o conceito de morte nas etapas da infância e da adolescência

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADE O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e Adolescência Por Rosangela Oliveira de Souza Trabalho apresentado em cumprimento às exigências da disciplina Tópicos Especiais em Psicologia XV (Tanatologia) professor Celso Lugão da Veiga Instituto de Psicologia 1

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Este trabalho apresenta o resultado de uma breve pesquisa entre as opiniões de vários autores que abordam o tema da morte nas etapas da infância e da adolescência.

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Page 1: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADE

O Conceito de Morte

nas Etapas da Infância e Adolescência

Por

Rosangela Oliveira de Souza

Trabalho apresentado em cumprimento às exigências da disciplina

Tópicos Especiais em Psicologia XV (Tanatologia)

professor Celso Lugão da Veiga

Instituto de Psicologia

AGOSTO – 2003

1

Page 2: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

“A chave para a questão da morte abre a porta para a vida.”

Elisabeth Kübler-Ross

“...a reflexão sobre a morte é uma reflexão sobre a vida. Não é possível analisar o sentido da vida

sem se deparar com problema do sentido da morte e vive-versa.”

José Luiz de Souza Maranhão

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Page 3: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

ÍNDICE

Introdução............................................................................................................. 1

Diferenças entre o conceito de morte para os adultos e para as crianças.......... 2

O luto saudável, o luto patológico e suas conseqüências.................................... 5

Como crianças e adolescentes lidam com a morte.............................................. 6

I – Primeira Infância (0 a 3 anos).................................................................. 6

II – Segunda Infância (3 a 6 anos)................................................................ 8

III – Terceira Infância (6 a 12 anos).............................................................. 10

IV – Adolescência (a partir dos 12 anos)...................................................... 11

Como ajudar crianças a compreender a morte e a lidar com o luto..................... 14

Considerações Finais........................................................................................... 16

Referências Bibliográficas.................................................................................... 17

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Page 4: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é apresentar o resultado de uma breve pesquisa

entre as opiniões de vários autores que abordam o tema da morte nas etapas da

infância e da adolescência.

É interessante observar que as concepções infantis sobre a morte vão se

modificando durante o desenvolvimento cognitivo. No entanto, embora as

manifestações peculiares a cada etapa possam ser didaticamente organizadas,

assim como são apresentadas neste trabalho, não significa que serão observadas

em todas as crianças ou que não sofrerão variações.

A experiência clínica em psicoterapia infantil, entre outras experiências com

crianças, confirmam este fato. A vivência de cada criança é singular e embora

referenciais de opiniões e comportamentos das crianças e dos adolescentes em

relação ao tema da morte e do luto possam ser estabelecidos, estes mesmo

referenciais não podem vir a tornar-se padrões.

Sobre o que é apresentado aqui, além do tópico que desenvolve o tema

proposto, há um que demonstra diferenças entre o que as crianças pensam e o

que os adultos pensam a respeito da morte. Outro trata das manifestações de luto

infantil de forma geral, independente da faixa etária, a partir do que foi coletado

das obras que serviram de referências.

Ao final, um tópico traz um apanhado do que os autores sugerem para

ajudar as crianças a entenderem a morte e a elaborarem o luto. Embora se trate

de opiniões que, em sua maioria, são dicas para os pais, as mesmas foram

consideradas relevantes para o desfecho deste trabalho.

Enfim, a escolha deste tema foi orientada pelo interesse de atuar

clinicamente com crianças. O preparo deste material foi fundamental para trazer

novos conhecimentos que, somando-se a outros, trouxeram informações

fundamentais para este início de atuação clínica. Além de aguçar o interesse por

ajudar crianças não somente enlutadas, mas as que inocentemente sofrem por

maus tratos de seus pais ou cuidadores, que muitas vezes não sabem como lidar

com elas.

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Page 5: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

DIFERENÇAS ENTRE O CONCEITO DE MORTE

PARA OS ADULTOS E PARA AS CRIANÇAS

As diferenças nas atitudes em relação à morte dependem do

desenvolvimento cognitivo, assim como do momento em que o evento ocorreu. É

necessário entender que as reações de cada pessoa são singulares pois refletem

sua personalidade e sua experiência de vida. Não há uma maneira única de

encarar a morte em qualquer idade. É o que propõem D. E. Papalia & S. W. Olds

(2000, p. 559).

G. Raimbault (1979, p. 171, 172) declara que é uma tarefa difícil diferenciar

os significados que a morte tem para um adulto em relação aos significados para

uma criança. Para a autora, a partir da aquisição da linguagem, a criança tem

representações singulares em relação à morte. Para E. Kübler-Ross (1989, p. 15)

a criança é incapaz de distinguir entre a vontade de matar alguém literalmente ou

matá-la de raiva, pois o inconsciente não faz distinção entre os dois pensamentos.

A criança não compreende o conceito de tempo, de futuro assim como um

adulto. Conseqüentemente, não distingue entre separações a curto prazo, a longo

prazo ou definitivas, conforme propõem R. Kastenbaum & R. Aisenberg (1983, p.

7). E. Kübler-Ross (1989, p. 15) também fala da noção de incontinuidade para a

criança em relação à morte quando opina que, não é incomum que a criança não

a distinga aquela de um divórcio, quando poderá rever um dos pais

posteriormente.

O pensamento de um indivíduo sobre o morrer, por não corresponder à

imagem de sua própria morte, foge à capacidade de ser representado. Para

imaginá-la, é preciso estar vivo, segundo J. L. S. Maranhão (1985, p. 65, 66).

Entende-se que a idéia que este autor quis transmitir é que a morte é

essencialmente algo que ainda não foi experienciado, portanto não existe uma

completude em relação a este conceito, já que não há como representar

significativamente a própria morte, como também não é possível explicar, com

embasamento científico, o que se passa após a morte de outrem. (p. 66, 67, 68).

R. Kastenbaum & R. Aisenberg (1983, p. 9) também concordam com esta

opinião ao declarar que a morte é uma “não-experiência”. As experiências de ter

visto uma pessoa, um animal ou uma planta mortos, para a criança contribuem a

favor da elaboração do conceito de morte, mas não preenchem totalmente esta

lacuna, pois nestes casos a morte é percebida somente “de fora”.

Confirmando as proposições acima, Wahl (citado por E. Becker, 1973, p.

32, 33) conclui que a morte é um “símbolo complexo” e não algo específico que

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Page 6: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

poderia ser definido para a criança. Para este autor, a morte não é um simples

estado e seu significado irá variar em cada pessoa e nas diversas culturas.

Monely (citado por Becker, 1973, p. 28) falou do medo da morte como um

“mecanismo da cultura”, usado contra o atemorizado como maneira de

submissão, ou seja, segundo este ponto de vista o medo da morte é considerado

uma criação da sociedade.

H. B. C. Chiattone (2001, p. 77) declara que é o homem social que constrói

sepulturas, realiza funerais, tornando a morte uma “ferida incurável do tempo que

passa”. Para ela a morte é assimilada pela inteligência, sendo porém a morte de

outrem e não a própria, conhecida pela consciência.

Conforme é citado por E. Becker (1973, p. 27) a idéia de morte é bastante

abstrata e afastada da experiência das crianças, que vivem num mundo cheio de

coisas vivas que se mexem, que reagem a estímulos, que a distraem. A criança,

inicialmente, não sabe o que significa a vida desaparecer para sempre. Só aos

poucos vai descobrindo e reconhecendo que há uma “coisa” chamada morte, que

leva as pessoas embora pra sempre. Mais à frente ela irá admitir que a morte leva

a todos embora.

Embora a idéia de morte seja abstrata, principalmente para crianças muito

pequenas ou que ainda não passaram por uma experiência de luto, as mesmas

têm suas próprias ansiedades, principalmente a de serem abandonadas,

aniquiladas. Estas ansiedades irão se desenvolver com moderação e terão um

papel benéfico, se a criança tiver boas experiências no contato com a mãe. À

medida que aquela for crescendo irá aceitar com racionalidade a morte como

parte do processo de existência (E. Becker, 1973, p.27). Rheingold (citado por

Becker,1973, p. 27) define que, em contrapartida a este processo saudável, a

partir das experiências hostis com a mãe, quando esta lhe causa privações, a

angústia de ser aniquilada vai sendo formada. Então o medo de morrer, de ser

destruída, embora tão primitivo quando assim representado pela criança, não é

algo natural nela.

Em se tratando de luto pela morte de um ente querido, geralmente, assim

como adultos que perderam uma pessoa amada, as crianças sentem pesar e

passam por um período de luto segundo J. Bowlby (1990, p. 46). Ele considera

que uma grande diferença é que os sintomas de um processo de luto infantil

seriam considerados patológicos se fossem observados em um adulto. (p. 47)

Seria uma resposta comportamental natural na criança, o protesto agressivo pela

perda, o desejo de tentar trazer a pessoa de volta, além da atribuição da culpa à

mesma por ter morrido (p. 48).

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Page 7: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

Embora haja a ciência de que tais manifestações de pesar sejam comuns

entre adultos enlutados, entende-se que o que Bowlby quis propor, é que a

perduração dessas manifestações em adultos revelaria um caráter patológico do

luto, enquanto que as mesmas manifestações perdurando no comportamento de

crianças que sofreram uma perda não seriam, tão igualmente, um sinal de luto

patológico.

H. B. C. Chiattone (2001, p. 69) a partir de sua atuação junto a crianças

hospitalizadas que sofrem de doenças terminais, foi concluindo que a vivência da

doença, do tratamento e da evolução para a morte levam a uma percepção e

elaboração precoce e antecipada do conceito de morte. D. E. Papalia & S. W.

Olds (2000, p. 559) também falam dessa possibilidade, argumentando que é

comum que crianças em idade pré-escolar percebam a iminência de sua própria

morte, ao estarem hospitalizadas.

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Page 8: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

O LUTO SAUDÁVEL, O LUTO PATOLÓGICO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

Para J. Bowlby (1990, p. 49) um dos principais sintomas do luto patológico

de uma criança, é a incapacidade para expressar abertamente seus sentimentos.

Neste caso, ele esclarece que estes sentimentos são impulsos ambivalentes, o

que quer dizer que expressam, paradoxalmente desejo e raiva pela pessoa

perdida. São sentimentos que persistem e influenciam o comportamento e

conforme vão sendo emitidos vão sendo gradualmente abandonados (p. 52).

Quando estes impulsos ambivalentes não são expressos, se separam e são

reprimidos, passando a se manifestar no comportamento de forma distorcida ,

podendo posteriormente dar origem a distúrbios de caráter e neuroses

patológicas. (p. 49).

G. Raimbault (1979, p. 173) menciona que é sinal do luto infantil o auto-

erotismo, quando a criança passa a rejeitar brinquedos que antes eram muito

estimados por ela, buscando uma auto-satisfação ao balançar seu corpo, sugar o

polegar, além de perder o apetite, enrolar-se na cama na posição fetal, ter

pesadelos e enurese noturna, entre outros.

H. B. C. Chiattone (2001, p. 87, 88) também menciona sintomas do luto,

considerando a rejeição aos alimentos, transtornos do sono, dificuldades

escolares e transtornos neuróticos como “microssuicídos”, o que pode evoluir

para um estado de compulsão de repetição em busca de explicações sobre a

morte.

Quando uma perda numa idade tenra não é elaborada, assimilada, os

estados depressivos e outros distúrbios psicopatológicos se manifestam com

freqüência, conforme argumenta G. Raimbault (1979, p. 177).

Em seu artigo “Dos Que Se Foram aos Que Ficam” T. Menai (2001)

explana as principais idéias da autora Jill Broke em seu livro “Don’t Let Death

Ruin Your Life” (Não Deixe a Morte Arruinar Sua Vida). J. Broke a partir de uma

longa pesquisa histórica que realizou, descobriu que muitos personagens que

foram ou hoje são líderes, vencedores, revolucionários, inovadores ou artistas

famosos como Alexandre O Grande, Michelangelo, Napoleão Bonaparte, Francis

Bacon, Eleanor Roosevelt, Eva Perón, Bill Clinton, Paul McCartney, entre outros,

enfrentaram a perda de um dos pais na infância. Para Broke, o luto pode ter sido

a alavanca que impulsionou estes personagens em direção à glória e grandes

realizações. Ela ainda diz que crianças que enfrentam o luto são forçadas a

introspecção e ao exame dos mistérios da vida, concluindo portanto que nem

sempre o luto é prejudicial.

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Page 9: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

COMO CRIANÇAS E ADOLESCENTES LIDAM COM A MORTE

Algumas concepções de vários pesquisadores e autores que tratam de

temas relacionados ao desenvolvimento humano e à morte, podem ser melhor

entendidas empregando a divisão de etapas do desenvolvimento infantil utilizada

por D. E. Papalia & S. W. Olds (2000) em sua obra “Desenvolvimento Humano”.

A seguir são apresentadas várias das principais noções sobre o conceito

de morte observados em crianças e adolescentes, enquadradas nas divisões

propostas pelas autoras.

I – PRIMEIRA INFÂNCIA (0 a 3 anos)

Poucos autores definem o que crianças tão pequenas sentem ou pensam

em relação à morte. Supõe-se que este fato é decorrente das características

cognitivas desta faixa etária. De acordo com a abordagem piagetiana citada por

D. E. Papalia & S. W. Olds (2000, p. 128), especificamente no estágio sensório-

motor, os bebês entendem e aprendem sobre o meio em que vivem a partir de

sua própria atividade sensória e motora, organizando suas ações em relação ao

ambiente e coordenando as informações recebidas. Crianças até os dois anos,

segundo J. Piaget, utilizam o método de tentativa e erro para resolver seus

problemas. Para J. Bowlby (1985, p. 452) o desenvolvimento cognitivo é

entendido como a passagem de uma criança por fases, orientando seu

comportamento a deixar de depender somente de estímulos, passando a ser

guiado por regras que combinem informações perceptuais e conteúdos

mnêmicos. A partir daí ela começará a ser capaz de prever com determinada

certeza o que pode acontecer ao seu meio, planejar e reagir de maneira mais

adequada.

A par destas abordagens, entende-se a dificuldade de propor o que é

sentido, vivenciado por crianças pequenas em relação à morte, na medida em

que se trata de um conceito abstrato (E. Becker, 1973, p. 27). Segundo a

abordagem piagetiana (citado por D. E. Papalia & S. W. Olds, 2000, p. 129)

somente por volta de 18 a 24 meses é que a criança sabe representar

mentalmente os acontecimentos, não se limitando mais à tentativa e erro para

resolver seus problemas. Nesta idade o pensamento simbólico permite que ela

comece a pensar sobre os acontecimentos e suas conseqüências, a demonstrar

compreensão. No entanto, entende-se que este não é o início do uso da

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Page 10: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

compreensão o que é ainda insuficiente para apreender um conceito tão abstrato

quanto a morte.

O único contato que uma criança nesta faixa etária provavelmente teria

com a idéia de morte seria a partir de suas experiências de separação de figuras

de apego. J. Bowlby (1985, p. 437 a 460) observou o comportamento de crianças

ao serem afastadas de suas mães e a partir disto pode elaborar várias hipóteses

a respeito do sofrimento dos bebês em relação ao afastamento das suas

genitoras. Além destas observações, realizou outras em relação a crianças

pequenas que enfrentaram o luto pela morte de um dos pais ou outra figura da

família. A. Gesell (citado por H. B. C. Chiattone, 2001, p. 89) confirma estas

hipóteses ao especificar que antes dos três anos a criança não entende a idéia de

morte, preocupando-se somente com a separação.

Quanto mais nova é a criança, mais difícil é conceituar suas reações em

relação à perda da mãe, segundo J. Bowlby (1985, p. 437). Para ele, há razões

para crer que as crianças pequenas, a partir de 16 meses, têm capacidade para

vivenciar um luto, o que quer dizer que são capazes de construir e conservar a

imagem de uma mãe perdida, diferenciando de um substituto para a esta. (p. 463,

464).

Assim como, quanto mais jovem é um embrião, mais prejudicial é a uma

lesão por menor que seja, quanto mais jovem a criança, maiores serão os efeitos

da perda, segundo Raimbault (1979, p. 172). Quando uma criança perde uma

figura provedora, como por exemplo um dos pais, é como se um adulto perdesse

um objeto de amor, pois para a criança é exatamente este o papel ocupado por

um provedor. Além de provedor, pai, mãe ou ambos representam a base

identificatória da criança (p. 177).

Crianças nesta idade raramente se perturbam com a notícia da morte de

uma pessoa, pois não têm idéia do que a morte significa (D. E. Papalia & S. W.

Olds, 1981, p. 284). Kastenbaum e Aisenberg (1983, p. 10) declaram que embora

entendam que muitos autores afirmam que crianças pequenas não tenham

compreensão da morte, não concordam em absoluto que esta proposição seja

real pois crêem que há muitos modos pelos quais a mente de um bebê possa

entrar em relação com a morte.

Segundo D. E. Papalia & S. W. Olds (2000, p. 566) estas seriam algumas

manifestações de luto em crianças dessa idade: regressão, tristeza, medo, perda

do apetite e do vigor, transtorno do sono, retraimento social, retardo do

desenvolvimento, irritabilidade, choro excessivo aumento da dependência e perda

da fala.

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Page 11: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

II – SEGUNDA INFÂNCIA (3 a 6 anos)

Devido ao egocentrismo que para J. Piaget (citado por D. E. Papalia & S.

W. Olds, 2000, p. 198) está na essência do pensamento limitado da maioria das

crianças desta idade, elas têm dificuldade para distinguir entre sua própria

realidade e a que ocorre em seu meio. Em virtude disto, não são capazes de

compreender a morte pois ela está além de sua experiência pessoal (D. E.

Papalia & S. W. Olds, 2000, p. 559).

H. B. C. Chiattone (2001, p. 90) concorda com esta hipótese ao pressupor

que crianças nesta faixa etária mantêm pensamentos concretos por ainda serem

egocêntricas. Muitas vezes a vivência da doença e a morte são interpretadas por

crianças hospitalizadas como punição, segundo a opinião da autora.

O medo da morte emerge por volta dos cinco ou seis anos segundo D. E.

Papalia & S. W. Olds (1981, p. 284). As crianças se sentem perplexas diante

deste fato e não compreendem que é definitivo. Consideram que é causado por

violência e não como algo que faz parte da vida. A idéia de reencarnação é

comum entre elas e podem imaginar que se uma pessoa morta for levada para a

emergência de um hospital ou alimentada e aquecida, poderá voltar à vida.

D. E. Papalia & S. W. Olds (1981) argumentam que este conceito de

impermanência é alimentado pelas idéias fantásticas transmitidas pelos contos de

fadas e pelos desenhos animados, onde as princesas revivem ao receber um

beijo do príncipe encantado e os personagens que sofrem acidentes ao caírem de

aviões ou penhascos, ou após serem esmagados, voltam à vida nas cenas

seguintes.

Para R. Kastenbaum & R. Aisenberg (1983, p. 20) a criança nesta idade

não reconhece que a morte é final, encarando-a como uma continuidade da vida.

Para ela estar morto significa uma “diminuição de estar vivo”. Estes autores citam

alguns dados da pesquisa realizada em 1948 por Maria Nagy (p. 20, 21) ao

entrevistar 378 crianças de três a dez anos, que viviam em Budapeste, na

Hungria a respeito do que pensavam sobre a morte. Entre as respostas das

crianças de três a cinco anos, estavam que a morte é uma partida, é um sono, ou

seja, tais respostas negam a possibilidade da morte, na opinião de R.

Kastenbaum & R. Aisenberg. Outra resposta foi que a morte é uma etapa da vida

mas se constitui de um processo gradual e temporário, ou seja, segundo os

mesmos autores, a criança não separa a vida da morte com um acontecimento

único, como ocorre de fato.

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Page 12: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

W. C. Torres (1996, p. 22) também cita o trabalho de M. Nagy e entende

que as respostas das crianças desta faixa etária são caracterizadas pelo

animismo típico na infância. Segundo W. C. Torres, para a criança até os cinco

anos, não existe a “não-vida”, a morte é um evento impossível.

L. M. Santos esclarece que a criança nesta idade costuma ter muitas

dúvidas e fazer muitas perguntas em relação à morte, o que se intensifica quando

ela ocorre a algum conhecido. A autora também conclui que geralmente a criança

não entende que é um evento definitivo. H. B. C. Chiattone (2001, p. 90)

igualmente propõe a idéia de que a morte para a criança não é algo definitivo,

permanente. Nesta idade a morte significa uma ausência, uma separação

provisória. À semelhança do sono, é reversível, pois ainda não possui noção

definitiva de causa e efeito. A não ser que ocorra a um de seus pais, a criança

pode parecer insensível à morte de um familiar, por não demonstrar reações

afetivas intensas.

A. Gessel (citado por H. B. C. Chiattone, 2001, p. 91) revela que aos seis

anos a criança adquire uma nova consciência a respeito da morte e pode

apresentar reações afetivas mais evidentes diante do falecimento de alguém

próximo, além de manifestar medo da morte de um dos pais. No entanto a criança

ainda não entende ou acredita que um dia ela própria morrerá.

Um estudo realizado em 1984 por P. A. Rosenthal & Rosenthal (citado por

D. E. Papalia & S. W. Olds, 2000, p. 572) com 16 crianças de dois e meio a cinco

anos, demonstrou, dentre outras causas que as motivaram a tentar o suicídio, a

crença de que a morte é reversível.

M. Trozzi argumenta que é difícil para uma criança nesta idade lidar com o

luto e a mudança que ele ocasiona em sua vida, usando o comportamento para

comunicar aos adultos o que ela está sentindo.

São sintomas orgânicos e psíquicos do luto nesta idade segundo D. E.

Papalia & S. W. Olds, (2000, p. 566): prisão de ventre, enurese, acessos de raiva

e mau humor, pesadelos, comportamentos descontrolados e períodos de choro,

entre outros.

Segundo G. Raimbault (1979, p. 177) quando a criança pequena perde um

dos pais, ela poderá identificar-se com ele, apresentando sintomas que lembram

o que causou a morte deste genitor. Outra forma de aproximação das

características do falecido é o pensamento de que ela também vai morrer, o que a

tornaria semelhante a ele.

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Page 13: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

III – TERCEIRA INFÂNCIA (6 a 12 anos)

Para L. M. Santos nesta idade a criança começa a entender e aceitar que a

morte é irreversível, mas acredita que somente pessoas velhas ou vítimas de

acidentes morrem. D. E. Papalia & S. W. Olds (1981, p. 284) também falam da

idéia de irreversibilidade da morte para esta faixa etária e da tendência de nesta

idade associarem a morte a causas concretas como câncer, revólveres, tóxicos,

veneno.

A pesquisa de Maria Nagy (citada por R. Kastenbaum & R. Aisenberg,

1983, p. 20, 21), traz como respostas das crianças de cinco a oito anos sobre o

que pensavam sobre a morte, o conceito de que a morte é uma personagem

separada, ou seja, é uma pessoa morta, um esqueleto, um anjo ou algo

semelhante. Nesta etapa então, a criança compreende que a morte é final, mas

conserva a idéia de que pode ser evitada e não é para todos. Acrescentando a

interpretação de W. C. Torres (1996, p. 22) a respeito da obra de M. Nagy, na

idade de nove e dez anos a criança reconhece a morte como cessação das

atividades do corpo e dissolução da vida do corpo.

H. B. C. Chiattone (2001, p. 92) cita que aos nove anos surgem as mais

importantes estruturas cognitivas. A criança abandona a idéia de temporalidade e

reversibilidade. A autora cita A. Gessel (p. 92) que relata que nesta mesma idade

a criança busca explicações para a inércia e o torpor do morto, na biologia. Mas

não quer dizer que saiba dar explicações biologicamente essenciais, sendo isto

possível por volta dos onze anos (p. 93).

Para W. C. Torres (citado por H. B. C. Chiattone, 2001, p. 92) nesta etapa

as crianças já fazem oposição entre vida e morte e não atribuem vida e

consciência a um morto, reconhecendo sua imobilidade.

Chegando aos dez anos a criança começa a entender que morrer faz parte

da ordem natural da vida e que as pessoas de todas as idades estão destinadas a

morrer e por várias causas diferentes. (L. M. Santos / R. Kastenbaum & R.

Aisenberg, 1983, p. 21). Para H. B. C. Chiattone (2001, p. 93, 94) nesta idade a

oposição entre a vida e a morte torna-se mais radical. A morte torna-se uma

ameaça pessoal e definida como permanente e como uma parada da vida

corporal. A partir de explicações lógicas que são dadas por esta idade, entende-

se que é estabelecido um conceito formal.

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Page 14: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

D. E. Papalia & S. W. Olds (1981, p. 284) definem que no desfecho desta

etapa do desenvolvimento, os pré-adolescentes normalmente compreendem que

a morte vem para todos e que não precisa ser vista como punição ou violência,

mas como parte da vida.

São sintomas do luto nesta faixa etária: queda no rendimento escolar

(causada pela perda da concentração, desinteresse, falta de motivação, fracasso

em completar as tarefas, devaneios durante as aulas), resistência em ir à escola,

períodos de choro, mentiras, roubos, nervosismo, dores abdominais, dores de

cabeça, fadiga. (D. E. Papalia & S. W. Olds, 2000, p. 566).

L. M. Santos ainda destaca que embora a criança de seis a oito anos, em

média, aparentemente não esteja sofrendo quando alguém próximo a ela morre,

ela expressa sua dor de formas sutis como regredir e começar a chupar o dedo,

molhar a cama e agir como um bebê, além de tratar os seus colegas com

hostilidade e seus brinquedos com violência. Além de desejar morrer ou temer a

morte.

IV – ADOLESCÊNCIA (a partir dos 12 anos)

A adolescência é um período de perdas. A perda do corpo infantil para a

aquisição do corpo adulto, a perda da identidade e dos papéis infantis e dos pais

da infância. Por estes motivos, a adolescência é considerada como um período de

luto por M. Sarvasi (1985, p. 238, 244). Para esta autora, o adolescente reage à

morte como qualquer adulto, mas ele é, em especial, “um terreno fértil para o

aumento significativo das emoções contraditórias frente à morte e ao luto”.

M. Sarvasi (1985, p. 238) acredita que os adolescentes, em sua maioria,

têm pouco contato com a morte em um sentido próximo – de amigos e parentes.

O contato ocorre normalmente só através dos meios de comunicação, o que se

reduz a uma influência que não orienta a uma compreensão adequada sobre que

é a morte. A elaboração de conceitos a partir deste tipo de contato acaba

conduzindo a um medo da morte e das conseqüências da violência e da

destruição.

Para o adolescente a morte se manifesta muitas vezes como um

acontecimento assustador, incompreensível que torna o mundo real em uma série

de ameaças de destruição, fazendo o adolescente se sentir impotente o que o

leva a uma diminuição de sua auto-estima. O adolescente reconhece sua postura

indefesa diante da morte, o que pode levá-lo a reconhece-la como um

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Page 15: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

acontecimento doloroso em demasia ou evitar sua compreensão através de

reações apáticas ou de afastamento em relação à dor e ao sofrimento, em busca

de um prazer compensatório. (M. Sarvasi 1985, p. 238).

Segundo a opinião de D. E. Papalia & S. W. Olds (2000, p. 559), os

adolescentes normalmente não pensam muito sobre a morte, já que se encontram

na eminência de construir suas próprias vidas. Eles tendem a acreditar que são

invulneráveis, não se importando de correr riscos imprudentes como pegar carona

com estranhos, dirigir com imprudência, experimentar drogas e sexo de forma

promíscua. Normalmente se interessam mais pela maneira “como” vivem ao invés

de “quanto” tempo viverão.

Esta maneira de enxergar a vida pode ser a explicação para o alto índice

de suicídio de adolescentes. Eles têm uma propensão à baixa-estima,

desesperança em relação ao futuro, um fraco controle sobre seus impulsos e

pouca tolerância a frustrações e situações estressantes. Portanto este quadro

emocional que muitos adolescentes apresentam, podem levá-los a tentar o

suicídio como alternativa de escape a esta etapa atribulada da vida. (D. E. Papalia

& S. W. Olds, 2000, p. 572). Para M. Sarvasi (1985, p. 240) os adolescentes

procuram um significado para a morte na experiência com drogas que constituem

uma prática suicida segundo a autora.

Segundo D. E. Papalia & S. W. Olds (2000, p. 566) os principais sintomas

do luto na adolescência são: depressão, queixas somáticas, comportamento

delinqüente, promiscuidade, tentativas de suicídio e abandono da escola.

M. Sarvasi (1985, p. 241) propõe que, assim como um adulto, o

adolescente passa pelos estágios do luto descritos por E. Kübler-Ross e procura

identifica-los à realidade desta fase do desenvolvimento, analisando-os da

seguinte maneira:

1) ESTADO DE CHOQUE – é o momento da revelação de que a própria morte ou

de um ente querido se aproxima. É um período que varia no tempo de duração e

nos efeitos comportamentais que podem ser influenciados pela formação, idade,

crença religiosa e estrutura do caráter. Durante um tempo o adolescente tentará

viver como se nada tivesse acontecido.

2) A NEGAÇÃO – o adolescente traumatizado se rende à superação do choque e

procura entender o sentido do encontro com a morte. Então começa o agonizante

2° estágio que é o da tentativa de racionalizar o acontecimento, o que vem a

tornar-se a negação do fato.

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3) A CÓLERA – o adolescente passa a ver o mundo que o rodeia como um

inimigo em alguns momentos. Se for ele que estiver à beira da morte, passará a

entender que poderá nunca mais voltar a participar da mesma maneira daquele

mundo. Seu comportamento poderá se tornar agressivo e desesperado,

principalmente porque anteriormente sua posição era onipotente, no sentido de

que se percebia como o único dono de um destino sem frustrações.

4) A DEPRESSÃO – neste momento há subtração de sua comunicação com o

mundo e os que o rodeiam, o que gera desconfiança, apatia e solidão.

5) A BARGANHA – a depressão é interrompida repentinamente e o adolescente

recomeça a raciocinar, se sentindo num combate contra a morte, tentando fazer

pactos, promessas, procurando negociar.

6) A ACEITAÇÃO – é a etapa do progresso para o entendimento de outra

modalidade de existência: a esperança.

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Page 17: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

COMO AJUDAR CRIANÇAS A COMPREENDER A MORTE E A LIDAR COM O LUTO

J. L. S. Maranhão (1986, p. 10) fala da preocupação da sociedade

contemporânea em instruir as crianças sobre assuntos como sexualidade,

concepção, nascimento, métodos de contracepção, em detrimento de

esclarecimentos sobre o tema da morte. É guardado silêncio diante dos

questionamentos das crianças, da mesma maneira que em épocas passadas era

feito em relação aos temas sobre sexualidade, os quais na atualidade são mais

tranqüilamente abordados. O autor, a partir destes fatos, acredita que a condição

de tabu, que pertencia ao tema sexualidade deslocou-se para o tema morte.

E. Kübler-Ross (1989, p.18) também considera que a morte é encarada

pela sociedade como tabu e os debates sobre o assunto são encarados como

mórbidos. As crianças são afastadas deste tipo de discussão por muitos

considerarem que seria pesaroso demais para elas. Na opinião da autora, permitir

que crianças compartilhem das conversas, das discussões e dos temores quando

alguém morre, as leva a perceber que não estão sozinhas e podem partilhar sua

tristeza, o que seria uma experiência que pode ajuda-la a amadurecer. Assim a

criança será gradualmente preparada para encarar a morte como parte da vida.

Quando as crianças perguntam o que houve com quem desapareceu, a

resposta muitas vezes é “ele foi fazer uma longa viagem” ou “está descansando

em um bonito jardim” declara J. L. S. Maranhão (1986, p. 10). Para L. M. Santos e

J. Bowlby (1985, p. 283) deve-se evitar utilizar metáforas do tipo “o vovô está

dormindo pra sempre” para explicar a morte de alguém, pois não irá ajudar muito

e sim confundi-la. E exatamente como conseqüência deste último exemplo, a

criança pode ficar com medo de dormir.

Dizer para uma criança que quem morreu “foi para o céu”, embora seja a

crença de muitos, pode não ser esclarecedor. Ela pode pensar que o céu não é

diferente de outros lugares distantes, por isso a volta seria só uma questão de

tempo (J. Bowlby, 1985, p. 283). Para R. Kastenbaum e R. Aisenberg (1983, p.

15) explicações adultas ambíguas a respeito da morte podem confundir a criança

pequena quando esta faz perguntas em relação à morte, buscando entendê-la.

Pode-se ajudar as crianças a compreender a morte encorajando-as a falar

a respeito do assunto em qualquer idade, desde a mais tenra, no contexto de sua

própria experiência. Isso quer dizer que são oportunidades ideais para fazê-lo, a

morte de um animal, ou de flores. (D. E. Papalia & S. W. Olds, 2000, p. 559).

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Quando uma criança deseja que a mãe morra porque não satisfez seus

desejos, caso a mãe venha morrer, a criança ficará muito traumatizada mesmo

que o acontecido não tenha ligação com o desejo que a mãe fosse destruída. A

criança acabará assumindo toda a culpa pela morte da mãe. (E. Kübler-Ross,

1989, p.15).

É importante que os pais ou responsáveis esclareçam para a criança que a

morte é definitiva e que seu mau comportamento ou pensamentos não foram o

que ocasionaram a morte. É fundamental responder às perguntas de maneira

simples e honesta e estimular a criança a falar sobre a pessoa que morreu. Além

disso, precisam ser tranqüilizadas de que continuarão recebendo cuidado e

atenção de adultos que as amam. (D. E. Papalia & S. W. Olds, 2000, p. 556).

L. M. Santos também ressalta a importância de conversar com a criança

sobre o assunto, quando uma pessoa morre, de que seja incentivada a se

expressar também, sinalizando a ela que é permitido falar sobre a pessoa que

morreu. No entanto a autora também ressalta a importância de cercar a criança

de afeto e assegurar que ela é amada, pois o ambiente carregado de tristeza

pode deixa-la insegura.

Um adolescente enlutado pode se sentir constrangido de compartilhar sua

dor com pessoas que não são íntimas, então ele se sentirá mais à vontade na

companhia de quem ele se identifica. (D. E. Papalia & S. W. Olds, 2000, p. 556)

J. L. S. Maranhão (1986, p.18) destaca que o velório é considerado por

muitos como uma cerimônia tão traumatizante que muitas vezes as crianças são

afastadas dela. A autora L. M. Santos fala da importância do funeral para que as

pessoas se unam e expressem sua dor, por isso considera uma boa idéia levar a

criança, mas sem força-la a ir, explicando com detalhes o que irá acontecer lá e

deixar que a criança decida se quer ir ou não.

Não há problema em um adulto expressar seu luto diante da criança,

acredita L. M. Santos, esclarecendo que assim procedendo, o pai ou a mãe a

estará auxiliando no seu processo de luto, pois sendo a situação triste, a criança

precisa expressar sua tristeza. A opinião de M. Trozzi confirma estes argumentos

quando ela aborda o fato de que um adulto expressar o luto diante da criança é

algo positivo, desde que os sentimentos sejam explicados, pois garante a ela que

irá continuar recebendo cuidados, mesmo de quem está triste.

L. M. Santos ressalta que é fundamental esclarecer à criança que a relação

dela com quem se foi não acabou, somente mudou. Manter as fotos e outras

lembranças para conversar com a criança ajudará a formar um novo tipo de

vínculo com a pessoa que morreu.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos conceitos abordados aqui, pode-se ter noções do que uma

criança ou um adolescente sente quando o tema da morte precisa ser encarado

por eles. Mas as reflexões geradas a partir da elaboração desta síntese de

opiniões, leva a crer que auxiliar crianças e adolescentes na elaboração do

conceito de morte e no luto é uma tarefa que pode ser bastante árdua, que exige

coragem, competência e compaixão dos pais, do terapeuta, e outros, entre tantos

possíveis cuidadores.

Segundo as opiniões de alguns autores citadas aqui, o tema da morte é

considerado um tabu pela sociedade, de uma maneira geral. Entende-se a

implicação deste fato para que, principalmente crianças possam entender a

dimensão do acontecimento da morte e saibam lidar com o luto de maneira sadia.

Tratar o assunto como tabu não ajuda a cuidar da “ferida emocional“, resultante

do luto, que pode vir a piorar, redundando em conseqüências sérias no futuro

para o próprio indivíduo, para sua família e muito provavelmente para a

sociedade.

Assim como em cada momento de descoberta sobre a vida, a criança e o

adolescente necessitam de orientações quando o assunto é a morte, a qual não

deixa de fazer parte da aventura humana – a vida – pois é o desfecho dela.

As demandas são as mais variadas: crianças que viram um passarinho

morto e questionam o que significa “aquilo”. Outras que mesmo tão habituadas a

participar de jogos e assistir desenhos animados que têm como temas a violência,

personagens ensangüentados e assassinatos, ainda não entendem o significado

da morte e por isso não conhecem as conseqüências de atirar em um colega de

escola ou em um membro da família.

Há aquelas que perderam alguém próximo e quando muito pequenas não

compreendem que esta pessoa amada não irá voltar e quando maiores não

aceitam que ela não irá voltar. Algumas que vêem a própria morte se aproximar

em um leito hospitalar e necessitam de apoio para que vivam seus últimos dias de

maneira digna e feliz, mesmo em meio à dor.

Enfim, falta citar as crianças que convivem com a violência e a morte todos

os dias, em sua vizinhança ou residência, seja ela uma pequena casa numa

favela, uma barraco no morro ou apenas caixas de papelão esticadas embaixo de

um viaduto ou de uma marquise de uma rua de uma cidade grande.

Como ajuda-las se as situações são tão variadas e diversas? Não somente

deve ser elaborada esta questão, mas também propostas que possam ser

colocadas em prática. Se for papel também dos “mais informados” buscar

soluções para questões difíceis da vida, eis aqui mais uma delas.

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Page 20: O Conceito de Morte nas Etapas da Infância e da Adolescência

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