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O conflito entre trabalho e responsabilidades familiares no cuidado às crianças e idosos: tendências, desafios e políticas públicas no Brasil Profa. Dra. Andréa de Sousa Gama Reunião CNPD – 2015

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Page 1: O conflito entre trabalho e responsabilidades familiares no cuidado às crianças e idosos: tendências, desafios e políticas públicas no Brasil Profa. Dra

O conflito entre trabalho e responsabilidades

familiares no cuidado às crianças e idosos:

tendências, desafios e políticas públicas no Brasil

Profa. Dra. Andréa de Sousa Gama

Reunião CNPD – 2015

Page 2: O conflito entre trabalho e responsabilidades familiares no cuidado às crianças e idosos: tendências, desafios e políticas públicas no Brasil Profa. Dra

IntroduçãoAs desigualdades de gênero no emprego são ao

mesmo tempo causa e consequência das responsabilidades que as mulheres assumem, quase que exclusivamente, no espaço doméstico.

• Mudanças nas configurações das famílias e do mercado de trabalho.

O reconhecimento de que os conflitos entre trabalho remunerado e responsabilidades familiares constituem um problema social é incipiente no Brasil.

Buscaremos analisar algumas ações públicas que incidem diretamente nessa questão, como também uma bússula para pensarmos essas políticas na chave da igualdade de gênero.

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IntroduçãoO Estado brasileiro na provisão de serviços de care.

Em termos gerais, o Brasil caracteriza-se como um caso de “provedor desigual”, protegendo via sistema previdenciário àqueles que se encontram empregados no mercado formal, com uma crescente privatização seletiva da política de saúde e uma política de assistência social inflada que vem apresentando resultados relevantes em termos da diminuição da pobreza.

O ligamento desse padrão de bem-estar baseia-se no papel atribuído à família, especialmente às mulheres, na oferta de serviços de cuidados não pagos e não reconhecidos, o que muitos autores denominam de “familismo”.

As desigualdades entre as mulheres no mercado de trabalho tem relação com o acesso também desigual aos serviços de care providos pelo Estado e mercado.

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A Educação Infantil na equiparação das demandas

entre trabalho e famíliaEm 2008, as taxas de frequência para crianças de 0 a

3 anos era de 18% e para as de 4 a 6 anos 79%. Há uma forte desigualdade socioeconômica na sua distribuição. A desigualdade de renda é a variável mais importante no acesso à EI.

O acesso das crianças aos serviços de EI e o horário em tempo integral apresentaram associação positiva com a condição produtiva das mães: no maior nível de ocupação, na inserção em atividades mais formalizadas, na ampliação da jornada de trabalho, na maior renda do trabalho e no menor número de horas dedicadas ao trabalho doméstico.

Page 5: O conflito entre trabalho e responsabilidades familiares no cuidado às crianças e idosos: tendências, desafios e políticas públicas no Brasil Profa. Dra

A Educação Infantil na equiparação das demandas entre trabalho e família

• A conjunção entre inserção precarizada das mães no mercado de trabalho e a deficiente cobertura pública desse nível educacional mantém a desigualdade de acesso, tanto em relação aos direitos do trabalho, quanto aos de educação.

O padrão de estrututração do MT, que segmenta trabalhadores formais e informais no acesso aos direitos trabalhistas/previdenciários, associado à uma política de EI que não apresenta um caráter universal, reproduz a desigualdade social entre as famílias, mantendo as mães na precariedade do trabalho e seus filhos na exclusão dos equipamentos educacionais.

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A configuração do cuidado aos idosos no Brasil

Brasil prestes a se tornar uma sociedade “em envelhecimento”;

Fragilidade do papel do Estado na estruturação de políticas sociais relacionadas aos idosos. Iniciativas experimentais e localizadas pouco sustentadas financeiramente e com baixa eficácia. Situação se agrava em relação aos idosos frágeis;

A Família é o local predominante da atenção ao idoso (Constituição, Estatuto do Idoso, normatizações na saúde e na assistência social);

As atividades de care para os idosos são realizadas no domicílio pelas mulheres – familiares, empregada doméstica, cuidadoras.

Page 7: O conflito entre trabalho e responsabilidades familiares no cuidado às crianças e idosos: tendências, desafios e políticas públicas no Brasil Profa. Dra

A configuração do cuidado aos idosos no Brasil

Política de Assistência Social (BPC) – Esse benefício ampliou o acesso a uma renda mínima de sobrevivência, mas a dificuldade de acesso ou a baixa qualidade das instituições e serviços públicos fundamentais para a assistência aos idosos, como os de saúde, p.e., novamente sobrecarrega as famílias no cuidado.

Para ampliar as ações de care aos idosos é necessário um sistema formal e eminentemente público de apoio. Criação de uma rede formada por centros de convivência, ILP, cuidado domiciliar formal, assistência ao cuidador familiar. Tais equipamentos devem fazer parte do Sistema Único de Assistência Social e serem geridos no contexto local.

Priorização da promoção e prevenção da saúde dos idosos com a consequente redução de custos e tempo com os cuidados.

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Considerações FinaisA relação entre acesso à EI e inserção produtiva das

mães revela que este serviço é muito importante no enfrentamento do conflito entre trabalho e vida familiar no Brasil.

1 – Sobre as oportunidades de trabalho das mães e, em alguns aspectos, sobre a qualidade do emprego feminino. Tal situação amplia as possibilidades de geração de renda para as famílias e contribui para o seu bem-estar.

2 – No cuidado das crianças possibilita maior acesso à alimentação, segurança, estimulação de habilidades, criatividade e autonomia, com resultados importantes na sua escolarização.

3 – A carga de trabalho doméstico não remunerado, no sentido da sua diminuição, frente à tradicional divisão sexual do trabalho no interior das famílias brasileiras.

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Considerações FinaisO Estado brasileiro avançou na provisão de uma renda mínima

para a população idosa, mas a provisão de serviços de saúde e de cuidados formais ainda é uma questão a ser equacionada. O cuidado com a população idosa deve atravessar a barreira da família e se constituir em um direito do cidadão.

Há uma estreita relação entre a inserção desigual das mulheres no mercado de trabalho e o acesso diferencial aos suportes de cuidado pelo mercado e Estado. A carência de mecanismos que “desfamilizem” os cuidados ajudam a perpetuar a pobreza, uma vez que limita a inserção das mulheres no mercado de trabalho, bem como dificulta a diminuição das desigualdades de gênero no trabalho e na família.

As políticas públicas devem se pautar pela neutralidade quanto ao gênero do cuidador.