o caráter socio histórico cultural dos valores

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Disciplina: Filosofia – 10º Ano O caráter socio-histórico-cultural dos valores Cada um de nós possui uma personalidade ou identidade própria que determina as preferências e os valores por que se rege. As experiências afetivas da infância e adolescência, o nível social e económico em que é educado, a pertença a uma família equilibrada, o ter a escolaridade básica ou um curso superior, viver num meio rural ou urbano, ter sido educado religiosamente, ser saudável ou ter problemas de saúde são exemplos de factores que condicionam o modo como cada um é e lhe conferem uma forma própria de se situar no mundo, de encarar os acontecimentos e de os valorar. Assim, quando se consideram os comportamentos individuais, os critérios de valoração de cada um trazem a marca do próprio indivíduo e dos valores e padrões adotados pela comunidade. Ao falarmos de valores coletivos que inspiram a organização social e normalizam os comportamentos individuais, não quer dizer que as sociedades sejam estáticas e que os seus valores não sofram flutuações no decurso do tempo. As sociedades evoluem e, por isso, assistimos a modificações nos seus padrões culturais e nas suas normas, o que faz com que a vivência dos valores e os critérios de valoração não sejam absolutos, antes apresentem a marca da relatividade, variando em função da época histórica em que se vive. A relatividade dos critérios coletivos de valoração diz respeito também à cultura a que o ser humano pertence. A diversidade de culturas explica que, quando nos questionamos sobre o que é o bem e sobre as normas que devemos seguir para o realizar, deparemos com uma infinidade de condutas, muitas das quais parecem contraditórias. Será o valor “bem” que leva os esquimós, por exemplo, a abandonar os pais idosos à inclemência da neve e do gelo? Porque não procedemos nós de forma semelhante? Como serão os sentimentos paternos entre os habitantes do Togo, onde há lugares em que os pais têm direito de vida e de morte sobre os seus filhos? Esta variabilidade de condutas salienta a não – uniformidade de valores nas diversas culturas. O que é o bem, o que é o mal, o que é aconselhável, o que é bonito ou o que é feio, o que é justo ou injusto varia de comunidade para comunidade, de cultura para cultura. Página 1/2

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Page 1: O caráter socio histórico cultural dos valores

Disciplina: Filosofia – 10º Ano

O caráter socio-histórico-cultural dos valores

Cada um de nós possui uma personalidade ou identidade própria que determina as preferências e os valores por que se rege. As experiências afetivas da infância e adolescência, o nível social e económico em que é educado, a pertença a uma família equilibrada, o ter a escolaridade básica ou um curso superior, viver num meio rural ou urbano, ter sido educado religiosamente, ser saudável ou ter

problemas de saúde são exemplos de factores que condicionam o modo como cada um é e lhe conferem uma forma própria de se situar no mundo, de encarar os acontecimentos e de os valorar. Assim, quando se consideram os comportamentos individuais, os critérios de valoração de cada um trazem a marca do próprio indivíduo e dos valores e padrões adotados pela comunidade.

Ao falarmos de valores coletivos que inspiram a organização social e normalizam os comportamentos individuais, não quer dizer que as sociedades sejam estáticas e que os seus valores não sofram flutuações no decurso do tempo. As sociedades evoluem e, por isso, assistimos a modificações nos seus padrões culturais e nas suas normas, o que faz com que a vivência dos valores e os critérios de valoração não sejam absolutos, antes apresentem a marca da relatividade, variando em função da época histórica em que se vive.

A relatividade dos critérios coletivos de valoração diz respeito também à cultura a que o ser humano pertence. A diversidade de culturas explica que, quando nos questionamos sobre o que é o bem e sobre as normas que devemos seguir para o realizar, deparemos com uma infinidade de condutas, muitas das quais parecem contraditórias. Será o valor “bem” que leva os esquimós, por exemplo, a abandonar os pais idosos à

inclemência da neve e do gelo? Porque não procedemos nós de forma semelhante? Como serão os sentimentos paternos entre os habitantes do Togo, onde há lugares em que os pais têm direito de vida e de morte sobre os seus filhos? Esta variabilidade de condutas salienta a não – uniformidade de valores nas diversas culturas. O que é o bem, o que é o mal, o que é aconselhável, o que é bonito ou o que é feio, o que é justo ou injusto varia de comunidade para comunidade, de cultura para cultura.

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Atualmente, alguns filósofos afirmam a necessidade de se encontrarem critérios trans-subjetivos e transculturais, isto é, critérios que ultrapassem as barreiras do individual e do coletivo culturalmente identificado, que permitam garantir e enriquecer a própria realidade humana na sua relação com os outros e com o planeta. A tarefa que se apresenta a todos aqueles que entendem que o ser humano é criador de valores e responsável pelos valores que cria é continuar a aprofundar o conhecimento da natureza humana, refletir criticamente sobre os valores e lutar pela universalização daqueles que consideram imprescindíveis. A título de exemplo, vejamos alguns deles:

A Dignidade Humana

O respeito pela dignidade humana surge como um critério que nos permite distinguir aquilo que é fundamental para o ser humano daquilo que será reprovável e indigno. Por ser entendida como um conjunto de direitos

fundamentais – a Declaração dos Direitos Humanos pretende, precisamente, ser a efetivação deste critério. Não esqueçamos que o ser humano é em si mesmo um fim, dotado de liberdade e autonomia e que é, por essa razão merecedor de respeito. Daí que, como afirma Fernando Savater “a dignidade humana implique, antes de mais, a inviolabilidade de cada pessoa, o reconhecimento de que não pode ser utilizada ou sacrificada pelos outros como um

simples instrumento para a realização de fins”. A dignidade humana é um princípio moral baseado na finalidade do ser humano e não na sua utilização como um meio. Isso quer dizer que está baseada na própria natureza da espécie humana, a qual inclui, normalmente, manifestações de racionalidade, de liberdade e de finalidade em si, que fazem do ser humano um ser em permanente desenvolvimento na procura da realização de si próprio. Esse projeto de auto-realização exige, da parte de outros, reconhecimento, respeito, liberdade de ação e não instrumentalização da pessoa.

O diálogo e o acordo consensual

O diálogo argumentativo entre indivíduos e comunidades, é hoje considerado como um meio de humanização por excelência. Quando dispostos a discutir as suas ideias, é possível aos seres humanos discernir aquilo que é melhor para todos e o que não é desejável para qualquer um. Será desta partilha de preocupações e de interesses que se encontraram

medidas de resolução dos problemas que merecem o acordo de todos.

O caminho para a universalização dos valores não está fechado, mas é tortuoso, difícil de percorrer e requer muita paciência, inteligência e determinação: tem de passar pelo diálogo e pela argumentação consistente, nunca pelo confronto violento ou pela imposição, obtendo o maior consenso possível.

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