o cÂncer de mama, suas implicaÇÕes e as consideraÇÕes de enfermagem na dor

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE ÁREA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM Ana Cristina de Oliveira Eudson Haroldo de Oliveira Costa Faiene da Cruz Vieira Janaina Oliveira Freitas O CÂNCER DE MAMA, SUAS IMPLICAÇÕES E AS CONSIDERAÇÕES DE ENFERMAGEM NA DOR Governador Valadares 2009

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O CÂNCER DE MAMA, SUAS IMPLICAÇÕES E AS CONSIDERAÇÕES DE ENFERMAGEM NA DOR

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  • UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

    REA DE CINCIAS BIOLGICAS E DA SADE

    CURSO DE ENFERMAGEM

    Ana Cristina de Oliveira

    Eudson Haroldo de Oliveira Costa

    Faiene da Cruz Vieira

    Janaina Oliveira Freitas

    O CNCER DE MAMA, SUAS IMPLICAES E AS CONSIDERAES

    DE ENFERMAGEM NA DOR

    Governador Valadares

    2009

  • ANA CRISTINA DE OLIVEIRA

    EUDSON HAROLDO DE OLIVEIRA COSTA

    FAIENE DA CRUZ VIEIRA

    JANAINA OLIVEIRA FREITAS

    O CNCER DE MAMA, SUAS IMPLICAES E AS CONSIDERAES

    DE ENFERMAGEM NA DOR

    Monografia para obteno do grau de bacharel em Enfermagem, apresentada rea de Cincias Biolgicas e da Sade da Universidade Vale do Rio Doce.

    Orientadora: Tatiana Heidi Oliveira

    Governador Valadares

    2009

  • ANA CRISTINA DE OLIVEIRA

    EUDSON HAROLDO DE OLIVEIRA COSTA

    FAIENE DA CRUZ VIEIRA

    JANAINA OLIVEIRA FREITAS

    O CNCER DE MAMA, SUAS IMPLICAES E AS CONSIDERAES

    DE ENFERMAGEM NA DOR

    Monografia apresentada como requisito para obteno do grau de bacharel em Enfermagem pela rea de Cincias Biolgicas e da Sade da Universidade Vale do Rio Doce.

    Governador Valadares, 24 de Novembro de 2009.

    Banca Examinadora:

    ____________________________________________

    Prof. Tatiana Heidi Oliveira Orientadora Universidade Vale do Rio Doce

    ____________________________________________ Prof. Andria Eliane Silva Barbosa

    Universidade Vale do Rio Doce

    ____________________________________________ Prof. rick da Silva Ramalho

    Universidade Vale do Rio Doce

    ____________________________________________ Prof. Ivanete Niley Rodrigues de Abreu

    Universidade Vale do Rio Doce

  • Dedicamos este trabalho, primeiramente a

    Deus, aos nossos pais, e a ns autores

    desta pesquisa, pelo esforo e

    determinao.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradecemos a Deus por estar presente em todos os momentos, por ter nos dado

    sabedoria para aprender e discernir. To importante quanto o lugar que ocupa em

    ns a intensidade da tua presena em tudo aquilo que fazemos.

    Aos nossos familiares por compartilharem conosco as dificuldades, que encheram

    de amor e ternura os nossos coraes, pelo incentivo e compreenso que sempre

    nos proporcionaram.

    Ao marido, namorado e namorada pela compreenso da nossa ausncia, pacincia

    e palavras de incentivo nos momentos das dificuldades.

    A nossa querida orientadora Tatiana Heidi, que acima de tudo foi muito amiga,

    atenciosa e, sempre disponibilizando do seu tempo, nos orientou e apoiou em todos

    os momentos.

    Aos colegas pelos momentos maravilhosos e pelo carinho durante todos esses

    anos.

  • Bom mesmo ir a luta com

    determinao, abraar a vida e viver com

    paixo, perder com classe e viver com

    ousadia. Pois o triunfo pertence a quem se

    atreve, e a vida muito bela para ser

    insignificante.

    Charles Chaplin

    http://www.fraseseternas.com.br/frases.asp?Charles-Chaplin

  • RESUMO

    O aumento da incidncia de doenas crnico-degenerativas no mundo e conseqentemente no Brasil, tem gerado uma srie de estudos, inclusive sobre o cncer. Devido ao grande nmero de casos novos da patologia, comum nos depararmos com estes pacientes durante a nossa prtica clnica. Dentre estes encontramos o cncer de mama que no Brasil e no mundo tem aumentado e aparecido cada vez mais cedo na vida da mulher. Este foi o fator relevante para a realizao desta pesquisa bibliogrfica, com abordagem qualitativa indireta, sendo os dados coletados por meio de livros, artigos, revistas e sites, com o objetivo de conhecer em profundidade as especificidades do cncer de mama, suas implicaes e as consideraes de enfermagem frente dor oncolgica. de extrema importncia a valorizao do referencial terico para o aprimoramento de uma assistncia mais integral e abrangente, uma vez que este tipo de neoplasia traz consigo uma diversidade de fatores. A reviso demonstrou que a equipe de enfermagem deve estar adequadamente capacitada, sendo esta, alcanada com um conhecimento tcnico cientfico suficiente para lidar com o tratamento das mulheres portadoras de cncer de mama.

    Palavras-chave: Cncer de mama. Dor. Enfermagem.

  • ABSTRACT

    The increase of incidence of chronic-degenerative disease in the world and consequently on Brazil, has generate a serie of studies, including about the cancer. Because of the great number of new cases of the pathology, it is common to find those patients during our clinic practice. Among many types we find the breast cancer which has in the Brazil and in the world increased and showed earlier every time in the woman`s life. This was the factor for the realization of this bibliography research, with the qualitative indirect approach, and the collected data was by books, articles magazines and sites, with the objective of get deeper know ledge of the specificity of breast cancer, its implications and the considerations of nursing in face of oncological pain. It is of extreme importance the valorization of the theoric references for the improvement of a more integral and more embracive assistance, once this type of neoplasy brings with itself a diversity of factor. The revision showed that the nursing staff must this reached with a technical scientific knowledge enough to deal with treatment of women carrier of breast cancer. Key words: Breast cncer. Pain. Nursing.

  • LISTA DE SIGLAS

    AJCC Comit da Associao Americana do Cncer

    EVA Escala Visual Analgica

    INCA Instituto Nacional de Cncer

    OMS Organizao Mundial da Sade

    PAAF Puno Aspirativa Por Agulha Fina

    PAG Puno Por Agulha Grossa

    RH Receptor Hormonal

    SAE Sistematizao das Aes de Enfermagem

    SUS Sistema nico de Sade

    UICC Unio Internacional Contra o Cncer

    UNIVALE Universidade Vale do Rio Doce

    USG Ultra Sonografia

  • 9

    SUMRIO

    1 INTRODUO ....................................................................................................... 10

    2 REVISO DA LITERATURA ................................................................................. 13

    2.1 CONCEITO DO CNCER DE MAMA ................................................................. 13

    2.2 EPIDEMIOLOGIA DO CNCER DE MAMA ........................................................ 13

    2.3 ETIOLOGIA/FATORES DE RISCO DO CNCER DE MAMA ............................. 16

    2.4 FISIOPATOLOGIA DO CNCER DE MAMA ...................................................... 17

    2.4.1 Anatomia e Fisiologia da Mama .................................................................... 18

    2.4.2 Carcinognese ................................................................................................ 20

    2.5 MANIFESTAES CLNICAS ............................................................................ 23

    2.6 DIAGNSTICO E ESTADIAMENTO ................................................................... 25

    2.7 TRATAMENTO .................................................................................................... 29

    2.7.1 Cirurgia ............................................................................................................ 29

    2.7.2 Radioterapia .................................................................................................... 31

    2.7.3 Quimioterapia ................................................................................................. 33

    2.8 O CNCER DE MAMA E SUAS IMPLICAES ................................................ 37

    2.9 DOR ONCOLGICA ........................................................................................... 39

    2.9.1 Assistncia de Enfermagem .......................................................................... 41

    2.9.1.1 Cuidados de enfermagem dor .................................................................... 45

    3 METODOLOGIA .................................................................................................... 49

    4 CONCLUSO ........................................................................................................ 51

    REFERNCIAS ......................................................................................................... 54

    ANEXOS ................................................................................................................... 59

  • 10

    1 INTRODUO

    O Brasil tem enfrentado nos ltimos anos um quadro marcado pela grande

    incidncia de doenas crnico-degenerativas. O cncer a principal, por ser a

    segunda causa de morte por doena no pas, sendo que a estimativa para 2009 foi

    de 466.730 novos casos de cncer. A melhoria na qualidade de vida no plano scio-

    econmico e o avano da medicina alm de facilitar o diagnstico, aumentou a

    expectativa de vida e conseqentemente o nmero de casos novos de cncer

    (INCA, 2008).

    Diante desse crescente nmero de casos de cncer, freqente depararmos

    com esse paciente nas instituies de sade. necessrio conhecer a realidade

    clnica desses indivduos e as qualificaes necessrias para o profissional que o

    atende, com a finalidade de oferecer uma assistncia de qualidade junto a esses

    pacientes que o ajudem a superar as dificuldades advindas do diagnstico e pelo

    tratamento, visando o alvio da dor, o conforto e acima de tudo, que possibilite a

    esses pacientes uma melhora da sua qualidade de vida (INCA, 2008).

    O cncer de mama uma doena heterognea e complexa, que se apresenta

    de mltiplas formas clnicas e morfolgicas, com diferenas na pr e ps-

    menopausa, com diferentes graus de agressividade tumoral e potencial metasttico,

    atingindo frequentemente mulheres aps os quarenta anos de idade, embora se

    tenha observado um fenmeno em nvel mundial, do aumento de sua incidncia em

    faixas etrias mais jovens (PINHO et al., 2007).

    As causas do cncer de mama ainda no foram determinadas com exatido.

    Os fatores de risco significativos so: histria familiar de cncer mamrio em me,

    irm, av e tia, ter mais de 45 anos e estar no perodo pr-menopausa. Outros

    fatores de risco provveis que ainda esto sendo investigados, inclui ciclo

    menstruais longos; incio precoce da menstruao ou menopausa tardia; exposio

    a radiao; tratamento com estrgeno ou com agente anti-hipertensivo; uso de

    lcool e tabaco; doena fibrocstica preexistente. A descoberta do gene BRCA1 do

    cncer de mama confirma a tese de que essa doena pode ser transmitida pela me

    ou pelo pai (BOUNDY, 2004).

    De acordo com Brunner & Suddarth (2002), os cnceres de mama ocorrem

    em qualquer local no rgo, porm a maior parte encontrada no quadrante

  • 11

    superior externo, onde se localiza a maior parte do tecido mamrio. Geralmente as

    leses so indolores, em vez de dolorosas, fixas em vez de mveis, e com bordas

    endurecidas irregulares, em vez de encapsuladas e lisas. As queixas de dor e

    sensibilidade difusa na mama que ocorrem no perodo de menstruao esto

    usualmente associadas doena mamria benigna. A dor acentuada, no entanto,

    pode estar ligada ao cncer de mama em estgio mais avanado.

    Muitas mulheres hoje, diagnosticadas com cncer de mama, podem ficar

    curadas ou viver longos perodos com a doena. Entretanto, ao contrrio de outros

    tratamentos para doenas crnicas, os tratamentos contra o cncer so mais txicos

    e intensos, resultando num aumento tanto da demanda das reservas fsicas como,

    tambm, de seus recursos sociais e psicolgicos para sobreviver e enfrentar a

    doena (CAMARGO; SOUZA, 2003).

    No existe uma opo seqencial para se estabelecer o tratamento. A

    escolha vai depender de fatores como: o tamanho do tumor, o seu tipo histolgico e

    sua resposta frente ao tratamento inicial. Sendo assim, feito pelo cirurgio

    oncolgico, patologista e oncologista clnico o estadiamento, para a implementao

    do plano teraputico. O estadiamento ir determinar o prognstico, facilitar na

    escolha do tratamento e ajudar na avaliao dos resultados do tratamento escolhido.

    As consideraes de enfermagem em oncologia evoluram muito desde seu

    aparecimento como as especialidades, e a literatura existente aponta e preconiza

    importante papel da enfermagem no apoio ao cliente oncolgico nas vrias fases de

    sua doena. Pensar hoje em oncologia pensar em sobrevida com qualidade e no

    se fixar na cura da doena (CAMARGO; SOUZA, 2003).

    Portanto, a prtica da enfermagem em oncologia evoluiu para a assistncia

    ao cliente e sua famlia atravs da educao, provendo suporte psicossocial,

    administrando a terapia recomendada, selecionando e administrando intervenes

    que diminuam os efeitos colaterais da terapia proposta, participando da reabilitao

    e provendo conforto e cuidado.

    A dor ligada ao cncer pode ser aguda ou crnica. A dor decorrente do

    cncer to importante que, depois do medo de morrer, a segunda causa mais

    comum de medo nos pacientes com cncer recentemente diagnosticado. Estima

    que de mais de 50% dos pacientes com um diagnstico de cncer e 70% dos

    pacientes com cncer avanado experimentam dor. A dor no paciente que sofre de

    cncer pode estar diretamente associada ao tumor, a um resultado do tratamento,

  • 12

    ou no associada ao cncer. A maior parte da dor associada ao cncer, no entanto,

    consiste no resultado direto de envolvimento tumoral (POLLOCK et al., 2006).

    Neste sentido necessrio conhecer em profundidade as especificidades

    deste tipo de tumor, suas implicaes e as consideraes de enfermagem frente

    dor oncolgica, ajudando assim os profissionais a estarem aptos a acolher essas

    mulheres, oferecendo adequadamente o cuidado com o ser humano que deve se

    manifestar em atitudes que valorizem e dignifiquem a vida.

    Justifica-se este estudo pelo conhecimento adquirido na disciplina

    Enfermagem do Adulto II, onde no decorrer dos contedos aplicados, despertamos o

    interesse de aprimorarmos nossos conhecimentos a respeito do cncer de mama.

    Este estudo torna-se de relevncia pessoal, porque a formao acadmica

    prope a capacidade do graduando de prestar uma assistncia de enfermagem com

    qualidade, e de relevncia social, porque em nvel mundial e nacional uma doena

    crnica degenerativa crescente, como j citada anteriormente.

    No mundo atual, o binmio sade doena no pode mais ser analisado

    isoladamente da pessoa que, concretamente, est vivenciando tal fenmeno. H

    necessidade de uma abordagem que contemple esta totalidade existencial,

    examinando a doena como vivida pelo SER que adoece e considerando as

    condies histrico-culturais implicadas nesse contexto. Deste modo, a assistncia

    sade procura ver o homem no mundo, situado em sua totalidade de vida, buscando

    novos horizontes de compreenso (COSTA et al., 2005).

  • 13

    2 REVISO DA LITERATURA

    2.1 CONCEITO DO CNCER DE MAMA

    De acordo com Duarte & Andrade (2006) o cncer de mama ou carcinoma

    mamrio o resultado de multiplicaes desordenadas de determinadas clulas que

    se reproduzem em grande velocidade, desencadeando o aparecimento de tumores

    ou neoplasias malignas que podem vir a afetar os tecidos vizinhos e provocar

    metstases. Este tipo de cncer aparece sob forma de ndulos e, na maioria das

    vezes, podem ser identificados pelas prprias mulheres, por meio da prtica do auto-

    exame.

    Completa Inca (2009) que o ndulo muitas vezes, apresenta-se como uma

    massa dura e irregular que, quando palpada, se diferencia do resto da mama, pela

    sua consistncia.

    O cncer de mama provavelmente o tipo de cncer mais temido pelas

    mulheres, sobretudo pelo impacto psicolgico que provoca, pois envolve

    negativamente a percepo da sexualidade e a prpria imagem corporal, mais do

    que se observa em qualquer outro tipo de cncer (MOHALLEM; RODRIGUES,

    2007).

    Complementam ainda Maieski & Mansano (2007), que a mama apresenta

    importncia para o corpo da mulher por representar simbolismo e ser caracterstica

    da imagem feminina, fazendo relao com a sexualidade e tambm com a funo de

    mulher.

    2.2 EPIDEMIOLOGIA DO CNCER DE MAMA

    A distribuio da incidncia e da mortalidade por cncer de fundamental

    importncia para o conhecimento epidemiolgico sobre a ocorrncia da doena,

    desde seus aspectos etiolgicos at aos fatores prognsticos envolvidos em cada

    tipo especfico de neoplasia maligna. Esse conhecimento possibilita gerar hipteses

    causais e avaliar os avanos cientficos em relao s possibilidades de preveno

  • 14

    e cura, bem como a resolutividade da ateno sade. O estabelecimento de

    medidas efetivas de controle tambm deve ser feito com base em informaes de

    qualidade sobre a ocorrncia dos tumores malignos nas diferentes regies

    geogrficas (INCA, 2005).

    No Brasil, assim como em vrios pases desenvolvidos, no se conhece o

    nmero real de casos novos que so diagnosticados a cada ano pelos servios de

    sade, em funo da ausncia de um sistema de registro de cncer que cubra todo

    o territrio nacional, o que faz com que as estimativas anuais de incidncia

    continuem sendo de grande valia. Atravs do clculo das estimativas de casos

    novos possvel obter uma excelente base para o planejamento, organizao e

    aprimoramento das aes que visam a preveno e o controle na rede de ateno

    oncolgica em todos os nveis (INCA, 2005).

    Estatsticas revelam que o cncer de mama a neoplasia maligna de maior ocorrncia entre as mulheres em muitos pases. No Brasil, a primeira ou segunda causa mais freqente, dependendo da regio considerada. A ocorrncia do cncer de mama relativamente rara antes dos 35 anos de idade, mas cresce rapidamente aps essa idade, principalmente nas faixas etrias mais elevadas. Ocorre com maior freqncia no sexo feminino (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007, p. 256).

    Ainda confirmam Pollock et al. (2006) que o cncer de mama o mais comum

    e a segunda causa de morte por cncer entre mulheres ocidentais. A ocorrncia em

    homens equivale a um centsimo da encontrada em mulheres. O risco mdio de

    desenvolver a doena durante a vida para uma mulher no mundo ocidental de um

    para oito. A incidncia um tanto menor em outras regies do mundo e em no

    caucasianos. Populaes de migrantes assumem um risco similar ao risco da

    populao de seu novo ambiente.

    A incidncia de cncer de mama, em especial de doena positiva para

    receptor hormonal (RH), aumentou nas ltimas dcadas, em parte em razo do

    aumento da deteco de cnceres incidentais com o rastreamento. A mamografia de

    rastreamento mudou a distribuio dos estdios do cncer de mama, agora com

    uma maior quantidade de casos no qual o tamanho menor e o estdio, inferior.

    Isso, combinado s estratgias aperfeioadas na teraputica adjuvante, resultou

    numa modesta reduo global na mortalidade por cncer de mama ao longo dos

  • 15

    ltimos 20 anos (POLLOCK et al., 2006).

    Os cnceres vm assumindo um papel cada vez mais importante entre as

    doenas que acometem a populao feminina, representando, no Brasil e no

    mundo, importante causa de morte entre as mulheres adultas. O cncer de mama

    o segundo tipo de cncer mais freqente no mundo e o primeiro entre as mulheres.

    Segundo estimativa do Instituto Nacional de Cncer (INCA, 2008), o nmero de

    casos novos esperados para o Brasil em 2008 e vlidas tambm para o ano de

    2009, seria de 49.400, com um risco estimado de 51 casos a cada 100 mil

    mulheres.

    As estatsticas indicam o aumento de sua freqncia tanto nos pases

    desenvolvidos quanto nos pases em desenvolvimento. Segundo a Organizao

    Mundial da Sade (OMS), nas dcadas de 60 e 70 registrou-se um aumento de 10

    vezes nas taxas de incidncia ajustadas por idade nos Registros de Cncer de Base

    Populacional de diversos continentes (INCA, 2008).

    A distribuio dos casos novos de cncer segundo localizao primria bem

    heterognea entre estados e capitais do pas; o que fica bem evidenciado ao

    observar-se a representao espacial das diferentes taxas brutas de incidncia. As

    regies Sul e Sudeste, de uma maneira geral, apresentam as maiores taxas,

    enquanto que as regies Norte e Nordeste mostram as menores taxas. As taxas da

    regio Centro-Oeste apresentam um padro intermedirio (INCA, 2008).

    Em 2005, de um total de 58 milhes de mortes ocorridas no mundo, o cncer

    foi responsvel por 7,6 milhes, o que representou 13% de todas as mortes. Os

    principais tipos de cncer com maior mortalidade foram: pulmo (1,3 milho);

    estmago (cerca de 1 milho); fgado (662 mil); clon (655 mil); e, mama (502 mil).

    Do total de bitos por cncer ocorridos em 2005, mais de 70% ocorreram em pases

    de mdia ou baixa renda (WHO, 2006 apud INCA, 2008).

    Segundo Inca (2001), um dos fatores que contribuem para esta alta

    mortalidade o avanado estadiamento da doena no momento em que as

    mulheres so submetidas ao primeiro tratamento. Em geral, 50% dos casos so

    diagnosticados em estdios avanados (III e IV).

    Diante deste cenrio fica clara a necessidade de continuidade em

    investimentos no desenvolvimento de aes abrangentes para o controle do cncer,

    nos diferentes nveis de atuao, como: na promoo da sade, na deteco

    precoce, na assistncia aos pacientes, na vigilncia, na formao de recursos

  • 16

    humanos, na comunicao e mobilizao social, na pesquisa e na gesto do SUS

    (INCA, 2008).

    2.3 ETIOLOGIA/FATORES DE RISCO DO CNCER DE MAMA

    As principais etiologias do cncer de mama so diversas, podendo associar-

    se a fatores externos ou internos ao organismo, estando ambos inter-relacionados.

    As causas externas relacionam-se ao meio ambiente e aos hbitos ou costumes

    prprios de um ambiente social, cultural e fatores fsicos. As causas internas so, na

    maioria das vezes, geneticamente pr-determinadas, esto ligadas capacidade do

    organismo de se defender das agresses externas. Esses fatores causais podem

    interagir de vrias formas, aumentando a probabilidade de transformaes malignas

    nas clulas normais. Os fatores de risco ambientais de cncer so denominados

    cancergenos ou carcingenos. Esses fatores atuam alterando a estrutura gentica

    (DNA) das clulas (ZELMANOWICZ, 2008).

    Segundo Mohallem & Rodrigues (2007), as causas do cncer de mama so

    desconhecidas, mas aceita pela comunidade cientfica a relao da doena com

    fatores prprios do hospedeiro, como a durao da atividade ovariana e a

    hereditariedade, alm de fatores ambientais, tais como alimentao e utilizao de

    determinados medicamentos. Alguns autores referem tambm a idade, localizao

    geogrfica, consumo de lcool, uso de contraceptivo oral e terapia de reposio

    hormonal como fatores de risco associados s neoplasias mamrias, conforme

    explicao abaixo:

    a) hereditariedade: o fator familiar , talvez, o mais aceito na comunidade

    cientfica relacionado com o risco de desenvolver neoplasia mamria.

    Mulheres cuja me ou irm desenvolveram cncer de mama tm duas a

    trs vezes mais risco;

    b) caractersticas reprodutivas: estas caractersticas associadas ao maior

    risco de cncer de mama incluem a menarca precoce, menopausa tardia,

    idade do primeiro parto aps os 30 anos e nuliparidade;

    c) patologias benignas: algumas doenas mamrias benignas diagnosticadas

    por bipsia esto associadas ao aumento de risco para o cncer de mama;

  • 17

    assim como o cncer de mama prvio, que pode aumentar em cinco vezes

    o risco de uma mulher desenvolver um segundo cncer de mama primrio;

    d) radiao ionizante: a exposio esta radiao empregada nos

    diagnsticos mdicos, entre elas a mamografia, em exposies

    ocupacionais, permanece incerta. Pouco se conhece ainda sobre o risco

    de neoplasia mamria relacionado a outros tipos de radiao;

    e) dietas: estudos recentes indicam que a dieta rica em gorduras pode ser

    considerada como fator de aumento do risco de cncer de mama

    fundamentalmente na infncia e na adolescncia.

    Alguns autores argumentam que o aumento do risco em mulheres obesas na

    ps-menopausa seria devido converso da androstenediona em estrona no tecido

    adiposo, por ser a maior fonte de estrognios endgenos nestas mulheres

    (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).

    Sendo assim Pollock et al. (2006) consideram a etiologia do cncer de mama

    multifatorial e a evoluo gentica dos precursores malignos para doena invasiva

    compreendida apenas em parte. Os fatores de risco incluem durao da exposio

    ininterrupta a estrgeno, nuliparidade e idade avanada poca do primeiro parto,

    anormalidades histolgicas anteriores na mama, predisposio gentica e fatores

    ambientais.

    O organismo humano encontra-se exposto a mltiplos fatores carcinognicos,

    com efeitos aditivos ou multiplicativos. Sabe-se que a predisposio individual tem

    um papel decisivo na resposta final, porm no possvel definir em que grau ela

    influncia a relao entre a dose e o tempo de exposio ao carcingeno e a

    resposta individual exposio. Independentemente da exposio a carcingenos,

    as clulas sofrem processos de mutao espontnea, que no alteram o

    desenvolvimento normal da populao celular como um todo (INCA, 2002).

    2.4 FISIOPATOLOGIA DO CNCER DE MAMA

    Inicialmente ser descrito os aspectos anatmicos e fisiolgicos das mamas

    para uma melhor compreenso da formao e atuao da clula tumoral neste

    tecido.

  • 18

    2.4.1 Anatomia e Fisiologia da Mama

    As mamas so rgos pares, situadas na parede anterior do trax, sobre o

    msculo grande peitoral (HARRIS et al., 1996).

    Figura 1 Anatomia da Mama

    Fonte: http://www.clinimater.com.br/images/anat_mama2.jpg

    De acordo com Franco (1997), externamente cada mama, na sua regio

    central, apresenta uma aurola e uma papila. Na papila mamria exteriorizam-se 15

    a 20 orifcios ductais, que correspondem s vias de drenagem das unidades

    funcionantes, que so os lobos mamrios.

  • 19

    Figura 2 Anatomia da Mama

    Fonte: Inca, 2001

    A mama dividida em 15 a 20 lobos mamrios independentes, separados por

    tecido fibroso, de forma que cada um tem a sua via de drenagem, que converge

    para a papila, atravs do sistema ductal, sendo composta conforme a figura 2 pelo:

    a) cino - poro terminal da rvore mamria, onde esto as clulas

    secretoras que produzem o leite;

    b) lbulo mamrio - que o conjunto de cinos;

    c) lobo mamrio - unidade de funcionamento formada por um conjunto de

    lbulos (15-20) que se liga papila por meio de um ducto lactfero;

    d) ducto lactfero - sistema de canais (15-20) que conduz o leite at a papila,

    o qual se exterioriza atravs do orifcio ductal;

    e) papila - protuberncia composta de fibras musculares elsticas onde

    desembocam os ductos lactferos;

    f) aurola - estrutura central da mama onde se projeta a papila;

    g) tecido adiposo - todo o restante da mama preenchido por tecido adiposo

    ou gorduroso, cuja quantidade varia com as caractersticas fsicas, estado

    nutricional e idade da mulher;

    h) ligamentos de Cooper - responsveis pela retrao cutnea nos casos de

    cncer de mama, so expanses fibrosas que se projetam na glndula

    mamria.

    As mulheres mais jovens apresentam mamas com maior quantidade de tecido

    glandular, o que torna esses rgos mais densos e firmes. Ao se aproximar da

    menopausa, o tecido mamrio vai se atrofiando e sendo substitudo

    progressivamente por tecido gorduroso, at se constituir, quase que exclusivamente,

    de gordura e resqucios de tecido glandular na fase ps-menopausa (HARRIS et al.,

    1996).

    Tm como funo principal a produo do leite para a amamentao, mas

    tm tambm grande importncia psicolgica para a mulher, representando papel

    fundamental na constituio de sua auto estima e auto imagem. Embelezam a

    silhueta do corpo feminino e desempenham tambm funo ergena e de atrao

    sexual (FRANCO, 1997).

    Na infncia, as meninas apresentam discreta elevao na regio mamria,

    decorrente da presena de tecido mamrio rudimentar. Na puberdade, a hipfise,

  • 20

    uma glndula localizada no crebro, produz os hormnios folculo-estimulante e

    luteinizante, que controlam a produo hormonal de estrognios pelos ovrios. Com

    isso, as mamas iniciam seu desenvolvimento com a multiplicao dos cinos e

    lbulos (HARRIS et al., 1996).

    Na vida adulta, o estmulo cclico de estrognios e progesterona faz com que

    as mamas fiquem mais trgidas no perodo pr-menstrual, por reteno de lquido. A

    ao da progesterona, na segunda fase do ciclo, leva a uma reteno de lquidos no

    organismo, mais acentuadamente nas mamas, provocando nelas aumento de

    volume, endurecimento e dor. Depois da menopausa, devido carncia hormonal,

    ocorre atrofia glandular e tendncia substituio do tecido parenquimatoso por

    gordura (FRANCO, 1997).

    No perodo da gestao, o estmulo de estrognio e progesterona (hormnios

    esterides) mximo, devido sua produo pela placenta, mas outros hormnios

    tambm se elevam na gestao, sem os quais no seria possvel a lactao. So

    eles: prolactina, hormnios da tireide, corticosterides e lactognio placentrio

    (FRANCO, 1997).

    Segundo Harris et al. (1996), a plenitude funcional das mamas ocorre na

    amamentao, com a produo e sada do leite. A ejeo do leite, no momento das

    mamadas, reflexo basicamente da contrao das clulas mioepiteliais, que

    circundam os cinos, estimuladas pela liberao de um outro hormnio, a ocitocina,

    que produzido na hipfise posterior ou neuro-hipfise. A mulher que no

    amamenta, jamais atinge a maturidade funcional da mama.

    2.4.2 Carcinognese

    De acordo com Abro (1995), a gnese tumoral um processo complexo,

    relacionado a desregulao do controle da proliferao celular, no qual uma clula

    normal sofre alteraes na expresso gnica que lhes confere vantagens de

    crescimento sobre as demais clulas.

    Cada clula cancerosa tem uma bioqumica e uma morfologia alterada em

    relao clula normal. O cncer um processo lgico coordenado, onde uma

    clula normal sofre modificaes e adquire capacidades especiais (OTTO, 2002).

  • 21

    O cncer um processo patolgico que comea quando uma clula anormal

    transformada pela mutao gentica do DNA celular. A clula anormal forma um

    clone e comea a proliferar-se ignorando as sinalizaes de regulao do

    crescimento no ambiente circunvizinho a clula, adquirindo caractersticas invasivas,

    infiltram-se nos tecidos circunvizinhos e acessam os vasos sanguneos e linfticos,

    os quais as transportam at outras regies do corpo. Sendo chamado este

    fenmeno de metstase (disseminao do cncer para outras partes do corpo)

    (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).

    Acredita-se que a transformao maligna, ou carcinognese um processo

    celular de pelo menos trs etapas: iniciao, promoo e progresso (BRUNNER;

    SUDDARTH, 2006).

    Inca (1996) acrescenta que em geral este processo ocorre lentamente,

    podendo levar vrios anos para que uma clula cancerosa prolifere e d origem a

    um tumor visvel.

    Na iniciao, a primeira etapa, os iniciadores (carcingenos), como as

    substncias qumicas, fatores fsicos e agentes biolgicos, fogem dos mecanismos

    enzimticos normais e alteram a estrutura gentica do DNA celular. Normalmente,

    estas alteraes so revertidas pelos mecanismos de reparao do DNA ou elas

    iniciam a apoptose (o suicdio celular programado). Ocasionalmente, as clulas

    fogem destes mecanismos protetores, ocorrendo as mutaes celulares

    permanentes. Em geral, estas mutaes no so significativas para as clulas at a

    segunda etapa da carcinognese. (BRUNNER; SUDDARTH, 2006).

    Segundo Inca (1996), nesta fase as clulas se encontram, geneticamente

    alteradas, porm ainda no possvel detectar um tumor clinicamente. O primeiro

    estgio deixa as clulas preparadas para a ao de um segundo grupo de agentes

    que atuar no prximo estgio.

    Durante a promoo, o segundo estgio, a exposio repetida aos agentes

    promotores (co-carcingenos) provoca a expresso das informaes genticas

    anormais ou mutantes, mesmo depois de longos perodos de latncia. Os perodos

    de latncia para a promoo das mutaes celulares variam de acordo com o tipo de

    agente e a dosagem do promotor, bem como com as caractersticas inatas das

    clulas alvo (BRUNNER; SUDDARTH, 2006).

    Os oncogenes celulares, presentes em todos os sistemas mamferos, so

    responsveis pelas funes celulares vitais de crescimento e diferenciao. Os

  • 22

    proto-oncogenes celulares esto presentes nas clulas e agem como um interruptor

    para o crescimento das mesmas. De maneira similar, os genes supressores

    cancerosos desligam ou regulam a proliferao celular desnecessria. Quando os

    genes supressores sofrem mutao, so rearranjados ou amplificados, ou perdem

    suas capacidades reguladoras, permitindo que as clulas malignas se reproduzam

    (BRUNNER; SUDDARTH, 2006).

    Segundo Otto (2002), o agente promotor altera a expresso da informao

    gentica da clula, potencializando assim a transformao celular; inclui hormnios,

    produtos vegetais e frmacos. Estes, por si s, no causam cncer; os efeitos so

    temporrios e reversveis. A suspenso do contato com agentes promotores muitas

    vezes interrompe o processo neste estgio.

    A progresso a terceira etapa da carcinognese celular. As alteraes

    celulares formadas durante a iniciao e promoo exibem, atualmente, maior

    comportamento maligno. Essas clulas demonstram propenso para invadir os

    tecidos adjacentes e gerar metstase (BRUNNER; SUDDARTH, 2006).

    Segundo Mohallem & Rodrigues (2007), a metstase um tumor que cresce

    separadamente do tumor secundrio. Ele se origina de clulas que se destacaram

    do tumor primrio e que foram transportadas para outros locais. O transporte pode

    se fazer atravs dos vasos linfticos ou sanguneos.

    Inca (1996) afirma que a progresso se caracteriza pela multiplicao

    descontrolada e irreversvel das clulas alteradas. Neste estgio o cncer j est

    instalado, evoluindo at o surgimento das primeiras manifestaes clnicas da

    doena.

    Em sntese, a carcinognese pode iniciar-se de forma espontnea ou ser

    provocada pela ao de agentes carcinognicos (qumicos, fsicos ou biolgicos).

    Em ambos os casos, verifica-se a induo de alteraes mutagnicas e no

    mutagnicas ou epigenticas nas clulas.

    O tempo para a carcinognese ser completada indeterminvel, podendo ser

    necessrios muitos anos para que se verifique o aparecimento do tumor.

    Teoricamente, a carcinognese pode ser interrompida em qualquer uma das etapas,

    se o organismo for capaz de reprimir a proliferao celular e de reparar o dano

    causado ao genoma (INCA, 2008).

  • 23

    2.5 MANIFESTAES CLNICAS

    Na fase inicial, o cncer de mama geralmente assintomtico, o que dificulta

    sua deteco precoce. O sinal mais notado pela paciente a presena de um

    ndulo endurecido na mama; outras vezes a paciente relata a presena de um

    espessamento, leve endurecimento ou discreto incmodo, pode ocorrer tambm

    sada espontnea de secreo pelo mamilo, e secreo hemorrgica que est mais

    associada presena de leso maligna. A dor s ocorre nos casos mais avanadas

    e quase sempre associadas a alteraes benignas. A retrao do mamilo e da

    arola est geralmente associada a tumores maiores. Nas formas mais avanadas

    pode surgir o edema cutneo, com dilatao dos poros, o que determina o aspecto

    de "casca de laranja"; ulceraes com infeco secundria e hemorragia tambm

    pode aparecer nesta fase. A hiperemia cutnea ocorre nos casos mais avanados

    ou no carcinoma inflamatrio; em menor freqncia, podem ocorrer, como primeira

    queixa, sinais ou sintomas associados presena de metstases linfticas ou

    hematognicas, sem tumor mamrio palpvel (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).

    Segundo Otto (2002), as manifestaes clnicas do cncer de mama na

    abertura do quadro so: massa dura, irregular, indolor ou espessamento na mama

    ou axila; secreo espontnea, persistente, unilateral mamilar serossanguinolenta,

    sanguinolenta ou aquosa; ocorre tambm alterao no tamanho, no formato ou na

    textura da mama; retrao ou inverso do mamilo; descamao cutnea em torno do

    mamilo.

    Os sintomas de disseminao regional geralmente so: vermelhido,

    ulcerao, edema ou dilatao de veias; e aumento dos linfonodos na axila. As

    manifestaes quando se tem evidncias de doenas metastticas so de: aumento

    dos linfonodos na regio supra clavicular ou cervical; anormalidades na radiografia

    de trax, com ou sem derrame pleural; elevao da fosfotase alcalina, elevao de

    clcio, cintilografia ssea positiva e/ou dor ssea relacionada com comprometimento

    sseo; podem ocorrer provas de funo heptica alterada (OTTO, 2002).

    O avano da doena e as metstases do cncer de mama causam

    complicaes especficas da localizao do tumor, como infeces; reduo da

    mobilidade se ocorrer metstase sseas; alteraes respiratrias, se a doena

    disseminar para os pulmes; e distrbios do sistema nervoso central se o tumor

  • 24

    produzir metstases cerebrais (BOUNDY, 2004).

    O Inca (2004) descreve os sintomas de maior freqncia em relao aos

    pacientes com cncer de mama avanado, ressaltando que os demais no devem

    ser esquecidos, sendo eles:

    a) astenia: seu manejo se d atravs do tratamento das causas reversveis

    (anemia, infeco, distrbio hidroeletroltico, entre outros) e auxlio no

    estabelecimento de prioridades;

    b) sndrome de anorexia / caquexia: o segundo sintoma mais comum em

    cuidados paliativos,ocorrendo em 65-85% dos casos. Seu manejo tem

    como objetivo a manuteno da integridade fsica e no a melhora do

    estado nutricional do paciente;

    c) leses tumorais de pele, infiltrao da pele pelo tumor primrio ou

    metasttico com conseqente desenvolvimento de ulceraes ou leses

    fungides, causando muitas vezes isolamento social e prejuzo

    emocional;

    d) dor: constitui o quinto sinal vital, ocorrendo em 60% 90% dos pacientes

    com cncer avanado. Sendo assim, torna-se mandatrio o uso da Escala

    Visual Analgica - EVA (em anexo) durante a avaliao da dor em

    paciente com cncer de mama avanado;

    e) dispnia: ocorre em 70% dos pacientes em cuidados paliativos, sendo que

    em 24% dos casos no h causas identificveis. As causas identificveis

    esto relacionadas a uma restrio por invaso da parede torcica e

    metstases pulmonares;

    f) alteraes neurolgicas/ psiquitricas: a avaliao inicial das pacientes

    com cncer de mama avanado e alterao cognitiva inclui exame fsico

    completo e exames laboratoriais; a desidratao a causa mais comum

    de confuso mental e alterao de comportamento;

    g) depresso maior: esses quadros esto presente em 20% dos pacientes

    em cuidados paliativos e de ansiedade generalizada, devendo ser tratados

    com terapia medicamentosa, psicoterapia, estmulo atividade fsica e

    terapia comportamental;

    h) delrio: manifestao neuropsiquitrica encontrada com freqncia em

    pacientes com cncer avanado sendo inclusive descrito na literatura

    mdica mundial como uma das principais indicaes de sedao. Entre as

  • 25

    possveis causas destacamos a progresso da doena, incluindo

    metstases, associao medicamentosa, alteraes metablicas.

    2.6 DIAGNSTICO E ESTADIAMENTO

    No planejamento teraputico do cncer, o diagnstico e o estadiamento so

    fatores imprescindveis. Para diagnosticar e estadiar, fundamental conhecer os

    aspectos biolgicos, a histria natural e as principais vias de disseminao dos

    tumores (MURAD; KATZ, 1996).

    A investigao diagnstica, planejada a partir dos sintomas do cliente, da

    histria e do exame fsico gera uma pressuposio diagnstica de doena maligna.

    O diagnstico deve ser confirmado por exames histolgicos e citolgicos. O

    estadiamento encerra a investigao necessria ao planejamento teraputico

    (OTTO, 2002).

    Complementam Brunner & Suddarth (2002), que um diagnstico de cncer se

    embasa na anlise das alteraes fisiolgicas e funcionais e nos resultados da

    investigao diagnstica. Os pacientes com suspeita de cncer sofrem extensos

    exames para: (1) determinar presena do tumor e sua extenso; (2) identificar a

    possvel disseminao (metstase) da doena ou invaso de outros tecidos

    corporais; (3) avaliar a funo dos sistemas orgnicos e rgos afetados e no-

    afetados; e (4) obter tecidos e clulas para anlise, incluindo a avaliao dos

    estgios e grau do tumor. A avaliao diagnstica orientada pelas informaes

    obtidas atravs de uma histria completa e do exame fsico.

    Segundo o Inca (2004), a ultra-sonografia (USG) o mtodo de escolha para

    avaliao por imagem das leses palpveis, em mulheres com menos de 35 anos.

    Naquelas com idade igual ou superior a 35 anos, a mamografia o mtodo de

    eleio. Se houver leses suspeitas deve-se buscar a confirmao do diagnstico

    que pode ser citolgico, por meio de puno aspirativa por agulha fina (PAAF), ou

    histolgico, quando o material for obtido por puno, utilizando-se agulha grossa

    (PAG) ou bipsia cirrgica convencional.

    A PAAF um procedimento ambulatorial, de baixo custo, de fcil execuo e

    raramente apresenta complicaes, que permite o diagnstico citolgico das leses.

  • 26

    Esse procedimento dispensa o uso de anestesia. A PAG1 ou core biopsy tambm

    um procedimento ambulatorial, realizado sob anestesia local, que fornece material

    para diagnstico histopatolgico (por congelao, quando disponvel), permitindo

    inclusive a dosagem de receptores hormonais.

    Conforme descrito pelo Inca (2004), os critrios citolgicos para a avaliao

    das leses mamrias podem ser categorizados como:

    a) padro citolgico benigno, negativo para malignidade;

    b) padro citolgico positivo para malignidade - apresenta celularidade alta,

    com clulas epiteliais atpicas, geralmente isoladas e com citoplasma intacto,

    ausncia de ncleos nus e reduo da coeso celular. Sempre que possvel

    acompanha a especificao diagnstica do processo;

    c) padro citolgico de malignidade indeterminada (tumor papilar, tumor

    filide);

    d) padro citolgico suspeito para malignidade (leso epitelial proliferativa

    com atipias).

    Segundo Brunner & Suddarth (2002), uma avaliao diagnstica completa

    inclui a identificao do estgio e do grau do tumor. Isso feito antes de iniciar o

    tratamento, para gerar parmetros basais de avaliao dos resultados da terapia e

    para manter uma conduta sistemtica e consistente com o diagnstico e tratamento

    contnuo. As opes de tratamento e prognstico so determinados com base no

    estadiamento e na gradao. O estadiamento determina o tamanho do tumor e a

    existncia de metstase.

    De acordo com Spence & Johnston (2003), as decises clnicas acerca do

    tratamento de um determinado cncer baseiam-se no estdio anatmico e no

    diagnstico histolgico do cncer. Os objetivos do estadiamento e da classificao

    histolgica do cncer so:

    a) ajudar o clnico a planejar o tratamento;

    b) dar alguma indicao do prognstico;

    c) avaliar a eficincia do tratamento;

    d) facilitar a troca de informaes;

    e) ajudar a continuao de estudos clnicos do cncer.

    Existem inmeros sistemas para classificar a extenso anatmica da doena.

    O sistema TNM, da Unio Internacional Contra o Cncer (UICC) e do Comit da

    Associao Americana em Cncer (AJCC) frequentemente utilizado. Nesse

  • 27

    sistema, T refere-se extenso do tumor primrio, N ao envolvimento de linfonodos

    e M extenso da metstase.

    Conforme Inca (2004), a classificao TNM se d:

    a) Tx - tumor no pode ser avaliado;

    b) Tis - carcinoma in situ;

    c) T1 - tumor com at 2 cm. em sua maior dimenso;

    d) T1 mic - carcinoma microinvasor (at 1 mm);

    e) T1a - tumor com at 0,5 cm em sua maior dimenso;

    f) T1b - tumor com mais de 0,5 e at 1 cm em sua maior dimenso;

    g) T1c - tumor com mais de 1 cm. e at 2 cm em sua maior dimenso;

    h) T2 - tumor com mais de 2 e at 5 cm em sua maior dimenso;

    i) T3 - tumor com mais de 5 cm. em sua maior dimenso;

    j) T4 - qualquer T com extenso para pele ou parede torcica;

    k) T4a extenso para a parede torcica;

    l) T4b edema (incluindo peau d'orange), ulcerao da pele da mama, ndulos

    cutneos satlites na mesma mama;

    m) T4c associao do T4a e T4b;

    n) T4d carcinoma inflamatrio;

    o) Nx - Os linfonodos regionais no podem ser avaliados;

    p) N0 - Ausncia de metstase;

    q) N1 Linfonodo(s) homolateral(is) mvel(is) comprometido(s);

    r) N2 - Metstase para linfonodo(s) axilar(es) homolateral(is), fixos uns aos

    outros ou fixos a estruturas vizinhas ou metstase clinicamente aparente

    somente para linfonodo(s) da cadeia mamria interna homolateral;

    s) N2a - Metstase para linfonodo(s) axilar(es) homolateral(is) fixo(s) uns aos

    outros ou fixos a estruturas vizinhas;

    t) N2b - Metstase clinicamente aparente somente para linfonodo(s) da cadeia

    mamria interna homolateral, sem evidncia clnica de metstase axilar;

    u) N3 - Metstase para linfonodo(s) infraclavicular(es) homolateral(is) com ou

    sem comprometimento do(s) linfonodo(s) axilar(es), ou para linfonodo(s)

    da mamria interna homolateral clinicamente aparente na presena de

    evidncia clnica de metstase para linfonodo(s) axilar(es) homolateral(is),

    ou metstase para linfonodo(s) supraclavicular(es);

    v) Homolateral (is) com ou sem comprometimento do (s) linfonodo (s) axilar

  • 28

    (es) ou da mamria interna;

    w) N3a - Metstase para linfonodo(s) infraclavicular(es) homolateral(is);

    x) N3b - Metstase para linfonodo(s) da mamria interna homolateral e para

    linfonodo(s) axilar(es);

    y) N3c - Metstase para linfonodo(s) supraclavicular(es) homolateral(is);

    z) Mx metstase distncia no pode ser avaliada;

    aa) M0 ausncia de metstase distncia;

    bb) M1 presena de metstase distncia (incluindo LFN supra-claviculares).

    Os avanos tecnolgicos tiveram um impacto drstico, e s vezes

    perturbador, na prtica clnica nos ltimos anos. Por exemplo, o desenvolvimento

    recente da bipsia de mama por agulha de grosso calibre guiada por imagens, tanto

    pela tecnologia da estereotaxia como por ultra-som, provocou uma grande alterao

    no diagnstico de anormalidades detectadas pela mamografia (POLLOCK et al.,

    2006).

    Um paciente que se submete a exames extensos em geral fica temeroso em

    relao aos procedimentos e ansioso pelos possveis resultados dos exames. A

    enfermeira pode ajudar a aliviar o medo e a ansiedade explicando-lhe os exames

    que sero feitos, as provveis sensaes que sero experimentadas e a funo do

    paciente nos procedimentos dos exames. A enfermeira encoraja o paciente e a

    famlia a verbalizar seus temores sobre os resultados dos exames, assiste o

    paciente e a famlia durante todo o perodo de exame e refora e esclarece as

    informaes transmitidas pelo mdico, alm de estimular o cliente a realizar tcnicas

    de relaxamento. A enfermeira tambm encoraja o paciente e a famlia a comunicar e

    compartilhar suas preocupaes e a discutir suas dvidas e preocupaes entre si

    (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).

  • 29

    2.7 TRATAMENTO

    Segundo Brunner & Suddarth (2006), as opes de tratamento oferecidas aos

    pacientes com cncer devem ser baseadas em metas realistas e atingveis para

    cada tipo especfico de cncer. A gama de possveis metas de tratamento pode

    incluir a erradicao completa das doenas malignas (cura), sobrevida prolongada e

    conteno do crescimento da clula cancerosa (controle) ou alvio dos sintomas

    associados doena (paliativo).

    A equipe de sade, o paciente e a famlia devem ter uma compreenso clara

    das opes e metas do tratamento. A comunicao aberta e o apoio so vitais, j

    que o paciente e a famlia reavaliam periodicamente os planos e metas de

    tratamento quando se desenvolvem as complicaes da terapia ou a doena avana

    (BRUNNER; SUDDARTH, 2006).

    O tratamento do cncer requer uma estrutura mdico-hospitalar e recursos

    humanos qualificados, integrando equipes multiprofissionais. O tratamento do cncer

    pode ser feito atravs de cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou transplante de

    medula ssea. Em muitos casos, necessrio combinar essas modalidades (INCA,

    2002).

    2.7.1 Cirurgia

    A cirurgia foi o primeiro tratamento que alterou significativamente o curso da

    doena neoplsica e, at hoje, um dos principais mtodos teraputicos (INCA,

    2008).

    Segundo Pollock, et all (2006) embora possa haver discusses sobre o

    significado relativo e o impacto geral de fatos especficos, alguns fatos novos

    indicaram o incio de novas eras de melhor eficcia teraputica para determinadas

    neoplasias. A mastectomia radical, por exemplo, tornou-se o tratamento de escolha

    para o cncer de mama pouco depois de 1900 quando Halsted demonstrou o

    controle eficaz da doena na parede torcica pela primeira vez.

    De acordo com Brunner & Suddarth (2002), a exciso cirrgica da totalidade

  • 30

    do cncer permanece como o mtodo de tratamento ideal e o mais

    frequentemente usado. Contudo, a conduta cirrgica especfica pode variar por

    diversos motivos. A cirurgia diagnstica o mtodo definitivo para identificar as

    caractersticas celulares que completam todas as decises de tratamento. A cirurgia

    pode ser o mtodo primrio de tratamento, ou pode ser profiltica, paliativa ou

    reconstrutora.

    A cirurgia diagnstica, como uma bipsia, usualmente visa obter uma amostra

    tecidual para anlise das clulas suspeitas de malignidade. Os trs mtodos mais

    comuns so os mtodos excisional, incisional e por agulha (BRUNNER;

    SUDDARTH, 2002).

    Conforme o Inca (2008), a margem de segurana, na cirurgia oncolgica,

    varia de acordo com a localizao e o tipo histolgico do tumor. Ao contrrio do

    tumor benigno, cuja margem de segurana o seu limite macroscpico, o cncer,

    pelo seu carter de invaso microscpica, exige resseco mais ampla. Na cirurgia

    radical, alm de os preceitos de cirurgia curativa a serem atingidos, acrescida a

    resseco concomitante de rgos ou regies contguas ou contnuas. Alm da

    margem cirrgica mais ampla, realizada usualmente linfadenectomia de pelo

    menos uma estao (cadeia) linfonodal negativa de comprometimento neoplsico, e

    tambm da(s) cadeia(s) linfonodal(is) primariamente em risco de comprometimento.

    Isto leva aos conceitos de cirurgia D1 (quando apenas as cadeias primrias so

    removidas), D2 (cadeias secundrias) e D3 (cadeias tercirias). Linfonodos

    aumentados ou endurecidos (suspeitos), alm da rea da drenagem linftica

    primria, devem ser biopsiados, caso no possam ser ressecados.

    Quando a cirurgia a conduta primria no tratamento do cncer, a meta

    retirar a totalidade do tumor ou o mximo possvel (um procedimento por vezes

    denominado desbaste) e qualquer tecido circunvizinho envolvido, incluindo

    linfonodos regionais. A cirurgia profiltica envolve a retirada de tecidos ou rgos

    no-vitais passveis de desenvolver cncer. Cirurgia paliativa: quando a cura no

    pode ser conseguida, as metas do tratamento so tornar o paciente o mais

    confortvel possvel e promover uma vida satisfatria e produtiva pelo maior tempo

    possvel. A cirurgia reconstrutora pode seguir-se cirurgia curativa ou radical e

    efetuada em uma tentativa de melhorar a funo ou obter um efeito cosmtico mais

    desejvel (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).

    Segundo o Inca (2008), estima-se que cerca de 60% de todos os pacientes

  • 31

    portadores de cncer necessitem de cirurgia para o seu tratamento. Quase todos

    so submetidos a algum tipo de procedimento cirrgico para diagnstico (como a

    bipsia) ou estadiamento da doena. De um modo geral, os tumores de crescimento

    lento so os melhores candidatos cirurgia, e a cirurgia inicial para cncer tem

    maior chance de cura do que a cirurgia para recidivas.

    2.7.2 Radioterapia

    O tratamento radioterpico se d base de aplicao de radiao direcionada

    ao tumor ou ao local deste e tem por objetivo, se antes da operao, reduzir o

    tamanho do tumor, e se aps, evitar a volta da doena. A radiao bloqueia o

    crescimento das clulas, e deve ser utilizada apenas na rea afetada, evitando

    atingir o tecido normal. As aplicaes duram cerca de 15 minutos e devem ser feitas

    diariamente, variando de 25 a 30 aplicaes. O tratamento no apresenta

    complicaes. O local das aplicaes adquire uma colorao parecida com a de

    uma queimadura de sol (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).

    Na terapia, os radioistopos so utilizados em doses elevadas visando

    justamente ao efeito deletrio da radioatividade sobre determinados tecidos,

    permitindo o estudo da fisiologia e das transformaes bioqumicas dos organismos

    vivos em condies normais, sem lhes alterar a higidez. O objetivo da radioterapia

    alcanar um ndice teraputico favorvel, levando as clulas malignas a perderem a

    sua lonogenicidade e, ao mesmo tempo, preservando os tecidos normais (INCA,

    2008).

    Segundo Brunner & Suddarth (2006), a dosagem de radiao depende da

    sensibilidade dos tecidos-alvos radiao e do tamanho do tumor. A dose tumoral

    letal definida como dose que erradicar 95% do tumor, enquanto preserva o tecido

    normal. A dose de radiao total liberada durante vrias semanas para possibilitar

    que o tecido saudvel se repare e para atingir a maior morte celular ao expor mais

    clulas radiao quando elas comeam a diviso celular ativa.

    Segundo o Inca (2008), a radiao ionizante pode ser dividida em:

    a) radiao corpuscular:

    - partcula alfa uma partcula equivalente a um ncleo Hlio (2 prtons

  • 32

    e 2 nutrons), com carga positiva. Devido sua alta transferncia linear de

    energia, a radiao alfa cede a sua energia rapidamente para o meio,

    tornando o seu poder de penetrao no meio muito limitado;

    - partcula beta um tomo com excesso de prtons ou nutrons, em

    seu ncleo, que tende a se estabilizar, levando emisso de partculas

    carregadas negativamente ou positivamente. Pode-se conceituar a

    partcula beta como um eltron (e-) de origem nuclear com carga positiva

    ou negativa. Dependendo da sua energia, ela pode alcanar de 1 a 2 cm

    no tecido biolgico;

    b) radiao eletromagntica: so ondas eletromagnticas de alta energia.

    Podem ser de origem nuclear, geradas por istopos radioativos, ou de

    origem extra-nuclear, produzidas na eletrosfera. Quando de origem

    nuclear, um tomo com excesso de energia no seu ncleo (excitado) decai

    para um estado de energia menor, emitindo um fton, e quando tem

    origem extra-nuclear, as ondas so produzidas por equipamentos

    especiais, tais como: aparelhos de Raios X ou Aceleradores Lineares.

    Essas radiaes eletromagnticas no possuem massa nem carga eltrica

    e podem ser:

    - radiao gama so pacotes de energia, de origem nuclear, com grande

    poder de penetrao. Ela liberada atravs do excesso de energia de um

    ncleo atmico instvel;

    - radiao X produzida quando eltrons rpidos se chocam com a

    eletrosfera de um tomo (alvo). A energia cintica desse eltron

    transformada em energia eletromagntica. importante lembrar que a

    origem dessa energia extra-nuclear.

    Conforme o Inca (2004), a radioterapia deve ser utilizada com o objetivo de

    destruir as clulas remanescentes aps a cirurgia ou para reduzir o tamanho do

    tumor antes da cirurgia. Aps cirurgias conservadoras deve ser aplicada em toda a

    mama da paciente, independente do tipo histolgico, idade, uso de quimioterapia ou

    hormonioterapia ou mesmo com as margens cirrgicas livres de comprometimento

    neoplsico.

    A toxicidade da radioterapia est localizada na regio que est sendo

    irradiada. A toxicidade pode ser aumentada quando a quimioterapia concomitante

    administrada. As reaes locais agudas acontecem quando as clulas normais na

  • 33

    rea de tratamento tambm so destrudas e a morte celular excede a regenerao

    celular. Os tecidos corporais mais afetados so aqueles que normalmente se

    proliferam com maior rapidez, como a pele, revestimento epitelial do trato

    gastrintestinal, incluindo a cavidade oral, e a medula ssea. A integridade alterada

    da pele um efeito comum e pode incluir alopcia (perda dos cabelos), eritema e

    desprendimento da pele (descamao) (BRUNNER; SUDDARTH, 2006).

    Determinados efeitos colaterais sistmicos tambm so comumente

    experimentados por pacientes que recebem radioterapia. Estas manifestaes, que

    so generalizadas, incluem fadiga, indisposio e anorexia. Esta sndrome pode ser

    secundria s substncias liberadas quando se clivam as clulas tumorais. Os

    efeitos so temporrios e diminuem com a cessao do tratamento. Os efeitos

    tardios da radioterapia tambm podem ocorrer em vrios tecidos corporais. As

    toxicidades podem intensificar-se quando a radiao combinada a outras

    modalidades de tratamento (BRUNNER; SUDDARTH, 2006).

    Cabe ao enfermeiro especialista, ainda, traar metas que assegurem uma

    assistncia de qualidade ao cliente oncolgico atuando na preveno, tratamento,

    orientao e reabilitao nos procedimentos radioterpicos, atravs da

    sistematizao da consulta de enfermagem. O enfermeiro deve promover parcerias

    com toda a equipe de radioterapia, viabilizando o cumprimento das normas de

    radioproteo, e garantir participao ativa nos programas de pesquisa,

    contribuindo, portanto para uma exata aplicao da dose prescrita pelo

    radioterapeuta no volume-alvo e realizando um cuidado seguro e humanizado

    (INCA, 2002).

    2.7.3 Quimioterapia

    Esta terapia consiste no uso de medicamentos extremamente potentes no

    tratamento do cncer. Tambm usado para completar a cirurgia, podendo comear

    antes ou aps a operao. Ao contrrio da cirurgia e da radioterapia que tm efeito

    local, a quimioterapia age em todo o corpo, visando evitar a volta do tumor e o

    aparecimento em outros rgos (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).

    Segundo Otto (2002) o stio de aplicao da quimioterapia principalmente

  • 34

    por via sistmica (endovenosa). Tambm pode ser administrada de forma regional,

    quando aplicada diretamente no tumor. De acordo com suas finalidades a

    quimioterapia classificada em:

    a) quimioterapia adjuvante - quando usada em conjunto com outras

    modalidades de tratamento (cirurgia, radioterapia, bioterapia) e com a

    finalidade de prevenir micrometstases;

    b) quimioterapia neo-adjuvante - administrao de quimioterpicos para

    diminuir o tamanho do tumor antes da remoo cirrgica ou da

    radioterapia;

    c) quimioterapia primria - tratamento de clientes com cncer localizado, para

    os quais h uma alternativa de controle completo do tumor;

    d) quimioterapia paliativa - administrao de quimioterpicos em clientes com

    metstase diagnosticada ou recidiva do cncer.

    As medicaes antineoplsicas podem ser usadas de duas maneiras:

    a) mono-quimioterapia - de uso restrito pela ineficcia em induzir respostas

    significativas completas ou parciais na maioria dos tumores;

    b) poli-quimioterapia - tem por objetivo atingir populaes celulares em

    diferentes fases do ciclo celular e utilizao a ao sinrgica dos

    quimioterpicos, diminuindo o desenvolvimento de resistncia a eles

    promovendo maior resposta por dose administrativa.

    Como existem muitos tipos de cncer, necessrio usar vrios tipos e

    combinaes de agentes quimioterpicos, classificados de acordo com seu

    mecanismo de ao. Os agentes antineoplsicos mais empregados no tratamento

    do cncer incluem os alquilantes polifuncionais, os antimetablitos, os antibiticos

    antitumorais, os inibidores mitticos e outros (INCA, 2008).

    Todo medicamento antineoplsico deve ser prescrito pelo mdico, aps uma

    avaliao das condies clnicas, dos exames laboratoriais, principalmente do

    hemograma, e do clculo da superfcie corprea obtida atravs do peso e da altura

    do paciente. O preparo das drogas antineoplsicas deve ser realizado com tcnicas

    asspticas rigorosas, em capela de fluxo laminar vertical e o profissional deve utilizar

    gorro, mscara, avental de mangas longas e luvas, de preferncia no entalcadas,

    pois o talco favorece reteno de partculas (GUIMARES, 2004).

    So vrias as vias de administrao de quimioterpicos: oral, intramuscular,

    subcutnea, intra-arterial, intravesical, intratecal, intraperitoneal, sendo a mais

  • 35

    utilizada, a endovenosa. Para todas devem-se, antes da administrao, informar o

    paciente sobre o procedimento a ser realizado, possvel efeitos colaterais e sintomas

    a serem reportados, pois cada um deles possui cuidados especficos (GUIMARES,

    2004).

    O tratamento normalmente feito com soro pela via endovenosa. Na maioria

    das vezes, o tratamento dispensa a internao. Primeiramente, o paciente faz uma

    consulta mdica de rotina e, se estiver tudo normal, recebe o soro durante algumas

    horas e est liberado para voltar para casa (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).

    Segundo Murad & Katz (1996) apesar da quimioterapia por via endovenosa

    ser a mais comum, sua administrao pode provocar fortes irritaes venosas, por

    isto este tratamento tem sido feito por outras vias: oral, subcutnea, intramuscular,

    intracavitria e tpica. A quimioterapia pode ser usada em diversas situaes, e

    mesmo em se tratando do mesmo tipo de cncer, pode ser usada de forma diferente

    conforme a estratgia do tratamento.

    A quimioterapia age sobre as clulas que tem um crescimento e multiplicao

    acelerada, como as do cncer. Acontece que existem outras clulas do corpo que

    possuem estas mesmas caractersticas, causando os famosos efeitos colaterais, tais

    como anemia e diminuio da resistncia a infeces causadas pela ao nas

    clulas produtoras dos glbulos sangneos vermelhos e brancos, queda de plos e

    cabelos devido ao nas clulas do folculo piloso, nuseas, vmitos e diarria, em

    decorrncia da ao nas clulas do aparelho digestivo, alm da dificuldade de

    engravidar e parada da menstruao, j que as clulas do sistema reprodutor

    tambm so afetadas (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).

    A quimioterapia representa um avano na cura e no controle do cncer,

    aumentando a expectativa de vida do paciente. essencial, no entanto, que os

    profissionais de sade que atuam nessa rea tornem efetiva sua orientao quanto

    aos objetivos e efeitos colaterais do tratamento quimioterpico, alm, sobretudo, de

    oferecer apoio emocional (MELO et al., 2002).

    O tratamento quimioterpico temido pelas mulheres devido agressividade

    dos efeitos colaterais tanto no nvel fsico quanto psicolgico, afetando

    principalmente auto-estima e a qualidade de vida. Por este motivo atualmente os

    pesquisadores, discutem a melhora e o aperfeioamento da qualidade de vida para

    pacientes submetidos ao tratamento, tendo em vista que apesar de todo o

    desenvolvimento tecnolgico, os tratamentos propostos por esta doena so

  • 36

    mutiladores, afetam a condio fsica, os aspectos emocionais, sociais e sexuais do

    paciente (ANJOS, 2005).

    Sabe-se que a quimioterapia um tratamento doloroso e que implica em

    efeitos colaterais fortes e danosos ao corpo. Ao mesmo tempo em que essa qumica

    atinge as clulas cancergenas, ela tambm atinge as clulas saudveis, por no

    conseguir distinguir uma das outras. Como toda e qualquer situao nova na vida do

    indivduo, a quimioterapia tambm pode gerar ansiedade e efeitos associados

    mesma (SAMPAIO, 2006).

    A quimioterapia possvel, apesar dos seus efeitos txicos, porque os tecidos

    normais se recuperam totalmente antes do que as clulas tumorais. nesta

    diferena de comportamento celular que a quimioterapia se baseia. As drogas

    antineoplsicas possuem efeitos txicos diferentes em qualidade e intensidade.

    Alguns deles so to nocivos que podem indicar a interrupo do tratamento ou

    ainda acarretar a morte do paciente e, por isso, devem ser previstos, detectados e

    tratados com precocidade (INCA, 2002).

    Para isto, segundo o Inca (2002), necessria uma avaliao prvia do

    paciente, cuja finalidade a de assegurar que o seu organismo se encontra em

    condies de superar os efeitos txicos dos medicamentos antiblsticos. Os exames

    solicitados para proceder-se a esta avaliao dependem das drogas a ser utilizada,

    dos seus efeitos txicos, do nmero de ciclos j recebidos e das condies clnicas

    do paciente.

    Assim, so requisitos para a aplicao da quimioterapia: a perda do peso

    inferior a 10% do peso corporal anterior ao do incio da doena e a ausncia de

    contra-indicao clnica para as drogas selecionadas. Os pacientes com maior

    capacidade funcional e sintomas discretos respondem melhor ao tratamento e tm

    uma sobrevida maior do que aqueles com menores capacidades funcionais, e com

    sintomas graves. O objetivo das escalas de performance a determinao da

    eficcia dos tratamentos utilizados atravs da distribuio dos pacientes em grupos

    de estudo clnico-teraputico:

    a) ausncia de infeco ou infeco presente, mas sob controle;

    b) a contagem das clulas do sangue e dosagem da hemoglobina srica (os

    valores exigidos para a aplicao de quimioterapia em crianas so menores)

    dentro dos limites pr-determinados (INCA, 2002).

    Outros exames devem ser solicitados, se assim o indicar a toxicidade

  • 37

    especfica das drogas utilizadas, especialmente em pacientes acima de 60 anos de

    idade. So exemplos: avaliao cardiolgica (funo cardaca) de pacientes que

    recebero adriamicina e avaliao da depurao da creatinina, em casos de

    quimioterapia com metotrexato em doses altas ou cisplatina (INCA, 2002).

    2.8 O CNCER DE MAMA E SUAS IMPLICAES

    Receber o diagnstico de cncer pressupe uma srie de conseqncias que

    atingem diretamente o modo de vida do indivduo. Algumas delas esto associadas

    ao aspecto social e familiar; outras, ao psiquismo, como as idias recorrentes de

    morte, o medo de mutilao e da perda de algumas pessoas de seu convvio. A

    qualidade do cuidado oferecido pelos profissionais de enfermagem tem a ver com a

    incluso desse aspecto. Um servio abrangente, que inclua esta dimenso, ainda

    que seja estimulado pela Organizao Mundial da Sade e esteja crescendo em

    todo o mundo moderno, no prevalente nos servios pblicos de sade

    brasileiros. Alm disso, tal postura extrapola a competncia do pessoal de

    enfermagem que, em geral, treinado principalmente para lidar com o corpo fsico e

    a dimenso biolgica do indivduo (VIEIRA; QUEIROZ, 2006).

    Foi constatado que o cncer de mama visto pela mulher como uma doena

    ameaadora, devastadora, horrvel, apavorante, perigosa, triste, preocupante e

    incontrolvel. Ao ser diagnosticado, causa um inquestionvel impacto tanto fsico

    quanto emocional para a mulher. Os sentimentos que mais comumente so

    despertados em uma mulher ao ser mastectomizada so o medo, a perda, a

    rejeio e a culpa. A perda da mama pode levar ao sentimento de mutilao ou at

    mesmo de castrao, significando a perda da feminilidade. Muitas vezes, as

    mulheres sentem-se culpadas, atribuindo o aparecimento do cncer ao estilo de

    vida que levavam e influncia do meio cultural em que esto inseridos, como,

    hbitos alimentares, falta de cuidado com o corpo, estresse, herana familiar,

    represso dos sentimentos e trauma fsico (PEREIRA et al., 2006).

    A perspectiva da assistncia integral sade reconhece a importncia do

    contexto, dos processos culturais e familiares, as intersubjetividades, considerando

    as necessidades e os interesses relacionados com o dia-a-dia dos sujeitos

  • 38

    envolvidos. Todos esses aspectos devem ser definidos como pontos de partida e

    chegada para todas as aes de cuidado individualizado (VIEIRA; QUEIROZ, 2006).

    Nesse sentido, quando h uma abordagem diferenciada, com vista a uma

    dimenso mais integrada do indivduo, a qualidade do servio de enfermagem varia

    muito, de acordo com a instituio em que trabalham. As caractersticas presentes

    no atendimento e a forma como o trabalho esto sendo desenvolvidas so fatores

    peculiares de cada local especificamente (VIEIRA; QUEIROZ, 2006).

    Por estar vivenciando um mundo desconhecido frente quimioterapia, essas

    mulheres desencadeiam sensaes conflitantes e aflitivas, ocorrendo um

    comportamento de angstia, agitao e medo (BITTENCOURT; CADETE, 2002).

    Ao receber o diagnstico de cncer de mama, a mulher passa a ter muitas

    dvidas e questionamentos, devido ao estigma de doena terminal o que leva a

    muito sofrimento e morte. Na atribuio de significados para as mamas na cultura

    ocidental, ressaltada sua importncia como atributo fsico e psquico para o

    organismo feminino. A alterao da esttica e imagem corporal so aspectos a

    serem considerados na prtica profissional, especialmente quando se pensa em

    uma assistncia preocupada, tambm, com a dimenso psicossocial (FERREIRA;

    MAMEDE, 2002).

    Sabe-se que o estado emocional de um indivduo prejudica o bom

    funcionamento do sistema imunolgico causando alteraes bioqumicas que podem

    ser consideradas como um dos fatores predisponentes ao desenvolvimento das

    doenas. No entanto, essa vulnerabilidade no pode ser considerada isoladamente

    diante do desenvolvimento de uma enfermidade e muitas questes precisam ainda

    ser esclarecidas e comprovadas (GLASER; GLASER, 1989).

    No se tem como negar que o aumento da sobrevida de portadoras de cncer

    de mama , hoje, uma realidade. Porm, ainda amedronta muitas mulheres, pois as

    constantes revises a que ficam submetidas para avaliar a progresso da doena

    deixam-nas extremamente ansiosas, com dvidas e incertezas sobre uma possvel

    recorrncia. Assim, o despertar de sentimentos de desesperana, revolta,

    desamparo e a sensao da proximidade da morte podem gerar acomodao e

    indiferena e algumas mulheres podem no desejar mais viver e desistir de lutar

    contra o cncer. Tal situao precisa levar os profissionais da sade a buscar

    estratgias que maximizem as vivncias de cuidados oferecidos, contribuindo para

    uma melhor qualidade de vida a essas mulheres (PEREIRA et al., 2006).

  • 39

    Neste sentido, Forghieri (1993) afirma que as situaes que algum vivencia

    no possuem apenas um significado em si mesmo, mas adquirem um sentido para

    quem as experimentam, que se encontra relacionado a sua prpria maneira de

    existir.

    O sentido que uma situao tem para a prpria pessoa uma experincia

    ntima que geralmente escapa observao, pois, o ser humano no transparente.

    Para desvendar sua experincia o pesquisador precisa de informaes a este

    respeito, fornecidas pela prpria pessoa. A investigao desse tipo de experincia,

    que constitui a vivncia (FORGHIERI, 1993).

    Sendo assim, Costenaro & Lacerda (2006) afirmam que a preocupao do

    profissional de enfermagem necessita abranger no apenas o biolgico, mas a

    totalidade que permeia o cuidado holstico. O profissional no pode limitar a sua

    ateno ao atendimento daquilo que visvel no corpo, ampliar a sua viso para o

    todo uma necessidade.

    Para Bettinelli (2006), o profissional de enfermagem deve ter a capacidade de

    utilizar a intuio e ter uma percepo bastante acurada para poder envolver-se

    mais durante o cuidado.

    2.9 DOR ONCOLGICA

    A dor um sintoma complexo e angustiante, com impacto na qualidade de

    vida do paciente com cncer. As definies de dor evoluram de explicaes simples

    do sintoma como um fenmeno puramente fisiolgico, at nossa viso atual de sua

    natureza multidimensional. A associao Internacional para o Estudo da Dor (1986)

    prope a definio de dor como uma experincia sensorial e emocional

    desagradvel associada a dano tecidual real ou potencial, ou descrita em termos de

    tal dano. Essa definio reconhece a viso multidimensional da dor como uma

    experincia individual que inclui aspectos fsicos e psicossociais (POLLOCK et al.,

    2006).

    A dor considerada um dos sintomas mais freqentes nas neoplasias.

    tambm o mais temido pelos pacientes oncolgicos. Estima-se que 10% a 15% dos

    doentes de cncer apresentam dor de intensidade significativa nos casos de doena

  • 40

    inicial. Com o aparecimento de metstases, a incidncia da dor aumenta para 25% a

    30% e nas fases muito avanadas da enfermidade, 60% a 90% dos pacientes

    referem dor de intensidade bastante expressiva. Aproximadamente nove milhes de

    pessoas em todo o mundo sofrem de dor oncolgica. Metade dos doentes sente dor

    em todos os estgios do cncer e 70% em doena avanada (TULLI et al., 2007).

    A dor no cncer o resultado de mltiplas causas, incluindo envolvimento

    direto do tumor, compresso ou infiltrao de nervo ou comprometimento de partes

    moles. Com freqncia, a dor tambm resultado de tratamentos, incluindo

    quimioterapia, radioterapia e sndromes ps-cirrgicas, como a dor ps-

    mastectomia. A dor resultante de estimulao de receptores nervosos dor

    nociceptiva, enquanto dor resultante de leso de nervos dor neuroptica. Essas

    classificaes tornam-se importantes na seleo das opes de tratamento

    (POLLOCK et al. 2006).

    Segundo Tulli et al. (2007), a dor classificada em aguda e crnica. A dor

    aguda de curta durao, normalmente em um prazo inferior a seis meses. A

    intensidade da dor varia de fraca a severa, de causa pouco conhecida. O quadro de

    dor crnica aquele de longa durao, de causa conhecida ou no, que no

    melhora aps a teraputica e com intensidade variada.

    A dor crnica freqente em doentes com cncer e pode ser devido ao tumor

    primrio ou suas metstases, terapia anticancerosa (cirurgia, radioterapia ou

    quimioterapia) e aos mtodos de diagnstico. Em algumas situaes, ela pode estar

    relacionada a causas psicossociais. Este sintoma incapacita o paciente e acarreta

    modificaes danosas no mbito orgnico, emocional, comportamental e social

    (SILVA; ZAGO, 2001).

    A fisiologia da dor mais bem explicada pela percepo e resposta do

    indivduo a estmulos nocivos. H diversos processos fisiolgicos que resultam na

    experincia de dor. O primeiro desse processo, a transduo, comea quando um

    estmulo nocivo afeta uma terminao de nervo sensorial perifrico que d inicio a

    todo fenmeno de percepo de dor. A transmisso, o processo seguinte, consiste

    em uma srie de eventos neurais subseqentes que levam os impulsos eltricos

    pelo sistema nervoso, do perifrico ao central. A modulao, o terceiro processo,

    uma atividade neural que controla neurnios de transmisso da dor originada no

    sistema nervoso perifrico e/ou central. O quarto processo, a percepo, o

    correlato subjetivo da dor que engloba complexos fatores comportamentais,

  • 41

    psicolgicos e emocionais, que so pouco compreendidos (POLLOCK et al., 2006).

    De qualquer modo, o relato da experincia dolorosa pelo paciente aos

    profissionais de sade fundamental para a compreenso do quadro lgico,

    implementao de medidas analgsicas e avaliao da eficcia teraputica. Se no

    tratamento de pacientes com dor crnica necessrio considerar vrios fatores que

    interagem no processo, ressalta-se a importncia de analisar e compreender a dor

    como decorrente desses fatores, e no isoladamente, visto que o objetivo do

    tratamento a reabilitao global do indivduo e no apenas corrigir um dos

    aspectos isolados de sua expresso sintomtica (SILVA; ZAGO, 2001).

    2.9.1 Assistncia de Enfermagem

    Segundo Camargo & Souza (2003), a assistncia de enfermagem em

    oncologia, abrange os vrios estgios da continuao sade-doena, j que assistir

    o outro que tem cncer possibilita a interveno de enfermagem em diversos nveis,

    seja na preveno primria, na preveno secundria, no tratamento do cncer, na

    reabilitao e na doena avanada.

    A Sistematizao das Aes de Enfermagem (SAE) vem permitindo aos

    enfermeiros um cuidar cientfico e humanizado destinado a uma assistncia

    qualitativamente adequada. Que assume dimenso especial para o paciente

    oncolgico no estabelecimento tico das prioridades, onde se deve considerar a

    individualidade, singularidade, estilo de vida, crenas e valores culturais

    (GARGIULO et al., 2007).

    importante saber que a SAE e seu registro no pronturio do cliente uma

    caracterstica da enfermagem atual, representando uma conquista para os

    profissionais e para os pacientes, refletindo, quando no implementada, h uma

    perda das aes das enfermeiras no tempo e no espao, dificultando a interao

    com a equipe multidisciplinar e interdisciplinar, conseqentemente, afetando a

    qualidade da assistncia prestada ao paciente oncolgico.

    Pacientes portadores de tumores malignos exigem uma assistncia

    diferenciada, pois carregam junto com a patologia o estigma da doena, a incerteza

    do prognstico, o medo na morte, a depresso e a ansiedade, mas tambm a

  • 42

    vontade de viver (GUIMARES; ROSA, 2008).

    O enfermeiro o membro da equipe de sade que usualmente permanece

    lado a lado com os pacientes durante todo o processo de sade/doena, o que o

    torna elemento primordial para o sucesso do tratamento. Figura tambm como

    facilitadora e minimizador dos desconfortos trazidos por todo o processo da doena

    oncolgica durante a internao do paciente, principalmente no que diz respeito aos

    possveis tratamento a serem empregados, sejam ele cirrgicos, quimioterpicos ou

    outros. Alm disso, deve estar muito bem preparado para enfrentar a problemtica

    do paciente oncolgico, colocando-se face a face com as freqentes frustraes do

    tratamento e poucos retornos gratificantes. Nesse contexto, fundamental que

    pacientes oncolgicos recebam por direito uma assistncia humanizada

    (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).

    Humanizar vem permeado de conceitos de cuidar e humanizao, que so

    elementos essncias para compreender, refletir e acertar a frmula da assistncia

    humanizada de enfermagem. Quando falamos de humanizao, em assistncia

    humanizada, no podemos deixar de abordar o cuidado nos seus diversos aspectos

    e expresses (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).

    E o que humanizao? Segundo o dicionrio Aurlio, humanizao o ato

    ou efeito de humanizar. Humanizar tornar humano, dar condio humana a,

    humanar. O cuidar humanizado implica, por parte do cuidador, a compreenso do

    significado da vida, a capacidade de perceber e compreender a si mesmo e ao

    outro, situando no mundo e sujeito de sua prpria histria.

    A humanizao nos atendimento exige dos profissionais de sade,

    essencialmente, compartilhar com o seu paciente experincias e vivncias que

    resultem em aplicaes do foco de suas aes, vista de regra restrita ao cuidar com

    o sinnimo de ajuda, as possibilidades de sobrevivncias. Nesse contexto,

    humanizar o cuidar dar qualidade relao profissional da sade-paciente.

    acolher as angstias do ser humano diante da fragilidade de corpo, mente e esprito

    (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).

    possvel afirmar que a assistncia e os cuidados prestados pelo enfermeiro,

    constituem um conjunto de esforos transpessoais direcionados a auxiliar o ser

    humano, a obter o autoconhecimento, autocontrole, a auto cura e, dessa forma

    protegendo, promovendo e preservando a existncia do paciente (GUIMARES;

    ROSA, 2008).

  • 43

    Os objetivos assistenciais visam a informar sobre rotinas hospitalares e

    procedimentos a serem realizados, diminuindo nas clientes o estresse gerado pela

    desinformao, facilitar ou possibilitar a recuperao fsica, emocional e social da

    paciente, preparando-a para o autocuidado, isso a realizao de curativo,

    exerccio, dar voz ao cliente, permitindo que exponha seus medos, anseios, dvidas,

    e expectativas, identificar os aspectos e intervir naqueles que podero prejudicar no

    tratamento e na recuperao fsico e moral, auxiliar paciente e aos familiares a

    identificar e mobilizar fontes de ajuda para resoluo de problemas, facilitando o

    acesso aos demais profissionais da equipe multidisciplinar, esclarecendo sobre o

    tratamento, permitindo que os familiares tomem decises sobre o tratamento

    proposto (OLIVEIRA et al., 2007).

    As aes de enfermagem abrangem planejamento, superviso, execuo e

    avaliao de todas as atividades no setor em pacientes submetidos aos tratamentos.

    A assistncia de enfermagem deve ser prestada de forma sistematizada,

    individualizada e embasada nos princpios norteadores das teorias dessas reas.

    Nesse sentido o processo de enfermagem serve de estrutura sistemtica na qual o

    enfermeiro busca informaes, responde a indicaes clnicas, identificaes e

    respostas a questes que afetam a sade do paciente. Fundamentado nesses

    preceitos, o cuidado de enfermagem ter maior qualidade de resolubilidade no

    atendimento ao paciente (GUIMARES; ROSA, 2008).

    O cuidado relacionado ao profissional de enfermagem refere-se s aes que

    ele dispensa ao paciente. Essas aes, de acordo com a sua natureza, classificam-

    se em aes, da rea de tcnica ou instrumental, que engloba os cuidados fsicos e

    teraputicos e que correspondem s atividades tcnicas da assistncia de

    enfermagem (higiene corporal, manuteno do conforto e integridade fsica

    teraputica), bem como as aes da rea expressiva, que englobam atividade

    relativa manuteno do equilbrio emocional do paciente e dizem respeito ao

    aspecto humanizado do relacionamento enfermeiro-paciente (MOHALLEM;

    RODRIGUES, 2007).

    O cuidado com o ser humano deve ser manifestado em atitudes que

    valorizem e dignifiquem a vida humana, o respeito ao prximo, estando este

    presente, ausente, consciente ou inconsciente (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).

    Uma forma inicial, ou primeiro passo fundamental para humanizar a

    assistncia de enfermagem, trabalhar com a expectativa do cliente e com a

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    percepo do que ele espera do nosso cuidado, da nossa assistncia. Para que isso

    ocorra, importante que estejamos receptivos para ouvir mais do que falar, que

    estejamos preocupados com as necessidades daquele que carece de um cuidado

    individualizado. No se deve perder o foco de uma abordagem holstica, permitindo

    sempre o envolvimento daqueles que do apoio emocional e afetivo, suporte

    econmico e social, sejam estes membros da famlia, vizinhos, parceiros, amigos ou

    cuidadores (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).

    A abordagem holstica da assistncia humanizada envolve tambm a

    percepo do enfermeiro assistencial em sua prtica. O delineamento dessa viso

    permite que reflita sobre a sua filosofia de atuao, que referencial de valores possui

    e que papel desempenha em relao assistncia direta com o paciente

    (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).

    A atuao do enfermeiro deve ser iniciada logo aps o diagnstico, por meio

    da consulta de enfermagem, a ser realizada por ocasio da internao e antes de

    cada modalidade teraputica (INCA, 2004).

    A assistncia humanizada de enfermagem, especialmente a de pacientes

    oncolgicos, vai alm da competncia tcnica ou cientfica. Antes de ser profissional,

    deve ser uma atitude individual, pessoal, recheada de valores solidrios,

    compreenso, respeito ao prximo, s limitaes do outro, a dor e ao sofrimento

    humano, perseverana, a vida e morte. Para humanizar a assistncia, deve

    existir tambm uma filosofia institucional que favorea no apenas os profissionais

    de enfermagem para exercerem a assistncia humanizada mas, tambm toda a

    equipe interprofissional, dentro da sua complexidade conceitual e operacional

    (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007).

    2.9.1.1 Cuidados de enfermagem dor

    O enfermeiro deve saber reconhecer/identificar "indcios da dor". Esta uma

    tarefa que pode gerar dificuldades, visto que pacientes e profissionais podem ter

    concepes diferentes da dor. Esta pode apresentar-se de diversas maneiras, tais

    como atravs do choro, gemido, alteraes dos sinais vitais, agitao, tremor ou

    comportamento verbal. Entretanto, o no aparecimento dos sinais citados no

  • 45

    significa ausncia de dor. Alguns pacientes podem adaptar-se dor, atravs do

    desenvolvimento de um elevado autocontrole, suprimindo os sinais de sofrimento, ou

    apenas permanecendo prostrados ou mais quietos que o habitual, devido ao

    esgotamento fsico e mental causados pela doena (TULLI et al., 2007).

    A enfermagem tem buscado estudar e contribuir para a ampliao dos

    conhecimentos sobre o tema. Em 1990, a Oncology Nursing Society adotou uma

    posio sobre a dor do paciente oncolgico, definindo objetivos para a prtica,

    consideraes ticas e recomendaes (SILVA; ZAGO, 2001).

    Aumenta, a cada dia, o nmero de pessoas que sofrem de dor oncolgica e

    muitas delas permanecem sem tratamento adequado. No entanto, existem mtodos

    capazes de controlar este tipo de dor. Os cuidados atentos da enfermagem,

    associados teraputica medicamentosa, so as bases para manejar a dor do

    cncer, tornando-a suportvel para o paciente (TULLI et al., 2007).

    Os enfermeiros devem ter em mente que os pacientes tm direito a ter sua

    dor aliviada, a persistncia da dor ocasiona sofrimento intil para o doente,

    familiares, amigos e equipe de sade (TULLI et al., 2007).