (SGA), de forma a somar os

benefícios de uma visão sistêmica de para onde a organização está indo com uma metodologia

prática de como chegar lá.

O fundador do TNS, Karl-Henrik Robèrt, comparou um Sistema de Gerenciamento

Ambiental a um barco à vela e uma ferramenta de planejamento estratégico (como a

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Plataforma TNS) a uma bússola ou um mapa para guiar o barco. Ampliando-se a metáfora,

tem-se que um SGA em geral pode levar uma organização a navegar em costas conhecidas,

como as legislações aplicáveis e as melhorias incrementais, mas não guiá-la pelas tempestades

da economia global e das crescentes pressões ecológicas (Kranz e Burns, 1997). Com o TNS

provendo a direção, o SGA de uma organização pode auxiliar a organização no caminho da

sustentabilidade.

Entre as empresas que utilizam o TNS vinculado a um SGA está o McDonald’s da

Suécia. Seu gerente ambiental, Bertil Rosquit, afirmou antes da integração: “Considerando

que todo o nosso programa ambiental é baseado nas condições sistêmicas, incorporar a

Plataforma TNS ao nosso novo sistema ISO 14000 não será problema. De fato, a ISO 14000

solidificará nossos objetivos ainda mais” (BURNS, 2000).

4.2.2. Sistemas de Gestão da Sustentabilidade

A integração de um SGA ao TNS resulta em um Sistema de Gestão da

Sustentabilidade. As figuras 10 e 11 representam a estrutura geral de um Sistema de Gestão

Ambiental e as melhorias obtidas com o TNS.

Figura 11: ISO 14001 – Estrutura de um Sistema de Gestão Ambiental Fonte: Burns, 2000

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Figura 12: Melhorias obtidas com a integração do TNS a um SGA

Fonte: Burns, 2000

Essas melhorias, organizadas por etapas, são listadas a seguir:

• Política Ambiental

Os princípios (condições sistêmicas) do TNS auxiliam a organização a gerar uma

visão de futuro que possa direcionar sua política ambiental. Essa visão pode ser

utilizada para dar clareza ao SGA da organização.

• Planejamento

- Aspectos ambientais

O TNS potencializa o pensamento de uma equipe multifuncional a respeito dos

impactos ambientais de suas operações e o contexto global das mesmas. A Plataforma

TNS auxilia especialmente na identificação de fontes de impacto ao meio ambiente

que ainda não são reguladas pelas leis e que, no entanto, podem vir a surpreender e

prejudicar as empresas no futuro, tendo um impacto global. Tom Chapman, Vice-

Presidente da Mitsubishi Electric América, exemplificou: “Enquanto estudamos como

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combinar o TNS e a ISO 14001, nossa abordagem é utilizar a Plataforma TNS como

um meio de organizar informações sobre nossos aspectos ambientais. Antes, os

aspectos eram apenas dados, porém, utilizar o TNS tornou-os objetivos. ISO 14001 é o

‘o quê’, enquanto o TNS é o ‘porquê’” (BURNS, 2000).

- Determinando quais aspectos ambientais são relevantes

Em vez de se utilizar uma metodologia de priorização focada no pensamento “rio

abaixo”, considerando-se apenas riscos locais associados a emissões, efluentes e

resíduos, com a Plataforma TNS são considerados, baseados no pensamento “rio

acima”, tanto os aspectos locais quanto os globais, efeitos de curto e longo prazo,

atividades que não são reguladas hoje, mas que podem vir a ser no futuro e

especialmente os objetivos de longo prazo da organização.

- Utilizando-se os objetivos estratégicos como referência

Uma forma de determinar a relevância dos aspectos é focar nos resultados do exercício

de backcasting da organização. Ao final desse exercício, a organização terá uma boa

idéia de onde ela viola as condições sistêmicas mais gravemente, analisará melhor sua

visão de futuro e alguns dos passos críticos para alcançá-la.

• Implementação e Operação

Uma das principais áreas de influência da Plataforma TNS é o treinamento de

colaboradores. Em vez de focar na “obrigação” de se seguir normas ambientais, a

ampla perspectiva proporcionada pelo TNS auxilia na compreensão dos funcionários

de seus papéis e do papel da organização na criação de um futuro sustentável e

geralmente os impulsiona a ter um maior comprometimento com o programa

ambiental.

• Verificações e Ações Corretivas

As empresas utilizam diversos indicadores para medir o desempenho ambiental.

Desenvolver bons indicadores ambientais de performance é essencial para o controle

da evolução de seus processos. Além disso, é de suma importância que as companhias

criem indicadores de sustentabilidade, de forma que os mesmos estejam relacionados

às seguintes perguntas (Burns, 2000):

- Quais são os nossos maiores impactos (violações das condições sistêmicas)?

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- Quais são nossas estratégias atuais para a mitigação desses impactos?

- Quais indicadores irão medir o sucesso dessas estratégias?

• Revisão Gerencial

Nesta etapa, são revistos o progresso da empresa em direção ao alcance de seus

objetivos, a efetividade do SGA, o conjunto de aspectos ambientais e os planos para o

ciclo seguinte. A Plataforma TNS aprimora esse processo ao iluminar a visão em

direção a qual a empresa pode trabalhar, além de posicionar o SGA no contexto do

backcasting da companhia, de seus planos de ação e dos impactos das tendências

ecológicas no negócio.

4.2.3. O Diferencial da estrutura sistêmica da Plataforma TNS como base para a reformulação

de práticas com vista à sustentabilidade

O processo de elaboração da estrutura sistêmica da Plataforma TNS, procurou

compor-se sempre de mecanismos didáticos, de maneira a facilitar sua incorporação e

aceitação dentro de qualquer demanda de planejamento a longo prazo preferencialmente.

Sendo assim torna-se interessante esta inserção dos princípios mediante os seguintes

facilitadores. Considerando que os sistemas mantêm-se unidos por um a estrutura fixa de

princípios fundamentais inter-relacionados, assim como por uma enorme variedade de

detalhes que obedecem as regras estruturais. A estrutura de uma arvore constitui a melhor

metáfora a ser empregada, por ser de fácil comunicação para um sistema complexo, sendo

então a ferramenta ou mecanismo mais usufruído para apresentar o conceito TNS. O tronco e

os ramos representam a estrutura de um sistema de princípios básicos e as folhas

correspondem aos seus detalhes. A intelectualidade humana esta delineada a discernir

primeiramente a totalidade das coisas sempre procurando os princípios no nível “tronco e

ramos”, para seguidamente projetá-las de acordo a sua necessidade para as “folhas”, ou seja,

os detalhes. Desta maneira a estrutura sistêmica do TNS faz-se adequada a capacidade de

entendimento do homem para sistemas complexos em estruturas ordenadas. Porém o

pensamento sistêmico parece ter menos a ver com ensinar alguma coisa ao individuo e mais

com ensinar ao grupo sobre o que parece inteiramente óbvio ao individuo.

A simplicidade e objetividade do arranjo estrutural da Plataforma sistêmica do TNS

partindo do exemplo de uma célula como figura protagonista, porém paralela à posição

humana, e se desmembrando no exemplo de uma árvore como figura metafórica facilita,

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60

evidencia e diferencia a metodologia diante uma vasta quantidade de opções disponíveis com

o mesmo fim.

4.2.4. Programas Educacionais e o TNS: “A Personificação da Sustentabilidade”

Introduzir os conceitos de sustentabilidade para qualquer platéia significa apresentar-

lhes desafios intelectuais e emocionais. Praticamente todas as pessoas possuem lacunas a

serem preenchidas no que entendem por sustentabilidade, bem como informações de grande

valia a fornecer. A simples informação não é suficiente: é importante que a pessoa identifique

um elo de caráter pessoal entre o seu comportamento e o bem-estar da sociedade e do planeta.

O desafio em apresentar o conceito de sustentabilidade reside na complexidade de nossa

interdependência, seja com nossos semelhantes ou com o próprio planeta.

A atividade a ser apresentada visa auxiliar as pessoas (de estudantes do ensino médio a

executivos de multinacionais) a compreender a complexa relação existente entre as questões

ligadas à sustentabilidade e o comportamento humano. Através de um panfleto entregue a

cada uma das pessoas presentes em uma sala de treinamentos, o exercício conduzirá o grupo

através de um processo mental cujo objetivo é correlacionar as condições sistêmicas do TNS a

diversas ações que fazem parte do dia-a-dia dos indivíduos.

A sustentabilidade deve ser entendida pessoal e emocionalmente, bem como genérica

e conceitualmente. A estrutura do TNS pode ser a base para um entendimento pessoal e

intelectual mais aprofundado a respeito de questões importantes sobre o desenvolvimento

sustentável.

A atividade é bem-sucedida por três diferentes motivos:

• Primeiramente, ela transporta, de forma sutil e efetiva, a atenção dispensada ao

palestrante para os próprios membros da platéia;

• Em segundo lugar, em menos de uma hora, tem-se o aprendizado efetivo através de

dois modos distintos: individual e coletivo;

• Finalmente, a atividade faz com que as pessoas absorvam as relações entre as

condições sistêmicas do TNS e suas atividades diárias pela simples apresentação de

suas “descobertas” aos demais integrantes de seus respectivos grupos. Essa forma de

aprendizado através do próprio ensinamento faz com que o participante absorva

melhor o conhecimento e também passe a considerar mais seriamente os pontos

abordados pelos demais participantes.

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a) Resumo das atividades, materiais e preparação

Basicamente, a essência da atividade é que os participantes:

• Ouçam e compreendam as condições sistêmicas do TNS;

• Apliquem o conhecimento adquirido;

• Compartilhem suas percepções relativas ao tema.

Após a explicação das condições sistêmicas do TNS, os participantes examinam uma

frase que relata uma atividade humana diária sob a ótica dos princípios do TNS.

Material necessário: um panfleto por pessoa, lápis ou caneta para cada um e, se

possível, alguma espécie de apoio para facilitar a escrita.

b) Implementação e seqüência da atividade

Para potencializar os efeitos do workshop, a seguinte seqüência é sugerida

(SKOV, 2005):

1) Apresenta-se o tema Sustentabilidade, incluindo as condições sistêmicas do TNS e

distribuem-se panfletos, dobrados ao meio e grampeados, caracterizados pelo fato de

que sua parte exterior (visível ao leitor) deverá conter uma frase que relata uma

atividade humana diária e sua parte interior listará diferentes questões ambientais

dessa atividade (os participantes não devem abrir o panfleto até que lhes seja

ordenado);

2) Pede-se que os participantes reflitam durante aproximadamente cinco minutos e então

relacionem as quatro condições sistêmicas do TNS às conseqüências da realização da

atividade descrita na parte externa de seu panfleto (eles ainda não podem visualizar as

questões ambientais listados no interior do mesmo);

3) Orienta-se os participantes a abrir o panfleto e ler as questões relacionados à atividade

e incrementar a lista relacionada às condições sistêmicas durante dez minutos;

4) Formam-se pequenos grupos (de cinco ou seis pessoas) e durante aproximadamente 15

minutos, incentiva-se que os integrantes apresentem seus exemplos para o grupo e

discutam a respeito dos mesmos, tendo cada integrante recebido frases de atividades

diferentes;

5) Os participantes auxiliam uns aos outros na complementação de suas listas;

6) Na conclusão da atividade, solicita-se a um voluntário de cada grupo que apresente

sua lista de correspondências a todos os participantes, bem como faça seus

comentários quanto ao workshop.

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A funcionalidade deste formato é interessante por responsabilizar os indivíduos em

suas atitudes particulares, levando-os a aprender mais sobre as conseqüências destas atitudes e

– acima de tudo, fazendo com que se comuniquem e repassem esse aprendizado para seus

companheiros.

Após a apresentação da estrutura (o que geralmente acaba por tomar um formato de

palestra), a revelação gradual dos fatos mantém as pessoas curiosas com o fato de a

sustentabilidade se refletir direta e relevantemente em suas vidas. Freqüentemente, a frase que

descreve a atividade não é relacionada de forma objetiva com aquilo que os participantes, até

então, entendiam sobre o que vem a ser sustentabilidade.

Este formato também permite que pessoas de diferentes graus de conhecimento

possam participar. Para muitas pessoas, os princípios do TNS são praticamente intuitivos e,

por isso, exemplificar conseqüências dos mesmo é algo quase que óbvio, ao passo que para

outros, essas conseqüências não podem ser encontradas tão facilmente.

Mais freqüentemente ainda, as condições sistêmicas parecem vagas. Entretanto, o exame

particularizado e aprofundado de uma simples atividade cotidiana torna perceptível e mais

sensível tal idéia de relevância.

Essa relevância se expande ainda mais durante a atividade em grupo, em que cada

membro do grupo apresenta sua atividade, seus impactos e os demais integrantes acrescentam

ainda mais conseqüências da prática desses atos cotidianos – perspectivas únicas –

relacionado-as aos mais diversos problemas oriundos da (ausência da) sustentabilidade, o que

muitas vezes gera discussões que potencializam o conhecimento de desenvolvimento

sustentável de todos os participantes.

c) Utilizando esta atividade para ensinar em um contexto empresarial

Esta atividade funciona bem em apresentações das condições sistêmicas do TNS para

contextos empresariais, como um workshop para funcionários de uma determinada

companhia. A consideração de atividades diárias pode ser sensivelmente menos ameaçadora

do que a análise profunda de impactos causados por seus produtos comerciais ou pela

produção de energia.

Os exemplos extraídos do dia-a-dia são eficientes na medida em que criam uma

consciência de responsabilidade individual em cada uma das pessoas sem fazer com que elas

se sintam focadas, sem que se vejam como o próprio objeto de análise – o que poderia resultar

em um bloqueio emocional e moral, dificultando o aprendizado e absorção de informações.

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d) Exemplos de atividades e conseqüências

No Anexo I, encontram-se exemplos de atividades e suas questões ambientais:

modelos para os folhetos a serem entregues aos participantes da atividade em questão.

4.3. Casos de sucesso

Entre as empresas que aplicaram com sucesso a Plataforma TNS estão o McDonald’s

Corporation - Suécia, a Nike Incorporation e a Nissan Motor Company Ltda.

4.3.1. McDonald’s Corporation − Suécia

Em 1993, Dr. Robèrt, fundador do TNS ministrou uma palestra para a alta direção do

McDonald’s Suécia. Após isso, o The Natural Step auxiliou a empresa a examinar seus

maiores impactos, riscos e oportunidades de acordo com os princípios do TNS. O

McDonald’s desse país passou então a estar entre as companhias mais admiradas da Suécia.

Em 2001, o TNS passou a conduzir sessões de treinamento em sustentabilidade para gerentes

do McDonald’s de todo o mundo, fornecendo-lhes ferramentas e recursos para liderarem as

mudanças necessárias para a sustentabilidade da empresa em todo o mundo.

Desde então, o The Natural Step tem auxiliado o McDonald’s a evoluir na visão de

sustentabilidade de toda a sua cadeia de suprimentos mundial, através da educação e do

engajamento de seus fornecedores em criar soluções sustentáveis para alimentos e

embalagens.

Estes são alguns dos resultados de sucesso do McDonald’s da Suécia:

• 75% de suas 233 lojas utilizam energia renovável;

• redução do desperdício de 1993 a 2003 de 85%;

• 90% de todo o lixo dos restaurantes são reciclados.

4.3.2. Nike, Inc.

Após a adoção, em 1998, dos princípios do TNS e de programas de treinamento

globais em sustentabilidade, a Nike criou 65 projetos e iniciativas que focavam em design de

produtos sustentáveis e eficiência operacional.

De 1998 a 2003, a Nike adotou as seguintes medidas:

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• Redução de 10% do peso das caixas de sapato, economizando 4.000 toneladas de

matérias-primas e US$1.6 milhões anualmente;

• Utilização de algodão orgânico em seus produtos, para reduzir o uso industrial de altos

níveis de pesticidas e fertilizantes;

• Linhas de produtos que incorporaram a sustentabilidade, como o Air Essential III, um

tênis feito com o mínimo de produtos químicos tóxicos e desperdício;

• Um programa de incentivo aos funcionários da Nike nos Estados Unidos para a

utilização de meios de transporte públicos e bicicletas, resultando em 14.137 galões de

gasolina economizados em 2000.

Além disso, a Nike traçou os seguintes objetivos sustentáveis para 2020:

• Eliminar os desperdícios em design de produtos, uso de materiais, energia e outros

recursos que não possam ser imediatamente reciclados ou reabsorvidos à natureza;

• Eliminar a utilização de todas as substâncias que são prejudiciais ao meio ambiente;

• Responsabilizar-se totalmente por seus produtos em todos os estágios de seu

desenvolvimento.

4.3.3. Nissan Motor Company Ltda.

Nissan e The Natural Step lançaram em junho de 2007 o Nissan Environmental e-

Learning Program, iniciativa que busca aprimorar o conhecimento sobre meio ambiente dos

funcionários da Nissan mundialmente. No Japão, 20.000 funcionários concluirão o curso até

2010.

O curso virtual é uma das atividades que promovem o Nissan Green Program 2010,

que abrange três questões principais:

1. Reduzir as emissões de CO2.

2. Reduzir a poluição da atmosfera, da água e do solo.

3. Utilizar recursos recicláveis.

Figura 13: Imagens do curso virtual da Nissan sobre meio ambiente Fonte: Site da Nissan

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65

A organização The Natural Step forneceu como base para este projeto um curso virtual

que havia ganhado a medalha de prata no concurso Brandon Hall Excellence in Learning

Award, em 2006.

4.4. The Natural Step à luz da Engenharia de Produção

A Engenharia de Produção dedica-se ao projeto e à gerência de sistemas que envolvem

pessoas, recursos financeiros e materiais, equipamentos e o ambiente, contemplando, entre

suas áreas de atuação, a gestão de recursos naturais e a gestão do conhecimento em sistemas

produtivos, que podem ser beneficiadas por The Natural Step.

Os cinco níveis hierárquicos para o planejamento de sistemas complexos, base para a

Plataforma TNS, são compatíveis com o Ciclo PDCA, utilizado na Engenharia de Produção.

O Ciclo PDCA, foi desenvolvido por Walter A. Shewart na década de 20, mas

começou a ser conhecido como Ciclo de Deming em 1950, por ter sido amplamente difundido

por este. É uma técnica simples que visa o controle do processo, podendo ser usado de forma

contínua para o gerenciamento das atividades de uma organização (Tecnologia de Processos,

2007).

Este ciclo é composto por quatro fases básicas: Planejar (Plan), Executar (Do),

Verificar (Check) e Atuar corretivamente (Act).

Analisando a compatibilidade do PDCA com os cinco níveis hierárquicos, conclui-se

que:

• Os três primeiros níveis: Sistema, Sucesso e Estratégia são parte da primeira fase

do Ciclo PDCA – Planejamento;

• O quarto nível hierárquico, Ações, corresponde à segunda fase do PDCA –

Execução;

• O quinto nível hierárquico, Instrumentos, está relacionado à fase de Verificação;

• A fase de Ação Corretiva do Ciclo PDCA pode ser vinculada à melhoria contínua

da implementação do The Natural Step na organização, de modo a girar o PDCA,

buscando-se resultados ainda mais alinhados com o desenvolvimento sustentável.

.

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Figura 14: The Natural Step & PDCA Fonte: Os Autores

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67

CAPÍTULO V 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1. Conclusões

Em virtude do conteúdo deste trabalho, ficam evidentes a importância da incorporação

estratégica do desenvolvimento sustentável por parte das organizações e a urgência da

conscientização da sociedade em relação à conservação da vida na Terra. Como visto ao

longo deste estudo, há muitas razões para nos preocuparmos com o futuro do nosso planeta.

Portanto, acreditamos que a percepção de Karl-Henrik Robèrt em relação a como

atender às exigências básicas da vida – utilizando-se uma estrutura de referência para

planejamento estratégico, considerando-se a visão de sucesso futuro (a sustentabilidade

econômica, social e ambiental) através do backcasting e definindo-se as ações necessárias

para alcançá-la – é bastante abrangente.

A partir desse diagnóstico, nossa proposta de trabalho foi esclarecer os conceitos de

The Natural Step, exaltando a aplicação do pensamento sistêmico juntamente com a

Plataforma TNS, apresentando-a como estrutura diferenciada pela essência de sua

simplicidade conceitual e vantagem didática, paralelamente, criticar alguns pontos da

metodologia, além de propostas de sua aplicação corporativa (integrada aos Sistemas de

Gestão Ambiental, gerando os Sistemas de Gestão da Sustentabilidade) e educacional

(buscando a personificação da sustentabilidade), exemplificadas por casos de sucesso em

grandes instituições.

O The Natural Step é uma metodologia elaborada com o propósito especifico de criar,

proporcionar e estimular princípios para orientar a sustentabilidade, servindo futuramente

como um guia base para a criatividade em questões de sustentabilidade. Tendo um caráter

acolhedor, de modo a aprender com qualquer um que quisesse tomar parte na busca de

“troncos e ramos”. Logo pode-se ultimar que a plataforma The Natural Step trabalha para

melhorar o desempenho econômico sustentável por meio de uma maior dedicação a

sustentabilidade social e ecológica por parte das empresas em relação a sua concorrência –

não a despeito dela.

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Desse modo, finalizamos nosso estudo estimulando a aplicação da Metodologia The

Natural Step inicialmente no meio corporativo e no ambiente acadêmico, difusores principais

da sociedade, de forma a promover estrategicamente o desenvolvimento sustentável.

5.2. Sugestões para trabalhos futuros

É importante ressaltar que ainda há muito o que se desenvolver a respeito do TNS no

Brasil e será muito importante que as universidades façam modelagens de sua aplicação no

país, gerando estudos de caso e sólidos conhecimentos nacionais sobre a sustentabilidade

estratégica proposta por essa metodologia.

Além disso, acreditamos que The Natural Step tenha sinergia com outras estruturas

disponíveis na interface do meio acadêmico com o meio corporativo, como “A Estratégia do

Oceano Azul”, formulada por W. Chan Kim e Renée Mauborgne (professores do INSEAD).

Em seu livro, de mesmo nome, os autores estudam diversos movimentos estratégicos e

argumentam que, no futuro, as empresas sustentáveis alcançarão o sucesso não por combater

seus concorrentes, mas por serem pioneiras em “oceanos azuis”, espaços de mercado

inexplorados que possuem grande potencial de crescimento.

Esses movimentos estratégicos – denominados “inovação de valor” – agregam grandes

saltos em valor, tanto para a empresa quanto para os clientes, tornando os rivais irrelevantes e

criando uma nova demanda. Kim e Mauborgne propõe também um modelo analítico e

ferramentas para a descoberta e conquista dos “oceanos azuis”.

Uma possível integração de The Natural Step com a Estratégia do Oceano Azul poderá

potencializar o desenvolvimento de modelos de negócio baseados em um novo conceito, que

propomos agora: “inovação de valor sustentável”. Utilizariam-se os cinco níveis hierárquicos

e as condições sistêmicas do TNS de forma combinada com a matriz “Eliminar-Reduzir-

Elevar-Criar” da Estratégia do Oceano Azul.

Propomos, dessa forma, o estudo dessa integração, colocando-nos à disposição do

meio acadêmico para sermos agentes da transformação social necessária para a

sustentabilidade.

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ANEXOS ANEXO 1: Exemplos de atividades e questões ambientais

Modelos para folhetos da atividade “A Personificação da Sustentabilidade” (SKOV, 2005)

Atividade 1: “Hoje eu levei o lixo para fora”.

• Mais da metade do lixo que produzimos é composta de papel, lixo oriundo de

jardinagem e restos de alimentos, sendo que todos poderiam ser reciclados ou

decompostos. Nos EUA, cerca de 28% do lixo sólido dos municípios são reciclados;

• Os EUA reciclam 42% de papel e 55% de todas as latinhas de alumínio que servem de

embalagem para bebidas em geral;

• Para cada nova vaga de emprego que surge para coletor de lixo, a reciclagem cria de 5

a 10 novos oportunidades de emprego;

• Os aterros sanitários produzem, além do chorume, uma série de gases tóxicos;

• Os lixões são também uma inesgotável fonte de metano, um dos principais gases

causadores do efeito estufa.

Atividade 2: “Tomei uma xícara de café”.

• A produção de café (principalmente para fins de exportação) sustenta de 20 a 25

milhões de fazendeiros e trabalhadores agrícolas no mundo. O café importado pelos

Estados Unidos vem, principalmente, das Américas do Sul e Central (o café vem logo

após o petróleo no ranking internacional de importações e exportações);

• Tradicionalmente, o cultivo do café se dá em áreas onde já existe o cultivo de árvores

frutíferas ou árvores cujo destino será a extração de madeira. Essa mescla de sistemas

abriga uma vasta biodiversidade – maior do que em qualquer outro sistema de

agricultura, e quase que semelhante a florestas tropicais;

• Nos últimos 20 anos, a produção cresceu exponencialmente em favor das

monoculturas cafeeiras que utilizam altos níveis dos mais diversos tipos de

fertilizantes e pesticidas;

• Esse sistema industrial praticamente não suporta biodiversidade, freqüentemente

interfere na rota migratória de pássaros e resulta na erosão do solo e na poluição das

águas em escala muito maior do que os sistemas tradicionais de cultivo;

• Os fertilizantes são, muitas vezes, derivados do petróleo;

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• Fazendeiros de países em desenvolvimento não possuem maquinário e treinamento

adequado para utilizar estes fertilizantes e pesticidas de maneira segura. Mas, ainda

assim, esses produtos químicos estão disponíveis em larga quantidade e são vendidos

sem qualquer regulamentação.

Atividade 3: “Dirigi até o trabalho”.

• Um carro popular possui aproximadamente 900 kg de aço e ferro, 110 kg de plástico,

90 kg de alumínio, 60 kg de borracha e 45 kg de cobre e outros metais;

• Aproximadamente de 1/4 a 1/3 do espaço urbano é ocupado por carros;

• Mais de 2/3 do consumo norte-americano de petróleo é usado para transporte, o que

contribui com cerca de 1/3 das emissões de dióxido de carbono dos Estados Unidos;

• Os motores a gasolina respondem por aproximadamente 2/3 do consumo de energia no

setor de transportes;

• 45% do aço usados nos carros são provenientes de sucatas;

• O simples ato de pintar um carro implica em uma série de danos. Basta analisar-se um

resumo dos passos para a pintura da lataria de um carro:

- mergulho em detergente e fosfato para limpar;

- mergulho em fosfato de zinco e ácido crômico para prevenir a corrosão;

- 04 estágios de “forno”, usando grandes quantidades de energia e emitindo

componentes orgânicos voláteis;

- 06 camadas de coberturas adicionais: um selador, uma base, a tinta colorida,

um esmalte para brilho, dentre outros. O spray que, por fim, recobre o carro se

torna uma lama (que contém solventes que têm como bases químicas oriundas

do petróleo) que acaba por alcançar os lençóis subterrâneos.

Atividade 4: “Comprei uma camiseta”.

• O algodão é cultivado em 3% das áreas cultiváveis mundiais e contribui com 25% do

total de pesticidas usados no globo;

• Poliéster é derivado do petróleo;

• A energia consumida por uma secadora de roupas (para secar uma única camiseta)

requer 1/10 da energia gasta para fabricar a camiseta;

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• Os EUA possuem um expressivo cultivo de algodão, porém, ainda assim, optam por

exportá-lo para a América Central e para o Caribe, onde são cortados e transformados

em produto final e, então, re-exportados para os EUA.

Atividade 5: “Comprei um novo par de tênis”.

• Os materiais sintéticos utilizados na fabricação dos tênis são provenientes do petróleo;

• Segundo pesquisas, os homens americanos possuem de 6 a 10 pares de tênis, enquanto

as mulheres americanas possuem de 15 a 25 pares;

• O couro é tratado e depois tingindo com cromo. O processo envolve cromo, hidróxido

de cálcio e outras químicas pesadas;

• As solas dos tênis são feitas de borracha sintética, obtida com a utilização do petróleo

(fazendeiros nos trópicos continuam a desmatar vastas áreas para obter borracha

natural das árvores, mas, ainda assim, 2/3 da borracha utilizada mundialmente são

sintéticas);

• A grande maioria dos tênis especiais para atletas são produzidos manualmente e no

processo são utilizadas colas a base de solventes, altamente tóxicas;

• A marca NEW BALANCE produz alguns de seus tênis nos EUA, onde paga a um

trabalhador U$10/hora, fora benefícios de saúde, ao passo que na Ásia, o trabalhador

custa aproximadamente U$3/hora sem qualquer benefício, o que aumenta

significativamente os lucros da empresa.

Atividade 6: “Comprei um computador novo”.

• Um computador para uso residencial, por exemplo, utiliza 150 watts de potência;

• A simples produção de um computador gera cerca de 63 kg de lixo total utiliza 27.600

litros de água e 2.300 kW/h de eletricidade. Grande parte deste lixo consiste em

poluentes orgânicos persistentes;

• A mineração e a produção de metais respondem por 7% do consumo global de

energia;

• O Japão, alguns países Europeus e o Canadá implementaram Regulamentos e Leis

relativos à Responsabilidade Estendida aos Produtores, que tornam as companhias

responsáveis pelos produtos após o fim de sua vida útil, com o intuito de estimulá-los

a investir em design e tecnologias que permitam a reutilização, a reciclagem e/ou

eliminação dos resíduos.