o capital social

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    Escola de sociologia

    O Novo Capital Social

    A abundncia de informao na era da sociedade em rede

    e os seus efeitos sobre a acumulao de capital social.

    Jos Moreno

    Trabalho submetido como requisito parcial para avaliao na unidade curricular

    Redes Sociais Online

    do mestrado em Comunicao, Cultura e Tecnologias de Informao

    Docente: Doutor Gustavo Cardoso

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    RESUMOA sociedade em rede, ligada pelas novas tecnologias de informao e comunicao, suscitou nas

    sociedades modernas novas formas de relacionamento e de trocas de informaes entre osindviduos. Neste trabalho pretendemos analisar de que forma essas mudanas alteram ou no ovalor social da informao. A hiptese colocada que as novas tecnologias de informao ecomunicao da sociedade em rede facilitam as interaces sociais e a participao social dosindviduos e, por essa razo, permitem um incremento no potencial de acumulao de capital social,tanto para os indviduos como para as redes de que fazem parte. Comearemos por analisar asvrias perspectivas tericas sobre o conceito de capital social, nas suas vertentes pessoal, social ede rede, e no seu enquadramento econmico e sociolgico, de forma a tentar perceber quetransformaes a sociedade em rede opera nesse conceito. De seguida analisaremos os resultadosde alguns estudos empricos publicados sobre as razes que levam os indivduos a interagir emredes sociais, o que esperam retirar dessa participao e como encaram o aproveitamentoeconmico que da pode resultar. Por fim, concluiremos analisando de que forma os trabalhos

    tericos consultados e os resultados empricos observados nos obrigam a repensar a forma deenquadrar social e economicamente a distribuio de informao no quadro da sociedade em rede.

    Introduo

    As novas tecnologias de informao e comunicao vieram alterar no s a forma de osindivduos comunicarem entre si mas tambm o modo de se relacionarem socialmente. Entre ascaractersticas de comunicao comuns s vrias tecnologias que hoje usamos, h algumas como a interactividade, a bidireccionalidade e a flexibilidade que tm um reflexo directo namaneira como em funo delas os indivduos se relacionam entre si. Transformam-se, por isso,elas mesmas, em tecnologias de relao. Por outro lado, pelo seu efeito multiplicador, pela suabidireccionalidade e pelo facto de permitirem superar as limitaes de espao e tempo, as novastecnologias de informao tm tambm o efeito de aumentar o grau de controlo que os indivduostm sobre os seus fluxos comunicativos e portanto tambm sobre a maneira de os usar paraveicular relacionamentos sociais online. Tm por isso uma componente de empowerment.

    Por isso, no seria preciso notar o facto de cada vez mais pessoas usarem as redes sociaisonline para comunicarem e interagirem com os seus pares para perceber que essas redes sociaismediadas pelas tecnologias de informao e comunicao tm para essas pessoas algum valorsignificativo. esse valor que pretendemos investigar neste trabalho. O facto de os indivduosterem ao seu dispor uma srie de novas tecnologias para poderem comunicar e relacionar-se unscom os outros gera um acrscimo de valor para os prprios indivduos, para os grupos a quepertencem e para a prpria rede ou redes em que se integram. Neste contexto entendemos como

    tecnologias no s os novos aparelhos e canais de comunicao disponveis os smartphones, ostablets, a internet em termos genricos, etc mas tambm as plataformas usadas para estabeleceressa comunicao as redes sociais, as plataformas de fotos e vdeos, etc. Interessa tentarperceber porque razo as pessoas participam nessas plataformas e usam esses servios paracomunicarem e interagirem com os seu pares, mesmo sabendo que a sua actividade pode estar aser registada, com prejuzo da sua privacidade e aproveitamento comercial dos seus dados. O queser que elas tiram de positivo dessa utilizao? Isso constitui um acrscimo de valor para elas? Epara os grupos e redes de que fazem parte? E para o conjunto da sociedade?

    Para fazer a anlise destas questes recorreremos ao conceito de capital social.Comearemos por ver o que o capital social e de que forma ele se pode decompor em vriostipos e capital social aplicveis ao tema a investigar. Depois veremos alguns estudos empricossobre a participao dos indivduos em redes sociais online para tentar perceber que utilizaes

    fazem delas e o que esperam beneficiar com isso. Para concluir, tentaremos perceber de quemodo que a interaco dos indivduos em redes sociais online obriga ou no a repensar a forma

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    de valorizar socialmente essa participao, nomeadamente usando novas acepes do conceito decapital social. A hiptese sustentada que, embora de uma forma profundamente diferentedaquela que se aplicava s redes sociais face-a-face, as redes sociais online no so menosgeradoras de capital social e podem at s-lo mais. E por isso que tm um alto valor, tanto paraos indivduos como para as redes e grupos de que fazem parte e para a sociedade como um todo.

    1. O conceito de capital social

    O conceito de capital social um dos mais importantes e dos mais abundantementetratados nos estudos de sociologia das ltimas dcadas. Haveria por isso muito a dizer sobre esteconceito. Aqui iremos restringir-nos s abordagens que podem trazer alguma luz sobre a formacomo devemos entender o envolvimento dos indivduos nas modernas redes sociais mediadas porcomputador.

    Bordieu foi um dos primeiros a abordar as relaes sociais sob o prisma analtico doconceito de capital, considerando que era impossvel entender o funcionamento da sociedade semter em conta todas as formas de capital e no apenas as formas quantitativas habitualmente

    consideradas pela cincia econmica (Bordieu, 2008, 15). Ao reduzir a anlise do universo detrocas quelas que tm valor econmico, porque so orientadas para a maximizao do interessepessoal, a abordagem utilitarista dos fenmenos sociais deixa de lado um campo decomportamento e relaes que so vistas como no tendo um carcter econmico. Por issoBordieu considera o capital econmico, o capital cultural corporizado, objectivado einstitucionalizado assim como o capital social (2008, 17), que ele define como: o agregado derecursos actuais ou potenciais que esto ligados posse de uma rede durvel de relaes mais oumenos institucionalizadas de conhecimento e reconhecimento mtuo ou, por outras palavras, apertena a um grupo que proporciona a cada um dos seus membros o apoio do capital que propriedade colectiva, uma credencial que lhes d acesso a vrias formas de crdito (Bordieu,2008, 21). Ou seja, o capital social corresponde queles recursos que os indivduos podem obterem resultado da sua rede de relacionamentos sociais. O capital econmico pode ser transformado

    em capital social, atravs do tempo e esforo que um indivduo dedica sua rede, mas tambmpode percorrer o caminho inverso, quando o indivduo retira benefcios econmicos que no seriampossveis sem o investimento realizado na sua rede social (Bordieu, 2008, 25). Ou seja, de umponto de vista estritamente econmico, este valor correspondente ao capital social simplesmenteno existiria. E no entanto ele existe e deve ser considerado na anlise social.

    Coleman tambm identifica duas formas de abordar o fenmeno sociolgico, umacorporizada pelos socilogos, que v o indivduo como um agente social cujas aces soinfluenciadas por normas, regras e obrigaes sociais; e outra corporizada pelos economistas, quev os indivduos como seguindo no trajecto social o caminho da maximizao do seu interesseprprio, agindo portanto em funo de uma fora motriz interior (Coleman, 1988, 95). Do ponto devista econmico, os indivduos agem em funo desse objectivo. esse o princpio que preside sua aco. Segundo Coleman, essa a falha fundamental da abordagem sociolgica: o actor

    social no parece ser movido por um propsito interior e parece ficar merc daquilo que o rodeia.Na abordagem econmica, pelo contrrio, as contingncias e constrangimentos sociais, emboraempiricamente observveis, no podem ser considerados porque no encaixam na racionalidadeestrita da abordagem econmica (Coleman, 1988, 96). E, desse modo, no explicamcompletamente o comportamento social dos indivduos nem sequer o seu comportamentoeconmico, como veremos mais frente a propsito da participao dos indivduos em redessociais mediadas por computador. o conceito de capital social que pode unir as duas margensdesse rio, opinio partilhada por Engestrom, para quem este conceito um instrumento conceptualcapaz de superar a tradicional diviso entre a anlise micro do comportamento individual e aanlise macro do comportamento grupal em sociedade (Engestrm, 2001, 6).

    Segundo Coleman, o capital social emerge das relaes entre as pessoas, temnaturalmente uma natureza intangvel e expressa-se de trs formas diferentes: em obrigaes eexpectativas, que esto na base da instituio de relaes de confiana nas redes sociais; emaquisio de informao atravs das relaes estabelecidas na rede social, informao essa que

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    constitui uma base para a aco; e atravs de normas e sanes sociais (Coleman, 1988, 102-104).Como veremos, qualquer destas abordagens relevante para a anlise das modernas redessociais mediadas.

    Por outro lado, Coleman tambm salienta a importncia do fechamento (Closure nooriginal) das redes para a respectiva gerao de capital social. atravs desse fechamento que asredes implementam efectivamente as normas sociais, as relaes de confiana e os canais decomunicao. E, teoricamente, um maior fechamento proporciona um melhor aproveitamento dosrecursos do grupo em termos de capital social (Coleman, 1988, 105-107).

    Elinor Ostrom identifica vrias formas de capital social: a estrutura familiar, a normaspartilhadas, as convenes e os sistemas de regras (Ostrom, 2000, 177-178). Com maior ou menorpresso sobre o comportamento dos membros - a estrutura familiar gera mais presso que asconvenes - todos estes elementos conformam o comportamento dos indivduos ao mesmo tempoque geram uma cola colectiva que se converte em capital social mobilizvel quando necessrio.Ostrom tambm identifica algumas diferenas importantes entre o capital fsico e o capital social,que ajudam a perceber de que forma este conceito pode fazer luz sobre as modernas redesmediadas. Em primeiro lugar, ao contrrio do capital fsico, o capital social no se gasta com o uso,mas com o desuso, uma vez que o valor da rede tende a deteriorar-se se ela no for utilizada. Ao

    invs, ele tende a aumentar com o uso, desde que resulte do estabelecimento de relaes deconfiana entre os indivduos (Ostrom, 2000, 180). Alis, existe uma curva de aprendizagemprecisamente para que os indivduos comecem a usar esta forma de capital social. Em segundolugar, o capital social mais difcil de encontrar e de medir que o capital fsico, e s vezes passadespercebido a um primeiro olhar. em parte isso que se passa quando olhamos para asmodernas redes sociais mediadas por computador e s vemos o seu lado ldico. Em terceiro lugar, mais difcil construir capital social do que capital fsico a partir de uma interveno externa,significando que preciso estar dentro da rede e contribuir para ela para formar esse tipo de capital.Por fim, as instituies governamentais, regionais e nacionais, tm uma influncia directa na formacomo os indivduos podem interagir em rede e portanto na sua capacidade para gerar mais oumenos capital social.

    Estudando o tipo de laos que os indivduos estabelecem na sua rede de relaes sociais,

    Granovetter concluiu que cada agente social tende a desenvolver uma rede densa de relaes compessoas que lhe so muito prximas e que se relacionam abundantemente entre si e uma rede derelacionamentos menos densa com conhecidos mais distantes e menos relacionados entre si(Granovetter, 1983, 202). Mas o mais curioso que estas redes parecem ter funes diferentes egerar distintos tipos de capital social: a primeira, com laos fortes, tem uma funo de agregao(bonding, no original). Gera portanto um capital social agregador, em concordncia com as tesesanteriores, sobretudo de Bordieu e Coleman. Mas a segunda, com laos fracos, tambm contrariamente ao que seria de supor muito eficaz em gerar inputs de capital social para osindivduos numa variedade de situaes sociais, o que leva Ganovetter a destacar a fora doslaos fracos (Granovetter, 1983, 203). Os laos fracos tendem a ser mais estimulados pelas novasredes mediadas mais ou menos na mesma proporo que os laos fortes tendem a ser menos,como veremos mais frente com Putnam.

    Mas Granovetter tira outra concluso que nos interessa destacar: os laos fracosestabelecem sobretudo pontes entre redes densamente povoadas. Ou seja, se os laos fortes quase sempre fundados na famlia, nos grupos de amigos, de co-trabalhadores ou outros - unemsolidamente os indivduos entre si, os laos fracos constituem uma rede menos densa mas maisabrangente, unindo diferentes redes densas entre si (Granovetter, 1983, 204). Com umaconsequncia interessante: as redes densas tendem a reforar o sentimento de pertena ao grupoe a conformidade com as suas normas; as redes menos densas tendem a pr em contactoindivduos diferentes entre si, diluindo portanto a pertena de grupo e enfatizando o indivduo(Putnam, 1995,2-3). por isso que Engestrm interpreta estas redes como mais sociocntricas, noprimeiro caso, e mais egocntricas no segundo (Engestrm, 2001, 13). Obviamente, acomunicao em rede mediada por computadores tende a privilegiar as segundas em detrimentodas primeiras.

    Robert Putnam consolidou de diversas formas a ideia bsica de que a rede tem um valorprprio enquanto rede, que facilita a vida social dos indivduos e usou o conceito de reciprocidade

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    generalizada para identificar o elemento mais valioso que a pertena a uma rede traz aosindivduos que dela fazem parte (Putnam, 1995, 2). Segundo Putnam as redes geram capital socialporque: permitem que os indivduos revolvam os problemas colectivos mais facilmente; reduzem oscustos de transaco; canalizam informao vlida; e acabam por ter um reflexo positivo no bem-estar fsico e psicolgico dos indivduos (Engestrm, 2001, 8). Mas, ainda mais importante para osfins deste trabalho, Putnam tambm considerou que o capital social tanto podia ser consideradoum bem privado como um bem pblico, uma vez que a sua emergncia no contexto social tantopode beneficiar o indviduo, individualmente considerado, como a rede de que ele faz parte,colectivamente considerada.

    Resta saber que efeitos veio a ter a comunicao mediada por computador nas modernasmanifestaes do conceito de capital social. Paul Resnick (2000) avana o conceito de capitalsociotcnico para explicar que o modo moderno de formar capital social resulta do estabelecimentode relaes com as tecnologias de informao e comunicao atravs das quais elas se canalizam(2000, 3). Para Resnick o capital social facilita o encaminhamento da informao relevante para osindivduos, apoia as pessoas na troca de outros recursos para alm da informao, facilita aprestao de apoio emocional quando ele necessrio, permite a coordenao de acesindependentes e ajuda os indivduos a superarem os dilemas da aco colectiva (Resnick, 2000, 6-

    7). Por isso, os recursos produtivos do capital social so: as linhas de comunicao; oconhecimento partilhado; os valores partilhados; o sentimento de identidade colectiva; asobrigaes perante a rede; as normas comportamentais aceitveis para os vrios papis dentro darede; e a confiana (Resnick, 2000, 8-9).

    Wellman considera que as interaces sociais que as pessoas desenvolvem onlinesuplementam as suas relaes sociais interpessoais sem as diminurem ou incrementarem(Wellman, 2001, 436) e identifica trs formas de capital social: o capital de rede; o capital departicipao e o emprenho comunitrio (2001, 437). Ao contrrio de Putnam, Wellman noconsidera que o capital social se venha deteriorando com o tempo e as novas formas decomunicao. Pelo contrrio: a interaco social online abre novas vias de interaco e isso tendea aumentar as possibilidades de materializao do capital social. Mas, sobretudo, temos queobservar a internet na sua integrao na vida quotidiana dos indivduos. E, nessa perspectiva, ela

    no pode ser vista como um substituto das relaes sociais interpessoais, mas como um seusuplemento (Wellman, 2011, 440). A consequncia, segundo Wellman, o surgimento de um novosistema operativo social a que chama individualismo em rede (networked individualism, nooriginal; Rainie, Rainie, Wellman, 2012, 6-7). Os indivduos apropriaram o conjunto de novastecnologias de informao e comunicao colocadas ao seus dispor na era digital paracomplementar as suas redes interpessoais de laos fortes com um conjunto muito alargado delaos mais fracos mais muito mais abundantes (Rainie, Rainie, Wellman, 2012, 11). Com trsconsequncias: a criao de um conjunto alargado de relaes sociais fora do mbito das suasrelaes interpessoais e portanto estabelecendo pontes entre vrias redes mais densas; umaumento exponencial das capacidades de comunicao e de recolha de informao resultantes damultiplicao das ligaes de rede; e, terceiro, a canalizao dessas redes para equipamentos queesto sempre ao dispor dos indivduos, o que significa tornar essas relaes sociais

    permanentemente presentes e ubquas. O resultado que os indivduos funcionam mais comoindivduos conectados e menos como membros de grupos sociais fechados e densos (Rainie,Rainie, Wellman, 2012, 12).

    Nan Lin vai no mesmo sentido: desde logo, no atribui ao fechamento das redes a mesmaimportncia que Coleman na constituio de capital social. E apresenta os trabalhos deGranovetter e Burt para salientar a importncia das pontes entre diferentes clusters de rede namobilizao do capital social (Lin, 1999,34). Por isso, Lin no concorda que exista um declnio decapital social, tal como proposto por Putnam e, pelo contrrio, afirma que estamos a viver umaumento revolucionrio do capital social em resultado das redes sociais (Liu, 1999, 45). As redessociais online transcendem o tempo e o espao. As regras e prticas que as regulam esto a serdefinidas medida que o seu uso vai decorrendo. As suas instituies em muitos casosderivadas e adaptadas de modelos passados esto a ser criadas on the move (Lin, 1999, 46).Alis, o indivduo conectado em rede transcende as limitaes de espao e tempo da comunicaointerpessoal assim como transcende as limitaes de fluxo (unidireccionalidade) da comunicao

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    mediada tradicional. da que deriva o seu empowerment. Liu conclui que estamos a assistir aonascimento de uma era em que o capital social supera largamente o capital pessoal em significadoe efeito (Liu, 1999, 46).

    Este o esboo que possvel traar (no mbito limitado deste trabalho) sobre o conceitode capital social e a forma como ele confronta as modernas redes sociais online. Em seguidairemos olhar para as razes e para a forma como os indivduos aderem s redes sociais online ede que forma que isso altera os seus modos de relacionamento e a mobilizao do seu capitalsocial.

    2. Porqu participar em redes sociais online?

    Porque que as pessoas participam em redes sociais online? A resposta parece bvia, masa pergunta deve ser feita. E, claro, a primeira razo porque elas existem. Ou seja, as redessociais online so algo que est ao dispor dos indivduos para apropriarem de forma que acharemmais conveniente. Por isso, a primeira condio, necessria, para que existam redes sociais online que essa tecnologia esteja disponvel. Mas essa condio no suficiente. necessria, mas

    no suficiente. Para que existam redes sociais online preciso que os indivduos as apropriemde uma determinada forma. Essa forma aquilo que lhes confere determinadas caractersticas. Eessa apropriao no neutra nem depende apenas da vontade dos indivduos; existemcontingncias de limitam aquilo que pode ser feito nas e com as redes sociais e que depende deoutras instncias que no os indivduos.

    Jos van Dijck usou o conceito de agncia na teorizao do papel dos utilizadores nasredes sociais online que esto ao seu dispor para produzir contedos e interagir com outrosindivduos (van Dijck, 2009, 55). Para l da salincia da sua condio como produtores em vez deapenas consumidores e de emissores em vez de apenas receptores - uma alterao na suanatureza da sua relao com a gesto da informao introduzida pelas novas tecnologias decomunicao - van Dijck relembra a necessidade de avaliar que controle que os indivduosrealmente tm sobre o resultado a sua participao. No mbito da sua participao em redes

    sociais online van Dijck sublinha que os indivduos agem como fornecedores de contedo efornecedores de dados um contributo ainda mais relevante que o primeiro sendo que ascondies de controlo sobre os contedos so geralmente remetidas para os termos de utilizao ea utilizao dos metadados recolhidos no sujeita a qualquer controlo (van Dijck, 2009, 47). Ouseja, enquanto participam em redes sociais online exploradas comercialmente por entidadesprivadas, os indivduos colocam-se dentro de um circuito de explorao comercial do qual nobeneficiam monetariamente (Castells, 2009, 70). Resta saber se retiram dessa participao algumbenefcio de outro tipo, nomeadamente em termos de capital social.

    Primeiro que tudo, importante perceber que a questo no dicotmica; no se trata deganhar ou perder nessa participao nas redes sociais online. Como refere Petersen, estas sotecnologias relacionais; o que significa que colocam os indivduos que a elas acedem num conjuntode novas relaes (ou de velhas relaes operacionalizadas de uma maneira diferente) que trazem

    ou podem trazer outro tipo de benefcios. O que significa que as prticas em que os indivduosassim se envolvem (postar no Facebook, fazer o upload de fotos para o Flickr ou o Instagram, porexemplo) podem ser ao mesmo tempo participativas, exploradoras, mas tambm gratificantes emtermos de significado e valor individual (Petersen, 2008, 2). Alm disso, sustenta Peterson, o factode a participao e os contedos dos indivduos nestas redes poderem facilmente migrar de umasredes para outras uma vantagem adicional do ponto de vista dos participantes. Ou seja, nopodemos ver a participao dos indivduos nas redes sociais online apenas na perspectivamarxista de captura do valor-trabalho dessa participao e do valor de mercado dos respectivosdados. Temos que olhar para essa participao no quadro das alteraes que as novaspossibilidades de comunicao abrem para os relacionamentos sociais dos indivduos (Petersen,2008, 2). Trabalhando com uma uma comunidade de utilizadores da rede de partilha de fotografiasFlickr, Peterson concluiu que o que movia os utilizadores, mais do que as fotografias em si, era oconjunto de relacionamentos sociais que se geravam em funo delas. Ou seja, o que realmenteera recompensador para os utilizadores e os levava a colocar fotos na sua rede social eram as

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    conversas, interaces e relacionamentos que em funo delas se desenvolviam na respectivacaixa de comentrios (Petersen, 2009, 12). Do ponto de vista dos utilizadores que viam a foto, aatitude estava longe de ser passiva e do ponto de vista do utilizador que a colocava a atitude eratudo menos exibicionista ou narcisista; o que os utilizadores que o faziam procuravam eraprecisamente o relacionamento social subsequente. Era isso que movia os utilizadorespesquisados a carregarem contedo para essa rede: por um lado o desejo de partilhar com os seuspares os datalhes da sua vida quotidiana; e por outro o desejo de interagir com eles noscomentrios aos mesmos. A concluso que ele retira que uma s imagem pode ter muitassignificaes diferentes e criar vrias formas de valor o utilizador: valor econmico, social, afectivo,etc. Isto resulta tambm da facilidade com que os contedos em causa (user generated) podem serusados em vrias plataformas diferentes, ligando redes distintas entre si (Petersen, 2009, 199).

    Danah Boyd, por seu lado, estudou etnograficamente a presena de um nmero alargadode jovens na rede social MySpace tentando perceber porque que eles aderem a este tipo de sites,o que lhes proporcionam e qual a complementaridade que se estabelece entre os seusrelacionamentos online e offline (Boyd, 2009.) Boyd conclui que a popularidade do MySpace resultado facto de ele permitir aos jovens manter activas as suas relaes interpessoais quando aspessoas envolvidas no esto fisicamente presentes (Boyd, 2009,10). Mas o efeito mais notrio da

    participao dos jovens nesta rede social a construo da sua identidade atravs da interacocom outros indivduos na rede social, o que corresponde a uma forma complementar desocializao (Boyd, 2009, 21).

    Ellison, Steinfeld e Lampe, por fim, estudaram a utilizao do Facebook por parte de umacomunidade universitria, precisamente para tentar perceber os mecanismos de formao emanuteno de capital social atravs da criao de pontes e de laos sociais (Ellison, Steinfeld,Lampe, 2007). O estudo considera trs tipos de capital social: o que resulta dos laos maisintensos; o que resulta dos laos que servem de ponte: e o capital social que mantido emsituao de deslocalizao geogrfica e que de outra forma seria perdido (2007, 1152).

    Uma das concluses vai no sentido de indicar como uma das razes para os indivduos semanterem na rede, o facto de esta lhes permitir facilmente manter o contacto com os seusfamiliares e amigos sempre se deslocam geograficamente (2007, 1148). Isso corresponde a manter

    esses contactos como vlidos no contexto de mobilizao do capital social. Recordemos que umadas caractersticas do capital social que se deteriora com o desuso, pelo que manter essasrelaes distncia activas uma forma de incrementar (ou melhor, no diminuir como seria deesperar numa deslocalizao geogrfica) o capital social disponvel. Por outro lado, tambm desalientar a forma como o uso do Facebook permite aos estudantes com mais baixa auto-estima emais baixa auto-confiana estabelecerem desse modo relaes sociais que de outro nomanteriam e que acabam por lhes ser benficas em termos de mobilizao de capital social. Mas aconcluso principal que se evidencia uma correlao positiva entre o uso do Facebook e amanuteno e criao de capital social, em todos os tipos de capital social estudados, mas comparticular incidncia no capital que estabelece pontes entre diferentes redes sociais, normalmenteassociado a lao fracos (2007, 1161).

    Estes so apenas trs dos vrios estudos empricos que questionam as razes que levam

    os indivduos a interagir em redes sociais online e que benefcios retiram disso nomeadamente emtermos de capital social. No captulo seguinte analisaremos que consequncias que estasconcluses, em conjunto com as abordagens tericas enunciadas antes, podem ter sobre a formade entender o conceito e a formao de capital social na sociedade em rede.

    3. O capital social na sociedade em rede

    O que resulta mais saliente da anlise terica e dos estudos empricos referidos atrs, que esta questo de perceber que benefcio retiram os utilizadores da sua participao e redessociais online no pode ser analisada exclusivamente em termos de racionalidade econmica.Ainda assim, o conceito de capital social como uma medida possvel do benefcio, transfervel paraoutros tipos de capital, que os indivduos e grupos retiram da sua participao em redes sociais offline e online permite concluir que a rede a fonte e origem desse capital social. Como refere

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    Coleman, no podemos olhar apenas para o lado econmico, uma vez que a prpria rede geravalor e portanto qualquer abordagem que no tenha isso em conta redutora.

    Esta uma questo pertinente, uma vez que so muito frequentes (como vimos em vanDijck e Petersen), as abordagens que colocam o nfase na explorao econmica que feita docontributo dos participantes nas redes sociais online sem que uma parte desse benefcio reverta aseu favor. Embora essa questo seja inelutvel e merea ateno e investigao subsequente, oque as anlises anteriores vm demonstrar que com essa participao em redes sociais online,os indivduos tambm retiram importantes benefcios prprios, para o grupo ou para a prpria rede.No se trata de benefcios monetrios, mas de benefcios em termos de capital social, que, comovimos atrs, poder ser convertvel noutras formas de capital, nomeadamente econmico. Estaobservao no esgota tudo o haveria a dizer acerca dos contornos de anlise do user generatedcontent, mas um contributo que no pode ser ignorado.

    Por outro lado, como refere Bordieu, o tempo gasto em redes sociais no um desperdcio, um investimento. importante perceber isto, por exemplo, no caso do Facebook: mesmo autilizao puramente ldica da rede social constitui uma forma de exercitar as ligaes sociais deforma a mant-las activas para quando forem necessrias. Isso resulta muito claramente dosestudos empricos analisados.

    Obviamente, o capital social no fcil de observar e ainda menos de medir. J era assimnas redes sociais face-a-face, mas -o ainda mais nas redes sociais online, uma vez que nestas aquantidade de ligaes sociais e os respectivos fluxos so muito mais numerosas e abundantes.Mas, no seguimento de Granovetter, temos que olhar as redes como forma de mobilizar recursos.E, desse ponto de vista, tambm as redes sociais online so uma forma de produzir capital social.

    A crtica mais incisiva ao funcionamento das redes sociais online resulta da abordagem deColeman, que refere que o fechamento das mesmas como uma condio para que sejam capazesde gerar capital social. As redes sociais online, obviamente, so sobretudo abertas pelo menosmais abertas que a maioria das redes face-a-face. H duas objeces que podem ser feitas a estacrtica. A primeira que as redes sociais online so na sua maioria mais abertas que as redes face-a-face, mas tambm podem ser fechadas. Ou seja, elas podem ser to fechadas quanto uma redeface-a-face correspondente. Por exemplo, uma rede social exclusiva para os membros de uma

    famlia. Isso significa que, se detectarmos um acrscimo de capital social nas redes face-a-facefechadas face s redes online igualmente fechadas, isso se deve a outro factor que no aofechamento propriamente dito. Se detectarmos, como provvel, que uma rede social onlinefechada gera o mesmo capital social que uma rede face-a-face fechada, a concluso ser amesma. A segunda objeco que, como vimos com Granovetter, os laos fracos tambm tmvalor e geram capital social, embora de um tipo diferente que os laos fortes. E esses, como osestudos empricos documentam, tendem a ser favorecidos pelas redes sociais online. O que deixaa questo do fechamento como um atributo do funcionamento tpico das redes sociais offline masno como um handicap das redes sociais online.

    Coleman tambm apresenta a construo de laos de confiana como uma condio para aproduo de capital social. A este respeito notrio que os primeiros tempos da internet pareciamdar razo a essa crtica. Mas a forma de comunicar evoluiu de duas maneiras relevantes neste

    aspecto. Primeiro, as prprias plataformas de interaco social muniram-se das ferramentas paraatribuio de graus de confiana aos indivduos mesmo quando eles no se conhecempessoalmente. O site de compras e vendas eBay, por exemplo, mesmo sem ter os indivduosidentificados, tem um ranking das transaces anteriores do individuo como forma de permitiravaliar o seu grau de confiana. Por outro lado, cada vez mais sites e plataformas de interacoonline funcionam com identificao real dos indivduos (o Facebook, por exemplo, exige-o nostermos de utilizao) como forma de facilitar a constituio online do mesmo tipo de relaes deconfiana que se estabelecem offline.

    Por outro lado, Coleman tambm afirma que o capital social resulta da abertura de canaisde informao, da forma como eles servem de base para a aco e das normas e sances sociais.A verdade no entanto que nenhuma dessas coisa exclusiva das redes sociais offline e tambmexistem da mesma forma nas redes sociais online. Tal como as redes sociais face-a-face, tambmas redes sociais online funcionam na base de convenes e so essas convenes que geram ocapital social que delas resulta. O que existe uma curva de aprendizagem em relao s

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    utilizaes sociais possveis de um conjunto de novas tecnologias de informao e comunicaoque ter que passar necessariamente pela definio e aprendizagem das normas, convenes esanes que melhor servem a rede, os grupos e os indivduos. A adopo de sistemas depagamentos na internet, por exemplo, tem vindo a recolher cada vez confiana por parte dosutilizadores, usando mecanismos de informao e convenes que foram sendo criados medidaque a sua necessidade se fez sentir.

    Uma coisa parece certa: se, independentemente de todas as outras consideraespossveis, a quantidade de laos sociais disponveis aumenta o capital social como sugereResnick, por exemplo ento a multiplicao de canais de interaco social mediadaproporcionada pela comunicao em rede por si s um elemento multiplicador do capital socialdisponvel. Para Resnick, sem dvida que as modernas tecnologias de informao e comunicaoalteram em alguns casos profundamente a forma como os recursos do capital social soaproveitados (Resnick, 2000, 10-12). Desde logo, as tecnologias de informao e comunicaopermitem remover as barreiras comunicao quando elas existem. E mais comunicao sempre tendencialmente um forma de aumentar o capital social dos indivduos e dos grupos.Despois, a expanso do alcance das redes vai no mesmo sentido de proporcionar acesso a fontesde capital social que de outro modo estariam inacessveis. primeira vista, a abundncia de fluxos

    que a arquitectura em rede necessariamente gera pareceria poder provocar um excesso deinformao (information overload). E isso de facto um risco muitas vezes salientado quando sefala deste assunto. Acontece que as mesmas tecnologias de informao que permitem gerar essefluxo possibilitam igualmente a sua filtragem em funo de objectivos muito especficos. Dito deoutro modo, permitem receber apenas, num determinado momento e num determinado contexto, ainformao que seja mais relevante para o indviduo ou o grupo face a esse contexto. E isso,obviamente, refora o seu valor como forma de capital social. Um efeito semelhante obtido apartir da possibilidade de estabelecer calendrios, avisos e notificaes atravs das novastecnologias de informao e comunicao: essa possibilidade refora o valor da informaoenquanto capital social precisamente porque activa uma informao quando ela mais relevante.As notificaes de aniversrio do Facebook, por exemplo, so uma forma bvia de manter activoum relacionamento social que de outro modo se poderia desvanecer e deteriorirar em termos de

    capital social. Por fim, Resnick tambm alerta para a circunstncia de a comunicao mediada porcomputador permitir manter sempre acessvel da histria da comunicao trocada e desse modo, oque tambm um factor da sua valorizao, por poder ser utilizada quando for mais necessria.

    Peterson, por fim, sublinha que a componente relacional fundamental para perceber ofuncionamento das redes sociais online. Ou seja, aquele efeito que muitas vezes notamos nasredes sociais modernas, em que o contedo parece muitas vezes esgotar-se em assuntos fteis esem importncia perde de vista o facto fundamental que esse contedo pode ter apenas porobjectivo manter activas as ligaes de rede. Tem, no fundo, uma espcie de funo ftica perantea relao social. Essa alis uma das explicaes possveis para a extrema popularidade que noquadro actual assumiram as redes sociais generalistas, como o Facebook, em que essa funo afinal a funo principal. Ethan Zuckerman, citado por Jenkins, avana o conceito de cute catpicture theory of revolution para explicar que o uso ftil que os indivduos fazem das ferramentas

    de relacionamento social hoje ao seu dispor esto a desenvolver neles capacidades latentes quepodem ser mobilizadas quando as circunstncias o pedirem e para fins polticos ou outros bemmais srios (Jenkins, Carpentier, 2013, 6). isso alis que notamos acontecer em vriasgeografias diferentes quando vemos os indivduos usarem as redes sociais aparentemente incuaspara se mobilizarem politicamente.

    Carpentier sugere que distingamos entre acesso, interactividade e participao quandofalamos daquilo que as novas tecnologias de informao e comunicao permitem aos indivduosfazer em contexto social. A interactividade cobre tudo o que refere s relaes socio-comunicativas,enquanto a participao se refere a processos de deciso e relaes de poder (Jenkins, Carpentier,2013, 10). So coisas bastante diferentes e em geral considera-se que, passada a barreira doacesso (e das literacias, que fazem parte dessa barreira), os indivduos usam abundantemente asredes sociais online numa perspectiva de interactividade, mas bastante menos com objectivos reaisde participao. Os dados recolhidos por Welmann, ao contrrio, atestam que existe umacorrelao entre a utilizao destas ferramentas participativas online e a efectiva participao

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    poltica offline (Wellmann, 2001, 450). Para alm de que, tambm nesse aspecto de aplica oargumento anterior que os indivduos esto a treinar o seu uso das redes mediadas em vriosaspectos. A forma como elas tm sido usadas no certamente a mesma como podero vir a serusadas no futuro.

    Gustavo Cardoso sustenta o argumento que o modo como apropriamos as tecnologias demediao para interagir socialmente est a mudar o nosso mundo vivido (lifeworld). Atravsdessa apropriao, estamos a substituir os grupos de referncia do passado por grupos depertena mediados nos quais emulamos o tipo de funcionamento e de relacionamentos quetnhamos nos grupos face-a-face (Cardoso, 2012, 203). Se as tecnologias de comunicao demassa estimulavam a integrao do indivduo em instituies previamente existentes, astecnologias de comunicao em rede esto a colocar os indivduos perante a necessidade deinventarem novos enquadramentos institucionais para a forma como se relacionam em rede efora dela precisamente atravs dos seus relacionamentos em rede.

    Em suma, o que parece resultar desta anlise que, como refere Liu, a multiplicao dasligaes de rede permitidas pelas novas tecnologias de informao e comunicao um factordecisivo de reforo e no de diminuio do capital social dos indivduos, dos grupos e das suasredes. E, sobretudo, que lhe confere mais poder e mais controlo sobre a forma e as funes que a

    sua rede social adquire, seja online, seja offline.

    Concluso

    A concluso que se retira das anlises tericas e empricas recuperadas neste trabalho que os indivduos de facto tiram proveito, a vrios nveis, das redes sociais online em queparticipam. E que portanto estas tm para eles um valor relevante. Ao participarem em redessociais e independentemente de a utilizao que faam delas ser mais ldica ou maisinstrumental os indivduos multiplicam o nmero de relaes que podem manter, alargam ombito (geogrfico, social e temporal) das mesmas e podem manej-las de uma forma muito maiseficiente (exercendo mais relaes sociais com menos esforo ou ocupando menos tempo). Ou

    seja, as novas tecnologias de informao e comunicao so ferramentas que permitem aosindivduos assumir um controlo significativo das suas relaes sociais online, o que por si sconstitui um elemento de empowerment.

    Em termos histricos passmos de uma situao em que as relaes sociais se constituamquase exclusivamente atravs de contactos face-a-face sincrnicos e presenciais para umasituao em que, por um lado, passaram existir meios de comunicao individuais capazes dedesfasar a comunicao no tempo e no espao, e, por outro lado, surgiram meios de comunicaode massa, capazes de impor normas, valores e modelos sociais atravs dos seus canais mediadosunidireccionais. Agora, com as modernas tecnologias de informao individuais, bidireccionais,interactivas e flexveis os indivduos assumem o controlo dos seus canais de comunicao individuais ou colectivos e estabelecem com eles novas relaes sociais paralelas s relaesface-a-face que j mantinham ou diferentes delas.

    Esta portanto uma situao nova. E por isso que no a podemos abordar, do ponto devista da investigao, com as categorias de anlise anteriores, que estavam sobretudovocacionadas para interaces face-a-face. E que portanto valorizavam certos tipos de relaesem detrimentos de outros. As relaes sociais mediadas pela tecnologia so um fenmeno novo(pelo menos enquanto realidade massiva) e precisam de novas categorias de anlise. Mas no apenas um problema de estudo: a prpria sociedade precisa de olhar para este fenmeno dasredes sociais online como algo mais do que um brinquedo de adultos. Porque o que todos osestudos e anlises documentam que esta uma forma adicional mas importante de os indivduosconstrurem a sua rede de relacionamentos sociais. Diferentes dos relacionamentos do mundo real,menos importantes nalguns casos, mas mais importantes noutros. isso que deve ser explicadoquelas pessoas que dizem frequentemente: Eu no tenho tempo para o Facebook!. As redessociais online no so uma moda nem um devaneio quase adolescente. So uma forma nova defuncionamento da sociedade. E isso interessa a todos.

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