câncer de mama: tratamento cirúrgico

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As Diretrizes Clínicas na Saúde Suplementar, iniciativa conjunta Associação Médica Brasileira e Agência Nacional de Saúde Suplementar, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidas neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente. 1 Autoria: Sociedade Brasileira de Mastologia Sociedade Brasileira de Cancerologia Elaboração Final: 31 de janeiro de 2011 Participantes: Gebrim LH, Elias S, Millen E, Silva BB, Sousa JA, Menke CH, Chagas R, Fernandes Jr AS, Reis JHP, Santos LC, L‘Abatte RL, Simões R

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Page 1: Câncer de Mama: Tratamento Cirúrgico

As Diretrizes Clínicas na Saúde Suplementar, iniciativa conjunta

Associação Médica Brasileira e Agência Nacional de Saúde Suplementar, tem por

objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar condutas que

auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidas

neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável

pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente.

1

Autoria: Sociedade Brasileira de Mastologia

Sociedade Brasileira de Cancerologia

Elaboração Final: 31 de janeiro de 2011

Participantes: Gebrim LH, Elias S, Millen E, Silva BB, Sousa JA,Menke CH, Chagas R, Fernandes Jr AS, Reis JHP,Santos LC, L‘Abatte RL, Simões R

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Câncer de Mama: Tratamento Cirúrgico2

DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE COLETA DE EVIDÊNCIA:A revisão bibliográfica de artigos científicos dessa diretriz foi realizada na base de dados MEDLINE,Cochrane e SciELO. A busca de evidência partiu de cenários clínicos reais, e utilizou palavras-chaves (MeSH terms) agrupadas nas seguintes sintaxes: Breast Neoplasm OR Breast CancerAND Antineoplastic Combined Chemotherapy AND Radiotherapy, Adjuvant AND Mastectomy,Radical AND Mastectomy, Segmental AND Mastectomy, Subcutaneous AND Mammaplasty ANDNeoplasm Staging AND Neoplasm Invasiveness AND Neoplasm Metastasis AND NeoplasmRecurrence AND Axilla AND Nipples AND Lymph Node Excision AND Sentinel Lymph NodeBiopsy AND Carcinoma, Ductal, Breast AND Lymphatic Metastasis AND Disease-Free Survival.

GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA:A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência.B: Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência.C: Relatos de casos (estudos não controlados).D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos

fisiológicos ou modelos animais.

OBJETIVO:Verificar o prognóstico após o tratamento cirúrgico do câncer de mama, em especial, a chancede recidiva; comparando as cirurgias conservadoras com as radicais.

CONFLITO DE INTERESSE:Os conflitos de interesse declarados pelos participantes da elaboração desta diretriz estãodetalhados na página 9.

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INTRODUÇÃO

O tratamento cirúrgico do câncer inicial da mama modificou-se dramaticamente nas últimas décadas. Estudos aleatorizados,com mais de 20 anos de seguimento clínico, demonstram empacientes selecionadas que a cirurgia conservadora seguida de ra-dioterapia apresenta resultados semelhantes ao da mastectomia1(A).

Entende-se por cirurgia conservadora a realização da retiradado tumor circundada por margem de tecido sadio com aceitávelresultado estético (setorectomia, ressecção ampliada ouquadrantectomia), seguida de radioterapia. A avaliação cirúrgicada axila é considerada parte da cirurgia conservadora da mama. Apresença de comprometimento linfonodal axilar não representacontraindicação à cirurgia conservadora2(D).

Atualmente, a maioria das mulheres com tumores T1 e T2(< 3,0 cm) é potencial candidata à cirurgia conservadora. Empacientes com tumores > 3,0 cm, deve-se avaliar a possibilidadede quimioterapia primária para redução do volume tumoral eexcisão com margens cirúrgicas adequadas, sem comprometimentoda cosmética. A utilização de técnicas oncoplásticas pode facilitara obtenção de margens livres nestas situações, mas exige equipecom experiência. Na impossibilidade de obtenção de margens livres,com resultado cosmético adequado, deve-se indicar a mastectomia.Assim como, em caso de dificuldade de acesso da paciente àradioterapia ou seguimento periódico, deve-se optar pelamastectomia2(D).

1. O CÂNCER DE MAMA EM ESTADIO INICIAL TRATADO COM

CIRURGIA CONSERVADORA APRESENTA MAIOR RISCO DE

RECORRÊNCIA?

Os principais fatores relacionados à indicação da cirurgiaconser vadora são representados por tamanho tumoral,multicentricidade e idade. Os tumores com diâmetro inferior a1,0 cm são os idealmente candidatos a cirurgia conservadora,entretanto, atualmente não mais se restringe a indicação a tumo-res < 3,0 cm, desde que se tenha a possibilidade da obtenção de

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margens livres, associado a bom resultadoestético. A multicentricidade, definida como aocorrência de dois ou mais focos de carcinomaem diferentes quadrantes da mesma mama,contraindica a realização da cirurgiaconservadora2(D). Com relação à idade,reconhece-se que existe risco maior de recidivalocal em pacientes jovens tratadas de formaconser vadora. No entanto, não existecontraindicação formal à sua realização2(D).

Em ensaio clínico aleatorizado, mulheres nafaixa etária média dos 50 anos (SD= ± 10anos), portadoras de câncer de mama com tu-mor ao exame físico menor ou igual a 2,0 cmde diâmetro (estadio T1) e ausência delinfonodos axilares palpáveis (N0) foram sub-metidas à mastectomia radical (Halsted) ou aquadrantectomia associada à radioterapia (dosede 50 Gy), ambas combinadas à dissecção axilarcompleta [nos casos com comprometimento axi-lar associou-se a quimioterapia adjuvante, peloperíodo de 12 meses, constituída por ciclosmensais de ciclofosfamida (100 mg/m2/dia por14 dias), metotrexate (40 mg/m2) e fluouracil(600 mg/m2)]. Observou-se que, no período deseguimento médio de 20 anos, a probabilidadede recorrência do tumor foi significativamentemaior na cirurgia conservadora (quadran-tectomia) associada à radioterapia, comparando-se à realização da mastectomia radical (8,8%versus 2,3%, respectivamente, com RRA=6,5%(IC95%: 3% a 10%)1(A).

Considerando-se a incidência dos carci-nomas de mama contralateral e metástases àdistância, não se observou diferença significativatanto para a mastectomia radical quanto para acirurgia conservadora (9,7% versus 8,2% e23,7% versus 23,2%, respectivamente). O

mesmo foi observado com relação à taxa demortalidade relacionada especificamente aocâncer de mama (26,1% versus 24,3%, comp=0,8) demonstrando, por conseguinte, emambos os grupos, taxas de sobrevida tanto emlongo prazo quanto sobrevida globalsemelhantes1(A).

RecomendaçãoMulheres portadoras de câncer de mama em

estadio inicial submetidas à cirurgiaconservadora da mama (quadrantectomia)seguida de radioterapia apresentam maiorprobabilidade de recorrência do tumor quandocomparado à mastectomia radical, no períodoavaliado de 20 anos1(A). Entretanto, não seobserva diferença com relação às metástases àdistância, aumento na incidência de carcinomana mama contralateral ou maiores taxas demortalidade.

2. A REALIZAÇÃO DA MASTECTOMIA TOTAL EM

MULHERES COM CÂNCER DE MAMA INVASIVO

ESTÁ RELACIONADA A MAIOR TAXA DE

SOBREVIDA, QUANDO COMPARADA À

CIRURGIA CONSERVADORA?

As principais contraindicações à realizaçãoda cirurgia conservadora incluem situações ondeo emprego da radioterapia não é o indicado,como gravidez, casos tratados anteriormentecom radioterapia de tórax, doenças do colágenoe implantes de silicone recentes2(D).

Em mulheres na faixa etária média dos 50anos, portadoras de câncer de mama invasivoapresentando tumor ≤ 4,0 cm no seu maiordiâmetro mediante a presença ou não decomprometimento axilar (estadios I ou II),quando submetidas à mastectomia total ou a

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lumpectomia seguida ou não de radioterapia(dose de 50 Gy), não se observaram diferençassignificativas com relação à sobrevida livre dedoença ou sobrevida global no período médiode seguimento de 20 anos, demonstrando razãode risco (HR) para o evento morte de 1,05(IC95%: 0,90 a 1,23) entre mulheres tratadascom lumpectomia isolada em comparaçãoàquelas submetidas à mastectomia total eHR=0,97 com IC95%: 0,83 a 1,14 para mu-lheres submetidas à lumpectomia associada àradioterapia adjuvante em comparação àquelassubmetidas à mastectomia total3(B).

RecomendaçãoApós 20 anos de seguimento, não se

encontra diferença significativa com relação àtaxa de sobrevida em pacientes com média etáriade 50 anos e câncer de mama invasivo (estadiosI ou II) submetidas à mastectomia total oucirurgia conservadora associada ou não àradioterapia.

3. A ADENOMASTECTOMIA SUBCUTÂNEA

APRESENTA CONTROLE LOCAL SEMELHANTE AO

DA MASTECTOMIA CONVENCIONAL?

Também chamada de mastectomia compreser vação de pele, a adenectomia ouadenomastectomia subcutânea tem se mostradooncologicamente segura em casos selecionados,incluindo câncer mamário invasivo < 5,0 cm,tumores multicêntricos e carcinoma in situ4(D).Não existe na literatura uma definição precisado conceito de segurança oncológica no tra-tamento cirúrgico do câncer de mama, entre-tanto, o principal fator que contribui para asegurança oncológica nas cirurgias conservado-ras da mama é a capacidade do procedimento

em não deixar tumor residual, ou seja, a obten-ção de margens efetivamente livres de tumor.Dessa forma, cirurgias que proporcionam mai-ores margens livres são consideradas maisseguras do ponto de vista oncológico.

A incidência de recorrência local apósadenomastectomia subcutânea tem sidoinvestigada em vários estudos, sendo comparávelà da mastectomia radical, não havendo qualquerdiferença significativa na recorrência local ou àdistância após cinco anos de seguimento (taxa derecorrência local para a adenomastectomiasubcutânea e mastectomia radical permanecemem torno de 3,9% e 3,25%, respectivamente).Com relação à sobrevida livre de doença, inclu-indo tanto recorrência local quanto à distância,no mesmo período avaliado, observam-se,respectivamente, taxas de 95,3% e 90,2% paraa adenomastectomia e de 95,2% e 92% para amastectomia radical sem diferença estatística(p=0,28 e p=0,07, respectivamente)5(B). En-tretanto, a adenectomia quando associada àreconstrução imediata da mama com implantesou retalhos musculares (latíssimo do dorso)apresenta resultados estéticos bem superiores aosda mastectomia convencional6(B).

Uma série retrospectiva de 15 anos, analisandomulheres com carcinoma invasivo de mama nosestadios de 0 a II, submetidas à mastectomiaconvencional ou adenomastectomia subcutânea,com seguimento médio de 49 meses, não encontroudiferença nas taxas de recorrência local, recorrênciaregional ou no tempo de intervalo entre o tratamentoe a recorrência (taxas de recorrência local, regionale intervalo entre o tratamento e a recorrência paraadenomastectomia e mastectomia convencional de1,7% e 1,5% com p>0,8; 3,8% e 3,9% comp>0,8 e 33,1 e 32,6 meses, respectivamente)7(B).

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RecomendaçãoA adenomastectomia subcutânea realizada

nos casos de carcinoma in situ multicêntrico oucarcinoma invasivo nos estadios I e IIA é tãosegura quanto a mastectomia convencional emrelação à recidiva local e ao tempo livre dedoença, apresentando resultados estéticos bemsuperiores, principalmente quando associada areconstrução mamária imediata com implanteou utilização de retalho miocutâneo.

4. HÁ NECESSIDADE DE REMOÇÃO DO COMPLEXO

ARÉOLO-PAPILAR NA ADENOMASTECTOMIA

SUBCUTÂNEA?

O complexo aréolo-papilar era removido naadenomastectomia, por se acreditar que seusductos adjacentes pudessem conter célulastumorais que se disseminariam distalmente aolongo dos ductos a partir do tumor primário. Evi-dência recente tem mostrado que o risco deenvolvimento do complexo aréolo-papilar portumor tem sido superestimado, sendo aceito atu-almente um comprometimento variando de 5,6a 10,6%8,9(B).

Alguns fatores de risco têm sido associadoscom o comprometimento do complexo aréolo-papilar por células neoplásicas, tais comocomprometimento linfonodal axilar; localizaçãosubareolar do tumor; distância entre tumormenor que 2,5 cm; multicentricidade eestadiamento tumoral10(B). Estudo envolvendoanálise histopatológica de 219 mastectomiasdemonstra 9,4% de envolvimento do complexoaréolo-papilar nos estadios I e II e 30% noestadio III11(B).

Avaliando-se mulheres pelo período médiode 59 meses, submetidas à adenomastectomia

subcutânea e mastectomia convencional (médiaetária de 49 anos e 59 anos, respectivamente)por câncer de mama invasivo ou não-invasivo,observa-se que a preservação do complexoaréolo-papilar nos casos de adenomastectomiasubcutânea, em que a biopsia de congelaçãointraoperatória do tecido subareolar apresenta-se negativa, demonstra taxas de recorrência naordem de 5% e 8%, respectivamente, nãorevelando diferença significativa (p=0,666).Com relação às metástases à distância, obser-va-se ocorrência da ordem de 23% para aadenomastectomia subcutânea e 21% para amastectomia convencional, não demonstrandodiferença significativa (p=0,733)12(B).

RecomendaçãoA adenomastectomia subcutânea com

preservação do complexo aréolo-papilar (CAP)é segura nos estadios 0, I e IIA, desde que apaciente não tenha fatores de risco para oenvolvimento do complexo aréolo-papilar pelotumor e que a biopsia intraoperatória do tecidosubareolar seja negativa11,12(B).

5. HÁ NECESSIDADE DE RADIOTERAPIA

COMPLEMENTAR APÓS ADENOMASTECTOMIA

SUBCUTÂNEA?

Pacientes com vários linfonodos regionaispositivos e/ou grandes tumores devem receberradioterapia após adenomastectomiasubcutânea, similarmente àquelas submetidas àmastectomia convencional. Nos estadios I e II,a recidiva no complexo aréolo-papilar foi seme-lhante à das pacientes mastectomizadas, não sejustificando nesses estadios a complementaçãoradioterápica em tumores não multicêntri-cos12(B). Contudo, a radioterapia está associadaa maior risco de complicações locais, espe-

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cialmente após reconstrução imediata comimplantes. Embora os resultados de várias sériesvariem consideravelmente, parece que as com-plicações da radioterapia após reconstruçãoimediata da mama sejam multifatoriais13(B).

Um estudo sobre adenomastectomiasubcutânea e reconstrução imediata da mamautilizando retalho do músculo retoabdominalseguida de radioterapia demonstra que as com-plicações mais comuns são necrose gordurosa(16%) e fibrose pós-radiação (11%)14(B). Anecrose gordurosa leva a redução de volume econtratura do retalho. Por sua vez, quandoimplantes são empregados, sozinhos ou em com-binação com retalhos, a radioterapia acarretamaior fibrose e retração da mama reconstruídaem torno do implante, propiciando resultadosestéticos menos favoráveis e necessidade de re-intervenção subsequente em até 68% doscasos13(B). A técnica é implementável, entretantorequer seleção das pacientes sendo empregadapreferencialmente em tumores in situ ou invasivosnos estadios I e II; bom trofismo da pele; mamasde pequeno e médio volume pelo melhor resultadoda reconstrução, além de equipe multidisciplinarcapacitada.

RecomendaçãoA radioterapia não é contraindicada após a

adenomastectomia subcutânea. Em razão damaior taxa de complicações e resultados estéticosmenos favoráveis, alguns autores preconizam amastectomia convencional e reconstruçãomamária tardia.

6. A REALIZAÇÃO DE BIOPSIA DO LINFONODO

SENTINELA ESTÁ RELACIONADA À MAIOR

RECORRÊNCIA LOCAL QUANDO COMPARADA

À DISSECÇÃO LINFONODAL AXILAR?

A biopsia do linfonodo sentinela (BLS), naúltima década, tornou-se o procedimento padrãopara o estadiamento axilar em pacientes comcâncer inicial de mama, além do mais, tem-sedemonstrado a elevada acurácia que a BLS temem predizer de forma fidedigna o statuslinfonodal axilar15(B)16(D).

A realização da dissecção linfonodal axilartem sido amparada pelo âmbito da prevençãode recorrências axilares e pela possibilidade dese obter pequeno benefício sobre a sobrevidageral, quando da remoção de linfonodos axilarespositivos, entretanto, dúvidas persistem comrelação à possibilidade de se aumentar o riscode recorrência axilar mediante um resultadofalso-negativo à biopsia do linfonodo sentinela.

Analisando-se prospectivamente mulheressubmetidas à biopsia do linfonodo sentinelamapeados por combinação de radioisótopo (99mTc)e azul patente e/ou submetidas à linfadenectomia(com a remoção de pelo menos 10 nódulos linfá-ticos), observa-se que pacientes com BLSnegativa e não submetidas à linfadenectomia apre-sentam uma reduzida taxa de recorrência axilar(0,12%) em período médio de seguimento de 31meses. Avaliando-se as pacientes com BLSpositiva e não submetidas à linfadenectomia, ataxa de recorrência axilar apresenta-se maior,quando comparado à BLS negativa (0,18%versus 1,4%, respectivamente)17(B).

Avaliando-se mulheres submetidas à BLSe/ou linfadenectomia, sendo este procedimentorealizado mediante BLS positiva, pelo períodomédio de 5,5 anos, não se observa diferençasignificativa, com relação à taxa de recorrêncialocal entre os dois procedimentos18(B). Além

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do mais, a biopsia do linfonodo sentinelaapresenta-se como uma alternativa segura eeficaz à linfadenectomia, apresentando reduzidamorbidade em membro superior, relacionada aolinfedema e perda sensorial (RR=0,23 comIC95%: 0,23 a 0,60 e RR=0,37 com IC95%:0,27 a 0,50, respectivamente)19(A).

RecomendaçãoA recorrência axilar após biopsia do linfonodo

sentinela negativa, com ou sem linfadenectomia,apresenta-se como um raro evento, comparável àrealização da linfadenectomia isolada. Nos casosonde a BLS apresenta-se positiva, recomenda-sea linfadenectomia complementar, pelo maior riscode recorrência quando comparado a BLSnegativa19(A).

7. EM PACIENTES PORTADORAS DE CARCINOMA

DUCTAL IN SITU, DEVE-SE PROCEDER À

REALIZAÇÃO DA BIOPSIA DO LINFONODO

SENTINELA?

O carcinoma ductal in situ (CDIS) éconsiderado uma doença maligna local. Pordefinição, não apresenta o potencial de originarmetástases a linfonodos regionais a menos queapresente componente invasivo associado.Apesar de o risco de originar metástases ser nulo,existem várias referências a metástases emlinfonodos sentinelas descritas em séries de casosde pacientes com CDIS20,21(C).

Avaliando-se mulheres portadoras decarcinoma ductal in situ (CDIS) nãomicroinvasivo, submetidas à linfocintilografiapara identificação do linfonodo sentinela composterior realização de biopsia, observa-se aoexame histopatológico, metástases detectadas em1,4% das pacientes, sendo que deste percentual,

0,8% refere-se a casos de micrometástases(metástases > 0,2 mm e < 2,0 mm)22(C).

RecomendaçãoEm virtude da baixa prevalência de compro-

metimento metastático do linfonodo sentinelaem pacientes com carcinoma ductal in situ, abiopsia do linfonodo sentinela não se apresentacomo procedimento padrão nestas pacientes,desde que o diagnóstico de CDIS sejasuficientemente garantido por meio da avaliaçãohistológica de lesão completamente excisada porcirurgia conservadora20,21(C). Nos casosmultifocais onde se indica a mastectomia, hámaior risco de se detectar focos de invasão, re-comendando-se a pesquisa do linfonodosentinela22(C).

8. MULHERES PORTADORAS DE CÂNCER DE

MAMA RECEPTOR ESTROGÊNIO NEGATIVO

APRESENTAM MENOR SOBREVIDA MEDIANTE

OCORRÊNCIA DE RECIDIVA LOCAL?

A ocorrência de recidiva local e/oulocorregional está associada a elevado risco parao desenvolvimento de doença à distância em pa-cientes tratadas tanto por mastectomia quantocirurgia conservadora23,24(B).

Em mulheres com axila negativa,submetidas ao tratamento conservador damama seguida de radioterapia, associado ou nãoà terapêutica adjuvante sistêmica, demonstra-se que mediante a ocorrência de recidivaipsilateral do câncer de mama, a redução nasobrevida geral observa-se principalmente noscasos com tumor negativo para o receptor deestrogênio (HR=4,49 com IC95%: 3,29 a6,13), comparando-se a HR=2,32 (IC95%:1,72 a 3,14) para pacientes com receptor de

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estrogênio (RE) positivo, no período médio deseguimento de 16 anos25(B).

RecomendaçãoA ocorrência de recidiva local associa-se

significativamente a maior risco de morte,sobretudo em tumores RE negativos23-25(B).

9. O EMPREGO DA RADIOTERAPIA ASSOCIADA

À QUIMIOTERAPIA ADJUVANTE EM PACIENTES

SUBMETIDAS À MASTECTOMIA RADICAL

MODIFICADA COM COMPROMETIMENTO

LINFONODAL AXILAR DETERMINA AUMENTO

NA SOBREVIDA GLOBAL?

O uso da radioterapia adjuvantelocorregional em pacientes com elevado riscopara recidiva recebeu considerável atenção nosúltimos 20 anos em virtude de diversos traba-lhos aleatorizados terem demonstrado reduçãosignificativa em recidivas tanto locorregionaisquanto sistêmicas26,27(A)28(B).

Avaliando-se pacientes na menacme,submetidas à mastectomia radical modificada elinfadenectomia com exame histopatológicodemonstrando comprometimento axilar, observa-se que mediante o emprego da radioterapia (16frações de 37,5 Gy em parede torácica e cadeiamamária interna e 35 Gy em axila média)administrada entre o 40 e 50 ciclos de quimioterapiaadjuvante, no regime CMF (ciclofosfamida 600mg/m2, metotrexate 40 mg/m2 e 5-fluouracil 600mg/m2 em um total de nove ciclos), apresentamuma sobrevida livre de doença, no período de 20anos, 13% superior quando comparado àquelasque não receberam o tratamento radioterápico(RR=0,70 com IC95%: 0,54 a 0,92 e p=0,009).Analisando-se a recorrência de câncer de mamatanto sistêmica quanto locorregional, observa-se

uma redução em 18% no grupo tratado com radi-oterapia (RR=0,63 com IC95%: 0,47 a 0,83 ep=0,001). Por fim, analisando-se a sobrevidageral, observa-se uma superioridade em torno de10% mediante o emprego da radioterapia(RR=0,73 IC95%: 0,55 a 0,98)29(A).

O mesmo é observado em pacientes comelevado risco para recorrência em virtude deapresentarem tumores com diâmetro superior a5,0 cm e/ou comprometimento axilar, com ousem invasão de pele ou fáscia peitoral. Nestaspacientes, observa-se que, após o emprego daradioterapia e seguimento médio de 18 anos, aprobabilidade de recorrência com ou semmetástases à distância, apresenta-se 35%inferior quando do não emprego da radioterapia(RR=0,23 com IC95%: 0,19 a 0,27)30(B).

RecomendaçãoO seguimento pelo período de 20 anos de

pacientes após mastectomia radical modifica-da, com comprometimento linfonodal axilar,e submetidas à quimioterapia adjuvante noregime CMF e radioterapia, englobandonódulos linfáticos regionais e parede torácica,demonstra significativa redução nas taxas derecorrências locorregionais e sistêmicas, bemcomo uma melhora na sobrevida geral,comparando-se ao não emprego da radiotera-pia. O mesmo é observado em pacientes comelevado risco para o desenvolvimento derecorrências26,29(A).

CONFLITO DE INTERESSE

Menke CH: Recebeu honorários porcomparecimento a congresso patrocinado peloLaboratório Novartis; Recebeu honorários porministrar conferência patrocinada peloLaboratório Libbs.

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