mÓdulo i – infância, adolescência, família e sociedade

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  • Infncia, Adolescncia, Famlia e Sociedade

    Autores:

    Maria Cludia Santos Lopes de Oliveira (coordenadora)

    Samuel Costa

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  • OS AUTORES

    Maria Cludia Oliveira psicloga, professora da rea de Desenvolvimento Humano e Educao, na graduao regular eEAD. Possui mestrado e doutorado pelo Instituto de Psicologia da Universidade de Braslia. Atua na formao de psiclogos ede professores. Realiza pesquisas sobre juventude contempornea, socializao e infrao.

    Samuel Costa da Silva telogo e socilogo, tendo atuado como professor da rea de Sociologia e Cincia Poltica emdiversas instituies do pas. Atualmente desenvolve pesquisas sobre direitos humanos, urbanidade e juventude.

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  • APRESENTAOCaro cursista,

    Comeamos aqui uma jornada de estudos que tem como objetivo favorecer uma melhor compreenso e reflexo sobre otrabalho que realizamos no contexto das medidas socio-educativas. Voc j demonstrou que uma pessoa comprometidacom a qualidade do seu trabalho por isso est aqui!!!

    Neste Mdulo, que tambm o primeiro do Curso de Formao, vamos estudar as relaes e a interdependncia entre odesenvolvimento de crianas e adolescentes e a organizao da famlia e da sociedade. Veremos como as concepes sobreinfncia e adolescncia modificaram-se na histria, ao mesmo tempo em que se transformavam a famlia, a escola, asrelaes de trabalho e a sociedade, como um todo.

    Esperamos que voc goste e que, juntos, aprendamos muito!!

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  • UNIDADES DE ENSINO DO MDULOO Mdulo 1 est organizado em seis Unidades de Ensino, a saber:A democratizao e o reconhecimento da infncia eadolescncia;Novos contornos da famlia na sociedade contempornea;Conceitos de adolescncia e a contemporaneidade;Fatores de risco e teorias explicativas sobre o fenmeno da adolescncia em conflito com a lei;Drogas e adolescncia; eSociedade do Controle, violncia e a cidade.

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  • OBJETIVOS

    Objetivo geral:

    Ao final deste Mdulo, esperamos que voc tenha ampliado e transformado sua compreenso sobre a relao entre a histriasocial e as concepes sobre a infncia e a adolescncia, ajudando-o a melhor compreender nossas crianas e adolescentes.

    Objetivos especficos:Compreender o carter histrico-social das categorias de infncia, adolescncia, famlia e sociedade esua configurao na contemporaneidade;Identificar os principais fatores associados produo social da delinquncia e suasimplicaes no desenvolvimento do adolescente e do jovem contemporneo; eIdentificar oportunidades de articulao entreos conceitos estudados e as intervenes efetuadas nos programas voltados para os adolescentes.

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  • ORIENTAES PARA SEU SUCESSO NOS ESTUDOSPlaneje bem o seu tempo e evite descumprir esse planejamento.Procure ter uma viso geral e outra do contedo especficode todas as Unidades que integram o Mdulo, navegando por todo o Guia de Estudos de cada um deles, antes de seaprofundar nos temas e contedos das respectivas Unidades. fundamental que voc siga os links indicados em cada pginado Guia de Estudos, para ter acesso aos contedos de cada link. Esses contedos so parte dos estudos de cada Mdulo.Adicionalmente, a cada Mdulo sero apresentados textos, filmes e outros materiais complementares, sendo que estes soopcionais.Realize as atividades de auto-aprendizagem preferencialmente na ordem em que se acham posicionadas em meioaos estudos propostos, o que facilitar a articulao entre suas aprendizagens.Utilize o Frum de Discusso e recorra aostutores com frequncia para que estes possam acompanh-lo/a e apoi-lo/a no processo de estudo e aprendizagem.

    B O M T R A B A L H O ! ! !

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  • UNIDADE 1 - A democratizao e o reconhecimento da infncia e adolescncia

    Ol, seja bem vindo/a Unidade 1

    Nela, vamos tratar dos seguintes temas:A histria social da infncia e da adolescncia no Brasil e no mundo;O papel daescola e das modernas relaes de trabalho na construo histrica e social da adolescncia;eInfncia e adolescncia:transformaes contemporneas.

    Nesta Unidade de Ensino temos por objetivo apresentar e desenvolver, utilizando para isso vrios recursos, o argumento deque a infncia e a adolescncia no so simplesmente fenmenos naturais e biolgicos a partir do nascimento, mascaracterizam-se como fenmenos histricos e sociais.

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  • Introduo

    Estamos acostumados a enxergar na infncia a fase de brincar, ir escola, jogar e sonhar. Por isso, esquecemos que estano uma condio presente do mesmo modo em todas as sociedades, grupos ou classes sociais.

    Porque prezamos a ideia de que as crianas necessitam de cuidado e proteo, alm do direito brincadeira, imaginao, educao e sade, somos levados a pensar que esta uma forma natural e universal de tratamento concedido a todas ascrianas. Mas, como veremos ao longo dessa Unidade, a descrio acima corresponde a uma forma particular deexperimentar a condio infantil, historicamente datada e condicionada.

    Para comear, voc est convidado a realizar a seguinte atividade:Assista ao vdeo A Inveno da Infncia. Ele apresentauma reflexo sobre o que significa ser criana no mundo contemporneo: ser criana no significa ter infncia e, no Brasil, adepender da condio das famlias, vrias infncias so encontradas.

    Caso voc tenha dificuldade em acessar ao filme diretamente no link acima, sugerimos abrir uma nova janela no seucomputador e buscar o filme no portal http://www.portacurtas.com.br

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  • Infncia e adolescncia: construo social 1

    Antes do sculo XVIII, era muito tnue, quase inexistente, a conscincia coletiva sobre as especificidades enecessidades da infncia.

    Ignorava-se que as crianas fossem dotadas de uma personalidade, ou alma, existente desde o nascimento. A criana podiaser percebida tal como um animal de estimao, um anjo ou um selvagem. A mortalidade infantil era numerosa, mesmonas famlias mais abastadas e, ao morrerem, com frequncia, as crianas eram enterradas no prprio ptio domstico, sembatismo. Quando sobreviviam primeira infncia, podiam viver anos sem que lhes fosse atribudo um nome prprio.

    Aquelas que sobreviviam s doenas dos primeiros anos, s pestes e a outros males, mal adquirindo algum desembaraofsico, logo passavam a se misturar s rodas de adultos, no trabalho e nas festas.

    Como, na maior parte das famlias o trabalho era realizado no prprio ambiente domstico, brincar e trabalhar eramatividades que se misturavam, levando as crianas a migrarem diretamente posio de trabalhadores, sem passar pelaadolescncia e juventude, tal como as conhecemos nos dias atuais.

    So costumes estranhos, se os analisamos luz das concepes que hoje temos, quando identificamos nas crianassujeitos de todos os direitos humanos, individuais e sociais.

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  • Infncia e adolescncia: construo social 2

    Cada tempo e lugar definem concepes especficas sobre a infncia e a adolescncia. Em diferentes tempos e lugares, infncias vo sendo construdas e cada uma guarda com as demais apenas uma vaga semelhana, sendo marcada porsignificados e valores sociais distintos.

    Sandra Corazza, uma pesquisadora brasileira do tema, afirma que o sentido moderno de infncia um fato cultural.

    Na modernidade, surge o sentido de infantilidade, caracterizando-se o tratamento da infncia como fase de menor valorsocial que a juventude e a vida adulta.

    A atribuio de infantilidade criana revela um juzo de valor derivado do pensamento econmico: os mais novos socolocados em posio de menor status social que os mais velhos, no por necessitarem de suporte, ajuda e apoio social, massim porque exibem menos maturidade, autonomia, racionalidade e produtividade, valores que so os mais prezados nas sociedades capitalistas modernas.

    Desse modo, podemos caracterizar tais sociedades como sendo adultocntricas, ou seja, organizadas de tal modo que osvalores, atividades e significados adultos so mais importantes que os da infncia. Por isso, comum ouvirmos as crianasexpressarem o desejo de se tornarem rapidamente "gente grande".

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  • APROFUNDANDO CONHECIMENTOS

    possvel que, ao fim da leitura, voc ainda permanea com algumas dvidas. Para isso, importante utilizar o Frum dediscusso e o Frum de dvidas, para expor suas ideias e perceber as de seus colegas e tutor.

    Em seguida, retorne a este Guia de Estudos e prossiga a leitura, pois passaremos a tratar da infncia brasileira.

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  • A infncia e a famlia colonial brasileira

    At a transferncia da famlia real para o Rio de Janeiro, em 1808, h muito poucos registros da formao histrico-socialda sociedade brasileira. A chegada da famlia real portuguesa ao Rio de Janeiro imps modificaes significativas nossarealidade local, e se considera que esse evento contribuiu para introduzir o Brasil na era moderna.

    Em sua organizao social tradicional, o Brasil colonial estava segmentado entre casa grande e senzala, senhores eescravos. Cada um desses segmentos estava caracterizado por um sistema de valores e ideologias prprio, que ssuperficialmente esbarrava em outro, como voc perceber.

    Na casa grande, as escravas tinham a responsabilidade da amamentao, cuidado e medicao das crianas pequenas,favorecendo entre estas e as amas um senso de afeto e intimidade, muitas vezes inexistentes na relao com osprogenitores.

    No sistema familiar colonial, as crianas representavam um elemento a mais a servio do poder paterno. Eramconsideradas um elo suprfluo e acessrio da cadeia de poder patriarcal, quando comparado aos filhos de mais idade, esposa, terra e aos escravos. Nos espaos pblicos, eram essas posses que conferiam autoridade aos homens. J asmulheres, fixavam-se mais em atender e servir ao marido que aos filhos.

    Essa qualidade de relao familiar comeou a se transformar com a chegada da famlia real portuguesa. Com ela, veio acincia, novas tcnicas e mais dinheiro, ampliando a urbanizao e promovendo mudanas de comportamento.

    O distanciamento dos pais em relao aos filhos e a atribuio do cuidado da prole s escravas, caractersticasnucleares da famlia colonial, foram objeto de fortes crticas dos mdicos sanitaristas, pedagogos e cientistas, que passaram ahabitar a Corte.

    Considerava-se que contribuam para a mortalidade e o abandono de crianas, no Brasil, algo que a cincia da poca jconsiderava necessrio erradicar. Assim, as novas influncias da cincia sobre a organizao das famlias tiveram um efeitomoralizador, produzindo mudanas no seu interior, como veremos a seguir.

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  • Transformaes na famlia colonial

    Notamos ocorrer uma progressiva e importante revoluo na dinmica familiar, ao longo dos sculos XIX e XX:

    A funo da mulher na famlia migrou da ateno e cuidado prioritariamente dedicados ao marido para o papel de cuidadora principal dos filhos. Sem essa mudana, a famlia teria tido problemas ainda maiores em decorrncia daabolio da escravatura, quando deixou de contar com a mo de obra escrava no cuidado infantil.

    Do pai, passou a ser esperado exercer o papel de cnjuge de modo mais horizontal, convertendo-se em figura afetiva etutorial, em vez da mera autoridade patriarcal. Nota-se que o significado e a funo da paternidade alteraram-segrandemente, em particular no sculo XX. As guerras, o trabalho feminino e as novas formas de famlia parecem ter afetadofortemente aos pais.

    Com a educao escolar e a urbanizao crescentes, ambos fatores a contribuir para uma guinada relativa aos valores esignificados sociais, os filhos, particularmente os mais velhos deixaram de se representar como meros atores a servio dosinteresses econmicos familiares e puderam se reconhecer como parte de um sistema social mais amplo, no qual deviamassumir funes de servio sociedade, em vez de meros "herdeiros".

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  • A criana e a famlia escrava no Brasil

    Bem diferente era a situao das famlias negras de escravos, desde o Brasil colonial.

    Enquanto pequenas, as crianas negras eram tratadas pelos senhores de escravos tais como bichinhos de estimao,autorizadas a circular na casa grande, tranadas s pernas das escravas, fazendo gracinhas e truques, para deleite da famliasenhorial.

    Contudo, na idade de 6 ou 7 anos, j eram consideradas aptas para o trabalho pesado, passando a atuar na prpria casagrande ou no campo, com pouca diferena em relao aos adultos negros.

    Em 1871, a Lei do Ventre Livre concedeu aos filhos de escravas nascidos a partir de ento o direito liberdade - em quepese a continuidade de seus pais na condio de escravos.

    Em 1888, foi a vez da Lei urea, que extinguiu toda a forma de trabalho escravo em nosso pas. No entanto, o que pareciaconstituir um momento de ruptura e novidade nas relaes intertnicas, no Brasil, mostrou-se fonte de novas formas deopresso social.

    Sem uma poltica de Estado para apoiar a insero laboral e prover apoio econmico a esse extenso grupo de ex-escravos,estes rapidamente passaram a sofrer outras formas de aviltamento e explorao, indo ocupar, juntamente com indgenasurbanizados, imigrantes e aventureiros estrangeiros sem posses, a base da classe dos miserveis e excludossocio-econmicos de nosso pas, originando os primeiros bolses de pobreza.

    Para compreender o lugar social da infncia e adolescncia, nos dias atuais, importante identificarmos o papel quedesempenha a escola nesse processo, pois constitui um contexto de fundamental importncia no desenho da infnciamoderna, com destaque ao direito educao como um direito fundamental da criana.

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  • A escola, a infncia e a adolescncia

    No fim do sculo XVII, ocorreu na Europa o surgimento das primeiras escolas, que eram muito diferentes das atuais:funcionavam anexas s igrejas, onde frequentemente s havia uma sala na qual se reuniam alunos de diferentes idades.

    No sculo XIX, como efeito da Revoluo Industrial, da urbanizao, do desenvolvimento tcnico-cientfico, da inveno daimprensa e das mudanas na organizao do trabalho, a escolarizao passou a deter importncia crescente na novaorganizao da sociedade.

    Isso se deu porque o modo de produo fabril passou a exigir cada vez mais formao e especializao do trabalhador, o queelevou a importncia da aprendizagem tcnica e cientfica que se podia obter por meio da educao escolar.

    As escolas tambm serviram ao projeto de moralizar os jovens e controlar suas expectativas de futuro: em vez depermanecerem ociosos pela rua, em aventuras sexuais e no jogo, passaram a permanecer toda a adolescncia e juventudena escola, que lhes provia com uma direo de desenvolvimento coerente com o projeto de sociedade visado pelos novoscapitalistas e reformadores cristos.

    Ainda hoje, estar dentro ou fora do sistema escolar um fator de identidade, respeito e auto-estima para os jovens. Aindaque a escola encontre problemas cada vez mais severos para cumprir suas funes nos tempos atuais, ela ainda representauma forte referncia de incluso/excluso social, sem contar com sua funo de controle social.

    No h poltica social que tenha xito sem que considere a necessidade do fortalecimento do sistema escolar e dascondies de acesso e permanncia na escola.

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  • APROFUNDANDO CONHECIMENTOS

    Voc est avanando muito na compreenso da construo do conceito de infncia, adolescncia e famlia. Para aprofundarainda mais suas aprendizagens, retorne ao texto de fundamentao da Unidade 1.

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  • UNIDADE 2 - Novos contornos da famlia na sociedade contempornea

    Ol, chegamos Unidade 2 !!!

    Nesta Unidade, vamos tratar dos seguintes temas:O conceito de famlia como sociedade natural e suas transformaeshistricas;As caractersticas, problemas e necessidades da famlia na sociedade contempornea; ePolticas e programassociais para a famlia brasileira: apoiar a famlia para proteger crianas e adolescentes.

    Ao longo do sculo XX, houve uma grande transformao da sociedade brasileira e, com ela, tambm as famlias foram setransformando de modo cada vez mais acelerado.

    Como material motivador das discusses que se seguem, convidamos voc a assistir o documentrio Cemitrio da Memria.Caso voc tenha dificuldade de acesso ao filme pelo link contido acima, abra uma nova janela em seu computador e nelaacesse o portal www.portacurtas.com.br, buscando o filme pelo ttulo. Volte ao texto aps o filme!

    O vdeo recomendado apresenta as transformaes que se deram nas atividades realizadas em famlia, no lazer, nascomemoraes festivas, nas formas de registro da memria familiar. Alm das mudanas ali retratadas, deve-se incluirtambm no rol dos fatores que tm afetado intimamente as famlias: as mudanas de valores sociais que contribuem para ocrescimento do individualismo e da competio, e que inibem as redes de solidariedade social, contribuindo para transformara famlia em uma clula isolada, privada de apoio comunitrio; o aumento expressivo da expectativa de vida no ltimo sculo,implicando em responsabilidades ampliadas para com os velhos, ao mesmo tempo em que esses passam a representar umafonte adicional de renda para muitas famlias, atravs de suas aposentadorias, e mesmo no apoio no cuidado dos netos; asmudanas nas relaes de trabalho, que levam exigncia de maior dedicao do trabalhador, compensada com salrios menores, e que tambm colaboram para a dissoluo da fronteira entre trabalho e ambiente domstico. A mediao dasnovas tecnologias de comunicao e informao tem levado a que se trabalhe mais tempo - em casa, noite, nos fins desemana, privando a pessoa e a sua famlia do tempo para o lazer e atividades compartilhadas.Outros fatores, ainda, afetam omodo como as famlias se organizam e desenvolvem os vnculos entre seus membros, nos dias atuais, tal como o resumo deste QUADRO.

    Diante desse cenrio em constante transformao, fica a pergunta: A quais funes sociais responde a famlia na sociedadecontempornea?

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  • A famlia contempornea: definio e papeis

    A famlia um sistema complexo, composto por subsistemas integrados e interdependentes, que estabelece uma relaobidirecional e de mtua influncia com o contexto scio-histrico-cultural, no qual est inserida (MINUCHIN, 1985,1988; citadoem DESSEN e BRAZ, 2005).

    No h uma nica definio de famlia que seja objeto de consenso entre os estudiosos. Veja algumas definiesencontradas:A famlia a primeira sociedade natural e ntima, cuja funo primordial propiciar a construo do ser e arealizao da personalidade de cada um de seus integrantes;A famlia a estrutura bsica permanente da experinciahumana;A famlia onde a criana tem os primeiros contatos com o mundo e na qual constitui as primeiras formas decompreenso da realidade; eA famlia constitui um sistema semi-aberto, necessariamente permevel s influncias doambiente externo, sendo tambm afetado pelos fatores sociais que caracterizam o contexto extra-familiar, em dado momentoda histria de um grupamento social.

    Desse modo, o desenvolvimento da pessoa tem relao com o lugar ocupado por ela na famlia e os processos culturaismediados pelas atividades e significados que circulam no ambiente familiar.

    Na atualidade, a consanguinidade e os laos biolgicos tm sido cada vez mais substitudos por laos scio-afetivos nadefinio da unidade constitutiva da famlia. Os seguidos rearranjos por que passa a famlia no processo de dissoluo ereconfigurao de vnculos nos alerta que, em substituio famlia nuclear, pode estar surgindo uma nova concepo defamlia.

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  • A famlia se desenvolve junto com seus integrantesNo curso de vida de seus integrantes, a famlia sofre transformaes em sua organizao. Compreender essastransformaes ajuda-nos a reconhecer as especificidades da organizao familiar e a trabalhar com as famlias.

    Alguns processos so considerados normativos, outros so no-normativos.

    As mudanas normativas envolvem praticamente todas as famlias de uma mesma cultura, que nem sempre as vivenciamde modo semelhante: nascimentos, mortes dos mais velhos, entrada dos filhos na escola ou na puberdade.

    As mudanas no-normativas envolvem eventos que ocorrem em algumas famlias, mas no em todas: a perda deemprego por um dos cnjuges, a necessidade de mudana repentina de cidade, uma crise financeira que afete diretamente afamlia, a ocorrncia de divrcio e ou a morte prematura de algum dos membros como vtima de violncia, so exemplosdesse tipo de mudanas. Esse segundo grupo de eventos, imprevisveis e que podem gerar dificuldades profundas, exigegrande resistncia emocional dos integrantes para manter coeso o sistema familiar.

    Entre as mudanas normativas, considera-se o nascimento do primeiro filho um grande evento na dinmica de vida do casal,que altera de modo importante o sistema familiar, levando os pais necessidade de se organizar e ajustar. Quando os filhosso pequenos, a famlia deve contar com equipamentos sociais, tais como berrios e creches, ou com redes sociais de apoioao cuidado das crianas, entre os quais os avs, vizinhos ou amigos. Quando a famlia no conta com qualquer suporte nacriao dos filhos, as presses sobre o casal se intensificam, tornando-se fontes de conflitos que podem comprometer osafetos e levar separao.

    A entrada na escola tambm se mostra crtica, expondo particularidades, que vo desde o acesso aos equipamentosescolares (escolas distantes ou a inexistncia de escolas na comunidade), at questes culturais associadas ao dficiteducacional dos pais e aos limites destes ltimos em dar apoio ao processo de escolarizao dos filhos. Aspectos como osagravos aos direitos de crianas e adolescentes no contexto das escolas (bullying, preconceito, violncias) so outrasquestes a serem consideradas.

    Quando os filhos tornam-se adolescentes, perodo que coincide com a meia-idade dos pais, novas demandas e problemasemergem, que tambm levam ao desenvolvimento famliar. A maior liberdade requerida pelos filhos, a necessidade dedesafiar os pais, adquirir autonomia, "viver a rua" e a vida pblica podem se converter em fontes de problemas, especialmentequando a tais eventos se associam o uso abusivo de lcool e o consumo de drogas, por exemplo.

    Assim tambm quando os filhos ingressam no trabalho ou saem da casa dos pais, momentos que podem ser vividos poresses ltimos quer como fonte de vazio existencial, quer como questo financeira (em contextos em que os mais velhostrabalham, ou cuidam dos mais novos para liberar os pais para o trabalho), quer como a conquista de maior autonomia eliberdade, em um momento de suas prprias vidas em que ainda so jovens para usufruir da tranquilidade da meia idade emnovos projetos e alternativas de vida.

    Outros aspectos que, na atualidade, induzem reorganizao e ao desenvolvimento familiar so: a articulao das relaestransgeracionais, quando os velhos tendem a viver mais tempo; a instabilidade da vida econmica; as novas configuraesfamiliares.

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  • Transformaes da famlia na histria

    No processo histrico, a organizao e a funo da famlia tem se transformado. Observamos que novas funes vo sendodelegadas enquanto outras so retiradas.

    Quando olhamos para o passado longnquo da humanidade, identificamos que nos primeiros agregados sociais, a famlia erauma unidade de reproduo sexual, cuja funo era quase exclusiva de carter natural, orientada a mera conservao daespcie. Nessa poca, os arranjos humanos eram efmeros, no se dedicavam formao de vnculos, fidelidade oudependncia entre os membros da famlia. Assim a famlia se organizou at a apario dos primeiros cls.

    Com o surgimento das primeiras comunidades, e da at a Idade Mdia, a famlia converteu-se em uma unidade de trabalhoe reproduo material o agrupamento familiar ganha uma importante funo econmica, passando a funcionar tal comouma pequena empresa, na qual todos os membros trabalhavam e contribuam coletivamente para o sustento dos demais. Afamlia antiga era uma famlia extensa. Nas casas, mesclavam-se pessoas que mantinham entre si laos de consanguinidadee outros membros, tais como compadres, agregados e outros coabitantes temporrios. Considerava-se, que quanto maior ogrupo, maior sua capacidade produtiva. Por isso, a princpio, todos eram bem vindos ao seio da famlia.

    A transio histrica para a modernidade e o advento da famlia nuclear transformaram a famlia em uma unidade de afeto.A funo afetiva da famlia traduz-se no sentimento de coeso familiar, o que resulta em mudanas na formao eorganizao das famlias, traduzidas no:fortalecimento dos laos emocionais entre seus membros;emergncia de um sentidode zelo e cuidado dos mais vulnerveis, tais como crianas e idosos; ecompromisso com a formao moral e disciplinar deuns membros para com os outros e a comunidade. Esse processo parte de um cenrio mais amplo, no qual so notadas muitas mudanas importantes na sociedade ocidental,conforme vimos na primeira Unidade.

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  • Desafios da famlia na contemporaneidade

    Vivemos na atualidade uma profunda transformao das relaes socio-afetivas e, como efeito, da prpria famlia.

    As mudanas scio-econmicas e culturais em curso, desde a segunda metade do sculo XX, afetam as famlias a partir desua intimidade, e geram alteraes importantes.

    As sociedades urbanas atuais, organizadas em torno do consumo, nas quais o trabalho constitui o principal meio de acessoaos produtos de consumo, exigem dos trabalhadores uma parcela enorme de comprometimento e, em contrapartida, lhesoferece muito pouco. O foco principal da ateno de homens e mulheres trabalhadores(as) passa a ser sua manuteno naprpria rbita do capitalismo (no desagradar o patro, no perder o emprego, manter inalterada a capacidade de consumo,etc).

    A instabilidade econmica pode converter-se em instabilidade emocional, levando os sujeitos a um estado contnuo de vulnerabilidade psquica, traduzida em ansiedade, ambiguidade e incerteza.

    Nesse contexto, quanto mais agudas as dificuldades econmicas vivenciadas pela famlia, maior sua fragilidade em cumpriros complexos papis que lhe so exigidos. Em muitos casos, diante das graves privaes scio-econmicas a que estexposta, as famlias necessitam transferir para o Estado, ou seus representantes, muitas de suas funes essenciais, taiscomo a educao, a sade, a alimentao e a segurana da prole.

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  • Direitos das famlias pobres na contemporaneidade

    A condio de pobreza se caracteriza pelo estado, temporrio ou permanente, em que um segmento dos cidados estprivado do acesso a recursos tais como gua, sade, educao, alimentao, moradia e cidadania, permanecendo excludo,em graus diferenciados, da riqueza social.

    At os perodos de crise econmica atingem de modo mais intenso os membros mais pobres da populao do que os maisabastados, agravando a situao de vulnerabilidade e de excluso nas quais j se encontram os primeiros.

    H dados que indicam que na longa crise econmica que se estendeu at 1999, enquanto os 5% mais ricos da populaobrasileira tiveram uma perda de 10% de renda, os 25% mais pobres perderam 20%. Vemos, com esse exemplo que atmesmo uma crise econmica contribui para acirrar a concentrao de renda e a desigualdade, afetando mais aos pobres queaos ricos.

    Considera-se papel do Estado, atuar para compensar a situao de vulnerabilidade em que se encontram os membros dasfamlias pobres, por meio de aes e programas significativos. Nas ltimas dcadas, os principais programas na rea tm secaracterizado pela transferncia de renda, de modo a garantir a todos os segmentos sociais o acesso a uma renda mnima.

    H estudos que evidenciam que os programas que contribuem efetivamente para a promoo da famlia mostram-se maiseficazes para a proteo da infncia e da adolescncia do que os que se dirigem exclusivamente ao segmento infanto-juvenil.Por outro lado, quando excluda do acesso aos bens scio-econmicos e culturais mais bsicos, a famlia encontradificuldades para cumprir, at mesmo, a parte essencial que lhe toca na formao de vnculos, da identidade, e na proteodos filhos crianas e adolescentes.

    Durante dcadas, no passado, a ao do Estado no campo da proteo s famlias pobres caracterizou-se menos pelaproatividade que pela reao insegurana social, sendo fortemente marcada pela filantropia e o paternalismo. A relao doEstado brasileiro com essas famlias era fundamentalmente de natureza assistencialista, tutelar e culpabilizante.

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  • Complementando e aprofundando as aprendizagens

    Voc tem aqui a oportunidade de revisar, complementar e aprofundar os tpicos dessa Unidade, por meio da leitura do textocomplementar da Unidade 2.

    Aps a leitura das primeiras sees do texto, volte ao contedo do Guia de Estudos.

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  • Polticas sociais para a famlia brasileira

    A famlia ocupa o centro do processo de reproduo social e, como tal, constitui um lugar decisivo quando se trata de intervirem realidades sociais indesejveis, como a pobreza e o baixo capital humano.

    As mudanas sociais que marcam a sociedade brasileira a partir do movimento de redemocratizao, na dcada de 1980, culminaram com a institucionalizao do sistema de garantia de direitos da famlia, da infncia e da adolescncia. Comisso, a relao entre o Estado, a sociedade e as famlias pobres vem se alterando.

    A melhoria efetiva das condies scio-econmicas das famlias brasileiras notvel. Entretanto, observamos que osprocessos que atingem positivamente alguns estratos da sociedade (que se vem em posio de mais conforto e segurana),expem outros estratos a uma situao de desigualdade ainda mais aguda, situao que tende a ser camuflada, ounaturalizada, quando se aponta a elevao das condies econmicas em todas as classes sociais da populao brasileira.

    A continuidade de programas sociais afinados com a reduo da condio de excluso e a garantia de renda,especialmente nos ltimos anos, tem contribudo para induzir mudanas sociais mais duradouras, que j se tornam inclusive,objeto da ateno internacional. Alm de um conjunto de iniciativas relevantes exercidas a partir de organizaes dasociedade civil, que excederia o espao deste texto relatar, exemplos de aes diretas do poder pblico so os programas narea de sade e, mais recente, os programas de previdncia extensivos s mulheres, entre os quais a licena-maternidade de180 dias.

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  • Polticas sociais para a famlia brasileira: o Bolsa-Famlia

    O Bolsa-Famlia considerado um programa social inovador frente aos programas anteriores de combate fome e pobreza,nos quais o foco sempre foi o indivduo. Ele responde a uma cultura de restaurao do Estado de bem-estar social, quecomea a ocupar a agenda social nos anos 1990, mediante iniciativas estaduais isoladas, e que, a partir de 2001, passa a serregulamentada em nvel federal, por meio do comprometimento com a garantia de renda mnima.

    O Programa Bolsa-Famlia (PBF) foi criado em 2003 como uma poltica social integrada, desenvolvida com o fito de unificarquatro programas antes existentes (bolsa-escola, bolsa-alimentao, vale-gs e carto-alimentao).

    O PBF segue a tendncia atual dos programas que tm por foco o sistema familiar, utilizando como critrio de elegibilidade arenda familiar per capita. A utilizao da renda como nico fator de anlise para a insero no programa objeto de crtica,sendo este fator considerado insuficiente para qualificar as distintas vulnerabilidades a que esto expostas as famlias,inclusive as que no so atendidas.

    Para permanecer na condio de beneficiria do PBF, a famlia instada a atender algumas condies, entre as quais afrequncia sistemtica dos filhos em idade escolar escola e ao posto de vacinao, assim como das gestantes e crianasat seis anos ao centro de sade para ateno primria e cuidados nutricionais.

    O cumprimento, pelas famlias, das condies impostas ao beneficirio do PBF envolve uma infraestrutura de servios emeducao e sade que depende grandemente dos municpios. As desigualdades existentes no Brasil se refletem emdiferenas expressivas nas condies financeiras e administrativas dos diferentes estados e municpios brasileiros, o queafeta de modo agudo suas capacidades de responder s necessidades da populao e aos novos papis que lhes sorequeridos.

    Lavinas (2004, citada em SENNA e cols., 2008, p.90) alerta que, ao ser exigido o cumprimento de obrigatoriedades comocondio para o exerccio de um direito social, os prprios princpios de cidadania podem estar ameaados. Tal cobrana setorna ainda mais problemtica se considerarmos que no h outros mecanismos de acompanhamento das famlias alm dacobrana de contrapartidas.

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  • Polticas e programas sociais para a famlia brasileira: o Sade da Famlia

    O Sade da Famlia tem por princpio bsico a compreenso de que o cuidado familiar o fundamento da ateno sadecomunitria (SERAPIONI, 2005).

    No Brasil, ele surge na esteira da perspectiva conhecida como o cuidado comunitrio, o qual busca retirar as prticas decuidado sade das instituies para inseri-las no contexto comunitrio, na forma de aes que conciliam o esforo dosservios pblicos, das redes sociais da comunidade e de agentes e trabalhadores voluntrios. Em outras palavras, o cuidadocomunitrio busca integrar a dimenso formal e informal das aes em sade.

    Na perspectiva comunitria, as famlias e redes informais da comunidade devem ser consideradas no apenas destinatriasda ateno sade, mas tambm sujeitos ativos que podem contribuir, com recursos prprios, para o processo de produoda sade. Nesse sentido, preciso ter em conta que no se trata de colocar os conhecimentos tcitos e prticas em sade dacomunidade para compensar as deficincias do sistema formal de sade, mas colocar as duas dimenses em dilogo.

    O Programa Sade da Famlia operacionalizado por equipes multiprofis-sionais lotadas em unidades bsicas de sade, queso responsveis pelo acompanhamento de certo nmero de famlias residentes em uma regio geogrfica delimitada.

    As equipes atuam diretamente com os membros da famlia, em aes de preveno, manuteno e promoo da sade,assim como de recuperao e reabilitao de doenas e agravos mais frequentes. As aes se do nas prprias unidades desade, nas residncias dos assistidos e na comunidade, o que favorece um vnculo de compromisso e cor-responsabilidadeentre equipe e populao.

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  • Polticas sociais para a famlia: tenses e barreiras

    Nas distintas polticas e programas sociais, persiste uma tenso latente entre interesses coletivos e limitaes de naturezaeconmica.

    Essas ltimas so determinadas, em parte, pela complexidade da problemtica enfrentada pelo Estado para implementar,acompanhar e fiscalizar aes pblicas descentralizadas em um pas de dimenses continentais e marcado por to gravesdesigualdades como o Brasil. Mas, so determinadas da mesma forma pelos conflitos de interesses entre segmentos dapopulao que detm graus diferenciados de poder acerca do uso do dinheiro pblico.

    H os que vem com desconfiana a corresponsabilizao entre Estado e sociedade na operacionalizao de polticaspblicas, perspectiva em consolidao desde o texto da Constituio brasileira de 1988, na qual transparecem tentativas decompensar a dificuldade do Estado em prover os cidados do acesso aos direitos constitucionais bsicos.

    Outro aspecto considerado que algumas dessas polticas contm um vis moral, ao beneficiarem de modo preferencialfamlias estruturadas segundo uma lgica social hegemnica (heterossexuais, unidas por laos biolgicos, com filhos emidade escolar, e idosos), enquanto se omitem frente multiplicidade de outras configuraes familiares presentes na nossasociedade.

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  • UNIDADE 2 Atividade de auto-aprendizagem

    Retorne ao texto complementar, revise e aprofunde sua aprendizagem.

    Agora, verifique seus conhecimentos adquiridos na Unidade 2, realizando a atividade de reviso de leitura disponvel noambiente virtual.

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  • UNIDADE 3 - Conceitos de adolescncia e a contemporaneidade

    Ol, agora vamos estudar a Unidade 3!!!

    Esperamos que voc esteja gostando e aprendendo bastante conosco!

    Nesta Unidade, trataremos sobre:A construo social do conceito de adolescncia como fase intermediria entre a infncia ea vida adulta;Adolescncia: processos de desenvolvimento social, cultura e contemporaneidade; eComportamentos de riscona adolescncia

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  • Contextualizando o tema da adolescncia

    O que a infncia? O que a adolescncia?

    Perguntas como estas tm guiado, h pelo menos um sculo, a reflexo terica e a compreenso prtica das geraes maisjovens pelas cincias humanas e sociais. No entanto, tal como buscamos aprofundar na Unidade 1, os diferentes significados,valores e costumes associados infncia e adolescncia apontam que: a adolescncia um fenmeno plural, sendo maiscorreto falar em termos de adolescncias; a adolescncia mantm uma relao ntima com os demais fenmenos sociaisem curso em dado momento histrico; e os aspectos que definem a adolescncia e o adolescente se transformam a cadapoca, como efeito do processo histrico da sociedade.

    Considerar esses aspectos importante quando trabalhamos com adolescentes e queremos tornar significativas nossasaes em diferentes contextos institucionais e na famlia.

    De modo complementar, necessitamos entender os aspectos comuns entre os adolescentes brasileiros de hoje e os quevivem ou viveram em outros contextos socioculturais, assim como as particularidades que caracterizam os grupos que soobjeto de nossas intervenes, atentos s suas experincias, sentimentos e fragilidades.

    Na prxima seo, abordaremos alguns temas que envolvem o desenvolvimento psicossocial de adolescentes e trataremosde alguns desafios que a contemporaneidade nos impe, os quais nos exigem a busca constante de novas posturas eabordagens que dem consistncia nossa atuao profissional.

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  • Desenvolvimento humano e a cultura (1)Compreendemos o desenvolvimento humano como qualquer processo de mudana progressiva e sistmica da pessoa, notempo que ocorre com base nas interaes estabelecidas dentro de um contexto.

    As principais dimenses consideradas para compreender o desenvolvimento humano so as neurolgicas, cognitivas,emocionais, afetivas, comportamentais, sociais e polticas, entre outras. Alguns eventos iro promover mudanas em algumasdelas, outros eventos vo modificar a pessoa como um todo.

    O desenvolvimento humano no um processo espontneo ou natural, mas corresponde ao adaptativa do organismodiante da presso ou coao de um ou mais fatores interdependentes originrios do ambiente ou contexto. Assimtemos:ambiente fsico - envolve espaos fsicos, sociais e instituies, que abrigam as distintas formas de atividade da pessoa nomundo;ambiente humano - engloba as pessoas ou grupos que interferem direta ou indiretamente nas mudanas da pessoa(membros da famlia, colegas de escola, do time de futebol, parceiros de criminalidade, companheiros de trabalho voluntrio,entre outros); eambiente scio-histrico-cultural - envolve a cultura, ou seja, o conjunto de crenas, valores e hbitos deum grupo que afeta todas as concepes e prticas de promoo do desenvolvimento, em dado momento do processohistrico de uma sociedade.

    Sob a influncia dessas fontes de coao, o desenvolvimento no toma um nico curso. Admite-se, hoje, que os processosde desenvolvimento da pessoa sigam trajetrias probabilsticas, ou seja, as experincias distintas e singulares, vivenciadasem contextos especficos, a interao com pessoas e grupos particulares e, a prpria interao entre tais aspectos volevando a pessoa a futuros mais provveis que outros. No entanto, no defendemos o predeterminismo: sempre h algumapossibilidade de romper uma trajetria e adotar outra, sob novas influncias sociais.

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  • Desenvolvimento adolescente, a sociedade e a cultura

    De todos os fatores e dimenses que afetam o desenvolvimento humano acima descrito, os fatores scio-histrico-culturaisso os mais importantes a serem tratados quando abordamos o desenvolvimento do adolescente, ou seja, consideramos queo nicho cultural determina de modo ntimo as demais dimenses do ambiente e suas relaes.

    Cada contexto sociocultural tem uma pauta de expectativas e representaes sobre os adolescentes e a adolescncia,que determina, implcita ou explicitamente, papis sociais e comportamentos, apoiando-se em aspectos fisiolgicos, sexuais,afetivos, sociais, polticos e institucionais.

    As relaes entre a sociedade, no sentido amplo, e o adolescente podem ser contraditrias, pois, raramente, estabelecemoscom eles relaes horizontais, pautadas na tica e na solidariedade. Como efeito, seus comportamentos evidenciam umarelao de mo dupla, que, s vezes, reflete e em outras desafia o lugar social que lhes imposto pelo mundo adulto.Observe alguns exemplos:A sociedade espera maturidade do adolescente e do jovem mas, muitas vezes, no lhes oferececondies para o pleno desenvolvimento educacional, profissional e social, ou seja,condies que fundamentemcomportamentos ajustados. Isso se exemplifica pelo nmero de adolescentes fora da escola e do sistema produtivo, quandofaltam modos de insero social para a nossa juventude.H vezes em que programas sociais orientados para a adolescnciaso criados nos quais o adolescente raramente ouvido. A sociedade atribui uma "infantilidade social" ao adolescente que osimpede de participar quando se trata de definir aes sociais e polticas que lhes dizem respeito.Muitas aes e programasdesprezam a multiplicidade de formas assumidas pelas identidades juvenis (que so parcialmente representadas no vdeo aque assistimos). Quando so abordadas as caractersticas culturais de uma sociedade, raramente so includos os produtosda cultura juvenil de uma gerao.

    As contradies que cercam o lugar da juventude em nossa sociedade so reveladoras de um processo poltico, do qualnecessitamos ter conscincia: a negao ou invisibilizao do lugar social do adolescente e do jovem.

    Em alguma medida, podemos considerar a esttica dos agrupamentos de adolescentes e jovens (colorida, com ornamentos epenteados exticos), e os comportamentos de risco (envolvendo drogas, esportes radicais e outras atividades) como formasexcntricas ou extremas de expressar sua condio social e subjetiva, muitas vezes apagada pelo mundo adulto.

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  • Adolescncia, juventude e contemporaneidade (1)A adolescncia objeto de concepes ambguas, associadas s representaes negativas no contexto contemporneo.

    Ressaltam-se nos adolescentes aspectos como a instabilidade emocional, a postura desafiadora, o imediatismo e a tendncia ao irrefletida, desconsiderando a presena em nossa sociedade de grande nmero deles que trabalham, criam e mantmrelaes familiares e sociais respeitosas.

    Embora o adolescente seja socialmente desvalorizado, a adolescncia parece guardar a frmula de um ideal de corpo, decomportamentos e valores muito prezados por diferentes grupos etrios: tanto h crianas que querem ter a infnciaencurtada, para que se convertam o mais rapidamente em pr-adolescentes, como adultos que se esforam para retardar oenvelhecimento, buscando ativamente manter um corpo e uma imagem prxima dos padres de beleza, virilidade e vigor queso tpicos dos primeiros anos da juventude.

    A adolescncia, de acordo com os critrios adotados pelo Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA) e pela OrganizaoMundial de Sade (OMS), o perodo da vida que vai dos 12 aos 18 anos. J a juventude caracterizada como o intervaloentre 15 -25 anos.

    Temos clareza de que a correspondncia entre idades cronolgicas e processos humanos no natural, mas construda emum complexo processo histrico que, apoiado em critrios intelectuais e sociais de uma dada cultura, cria consensos que soprogressivamente incorporados a crenas, valores e normas. De todo modo, a superposio de idades e a ambiguidade dasfronteiras entre a adolescncia e a juventude denotam a dificuldade de se estabelecer esses limites com clareza, nassociedades atuais, que no contam com critrios consensuais de desenvolvimento, tais como nas culturas antigas.

    Em muitas culturas arcaicas, e em algumas delas at os dias atuais, a transio simblica da infncia vida adulta se davade modo direto. Eventos rituais denominados ritos de passagem, encarados como celebraes que envolviam a todos nacomunidade, marcavam essa transio, caracterizada pela morte simblica da criana seguida do nascimento social doadulto. Conforme o grupo considerado, essa passagem podia envolver provas de fora e virilidade, superao e resistncia ahumilhaes.

    A despeito da idade cronolgica adotada pelo grupo especfico, que pode variar de cultura para cultura e de poca parapoca de uma cultura, o jovem iniciado passa a ser considerado um adulto, apto para o trabalho, o casamento, a procriao epara a participao poltica na comunidade.

    Podemos defender que, nas sociedades urbanas industrializadas, os ritos de passagem especficos e nicos foramsubstitudos por vrios marcadores simblicos de autonomia e desenvolvimento que, somados, contribuem para amudana de auto-imagem e de status social pelos mais jovens, inserindo-os em imagens mais adultizadas. So algunsexemplos desses marcadores em nossa sociedade: obter a chave de casa; terminar o ensino fundamental; dominar o espao pblico, frequentar eventos noturnos; experimentar bebidas alcolicas ou drogas; debutar; realizar faanhas que envolvam comportamentos que transgridem limites sociais; entrar na universidade; viver as primeiras relaes amorosas e experincias no campo da sexualidade; tirar a licena de motorista; alistar-se no exrcito, alcanar o primeiro emprego; sair de casa para morar fora, casar etc.

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  • Todos esses so exemplos de experincias culturais que evidenciam uma transio em andamento. Somadas, elas afastam apessoa da condio infantil e aproximam-na do status social adulto.

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  • Adolescncia, juventude e contemporaneidade (2)Quanto mais complexas e heterogneas as sociedades, mais elementos temos de considerar a fim de compreender umfenmeno social, como a adolescncia. Assim, so vrias as especificidades e serem consideradas se queremos decifrar asexperincias adolescentes na sociedade contempornea. So aspectos dignos de nota, na atualidade, para bemcompreendermos a complexidade da adolescncia e da juventude, entre outros:Mudanas de perfil de idade quanto transio para a vida adulta: a maior expectativa de vida, as exigncias ampliadas de formao acadmica e profissional,entre outros fatores, contribuem para o alongamento da adolescncia, ainda que esse fenmeno atinja diferentemente asdistintas classes sociais. Ausncia de parmetros claros em termos de valores tico-morais: a adolescncia e a juventudeso momentos crticos na construo da identidade da pessoa. A existncia de estruturas sociais fortes e de figuras deidentificao autnticas fundamental para a constituio dos valores pessoais e a formao do carter dos jovens. Naatualidade, as estruturas sociais cada vez mais fluidas e inconstantes inibem as boas fontes de referncia social ecomprometem a base de sua formao pessoal.

    Mas, por que isso acontece?

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  • Parando para refletir

    Apresentamos abaixo os links para dois textos complementares, que vo ajudar voc a aprofundar a compreenso do temadesta Unidade:

    O adolescente como pessoa em desenvolvimento e a contemporaneidade

    Desenvolver e adolescer

    Desejamos a voc uma boa leitura!!!

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  • Desenvolvimento social do adolescente

    Ao longo da adolescncia, inicia-se um perodo no qual se formar a base da identidade que se levar para a vida adulta. Aadolescncia marca a separao fsica e simblica entre o jovem e seus pais.

    Adolescentes sentem necessidade de construir um sistema prprio de valores que fundamentem sua viso de mundo, o quepode implicar em afastar-se da famlia. Nesse perodo da vida, o grupo representa o contato com outros valores e formas devida distintas da sua. um meio de troca de informaes recolhidas em distintas situaes familiares e sociais, que socompartilhadas e negociadas entre os adolescentes, favorecendo a emergncia de novos significados, prprios.

    As atividades sociais preferidas pelos adolescentes dispensam os adultos e centram-se cada vez mais nos pares de idade. Oadolescente encontra no espao pblico um palco para exercer sua recm-conquistada maior autonomia e liberdade, demodo que o alcance das mos dos pais sobre os filhos adolescentes fica reduzido, aspecto agravado por outro elemento dasociocultura contempornea: o tempo restrito de convivncia entre pais e filhos, determinado pelo trabalho extra-domsticodos cnjuges.

    Entendemos a educao familiar como prtica cotidiana contnua de dilogo, negociao de limites e de alternativas para aconduta humana entre pais e filhos, com base em regras sociais e familiares. As oportunidades de levar a cabo a educaofamiliar reduzem-se a partir da puberdade. Caso bases slidas de conduta e valores no tenham sido estabelecidas nainfncia, as dificuldades em estabelec-las na adolescncia se multiplicam.

    Em suma, para construirmos uma adolescncia saudvel, grande parte dos tijolos assentada na infncia.

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  • A formao dos grupos na adolescncia

    O ser humano um animal social. na adolescncia que essa sociabilidade se manifesta de modo mais explcito. O grupo eas atividades sociais realizadas em grupo, que passam a ocorrer no espao extra-domstico, adquirem especial relevnciapara o jovem, o que exige dos educadores (pais e professores) grande habilidade na tarefa de negociar limites, considerandode modo global os prazeres e riscos que tais atividades tendem a apresentar.

    Ao longo da adolescncia, o grupo de pares de idade passa a representar objeto de crescente interesse e ateno. Hestudos que indicam o aumento, em cerca de 50%, do nmero de horas livres passadas com os grupos em relao s queso destinadas ao convvio em famlia.

    Entre os pares, o adolescente tende a encontrar mais acolhimento, e menos crtica e controle, do que em famlia. Osadolescentes tendem a eleger como amigos quem compartilha de seus interesses, valores e atitudes, aumentando apossibilidade de encontrar entre eles solidariedade e apoio. Desse modo, passam tambm a priorizar atividades grupais sobreas realizadas individualmente.

    H, basicamente, dois tipos de grupos sociais: os grupos afiliativos ou contratuais e os agrupamentos informais.

    Os grupos afiliativos so os que envolvem um comprometimento mtuo e a formao de vnculos afetivos e de amizade entreseus integrantes. Objetiva-se a manuteno do sentimento coletivo de adeso ao projeto de grupo, ao longo do tempo. Soatividades juvenis em grupos afiliativos: esportes de equipe, atividades culturais (grupos de teatro, coral, bandas de rock),comunitrias (aes afirmativas, trabalho voluntrio, escotismo) e de cunho religioso (grupos jovens e de assistncia social).

    J os agrupamentos informais expressam uma sociabilidade de ocasio, marcada por laos mais frgeis e efmeros. Osadeptos esto ligados pela, identificao, a ideias e a valores compartilhados e no necessariamente se conhecem oucompartilham alguma atividade concreta. So exemplos as torcidas de times de futebol, os apreciadores de determinadoestilo de lazer, colecionadores, praticantes de determinados hobbies.

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  • Grupos e relaes de gnero na adolescncia

    Na puberdade e incio da adolescncia prevalecem os grupos de amizade separados por gnero, o que uma caractersticamarcante desde os grupos infantis.

    Com o tempo, h uma reorientao da composio das redes de adolescentes, surgindo os grupos mistos quanto ao gnero.A ocorrncia das amizades mistas favorece a formao de novas formas de afetividade e propicia condies para osprimeiros enlaces amorosos.

    Tambm aqui so muitos os fatores socioculturais que contribuem para definir o momento e o significado dos grupos mistos.Observa-se, que em contextos sociais mais conservadores, a separao por gnero tende a caracterizar os agrupamentosjuvenis por mais tempo do que em contextos urbanos mais complexos.

    Nos primeiros, igualmente, a iniciao sexual dos jovens tende a ser mais tardia, embora os casamentos possam ser maisprecoces que entre os ltimos.

    Por outro lado, nos agrupamentos formados em torno de atividades transgressivas, permanece como importantecaracterstica a separao por gnero. H estudos que ressaltam que a transgresso, que permanece como atividadefortemente masculina ainda que haja um aumento da participao de grupos femininos, representa um importante marcadorde identidade para os jovens.

    Outro aspecto que se altera no curso da adolescncia o senso de exclusividade na filiao ao grupo. Quando mais jovens,os adolescentes costumam ter cimes dos amigos/as e nutrem a expectativa de uma relao exclusiva que envolva a todosno grupo. Com o tempo, a tendnciapassa a ser a ampliao das redes, com as quais o adolescente estabelece vnculos de qualidade e intensidade variados,desde os agrupamentos funcionais at as verdadeiras amizades.

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  • O grupo como rede de apoio e espao de aes afirmativas

    Em contextos comunitrios marcados pela pobreza e pela vulnerabilidade das condies sociais, o grupo pode representaruma fora contra as dificuldades e asbarreiras enfrentadas no cotidiano dos jovens.

    H uma tendncia a dar mais evidncia aos problemas que decorrem dos agrupamentos juvenis do que s possibilidades potencializadas que contm. Entretanto, h nos dias atuais uma ateno a esse fato, resultando em um conjunto de aesque visa a formao de lideranas juvenis, de grupos comprometidos com aes de protagonismo, e outras possibilidades deao orientadas para questes concretas da comunidade, objetivando a promoo da cidadania e a responsabilidade dojovem com a transformao de sua realidade social.

    Deve-se notar que as aes juvenis afirmativas padecem da mesma invisibilidade a que nos referimos antes. H muitasaes no mbito da cultura, da sade, dos esportes e do voluntariado, em curso em comunidades pobres, que soviabilizadas graas ao empenho exclusivo dos jovens locais, e que julgamos exercer um importante papel micro-poltico namudana social.

    No entanto, essas aes ocorrem silenciosamente, sem receber qualquer destaque nos demais segmentos da sociedade,aspecto que contribui para reproduzir e reforar as imagens sociais negativas acerca da juventude.

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  • O grupo e as atividades transgressivas na adolescncia

    Entre as atividades dos adolescentes relacionadas de modo ntimo vida em grupo esto as transgressivas e de risco.

    A cumplicidade do grupo tem papel de fundamental importncia tambm na prtica de atividades infracionais. A lealdadeintra-grupo, assim como a socializao da responsabilidade e da culpa entre seus membros, uma estratgia frequentementeadotada por adolescentes autores de infrao, objetivando diminuir o peso da responsabilidade individual e camuflar suaposio de autor.

    sob a influncia do grupo que adolescentes e jovens tendem a experimentar e a fazer uso abusivo do lcool e desubstncias psicotrpicas (tema a ser aprofundado na Unidade 5 deste Mdulo). A chamada presso pelos pares, traduzidana coao exercida para que o adolescente aja em conformidade com as regras e valores do seu grupo mais prximo, tambm um tema constante de filmes e obras literrias.

    No entanto, os estudos mais recentes evidenciam que a ocorrncia de condutas tais como rebeldia, comportamento de risco,tabagismo, abuso de lcool, sexualidade precoce, infrao, entre outros comportamentos eventualmente caracterizados pelasociedade como imprprios para os jovens, reflete atividades humanas inseridas em complexas redes de valores esignificados sociais, que no podem ser reduzidas a uma nica causa, no caso, a influncia direta dos pares.

    Esses aspectos nos alertam para a necessidade de intervir sobre as redes sociais de adolescentes e jovens se desejamosaprimorar a abordagem do fenmeno do conflito com a lei.

    No h como compreender os comportamentos juvenis e intervir sobre eles, sem considerar em nosso modelo compreensivoas caractersticas gerais que definem o contexto e a realidade sociocultural em que as atividades humanas ocorrem.

    Por outro lado, consideramos ser impossvel compreender qualquer dimenso da adolescncia e juventude, sem considerarcomo parte da questo os outros adolescentes e jovens. A moda por eles seguida, o tipo de msica que apreciam, asatividades de lazer que preferem e o tipo de cultura que consomem so, em certa medida, definidos a partir de modelosencontrados nos grupos de pares, que atuam tanto positiva como negativamente na definio da trajetria e daspossibilidades de desenvolvimento dadas ao adolescente.

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  • Introduo

    UNIDADE 6 Sociedade do Controle, violncia e cidade

    Parabns! Voc est entrando na ltima Unidade do Mdulo 1. Nesta Unidade vamos tratar dos seguintes temas:Oadensamento populacional das cidades;A "favelizao" dos grandes centros urbanos;Os tipos de violncia;Os efeitos daviolncia na cidade; O Controle Social e a Sociedade do Controle;A Segurana Pblica como controle de Estado; eASociedade vigiada: controle miditico.

    Com a finalidade de ampliar o conhecimento sobre o tema dessa Unidade, convido voc a me acompanhar nos textos aseguir.

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  • Introduo

    Proponho a voc estudar o tema dessa Unidade a partir de uma inverso lgica do prprio ttulo. Primeiramente, veremos umpouco sobre a cidade, seu crescimento, a segregao social e os problemas provocados pelo crescimento populacionalvertiginoso nos grandes centros urbanos.

    Em seguida, compreenderemos mais um pouco o fenmeno da violncia, a partir da tica urbana, isto , da perspectiva dacidade.

    Ao final, aps passarmos pelos temas da cidade, da violncia urbana, analisaremos a questo do controle social como formade manter essa cidade sob condies de segurana, de tal modo que ela no entre em colapso social.

    Os ndices de violncia nos grandes centros urbanos tm sido to intensos que a sociedade urbana passa a ser conhecidatambm como a sociedade do controle.

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  • A Cidade

    1. Cidade

    Cidades e metrpoles se diferenciam por seu tamanho e complexidade urbana. Enquanto as cidades so as sedes dedeterminados municpios, independente do nmero de habitantes que possam ter, as metrpoles, por sua vez, so cidadescom populao absoluta superior a 1milho de habitantes. (FREITAS, 2010).

    Atualmente as cidades esto entrando num processo de verticalizao, que o processo prprio dos centros urbanos quetm suas construes fsicas expandidas de modo vertical. Verticalizao, portanto, o fenmeno da transformaoarquitetnica de uma cidade. Geralmente, ocorre por falta de rea geogrfica comprometida provocando uma mudana daforma horizontal das construes para a verticalizao.

    As cidades de grande porte, isto , as metrpoles, tm provocado um processo de segregao social queles menosprivilegiados socialmente. Tal fato pode ser verificado em vrios espaos destinados a produzir a apartao.

    Os grandes shoppings centers so considerados, por exemplo, espaos de apartao social. Algumas classes sociais notm acesso ao seu interior por causa de uma srie de mecanismos destinados propositalmente a apartar socialmente asclasses indesejadas. Isso pode ser observado na distncia em que os shoppings esto dos grandes centros urbanos, avigilncia dentro e fora dos shoppings para abordar qualquer pessoa suspeita, o custo dos objetos venda dentro dosshoppings, etc.

    As cidades tm crescido bastante nas ltimas dcadas. Com esse crescimento, tambm tem aumentado os problemasprprios da urbanidade. As cidades absorveram quase dois teros da exploso populacional global nos ltimos 60 anos. Em1950, havia 86 cidades no mundo com mais de 1 milho de habitantes. Hoje so 400, e em 2015 sero pelo menos 550cidades no mundo com mais de 1 milho de habitantes. (Davis, 2007, p.13).

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  • O aumento populacional das cidades

    1.1 O aumento populacional

    Nesse cenrio de intenso crescimento global dos centros urbanos, a fora de trabalho urbana do mundo mais que dobroudesde 1980, e a populao urbana atual de 3,2 bilhes de pessoas maior do que a populao total do mundo quando JohnF. Kennedy tomou posse (DAVIS, 2006, p. 14).

    O meio rural em todo o mundo alcanou sua populao mxima e, segundo estimativas dos demgrafos, comear a diminuira partir de 2020, conquanto a tecnologia j tenha alcanado o meio rural. Ainda assim as pessoas esto preferindo viver nascidades. (DAVIS, 2006, p. 14). As cidades sero responsveis por quase todo o crescimento populacional do mundo, cujopico, de cerca de 10 bilhes de habitantes, espera-se que acontea em 2050 (DAVIS, 2006, p. 14).

    Estuda-se hoje o fenmeno do surgimento das megacidades (cidades com mais de 8 milhes de habitantes) e, ainda o dashipercidades, cuja populao ultrapassa os 20 milhes de habitantes.

    A publicao Far Eastem Economic Review estima que, em 2025, a sia, sozinha, poder ter dez ou onze hipercidadescomo: Jacarta (24,9 milhes), Daca (25 milhes) e Karachi (26,5 milhes). Prev-se que Mumbai (Bombaim) atinja 33 milhesde habitantes, embora no se saiba se concentraes de pobreza to gigantescas so sustentveis em termos biolgicos eecolgicos. (DAVIS, 2006, p. 16).

    As cidades que explodem no mundo em desenvolvimento tambm criam novos e impressionantes corredores, redes ehierarquias. A Regio Metropolitana Ampliada Rio-So Paulo (RMARSP) inclui as cidades de tamanho mdio no eixo virio de500 quilmetros entre as duas maiores metrpoles brasileiras. (DAVIS, 2006, p. 16).

    O crescimento rpido das cidades tem se dado acima de sua capacidade para abrigar sua populao. Tal fato tem geradouma acomodao populacional em precria situao, dando origem s favelas, geralmente na periferia das grandes cidadesou em bolses de mata no interior de metrpoles.

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  • A "favelizao" dos grandes centros urbanos

    1.2 A favelizao dos grandes centros urbanos

    Ao analisar o crescimento das cidades em todo o planeta, observa-se que desde 1970, o crescimento das favelas em todo ohemisfrio sul ultrapassou a urbanizao propriamente dita (DAVIS, 2006, p. 27). O Brasil no fica atrs. As favelas de SoPaulo cresceram na dcada de 1990 no ritmo impressionante de 16,4% ao ano. Em 1973, 1,2% da populao so paulina erade favelados. Em 1993 essa populao j significava 19,8% em relao a toda a cidade. (IMPARATO, RUSTER, 2003, p.333).

    Na Amaznia brasileira, grandemente privada de servios pblicos e transporte municipal, as favelas crescem com maisvelocidade do que no restante do mundo. De acordo com pesquisa realizada por Browder e Godfrey, 80% do crescimento dascidades da Amaznia tem-se dado nas favelas. (BROWDER; GODFREY, 1997, p.130).

    Em todo o mundo, o crescimento das cidades tem provocado o aumento das regies urbanas perifricas, desprovidas damaior parte dos bens comuns fundamentais para que a cidadania se efetive. Em geral, falta gua potvel e encanada, rede deesgotos, energia eltrica, assistncia mdico-hospitalar, escolas, policiamento, etc. As favelas crescem num ritmo frentico.Estudos revelam que as favelas indianas continuam a crescer 250% mais depressa do que a populao em geral. (HASAN,1996, p. 34). Os demgrafos estimam que em 2015, a frica negra ter 332 milhes de favelados, nmero que continuar adobrar a cada quinze anos (DAVIS, 2006, p.28).

    Diante desse crescimento vertiginoso dos grandes centros urbanos, provocando o que alguns demgrafos esto chamandode favelizao do planeta, h de se considerar algumas consequncias desse adensamento populacional nas cidades.

    Primeiramente, o adensamento populacional nas cidades tem provocado um esgotamento dos recursos naturais. Tanto a floracomo a fauna ficam comprometidas, bem como as fontes hdricas.

    O adensamento populacional nos centros urbanos tambm provoca uma intensificao das taxas criminais. Quanto maispessoas convivendo juntas, maior a probabilidade do surgimento de conflitos. O fato de uma cidade ser de pequeno porte noelimina as manifestaes de violncia em sua rea. Entretanto, quanto maior a cidade, mais complexas so as relaessociais, produzindo, enfim, uma maior probabilidade de conflitos.

    Em terceiro lugar, preciso considerar ainda a perda acelerada da qualidade de vida. A concentrao populacional numadeterminada regio compromete o uso de gua potvel, alm da perda de qualidade pela ausncia ou ineficincia das redesde esgoto, bem como o consumo excessivo de energia eltrica.

    Metade das favelas de So Paulo fica s margens dos reservatrios que fornecem gua cidade. Isso pe em risco a sadepblica, j que os invasores lanam os seus resduos diretamente nos reservatrios ou os riachos que lhes fornecem gua.Os sistemas de controle de qualidade da rede de gua municipal tm sofrido problemas numerosos nos ltimos anos. Almde aumentar a clorao da gua para impedir doenas entricas, mal conseguem controlar a proliferao de algas, j queelas crescem demasiado com o acmulo de material orgnico (TASCHNER, 1995, p. 193; GALVO, 2003, p. 10)

    O adensamento populacional provoca tambm um excesso de rudo gerador de poluio sonora, acarretando enfermidadesnos indivduos da regio, a mdio e a longo prazo.

    O adensamento populacional nas cidades provoca tambm um aumento e uma sobrecarga nas horas de trabalho, pois ademanda por bens e servios alta.

    Os grandes centros urbanos produzem ainda uma perda gradual de contato (mesmo o contato social primrio) com a famlia.O contato social primrio aquele em que envolve algum tipo de afetividade.

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  • nas grandes cidades tambm que se observa um colapso dos espaos burocrticos: fruns, cartrios, entre outrasinstituies pblicas.

    preciso considerar tambm que o adensamento populacional das grandes cidades provoca o estrangulamento da malhaviria e o consequente aumento da violncia no trnsito.

    Alm disso, preciso considerar a elevao da temperatura ambiental. As grandes cidades promovem um aquecimentoclimtico advindo das estruturas de concreto, da manta asfltica das estradas, do desmatamento, do excesso de uso deaparelhos eltricos, etc.

    Portanto, somos seres sociais vivendo, na maior parte das vezes, nas cidades. Para que o meio urbano no se transformenum ambiente social hostil preciso cuidar dele de tal modo que no se transforme num ambiente de violncia.

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  • A Violncia

    2. Violncia

    Uma vez que a maior parte da populao global vive no meio urbano, nesse ambiente que se observa o maior nmero demanifestaes de violncia. A cada dia somos confrontados com dados assustadores, quando se trata de violncia. Porexemplo: quando se trata de analisar os homicdios de crianas e jovens no Brasil, percebe-se um percentual alto. De 1980 e2002, (portanto, 22 anos) o nmero de homicdios entre crianas e adolescentes de 0 a 19 anos representou 16% do total dehomicdios em todo pas. (TOURINHO;CARDIA; SANTOS, 2007, p.41) Do total de bitos por homicdios ocorridos nesseperodo, 88,4% foram do sexo masculino. Considerando o tipo de arma usada, 59,8% dos homicdios foram por arma de fogo,21,1% por outros instrumentos e 19,1% por instrumentos no especificados. (TOURINHO;CARDIA; SANTOS, 2007, p. 42).

    Clique aqui para assistir entrevista com o Comandante Edson Barbosa Silva, Coronel da Polcia Militar do Distrito Federal,atualmente ocupando a funo de Corregedor Geral da PMDF.

    Quando se trata de analisar a violncia contra a mulher, em nveis mundiais, percebemos mais detalhadamente a gravidadedo fenmeno. De acordo com o Relatrio Mundial sobre a Violncia e a Sade (2002), quase metade das mulheresassassinadas so mortas pelo marido ou namorado, seja este seu companheiro atual ou no. Esse tipo de violncia respondepor aproximadamente 7% de todas as mortes de mulheres de 15 a 44 anos no mundo. Em alguns pases, at 69% dasmulheres relatam terem sido agredidas fisicamente e at 47% declaram que sua primeira relao sexual foi forada. (OMS,2002). Veja aqui vdeo sobre a violncia contra a mulher.

    Estes so apenas alguns dados, guisa de exemplo, para que percebamos a gravidade do assunto violncia.

    Segundo o Dicionrio Houaiss, violncia a ao ou efeito de violentar, de empregar fora fsica (contra algum ou algo) ouintimidao moral contra (algum); ato violento, crueldade, fora. No aspecto jurdico, o mesmo dicionrio define o termocomo o constrangimento fsico ou moral exercido sobre algum, para obrig-lo a submeter-se vontade de outrem; coao.

    Ora, violncia um conceito muito amplo. bem mais do que uma constatao de que a violncia a imposio de dor, aagresso cometida por uma pessoa contra outra; mesmo porque a dor um conceito muito difcil de ser definido. O que dorpara um pode no ser para outro.

    As formas de violncia, tipificadas como violao da lei penal, como assassinato, sequestro, roubo e outros tipos de crimecontra a pessoa ou contra o patrimnio, constituem um grupo, dentro do fenmeno da violncia, que se convencionou chamarde violncia urbana, porque se manifesta principalmente no espao das grandes cidades. Um fenmeno novo da violnciaurbana trata dos conflitos urbanos previamente agendados.

    Veja no vdeo a priso de vrios adolescentes que tinham como hbito marcar dia e hora, no Parque da Cidade em Braslia,para a realizao de brigas.

    A violncia urbana, no entanto, no compreende apenas os fenmenos tipificados como crimes, mas tambm todos os efeitospsicolgicos que provoca sobre as pessoas. Sendo assim, a violncia urbana interfere no tecido social, prejudica a qualidadedas relaes sociais, pois os indivduos de uma sociedade permeada pela violncia tornam-se desconfiados de seus pares, ese isolam em sua prpria rea de atuao, pois ali se julgam seguros.

    Sociedades marcadas pela violncia caracterizam-se por indivduos cujas residncias se tornam cada vez mais encasteladas,com muros altos, ces de guarda, grades de proteo nas janelas e portas, cercas eltricas, alarmes, segurana particular,etc.

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  • A Violncia

    Na ltima dcada, a violncia tem estado presente em nosso dia-a-dia, no noticirio e em conversas com amigos. Todosconhecem algum que sofreu algum tipo de violncia. H diferenas na viso das causas e de como super-las, mas amaioria dos especialistas no assunto afirma que a violncia urbana algo evitvel, desde que polticas de segurana pblicae social sejam colocadas em ao. preciso atuar de maneira eficaz tanto em suas causas primrias quanto em seus efeitos. preciso aliar polticas sociais que reduzam a vulnerabilidade dos moradores, principalmente os das periferias. Uma tarefaque no s do Poder Pblico, mas de toda a sociedade.

    Quando se trata de estudar o fenmeno violncia preciso estar atento ao fato de que a violncia fsica uma manifestaoespetacular limitada a ocorrncias em menor escala. A violncia mais abrangente, forte e densa a violncia psicolgica,moral, tica e verbal. Esta se realiza no quotidiano, nas relaes sociais de modo invisvel, sempre sutil, na maior parte dasvezes, imperceptvel aos que esto ao lado da vtima e do agressor. a violncia velada, implcita, na qual em geral somente o agressor e a vtima tm conscincia das agresses infringidas e da vitimizao ocorrida. Mesmo oculta,no-verbal, abafada, a violncia transpira atravs dos no-ditos, dos subtendidos, das reticncias, e exatamente por isso um vetor de angstia (HIRIGOYEN, 2002, p. 112).

    Sendo assim, importante que se tenha conscincia de que a violncia ocorrida num ambiente de privao de liberdade menos visvel do que se pode perceber num primeiro momento. A violncia nesses ambientes construda em um mundocomplexo e dissimulado, inacessvel ao observador desatento e incapaz de, dialeticamente, envolver-se e distanciar-se.Possivelmente ser vista apenas a manifestao da violncia bvia em um ambiente de privao de liberdade, qual seja, aviolncia fsica, cujas feridas, bem ou mal, so cicatrizadas com o tempo. A maior e mais significativa manifestao daviolncia encontra-se no mbito psicolgico.

    A Organizao Mundial da Sade prope uma tipificao da violncia estratificada em trs nveis principais. A partir dessesnveis, possvel identificar outras subcategorias, bem como classific-las de acordo com sua natureza. De acordo com aOMS, a violncia estratifica-se em: 1) Violncia Auto-infligida, 2) Violncia Interpessoal, 3) Violncia Coletiva.

    A violncia infligida se subdivide em a) Conduta suicida, b) Auto-abuso. A violncia interpessoal, por sua vez, se subdivideem: a) famlia/ companheiro(a), b) Comunidade. Isso significa que a violncia interpessoal pode ocorrer a partir dafamlia/companheiro(a) ou a partir da comunidade vicinal os vizinhos. Em se tratando da violncia em famlia, suas vtimasso as crianas, os idosos, ou o cnjuge o(a) companheiro(a). J a violncia interpessoal ocorrida a partir da comunidade realizada por meio de conhecidos ou desconhecidos. Por fim, a violncia coletiva se subdivide em a) social, b) poltica, c)econmica.

    A natureza da violncia pode ser de ordem: 1) fsica, 2) sexual, 3) psicolgica, ou 4) privao ou negligncia. Destas quatro,apenas a de ordem sexual no se aplica na conduta suicida e no auto-abuso. Todas as demais se aplicam nas outrascategorias. Para compreender melhor essa tipologia, veja o grfico, clicando aqui.

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  • Sociedade do Controle

    3. Sociedade do Controle

    A expresso controle social geralmente voltada para o estudo do conjunto dos recursos materiais e simblicos de queuma sociedade dispe para assegurar a conformidade do comportamento de seus membros a um conjunto de regras eprincpios prescritos e sancionados (BOUDON; BOURRICAUD, 1993:101). Isso significa que manter o controle social utilizar todos os recursos possveis para que os indivduos de uma determinada sociedade se conformem com o status quolegitimado por essa sociedade. So vrios os meios de controle social, eles podem ser pblicos ou privados e seu objetivo proteger a ordem e defender a sociedade dos comportamentos considerados perigos (COUTINHO, 2010, p.2).

    Ora, numa sociedade, cujas taxas de violncia esto cada vez mais altas, imprescindvel que se aumente tambm ocontrole social para que essa violncia se mantenha dentro de limites suportveis. Para tanto, a sociedade moderna temutilizado todos os meios possveis, entre os quais os meios tecnolgicos, como cmeras de filmagens on-line, radares de altavelocidade, produtos qumicos para desvelamento de pistas antes invisveis, chips de rastreamento de veculos, semconsiderar o controle do Estado sobre o CPF dos indivduos, carto de crdito e dbito, etc. Clique aqui e veja trechos dereportagens mostrando o controle social por meio de cmeras de filmagens em cidades brasileiras e no exterior.

    A sociedade mantm controle rgido sobre seus membros. Contudo, a violncia continua crescendo nos centros urbanos.Curiosamente, os telejornais noticiam assaltos e furtos, filmados por cmeras, cujos protagonistas agem com desenvoltura edesinibio, mesmo sabendo que esto sendo vigiados.

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  • Sociedade do Controle

    Anthony Giddens observa que os mecanismos de vigilncia so uma das principais dimenses institucionais da modernidade.A modernidade caracterizada pela vigilncia social. Ser moderno ser vigiado. Para Giddens, a concentrao administrativaque caracteriza os Estados modernos em geral depende do desenvolvimento de condies de vigilncia bem alm daquelascaractersticas das civilizaes tradicionais (GIDDENS, 1991, p. 63). Para ele, a vigilncia se refere superviso dasatividades da populao sdita (...) de modo direto em instituies como as prises, as escolas, os locais de trabalho, etc. e, sobretudo, de modo indireto, fundamentada no controle da informao (GIDDENS, 1991, p. 63).

    A sociedade do controle utiliza os aparatos de segurana pblica, sobretudo por meio da tecnologia miditica, sempre com opropsito de dirimir as altas taxas de violncia. O uso da mdia para conter a violncia tem sua importncia, uma vez queimagens, alm de serem mais contundentes que as palavras, pois falam por si mesmas, tambm tm o poder de produziruma comoo social.

    A informao transformada em imagens produz um efeito de dramatizao suscetvel de suscitar muito diretamenteemoes coletivas, porque "[...] as imagens exercem um efeito de evidncia muito poderoso: mais do que o discurso, semdvida, elas parecem designar uma realidade indiscutvel; mesmo que sejam, igualmente, o produto de um trabalho mais oumenos explcito de seleo e de construo" (CHAMPAGNE, 1993, p. 62).

    Uma sociedade que busca manter o controle sobre a violncia no pode prescindir do aparato policial para manter a ordem ea segurana. Portanto, Segurana Pblica passa principalmente pela fora policial, mas no apenas por ela. SeguranaPblica tambm diz respeito iluminao pblica, ausncia de terrenos baldios e repletos de mato nos quais criminosospodem se esconder para aguardar novas vtimas. Segurana Pblica se evidencia pela construo de uma malha viriaurbana, de modo a evitar os estreitos caminhos e atalhos construdos por pedestres.

    Como vimos, Segurana Pblica passa tambm pelo vis da tecnologia, da vigilncia miditica. Ora, apenas a fora policialno ser capaz de combater a violncia numa determinada sociedade. preciso um esforo conjunto de todas as frentes doEstado, associadas sociedade, utilizando-se de todos os meios possveis para que se mantenha o controle social.

    Em cidades cada vez maiores, com uma densidade populacional sempre crescente, com o aumento da pobreza e oenfavelamento dos grandes centros urbanos, preciso uma atuao conjunta do Estado e Sociedade no enfrentamentodesse quadro. Para diminuir a violncia, entre outras aes e polticas pblicas voltadas para a educao, sade, emprego emoradia, imprescindvel haver uma sociedade do controle em todas essas reas, principalmente quanto violncia urbana.

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  • Referncias bibliogrficas Unidade 6

    ALVAREZ, Marcos Csar. Controle Social: notas em torno de uma noo polmica. So Paulo em Perspectiva, 18(1):168-176, 2004

    BOUDON, R.; BOURRICAUD, F. Dicionrio Crtico de Sociologia. So Paulo: tica, 1993. 653p.

    BROWDER, John; GODFREY, Brian. Rainforest Cities: Urbanization, Development and Globalization of the BrazilianAmazon. Nova York: Columbia University, 1997.

    CHAMPAGNE, Patrick. La vision mdiatique. in: BOURDIEU, Pierre (Org.), La misre du monde. Paris: Seuil, 1993.

    COUTINHO, Ana Helena Cardoso. Controle social, violncia urbana e Direitos humanos. Relatrio Final. Departamento dedireito. Disponvel em: .Acesso em: 31 de maio de 2010

    DAVIS, Mike. Planeta Favela. So Paulo: Boitempo, 2006.

    FREITAS. Eduardo. Equipe Brasil Escola.http://www.brasilescola.com/brasil/urbanizacao.htm Acesso em 26 de maio de 2010.

    GALVO, Luis. A Water Pollution Crisis in the Americas, Habitat Debate, Sept. 2003. Um-Habitat / Unided Nations HumanSettlements Programme.http://ww2.unhabitat.org/hd/hdv9n3/10.asp#americas Acesso em 28 de maio de 2010.

    GIDDENS, A. As conseqncias da modernidade. So Paulo: Edunesp, 1991.

    HASAN, Arif. Introduction in KHAN, Akhtar Hameed. Orangi Pilot Project: reminiscences and reflections. Karachi: OxfordUniversity, 1996.

    HIRIGOYEN, Marie-France. Assdio Moral: a violncia perversa no cotidiano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

    IMPARATO, Ivo; RUSTER, Jeff. Slum Upgrading and Participation: Lessons from Latin America. Washington: Work Bank,2003.

    ORGANIZACIN PANAMERICANA DE LA SALUD. Informe mundial sobre la violencia y la salud:resumen. Washington, D.C.:Organizacin Panamericana de la Salud, 2002http://www.who.int/violence_injury_prevention/violence/world_report/en/summary_es.pdf Acesso em 28 de maio de 2010.

    POPULATION INFORMATION PROGRAM, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins Bloomburgs School ofPublic Health, Meeting the Urban Challenge, Population Reports, v.30, n. 4, Baltimore, outono (set.-nov.) de 2002, p.1.

    PORTAL VIOLNCIA CONTRA A MULHERhttp://www.violenciamulher.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=606&catid=20:sobre-a-violencia-contra-a-mulher acesso em 24 de maio de 2010.

    TASCHNER, Suzana. Squatter Settlements and Slums in Brazil, in ALDRICH, Brian; SANDHU, Ranvinder (Orgs.). Housingthe Urban Poor: policy and practice in developing countries. London: Taschner, 1995.

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  • TOURINHO, Maria Fernanda Peres; CARDIA, Nancy; SANTOS, Patrcia Carla. Homicdios de Crianas e Jovens no Brasil,1980 a 2002. So Paulo:Ncleo de Estudos da Violncia/Universidade de So Paulo-NEV/USP, 2006.http://www.ovp-sp.org/relatorio_nevusp_homicidios_jovens.pdf acesso em 24/05/10

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  • Participe do Frum

    Estamos chegando ao final do primeiro Mdulo.

    A fim de sistematizar a leitura e aprofundar os conhecimentos, muito importante que voc participe do Frum de Debates doMdulo I. No frum, gostaramos de v-los discutir sobre o tema do filme O Contador de Histrias, de Luis Villaa, obra quenos parece preciosa, e que sugerimos enfaticamente que voc assista, em algum momento durante o curso.

    O filme ilustra com clareza o papel complementar da famlia e da sociedade na formao integral da criana e do adolescente.Consideramos que ele contribui para tornar ainda mais evidente o argumento que tratamos no mdulo: que os outros, asociedade e a cultura tm um papel fundamental no desenvolvimento da pessoa, que um sujeito ativo, que pode alterar suatrajetria de desenvolvimento com a mediao de pessoas comprometidas e de uma estrutura de oportunidades sociais. Ainterao entre a pessoa e seu contexto social, compreendidos como estruturas que se transformam, tem um papel maisdecisivo para a histria pessoal do que a determinao gentica ou as caractersticas inatas.

    Por agora, com o objetivo de fundamentar a discusso no frum, sugerimos que vc assista ao menos o clipe de propagandainstitucional desse filme, o qual pode ser acessado clicando aqui.

    Aps assistir ao clipe, convidamos voc ao debate, partindo da seguinte pergunta:

    Como a famlia, a sociedade e as instituies sociais (incluindo as instituies socio-educativas) participam da formao (e atransformao da pessoa)?

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  • Referncias e Bibliografia Complementar da Unidade 1

    Caro(a) cursista,

    Se voc est interessado em conhecer os textos utilizados na preparao das unidades do mdulo I, possvel ter acesso sreferncias completas das Unidades abaixo:

    Unidade 1: A democratizao e o reconhecimento da infncia e adolescncia

    Unidade 2: Novos contornos da Famlia na Sociedade contempornea

    Clique aqui para acessar as referncias bibliogrficas das unidades 1 e 2

    Unidade 3: Sociedade do Controle, violncia e a cidade

    Clique aqui para acessar as referncias bibliogrficas da unidade 3

    Bibliografia complementar

    Clique aqui para acessar a bibliografia complementar.

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  • Comentrios finais e mensagem aos cursistas

    Comentrios finais e mensagem aos cursistas

    Caro(a) cursista,

    Encerramos aqui o nosso mdulo I, em que tratamos sobre a histria e os conceitos de infncia, adolescncia, famlia esociedade, procurando compreender a complexidade de cada um deles!!

    Esperamos que voc tenha gostado de estudar os assuntos abordados nesse mdulo e que possa se apropriar dessesconhecimentos para refletir e aprimorar seu trabalho!!

    importante, agora, que voc volte aos objetivos do Mdulo 1 e se autoavalie, apreciando em que medida considera t-losatingido.

    Caso se sinta insatisfeito/a com seu resultado, no hesite em retornar aos textos do Guia de Estudos e bibliografiacomplementar. Dialogue com seus colegas e pea ajuda ao tutor.

    No prximo mdulo, voc ter a oportunidade de estudar o marco legal e as polticas pblicas que fundamentam o sistemade garantia de direitos de crianas e adolescentes, tema importantssimo no qual se justifica a criao do SINASE.

    Desejamos sucesso na continuidade dos estudos!!!

    Um forte abrao!!!

    Profa. Maria Cludia Oliveira e Prof. Samuel Costa

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  • UNIDADE 4 - Fatores de risco e teorias explicativas sobre o fenmeno da adolescncia emconflito com a lei

    Ol, agora vamos estudar a Unidade 4.

    Parabns, voc j passou da metade dos estudos do Mdulo I. Temos certeza de que est gostando e aprendendo bastante!

    Vamos agora aos temas da Unidade 4.

    Nesta unidade, abordaremos: * As compreenses que cercam a noo de risco e os fatores de risco e proteo na adolescncia; * As teorias explicativas sobre o fenmeno da adolescncia em conflito com a lei: vulnerabilidade e o conceito de resilincia; e* O controle social da pobreza.

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  • O desenvolvimento da pessoa: muitos caminhos

    Leia o seguinte relato:

    Uma senhora de meia idade escreve ao programa de rdio, no qual um psiclogo responde s queixas dos ouvintes. Elacomunica que sente sua liberdade e autonomia esto comprometidas pelo fato de os dois filhos solteiros, de 28 e 30 anos,no haverem buscado uma vida autnoma, continuarem no somente a habitar com ela, mas a dependerem dela para todasas atividades domsticas. Ela os descreve como imaturos e inseguros e se diz arrependida hoje em dia por haver sido umame zelosa e amorosa. Escuta do terapeuta da rdio que seus filhos padecem de excesso de amor, que o amor fartamentedevotado pela me ao longo da vida impediu que os mesmos ousassem, errassem e acertassem, convertendo-os empessoas temerosas da vida.

    O caso brevemente relatado acima ilustra, tal como temos buscado enfatizar nas sees anteriores, que o desenvolvimentohumano no um processo simples, que toma uma nica via. O mesmo fator que pode ser fonte de segurana e estabilidadepara uns pode se converter em causa de insegurana e imaturidade em outros. Do mesmo modo, as mesmas circunstnciasque podem estar associadas e justificar desvios de conduta para uns so assimiladas por outros de uma maneira que noafeta negativamente o curso de seu desenvolvimento pessoal e social.

    Argumentamos que o desenvolvimento humano pode seguir vrios caminhos, de acordo com as experincias vividas e com omodo como a pessoa se posiciona em relao a tais experincias. Um dos principais desafios compreender ocomportamento de um e explicar por que determinadas pessoas e grupos se tornam mais vulnerveis a tropear diante dosobstculos, enquanto outros se mantm eretos. Nas ltimas dcadas, noes como as de risco, vulnerabilidade e resilinciatm se mostrado frteis na compreenso do problema da criminalidade.

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  • A noo de RISCO

    Verificamos, ao longo do sculo XX, uma alterao da orientao tomada nas polticas sociais. Essa mudana significou queas aes deixaram de focar as pessoas, como sujeitos individuais, e passaram a buscar atingir as populaes, as massas,tomadas enquanto sujeito coletivo, que se necessitava manter sob controle em uma sociedade urbanizada, em expanso ecada vez mais complexa.

    Sofisticaram-se em igual proporo os mecanismos de controle social, que passaram a ser exercidos sobre esse sujeitocoletivo. No mais bastavam as normas sociais. Era necessrio criar dispositivos ainda mais finos para controlar a condutadessa massa. A noo de risco surge nesse contexto e sugere um novo modo de se relacionar com a incerteza do futuro,com as fatalidades e os perigos do outro e da vida cotidiana. As dificuldades passaram a ser tratadas no mais como algo daordem do acaso, mas da probabilidade, algo que passa a ter existncia mesmo sem existir. Como exemplo, considere asseguintes afirmaes: Ao andar s em uma rua escura, noite, voc pode ser assaltado. As pessoas que andam ss, emruas escuras ou em regies violentas, aps as 22h, tem x% a mais de probabilidade de serem assaltadas (leia-se, do que sepermanecessem em suas casas).

    Nota-se que a primeira afirmao fala do possvel, a segunda fala do provvel. A construo objetivada do futuro contida nasegunda afirmao confere realidade ao acaso, convertendo-o em objeto de previso, gerenciamento e controle. Motiva odesenvolvimento de estratgias de preveno, governando a ao individual em algumas direes enquanto a afasta deoutras. A gesto dos riscos um dos principais dispositivos presentes nas sociedades de controle.

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  • Risco e controle social na gesto da pobreza

    No contnuo processo de complexificao das sociedades ocidentais, tomadas como sociedades de controle, a noo de riscose expandiu do impondervel para englobar tambm grupos e classes de pessoas. Termos como famlias de risco, crianasde risco, grupos de risco se alargaram, favorecendo a aproximao entre perigo e pobreza antes inexistente (fenmeno queabordamos de modo introdutrio quando tratamos da relao entre Estado e famlias pobres, na Unidade 2 deste Mdulo).

    O trabalho de Coimbra (2001) trata da produo social das classes perigosas. A autora aborda o fenmeno pelo qual asociedade promove a associao cada vez mais ntima entre a condio de pobreza e estados como a ociosidade, lascvia,preguia, mendicncia, decadncia moral, usurpao e ameaa. Semelhantes representaes sobre a pobreza justificaram aspolticas e aes governamentais juntos s famlias e s crianas pobres durante cerca de um sculo, no Brasil,caracterizadas como compensatrias e orientadas preveno e proteo do futuro das crianas; polt