o corpo é discurso – n º.27

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Edição n. 27 04.08.2013 ISSN: 2236-8221 Edição n. 27 Vitória da Conquista, 31.11.2013 [email protected] http://www.marcadefantasia.com/o-corpo-e-discurso.htm O corpo é discurso Nesta edição, O corpo é discurso traz um artigo de Welisson Marques, da Universidade Federal de Uberlân- dia; um artigo de Josuelene da Silva Souza e Rubens Edson Alves Pereira, da Universidade Estadual de Feira de Santana e um artigo de Regina Lucia Alves de Lima e Dilermando Gadelha de Vasconcelos Neto, da Universidade Federal do Pará. Além disso, O Corpo divulga o volume 2, número 2 da REDISCO - Revista Eletrônica de Estudos do Discurso e do Corpo, assim como notícias ligadas à Análise do Discurso e do universo acadêmico, no Brasil. Acesse o site do Labedisco: www2.uesb.br/labedisco ISSN: 2236-8221 EXPEDIENTE DE O CORPO Editores Nilton Milanez Tyrone Chaves Filho Organizador Tyrone Chaves Filho Editoração eletrônica (MARCA DE FANTASIA) Henrique Magalhães CONSELHO EDITORIAL Dr. Elmo José dos Santos (UFBA) Dra. Flávia Zanutto (UEM) Dra. Ivone Tavares Lucena (UFPB) Dra. Maria das Graças Fonseca Andrade (UESB) Dra. Mônica da Silva Cruz (UFMA) Dr. Nilton Milanez (UESB) Dra. Simone Hashiguti (UFU)) Jornal de popularização científica

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Page 1: O Corpo é Discurso – N º.27

O Corpo

Edição n. 27

04.08.2013

ISSN: 2236-8221

Edição n. 27 Vitória da Conquista, 31.11.2013

[email protected] http://www.marcadefantasia.com/o-corpo-e-discurso.htm

O corpo é discurso

Nesta edição, O corpo é discurso traz um artigo de Welisson Marques, da Universidade Federal de Uberlân-

dia; um artigo de Josuelene da Silva Souza e Rubens Edson Alves Pereira, da Universidade Estadual de

Feira de Santana e um artigo de Regina Lucia Alves de Lima e Dilermando Gadelha de Vasconcelos Neto, da

Universidade Federal do Pará. Além disso, O Corpo divulga o volume 2, número 2 da REDISCO - Revista

Eletrônica de Estudos do Discurso e do Corpo, assim como notícias ligadas à Análise do Discurso e do

universo acadêmico, no Brasil.

Acesse o site do Labedisco: www2.uesb.br/labedisco

ISSN: 2236-8221

EXPEDIENTE DE O CORPO

Editores

Nilton Milanez

Tyrone Chaves Filho

Organizador

Tyrone Chaves Filho

Editoração eletrônica

(MARCA DE FANTASIA)

Henrique Magalhães

CONSELHO EDITORIAL

Dr. Elmo José dos Santos

(UFBA)

Dra. Flávia Zanutto (UEM)

Dra. Ivone Tavares Lucena

(UFPB)

Dra. Maria das Graças Fonseca Andrade

(UESB)

Dra. Mônica da Silva Cruz (UFMA)

Dr. Nilton Milanez (UESB)

Dra. Simone Hashiguti

(UFU))

Jornal de popularização científica

Page 2: O Corpo é Discurso – N º.27

O corpo como veículo discursivo

Welisson Marques (PPGEL-UFU)

Já há algum tempo que muitas

pesquisas inscritas sob o viés da Análise

do Discurso de vertente francesa e reali-

zadas em nosso país têm se voltado para

objetos além do linguístico, entre estes

podemos destacar o audiovisual, a imagem

e o corpo. No que tange à mídia impressa,

não diferentemente, é relevante pontuar

que a complexidade de materiais signifi-

cantes que a constitui demanda dispositi-

vos analíticos que atendam ao sincretismo

semiótico peculiar a este tipo de objeto.

É nessa direção que queremos

refletir brevemente sobre as relações

imagem-corpo no âmbito do discurso midi-

ático impresso contemporâneo, mais espe-

cificamente tomando a política como temá-

tica. Pode soar estranha tal relação (do

corpo na mídia impressa), efetuamo-la,

pois, a partir da mobilização de imagens

por parte de sujeitos enunciadores em que

o corpo e rosto dos “avatares políticos” –

representação dos partidos a que se refe-

rem – se apresentam com determinada

regularidade.

Em outro artigo de nossa autoria

(MARQUES, 2013), refletimos brevemente

sobre as relações da semiologia com a

Análise do Discurso. Sem querer se engol-

far nesta questão, retomamo-la breve-

mente aqui em virtude de sua importância

para essa discussão, pois compreende-

mos que tais relações podem incremen-

tar os dispositivos de análise desta última

teoria. Como afirmamos outrora, isso não

significa que a AD seja inepta para inter-

pretar determinados objetos; ao contrá-

rio, é pela inerente proposta analítica de

seu objeto heteróclito que o diálogo com

a perspectiva semiológica possibilita o

incremento de seus dispositivos. Aliás, o

próprio Pêcheux, desde o surgimento da

disciplina, já considerava a problemática

das complexas relações constitutivas de

seu objeto, convidando-nos, inclusive, a

ler Roland Barthes (PÊCHEUX, [1983]

1999).

Neste ínterim, Barthes, ao lançar

os fundamentos da perspectiva semioló-

gica, deixa explícita a indispensabilidade

de se observar outros determinantes

além daquele que era seu único enfoque,

ou seja, a relação de sentidos do signo

semiológico. Em outros termos, deixa em

aberto a possibilidade (e necessidade) de

se fazer intervir outros determinantes

desses objetos: “não devemos, é certo,

negar esses outros determinantes, cada

um dos quais depende de outra pertinên-

cia; mas eles próprios devem ser trata-

dos em termos semiológicos; isto é, seu

lugar e sua função devem ser situados no

sistema do sentido” (BARTHES, [1964]

2006, p. 103-104).

Ademais, Barthes muito se aproxi-

ma da perspectiva discursiva, especial-

mente em seus últimos trabalhos quando

realiza alguns ensaios sobre imagem. É

válido destacar as rupturas de suas pes-

quisas, e que não há um Barthes apenas, o

“estrutural”, aquele conhecido especial-

mente como autor de Éléments de Sémiolo-

gie.

É nesse devir que chega a nós as

reflexões de Jean-Jacques Courtine, discí-

pulo de Pêcheux e estudioso de Foucault. É

Courtine quem cunha um conceito que, ao

nosso entender, revela-se promissor na

análise de discursos, mais especificamente

de traços, indícios e gestos que constituem

seu objeto.

Seus trabalhos (de Courtine) par-

tem, grosso modo, da análise do discurso

político e se estendem para o estudo das

substâncias da expressão do rosto e do

corpo. Como ele declara: “A história do

rosto representa uma tentativa dessa or-

dem (da semiologia histórica), uma história

do que pôde produzir signo e sentido no

rosto e na expressão, durante a idade clás-

sica, na qual as percepções são reconstru-

ídas a partir de uma tradição propriamente

semiológica” (COURTINE, 2011, p. 152).

Página 2 O Corpo

Page 3: O Corpo é Discurso – N º.27

É nessa via, ou seja, sem descurar

da dimensão simbólica no funcionamento

das posturas, feições e gestos que consti-

tuem o discurso sobre política, que se nos

apresenta relevante a análise desses ma-

teriais significantes mobilizados pelo sujei-

to-enunciador ao tratar sobre seus refe-

rentes no espaço fluído de circulação de

textos que é a mídia impressa contempo-

rânea. Dito isso, se é no discurso político

que são exercidos “os mais terríveis pode-

res” (FOUCAULT, [1971] 1996, p.10), o sujeito

midiático, assumindo posição política,

“seleciona” imagens que refletem, em boa

medida, suas preferências eleitorais. Em

outros termos, elementos de ordem semi-

ológica, nessa perspectiva, não podem ser

ignorados. Se já tem sido constatado en-

tre alguns estudiosos - ver por exemplo as

pesquisas de COURTINE (2006) ou MAR-

LÈNE-GULLY (2009) - que na veiculação do

discurso político contemporâneo o corpo

do homo politicus significa muito mais do

que o verbal, sejam os gestos, semblante,

postura, ou vestimentas, só para citar

alguns dispotivos, no discurso midiático

impresso o corpo também é instrumento

de poder; significa a partir das escolhas, e

mesmo retoques, efetuados pelo enuncia-

dor em consonância ou dissonância com

os textos verbais que acompanham.

Materializado por meio da fotogra-

fia na página impressa, os rostos e corpos

dos personagens políticos não ocupam um

espaço meramente informativo, nem tam-

pouco cumprem o papel de simples adendo

ilustrativo ao texto verbal. Servem, ao

contrário, aos sujeitos que delas fazem

uso como forte ferramenta de poder assi-

nalando suas posições e assentando suas

predileções partidárias. Para o analista

cabe uma sensibilidade em observar quais

dispositivos servem-lhe no exercício des-

crição/interpretação: a análise do rosto

pode incluir o sorriso (meigo ou irônico), o

olhar (direto ou indireto ao enunciatário),

o semblante, que pode outorgar a seu pos-

suidor um aspecto de cansaço ou jovialida-

de etc.; Sobre o corpo poder-se-ia con-

templar a postura (ereta ou encurvada), a

posição dos braços e pernas, as vestimen-

tas (formais, informais, etc.); Enfim, é um

empreendimento fecundo de reconstrução

das percepções deste objeto em dada con-

juntura socio-histórica.

Atualmente é possível também

qualquer alteração em fotografia por meio

de ferramentas tecnológicas ocasionando,

por exemplo, mudança de cena, como eli-

são de fundo, transmudação de corpo,

retoque do rosto de personagens, detalhes

acrescidos, coloração, etc. As possibilida-

des são infinitas e ao enunciatário nem

sempre é possível afirmar se a fotografia

é fidedigna ao acontecimento; ou, em ou-

tros termos, se antes da veiculação, no

processo editorial, a imagem sofreu alte-

ração.

Por fim, nestas breves linhas pro-

pusemos expor que a proposta semiológica

parece adequada para sustentar análises

cuja articulação de elementos é deveras

complexa, ou seja, do linguístico (texto

verbal) e semiológico (imagens do corpo e

rosto, gestos) com suas substâncias

(cores, por exemplo) e formas

(diagramação, tamanho). Isso tudo sem

desconsiderar seu atravessamento histó-

rico e efeitos de memória agregados e

resultantes dessa junção.

REFERÊNCIAS

BARTHES, Roland. [1964]. Elementos de Semio-logia. Trad. De Izidoro Blikstein. 16. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

COULOMB-GULLY, Marlène. Le corps présidentiel : représentation politique et incarnation dans la campagne présidentielle de 2007. Mots - les langages du politique , n. 89,

2009, p. 25-38.

COURTINE, Jean-Jacques. Metamorfoses do discurso político. Derivas da fala pública. Trad.

Nilton Milanez; Carlos Piovezani Filho. São

Carlos (SP): Editora Claraluz, 2006. 157 p.

________. Discurso e imagens: para uma ar-

queologia do imaginário. In: SARGENTI, Vanice; CURCINO, Luzmara; PIOVEZANI, Carlos (Orgs.). Discurso, semiologia e história. São Carlos, Editora Claraluz, 2011. p. 145-162.

FOUCAULT, Michel. [1971]. A ordem do discurso.

2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1996. 79 p.

MARQUES, Welisson. Discurso e Semiologia:

imbricamentos necessários. In: MARQUES, Welisson; CONTI, Maria Aparecida; FERNANDES, Cleudemar Alves. Análise do Discurso & Semio-logia: Novas materialidades. EDUFU, 2013. (No

prelo) PÊCHEUX, Michel. [1983]. O papel da memória. In: ACHARD, Pierre et al. O papel da memória. Campinas: Pontes, 1999. p. 49-57.

Edição n. 27 Página 3

Page 4: O Corpo é Discurso – N º.27

O MINGUADO PÚBLICO LEITOR DO BRASIL: FIGURAÇÃO NO ROMANCE MACHADIANO

Josuelene da Silva Souza (UEFS)

Rubens Edson Alves Pereira (UEFS)

RESUMO

Pretendemos neste artigo discutir sobre o

processo histórico e sociológico da forma-

ção do leitor de textos literários e sua

expansão no Brasil do século XIX. E como o

leitor é figurado na ficção machadiana.

Para tanto, partiremos das Memórias Pós-

tumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

por apresentar uma estrutura dialógica e

provocativa na relação narrador/leitor.

Percebemos que o narrador machadiano

espiona o leitor com o seu “olhar agudo”

sempre necessitando da presença dele. Às

vezes dirige-se ao leitor como cúmplice e

fiel ora cria uma birra freqüente com ele.

O narrador utiliza-se de suas armas mais

fortes: a ironia, o sarcasmo, o ceticismo, o

cinismo estrondoso, o desmascaramento,

sobretudo, as estratégias narrativas que

vão e vem de acordo com seu papel na

narração e, interesses próprios para cha-

mar atenção do seu público leitor.

PALAVRAS-CHAVE: Público Leitor. Século

XIX. Romance Machadiano.

No Brasil, em pleno século XIX,

ainda o número de leitor encontrava-se

limitado devido a pouca circulação dos

textos literários e o restrito contato da

produção deles “com o público, atribuindo-

lhe essa situação a ausência de uma socie-

dade letrada” (GUIMARÃES, 2004, p.47),

como também, às distâncias e às dificulda-

des comunicacionais entre as regiões do

país. A Companhia de Jesus foi a grande

contribuidora para a instrução pública e

“indiretamente ampliou e trouxe as primei-

ras leituras para o Brasil. Mesmo leituras

obrigatórias e para servir de cópias aos

modelos clássicos ou eclesiásticos, aos

poucos vieram alicerçar a formação social

e literária da Colônia” (ARAÚJO, 1999, 23-

32).

O livro adquiriu no Brasil do sé-

culo XIX um significado importante na edu-

cação pública, na formação sócio-cultural,

religiosa, e no ideal das universidades,

apesar de ter sido produzido muito tardia-

mente. O livro só começou a ser impresso,

de forma sistemática no início desse sécu-

lo com o estabelecimento da Corte Portu-

guesa e a criação da Imprensa Régia no

Rio de Janeiro. A instalação dessa impren-

sa permitiu a existência de publicações

regulares, negócios com livros e publica-

ções sem que se dependesse exclusiva-

mente da importação de obras estrangei-

ras vindas de Portugal, da França e da

Inglaterra. Da segunda para terceira me-

tade do século XIX, houve um crescimento

de livrarias, gráficas e, editoras na Corte

do Rio de Janeiro. Por volta de 1840:

O Brasil do Rio de Janeiro, sede da monarquia,

passa a exibir alguns traços necessários para

a formação e fortalecimento de uma sociedade

leitora: estavam presentes os mecanismos

mínimos para produção e circulação da litera-

tura, como tipografias, livrarias e bibliotecas;

a escolarização era precária, mas manifestava

-se o movimento visando à melhoria do siste-

ma; o capitalismo ensaiava seus primeiros

passos graças à expansão da cafeicultura e

dos interesses econômicos britânicos, que

queriam um mercado cativo, mas em constan-

te progresso (LAJOLO; ZILBERMAN, 1999, p.18).

A partir da instalação da Impren-

sa Régia brasileira, deu-se uma reviravolta

na quantidade e na qualidade das obras

introduzidas no Brasil e mesmo aquelas

que constavam nas listagens de livros

proibidos, seguindo os controles e crité-

rios das autoridades portuguesas, passa-

ram a circular com certa facilidade.

Página 4 O Corpo

A partir da instalação da Imprensa

Régia brasileira, deu-se uma revi

ravolta na quantidade e na qualidade

das obras introduzidas no Brasil...

Page 5: O Corpo é Discurso – N º.27

Ao longo do século XIX, tanto Machado de

Assis, Aluísio Azevedo como outros escri-

tores brasileiros estavam frustrados

com o pequeno número de leitores e as

dificuldades de circulação de suas obras

literárias. Aluísio Azevedo inconformado

com a falta de leitores faz uma declara-

ção sobre o “minguado” público leitor

desta época: “Escrever para quê? Para

quem? Não temos público. Uma edição de

dois mil exemplares leva anos para esgo-

tar-se e o nosso pensamento, por mais

original e ousado que seja, jamais se

livrará no espaço amplo [...]” (AZEVEDO,

Aluísio, 1995).

Além da falta de um público

leitor voltado para os textos literários, os

autores ainda enfrentavam outro desafio

do século: o gosto do minguado leitor

brasileiro pelas obras estrangeiras, difi-

cultando a circulação das obras nacio-

nais e, diminuindo ainda mais o público

leitor, que se restringia aos leitores de

folhetins semanais, de ciências exatas, de

compêndios filosóficos e de Retórica.

Para defender a publicação e aceitação

de sua obra literária, o escritor tinha que

atualizá-la ao gosto do grosso público

(este sustentava à atividade do artista

pela compra das obras). Tornou-se mais

evidente a escassez do público consumis-

ta de literatura no Brasil oitocentista,

fazendo com que os escritores brasilei-

ros, entre eles Machado de Assis, tivessem

consciência da falta de leitores de literatu-

ra brasileira. A partir de então, buscaram

modificar “a imagem fluida” que se fazia do

Brasil com a elaboração de uma história

literária que demonstrasse a idéia da inte-

ligência nacional, e sucessivamente, à pro-

cura de um novo tipo de leitor dotado de

agudeza diante das manobras dos roman-

ces inovadores, como é o caso das Memó-

rias Póstumas de Brás Cubas, de Machado

de Assis.

O ceticismo e a ironia na prosa

machadiana podem ser lidos como uma

resposta original a crise de representação

na sociedade ocidental. E acrescenta Ru-

bens Alves Pereira, em Fraturas do Texto –

Machado e seus leitores, a nova ficção

machadiana “revela um escritor conscien-

te de que, ao escrever, manipula discursos

e incide sobre práticas políticas, morais,

psicológicas e literárias, desvelando-

as” (PEREIRA, 1999, p. 44-45). Rubens Alves

Pereira nos afirma que, Machado de Assis

pertenceu a um grupo de escritores que

sentiu profundamente a grande crise de

representação no mundo ocidental, que

marcou boa parte do pensamento e da

produção artística da modernidade. No

processo de formação da leitura no Brasil

na segunda década do século XIX, existia o

objetivo das livrarias e dos editores como

veículos responsáveis pela leitura culta em

adentrarem em outras regiões do Brasil.

De acordo com a pesquisadora Márcia

Abreu, em seu livro: Leitura, história e

história da leitura, isso era conciliado com

a “ambição de formar ‘o seu’ público leitor

especial, com um bom índice de cultura

geral, para se realizar, prescinde da exis-

tência de uma inteligência nacional, de

seus homens de letras e de um repertório

da sua melhor literatura” (ABREU, p.492,

1999). A busca de uma formação de um

novo público leitor almejado para o século

XIX se tornou possível para ampliar e for-

talecer os horizontes da literatura nacio-

nal.

A busca de um novo público leitor

de literatura é notável no prólogo das Me-

mórias Póstumas de Brás Cubas, em que o

narrador Brás Cubas faz uma classificação

de leitores: a gente frívola e a gente grave,

depois tenta amenizar sua retórica com o

fino leitor. O narrador Brás Cubas utiliza-

se do seu discurso “latente” para atrair a

atenção do público leitor, dedicando uma

nota “Ao leitor”, na qual esse narrador e

“defunto-autor” principia o diálogo da nar-

rativa. Como podemos notar no seguinte

trecho do prólogo:

Edição n. 27 Página 5

A busca de uma formação de um

novo público leitor almejado

para o século XIX se tornou possível

para ampliar e fortalecer os horizon-

tes da literatura nacional...

Page 6: O Corpo é Discurso – N º.27

A busca de um novo público

leitor de literatura é notável no prólogo

das Memórias Póstumas de Brás Cubas,

em que o narrador Brás Cubas faz uma

classificação de leitores: a gente frívola

e a gente grave, depois tenta amenizar

sua retórica com o fino leitor. O narra-

dor Brás Cubas utiliza-se do seu discur-

so “latente” para atrair a atenção do

público leitor, dedicando uma nota “Ao

leitor”, na qual esse narrador e “defunto

-autor” principia o diálogo da narrativa.

Como podemos notar no seguinte trecho

do prólogo:

Que Stendhal confessasse haver escrito um

de seus livros para cem leitores, coisa é que

admira e consterna. O que não admira, nem

provavelmente consternará, é se este outro

livro não tiver os cem leitores de Stendhal,

nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito,

dez... Dez? Talvez cinco. [...]. Acresce que a

gente grave achará no livro umas aparên-

cias de puro romance, ao passo que a gente

frívola não achará nele o seu romance usual;

ei-lo aí fica privado da estima dos graves e

do amor dos frívolos (ASSIS, 2004, p.16).

Nesse trecho, percebemos que

o narrador Brás Cubas inicia a conversa-

ção com duas representações de leito-

res: o leitor grave e o leitor frívolo. E

coloca em dúvida se sua obra literária

terá os muitos leitores que a obra de

Stendhal teve ou talvez poucos leitores.

O narrador parece chegar à desoladora

conclusão de que o que escrevia pouca

eficácia poderia alcançar em razão do

limitado círculo de leitores a que o seu

livro estava destinado. Suas memórias

estão privadas somente a leitura dos gra-

ves e dos frívolos, apenas. Chegamos à

hipótese de que o leitor frívolo caracteriza

-se por ser um leitor apressados e preci-

pitados, representando o grosso público

leitor ao se adequar ao leitor estereotipa-

do pela estética romântica. Essa represen-

tação de leitor pode ser comparada com o

“ser leitor Estevão”, personagem da obra A

Mão e a Luva, de Machado de Assis, por

fazer leituras bem apressadas, possui

idéias fluídas que nunca se fixam, sobe e

desce, de acordo com ‘a recente leitura’ ou

o seu estado intelectual. O leitor frívolo é

carregado de “puro byronismo”, por não

ser capaz de estabelecer a diferença entre

o que lê e o que vive.

Por fim, as representações de

leitores graves e os frívolos são como

afirma Brás Cubas, as duas colunas máxi-

mas da opinião. Esses leitores também são

importantes para a composição e o suces-

so das Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Por outro lado, nota-se que não são os

leitores românticos os destinatários visa-

dos por Brás Cubas, pois ele idealiza leito-

res críticos que se comportam como

“Caçadores de poços e construtores de

casas, [...]; circulam nas terras alheias,

nômades caçando por conta própria atra-

vés dos campos que não escreveram para

usufruí-los”(CERTEAU, 1994, p.269-270)

capazes de refletir sobre a narração arti-

ficiosa das memórias de Brás Cubas, cheia

de idas e vindas sempre atentos a jogada

narrativa de Brás Cubas.

REFERÊNCIAS

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Série Bom Livro. 28 edição. São

Paulo: Editora Ática, 2004.

ABREU, Márcia (Org.). Leitura, história e histó-ria da leitura. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil. São

Paulo: Fapesp, 1999.

ARAÚJO, Jorge de Souza. Perfil do leitor colo-

nial. Salvador: UFBA; Ilhéus: UESC, 1999.

CANDIDO, Antonio. Formação da literatura

brasileira. São Paulo: Edusp, 1975.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano:

artes de fazer; tradução de Ephraim Ferreira Alves. Nova edição, estabelecida e apresentada por Luce Giard. Petrópolis, RJ: Editora Vozes,

1994.

GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o público de literatura no século XIX. São Paulo:

Nankin Editorial: editora da Universidade de

São Paulo, 2004.

JAUSS, Hans Robert. A literatura e o leitor: textos de estética da recepção. et al.; coorde-

nação e tradução de Luiz Costa Lima. 2 ed. Rio

de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN. A formação da leitura no Brasil. 3 ed. São Paulo: Editora Ática,

1999.

_____________;______________. A leitura rare-feita: leitura e livro no Brasil. 1 edição. São

Paulo: Ática, 2002.

PEREIRA, Rubens Alves. Fraturas do Texto – Machado e seus leitores. Rio de Janeiro: Sette

Letras; Feira de Santana: Universidade Estadu-

al de Feira de Santana, 1999.

SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. 4 ed. São Paulo:

Duas Cidades; Editora 34, 2000.

Página 6 O Corpo

Page 7: O Corpo é Discurso – N º.27

Edição n. 27 Página 7

O III COGITE — Colóquio de Estudos sobre Gêneros e Texto — é um evento de divulgação de pesquisas e de discussão teórica

sobre gêneros e textos e suas relações com a vida social. As pesquisas desenvolvidas no último ano de atividade do Núcleo

são divulgadas e discutidas com outros pesquisadores e estudantes e com dois conferencistas externos convidados. O foco central do evento é possibilitar aprofundamento na temática de gêneros e textos e discutir resultados de pesquisa. A atividade

possui como objetivos principais a divulgação dos fundamentos teóricos e as ferramentas metodológicas da Teoria Retórica de Gênero e das Teorias sócio-discursivas de viés bakhtiniano, a divulgação das pesquisas produzidas no interior do Núcleo de

Pesquisa Cataphora (UFPI), notadamente aquelas que visam o estudo da forma (estrutura), do propósito e do tema dos mais

diversos gêneros, além de promover um espaço de discussão teórico-metodológica de questões que gravitam em torno das

práticas sociais de linguagem. Para obter maiores informações, acesse o site www.coloquiocogite.com.br

O II Seminário Interdisciplinar das Ciências da Linguagem, no Maciço de Baturité (II SIC), se constitui na continuação da experiência exitosa do I SIC, que foi promovido pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e pela Universidade da Integração Internacional da

Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), o qual aconteceu no campus da Urca, na cidade do Crato, região do Cariri cearense, de 21 a 2 3

de novembro de 2012. Na ocasião, aproximadamente 350 pessoas se reuniram para discutir os aspectos mais variados da lingua-gem, com contribuições vindas de instituições de várias partes do país, como a UFSC, a UFPB, a UECE, a UFC, a UVA, o IFRN, dentre

outras. Essa celebração da linguagem contou com 5 palestras, 14 minicursos, 8 mesas-redondas e 10 grupos temáticos.

O II SIC, a ser realizado no Maciço de Baturité, com o tema “Integrando e Interiorizando através da Linguagem”, vem continuar essa

experiência ao se fundir a um dos princípios fundadores da Unilab, a integração, e também a um dos princípios fundadores da Urca,

a interiorização, no sentido de quebrar hegemonias e deslocar a discussão acerca dos problemas da linguagem para espaços dis-tantes dos chamados eixos hegemônicos. Nessa direção, o objetivo principal do evento se traduz nessa integração e interiorização

do conhecimento, dando continuidade ao escopo político do evento de levar para regiões fora daqueles eixos as valiosas contri bui-

ções da linguagem para a formação de uma sociedade mais justa e mais igualitária. O II SIC acontecerá entre os dias 11 e 13 de De-

zembro de 2013. Para obter maiores informações, acesse o site www.2sic.unilab.edu.br

Page 8: O Corpo é Discurso – N º.27

Verônica não deita: corpo e discurso na materialidade fílmica

Regina Lucia Alves de Lima (UFPA)

Dilermando Gadelha de Vasconcelos Neto (UFPA)

Introdução

Este artigo tem como objetivo

fazer uma breve análise dos discursos que

são postos em ação a partir dos corpos

das personagens da obra audiovisual para-

ense Verônica Não Deita. A partir da análi-

se de como o corpo de Verônica é constru-

ído em cena, levando em consideração a

interação com outros elementos do filme,

buscamos perceber quais discursos e

enunciados irrompem na obra e como seu

acontecimento cria determinados efeitos

de sentido.

Utilizamos como referencial teó-

rico para análise os escritos do pensador

francês Michel Foucault, o qual disponibili-

za uma série de categorias analíticas que

contribuem para a percepção das diversas

marcas discursivas presentes em materi-

alidades discursivas. Apesar dessas varia-

das categorias, por uma questão de espa-

ço, tentaremos situar, principalmente, o

conceito de discurso em Foucault, para

então procedermos à sua aplicação na

materialidade proposta.

O discurso

Como apontado na introdução, o

que buscamos observar no curta é a forma

como o corpo de Verônica, personagem

principal do curta Verônica Não Deita pa-

rece dialogar com os outros elementos do

audiovisual para criar determinados efei-

tos de sentido, os quais, por sua vez, com-

põem o discurso presente no curta-

metragem. Para tanto, é preciso clarificar

o conceito de discurso ora utilizado.

Para Foucault (2013) o discurso

seria como um nó em uma rede, como um

conjunto de acontecimentos únicos, enun-

ciados finitos, mas que se ligam a uma

série de outros acontecimentos discursi-

vos que lhe precedem e lhe sucedem, seja

de forma direta ou indireta, em uma espé-

cie de memória. Dessa forma, o discurso,

composto por enunciados

abre para si mesmo uma existência remanes-

cente no campo de uma memória, ou na mate-

rialidade dos manuscritos, dos livros e de

qualquer forma de registro; em seguida, por-

que é único como todo acontecimento, mas

está aberto à repetição, à transformação, à

reativação; finalmente, porque está ligado não

apenas a situações que o provocam, e a con-

sequências por ele ocasionadas, mas, ao mes-

mo tempo, e segundo uma modalidade inteira-

mente diferente, a enunciados que o precedem

e o seguem. (FOUCAULT, 2013, p. 35)

Tais discursos, ainda segundo o

autor, ocorrem em uma determinada or-

dem, seu acontecimento está inscrito em

um determinado momento histórico no

qual é selecionado o que pode ser dito,

mostrado, e o que deve ser ocultado sobre

os mais variados temas, como o corpo ou

a sexualidade.

Suponho que em toda sociedade a produção do

discurso é ao mesmo tempo controlada, sele-

cionada, organizada e redistribuída por certo

número de procedimentos que têm por função

conjurar seus poderes e perigos, dominar seu

acontecimento aleatório, esquivar sua pesada

e temível materialidade. (FOUCAULT, 1999, p.

9).

A partir dessa perspectiva de

discurso – como constituído por enuncia-

dos finitos, temporalmente localizados e

inscrito em uma determinada ordem –

podemos perceber os sentidos que são

criados no curta-metragem aqui analisado.

Página 8 O Corpo

Em toda sociedade a produção do

discurso é ao mesmo tempo con-

trolada, selecionada, organizada

e redistribuída

Page 9: O Corpo é Discurso – N º.27

A Materialidade

O curta-metragem Verônica Não

Deita (2011) é uma obra audiovisual de oito

minutos feita em direção coletiva, como

resultado de uma oficina de prática cine-

matográfica realizado em Belém, em de-

zembro de 2010, pela produtora Caiana

Filmes. O curta conta a história de Verôni-

ca, um travesti que, apesar do maltrato e

do preconceito sofrido, não se deixa aba-

ter, “não deita”.

A produção inicia com Verônica

andando pelas ruas, a caminho de casa. Em

princípio, a única parte de seu corpo que

podemos ver são as pernas. Verônica está

vestida com um salto médio e unhas pinta-

das de vermelho. Em alguns relances de

câmera, podemos vislumbrá-la de costas,

com cabelos louros e um conjunto de saia

e blusa pretas.

O resto da trama se passa dentro

da casa de Verônica – um conjugado de

quarto e banheiro – em que se destacam

uma cama, uma banheira, uma penteadeira

e um quadro de Marilyn Monroe.

Imagem 1 – Verônica chega a seu quarto

(Fonte: Still do curta)

Como apontamos acima, o discurso é

constituído por uma série de enunciados

que criam sentido no momento de sua

irrupção, de seu acontecimento

(FOUCAULT, 2013). Dessa forma, podemos

identificar, na Imagem 1, alguns desses

enunciados. O primeiro deles pode ser

observado na própria métrica da imagem.

Enquanto Verônica ocupa o lado esquerdo

na imagem, o lado direito é preenchido por

um quadro da atriz americana Marilyn

Monroe. Fotos da atriz também estão es-

tampadas nas fronhas dos travesseiros da

cama de Verônica.

Além disso, é de se destacar o

fato de ambas usarem o cabelo louro. Na

foto de Marilyn, vemos o cabelo cuidado e

penteado, o platinado que virou um dos

ícones da estrela de Hollywood; já Verônica

usa uma peruca loura com aspecto des-

grenhado. As cores também são um ponto

importante na imagem, uma vez que, do

lado de Marilyn parece imperar o branco e

do lado de Verônica, o preto, cor de suas

roupas.

Se tentarmos perscrutar os pos-

síveis efeitos de sentidos criados por es-

ses enunciados, por esses acontecimentos

discursivos, uma das possibilidades encon-

tradas é a da separação, da polarização

entre o feminino e o homossexual/

masculino.

A construção desse discurso, que

aparece gravado no próprio corpo de Ve-

rônica – e também no corpo de Marilyn, o

qual, mesmo não presente por completo na

imagem, faz parte de nosso imaginário –

acontece pela recorrência de elementos

que deixam explícita a dicotomia acima

aventada, como na Imagem 2, em que o

cabelo é, mais uma vez, o nó criador do

sentido.

Imagem 2 – Verônica e Marilyn, sua inspi-

ração (Fonte: Still do curta)

O que vemos é uma Verônica

escondida por trás de sua peruca loura,

enquanto a foto de Marilyn aparece às

suas costas. Quase uma sombra de Verôni-

ca, não fosse o fato de o rosto da atriz

estar iluminado, enquanto Verônica, mes-

mo que em primeiro plano, aparece desfo-

cada. Seria Verônica, então, uma imitação

imperfeita da musa?

Edição n. 27 Página 9

O discurso é constituído

por uma série de enunciados

que criam sentido no momento

de sua irrupção, de seu

acontecimento

Page 10: O Corpo é Discurso – N º.27

Na sequência, Verônica mostra o

rosto machucado e o salto quebrado, o

qual atira no espelho, trincando-o. É então

que retira a peruca e começa a se despir,

mostrando a cabeça raspada e o corpo

masculino. Na Imagem 3, observamos uma

Verônica com o torso nu, vestindo apenas

a saia de seu conjunto.

Mais uma vez, a personagem é

posta em confronto com duas imagens de

mulheres seminuas, em posições provo-

cantes. A diferença entre os corpos, a

“hibridez” do corpo de Verônica - entre o

masculino e o feminino – é deparada com o

corpo voluptuoso das mulheres nas gotos,

reiterando, então, a suposta anomalia da

personagem, que não consegue se parecer

realmente com o “ideal” de mulher.

Imagem 2 – Verônica despida, preparando

-se para o banho (Fonte: Still do curta)

O desenrolar da história é emba-

lado pela trilha sonora da ópera O Lago

dos Cisnes, de Tchaikovsky, reproduzida

em uma caixinha de música pertencente à

Verônica. A música, como um enunciado

em diálogo com os outros enunciados aci-

ma apontados, também parece reforçar o

efeito de sentido produzido pelo aconteci-

mento discursivo que enforma o curta-

metragem. O Lago dos Cisnes conta a his-

tória de Odette, princesa transformada em

cisne branco por um bruxo que almeja

roubar o trono de seu príncipe e amante. A

filha do bruxo, Odile, imita a princesa, sen-

do, entretanto, um cisne negro.

Em O Lago dos Cisnes, o cisnes

branco e o cisne negro representam, res-

pectivamente, o bem e o mal e o uso da

música típica desta opera no curta-

metragem Verônica Não Deita parece tam-

bém ser mais uma recorrência que aponta

para um discurso constituído na oposição

entre um ideal de mulher/Marilyn/o bran-

co/o bom e a deturpação desse ideal, que

seria o homossexual/homem/Verônica/o

negro/o mal.

Conclusão

O que buscamos com este breve

texto foi mostrar como a materialidade

fílmica – neste caso o curta-metragem

paraense Verônica Não Deita –, está inse-

rida no interior de um discurso e é consti-

tuída por uma série de enunciados e dis-

cursos que, em diálogo, constituem deter-

minados efeitos de sentido.

Além disso, como aponta Foucault

(2013), os enunciados e discursos podem

estar inscritos em qualquer forma de re-

gistro, inclusive em corpos, como os de

Verônica e de Marilyn. Corpos que, atra-

vessados por discursos e constituídos por

discursos, estão, eles também, inscritos

em uma ordem do discurso que os produz,

os agenda e também os destrói.

Referências

FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Sa-

ber. Rio de Janeiro: Forense Universitária,

2013.

_____________. A Ordem do Discurso.

São Paulo: Loyola, 1999.

VERÔNICA não deita. Direção Coletiva. PA:

2011, 8min, fic., son., color. Disponível em:

http://audiovisualnaamazonia-

levantamento.blogspot.com.br/2012/07/

veronica-nao-deita.html. Acesso em 20 de

outubro de 2013.

Página 10 O Corpo

os enunciados e discursos

podem estar inscritos em

qualquer forma de

registro, inclusive em

corpos

Page 11: O Corpo é Discurso – N º.27

Ocorreu, durante o mês de Outubro, na Universidade Estadual do Sudoeste da Ba-

hia, o curso de extensão A construção do

sujeito em Kant – As luzes de Foucault.

O evento foi mais uma iniciativa do Labora-tório de Estudos do Discurso e do Corpo. A

proposta do curso foi estudar a constru-ção do sujeito através dos cruzamentos

existentes entre a Aufklärung kantiana e a

análise do poder feita por Michel Foucault.

Para tanto, foi realizadas releituras do

texto “Resposta à pergunta: o que é Escla-

recimento” e da aula proferida por Michel

Foucault em 5 de janeiro de 1983 no

Collège de France. O curso se desenvolveu

em sete encontros (carga horária de 20

horas), tendo cada um o seu ministrante,

que trabalhou com um texto-base, e um

debatedor. Nesse sentido, além dos textos citados, frequentaram os debates obras

como O Governo de si e o governo dos

outros, de Foucault, Foucault, les Lumières et l’histoire: l’émergence de la societé civile, de Céline Spector, Sade et les lumiè-res, de Phillipe Sabot (O Corpo é discurso

traz uma tradução inédita desse texto,

feita por Alex Pereira de Araújo, doutoran-do em Memória: Linguagem e Sociedade, da

UESB, que está no volume 2, número 2 da

REDISCO, o qual O Corpo divulga nesse

número ) e, finalmente, o texto de Frédéric

Gros, Foucault et la leçon katienne, esteve

presente nas discussões que finalizaram

no dia 24 de outubro. Os textos foram

apresentados e discutidos por pesquisado-

res, de mestrado e doutorado, que são

integrantes do Laboratório de Estudos do Discurso e do Corpo e que fazem parte dos

Programas de Pós-Graduação em Linguís-

tica e Memória: Linguagem e Sociedade, da

UESB.

O curso faz parte do Projeto de Exten-são “Análise do discurso: discurso fílmico,

corpo e horror” e do Projeto de Pesqui-

sa “Materialidades do Corpo e do Horror”.

Ao final do curso, os participantes da ativi-dade elaboraram artigos que versam so-

bre a temática do evento associado ao

objeto específico de pesquisa de cada um. Esses textos O Corpo divulgará em um

edição especial, em janeiro de 2014.

******

Edição n. 27 Página 11

Ocorrerá, entre os dias 17 e 20 de dezembro, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, o I Seminário do Núcleo de Cultura Escrita e Acervos Digitais. O evento em como principal objetivo abordar temas relacionados aos estudos da relação entre cultura

escrita e cibercultura, bem como à história do livro e da leitura, com vistas ao fomento de ações de pesquisa, ensino e extensão que se realizem a partir dos diferentes acervos digitais hoje disponíveis na internet. Pretende, portanto, reunir estudiosos e in teressa-

dos nesses assuntos, a fim de proporcionar um espaço de interação e debates a partir de abordagens inter, multi e transdiscip lina-res que envolvam a comunidade acadêmica da UESB, docentes e discentes de outras instituições de ensino superior, como também

dos ensinos médio e fundamental. O Seminário será promovido pelo Núcleo de Estudos de Cultura Escrita e Acervos Digitais, coor-

denado pelo professor Dndo. Halysson F. Dias Santos (DELL/UESB), em parceria com o Núcleo de Estudos do Estado Monárquico, coordenado pelo professor Dr. Marcello Moreira (DELL/PPGMLS/UESB) com apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comuni-

tários - PROEX da Universidade Estadual dos Sudoeste da Bahia (UESB). O evento contará com a participação de professores da Área de Teoria e Literatura (ATL) do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da UESB, campus de Vitória da Conquista, e

de outros pesquisadores. Acesse o site www.uesb.br/eventos/culturaescrita e confira maiores informações.

Page 12: O Corpo é Discurso – N º.27

Página 12 O Corpo

Page 13: O Corpo é Discurso – N º.27

Apresentação

O Grupo Trama comemora seus 10 anos de

atividades e realiza o II Ciclo de Estudos do Discurso. Esse evento apresenta-se como uma oportunidade, no âmbito geral, de

reunir diferentes grupos de pesquisa em Análise do Discurso, professores, pesqui-

sadores e alunos de graduação e pós-graduação de diversas Instituições de

Ensino Superior do Brasil com o intuito de discutir o discurso, tanto como entidade conceitual, quanto como objeto de pesqui-

sa. De forma específica, o II Ciclo de Estu-dos do Discurso trará, nesta segunda edi-

ção, uma proposta de reflexão e debate

acerca dos dispositivos de poder e os sa-beres nas obras do filósofo francês Michel

Foucault e suas contribuições para a Análi-

se do Discurso.

Formato e metodologia

O II Ciclo de Estudos do Discurso será

constituído por dois momentos, que se

complementam na discussão acerca dos

dispositivos. Primeiramente, a sessão Me-sa Redonda, em que os pesquisadores

convidados realizarão suas falas a partir

de considerações e reflexões de cunho

teórico-conceituais. Num segundo momen-to, será realizada a sessão de Rodada de Conversas, em que os participantes inscri-

tos terão a oportunidade de conversar sobre pesquisas e objetos investigados a

partir de uma perspectiva discursiva. Para

a organização de tal sessão, contaremos

com a contribuição de alguns pesquisado-res convidados, os quais desempenharão a função de mediadores das conversas pro-

postas a partir da temática de cada Roda-da. O participante inscrito terá em torno

de 10 minutos para expor sobre suas leitu-

r a s , h i p ó te s e s , d e s c o b e r ta s , (r)elaborações etc. As intervenções serão

feitas a cada 4 falas.

Programação

Quarta-feira

08:30 - Abertura

09:00 - Conferência de Abertura – Dispositivos de poder em Foucault: discursivida-

des e visibilidades na mídia

Profa Dra. Maria do Rosário Valencise Gregolin (Grupo Geada-Unesp/Araraquara)

Coordenação: Profa. Dra. Kátia Menezes de Sousa (Grupo Trama/UFG)

10:30 - Mesa-redonda – Dispositivo e biopolítica

Profa. Dra. Vanice Sargentini (grupo Labor/UFSCar)

Profa. Dra. Mara Rúbia de Souza Rodrigues Morais (IFG/Jataí)

Prof. Dr. Pedro Russi (UNB)

Coord. Profa. Dra. Eliane Marquez da Fonseca Fernandes (Grupo Criarcontexto/UFG)

12:00 às 14:00 - Intervalo

14:00 às 18:00 - Rodada de conversas (12 inscritos – professores e alunos de Pós-

graduação)

Tema: Dispositivo e biopoder

Mediadores:

Profa. Dra. Vanice Sargentini (grupo Labor/UFSCar)

Profa. Dra. Mara Rúbia de Souza Rodrigues Morais (IFG/Jataí)

Prof. Dr. Pedro Russi (UNB)

Quinta-Feira

08:30 - Mesa-redonda: Dispositivo e corpo

- Prof. Dr. João Marcos Kogawa (UNICENTRO/PR)

- Prof. Dr. Nilton Milanez (Labedisco/Uesb)

- Coord. Profa. Dra. Maria de Lourdes Paniago (CAJ/UFG)

10:00 - Comemoração aos 10 anos do Grupo Trama/UFG e Homenagem à Profa. Dra.

Maria do Rosário Gregolin

- Relatos de pesquisas dos participantes do Grupo Trama/UFG

Edição n. 27 Página 13

Page 14: O Corpo é Discurso – N º.27

12:00 às 14:00 - Intervalo

14:00 às 18:00 - Rodada de conversas

Tema: Dispositivo e corpo (12 inscritos – professores e alunos de Pós-graduação)

Mediadores:

- Prof Dr João Marcos Kogawa (UNICENTRO/PR)

- Prof Dr Nilton Milanez (Labedisco/Uesb)

Sexta-Feira

09:00 - Mesa-redonda: Dispositivo e subjetividade

- Prof Dr Antônio Fernandes Júnior (CAC/UFG)

- Prof. Dr. Cleudemar Alves Fernandes (LEDIF/UFU)

- Profa Dra Maria do Rosário Gregolin (Grupo Geada-Unesp/Araraquara)

- Coord. Prof. Dr. Alexandre Costa (GrupoNous/UFG)

10:30 - Apresentação de painéis

12:00 às 14:00 - Intervalo

14:00 às 18:00 - Rodada de conversas

Tema: Dispositivo e subjetividade (12 inscritos – professores e alunos de Pós-graduação)

Mediadores:

- Prof Dr. Antônio Fernandes Júnior (CAC/UFG)

- Prof. Dr. Cleudemar Alves Fernandes (LEDIF /UFU)

- Profa Dra. Maria do Rosário Gregolin (Grupo Geada-Unesp/Araraquara)

18:00 - Encerramento (Avaliação das atividades)

Página 14 O Corpo

Page 15: O Corpo é Discurso – N º.27

A Faculdade de Filosofia, o Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Goiás – UFG e o Grupo de Estudos

em Biopolítica, sob a coordenação conjunta dos professores Adriana Delbó, Adriano Correia e Carmelita Felício, promovem o IV CO-

LÓQUIO DE BIOPOLÍTICA – Poder, Vigilância e Controle, a ser realizado entre os dias 09 e 11 de dezembro de 2013, no Campus Samambaia da UFG, em Goiânia, Goiás. O colóquio é parte do esforço de dar visibilidade às atividades do Grupo que, nos últimos sete

anos, reúne professores e alunos da graduação e pós-graduação em Filosofia da UFG em torno do estudo de autores como Friedrich

Nietzsche, Carl Schmitt, Walter Benjamin, Hannah Arendt, Michel Foucault e Giorgio Agamben. Nesta quarta edição, o evento con tará

com a presença de pesquisadores brasileiros que estudam temas ligados à biopolítica, e, paralelamente, com a III Mostra Biopolítica

de Cinema. O IV Colóquio de Biopolítica é um convite à releitura das obras desses pensadores e uma oportunidade de aprofundar a discussão de problemas candentes que se encontram alojados no coração da política contemporânea. Para maiores informações,

acesse o site http://grupodebiopolitica.blogspot.com.br/

Edição n. 27 Página 15

Page 16: O Corpo é Discurso – N º.27

REDISCO, VOLUME 2, NÚMERO 2

Página 16 O Corpo

Page 17: O Corpo é Discurso – N º.27

Com organização de Nilton Milanez, da

Universidade Estadual do Sudoeste da Ba-hia, Cleudemar Alves Fernandes, da Uni-

versidade Federal de Uberlândia e Jaciane

Martins Ferreira, da Universidade Federal de Uberlândia, o volume 2, número 2, da

REDISCO - Revista Eletrônica de Estudos do

Discurso e do Corpo acaba de ser lançado.

Com o título Corpo e Sujeito, o número aborda o poder, os discursos e as subjeti-

vidades que gravitam no corpo e constitui

o sujeito, tomando como materialidades de

análise textos da mídia, da literatura, da

educação assim como outros temas que constituem a esfera de interesse dos estu-

dos discursivos e da sociedade, em geral.

O número traz, ainda, de forma inédita no

Brasil, um texto de Jacques Guilhaumou,

Foucault et l’ordre du corps: langue, sujet, histoire, além de uma tradução, também

inédita, de Sade et les lumières, de Phillipe

Sabot, feita por Alex Pereira de Araújo.

Destacamos, aqui, a apresentação, escrita

pelos organizadores, e o sumário da obra,

para que o leitor possa ter acesso rápido

ao conteúdo da obra e, por conseguinte,

buscar a leitura de importantes colabora-

ções de pesquisadores de todo o país.

*****

Apresentação

Corpo e sujeito é a temática da quarta

edição da REDISCO – Revista Eletrônica de Estudos do Discurso e o Corpo – que reúne

textos de pesquisadores dispostos a pen-

sar sobre as incursões teóricas do autor

Michel Foucault a respeito da constituição do sujeito e do corpo. Nesta revista, o cor-

po não é olhado como um corpo físico, mas

como um corpo perpassado por relações de poder-saber em determinados momen-

tos históricos que o fazem ser visto como

um espaço de linguagem do qual emanam

dizeres e a própria constituição dos sujei-tos. Neste sentido, sujeito e corpo são

clivados por técnicas disciplinares, per-

passadas por saberes científicos, de ma-

neira a ressoar não apenas em um único

indivíduo, mas em toda a população. Olhares díspares são dados pelos pesqui-

sadores nessa edição da REDISCO. Muitos

dos textos versam sobre o conceito de

biopoder, cujo efeito se dá sobre a vida de

todos, disciplinando os sujeitos para que haja uma dada aplicação sobre a vida. Al-

guns textos se debruçam sobre o discurso

midiático, outros sobre o discurso literá-

rio. Tais investidas discursivas nos levam a

um melhor

entendimento sobre a constituição do su-

jeito e do corpo e sobre as formas como

isso aparece na literatura e na mídia, es-

pecificamente, levando-nos a pensar um pouco mais acerca de como vivemos hoje.

Nílton Milanez

Cleudemar Alves Fernandes Jaciane Martins Ferreira

Artigos

CORPOS QUE QUEREM PODER Fábio Figueiredo Camargo

A DEMOCRATIZAÇÃO DA BELEZA E A CONSTITUIÇÃO DAS SUBJETIVIDADES

Fernanda da Silva Borges e Kátia Menezes de Sousa

FOUCAULT ET L’ORDRE DU CORPS : LANGUE, SUJET,

HISTOIRE

Jacques Guilhaumou

O SUJEITO HOMOAFETIVO NO DISCURSO PUBLICITÁ-

RIO: ÍNDICES E FRAGMENTOS DO CORPO J.J. Domingos e Regina Baracuhy

HOJE É DIA DE MARIA - UM ACONTECIMENTO DISCUR-SIVO

Maria Aparecida Conti

O CORPO EDUCADO: A ESCOLA COMO DISPOSITIVO DISCIPLINADOR NA

SOCIEDADE DE CONTROLE

Maria de Lourdes Faria dos Santos Paniago e Eliane Marquez da Fonseca Fernandes

UM CORPO DE SABER-PODER: ELEMENTOS DE UMA ANÁLISE ARQUEGENEALÓGICA DE DISCURSOS

Pedro Navarro

DO CORPO DE TODOS NÓS AO CORPO DO (EU): EFEI-

TOS DE SUBJETIVIDADE NA SINGULARIDADE CORPÓREA

Sandro Braga e Patrícia da Silva Meneghel

CORPO FEMININO: CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA E DIS-

CURSIVA EM CORA CORALINA

Sueli Gomes de Lima

Tradução

FOUCAULT, SADE E AS LUZES Alex Pereira de Araújo

Clique na imagem, abaixo, para acessar o con-

teúdo da revista.

Edição n. 27 Página 17

Page 18: O Corpo é Discurso – N º.27

Leitura do livro “Análise do texto visual - a construção da imagem”, de Antonio Vicente Pietroforte.

Leitura do livro “Discurso das mídias”, de Patrick Charaudeau.

Dica de O Corpo

Dica de O Corpo

As mídias nos manipulam? Acusações não faltam: sensacionalis-

tas, deformadoras de declarações, descontextualizadas, a serviço

de rumores. Em sua defesa, as mídias declaram-se instância de

denúncia do poder e destacam sua atuação no direito democráti-

co que todo cidadão tem de se informar. Fugindo ao maniqueísmo,

com um olhar profundo de especialista em análise de discurso, e

baseado em inúmeros exemplos, Charaudeau destrincha a com-

plexa máquina midiática: as restrições, as especificidades de ca-

da gênero, os modos de organização e as estratégias de encena-

ção em funcionamento no discurso da informação. Questiona as práticas do "mostrar a qualquer preço", do "tornar visível o invi-

sível" e do "selecionar o que é o mais surpreendente", que pro-

porcionam uma imagem fragmentada do espaço público. E, final-

mente, traça um paralelo entre a responsabilidade das mídias e a

do cidadão.

Este livro - desenvolvido especialmente para estudantes, profes-

sores e estudiosos das ciências da linguagem e da comunicação -

trata da semiótica visual e apresenta a chamada semiótica tensi-

va de forma simples, sem mistérios. A semiótica tensiva vem ao

encontro de uma problemática própria: a dimensão contínua do

sentido. Com leitura agradável e texto envolvente - que passa

longe de uma terminologia complicada e de difícil entendimento -,

o professor Vicente destrincha a construção de imagens diver-

sas, revela significados e mostra sua pertinência e o espaço que a

semiótica tensiva ocupa nas pesquisas atuais. Em cada capítulo, diferentes questões são abordadas por meio de objetos de estudo

presentes no cotidiano do leitor: música, fotografias, poemas e

história em quadrinhos.

Page 19: O Corpo é Discurso – N º.27

O Corpo é Discurso

é o primeiro jornal

eletrônico de

popularização

científica da Bahia.

Colaboradores

Popularização da Ciência

A pesquisa científica gera conhecimentos, tecnologias e inovações que benefi-

ciam toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas não conseguem compreender a

linguagem utilizada pelos pesquisadores. Neste contexto, a grande mídia e as novas

tecnologias de comunicação cumprem o papel de facilitadores do acesso ao conhe-

cimento científico. Para contribuir com esse processo, em sintonia com o espírito

que anima o Comitê de Assessoramento de Divulgação Científica do CNPq, criamos

esta seção no portal do CNPq. Seja bem-vindo ao nosso espaço de popularização da

ciência e aproveite para conhecer as pesquisas dos cientistas brasileiros e os bene-

fícios provenientes do desenvolvimento científico-tecnológico.