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A DINAMICA DA INOVAÇÃO EM INDÚSTRIAS DE ALIMENTOS E
BEBIDAS APOIADAS POR INCUBADORAS NO ESTADO DO
AMAZONAS
KLEBER ABREU SOUSA1
GUAJARINO DE ARAÚJO FILHO 2
DIMAS JOSÉ LASMAR3
RESUMO
O artigo trata da dinâmica da inovação nas empresas de alimentos e bebidas inseridas em
incubadoras de empresas localizadas na cidade de Manaus e tem como principais objetivos:
avaliar o perfil das empresas destes segmentos no que tange à inovação, pontuar os mecanismos
impulsionadores do movimento inovativo para o segmento e evidenciar os gargalos e as
dificuldades de acesso à inovação para essas empresas. Dessa forma, tenta entender a realidade
das empresas que integram o segmento de alimentos e bebidas, sob a ótica da inovação no
espectro regional. Quanto aos resultados pôde-se concluir que apesar das empresas pesquisadas,
em sua maioria, não apresentarem inovações radicais com seus produtos/processos, o ambiente
inovativo para essas organizações começa a ganhar robustez e a se delinear. Este fato pode ser
evidenciado quando observa-se a articulação do grupo de empresas pesquisado com instituições
de ciência, tecnologia e inovação. O interesse das empresas em concorrer a editais de subvenção
e o esforço que tem sido feito para inovar por meio do acesso a fundações e pelo investimento de
recursos próprios demonstra o amadurecimento do setor no que tange à inovação.
Palavras - Chave: Inovação, incubadoras, ambiente inovativo
Classificação do Artigo: Artigo completo
1 Kleber Abreu Sousa, mestre em Engenharia de Produção (Ufam), professor da Universidade Federal do Tocantins
(UFT). 2 Guajarino de Araújo Filho, doutor em Engenharia de Produção (UFRJ), coordenador do Núcleo de Estudos e
Pesquisas em Inovação (Nepi), da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi). 3
Dimas José Lasmar, doutor em Engenharia de Produção (UFRJ), professor da Universidade Federal do Amazonas
(UFAM).
THE DYNAMICS OF INNOVATION IN THE FOOD AND BEVERAGE
INDUSTRY SUPPORTED BY THE STATE OF AMAZON INCUBATORS
KLEBER ABREU SOUSA1
GUAJARINO DE ARAUJO FILHO2
DIMAS JOSÉ LASMAR3
ABSTRACT
The article deals with the dynamics of innovation in food and beverage companies entered into
business incubators located in the city of Manaus and its main objectives: to evaluate the profile
of companies in these segments in terms of innovation, scoring mechanisms boosters innovative
movement for segment and highlight the bottlenecks and difficulties of access to innovation for
these companies. Thus, attempts to understand the reality of companies in the food and beverage
segment, from the perspective of regional innovation in the spectrum. As for the results it was
concluded that although companies surveyed, mostly not present radical innovations to their
products / processes, the innovative environment for these organizations begins to gain strength
and to delineate. This is evidenced when we observe the joint group of companies researched in
institutions of science, technology and innovation. The corporate interest in running for grant
notices and effort that has been done to innovate through access to foundations and investment of
own resources demonstrates the maturity of the industry in terms of innovation.
• Key - Words: Innovation, incubators, innovative environment
• Classification of Article: Full Article
1. INTRODUÇÃO
Este texto é um resultado parcial do trabalho de doutorado desenvolvido no Programa de
Pós Graduação em Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas - UFAM.
O artigo trata da dinâmica da inovação nas empresas de alimentos e bebidas localizadas na
cidade de Manaus, abordando diferentes aspectos dentro desse contexto, como os mecanismos
impulsionadores da inovação nas empresas, os gargalos à prática da inovação e as dificuldades de
acesso à inovação, tentando entender essa realidade no segmento de alimentos e bebidas. O
capítulo está dividido em seis seções. Após esta introdução, seguem: revisão da literatura,
procedimentos metodológicos, resultados da pesquisa, conclusões e referenciais bibliográficos.
O segmento de alimentos e bebidas é uma escolha que se embasa em seu potencial
demandante por recursos naturais, refletindo-se na oportunidade do uso econômico sustentável da
biodiversidade da região.
De acordo com Becker (2007), o mercado de produtos que utiliza recursos da
biodiversidade Amazônica mostrou invejável vitalidade por meio de um crescimento a taxas
diferenciadas nas duas últimas décadas do século XX. Segundo a autora, as estimativas sugerem
uma riqueza natural sem paralelo no planeta. De acordo com Matias e Pimentel (2005, p.120)
apud Becker (2007) a floresta amazônica possui uma série de peculiaridades que a distingue das
demais regiões:
Aproximadamente 60 mil espécies de plantas superiores, constatando-se ainda a
existência de muitas outras a serem objeto de prospecção;
300 espécies de mamíferos catalogados;
Duas mil espécies de peixes prospectados e conhecidos; e
Dezenas de milhões de espécies de micro-organismos.
Essa riqueza natural, todavia, não se faz presente quando a análise se dá sob a dimensão
econômica. Por exemplo, indicadores de desempenho do Polo Industrial de Manaus (PIM)
coletados pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa, 2013) mostram que, em
2012, a participação dos principais setores de atividades no faturamento total do Polo se
configura da seguinte forma: produtos eletroeletrônicos, respondendo por 35,39% do
faturamento; setor de duas rodas, com 18,58%; bens de informática, por volta de 11,5%; e o setor
químico, que alcança 13,07%. Contrastando com a realidade destes quatro principais segmentos,
os indicadores da Suframa apontam que os subsetores de bebidas e produtos alimentícios foram
responsáveis por 0,91% e 0,19% do faturamento total, respetivamente. Tomando como base os
dados mencionados, pode-se inferir que mesmo com todas as riquezas naturais que a região
apresenta, quando se analisa a participação dos segmentos econômicos relacionados à
biodiversidade no faturamento do polo industrial observa-se que no atual modelo que dá
sustentação à economia local, esses segmentos não têm uma participação representativa.
Benchimol (2000) chega a considerar esse modelo como eunuco justamente por não utilizar os
recursos naturais da região.
Considerando o interesse coletivo - de políticos, dirigentes, empresários e estudiosos - no
aumento do uso racional dos insumos locais na economia do estado, a maior compreensão da
dinâmica desta realidade torna-se um ponto de apoio importante para a formulação de políticas
públicas de estímulo a produtos de maior valor agregado, nos quais a inovação tem sido
considerada um fator-chave. Por meio da prática contínua de inovar as organizações conseguem
se diferenciar e manter a competitividade.
Particularmente no estado do Amazonas, a inovação em empresas que apresentam em sua
essência a utilização de recursos da biodiversidade é considerada pouco expressiva. Alguns
esforços têm sido feitos para estimular o processo inovativo dessas empresas, mas permanece
uma sensação de que os resultados são tímidos, quando confrontados com as potencialidades do
estado.
No âmbito do governo estadual, desde 2004 tem se estabelecido um conjunto de ações
capitaneadas por diversas instituições locais, que apesar de ainda pulverizadas e de certa forma
desconectadas, tem promovido ações voltadas ao desenvolvimento da inovação no Amazonas.
Esses estímulos são operacionalizados por meio de fóruns, eventos, programas e principalmente
por meio de editais.
Um importante mecanismo de apoio à inovação no Amazonas são os editais de subvenção
econômica, que apesar de terem origem no governo federal, tem tido o apoio de órgãos do estado
por meio da operacionalização e aporte financeiro de parte dos recursos. Nesses editais, empresas
de diversos segmentos podem submeter suas propostas. Apesar de não serem direcionados
inteiramente para as empresas que fazem uso intensivo de recursos da biodiversidade, observa-se
que a maior demanda dos projetos tem surgido a partir das empresas de alimentos e bebidas,
biotecnologia, e fitocosméticos e fitoterápicos, conforme será demonstrado a seguir.
Quando são avaliadas as demandas pelo apoio à inovação nesses segmentos, mensuradas
aqui pela procura aos editais Pappe lançados em 2004 e 2008, e o Pappe Integração, lançado em
2011, percebe-se que os segmentos de alimentos & bebidas, TI e fitoterápicos & fitocosméticos
são os que mais demandam recursos e os que mais submetem propostas de projeto ao edital.
De acordo com o Relatório de Atividades da FAPEAM (2010), e o levantamento feito das
demandas empresarias expressas por meio da submissão de projetos ao Pappe integração 2011, as
experiências desenvolvidas na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, voltadas
ao segmento de alimentos & bebidas demonstram o potencial das micro e pequenas empresas
destes setores no que tange à inovação.
Nos Pappes 2004 e 2008, os segmentos de alimentos e bebidas ocuparam a terceira
posição em número de projetos aprovados e a segunda posição em termos de recursos, conforme
demonstra a tabela abaixo:
TABELA 1 - SETOR ECONÔMICO, NÚMERO DE PROJETOS E VALORES
EXECUTADOS PELO PROGRAMA PAPPE (2004) e PAPPE SUBVENÇÃO (2008)
SETOR ECONÔMICO N0.DE PROJETOS VALORES (R$)
Fitoterápicos e cosméticos 11 1.695.328,13
Informática e software 8 1.148.649,66
Alimentos e Bebidas 7 1.266.364,54
Artefatos de couro, palha vime 5 603.968,99
Pesca e psicultura 4 609.561,00
Madeira e Móveis 3 518.611,00
Energia 3 371.916,50
Serviços de ensaios, testes e análises 3 424.382,82
Pólo cerâmico oleiro 2 356.840,23
Turismo ecológico 2 332.018,00
Construção (civil/naval) 2 239.506,44
Indústria de Plásticos 2 295.786,23
Castanha do Brasil 1 154.665,00
Polpas, extratos e concentrados de frutas 1 135.618,12
TOTAL 54 8.153.217,66
Fonte: FAPEAM (2010)
Em 2011, foi lançado o edital Pappe Integração. De acordo com o Departamento de Análise
de Projetos da FAPEAM – DEAP (2012), a demanda bruta para esse edital foi de 123 projetos
totalizando R$ 29,4 milhões, com valor médio solicitado de R$ 238,7 mil por proposta,
representando 79,5% do valor máximo permitido – equivalente a R$ 300 mil - por proposta.
Foram qualificadas 101 propostas, das quais 48 obtiveram mérito, demandando o total de R$ 12,5
milhões. Especificamente do segmento de alimentos e bebidas foram submetidas 15 propostas
com um valor médio de R$ 160 mil por proposta. Considerando a disposição de R$ 6,7 milhões
no âmbito da parceria, foram contratados 26 projetos, sendo que 22 ficaram sem financiamento.
O quadro abaixo faz um comparativo entre os setores econômicos demandantes, o montante
solicitado por segmento e a quantidade de propostas submetidas pelos 6 setores que mais
submeteram propostas ao referido edital, obedecendo a ordem crescente de propostas:
TABELA 2 - SETOR ECONÔMICO, MONTANTE FINANCEIRO E QUANTIDADE
DE PROPOSTAS DOS SEGMENTOS MAIS DEMANDANTES, SUBMETIDAS AO
EDITAL PAPPE INTEGRAÇÃO (2011)
Fonte: FAPEAM (2012)
A partir das informações dispostas nas duas tabelas, verifica-se que tanto nos editais Pappe
Pesquisador (2004) e Pappe Subvenção (2008), quanto no edital Pappe Integração (2011), o setor
de alimentos & bebidas apresenta um número destacado de projetos submetidos, sendo sete
projetos aprovados nos Pappes 2004 e 2008, ficando na terceira posição se comparado aos demais
segmentos e 15 propostas submetidas ao Pappe 2011, correspondendo à primeira posição.
SETOR ECONÔMICO MONTANTE
FINANCEIRO (R$ 103)
QUANTIDADE DE
PROPOSTAS
Alimentos e bebidas 2.391,2 15
Fitocosméticos e Fitoterápicos 1.342, 5 8
Tecnologia da Informação 1.265,4 8
Produtos madeireiros e não-
madeireiros 1.146,4 7
Biotecnologia 786,9 6
Pólo Naval 196,1 1
Para o estado do Amazonas, o fortalecimento de uma economia baseada no potencial da
biodiversidade Amazônica pode ser um caminho alternativo e/ou complementar ao modelo Zona
Franca, que poderá trazer uma maior fixação de recursos na própria região. O desenvolvimento
de um modelo econômico baseado na utilização de recursos endógenos permitiria ao estado a
organização de cadeias produtivas agregadoras de valor com autonomia decisória em termos de
uso de insumos e governança estatal, além de estimular o protagonismo tecnológico.
Neste estudo, espera-se contribuir para o entendimento dos fatores relacionados à inovação
por meio da investigação do segmento de alimentos & bebidas. A escolha do setor justifica-se
pelo expressivo número de empresas que apresenta na cidade de Manaus. De acordo com a
pesquisa realizada neste trabalho, 41,2% das empresas que atuam nos negócios que se utilizam de
recursos da biodiversidade em seus processos, pertencem ao segmento de alimentos & bebidas.
Outro fator que condicionou a escolha do segmento foi a possibilidade de desenvolver um
cenário que possibilite uma maior reflexão da realidade das empresas de alimentos e bebidas no
que tange à inovação.
2. REVISÃO DA LITERATURA
Nesta seção são apresentados os principais conceitos utilizados no desenvolvimento do
texto, iniciando-se pela distinção entre bioeconomia e bionegócio, e posteriormente avançando
em conceitos correlatos à temática inovação.
2.1 A BIOECONOMIA AMAZÔNICA
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE,
2006), bioeconomia é “aquela parte das atividades econômicas que capturam valor a partir de
processos biológicos e biorrecursos para produzir saúde, crescimento e desenvolvimento
sustentável”.
A bioeconomia é resultado direto da dinâmica dos bioprodutos, entendidos como produtos
que em sua essência fazem uso de recursos da biodiversidade, que são gerados a partir dos
desdobramentos da biotecnologia moderna. De acordo com Miguel (2007), a biotecnologia
moderna abrange diferentes áreas do conhecimento, incluindo ciências básicas (biologia
molecular, microbiologia, biologia celular, genética, genômica, embriologia,...), ciências
aplicadas (técnicas imunológicas, químicas e bioquímicas) e áreas tecnológicas (informática,
robótica e controle de processos).
A convergência de alguns fatores como o grande potencial da biodiversidade, programas
governamentais de fomento, crescimento do número de incubadoras, tem concorrido para que a
Amazônia possa se inserir na pauta da ciência e dos negócios da biotecnologia, movimentando,
assim, a bioeconomia.
Segundo Abrantes (2010), o aproveitamento econômico dos produtos naturais será o ponto
de partida para a inserção da economia da Região na matriz de um novo modelo de
desenvolvimento local. O autor também ressalta que o estado do Amazonas ainda é pobre em
termos de tecnologia, especialmente em relação às tecnologias voltadas para a valorização dos
recursos naturais. Além disso, destaca que hoje, no estado do Amazonas, existe uma série de
atividades que fazem uso da biodiversidade Amazônica, porém, com pouco valor agregado.
Portanto, o conceito de bioeconomia, mais relacionado à biotecnologia moderna, apresenta
uma certa limitação para uso na compreensão da realidade local/regional, uma vez que excluiria
grande parte das empresas hoje existentes e que fazem uso dos recursos naturais. É necessária a
apropriação de um conceito mais abrangente, que alcance a amplitude de negócios que se
utilizam da biodiversidade amazônica, incluindo atividades de comercialização e/ou
beneficiamento de produtos mesmo em sua forma menos elaborada, mais rústica, ou concebidos a
partir de técnicas mais tradicionais, com menor intensidade de valor agregado.
2.2 O CONCEITO DE BIONEGÓCIOS
O conceito de bionegócios surge, então, como uma alternativa para contribuir na análise
dessa realidade menos sofisticada.
A maioria dos produtos que se utilizam da biodiversidade amazônica atualmente fabricados
na Amazônia brasileira possui baixa densidade tecnológica como frutos in natura - ou apenas
secos e descascados - e óleo vegetal (sem purificação). Segundo Vasconcellos e Frickman (2007),
produtos com um nível médio de pré-processamento são secos, moídos, triturados, ou
transformados em polpas, extratos ou óleos vegetais e/ou essenciais, algumas vezes purificados.
Outros são transformados diretamente em produtos como sabonetes e shampoos. Poucos
conseguem se transformar em um produto acabado de alto valor tecnológico agregado.
Na discussão de um conceito para esse propósito, Araújo Filho (2010) propõe que
“bionegócios sejam entendidos como atividades com fins econômicos, desenvolvidas por
empresas, que tenham como principal característica o uso intensivo – e, portanto, significativa
dependência – de insumos da biodiversidade”. Dentro desse contexto, propõe um quadro para a
caracterização dos diferentes tipos de bionegócios, segundo o grau de tecnologia usado no
processamento destes produtos, aqui reproduzido no Quadro 1:
Quadro 1 - Caracterização de diferentes tipos de Bionegócios
Fonte: Araújo Filho (2010)
De acordo com o Quadro 1, entende-se que os bionegócios possuem uma grande
heterogeneidade em relação ao nível de tecnologia assumido pelos seus processos de
manufatura/beneficiamento, quando existem, implicando em diferentes graus de valor agregado
aos seus produtos finais.
Com base no conceito de bionegócios discutido anteriormente, pode-se entender que
bionegócios são: “atividades econômicas voltadas à extração, beneficiamento e comercialização
de insumos ou produtos que apresentem na sua composição recursos da biodiversidade que
condicionem o valor agregado do produto, sejam eles na sua forma mais bruta ou
tecnologicamente modificada”. Essa reflexão sobre o conceito de bionegócios detalha um pouco
mais a abordagem anteriormente mencionada, uma vez que deixa claro o fato do termo
TIPOLOGIA DE
BIONEGÓCIOS
CARACTERÍSTICAS
GRUPO I
Uso da biodiversidade no estado in natura ou submetida a processos de beneficiamento
simples, centrados em características mecânicas (cortar, polir, lixar, pintar, secar etc.); inclui
atividades com uso econômico do valor “cultural” da biodiversidade.
São exemplos de bionegócios classificáveis neste Grupo a comercialização de frutos e peixes
frescos, folhas, raízes, cascas, flores, artefatos com ênfase estética ou decorativa, moda,
turismo.
GRUPO II
Produtos que utilizam processos baseados em conhecimento consagrado, com domínio
disseminado (extração, concentração, filtração, destilação, separação etc.), que podem
demandar o uso de boas práticas (nas etapas de coleta, manuseio ou conservação, por exemplo).
Neste Grupo incluem-se produtos como bebidas, concentrados, doces, polpas, pós.
GRUPO III
Abrange processos químicos e/ou biológicos de maior complexidade, cuja demanda por
conhecimento especializado implica em aumento de risco técnico; o desenvolvimento do
produto exige testes ou ensaios. Alcança matérias-primas e produtos de perfumaria, cosméticos,
fitoterápicos e fitocosméticos, bioenergia, reprodução de plantas, alimentos industrializados.
GRUPO IV
A classificação neste Grupo é assegurada pelo uso de processos associados à chamada
biotecnologia moderna, que tem como base a biologia molecular e a engenharia genética (ainda
que outras características do bionegócio aqui classificado possam estar descritas nos demais
Grupos). Organismos geneticamente modificados, microorganismos industrializados e
alimentos funcionais são exemplos de produtos deste Grupo.
bionegócios envolver empresas que executam desde atividades mais rústicas, como, por exemplo,
empresas que comercializam produtos extraídos diretamente da natureza, sem qualquer
beneficiamento, até empresas que transformam seus produtos por meio de processos mais
elaborados. Além disso deixa claro a necessidade do uso dos recursos da biodiversidade, como
essenciais para gerar valor ao produto, excluindo dessa forma, empresas que utilizam esses
recursos de forma que não agregue valor ao produto acabado. Considera-se o conceito de
bionegócios de suma importância neste estudo, uma vez que por meio da sua utilização torna-se
possível construir uma visão mais adequada da realidade regional.
2.3 O SEGMENTO DE ALIMENTOS E BEBIDAS NO ESTADO DO AMAZONAS.
Com o objetivo de avaliar a dinâmica da inovação em bionegócios amazônicos,
considerando o conceito discutido neste estudo, foi feito um levantamento geral junto aos órgãos
cadastrais do estado do Amazonas, secretarias de estado, instituições de classe e incubadoras de
empresas, na tentativa de reunir o público de empresas industriais na cidade de Manaus, que se
enquadrassem no conceito de bionegócios, e a partir daí fazer uma estratificação, para que, assim,
se chegasse a segmentos específicos de análise. As fontes desta busca foram: Seplan - Secretaria
de Estado de Planejamento e Desenvolvimento Econômico; Secti - Secretaria de Estado de
Ciência e Tecnologia e Inovação; Sebrae/Am - Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena
Empresa; Fieam - Federação das Indústrias do Estado do Amazonas; Cide - Centro de Incubação
e Desenvolvimento Empresarial e Ufam - Universidade Federal do Amazonas.
Os órgãos mencionados disponibilizaram seus bancos de dados com um universo de
organizações de diversos segmentos com os quais interagiam ou possuíam algum tipo de
vinculação institucional. Na condução do objeto de pesquisa do qual este texto deriva, para
facilitar o entendimento da dinâmica dos bionegócios no estado do Amazonas optou-se por
dividir este universo de organizações em cinco segmentos: Alimentos & bebidas; Artesanato
regional; Madeira, móveis e artefatos; Fitoterápicos e fitocosméticos e Polo cerâmico.
Após a organização, seleção e classificação das informações acessadas, limitadas às
empresas localizadas em Manaus, o resultado agregado está apresentado no Gráfico 1. Neste
caso, percebe-se a participação destacada do segmento de Alimentos & bebidas (41,2%), quando
comparada aos segmentos de Madeira, móveis e artefatos (22,6%), Artesanato regional (22,2%),
Fitoterápicos e fitocosméticos (8%) e Polo cerâmico (6%).
41.20%
22.20%
22.60%
8%6%
Alimentos e Bebidas
Artesanato Regional
Madeiras, Móveis e Artefatos
Fitocosméticos e Fitoterápicos
Pólo Cerâmico
Gráfico 1:Distribuição dos Bionegócios na cidade de Manaus
Fonte: Elaboração própria, a partir das informações acessadas
A escolha do segmento, então, justificou-se pelo grande percentual de empresas que o
compõem, correspondente a 41,2% dos chamados bionegócios instalados em Manaus. Além
disso, não foram identificadas abordagens na literatura especializada que retratem a dinâmica
dessas empresas, no que tange à inovação. O setor despertou interesse também pela significativa
procura a editais de fomento à inovação, conforme descrito na introdução deste texto.
2.4 INOVAÇÃO: CONCEITO, TIPOLOGIAS E FOCO
Entender o conceito de inovação torna-se fundamental para que se possa fazer uma análise
mais profunda dos aspectos relacionados à tecnologia e inovação em organizações que fazem uso
de elementos da biodiversidade amazônica.
Apesar da ampla diversidade de conceitos para inovação, optou-se por utilizar aquele que é
considerado o mais amplamente difundido, proposto pelo Manual de Oslo (OCDE, 2005, p.55),
no qual inovação “é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou
significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método organizacional nas práticas
de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas”
Ainda segundo o Manual de Oslo (OCDE, 2005), existem quatro tipos básicos de
inovações: de produto, de processo, de marketing e organizacional.
Inovações de produto e de processo são os dois tipos exclusivamente abordados na pesquisa
de campo, considerando a sua relação direta com a dimensão tecnológica da inovação,
Uma inovação de produto caracteriza-se pela introdução de um bem ou serviço novo ou
significativamente melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos. Incluem-
se nesse tipo de inovação: produtos novos no mercado, melhoramentos significativos em
especificações técnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidades de uso e
demais características funcionais (OCDE, 2005).
Considera-se inovação de processo a implementação de um método de produção ou
distribuição novo ou significativamente melhorado. Incluem-se entre as inovações de processo:
introdução de equipamentos novos ou substancialmente melhorados, necessários ao processo
produtivo, implementação de design auxiliado por computador para o desenvolvimento de
produto, implementação de tecnologias da informação e implantação de novos canais de
distribuição (OCDE, 2005).
2.5 HABILITADORES DA INOVAÇÃO
Este eixo tem por objetivo discutir os fatores que devem estar articulados para que o
processo de inovação nas empresas ocorra de maneira fluida. Sabe-se que o processo de inovação
é algo complexo e que a inovação sistemática não resulta de esforços isolados, mas sim a partir
de um processo integrado de recursos, informações e pessoas.
2.5.1 AS ATIVIDADES DE INOVAÇÃO
As informações relacionadas à inovação nos permitem avaliar o comportamento das
empresas no que tange à atividade inovativa e avaliar o ambiente inovativo. Se bem analisadas, as
informações podem fornecer dados sobre os tipos de inovações implementadas pelas empresas, as
fontes de inovação (externas ou internas), as interações da empresa com instituições de ciência e
tecnologia, a prática de inovação colaborativa (OCDE, 2005). Para isso, é necessário o esforço de
levar em conta uma série de fatores, tais como:
Aquisição de máquinas, equipamentos e outros bens de capital;
Despesas com atividades de P&D;
Aquisição de conhecimentos externos;
Bases de conhecimento internas da organização; e
Proximidade com instituições de ciência, tecnologia e inovação.
A inovação tornou-se um requisito vital para todas as organizações, sejam estas de
pequeno, médio ou grande porte, em qualquer setor de atuação. Em um mercado cada vez mais
competitivo, ausência ou baixa capacidade de inovar, segundo a percepção dos consumidores,
tem sido motivo para o encerramento de atividades de muitas empresas.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta seção aborda os procedimentos metodológicos utilizados para o desenvolvimento do
trabalho e cujo objeto de estudo é a dinâmica da inovação no segmento de Alimentos & bebidas.
Natureza da pesquisa
Este trabalho recorreu à pesquisa bibliográfica e à pesquisa de campo. Segundo Marconi e
Lakatos (2001), a pesquisa bibliográfica é necessária para analisar as argumentações de diversos
autores, interpretação das obras existentes e ordenamento do próprio pensamento. Já a pesquisa
de campo teve como objetivo imediato analisar, catalogar, classificar, explicar e interpretar os
fenômenos que foram observados e os dados que foram levantados.
Forma da Pesquisa
Quanto à forma, esta pesquisa pode ser considerada como quali-quantitativa que, segundo
Gomes e Araújo (2005), é o tipo de pesquisa mais indicado quando se trata de abordar assuntos
relacionados à gestão das organizações. A pesquisa quali-quantitativa justifica a sua escolha na
medida em que qualifica e quantifica a realidade das empresas dos segmentos propostos, para
explicar um determinado fenômeno.
Objetivo da Pesquisa
Quanto ao objetivo, o trabalho enquadra-se como pesquisa exploratória, em que foi
utilizada uma investigação para tentar entender a dinâmica da inovação tecnológica nas
organizações do segmento proposto.
Procedimentos Técnicos
Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi adotada a técnica de Observação Direta
Intensiva, por meio da entrevista estruturada. A entrevista estruturada é uma conversação
efetuada face a face de maneira metódica. Proporciona ao entrevistador, verbalmente, a
informação necessária. Para tanto, foi desenvolvido um questionário para a avaliação do nível de
inovação tecnológica, aplicado junto aos respondentes (gestores das empresas) por meio de
entrevista direta.
População
O universo de pesquisa envolveu as empresas industriais do segmento de Alimentos &
bebidas do estado do Amazonas, localizadas em Manaus, excluindo-se as organizações sem fins
lucrativos. De acordo com o levantamento feito por este estudo, e após algumas delimitações que
tiveram como critérios o modelo de organização e a localização das empresas, chegou-se a um
universo de 30 organizações industriais para o segmento de Alimentos & bebidas.
Sabe-se que a amostra constitui uma porção ou parcela convenientemente selecionada do
universo. Para a seleção da amostra a ser avaliada foi utilizado como critério a amostragem
intencional. Segundo Marconi e Lakatos (2001), a amostragem intencional procura privilegiar o
conteúdo da informação, selecionando casos particulares que contribuam para esclarecer as
questões-chave da investigação No caso desta pesquisa, foram selecionadas empresas –
residentes ou não - ligadas a incubadoras de empresas da cidade de Manaus. Por se tratar de
ambientes amplamente reconhecidos como propulsores da inovação, surgiu o interesse em
pesquisar as organizações de Alimentos & bebidas nesse ambiente. O levantamento realizado em
todas as incubadoras da cidade apontou a existência de sete empresas de alimentos & bebidas,
sendo que quatro delas concentradas em uma incubadora, duas empresas em uma segunda
incubadora, na modalidade de empresas não-residentes, e uma última empresa localizada em uma
terceira incubadora. As demais incubadoras não possuem empresas do segmento.
4. RESULTADOS DA PESQUISA
Conforme explicado na seção anterior, este estudo foi realizado a partir de entrevistas
diretas com gestores de sete empresas do segmento de Alimentos & bebidas ligadas a
incubadoras de empresas localizadas na cidade de Manaus. O levantamento inicial do
quantitativo de micro e pequenas empresas que fazem uso dos recursos da biodiversidade no
Amazonas foi determinante para a seleção do segmento econômico a ser estudado. A interseção
de um segmento importante com empresas com maior potencial para inovar trazem a expectativa
de que os resultados e conclusões do estudo possam oferecer maior contribuição ao
desenvolvimento futuro do bionegócio.
O questionário utilizado na pesquisa foi dividido em quatro eixos principais: Habilitadores
da inovação; Recursos para a inovação; Parcerias estratégicas para a inovação e Inovações em
produtos e processos.
Em relação ao 10 eixo de perguntas (Habilitadores da inovação), foram encontrados os
resultados descritos a seguir.
Conforme demonstra o Gráfico 2, todas as empresas pesquisadas alegam possuir atividades
de P&D. Das sete empresas avaliadas, quatro desenvolvem atividades de P&D, tanto dentro
quanto fora da empresa; uma empresa desenvolve suas atividades de P&D apenas internamente e
uma apenas fora da empresa. Apesar de quatro das sete empresas pesquisadas desenvolverem
atividades de P&D dentro e fora da organização, as atividades desenvolvidas internamente são,
em sua grande maioria, atividades de pesquisa básica, enquanto que as atividades desenvolvidas
externamente concentram-se em engenharia e desenvolvimento de produtos.
1
24
Apenas dentro da empresa
Apenas fora da empresa
Parte dentro/Parte fora da empresa
Gráfico 2 – Local de desenvolvimento das atividades de P&D das empresas.
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo
De acordo com o Gráfico 3, todas as empresas pesquisadas informaram possuir pessoal
qualificado para inovar. Quando se verifica o número de mestres, doutores e técnicos nessas
empresas, porém, conclui-se que 73,9% dos funcionários são de técnicos de nível médio que, em
tese, possuem competência técnica limitada para desenvolver inovações radicais.
Gráfico 3 – Qualificação técnica dos profissionais considerados aptos a inovar
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo
De acordo com o Gráfico 4, das sete empresas pesquisadas, cinco contam com o apoio de
consultorias técnicas para o desenvolvimento de produtos e aperfeiçoamento de processos. O
apoio financeiro para essas atividades ocorre por meio de projetos conjuntos, editais de
subvenção e contratação direta de serviços. Em relação às duas empresas que não recebem o
apoio de consultorias técnicas, alegam já possuir grande experiência no segmento de atuação,
bem como não encontrarem, localmente, pessoas com a expertise apropriada.
5
4
1 2 3 4 5
Consultoria técnica
Consultoria gerencial
Compra de softwares externos
Gráfico 4 – Número de empresas segundo os tipos de investimento financeiro em P&D
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo
17
1
5
Técnicos
Mestres
Doutores
Também no Gráfico 4, percebe-se que quatro empresas recebem o apoio de consultorias na
área gerencial, o que é compreensível tendo em vista o fato dessas organizações apresentarem
uma estrutura muito enxuta. Duas delas recebem consultorias na área gerencial que estão
relacionadas a treinamento e capacitação administrativa.
Após a aplicação dos questionários, em relação ao 20 eixo de perguntas (Recursos para a
inovação), chegou-se às informações descritas nos parágrafos que seguem.
O Gráfico 5 apresenta a origem dos recursos utilizados em inovação, em que é possível
perceber que cinco das sete empresas se utilizam de recursos de fundações e recursos próprios
para inovar, um indicador de capacidade de acessar, por meio de projetos, recursos
eventualmente disponibilizados. Também surpreende o fato de uma das empresas afirmar não
utilizar recursos próprios em inovação.
1
2
3
4
5
6
7
Bancos
Fundações
Rec.Próprios
Gráfico 5 – Origem dos recursos aplicados em inovação
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo
A fundação mais citada como ofertante de recursos para a inovação, de acordo com a
pesquisa, foi a Fapeam – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, que tem
proporcionado recursos por meio de subvenção econômica para empresas que têm interesse em
inovar.
De acordo com o que apresenta o Gráfico 6, da amostra pesquisada, quatro empresas
concorreram a editais de fomento uma única vez – no desdobramento de dados, identifica-se que
isto ocorreu em 2012 para todas –, duas empresas concorrem frequentemente a esses editais e
uma empresa não tem interesse em concorrer, tendo alegado que o caminho percorrido para a
obtenção dos recursos é muito burocrático.
Gráfico 6 – Frequência com que as empresas concorrem a editais de fomento
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo
Entende-se que a baixa frequência na submissão das propostas deve-se, em parte, à falta de
conhecimento desses programas pelos empresários e, também, pelo fato das empresas serem
novas no mercado, fatos que puderam ser comprovados por meio da análise do questionário
respondido pelas empresas. Porém, a aprovação de propostas de quatro empresas que
submeteram projetos pela primeira vez demonstra o grande diferencial que estas organizações
podem apresentar, no que tange ao acesso a recursos para a inovação.
Em relação ao 30 eixo (Parcerias estratégicas para inovar), o Gráfico 7 expõe as formas de
interação encontradas entre as empresas pesquisadas e as instituições de C&T (ICT´s).
1
2
3
4
5
6
7Utilização delaboratórios/equipamentos
Projetos conjuntos
Contratação de serviços
Não há
Gráfico 7 – Formas de interação entre empresas e ICT´s
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo
1
2
3
4
5
6
7
1 Vez
Frequentemente
Não concorre
No que tange à forma como essas empresas se relacionam com ICT´s, percebe-se que, com
exceção de uma empresa, as demais interagem de alguma forma com as instituições de ciência,
tecnologia e inovação. No que diz respeito à forma com que essa interação se dá, cinco das
empresas interagem por meio de projetos conjuntos. Das empresas pesquisadas, duas interagem
por meio da contratação de serviços específicos que são realizados tanto na instituição, quanto na
própria empresa, quando há estrutura para tal.
Em relação ao 40 e último eixo (Inovações em produtos e processos), o Gráfico 8 retrata
que apesar das empresas não apresentarem inovações radicais, apresentam inovações
incrementais.
Gráfico 8 – Inovações em Produtos e Processos
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de campo
Em relação às empresas pesquisadas, cinco apresentam inovações incrementais em seus
produtos e dessas cinco, duas apresentaram também inovações incrementais em seus processos de
produção. Duas empresas não apresentaram inovação nem em produto e nem em processo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi objetivo desse artigo tentar compreender o comportamento de algumas empresas do
segmento de Alimentos & bebidas no que tange à inovação, a partir da investigação das suas
práticas, com base na realização de entrevistas.
Em geral, as sete empresas pesquisadas apresentam alguns elementos característicos de
empresas inovadoras. Mas embora considerando que todas as empresas estão associadas a
incubadoras, e que delas poderia ser esperado um comportamento mais homogêneo na busca da
inovação, foi possível observar que os elementos que caracterizam a inovação se manifestam de
forma mais intensa em algumas empresas do que em outras.
Por meio do estudo dos questionários respondidos pôde-se concluir que apesar das
empresas pesquisadas não apresentarem inovações radicais em seus produtos/processos, cinco
das empresas apresentam inovações incrementais em produtos, e duas delas apresentam também
inovações em processo.
Se relacionados à tipologia dos bionegócios apresentada no início do texto percebe-se que
os produtos das empresas pesquisadas se enquadram nos grupos II e III. Essa classificação
justifica-se por se tratarem de produtos que utilizam processos baseados em conhecimento
consagrado, com domínio disseminado, como extração, concentração, filtração, destilação e
separação (Grupo II), e também produtos que em seu beneficiamento abrangem processos
químicos e/ou biológicos de maior complexidade, cuja operação exige testes ou ensaios (Grupo
III). Ou seja, mesmo em um grupo de empresas de bionegócios associadas a incubadoras, das
quais a expectativa em relação ao domínio tecnológico seria maior, nenhum produto alcança o
nível máximo da tipologia apresentada no Quadro 1 - Nível IV, no qual os produtos fazem uso da
biotecnologia moderna.
Por meio da análise dos gráficos pôde-se concluir também que o ambiente inovativo para
essas organizações começa a ganhar um pouco mais de robustez, fato evidenciado quando se
observa a articulação da maioria das empresas com ICT’s. Em alguns casos, essa relação parece
ser mais sinérgica, em outros casos nem tanto, porém é importante notar que há uma busca por
essa cooperação.
A preocupação e o interesse das empresas em concorrer a editais de subvenção e o esforço
que tem sido feito para inovar por meio do acesso a fundações e a recursos financeiros revela um
novo cenário para as empresas. Isso sugere que a disponibilidade do recurso, de forma contínua –
como têm sido os Programas PAPPE –, pode estimular o surgimento de novas empresas no
segmento.
A partir dessas constatações podem ser retiradas duas conclusões principais: primeira, o
fato de que para entender essa realidade e contribuir para o seu desenvolvimento realmente é
necessária a utilização de um conceito alternativo para bioeconomia, com propósito próximo ou
equivalente ao conceito de bionegócio aqui explorado; a segunda conclusão diz respeito à
identificação da existência de “habilitadores da inovação” e “atividades inovativas” no grupo de
empresas examinado que, embora ainda não se possa afirmar que formem um conjunto articulado
e eficaz em cada uma delas, podem servir de base para orientar políticas de incentivo ao
desenvolvimento do segmento de alimentos & bebidas.
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