o amor e um cao dos diabos charles bukowski
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ParaCarl Weissner
1mais uma criatura atordoada pelo
amor
Sandra
é a alta e magra donzela do quartode brincos
coberta por um longo vestido
está sempre alta em sapatos desalto espírito
boletastrago
Sandra se inclina em sua cadeirainclina-se em direção a Glendale
aguardo que sua cabeça bata na
maçaneta do guarda-roupa
enquanto ela tenta acenderum novo cigarro num outro já
quaseconsumido
aos 32 ela gosta de jovens limposimaculadoscom rostos semelhantes ao fundo
de pires recém-compradosdepois de se vangloriar a não mais
poder acabou me trazendo seusprêmios para que eu desse umaolhada: garotos nulos, loiros esilenciosos que
a) sentamb) levantamc) falam
ao seu comando
às vezes ela traz um às vezes doisàs vezes trêspara que eu osveja
Sandra fica muito bem em vestidos
longos Sandra pode partirprovavelmente o coração de umhomem
espero que ela encontre um.
você
você é uma fera, ela disse suaenorme barriga branca e seuspés cabeludos.
você jamais corta as unhas e temmãos gordas
como as patas de um gato seu narizvermelho e brilhante e osmaiores bagos que eu já vi.
você lança esperma como umabaleia lança água pelo buracodas costas.
fera, fera, fera,
ela me beijou,o que você quer para o café da
manhã?
a deusa de um metro e oitenta
sou grandesuponho que é por isso que minhas
mulheres sempre [parecempequenas
mas essa deusa de um metro eoitenta que negocia imóveis earte
e que voa do Texas para me vere eu voo ao Texaspara vê-la –bem, há nela o suficiente para ser
agarradoe eu me agarro todo nela,puxo-lhe a cabeça para trás pelos
cabelos, sou macho de verdade,
chupo-lhe o lábio superior suaxoxota
sua almamonto sobre ela e lhe digo, “vou
lançar suco quente e brancodentro de você. não voei desdeGalveston para jogar xadrez”.
depois nos deitamos enlaçadoscomo vinhas humanas meubraço esquerdo debaixo de seutravesseiro meu braço direitosobre o lado de seu corpoaferro-me às suas mãos, e meupeito
barriga
bolaspauenroscam-se nelae através de nósno escuropassam raiospra lá e pra cápra lá e pra cáaté que eu desfaleça e nós
durmamos.
ela é selvagemmas dócilminha deusa de um metro e oitenta
faz-me rira risada do mutilado que ainda
precisa de amor,
e seus olhos abençoados fluempara o fundo de sua cabeçacomo nascentes na montanha aolonge
nascentesfrescas e boas.
ela me resguardoude tudo o que não está aqui.
já vi mendigos demais com osolhos vidrados bebendo vinho
barato debaixo da ponte
você se senta comigo no sofánesta noitenova mulher.
você já viu osdocumentáriossobre animais carnívoros?
eles mostram a morte.
e agora me pergunto que animalentre nós dois
devoraráprimeiro o outro física epor fimespiritualmente?
nós consumimos animais e entãoum de nós consome o outro,meu amor.
enquanto issoprefiro que você vá primeiro e do
primeiro jeitose os gráficos de performance
passadas significarem algumacoisa eu certamente irei primeiroe do último jeito.
gostosa e sexy
“sabe”, ela disse, “você estava nobar e por isso não pôde ver maseu dancei com aquele cara.
nós dançamos juntos sem parar.mas não fui para casa com ele
porque ele sabia que eu estavacom você.”
“valeu mesmo,” eu disse.
ela estava sempre pensando em
sexo.levava isso sempre consigo como
algo embrulhado num saco depapel.
quanta energia.ela começava por qualquer homem
disponível nos cafés da manhãentre ovos e bacon ou maistarde entre um sanduíche noalmoço ou um bife no jantar.
“moldei meu modo de ser inspiradaem Marilyn Monroe,”
[ela me disse.
“ela está sempre fugindo paraalguma discoteca local paradançar com algum otário,” umamigo certa vez me contou,“estou surpreso que vocêcontinue com ela depois de tudoo que já aconteceu.”
ela desaparecia nas corridaspara depois surgir e dizer“três caras se ofereceram para me
pagar um drinque”.
ou então eu a perdia noestacionamento e a procurava eela
estava caminhando com umestranho.
“bem, ele veio desta direçãoeu vim daquela e nósmeio que caminhamos juntos. nãoqueria ferir os sentimentos dele.”
ela disse que eu era um homemmuito ciumento.
um dia ela apenassubmergiuem seus órgãos sexuaise desapareceu.
era como um despertadorcaindo dentro do Grand Canyon.bateu e chocalhou etocou e tocou
mas eu não pude maisvê-la nem ouvi-la.
me sinto bem melhoragora.dediquei-me ao sapateadoe agora visto um chapéu de feltro
preto levemente inclinadosobre o olhodireito.
a música suave
vence o amor porque nela não háferidas: pela manhãa mulher liga o rádio, Brahms ou
Ives ou Stravinsky ou Mozart.ferve os
ovos contando em voz alta ossegundos: 56, 57, 58... descascaos ovos, os traz para mim nacama. depois do café da manhãé a mesma cadeira e ouvir amúsica
clássica. A mulher está no seuprimeiro copo de scotch e no seuterceiro cigarro. digo-lhe quepreciso ir ao hipódromo. ela
está aqui há 2 noites e 2 dias.“quando voltarei a vê-la?”pergunto. ela
sugere que fique a meu critério.aceno com a cabeça e Mozart toca.
entorpeça seu rabo e seucérebro e seu coração...
eu estava saindo de um caso quehavia terminado mal.
francamente, eu deslizava emdireção ao fundo do poçosentindo-me realmentedesprezível e acabado quandotive sorte com essa dama emsua enorme cama coberta porum dossel enfeitado de joiasmais
vinho, champanhe, cigarros, boletase tevê a cores.
ficamos na cama e
bebemos vinho, champanhe,fumamos, detonamos as[boletas às dúzias
enquanto eu (sentindo-medesprezível e acabado) tentavasuperar o caso que haviaterminado mal.
assistia à tevê tentando embotarmeus sentidos, mas a coisa querealmente ajudou
foi esse drama muito longo(especialmente escrito para a
televisão) sobre espiões...espiões americanos e espiões
russos, e todos eram tãoespertos e
bacanas...
até mesmo seus filhos não sabiamsuas esposas não sabiam, ede certo modoeles mesmos quase não sabiam...e logo vieram os contraespiões, os
agentes duplos: caras quetrabalhavam para os dois lados,e e então um deles passou deagente duplo a agente triplo,
e tudo se tornou agradavelmenteconfuso...
acho que nem o cara que tinhaescrito o roteiro sabia o queestava acontecendo...
aquilo seguiu por horas!hidroplanos se chocando contra
icebergs, um padre em Madison,
Wisc. matou seu irmão, umbloco de gelo foi despachadonum cofre para o Peru no lugardo maior diamante do mundo, eloiras entravam e saíam dequartos comendo nozes e docesrecheados com creme; o agentetriplo passou a
agente quádruplo e todo mundoamava todo mundo
e eu segui vendo aquiloe as horas passaram ee tudo finalmente desapareceu
como um clipe de papel emmeio a uma cesta de lixo e eu
me aproximei do aparelho e odesliguei e pela primeira vez em
uma semana e meia dormi bem.
uma das mais quentes
ela usava uma peruca de um loiroplatinado e tinha a facecarregada de rouge e pó e nãoeconomizava no batom
traçando uma enorme boca pintadae seu pescoço era coberto derugas mas ainda tinha o rabo deuma garota e as pernas eramboas.
ela usava calcinhas azuis que eubaixei e ergui seu vestido, e àluz bruxuleante da TV
tomei-a de pé.enquanto nos digladiávamos ao
redor do quarto (estou fodendo
uma cova, pensei, trazendo osmortos de volta à vida,maravilhoso tão maravilhoso
como comer azeitonas geladas às 3da manhã com metade dacidade em chamas) gozei.
vocês podem ficar com suasvirgens, rapazes deem-mevelhas gostosas no alto de seussaltos com rabos queesqueceram de envelhecer.
claro, você tem que dar o fora
depois ou ficar muito bêbado
o que é a mesmacoisa.
bebemos vinho por horas e
assistimos tevê e quando fomospra cama
para dormirela não tirou os dentes da boca a
noite toda.
cinzas
peguei as cinzas dele, ela disse, eas lancei ao mar e as espalhei e
elas nem sequer pareciam cinzas eo que dava peso à urna eram os
seixos verdes e azuis...
ele não lhe deixou nem um centavode seus milhões?
nada, ela disse.
mesmo depois de todos aquelescafés da manhã e almoços ejantares ao lado dele? depois deter escutado toda a merda que
ele falava?
ele era um homem brilhante.
você sabe do que estou falando.
seja como for, eu fiquei com ascinzas. e você comeu minhasirmãs.
nunca comi suas irmãs.
comeu sim.
comi uma delas.
qual?
a lésbica, respondi, ela me pagou ojantar e as bebidas, não tivemuita escolha.
estou indo, ela disse.
não se esqueça do frasco.
ela entrou para buscá-lo.
sobra tão pouco de você, ela disse,que quando você morre e eles tequeimam precisam acrescentaruma porção de seixos verdes eazuis.
está bem, eu disse.
vejo você daqui a 6 meses! elagritou e bateu a porta.
bem, pensei, creio que para melivrar dela terei que comer aoutra irmã. caminhei até oquarto e comecei a dar umaolhada nos números de telefone.tudo o que eu [lembrava era queela vivia em San Mateo e tinhaum ótimo emprego.
foda
ela tirou o vestido por sobre acabeça
e eu vi a calcinhaum tanto enterrada em suas
carnes.
é simplesmente humano.agora teremos que fazê-lo.eu terei que fazê-lo depois de todo
esse logro.é como uma festa –dois idiotasnuma cilada.
debaixo dos lençóis depois que
apagueias luzessuas calcinhas ainda estavam ali.
ela esperava um númerointrodutório.
eu não podia culpá-la. mas sim meperguntar por que ela estava alicomigo? onde estão os outroscaras? como você pode se julgarsortudo tendo alguém queoutros abandonaram?
não precisávamos fazer aquilo
embora tivéssemos que fazê-loera algo como
renovar o créditocom o homem do imposto de renda.
tirei a calcinha.decidi não usara língua. ainda assim pensava no
momentoem que tudo estivesse terminado.
dormiremos juntosesta noitetentando nos acomodar entre os
papéis de parede.
tento, falho,reparo no cabelo em sua cabeçamais do que tudo reparo no cabelo
em sua
cabeçae de relance emsuas narinasde porquinho
tentonovamente.
eu
mulheres não sabem como amar,ela me disse.
você sabe como amar masmulheres só querem parasitar.
sei disso porque sou mulher.
hahaha, eu ri.
por isso não se preocupe por terterminado com Susan
porque ela apenas irá parasitaroutro homem.
falamos um pouco mais então eume despedi desliguei o telefonefui ao banheiro
e mandei uma boa merda decerveja basicamente pensando,bem, continuo vivo
e tenho a capacidade de expelirsobras do meu corpo.
e poemas.e enquanto isso acontecer serei
capaz de lidar com traiçãosolidãounhas encravadasgonorreiae o boletim econômico do caderno
de finanças.com issome levanteime limpeidei a descargae então pensei:é verdade:eu sei comoamar.
ergui minhas calças e caminheipara a outra peça.
outra cama
outra camaoutra mulher
mais cortinasoutro banheirooutra cozinha
outros olhosoutro cabelooutrospés e dedos.
todos à procura.a busca eterna.
você fica na camaela se veste para o trabalho e você
se pergunta o que aconteceu àúltima
e à outra antes dela...é tudo tão confortável – esse fazer
amoresse dormir juntosa suave delicadeza...
após ela partir você se levanta eusa o banheiro dela,
é tudo tão intimidante e estranho.você retorna para a cama e dorme
mais uma hora.
quando você vai embora é comtristeza mas você a veránovamente quer funcione, quernão.
você dirige até a praia e ficasentado em seu carro. é quasemeio-dia.
– outra cama, outras orelhas,outros brincos, outras bocas,outros chinelos, outros vestidos
cores, portas, números detelefone.
você foi, certa vez, suficientementeforte para viver sozinho.
para um homem beirando ossessenta você deveria ser maissensato.
você dá a partida no carro e engataa primeira, pensando, voutelefonar para Janie logo quechegar, não a vejo desde sexta-
feira.
encurralado
não dispa o meu amor você podeencontrar um manequim; nãodispa um manequim você podeencontrar o meu amor.
ela há muito tempo me esqueceu.
ela experimenta um novo chapéue parece mais coquetedo que nunca.
ela é uma
criançae um manequim eé a morte.
não tenho como odiar isso.
ela não faz nada fora do comum.
queria apenas que ela fizesse.
esta noite
“seus poemas sobre as garotasainda estarão por aí daqui a 50anos quando as garotas játiverem ido”, meu editor metelefona.
caro editor:parece que as garotas já se foram.
entendo o que o senhor dizmas me dê uma mulher
verdadeiramente viva nestanoite
cruzando o piso em minha direçãoe o senhor pode ficar com todos os
poemasos bonsos mausou qualquer outro que eu venha a
escrever depois deste.
entendo o que o senhor diz.
O senhor entende o que eu digo?
a escapada
escapar de uma viúva negra é ummilagre tão grande quanto aprópria arte.
que rede ela pode tecer enquanto oarrasta vagarosamente em suadireção ela irá abraçá-lo
depois, quando estiver satisfeita,ela o matará
ainda no mesmo abraçoe lhe sugará todo o sangue.
escapei de minha viúva negra
porque ela possuía machosdemais em sua rede
e enquanto ela abraçava um delese depois o outro e então aindaoutro
me liberteiretorneiao lugar onde estava
anteriormente.
ela sentirá minha falta – não demeu amor
mas do gosto do meu sangue, masela é boa, ela encontrará outrosangue;
ela é tão boa que quase sinto faltade minha morte, mas não osuficiente;
escapei. eu vejo as outras teias.
a furadeira
nosso livro de casamento, diz ali.dou uma olhada.eles duraram dez anos.foram jovens uma vez.agora eu durmo na cama dela.ele telefona:“quero minha furadeira de volta.deixe-a separada.pegarei as crianças às dez.”ao chegar ele espera do lado de
fora.as crianças vão comele.ela volta para a cama e eu estico
uma perna encosto-a nela.
eu também tinha sido jovem.as relações humanas simplesmente
não são duráveis.pensei nas mulheres que passaram
por minha vida.elas parecem inexistentes.
“ele levou a furadeira?” pergunto.
“sim, levou.”
me pergunto se um dia terei que
voltar para buscar minhabermuda e meu disco com agravação da Academy of St.Martin in the Fields? suponhoque sim.
texana
ela é do Texas e pesa 47 quilose para em frente ao espelho
penteando oceanos de cabelosruivos
que descem ao longo de todas suascostas até a bunda.
o cabelo é mágico e lança faíscasquando eu me deito na cama e avejo penteá-los.
ela parece uma criatura saída deum filme mas está aqui de fato.fazemos amor pelo menos umavez por dia e ela consegue mefazer rir sempre que deseja.
as mulheres do Texas são sempre
saudáveis, e além disso elalimpa meu refrigerador, minhapia, o banheiro, e faz comida e eme serve alimentos saudáveis elava os pratos
também.
“Hank”, ela me disse, segurandouma lata de suco de uva, “este éo melhor de todos”.
dizia na lata: suco natural de uvaROSA do Texas.
ela se parece com a Katherine
Hepburn na época
do ensino médio, e vejo esses 47quilos
penteando um metrode cabelo ruivodiante do espelhoe a sinto dentro de meus pulsos e
no fundo dos meus olhos, e osdedos e as pernas e a barriga asentem, assim como aquelaoutra parte, e toda Los Angelesse desfaz e chora decontentamento, as paredes dasalcovas tremem – o oceanoinvade tudo e ela se vira e mediz, “maldito cabelo!”
e eu digo,“sim”.
a aranha
então houve um tempo emNew Orleansem que eu vivia com uma gorda,
Marie, no Bairro Francêse fiquei bastante doente.enquanto ela estava no trabalho
ajoelhei-menaquela tardena cozinha erezei. não sou umhomem religiosomas era uma tarde escura demais e
eu rezei:“caro Deus: se você me poupar,
prometo-lhe nunca mais tomar
outro trago”.fiquei ali de joelhos e foi como
estar num filme – ao terminarminha oração
as nuvens se abriram e o sol rasgouas cortinas
e deitou sobre mim.então me ergui e fui dar uma
cagada.havia uma aranha enorme no
banheiro da Marie.mas caguei do mesmo jeito.uma hora depois comecei a me
sentir muito melhor. dei umavolta pelo bairro e sorri para aspessoas.
parei na mercearia e comprei uma
dúzia de cervejas para Marie.comecei a me sentir tão bem que
uma hora depois me sentei nacozinha e abri uma das cervejas.
esvaziei-a e depois outra e entãofui lá e
matei a aranha.quando Marie voltou do trabalho eu
lhe dei um beijo daqueles,depois sentei na cozinha econversamos enquanto elapreparava o jantar.
ela me perguntou o que eu tinhafeito naquele dia e eu lhe disseque tinha matado uma aranha.ela não ficou
braba. era uma boa
pessoa.
o fim de um breve caso
tentei fazer o negócio de pé dessavez.
normalmente não costumafuncionar.
dessa vez pareciaque...
ela seguia dizendo“ó, meu Deus, você tem pernas
lindas!”
tudo estava bematé que ela tirou ospés do chão
e enroscou suas pernas em voltados meus quadris.
“ó, meu Deus, você tem pernaslindas!”
ela pesava cerca de 63quilos e ficou ali presa enquanto eu
trabalhava.
foi só quando cheguei ao clímaxque senti a dor
correr espinhaacima.
deitei-a no sofáe caminhei ao redorda sala.a dor continuava.
“olha só”, eu lhe disse, “é melhorvocê ir. tenho que revelar unsfilmes na minha câmara escura.”
ela se vestiu e se foi e eu segui até
acozinha para um copod’água. peguei um copo cheio com
a mão esquerda.a dor correu para além de minhas
orelhas edeixei cair o copoque se espatifou no chão.
entrei numa banheira cheia de águaquente e sais Epsom.
recém tinha acabado de me esticarquando o telefone tocou.
ao tentar endireitarminhas costasa dor se estendeu por pescoço e
braços.caí pesadamenteme agarrei às bordas da banheira
consegui saircom raios verdes e amarelos e
luzes vermelhaslampejando em minha cabeça.
o telefone continuava tocando.atendi.“alô?”
“EU TE AMO!”, ela disse.
“obrigado”, eu disse.
“é tudo o que você tempra me dizer?”
“sim.”
“vá à merda!” ela disse edesligou.
o amor se esgota, penseiao caminhar de volta aobanheiro, mais rápidodo que um jato de esperma.
lamentando e sequeixando
ela escreve: você vai se lamentar ese queixar em seus poemas
sobre como eu trepei com 2 carasna semana passada.
eu te conheço.ela escreve para me dizer que meu
sensor estava certo – ela recémtinha trepado com um terceirocara mas ela sabe que nãoquero saber com quem, nem porque nem como. ela encerra suacarta, “com amor”.
ratos e baratastriunfaram novamente.aí vem ele correndo com uma
lesma em sua boca, entoandovelhas canções de amor.feche as janelaslamentefeche as portasqueixe-se.
um poema quase feito
eu vejo você bebendo numa fontecom suas
minúsculas mãos azuis, não, suasmãos não são minúsculas elassão pequenas e a fonte é naFrança
de onde você me escreveu aquelaúltima carta e
eu respondi e nunca mais obtiveretorno.
você costumava escrever poemasinsanos sobre
ANJOS E DEUS, tudo em caixa alta,e você
conhecia artistas famosos e muitos
deleseram seus amantes, e eu escrevia
de volta, está tudo bem,vá em frente, entre na vida deles,
não sou ciumentoporque nós nem nos conhecemos.
estivemos perto uma [vez emNew Orleans, metade de uma
quadra, mas nunca nos[encontramos, nunca umcontato. assim você seguiu comos famosos, [escreveu
sobre os famosos, e, claro,descobriu que os famosos
estavam preocupados com a famadeles – não com a jovem e belagarota em suas camas, que lhes
dava aquilo, e [que acordava demanhã para escrever em caixaalta poemas sobre
ANJOS E DEUS. nós sabemos queDeus está morto, eles nos[disseram,
mas ao ouvi-la eu já não tinhacerteza. talvez
fosse a caixa alta. você era umadas melhores poetas e eu dissepara os editores, “publiquem-na,publiquem-na, [ela é louca masé mágica. não há mentira emseu fogo”. eu te amei
como um homem ama uma mulherque jamais tocou, [para
quem apenas
escreveu, de quem mantevealgumas fotografias. eu poderia[ter te
amado mais se eu tivesse sentadonuma pequena sala [enrolandoum cigarro e ouvindo você mijarno banheiro,
mas isso não aconteceu. suascartas ficaram mais tristes.
seus amantes te traíram. criança,escrevi de volta, todos osamantes traem. isso não ajudou.você disse
que tinha um banco em que iachorar e que ficava numa [ponte
e a ponte ficava sobre um rio evocê sentava no seu banco de
[chorartodas as noites e descia o pranto
pelos amantes quete machucaram e te esqueceram.
escrevi de volta mas não [obtivequalquer retorno. um amigo me
escreveu contando do seu[suicídio
3 ou 4 meses depois deconsumado. se eu tivesse te[conhecido
provavelmente teria sido injustocom você ou você comigo. foimesmo melhor assim.
blue cheese e chili
essas mulheres supostamentedeveriam aparecer e me ver
mas elas nuncavêm.há aquela com uma enorme cicatriz
ao longo da barriga.há a outra que escreve poemas e
liga às 3 da manhã, dizendo, “eute amo”.
há a que dança com uma jiboiae escreve a cada quatro semanas,
dizendo que virá.e a 4ª que alega dormir semprecom meu último livro debaixo dotravesseiro.
bato uma punheta no calor e escutoBrahms e como blue cheese comchili.
essas mulheres são boas de cabeçae de corpo, excelentes dentro oufora da cama, perigosas e fatais,é claro...
mas por que todas têm de viver láno norte?
sei que um dia elas irão chegar,mas duas ou três no mesmo dia,e vamos sentar e conversar eentão todas irão embora juntas.
um outro qualquer as terá e eucaminharei por aí em meu shortsurrado fumando cigarrosdemais e tentando extrair algumdrama
de nenhum progresso de fato.
problemasrelacionados à outramulher
eu tinha lançado todo meu charmesobre ela por algumas noites emum bar – não que nosso casofosse novo,
eu a amara por 16 mesesmas ela não queria ir até minha
casa “porque aquela outramulher tem andado por lá”, e eudisse, “tudo bem, tudo bem, oque vamos fazer?”
ela viera do norte e procurava porum lugar para ficar
enquanto estava hospedada comsua amiga, e foi até seu traileralugado e voltou com algunscobertores e disse, “vamos até oparque”.
eu lhe disse que ela estava loucaque os policiais iam nos pegar
mas ela respondeu “não, estáagradável e enevoado”, entãofomos para o parque
espalhamos o equipamento ecomeçamos a trabalhar e entãosurgiram luzes de faróis – umaradiopatrulha –
ela disse, “rápido, ponha suas
calças! eu já estou com asminhas!”
eu disse, “não posso. a minha estátoda enrolada.”
e eles vieram com lanternase perguntaram o que estávamos
fazendo e ela disse, “beijando!”um dos policiais me olhou edisse, “não posso culpá-lo”, edepois de alguma conversa fiadaeles nos deixaram em paz.
mas ainda assim ela não queria acama onde aquela mulher haviaestado,
então acabamos num quarto escurode motel suando e beijando etrabalhando
mas fazendo a coisa direitinho;depois, claro, de todo aquelesacrifício...
estávamos finalmente em minhacasa naquela tarde seguinte
fazendo a mesma coisa.
aqueles policiais não foram maus,apesar de tudo naquela noite noparque – e é a primeira vez queeu digo alguma coisa desse tiposobre policiais,
e,espero,que sejaa última.
M.T.[1]
ela morava em Galveston e faziaM.T.e eu fui visitá-la e fizemos amor
ininterruptamente ainda que otempo estivesse muito quente
e tomamos mescalinae uma balsa até a ilhae dirigimos 200 milhas até o
hipódromo mais próximo.nós dois ganhamos e fomos sentar
num bar de caipiras – odiado enão frequentado pelos nativos –e então fomos para um motelcaipira e voltamos um ou doisdias depois e fiquei por lá mais
uma semanapintei-lhe um par de quadros
decentes – um de um homemsendo enforcado
e outro de uma mulher sendofodida por um lobo.
acordei certa noite e ela não estavana cama e levantei e caminheiao redor perguntando, “Gloria,Gloria, onde você está?”
era um lugar enorme e eucaminhava a esmo abrindo portaatrás de porta,
então abri uma que parecia a deum closet e lá estava ela dejoelhos
cercada por fotografias de
7 ou 8 homensas cabeças raspadasem sua maioria usando óculos sem
armações.havia uma pequena vela acesae eu disse, “oh, me desculpe”.Gloria vestia um quimono com
águias em pleno voo na parte detrás.
fechei a porta e voltei para a cama.ela saiu 15 minutos depois.começamos a nos beijar,sua língua enorme deslizando para
dentro e para fora da [minhaboca.
ela era uma garota grande esaudável do Texas.
“escute, Gloria”, conseguifinalmente dizer, “preciso deuma noite de folga”.
no dia seguinte ela me levou até oaeroporto.
eu prometi escrever. Ela prometeuescrever.
nenhum de nós escreveu.
a 5ª do Bee
escutei-a pela primeira vezenquanto trepava com uma[loira que tinha a maior xoxotaem Scranton.
escutei-a novamente enquantoescrevia uma carta para minhamãe
pedindo US$ 5.000e ela me respondeu mandando 3
tampinhas de garrafa e osossinhos dos dedos indicadoresdo vovô.
a 5ª acabará com você na gramaou na pista do jóquei, a gatinhadisse, cruzando o tapete depapagaios estampados.
se a 5ª não te matar a décima irá,disse a prostituta Caliente.enquanto eles sobem a maravilhosa
bandeira vermelha cor deketchup 93 ladrões choram emmeio a poeira púrpura.
a 5ª é como uma
formiga numa mesa de café damanhã cheia de bengalas e
besourossugando osuco de laranja do amanhecer que
chega.
e eu peguei as 3 tampinhas queminha mãe
mandou eas devoreiembrulhadas em páginas darevistaCosmopolitan.
mas estou cansado da 5ªe eu disse isso a uma mulher emOhio, certa vez, eurecém havia carregado carvão por 3
lancesde escadaeu estava tonto ebêbado, e ela disse:
como você pode dizer que nãodá bola para algo muitomaior do que você jamaisserá?
e eu disse:
isso é fácil.
e ela se sentou em uma cadeiraverde e
e eu numa cadeira vermelhae depois dissonunca mais voltamos a fazeramor.
40 graus
ela cortou as unhas dos meus pésna noite passada, e pela manhãela disse, “acho que vou ficardeitada aqui pelo resto do dia”.
o que significava que ela não iriatrabalhar.
ela estava em meu apartamento –o que significava outro dia eoutra noite.
ela era uma pessoa legalmas recém havia me dito que
queria ter um filho, queria casar,e
fazia 40 graus lá fora.quando pensei em outra criança e
outro casamento comeceirealmente a passar mal.
havia me resignado a morrersozinho
em uma pequena peça...agora ela tentava remodelar meu
plano de mestre.além disso ela sempre batia a porta
do meu carro com [muita força ecomia com a cabeça pertodemais da mesa.
nesse dia havíamos ido ao correio,a uma loja de departamentos edepois a uma lancheria paraalmoçar.
já me sentia casado. na volta euquase entrei em um Cadillac.
“vamos encher a cara”, eu disse.“não, não”, ela respondeu, “é muito
cedo”.e então ela lacrou a porta do carro.continuava fazendo 40 graus.quando abri a caixa do correio
descobri que a companhia deseguros queria mais 76 pratas.
subitamente ela invadiu o quartocorrendo e gritou, “OLHA,ESTOU FICANDO VERMELHA!CHEIA DE MANCHAS! O QUEDEVO FAZER?”
“tome um banho”, eu lhe disse.fiz um interurbano para a
seguradora e exigi saber a razãodaquilo.
ela começou a gritar e a gemer láda banheira e eu não conseguiaouvir nada e disse, “um[momento, por favor!”
tapei o telefone com a mão e griteide volta para ela: “OLHA SÓ!ESTOU NUM INTERURBANO!SEGURE A [ONDA, PELO AMORDE DEUS!”
o pessoal da seguradora insistiaque eu lhes devia $76 e que meenviariam uma carta explicandopor quê.
desliguei e me estiquei na cama.eu já estava casado, me sentia
casado.ela saiu do banheiro e disse, “posso
me deitar ao seu lado?”e eu disse, “ok”em dez minutos sua cor tinha
voltado ao normal.tudo porque ela havia tomado um
comprimido de niacina[2].ela se lembrou de que isso
acontecia sempre.ficamos ali estirados suando:nervos. ninguém tem espírito
suficiente para superar os[nervos.
mas eu não podia dizer isso a ela.ela queria ter seu bebê.que caralho.
pacific telephone
vá atrás dessas piranhas, ela disse,vá atrás dessas putas, logoficará de saco cheio de mim.
não quero mais fazer esse tipo demerda, eu disse,
relaxe.
quando bebo, ela disse, sinto dorna minha bexiga, umaqueimação.
deixe a bebida comigo, eu disse.
você está só esperando o telefonetocar, ela disse,
você não para de olhar proaparelho.
se uma dessas piranhas ligar vocêsairá correndo porta afora.
não posso lhe prometer nada, eudisse.
então – simples assim – o telefonetocou.
aqui é a Madge, disse a voz. precisover você imediatamente.
oh, eu disse.
estou num aperto, ela continuou,preciso de dez pratas – rápido.
logo estarei aí, eu disse, edesliguei.
ela me olhou, era uma piranha,ela disse, o rosto todo em chamas.que diabos há com você?
escute, eu disse, tenho que ir.você fica aqui. já volto.
vou embora, ela disse. eu te amomas você é
louco, um caso perdido.
ela apanhou a bolsa e bateu aporta.
provavelmente é algum distúrbioprofundamente enraizado [nainfância que me faz assimvulnerável, pensei.
então saí de casa e fui até meufusca.
dirigi para o norte pela Western
com o rádio ligado.havia putas caminhando pra lá e
pra cádos dois lados da rua e Madge
pareciamais perdida do que qualquer uma
delas.
100 quilos
estávamos na cama eela começou a brigar:“seu filho da puta! espere um
minuto, vou acabar com a suaraça!”
comecei a rir:“qual é o problema? qual é o
problema?”
“seu filho da puta!” ela gritou.
segurei-lhe as mãos enquanto elase contorcia.
era um par de décadas mais jovemdo que eu uma maluca bem-alimentada.
ela era muito forte.
“seu filho da puta! vou acabar coma sua raça!”
ela gritou.
rolei por sobre ela com meus 100quilos e fiquei apenas ali.
“uugg, uuuu, meu Deus, isso não éjusto, uuuu, meu Deus!”
rolei para o lado e caminhei até aoutra peça e sentei no sofá.
“vou pegar você, cretino”, ela disse,
“você não perde por esperar!”
“só não o arranque com umamordida”, eu disse, “ou você[fará triste uma meia dúzia demulheres.”
ela subiu sobre a cabeceira daminha cama (que possuía umasuperfície plana emboraestreita) e ficou ali empoleiradaassistindo às notícias na tv.
a tv dava de frente para o quarto ea iluminava ali sentada sobre a
cabeceira.
“pensei que você fosse normal”, eudisse, “mas é tão louca quantoas outras todas.”
“fique quieto”, ela disse, “queroassistir ao noticiário!”
“olhe”, eu disse, “vou...”“SHHHH!”, ela disse.
e lá ficou sobre a cabeceira daminha cama assistindo
realmente às notícias. aceitei-adaquela maneira.
reviravolta
ela dirige para a vaga noestacionamento enquanto eu meescoro contra o para-choque demeu carro.
ela está bêbada e seus olhos estãomolhados de lágrimas: “seu filhoda puta, você trepou comigoquando não estava a fim. dissepra eu continuar ligando, dissepra eu me mudar pra perto dacidade, e então me disse pradeixar você em paz.”
tudo muito dramático e eugostando daquilo.
“claro, bem, o que você quer?”
“quero falar com você. quero ir prasua
casa e falar com você...”
“estou com alguém agora. ela foibuscar um sanduíche.”
“quero falar com você... demora umpouco pra superar as coisas.
preciso de mais tempo.”
“claro. espere até que ela saia. nãosomos desumanos. podemostomar um drinque juntos.”
“merda,” ela disse, “oh, merda!”
pulou dentro do carro e arrancou.
a outra apareceu: “quem eraaquela?”
“uma ex-amiga.”
agora ela se foi e estou aquisentado e bêbado e meus olhosparecem molhados de lágrimas.
está tudo muito silencioso e sintocomo se um arpão estivesseatravessado no meio das minhastripas.
caminho até o banheiro e vomito.
piedade, eu penso, será que a raçahumana não sabe nada sobrepiedade?
um poema para avelha dente-podre
conheço uma mulherque segue comprando quebra-
cabeças quebra-cabeçaschinesesblocosaramespeças que finalmente se encaixam
numa espécie de ordem.ela se dedica à questão de modo
matemáticoresolve todos os seus quebra-
cabeçasvive perto do mar
põe açúcar para as formigas lá forae acredita
definitivamentenum mundo melhor.seu cabelo é brancoraramente o penteiaseus dentes são podres e ela veste
macacões frouxos e amorfossobre um corpo que a maioriadas mulheres desejaria ter.
ao longo de muitos anos ela meirritou com o que eu consideravasuas excentricidades:
como mergulhar conchas na água(para que ao regar as plantaselas recebessem cálcio).
mas finalmente quando penso na
sua vidae a comparo a outras vidas mais
deslumbrantes, originais e belaspercebo que ela machucou menos
gente do que qualquer outrapessoa que conheço (e commachucar quero dizersimplesmente machucar).
ela enfrentou alguns momentosterríveis, momentos em quetalvez eu devesse tê-la ajudadomais
porque era a mãe da minha únicafilha
e uma vez fôramos grandesamantes, mas ela haviasuperado essas dificuldades
como eu dissedas pessoas que conheço ela foi a
que machucou menos gente,e se você olhar para isso pelo que
isso significa, bem,ela criou um mundo melhor.ela venceu.
Frances, este poema é pra você.
comunhão
cavalos correndo com ela a milhasde distância rindo com um
louco
Bach e a bomba de hidrogênio e elaa milhas de distância rindo comum
louco
o sistema bancário guinchos decarro gôndolas em Veneza e elaa milhas de distância rindo comum
louco
você nunca viu de fato uma escada
antes (cada degrau olhandoseparadamente para você) e dolado de fora o vendedor dejornais parecendo imortal
enquanto os carros passam debaixodo sol
como um inimigoe você se pergunta por que é tão
difícil enlouquecer – se é quevocê já não está louco
até agoravocê não tinha visto uma escada
que se parecesse com umaescada
uma maçaneta que se parecessecom uma maçaneta
e sons como esses sonse quando a aranha aparece e olha
pra vocêpor fimvocê já não a odeia por fimcom ela a milhas de distância rindo
com umlouco.
tentando acertar ascontas:
tínhamos fumado alguns baseadose tomado algumas cervejas e euestava estirado na cama e eladisse, “olha, eu fiz 3 abortos emsequência, não quero que vocêenfie essa coisa dentro de mim!”
o negócio começava a crescer e nósdois olhávamos para ele.
“ah, qual é”, eu disse, “minhanamorada trepou com 2 caras
diferentes esta semana e estoutentando acertar as contas.”
“não me envolva nessa sua merdadoméstica! o que quero quevocê faça agora é que TOQUEuma PUNHETA enquanto euASSISTO!
quero VER você bater até GOZAR!quero ver o SUCO jorrar!”
“ok aproxime seu rosto.”
ela o aproximou e dei uma cuspidana palma da mão e comecei atrabalhar.
ele cresceu. um pouco antes degozar eu parei, segurando-o pelabase puxando a pele,
a cabeça pulsandopúrpura e brilhante.
“oooh”, ela disse.lançou a boca sobre ele, chupou-o ese afastou.
“termine”, ela disse.“não!”
voltei a bater e então pareinovamente no último instante efiquei a balançá-lo ao redor doquarto.
ela o olhoucaiu outra vez sobre ele chupoue tirou da boca.
alternamos o processo
pra lá e pra cá
vez após vez.
finalmente eu a arranquei dacadeira
para a camarolei pra cima delameti pra dentrotrabalheitrabalheie gozei.
quando voltou dobanheiro ela disse,
“seu filho da puta, eu amo você,amo você há muito tempo.
quando eu voltar a Santa Barbaravou escrever pra você. Vivo comesse cara mas eu o
odeio, não faço a mais vaga ideiado que estou fazendo ao ladodele.”
“ok”, eu disse, “mas aproveitandoque você já está de pé, poderiame trazer um copo d’água?estou seco.”
ela seguiu até a cozinha ea ouvi reclamar quetodos os meus copos estavam
sujos.
disse a ela para usar umaxícara. ouvia água correndo epensei, mais uma fodae o jogo estará zeradoe poderei me apaixonar novamente
por minha namorada – isto ése ela não tiver se envolvido numafoda extrao que provavelmente elafez.
Chicago
“consegui,” ela disse, “apareci.”ela estava com botas novas, calças
e um suéter branco. “agora eusei o que eu quero.” ela era deChicago e havia se mudado parao distrito de Fairfax, L.A.
“você me prometeu champanhe,”ela disse.“eu estava bêbado quando liguei.
que tal uma cerveja?”“não, me passa seu baseado.”ela tragou, soltou:
“não é lá grande coisa”.e me devolveu.
“há uma diferença”, eu disse, “entrefazer a coisa e simplesmenteficar duro.”
“gosta das minhas botas?”“sim, bem legais.”“escuta, tenho que ir. posso usar o
banheiro?”“claro.”
quando ela voltou tinha a bocamuito pintada de batom. eu nãovia uma assim desde que eragaroto.
beijei-a a caminho da portasentindo o batom grudar emmeus lábios.
“tchau” ela disse.“tchau” eu disse.caminhou pela passagem até o
carro.eu fechei a porta.
ela sabia o que queria e não era
eu.conheço mais mulheres desse tipo
do que dequalquer outro.
garotas calmas elimpas em vestidos dealgodão
tudo o que eu sempre conhecisempre foram putas, [ex-prostitutas, loucas. vejo homenscom mulheres calmas e gentis –vejo-os nos supermercados,
caminhando juntos na rua,eu os vejo em seus apartamentos:
pessoas em paz, vivendo juntas.sei que essa paz é apenasparcial, mas
existe paz, muitas horas e dias de
paz.
tudo o que eu sempre conheciforam boleteiras, alcoólatras,putas, ex-prostitutas, loucas.
quando uma vaioutra vempior do que sua antecessora.
vejo tantos homens com garotas
calmas e limpas em vestidos dealgodão
garotas com rostos que não são depredadoras ou de feras.
“nunca traga uma puta junto comvocê,” eu digo para [meuspoucos amigos, “eu meapaixonarei por ela.”
“você não consegue suportar umaboa mulher, Bukowski.”
preciso de uma boa mulher. precisode uma boa mulher mais do queda máquina de escrever, maisdo que do meu automóvel, maisdo que de
Mozart; preciso tanto de uma boa
mulher que posso senti-la no ar,posso senti-la
na ponta dos dedos, posso vercalçadas construídas para seuspés caminharem,
posso ver travesseiros para suacabeça, posso sentir aexpectativa da minha risada,posso vê-la acariciar um gato,
posso vê-la dormir,posso ver seus chinelos no chão.
eu sei que ela existemas em que parte deste planeta
ela está enquanto as putascontinuam me encontrando?
provaremos as ilhas e o mar
sei que em alguma noiteem algum quartologomeus dedos abrirãocaminhoatravésde cabelos limpos emacios
canções como as que nenhumarádio
toca
toda a tristeza, escarnecendo
em correnteza.
2eu, e aquela velha: aflição
este poeta
estepoetaandoubebendodurante2ou3diaseeleentrounopalcoe
olhouparaaplateiaeimediatamentesoubequeiriafazeraquilo.haviaumpianodecauda
nopalcoeelefoiatélá,abriuatampaevomitoudentro.entãofechoua
tampaefezsualeitura.
elestiveramqueremoverascordasdopianoelimparo
interiorparaentãorecolocá-las.
possoentenderporquenuncavoltaramaconvidá-lo.mas
espalharparaoutrasuniversidadesqueeleeraumpoetaquegostavadevomitarempianosdecauda
nãofoijusto.
elesjamaisconsideraramaqualidadedesualeitura.conheçoessepoeta:ele
écomotodosnós:vomitaráemqualquerlugarpordinheiro.
inverno
um cachorro grande, sujo e feridoatingido por um carro ecaminhando em direção aomeio-fio emitindo enormes
sonsseu corpo curvadovermelho explodindo pelo cu e pela
boca.
olho para ele esigo em frentepois como seriapara mim segurarum cão moribundo junto a um
meio-fio em Arcadia, o sangueescorrendo por minha camisa ecalças e
cueca e meias e meussapatos? pareceria apenas uma
tolice.além disso, pus o olho no cavalo
número 2 no primeiro páreo equeria fazer uma dobradinhacom o número 9
no segundo. estudei o jornal parapagar algo em torno de $ 140
assim eu tinha que deixar aquelecachorro morrer ali sozinho bemdefronte ao
shopping center com as senhoras àprocura de pechinchas enquanto o
primeiro floco de neve caíasobre a
Sierra Madre.
o que eles querem
Vallejo escrevendo sobre solidãoenquanto morria de fome;
a orelha de Van Gogh rejeitada poruma puta;
Rimbaud correndo para a África embusca de ouro e encontrando umcaso incurável de sífilis;Beethoven ficou surdo; Pound foiarrastado pelas ruas numagaiola;
Chatterton tomou veneno pararato; o cérebro de Hemingwaypingando dentro do suco delaranja;
Pascal cortando os pulsos na
banheira; Artaud trancado comos loucos; Dostoiévski de pécontra um muro; Crane pulandona hélice de um barco; Lorcabaleado na estrada pelo exércitoespanhol;
Berryman pulando de uma ponte;Burroughs atirando na mulher;Mailer esfaqueando a sua; – éisso o que eles querem: odanado dum show uma placaluminosa
no meio do inferno.é isso o que eles querem, aquele
bando deestúpidosinarticulados
tranquilossegurosadmiradores decarnavais.
Iron Mike
falamos sobre este filme:Cagney servia uvasa uma mulhermais rápido do que ela conseguiacomer eentão ela seapaixonava por ele.
“isso nem semprefunciona”, digo a IronMike.
ele dá uma risadinha e diz,
“claro”.
então ele desceu a mãoe tocou seu cinto.32 escalpos de mulherestavam pendurados ali.
“eu e meu enorme cacetejudeu”, ele disse.
então ergue as mãospara indicar otamanho.
“opa, sim, muito bem”,
eu disse.
“elas aparecem”, eledisse, “eu as traço, elascomeçam a ficar, eu lhes digo,‘é hora de ir’.”
“você é corajoso, Mike.”
“essa aí não ia se mandar então eutive que me levantar eesbofeteá-la... ela foi embora.”
“eu não tenho sua fibra, Mike. elasficam, lavam os pratos,esfregam as manchas de merdano vaso, jogam fora os velhosprospectos do Jockey Club...”
“elas jamais vão me pegar”, eledisse.
“sou invencível.”
olhe, Mike, nenhum homem éinvencível.
algum diavão considerá-lo louco pelo olhar
como num desenho a lápis feitopor uma criança. você nãoconseguirá beber um copo
d’água ou cruzar um quarto. haveráas paredes e o som das ruas láfora, e você ouvirámetralhadoras e tiros demorteiro. isso se dará quandovocê quiser, mas não puder ter.
os dentesnunca são por fim os dentes do
amor.
guru
grande barba negra me diz que eunão sinto terror
olho pra ele minhas tripaschacoalham cascalho
vejo seus olhos voltados pra cimaele é fortetem unhas sujase penduradas nas paredes: armas
embainhadas.
ele sabe das coisas:livros as vantagens o melhor
caminho para casa
gosto dele mas creio que ele mente(não tenho certeza de que ele
mente)sua esposa se senta num canto
escuroquando a conheciera a mulhermaislindaque eu já tinhavisto
agora ela setornarasua gêmea
talvez não por culpa
dele:
talvez a coisanos faça a todosassim
no entanto, logo que deixei a casa
delessenti terror
a lua pareciadoente
minhas mãos escorregavam novolante
manobro meucarroe desço aladeira
quase batonumcarro azul-esverdeadoestacionado
enterre-me para sempre, Beatriz
poeta hesitante, hahaha
cão enjeitado do
terror.
os professores
sentado com os professoresfalamos sobre Allen Tate e JohnCrow Ransom os tapetes estãolimpos e as mesas da cafeteriabrilham e então circulamconversas sobre verbas etrabalhos em progresso
e há até umalareira.o piso da cozinha está bem
enceradoe eu recém havia jantadodepois de ter bebido até as 3 da
manhãapós a leitura
da noite passadaagora lá vou eu outra vez numa
faculdade próxima.estou em pleno Arkansas em
janeiroalguém chega a mencionar Faulknervou ao banheiro e vomito ojantarao sairlá estão eles em seus casacos e
sobretudos esperando nacozinha.
devo entrar em15 minutos.haverá um bom público eles me
dizem.
para Al…
não se preocupe com rejeições,parceiro, eu já fui rejeitadoantes.
algumas vezes você comete um
erro, pegando o poema erradoo mais comum para mim é cometer
o erro de escrevê-lo.
mas eu gosto de uma montaria emcada corrida mesmo que ohomem
que organiza a largada da manhãa coloque pagando 30 por um.
tenho que pensar na morte mais e
maissenilidade
muletas
poltronas
escrevendo poesia púrpura com a
caneta pingando
quando mocinhas com bocas depiranha
corpos como limoeiros corpos comonuvens corpos como flashes de
luz pararem de bater à minhaporta.
não se preocupe com rejeições,parceiro.
fumei 25 cigarros esta noite e vocêsabe sobre a cerveja.
o telefone tocou apenas uma vez:era engano.
como ser um grandeescritor
você tem que trepar com umgrande número de mulheresbelas mulheres
e escrever uns poucos e decentespoemas de amor.
e não se preocupe com a idadee/ou com os talentos frescos e
recém-chegados.
apenas beba mais cervejamais e mais cerveja
e vá às corridas pelo menos uma
vez por semana
e vençase possível.
aprender a vencer é difícil –qualquer frouxo pode ser um bom
perdedor.
e não se esqueça do Brahmse do Bach e também da suacerveja.
não exagere no exercício.
durma até o meio-dia.
evite cartões de créditoou pagar qualquer contano prazo.
lembre-se que nenhum rabo no
mundovale mais do que 50 pratas.(em 1977).
e se você tem a capacidade deamar ame primeiro a si mesmomas esteja sempre alerta para apossibilidade de uma derrotatotal mesmo que a razão paraessa derrota pareça certa ouerrada –
um gosto precoce da morte não énecessariamente uma coisa má.
fique longe de igrejas e bares emuseus, e como a aranha sejapaciente – o tempo é a cruz de
todos, mais o exílio a derrota atraição
todo este esgoto.
fique com a cerveja.
a cerveja é o sangue contínuo.
uma amante contínua.
arranje uma grande máquina deescrever e assim como os passosque sobem e descem do lado defora de sua janela
bata na máquina bata fortefaça disso um combate de pesos
pesadosfaça como o touro no momento do
primeiro ataque e lembre dosvelhos cães
que brigavam tão bem:Hemingway, Céline, Dostoiévski,
Hamsun.
se você pensa que eles não ficaramloucos em quartos apertados
assim como este em que agora
você estásem mulheressem comidasem esperança
então você não está pronto.
beba mais cerveja.há tempo.e se não háestá tudo certotambém.
o preço
bebendo um champanhe de 15dólares – Cordon Rouge – nacompanhia de putas.
uma se chama Georgia e não échegada em meia-calça: estousempre tendo que ajudá-la comsuas longas meias negras.
a outra é Pam – mais bonita porémmeio desalmada, e fumamos e
conversamos e brinco com suaspernas e enfio meu pé descalçona bolsa aberta de Georgia.
está cheia defrascos com pílulas.tomo algumas delas.
“escutem”, eu digo, “uma de vocêstem alma, a outra aparência.posso combinar vocês duas?pegar a alma e enfiar naaparência?”
“se você me quer”, diz Pam, “vai
lhe custar cem pratas.”
bebemos um pouco mais e Georgiadespenca no chão e nãoconsegue se levantar.
digo a Pam que gosto muito desuas orelhas. seu cabelo é longoe natural e ruivo.
“estava de brincadeira quando faleiem
cem”, ela diz.
“oh”, eu digo, “quanto vai mecustar?”
ela acende um cigarro commeu isqueiro e me olhaatravés da chama:
seus olhos me dizem.
“olhe”, eu digo, “acho que nãopoderei pagar aquele preço
novamente.”
ela cruza as pernasdá uma tragada em seu cigarro
sorri enquanto expele a fumaçae diz, “claro que pode”.
sozinho com todomundo
a carne cobre os ossose colocam uma menteali dentro ealgumas vezes uma alma,e as mulheres quebramvasos contra as paredese os homens bebemdemaise ninguém encontra opar idealmas seguem naprocurarastejando para dentro e para fora
dos leitos.a carne cobreos ossos e acarne buscamuito mais do que meracarne.
de fato, não há qualquerchance:estamos todos presosa um destinosingular.
ninguém nunca encontrao par ideal.
as lixeiras da cidade se completamos ferros-velhos se completamos hospícios se completam assepulturas se completam
nada maisse completa.
o segundo romance
eles apareciam eperguntavam“já terminou seusegundo romance?”
“não.”
“o que tá pegando? o que tápegando que você não
termina?”
“hemorróidas e
insônia.”
“será que você nãoperdeu?”
“perdi o quê?”
“você sabe.”
agora quando eles aparecem eulhes digo,
“sim. já terminei.
sairá em setembro.”
“você terminou o livro?”
“sim.”
“bem, escute. tenho que ir.”
nem mesmo o gatoaqui da vizinhançabate mais à minhaporta.
que beleza.
Chopin Bukowski
este é meu piano.
o telefone toca e as pessoasperguntam, o que você estáfazendo? que tal encher a caracom a gente?
e eu digo,estou ao piano.
o quê?
desligo.
as pessoas precisam de mim. eu ascompleto. se não podem me verpor um tempo ficamdesesperadas, ficam doentes.
mas se as vejo muito seguido eufico doente. é difícil alimentarsem ser alimentado.
meu piano me diz coisas em troca.
às vezes as coisas estão confusas enada boas.
outras vezesconsigo ser tão bom e sortudo
como Chopin.
às vezes me sinto enferrujadodesafinado. isso
faz parte.
posso me sentar e vomitar sobre as
teclasmas é meuvômito.
é melhor do que sentar em umasala com 3 ou 4 pessoas e seuspianos.
este é meu pianoe é melhor que os deles.
e eles gostam e desgostam dele.
dama melancólica
ela fica ali sentada bebendo vinhoenquanto seu marido está no
trabalho.ela considerade suma importância que seus
poemas sejam publicadosnas pequenasrevistas.possui doisou três de pequenos volumes de
sua poesia mimeografados.tem dois outrês filhoscom idades que vão de 6 a 15.já não é mais
a linda mulher que costumava ser.manda fotos em que aparecesentada sobre uma pedra juntoao oceano sozinha e condenada.
podia ter estado com ela uma vez.me pergunto se ela acha que eupoderia
salvá-la?
em todos os seus poemas seumarido jamais é mencionado.
mas costumafalar sobre seu jardimassim sabemos que está lá, de
alguma maneira, e que talvezela trepe com os botões de rosa
e os tentilhões antes de escreverseus poemas.
barata
a barata rastejousobre os ladrilhosenquanto eu estava mijando e ao
virar minha cabeça ela enfiou otraseiro numa fenda.
peguei o inseticida e disparei oaerossol e disparei e disparei efinalmente a barata saiu e melançou um olhar muito nojento.
então desabou dentro da banheirae fiquei assistindo à sua morte
com um prazer sutil pois eu pagavao aluguel e ela não.
recolhi-a comum tipo de papel higiênico azul-
esverdeado e joguei-a nadescarga. era tudo o que setinha a fazer, exceto que nasredondezas de Hollywood eWestern temos que seguirfazendo isso.
dizem que algum dia essa triboherdará
a terramas faremos com que esperem
maisalguns meses.
quem, diabos, é TomJones?
por duas semanasestive dormindo com uma garota de
24 anos deNova York – na épocaem que ocorria a greve dos lixeiros,
e certa noite minha antigamulher de 34 anos chegou edisse, “quero ver minha rival”.foi o que ela fez e então disse,“ó, você é a coisinha maisquerida!”
depois disso reparei que houve umagritaria de gatas selvagens –
urros e unhadas,lamentos de animal ferido, sangue
e mijo...
eu estava bêbado e só de calção.tentei
separar as duas e caí, torcendo ojoelho. então atravessaram aporta e avançaram rua
afora.
chegaram viaturas cheias depoliciais. um helicóptero dapolícia sobrevoou o local.
fiquei no banheiroe sorri para o espelho.não é comum que coisas tão
esplêndidas assimaconteçam aos 55 anos.
muito melhor do que os distúrbios
emWatts[3].
a de 34 retornoupara dentro. estava todamijada e sua roupatransformada em farrapos e eraseguida por dois policiais quequeriam saber a razão daquilo tudo.
erguendo meus calçõeseu tentava explicar.
derrota
ouvindo Bruckner no rádio meperguntando por que não estavameio louco depois do últimorompimento com minha últimanamorada.
me perguntando por que não estou
guiando pelas ruas bêbadopor que não estou no banheiro na
escuridãona escuridão atrozponderandolacerado por pensamentos
incompletos.
suponhopor fim istocomo um homem comum:conheci muitas mulherese em vez de pensarquem está trepando com ela agora?eu pensonesse instante ela está aborrecendo
terrivelmente outro desgraçado.
ouvir Bruckner no rádioparece algo tão pacífico.
muitas mulheres já passaram por
aqui.estou sozinho afinalsem estar sozinho.
pego um pincel Grumbacher e limpominhas unhas com a pontaafiada.
percebo uma tomada na parede.
veja, eu venci.
sinais de trânsito
os velhos camaradas jogam noparque olhando o mar ao longepondo marcadores ao longo dapista com gravetos de madeira.
quatro jogam, dois para cada lado e18 ou 20 se sentam ao sol eassistem
percebo isso enquanto sigo emdireção ao banheiro públicoenquanto meu carro está noconserto.
o parque abriga um velho canhão
enferrujado e inútil.seis ou sete veleiros cortam o mar
lá embaixo.
termino a tarefa saioe eles continuam jogando.
uma das mulheres usa umamaquiagem carregada brincosfalsos e fuma um cigarro.
os homens são muito magros muitopálidos
usam relógios de pulso que lhesmachucam os pulsos.
a outra mulher é muito gorda e dáuns risinhos a cada vez que umponto é marcado
alguns deles têm a minha idade.
eles me enojam
o modo como esperam pela mortecom tanta paixão
quanto um sinal de trânsito.
essas são as pessoas que acreditamem comerciais
essas são as pessoas que compramdentaduras a prazo essas são aspessoas que comemoramferiados
essas são as pessoas que têmnetos
essas são as pessoas que votamessas são as pessoas que têm
funerais
esses são os mortosneblina e fumaçao fedor no aros leprosos.
esses são afinal quase todosque existem.
gaivotas são melhoresalgas marinhas são melhoresareia suja é melhor
se pudesse posicionar aquele velho
canhãocontra elese fazê-lo funcionareu o faria.
eles me enojam.
462-0614
agora recebo muitas chamadas detelefone.
todas iguais.“é Charles Bukowski,o escritor?”“sim,” eu lhes respondo.e eles dizem que entendem minha
escrita,alguns deles são escritores ou
querem ser escritores e estãoem empregos estúpidos ehorríveis
e não conseguem nem encarar asala o apartamento
as paredes
essa noite...querem alguém com quem possam
conversar,não podem acreditarque não posso ajudá-los que não
conheço as palavras.não podem acreditarque agora mesmome dobro em meu quarto
segurando minhas entranhas edizendo
“Jesus Jesus Jesus,de novo não!”eles não podem acreditar que as
pessoas mal-amadas as ruasa solidãoas paredes
também são minhas.e quando desligo o telefone eles
acham que escondi ojogo.
não escrevo a partir da sabedoria.quando o telefone tocaeu também gostaria de ouvir
palavrasque pudessem aliviar um pouco
algumadessas coisas.
é por isso que meu nome está nalista.
fotografias
elas o fotografam em sua varanda eno seu sofá
e você de pé no quintal ouencostado em seu carro
essas fotógrafasmulheres com rabos enormes que
lhe parecem melhores que seusolhos ou suas almas
– este jogo com o autor na verdadenão passa de um número baratoà Hemingway e James Joyce
mas veja –lá estão os livros
você os escreveununca esteve em Parismas escreveu todos aqueles livros
atrás de você(e outros que não estão ali,
perdidos ou roubados)
tudo o que você tem que fazer é separecer com o Bukowski para ascâmeras
mas
você segue de olhonaquelesrabos enormes e magníficos e
pensando – outra pessoa os estáfaturando
“olhe aqui nos meus olhos”elas dizem e disparam suas
câmeras acionam o flash de suascâmeras e acariciam suascâmeras
Hemingway costumava boxear oupescar ou ir às touradas masdepois que elas se vão vocêbate uma debaixo dos lençóis etoma um banho quente
elas nunca mandam as fotos comoprometem
e seus rabos magníficos se vão parasempre
e você se comportou como umótimo literato – ainda vivo
logo em breve morto
olhando fundo para seus olhos ealmas e tudo mais.
social
o traçado azul da onda rasgos deestrada amarela
um volante uma mulher insanasentada ao seu lado
reclamando enquanto o oceano fazespuma
e pessoas em motor homesamarelas e brancas
impedem sua passagem por umtempo frenético
enquanto você escuta culpado dissoe culpado daquilo
você admite isso e aquilo masnunca é o suficiente
ela quer conquistas esplêndidas e
você está escaldado por essasconquistas esplêndidas
chegando lá ela descecaminha em direção à casa
você mija junto aopara-lamas do seu carrobêbado de cerveja
pequenas gotas de vocêpingando napoeirana poeiraseca
depois de fechar o zíper vocêse põe em marcha
para encontrar os amigosdela.
um poema para aarmadura peitoral
tenho um ditado, “os duros sempreretornam”.
mas Vera era mais doce do que a
maioria, e assim fiquei surpresoquando ela chegou naquelanoite
dizendo, “me deixe entrar”.
“não, não, estou trabalhando numsoneto.”
“ficarei só um minuto, depois mevou.”
“Vera, se eu deixar você entrar seique só sairá daqui em 3 ou 4dias.”
era noite e eu não acendera a luz
da varanda e assim não pudevê-la se aproximar
masela lançou uma direita que explodiu
bem no centro do meu peito.
“baby, esse foi um soco lindo.agora caia fora.”
então fechei a porta.
ela voltou 5 minutos depois: “Hank,não consigo achar meu carro, eujuro que não consigo achar. meajude a encontrá-lo!”
vi meu amigo Bobby-the-Riffcaminhando. “ei, Bobby ajudeessa aí a achar o carro. nosfalamos depois.”
foram juntos.
mais tarde Bobby disse queencontraram o carro na frentedo pátio de alguém, motor eluzes
ligados.
não ouvi mais falar de Vera desdeentão
a não ser que seja elaquem me ligaàs 2 e 3 e 4 da manhãe não responde quando eudigo “alô”.
mas Bobby diz quepode cuidar delaentão decidi deixá-lapara Bobby.
ela mora numa rua lateral em
algum lugar de Glendalee eu o ajudo a abrir omapa rodoviário enquanto bebemos
nossas Schlitz dietéticas.
o pior e o melhor
nos hospitais e nas cadeias está opior
nos hospíciosestá o piornas coberturasestá o piornos albergues vagabundos está o
piornas leituras de poesia nos concertos
de rock nos shows beneficentespara os inválidos está o pior
nos funeraisnos casamentosestá o piornas paradas
nos rinques de patinação nas orgiassexuais
está o piorà meia-noiteàs 3 da manhãàs 5h45 da tardeestá o pior
pelotões de fuzilamento rasgando o
céuisto é o melhor
pensar na Índiaolhando para as carrocinhas de
pipoca assistindo ao touro pegaro matador isto é o melhor
lâmpadas encaixotadas um velhocão se coçando amendoins emum saquinho isto é o melhor
jogar inseticida nas baratas um par
de meias limpas coragemnatural vencendo o talentonatural isto é o melhor
de frente para pelotões de
fuzilamento lançar pedaços depão às gaivotas fatiar tomates
isto é o melhortapetes com marcas de cigarro
fendas nas calçadasgarçonetes que mantêm a sanidade
isto é o melhor
minhas mãos mortasmeu coração mortosilêncioadágio de pedraso mundo em chamasisto é o melhorpara mim.
cupons
cigarros umedecidos por cerveja danoite passada você acende um
se engasgaabre a porta em busca de ar e junto
à entrada está um pardal mortosua cabeça e seu peitoarrancados.
pendurado à maçaneta há um
anúncio da All American Burgerque consiste de alguns cupons quedizemque na comprade um hambúrguer de 12 de fev. a
15 de fev.você ganha de graça um pacote de
batatas fritas médio e um copopequeno de coca-cola.
pego o anúncioembrulho o pardal com ele levo até
a lata de lixo e despejo ládentro.
veja:renunciando a batatas fritas e coca
para ajudar a manter minhacidade
limpa.
sorte
o que está mal a respeito dissotudo
é ver as pessoas bebendo café eesperando. gostaria de embebê-los
todos na sorte. eles precisamdisso. precisam bem mais doque eu.
sento nos cafés e os vejo aesperar. não creio que haja muito
mais a fazer. as moscas vão pralá e pra cá nos vidros dasjanelas e bebemos nosso café efingimos não olhar uns
para os outros.espero junto com eles.entre o movimento das moscasas pessoas vagueiam.
cão
um cão apenascaminhando sozinho numa calçada
quente em plenoverãoparece ter mais poderdo que dez mil deuses.
por que isso?
guerra de trincheira
abatido pela gripe bebendo cervejao rádio num volumesuficientemente alto parasuperar os sons produzidos peloestéreo das pessoas que recémse mudaram para a casa
ao lado.dormindo ou acordados eles
ajustam seu aparelho no volumemáximo deixando suas
portas e janelas abertas.
cada um deles tem 18, casados,
vestem sapatos vermelhos, sãoloiros,
magros.tocam detudo: jazz, música clássica, rock,
country, moderna contanto queesteja alta.
este é o problema de ser pobre:temos que conviver com o som dos
outros.semana passada foi minha vez:havia duas mulheres aquibrigando entre si e elascorreram pela calçada gritando.a polícia veio.
agora é a vezdeles.agora caminhopra lá e pra cá em meus calções
sujos, dois tampões de borrachaenfiados bem fundo em meusouvidos.
chego a pensar em assassinato.esses coelhospequenos e rudes!pedacinhos ambulantes de ranho!
mas na nossa terra e do nosso jeito
nunca terá havido uma chance;somente quando as coisas não
estão indo tão malpor um instante que esquecemos.
algum dia cada um deles estará
morto algum dia cada um delesterá um
caixão separado e então haverásilêncio.
mas por oraé Bob DylanBob Dylan BobDylan por aíafora.
a noite em que trepeicom meu despertador
certa vezpassando fome na Filadélfia eu
ocupava um quartinhocaía a tarde e a noite chegava e me
postei junto à janela no 3° andarno escuro e olhei para umacozinha que ficava no outro ladodo 2° andar e avistei uma belagarota loira abraçar um jovem eali beijá-lo com o que pareciaser fome e fiquei parado a olhá-los até que se separassem.
então dei meia-volta e acendi a luz
do quarto.vi minha cômoda e suas gavetas e
meu despertador sobre ela.peguei o relógioe o levei pra cama comigotrepei com ele até que os ponteiros
caíssem fora.depois saí e vaguei pelas ruas até
sentir meus pés se encherem debolhas.
quando voltei fui até a janela eolhei pra baixo e lá pro outrolado e a luz na cozinha delesestava apagada.
quando me pensomorto
penso em automóveis estacionadosnas vagas
quando me penso mortopenso em panelas de frituraquando me penso mortopenso em alguém fazendo amor
com você quando não estou porperto
quando me penso mortorespiro com dificuldade
quando me penso mortopenso em todas as pessoas que
esperam pela mortequando me penso mortopenso que nunca mais poderei
beber águaquando me penso mortoo ar fica completamente puroas baratas na minha cozinha
tremem
e alguém terá que jogarfora minhas cuecas limpas e sujas
noite de Natal, sozinho
noite de Natal, sozinho, num quartode motel
junto à costaperto do Pacífico –ouviu?
eles tentaram fazer desse lugaralgo espanhol, há
tapeçarias e lâmpadas, e obanheiro é limpo, há minibarrasde sabonete rosa.
não nos encontrarão por aqui:as piranhas ou as damas ou os
adoradoresde ídolos.
lá na cidadeeles estão bêbados e em pânico
furando sinais vermelhosarrebentando suas cabeças emhomenagem ao aniversário deCristo. isso é uma beleza.
em breve terei terminado estagarrafa de rum porto-riquenho.
pela manhã vomitarei e tomarei
banho, voltarei paracasa, comerei um sanduíche à uma
da tarde, estarei no meu quartopor volta das duas,
estirado na cama,esperando o telefone tocar, sem
responder,meu feriado é umaevasão, minha razãonão é.
certa vez houve umamulher que enfiou acabeça dentro doforno
o terror se torna por fim quasesuportável
mas nunca completamenteo terror se arrasta como um gato
rasteja como um gato por minhamente
posso ouvir a risada das massaselas são forteselas sobreviverão
como a barata
nunca tire seus olhos da baratavocê não voltará a vê-la outra vez.
as massas estão em todo lugarsabem como fazer as coisas:elas têm raivas sadias e mortaispor coisas sadias e mortais.
gostaria de estar dirigindo um Buick1952 azul ou um Buick 1942
azul-marinho ou um Buick 1932azul sobre um desfiladeiro doinferno e em direção ao mar.
camas, banheiros, vocêe eu...
pensando nas camas usadas ereutilizadas para trepar
para morrer.
nesta terraalguns de nós trepam mais do que
nós morremosmas a maioria de nós morre melhor
do quetrepamos,e morremosbocado a bocado também – em
parques
tomando sorvete, ou nos iglusda demência,ou em esteiras de palha ou sobre
amores desembarcadosouou.
:camas, camas, camas :banheiros,banheiros, banheiros
o sistema de esgoto humano é amaior invenção do mundo.
e você me inventou e eu inventei
você e é por isso que nós nãodamos
mais certonesta cama.você era a maior invenção do
mundoaté que resolveu me mandar
descarga abaixo.
agora é a sua vez de esperar quealguém aperte o botão.
alguém fará isso com você,puta,e se eles não fizerem você fará –
misturada ao seu próprio adeusverde ou amarelo ou branco ou azulou lavanda.
isso então...
é o mesmo que antes ou que daoutra vez ou da vez anterior aessa.
eis um paue eis uma bocetae eis um problema.
a cada vezvocê pensabem eu aprendi desta vez: vou
dizer a ela que faça isso e eufarei isto,
já não quero a coisa toda, só umpouco de conforto e um pouco
de sexo e apenas um mínimo deamor.
agora novamente espero e os anosvão escasseando.
tenho meu rádioe as paredes da cozinha são
amarelas.sigo esvaziando as garrafas à
esperados passos.
espero que a morte reserve menosdo que isto.
imaginação e realidade
há muitas mulheres solteiras nomundo com um ou dois ou trêsfilhos e alguém se perguntaaonde foram os maridos ouaonde foram
os amantesdeixando para trástodas essas mãos e esses olhos e
esses pés e essas vozes.ao passar por suas casasgosto de abrir armários eolhar o que há dentroou então debaixo da piaou no guarda-roupa –espero encontrar o marido
ou o amante e ele me dirá:“ei, parceiro, você não percebeu as
estrias, ela tem estriase peitos caídos e comecebolas o tempo todo e peida...
mas sou um cara habilidoso.posso consertar coisas, sei comousar um torno mecânico e trocosozinho o óleo do carro. seijogar sinuca, boliche, possochegar em 5º ou 6º em qualquermaratona por
aí. tenho um jogo de tacos de golfe,lanço a bola a longas distâncias.sei onde fica o clitóris e o quefazer com ele. tenho um chapéude caubói com as abas dobradas
para cima.sou bom com o laço e com os
punhos conheço os últimospassos de dança.”
e eu direi, “veja só, estou desaída”.
e sumirei antes que ele acabe medesafiando para uma queda debraços
ou me conte uma piada bagaceiraou me mostre a tatuagem noseu bíceps direito emmovimento.
mas de fatotudo o que encontro no armário são
xícaras de café e pratosmarrons, grandes e rachados edebaixo da pia uma pilha detrapos endurecidos, e no guarda-roupa – mais cabides do queroupas, e é só quando ela memostra o álbum e as fotos dele –tão bom quanto uma calçadeira,ou um carrinho de supermercadocujas rodas não estãoemperradas – que a dúvidaíntima se desfaz, e as páginasavançam e ali está uma criançacom um traje de banhovermelho e lá está a outra
perseguindo uma gaivota em SantaMônica.
e a vida se torna triste e nadaperigosa e, dessa maneira, boao suficiente: tê-la para lhe trazeruma xícara de café em umadaquelas xícaras sem que eleapareça.
roubada
sigo pensando que ela estará láfora agora
esperando por mimazulo para-choque frontal amassado a
cruz de Malta pendurada noretrovisor.
o tapete de borracha emboladodebaixo dos pedais.
8 km/lo bom e velho TRV 491a fiel amante de um homem, o
modo como eu lhe engatava asegunda ao dobrar uma esquinao modo como ela podia furar um
sinal quando ninguém estavapor perto.
o modo como conquistávamosenormes e pequenos espaços
chuvasolneblinahostilidadeo impacto das coisas.
saí das lutas no Olympic na última
terça-feira à noite e minhacaranga tinha sumido com outroamante
para outro lugar.
as lutas tinham sido boas.chamei um táxi numa estação e me
sentei numa cafeteria paracomer uma rosquinha comgeleia acompanhada de café eesperei,
e eu sabia que se encontrasse ohomem que a havia roubado euo mataria.
o táxi chegou. acenei para omotorista, paguei pela rosquinhae pelo café, saí noite afora,entrei no carro, e lhe disse,“Hollywood com a Western”, enaquela noite em específico
aquilo foi tudo.
o humilde herdou
se eu sofro assim diante dessamáquina de escrever pense emcomo eu me sentiria entre oscolhedores de alface em Salinas?
penso nos homens que conheci nas
fábricassem qualquer chance de escapar –
sufocados enquanto vivemsufocados enquanto riem de BobHope ou Lucille Ball enquanto
2 ou 3 crianças jogam bolas detênis contra as paredes.
alguns suicídios jamais sãoregistrados.
os insanos sempre meamaram
e os subnormais.ao longo de todo o ensino
fundamentalensino médiofaculdadeos rejeitados seuniam amim.caras com um só braço caras com
tiquescaras com problemas de fala caras
com uma película branca sobreum dos olhos, covardes
misantroposassassinostaradose ladrões.e em todasas fábricas e navagabundagemsempre atraíos rejeitados. eles me encontravam
logo de cara e se grudavam emmim. continuam
fazendo isso.aqui na vizinhança há agora um que
meencontrou.ele anda por aí empurrando um
carrinho de supermercado cheio
de lixo:bengalas partidas, cadarços sacos
vazios de batata frita, caixas deleite, jornais, canetas...
“ei, parceiro, o que tá fazendo?”eu paro e conversamos um pouco.então eu digo adeus mas ele
continua me seguindopara além dosputeiros e dosprostíbulos...“me mantenha informado, parceiro,
me mantenha informado, querosaber o que está acontecendo.”
esse é o meu insano do momento.nunca o vi falarcom mais
ninguém.o carrinho chacoalha um pouco
atrásde mimentão alguma coisa cai.ele se detém parajuntá-la.enquanto ele se ocupa disso eu
entro pela porta de um hotelverde que fica na esquina
cruzoo saguãosaio pela portados fundos eali há um gatocagandoabsolutamente deliciado, que me
arreganha os dentes.
Big Max
durante o ensino médioBig Max era um problema.ficávamos sentados na hora do
recreio comendo nossossanduíches com manteiga deamendoim e batatas fritas.
ele tinha pelos no narize sobrancelhas cerradas, seus
lábios brilhavam com saliva.já usava tênis número43. suas camisas ficavam
esturricadas em seu peitoenorme. seus pulsos pareciamduas toras. e ele cruzava assombras atrás do ginásio onde
sentávamos, meu amigo Eli eeu.
“caras”, ele ficava ali parado,“caras, vocês sentam com seusombros caídos!
vocês caminham com os ombroscaídos! como é que vão conseguir
alguma coisa?”
não respondíamos.
então Max olhava pra mim.“fique de pé!”
eu me levantava e ele ficavacaminhando às minhas costas edizia, “erga seus ombros assim!”
e ele puxava meus ombros paratrás.
“veja! não faz você se sentirmelhor?”
“claro, Max.”
logo ele se afastava e eu voltava àminha postura normal.
Big Max estava pronto para
enfrentar omundo. olhar para ele nos deixavaenojados.
aprisionado
no inverno caminhando em meuteto meus olhos do tamanho de
luzes de poste. tenho quatropatas como um rato mas lavominhas roupas íntimas –barbeado e de ressaca e de pauduro e sem advogado.
tenho cara de esfregão. cantocanções de amor e carrego aço.
preferiria morrer a chorar. nãosuporto a matilha não possoviver sem ela.
inclino minha cabeça contra orefrigerador branco e querogritar como
o último lamento de vida para todosempre mas sou maior do queas montanhas.
é o modo como vocêjoga o jogo
chame-a de amorcoloque-a de pé sob a luz
imperfeitaponha-lhe um vestido reze cante
implore chore ria apague asluzes
ligue o rádioacrescente-lhe enfeites: manteiga,
ovos crus, jornais de ontem;um cadarço novo, e então páprica,
açúcar, sal, pimenta, ligue parasua tia velha e bêbada emCalexico;
chame-a de amor, espete-a bem,adicione repolho e molho demaçã, então a esquenteprimeiro no lado esquerdo,depois no
direito,ponha-a numa caixa livre-se deladeixe-a nos degraus de uma porta
vomitando como você fará nashortênsias.
no continente
eu sou frouxo. eusonho também.me deixo sonhar. sonho em ser
famoso. sonho emcaminhar nas ruas de Londres e
Paris. sonho emsentar em cafésbebendo vinhos caros e pegando
um táxi de volta a um bomhotel.
sonho emconhecer lindas mulheres no
saguão edispensá-las porquetenho um soneto em mente que
quero escreverantes do nascer do sol. quando o
sol nascer estarei dormindo ehaverá um gato estranhoenrolado no parapeito da janela.
penso que todos nos sentimosassim de vez em quando.
eu gostaria mesmo de visitarAndernatch, na Alemanha, olugar onde comecei. depoisgostaria de voar até Moscoupara checar o sistema detransporte coletivo assim teriaalguma coisa levementeobscena para sussurrar no
ouvido do prefeito de LosAngeles quando retornasse paraeste lugar fodido.
poderia acontecer.estou pronto.
já vi lesmas escalarem paredes detrês metros de altura edesaparecerem.
você não deve confundir isto com
ambição.eu seria capaz de rir ao receber
uma mão perfeita nas cartas –e não esquecerei de você.vou lhe mandar cartões-postais e
instantâneos, e osoneto acabado.
12:18 a.m.
decapitado no meio danoitecoçando os lados do meu corpoestou coberto de mordidaslivro aos chutes minhas pernas
brancas dos lençóis enquanto assirenes soam
há um disparo de arma de fogo.
vou à cozinhaem busca de um copo d’águadestruir o devaneio de uma barata
destruir a própria barata.um vendaval vem do norte
enquanto o homem no apartamentoda frente
enfia seu pau no rabo de suafilha de 4anos.
escuto os gritosacendo um charutoenfio-o nos lábios de minhacabeça decapitada.é um coronaenvelhecidoum Medalist Naturáles, Nº 7.
retorno ao banheirocom um inseticida.aperto a válvula.
sai o spray. tenhonáuseas,penso em antigas batalhasem amores mortos.
tanta coisa acontece na escuridãoainda que amanhã o solcontinue seguindo seu rumo,você receberá uma multa seestacionar do lado sul de umarua numa quinta-feira ou do ladonorte na sexta.
a eficiência do sol e da lei protege a
sanidade.
alguma coisa me morde.disparo enlouquecidamente o spray
em meus lençóis.
volto-me vejo o espelho naescuridão – o charuto a pançaflácida meu reflexo envelhecido.
dou uma risada.
é bom que eles não saibam.
pego minha cabeçacoloco-a novamente em meu
pescoçoentro sob os lençóis enão consigo dormir.
táxi
a dançarina mexicana balançavasuas plumas e seu rabo paramim,
sem que eu lhe tivesse pedido, eminha mulher enlouqueceu e saiu
correndo do café e começou achover e dava para ouvir ospingos no telhado e eu estavasem emprego e me restavam 13dias de aluguel.
às vezes, quando uma mulher correassim de você é de se perguntarse não faz isso por questõeseconômicas, bem, não se podeculpá-las – se eu tivesse que ser
comido, preferia que fosse poralguém com grana.
estamos todos assustados, masquando você é feio e estácompletamente fodido você se
fortalece, e chamei o garçom edisse, achou que vou virar estamesa, estou de saco cheio,pirado, preciso de
ação, chame o seu leão-de-chácara,mijarei na clavícula dele.
fuiposto pra fora bruscamente.chovia. dei um jeito de me
recompor sob a chuva ecaminhei pela rua deserta
algodão-docequinquilharias à venda, todas as
lojinhas fechadas com cadeadosWoolworth de 67 centavos.
chego ao final da rua a tempode vê-la entrar num táxicom outro cara
desabo junto a uma lata de lixo, me
levanto e mijo nela, sentindo-metriste e logo nem tanto, sabendoque havia coisas demais queeles podiam [fazer
contra você, o mijo escorrendo pelalata
corrugada, os filósofos deveriam ter
algo a dizer sobreisso. mulheres. a sorte delas contra
o seudestino. o vencedor leva Barcelona.
próximobar.
como você não está fora dalista?
os homens ligam e me perguntamisto.
você é realmente Charles Bukowskio escritor?
sou escritor de vez em quando, eudigo, na maior parte do tempoeu não faço nada.
escute, eles dizem, eu gosto dassuas coisas – se importa se euaparecer aí com uma dúzia delatinhas?
você pode trazê-las, eu digo desdeque não entre...
quando as mulheres ligam, eu digo,ó, sim, escrevo, sou um escritorapenas não estou escrevendo
nada neste exato momento.
me sinto tola ligando para você,elas dizem, e fiquei surpresa deachar seu nome na listatelefônica.
tenho meus motivos, eu digo, apropósito, por que você nãoaparece pra tomar uma cerveja?
você não se importaria?
e elas chegammulheres lindasboas de corpo e mente e olho.
frequentemente não há sexomas estou acostumadoainda assim é bombom demais apenas olhar para
elas...e em alguns raros momentostenho uma maré inesperada de
sortepara variar.
para um homem de 55 que não
transou
até os 23e não muitas vezes mais até os 50creio que deva continuar listadona Pacific Telephoneaté conseguir o mesmo número de
mulheresque os homens normais
conseguiram.
claro, terei que continuarescrevendo poemas imortaismas a inspiração está lá.
boletim do tempo
suponho que esteja chovendo emalguma cidade espanhola nestemomento
enquanto me sinto mal deste jeito;gosto de pensar nisso agora.vamos a um vilarejo mexicano –
isso soa bem:um vilarejo mexicanoenquanto me sinto mal deste jeitoas paredes amareladas pelo tempo
– aquela chuvalá fora,um porco se movendo em seu
chiqueiro à noite incomodadopela chuva, os olhos diminutos
como pontas de cigarro, e seumaldito rabo:
pode vê-lo?não consigo imaginar as pessoas.talvez elas também estejam se
sentindo mal, quase tão malquanto eu.
pergunto-me o que elas fazemquando se sentem assim?
provavelmente não o mencionam.dizem apenas,“veja, está chovendo”.Assim é melhor mesmo.
velho limpo
daqui auma semana farei55.
sobre o queescrevereiquando ele nãolevantar maispela manhã?
meus críticosvão adorarquando a minha diversãopassar a ser
tartarugase estrelas-do-mar.
chegarão inclusive adizercoisas boas sobremim
como se eu tivessefinalmentealcançado arazão.
alguma coisa
estou sem fósforos.as molas de meu sofáestouraram.roubaram minha maleta.roubaram minha tela a óleo dedois olhos rosados.meu carro quebrou.lesmas escalam as paredes de meu
banheiro.meu coração está partido.mas as ações tiveram um dia de
altano mercado.
uma janela de vidrosespelhados
cães e anjos não são muitodiferentes.
frequentemente vou comer nesselugar
por volta das 2h20 da tarde porquetodas as pessoas que almoçamali estão particularmentearruinadas felizes pelo simplesfato de estarem vivas ecomendo feijão
próximas a uma janela de vidrosespelhados que impede apassagem do calor e não deixa
que os carros e as calçadascheguem ao interior.
podemos tomar quanto café de
graça quisermose nos sentamos e em silêncio
bebemos o café preto e forte.
é bom estar sentado em algumlugar neste mundo às 2h20 datarde sem sentir-se carneadoaté o branco dos ossos. mesmoestando arruinados, sabemosdisso.
ninguém nos incomoda nãoincomodamos ninguém.
anjos e cães não são muito
diferentesàs 2h20 da tarde.
tenho minha mesa favorita e depoisde terminar
empilho os pratos, pires, o copo, ostalheres com cuidado – faço àsorte minha oferenda – e lá forao sol
segue trabalhando bemdescrevendo
seu arcoenquanto aqui dentro reinaa escuridão.
junkies
“ela aplicou no pescoço”, ela medisse. eu disse que era para me
aplicar na bunda e ela tentou edisse, “oh-oh”, e eu disse, “quemerda está acontecendo?”
ela disse, “nada, este é o modoNova York de fazer a coisa”, etentou enfiar a agulha de novo edisse, “oh, merda”. Peguei onegócio e tentei me aplicar nobraço, consegui injetar umaparte.
“não sei por que as pessoasse metem com isso, não há nadade mais. acho que são todos uns
coitados e querem realmentechegar ao fundo do poço. não hásaída, é como se eles nãoconseguissem chegar ondequerem ou pretendem
e não tivessem outra saída.isso tinha que ser assim.ela aplicou no pescoço.”
“eu sei”, eu disse. “liguei pra ela,ela mal conseguia falar, disseque estava com laringite. tomeum pouco deste vinho.”
era vinho branco e 4h20 da manhãe sua filha dormia no quarto. atevê
a cabo estava ligada sem volume eum enorme pôster com um John
Wayne ainda jovem nos velava,e não nos beijamos nem sequerfizemos amor e acabei saindo delá às 6h15
depois que a cerveja e o vinhoacabaram e também para quesua filha não acordasse para irao colégio e me encontrasse alisentado na cama de sua mãe
com o John Wayne e a noiteencerrada e sem quaisqueresperanças para quem quer que
fosse...
99 para um
o tubarão resplandecentequer meus bagosenquanto atravesso a seção de
carnes em busca de salame equeijo
donas de casa púrpurasapalpando abacates de 75 centavos
sabem que meu carrinho é umpau monstruoso
sou um homem com um relógio
antigo parado em uma cabinetelefônica numa espelunca
chupando um bico vermelhocomo morango de cabeça parabaixo em meio à multidão naFiladélfia.
de repente tudo ao meu redor são
gritos de ESTUPRO ESTUPROESTUPRO ESTUPRO ESTUPRO
e eu estou metendo em algumacoisa debaixo de mim cabelos deum ruivo opaco, mau hálito,dentes azuis
costumava gostar de Monetcostumava gostar muito de Monetera divertido, eu pensava, o que ele
fazia com as cores
mulheres são caras demaiscoleiras para cachorro são carasvou começar a vender ar em sacos
alaranjados com os dizeres:florescências da lua
costumava gostar de garrafascheias de sangue jovens garotasem casacos de pelo de cameloPríncipe Valente
o toque mágico do Popeye
o esforço está no esforçocomo um saca-rolhasum homem de verdade não deixa
farelos de cortiça no vinhoeste pensamento já ocorreu a
milhões de homens ao se
barbearema remoção da vida talvez fosse
preferível à remoção dos pelos
cuspa algodão e limpe seu espelhoretrovisor, corra como se tivessevontade, ex-atleta, as putasvencerão, os tolos vencerão,mas dispare como um cavalo aosinal da largada.
o estouro
demais tão poucotão gordo tão magro ou ninguém.
risos ou lágrimasodiosos amantesestranhos com faces como cabeças
de tachinhasexércitos correndo através de ruas
de sangue brandindo garrafas devinho baionetando e fodendovirgens.
ou um velho num quarto barato
com uma fotografia de M.Monroe.
há tamanha solidão no mundo quevocê pode vê-la no movimentolento dos braços de um relógio.
pessoas tão cansadas mutiladastanto pelo amor como pelodesamor.
as pessoas simplesmente não são
boas umas com as outras cara acara.
os ricos não são bons para os ricosos pobres não são bons para ospobres.
estamos com medo.
nosso sistema educacional nos dizque podemos ser todos
grandes vencedores.
eles não nos contarama respeito das misériasou dos suicídios.
ou do terror de uma pessoasofrendo sozinhanum lugar qualquer
intocadaincomunicável
regando uma planta.
as pessoas não são boas umas comas outras.
as pessoas não são boas umas comas outras.
as pessoas não são boas umas comas outras.
suponho que nunca serão.não peço para que sejam.
mas às vezes eu penso sobreisso.
as contas dos rosários balançarãoas nuvens nublarãoe o assassino degolará a criançacomo se desse uma mordida numa
casquinha de sorvete.
demaistão pouco
tão gordotão magroou ninguém
mais odiosos que amantes.
as pessoas não são boas umas comas outras.
talvez se elas fossemnossas mortes não seriam tão
tristes.
enquanto isso eu olho para asjovens garotas talos
flores do acaso.
tem que haver um caminho.
com certeza deve haver umcaminho sobre o qual ainda nãopensamos.
quem colocou este cérebro dentrode mim?
ele choraele demandaele diz que há uma chance.
ele não dirá“não”.
um cavalo de olhosazul-esverdeados
o que você vê é aquilo que vê: oshospícios raramente estãovisíveis.
que continuemos caminhando por aí
e nos coçando e acendendocigarros
é mais miraculoso
do que os banhos das beldades do
que as rosas e as mariposas.
sentar-se em um pequeno quarto e
beber uma latinha de cerveja efechar um cigarro ouvindoBrahms
em um radinho vermelhoé como ter voltado de uma dúzia de
batalhas com vida
ouvir o somda geladeira
enquanto as beldades banhadas
apodreceme as laranjas e maçãs rolam para
longe.
3Scarlet
Scarlet
fico feliz quando elas chegam e felizquando se vão
feliz quando escuto os saltos seaproximando de minha portafeliz quando esses saltos seafastam
feliz por foderfeliz por me importar feliz quando
tudo terminaedesde que as coisas ou estão
começando ou terminando ficofeliz
a maior parte do tempoe os gatos caminham pra cima e
pra baixo e a terra gira em tornodo sol e o telefone toca:
“é a Scarlet”.
“quem?”
“Scarlet.”
“certo, pinta aí.”
e desligo pensando talvez seja issoentrodou uma cagada rápida me barbeiome banho
me visto
ponho o lixoe as caixas cheias de garrafas
vazias pra fora
me sento ao som dos saltos seaproximando parecendo mais aaproximação de um exército doque o som da vitória
é Scarlete na minha cozinha a torneira
continua pingando precisando deconserto.
cuidarei disso mais tarde.
ruiva de cima a baixo
cabelos ruivoslegítimosela os põe em movimento e
pergunta“meu rabo continua gostoso?”
que comédia.
há sempre uma mulher pra salvarvocê de outra
e assim que ela o salva está pronta
paradestruí-lo.
“às vezes eu odeio você”, ela disse.
afastou-se e foi se sentar na minhavaranda para ler meu exemplardo Catulo, e ficou
por lá cerca de uma hora.
as pessoas passavam de lá para cáem frente à minha casa seperguntando como um cara tão
velho e feio podia arranjar umabeldade daquelas.
nem eu sabia.
assim que ela entrou eu a puxeipara o meu colo.
ergui meu copo e lhe disse, “bebaisso”.
“oh”, ela disse, “você misturouvinho com Jim Beam, logo vai
ficar safado”.
“você passa hena nos cabelos,não?”
“você não enxerga nada”, ela dissee se levantou e baixou suascalças e a calcinha e os pelos láembaixo tinham a mesma cordos cabelos lá em cima.
o próprio Catulo não poderia ter
desejado graça mais histórica oumagnífica;
depois ele seenamorou de
rapazolasinsuficientemente loucos para se
tornarmulheres.
como uma flor nachuva
cortei a unha do dedo médio damão
direitarealmente curtae comecei a correr o dedo ao longo
de sua boceta enquanto ela sesentava muito ereta na camaespalhando uma loção por seusbraços face
e seiosdepois do banho.então acendeu um cigarro:“não deixe que isso o desanime”, e
seguiu fumando e esfregando aloção.
continuei tocando sua boceta.“quer uma maçã?”, perguntei.“claro”, ela disse, “tem uma aí?”mas eu lhe dei outra coisa...ela começou a se contorcere depois rolou para um lado, ela
estava ficando molhada e abertacomo uma flor na chuva.
então ela se voltou sobre a barrigae seu cu maravilhoso
olhou para mime eu passei minha mão por baixo e
cheguei outra vez na boceta.ela se espichou e agarrou meu pau,
virando-se e se contorcendo
toda, penetrei-ameu rosto mergulhando na massa
de cabelos ruivos que sealastrava feito enchente de suacabeça
e meu pau intumescido adentrou omilagre.
mais tarde tiramos sarro da loção edo cigarro e da maçã.
depois eu saí para comprar umpouco de frango e camarão ebatatas fritas e pão doce e purêde batatas e molho e salada derepolho, e nós comemos. ela medisse quão bem ela se sentia eeu lhe disse o quão bem eu mesentia e nós comemos o frango
e o camarão e as batatas fritas eo pão doce e o purê de batatase o molho e também a salada derepolho.
castanho-claro
um olhar castanho-claroesse estúpido, vazio e maravilhoso
olhar castanho-claro.
darei um jeitonele.
você não precisa mais me enganarcom seus truques de Cleópatrade cinema
já se deu conta de que se eu fosse
uma calculadora eu poderiaentrar em pane registrando
as infinitas vezes que você usouesse olhar castanho-claro?
não que não seja o que há demelhor esse seu olhar castanho-claro.
algum dia um filho da puta louco irá
matá-la
e então você gritará meu nome efinalmente entenderá o que jádevia ter entendido
há muitotempo.
brincos enormes
saio para buscá-la.ela está em alguma missão.ela está sempre cheia de missões
muitas coisas pra fazer.nunca tenho nada pra fazer.
ela sai de seu apartamento vejo-ase aproximar do meu carro
ela vem descalçavestida de modo casual exceto por
enormes brincos.
acendo um cigarro
e quando ergo os olhos ela estáestirada no meio da rua
uma rua bastante movimentadatodos os seus 50 quilos tão
magníficos quanto qualquercoisa que você possa imaginar.
ligo o rádioe espero ela se levantar.
ela o faz.
abro a porta do carro.
ela entra. afasto-me do cordão dacalçada. ela gosta da cançãoque toca na rádio e aumenta ovolume.
ela parece gostar de todas ascanções ela parece conhecertodas as canções cada vez que avejo ela parece ainda melhor
200 anos atrás eles a teriam
queimado em um poste
agora ela passa seurímel enquanto nosso
carro segue adiante.
ela saiu do banheirocom sua cabeleiraruiva flamejante edisse...
os policiais querem que eu vá até láe identifique um cara que tentoume estuprar.
perdi outra vez a chave do meucarro; tenho a que abre a porta,mas não a que dá partida naignição.
essas pessoas estão tentando tirarminha filha de mim, mas eu nãovou deixar.
Rochelle quase tomou umaoverdose, então foi até o Harrycom um bagulho, e ele a pegoude jeito.
ela teve as costelas fissuradas,você sabe, e uma delas lheperfurou o pulmão. ela está nohospital conectada a umamáquina.
onde está meu pente?o seu está sempre imundo.
eu lhe disse,eu não vi o seu
pente.
uma assassina
a consistência é impressionante:boca fedorenta
podre por dentro e um corpo quaseperfeito, uma longa e luminosacabeleira loira – que confunde amim e aos outros
ela segue de homem em homemoferecendo carícias
ela fala de amor
então submete os homens à suavontade
boca fedorentapodre por dentro
vemos isso tarde demais: depois
que o pau é engolido o coraçãovai atrás
sua longa e luminosa cabeleira seucorpo quase perfeito caminhapela rua
debaixo do mesmo sol que banhaas flores.
uma aposta perdida
ela não é pra você, cara, não faz oseu tipo, ela foi maltratada foiusada
adquiriu todos os maus hábitos,ele me disseentre um páreo e outro.
vou apostar no cavalo 4, eu lhedisse.
bem, é que eu gostaria apenas detentar tirá-la da correnteza,
salvá-la, pode-se dizer.
você não conseguirá, ele disse,você tem 55, precisa degentileza.
vou apostar no cavalo 6.você não é o cara para salvá-la.
e você pode? perguntei.não acho que o 6 tenha chance,
prefiro o 4.
ela precisa de alguém que lhe
desça a mão, que a jogue naparede, ele disse, que lhe chuteo rabo, ela vai adorar.
ficará em casa e lavará a louça.o cavalo 6 vai estar na disputa.
não sou bom nesse negócio debater em mulher,
eu disse.
então tire ela da cabeça, ele disse.
não é fácil, respondi.
ele se levantou e foi no 6e eu me levantei e fui no 4.o cavalo 5 ganhoupor 3 corpospagando 15 para um.
os cabelos dela são ruivoscomo relâmpagos vindos do
paraíso,eu disse.
tire ela da cabeça, ele disse.
rasgamos nossos bilhetese olhamos para o lagono centro da pista.
aquela ia seruma longa tardepara nós dois.
a promessa
ela se inclinou sobre o lado dacama e abriu um portfolio juntoà parede.
estávamos bebendo.ela disse, “você me prometeu esses
quadros uma vez, nãolembra?”“o quê? não, não, não lembro.”“bem, você prometeu”, ela disse, “e
você sabe que promessa édívida.”
“tire a mão desses quadros”,eu disse.então fui até a cozinha buscaruma cerveja. fiz uma parada para
vomitar e quando volteipude vê-la sair pela janelaatravessando o pátioem direção à sua casa que ficava
nos fundos.ela tentava correre ao mesmo tempo equilibrar 40
pinturas sobre a cabeça:óleostelas em preto e brancoacrílicosaquarelas.ela pisou em falso e quasecaiu sentada.então subiu depressa os degraus da
varanda e sumiu porta adentroem direção ao seu apartamento
que ficava escada acimaavançando com todos aquelesquadros sobre a cabeça.
foi uma das coisas maisengraçadas que jamais vi.bem, suponho que o negócio agora
seja pintar mais 40.
acenos e mais acenosde adeus
paguei suas despesas ao longo detodo o trajeto entre [Houston
e São Franciscodepois voei pare encontrá-la na
casa do irmão dela e acabeibêbado
e falei a noite inteira sobre umaruiva, e ela disse por fim, “vocêdorme ali em cima”, e eu subi aescada
do beliche e ela dormiuna cama de baixo.
no dia seguinte eles me levaramaté o aeroporto e eu voei devolta, pensando, bem,
ainda restou a ruiva e assim quecheguei liguei para ela e disse,“voltei, baby, peguei um aviãopara ver essa mulher e faleisobre você a noite inteira, entãoaqui estou eu de volta...”
“bem, por que você não volta lá etermina o serviço?” ela disse edesligou.
então enchi a cara e o telefonetocou e elas se apresentaramcomo
duas garotas alemãs que queriamme ver.
então elas apareceram e uma delastinha 20 e a outra 22. contei-lhes que meu coração havia sidoesmigalhado pela última vez eque eu estava desistindo dessenegócio de mulher. elas riram demim e nós bebemos e fumamos
e fomos juntos para a cama.
eu tinha essa cena diante de mim eprimeiro agarrei uma e depois
agarrei a outra.
finalmente fiquei com a de 22 ea devorei.
elas ficaram 2 dias e 2 noitesmas nunca fui com a de 20,ela estava menstruada.
finalmente as levei para ShermanOaks e elas ficaram junto ao pé
de uma longa passagemacenos e mais acenos de adeus
enquanto eu dava a ré no meufusca.
quando voltei havia uma carta deuma mulher de Eureka. dizia quequeria que eu a fodesse até queela não pudesse
mais caminhar.
me deitei e puxei umapensando na garotinha que eu tinha
visto uma semana atrás em suabicicleta vermelha.
depois tomei um banho e vesti meurobe verde e felpudo bem atempo de pegar as lutas na tevêdiretamente do Olympic.
havia um negro e um chicano.isso sempre dava uma boa luta.
e era também uma boa ideia:ponha os dois no ringue e deixe quese matem.
assisti a todo o combatesem deixar de pensar na ruiva uma
vez sequer.
acho que o chicano venceumas não tenho certeza.
liberdade
ela estava sentada na janela doquarto 1010 no Chelsea emNova York,
o antigo quarto de Janis Joplin.fazia 40 grause ela estava alterada e tinha uma
perna para fora do peitoril,e se inclinava para fora e dizia,
“Deus isso é ótimo!”e então ela escorregou e quase caiu
lá embaixo, agarrando-se nomomento final.
foi por pouco.voltou para dentro e se esticou na
cama.
já perdi um bocado de mulheres de
um bocado de modos diferentesmas teria sido
a primeira vezdesse modo.
então ela rolou da cama caindo de
costase quando me aproximei ela estava
dormindo.
ela passara o dia todo querendo vera Estátua da Liberdade.
agora por um tempo ela não me
incomodaria com isso.
não toque nas garotas
ela está lá em cima vendo meumédico tentando conseguir umaspílulas para emagrecer; ela nãoé gorda, precisa do barato.
sigo até o bar mais próximo eespero.
às 3h20 da tarde de uma terça-feira.
eles têm uma dançarina.
há apenas um outro cara no bar.
ela faz seus passos
olhando-se no espelho.parece uma macacaescuracoreana.
ela não é muito boa,esquelética e previsível e ela estica
sua língua para mim e depoispara o outro cara.
os tempos devem ser bem difíceis,penso.
tomo mais algumas cervejas e melevanto para sair.
ela me acena.“já vai?”, pergunta.“sim”, eu digo, “minha esposa tem
câncer.”
dou-lhe um aperto de mão.
ela aponta para um cartaz atrás desi: NÃO TOQUE NAS GAROTAS.
ela aponta para o cartaz e diz, “ocartaz diz ‘NÃO TOQUE NASGAROTAS’.”
sigo até o estacionamento eespero.
ela aparece.“conseguiu as pílulas?” pergunto.“sim”, ela diz.“então ganhou o dia.”
penso na dançarina cruzando minha
cozinha. não consigo visualizar.morrerei sozinho
do mesmo modo que vivo.
“leve-me para casa”, ela diz, “tenhoque me preparar para o cursonoturno”.
“claro”, eu digo e a levo embora.
óculos escuros
nunca uso óculos escurosmas esta ruiva foi buscaruma receita preenchida no
Hollywood Blvd.e ela seguia discutindo comigo,
rilhando os dentes e rosnando.deixei-a junto ao balcão da
prescrição e fui dar uma volta ecomprei um enorme tubo deCrest e uma garrafa gigante deJoy.
então me aproximei de ummostruário de óculos escuros ecomprei o mais terrível par quepude encontrar.
pagamos por nossas coisasfomos até um restaurante mexicano
e ela pediu um taco do qual nãodaria conta e ficou ali sentada
rilhando os dentes e rosnando erosnando pra mim e após comerpedi 3 cervejas sequei-as
depois pus meus óculos.“ó meu Deus”, ela disse, “puta que
pariu!”e eu a acertei dos dois lados a mais
excelente das respostasrosnando fedorentas balas demarmelada rajadas de merda
peidos vindos do inferno,então me levanteipaguei
ela saindo atrás de mimnós dois de óculos escurose as calçadas se dividindo.encontramos o carro delaentramos e partimoseu ali sentadoempurrando os óculos novamente
contra meu nariz arrancando-lhea espinha
agitando-a do lado de fora dajanela como um mastro partidoda Confederação...
os óculos escuros e malévolosajudando.
“puta que pariu!” ela disse, e o solbrilhava no céu
e eu não percebia.
saíram a bagatela de US$ 4.25mesmo levando-se em
consideração que esqueci aCrest e a Joy no
mexicano do taco.
orador debaixo demau tempo
por Deus, não sei o que fazer.elas são tão legais de se ter por
perto.elas têm um jeito de tocar as bolas
e olhar para o pau muitoseriamente virando-o puxando-oexaminando cada parteenquanto seus longos cabeloscaem sobre a sua barriga.
não é apenas o foder e o chupar
que alcançam o interior dohomem e o amaciam, são osextras, está tudo nos extras.
agora é noite e está chovendo enão há ninguém estão todas emoutros lugares examinandocoisas em novos quartos comnovos humores mesmo que emvelhos quartos.
seja o que for, é noite e estáchovendo, uma chuva torrencial,maldita e pesada...
muito pouco a fazer.já li o jornal paguei a conta do gás
a conta de luza conta do telefone.
continua chovendo.
elas amaciam um homeme então o deixam a nadarem seu próprio suco.
preciso de uma vagabunda no velho
estilo batendo à porta esta noitefechando seu guarda-chuva verde,
gotas de chuva enluarada sobresua bolsa, dizendo, “merda, cara,não consegue achar uma música
melhor do que essa no seurádio?
e aumente o aquecimento...”
é sempre quando um homem estátomado
de amor e tudomaisque continua chovendoalagadouraencharcantechuvaboa para as árvores e para agrama e para o ar...
boa para coisas quevivem sozinhas.
eu daria qualquer coisapela mão de uma fêmea em mimesta noite.elas amaciam um homem edepois o deixamescutando a chuva.
melancolia
a história da melancolia inclui atodos nós.
eu, eu escrevo em folhas sujasenquanto encaro fixamente asparedes azuis e o nada.
estou tão acostumado à melancolia
quea cumprimento como a uma velha
amiga.
farei agora 15 minutos desofrimento pela ruiva perdida,digo aos deuses.
faço isso e me sinto um tanto malbastante triste,
então me levantoREVIGORADOmesmo sabendo que nada está
resolvido.
isto é o que eu ganho por chutar areligião no rabo.
deveria ter chutado o rabo da ruivaonde estão seu cérebro e seu pão
com manteigana...
mas não, eu estava me sentindotriste com tudo:
a ruiva perdida foi apenas outrogolpe numa longa vida deperdas...
escuto uns tambores no rádio agorae dou uma risada.
há alguma coisa errada comigo
além damelancolia.
um caso deestetoscópio
meu médico recém entrou em suasala vindo da cirurgia.
ele me encontra no banheiromasculino.
“puta que pariu”, ele me diz,“onde você a encontrou? oh, como
é bom olhar para garotas comoesta!”
eu lhe digo: “é minhaespecialidade: corações decimento e corpos esculturais. seconseguir ouvir um batimento,me avise.”
“vou cuidar dela direitinho”, ele diz.“sim, e por favor lembre-se de
todos os códigos de ética de suahonorável profissão”, eu lhedisse.
fechou primeiro a braguilha edepois lavou as mãos.
“como está a sua saúde?” elepergunta.
“fisicamente funciono como umrelógio. mentalmente estouperdido, condenado, carregandominha pequena [cruz, toda essamerda.”
“cuidarei bem dela.”
“sim. e me avise a respeito dosbatimentos cardíacos.”
ele saiu.terminei, fechei a braguilha e
também saí.mas não lavei minhas mãos.
estou muito à frente dessaspreocupações.
morda-se de raiva
vim até aqui, ela diz, para lhe falarque está tudo acabado. nãoestou de brincadeira, acabou.ficamos assim.
sento no sofá olhando ela ajeitarseus cabelos longos e ruivos emfrente ao espelho do meuquarto.
ela ergue os cabelos e faz umcoque no topo da cabeça – eladeixa que seus olhos encontremos meus – então ela solta os
cabelos e deixa que eles lhecubram o rosto.
vamos para a cama e eu a segurode costas sem dizer uma palavrameu braço em volta de seupescoço toco seus pulsos e mãossinto-a até chegar
aos cotovelosmas não além.
ela se levanta.
está tudo acabado, ela diz, morda-se de raiva. você tem algumaborrachinha?
não sei.
achei uma, ela diz,vai servir. bem,vou indo.
me levanto e a levoaté a portalogo ao sair
ela diz,quero que você me compreum sapato de salto altosalto agulhasapatos pretos de salto.não, quero um parvermelho.
vejo ela seguir pela passagem de
cimentodebaixo das árvoresela caminha direitinho eenquanto as poinsétias gotejam ao
soleu fecho a porta.
a retirada
desta vez o negócio acabou comigo.
me sinto como as tropas alemãsaçoitadas pela neve e peloscomunistas caminhandocurvadas
as botas gastasforradas com papel jornal.
minha condição é tão terrívelquanto.
talvez até pior.
a vitória estava tão pertoa vitória estava logo ali.
enquanto ela estava ali diante demeu espelho mais jovem e belado que
qualquer outra mulher que eu jáconhecera penteando metros emais metros de cabelo ruivoenquanto eu a observava.
e quando ela veio para a camaestava mais bela do que nunca eo amor foi muito muito bom.
onze meses.
agora ela se foicomo todas se vão.
desta vez o negócio acabou comigo.
é um longo caminho de voltamas de volta pra onde?
o cara que vai na minha frente
acaba decair.
passo por cima dele.
será que ela também o acertou?
cometi um erro
me estiquei até a última prateleirado armário e puxei de lá umacalcinha azul e mostrei a ela e
perguntei “são suas?”
e ela olhou e disse,“não, devem ser da cadela”.
depois disso ela se foi e não a videsde então. não está na suacasa.
continuo passando por lá, enfiandobilhetes debaixo da porta. voltoali e os bilhetes continuamintocados. arranco a cruz deMalta do retrovisor do meu carroe a amarro com um cadarço àsua maçaneta, deixo um livro depoemas.
ao retornar na noite seguinte tudocontinua ali.
continuo rondando as ruas embusca daquele encouraçado corde vinho que ela dirige com umabateria fraca, e as portaspendendo das dobradiças
estropiadas.
circulo pelas ruasa um passo de chorar,envergonhado de meu
sentimentalismo e possívelamor.
um homem velho e confusodirigindo na chuva perguntando-se onde a boa sorte foi parar.
4melodias populares no que restou de
sua mente
garotas de meia-calça
estudantes de meia-calça sentadasnas paradas de ônibusparecendo cansadas aos 13
com seus batons de framboesa.está quente sob o sole o dia na escola foimaçante, e ir pra casa é maçante, e
eudirijo meu carroe dou uma espiada naquelas pernas
quentes.seus olhos não estão focados em
nada – elas foram avisadassobre os veteranos tarados e
cruéis; eles não desistirão assim
tão fácil.e ainda assim é maçantepassar aqueles minutos no banco e
os anos emcasa, e os livros que elas carregam
são maçantes e aquilo de que sealimentam é maçante, e atémesmo os veteranos tarados ecruéis são maçantes.
as garotas de meia-calça esperam,esperam pelo momento e horaexatos para só então se mover ecertamente conquistar.
circulo com o meu carroespiando suas pernassatisfeito por saber que jamais farei
parte nem de seus paraísos nemde seus infernos. mas os batonsescarlates naquelas tristes bocasque esperam! seria deliciosobeijar cada uma delas, uma vezque fosse, por completo, e entãodevolvê-las.
mas o ônibus aspegará primeiro.
subindo seu rioamarelo
uma mulher contou a um homemassim que ele desceu de umavião que eu estava morto.
uma revista publicoua notícia de que eu tinha morrido e
mais alguém disseque eles ouviram sobre o meu
falecimento, e que então alguémescreveu um artigo e dissenosso Rimbaud nosso Villionestá morto. ao mesmo tempoum velho parceiro de bebidapublicou um texto afirmando que
eu já não podia mais escrever.um verdadeiro trabalho deJudas. eles não podem esperarque eu me vá, esses cretinos.bem, escuto o
concerto de piano número um deTchaikovski e
o locutor anuncia que a5ª e a 10ª sinfonias de Mahler virão
a seguir desdeAmsterdã,e as garrafas de cerveja se
espalham sobre o chão e ascinzas dos meus cigarros
cobrem minhas cuecas dealgodão e minha barriga, mandei
todas as minhas namoradas pro
inferno, e mesmo isto é umpoema muito melhor do quequalquer coisa que essescoveiros possam escrever.
artistas:
ela me escreveu por anos.“estou bebendo vinho na cozinha.chove lá fora. as crianças estão na
escola.”
ela era uma cidadã qualquerocupada com sua alma, suamáquina de escrever e sua
reputação como poetaunderground.
ela escrevia decentemente e comhonestidade mas apenas depoisque outros já haviam aberto ocaminho.
me ligava bêbada às 2 da manhã às
3enquanto o marido dormia.
“é bom ouvir a sua voz”, ela dizia.
“é bom ouvir a sua voz também”,eu dizia.
que diabo, vocêsabe.
ela finalmente apareceu. acho que
teve algo a ver comThe Chapparal Poets Society of
California.eles tinham que eleger seus
quadros. ela me ligou do hoteldeles.
“estou aqui”, ela disse, “vamoseleger os representantes.”
“ok, ótimo”, eu disse, “escolha unsrealmente bons”.
desliguei.
o telefone voltou a tocar.“ei, você não quer me ver?”
“claro”, eu disse, “qual é oendereço?”
depois que ela disse até logo eu
bati uma troquei as meiasbebi meia garrafa de vinho e segui
até lá.
estavam todos bêbados e tentavamse foder mutuamente.
levei-a para minha casa.
ela vestia uma calcinha cor-de-rosacom fitinhas.
bebemos uma pouco de cerveja efumamos e falamos sobre EzraPound, depois
dormimos.
já não tenho clarose a levei para oaeroporto ounão.
ela continua me escrevendo cartas
e eu as respondoda pior maneira possível torcendo
para que eladesista.
algum dia talvez ela alcance afama como EricaJong. (seu rosto não é lá essas
coisasmas seu corpo é legal)e eu pensarei,meu Deus, o que foi que eu fiz?estraguei tudo.ou melhor: eu não estragueinada.
enquanto isso tenho o número de
sua caixa postale é melhor eu informar a elaque meu segundo romance sairáem setembro.
isso deverá manter os seusmamilos duros
enquanto considero a possibilidadede
Francine du Plessix Gray[4].
eu também tenho acueca carimbada
escuto suas vozes do lado de fora:“ele sempre bate à máquina atétão tarde?”
“não, é bastante incomum.”“ele não deveria bater a essa hora.”“isso quase nunca acontece.”“ele bebe?”“acho que sim.”“ontem ele foi até a caixa do
correio só de cuecas.”“eu também vi.”“ele não tem amigos.”“está velho.”
“não deveria bater a esta hora.”
eles entram e começa a choverenquanto
3 disparos soam a meia quadra dedistância e
um dos arranha-céus no centro deL.A. começa a arder
em chamas de 8 metros quelambem a escuridão da noite.
Hawley está saindo dacidade
este caratem um olhar louco e é bronzeado
um bronzeado escuro de sol osol de Hollywood e do oeste osol do hipódromo ele me vê ediz, “ei, Hawley está saindo dacidade por uma semana. eledetona as minhas vantagens.agora tenho uma chance.”
ele está sorrindo, fala sério: com
Hawley fora da cidade ele semudará para aquele castelo emHollywood Hills; dançarinas seispastores alemães uma pontelevadiça, vinhos de dez anos.
Sam, o Putanheiro, se aproxima eeu lhe digo que estou faturandoUS$ 150 por dia nas corridas.
“vou direto nas totalizações”, eu lhedigo.
“preciso de uma garota”, ele mediz, “que possa prender um carasem vir com toda essa bobajadasobre moral cristã no final.
“Hawley está saindo da cidade”,
eu digo a Sam.
“onde está o Sapato?”ele pergunta.“lá pro leste”, diz um velhoque está ali parado.ele tem um pequeno protetor de
plástico branco sobre o olhoesquerdo
cravejado depequenos furos.
“isso deixa tudo nas mãos doPinky”,
diz o bronzeado.
ficamos todos ali de pé olhando unspara os
outros.entãoapós um sinal silenciosonos afastamose seguimos,cada qualem uma direção diferente:norte sul leste oeste.
nós sabemos de algo.
um poema rude
eles seguem escrevendodespejando poemas...jovens garotos e professores
universitários esposas quebebem vinho durante a tardeenquanto seus maridostrabalham, eles seguemescrevendo
os mesmos nomes nas mesmasrevistas todos escrevendo umpouco pior a cada ano, lançandouma coletânea de poesiasdespejando mais poemas
é como um concursoé um concurso
mas o prêmio é invisível.
eles não escreverão contos ouartigos ou romances
apenas seguirãodespejando poemascada um soando mais e mais como
os outros e menos e menoscomo eles mesmos, e alguns dosgarotos se cansam e desistemmas os professores nuncadesistem e as mulheres quebebem vinho durante a tardenunca nunca nunca desistem
e novos garotos chegam com novasrevistas e há algumacorrespondência entre homens e
mulheres algumas fodase tudo é exagerado e estúpido.
quando os poemas são recusados
eles os reescreveme mandam para a próxima revista
na lista, e eles fazem leiturastodas as leituras que conseguemde graça na maioria das vezesesperando que alguémfinalmente os reconheçafinalmente os aplauda
finalmente os congratule ereconheça o talento deles
estão todos tão certos de suasgenialidades há tão poucoautoquestionamento, e a
maioria deles vive em NorthBeach ou Nova York, e seusrostos são como seus poemas:iguais,
e conhecem uns aos outros ese congregam e se odeiam e se
admiram e se escolhem e sedescartam
e seguem despejando mais poemasmais poemas
mais poemaso concurso dos cretinos:tap, tap, tap, tap, tap, tap, tap, tap,
tap, tap...
uma abelha
suponho que como qualquer garototive um melhor amigo navizinhança.
o nome dele era Eugene e eramuito maior do que eu e um anomais velho.
Eugene costumava me encher deporrada.
estávamos sempre brigando.eu tentava vencê-lo mas sempre
sem muito sucesso.
uma vez pulamos juntos de cima do
telhado da garagem para provarque éramos valentes.
torci meu tornozelo e ele saiu ilesocomo manteiga recém-tirada dopapel.
acho que a única coisa boa que elefez por mim foi quando umaabelha me picou o pé descalço eassim que me sentei para tirar oferrão ele disse,
“vou pegar a filha da puta!”
e foi o que ele fezcom uma raquete de tênis
mais um martelo de borracha.
estava tudo bemdizem que de qualquer modo elas
morrem.
meu pé inchou e dobrou detamanho e eu fiquei de cama
rezando para morrer
e Eugene seguiu em frente e setornou um almirante oucomandante
de alguma coisa de vulto naMarinha dos Estados Unidos econseguiu passar por uma ouduas guerras sem se ferir.
imagino-o envelhecido agora numa
cadeira de balançocom seus dentes postiçosbebendo seu leitinho...
enquanto eu bêbadomasturbo esta tiete de 19 anos que
divide a cama comigo.
mas o pior é que(assim como naquele salto do
telhado da garagem) Eugenesegue vencendo
porque ele nem sequer estápensando em mim.
o principal
aí vem a cabeça de peixe cantanteaí vem a batata assada em suaroupa bizarra
aí vem nada para fazer o dia todoaí vem outra noite sem conciliaro sono
aí vem o telefone e sua campainhaerrada
aí vem um cupim com um banjo aívem um mastro com olhosvazios aí vem um gato e umcachorro usando meias de náilon
aí vem uma metralhadora emcantoria aí vem o bacon numafrigideira aí vem uma voz
dizendo qualquer coisa tolaaí vem um jornal recheado com
pequenos pássaros [vermelhoscom bicos marrons e retos
aí vem uma boceta carregando uma
tocha uma granadaum amor fatal
aí vem a vitória carregandoum balde de sanguee tropeçando num arbusto
e os lençóis pendurados nas janelase os bombardeiros em direção a
leste oeste norte sul se perdemse reviram como salada
enquanto todos os peixes no mar sealinham em fila
única
uma longa filamuito longa e finaa linha mais longa que você puder
imaginar
e nós nos perdemoscruzando montanhas púrpuras
caminhamos a esmopor fim nus como a faca
tendo desistido
tendo posto tudo pra fora comouma inesperada semente deazeitona enquanto a garota dacentral telefônica
grita ao telefone:“não retorne a ligação! você parece
um cretino!”
ah...
bebendo cerveja alemã e tentandoalcançar o o poema imortal às 5da tarde.
mas, ah, eu disse aos estudantesque a coisa certa a fazer é nãotentar.
mas quando as mulheres não estão
por perto e os cavalos não estãocorrendo
o que mais se pode fazer?
tive um par defantasias sexuais almocei fora
enviei três cartas fui à mercearia.nada na tv.o telefone está calado.passei fio dentalentre meus dentes.não vai chover e eu escuto os
primeiros a chegar das 8 horasde trabalho enquanto dirigem eestacionam seus carros atrás doapartamento ao lado.
me sento bebendo cerveja alemã e
tento alcançaro grande poemae não irei conseguir.apenas seguirei bebendo mais e
mais cerveja alemã e enrolando
cigarros e lá pelas 11 horasestarei deitado
na cama desfeitaolhando para cima acordado sob a
luz elétricaesperando ainda pelo poema
imortal.
a garota no banco daparada de ônibus
eu a vi quando eu estava na pistada esquerda indo a leste pelaSunset.
ela estava sentadaas pernas cruzadaslendo um livro de bolso.era italiana ou indiana ou gregae enquanto eu estava parado no
sinal vermelho vez ou outra umvento erguia sua saia,
eu tinha a visão desimpedida,revelando
pernas da mais imaculada perfeição
que eu jamais vira.sou essencialmente tímido mas
olhei e fiquei olhando até queuma pessoa no carro atrás demim começou a buzinar.
isso nunca tinha acontecido dessamaneira.
dei a volta na quadra e estacioneinuma vaga do supermercado
bem em frente ao lugar em que elaestava de óculos escuros
eu não deixava de olhar como umcolegial em sua primeiraexcitação.
memorizei seus sapatos seu vestidosuas meiasseu rosto.os carros passavam e me
bloqueavam a visão.então eu a via novamente.o vento erguia sua saia para muito
além das coxas e comecei a metocar.
um pouco antes do ônibus delaaparecer cheguei ao orgasmo.
senti o cheiro do meu esperma suaumidade em meu calção ecueca.
era um ônibus branco e feio e alevou embora.
dei a ré no estacionamentopensando, eu sou um voyeurpervertido mas ao menos nãome
expus.
sou um voyeur pervertido mas porque elas fazem isso?
por que têm essa aparência?por que deixam o vento soprar
assim?
ao chegar em casatirei a roupa e fui para o banho saí
enrolado natoalhaligueias notíciasapaguei as notíciaseescrevi este poema.
voltando para onde euestava
eu costumava retirar a parte de trásdo telefone e enchê-la comtrapos e quando batiam à porta
eu me fingia de morto e se elespersistissem mandava-os emtermos vulgares para aquelelugar.
apenas mais um velho maluco com
asas de ourouma pança branca e flácida maisum par de olhos capaz de
nocautear o sol.
um casal adorável
eu tinha que dar uma cagada masem vez disso fui até essa lojapara fazer uma chave.
a mulher usava um vestido dealgodão e cheirava a ratoalmiscarado.
“Ralph”, ela urrou e, seu marido,um porco velho numa camisa floridacalçando um sapato 39apareceu e ela disse, “esse homem
quer uma chave”.ele começou a afiá-la como se
realmente não quisesse fazeraquilo.
havia sombras
furtivas e urina no ar.segui ao longo do balcão de vidro,
apontei e chamei a mulher,“ei, eu quero este aqui”.ela me alcançou o objeto: um
canivete num estojo de umpúrpura claro.
US$ 6.50 mais as taxas.a chave custoupraticamentenada.peguei o troco e saí em direçãoà rua.algumas vezes você precisa de
gente desse tipo.
a noite mais estranhaque de fato você jáviu...
eu tinha esse quarto da frente naDeLongpre e costumava mesentar por horas durante o dia
olhando pela janelada frente.havia um número incontável de
garotas que passavamrebolando;aquilo salvava minhas tardes,
acrescentava algo à cerveja eaos cigarros.
certo dia eu vi alguma coisa a mais.escutei primeiro o som.“vamos lá, empurrem!”, ele disse.era uma enorme tábua com 1
metro de largura por 20 decomprimento;
com rodinhas atarraxadas àsextremidades e ao meio.
ele puxava pela frente usando duaslongas cordas presas à tábua eela ia atrás
controlando a direção e tambémempurrando.
todos os seus bens estavam atadosàquela tábua:
potes, panelas, colchas e tudo omais amarrado à tábua
bem preso;e as rodinhas rangiam.
ele era branco, um colono, um
sulista – magro, curvo, as calçasa ponto de cair e revelar
seu rabo –o rosto rosado pelo sol e vinho
barato,e ela negracaminhando aprumadaempurrando;ela era simplesmente maravilhosa
de turbantegrandes brincos verdes um vestido
amareloque iado pescoço aotornozelo.seu rosto estava gloriosamente
indiferente.
“não se preocupe!” ele gritou,voltando-se para ela, “alguémvai
nos alugar um quarto!”
ela não respondeu.
então eles desapareceram emboraeu ainda ouvisse as rodinhas.
eles iriam conseguir, pensei.
tenho certeza quesim.
numa vizinhança deassassinos
as baratas cospemclipes de papele o helicóptero descreve círculos e
mais círculos em busca desangue
luzes de busca deslizando furtivaspor nosso quarto
5 caras nesta área têm pistolas
outro umfacãosomos todos assassinos e
alcoólatras
mas a coisa é ainda pior no hoteldo outro lado da rua eles ficamsentados na entrada verde ebranca banais e depravadosesperando para sereminstitucionalizados
aqui cada um de nós tem umpequeno vaso na janela
e quando brigamos com nossasmulheres às 3 da manhãfalamos
baixinhoe em cada uma das varandas há
um pequeno prato de comidasempre esvaziado pela manhãpresumimos
pelos
gatos.
soldado raso
tiraram meu homem das ruas outrodia
ele usava um casaco de moletomdos L.A. Rams[5]
as mangas cortadase debaixouma camiseta do exército soldado
rasoe ele usava uma boina verde
caminhava muito ereto eranegro e vestia calções marrons ocabelo de um loiro apagadonunca incomodava ninguémroubava alguns bebês
e corria dando gargalhadas mas
sempre retornava com ascrianças ilesas
dormia atrás dobordelcom a permissão das garotas.a compaixão se revela em
estranhos lugares.
certo dia não o vi mais e depoismais outro se passou.
perguntei nas redondezas.
meus impostos voltarão a subir. oestado precisa lhe dar abrigo e
comida. os policiais o pegaram.
isso não ébom.
o amor é um cão dosdiabos
pé de queijo alma de cafeteiramãos que odeiam tacos debilhar olhos como clipes depapel eu prefiro vinho tintoentedio-me em aviões sou dócildurante terremotos sonolentoem funerais vomito nos desfilese vou para o sacrifício no xadreze nas bocetas e nos afetoscheiro urina nas igrejas já nãoconsigo mais ler já não consigomais dormir
olhos como clipes de papel meus
olhos verdes prefiro vinhobranco
minha caixa de camisinhas estápassando da validade eu as tiropra fora Trojan-Enz[6]
lubrificadas para maiorsensibilidade tiro todas pra forae ponho três ao mesmo tempo
as paredes do meu quarto são azuispara onde você foi, Linda?para onde você foi, Katherine?(e Nina partiu pra Inglaterra) tenho
cortadores de unhae limpa-vidros Windexolhos verdesquarto azulbrilhante metralhadora solar
essa coisa toda é como uma focapresa em oleosas rochase cercada pela Banda Marcial de
Long Beach às 3h26 da tarde
há um tiquetaquear atrás de mimmas nenhum relógiosinto algo rastejarao longo de minha narina esquerda:memórias de aviões
minha mãe tinha dentes postiçosmeu pai tinha dentes postiçose durante todos os sábados de suas
vidaseles recolhiam todos os tapetes de
sua casa enceravam o chão detabuões
e o cobriam novamente com ostapetes
e Nina está na Inglaterrae Irene está no abrigo municipale eu pego meus olhos verdese me deito em meu quarto azul
minha tiete
fiz uma leitura no último sábado nobosque para além de Santa Cruz
e estava a 3/4 do finalquando escutei um grito longo e
desesperado e uma jovembastante
atraente veio correndo em minhadireção vestido longo & fogodivino nos olhos e invadiu opalco
e gritou: “EU QUERO VOCÊ!EU QUERO VOCÊ! ME LEVE! MELEVE!”eu disse a ela: “olhe, fique longe de
mim”.
mas ela continuava agarrada àsminhas roupas e se esfregandoem
mim.“onde você estava”, eu lhe
perguntei, “quando eu vivia comapenas uma barra de doce pordia e mandava meus contospara a
Atlantic Monthly?”ela agarrou minhas bolas e quase
as arrancou. seus beijostinham gosto de sopa de merda.2 mulheres subiram no palcoea carregaram para dentro dobosque.
eu ainda podia ouvir seus gritosquando comecei o poemaseguinte.
talvez, pensei, eu devessetê-la possuído naquele palco na
frente de todos aqueles olhos.mas alguém nunca pode ter certeza
se isso é boa poesia ouácido de má qualidade.
agora, se você tivesseque ensinar escritacriativa, eleperguntou, o que vocêlhes diria?
eu lhes diria para terem um caso deamor fracassado, hemorróidas,dentes podres e beber vinhobarato,
para evitarem a ópera e o golfe e oxadrez, seguirem trocando aguarda de suas camas de paredeem parede
e depois eu lhes diria para teremoutro caso de amor fracassado enunca usar uma fita de seda namáquina de escrever,
evitar os piqueniques em família ouserem fotografados em umjardim coberto de rosas;
para lerem Hemingway apenas umavez, pularem Faulkner
ignorarem Gogololharem fixo para as fotos de
Gertrude Stein e ler SherwoodAnderson na cama comendobiscoitos Ritz água e sal,perceberem que as pessoas quenão param de falar sobre aliberação sexual na verdade
estão mais assustadas do quevocês.
para ouvirem E. Power Biggsdebulhar o órgão no rádioenquanto estão fumando umBull Durham no escuro numacidade estranha
restando apenas um dia pago dealuguel após terem desistido detudo amigos, parentes eempregos.
jamais se considerem superiores e/ou dentro da médianem nunca tentem sê-lo.tenham um outro caso de amor
fracassado.observem uma mosca sobre uma
cortina de verão.jamais tentem ter sucesso.não joguem sinuca.deixem que uma fúria legítima
tome conta de vocês quandoseus carros estiverem com umpneu no chão.
tomem vitaminas mas nãolevantem pesos nem corram.
então depois disso tudorevertam o processo.tenham um bom caso de amor.e a coisaque vocês talvez aprendamé que ninguém sabe nada –nem o Estado, nem os ratos
nem a mangueira no jardim nem aEstrela Polar.
e se por acaso vocês me pegaremensinando numa classe deescrita criativa e me lerem estepoema
eu lhes darei um A com louvor bemno olho
do cu.
a boa vida
uma casa com 7 ou 8 pessoasvivendo ali
rachando o aluguel.há um estéreo nunca utilizado e um
par de bongôs nunca utilizadoe há panos cobrindo as janelase você fumaenquanto baratas vivas escorregam
sobre os botões de sua camisa edespencam no chão.
está escuro e alguém vai em buscade comida. você come e dorme.
todos dormem ao mesmotempo: no chão, sobre asmesas, sofás, camas, nasbanheiras. há até mesmo umapessoa lá fora no mato.
então alguém acorda e diz, “vamoslá, vamos fechar um!”
alguns outros acordam.“opa. é isso aí.”
“beleza. vamos lá, alguém aí fechadois. vamos nos chapar!”
“isso. vamos nos chapar!”
fumamos alguns baseados e depoisvoltamos a dormirtrocando apenas de lugarda banheira para o sofá, da mesa
parao tapete, da cama para o chão, e
um novosujeito desaba no matolá fora, e eles ainda nãoencontraram Patty Hearst e Tim
não querfalar comAllan.
o grego
o cara do pátio da frente nãoconsegue falar inglês, ele égrego, um sujeito com umaspecto um tanto estúpido e feioque é o diabo.
agora meu senhorio resolveu pintarquadros, nada muito bom.
ele mostrou ao grego uma de suaspinturas.
o grego saiu e voltou compapéis, pincéis, tintas.
o grego começou a pintar no seupátio da frente. ele deixa aspinturas do lado de fora prasecar.
o grego nunca havia pintado antes– agora ali estão:um violão azul uma rua um
cavalo.
ele é bompara os seus mais de quarenta anos
ele é bom.encontrou umbrinquedo.está felizagora.
então eu penso, me pergunto se elechegará a ficar muito bom?
e me pergunto se terei que ver oresto?
a glória e as mulheres e asmulheres e as mulheres e as
mulheres e a decadência.
quase posso farejar ossanguessugas formando uma filaà esquerda.
veja bem,eu mesmo já estou ligado a ele.
meus camaradas
aquele ali ensinaaquele outro vive com a mãe.e aquele outro é sustentado por um
pai alcoólatra e [rubicundo donode um cérebro de mutuca.
aquele ali toma boletas e vemsendo sustentado pela mesmamulher há 14 anos.
aquele outro escreve um romance acada dez dias mas ao menospaga o próprio aluguel.
aquele ali vai de lugar em lugardormindo em sofás, bebendo e
proferindo seus discursos.aquele ali imprime seus próprios
livros numa máquina copiadora.aquele outro vive num vestiário
abandonado num hotel emHollywood.
aquele parece saber como arranjartostão depois de tostão, suavida é um preencher deformulários.
aquele ali simplesmente é rico evive nos melhores lugaresenquanto bate às melhoresportas.
aquele lá tomou café com WilliamCarlos Williams.
e aquele ali ensina.e aquele lá ensina.e aquele ali publica livros de
autoajuda sobre como fazer ascoisas e usa uma vozdominadora e cruel.
eles estão em todo o lugar.todos são escritores.e quase todo escritor é um poeta.poetas poetas poetas poetas
poetas poetas poetas poetaspoetas poetas poetas poetas
a próxima vez que o telefone tocarserá um poeta.
a próxima pessoa a bater à portaserá um poeta.aquele ali ensinae aquele outro vive com a mãe
e aquele lá está escrevendo ahistória de Ezra Pound.
oh, irmãos, somos as mais doentese as piores criaturas da raça.
alma
oh, como eles se preocupam comminha alma!
recebo cartaso telefone toca…“você vai ficar bem?”perguntam.“ficarei bem”, eu lhes digo.
“já vi tantos se afundarem nasarjeta”, eles me dizem.
“não se preocupem comigo”, digo.ainda assim me deixam nervoso.entro e tomo uma chuveirada saio e
espremo uma espinha do nariz.então vou até a cozinha e preparo
um sanduíche de salame epresunto.
eu costumava viver de docesbaratos.
agora tenho mostarda alemãimportada para passar nosanduíche. devo estar em perigopor causa disso.
o telefone segue tocando e ascartas seguem chegando.
se você vive dentro de um armário
na companhia de ratos e comepão velho
eles gostam de você.você passa a ser umgênio.
ou se está num manicômio oudetido numa delegacia eles ochamam de gênio.
ou se você está bêbado e não parade gritar obscenidades
vomitando as tripas no chãovocê é um gênio.
mas experimente pagar o aluguel
um mês adiantadovestir um novo par de meias ir ao
dentistafazer amor com uma garota limpa e
saudável em vez de pegar umaputa e você vendeu sua
alma.
não estou minimamenteinteressado em perguntar comovão suas almas.
suponho que era o que eu deveriafazer.
uma mudança dehábito
Shirley chegou à cidade com umaperna quebrada e conheceu ochicano que fumava longoscharutos slim e eles foram morarjuntos na Beacon Street
5º andar;a perna não atrapalhavamuito eeles assistiam televisão juntos e
Shirley cozinhava, demuletas e tudo;havia um gato, Bogey,e eles tinham alguns amigos e
falavam sobre esportes eRichard Nixon e de como eradifícil tocar as coisas.
funcionou por alguns meses, Shirleyse livrou até do gesso, e ochicano, Manuel,
conseguiu um emprego no Biltmore,Shirley costurava todos osbotões caídos das camisas deManuel, remendava eemparelhava as meias dele,então
um dia Manuel retornou para casa,e ela havia sumido – semdiscussão, sem bilhete, apenassumira, levando todas as roupase pertences, e
Manuel sentou-se junto à janela eolhou para a rua e não foi aotrabalho
na manhã seguinte nemna outra e nemna outra,sequer ligou para avisar, perdeu o
emprego,recebeu uma multa por
estacionamento proibido, fumouquatrocentos e sessentacigarros, foi preso porembriaguez, saiu por fiança, foi
a julgamento e se confessouculpado.
quando o aluguel venceu ele se
mudou da Beacon Street, deixouo gato e foi viver com seu irmãoe
os dois enchiam a caratodas as noitese falavam sobre o quãoterrívelera a vida.
Manuel jamais voltou a fumaraqueles longos charutos slimporque Shirley sempre diziacomo
ele ficava bonitocom eles na boca.
$$$$$$
sempre tive problemas comdinheiro.
num dos lugares em que trabalheitodos comiam cachorro-quente ebatatas fritas
na cantina da empresa3 dias antes de cadapagamento.eu queria uns bifes,cheguei inclusive a procurar o
gerente da cantina eexigir que ele servisseuns bifes. ele se recusou.
Eu esqueci do dia do pagamento.eu tinha um alto grau de
indiferença e o dia dopagamento chegava e todos nãofalavam em outra
coisa.“pagamento?” eu dizia, “diabo, hoje
é dia de receber? me esqueci depegar meu último cheque...”
“pare de falar merda, cara...”
“não, não, é sério...”
eu me erguia e ia até o caixa eclaro que o cheque estava lá ena volta eu o mostrava
a todos eles. “Jesus Cristo, esquecicompletamente do negócio...”
por alguma razão isso os deixava
furiosos. então o funcionário docaixa aparecia. eu tinha dois
cheques. “Jesus”, eu dizia, “doischeques”.
e eles ficavamfuriosos.alguns deles mantinhamdois empregos.
No pior dos dias
chovia pesadamenteeu não tinha uma capa de chuva
então vesti um velho casaco queeu não usava havia meses e
cheguei um pouco atrasado quandoeles já estavam no batente.
procurei por cigarros nos bolsos enum deles encontrei uma notade cinco dólares:
“ei, vejam”, eu disse, “acabo deencontrar cinco pratas que eunão sabia que tinha, quebeleza”.
“ei, cara, não venha com essamerda!”
“não, não, estou falando sério, deverdade, lembro de ter vestidoeste casaco quando estavabêbado e vagando de bar embar. já me tomaram dinheiromuitas vezes, fiqueidesconfiado... tiro o dinheiro daminha carteira e o escondo emoutras partes.”
“sente de uma vez e comece atrabalhar.”
meti a mão num bolso interno: “ei,vejam, tem um VINTÃO aqui!Deus, não sabia que tinha esteVINTÃO!
estouRICO!”
“ninguém está achando graça, seufilho da puta...”
“ei, meu Deus, aqui tem maisOUTRA de vinte! é muita, muitamuita grana... eu sabia que não
tinha gasto todo o dinheironaquela noite. pensei quetinham me levado os cobresoutra vez...”
continuei vasculhando ocasaco. “ei, aqui tem uma de dez e
aqui mais um cinquinho! meuDeus...”
“escute, já disse pra você sentar ecalar a boca...”
“meu Deus, estou RICO... nãopreciso nem mais desteemprego...”
“cara, senta aí...”
achei mais outra de dez depois queme sentei mas não disse
nada.podia sentir as ondas de ódio e
estava confuso,eles achavam que eu tinha armado
toda aquela história apenas parafazê-los se
sentirem mal. não era o que eu
queria. pessoas que tem quepassar a cachorros-quentes ebatatas fritas por
3 dias antes de sair o pagamento jáse sentem mal o
suficiente.
sentei-meinclinei-me para a frente e comecei
atrabalhar.
do lado de foracontinuavachovendo.
sentado numalancheria
minha filha é a maior das glórias.comíamos um lanche para viagem
em meu carro em Santa Mônica.eu digo, “ei, filha, minha vida tem
sido boa, tão boa”.ela me olha.baixo minha cabeça contra o
volante, tremo, depois abro aporta de supetão, finjo
vomitar.me endireito.ela rimordendo seu
sanduíche.pego quatrobatatas fritas coloco-as em minha
boca, mastigo-as.são 5h20 da tarde e os carros
passam voando por nós pra lá epra cá.
lanço um olhar furtivo: tivemostoda a sorte de que precisamos:seus olhos brilham enquanto odia cai, e ela está sorrindo.
danação e hora da sesta
meu amigo está preocupado com a morte
ele vive em Frisco eu em L.A.
ele vai à academia e puxa uns ferros e dá golpes num grande saco.
a velhice o diminui.
não pode beber por causa do fígado.
consegue fazer50 flexões.
ele me escrevecartasme dizendoque sou o único que o escuta.
claro, Hal, eu lhe respondo num cartão-postal.
mas não quero gastar toda essa grana em academia.
vou para a camacom um sanduíche de linguiça de
fígado e cebola à uma hora da tarde.
depois de comertiro um cochilo
com os heli—cópteros e os abutrescirculando sobre meu
colchão de molas deformado.
tão louco quantosempre fui
bêbado e escrevendo poemas às 3da manhã.
o que importa agora é mais umabocetaapertada
antes que a luzse apague
bêbado e escrevendo poemas às
3h15 da manhã.
algumas pessoas me dizem que soufamoso.
o que estou fazendo sozinhobêbado e escrevendo poemas às3h18 da manhã?
sou tão louco quanto sempre fuieles não entendem que nãoparei de me pendurar peloscalcanhares da janela do 4º
andar – eu ainda o façoagora mesmoaqui sentado
ao escrever estas linhas estou
pendurado pelos calcanharesvários andares acima: 68, 72,101,
a sensação é amesma:implacávelbanal enecessária
aqui sentadobêbado e escrevendo poemas às
3h24 da manhã.
sexo
vou pela avenida Wilton quandoesta garota de uns 15 anosvestida com um jeans apertadoque se cola ao seu rabo comoduas mãos pula na frente domeu carro paro e deixo elacruzar a rua e enquanto olhosuas curvas ondulantes ela meolha direto através do para-brisa
com olhos púrpurase então faz brotarpara fora da bocaa maior bola de chiclete cor-de-rosaque eu jamais vienquanto escuto Beethoven no
rádio do carro.ela entra numa mercearia e se vaie eu fico abandonado com o
Ludwig.
já morreu
sempre quis transar com HenryMiller, ela disse, mas quandocheguei lá era tarde demais.
diabos, eu disse, vocês semprechegam tarde demais, garotas.
hoje já me masturbei duas vezes.
não era esse o problema dele, eladisse. a propósito, como vocêconsegue bater tantas?
é o espaço, eu digo, todo o espaçoentre os poemas e os contos, éintolerável.
você deveria esperar, ela disse,você é impaciente.
o que você pensa de Céline?perguntei.
queria transar com ele também.
já morreu, eu disse.
já morreu, ela disse.
importa-se de ouvir umamusiquinha? perguntei.
pode ser legal, ela disse.
dei-lhe Ives.
Era tudo que me restava naquelanoite.
gêmeos
ei, disse o meu amigo, quero quevocê conheça Hangdog Harry,ele me lembra você, e eu disse,tudo bem, e fomos até essehotel ordinário.
velhos assistiam sentados umprograma de tevê no saguãoenquanto subíamos a escada atéo 209 e lá estava Hangdogsentado numa cadeira de palhauma garrafa de vinho aos seuspés o calendário do ano passadona parede, “sentem-se,rapazes”, ele disse, “este é oproblema: a desumanidade do
homem com o próprio homem”.ficamos vendo ele enrolar um
cigarro Bull Durham.“tenho um pescoço de 40 cm e
matarei todos que quiseremfoder comigo.”
deu uma lambida no cigarro edepois cuspiu no tapete.
“sintam-se em casa. fiquem àvontade.”
“como está se sentindo, Hangdog?”perguntou meu amigo.
“terrível. estou apaixonado por umaprostituta, não a vejo há 3 ou 4semanas.”
“o que você acha que ela estáfazendo, Hang?”
“bem, neste exato momento eudiria que ela está chupandoalgum caralho.”
ele apanhou a garrafa de vinho e
deu uma tremenda enxugada.
“veja”, disse meu amigo aHangdog,
“temos que ir”.
“certo, o tempo e a maré, ambosnão
esperam...”
ele me olhou:“como disse que era seu nome
mesmo?”
“Salomski.”
“prazer em conhecer você, rapaz.”
“o prazer foi meu.”
descemos a escadaeles continuavam no saguãoassistindo tevê.
“o que você achou dele?”
perguntou meu amigo.
“porra”, eu disse, “ele erarealmente
um cara legal. com certeza.”
o lugar não pareciamau
ela tinha coxas colossais e umarisada muito gostosa ria dequalquer coisa e as cortinaseram amarelas e eu gozei
e rolei para o ladoe antes que ela fosse ao banheiro
puxou um pano de baixo dacama e me jogou.
estava duroenrijecido pelo esperma de outros
homens.limpei-me no lençol.
ao retornarela se curvoue pude ver todo seu traseiro
enquanto ela colocava umMozart para tocar.
as garotinhas
lá no norte da Califórniaele estava de pé no púlpitoe estivera lendo por algum tempo
poemas sobrea natureza e a bondadedo homem.
ele sabia que tudo estavacerto e não se podia culpá-lo: ele
era um professor e nuncaestivera na cadeia ou num bordel
nunca tivera uma lata velha queenguiçou no meio de umengarrafamento; jamais
precisara de mais de3 drinques durante sua noite mais
selvagem;jamais tinha sido logrado,
espancado, assaltado,nem fora mordido por um cachorro
ele recebia cartas bacanas deGary Snyder, e seu rosto era
amável, liso emeigo.sua esposa jamais o traíra,nem tivera sua sorte.
ele disse, “vou ler apenas mais 3
poemas e entãodesço daqui e passo apalavra ao Bukowski”.
“oh, não, William”, disseram todasas garotinhas em seus vestidosrosas e azuis e brancos elaranjas e lavandas, “oh, não,William,
leia um pouco mais, leia um poucomais”!
ele leu mais um poema e entãodisse, “este será o último poemaque lerei”.
“oh, não, William”, disseram todasas garotinhas em seus vestidostransparentes vermelhos everdes, “oh, não, William”,disseram todas as garotinhas emseus jeans colados compequenos corações a elesbordados, “oh, não, William”,disseram todas as garotinhas,“leia mais poemas, leia maispoemas!”
mas ele manteve a palavra.terminou o poema e desceu do
púlpito e desapareceu. quandome levantei para ler as
garotinhas se agitaram emseus assentos e algumas delas
assobiaram e algumas fizeramcomentários a meu respeito queusarei em outra ocasião.
duas ou três semanas depoisrecebi uma carta de Williamdizendo que tinha gostado de fato
da minha leitura.um cavalheiro de verdade.eu estava na cama de cuecas e com
uma ressaca de 3 dias. perdi oenvelope mas peguei a carta efiz com ela um aviãozinho comoaqueles que aprendi a fazer naépoca do
colégio. ele cruzou o quartoantes de aterrissar entre um velho
programa de corrida e um par decuecas carimbadas.
não nos correspondemos desdeentão.
chuva ou sol
os abutres no zoo (todos os 3)sentam-se bastante tranquilos em
sua árvore enjaulada e abaixono chãohá postas de carne podre.os abutres estão empanturrados
nossos impostos os têm mantidobem alimentados.
seguimos para a próxima jaula.um homem está ali sentado no
chãocomendo
a própria merda.reconheço a figura de nosso antigo
carteiro.sua expressão favorita sempre fora:“tenha um ótimo dia”.naquele dia, foi o que me
aconteceu.
ameixas geladas
comendo ameixas geladas na camaela me contou sobre o alemão
que era dono de toda quadraexceto da loja de tecidose de como ele tentou comprara loja de tecidosmas as garotas disseram, não.o alemão tinha a melhor mercearia
em Pasadena, suas carnes eramcaras mas valiam o preço
e suas frutas e verduras eram muitobaratas e
ele também vendia flores. aspessoas vinham de todaPasadena para ir à sua loja
mas ele queria comprar a loja detecidos e as garotas seguiamdizendo, não.
certa noite alguém foi visto saindoa correr pela porta dos fundosda loja de tecidos e então o fogose ergueu
e quase tudo foi destruído –elas fizeram um tremendo
inventário tentaram salvar tudoo que tinha sobrado fizeram umaliquidação de incêndio mas nãofuncionou
elas tiveram que vender, por fim, eentão o alemão comprou a lojade tecido mas a deixou lá, vazia,
a esposa do alemão tentou
reerguer o negócio tentouvender pequenas cestas e outrasquinquilharias mas nãofuncionou.
terminamos as ameixas.“é uma história triste”, eu lhe disse.então ela se inclinou e começou a
me chupar.as janelas estavam abertas e meus
gritos podiam ser ouvidos portoda vizinhança às 5h20 de umfim de tarde.
garotas voltando paracasa
as garotas voltam para casa emseus carros e eu me sento àjanela e assisto.
há uma garota num vestidovermelho dirigindo um carrobranco há uma garota numvestido azul dirigindo um carroazul há uma garota num vestidorosa dirigindo um carrovermelho.
quando a garota no vestido
vermelho desce do carro brancoeu olho para suas pernasquando a garota no vestido azul
desce do carro azuleu olho para suas pernas quando a
garota no vestido rosa desce docarro vermelho eu olho parasuas pernas.
a garota no vestido vermelho quedesceu do carro branco tinha asmelhores pernas
a garota no vestido rosa que
desceu do carro vermelho tinhapernas razoáveis
mas sigo lembrando da garota no
vestido azul que desceu do carroazul
vi suas calcinhas
você não sabe o quão excitante avida pode ser por volta
das 5h25 da tarde.
certo piquenique
que me lembra quetrepei com Jane por 7 anos ela era
uma bêbadaeu a amava
meus pais a odiavam eu odiava
meus pais fazíamos um ótimoquarteto
certo dia fomos a um piquenique
juntoslá nas montanhase jogamos carta e bebemos cerveja
e comemos salada de batata
por fim eles a trataram como se elafosse uma pessoa de verdade
todos riameu não.
mais tarde na minha casa uísque na
cabeçaeu lhe disse,não gosto delesmas é bom que tenham tratado
você bem.
seu idiota, ela disse, será que nãopercebeu?
percebi o quê?
eles não tiravam os olhos da minhabarriga de cerveja, pensaramque eu estava grávida.
oh, eu disse, então brindemos à
nossa belacriança.
à nossa bela criança,
ela disse.
viramos os copos.
penicos
nos hospitais em que estive você vêas cruzes nas paredes com asfinas folhas de palma atrás delasamareladas e escurecidas
é o sinal para aceitar o inevitávelmas o que realmente machuca são
os penicosduros debaixo da sua bunda você
está à beira da morte e tem quedar um jeito de sentar sobreessa coisa impossível
e urinar edefecar
enquanto isso na cama ao lado dasua
uma família de 5 traz mensagensde esperança para um casoincurável de doença cardíaca
câncerou putrefação generalizada.
o penico é uma pedra impiedosauma horrorosa zombaria porqueninguém quer arrastar seu corpoagonizante até o banheiro evoltar.
você se arrasta
mas eles mantêm as barraserguidas você está no seu leitoseu minúsculo leito de morte equando a enfermeira volta umahora e meia depois e não hánada no penico ela o encara comseu mais imoderado olhar
como se à beira da morte alguémestivesse apto a fazer as coisasmais comuns vez após vez.
mas se você pensa que isso é ruim
apenas relaxee deixe a coisa vir
todanos lençóis
então você ouviránão só da enfermeira mas tambémde todos os outros pacientes...
a parte mais complicada de morreré que eles esperam que você sevá
como um disparo em direção ao céunoturno
algumas vezes isso pode ser feitomas quando você precisar da bala
na espingarda olharáe descobriráque os fios sobre sua cabeça
conectados anos atrás ao botãoforam cortadosretalhadoseliminadostransformadosem algotão inútil quantoo penico.
o bom perdedor
a face vermelha do Texasmais a idadeele está num hipódromo de L.A.falando comum grupo de pessoas.é o 4º páreoe ele está pronto pra partir:“bem, até mais, camaradas, que
Deus os abençoe, vejo vocêsamanhã...”
“um cara bacana.”“é.”
ele segue para o estacionamento
para entrar num carro de 12anos
dali ele seguirá para uma pensãoseu quarto não terá nem toalete
nem chuveiro
seu quarto terá uma janela comuma persiana de papel rasgadae do lado de fora haverá umaparede de cimento descascadagrafitada por cortesia de umagangue de jovem chicanos
ele tirará ossapatos e
deitará
estará escuromas ele não acenderá a luz
ele não tem nada a fazer.
uma arte
todo o percurso desde o Méxicodiretamente do campo
para 14 vitórias13 por nocaute.ele estava em 3º no ranking e
numa luta preliminar foinocauteado por um lutadornegro que nem estavaranqueado e que não lutava há2 anos.
todo o percurso desde o Méxicodiretamente do campo.
a bebida e as mulheres acabaramcom ele.
na revanche ele foi mais uma veznocauteado e suspenso por 6meses.
todo esse percursopelo trago e 2 casos de doença
venérea.
retornou um ano depois jurandoque estava limpo, que tinhaaprendido a lição.
e conseguiu arrancar um empatecom o 9º do ranking de sua
divisão.
retornou para a revanche e a lutafoi interrompida no 3º assaltoporque ele não conseguia mais
se proteger.
e ele refez todo o percurso de voltaaté o México
diretamente para o campo.
é preciso um poeta fodãocomo eupara conseguir lidar com as bebidas
e as mulheres
escapar das doenças venéreasescrever sobre fracassoscomo o delee manter minha posição entre os10 primeiros do ranking: todo o
percurso desde a Alemanhadiretamente das fábricasentre garrafas de cervejae a campainha dotelefone.
as garotas do hotelverde
são mais bonitas que estrelas decinema e elas se espreguiçamno gramado
tomando banho de sol e uma estásentada com um vestido curto esaltos altos, as pernas cruzadasexpondo coxas miraculosas.
ela usa uma bandana na cabeçae fuma umcigarro comprido.o tráfego fica lento quase para.
as garotas ignoram o tráfego.estão pachorrentas no meio da
tarde são putassão putas sem almae são mágicas pois mentema troco de nada.
entro no meu carro espero otráfego liberar,
cruzo a ruaem direção ao hotel verde à minha
favorita: elase bronzeia no gramado próxima ao
meio-fio.
“olá”, eu digo.ela me volta seus olhos de falsos
diamantes.seu rosto não tem expressão.
lanço meu mais recente livro depoemas pela janela do carro.
ele caiao lado dela.
engato aprimeira,me afasto.
haverá algumas risadas
esta noite.
um bom sujeito
recebo telefonemas demais.eles procurampela criatura.não deviam fazer isso.
nunca liguei para Knut Hamsun ou
Ernie ouCéline.
nunca liguei para Salingernunca liguei para Neruda.
esta noite recebi uma chamada:
“olá. você éCharles Bukowski?”
“sim.”
“bem, eu tenho uma casa.”
“e?”
“um bordel.”
“entendo.”
“li seuslivros. tenhoum puteiro num barco em
Sausalito.”
“beleza.”
“quero lhe passar o meu número detelefone. quando você vier a SanFranciso eu lhe pago umdrinque.”
“certo. me passa o número.”
anotei-o.
“mantemos um negócio decategoria. estamos em busca deadvogados e senadores,
cidadãos da elite, assaltantes,cafetões, e por aí vai.”
“eu ligo pra você quando estiver poraí.”
“boa parte das garotas lê seuslivros. elas o amam.”
“sério?”“sério.”
nos despedimos.
gostei daquela ligação.
hora da cagada
meio bêbadodeixei a casa delasuas cobertas quentes e eu estava
de ressaca não sabia sequer quecidade era aquela.
saí caminhando sem conseguirachar meu carro.
mas eu sabia que ele tinha queestar em algum lugar.
e logo eu também estava perdido.caminhei a esmo. era a manhã de
uma quarta-feira e eu podia vero oceano ao sul.
mas toda aquela bebida: a merdaestava prestes a escorrer para
fora de mim.segui em direção aomar.avistei uma estrutura de tijolos
marrons nos limitesda rebentação.entrei. havia umvelho gemendo em umdos reservados.“olá, meu chapa”, ele disse.“olá”, eu disse.“está um inferno lá fora, não?”, o
velhoperguntou.“sim”, respondi.“precisa de um trago?”“nunca bebo antes do meio-dia.”
“que horas você tem aí?”“11h58”“temos dois minutos.”me limpei, dei a descarga, subi
minhas calças e me afastei.o velho continuava no seu
reservado, gemendo.apontou para uma garrafa de vinho
junto a seus pésquase vaziae eu a apanhei e tomei cerca de
metade do que ainda restava.estiquei para ele uma nota de
dólar, velha e amassadaentão segui para o lado de fora e
vomitei num gramado.olhei para o oceano e o oceano
parecia bom, cheio de azuis everdes e tubarões.
saí dali e refiz o caminho até a ruadeterminado a encontrar meu
automóvel.custou-me uma hora e quinze
minutos e quando finalmenteconsegui encontrá-lo entrei e deia partida fingindo saber tantoquanto o homem
ao lado.
loucura
não bato com meus punhos nasparedes apenas sento
mas a loucura entra de assalto umamaré de loucura.
a mulher do quintal dos fundosurra, chora todas as noites.
às vezes a polícia chegae a leva por um ou dois dias.
eu acreditava que ela sofria com a
perda de um grande amoraté que um dia ela superou aquilo e
me contou sua história – elaperdera 8 apartamentos
para um gigolô que a havia logradoe ficado com eles.
ela urrava e chorava por causa daperda das propriedades.
começou a soluçar enquanto mecontava aquilo então com umaboca cheirando a alho e cebolasdelineada com um batomvencido ela me beijou e disse:
“Hank, ninguém te ama se vocênão tiver dinheiro”.
ela é velha, quase tão velha quantoeu.
ela se foi, ainda chorosa...
na manhã seguinte às 7h20 doisenfermeiros negros apareceramcom uma maca,
só que bateram na minha porta.
“vamos lá, cara”, disse o mais alto.“esperem”, eu disse, “isso é um
engano.”
eu estava numa terrível ressacaparado com meu roupão surrado
os cabelos caindo sobre os olhos.
“este é o endereço que nos deram,cara, aqui não é o 5437?”
“sim.”
“vamos lá, cara, não foda com agente.”
“a mulher que vocês querem moralá nos fundos.”
os dois contornaram o pátio.
“esta porta aqui?”
“não, não, esta é a minha porta dosfundos. olhem, subam essesdegraus atrás de vocês. é a porta
da direita, a que está com a caixado correio pendurada.”
eles foram até lá e bateram naporta. eu vi os dois a levaremconsigo. não usaram a maca. elaseguiu entre eles.
e me passou rapidamente aimpressão de que estavam[levando a pessoa errada, masnão tive certeza.
um poema de 56 anos
segui com duas damasaté Venicepara dar uma olhada nuns móveis
antigos.estacionei no fundo da lojae entrei com elas.US$ 125 por um relógio, US$ 700
por 6 cadeiras.parei de olhar.
as damas circulavamolhando tudo.tinham classe.me despedi de uma delas
e dei o fora.
era domingo e o barnão estava muito melhor,todos nervosos e jovense loiros e pálidos.terminei minha bebida, peguei 4
cervejas na loja deconveniências
e sentei em meu carro para bebê-las.
ao terminar a 4ª cervejaas damas apareceram.perguntaram-me se eu estava bem.eu lhes disse que toda experiência
era válida
e que elas me haviam tirado demeu habitualmente negro estado
de espírito.
a que eu conhecia melhor haviacomprado uma mesa com tampode mármore por US$ 100.
ela possuía seu próprio negócio eera uma pessoa civilizada.
civilizada o suficiente para conhecerum vizinho que tinha uma van eenquanto eu estava acomodadoem seu apartamento [bebendoum Zeller Schwarze Katz 1974
eles foram apanhar a mesa.
mais tarde ela quis saber a minhaopinião sobre a mesa e eu disseque me parecia bacana, àsvezes eu perdia cem pratas noscavalinhos. assistimos tevê nacama e mais tarde naquela noiteeu não consegui gozar. penseique era porque não conseguiadeixar de pensar na mesa de[mármore.
tinha certeza de que era isso. eunão possuía nenhuma[antiguidade em mármore naminha casa, quase nunca tiveproblemas [sexuais na minha
casa. algumas vezes, masmuito raramente.não consigo entender toda essa
função de antiguidades
tenho certeza de que é umagigantesca vigarice.
a bela jovem passandopelo cemitério –
paro meu carro no semáforo vejo-apassando pelo cemitério –
enquanto ela segue junto à gradede ferro posso ver para além dasbarras vejo as lápides
e o gramado verde.
o corpo dela se mexe em frente àgrade de ferro as lápides não semexem.
penso,será que mais alguém vê isso?
penso,será que ela vê essas lápides?
se vê,ela possuiu uma sabedoria de que
não disponho pois pareceignorá-las.
seu corpo se move commágica fluideze sua longa cabeleira é iluminada
pelo sol das 3 da tarde.
o sinal mudaela cruza a rua na direção oeste
dirijo para oeste.
sigo costeando o oceano desçoe corro pra lá e pra cá em frente ao
mar por 35 minutos vendopessoas aqui e acolá com olhose ouvidos e dedos e váriasoutras partes.
ninguém parece se importar.
cerveja
não sei quantas garrafas de cervejaconsumi esperando que ascoisas melhorassem.
não sei quanto vinho e uísque ecerveja
principalmente cerveja consumidepois
de rompimentos com mulheres –esperando o telefone tocaresperando o som dos passos, eo telefone nunca toca antes queseja tarde demais e os passosnunca chegam antes que sejatarde demais.
quando meu estômago já está
saindo pela bocaelas chegam frescas como flores de
primavera: “mas que diabosvocê está fazendo?
vai levar três dias antes que vocêpossa me comer!”
a mulher é durávelvive sete anos e meio a mais que o
homem, bebe muito poucacerveja porque sabe como ela éruim para a aparência.
enquanto enlouquecemos elas
saemdançam e riemcom caubóis cheios de tesão.
bem, há a cervejasacos e mais sacos de garrafas
vazias de cerveja e quando vocêpega uma as garrafas caematravés do fundo úmido do sacode papel
rolandotilintandocuspindo cinza molhada e cerveja
choca,ou então os sacos caem às 4 horas
da manhãproduzindo o único som em sua
vida.
cerveja
rios e mares de cerveja cervejacerveja cerveja o rádio tocacanções de amor enquanto otelefone permanece mudo e asparedes seguem
paradas e estáticase a cerveja é tudo o que há.
artista
de súbito me torno um pintor.uma garota de Galveston me dá
US$ 50 por um quadro de umhomem segurando uma bengaladoce enquanto flutua por um céuescuro.
então um jovem com uma barba
negra aparecee eu lhe vendo três por US$ 80.ele gosta de telas grosseiras nas
quais escrevo coisas como –“cague” ou “GRANDE ARTE É
BOSTA DE CAVALO, COMPRE
TACOS”.
posso fazer um quadro em 5minutos.
uso tinta acrílica, direto do tubo.pinto o lado esquerdo do quadro
primeiro com minha mãoesquerda e depois termino olado direito com minha mãodireita.
agora o jovem barbudoretorna com um amigo com um
cabelo todo espetado e elestrazem uma loirinha com eles.
o barba negra continua sendo omesmo otário: vendo-lhe umpunhado de merda – umcachorro laranja com a palavra“CACHORRO” escrita ao seulado.
o cabelos espetados quer 3 quadrospelos quais peço US$ 70.
ele não tem a grana.fico com as telas masele promete me mandar uma
garota chamada Judy
de cinta-liga e saltos altos.ele já lhe contou sobre mim: “um
escritor de fama internacional”,ele disse e ela respondeu, “oh,não!” e puxou seu vestido sobresua cabeça.
“eu quero isso”, eu lhe disse.
depois discutimos as condições euqueria comê-la primeiro e depoisreceber um boquete.
“que tal o boquete primeiro edepois a foda?”, ele perguntou.
“isso não funciona”, eu disse.
então chegamos a um acordo: Judyviria até aqui e
depoiseu alcançaria a ela as3 pinturas.e assim estamos:de volta ao escamboo único modo de vencer a inflação.
apesar dissogostaria deiniciar aqui o Movimento pela
Libertação Masculina: quero umamulher que me dê 3 de suaspinturas após fazer amor
comigo,e se ela não souber pintar pode me
deixarum par de brincos de ouro ou talvez
um pedaço de orelha emhomenagem àquele que eracapaz.
meu velho
16 anos de idadedurante a depressãocheguei em casa bêbadoe todas as minhas roupas –calções, camisas, meias –pastas, e páginas decontostinham sido jogadas forasobre o gramado da frente e na
rua.
minha mãe estava meesperando atrás de uma árvore:
“Henry, Henry, não
entre... ele vaimatar você, leusuas histórias...”
“posso chutar abunda dele...”
“Henry, pegue issopor favor... eprocure um quarto para você.”
mas o que o preocupava eraque eu talvez nãoterminasse o colegialentão eu voltariaoutra vez.
uma noite ele entroucom as páginas deum dos meus contos(que eu nunca submeti a ele)e disse, “este é um grande conto”.eu disse, “ok”e ele me alcançou e eu li.era uma história sobre um homem
rico que teve uma briga com suaesposa e se foi pela noite atrásde uma xícara de café e ficouobservando a garçonete e ascolheres e garfos e o sal e opimenteiro e o letreiro de néonna janela foi então que voltoupara seu estábulo para ver e
tocar seu cavalo favorito quedeu-lhe um coice na cabeça e omatou.
de alguma maneira a história emsuas mãos tinha um significadopara ele apesar de que quando aescrevi não tinha nenhuma ideiaa respeito do que tratava.
então eu lhe disse, “ok, velho, vocêpode ficar com ela”.
e ele a pegoue caiu fora
e fechou a porta.acho que foio mais próximoque jamais estivemos.
medo
ele se aproxima do meu Fuscadepois que já estacionei e seguepra lá
e pra cárindo ao redor de seu charuto.
“ei, Hank, tenho reparado nasmulheres que têm frequentadosua casa ultimamente... só coisafina; você está fazendo seutrabalho direitinho.”
“Sam”, eu digo, “isso não éverdade; sou um dos homensmais solitários que Deus pôsneste mundo.”
“temos umas garotas bacanas noputeiro, você devia experimentaruma delas.”
“tenho medo desses lugares, Sam,não posso nem entrar.”
“eu lhe mando uma garota então,artigo de luxo.”
“Sam, não me mande uma puta, eusempre me apaixono por elas.”
“certo, amigo”, ele diz, “me avisese mudar de ideia.”
eu o vejo se afastar.alguns homens estão sempre no
controle do seu jogo.
para mim, a maior parte do tempoé confusão.
ele pode partir um homem ao meioe não sabe quem é Mozart.
de todo modoquem quer ouvirmúsicanuma noite chuvosa de quarta-
feira?
pequenos tigres portoda parte
Sam, o putanheiro,tem sapatos que estalam e ele
caminha pra lá e pra cá peloquintal
estalando e conversando com osgatos.
pesa 140 quilos,um assassinoe conversa com os gatos.ele frequenta as mulheres na casa
de massagem e não temnamoradas ou automóvel
não bebe ou se chapa
seus maiores vícios são mastigarum charuto e
alimentar todos os gatos davizinhança.
algumas das gatas ficam prenhese depois por fim aparecem mais e
mais gatos etoda a vez que abro minha porta
um ou dois gatos entramcorrendo e algumas vezes acaboesquecendo que eles estão ali eeles cagam debaixo da cama oume desperto no meio da noitecom sons estranhos
pulo da cama com minha faca entrona cozinha e lá
está um dos gatos de Sam, o
putanheiro, circulando em voltada pia ou sentado sobre a
geladeira.Sam administra o puteiro da
esquinae suas garotas ficam paradas na
varanda ao sole o semáforo vai dovermelho ao verde e do vermelho
ao verde e todos os gatos doSam possuem parte dosignificado assim como fazem osdias e as noites.
depois da leitura:
“...já vi pessoas em frente a suasmáquinas de escrever em talaperto que faria com que seusintestinos explodissem cu aforase estivessem tentando cagar.”
“ah hahaha hahaha!”
“...é uma vergonha trabalhar assimtão pesado só para escrever.”
“ah hahaha hahaha!”
“a ambição raramente tem algumacoisa a ver com o talento. émelhor ter sorte, e deixar otalento vir manquejando logoatrás da sorte.”
“a haha.”
ele se levantou e deixou o lugarcom uma virgem de 18 anos, amais linda estudante entretodas.
fechei meu bloquinhome ergui e manquejeilogo atrás dosdois.
sobre guindastes
às vezes, após você ter recebidodas forças um belo chute norabo
você costuma desejar ser umguindaste estendido sobre umaperna
na água azulmas há sempre avelha questão que você conhece:você não quer ser um guindaste
estendido sobre uma pernana água azulo infortúnio não é suficiente
e
a vitóriaclaudica
um guindaste não pode pagar por
um raboou
vadiar às tardes em Monterey
essas são algumas das coisas
que os humanos podem fazeralém deficar sobre uma perna só
um relógio de bolsodourado
meu avô era um alemão alto comum cheiro estranho no hálito.
ele permanecia muito ereto emfrente à sua casinha
e sua esposa o odiavae seus filhos o achavam estranho.eu tinha seis anos a primeira vez
que nos vimos e ele me deutodas as suas medalhas deguerra.
na segunda vez que nos vimos eleme deu seu relógio de bolsodourado.
era muito pesado e eu o levei paracasa e dei corda bem forte
e ele parou de funcionar o que mefez sentir mal.
nunca mais voltei a vê-lo e meusparentes nunca falavam delenem mesmo minha avó
que muito tempo atrásdeixou de viver em sua companhia.uma vez perguntei por ele e me
disseramque bebia demaismas na melhor imagem que guardo
dele ele está muito eretoem frente a sua casae dizendo, “olá, Henry, você e eu,
nós nos
conhecemos”.
viagem à praia
os homens fortes os homensmusculosos lá na praia eles sesentam
bronzeados como chocolate ospesos
espalhados ao seu redor eintocados
ficam sentados enquanto as ondas
avançam e recuam
ficam sentados enquanto omercado de ações ergue edestrói homens e famílias
ficam sentados enquanto umapertar de botão poderiatransformar seus caralhos
em palitos de fósforos pretos eenrugados
ficam sentados enquanto suicidasem quartos verdes os trocam porespaço
ficam sentados enquanto antigasMiss Américas
choram diante de espelhosenrugados
ficam sentadosficam sentados com menos
vivacidade que macacos e minhamulher para e os olha:
“uuuu uuuu uuuu”, ela diz.
me afasto comminha mulher enquanto as ondas
avançam e recuam.
“há alguma coisa errada com eles”,ela diz, “o que é?”
“o amor deles só corre em umadireção.”
as gaivotas giram e o mar avança erecua
e nós os abandonamos lá atrásdesperdiçando o tempo que lhes
restao momento presente as gaivotaso mara areia.
um poema para oengraxate
o equilíbrio é preservado pelaslesmas que escalam os rochedosde Santa Mônica;
a sorte está em descer a WesternAvenue
enquanto as garotas numa casa demassagem gritam para você, “Alô,
Doçura!”o milagre é ter 5 mulheres
apaixonadaspor você aos 55 anos,e o melhor de tudo isso é que você
só é capaz de amar uma delas.
a bênção é ter uma filha maisdelicada
do que você, cuja risada é maisleve
que a sua.a paz vem de dirigir umFusca 67 azul pelas ruas como umadolescente, o rádio sintonizado em
O Seu Apresentador Preferido,sentindo o sol, sentindo o sólidoroncar do motor retificado
enquanto você costura o tráfego.a graça está na capacidade de
gostar de rock, música clássica,jazz...
tudo o que contenha a energiaoriginal do gozo.
e a probabilidade que retornaé a tristeza profundadebaixo de você estendida sobre
vocêentre as paredes de guilhotinafurioso com o som do telefoneou com os passos de alguém que
passa;mas a outra probabilidade –a cadência animada que sempre se
segue – faz com que a garota docaixa no
supermercado se pareça com aMarilyncom a Jackie antes que levassem
seu amante de Harvard com a
garota do ensino médio quesempre seguíamos até em casa.
lá está a criatura que nos ajuda aacreditar em alguma coisa alémda morte: alguém num carro quese aproxima numa rua muitoestreita, e ele ou ela se afastapara que possamos passar, ouse trate do velho lutador BeauJack[7]
engraxando sapatos após terqueimado todo seu dinheiro emfestas mulheres parasitasbufando, respirando junto aocouro, dando um trato com a
flanela os olhos erguidos paradizer: “mas que diabos, por ummomento tive tudo. issocompensa todo o resto.”
às vezes sou amargo mas no geralo sabor tem sido doce. é apenasque tenho medo de dizê-lo. écomo quando sua mulher diz,“fala que me ama”, e você nãoconsegue.
se você me vir sorridente em meuFusca azul aproveitando o sinal
amarelo dirigindo firme emdireção ao sol estareimergulhado nos braços de umavida insana
pensando em trapezistas de circoem anões com enormes charutosnum inverno na Rússia no início dos
anos 40em Chopin com seu saco de terra
polacanuma velha garçonete que me traz
uma xícara extra de café comum sorriso
nos lábios.
o melhor de você
me agrada mais do que podeimaginar.
os outros não importamexcetuado o fato de que eles têm
dedos e cabeças e alguns delesolhos
e a maioria deles pernase todos elessonhos e pesadelose uma estrada a seguir.
a justiça está em toda parte e não
descansa e as metralhadoras eos coldres e
as cercas vão lhe dar provadisso.
[1] No original, T.M., abreviatura deTranscendental Meditation, literalmenteMeditação Transcendental. (N.T.)[2] Ácido nicotínico. Um tipo de vitaminado complexo B. (N.T.)[3] Bairro negro de Los Angeles ondeocorreu um sério distúrbio de ordem racial.(N.T.)[4] Escritora famosa por sua beleza, umaespécie de celebridade-socialite de suaépoca. (N.T.)[5] Time de futebol americano da cidade.(N.T.).[6] Marca de camisinhas americanas.(N.T.)[7] Peso leve americano. Duas vezescampeão mundial. (N.T.)
Charles BukowskiCharles Bukowskinasceu a 16 de
agosto de 1920 emAndernach,
Alemanha, filho deum soldado
americano e de uma
jovem alemã. Aos trêsanos de idade, foilevado aos EstadosUnidos pelos pais.Criou-se em meio à
pobreza de LosAngeles, cidade ondemorou por cinquentaanos, escrevendo eembriagando-se.
Publicou seu primeiro
conto em 1944, aos24 anos de idade. Sóaos 35 anos é quecomeçou a publicar
poesias. Foi internadodiversas vezes com
crises de hemorragiae outras disfunçõesgeradas pelo abuso
do álcool e do cigarro.Durante a sua vida,
ganhou certanotoriedade comcontos publicados
pelos jornaisalternativos Open Citye Nola Express, mas
precisou buscaroutros meios de
sustento: trabalhoucatorze anos nos
Correios. Casou, teve
uma filha e seseparou. É
considerado o últimoescritor “maldito” da
literatura norte-americana, uma
espécie de autor beathonorário, embora
nunca tenha seassociado com outrosrepresentantes beats,
como Jack Kerouac eAllen Ginsberg.
Sua literatura é de caráterextremamente autobiográfico, enela abundam temas epersonagens marginais, comoprostitutas, sexo, alcoolismo,ressacas, corridas de cavalos,pessoas miseráveis e experiênciasescatológicas. De estiloextremamente livre e imediatista,na obra de Bukowski nãotransparecem demasiadaspreocupações estruturais. Dotadode um senso de humor ferino, auto-
irônico e cáustico, ele foicomparado a Henry Miller, Louis-Ferdinand Céline e ErnestHemingway.
Ao longo de sua vida, publicoumais de 45 livros de poesia e prosa.São seis os seus romances: Cartasna rua (1971), Factótum (1975),Mulheres (1978), Misto-quente(1982), Hollywood (1989) e Pulp(1994). Bukowski publicou em vidaoito livros de contos e histórias:Ereções, ejaculações eexibicionismos (1972), Ao sul delugar nenhum: histórias da vidasubterrânea (1973), Tales ofOrdinary Madness (1983), Hot
Water Music (1983), Bring Me YourLove (1983), Numa fria (1983),There’s No Business (1984) eSeptuagenarian Stew (1990). Seuslivros de poesias são mais de trinta,entre os quais Flower, Fist andBestial Wail (1960), You Get SoAlone at Times that It Just MakesSense (1996), sendo que a maioriapermanece inédita no Brasil. Váriasantologias, além de livros depoemas, cartas e histórias forampublicados postumamente.
Da sua vasta obra, osseguintes títulos são publicados noBrasil pela L&PM Editores: Pulp,Hollywood, A mulher mais linda da
cidade, Numa fria, Notas de umvelho safado, O capitão saiu para oalmoço e os marinheiros tomaramconta do navio (com ilustrações deRobert Crumb) e Ereções,ejaculações e exibicionismos, sobos dois volumes intituladosFabulário geral do delírio cotidianoe Crônica de um amor louco.
Bukowski morreu depneumonia, decorrente de umtratamento de leucemia, na cidadede San Pedro, Califórnia, no dia 9de março de 1994, aos 73 anos deidade, pouco depois de terminarPulp.
Texto de acordo com a nova ortografia.
Título original: Love is a Dog from Hell
Este livro foi publicado em formato 14x21cm pela L&PM Editoresem 2007
Tradução: Pedro GonzagaCapa: Ivan Pinheiro Machado sobre foto de Charles Bukowski
Preparação de original: Bianca PasqualiniRevisão: Jó Saldanha e Fernanda Cavagnoli
CIP-BRASIL. Catalogação-na-Fonte SindicatoNacional dos Editores de Livros, RJ
B949a
Bukowski, Charles, 1920-1994O amor é um cão dos diabos / Charles Bukowski; tradução PedroGonzaga. – Porto Alegre, RS: L&PM Editores, 2011.(Coleção L&PM POCKET, v.888)
Tradução de: Love is a Dog From HellISBN 978.85.254.2246-0
1. Poesia inglesa. I. Gonzaga, Pedro. II. Título. II. Série 07-3704.CDD: 821CDU: 821.111-1
© 1977, Charles Bukowski
Todos os direitos desta edição reservados aL&PM Editores
Rua Comendador Coruja 314, loja 9 – Floresta– 90220-180Porto Alegre – RS – Brasil / Fone:
51.3225.5777 – Fax: 51.3221-5380
Pedidos & Depto. comercial:
[email protected] Fale conosco:
[email protected] www.lpm.com.br
Sumário1. mais uma criaturaatordoada pelo amor 5
Sandra 6você 9a deusa de um metro e oitenta 11já vi mendigos demais com osolhos vidrados bebendo vinhobarato debaixo da ponte
15
gostosa e sexy 18a música suave 23entorpeça seu rabo e seucérebro e seu coração... 25
uma das mais quentes 30
cinzas 33foda 37eu 41outra cama 44encurralado 49esta noite 51a escapada 53a furadeira 55texana 58a aranha 61o fim de um breve caso 65lamentando e se queixando 71um poema quase feito 73blue cheese e chili 78problemas relacionados à outramulher 81
M.T. 85
a 5ª do Bee 8940 graus 94pacific telephone 99100 quilos 105reviravolta 111um poema para a velha dente-podre 116
comunhão 120tentando acertar as contas: 123Chicago 130garotas calmas e limpas emvestidos de algodão 134
provaremos as ilhas e o mar 1382. eu, e aquela velha: aflição 140
este poeta 141inverno 149o que eles querem 152Iron Mike 155guru 160os professores 165para Al… 167como ser um grande escritor 170o preço 177sozinho com todo mundo 182o segundo romance 185Chopin Bukowski 189dama melancólica 193barata 196quem, diabos, é Tom Jones? 198derrota 202
sinais de trânsito 205462-0614 210fotografias 213social 217um poema para a armadurapeitoral 220
o pior e o melhor 225cupons 229sorte 231cão 233guerra de trincheira 234a noite em que trepei com meudespertador 238
quando me penso morto 240noite de Natal, sozinho 242certa vez houve uma mulher que
enfiou a cabeça dentro do forno 245
camas, banheiros, você e eu... 248isso então... 251imaginação e realidade 253roubada 258o humilde herdou 262os insanos sempre me amaram 264Big Max 269aprisionado 273é o modo como você joga o jogo 275no continente 27712:18 a.m. 281táxi 286como você não está fora dalista? 290
boletim do tempo 295velho limpo 297alguma coisa 299uma janela de vidros espelhados 300junkies 30499 para um 308o estouro 312um cavalo de olhos azul-esverdeados 320
3. Scarlet 322Scarlet 323ruiva de cima a baixo 327como uma flor na chuva 332castanho-claro 336brincos enormes 338ela saiu do banheiro com sua
cabeleira ruiva flamejante edisse...
342
uma assassina 345uma aposta perdida 347a promessa 352acenos e mais acenos de adeus 355liberdade 362não toque nas garotas 365óculos escuros 370orador debaixo de mau tempo 374melancolia 379um caso de estetoscópio 383morda-se de raiva 387a retirada 391cometi um erro 395
4. melodias populares no
que restou de sua mente 398garotas de meia-calça 399subindo seu rio amarelo 402artistas: 405eu também tenho a cuecacarimbada 413
Hawley está saindo da cidade 415um poema rude 419uma abelha 423o principal 427ah... 431a garota no banco da parada deônibus 434
voltando para onde eu estava 439um casal adorável 440
a noite mais estranha que de fatovocê já viu...
442
numa vizinhança de assassinos 447soldado raso 450o amor é um cão dos diabos 453minha tiete 457agora, se você tivesse queensinar escrita criativa, eleperguntou, o que você lhesdiria?
460
a boa vida 465o grego 469meus camaradas 473alma 477uma mudança de hábito 481$$$$$$ 485sentado numa lancheria 494
danação e hora da sesta 496tão louco quanto sempre fui 500sexo 503já morreu 505gêmeos 509o lugar não parecia mau 515as garotinhas 517chuva ou sol 523ameixas geladas 525garotas voltando para casa 528certo piquenique 531penicos 535o bom perdedor 540uma arte 543as garotas do hotel verde 547um bom sujeito 551
hora da cagada 557loucura 561um poema de 56 anos 567a bela jovem passando pelocemitério – 572
cerveja 576artista 580meu velho 586medo 591pequenos tigres por toda parte 595depois da leitura: 598sobre guindastes 601um relógio de bolso dourado 603viagem à praia 606um poema para o engraxate 610
Notas 617