o corpo é discurso

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Página 1 04.08.2013 ISSN: 2236-8221 Edição n. 37, de Outubro Vitória da Conquista, Bahia. [email protected] http://www.marcadefantasia.com/o-corpo-e-discurso.htm O corpo é discurso Nesta edição, O Corpo é discurso apresenta o Grupo de Pesquisa Semiologia e Discurso (CNPq – UNIFESP). Além disso, o Corpo traz um artigo de Suani de Almeida Vasconcelos, da Universidade Estadual de Feira de Santana, um artigo de Palmira Heine, da Universi- dade Estadual de Feira de Santana, e um artigo de Victor Pereira Sousa, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Ainda, o Corpo traz uma entrevista com a poetisa Marília Lima e, em seguida, alguns de seus poemas. O Corpo é Discurso traz também um Pocket Comix por Renato Lima e notícias ligadas ao universo acadêmico e da Análise do Discur- so, no Brasil. ISSN: 2236-8221 EXPEDIENTE DE O CORPO Editores Nilton Milanez George Lima Organizador Nilton Milanez George Lima Editoração eletrônica (MARCA DE FANTASIA) Henrique Magalhães CONSELHO EDITORIAL Dr. Elmo José dos Santos (UFBA) Dra. Flávia Zanutto (UEM) Dra. Ivânia Neves (UFPA) Dra. Ivone Tavares Lucena (UFPB) Dra. Mônica da Silva Cruz (UFMA) Dr. Nilton Milanez (UESB) Dra. Simone Hashiguti (UFU)) Jornal de popularização científica Acesse o site do Labedisco: www2.uesb.br/labedisco

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Page 1: O Corpo é Discurso

O Corpo

Página 1

04.08.2013

ISSN: 2236-8221

Edição n. 37, de Outubro Vitória da Conquista, Bahia.

[email protected] http://www.marcadefantasia.com/o-corpo-e-discurso.htm

O corpo é discurso

Nesta edição, O Corpo é discurso apresenta o Grupo de Pesquisa Semiologia e Discurso

(CNPq – UNIFESP). Além disso, o Corpo traz um artigo de Suani de Almeida Vasconcelos,

da Universidade Estadual de Feira de Santana, um artigo de Palmira Heine, da Universi-

dade Estadual de Feira de Santana, e um artigo de Victor Pereira Sousa, da Universidade

Estadual do Sudoeste da Bahia. Ainda, o Corpo traz uma entrevista com a poetisa Marília

Lima e, em seguida, alguns de seus poemas. O Corpo é Discurso traz também um Pocket

Comix por Renato Lima e notícias ligadas ao universo acadêmico e da Análise do Discur-

so, no Brasil.

ISSN: 2236-8221

EXPEDIENTE DE O CORPO

Editores

Nilton Milanez

George Lima

Organizador

Nilton Milanez

George Lima

Editoração eletrônica

(MARCA DE FANTASIA)

Henrique Magalhães

CONSELHO EDITORIAL

Dr. Elmo José dos Santos

(UFBA)

Dra. Flávia Zanutto (UEM)

Dra. Ivânia Neves

(UFPA)

Dra. Ivone Tavares Lucena

(UFPB)

Dra. Mônica da Silva Cruz (UFMA)

Dr. Nilton Milanez

(UESB)

Dra. Simone Hashiguti

(UFU))

Jornal de popularização científica

Acesse o site do Labedisco: www2.uesb.br/labedisco

Page 2: O Corpo é Discurso

Página 2 O Corpo

“Porque o olho é ainda mais crí-

vel que o ouvido: diferentemente de um

enunciado, uma imagem não tem alhures;

não se pode aplicar a ela uma

“transformação” negativa ou interrogati-

va”. Essa afirmação de Pêcheux pode ser-

vir como norte para aquilo que o grupo

“Semiologia e Discurso” procura respon-

der nas discussões que se iniciaram neste

ano de 2014. No

entrecruzamento

de epistemes dis-

tintas (Bakhtin,

Barthes, Foucault e

Pêcheux), o grupo

se propõe a pensar

as discursividades

contemporâneas no

i n -

terior dos estudos linguís-

ticos. Para isso e sem tirar

de cada um de seus pesqui-

sadores a particularidade

de suas preferências –

pois que uns estão mais

próximos de Bakhtin e ou-

tros de Foucault e Pêcheux

–, organizam-se dois eixos

de leitura: i) um que se

assenta na obra do Círculo

de Bakhtin e na natureza

conceitual do enunciado

para os pensadores russos; ii) outro que

se direciona à AD francesa e aos diálogos

que ela pode estabelecer – para refletir

sobre o enunciado – com Foucault e

Barthes.

No que concerne ao primeiro

eixo, as discussões caminham, no plano

epistemológico, no sentido de dar forma

àquilo que já estava previsto por Bakhtin

(o conceito de enunciado, com efeito, já

tem natureza semiológica para o pensa-

dor russo); em relação ao segundo eixo,

trata-se de, na confluência das obras de

Page 3: O Corpo é Discurso

Pêcheux e Foucault, buscar em Barthes,

uma entrada para a teorização da ima-

gem no plano discursivo.

Essas discussões são travadas

a partir de alguns pressupostos funda-

mentais: i) no que concerne a Bakhtin,

aquilo que ele denominou Metalinguística,

embora seja bastante esclarecedor e

antecipe, nos anos 1920, o que muitos

autores vão postular posteriormente, se

mostra sempre um desafio àqueles que

pretendem encarar sua obra como um

“método” para pensar o discurso hoje; ii)

no que concerne a Pêcheux, foram sem-

pre as materialidades linguísticas que

estiveram no centro das questões. Ainda

que seja possível uma leitura de tipo

“reformista” – que culmina com a afir-

mação de que “tudo já estava lá” – acre-

ditamos que, na esteira do que o próprio

Pêcheux fez, recorrer a Barthes e a Fou-

cault é profícuo para os estudos em AD

francesa. Vale ressaltar que essa pers-

pectiva de trabalho vai ao encontro de um

primeiro momento de recepção de

Pêcheux nos anos 1960/70, por Carlos

Henrique Escobar, no Brasil, quando era

caro pensar, à luz de uma teoria do discur-

so de base marxista, uma Semiologia Mate-

rialista.

O objetivo geral das pesquisas do

grupo é identificar e descrever, na lingua-

gem, processos de construção, critérios

de validação e modos de manifestação

dos laços constituintes de distintos arran-

jos coletivos e de sociedades, especial-

mente a partir das alterações sociodis-

cursivas hodiernas provocadas ou media-

das pelas tecnologias de memória cultural

(a escrita, a informática, entre outras).

Página 3 O Corpo

João Marcos Mateus Kogawa é Professor do Departamento de Letras

da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Doutor em Linguística e Língua

Portuguesa pela Unesp - Araraquara (Conceito CAPES 6). Mestre em Linguística

e Língua Portuguesa pela Unesp - Araraquara (Conceito CAPES 6). É líder, junto

com o Prof. Anderson S. Magalhães, do Grupo de Pesquisa Semiologia e

discurso. Currículo Lattes: Clique Aqui!

Anderson Salvaterra Magalhães é Mestre em Linguística Aplicada

pela mesma universidade e doutor em Linguística Aplicada e Estudos da

Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é

Professor e membro titular do Conselho de Ensino de Pós-Graduação do

Programa de Mestrado em Letras do Departamento de Letras da Universidade

Federal de São Paulo. É líder, junto com o Prof. João Marcos Mateus Kogawa, do

Grupo de Pesquisa Semiologia e discurso. Currículo Lattes: Clique Aqui!

Page 4: O Corpo é Discurso

Página 4 O Corpo

APRESENTAÇÃO

As datas nos levam no tempo e

marcam nosso corpo no espaço. Neste

2014 reafirmamos nossos laços com o

pensamento de Michel Foucault. Pensar

com Foucault e falar a partir de Fou-

cault é ter a oportunidade de compre-

ender que as teorias se movimentam e

os estudiosos circulam. O Colóquio “30

anos com Foucault: Corpo e Heteropi-

as” toma um dos temas do pensador

como problemática. Como se constitu-

em nossos corpos hoje? De que manei-

ra nossos corpos dizem quem somos?

Em que espaços tais corpos se circuns-

crevem? Mais do que a pluralidade em

“corpos” e “espaços” consideramos a

relação corpo-espaço como possibili-

dades inumeráveis de modos de se ver,

de ser e de viver. Essas políticas de

vida e de espaço vão se materializar

por meio da discussão entre Grupos de

Pesquisa em Análise do Discurso no

Brasil que colocam Michel Foucault no

centro de suas discussões. Este Coló-

quio faz parte de uma rede de eventos

no Brasil que se iniciou na UNESP de

Araraquara, passando pela Federal de

Uberlândia, Federal de São Carlos, Fe-

deral do Pará e, agora, na UESB de Vi-

tória da Conquista, na Bahia. Nosso

foco é discutir, em específico, as heter-

ogeneidades do corpo e do espaço co-

mo também, de maneira mais ampla,

acolher trabalhos em andamento nos

domínios do universo dos estudos do

discurso da maneira como o com-

preendemos no Brasil. Este Colóquio é

uma ação dos Projetos de Extensão e

de Pesquisa realizados pelo Laboratório

de Estudos do Discurso e do Corpo, o

Labedisco/CNPq, desenvolvidos na Uni-

versidade Estadual do Sudoeste da Ba-

hia.

TODAS AS INSCRIÇÕES SÃO GRATUI-

TAS

As inscrições se iniciam no dia

14 de setembro e se encerram no dia

04 de novembro de 2014, um mês antes

do evento, visando a publicação dos

trabalhos nos Anais antes do início do

Colóquio “30 anos com Foucault: Corpo

e Heterotopias”.

As formas de participação se

dividem em modalidades de apresenta-

ção de trabalhos e ouvintes.

Modalidade I

Nesta modalidade, recebere-

mos para debate apresentação de

dissertações e teses em andamento. A

habilidade de síntese do participante é

essencial para o bom andamento desta

modalidade. O participante terá cinco

minutos (duas laudas com espaço 1,5)

para apresentar em linhas gerais o

tema de sua pesquisa. Não necessari-

amente a apresentação deve ser lida.

O trabalho já terá sido avaliado pela

leitura do resumo expandido (enviado

para inscrição) por uma bancada de

quatro professores dentre os convida-

dos do Colóquio, em auditório a ser

designado. O debate acontecerá em

grupo após a apresentação de cada

cinco trabalhos. Nosso objetivo é que o

maior número possível de trabalhos

possa ser ouvido por uma grande por-

ção de participantes.

Modalidade II

Nesta modalidade acolhere-

mos trabalhos de Iniciação Científica,

resultados de TCC, trabalhos de Espe-

cialização e apresentação de Projetos

de Extensão/Projetos de Pesquisa em

formato de painel, com ampla divulga-

ção desses trabalhos no Colóquio. A

inscrição deve ser feita mediante re-

sumo expandido.

Page 5: O Corpo é Discurso

Página 5 O Corpo

Modalidade III

Desta modalidade participam todos os ouvintes no Colóquio sem apresentação de trabalho.

De 04 de setembro a 04 de novembro (uma vez que o caderno de resumo estará disponível online até, pelo me-

nos, um dia antes da data do evento)

PROFESSORES PARTICIPANTES

Page 6: O Corpo é Discurso

O Corpo: Fale um pouco sobre sua

poesia?

Marília: É sempre difícil um olhar imparci-

al sobre o próprio trabalho, acredito que

minha poesia é uma válvula de escape para

suportar a vida, como uma porta de entra-

da para uma vida secreta. Quando escrevo

um poema “vivo” nele por horas, às vezes,

dias. Penso que ela é, como já disse em um

de meus poemas, “a longa e desajeitada

poesia dos desassossegados”. Minha poe-

sia é, sem dúvida, fruto do meu desassos-

sego.

O Corpo: Você tem publicações?

Marília: Tenho participações em algumas

antologias entre elas, “Antologia Poética

Vento a Favor”. Essa antologia foi feita

como conclusão de um curso voltado para a

escrita, dado pelo professor Gabriel Perissé,

em São Paulo e também “Antologia Poética

Painel Brasileiro de Novos Talentos 13”

pela Câmara Brasileira de Jovens Escrito-

res do Rio de Janeiro.

O Corpo: Tem alguma página ou

blog onde se possa conhecer mais seu

trabalho?

Marília: Tenho uma página no facebook,

“Chuva na Vidraça” (https://

www.facebook.com/chuvanavidraca) que é

exatamente para a divulgação de meu tra-

balho e fui convidada por Adriana Aneli

Costa Lagrasta para fazer parte do grupo

de editores da página “Tempestade Urba-

na” (https://www.facebook.com/

tempestadeurbana), uma página dedicada

à arte, de modo geral. Em 26 de outubro

alguns de meus poemas saíram no site

“The São Paulo Times” na seção Poética

Urbana, coordenada e editada por Marcelo

Adifa. http://www.thesptimes.com.br/sp/

tag/poetica-urbana/

O Corpo: E tem algum projeto, no

momento?

Marília: No momento estou participando do

III Concurso Poético Autores S/A. O ideali-

zador e organizador do concurso é Lohan

Lage Pignone, um dos editores do Blog

Autores S/A. Esse concurso, que teve iní-

cio em começo de outubro, é algo bas-

tante inovador, com vários desafios em

várias etapas. De 562 inscritos, ficaram

80, depois passaram para a próxima fase

32 e, agora, nós, os últimos 16 classifica-

dos, caminhamos para as oitavas de final.

Os poemas são julgados e recebem críti-

cas. Acho isso bastante interessante para

notar o olhar do outro sobre nosso traba-

lho.

O Corpo: Quem são os jurados e

qual a premiação final?

Marília: A cada etapa é uma nova banca

de jurados. Essas bancas contam com

nomes expressivos na área de literatura

e jornalismo, como: Ricardo Lísias, Ana

Peluso, Cinthia Moscovich, Afonso Henri-

ques de Guimarães Neto, Flávio Morgado

entre outros. O prêmio final será uma

publicação pela editora Patuá que é uma

das parceiras do Blog nesse evento. De

qualquer modo, a participação também

vale pelos desafios impostos, pois é dado

um tema, às vezes bastante insólito, por

exemplo, “ônibus” ou “facebook” e temos

Página 6 O Corpo

Page 7: O Corpo é Discurso

somente três dias para elaborar um poe-

ma. Considerando-se o pouco tempo e os

temas pouco convencionais, o poeta vê-

se obrigado a reestruturar o seu método

criativo.

O Corpo: Algo nas críticas feitas

aos seus poemas te surpreendeu,

quer dizer, foi dito algo que você ainda

não havia se dado conta?

Marília: Na verdade, foi reiterado o fato

Página 7 O Corpo

de meus poemas serem muito imagéticos.

Sempre ouvi que um dos pontos altos em

meus poemas é a criação de imagens, as-

sim como a adjetivação. Somente há pouco

tempo fui pensar sobre isso. Eu venho de

uma família de artistas, meu pai é pintor,

assim, creio que apreendi o mundo por

imagens desde cedo. Lembro-me que ainda

não sabia ler, mas já folheava os livros de

pintura de meu pai e essas imagens fica-

ram em mim de um modo muito forte.

O Corpo: E para o futuro, algum

projeto?

Marília: Tenho o projeto de um livro de

poesias, na verdade um e-book, para ja-

neiro de 2015. E estou começando a elabo-

rar um livro de poesia infanto-juvenil.

IRREMEDIAVELMENTE

O que sei, hoje, é que pessoas

acabam.

Não me venham com religiões,

histórias da carochinha,

histórias para boi dormir,

não me venham com filosofias,

meditações transcendentais,

frases de efeito.

O que sei, hoje, é que

há sorrisos que não mais veremos,

mãos que não tocaremos,

olhares que se apagaram,

vozes, com seus timbres peculiares,

que não tornaremos a ouvir.

Hoje, há apenas um coração

irremediavelmente inconsolável

e que se dilacera.

ESTRELAS EXTINTAS

Daquele pássaro, caído de algum ninho,

que cuidamos, na infância, e não sobreviveu,

do rosto do primeiro amor,

do brilho da paixão que julgávamos eterna,

do rio que passava

no fundo da chácara

e que agora passa

no fundo de minha memória,

do encontro com a morte

e sua

impalpável absurda concretude,

do que, embora sonhado, não pôde ser,

o que ficou?

Quem ficamos do que fomos,

tal brilho de estrelas extintas?

Page 8: O Corpo é Discurso

Página 8 O Corpo

LIMIAR

Salva-me de mim,

abismo constante,

o outro.

Abismo onde tudo tomba

e submerge em volteios concêntricos:

angústia, alegria, decepção, paixão,

ansiedade ...

Lanço-me, sofregamente, às pontes:

janelas, sorrisos, falares,

o que se supõe amor,

páginas em branco, olhares,

abraços, mensagens.

O outro

é margem, limiar, costa.

Sem o outro

transbordo-me em mim.

Sem o outro,

atônito,

sou: Minotauro e Teseu e labirinto.

Marília Lima é paulistana, formada em Letras pela PUCC (Pontifícia Universidade Católica de Campi-

nas) e leciona Português para Estrangeiros. Participou de algumas antologias, entre elas: “Vento a Fa-

vor”, “Antologia Rio 2001” e “Painel Brasileiro de Novos Escritores, 13 - Câmera Brasileira de Jovens

Escritores”. Mantém a página “Chuva na Vidraça” e é uma das editoras da página “Tempestade Urbana”.

Tem o projeto de um livro de poesias que será editado em 2015.

SOMBRAS

As sombras das nuvens

deslizam no dorso da paisagem

como um carinho manso...

Quem dera esse carinho sobre mim.

O VELHO

O velho passa

com seu corpo frágil e feio.

Quem carrega

aquele corpo torto?

Quem se gasta, tornando-se

mais roto a cada dia?

Quem arrasta aquelas pernas

bambas?

Quem sustenta a cabeça

com cabelos ralos e

emite a voz rouca e trêmula?

Quem sobrevive ali, aprisionado

naquela cela de poucas carnes,

ossos e músculos?

Quem?

FEIRA DE ANTIGUIDADES

Por entre

castiçais, rendas,

abajures, xícaras,

Narciso a olhar

na água-espelho

(por eternidades)

seus traços,

em bronze,

delicados,

lânguidos.

Abandonado,

absorvido

em seu prazer ... prisão.

Page 9: O Corpo é Discurso

Página 9 O Corpo

Renato Lima é graduado em Pintura pela Escola de Belas Artes - UFRJ. Para saber mais sobre o autor e

suas produções, acesse também o site Pockets - Histórias de Bolso ou a página de Facebook Pocketscomics.

24 a 28 de Novembro de 2014

Mais informações no Link: http://semanadeletras.com/

Page 10: O Corpo é Discurso

As contribuições teórico-

analíticas da Semiótica Textual (semiótica

greimasiana), nascida a partir das elabo-

rações metodológicas de Algirdas-Julien

Greimas (1966), trazem um novo olhar

sobre a dimensão textual, rompendo com a

ideia tradicional de textualidade unicamen-

te verbal e sim abarcando o campo relaci-

onal do texto semio-verbal. Nessa pers-

pectiva, as abordagens, em torno do senti-

do que um texto veicula, estão assentadas

numa semântica estrutural, na qual é pos-

sível se verificar o sentido em dois planos

basilares: o plano da expressão e o plano

do conteúdo. Ademais, segundo Greimas

([1966], 1976), é possível se entender o

percurso gerativo do sentido numa produ-

ção discursiva sem, entretanto, necessari-

amente desconsiderar os elementos extra-

linguísticos como o contexto sócio-

histórico, a ideologia e para que sentido

apontam numa abordagem discursiva.

As capas dos veículos midiáticos

enquadram-se como textos sincréticos, os

quais apresentam linguagem não-verbal

(imagem) e linguagem verbal (texto). Em

ambas formas de expressão da linguagem,

o sentido do texto se dá através da análise

de seu percurso gerativo, isto é, o percur-

so pretende explicar a produção de sentido

através de uma sucessão de três níveis,

saindo (partindo) do mais abstrato para o

mais concreto, do mais profundo para o

mais superficial.

Para a semiótica textual, a signi-

ficação se apresenta na relação entre os

planos sígnicos do conteúdo e da expres-

são. O conteúdo diz respeito ao processo

informativo, ou seja, aquilo sobre o que se

quer dizer; a expressão, por outro lado, é

a forma, a maneira como se a informação

se apresenta; assim, “o plano de conteúdo

é formado no percurso gerativo do senti-

do e manifestado no plano da expres-

são” (PIETROFORTE, 2008, p.107). Nesse

entendimento, os planos de significação,

constituintes do percurso gerativo de

sentido, estruturam tanto o âmbito do

conteúdo quanto o da expressão. Esse

jogo interpretativo entre o verbal e plásti-

co faz parte da competência da semiótica

semi-simbólica, aquela que se ocupa com

objetos de natureza sincrética, a qual se

vale tanto dos instrumentos interpretati-

vos das análises textuais, como também

daqueles das abordagens imagéticas.

Os planos de composição síg-

nica amparam tanto a parte verbal quanto

a não-verbal do discurso (tomado como

sinônimo de texto), possibilitando para

cada um desses modos de apresentação

textual a sua materialização informativa,

isto é, o plano da expressão e do conteú-

do que estão presentes tanto para o ver-

Página 10 O Corpo

“As capas dos ve-ículos midiáticos

enquadram-se como textos sin-créticos, os quais apresentam lin-

guagem não-verbal (imagem) e linguagem ver-

bal (texto)”

Page 11: O Corpo é Discurso

bal quanto para o não-verbal no texto.

Para a semiótica semi-simbólica o plano

de expressão (“mundo exterior”) indica

como o material semiótico é veiculado,

suas formas, cores e texturas, tamanho,

disposição espacial etc., e o plano do

conteúdo (“mundo interior”) é a repre-

sentação que esses componentes exter-

nos adquirem, a partir de suas composi-

ções e relações.

Os objetos midiáticos, em ques-

tão, pela sua natureza, atendem à deman-

da de divulgação de fatos sociais relevan-

tes e, como veículos de comunicação

popular, adquirirem força persuasiva

quando estabelecem um vínculo

“emocional” com o sujeito cognoscente,

como se vê na composição da imagem

entre o texto de chamada e a postura do

ex-presidente, como seguem.

Para a análise, tomar-se-á,

além da imagem do ex-presidente Lula,

apenas o texto de chamada, conforme se

apresenta nas imagens 1 e 2 respectiva-

mente: “A grande batalha de Lula” e “Os

bastidores da luta de Lula contra o cân-

cer”.

A leitura visual da imagem, nesse

caso, não descarta o texto verbal, uma vez

que esse compõe, de forma complementar,

a semiose do texto não verbal, estabele-

cendo uma relação de contiguidade entre

ambas as esferas textuais. É, assim, pois,

que o processo de discursivização visual

acontece, o qual é formado pela relação de

“intensidade” e “extensidade”, formando,

então, o(s) gradiente(s) perceptivo(s)

(FONTANILLE; ZILBERBERG, 2001). Dessa

forma, a relação de forças entre os gradi-

entes de intensidade e extensidade é o que

caracteriza a tensividade, ou seja, um ar-

ranjo de forças, o qual acontece no espaço

tensivo, envolvendo o sujeito cognoscente

e o objeto cognoscível.

Na apreensão dos objetos midiá-

ticos, observa-se que, na imagem 1, o ex-

presidente, vestido como um homem do

povo, sorrindo, dirige para o alto o olhar,

que pode ser entendido como o céu, cujo

contraste de luz (claro e escuro) faz com

que se perceba que do alto, em sua dire-

ção, vem um facho de luz (celestial), ba-

nhando-lhe toda a face, o que, numa pers-

pectiva mística, estaria relacionada a uma

salvação divina para aquele especialmen-

te escolhido. Acrescida da frase de cha-

mada (“A grande batalha de Lula”), vê-se,

portanto, que esta não será uma “luta”

solitária ou meramente humana, mas sim

amparada pelas forças divinas, que o

ajudarão como um Ser merecedor dessa

salvação e desse amparo.

Inversamente, na imagem 2, vê-

se o ex-presidente, numa atitude pensati-

Página 11 O Corpo

IMAGEM 1

IMAGEM 2

“Para a semióti-ca semi-

simbólica o pla-no de expressão (“mundo exteri-or”) indica como

o material se-miótico é veicu-

lado”

Page 12: O Corpo é Discurso

va e preocupada, ar circunspecto, sobri-

amente vestido (paletó e gravata), direci-

onando o olhar para baixo, atrelando-o à

condição humana, caracterizada por me-

dos e fraquezas, comum a qualquer pes-

soa, mesmo tendo ocupado a maior posi-

ção social que uma pessoa poderia alcan-

çar: a presidência de um país.

Assim, a verbalização da ima-

gem do corpo político, entendida como a

leitura visual, está relacionada ao gradi-

ente tensivo que se estabelece, a partir

da percepção que o sujeito observador

tem do objeto observado.

As tensões apreendidas pelo

observador (relações entre o sensível e o

inteligível) são viabilizadas por intermé-

dio do discurso que passa de um estado

de ato a uma práxis. As categorias envol-

vidas, que formam o discurso,

deixam, assim, seu estado poten-

cial para realizarem um movimen-

to de enunciação. Portanto, para

Fontanille (2007) passa-se de “um

discurso em ato ao discurso enun-

ciado”, estruturado pelo encadea-

mento de discursos singulares, os

quais “são capazes de esquemati-

zar aquilo a que fazem referência e de

projetar formas inteligíveis que nos permi-

tem c o ns tru ir s ua s ign i f ic a-

ção” (FONTANILLE, 2007, p.109).

Os esquemas discursivos, por-

tanto, são formados pelas relações tensi-

vas, as quais são responsáveis pela apre-

ensão do sentido, num jogo de forças

(gradiente tensivo) que pode ser demons-

trado por meio de esquemas gráficos que

materializam as categorias envolvidas.

Interessante considerar a referência que

esse campo de análise semiótica faz quan-

to a importância do sujeito perceptivo no

processo de significação. Nota-se essa

referência, no que tange a operacionaliza-

ção mental, que o observador realiza so-

bre os constituintes semióticos para a

compreensão e estabelecimento do senti-

do, como também a sua participação quan-

to a atribuição valorativa (axiológica) en-

volvidas, alicerçando, mais uma vez, a di-

mensão fulcral da fenomenologia da signi-

ficação, a qual converte semioticamente

esse sujeito da observação (sujeito cog-

noscente), em um “sujeito sensível” e,

consequentemente, no “próprio lugar das

correlações entre gradientes semânti-

cos” (FONTANILLE; ZILBERBERG, 2001,

p.20).

Ainda na esteira da análise se-

mio-verbal, é relevante considerar que as

imagens do ex-presidente, expostas nas

capas das revistas, adquirem um revesti-

mento semiótico oferecido pelo sujeito

observador. A imagem projetada (imagem

humana) redimensiona-se de uma leitura

denotada para uma leitura conotada que,

segundo Pietroforte (2007, p.28),

“assume o sentido de uma espécie de

grau zero da corporalidade, sobre o qual

as conotações míticas estéticas podem

ser projetadas”.

Essas projeções podem ser en-

caradas como artefatos sócio-culturais e

ideológicos que, conforme Fausto Neto

(1990), constroem o “corpo do sujeito

político”, dentro de uma rede de significa-

Página 12 O Corpo

“Os esquemas discursivos, por-

tanto, são for-mados pelas re-lações tensivas, as quais são res-ponsáveis pela apreensão do

sentido...”

IMAGEM 3: ADAPTADO DE FONTANILLE E

ZILBERBERG (2001, P.179)

Page 13: O Corpo é Discurso

ções, simulando o real. Para tanto, o

“corpo do sujeito político” se descorpori-

fica para possibilitar que outras proje-

ções encontrem aí espaço e sentido e

que se realizem pela “gramática de um

outro corpo”. Assim, a percepção do

“corpo político” é manifestada pelo ato de

significação e re-significação possíveis

na relação interativo-perceptiva entre

corpo-sujeito e corpo-objeto.

Salienta-se, sobremaneira, na

semiótica visual, a importância do sujeito

observador (observador sensível), uma

vez que é nele que se instala o processo

perceptivo e do qual emana a interpreta-

ção. Segundo Fontanille e Zilberberg

(2001, p.26), esse “observador sensível”

se constitui como o “próprio lugar das

correlações entre gradientes semânti-

cos”, isto é, a “„caixa preta‟ da semiótica

das paixões, a saber o corpo próprio do

sujeito que sente: o corpo próprio é o

lugar em que se fazem e se sentem, de

uma só vez, as correlações entre valências

perceptivas (intensidade e extensidade)”.

Entender, portanto, o processo

de significação imagético-verbal requer

uma série de concatenações que exigem o

entrelaçamento da imagem, bem como o

“objeto” representado por ela, com tudo

aquilo que lhe diz respeito, não só com a

descrição dos componentes internos e

externos da fotografia, mas, sobretudo,

com formas de ação perceptivas do sujeito

observador, uma vez que sem este não há

possibilidade de semiotização do mundo

circundante.

REFERÊNCIAS

FAUSTO NETO, Antônio. O Presidente da

televisão: a construção do sujeito e do

discurso político no guia eleitoral. Revista

Comunicação e Cultura, São Paulo, ano

09, n. 11, p.07-27, abr./jun., 1990.

FIORIN, José Luiz. Elementos de análise

do discurso. São Paulo: Contexto /EDUSP,

1989.

FONTANILLE, Jacques. Semiótica do Dis-

curso. Tradução Jean Cristtus Portela.

São Paulo: Contexto, 2007.

FONTANILLE, Jacques; ZILBERBERG, Claude.

Tensão e significação. Tradução de Ivã

Lopes, Luiz Tatit e Waldir Beividas. São

Paulo: Discurso Editorial/Humanitas,

2001.

GREIMAS, Algirdas Julien. [1966]. Semân-

tica estrutural. Tradução Haquira Osaka-

be e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix/

EDUSP, 1976.

PIETROFORTE, Antonio Vicente S. Semióti-

ca visual: os percursos do olhar. 2.ed.

São Paulo: Contexto, 2008.

Página 13 O Corpo

Suani de Almeida Vasconcelos é Mestre em Letras e

Linguística pela Universidade Federal da Bahia e doutora em Le-

tras e Linguística, na área de Descrição e Análise Linguística pela

Universidade Federal da Bahia (2011). Atualmente é professora

da área de linguística do Departamento de Letras e Artes da Uni-

versidade Estadual de Feira de Santana e professora da Faculdade Nobre de

Feira de Santana. Currículo Lattes: Clique Aqui!

“a percepção do „corpo político‟ é manifestada pe-lo ato de signifi-

cação e re-significação pos-síveis na relação

interativo-

perceptiva...”

“Entender, portanto, o processo de signifi-

cação imagético-verbal requer uma sé-rie de concatenações que exigem o entrela-çamento da imagem, bem como o “objeto” representado por ela”

Page 14: O Corpo é Discurso

A Análise de discurso pecheutia-

na oferece subsídios teóricos e metodoló-

gicos para que o pesquisador atravesse o

texto, indo em busca dos aspectos discur-

sivos que o constituem ou seja, o pesqui-

sador deve procurar romper com as evi-

dências dos sentidos, de-superficializar os

textos, deve indagar-se: sobre o lugar de

onde se diz, e sobre porque se diz.. No

processo de desnaturalização textual, o

pesquisador atravessa três diferentes

momentos: entra em contato com a super-

fície linguística, a transforma em objeto

discursivo e chega ao processo discursivo,

No primeiro momento procura-se

transformar o texto enquanto objeto for-

mal em objeto discursivo, procurando co-

locar o dito em relação ao não dito, ou

seja, o pesquisador deve dar conta do es-

quecimento nº 2 (que é da ordem da enun-

ciação) questionando se o que foi dito só

poderia ter sido dito daquele maneira.

Desse modo, a partir das pistas deixadas

no intradiscurso, o sujeito pesquisador,

tendo desnaturalizado os sentidos, trans-

forma a superfície linguística em objeto

discursivo. No segundo momento, vale

refletir sobre o que se pode dizer e o que

não se pode dizer, o que é dito neste dis-

curso e em outros discursos em outras

conjunturas, observando os não ditos sig-

nificando. O terceiro momento (do proces-

so discursivo) é caracterizado como aque-

le em que o analista procura relacionar as

formações discursivas com a ideologia,

Segundo Pêcheux e Fuchs (1997, p. 169) "o

sentido de uma sequência só é material-

mente concebível na medida em que se

concebe essa sequência como pertencente

necessariamente a esta ou aquela forma-

ção discursiva"

Desnaturalizando os sentidos da

propaganda e concebendo-a não apenas

como um texto qualquer, mas como um

objeto discursivo, é que se pretende refle-

tir sobre os elementos do processo dis-

cursivo que nela se materializam como a

ideologia e os já ditos, pensando sobre a

construção discursiva da ideia de magreza

e sobrepeso, através da representação do

corpo feminino, representação esta que

passa pela noção de corpo saudável e de

beleza. O discurso publicitário do qual

derivam as propagandas, com o objetivo

mercadológico de vender produtos, con-

tribui para homogeneizar os sujeitos que

passam a ser vistos como consumidores

em série.

O primeiro exemplo aqui coloca-

do circulou em revistas da década de

1940, época em que a mulher era vista

ainda como naturalmente afeita à mater-

nidade, ao lar e ao casamento. Já na

década de 90, outros lugares sociais

eram ocupados pelas mulheres, mas ain-

da era possível retomarmos já-ditos que

colocavam as mesmas no ambiente do-

méstico, naturalizando o papel da mulher

Página 14 O Corpo

“... o pesquisa-dor deve procu-rar romper com

as evidências dos sentidos, de-superficializar os

textos... ”

Page 15: O Corpo é Discurso

na sociedade. Os sentidos ligam-se tam-

bém às condições de produção do discur-

so. Segundo Pêcheux (1997, p.77) “um

discurso é sempre pronunciado a partir

de condições de produção dadas”.

A Figura 1 representa um anún-

cio publicitário , que objetiva vender um

remédio para engordar, o Vikelp. No mes-

mo, destacam-se as imagens de duas

mulheres: a da esquerda aparece cabis-

baixa, com aspecto doentil e apresentan-

do-se com ar de descontentamento; a da

direita aparece sorridente, com aspecto

saudável e expressão de autoconfiança. O

enunciado que está relacionado à mulher

da esquerda confirma a expressão doen-

tia, conforme se vê a seguir: Sou magra

de nascença, nunca passarei disto! Esse

enunciado remete a elementos do inter-

discurso, “todo complexo com dominan-

te” (Pêcheux, 1997, p. 146) ao considerar

a magreza como uma doença, como car-

ga genética (nascença), retomando ex-

pressões como "cego de nascença",

"surdo de nas-

cença", dentre

outras. A partir

do mesmo enun-

ciado, é possível

notar que ser

magro é algo

ruim, indesejável,

o que é reforçado

pelo tom de lamento presente no trecho:

nunca passarei disso! O efeito de sentido

sobre a magreza, portanto, retoma ele-

mentos do interdiscurso que repousam

numa construção histórica e ideológica, a

qual relaciona o baixo peso à falta de saú-

de, fraqueza física e baixa autoestima.

Além disso, o corpo da mulher é mercado-

logizado e é vendido junto com o produto

para engordar. O corpo cheinho é discursi-

vizado como o ideal, o desejável, o belo,

enquanto que o corpo magro é construído

como aquele indesejável, feio, estranho.

A mulher da direita profere o

enunciado: Eu dizia o mesmo antes de

usar o Vikelp! A partir do mesmo, recupe-

ra-se o sentido de que o Vikelp traz felici-

dade e restaura a autoestima e felicidade

para aqueles que consomem esse produ-

to. Neste caso, a felicidade está relaciona-

da a certa compleição física, sendo que o

corpo magro traz tristeza e descontenta-

mento. É o corpo coagindo os sujeitos.

Mais adiante há o trecho: Enfim, uma boa

notícia para as pessoas „magras de nas-

cença‟ que, embora bem alimentadas, não

conseguem aumento de peso. (Trecho da

Figura 1)

No trecho está marcada nova-

mente a formação discursiva de magreza

como doença A expressão “embora bem

alimentadas”, revela que há algo errado

com o sujeito magro de nascença: apesar

de comer bem, não engorda. Ele não é

considerado dentro dos padrões da nor-

malidade (se comer bem, vai engordar).

Há a ideologia do estranhamento e da

exclusão da diferença (ser diferente é

estranho). Neste caso, há a remissão à

necessidade de se adequar à normalidade,

ou seja, possuir "carnes rijas" para co-

brir as saliências e depressões do corpo

magro. Destaca-se a ideologia da merca-

Página 15 O Corpo

FIGUR

A 1- ANÚ

NCIO PUBLICITÁR

IO DO

VIKELP. FON

TE: SCHOLZ (2011)

“ O corpo chei-nho é discursivi-zado como o ide-al, o desejável, o belo, enquanto que o corpo ma-gro é construído como aquele in-desejável, feio,

estranho”

Page 16: O Corpo é Discurso

dologização da felicidade, e da beleza,

sentido que é reforçado pelo próprio

discurso publicitário. Revela-se a cons-

trução do sujeito a partir do corpo.

A visão sobre a magreza será

substancialmente modificada no anúncio

publicitário da Figura 2. O anúncio a se-

guir que circulou na década de 1990,

mostra que houve um deslizamento de

sentidos da noção de magreza, uma vez

que a mesma passa a ser reelaborada e a

ser vista como algo positivo, símbolo de

beleza e saúde. A partir da década de

1990, é visível nas propagandas o atra-

vessamento do discurso científico com as

ideias de vida e alimentação saudáveis.

Desse modo, o sobrepeso passa a ser

condenado por representar riscos à saú-

de, mas além de carregar o sentido nega-

tivo ligado a doenças, passa, também, a

ser considerado feio, fora de moda, es-

quisito e indesejável. As pessoas gordinhas

passam a ser excluídas socialmente, cons-

tituindo-se como sujeitos fora dos padrões

de beleza, feios, estranhos, anormais e

infelizes.

No anúncio anterior, aparece a

cena do casamento, com destaque para o

bolo e os noivinhos que, na imagem, são

gordos. Acima do bolo aparece o enuncia-

do: O mundo nunca vai

ser assim. Emagreça

com Sanavita. A partir

da análise do enuncia-

do e das imagens,

percebe-se que o

anúncio remete à ideia

que para ser atraente

e arran jar um

"marido" é necessário

se adequar aos pa-

drões de beleza que,

na década de 1990, correspondem a ter um

corpo magro, retomando, parafrastica-

mente, a ideia de que a mulher está ligada

ao mundo do lar e ao casamento. Mais

uma vez, há a ligação entre a mulher e a

esfera do casamento, mas agora essa

ligação é consumada através da junção da

imagem, que também é elemento discursi-

vo, e do texto. A retomada dos já ditos

sobre a mulher, o casamento, o lar é visí-

vel na propaganda que traz à tona esses

elementos do interdiscurso. Novamente o

corpo coage os sujeitos que percisam se

adequar às idéias de beleza.

Identifica-se, assim, uma outra

formação discursiva bem diferente da-

quela da década de 1940: agora ser magra

é ser bonita, ser atraente. Houve, então,

um deslizamento de sentidos que foi gera-

do pelas condições de produção do dis-

curso na década de 1990, atravessado

pelo discurso científico de que a gordura

é um dos elementos que leva ao desenvol-

vimento de inúmeras doenças. O atraves-

samento do discurso científico é visível no

enunciado: Sanavita, o ingrediente de sua

reeducação alimentar e de seu emagreci-

mento saudável. Emagrecer já é, portanto,

nessa época, sinônimo de saúde e para se

adequar ao mundo, que nunca vai ser dos

gordinhos, é preciso tomar o Sanavita. A

ideologia de que a aparência física traz

felicidade e autoestima também está pre-

sente, normalizando a ideia de que a apa-

rência é mais importante do que a essên-

Página 16 O Corpo

FIGURA 2 - SANAVITA. FONTE: SCHOLZ (2011).

“o sobrepeso passa a ser con-denado por re-

presentar riscos à saúde, mas

além de carregar o sentido negati-

vo ligado a do-

enças...”

Page 17: O Corpo é Discurso

cia. Tanto que, para se adequar ao mun-

do, é preciso ser magro.

A propaganda funciona, assim,

como veículo ideológico que pretende

homogeneizar os sujeitos através do o

corpo: todos, se quiserem fazer parte do

mundo, precisam ser magros. Esse dis-

curso mostra a exclusão dos sujeitos que

estão acima do peso, e a concepção de

que estes são anormais, feios, desinte-

ressantes, Assim, para serem aceitas

socialmente, as mulheres precisam ser

magras. Por circular, dentre outras, em

revistas femininas, o anúncio traz tam-

bém outros sentidos (reforçados pela

imagem dos noivinhos) que retomam

discursos sobre as mulheres, tais como:

a felicidade feminina é conquistada atra-

vés do casamento, a mulher se realiza

quando se torna esposa, a mulher deve

atender aos desejos do marido e, para se

conseguir um marido, a mulher deve se

adequar aos padrões sociais de beleza da

época, dentre outras coisas. Ser gordinha,

estar acima do peso, não significa o mes-

mo que significava na década de 1940.

Quase últimas palavras

Como foi possível notar nos

anúncios aqui analisados, as ideias de ma-

greza, sobrepeso, são construídas discur-

sivamente, derivadas de determinadas

formações ideológicas que variam a de-

pender da época em que os textos circula-

ram. Tais construções retomam já-ditos

sobre a beleza, passando também por mo-

dos de subjetivação do corpo feminino nos

anúncios analisados.

Desse modo, as noções de ma-

greza e sobrepeso estão expostas ao des-

lizamento de sentidos, o que revela a não

transparência da língua. Ser magra na

década de 1940 era ter um aspecto de

doente, sendo, inclusive, a pessoa magra

excluída da possibilidade de levar uma vida

normal. O mesmo não acontece na década

de 1990, quando a magreza passa a ser

vista como símbolo de saúde, e o sobrepe-

so como algo feio, indesejado.

Referências

GADET, Françoise.; HAK, Tony. (Org.). Por

uma análise automática do discurso: Uma

introdução à obra de Michel Pêcheux.

Campinas/SP: Editora da Unicamp, 1997.

PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso:

uma crítica à afirmação do óbvio. Trad.

Eni P. Orlandi et al., 2. ed., Campinas, SP:

Unicamp, 1995.

_________. Análise automática do discur-

so (AAD-69). In: GADET, Françoise; HAK,

Tony. (Org.). Por uma análise automática

do discurso. 3. ed., Campinas, SP: Ed. da

Unicamp, 1997, p. 61 - 105.

PÊCHEUX;Michel; FUCHS, Catherine . A

propósito da análise automática do dis-

curso: atualizações e perspectivas. In:

GADET; HAK (Org.). Por uma análise auto-

mática do discurso. 3. ed., Campinas, SP:

Ed. da Unicamp, 1997, p. 163 -252.

SCHOLZ, Cley. Blog reclames do estadão.

Para os magros de nascença. 2011. Dispo-

nível em: http://blogs.estadao.com.br/

r e c l a m e s - d o -

estadao/2011/07/30/13189/. Acesso em:

10 jun 2014.

Página 17 O Corpo

Palmira Heine é Palmira Heine é professora da Universida-

de Estadual de Feira de Santana. Doutora em Linguística pela

UFBA e mestre em Linguística pela mesma instituição. É coorde-

nadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Análise de Discurso

(GEPEAD), cadastrado no CNPQ, cujas atividades se desenvolvem

no Departamento de Letras e Artes da UEFS. Currículo Lattes: Clique Aqui!

“A propaganda funciona, assim,

como veículo ideológico que

pretende homo-geneizar os su-

jeitos através do

o corpo”

Page 18: O Corpo é Discurso

Introdução

Desde que começou a articular

signos o homem conta histórias. Um dos

suportes modernos que tem maior alcance

em termo de espectador é a telenovela.

Assim, estamos falando de uma “uma his-

tória serializada que remonta o hábito de

seguir as tramas e os personagens, entre-

tendo enormes contingentes” (SADEK,

2008, p.11). Ao pensarmos a telenovela logo

nos vem à mente a sua vinheta de abertu-

ra. Foi na década de 1970 que as vinhetas

inauguraram a exposição de um sistema

de imagens, ou seja, uma complexa varie-

dade de signos, que narra mensagens ine-

rentes à temática central da própria tele-

novela.

Partindo dessa premissa, a pro-

posta deste estudo está pautada na análise

desse sistema de imagens que compõe a

vinheta de abertura da segunda versão da

telenovela O Astro, exibida pela TV Globo

em 2011, no horário das 23 horas. Aqui não

serão considerados os efeitos incitados

pela materialidade sonora, ocuparemo-nos

apenas das imagens em movimento que

constituem a vinheta. Para isso, acionare-

mos os postulados de Gilles Deleuze, na

tentativa em que fez de classificar as ima-

gens e os signos na obra “A imagem-

movimento” (1985), onde procurou demar-

car os novos pontos de vistas impostos

pelo cinema à classificação já estabelecida

pelo lógico americano Charles S. Peirce

(2005).

Por meio da decupagem da vinhe-

ta de abertura conseguimos determinar a

prevalência do primeiro plano, no qual

rosto e objetos exprimem potência ou qua-

lidade, ou seja, pólos do afeto, fixando as-

sim uma das variedades da imagem-

movimento, que está na ordem do movi-

mento de expressão, do ícone, “do signo de

composição bipolar da imagem-

afecção” (DELEUZE, 1985, p. 126).

Entre a vinheta, o plano e a variedade

da imagem

Não podemos pensar a telenovela

sem transitarmos pelos caminhos do cine-

ma, haja vista que este antecede aquela no

que diz respeito ao uso da imagem em

movimento como materialidade. Desta

forma, ambos os suportes utilizam estra-

tégias de produções análogas. No entanto,

algumas particularidades são fortemente

marcadas em cada um.

As vinhetas de abertura estão

presentes tanto no cinema quanto na

teledramaturgia cumprindo a função de

evidenciar os créditos e informações que

sintetizem a temática principal do filme

ou da telenovela. Assim, trouxemos para

esta discussão a vinheta de abertura da

segunda versão da telenovela O Astro,

escrita por Alcides Nogueira e Geraldo

Página 18 O Corpo

“As vinhetas de abertura estão pre-sentes tanto no ci-nema quanto na teledramaturgia cumprindo a fun-ção de evidenciar os créditos e infor-mações que sinte-tizem a temática

principal do filme

ou da telenovela”

Page 19: O Corpo é Discurso

Carneiro, baseada na história de Janete

Clair, que foi exibida pela TV Globo no

período de 12 de julho a 28 de outubro de

2011, inaugurando um novo horário na

grade da emissora destinado à teledra-

maturgia: o das 23 horas.

Se em um filme vemos a vinheta

apenas uma vez, na telenovela acaba

sendo repetida a cada novo capítulo. Cri-

ação de Hans Donner, Alexandre Pit Ribei-

ro, Roberto Stein e Alexandre Romano,

além do envolvimento de profissionais de

outras áreas, a vinheta de abertura de O

Astro, que tem 54 segundos de duração,

pôde ser vista 64 vezes pelos espectado-

res. Segundo Dorneles (2007), essa repe-

tição propicia a existência maior das

imagens e instiga a análise por parte do

espectador, que ao interpretá-la tem a

possibilidade de fazer novas associações

e/ou inferências bem mais significativas.

Como estamos nos disponibili-

zando a analisar uma vinheta de abertura

de uma telenovela, ou seja, imagens em

movimento, é mister lançarmos o nosso

olhar para as estratégias de produção das

referidas imagens. Que tipo de plano tem

maior incidência na vinheta? Que movi-

mento determina esse plano? Que varieda-

de de imagem emerge do plano com seu

respectivo movimento? Essas são algumas

inquietações que norteiam a nossa análise.

Segundo Deleuze (1985, p. 31), “a

decupagem é a determinação do plano, e o

plano a determinação do movimento que se

estabelece no sistema fechado”. Assim é

possível afirmar que um plano é determi-

nado pelos elementos contidos no quadro

de acordo com a distância, o ângulo, a

duração e o movimento estabelecidos pela

câmera.

No âmbito da distância, o plano

que constitui o enquadramento de um obje-

to em destaque, que evidencia proximida-

de, é denominado primeiro plano, conforme

sinaliza a figura 01.

Nos três planos que compõem a

imagem vemos em destaque elementos

corporais (olho e rosto) e objetos

(argolas) que são refletidos por uma uni-

dade imóvel (câmera fixa), mas que apre-

sentam movimentos intensos expressivos.

Essa maneira de enquadrar espacialmen-

te o objeto é caracterizada por Deleuze

(1985) como uma imagem-afecção. E para

investir nesse conceito o filósofo francês

partiu do posicionamento de Eisenstein,

que visualizava no primeiro plano a oferta

de uma leitura afetiva de toda a obra; e,

também, da definição bergsoniana do

afeto, que é caracterizada por “uma série

de micromovimentos sobre uma placa

nervosa imobilizada” (DELEUZE, 1985, p.

114).

Os planos em que o olho e o ros-

to ficam evidentes, ou seja, as figuras 01B

e 01C, a motricidade essencial inerente ao

corpo humano é interditada, e essas par-

tes têm apenas micromovimentos que

podem entrar em séries intensivas. Desse

modo, Deleuze (1985, p. 115) ressalta:

Página 19 O Corpo

Figura 01 (A-B-C): Frames da vinheta de abertura de O Astro.

Fonte: O ASTRO. Rio de Janeiro: Som Livre, 2012. Box DVD.

Page 20: O Corpo é Discurso

O móvel perdeu seu movimento

de extensão, e o movimento

tornou-se movimento de ex-pressão. É este conjunto de uma

unidade refletora imóvel e de movimentos intensos expressi-

vos que constitui o afeto. (…) E cada vez que descobrimos em

algo esses dois pólos (...) pode-

mos afirmar: esta coisa foi tra-

tada como um rosto, ela foi

“encarada”, ou melhor,

“rostificada” (grifos do autor).

Em vista disso, o rosto é o lugar

do primeiro plano e o primeiro plano é

em si o rosto. Qualquer outra parte do

corpo, ou mesmo um objeto destacado

em primeiro plano, criará o mesmo efeito

afetivo que o rosto na imagem.

Respaldado pelas ideias de Ba-

lázs, no que diz respeito ao rosto, Deleuze

(1985, p.124) pontua que o primeiro plano

não é a extração desse objeto dentro de

um conjunto, mas uma abstração do mes-

mo das coordenadas espácio-temporais,

“que eleva-o ao estado de Entidade”. O

primeiro plano revela uma mudança de

dimensão e torna-se expressão. E essa

expressão faz do rosto um todo inteligível

que não está vinculado ao espaço. Por

isso, podemos dizer que o plano que evi-

dencia o rosto do personagem Herculano

Quintanilha na imagem 01, no nível da

expressão, não mantém nenhuma relação

com o espaço, uma vez que vemos no

“misterioso” uma qualidade singular que

entrou em conjunção virtual constituindo

uma entidade complexa: o afeto.

Em todo o empreendimento da

discussão em torno da imagem-

movimento, Deleuze (1985) comunga da

ideia de que a imagem dá lugar a signos. A

sua compreensão de signo está associada

à definição cunhada por C. S. Peirce (2005,

p.46) que diz que “o signo, ou

„representâmen‟, é aquilo que, sob certo

aspecto ou modo, representa algo para

alguém”. Essa representação cria na men-

te do outro um signo equivalente, isto é, o

que Peirce chama de “interpretante” do

primeiro signo, uma ideia – termo compre-

endido no sentido platônico – e somente

isso, do “objeto”, daquilo que representa. A

teoria peirceana do signo, a qual subsidiou

o pensamento de Deleuze, é sustentada por

uma tríade: o objeto se relaciona com o

representâmen e o interpretante.

Até aqui vimos que a imagem-

afecção é determinada pela abstração do

rosto ou de um equivalente das coordena-

das espácio-temporais. E elevado ao esta-

do de entidade, o afeto é a potência ou a

qualidade de qualquer objeto do ponto de

vista da expressão. Frente a isso, na expo-

sição feita em torno dessa variedade de

imagem-movimento e na procura do seu

respectivo signo, Deleuze (1985) torna

evidente que

Chama-se “ícone” o conjunto do

expressado e de sua expressão,

do afeto e do rosto. Há portanto ícones de traços e ícones de

contorno, ou melhor, todo ícone tem estes dois pólos: é o signo

de composição bipolar da ima-gem-afecção. A imagem-afecção

é a potência ou a qualidade con-

sideradas por si mesmas en-

quanto expressadas (p. 126, gri-

fo do autor).

A noção de ícone em Deleuze se

configura exatamente da maneira em que

foi compreendida por Peirce ao situá-la

como uma das denominações sígnicas

localizada na segunda de três tricotomias

que estabeleceu para os signos. Essa

tricotomia funciona “conforme a relação

do signo para com seu objeto consistir no

fato de o signo ter algum caráter em si

mesmo, ou manter alguma relação exis-

tencial com esse objeto ou em sua rela-

ção com um interpretante” (PEIRCE, 2005,

p. 51). Assim, um signo pode ser denomi-

nado ícone, por similaridade com o objeto;

índice, por conexão ao objeto, tendo algo

em comum; ou símbolo, quando se refere

ao objeto por meio de uma convenção,

pelos hábitos de uso.

Ainda nessa discussão da ima-

gem-afecção, Deleuze se reportou mais

uma vez a Peirce, agora fazendo uso da

classificação de imagens.

C. S. Peirce (...) distinguia dois

Página 20 O Corpo

Page 21: O Corpo é Discurso

tipos de imagens que ele cha-

mava de “Primeiridade” e

“Segundidade”. (...) Peirce não esconde que a primeiridade seja

difícil de definir, pois é mais sentida do que concebida – ela

diz respeito ao novo na experi-ência, o fresco, o fugaz e no

entanto o eterno. (...) são quali-

dades ou potências considera-

das por si mesmas, sem refe-

rência ao que quer que seja de

diferente, independentemente

de qualquer questão sobre sua

atualização. É o que é tal como é por si mesmo e em si mesmo

(DELEUZE, p. 126-7, grifos do autor).

Podemos dizer que o que vemos

num primeiro plano nada mais é do que

uma qualidade de uma sensação no âmbi-

to da possibilidade sem o dever de atuali-

zá-la. A expressão de qualidades-

potências antecipam o acontecimento

que será atualizado. Como podemos ver

na figura 02, no plano aparece apenas as

mãos fechadas. Dessa forma temos a

expressão de um afeto do mistério, com

sua singularidade e sua conjunção virtual,

inerente a imagem-afecção, ao passo que

se atualizado entrará numa outra dimen-

são, numa conexão real, havendo um con-

traponto, a revelação, constituindo o es-

sencial da imagem-ação, mas não entrare-

mos nessa ordem aqui.

Por isso, a imagem-afecção tem

a qualidade e a potência como pólos consi-

derados por si mesmos. Portanto, a ex-

pressão nessa variedade de imagem-

movimento é o signo correspondente.

Algumas considerações

Ao chegarmos nesse ponto da

discussão, vem em nossa mente que talvez

não cumprimos com exatidão a análise da

vinheta de abertura da telenovela O Astro

conforme propomos lá no início. Mas uma

coisa é certa: o nosso olhar para a vinheta

esteve todo o tempo embebido pelo pensa-

mento deleuzeano acerca da imagem-

movimento. E somente por meio das ima-

gens que compõem essa vinheta e pela

regularidade de uma mesma estratégia de

produção, e pela repetição excessiva da

vinheta a cada capítulo, que pudemos com-

preender que a imagem-afecção é o pri-

meiro plano, que por sua vez é o rosto,

tendo como signo correspondente a ex-

pressão capaz de transformar um afeto

em entidade.

A grande contribuição da inser-

ção que fizemos no pensamento deleuzea-

no certamente está no contato que tive-

mos com a teoria dos signos de Peirce,

vendo o uso de alguns dos termos do lógi-

co americano, comumente utilizados na

área da ciência da linguagem, deslocados

para uma taxionomia do cinema cuja fina-

lidade é estabelecer a conjunção entre

imagem e movimento.

REFERÊNCIAS

DELEUZE, Gilles. A imagem-movimento.

Trad. Stella Senra. São Paulo: Editora Bra-

siliense, 1985.

DORNELES, Rogério de Abreu. O design na

teledramartugia: um olhar sobre as vi-

nhetas de abertura das telenovelas da TV

Globo. Rio de Janeiro, 2007, 162p. Disser-

tação de Mestrado. Disponível em: http://

www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/

tesesabertas/0610438_07_ pretextu-

al.pdf. Acesso em: 18 de julho de 2012.

PEIRCE, Charles S. Semiótica. Trad. José

Teixeira Coelho Neto. São Paulo: Perspec-

tiva, 2005.

Página 21 O Corpo

Victor Pereira Sousa é Mestre em Linguística pela Univer-

sidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Atualmente, é pro-

fessor convidado do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em

"Práticas Docentes Interdisciplinares" da Universidade do Estado

da Bahia (UNEB), Campus VI. Currículo Lattes: Clique Aqui!

Figura 02: Frame da vinheta de abertura

de O Astro – Mãos em Primeiro Plano.

Fonte: O ASTRO. Rio de Janeiro: Som Livre, 2012. Box DVD.

Page 22: O Corpo é Discurso

Leitura do livro “Reencantar a ciência, reinventar a docência”, escrito por Sílvia Nogueira Chaves

Composição e organização dos capítulos no livro

Dica de O Corpo

Reencantar a ciência, reinventar a docência é um convi-

te para assumirmos a multiplicidade de narrativas da

cultura que temos diante de nós, uma vez que a insufici-

ência da ciência clássica, cartesiana, já não mais dá

conta de explicar os complexos fenômenos de um mundo

incerto e irregular que não obedece a padrões pré-

estabelecidos. A autora discute, de forma ousada e co-

rajosa, diferentes temas ao sair de sua zona de conforto

para assumir a zona de risco e dialogar com outras

áreas de conhecimento, de modo a reduzir a fragmenta-

ção dos saberes.

Page 23: O Corpo é Discurso

O Corpo é Discurso

é o primeiro jornal

eletrônico de

popularização

científica da Bahia.

Colaboradores

Popularização da Ciência

A pesquisa científica gera conhecimentos, tecnologias e inovações que benefi-

ciam toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas não conseguem compreender a

linguagem utilizada pelos pesquisadores. Neste contexto, a grande mídia e as novas

tecnologias de comunicação cumprem o papel de facilitadores do acesso ao conhe-

cimento científico. Para contribuir com esse processo, em sintonia com o espírito

que anima o Comitê de Assessoramento de Divulgação Científica do CNPq, criamos

esta seção no portal do CNPq. Seja bem-vindo ao nosso espaço de popularização da

ciência e aproveite para conhecer as pesquisas dos cientistas brasileiros e os bene-

fícios provenientes do desenvolvimento científico-tecnológico.