o corpo é discurso – nº 48

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Página 1 04.08.2013 ISSN: 2236-8221 Edição n. 48, Setembro de 2015 Vitória da Conquista, Bahia. O corpo é discurso Os holofotes estão voltados para o corpo! As camuflagens e tatuagens registradas ao longo da história de um corpo ultrapassam todas as fronteiras da linguagem, abrindo um leque de saberes que ora se camuflam de poesia, ora se tatuam de filosofia e se moldu- ram em teorias que enriquecem o conhecimento. Poemas que desconstroem verdades, textos que tatuam traçados precisos na imprecisão do nosso tempo sobre peles férteis e áridas de múltiplos saberes. É no compasso de cada palavra citada dos nossos colabora- dores no decorrer do nosso jornal que apresentamos mais uma edição, onde os saberes se escamoteiam e se imprimem em diversas facetas da linguagem. ISSN: 2236-8221 EXPEDIENTE DE O CORPO É DISCURSO Editores Nilton Milanez (LABEDISCO/CNPq/UESB) Ricardo Amaral (PPGMLS/FAPESB) Vilmar Prata (PPGMLS/FAPESB) Organizador Joanne Nahla (IC-CNPq) Matheus Vieira (IC-CNPq) Vinícius Reis (PPGMLS/LABEDISCO) Revisão George Lima (PPGLIN/CAPES) Samene Batista (PPGMLS/CAPES) Tyrone Chaves (PPGLIN/CAPES) Diagramador Ítalo Alberto Monitor de Extensão Ian Santiago Secretária Gessica Soares Editoração eletrônica (MARCA DE FANTASIA) Jornal de popularização científica Acesse o site do Labedisco: www2.uesb.br/labedisco Contato: [email protected]

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Page 1: O Corpo é Discurso – Nº 48

O Corpo

Página 1

04.08.2013

ISSN: 2236-8221

Edição n. 48, Setembro de 2015 Vitória da Conquista, Bahia.

O corpo é discurso

Os holofotes estão voltados para o corpo! As camuflagens e tatuagens registradas ao

longo da história de um corpo ultrapassam todas as fronteiras da linguagem, abrindo um

leque de saberes que ora se camuflam de poesia, ora se tatuam de filosofia e se moldu-

ram em teorias que enriquecem o conhecimento. Poemas que desconstroem verdades,

textos que tatuam traçados precisos na imprecisão do nosso tempo sobre peles férteis e

áridas de múltiplos saberes. É no compasso de cada palavra citada dos nossos colabora-

dores no decorrer do nosso jornal que apresentamos mais uma edição, onde os saberes

se escamoteiam e se imprimem em diversas facetas da linguagem.

ISSN: 2236-8221

EXPEDIENTE DE

O CORPO É DISCURSO

Editores

Nilton Milanez

(LABEDISCO/CNPq/UESB)

Ricardo Amaral

(PPGMLS/FAPESB)

Vilmar Prata

(PPGMLS/FAPESB)

Organizador

Joanne Nahla

(IC-CNPq)

Matheus Vieira

(IC-CNPq)

Vinícius Reis

(PPGMLS/LABEDISCO)

Revisão

George Lima

(PPGLIN/CAPES)

Samene Batista

(PPGMLS/CAPES)

Tyrone Chaves

(PPGLIN/CAPES)

Diagramador

Ítalo Alberto

Monitor de Extensão

Ian Santiago

Secretária

Gessica Soares

Editoração eletrônica

(MARCA DE FANTASIA)

Jornal de popularização científica

Acesse o site do Labedisco: www2.uesb.br/labedisco Contato: [email protected]

Page 2: O Corpo é Discurso – Nº 48

Página 2 O Corpo

Renato Lima é graduado em Pintura pela Escola de Belas Artes - UFRJ. Para saber mais sobre o autor e

suas produções, acesse também o site Pockets - Histórias de Bolso ou a página de Facebook Pocketscomics.

Page 3: O Corpo é Discurso – Nº 48

Página 3 O Corpo

Realização:

Tenho me distanciado desse mundo,

desse plano,

das tuas ideias e tuas condutas.

Tenho construído novas verdades,

novos meios e métodos que não oprimem ninguém;

sistemas não robóticos.

Tenho sido cada vez mais além do humano,

transcendi,

virei poeira cósmica,

virei um broto no jardim de alguém.

Virei qualquer coisa sem definição.

Mas não consigo ser mais refém

das condições de convivência.

Não consigo mais ser obrigação.

(Joanne Nahla)

Me leve para a terapia, querido,

talvez me receitem alguns remédios que vão além

dos versinhos que eu faço no fim da noite.

Querendo soltar lágrimas já silenciadas, já sem conceito,

que apenas surgem e existem por qualquer motivo,

porque tudo se tornou o mesmo nada de sempre

e eu deixei de ser um ser humano quando rio e passei a ser

produto social.

Esses versos já azedaram e nunca saem da validade.

Eles se repetem como verdades incontestáveis,

como comprovação do meu fracasso em viver.

Esses versos não me tiram a agonia,

nada mais me tira a agonia que é permanecer nesse mundo.

Talvez eu precise de controle.

Talvez eu precise de receita me dizendo que eu sou normal

pra que, mesmo eu não acreditando,

eu finja que acredito e finja que tudo fica bem.

(Joanne Nahla)

JOANNE NAHLA : Graduanda em Cinema e Audiovisual

pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,

UESB. Currículo Lattes: Clique Aqui!

Page 4: O Corpo é Discurso – Nº 48

estabelecer um diálogo entre o campo da AD e

os estudos nietzschianos é relevante, na medi-

da em que Nietzsche ressalta, em suas posi-

ções filosóficas, antes mesmo que Foucault

(2008) e Pêcheux (2009), uma Vontade de

Poder que, materializada na/pela língua(gem),

afeta os sujeitos no espaço-tempo.

Os trabalhos dos membros do grupo

se enquadram em duas linhas de pesquisa, a

saber: (i) “Corpo, Gênero e Sexualidade” que

visa analisar o corpo enquanto uma instância

discursiva que está, visceralmente, relaciona-

da à construção de identidade(s) de gênero e

de sexualidade; (ii) “Imbricamentos entre as

Teorias do Discurso e de Nietzsche” que visa

desenvolver pesquisas teóricas que buscam

pensar dispositivos de análise a partir de um

imbricamento entre o campo da Análise do

Discurso e a rede teórica nietzschiana, bem

aplicar esses dispositivos na análise de uma

diversidade corpora como, por exemplo, fil-

mes, livros didáticos, entrevistas, movimentos

sociais, dentre outros.

Dentre os projetos desenvolvidos

no/pelo GEDIN, consideramos relevante desta-

car os seguintes:

Projeto de Pesquisa: “O corpo En-

quanto uma Instância de Materialização Dis-

cursiva”.

Resumo: Este projeto destina-se a

compreender o corpo, a um só passo, en-

quanto um discurso e um espaço no qual se

materializa discursos. Discursos esses que

são efeitos de uma memória que ditam com-

portamentos, posturas, gestos, expressões

faciais, etc. Desse modo, não tomamos o cor-

po em sua organização fisio-biológia, mas sim

enquanto uma instância discursiva. Digo ins-

tância porque a corporalidade se funda a

partir de um conjunto de movimentos que

sujeito elabora no espaço no qual se imbri-

cam posições que, entre si, dizem-se, contra-

dizem-se, afirmam-se, negam-se, indentificam

-se, desidentificam-se, etc.

Projeto de Extensão: “Ensino, Dis-

curso e Corpo a partir do Cinema Brasileiro”.

Resumo: Objetiva-se, com esse

projeto de extensão, fornecer subsídios aos

professores da área de “Linguagens, Códigos

e suas Tecnologias” que estimulem a critici-

dade e a capacidade de argumentação de

seus alunos a partir da exibição e análise de

filmes brasileiros em sala de aula. Por fim,

convém mencionar que se almeja incidir no

Página 4 O Corpo

GRUPO DE ESTUDOS DO DISCURSO E DE

NIETZSCHE - GEDIN

Guilherme Figueira-Borges

As verdades são ilusões, das quais se

esqueceu que o são, metáforas que se

tornaram gastas e sem força sensível,

moedas que perderam sua efígie e

agora só entram em consideração

como metal, não mais como moedas.

Nietzsche (1996, p. 57)

O grupo de estudos do discurso e

de Nietzsche (GEDIN) nasceu, em 2011, na

Universidade Estadual de Goiás (UEG) Câm-

pus Iporá, a partir do desejo de propiciar,

aos alunos, um espaço de discursão das

teorias da Análise do Discurso francesa e da

teoria nietzschiana.

A Análise do Discurso francesa

(AD) tem se mostrado um relevante aparato

teórico, no campo da linguística, de analise

de diferentes corpora linguísticos e/ou ima-

géticos. Nesse sentido, nossa proposta de

grupo de estudos visa (re)pensar o campo da

AD a partir de um diálogo com a teoria ni-

etzschiana para fornecer, teórico e metodo-

logicamente, subsídios que possam balizar

gestos interpretativos outros no campo dos

estudos linguísticos. Acreditamos, pois, que

Page 5: O Corpo é Discurso – Nº 48

Página 5 O Corpo

ensino desta área na Subsecretaria Estadual

de Ensino de Iporá, em dois pontos, quais

sejam: fornecer técnicas que possibilitem o

trabalho com filmes nacionais em sala de

aula, desvelando que, nessa materialidade

linguística e visual, há a incidência de uma

exterioridade sócio-histórico-ideológica que

funda uma dada constituição corporal imagi-

nária para o brasileiro; interpelar os sujeitos

professores a produzirem interpretações,

estimulando, assim, a capacidade crítica e

argumentativa frente à materialidade fílmica.

(Projeto aprovado no Proext com recurso de

R$ 98.877,00)

Estudantes Vinculados

Daniela Cristine Alves Franco

(Iniciação Científica/Bolsa UEG)

Karis Alves Domingos (Extensão/

Bolsa UEG)

Haloana Moreira Costa (Iniciação

Científica/bolsa UEG)

Laurianne Guimarães Mendes

(Iniciação Científica/Voluntária)

Mábsom Silva Lemes (Iniciação Cien-

tífica/Bolsa CNPq)

Rayka Minelly (Permanência/ Bolsa

UEG)

Referências

FOUCAULT, M. A ordem do discur-

so. Trad. Bras. 3ed. São Paulo: Edições Loyola,

1996.

_______. Microfísica do Poder. Rio

de Janeiro: Edições Graal, 2008.

NIETZSCHE, F. W. Obras Incomple-

tas. São Paulo: Editora nova cultural, 1996.

PÊCHEUX, M. Semântica e Discur-

so – uma crítica à afirmação do óbvio.

Campinas: Ed. da UNICAMP. 2009.

Page 6: O Corpo é Discurso – Nº 48

que aprendi no grupo, fazendo pesquisa, vi

na sala de aula. Temas como a saúde men-

tal na atenção básica, matriciamento e o

cotidiano das pessoas com sofrimento

psíquico grave foram os que mais me atra-

íram. Terminando a graduação, mudei pra

Salvador, pra fazer residência em saúde

coletiva com área de concentração em

saúde mental no Instituto de Saúde Coleti-

va (ISC/UFBA), com práticas realizadas

nos serviços de saúde mental. Foi uma

experiência incrível e decidi continuar na

Bahia; fiz mestrado em Saúde Comunitária,

também no ISC, com a pesquisa intitulada

“Relações possíveis entre corpos urbanos

e subjetivos: a experiência de sujeitos em

sofrimento psíquico moradores do Distrito

Sanitário da Liberdade, Salvador/BA”, que

se trata de uma etnografia cartográfica

com pessoas que acompanhei em seu coti-

diano durante 06 meses. Depois do mes-

trado, iniciei a docência e há três anos

também com a experiência na gestão, na

Coordenação de Saúde Mental, álcool e

outras drogas de Vitória da Conquista/BA.

Ricardo Amaral: Sobre o livro A Histó-

ria da Loucura de Michel Foucault, qual

a sua relação de leitura com o referido

livro e autor?

Monique Brito: É uma leitura imprescindí-

vel para quem quer realmente entender a

construção social da loucura, ao invés de

ficar lendo apenas DSM´s, CID´s e manu-

ais de psicopatologia. Tive contato com

essa leitura durante a graduação (no

grupo de pesquisa e não no “programado”

da sala de aula), mas acredito que ele por

si só seria ainda insuficiente. Outras leitu-

ras de Foucault como Microfísica do Po-

der, Vigiar e Punir, História da Sexualida-

Página 6 O Corpo

A convidada para entrevista dessa edição

de O Corpo é Discurso foi a Profª. Ms.

Monique Brito. Com trajetória profissional

voltada para questões relativas à saúde

mental, entre outros temas, a entrevista-

da tratou da história da loucura, possibi-

lidades de tratamento e a relação entre

corpo e subjetividade. A entrevista foi

realizada pelo mestrando Ricardo Amaral

do Programa de Pós-Graduação em Me-

mória: Linguagem e Sociedade e pesqui-

sador do Laboratório de Estudos do Dis-

curso e do Corpo – Labedisco/Uesb.

Ricardo Amaral: Você poderia falar um

pouco sobre seu percurso na área da

saúde mental?

Monique Brito: Desde o início da minha

graduação, na UFRN, me aproximei da

saúde mental através do grupo de pes-

quisa do qual comecei a fazer parte ainda

no segundo semestre do curso e, a partir

daí, foi paixão pela saúde mental. Agrade-

ço enormemente à minha orientadora

Magda Dimenstein por me apresentar a

isso tudo, porque praticamente nada do

“Outras leituras de

Foucault [...], com-põem a complexidade

que esse tema tem, além de colocar a lou-cura dentro dessa mo-vimentação rizomáti-ca que é a sociedade

humana.”

Page 7: O Corpo é Discurso – Nº 48

Página 7 O Corpo

de, O nascimento da Clínica, Doença men-

tal e Psicologia, etc., compõem a comple-

xidade que esse tema tem, além de colo-

car a loucura dentro dessa movimenta-

ção rizomática que é a sociedade huma-

na.

Ricardo Amaral: Sabemos que os es-

paços de tratamento para o sujeito em

sofrimento mental eram os hospitais

psiquiátricos. Hoje em dia, temos ou-

tros espaços que são os Centros de

Atenção Psicossocial. Quais foram as

condições de possibilidades para que

houvesse essa mudança?

Monique Brito: Luta. Recentemente em

uma mesa de debate nas comemorações

da luta antimanicomial tive o desprazer

de ouvir uma docente de uma universida-

de federal e um profissional da saúde

mental afirmarem (na verdade, um afir-

mar e o outro fazer questão de concor-

dar) que a reforma psiquiátrica teria

acontecido naturalmente sem a luta anti-

manicomial, o que é um absurdo sem

tamanho. Não sei se é desconhecimento

ou conhecimento perverso, mas é uma

injustiça sem tamanho com as pessoas –

profissionais, usuários, familiares, etc. –

que lutaram bastante para que mudanças

acontecessem. Lógico que é um conjunto

de fatores, inclusive vontade e abertura

política. Também tem a insustentabilidade

do modelo hospitalocêntrico diante de

discussões em outros campos como o dos

direitos humanos, por exemplo, e não só no

campo específico da saúde mental. Infeliz-

mente não acompanhei todo esse processo

da luta antimanicomial, até porque eu esta-

va nascendo ainda, mas espero acompa-

nhar até o fim da minha vida, para que

nunca seja capaz de emitir uma opinião

descontextualizada, que deslegitime lutas

políticas tão fortes quanto essa. Outro

aspecto importante tem sido a ocupação

dos espaços de gestão, como a Coordena-

ção Nacional de Saúde Mental, por militan-

tes da reforma, que atualmente tem na

pasta Roberto Tykanori, um militante e

estudioso do campo da saúde mental.

Ricardo Amaral: Historicamente, o ele-

trochoque foi a forma de tratamento

mais conhecida e difundida no meio

social, apesar de já ter mudado subs-

tancialmente o entendimento sobre o

tratamento em saúde mental. Gostaria

que você falasse sobre a relação do

eletrochoque com o corpo. Qual a lei-

tura que se faz do corpo de um indiví-

duo submetido a esse tipo de trata-

mento por longos anos?

Monique Brito: Bom, o eletrochoque, hoje

conhecido como ECT

(eletroconvulsoterapia) e ainda praticado,

por mais absurdo que pareça, é apenas

mais uma das formas de contenção física

oferecida ao “corpo louco” na tentativa de

tentar domesticá-lo, docilizá-lo. Não con-

sigo enxergá-lo senão como punição, es-

pecialmente antigamente, quando era

praticado sem qualquer tipo de anestesia.

Mas existem outras formas de fazer essa

contenção, como as amarras literais, a

contenção química, por exemplo, que tam-

bém encarcera esses corpos. Muito do

que vemos ao olhar para um sujeito em

sofrimento psíquico pode ser mais prove-

niente de efeitos colaterais das drogas

utilizadas em seu tratamento do que do

próprio adoecimento psíquico. Não é por

“Não sei se é desco-

nhecimento ou conhe-cimento perverso, mas é uma injustiça sem ta-manho com as pessoas – profissionais, usuá-rios, familiares, etc. – que lutaram bastante

para que mudanças

acontecessem.” “Muito do que vemos

ao olhar para um su-jeito em sofrimento

psíquico pode ser mais proveniente de efeitos colaterais das drogas utilizadas em seu tra-

tamento do que do próprio adoecimento

psíquico.”

Page 8: O Corpo é Discurso – Nº 48

Página 8 O Corpo

acaso que muitos se negam a usar os

medicamentos. Ficar dopado, babando,

sem conseguir elaborar pensamentos

mais complexos, ter sua libido bastante

afetada, esses são alguns dos efeitos.

Não sou, de forma alguma, contra a tera-

peuta medicamentosa, mas sou sim con-

tra a forma como ela ainda é utilizada por

muitos profissionais, isolada e exagera-

damente.

Ricardo Amaral: Atualmente, a atenção

psicossocial traz outro olhar sobre a

loucura. A subjetividade do sujeito e

suas relações sociais são a base para o

entendimento do que é saúde mental.

Qual a importância desse outro olhar

para o sujeito da loucura?

Monique Brito: Em primeiro lugar, o deslo-

camento da noção de doença, de uma dis-

função orgânica, de uma pessoa sem dese-

jo, de um mero corpo físico a ser tratado e

colocado “de volta no lugar”. Quando a

subjetividade do sujeito louco passa a ter

importância nas “decisões terapêuticas”,

ele deixa de ser apenas um corpo sobre o

qual vamos intervir. Gosto de pensar no

corpo subjetivo, até para não pularmos

direto para o ponto oposto de uma lógica

binária. Não existe subjetividade que não

seja construída no e pelo corpo, assim

como não existe corpo que não traga as

marcas da subjetividade. Nós não temos

um corpo, mas somos um corpo em toda

sua complexidade, que traz em si as mar-

cas da nossa existência: nossa relação

com o mundo é inevitavelmente atraves-

sada pela nossa vivência corporal, desde

aspectos simples, como de que altura eu

olho o mundo, até a forma como meu cor-

po é recebido pelas outras pessoas, de

que forma ele é aceito por mim e pelos

outros, como ele é modificado. Não é dife-

rente para os sujeitos que experimentam

a loucura. A relação corporal não é mera-

mente física, mas subjetiva. Então, na

minha opinião, enxergar a subjetividade

no ato do cuidado é enxergar uma subjeti-

vidade corporificada também.

MONIQUE BRITO : Mestre em Saúde Coletiva (2012) e Sanitarista Especialista em Saúde Mental

(2009) pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, graduada em Psicologia pela UFRN (2007).

Coordenadora de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do município de Vitória da Conquista /

BA. Docente e pesquisadora da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) em Vitória da Con-

quista/BA. Currículo Lattes: Clique Aqui!

RICARDO AMARAL : Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Soci-

edade/UESB. É integrante do Laboratório de Estudos do Discurso e do Corpo Labedisco/UESB

sob a orientação do Prof. Dr. Nilton Milanez e editor do periódico eletrônico "O Corpo é Discur-

so" (ISSN: 2236-8221). Especialista em Saúde Mental Coletiva pela Faculdade Ruy Barbosa

(2012) e graduado em Psicologia (2009) pela mesma Instituição. Currículo Lattes: Clique Aqui!

“A relação corporal

não é meramente físi-ca, mas subjetiva. En-

tão, na minha opinião, enxergar a subjetivi-

dade no ato do cuida-do é enxergar uma

subjetividade corpori-

ficada também.”

Page 9: O Corpo é Discurso – Nº 48

objetos sobre o qual eles e sociedade

trabalham por meio de práticas corpo-

rais, seja comendo, dormindo, asseando-

se ou exercitando-se. Connell (1995)

ainda afirma que há políticas de gênero

condutoras de relações de aliança e de

dominação e subordinação entre diver-

sas masculinidades. Portanto, a hege-

monia de um padrão de masculinidade

não significa controle sobre outras pos-

sibilidades.

Vale considerar que todo esse campo de

normatização é efetivado pelo discurso¹ e

tem como objetivo controlar a sexualidade

e o gênero² para tornar os corpos dóceis.

No entanto, como mecanismo, age a partir

de agenciamentos com outros dispositivos,

normatizando o que deve ou não ser dito e

feito a partir de técnicas de controle sutis.

São olhares vigilantes que compactuam na

aparência com as normas e valores con-

siderados ilícitos, criando ambiente ambí-

guo e favorável para que o desvio se pro-

duza, seja produzido e aconteça.

Nota-se que no campo citado há

um condescender na aparência e que

faz parte de um jogo perverso. Obser-

va-se a existência de ambientes de

permissividades que estimula a vivência

e a manifestação da sexualidade. E, ao

fazer isso, possibilita que o controle e a

docilização atuem de maneira muito

mais eficiente e completa, já que eles

passam a agir a partir do desejo, po-

dendo assim ser identificado em dife-

rentes instâncias sociais como escola e

família, dentre outros.

Com isso, podemos perceber

que a dominação pouco a pouco vai

atuando no sentido de tornar o corpo

Página 9 O Corpo

No campo das questões da

construção da adolescência masculina,

referenciado nas discussões de Santos

(2015) e Santos e Dinis (2013), observa

-se que os embates estão centrados no

ser para os outros e, ao mesmo tempo,

o tentar negar-se. Seria um tipo de

fortalecer-se por meio da identidade

heterossexual e o corpo trabalhado

para a expressão de uma heterossexu-

alidade masculinizada, normativa e tida

como padrão aceitável. Seriam, talvez,

mecanismos de fuga em meio ao pro-

cesso de normatização imposta pela

norma e disciplina ao corpo.

Em relação aos mecanismos de

disciplina do corpo para Foucault

(2007), os corpos dos homens são

como corolário da produção de verda-

de dentro dos discursos, tornando-se

¹Em Foucault (1999), o olhar para o discurso seria o observar dos saberes de certo contexto e análise do mesmo em suas contradições. Portanto, o discurso nada mais é do que a reverberação de uma verdade nascendo diante de seus próprios olhos (FOUCAULT, 2011a). O discurso possibilita a formação do objeto e a produção de subjetivi-

dade. Os objetos do discurso encontram na história seu lugar e sua lei de emergência, permitindo que esses objetos estejam em constante formação e transformação,

tornando-se marcados por descontinuidades, devido às historicidades que ostentam. Então, relações discursivas não caracterizam a língua, nem circunstâncias do

discurso, mas o próprio discurso enquanto prática. Quanto à prática discursiva, é um conjunto de regras que definem sua especificidade. Assim, pressupõe-se que a

masculinidade de adolescentes é construída por discursos historicamente produzidos e modificados.

²Sobre gênero, para Scott (1995) trata-se de categoria socialmente imposta sobre um corpo sexuado, mas que, devido à proliferação de estudos sobre sexo e sexualida-

de, o termo tornou-se palavra particularmente útil, por oferecer meios de diferenciar práticas de papéis sexuais atribuídos a cada um/a. Weeks (1986, p. 45) fortalece esse conceito afirmando que O gênero (a condição social pela qual somos identificados como homem ou como mulher) e a sexualidade, (a forma cultural pela qual vive-

mos nossos desejos e prazeres corporais) tornaram-se duas coisas inexplicavelmente vinculadas. O resultado disso é que o ato de cruzar a fronteira do comportamento

masculino ou feminino apropriado (isto é, aquilo que é culturalmente definido como apropriado) parece algumas vezes, a suprema transgressão.

Page 10: O Corpo é Discurso – Nº 48

Página 10 O Corpo

cada vez mais dócil, adequado a uma

sexualidade e gênero estabelecidos

pela norma e, por consequência, bus-

ca-se alcançar uma sexualidade mani-

pulável e desvinculada de suas dimen-

sões culturais, sociais e subjetivas,

perdendo com isso a sua força de se-

xualidade, como dimensão afetiva e

interativa, não sendo muito diferente

nas questões de gênero. Ainda, articu-

lada a esse processo, a incitação à

sexualidade e suas múltiplas possibili-

dades de expressão, constituíram uma

das operações mais ativamente envol-

vidas na produção das subjetividades,

sendo um modo de produção que in-

veste no dizer sem desvelar.

Mas, não podemos aceitar que

o estabelecido e que nos é apresenta-

do sempre foi assim ou está deste

modo desde sempre, pois, trata-se de

um discurso que foi remodelado histo-

ricamente e ajustado para atender as

demandas de cada tempo. Especifica-

mente sobre a adolescência masculina,

o discurso inicialmente foi estabelecido

a partir das transformações ocorridas

nas relações de poder europeias em

fins do século XVIII e início do século

XIX. Para Foucault (1982), o investi-

mento era nos corpos e no disciplina-

mento para torná-los dóceis, fazendo

surgir sociedades disciplinares, na pos-

sibilidade de continuidade e manutenção

do modelo ideal de homem. A novidade

foi o investimento indiscriminado nos

corpos, não distinguindo grupo social ou

econômico. Foucault (2007) sinaliza

ainda que, para tal objetivo, o controle

do sexo foi fundamental nas políticas de

higienização, pois viabilizaria o controlar

das populações e isso envolvia cresci-

mento, declínio, matrimônios e etc.

O que se pode observar, a partir

daí, é o surgimento de organizações

voltadas para cuidar da recém-

descoberta adolescência, instituições

centradas no investimento para o forta-

lecimento corporal e moral dos jovens.

Os estudos de Soares (1994) e Pinheiro

(2006) sinalizam que foi no início do

século XX, na Europa, que surgiram tais

organizações juvenis de tradição medi-

eval extinta. Elas inspiraram constru-

ções da imagem da adolescência insti-

tucionalizada nas escolas e em organi-

zações extracurriculares da Alemanha.

Nas vésperas da eclosão da Primeira

Guerra Mundial, na Alemanha, já existia

uma juventude seduzida pelo naciona-

lismo, por segmentos conservadores da

sociedade, em que a obsessão era pela

prática de esportes para produção de

um corpo saudável e que refletisse uma

mente sã. Dando um salto na historia e

buscando referências mais recentes,

observa-se a adolescência vem sendo

considerada como momento crucial do

desenvolvimento do indivíduo, aquele

que marca não só a aquisição da ima-

gem corporal definitiva como também a

estruturação final da personalidade. O

reforço e busca é que,

O adolescente não pode ser estudado

apenas sob a ótica de suas modifica-

ções corporais, pois se é verdade que

nelas se radicam as angústias básicas

da puberdade, não é menos certo,

contudo, que sem o adequado entendi-

mento da crise dos valores por que

passa o jovem jamais lograremos

compreender o real significado da

transformação da criança em adulto

(OSORIO, p. 10. 1989).

Neste mesmo caminho de raci-

³ Sobre subjetivação, trata-se de reforços nas constituições de sujeitos e mecanismos de poder e de vontade de verdade que atravessa cada um/a. É a ética enquanto constituição de si, como sujeito para si mesmo e de seus próprios atos. Ética que passa por tal vontade de verdade. Seria saber de si para si em uma procura de verda-

des centralizadas. O autor ainda possibilita afirmar que a subjetivação refere-se ao processo constitutivo de cada um/a e como mecanismo possibilita objetivação. A seu

turno, a objetivação seria então, o conceito, o preconceito, aquilo que é descritivo de alguém, a partir do referencial dado por quem vê e observa.

“Especificamente so-

bre a adolescência masculina, o discurso inicialmente foi esta-belecido a partir das

transformações ocorri-das nas relações de poder europeias em fins do século XVIII e

início do século XIX.”

Page 11: O Corpo é Discurso – Nº 48

Página 11 O Corpo

ocínio, entre autores/as como: Hercu-

lano-Houzel (2005), Becker (2003),

Aberastury e Knobel (1981), dentre

outros, o discurso é que, somente

quando a maturidade biológica é acom-

panhada de amadurecimento afetivo e

intelectual, torna possível entrar no

universo adulto. Assim, fica facil identi-

ficar nas literaturas afirmações como,

As mudanças psicológicas que se

produzem neste período, e que é a

correlação de mudanças corporais,

levam a uma nova relação com os

pais e com o mundo. Isto só é possí-

vel quando se elabora, lenta e doloro-

samente, o luto pelo corpo de crian-

ça, pela identidade infantil e pela

relação com os pais da infância.

Quando o adolescente se inclui no

mundo com este corpo já maduro, a

imagem que tem do seu corpo mudou

também sua identidade, e precisa

então adquirir uma ideologia que lhe

permita sua adaptação ao mundo

e/ou sua ação sobre ele para mudá-

lo. [...] mover-se-á entre o impulso

ao desprendimento e a defesa que

impõe o temor à perda do conhecido

é um período de contradições, confu-

so, ambivalente, doloroso, caracteri-

zado por fricções com o meio famili-

ar e social. (ABERASTURY e KNOBEL,

1981, p. 13).

As descrições citadas mostram

que procedem dos anos de 1980 os

discursos marcados pelo modelo de

busca da felicidade que chegou até

nós. Vivo nos manuais psicopedagógi-

cos dos anos de 1960, ele reapareceu

forçando transformação na rigidez dos

dispositivos educacionais e familiares,

inspirado na percepção higienista.

Nesse caminho, para Foucault (2011b;

2010; 2007), é preciso compreender as

correspondências entre as práticas

desde a antiguidade e certos processos

de subjetivação³ contemporâneos. Tra-

ta-se de um trabalho da crítica sobre si

mesmo, sobre os outros e sobre o pró-

prio presente. Nesse contexto, o autor

reflete sobre uma questão que se mos-

tra fundamental para a discussão aqui

apresentada. Para o autor, os gregos

entenderam o ethos como uma maneira

de ser e de conduzir-se por meio de

práticas refletidas de liberdade, sob o

influxo de uma questão permanente e

não sobre uma sociedade de controle,

disciplinamento e docilização dos corpos

como a que vivemos no nosso tempo.

O autor pressupõe que é possí-

vel estabelecer uma ponte histórica

entre as experiências ético-políticas da

antiguidade e a exigência moderna de

uma crítica do presente que se faz e se

refaz ao longo do viver. Nisso, fica en-

tendido o interesse do autor pelo tema.

Isso se deve ao fato de o modelo da

moral cristã, uma moral de obediência

a um código de regras, iniciar o come-

ço de um desaparecimento. Para enen-

der considerações de Foucault (2004) é

importante reforçar que ele recorre a

textos gregos não de forma historio-

gráfica comum, seu interesse é de tra-

çar uma genealogia capaz de servir na

elaboração de uma ética contemporâ-

nea.

Em seus estudos, Foucault

(2004b) encontrou outra forma de sub-

jetivação na cultura de si grega, a qual

não se tratava de uma moral da lei e do

preceito geral, mas uma ética da plura-

lidade de normas, de escolha e de mo-

dos de vida. Suas análises histórico-

genealógicas chegaram a um questio-

namento extremo do estatuto filosófico

da subjetividade. Sua preocupação es-

tava centrada no sujeito. Essas afirma-

ções nos permitem perceber que houve

mudanças radicais nos discursos, che-

gando aos conhecidos e disseminados

mecanismos de docilização de corpos,

de imposição de normas de sexualidade

e de gênero de nosso tempo. Mas preci-

samos reforçar que estas são questões

de difícil ou impossível ajuste. Nesse

sentido, Butler (2003) nos esclarece

que,

“[...] dentre outros, o

discurso é que, somen-te quando a maturida-de biológica é acom-

panhada de amadure-cimento afetivo e inte-lectual, torna possível

entrar no universo

adulto.”

Page 12: O Corpo é Discurso – Nº 48

Página 12 O Corpo

tornar-se homem se dá por meio

dos projetos de gênero masculino com os

quais se envolve e pelo pertencimento a

determinados grupos nos quais há regras

e maneiras complexas para construírem-

se e se fazerem pertencer ao modelo de

masculinidade hegemônica existente. Por

meio de discursos ocorre a sedimenta-

ção e fixação de corpos na identidade mas-

culina, em razão de relações de saber e

poder estabelecidas (FOUCAULT, 2007).

Sobre relações de poder, como

integrante do cotidiano entre pessoas, é

Foucault (2003) quem descreve a forma

nas quais as relações fazem com que, no

corpo, ocorram materializações por ele-

mentos que chegam até ele. Para Fernan-

des (2012), trata-se de corpo diretamente

mergulhado num campo político nos quais,

relações de poder têm alcance imediato

sobre ele. Elas investem, marcam o corpo,

o dirigem e obrigam-no a cerimônia. Trata-

se de um movimento para enquadrá-lo e

docilizá-lo. Mas, afinal, o que seria então

um corpo dócil? Para Foucault, (1979, p.

75), é dócil um corpo que pode ser subme-

tido, que pode ser utilizado, que poder ser

transformado e aperfeiçoado.

Assim, no adestramento de cor-

pos é imprescindível saber quais recursos

são fundamentais para que aconteça seu

funcionamento e propicie resultados para

quem usa de tais recursos de dominação.

Vem do poder disciplinar o objetivo de

adestrar multidões confusas e inúteis de

corpos. Segundo Foucault (1982), é desse

ponto em diante que ocorrem produções

de indivíduos obedientes. São tipos de dis-

ciplina e poder que tornam os indivíduos

simples objetos e instrumentos do seu

próprio exercício. O poder disciplinar des-

taca-se por ser invisível, vigiar sem ser

visto e ser expresso no controle sobre

corpos, mantendo assim, o indivíduo disci-

plinado. Além disso, o exame faz com que

individualidades do corpo faça parte da

composição de documentação administra-

tiva, devido tudo ser anotado. Nisso per-

cebe-se edificações de saberes.

Foucault (1982) salienta que tal

vigilância e produção de saberes foram

fundamentais para se controlar alu-

nos/as, presos/as, loucos/as e operá-

rios/as. Então, não se pode dizer que é a

vigilância física que marca o corpo, embo-

ra cause outras violências. Refimo-nos

aqui aos que temem ser punidos ou exclu-

ídos e, por isso, autovigiam-se constante-

mente. Mas, medo de quê? De acordo com

Michael Warner (1991), seriam os denomi-

nados de fora da norma, de subalternos,

clandestinos, ilegais ou anormais. Miskolci

(2009) refere-se aos que estão na mar-

gem e, por isso, são excluídos. Desse mo-

“Mas, afinal, o

que seria então um corpo dócil? Para Fou-cault, (1979, p. 75), é

dócil um corpo que po-de ser submetido, que

pode ser utilizado, que poder ser trans-

formado e aperfeiçoa-

do.“

Page 13: O Corpo é Discurso – Nº 48

Página 13 O Corpo

do, a vida, os direitos sobre ela, o corpo e

a felicidade têm sido foco de lutas políti-

cas e resistências. Nesse campo,

O que é reivindicado e serve de objeti-

vo é a vida, entendida como as neces-

sidades fundamentais, a essência

concreta do homem, a realização de

suas virtualidades, a plenitude do

possível. Pouco importa que se trate

ou não de utopia: temos aí um proces-

so bem real de luta; a vida como obje-

to político foi de algum modo tomada

ao pé da letra e voltada para o siste-

ma que tentava controlá-la.

(FOUCAULT, 2007, p. 158).

Portanto, na atualidade, há uma

transição no modo de organização do

poder social. O controle se espalhou por

todo o tecido social e não age mais como

molde, semelhante ao que ocorria nas

sociedades disciplinares. Ele tem atuado

nas modulações flexíveis e constante-

mente aperfeiçoáveis. Assim, é sob um

biopoder que a sexualidade e o gênero de

adolescentes masculinos têm sido forja-

dos na busca por ajustes e atendimento

aos padrões normativos estabelecidos.

Trata-se de ações sobre o corpo, desde

muito cedo, visando à docilização e à

padronização heteronormativa. Uma po-

tencialidade de biopoder que enraizada,

toma forma e conotação naturalizada.

Considerações:

Em um mundo em que o discur-

so científico é tido como verdade, para o

adolescente o mesmo é cheio de vontade

de verdade e exerce papel subjetivador e

docilizador. Desse modo, entendemos que

o poder gere a vida e a sexualidade e o

gênero de tais sujeitos e se tornaram seu

alvo e resultado. Então, se o corpo é local

envolvido no estabelecimento das frontei-

ras que definem quem cada um(a) é, ser-

vindo de fundamento para a identidade,

inclusive para a sexual e de gênero, está

aí a importância dessa discussão. É atra-

vés do corpo que o adolescente tem bus-

cado reforçar suas identidades masculi-

nas fazendo exercícios físicos que res-

saltem seus músculos, masculinidade e

virilidade. Mas, mesmo assim, é preciso

entender que existem múltiplas masculi-

nidades.

REFERÊNCIAS

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cia normal. Porto Alegre: Artes Médicas.

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SANTOS, W. B. Adolescência heteronor-

mativa masculina: entre a construção

obrigatória e a desconstrução necessá-

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heteronormativa masculina: entre a

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SOARES, C. L. Educação física: Raízes

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Associados, 1994.

WARNER, M. Fear of a queer planet: Queer Politics and Social Theory. London:

University of Minnesota Press. 1991.

Page 14: O Corpo é Discurso – Nº 48

Página 14 O Corpo

Acesse a Conferência ministrada pelo Prof. Msndo. Tyrone Chaves

(Labedisco/PPGMLS) durante o 4° encontro do curso "O Lampejo do Sentido: Ar-

queologia e Corpo em Michel Foucault". Clicando sobre a imagem a baixo:

Acesse o vídeo “Divas da Linguagem: Leis de organização para o campo do discurso

visual.” - Prof. Dr. Nilton Milanez . Clicando sobre a imagem a baixo:

Page 15: O Corpo é Discurso – Nº 48

tempo. Nas próprias observações de Mar-

cel Mauss a respeito das técnicas corpo-

rais, o autor salienta que a sociedade se

insere na existência do corpo, seja no ato

de dormir, comer ou se mover. Já dizia ele:

“Os casos de adaptação são de natureza

psicológica individual. Mas geralmente são

comandados pela educação, e no mínimo

pelas circunstâncias da vida em comum,

do convívio”.

As marcas corporais também

vêm ganhando ênfase nos estudos socioló-

gicos, principalmente as tatuagens que

são, nos dias atuais, emblemas de corpos

socialmente moldados na contemporanei-

dade, onde a exposição de um corpo dese-

jado é fundamental para a oferta da mídia,

onde esta por sua vez aproveita dos pa-

drões de beleza construído por ela própria

para produzir sua logística de mercado.

Entretanto, essas marcas vão

além da simples oferta de exposição ao

público, elas se configuram, muitas vezes,

como exposição de idéias, um verdadeiro

discurso do corpo. E tendo em mente a

ideia de LACAN (2005, p. 53), onde mostra

que “cada realidade se funda e se define

por um discurso.”

O Discurso de Pertencimento

Em conexão com o corpo, David

Le Breton (1993), exemplifica a tatuagem

como inscrições corporais, ou seja, em-

blema do coletivo sendo carregado no

corpo com função própria: “Instrumentos

de sedução, elas são ainda com maior

freqüência um modo ritual de afiliação ou

de separação.” (pp. 59-60). Em minha

pesquisa, particularmente, houve diálogos

de subjetividade e essa afirmada afiliação

entre os sujeitos entrevistados.

Eric de Carvalho (2009), estudi-

oso no assunto de marcas corporais, ao

dialogar sobre seus estudos com tatuados

as teorias de Bauman, salienta sobre as

relações sociais que alguns grupos de

pessoas associadas a determinadas cren-

Página 15 O Corpo

O assunto sobre o corpo tem

chamado atenção de muitos estudiosos

da vertente social e antropológica, como

David Le Breton (1953), por exemplo, que

mostra que este tema “está sob a luz dos

holofotes”. O texto que aqui se mostra é

um breve resumo do resultado de parte

de minha pesquisa monográfica para

obtenção de título de licenciatura e ba-

charelado em Ciências Sociais. Para este

propósito elencarei os principais pontos

de minha pesquisa monográfica, elevando

-os a categoria de discursos.

Para Michael Foucault, um dos

estudiosos do discurso, afirma que este

vai além da linguagem. Em suas concep-

ções filosóficas esse discurso se mani-

festa, não somente numa fala de determi-

nado saber, mas em signos e contextos

históricos. “Certamente os discursos são

feitos de signos; mas o que fazem é mais

que utilizar esses signos para designar

coisas. “É esse ‘mais’ que os torna irre-

dutíveis à língua e o ato de quem fa-

la” (FOUCAULT, 1960, p. 56).

A configuração social do corpo

é notável em vários lugares, gêneros e

“[...] essas mar-

cas vão além da sim-ples oferta de exposi-ção ao público, elas se

configuram, muitas vezes, como exposição

de idéias, um verda-deiro discurso do cor-

po. “

Page 16: O Corpo é Discurso – Nº 48

Página 16 O Corpo

ças e valores, atribuem relações de soli-

dariedade e afinidade e juntamente com

essas relações está vinculada, muitas

vezes, os “signos” que demarcam uma

espécie de totem e clã:

O indivíduo que se afirma em um des-

ses grupos deseja ser reconhecido

como pertencente a ele, por isso as

tribos urbanas elegem seus signos de

pertencimento e suas práticas rituais

e, quando possível, os fazem conheci-

dos do senso comum. (CARVALHO,

2009 p. 08).

Discurso da mídia

O discurso da mídia sobre o

corpo também está sendo explorado a um

bom tempo, tempo suficiente para saber-

mos como os bombardeios de propagan-

das hedonistas influenciam a mente dos

indivíduos. Sendo o corpo um dos princi-

pais alvos dos discursos midiáticos, ele

sofre diferentes formas de aprovação ou

reprovação. Até mesmo em quesitos de

saúde a mídia pode converter a medicina

em técnica para “melhoramento” do cor-

po, ou seja, não mais as patologias devem

ser tratadas, mas o corpo também.

A própria tatuagem se manifes-

ta como complemento decorativo em que

cabe um discurso positivo atribuído ao

resultado de se ter um bom corpo, como

abordam Sabino e Luiz (2006). “Ela se

apresenta como adorno e acabamento

distintivo daqueles que buscam, no culti-

vo do corpo, dos músculos e da ausência

de adiposidade, o sinal de destaque e

superioridade”. (p.5).

Os produtos midiáticos fazem

parte do nosso dia a dia sob várias for-

mas, pode ser em linguagem, com frases

e expressões vigentes na moda em de-

terminada época, em forma de imagem e

até comportamento, sendo de fácil visibi-

lidade os trajes e trejeitos de muitos

jovens que acompanham o que se passa

na televisão. Abordando mais um aspecto

da mídia, tatuagem e corpo, minha pes-

quisa evidenciou o uso de produtos midi-

áticos como marca corporal de pessoas

tatuadas.

Em determinado tópico da pesquisa abor-

do um pouco sobre o trabalho dos tatua-

dores e a escolha que os clientes fazem

das imagens a serem impressas no cor-

po. No caso lá descrito, eu apresento a

imagem de um desenho famoso tatuado

no corpo de uma mulher, evidenciando

que a mídia e seu produto foram regis-

trados como propaganda em um suporte

que está cada vez mais em evidencia por

todo o lugar que passa e este suporte é o

corpo. Ao tomar conhecimento de pesqui-

sas como a do próprio Eric de Carvalho, e

confirmando sua tese em minha experi-

ência, percebi que a tatuagem, ou qual-

quer marca corporal não se apresenta

como discurso ao corpo e pelo corpo,

mas ambos elaboram a retórica, ou seja,

transformam suas existências em diálo-

go:

Muitos tatuam objetos midiáticos

como forma de propagar seu próprio

corpo, ou seja, se estiver usando uma

imagem da moda, meu corpo ficará em

destaque. Em contrapartida, outros

utilizam o corpo como forma de imor-

talizar a tatuagem da época. (ROQUE,

2014 p. 20)

Então, se olharmos para essa

lógica, o corpo é para quem? Se na exi-

gência da mídia todos devem possuir

corpos alinhados, então neste caso a

tatuagem serve para obedecer a duas

regras: A um emblema reforçado de um

corpo bem cuidado, como dito anterior-

mente, e também para destacar o que

hoje é obrigatoriamente exigido que se

iguale perante o quesito beleza, sucesso

e poder. Sendo assim, podemos pensar

que, por motivos orientados pela própria

corporeidade no meio social, todos nós

precisamos deixar impressões e prefe-

rencialmente as positivas ou destacastes.

Discurso do Imaginário

Minha intenção, no início deste

artigo, era apenas dividir um pouco do

Page 17: O Corpo é Discurso – Nº 48

Página 17 O Corpo

conhecimento que adquiri durante os

períodos de academia e conseqüente-

mente em meu trabalho de conclusão de

curso. Para isso evidenciei no início deste

trabalho que elencaria apenas alguns

tópicos de minha pesquisa, salientando a

temática da tatuagem e do corpo. No

entanto, falar de tatuagem e corpo sem

expor o contexto do imaginário social,

penso eu, é basicamente deixar pontas

soltas. Minha pesquisa não transcorreu

apenas nas questões subjetivas, envol-

vendo a relação de tatuagem e corpo, ela

percorreu caminhos largos, pegando

pontos específicos envolvendo experiên-

cias com tatuados e agentes que vivem

da tatuagem.

Ao adentrar a pesquisa relatan-

do os tatuadores como produtores e

reprodutores de tatuagens, percebi que

tal hostilidade migrou. A posição negativa

agora não está mais em possuir tatua-

gens, mas em relação às circunstancias

em que elas são produzidas. Ao entrevis-

tar os tatuadores, observei que o que

permeava a consciência imaginária dos

que o rodeavam era a de que seu traba-

lho não se iguala a um trabalho hegemo-

nicamente instituído. Ora, se pensarmos

dessa forma, o que existia de aversivo

em possuir tatuagens se materializou no

cotidiano de seu produtor.

O imaginário social é um emara-

nhado de crenças e mitos que perpassam

as sociedades em seu cotidiano e mo-

mento histórico, pois se anteriormente o

imaginário social remetia ao simples uso

da tatuagem a algo repulsivo, isso mudou.

A pesquisa com os tatuadores, entretan-

to, mostrou que seu estilo de vida, traba-

lho, exagerado horas vagas, ganho razoá-

vel, incomodavam quem os rodeavam.

Bronislaw Baczko, estudioso do

Imaginário Social, mostrou que tais mitos

estão relacionados a questões políticas,

de jogos de poder. Esse teórico frisa que

“a esfera política se utiliza das represen-

tações coletivas, assim almejando se

legitimar no poder (BACZKO, 1984, p.

297).” Em meus resultados de pesquisa

isso se confirmou, pois esse imaginário

permitia uma batalha simbólica entre o

reconhecimento e valor do trabalho de

um tatuador perante outros modelos de

trabalhadores.

Pierre Bourdieu antecipou esta

questão hegemônica ao tratar da luta dos

artesãos do século XV, em detrimento de

suas atividades. Assim, em minhas con-

clusões percebi que os tatuadores tam-

bém reivindicavam sua categoria de tra-

balho perante a hegemonia do imaginário

social das pessoas que tinham as ativida-

des destes como inconvencionais e des-

prestigiada. E essas reivindicações se

convertiam na necessidade de boa quali-

ficação para tatuar, ambiente bem prepa-

rado e total atenção, respeito e profissio-

nalismo prestado a cada corpo exposto

em suas “salas de trabalho.”

Considerações

Compreender o corpo, a corpo-

reidade, a performance, tudo que envolve

processos corporais aos olhos das Ciên-

cias Sociais é um despertar de uma visão

inovadora e contribuinte para este tipo

de ciência. O corpo que antes era apenas

objeto de estudo biológico, clínico e físico

ganhou espaço diante de estudiosos apai-

xonados pelo tema em meio a controver-

sas sociais. Mover, andar, sentar, com-

portar-se é mais do que movimento físi-

co, é um leque de simbologia social e

cultural e a ciência ligth está cada vez

mais desmistificando e surpreendendo o

mundo com algo que faz parte de cada

ser humano ou cada ser humano faz par-

te dele.

Page 18: O Corpo é Discurso – Nº 48

Página 18 O Corpo

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73312006000200007&script=sciarttext. Acesso em: 2014.

Para Informações

sobre inscrição

Clique Aqui!

25, 26 e 27 de Novembro acontecerá o II Colóquio

Internacional Mídia e Discurso na Amazônia que

tem como tema: cidade, memória e mediação em

Belém na UFPA.

Page 19: O Corpo é Discurso – Nº 48

Leitura do Livro “Espaços, corpos e subjetividades insólitas e horríficas na literatura e no cinema”,

Organizado por Nilton Milanez, Cecília Barros-Cairo e Marisa Martins Gama-Khalil

Leitura do livro “M. Foucault e os domínios da linguagem: Discurso, poder, subjetividade ”,

Organizado por Vanice Sargentini e Pedro Navarro-Barbosa

Dica de O Corpo

Este livro eletrônico curtocircuita a composição de uma rede de

corpos e espaços fantásticos no quadro de objetos de imagens

em movimento, na sua maior parte, e na literatura, com um estu-

do específico. A tessitura dessa trama de estudos é o resultado

do Simpósio Espaços, corpos e subjetividades insólitas e horrífi-

cas na literatura e no cinema, realizada durante o II Congresso

Internacional Vertentes do Insólito Ficcional, realizado durante os

dias 28 a 30 de abril de 2014, na Universidade Estadual do Rio de

Janeiro, em meio aos guindastes, ao concreto e à força humana

que modificava a paisagem do Maracanã para a Copa do Mundo.

Acesse o livro clicando sobre a imagem ao lado.

O livro Michel Foucault e os Domínios da Linguagem – Discurso, poder, sub-

jetividade, organizado pelos professores Vanice Sargentini (UFSCAR) e

Pedro Navarro-Barbosa (UEM), reúne um importantíssimo conjunto de

estudos em Análise do Discurso centrados em uma perspectiva foucaultia-

na. Os estudos discursivos nessa vertente teórica tiveram um marco na

França, em decorrência de certo diálogo teórico de Pêcheux com Foucault,

quando da proposição da chamada terceira época da AD. Em um de seus

últimos textos, Pêcheux (1984) explicitou que a AD compartilhava com a

perspectiva arqueológica foucaultiana a preocupação de considerar as

condições históricas de existência dos discursos em sua heterogeneidade.

Entretanto, esse apontamento teve, em sua época, um caráter embrionário

do que consiste atualmente nos estudos em AD foucaultianos, cujas aborda-

gens, centradas nas teorias de Michel Foucault, contemplam, além da pers-

pectiva arqueológica, as reflexões em torno da genealogia e da estética da

existência / técnicas/cuidado de si.

Resumo retirado do texto INCURSÕES FOUCAULTIANAS NOS DOMÍNIOS LIN-

GÜÍSTICO-DISCURSIVOS – RESENHA DE “MICHEL FOUCAULT E OS DOMÍNIOS

DA LINGUAGEM – DISCURSO PODER, SUBJETIVIDADE”, por Cleudemar Alves

Fernandes.

Page 20: O Corpo é Discurso – Nº 48

O corpo é discurso

Conselho Editorial Internacional

Beatriz de Las Heras (Universidad Carlos III de Madrid)

Jean-Jacques Courtine (University of Auckland)

Martha Guadalupe Loza Vazquez (Universidad Autônoma de Guadalajara)

Philippe Dubois (Sorbonne Nouvelle – Paris 3)

Conselho Editorial Nacional

Adilson Ventura da Silva (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

Amanda Batista Braga (Universidade Federal da Paraíba)

Anderson de Carvalho Pereira (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

Antônio Fernandes Júnior (Universidade federal de Goiás)

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Ivânia dos Santos Neves (Universidade Federal do Pará)

Ivone Tavares Lucena (Universidade Federal da Paraíba)

Leda Verdiani Tfouni (Universidade de São Paulo)

Luzmara Curcino Ferreira (Universidade Federal de São Carlos)

Maíra Fernandes Martins Nunes (Universidade Federal de Campina Grande)

Maria do Rosário Gregolin (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)

Maria Regina Baracuhy Leite (Universidade Federal da Paraíba)

Marisa Martins Gama-Khalil (Universidade Federal de Uberlândia)

Mônica da Silva Cruz (Universidade Federal do Maranhão)

Nádia Regia Maffi Neckel (Universidade do Sul de Santa Catarina)

Nilton Milanez (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

Nirvana Ferraz Santos Sampaio (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

Paula Chiaretti (Universidade do Vale do Sapucaí)

Pedro Luis Navarro Barbosa (Universidade Estadual de Maringá)

Sandra Márcia Campos Pereira (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

Simone Hashiguti (Universidade federal de Uberlândia)

Vanice Maria Oliveira Sargentini (Universidade Federal de São Carlos)

Página 20 O Corpo

Page 21: O Corpo é Discurso – Nº 48

O Corpo é Discurso

é o primeiro jornal

eletrônico de

popularização

científica da Bahia.

Colaboradores

Popularização da Ciência

A pesquisa científica gera conhecimentos, tecnologias e inovações que benefi-

ciam toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas não conseguem compreender a

linguagem utilizada pelos pesquisadores. Neste contexto, a grande mídia e as novas

tecnologias de comunicação cumprem o papel de facilitadores do acesso ao conhe-

cimento científico. Para contribuir com esse processo, em sintonia com o espírito

que anima o Comitê de Assessoramento de Divulgação Científica do CNPq, criamos

esta seção no portal do CNPq. Seja bem-vindo ao nosso espaço de popularização da

ciência e aproveite para conhecer as pesquisas dos cientistas brasileiros e os bene-

fícios provenientes do desenvolvimento científico-tecnológico.