nutrição para as crianças e adolescentes desportistas

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SSE #77: Nutrição para Crianças e Adolescentes Esportistas Autor:Oded Bar-Or Principais tópicos - Devido ao crescimento e desenvolvimento, as necessidades diárias de proteína por unidade de peso corporal é maior para crianças do que para adultos. Porém, existem dúvidas se uma criança atleta necessita de mais proteínas para o seu crescimento, desenvolvimento e desempenho atlético do que aquela que não pratica esportes. - As crianças necessitam de uma maior quantidade de energia que aquela necessária para um adolescente ou para um adulto durante a prática de atividades esportivas que inclui o andar ou correr e possivelmente outras também. - Comparativamente com os adultos, as crianças e os adolescentes utilizam mais gordura e menos carboidratos para a produção de energia em exercícios prolongados. - Deve ser dada uma atenção especial para prevenir a desidratação voluntária em crianças que praticam exercícios em ambientes quentes e úmidos. Para encorajar a beber, o líquido a ser oferecido deve ter sabor agradável e incluir em sua composição glicose e pequena quantidade de cloreto de sódio. Introdução Como os adultos, os atletas mirins necessitam de uma nutrição adequada para manter a saúde e também otimizar o desempenho atlético. Diferentemente dos adultos, a nutrição dos jovens deve fornecer nutrientes também para o crescimento e desenvolvimento. Esta revisão não tem como principal objetivo analisar as recomendações de ingestão de nutrientes, nem mesmo os hábitos alimentares. Informações a esse respeito podem ser obtidas em revisões como a de Nelson-Steen (1996) e a de Loosli e Benson (1990), e nos artigos analisando a nutrição de ginastas jovens (Bernardot et al., 1989; Ersoy, 1991), corredores (Schemmel et al.,1988), patinadores (Delistraty et al., 1992; Ziegler et al.,1998) e lutadores (Schemmel et al., 1998). Nosso enfoque estará centrado nas principais alterações que ocorrem especificamente com atletas que estão na fase de crescimento, enfatizando: necessidades de energia e proteína; utilização de carboidratos e gorduras para a produção de energia durante os exercícios; e a manutenção de um balanço hidro-eletrolítico adequado. Revisão literatura Necessidades de Proteína para Atletas em Fase de Crescimento A ingestão adequada de proteína, para adultos, é definida como o mínimo a ser ingerido para manter o balanço nitrogenado. Já para crianças e adolescentes a ingestão deve manter um balanço nitrogenado positivo, ou seja, a ingestão deve ser maior que a utilização para manter normal o crescimento e o desenvolvimento dos órgãos e tecidos. Como resultado, enquanto um adulto necessita de 0,8 a 1,0g de proteína/kg de peso corporal/ por dia , as necessidades de proteína durante a infância e adolescência são maiores (National Research Council, 1989). Por exemplo, uma criança com idade entre 7 e 10 anos deve atingir 1,1 a 1,2g/kg/dia, e uma criança entre 11 e 14 anos necessita de 1g/kg/dia (Ziegler et al., 1998).

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Page 1: Nutrição para as crianças e adolescentes desportistas

SSE #77: Nutrição para Crianças e Adolescentes Esportistas

Autor:Oded Bar-Or

Principais tópicos

- Devido ao crescimento e desenvolvimento, as necessidades diárias de proteína por unidade de peso corporalé maior para crianças do que para adultos. Porém, existem dúvidas se uma criança atleta necessita de maisproteínas para o seu crescimento, desenvolvimento e desempenho atlético do que aquela que não praticaesportes.- As crianças necessitam de uma maior quantidade de energia que aquela necessária para um adolescente oupara um adulto durante a prática de atividades esportivas que inclui o andar ou correr e possivelmente outrastambém.- Comparativamente com os adultos, as crianças e os adolescentes utilizam mais gordura e menoscarboidratos para a produção de energia em exercícios prolongados.- Deve ser dada uma atenção especial para prevenir a desidratação voluntária em crianças que praticamexercícios em ambientes quentes e úmidos. Para encorajar a beber, o líquido a ser oferecido deve ter saboragradável e incluir em sua composição glicose e pequena quantidade de cloreto de sódio.

Introdução

Como os adultos, os atletas mirins necessitam de uma nutrição adequada para manter a saúde e tambémotimizar o desempenho atlético. Diferentemente dos adultos, a nutrição dos jovens deve fornecer nutrientestambém para o crescimento e desenvolvimento. Esta revisão não tem como principal objetivo analisar asrecomendações de ingestão de nutrientes, nem mesmo os hábitos alimentares. Informações a esse respeitopodem ser obtidas em revisões como a de Nelson-Steen (1996) e a de Loosli e Benson (1990), e nos artigosanalisando a nutrição de ginastas jovens (Bernardot et al., 1989; Ersoy, 1991), corredores (Schemmel etal.,1988), patinadores (Delistraty et al., 1992; Ziegler et al.,1998) e lutadores (Schemmel et al., 1998). Nossoenfoque estará centrado nas principais alterações que ocorrem especificamente com atletas que estão na fasede crescimento, enfatizando: necessidades de energia e proteína; utilização de carboidratos e gorduras para aprodução de energia durante os exercícios; e a manutenção de um balanço hidro-eletrolítico adequado.

Revisão literatura

Necessidades de Proteína para Atletas em Fase de Crescimento

A ingestão adequada de proteína, para adultos, é definida como o mínimo a ser ingerido para manter obalanço nitrogenado. Já para crianças e adolescentes a ingestão deve manter um balanço nitrogenadopositivo, ou seja, a ingestão deve ser maior que a utilização para manter normal o crescimento e odesenvolvimento dos órgãos e tecidos. Como resultado, enquanto um adulto necessita de 0,8 a 1,0g deproteína/kg de peso corporal/ por dia , as necessidades de proteína durante a infância e adolescência sãomaiores (National Research Council, 1989). Por exemplo, uma criança com idade entre 7 e 10 anos deveatingir 1,1 a 1,2g/kg/dia, e uma criança entre 11 e 14 anos necessita de 1g/kg/dia (Ziegler et al., 1998).

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Em exercícios aeróbicos a fonte de energia menos significativa é a de origem protéica (Melby et al., 1998).Os adultos que praticam exercícios extenuantes podem ter algum benefício quando da ingestão dequantidades superiores de proteínas que aquelas preconizadas para a população de um modo geral (Lemon etal.,1992), porém não existem dados na literatura que corroborem esse fato em crianças.Do ponto de vista prático, não está perfeitamente claro como e em que extensão as diferenças entre as idadespodem influir no planejamento de dietas para crianças que praticam esportes. São poucas as informações arespeito da quantidade de proteína ingerida por jovens, portanto não sabemos se a ingestão é suficiente. Porexemplo, inquéritos alimentares realizados com patinadores jovens mostram que eles ingerem quantidadesadequadas ou mesmo excedem a quantidade recomendada de proteína (Delistraty et al., 1992; Ziegler etal.,1998). Porém esse fato não dá certeza que a ingestão de proteína dentro dos padrões preconizados peloRecommended Dietary Allowance (RDA) garante um estado nutricional adequado. Um estudo feito comlutadores adolescentes demonstrou que os parâmetros protéicos diminuíam com o decorrer das competições,embora a ingestão de proteína demonstrou ser suficiente (Horswil et al., 1990). Essa deficiência relativa,parece ser originária de um segundo escopo, ou seja, construir músculos em detrimento da ingestão deenergia. Porém, essa mudança no hábito alimenta, observada entre os lutadores de nível colegial , induz auma perda da massa magra (Roemmich et al., 1991), que se reflete em um balanço nitrogenado negativo.

As Necessidades Energéticas da Criança Durante os Exercícios

Os dados obtidos com adultos, demonstram que suas necessidades energéticas estão na dependência dovolume ou da quantidade total de treino e do custo energético de sua rotina física. Por exemplo , os atletas deresistência que apresentam um volume de treinamento muito grande, necessitam ingerir o dobro ou mesmo otriplo das necessidades de energia (calorias) diariamente que os velocistas e os ginastas. Enquanto esseraciocínio se aplica para atletas de todas as idades, não existem dados específicos para crianças que treinamregularmente. Da mesma maneira, não encontramos dados na literatura sobre o quanto uma criança gasta deenergia em uma rotina de treinamento, A insuficiência de informações não permite determinar o gastoenergético diário em esportes específicos.Portanto, essa é a razão para assumir que as necessidades de energia para crianças atletas, são diferentesdaquelas preconizadas para adultos. O custo energético de andar ou correr, independentemente da velocidade,quando calculado por kg de massa corporal, é consideravelmente maior nas crianças do que nos adolescentese adultos, e quanto mais jovem for a criança maior será a necessidade (Astrand, 1952; Daniels et al., 1978;MacDougall et al., 1983). Uma criança com 7 anos de idade, necessita de 25 a 30 % mais de energia por kgde peso corporal do que um adulto jovem quando ambos andam ou correm na mesma velocidade (Astrand,1952). A principal razão desse aumento das necessidades de energia pelas crianças está na adequação dacoordenação entre os músculo agonísticos e antagonísticos usados na atividade motora. Os músculosantagonistas da criança, principalmente nos primeiros dez anos de vida, durante o andar ou correr, nãorelaxam o suficiente quando os músculos agonísticos se contraem. Esse processo, denominado de"co-contração" necessita de um acréscimo de energia metabólica, o que torna a criança metabolicamentemenos econômica que os adolescentes e adultos (Frost et al., 1997). Outra razão que pode ocasionar ummaior dispêndio de energia biomecânica pode estar na maior freqüência de passadas mais largas (Unnithan &Eston, 1990). Pode ser que o mesmo ocorra com a prática de outros esportes como a natação, esqui epatinação, porém não existem evidências que o comprovem.Uma comprovação prática do que foi exposto até o momento é de que não podemos calcular os gastosenergéticos de uma criança utilizando tabelas elaboradas para adultos. Com essas tabelas, quando se faz atransformação das necessidades energéticas para a unidade de massa corporal se subestima as necessidadesda criança. Poucos se preocupam em elaborar tabelas de gastos para crianças com massa corporal variada(Bar-Or, 1983).Sabe-se que o gasto energético diminui com a melhoria da qualidade do movimento, que é função doaumento na rotina dos exercícios. Porém, os resultados práticos ainda são inconsistentes no que se refere àscrianças. Em um estudo longitudinal , Daniels et al., (1978) testaram adolescentes corredores de"crosscountry" por vários anos. A média dos gastos energéticos durante a corrida em condições de velocidadesubmáxima diminui mais rapidamente do que o observado com não atletas. Infelizmente, o planejamentoexperimental não permitiu determinar se o agente causador das alterações nos resultados foi o efeito do

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treinamento ou da idade. Em um estudo mais recente, Sjodin Svedenhag (1992) estudaram um pequenonúmero de corredores e não corredores (controle) periodicamente. Os sujeitos tinham idade entre 12 e 20anos. Os autores observaram que o consumo de O² nos corredores foi mais baixo, e não foi observadanenhuma diferença na diminuição do consumo de O² em função do tempo. Para confundir ainda mais, emoutro estudo, um programa de treinamento de 10 semanas mostrou uma diminuição do gasto energético entreos atletas, fato que não ocorreu no grupo controle (Unithan,1993). Concluindo, o efeito do treinamento noconsumo de energia não está claro, ou ainda não se conhece como esses fatos possam implicar na nutrição.

Fontes Energéticas Utilizadas Durante os Exercícios

A análise dos dados obtidos através da respiração (Martinez & Haymes, 1992), concentração sangüínea degordura e carboidratos potencialmente passíveis de serem utilizados como fonte de energia (Berg & Keul,1988), e a atividade de enzimas musculares (Haralambie, 1979), sugerem que, durante as atividades físicas delonga duração, as crianças utilizam mais gorduras e menos carboidratos como fonte energética,comparativamente com adolescentes e adultos. Dados não publicados (Riddell, comunicação pessoal)também sugerem que durante a adolescência esse fato se repete; adolescentes mais jovens queimam maisgordura e menos carboidratos que os adolescentes com mais idade quando fazem uma atividade física delonga duração. De maneira similar, durante os exercícios de alta intensidade e curta duração as crianças estãomais na dependência do metabolismo energético aeróbico (onde a gordura é a fonte de energia principal), doque do metabolismo anaeróbico no qual a principal fonte de energia é o glicogênio muscular (Hebestreit etal.,1996). Possivelmente essa é a razão de porquê as crianças não obtêm sucesso em atividades físicas deexplosão, que está na dependência de um metabolismo predominantemente anaeróbico, como nos "sprints" esaltos. As razões para o organismo utilizar predominantemente essa fonte de energia não estão esclarecidas.O fato do organismo das crianças ter preferência em usar a gordura como principal fonte de energia não influinas recomendações das suas necessidades nutricionais preconizadas. Portanto, fica claro que não existenenhuma evidência que crianças - atletas ou não atletas - devem consumir mais de 30% do total de energia naforma de gordura na sua alimentação.

Necessidade de Líquidos e Eletrólitos

Uma das implicações do aumento na produção de energia pelo organismo durante os exercícios reside namaior produção de calor metabólico. Devido ao elevado custo energético no desempenho das atividadesfísicas, as crianças produzem maior calor por unidade de peso corporal que os adultos (Bar-Or, 1989). Seesse calor extra não se dissipar a temperatura interna aumenta; em situações extremas, o acúmulo desse calorpode levar a uma indisposição.A evaporação do suor é a melhor via para dissipar o calor produzido pelo organismo, principalmente emambientes quentes. Embora a produção e a evaporação do suor seja o mecanismo mais efetivo para resfriar oorganismo, ele provoca uma perda excessiva de fluídos e, em menor quantidade, eletrólitos como o sódio e ocloro. Para prevenir um débito orgânico, os fluídos e os eletrólitos devem ser repostos adequadamente .Lamentavelmente, nosso mecanismo da sede, que determina o quanto de fluídos que devemos ingerir, via deregra subestima a quantidade a ser consumida durante as atividades físicas de longa duração., A ingestãoinsuficiente de líquidos resulta na "desidratação voluntária", como por exemplo a desidratação que ocorremesmo quando as bebidas são oferecidas em abundância. Os seus efeitos foram muito bem estudados emadultos, e ficou muito claro que a perda de líquidos é deletéria para o desempenho físico assim como para asaúde. Testes de força, resistência e potência efetuados isoladamente demonstrou que essas situações não sãoafetadas de maneira dramática pela desidratação (Horswill, 1992). Permanece entretanto a premissa de que acapacidade de resistir e executar os movimentos de esportes do tipo "stop/go" como o futebol, basquetebol etênis ou manter a rotina de exercícios que imitam esses esportes, o desempenho é melhorado de um maneiramarcante quando os atletas ingerem uma solução eletrolítica de carboidratos antes e/ou durante essasatividades (Davis et al., 1997; Leatt & Jacobs, 1989; Vergauwen et al.,1998; Welsh et al.,1999). Tambémcomo já foi revisado por Sawka & Pandolf (1990), já tem sido demonstrado por vários pesquisadores, que adesidratação afeta negativamente o desempenho em atividades esportivas de longa duração. Nos esportes queexigem muita habilidade motora fina como a ginástica, patinação artística e basquetebol, observa-se que

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ocorre uma diminuição da acuidade mental. Ou seja, em alguns casos a pessoa desidratada não consegueimaginar a progressão de uma jogada, ou uma sugestão de movimento (leibowitz et al., 1972); o desempenhomental melhora quando bebidas isotônicas para esportistas são consumidas antes e durante a atividadeintermitente similar a uma competição de basquetebol (Welsh et al., 1999). A perda deliberada de líquidoscom o intuito de acertar o peso, praticada em esportes como lutas e remo, apresenta efeitos psicologicamentenegativos como agressividade, raiva e ansiedade (Steen & Brownell, 1990). Mais importantes ainda são osefeitos deletérios com referência ao bem estar fisiológico.Assim como em adultos, a desidratação voluntária ocorre em crianças (Bar-Or et al., 1980;1992;Rivera-Brown et al., 1999; Wilk & Bar-Or, 1996). É importante relatar que a temperatura corporal interna dacriança se eleva mais rapidamente quando ocorre a desidratação (Bar-Or et al., 1980). Portanto é importanteprevenir ou minorar a desidratação em crianças esportistas. A reposição inadequada de fluídos podeocasionar um embalanço eletrolítico. Em particular, quando ocorre uma deficiência de sódio no organismo,conhecida como hiponatremia, que ocasiona uma séria indisposição. Essa diminuição na concentração desódio pode acontecer quando a reposição do suor e urina eliminados é feita com água potável, que contémapenas uma pequena quantidade ou mesmo nada de sódio (Meyer & Bar-Or, 1994). Um dos efeitosindesejáveis da hiponatremia são as câimbras que acontecem durante ou após os exercícios. Umahiponatremia severa induz na criança apatia, náuseas, vômitos, inconsciência, ataques e mesmo morte.Como poderemos prevenir a desidratação voluntária em crianças atletas? A estratégia básica é salientar aimportância da sede, e educar os atletas (também o treinador, os pais e a comissão técnica) para beberem combastante freqüência, mesmo sem ter sede. A sede pode ser despertada em crianças oferecendo bebidasflavorizadas e adicionando cloreto de sódio e carboidratos em quantidades encontradas nas bebidas isotônicaspara esportistas, como: 110mg de NaCl/l e 6% de carboidrato (Rivera-Brown et al., 1999; Wilk & Bar-Or1996). Observando o consumo de líquidos, por crianças não esportistas, com idade entre 9 e 12 anos, foiverificado que quando as mesmas praticavam uma atividade física intermitente em um ambiente quente, oconsumo de líquidos aumentava em 45% quando a água era flavorizada (sabor uva). O consumo de líquidosaumentava para 46% quando a ingestão era de uma bebida isotônica também com sabor uva (Gatorade) queapresenta em sua composição carboidratos e NaCl. O aumento na ingestão de líquidos quando este foiadicionado de carboidratos e NaCl foi suficiente para evitar a desidratação. (Wilk & Bar-Or 1996). Umcomportamento semelhante ocorreu com atletas com idade entre 11 e 14 anos que já estavam aclimatadospara prática de atividades esportivas em ambientes quentes (Rivera-Brown et al., 1999). A última informaçãoé importante pois atletas aclimatados ao calor tendem a perder maior quantidade de líquido através dasudorese, portanto, suas necessidades de fluídos são muito maiores. A preferência pelo consumo de bebidasflavorizadas e contendo carboidratos e electrólitos, foi confirmada em outra experiência realizada commeninos com idade entre 10 e 12 anos. A desidratação foi prevenida quando for oferecido para beberGatorade durante diversas sessões de exercícios por um período de 2 semanas, em um clima quente, mesmoquando já era costumeiro o seu uso (Wilk et al., 1998).Estudos feitos com adultos, demonstrou que a ingestão de líquidos era melhor aceita, quando o mesmo foioferecido na temperatura de 10°C comparativamente quando a oferta era feita com líquidos na temperaturado ambiente climatizado ou na temperatura externa em dias quentes. A refrigeração da bebida promove umaumento no seu consumo voluntário. Embora não exista nenhum trabalho feito com crianças, deduz-se que osresultados seriam similares. A adição de comprimidos de sal deve ser evitada, porque eles contêm umaquantidade de sal excessiva, que pode causar irritação na parede gástrica.

Aplicações práticas

O número limitado de pesquisas feitas com crianças ativas sugerem as seguintes recomendações:- Mesmo quando os atletas jovens ingerem uma quantidade suficiente de proteína, deve ser dada uma atençãoespecial para a quantidade total de alimentos ingerida. Alguns atletas reduzem a ingestão de alguns alimentoscom o intuito de manter ou perder peso. Esses atletas estão incorrendo em um erro, pois perdem proteínamuscular, o que compromete seu desempenho esportivo e sua saúde.- Em várias atividades esportivas, o consumo de energia das crianças por kg de peso corporal é superior à dosadultos. Portanto, calcular a quantidade de energia despendida por crianças baseando-se em tabelaselaboradas para adultos subestima as suas necessidades. Como regra especulativa, para crianças com idade

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entre 8 e 10 anos pode-se adicionar 20 a 25% dos valores calculados para um adulto e 10 a 15% para criançasentre 11 e 14 anos. Sempre relacionando com o peso corporal.- Como os adultos, as crianças subcalculam a quantidade de líquidos que devem ingerir desde os 30 min. Deatividades esportivas. Como as crianças apresentam um aumento muito grande na temperatura corporalinterna, todos os esforços devem ser feitos no sentido de evitar um desidratação induzida pelo exercício.- Esteja certo de que a criança entre uma competição ou em uma sessão de treinamento bem hidratada ereforce a hidratação a cad 15-20min., quando os exercícios forem prolongados, mesmo que ela não tenhavontade de beber. Se necessário, proponha mudanças nas regras que regem a prática desse esporte parapropiciar momentos para beber.- Pese o atleta antes e depois da competição ou da sessão de treinamento, é um procedimento simples eefetivo para determinar o quanto de líquidos deve ser ingerido. As modificações na massa corporal sãocausadas principalmente pela perda de fluído. As crianças que não beberam o suficiente para repor as perdasdurante uma prática esportiva, deve fazer essa reposição antes do início de outra sessão.- Refrigere a bebida na temperatura de uma geladeira, e sempre que possível', adicione um sabor paraaumentar a palatabilidade. As crianças bebem mais quando a bebida é mais saborosa. Portanto, bebidasflavorizadas com sabores que satisfaçam a preferência dos atletas devem ser colocadas à disposição paraserem bebidas antes, durante e após as sessões de treinamento ou da competição.- A adição de açúcar e de uma pequena quantidade de sal à bebida estimula a sede e aumenta o seu consumo.As bebidas isotônicas encontradas no comércio apresentam essas características e são consumidas em maiorquantidade que água, sucos de fruta diluídos ou bebidas preparadas em casa (Passe et al.,1999; Rivera-Brownet al.,1999).

Sumário

A maior parte das pesquisas feitas em nutrição no esporte enfocam as necessidades do adulto. Embora asrespostas fisiológicas das crianças sejam semelhantes a aquelas obtidas com adultos, existem algumasdiferenças que podem trazer algumas complicações no que concerne às necessidades nutricionais.Treinadores, pais, médicos e comissão técnica devem estar atentos às necessidades de proteínas dos atletasjovens; às diferenças das necessidades de energia que variam em função da idade; às diferenças entre adultose crianças no que diz respeito ao consumo de carboidratos e gorduras durante a prática de exercícios de longaduração; e estimular a ingestão de líquidos durante os exercícios para prevenir uma desidratação induzida,especialmente em ambientes quentes e úmidos.

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“DICAS” PARA OS PAIS: ALIMENTOS E BEBIDAS PARA ESPORTISTAS JOVENS

Ruth Carey, R.D., L.D.Nutrition ConsultantPortland, Oregon

Atualmente, os jovens estão muito mais ativos e ocupados. Hoje é comum na maioria das famílias os paistrabalharem fora, ou pelo um deles. O horário do jovem esportista inclui a prática de um ou mais esportes,assim como outras atividades (música, outro idioma, etc).Nessas condições sobra muito pouco tempo para que os mesmos se hidratem e ingiram a quantidade decalorias necessárias antes de uma atividade esportiva. Os garotos que ficam na escola durante todo o dia,geralmente após a atividade escolar praticam algum esporte em condições inadequadas ( fome edesidratação). Também, pelo fato dos pais serem muito ocupados, muitos dos jovens preparam seu café damanhã e o lanche. Por outro lado, nos casos de nado sincronizado e outros esportes em que é julgado oaspecto estético, muitos dos praticantes desses esportes diminuem a ingestão de líquidos e alimentos com afinalidade de melhorar a sua pontuação final na competição. Esse é outro grande problema na nutrição deesportistas jovens. Aqui vão algumas “dicas” para os pais de atletas jovens, que querem ver seus filhos bemalimentados e hidratados.

- Procure tomar conhecimento das últimas informações em nutrição esportiva.- Consulte regularmente a biblioteca, leia artigos publicados em revistas conceituadas e escritos por pessoasconhecedoras do assunto. Não se influencie por observações de leigos.- Visite sites que ofereçam informações sobre nutrição. Visite o site do Instituto de Ciências do EsporteGatorade( ) para obter as mais recentes informações a respeito de nutrição nos esportes, hidratação ewww.gssiweb.comoutras informações relativas a ciência dos esportes.- Procure um nutricionista ou outro profissional especializado, em uma universidade, hospital ou outraagência de saúde que possa fazer palestras para os pais e atletas antes do início dos preparativos paraqualquer competição. No Brasil, atualmente os grandes clubes têm um especialista em nutrição contratado etambém são encontrados consultórios que ministram as informações necessárias e fazem o acompanhamento.Use seus conhecimentos para melhorar a alimentação e a hidratação dos atletas jovens.- Prepare um esquema de como alimentar e hidratar a criança.- Tenha certeza que seu filho está ingerindo uma alimentação balanceada qualitativa e quantitativamenteconforme as orientações recebidas.• Sirva uma alimentação saudável.• Ajude seu filho a escolher os alimentos e as bebidas mais adequados para o preparo de seu café da manhã eseu lanche.

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• Procure saber o que seu filho está comendo na lanchonete da escola, e oriente-o para que procure osalimentos mais convenientes.- Esteja certo de que a comissão técnica do time tenha recipientes adequados para armazenar grandesquantidades de líquidos.- Providencie para seu filho copos individuais, e lembre-o de que ele deve ingerir líquidos mesmo nãosentindo sede.Especialmente durante a época de muito calor, monitore seu filho pesando-o diariamente, para estar segurode que ele não está entrando em um processo de desidratação. Insista para que ele mantenha uma massacorporal estável.Insista com o treinador para que seja enfatizada a necessidade que os atletas têm de uma boa alimentação ehidratação.- Organize grupos de pais voluntários para prepararem lanches com alimentos e bebidas nutritivas para seremconsumidos em viagens, ou lancharem durante os treinamentos e jogos.- Faça cópias do material obtido sobre nutrição do atleta para o treinador distribuir aos atletas. O site daGatorade oferece um material farto e interessante ( ).www.gssiweb.com- Não permita que seu filho perca peso com o intuito de competir em categorias inferiores como no caso delutas ou querer obter pontos extras dos juízes no caso de ginástica ou patinação artística.

Sugestões de alimentos e bebidas para a lancheira de um time.

• Biscoitos, pão com queijo fresco e/ou geléia ou doce em massa (tipo goiabada), barras de granola.• Algum tipo de carne magra fatiada e ligeiramente condimentada.• Frutas como: banana, laranja, melão maçãs e pêras.• Bebidas isotônicas para esportistas de diferentes sabores• Iogurte, coalhada e outros derivados do leite como ricota.

Leitura AconselhadaColeman, E., and S.N. Steen (1996). The Ultimate Sports Nutrition Handbook. Palo-Alto, CA: BullPublishing Co.Murray, Bob (1996). The American College of Sports Medicine Position Stand. GSSI Sports ScienceExchange 9 (4) #63, ( ).www.gssiweb.comSteen, Suzanne Nelson (1998). Eating on the road: Where are the carbohydrates? GSSI Sports ScienceExchange 11 (4) #71, ( ).www.gssiweb.comWilliams, Clyde. and Ceri W. Nicholas (1998). Nutrition needs for team sport. GSSI Sports ScienceExchange 11 (3) #70, ( ).www.gssiweb.comWilliams, Melvin H. (1995). Nutrition for Fitness and Sports (4th ed.). Columbus, OH: McGraw-Hill.