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O DESAFIO DO CRESCIMENTO Setembro 2007 n o 50 • Ano XIII AMBIENTE DA INOVAÇÃO BRASILEIRA A A A M MB I E N T E D D A A A I I N N O O V A Ç Ã Ã Ã Ã Ã O O O B R R A A S S I I L L E E I I R R A Ao saírem das incubadoras, empresas enfrentam um ambiente repleto de adversidades. Além de incentivo, crescer exige planejamento e, claro, inovação. PROCURAM-SE ENGENHEIROS Indústria sofre com déficit de profissionais formados na área GESTÃO SUSTENTÁVEL Responsabilidade social ao alcance de pequenas e micro empresas

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O DESAFIO DO CRESCIMENTO

Setembro 2007no 50 • Ano XIIIAMBIENTE DA INOVAÇÃO BRASILEIRAAAAMMBIENTE DDAAA IINNOOVAÇÃÃÃÃÃOOO BRRAASSIILLEEIIRRA

Ao saírem das incubadoras, empresas enfrentam um ambiente repleto de adversidades. Além de incentivo, crescer exige planejamento e, claro, inovação.

PROCURAM-SE ENGENHEIROSIndústria sofre com déficit de profissionais formados na área

GESTÃO SUSTENTÁVELResponsabilidade social ao alcance de pequenas e micro empresas

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A revista Locus é uma publicaçãoda Associação Nacional deEntidades Promotoras deEmpreendimentos Inovadores

Conselho editorialMaurício Guedes – presidente Carlos Américo Pacheco, Gina Paladino, Helena Lastres, Josealdo TonholoCoordenação editorialDébora HornColaboraçãoAdriane Alice Pereira, Alline Dauroiz, Andréia Seganfredo, Bruno Moreschi, Diogo Cunha, Diogo d’Ávila, Emília Chagas, Francis França, Luciana Ribeiro, Maria Fernanda Ziegler, Michelle Araujo, Maurício Frighetto e Rodrigo Lóssio.Jornalista responsávelDébora Horn – MTb/SC 02714 JPDireção de arteLuiz Acácio de SouzaEdição de arteRafael Ribeiro e Gustavo SouzaAssistentes de arteKarina MohrPaula Fabris (estagiária)RevisãoSérgio Ribeiro

PresidenteJosé Eduardo Azevedo FiatesVice-presidenteGuilherme Ary PlonskiDiretoriaJosé Alberto Sampaio Aranha, Christiano Becker, Paulo Roberto de Castro Gonzalez e Josealdo TonholoSuperintendênciaSheila Oliveira PiresCoordenação de Comunicação e MarketingMárcio Caetano Setúbal Alves

EndereçoSCN, quadra 1, bloco C,Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211Brasília / DF – CEP: 70711-902Contatos(61) 3202-1555E-mail: [email protected]: www.anprotec.org.brPortal: www.redeincubar.org.brAnúncios: (61) [email protected]

Produção Apoio

Setembro 2007 • no 50 • Ano XIII

ISSN 1980-3842

AMBIENTE DA INOVAÇÃO BRASILEIRA

Setembro 2007 • no 50 • Ano XIII

AMBIENTE DA INOVAÇÃO BRASILEIRA

Índice

26 C A P AC A P A O desafi o do crescimentoAs incubadoras já provaram que são eficientes no apoio à criação de empresas. Agora, o desafio é fazer com que as ex-incubadas cresçam, gerando emprego e renda. Conheça as dificuldades enfrentadas pelos empreendedores e as ações que levam ao desenvolvimento.

6 E N T RE N T R E VE V I S T AI S T AO professor indiano Anil Gupta conta as experiências da Rede Honey Bee, iniciativa que procura viabilizar e proteger inovações criadas por pessoas comuns.

10 E M M O V I M E N T OE M M O V I M E N T ONova gestão na SBPC, seminário nacional, incubadoras premiadas, produtos inovadores, editais em aberto e agenda de eventos. As novidades do movimento estão aqui.

16 N E G Ó C I O SN E G Ó C I O SO mercado de biocombustíveis cresce e alavanca empreendimentos focados na substituição do petróleo. Descubra por que o biodiesel é o fenômeno do momento.

21 O P O R T U N I D A D EO P O R T U N I D A D EA TV digital deve entrar em operação no Brasil até o final deste ano. Saiba como empresas de vários setores estão se preparando para aproveitar o novo filão.

24 I N V E S T I M E N T OI N V E S T I M E N T ODiversas companhias brasileiras lançam ações no mercado em busca de recursos. Empresas que querem fazer parte desse time devem pesar todos os prós e contras.

36 S U C E S S OS U C E S S OConheça a trajetória vitoriosa das duas empresas, uma incubada e outra graduada, que conquistaram o Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador 2007.

38 G E S T Ã OG E S T Ã OResponsabilidade socioambiental não é obrigação apenas de grandes corporações. Pequenos negócios podem – e devem – contribuir para o desenvolvimento sustentável.

42 I N T E R N A C I O N A LI N T E R N A C I O N A LBrasileiros que conheceram parques tecnológicos de Portugal e Espanha relatam os diferenciais das políticas de desenvolvimento aplicadas nos dois países.

44 E S P E C I A LE S P E C I A LTudo sobre as últimas etapas do reality experience Empreender é Show. Acompanhe o resultado das missões e aprenda lições valiosas com jurados e concorrentes.

46 E D U C A Ç Ã OE D U C A Ç Ã ODéficit de engenheiros é um dos maiores problemas enfrentados pela indústria brasileira. Além de maior quantidade, é preciso formar profissionais mais capacitados.

48 C R I A T I V I D A D EC R I A T I V I D A D ESurpreenda-se com as propostas da Teoria de Resolução de Problemas Inventivos (TRIZ), idealizada para desmistificar a criatividade e reerguer negócios.

49 C U L T U R AC U L T U R AFilmes, livros, discos e exposições. Descubra que o lazer também pode ensinar muito sobre a vida corporativa.

50 O P I N I Ã OO P I N I Ã OGilson Schwartz: como a gestão do conhecimento pode gerar valor para as empresas? Gerenciar tecnologia, negócios e informação aumenta a competitividade.

ImpressãoGráfica CoronárioTiragem5.000 exemplares

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CARTA AO LEITOR

Nos últimos anos, assistimos ao aumento expressivo do número de incubadoras

de empresas no Brasil. Essa expansão é um sinal de que o movimento conquista mais e mais adeptos a cada dia, ampliando o coro dos que esperam ver o empreendedorismo inovador como parte importante da políti-ca de desenvolvimento do país. Os Parques Tecnológicos também anunciam a sua che-gada, com novas realizações e demandas.

Junto à comemoração surge também o questionamento em relação aos resultados do sistema de incubação que adotamos. O que se discute não é a capacidade das in-cubadoras para oferecer suporte aos negó-cios nascentes e sim sua eficácia para fazer com que empresas graduadas consigam não apenas sobreviver, mas também se ex-pandir. Partindo desse ponto, LOCUS bus-cou descobrir quais os principais entraves ao crescimento de micro e pequenas em-presas inovadoras. Parte do drama já era conhecida: ambiente econômico hostil, com escassez de crédito e elevada carga tributária. Essa mistura cruel continua le-vando milhares de empreendimentos à fa-lência. E certamente dificulta o cresci-mento de muitos outros.

Mas na opinião da maior parte dos em-preendedores e especialistas entrevista-dos, mais do que a conjuntura desfavorá-vel, o que pode levar um negócio à bancarrota são fatores ligados à gestão – falta de planejamento, pouco conheci-mento de mercado e carência de projetos viáveis. Assim, a adoção de uma postura proativa e transparente na gestão é, cada vez mais, um ingrediente obrigatório na receita do sucesso, capaz de abrir cami-nhos e atrair capital de risco – uma das saídas para enfrentar a crueldade do mer-cado de crédito brasileiro.

Nesta edição também comprovamos que a busca por recursos na forma de capitali-

zação não é exclusividade das empresas que nascem em in-cubadoras. Na seção Investi-mentos, você vai conferir que empresas brasileiras de todos os portes têm optado pela abertura de capital, formando uma verdadeira onda de ofer-tas iniciais de ações. Outra onda que promete muitas oportunidades é a dos bio-combustíveis, tema da seção Negócios. O desenvolvimento de produtos e processos que propiciem a substituição gradativa do pe-tróleo encontra amparo na legislação, no financiamento público e na opinião públi-ca, garantindo a expansão de mercados, em especial o do biodiesel.

O fenômeno dos biocombustíveis con-firma que a preocupação ambiental au-menta em ritmo acelerado em todo o mundo. Por isso mesmo, responsabilidade socioambiental foi o tema escolhido para a seção Gestão. Na edição passada trata-mos da sustentabilidade como negócio, e agora nosso objetivo é mostrar que toda empresa pode adotar uma postura res-ponsável e lucrar com isso.

Este número de LOCUS é especial, pois está sendo lançado no 17º Seminário Na-cional de Parques Tecnológicos e Incuba-doras de Empresas, que coincide com a comemoração do 20º aniversário da An-protec. Muitos dos temas tratados no even-to foram abordados nesta edição de LOCUS, uma publicação que tenta sair na frente e tornar-se referência quando o assunto é empreendedorismo inovador. Isso porque ter informação de qualidade é o primeiro passo para o sucesso de qualquer negócio. Então, boa leitura e parabéns a todos os que fizeram parte dessa história de 20 anos de sucesso da Anprotec!

Conselho Editorial 5

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Em defesa do bem comum

Professor indiano explica objetivos da tecnologia social e recomenda mecanismos de proteção para inovações geradas fora do setor produtivo

Repórter: Diogo Cunha Fotos: Zaga Filmes

Anil Gupta é presidente da Rede Honey Bee, iniciativa que procura viabi-

lizar a disseminação de conhecimentos tradicionais assim como inova-

ções coletivas e individuais realizadas por pessoas comuns. A intenção é

inserir esses inovadores no sistema de conhecimento, garatir-lhes retorno finan-

ceiro e reconhecimento a partir de suas idéias e, com isso, alterar a estrutura de

valores vigente. O professor participou de um workshop sobre tecnologia social,

realizado em maio, na Pontifícia Universidade Católica do

Rio de Janeiro (PUC-RJ). Entre um debate e outro, ele

dividiu com os leitores de LOCUS um pouco dos

conceitos e das experiências do movimento que

fundou na Índia.

LOCUS - Temos no Brasil organizações que já atuam na área de tecnologia social, mas o conceito é ainda pouco

compreendido no país. O que significa tecnologia social?GUPTA - Creio que no contexto brasileiro a rede de tecno-

logias sociais tem como principal foco tecnologias elabo-radas por grupos para o bem comum. Mas, além delas,

são também tecnologias sociais inovações e invenções de indivíduos, realizadas sem o auxílio de ONGs, do

governo ou de alguém do campo científico. Ou seja, indivíduos que de modo completamente autônomo conceberam idéias e inovações passíveis de aplica-ção sustentável. É possível que essas pessoas per-mitam que suas inovações sejam trazidas a domí-

nio público, sem objeções à sua disseminação. No entanto, alguns podem preferir proteções.

E querer proteção ou ter em conta conside-rações monetárias resultantes da tecnolo-

gia não pode ser considerada uma atitu-de anti-social. Deve-se entender que os indivíduos, com freqüência, não querem proteger suas inovações para impedir que ou-tras pessoas ou empresas do local se beneficiem de tais tecnologias. Suas

objeções questionam a razão pela qual 6

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uma empresa privada – pequena ou grande – deveria tomar posse de sua idéia sem com isso lhe garantir retornos, sem contratos, sem dividir os benefícios. Resumindo, incluo na categoria de tec-nologia social qualquer inovação, inven-ção tecnológica ou conhecimento tradi-cional, de indivíduos ou grupos, que tenha metas de interesse social e am-biental. Algumas dessas tecnologias po-dem ser de livre acesso e outras não – podendo ser protegidas.

LOCUS - O senhor fala de proteção, de um processo de institucionalização da inovação para sua conseqüente distribuição e comercialização. Na Índia, como os inovadores são protegidos da apropriação indevida de suas idéias? GUPTA - Existem vários modos de pro-teção. Um deles é, claro, o clássico re-gistro de patentes para proteção inte-lectual. Podemos ajudar o inovador a registrar patentes na Índia ou no exte-rior. Outro é a inserção em um registro internacional de inovações tecnológi-cas. Quando uma inovação é registrada nele, damos uma data de prioridade. No caso de um futuro litígio, podemos provar que em determinada data a ino-vação havia sido registrada conosco e, por isso, ninguém pode reivindicá-la. Também adotamos o Consentimento Prévio Informado (do inglês Prior In-formed Consent, PIC), que trata das condições sob as quais o conhecimento do inovador pode ser compartilhado com terceiros. Supondo que a pessoa não nos permita compartilhar seu co-nhecimento, não o compartilharemos.

LOCUS - Suas idéias propõem uma mudança de paradigma em relação ao modo como se vê as pessoas pobres. De que modo pode-se transformar o conhecimento dessas pessoas em renda? GUPTA - Antes de tudo, precisamos

lembrar que pessoas pobres não são po-bres em todos os recursos. Sugerir que qualquer pessoa pobre em dinheiro ou recursos naturais seja pobre na sua ca-pacidade de pensar é absurdo. Não há qualquer conexão entre as duas coisas. Ricos não são necessariamente sábios, tampouco pobres são obrigatoriamente tolos. Os pobres podem estar na base da pirâmide econômica, mas não estão na base de todas. Podem estar no topo da pirâmide ética, de valores, assim como do conhecimento e das inovações. Não há lições nos livros escolares que ensinem sobre invenções ou inovações de pessoas comuns, que as utilize para inspirar o aluno. A maior parte dos pa-íses em desenvolvimento tem um con-senso de que não irão celebrar a criati-vidade e a inovação de suas próprias populações. Ainda que esses países te-

nham se tornado livres economicamen-te e politicamente, suas mentes ainda estão colonizadas. Digo isso com toda a responsabilidade: Brasil, Índia, China e outros não incluem nos seus livros es-colares lições baseadas na vida de pes-soas comuns que resolvem seus proble-mas com sua própria inteligência, como lições sobre comidas tradicionais, por exemplo.

LOCUS - Como criar um ambiente propício à inovação e empreendedorismo e atrair investidores?GUPTA - Um ambiente propício à cria-tividade e à inovação requer nosso reco-nhecimento desses elementos do siste-ma de conhecimento ao nível da comunidade e dos indivíduos. Mais, de-veríamos compartilhar da criatividade e da inovação de crianças e jovens. E além,

Querer proteção ou ter em conta considerações monetárias resultantes da tecnologia não pode

ser considerada uma atitude anti-social

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deveríamos, como estamos tentando na Índia, construir pontes entre ciência formal e ciência informal. As idéias de pessoas comuns podem ser usadas pela ciência formal. Por que os cientistas, en-genheiros, farmacologistas não traba-lham nessas idéias para melhorá-las?

Uma outra iniciativa seria a criação de exposições, móveis ou não. Exibições multimidiáticas de inovações. Hoje se você vai a um site de pesquisa e digita Brasil + inovações + pessoas comuns, você não encontrará muitos resultados. Por quê? Há um silêncio nessa questão que não deve continuar. Podemos orga-nizar também Clearing Houses entre empreendedores, investidores e inova-dores. Inovação, investimento e empre-endimento: esse tripé pode não ser sem-pre formado por pessoas em um mesmo local ou em uma mesma instituição. Uma pessoa pode ter dinheiro para in-vestir, outra o espírito empreendedor, uma terceira tem a idéia. Os três podem não estar no mesmo lugar, por isso a ne-cessidade de criação de uma base de da-dos online. Um investidor aqui do Brasil pode escolher uma idéia de alguém na

Índia e começar um empreendimento em qualquer outro lugar. Isso é possível. Devemos, então, encorajar a participa-ção de empreendedores inovadores no sistema de conhecimento.

LOCUS - Como essas iniciativas podem ser praticadas em países como o Brasil? Que barreiras devem ser enfrentadas?GUPTA - Devemos lembrar principal-mente que o conhecimento coletado de pessoas deve ser coberto pelo Consen-timento Prévio Informado. Não deve-mos tratar as pessoas como anônimos. Não devemos registrar o conhecimento, publicá-lo e não atribuir o conhecimen-to à pessoa que o elaborou. Isso é o que tem acontecido, todos esses anos, em todos os países. Creio que estamos ten-tando repensar as instituições de ciên-cia e tecnologia, definir seus papéis. E, nesse processo, estamos considerando a grande importância de conectar as pes-soas e garantir que, no caso da geração de valores e lucros, uma parte da rique-za retorne aos inovadores. Percebemos que há um forte desejo entre ativistas, profissionais, burocratas, cientistas e gerentes de incubadoras de que as ino-vações de pessoas comuns não sejam ignoradas, de que não olhemos apenas para as inovações coletivas, mas tam-bém para as individuais, cientes de que nem sempre essas idéias serão de domí-

As idéias de pessoas comuns podem ser usadas pela ciência formal. Por que os cientistas,

engenheiros, farmacologistas não trabalham nessas idéias para melhorá-las?

Gupta foi destaque em evento sobre tecnologia social no Brasil

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nio público. Propósitos sociais podem ser resolvidos pelo sistema de royalties e copyright. Por que pessoas comuns deveriam oferecer gratuitamente seus conhecimentos? Elas também devem ter o direito de recompensa pelo uso de seu conhecimento. Espero que aqui no Brasil possamos organizar a pluralida-de do sistema de conhecimento e a plu-ralidade do sistema de valores.

LOCUS - E que arranjos devem ser organizados para a cooperação entre países, a fim de promover a disseminação dessas inovações?GUPTA - A cooperação entre Brasil, Ín-dia e China com a Sristi (Sociedade para Pesquisa e Iniciativas de Tecnologias e Instituições Sustentáveis) e com a ajuda do Banco Mundial visa tornar possível que as inovações de um país sejam incu-badas em qualquer outro. E Índia, China e Brasil compreendem metade da huma-nidade. Se metade da humanidade tra-balhar e pensar com cooperação, não haverá razões para o mundo não se tor-nar mais justo e mais cooperativo. Espe-ro que tenhamos oportunidades de aprender uns com os outros e assim como há conferências para empresários, intelectuais e estudantes, haja também para pessoas comuns e criativas. Será também uma contribuição para que con-sultores, designers e investidores no Bra-sil possam selecionar qualquer inovação indiana ou chinesa e adaptá-la às neces-sidades locais. Índia e China podem re-correr ao Brasil da mesma forma. Desse modo, uma grande variedade de conhe-cimento, distribuído e descentralizado, será compartilhada por empreendedores e inovadores. A democracia sobrevive quando há um vasto número de empre-endedores distribuidores. Quando o po-der estaciona nas mãos de poucas cor-porações, a democracia está ameaçada. Nós queremos que a democracia e a jus-tiça social prevaleçam, e ambos são apoiados fortemente pelos presidentes

de Brasil, Índia e China. Creio ser uma coincidência histórica: três países gover-nados por três líderes que entendem a necessidade de cooperação, de criativi-dade e de inovação.

LOCUS - Como o sistema de incubadoras e parques tecnológicos pode contribuir nesse processo?GUPTA - A maior parte das incubado-ras brasileiras está focada na alta tecno-logia, o que é algo importante e a que não me oponho. Acho apenas que elas deveriam dedicar talvez um dia da se-mana às inovações de pessoas comuns. Deveriam disponibilizar a elas a mesma qualidade de supervisão, consultoria, planejamento de negócios e pesquisa de mercado que oferecem a produtos de alta tecnologia. Sinto com bastante oti-mismo que muitas incubadoras passarão

talvez a prestar mais atenção a essas ino-vações. Precisaremos também da ajuda de estudantes para identificar inovações e conhecimentos tradicionais onde quer que estejam. Todos devem perseguir es-sas pessoas “loucas”, criativas, mas ainda desconhecidas. Não tenho dúvida de que através da mídia descobriremos muitas pessoas criativas que levarão suas idéias às incubadoras, que por sua vez desen-volverão o conhecimento e o levarão para o mercado. As incubadoras sociais do Brasil podem ajudar criando estraté-gias para a difusão social enquanto as incubadoras comerciais ajudam na difu-são comercial. Todos os jovens hoje que-rem começar empreendimentos, querem trabalhar, mas não têm idéias para co-meçar uma empresa. A base de dados de inovações pode lhes prover idéias para começar um empreendimento.

A democracia sobrevive quando há um vasto número de empreendedores distribuidores.

Quando o poder estaciona nas mãos de poucas corporações, a democracia está ameaçada

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Em MoViMEnto

MCT e Finep destinam R$ 14 milhões para incubadoras do setor de gás

A Financiadora de Estudos e Projetos (Fi-nep) está selecionando propostas de incuba-doras de empresas com atuação na cadeia de petróleo e gás natural. O edital prevê R$ 14 milhões para o setor, destinados a projetos inovadores em estágio de pré-incubação, in-cubação e graduação. Desse montante, 40% deverá ser aplicado nas regiões Norte e Nor-deste do Brasil.

Na primeira etapa de seleção, as empresas interessadas enviaram uma carta de mani-festação, contendo propostas e idéias de projetos de R$ 500 mil até R$ 3 milhões. Agora, na segunda etapa, com data limite de 10 de outubro. A divulgação do resultado está marcada para 26 de novembro.

Eleito presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no último mês de junho, o matemático Marco Antônio Raupp, que coordena o Núcleo do Parque Tecnológi-co de São José dos Campos (SP), concedeu entrevista a LOCUS. Raupp fala das principais metas de sua gestão para o setor de C&T, incluindo as ações voltadas a incubadoras e parques tecnológicos.

Entrevista

Medalha do ConhecimentoDois representantes do empreendedorismo inovador, Carlos

Alberto Schneider e Wolney Betiol, conquistaram o Prêmio Me-dalha do Conhecimento, concedido pelo Ministério do Desen-volvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em parceria com CNI, Sebrae, IEDI e Banco da Amazônia. A medalha reco-nhece o trabalho de empresários e gestores da comunidade em-presarial e científica que se destacaram nas áreas de inovação tecnológica e competitividade empresarial.

Schneider, diretor técnico da Anprotec entre 1991 e 1993, atu-almente é Superintendente Geral da Fundação Certi e professor titular do Departamento de Engenharia Mecânica da Universida-de Federal de Santa Catarina. Ele foi um dos contemplados na categoria Gestores/Pesquisadores em Ciência e Tecnologia por suas contribuições em frentes inovadoras e de alta demanda tec-nológica. Já o empresário Wolney Betiol recebeu a medalha na categoria Empresários/Executivos por ter fundado a Bematech, ex-incubada que hoje é líder nacional no fornecimento de im-pressoras e equipamentos para emissão de notas fiscais.

Quais são os principais objetivos de sua gestão? A nossa primeira preocupação é preservar o sistema de C&T,

qualificando-o cada vez mais e promovendo sua ampliação. A se-gunda é a descentralização da política e dos investimentos, que devem se ampliar para todo o país. Em terceiro, está a transposi-ção da pesquisa das universidades para as empresas, possibilitan-do a inovação de nosso setor produtivo, pois vivemos hoje a eco-nomia do conhecimento.

E qual será o papel da SBPC nesse projeto?Devemos discutir criticamente sobre todos os investimentos e

programas na área, mas sempre de forma favorável ao ambiente de P&D. A SBPC tem 80 sociedades científicas associadas, que re-presentam todo o universo da ciência no país, e isso faz com que a SBPC tenha a obrigação de atuar na intersecção da ciência com o mundo da sociedade, da indústria, da economia, da política.

As incubadoras e os parques tecnológicos podem favorecer essa integração?

Também precisamos incentivar a formação de incubadoras e parques tecnológicos por todo o país, não somente nos estados do Sul e Sudeste, como já vem acontecendo. A proximidade com universidades e instituições de pesquisa é fundamental para a implantação desses empreendimentos, o que acaba sendo outro problema das assimetrias regionais.

Novo presidente da SBPC tem planos para ajudar movimento

CLÁU

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Em MoViMEnto

A I-TEC, Incubadora de Empresas de Base Tecnológica, de Aracaju (SE), está com o processo de seleção aberto para o preenchimento de oito vagas: três são de pré-incubação e cinco para incubação – duas são para residente e três para não-residente. Podem participar alunos de instituições de ensino superior com pro-dutos e processos inovadores, micro e pequenas empresas de base tecnológica já constituídas e que queiram desenvolver um projeto de cunho tecnológico, além de empresas, universidades e centros de pesquisa também interessados em iniciar um empreendimento. A seleção vai até dezembro.Mais informações: www.itec.unit.br

Tecnologia compatívelÚnica empresa mineira a ser contempla-

da pelo edital Senai Inovação 2007, a Nib-Tec Inovações, instalada na Incubadora de Empresas e Projetos do Inatel, em Santa Rita do Sapucaí (MG), irá desenvolver um leitor e escritor RFID (Identificação por Radiofreqüência), capaz de ler vários pa-drões dessa tecnologia. O RFID é uma tec-nologia de identificação, semelhante ao código de barras, composto por um chip (chamado de tag), que é conectado a uma antena através de ondas de radiofreqüência. As informações contidas no chip podem ser lidas a distância por computador, sem a necessidade de passar por um leitor, como ocorre com o outro sistema.

A aplicabilidade dessa nova tecnologia é diversificada e pro-missora, o que também pode trazer alguns problemas. Se por um lado, a RFID tem sido usada em diversas áreas, como a hospitalar (segurança e identificação de pacientes), logística e transporte de cargas (identificação dos produtos) e no rastreamento de ani-mais, por outro, o desenvolvimento de vários padrões e sistemas proprietários para a tecnologia, desenvolvidos por diversas em-presas não são compatíveis entre si. A proposta da NibTec é jus-tamente fazer esses sistemas “conversarem”, criando um leitor e escritor RFID passivo que opere na freqüência de 13,56 MHz e seja capaz de ler tags em todos os principais padrões mundiais do mercado utilizados nessa freqüência.Mais informações: http://www.nibtec.com.br

Oportunidade paraprojetos sustentáveis

Resultado de uma parceria entre Sebrae e o Instituto Marca de Desenvolvimento So-cioambiental (Imadesa), a Incubalix, inau-gurada no mês de julho em Cariacica (ES), é a primeira incubadora do país voltada para econegócios e está à procura de parceiros. A incubadora lançou edital para selecionar empresas, empreendimentos ou projetos de reaproveitamento de resíduos que irão rece-ber apoio gerencial e tecnológico.

A Incubalix já conta com duas empresas. Uma fabrica vassouras a partir de garrafas PET e outra sacolas plásticas a partir de des-cartes industriais. Há também quatro empre-sas em processo de pré-incubação, que apre-sentaram propostas para análise, como é o caso de um projeto para produção de biodie-sel a partir de óleo de cozinha.

De acordo com o edital, oito projetos se-rão selecionados para a modalidade de incu-bação residente e dois para a modalidade associada, na qual as empresas não utilizam a estrutura física da incubadora. O processo seletivo inclui análise do plano de negócios e entrevista com os empreendedores. As pro-postas devem ser enviadas até o dia 30 de novembro.MIDI Tecnológico gradua seis novas empresas

O MIDI Tecnológico, incubadora mantida pelo Sebrae/SC e ge-rida pela Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), acaba de graduar seis empresas: LabLink, Canalwest, Viaflex, Cyber Room, InfoTV e Boreste. Durante três anos, as empresas se preparam para conquistar o mercado, tendo acesso a consultorias gratuitas nas áreas de recursos humanos e marke-ting, além de assessorias jurídica e de imprensa, disponibilidade de office-boy e espaço físico adequado para suas atividades.

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Em MoViMEnto

BID lança fundo para inovaçãoO Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciou em agosto a

aprovação de um financiamento de US$ 2,1 milhões para o Capital Tech, um fundo de investimento em inovação criado para auxiliar pequenas e médias empresas de tecnologia no Brasil por meio de capital de risco. Desse total, o Fundo Multilateral de Investimentos (Fumin) – fundo autônomo administra-do pelo BID que apóia o desenvolvimento do setor privado na América Lati-na e no Caribe – incluirá um financiamento reembolsável de US$ 2 milhões para a capitalização do fundo e uma concessão de US$ 100 mil para coopera-ção técnica. O Capital Tech também receberá contribuições de investidores privados e institucionais.

O fundo investirá em empresas inovadoras de tecnologia da informação e prestação de serviços capazes de oferecer novas soluções ou conceitos tecnológicos para setores com possibilidades de expansão em mercados locais e até mesmo internacionais. Os investimentos provavelmente serão focados em São Paulo e no Rio de Janeiro e os setores visados são telecomunicações, software, hardware, biotecnologia, entrete-nimento, produção e serviços. O fundo procurará empresas com sinergias técnicas, operacionais, comer-ciais ou financeiras com potencial de fornecer saídas a seus investidores por meio de vendas estratégicas das ações em que investe.Mais informações: www.iadb.org

RReenaappi emmm exxpaanssããooOs estados de Alagoas, Sergipe, Rio

Grande do Norte e Mato Grosso estão em processo de integração na Rede Nacional de Agentes em Política Industrial (Rena-pi), coordenada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Para poder aderir à rede, os interessados devem participar de um seminário, que já ocorreu em Maceió (AL) e Aracaju (SE), no mês de agosto, e em Natal (RN), nos dias 4 e 5 de setembro. Em Cuiabá (MS), o seminário está previsto para os dias 27 e 28 deste mês.

Atualmente, fazem parte da Renapi os seguintes estados: Acre, Amazonas, Espí-rito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Ge-rais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo, além do Distrito Federal. A expec-tativa da ABDI é integrar todos os estados brasileiros até 2008, aproximando agentes públicos e privados relacionados à inova-ção e ao desenvolvimento industrial e for-necendo informações e prestação de ser-viço sobre os instrumentos operacionais da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (Pitce).

No início de julho, a Assembléia Legis-lativa do Pará aprovou a criação da Fun-dação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa). Com isso, a região Norte do país ganha a segunda fundação desse gênero, pois apenas Amazonas pos-suía uma até então. A missão da Fapespa será produzir soluções que visem o uso sustentável dos recursos naturais em prol

da melhoria da qualidade de vida da população, a defesa do meio ambiente, o progresso da ciência e da tecnologia, o desenvolvi-mento e a inovação.

A Fapespa vai custear, financiar ou subvencionar, total ou parcialmente, pro-jetos de pesquisa científica e tecnológica, individuais ou institucionais, de direito público ou privado, considerados rele-vantes para o desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e social do Pará. O diferencial é que a fundação irá atuar com a modalidade subvenção, atualmen-te aplicada pela Finep. O orçamento pre-visto é de 1% da receita líquida do estado – cerca de R$ 60 milhões por ano.

Pará cria fundação de amparo à pesquisa

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H I - T E C HH I - T E C H

Em MoViMEnto

Saindo do fornoA Ondatec, incuba-

da na Unitecne (MG), desenvolveu um forno de microondas sem portas para secagem de

madeira que promete inovar o setor movelei-ro. Composto por uma esteira, o forno per-mite a secagem mais rápida do produto, sem alterar a cor e a qualidade – como geralmen-te ocorre nas estufas. Enquanto pelo método mais conhecido as tábuas precisariam de 30 dias para secar, com o forno da Ondatec o processo dura apenas um dia.Saiba mais: www.unitecne.com.br

Papel ecológicoCom a criação da tecnologia

LightZyme, a Vedartis Tecno-logia venceu o 2º Biobusiness Brasil e, ainda, foi incorporada à incubadora Su-pera, de Ribeirão Preto (SP). A empresa desen-volveu uma enzima, a xilanase, capaz de bran-quear a polpa da celulose sem utilizar cloro e outros agentes químicos. Ecologicamente corre-ta, a xilanase pode ser aplicada na produção de vários tipos de papel, bastando para isso modifi-cá-la geneticamente. Saiba mais: www.fipase.org.br

Ordem no arEm tempos de caos na aviação, organizar e

integrar os processos gerenciais de uma compa-nhia aérea é a proposta do software Apus, de-senvolvido pela DoctorTech, incubada no CIDE (AM). O programa reúne em um banco de da-dos os fluxos administrativos, técnicos, finan-ceiros, operacionais e comerciais da empresa. A partir das horas voadas, o Apus pode avisar as datas de revisão das máquinas e fornecer a car-ga de trabalho dos tripulantes. O atendimento

ao cliente, também re-gistrado no Apus, foi re-duzido para cerca de dois minutos, em testes realizados no aeroporto de Manaus.

Saiba mais: www.doctortech.com.br

4ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia Na primeira semana de outubro, o Brasil inteiro será palco de diversas atividades voltadas a ciência e tecnologia– experimentos, exposições, palestras e eventos públicos –, organizadas por instituições de ensino e pesquisa, empresas, escolas e órgãos de governo em diversas cidades. As iniciativas devem ser cadastradas no site do evento para que possam ser divulgadas para o públicoem geral e para as coordenações regionais. Data: 1º a 7 de outubro de 2007Local: em todo o BrasilInformações: (61) 3317-7500 e semanact.mct.gov.br

Semitec 2007 – Seminário de Empreendedorismo em TI Com o objetivo de aprofundar o conhecimento na área de Tecnologia da Informação, o seminário abordará as principais estratégias de empreendedorismo em TI, promovendo discussões sobre tendências de mercado e inovações

tecnológicas mundiais. Durante o evento haverá apresentação de palestras e cases de sucesso, rodada de negócios e exposição de empresas do setor.Data: 19 e 20 de outubro de 2007Local: Brasília (DF)Informações: www.semitec.com.br

2º Simpósio Nacional de Tecnologia e SociedadeNo evento realizado pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Utfpr) será discutida a relação entre tecnologia e sociedade frente

às transformações provocadas pelo avanço científi co. A partir de um enfoque nas dimensões política, econômica e social, pretende-se debater como as inovações inserem-se no cotidiano das pessoas, alterando signifi cativamente o modo de vida.

Data: 5 a 8 de novembro de 2007Local: Curitiba (PR)Informações: mail.ppgte.cefetpr.br/tecsoc2007

Conferência Latino-Americana de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas da IASP – LA 2007

Promovida pela International Association of Science Parks (IASP), reúne gestores de incubadoras e parques, empresários e autoridades.Data: 19 a 22 de novembro de 2007Local: Lima – PeruInformações: www.pucp.edu.pe/conferencia/iaspla2007

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Excelência em gestão, visão de futuro, foco no cliente e no mercado, aborda-

gem por processos, inovação e agilidade. Eis os requisitos preenchidos com exce-lência pelos vencedores do Prêmio Nacio-nal de Empreendedorismo Inovador 2007. Promovida pela Anprotec, a premiação reconhece ações bem-sucedidas desenvol-vidas por parques tecnológicos, incuba-doras e empresas residentes e graduadas. Neste ano, a premiação foi dividida em seis categorias.

A Inova, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é a vencedora na categoria PIT (Melhor Programa de Incu-

bação de Empreendimentos Orientados para o Uso Intensivo de Tecnologias). A incubadora seleciona alunos do curso de Engenharia de Produção da UFMG para atuarem como consultores das empresas durante o período de incubação. “Com foco no mercado, abrimos um leque de opções e produtos que muitas vezes não foram pensados pelo empresário”, analisa Rochel Lago, coordenadora da Inova.

Na categoria DLS (Melhor Programa de Incubação de Empreendimentos Orienta-dos para o Desenvolvimento Local e Seto-rial), quem leva o prêmio é a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da Coppe/UFRJ. Criada há 12 anos, a ITCP abriga cooperativas popula-res, com programas voltados para geração de renda. Com ajuda da incubadora, as cooperativas são formalizadas, recebem curso de gestão, organização e noções de mercado, tornando-se mais competitivas.

Dois projetos conquistaram o prêmio na categoria CEI (Melhor Programa de Promoção da Cultura do Empreendedo-rismo Inovador). O Instituto Gene/FURB,

Vitória do movimentoA 11ª edição do Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador reconhece iniciativas de incubadoras, parques tecnológicos e empresas de diversas regiões do país Andréia Seganfredo

Categoria Premiado

Melhor Programa de Incubação de Empreendimentos Inovadores Orientados para o Desenvolvimento de Produtos Intensivos em Tecnologia (PIT)

Inova/ UFMG – Belo Horizonte (MG)

Melhor Programa de Incubação de Empreendimentos Inovadores Orientados ao Desenvolvimento Local e Setorial (DLS)

ITCP, da Coppe/UFRJ – Rio de Janeiro (RJ)

Melhor Projeto de Promoção da Cultura do Empreendedorismo Inovador (CEI)Instituto Gene/FURB – Blumenau (SC) e Supera – Ribeirão Preto (SP)

Melhor Parque Tecnológico / Habitat de Inovação (PTH) Porto Digital – Recife (PE)

Melhor empresa incubadaPAM Membranas Seletivas – Incubadora de empresas da Coppe/UFRJ – Rio de Janeiro (RJ)

Melhor empresa graduadaAudaces Automação e Informática Industrial – Incubadora do Celta – Florianópolis (SC)

Inova UFMG: estudantes de

graduação prestam consultoria a

empreendedores

Os vencedores

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Em MoViMEnto

Os vencedores do Prêmio Nacional de Empreendedoris-mo Inovador devem ser apresentados ao público durante o 17° Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incuba-doras de Empresas, que ocorre em Belo Horizonte entre os dias 17 e 21 de setembro. Maior encontro de empreendedo-rismo inovador da América Latina, o evento não apenas representa um momento de troca de experiências e discus-sões sobre o assunto no Brasil e no mundo, como também resgata um pouco da história da Anprotec. Foi durante a primeira edição do evento, em 1987, que a associação foi criada. Desde 1992, o seminário passou a ser realizado anualmente pela Anprotec.

Com o tema “Empreendedorismo Inovador Explorando as Novas Minas do Conhecimento”, o 17° Seminário ostenta nú-meros que representam uma conquista para quem apostou no embrião do movimento. Com cerca de 800 participantes, o evento traz a apresentação de 100 artigos sobre temas relacio-nados à área de incubação, parques tecnológicos e cultura empreendedora. Neste ano o número de minicursos foi am-pliado e as sessões plenárias que ocorrem simultaneamente foram divididas entre incubadoras e parques tecnológicos. Encontros paralelos, como a reunião ABDI/Anpei e o 15°

Workshop Anprotec, complementam a programação. Outro destaque da 17ª edição é a presença maciça de pa-

lestrantes do exterior, de países como França, Gana, Dina-marca e, sobretudo, Espanha. “Sempre se buscou trazer para os seminários a participação de profissionais estrangeiros. É uma forma de trocarmos experiências, verificar o que está sendo feito nos outros países e aprender com as experiências bem-sucedidas” explica Sheila Pires, superintendente execu-tiva da Anprotec.

Dessa forma, o Seminário Nacional de Parques Tecnológi-cos e Incubadoras de Empresas da Anprotec configura-se como um importante ambiente de discussão e atualização de conhecimentos entre empreendedores e gestores de incuba-doras e parques tecnológicos, além de ajudar na divulgação do empreendedorismo inovador no país. “A ação da Anpro-tec com seus eventos, encontros e seminários foi fundamen-tal para o avanço das incubadoras. Com ele a Anprotec con-seguiu dar visibilidade a esse movimento, fazendo com que hoje o modelo de incubadoras seja replicado em várias insti-tuições em todo o Brasil”, afirma Lynaldo Cavalcanti de Al-buquerque, secretário executivo da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti).

de Santa Catarina, é premiado por uma parceria firmada com o parque tecnológi-co Parkurbis, da cidade portuguesa de Co-vilhã. O projeto permite que empresas brasileiras utilizem a estrutura adminis-trativa e comercial do parque português, além de contar com a ajuda do Parkurbis para contatar potenciais clientes lusitanos. Caso haja algum interessado, a empresa brasileira passa a ter uma pessoa jurídica registrada em Portugal. O outro projeto vencedor nessa categoria é executado pela incubadora Supera, de Ribeirão Preto (SP). Focado no setor de tecnologia e saú-de, o projeto possibilita que empresas de todo o país recebam acompanhamento ao longo de um concurso. Desde o momento em que é feita a inscrição, a Supera presta consultoria via internet, analisando a via-bilidade econômica do produto.

Na categoria PTH (Melhor Parque Tec-nológico/Habitats de Inovação) o vence-dor foi o Porto Digital, de Recife (PE). Maior parque tecnológico urbano do país

em concentração de empresas e fatura-mento, o Porto Digital conseguiu reunir, em apenas seis anos, 100 empresas de tec-nologia e 3,5 mil funcionários, tornando-se responsável por 3,5% do PIB estadual. “Nos tornamos o maior parque tecnológi-co do país sob a perspectiva da sustenta-bilidade”, comemora Francisco Saboya, presidente do Porto Digital.

As empresas PAM Membranas Seleti-vas, do Rio de Janeiro, e Audaces, de Flo-rianópolis, foram as grandes vencedoras nas categorias Melhor empresa incubada e Melhor empresa graduada, respectiva-mente. A trajetória vitoriosa das duas está relatada na seção Sucesso de LOCUS (pági-na 36). O Prêmio Nacional de Empreen-dedorismo Inovador é promovi-do pela Anprotec, em parceria com Sebrae, Ministério da Ciên-cia e Tecnologia, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; CNPq, Fi-nep e CNI/IEL.

Seminário debate articulação de políticas públicas para o segmento

Porto Digital, de Recife: maior parque do Brasil em número de empresas

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N E G C I O S

A partir de janeiro de 2008, todos os postos de combustíveis do país serão

obrigados a oferecer o B2 – mistura de 2% de biodiesel ao combustível mineral. A demanda por combustíveis renováveis – inexistente há três anos – chegará a 850 milhões de litros por ano e deve alcançar 3 bilhões de litros em 2010, de acordo com relatório divulgado pela Empresa de Pes-quisa Energética (EPE), do Ministério das Minas e Energia. Desenvolvido para redu-zir a dependência brasileira do petróleo importado, o combustível feito de plantas oleaginosas tornou-se um fenômeno cres-cente em todo o país.

O óleo diesel é o combustível derivado de petróleo mais utilizado no Brasil, so-mando cerca de 40 bilhões de litros con-sumidos por ano. A produção de biodie-sel, estimada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) em 176 milhões de litros anuais, ainda está longe de compensar toda essa demanda, mas o ritmo de cresci-mento na produção já supera os 1.000% em relação ao ano passado.

Além do Brasil, o combustível vegetal é desenvolvido em outros países, como Ar-gentina, Estados Unidos, Malásia, Ale-manha, França e Itália. Na Europa, que concentra o maior mercado produtor e consumidor de biodiesel em larga escala,

com 90% da produção mundial, a fabri-cação iniciou na década de 1990. A van-tagem brasileira é a disponibilidade de terras cultiváveis e a variedade de maté-rias-primas.

Enquanto nos Estados Unidos as usinas só processam soja e na Europa, colza – matéria-prima do óleo de canola –, o Bra-sil desenvolveu tecnologia para produzir biodiesel a partir de diversas matérias-primas em uma mesma indústria. É o que faz a Tecnologias Bioenergéticas (Tecbio), graduada no Núcleo de Tecnologia Indus-trial do Ceará (Nutec). Fundada há cinco anos, a empresa produz biocombustível a partir de uma centena de matérias-pri-mas, como soja, girassol, amendoim, col-za, nabo-forrageiro, mamona, pinhão-manso, babaçu, dendê, além de gorduras de animais, como sebo, gordura de fran-go, óleos de peixes e óleos residuais de frituras e de esgotos.

A capacidade de obter biodiesel a par-tir de tantas bases não se dá por acaso. A primeira patente mundial da transesteri-

Páreo para o petróleoEm expansão acelerada, mercado de biocombustíveis promete lucros crescentes àqueles que investirem em soluções inovadoras para produção. Biodiesel é a principal atração

Francis França

Evolução da produção de biodiesel em m3

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ficação – principal processo de produção do biodiesel –, registrada em 1980, per-tenceu a Expedito de Sá Parente, presi-dente da Tecbio. Na época, a inovação não teve viabilidade comercial e 10 anos depois a patente do biodiesel expirou, passando a tecnologia ao domínio públi-co. Em 1994, Parente se aposentou e em 2002 montou a Tecbio, que hoje fornece tecnologia à Brasil Ecodiesel, maior em-presa do segmento no país.

Crescimento exponencialAs pesquisas com óleo vegetal combus-

tível buscavam oferecer alternativas ao petróleo para veículos de grande porte, paralelamente às pesquisas com etanol, que indicavam soluções para veículos le-ves. De acordo com José Neiva, sócio e Diretor de Planejamento e Novos Negó-cios da Tecbio, a demanda brasileira por diesel é maior do que por gasolina. “Hoje temos sobra de gasolina, que o Brasil ex-porta. O diesel é o contrário, nós impor-tamos mais ou menos 8 bilhões de litros por ano”, diz. O desenvolvimento do bio-diesel poderia reduzir a necessidade de importação, pois, quando produzido de maneira correta, tem qualidade superior à do combustível mineral, mesmo se com-parado aos de elevado grau de pureza.

Apesar dos incentivos governamentais, o biodiesel ainda tem custo de produção mais alto do que o do diesel mineral, principalmente porque o derivado do pe-tróleo é subsidiado no Brasil. A tendên-cia, segundo Neiva, é que os custos bai-xem de acordo com o avanço das tecnologias e a produção em escala. “Nes-se momento, temos que fabricar um bio-combustível com custo ainda elevado, até atingirmos uma curva de aprendizado, como aconteceu com o etanol, que, há 20 anos, era duas vezes mais caro do que é hoje”, explica.

Mesmo com os custos mais altos do que o diesel comum, a busca pela sustentabili-dade e independência do petróleo impul-sionam a expansão. A Tecbio já assinou

contrato com a espanhola Tomsa, meta-lúrgica com 150 anos de mercado, para a construção de uma planta de biodiesel. “Já estamos negociando várias propostas, tanto na Europa quanto na Ásia e algumas ilhas do Caribe. Temos também Angola e um pé no Senegal, onde estamos prospec-tando”, diz Neiva.

A Tecbio também pretende homologar outra invenção desenvolvida por Expedito Parente há 25 anos: o bioquerosene. Feito a partir do biodiesel, com propriedades se-melhantes às do querosene utilizado na aviação, a invenção rendeu à Tecbio um convênio com a Boeing e a NASA para es-tudos de viabilidade do combustível. A matéria-prima é o babaçu, palmeira que ocupa mais de 20 milhões de hectares do Maranhão ao Pará.

No mercado do-méstico, a Tecbio é responsável pela tec-nologia da maior em-presa de biodiesel do país. Com seis plantas industriais funcio-nando, a Brasil Eco-diesel fornece 58% do volume previsto nos leilões da ANP e tem capacidade instalada de 630 milhões de litros por ano. A Brasil Ecodiesel produz a partir das sementes de mamona, soja, girassol e algodão e estuda o uso do pinhão-manso.

De acordo com a ANP, existem, atual-mente, 36 usinas produzindo biodiesel no país. Se forem levadas em conta as fábri-cas-piloto, em construção, em fase de pla-nejamento ou que já foram construídas mas ainda não estão produzindo, o núme-ro passa de 130, segundo dados do portal BiodieselBR.

Matéria-prima Perene, de fácil cultivo e com colheita

manual, o pinhão-manso é considerado uma das melhores culturas para plantio em pequenas propriedades. Além da boa

Brasil Ecodiesel: capacidade para produzir 630 milhões de litros por ano

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N E G C I O S

conservação da semente, pode ser planta-do com outras culturas, inclusive pasta-gens, pois os animais não se alimentam dele. O interesse pela matéria-prima está na produtividade: de duas a quatro tone-ladas de biodiesel por hectare.

A Minas Bioenergia, incubada no Cen-tro Gerador de Empresas de Itajubá (Ce-geit), Minas Gerais, está concentrada na tecnologia de plantio do pinhão-manso, para aumentar o rendimento da planta. Segundo Daniel Rubim, diretor da empre-sa, o pinhão-manso deve ser adaptado a cada tipo de solo e clima para que se obte-nha o máximo de produtividade. “Tudo com o menor custo de produção possível, para tornar a atividade mais atraente em toda a cadeia de suprimentos, inclusive para o consumidor final”, afirma.

A Minas Bioenergia foi criada no final de 2006 e planeja construir sua primeira usina de biodiesel a partir do segundo se-mestre de 2008. A perspectiva é atingir a produção de 100 mil litros de biodiesel por dia, mas a planta industrial só será construída depois de concluídos os estu-dos sobre a cadeia de suprimentos.

A usina começará com uma planta-pi-loto, com produção de 3 mil litros por dia, para realização de testes de qualidade e produtividade do pinhão-manso e tam-bém de sebo bovino e óleo residual de fri-tura, coletado na região.

Promessa socialAs pesquisas sobre processos de produ-

ção e certificação de qualidade do biodie-sel são contempladas por recursos previs-tos pelos fundos setoriais CT-Energ e CT-Petro, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Desde 2005, os inves-timentos somam R$ 64 milhões, dos quais R$ 16 milhões foram aprovados no orça-mento de 2007/2008.

De acordo com Andriano Duarte, Co-ordenador de Políticas Setoriais do MCT, além dos incentivos do governo em rela-ção a pesquisa e redução de impostos, os investimentos em biocombustível são atraentes por questões de mercado, com a vantagem de um crescimento amparado legalmente. “O mercado brasileiro de biocombustíveis está regulado por leis que obrigam a mistura do biodiesel ao combustível tradicional em percentuais crescentes. Isso cria uma situação estável. Vários países estão fazendo o mesmo tipo de legislação”, afirma.

A política de incentivo do governo fe-deral à produção de biocombustíveis foi planejada para promover inclusão social e participação da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel. Para parti-cipar dos leilões da ANP e se beneficiar dos incentivos fiscais, as empresas preci-sam ter o “Selo Combustível Social”, com-provando que o biodiesel produzido tem

Sem limites para crescer

Bioware: objetivo é substituir petróleo em aplicações industriais

A Bioware, graduada na Incubadora de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp), transforma bagaço de cana-de-açúcar, serragem da madeira, cascas de árvores, de arroz, de café e até capim em energia. Entre os principais produtos comerciais da empresa está o bio-óleo, obtido a partir de resíduos, como a palha da cana-de-açúcar, que pode ser usado como insumo na indústria quí-mica e como combustível em alguns sistemas de geração e máquinas térmicas. O bio-óleo não é veicular, serve para substituir o óleo combustível na aplicação na geração de energias térmica e elétrica. “O etanol substitui a gasolina e o biodiesel substitui o diesel mineral. Só que o petróleo é matéria-prima para muitas outras aplicações industriais. O bio-óleo é um potencial substituto do petróleo nessas aplicações”, explica José Dilcio Rocha, diretor da Bioware. A primeira planta industrial da empresa deve começar a operar em 2008, em uma indús-tria de suco de laranja. Com capacidade para processar uma tonelada de biomassa por hora, a unidade vai substituir 20% do óleo combustível e do gás utilizados pela indústria, empregando

como matéria-prima o próprio bagaço da laranja. A biomassa é uma forma indireta de aproveitamento da energia solar absorvida pelas plantas. Estima-se que existam dois trilhões de toneladas de biomassa no planeta, o que corresponde a oito vezes o consumo mundial de insumos para geração de energia – como petróleo, metano, carvão mineral e lenha. “Esse é um negócio que tem potencial ilimitado, por-que nossa matéria-prima são os resíduos. Fazemos dinheiro do lixo”, ressalta Rocha.

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origem em projetos de inclusão social. Conquistar o selo exige que os produto-

res de biodiesel atendam alguns critérios, como comprar matéria-prima produzida pela agricultura familiar. No Nordeste e região do semi-árido, a proporção mínima é de 50%. Nas regiões Sul e Sudeste, 30%, e, no Norte e no Centro-Oeste, pelo menos 10% da matéria-prima deve vir de peque-nas propriedades. Também é necessário firmar contratos e fornecer assistência e capacitação técnica aos agricultores.

De acordo com dados do Programa Na-cional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), já foram assinados mais de 68 mil contratos com a agricultura familiar. Os agricultores devem produzir 112 milhões de litros de biodiesel, em aproximadamen-te 245 mil hectares de área plantada.

O caráter de inclusão social do biodie-sel é questionado quando se fala na possi-bilidade de a produção reduzir o cultivo de alimentos e ficar concentrada nas mãos de poucas empresas. “Haverá, sim, uma certa competição pelos melhores índices de produção e, evidentemente, as melho-res terras serão mais disputadas. O gover-no precisa fazer um zoneamento para dis-ciplinar o uso da terra e garantir a produção de alimentos”, diz Antônio Eu-zébio Goulart Santana, professor da Uni-versidade Federal de Alagoas (UFAL) e conselheiro da CTNBio.

Diversidade energética A produção de todas as usinas de bio-

diesel no país corresponde hoje a 10% da capacidade autorizada pelo governo, que é de aproximadamente 2 bilhões de litros por ano. Dentro da margem disponível para exploração, há espaço para todo tipo de tecnologia.

O Grupo Bertin, holding que atua nos segmentos de agroindústria, infra-estrtu-ra e energia, inaugurou em agosto a plan-ta com maior capacidade já instalada no mundo para a fabricação de biocombustí-vel a partir do sebo bovino. Com investi-mento total de R$ 42 milhões, a unidade instalada em Lins (SP) comporta um pro-

Mesmo com todo o avanço do biodiesel, o etanol continua sendo o grande líder quando se fala em biocombustíveis. Trinta anos depois do início do Proálcool (veja box na página 20), o Brasil vive agora uma nova expansão dos canaviais. O plantio avança além das áreas tradicionais, do interior paulista e do Nordeste, e espalha-se pelos cerrados. A tecnologia dos mo-tores flex impulsionou o consumo interno de álcool. O carro, movido a álcool, gasolina, ou ambos, foi introduzido no país em março de 2003 e conquistou o consumidor. Hoje, a opção já é oferecida para quase todos os modelos das indústrias, e os automóveis bicombustível ultrapassaram pela primeira vez os movidos a gasolina na corrida do mercado interno. A indústria automobilística mundial também aderiu aos bicombustível, e, do ponto de vista tecnológico, as condições para o sucesso do etanol estão equacionadas.

Diferente do movimento vivido pelas usinas nas décadas de 70 e 80, quando o governo brasileiro subsidiava a produção de etanol, hoje é o setor privado que impulsiona o mercado. A ex-portação de álcool brasileiro subiu de 95 milhões de litros no ano 2000 para 2,5 bilhões no ano passado. Até 2012, o mercado

brasileiro de etanol deve movimentar mais de US$ 15 bilhões. Os Estados Unidos são hoje os maiores produtores mundiais de álcool, com 37% do total produzido. O Brasil vem em segun-do lugar, com 35%. No mundo todo, a produção de etanol não pára de crescer e deve saltar dos 50 bilhões de litros fabricados em 2006 para mais de 110 bilhões de litros em 2012.

O Brasil leva vantagem em relação aos outros países em ter-mos de produtividade e custos. De cada hectare de cana plan-tado no país, produzem-se 6,8 mil litros de álcool. Nos Estados Unidos, que produzem álcool a partir do milho, cada hectare produz apenas 3,2 mil litros. Por causa da energia gerada a partir de biomassa – contra o uso de combustíveis fósseis, nos Estados Unidos – os custos de produção no Brasil também são mais baixos, tornando o produto mais competitivo. Mas ainda é preciso vencer o desafio de manter a oferta do combustível no mercado internacional. As etapas na produção do açúcar e do álcool diferem apenas a partir da obtenção do suco, que poderá ser fermentado para a produção de álcool ou tratado para o açúcar e, historicamente, os usineiros locais reduzem a produção de álcool toda vez que o preço do açúcar sobe.

O fenômeno do etanol

Participação dos estados em 2007

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N E G C I O S

cessamento anual de 110 milhões de li-tros. Para garantir a produção, serão ne-cessárias 300 toneladas de sebo bovino por dia. O biodiesel será usado para abas-tecer caminhões do frigorífico e o exce-dente será vendido no mercado nacional.

No Rio de Janeiro, a Gerar Tecnologia, residente da Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ, fabrica biodiesel a partir de esgoto sanitário. Criada em 2004, a em-presa desenvolveu tecnologia em escala industrial para a extração de graxos pre-sentes em estações de tratamento de esgo-to. Atualmente, está construindo três plantas, com volume de produção instala-do em torno de 30 milhões de litros por ano. A perspectiva para 2008 é atingir ca-pacidade instalada de 50 milhões de li-tros, distribuídos em cinco plantas. “Como a maioria das empresas nessa área, o crescimento nos primeiros cinco anos é bastante representativo. A partir do se-gundo semestre de 2006, nosso volume de negócios triplicou”, diz Andrea Borges, diretora da Gerar.

No Pará, o Grupo Agropalma, maior produtor de óleo de palma da América

Latina, resolveu cons-truir sua própria usina de biocombustível. Inau-gurada em 2005, em Be-lém, a fábrica custou R$ 3 milhões e tem capaci-dade de produzir cerca de 8 milhões de litros de biodiesel por ano a partir dos resíduos do refino do óleo de palma. Com o

Usina da Agropalma: investimento para substituir 100% do diesel usado na companhia

O Programa Nacional do Álcool, ou Proálcool, foi criado em 1975 para evitar o aumento da dependência externa quando ocorreram os choques de preço de petróleo. De 1975 a 2000, o programa substituiu a importação de aproximadamente 550 milhões de barris de petróleo e proporcionou uma economia de US$ 11,5 bilhões. A dinâmica do mercado teve fases distintas:

De 1975 a 1979: surgem os primeiros carros movidos exclusivamente a álcool. A produção alcooleira cresceu de 600 milhões para 3,4 bilhões de litros por ano.

De 1980 a 1986: o segundo choque do petróleo triplica o preço do barril de petróleo. A produção alcooleira atinge o pico de

12,3 bilhões de litros. A proporção de carros a álcool no total de automóveis aumentou de 0,46% em 1979 para 76,1% em 1986.

De 1986 a 1995: os preços do barril de petróleo despencam de um patamar de US$ 40 para US$ 20. Na política brasileira segue um período de escassez de subsídios que afeta a credibilidade do Proálcool.

De 1995 a 2000: os mercados de álcool combustível passam a ser determinados pelas condições de oferta e procura. Em 28 de maio de 1998, o governo eleva, por meio de uma medida provisória, o percentual de adição de álcool à gasolina obrigatório em 22% em todo o território nacional até o limite de 24%.

Capacidade Autorizada X Produção

FONT

E: AN

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investimento, a empresa produz combus-tível suficiente para substituir 100% do diesel convencional que a companhia utiliza hoje em seus tratores, veículos e implementos empregados no cultivo da palma, o que representa 3 milhões de li-tros por ano.

O investimento em soluções locais, se-gundo Adriano Duarte, do MCT, fazem parte de um novo paradigma na produ-ção mundial de combustíveis. “Senão apenas perpetuaríamos a lógica do pe-tróleo, em que a produção fica centrali-zada nas mãos de poucas empresas e paí-ses”, diz. Segundo ele, a tendência do Brasil é atender o mercado interno e ex-portar o excedente, priorizando as solu-ções locais.

Desde que Expedito Parente descobriu a transesterificação, qualquer tipo de gor-dura pode virar combustível. Além de al-ternativa ao petróleo e solução para cola-borar com o meio ambiente, o biodiesel mostrou que sua maior vantagem é a pos-sibilidade de ser feito sob medida.

Proálcool

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O P O R T U N I D A D E

Certa vez o coordenador-adjunto da Sof-tex, Djalma Petit, disse que a TV digi-

tal estava para o Brasil assim como o bug do milênio está para a Índia. Ele indicava a fase de grandes oportunidades que a implantação da TV digital representa para a indústria de softwares no Brasil, comparando ao que aconteceu com a Ín-dia. No final da década de 1990, a indús-tria indiana de software foi responsável pela correção da falha na data do ano 2000 de boa parte dos computadores do planeta, e hoje é uma das maiores expor-tadoras mundiais de serviços relaciona-dos à tecnologia da informação.

A quatro meses do lançamento da TV digital no Brasil, a frase proferida nos idos de 2006 continua valendo. A primeira transmissão HDTV (Televisão de Alta De-finição) na cidade de São Paulo está pre-vista para o dia 2 de dezembro deste ano. No Rio de Janeiro, a previsão é que as transmissões iniciem até o segundo se-mestre de 2008. As outras cidades brasi-leiras devem demorar um pouco mais para conhecer a nova tecnologia: até 2011.

Como se vê, ainda estamos no aqueci-mento do jogo, mas a previsão é que a de-manda por novos projetos, serviços e pro-dutos na área aumente conforme o cronograma de implantação avance. Com a demanda aumenta também o choque de interesses: empresas estrangeiras de olho em negócios no Brasil e empresas brasi-

Cenário ideal para CRESCER

leiras visando desenvolvimento de produ-tos para substituir importações. O confli-to está lançado, mas o fato é que a TV digital pode trazer oportunidades de bons negócios para todos.

A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) lançou no último mês de agosto um pacote de subvenção econômica de R$ 450 milhões para empresas que tenham projetos inovadores em áreas estratégicas, entre as quais se destaca a produção de equipamentos para TV digital. Com esse edital, o governo federal tenta incentivar o desenvolvimento da tecnologia, inclusi-ve para acelerar a adoção do sistema em todo o país, já que a transição deve durar 10 anos. Para garantir que o projeto tenha abrangência nacional, 30% dos recursos serão destinados às regiões Norte, Nor-deste e Centro-Oeste. Além disso, no mí-nimo 40% do montante deve ser aplicado em micro e pequenas empresas.

Interatividade Uma parceria entre duas instituições de

pesquisa, a Universidade Federal de Per-nambuco (UFPE) e a Pontifícia Universi-dade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), gerou o software que será responsável pela interatividade da TV digital brasileira. A primeira versão completa do programa, chamado Ginga, deve ficar pronta até o fi-nal de setembro. O objetivo da Mopa Em-bedded Systems, empresa que transformou

Na expectativa pelo início das transmissões no Brasil, setores ligados à TV digital projetam tecnologia e conteúdo. Mas ainda faltam resultados efetivos

Maria Fernanda Ziegler

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a idéia dos pesquisadores em produto, é fazer com que telespectadores possam fa-zer compras, acessar contas bancárias e participar de chats, com recursos seme-lhantes aos oferecidos pela internet.

O diretor de TV digital do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Teleco-municações (CNPqD), Juliano Dall’Antonia, acredita que a demanda por soluções na área só tende a aumentar. “Enquanto ape-nas 27,5 milhões de brasileiros têm acesso à internet, a TV tem o alcance de mais de 90%. Isso faz com que diversas empresas tenham muito interesse em disponibilizar seus serviços na TV digital para alcançar mais clientes”, afirma. O próprio CNPqD já está desenvolvendo dois softwares voltados à TV digital: um para educação e outro para o setor bancário.

O T-banking, software voltado ao acesso bancário via TV digital, está sendo desen-volvido em conjunto com alguns bancos para que os correntistas possam utilizar a televisão para fazer transferências, pagar contas, conferir extratos e aplicações. Tudo pelo controle remoto. “O objetivo é que o usuário faça pela TV tudo aquilo que hoje pode fazer nos caixas eletrônicos ou pela internet”, diz Dall’Antonia. Mas, ele expli-ca que, para isso, é preciso desenvolver conceitos de usabilidade, já que não se pode transportar tudo o que se tem em um computador para uma tela de TV. “No controle remoto só é possível usar as setas, o botão de OK e os números”, ressalta.

O CNPqD também está desenvolvendo

um software para a área de educação. O Sapsa (Serviço de Apoio do Professor em Sala de Aula) vai unir TV e professor para ensinar os conteúdos escolares. “Ao invés da velha lousa os alunos agora poderão aprender os conteúdos pela televisão, pla-taforma com a qual eles estão muito mais habituados”. Assim, no lugar das clássicas aulas sobre a guerra do Paraguai, por exemplo, o aluno assistirá a um filme que conta a história do conflito e terá a possi-bilidade de interrompê-lo para navegar em mapas e acessar conteúdo extra.

Chips Com a aproximação das primeiras trans-

missões digitais no Brasil, a indústria de chips vive a expectativa de alavancagem. A partir do próximo ano, o país terá sua pri-meira fábrica de chips, implantada em Porto Alegre (RS), no Centro de Excelên-cia em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec). Entre as prioridades do novo centro está o desenvolvimento de tecnolo-gia para TV digital.

O primeiro Chip Tri-Sistêmico Brasilei-ro, o chip de modulação para a TV digital, já começou a ser desenvolvido. No ano passado, o projeto recebeu R$ 14,6 mi-lhões do Bndes, como recursos não-reem-bolsáveis do Funtec. O valor foi concedi-do para a União Brasileira de Educação e Assistência (UBEA – PUC/RS), o Ceitec e a empresa RF Telecomunicações Ltda. (Telavo), que estão envolvidas no projeto.

Fabricante de transmissores analógicos, a Telavo decidiu entrar no mercado digital, comercializando o chip desenvolvido na PUC/RS. “Já trabalhamos com equipamen-tos de transmissão analógicos há 30 anos. Com essa experiência, percebemos que po-díamos entrar no mercado digital também”, conta Jackson Sosa, sócio-diretor da em-presa. Segundo ele, o custo de desenvolvi-mento do produto foi de R$ 17 milhões e a expectativa é de que a venda dos transmis-sores renda US$ 70 milhões em cinco anos. A tecnologia atende os três sistemas de modulação existentes para transmissão de

Primeira fábrica de chips do Brasil está sendo construída em Porto Alegre

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O conflito de interesses relacionados à TV digital não se restringe à área tecnológica. Produtores independentes têm se mostrado preocupados com uma possível mono-polização do conteúdo a ser exibido na nova plataforma. De acordo com James Görgen, secretário executivo do Fórum Nacional pela Democracia nos Meios de Comuni-cação (FNDC), uma forma de evitar que apenas as gran-des emissoras sejam beneficiadas seria a adoção de um operador de rede, pelo qual uma empresa, normalmente pública, mantém a estrutura para transmitir os conteúdos de TV digital. “Seria a oportunidade para pequenas pro-dutoras criarem conteúdo digital. Como a transmissão está nas mãos das grandes redes de TV, elas terão que vender seus programas para elas”, explica.

Apesar da possibilidade de boom no setor, ainda são poucas as empresas que se dedicam à produção de con-teúdo para TV digital. Uma delas é a Brasil Oikos, uma produtora de novas mídias criada na Universidade Tecno-lógica Federal do Paraná (Uftpr), que lançou em 2006 seu primeiro curta-metragem de ficção, chamado “Quadran-te”. O filme foi apresentado na Alemanha e na França, em um trabalho de pesquisa de linguagem e de busca de canais e produtoras interessadas. A produção participou também do Interfilm, um conceituado festival de filmes

alternativos de Berlin. A empresa está produzindo traba-lhos mais interativos na área de vídeos para internet. Um projeto de destaque é o programa Empreender é Show, um reality experience promovido pela Anprotec que uti-liza linguagem própria para a internet. Todos os vídeos relacionados ao programa foram postados no You Tube e por meio de tecnologias como chats, sites com sistemas CMS (atualização dinâmica, desenvolvido pela própria empresa com parceiros) é possível apresentar conteúdos a baixo custo e com abrangência mundial.

Neste ano, a Brasil Oikos iniciou seus trabalhos na área de educação e entretenimento ambiental a distância – considerada a fase “2” do projeto Quadrante. O projeto é desenvolvido em parceria com o Cefet de Rio Grande do Norte, onde será incubada uma segunda empresa da Brasil Oikos, na área de biotecnologia e modelos produ-tivos orgânicos. Além disso, ainda em 2007 a empresa prepara o lançamento de mais um produto na área de vídeos para a internet e portais de informação, que tem como primeiro cliente a própria Anprotec. Será uma solu-ção inovadora que reúne mapas, vídeo e conteúdo, pela qual os associados da Anprotec poderão visualizar onde estão localizados outros associados, divulgar seus vídeos institucionais e ampliar a rede de contatos.

TV digital internacionalmente reconheci-dos: o europeu, o americano e o japonês. O chip terá o valor de US$ 6, enquanto os transmissores custarão cerca de US$ 150.

A implantação da fábrica de chips re-presenta um passo importante na substi-tuição de importações. Só no ano passado foram importados US$ 3,33 bilhões em semicondutores. A fábrica permitirá que o país avance em mais uma tecnologia, que hoje se restringe apenas à parte de projeto de chip e design.

A era da convergênciaNa USP, um grupo de pesquisa coorde-

nado pelo professor Marcelo Zuffo estuda as aplicações de recursos de TV digital em dispositivos móveis, como o famoso “lap-top 100 dólares”. “Estamos estudan-do como incorporar a essa mídia certifi-cados digitais na área bancária e de saú-de”, afirma o professor. Em tempos de convergência, as oportunidades de negó-cios não param de surgir. Apenas três

transmissoras já entraram em operação na cidade de São Paulo, o que ainda res-tringe a quantidade necessária de testes para as novas tecnologias. De acordo com a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos, as fabricantes de televisores ainda estão testando os pri-meiros protótipos de conversores que atendam os requisitos estabelecidos pelo Sistema Brasileiro de TV Digital.

A Samsung planeja o desenvolvimento da plataforma de engenharia para a expor-tação de conhecimento para os países da América Latina. O Brasil é o único país do continente onde a Samsung já tem um set-up-box (conversor). “Já temos os produtos, as caixinhas, mas ainda dependemos de avaliações do mercado”, afirma o vice-pre-sidente da Samsung no Brasil, Benjamin Sicsú. Ele avalia que o governo brasileiro deu um prazo muito curto para a produção de televisores e equipamentos em geral para a TV digital e que ainda há muita in-definição em relação à interatividade.

Produção de conteúdo

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I N V E S T I M E N T O

Onda verde-amarelaMercado financeiro é inundado por papéis de empresas brasileiras, responsáveis por 10% da oferta mundial de novas ações. Abrir o capital exige investimento e disposição ao risco

Emília Chagas

No último mês de agosto, a Fundação Getulio Vargas criou o Índice IPO

para medir o desempenho de empresas que recém-lançaram ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Até 2003 esse tipo de cálculo era completamente desnecessário a qualquer investidor. Mas muita coisa mudou na Bovespa desde 26 de maio de 2004, quando a Natura abriu o capital. Essa pequena pedra atirada no lago do mercado de ações criou uma onda, que foi ficando maior e maior a cada mês. No final de julho deste ano, essa onda de ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) já carregava 88 companhias. O conjunto das novatas, segundo o Índice IPO, acumulou alta de 412,8%. Somente em 2007, elas valorizaram cerca de 29%, contra 16% do Índice Bovespa.

Nos primeiros sete meses do ano, as ofertas de 46 companhias somaram US$ 17,3 bilhões, atingindo pela primeira vez a marca de 10% do mercado mundial. A maioria das empresas que abriu capital é

do segmento de construção civil ou ban-cário. Mas essa onda cresce nos mais va-riados setores, inclusive o de tecnologia da informação.

Capital inovadorUm dos destaques nesse setor é a Positi-

vo Informática, que abriu capital em de-zembro do ano passado com ações cota-das em R$ 23. Esses papéis valem hoje quase o dobro do preço inicial: R$ 40. Em outra ponta está o portal de conteúdo UOL, que lançou suas ações em 2005, va-lendo R$ 18 cada. Atualmente esses papéis estão cotados entre R$ 11 e R$ 12. Perde-ram um terço do valor no mesmo período em que o Índice Bovespa valorizou 50%.

Independentemente do desempenho das ações, a abertura de capital traz uma série de benefícios para as empresas. O principal é o acesso ao capital. No caso de uma emis-são primária, a empresa vende novas ações no mercado, captando recursos nessa ope-ração. Algumas novatas chegam a ter mais de 30 mil investidores, como a Redecard. Mas a maioria tem menos de 10 mil acio-nistas. “Os investidores podem até trocar a posse das ações entre si, mas esses recursos ficam na empresa permanentemente”, ex-

Número de empresas que lançaram ações

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plica o analista de investimento Matias Frederico Dieterich. Essa vantagem tam-bém vale para as empresas inovadoras, que costumam atrair investidores simpáticos a riscos e afastar os conservadores. No caso de uma distribuição secundária, quem ven-de os papéis é o empreendedor, que recebe os recursos. As emissões primária e secun-dária podem ser feitas ao mesmo tempo.

Em uma distribuição primária, o capital arrecadado pode significar a alternativa aos financiamentos, com menor risco para a empresa. Ao obter recursos a um custo menor, muitas companhias conseguem viabilizar projetos que antes não sairiam do papel. É o caso da Bematech, fabricante de impressoras e outros equipamentos para automação comercial. “A abertura de capi-tal proporcionará o pagamento das aquisi-ções passadas, mas também caixa para aquisições futuras”, afirma o vice-presiden-te financeiro da empresa, Luciano Sfoogia. Uma empresa de capital aberto também adquire maior liquidez, fazendo com que um sócio possa a qualquer momento con-verter em dinheiro a sua parte na empresa.

Não tão simplesOs empreendedores precisam avaliar

com cautela o caminho que leva à abertu-ra do capital. É preciso contratar audito-ria externa e preparar documentos como as demonstrações financeiras nos padrões definidos pela Comissão de Valores Mo-biliários (CVM) e o prospecto de venda das ações. Entre as obrigações também está a de criar um departamento de aten-

A onda de IPOs criou uma verdadeira corrida especulativa. No primeiro dia do lançamento de ações de uma empresa, o papel chega a variar de 15% a 20%. Para não cair em armadilhas do mercado, invista em companhias nas quais confia e conhece. A dica do analista de investimento Matias Frederico Dieterich é: “Leia com atenção o prospecto da empresa antes da emissão para conhecer bem o negócio que você está comprando”. Esses documentos chegam a ter 400 páginas, mas é bom ler na íntegra para ter conhecimento amplo sobre a empresa e o setor em que ela está inserida. Explicações sobre variações passadas podem informar sobre o risco de alguma crise vir a se repetir no futuro.

Cuidado ao investir

Sfoogia, da Bematech: abertura de capital permite aquisições futuras

Pregão eletrônico: ações das novatas valorizaram quase 30% em 2007

PERC

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O sobe-e-desce do mercado

Empresa Preço da ação na abertura Preço atual*

Porto Seguro R$ 18,75 R$ 64

Positivo Informática R$ 23,50 R$ 41

GVT R$ 18 R$ 34

Localiza R$ 11,50 R$ 18

Datasul R$ 18 R$ 20,30

Bematech R$ 15 R$ 13

Natura R$ 36,50 R$ 21

UOL R$ 18 R$ 11

* Valores aproximados, baseados na cotação no final de agosto/2007.

dimento aos acionistas e fornecer relató-rios financeiros trimestrais. As despesas variam muito de empresa para empresa. No caso da Bematech, foram gastos R$ 2,7 milhões nesse processo, que demorou 100 dias para se concretizar.

Para as companhias que querem entrar aos poucos no mercado, existe o Bovespa Mais, um programa voltado àquelas que pretendem emitir um volume de ações menor que o usual. As empresas de base tecnológica também recebem apoio no Fó-rum Brasil Abertura de Capital, que ocor-re uma vez por ano e intermedia o contato entre empreendedores e corretoras.

Embora ainda haja muito espaço para novos IPOs, as empresas que quiserem fa-zer parte desse time devem pesar todos os prós e contras. Não que o processo de abertura de capital seja irreversível, mas voltar atrás significa abrir mão de todo o investimento feito. E de ter à mão o capi-tal para readquirir as ações, é claro.

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O mundo dos negócios é severo, falta créditoe os impostos são

muitos e caros. É difícil ao pequeno empreendedor crescer,

ou mesmo sobreviver. Mas em todas as histórias de sucesso há um caminho comum trilhado com rigor: inovação, visão de mercado e planejamento. Sim, é possível ser bem-sucedido.

O desafio do crescimento

CAPA

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Quando um jovem deixa a casa dos pais – um ambiente seguro, confortável e,

muitas vezes, superprotegido –, mesmo que isso seja sinônimo de liberdade, ficam as dúvidas: será que está maduro o sufi-ciente para enfrentar o mundo lá fora? Conseguirá conquistar novos espaços e alçar vôos mais altos? A semelhança de destino incerto faz com que pequenas em-presas saídas de incubadoras possam ser comparadas a esse jovem, com a atenuan-te de terem de enfrentar inúmeras dificul-dades para obter crédito no mercado, im-postos elevados e um ambiente cada vez mais competitivo e hostil.

O biólogo João Durval Arantes Júnior, de 32 anos, sabe bem o que isso significa. Em 2000 ele ingressou na incubadora de tecnologia da cidade paulista de São Car-los (ParqTec), com a empresa Aqualogos. A idéia era desenvolver sistemas de moni-toramento da qualidade de água e ofere-cê-los a empresas de saneamento básico. Quatro anos de incubação, porém, foram insuficientes para despertar o interesse do mercado. “Tentei mas não obtive finan-ciamento por causa da burocracia. Tam-bém não consegui vender meu produto.” Hoje, o biólogo presta serviços como con-sultor a outras empresas, mas não desistiu de buscar clientes para sua criação. “Quando comecei, achei que o mercado estava pronto para receber minha idéia.

Mas até agora não consegui atingi-lo.”Ao sair do microambiente favorável de

uma incubadora, onde há boa infra-estru-tura a baixíssimos custos, acesso facilita-do à informação e ao conhecimento e apoios jurídico, contábil e de gestão, a primeira condição desfavorável é o incre-mento de despesas. Além de preços mais altos de serviços condominiais e da carga tributária elevada e complexa, que au-menta bastante os gastos do negócio, exis-te a dificuldade de conseguir crédito e investimentos adequados à realidade da empresa pequena e inovadora.

“O ambiente hostil, principalmente para o acesso a crédito, é uma das piores coisas hoje no cenário nacional e é o que estamos tentando resolver”, diz o diretor de Inova-ção para o Desenvolvimento Econômico e Social da Financiadora de Estudos e Proje-tos, do Ministério da Ciência e Tecnologia (Finep), Eduardo Costa. Para ele, a proli-feração de incubadoras não é sinônimo de sucesso e inovação. “Se as incubadoras es-tiverem preocupadas apenas em oferecer aluguel barato, não estarão ajudando as empresas a crescer. As empresas precisam ter acesso àquilo que faz diferença para o desenvolvimento:mercado, conhe-cimento e dinheiro.”

Segundo o superintendente da área de Operações Indiretas do Banco Nacional de Desenvolvi-

FOTO

JOÃO

LUIZ

RIBEIR

O/FIN

EP

As empresas precisam ter acesso àquilo que faz diferença para o desenvolvimento: mercado, conhecimento e dinheiroEduardo Costa, da Finep

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mento Econômico e Social (Bndes), Cláu-dio Bernardes, ainda há um longo cami-nho a ser percorrido no Brasil para superar as restrições de crédito aos pe-quenos empreendedores, que ocorrem por causa dos riscos a que estão sujeitas as instituições financeiras que investem em novos negócios. “Esses riscos, no entanto, estão diminuindo e os bancos têm se vol-tado cada vez mais para as micro e peque-nas empresas”.

Em 2006, os números apresentados pelo órgão foram bastante animadores. Os in-vestimentos do Bndes atingiram recorde, valor 11,3% superior ao montante libera-do em 2005. Cerca de R$ 4 bilhões foram destinados às micro e pequenas empresas, ou 8% do total. Se contarmos em número de operações, de 122 mil, aproximada-mente 39,4 mil foram realizadas para esse segmento (ou 32,3%). O resultado revela a tendência de crescimento dos desembol-sos, observada a partir do segundo tri-mestre de 2006, e a expectativa é de conti-nuidade em 2007.

Um exemplo positivo de instrumento de crédito para o setor é o cartão Bndes, lançado em 2003, fornecedor de crédito rotativo para que micro, pequenas e mé-dias empresas possam realizar investi-mentos produtivos. Com um limite máxi-mo e pré-aprovado de R$ 250 mil, o empreendedor pode comprar de empresas cadastradas, a juros de 1% ao mês. “Além

de facilitar o acesso ao crédito, o cartão forma uma cadeia produtiva, uma rede de compradores e fornecedores, que agrega pequenas empresas de todo o país. Já emi-timos mais de 110 mil cartões e isso re-presenta um grande volume de crédito no mercado”, afirma o superintendente.

Linhas de financiamento do Bndes que oferecem condições especiais para proje-tos e aquisições materiais de micro, pe-quenas e médias empresas não faltam. São 10 ao todo. O que precisa ser aprimorado, de acordo com especialistas, é o acesso a elas. “O Bndes trabalha em parceria com os agentes financeiros, que exigem garan-tias à concessão de empréstimos. Para su-perar esse gargalo, o empreendedor tem que apresentar projetos sólidos, especifi-cando as atividades nas quais os recursos serão aplicados”, orienta Bernardes.

Faltam bons projetosUma saída para conseguir investimen-

tos é atrair capital empreendedor, os cha-mados private equity e ventu-re capital. Segundo o conselheiro da Asso-ciação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (Ab-vcap) e diretor-geral da DGF Investimen-tos, Sidney Chameh, as empresas que atra-

O fundo empreendedor completa as necessidades do empresário, como num verdadeiro casamentoClóvis Meurer, da CRP

CAPA

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em esse capital de risco se profissionali-zam e contam com uma estrutura financei-ra mais sofisticada, com o network do investidor e acesso privilegiado a poten-ciais clientes que, provavelmente, não atin-giriam sozinhas, além de maior exposição no mercado. “O pequeno empresário tem ajuda de alto nível para traçar e implemen-tar estratégias de médio e longo prazos, com inúmeros benefícios”, afirma.

O diretor-superintendente da Compa-nhia Riograndense de Participações (CRP), Clovis Benoni Meurer, também acredita que o investidor de capital empreendedor não é um credor, alguém que cobrará re-torno com juros, mas sim um sócio que apoiará a empresa. “O fundo empreende-dor completa as necessidades do empre-

sário, como num verdadeiro casamento.” Embora haja risco de o negócio não dar certo, Meurer explica que o investi-dor também se beneficia, pois entra na fase inicial do empre-endimento, investe pouco e tem ganho potencial muito grande.

Seleção naturalEsse tipo de investimento se

mostra promissor e é relativa-mente novo no país, já que foi intensificado somente após a estabilidade econômica adqui-rida a partir de 1994. Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) revelam que em 2004 havia US$ 5,58 bilhões disponíveis em private equity e venture capital para investi-mentos. Hoje são mais de US$ 16 bilhões. Para o investimen-to de pequeno porte, até o dia 31 de julho havia US$ 8 bi-lhões disponíveis a organiza-ções que podem investir, no máximo, US$ 5 milhões.

Beneficiar-se do capital em-preendedor, no entanto, não é tarefa fácil. Os investidores são muito seletivos e, por isso, há extrema competição no mercado. O fato é que existem diversas empresas incubadas e, para conseguir investimen-tos, elas têm que passar por um rigoroso filtro. Isso porque o capital empreendedor não é um recurso massificado e não aten-derá a todas as empresas incubadas.

Para o professor de Finanças da FGV-SP e analista da CVF Investimentos, Cláu-dio Furtado, especialista em venture capi-tal, não importa se o investimento é de US$ 500 mil ou US$ 10 milhões. O inves-tidor terá que dedicar muito tempo e es-forços para recrutar um time de primeiro nível, relacionar-se comercialmente com clientes e fornecedores de referência, dis-

Empresas que investem em P&D têm mais chances de crescer

RICAR

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cutir estratégias com o empreendedor do negócio e monitorar as operações da em-presa. “Quando o fundo de capital em-preendedor coloca dinheiro no negócio, é obrigado a dar retorno ao investidor. Portanto, se as pequenas empresas não tiverem viabilidade de grande crescimen-to, não vão entrar na tela do radar dos investidores.”

Inovação como metaE todo esse rigor, como mostram os nú-

meros da FGV-SP, não é por falta de di-nheiro para investir e sim porque nem todos os projetos atendem às exigências para receber investimentos. “De mil pro-jetos apresentados aos fundos, apenas dois ou três são contemplados. Geralmen-te, os empreendimentos não satisfazem requisitos básicos de crescimento, de equipe e de serem efetivamente uma opor-tunidade de negócio”, diz Furtado.

O conselheiro da Abvcap concorda. “É muito difícil encontrar projetos comple-tos nas incubadoras, com todos os quesi-tos reunidos”, afirma Chameh. Comple-to, segundo ele, é o projeto que tenha um bom time de gestão, um bom produto e que esteja num mercado em crescimento.

O problema é que grande parte dos produtos não é atrativa para o

mercado.“Não basta ter uma boa

idéia. É preciso comprovar

que aquilo é aderente ao mercado e ter al-guém com espírito empreendedor na lide-rança do projeto”, afirma Clóvis Meurer. Segundo ele, o dinheiro do capital empre-endedor é menos destinado a idéias e mais a negócios.

Para crescer em um mercado tão voraz é necessário que o serviço ou produto criado seja realmente inovador. E mais: que seja transformado em uma boa opor-tunidade de negócio. Torna-se primordial, portanto, fazer uma pesquisa detalhada de mercado. Formado em Ciências da Computação, Vitor Andrade, de 34 anos, viu seu negócio, recém-saído da Incuba-dora de Empresas de Base Tecnológica em Informática de Belo Horizonte (Insoft BH), fracassar por não conseguir vender. “Planejamos a empresa e, só quando saí-mos da incubadora, percebemos que o mercado não sustentaria o negócio.”

Andrade e seus sócios desenvolveram um software de educação física e nutrição para academias. Pensaram que seria um sucesso, já que há tantas academias e, cer-tamente, elas se interessariam por uma idéia tão criativa. Ingressaram na incuba-dora em 1999 e durante dois anos conse-guiram vender o produto a algumas aca-demias e clubes de futebol mineiros. Passado o período de incubação, viram que os clientes eram restritos e com poder aquisitivo também restrito. A empresa fe-chou em 2001. “Faltou planejamento, vi-

Tudo começa na concepção e planejamento e, se o empresário faz essa etapa bem feita, as chances de sucesso aumentam muito Christiano Becker, da Inovatec

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vência administrativa e, definitivamente, estudo de mercado”, conclui Andrade.

De acordo com especialistas, os negó-cios com mais chance de dar certo são aqueles que começam quando o empreen-dedor percebe uma necessidade do mer-cado e corre atrás de uma solução. “É da cultura do brasileiro inventar o produto e, depois, pensar no que vai fazer com aqui-lo”, afirma o gerente de Inovação do Ser-viço Brasileiro de Apoio às Micro e Pe-quenas Empresas (Sebrae), Paulo Alvim. Para ele, a maior parte das incubadoras, principalmente as de ambiente universitá-rio, tem grande capacidade de pesquisa e de ofertar produtos e serviços. Porém, só após desenvolver o projeto, iniciam o pla-no de negócios e passam a verificar opor-tunidades de mercado. “O ideal seria fazer o caminho inverso.”

Conhecer o mercadoA empresa Nanox S/A, que produz e de-

senvolve materiais inteligentes – a primei-ra do segmento de nanotecnologia no Bra-sil a receber investimentos de Venture Capital (Fundo Novarum) – está em franca expansão, mas poderia ter trilhado o cami-nho do insucesso enquanto ainda estava na incubadora. Fundada em 2004, a empresa entrou para o ParqTec, em São Carlos, com um produto inovador. Os empresários ten-tavam vendê-lo, mas não conseguiam. Pas-saram, então, a procurar um investidor e, nesse processo, perceberam o quanto era importante pesquisar o mercado. “Todos os nossos demais produtos surgiram de necessidades do mercado. Vimos que está-vamos errados e corrigimos nossa postura a tempo”, conta o químico e sócio-proprie-tário Daniel Tamassia Minozzi, de 28 anos. Até hoje, revela, não conseguiram vender aquele primeiro produto.

O início pela pesquisa de mercado tam-bém impulsionou a FK Biotecnologia, empresa que pesquisa, produz e comer-cializa anticorpos e vacinas, pioneira em desenvolvimento de imunoensaios no país. “No começo eram só eu, um compu-

Estratégias para venderGestão de negócios e um bom planejamento também são

segredos para qualquer empreendimento dar certo. Na maio-ria das vezes, porém, os empreendedores dominam a área técnica e não possuem formação nem experiência na parte comercial. Cabe às incubadoras auxiliar nesse processo.

Foi assim com o engenheiro Fernando Peixoto, de 32 anos, diretor de Tecnologia da Pixeon, empresa de soluções nacio-nais em radiologia. Ele e os sócios viajaram pelo Sul do país e descobriram que o mercado radiológico queria baixar custos de impressão de resultados. Melhoraram, então, o produto que já tinham e desenvolveram o Sistema de Gestão de Ima-gens Médicas (PACS). Entretanto, para obter sucesso nas vendas, faltava planejamento comercial. “São poucos os que chegam à incubadora com tudo na cabeça e experiência ad-ministrativa”, afirma Peixoto. Ele explica que os consultores comerciais contratados pelo Microdistrito Industrial de In-formática de Florianópolis (MIDI-SC), tiveram grande im-portância nesse aspecto. “Eles nos questionavam a respeito da gestão do negócio e nos faziam refletir”, diz.

Segundo o professor Christiano Gonçalves Becker, coor-denador do Centro de Empreendedorismo e Inovação do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (Inovatec) e diretor da Anprotec, o trabalho das incubadoras de apoio à gestão tem diminuído significativamente a taxa de mortalidade das empresas. “Percebemos que os empreendimentos que passam por in-cubadoras têm duas vezes mais chances de sobreviver.” Para ele, tudo começa na concepção e planejamento e, se o em-presário faz essa etapa bem feita, as chances de sucesso au-mentam muito.

DIVULGAÇÃO/PIXEON

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tador e a vontade de saber o que esse mer-cado precisava”, diz o médico e doutor em Biotecnologia, Fernando Thomé Kreutz, fundador e principal executivo da empre-sa. Quando voltou do curso de doutorado no Canadá, Kreutz queria montar uma empresa de biotecnologia e precisava des-cobrir o que e como fazer. “Cheguei à conclusão de que, do ponto de vista técni-co, sabia fazer anticorpos, um produto de alto valor agregado, do qual o Brasil é to-talmente dependente de importação.”

A FK Biotecnologia ingressou na Incu-badora Tecnológica da Fundação de Ciên-cia e Tecnologia de Porto Alegre (Cien-tec-RS), viu o que o mercado buscava e, ainda no período de incubação, tornou-se a primeira empresa de biotecnologia capi-talizada pelo RSTec, fundo composto por investidores como BID/Fomin, Bndespar, entre outros, e administrada pela Compa-nhia Riograndense de Participações (CRP). Hoje a empresa é precursora no desenvolvimento brasileiro de vacina con-tra o câncer.

Fundada em 1994, a PRTrade que pes-quisa e produz defensivos agrícolas de baixa toxicidade, ingressou no Centro In-cubador de Empresas Tecnológicas, de São Paulo em 2003 e, apesar da experiên-cia, só cresceu quando fez um estudo de mercado mais apurado. Somente após a entrada na incubadora, a empresa fami-liar se profissionalizou, contratou geren-

tes para as áreas de negócios, administra-ção, pesquisa e desenvolvimento e atentou para a importância de investigar a fundo as necessidades no setor. Hoje a PRTrade ainda faz parte da incubadora, mas está preparada para novos desafios, como a busca de investidores. No final do ano passado, inaugurou seu ramo industrial, a BR3 Tecnologia e Indústria, onde pode produzir os defensivos agrícolas, serviço antes terceirizado.

Gestão nas incubadorasNos últimos anos, houve grande evolu-

ção da gestão de negócios dentro das in-cubadoras e parques tecnológicos. Esse é apontado como um dos possíveis fatores para que a taxa de mortalidade das micro e pequenas empresas tenha caído pela me-tade em três anos. Pesquisa divulgada em agosto pelo Sebrae (Taxa de Sobrevivência e Mortalidade das Micro e Pequenas Em-presas) mostra que o índice dos negócios que sobrevivem subiu de 50,6% em rela-ção a empresas abertas entre 2000 e 2002, para 78% nas abertas entre 2003 e 2005.

Referência em incubação no Brasil, o Instituto Gênesis, ligado à Pontifícia Univer-sidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), co-meçou a fazer neste ano o pla-

São poucos os que chegam à incubadora com tudo na cabeça e experiência administrativaFernando Peixoto, da Pixeon

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nejamento estratégico das empresas incu-badas. Um consultor ajuda a reestruturar as finanças e os recursos humanos, além de direcionar como será a inserção no mercado, com revisão do plano de negó-cios. Segundo a gerente da incubadora de tecnologia, Priscila de Araújo Castro, du-rante toda a incubação os empresários são orientados sobre gestão do negócio, plano de marketing e busca de oportunidades de comercialização. “Depois que sai daqui, a empresa é acompanhada por seis meses. Monitoramos se está conseguindo atrair novos clientes, se há algum problema de infra-estrutura, de relacionamento inter-no, de marketing e de promoção. É uma forma de não deixá-la desamparada.” Esse processo de pós-incubação ainda é algo pouco praticado no Brasil. Mas muito re-comendável. “É fundamental que as incu-badoras tenham um processo de acompa-nhamento das empresas, pelo menos por um tempo igual ao que elas ficaram na in-cubadora”, acredita o gerente de Inovação do Sebrae Nacional, Paulo Alvim.

Parceria produtivaOutra novidade para aprimorar a ges-

tão nas incubadoras é a parceria com es-colas e universidades. O Ibmec São Paulo, por exemplo, está firmando acordo de co-operação com o Cietec-SP e com as incu-

badoras da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-SP). A idéia é levar os professores e alunos formados em ges-tão para as incubadoras, onde eles dariam treinamento e assessoria no desenvolvi-mento de planos de negócios. Para o co-ordenador do Centro de Empreendedo-rismo do Ibmec São Paulo e autor do livro “Espírito Empreendedor nas Organiza-

Monitoramos se há algum problema de infra-estrutura, de relacionamento interno, de marketing e de promoção na graduada. É uma forma de não deixá-la desamparadaPriscila Castro, do Instituto Gênesis

Desenvolver produtos e serviços de alto valor agregado é um dos caminhos para o sucesso

FOTO: RICARDO BENICHIO

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ções” (Editora Saraiva), Marcos Hashimo-to, a parceria é boa a ambas as institui-ções. “Para as incubadoras haverá o incremento na gestão, e os alunos das es-colas de negócios terão contato com a área de tecnologia e inovação, o que é bom, porque sempre que eles têm de de-senvolver uma idéia de negócio ou abrir uma empresa, não fogem de serviços liga-dos à área financeira.”

Com 125 empresas incubadas e 70 gra-duadas, o Cietec-SP também tem firmado parcerias voltadas à gestão, com a Facul-dade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e com a FGV. Além de intensificar a atua-ção de sua equipe de marketing e comer-cialização (estratégia, venda e comunica-ção) nos últimos seis meses que as empresas estão incubadas mantêm conta-to permanente com, pelo menos, metade das empresas graduadas. Para o Cietec-SP, o importante não é apenas a gestão co-mercial, mas sim a gestão de imagem e comunicação. Segundo o gerente executi-

vo da incubadora, Sérgio Risola, o uso da comunicação como ferramenta de negócio é justamente o diferen-cial. “Relacionar-se bem com a mídia abre portas no mercado, atrai novas parcerias e clientes e oportunidades comerciais. O em-presário que sabe se comunicar e vender bem o negócio dele no ve-

ículo correto detém um segredo impor-tante para o sucesso.”

Dessa forma, o Cietec-SP prepara os empresários para dar entrevistas, oferece serviço de assessoria de imprensa aos in-cubados e aos já graduados, divulga dia-riamente releases sobre as atividades das empresas e ajuda a melhorar o material de divulgação e os sites dos empreendi-mentos. Tudo com o objetivo de tornar as empresas conhecidas no mercado. “Poucas incubadoras enxergam e inves-tem em feiras e eventos como o Cietec-SP. Em 2006, participamos de 23 feiras, todas com três a 10 estandes de empresas incubadas. Mais do que fechar negócio, uma feira representa uma vitrine de ino-vações, que atrai a atenção da mídia e pode ser uma boa oportunidade de di-vulgação”, afirma Risola.

Antes de a jovem empresa enfrentar o ambiente hostil, longe da barra da saia da “mãe-incubadora”, é essencial, portanto, não desperdiçar chance alguma de estar em evidência, em contato com pessoas, desenvolvendo o network. Pode ser na própria incubadora, na sala ao lado. Mar-cos Hashimoto, do Ibmec São Paulo, deixa a dica: “Aprenda a fazer gestão do negó-cio, a contratar profissionais administra-dores qualificados e a estabelecer conta-tos.” Ou seja: ter um produto inovador e de alta qualidade não é suficiente para se ter um negócio.

Aprenda a fazer gestão do negócio, a contratar profissionais qualificados e a estabelecer contatosMarcos Hashimoto, do Ibmec

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Apoio ao desenvolvimentoNas últimas duas décadas, foram inúmeros os

desafios e objetivos das entidades que apóiam o empreendedorismo inovador. Se nos anos 1980 a instabilidade econômica tirava o sono de qualquer empreendedor, em meados dos anos 1990 a meta era tornar-se competitivo o suficiente para sobreviver à abertura econômica. Agora, o desafio dos apoiadores é fazer com que as empresas nascidas nas incubadoras e parques tecnológicos cresçam e gerem cada vez mais emprego e renda, a partir da inovação.

Imbuída desse objetivo está a Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), que completa 20 anos. Fundada em 30 de outubro de 1987, por representantes de instituições de ensino, de pesquisa e de agências governamentais, a entidade começou a atuar em uma época na qual falar de empreendedorismo, aliança universidade-empresa e transformação de pesquisas em produtos comerciais era considerado um discurso utópico. “Temos a comprovação evidente que sabemos apoiar a criação de empresas. O desafio é fazer com que essas empresas cresçam. O capital intelectual de nossas empresas é similar ao de empresas que nascem em países desenvolvidos. A diferença é que no Brasil o ambiente econômico é bastante hostil. A associação deve atuar na busca dessa mudança”, aponta Maurício Guedes, coordenador da incubadora da Coppe/UFRJ e presidente da Anprotec entre 1995 e 1999.

A criação da entidade coincidiu com o surgimento das primeiras incubadoras e parques tecnológicos do país. O Brasil foi um dos pioneiros mundiais na implantação de incubadoras e parques tecnológicos, há 23 anos. Uma pesquisa realizada em 1986 pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pela Organização dos Estados Americanos (OEA) mapeou as incubadoras e parques tecnológicos que estavam em funcionamento ou em estruturação no Brasil. “Com esse mapeamento as pessoas que trabalhavam no meio passaram a se conhecer e surgiu a idéia de fundar a associação”, recorda Guedes.

Com o passar do tempo, a Anprotec assumiu um papel de destaque para o desenvolvimento e fortalecimento do movimento de incubação brasileiro. “A Anprotec é uma instituição fundamental para o setor tecnológico do país,

que sempre ficou à margem das políticas públicas, pois busca tornar o país competitivo por meio do apoio, da representação e da articulação de instituições que podem fortalecer a infra-estrutura tecnológica do Brasil”, avalia o ex-presidente do CNPq e atual secretário executivo da Associação Brasileira de Instituições de Pesquisa (Abipti), Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque.

O sucesso desse trabalho se reflete em números. Atualmente a Anprotec reúne 262 sócios, que representam mais de 400 incubadoras de empresas. De acordo com o Panorama 2005, cerca de 2.300 empresas estão incubadas e outras 1.600 são associadas, além de mais de 1.670 graduadas. A Associação tem como forte característica a diversidade dos negócios incubados, que variam desde tecnologia até agroindústria, passando por empresas tradicionais, de serviços ou com atuação cultural e social. “São empresas-modelo que representam o que de mais inovador o Brasil tem”, afirma o presidente da associação, José Eduardo Fiates.

Outra conquista apontada pelo presidente da entidade é a representatividade da Anprotec junto a órgãos parceiros. Opinião compartilhada pelo vice-presidente da entidade, Guilherme Ary Plonski. “Em 20 anos a associação conseguiu articular o movimento em prol do empreendedorismo do Brasil e criar um espaço para a cooperação”, afirma. “A Anprotec é uma entidade participativa e cooperativa, com grande envolvimento de seus associados, o que não é muito comum no associativismo brasileiro”, reforça Fiates.

O reconhecimento à associação também vem de outros países. “O Brasil conquistou um reconhecimento mundial na área de incubação de empresas e a Anprotec é considerada internacionalmente pela sua atuação e relacionamento com órgãos federais”, afirma Guedes. Para manter esse reconhecimento, a associação tem alguns desafios para enfrentar nos próximos anos, entre eles ampliar o apoio ao desenvolvimento das empresas. “Precisamos fazer com que incubadoras e parques sejam plataformas de relevância para o desenvolvimento do país, utilizando para isso pessoas, infra-estrutura, tecnologia e conhecimento disponíveis e gerando empresas em quantidade e qualidade que façam a diferença para o Brasil”, conclui o presidente da Anprotec.

Adriane Alice Pereira

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S U C E S S O

Uma produz softwares e hardwares vol-tados à indústria têxtil, está consoli-

dada no setor e fatura cerca de R$ 9 mi-lhões por ano. A outra entrou no mercado em 2005, desenvolve membranas de mi-crofiltração e contabilizou R$ 250 mil em vendas no ano passado. Aparentemente, a PAM Membranas Seletivas e a Audaces Automação e Informática não têm nada em comum. Mas não é o que acontece. As duas cresceram em incubadoras e fazem da inovação seu principal diferencial competitivo. Não é por acaso que ambas conquistaram o Prêmio Nacional de Em-preendedorismo Inovador 2007.

A Audaces foi fundada em 1992 por ex-alunos do curso de Ciências da Computa-ção da Universidade Federal de Santa Ca-tarina (UFSC). Um ano depois de formados,

os empreendedores Cláudio Grando e Ri-cardo Cunha criaram a empresa, que tinha como principal produto um software para corte de peças em chapas de madeira, vi-dro e aço.

Em 1996, os empreendedores decidiram apostar no desenvolvimento de soluções para o mercado de vestuário e escolheram o Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Acançadas (Celta), de Floria-nópolis (SC), para abrigar o negócio. “Foi na incubadora que encontramos suporte para organizar e estruturar a produção”, afirma Grando. Graduada em 2005, a Au-daces apresenta uma carteira variada de produtos, entre os quais se destacam as soluções para a indústria têxtil. “Entra-mos na área de vestuário em meio à crise do setor, ou seja, no pior momento do mercado. Mas quando esse mercado se re-cuperou, a Audaces se beneficiou da ala-vancagem”, conta Grando. O sucesso da empresa se deve, principalmente, ao de-senvolvimento de cinco softwares user friendly (fáceis de usar) que agilizam a produção de confecções.

Há três anos, a empresa lançou seu produto mais inovador: o Digiflash, uma tecnologia exclusiva – com patente reque-rida pela Audaces em todo o mundo – ca-paz de digitalizar moldes por meio de fo-tografias digitais obtidas com câmeras simples (com resolução de 3 megapixels, por exemplo). O Digiflash corrige distor-ções da imagem e, por meio de recursos

Incubada e graduada que conquistaramprêmio nacional mostram que investir em novos mercados pode ser a chave para desenvolvimento dos negócios

Residente na Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ

Sede: Rio de Janeiro (RJ)Fundação: 2002Faturamento: R$ 250 mil (2006)Funcionários: 7Vencedora do Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador 2007, na categoria Empresa Incubada (EI).

Graduada no Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas (Celta)

Sede: Florianópolis (SC)Fundação: 1992Faturamento: R$ 8,6 milhões (2006)Funcionários: 69Vencedora do Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador 2007, na categoria Empresa Graduada (EG).

Vitória daousadia

Raio X

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de inteligência artificial, gera a reprodu-ção digital dos moldes a serem utilizados para fabricar peças de roupa.

O Digiflash e outros produtos da empre-sa são comercializados em 27 países. “Nes-te ano vamos abrir um escritório na Europa e pretendemos ampliar cada vez mais a pre-sença no mercado externo”, diz Grando.

O fato de ter integrado uma incubadora faz com que a Audaces também valorize a relação com o meio acadêmico. Cerca de 120 instituições de ensino de todo o país, em especial as da área de moda, firmaram parceria com a empresa e utilizam os pro-dutos Audaces em atividades de ensino e pesquisa. “Esses convênios trazem benefí-cios para as duas partes, pois os estudan-tes têm acesso à tecnologia de ponta e a empresa recebe o feedback sobre a utiliza-ção de seus produtos”, conclui Grando. Além da relação estreita com centros de ensino, a empresa investe 15% do fatura-mento em P&D.

A vez da PAM Investimento em pesquisa também é o

motor do desenvolvimento da PAM Mem-branas Seletivas, empresa residente desde 2005 na incubadora da Coppe da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Depois de trabalhar por 35 anos como pro-fessor da Coppe, Ronaldo Nóbrega decidiu transformar em produtos as pesquisas rea-lizadas em laboratório. Assim nasceu a empresa, que produz sistemas de filtração para tratamento de efluentes, remediação ambiental, reúso de água e recuperação de substâncias. Única na América Latina que detém a tecnologia de produção de mem-branas para microfiltração, a PAM ganha competitividade frente aos concorrentes que utilizam sistemas importados.

Antes de se tornar empreendedor o pro-fessor Nóbrega já havia feito duas tentati-vas de transferir para o mercado o conheci-mento gerado no laboratório. “Nas décadas de 80 e 90 nós buscamos motivar empresas a criar negócios com base em nossas pes-quisas. Mas não houve aceitação, pois o

mercado não estava preparado para rece-ber essa tecnologia”, afirma Nóbrega.

A perspectiva de expansão dos negócios se deve ao aumento da preocupação do se-tor industrial com o meio ambiente, prin-cipalmente com o consumo de água. De acordo com Nóbrega, os processos desen-volvidos pela empresa permitem que a água resultante do tratamento de efluentes seja reutilizada em atividades secundárias na indústria, como descarga de sanitários e lavagem de equipamentos.

Em parceria com o Laboratório de Pro-cessos com Membranas da UFRJ, a empre-sa está desenvolvendo uma nova tecnolo-gia para reduzir o uso de energia durante o processo de extração de álcool da cana-de-açúcar. O projeto recebeu R$ 600 mil da Financiadora de Estudos e Projetos (Fi-nep), contemplado no edital de Subvenção Econômica 01/2006. A empresa espera tri-plicar o faturamento neste ano em relação a 2006. A previsão é que o empreendimen-to saia da incubadora em 2008 para insta-lar-se no Parque Tecnológico da Coppe. Sinais de que a trajetória de sucesso da PAM está apenas começando.

Sistema Digifl ash, da Audaces: patente requerida em todo o mundo

Produtos da PAM: sistema desenvolvido para a Petrobras e feixe de fi bras

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G E S T O

O tripé da sustentabilidadePequenas empresas mostram que ser responsável com o meio ambiente, com a sociedade e com o próprio negócio é simples, barato e urgente

Adriane Alice Pereira

possuem estruturas gerenciais engessadas. O que faz a diferença na pequena empresa é a liderança do gestor e o nível decisório da organização bastante curto, o que faci-lita o processo”, analisa João Gilberto San-tos, gerente de apoio e aprofundamento do Instituto Ethos de Empresas e Respon-sabilidade Social. Diferencial que se tra-duz em números. Das 1.230 empresas as-sociadas ao Ethos, 46,7% são micro e pequenas, 18,5% são médias e 34,7% são grandes organizações.

O importante é que, independentemen-te do porte, qualquer empresa pode ser sustentável. Basta querer. “O perfil de uma empresa que adota a responsabilida-de socioambiental é o interesse”, acres-centa Santos. “As empresas não podem mais adiar essas iniciativas alegando que já as fazem, que não precisam delas ou

Engana-se quem pensa que desenvol-ver ações de responsabilidade social

ou ambiental é realidade apenas para grandes corporações. Cada vez mais, as micro e pequenas empresas percebem que também podem fazer parte desse processo. E mais: estão muito perto de serem as protagonistas na transformação dos negócios em iniciativas sustentáveis. E o caminho para isso, além de simples e barato, é gratificante.

Para seguir essa direção é fundamental entender inicialmente os conceitos de res-ponsabilidade socioambiental ou susten-tabilidade empresarial. Na prática ambos são pautados pela ética e a transparência na gestão dos negócios e apontam que uma organização deve ter seus resultados mensurados em três esferas inseparáveis – a econômica, a social e a ambiental. É com base nesse tripé que as empresas de-vem orientar as suas decisões. Ou seja, a ética nos negócios ocorre quando as deci-sões de interesse da empresa também res-peitam os direitos, os valores e os interes-ses relacionados aos impactos gerados por ela, seja na sociedade, no meio ambiente ou no futuro da própria organização.

Nesse processo, o ponto a favor dos em-preendimentos de pequeno porte é a faci-lidade que essas organizações têm para implantar mudanças. “As grandes empre-sas podem ter um potencial de resultados maior e em escala, mas, em grande parte,

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que tudo não passa de moda”, alerta o ge-rente do Ethos. “A oportunidade para ini-ciar esse processo é hoje. Agora as empre-sas ainda podem escolher se vão dirigir o processo, se vão ser levadas ou se vão ser atropeladas por ele. Começando hoje, as organizações podem desenvolver suas ações com calma e com maiores chances de sucesso”, destaca Santos.

Por isso, segundo o especialista, o mo-mento ideal para uma empresa adotar a responsabilidade socioambiental é du-rante a formulação do Plano de Negócios. “Quanto antes uma empresa desenvolver suas ações socioambientais, melhor para ela. É importante começar do jeito certo”, diz Santos.

Processo contínuoEle elenca as cinco etapas essenciais que

uma empresa deve percorrer para ser so-cial e ambientalmente responsável. “O pri-meiro passo é fazer uma avaliação de todos os impactos que o negócio poderá gerar na sociedade, na economia e no meio ambien-te. A segunda ação é cruzar os resultados com o planejamento estratégico da empre-sa”, orienta. Fazendo essa análise, a empre-sa deve então definir, ou reformular, a sua missão e visão e implantar ações para efeti-vá-las. “A quinta etapa é divulgar as ações e resultados aos públicos com os quais a em-presa se relaciona”, completa Santos. Mas não pára por aí. “O passo seguinte é reini-ciar e manter todo o processo, que deve ser contínuo”, ressalta o gerente do Ethos.

Isso significa que não é necessário in-vestir rios de dinheiro para ser uma em-presa sustentável. “Para manterem uma relação ética e transparente com os públi-cos com os quais se relacionam as organi-zações não precisam gastar nenhum tos-tão, basta promoverem o esclarecimento sobre seu compromisso com a sociedade e com o meio ambiente”, afirma Santos.

Em muitos casos as ações de responsa-bilidade socioambiental geram até mesmo economia de recursos para as organiza-ções. “Para as empresas as ações sustentá-

veis oferecem um retorno quase que ime-diato, pois alteram os processos, aumentam a produtividade, economizam matéria-prima, além de facilitarem a formação de um cluster produtivo”, aponta Silvestre La-biak Júnior, presidente da Rede Paranaen-se de Incubadoras e Parques Tecnológicos (Reparte) e autor da dissertação “Habitats para um empreendedorismo sustentável: estudo de ferramentas para potencializar práticas inovativas”, pesquisa que analisou o conhecimento dos gestores de incubado-ras do Paraná sobre sustentabilidade.

Os exemplos de organizações que eco-nomizam com a sustentabilidade são di-versos. “Temos o exemplo emblemático de uma pequena empresa de serviços de limpeza que de-senvolveu um pro-duto de limpeza orgânico. Além de pagar pelo produ-to um sexto do preço do material que utilizava ante-riormente, a em-presa ainda me-lhorou a qualidade de vida de seus funcionários, que não ficam mais expos-tos aos produtos químicos, e está preser-vando o meio ambiente, pois o produto é biodegradável”, conta João Gilberto San-tos, do Ethos.

Responsabilidade socialGanhos para a empresa, para a socieda-

de e para o meio ambiente. Esse é o pilar da sustentabilidade. Na Incubadora de Empresas de Base Tradicional de Rio Cla-ro (SP) essa relação mútua de benefícios é trabalhada em um projeto de ressocializa-ção dos detentos de dois centros de recu-peração instalados na cidade, um femini-no e outro masculino. Alguns reeducandos desses centros são empregados por em-presas incubadas, onde desenvolvem as suas aptidões e aprendem um ofício, recu-perando o respeito e a auto-estima.

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Labiak Júnior, da Reparte: ações

sustentáveis oferecem retorno

quase imediato

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G E S T O

“As vantagens da parceria entre a incu-badora e os centros de ressocialização da cidade vão desde a reinserção social dos reeducandos até a redução dos custos ope-racionais das empresas que os empregam. Em média, a redução dos custos das em-presas, representada pela eliminação dos encargos trabalhistas e pela remuneração mínima do mercado, é de, aproximada-mente, 8%”, informa João Henrique Pace, coordenador executivo da incubadora.

O projeto é desenvolvido na incubadora há dois anos e já empregou 75 reeducan-dos. Alguns deles foram contratados pelas empresas após o fim de suas penas. “Como são reeducandos com bom comportamen-to ou em final de pena, eles deixam os centros de ressocialização para trabalhar nas empresas durante o turno e depois re-tornam”, acrescenta Pace. Cada um tem a sua pena reduzida em um dia para cada três dias trabalhados na incubadora.

Atualmente, cinco das 13 empresas re-sidentes empregam 15 reeducandos, em atividades de metalúrgica, cerâmica e confecção. “A incubadora e as empresas estão dando a sua contribuição para o combate à violência urbana e reintegração à sociedade de pessoas marginalizadas, papéis dos governos brasileiros”, avalia o coordenador da instituição.

Também trabalhando com a ressociali-zação de detentos, a EMAD, graduada da Incubadora de Lins (SP), mantém, há dois anos, dentro da Penitenciária de Getulina uma unidade produtiva da empresa. A EMAD economiza também com salários ao empregar os detentos, mas a maior gra-tificação é desenvolver essa ação. “É uma forma de preparar essas pessoas para que

não saiam do presídio e voltem a prejudi-car a sociedade. Nossa intenção é capaci-tá-los para que sejam nossos prestadores de serviço aqui fora”, afirma Marcos Ro-gério Godoy, proprietário da EMAD.

Hoje, quatro detentos trabalham sete horas por dia na produção da EMAD den-tro do presídio. Lá eles desenvolvem a parte de marcenaria, tapeçaria e costura dos produtos da empresa. A EMAD pos-sui a patente exclusiva de um sistema que permite o atendimento odontológico am-bulatorial para pacientes com deficiência física ou mental, sem a necessidade de anestesia geral. O sistema, formado por assentos, colar cervical, camisas e outros itens, inibe movimentos involuntários dos pacientes. A empresa também doa alguns dos equipamentos para instituições que atendem esses pacientes.

TransformaçãoAções como essas são bem-vindas, mas,

para especialistas, a tendência e o cami-nho para a sustentabilidade envolvem uma verdadeira transformação no perfil dos negócios. “As empresas não podem apenas compensar os impactos que ge-ram. Elas precisam encontrar formas de manter o seu negócio sem geração alguma de impacto ou devolvendo para a socieda-de e para o meio ambiente muito mais do que causam”, aponta João Gilberto Santos, do Instituto Ethos.

Entre as empresas que já encontraram esse caminho está a Gueto, de Dois Ir-mãos (RS), que atua com ecodesign de produtos. Graduada da Incubadora Tec-nológica da Feevale, de Novo Hamburgo – região metropolitana de Porto Alegre –, a empresa pratica ações de responsabili-

dade socioambiental, ajuda em-presas a desenvolver iniciativas nessa área e faz da sustentabili-dade o seu principal negócio.

A Gueto desenvolve projetos de design de produtos para em-presas e indústrias e também presta consultoria na área. A

Siga os passos indicados pelo gerente do Instituto Ethos, João Gilberto Santos:

Como ser uma empresa sustentável?

Comunicar os resultados aos públicos com os quais a empresa se relaciona

Avaliar os impactos gerados pela empresa

1 Cruzar os resultados com o planejamento estratégico

2Com base no cruzamento, elaborar ou revisar a missão e visão da empresa

3

Implantar ações necessárias

4

5 Reiniciar e manter o ciclo

6

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empresa utiliza o design sustentável como forma de conscientização, pois muitos dos projetos desenvolvidos enfa-tizam o uso de resíduos sólidos indus-triais na criação de produtos atraentes, agradáveis e ecoeficientes. “O foco da Gueto é utilizar resíduos industriais como matéria-prima, prolongando a vida útil do material e evitando a utilização de novas matérias-primas”, afirma a ar-quiteta e urbanista Karin Wittmann Wil-smann, sócia da empresa. “Além disso, só trabalhamos com tecnologia limpa, pois nenhum dos resíduos é reprocessado ou passa por tratamento químico. Apenas fazemos um reaproveitamento”, completa a empresária. A empresa também gera emprego e renda utilizando mão-de-obra da comunidade, organizada em associa-ções ou entidades.

Um dos destaques entre os produtos desenvolvidos pela empresa é o Pano Gueto, que reutiliza parte dos resíduos de couro gerados pela indústria calçadis-ta da região, geralmente depositados em aterros industriais ou em pavilhões de descarte. A Gueto produz com esse mate-rial peças de tecido que depois são utili-zadas por empresas do setor moveleiro para o revestimento de estofados. Dessa forma, essas empresas também agregam aos seus produtos o conceito de respon-sabilidade ambiental.

Outro destaque da Gueto é o pufe Miss Gana, que utiliza resíduos de Etileno Acetato de Vinila (EVA), sólido também descartado pela indústria calçadista. Os restos são reaproveitados na forma que são fornecidos pela indústria. “Para os próximos meses toda a nossa produção de pufes já está comprometida com as exportações para a Europa e para os Es-tados Unidos”, destaca Karin. O mercado externo é atualmente o principal consu-midor dos produtos da Gueto, mas o Bra-sil também está abrindo mais espaço para essas iniciativas. “Hoje esse movi-mento ainda é visto como moda, mas vai passar a ser uma necessidade”, aponta a

sócia da empresa. Atualmente a

Gueto é procura-da por grandes in-dústrias para de-senvolver produtos que utilizem os resíduos gerados pela produção. “Nós idealiza-mos o produto, e a indústria produz e comercializa. Mas como esse não é o foco dessas indústrias, a Gueto em breve deve expandir a sua atuação para atender essa demanda”, antecipa Karin. Dessa for-ma, além de ser social e ambientalmente responsável, a Gueto também auxilia ou-tras organizações a alcançarem a susten-tabilidade.

Ambiente favorávelQuando se fala em responsabilidade

socioambiental, as redes de relaciona-mento entre as empresas são considera-das ferramentas fundamentais para ra-mificar o conceito e as iniciativas nessa área. “A responsabilidade socioambien-tal não pode ser isolada em uma organi-zação. Precisa da colaboração de uma rede que auxilia no fortalecimento des-sas iniciativas e contribui para a efetivi-dade dos resultados”, destaca o gerente do Instituto Ethos.

Como ambientes de concentração e gestação de empresas, as incubadoras e parques tecnológicos ganham destaque na promoção e conscientização sobre a sustentabilidade das empresas. “Os profissionais e as empresas do fu-turo formam-se dentro das incu-badoras. Por isso as incubado-ras e parques devem incentivar o posicionamento das empre-sas no mercado de forma sustentável. As incuba-doras precisam vislumbrar a capacitação sobre responsa-bilidade socioambiental como um dos serviços oferecidos”, aponta o professor Silves-tre Labiak Jr.

Pufes produzidos pela Gueto a partir de resíduos da indústria calçadista

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I N T E R N A C I O N A L

Historicamente, Portugal e Espanha sempre tiveram um grande relacionamento com o Brasil, principal-mente quanto a convênios para desenvolvimento de pesquisas. No âmbito tecnológico, no ano passado a APTE, a TecnoParques e a Associação Nacional de En-tidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) assinaram a Aliança Ibero-Brasileira de Par-ques Tecnológicos, que visa intensificar essa relação, fortalecendo a parceria entre as instituições.

Entre os objetivos da parceria estão promover a ca-pacitação de gestores brasileiros, concepção e imple-

dações, institutos técnicos e os governos municipal e federal.

Na Espanha, a inspiração para criar par-ques tecnológicos veio do modelo adotado por Reino Unido e França. No início dos anos 1980, a nova constituição espanhola aprovada criou os governos regionais, que ficariam responsáveis pela implantação dos parques. O primeiro foi criado em Bil-bao, em 1985. Com investimentos de 300 milhões de euros, foram criados oito novos parques espanhóis entre 1985 e 1992.

Os recursos que viabilizaram o desen-volvimento e a consolidação dos parques tecnológicos em Portugal e Espanha am-pliaram-se após a entrada dos dois países na União Européia, no final da década de 1980. “As fontes de financiamento ofer-tadas por fundos europeus, após a adesão à UE, foram muito bem utilizadas para promover a infra-estrutura básica neces-sária”, ressalta Francisco Pereira de Oli-veira, gestor executivo do Parque Tecno-lógico de Belo Horizonte (BHTec), que fez parte da missão.

Os parques tecnológicos e incubado-ras de Portugal e Espanha seguem a

mesma receita que países desenvolvidos têm implementado desde os anos 1970: buscam se tornar instrumentos para aproximação da pesquisa científica e tec-nológica com empresas e mercado, ge-rando milhares de novos postos de traba-lho de alta qualificação, desenvolvimento local e regional e melhoria da qualidade de vida e de renda da população. No últi-mo mês de julho, uma missão brasileira, promovida pela Anprotec e formada por pesquisadores e gestores da área, pôde comprovar a eficiência do setor de incu-bação na península Ibérica.

Atualmente os dois países agregam mais de 100 estruturas que envolvem parques tecnológicos, incubadoras e fundações de apoio, organizadas por duas entidades – a Associação Portuguesa de Parques de Ci-ência e Tecnologia (TecParques) e a Asso-ciação de Parques Científicos e Tecnoló-gicos da Espanha (APTE). As primeiras iniciativas de parques nos dois países sur-giram no início da década de 1980.

Em Portugal, a idéia de se criar um pólo tecnológico surgiu em 1983. O Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (Ineti) destinou uma área de 12

hectares em Lisboa para o desenvolvimento da pri-meira célula do pólo. So-mente em 1991 viria a ser criado o Lispolis – Asso-ciação para o Pólo Tecno-lógico de Lisboa, que en-volvia diversas instituições como o próprio Ineti, fun-

Cooperação

Inovação no velho mundoPortugal e Espanha se destacam nodesenvolvimento de parques tecnológicos e buscam parcerias com o segmento no BrasilRodrigo Lóssio

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Tagus Park, em Lisboa: pólos tecnológicos portugueses foram criados nos anos 1980

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mentação de cooperações técnicas e comerciais entre parques e empresas dos três países, além de ajudar o Brasil a criar um plano de desenvolvimento de par-ques tecnológicos. Em julho de 2007, no âmbito da aliança, uma missão brasileira esteve em Portugal e na Espanha para conhecer os parques e incubadoras da península Ibérica, além de participar de palestras e cursos promovidos pelas entidades dos dois paí-ses. Durante a missão, os integrantes participaram também da 24ª Conferência Mundial de Parques de Ciência e Tecnologia, promovida pela Associação In-ternacional de Parques Científicos (IASP).

Para o professor Thompson Fernandez Mariz, reitor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), da Paraíba, além dos recursos financeiros, as univer-sidades tiveram um papel fundamental na consolidação dos parques tecnológi-cos na península Ibérica. “Nesses países verificamos a existência de uma universi-dade próxima ao setor produtivo, dife-rentemente do Brasil, onde ainda há uma visão de que essa aproximação é uma for-ma de mercantilizar a produção do co-nhecimento”, explica.

Transferência do conhecimentoOs parques tecnológicos espanhóis,

por exemplo, seguem um plano nacional de inovação e desenvolvimento, criado pelo Ministério de Educação e Ciência, que aposta em diversos mecanismos para intensificar a relação universidade-em-presa. “Há uma preocupação de que não apenas a geração do conhecimento é im-portante, mas sua transferência para a sociedade, pois existe uma convicção de que esse conhecimento é e será, cada vez mais, o elemento central da geração de riquezas”, explica Paulo Tadeu Leite Arantes, professor e diretor executivo do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa (MG).

Na Espanha, grupos de trabalho atuam junto às empresas procurando identificar eventuais problemas ou gargalos de de-

senvolvimento que as universidades pos-sam ajudar a resolver. “A cooperação é muito forte, fazendo com que pesquisa-dores e empresas estejam sempre em con-tato e que os parques sejam ambientes de gestão de informações, conhecimento e tecnologia”, destaca Francisco Pereira de Oliveira, do BHTec.

Além de promover essa interação, os gestores dos parques tecnológicos dos go-vernos regionais e federais estão preocu-pados em criar sistemas que incentivem o empreendedorismo inovador e, conse-qüentemente, a criação de novas empresas altamente competitivas. “Os ibéricos co-locaram a inovação e o empreendedoris-mo nas políticas de desenvolvimento. Os parques tecnológicos e incubadoras vira-ram uma realidade única”, ressalta o pro-fessor Arantes.

O diretor do Centro de Apoio ao De-senvolvimento Tecnológico da Universi-dade de Brasília (UnB), Luís Afonso Ber-múdez, explica que esse movimento a favor da cultura empreendedora em Por-tugal e na Espanha é recente e a falta des-se perfil era vista, até há poucos anos, como um problema. “Eles tiveram a capa-cidade de rapidamente mudar essa visão, divulgando cada vez mais o empreende-dorismo e capacitando gestores por meio de políticas e treinamentos”, afirma.

O Parque Tecnológico de Andalucía fica localizado em Málaga, no Sul da Es-panha. É um dos parques com melhor infra-estrutura e serviços do país, no qual atuam em perfeito equilí-brio micro e pequenas empresas inovadoras, multinacionais e univer-sidades. Projetado a partir de 1988 e inaugurado oficialmente em 1992, Andalucía foi concebido para ser um núcleo de geração de co-nhecimentos científicos e tecnológicos inovadores e de alto valor agregado. Além de condomínios empresariais, centros tecnológicos e universidades, o parque conta com uma série de estruturas de apoio como centros médicos, laboratórios, incubadora de empresas, hotel, áreas para prática de esportes e espaços para comércio e serviços. Atu-almente, o parque é a sede oficial da IASP e da APTE.Mais informações: www.pta.es

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Arantes: inovação integra políticas de

desenvolvimento nos países ibéricos

Infra-estrutura exemplar

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parceria foi fechada com uma rede de far-mácias, a Pharma Pele, depois que a incu-bada estampou anúncios em jornais. Jun-tas, vão fabricar produtos de cicatrização em escala industrial, vendê-los no país todo e exportar para a Itália. “O programa ajudou não só a compreender a importân-cia da divulgação, como, também, nos deu visibilidade”, diz Marques.

Assim como a Biológicus, outras em-presas estão aproveitando as vantagens de marketing trazidas pela participação no reality experience. “Os empreendedores que utilizam o marketing do próprio pro-grama estão se destacando”, avalia o mem-bro do júri Marcos Bohler. Foi o que a B2ML fez desde o começo do Empreender é Show. A estratégia deu certo e manteve a empresa no primeiro lugar do ranking.

Mãos à obraAs empresas mais bem-sucedidas no

programa são aquelas que têm equipe ver-sátil e postura empreendedora. A terceira missão, chamada “mãos à obra”, colocou

esse espírito à prova. Com um orçamento de R$ 200, era necessário comprar camisetas e arrecadar a maior quantia de capi-tal por meio da venda delas. Como o desafio foi desenvolvido fora da área de atuação das empresas concorrentes, o sucesso não estava li-gado ao produto co-mercializado, mas sim ao comportamento em-

Desde a edição de LOCUS do mês de julho, a Biológicus deu um salto no ranking da competição, saindo da sexta para a segunda colocação. Com oito funcionários envolvidos em pesquisas e laboratórios, a empresa desenvolve produtos em três linhas: alimentos probióticos, cosméticos biológicos (voltados para o cuidado da pele) e cosméticos biodermatológicos (para tratamento de machucados e queimaduras). Todos são formulados utilizando apenas matérias-primas naturais, sem adição de qualquer substância química.

A empresa foi fundada em 2004 e está incubada desde outubro de 2006. Mal tinha chegado à Incubatep quando apareceu a oportunidade de se inscrever para o Empreender é Show. Hoje não só seus oito funcionários estão envolvidos nas missões do programa, mas também seus amigos e parentes.

Equipe Biológicus: divulgação foi o trunfo para chegar ao topodo ranking

Destaque do bimestre

O valor da divulgaçãoApós quatro missões concretizadas, os concorrentes do Empreender é Show confirmam que propaganda é mesmo a alma do negócio

Luciana Ribeiro

Nas etapas finais do Empreender é Show os participantes aprenderam uma

importante lição: a divulgação tem um peso enorme no sucesso das empresas. Aquelas que investiram nesse quesito du-rante a terceira missão se destacaram, dei-xando as outras para trás. Com o fim do programa, fica o aprendizado de que pro-paganda não é despesa. É investimento.

Prova disso é a história da Biológicus, residente na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Pernambuco (Incu-batep). Depois da primeira missão, a em-presa amargava o sexto lugar. Foi então que o diretor da incubada, Djalma Mar-ques, percebeu que era preciso divulgar o que acontecia dentro da empresa. Para melhorar o desempenho no ranking, Mar-ques foi a rádios pedir votos. Após entre-vistas e aparições no noticiário local, a empresa saltou da sexta para a segunda colocação, graças ao expressivo aumento na votação dos internautas.

E não foi só no Empreender é Show que a Biológicus viu sua marca crescer. Uma

Biológicus Medicina Natural

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preendedor dos participantes. A Biológicus vendeu camisetas para 54

incubadoras das regiões Norte e Nordes-te, a R$ 100 cada. O produto também foi comercializado entre as empresas da In-cubatec, por R$ 20. Foram arrecadados cerca de R$ 6 mil – investidos em móveis para a Incubatep. A B2ML vendeu suas camisetas a clientes e autoridades pelos mesmos R$ 100. Ainda fez uma rifa do produto e lucrou, no total, R$ 4,3 mil, que foram utilizados na compra de equipa-mentos para a incubadora.

A criatividade também marcou a tercei-ra missão. Algumas empresas, como a Consulti e a TVBUS, lançaram campanhas voltadas a causas ecológicas – que tinham a compra das camisetas como principal meio de adesão. A Nutribox lançou um projeto beneficente destinado a crianças carentes e a Favela Receptiva mobilizou as comunidades de Vila de Canoas e Vila da Pedra Bonita na confecção das camisetas. Depois do trabalho, a Biológicus, com 20 pontos, ficou na primeira colocação da prova, seguida pela B2ML (15,4 pontos). Com quatro pontos na missão e 13 no to-tal, a Nutribox foi eliminada do jogo. A Hollos não concluiu a tarefa e, por isso, foi desclassificada.

Na quarta missão, realizada em setem-bro, apenas as sete empresas mais bem colocadas participaram. Todas tiveram que conseguir um empréstimo junto ao

O Empreender é Show é um reality experience criado pela Anprotec, que reuniu nove empresas concorrentes de diferentes setores, para estimular o empreendedorismo inovador. Entre junho e setembro deste ano, as participantes tiveram que realizar uma tarefa por mês e foram avaliadas por uma comissão julgadora. A vencedora ganhará uma viagem internacional, para prospecção de negócios, e um ano de anúncio gratuito na LOCUS. A segunda colocada será premiada com um notebook e anúncio gratuito em duas edições da revista.

O QUE É

Depois de projetarem a empresa produzindo conteúdo para a internet, de estudarem a viabilidade de um produto, de venderem camisetas e de buscarem empréstimo, os concorrentes terão que administrar uma fábrica de bicicletas, testando o software que será utilizado no Desafi o Sebrae 2008. O desempenho das empresas na quinta e última tarefa do programa pode trazer surpresas no resultado. O jogo será encerrado durante o 17º Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras, que ocorre entre os dias 17 e 21 de setembro, em Belo Horizonte (MG).

O que vem por aí

Favela Receptiva mobilizou a comunidade para cumprir a terceira missão do programa

Banco do Brasil, sendo que o limite era de R$ 500 mil. O crédito tinha juro diferen-ciado, conseguido pela Anprotec para em-presas incubadas. Essa tarefa seguia o pa-drão da terceira prova, pois era uma atividade real – as empresas que conse-guiram convencer os gerentes do banco tiverem o empréstimo concedido.

O Banco do Brasil está na lista das em-presas que os organizadores do Empreen-der é Show estão contatando para realizar a próxima edição. “Diante do sucesso do primeiro programa, em que houve grande mobilização das concorrentes e a criação de um espaço dinâmico onde todos pude-ram acompanhar o dia-a-dia de um em-preendedor, seus sucessos e dificuldades, a Anprotec vai trabalhar para lançar o próximo Empreender é Show ainda neste ano”, diz a superintendente da associação, Sheila Pires.

Colocação Competidor IncubadoraPontuação

1ª missão 2ª missão 3ª missão Total

1º B2ML Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá (MG) 20 17 15,4 52,4

2º Biológicus Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Pernambuco – Incubatep (PE) 8 18 20 46

3º Consulti Micro Distrito Industrial de Base Tecnológica do Sul – Midisul (SC) 15 12 13,2 40,2

4º BCS Incubadora tecnológica da Unicamp – Incamp (SP) 15 14 7,8 36,8

5º TVBUS Incubadora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) 9 5 12,8 26,8

6º Favela Receptiva Incubadora Afrobrasileira (RJ) e Incubadora Social de Comunidades do Instituto Gênesis – PUC / RJ

9 6 8,8 23,8

7º Kognitus Incubadora de Empresas da Coppe – UFRJ (RJ) 7 8 8 23

8º Hollos Multincubadora do CDT – UnB (DF) 8 5 0 13

9º Nutribox Incubadora de Empresas de Barão de Mauá (SP) 2 7 4 13

Ranking em 31/8/2007.

Ranking

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E D U C A O

Aposta noengenheiroCresce a preocupação do setor produtivo

com a carência de profissionais na área de

Engenharia. Além de poucos, Brasil forma

engenheiros despreparados

Maurício Frighetto

S e na Coréia do Sul – país com uma população de 45 milhões de habitan-

tes – 80 mil engenheiros se formam por ano, no Brasil são apenas 20 mil. En-quanto 72% dos engenheiros que fazem pesquisa e desenvolvimento nos Estados Unidos estão nas empresas, no Brasil o índice é de 18%. Com base na compara-ção com países mais desenvolvidos e na premissa de que modernizar os cursos de Engenharia é essencial para a inovação tecnológica do país, a Confederação Na-cional da Indústria (CNI) e mais de 30 entidades desenvolvem, desde o ano pas-sado, o programa Inova Engenharia – Propostas para a Modernização da Edu-cação em Engenharia no Brasil.

O primeiro passo, além da comparação com os países economicamente mais de-senvolvidos, foi realizar um estudo sobre o que as empresas brasileiras precisam para inovar. Com base nas conclusões, ações foram propostas para melhorar o ensino de Engenharia e, assim, impulsio-nar o desenvolvimento tecnológico brasi-leiro (leia box). De acordo com o secretá-rio executivo do Comitê Gestor do Inova Engenharia, o professor e economista Marcos Formiga, o programa ainda está em fase de “conscientização”.

Mesmo assim, alguns resultados práti-cos começam a aparecer. Depois do lan-

çamento do Inova, a Financiadora de Es-tudos e Projetos (Finep) reativou o Programa de Promoção e Valorização das Engenharias (Promove) e lançou dois editais para a área no valor total de R$ 40 milhões. A agência investiu em iniciati-vas que favorecem a integração entre em-presas e escolas de Engenharia, dos níveis superior e técnico.

O documento que contém a proposta do programa revela um cenário desfavo-rável, indicando que, nas últimas décadas, as políticas públicas brasileiras investiram no desenvolvimento da capacidade cientí-fica nacional, mas deixaram de estimular a inovação tecnológica. “Ao contrário dos países que obtiveram altas taxas de cresci-mento na última década, o Brasil não adotou, junto com o apoio à pesquisa, medidas de incentivo à inovação tecnoló-gica empresarial. Ou seja: políticas volta-das a promover a transformação desse conhecimento científico em inovações ca-pazes de gerar riqueza para o país”, escre-ve no documento o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto.

De acordo com Formiga, o Índice Inter-nacional de Ciência coloca o Brasil em 15° lugar em produção científica. Mas, conforme a publicação “The Economist”, o país está na 53ª colocação em desenvol-vimento tecnológico. “No Brasil, as em-

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ÍNIO

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EIRA

Formiga: engenheiros precisam sairda academia e irpara a indústria

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presas fazem pouca pesquisa. E é na em-presa onde existem o empreendedorismo e a criatividade que levam à inovação. As pesquisas científicas não têm se transfor-mado em tecnologia. Precisamos de mais engenheiros nas empresas, especialmente nas indústrias”, afirma.

Formar mais e melhor

Outro problema encontrado é o tempo de formação do engenheiro no Brasil. Os cursos têm duração de cinco anos e os alunos podem demorar até sete para se formar. Na Europa, esse tempo se reduz para três anos. Além disso, os cursos bra-sileiros seriam muito teóricos no come-ço, com um excesso de cálculos. “Cerca de 60% dos estudantes que optam pela engenharia deixam o curso antes do final do segundo ano. Há algumas pistas para isso. Os cursos nos dois primeiros anos são bastante teóricos. O estudante não vai para o laboratório e não entra em contato com os problemas da Engenha-ria”, avalia Formiga.

A proposta do Inova é de que os cursos diminuam o tempo de duração e se tor-nem mais generalistas. De acordo com Formiga, os cursos mais modernos do mundo trabalham com atributos como li-derança e trabalho em equipe, ensinando os alunos a se comunicarem e a se torna-rem mais empreendedores. A especializa-ção seria realizada na pós-graduação ou nas próprias empresas, como tem feito a Petrobras, que criou uma universidade para formar mão-de-obra especializada na produção de petróleo. Profissionais de nível superior recém-admitidos chegam a passar um ano em sala de aula antes de começarem a trabalhar efetivamente.

A expectativa dos idealizadores do Ino-va Engenharia é que a implementação das propostas do programa ajude a desenvol-ver a economia brasileira. Isso porque, segundo o documento divulgado pela CNI, se o país mantiver seu ritmo de cres-cimento econômico e populacional levará

- O Brasil tem hoje cerca de 550 mil engenheiros, o que equivale a seis para cada mil pessoas economicamente ativas. Os Estados Unidos e o Japão têm 25 engenheiros para cada mil.

- Quase metade dos alunos brasileiros da área estuda Engenharia Civil, enquanto nos países mais desenvolvidos é grande o percentual que opta pelas modalidades ligadas à alta tecnologia.

- Em 2003, apenas 13,2% dos formandos no Brasil eram da área de Engenharia.

- A maior parte dos engenheiros assume funções gerenciais entre cinco e sete anos depois de empregados. Isso porque a maioria dos profissionais tem formação precária em conhecimentos gerenciais, administrativos, sociais e ambientais.

- No Brasil a formação dos engenheiros tem ênfase acadêmica e de prática de pesquisa, nem sempre em sintonia com as necessidades da indústria.

- Currículos que distribuam disciplinas fundamentais, como Matemática e Física, ao longo de todo o curso. Pode ser um importante fator de motivação para o aluno.

- Valorização da educação continuada, principalmente da Educação a Distância (EAD), e para difundir atualizações, especializações e complementações à formação dos engenheiros.

- Estímulo aos docentes para realização de estágios e cursos de especialização no país e no exterior, sempre que possível em parceria com empresas.

- Mais incentivo para que dissertações de mestrado e teses de doutorado sejam voltadas à inovação e ao desenvolvimento tecnológico.

- Atualização de professores de nível médio, de onde provêm os universitários.

- Promoção de uma Campanha Nacional de Divulgação das Engenharias junto aos alunos de nível médio. A campanha não só apresentaria os cursos e as perspectivas profissionais em cada área, como incluiria ações voltadas a melhorar a formação dos alunos.

Saiba mais: www.cni.org.br/produtos/diversos/src/inova_engenharia.pdf

Diagnóstico

Propostas do Inova Engenharia

um século para dobrar a renda per capita da população e chegar perto do atual PIB per capita de Portugal. Há 10 anos conse-cutivos a economia cresce menos do que a média mundial, contrariando o que cos-tuma ocorrer com países emergentes. O Inova Engenharia sugere que a inovação é questão de sobrevivência e fator crucial para o desenvolvimento nacional. Por isso a aposta no engenheiro.

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C R I A T I V I D A D E

Siteswww.triz-journal.comReúne diversos artigos, notícias e um calendário com eventos que terão a TRIZ como tema principal.

www.decarvalho.eng.br/triz.htmlAtualizado por Marco Aurélio de Carvalho, traz uma breve história do surgimento da TRIZ e explica conceitos.

www.trizexperts.netEm inglês, apresenta a defi nição de TRIZ, artigos sobre o assunto e indicação de obras literárias.

LivrosSystematic Innovation: An introduction to TRIZ (Theory of Inventive Problem Solving), de John Terninko, Alla Zusman e Boris Slotin.

Engineering of Creativity: Introduction to TRIZ Methodology of Inventive Problem Solving, de Semyon Savransky.

Innovation Algorithm: TRIZ, systematic innovation and technical creativity, de Genrich Altshuller.

Hands On Systematic Innovation for Business and Management, de Darrell Mann.

Solução por um trizTeoria criada na Rússia nos anos 1950 vem ganhando o mundo e ajudando empresas a cultivar criatividade. No Brasil, poucos conhecem os princípios inventivos

Diogo d’Ávila

O conceito de que em um mercado tão competitivo como o atual ganha ter-

reno quem for inovador já não é mais se-gredo para ninguém. Mas uma pergunta que os empresários sempre se fazem é como ser criativo a ponto de apresentar diversas novidades em um curto espaço de tempo. Graças à Teoria de Resolução de Problemas Inventivos (TRIZ), esse di-lema que muito incomoda o empreende-dor pode estar com os dias contados.

Elaborada a partir da década de 1950 pelo engenheiro russo Genrich Altshul-ler, a TRIZ é uma metodologia que esti-mula a geração de idéias inovadoras no processo de desenvolvimento ou aperfei-çoamento de um produto. Ao consultar patentes de diferentes áreas de pesquisa, Altshuller notou similaridades nos pro-cessos de criação das invenções. Após analisar cerca de dois milhões de regis-tros, o engenheiro verificou certos pa-drões de soluções aos problemas encon-trados pelos pesquisadores.

Ao final do trabalho, Altshuller estabele-ceu 40 princípios inventivos. Entre eles es-tão propriedades físicas e químicas de ma-teriais, como vibração mecânica, expansão térmica e mudança de cor. Segundo a teo-ria, conhecendo esses parâmetros uma pessoa estaria capacitada a solucionar pro-blemas diversos. Para o professor de Enge-nharia Mecânica do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, Marco Aurélio Carvalho, que presta consultoria a respeito da TRIZ, o método criado por Altshuller tem o objetivo de desmistificar a criatividade. “Uma ótima idéia pode reer-guer uma empresa que esteja em uma críti-ca situação financeira”, afirma.

O professor explica que apesar da TRIZ ser mais difundida na área de Engenharia de Produtos ela também pode ser empre-gada em outros setores. “A Teoria de Reso-lução de Problemas Inventivos já foi utili-zada em campanhas eleitorais, mas também pode auxiliar, por exemplo, a de-senvolver novas estratégias para combate a doenças”, explica.

Por causa do isolamento da União Sovié-tica durante a Guerra Fria, a TRIZ se tornou conhecida mundialmente apenas na década de 1990. No Brasil, a teoria ainda anda a passos de tartaruga, sendo mais aplicada em empresas multinacionais como General Mo-tors, Bosch e Renault. De acordo com Car-valho, para se ter uma noção geral da TRIZ é necessário um treinamento de 32 horas, ao custo de R$ 1,5 mil por pessoa. Ele aconse-lha às empresas de pequeno e médio portes a procurarem cursos promovidos pela Se-brae, em que são formadas turmas de 15 a 20 funcionários de empresas diferentes.

Saiba mais

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C U L T U R ABruno Moreschi

Oscar Niemeyer 100 anosPalácio das Artes, Belo Horizonte. Até 23 de setembro. Entrada gratuita.

Desenhos, maquetes e fotografi as que mostram a vida e obra do arquiteto mais conhecido do Brasil. A curadoria de Marcos Lontra é impecável. Para quem não mora em Belo Horizonte, será possível ver a exposição em breve no Rio, em Curitiba e em Brasília.

REPARE EM como Niemeyer é um incansável, daqueles que não dividem a vida entre uma fase produtiva e outra destinada à aposentadoria.

Não perca seu tempo com a peça O Método Grönholm, em cartaz em São Paulo. Trata-se de um típico espetáculo caça-níquel repleto de atores globais. E nada mais.

Assista ao novo espetáculo Cantadas, de Denise Stoklos, com direção de Hugo Rodas e Antonio Abujamra, no Teatro Oi Futuro, Rio de Janeiro, até 30 de setembro. Dança contemporânea de qualidade.

Escute Our Love to Admire, da banda norte-americana Interpol. E veja como o grupo consegue manter sua qualidade sonora a cada novo trabalho.

Um Sonho Chamado K2: a Conquista Brasileira da Montanha da MorteAutor: Waldemar Niclevicz. Editora Record, 2007, 402 páginas.

Livros de aventureiros são quase sempre muito parecidos. Aqui não é diferente. Entretanto isso não signifi ca que essa fórmula não funcione. O paranaense Waldemar Niclevicz apresenta o relato de alguém incansável que conseguiu escalar a K2, a segunda maior montanha do mundo.

Fique atento em como Niclevicz é o exemplo impecável de alguém que decidiu algo e simplesmente não desistiu até conseguir.

1.001 Discos para Ouvir Antes de MorrerAutor: Robert Dimery. Editora Lisma, 2006, 944 páginas.

1.001 Filmes para Ver Antes de Morrer

Autor: Steven Jay Schneider. Editora DinaLivro, 2004, 960 páginas.

1.001 livros para Ler Antes de MorrerAutor: Peter Boxall. Editora Lisma, 2006, 960 páginas.

Alguns livros são feitos para serem lidos. Outros são feitos para serem folheados, admirados e, quando necessário, consultados. 1.001 discos, 1.001 fi lmes e 1.001 livros fazem parte da segunda categoria. Folheando as quase 3 mil páginas somadas, você vai relembrar de obras que já viu e que precisa rever ou daquelas que nem sequer ouviu falar. Estímulo para qualquer um que acha que nunca é demais acumular conhecimento.

Divirta-se com o fato de as obras serem escritas em português de Portugal. Você vai perceber rápido que nossos irmãos lusitanos não são muito bons de títulos.

O Grande ChefeDireção e roteiro: Lars von Trier. Com Jens Albinus e Peter Gantzler. Dinamarca, Suécia, 2006, 99 min. Nos cinemas.

Lars von Trier, o diretor que causou incômodo com fi lmes angustiantes como Dançando no Escuro e Dogville, abandona momentaneamente seu lado sádico, mas nem por isso esqueceu o humor ácido. Um dono de empresa de tecnologia pretende vender ser negócio. Para isso precisa de um chefe para negociar com os interessados. A solução não pode ser mais hilária: ele decide contratar um ator para se passar por chefe.

PRESTE ATENÇÃO em como o ator contratado aos poucos percebe que está em um ambiente cercado de interesses e de muito pouca ética.

O Povo contra Larry FlyntDireção: Milos Forman. Roteiro: Scott Alexander e Larry Karaszewski. Com Woody Harrelson, Courtney Love e Edward Norton. EUA, 1996, 130 min. Em DVD.

O editor da Hustler, concorrente da Playboy, pode ser um louco, mas é fato que se trata de um exemplo de alguém que acredita piamente no que faz. Sob o ponto de vista empresarial, a obra mostra como atitudes arriscadas e intuitivas muitas vezes podem dar certo – por menos lógico que isso possa parecer.

PRESTE ATENÇÃO em como Larry Flynt enxerga a vida de um modo casual e como isso afeta nos seus negócios.

LIVROS DE CABECEIRA

C INEMALEITURA

IMPERATIVO

EXPOSICAO~

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O P I N I O

Empreendedorismo,conhecimento e valor

Como a gestão de conhecimento pode gerar valor para as empresas? Eis o de-

safio colocado para os empreendedores do mundo todo, a ser superado pela adequa-da combinação de engenharia, economia e comunicação. A questão é saber como in-tegrar essas disciplinas e, principalmente, gerenciar esse triângulo em que tecnolo-gia, negócios e informação aumentam a competitividade de cada empreendimento. A essa combinação de arte, ciência e tec-nologia venho denominando “iconomia”.

Primeiro, é preciso diferenciar geração de valor de geração de caixa. Uma empre-sa pode gerar ou consumir mais ou me-nos caixa, mas isso não significa que exis-ta uma conexão simples entre esses fluxos e a geração de valor para os acionistas. Portanto, uma empresa precisa organi-zar-se para monitorar os três fluxos críti-cos na geração de valor: fluxo de caixa, fluxo de valor para acionistas e fluxos de informação.

Felizmente a tecnologia e as metodolo-gias para fazer isso têm passado por uma impressionante evolução, e hoje a gestão do conhecimento é uma disciplina acessí-vel ao executivo bem preparado e à orga-nização suficientemente informatizada e flexível. A iconomia emerge como nova disciplina fundada no tripé tecnologia-economia-comunicação. O marketing e a publicidade são fundamentais como ele-mentos da dimensão comunicativa ou simbólica, embora sejam também ativi-dades fortemente vinculadas a economia e engenharia.

O valor de uma empresa depende de sua capacidade de geração de valor e caixa no

* Economista e sociólogo, pesquisador e professor da USP, criador e diretor do projeto Cidade do Conhecimentowww.cidade.usp.br

Gilson Schwartz*

futuro. O que os novos recursos de infor-mática permitem é justamente o design de sistemas de informação e gestão que faci-litem a contrução de pontes entre o de-sempenho passado e o planejamento es-tratégico de fluxos de caixa no futuro associados tanto às operações (vendas, re-torno de investimentos, aluguéis etc.) quanto aos ativos intangíveis (conheci-mento, conectividade, relacionamentos etc.). O caixa passado só vira valor futuro se houver a adequada e permanente ava-liação da co-evolução dos ativos tangíveis e intangíveis de uma empresa.

Esses princípios podem ser adaptados a qualquer organização, privada ou pública e mesmo do terceiro setor. Por isso ouvi-mos falar cada vez mais em “sociedade do conhecimento” do que em “sociedade da informação”. Basicamente estamos tratan-do de fluxos de caixa, da gestão do caixa da empresa ou da organização. A novida-de é buscar associações inteligentes entre caixa e produção de conhecimento no tempo ou no ciclo de vida da empresa.

As abordagens tradicionais, que proje-tam performance passada ou dão como certos alguns fluxos de caixa que podem ser subitamente zerados por revoluções tecnológicas, estão condenadas. A empre-sa que não promover essa reengenharia da gestão contábil, que se transforma em gestão de processos de produção de co-nhecimento com valor, será inevitavel-mente surpreendida pelas inovações dos concorrentes. Estamos tratando de um desafio muito claro: evoluir num contexto de complexidade e informação imperfei-ta. Isso vale para qualquer empresa.

RICAR

DO BE

NICH

IO

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