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Desenvolvimento local, empreendedorismo e capital social: o caso de Terra Roxa no estado do Paraná* Local development, entrepreneurship and social capital: the case of Terra Roxa city at Paraná state in Brazil Développement local, entrepreneurship et capital social: un étude sur la village de Terra Roxa dans la province du Paraná au Brésil Desarrollo local, espíritu emprendedor y capital social: un estudio sobre la ciudade de Terra Roxa en la provincia del Paraná en Brasil Ednilse Maria Willers** Jandir Ferrera de Lima*** Jefferson Andronio Ramundo Staduto**** Recebido em 27/9/2007; revisado e aprovado em 20/12/2007; aceito em 20/2/2008. Resumo: Este artigo analisa a experiência de desenvolvimento local no município de Terra Roxa, localizado no Oeste do Estado do Paraná – Brasil. O empreendimento que está sendo realizado é o de confecção moda bebê. Essa atividade coletiva está, fortemente, associado ao desenvolvimento local, motivado por fatores endógenos. Nesse caso, a dinamização de vários fatores levou ao surgimento e ampliação de uma atividade completamente diferenciada à “vocação” territorial, no qual estão imersas essas empresas de confecção. Palavras–chave: Desenvolvimento local. Capital social. Economia urbana. Abstract: This article analyzes the experience of local development in the Terra Roxa city at Paraná State in Brazil. The enterprise that is being carried through is of confection the fashion baby. This collective activity is, strong, associated to the local development, motivated for endogenous factors. In this case, the growth of some factors led to the sprouting and magnifying of an activity completely differentiated to the “territorial vocation”, in which these companies of confection are immersed. Key words: Local development. Social capital. Urban economy. Résumé: L’objectif de cette article est d’analyser l’experience de développement local dans la village de Terra Roxa au Paraná – Brésil. L’exploitation des entreprises de mode pour les enfants est associée au développement local et des facteurs endogènes. Ces facteurs ont stimulé la démarrage des activités complementaires au profil territorial de la communauté. Mots-clés: Développement local. Capital social. Économie urbaine. Resumen: Este artículo analiza la experiencia del desarrollo local en la ciudad de Terra Roxa en la Provincia de Paraná en el Brasil. Esta actividad colectiva es asociada al desarrollo de las empresas de confección para los niños, motivada para los factores endógenos. Estos factores estimularon el comienzo de actividades complementares al perfil territorial de la comunidad. Palabras claves: Desarrollo local. Capital social. Economía urbana. INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 1, p. 45-54, jan./jun. 2008. * Uma versão preliminar dessa temática foi apresentada no II Seminário Internacional de Desenvolvimento Regional, em outubro de 2006, em Santa Cruz do Sul-RS. ** Bacharel em Secretariado Executivo Bilíngüe e Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio. Professora pesquisadora na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste/Campus de Toledo). E-mail: [email protected] *** Ph.D. em desenvolvimento regional pela Université du Québec (UQAC). Professor adjunto do Colegiado de Economia e do Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da UNIOESTE/Campus de Toledo. Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC). E-mail: [email protected] ou [email protected] **** Doutor em Economia Aplicada pela ESALQ/USP. Professor adjunto do Colegiado de Economia e do Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Unioeste/Campus de Toledo. Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC). E-mail: [email protected]. 1 Introdução Apesar dos problemas macroeconô- micos que afetam a economia brasileira, al- guns fenômenos de desenvolvimento econô- mico local se espraiam pelo Brasil, sendo que muitos com características marcantes, como a aglomeração de médias, pequenas e microempresas em uma mesma localidade, ligadas à produção de um ramo de ativida- de específico – industrial ou de serviço. No Paraná, mais precisamente na re-

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Desenvolvimento local, empreendedorismo e capital social:o caso de Terra Roxa no estado do Paraná*

Local development, entrepreneurship and social capital:the case of Terra Roxa city at Paraná state in Brazil

Développement local, entrepreneurship et capital social:un étude sur la village de Terra Roxa dans la province du Paraná au Brésil

Desarrollo local, espíritu emprendedor y capital social:un estudio sobre la ciudade de Terra Roxa en la provincia del Paraná en Brasil

Ednilse Maria Willers**Jandir Ferrera de Lima***

Jefferson Andronio Ramundo Staduto****

Recebido em 27/9/2007; revisado e aprovado em 20/12/2007; aceito em 20/2/2008.

Resumo: Este artigo analisa a experiência de desenvolvimento local no município de Terra Roxa, localizado no Oestedo Estado do Paraná – Brasil. O empreendimento que está sendo realizado é o de confecção moda bebê. Essaatividade coletiva está, fortemente, associado ao desenvolvimento local, motivado por fatores endógenos. Nessecaso, a dinamização de vários fatores levou ao surgimento e ampliação de uma atividade completamente diferenciadaà “vocação” territorial, no qual estão imersas essas empresas de confecção.Palavras–chave: Desenvolvimento local. Capital social. Economia urbana.Abstract: This article analyzes the experience of local development in the Terra Roxa city at Paraná State in Brazil. Theenterprise that is being carried through is of confection the fashion baby. This collective activity is, strong, associatedto the local development, motivated for endogenous factors. In this case, the growth of some factors led to thesprouting and magnifying of an activity completely differentiated to the “territorial vocation”, in which these companiesof confection are immersed.Key words: Local development. Social capital. Urban economy.

Résumé: L’objectif de cette article est d’analyser l’experience de développement local dans la village de Terra Roxa auParaná – Brésil. L’exploitation des entreprises de mode pour les enfants est associée au développement local et desfacteurs endogènes. Ces facteurs ont stimulé la démarrage des activités complementaires au profil territorial de lacommunauté.Mots-clés: Développement local. Capital social. Économie urbaine.

Resumen: Este artículo analiza la experiencia del desarrollo local en la ciudad de Terra Roxa en la Provincia de Paranáen el Brasil. Esta actividad colectiva es asociada al desarrollo de las empresas de confección para los niños, motivadapara los factores endógenos. Estos factores estimularon el comienzo de actividades complementares al perfil territorialde la comunidad.Palabras claves: Desarrollo local. Capital social. Economía urbana.

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 1, p. 45-54, jan./jun. 2008.

* Uma versão preliminar dessa temática foi apresentada no II Seminário Internacional de DesenvolvimentoRegional, em outubro de 2006, em Santa Cruz do Sul-RS.** Bacharel em Secretariado Executivo Bilíngüe e Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio. Professorapesquisadora na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste/Campus de Toledo). E-mail:[email protected]*** Ph.D. em desenvolvimento regional pela Université du Québec (UQAC). Professor adjunto do Colegiado deEconomia e do Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da UNIOESTE/Campus de Toledo.Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC). E-mail:[email protected] ou [email protected]**** Doutor em Economia Aplicada pela ESALQ/USP. Professor adjunto do Colegiado de Economia e do Mestradoem Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Unioeste/Campus de Toledo. Pesquisador do Grupo de Pesquisaem Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC). E-mail: [email protected].

1 Introdução

Apesar dos problemas macroeconô-micos que afetam a economia brasileira, al-guns fenômenos de desenvolvimento econô-mico local se espraiam pelo Brasil, sendo que

muitos com características marcantes, comoa aglomeração de médias, pequenas emicroempresas em uma mesma localidade,ligadas à produção de um ramo de ativida-de específico – industrial ou de serviço.

No Paraná, mais precisamente na re-

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gião Oeste do Estado, no município de Ter-ra Roxa é um exemplo desses fenômenossócio-econômicos. O município de TerraRoxa está situado na parte norte da regiãoOeste do Paraná. Em 1970, o município in-gressa numa fase produtiva de produçãoagrícola centrada quase exclusivamente naproducção cafeeira, altamente tecnificada,mecanizada e com largo uso de insumos.Apesar dos altos investimentos nos cafezais,problemas climáticos levaram a decadênciados cafezais de toda a região no final dosanos 1970 e inicio dos anos 1980. Isto resul-tou na perda de quase três quartos da popu-lação do município entre 1970 e 1990. Aagricultura, que fora o grande catalisador dosurgimento da cidade, já não parecia tãobenevolente e a baixa rentabilidade estimu-lou muitos a deixarem suas terras para bus-car o sustento da família em outros locais.

Contudo, apesar da crise econômica domunicípio, eis que a partir de 1994 surgiuum número expressivo de indústrias de con-fecções de roupas infantis. O hobby de umadas moradoras da cidade, que poderia serapenas uma renda extra, frutificou e lide-rou uma nova configuração econômica parao município de Terra Roxa, cujos resultadosatualmente impactam positivamente na es-trutura econômico-social local.

Portanto, o objetivo deste artigo é ana-lisar a experiência de desenvolvimento localno município de Terra Roxa, localizado noOeste do Estado do Paraná – Brasil. Paratanto, ele está dividido em três partes: o qua-dro teórico que se subdivide na conceitua-ção de capital social, empreendedorismo eterritorialidade. Na seqüência é analisado oprocesso de transformação econômica doMunicípio de Terra Roxa, destacando a novaconfiguração produtiva que surgiu a partirdo ano de 2000 e que foi responsável pelaalteração da estrutura urbano-rural para aurbano-industrial. Nessa seção também sãoanalisadas compilações de dados obtidos empesquisas realizadas nos anos de 2004 e2005. E para finalizar a conclusão.

2 Quadro teórico

Na nova concepção de desenvolvi-mento econômico, o espaço deixa de ser con-templado simplesmente como suporte físico

das atividades e dos processos econômicos.Ele passa a valorizar os territórios, as rela-ções entre seus atores sociais, suas organi-zações concretas, as técnicas produtivas, omeio ambiente e a mobilização social e cul-tural (MARTINELLI e JOYAL, 2004). Nestecontexto termos como capital social,empreendedorismo e territorialidade passama centralizar as discussões acadêmicas en-quanto promissoras vertentes de desenvol-vimento econômico local.

O capital social, no atual contexto dedesenvolvimento econômico, é visto comoum ativo que oferece a possibilidade de con-solidar metas de desenvolvimento econômicopor meio das próprias potencialidades e ca-pacidades da sociedade local. É o que Amân-cio et al. (2005) chama de recurso que podeser mobilizado com a finalidade de permitiraos grupos e/ou indivíduos formas mútuasde ajuda e de cooperação. O capital socialpode ser tanto um estoque quanto a base deum processo de acumulação, que permite àdeterminada sociedade ter maiores chancesde competitividade e de sobrevivência nomercado. Neste formato, o capital social com-preende a capacidade de organização deuma sociedade, a qual, associada à vida eco-nômica, à confiança e a cooperação transfor-mam-se em potencialidades reais de inter-venção econômico-social, facilitando açõescoordenadas que podem se tornar base dodesenvolvimento econômico local. Este pro-cesso se torna viável porque o capital socialtem a função de criar e de gerar oportuni-dades, capacidades e potencialidades nosdiversos atores de uma determinada socie-dade. Putnam (1996) mostrou isso em suaspesquisas quando descobriu que onde existecapital social, é ele o ponto fundamentalpara o desenvolvimento econômico.

Para Putnam (1996) capital social dizrespeito a determinadas características deuma organização social, como confiança,normas e sistemas, as quais contribuem parao aumento da eficiência desta sociedade, poisfacilita ações coordenadas em prol de umobjetivo comum. É uma resposta que con-trapõe o mito de que a sociedade é compos-ta apenas por grupos de indivíduos indepen-dentes, na qual cada um age para atingirobjetivos pessoais. Segundo Abramovay(2000), o capital social vem contrapor este

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mito, pois demonstra que os indivíduos nãoagem isoladamente e que seus objetivos tam-bém não são definidos de forma individuali-zada. É diante desta constatação que as es-truturas sociais contemporâneas devem servistas como recursos, como um ativo, pois ocapital social é produtivo e através dele setorna possível o alcance de objetivos que nãoseriam atingidos de forma individualizada.

O capital social é um ativo coletivo degrupos inseridos numa estrutura social. Tra-ta-se de valores e crenças que os cidadãoscompartilham, expressando socialização econsenso normativo. Esta postura favoreceo espírito cívico e a vida cooperativa, geran-do espaços e estruturas de trabalho em equi-pe, instigando a inovação e a aprendizagemcoletiva, fatores importantes para o dinamis-mo econômico recente. A partir da décadade 1990, se percebeu a existência de forte re-lação entre capital social e a formação deaglomerações produtivas localizadas. Estu-dos teóricos e empíricos demonstram que emaglomerações produtivas, especialmenteaquelas reconhecidas como arranjos produ-tivos locais, as empresas (de micro, pequenoe médio porte) têm mais condições de sobre-viver de modo competitivo e sustentado. Emconjunto com a sociedade local tem alcan-çado índices de crescimento econômico queviabilizam a retomada do desenvolvimentoeconômico-social local (ALBAGLI eMACIEL, 2003).

Esta retomada é viabilizada pela exis-tência de indivíduos conhecidos como em-preendedores, tidos como os principais agen-tes de condução do processo de criação deunidades produtivas. Os empreendedoresatravés de sua ação inovam e desenvolvemo universo empresarial permitindo, que o flu-xo e o desenvolvimento da economia sejamcatalisados. Para Gerber (1996) a personali-dade empreendedora transforma a condiçãomais insignificante numa excepcional opor-tunidade. Neste contexto o empreendedor éum inovador, um estrategista, um criador denovos métodos de acesso ao mercado já exis-tente ou de criação de novos.

É importante que os empreendedorestenham consciência que o sucesso de seusempreendimentos é conseqüência de umconjunto de habilidades, tais como identifi-car, agarrar e buscar os recursos para trans-

formar sua idéia inovadora em um negóciolucrativo, demonstrando o valor econômicodessa idéia e que tem condições de torná-lorealidade.

Se o capital social é tido como um ati-vo que possibilita a convergência de interes-ses coletivos na direção de determinado obje-tivo, neste caso para o desenvolvimento eco-nômico de uma localidade e o empreende-dorismo, a ação que efetiva este ativo, entãose faz necessário entendermos também o sig-nificado que se está delineando para o espa-ço de ação deste capital social, ou como setem denominado na literatura recente, doespaço territorial do desenvolvimento.

Com base nesta conceituação, perce-be-se que o desenvolvimento econômico estádiretamente ligado à emergência do poten-cial do capital social local, bem como com asiniciativas de seus atores em inovar e emdefinir planos de ação coletivos que os le-vem a agir em direção a projetos comuns quebusquem desencadear o desenvolvimentoeconômico local. Neste contexto, o territórioé visto como um meio inovador, até porque,as empresas por si só não se transformamem agentes inovadores. Elas são partes deum meio onde a história, a organização, oscomportamentos coletivos e o consenso queos estrutura é que são seus verdadeiros com-ponentes de inovação. Sendo assim, os com-portamentos inovadores de um territóriodependem, diretamente, das variáveis defi-nidas no plano local e na densidade de seutecido institucional e capital de relações(MAILLAT, 2002).

Assim, é preciso instigar o potencialcompetitivo do território, pois é através des-te que se dinamiza a organização e a parti-cipação dos agentes sociais nos processos dedesenvolvimento econômico local(MORAES, 2005). São as ações coletivas pre-conizadas por Schmitz (1997) tida como atônica que dinamiza as mudanças necessá-rias à construção de planos locais que pos-sam levar ao desenvolvimento econômico. Esão essas mesmas ações coletivas que altera-ram e estão movimentando a economia deTerra Roxa, tendo nas indústrias de confec-ções infantis o desencadeador de superaçãoda estagnação econômica que se apoderoudo município desde a década de 1970. Mas,para que se possa compreender o processo

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de desenvolvimento econômico do Municí-pio de Terra Roxa, se faz necessário resga-tar, mesmo que em breves palavras, seu con-texto histórico, ampliando essa análise apartir da realidade econômica do país e dopróprio Estado do Paraná.

3 O desenvolvimento econômico no oestedo Paraná

No Estado do Paraná, nas décadas de1950 e 1960 a produção preponderante erao café e a extração da madeira. Nesse perío-do, o Oeste do Paraná sofreu um processomigratório inverso ao que ocorreu no Brasil.No setor rural brasileiro ocorria um forteprocesso de esvaziamento, atraído pelo cres-cimento do setor urbano-industrial da regiãoSudeste, e principalmente no Estado de SãoPaulo. A produção agropecuária de modogeral não tinha praticamente nenhuma in-corporação tecnológica. A estrutura fundiá-ria concentrada era apontada como uma dascausas, pois com exceção do Sul do país ha-via grande predomínio dos latifúndios. Aforma preponderante de expandir a produ-ção era por meio da incorporação de terra.Com efeito, as fronteiras agrícolas tinhamque ser agregadas ao processo produtivonacional.

É a partir dos anos 1960, que a regiãoteve sua grande explosão populacional. En-tre 1960 e 1970, a região recebeu 374.082pessoas, e a taxa decenal de migração de0,82% a.a.. Neste período apenas o DistritoFederal, considerada área de fortíssima atra-ção populacional, recebeu mais migrantesque o Extremo Oeste Paranaense. Em 1970a população rural do Oeste do Paraná esta-va na ordem de 80%, já em 1980, a popula-ção rural e urbana igualavam-se em 50%,iniciando a década de 1990 com uma popu-lação urbana de aproximadamente 71%. Aalteração na composição da população dosmunicípios na região Oeste do Paraná bemcomo no Estado tornaram ambos maisurbanizadas. Esta situação está associada ànecessidade de geração de emprego nas ci-dades (RIPPEL, 2004).

A partir da década de 1970, teve iní-cio na região uma nova fase de produçãoagrícola. A modernização da agricultura

brasileira que se alastrou fundamentalmen-te pelas regiões Sul e Sudeste encontrou con-dições sócio-econômicas para ser implanta-da no Oeste do Paraná. O crédito rural ofi-cial e subsidiado era atrelado a um pacotetecnológico. As lavouras temporárias, comoas culturas de soja e trigo, foram as princi-pais responsáveis pelo crescimento da pro-dução agrícola e desenvolvimento da região.A produção não resultava mais dapolicultura de subsistência, mas da especia-lização na produção de soja e trigo destina-dos ao mercado interno e exportador(PIFFER, 1997).

A partir da década de 1990, a produ-ção agroindustrial nas regiões produtoras degrãos e outras matérias-primas agrope-cuárias cresceram verticalmente e começama ter grande visibilidade para a sociedade eos segmentos políticos, o que contribuiu paraque essas regiões caminhassem para a viabi-lização do desenvolvimento regional e, par-ticularmente, alguns municípios se tornas-sem pólos com grande área de influência,atraindo novos investimentos e, fundamen-talmente, a população dos municípios vizi-nhos. Também se tornaram receptores deantigos produtores rurais que hoje não temmais a sua propriedade agrícola.

Mais recentemente, a região Oeste doParaná teve um grande processo deagroindustrialização concentrada em algunsmunicípios em razão de vários vetores deri-vados de vantagens locacionais. Do pontode vista institucional também há vantagenspor meio do recebimento de royalties pelosmunicípios lindeiros que fazem margem como lago do Itaipu.

3.1 O município de Terra Roxa: perfileconômico

Em Terra Roxa o processo de emi-gração foi dramático. Entre 1970 a 1980,considerando-se a migração interestadual,intra-estadual e intra-regional a populaçãodecresce de 37.452 habitantes para 25.535,e entre 1980 a 1990 para 19.820 habitantese, ainda, entre 1990 a 2000 o decréscimodeixa um saldo populacional de apenas16.293 habitantes no município, como de-monstra o Gráfico 1.

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Gráfico 1 - Evolução da população de Terra Roxa de 1970-2000.

Conforme mencionado na introdução,o decréscimo populacional de Terra Roxa éexplicado pela transformação no modelo deprodução agrícola que afetou todo o Oestedo Paraná. Terra Roxa não escapou da ten-dência geral dos movimentos demográficosque ocorreu no Brasil, de redução de tama-nho das pequenas cidades. Excluído os as-pectos políticos, religiosos, raciais ou mesmode risco de integridade física, a evasão po-pulacional dos pequenos municípios é refle-xo do baixo dinamismo econômico.

Mesmo sendo a agricultura a grandegeradora de renda para o município, a mes-ma não dava conta de atender a abundanteoferta de mão-de-obra existente, até porquena situação de pequeno proprietário nãohavia muita demanda de serviços. Outroagravante foi o fato de Terra Roxa estar cer-

cada por várias cidades mais dinâmicas epolarizadoras regionalmente, como: Casca-vel, Toledo e Foz do Iguaçu, e em segundoplano as cidades de Palotina e Guairá.

No entanto, a situação começa a mu-dar com o surgimento das primeiras indús-trias de confecções infantis. As quais, a par-tir segunda metade da década de 1990, re-gistram um rápido crescimento de absorçãode mão-de-obra local. O Gráfico 2 demons-tra a mudança do perfil produtivo do muni-cípio, nos quais o expressivo aumento doemprego da mão-de-obra no setor industrial,sobrepõe o ramo tradicional local (agricul-tura) e inclusive o de serviços. Verifica-se quea partir de 1999 ocorreu um crescimentoabrupto da ocupação industrial e, por suavez, cresce também os setores de serviço ecomércio.

Gráfico 2 - Evolução da ocupação de trabalho, por setores da economia em Terra Roxa de1985-2003.

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

40.000

45.000

1970 1980 1991 1996 2000

ano

po

pu

laçã

o

Total

Urbana

Rural

Fonte: IBGE (2005).

0

200

400

600

800

1000

1200

INDÚSTRIA CONSTR CIVIL COMÉRCIO SERVIÇOS AGROPECUÁRIA

trab

alha

dor

2003

2002

2001

2000

1999

1998

1997

1996

1995

1994

1993

1992

1991

1990

1989

1988

1987

1986

1985

Fonte: MTE (2005).

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4 Evidências empíricas da emergência docapital social, do empreendedorismo e dodesenvolvimento local em Terra Roxa-PR

Em Terra Roxa, em 1994, inicia-se umfenômeno que refletia a necessidade de mu-dar. A primeira indústria de confecção in-fantil surgiu a partir do ideal de uma dasmoradoras em contribuir no orçamento fa-miliar. Inicialmente, Dona Celma bordou oenxoval de seus filhos, que por sua vez, ex-pandiu a atividade de forma restrita paraaumentar a renda do grupo familiar. Noentanto, esta atividade complementar tomourumos maiores, primeiro tornando-se ativi-dade principal da família, com a adesão doesposo, isto ainda na primeira metade dadécada de 1990. Vários fatores contribuírampara o êxito dessa atividade no âmbito fa-miliar, mas o impacto positivo ocorre quan-do a produção artesanal passa para a pro-dução de escala industrial e se alastra pelacidade ávida como um modelo de sucesso.Desta forma, estava-se levantando uma ban-deira de resistência ao declínio econômico.

Em menos de cinco anos, a idéia de in-vestir em confecções para bebês contagiouparcela expressiva dos empresários locais,estimulando novos empreendedores, osquais passaram a investir neste segmento,iniciando uma nova fase na história econô-mica de Terra Roxa. No ano de 2005 existi-am cerca de 47 indústrias regularmente aber-tas e ativas. Estas indústrias detinham 84%do emprego forma industrial do municípioe representam, junto ao setor de serviços,30% do PIB municipal (WILLERS, 2006).

Os elementos que conduziram para ocrescimento dessas empresas e ao desenvol-vimento local, as quais estão assentados so-bre um território que foi construído funda-mentalmente por um processo de resistên-cia dos seus moradores frente a um declínioeconômico persistente.

A história dos empresários das indús-trias de confecções infantis de Terra Roxaestá diretamente vinculada à história doOeste do Paraná, de uma maneira geral, e

da história do município de um modo maisespecífico. A maioria absoluta dos empresá-rios nasceu ou veio a residir ainda criançano município, acompanhando o itinerário deseus pais. Segundo o LIS (2004), 67% dosempresários de confecções são nascidos emTerra Roxa ou residente desde a infância e33% mudaram para Terra Roxa depois dainfância.

O vínculo entre estes empresários e ahistória regional municipal é a origem ruralda grande maioria dos empresários. Entre27 empresários pesquisados, 21 deles (77,8%)são filhos de agricultores e sete ainda têm aagricultura como seu meio de vida. Este dadoremete diretamente ao índice de esgotamentode postos de mão-de-obra no setor ruralcomo demonstrado anteriormente.

Com respeito às atividades realizadasanteriormente por esses empresários, em boaparte dos casos, os mesmos já operavam emalguma atividade relacionada com a área emque atualmente estão empreendendo. Entreos 27 entrevistados nove atuavam em áreasdiretamente relacionadas ao setor de confec-ções, outros 5 atuavam como empresários eos demais eram autônomos ou funcionáriosassalariados. A origem das empresas é pro-veniente de capital autóctone, ou seja, asempresas nasceram com capitais oriundosda economia pessoal de cada um dos em-presários. Indagados diretamente sobre estaquestão mais 50% dos empresários indica-ram esse expediente como a fonte de recur-sos do seu empreendimento (LIS, 2004).

As fontes de inspiração para a toma-da de decisão de ingresso no ramo foram di-versas, entre elas destacam-se principalmen-te o conhecimento de atividades do ramo,opinião de amigos ou familiares do ramo,bem como o aproveitamento de mão-de-obralocal (LIS, 2004). A maior parte das indús-trias de confecções infantis Terra Roxa fo-ram criadas a partir de 2000. Essas empre-sas na grande maioria são de micro e peque-no portes sendo que cerca de 96% tem me-nos de 100 empregados, e 71%, destas, tematé 20 empregados, como ilustra a Tabela 4.

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Tabela 4 - Empresas de confecção de roupas infantis segundo o número de empregados em2003.

As indústrias do ramo de confecçõesinfantis são na maior parte fabricantes devestuário. Há outras empresas atuandocomo prestadoras de serviços, principalmen-te fazendo as costuras das roupas e aplican-do os bordados. É provável que a expansãoda produção nos próximos anos e a partici-pação das empresas prestadoras de serviçosse ampliem como um processo de fortaleci-mento da estrutura produtiva. Segundo oCenso Empresarial (2005) 96% da empresas

são de industriais de confecção infantil e 4%são de prestadoras de serviços.

A mão-de-obra empregada nestes es-tabelecimentos é preponderantemente for-mal e os treinamentos ocorrem na maioria,no âmbito interno das empresas (Gráfico 3).O processo de aprendizagem é extremamen-te endógeno, desta forma, espera-se haja for-tes respostas dos agentes com a introduçãoorganizada de treinamento da mão-de-obra,e que ocorra um aprendizado coletivo.

Gráfico 3 - Qualificação nas próprias empresas confecção infantil de Terra Roxa por ocupação

O ramo de confecção infantil de TerraRoxa desde seu surgimento cresceu signifi-cativamente e a abrangência de seu merca-do cresceu com ele. Hoje seus produtos não

se limitam mais ao mercado regional, pas-sando a ser exportado e a competir com osprodutos de outros estados brasileiros, a Ta-bela 5 ilustra esta expansão.

Tamanho da empresa % Até 4 vínculos ativos 29 De 5 a 9 vínculos ativos 23 De 10 a 19 vínculos ativos 19 De 20 a 49 vínculos ativos 23 De 50 a 99 vínculos ativos 2 De 100 a 249 vínculos ativos 4 Total 100 Fonte: MTE, 2005.

62

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47

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Fonte: STADUTO, 2005.

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INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 9, n. 1, p. 45-54, jan./jun. 2008.

Tabela 5 – Destino das vendas das empresas de confecção infantil de Terra Roxa em 2004.

ESTADO % Paraná 13,7

Santa Catarina 11,5 São Paulo 12,7

Rio de Janeiro 9,3 Rio Grande do Sul 8,0

Bahia 8,4 Minas Gerais 6,4

Goiás 4,1 Mato Grosso 3,9

Demais 22,0 Total 100

Fonte: STADUTO et al. (2005).

Segundo os dados da Tabela, consta-tou-se que 82% das empresas têm marca pró-pria. Esse resultado é extremamente positivo,pois configura a autonomia em termos dedesigner e de produção das peças produzi-das pelas indústrias, aumentando expressi-vamente as chances de fixação das marcasno mercado. Desta forma, estas indústriasdiferenciam-se das chamadas empresas defacção. As empresas respondem por boa par-te da criação de suas roupas, 75% das em-presas têm até 100% de criação própria, 17%e 8% têm até 90% e 80%, respectivamente,de criação própria. Esta constatação eviden-

cia e valoriza o potencial artístico local.Outro indicador que representa um tra-

ço de capital social é as relações sociais cons-tituídas entre os empresários, uma vez que,o círculo social de convivência dos empresá-rios é formado em sua grande maioria porpessoas do mesmo ramo. O Gráfico 4 mos-tra que parcela pequena dos empresários pes-quisados apresentava baixo nível de confi-ança nos seus colegas de atividade. Estesdados evidenciam uma forte propensão àcoesão social, pois existe uma confiabilida-de média tendendo para o crescimento en-tre os empresários.

Gráfico 4 - Nível de confiança entre os empresários das confecções moda bebê de Terra Roxa.

Com a implantação da associação dosempresários de confecções infantis, intitulada“APL de Moda Bebê de Terra Roxa”, em2004, foi possível constatar a existência de co-

laboração entre as indústrias. Tanto que cer-ca 93% dos empresários já receberam algumtipo de benéfico advindo desta associação. NoQuadro 1 são listados esses benefícios.

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Quadro 1 - Exemplos de benefícios citados pelos empresários das confecções infantis de TerraRoxa

5 Conclusão

O município de Terra Roxa tinha umabase econômica apoiada na produção agro-pecuária, e, atualmente, esta maisdiversificada e tende a uma complexidadenas relações intersetoriais pelo efeitodesencadeador gerado pelas indústrias deconfecções infantis. Com a modernização daagropecuária uma enorme quantidade demão-de-obra foi liberada e, não tendo umsuporte industrial urbano próximo que pu-desse representar alguma alternativa, a so-lução foi à migração para outras fronteirasagrícolas, ou mesmo para centros urbanosmais próximos. Foi o que ocorreu em TerraRoxa entre 1970 a 1980, quando 15 mil pes-soas deixaram o município.

Embora o processo migratório tenhadiminuído, foi expressivo ainda nas duas dé-cadas seguintes (1980-1990). Isto tudo erade se esperar a partir da implantação de ummodelo agrário altamente tecnificado frenteà ausência de uma estrutura urbana queabsorvesse a mão-de-obra rural dispensada.A incapacidade de absorção urbana se re-fletiu nos índices estacionários do empregono setor da indústria e de serviços até, pelomenos, no final da década de 1990. É neste

período (final de década de 1990 e início de2000) que começam a proliferar as indústriasde confecções infantis.

As mudanças ocorridas na estruturaeconômica de Terra Roxa foram oriundas docapital social local e do “espírito” empreen-dedor, cujo reflexo foi o rápido posiciona-mento do município no mercado de modabebê brasileiro. No caso deste município, ocapital social parece ter maiores proporções,por ter uma parcela expressiva de empresá-rios nascidos no município. Este fato “criou”um vínculo maior com a idéia de crescer emorar no município natal. Um outro elemen-to importante para caracterizar a origemcomum dos empresários é a origem rural dosmesmos, pois 78% deles afirmaram que en-tre as profissões exercidas pelos pais estavaa de agricultor (STADUTO et al., 2005).

A origem familiar agrícola da maiorparte dos empresários do ramo de confecçõesinfantis indica o esgotamento ocupacionaldo setor e a necessidade de buscar outros ca-minhos. Isso contribuiu na perspicácia de al-guns empresários de perceber um mercadopromissor, como foi o caso das primeiras in-dústrias de confecções infantis, ainda na dé-cada de 1990. Num segundo momento, foi oaprendizado e a percepção do setor, ainda

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em crescimento, que levou alguns emprega-dos a tentarem o empreendimento próprio.O que aparece, sempre em comum, é que es-ses empresários são em sua grande maioriamoradores de longo tempo no município e,ainda, que são os geradores dos recursos fi-nanceiros utilizados para iniciar seu próprionegócio.

Os empresários de confecção infantisperceberam que não resolveriam as dificul-dades de gerar renda e bem estar para suasfamílias mudando para outras regiões. Aestratégia encontrada pelas pessoas que de-cidiram ficar em Terra Roxa foi em apostarna idéia das indústrias de confecções infan-tis. Esta ação evidencia os principais agen-tes de mudança de Terra Roxa, sua popula-ção. É o que se chama de capital social, e éesta particularidade que atribui as indústriasde confecções infantis uma territorialidadeespecífica e única, se comparado aos demaismunicípio de seu entorno.

A constituição da associação “APL deModa Bebê de Terra Roxa” parece ser umato consciente neste sentido, e os empresá-rios do setor parecem estar convencidos deque sua empresa depende desta “matériaprima”, que se configurou por uma “gente”que vive e trabalha em Terra Roxa. Destaforma, uma empresa que treina funcionáriosnão pode ser vista apenas como sua concor-rente, mas sim uma colaboradora.

Para tanto, é necessário ter claro que aexpansão econômica de hoje só aconteceuem função da existência das pessoas que vi-vem em Terra Roxa, apesar delas terem umacomposição heterogênea, pois foram forma-das por imigrantes de vários estados do Bra-sil e se trata de um município jovem, no en-tanto, foi se condensando um processo deresistência do lugar em que vivem, o qual foisendo rapidamente depauperado pelos re-versos da história desse município. As indús-trias de confecção infantil por mais que se-jam de capital privado, têm um grande com-ponente de construção coletiva, cuja orga-nização se configura na atual constituiçãodo APL de moda bebê de Terra.

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