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Julia Zardo, [email protected], é Doutoranda em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento pelo PPED/UFRJ, Mestre em mídia e mediações socioculturais e Graduada em Comunicação Social pela PUC-Rio Ruth de Mello, [email protected], é Mestre em Desenvolvimento, Sociedade e Agricultura pelo CPDA/UFFRJ, Especialista em Políticas Públicas e Governo pelo IUPERJ/UCAM e Graduada em Ciências Econômicas pelo IE/UFRJ. Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Rua Marquês de São Vicente, 225 - Prédio Gênesis, Gávea. Telefone: 21 3527 1763 O CONCEITO DE CRIATIVIDADE NA CIDADE DO RIO: Ambientes e economia criativa para o desenvolvimento Julia Bloomfield Gama Zardo Ruth Espínola Soriano de Mello Palavras-chave: Desenvolvimento, Economia Criativa, Empreendedorismo, Rio de Janeiro, Territórios. Resumo: Este artigo lida com a discussão sobre a crescente conscientização e a valorização de iniciativas de promoção de ambientes que estimulam a inovação produtiva, cooperativa e criativa. Quanto à metodologia de apresentação do artigo, a contribuição de vários estudiosos é dirigida ao longo do texto de uma forma crítica e dialógica, focando principalmente nos debates em torno dos conceitos centrais do artigo: economia criativa, cultura, redes e territórios. Rio de Janeiro e sua trajetória histórica e conceitual são comentados, bem como três territórios na cidade - Santa Teresa, Lapa, e o corredor cultural Gávea - Jardim Botânico e Botafogo - são destacadas brevemente, com o objetivo de contribuir para a análise do desenvolvimento de processos das regiões e comunidades, com foco em redes de colaboração, cooperação e na valorização de aspectos culturais locais, especialmente nas dinâmicas econômicas atuais e perfil internacional da cidade. As considerações finais visam apresentar a reavaliação do foco de ação local para a implementação de políticas e instituições que surgem como uma estratégia, submetidos a um processo de desenvolvimento e observação de novos ambientes produtivos e inovação criativa, que têm impacto real na qualidade de vida e desenvolvimento cultural, social e econômico de uma região.

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Julia Zardo, [email protected], é Doutoranda em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento pelo PPED/UFRJ, Mestre em mídia e

mediações socioculturais e Graduada em Comunicação Social pela PUC-Rio

Ruth de Mello, [email protected], é Mestre em Desenvolvimento, Sociedade e Agricultura pelo CPDA/UFFRJ, Especialista em Políticas Públicas

e Governo pelo IUPERJ/UCAM e Graduada em Ciências Econômicas pelo IE/UFRJ.

Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Rua Marquês de São Vicente, 225 - Prédio Gênesis, Gávea. Telefone: 21 3527 1763

O CONCEITO DE CRIATIVIDADE NA CIDADE DO RIO:

Ambientes e economia criativa para o desenvolvimento

Julia Bloomfield Gama Zardo

Ruth Espínola Soriano de Mello

Palavras-chave: Desenvolvimento, Economia Criativa, Empreendedorismo, Rio de Janeiro,

Territórios.

Resumo:

Este artigo lida com a discussão sobre a crescente conscientização e a valorização de

iniciativas de promoção de ambientes que estimulam a inovação produtiva, cooperativa e

criativa.

Quanto à metodologia de apresentação do artigo, a contribuição de vários estudiosos é

dirigida ao longo do texto de uma forma crítica e dialógica, focando principalmente nos debates

em torno dos conceitos centrais do artigo: economia criativa, cultura, redes e territórios.

Rio de Janeiro e sua trajetória histórica e conceitual são comentados, bem como três

territórios na cidade - Santa Teresa, Lapa, e o corredor cultural Gávea - Jardim Botânico e

Botafogo - são destacadas brevemente, com o objetivo de contribuir para a análise do

desenvolvimento de processos das regiões e comunidades, com foco em redes de colaboração,

cooperação e na valorização de aspectos culturais locais, especialmente nas dinâmicas

econômicas atuais e perfil internacional da cidade.

As considerações finais visam apresentar a reavaliação do foco de ação local para a

implementação de políticas e instituições que surgem como uma estratégia, submetidos a um

processo de desenvolvimento e observação de novos ambientes produtivos e inovação criativa,

que têm impacto real na qualidade de vida e desenvolvimento cultural, social e econômico de

uma região.

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THE CONCEPT OF CREATIVE IN THE CITY OF RIO:

Environments and creative economy for development.

Julia Bloomfield Gama Zardo

Ruth Espínola Soriano de Mello

Keywords: Development, Creative Economy, Entrepreneurship, Rio de Janeiro, Territories.

Structured Abstract:

This article, written in the form of full article, deals with the discussion of the growing

awareness and the appreciation of initiatives of environments promoting that stimulate

innovation productive, cooperative and creative.

Regarding the methodology of presentation of the article, the contribution of various

scholars is addressed throughout the text in a critically and dialogical form, focusing mainly on

the debates around central concepts of the article, namely: creative economy, culture, networks

and territories.

Rio de Janeiro and its historical and conceptual trajectory are treated, as well as three

territories in the city - Santa Teresa, Lapa, and the cultural corridor Gávea – Jardim Botânico

and Botafogo - are briefly highlighted, aiming to contribute to the analysis of processes

development of regions and communities, focusing on collaboration networks, cooperation, and

in the capital appreciation of local cultural aspects, especially in the current economic dynamics

and international profile of the city.

Final considerations are made in order to present the revaluation of local focus of action

for implementation of policies and institutions arises as a strategy submitted to a process of

development and observation of new productive environments, and creative innovation that have

real impact on the quality of life and cultural development, social and economic development of a

region.

Introdução:

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Esse artigo foi concebido considerando a emergência da economia criativa no Brasil, e

principalmente na cidade do Rio de Janeiro, em que há o entendimento de ser a capital da cultura

nacional ou mesmo um lócus criativo internacional no contexto da pós-modernidade.

Ao perceber que a cidade possui territórios de relevância cultural a sua importância no

meio da economia criativa passa a ser maior. Além disso, é necessário destacar indicadores

recentes apontam que a proporção de empreendedores que iniciam seus negócios por enxergar

oportunidades aumentou, enquanto a dos que os fazem por necessidade diminuiu (GEM, 2012).

Com isso, observa-se a tendência virtuosa do empreendedorismo inovador potencialmente mais

vigoroso e estruturado.

Juntando tais fatores, o Rio de Janeiro passa a ser o foco de muitos daqueles que veem a

economia criativa como um caminho propício para negócios que podem notadamente se

comportar como um vetor de desenvolvimento social e ambientalmente sustentável. O artigo

explora a Lapa, Santa Teresa e o corredor Jardim Botânico/Botafogo enquanto territórios

criativos pulsantes, que contribuem com a valorização de aspectos culturais locais,

principalmente ao tratar das dinâmicas econômicas atuais e o perfil histórico internacional da

cidade, além do desenvolvimento de processos das regiões e comunidades, analisando

principalmente as redes de colaboração e cooperação.

Rio de Janeiro: Lócus Criativo nacional.

O Brasil vem ganhando notoriedade internacional crescente por inúmeras razões, dentre

as quais se destaca o fato de ter sido escolhido para sediar uma sequência de megaeventos

esportivos mundiais em detrimento de outros países centrais. Tais adventos em parte respondem

pela conjuntura econômica extremamente favorável para o Brasil, em que pese o fato de que o

país passou praticamente imune à crise dos mercados globais de 2008 devido à solidez de suas

instituições financeiras e à continuidade do crescimento do mercado interno, e vem enfrentando

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novas crises instauradas na Europa, em 2012 e 2013, na esperança de responder de modo

igualmente satisfatório. De todo, o país conquistou e reforçou uma posição global de destaque

entre outros mercados do seu porte.

Adicionalmente, as recentes descobertas de extensos campos de petróleo na camada de

pré-sal da costa brasileira situaram o Brasil como o quinto maior detentor de reservas provadas

no mundo, agregando valor ao desenvolvimento e estabilidade do país.

Além disso, o Brasil tem conseguido alcançar indicadores que registraram dinâmica de

inovação em seu território importante se comparados a uma dinâmica histórica não expressiva.

Atualmente, o país está em 13º lugar na lista dos países com maior volume de produção científica

do mundo, assim como o número de mestrandos e doutorandos – responsáveis pelo maior volume

de produção científica no Brasil – é dez vezes maior do que há 20 anos.

Adicionalmente, o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2012 apontou que a taxa

de empreendedorismo no Brasil passou de 21% em 2002 para 30% em 2012, e que a de

empreendedores por necessidade caiu de 7% em 2002 para 5% em 2012, sendo que a de

empreendedores que abriram um negócio por enxergarem oportunidades no mercado cresceu de

6% para 11% no mesmo período.

Este cenário é ainda mais especial se considerarmos que nos últimos dez anos, os jovens

tem crescido sua representatividade no campo do empreendedorismo nacional. Mais de 30% dos

novos empreendimentos gerados no período foram criados por pessoas entre 25 e 34 anos (GEM,

2012), revelando que empreender tem sido um verbo muito conjugado quando pensam em opções

de empregabilidade de obter renda e riqueza.

Tais dados expressam o desempenho de processos de educação empreendedora que vem

sendo implementado há décadas pela Universidade Empreendedora, em articulação com a Tripla

Hélice, e que tem sido estendida recentemente inclusive para programas de ensino técnico, na

formação de novos profissionais e qualificação da força de trabalho nacional enfoque que, por

deter natureza mais enxuta e prática, oportuniza uma aprendizagem empreendedora

potencialmente estratégica às nações que a concebem no bojo dos vetores de desenvolvimento

sustentável. (ARANHA, 2009)

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Fatores competitivos intrínsecos - como o baixo custo da força de trabalho ou avanços

específicos relacionados à tecnologia da informação - somente podem ser superados pela

inteligência de novos modelos de negócios, novos processos, novas tecnologias e outros

decorrentes da criatividade, imaginação e inovações constantes. Este é o caminho a ser trilhado

tanto por países desenvolvidos, quanto por países em desenvolvimento.

Neste contexto, o Brasil precisa superar os desafios que a Lei Nacional de Inovação

apresentou desde sua vigência, em 2004, especialmente para os Núcleos de Inovação

Tecnológicas (NITs) quanto à sustentabilidade, tanto do ponto de vista da manutenção de

recursos, carência de profissionais especializados, questão cultural dos pesquisados, estudantes e

empresariado associado quanto à relação com a transferência de tecnologia per se ou de parcerias

para o desenvolvimento de soluções. (ANPROTEC, 2012, p. 86)

É neste mesmo contexto que se observa também a emergência da economia criativa no

Brasil, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, considerada por muitos como a capital

cultural nacional ou mesmo como lócus criativo internacional da pós-modernidade. Os processos

de renovação urbana estão dando origem a novos contornos e estratégias de articulação visando à

promoção do desenvolvimento local integrado e endógeno, com ampla participação da sociedade.

O Rio de Janeiro já tem territórios de destaque internacional. Como exemplo, o bairro de

Santa Teresa e entorno, nas proximidades do centro da cidade, que, “ao se tornar uma constelação

de atividades econômicas e culturais, [...] pode ser considerado um ambiente criativo que

descobre novas vocações e se reinventa como uma cidade criativa”, segundo artigo de Achcar

(2011).

Além de Santa Teresa, a região da Lapa e entorno, também localizada nas proximidades

do centro da cidade do Rio de Janeiro é na atualidade reconhecidamente um polo de

entretenimento. A região oferece um circuito cultural do samba e do choro e releva possibilidades

para a indústria da música para o Estado do Rio de Janeiro.

O bairro da Lapa, antigo reduto da “malandragem carioca” do início do século passado,

estava notadamente abandonado pelo Estado nos anos 1990, tendo sido recuperado por artistas e

comerciantes da própria região. Tal fato evidencia como circuitos independentes que se

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configuram como alternativas ao monopólio dos grandes conglomerados empresariais de cultura

e de comunicação conforme argumenta Micael Herschmann (2007). A trajetória de sucesso deste

território fornece pistas que evidenciam a importância estratégica da cultura e, em particular, da

indústria da música local para o desenvolvimento de diferentes regiões do país.

Adicionalmente, o corredor cultural que abrange os bairros da Gávea, do Jardim Botânico

e de Botafogo e que abriga a maior quantidade de empreendimentos formais na área da economia

criativa na cidade (FIRJAN, 2012).

Essa última região tem expressiva representação de agentes que atuam no segmento mais

dinâmico da economia criativa, o audiovisual, conforme Bruno Feijó argumenta:

“O setor de conteúdo audiovisual é um dos mais representativos do novo cenário industrial

internacional e um dos que mais crescem no mundo digital na atualidade. Este setor gera

bens de elevado valor agregado, conforma um mercado onde podem florescer e interagir

diversas pequenas, médias e grandes empresas, convoca grande diversidade de força de

trabalho especializada, abre perspectivas para a inclusão social e trabalha explicitamente

com a valorização da propriedade intelectual. Em outros termos, neste ramo, pode-se fazer

mais com menos recursos”. (FEIJÓ, 2012)

Ainda segundo Feijó, a cidade do Rio de Janeiro preserva a vocação de ser o ambiente físico e

cultural mais propício para a atração do bipolo “investidores & pessoas tecnológicas criativas”

conforme definição de Paul Graham em 2006 (Graham apud FEIJÓ, 2012).

A cidade do Rio de Janeiro tem ainda regiões não exploradas do ponto de vista de seu

potencial criativo de estímulo a tecidos culturais locais. Como exemplo, pode-se pensar na

promoção de circuitos que remontam e recontam história do surgimento da bossa nova, do

samba, do funk, dentre outras expressões do segmento da música que expressam a vanguarda

carioca em novos ritmos que tem influenciado internacionalmente.

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Esse movimento de redescoberta dos lugares em meio à dinâmica global-local suscita

novos empreendimentos que ressignificam os espaços urbanos para além de seus elementos

materiais, vinculando os constructos imateriais, as atividades culturais, as formas comunitárias

ricas de simbolismo, como fatores propulsores das economias locais. Essa relação produz

talentos, aumenta a oferta de empregos, gera conhecimento entre a comunidade, aumenta o

potencial criativo de empresas, atraem turistas, promove diversidade social e cultural

contribuindo para a economia da cidade e qualidade de vida de seus cidadãos, na medida em que

mantêm um constante diálogo com a comunidade local e com os poderes público e privado.

Ao apontar as atividades estruturadas no talento e nas habilidades individuais que

contemplam conteúdo criativo e valor econômico, as indústrias criativas respondem por um vetor

de desenvolvimento que engloba a criação, produção e distribuição de produtos e serviços

criativos, imputando valor agregado inovador ao ativo intelectual; a criatividade é algo que

sempre se renova, e uma economia criativa pode se apresentar como uma significativa estratégia

de desenvolvimento e distribuição de renda.

Além disso, a diversidade étnica da cultura brasileira soma-se à fragmentação fugaz da

produção cultural universal que se transforma e se comunica em tempo real, fazendo com que as

indústrias criativas se organizem fora de uma linha de montagem fordista, configurando um

sistema em que “cada produto é um protótipo, único e insubstituível”. Assim, as “indústrias

criativas não só contribuem com o Produto Interno Bruto (PIB) de seus países e com um diálogo

interno de muitas vozes, como também exportam seus produtos e seus modos de vida”

(DIEGUES, 2010).

A indústria criativa já é considerada a terceira maior indústria do mundo, superada apenas

pela indústria do petróleo e pela indústria armamentista, e tem como principal insumo a

criatividade. No Brasil, o setor movimenta mais de 667 bilhões de reais anualmente –

correspondendo a 18% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, segundo estimativa da

Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN, 2012) que se valeu apenas de

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dados formais do número de empregados e respectiva remuneração dos setores do Núcleo1,

Atividades Relacionadas2 e de Apoio

3 associadas ao setor criativo nacional.

Adicionalmente, tem-se que no estado do Rio de Janeiro a cadeia produtiva da indústria

criativa representa pelo menos R$ 76 bilhões, empregando mais de 973 mil pessoas nas

atividades relacionadas, de apoio e do núcleo. Considerando apenas as atividades do Núcleo, o

setor criativo representa, no Estado do RJ, 2% do trabalho formal fluminense, ficando apenas

abaixo de São Paulo no hanking nacional.

No entanto, convém salientar que tais dados não dão conta da real dimensão e importância

da circulação doméstica de produtos e serviços criativos, dado o alto grau de informalidade da

economia brasileira, ainda que, em relação ao mercado de trabalho total, a informalidade seja

menor no mercado de trabalho cultural, conforme dados históricos que apontam que a

informalidade do setor varia de 39% a 55%, dependendo dos parâmetros adotados (IBGE, 2001),

conforme pode ser visto com dados históricos na Tabela 1.

Tabela 1. Dados históricos de informalidade nas atividades culturais.

Informalidade nas atividades culturais e outras no Brasil

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

Informalidade no mercado de trabalho

cultural

31,9 32,8 33,9 34,7 34,4 35,2 35,2 38,7

Informalidade no mercado de trabalho

cultural, sem educação4

49,1 48,6 50,9 52,3 51,4 53,8 53,6 55,5

Fonte: IBGE/Microdados da Pnad, 1992, 1993, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2001.

1 Como sendo as atividades que têm a criatividade como parte principal do processo produtivo. (FIRJAN, 2012)

2 Os segmentos de provisão direta de produtos e serviços ao núcleo e compostos, em grande parte, por indústrias e

empresas de serviços e fornecedoras de materiais e elementos fundamentais para o funcionamento do núcleo.

(FIRJAN, 2012) 3 Atividades que englobam provisão de produtos e serviços de forma indireta. (FIRJAN, 2012)

4 O setor da educação é mais formalizado, mas incluem segmentos envolvidos que terminam por gerar distorções.

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De toda sorte, o Brasil vive um momento singular em sua história em que a taxa de juros

está baixa, vivencia-se pleno emprego a despeito de crise financeira na União Europeia, detém

um imenso mercado consumidor, fato que reforça ainda o cenário supracitado e faz com que os

territórios criativos ganham ainda mais relevância.

Economia criativa, histórico conceitual.

Vale registro que a economia criativa é um conceito novo e não consolidado. O

conceito surgiu pela primeira vez na Austrália, em 1994, no relatório “Nação Criativa”, elaborado

por aquele governo. Em 1997, tornou-se política de Estado quando o Reino Unido criou uma

força-tarefa interministerial para promovê-lo. Em 2001, o conceito ganha pela primeira vez status

de referencial teórico com a publicação de John Howkins (2001), e em 2004 entrou para a agenda

global da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).

A primeira pesquisa brasileira a incorporar o termo foi “A Cadeia da Indústria Criativa

no Brasil”, elaborada e publicada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

(FIRJAN), em 2008, tendo sido posteriormente atualizada em 2010 e em 2012. A partir desta

pesquisa, o país passa a ter as primeiras informações sobre o setor e sua representatividade na

economia brasileira.

O século passado foi marcado por profundas mudanças nos campos políticos, sociais,

culturais e tecnológicos cujos efeitos seguem nos tempos contemporâneos. Uma das

transformações projeta-se sob os efeitos da chamada desmaterialização dos processos produtivos

que passaram a incorporar com mais vigor a informação, o conhecimento e a criatividade na

produção de bens e serviços.

A supremacia dos conteúdos imateriais, simbólicos e intangíveis nas relações sociais dá

substância à economia do conhecimento, trazendo implicações para a sociedade da informação e

revelando um bom cenário para possibilidades criativas em que a cultura se insere

estrategicamente, especialmente quando se busca emoção e entretenimento.

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Da economia da arte à economia da cultura, do lazer, do entretenimento e, mais

recentemente, à economia da experiência, o conceito de indústrias criativas surge associado às

abordagens que identificam seu potencial de geração de riqueza, trabalho, emprego, produção de

uma diversidade de bens e serviços inovadores. (ZARDO; MELLO, 2010)

A pesquisadora Ana Clara Fonseca Reis advoga que efetivamente a economia criativa

apresenta extratos conceituais que se fundem configurando um conceito uno: da economia da

experiência, detém a originalidade; dos processos colaborativos utiliza os aspectos intangíveis na

geração de valor, fortemente ancorada na cultura e em sua diversidade; da economia do

conhecimento, partilha-se o foco no trinômio que apresenta tecnologia / força de trabalho

capacitada / geração de direitos de propriedade intelectual; da economia da cultura, o novo termo

propõe a valorização da autenticidade e do intangível cultural (REIS, 2008).

Por sua vez, a UNCTAD (2010) atesta que a “economia criativa engloba a criatividade,

cultura, economia e tecnologia em um mundo contemporâneo dominado por imagens, sons,

textos e símbolos e é considerado como um dos setores mais dinâmicos da nova economia

mundial”, conforme evidências quantitativas e qualitativas e particularidades do setor já

apresentados neste estudo.

Uma nova perspectiva analítica da indústria criativa reside na utilização da cultura local

como norteadora em uma realidade de grandes modificações, como aponta Lopes (1998), para

quem teriam sido “geradas pelos inúmeros avanços tecnológicos que identificamos de forma

genérica como globalização, que introduziram novas forças criando um ambiente de grande

insegurança nas estruturas sociais básicas, com reflexos desorientadores na formação cultural e

de identidade”.

A novidade reside no reconhecimento que o contexto formado pela

convergência de tecnologias, globalização e insatisfação com o

atual quadro socioeconômico mundial atribui à criatividade o

papel de motivar e embasar novos modelos de negócios, processos

organizacionais e institucionais e relações que galvanizam um novo

modelo. (REIS, 2008, p. 23)

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Neste sentido, pode-se afirmar que a economia criativa é um conceito emergente em nível

mundial devido ao potencial crescente dessas cadeias produtivas para o desenvolvimento

econômico e social, que inclui as atividades que têm origem na criatividade, no talento e nas

habilidades individuais, e na geração de renda e trabalho através da criação e exploração de

propriedade intelectual.

Assim, a identidade e a cultura locais estão sendo tomadas como ferramentas preciosas no

processo de dinamização de ações estratégicas em âmbito político, cultural, econômico e social.

Diversos pensadores vêm tratando do resgate das questões locais, quando o lugar retoma o

sentido de vínculo paradoxalmente entendido como antítese da globalização.

Em resposta à desmaterialização que se criou para dar mais leveza

e mobilidade ao capital, a perspectiva cultural acaba fazendo com

que os lugares diferenciados e únicos funcionem como âncora de

referência para a própria produção de valores de mercado.

(CARSALADE, 2006)

No contexto da complexidade dos territórios na contemporaneidade, vale abordar

brevemente o posicionamento crítico de Zaoual (2006) para quem sua teoria dos sítios simbólicos

de pertencimento estaria diretamente relacionada com “verdades locais” por se configurar como

um marcador invisível da realidade que considera o ser humano lotado no seu território com todo

seu conhecimento empírico e teórico e ainda suas crenças, mitos, valores e tradições, os quais,

conjuntamente, conduziriam a um sentido de comprometimento com as propostas e soluções para

um chamado empreendedorismo situado.

De toda sorte, o que se coloca como uma das questões centrais na discussão sobre a

estratégia de um processo de desenvolvimento e identificação de novas oportunidades criativas é

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a revalorização da esfera local como foco de ação para implantação de instituições e políticas que

tenham real impacto sobre a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico de uma região.

Um dos papéis da cultura neste contexto é a integração social, que rompe as distâncias

entre os grupos sociais através do “fomento da criatividade, do resgate da autoestima da

população, do resgate dos valores tradicionais e, através deles, da identidade sociocultural”.

(VETRALE, 2000)

Segundo Werthein (2003), a cultura pode ser considerada como um estímulo ao capital

social de uma comunidade por fomentar:

“o sentimento de pertencimento a um projeto coletivo, a

participação, a promoção de atitudes que favoreçam a paz e o

desenvolvimento sustentado, o respeito a direitos, enfim, a

capacidade da pessoa humana e das comunidades de regerem o seu

destino”. Werthein (2003)

Torna-se central para a criação deste ambiente o chamado “espírito empreendedor” dos

agentes sociais, dos governos e das organizações existentes. Tais agentes devem ser protagonistas

no desenvolvimento de projetos que dialoguem com as raízes culturais locais, e que gerem, além

do sentimento de pertencimento, a possibilidade de retomar ou de ousar na criação de diferentes

padrões de confiança, de cooperação e interação social, de modo a oportunizar dinâmicas

econômicas reais e, possivelmente, mais democráticas. (ZARDO; MELLO, 2010)

Redes e cooperação

A supremacia dos conteúdos imateriais oportunizada pela revolução tecnológica no

campo da comunicação ganha ainda mais relevo na sociedade da informação quando da

conformação das redes de interação pessoal e institucional tal como são vivenciadas nos dias

atuais.

Enquanto estruturas abertas e distribuídas ilimitadamente, as redes conectam novos

nodos/cruzamentos ao passo que oportunizam a interação mútua em seu interior, desde que

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compartilhem códigos comunicacionais – perfis, valores, objetivos etc. Assim, uma estrutura

social com base em redes é um sistema aberto altamente dinâmico suscetível de inovação.

Notadamente, a disposição organizacional em redes se releva como meio apropriado para

a economia capitalista baseada na inovação, globalização e concentração descentralizada; para o

trabalho, trabalhadores e empresas voltadas para flexibilidade e adaptabilidade; para uma cultura

de desconstrução e reconstrução contínuas; para uma política destinada ao processamento

instantâneo de novos valores e humores públicos; e para uma organização social que vise a

suplantação do espaço e invalidação do tempo. (CASTELLS, 2000)

A nova morfologia social da sociedade em redes, e difusão de sua lógica e natureza

modificam de forma substancial a operacionalização e os resultados dos processos produtivos, de

experimentação, poder e cultura. Embora a forma de organização social em redes tenha existido

em outros tempos e espaços, o novo paradigma da tecnologia da informação fornece a base

material para expansão penetrante em toda estrutura social. (ZARDO, 2006).

Cocco, Galvão e Silva (2003) advoga que novas formas de cooperação – criativa e

produtiva - se afirmam nos ambientes de redes, ou seja:

“quanto mais você aumenta a parte de trabalho de caráter criativo

(...) mais você precisa de um meio social complexo, rico, produtor

de encontros de caráter aleatório e que exige um contato direto

entre os indivíduos.” (LÉVY apud COCCO; GALVÃO; SILVA,

2003, p.100)

Neste contexto, as redes vêm realmente se mostrando como um dos mecanismos em torno

dos quais comunidades têm se organizado para conviver, trocar – informações, mercadorias e

impressões – e produzir.

Adicionalmente, tem-se que o estudo do funcionamento de diferentes modos associativos,

organizados ou não, de sua identidade cultural e modos de expressão (ou seja, de sua

comunicação/informação), bem como de suas formas de mobilização/desmobilização e

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participação (explícitas ou implícitas, eficazes ou não, em nível individual ou grupal) pode

contribuir para estimular a reflexão e a busca de novos caminhos e metodologias de aplicação

para aqueles que trabalham com inovação, criatividade e cultura. (ZARDO, 2006)

Nesse sentido, os mecanismos de cooperação e colaboração vivenciados nas redes, tanto

físicas como virtuais, são centrais vis-à-vis paradoxalmente vivermos “[...] em uma época em que

o individualismo é maior do que jamais foi e ´novas ferramentas´, como a Internet, permitem que

a cooperação alcance patamares nunca antes observados.” (BAUMAN, 2004)

Endossando tal posicionamento, Bauman (2004, p.82) defende que “a realização mais

importante da proximidade virtual parece ser a separação entre a comunicação e o

relacionamento”. Diferentemente da antiquada proximidade topográfica, ela não exige laços

estabelecidos de antemão nem resulta necessariamente em seu estabelecimento. ‘Estar conectado’

é menos custoso do que ‘estar engajado’ – mas também consideravelmente menos produtivo em

termos de construção e manutenção de vínculos. (ZARDO, 2006)

Ditas redes tecem tramas cujos enlaces trazem questões relevantes ao mundo do trabalho;

à concepção de produtos e serviços inovadores, à idealização de loci, físicos ou virtuais, que

incitam a criatividade e inovação; à modelagem e implementação de políticas públicas no campo

da geração de empreendimentos culturais criativos; etc.

De toda sorte, tem-se que a perspectiva de enfoque da economia criativa traz a cultura

local como norteadora em uma realidade de grandes modificações, como apropriadamente aponta

Lopes (1998) para quem seria gerada pelos inúmeros “avanços tecnológicos que identificamos de

forma genérica como globalização, que introduziram novas forças criando um ambiente de

grande insegurança nas estruturas sociais básicas, com reflexos desorientadores na formação

cultural e de identidade”, ainda que valha salientar, corroborando com Ana Carla Fonseca Reis

que:

“a novidade reside no reconhecimento que o contexto formado pela

convergência de tecnologias, globalização e insatisfação com o atual

quadro socioeconômico mundial atribui à criatividade o papel de motivar

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e embasar novos modelos de negócios, processos organizacionais e

institucionais e relações que galvanizam um novo modelo.” (REIS, 2008)

Centralidade dos territórios nos tempos globais

A discussão apresentada surge da percepção crescente da existência e valorização de

iniciativas de promoção de ambientes que concentram fatores de estímulo à inovação produtiva e

criativa. Ditos ambientes têm se tornado cada vez mais importantes nos processos de

desenvolvimento socioeconômico de regiões e comunidades com foco principal na cooperação,

no capital social e na valorização dos aspectos culturais locais.

A identidade e a cultura locais estão sendo tomadas como ferramentas preciosas no

processo de dinamização de ações estratégicas locais em âmbito político, cultural, econômico e

social.

Diversos pensadores vêem tratando do resgate das questões locais, quando o lugar se

coloca como vínculo irreversível no contexto da globalização. Neste sentido, espaços criativos

acabam sendo vitrines expostas nas plataformas de comunicação mundiais como ícones a serem

perseguidos e replicados por serem convidativos à sociabilidade, à cognição coletiva geradora de

novos produtos, serviços e negócios e promotores de novos vetores de desenvolvimento em meio

à aparente estagnação dos modelos tradicionalmente implementados.

Tal assertiva se coloca como ponto fundamental da discussão apresentada e tem certa

consonância em Carsalade, para quem:

“em resposta à desmaterialização que se criou para dar mais

leveza e mobilidade ao capital, à perspectiva cultural acaba

fazendo com que os lugares diferenciados e únicos funcionem como

âncora de referência para a própria produção de valores de

mercado”. (CARSALADE, 2006)

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Neste contexto, Florida discute sobre como a economia criativa está fazendo com que o

lugar onde se vive seja a decisão mais importante da vida de muitas pessoas nos tempos atuais.

No contexto de sociedade do conhecimento e da informação, ser o destino escolhido por esta

classe de trabalhadores criativos deve ser um dos fatores que evidenciam o sucesso ou fracasso de

uma cidade enquanto lócus produtivo e inovador. (FLORIDA, 2008)

Atualmente, esta preocupação não está restrita a um ou outro setor de atividade. A

iniciativa privada – grandes, médias e pequenas empresas com seu capital aberto ou fechado –, a

iniciativa pública – além das instâncias de governo, diversos órgãos que buscam apoiar e

promover o desenvolvimento –, os centros geradores de conhecimento – como universidades e

centros de pesquisa – e o terceiro setor – a sociedade civil organizada – perceberam que, para a

manutenção de um crescimento sustentável do “bem-estar” da sociedade, estar atento ao

desenvolvimento de ambientes criativos que estimulam o trabalho cooperativo, por exemplo, é

um dos caminhos a seguir.

Em um levantamento feito em 200 países no ano de 2009 pela Thomson Reuters, para

aferir o número de publicações científicas, o Brasil alcançou o 13º lugar. Entretanto, o país ocupa

hoje o 58º lugar no ranking de inovação (WAINER, 2012). Esses dados apontam que o os

recursos alocados em Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil em grande medida não se revertem

em resultados tangíveis.

O trabalho, “A década do Brasil”, analisou o desempenho da economia do país e quais são

os pontos de melhoria para alavancar o crescimento. O estudo foi realizado pela consultoria

Roland Berger Strategy (ROCHA; FERREIRA, 2013) e mostra que o Brasil precisa ampliar

bastante os investimentos nesse segmento.

Portanto, o que se coloca como questão importante na discussão sobre a estratégia de um

processo de desenvolvimento e observação de novos ambientes produtivos, de inovação e

criativos, como a cidade do Rio de Janeiro, é a revalorização da esfera local como foco de ação

para atuação de instituições e políticas que tenham real impacto sobre a qualidade de vida e o

desenvolvimento econômico de uma região.

Torna-se central para a criação desse ambiente o chamado “espírito empreendedor” -

conforme conceituado por Schumpeter (1949) e Druker (2008) - dos agentes sociais, dos

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governos e das organizações existentes. Tais agentes devem ser protagonistas no

desenvolvimento de projetos que dialoguem com as raízes culturais locais, e que gerem, além do

sentimento de pertencimento, a possibilidade de retomar ou de ousar na criação de diferentes

padrões de confiança, de cooperação e de interação social, de modo a oportunizar dinâmicas

econômicas efetivas e, possivelmente, mais democráticas. (ZARDO; MELLO, 2010)

Um dos papéis da cultura neste contexto é a integração social, que rompe as distâncias

entre os grupos sociais através do “fomento da criatividade, do resgate da autoestima da

população, do resgate dos valores tradicionais e através deles, da identidade sociocultural.”

(VETRALE, 2000)

Segundo Werthein (2003), a cultura pode ser considerada como um estímulo ao capital

social de uma comunidade por fomentar “o sentimento de pertencimento a um projeto coletivo, a

participação, a promoção de atitudes que favoreçam a paz e o desenvolvimento sustentado, o

respeito a direitos, enfim, a capacidade da pessoa humana e das comunidades de regerem o seu

destino”.

Nesse contexto, as plataformas de comunicação em rede suscitadas com o advento e

popularização crescente da conectividade reforçam e geram mais complexidade às implicações

dos aspectos culturais dos locais enredados em tempo real.

Considerações gerais

Como visto, avizinham-se relevantes oportunidades para o Brasil em que o Rio de Janeiro

se destaque, apesar de novas crises mundiais serem ameaças concretas contra qualquer plano de

desenvolvimento sustentável.

De todo modo, tem-se que não é possível conceber ambientes inovadores que estimulem o

desenvolvimento de territórios de colaboração e cooperação sem a orquestração de um efetivo

sistema nacional de inovação.

Proposições e ações que tenham a inovação como orientação para o desenvolvimento

econômico e social prescindem de investigação do papel da economia criativa no momento de

recriação de ambientes de trabalho e das localidades urbanas tomando a cultura como propulsora

desta transformação social.

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Para isso, a pesquisa sobre a construção e o estímulo de um novo pensamento sobre os

tipos de infraestrutura de fomento à inovação e desenvolvimento social e econômico em/para

comunidades, sob o impacto das novas tecnologias de comunicação e informação, são fatores

que, agregados à economia criativa, podem fazer se pensar a cidade como espaço produtivo

criativo.

O estímulo sustentável às indústrias criativas neste ambiente vai ao encontro da

evidenciação do ambiente urbano enquanto espaço para o prazer, a emoção, a produção, a fruição

e o conhecimento com as marcas do pertencimento da população e da identidade local.

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