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A DINAMICA DA INOVAÇÃO EM INDÚSTRIAS DE ALIMENTOS E BEBIDAS APOIADAS POR INCUBADORAS NO ESTADO DO AMAZONAS KLEBER ABREU SOUSA 1 ([email protected]) GUAJARINO DE ARAÚJO FILHO 2 ([email protected]) DIMAS JOSÉ LASMAR 3 ([email protected]) RESUMO O artigo trata da dinâmica da inovação nas empresas de alimentos e bebidas inseridas em incubadoras de empresas localizadas na cidade de Manaus e tem como principais objetivos: avaliar o perfil das empresas destes segmentos no que tange à inovação, pontuar os mecanismos impulsionadores do movimento inovativo para o segmento e evidenciar os gargalos e as dificuldades de acesso à inovação para essas empresas. Dessa forma, tenta entender a realidade das empresas que integram o segmento de alimentos e bebidas, sob a ótica da inovação no espectro regional. Quanto aos resultados pôde-se concluir que apesar das empresas pesquisadas, em sua maioria, não apresentarem inovações radicais com seus produtos/processos, o ambiente inovativo para essas organizações começa a ganhar robustez e a se delinear. Este fato pode ser evidenciado quando observa-se a articulação do grupo de empresas pesquisado com instituições de ciência, tecnologia e inovação. O interesse das empresas em concorrer a editais de subvenção e o esforço que tem sido feito para inovar por meio do acesso a fundações e pelo investimento de recursos próprios demonstra o amadurecimento do setor no que tange à inovação. Palavras - Chave: Inovação, incubadoras, ambiente inovativo Classificação do Artigo: Artigo completo 1 Kleber Abreu Sousa, mestre em Engenharia de Produção (Ufam), professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT). 2 Guajarino de Araújo Filho, doutor em Engenharia de Produção (UFRJ), coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Inovação (Nepi), da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi). 3 Dimas José Lasmar, doutor em Engenharia de Produção (UFRJ), professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

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A DINAMICA DA INOVAÇÃO EM INDÚSTRIAS DE ALIMENTOS E

BEBIDAS APOIADAS POR INCUBADORAS NO ESTADO DO

AMAZONAS

KLEBER ABREU SOUSA1

([email protected])

GUAJARINO DE ARAÚJO FILHO 2

([email protected])

DIMAS JOSÉ LASMAR3

([email protected])

RESUMO

O artigo trata da dinâmica da inovação nas empresas de alimentos e bebidas inseridas em

incubadoras de empresas localizadas na cidade de Manaus e tem como principais objetivos:

avaliar o perfil das empresas destes segmentos no que tange à inovação, pontuar os mecanismos

impulsionadores do movimento inovativo para o segmento e evidenciar os gargalos e as

dificuldades de acesso à inovação para essas empresas. Dessa forma, tenta entender a realidade

das empresas que integram o segmento de alimentos e bebidas, sob a ótica da inovação no

espectro regional. Quanto aos resultados pôde-se concluir que apesar das empresas pesquisadas,

em sua maioria, não apresentarem inovações radicais com seus produtos/processos, o ambiente

inovativo para essas organizações começa a ganhar robustez e a se delinear. Este fato pode ser

evidenciado quando observa-se a articulação do grupo de empresas pesquisado com instituições

de ciência, tecnologia e inovação. O interesse das empresas em concorrer a editais de subvenção

e o esforço que tem sido feito para inovar por meio do acesso a fundações e pelo investimento de

recursos próprios demonstra o amadurecimento do setor no que tange à inovação.

Palavras - Chave: Inovação, incubadoras, ambiente inovativo

Classificação do Artigo: Artigo completo

1 Kleber Abreu Sousa, mestre em Engenharia de Produção (Ufam), professor da Universidade Federal do Tocantins

(UFT). 2 Guajarino de Araújo Filho, doutor em Engenharia de Produção (UFRJ), coordenador do Núcleo de Estudos e

Pesquisas em Inovação (Nepi), da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi). 3

Dimas José Lasmar, doutor em Engenharia de Produção (UFRJ), professor da Universidade Federal do Amazonas

(UFAM).

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THE DYNAMICS OF INNOVATION IN THE FOOD AND BEVERAGE

INDUSTRY SUPPORTED BY THE STATE OF AMAZON INCUBATORS

KLEBER ABREU SOUSA1

([email protected])

GUAJARINO DE ARAUJO FILHO2

([email protected])

DIMAS JOSÉ LASMAR3

([email protected])

ABSTRACT

The article deals with the dynamics of innovation in food and beverage companies entered into

business incubators located in the city of Manaus and its main objectives: to evaluate the profile

of companies in these segments in terms of innovation, scoring mechanisms boosters innovative

movement for segment and highlight the bottlenecks and difficulties of access to innovation for

these companies. Thus, attempts to understand the reality of companies in the food and beverage

segment, from the perspective of regional innovation in the spectrum. As for the results it was

concluded that although companies surveyed, mostly not present radical innovations to their

products / processes, the innovative environment for these organizations begins to gain strength

and to delineate. This is evidenced when we observe the joint group of companies researched in

institutions of science, technology and innovation. The corporate interest in running for grant

notices and effort that has been done to innovate through access to foundations and investment of

own resources demonstrates the maturity of the industry in terms of innovation.

• Key - Words: Innovation, incubators, innovative environment

• Classification of Article: Full Article

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1. INTRODUÇÃO

Este texto é um resultado parcial do trabalho de doutorado desenvolvido no Programa de

Pós Graduação em Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas - UFAM.

O artigo trata da dinâmica da inovação nas empresas de alimentos e bebidas localizadas na

cidade de Manaus, abordando diferentes aspectos dentro desse contexto, como os mecanismos

impulsionadores da inovação nas empresas, os gargalos à prática da inovação e as dificuldades de

acesso à inovação, tentando entender essa realidade no segmento de alimentos e bebidas. O

capítulo está dividido em seis seções. Após esta introdução, seguem: revisão da literatura,

procedimentos metodológicos, resultados da pesquisa, conclusões e referenciais bibliográficos.

O segmento de alimentos e bebidas é uma escolha que se embasa em seu potencial

demandante por recursos naturais, refletindo-se na oportunidade do uso econômico sustentável da

biodiversidade da região.

De acordo com Becker (2007), o mercado de produtos que utiliza recursos da

biodiversidade Amazônica mostrou invejável vitalidade por meio de um crescimento a taxas

diferenciadas nas duas últimas décadas do século XX. Segundo a autora, as estimativas sugerem

uma riqueza natural sem paralelo no planeta. De acordo com Matias e Pimentel (2005, p.120)

apud Becker (2007) a floresta amazônica possui uma série de peculiaridades que a distingue das

demais regiões:

Aproximadamente 60 mil espécies de plantas superiores, constatando-se ainda a

existência de muitas outras a serem objeto de prospecção;

300 espécies de mamíferos catalogados;

Duas mil espécies de peixes prospectados e conhecidos; e

Dezenas de milhões de espécies de micro-organismos.

Essa riqueza natural, todavia, não se faz presente quando a análise se dá sob a dimensão

econômica. Por exemplo, indicadores de desempenho do Polo Industrial de Manaus (PIM)

coletados pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa, 2013) mostram que, em

2012, a participação dos principais setores de atividades no faturamento total do Polo se

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configura da seguinte forma: produtos eletroeletrônicos, respondendo por 35,39% do

faturamento; setor de duas rodas, com 18,58%; bens de informática, por volta de 11,5%; e o setor

químico, que alcança 13,07%. Contrastando com a realidade destes quatro principais segmentos,

os indicadores da Suframa apontam que os subsetores de bebidas e produtos alimentícios foram

responsáveis por 0,91% e 0,19% do faturamento total, respetivamente. Tomando como base os

dados mencionados, pode-se inferir que mesmo com todas as riquezas naturais que a região

apresenta, quando se analisa a participação dos segmentos econômicos relacionados à

biodiversidade no faturamento do polo industrial observa-se que no atual modelo que dá

sustentação à economia local, esses segmentos não têm uma participação representativa.

Benchimol (2000) chega a considerar esse modelo como eunuco justamente por não utilizar os

recursos naturais da região.

Considerando o interesse coletivo - de políticos, dirigentes, empresários e estudiosos - no

aumento do uso racional dos insumos locais na economia do estado, a maior compreensão da

dinâmica desta realidade torna-se um ponto de apoio importante para a formulação de políticas

públicas de estímulo a produtos de maior valor agregado, nos quais a inovação tem sido

considerada um fator-chave. Por meio da prática contínua de inovar as organizações conseguem

se diferenciar e manter a competitividade.

Particularmente no estado do Amazonas, a inovação em empresas que apresentam em sua

essência a utilização de recursos da biodiversidade é considerada pouco expressiva. Alguns

esforços têm sido feitos para estimular o processo inovativo dessas empresas, mas permanece

uma sensação de que os resultados são tímidos, quando confrontados com as potencialidades do

estado.

No âmbito do governo estadual, desde 2004 tem se estabelecido um conjunto de ações

capitaneadas por diversas instituições locais, que apesar de ainda pulverizadas e de certa forma

desconectadas, tem promovido ações voltadas ao desenvolvimento da inovação no Amazonas.

Esses estímulos são operacionalizados por meio de fóruns, eventos, programas e principalmente

por meio de editais.

Um importante mecanismo de apoio à inovação no Amazonas são os editais de subvenção

econômica, que apesar de terem origem no governo federal, tem tido o apoio de órgãos do estado

por meio da operacionalização e aporte financeiro de parte dos recursos. Nesses editais, empresas

de diversos segmentos podem submeter suas propostas. Apesar de não serem direcionados

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inteiramente para as empresas que fazem uso intensivo de recursos da biodiversidade, observa-se

que a maior demanda dos projetos tem surgido a partir das empresas de alimentos e bebidas,

biotecnologia, e fitocosméticos e fitoterápicos, conforme será demonstrado a seguir.

Quando são avaliadas as demandas pelo apoio à inovação nesses segmentos, mensuradas

aqui pela procura aos editais Pappe lançados em 2004 e 2008, e o Pappe Integração, lançado em

2011, percebe-se que os segmentos de alimentos & bebidas, TI e fitoterápicos & fitocosméticos

são os que mais demandam recursos e os que mais submetem propostas de projeto ao edital.

De acordo com o Relatório de Atividades da FAPEAM (2010), e o levantamento feito das

demandas empresarias expressas por meio da submissão de projetos ao Pappe integração 2011, as

experiências desenvolvidas na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, voltadas

ao segmento de alimentos & bebidas demonstram o potencial das micro e pequenas empresas

destes setores no que tange à inovação.

Nos Pappes 2004 e 2008, os segmentos de alimentos e bebidas ocuparam a terceira

posição em número de projetos aprovados e a segunda posição em termos de recursos, conforme

demonstra a tabela abaixo:

TABELA 1 - SETOR ECONÔMICO, NÚMERO DE PROJETOS E VALORES

EXECUTADOS PELO PROGRAMA PAPPE (2004) e PAPPE SUBVENÇÃO (2008)

SETOR ECONÔMICO N0.DE PROJETOS VALORES (R$)

Fitoterápicos e cosméticos 11 1.695.328,13

Informática e software 8 1.148.649,66

Alimentos e Bebidas 7 1.266.364,54

Artefatos de couro, palha vime 5 603.968,99

Pesca e psicultura 4 609.561,00

Madeira e Móveis 3 518.611,00

Energia 3 371.916,50

Serviços de ensaios, testes e análises 3 424.382,82

Pólo cerâmico oleiro 2 356.840,23

Turismo ecológico 2 332.018,00

Construção (civil/naval) 2 239.506,44

Indústria de Plásticos 2 295.786,23

Castanha do Brasil 1 154.665,00

Polpas, extratos e concentrados de frutas 1 135.618,12

TOTAL 54 8.153.217,66

Fonte: FAPEAM (2010)

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Em 2011, foi lançado o edital Pappe Integração. De acordo com o Departamento de Análise

de Projetos da FAPEAM – DEAP (2012), a demanda bruta para esse edital foi de 123 projetos

totalizando R$ 29,4 milhões, com valor médio solicitado de R$ 238,7 mil por proposta,

representando 79,5% do valor máximo permitido – equivalente a R$ 300 mil - por proposta.

Foram qualificadas 101 propostas, das quais 48 obtiveram mérito, demandando o total de R$ 12,5

milhões. Especificamente do segmento de alimentos e bebidas foram submetidas 15 propostas

com um valor médio de R$ 160 mil por proposta. Considerando a disposição de R$ 6,7 milhões

no âmbito da parceria, foram contratados 26 projetos, sendo que 22 ficaram sem financiamento.

O quadro abaixo faz um comparativo entre os setores econômicos demandantes, o montante

solicitado por segmento e a quantidade de propostas submetidas pelos 6 setores que mais

submeteram propostas ao referido edital, obedecendo a ordem crescente de propostas:

TABELA 2 - SETOR ECONÔMICO, MONTANTE FINANCEIRO E QUANTIDADE

DE PROPOSTAS DOS SEGMENTOS MAIS DEMANDANTES, SUBMETIDAS AO

EDITAL PAPPE INTEGRAÇÃO (2011)

Fonte: FAPEAM (2012)

A partir das informações dispostas nas duas tabelas, verifica-se que tanto nos editais Pappe

Pesquisador (2004) e Pappe Subvenção (2008), quanto no edital Pappe Integração (2011), o setor

de alimentos & bebidas apresenta um número destacado de projetos submetidos, sendo sete

projetos aprovados nos Pappes 2004 e 2008, ficando na terceira posição se comparado aos demais

segmentos e 15 propostas submetidas ao Pappe 2011, correspondendo à primeira posição.

SETOR ECONÔMICO MONTANTE

FINANCEIRO (R$ 103)

QUANTIDADE DE

PROPOSTAS

Alimentos e bebidas 2.391,2 15

Fitocosméticos e Fitoterápicos 1.342, 5 8

Tecnologia da Informação 1.265,4 8

Produtos madeireiros e não-

madeireiros 1.146,4 7

Biotecnologia 786,9 6

Pólo Naval 196,1 1

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Para o estado do Amazonas, o fortalecimento de uma economia baseada no potencial da

biodiversidade Amazônica pode ser um caminho alternativo e/ou complementar ao modelo Zona

Franca, que poderá trazer uma maior fixação de recursos na própria região. O desenvolvimento

de um modelo econômico baseado na utilização de recursos endógenos permitiria ao estado a

organização de cadeias produtivas agregadoras de valor com autonomia decisória em termos de

uso de insumos e governança estatal, além de estimular o protagonismo tecnológico.

Neste estudo, espera-se contribuir para o entendimento dos fatores relacionados à inovação

por meio da investigação do segmento de alimentos & bebidas. A escolha do setor justifica-se

pelo expressivo número de empresas que apresenta na cidade de Manaus. De acordo com a

pesquisa realizada neste trabalho, 41,2% das empresas que atuam nos negócios que se utilizam de

recursos da biodiversidade em seus processos, pertencem ao segmento de alimentos & bebidas.

Outro fator que condicionou a escolha do segmento foi a possibilidade de desenvolver um

cenário que possibilite uma maior reflexão da realidade das empresas de alimentos e bebidas no

que tange à inovação.

2. REVISÃO DA LITERATURA

Nesta seção são apresentados os principais conceitos utilizados no desenvolvimento do

texto, iniciando-se pela distinção entre bioeconomia e bionegócio, e posteriormente avançando

em conceitos correlatos à temática inovação.

2.1 A BIOECONOMIA AMAZÔNICA

De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE,

2006), bioeconomia é “aquela parte das atividades econômicas que capturam valor a partir de

processos biológicos e biorrecursos para produzir saúde, crescimento e desenvolvimento

sustentável”.

A bioeconomia é resultado direto da dinâmica dos bioprodutos, entendidos como produtos

que em sua essência fazem uso de recursos da biodiversidade, que são gerados a partir dos

desdobramentos da biotecnologia moderna. De acordo com Miguel (2007), a biotecnologia

moderna abrange diferentes áreas do conhecimento, incluindo ciências básicas (biologia

molecular, microbiologia, biologia celular, genética, genômica, embriologia,...), ciências

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aplicadas (técnicas imunológicas, químicas e bioquímicas) e áreas tecnológicas (informática,

robótica e controle de processos).

A convergência de alguns fatores como o grande potencial da biodiversidade, programas

governamentais de fomento, crescimento do número de incubadoras, tem concorrido para que a

Amazônia possa se inserir na pauta da ciência e dos negócios da biotecnologia, movimentando,

assim, a bioeconomia.

Segundo Abrantes (2010), o aproveitamento econômico dos produtos naturais será o ponto

de partida para a inserção da economia da Região na matriz de um novo modelo de

desenvolvimento local. O autor também ressalta que o estado do Amazonas ainda é pobre em

termos de tecnologia, especialmente em relação às tecnologias voltadas para a valorização dos

recursos naturais. Além disso, destaca que hoje, no estado do Amazonas, existe uma série de

atividades que fazem uso da biodiversidade Amazônica, porém, com pouco valor agregado.

Portanto, o conceito de bioeconomia, mais relacionado à biotecnologia moderna, apresenta

uma certa limitação para uso na compreensão da realidade local/regional, uma vez que excluiria

grande parte das empresas hoje existentes e que fazem uso dos recursos naturais. É necessária a

apropriação de um conceito mais abrangente, que alcance a amplitude de negócios que se

utilizam da biodiversidade amazônica, incluindo atividades de comercialização e/ou

beneficiamento de produtos mesmo em sua forma menos elaborada, mais rústica, ou concebidos a

partir de técnicas mais tradicionais, com menor intensidade de valor agregado.

2.2 O CONCEITO DE BIONEGÓCIOS

O conceito de bionegócios surge, então, como uma alternativa para contribuir na análise

dessa realidade menos sofisticada.

A maioria dos produtos que se utilizam da biodiversidade amazônica atualmente fabricados

na Amazônia brasileira possui baixa densidade tecnológica como frutos in natura - ou apenas

secos e descascados - e óleo vegetal (sem purificação). Segundo Vasconcellos e Frickman (2007),

produtos com um nível médio de pré-processamento são secos, moídos, triturados, ou

transformados em polpas, extratos ou óleos vegetais e/ou essenciais, algumas vezes purificados.

Outros são transformados diretamente em produtos como sabonetes e shampoos. Poucos

conseguem se transformar em um produto acabado de alto valor tecnológico agregado.

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Na discussão de um conceito para esse propósito, Araújo Filho (2010) propõe que

“bionegócios sejam entendidos como atividades com fins econômicos, desenvolvidas por

empresas, que tenham como principal característica o uso intensivo – e, portanto, significativa

dependência – de insumos da biodiversidade”. Dentro desse contexto, propõe um quadro para a

caracterização dos diferentes tipos de bionegócios, segundo o grau de tecnologia usado no

processamento destes produtos, aqui reproduzido no Quadro 1:

Quadro 1 - Caracterização de diferentes tipos de Bionegócios

Fonte: Araújo Filho (2010)

De acordo com o Quadro 1, entende-se que os bionegócios possuem uma grande

heterogeneidade em relação ao nível de tecnologia assumido pelos seus processos de

manufatura/beneficiamento, quando existem, implicando em diferentes graus de valor agregado

aos seus produtos finais.

Com base no conceito de bionegócios discutido anteriormente, pode-se entender que

bionegócios são: “atividades econômicas voltadas à extração, beneficiamento e comercialização

de insumos ou produtos que apresentem na sua composição recursos da biodiversidade que

condicionem o valor agregado do produto, sejam eles na sua forma mais bruta ou

tecnologicamente modificada”. Essa reflexão sobre o conceito de bionegócios detalha um pouco

mais a abordagem anteriormente mencionada, uma vez que deixa claro o fato do termo

TIPOLOGIA DE

BIONEGÓCIOS

CARACTERÍSTICAS

GRUPO I

Uso da biodiversidade no estado in natura ou submetida a processos de beneficiamento

simples, centrados em características mecânicas (cortar, polir, lixar, pintar, secar etc.); inclui

atividades com uso econômico do valor “cultural” da biodiversidade.

São exemplos de bionegócios classificáveis neste Grupo a comercialização de frutos e peixes

frescos, folhas, raízes, cascas, flores, artefatos com ênfase estética ou decorativa, moda,

turismo.

GRUPO II

Produtos que utilizam processos baseados em conhecimento consagrado, com domínio

disseminado (extração, concentração, filtração, destilação, separação etc.), que podem

demandar o uso de boas práticas (nas etapas de coleta, manuseio ou conservação, por exemplo).

Neste Grupo incluem-se produtos como bebidas, concentrados, doces, polpas, pós.

GRUPO III

Abrange processos químicos e/ou biológicos de maior complexidade, cuja demanda por

conhecimento especializado implica em aumento de risco técnico; o desenvolvimento do

produto exige testes ou ensaios. Alcança matérias-primas e produtos de perfumaria, cosméticos,

fitoterápicos e fitocosméticos, bioenergia, reprodução de plantas, alimentos industrializados.

GRUPO IV

A classificação neste Grupo é assegurada pelo uso de processos associados à chamada

biotecnologia moderna, que tem como base a biologia molecular e a engenharia genética (ainda

que outras características do bionegócio aqui classificado possam estar descritas nos demais

Grupos). Organismos geneticamente modificados, microorganismos industrializados e

alimentos funcionais são exemplos de produtos deste Grupo.

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bionegócios envolver empresas que executam desde atividades mais rústicas, como, por exemplo,

empresas que comercializam produtos extraídos diretamente da natureza, sem qualquer

beneficiamento, até empresas que transformam seus produtos por meio de processos mais

elaborados. Além disso deixa claro a necessidade do uso dos recursos da biodiversidade, como

essenciais para gerar valor ao produto, excluindo dessa forma, empresas que utilizam esses

recursos de forma que não agregue valor ao produto acabado. Considera-se o conceito de

bionegócios de suma importância neste estudo, uma vez que por meio da sua utilização torna-se

possível construir uma visão mais adequada da realidade regional.

2.3 O SEGMENTO DE ALIMENTOS E BEBIDAS NO ESTADO DO AMAZONAS.

Com o objetivo de avaliar a dinâmica da inovação em bionegócios amazônicos,

considerando o conceito discutido neste estudo, foi feito um levantamento geral junto aos órgãos

cadastrais do estado do Amazonas, secretarias de estado, instituições de classe e incubadoras de

empresas, na tentativa de reunir o público de empresas industriais na cidade de Manaus, que se

enquadrassem no conceito de bionegócios, e a partir daí fazer uma estratificação, para que, assim,

se chegasse a segmentos específicos de análise. As fontes desta busca foram: Seplan - Secretaria

de Estado de Planejamento e Desenvolvimento Econômico; Secti - Secretaria de Estado de

Ciência e Tecnologia e Inovação; Sebrae/Am - Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena

Empresa; Fieam - Federação das Indústrias do Estado do Amazonas; Cide - Centro de Incubação

e Desenvolvimento Empresarial e Ufam - Universidade Federal do Amazonas.

Os órgãos mencionados disponibilizaram seus bancos de dados com um universo de

organizações de diversos segmentos com os quais interagiam ou possuíam algum tipo de

vinculação institucional. Na condução do objeto de pesquisa do qual este texto deriva, para

facilitar o entendimento da dinâmica dos bionegócios no estado do Amazonas optou-se por

dividir este universo de organizações em cinco segmentos: Alimentos & bebidas; Artesanato

regional; Madeira, móveis e artefatos; Fitoterápicos e fitocosméticos e Polo cerâmico.

Após a organização, seleção e classificação das informações acessadas, limitadas às

empresas localizadas em Manaus, o resultado agregado está apresentado no Gráfico 1. Neste

caso, percebe-se a participação destacada do segmento de Alimentos & bebidas (41,2%), quando

comparada aos segmentos de Madeira, móveis e artefatos (22,6%), Artesanato regional (22,2%),

Fitoterápicos e fitocosméticos (8%) e Polo cerâmico (6%).

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41.20%

22.20%

22.60%

8%6%

Alimentos e Bebidas

Artesanato Regional

Madeiras, Móveis e Artefatos

Fitocosméticos e Fitoterápicos

Pólo Cerâmico

Gráfico 1:Distribuição dos Bionegócios na cidade de Manaus

Fonte: Elaboração própria, a partir das informações acessadas

A escolha do segmento, então, justificou-se pelo grande percentual de empresas que o

compõem, correspondente a 41,2% dos chamados bionegócios instalados em Manaus. Além

disso, não foram identificadas abordagens na literatura especializada que retratem a dinâmica

dessas empresas, no que tange à inovação. O setor despertou interesse também pela significativa

procura a editais de fomento à inovação, conforme descrito na introdução deste texto.

2.4 INOVAÇÃO: CONCEITO, TIPOLOGIAS E FOCO

Entender o conceito de inovação torna-se fundamental para que se possa fazer uma análise

mais profunda dos aspectos relacionados à tecnologia e inovação em organizações que fazem uso

de elementos da biodiversidade amazônica.

Apesar da ampla diversidade de conceitos para inovação, optou-se por utilizar aquele que é

considerado o mais amplamente difundido, proposto pelo Manual de Oslo (OCDE, 2005, p.55),

no qual inovação “é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou

significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método organizacional nas práticas

de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas”

Ainda segundo o Manual de Oslo (OCDE, 2005), existem quatro tipos básicos de

inovações: de produto, de processo, de marketing e organizacional.

Inovações de produto e de processo são os dois tipos exclusivamente abordados na pesquisa

de campo, considerando a sua relação direta com a dimensão tecnológica da inovação,

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Uma inovação de produto caracteriza-se pela introdução de um bem ou serviço novo ou

significativamente melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos. Incluem-

se nesse tipo de inovação: produtos novos no mercado, melhoramentos significativos em

especificações técnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidades de uso e

demais características funcionais (OCDE, 2005).

Considera-se inovação de processo a implementação de um método de produção ou

distribuição novo ou significativamente melhorado. Incluem-se entre as inovações de processo:

introdução de equipamentos novos ou substancialmente melhorados, necessários ao processo

produtivo, implementação de design auxiliado por computador para o desenvolvimento de

produto, implementação de tecnologias da informação e implantação de novos canais de

distribuição (OCDE, 2005).

2.5 HABILITADORES DA INOVAÇÃO

Este eixo tem por objetivo discutir os fatores que devem estar articulados para que o

processo de inovação nas empresas ocorra de maneira fluida. Sabe-se que o processo de inovação

é algo complexo e que a inovação sistemática não resulta de esforços isolados, mas sim a partir

de um processo integrado de recursos, informações e pessoas.

2.5.1 AS ATIVIDADES DE INOVAÇÃO

As informações relacionadas à inovação nos permitem avaliar o comportamento das

empresas no que tange à atividade inovativa e avaliar o ambiente inovativo. Se bem analisadas, as

informações podem fornecer dados sobre os tipos de inovações implementadas pelas empresas, as

fontes de inovação (externas ou internas), as interações da empresa com instituições de ciência e

tecnologia, a prática de inovação colaborativa (OCDE, 2005). Para isso, é necessário o esforço de

levar em conta uma série de fatores, tais como:

Aquisição de máquinas, equipamentos e outros bens de capital;

Despesas com atividades de P&D;

Aquisição de conhecimentos externos;

Bases de conhecimento internas da organização; e

Proximidade com instituições de ciência, tecnologia e inovação.

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A inovação tornou-se um requisito vital para todas as organizações, sejam estas de

pequeno, médio ou grande porte, em qualquer setor de atuação. Em um mercado cada vez mais

competitivo, ausência ou baixa capacidade de inovar, segundo a percepção dos consumidores,

tem sido motivo para o encerramento de atividades de muitas empresas.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta seção aborda os procedimentos metodológicos utilizados para o desenvolvimento do

trabalho e cujo objeto de estudo é a dinâmica da inovação no segmento de Alimentos & bebidas.

Natureza da pesquisa

Este trabalho recorreu à pesquisa bibliográfica e à pesquisa de campo. Segundo Marconi e

Lakatos (2001), a pesquisa bibliográfica é necessária para analisar as argumentações de diversos

autores, interpretação das obras existentes e ordenamento do próprio pensamento. Já a pesquisa

de campo teve como objetivo imediato analisar, catalogar, classificar, explicar e interpretar os

fenômenos que foram observados e os dados que foram levantados.

Forma da Pesquisa

Quanto à forma, esta pesquisa pode ser considerada como quali-quantitativa que, segundo

Gomes e Araújo (2005), é o tipo de pesquisa mais indicado quando se trata de abordar assuntos

relacionados à gestão das organizações. A pesquisa quali-quantitativa justifica a sua escolha na

medida em que qualifica e quantifica a realidade das empresas dos segmentos propostos, para

explicar um determinado fenômeno.

Objetivo da Pesquisa

Quanto ao objetivo, o trabalho enquadra-se como pesquisa exploratória, em que foi

utilizada uma investigação para tentar entender a dinâmica da inovação tecnológica nas

organizações do segmento proposto.

Procedimentos Técnicos

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Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi adotada a técnica de Observação Direta

Intensiva, por meio da entrevista estruturada. A entrevista estruturada é uma conversação

efetuada face a face de maneira metódica. Proporciona ao entrevistador, verbalmente, a

informação necessária. Para tanto, foi desenvolvido um questionário para a avaliação do nível de

inovação tecnológica, aplicado junto aos respondentes (gestores das empresas) por meio de

entrevista direta.

População

O universo de pesquisa envolveu as empresas industriais do segmento de Alimentos &

bebidas do estado do Amazonas, localizadas em Manaus, excluindo-se as organizações sem fins

lucrativos. De acordo com o levantamento feito por este estudo, e após algumas delimitações que

tiveram como critérios o modelo de organização e a localização das empresas, chegou-se a um

universo de 30 organizações industriais para o segmento de Alimentos & bebidas.

Sabe-se que a amostra constitui uma porção ou parcela convenientemente selecionada do

universo. Para a seleção da amostra a ser avaliada foi utilizado como critério a amostragem

intencional. Segundo Marconi e Lakatos (2001), a amostragem intencional procura privilegiar o

conteúdo da informação, selecionando casos particulares que contribuam para esclarecer as

questões-chave da investigação No caso desta pesquisa, foram selecionadas empresas –

residentes ou não - ligadas a incubadoras de empresas da cidade de Manaus. Por se tratar de

ambientes amplamente reconhecidos como propulsores da inovação, surgiu o interesse em

pesquisar as organizações de Alimentos & bebidas nesse ambiente. O levantamento realizado em

todas as incubadoras da cidade apontou a existência de sete empresas de alimentos & bebidas,

sendo que quatro delas concentradas em uma incubadora, duas empresas em uma segunda

incubadora, na modalidade de empresas não-residentes, e uma última empresa localizada em uma

terceira incubadora. As demais incubadoras não possuem empresas do segmento.

4. RESULTADOS DA PESQUISA

Conforme explicado na seção anterior, este estudo foi realizado a partir de entrevistas

diretas com gestores de sete empresas do segmento de Alimentos & bebidas ligadas a

incubadoras de empresas localizadas na cidade de Manaus. O levantamento inicial do

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quantitativo de micro e pequenas empresas que fazem uso dos recursos da biodiversidade no

Amazonas foi determinante para a seleção do segmento econômico a ser estudado. A interseção

de um segmento importante com empresas com maior potencial para inovar trazem a expectativa

de que os resultados e conclusões do estudo possam oferecer maior contribuição ao

desenvolvimento futuro do bionegócio.

O questionário utilizado na pesquisa foi dividido em quatro eixos principais: Habilitadores

da inovação; Recursos para a inovação; Parcerias estratégicas para a inovação e Inovações em

produtos e processos.

Em relação ao 10 eixo de perguntas (Habilitadores da inovação), foram encontrados os

resultados descritos a seguir.

Conforme demonstra o Gráfico 2, todas as empresas pesquisadas alegam possuir atividades

de P&D. Das sete empresas avaliadas, quatro desenvolvem atividades de P&D, tanto dentro

quanto fora da empresa; uma empresa desenvolve suas atividades de P&D apenas internamente e

uma apenas fora da empresa. Apesar de quatro das sete empresas pesquisadas desenvolverem

atividades de P&D dentro e fora da organização, as atividades desenvolvidas internamente são,

em sua grande maioria, atividades de pesquisa básica, enquanto que as atividades desenvolvidas

externamente concentram-se em engenharia e desenvolvimento de produtos.

1

24

Apenas dentro da empresa

Apenas fora da empresa

Parte dentro/Parte fora da empresa

Gráfico 2 – Local de desenvolvimento das atividades de P&D das empresas.

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo

De acordo com o Gráfico 3, todas as empresas pesquisadas informaram possuir pessoal

qualificado para inovar. Quando se verifica o número de mestres, doutores e técnicos nessas

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empresas, porém, conclui-se que 73,9% dos funcionários são de técnicos de nível médio que, em

tese, possuem competência técnica limitada para desenvolver inovações radicais.

Gráfico 3 – Qualificação técnica dos profissionais considerados aptos a inovar

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo

De acordo com o Gráfico 4, das sete empresas pesquisadas, cinco contam com o apoio de

consultorias técnicas para o desenvolvimento de produtos e aperfeiçoamento de processos. O

apoio financeiro para essas atividades ocorre por meio de projetos conjuntos, editais de

subvenção e contratação direta de serviços. Em relação às duas empresas que não recebem o

apoio de consultorias técnicas, alegam já possuir grande experiência no segmento de atuação,

bem como não encontrarem, localmente, pessoas com a expertise apropriada.

5

4

1 2 3 4 5

Consultoria técnica

Consultoria gerencial

Compra de softwares externos

Gráfico 4 – Número de empresas segundo os tipos de investimento financeiro em P&D

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo

17

1

5

Técnicos

Mestres

Doutores

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Também no Gráfico 4, percebe-se que quatro empresas recebem o apoio de consultorias na

área gerencial, o que é compreensível tendo em vista o fato dessas organizações apresentarem

uma estrutura muito enxuta. Duas delas recebem consultorias na área gerencial que estão

relacionadas a treinamento e capacitação administrativa.

Após a aplicação dos questionários, em relação ao 20 eixo de perguntas (Recursos para a

inovação), chegou-se às informações descritas nos parágrafos que seguem.

O Gráfico 5 apresenta a origem dos recursos utilizados em inovação, em que é possível

perceber que cinco das sete empresas se utilizam de recursos de fundações e recursos próprios

para inovar, um indicador de capacidade de acessar, por meio de projetos, recursos

eventualmente disponibilizados. Também surpreende o fato de uma das empresas afirmar não

utilizar recursos próprios em inovação.

1

2

3

4

5

6

7

Bancos

Fundações

Rec.Próprios

Gráfico 5 – Origem dos recursos aplicados em inovação

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo

A fundação mais citada como ofertante de recursos para a inovação, de acordo com a

pesquisa, foi a Fapeam – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, que tem

proporcionado recursos por meio de subvenção econômica para empresas que têm interesse em

inovar.

De acordo com o que apresenta o Gráfico 6, da amostra pesquisada, quatro empresas

concorreram a editais de fomento uma única vez – no desdobramento de dados, identifica-se que

isto ocorreu em 2012 para todas –, duas empresas concorrem frequentemente a esses editais e

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uma empresa não tem interesse em concorrer, tendo alegado que o caminho percorrido para a

obtenção dos recursos é muito burocrático.

Gráfico 6 – Frequência com que as empresas concorrem a editais de fomento

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo

Entende-se que a baixa frequência na submissão das propostas deve-se, em parte, à falta de

conhecimento desses programas pelos empresários e, também, pelo fato das empresas serem

novas no mercado, fatos que puderam ser comprovados por meio da análise do questionário

respondido pelas empresas. Porém, a aprovação de propostas de quatro empresas que

submeteram projetos pela primeira vez demonstra o grande diferencial que estas organizações

podem apresentar, no que tange ao acesso a recursos para a inovação.

Em relação ao 30 eixo (Parcerias estratégicas para inovar), o Gráfico 7 expõe as formas de

interação encontradas entre as empresas pesquisadas e as instituições de C&T (ICT´s).

1

2

3

4

5

6

7Utilização delaboratórios/equipamentos

Projetos conjuntos

Contratação de serviços

Não há

Gráfico 7 – Formas de interação entre empresas e ICT´s

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo

1

2

3

4

5

6

7

1 Vez

Frequentemente

Não concorre

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No que tange à forma como essas empresas se relacionam com ICT´s, percebe-se que, com

exceção de uma empresa, as demais interagem de alguma forma com as instituições de ciência,

tecnologia e inovação. No que diz respeito à forma com que essa interação se dá, cinco das

empresas interagem por meio de projetos conjuntos. Das empresas pesquisadas, duas interagem

por meio da contratação de serviços específicos que são realizados tanto na instituição, quanto na

própria empresa, quando há estrutura para tal.

Em relação ao 40 e último eixo (Inovações em produtos e processos), o Gráfico 8 retrata

que apesar das empresas não apresentarem inovações radicais, apresentam inovações

incrementais.

Gráfico 8 – Inovações em Produtos e Processos

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo

Em relação às empresas pesquisadas, cinco apresentam inovações incrementais em seus

produtos e dessas cinco, duas apresentaram também inovações incrementais em seus processos de

produção. Duas empresas não apresentaram inovação nem em produto e nem em processo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi objetivo desse artigo tentar compreender o comportamento de algumas empresas do

segmento de Alimentos & bebidas no que tange à inovação, a partir da investigação das suas

práticas, com base na realização de entrevistas.

Em geral, as sete empresas pesquisadas apresentam alguns elementos característicos de

empresas inovadoras. Mas embora considerando que todas as empresas estão associadas a

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incubadoras, e que delas poderia ser esperado um comportamento mais homogêneo na busca da

inovação, foi possível observar que os elementos que caracterizam a inovação se manifestam de

forma mais intensa em algumas empresas do que em outras.

Por meio do estudo dos questionários respondidos pôde-se concluir que apesar das

empresas pesquisadas não apresentarem inovações radicais em seus produtos/processos, cinco

das empresas apresentam inovações incrementais em produtos, e duas delas apresentam também

inovações em processo.

Se relacionados à tipologia dos bionegócios apresentada no início do texto percebe-se que

os produtos das empresas pesquisadas se enquadram nos grupos II e III. Essa classificação

justifica-se por se tratarem de produtos que utilizam processos baseados em conhecimento

consagrado, com domínio disseminado, como extração, concentração, filtração, destilação e

separação (Grupo II), e também produtos que em seu beneficiamento abrangem processos

químicos e/ou biológicos de maior complexidade, cuja operação exige testes ou ensaios (Grupo

III). Ou seja, mesmo em um grupo de empresas de bionegócios associadas a incubadoras, das

quais a expectativa em relação ao domínio tecnológico seria maior, nenhum produto alcança o

nível máximo da tipologia apresentada no Quadro 1 - Nível IV, no qual os produtos fazem uso da

biotecnologia moderna.

Por meio da análise dos gráficos pôde-se concluir também que o ambiente inovativo para

essas organizações começa a ganhar um pouco mais de robustez, fato evidenciado quando se

observa a articulação da maioria das empresas com ICT’s. Em alguns casos, essa relação parece

ser mais sinérgica, em outros casos nem tanto, porém é importante notar que há uma busca por

essa cooperação.

A preocupação e o interesse das empresas em concorrer a editais de subvenção e o esforço

que tem sido feito para inovar por meio do acesso a fundações e a recursos financeiros revela um

novo cenário para as empresas. Isso sugere que a disponibilidade do recurso, de forma contínua –

como têm sido os Programas PAPPE –, pode estimular o surgimento de novas empresas no

segmento.

A partir dessas constatações podem ser retiradas duas conclusões principais: primeira, o

fato de que para entender essa realidade e contribuir para o seu desenvolvimento realmente é

necessária a utilização de um conceito alternativo para bioeconomia, com propósito próximo ou

equivalente ao conceito de bionegócio aqui explorado; a segunda conclusão diz respeito à

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identificação da existência de “habilitadores da inovação” e “atividades inovativas” no grupo de

empresas examinado que, embora ainda não se possa afirmar que formem um conjunto articulado

e eficaz em cada uma delas, podem servir de base para orientar políticas de incentivo ao

desenvolvimento do segmento de alimentos & bebidas.

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