experiência da incubadora do eit/ufmt para promover a...

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1 Mestre em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) / Cooperativa dos Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso (COORIMBATÁ); Av. Fernando Corrêa da Costa, nº 2367 - Bairro Boa Esperança. Cuiabá - MT; (65) 3615-8001; [email protected] 2 Doutor em Engenharia Mecânica, Cooperativa dos Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso (COORIMBATÁ)/ARCA Multincubadora; Rua Prof. Feliciano Galdino, nº 50 Porto. Cuiabá MT; (65) 3615-2800; [email protected] 3 Pedagoga, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); Av. Fernando Corrêa da Costa, nº 2367 - Bairro Boa Esperança. Cuiabá - MT; (65) 3615-8001; [email protected] 4 Doutor em Computação, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Av. Fernando Corrêa da Costa, nº 2367 - Bairro Boa Esperança. Cuiabá - MT; (65) 3615-8001; [email protected] Experiência da Incubadora do EIT/UFMT para promover a função da inovação na evolução socioambiental e na inclusão social Oscar Zalla Sampaio Neto 1 ; Nicolau Priante Filho 2 ; Lótus Maria de Souza Reuben 3 ; Josiel Maimone de Figueiredo 4 Resumo Este artigo apresenta orientações conceituais, os processos de execução, avaliação, planejamento e estruturação da Incubadora do Escritório de Inovação Tecnológica da Universidade Federal de Mato Grosso (EIT/UFMT) com o objetivo de consolidar a função da Inovação na evolução socioambiental e na inclusão social. Baseando-se na experiência inovadora da Tecnologia Social “Pesquisador Cooperado”, desenvolvida pela Cooperativa dos Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso (COORIMBATÁ) e a UFMT, como estratégia de estruturação de processos de incubação e orientando-se pelos princípios presentes na identidade (missão, visão e valores) da Incubadora desenvolveu-se um método que possibilitou o envolvimento significativo de toda equipe da Incubadora no processo de mudança, trazendo a percepção de novos conceitos e o desenvolvimento de novas competências, processos e ferramentas. A Metodologia de Gerência de Projetos do Sistema de Administração de Recursos de Tecnologia da Informação (MGP-SISP) foi adaptada para atender essa nova realidade. Como resultado do trabalho foi possível a adaptação da gestão do Programa de Extensão “Incubadora de Tecnologia Social e Economia Solidária” dentro da Metodologia SISP para a gestão de projetos sociais. A identidade da Incubadora da UFMT assim como o organograma, a descrição dos papéis e responsabilidades dos membros da equipe e o planejamento financeiro foram elaborados de maneira autogestionária. Os sistemas exigidos pelo Termo de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos CERNE foram estabelecidos para atenderem e prospectarem empreendimentos econômicos solidários a serem incubados, de modo articulado com demandas de programas governamentais. Foi definida uma Estrutura Analítica do Projeto (EAP) implementada no Sistema GPWeb para gerenciamento, gestão estratégica e protocolos eletrônicos de documentos. Todos os processos desenvolvidos podem orientar reaplicações em outras incubadoras. Destaca-se a originalidade da forma de articulação da UFMT com a ARCA Multincubadora propiciando uma inovadora forma de institucionalizar a Incubadora do EIT. Palavras chave: Estrutura Analítica de Projetos GPWeb. Economia Solidária. Tecnologia Social. projeto de inclusão social. CERNE.

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1Mestre em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) /

Cooperativa dos Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso (COORIMBATÁ); Av.

Fernando Corrêa da Costa, nº 2367 - Bairro Boa Esperança. Cuiabá - MT; (65) 3615-8001; [email protected]

2Doutor em Engenharia Mecânica, Cooperativa dos Pescadores e Artesãos de Pai André e

Bonsucesso (COORIMBATÁ)/ARCA Multincubadora; Rua Prof. Feliciano Galdino, nº 50 –

Porto. Cuiabá – MT; (65) 3615-2800; [email protected] 3Pedagoga, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); Av. Fernando Corrêa da Costa, nº

2367 - Bairro Boa Esperança. Cuiabá - MT; (65) 3615-8001; [email protected] 4Doutor em Computação, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Av. Fernando

Corrêa da Costa, nº 2367 - Bairro Boa Esperança. Cuiabá - MT; (65) 3615-8001;

[email protected]

Experiência da Incubadora do EIT/UFMT para promover a função da inovação

na evolução socioambiental e na inclusão social

Oscar Zalla Sampaio Neto1; Nicolau Priante Filho

2; Lótus Maria de Souza Reuben

3; Josiel

Maimone de Figueiredo4

Resumo

Este artigo apresenta orientações conceituais, os processos de execução, avaliação,

planejamento e estruturação da Incubadora do Escritório de Inovação Tecnológica da

Universidade Federal de Mato Grosso (EIT/UFMT) com o objetivo de consolidar a função da

Inovação na evolução socioambiental e na inclusão social. Baseando-se na experiência

inovadora da Tecnologia Social “Pesquisador Cooperado”, desenvolvida pela Cooperativa dos

Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso (COORIMBATÁ) e a UFMT, como

estratégia de estruturação de processos de incubação e orientando-se pelos princípios

presentes na identidade (missão, visão e valores) da Incubadora desenvolveu-se um método

que possibilitou o envolvimento significativo de toda equipe da Incubadora no processo de

mudança, trazendo a percepção de novos conceitos e o desenvolvimento de novas

competências, processos e ferramentas. A Metodologia de Gerência de Projetos do Sistema de

Administração de Recursos de Tecnologia da Informação (MGP-SISP) foi adaptada para

atender essa nova realidade. Como resultado do trabalho foi possível a adaptação da gestão do

Programa de Extensão “Incubadora de Tecnologia Social e Economia Solidária” dentro da

Metodologia SISP para a gestão de projetos sociais. A identidade da Incubadora da UFMT

assim como o organograma, a descrição dos papéis e responsabilidades dos membros da

equipe e o planejamento financeiro foram elaborados de maneira autogestionária. Os sistemas

exigidos pelo Termo de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos – CERNE foram

estabelecidos para atenderem e prospectarem empreendimentos econômicos solidários a

serem incubados, de modo articulado com demandas de programas governamentais. Foi

definida uma Estrutura Analítica do Projeto (EAP) implementada no Sistema GPWeb para

gerenciamento, gestão estratégica e protocolos eletrônicos de documentos. Todos os

processos desenvolvidos podem orientar reaplicações em outras incubadoras. Destaca-se a

originalidade da forma de articulação da UFMT com a ARCA Multincubadora propiciando

uma inovadora forma de institucionalizar a Incubadora do EIT.

Palavras chave: Estrutura Analítica de Projetos – GPWeb. Economia Solidária. Tecnologia

Social. projeto de inclusão social. CERNE.

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EIT / UFMT Incubator’s experience to promote the role of innovation in

environmental development and social inclusion

Keywords: Work breakdown structure – GPWeb. Solidarity Economy. Social Technology.

social inclusion project. CERNE.

ABSTRACT

This article presents conceptual guidelines, the process of planning, appreciation, structuring

and execution of Federal University of Mato Grosso Tecnhological Innovation Office

Incubator (TIO / UFMT), with the aim to consolidate the role of Innovation in environmental

evolution and social inclusion. Based on the innovative experience of "Cooperated

Researcher" Social Technology, developed by the Cooperative of Fishermen and Artisans of

Pai André and Bonsucesso (COORIMBATÁ) and UFMT, as a strategy for structuring

processes of incubation and guided by principles current in the identity ( mission, vision and

values) of the Incubator has developed a method that allowed for the meaningful involvement

of all staff in the Incubator process of change, bringing awareness of new concepts and

developing new skills, tools and processes. The Methodology of Project Management (SISP)

has been adapted to meet this new reality. As a result of the work it was possible to adapt the

management of the Outreach Program "Solidarity Economy and Social Technology

Incubator" within the SISP methodology for management of social projects. The identity of

the Incubator as well as the organization chart, the description of the roles and responsibilities

of team members and financial planning were prepared on a self-managed way. The systems

required by the Reference Terms to Support New Ventures – CERNE were established to

meet and to prospect solidarity economy enterprises to be incubated, articulated with

government programs demands. Was defined the Work Breakdown Structure (WBS) and it

was implemented in GPWeb system for management, strategic management and electronic

protocols of documents. All processes developed can guide replication in other incubators.

Highlights the originality of this way of articulation between UFMT and ARCA

Multincubator providing an innovative way to institutionalize the TIO Incubator .

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INTRODUÇÃO

São muitos os exemplos da história da humanidade nos quais o poder de

transformação da sociedade iniciou com a coragem de indivíduos ou de grupos de refletirem

sobre suas ações e mudarem a si mesmos para promover processos construtivos e

colaborativos.

Como descrito por Priante et.al. (2012) pesquisadores da Universidade Federal de

Mato Grosso (UFMT), incomodados com as dificuldades de fazer com que os resultados de

suas pesquisas fossem aplicados na solução de problemas regionais, transformaram sua forma

de atuação como pesquisadores. A nova forma proposta teve como ponto de virada a

associação, por parte dos pesquisadores, a uma cooperativa sediada na periferia da cidade, a

Cooperativa de Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso (COORIMBATÁ), que

havia alterado seu estatuto, de forma inovadora, incluindo a pesquisa científica como um dos

seus objetivos.

Como “Pesquisadores Cooperados”, prática reconhecida posteriormente como

Tecnologia Social e vencedora do Prêmio ODM Brasil, tiveram e continuam tendo papel

determinante no estabelecimento de processos inovadores para transformar nossas cidades.

Esta nova forma de atuação propicia um maior envolvimento do pesquisador com a

comunidade, ampliando aspectos educativos de formação e autoformação, além de sua

especialidade técnica, favorecendo assim a atuação transdisciplinar sendo eficaz no

estabelecimento de fortes relações de confiança entre diferentes atores. A capacidade de

articulação do Pesquisador Cooperado propicia também condições para que outras entidades,

governamentais ou não, atuem de forma integrada na busca de sustentabilidade e formação de

uma rede de produção e de comercialização desses empreendimentos de forma solidária.

Uma transformação importante na UFMT foi a incorporação da prática “Pesquisador

Cooperado” nos processos de incubação de empreendimentos econômicos solidários na

Incubadora do Escritório de Inovação Tecnológica da UFMT denominada Incubadora de

Tecnologia Social e Economia Solidária (INTECSOL). Essa incubadora tem como um de seus

objetivos a formação de uma rede entre os empreendimentos, a Rede de Colaboração

Solidária, implantada pela COORIMBATÁ, envolvendo diretamente os produtores familiares

associados, a comunidade acadêmica e demais parceiros. Nesse contexto, o pesquisador

cooperado trouxe maior envolvimento dos pesquisadores da UFMT com os empreendimentos

compostos por pessoas de comunidades tradicionais como quilombos, pescadores, artesãos,

atingidos por barragens, trabalhadores assentados da agricultura familiar e grupos que

difundem práticas agroecológicas. Esse processo de incorporação e interação do pesquisador

cooperado, entretanto, tem representado um grande desafio não somente em relação à

formação e a consolidação de uma equipe multidisciplinar como também no estabelecimento

e comprovação de utilização dos sistemas exigidos pelo Centro de Referência para Apoio a

Novos Empreendimentos (CERNE).

Para um entendimento mais adequado desse desafio, é preciso entender o processo de

evolução da incubadora. Assim, em Mato Grosso, a primeira incubadora foi criada em 2001,

denominada Incubadora Cuiabá Soft, uma incubadora setorial para empresas de Tecnologia

da Informação e Comunicação. Situada no campus da UFMT, a Cuiabá Soft passou por uma

reformulação em 2005 e transformou-se na Arca Multincubadora, que é uma associação sem

fins lucrativos, entendida como um Centro de Inteligência em Negócios Inovadores

Sustentáveis, formado por alianças estratégicas, fruto da união de órgãos públicos, da

iniciativa privada e do terceiro setor.

O objetivo da Arca Multincubadora é servir de agente de inclusão social de

empreendedores inovadores, através do desenvolvimento de sistema integrado de

conhecimentos multidisciplinar e transdisciplinar, constituído de quatro Incubadoras:

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Agrotecnologia, Mista (Base Tecnológica e Convencional), Tecnologia Social e Cultural que

atuam de forma integrada, interligada e interdependente.

Em janeiro de 2010 a estrutura de incubação da Arca Multincubadora foi incorporada

pelo EIT-UFMT. O EIT-UFMT é um órgão classificado como um Núcleo de Inovação

Tecnológica (NIT), conforme os preceitos da Lei de Inovação Tecnológica (Lei 10.973/2004),

e tem como missão “gerir a política de inovação da UFMT a fim de articular os atores

internos e externos para efetivar o processo de inovação”. Sua atuação tem as finalidades de

gestão da propriedade intelectual, estudos e pesquisas em gestão estratégica da inovação, a

articulação e interação entre pesquisadores e organizações para criar redes sociais de inovação

e a gestão integrada dos processos de incubação dos empreendimentos de economia solidária,

e empreendimentos inovadores, fomentando o empreendedorismo com ênfase na incubação

de organizações, de forma a difundir a cultura da inovação. Assim, a incubação feita pelo

EIT-UFMT, conta com a relação cíclica, e inter-relacionada entre a INTECSOL/UFMT, Arca

Multincubadora e os incubados.

Com isso, a atuação do EIT-UFMT extrapolou seu papel tradicional de Núcleo de

Inovação Tecnológica e trouxe a sua visão transversal, interdisciplinar e transdisciplinar do

processo de inovação tecnológica para o processo de incubação de empresas. Efetivou

também sua atuação de realizar de forma integrada as ações relacionadas com base

tecnológica e tecnologia social.

Toda essa participação universitária com a esfera empresarial tem como base Lei de

Inovação Tecnológica que estabeleceu um modelo de inovação baseado na concepção da

tripla-hélice na qual os atores são classificados como empresa, governo e universidade. Nesse

contexto, esta lei obriga que as universidades tenham um papel ativo nesse processo e dentro

das ações envolve a estruturação de ambientes propícios à Inovação.

Toda essa transformação tomou um novo e grande impulso de desenvolvimento para a

Incubadora com a aprovação e execução simultânea de oito projetos/programas que são: (1)

“Incubadora de Tecnologia Social e Economia Solidária - INTECSOL” edital PROEXT 2013

– MEC/SESu; (2) “Projeto de implementação, do nível de maturidade CERNE” edital

SEBRAE/ANPROTEC 01/2011 Aplicação do Modelo CERNE; (3) “Centro Interdisciplinar

de Estudos em Biocombustíveis – CIEB” CNPQ 552093/2009-2; (4) “Incremento da

infraestrutura do programa de incubação de empresas de base tecnológica da UFMT” –

MCT/SETEC/CNPq nº 09/2011- Apoio a Incubadoras de Empresas; (5) “Rede de

Colaboração Solidária – Região do APM Manso” - convênio/Resolução de Diretoria de

FURNAS nº 003/2656; (6) “Adequação da Coleta Seletiva de Várzea Grande”, (7) “Rede

Leiteira da Baixada Cuiabana”; (8) “Conexão Peixe na Alimentação Escolar” sendo estes

últimos três aprovados pelo Programa ReDes do Instituto Votorantim em parceria com o

BNDES. Como conceituado anteriormente pela relação cíclica, os projetos/programas

aprovados têm como entidades executoras hora a Universidade, hora a Arca Multincubadora

hora os Empreendimentos Incubados contando cada qual com a parceria dos demais para a

respectiva execução. Este novo quadro exigiu uma reengenharia da estrutura organizacional

da Incubadora.

O Estudo, Análise e Proposições sobre as Incubadoras de Empresas no Brasil

(ANPROTEC e MCTI, 2012) em sua avaliação taxonômica para organização/estruturação das

incubadoras de empresas brasileiras as dividiu em três grupos; de economia solidária, de

empresas de base tecnológica e de empresas tradicionais tendo as universidades como as

principais instituições de vinculação. Este Estudo indica que o foco de atuação das

incubadoras brasileiras está voltado preponderantemente na dinamização da economia local

tendo como principal área de captação de empreendimentos a microrregião onde a incubadora

está inserida. Em suas análises o Estudo cria dois grupos de incubadoras que são: Incubadoras

de empresas orientadas para o desenvolvimento local ou setorial e Incubadoras de empresas

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orientadas para a geração e uso intensivo de tecnologia. Para o primeiro grupo o Estudo

aponta que a inovação organizacional é a sua prioridade de esforços. Em suas proposições o

Estudo aborda quatro grandes temas: recursos financeiros, pessoal, questões organizacionais e

ação das agências de fomento e dos órgãos de governança. Como alternativas para a

sustentabilidade financeira das incubadoras propõe ampliação da prestação de serviços, a

participação da incubadora nas empresas incubadas e ainda a criação de fundos locais e

estaduais formados por recursos oriundos de parte dos impostos gerados a mais pelas

incubadas. Indica a necessidade de programas permanentes de capacitação da equipe da

incubadora seja através de metodologias de ensino a distância ou seminários práticos

presenciais. Nas questões organizacionais para as incubadoras vinculadas as universidades,

indica como grande fragilidade a falta de autonomia administrativa e de orçamento próprio.

A introdução do Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (Cerne)

que visa promover a melhoria dos resultados das incubadoras em termos qualitativos e

quantitativos vem ao encontro de algumas das proposições apresentadas no Estudo citado

anteriormente. Para ser certificada pelo CERNE uma incubadora deve comprovar que sua

gestão conta com oito sistemas: 1) Sistema de Sensibilização e Prospecção; 2) Sistema de

Seleção; 3) Sistema de Planejamento; 4) Sistema de Capacitação; 5) Sistema de Assessoria; 6)

Sistema de Acompanhamento e Avaliação; 7) Sistema de Graduação e de Projetos Futuros; 8)

Sistema de Gerenciamento Básico (ANPROTEC e SEBRAE, 2009).

CATÃO e PIMENTEL NETO (2010) abordam que no caso da incubação de

empreendimentos de base tecnológica há experiências de utilizar o processo seletivo como

uma nova possibilidade de desenvolver empreendimentos desclassificados no processo

seletivo por insuficiência em algum dos requisitos analisados. Assim, o processo seletivo da

incubadora representa uma forma de sensibilização e prospecção de potenciais incubados.

Já para SINGER (2007) os processos de incubação de empreendimentos econômicos

solidários apresentam uma esplêndida complexidade, pois buscam o bem-estar dos envolvidos

com o empreendimento e não apenas a maximização dos lucros. Esses empreendimentos são

normalmente constituídos por pessoas da sociedade de baixa escolaridade, sem perfil

empresarial e com deficiências de acesso a informação. Assim, o sistema de sensibilização e

de prospecção de empreendimentos econômicos solidários bem como a sensibilização e a

consolidação de uma equipe para atuar nesses processos de incubação representa um grande

desafio.

Para a inovação organizacional referida no Estudo, consultores de empresas e autores

como Jair Moggi, Daniel Burkhard, Christopher Shaefer, Tϋno Voors, Bernard Lievegoed

entre outros desenvolvem um paralelismo entre a empresa e o ser humano, considerando a

empresa como um ser vivo.

Moggi (2001) descreve o tempo atual caracterizando-o pela necessidade de maior

flexibilidade e agilidade em atender demandas, hipercompetitividade planetária, aumento da

conscientização das pessoas em todos os níveis sociais, escassez de recursos,

desregulamentação do Estado, crescimento da necessidade de participação de todos os

colaboradores nos locais de trabalho entre outras. Este novo ambiente demanda organizações,

sejam elas incubadoras, empresas ou empreendimentos econômicos solidários, com modelos

de gestão que não se baseiem mais nos paradigmas trazidos pelo racionalismo científico que

induzem a uma visão mecânica e fragmentada do mundo e dos processos organizacionais. O

autor apresenta o novo paradigma dos seres vivos para os modelos de gestão, pois acredita

que as organizações orgânicas, seguindo características de seres vivos têm “flexibilidade e

capacidade de regeneração, reagem rapidamente aos impulsos externos, aprende a

desenvolver seu nível de consciência, adapta-se rapidamente ao meio, é interdependente e

está conectado com outros organismos externos”.

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Schaefer e Voors (2000) argumentam que as organizações são criadas por pessoas e

para pessoas e que de uma maneira consciente ou inconsciente estas organizações refletem a

imagem de ser humano dos que assumiram essa iniciativa. Para esses autores a imagem de ser

humano segue os arquétipos trazidos por Jung, Assagioli ou outros tantos psicólogos

humanistas estando ligado tanto ao mundo físico quanto ao mundo espiritual e que nossa

natureza psicológica é vivida por meio das faculdades do pensar, sentir e querer. Os autores

destacam também o aspecto do desenvolvimento caracterizando cada um de nós como

indivíduos únicos com detalhes específicos da biografia individual. Os autores concluem o

paralelismo entre o ser humano e as organizações apontando que as organizações “também

devem ter uma identidade única, devem conter um aspecto ligado o corpo, alma e espírito,

bem como fases características do desenvolvimento”.

Moggi e Burkhard (2004) aprofundam o modelo arquetípico de uma visão espiritual do

ser humano e das organizações vendo-as em quatro níveis. Nas organizações temos o nível 1,

que é o seu nível mais palpável, relacionado com os recursos (equipamentos, dinheiro,

móveis, etc.). No nível 2 temos os processos, que são os fluxos de materiais, informações, etc.

No nível 3 temos as relações, que são as formas com as pessoas se envolvem dentro da

organização. Neste nível temos presentes os sentimentos, as vontades, o exercício da

liderança, etc. No nível 4 é o nível da identidade da organização que expressa a visão, os

valores e a missão da organização e que trás a sua história biográfica. Comparativamente com

o Ser Humano no se nível 1 temos o corpo físico, no nível 2 os processos vitais, no nível 3

temos nossas sensações e sentimentos e no nível 4 existe o Eu ou consciência.

Schaefer e Voors (2000) analisando o desenvolvimento consciente das iniciativas

descrevem os desafios característicos e oportunidades que existem no ciclo de vida da

maioria das organizações. Os autores descrevem o desenvolvimento das organizações em três

fases: pioneira, diferenciada e integrada apresentando as características de cada uma delas

com suas respectivas crises e suas possibilidades de desenvolvimento

No mesmo sentido Greiner (1998) faz uma análise e proposição de como as

organizações crescem. Tendo como base o legado da psicologia europeia que argumenta que

o comportamento individual é primeiramente determinado pelos acontecimentos do passado e

suas experiências e não no que está por vir, o autor faz uma extensão dessa teoria para o

problema do desenvolvimento das organizações identificando cinco fases de desenvolvimento

que as organizações tendem a passar e para cada fase com seus períodos de evolução,

crescimento, estabilidade e revolução. O autor aponta que a forma como a organização

resolve suas revoluções determina a entrada ou não em novos níveis de desenvolvimento.

A Incubadora compartilha de uma visão orgânica das organizações, ou seja, cada

instituição é um organismo vivo, dinâmico, que está em constante transformação e é formada

por partes que compõem o todo e pelo todo que tem em sua essência, o reflexo das

peculiaridades de cada parte. Portanto, o processo de desenvolvimento de um organismo

social tem a ver, em parte, com aprender, no sentido de desenvolver habilidades,

conhecimento e capacidades; mas também tem a ver, em igual medida, com o desaprender,

no sentido de se libertar das limitações e restrições do passado (Kaplan, 2012). Nas escolas,

no trabalho, e nas relações familiares o ser humano construiu historicamente uma hierarquia

vertical e dominadora, a equipe da Incubadora da UFMT tem a coragem de se fazer ouvir uns

aos outros e de valorizar os conhecimentos, percepções, ideias que, mesmo antagônicas

algumas vezes, se colocam em estado de escuta, se pautando em conceitos da Educação

Democrática e vivenciando a autogestão.

Desde o ano de 2006 pesquisadores da UFMT atuam de modo articulado e em processo

participativo e autogestionário para consolidar um sistema de incubação de empreendimentos

que integre mecanismos já consolidados de incubadoras de empreendimentos de base

tecnológica aos de incubadoras de empreendimentos econômicos solidários (EES). Nos

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últimos anos, foi possível captar recursos dos Editais PROEXT-MEC para a estruturação

desse sistema, com destaque ao Programa “Sistema Integrado de Inovação Tecnológica Social

– SITECS” aprovado em 2010 e em 2011 e tendo sua continuidade com novas aprovações nos

anos de 2012 e 2013 com o Programa “Incubadora de Tecnologia Social e Economia

Solidária – INTECSOL”. KARLING et al. (2012) descreve os detalhes da metodologia de

incubação da INTECSOL que toma por base a pesquisa-ação através de Gestores de

Tecnologia Social, papel exercido com base na prática do “Pesquisador Cooperado” da

COORIMBATÁ. As dificuldades encontradas para a estruturação da equipe e a definição dos

papéis dos integrantes da Incubadora da UFMT possibilitaram o desenvolvimento de uma

metodologia participativa que será apresentada a seguir.

Os Gestores em Tecnologia Social atuam nos Empreendimentos Econômicos

Solidários incubados utilizando a prática da consultoria vivencial, desenvolvida a partir da

partilha de experiências dos pesquisadores cooperados em reuniões mensais com caráter

formativo e de acompanhamento dos trabalhos. Essas reuniões ocorrem desde 2011 com uma

equipe multidisciplinar, composta por pessoas de diferentes áreas de formação e de diversas

faixas etárias e experiências de vida que se complementam na realização de trabalhos com as

comunidades/empreendimentos. Essas reuniões possibilitam o encontro entre os membros da

equipe que atuam mais presencialmente em cada comunidade/empreendimento com outros

membros da equipe que atuam no setor de gestão administrativa e financeira da Incubadora

conhecida como Gestão Compartilhada criando um espaço de avaliação, reflexão,

planejamento e elaboração de planos de ação.

O processo de incubação da Incubadora da UFMT objetiva superar contradições e

reinventar modos de relações de trabalho assim como a função dos programas de extensão, da

ciência e da inovação. Através da criação de fortes relações de confiança que possibilitam

uma vivência dentro da comunidade/empreendimento e um diálogo flexível e integrado, as

demandas surgem dentro dos empreendimentos incubados sendo o elo de ligação exercido

pelo Gestor em Tecnologia Social e acontece na relação dinâmica entre sociedade e

comunidade acadêmica.

Jair Moggi (2007), consultor de empresas por mais de 30 anos, abordando os processos

de mudança que as organizações passam relata que da sua experiência percebe que as

organizações não evoluem se as pessoas e os grupos que a compõem não se desenvolvem.

Esta percepção aponta que no processo de mudança que a Incubadora estava passando trazido

pelos fatores externos já citados, para os fatores internos deveriam ter os mesmos cuidados e

atenção. Se fez necessária a ênfase no aprendizado e no desenvolvimento de uma cultura de

mudança possibilitando a equipe da Incubadora apreender fazendo através de um

envolvimento significativo de todas as pessoas no processo. Neste cenário o grupo através das

individualidades que o compõem é capaz de criar novos conceitos, métodos, processos e

ferramentas de trabalho tornando-se proprietários do processo e habilitando-se assim a

sustentá-lo.

DESENVOLVIMENTO

Orientados por esses conceitos e práticas, cientes que a nova realidade trazida pelos

novos projetos/programas aprovados possibilitariam a Incubadora da UFMT ultrapassar o seu

atual estágio de desenvolvimento, caracterizado pelos ideais e impulsos de seus pioneiros, se

lançou em um período de revolução que a colocasse em uma nova fase de desenvolvimento

mais estruturada, com papéis, funções e processos melhor descritos e acordados entre todos os

membros, já que a Incubadora tem em sua história de construção a autogestão como um dos

seus pilares.

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Para esse processo de mudança a Incubadora teve o apoio de um consultor de processos

com formação pelo programa da ADIGO Consultores de Liderança Facilitadora.

O escopo desse processo de mudança considerou todas as dimensões da Incubadora, ou

seja: os níveis de identidade, relações, processos e recursos. O processo iniciou-se em outubro

de 2012 e teve sua primeira etapa concluída em março de 2013.

No final de 2012 foram elaborados questionários de avaliação abordando aspectos

diversos que envolvem toda a equipe. Houve participação de vários membros durante todo o

processo de elaboração, tabulação e apresentação do diagnóstico.

Uma estagiária da faculdade de Administração de Empresas, uma Gestora em

Tecnologia Social formada em Pedagogia e um Psicólogo que compõe a Secretaria Executiva

da incubadora, foram os responsáveis pela elaboração do questionário, que contou com

contribuições sugeridas por demais componentes da equipe. A avaliação foi aplicada entre os

membros da Incubadora da UFMT e cada Gestor em Tecnologia Social levou até os EES

incubados para que seus representantes pudessem também avaliar o trabalho da Incubadora. O

instrumento de avaliação foi composto por perguntas abertas e também de múltipla escolha. O

processo de avaliação em toda organização é complexo e requer muito cuidado, pois as

pessoas são convidadas a expressar suas opiniões pessoais sobre o local de trabalho,

mudanças que pensam ser necessárias e relações interpessoais, sendo necessária uma grande

atenção aos conflitos que possam surgir durante o percurso.

Para auxiliar na tabulação da avaliação contou-se com a contribuição de um professor

da Faculdade de Nutrição da UFMT e especialista em análise estatística que foi responsável

pela sistematização dos dados.

Na primeira reunião geral do ano de 2013, o coordenador do Escritório de Inovação

Tecnológica (EIT/UFMT), explicou sobre a missão e visão que orientam o trabalho do

Escritório de Inovação Tecnológica da UFMT e destacou como valores importantes a

linguagem comum e a sociorresponsabilidade. Foi orientada pela identidade do EIT/UFMT

que a equipe da Incubadora desenvolveu a missão, a visão e os valores da Incubadora que está

dentro do EIT/UFMT. Nesta mesma reunião ocorreu o prosseguimento do processo de

avaliação. Pessoas com diferentes funções na incubadora foram convidadas a preencher uma

autoavaliação e também uma avaliação sobre o trabalho na incubadora durante 2012. Foram

divididos grupos para debater sobre a avaliação aplicada e em plenária os grupos

compartilharam suas impressões.

Entre as contribuições trazidas em plenária foi destacada a importância e necessidade

da aplicação deste tipo de avaliação para aprimorar o trabalho. Apontou-se as condições de

trabalho, como pouca privacidade nas salas do EIT, segurança interna frágil, a recepção onde

existe facilidade de qualquer pessoa entrar. Indicou-se ainda que o instrumento de avaliação

utilizado necessitava de aperfeiçoamento. Foi apontada ainda a necessidade de maior

organização do papel de cada um e uma maior estruturação da Incubadora. Outro destaque foi

com relação à resolução de conflitos que não foi bem abordada no ano de 2012 e que esse

fator é importante para que o grupo permaneça coerente com os princípios e trabalhe em

harmonia.

Outras reuniões aconteceram com participação de membros diretamente ligados à

Incubadora e é importante ressaltar que o processo desenvolveu-se de maneira ascendente por

ter a presença de um consultor externo, que trouxe dinâmicas de grupo, exercícios de reflexão,

interação e um olhar de quem não está diretamente ligado à dinâmica do local.

O consultor externo foi fundamental nas reuniões de planejamento, percebendo como as

relações de trabalho e de confiança estavam configuradas e quais atividades encaixavam-se

em dado momento. Trabalhos com movimento, arte, e espaços para diálogos em pequenos

grupos permitiram uma distribuição equilibrada e diversificada, variando tendências

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cristalizadas de agrupamento e ampliando o acolhimento e escuta entre os membros da

equipe.

Durante os três primeiros meses de 2013, paralelamente às atividades de incubação,

foram realizadas reuniões gerais de planejamento. Essas reuniões serviram como estratégia de

fortalecimento das relações interpessoais dos membros da Incubadora, e foi espaço de

construção da Identidade da Incubadora e também para avaliar e adequar os processos, papéis

e rotinas estabelecidas para atender tanto as demandas dos membros da Incubadora quanto

dos empreendimentos incubados.

Todas as reuniões da incubadora procuram seguir um método que tem por base

conceitos e processos desenvolvidos no Programa Germinar do Instituto EcoSocial que teve

seus resultados e experiências ilustrados e relatados por Rocha e Teles (2009). Nas reuniões

procura-se trabalhar em três níveis: compreensão (pensar), vivência (sentir) e prática (querer),

através das seguintes formas: Movimentos – atividade de estimulação, integração e contato

não intelectual com o conteúdo; Cumbucas – estímulo intelectual para percepção de

arquétipos e compartilhamento de conceitos; Dinâmica – vivência, autorreflexão e percepção

compartilhada do conteúdo; Atividade Artística – atividade que utiliza elementos de arte,

visando a autopercepção e o seu compartilhamento nos grupos; Planos de Ação – Atividades

acordadas para atender as demandas da Incubadora; Plenária e Avaliação – resgate,

compartilhamento e complemento dos aprendizados da reunião.

Todo esse procedimento é realizado no sentido de se criar um espaço democrático e

possibilitar que processos decisórios que objetiva a tomada de decisão em grupo seja de forma

participativa, gerando equanimidade. Desta forma constrói-se uma relação horizontal, ponto

fundamental para praticar o que se propõe levar aos Empreendimentos Incubados, que é a

autogestão.

Foram muitos os avanços, as mudanças foram profundas na estrutura da Incubadora,

ocorrendo momentos de angústia, de contradições entre o que está se propondo como

orientação para o trabalho e com o que fora realizado.

A apresentação dos 08 projetos que seriam executados foi o ponto de partida para que

os membros tivessem a dimensão da ampliação do montante de trabalho durante o ano e da

necessidade de estruturação e mudanças.

Como o trabalho é dividido em atividades de campo, direto nas

comunidades/empreendimentos e atividades de gestão, os envolvidos puderam expressar suas

preferências e em executar atividades compatíveis com suas características individuais,

tornando possível desenvolver um trabalho com mais alegria e disposição.

Uma das características de uma organização que encontra-se na fase pioneira de

desenvolvimento é uma multiplicidade de papéis, ou seja, muitas vezes os membros exercem

múltiplas funções, mas não têm clareza sobre qual papel ou função desempenha na

organização, são verdadeiros “faz tudo” (Shaefer e Voors, 2000). Os membros foram

convidados a refletir e descrever atividades e funções por si realizadas no ano anterior e a

frequência de execução (semanal, mensal, anual, diária). A partir dos dados levantados e de

sua sistematização, realizado por um dos pioneiros da Incubadora, foram elaboradas planilhas

de planos de ação anual que dimensionaram as horas trabalhadas, as metas a serem atingidas e

o que a incubadora oferece ao incubado.

Um momento crucial no processo de mudança foi a distinção e separação de papéis e

funções, onde categorias foram criadas: Secretaria Executiva, Gestores em Tecnologia

Social, Gestão Compartilhada, Consultores, Estagiários e Bolsistas. Historicamente alguns

membros da Incubadora desenvolviam vários papéis e funções. Para uma melhor estruturação

e partindo da percepção individual, cada membro foi convidado a integrar o grupo onde

melhor desempenha o seu papel. Essa atividade foi bastante esclarecedora ao grupo, pois

antes os consultores vinham desempenhando papel de gestor, bolsistas no papel de gestores

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ou da gestão compartilhada e etc., o que possibilitou um redirecionamento e otimização do

trabalho. Pequenos grupos foram formados e cada grupo descreveu que funções esperava que

o outro grupo exercesse. Foram feitas adequações e acordos entre cada um dos grupos e

finalmente as funções sistematizadas foram apresentadas a todos. Esse trabalho orientou a

elaboração do Regimento Interno da Incubadora, além de completar as informações

oferecidas individualmente, estabelecendo-se novos acordos e principalmente clareza e

transparência.

No ano de 2012 só ocorriam reuniões gerais da incubadora, isto é, com toda equipe.

Foi percebida a necessidade de criar novas estruturas de reuniões, que agora com grupos e

funções definidas, possibilitou a criação de um calendário geral de atividades: Reuniões

semanais somente entre membros da Secretaria Executiva, quinzenais entre Gestores em

Tecnologia Social, e entre membros da Gestão Compartilhada sempre que necessário, da

Secretaria Executiva com cada grupo desses descritos com frequência quinzenal e uma

reunião geral mensal com todos os membros.

Cada Gestor em Tecnologia Social ficou responsável por orientar um bolsista ou

estagiário e fazer a ponte entre as informações obtidas nos empreendimentos com todos os

membros da Incubadora. Foram desenvolvidas simultaneamente ações de planejamento e capacitação com três

diferentes equipes formadas por professores, acadêmicos, estagiários, bolsistas, Gestores em

Tecnologia Social, profissionais da Gestão Compartilhada e consultores externos contratados

por diferentes projetos desenvolvidos pela Incubadora: Equipe 1 - dedicou-se

preferencialmente à adaptação do Programa INTECSOL à Metodologia de Gerência de

Projetos do Sistema de Administração de Recursos de Tecnologia da Informação (SISP);

Equipe 2 - dedicou-se ao estudo e planejamento do processo de certificação CERNE (2009)

para a Incubadora; Equipe 3 - dedicou-se preferencialmente ao planejamento de consolidação

das informações obtidas das reuniões gerais da incubadora, dedicadas à definição da

identidade da Incubadora (Missão, Valores e Visão). Periodicamente, representantes dessas

equipes compartilhavam seus trabalhos entre si através da participação em reuniões gerais da

incubadora, onde as demandas de uma equipe eram feitas aos membros das demais equipes,

para que o processo como um todo fosse intensamente participativo.

As perguntas que iniciaram a reflexão sobre a Identidade da Incubadora foram: Porque a

incubadora existe? Quem são nossos clientes? Que valores agregamos a eles? O que a

incubadora faz de melhor? Em que direção devemos apontar nossos esforços?

Para responder às perguntas, os membros remeteram ao trabalho que vêm realizando e

às práticas da Incubadora.

As informações obtidas dos membros das equipes numa reunião geral eram

sistematizadas pela Equipe 1, através do software FreeMind para elaboração do mapa mental

da Incubadora de modo a atender as exigências do CERNE (2009), com a identificação dos

Sistemas exigidos para atender os empreendimentos incubados. As propostas de mapas

mentais da Incubadora eram então discutidas e validadas nas outras reuniões gerais da

Incubadora. Procedimento semelhante foi adotado para a sistematização das informações no

software GPWeb sempre buscando compatibilizar as demandas dos membros da equipe da

Incubadora, as demandas de uma gestão profissional das atividades do Programa e as

exigências do Sistema SIGPROJ adotado pelo MEC para a elaboração do relatório final do

Programa INTECSOL.

RESULTADOS E CONCLUSÃO

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A tabulação dos resultados da avaliação foi apresentada em uma reunião geral da

Incubadora. Houve um impacto positivo na equipe, enxergando suas opiniões individuais

expressas num todo, e percebendo pontos em comum. Embora o instrumento de avaliação

possa ser aprimorado, abordando aspectos que sejam pensados por quem tem uma visão mais

global da Incubadora e que a participação de um especialista em análise estatística aconteça

desde o início da elaboração desse instrumento, o resultado foi proveitoso e de aprendizado

para todos os envolvidos.

A partir das percepções trazidas pela avaliação foram elaborados de forma participava

a identidade da incubadora, o seu planejamento financeiro atendendo demandas

organizacionais, de controle, de formação, de atendimento aos incubados, de

dimensionamento e remuneração da equipe, de resultados e metas a serem alcançadas e de

processos administrativos. Assim como, houve um esforço para sanar algumas deficiências

apontadas pelos membros e que dependiam de arranjos para melhorar a qualidade e segurança

no trabalho, no que se refere a ações nas comunidades, que muitas vezes são distantes e em

áreas de difícil acesso, fator latente apresentado na avaliação.

As figuras 1 e 2 trazem o Mapa Mental e a Estrutura Analítica de Projetos que são

resultados do planejamento participativo e que possibilitaram a criação de mecanismos de

acompanhamento transparentes e autogestionários que criam condições para um melhor e

maior monitoramento dos processos de incubação e de gestão.

Figura 1. Mapa Mental da Incubadora do EIT/UFMT para incubação de empreendimentos

econômicos solidários, seguindo a metodologia CERNE (2009).

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Figura 2. Estrutura Analítica de Projeto da Incubadora do EIT/UFMT utilizada no software

GPWeb compatível com os relatórios exigidos pelo Sigproj Proext-MEC.

Neste processo de mudança por qual passou a Incubadora da UFMT destaca-se a

criação de sua identidade, criada pela sua equipe e orientada por sua biografia.

VALORES

Valorização da vida através da cooperação e do trabalho criativo

Compromisso com os resultados

Disseminação do conhecimento

Respeito pela diversidade humana e pelo meio ambiente

Autogestão e postura proativa

Transparência e flexibilidade nos processos gerenciais e nas relações interpessoais

Aperfeiçoamento Contínuo

MISSÃO

Promover o surgimento e o fortalecimento de empreendimentos através da articulação

de conhecimentos, projetos e de redes de entidades, a fim de consolidar a função da inovação

na evolução socioambiental e na inclusão social.

VISÃO

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Ser uma incubadora reconhecida nacionalmente por princípios humanitários que

compartilha esforços para promover a felicidade;

Atuar de forma organizada e estruturada para consolidar uma equipe multidisciplinar

até 2015. (para nós);

Ser certificada pelo CERNE até 2015;

Operacionalizar redes de produção e comercialização de empreendimentos incubados.

(para os incubados).

O planejamento financeiro realizado trabalhou com recursos na ordem de

R$500.000,00 de cinco diferentes fontes de financiamento com seus requisitos próprios de

utilização e prestação de contas. Na distribuição orçamentária 74,36% dos recursos foram

destinados a pagamento de pessoal, seja equipe interna permanente ou consultores externos

para atendimento das demandas dos incubados ou de estruturação da incubadora, 13,4% para

custeio e 12,2% para capacitação da equipe e dos incubados.

Consolidou-se a estrutura da Incubadora com a definição dos papéis e

responsabilidades, interdependências e processos.

Figura 3. Estrutura da Incubadora do EIT/UFMT e as linhas gerais de atuação.

Na superação de um período de revolução através de um processo de mudança

consciente que partiu da explicitação de seus propósitos, acompanhado das claras definições

de papeis, processos e estruturas e na nova função das lideranças, possibilitou a Incubadora da

UFMT entrar em seu novo e salutar estágio de desenvolvimento transitando de uma fase

pioneira para uma nova fase estruturada. Com maior equilíbrio e consciência, em um

ambiente onde a criatividade e o envolvimento das pessoas pode se manifestar

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espontaneamente, criou condições para que a Incubadora da UFMT cresça de tamanho, tenha

um maior nível de profissionalismo, que as tomadas de decisões sejam mais coerentes com a

sua identidade e desta forma mais racionais e analíticas, tenha uma estrutura e papéis

claramente definidos trazendo uma maior clareza das atividades de trabalho por cada um de

seus membros possibilitando que cada individualidade da equipe exerça seu papel de

liderança de forma mais funcional do que pessoal.

Outro aspecto importante a ser destacado nesse processo evolucionário é a capacidade

da incubadora de incorporar ações e profissionais de várias áreas de conhecimento de forma

que a atuação seja complementar e participativa. Portanto tal realidade se mostra como um

espaço (ou talvez o único espaço) no qual a Universidade atinja seu objetivo máximo, que é a

geração de conhecimento multidisciplinar acoplada com a solução de problemas demandados

pela sociedade.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o Ministério da Educação - edital PROEXT MEC/SESu, Furnas

Centrais Elétricas – setor de Responsabilidade Social e SEBRAE/ANPROTEC edital Modelo

CERNE pelo suporte financeiro e ao CNPq (552093/2009-2) pela bolsa de estudos.

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