contratos empresarias

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7/18/2019 Contratos Empresarias http://slidepdf.com/reader/full/contratos-empresarias 1/104 GRADUAÇÃO  2014.2 CONTRATOS EMPRESARIAIS AUTOR: JOÃO PEDRO BARROSO DO NASCIMENTO PESQUISADORES: AMANDA PERES; ARNALDO VIEIRA FERREIRA; GUSTAVO PALHEIRO; LARISSA AGRÉLIO; E PEDRO CASTELAR PINHEIRO

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Artigo sobre contratos empresáriais.

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  • GRADUAO 2014.2

    CONTRATOS EMPRESARIAISAUTOR: JOO PEDRO BARROSO DO NASCIMENTO

    PESQUISADORES: AMANDA PERES; ARNALDO VIEIRA FERREIRA; GUSTAVO PALHEIRO; LARISSA AGRLIO; E PEDRO CASTELAR PINHEIRO

  • SumrioCONTRATOS EMPRESARIAIS

    CONTRATOS EMPRESARIAIS ................................................................................................................................... 3

    I. CONTRATOS EM GERAL ....................................................................................................................................... 7

    II. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS EMPRESARIAIS .................................................................................................... 16

    III. VETORES DE FUNCIONAMENTO DOS CONTRATOS EMPRESARIAIS .............................................................................. 23

    IV. CONTRATOS DE INTERCMBIO VS. CONTRATO DE SOCIEDADE VS. CONTRATOS DE COLABORAO ...................................... 27

    V. INTERPRETAO DOS CONTRATOS EMPRESARIAIS ................................................................................................. 30

    VI. CONTRATOS EM ESPCIE ................................................................................................................................. 35

    VII. CONTRATOS EM ESPCIE ................................................................................................................................ 46

    VIII. CONTRATOS EM ESPCIE ............................................................................................................................... 62

    IX. CONTRATOS FINANCEIROS .............................................................................................................................. 68

    X. DERIVATIVOS CONTRATOS NO MERCADO FUTURO, OPES, SWAPS E A TERMO ......................................................... 83

    XI.1. SEGUROS .................................................................................................................................................. 94

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 3

    CONTRATOS EMPRESARIAIS

    PROFESSOR

    Joo Pedro Barroso do Nascimento

    EMENTA

    Teoria Geral dos Contratos Empresariais. Contratos em Geral vs. Contra-tos Empresariais. Contratos Empresariais em Espcie. O Direito e os Neg-cios. Anlise Prtica e Aplicao de Conceitos em Situaes Concretas (i.e., estudo com base em minutas de documentos).

    OBJETIVOS

    Em abordagem interdisciplinar, esta eletiva visa a: (i) proporcionar aos alu-nos aprendizado de diversos institutos relacionais aos contratos empresariais, com especial enfoque aplicao prtica destes institutos; (ii) provocar o inte-resse dos alunos para questes jurdicas atinentes ao ambiente empresarial e dinmica econmica; e (iii) desenvolver as habilidades dos alunos para iden-tifi car e compreender a dinmica evolutiva dos contratos empresariais, com ateno s modalidades recentes de contrataes praticadas pelo mercado.

    METODOLOGIA

    Suporte terico, atravs do estudo de material didtico (principalmente artigos, pareceres e comentrios legislao). Suporte prtico, atravs do es-tudo de casos concretos. Incentivo ao envolvimento e participao dos alu-nos, em mtodo socrtico.

    PROGRAMA

    1. Contratos em Geral

    2. Teoria Geral dos Contratos Empresariais

    3. Vetores de Funcionamento dos Contratos Empresariais

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 4

    4. Contratos de Colaborao vs. Contratos de Intercmbio

    5. Interpretao dos Contratos Empresariais

    6. Contratos em Espcie

    6.1. Compra e Venda Mercantil

    6.2. Contratos de Colaborao em Espcie

    6.2.1. Representao Comercial

    6.2.2. Distribuio

    6.2.3. Concesso Comercial

    6.2.4. Comisso

    6.3. Contratos de Franquia (Franchising)

    6.4. Contratos de Seguro

    6.5. Contratos Financeiros

    6.5.1. Emprstimo vs. Financiamento

    6.5.2. Arrendamento Mercantil (Leasing)

    6.5.3. Factoring (Factoring)

    6.5.4. Carto de Crdito

    6.5.5. Mtuo Financeiro

    6.5.6. Ttulos de Crdito Contratos Financeiros (CCB Cdula de Crdito Bancrio; LCI Letra de Crdito Imo-bilirio; CCI Cdula de Crdito Imobilirio; e Cdula de Crdito Rural ou Industrial).

    6.5.7. Operaes de Financiamento Industrial, Imobilirio e Agrcola. Contratos Empresariais e Securitizao

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 5

    7. Contratos no Mercado de Capitais

    7.1. Contratos de Underwriting

    7.2. Contratos de Swap

    7.3. Contratos de Hedge

    7.4. Contratos de Long Selling e Short Selling

    7.5. Contratos no Mercado Futuro

    7.6. Operaes com Derivativos

    MTODOS DE AVALIAO

    Sero realizadas 02 (duas) provas, em sala de aula, compreendendo toda a matria ministrada at a data de cada prova. Os alunos podero consultar os textos de leis sem comentrios ou anotaes. Podero, tambm, ser feitas ava-liaes baseadas em atividades complementares ou em trabalhos sobre temas especfi cos a serem indicados pelo professor.

    A mdia aritmtica referente disciplina ser obtida com base em tais avaliaes. O aluno que obtiver mdia aritmtica inferior a 7 (sete) dever realizar uma terceira prova, a qual compreender toda a matria do semestre.

    ATIVIDADES COMPLEMENTARES

    Podero ser propostas atividades adicionais que valero pontos para a mdia aritmtica (obtida com base nas duas primeiras provas) referente disciplina.

    WORKSHOPS

    Haver, ao menos, um workshop em que os alunos lidaro em sala de aula com situao concreta de negociao de Contrato Empresarial.

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 6

    BIBLIOGRAFIA BSICA

    BULGARELLI, Waldirio. Contratos Mercantis. So Paulo: Atlas, 2001.

    FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010.

    MARTINS, Fran. Contratos e Obrigaes Comerciais. Revisada e Aumentada. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

    BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

    Ser recomendada oportunamente (conforme evoluo das aulas).

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 7

    1 Ato Jurdico uma manifestao da vontade humana que produz efeitos jurdicos, causando o nascimento, a modifi cao ou a extino de relaes jurdicas e de seus direitos. Os Negcios Jurdicos (ao contrrio dos atos jurdicos em sentido estrito) condicionam os seus efeitos jurdicos, principalmente, livre manifestao de vontade dos agentes.

    2 O negcio jurdico unilateral quan-do este se completa com apenas uma declarao de vontade (exemplo: tes-tamento). O negcio jurdico bilateral, por sua vez, aquele que precisa de duas declaraes de vontades (exem-plo: contrato de compra e venda). H ocasies em que o negcio jurdico envolve inmeras pessoas, mas ainda assim apenas dois polos contratantes, no perdendo a essncia de negcio bilateral (exemplo: contrato de compra e venda com mais do que um vendedor e/ou mais do que um comprador). Por fi m, diz-se que o negcio jurdico plurilateral quando envolve a compo-sio de mais de duas vontades para-lelamente manifestadas por diferentes partes, com um interesse convergente (exemplo: contrato de sociedade).

    I. CONTRATOS EM GERAL

    A) BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

    Bsica

    GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2002. 25 Edio. Pgs. 22 a 101.

    Complementar

    AZEVEDO, Antonio Junqueira de. Negcio Jurdico Existncia, Validade e Efi ccia. So Paulo: Saraiva, 2002.

    NEGREIROS, Teresa. Teoria do Contrato Novos Paradigmas. Rio de Janei-ro: Renovar, 2006.

    B) ROTEIRO DE AULA

    1. Consideraes Preliminares

    Os contratos so, usualmente, conceituados como os mecanismos jurdi-cos por meio dos quais so estabelecidos vnculos jurdicos entre dois ou mais sujeitos de direito (i.e., negcio jurdico,1 que ser bilateral ou plurilateral2), que corresponde ao acordo de vontades, capaz de criar, modifi car e/ou extin-guir direitos e/ou obrigaes entre as partes contratantes.

    2. Elementos Constitutivos dos Contratos: Requisitos de Validade

    Os contratos possuem alguns elementos constitutivos obrigatrios, que so usualmente referidos como os requisitos de validade. Estes se enquadram em 2 (duas) espcies, quais sejam os requisitos de:

    (i) ordem geral, que so aqueles comuns a todos os atos e negcios jurdicos, conforme previstos no artigo 104 do Cdigo Civil; e

    (ii) ordem especial, que so aqueles especfi cos dos contratos.

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 8

    Sendo assim, exigem-se como requisitos para a validade dos contratos: (a) capacidade das partes, conforme prev o artigo 104, inciso I, do Cdigo Ci-vil; (b) objeto lcito, possvel e determinado ou determinvel, conforme prev o artigo 104, inciso II, do Cdigo Civil; (c) forma prescrita ou no defesa em lei, conforme prev o artigo 104, inciso III, do Cdigo Civil sendo os trs de forma geral; e (d) necessidade de consentimento recproco e/ou acordo de vontade das partes contratantes este ltimo de ordem especial.

    2.1. Capacidade (art. 104, inciso I, CC/02)

    A capacidade dos contratantes , pois, o primeiro requisito (condio sub-jetiva) de ordem geral para a validade dos contratos. Sendo assim, os contra-tos sero nulos (artigo 166, inciso I, do Cdigo Civil) ou anulveis (artigo 171, inciso I, do Cdigo Civil), se a incapacidade, absoluta ou relativa, no for suprimida pela representao ou pela assistncia.

    2.2. Objeto (art. 104, inciso II, CC/02)

    O objeto do contrato h de ser lcito, isto , no atentar contra a lei, a moral ou os bons costumes (condio objetiva). Alm disto, o objeto do contrato deve ser tambm possvel, determinado ou determinvel. Com efei-to, o artigo 166, inciso II, do Cdigo Civil, declara nulo o negcio jurdico quando for ilcito, impossvel ou indeterminvel o seu objeto.

    2.3. Forma (Art. 104, inciso III, CC/02)

    O terceiro requisito do negcio jurdico a forma, que deve ser prescrita ou no defesa em lei. Em regra, a forma livre. As partes podem celebrar contrato por escrito, pblico ou particular, ou verbalmente, a no ser nos casos em que a lei, para dar maior segurana jurdica e solenidade ao neg-cio jurdico, exige a forma escritura, pblica ou particular (Artigo 107 do Cdigo Civil). Em alguns casos, a lei determina, inclusive, o atendimento publicidade, mediante o sistema de Registros Pblicos (Artigo 221 do Cdi-go Civil).

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 9

    2.4. Consentimento Recproco ou Acordo de Vontades

    O requisito de ordem especial, prprio dos contratos, o consentimento recproco ou acordo de vontades.

    Deve ser livre e espontneo, sob pena de ter a validade afetada pelos vcios ou defeitos do negcio jurdico, quais sejam: (i) erro; dolo, coao, estado de perigo, leso e fraude.

    A manifestao da vontade nos contratos pode ser tcita, quando a lei no exigir que seja expressa (Artigo 111 do Cdigo Civil).

    A manifestao expressa pode ser exteriorizada verbalmente, por escrito, gesto ou mmica, de forma inequvoca. Algumas vezes a lei exige o consenti-mento escrito como requisito.

    3. Elementos do Contrato

    3.1. Essenciais

    So os elementos que, obrigatoriamente, devem constar de todos os con-tratos, sob pena de nulidade: a capacidade das partes, a licitude do objeto e a forma prescrita ou no defesa em lei.

    Alm dos elementos essenciais gerais, que so comuns a todos os atos jurdicos, h tambm os elementos essenciais especiais, que devem existir somente em alguns contratos (exemplo: no caso dos contratos de compra e venda, tambm so necessrios a coisa, o preo e o consentimento).

    3.2. Acidentais

    Os elementos acidentais so aqueles que podem fi gurar ou no no neg-cio, mas que so dispensveis formao do negcio jurdico.

    Em regra, os elementos acidentais so adotados nos casos em que as partes contratantes pretendam modifi car a efi ccia do negcio jurdico, adaptando--a a determinadas circunstncias futuras.

    So eles:

    (i) condio (resolutiva ou suspensiva);(ii) termo; e(iii) encargo (ou modo).

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 10

    4. Princpios Fundamentais do Direito Contratual

    Tradicionalmente, o Direito reconhecia os seguintes princpios como sen-do os mais importantes em relao ao direito dos contratos:

    4.1. Princpio da Autonomia da Vontade

    As partes contratantes tm ampla liberdade para contratar e estabelecer entre si os termos e condies do vnculo contratual.

    4.2. Princpio da Obrigatoriedade dos Contratos (ou Princpio da Fora Obrigat-ria dos Contratos)

    O contrato faz lei entre as partes contratantes (pacta sunt servanda).

    4.3. Principio da Relatividade dos Contratos

    O contrato produz efeito apenas entre as partes contratantes, que assu-mem, modifi cam e/ou extinguem direitos e/ou obrigaes, no prejudicando e/ou aproveitando a terceiros (res inter alios acta, aliis neque nocet neque potest).

    De forma clssica, tais princpios eram tambm complementados pelos princpios abaixo:

    4.4. Principio da Supremacia da Ordem Pblica

    A autonomia da vontade relativa, sujeitando-se lei e aos princpios da moral e da ordem pblica.

    4.5. Princpio do Consensualismo

    O simples consenso entre as partes contratantes tem fora sufi ciente para fazer surgir o contrato, no se exigindo forma especial para a formao do contrato. A legislao brasileira observa ressalvas apenas a alguns tipos espe-cfi cos de contrato, em que h formalidades e solenidades a serem atendidas.

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 11

    3 No ordenamento jurdico brasileiro, o artigo 131, inciso I, do Cdigo Comer-cial de 1850 trouxe a primeira refe-rncia boa-f como elemento para a interpretao dos contratos fi rmados sob a sua gide.

    5. Novos Princpios Contratuais

    A Constituio da Repblica de 1988 introduziu novos princpios ao sis-tema jurdico brasileiro

    Tais princpios implicaram na modifi cao do sentido e do valor atribudo a alguns dos princpios clssicos do direito dos contratos.

    Sendo assim, somaram-se aos 3 (trs) princpios cardinais do direito dos contratos (Princpio da Autonomia da Vontade; Princpio da Obrigatorie-dade dos Contratos; e Princpio da Relatividade dos Contratos), houve a consagrao defi nitiva Princpio da Boa-F Objetiva, Princpio do Equilbrio Econmico; e Princpio da Funo Social dos Contratos.

    5.1. Princpio da Boa-F Objetiva

    O Princpio da Boa-F Objetiva clusula aberta consagrada no Cdigo Civil, que est prevista nos artigos 113 e 422 do Cdigo Civil3, atuando preponderantemente como contraponto ao Princpio clssico da Autonomia Privada.

    Funciona como um elo entre o direito contratual e os princpios constitu-cionais, desempenha 3 (trs) funes principais:

    (i) Funo Interpretativa dos Contratos: Garante que os contratos e as suas clusulas sejam interpretados

    em harmonia com os objetivos comuns buscados pelas partes contratantes no momento da celebrao do contrato, conforme art. 113 do Cdigo Civil.

    (ii) Funo Restritiva do Exerccio Abusivo de Direitos: Cria limites para o exerccio dos direitos das partes, asseguran-

    do que tal exerccio se d de forma regular, no se manifestan-do, portanto, de maneira abusiva ou contraditria boa-f, aos bons costumes ou ao seu fi m econmico ou social, conforme art. 187 do Cdigo Civil.

    (iii) Funo criadora de deveres anexos prestao principal, nas fases pr-negocial, negocial e ps-negocial: Visa a incentivar a cooperao mtua das partes contratantes

    em todos os momentos contratuais, impondo-lhes alguns de-veres, como, por exemplo: o dever de esclarecimento e informa-o, o dever de lealdade e de cooperao, o dever de proteo e de cuidado.

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 12

    5.2. Princpio do Equilbrio Econmico

    De forma a limitar o Princpio da Obrigatoriedade dos Contratos, o Prin-cpio do Equilbrio Econmico se aplica quando determinada obrigao se torna demasiadamente onerosa para uma das partes.

    sua luz, surgem institutos tais como o da leso (art. 157, CC/02), da reviso contratual (art. 317, CC/02) e da resoluo por onerosidade excessiva (art. 478 e 479, CC/02).

    5.3. Princpio da Funo Social dos Contratos

    Tal princpio se manifesta como limitador do Princpio da Relatividade.Em prol da sociedade como um todo, torna as obrigaes contratuais opo-

    nveis no apenas s partes contratantes, mas tambm a terceiros, uma vez que as relaes jurdicas se manifestam dentro de um contexto social.

    Cria tambm a obrigao aos contratantes de agirem de forma a respeitar os interesses socialmente relevantes que possam ser afetados pelo contrato, afastando, com isso, concepo individualista.

    Encontra respaldo no art. 421 do Cdigo Civil:

    Art. 421. A liberdade de contratar ser exercida em razo e nos limites da funo social do contrato.

    7. Classificao dos Contratos

    7.1. Forma

    Quanto forma, os contratos podem ser classifi cados de acordo com as subdivises abaixo:

    Principais vs. Acessrios

    Principais Aqueles cuja existncia independem de qualquer outro.

    Acessrios Aqueles que existem em funo do contrato principal.

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 13

    Preliminares vs. Defi nitivos

    Preliminares

    No contemplam todos os elementos essenciais do neg-cio jurdico (e/ou, embora contemplem todos os elementos essenciais do negcio jurdico, tambm tenham um elemento acidental aposto ao negcio jurdico). Consequentemente, no estabelecem direitos e obrigaes, de forma defi nitiva, entre os contratantes.

    Defi nitivosContemplam todos os elementos essenciais do negcio ju-

    rdico. Estabelecem direitos e obrigaes, de forma defi nitiva, entre os contratantes.

    Consensuais vs. Reais

    ConsensuaisAperfeioam-se pelo mero consentimento (e no neces-

    sitam de nenhuma solenidade adicional e no pressupem a entrega da coisa => tradio).

    ReaisAperfeioam-se apenas com a entrega da coisa (indepen-

    dentemente da formalizao do consentimento).

    Solenes vs. No Solenes

    SolenesExigem solenidade especfi ca quanto forma (que est

    prescrita em lei) e, em alguns casos, tambm demandam regis-tros adicionais perante rgos pblicos.

    No SolenesNo h forma prescrita em lei. No exige solenidade espe-

    cfi ca.

    7.2. Natureza

    Quanto sua natureza, os contratos podem ser classifi cados de acordo com as subdivises abaixo:

    Unilaterais vs. BilateraisUnilaterais So aqueles que se aperfeioam por uma s obrigao.

    Bilaterais So os que se aperfeioam por reciprocidade de obrigaes.

    Onerosos vs. Gratuitos

    OnerososSo aqueles onde h sacrifcio patrimonial para ambas as

    partes

    GratuitosSo aqueles onde h um sacrifcio patrimonial, apenas, para

    uma das partes

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 14

    Comutativos vs. Aleatrios

    Comutativos (Sinalagmti-

    cos)

    So os contratos onde as prestaes se cumprem simulta-neamente Adjetivao daquilo que bilateral, recproco, que importa em igualdade de direitos e deveres para as partes con-tratantes. Contrato em que as partes assumem obrigaes re-cprocas. Tambm denominado bilateral.

    AleatriosSo os contratos onde as prestaes so deferidas para o

    futuro

    Paritrios vs. Por Adeso

    Paritriosas partes estipulam clusulas em p de igualdade. A balan-

    a est equilibrada

    Por Adesoumas das partes apenas adere proposta da outra, no po-

    dendo discutir as clusulas contratuais. A balana est dese-quilibrada

    7.3. Tempo

    Quanto ao tempo, os contratos podem ser classifi cados de acordo com as subdivises abaixo:

    Instantneos vs. Trato Sucessivo

    Instantneosaqueles em que as prestaes se executam no momento da

    celebrao do contrato.

    Trato Suces-sivo

    so aqueles em que no possvel sua satisfao em um s momento

    7.4. Pessoa

    Quanto pessoa, os contratos podem ser classifi cados de acordo com as subdivises abaixo:

    Pessoais vs. Impessoais

    PessoaisSo realizados em razo da pessoa, com base na anca rec-

    proca entre as partes e s podem ser executados pelo prprio devedor

    ImpessoaisQuando a pessoa do outro contraente no elemento de-

    terminante para a concluso do contrato.

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 15

    8. Concluso

    A fi m de que possamos analisar os contratos empresariais, importante, em um primeiro momento, analisarmos as caractersticas dos contratos em geral. Como vimos, seus requisitos de validade podem ser divididos em gerais e especiais. Seus elementos constitutivos podem ser essenciais ou acidentais. Estudamos ento os princpios clssicos e novos do direito contratual, e de que forma eles se complementam e contrapem. Por fi m, elencamos as clas-sifi caes dos contratos em razo da sua forma, natureza, tempo e pessoa.

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 16

    4 FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Con-tratos Empresariais. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, pg. 28.29.

    5 A acepo nexus of contracts parte de estudo mais amplo, no mbito da The-ory of the Firm usualmente atribuda ao doutrinador Michael C Jensen, segundo a qual: [t]he public corporation is the nexus for a complex set of voluntary con-tracts among customers, workers, ma-nagers, and the suppliers of materials, capital, and risk bearing. This means the parties contract not between themselves bilaterally, but unilaterally with the legal fi ction called the corporation, thus gre-atly simplifying the contracting process. The rights of the interacting parties are determined by law, the corporations charter, and the implicit and explicit con-tracts with each individual. JENSEN, Mi-chael C., Theory of the Firm: Governance, Residual Claims and Organizational For-ms (Preface and Introduction) (May 16, 1999). Disponvel em SSRN: Acessa-do em 08/07/2014.

    6 A nomenclatura tradicionalmente aplicada a tais contratos poder variar nas acepes de Contratos Empresa-riais, Contratos Comerciais ou Con-tratos Mercantis. Para fi ns didticos, adotaremos como padro de referncia nesta apostila somente a nomenclatura Contratos Empresariais, que sob o nosso ponto de vista aquela tecni-camente mais adequada aos tempos modernos.

    7 FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Con-tratos Empresariais. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, pg. 29.

    II. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS EMPRESARIAIS

    A) BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

    Bsica

    FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, pgs. 23-54.

    Complementar

    JENSEN, Michael C., Th eory of the Firm: Governance, Residual Claims and Organizational Forms (Prefcio e Introduo). Harvard University Press, De-cember 2000. Disponvel em SSRN: Acessado em 01/07/2014.

    B) ROTEIRO DE AULA

    1. Consideraes Preliminares

    Conforme examinamos anteriormente, os contratos estabelecem vnculos jurdicos entre as partes contratantes, criando, modifi cando e/ou extinguin-do direitos e/ou obrigaes, que sero convertidos em prestaes exigveis, de acordo com os termos e condies do respectivo contrato.

    Na dinmica empresarial, h intensa necessidade de estabelecimento de relaes jurdicas com terceiros (i.e., empresa outros agentes). Tais relaes jurdicas so estabelecidas por meio de contratos diversos.

    Em inmeros casos, h o estabelecimento de teia contratual4 de modo a viabilizar a consecuo de determinada atividade empresarial.

    Sob a lgica dos estudos de Law & Economics, h tambm quem sustente a teoria de que as grandes companhias so estabelecidas e organizadas por meio de nexus of contracts5, na medida em que os seus negcios e atividades so viabilizados por contratos entre diferentes partes contratantes.

    No mbito do Direito Empresarial, o estudo dos contratos d ateno especial aos Contratos Empresariais6 (tambm referidos como Contratos In-terempresariais), que so aqueles celebrados entre empresas (i.e., em que so-mente empresas fazem parte da relao jurdica). Ou seja, no h pessoas fsicas e/ou sujeitos de direito organizados sem os elementos de empresa.

    A este respeito, Paula Forgioni7 ensina que:

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 17

    8 De acordo com o caput do artigo 966 do Cdigo Civil, Considera-se empre-srio quem exerce profi ssionalmente atividade econmica organizada para a produo ou a circulao de bens ou de servios. O pargrafo nico do mesmo dispositivo complementa que: No se considera empresrio quem exerce profi sso intelectual, de natureza cien-tfi ca, literria ou artstica, ainda com o concurso de auxiliares ou colabora-dores, salvo se o exerccio da profi sso constituir elemento de empresa.

    A ateno do comercialista recai necessariamente sobre os contratos interempresariais, ou seja, aqueles celebrados entre empresas, i.e., em que somente empresas fazem parte da relao. Ao assim proceder, identifi camos os contratos empresariais com aqueles em que ambos (ou todos) os polos da relao tm a sua atividade movida pela busca do lucro. preciso reconhe-cer: esse fato imprime vis totalmente peculiar aos negcios jurdicos entre empresrios.

    Entretanto, adotar esse mtodo de anlise da realidade do mercado des-cortina viso jurdica pouco usual entre ns, porquanto:

    (i) Considera como objeto do direito comercial apenas os contratos celebrados entre empresas (contratos interempresariais, i.e., aqueles em que os partcipes tm sua atuao plasmada pela procura do lucro); e

    (ii) Coloca em relevo a necessidade do esboo da teoria geral que leve em considerao as peculiaridades dos contratos interempresariais no con-texto do mercado (i.e., que considere a empresa na teia contratual em que se insere e que ajuda a construir).

    Sendo assim, o escopo central deste estudo so os contratos celebrados no universo empresarial apenas entre partes contratantes dotadas de elementos de empresa8.

    2. Contratos Empresariais

    Os contratos empresariais so aqueles em que ambos (ou, conforme o caso, todos) os polos da relao jurdico-contratual tm sua atividade movida por razes empresariais.

    O elemento da empresarialidade reconhecido na medida em que a orga-nizao econmica dos fatores de produo desenvolvida para a produo ou circulao de bens ou servios por meio de estabelecimento empresarial que vise ao lucro maximizao do valor dos investimentos realizados.

    O aspecto empresarial atribui caractersticas prprias e vis peculiar aos contratos empresariais (e negcios jurdicos entre empresrios), que na-turalmente os distinguem dos contratos em outros segmentos do Direito.

    De forma geral, no mbito de tais contratos, h equivalncia de poderes e foras entre as partes contratantes, no havendo relao de hipossufi cincia e/ou desequilbrio no que tange s questes contratuais. Por conta destas carac-tersticas, existe uma preocupao usual de esculpir o contexto em que esto

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 18

    9 COMPARATO, Fbio Konder. Novos Ensaios e Pareceres de Direito Empre-sarial, p. 251

    sendo realizadas tais contrataes, de modo a evidenciar a situao em que a formao e cumprimento do contrato foram e/ou esto sendo realizadas.

    Neste sentido, a depender da natureza do contrato a ser celebrado, so usuais clusulas e regras contratuais tendentes a explicitar a condio e/ou si-tuao especfi cas das partes contratantes, especialmente quando se pretende caracterizar o equilbrio de foras e demais caractersticas de contextualizao no caso concreto. So comuns regras de que as partes contratantes:

    (i) possuem conhecimento e experincia em questes econmico-fi -nanceiras e de negcios em geral, sendo capazes de avaliar o negcio jurdico pretendido e, deste modo, identifi car vantagens, desvanta-gens, riscos e potenciais de retorno em relao a tal negcio jurdico pretendido;

    (ii) esto devidamente assessoradas por executivos e profi ssionais com-petentes (advogados, contadores e assessores em geral), que so fa-miliarizados com operaes semelhantes ao negcio jurdico pre-tendido; e

    (iii) conduziram investigaes independentes acerca do negcio jurdi-co pretendido (i.e., conforme o caso, realizaram due diligence; au-ditorias tcnicas e operacionais; sondagens; pesquisas de campo; planejamentos de negcio em relao ao projeto e etc).

    3. Contratos Empresariais vs. Contratos Cveis em Geral (especialmente Contratos de Consumo):

    Se o vnculo estabelece-se em torno ou em decorrncia da atividade empre-sarial de ambas as partes, premidas pela busca do lucro (e, conforme o caso, valorizao do investimento realizado), no se deve subsumir este tipo de con-trato lgica jurdica das relaes consumerista (i.e., Direito do Consumidor).

    Os contratos empresariais devem ser tratados como categoria autnoma em relao aos contratos em geral?

    Fbio Konder Comparato9 ensina que:

    No h, propriamente, contraposio de dois sistemas jurdicos distintos em matria de obrigaes: o do Cdigo Civil e o do Cdigo Comercial. O que h um s sistema, no qual os dispositivos do Cdigo de Comrcio aparecem como modifi caes especfi cas das regras gerais da legislao civil, relativa-mente s obrigaes e contratos mercantis. A duplicidade legislativa aparece, to-s, no que tange a essas regras de exceo, dentro do sistema global

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    10 FERREIRA, Waldemar. Instituies de Direito Comercial, v. 3, p. 12.

    Por sua vez, Waldemar Ferreira10 sustenta que:

    No difere, com efeito, essencialmente a obrigao comercial da civil. No se distingue a relao jurdico-comercial de qualquer outra. A essncia sempre a mesma.

    A unifi cao do regime jurdico dos contratos, conforme empreendida pelo Cdigo Civil de 2002, trouxe certo descaso teoria geral dos contra-tos mercantis, uma vez que a pretensa coincidncia entre os regimes das obrigaes civis e comerciais induz ao no estudo separado dos dois grupos de contratos, buscando singularidades no funcionamento e na disciplina de cada um deles.

    Entretanto, tradicionalmente, a distino da teoria geral dos contratos mercantis centrava-se na identifi cao das diferenas entre os Contratos Civis e os Contratos Mercantis, mas nos tempos atuais assumiu nova feio.

    O Direito do Consumidor afl orou a existncia de ramo independente sujeito s especifi cidades (ou princpios peculiares) que lhe do forma e con-tedo, tais como a vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo e o direito de no ser explorado.

    A consolidao do direito do consumidor tem levado os contratos empre-sariais sua redescoberta como categoria autnoma, merecedora de trata-mento peculiar e distinto das regras do direito civil e do direito consumerista.

    Por razes diversas, diz-se que a tripartio atual da matria dos contratos deve ser feita entre: (1) Contratos Civis; (2) Contratos com Consumidores; e (3) Contratos Empresariais.

    O trao diferenciador dos contratos empresariais o escopo de lucro bila-teral, que condiciona o comportamento das partes. H uma dinmica pecu-liar, que no pode ser negligenciada! A perseguio de vantagem econmica o motor das partes contratantes.

    Segundo o autor Antnio Junqueira de Azevedo, os contratos podem ser divididos em contratos empresariais e contratos existenciais, que incluem os contratos de consumo, os contratos celebrados para viabilizar a subsistn-cia da pessoa humana, a compra da casa prpria, os contratos de trabalho e as locaes residenciais.

    4. Anlise dos Elementos Constitutivos dos Contratos luz da dinmica empresarial

    Se os contratos empresariais so aqueles celebrados entre empresas e nos quais ambos (ou, conforme o caso, todos) os polos da relao jurdico-con-

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    tratual tm a sua atividade movida por razes empresariais, faz-se necessrio analisar a questo dos elementos constitutivos nos contratos empresariais.

    4.1 Capacidade

    A fi m de evidenciar o atendimento da capacidade das partes, so usuais clusulas no sentido de que:

    Constituio. As partes contratantes esto devidamente constitudas e validamente existentes, encontrando-se em situao regular de acordo com as legislaes que lhes so aplicveis.

    Autorizao. As partes contratantes possuem plena capacidade e au-toridade para intervir no presente Contrato, realizar todas as operaes previstas no contrato, exercer os direitos e, conforme o caso, cumprir todas as obrigaes assumidas, inexistindo qualquer impedimento legal ou con-tratual em relao realizao das operaes previstas. O cumprimento de suas obrigaes nos termos do contrato, foi, conforme aplicvel, devidamen-te autorizado pelos atos societrios e/ou rgos societrios competentes (i.e., Assembleia Geral, Conselho de Administrao e/ou Diretoria).

    No Violao. A celebrao do contrato e o cumprimento das obrigaes nele previstas: (i) no violam, infringem ou de qualquer forma contrariam disposies de qualquer contrato, compromisso ou outra obrigao relevan-te da qual tal parte contratante esteja vinculadas e que possa dar causa a inadimplemento; (ii) no infringem qualquer disposio de lei, decreto, norma ou regulamento, ordem administrativa ou judicial a que tal par-te contratante esteja sujeita; ou (iii) no exigem qualquer consentimento, aprovao ou autorizao de qualquer pessoa fsica ou jurdica com relao a tal parte contratante.

    4.2 Objeto

    Da mesma forma, no que tange questo do objeto lcito, possvel e de-terminado ou determinvel, so usuais disposies contratuais no sentido de detalhar e especifi car qual o negcio pretendido pelas partes contratantes e o que est sendo objetivado com a referida contratao:

    Objeto. A [EMPRESA XPTO], neste ato, cede e transfere [EMPRE-SA WTO], em carter total, defi nitivo, irrevogvel e irretratvel, na for-

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    ma, extenso e aplicao em que o detm, por fora das leis, contratos e tratados em vigor ou que no futuro vierem a vigorar, por todo o prazo de durao da Concesso (cf. defi nio), os direitos de passagem longitudinal sobre toda a rea Geogrfi ca (cf. defi nio) em geral, que sejam necessrios e/ou convenientes para a instalao e manuteno da Infraestrutura (cf. defi nio) e/ou para o desenvolvimento do Negcio (cf. defi nio), podendo a [EMPRESA XPTO] construir, operar, comercializar e/ou praticar todas as atividades que se fi zerem necessrias ao Negcio (cf. defi nio).

    Prerrogativas Adicionais. A [EMPRESA XPTO], tambm poder va-ler-se de direito de passagem para realizar cruzamentos de vias na rea Geogrfi ca em geral sempre que necessrio instalao e manuteno da Infraestrutura e/ou ao estabelecimento de ligaes em geral em relao ao Negcio.

    Vedaes Especfi cas. A [EMPRESA XPTO] no poder realizar ne-nhuma atividade que contrarie os poderes originalmente detidos pela [EM-PRESA WTO] em relao Concesso da rea Geogrfi ca

    4.3 Forma

    No que se refere forma prescrita ou no defesa em lei, nos casos de contra-tos solenes so usuais regras semelhantes abaixo:

    Os [GARANTIDORES], neste ato e na melhor forma de direito, em-penham em favor do [CREDOR], nos termos do artigo 1.419 e seguintes do Cdigo Civil, em carter irrevogvel e irretratvel, a totalidade das [AES] de sua propriedade de emisso da [COMPANHIA XPTO] (Aes Empenhadas).

    Este Instrumento de Penhor ser registrado perante o Cartrio de Regis-tro de Ttulos e Documentos competente, devendo, ainda, a garantia ora constituda ser averbada no Livro de Registro de Aes Nominativas da [COMPANHIA XPTO], nos termos do art. 39 da Lei n 6.404/76.

    Os [GARANTIDORES] e a [COMPANHIA XPTO] comprometem-se a manter a anotao do penhor no Livro de Registro de Aes Nominativas da [COMPANHIA XPTO] at o momento de sua total liberao.

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    4.4 Consentimento Recproco ou Acordo de Vontades

    No que tange questo necessidade de consentimento recproco e/ou acordo de vontade das partes contratantes), so usuais disposies contratuais no sen-tido de evidenciar que as partes manifestaram a vontade de forma adequada, sem nenhum elemento que pudesse contamin-la. Como exemplo:

    As partes contratantes, neste ato e na melhor forma de direito, no exerc-cio de sua manifestao de vontade de forma livre e manifesta, sem qualquer induzimento ou coao, em carter irrevogvel e irretratvel, do entre si recproca, plena, rasa, geral e irrevogvel quitao, por todos e quaisquer valores a que tenham feito ou faam jus em decorrncia de atos e/ou fatos direta ou indiretamente relacionados ao Contrato, para nada mais recla-marem, pretenderem haver ou exigirem uns dos outros, a qualquer tempo e a qualquer ttulo, em juzo ou fora dele.

    4. Concluso

    Por razes diversas, os contratos empresariais possuem caractersticas pr-prias e que devem ser devidamente conhecidas, identifi cadas e aplicadas pelos operadores de Direito.

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    11 FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, p. 60.

    III. VETORES DE FUNCIONAMENTO DOS CONTRATOS EMPRESARIAIS

    A) BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

    FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, pgs. 55-151.

    B) ROTEIRO DE AULA

    1. Consideraes Preliminares:

    Conforme examinado anteriormente, nos contratos empresariais, ambos (ou todos) os polos das relaes jurdicas estabelecidas so movidos pela bus-ca do lucro, tm sua atividade toda ela voltada para a perseguio de vantagem econmica, sendo o contrato um instrumento para atingir este fi m. Sendo assim, analisaremos a seguir algumas das caractersticas inerentes aos contratos empresariais.

    2. Custos de Transao

    A empresa contrata porque entende que o negcio lhe trar mais vanta-gens do que desvantagens. As contrataes so tambm resultado dos custos de suas escolhas; o agente econmico para obter a satisfao de sua neces-sidade, opta por aquela que entende ser a melhor alternativa disponvel, ponderando os custos que dever incorrer para a contratao de terceiros.11

    Em resumo, para que se reduzam os custos de transao, necessrio pon-derar os custos de obter um bem ou servio por meio de contratao com os custos de se obter o mesmo bem ou servio de outras formas (ex: produ-o prpria). Assim, quanto mais empresas ofertarem um mesmo bem ou servio no mercado, um empresrio, individualmente, ter menos poderes de infl uenciar o preo da coisa, de modo que, diante de tantas alternativas possveis, os custos de transao sero diminutos.

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    12 FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, p. 58.

    13 FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, p. 65.

    14 FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, p. 65.

    15 FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, p. 71.

    16 FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, p. 73.

    3. Funo Econmica do Contrato:

    Os contratos empresariais assumem como funo precpua a de promover a circulao de mercadorias e servios no mercado, bem como a circulao de valores, que intrnseca aos contratos celebrados em mbito comercial.

    As partes no contratam pelo mero prazer de trocar declaraes de von-tade. Ao se vincularem, as empresas tm em vista determinado escopo, que se mescla com a funo que esperam o negcio desempenhe.12

    Perspectiva da Contratao => Dinmica vs. Esttica; Objetiva vs. Subjetiva

    4. Prtica e Contratos Empresariais:

    As partes, quando negociam e contratam, no tomam confortavelmen-te assento diante de um cdigo e escolhem, entre frmulas pr-existentes [i.e., tipifi cadas], aquela que mais lhes apraz. Os contratos empresariais nascem da prtica dos comerciantes e raramente de tipos normativos pre-concebidos por autoridades exgenas ao mercado.13

    5. Oportunismo e Vinculao:

    A parte, ao celebrar um contrato, gostaria de vincular o parceiro co-mercial, mas tambm de permanecer livre para deixar aquela relao e abraar outra que eventualmente se apresente como mais interessante.14

    6. Incompletude Contratual:

    Muitos contratos no contm e no podem mesmo conter a pre-viso sobre todas as vicissitudes que sero enfrentadas pelas partes. 15

    7. Ambiente Institucional:

    O negcio jurdico somente pode ser entendido na complexidade de seu contexto, cuja anlise requer viso interdisciplinar.16

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    17 FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, p. 89.

    18 FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, p. 95.

    19 FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, p. 117.

    8. Tutela do Crdito:

    Se as partes em um contrato no acordarem sobre os crditos provenientes da relao contratual, o cumprimento da funo econmica dos contratos empresariais restar severamente prejudicado pelos inadimplementos dos contratantes.

    A disciplina dos contratos empresariais prestigia a tutela do crdito.17

    9. Confiana e Custos de Transao:

    A disciplina dos contratos empresariais deve privilegiar a confi ana, tutelar a legtima expectativa; quanto maior o grau de confi ana existente no mercado, menores os custos de transao e mais azeitado o fl uxo de re-laes econmicas.18

    10. Usos e Costumes:

    Os usos e costumes geram legtimas expectativas de atuao, probabi-lidades de comportamento; presume-se que as partes comportar-se-o de acordo com o modelo usual, de maneira que cada agente capaz de plane-jar sua jogada (i.e., estratgia de atuao no mercado) com maior margem de segurana.19

    11. Forma e Custos de Transao:

    Com vistas a garantir que os contratos empresariais cumpram com a fun-o econmica de fazer circular bens, servios e valores no mercado, os con-tratos, na conduta mais diligente, assumem carter instrumental, de modo a garantir maior segurana em relao ao adimplemento das obrigaes estabe-lecidas para as partes dos contratos.

    12. Contrato como instrumento de alocao de riscos:

    O contrato celebrado entre as partes, ao atribuir responsabilidades e obri-gaes aloca riscos do negcio desenvolvido por elas.

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    20 FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, p. 139

    13. Contrato e Informaes:

    A imposio de padro jurdico quanto s informaes que devem ser prestadas quando da celebrao dos negcios permite o incremento do fl uxo de relaes econmicas.20

    14. Aumento da dependncia econmica pelo contrato:

    Realizado o devido esforo para alocar os riscos do negcio entre as partes no contrato, pode ser que haja um aumento da dependncia econmica entre as partes (ex: clusula de exclusividade).

    15. Concluso

    Como podemos ver, os contratos empresariais possuem algumas caracte-rsticas prprias, que nem sempre se aplicam aos demais contratos. Tais carac-tersticas representam vetores da forma de funcionamento de tais contratos.

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    IV. CONTRATOS DE INTERCMBIO VS. CONTRATO DE SOCIEDADE VS. CONTRATOS DE COLABORAO

    A) BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

    FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, pgs. 152-214.

    B) ROTEIRO DE AULA

    1. Consideraes Preliminares

    De forma geral, pode-se dizer que os contratos concretizam e possibilitam a atuao das empresas no mercado, formando seu substrato. Podem ser clas-sifi cados em duas categorias:

    Contratos de Intercmbio; e

    Contratos de Sociedade (i.e., em que h solidariedade de interesses)

    H ainda os chamados Contratos de Colaborao, que so negcios mer-cantis que se encontram em situao intermediria s duas classifi caes refe-ridas acima (=> so Contratos Hbridos).

    2. Contratos de Intercmbio:

    Nos Contratos de Intercmbio, o incremento da vantagem econmica de uma parte tende a representar a diminuio do proveito econmico da outra.

    H contraposio entre os interesses das partes contratantes, que se repre-senta pela coparticipao de sujeitos de direito com interesses econmicos contrapostos.

    A contraposio essencial para caracterizao do Contrato de Intercm-bio, que em ltima anlise uma composio de interesses.

    3. Contratos de Sociedade:

    Agentes econmicos utilizam este instrumento visando a associao ou cooperao visando ao desenvolvimento de atividade mercantil comum. Um

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    de seus elementos caractersticos a reunio de esforos, somado lea do empreendimento (i.e., imprevisibilidade concreta).

    Duas instituies foram criadas de forma a tentar harmonizar os interes-ses das demais partes dos contratos de sociedade e incentivar a colaborao mtua, sendo elas:

    (i) limitao de responsabilidade (com a mobilizao de capitais); e

    (ii) proporcionalidade entre o capital investido e o poder interna corpo-ris dele decorrente, com a consolidao do princpio majoritrio.

    4. Contratos de Colaborao:

    Os Contratos de Colaborao podem ser defi nidos como tendo forma hbrida. Signifi ca dizer que se situam entre os Contratos de Intercmbio e de Sociedade, uma vez que h, ao mesmo tempo, plurititularidade e cooperao. Representam uma nova forma de associao capaz de acomodar interesses comuns de diferentes empresas.

    Cada vez mais, diversas empresas tm optado por colaborarem entre si buscando um melhor desempenho das suas atividades.

    Exemplo:

    Fabricante estrangeiro de artefatos de couro de grande valor agrega-do, que almeja vender produtos no Brasil. Constituio de subsidiria e/ou fi lial local no efi ciente (altos custos envolvidos e desconheci-mento do mercado local). Esse agente econmico opta, ento, pela ce-lebrao de contrato de distribuio com empresa brasileira.

    Em tal exemplo, as fi nalidades das empresas contratantes so interde-pendentes, na medida em que: quanto maiores as vendas ao consumi-dor fi nal, maiores os proveitos para ambas as empresas contratantes.

    Os Contratos de Colaborao surgem da necessidade de evitar os in-convenientes que adviriam da celebrao de extensa srie de contratos de intercmbio desconectados (custos de transao) e da fuga da ri-gidez tpica dos esquemas societrios (ou hierrquicos), por meio de Contratos de Sociedade.

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    4.1 Caractersticas dos Contratos de Colaborao:

    So de trato continuado. De forma geral, tendem a se estender no tempo (Diferentemente dos Contratos de Intercmbio, onde h esgo-tamento imediato).

    Ausncia de comportamento oportunista. H dependncia recpro-ca ente as empresas contratantes.

    Necessidade de viso interdisciplinar, no limitada somente ao Direito. Exemplo: O agente analisa se, em determinada situao, mais vanta-joso para ele comprar determinado bem que ele necessita ou organizar os fatores de produo de forma com que ele mesmo o produza.

    Alocao dos poderes de deciso nos contratos => Princpio do pacta sunt servanda.

    Contratos de Colaborao:

    Nos Contratos de Sociedade, a soluo de problemas (discordncias) roti-neiros entre scios tende a ser resolvida mais facilmente do que entre empre-sas contratantes em regimes de contrato de colaborao (relao societria relao contratual).

    No ambiente societrio, h sempre o princpio majoritrio. No ambiente contratual, h necessidade de consenso para a tomada de decises.

    Nos contratos de intercmbio, a questo se resolve de outra forma. No h necessidade de alocao de poderes de deciso, pois as partes so totalmente independentes e possuem interesses contrapostos.

    Os contratos de colaborao no podem ser tratados como os de inter-cmbio e/ou receber o tratamento reservado s sociedades.

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    21 FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, pgs. 215-250.

    V. INTERPRETAO DOS CONTRATOS EMPRESARIAIS

    A) BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

    Bsica

    FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, pgs. 215-250.

    Complementar

    FORGIONI, Paula. A Interpretao dos Negcios Empresariais no Novo Cdigo Civil Brasileiro. Revista de Direito Mercantil n 130. So Paulo: Editora Ma-lheiros, abril-junho 2003, pgs. 7-38.

    B) ROTEIRO DE AULA

    Os negcios mercantis merecem tratamento interpretativo diverso daque-le reservado s relaes entre fornecedores e consumidores.

    Os princpios aplicveis s relaes entre empresrios so diferentes! Deve ser evitado o risco de consumerismo nas relaes entre empresrios.

    Gnese do Direito Empresarial => Dar condies ao melhor fl uxo das relaes econmicas mediante a reduo de custos de transao.

    Paula Forgioni21, em referncia s lies do jurista Robert Joseph Pothier, ensina que os mtodos interpretativos dos contratos empresariais precisam ser submetidos a algumas adequaes, adotando como parmetros, por exemplo:

    Nas convenes mais se deve indagar qual foi a inteno comum das partes contratantes do que o sentido gramatical das palavras.

    Qual foi o objetivo das partes ao contratarem?

    Qual a funo econmica a ser obtida com o acordo?

    Qual a racionalidade (jurdica) que deve ser considerada como princi-pal elemento interpretativo?

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    O que, no mercado, normalmente se busca com tal prtica?

    Quando uma clusula suscetvel de dois sentidos, deve entender-se naquele em que ela pode ter efeito e no naquele em que no teria nenhum efeito.

    Se as partes no contratam meramente pelo prazer de contratar, o contrato deve ser concebido de acordo com uma funo (=> funo econmica => causa) e a interpretao da avena deve levar sua con-secuo.

    Deve-se examinar a razo de existncia do contrato.

    Quando em um contrato os termos so suscetveis de dois sentidos, devem entender-se no sentido que mais convm natureza do contra-to.

    A natureza do contrato est ligada sua tipifi cao social, ou seja, aos efeitos que dele normalmente decorrem. A natureza do contrato liga-se sua funo econmica (i.e., exame dos efeitos socialmente e mercadologicamente esperados.

    Aquilo que em um contrato ambguo, interpreta-se conforme os usos e costumes do pas (i.e., premissas implcitas de Ascarelli).

    Os usos e costumes servem como pauta de interpretao dos contra-tos.

    A objetivao social dos efeitos tpicos torna-os previamente reconhe-cidos e desejados pelas partes.

    Os usos e costumes so to importantes na interpretao dos contra-tos, que se subentendem presentes nos contratos as clusulas decor-rentes dos usos e costumes, mesmo quando as mesmas no constam do contrato.

    Os usos e costumes assumiro funo de integrao contratual (preen-chendo as lacunas que, eventualmente, forem encontradas nas decla-raes das partes contratantes).

    Uma clusula deve interpretar-se pelas outras do mesmo contrato.

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    A unicidade do contrato deve presidir a interpretao do mesmo.

    O contrato deve ser interpretado em sua integralidade e no apenas em relao a algum aspecto especfi co.

    Na dvida, uma clusula deve interpretar-se contra aquele que tem estipulado uma coisa, em descargo daquele que tem contrado a obri-gao.

    O credor deve imputar a si o no ter se explicado melhor. Em tese, a pes-soa em posio de superioridade na relao contratual deve ter a interpreta-o menos favorvel em caso de dvida.

    Artigo 131 do Cdigo Comercial => Revogado pelo Cdigo Civil de 2002, mas mantidos alguns pontos centrais de tal dispositivo legal como parmetro interpretativo nos Contratos Empresariais:

    Respeito boa-f objetiva (e no subjetiva);

    Fora normativa dos usos e costumes;

    Vontade objetiva e desprezo pela inteno individual de cada um dos contratantes (busca pelo esprito do contrato e/ou pela natureza do contrato e no a inteno de cada uma das partes individualmente considerada);

    Comportamento das partes como forma de chegar vontade comum (ao esprito do contrato);

    Interpretao a favor do devedor; e

    Respeito autonomia privada.

    Questes Fundamentaisem relao Interpretao dos Contratos Empresariais

    Padro de comportamento (i.e., homem ativo e probo)

    Racionalidade Econmica(i.e., busca do lucro e maximizao

    do valor do investimento)

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    Perfi l do negcio deriva da funo econmica que normalmente esperada pelos agentes que atuam naquele mercado.

    O parmetro a ser considerado como de normalidade aquele dos comerciantes acostumados a praticar essa espcie de negcio e no o do cidado comum, distanciado daquele business.

    Cdigo Civil de 2002

    Art. 112. Nas declaraes de vontade se atender mais inteno nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

    Art. 113. Os negcios jurdicos devem ser interpretados conforme a boa--f e os usos do lugar de sua celebrao.

    Art. 114. Os negcios jurdicos benfi cos e a renncia interpretam-se es-tritamente.

    Art. 421. A liberdade de contratar ser exercida em razo e nos limites da funo social do contrato.

    Art. 422. Os contratantes so obrigados a guardar, assim na concluso do contrato, como em sua execuo, os princpios de probidade e boa-f.

    Art. 423. Quando houver no contrato de adeso clusulas ambguas ou contraditrias, dever-se- adotar a interpretao mais favorvel ao aderente.

    Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigao, pode exigir o implemento da do outro.

    Art. 477. Se, depois de concludo o contrato, sobrevier a uma das par-tes contratantes diminuio em seu patrimnio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestao pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se prestao que lhe incumbe, at que aquela satisfaa a que lhe compete ou d garantia bastante de satisfaz-la.

    Art. 478. Nos contratos de execuo continuada ou diferida, se a prestao de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinrios e imprevisveis, poder o devedor pedir a resoluo do contrato. Os efeitos da sentena que a decretar retroagiro data da citao.

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    Art. 479. A resoluo poder ser evitada, oferecendo-se o ru a modifi car eqitativamente as condies do contrato.

    Art. 480. Se no contrato as obrigaes couberem a apenas uma das partes, poder ela pleitear que a sua prestao seja reduzida, ou alterado o modo de execut-la, a fi m de evitar a onerosidade excessiva.

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

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    VI. CONTRATOS EM ESPCIE

    VI.1. COMPRA E VENDA MERCANTIL

    A) MATERIAL DE LEITURA

    Leitura Bsica

    MARTINS, Fran. Contratos e obrigaes comerciais, ed. rev. e aum. Rio de Janeiro, Forense, 2002. pp. 137 181.

    Leitura Complementar

    GILSON, Ronald J. and SCHWARTZ, Alan, Understanding MACs: Mo-ral Hazard in Acquisitions (February 2004). Columbia Law and Economics Working Paper No. 245; Stanford Law and Economics Olin Working Paper No. 278; Yale Law & Economics Research Paper No. 292. Disponvel em SSRN: Acessado em 08/07/2014.

    B) ROTEIRO DE AULA

    1) Conceito

    O Contrato de compra e venda o contrato mais utilizado no cotidiano comercial, destinado a promover a transferncia e a aquisio da propriedade de algum bem e/ou direito.

    Orlando Gomes conceitua da seguinte forma:

    Compra e venda o contrato pelo qual uma das partes se obriga a transferir a propriedade de uma coisa outra, recebendo em contrapresta-o determinada soma em dinheiro ou valor fi ducirio equivalente

    Por sua vez, mas na mesma linha, Caio Mrio da Silva Pereira diz que:

    Denomina-se compra e venda o pelo qual uma pessoa se obriga a trans-ferir o domnio de uma coisa a outra pessoa, a qual, por sua vez, se obriga, como contraprestao, a pagar-lhe certo preo em dinheiro

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    22 PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Insti-tuies de Direito Civil, Volume III. 16 edio. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 146

    23 PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Insti-tuies de Direito Civil, Volume III. 16 edio. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 164.

    Por fi m, o Cdigo Civil de 2002 defi ne o contrato de compra e venda da seguinte forma:

    Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domnio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preo em dinheiro.

    2) Caractersticas e Natureza Jurdica dos Contratos de Compra e Venda

    Os contratos de compra e venda so marcados por dois momentos, quais sejam:

    i) a celebrao do contrato, constitutiva de obrigaes para o vende-dor de transferir a coisa para a o comprador; e para o comprador de pagar o preo acordado com o vendedor; e

    ii) a efetiva transmisso da propriedade da coisa objeto do contrato pela entrega da coisa pelo vendedor ao comprador.

    Dessa forma, percebe-se que o efeito translatcio de propriedade prove-niente do contrato de compra e venda somente se aperfeioa com a entrega da coisa pelo vendedor ao comprador22. Nos contratos de compra e venda, na tradio, alm de haver a transferncia de propriedade do vendedor ao comprador, h, tambm, a transmisso dos riscos e benefcios inerentes coisa, de modo que at a entrega da mesma o vendedor suportara o bnus e nus de mant-la e, a partir de sua transferncia, quem os suportar ser o comprador23.

    Sinalagmtico (ou Bilateral): Envolve prestaes recprocas de ambas as partes. O comprador deve pagar o preo acordado enquanto o ven-dedor deve entregar a coisa;

    Oneroso: Tanto o comprador quanto o vendedor tm prestaes a cumprir, que envolvem transferncia de domnio. A gratuidade da compra e venda, expressa na desproporo manifesta entre o valor da coisa transferida e o preo acordado, desfi gura a compra e venda. O correspondente gratuito da compra e venda a doao;

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    24 PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Insti-tuies de Direito Civil, Volume III. 16 edio. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 147

    25 MARTINS, Fran. Contratos e obriga-es comerciais, ed. rev. e aum. Rio de Janeiro, Forense, 2002. p. 120.

    Consensual e (em regra) No Solene: Depende apenas da vlida e ade-quada manifestao de vontade das partes. Estando ambas de acordo com o objeto e o preo, o contrato realizado;

    Translativo de propriedade: em verdade, o contrato de compra e ven-da no um ato translativo de propriedade por si s, mas gera obriga-o para o vendedor de transferir a propriedade ao comprador, o que efetivamente ocorre com a entrega da coisa ao comprador24.

    3) Elementos Caracterizadores do Contrato de Compra e Venda

    Consentimento: Comprador e vendedor tm que chegar a um acordo quanto ao objeto e ao preo a ser pago para que o contrato de compra e venda se torne perfeito. O consentimento dever ser expresso, de modo que o silncio de uma de comprador ou vendedor em uma oferta de compra ou de venda no importa anuncia em comprar ou vender determinada coisa.

    Para que o consentimento seja vlido ser necessrio, ainda, que vendedor e comprador sejam partes capazes, pois, caso contrrio, o contrato ser nulo anulvel conforme os casos de incapacidade da pessoa contratante25.

    Preo: Deve ser pago em dinheiro (vide artigo 481 do CC); no pode ser irrisrio, fi ctcio ou simblico em relao ao valor da coisa, sob pena de desnaturao do contrato de compra e venda e caracterizao de outro tipo contratual; deve ser certo, isto , determinado ou determinvel (vide artigos do CC).

    Coisa: Todas as coisas que no estejam fora do comrcio podem ser objetos do contrato de compra e venda. Isso no quer dizer, entretanto, que s podem ser objetos de contratos de compra e venda os bens tangveis, pois, os bens imateriais ou intangveis (ex.: fundo de comrcio, marcas e direitos de PI em geral) tambm podem ser alienados.

    Com isso, para ser objeto de um contrato de compra e venda, basta que a coisa exista; seja determinada ou determinvel; consista em bem disponvel e, portanto, alienvel; seja de propriedade do vendedor; e no seja propriedade do comprador.

    No obstante, ainda possvel celebrar contratos de compra e venda sobre coisa futura, que ainda no existe, mas que passar a existir e momento futu-ro (i.e., operao a termo; compra e venda futura; e etc.).

    Os trs elementos caracterizadores com contrato de compra e venda so elencados no Art. 482 do Cdigo Civil de 2002, in verbis:

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    Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se- obrigatria e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preo. (grifo nosso).

    4) Da Compra e Venda Mercantil.

    Os contratos de Compra e Venda Mercantis, diferentemente dos contra-tos de compra e venda gerais, so caracterizados por conter pessoa jurdica que pratique atividades comerciais na posio de vendedor.

    Por outro lado, assim como nos contratos de compra e venda gerais, nos contratos mercantis a perfeio alcanada com o acordo entre as partes so-bre preo, forma de pagamento e objeto do contrato.

    O objeto pode constituir grande quantidade de mercadoria, hiptese em que o contrato ser caracterizado como compra e venda em atacado ou pou-cas unidades de uma mesma mercadoria, hiptese em que o contrato ser considerado varejista. O preo, por sua vez, pode ser pago vista ou a prazo conforme seja combinado entre comprador e vendedor.

    5) Venda com Reserva de Domnio.

    As partes podero, ainda, em contratos nos quais a forma de pagamento for parcelada, convencionar o contrato de compra e venda com clusula de reserva de domnio, em razo da qual a posse do bem alienado transferida para o comprador desde o incio da vigncia do contrato, mas o domnio, e, portanto, a propriedade, somente transferida ao comprador mediante o pagamento da ltima parcela. Dessa forma o efeito translatcio desse ato obrigacional que o contrato de compra e venda ocorrer quando for paga a ltima parcela acordada entre comprador e vendedor, conforme os artigos 521 e 524 do Cdigo Civil de 2002, in verbis:

    Art. 521. Na venda de coisa mvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade, at que o preo esteja integralmente pago.

    (...)Art. 524. A transferncia de propriedade ao comprador d-se no mo-

    mento em que o preo esteja integralmente pago. Todavia, pelos riscos da coisa responde o comprador, a partir de quando lhe foi entregue.

    A venda com reserva de domnio restringe-se aos bens mveis e exige for-ma escrita. Afi nal, se no h previso expressa da reserva de domnio, aplica-

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    -se a regra geral de que a propriedade do bem mvel transfere-se com a tra-dio do bem.

    Para que seja oponvel a terceiros, o contrato deve ser registrado no Regis-tro de Ttulos e Documentos, conforme disposto no Art. do Cdigo Civil de 2002, in verbis:

    Art. 522. A clusula de reserva de domnio ser estipulada por escrito e depende de registro no domiclio do comprador para valer contra terceiros.

    6) Compra e Venda sob Amostra.

    A compra e venda sob amostra caracteriza-se pela manifestao de vonta-de positiva do comprador pelo conhecimento de uma amostra do produto. Com isso, o contrato somente se aperfeioa com a constatao de que o pro-duto entregue ao comprador possui as mesmas caractersticas que a amostra oferecida pelo vendedor, de modo que isso confi gura condio suspensiva para o aperfeioamento do contrato.

    7) Compra e Venda Pura Vs. Compra e Venda Condicional.

    Compra e Venda Pura Compra e Venda Condicional

    Elementos do contrato

    1. Consentimento2. Coisa3. Preo

    1. Consentimento2. Coisa3. Preo4. Condies

    Aperfeioamento do contrato

    1. Entrega da coisa

    1. Acontecimento de condio:

    1.1. Suspensiva (aperfeioa-mento do contrato); ou

    1.2. Resolutiva (extingue os efeitos do contrato)

    8) Venda a Contento e Sujeita a Prova do Comprador.

    As vendas a contento esto so submetidas condio suspensiva da apro-vao da coisa entregue ao comprador, pelo comprador.

    Os contratos de compra e venda a contento podem estar submetidos s condies suspensivas de:

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    26 MARTINS, Fran. Contratos e obriga-es comerciais, ed. rev. e aum. Rio de Janeiro, Forense, 2002. pp. 142 144.

    1. Prova ou degustao: sob esta condio o contrato somente se aper-feioa com a aprovao do produto pelo comprador aps prova ou degustao. Em caso de reprovao comprador e vendedor tornam ao status quo ante celebrao do contrato.

    Isto se diferencia da venda sob amostra, pois no contrato de compra e venda a contento sob condio de prova as caractersticas que o produto entregue deveriam ter foram anteriormente estabelecidas entre comprador e vendedor;

    2. Peso, medida e contagem: a perfeio do contrato alcanada com a constatao de que os pesos, medidas e quantidade combinadas foram entregues ao comprador;

    3. Experimentao ou ensaio: a perfeio do contrato est sujeita satisfao do comprador com a experimentao do produto entre-gue, podendo ser estipulado prazo de experincia, ao fi m do qual o silncio importar anuncia;

    4. Exame: a satisfao do comprador se faz com o exame da coisa en-tregue pelo vendedor26.

    Art. 509. A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condio suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e no se reputar perfeita, enquanto o adquirente no manifestar seu agrado.

    Art. 510. Tambm a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condi-o suspensiva de que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idnea para o fi m a que se destina.

    Art. 511. Em ambos os casos, as obrigaes do comprador, que recebeu, sob condio suspensiva, a coisa comprada, so as de mero comodatrio, enquanto no manifeste aceit-la.

    9) Vendas a Termo

    Na atividade comercial, quando os contratos de compra e venda realizados envolvem grandes quantidades de produtos e/ou grandes quantias de dinhei-ro comum que comprador e vendedor estipulem tempo certo para que determinados fatos ou atos decorrentes da execuo do contrato aconteam. Por essa estrutura contratual comprador e vendedor podem acordar sobre quantidade e preo pelo tempo que durar o e, assim, tornarem-se, em certa

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    medida, independentes das variaes de oferta e demanda por determinado produto no mercado.

    10) Principais Obrigaes do Vendedor

    Observado que o contrato de compra e venda um ato gerador de obriga-es, seguem algumas obrigaes do vendedor:

    1 Obrigao: A principal obrigao do vendedor inerente compra e venda consiste na entrega da coisa, com a transferncia de propriedade do vendedor ao comprador (evento translatcio de propriedade).

    O que acontece se o vendedor no transferir a titularidade do bem vendido?

    Sabendo que a compra e venda tem natureza jurdica consensual, o que poderia ser suscitado pelo comprador?

    2 Obrigao: Responsabilizar-se pela efetiva garantia do comprador sobre a coisa. Assegurar ao comprador a propriedade da coisa com as qualidades prometidas (i.e., evico; vcios redibitrios em relao coisa; posse til; regras sobre posse mansa e pacfi ca etc).

    O que acontece se o bem vendido no de propriedade e/ou posse do vendedor?

    O que acontece se h insufi cincia ativa?

    3 Obrigao: Em regra, at o momento da tradio, os riscos da coisa correm por conta do vendedor. No obstante disposio diversa acordada em contrato entre vendedor e comprador.

    O que acontece se um bezerro morre durante o transporte do vende-dor para o comprador?

    O que acontece em relao s supervenincias passivas?

    11) Principal Obrigao do Comprador.

    A principal obrigao do comprador inerente compra e venda consiste no pagamento do preo no tempo, forma e lugar convencionados.

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    Na compra e venda vista, em regra, o vendedor pode exigir que o com-prador realize o pagamento do preo antes de entregar a coisa (i.e., direito de reteno).

    Na compra e venda a prazo, na qual a coisa entregue antes da data de vencimento do pagamento do preo, o vendedor pode sobrestar a entrega da coisa em caso de manifesta insolvncia do comprador.

    12) Preempo ou Preferncia

    Ao vender um bem, o vendedor pode vir a resguardar seu direito de pre-empo ou direito de preferncia. Assim, caso o comprador queira vender esse bem a terceiros, ele estar obrigado a oferecer o bem ao vendedor, que se pagar o mesmo valor oferecido pelo terceiro (e demais termos e condies), ter preferncia sobre ele.

    O direito de preempo ou direito de preferncia requer os seguintes ele-mentos para existir:

    1. O comprador tem que querer vender o bem adquirido;

    2. O vendedor tem que querer recomprar o bem, estando disposto a pagar ao comprador o preo que ele tiver conseguido com terceiros; e

    3. O vendedor tem que exercer o direito no prazo.O prazo para exercer o direito de preferncia de 180 dias (se for bem m-

    vel) ou de 2 anos (se for bem imvel). Na ausncia de estipulao, presumir--se- como sendo 3 dias (para bem mvel) e 60 dias (para bem imvel).

    13) Termos de Comrcio Internacional (INCOTERMS) nos Contratos de Transporte

    Com a globalizao do comrcio internacional e a intensa troca de mer-cadorias e produtos entre pases e entre empresas de pases distintos, fez-se necessrio buscar uma padronizao de regras comerciais para viabilizar a celebrao de mais contratos em menos tempo e com maior segurana entre as partes contratantes.

    Assim, para atender a essa necessidade global de regras de comercio in-ternacional uniformes, a Cmara Internacional de Comercio estipulou as Regras de Comercio Internacional (International Commercial Terms) INCO-TERMS, lanados em 1936 e reeditados diversas vezes, sendo a ltima edi-o a de 2010.

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    Os INCOTERMS so regras que dizem respeito, sobretudo, a alocao de responsabilidades, direitos e deveres no transporte dos produtos comerciali-zados entre pases. Os INCOTERMS 2010 so divididos em quatro grupos de acordo com a letra inicial das siglas, em ingls, de cada regra estabelecida, conforme segue:

    Grupo E(i) Nos Contratos de Partida (EXW Ex Works local da retirada)

    o comprador assume, com exclusividade, os custos e riscos relativos ao recolhimento das mercadorias do estabelecimento do vendedor, devendo pagar todas as despesas necessrias tradio dos bens transacionados, inclusive o carregamento no veculo de transporte, seguro e o desembarao alfandegrio.

    Grupo F(ii) Nos Contratos de Transporte Principal No Pago (FCA Free

    Carrier local indicado) o vendedor assume a responsabilidade pelo pagamento do desembarao para a exportao e a entrega das mercadorias, no local designado, ao transportador contratado pelo comprador, o qual assume, tambm, todas as demais despesas.

    (iii) Nos Contratos de Transporte Principal No Pago (FAS Free Alongside Ship porto de embarque indicado) o vendedor se obriga a transportar o bem transacionado at um porto determi-nado, cabendo ao comprador as despesas com o desembarao para a exportao, embarque das mercadorias, seguros e outras necess-rias.

    (iv) Nos Contratos de Transporte Principal No Pago (FOB Free on Board porto de embarque indicado) o vendedor se obriga pelas despesas de transporte da mercadoria at um certo porto e tambm assume os custos com o embarque da mercadoria no navio e com o desembarao para a exportao. Todos os demais encargos so do comprador.

    Grupo C(v) Nos Contratos de Transporte Principal Pago (CFR Cost and

    Freight porto de destino indicado) o vendedor responsvel pelas despesas relativas entrega da mercadoria no porto de destino convencionado, responsabilizando-se pelo transporte, embarque e desembarao para a exportao, mas transferindo ao comprador os

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    riscos de perda ou dano, em razo de ocorrncias havidas aps o embarque da coisa vendida no navio atracado no porto de origem.

    (vi) Nos Contratos de Transporte Principal Pago (CIF Cost, In-surance and Freight) o vendedor assume todas as despesas com o transporte at um determinado porto, incluindo seguro martimo e desembarao para a exportao.

    (vii) Nos Contratos de Transporte Principal No Pago (CPT Car-riage Paid to... local de destino indicado) o vendedor fi ca res-ponsvel pelas despesas com o transporte da mercadoria at uma localidade designada, salvo as relativas perda ou dano destas, que so transferidas ao comprador.

    (viii) Nos Contratos de Transporte Principal No Pago (CIP Carriage and Insurance Paid to... local de destino indicado) o vendedor arca com as despesas de transporte das mercadorias at uma determinada localidade, inclusive as relacionadas com a perda ou dano durante o transporte.

    Grupo D(ix) Nos Contratos de Chegada (DAF Delivered at Frontier

    local indicado) o vendedor entrega as mercadorias na fronteira de dois pases, na localidade convencionada, pagando todas as despe-sas decorrentes, inclusive o desembarao para exportao.

    (x) Nos Contratos de Chegada (DES Delivered Ex-Ship porto de destino indicado) compete ao vendedor todas as despesas at o atracamento do navio no porto de destino acordado, inclusive o seguro, cabendo ao comprador as despesas com o desembarao para importao, custos e riscos de desembarque.

    (xi) Nos Contratos de Chegada (DEQ Delivered Ex-Quay por-to de destino indicado) o vendedor se obriga por todas as despesas at o desembarque das mercadorias do porto de destino designado, colocando-as disponveis ao comprador no respectivo cais, arcando o no com o desembarao alfandegrio para importao.

    (xii) Nos Contratos de Chegada (DDU Delivered Duty Paid local de destino indicado) o vendedor se obriga pelos encargos com o transporte das mercadorias at uma determinada localidade no

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    pas de importao, sendo que o pagamento dos impostos e taxas relativos a esta cabe ao comprador.

    (xiii) Nos Contratos de Chegada (DDP Delivered Duty Paid local de destino indicado) o vendedor coloca as mercadorias dis-ponveis ao comprador no local designado, no pas de importao, respondendo, em decorrncia, pelas despesas de transporte, seguro e desembarao para a importao.

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    VII. CONTRATOS EM ESPCIE

    BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

    Bsica

    GOMES, Orlando, Contratos. Rio de Janeiro, Forense, 2002, 25 Edio. Pgs. 365-379.

    FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos Contratos Empresariais. So Paulo: Edi-tora Revista dos Tribunais, 2010, pgs. 152-214.

    Complementar

    RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2006, pgs. 729-773.

    ORLANDO, Gomes. Contratos. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2002, pgs. 357-379.

    ROTEIRO DE AULA

    1. Consideraes Preliminares:

    Os Contratos concretizam e possibilitam a atuao das empresas no mer-cado, formando seu substrato, podem ser classifi cados em duas categorias: (i) Contratos de Intercmbio; e (ii) Contratos em que h solidariedade de interesses (i.e., contratos de sociedade).

    Os Contratos de Colaborao so os negcios mercantis que se encontram em situao intermediria s duas classifi caes referidas acima. So, portan-to, contratos hbridos.

    De um lado, a Compra e Venda Mercantil consolidou-se na prtica co-mercial como o grande emblema dos assim chamados Contratos de In-tercmbio (i.e., meio tradicional para relaes de troca na explorao da atividade comercial).

    De outro lado, outras relaes contratuais tm sido desenvolvidas pelo co-mrcio com vistas ao fornecimento de bens, produtos e servios ao mercado consumidor. So elas a Comisso; a Representao Comercial; a Concesso

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    Mercantil; a Franquia; e a Distribuio, que usualmente so agrupados na categoria dos Contratos de Colaborao.

    2. Conceito.

    Os contratos de colaborao empresarial tm como feio caracterstica de atribuir obrigao a um dos contratantes (colaborador) a responsabilidade de criar ou ampliar mercado em relao aos bens e/ou servios do outro contra-tante (fornecedor).

    Em termos concretos, o colaborador se obriga a fazer investimentos em divulgao, propaganda, manuteno de estoques, treinamento de pessoal e outros destinados a despertar, em consumidores, o hbito de adquirir os bens, produtos e/ou servios do fornecedor.

    Dependendo da espcie de colaborao contratada, os investimentos na criao ou consolidao do mercado so maiores ou menores; a obrigao de realiz-los, contudo, inerente aos contratos de colaborao empresarial.

    Em no se contratando a obrigao de abrir, consolidar ou desenvolver mercado para os bens, produtos e/ou servios, o contrato mercantil no se classifi ca como Contrato de Colaborao.

    este, por exemplo, o caso do Contrato de Fornecimento de Mercadorias (que, ao fi nal das contas, uma srie de Contratos de Compra e Venda Mer-cantil, em que h interesse de comercializao da maior quantidade possvel de bens, produtos e/ou servios, mas no h a obrigao e/ou preocupao por parte do fornecedor em criar mercado para a coisa comprada).

    Os Contratos de Colaborao, em razo da obrigao essencial que os caracteriza, possuem por marca comum uma subordinao empresarial esta-belecida entre as partes.

    O contratado deve organizar-se empresarialmente da forma defi nida pelo contratante, seguindo as orientaes e determinaes advindas deste (i.e., subordinao empresarial, mas no subjetiva).

    Atravs de um Contrato de Colaborao, o colaborador contratado (co-missrio, representante, concessionrio, franquiado ou distribuidor) se obri-ga a colocar junto aos interessados as mercadorias comercializadas ou pro-duzidas pelo fornecedor contratante (comitente, representado, concedente, franqueador ou distribudo), observando as orientaes gerais ou especfi cas fi xadas por este.

    A colaborao empresarial pode ser de duas espcies: (i) por apro-ximao; ou (ii) por intermediao.

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    Na colaborao por aproximao, o colaborador no intermedirio, ou seja, no adquire os bens, produtos e/ou servios para revend-los. Apenas identifi ca potenciais interessados.

    O comitente e o representante comercial so colaboradores por apro-ximao.

    So remunerados por percentual dos negcios que ajudam a viabilizar.

    Na colaborao por intermediao, o colaborador celebra com o fornece-dor um contrato de compra e venda; adquire os bens, produtos e/ou servios para os revender.

    O concessionrio e o franqueado so colaboradores por intermedia-o;

    No h remunerao por servios;

    Colaborador ganha com o resultado positivo de sua atividade empre-sarial;

    O Contrato de Distribuio pode classifi car-se em uma outra categoria. Na distribuio-aproximao (s vezes denominada agncia), o distribuidor no ocupa um elo prprio na cadeia de circulao de mercadorias (isto , no compra produto do distribudo para os revender, mas encontra terceiros com interesse em fazer a compra), enquanto na distribuio-intermediao, ocupa.

    3. Agncia ou Representao Comercial:

    O contrato de Agncia ou Representao Comercial o instrumento pelo qual uma das partes (representante comercial autnomo) se obriga, em loca-lidade delimitada, a obter pedidos de compra e venda de mercadorias fabri-cadas ou comercializadas pela outra parte (representado ou preponente). Na representao comercial, no h, em regra, vnculo societrio e/ou emprega-tcio entre o representado e o representante comercial autnomo, sendo esta a principal caracterstica desse tipo de contrato.

    Sob o ponto de vista econmico, a representao comercial poderia ser en-tendida como espcie do gnero mandato, mas, juridicamente, este enfoque estaria equivocado.

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    3.1 Principais elementos

    Obrigao do representante de promover a concluso por conta do preponente;

    Recorrncia na prestao do servio;

    Autonomia para organizar suas atividades (i.e. carga horria de traba-lho, itinerrios);

    Delimitao territorial do local onde deve ser prestado o servio;

    Direito do representante retribuio da zona do servio prestado;

    Exclusividade e independncia de ao.

    Atividade desenvolvida pelo representante comercial possui disciplina ju-rdica prpria. Trata-se de atividade autnima. Alm disso, o representante comercial no tem poderes para concluir a negociao em nome do repre-sentado. Deste modo, cabe ao representado aprovar ou no os pedidos de compra obtidos pelo representante.

    Diferentemente da representao comercial, no mandato, o mandatrio recebe poderes para negociar em nome do mandante.

    3.2 Caractersticas do Representante Comercial

    Autonomia com que age na intermediao (i.e. o representante no um empregado da empresa que serve);

    Habitualidade da prestao de servios realizada em prol do represen-tado (i.e. carter no eventual);

    No um mandatrio (i.e. os negcios agenciados so retransmitidos ao comitente e so por este aceitos).

    3.3 Contrato de Representao Comercial

    A Lei no. 4.886/1965 (LRC), com as alteraes introduzidas pela Lei no. 8.420/1992, a legislao aplicvel Representao Comercial, sendo que o contrato de representao comercial deve ser celebrado por escrito e observar os requisitos do artigo 27 da Lei no. 4.886/1965.

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    Art. 27. Do contrato de representao comercial, alm dos elementos comuns e outros a juzo dos interessados, constaro obrigatoriamente:

    a) condies e requisitos gerais da representao;b) indicao genrica ou especfi ca dos produtos ou artigos objeto da

    representao;c) prazo certo ou indeterminado da representaod) indicao da zona ou zonas em que ser exercida a representao;e) garantia ou no, parcial ou total, ou por certo prazo, da exclusividade

    de zona ou setor de zona;f ) retribuio e poca do pagamento, pelo exerccio da representao,

    dependente da efetiva realizao dos negcios, e recebimento, ou no, pelo representado, dos valores respectivos;

    g) os casos em que se justifi que a restrio de zona concedida com exclu-sividade;

    h) obrigaes e responsabilidades das partes contratantes:i) exerccio exclusivo ou no da representao a favor do representado;j) indenizao devida ao representante pela resciso do contrato fora dos

    casos previstos no art. 35, cujo montante no poder ser inferior a 1/12 (um doze avos) do total da retribuio auferida durante o tempo em que exerceu a representao.

    So, usualmente, as principais obrigaes do representante comercial au-tnomo:

    Obter, com diligncia, pedidos de compra e venda, em nome do re-presentado, ajudando-o a expandir o seu negcio e promover os seus produtos (art. 28 da LRC);

    Observar, se prevista, a cota de produtividade, ou seja, um nmero mnimo de pedidos a cada ms;

    Seguir as instrues fi xadas pelo representado (art. 29 da LRC);

    Informar o representado sobre o andamento dos negcios, nas opor-tunidades defi nidas em contrato ou quando solicitado (art. 28 da LRC) e prestar-lhe contas;

    Observar as obrigaes profi ssionais (art. 19 da LRC); e

    Respeitar a clusula de exclusividade de representao, se expressa-mente pactuada (artigos 31, ., e 41).

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 51

    So, usualmente, as principais obrigaes do representado:

    Pagar a retribuio devida ao representante, assim que o comprador efetuar o seu pagamento ou, antes, se no manifestar recusa por escri-to no prazo de 15, 30, 60 ou 120 dias, conforme a localizao do seu domiclio (mesma praa, mesmo Estado, Estado diverso ou exterior, respectivamente arts. 32 e 33);

    Respeitar a clusula de exclusividade de zona, pela qual lhe obsta-do vender os seus produtos em uma determinada rea delimitada em contrato, seno atravs do representante contratado para atuar na-quela rea. Caso um negcio se concretize sem a observncia dessa condio, o representante tem direito comisso correspondente (art. 31).

    3.4 Da resciso contratual e das indenizaes

    A lei estabelece as indenizaes devidas pela resciso do contrato de re-presentao comercial. Nos contratos com prazo indeterminado, fi rmados h mais de 6 meses, a parte que denunciar est obrigada a conceder pr-aviso de 30 dias ou, seno, pagar indenizao correspondente a 1/3 das comisses referentes aos ltimos 3 meses. Trata-se de resciso imotivada (art. 34).

    O representado poder promover a resciso do contrato quando o re-presentante incorre em determinadas prticas defi nidas em lei (desdia no cumprimento das obrigaes contratuais, atos que importem em descrdito comercial do representado, condenao defi nitiva por crime infamante, por exemplo) ou havendo fora maior (art. 35). Neste caso, nenhuma indeniza-o ser devida ao representante e, neste ainda poder ser responsabilizado, com base no direito civil (vide art. 475 CC2002) pelos danos que causou ao representado.

    Por outro lado, o representante poder rescindir o contrato quando o re-presentado a isto der causa, incorrendo em certas prticas elencadas em lei (inobservncia da clusula de exclusividade, mora no pagamento da comis-so, fi xao abusiva de preos na zona do representante, por exemplo) ou quando se verifi car a fora maior (art. 36).

    Nesta hiptese, o representante ter direito indenizao prevista em con-trato por prazo indeterminado, nunca inferior a um doze avos do total das retribuies auferidas, monetariamente atualizadas (art. 27, alnea j).

  • CONTRATOS EMPRESARIAIS

    FGV DIREITO RIO 52

    Se o contrato tinha sido fi rmado com prazo determinado, a indenizao ser equivalente multiplicao de metade do nmero de meses contratados pela mdia mensal das retribuies auferidas.

    Tambm na hiptese de resciso do contrato por prazo indeterminado feita unilateralmente pelo representado, nos termos do art. 34, tem-se consi-derado devida indenizao em favor do representante.

    4. Distribuio

    A criao, consolidao ou ampliao de mercados, atravs da colaborao empresarial, podem resultar de atos do colaborador de aproximao ou de intermediao.

    Aproximao: O colaborador identifi ca pessoas interessadas em ad-quirir (e, no caso da comisso, tambm vender) produtos do outro empresrio contratante.

    Intermediao: O colaborador adquire os produtos (e, no caso da franquia, tambm os servios) do outro contratante e os oferece de novo ao mercado.

    O contrato de distribuio modalidade de colaborao empresarial que se pode enquadrar em qualquer uma dessas espcies.

    4.1 Conceito

    O Cdigo Civil de 2002 defi ne o contrato de distribuio da seguinte forma:

    Art. 710. Pelo contrato de agncia, uma pessoa assume, em carter no eventual e sem vnculos de dependncia, a obrigao de promover, conta de outra, mediante retribuio, a realizao de certos negcios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuio quando o agente tiver sua disposio a coisa a ser negociada.

    Pargrafo nico. O proponente pode conferir poderes ao agente para que este o represente na concluso dos contratos.

    Se faltar distribuio-aproximao o ltimo requisito, isto , se o distri-buidor no tiver em mos as mercadorias que promove, o contrato deno-minado agncia (vide art. 710 do Cdigo Civil).

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    FGV DIREITO RIO 53

    27 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2006. pp. 760. Apud: Rubens Requio.

    28 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2006. pp. 758.

    A distribuio-aproximao e a agncia so contratos tpicos (regidos pelo Cdigo Civil e sujeitos s mesmas regras). -lhes inerente a defi nio, no es-copo do contrato, de uma base territorial para identifi cao do mercado em que as partes mantero a colaborao (zona de atuao).

    4.2 Principais Caractersticas do Contrato de Distribuio

    O contrato de distribuio consiste em instrumento:

    Bilateral; Oneroso; De prestaes sucessivas; Consensual; Formal; e Em geral, de adeso.

    O contrato de distribu