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José Manuel Lopes Já se tornou quase um tópico afirmar a condiçom excedentá- ria do nosso país em energia eléctrica e os escassos ou nulos benefícios sociais que a mesma traz para milhares de pessoas criadas sob a larga sombra da velha FENOSA. Para algumhas pessoas, falarmos em "expólio energético" pode parecer umha alusom rançosa ao franquismo, às grandes infra-estruras hidro- eléctricas ou a um "desenvolvi- mentismo" que soa a passado nos tempos de modernizaçons neoliberais e ciberespaços omnipresentes. E, porém, os sinais de alarme ligados insis- tentemente entre os sectores mais activos e críticos da cida- dania em matéria ambiental, parecem querer manter boa parte da vigência de esquemas talvez nom tam caducos: a nova "mina" para a produçom energética galega, em cresci- mento sustentado e orientaçom exportadora, ocupa muito visi- velmente espaços tam emble- máticos como as nossas serras, mesmo tendo sido estas decla- radas "lugares de interesse comunitário"; a via da expro- priaçom forçada e a desconsi- deraçom dos legítimos proprie- tários e proprietárias ganha força, com um poder autárqui- co ignorado polos desígnios da Junta e a pressom de GAMESA ou Ecyr; por enquanto, a propa- ganda a favor deste novo boom produtivista vem vestida de verde e aduba o terreno à Galiza dos mais de 200 parques e às serras inçadas de moinhos. Em meados da década de 90, com a maioria da populaçom interessada pola questom ambiental ainda sujeita aos esquemas mais convencionais de denúncia das grandes infra- estruturas hidroeléctricas, muito poucos e poucas enxer- gavam o grande desenho que em matéria de produçom ener- gética a Junta da Galiza trama- va em companhia de poderosos grupos empresariais sobeja- mente conhecidos no nosso país. Com efeito, já em 1995 o governo autonómico lançava o seu primeiro Plano Eólico, antecipando a posta em anda- mento de um total de 33 par- ques em diferentes pontos da nossa geografia novas da Número 21, Agosto de 2004 Camilo Nogueira “Nacionalismo galego deve oferecer um projecto radical a partir da esquerdaNGZ entrevista o candidato do BNG às eleiçons europeias, quem analisa os resultados obtidos e afirma que “obter a maioria nom passa pola suposta moderaçom” Avigán ameaça futuro laboral de 98 pessoas Ponte Areias O presidente da Cámara de Tui, condenado por prevaricaçom Exigem respon- sabilidades pola proliferaçom de incêndios Nacionalistas homenageiam Moncho Reboiras Contra o Fórum Carlos Taibo 21 número Galiza, parque eólico Burela e Cabo Verde, o idílio que nom é Redacçom Ignorada durante vinte anos, a comunidade cabo-verdiana em Burela é usada como a mao- de-obra barata que interessa aos empresarios do sector pis- catório. Desde a sua chegada, primeiro os homens, fôrom operários da construçom na montagem da Alumina em Sam Cibrao. Nenhum deles conseguiu ficar como empregado efectivo na empresa, pois fôrom rejeitados na primeira acçom racista con- tra eles no litoral marinhao. A saída para os que ficárom na Marinha foi embarcar-se na pesca de altura ou no bonito. Ser cabo-verdiano em Burela era até há pouco ser moreno, umha pessoa que passava des- percebida, ainda sendo preto numha vila de brancos. No ano 1998 algo começou a mudar. Com a ajuda de Luzia Fernández e o Projecto BogAvante, iniciárom o camin- ho para normalizarem as suas vidas num lugar que até entom apenas os conseguia ver como elementos peculiares ou estran- hos. Esse caminho está cheio de armadilhas e desabores. Logo depois dos primeiros pas- sos andados para umha con- vivência normal, as autoridades locais e autonómicas travárom a tempo o que pensavam que era a ruptura de um modelo idí- lico de convivência. Na actualidade duas geraçoms de imigrantes cabo-verdianos residem em Burela. A adap- taçom, o trabalho, a convivên- cia, som os reptos comuns para todos eles no dia-a-dia. Os dados que Novas da Galiza achega neste número vam servem para serem analisadas ao pormenor as chaves de um novo negócio que engorda velhos conhecidos

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Page 1: Número 21, Agosto de 2004 novas danovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz21.pdf · Kiko Neves, José R. Pichel, Ramom Pinheiro, Carlos Taibo, Ignacio Ramonet, Ramón Chao Fotografia:

José Manuel Lopes

Já se tornou quase um tópicoafirmar a condiçom excedentá-ria do nosso país em energiaeléctrica e os escassos ou nulosbenefícios sociais que a mesmatraz para milhares de pessoascriadas sob a larga sombra davelha FENOSA. Para algumhaspessoas, falarmos em "expólioenergético" pode parecer umhaalusom rançosa ao franquismo,às grandes infra-estruras hidro-eléctricas ou a um "desenvolvi-mentismo" que soa a passadonos tempos de modernizaçonsneoliberais e ciberespaçosomnipresentes. E, porém, ossinais de alarme ligados insis-tentemente entre os sectoresmais activos e críticos da cida-dania em matéria ambiental,parecem querer manter boaparte da vigência de esquemastalvez nom tam caducos: anova "mina" para a produçomenergética galega, em cresci-mento sustentado e orientaçomexportadora, ocupa muito visi-velmente espaços tam emble-máticos como as nossas serras,mesmo tendo sido estas decla-radas "lugares de interesse

comunitário"; a via da expro-priaçom forçada e a desconsi-deraçom dos legítimos proprie-tários e proprietárias ganhaforça, com um poder autárqui-co ignorado polos desígnios daJunta e a pressom de GAMESAou Ecyr; por enquanto, a propa-ganda a favor deste novo boomprodutivista vem vestida deverde e aduba o terreno àGaliza dos mais de 200 parquese às serras inçadas de moinhos.Em meados da década de 90,com a maioria da populaçominteressada pola questomambiental ainda sujeita aosesquemas mais convencionaisde denúncia das grandes infra-estruturas hidroeléctricas,muito poucos e poucas enxer-gavam o grande desenho queem matéria de produçom ener-gética a Junta da Galiza trama-va em companhia de poderososgrupos empresariais sobeja-mente conhecidos no nossopaís. Com efeito, já em 1995 ogoverno autonómico lançava oseu primeiro Plano Eólico,antecipando a posta em anda-mento de um total de 33 par-ques em diferentes pontos danossa geografia

novas daNúmero 21, Agosto de 2004

Camilo Nogueira

“Nacionalismogalego deveoferecer umprojecto radicala partir daesquerda”

NGZ entrevista o candidatodo BNG às eleiçons europeias, quem analisa osresultados obtidos e afirmaque “obter a maioria nompassa pola suposta moderaçom”

Avigán ameaçafuturo laboralde 98 pessoasPonte Areias

O presidente daCámara de Tui,condenado porprevaricaçom

Exigem respon-sabilidades polaproliferaçom deincêndios

NacionalistashomenageiamMonchoReboiras

Contra o FórumCarlos Taibo

21número Galiza, parque eólico

Burela e Cabo Verde, o idílio que nom éRedacçom

Ignorada durante vinte anos, acomunidade cabo-verdiana emBurela é usada como a mao-de-obra barata que interessaaos empresarios do sector pis-catório. Desde a sua chegada,primeiro os homens, fôromoperários da construçom namontagem da Alumina em SamCibrao.

Nenhum deles conseguiu ficarcomo empregado efectivo naempresa, pois fôrom rejeitadosna primeira acçom racista con-tra eles no litoral marinhao. Asaída para os que ficárom naMarinha foi embarcar-se napesca de altura ou no bonito.Ser cabo-verdiano em Burelaera até há pouco ser moreno,umha pessoa que passava des-percebida, ainda sendo preto

numha vila de brancos. No ano 1998 algo começou amudar. Com a ajuda de LuziaFernández e o ProjectoBogAvante, iniciárom o camin-ho para normalizarem as suasvidas num lugar que até entomapenas os conseguia ver comoelementos peculiares ou estran-hos. Esse caminho está cheiode armadilhas e desabores.Logo depois dos primeiros pas-

sos andados para umha con-vivência normal, as autoridadeslocais e autonómicas travároma tempo o que pensavam queera a ruptura de um modelo idí-lico de convivência.Na actualidade duas geraçomsde imigrantes cabo-verdianosresidem em Burela. A adap-taçom, o trabalho, a convivên-cia, som os reptos comuns paratodos eles no dia-a-dia.

Os dados que Novas da Galizaachega neste número vam servempara serem analisadas ao pormenor as chaves de um novo negócio queengorda velhos conhecidos

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segunda

Editora: Minho Media S.L.

Director: Ramom Gonçalves

Redactor-chefe: Carlos Barros G.

Conselho de Redacçom: MartaSalgueiro, J. Manuel Lopes, AntónÁlvarez, Ivám Garcia, Alonso Vidal

Colaboraçons: Maurício Castro,Inácio Gomes, Davide Loimil, JoámCarlos Ánsia, Santiago Alba Rico,Kiko Neves, José R. Pichel, RamomPinheiro, Carlos Taibo, IgnacioRamonet, Ramón Chao

Fotografia: Arquivo NGZ

Humor Gráfico: Suso Sanmartin,Pepe Carreiro, Pestinho +1,Xosé Lois Hermo

Publicidade: 639 146 523

Imagem Corporativa: Paulo Rico

Desenho gráfico e maquetaçom:Miguel Garcia e Carlos Barros

NOVAS DA GALIZAApartado 106927080 Lugo - GalizaTel: 639 146 [email protected]

As opinions expressas nos artigos nomrepresentam necessariamente aposiçom do periódico. Os artigos somde livre reproduçom respeitando aortografia e citando procedência. Éproibido outro tipo de reproduçom semautorizaçom expressa do grupo editor.

A informaçom continua periodicamenteno portal www.galizalivre.org

Fecho de Ediçom: 15.08.04

2 segunda Agosto 2004 novas da galiza

Não deixa de ser curioso que a formi-dável parafernália informativa que sedesenvolve ao redor do barcelonêsFórum Universal das Culturas coincidacom um tramado e eficientíssimo blo-queio de qualquer contestação crítica,com a excepção, menor, daquelas deentre estas que fazem referência à pro-saica insatisfação de uma ou outraexpectativa comercial. E acontece que na absoluta maioria dosmeios de incomunicação é literalmentenulo o espaço reservado àqueles quedissentem, o qual parece ilustraçãocompleta de uma circunstância tãointeressante como perturbadora: a quenos fala da absorção fantasmagórica,pelas instituições, de boa parte do dis-curso dos movimentos de contestação,nunca acompanhada, mesmo assim, deesforço nenhum encaminhado a tradu-zir esse discurso na realidade política,económica ou social.É verdade, sim, que nos factos asituação é ainda mais delicada, umavez que numa das suas dimensões cen-trais o Fórum de Barcelona está a ser-vir para levar adiante duas tarefas bempouco estimulantes. A primeira não éoutra que uma cobiçosa, e quase sem-pre não escondida, operação de espe-culação imobiliária, com consequên-cias ambientais, dito seja aproveitandoa conjuntura, não precisamente meno-res. Por momentos é evidente que oprojecto urbanístico em que se susten-ta o Fórum não faz senão ocultar, gros-seiramente apesar da acabada estéticados edifícios, a realidade de uma cida-de na qual o conflito, a exclusão e adesigualdade se revelam, sem necessi-dade de os procurar, ao deixar atrásqualquer esquina. A segunda tarefa é uma lamentávellavagem de imagem de empresas queestamos na obrigação de convir, issosim, que bem o precisam. O leitor ouleitora interessada bem pode dar umaolhada à lista das firmas que estão pordetrás do evento barcelonês e extrair assuas conclusões. Lá estão, por exem-plo, El Corte Inglés e La Caixa,Telefónica e Endesa, IBM e Iberia,Nestlé e Coca Cola, Indra e IBM.A esse mesmo leitor não escapará, comcerteza, que na lista das empresas que,como sócias ou como patrocinadoras,

contribuíram generosamente com osseus recursos, se encontram firmas rei-teradamente denunciadas pelas suasdraconianas condições laborais, pelaprática da exploração mais descarnadae pelo deterioro do meio ambiente.Também não faltam entre elas, pordemais, as que podem presumir de umlongo currículo de implicação activaem conflitos bélicos visivelmente mar-cados pela lógica da rapina global aque assistimos.As coisas, porém, não ficam por aqui.Este é o momento de sublinhar que oprojecto intelectual do Fórum merece,também, contestação. A aposta defundo tem sido cristalinamente retrata-da pelo antropólogo Manuel Delgado,que teve o acerto de afirmar que “tudosugere que o evento está chamado a seruma apoteose das culturas como temapara a demagogia política e para abanalização mediática, uma diversãoem que a pluralidade cultural se veráreduzida a uma pura paródia destinadaao consumo de massas e à boa cons-ciência institucional”. Num terreno muito próximo, não deixade surpreender que entre as instânciaspolíticas que no seu momento deramazo ao Fórum não estavam ausentes asque, enquanto endureciam as leis apli-

cadas à imigração pobre que chega aténós, corriam depressa para realizarexercícios de imagem —outra vez aimagem— como o que agora mesmonos ocupa. É preciso pôr o dedo em mais umachaga sangrenta: a dessa patética figu-ra, a dos gurus intelectuais, que pareceum fiel indicador das misérias donosso tempo e, com ele, una metáforado próprio Fórum e das seus propósi-tos. Um deles, autoproclamado líderalterglobalizador —aceitemos, a bene-fício de inventário, a terminologia domomento, elitista e ocultadora—,reclama habitualmente três mil euros, eum bilhete de avião na primeira classe,por pronunciar a sua conhecida con-ferência, sem que ninguém tenhaconstância, por certo, de que os seusemolumentos se desviam para causasjustas.A responsabilidade destes gurus é hojepalpável, uma vez que não pode adu-zir-se, neste caso, que ignorem ondeestão. E a sua aceitação das regras dojogo intui-se tanto mais lamentávelquanto que o desenvolvimento de tan-tas das palestras previstas em modonenhum está a permitir, antes bem pelocontrário, uma activa e plural partici-pação popular.

Contra o FórumCarlos Taibo

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editoriala

Agosto 2004novas da galiza 3

Aduaneiros sem fronteiras

sumário

Galiza, parque eólico

A reportagem central destenúmero do NGZ aborda a

problemática criada polaproliferaçom abussiva de

parques eólicos, descobrindo o suculento

negócio que agacham.

Burela e Cabo Verde,o idílio que nom é

A comunidade cabo-verdianaem Burela é usada como amao-de-obra barata que interessa aos empresarios do sector piscatório

Festivais em Portugal

A nossa habitual secçom de música avança nestenúmero os principais festivais de verao que secelebram no país vizinho

A Galiza Natural

Os ursos seguem a habitar anossa terra, embora a sua

populaçom seja a dia de hoje muito inferior à

que foi em tempos.

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Nenhuma das estatísticas manejadas pola oficia-lidade consegue negar que os índices de consu-mo energético no mundo ocidental assistem aum crescimento indefinido que patenteia ainsustentabilidade de um modelo socioeconómi-co produtivista e consumista assente na depre-daçom dos combustíveis fósseis e de espaçosnaturais de grande valor ambiental ou histórico.Os impedimentos legais colocados pola UniomEuropeia no que diz respeito aos níveis depoluiçom adjudicados a cada um dos paísesmembros -polos quais o Estado que ultrapassaro nível asignado terá que comprar energia a ter-ceiros- motivárom um acelerado reajustamentoprodutivo por parte dos grandes empórios ener-géticos e bancários, decididos a investir grandeparte dos seus esforços numha linha verde quehaveria de dissimular os efeitos mais trágicos daexploraçom hidroeléctrica, térmica ou nuclear.A Galiza, mais umha vez, está a ser umha privi-legiada área de testes das tendências mais agres-sivas e de curto prazo dos grandes blocos bancá-rios e industriais. Historicamente saqueada porempresas hidroeléctricas (nomeadamenteUniom Fenosa, mas também Iberdrola) que fizé-rom inviáveis e desaconselháveis para moraramplas zonas da nossa naçom, condenada aexportar energia para Espanha e a sofrer ainda asmaiores deficiências no fornecimento eléctrico,os apóstolos do progresso desvendam agoraumha nova fórmula mágica para tirar este paísdo atraso secular: a exploraçom eólica.Nenhures se aponta umha diminuiçom da pro-duçom daqueles ramos industriais mais custososambiental ou socialmente, como os provocadospolas centrais de Meirama, Pontes ou Alumina

(somente esta consome um terço da energiaeléctrica da Galiza); nenhures se desenha umhaalternativa real ao hiperconsumismo energéticovigorante numha sociedade da opulência como anossa (ainda que atravessada por múltiplascarências e pobrezas); nengures figura a pergun-ta de porque é que as empresas que exploram osnossos recursos som na sua imensa maioriaextrangeiras domiciliadas em Madrid. Ocultam-se velhos problemas e desenha-se,como culminaçom, um novo, por mais que vistaa máscara da sustentabilidade: desde 1995, e nomaior dos obscurantismos, a Junta do PP está alançar um plano irracional de ocupaçom dasnossas serras emblemáticas para a instalaçom deparques eólicos, levantados como autênticospendons de um agro despovoado, uns montesinutilizados e um património natural e paisagís-tico sacrificado polo negócio de uns poucos.Falta de estudos de impacto ambiental e desfei-ta de zonas recolhidas na rede natura, escassos etemporais postos de trabalho, eliminaçom dejazigos arqueológicos, despotismo nos factos eocupaçom pola tam querida via da expropriaçomforçada, som os efeitos conhecidos até hoje.Este novo "bem público" com que a direitaespanhola decora os nossos montes, como sacri-fício definitivo de recursos outrora intocáveis erespeitados, nom é mais do que um novo e gran-de rebuçado com que seduzir umha populaçomdesiludida, envelhecida, subsidiada e condenadaa aceitar pola via dos factos desenhos alheios enocivos. Os dados que Novas da Galiza acheganeste número vam servir, pensamos, para seremanalisadas ao pormenor as chaves de um novonegócio que engorda velhos conhecidos.

editorialO negócio verde

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NGZ entrevista Camilo Nogueira

O candidato do BNG aoParlamento Europeu valorizaos resultados eleitorais eavança as linhas polas queconsidera que deve avançar o nacionalismo

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4 notícias Agosto 2004 novas da galiza

notíciasBases Democráticas exige soberania da Galiza enquanto BNG pede "novo contrato com o Estado"

Autodeterminaçom, Carta Europeia enovo Estatuto para a Galiza centramreivindicaçons do Dia da PátriaRedacçom

Mais de um milhar de pessoas res-pondêrom à convocatória deBases Democráticas Galegas(BDG) sob a legenda de"Autodeterminaçom" numha novaediçom do Dia da Pátria. Umhamobilizaçom que partia daAlameda ao meio-dia e que con-cluía na Praça compostelana doToural com a leitura do manifestodo 25 de Julho 2004 por BraulioAmaro, porta-voz nacional dasBases Democráticas. Um mani-festo que revisou os principaisproblemas do País e do seu povotrabalhador, notando o "ataquefrontal aos direitos democráticosmais elementares e a perseguiçompolítica, mediática, policial e judi-cial existente contra qualquer dis-sidência, contra qualquer discre-páncia". No comunicado dasBDG, apoiado entre outras organi-zaçons pola FPG, NÓS-UP, CUT eo PCPG falou-se também daUniom Europeia e da sua consti-tuiçom: "a reivindicaçom demo-crática de umha Europa dosPovos, das suas culturas e das suaslínguas, é profundamente contra-ditória com um projecto constitu-cional europeu que recusa o direi-to de autodeterminaçom comoalternativa à uniformizaçom e aoprojecto excludente da chamadaglobalizaçom capitalista". O ence-rramento do acto soberanista esti-vo protagonizado polo hino e polaqueima da bandeira espanhola.Por seu turno, dez mil pessoasacudírom à mobilizaçom do BNGsob a legenda "Galiza vai conti-go", numha jornada protagonizadapolos abraços que no palco sedérom Anxo Quintana, XoséManuel Beiras e Paco Rodríguez,e pola exigência de um novoEstatuto para o País. Um novocontrato com o Estado. Como sepodia prever, nom houbo reivindi-caçom soberanista no discurso deAnxo Quintana, o porta-voznacional desta formaçom política.Começou dizendo que "a Galiza éumha naçom, nom somos nemqueremos ser umha regiom subsi-diária" para rematar dizendo que"queremos e devemos ter um

novo Estatuto para estar comtodas as da lei onde se tomam asdecisons que nos importam". OBNG, dixo o seu porta-voz "quermais autogoverno para ter maisliberdade e mais bem-estar.Queremos melhorar a qualidadeda democracia galega com umnovo estatuto que proclame commais força os valores da solidarie-dade, a igualdade , a participaçom,o desenvolvimento". AnxoQuintana acabou a dizer: "sinto-me parte de umha geraçom degalegas e galegos chamada a lide-rar a Galiza do presente e do futu-ro". Na Praça da Quintá, em

Compostela, interveu tambémRubém Cela, Secretário Geral deGaliza Nova, com um discurso emque pediu que "se sopram ventosadversos ou simplesmente o ventonom dá nas velas, cumpre remar enom pregar as velas deixando quenos arraste a corrente". OSecretário Geral de Galiza Novacentrou o seu discurso nos proble-mas internos por que atravessa oBNG, tentando impor a ilusom nase nos nacionalistas que ocupavama Quintá.Já à tarde, NÓS-UP celebrou a suatradicional festa-jantar na Praçade Maçarelos, onde estivérom

presentes numha mesa redondarepresentantes do partido catalámMDT, de Izquierda Castellana, docolectivo português PolíticaOperária, de Batasuna, deEndavant e da própria organi-zaçom convocante. No aspectofestivo destacárom as actuaçonsdo Grupo Avelaina, Sofia deLabanhou, Contradança e DandyFever.Dias depois do 25, a FPG fijopúblico um documento em queavalia a convocatória soberanistae a situaçom do movimento,demandando mudanças políticasradicais. A Frente manifesta con-

fiar num "entendimento emanadodo diálogo aberto entre as forçasdo independentismo, respeitosocom as identidades de cadaquem", ao tempo que reclama doBNG "um comportamento radi-calmente diferente, onde as deci-sons se tomem em funçom dosinteresses populares e nom pen-sando no reparto interno deinfluências". Embora julguem quea manifestaçom das BasesDemocráticas foi nutrida, desta-cam que nom conseguiu atrair"outros sectores do nacionalismode esquerda que está na hora de seirem posicionando".

Redacçom

Os actos comemorativos do Diada Pátria começárom mais umano na tardinha do 24 de Julho,com a celebraçom da tradicional"Rondalha da Mocidade com aBandeira" organizada pola AMI.Perto de 200 jovens independen-tistas partirom ás 21:00 da com-postelana Praça de Cervantes,depois de que unha intervençoma cargo dum responsável daorganizaçom exortasse as e osassistentes "retomarem as ruasarrebatadas pola polícia espan-hola para uso e desfrute turísti-co". Com efeito, a presença deefectivos antidistúrbios foiumha constante durante todo opercurso da comitiva lúdica ereivindicativa da AMI, queanunciou pola zona velha deCompostela a chegada do Dia daPátria com cantos e dúzias debandeiras nacionais. Nestaediçom, em que o discurso daorganizaçom juvenil carregou astintas na denúncia do Jacobeu edo processo de turistificaçom daGaliza, a Rondalha dirigiu-seaté a Praça da Galiza, para cor-

tar o tránsito frente à oficinamunicipal de informaçom turís-tica; lá, umha chuva de ovosdeixou constáncia da aposta damocidade independentista porum modelo de desenvolvimentooposto a aquele do que oJacobeu 2004 quer ser bandeira.A mobilizaçom continuou o seuclássico percurso polas princi-pais ruas do casco antigo com-postelano, até que umhadotaçom de uns vinte efectivospoliciais armados com materialantidistúrbios lhe cortou o passona Rua do Franco, à altura deFonseca. Foi, sem dúvida, omomento mais tenso da jornada.Polícias frente a jovens trocá-rom miradas, insultos eintençons durante um quartel dehora longo, sempre ante a mira-da de centos de turistas atónitos,até que os dous bandos resolvé-rom nom fazer efectivas as suasameaças, e a Rondalha prosse-guiu por ruas adjacentes, camin-ho da Praça de Maçarelos.No acto de encerramento damobilizaçom, a jovem MariaOsório, em representaçom doConselho Nacional da AMI, foi

a encarregada de dar leitura aum discurso no que denunciou aausência de qualquer futurodigno para a mocidade numhaGaliza sem identidade própria,arrasada por um modelo dedesenvolvimento que é causa degraves desequilíbrios territoriaise sociais, insistindo no carácterprejudicial dum processo deturistificaçom qualificado como"colonialismo do século XXI".Imediatamente depois, os assis-tentes cantárom o Hino daMocidade Independentista e oHino Galego, mentres váriosencapuzados queimavam umhabandeira espanhola previamenteretirada, entre aplausos dopúblico, da delegaçom daConselharia de Turismo sita namesma Praça de Maçarelos. Umconcerto, que se prolongou atébem entrada a madrugada, deucontinuidade aos actos progra-mados pola juventude para esteDia da Pátria.

Sabotagens contra Fenosa e Caixa GalizaNa madrugada do 25 de JulhoCompostela registou duas sabo-

tagens que supugérom a des-truiçom de umha sucursal deCaixa Galiza (em Sam Lázaro)e um apagom geral no cascohistórico e o norte da cidade,motivado polo ataque com arte-factos incendiários à estaçomeléctrica de Fenosa nasCancelas.Em base a um comunicado rece-bido por Novas da Galiza e nomassinado, os ou as alegadasautoras assinalam que "CaixaGaliza está a liderar a des-truiçom da Ria de Ponte Vedra,por meio da empresa ENCE".Em relaçom com o ataque aFenosa apontam que a eléctrica"leva décadas expoliando osrecursos energéticos da Galiza,fazendo parte essencial daengrenagem colonial" e desta-cam que "os meios de comuni-caçom do poder espanhol censu-rárom por completo esta notícia,sem terem dado explicaçons docorte de subministro eléctrico".A reivindicaçom política dassabotagens conclui com aspalavras de ordem "Viva o Diada Pátria" e "Viva Galiza ceivee socialista".

A noite do 24 volve combinar fasquias lúdica e combativa

Sabotagem independentista provocou apagom geral no casco histórico

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Redacçom

Mais de um milhar de pessoasgalegas e portuguesas manifestá-rom-se contra o projecto de Fenosae a Eléctrica de Portugal (EDP) nopassado sábado 7 de Agosto emMelgaço. Convocada pola CámaraMunicipal desta localidade, amanifestaçom foi apoiada polagalega Plataforma Cívica emDefesa do Minho e a portuguesaAssociação de Defesa doPatrimónio Corema.Consistiu numha marcha de cincoquilómetros do centro de Melgaçoaté o rio Minho, acompanhada porumha descida em canoas que foisecundada por dúzias de pessoas.O sentir popular da convocatóriafijo-se patente no carácter inter-geracional das pessoas assistentes.Aliás, várias crianças repartiambrochuras com a legenda"Queremos que os nossos netosbebam Alvarinho. Não estraguemo Minho".O acto contou com a presença derepresentantes políticos do BNG,de NÓS-UP e do PSOE. Cumpreassinalar que as cámaras munici-pais de Arvo e Salvaterra do Minho(PP) também se manifestárom con-tra o projecto das três barragens,embora nom aderissem à mobili-zaçom.Por sua vez NÓS-UP difundiu oseu posicionamento, no qual criti-cam o PP e o PSOE por oportunis-tas, ao opor-se às barragensenquanto amparam "este modelode 'desenvolvimento' de rasgos cla-

ramente coloniais". Afirmam que"só a luita organizada das popu-laçons ribeirenses, dos povos tra-balhadores da Galiza e Portugalevitarám a construçom das centraisprojectadas".

Fenosa opta polos factos consumadosSegundo fontes de pescadores doMinho, Unión Fenosa já tem na suapropriedade 60% das pesqueirasexistentes na margem galega e estáa visitar as casas dos donos dasconstruçons estractivas tradicionaisque ainda nom as vendêrom. Asmesmas fontes indicam que o pro-jecto amparado polos Estadosespanhol e português ainda nom foiposto em conhecimento daComissom de Limites das autori-dades fronteiriças nem da Marinha.Em relaçom com a política deFenosa, outras fontes apontam àpossibilidade de que a empresapretenda investir no projecto oantes possível com o objecto dereceber indemnizaçons quantiosasno caso de que o projecto fosseanulado.No que a isto diz respeito, o colec-tivo desportivo Arrepions, integra-do na Plataforma em Defesa doMinho, exigiu do Ministério doAmbiente a anulaçom da conces-som. Na sua resposta, a citada ins-tituiçom declarou que o projectoestá a ser avaliado, ainda pendenteda Declaraçom de ImpactoAmbiental, que "é a que decidiránovamente a viabilidade ou nomdesta situaçom".

notíciasAgosto 2004novas da galiza 5

Mais de 30 000 hectares de terreno queimados

Exigem responsabilidadespolíticas pola proliferaçomde incêndios florestais

Mobilizaçom galego-portuguesa contrabarragens no Minho

Nacionalistas homenageiamMoncho Reboiras

Redacçom

Desde Janeiro até começos deAgosto ardêrom já mais de 30 000hectares de superfície, num Veraoque experimentou o recrudesci-mento da intensidade e extensomdos lumes. O terreno afectadosupera já o total ardido no passadoano. Frente à actual situaçom,numerosos colectivos e organi-zaçons exigem responsabilidadespolíticas, sobretudo em relaçomcom a Conselharia do Ambiente,capitaneada por Xosé ManuelBarreiro.Do Sindicato Labrego Galegoapontam que o lume "tem o seucaldo de cultura no encerramentomaciço de exploraçons agrárias,que provoca o abandono do meiorural e o seu despovoamento",enquadrando esta situaçom naestratégia agrária da UniomEuropeia. A CIG criticou a mani-pulaçom da Junta quanto à exten-som da superfície queimada, jáque o organismo autonómicoobviou a orografia e a inclinaçomdo terreno na hora de calcular oshectares afectados. Xan CarlosÁnsia, representante do sindicatonacionalista, concebe os incêndioscomo "marés negras sucessivas e

anuais contra os montes galegos",e por isso a CIG fai um chama-mento à mobilizaçom contra ascatástrofes ambientais.Burla Negra decretou o 'AlertaLaranja' acusando a Junta de cum-plicidade nos lumes e convocouumha concentraçom de protestoem Compostela. Um colectivoqua aglutina organismos e pessoasem Ourense convocou tambémumha concentraçom no passadodia 11 de Agosto em frente daDelegaçom da Conselharia doMeio Ambiente.Paralelamente, um grupo de pes-soas representativas do ámbitosindical, ambientalista e agrário,entre outras, assinou o ManifestoLumes Nunca Mais, em que recla-mam o "desmantelamento da eco-nomia e indústria do lume, recon-vertendo as forças de extinçomem meios de prevençom", e pro-ponhem optar por "labores demanutençom e limpeza dos mon-tes durante todo o ano" assimcomo a "profissionalizaçom dasbrigadas contra incêndios".A organizaçom independentistaNÓS-UP destacou que o terrenoafectado nas semanas que registá-rom mais lumes representou "40%do território queimado no conjun-

to do Estado espanhol". Solicitama depuraçom de "responsabilida-des políticas e penais no que estáa ser umha das maiores catástrofesambientais da história do nossopaís".Para Anxo Quintana, porta-voz doBNG, a vaga de incêndios supom"a demonstraçom evidente de umdos maiores fracassos do Governode Fraga". Em referência aoConselheiro do Ambiente, mani-festa que "sem que ninguém lhopida, Barreiro deveria abandonaro cargo antes que termine Agostoe deixar de mentir e manipular osdados".Entre os últimos dias de Julho e osprimeiros de Agosto a presençados lumes intensificou-se grave-mente, chegando a afectar núcleospopulacionais e registando num sófim-de-semana doze incêndiossignificativos. A própria PolíciaAutonómica reconheceu que pordetrás dos lumes há responsabili-dades por parte de empresas imo-biliárias e projectos que preten-dem aproveitamentos diferentesdo solo florestal, entre outras cau-sas. Cumpre destacar que nos últi-mos 40 anos os incêndios arrasá-rom umha superfície equivalente ametade do território nacional.

Redacçom

Com motivo do 29º aniversário daqueda em combate de JoséRamom Reboiras Noia, NÓS-Unidade Popular convocou nacidade de Ferrol umha concen-traçom e oferenda floral de carác-ter comarcal na rua da Terra. Oacto foi celebrado às 21h00 do dia12 de Agosto. Segundo o comuni-cado da formaçom independentis-ta "a nível nacional está a ser apre-sentada nas cámaras municipaisumha moçom em que se solicita oreconhecimento público da suafigura dedicando umha rua,espaço público ou monumento a

este insigne militante revolucio-nário galego". Por sua vez, aFrente Popular Galega (FPG)celebrou outra homenagem nessemesmo dia às 19h30 no cemitériode Imo, onde jazem os restos docombatente galego.Igualmente, a UPG realizou outraoferenda floral no cemitério deImo ao meio-dia do dia 12 deAgosto e umha concentraçompolítica à tarde no número 27 darua da Terra de Ferrol, lugar ondecaiu abatido Moncho Reboiras.Esta formaçom declarou que"quer colaborar activamente paranom se diluir a memória históricada luita contra a ditadura fascista".

Voluntários de Burla Negra pendurárom umha faixa desde a Catedral de Santiago denunciando a responsabilidade da Junta

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6 notícias Agosto 2004 novas da galiza

Redacçom

A Confederaçom IntersindicalGalega da Corunha está a promo-ver umha campanha contra "aarbitrariedade que representa aexclusom da participaçom cidadádo controlo na administraçonlocal e nas actuaçons do presiden-te da Cámara da cidade, FranciscoVázquez".O PSOE e o PP aprovárom oRegulamento Orgánico deParticipaçom Cidadá sem consultaprévia às organizacións sociais.Segundo a central nacionalista,este regulamento articula a parti-cipaçom cidadá "sob o férreo con-trolo do presidente da Cámara",constrói a participaçom "de cimapara baixo, quer dizer, da Cámarapara a cidadania e nunca ao con-trário", divide a cidade en dousdistritos, "em lugar de tantos dis-tritos como bairros, minguando aagilidade das iniciativas vicinais"e "anulando a iniciativa popular,os direitos de pedido e de ser con-

hecida a actividade do Governomunicipal".Francisco Vázquez e o PP preten-dem criar o Conselho Social, queé um organismo consultivo emmatéria social e económica, "com-posto polas pessoas que designaro presidente da Cámara, de entreas entidades sociais que foremconvidadas à participaçom." Osindicato nacionalista acrescenta

que se pretende conformar umConselho Social "domesticado efeito à imagem e semelhança dopresidente da Cámara". "Exclui-se, ilegal e amoralmente, a CIGdeste Conselho Social, e portantoé marginalizada umha parte muitoimportante dos trabalhadores etrabalhadoras", assinalam da cen-tral nacionalista. Da mesmamaneira, mantenhem queFrancisco Vázquez quer umConselho Social "de papelom,inoperante, com umha compo-siçom sectária, que nom questionenem pida explicaçons da suamaneira de agir".Para a CIG, o Conselho Socialdeveria ser "um exemplo de parti-cipaçom e de diálogo dos interlo-cutores sociais, ser um agenteactivo para definir critérios deactuaçom claros e concretos paraenfrentar a crise industrial e doemprego que existe na Corunha eum órgao que contribua com alter-nativas para travar o retrocessosocial e das condiçons de vida".

Redacçom

Os responsáveis pola fábrica, omatadouro e a incubadeira deAvigán em Ponte Areias rescin-dírom o contrato de 71 dos 98trabalhadores e trabalhadoras dafábrica sem nenhum tipo deindemnizaçom. Por este motivoe polas quatro mensalidades quea empresa endivida ao plantel, oComité de Empresa convocouumha greve indefinida queainda continua, tendo começadono passado dia 28 de Julho.Segundo fontes próximas dos edas trabalhadoras, Avigán pre-tende com esta operaçom desfa-zer-se dos contratos efectivospara passar a ter um novo plan-tel de eventuais reconvertidosna empresa Proavi, que nom

contrataria todos e todas as tra-balhadoras despedidas. Segun-do a CIG, sindicato maioritáriono Comité de Empresa, o factode ficarem 23 pessoas naempresa supom o encerramentodefinitivo, já que o plano deemprego proposto, entendem,"carece da mais mínima viabili-dade". Fontes do mesmo sindi-cato advertírom que se nomhouver soluçom aos despedi-mentos, poderiam optar porumha greve geral em PonteAreias.A greve e as mobilizaçons con-tam com o apoio do BNG e deNÓS-UP. A formaçom indepen-dentista já denunciou a existên-cia de dous vereadores, um doPP e outro da UCPA, entre ossócios da empresa responsável.

CIG rejeita Regulamento deParticipaçom Cidadá da Corunha

Avigán ameaça futurolaboral de 98 pessoasPonte Areias

NGZCompostela, Ordes ou Terra deMontes som algumhas das comar-cas do País escolhidas por activis-tas da língua para a correcçom detopónimos, um trabalho cada vezmais habitual nas estradas donosso país quando chega a tempo-

rada estival. Durante os meses deJulho e Agosto, muitas das formasdeturpadas de concelhos, paró-quias ou aldeias passárom a adop-tar a sua ortografia genuínagraças a um meticuloso trabalhode pincel em dúzias de placasindicadoras das nossas estradas:

os condutores ou condutoras quenestes dias de Verao viajarem polaGaliza adiante, com toda a prova-bilidade poderám ver dos seuscarros os nomes correctamenteescritos de "Ourense", "PonteUlha", "Traço", "Lalim" ou"Betanços", entre muitos outros.

Galeguizam topónimos em várias comarcas

O presidente da Cámara Municipal de Tui, condenado por prevaricaçom

Redacçom

Um operário mais dos interessesimobiliários de sectores do PP doBaixo Minho acaba de cair. O rege-dor tudense, António F. FernandezRocha, que acedera à presidênciada Cámara Municipal de Tui hásete anos mediante umha moçomde censura aos seus próprios com-panheiros e companheiras de parti-do, foi condenado este mês polaAudiência Provincial a umha pena

de 8 anos de inabilitaçom para ocu-par qualquer emprego ou cargopúblico e a pagar umha multa de 16200 euros por um delito de prevari-caçom urbanística. A sentença, queafecta também o aparelhador muni-cipal e a assessora urbanística daCámara, tem origem na concessomde umha licença ilegal para a cons-truçom do Edíficio Beira Minhoem zona protegida por patrimóniona zona histórica de Tui.O processo contra o presidente e

oito vereadores do PP começou em1999 com a denúncia feita por umcolectivo vicinal perante aDirecçom Geral de Património,alarmados pola autorizaçom, porparte da Cámara, da demoliçom deduas habitaçons para levantar umedifício de nova construçom. Estascasas encontravam-se na zona derespeito da zona monumental deTui, que está declarada desde 1967Conjunto Histórico-Artístico eBem de Interesse Cultural (BIC),

razom pola qual qualquer licençaconcedida, deveria contar por leicom a correspondente autorizaçome relatório de Património. ADirecçom Geral denegou a licença,mas o presidente da Cámara, fielaos interesses especulativos que olevaram ao poder, nom atendeu aordem de paralisaçom e mesmochegou a autorizar a ampliaçom doprojecto, ainda conhecendo a suailegalidade.Após a sentença, a oposiçom exi-

giu a sua imediata demissom.Rocha recusou-se a demitir e rece-beu o apoio incondicional do PPlocal, que, segundo a oposiçom,está dirigido por empresariosinvolucrados na especulaçomurbanística. Perguntam-se agoraqual será o novo "títere" de DizGuedes na Cámara, umha vez queo papel de Rocha está cumprido epago. Aduzem que se trata de"sacrificar um peom para conti-nuarem o jogo".

NGZ já denunciara no número 15 a máfia urbanística no feudo de Diz Guedes

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entrevistaAgosto 2004novas da galiza 7

NGZ

O candidato avalia os resultadosdas eleiçons com o mesmo opti-mismo com que fôrom explica-dos pola direcçom do BNG?Os resultados fôrom maus. Isso éevidente, mas as razons som comcerteza muito complexas. Cumpredistinguirmos a perda do deputadodos resultados propriamente ditos.Saímos do Parlamento polos resul-tados, na Galiza basicamente, mastambém noutras partes do Estado.Influírom os resultados naCatalunha, o ambiente geral, a abs-tençom, mas os votos que faltáromsom internos galegos e pode dizer-se mesmo que estám dentro donacionalismo. É verdade que oresultado em absoluto fijo justiçaao trabalho realizado polo BNGnas instituiçons europeias, masmesmo assim, o assento noParlamento europeu foi-nos arre-batado. Oficialmente ficamos a163 votos, mas finalmente oTribunal Constitucional nomquijo continuar a investigar. Osresultados fôrom maus, nom hádúvida. E ainda que conseguísse-mos o deputado, teriam sido mausna mesma, e isso reflecte umhasituaçom que é preocupante. Emqualquer caso, a sucessom deresultados negativos é inquietantee isso requer umha reflexom,sobre o BNG, mas também sobre aideia da Galiza como naçom.

O pacto Galeusca foi negativo?A aliança da Galeusca, que foradecidida pola direcçom do BNGmesmo antes que me tivesse sidopedida a minha participaçom comocabeça de lista, nom foi compreen-dida ou nom sei se foi bem expli-cada, isso parece claro.

Que outras alternativashavia para o BNG concorrernestas eleiçons?Bem, em primero lugar podería-mos voltar a apresentar-nos sós ever o que acontecia, mas certa-mente isso implicava riscos diver-

sos que compreensivelmente atornavam inassumível. Tambémtínhamos a alternativa da EsquerraRepublicana, e entom o risco seriainvalidar a Declaraçom deBarcelona, com o que isto supom,numha conjuntura como esta, a deestar a Galiza presente de algum-ha maneira na luita por um statusnacional novo, dentro do Estado.Também seria possível fazerumha aliança com a EsquerraRepublicana, o PNV e EA, forçasque nas eleiçons passadas conco-rreram unidas. Mas também cum-pre dizer que a ERC estava muitocrescida e nom contribuía aoentendimento fundamentalmente,condicionada pola pugna quemantinha com a Convergência naCatalunha.

Falas de umha reflexom neces-sária após os resultados. Emque termos deveria produzir-se?No futuro próximo, no meu trabal-ho intelectual e político gostaria deincidir numha reflexom que ten-desse à radicalidade. Tendo emconta que a situaçom da sociedade

galega actual é totalmente diferen-te da de começos do século. A mar-ginalizaçom social e política conti-nuamos a sofrê-la, mas os galegose galegas som "pessoas normais",como em outro país qualquer. E épreciso conquistar essas pessoaspara um projecto nacional que sejaradical, embora sisudo, compreen-dendo a situaçom social real emque estamos. Nesta linha eu tenteino Parlamento europeu dedicar-mea fomentar umha projecçom uni-versal da Galiza como naçom, emlugares como o Iraque, a Palestina,o Brasil, etc... Mesmo no que dizrespeito à construçom europeia.Hoje as possibilidades, mesmo desoberania plena, som mais acessí-veis e pertinentes através daEuropa. A clássica ideia de autode-terminaçom que supunha a colo-caçom de umha fronteira está supe-rada, é possível um estado inde-pendente na Europa sem essa ideiade fronteira. Este é um elementopedagógico evidente na cons-truçom da consciência nacional.Por outra parte, é necessária umharadicalidade democrática quanto

aos direitos sociais e humanos equanto à questom nacional, masque leve a integrar como tal anaçom galega. Essa conceiçompoderia conquistar a sociedadegalega para um projecto espe-rançoso. Nom se pode andar aossaltos entre a negatividade e aentrega.

A ideia da Europa a construircontinua a ser umha problemá-tica dentro do nacionalismo?Hoje pode ser criticada estaEuropa, mas nom pode dizer-seque seja a origem de todos osmales. Umha cousa é que a nego-ciaçom de entrada do Estadoespanhol fosse má, acarretandomuitos problemas sociais e econó-micos para a Galiza, e outra é quea ideia da Europa nos seja negativajá à partida, em si própria. Masessa negatividade também provémde umha dialéctica entre blocos nomundo que existiu durante todo oséculo anterior, mas que hoje nomfai sentido. O mundo agora é outracousa diferente. Temos que trans-formar o mundo, mas o mundoreal, nom o que imaginamos. Hojedizer que o Parlamento europeu énosso nom significa concordarcom as políticas da Alemanha ouda França, nem com a política dastransnacionais, que é um tópicomuito manipulado. O nacionalis-mo galego deve converter aEuropa também numha questompolítica, nom deixar que fique numsimples mercado favorável àsgrandes companhias.

Os pactos internos da últimaassembleia que conformáromactual direcçom do BNG, ondeBeiras desempenhara umpapel que agora qualifica deingénuo, som apenas umremendo para ir indo?Nom quero entrar em polémicasque podam ser entendidas comointernas, ou que podam levar a ver-se nas minhas palavras umha tenta-tiva de revisar o resultado dessaassembleia, mas em todo o caso as

posturas que mantive entom, man-tenho-as agora, embora sabendo,logicamente, de que lado estavacada participante. Sei que quemme apoiou a mim a as ideias que eudefendi eramos vários centos depessoas e sei quem defendeu ouapoiou outros candidatos. Masnom quero aprofundar nisso nestemomento, se me permitires.

Como deve ser o futuronacionalismo galego? O nacionalismo deve conseguirfazer umha proposta assumívelpola cidadania galega, e tem quefazê-lo do ponto de vista nacional,de maneira radical e a partir daesquerda. Nom a ideia de que aesquerda é apenas um sindicatoque defende umha camada social,mas a esquerda que defende umprojecto para o conjunto da socie-dade, levando mormente em contaa luita pola justiça, a solidariedade,a liberdade, a nom-discriminaçom,a paz, a igualdade e o ambientalis-mo. Deve ser umha proposta maio-ritária a partir da esquerda. Obter amaioria nom passa pola supostamoderaçom. E essa é umha refle-xom que o BNG deve fazer.

A língua... tens-te destacado pordefenderes o reintegracionismolingüístico...A sociedade galega deve libertar-se da ideologia espanholista.Nom entendo como, tendo a for-tuna de ser a origem de umha lín-gua que é universal -que portantodaria à Galiza umha oportunida-de enorme de ter presença comonaçom no mundo-, continuamosa aceitar a ideia espanholista deque o galego é umha línguaminoritária. Desfazermos este nótremendo, histórico, é vital. E osgrupos políticos e a intelectuali-dade tenhem umha enorme res-ponsabilidade neste tema. Avaliopositivamente a reforma ortográ-fica porque a tendência é conver-gente com o português. Mas nompode ser o ponto final, ainda quefosse concebida assim.

entrevista

Nom entendo como, tendo a fortuna de ser a origem de umha língua que é universal,continuamos a aceitar a ideia espanholista de que o galego é umha língua minoritária

“O nacionalismo galego deve oferecerum projecto radical a partir da esquerda”

Camilo Nogueira foi o candidato ao Parlamento europeu polo BNG

Camilo Nogueira foi o candidato aoParlamento europeu polo BNG. Repetia comonúmero um da candidatura nacionalista, masdesta vez integrada na coligaçom Galeusca,

com o PNV e Convergência i Unió. O veteranopolítico, que finalmente perdeu a sua cadeiraem Europa, fala para NGZ, a primeirapublicaçom impressa a que concede umha

entrevista desde a celebraçom das eleiçons.Noutra altura, as suas opinions, nomassumidas à partida, acabárom por se impordentro do nacionalismo maioritário.

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José Manuel Lopes

Em meados da década de 90, com amaioria da populaçom interessadapola questom ambiental aindasujeita aos esquemas mais conven-cionais de denúncia das grandesinfra-estruturas hidroeléctricas,muito poucos e poucas enxergavamo grande desenho que em matériade produçom energética a Junta daGaliza tramava em companhia depoderosos grupos empresariaissobejamente conhecidos no nossopaís. Com efeito, já em 1995 ogoverno autonómico lançava o seuprimeiro Plano Eólico, antecipandoa posta em andamento de um totalde 33 parques em diferentes pontosda nossa geografia. As conhecidasalusons à condiçom 'inócua e verde'deste modelo de energia, junto comas reiteradas promessas de postosde trabalho em zonas desertizadas edeprimidas do País, temperárom asvozes mais críticas e apresentáromcomo catastrofista qualquer denún-cia contundente. Hoje, quase dezanos depois daquela primeiraaposta institucional nítida, estapequena naçom europeia comescassa tradiçom no aproveita-mento do vento coloca-se comosegunda produtora no ámbito con-tinental e oitava mundial, e aindaprimeira 'potência' exportadora doEstado espanhol, situando-se àcabeça da produçom de energia'em regime especial'. Junto com ascolossais obras de infra-estruturasde comunicaçom com que habi-tualmente os partidos espanhóisconquistam o mercado político,convenientemente financiadascom fundos europeus, a Juntareconhece na multiplicaçom dacapacidade exportadora atravésdas eólicas um sector estratégicopara o futuro económico galego.Quais os índices manejados?Fundamentalmente, os que ten-hem a ver com a exibiçom degrandes montantes perfeitamenteseparados, mas de duvidosa trans-cendência social se o que medir-mos for o progresso económicodas áreas afectadas.

Umha legalidadeao seu serviçoUmha primeiranota chamativa doapresentado como'sector ponteiro' daeconomia galegado século XXIrelaciona-se com oprocedimento deaprovaçom dasdiferentes iniciati-vas e com a redelegal que as sus-t é m .Paradoxalmente,num momento emque se programa aocupaçom mili-métrica de 16% doterritório galego,território de montegerido por particu-lares ou comuni-dades que o exploram em maocomum, toda a interlocuçom comesses milhares de galegos e galegasdirectamente afectadas pola insta-laçom de parques eólicos estivoausente ou foi testemunhal.Representantes da OrganizaçomGalega de Comunidades de Montes(ORGACCMM) denunciárom oDecreto 205/95, que regula a postaem andamento dos parques, como"autêntica aberraçom", pois sobre-pom um suposto "interesse públi-co" da produçom eléctrica ao indu-vitável interesse público que simtenhem as terras comunais, emalguns lugares importante fonte dereceitas para as paróquias e aldeias.É a dita declaraçom de interessepúblico -defendida umha e outravez pola Associaçom Eólica daGaliza, que agrupa as empresaspromotoras- a que possibilita maisumha vez que a tam conhecida viada expropriaçom forçada se abracaminho, culminando na usur-paçom de facto com o preço que aadministraçom marcar. Isto foi oque lhe aconteceu de maneira literala 15 comunidades de Monte Treito,incapacitadas para qualquer nego-ciaçom com a empresa GAMESAquando esta decidiu tomar directa-

mente a via expropriadora.Mas nom só as comunidades demontes, entidades nunca perfeita-mente encaixadas na legalidadeespanhola estám a ser afectadaspolo processo. As próprias cámarasmunicipais, instituiçons quedeviam ter capacidade de gestom eexecuçom das infra-estruturas queocupam terrenos dos seus concel-hos e afectam os seus recursos,ficam absolutamente afastadas doprocesso, de maneira muito semel-hante ao que acontece no caso dasminicentrais hidroeléctricas. OPlano Eólico obrigou já 152 cáma-ras municipais da CAG a darlicença de construçom mediante aadequaçom dos planos urbanísticosaos projectos das promotoras. Naprática, a autorizaçom daConselharia da Indústria supom adirecta instalaçom dos parques, sal-tando por cima da potestade demo-crática da própria cámara munici-pal e em nom poucas ocasions des-prezando os relatórios de impactoambiental, como quando se fijopúblico o propósito da instalaçomem plenas fragas do Eume. Damesma maneira, é muito habitualque os parques atinjam umhadimensom supramunicipal, o que

torna praticamente impossívelqualquer decisom no ámbito localque poda reverter positivamentenos habitantes do concelho. A ine-xistência de umha comarcalizaçomreal e de qualquer entidade políticacom capacidade de actuaçom man-comunada das cámaras municipaisreforça ainda mais esta vulnerabili-dade diante das empresas conglo-meradas na Associaçom EólicaGalega. Estas, que talvez julgárominsuficiente o papel jogado no con-tencioso, tencionárom mesmominimizar o papel dos concelhosno terreno fiscal, procurando queos parques nom obtivessem a cate-goria de "edificaçons" (e sim, emtroca, de "maquinaria") para severem livres de descontar para asfinanças locais.O Plano Eólico da Junta da Galiza-e, num nível mais amplo, o ambi-cioso Plano Eléctrico 2004-2006-nom só tornou mais umha vez fac-tível a gestom exclusiva e exclusi-vista do meio ambiente por partedo tandem executivo-transnacio-nais, afastando qualquer agentesocial, como também foi capaz deconciliar, num curioso malabaris-mo, o tam cacarejado valor culturale turístico da paisagem com a pro-

liferaçom de moinhos de vento nasnossas serras mais emblemáticas,de Queixa ao Gistral, passandopolo Barbança, a Capelada ou oCandám. Com efeito, muitas destasinfra-estruturas ocupam lugarescatalogados na Rede Natura2000 esom considerados Lugares deInteresse Comunitário (como acon-tece com numerosas minicentrais eáreas afectadas por grandes obraspúblicas, por exemplo o porto exte-rior de Ferrol), além de guardaremimportantes jazigos arqueológicos.Assim, para cúmulo do esperpento,a conselharia tem declarado aaliança das promotoras com aDirecçom Geral de Património, e aprópria Universidade de Santiagode Compostela, pretendendo que"a instalaçom de parques permita arecuperaçom do património arque-ológico em zonas de grande valorambiental". Na realidade, as enor-mes torres dos moinhos som res-ponsáveis pola morte de numero-sas aves cada ano, muitas delasespécies protegidas, e os grandesdesmontes e alicerces de cimentoque fam possível a instalaçom dastorres tornam inviável qualquerrecuperaçom cabal do patrimónioda zona.

O 'negócio verde'O grande desenvolvimento da ener-gia eólica em tempos recentescorrespondeu a 'países avançados'como a Dinamarca ou os EEUU,desejosos de aproveitar as suasgrandes condiçons naturais e deprocurarem um freio parcial àsobre-exploraçom de energias fós-seis, esgotáveis e muito contami-nantes. As grandes transnacionaisdirectamente responsabilizadaspola instalaçom de parques, e asprimeiras em escolher como ámbi-to de actuaçom o Estado espanhol,tinham a sua origem nas duasnaçons citadas. Ainda, o nosso paísnom se acha sob a influência deconglomerados empresariais des-conhecidos, mas de velhos blocoseconómicos especializados no sec-tor energético que compartilhamduas características: nom serem

8 reportagem Agosto 2004 novas da galiza

Galiza é segunda produtora no ámbito continental e oitava mundial

Já se tornou quase um tópico afirmar a condiçomexcedentária do nosso país em energia eléctrica e osescassos ou nulos benefícios sociais que a mesmatraz para milhares de pessoas criadas sob a largasombra da velha FENOSA. Para algumhas pessoas,falarmos em "expólio energético" pode parecerumha alusom rançosa ao franquismo, às grandesinfra-estruras hidroeléctricas ou a um "desenvolvi-mentismo" que soa a passado nos tempos de moder-

nizaçons neoliberais e ciberespaços omnipresentes.E, porém, os sinais de alarme ligados insistentemen-te entre os sectores mais activos e críticos da cida-dania em matéria ambiental, parecem querer manterboa parte da vigência de esquemas talvez nom tamcaducos: a nova "mina" para a produçom energéticagalega, em crescimento sustentado e orientaçomexportadora, ocupa muito visivelmente espaços tamemblemáticos como as nossas serras, mesmo tendo

sido estas declaradas "lugares de interesse comuni-tário"; a via da expropriaçom forçada e a desconsi-deraçom dos legítimos proprietários e proprietáriasganha força, com um poder autárquico ignoradopolos desígnios da Junta e a pressom de GAMESAou Ecyr; por enquanto, a propaganda a favor destenovo boom produtivista vem vestida de verde eaduba o terreno à Galiza dos mais de 200 parques eàs serras inçadas de moinhos.

Galiza, parque eólico

Eolicos de Pácios de Mourisco (Fonsagrada). O Plano Eólico obrigou já 152 cámaras municipais da CAG a darlicença de construçom mediante a adequaçom dos planos urbanísticos aos projectos das promotoras.

AR

IAS

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9reportagemAgosto 2004novas da galiza

galegos (os que dizem sê-lo, casoda Uniom Fenosa, estám domicilia-dos em Madrid) e procurarem abrirum novo filom de negócio à sombrado Estado, com umha "energiaverde" que acompanharia -nuncasubstituiria- as mais nocivas térmicaou nuclear. É o caso de ENDESA,empresa privada de origem estatal eligada ao franquista Martín Villa,que tem em pleno funcionamentoumha divisom dedicada às energiasrenováveis -Ecyr-, que fai as suasprimeiras incursons na "produçomverde" enquanto é umha das princi-pais responsáveis pola chuva ácidana Europa, graças à sua central tér-mica das Pontes; também GAME-SA, participada maioritariamentepolo BBVA e Iberdrola, segue amesma linha de intervençom práticae propagandística, aparententemen-te indiferente às denúncias que temrecebido, precisamente, poloimpacto de algum dos seus parquesnas aves de rapina.Como os próprios representantes deUnión Fenosa tenhem reconhecido,empresas como estas precisam nes-tes tempos dos chamados "atesta-dos verdes", credenciais necessá-rias para obterem autorizaçom daUniom Europeia (que ameaça comsançons e com a compra de ener-gias a terceiros) e para se apresen-tarem ao mercado com sensibilida-de ecológica, vendendo a maiorpreço ao consumidor ou consumi-dora a energia com 'pedigree'ambiental. Eis umha das razonspolas quais a populaçom galegapode pagar mais pola factura daluz. Populaçom que, em qualquercaso, nunca terá a compensaçomde um melhor serviço por ter brin-dado boa parte dos seus montes àstransnacioanis eléctricas: a energiaproduzida na Galiza alimentaumha rede central e centralizadaque depois se encarrega da redistri-buiçom. E esta nom impede que onosso país seja -só por detrás daComunidade Autónoma deMadrid- a zona do Estado commais deficiências na distribuiçom ecom maior número de apagons.A defesa do Plano Eólico nomremata com esta reiteraçom do ele-mento 'verde'. A panaceia dos pos-tos de trabalho numha Galiza tam-bém conhecida estatisticamentepolos seus elevados índices dedesemprego e precariedade foi agi-tada recorrentemente. Nom podiaser de outra maneira, já que, apesarda debilidade do sector secundário,com excepçom do pujante sectorautomobilístico, os parques eólicosvam ocupar nos vindouros seisanos mais solo que o conjunto dospolígonos industriais galegos. Apósa recente notícia da abertura deumha planta de fabricaçom de pásnas Somoças, assim como da impli-caçom de IZAR neste sector, eramuito fácil ouvir nos meios decomunicaçom declaraçons entu-siastas sobre os numerosos postosde trabalho que a vaga das eólicasia trazer para a Galiza. Ora, se é

inquestionável a necessidade de tra-balhadores autóctones para a fasede instalaçom -o que pode provocarum pequeno "boom" restrito notempo, a imagem e semelhança dosector da construçom-, nenhumadas empresas promotoras conse-guiu garantir o mantimento deemprego após a hipotética insta-laçom desses 200 parques. E difi-cilmente poderiam garanti-lo porumha razom bem singela: as cen-trais funcionarám graças a um con-trolo informático situado a centosou milhares de quilómetros da zonaem questom e as reparaçons corre-rám a cargo de filiais das transna-cionais que utilizarám mao-de-obraforánea, e exclusivamente nomomento que convinher.

Perspectivas e efeitos reaisO Plano Eléctrico 2004-2006 é aamostra mais diáfana da vocaçomde continuidade -se calhar aindamais exagerada- dos desenhos ini-ciados em 1995. As notas dominan-tes som a vontade de duplicar a pro-duçom eléctrica galega (com oobjectivo nom confesso de alimen-tar as zonas mais industrializadas

do Estado espanhol e embora já naactualidade se exporte 48% da elec-tricidade), o intuito de reforçar arede de distribuiçom (para o qual aempresa Rede Eléctrica Espanholaestá a acrescentar o seu investimen-to em linhas eléctricas), e a absolu-ta patente de corso para as promo-toras se instalarem em qualquer dosnossos montes, sem entrave meioambiental ou social de nenhumtipo, para atingir o objectivo demais 150 pólos produtores de ener-gia eólica. Este produtivismo semtrégua é tal, e tam acelerado, quemesmo o director geral de RedeEléctrica Espanhola, VictorianoCasajús, manifestava há poucotempo que na Galiza havia 'dema-siados aerogeneradores' e que nomse podia garantir o correcto funcio-namento de todos eles, dada a pre-valência do critério da quantidadeface ao da qualidade e ao do con-trolo técnico.Por seu turno, o ambientalismogalego organizado em Erva,ADEGA, ou a FEG, continua a tor-nar públicas as suas análises sobreo fenómeno eólico e a relacionar asua proliferaçom acelerada com um

paradigma alicerçado no cresci-mento indefinido de consumo ener-gético agora disfarçado de verde,onde as pás dos moinhos som per-feito complemento -e perfeito pre-texto- para as aventuras térmicas enucleares ensaiadas sem descanso.A posta em causa do modelocomeça por este importante des-mentido contra as vozes oficiaisque teimam em vender umha ine-xistente diminuiçom do empregodas energias fósseis, mas continua aexaminar com todo o detalhe osefeitos dos parques eólicos. Porque,para além dessa desconsideraçomdos agentes sociais, da vocaçomexportadora e da ocupaçom deespaços emblemáticos, é certo queestamos perante umha infra-estru-tura inócua? Em meados da décadade 90, quando a Junta tornavapúblicas as suas tençons, um pre-monitório documento de ADEGAintitulado 'Problemática da energiaeólica na Galiza' analisava um a umos problemas ambientais ligados àdifusom exagerada e carente dequalquer critério desta forma deexploraçom energética: salienta-vam-se os problemas que iamsofrer as aves, sobretudo as migra-tórias, e a fauna selvagem ou gadoem liberdade das zonas afectadas;alertava-se sobre os danos causadospolos movimentos de terras, a cons-truçom de estradas em áreas de altovalor ambiental e a instalaçom denovas linhas de alta tensom, com amais do que provável destruiçomde jazigos arqueológicos.Realidades estas que o tempo pro-vou como indiscutíveis e que sevam ver agravadas nos próximosanos se nom se produzir umha vira-gem rotunda no modelo energéticoe no papel que a Galiza joga noespaço espanhol.Piorando ainda mais a actualsituaçom, o presente domínio detransnacionais no mercado da ener-gia cega um dos caminhos que oambientalismo galego assinaloucomo factível: umha produçom

eólica que substituísse a energiaclássica, instalada perto dos centrosde consumo e nom submetida aumha rede central que a distribuísseem benefício de centros industriaisafastados e alheios. Esta possibili-dade, enquadrada sob a denomi-naçom de "parques eólicos singula-res", vem contemplada no Decreto302/2001, e o seu objectivo teóricoseria fornecer de electricidade con-celhos e pequenas e medianasempresas, emancipadas assim dalógica e das exigências das transna-cionais. Porém, a crónica fraquezaorçamentária dos municípios e asevidentes dificuldades do pequenoempresariado fam com que a fór-mula fique no papel ou que só seplasme quando um crédito bancárioavalizar a operaçom, funcionandoaliás a instituiçom como um peque-no vendedor de energia a terceiros esem vontade nem capacidade de seorientar para o auto-abastecimentolocal. Com quase dez anos andadosde exploraçom eléctrica através dosparques eólicos, a maior parte dasinfra-estruturas e a riqueza produzi-da está já, e de maneira inexorável,em maos de Ecyr, Gamesa, UniónFenosa...

Vítimas e oposiçomO processo polo qual a Galiza seinstala num prático ponto de nomretorno no que ao seu papel deexportadora de energia diz respeitobem podia funcionar como umparadigma de outros muitos casosde agressom ambiental e social:opacidade institucional, propagan-da mediática e sucessom de umhasérie de oposiçons desarticuladas einconexas que nom tenhem adimensom suficiente para deter oumatizar as iniciativas em andamen-to. Tampouco podemos esquecerque os planos energéticos desenha-dos polo Estado e desenvolvidospolo governo autonómico tenhem,na Galiza de primeiros do séculoXXI, um terreno mais do que pro-pício para serem aplicados: umhapopulaçom rural em retrocesso ver-tiginoso, usos agrários tradicionaisprogressivamente abandonados (ocaso do monte é esclarecedor),umha populaçom envelhecida e emmuitas ocasions seduzida pola pos-sibilidade da venda, um ambienta-lismo minoritário... sobram asrazons mas parecem faltar as forçase a organizaçom, o que nom impe-de que em certos casos pontuais adeterminaçom individual pode coma determinaçom dos poderosos:recentemente, umha vizinha doconcelho de Muras, proprietária deumha finca na zona do Gistral-Cadramom, conseguiu a condenado Estado espanhol pola DirecçomGeral de Meio Ambiente da UEpola autorizaçom ilegal de um par-que no nascimento do leito dos riosEume e Landro, declarado parte daRede Natura. Apesar da sançom, oTribunal Superior de Justiça daGaliza nom decidiu a paralisaçomtemporal das obras.

Representantes da Organizaçom Galega de Comunidades de Montes denunciárom o decreto que regula os parques como “autêntica aberraçom”,pois sobrepom um suposto “interesse público” da produçom eléctrica ao induvitável interesse público das terras comunais

15 comunidades de Monte Treito vírom-se incapacitadas para qualquer negociaçom com aempresa GAMESA quando esta decidiu tomar directamente a via expropriadora.

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Page 10: Número 21, Agosto de 2004 novas danovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz21.pdf · Kiko Neves, José R. Pichel, Ramom Pinheiro, Carlos Taibo, Ignacio Ramonet, Ramón Chao Fotografia:

10 reportagem Agosto 2004 novas da galiza

A integraçom plena está longe de se produzir para umha comunidade usada como mao de obra barata

F. Marinho

Com pouco menos de meio mil-hom de habitantes, a Repúblicade Cabo Verde abrange um totalde dezoito ilhas e ilhéus com amesma origem vulcánica. Estasporçons de terra suportárom acolonizaçom portuguesa desde oano 1460. Dous anos depois, em1462, começava o povoamentodas ilhas com o assentamento deescravos africanos trazidospolos colonos portugueses.Antes da referida data, as ilhasde Cabo Verde tinham estadodesabitadas. Até a aboliçom daescravidom, este arquipélagosituado em frente do Senegal,era umha das maoiores fábricasescravistas de África.Hoje 70% da populaçom é mes-tiça, mas nom se tenhem regista-do incidentes racistas dentro dopaís. A mistura cultural nascidadesta fusom entre o europeu e oafricano fijo com que CaboVerde acabasse por chamar à suasingularidade como "morabeza",algo que se resume em "CaboVerde = Cabo Verde", como dixoo escritor português ManuelFerreira, sítio distinto.No ano 1975, o arquipélago con-segue a independência ao lado daRepública de Guiné-Bissau.Ambos os países herdárom umhapobreza e um desemprego difí-ceis de digerir. Na actualidade hálugares dentro das ilhas em que onível de desemprego chega a25%. Junto com as secas, umsector agrário que ocupa 70% dapopulaçom activa mas inçado de

resultados negativos e deficitá-rios, e com um escasso desenvol-vimento em outras novas alterna-tivas laborais, a maior parte dapopulaçom cabo-verdiana optapola melhor saída, emigrar. Nomadmira, sobretudo se reparamosque a idade média da populaçomé de vinte e três anos, quer dizer,esse momento da vida em queo estranho seria nom ir à procurade novas saídas vitais ondequer que seja.O número de emigrantes queabandonam Cabo Verde triplica apopulaçom que mora nas ilhas. Ascomunidades mais numerosasencontram-se nos Estados Unidos(a maior com 150 000 pessoas,concentradas na aglomeraçom deBoston). Outros lugares que apre-sentam umha forte presença cabo-verdiana som Portugal, França eos Países Baixos.

Chegada à GalizaA história da emigraçom cabo-verdiana começa quando nos últi-mos anos da década de sessenta aditadura portuguesa fomentou adiáspora destas gentes. PrimeiroPortugal e logo depois toda aEuropa fôrom os pricipais recep-tores de emigrantes vindos dasilhas.A Galiza nom foi alheia ao movi-mento migratório destas pessoas.Assim, usando Portugal comoporta de entrada, fôrom chegandoao Estado espanhol para ocupa-rem empregos nas minas (noBerzo e em Aragom) e na cons-truçom civil (em Madrid). Foicom empresas de montagem

industrial que entrárom na Galizaa partir de 1977. A construçom dafábrica da Alumina em SamCibrao pedia mao-de-obra espe-cializada na montagem industrial.Eles faziam parte dos plantéis quetravalhavam no levantamento docomplexo industrial. Terminadoeste trabalho, muitos daquelesoperários recebêrom ofertas paraficarem a trabalhar como empre-gados efectivos na fábrica. Masnenhum cabo-verdiano recebeuumha oferta semelhante. Esta foiconsiderada por eles a primeiraacçom racista que sofrêrom noámbito laboral. A conseqüência

foi que muitos daqueles operáriosse fôrom embora de Sam Cibrao àprocura de oportunidades laboraisfora da Galiza. No entanto, unspoucos ficárom na Marinha, emconcreto em Burela, onde encon-trárom trabalho nos barcos depesca que na altura começavam jáa perder a tripulaçom nacional,pois preferiam o trabalho melhorremunerado e mais seguro dasinstalaçons industriais.Hoje em dia, a pesca é o únicosector laboral em que trabalha aprática totalidade dos homensprocedentes de Cabo Verde resi-dentes em Burela.

Ignorada durante vinte anos, a comunidadecabo-verdiana em Burela é usada como amao-de-obra barata que interessa aosempresarios do sector piscatório. Desde asua chegada, primeiro os homens, fôromoperários da construçom na montagem daAlumina em Sam Cibrao.Nenhum deles conseguiu ficar como empregadoefectivo na empresa, pois fôrom rejeitados naprimeira acçom racista contra eles no litoral

marinhao. A saída para os que ficáromna Marinha foi embarcar-se na pesca dealtura ou no bonito. Ser cabo-verdiano em Burelaera até há pouco ser moreno, umha pessoa que pas-sava despercebida, ainda sendo preto numhavila de brancos. No ano 1998 algo começou a mudar. Com a ajudade Luzia Fernández e o Projecto BogAvante,iniciárom o caminho para normalizarem as suasvidas num lugar que até entom apenas os conseguia

ver como elementos peculiares ou estranhos. Essecaminho está cheio de armadilhas e desabores.Logo depois dos primeiros passos andados paraumha convivência normal, as autoridades locais eautonómicas travárom a tempo o que pensavam queera a ruptura de um modelo idílico de convivência.Na actualidade duas geraçoms de imigrantescabo-verdianos residem em Burela. A adaptaçom, otrabalho, a convivência, som os reptos comuns paratodos eles no dia-a-dia.

Burela e Cabo Verde, o idílio que nom é

Hoje em dia, a pesca é o único sector laboral em que trabalha a prática totalidade dos homens procedentes de Cabo Verde residentes em Burela.Os cabo-verdianos chegaram à Galiza para trabalhar em Alumina em Sam Cibrao. Nenhum deles foi contratado depois das obras.

.Cabo Verde

[email protected]@terra.es

Populaçom. 430 000 hh.

Capital. Praia

Idiomas. português e crioulo

Habitantes fora do país.1.500.000

Chegada a Burela. 1.977

Cabo-verdianos/asresidentes em Burela. 210

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Page 11: Número 21, Agosto de 2004 novas danovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz21.pdf · Kiko Neves, José R. Pichel, Ramom Pinheiro, Carlos Taibo, Ignacio Ramonet, Ramón Chao Fotografia:

reportagemAgosto 2004novas da galiza 11

O idílio que na realidade nom éAcompanho Luzia Fernández até arua do Rio, "um lugar onde seestám a concentrar quase todas asfamílias cabo-verdianas" diz ela.Antropóloga que lecciona aulas naUniversidade de Trás-os-Montes eAlto Douro, foi a primeira pessoaque realizou um trabalho sobreesta comunidade. "Quando cheguei e perguntei naCámara municipal, toda a gentedizia que os 'morenos' estavamperfectamente integrados". Mas"moreno" é o adjectivo com quesom conhecidos depreciativamen-te os cabo-verdianos. Quando istolhe aconteceu à Luzia, ela vinharealizar um trabalho para oProjecto BogAvante, que levava aONG Regal. Era umha iniciativada Uniom Europeia dentro do pro-grama Integra. Em Burela eracanalizado pola Rede Galega con-tra a Pobreza e a Exclusom."À partida ia dirigido aos homens,para conseguirem diplomas quelhes permitissem obter melhoresempregos na pesca". Mas a reali-dade que a Luzia encontrou eramuito diferente à apresentadapolas autoridades. Para começar,os homens estavam todo o anoembarcados, e em terra só ficavamas mulheres. Todo o projecto deviaser reformulado. Deviam conside-rar também as mulheres e ascrianças, para assim se iniciaremos primeiros passos da normali-zaçom de relaçons sociais.A primeira acçom realizada foirecensear toda a comunidade noconcelho. Era o ano 1998, vinteanos depois de que o primeirodeles chegasse ao lugar. Atéentom, todos viviam numhasituaçom de irregularidade perma-nente que convertia os filhos e asfilhas em apátridas sem direito abolsas para estudar."Os políticos baseavam-se em queos cabo-verdianos faziam omesmo que nós. Iam à missa,faziam a comunhom, iam á escola,etc." Isto para as autoridades eraumha convivência idílica, umhaintegraçom perfeita. Essa inte-graçom "perfeita" incluía a entradade crianças cabo-verdianas emaulas de educaçom especial, poisnom sabiam espanhol e nom esta-vam adaptadas ao sistema educati-vo. Outra conseqüência era queessas crianças viviam entre dousmundos culturais (o cabo-verdianoe o galego) carentes de pontos de

contacto.O projecto BogAvante incluía ini-ciativas como passos para a socia-lizaçom e primeiros contactosentre as duas comunidades. Masem 2000 terminava este programae com ele muitas possibilidades dese conseguirem mais sucessos.Na actualidade continuam a desen-volver-se iniciativas, mas diferen-tes à linha marcada num primeiromomento. A de dar à comunidadecabo-verdiana a inicitiva de seorganizar e decidir o quê fazer. "ACámara municipal reuniu-se compessoas por separado para lhesoferecer o meu posto. Isto contou-mo gente cabo-verdiana, que serecusou e por fim a Cámara tivoque contratar-me". O trabalho quese desenvolve na actualidade é oda multiculturalidade, em que seoferece umha parte folclórica.

Duas geraçons,umha mesma caraNada distingue a casa de Ivonne deumha casa média galega. Ela nas-ceu na ilha de Santiago, a principaldo arquipélago, onde está a capital,Praia. 'Badias' é o nome que se dáàs pessoas que venhen dessa ilha.Há quinze anos chegou grávida àcosta marinhá. Fôrom temposduros, muitas saudades da terranatal, três filhos com os seus avósem Cabo Verde e sobretudo, difi-culdade para entender-se com aspessoas. Durante o parto nom con-seguia perceber as enfermeiras.Por cima, Manuel, o marido, esta-va embarcado. Passou o tempo eIvonne foi-se adaptando à vida deBurela, realizando trabalhos nopróprio lar e algum outro que foisurgindo em conserveiras, como oque está a realizar agora.Foi das primeiras mulheres quechegárom das ilhas nos anos oiten-ta, no primeiro re-agrupamentofamiliar que se produziu entre oscabo-verdianos residentes naMarinha. Para o seu assentamentocontou com a ajuda de um matri-mónio amigo do marido que járesidia em Foz. Procurárom-lhecasa e desde entom mora com omarido e os filhos na vila. Para ela, a convivência com osgalegos é boa. "Bem, nom tiveproblemas". Participa na asso-ciaçom Tabanka, e forma parte dogrupo Batuco Tabanka. "Foi umdia que estávamos todas juntas,gostamos de fazer cousas entretodas. Nasceu a ideia de fazermos

um batuco de Cabo Verde. Tudofeito por nós".Quando se celebrou o primeirocasamento entre cabo-verdianosem Burela, após vinte anos nolugar, nom pudérom assistir, poistivérom que actuar nas festaslocais. Soubérom-no polos carta-zes, nem foram avisadas.Em Dezembro de 2003 Mariadecidiu passar a fronteira e ir paraBurela. Jorge, o seu marido, estavaa trabalhar no mar. Queriam morarjuntos. Ela já levava um ano comoilegal em Portugal, os papéis e asautorizaçons de residência nomacabavam de chegar. Entrara naEuropa como turista, e ao nomconseguir encontrar trabalho, sempapéis, vivia a vender peixe emLisboa como faziam as peixeirasde antes. A polícia controlava estaactividade com muito receio, jáque se considera ilegal, ao nomsofrer controlo sanitário.Em Burela encontrou trabalhonum restaurante como cozinheira.Pouco mais de 400 euros por dez

horas de trabalho. O mesmo diaque falo com ela diz-me: "Vou-medespedir, vou deixá-lo". Quando selhe pregunta porquê, ela move osbraços e fala alto. Nom percebo ocrioulo, Luzia traduz: "mau tratono trabalho e racismo". Comesforço percebe-se-lhe que ospatrons berram e desconfiam dela:é preta, é de fora e nom fala comonós.Com só trinta anos tem quatro fil-hos. Os dous mais velhos tenhemdezassete e dezasseis anos e para aMaria o prazer mais grande é quepudessem estudar na Galiza, algomuito difícil se nom tivesse encon-trado trabalho. A comunidadecabo-verdiana tem-lhe ajudadoalgo, mas entre as recém chegadase as novas geraçons há umha dife-rença muito marcada.As dificuldades som mais duraspara as mulheres. Luzia explica oporquê: "a lei é machista, pois elassó som contempladas no reagrupa-mento familiar. Os homens rece-bem autorizaçom de trabalho, elassom consideradas donas de casa,dependentes do marido, nom somforça laboral".

O mundo laboral e a integraçomOs barcos de pesca da zona tenhempossibilidade de fazê-lo em águastam longínquas como... CaboVerde. Os próprios cabo-verdianosreconhecem que é umha contra-diçom estarem a viver na Europa ea pescar no seu próprio país. Asartes de pesca que ocupam mao-de-obra cabo-verdiana som o congela-do (até três meses no mar) e o boni-to, durante os meses do Verao.Dentro destas actividades a instabi-lidade laboral é o pam de cada dia,pois os salários oscilam segundo onúmero e a quantia das capturas.Isto nom acontece na arte do arras-to, a única com contrato colectivode trabalho e com descanso dedous dias por semana. Nom hánenhum cabo-verdiano.A integraçom plena está longe de seproduzir, como explica Luzia: "issoacontece quando todos os membrosda comunidade participam na vidasocial, económica e política demaneira plena". Para ela os proble-mas actuais desta comunidade soma falta de relacionamento entre apopulaçom galega e a cabo-vedianae, por último, a formaçom de edu-cadores e educadoras que atendamas necessidades destas pessoasquando chegam à Galiza.

Os barcos de pescada zona tenhempossibilidade defazê-lo em águastam longínquas

como... Cabo Verde.Os próprios

cabo-verdianosreconhecem que éumha contradiçomestarem a viver naEuropa e a pescarno seu próprio país

A Rede Galega contra a Pobreza e a Exclusom canalizou em Burela o projecto de integraçomBogAvante. Luzia Fernández foi parte activa do trabalho directo com a comunidade cabo-verdiana.

Quando o primeiro casamento entre cabo-verdianos em Burela, as Batuco Tabanka nom pudéromassistir, por actuarem nas festas locais. Soubérom-no polos cartazes, nem foram avisadas.

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12 vários Agosto 2004 novas da galiza

Para além de um maior ou menorsucesso de autorias e de projec-tos, a Galiza conta desde os anosnoventa com umha série deencontros que continuam a espal-har a BD na Galiza, mantendo-secomo referências para o pessoalamador e autores e autoras doPaís.As Jornadas de BD por excelên-cia na Galiza som as que se cele-bram em Ourense cada mês deOutubro há já XVI ediçons.Nascidas ao abrigo da Casa daJuventude, entre as característi-cas fundamentais destasjornadas destaca umhaconstante atençom aomundo amador galego eàs tentativas por criarumha BD nacional, con-seguindo converter-se noprincipal ponto de encon-tro dos autores e autorasdo País. Deste modo, aorganizaçom outorga cadaano o prémio Ourense aomelhor contributo à difusomda BD. Outro grande eixo doevento está a ser o relaciona-mento com Portugal (duranteanos, o certame de BD permi-tia a participaçom de autores eautoras portuguesas). Desde1992, a prática totalidade dosprojectos de BD aparecidos naGaliza tenhem passado porOurense, e a maioria de autorese autoras participárom emalgumha das múltiplas expo-sições colectivas que acolheueste encontro ou publicárom em"O fanzine das jornadas".Apesar da veterania e da impor-táncia de Ourense no desenvolvi-mento de umha BD galega, naactualidade a estrela dos nossoseventos é 'Viñetas desde oAtlántico'. Este festival, conside-rado o segundo a nível estatal sópor detrás do "Saló del Cómic"de Barcelona, nasceu e mantém-se desde 1998 graças ao apoio doalcalde da Corunha, FranciscoVázquez, grande coleccionista deBD. Sob a direcçom deMiguelanxo Prado e Carlos

Portela, cada ano, autores, livrei-ros e editores de todo o Estado emesmo do exterior vam até aCorunha em meados do mês deAgosto com a perspectiva dequinze dias de sol e o reencontrocom os amigos do grémio. Ainda,o facto de lhes serem proporcio-nadas bancas de venda gratuitasfavorece ainda mais a partici-paçom. Para o pessoal amador, apresença de autores e das corres-pondentes exposições de primei-ro nível internacional é o princi-p a l

atractivo do encon-tro. Já tenhem passado polaCorunha autores coma TeddyKristiansen, Mark Hempel ouJosé Carlos Fernándes entre mui-tos outros e outras. Nas últimasediçons os problemas de espaço eas habituais quedas de últimahora de autores convidadosestám a escurecer ligeiramente obrilho deste encontro.Com umha vocaçom muito maislocal, mas convertendo-se aospoucos numha cita importantepara o mundo amador, estám asJornadas de Cangas que celebrá-rom em finais do mês de Julho asua oitava ediçom. Com o atrac-tivo para o pessoal amador dapresença de algum autor denomeada internacional (amiúde

convidados levando em conta apresença dos mesmos, poucosdias mais tarde, na Corunha), avila marinheira consegue congre-gar cada ano muitos amadores eamadoras. Ainda, o facto de ali sedarem a conhecer novos valoresestá a tornar esta iniciativa emimprescindível para quem quigerconhecer as novas promessas naautoria galega. Do mesmo modo,o certame das jornadas consegueumha ampla participaçom degente nova, que é maioria natotalidade dos actos das jorna-das, o que fai com que esteevento seja um dos mais desta-cados para à iniciaçom na BDde entre quantos existem noPaís.Em menor grau, Arteijo contadesde o ano 2001 com assuas próprias jornadas deBD, que se organizam noinício de cada ano com acoordenaçom do desenha-dor Javi Prieto. Ainda quea principal actividade dasjornadas é a mostra de tra-balhos que se apresentamao concurso homónimo eembora nom conte comautores destacados,Arteijo também se está aconverter num ponto de

encontro para os autores eautoras menos profissionais. Para além da importáncia quetenhem estes eventos comoponto de encontro para as pesso-as autoras, a organizaçom decertames associados às jornadas,como o caso de Cangas, Arteijoe Ourense, permitem a muitosautores e autoras tirarem ummínimo benefício económico dasua obra. Da mesma maneira, aexistência de mostras regularessobre criadores emergentes donosso país (nas anteriormentecitadas e ainda em 'Viñetasdesde o Atlántico') suponhempara muitas pessoas alheias à nete aos circuitos habituais de dis-tribuiçom, a única ocasiom deconhecerem a obra dos nossosautores e autoras.

Camóns, everybody!

Através da Internet circulou a notícia de que a Real Academia Galega, nasua reunião do dia 22 de Maio, decidiu reivindicar o 10 de Junho, Dia deLuís de Camões, e celebrá-lo com um acto institucional e com a divul-gação de um famoso soneto do autor lusitano nos principais jornais doPaís. No seu comunicado, a RAG salienta a importância da nova ortogra-fia de concórdia da língua galega para o conhecimento e o desfrute estéti-co da literatura irmã, a caminho da recuperação idiomática no nosso país.O poema, que se oferece tanto em versão portuguesa, incompreensívelpara galegos e galegas, como em castrapo-concordante, seria recitado emuníssono polos membros da RAG nos jardins de Mendes Nunes. Ei-lo:

Nesta linha desintegracionista, cumpre esperar que do mesmo jeitoque Camões se tornou em Camóns, a RAG converta WilliamShakespeare em Güilian Xespir.De qualquer modo, o mais salientável é comprovar as dificuldadesdos nossos académicos no uso desse idioma do qual são máxima auto-ridade, como nos mostram esses "verche" e "perderche" em vez de"verte" e "perderte" que mereceriam umha reprovaçom em qualquerexame de galego, independentemente da grafia.Se este é o nível, porque razom Super Pinheiro não ha de ser académico?

Encontros nos quadrinhosGermám Hermida

banda desenhada

O Festival Irmandinho de Moechee o Festival da Poesia no Condadosom as principais propostas lúdicaspara o tramo final do Verao. O pri-meiro terá lugar os dias 20 e 21 deAgosto, enquanto o segundo temcomo dia grande o 4 de Setembro.Com 25 anos às costas, o FestivalIrmandinho celebra o assinaladoaniversário com umha exposiçomretrospectiva, umha obra de teatro,concertos e o tradicional assalto aocastelo, nesta ocasiom protagoni-zado por crianças. No sábado dia21 ocuparám o palco Oskorri,Tejedor, Susana Seivane e Buxo.

A Festa da Poesia chega aos 18 anoscentrando a reivindicaçom principalna defesa das liberdades. Entre osdias 2 e 4 de Setembro ofereceaudiovisuais, mostras artísticas, con-ferências e festa infantil. O dia 4recitarám Xosé Mª ÁlvarezCáccamo, Maria Lado, MaricaCampo, Carlos Quiroga, Paula SanVicente, Artur Alonso Novelhe, JoséLuis Peixoto, Ondjaki e SoniaGonzález, entre outros. E no aspectomusical, Salvaterra do Minho veráactuar Mercedes Peón, a MatracaPerversa, Xistra e Terrakota. Maisinformaçom: www.scdcondado.org

Festivais reivindicativosno fim do Verao

CALIGVLA

CASTRAPO

Alma miña xentil, que partichestan axiña desta vida descontenta,acouga aló no Ceo eternamenta,e viva eu acó na terra sempre triches.

Se aló no asento etéreo, onde subiches,memoria desta vida se consenta,non te esquezas daquel amor ardentaque xa nos ollos meus tan puro viches.

E se miras que pode merecerchealgunha cousa a dor que che me quedouda mágoa, sen remedio, de perderche,

prégalle a Deus, que os teus anos acurtou,que tan axiña de acó me leve a verchecomo axiña dos meus ollos te levou."

Luis de Camóns, 1560.

PORTUGUÉS

Alma minha gentil, que te partisteTão cedo desta vida descontente,Repousa lá no Céu eternamente,E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etério, onde subiste,Memória desta vida se consente,Não te esqueças daquele amor ardenteQue já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-teAlguma cousa a dor que me ficouDa mágoa, sem remédio, de perder-te;

Roga a Deus que teus anos encurtou,Que tão cedo de cá me leve a ver-te,Quão cedo de meus olhos te levou.

Luiz de Camões (ca. 1560)

O Quiosque da Utopia. José Carlos Fernándes

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João Aveledo

Em Maio de 1998, uns excursio-nistas fotografavam um urso-pardo (Ursus arctos) nas montan-has de Vale de Orras. A imagemdo plantígrado foi notícia nos jor-nais, que especularam com a suaprocedência cantábrica. Mas eraeste urso um outro turista?A que, talvez, seja a primeiramenção escrita sobre ursos naNossa Terra data do século XII.Num documento outorgado aoMosteiro de Ribas de Sil, o reiAfonso VII da Galiza e IXde Leão fazia referência a monta-rias de ursos.Já em 1340, Afonso IX da Galizae XI de Castela descreve no seu"Libro de la Montería" os princi-pais montes ursinos. Na altura,podemos concluir que o urso eraabundante em todas as florestas eserras do interior do País.Nos seguintes séculos, a distri-buição do urso ver-se-ia reduzidaprogressivamente devido a umamaior pressão demográfica huma-na, que trouxe, como consequên-cia, um aumento da sua caça euma perda do seu hábitat, porexpansão dos terrenos agrícolas ediminuição dos bosques. Porém,em meados do século XIX aindaexistiriam na Galiza, quandomenos, as seguintes populações deursos: A da Terra Chã; a da Ulhoa,onde em 1848, o naturalistaSeoane topou com um exemplarna devesa de Santo André deIlhovre, não longe de Compostela;

a da Terra de Montes, nas proxi-midades do Mosteiro de Usseira; ada Serra do Soajo-Serra do Jurês;a da Terra de Trives (Serras deQueixa e S. Mamede) e, finalmen-te, o conjunto das serras orientais,em contacto com os exemplaresda Cordilheira Cantábrica, povo-ando a espécie a Serra doRanhadoiro, a maior parte doBerzo, os Ancares, a Fonsagrada,os Montes do Cereijal (Bezerreã),

a Serra do Oríbio (Oíncio), osMontes do Cevreiro, o Courel;Vale de Orras, a Serra do Eixo, aCabreira e Entre-as Portelas.Conforme avançou o século XX, ararefacção do plantígrado foi cadavez maior, ficando apenas unspoucos exemplares nas montanhasdo oriente galego. No entanto, nodia 16 de Junho de 1946, emPonte Varjas (Concelho dePadrenda), não longe da alfândegacom Portugal, o lavrador CamiloLhoves pelejava braço a braçocom um urso, que finalmente seriarematado a tiros por um guarda. Ovalente camponês receberia portal heroicidade um prémio doGovernador Civil. Foi este, quiçá,o último urso das Serras do Soajoe do Jurês.E na actualidade, ainda temosursos? É sabido, que exemplaresprocedentes do Alto Narcea e doAlto Sil percorrem com desigualregularidade as montanhas deÍbias, Negueira, Fonsagrada,Návia e Ancares. Estas visitasparecem ter-se incrementado nosúltimos anos, consequência doligeiro aumento do núcleo cantá-brico ocidental, composto porpouco mais de 80 indivíduos. Osmais optimistas mesmo chegam afalar de uma futura colónia estávelem terras galegas...Mas voltemos ao início, que faziaum urso em Vale de Orras em 98?Turismo? Um recente livro “Eloso pardo en el Noroeste peninsu-lar”, escrito por Grande del Brío,Hernando Ayala e Pinheiro

Maceiras, dá-nos resposta. Ó sur-presa! Os autores descobrem-nosque ainda sobrevivem ursos emcomarcas galegas onde se davampor extintos desde primeira meta-de do século XX. Segundo as pes-quisas destes prestigiosos zoólo-gos, ainda existem umas fracaspopulações de plantígrados nasserras galaico-leonesas, que abran-gem a confluência das provínciasde Lugo, Ourense, Leão eSamora. São núcleos isolados dosseus congéneres cantábricos eainda, talvez, isolados entre si. Nasvizinhanças do Maciço de PenaTrevinca morariam uns 3 exempla-res e outros 2 entre a Alta Seabra eLa Carvayeda, estes 5 exemplaresalargariam a sua presença doCourel até à mesma raia comPortugal. Uma outra população deuns 3 indivíduos espalhar-se-ia porLa Maragatería e comarcas limí-trofes, destaca-se aqui a detecçãono ano 95 em Santa Colomba deuma ursa com o seu organho(denominação que recebe em gale-go a cria dos ursos).Para explicar o desconhecimento arespeito destas populações ursinascumpre assinalar três razões princi-pais, um território altamente despo-voado (5-10 habitantes/ km2), umaorografia complexa e a ignorânciainteresseira de uma administraçãoque prefere virar as costas a umasevidências (múltiplos avistamen-tos, ataques a gado e a colmeias,rastos...) que a obrigariam a prote-ger uma área que é objectivo, nosúltimos lustros, de empresas minei-

ras e parques eólicos.Outro aspecto a ressaltar é o dapegada do urso na nossa culturatradicional. Na toponímia, comnomes de lugares como Usseira,Organho, Mato d'Osso... Na arqui-tectura popular, com os chamadoscortins ou alvariças, que são cons-truções de altos muros de pedradestinadas a proteger as colmeiasdos ataques dos ursos e que aindahoje se podem ver em abundâncianas montanhas do Este. No folclo-re, a personagem central do“entrudo” de Salzedo, no Brolhão,é um urso. Nas lendas, com estó-rias que falam de ursos que têmfilhos com mulheres...Seoane, que ainda recolhe a palav-ra “urso” em várias localidadesgalegas, descreveu-nos o jeitoúnico e espectacular de caça quetinham os urseiros do Courel, umofício que se herdava de pais a fil-hos. Estes enfrentavam-se aosursos num épico corpo a corpo,sem mais armas que uma faca, eum cilindro de ferro, afiado noscabos, que o urseiro colocavaentre a mandíbula e o peito do ani-mal, só os mais ricos podiam pro-teger o braço esquerdo com umapequena armadura.Desde que no Quaternário, os nos-sos primitivos antepassados lida-vam com os gigantescos ursos-das-cavernas (Ursus spelaeus), dequase tonelada e meia de peso,levamos 12 000 anos de convívio,nem sempre fácil, entre sereshumanos e ursos neste recanto doPlaneta Terra... Que continue!

análiseAgosto 2004novas da galiza 13

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Os ursos que tivemos...e os que ainda temos

A GALIZA NATURAL

Ursos procedentes doAlto Narcea e do

Alto Sil percorremcom desigual

regularidade asmontanhas de Íbias,Negueira, Fonsagrada,

Návia e Ancares.Estas visitas parecemter-se incrementado

nos últimos anos

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PGL

Desde já, radioGaliza.net é umarealidade. O projecto conta coma colaboraçom do PGL que aintegra no mesmo Rádio PGL eque até hoje emitia os progra-mas Falares sem Cancelas e262. Desde o dia 25 de Julho arádio feita polo reintegracionis-mo é radioGaliza.net, e já sepodem ouvir as suas emissões,ainda em provas.

O projecto radioGaliza.netnasce com o propósito de abrirum novo espaço cultural, inver-tendo a tendência que os nossospoderes públicos imprimem atodo o mundo da cultura consti-tuída por liturgias folclóricas,cantores e cantoras "enxebres",festas gastronómicas e estereóti-pos do estilo; reduzindo-o a umaatmosfera asfixiante para a vidasocial e cultural galega, tãodiversa e plural.

Agora já emitimos da Galizapara o planeta Terra, integradosno nosso espaço linguístico: aLusofonia, e através de umsuporte maciço e acessívelcomo é a Internet. Para isto,radioGaliza.net articula-secomo uma plataforma deexpressão livre e fornecedorados meios técnicos necessáriospara que quem quiser colaborarpossa fazê-lo de modo fácil emesmo prazenteiro.

14 cultura Agosto 2004 novas da galiza

portal galego da língua

CPLP com as portas abertaspara a adesão da Galiza

PGL

O projecto de revisão dos estatu-tos da CPLP, que prevê criar oestatuto de observador, foi um dosgrandes acordos da Conferênciade Chefes de Estado e de Governoda Comunidade dos Países deLíngua Portuguesa (CPLP), quedecorreu nos dias 26 e 27 deJulho, em São Tomé e Príncipe. Apresença do chefe de Estado daGuiné Equatorial, país hispanófo-no, foi uma das "bombas" quelevantou o debate sobre o Estatutode Observador na CPLP.

A possível revisão poderá abrir asportas para num futuro a Galizaou países com grandes comuni-dades lusófonas virem a fazerparte da CPLP como "membrosobservadores". De facto, organis-mos como as associações dosEmpresários Lusófonos ou dosComités Olímpicos de ExpressãoPortuguesa, ultrapassam já asfronteiras da CPLP com a adesãode Macau e da própria GuinéEquatorial.Uma outra medida aprovada, ede vital importância, foi ahomologação do princípio de

aprovação de uma medida noquadro da CPLP, onde basta aaceitação de três estados mem-bros para que uma proposta sejaaceite, ponto vital para o alarga-mento futuro. Durante a cimeira foi assinadoum "Segundo protocolo modifi-cativo ao acordo ortográfico dalíngua portuguesa", que permiti-rá a entrada em vigor deste ins-trumento internacional, assinadoem Lisboa, em 16 de Dezembrode 1990. Também foi aprovadauma resolução para a promoção edifusão da língua portuguesa.

IES Rosália deCastro honramemória deCarvalho Caeiro

PGL. Mestre do Galego-Português,incorporou-se ao quadro docentedeste centro após ser amnistiado polofranquismo. É por isso que o IESRosália de Castro de Compostelaestá a honrar a memória de RicardoCarvalho Caeiro, como um dos prin-cipais artistas que exerceu neste cen-tro de ensino secundário nos seus 65anos de história, que agora se come-moram. Na exposiçom figuram con-tributos literários e artísticos de auto-res e autoras que pertencêrom aoclaustro ou às diferentes promoçonsdo alunado, foi escolhido para aexposiçom o poema "9" de CarvalhoCaeiro, do volume 'Reticências...'.

Indymedia Brasil ePortugal difundeminsucesso de GilbertoGil na Galiza LuisM. A rede Indymedia no âmbi-to lusófono redigiu vários editoriaissobre a lamentável visita doGilberto Gil a Compostela e o acon-tecido no concerto do dia 19 deJulho. O editorial do CMI-Portugaldiz: "o cantor e ministro doGoverno social-democrata brasilei-ro optou claramente pelo castelha-no ao dirigir-se ao público galego,pelo que recebeu pedidos por partedo mesmo para que falasse em por-tuguês. Gilberto Gil, preparado paratal eventualidade, aproveitou pararecriminar o "nacionalismo" dasgalegas e galegos afirmando que"aqui todos nos entendemos, falarportuguês está bem, mas se é pornacionalismo não está tão bem”.

Sucesso domovimentosubversivo--esmorgueiro galego

FREAC, Va-Ca, Aduaneirossem Fronteiras e o novo grupoda CA-CA a caminho dadescolonizaçom da Galizae em prol da Lusofonia

PGL. O movimento subversivo-esmorgueiro galego viveu no fim-de-semana do dia da Pátria umasdatas históricas. Os já conhecidosVa-Ca e Aduaneiros semFronteiras impulsionaram a FrenteREtranqueira Anti-Colonial(FREAC), e fizeram-no com aCeia d*s Patriotas, que na noite de24 de Julho, atascou o restaurante"Triacastela" de Santiago, numaceia na qual frases, entre outras,como "Aqui está, aqui se vê, o fre-akismo galego em pé", ou "Nomestaria mal ter uma autonomiacomo a de Portugal", fazem partejá do imaginário colectivo galego.Sob a mensagem central de"Somos Galeg*s e Nom NosEntendemos", a FREAC desen-volveu, para além da Ceia d*sPatriotas da noite de dia 24 deJulho, uma oferenda frugal aCastelao (um prato de croquetes)em Bonaval, na manhã do dia 25,com o qual o ilustre galeguistafoi convertido no "Santo dasCroques". Ainda, por volta das17h00 do dia 25, as ruas compos-telanas acolheram a Mani-Festa-Acçom subversivo-esmorgueiraque, partindo da Praça daAlameda percorreu lugares tãosalientáveis como a Praça dasPratarias ou a canelha de Entre-Ruas, para acabar perante omonumento a Rosália. Os actos organizados pola Freaccontaram também com apoio epresença internacional chegada daCatalunha, a Lliga Anticolonial eo Moviment Ridiculistade Alliberament Nacional(Provisional).

A Cimeira da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP),que decorreu em São Tomé e Príncipe a 26 e 27 de Julho,

disposta a modificar os estatutos.

A rádio da Galiza para todo omundo: nasce radioGaliza.net

Rádio PGL integra-se no projecto, que nasce frutodo trabalho de diversos grupos e pessoas

www.agal-gz.org

Carta aCarlinhos Brown PGL. O responsável deNormalizaçom Lingüística deOleiros, Antón Tenreiro, enviouumha carta a Carlinhos Brown poloconcerto do artista brasileiro. Nacarta, explica-lhe a situaçom da lín-gua galega. Tenreiro pede aCarlinhos Brown que na visita faleportuguês, o que viria a facilitar oentendimento entre o artista e opúblico. Aliás, comenta-lhe aimportáncia da escolha para comu-nicar-se com os galegos e as gale-gas. O presidente da AGAL contac-tou pessoalmente com Tenreiropara transmitir à Cámara municipalos parabéns pola sua actuaçomdecidida na defesa do idioma.

O projecto radioGaliza.net nasce com o propósito de abrir um novo espaço cultural, invertendo a tendência que os nossos poderes públicosimprimem a todo o mundo da cultura: liturgias folclóricas, cantores e cantoras "enxebres", festas gastronómicas e estereótipos do estilo

A Ceia d*s Patriotas atascou o restaurante"Triacastela" de Santiago

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músicaAgosto 2004novas da galiza 15

música

FESTIVAL ILHA DO ERMAL25 a 27 de AgostoVieira do Minho

O festival organizado pola pro-motora "Música no coração"conjuntamente com a cámaramunicipal desta vila é umha citaineludível para aqueles e aquelasque desfrutam com a força emcima de um palco. Boa mostradisso é já a primeira sessom, nodia 25, quando actuará a bandaportuguesa Moonspell, os abru-madores Ratos de Porão(referência do hardcore brasilei-ro) e Soziedad Alkohólika doPaís Basco, entre outras. No dia26 terá a possibilidade, quemnunca os tivesse visto, de desfru-tar dos Xutos e Pontapés, umhabanda que se bem que nom nosimpressione pola sua qualidademusical, acaba por ser umhaautêntica experiência presenciá-los ao vivo, sobretudo quandojogam em casa como é o caso:liderados polo carismático Tim ecom 25 anos às costas, famvibrar o seu público como pou-cas vezes se tem visto em latitu-de nenhuma. Completam a jor-

nada Danko Jones, TheGathering e More than a thou-sand. Para o último dia, o pratoforte será Guano Apes, jovembanda nascida na Alemanha quedestaca pola sua força e con-tundência com bases tiradas doheavy mas experimentando comas novas tendências, a electróni-ca ou o techno. Especialmenterecomendável é desfrutar aovivo da voz e encenaçom deSandra Nasic. Também no dia 27subirám ao palco Spank themoney, The Dillinger EscapePlan (metal da Costa Leste).Bilhete: 1 dia 30 euros, 3 dias 45euros (campismo incluído).

ANGRA ROCK 20043 a 5 de SetembroAçores

O festival referencial para ajuventude açoriana oferece, paraalém de boa música e muitafesta, o maravilhoso entornonatural das ilhas Açores, e aindaleve-se em conta que se trata deum evento gratuito, quer dizer,nom podia ser programado um

fim-de-semana mais aliciantenestas jóias do Atlántico.Tenhem a possibilidade de subirpara o palco as bandas quefôrom premiadas na ediçom doconcurso do mesmo nome cele-brada este ano. O primeiro diatocarám os Lithium (rock comsamplers), The Temple (quintetoportuguês que descarrega verda-deira energia nas suasactuaçons) e Flowing Tears(heavy metal). Para o dia 4 deSetembro anuncia a partici-paçom Rádio Macau, com maisde 20 anos de existência e tendo-se tornado num nome fundamen-tal no rock português dos oiten-ta, tendo sabido ao mesmotempo, porém, reciclar-se com apassagem do tempo.Acompanharám-nos Penumbra(segundos classificados no con-curso) e Star Industry (rock góti-co). Para o último dia conta-secom a presença de Volcanic(banda ganhadora do concursoque mistura metal com electró-nica) e os germano-irlandesesReamonn. Bilhete gratuito.

iDavide Loimil e Inácio Gomes

Festivais de verao em PortugalNovamente oferecemos aos nossos leitores eleitoras boas razons para visitarem Portugalnestas datas, onde podemos encontrarinteressantes e variadas ofertas musicais, destavez dirigidas talvez aos ouvidos que estám àespera de umha maior contundência. Na Galizado "Jacobeu", em que se tinha anunciado àgrande e à francesa toda umha série de

"concertos da primeira classe, nom como emBenicassim, onde som da segunda outerceira" (Pérez Varela dixit), descobrimosfinalmente como toda essa agenda culturalficou reduzida a três dias de abarrotamentocom os grandes dinossauros da músicainternacional e o resto do Verao e do ano àmediocridade a que já nos habituaram: os

enjoativos da "operaçom triunfo", músicareligiosa e outros actos mediático-oficiais comas primeiras fileiras abarrotadas de mulheres ehomens vestidos a rigor de fatinho e gravata. Éo que se passa quando se concebe a música, ouqualquer outra manifestaçom cultural, comoumha mera desculpa para atrair turistas e nomcomo um fim em si mesma.

A banda portuguesa Moonspell, os abrumadores Ratos de Porão (referência do hardcorebrasileiro) e Soziedad Alkohólika do País Basco estarám presentes na Ilha do Ermal

Presenciar ao vivoXutos e Pontapésacaba por ser umhaautêntica experiência,sobretudo quando

jogam em casa: com25 anos às costas,fam vibrar o seupúblico como poucasvezes se tem visto

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novas da galiza

Tenho um vizinho que votano PP porque se está a cagarpara a política -assim o diz:"merda de políticos, ondeestiver o Dom Manuel"-. Umvizinho e um milhom, certo.Mas ao caso. O tal meu vizin-ho desenvolve teorias, aojeito dos colunistas de 'LaVoz'. Um falar: as marésnegras incrementam oProduto Interno 'Bruto'. Oque lhe dá pé para os seusmonólogos nas aborrecidasviagens de elevador. Assim:"Nunca Mais representa aGaliza Peter Pan, a que nomquer crescer; se os rios vamcontaminados é que há indús-tria, mas vós os nacionalistas-diz- ainda revindicais oscarros de bois e o estrume; aecologia é caminhar ao con-trário; gostais da política daventoinha, espalhais um lixoe fazeis um monte de merda."Logo, ri com os dentes aper-tados e remata: "estais nasberças, mochacho". E istoúltimo repete-o muito deva-garinho. "Mochacho". Dá-meque pensar o homem. Nom,nom se trata de enguedelhar-me com as teimas de sempre,a incultura, o isolamento, afalta de consciência, a menta-lidade colonial.

Simplesmente dou a volta aosargumentos do meu carovizinho. Galiza vai a toda avelocidade para o progresso,certo. Os parques eólicos -e aisto sim podeis chamar teo-ria- som a política da ven-toinha do poder: avivam oslumes florestais à procura deverdadeiros montes demerda, e espalham brêtemasde lixo para nos aparvar.

Desde agora é tempo de dar avolta ao seu invento. O ali-cerce do arredismo está mon-tado: só é preciso acelerar-mos o motor dos moinhos.Ajamos!. Fagamos soprarventos de mudança. Arranca-remos o País da Península.

NGZ

Inácio Orero é co-fundadorda entidade, membro doConselho Geral e participa naComissom Económica e noGrupo Coordenador doFestival.

Porque decidistes mudar avossa situaçom, o vosso localsocial?Mudamos de local por dousmotivos fundamentais: em pri-meiro lugar, por termos proble-mas com a licença de aberturaque ainda nom tinha sido resol-vida, depois de mais de cincoanos, com denúncias vicinaispor causa das actividades quedesenvolvíamos no nosso local,actividades para as quais olocal nom estava preparado, eas ordenanças municipais nomas contemplam como própriasde um centro como o nosso. Ooutro motivo é meramente eco-nómico, já que no outro localpagávamos quase duas vezes emeia mais do que neste outro.

Há quando tempo está aberto?No início de Março fechamos oantigo local, demoramos maisde um mês a abrir o novo local,pois tivemos que fazer umhaspequenas obras de remode-laçom e decoraçom. Contamoscom companheiras e compan-heiros que se esforçárom muitopara o local estar pronto nesseespaço de tempo. Entre as pes-soas associadas há especialistasem ofícios de carpintaria, cana-lizaçom, electricidade, pintura,e também gente muito imagina-tiva que lhe deu esses últimosdetalhes originais de que sem-pre precisa umha iniciativaassim. Em definitivo, estamosorgulhosos e orgulhosas do tra-balho realizado. Mas nompudemos abrir até o fim deAbril deste ano.

Como avaliais o Festival daTerra e da Língua hoje?O Festival é umha proposta fes-tiva e reivindicativa, que pre-

tende divertir e conscientizar,pensamos que por enquantocumprimos os nossos objecti-vos. Sempre avaliamos muitopositivamente o que fazemosnele e a participaçom nomesmo, pomos na balança obom e o mau e sempre pesammais os resultados positivos.Na hora de assumir responsabi-lidades as pessoas costumamser poucas, mas nom é assimquando há que trabalhar poissempre dispomos de um gruponumeroso de pessoas dispostasa colaborarem. Este ano, quan-to à questom económica, houvomais dificuldades, pois asreceitas fôrom menores e o fes-tival mais caro, e tivemos por-tanto um pequeno déficit.Perdemos muito dinheiro, ape-sar de que todo o trabalho quedesenvolvemos as 49 pessoasque trabalhamos no festival évoluntário, nom recebemos umcêntimo por nada, pomos onosso esforço e o nosso dinhei-ro para nos deslocarmos efazermos os trabalhos, mesmopagamos o que comemos ou

bebemos do nosso bolso, emesmo assim nom chegou parasaldarmos as dívidas.

Qual o número de sócios esócias na actualidade?Somos 385 pessoas associadas,mas o número de pessoas quepaga as quotas com regularidadeapenas som metade delas. Aquantia das quotas em Artábriacompreende um enorme leque,das mínimas de 2 € até as pesso-as que pagam quase 600 €anuais. Temos bastantes pessoasque pagam 30 € mensais, senom fosse assim, o projectoseria inviável.

Realmente houvo passos paraa unidade do movimento rein-tegracionista?É evidente que houvo algunspassos para se tornar possível aunidade do reintegracionismo,mas como sempre as dificulta-des som muitas. Nom creio queestas tenham a ver com proble-mas pessoais ou diferençasinsalváveis. Os problemas parase implementar essa necessária

unidade partem da falta de con-creçom de objectivos e fins. Ospara quê e os como. Temos quedecidir como gastamos as nos-sas energias, pois som as quesom, e nom podemos dedicar60% delas a criticar o isolacio-nismo, 30% a debates intermi-náveis entre agalismo e padro-nismo, e só 10% à defesa real dalíngua. Mesmo na Artábria, queé umha entidade, fundamental-mente, polo menos no plano teó-rico, de defesa da língua, nomtemos actividades específicasneste campo.Somos cientes deque ter um local social onde sevive em galego, a venda dematerial (livros, camisolas,música...), as actividades cultu-rais que realizamos... vam nocaminho da normalizaçom lin-güística, mas também somoscientes de que a situaçom doidioma precisaria de mais plani-ficaçom e mesmo de avaliaçomdos objectivos que perseguimos.Mas a verdade é que afinal con-sumimos a maior parte da nossaenergia em actividades para aArtábria sobreviver.

"Dérom-se passos para a unidade do reintegracionismo, mas as dificuldadescontinuam a ser muitas"

a entrevista Inácio Orero, membro co-fundador da Artábria e do Conselho Geral

Ventos demudança

Kiko Neves

novas da