o consorcio cacau-floresta e a conservaÇÃo de Árvores

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 O CONSORCIO CACAU-FLOREST A E A CONS ERVAÇÃO DE ÁRVORES NATIVAS DE GRANDE PORTE NA REGI ÃO SUL DA BAHIA Regina He lena Rosa Sambuichi 1 ; Mund ayatan Ha ridasan 2 1 Departamen to de Ciências Biológicas, UESC, Ilhéus, BA (sambuich@uesc.br); 2 Departamento de Ecologia, UnB, Brasília DF ([email protected]) 1 Introdução Na região sul da Bahia, a maior parte das lavouras de cacau foi implantada sob a floresta nativa raleada em um sistema conhecido como cabruca. Nesse sistema, retira-se o sub-bosque e parte das árvores de dossel da floresta, conservando-se as árvores de maior porte e madeira mais resistente para sombrear o cacau. O uso desse sistema na região começou com o início do cultivo do cacau, no século XVIII , e se estendeu até o derradeiro ciclo de expansão da cultura na década 80. Estima-se que 70% dos 6.800 km 2  de plantações de cacau existentes na região esteja em sistema de cabruca (Franco et al., 1994). A grande extensão dessas áreas, em comparação com a pequena quantidade de floresta nativa remanescente, vem despertando o interesse em estudar a sua importância para a conservação de espécies nativas. Acredita-se que restem menos de 7% de área de floresta nativa no sul da Bahia, reduzida a pequenos fragmentos alterados pelo efeito de borda e corte seletivo de madeira de lei (Saatchi et al. 2001), o que é considerado insuficiente para garantir a conservação da elevada riqueza de espécies da região. As árvores de grande porte estão entre as espécies mais ameaçadas, pois sofrem mais intensamente os efeitos do corte seletivo e da redução de habitat, devido à baixa densidade que apresentam naturalmente. Os poucos levantamentos já realizados (Alvim e Peixoto 1972, Vinha e Silva 1982, Hummel 1995, Sambuichi 2002 e 2003), mostraram ocorrer nas cabrucas uma grande variedade de espécies arbóreas nativas, constituindo assim um importante banco genético para essas espécies. O presente trabalho objetivou avaliar o papel das cabrucas na conservação de árvores de grande porte nativas da região, levantando a área basal e a densidade dessas espécies em diferentes áreas e comparando áreas novas e antigas para inferir sobre a sua conservação a longo prazo. 2 Material e Métodos Foram selecionadas três áreas antigas e duas áreas novas de cabruca no município de Ilhéus, BA. As áreas antigas foram implantadas no final do século XIX ou nas primeiras décadas do século XX. As áreas as novas foram implantadas na década de 70. Em cada cabruca foi demarcada uma área de 150m x 200m (3 ha), dentro da qual foram medidos e identificados todos os indivíduos arbóreos com DAP (diâmetro a 130cm do chão)  10cm. Para o presente estudo, foram selecionadas apenas as espécies que apresentaram pelo menos um indivíduo com DAP  70cm, limite adotado na literatura para definir árvore de grande porte (Clark e Clark 1996). Para essas espécies, foi estimada a área basal em cada área e a área basal total média de todas as áreas em conjunto, e a densidade médi a das áreas onde a espécie ocorreu. (Sylvestre e Rosa 2002). 3 Resultados e Discussão Foi encontrado nas áreas um total de 57 espécies arbóreas de grande porte, sendo 52 nativas da Mata Atlântica da região. As maiores áreas basais totais foram das espécies Spondias mombin (cajazeira) e  Artocarpu s heterophyllus  (jaqueira) (Tabela 1), ambas espécies frutíferas exóticas ao sul da Bahia, as quais apresentaram maiores áreas basais nas cabrucas antigas. As outras espécies que ocorreram entre as 20 de maior área basal no presente estudo são todas nativas (Tabela 1). Espécies como Lecythis pisonis (sapucaia), Cedrela odorata (cedro- rosa), Ficus gomelleira (gameleira-preta) e Nectandra sp. (louro-sabão) ocorreram nas cinco áreas estudadas, sendo espécies muito comuns nas cabrucas da região. Espécies que ocorreram principalmente nas áreas novas, como Dialium guianense (jitaí-preto) e Sloanea obtusifolia (gindiba), podem ser espécies mais sensíveis ao manejo das cabrucas que vão desaparecendo com o tempo. Espécies características de áreas mais abertas ou perturbadas, como Ficus clusiifolia (gameleira), Lonchocarpus guillemineanus (cabelouro) e Hyeronima alchorneoides,  (cajueiro-bravo), ocorreram principalmente nas áreas antigas e, provavelmente, surgiram ou aumentaram de densidade nas cabrucas após o raleamento da floresta. As espécies Cariniana estrellensis e Cariniana legalis (jequitibás) apresentaram apenas indivíduos de grande porte, provavelmente remanescentes da floresta original. Essas duas espécies não ocorreram nas áreas novas, o que pode estar relacionado a diferenças de solo, pois as cabrucas novas em geral possuem solos menos eutróficos (Sambuichi 2003) e essas espécies ocorrem na região em florestas sobre solos mais ricos. As áreas estudadas apresentaram muitas diferenças em composição e dominância de espécies, as quais não podem ser explicadas apenas pelas diferenças no tempo de implantação das áreas e podem estar relacionadas também a outros fatores como solos e manejo.

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