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FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS E EMPRESARIAS DIREITO EMPRESARIAL Sumários desenvolvidos das aulas ministradas ao 2º ano do curso de Gestão e Administração de Empresas Texto de apoio nº 3 O Docente Lombongo Ussenguewonumbi Para uso exclusivo dos alunos Expressamente proibida a reprodução, sem autorização. Luanda, 2020

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FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS E EMPRESARIAS

DIREITO EMPRESARIAL

Sumários desenvolvidos das aulas ministradas ao 2º ano do curso de Gestão e

Administração de Empresas

Texto de apoio nº 3

O Docente

Lombongo Ussenguewonumbi

Para uso exclusivo dos alunos

Expressamente proibida a reprodução, sem autorização.

Luanda, 2020

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Índice Noção e constituição das sociedades comerciais ....................................................................... 3 TIPOLOGIA DAS SOCIEDADES COMERCIAIS ................................................................................ 4 PARTICIPAÇÃO SOCIAL .............................................................................................................. 6

Noção ................................................................................................................................... 6 AS OBRIGAÇÕES DOS SÓCIOS .................................................................................................... 7

Obrigações de entrada .......................................................................................................... 7 Obrigações de prestações acessórias e suplementares .......................................................... 8 Dever de lealdade ................................................................................................................. 8

Direitos dos sócios .................................................................................................................... 8 Direito à informação ............................................................................................................. 9 Direitos aos lucros ................................................................................................................. 9 Direito de voto .................................................................................................................... 10

ESTRUTURA ORGÂNICA DAS SOCIEDADES COMERCIAIS .......................................................... 10 Noção e classificação........................................................................................................... 10

Assembleia-geral..................................................................................................................... 11 Processo deliberativo .......................................................................................................... 11

Administração ou Conselho de administração ......................................................................... 12 Estatuto dos administradores .............................................................................................. 12

Bibliografia ............................................................................................................................ 14

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Noção e constituição das sociedades comerciais

Já dizemos que em angola as empresas estão juridicamente organizadas em sociedades comerciais, entende-se por sociedades comerciais como sendo aquelas que tem por objecto a pratica de actos de comércio, ou seja, actividades que os sócios se propõem a desenvolver no âmbito da sociedade, devem consistir naquela pratica e adoptar um dos tipos previsto na Lei das Sociedades Comerciais. A constituição das sociedades comerciais, varia de acordo com os tipos de sociedades comerciais, de referir ainda que cada uma delas tem os seus requisitos especiais de constituição. Mas também têm regras gerais aplicáveis a todas as sociedades. Uma vez decidida a constituição da sociedade, o primeiro passo a dar é a obtenção de um certificado de admissibilidade da firma ou denominação social, junto Ficheiro Central de denominação social departamento afecto ao Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, sem o qual o notário não poderá lavrar a competente escritura de constituição, deposito o valor correspondente ao capital social, para posteriormente ser apresentar documento comprovativo. A composição da firma ou denominação social obedece a várias regras que vêm enunciadas no artigo 12.º da Lei das Sociedades Comerciais e conjugado com os artigos 19.º, 25.º,27.º do Código Comercial, concretamente os princípios relativos a constituição firma das sociedades comerciais. O contrato de sociedade é um negócio celebrado através de escrito particular com reconhecimento notarial, segue-se o registo na Conservatório do Registo Comercial e as publicações do acto constitutivo no Diário da República e num jornal da localidade da sede da sociedade, inscrição junto do bairro fiscal da sua sede social, registo junto do Instituto Nacional de Estatística e inscrição dos funcionários junto do Instituto Nacional de seguração social. A sociedade adquirirá personalidade jurídica com o registo definitivo da constituição e a sua firma ou denominação gozará de protecção da exclusividade em todo o território nacional. O processo de constituição de sociedades comerciais em Angola sofreu algumas modificações a partir de 2015, tendentes à sua simplificação e desburocratização, constantes da Lei da Simplificação do Processo de Constituição das Sociedades Comerciais1. Assim, as sociedades passaram a: (i) constituir-se e utilizar para os actos do seu dia-a-dia o documento particular com as assinaturas reconhecidas presencialmente perante o notário, e não mais a escritura pública (artigo 3.º n.º 1, da Lei da Simplificação do Processo de Constituição das Sociedades Comerciais), (ii) a eliminação do capital social mínimo para as sociedades por quotas e o diferimento integral das entradas até um ano após a constituição da sociedade (artigos 6.º, 7.º e 8.º, do diploma supra indicado) e (iii) a flexibilização do modo de organização da escrituração mercantil e a possibilidade de utilização de livros electrónicos (artigos 10.º e 11.º n.º 1, do diploma já citado). Este diploma veio consagrar outras medidas que, até hoje, não estão a ser aplicadas na prática: (i) a legalização dos livros de actas na Conservatória do Registo Comercial (artigo 11.º, n.º 2, do diploma em questão) e (ii) a publicação dos actos das sociedades num site da internet,

1 Lei n.º 11/15, de 17 de Junho, publicada no Diário da República, I Série, n.º 89.

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que teria a função de substituir a publicação tradicional em Diário da República (artigos 14.º e 15.º do diploma que temos vindo a citar).

Em 2016 foi publicado o Regulamento sobre os Procedimentos de Constituição Imediata e Online de Sociedades Comerciais2. Este diploma, que não se aplica à constituição de sociedades na decorrência de um processo de investimento privado, veio estabelecer duas novas formas para a constituição de sociedades que pressupõem: (i) escolha de uma firma que conste de uma bolsa de firmas criada pelo Estado (artigos 5.º e 6º) e (ii) a escolha de um modelo de pacto social previamente aprovado (artigo 3.º, alínea a)3). No primeiro caso, a constituição imediata da sociedade perante o notário, o Regulamento sobre os Procedimentos de Constituição Imediata e Online de Sociedades Comerciais (artigos 7.º a 13.º) leva-nos a crer que os sócios que se dirijam ao Guiché Único da Empresa terão apenas um interlocutor com quem entrarão em contacto, e que, num espaço de poucas horas (sem prejuízo, o artigo 7.º indica, com maior margem de manobra, que todo o processo deve estar concluído no mesmo dia), promoverá a constituição da sociedade, facultando aos sócios de imediato toda a documentação legal pertinente. Neste caso, a generalidade dos actos que anteriormente cabia aos sócios da sociedade a constituir praticar passam a ser incumbência dos serviços do Guiché Único. No segundo caso, a constituição online da sociedade, seria efectuada através do site da internet, preenchendo-se os impressos/formulários online e enviando-se toda a documentação necessária por via electrónica (artigos 17.º a 22.º do referido diploma), cabendo também aqui aos serviços do Guiché Único praticar oficiosamente todos os actos necessários à perfeita constituição da sociedade, articulando-se com todas as entidades públicas envolvidas no processo. Uns anos volvido sobre a sua publicação, este diploma está ainda a ser aplicado com muitas dificuldades.

TIPOLOGIA DAS SOCIEDADES COMERCIAIS4

A Lei das Sociedades Comerciais5 consagra expressamente quatro tipos societários que os empresários podem adoptar, a saber, sociedade em nome colectivo, sociedade em comandita (simples ou por acções), sociedades por quotas e sociedades anónimas6. A verdade, porém, é que o tecido empresarial

2 Decreto Presidencial n.º 153/16, de 5 de Agosto, publicado no Diário da República, I Série, n.º 132.

3 Os modelos de pactos sociais previamente aprovados constam do Decreto Executivo n.º 247/16, de 3 de Junho, publicado no Diário da República, I Série, n.º 89.

4 Veja-se LOMBONGO USSENGUEWONUMBI, “Empresas no direito comercial angolano”, in Revista de Direito

Comercial, disponível em http://www.revistadedireitocomercial.com 5 Lei n.º 1/04, de 13 de Fevereiro, publicada no Diário da República, I Série, n.º 13.

6 Em Angola, os profissionais liberais podem socorrer-se dos tipos sociedades por quotas e sociedades anónimas para constituir sociedades civis sob forma comercial destinadas ao desenvolvimento da sua actividade, procedendo depois a um registo adicional junto da respectiva ordem profissional. Curiosamente, os advogados são os únicos

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angolano é hoje exclusivamente constituído por sociedades por quotas e por sociedades anónimas, tendo os demais tipos societários desaparecido7.

As sociedades por quotas e as sociedades anónimas podem ser constituídas por um só sócio, ficando abrangidas pelo regime jurídico consagrado na Lei das Sociedades Unipessoais8. Este regime tem algumas particularidades: (i) uma pessoa singular só pode ser sócia de uma única sociedade unipessoal (artigo 20.º, n.º 1, da Lei das Sociedades Unipessoais), (ii) as sociedades unipessoais estão impedidas de constituir outras sociedades unipessoais ou de subscrever participações sociais noutras sociedades (artigo 20.º, n.º 3 e 4, da Lei das Sociedades Unipessoais), (iii) caso o sócio único esteja a imputar à sociedade unipessoal actos ilícitos que a lei qualifique como crime, o tribunal pode proceder à desconsideração da personalidade jurídica da sociedade, levando o sócio único a responder ilimitadamente perante os credores sociais (artigo 25.º da Lei das Sociedades Unipessoais)9.

O processo de constituição de sociedades comerciais em Angola sofreu algumas modificações a partir de 2015, tendentes à sua simplificação e desburocratização, constantes da Lei da Simplificação do Processo de Constituição das Sociedades Comerciais10. Assim, as sociedades passaram a: (i) constituir-se e utilizar para os actos do seu dia-a-dia o documento particular com as assinaturas reconhecidas presencialmente perante o notário, e não mais a escritura pública (artigo 3.º, n.º 1, da Lei da Simplificação do Processo de Constituição das Sociedades Comerciais), (ii) a eliminação do capital social mínimo para as sociedades por quotas e o diferimento integral das entradas até um ano após a constituição da sociedade (artigos 6.º, 7.º e 8.º, do diploma supra indicado) e (iii) a flexibilização do modo de organização da escrituração mercantil e a possibilidade de utilização de livros electrónicos (artigos 10.º e

profissionais liberais que têm uma legislação específica (a Lei n.º 16/16, de 30 de Setembro, publicada no Diário da República, I Série, n.º 166, sobre as Sociedades e as Associações de Advogados), através da qual criam um tipo particular de sociedade de responsabilidade limitada, que não segue as regras previstas na Lei das Sociedades Comerciais, designadamente, por ter uma firma própria registada fora do Registo Central de Denominações Sociais, um registo próprio fora da Conservatória do Registo Comercial, regras específicas sobre cessão de participações sociais e exclusão de sócios. Note-se que a doutrina já havia aventado a desnecessidade de se criar um regime jurídico específico para as sociedades de advogados; veja-se SOFIA VALE e IRENEU MATAMBA, “Parecer jurídico sobre a admissibilidade de constituição de sociedades de advogados em Angola”, in Academia.edu, 2012, disponível em http://www.academia.edu/12950787/Parecer_jur%C3%ADdico_sobre_a_admissibilidade_de_constitui%C3%A7%C3%A3o_de_sociedades_de_advogados_em_Angola_-_2012 (consultado em 30.10.2017).

7 SOFIA VALE, “Empreendedorismo…”, op. cit., no prelo. Vejam-se os dados estatísticos publicados pelo INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA, Estatística do Ficheiro de Unidades Empresariais 2011-2014, disponível em http://www.ine.gov.ao/xportal/xmain?xpid=ine&xpgid=publications_detail&publications_detail_qry=BOUI=30946459 (consultado em 30.10.2017), p. 15.

8 Lei n.º 19/12, de 11 de Junho, publicada no Diário da República, I Série, n.º 110.

9 LEONILDO MANUEL, “Algumas Notas Sobre O Regime Jurídico Das Sociedades Unipessoais No Direito Angolano (Some Notes on the Legal Regime of Single Corporations in Angolan Law)” (October 14, 2017). American University, WCL Research, in Social Sciense Research Network, disponível em SSRN: https://ssrn.com/abstract=3053318 (consultado em 30.10.2017).

10 Lei n.º 11/15, de 17 de Junho, publicada no Diário da República, I Série, n.º 89.

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11.º, n.º 1, do diploma já citado). Este diploma veio consagrar outras medidas que, até hoje, não estão a ser aplicadas na prática: (i) a legalização dos livros de actas na Conservatória do Registo Comercial (artigo 11.º, n.º 2, do diploma em questão) e (ii) a publicação dos actos das sociedades num site da internet, que teria a função de substituir a publicação tradicional em Diário da República (artigos 14.º e 15.º do diploma que temos vindo a citar).

Em 2016 foi publicado o Regulamento sobre os Procedimentos de Constituição Imediata e Online de Sociedades Comerciais11. Este diploma, que não se aplica à constituição de sociedades na decorrência de um processo de investimento privado, veio estabelecer duas novas formas para a constituição de sociedades que pressupõem: (i) escolha de uma firma que conste de uma bolsa de firmas criada pelo Estado (artigos 5.º e 6º) e (ii) a escolha de um modelo de pacto social previamente aprovado (artigo 3.º, al. a)12). No primeiro caso, a constituição imediata da sociedade perante o notário, o Regulamento sobre os Procedimentos de Constituição Imediata e Online de Sociedades Comerciais (artigos 7.º a 13.º) leva-nos a crer que os sócios que se dirijam ao Guiché Único da Empresa terão apenas um interlocutor com quem entrarão em contacto, e que, num espaço de poucas horas (sem prejuízo, o artigo 7.º indica, com maior margem de manobra, que todo o processo deve estar concluído no mesmo dia), promoverá a constituição da sociedade, facultando aos sócios de imediato toda a documentação legal pertinente. Neste caso, a generalidade dos actos que anteriormente cabia aos sócios da sociedade a constituir praticar passam a ser incumbência dos serviços do Guiché Único. No segundo caso, a constituição online da sociedade, seria efectuada através do site da internet, preenchendo-se os impressos/formulários online e enviando-se toda a documentação necessária por via electrónica (artigos 17.º a 22.º do referido diploma), cabendo também aqui aos serviços do Guiché Único praticar oficiosamente todos os actos necessários à perfeita constituição da sociedade, articulando-se com todas as entidades públicas envolvidas no processo. Uns anos volvido sobre a sua publicação, este diploma está ainda a ser aplicado com muitas dificuldades.

PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Noção

Corresponde a uma contribuição em dinheiro ou em espécie exigível aos sócios, correspondendo está ao património da sociedade comercial. A participação social ou socialidade da lugar ao conjunto de direitos e obrigações. O sócio tem desde logo direito a quinhoar nos lucros, a participar nas deliberações de sócios, a obter informações sobre a vida da sociedade e a ser designado para os órgãos de administração e de fiscalização a sociedade

11 Decreto Presidencial n.º 153/16, de 5 de Agosto, publicado no Diário da República, I Série, n.º 132.

12 Os modelos de pactos sociais previamente aprovados constam do Decreto Executivo n.º 247/16, de 3 de Junho, publicado no Diário da República, I Série, n.º 89.

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nos termos dos artigos 23.º, 24,25 e 26 da Lei das Sociedades Comerciais. Por outro lado, os sócios são obrigados a realizar as suas entradas, contribuir para o desenvolvimento da sociedade, a realizar sempre que exigível a prestação acessória e a quinhoar nas perdas artigo 23º do diploma já referenciado. A situação jurídica do sócio tem de se moldar às finalidades da sociedade como estrutura jurídica da empresa e fica sujeita a três princípios:

1) Princípio do interesse social: Corresponde ao interesse da empresa como entidade colectiva que constitui o substrato da sociedade comercial;

2) Princípio da finalidade lucrativa: A sociedade tem por definição, uma finalidade lucrativa – artigo 980º Código Civil – e os sócios, ao entrarem para a sociedade fazem-no interessadamente; ao transmitirem a sua entrada de bens para a sociedade, esperam obter uma vantagem patrimonial que pode consistir na distribuição de indivíduos, na valorização da sua participação ou no direito ao “bónus” da liquidação.

3) Princípio da igualdade de tratamento: Encontra-se expressamente consignado no artigo 23º Constituição da República de Angola em consonância com artigo 405º Código Civil, o princípio da igualdade de tratamento coincide com o princípio da liberdade contratual.

Uma vez constituída a sociedade, o princípio da igualdade de tratamento poderá intervir em várias situações, normalmente para protecção de minorias, nomeadamente:

Na exigência do pagamento das entradas de capital; No chamamento de prestações suplementares; Na participação dos lucros e nas perdas; Na atribuição do direito do voto; Nas deliberações dos sócios; Nos aumentos de capital social.

AS OBRIGAÇÕES DOS SÓCIOS

Obrigações de entrada

Durante o contrato de sociedade os sócios subscrevem uma participação social – constituída por partes, quotas ou acções – e obrigam-se a realizar ou liberar o respectivo valor o mais tardar até o termo do primeiro exercício económico, fundamento legal artigo 27º da Lei das Sociedades comercial. Estas podem ser:

1) Entradas em dinheiro

A entrada inicial tem de ser depositada numa instituição bancaria credenciada pelo Banco Nacional de Angola, para vigorar no mercado angolano, antes da constituição da sociedade, como forma de controlo, mas pode ser levantada após o registo da sociedade e, mesmo, antes, quando os sócios autorizem o seu levantamento pelos administradores para fins determinados,

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nomeadamente os encargos com a constituição, instalação e funcionamento da sociedade.

2) Entradas em espécie

Têm de ser claramente descritas no acto constitutivo da sociedade e podem consistir na transmissão de propriedade de coisas móveis ou imóveis, inclusive de um estabelecimento comercial, na transmissão de direitos da propriedade industrial, ou na transmissão de créditos, incluindo os próprios suprimentos à sociedade.

3) Entradas em trabalho

Correspondem aos chamados sócios de indústria, que só é admitido nas sociedades em nome colectivo segundo artigo 179º da Lei já referenciada.

Obrigações de prestações acessórias e suplementares

O Código das Sociedades Comerciais prevê a possibilidade de os estatutos estipularem, para além das obrigações de entrada, obrigações de prestações acessórias. Estas prestações acessórias podem consistir, para além da obrigação de prestação de um serviço ou trabalho, na obrigação de ceder o gozo à sociedade de determinada coisa, móvel e/ou imóvel, ou de mutuar certa importância a título gratuito ou oneroso .

Dever de lealdade

O sócio está adstrito a um dever de lealdade e colaboração, que constitui um dever acessório de conduta em matéria contratual e um dever geral de respeito e de agir de boa-fé. Este dever é tanto mais alargado quanto maior for objecto do tipo societário e abrange mesmo a proibição do sócio exercer actividades concorrentes com a da sociedades.

Direitos dos sócios

Dentre os vários direito que os sócios são detentores importa destacar primeiramente o de não ser arbitrariamente excluído pela maioria, tendo como limites o princípio da conservação da empresa, que é uma aplicação do princípio do interesse social, o sócio, que pelo seu comportamento lesivo dos interesses sociais possa fazer perigar a subsistência da empresa, poderá ser afastado da sociedade, para salvaguarda da própria empresa. Na verdade, nesse caso, o sócio não estaria ao exercer o direito à qualidade de sócio de acordo com a sua função social, mas sim numa situação de abuso de direito. De igual modo, o aproveitamento da qualidade de sócio para praticar actos lesivos do interesse social é uma manifesta violação do princípio da boa-fé.

Casos legais de exclusão de sócios:

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Falta de realização das entradas; Falta de realização das prestações suplementares nas sociedades

por quotas; Exclusão por justas causas.

· Todavia, nenhum destes casos funciona automaticamente, isto é, verificado o facto cabe aos sócios a faculdade de deliberarem, ou não, a exclusão do sócio faltoso.

Direito à informação

Este tem contornos distintos em função do tipo de sociedade: Nas sociedades em nome colectivo, o direito à informação é pleno e ilimitado, embora tenha de ser exercido pessoalmente pelo sócio, que, contudo, se pode fazer acompanhar de um perito. Nas sociedades por quotas o direito à informação é, em princípio, pleno, embora os estatutos possam estabelecer limites e regulamentá-lo, contanto que não seja impedido o seu exercício efectivo ou injustificadamente limitado. Nas sociedades anónimas o direito geral à informação varia consoante a percentagem de capital detido pelo accionista ou grupo de accionistas que queira exercer o direito em conjunto. Também tem contornos gerais nas sociedades, por exemplo, na preparação da assembleias-gerais:

Consiste no direito que os sócios têm de serem informando previamente sobre a convocatória, data e os conteúdos a serem tratados na assembleia-geral.

Direito a informações verdadeiras, completas e elucidativas sobre os assuntos a serem tratados durante assembleia-geral e sobre a sociedade, permitindo os sócios formarem opinião fundamentada sobre os assuntos sujeitos a deliberação.

A falta de fornecimento de informações pode determinar a anulabilidade da deliberação nos termos da Lei das sociedades comerciais.

Direitos aos lucros

O direito aos lucros é um direito fundamental dos sócios, constituindo o principal motivo da sua participação na sociedade. Conceito de lucro distribuível Os lucros são apurados relativamente ao conjunto dos exercícios e não para cada exercício isoladamente. Vigora aqui o princípio da solidariedade dos exercícios sociais: no cálculo dos lucros não é possível considerar os lucros de um só exercício, fazendo abstracção dos que o precederam e dos resultados relativos. Só haverá lucro distribuível quando o activo da sociedade for superior à cifra do capital social e da reserva legal, antes disso não poderá haver distribuição de quaisquer dividendos ou entrega de quaisquer bens aos sócios. A tal se opõe o princípio da intangibilidade do capital social.

.

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Direito de voto

É um direito fundamental dos sócios. Todavia, nas sociedades anónimas, há um caso que os accionistas não têm direito de voto: São os titulares das chamadas acções preferenciais sem voto, que em contrapartida, conferem direito a um dividendo prioritário. Mas mesmo nestas acções, se o dividendo prioritário não for pago aos accionistas durante dois exercícios, eles passam a poder exercer o direito de voto. O princípio do interesse social reflecte-se no impedimento do direito de voto em caso de conflito de interesses entre o sócio e a sociedade. Por força disto, o sócio fica impedido de votar nomeadamente nas deliberações que recaíam sobre:

1. Liberações de obrigações dos sócios; 2. Litígios entre o sócio e a sociedade; 3. Relação entre o sócio e a sociedade estranha ao contrato social; 4. Exclusão do sócio; 5. Consentimento para o administrador exercer actividades concorrentes

com a sociedade; 6. Destituição com justa causa dos administradores ou membros do

conselho fiscal.

ESTRUTURA ORGÂNICA DAS SOCIEDADES COMERCIAIS Noção e classificação

As sociedades comerciais, como pessoas colectivas, actuam, são representadas e manifestam a sua vontade através dos seus órgãos sociais. Vigora o princípio da tipicidade: De tal maneira que os órgãos com poderes deliberativos e força vinculativa são apenas aqueles que a lei prevê e no âmbito das respectivas competências. São, órgãos de uma sociedade as entidades ou núcleos de atribuição de poderes que integram a organização interna da sociedade e através dos quais ela forma, manifesta e exerce a sua vontade de pessoa jurídica. Os órgãos das sociedades são classificados segundo critério do número dos seus titulares:

Órgãos singulares: Composto por um só titular (Administrador e Gerente);

Órgãos plurais ou colectivos: Composto por dois ou mais titulares (assembleias e conselhos etc.).

Os órgãos sociais reconduzem-se a pessoas ou conjuntos de pessoas que são os titulares dos órgãos. As sociedades são compostas pelos seguintes órgãos:

1) Assembleia-geral; 2) Administração ou Conselho de administração; 3) O conselho Fiscal ou Fiscal único;

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Assembleia-geral Assembleia-geral é o órgão supremo das sociedades, que tem poderes genérico, para modificar os estatutos, verificados certos pressupostos. Todavia, é um órgão deliberativo, competindo as funções executivas. Assembleia-geral deve reunir ordinariamente, todos os anos, para deliberar sobre assunto sua competência e que diz respeito a sociedade. Também pode ainda reunir extraordinariamente sempre que seja convocada por quem tem competência para o efeito.

Processo deliberativo

Convocatória e funcionamento

A convocatória deve conter obrigatoriamente as menções referidas no artigo 275º. Lei das Sociedades Comerciais. A ordem do dia deve mencionar claramente o assunto sobre o qual se vai deliberar. Assembleia-geral poderá no entanto deliberar sobre questões incidentais, que decorrem directamente da ordem de trabalhos, como é o caso da destituição e da acção de responsabilidade contra os administradores, que podem ser deliberadas na Assembleia-geral convocada para apreciar as contas do exercício. Assembleia-geral deve reunir-se na sede social, salvo se quem convocou a Assembleia-geral escolher outro local, dentro da comarca da sede, por falta de condições adequadas das instalações da sociedade. Formas de deliberação

Os sócios deliberam normalmente em Assembleia-geral reunida mediante convocatória efectuada de acordo com os preceitos legais. Mas a Lei das Sociedades Comerciais admite também as deliberações unânimes por escrito, independentemente de convocatória e de reunião dos sócios, desde que todos os sócios estejam de acordo quanto a essas deliberações. Nesta conformidade distinguem-se as assembleias universais, porquanto aqui tem de haver reunião efectiva de todos os sócios da sociedade, mas basta que todos estejam de acordo em que se delibere sobre certas matérias, independentemente da existência ou regularidade da convocatória, podendo depois a deliberação ser tomada pela maioria legal. As deliberações sociais seja qual for o modo como foram tomadas, têm de ser vertidas para um documento escrito (acta) sob pena de não poderem ser provadas.

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Administração ou Conselho de administração

Estatuto dos administradores

Entende-se por conjunto de direitos e obrigações que constituem a situação jurídica decorrente da relação de administração, que se pressupõe uma referência à natureza de administração, que se pressupõe uma referência à natureza jurídica dessa relação.

Obrigações dos administradores:

a) Dever de diligência (artigo 69.º Lei das Sociedades Comerciais); b) Dever de relatar a gestão e apresentar contas (artigo 70.º Lei das

Sociedades Comerciais); c) Obrigação de não concorrência (artigo 419.º Lei das Sociedades

Comerciais); d) Obrigação de prestar informação aos sócios 183.º Lei das

Sociedades Comerciais; e) Obrigação de respeitar as deliberações das Assembleias-gerais.

Direitos dos administradores:

1) Direito de não serem destituídos sem justa causa; 2) Direito à remuneração; 3) Pensões de reforma.

Competência dos administradores

Uma vez nomeados os administradores têm competência genérica para praticar todos os actos necessários ou convenientes à realização do objecto social, tendo em conta os interesses dos sócios e dos trabalhadores, com os fundamentos legais dos artigos 194.º; 282.º e 425º Lei das Sociedades Comerciais. Os poderes dos administradores, resultam da Lei e dos estatutos da sociedade, sendo nulas as deliberações dos sócios que retirem poderes aos gerentes.

Vinculação da sociedade

Administração é o único órgão com competência para representação externa da sociedade, esta fica vinculada pelos actos praticados pelos administradores, em nome da sociedade e dentro dos poderes que a lei lhes confere, não obstante as limitações constantes dos estatutos ou de deliberações sociais.

Responsabilidade dos administradores

No exercício das suas funções, os administradores, por acção ou omissão, cumprimento dos seus deveres legais ou contratuais podem causar danos, quer à sociedade, quer aos sócios e a terceiros.

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A sociedade responde por estes danos perante terceiros, nos termos em que os comitentes respondem pelos actos dos comissários nos termos do nº 1 dos artigos 7.º,77.º e 78.º Lei das Sociedades Comerciais. A responsabilidade da sociedade é objectiva – não depende de culpa – mas só terá lugar quando sobre os administradores também recai a obrigação de indemnizar fundamento legal artigo 500º Código Civil). Mas a responsabilidade dos administradores no plano societário é tripla:

1. Responsabilidade para com a sociedade; 2. Responsabilidade para com os sócios e terceiros; 3. Responsabilidade para com os credores sociais em particular.

Responsabilidade dos administradores para com a sociedade

A responsabilidade dos administradores para com a sociedade é subjectiva, isto é, baseia-se na culpa, ainda que esta se presuma, ao contrário da responsabilidade objectiva, em que a culpabilidade não é elemento essencial. Os pressupostos da responsabilidade dos administradores para com a sociedade são: Existência de facto ilícito, culpabilidade, danos e nexo de causalidade. A ilicitude da conduta geradora de responsabilidade pode consistir na violação da lei ou do contrato, através de acção ou omissão. A Lei das Sociedades Comerciais estabelece, uma série de obrigações dos administradores, cujo desrespeito poderá dar lugar a responsabilidade dos administradores para com a sociedade. Apresentamos assim alguns casos:

a) Distribuição de dividendos fictícios, nº 4 do artigo 6.º da Lei das Sociedades Comerciais;

b) Falta de apresentação do relatório e contas anuais, artigo 73.º Lei das Sociedades Comerciais;

c) Falsas declarações; d) Concorrência desleal; e) Abuso de informações.

A culpabilidade dos administradores para com a sociedade presume-se conforme o nº 2 artigo 78.º Lei das Sociedades Comerciais. Verificados os outros pressupostos de responsabilidade civil é ao administrador que competirá o ónus da prova da ausência de culpa. O dano é sempre um pressuposto em qualquer tipo de responsabilidade civil, isto é, subjectiva ou objectiva. A conduta ilícita do administrador só dará lugar a responsabilidade civil se dela tiverem decorrido prejuízos.

Responsabilidade dos administradores para com os credores sociais

Uma vez que se está perante uma responsabilidade directa dos administradores para com os credores sociais e entre estes e a sociedade não existe qualquer relação contratual, a responsabilidade aqui tratada é subjectiva. A responsabilidade aqui descrita é subjectiva e assenta na culpa dos administradores, mas a culpa aqui não se presume. O artigo 83.º Lei das Sociedades Comerciais.

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Responsabilidade dos administradores para com os sócios e terceiros

Os administradores no exercício das suas funções, podem lesar os sócios e os terceiros em geral, incorrendo, assim, em responsabilidade civil perante estes, nos termos do artigo 84.º Lei das Sociedades Comerciais. Dado que não existe qualquer relação contratual funcional entre os administradores e os sócios ou terceiros, a responsabilidade será sempre subjectiva, ou seja, decorre da violação de obrigações legais pré-existentes.

Bibliografia

VALE, SOFIA – As Empresas no Direito Angolano – Lições de Direito

Comercial, edição de autor, Luanda, 2015.

ABREU, JOSÉ COUTINHO DE – Curso de Direito Comercial. Vol. I, Coimbra:

Almedina, 2011;

LEGISLAÇÕES

- Código Comercial – Carta de Lei de 28 de Junho de 1888;

- Lei das Sociedades Comerciais – Lei n.º 1/04, de 13 de Fevereiro;

- Código Civil.