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MIDIA E GOVERNO Coletânea de artigos – Paulo Timm Org. – Abril,20/2013 Indice 1. A sedução do poder – Raul Pierri 2. Confecom aprova criação de Conselho Federal dos Jornalistas 3. Palestra Marilena Chaui 4. A tirania da comunicação - Ignácio Ramonet 5. Democratização da Comunicação: Venezuela, Argentina, Equador e agora a Bolívia 6. A inquestionável partidarizaçãoda imprensa – Venicio Lima 7. Perigo à vista 8. Liberdade de Expressão e seus 30 novos significados - Washington Araújo 9. Governo Dilma aplica 70% da verba publicitária na imprensa conservadora e veta jornal independente - Paulo Roberto de Souza 10. Esquerda fracassa na comunicação popular - Beto Almeida 11. O 7D e a hora H de Cristina Kirchner – Leite Filho 12. Globo: os princípios, a credibilidade e a prática – Venício Lima 13. As relações ambíguas do governo com a mídia - Gilberto Maringoni 14.Tarso: grande mídia quer instituir ‘justiça paralela’ no Brasil -. I.Natush 15. "Repensar os conceitos de audiência "!- Publicado no Blog do C.Maia 16. Jornalismo sem jornalistas - Lilia Diniz 17. A comunicação pública e o direito à informação - Paulo Machado 18 . O exercício do jornalismo – Alberto Dines 19 . A regulação da mídia na América Latina – Relatório 20. Entrevista A América Latina está em ebulição em matéria de regulação dos meios de comunicação”- Bia Barbosa, do Coletivo Intervozes, e Dênis de Moraes, professor de Comunicação na Universidade Federal Fluminense. 21. Entrevista de Noam Chomski - Quem é o dono do mundo? David Barsaniam

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MIDIA E GOVERNOColetânea de artigos – Paulo Timm Org. – Abril,20/2013

Indice

1. A sedução do poder – Raul Pierri

2. Confecom aprova criação de Conselho Federal dos Jornalistas

3. Palestra Marilena Chaui

4. A tirania da comunicação - Ignácio Ramonet5. Democratização da Comunicação: Venezuela, Argentina, Equador e

agora a Bolívia6. A inquestionável partidarizaçãoda imprensa – Venicio Lima

7. Perigo à vista

8. Liberdade de Expressão e seus 30 novos significados - Washington Araújo

9. Governo Dilma aplica 70% da verba publicitária na imprensa conservadora e veta jornal independente - Paulo Roberto de Souza

10.Esquerda fracassa na comunicação popular - Beto Almeida11. O 7D e a hora H de Cristina Kirchner – Leite Filho

12. Globo: os princípios, a credibilidade e a prática – Venício Lima 13. As relações ambíguas do governo com a mídia - Gilberto Maringoni 14.Tarso: grande mídia quer instituir ‘justiça paralela’ no Brasil -. I.Natush 15. "Repensar os conceitos de audiência "!- Publicado no Blog do C.Maia16. Jornalismo sem jornalistas - Lilia Diniz

17. A comunicação pública e o direito à informação - Paulo Machado18 . O exercício do jornalismo – Alberto Dines

19 . A regulação da mídia na América Latina – Relatório

20. Entrevista “A América Latina está em ebulição em matéria de regulação dos meios de comunicação”- Bia Barbosa, do Coletivo Intervozes, e Dênis de Moraes, professor de Comunicação na Universidade Federal Fluminense.

21. Entrevista de Noam Chomski - Quem é o dono do mundo? David Barsaniam

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22 .Recuos nas políticas públicas de comunicações – Paulo Kliass

23 – Mídia e Democracia – Diversos – Carta Maior

24.O jornalismo na era das redes sociais - Ana Paula Bessa

25. As verbas públicas de propaganda – Marino Boeira

26 . Bomba! 72% da publicidade do governo na web vai pro PIG

27. Dilma: a ilusão de um acordo com a mídia - Rodrigo Vianna28 .PEQUENO ENSAIO SOBRE A MÍDIA- MODUS OPERANDI E DOMINÂNCIA - Marcelo Cajueiro

30 . A era da blogosfera – Luiz Nassif

31. Audiência de Vídeos on Line no Brasil

32. O Governo é uma graça Milton Ribeiro

33. Por que o governo deve apoiar a mídia alternativa - Venício Lima

34. Cai confiança do leitor na imprensa tradicional - Blog cidadania

35. O último suspiro de influência da mídia – Paulo Nogueira

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1.A sedução do poder

por Raúl Pierri, da IPS - 28 junho 2011

Montevidéu, Uruguai, 27/6/2011 – Os governos e os grandes meios privados de comunicação da América Latina travam uma guerra para conquistar a opinião pública, verdadeira legitimadora de poder, e a única solução parece ser uma aliança. “Batalha”, a palavra mais repetida no seminário “Comunicação, Pluralismo e Papel das Novas Tecnologias. O Cenário Latino-Americano: um Olhar sobre o Futuro”, realizado no dia 24, em Montevidéu, pela agência de notícias Inter Press Service (IPS) com apoio do Banco Mundial e do governo do Uruguai.

Ignacio Castañares/IPSO presidente do Uruguai, José Mujica, fala no seminário organizado pela IPS e o Banco

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Mundial.Do encontro participaram autoridades de meios de comunicação públicos e estatais da região, jornalistas, representantes da sociedade civil, e especialistas em comunicações. Essa batalha entre governos e mídia privada pelo manejo da informação ficou em primeiro plano nos últimos anos na América Latina, e tem como marco uma onda de administrações de esquerda e seu enfrentamento com determinados monopólios ou oligopólios. Esses governos tiveram que fazer um pacto de paz com o grande capital, mas também apostaram em uma transformação das comunicações procurando democratizar a mídia, inclusive poe meio de leis, explicou Fábio Zanini, editor internacional da Folha de S.Paulo. Zanini citou o exemplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que para chegar ao governo “teve de fazer um movimento político estratégico, midiático, para mostrar-se confiável perante os bancos, o grande capital, os latifundiários e, também, para atrair para sua coalizão partidos de direita”.Em definitivo, os governos de esquerda, e também os de direita, como o de Sebastián Piñera no Chile, reconhecem a importância vital dos meios de comunicação, com os quais “têm uma relação conflitante”, afirmou Zanini. O secretário da Presidência do Uruguai, Alberto Breccia, preferiu qualificar a relação da esquerda com a imprensa de “esquizofrênica” e pediu aos participantes que propusessem elementos para saná-la.Zanini destacou os esforços dos governos para ampliar os espaços públicos de comunicação, criando ou renovando canais e rádios, e expressou dúvidas quanto a estes serem realmente imparciais, alertando que podem simplesmente ser usados com fins de propaganda oficialista.Por sua vez, Alberto Medina, codiretor de notícias da privada Cadeia Caracol TV, da Colômbia, disse que existe “uma guerra pela informação entre os setores público e privado”. E afirmou: “Não estou convencido de que os governos abram suficientemente os canais para um debate entre todos os setores. Sou um pouco descrente desses meios públicos ‘tão democráticos’. Não vejo espaços abertos para a oposição nos canais públicos. São canais que defendem as teses do governo da vez”, acrescentou.Em meio a este enfrentamento, a missão da mídia comunitária “é poder instalar a luta pela liberdade de expressão como uma demanda geral”, disse à IPS a presidente da Associação Mundial de Rádios Comunitárias, a chilena María Pía Matta. “Nós tampouco queremos que nos transformem em atores do governo da vez. Creio que é preciso discutir mais sobre as liberdades em geral, sobre a liberdade de expressão e por que o Estado se afasta tanto destas liberdades”, afirmou. Na região, “o Estado sempre foi considerado um predador natural da liberdade de expressão, e isso ficou incrustado”, acrescentou.No entanto, o diretor do jornal uruguaio de esquerda La República, Federico Fasano Mertens, disse que não são dois lados em batalha, mas três: o Estado, a mídia e a sociedade em geral. “A informação é um bem público, um bem comum, um patrimônio da humanidade. E, embora esteja sujeita à apropriação privada, porque o sistema assim o determina, deve estar na ordem do dia desestimular os monopólios e incentivar o pluralismo”, acrescentou.Para Mertens, que também é diretor da Rádio AM Libre e do canal TV Libre, o fato de em um país haver vários meios de comunicação e de diferentes proprietários não significa necessariamente pluralismo. “Se existe apenas um único pensamento hegemônico, apesar de serem veículos diferentes, é quase um monopólio”, ressaltou.O seminário foi acompanhado em tempo real pela internet, e dezenas de pessoas comentaram em um chat os conteúdos e fizeram perguntas aos debatedores. Por ali

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passaram as experiências das redes sociais, como o Twitter, nos levantes árabes e no movimento de descontentamento civil 15M (15 de Maio) na Espanha.No entanto, o diretor de Comunicação do Governo de El Salvador, David Rivas, defendeu as medidas desse país para controlar a informação e para eliminar programas da mídia estatal que, segundo afirmou, é “nociva para a psique”. Acrescentou que “retiramos programas que os governos anteriores haviam deixado nos veículos de comunicação do Estado com uma carga ideológica impressionante, onde nos vendiam a sociedade entre ricos e maus, se denegria a imagem da mulher e eram apresentadas coisas que beiravam o crime”.Rivas também insistiu na necessidade de “perder o medo da regulamentação” dos conteúdos e das leis para “garantir maior acesso da população à mídia”. E ressaltou que “não existe um direito absoluto, nem mesmo o da liberdade de expressão. Os que nos disseram que ‘a melhor lei é a que existe’ nos enganaram todo esse tempo”, afirmou.Essa frase foi citada durante o seminário e pertence ao orador principal, o presidente do Uruguai, José Mujica, que a utilizou há alguns meses para não aceitar uma proposta de legislar sobre os meios de comunicação deste país que, paradoxalmente, nasceu de um âmbito instalado por seu governo. Mas não foi Mujica quem repetiu essa frase no seminário que, por outro lado, exortou os presentes à “luta permanente” pela liberdade.“Embora os meios de comunicação modernos e contemporâneos sejam capazes de nos dar recursos inimagináveis para nos comunicarmos, também podem ser os instrumentos mais negadores da liberdade”, afirmou. “Significa que a questão de como se usa e para qual finalidade se usa o progresso tecnológico é uma batalha, é quase desesperador”, acrescentou.Miguel Wiñazki, secretário de redação do jornal argentino Clarín, decidiu começar por uma definição de opinião pública: “um coletivo que concede poder”, gerador, portanto, de um mecanismo de sedução colocado em prática pelos políticos e pela mídia. “Percebidas as crenças, os preconceitos e as ideologias dominantes da opinião pública, tanto os governos quanto a corporação política e a mídia privada tendem a exonerar o valor da informação em si para dar à opinião pública a fábula que está escrevendo”, disse Wiñazki. A esse conceito chamou de “notícia desejada”.Esta notícia desejada, definitivamente, não passa de propaganda. “A ação jornalística propriamente dita é a batalha cotidiana dos trabalhadores da imprensa para impor a informação acima da notícia desejada”, ressaltou Wiñazki. Envolverde/IPS

2.Confecom aprova criação de Conselho Federal dos Jornalistas

A 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) aprovou hoje (16)em Brasília, a proposta de criação do Conselho Federal dos Jornalistas e a necessidade da formação superior específica em Jornalismo - o diploma - para o exercício da profissão. Como as duas propostas foram aprovadas por mais de 80% da plenária, nos dois grupos de

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trabalhos - que reúne sociedade civil, sociedade empresarial e poder público - as propostas estão aprovadas pela Confecom, não necessitando ir à plenária final.

Redação

A 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) aprovou hoje (16)em Brasília, a proposta de criação do Conselho Federal dos Jornalistas e a necessidade da formação superior específica em Jornalismo - o diploma - para o exercício da profissão. Como as duas propostas foram aprovadas por mais de 80% da plenária, nos dois grupos de trabalhos - que reúne sociedade civil, sociedade empresarial e poder público - as propostas estão aprovadas pela Confecom, não necessitando ir à plenária final.

Outra proposta aprovada por consenso foi a do fim dos pacotes fechados das TVs por assinatura. A intenção é permitir que os assinantes possam escolher os canais que quiserem.

A proposta da necessidade de diploma em Jornalismo resguarda os espaços para profissionais colaboradores com outras formações, que poderão atuar na área de sua especialidade, assim como as funções atuais de nível médio. A proposta do CFJ foi aprovada no Grupo de Trabalho 11 (regulamentações, regulações) e o diploma foi aprovado no Grupo de Trabalho 13 (órgãos reguladores, classificação indicatória, regulamentações profissionais). As propostas foram aprovadas por acordo entre os três segmentos da Confecom.

Os trabalhos dos GTs terminaram no início da tarde desta quarta-feira. Após, começou a plenária final que votará as 150 propostas prioritárias (dez por GT, sendo quatro da sociedade civil, quatro do empresariado e duas do poder público) e que não passaram direto nos grupos de trabalhos (não obtiveram mais de 80% dos votos qualificados).

A 1ª Confecom tem como tema central “Comunicação: meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital” e desenvolve-se baseada sobre três eixos temáticos: “Produção de conteúdo”; “Meios de distribuição”; e “Cidadania: direitos e deveres”. Além dos 1.600 delegados que saíram da fase estadual da 1ª Confecom e 130 “observadores livres” de todo o País, que se inscreveram pelo site oficial da 1ª Confecom, mais de 300 jornalistas de todo o país se credenciaram para cobrir o evento. As propostas aprovadas na 1ª Confecom serão encaminhadas ao Governo Federal para se tornarem políticas de comunicação do País.

3.Marilena Chauí

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Num evento em defesa da liberdade de expressão e por uma Ley de Medios, realizado no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, nessa segunda feira, a professora Marilena Chauí fez uma palestra antológica.

I. Democracia e autoritarismo social

Estamos acostumados a aceitar a definição liberal da democracia como regime da lei e da ordem para a garantia das liberdades individuais. Visto que o pensamento e a prática liberais identificam a liberdade com a ausência de obstáculos à competição, essa definição da democracia significa, em primeiro lugar, que a liberdade se reduz à competição econômica da chamada “livre iniciativa” e à competição política entre partidos que disputam eleições; em segundo, que embora a democracia apareça justificada como “valor” ou como “bem”, é encarada, de fato, pelo critério da eficácia, medida no plano do poder executivo pela atividade de uma elite de técnicos competentes aos quais cabe a direção do Estado. A democracia é, assim, reduzida a um regime político eficaz, baseado na idéia de cidadania organizada em partidos políticos, e se manifesta no processo eleitoral de escolha dos representantes, na rotatividade dos governantes e nas soluções técnicas para os problemas econômicos e sociais.

Ora, há, na prática democrática e nas idéias democráticas, uma profundidade e uma verdade muito maiores e superiores ao que liberalismo percebe e deixa perceber.

Podemos, em traços breves e gerais, caracterizar a democracia ultrapassando a simples idéia de um regime político identificado à forma do governo, tomando-a como forma geral de uma sociedade e, assim, considerá-la:

1. forma sócio-política definida pelo princípio da isonomia ( igualdade dos cidadãos perante a lei) e da isegoria (direito de todos para expor em público suas opiniões, vê-las discutidas, aceitas ou recusadas em público), tendo como base a afirmação de que todos são iguais porque livres, isto é, ninguém está sob o poder de um outro porque todos obedecem às mesmas leis das quais todos são autores (autores diretamente, numa democracia participativa; indiretamente, numa democracia representativa). Donde o maior problema da democracia numa sociedade de classes ser o da manutenção de seus princípios – igualdade e liberdade – sob os efeitos da desigualdade real;

2. forma política na qual, ao contrário de todas as outras, o conflito é considerado legítimo e necessário, buscando mediações institucionais para que possa exprimir-se. A democracia não é o regime do consenso, mas do trabalho dos e sobre os conflitos. Donde uma outra dificuldade democrática nas sociedades de classes: como operar com os conflitos quando estes possuem a forma da contradição e não a da mera oposição?

3. forma sócio-política que busca enfrentar as dificuldades acima apontadas conciliando o princípio da igualdade e da liberdade e a existência real das desigualdades, bem como o princípio da legitimidade do conflito e a existência de contradições materiais introduzindo, para isso, a idéia dos direitos ( econômicos, sociais, políticos e culturais). Graças aos direitos, os desiguais conquistam a igualdade, entrando no espaço político

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para reivindicar a participação nos direitos existentes e sobretudo para criar novos direitos. Estes são novos não simplesmente porque não existiam anteriormente, mas porque são diferentes daqueles que existem, uma vez que fazem surgir, como cidadãos, novos sujeitos políticos que os afirmaram e os fizeram ser reconhecidos por toda a sociedade.

4. graças à idéia e à prática da criação de direitos, a democracia não define a liberdade apenas pela ausência de obstáculos externos à ação, mas a define pela autonomia, isto é, pela capacidade dos sujeitos sociais e políticos darem a si mesmos suas próprias normas e regras de ação. Passa-se, portanto, de uma definição negativa da liberdade – o não obstáculo ou o não-constrangimento externo – a uma definição positiva – dar a si mesmo suas regras e normas de ação. A liberdade possibilita aos cidadãos instituir contra-poderes sociais por meio dos quais interferem diretamente no poder por meio de reivindicações e controle das ações estatais.

5. pela criação dos direitos, a democracia surge como o único regime político realmente aberto às mudanças temporais, uma vez que faz surgir o novo como parte de sua existência e, conseqüentemente, a temporalidade é constitutiva de seu modo de ser, de maneira que a democracia é a sociedade verdadeiramente histórica, isto é, aberta ao tempo, ao possível, às transformações e ao novo. Com efeito, pela criação de novos direitos e pela existência dos contra-poderes sociais, a sociedade democrática não está fixada numa forma para sempre determinada, pois não cessa de trabalhar suas divisões e diferenças internas, de orientar-se pela possibilidade objetiva de alterar-se pela própria práxis;

6. única forma sócio-política na qual o caráter popular do poder e das lutas tende a evidenciar-se nas sociedades de classes, na medida em que os direitos só ampliam seu alcance ou só surgem como novos pela ação das classes populares contra a cristalização jurídico-política que favorece a classe dominante. Em outras palavras, a marca da democracia moderna, permitindo sua passagem de democracia liberal á democracia social, encontra-se no fato de que somente as classes populares e os excluídos (as “minorias”) reivindicam direitos e criam novos direitos;

7. forma política na qual a distinção entre o poder e o governante é garantida não só pela presença de leis e pela divisão de várias esferas de autoridade, mas também pela existência das eleições, pois estas ( contrariamente do que afirma a ciência política) não significam mera “alternância no poder”, mas assinalam que o poder está sempre vazio, que seu detentor é a sociedade e que o governante apenas o ocupa por haver recebido um mandato temporário para isto. Em outras palavras, os sujeitos políticos não são simples votantes, mas eleitores. Eleger significa não só exercer o poder, mas manifestar a origem do poder, repondo o princípio afirmado pelos romanos quando inventaram a política: eleger é “dar a alguém aquilo que se possui, porque ninguém pode dar o que não tem”, isto é, eleger é afirmar-se soberano para escolher ocupantes temporários do governo.

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Dizemos, então, que uma sociedade — e não um simples regime de governo — é democrática quando, além de eleições, partidos políticos, divisão dos três poderes da república, respeito à vontade da maioria e da minoria, institui algo mais profundo, que é condição do próprio regime político, ou seja, quando institui direitos e que essa instituição é uma criação social, de tal maneira que a atividade democrática social realiza-se como uma contra-poder social que determina, dirige, controla e modifica a ação estatal e o poder dos governantes.

Se esses são os principais traços da sociedade democrática, podemos avaliar as enormes dificuldades para instituir a democracia no Brasil. De fato, a sociedade brasileira é estruturalmente violenta, hierárquica, vertical, autoritária e oligárquica e o Estado é patrimonialista e cartorial, organizado segundo a lógica clientelista e burocrática. O clientelismo bloqueia a prática democrática da representação — o representante não é visto como portador de um mandato dos representados, mas como provedor de favores aos eleitores. A burocracia bloqueia a democratização do Estado porque não é uma organização do trabalho e sim uma forma de poder fundada em três princípios opostos aos democráticos: a hierarquia, oposta à igualdade; o segredo, oposto ao direito à informação; e a rotina de procedimentos, oposta à abertura temporal da ação política.

Além disso, social e economicamente nossa sociedade está polarizada entre a carência absoluta das camadas populares e o privilégio absoluto das camadas dominantes e dirigentes, bloqueando a instituição e a consolidação da democracia. Um privilégio é, por definição, algo particular que não pode generalizar-se nem universalizar-se sem deixar de ser privilégio. Uma carência é uma falta também particular ou específica que se exprime numa demanda também particular ou específica, não conseguindo generalizar-se nem universalizar-se. Um direito, ao contrário de carências e privilégios, não é particular e específico, mas geral e universal, seja porque é o mesmo e válido para todos os indivíduos, grupos e classes sociais, seja porque embora diferenciado é reconhecido por todos (como é caso dos chamados direitos das minorias). Assim, a polarização econômico-social entre a carência e o privilégio ergue-se como obstáculo à instituição de direitos, definidora da democracia.

A esses obstáculos, podemos acrescentar ainda aquele decorrente do neoliberalismo, qual seja o encolhimento do espaço público e o alargamento do espaço privado. Economicamente, trata-se da eliminação de direitos econômicos, sociais e políticos garantidos pelo poder público, em proveito dos interesses privados da classe dominante, isto é, em proveito do capital; a economia e a política neoliberais são a decisão de destinar os fundos públicos aos investimentos do capital e de cortar os investimentos públicos destinados aos direitos sociais, transformando-os em serviços definidos pela lógica do mercado, isto é, a privatização dos direitos transformados em serviços, privatização que aumenta a cisão social entre a carência e o privilégio, aumentando todas formas de exclusão. Politicamente o encolhimento do público e o alargamento do privado colocam em evidência o bloqueio a um direito democrático fundamental sem o qual a cidadania, entendida como participação social, política e cultural é impossível, qual seja, o direito à informação.

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II. Os meios de comunicação como exercício de poder

Podemos focalizar o exercício do poder pelos meios de comunicação de massa sob dois aspectos principais: o econômico e o ideológico.

Do ponto de vista econômico, os meios de comunicação fazem parte da indústria cultural. Indústria porque são empresas privadas operando no mercado e que, hoje, sob a ação da chamada globalização, passa por profundas mudanças estruturais, “num processo nunca visto de fusões e aquisições, companhias globais ganharam posições de domínio na mídia.”, como diz o jornalista Caio Túlio Costa. Além da forte concentração (os oligopólios beiram o monopólio), também é significativa a presença, no setor das comunicações, de empresas que não tinham vínculos com ele nem tradição nessa área. O porte dos investimentos e a perspectiva de lucros jamais vistos levaram grupos proprietários de bancos, indústria metalúrgica, indústria elétrica e eletrônica, fabricantes de armamentos e aviões de combate, indústria de telecomunicações a adquirir, mundo afora, jornais, revistas, serviços de telefonia, rádios e televisões, portais de internet, satélites, etc..

No caso do Brasil, o poderio econômico dos meios é inseparável da forma oligárquica do poder do Estado, produzindo um dos fenômenos mais contrários à democracia, qual seja, o que Alberto Dines chamou de “coronelismo eletrônico”, isto é, a forma privatizada das concessões públicas de canais de rádio e televisão, concedidos a parlamentares e lobbies privados, de tal maneira que aqueles que deveriam fiscalizar as concessões públicas se tornam concessionários privados, apropriando-se de um bem público para manter privilégios, monopolizando a comunicação e a informação. Esse privilégio é um poder político que se ergue contra dois direitos democráticos essenciais: a isonomia (a igualdade perante a lei) e a isegoria (o direito à palavra ou o igual direito de todos de expressar-se em público e ter suas opiniões publicamente discutidas e avaliadas). Numa palavra, a cidadania democrática exige que os cidadãos estejam informados para que possam opinar e intervir politicamente e isso lhes é roubado pelo poder econômico dos meios de comunicação.

A isonomia e a isegoria são também ameaçadas e destruídas pelo poder ideológico dos meios de comunicação. De fato, do ponto de vista ideológico, a mídia exerce o poder sob a forma do denominamos a ideologia da competência, cuja peculiaridade está em seu modo de aparecer sob a forma anônima e impessoal do discurso do conhecimento, e cuja eficácia social, política e cultural está fundada na crença na racionalidade técnico-científica.

A ideologia da competência pode ser resumida da seguinte maneira: não é qualquer um que pode em qualquer lugar e em qualquer ocasião dizer qualquer coisa a qualquer outro. O discurso competente determina de antemão quem tem o direito de falar e quem deve ouvir, assim como pré-determina os lugares e as circunstâncias em que é permitido falar e ouvir, e define previamente a forma e o conteúdo do que deve ser dito e precisa

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ser ouvido. Essas distinções têm como fundamento uma distinção principal, aquela que divide socialmente os detentores de um saber ou de um conhecimento (científico, técnico, religioso, político, artístico), que podem falar e têm o direito de mandar e comandar, e os desprovidos de saber, que devem ouvir e obedecer. Numa palavra, a ideologia da competência institui a divisão social entre os competentes, que sabem e por isso mandam, e os incompetentes, que não sabem e por isso obedecem.

Enquanto discurso do conhecimento, essa ideologia opera com a figura do especialista. Os meios de comunicação não só se alimentam dessa figura, mas não cessam de institui-la como sujeito da comunicação. O especialista competente é aquele que, no rádio, na TV, na revista, no jornal ou no multimídia, divulga saberes, falando das últimas descobertas da ciência ou nos ensinando a agir, pensar, sentir e viver. O especialista competente nos ensina a bem fazer sexo, jardinagem, culinária, educação das crianças, decoração da casa, boas maneiras, uso de roupas apropriadas em horas e locais apropriados, como amar Jesus e ganhar o céu, meditação espiritual, como ter um corpo juvenil e saudável, como ganhar dinheiro e subir na vida. O principal especialista, porém, não se confunde com nenhum dos anteriores, mas é uma espécie de síntese, construída a partir das figuras precedentes: é aquele que explica e interpreta as notícias e os acontecimentos econômicos, sociais, políticos, culturais, religiosos e esportivos, aquele que devassa, eleva e rebaixa entrevistados, zomba, premia e pune calouros — em suma, o chamado “formador de opinião” e o “comunicador”.

Ideologicamente, o poder da comunicação de massa não é um simples inculcação de valores e idéias, pois, dizendo-nos o que devemos pensar, sentir, falar e fazer, o especialista, o formador de opinião e o comunicados nos dizem que nada sabemos e por isso seu poder se realiza como manipulação e intimidação social e cultural.

Um dos aspectos mais terríveis desse duplo poder dos meios de comunicação se manifesta nos procedimentos midiáticos de produção da culpa e condenação sumária dos indivíduos, por meio de um instrumento psicológico profundo: a suspeição, que pressupõe a presunção de culpa. Ao se referir ao período do Terror, durante a Revolução Francesa, Hegel considerou que uma de suas marcas essenciais é afirmar que, por princípio, todos são suspeitos e que os suspeitos são culpados antes de qualquer prova. Ao praticar o terror, a mídia fere dois direitos constitucionais democráticos, instituídos pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 (Revolução Francesa) e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, quais sejam: a presunção de inocência (ninguém pode ser considerado culpado antes da prova da culpa) e a retratação pública dos atingidos por danos físicos, psíquicos e morais, isto é, atingidos pela infâmia, pela injúria e pela calúnia. É para assegurar esses dois direitos que as sociedades democráticas exigem leis para regulação dos meios de comunicação, pois essa regulação é condição da liberdade e da igualdade que definem a sociedade democrática.

III.

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Faz parte da vida da grande maioria da população brasileira ser espectadora de um tipo de programa de televisão no qual a intimidade das pessoas é o objeto central do espetáculo: programas de auditório, de entrevistas e de debates com adultos, jovens e crianças contando suas preferências pessoais desde o sexo até o brinquedo, da culinária ao vestuário, da leitura à religiosidade, do ato de escrever ou encenar uma peça teatral, de compor uma música ou um balé até os hábitos de lazer e cuidados corporais.

As ondas sonoras do rádio e as transmissões televisivas tornam-se cada vez mais consultórios sentimental, sexual, gastronômico, geriátrico, ginecológico, culinário, de cuidados com o corpo (ginástica, cosméticos, vestuário, medicamentos), de jardinagem, carpintaria, bastidores da criação artística, literária e da vida doméstica. Há programas de entrevista no rádio e na televisão que ou simulam uma cena doméstica – um almoço, um jantar – ou se realizam nas casas dos entrevistados durante o café da manhã, o almoço ou o jantar, nos quais a casa é exibida, os hábitos cotidianos são descritos e comentados, álbuns de família ou a própria são mostrados ao vivo e em cores. Os entrevistados e debatedores, os competidores dos torneios de auditório, os que aparecem nos noticiários, todos são convidados e mesmo instados com vigor a que falem de suas preferências, indo desde sabores de sorvete até partidos políticos, desde livros e filmes até hábitos sociais. Não é casual que os noticiários, no rádio e na televisão, ao promoverem entrevistas em que a notícia é intercalada com a fala dos direta ou indiretamente envolvidos no fato, tenham sempre repórteres indagando a alguém: “o que você sentiu/sente com isso?” ou “o que você achou/acha disso?” ou “você gosta? não gosta disso?”. Não se pergunta aos entrevistados o que pensam ou o que julgam dos acontecimentos, mas o que sentem, o que acham, se lhes agrada ou desagrada.

Também tornou-se um hábito nacional jornais e revistas especializarem-se cada vez mais em telefonemas a “personalidades” indagando-lhes sobre o que estão lendo no momento, que filme foram ver na última semana, que roupa usam para dormir, qual a lembrança infantil mais querida que guardam na memória, que música preferiam aos 15 anos de idade, o que sentiram diante de uma catástrofe nuclear ou ecológica, ou diante de um genocídio ou de um resultado eleitoral, qual o sabor do sorvete preferido, qual o restaurante predileto, qual o perfume desejado. Os assuntos se equivalem, todos são questão de gosto ou preferência, todos se reduzem à igual banalidade do “gosto” ou “não gosto”, do “achei ótimo” ou “achei horrível”.

Todos esses fatos nos conduzem a uma conclusão: a mídia está imersa na cultura do narcisismo.

Como observa Christopher Lash, em A Cultura do Narcisismo, os mass media tornaram irrelevantes as categorias da verdade e da falsidade substituindo-as pelas noções de credibilidade ou plausibilidade e confiabilidade – para que algo seja aceito como real basta que apareça como crível ou plausível, ou como oferecido por alguém confiável Os fatos cedem lugar a declarações de “personalidades autorizadas”, que não transmitem informações, mas preferências e estas se convertem imediatamente em propaganda. Como escreve Lash, “sabendo que um público cultivado é ávido por fatos e cultiva a

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ilusão de estar bem informado, o propagandista moderno evita slogans grandiloqüentes e se atém a ‘fatos’, dando a ilusão de que a propaganda é informação”.

Qual a base de apoio da credibilidade e da confiabilidade? A resposta encontra-se num outro ponto comum aos programas de auditório, às entrevistas, aos debates, às indagações telefônicas de rádios, revistas e jornais, aos comerciais de propaganda. Trata-se do apelo à intimidade, à personalidade, à vida privada como suporte e garantia da ordem pública. Em outras palavras, os códigos da vida pública passam a ser determinados e definidos pelos códigos da vida privada, abolindo-se a diferença entre espaço público e espaço privado. Assim, as relações interpessoais, as relações intersubjetivas e as relações grupais aparecem com a função de ocultar ou de dissimular as relações sociais enquanto sociais e as relações políticas enquanto políticas, uma vez que a marca das relações sociais e políticas é serem determinadas pelas instituições sociais e políticas, ou seja, são relações mediatas, diferentemente das relações pessoais, que são imediatas, isto é, definidas pelo relacionamento direto entre pessoas e por isso mesmo nelas os sentimentos, as emoções, as preferências e os gostos têm um papel decisivo. As relações sociais e políticas, que são mediações referentes a interesses e a direitos regulados pelas instituições, pela divisão social das classes e pela separação entre o social e o poder político, perdem sua especificidade e passam a operar sob a aparência da vida privada, portanto, referidas a preferências, sentimentos, emoções, gostos, agrado e aversão.

Não é casual, mas uma conseqüência necessária dessa privatização do social e do político, a destruição de uma categoria essencial das democracias, qual seja a da opinião pública. Esta, em seus inícios (desde a Revolução Francesa de 1789), era definida como a expressão, no espaço público, de uma reflexão individual ou coletiva sobre uma questão controvertida e concernente ao interesse ou ao direito de uma classe social, de um grupo ou mesmo da maioria. A opinião pública era um juízo emitido em público sobre uma questão relativa à vida política, era uma reflexão feita em público e por isso definia-se como uso público da razão e como direito à liberdade de pensamento e de expressão.

É sintomático que, hoje, se fale em “sondagem de opinião”. Com efeito, a palavra sondagem indica que não se procura a expressão pública racional de interesses ou direitos e sim que se vai buscar um fundo silencioso, um fundo não formulado e não refletido, isto é, que se procura fazer vir à tona o não-pensado, que existe sob a forma de sentimentos e emoções, de preferências, gostos, aversões e predileções, como se os fatos e os acontecimentos da vida social e política pudessem vir a se exprimir pelos sentimentos pessoais. Em lugar de opinião pública, tem-se a manifestação pública de sentimentos.

Nada mais constrangedor e, ao mesmo tempo, nada mais esclarecedor do que os instantes em que o noticiário coloca nas ondas sonoras ou na tela os participantes de um acontecimento falando de seus sentimentos, enquanto locutores explicam e interpretam o que se passa, como se os participantes fossem incapazes de pensar e de emitir juízo

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sobre aquilo de que foram testemunhas diretas e partes envolvidas. Constrangedor, porque o rádio e a televisão declaram tacitamente a incompetência dos participantes e envolvidos para compreender e explicar fatos e acontecimentos de que são protagonistas. Esclarecedor, porque esse procedimento permite, no instante mesmo em que se dão, criar a versão do fato e do acontecimento como se fossem o próprio fato e o próprio acontecimento. Assim, uma partilha é claramente estabelecida: os participantes “sentem”, portanto, não sabem nem compreendem (não pensam); em contrapartida, o locutor pensa, portanto, sabe e, graças ao seu saber, explica o acontecimento.

É possível perceber três deslocamentos sofridos pela idéia e prática da opinião pública: o primeiro, como salientamos, é a substituição da idéia de uso público da razão para exprimir interesses e direitos de um indivíduo, um grupo ou uma classe social pela idéia de expressão em público de sentimentos, emoções, gostos e preferências individuais; o segundo, como também observamos, é a substituição do direito de cada um e de todos de opinar em público pelo poder de alguns para exercer esse direito, surgindo, assim, a curiosa expressão “formador de opinião”, aplicada a intelectuais, artistas e jornalistas; o terceiro, que ainda não havíamos mencionado, decorre de uma mudança na relação entre s vários meios de comunicação sob os efeitos das tecnologias eletrônica e digital e da formação de oligopólios midiáticos globalizados (alguns autores afirmam que o século XXI começou com a existência de 10 ou 12 conglomerados de mass media de alcance global). Esse terceiro deslocamento se refere à forma de ocupação do espaço da opinião pública pelos profissionais dos meios de comunicação. Esses deslocamentos explicam algo curioso, ocorrido durante as sondagens de intenção de voto nas eleições presidenciais de 2006: diante dos resultados, uma jornalista do jornal O Globo escreveu que o povo estava contra a opinião pública!

O caso mais interessante é, sem dúvida, o do jornalismo impresso. Em tempos passados, cabia aos jornais a tarefa noticiosa e um jornal era fundamentalmente um órgão de notícias. Sem dúvida, um jornal possuía opiniões e as exprimia: isso era feito, de um lado, pelos editorais e por artigos de não-jornalistas, e, de outro, pelo modo de apresentação da notícia (escolha das manchetes e do “olho”, determinação da página em que deveria aparecer e na vizinhança de quais outras, do tamanho do texto, da presença ou ausência de fotos, etc.). Ora, com os meios eletrônicos e digitais e a televisão, os fatos tendem a ser noticiados enquanto estão ocorrendo, de maneira que a função noticiosa do jornal é prejudicada, pois a notícia impressa é posterior à sua transmissão pelos meios eletrônicos e pela televisão. Ou na linguagem mais costumeira dos meios de comunicação: no mercado de notícias, o jornalismo impresso vem perdendo competitividade (alguns chamam a isso de progresso; outros, de racionalidade inexorável do mercado!).

O resultado dessa situação foi duplo: de um lado, a notícia é apresentada de forma mínima, rápida e, freqüentemente, inexata – o modelo conhecido como News Letter – e, de outro, deu-se a passagem gradual do jornal como órgão de notícias a órgão de opinião, ou seja, os jornalistas comentam e interpretam as notícias, opinando sobre elas. Gradualmente desaparece uma figura essencial do jornalismo: o jornalismo

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investigativo, que cede lugar ao jornalismo assertivo ou opinativo. Os jornalista passam, assim, o ocupar o lugar que, tradicionalmente, cabia a grupos e classes sociais e a partidos políticos e, além disso, sua opinião não fica restrita ao meio impresso, mas passa a servir como material para os noticiários de rádio e televisão, ou seja, nesses noticiários, a notícia é interpretada e avaliada graças à referência às colunas dos jornais.

Os deslocamentos mencionados e, particularmente, este último, têm conseqüências graves sob dois aspectos principais:

1) uma vez que o jornalista concentra poderes e forma a opinião pública, pode sentir-se tentado a ir além disso e criar a própria realidade, isto é, sua opinião passa a ter o valor de um fato e a ser tomada como um acontecimento real ;

2) os efeitos da concentração do poder econômico midiático. Os meios de comunicação tradicionais (jornal, rádio, cinema, televisão) sempre foram propriedade privada de indivíduos e grupos, não podendo deixar de exprimir seus interesses particulares ou privados, ainda que isso sempre tenha imposto problemas e limitações à liberdade de expressão, que fundamenta a idéia de opinião pública. Hoje, porém, os conglomerados de alcance global controlam não só os meios tradicionais, mas também os novos meios eletrônicos e digitais, e avaliam em termos de custo-benefício as vantagens e desvantagens do jornalismo escrito ou da imprensa, podendo liquidá-la, se não acompanhar os ares do tempo.

Esses dois aspectos incidem diretamente sobre a transformação da verdade e da falsidade em questão de credibilidade e plausibilidade. Rápido, barato, inexato, partidarista, mescla de informações aleatoriamente obtidas e pouco confiáveis, não investigativo, opinativo ou assertivo, detentor da credibilidade e da plausibilidade, o jornalismo se tornou protagonista da destruição da opinião pública.

De fato, a desinformação é o principal resultado da maioria dos noticiários nos jornais, no rádio e na televisão, pois, de modo geral, as notícias são apresentadas de maneira a impedir que se possa localizá-la no espaço e no tempo.

Ausência de referência espacial ou atopia: as diferenças próprias do espaço percebido (perto, longe, alto, baixo, grande, pequeno) são apagadas; o aparelho de rádio e a tela da televisão tornam-se o único espaço real. As distâncias e proximidades, as diferenças geográficas e territoriais são ignoradas, de tal modo que algo acontecido na China, na Índia, nos Estados Unidos ou em Campina Grande apareça igualmente próximo e igualmente distante.

Ausência de referência temporal ou acronia: os acontecimentos são relatados como se não tivessem causas passadas nem efeitos futuros; surgem como pontos puramente atuais ou presentes, sem continuidade no tempo, sem origem e sem conseqüências; existem enquanto forem objetos de transmissão e deixam de existir se não forem transmitidos. Têm a existência de um espetáculo e só permanecem na consciência dos ouvintes e espectadores enquanto permanecer o espetáculo de sua transmissão.

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Como operam efetivamente os noticiários?

Em primeiro lugar, estabelecem diferenças no conteúdo e na forma das notícias de acordo com o horário da transmissão e o público, rumando para o sensacionalismo e o popularesco nos noticiários diurnos e do início da noite e buscando sofisticação e aumento de fatos nos noticiários de fim de noite. Em segundo, por seleção das notícias, omitindo aquelas que possam desagradar o patrocinador ou os poderes estabelecidos. Em terceiro, pela construção deliberada e sistemática de uma ordem apaziguadora: em seqüência, apresentam, no início, notícias locais, com ênfase nas ocorrências policiais, sinalizando o sentimento de perigo; a seguir, entram as notícias regionais, com ênfase em crises e conflitos políticos e sociais, sinalizando novamente o perigo; passam às notícias internacionais, com ênfase em guerras e cataclismos (maremoto, terremoto, enchentes, furacões), ainda uma vez sinalizando perigo; mas concluem com as notícias nacionais, enfatizando as idéias de ordem e segurança, encarregadas de desfazer o medo produzido pelas demais notícias. E, nos finais de semana, terminam com notícias de eventos artísticos ou sobre animais (nascimento de um ursinho, fuga e retorno de um animal em cativeiro, proteção a espécies ameaçadas de extinção), de maneira a produzir o sentimento de bem-estar no espectador pacificado, sabedor de que, apesar dos pesares, o mundo vai bem, obrigado.

Paradoxalmente, rádio e televisão podem oferecer-nos o mundo inteiro num instante, mas o fazem de tal maneira que o mundo real desaparece, restando apenas retalhos fragmentados de uma realidade desprovida de raiz no espaço e no tempo. Como desconhecemos as determinações econômico-territoriais (geográficas, geopolíticas, etc.) e como ignoramos os antecedentes temporais e as conseqüências dos fatos noticiados, não podemos compreender seu verdadeiro significado. Essa situação se agrava com a TV a cabo, com emissoras dedicadas exclusivamente a notícias, durante 24 horas, colocando num mesmo espaço e num mesmo tempo (ou seja, na tela) informações de procedência, conteúdo e significado completamente diferentes, mas que se tornam homogêneas pelo modo de sua transmissão. O paradoxo está em que há uma verdadeira saturação de informação, mas, ao fim, nada sabemos, depois de termos tido a ilusão de que fomos informados sobre tudo.

Se não dispomos de recursos que nos permitam avaliar a realidade e a veracidade das imagens transmitidas, somos persuadidos de que efetivamente vemos o mundo quando vemos a TV ou quando navegamos pela internet. Entretanto, como o que vemos são as imagens escolhidas, selecionadas, editadas, comentadas e interpretadas pelo transmissor das notícias, então é preciso reconhecer que a TV é o mundo ou que a internet é o mundo.

A multimídia potencializa o fenômeno da indistinção entre as mensagens e entre os conteúdos. Como todas as mensagens estão integradas num mesmo padrão cognitivo e sensorial, uma vez que educação, notícias e espetáculos são fornecidos pelo mesmo meio, os conteúdos se misturam e se tornam indiscerníveis. No sistema de comunicação multimídia a própria realidade fica totalmente imersa em uma composição de imagens

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virtuais num mundo irreal, no qual as aparências não apenas se encontram na tela comunicadora da experiência, mas se transformam em experiência. Todas as mensagens de todos os tipos são incluídas no meio por que fica tão abrangente, tão diversificado, tão maleável, que absorve no mesmo texto ou no mesmo espaço/tempo toda a experiência humana, passada, presente e futura, como num ponto único do universo.

Se, portanto, levarmos em consideração o monopólio da informação pelas empresas de comunicação de massa, podemos considerar, do ponto de vista da ação política, as redes sociais como ação democratizadora tanto por quebrar esse monopólio, assegurando a produção e a circulação livres da informação, como também por promover acontecimentos políticos de afirmação do direito democrático à participação. No entanto, os usuários das redes sociais não possuem autonomia em sua ação e isto sob dois aspectos: em primeiro lugar, não possuem o domínio tecnológico da ferramenta que empregam e, em segundo, não detêm qualquer poder sobre a ferramenta empregada, pois este poder é uma estrutura altamente concentrada, a Internet Protocol, com dez servidores nos Estados Unidos e dois no Japão, nos quais estão alojados todos os endereços eletrônicos mundiais, de maneira que, se tais servidores decidirem se desligar, desaparece toda a internet; além disso, a gerência da internet é feita por uma empresa norte-americana em articulação com o Departamento de Comércio dos Estados Unidos, isto é, gere o cadastro da internet mundial. Assim, sob o aspecto maravilhosamente criativo e anárquico das redes sociais em ação política ocultam-se o controle e a vigilância sobre seus usuários em escala planetária, isto é, sobre toda a massa de informação do planeta.

Na perspectiva da democracia, a questão que se coloca, portanto, é saber quem detêm o controle dessa massa cósmica de informações. Ou seja, o problema é saber quem tem a gestão de toda a massa de informações que controla a sociedade, quem utiliza essas informações, como e para que as utiliza, sobretudo quando se leva em consideração um fato técnico, que define a operação da informática, qual seja, a concentração e centralização da informação, pois tecnicamente, os sistemas informáticos operam em rede, isto é, com a centralização dos dados e a produção de novos dados pela combinação dos já coletados.

4.A tirania da comunicação Ignácio Ramonet

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Ignácio Ramonet não se intimida no texto: “A tirania da comunicação”. Não mede palavras e critica de maneira direta e repetitiva essa maneira ‘inconsciente’ dos meios de comunicação de informar a população. O autor utiliza-se da entrada do digital e da multimídia no sistema de informação para questionar o que o jornalismo se tornou.A televisão foi o grande alvo dos dardos. O primeiro arremesso começa quando é posto em dúvida a maneira como é utilizada a tecnologia para emocionar e não informar. As imagens seriam como uma brincadeira de puro entretenimento e as palavras do apresentador ou repórter conduziriam o telespectador a uma história de fantasia, passando a ser apenas um passatempo ou uma leitura divertida.Download do livro: http://www.4shared.com/file/142412263/10642aff/Igncio_Ramonet_-_A_tirania_da_Comunicao.html

5.Democratização da Comunicação: Venezuela, Argentina, Equador e agora a Bolívia

No Brasil a “rainha do lar” é a TV. TV aberta, gratuita e analógica.

Nestes canais, vistos por mais de 90% da população brasileira segundo

o último estudo da SECOM, não há um programa sequer, isto já há

décadas, que promova o debate político. A política como um meio viável

para se melhorar a vida e o planeta. Os movimentos sociais e os

políticos numa mesma mesa discutindo os nossos problemas e suas

soluções.

Nestas TVs, políticos e povo só ganham destaque quando cometem algum

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crime. O cidadão não tem como conhecer os políticos e suas políticas e

vem votando pela fé e pelo bolso. Não se sabe o que é esquerda ou

direita. Ou até mesmo o que faz um vereador. Uma tragédia.

Não se iludam os progressistas porque se esta crise que está lá fora,

vier a nos afetar seriamente, a direita volta.

Poucas famílias no Brasil exercem através de concessões públicas,

portanto nossas, o direito de se comunicar. Mas este direito é de

todos. Um direito humano.

Entenda-se por todos, os partidos de esquerda, os movimentos sociais,

as comunidades, os sindicatos e as universidades. Coisa que no nosso

país ainda é um sonho. Mas que por exemplo na Venezuela, Argentina ,

Equador e agora na Bolívia é a mais pura realidade. - http://www.bloguedosouza.com/

- BlogueDoSouza.

Reproduzo agora e ainda sobre o mesmo assunto, artigo do Altamiro

Borges publicado no http://altamiroborges.blogspot.com/2011/08/bolivia-aprova-ley-de-medios-e-o-brasil.html

- Blog do Miro:

Bolívia aprova Ley de Medios. E o Brasil?

O Senado da Bolívia aprovou na sexta-feira (29) a nova lei de

telecomunicações do país. O projeto deverá agora ser sancionado pelo

presidente Evo Morales. Com isso, mais um país da América Latina

avança na regulação da mídia – somando-se a Argentina, Venezuela e

Equador. Já o Brasil continua empacado no debate sobre o marco

regulatório.

Pelo projeto aprovado, haverá significativas alterações na concessão

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pública de rádio e televisão na nação vizinha. A nova lei reserva 33%

das freqüências ao Estado, 33% ao setor privado, 17% ao setor

comunitário e 17% aos povos originários e afrobolivianos, o que

representa um passo ousado na democratização dos meios de comunicação.

Direito humano à comunicação

O artigo 1º define como objetivo da nova lei garantir “o direito

humano individual e coletivo à comunicação, com respeito à pluralidade

econômica, social, jurídica, política e cultural da totalidade das

bolivianas e dos bolivianos, as nações e povos indígenas originários e

camponeses, as comunidades interculturais e afrobolivianas do Estado

Plurinacional da Bolívia”.

O projeto também reordena o processo das concessões públicas, antes

baseado na força dos lobbies empresariais. No caso do setor privado,

ele se dará através de licitação pública. Já no setor comunitário e

dos povos originários, as concessões ocorrerão mediante concursos de

projetos. Já o artigo 65 cria o Programa Nacional de Inclusão Social,

destinado ao financiamento de projetos que permitam a expansão da

informação com interesse social.

A reação dos barões da mídia

Conforme aponta Idelber Avelar, em artigo na Revista Fórum, o projeto

aprovado foi imediatamente rejeitado pelos barões da mídia da Bolívia.

“Nos meios empresariais, a resposta foi a conhecida reclamação de que

a ‘liberdade de imprensa’ estava sendo limitada”. A gritaria também já

chegou na mídia brasileira, preocupado com seu futuro.

Artigo publicado ontem na Folha afirma que “lei boliviana dá mais

poderes a Morales sobre comunicações”. O texto joga na confusão e na

desinformação. Diz que “o projeto aprovado pelo Congresso reserva dois

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terços de licenças de rádio e TV para o governo e seus aliados”,

confundindo as concessões para o setor estatal e o setor comunitário.

Direito privado ou coletivo?

“A lei reserva para o Estado 33% do espectro eletromagnético, outros

33% ao setor privado e 34% para organizações sociais e indígenas, que

são aliadas do governo. Segundo os críticos, na prática, Evo Morales

vai controlar até 67% das ondas do país, ameaçando as redes privadas”,

lamenta a Folha, dando ouvidos aos barões midiáticos bolivianos.

Nem mesmo a ação criminosa do império Murdoch, com seus grampos

ilegais, subornos e chantagens políticas, faz com que os donos da

mídia vacilem diante dos riscos à democracia da monopolização privada

do setor. Eles tratam a comunicação como um direito privado e sagrado,

inacessível às comunidades e aos movimentos sociais. O projeto

aprovado na Bolívia representa um duro golpe nos interesses econômicos

e políticos dos latifundiários da mídia.

Já no Brasil...

Enquanto os nossos vizinhos avançam na democratização da comunicação,

o Brasil continua refém dos monopólios privados, que controlam a quase

totalidade da radiodifusão no país. As resoluções da 1ª Conferência

Nacional de Comunicação (Confecom) e o projeto de novo marco

regulatório elaborado pelo governo Lula continuam na gaveta.

A presidenta Dilma Rousseff ainda trata os barões da mídia como

“aliados”. Num misto de ilusão e pragmatismo, ela mantém o “namorico”

com a chamada grande imprensa. Esta, por sua vez, afaga e bate no novo

governo, num jogo habilidoso que promove o seu sangramento diário.

Desse mato não sai cachorro! A regulação da mídia no Brasil só sairá

do papel com muita pressão dos movimentos sociais.

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"É preciso transformar desânimos e resignações em esperança combativa."

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aparelho ideológico 5 GLOBO USA FIM DA NOVELA PARA DOUTRINAÇÃO CAPENGA

Eixo da novela se inspira em obra de Machado de Assis mas autor faz discurso de anunciantes para fortalecer sistema capitalista enquanto cidadania fica por baixo.

Reinaldo Cabral*

Desde algum tempo, a TV Globo usa também suas novelas de grande audiência para promover a doutrinação de suas platéias com um discurso que interessa em abundância aos seus principais anunciantes.

Isso ficou escancarado no último capítulo da novela Coração Insensato, de Gilberto Braga, encerrado sexta-feira e reapresentado ontem,20.

Vitória, a personagem representada pela excelente atriz Natália Timberg, faz o discurso do sistema, da emissora e dos seus principais anunciantes com o viés da defesa da família.

Tudo isso, depois de consumir a maioria dos capítulos massacrando o terceiro setor que,segundo o autor, incapaz de melhor selecionar seus dirigentes, põe Eunice(Débora Eveluyn) como diretora da Liga de Defesa da Família Carioca.E nessa posição mostra Eunice como confusa,interesseira, contraditória,uma puta que põe um chifre tamanho família no marido, mas que, afinal, é expulsa de casa por ele.

TEXTO FINAL CAPENGA

Como a grande platéia das novelas da Globo não sabe, a idéia do eixo central dessa novela é o romance de Machado de Assis, Esaú e Jacó, publicado em 1904,uma obra prima como romance lírico,o penúltimo do fundador da Academia Brasileira de Letras.

Nele, Machado narra a evolução de uma inimizade infindável entre irmãos gêmeos, Pedro e Paulo, mas não introduz nenhum discurso ideológico final como Gilberto Braga faz,num texto capenga interpretado por Timberg no encerramento da exibição.

DA CHANCHADA À EXPORTAÇÃO

É preciso reconhecer que, das chanchãs das novelas mexicanas do inicio de sua trajetória na década de 60 para hoje a Globo evoluiu muito.

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Primeiro, criando uma escola de autores, atrizes e autores.

Segundo, profissionalizando um setor antes tomado pelo amadorismo com a expansão dos seus negócios para além da fronteira do Brasil.

Com uma produção autônoma, a emissora trocou seu papel de importadora para exportadora da produção intelectual.

É nesse ponto que entra a confusão: até onde o grupo usa esse espaço para a promoção da cidadania?

O tempo todo, o sistema global se porta como um verdadeiro uróboro(ver capítulos anteriores). Dá com uma mão e tira com a outra. Faz o discurso final pró-consolidação do capitalismo num dia e no outro mostra imagens mostrando a diversidade cultural do país(Criança Esperança de ontem,20).

INTRIGA POLÍTICA, A ESPECIALIZAÇÃO GLOBAL

A briga por audiência na televisão brasileira promete continuar por longo tempo. Aos poucos, o governo Dilma Russeff parece tentar se desprender dele e um bom início foi a indicação de uma pessoa desligada do grupo global para o ministério das Comunicações, coisa que não acontecia há alguns anos. O último deles foi o jornalista Franklin Martins.

A ascensão da Globo como manda chuva do governo e do sistema chegou ao desplante de se tentar , da semana passada para cá, colocar o atual ministro das Comunicações,Paulo Baernardo, ex-ministro do Planejamento e marido da ministra da Casa Civil, senadora Gleisi Hoffmann na linha de colisão com a presidente da República. Questão que parece já superada apesar do mal estar político criado com uma recente declaração dele.

Essa manobra faz parte do jogo de intrigas poli ticas, tarefa para exercer a ual a Globo se especializou desde a ditadura militar de 64.

*É editor do site da AALONG.\\

6.Perigo à vista2011 chega ao fim com uma notícia nada agradável para a imprensa e os jornalistas. A ONG Repórteres sem Fronteiras revelou, dois dias antes do Natal, que 66 jornalistas morreram e 1.044 foram presos durante o ano, em todo o mundo, enquanto trabalhavam. Os números são alarmantes. Mostram que, de um ano para outro, a violência contra os profissionais de comunicação cresceu muito além do suportável.

Em relação a 2010, houve 16% mais mortes e 95% mais prisões. Os sequestros aumentaram 39%. Ativistas e blogueiros também sofreram agressões: 31% a mais foram presos e 19% a mais, atacados fisicamente. O número de países com censura cresceu 10%. Essa é uma realidade que não condiz com o moderno mundo das comunicações. Hoje, quem tem acesso à

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Internet ou a um telefone celular é, em potencial, um repórter. Poderia informar ao mundo o que se passa em sua aldeia, simultaneamente à ocorrência do fato, se não fossem os governos autoritários, que insistem em censurar as informações.

O perigo está sempre à vista. Pronto para atacar. Corre risco de vida o jornalista que acompanha guerras, revoluções, lutas populares pela democracia ou ações contra narcotraficantes e criminosos comuns. Ótimos jornalistas brasileiros, como Joel Silveira, transformaram em livro seus dias no front. Joel saiu fisicamente ileso da Segunda Guerra. Seu relato daqueles dias é simples e emocionante. Vale a pena ler o Inverno da Guerra.

José Hamilton Ribeiro, outro brasileiro a enfrentar a guerra, não teve tanta sorte quanto Joel. Perdeu a perna esquerda na explosão de uma mina terrestre no Vietnã. Recuperou-se, escreveu O Gosto da Guerra e segue até hoje seu trabalho de repórter. Um dos melhores do país.

As histórias de homens e mulheres, que não se deixam intimidar por ditadores, narcotraficantes, guerrilheiros, radicais que não aceitam o contraditório, nem por tiros, bombas ou minas, estão todos os dias nos jornais. Estão também na Coleção Jornalismo de Guerra, da Editora Objetiva. Um dos publicados pela Objetiva, Jon Lee Anderson relata A Queda de Bagdá. A mesma guerra é retratada por Äsne Seierstad em 101 Dias em Bagdá, da Record. Äsne não tem vergonha de expor o medo que sentiu, as trapaças a que recorreu para permanecer no Iraque, à espera da guerra anunciada.

Repórteres – mesmo com medo – não deixarão de registrar o que se passa no Paquistão, país que registrou o maior número de jornalistas mortos (20), ou na América Latina, onde morreram 18. Seguirão cobrindo as revoluções no Oriente Médio e o dia a dia de cidades violentas, como o Rio de Janeiro e o México. Muitos se tornarão personagens de livros e filmes. Isso aconteceu, por exemplo, com quatro dos fotógrafos que cobriram o apartheid sul-africano. Greg Marinovich, João Silva, Ken Oosterbroek e Kevin Carter ficaram conhecidos como integrantes do inexistente Clube do Bang Bang, título do livro, transformado no filme Fotógrafos de Guerra.

O que nos resta é esperar por um mundo melhor em 2012, com menos crimes e guerras. Esperar que os jornalistas possam trabalhar em paz, sem registros de prisões, sequestros e mortes. Mas, dificilmente, alguém apostará um tostão que seja na transformação dessa esperança em realidade.

7.Liberdade de Expressão e seus 30 novos significados

por Washington Araújo - publicado em 12/03/2010

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Cotejando os temas abordados no Millenium e, principalmente, os conferencistas que lá foram vivamente aplaudidos, podemos imaginar novos significados para o verbete

“liberdade de expressão”.

Organizado pelo Instituto Millenium realizou-se em São Paulo no dia 1º de março de 2010 o I Fórum Democracia e Liberdade de Expressão congregando a fina flor do empresariado da comunicação brasileira e acolhendo representantes de grandes grupos de mídia da América Latina, em especial da Venezuela e da Argentina, além renomados nomes do colunismo político que brilham em nossos veículos comerciais. Pretendeu ser um contraponto à I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), cuja etapa nacional ocorreu em Brasília entre os dias 14 a 17 de dezembro de 2009. A Confecom envolveu mais de 20.000 pessoas em todo o país, recepcionou 6.000 propostas originárias das etapas estaduais e aprovou 500 resoluções.

A Confecom de Brasília trouxe à discussão temas como Produção de Conteúdo, Meios de Distribuição e os Direitos e Deveres da Cidadania, o Fórum de São Paulo propunha a defesa de valores como Democracia, Economia de Mercado e o Individualismo.

Todo cidadão brasileiro era bem-vindo para participar da 1ª Confecom. Para assistir ao Fórum Millenium era indispensável o pagamento de R$ 500,00 a título de inscrição. Na Confecom as seis maiores corporações empresariais de veículos de comunicação do Brasil fizeram questão de marcar sua ausência. No Millenium as ausentes se fizeram presentes. Dentre as quais destaco: Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert) e a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), entidades que envolvem a Globo, o SBT, a Record, a Folha de S. Paulo, o Estado de S. Paulo, a RBS, Instituto Liberal, Movimento Endireita Brasil (MEB), e outras empresas que decidiram boicotar a I Conferência Nacional de Comunicação, numa demonstração de forte apreço pela democracia. Se essas entidades desejaram evitar o confronto na Confecom mostraram-se pintadas para guerra no Millenium.

Cotejando os temas abordados no Millenium e, principalmente, os conferencistas que lá foram vivamente aplaudidos, posso imaginar que se pretende agregar novos significados ao verbete “liberdade de expressão”.

São eles:

1. Liberdade de expressão é interditar todo e qualquer debate democrático sobre os meios de comunicação.

2. Liberdade de expressão só pode ser invocada pelos que controlam o monopólio das comunicações no país.

3. Liberdade de expressão é bem supremo estando abaixo apenas do Deus-Mercado.

4. Liberdade de expressão é moeda de troca nas eternas rusgas entre situação e oposição.

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5. Liberdade de expressão é denunciar qualquer debate sobre mecanismos para termos uma imprensa minimamente responsável.

6. Liberdade de expressão é gerar factóides, divulgar informações sabidamente falsas apenas para aproveitar o calor da luta.

7. Liberdade de expressão é deitar falação contra avanços sociais, contra mobilidade social, contra cotas para negros e índios em universidades públicas.

8. Liberdade de expressão é cartelizar a informação e divulgá-la como capítulos de uma mesma novela em variados veículos de comunicação.

9. Liberdade de expressão é não conceder o direito de resposta sem que antes o interessado passe por toda a via crucis de conseguir na justiça valer seu direito.

10. Liberdade de expressão é explorar a boa fé do povo com programas de televisão que manipulam suas emoções e suas carências oferecendo uma casa aqui outro carro ali e assim por diante.

11. Liberdade de expressão é somente aprovar comentários aptos à publicação em sítio/blog da internet se estes referendarem o pensamento do autor e proprietário do sítio/blog.

12. Liberdade de expressão é ser leviano a ponto de chamar a ditadura brasileira de ditabranda e ficar por isso mesmo.

13. Liberdade de expressão é imputar ao presidente da República comportamento imoral tendo como fundamento depoimento fragmentado da memória de um indivíduo acerca de fato relatado quase duas décadas depois.

14. Liberdade de expressão é apresentar imparcialidade jornalística do meio de comunicação mesmo quando os principais jornalistas fazem de sua coluna tribuna eminentemente partidária.

15. Liberdade de expressão é fazer estardalhaço em torno de um sequestro que não ocorreu há quase 40 anos com a clara intenção de tumultuar o processo político atual.

16. Liberdade de expressão é assacar contra a honra de pessoa pública utilizando documentos de autenticidade altamente duvidosa e depois fazer mea culpa na seção “Erramos”.

17. Liberdade de expressão é submeter decisões editoriais a decisões comerciais de empresas e emissoras de comunicação.

18. Liberdade de expressão é somente dar ampla divulgação a pesquisas de opinião em que os resultados sejam palatáveis ao veículo de comunicação.

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19. Liberdade de expressão é não ter visto “Lula, o filho do Brasil” e considerá-lo péssimo produto cinematográfico sem ao menos tê-lo assistido.

20. Liberdade de expressão é minimizar o descaso do poder público ante as enchentes de São Paulo e reduzir candidato à presidência a mero poste.

21. Liberdade de expressão é ter dois pesos em política externa: Cuba é o inferno e China é o paraíso.

22. Liberdade de expressão é demonizar movimentos sociais e defender a todo custo latifúndios vastos e improdutivos.

23. Liberdade de expressão é usar uma concessão pública para aumentar os níveis de audiência com o uso perverso de crianças no papel de vilões.

24. Liberdade de expressão é desqualificar quem não aprecia a programação servida pelo Instituto Millenium.

25. Liberdade de expressão é rejeitar in totum toda e qualquer proposição da Conferência Nacional de Comunicação.

26. Liberdade de expressão é apostar em quem ofereça garantias robustas visando manter o monopólio dos atuais donos da mídia brasileira.

27. Liberdade de expressão é obstruir qualquer caminho que conduza mecanismos de democracia participativa.

28. Liberdade de expressão é fazer coro contra qualquer governo de esquerda e se omitir contra malfeitorias de qualquer governo de direita. Ou vice-versa.

29. Liberdade de expressão é fugir como o diabo foge da cruz de expressões como liberdade, democracia, cidadania, justiça social, controle social da mídia.

30. Liberdade de expressão é lutar para manter o status quo: o direito de informar é meu e ninguém tasca.

Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org - Email - [email protected]

Publicado na Agência Carta Miaor em 5/03/2010

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9.Governo Dilma aplica 70% da verba publicitária na imprensa conservadora e veta jornal independente13/9/2012 16:11, Por Paulo Roberto de Souza - do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília

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A mídia conservadora, também conhecida como o Partido da Imprensa Golpista, recebe a parte do leão de todas as verbas públicas federais

Dados divulgados pela Presidência da República, nesta quinta-feira, mostram que apenas 10 empresas de comunicação concentram mais de 70% da verba federal para publicidade, em especial a TV Globo, à qual cabe a parte do leão no butim midiático do Planalto. O argumento da ministra Helena Chagas, da Secretaria de Comunicação, não variou desde o início do governo de Dilma Rousseff. Na opinião dela, “é inevitável que o maior volume de pagamentos seja dirigido a meios e veículos de maior audiência, que atingem um maior público, como é o caso da televisão”. Mas há quem discorde.

O desequilíbrio na distribuição das verbas públicas, no entanto, ocorre no momento em que os dados mostram a discrepância entre o que é pago aos mais de 3 mil veículos cadastrados no Núcleo de Mídia da Secom. Do total de R$ 161 milhões pagos aos meios de comunicação, durante o governo Dilma, com base nos cálculos da audiência a que se refere a ministra Chagas, R$ 112,7 milhões couberam a apenas 10 empresas, enquanto as demais 2.990 dividiram os R$ 48,3 milhões restantes. O Correio do Brasil, embora apresente níveis de audiência e de leitura superiores à maioria dos veículos de comunicação, inclusive no “Grupo dos 10 , segundo auditorias internacionais, foi marcado por sua independência editorial e não″ integra sequer a lista dos 3 mil veículos de comunicação beneficiados com os recursos públicos.

Levantamento publicado nesta quinta-feira, no diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, um dos 10 maiores receptáculos das verbas do governo, mostra que, desde o início da gestão Dilma Rousseff, um volume ainda não revelado; além dos R$ 161 milhões repassados

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para emissoras de TV, jornais, revistas, rádios, sites e blogs, saiu dos cofres das empresas estatais controladas pela União.

A Globo Comunicação e Participações S.A., responsável pela TV Globo e sites ligados à emissora, abocanhou quase um terço da verba aplicada pela Presidência da Repúlica entre janeiro de 2011 e julho deste ano: R$ 52 milhões. A segunda colocada é a Record, com R$ 24 milhões. A Empresa Folha da Manhã S.A., que edita a Folha, recebeu R$ 661 mil. A Infoglobo, que edita o jornal O Globo, R$ 927 mil. Outro diário conservador paulistano, O Estado de S. Paulo, arrecadou R$ 994 mil. O portal UOL, controlado pelo Grupo Folha, recebeu outros R$ 893 mil.

Vetado

Enquanto permanece o jogo agradável entre o governo federal e as 10 maiores empresas de comunicação do país, que concentram o poder de fogo da mídia conservadora, para os veículos independentes de comunicação o tratamento é o oposto. Para anunciar em jornais, impressos e digitais, a exemplo do Correio do Brasil, o Núcleo de Mídia da Presidência da República exigiu um desconto de 92% na tabela de preços, algo inimaginável no grupo dos 10 beneficiários da mídia estatal. Para se manter, ainda que nas fraldas dos recursos, a maioria dos demais veículos de comunicação, em níveis nacional, regional ou mesmo local, submeteu-se ao critério coordenado pela diretora do Núcleo de Mídia, Dalva Barbosa.

Procurada pelo CdB, Barbosa não atendeu às ligações, mas um de seus assessores revelou que “a política de descontos da Secom é confidencial”. Alertada pela reportagem de que, segundo a legislação em vigor, não há confidencialidade em negócios públicos, a ligação foi direcionada para a Secretaria de Imprensa da Presidência da República, que não conseguiu as informações requisitadas pelo jornal, até o fechamento desta matéria. Embora a maioria dos veículos de comunicação tenha aceitado as pesadas negociações do Núcleo de Mídia, com a desvalorização de suas tabelas em mais de 90%, este não foi o caso do Correio do Brasil.

– Rejeitamos, de pronto, esse tipo de exigência por considerá-la abusiva, desproporcional e uma completa falta de respeito aos nossos critérios comerciais. Caso concedêssemos um volume tão grande de descontos ao governo, seria óbvio que a tabela de preços praticada pelo Correio do Brasil não passaria de uma fraude. O CdB circula há mais de uma década diariamente, de forma ininterrupta, e não pode admitir sequer uma ilação neste sentido. Se ao Núcleo de Mídia, baseado em um critério sigiloso, coube graduar o custo do espaço publicitário no jornal, é de competência do CdB discordar, às claras, de tal avaliação e não vender os anúncios a um preço aviltado – afirmou a diretora Comercial do CdB, Suzana David.

Desde fevereiro deste ano, ao final do prazo estipulado para aceitar, ou recusar-se às exigências ditadas pelo Núcleo de Mídia, diante da resistência do CdB em não se submeter à exigência da Secom, o jornal foi marcado com um “Não” no banco de dados. Ao ser assinalado com a negativa, segundo correspondência oficial, passou a vigorar o veto, a total “impossibilidade do recebimento de mídias do Governo Federal”. O Correio do Brasil, que mantém um extenso elenco de colaboradores, repórteres e correspondentes nas principais capitais brasileiras, na Europa, EUA e Japão, por assegurar sua política de independência,

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patrocinada pela venda de assinaturas diretamente aos leitores, mantêm-se firme na decisão de apontar as falhas na política de comunicação da Presidência da República.

Marco zero

Mas o que ocorreu com o CdB não foi um fato isolado. Em sua página na internet, o jornalista Paulo Henrique Amorim também constatou que “sem incluir os investimentos das estatais, como a Caixa, o BB, os Correios e a Petrobrás, por exemplo – chegará à conclusão de que o Governo Federal põe R$ 55 milhões na Globo, por ano. Dá para sustentar 420 mil pessoas no Bolsa Família, num mês. O benefício médio mensal é de R$ 134, incluído o Brasil Carinhoso. Vezes 4 pessoas por família, 1 milhão e 700 mil pessoas”.

“Quando o ansioso blogueiro fala em Globo, fala na Rede Globo de TV, Globo Participações, Globosat Programadora, Radio Globo São Paulo, Infoglobo (jornal O Globo), jornal Valor (de que a Globo é sócia), Globo Comunicação (internet), e Editora Globo (revista Época). Tudo somado, o Governo trabalhista da Presidenta Dilma ‘aplica’ no centro do Partido da Imprensa Golpista (PIG), ou seja, no marco zero do Golpe, R$ 55 milhões por ano. O Bolsa Família, com o Brasil Carinhoso e o Brasil sem Miséria – tudo somado dá R$ 20 bilhões por ano, ou seja, 0,4% do PIB”, acrescentou.

“A TV lidera o recebimento (sic) de publicidade federal, diz a Folha, com uma verba anual de R$ 115 milhões. A Globo toda somada fica com a metade de toda a verba de publicidade em tevê. E a Globo é 2/3 de toda a publicidade gasta em outras mídia – rádios, jornais, internet e revistas. Para que? Com que retorno? Quem diz que a Globo entrega a audiência por que cobra na tabela de publicidade? A Globo cobra R$ 100 para entregar 50% de audiência. Quem diz que ela entrega 50% da audiência – e por isso merece os R$ 100? Quem diz que a Globo entrega a audiência por que cobra é o Globope” desvenda o jornalista, que coloca em cheque aqueles critérios de audiência aventados pela ministra Helena Chagas, junto com as normativas sigilosas adotadas para a exigência de descontos no Núcleo de Mídia.

Em outra página da internet, ainda nesta quinta-feira, o jornalista, escritor e editor do blog O Cafezinho, Miguel do Rosário, em artigo intitulado Secom abre caixa preta da publicidade, segue adiante nas informações quanto à aplicação da verba pública na mídia conservadora nacional.

“Eu venho fuçando o site da Secom há um tempo e não havia encontrado os valores por veículos. Fiz até um pedido, usando a lei da informação, o qual foi devidamente respondido, com dados e indicações, mas informando que ainda não abriam o gasto por veículo. Como o governo só faz publicidade através das agências licitadas, só aparecia o volume de recursos destinado às estas, e não por veículo. Agora o governo resolveu divulgar o quanto cada veículo de mídia ganha. Eu voltei lá, pesquisei, compilei, sintetizei e preparei uma tabela, com os gastos do governo com publicidade institucional desde o início da atual gestão até o primeiro semestre de 2012 , afirma o jornalista.″

“Caras de pau”

Rosário não se surpreendeu, após consultar às informações liberadas pela Secom, “que os grandes grupos de mídia ganham enormes volumes de dinheiro”.

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“Pena que a Secom só informa a partir de 2011. Analisando as informações, constata-se que, de fato, o governo ampliou barbaramente o número de veículos que recebem publicidade institucional: eram meia dúzia, agora são mais de oito mil”.

“Mesmo assim, eles (os grandes) não tem do que reclamar, sobretudo as organizações Globo. Esta semana, o blogueiro e colunista Noblat fez seu enésimo ataque à blogosfera, insinuando que blogs recebem dinheiro para defender o governo. O Merval (Pereira, colunista de O Globo) volta e meia fala a mesma coisa: já chegou a mencionar teorias conspiratórias sobre “rede de blogs” montada pelo PT ou governo para atacar a mídia”.

O editor de O Cafezinho concorda, então, que estes representantes da mídia conservadora “são uns delirantes e uns caras de pau”.

“Recebem milhões do governo e vem atacar blogueiros que não ganham um tostão, ou se ganham, como é o caso de dois ou três mais famosos, são valores pequeninos, modestos, irrisórios se comparados aos valores destinados aos veículos tradicionais. Na minha opinião, o governo tinha obrigação democrática de investir mais na blogosfera, fazendo publicidade institucional em centenas de blogs, que é pra fazer os mervais surtarem de vez”.

“Um dia desses eu gostaria de saber quanto dinheiro, exatamente, a Globo ganhou de governos desde que a empresa foi fundada, aí incluindo todos os financiamentos de bancos públicos. Em valores atualizados. Seria uma informação bem interessante. É muito fácil posar de independente depois de ganhar uns R$ 10 bilhões do Estado. Enquanto a Globo recebeu, por exemplo, R$ 68 milhões do governo Dilma, de 2011 até junho deste ano, via publicidade institucional, o blog do Nassif recebeu R$ 22 mil. A Agência Carta Maior, que emprega uma equipe numerosa de colunistas e alguns repórteres, recebeu R$ 39 mil. O grupo Abril recebeu R$ 2 milhões”.

Outra constatação relevante de Miguel do Rosário é a de que “os barões da mídia recebem ainda muita publicidade institucional de governos estaduais e prefeituras, não contabilizada pela Secom. Esperemos que todas as esferas de poder respeitem a lei da informação e publiquem o quanto gastam e onde gastam a verba de publicidade institucional.

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10.Esquerda fracassa na comunicação popularBeto Almeida em 23/11/2011www.independenciasulamericana.com.br

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DEPUTADO RUI FALCÃO, CADÊ O PROTAGONISMO DA ESQUERDA PARA PRODUZIR O SEU JORNAL DE MODO A ENFRENTAR O CONSERVADORISMO MIDIÁTICO? A recente divulgação manipulada de dados de IDH da ONU, quando os jornalões brasileiros estamparam dados de 2005 como se fossem atuais, levando até mesmo o Presidente Lula - mesmo estando em meio a silêncio por recomendação médica - a telefonar indignado ao Ministro Gilberto Carvalho reagindo à adulteração, é apenas mais uma prova escancarada da falta crucial que faz um jornal popular, de massas e nacional no Brasil. Divulgaram jornal velho, como se fosse notícia nova. De fato, a oligarquia da mídia não tem limites em sua falta de escrúpulos. Não surpreende. Já passou para a história do anti-jornalismo um editorial do Estadão, que na data em que Getúlio Vargas assinava decreto criando a Petrobrás, afirmava ser um absurdo que se formasse uma empresa estatal de petróleo num país sabidamente sem petróleo, conforme afirmavam técnicos dos EUA. O jornalismo colonizado. Há algumas áreas da política no Brasil de hoje, que, diferentemente de outras em que o Governo Lula deu início a significativas modificações, registram travamento, paralisia. A política financeira, a reforma agrária e a democratização da comunicação. Este travamento suscita muitas perguntas. Primeiramente, por que será que um partido que consegue eleger por três vezes seguidas o presidente da república não consegue, não se anima a organizar um jornal popular e de massas, mesmo tendo sido esta tese já aprovada em alguns congressos e conferências do PT? Será que um partido que demonstra o prestígio que tem entre as mais variadas camadas sociais, com capacidade de liderar uma composição de partidos, de articular-se com as centrais sindicais, os movimentos sociais, os segmentos progressistas das igrejas, a receber apoio expressivo entre os militares nacionalistas e democráticos, na intelectualidade, no movimento estudantil e na juventude, como também em setores do empresariado, tem realmente dificuldades

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organizativas, materiais e financeiras para montar uma imprensa a favor do povo e do Brasil?

Gramsci , fundador do L’Unitá

O GRANDE INTELECTUAL ITALIANO SABIA QUE A ESQUERDA SEM O SEU PRÓPRIO JORNAL NÃO TEM INSTRUMENTO PARA MOBILIZAR O POVO. Provavelmente, um importante óbice impedindo que o Brasil volte a ter um jornal nacionalista, popular, progressista, de ampla circulação, como foi o Jornal Última Hora, seja um bloqueio político, talvez uma falsa interpretação da teoria de Gramsci sobre a tese da hegemonia. Vale lembrar, inicialmente, que foi o próprio revolucionário italiano o fundador do Jornal L’Unitá. Segundo esta adaptação da teoria da hegemonia para os tempos atuais, não teria mais sentido a organização de mídias próprias, sejam partidárias ou de segmentos políticos organizados, sendo mais correta a disputa no interior da mídia convencional considerada como uma instituição que formaria parte de uma suposta democracia representativa. Apesar disso, muitos dos dirigentes petistas, sustentando corretamente elaboração de inúmeros teóricos da comunicação, acusam a atual indústria midiática de ser partidária, facciosa, embora alegue neutralidade.Ela é partidária não apenas das teses mais caras ao grande capital internacional, apoiando escandalosamente, por exemplo, os indecentes privilégios da oligarquia financeira, das diversas oligarquias que concentram nas mãos a propriedade da terra, mas é também partidária no sentido eleitoral, como vimos, ao assumir as candidaturas mais conservadoras, representantes destas mesmas teses. A crítica dos dirigentes petistas, baseada em argumentação coerente e em fatos objetivos, aponta a mídia brasileira atual de atuar como um verdadeiro partido político oposicionista, o que, por si só, anularia aquela possibilidade de que houvesse disputa democrática da hegemonia num universo midiático que comportasse o contraditório, a pluralidade, a diversidade. Realmente, isto não existe na mídia comercial brasileira, razão pela estaríamos diante de uma inevitável escolha: ou a acusação dos petistas ao partidarismo da mídia é fato, o que a realidade vem se

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confirmando dia após dia, e, assim, a renúncia a construir uma mídia própria por supor que existiriam condições para uma disputa democrática no seio desta mídia atual mídia, considerada ilusoriamente como um espaço democrático, deveria ser uma política descartada. Toda vez que o PT rejeita colocar em prática decisões de congresso para a construção de um jornal de massas, o que prevalece, de fato, é a política que reconhece credibilidade a esta mídia comercial como se fosse uma instituição democrática, plural e diversificada, o que ela nega ser diariamente. Se acusação de muitos dos dirigentes petistas ao golpismo da mídia é justa, é justo também considerar que esta avaliação, grave e decisiva, merece um desdobramento conseqüente e coerente: cabe ao campo progressista organizar sua própria mídia, dotada de brasilidade, pluralismo, diversidade, democracia..

Falta opção anti-golpismo

A DIREITA INTELIGENTE SEMPRE SOUBE QUE PARA MANDAR NO PODER PRECISA DISPOR DO PODER MIDIÁTICO FORTE E PODEROSO. NÉ, DR. ROBERTO? O campo conservador tem sua mídia, e esta mídia atua não apenas como um partido contra todas as teses e políticas sustentadas pelo PT e pelos governos Lula e Dilma, mas também em defesa das teses mais caras ao grande capital internacional, seja em relação, por exemplo, à criminosa agressão contra a Líbia, à ocupação do Iraque e do Afeganistão, os preparativos de agressão contra o Iran, ações guerreiras que combinam-se com as políticas financeira que rapinam a economia popular nos países centrais do capitalismo. Diante disso, cabe então perguntar: o campo progressista, que esforça–se por imprimir mudanças sócio-econômicas civilizatórias, humanistas,

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democráticas, enfrentando os poderes e interesses que sustentam aquela velha mídia, tem ou não a tarefa, o direito e até o dever de oferecer à sociedade uma opção de jornalismo que promova pluralidade diversidade informativas e a democratização do debate político nacional e internacional? A outro obstáculo, eventualmente mencionado, seria a dificuldade para a organização dos recursos financeiros necessários para a estruturação de um jornal popular. Talvez a resposta para esta dúvida eventual esteja na própria montanha de publicações que o conjunto das forças progressistas produz hoje, seja no movimento sindical ou partidário. Trata-se de um volume tão espantosamente grande de impressos que, se todos os esforços, recursos e estruturas usados para esta produção e sua distribuição fossem postos a serviço de uma grande publicação popular, racionalizando-se e concentrando-se toda esta dispersão de iniciativas, com efeitos relativamente insuficientes, certamente haveria a capacidade de resolver o problema do grande déficit informativo do campo democrático-transformador hoje. Neste caso, o principal obstáculo continua sendo político. Outro argumento que se lança, este mais recentemente, contra a idéia da produção de um jornal popular é o da chegada da internet, apontando a imprensa como uma comunicação do passado, da era da revolução industrial, enquanto que já estaríamos na condição de pensar numa comunicação pós-industrial. Certamente, os que argumentam em favor de um jornal popular não o colocam em antagonismo a qualquer nova forma de comunicação que venha a ser desenvolvida a partir de uma radical democratização da internet. De fato, não se trata de modalidades excludentes. Além do mais, Congresso Mundial de Jornais recentemente realizado, apontou uma superioridade de 20 por cento da leitura de jornais impressos, sobre a leitura da internet.

Papel do “Última Hora”

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O EXEMPLO DE SAMUEL WAINER PRECISA SER RETOMADO PELA ESQUERDA, URGENTE. Da mesma forma que já podemos perceber no caso brasileiro um certo travamento da agenda da democratização da mídia aprovada na Confecom - com seus desdobramentos evidentes também quando se percebe que a nova lei da TV paga, por exemplo, chancela e viabiliza a desnacionalização e a oligopolização deste setor comunicativo - constatamos, em contrapartida, que a democratização do jornalismo impresso, é algo que pode ser implantado imediatamente. Ou seja, as forças progressistas não dependem, hoje, de mudança na Constituição ou nas leis para que se forme um grande jornal nacional, popular, de massas, acessível a todos, como, em outra época, para mais uma vez dar o exemplo, já foi o Última Hora. Dependem de sua própria iniciativa, as condições políticas para isto já foram conquistadas. Para dar uma idéia do papel cumprido por este jornal e do papel que poderia ser cumprido agora por um jornal popular, vale lembrar que em 1954, quando Vargas determinou um aumento de 100 por cento no valor do salário mínino, a jornalhada da direita fez o maior escândalo, até mesmo manifesto de coronéis repelindo o novo valor salarial se fez. Pois bem, neste dia, em letras garrafais, a manchete do Última Hora, de circulação nacional, estampava em todas as bancas a frase de Getúlio Vargas: “Não há salários altos. Há lucros excessivos!” . Manchete inimaginável em qualquer dos jornalões atuais. Pode ser que este travamento da Agenda da Confecom continue por mais algum tempo pois, como sabemos, há temas que dependem de outra relações de forças, entre as quais o enfrentamento com os indecentes privilégios dos banqueiros e a paralisação da reforma agrária estrategicamente posicionados no Congresso. Dependem da constituição de

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novas maiorias, de mais presença popular no Congresso Nacional, para o que, a tática utilizada por certos segmentos de esquerda nas últimas eleições gerais - abstenção ou neutralidade em determinado momento - revelou-se, ,evidentemente, como um erro e deve ser revisada. Tivesse a esquerda mais peso parlamentar agora seria outra a votação , por exemplo, do Código Popular, da contribuição para a saúde etc.

Travamento da Confecom

MACHADO E ROSA, LEITURAS POPULARES NA VENEZUELA. E AQUI, POR QUE NÃO? A continuar este travamento da democratização da comunicação e, por desdobramento, da expansão de uma Banda Larga para Todos, mediante imposição dos oligopólios das teles que aprisionam certas áreas do governo, o projeto do jornal popular será o que mais rápida e eficazmente poderá ser implementado. Ante o argumento de que não se deveria investir numa comunicação do passado (imprensa), mas sim numa do futuro (internet), lembramos que estes investimentos já foram feitos. Já existe hoje uma moderna capacidade gráfica instalada. Mais que isso, existe uma capacidade ociosa da indústria gráfica que beira os 50 por cento, é crônica, em razão das cada vez mais baixas tiragens dos jornais, como também de livros, cuja tiragem padrão no Brasil é de apenas 3 mil exemplares. Em Cuba já houve tiragens de “Grande Sertão, Veredas”de Guimarães Rosa, de 150 mil exemplares. Na Venezuela, recentemente, houve uma edição do livro “Contos”, de Machado de Assis, de 300 mil exemplares, distribuídos gratuitamente, assim como uma tiragem de 1 milhão de exemplares de “Dom Quixote”de Cervantes, também distribuídos gratuitamente.

Popularizar produção da leitura

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SEM LEITURA, AS CRIANÇAS ESTARÃO CERTAMENTE SEM FUTURO. Ou seja, a capacidade ociosa da indústria gráfica brasileira, juntamente com as raquíticas taxas de leitura, conforma um campo apto que permite combinar os fatores para a implantação de um projeto público de popularização da produção e da leitura de jornais no Brasil. Aqui temos gráficas meio paradas, povo impedido de ler e talentosos jornalistas e escritores sem postos de trabalho. Portanto, não se trata de investir mais na indústria gráfica, há uma capacidade instalada já. Trata-se de colocar capacidade existente e que está paralisada para funcionar, gerando emprego e, fundamentalmente, baseada num programa de jornalismo público e popular, democratizando a informação, sem necessidade de reforma constitucional ou novo marco regulatório da comunicação. Isto é para já. Afinal, este país já teve uma Última Hora!

Governo paga para apanhar

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PETROBRÁS, A VACA QUE DÁ LEITE GORDO À MÍDIA DE DIREITA, MAS NÃO FAZ O MESMO COM A ESQUERDA, PORQUE ESTA, POR INCOMPETÊNCIA, NÃO SE APRESENTA PARA SER LIVRE. Quando se argumenta, em contraposição ao projeto de um jornal popular, que os recursos seriam muito difíceis de serem levantados, podemos não apenas recorrer novamente à história para lembrar do exemplo do empréstimo que o Banco do Brasil concedeu ao jornalista Samuel Wainer para fundar o Última Hora, empréstimo rigorosamente pago pela editora do diário. Aliás, sabemos que pagar empréstimos não é o forte para muitos dos grandes empresários ou usineiros de hoje, que certamente fariam o maior escândalo se os recursos públicos fossem legitimamente utilizados para sustentar o projeto de criação de um jornal popular. Mas, eles não fazem qualquer objeção ao fato de os recursos públicos serem hoje uma das principais fontes de sustentação da mídia comercial, sobretudo quando uma única edição da Veja recebe 14 páginas de anúncio da Petrobrás. O governo continua pagando para apanhar! Em que pese a positiva reformulação na política de distribuição de verbas publicitárias, com muito mais democracia, ainda cabe corrigir os desequilíbrios existentes no setor, pois até o momento, sente-se a ausência de um projeto para um jornalismo público e de uma postura mais decidida e mais audaz por parte do governo federal para fortalecer, expandir e qualificar a comunicação no campo democrático.

Fundação do Jornalismo Público

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A LIBERDADE NÃO EXISTE SEM A IMPRENSA PÚBLICA. Ainda refletindo sobre meios e maneiras de superar o ceticismo sobre como organizar os recursos para montar um projeto de jornal popular, lembramos que muitos dos fundos públicos de empresas estatais aplicam boa parte de seus recursos em operações financeiras tradicionais. Que efeitos positivos teríamos para a democratização da informação se boa parte destes mesmos recursos, hoje imobilizados no financismo, fossem injetados, por exemplo, na constituição de uma Fundação para o Jornalismo Público? Entre outras funções, esta Fundação poderia ter o papel de pensar, prever e elaborar teorias e práticas para o jornalismo do futuro, enriquecidos com as novas tecnologias de comunicação. Abrigaria uma instituição voltada para o ensino do jornalismo exclusivamente público, algo que ainda não está desenvolvido nem teórica, nem praticamente no Brasil - o ensino conceitual para o jornalismo privado já existe. Além disso, esta instituição aceitaria o desafio de elaborar e implementar projetos para a popularização da produção e leitura de jornal no Brasil, cujas estatísticas indicam estar abaixo da taxa de leitura da Bolívia, uma economia de muito menor porte que a brasileira.

Jornal popular latinoamericano

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ABREU E LIMA LUTOU PELA LIBERDADE DE IMPRENSA FAZENDO A SUA PRÓPRIA IMPRENSA PARA DEFENDER SUAS PRÓPRIAS IDÉIAS. IA ESPERAR A BONDADE DOS COLONIZADORES? Sob o lema “A imprensa é a artilharia do pensamento”, cunhada por Simon Bolívar, renasceu há pouco mais de 1 ano na Venezuela, o jornal “Correio do Orenoco”, com o mesmo nome do jornal do movimento libertador liderado por Bolívar no século 19, cujo redator era o brasileiro Abreu e Lima, que havia fugido da repressão que se abatera sobre os revolucionários de Pernambuco então. Hoje, este jornal, com o preço módico de 1 Bolívar, já é diário, é distribuído nacionalmente e possui uma tiragem de 300 mil exemplares. Enquanto isso, o principal jornal da direita venezuelana , “El Nacional”, teve sua circulação reduzida, em 10 anos, de 400 mil para apenas 40 mil diários, fundamentalmente em razão do desprestígio recebido por adotar uma posição contra revolucionária, chegando mesmo a insinuar aprovação a um eventual atentado contra a vida do Presidente Hugo Chávez, eleito e reeleito pelo voto popular, além de aprovado diversas vezes em plebiscito e referendos, também pelo voto soberano do povo bolivariano. Na Bolívia, cansado de ser identificado pela imprensa comercial e conservadora como “Narco-presidente” , Evo Morales decidiu estimular a criação de um jornal público, chamado “Cambio”, que em pouco tempo de criação, 2 anos, já vende tanto quanto o mais antigo jornal do país, o “La Razon” , com 70 anos de história. O "Cambio", com circulação nacional impressa, custa um quarto do preço do jornal conservador e também possui uma versão on-line. Constata-se uma alteração positiva na relação de forças da batalha comunicativa no país andino, que, ademais, tem uma TV pública, possui também uma rede nacional de rádios indígenas e camponesas, e, tem o sinal aberto de Telesur ao alcance de todos, emissora da qual a Bolívia é sócia. No Paraguai , o presidente Fernando Lugo também decidiu enfrentar o desequilíbrio informativo em favor das oligarquias e criou a Agência Publica

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de Notícias, que além de abastecer todo o sistema informativo nacional, irá publicar um jornal para distribuição gratuita ao povo. No Equador existe o jornal público “El Telégrafo”, agora reforçado, modernizado e preparado para fazer uma disputa cerrada que se verifica entre as oligarquias e o governo de Rafael Correa, que, alvo de várias manobras de sabotagem e até de uma tentativa de golpe de estado em outubro de 2010, decidiu democratizar a legislação de meios de comunicação, além de levar autores de injúrias, calúnias e ofensas às barras dos tribunais. Aí também se verifica um jornalismo novo surgindo, embora o jornalismo velho, oligárquico, golpista, insista na defesa dos antigos privilégios das classes dominantes e do capital estrangeiro. Talvez esteja na Argentina a experiência mais decidida e com alguma semelhança no porte econômico e em modelo às possibilidades de democratização informativa que poderia ocorrer no Brasil. O governo Kirchner impulsionou consultas regionais a todos os setores sociais, a partir do que elaborou um projeto de lei, aprovado no Congresso, que, em resumo, redistribui o setor comunicativo em três segmentos, tal como está inscrito na Constituição Brasileira, embora não regulamentado. Lá, um terço do setor é para o empresariado, um terço para o setor público e estatal e o outro terço para as entidades sociais, entre elas universidades e centrais sindicais, que, a partir da nova legislação, também já podem ter acesso à direção de meios de comunicação eletrônicos. Fora isto, há também o jornal El Argentino, distribuído gratuitamente, com ampla circulação, e o jornal Tiempo Argentino, ambos encarregados de assumir o desafio do legítimo e democrático enfrentamento com a linha editorial oligárquica e imperial dos dois diários do jornalismo velho, El Clarin e La Nacion.

Experiência da Era Alvarado

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O NACIONALISMO MIDIÁTIO ALVARADIANO ABRIU AS PORTAS PARA AS MÍDIAS POPULARES NO CONTINENTE SULAMERICANO. Aguardemos, agora, o que poderá nos trazer o Peru sob a presidência de Umalla Hollanta, pois este país andino já viveu uma experiência transformadora em democratização quando, em 1968, o governo do General Alvarado, além de estatizar o petróleo, iniciar a reforma agrária e de várias mudanças sociais relevantes, nacionalizou os jornais e os colocou sob administração das centrais sindicais. Sem saber o que fazer com aquilo, por incompreensão do momento político vivido pelo país - chegavam a chamar o general Alvarado de “Gorila” - as centrais sindicais não deixaram marca positiva de uma experiência relevante em matéria de jornalismo, perdendo preciosa oportunidade histórica. Mesmo sob uma agressiva onda de ataques do velho jornalismo aos projetos de mudanças em curso nestes países da América do Sul, ataques sintonizados com a agenda dos EUA para a região, o voto popular tem proporcionado as condições políticas para o surgimento do novo jornalismo, de caráter público, democrático e popular. São experiências que deveriam ser bem mais vivenciadas pelos brasileiros. Neste sentido, mesmo reconhecendo na EBC uma conquista relevante, ainda não consolidada, somos obrigados a reconhecer, também, que a TV Brasil acumula uma enorme dívida para com a sociedade brasileira já que nada informa sobre estes importantes fenômenos de um novo jornalismo bem perto de nós, preferindo insistir numa linha editorial que acompanha e repete, na maioria das vezes, o preconceito do jornalismo velho contra este processo de mudanças em curso. Aliás, a linha editorial internacional da EBC ainda

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está predominantemente em sintonia com o velho jornalismo, o Itamaraty tem estado politicamente à esquerda da EBC.

EBC, promessa a ser cumprida

GETÚLIO ESTARIA PERGUNTANDO, HOJE, SE VIVO FOSSE, SE A EBC CONSEGUIRÁ LIBERTAR O BRASIL DO JOGO COLONIALISTA MIDIÁTICO REPETINDO PROGRAMAÇÃO ACANHADA E TÍMIDA, QUASE SEMELHANTE À DOS COLONIZADORES. Este processo de mudanças democráticas, lastreado nas forças progressistas e que tem como pano de fundo, por um lado a crise global do capitalismo neoliberal e de outro a integração sul-americana baseada na cooperação e na soberania dos povos é um fato jornalístico e notável de mereceria uma revisão editorial da EBC. Devemos nos preparar para dele participar, não apenas encorajando mudanças na EBC, trabalhando para a implementação de convênio de cooperação com a Telesur e para a liberação do seu sinal no Brasil, mas, também, desengavetando a agenda da Confecom, que sequer atravessou a Esplanada, do Minicom para chegar ao Congresso Nacional. Mas, lá chegando, a relação de forças continuará sendo extremamente adversa para a democratização da mídia. O que exigirá unidade do campo popular em aliança com o Governo Dilma, como na Argentina, como na Venezuela, para remover os entulhos autoritários e neoliberais que seguem incrustados no Congresso. Enquanto em segmentos do campo progressista acumulam-se ceticismos sobre montar ou um jornal

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popular, nacional e de massas, a Folha Universal, editada pela igreja do mesmo nome, alcança já 3 edições semanais, com 1,5 milhão de exemplares, distribuídos gratuitamente em pontos de grande afluxo de populares. Surgem novos jornais de distribuição gratuita, com tiragens volumosas, indicando possibilidades que o campo progressista não explorou ainda. E uma proposta apresentada ao então governador petista Cristovam Buarque, na década de 90, após recusada, foi assumida por um grupo empresarial brasiliense. O jornal Coletivo afirma-se hoje como um jornal de massas, com tiragem superior á do maior jornal do Distrito Federal, distribuído gratuitamente a cada dia, às 17 horas, na Rodoviária da Capital Federal, espalhando por todo o entorno. A implantação de um jornal popular, não depende de mudanças constitucionais ou de leis, nem de maioria no Congresso. Depende de um mínimo de unidade política do campo progressista, em coordenação com o governo que elegeu. E pode ser uma realidade a curtíssimo prazo. Como provou Vargas ao criar o Última Hora..

Beto AlmeidaDiretor da Telesur

Correspondente da Rádio de Las Madres Plaza de Mayo no Brasil

11.O 7D e a hora H de Cristina Kirchner Home » América Latina » O 7D e a hora H de Cristina KirchnerPosted by: leitefo Tags: 7D, 8N, Clarin, Cristina Kirchner, Lei da Mídia, ley de medios Posted date: dezembro 3, 2012 | No comment

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Por FC Leite FilhoAutor de http://quemtemedodehugochavez.com.brNo 7D, ou seja sete de dezembro, próxima quinta-feira, o prazo final para o jornal Clarín adequar-se à Lei da Mídia e desfazer-se de quase dois terços de seu monopólio midiático, ela estará em Brasília, junto com Dilma, Chavez e Mujica, para uma reunião da cúpula do Mercosul, no Palácio do Planalto. Cristina Kirchner, presidenta da nova Argentina e inspiradora maior da lei que deu um basta nos abusos da chamada grande imprensa, sabe que haverá distúrbios, provocações e novas tentativas de desestabilização ou mesmo de golpe de Estado. Cristina, porém, demonstrou que não se dobra à chantagem, como comprovou ao enfrentar com altaneria o cacerolazo de 8 de novembro, o 8N, que levou quase um milhão de pessoas às ruas, e a greve geral de 20 novembro, deflagrada depois de menos de 15 dias, pela mesma central golpista dos donos de jornais, da Sociedade Rural e a elite econômica, que, no passado, derrubou, quando a América Latina era desunida, Perón, João Goulart, Allende e outros governantes nacionalistas.A ideia, tanto do cacerolaço e da greve quanto da campanha desmoralização do governo kirchnerista, que não deixou de incluir a sentença de um juiz de Nova York obrigando o pagamento dos chamados “fundos abutres”, é de criar um ambiente de rechaço à presidenta, nos mesmos moldes daquele que, em dois de abril de 2002, levaram à prisão e deposição, por 48 horas, do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Só que, dessa vez, o golpismo não encontrou o eco esperado na população e a Argentina continuou sua rotina, como se nada tivesse acontecido, apesar do brutal prejuízo e das agressões cometidas contra jornalistas e gente do povo, por parte de agentes provocadores.Isto não significa que o 7D ocorrerá sem distúrbios nem violência, porque se conhece o alto poder predatório da mídia hegemônica, principalmente quando esta está aliada à Sociedade Rural, que cogrega as entidades patronais da agropecuária, que manteve um lock-out de quatro meses, no início do primeiro mandato de Cristina. Este boicote, que incluiu paraliazação forçada da produção agrícola, corte de estradas, quase provocou o desabastecimento alimentar dos argentinos. Outras entidades patronais, responsáveis por parte da produção do país, sobretudo as empresas transnacionais, também estão envolvidas na conspiração.Recordem-se, igualmente, os distúrbios provocados em Caracas, em maio de 2007, quando o presidente Hugo Chávez desativou a RCTV, Rádio Caracas Televisión, a maior rede de TV privada do país, acusada de conspirar abertamente contra o governo constitucional (veja artigo abaixo). Chávez teve de colocar as Forças Armadas de prontidão 24 horas antes, o que não evitou arruaças e quebradeira por grupos de assaltos, junto com estudantes de extrema direita, em ataques a lojas, órgãos governamentais e outros próprios públicos e privados. Chávez, transformava-se assim no primeiro líder latino-americano a confrontar com sucesso a poderosa mídia e a instituir no país, uma comunicação onde outras vozes, inclusive as populares, pudessem ser ouvidas e tivessem participação decisiva nos destinos do país. Isto, aliás, já vinha ocorrendo desde que as rádios e TVs comunitárias, haviam convocado a população a reagir contra o golpe de abril e restituir o poder a Hugho Chávez, em menos de 48 horas. A partir daí, o golpismo arrefeceu na Venezuela e o país passou a viver um saudável clima de estabilidade democrática e crescimento econômico com inclusão social.

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Uma evidência de que o golpismo vai reagir no 7D é a decisão da Socidade Interamericana de Imprensa, a famigerada SIP, que reúne os donos de mais de mil jornais das três Américas, incluindo osdos Estados Unidos, com sede em Miami, de enviar “uma delegação” a Buenos Aires, para “acompanhar os acontecimentos”. A SIP, entidade fundada sob os auspícios da CIA, na antiga Cuba pró-americana, em 1943, colaborou e patrocinou diretamente todos os golpes de Estado ocorridos na América Latina, desde então. Seu poder de fogo, no entanto, encontra-se hoje limitado, mas não de todo neutralizado, em função da política de aproximação e integração, desenvolvida por Cristina, Chávez, Lula, Dilma, Evo Morales, Daniel Ortega e Rafael Correa, que os presidentes populares vêm desenvolvendo desde 1999. O 7D de Cristina marcará, de todo modo, um novo divisor de água na luta pela emancipação e autonomia da América Latina, assim viabilizando o tão ansiado mundo pluripolar, equidistante das grandes potências.Veja também:Por que Chávez não renovou a concessão da RCTV, pelo Brasil de Fato

12.Globo: os princípios, a credibilidade e a práticaDeve ter sido coincidência. Todavia, não deixa de ser intrigante que os Princípios

Editoriais das Organizações Globo tenham sido divulgados apenas algumas semanas após o estouro do escândalo envolvendo a News Corporation e um dia

depois que um ex-jornalista da própria Globo tenha postado em seu Blog orientação para tentar incompatibilizar o novo Ministro da Defesa com as Forças

Armadas.

Venício Lima*

Deve ter sido coincidência. Todavia, não deixa de ser intrigante que os “Princípios Editoriais das Organizações Globo” tenham sido divulgados apenas algumas semanas após o estouro do escândalo envolvendo a News Corporation e um dia depois que um ex-jornalista da própria Globo tenha postado em seu Blog – com grande repercussão na blogosfera – que havia uma orientação na TV Globo para tentar incompatibilizar o novo Ministro da Defesa com as Forças Armadas.

Credibilidade: questão de sobrevivênciaA credibilidade passou a ser um elemento absolutamente crítico no “mercado” da notícia. O monopólio dos velhos formadores de opinião não existe mais. Não é sem razão que as curvas de audiência e leitura da velha mídia estejam em queda e o “negócio”, no seu formato atual, ameaçado de sobrevivência.

Na contemporaneidade, são muitas as fontes de informação disponíveis para o cidadão comum e as TICs ampliaram de forma exponencial as possibilidades de checagem daquilo que está sendo noticiado. Sem credibilidade, a tendência é que os veículos se isolem e “falem”, cada vez mais, apenas para o segmento da população que compartilha previamente de suas posições editoriais e busca confirmação diária para elas, independentemente dos fatos.

O escândalo do “News of the World” explicitou formas criminosas de atuação de um dos maiores conglomerados de mídia do mundo, destruiu sua credibilidade e levantou a suspeita de que não é só o grupo de Murdoch que pratica esse tipo de “jornalismo”. Além disso, a celebrada autorregulamentação existente na Inglaterra – por mais que o fato desagrade aos liberais nativos – comprovou sua total ineficácia. As repercussões de tudo isso começam a aparecer. Inclusive na Terra de Santa Cruz.

Os Princípios da GloboNo Brasil ainda não existe sequer autorregulamentação e as Organizações Globo,

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o maior grupo de mídia do país, não tem um único Ombudsman em suas dezenas de veículos para acolher sugestões e críticas de seus “consumidores”. Neste contexto, a divulgação de princípios editoriais – sejam eles quais forem – é uma referência do próprio grupo em relação à qual seu jornalismo pode ser avaliado. Não deixa de ser um avanço.

A questão, todavia, é que o histórico da Globo não credencia os Princípios divulgados. Em diferentes ocasiões, ao longo dos últimos anos, coberturas tendenciosas que se tornaram clássicas, foram documentadas. E alguns pontos reafirmados e/ou ausentes dos Princípios agora divulgados reforçam dúvidas. Lembro dois: a presunção de inocência e as liberdades “absolutas”.

Presunção de inocênciaO Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, adotado pela FENAJ, acolhe uma garantia constitucional (inciso LVII do artigo 5º) que tem origem na Revolução Francesa e reza em seu artigo 9º: “a presunção de inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística”.

Não é necessário lembrar que o poder da velha mídia continua avassalador quando atinge a esfera da vida privada, a reputação das pessoas, seu capital simbólico. Alguém acusado e “condenado” pela mídia por um crime que não cometeu dificilmente se recupera. Os efeitos são devastadores. Não há indenização que pague ou corrija os danos causados. Apesar disso, a ausência da presunção de inocência tem sido uma das características da cobertura política das Organizações Globo.

Um exemplo: no auge da disputa eleitoral de 2006, diante da defesa que o PT fez de filiados seus que apareceram como suspeitos no escândalo chamado de “sanguessugas”, o jornal “O Globo” publicou um box de “Opinião” sob o título “Coerência” (Caderno A pp.3/4) no qual afirmava:

“Não se pode acusar o PT de incoerência: se o partido protege mensaleiros, também acolhe sanguessugas. Sempre com o argumento maroto de que é preciso esperar o julgamento final. Maroto porque o julgamento político e ético não se confunde com o veredicto da Justiça. (...) Na verdade, a esperança do PT, e de outros partidos com postura idêntica, é que mensaleiros e sanguessugas sejam salvos pela lerdeza corporativista do Congresso e por chicanas jurídicas. Simples assim.”

Em outras palavras, para O Globo, a presunção de inocência é uma garantia que só existe no Judiciário. A mídia pode denunciar, julgar e condenar. Não há nada sobre presunção de inocência nos Princípios agora divulgados.

Aparentemente, a postura editorial de 2006 continua a prevalecer nas Organizações Globo.

Liberdades absolutas?Para as Organizações Globo a liberdade de expressão é um valor absoluto (Seção I, letra h) e “a liberdade de informar nunca pode ser considerada excessiva” (Seção III).

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Sem polemizar aqui sobre a diferença entre liberdade de expressão e liberdade de imprensa – que não é mencionada sequer uma única vez nos Princípios – lembro que nem mesmo John Stuart Mill considerava a liberdade de expressão absoluta. Ela, como, aliás, todas as liberdades, têm como limite a liberdade do outro.

Em relação à liberdade de informar, não foi exatamente o fato de “nunca considerá-la excessiva” que levou a News Corporation a violar a intimidade e a privacidade alheia e a cometer os crimes que cometeu?

O futuro dirá Se haverá ou não alterações na prática jornalística “global”, só o tempo dirá. Ao que parece, as ressonâncias do escândalo envolvendo o grupo midiático do todo poderoso Rupert Murdoch e a incrível capilaridade social da blogosfera, inclusive entre nós, já atingiram o maior grupo de mídia brasileiro.

A ver.

Professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e direitos, Editora

Paulus, 2011.Publicado originalmente em 8/8/11 em Carta Maior.

MIDIA

13.As relações ambíguas do governo com a mídia –

Por Gilberto Maringoni -[ECONOMIA & POLÍTICA]

Por Gilberto Maringoni

Enquanto seus apoiadores acusam a mídia de ser golpista, governo prestigia e destina farta publicidade aos grandes meios de comunicação. Uma única edição de Veja recebe cerca de R$ 1,5 milhão em anúncios oficiais. É preciso regular e democratizar as

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comunicações. Mas também é necessário deixar mais claro os interesses de cada setor nessa disputa

Nesta semana, a revista Veja fez mais uma denúncia de corrupção contra um Ministro de Estado. É difícil saber o que há de verdade ali, pois a reportagem vale-se apenas do depoimento de uma testemunha. A matéria pautou os principais veículos de comunicação, com destaque para o Jornal Nacional, da Rede Globo.

O Ministro, por sua vez, sai atirando. Responde ao acusador no mesmo calibre. “Bandido” é a palavra que ricocheteia em todas as páginas e telas. O caso é nebuloso. A relação promíscua do Estado com ONGs e “entidades sem fins lucrativos” precisa sempre ser examinada com lupa potente. É um dos legados da privatização esperta dos anos 1990, feita através de terceirizações de serviços que deveriam ser públicos.

Aliados do governo tentam desqualificar não apenas a denúncia, mas o veiculo que a difunde. Volta o debate de que estaríamos diante de uma imprensa golpista, que não se conforma com a mudança de rumos operada no país desde 2003, que quer inviabilizar o governo etc. etc. A grande imprensa, por sua vez viciou-se em acusar todos os que discordam de seus métodos de clamarem pela volta da censura. Há muita fumaça e pouco fogo nisso tudo, mas faz parte do show. Disputa política é assim mesmo.

Maniqueísmo

É preciso colocar racionalidade no debate sobre os meios de comunicação no país, para que não deslizemos para maniqueísmos estéreis. Vamos antes enunciar um pressuposto.

A grande imprensa brasileira está concentrada em poucas mãos. Oito empresas – Globo, Bandeirantes, Record, SBT, Abril, Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e Rede Brasil Sul (RBS) – produzem e distribuem a maior parte da informação consumida no Brasil. O espectro vai se abrir um pouco nos próximos anos, para que as gigantes da telefonia mundial se incorporem ao time, através da produção de conteúdos para a TV a cabo. Mas o conjunto seguirá como um dos clubes mais fechados do mundo.

As empresas existentes há cinco décadas – Globo, Estado, Folha e Abril – apoiaram abertamente o golpe de 1964. Até hoje não explicaram à sociedade brasileira como realizam a proeza de falar em democracia tendo este feito em sua história.

Entre todos os meios, a revista Veja se sobressai como o produto mais truculento e parcial da imprensa brasileira.

Sobre golpismo, é bom ser claro. As classes dominantes brasileiras não se pautam pelas boas maneiras na defesa de seus interesses. Sempre que precisaram, acabaram com o regime democrático. Usaram para isso, à farta, seus meios de comunicação.

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A imprensa é golpista?

No entanto, até agora não se sabe ao certo porque esta mídia daria um golpe nos dias que correm. O sistema financeiro colhe aqui lucros exorbitantes. A reforma agrária emperrou. Grandes empresários têm assento em postos proeminentes do Estado – caso de Jorge Gerdau Johannpeter – ou têm seus interesses mantidos intocados.

Algumas peças não se encaixam na acusação de golpismo da mídia. Voltemos à revista Veja. Os apoiadores do governo precisam explicar porque a administração pública forra a publicação com vultosas verbas publicitárias, além de sempre prestigiarem suas iniciativas. Vamos conferir, pois está tudo na internet.

Veja tem uma tiragem de 1.198.884 exemplares (http://www.publiabril.com.br/tabelas-gerais/revistas/circulacao-geral), auditados pelo IVC. Alega ter um total de 8.669.000 leitores. Por conta disso, os preços de seus espaços publicitários são os mais altos entre a imprensa escrita. Veicular um reclame em uma página determinada sai por R$ 330.460. Já em uma página indeterminada, a dolorosa fica por R$ 242.200 (http://www.publiabril.com.br/marcas/veja/revista/precos).

Quem anuncia em Veja? Bancos, a indústria automobilística, gigantes da informática, monopólios do varejo e… o governo federal. Peguemos um exemplar recente para verificar isso.

Na edição de 12 de outubro – que noticiou a morte de Steve Jobs – havia cinco inserções do governo federal. Os anúncios eram do Banco do Brasil (página dupla), do BNDES, do Ministério da Justiça, da Agência Nacional de Saúde e da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Supondo-se que as propagandas não foram destinadas a páginas determinadas, teremos, de acordo com a tabela, um total de R$ 1.525.200.

Exato: em uma semana apenas, o governo federal destinou R$ 1,5 milhão ao semanário dos Civita, a quem seus aliados chamam de “golpista”.

Prestígio político

Há também o prestígio político que o governo confere ao informativo. Prova disso foi o comparecimento maciço de ministros de Estado e parlamentares governistas à festa de quarenta anos de Veja, em setembro de 2008. Nas comemorações, estiveram presentes o então vice-presidente da República, José Alencar, o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o ex-ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, o ministro da Educação, Fernando Haddad e a senadora Marta Suplicy (confiram em http://veja.abril.com.br/veja_40anos/40anos.html).

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E entre julho de 2010 e julho de 2011, nada menos que seis integrantes dos altos escalões governamentais concederam entrevista às páginas amarelas da revista. São eles: Dilma Rousseff, Aldo Rebelo, Cândido Vaccarezza, Antonio Patriota, General Enzo Petri e Luciano Coutinho.

Nenhum demonstrou o desprendimento e a sensatez do assessor especial da presidência, Marco Aurélio Garcia (então presidente interino do PT). Ao ser convidado para conceder uma entrevista a Diogo Mainardi, em novembro de 2006, deu a seguinte resposta: “Sr. Diogo Mainardi, há alguns anos – da data não me lembro – o senhor dedicou-me uma coluna com fortes críticas. Minha resposta não foi publicada pela Veja, mas sim, a sua resposta à minha resposta, que, aliás, foi republicada em um de seus livros. Desde então decidi não falar com a sua revista. Seu sintomático compromisso em não cortar minhas declarações não é confiável. Meu infinito apreço pela liberdade de imprensa não vai ao ponto de conceder-lhe uma entrevista”.

RBS, Olívio e Lula

As relações ambíguas do governo e dos partidos da chamada base aliada com a grande mídia não se restringem à Veja.

Entraram para a história a campanha de denúncias e desgaste sistemático que os veículos da RBS moveram contra o governo de Olívio Dutra (1999-2003), do PT, no Rio Grande do Sul. Ataques sem provas, calúnias, mentiras e todo tipo de baixaria foi utilizada para inviabilizar uma gestão que buscou inverter prioridades administrativas. No auge dos ataques, em 2000, o jornal Zero Hora, do grupo, fez um ousado lance de marketing. Convidou Luís Inácio Lula da Silva para ser colunista regular. Até a campanha de 2002, o futuro presidente da República escreveu semanalmente no jornal, como se não tivesse relação com as ocorrências locais. Quando abriu mão da colaboração, Lula afirmou que o jornal prejudicava seu companheiro gaúcho (http://noticias.terra.com.br/imprime/0,85198,OI38721-EI342,00.html). O jornal ganhou muito mais que o ex-metalúrgico nessa parceria. Ficou com a imagem de um veículo plural e tolerante.

No mesmo ano, o ex-Ministro José Dirceu foi entrevistado pelo Pasquim 21, jornal lançado pelo cartunista Ziraldo. Naqueles tempos, as empresas de mídia enfrentavam aguda crise, por terem se endividado em dólares nos anos 1990. Com a quebra do real no final da década, os débitos ficaram impagáveis. Lá pelas tantas, Dirceu afirmou que salvar a Globo seria uma “questão de segurança nacional”.

Comemorando juntos

As boas relações com a grande mídia se mantiveram ainda nas comemorações dos 90 anos da Folha de S. Paulo, em janeiro deste ano. Estiveram presentes à festa (http://www1.folha.uol.com.br/folha90anos/879061-politicos-e-personalidades-defendem-a-liberdade-de-imprensa.shtml) a presidente Dilma Rousseff – convidada de honra, que proferiu discurso recheado de elogios ao jornal – a senadora Marta Suplicy, colunista do mesmo, Candido Vaccarezza, líder do governo na Câmara, os ex-Ministros José Dirceu e Marcio Thomaz Bastos e o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho. A Folha também

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recebe farta publicidade governamental, do Banco do Brasil, da Petrobrás, da Caixa Econômica federal, entre outras.

Nos momentos de dificuldade, dirigentes do governo procuram sempre a grande imprensa para exporem suas idéias. Foi o caso de Antonio Pallocci, em 3 de junho último. Acossado por denúncias de enriquecimento ilícito, o ex-Chefe da Casa Civil convocou o Jornal Nacional, para dar suas explicações ao público (http://www.youtube.com/watch?v=Y5m_wyahXjY).

O mesmo Antonio Palocci – colunista da Folha de S. Paulo entre 2009 e 2010 – dividiu mesas com Roberto Civita, Reinaldo Azevedo, Demetrio Magnoli, Arnaldo Jabor, Otavio Frias Filho e outros, em palestra no afamado Instituto Millenium, em março de 2010 (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16432). A entidade congrega empresários do ramo e seus funcionários e se opõe a qualquer tipo de regulação em suas atividades.

Os casos de proximidade do governo e seus partidos com a imprensa são extensos. Uma das balizas dessas relações é o bolo da publicidade oficial. Segundo a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom http://www.secom.gov.br/sobre-a-secom/publicidade/midia/acoes-programadas-em-r/copy3_of_total-geral-administracao-direta-todos-os-orgaos-indireta-todas-as-empresas), a receita publicitária oficial em 2010 foi de R$ 1.628.920.472,60. Incluem-se aí os custos de produção e veiculação de campanhas, tanto da administração direta quanto indireta. Ressalte-se aqui um ponto: é legítimo o governo federal valer-se da publicidade para se comunicar com a população. A maior parte do bolo vai para os grandes grupos do setor.

No caso das compras de livros didáticos feitos pelo MEC, para as escolas públicas, o grande beneficiário é o Grupo Abril, que edita Veja (http://www.horadopovo.com.br/2010/dezembro/2921-08-12-2010/P4/pag4a.htm).

Reclamação e democratização

Apesar do PT, partido do governo, ter feito uma moção sobre a democratização das comunicações em seu último Congresso e do ex-ministro José Dirceu ter sido injustamente atacado recentemente pela Veja, é difícil saber exatamente que tipo de relação governo e partidos aliados desejam manter com os meios de comunicação. De um lado, como se vê, acusam a mídia de ser golpista. De outro, lhe dão todo o apoio.

Pode ser que tenham medo da imprensa. Mas o que não se pode é ter um duplo comportamento no caso. Diante da opinião pública falam uma coisa, enquanto agem de forma distinta na prática.

O ex-presidente Lula reclamou muito da imprensa em seu último ano de mandato. No entanto, “Não houve qualquer alteração fundamental no quadro de concentração da propriedade da mídia no Brasil entre 2003 e 2010”. Essa constatação é feita pelo

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professor Venício Lima em brilhante artigo, publicado no final de 2010 (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4902).

As resoluções da Conferência Nacional de Comunicação, realizada em 2009, mofam em algum escaninho do Ministério das Comunicações. O Plano Nacional de Banda Larga, que deveria fazer frente ao monopólio das operadoras privadas, acabou incorporando todas as demandas empresariais. O projeto de regulação da mídia elaborado pelo ex-ministro Franklin Martins desapareceu da agenda.

Como se pode ver, o governo e seus partidos de sustentação convivem muito bem com a mídia como ela é. Têm muita proximidade e pontos de contato, apesar de existirem vozes isoladas dentro deles, que não compactuam com a visão majoritária.

Nenhum dos lados tem moral para reclamar do outro…

Leia outros textos de Plenos Poderes, Radar da Mídia

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Postado por Evaristo Almeida no ECONOMIA & POLÍTICAem 10/19/2011 01:00:00 PM

http://ecoepol.blogspot.com/2011/10/maringoni-as-relacoes-ambiguas-do.html

14.Tarso: grande mídia quer instituir ‘justiça paralela’ no BrasilPolítica 20/10/11 | 21:24 Compartilhe42

Tarso palestrou em congresso contra a corrupção, organizado pelo Ministério Público. “Regredimos até uma situação que leva o Ministério Público à impotência e o Judiciário à irrelevância. É um fascismo pós-moderno” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

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Igor NatuschEm discurso na abertura de um congresso nacional contra a corrupção, organizado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, o governador Tarso Genro criticou duramente nesta quinta-feira (20) o modo como a mídia conduz as discussões políticas no Brasil, em especial no que se refere à corrupção. “Criou-se um jornalismo de denúncia, que julga e condena. Usam a corrupção como argumento para dizer que as instituições não funcionam e tentar substituí-las”, afirmou Tarso. Dizendo que as campanhas contra a corrupção podem estar gerando o “ovo da serpente”, o governador gaúcho pediu que se reforce o poder das instituições, como forma de promover um efetivo combate a esse tipo de crime.Tarso Genro começou falando sobre os recentes protestos contra o sistema financeiro que tomaram conta do mundo. Referindo-se aos manifestantes como “indignados”, o governador aproveitou para dar uma cutucada pouco sutil no grupo que pedia o fim da corrupção, sob o slogan “Agora Chega”. “Alguns jovens uniformizados cantaram em recentes protestos que ‘povo unido protesta sem partido’”, lembrou. “Para mim, isso é como dizer que povo com dor não precisa de promotor”, alfinetou, provocando desconforto em parte dos presentes.O governador frisou que não defendia “teorias de conspiração” nem pregava a restrição de liberdade de imprensa. No entanto, durante a maior parte de sua fala, Tarso usou artilharia pesada contra os grandes grupos de mídia, aos quais acusou de tentar instituir uma “justiça paralela” no Brasil. Segundo ele, os grandes meios de comunicação se apropriaram do problema da corrupção e o usam para os próprios interesses, transformando um crime comum em crime político. “Atualmente, os casos mais graves são investigados pela mídia e divulgados dentro das conveniências dos proprietários dos grandes veículos”, disse Tarso. “Fazem condenações políticas de largas consequências sobre a vida dos atingidos, e tomam para si até o direito de perdão, quando isso se mostra conveniente”, disparou.Essa justiça paralela, defendeu Tarso, se dá fora do âmbito do Estado e o esvazia. “Regredimos até uma situação que leva o Ministério Público à impotência e o Judiciário à irrelevância. É um fascismo pós-moderno”, descreveu. “É um juízo público, que faz vibrar a classe média ingênua e os adversários políticos do atingido da vez. Mas essas mesmas pessoas podem ser as próximas atingidas, dependendo de como se mover as disputas dentro dos meios de comunicação”.De acordo com o governador, é justamente aí que reside o risco de tentar-se esvaziar os partidos políticos, eliminando seu papel de mediador entre os grupos sociais e o exercício do poder. “A corrupção não admite mediação”, frisou. E a grande mídia, de acordo com Tarso Genro, coloca a corrupção em primeiro plano nas discussões, deixando de lado problemas que ajudam a seguir existindo como a tutela financeira, as deficiências do sistema político brasileiro e a despreocupação com políticas sociais. O objetivo, afirma Tarso, é abalar a segurança política e a própria imagem das instituições. “Temos que reforçar as instituições e não enfraquecê-las. É o único modo de realmente combater a corrupção”, defendeu.Em outro momento, o governador gaúcho apontou o suposto interesse de setores midiáticos em pressionar o Legislativo para a aprovação de leis de seu interesse, em especial as que propõem penas mais duras para criminosos. “Sem verdadeiro conhecimento, assumem o posto de especialistas, acabam formando uma criminologia empírica do poder midiático”, disse Tarso Genro. “Cada crime bárbaro ganha ampla projeção. O que reduzirá a criminalidade é a certeza de punição, não a aplicação de penas mais duras. Inúmeras pesquisas e estatísticas nos mostram isso”.

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O congresso do MP, que lança a campanha “O que você tem a ver com a corrupção?”, segue nesta sexta-feira na sede do Ministério Público gaúcho, em Porto Alegre.

14."REPENSAR OS CONCEITOS DE AUDIÊNCIA"!- PUBLICADO NO BLOG DO CESAR MAIA -21 OUTU.

https://mail.google.com/mail/?shva=1#inbox/1332637906f863eb

(O Hoje, 25/08) 1. Ao longo dos últimos 70 anos os meios de comunicação de massa se consolidaram e fecharam um círculo para a formação da cultura de massa, mas vêm perdendo força com o advento das redes sociais da internet. Sob essa ótica, o investigador de ciências da comunicação da Universidade de Buenos Aires e de estudos culturais no Instituto Gino Germani, Mario Carlón, deu uma palestra em Goiânia. A ideia central da conferência apresentada é o fim de uma etapa, de um período, onde esses meios surgiram, se consolidaram e se tornaram hegemônicos, criando a convergência dos meios de comunicação.

2. “Agora outros meios entram na disputa e dão novo significado aos meios de comunicação. Há uma conversão dos meios tradicionais com novas ferramentas de comunicação”, explica Carlón. Dessa forma, os meios de massa passaram a trabalhar com uma nova dinâmica intensificada pela imediatização das notícias e pelo poder dado à sociedade, através das redes sociais, que deixa de ser apenas passiva e passa a interagir com as informações e até mesmo de criá-las.

3. Carlón ressalta que é extremo dizer que o público deixará de assistir à programação de TV, de ler jornais e revistas ou de ir ao cinema, focando apenas nas redes. Ao contrário, esse público passa discutir a notícia, criar suas opiniões com seus próprios conteúdos, fazendo com que os próprios meios de massa tenham que retomar a notícia. “Essa interatividade já tem levado emissoras de TV, rádio e cinema a repensar os conceitos de audiência”, pontua.

4. A legitimidade dos conteúdos difundidos pelas redes sociais é um dos riscos dessa interatividade. Torna-se ainda mais necessária a checagem da veracidade das informações. “O conhecimento e a informação se chocam. Assim, temos mais poder de opinar e ter informações mais ricas, porque não serão apenas a informações dos meios de massa”, completa ele. O investigador finaliza dizendo que as atuais mudanças promovidas por ferramentas de relacionamento como Facebook, Twitter, Skype e YouTube farão com que esse século fique na história e seja decisivo para as mídias de massa.

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16 - Jornalismo sem jornalistas

Por Lilia Diniz, do Observatório da Imprensa - 17/09/2010 - 11h09

A propagação das chamadas mídias sociais – com suas redes de blogs e microblogs difundindo informações em ritmo alucinante – levanta a discussão sobre o papel do jornalista na sociedade contemporânea. Se o cidadão comum pode publicar notícias na internet e este conteúdo ser acessado em qualquer parte do planeta instantaneamente, a função da profissão jornalística pode ser contestada? O jornalismo será feito sem jornalistas? A sociedade irá abrir mão da contextualização dos dados exercida pelos profissionais de imprensa? Quem irá desempenhar as funções de intermediação e de análise ocupadas pelos jornalistas há mais de 400 anos? O Observatório da Imprensa exibido ao vivo na terça-feira (14/7) pela TV Brasil analisou o impacto dessas transformações no mundo virtual e na mídia tradicional.

Alberto Dines recebeu três convidados no estúdio do Rio de Janeiro. Carlos Castilho é jornalista com 40 anos de experiência em jornais, revistas, rádio, televisão e internet. Mantém o blog "Código Aberto" no site do Observatório da Imprensa, é professor de jornalismo online e cultura digital e cursa doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Sérgio Abranches, doutor em Ciência Política pela Universidade de Cornell, é pesquisador independente sobre ecopolítica e cofundador do site "O Eco", de notícias sobre meio ambiente. É comentarista da rádio CBN, onde mantém um boletim diário. Gabriela da Silva Zago é jornalista, advogada, mestranda em Comunicação e Informação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRG) e pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Interação Mediada por Computador.

Antes do debate no estúdio, na coluna "A Mídia na Semana", Dines analisou a cobertura da imprensa sobre a ameaça do desconhecido pastor norte-americano Terry Jones de queimar exemplares do Alcorão, o livro sagrado do islamismo, para marcar o aniversário dos atentados terroristas de 11/09/2001 nos Estados Unidos. Em seguida, falou sobre a entrevista do ex-ditador cubano Fidel Castro publicada pela revista The Atlantic Magazine (08/09), e comentou as denúncias de espionagem envolvendo integrantes do governo de dois países europeus: o secretário de imprensa do premiê britânico David Cameron e o presidente da França, Nicolas Sarkozy.

O novo papel do jornalista

Em editorial, Dines comentou que o conteúdo enviado por cidadãos é uma matéria-

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prima que pode ser tornar um ingrediente essencial da imprensa, desde que seja trabalhado por profissionais de veículos de comunicação. "Quando o site americano Wikileaks divulgou os milhares de documentos secretos sobre operações militares no Iraque e Afeganistão e, ao mesmo tempo, negava que fosse uma organização jornalística, estabeleceu-se nova e fascinante discussão: qualquer informação é uma informação jornalística?", questionou. Outro ponto levantado no editorial foi o voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, no julgamento da extinção da exigência do diploma em Jornalismo para o exercício da profissão (17/06/2009). Dines classificou a posição do ministro como "grotesca" ao comparar jornalistas a mestres de cozinha.

A reportagem exibida pelo programa mostrou diferentes opiniões. Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, acredita que a internet torna a busca por informação mais rica, mas ponderou que na maioria das vezes não há critério no recolhimento dos dados. Empresas jornalísticas e organizações não-governamentais que coletem informações sistematicamente de forma rigorosa, na visão de Abramo, podem ajudar o público a se informar. "Não adianta ficar circulando por aí por milhões de lugares na internet para colher informações, porque em geral só vai encontrar é lixo", advertiu.

Adriana Vasconcelos, repórter do jornal O Globo baseada em Brasília, analisou o poder das mídias sociais no cenário político eleitoral. "O candidato percebeu que com o Twitter ele teria o poder de ele próprio divulgar a informação sem nenhum intermediário, que no caso é o jornalista. O caminho da notícia era tradicionalmente a fonte, o jornalista e a divulgação através de um jornal, uma tevê, uma rádio e até da internet. Com o Twitter, o político começou a gostar de dar a notícia em primeira mão, tanto que alguns furos são dados pelo Twitter", explicou.

Limites e fronteiras pós internet

Para o jornalista Matinas Suzuki, em tese não pode haver limite para a investigação jornalística, mas é preciso respeitar o limite ético da atividade. "Tem o limite do contexto, o limite da ética, e você tem que ponderar entre estes dois momentos", sublinhou. Matinas avalia que o crescimento dos blogs deixou mais imprecisa a fronteira entre o que é uma notícia claramente produzida por jornalistas e uma informação dada pelo cidadão comum. "Nós não temos ainda, por ser uma atividade nova, um consenso para essa mudança. Mas acho que temos que olhar esta nova possibilidade sem condená-la de antemão", disse.

Uma pesquisa realizada em 2008 com 100 jornalistas em diversas capitais apontou que cerca de 80% deles já usavam blogs como fontes de informação. Carina Almeida, sócia-diretora da empresa que realizou o estudo, ressaltou que a internet está mexendo em todos os negócios do mundo e não vai ser diferente na área da Comunicação. "Se está mexendo com a Comunicação está mexendo na nossa profissão de jornalista, no nosso

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negócio do outro lado do balcão, das assessorias, das agências. Eu acredito que o papel do jornalista vai mudar porque hoje há mais pontos de vista. É mais democrático hoje o acesso à informação", disse. Carina ponderou ainda que o cidadão continuará precisando de "um norte, de uma avaliação" que só o jornalista poderá fazer, sobretudo devido à grande quantidade de informação postada na internet.

O escritor Braulio Tavares ressaltou que a informação está sendo recebida e distribuída de forma mais democrática. "Isto de certa forma está tirando um pouco o papel importante que os jornais, rádios, e televisões tiveram ao longo da nossa vida", avaliou. O Tavares vê como positiva esta pulverização: "A informação se produz e se propaga de uma maneira quase indisciplinada. Mas nós estamos entrando em uma época de maior liberdade, de maior acesso à informação para os leitores, e há a possibilidade de que os leitores se transformem em escritores de informação também".

Questão ética

Para Suzana Blass, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, as mídias sociais têm hoje um importante papel. São ferramentas de divulgação da informação, mas não têm um compromisso jornalístico. "O ofício do jornalismo, a função do jornalista, é muito mais do que divulgar uma informação ou comunicar alguma coisa que acontece ao seu lado ou no seu ambiente. É uma questão muito mais ampla. Quando a gente fala em jornalismo, está falando em contextualização de fato, está falando em você ver em que implica aquilo que você está cobrindo, quais as conseqüências. Há uma série de regras que o ofício de jornalista carrega", destacou.

O Observatório mostrou a história do estudante Rene Silva dos Santos, um exemplo de como o jornalismo está sendo produzido sem jornalistas formados, principalmente em locais onde a mídia tradicional não tem penetração. Aos 11 anos, Rene montou um pequeno jornal com notícias sobre o Complexo do Alemão, onde vive, um dos locais mais violentos do Rio de Janeiro. "Eu moro na comunidade, eu sei a rotina do que acontece todos os dias. Não tem como eu falar uma coisa que não é real. A imprensa vai lá, fica uma hora e saem. E continuo 24 horas dentro da comunidade", explicou Rene. Cinco anos depois, o jornal A Voz da Comunidade cresceu, conta com 16 páginas, circula de 2 mil exemplares por mês e tem uma extensa lista de anunciantes do comércio local.

No debate no estúdio, Dines relembrou como mostrava aos seus alunos do curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) a diferença entre o dado bruto e a informação contextualizada e checada: levava um catálogo telefônico para a primeira aula. "Eu dizia assim: ‘o que é isto? Isto é um acervo formidável de nomes e números supostamente corretos, mas isto são dados’. Aí eu puxava a edição do Jornal do Brasil do dia e perguntava: ‘o que é isto? Isto são informações jornalísticas’", lembrou.

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Ofício em permanente mutação

Para Carlos Castilho, é preciso observar as transformações pelas quais a atividade jornalística vem passando em decorrência do crescimento da internet. Não é possível um jornalismo sem jornalistas, mas a função deste profissional hoje é diferente. "Antes, o jornalista tinha o controle total do processo da informação. Hoje ele não tem mais. O fato de não ter mais o controle total o coloca em uma situação absolutamente nova, o que obriga o jornalista a ter que conviver com esta multiplicação de fontes de informação que se materializa no fenômeno dos blogs e mais ainda no fenômeno do twitter", afirmou.

A internet, na avaliação do jornalista, produz uma avalanche de dados, mas não necessariamente de informações contextualizadas. Castilho disse que o jornalista é "o sujeito que profissionalmente sabe tratar a informação", enquanto as redes socais oferecem matéria-prima bruta. Gabriela Zago, autora de uma pesquisa sobre a informação nas mídias sociais, disse que nessas redes os dados são rasos, não são submetidos a critérios jornalísticos e há um grande número de notícias falsas em circulação. "A informação que circula nas redes sociais ainda precisa ser transformada para poder gerar conhecimento. É um dado que será transformado em uma informação jornalística", disse.

Sérgio Abranches avaliou que a internet é uma plataforma útil e citou como exemplo a cobertura da Conferência de Copenhagen sobre o clima. "O twitter era usado por jornalistas, militantes ambientalistas e por dirigentes políticos. Os dirigentes substituíram a coletiva para a imprensa pelo twitter. Estavam no meio de uma negociação tensa, queriam influenciar e tuitavam o que estava se passando naquelas reuniões fechadas às quais os jornalistas não tinham acesso. Os ambientalistas faziam pressão e os jornalistas colocavam no twitter tudo o que eles sabiam que iria perecer." Para Abranches, o ofício de jornalista continua sendo útil, principalmente para checar a grande quantidade de informações falsas e rumores que circulam na rede.

***

18 .O exercício do jornalismo

Alberto Dines # editorial do Observatório da Imprensa na TV nº 563, no ar em 14/9/2010

Bem vindos ao Observatório da Imprensa.

A imprensa deve gerar debates sobre todos os temas que noticia, é a sua obrigação funcional, pública. Mas hoje a imprensa e o jornalismo converteram-se eles mesmos em foco de grandes controvérsias. É ruim? Ao contrário, é extremamente salutar.

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Quando o site americano Wikileaks divulgou os milhares de documentos secretos sobre operações militares no Iraque e Afeganistão e, ao mesmo tempo, negava que fosse uma organização jornalística, estabeleceu-se nova e fascinante discussão: qualquer informação é uma informação jornalística? Em outras palavras: é possível fazer jornalismo sem jornalistas?

Os cidadãos que mandam fotos, vídeos e informações sobre fatos que testemunharam também não são jornalistas, mas esse material devidamente trabalhado por profissionais torna-se um ingrediente essencial da imprensa.

Significa que a indústria jornalística, como todas as demais indústrias, precisa de matéria-prima, ferramentas e trabalhadores especializados, mas só o produto final, acabado, pode ser considerado jornalismo.

A internet e depois as redes sociais esquentaram a discussão. Mas também a mídia tradicional envolveu-se na questão. Exemplo: quando uma emissora de TV convoca uma atriz para apresentar um programa jornalístico não está engrossando o coro dos que acreditam que o exercício do jornalismo não requer jornalistas para o seu exercício?

Uma contribuição decisiva a esta doutrina foi oferecida no ano passado pelo ministro do STF Gilmar Mendes, ao estabelecer a grotesca comparação entre jornalistas e mestres de cozinha. Segundo ele, não são profissões, são atividades que podem ser exercidas por qualquer um com um pouco de prática.

Este é um bom debate, sobretudo em temporadas eleitorais.

***

A mídia na semana

** O retorno do comandante Fidel Castro não poderia ser mais surpreendente: ele venceu a morte, está cheio de vida, brincalhão e deu uma entrevista à revista americana The Atlantic que já produziu algumas manchetes e certamente provocará muitas outras. Reconhecer que o modelo econômico cubano está superado não é novidade, mas o puxão de orelhas que deu no presidente iraniano Ahmadinejad poderá mudar muita coisa no Oriente Médio. O antigo radical voltou em grande estilo – como um conciliador.

** A histeria da ultradireita americana não tem limites e encontrou nas redes sociais o veículo ideal para vazar o seu ressentimento: um desconhecido pastor da Flórida ameaçou queimar exemplares do Alcorão no nono aniversário do ataque terrorista de Bin Laden às Torres Gêmeas. A notícia espalhou-se rapidamente pelo mundo islâmico e não fosse a pronta intervenção do presidente Obama, dos seus chefes militares, do papa

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e líderes políticos do mundo inteiro, a loucura do pastor Terry Jones poderia ter provocado uma guerra santa mundial.

** A arapongagem globalizou-se: o secretário de imprensa do premiê britânico David Cameron foi denunciado pela imprensa porque quando dirigia um jornal sensacionalista mandou grampear os telefones de dezenas de pessoas, inclusive da casa real. O primeiro ministro acusou a imprensa de politizar um episódio acontecido há três anos. Em pior situação está o presidente da França Sarkozy, que está sendo pessoalmente acusado pelo prestigioso Le Monde de mandar espionar os jornalistas que investigavam as denúncias de que recebera doações ilegais da bilionária Liliane Bettencourt para sua eleição. Berlusconi já fazia isso há muito tempo.

(Envolverde/Observatório da Imprensa)

17 . A comunicação pública e o direito à informação Paulo Machado – Jornalista

O sociólogo Darcy Ribeiro disse que nas sociedades indígenas originais, antes do contato com o homem branco, numa aldeia todos eram iguais. Um dos princípios desse igualitarismo estava baseado no fato de que a informação necessária para que o indio sobrevivesse era aberta a todos, ninguém se apropriava da informação para transformá-la em poder político ou econômico. A não-apropriação da informação era um dos fundamentos daquelas sociedades igualitárias.

Se todos nós temos como meta chegar a uma sociedade menos desigual, todos temos de lutar contra todas as formas de apropriação da informação. Para isso precisamos responder a duas perguntas fundamentais: A quem pertence a informação? Quem se apropria dela como se fosse uma mercadoria?

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Para responder a essas e outras perguntas precisamos entender um pouco como o Estado se inseriu no processo de globalização, mas para entender isso precisamos conhecer como isso aconteceu, e para conhecer precisamos de informação. No controle do acesso à informação, está o ponto de partida e de chegada da era da informação em que vivemos.

Os Estados nacionais têm atuado no sentido de favorecer esse controle por parte de alguns grupos privilegiados em detrimento da maioria da população.

Isso se dá porque os Estados perderam efetividade ao ficarem superados no exercício de parte de suas atribuições – dentre elas há que se destacar a sua responsabilidade em promover o bem-estar social e a redução dos desequilíbrios sociais, políticos e econômicos. A ineficiência do Estado no contexto da globalização demonstra claramente que o Estado, como sujeito soberano, está em crise.

O Estado é grande demais para a maior parte de suas funções administrativas e pequeno demais no que se refere às funções de governo, de tutela do processo de internacionalização da economia e de interdependência que condicionam de forma irreversível a vida de todos os povos do mundo.

Os Estados sempre tiveram dificuldade em acompanhar o ritmo das mudanças promovidas pelos atores privados do capitalismo. Sua função de regular, de fiscalizar e de controlar essas mudanças sempre esteve muito aquém da necessidade real de sua intervenção em favor dos interesses nacionais e dos interesses da cidadania.

Da associação atual entre Estado e capitalismo, este último levou a melhor. O capitalismo atual é mundial, transnacional e inclusive supranacional.

Da mesma forma que não conseguimos separar mais onde termina o Estado e começa o capitalismo, também não conseguimos mais separar o Estado da globalização, a tal ponto que podemos afirmar que esta última não existiria sem que o Estado lhe propiciasse os meios para a sua existência.

Isso levou à mudança da autoridade do Estado para a autoridade do mercado, devido, em grande parte, às próprias políticas estatais. Não que as megacorporações tenham

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precisado roubar ou furtar do Estado o poder – ele foi dado de bandeja a elas, sob a alegação de “razões de Estado”.

Não se trata de uma questão nova, e sim de um problema que vem se agravando pelas transformações recentes.

É evidente que sem a adoção de políticas públicas compatíveis com o funcionamento de uma economia global, a combinação entre tecnologia e organização corporativa não haveria tido os efeitos hoje conhecidos em matéria de globalização.

Essas políticas públicas foram formuladas, desenhadas e aplicadas no contexto de programas de estabilização e de ajustes ou de reformas estruturais de caráter liberalizante, com vistas à busca de maior eficiência, flexibilidade, competitividade externa e capacidade produtiva das economias nacionais.

O conjunto dessas políticas, conhecido como “consenso de Washington”, engloba a desregulamentação financeira, a liberalização comercial, as privatizações e as reformas tributária, sindical, trabalhista e previdenciária, entre outras medidas.

Com relação à revolução tecnológica podemos afirmar que os Estados sempre tiveram um papel decisivo na criação de condições que permitiram o progresso da ciência e da técnica. Esse progresso trouxe consigo uma nova era: a era da informação.

Todos sabemos que no mundo hoje, mais do que nunca, informação é poder.

Em tempos feudais, a Igreja católica, soberana absoluta, tentou de toda maneira manter para si o monopólio da impressora de Gutenberg, pois ela sabia que ali estava o meio necessário para a democratização do conhecimento. Controlar a impressão de livros era controlar o acesso à informação e esse controle era vital para a manutenção de seu poder absoluto.

Felizmente a igreja perdeu essa disputa, os livros foram impressos, primeiro aos milhares, depois aos milhões. O conhecimento e a informação se propagaram e o poder hegemônico da Igreja ruiu, em grande parte, devido a isso.

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Hoje, a manutenção do poder do mercado passa pela disputa do controle ao acesso à rede mundial de computadores. Quem controlar esse acesso controlará a informação e isso é vital para que o mercado mantenha seu poder absoluto sobre os Estados nacionais, os governos e os povos de todas as nações do mundo. Essa disputa está colocada na ordem do dia no mundo e particularmente aqui no Brasil, neste momento.

Em função disso o mercado se apressou em controlar as telecomunicações em nosso país. Durante a década de 90 assistimos aos escândalos conhecidos como a privatização das teles, em que o Estado brasileiro financiou, com dinheiro público, operações suspeitas e mantidas sob sigilo da maioria do povo brasileiro, para a aquisição de nossa infra-estrutura de telecomunicações por parte de grupos privados nacionais e transnacionais. Essas operações até hoje não foram devidamente esclarecidas.

O sistema financeiro internacional sabe usar o poder da informação como ninguém. Ele depende disso para garantir sua sobrevivência. Os financistas acumularam nos últimos anos o montante de 20 trilhões de dólares graças a esse controle da informação.

Graças à velocidade com que as informações sobre a economia trafegam pela rede mundial de computadores, 8 trilhões de dólares – dinheiro equivalente a um PIB norte-americano, ou seja, toda a riqueza produzida pela nação mais rica do mundo durante um ano – circulam pelo globo a cada dia à procura de melhores rendimentos.

São informações privilegiadas sobre governos, sobre empresas e sobre a produção a que algumas pessoas têm acesso para acumular riquezas.

Mas o cidadão não tem acesso sequer a informações básicas sobre seus direitos. O cidadão não sabe que o Estado transferiu parte de seu poder para o mercado.

Avanços tecnológicos foram apropriados por alguns poucos “players” do mercado, que os colocaram a serviço do sistema financeiro. Eles permitem a mobilidade dos capitais e a liberalização do câmbio, combinando-se para reduzir consideravelmente os meios de intervenção do Estado sobre o valor da moeda, que passou a ser determinado pelo mercado financeiro mundial.

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De fato o poder crescente dos especuladores reforça a certeza de que estamos vivenciando hoje um capitalismo de cassino. O sistema financeiro parece mais um grande salão de jogos onde a sorte das nações é jogada numa grande roleta. Alguns poucos sempre ganham nesse jogo, a maioria da humanidade sempre perde.

Nesse jogo, um ataque especulativo a uma moeda pode reduzir à metade o valor da safra de um país, pode fazer um exportador sair de seu negócio antes que tenha chance de vender sua mercadoria.

A instabilidade financeira internacional decorre do surgimento dessa nova forma de moeda, reduzida à pura informação eletrônica, transmitida de maneira instantânea e simultânea por redes privadas de computadores através do espaço cibernético.

Esse dinheiro eletrônico é essencialmente apátrida, circula em escala global na busca constante de melhores rendimentos.

O surgimento deste “dinheiro virtual” só foi possível graças à revolução tecnológica que propiciou a mobilidade das informações e ao fato de que na globalização as finanças estão cada vez menos relacionadas à produção.

Esse dinheiro é mais virtual do que real, já que ele não está sendo criado por meio de atividades econômicas, tais como investimento, produção ou comércio de bens e serviços mas pela simples compra e venda de papéis.

Ele cruza as fronteiras mediante fluxos financeiros que têm total independência da base econômica, têm total autonomia em relação ao desempenho real das economias nacionais e completa insubordinação aos governos e aos Estados nacionais.

E é exatamente por não ter nenhuma função econômica que esse dinheiro virtual possui mobilidade tão grande – bilhões desse dinheiro podem ser transferidos de uma moeda para outra por um “trader” apertando alguns botões em um teclado.

Assim, esses operadores do mercado financeiro fazem da antiga soberania das nações uma retórica vazia, tendo em vista que controlam e manipulam a política econômica dos estados nacionais.

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Uma parte desse dinheiro virtual financia as dívidas interna e externa das nações e das empresas e com isso as mantém reféns de seu capital.

Assim, uma parcela de lucro do mercado financeiro é assegurada pelos Estados, institucionalmente, através de taxas de juros elevadas, do controle acirrado da inflação e da manutenção do superávit primário estabelecidos por força de lei e fielmente cumpridos nos orçamentos anuais.

Nas nações submetidas às regras do mercado financeiro os seus governos são avaliados segundo um conjunto de normas chamado risco país. Se a nota é boa significa que o capital virtual naquele país está garantido pelo governo e pelo Estado, que se comprometem a pagar em dia suas obrigações, fazendo o dever de casa, garantido a remuneração do capital com juros elevados, controle da inflação – para que o capital virtual não se desvalorize enquanto passa pelas fronteiras da nação –, e garantem também uma crescente oferta de mercadorias para os especuladores negociarem no mercado internacional.

Essa riqueza é virtual, mas está baseada em um poder real – o poder da informação e da contra-informação.

Informação e contra-informação produzida em grande parte pelos veículos de comunicação e que trafega digitalmente pelos meios controlados pelas empresas de telecomunicações.

Para manter o controle das regras do jogo e do próprio jogo, o mercado financeiro sabe que precisa manter o controle da informação e para isso precisa manter o controle dos veículos de comunicação e das empresas de telecomunicações.

Por isso, hoje, todos os grandes conglomerados de comunicação e de telecomunicações têm como acionistas estratégicos empresas do setor financeiro. Inclusive aqui no Brasil.

O controle da informação passa pelo controle do que vai ao ar pelas TVs, pelas rádios, pelos jornais e pelas agências de notícias.

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O mercado precisa manter os dogmas e renovar a cada dia a fé nesses dogmas. Uma fé que é apregoada diariamente nos templos da mídia. Ela se renova por meio da veiculação de pequenas e aparentemente inofensivas notas divulgadas pela imprensa – é a cotação da dólar, é o risco país, é a balança comercial, são números fragmentados, quase imperceptíveis, mas que, somados, formam a imagem do governo para o mercado financeiro internacional.

Não é por acaso que essas informações aparecem todos os dias, várias vezes ao dia, em quase todos os telejornais e nos principais veículos da mídia.

Informações que sempre vêm acompanhadas de adjetivos sutis como estabilidade, segurança, calmo ou nervoso, tranqüilo ou agitado, ligeira alta, leve baixa, favorável –utilizados para induzir o cidadão a confiar ou não na política econômica do governo. Elas mostram que o governo tem a função precípua de não irritar o mercado financeiro, de não contradizê-lo, de não questionar seus objetivos.

Esse tipo de informação faz o cidadão acreditar que o mercado financeiro é quem sabe o que é bom ou ruim para ele. O cidadão passa a atribuir ao mercado financeiro o poder de avaliar seu próprio governo. O cidadão adota para si os critérios de avaliação do mercado financeiro para saber se a política econômica é boa ou ruim.

Esse é o poder do dogma, esse é o poder da fé cega que faz o cidadão desistir de discutir a política econômica de seu país, de avaliar se ela está agindo contra ou favor de seus interesses pessoais e coletivos.

Dogmas e fé são ingredientes indispensáveis para manter uma crença. A crença em algo que não existe – o dinheiro virtual criado pelo mercado financeiro. Essa riqueza etérea que pode evaporar de uma hora para outra.

Insisti nesse tema até agora para deixar claro para os senhores e senhoras que todo esse dinheiro que abunda no mercado financeiro é o mesmo que falta para que o Estado e o governo cumpram parte de suas funções para com o cidadão.

Nesse quadro, os veículos de comunicação são fundamentais como canais pelos quais trafegam informações. Informações que não podem ser omitidas da cidadania.

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Informações sobre os direitos que estão na Constituição. Informações sobre o funcionamento de nossas instituições, de nossos governos, de nosso Estado nacional e de como estamos inseridos no processo de globalização.

Felizmente temos uma democracia suficiente para que a sociedade civil se organize, para que ocorra esse debate, para que se veiculem informações essenciais à tomada de consciência dos direitos e deveres do cidadão.

É crescente relação entre informação e conhecimento, e do papel-chave que este último desempenha como fator de poder nas sociedades contemporâneas. Tanto isso é verdade que o controle da informação, sua disponibilidade e seu acesso constituem hoje questões estratégicas tanto para empresas quanto para nações, mas principalmente para o cidadão, embora ele ainda pouco se tenha dado conta.

Por outro lado, é também sabido o poder de longo prazo que a informação e os veículos de comunicação têm na construção da realidade pela representação que fazem dos diferentes aspectos da vida humana.

A maioria das sociedades contemporâneas podem ser consideradas como centradas no poder da informação, vale dizer, sociedades que dependem desse poder – mais do que da família, da escola, das igrejas, dos sindicatos, dos partidos políticos e de suas instituições – para a construção do conhecimento público que possibilita, a cada um de seus membros, a tomada cotidiana de decisões.

É por isso que não se pode reduzir a importância da informação e das comunicações apenas ao entretenimento e à diversão, como muitas vezes se faz. Elas não são canais neutros. Ao contrário, são construtoras de significação. E é também por isso que a concentração da propriedade e do controle das comunicações é uma questão que ultrapassa muito a dimensão econômica.

Aqui no Brasil, nos próximos meses vencem as concessões de 28 emissoras de TV e 153 emissoras de rádio.

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Para renovar as licenças de funcionamento, cada concessão é avaliada pela Comissão de Constituição do Congresso, que pode interromper a licença em caso de má qualidade técnica, desrespeito às leis trabalhistas e aos direitos previdenciários, entre outros.

Mas esses critérios de avaliação são insuficientes. O governo também precisa avaliar a qualidade do produto oferecido pelas emissoras – ou seja, a sua programação e o conteúdo veiculado. Em prol de um maior faturamento, as empresas estão deixando de lado os critérios de maior qualidade e investindo em produtos de baixa qualidade.

As televisões têm suas concessões avaliadas a cada 15 anos e as rádios, de dez em dez anos.

As normas para a concessão de outorgas para emissoras de rádio e TV precisam ser revistas para resultar em um sistema mais transparente e que leve em conta o interesse da população.

Estudiosos da comunicação ao lado de organizações da sociedade civil estão defendendo a necessidade de mudanças nas normas que regem as outorgas de rádio e televisão.

A providência mais urgente a ser tomada é que o Congresso Nacional leve em conta, ao votar as concessões e as renovações de outorga, se as emissoras estão respeitando a finalidade constitucional de educar, promover a cultura nacional e respeitar os valores éticos, estabelecidas no artigo 221 da Constituição. Especialistas defendem o monitoramento pela sociedade da programação das emissoras para que elas sejam obrigadas a cumprir sua função social.

A concessão e a renovação de outorga de canais de rádio e TV no Congresso também precisam de mudanças na legislação para tornar os procedimentos mais transparentes.

Um processo de renovação das concessões chega a demorar de nove a dez anos tramitando no Ministério das Comunicações, dois anos tramitando na Casa Civil da Presidência da República e um ano na Câmara dos Deputados. Ao todo esse processo pode demorar até 13 anos.

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Além disso, já é de conhecimento da sociedade que boa parte dos congressistas brasileiros são proprietários de empresas de comunicação, em franco desrespeito à legislação vigente. Esses senhores legislam em causa própria ao concederem a si mesmo outorgas de rádio e televisão.

No cenário da globalização contemporânea, a conseqüência mais evidente da convergência tecnológica no setor de comunicações é a enorme e sem precedentes concentração da propriedade, provocando a consolidação e a emergência de um reduzido número de megaempresas mundiais. Ademais, a onda internacional liberalizante de privatizações e desregulamentação, acelerada nos últimos anos, vem provocando uma avalanche de aquisições, fusões e joint ventures envolvendo Estados nacionais, bancos, grandes empreiteiras e empresas transnacionais privadas, estatais e mistas.

O padrão universal de concentração da propriedade e presença das megaempresas internacionais encontra no Brasil um ambiente historicamente acolhedor. Os nossos homens de comunicação se estabeleceram oligopolísticamente. O rádio e a televisão constituem um sistema organizado em torno de algumas poucas redes controladas por algumas poucas famílias em associação com alguns grandes bancos nacionais e estrangeiros.

A propriedade e o controle das nossas telecomunicações, até recentemente monopólio do Estado, foram transferidos para oligopólios privados e a indústria de informática, depois de uma frustrada tentativa de reserva de mercado para as indústrias nacionais, consolida-se pela presença no mercado das megaempresas mundiais da área.

Como resultado desse processo de concentração da propriedade dos veículos de comunicação no Brasil encontramos a concentração horizontal com a monopolização ou oligopolização dentro de uma mesma área do setor, a concentração vertical, na qual ocorre a integração das diferentes etapas da cadeia de produção e distribuição, a propriedade cruzada, em que um mesmo grupo controla diferentes mídias do setor de comunicações. Por exemplo: TV aberta, TV por assinatura, rádio, revistas, jornais e, mais recentemente, telefonia, provedores de Internet e transmissão de dados e ainda o monopólio em cruz com a reprodução, em nível local e regional, dos oligopólios da "propriedade cruzada".

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Digo isso porque esse quadro de concentração dos meios de comunicação pode se tornar uma ameaça à liberdade de expressão, vital para o funcionamento da democracia.

Estamos caminhando a passos largos para um momento histórico da era da informação. Graças aos avanços tecnológicos, as diferentes mídias estão podendo convergir facilitando ainda mais o acesso à comunicação e à informação. A digitalização das comunicações é uma realidade que bate à nossa porta.

Dependendo da maneira como a nação brasileira conduzir esse processo poderemos viver um novo século de luzes ou de escuridão.

Cabe à cidadania se posicionar pelo cumprimento dos princípios constitucionais do direito à informação.

Os senhores e as senhoras assistirão no decorrer dos próximos meses a uma ferrenha batalha por esses direitos no Congresso Nacional por ocasião da votação da lei que criará o sistema público de comunicações.

Será um momento histórico em que o Estado brasileiro tentará tomar para si tarefas que ele adiou por muito tempo com a criação de uma alternativa pública e consistente para o cidadão se informar, se educar, ter acesso ao conhecimento e reafirmar sua identidade cultural.

É o principio de uma revolução na qual o cidadão retoma poderes inalienáveis no processo de construção da democracia.

Outro momento que quero assinalar ocorrerá daqui a poucos meses.

Imagine-se sentado no sofá de sua casa. Você segura nas mãos o seu controle remoto. À sua frente, o aparelho de televisão.

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Você assiste a um programa de entretenimento, mas sabe que dentro de instantes terá início, dois canais adiante, um importante telejornal.

Você pega o controle remoto, aponta-o para a sua TV e aperta os botões que trarão o jornal ao seu sofá.

Na televisão, nada de notícias. Apenas uma tela preta com um texto em branco:

A SUA TELEVISÃO NÃO POSSUI OS REQUISITOS RECOMENDADOS PARA EXIBIR ESSE PROGRAMA.

Nesse exato momento, você descobre que não pode assistir ao telejornal porque o seu aparelho de TV é incompatível com a emissora proprietária do telejornal, porque ela mantém acordo com outro fabricante. Parece ficção? Não é.

Isso seria difícil de ocorrer no mundo analógico da comunicação, mas é mais comum do que você imagina no mundo digital.

Estamos vivendo um paradoxo contemporâneo, bem ao sabor desta era em que promover a liberdade e fazer a guerra não são tarefas antagônicas. Era esta que permite ao mesmo tempo a um conglomerado de comunicação defender a liberdade de expressão e utilizar uma plataforma tecnológica excludente.

A liberdade é o tecido sobre o qual cosemos a informação e o conhecimento em uma sociedade democrática. Qualquer tentativa de restringir, cercear ou censurar o livre fluxo de produção e transmissão de informações é atentar contra o direito que todo o cidadão tem de informar e ser informado: o direito que todos temos à comunicação.

Esse raciocínio pode soar abstrato, mas quando pensamos no exemplo citado, ele se revela bem concreto.

19..A REGULAÇÃO DA MÍDIA NA AMÉRICA LATINAUma polêmica ronda a América Latina. Ela toca em pontos sensíveis e várias ordens de interesses. Trata-se das propostas envolvendo a

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elaboração de novas legislações para os meios de comunicação em alguns países do continente.Isso acontece especialmente na Venezuela, Argentina, Equador e Bolívia. No Brasil ainda não há uma decisão de governo a respeito.O pano de fundo é a mudança no panorama político continental a partir da virada do século. Em alguns países há uma reação ao modelo de matiz liberal, adotado nos anos 1980-90. Assim, as disputas em torno da comunicação envolvem diversas concepções políticas.A área de comunicações tem se mostrado particularmente sensível às demandas por novas regras de funcionamento. As empresas de mídia, por lidarem com difusão de ideias, valores e abordagens subjetivas, alegam que a pretensão dos que advogam a criação de novas normas é implantar a censura e o cerceamento à livre circulação de ideias. Os defensores das mudanças afirmam o contrário. Dizem que o setor é monopolizado e que um novo pacto legal teria por base a defesa de um pluralismo de opiniões.Além disso, uma série de progressos técnicos tornou obsoletas as políticas públicas de comunicação estabelecidas há mais de duas décadas.As primeiras legislações sobre meios de comunicação no continente foram criadas no período do nacional desenvolvimentismo, entre os anos 1930 e 1960, tendo como marca inspiradora a estratégia de substituição de importações. Seus pressupostos básicos eram a definição do espectro radioelétrico como espaço público (que funcionaria em regime de concessão à iniciativa privada) e a não permissão para que estrangeiros fossem proprietários de empresas ou meios.As políticas de abertura das economias, privatizações e enfraquecimento dos poderes de fiscalização e regulação do poder público resultaram em várias situações de hiatos legais. A constituição de agências reguladoras, de composição tripartite – Estado, empresas e sociedade civil –, em alguns casos, deixou as sociedades a mercê de oscilações e da volatilidade dos mercados.Com a entrada em cena de novas tecnologias, esse cipoal legal tende a ficar superado.TECNOLOGIA E ECONOMIAHá em curso um processo de internacionalização das empresas de comunicação na América Latina. Ele obedece pelo menos duas dinâmicas, uma tecnológica e outra econômica.A primeira delas, a tecnológica, refere-se ao grande salto realizado pela microeletrônica nos últimos quarenta anos e que poderia ser sintetizado pela convergência de mídias, observada a partir da

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segunda metade dos anos 1990. Telefonia, televisão, rádio, transmissão de dados, cinema e música passaram a confluir e a se apoiar cada vez mais em plataformas comuns. No âmbito legal, isso fez com que lógicas balizadoras nas décadas anteriores, que tratam separadamente de televisão, rádio, indústria cinematográfica e fonográfica e telefonia ficassem obsoletas.Como conviver com leis que impediam a participação de estrangeiros em grupos de mídia, se as empresas de telefonia, privatizadas e desnacionalizadas, estão não apenas no mercado de internet, mas no de televisão, de radiofonia e de produção de conteúdos? Como submeter tais empresas às jurisdições nacionais?A segunda variável dessa equação tem contornos na dinâmica da economia. A abertura dos países do sul do mundo à globalização, através dos pontos definidos pelo Consenso de Washington (1989), acarretou ampliação da liberdade de circulação de capitais, incremento de investimentos em carteira, compra de empresas, joint-ventures e fusões de toda ordem.Ativos negociados nas grandes bolsas internacionais mudam rapidamente de mãos e sociedades são feitas e desfeitas com a rapidez de um impulso eletrônico. Acionistas majoritários tornam-se minoritários da noite para o dia. Na lógica dos negócios, não haveria razões para que empresas de comunicação seguissem senda diversa.DESTERRITORIALIZAÇÃO DAS EMPRESAS Outra novidade da invenção da tecnologia digital e das redes virtuais é a desterritorialização das empresas de comunicação.Até o advento da revolução digital (1980- 90) as empresas de comunicação precisavam estar sediadas no país em que operavam. Não se tratava apenas de uma exigência legal, baseada no ideário do nacional- -desenvolvimentismo. Toda uma teia de negócios, especialmente aqueles ligados à publicidade e ao financiamento dos meios, estava ancorada em fronteiras definidas.Agora, um provedor de internet, um sítio, portal ou uma emissora de TV a cabo pode emitir conteúdo de qualquer parte do globo para qualquer país, sem necessidade de antenas transmissoras ou equipamentos sofisticados.O problema central é que os provedores de internet e as emissoras de TV a cabo não são classificáveis como empresas produtoras de conteúdo informacional pelas antigas legislações.A privatização das teles na América Latina, nos anos 1980-90, abriu uma caixa de Pandora. Foram vendidos monopólios de telefonia do Estado. É possível que os governantes que patrocinaram tais ações

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não vislumbrassem estar às portas de uma reviravolta tecnológica que possibilitaria a convergência de mídias e ultrapassaria as fronteiras.As empresas de telefonia, por exemplo, que nos anos 1990 tinham a seu cargo apenas a comunicação de voz à distância, consolidaram-se, duas décadas depois, como os maiores provedores de internet da região e apresentam um poder de fogo dificilmente igualado por qualquer rede de TV tradicional.Atualmente televisão, rádio, telefonia, cinema, literatura, audição musical, transmissão de dados, instrumentos de navegação e outros podem ser captadas por um mesmo smartphone. Mas cada uma daquelas funções obedece a regras específicas.Provedores de internet apresentam tecnologia para produzir e transmitir conteúdos. Como os provedores não estão enquadrados nas antigas normas legais, suas atrações podem ser produzidas em qualquer parte do mundo e enviados, com características locais, a qualquer país. Ao mesmo tempo, como as empresas globais possuem representações também em cada país, uma complicada cadeia de brechas nas antigas regulações foi aproveitada para legalizar as novas firmasCEPAL E IPEAEm 2003, a Cepal (Comissão Econômica da América Latina e Caribe), órgão da ONU, lançou o livro Los caminos hacia uma sociedad de la información em América Latina y el Caribe.Embora defasado no quesito tecnologia, o estudo de 130 páginas busca dar conta das implicações da convergência tecnológica, dos marcos regulatórios até então existentes, do financiamento e do capital humano, entre outros. Segundo o documento:“O ponto de partida na tarefa de criar um marco regulatório para a sociedade da informação é o respeito pelos direitos humanos fundamentais”.O pesquisador argentino Martin Becerra, em entrevista concedida em outubro de 2011, comenta a situação da América Latina diante do novo quadro do setor. Para ele,“Na América Latina, há uma falta de tradição no controle estatal da regulação sobre os meios de comunicação, se comparamos com a situação da Europa ou da América do Norte. (...) Uma perspectiva democratizadora deveria orientar a ação do setor dos meios de comunicação à regulação equânime, pública, transparente e equitativa”.Os pesquisadores do Ipea Fernanda De Negri e Leonardo Costa Ribeiro, publicaram no boletim Radar Ipea nº 7, de outubro de 2010, um artigo intitulado “Tendências tecnológicas mundiais em

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telecomunicações – Índice de medo do desemprego”. De acordo com eles,“Recentemente, um estudo realizado pela Comissão Europeia mostrou que grande parte da distância existente entre Estados Unidos e Europa em termos de investimentos privados em P&D se deve ao setor de TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação).O setor privado norte-americano investe 1,88% do produto interno bruto (PIB) em P&D, contra 1,19% do setor privado europeu. No setor de TICs, estes investimentos são de 0,65% do PIB nos EUA e 0,31% na Europa. (...) No caso brasileiro, as diferenças – em termos de recursos alocados em P&D – em relação aos EUA e à Europa são ainda mais marcantes. O setor privado brasileiro investe, segundo dados de 2008 do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), cerca de 0,5% do PIB em P&D, entre os quais apenas 20%, ou 0,1% do PIB, são realizados pelos setores de TICs.AS NOVAS LEISNa Venezuela (2000), na Argentina (2009) e na Bolívia (2011) foram aprovadas normas para regulamentar a atividade de comunicação. No Equador, em dezembro de 2011, a Assembleia Nacional discutia novas regras para o setor. O México possui uma legislação aprovada em 1995, que não impõe restrições ao capital externo. No Brasil, o debate sobre uma nova legislação faz parte da demanda de diversos setores sociais. Mas ainda não entrou na pauta político-institucional do país.ARGENTINAA legislação mais abrangente e detalhada para o setor de comunicações dos anos recentes foi promulgada na Argentina, em 2009. A própria presidente Cristina Kirschner presidiu reuniões na Casa Rosada com líderes sindicais e estudantis, proprietários de empresas de comunicação, produtores independentes, reitores de universidades, diretores e professores das faculdades de comunicação, líderes de igrejas e associações de rádios e televisões comunitárias para apresentar ideias e sugestões.A Ley de Medios, promulgada em outubro de 2009, é longa – 166 artigos – e cheia de remissões a outras normas. Ela representa uma resposta ousada à supremacia dos meios de comunicação no jogo político, social e cultural da atualidade. A Ley propõe mecanismos destinados à promoção, descentralização, desconcentração e incentivo à competição, com objetivo de barateamento, democratização e universalização de novas tecnologias de informação e comunicação.Alguns pontos da lei argentina merecem destaque:– Democratização e universalização dos serviços;

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– Criação da Autoridade Federal dos Serviços de Comunicação Audiovisual, órgão autárquico e descentralizado, que tem a função de aplicar, interpretar e fiscalizar o cumprimento da lei;– Criação do Conselho Federal de Comunicação Audiovisual da defensoria pública de serviços de comunicação audiovisual, para atender reclamações e demandas populares diante dos meios de comunicação;– Combate à monopolização – nenhum operador prestará serviços a mais de 35% da população do país. Quem possuir um canal de televisão aberta não poderá ser dono de uma empresa de TV a cabo na mesma localidade;– Concessões de dez anos, prorrogáveis por mais dez;– Reserva de 33% dos sinais radioelétricos, em todas as faixas de radiodifusão e de televisão terrestres em todas as áreas de cobertura para as organizações sem fins lucrativos;– Os povos originários terão direito a dispor de faixas de AM, FM e de televisão aberta, assim como as universidades públicas.BOLÍVIAEm 10 de agosto de 2011, o presidente Evo Morales promulgou a Ley general de telecomunicaciones, tecnologias de información y comunicación, que estabelece um marco regulatório para a propriedade privada de rádio e televisão e garante vários direitos aos chamados povos originários. O dispositivo legal também criou um processo de licitação pública para as concessões, e estipulou requisitos a serem cumpridos pelas concessionárias privadas.A norma é menos abrangente que sua correspondente argentina, mas caminha na mesma direção: fortalecer instrumentos legais do poder público na supervisão da atividade de comunicação. Assim, o espectro redioelétrico, nos termos da lei, segue em mãos do Estado, “que o administrará em seu nível central”.A grande novidade do conjunto de normas, que envolve 113 artigos, é a distribuição de frequências por setores: Estado, até 33 por cento; Comercial, até 33 por cento; Social comunitária, até 17 por cento e Povos indígenas, camponeses e comunidades interculturais e afrobolivianas, até 17 por cento.As concessões das frequências do Estado serão definidas pelo Poder Executivo. Já para o setor comercial, haverá licitações públicas e no caso do setor social comunitário – povos originários, camponeses e afrobolivianos –,as concessões serão feitas mediante concurso de projetos, com indicadores objetivos. A lei estabelece ainda que a sociedade civil organizada participará do desenho das políticas públicas em tecnologia de telecomunicações, tecnologias de informação e

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comunicação e serviço postal, exercendo o controle social em todos os níveis de Estado sobre a qualidade dos serviços públicos.Por fim, a lei afirma que todas as instâncias de governo – federal, provincial e municipal – garantirão espaços para a organização popular exercer esse direito.VENEZUELANa Venezuela, a Lei Orgânica de Telecomunicações foi aprovada em março de 2000. Trata-se de uma norma extensa, com 224 artigos, que “estabelece um marco legal de regulação geral das telecomunicações, a fim de garantir o direito humano das pessoas à comunicação e à realização das atividades econômicas de telecomunicações necessárias para consegui-lo, sem mais limitações que a Constituição e as leis”.A lei também reserva a exploração dos serviços de telecomunicações a pessoas domiciliadas no país. O órgão responsável por supervisionar os serviços é o Ministério da Infraestrutura, e foi criada a Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel), “instituto autônomo, dotado de personalidade jurídica e patrimônio próprio (...) com autonomia técnica, financeira, organizativa e administrativa” para “administrar, regular, ordenar e controlar o espaço radioelétrico”.O tempo de concessões de frequências de rádio e televisão é estipulado para um período máximo de 15 anos, podendo ou não ser prorrogado. E foram estabelecidas sanções aos concessionários que vão de admoestação pública, multa, e revogação da concessão à prisão dos responsáveis.A nova legislação também regulamenta o mercado secundário de concessões.A subscrição de um acordo de fusão entre empresas operadoras de telecomunicações, a aquisição total ou parcial dessas companhias por outras empresas operadoras assim como a divisão ou criação de filiais que explorem os serviços de telecomunicações, quando impliquem mudanças no controle sobre as mesmas deverão submeter-se à aprovação da Comissão Nacional de Telecomunicações.BRASILNo Brasil, onde ainda vigora o Código Nacional de Telecomunicações de 1962, apesar da vigência de novas normas – como a Lei do Cabo (1994) e da Lei da TV Paga (2011) – não há uma regulação abrangente nessa área. Uma parcela expressiva da sociedade organizada (movimentos populares e entidades empresariais) e representantes do Estado realizaram, no fim de 2009, a I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), onde se destacaram seis pontos centrais: um novo marco regulatório para a comunicação, a regulamentação do artigo 221 da Constituição Federal (que trata da

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regionalização da programação da televisão), os direitos autorais, a comunicação pública (radiodifusão estatal), o marco civil da internet e a concretização do Conselho Nacional de Comunicação. São debates que ainda aguardam desfecho.

20. Entrevista

“A América Latina está em ebulição em matéria de regulação dos meios de comunicação”Conversamos com Bia Barbosa, do Coletivo Intervozes, e Dênis de Moraes, professor de Comunicação na Universidade Federal Fluminense e autor de diversos livros sobre o tema.

Desafios do desenvolvimento procurou também um representante da Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra), mas não obteve resposta. A seguir, trechos das entrevistas. Desafios do Desenvolvimento - Vários países do continente – em especial Argentina, Bolívia e Venezuela – têm aprovado novas regulamentações sobre as comunicações. Como você vê este panorama?Bia Barbosa - A atualização dos marcos regulatórios da comunicação em diferentes países da América Latina mostra vontade política dos governos e apoio da população para dar maior pluralidade e diversidade a um setor estratégico para a consolidação da democracia nesses países. Em cada uma dessas nações, ficou claro que as reformas que vinham sendo implementadas precisariam necessariamente passar também por esta área, sob o risco de direitos fundamentais como a liberdade de expressão e o acesso à informação continuarem sendo negados ao conjunto daquelas populações.Denis de Moraes - A América Latina está em ebulição em matéria de regulação dos meios de comunicação. É uma tentativa de superar a histórica letargia do Estado diante da avassaladora concentração das indústrias de informação e entretenimento nas mãos de um reduzido número de corporações, quase sempre pertencentes a dinastias familiares. Cabe ao Estado um papel regulador, harmonizando anseios e zelando pelos direitos à informação e à diversidade cultural.Desafios do Desenvolvimento - No caso brasileiro, como está esse debate?Bia Barbosa - Infelizmente, estamos distantes dos avanços conquistados na América Latina. Depois da I Conferência Nacional de

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Comunicação, realizada em 2009, com a participação do poder público em todas as suas esferas, de setores significativos do empresariado e da sociedade civil, a expectativa era a de que o governo federal colocaria em discussão pública uma proposta de novo marco regulatório. Até agora, no entanto, o anteprojeto elaborado pelo então ministro Franklin Martins continua secreto, e o conjunto das resoluções da I Confecom não saiu do papel. Recentemente o governo voltou a anunciar que em breve abrirá uma consulta pública sobre o novo marco regulatório. A sociedade civil e os movimentos populares esperam que o novo compromisso se cumpra.Denis de Moraes - O Brasil está na vanguarda do atraso em termos de regulação da mídia. A legislação de radiodifusão brasileira continua sendo uma das mais anacrônicas da América Latina. Até hoje, não foram regulamentados os artigos 220 e 221 da Constituição promulgada em 5 de outubro de 1988, que, respectivamente, impedem monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação de massa (art. 220, § 5º) e asseguram preferência, na produção e programação das emissoras de rádio e televisão, a “finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas”, além da “promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação” (art. 221, I e II). O imobilismo dos sucessivos governos chega a ser alarmante.Desafios do Desenvolvimento - Há necessidade de se regulamentar as comunicações num tempo de surgimento acelerado de novos meios?Bia Barbosa - Sem dúvida. Nossa principal legislação do setor – o Código Brasileiro de Telecomunicações – tem 50 anos. É preciso efetivar a proibição do monopólio nos meios de comunicação de massa, como previsto na Constituição Federal; consolidar um sistema público de comunicação no país; regulamentar a veiculação de conteúdo regional e independente no rádio e na TV; criar mecanismos para que a população se defenda de eventuais abusos na exploração do serviço de radiodifusão; dar transparência aos processos de concessão e renovação de outorgas; acabar com as concessões para políticos; fomentar as rádios comunitárias; etc.Denis de Moraes - É inadiável a necessidade de regular o sistema de comunicação sob concessão pública. Em primeiro lugar, devemos

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ressaltar a importância estratégica das políticas públicas de comunicação para redefinir o setor de mídia em bases mais equitativas, combatendo assimetrias que têm favorecido a iniciativa privada (hoje, predominantemente nas mãos de dinastias familiares, muitas delas associadas a corporações transnacionais). Está em questão proteger e valorizar as demandas coletivas frente à voracidade mercantil que prospera à sombra da convergência entre as áreas de informática, telecomunicações e mídia, tornada possível pela digitalização.

Fonte: Gilberto Maringoni e Verena Glass, para Desafios do Desenvolvimento

21 .Quem é o dono do mundo? www.cartamaior.com.br

Reproduzido do Carta Maior

Uma vez que ultrapassamos o marco dos estados nacionais como entidades unificadas sem

divisões internas, podemos ver que há uma mudança do poder mundial, mas a direção

dessa mudança é da força de trabalho para os donos do mundo: o capital transnacional, as

instituições financeiras mundiais. A análise é do pensador norte-americano Noam

Chomsky, que conversa nesta entrevista com David Barsamian, do ‘Alternative Radio’

David Barsamian - Data: 11/03/2013

David Barsamian – O novo imperialismo estadunidense parece ser substancialmente diferente da

variedade mais antiga, uma vez que os Estados Unidos são uma potência econômica em declínio e,

portanto, estão vendo minguar seu poder e influência política.

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Noam Chomsky – Eu penso que deveríamos assumir certa reserva ao falar sobre o declínio estadunidense.

Foi na Segunda Guerra Mundial que os Estados Unidos realmente se converteram em uma potência

mundial. O país já era a maior economia do mundo muito tempo antes da guerra, mas era uma potência

regional de certa forma. Controlava o Hemisfério Ocidental e havia feito algumas incursões no Pacífico.

Mas os britânicos eram a potência mundial.

A Segunda Guerra Mundial mudou isso. Os Estados Unidos se converteram na potência mundial

dominante. O país tinha a metade da riqueza do mundo. As outras sociedades industriais estavam

debilitadas ou destruídas, enquanto os EUA estavam em uma posição de incrível segurança. Controlavam o

hemisfério, tanto do lado do Atlântico como do Pacífico, com uma enorme força militar.

Esse poder sofreu um declínio, sem dúvida. Europa e Japão se recuperaram e ocorreu um processo de

descolonização. Por volta de 1970, os EUA acumulavam cerca de 25% da riqueza do mundo;

aproximadamente como era esse quadro, digamos, nos anos 20. Seguia sendo a potência mundial

avassaladora, mas não como havia sido em 1950. Desde 1970, essa condição está bastante estável, ainda

que tenham ocorrido mudanças obviamente.

Na última década, pela primeira vez em 500 anos, desde as conquistas espanhola e portuguesa, a América

Latina começou a enfrentar alguns de seus problemas. Iniciou um processo de integração. Os países

estavam muito separados uns dos outros. Cada um tinha uma relação própria na direção do Ocidente,

primeiro Europa e depois Estados Unidos. Essa integração é importante. Significa que não é tão fácil

dominar os países um a um. As nações latino-americanas podem se unificar para se defender contra uma

força exterior.

O outro acontecimento, que é mais importante e muito mais difícil, é que os países da América Latina estão

começando individualmente a enfrentar seus enormes problemas internos. Com seus recursos, a América

Latina deve ser um continente rico, particularmente a América do Sul.

A América Latina tem uma enorme quantidade de riqueza, mas está muito concentrada nas mãos de uma

pequena elite, de perfil europeizado e branca em sua maioria, existindo ao lado de uma enorme pobreza e

miséria. Há algumas tentativas de começar a fazer frente a esse quadro, o que é importante – outra forma

de integração – e a América Latina está, de algum modo, se afastando do controle estadunidense.

DB – Fala-se muito da mudança de poder mundial: a Índia e a China vão se converter nas novas grandes

potências, as potências mais ricas?

NC – De novo aqui, devemos guardar reserva. Por exemplo, muitos observadores comentam sobre a dívida

estadunidense e o fato de que, grande parte dela, está nas mãos da China. Há alguns anos o Japão detinha

a maior parte da dívida estadunidense, mas foi superado pela China. Além disso, todo o marco para a

discussão sobre o declínio dos Estados Unidos é enganoso. Ele nos leva a falar sobre um mundo de estados

concebidos como entidades unificadas e coerentes.

Na teoria das relações internacionais, há o que se chama de escola “realista”, que diz que vivemos em um

mundo de estados anárquico e que os estados buscam seu “interesse nacional”. Isso é, em grande parte,

uma mitologia. Há alguns interesses comuns como a sobrevivência. Mas, na maioria das vezes, as pessoas

têm interesses muito diferentes no interior de uma nação. Os interesses do diretor executivo da General

Eletric e do funcionário que limpa o chão de sua empresa não são os mesmos.

Parte do sistema doutrinário nos Estados Unidos é formado pela pretensão de que todos somos uma

família feliz, que não há divisões de classes, e que todos estamos trabalhando juntos em harmonia. Mas

isso é radicalmente falso.

No século XVIII, Adam Smith disse que as pessoas que dominam a sociedade fazem as políticas: os

“mercadores e manufatureiros”. O poder hoje está nas mãos das instituições financeiras e das

multinacionais. Estas instituições têm um interesse especial no desenvolvimento chinês. De modo que,

digamos, o diretor executivo da Walmart, da Dell ou da Hewlett-Packard, sente-se perfeitamente contente

de ter uma mão de obra muito barata na China trabalhando sob condições horríveis e com poucas

restrições ambientais. Enquanto na China houver o que se chama de crescimento econômico tudo está

bem.

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Na verdade, há um pouco de mito neste tema do crescimento econômico do país. A China é, em grande

medida, uma planta de montagem. É um exportador importante, ainda que o déficit comercial

estadunidense com a China tenha aumentado, o déficit comercial com Japão, Taiwan e Coreia diminuiu. O

motivo é o desenvolvimento de um sistema de produção regional.

Os países mais avançados da região – Japão, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan – enviam tecnologia

avançada, partes e componentes para a China, que usa sua força de trabalho barata para montar produtos e

enviá-los para fora do país. E as corporações estadunidenses fazem a mesma coisa. Enviam partes e

componentes para a China, onde elas são montadas e exportadas. É isso o que se chama de “exportações

chinesas”, mas são exportações regionais em muitos casos e, em outros, é realmente um caso no qual os

Estados Unidos estão exportando para si mesmos.

Uma vez que ultrapassamos o marco dos estados nacionais como entidades unificadas sem divisões

internas, podemos ver que há uma mudança do poder mundial, mas a direção dessa mudança é da força de

trabalho mundial para os donos do mundo: o capital transnacional, as instituições financeiras mundiais.

(*) Noam Chomsky é professor emérito de linguística e filosofia no Instituto Tecnológico de

Massachusetts, em Cambridge (EUA). Seu último livro é _ “Power Systems: Conversations on Global

Democratic Uprisings and the New Challenges to U.S. Empire.Conversations with David Barsamian”.

Fonte: Futuro MX, via Rebelión

Tradução: Katarina Peixoto

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=6012

22 .Recuos nas políticas públicas de comunicaçõesSe ocorreu alguma diferença com o governo Dilma na preocupação em atenuar a ortodoxia da política econômica, o mesmo não pode

ser dito no domínio das comunicações. Ali a opção foi pelo aprofundamento da política voltada ao mundo empresarial.

Paulo Kliass

Passados mais de 10 anos de uma grande expectativa criada quanto a mudanças efetivas na condução da política e da economia em

nosso país, algumas áreas de foco de ação governamental são mais evidentes por não apresentarem as transformações necessárias e

esperadas. Dentre elas, o setor de comunicações talvez seja um dos que mais concentram as energias da frustração e da

desesperança.

Parcela significativa das matérias sob jurisdição do Ministério das Comunicações é composta de temas e processos associados ao

conceito de “bens e serviços públicos”, a serem explorados diretamente pelo Estado ou transferidos, sob a forma de concessão, ao

setor privado. As emissoras de rádio e televisão só podem funcionar se obtiverem a autorização oficial do Estado brasileiro para fazê-lo.

As empresas de telefonia também operam uma modalidade específica de serviço público e só podem funcionar se forem portadoras de

concessão para esse fim. A operação dos serviços de internet e banda larga também exigem autorização, regulamentação e fiscalização

da administração pública federal.

Perspectiva de mudanças e frustração

Para quem imaginava que 2003 significaria um momento de reversão da tendência anterior de consolidação das práticas neoliberais no

setor, os anos que se seguiram foram bastante desanimadores. A partir de meados do primeiro mandato de Lula, a opção política foi

feita e o recado foi transmitido com todas as cores, para que não pairassem dúvidas a respeito da verdadeira intenção política do

governo dirigido pelo Partido dos Trabalhadores. Assim como a condução da política econômica foi entregue ao ex presidente

internacional do Bank of Boston, a política de comunicações foi entregue a um fiel servidor dos interesses d as Organizações Globo e

das grandes corporações do setor. Depois da nomeação de Henrique Meirelles para a Presidência do Banco Central em 2003, Lula

nomeia o Senador Helio Costa para o Ministério das Comunicações em 2005. Enquanto o império de Meirelles durou os exatos 8 anos

dos dois mandatos de Lula, Helio Costa ficou “apenas” 5 anos no cargo.

Se ocorreu alguma diferença com a chegada da presidenta Dilma na preocupação em atenuar a ortodoxia da política econômica com

tinturas heterodoxas, o mesmo não pode ser dito no domínio das comunicações. Ali a opção foi pelo aprofundamento da política voltada

ao atendimento dos pleitos do mundo empresarial. A nomeação de Paulo Bernardo para o Ministério antes ocupado por Helio Costa não

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significou nenhuma mudança expressiva em relação à estratégia anterior para o setor.

Telefonia e internet: empresas intocáveis

A age nda da telefonia não representou grandes avanços em termos de melhoria da qualidade dos serviços ou de redução das tarifas

elevadas, mesmo para padrões de comparação internacional. As autorizações concedidas para a fusão das grandes empresas do setor

não foi revertida. Muito pelo contrário, houve a continuidade dos níveis de concentração e centralização entre os conglomerados que

operavam a telefonia convencional e a telefonia celular. A configuração de práticas de oligopólio não recebeu tratamento mais efetivo

por parte da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e tampouco do Ministério. Para se ter uma ideia, as empresas de telefonia

fixa e celular sempre estiveram impunemente à frente do desrespeito às regras e direitos dos usuários. Confirmando a tradição, foram

as campeãs de reclamações junto aos órgãos de defesa do consumidor em 2012, registrando o dobro das notificações de bancos ou

cartões de crédito. No quesito da reivi ndicação histórica pela revogação da assinatura básica, tampouco o governo se movimentou para

viabilizar a aprovação de algum dentre os Projetos de Lei que tramitam no interior do Congresso Nacional há vários anos sobre o tema.

Os processos envolvendo a ampliação e o aprofundamento da inclusão digital também foram sendo tocados a um ritmo bastante abaixo

do desejável. A conivência dos órgãos reguladores com o desleixo a que os usuários dos sistemas de acesso à internet são tratados

pelas empresas do setor chega a ser escandalosa. Um dos exemplos mais gritantes é o direito assistido às empresas para que não

cumpram nem mesmo o contratado quanto à velocidade e capacidade de transmissão na rede de banda larga. Por outro lado, pouco se

exige em termos de contrapartida das empresas operadoras, no sentido de ampliar a rede de acesso à internet e tornar o sinal acessível

em municípios e localidades distantes dos centros urbanos mais adensados .

Já se foram mais de dez anos e o potencial de uso do estoque de fibra ótica da Telebrás permaneceu inutilizado. Isso porque o governo

federal tinha condições jurídicas de fazer valer sua condição de acionista majoritário para ampliar a rede física por todo o território

nacional. Mas a opção foi pela postura passiva da espera e de não contrariar os interesses dos grandes grupos privados atuantes no

setor. Como a maioria dos grupos privatizados pertence a conglomerados americanos e europeus, as diretrizes empresariais

determinam a redução drástica de recursos aplicados em reinvestimentos e o aumento da remessa de lucros para ajudar as matrizes a

resolveram a falta de perspectiva pela crise internacional. E os órgãos reguladores do Estado brasileiro assistem calados a tal

movimento, que na prática tem o sentido de um lento e silencioso sucateamento desse novo e estratégico setor da economia.

Lei do Marco Regulatório: recuo patético

A outra área de comunicações, também essencial para um governo que se pretenda transformador, não está exatamente sob o domínio

de Paulo Bernardo. Trata-se das decisões do Estado relativas à sua própria política e estrutura de comunicação. Essa vasta agenda

inclui temas tão diversos e essenciais quanto: i) as emissoras públicas de rádio e TV; ii) a descentralização e a democratização das

vultosas despesas com publicidade do governo e das empresas estatais; iii) a proibição de formação de conglomerados típicos das

oligarquias, cruzando imprensa escrita, falada e televisionada; iv) a responsabilização por abusos de poder, seja na área política,

econômico-financeira ou outras; entre tantos assuntos similares. A sensibilidade e a importância da matéria remetem à necessidade da

Casa Civil, junto com a Presidenta, se envolver diretamente com a matéria. A Ministra Gleisi Hoffmann, esposa de Paulo Bernardo, não

pareceu se entusiasmar muito com o projeto elaborado ainda na gestão de Franklin Martins. Tampouco a atual titular da Secretaria de

Comunicação, Helena Chagas, deu mostras de batalhar pela aprovação do novo marco regulador da imprensa e das comunicações em

geral. O resultado foi adeclaração patética, onde a equipe governamental oficialmente joga a toalha e lava as mãos: não mais se

compromete com a regulamentação do setor

Em sentido inverso ao processo levado a cabo na Argentina, Uruguai, Equador e Venezuela, o governo brasileiro resolveu recuar e não

mais se envolver com o projeto em tramitação no Congresso Nacional. Pressionada pelos grandes grupos empresariais do amplo setor

de comunicação, Dilma voltou atrá s na estratégia ainda definida no governo Lula e deixou essa área estratégica da economia e da

sociedade sem qualquer tipo de controle ou regulamentação. Em nome da hipocrisia da defesa da “liberdade de imprensa e de opinião”,

os empresários recusam qualquer tipo de normativa ou ação do poder público para coibir abusos e para fazer valer a vontade da maioria

da população.

Na União Européia, vários países dispõem de instrumentos para viabilizar esse tipo de ação regulamentadora. Ao contrário da acusação

irresponsável de “lei da mordaça”, trata-se de mecanismo de defesa da democracia da sociedade contra os abusos do chamado “quarto

poder”. Estão aí inúmeros exemplos como o de Rupert Murdoch na Inglaterra, onde fica evidente a necessidade da ação do poder

público. O caso do “News of the World” e os excessos cometidos só reforçam a justeza dos dispositivos da Lei de Meios, por impedir a

centralização do poder econômic o em diversos segmentos das comunicações.

Infelizmente, o receio de avançar pelo caminho da transformação social mais efetiva é marca também do setor de comunicações. Não

bastassem os recuos em termos de aspectos da política econômica, na questão agrária, na questão ambiental, nas benesses

concedidas aos conglomerados da infraestrutura, entre outros, o governo perde mais uma oportunidade de se legitimar junto a amplos

setores da sociedade. Para isso, bastaria se empenhar pela aprovação do Projeto de Lei no Congresso Nacional, como faz

sistematicamente com outros textos de seu interesse.

Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

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23. MÍDIA E DEMOCRACIA – Carta Maior

Boletim CarCarta Maior - 13 de Novembro de 2011 – WWW.cartamaior.com.br Ir para o site

19 .Dez fatos que a "grande" imprensa esconde da sociedadeAs entidades que reúnem as grandes empresas de comunicação no Brasil usam e abusam da palavra "censura" para demonizar o debate sobre a regulação da mídia. No entanto, são os seus veículos que praticam diariamente a censura escondendo da população as práticas de regulação adotadas há anos em países apontados como modelos de democracia. Conheça dez dessas regras que não são mencionadas pelos veículos da chamada "grande" imprensa brasileira.

> LEIA MAIS | Política | 11/11/2011

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Mídia tradicional tenta censurar novas mídias; reformar leis é urgente Em debate na Câmara dos Deputados sobre liberdade de expressão, mil i tantes de novas mídias criticam autoritarismo de veículos tradicionais de imprensa, que reagiriam apelando para censura de que se sentem ameaçados. Aprovação de marco civi l da internet e de novo marco regulatório para radiodifusão é considerada fundamental para garantir pluralidade.

> LEIA MAIS | Política | 09/11/2011

O poder permanente de derrubar governosAs ondas de pânico criadas em torno de casos de corrupção, desde Collor, têm servido mais a desqualificar a política do que propriamente moralizar a nossa democracia. Apesar da imensa caça às bruxas movida pela mídia contra os governos, em nenhum momento essa sucessão de escândalos, reais ou não, incluíram seriamente a opinião pública num debate sobre a razão pela qual um sistema inteiro é apropriado pelo poder privado, e, principalmente, porque não se

questiona essa apropriação. O artigo é de Maria Inês Nassif. > LEIA MAIS | Política | 08/11/2011

Regionalização da publicidade avança com Dilma, mas desaceleraSecretaria de Comunicação Social da Presidência diminui população mínima de municípios aptos a receber verba em troca de propaganda oficial e incorpora 233 veículos à l ista de pagamentos, que chega a 8.327. 'Vamos democratizar cada vez mais', diz ministra. Ritmo é menor do que na segunda gestão Lula, em que

regionalização explodiu, com média de 900 veículos a mais ao ano. > LEIA MAIS | Política | 08/11/2011

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"Liberdade de imprensa não é um direito absoluto"Em debate realizado em Porto Alegre, o desembargador do Tribunal de Justiça do RS, Claudio Baldino Maciel, afirmou que os meios de comunicação tem usado da liberdade de imprensa para violar outros princípios constitucionais. Jornalistas brasileiros concordam e defendem regulamentação do setor, com mecanismos para combate ao monopólio e fomento à pluralidade e diversidade de veículos, para que a l iberdade de imprensa não seja restrita aos poucos grupos que

controlam o setor.

“Há uma tentativa de interditar o debate sobre o marco regulatório da mídia”A Constituição pode ser o terreno comum para o debate do marco regulatório da comunicação no Brasil", defendeu o ex-ministro da Secretaria de Comunicação do governo Lula, Franklin Martins, durante debate sobre democratização da mídia, realizado em Porto Alegre. "Podemos assumir o compromisso de não aprovar nenhuma regra que fira a Constituição e de não deixar de cumprir nenhum preceito constitucional", disse o jornalista que criticou a tentativa de interditar

esse debate no Brasil . > LEIA MAIS | Política | 04/11/2011

“Não esperem que os partidos façam algo para enfrentar o poder da mídia”No seminário realizado na Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) contou um pouco de sua luta solitária na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara em defesa da proposta de um marco

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regulatório para a mídia. “Não esperem que os partidos políticos façam algo para enfrentar o atual esquema de poder da mídia. Só com pressão social . Sou uma voz

isolada na Comissão. Tento apenas incomodar um pouco". > LEIA MAIS | Política | 04/11/2011

“Ley de Medios” da Argentina sugere roteiro para Brasil democratizar sua comunicaçãoPara Damian Loreti , da Universidade de Buenos Aires e integrante da comissão que elaborou a chamada “Ley de Medios”, receita de sucesso argentina contou com um bom projeto, mobil ização da sociedade e vontade política. No Brasil , governo federal já recebeu sugestões da sociedade civi l, que agora aguarda

finalização do projeto e início das consultas públicas.

24.O jornalismo na era das redes sociais

Por Ana Paula Bessa Observatório Mídia & Política

Uma pesquisa realizada pela PR Oriella Network revelou que muitos jornalistas brasileiros buscam mais informações nas mídias sociais do que nas assessorias de imprensa. Cerca de 66,67% dos entrevistados disseram utilizar o Twitter como fonte de informação. Os outros 40% disseram utilizar o Facebook.

Apesar de a notícia ser positiva para as redes sociais, a pesquisa também mostrou que os jornalistas costumam ter o hábito de confirmar as informações recebidas nessas redes com a assessoria de fontes oficiais, ou até mesmo, com as próprias fontes. Pode-se concluir que, mesmo que os jornalistas acessem com frequência as redes sociais para buscar informações, são as fontes oficiais ou assessorias que ditam a veracidade das informações.

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Diante dos números, pode-se perceber que as rotinas das redações de jornais mudaram no que tange à busca de fonte de informações e seu relacionamento com elas. Houve uma ressignificação do campo de atuação do jornalista. O acesso direto a fontes alterou o processo de apuração para a maioria dos jornalistas brasileiros, como mostra a pesquisa. O trabalho de apuração em si não mudou, ainda é necessário analisar as fontes de informações, porém foram acrescentadas novas ferramentas que modificam e reconfiguram a rotina de busca por fontes.

Neste cenário, onde o fluxo de informação é maior e a produção do conteúdo não é feita somente pelo jornal, é cada vez mais pertinente a pergunta que há anos vem sido feita pelos pesquisadores do jornalismo no ciberespaço: toda pessoa é uma fonte de informação, que atende aos critérios de confiabilidade? Com a descentralização da informação há uma inversão no fluxo de notícias que antes eram muito dependentes de fontes oficiais (MACHADO, 2002). Isso não significa que se tenha perdido a preferência pelas fontes oficiais e oficiosas, mas ampliou o leque de informações e o acesso a elas.

O advento das informações produzidas e repercutidas nos sites de redes sociais acabou dando maior acesso a um sem número de fontes espalhadas em todo o mundo. Mas como será o relacionamento do jornalista com esse número de fontes disponíveis nessa rede? Como é feita a seleção das fontes? Usam-se as antigas ferramentas de valores-notícia e escolha de fontes da época do surgimento da teoria construcionista(TRAQUINA, 1999) ou essas redes alteraram o processo de escolha do “gatekeeper”?

As fontes no ciberespaço

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A principal ferramenta de trabalho do jornalista é a fonte e tudo o que ela representa para certificar que um ato aconteceu, não aconteceu, está para acontecer ou como ele irá acontecer. Sem o testemunho, as aspas ou a denúncia de sua fonte de informação, o jornalista não tem notícia, não tem trabalho. Com disse Wolf (1999) “as fontes são um fator determinante para a qualidade da informação produzida pelo mass mídia”.

Lembrando os ensinamentos de Traquina (2003) há critérios que são utilizados no jornalismo para avaliar a “fiabilidade da informação”. Sabe-se que se uma informação veio de uma autoridade e se seu cargo for prestigiado, maior é a confiança dos leitores na informação cedida. Esses critérios foram criados numa tentativa de rotinizar o trabalho, sem que haja falhas na notícia divulgada.

No tempo do ciberespaço, algumas dessas rotinas foram modificadas ou até mesmo adequadas (MACHADO 2002). Com a disposição de novas tecnologias para o trabalho dos jornalistas, vieram consequências no que tange a pesquisa de apuração, produção e difusão da informação. No ciberespaço são feitas todas as etapas de produção da notícia, desde a pesquisa e apuração até a circulação. Neste modelo, há uma estrutura mais descentralizada da informação o que acaba multiplicando fontes de informação.

A construção de conexões nos sites de rede sociais tomou proporções mundiais, acarretando um grande leque de informações geradas, publicadas e difundidas neste meio. É neste cenário que o jornalista está inserido atualmente. Há uma porção de informações que atendem grupos sociais distintos com todo o tipo de fonte– desde a menos preparada até grandes especialistas e pesquisadores do assunto – e com o mesmo tempo de deadline

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disponibilizado há anos atrás na formulação da rotina básica de uma redação de jornal.

Segundo Recuero (2009) há três tipos de relações das redes sociais formadas na Internet com a produção jornalística:

a) as redes sociais como fontes produtoras de informação;

b) redes sociais como filtros de informação;

c) redes sociais como espaços de reverberação dessas informações.

No primeiro tipo, fica claro que o acesso aos sites de redes sociais por pessoas de várias idades e distintos grupos sociais, é capaz de tecer pequenos relatos sobre o seu cotidiano ou acontecimentos importantes do grupo a que pertence que, dependendo da quantidade e qualidade de suas conexões, podem difundir a informação de forma que se chegue a grandes canais formais de veiculação de notícia. Logo, essas redes sociais são grandes produtoras de informação.

Em pesquisa que realizei na editoria “Super Esportes” do jornal Correio Braziliense, principal jornal do Distrito Federal, em 2011, levantei algumas dessas questões para avaliar o quanto as redes sociais alteraram a produção da notícia e o relacionamento com fonte. Adotando métodos de etnografia (CABRERA ET AL 2008) foi realizada entrevista com sete jornalistas da editoria, metade da equipe devido ao rodízio de jornalistas de plantão. Mesmo com equipe reduzida, foi visível o método e a rotina adotados no uso das redes sociais para buscar fontes de informação e como ferramenta de relacionamento com a fonte.

No início da rotina de trabalho, todos os jornalistas acessaram seus perfis pessoais nos sites de redes sociais – preferencialmente Twitter e Facebook – e também os perfis da própria editoria, cuja presença está mais concentra no Twitter. Três profissionais

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possuíam a opção de carregamento automático desses perfis em seus browsers de navegação. Para esses profissionais, ao acessar o computador e clicar no link de navegação da internet, as redes sociais carregavam automaticamente.

Neste dia de observação, um dos jornalistas teve um problema de comunicação com um ginasta olímpico que não possuía o celular em funcionamento e estava com uma série de problemas para conseguir dar a entrevista. Por sugestão da própria assessoria do atleta, a jornalista adicionou o ginasta no Facebook para uma tentativa de entrevista por meio de mensagem. Em questão de minutos o atleta já havia aceitado a jornalista como “amigo” e logo a entrevista foi feita. Ao passar para o seu editor as circunstâncias em que a entrevista aconteceu, não houve nenhum tipo de retaliação ou repreensão pela prática, muito pelo contrário, o próprio editor chegou a comentar com a jornalista que se a assessora não tivesse sugerido esta opção, ele mesmo o iria fazer.

Após entrevistar os profissionais e observar suas rotinas de trabalho foi possível concluir que há, sim, o uso de redes sociais para buscar fontes de informação, e isso é feito de forma frequente uma ou mais vezes ao dia, de acordo com a demanda de matéria que deve ser entregue no dia. Há também o uso das redes sociais para manter contato e relacionamento com fontes, mas normalmente não são fontes “usuários comuns”, mas atletas, técnicos e produtores de eventos de esportes que, geralmente, conhecem o jornalista pessoalmente e aprecia o trabalho realizado por ele. A busca e o uso de fontes de informação que são de usuários comuns acontecem na editoria, porém são menos constantes.

Também por meio da entrevista e utilizando perguntas referentes ao uso preferencial das redes sociais e não das assessorias de imprensa, todos os sete profissionais responderam que, se há o contato direto da assessoria ou do próprio telefone ou celular do atleta, a apuração é feita desta forma.

Caso não haja conhecimento de fontes, muito menos do contato de cada uma delas, é utilizado sites das redes sociais. Porém, durante a observação não foi esse o

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comportamento: quatro, dos sete jornalistas, ao receberem uma matéria para apurar, consultavam informações sobre o tema ou a pessoa nas redes sociais, caso houvesse uma fonte em potencial o contato era feito de imediato. Essa dissonância de informação pode ser devida à rotina específica do dia, visto que era feriado e poucas assessorias de imprensa estavam trabalhando normalmente.

Conversando com cada repórter, foi possível compreender que há sim critérios que são utilizados para a seleção de fontes de informação nas redes sociais. Todos os profissionais responderam que os atletas são as fontes privilegiadas, ou seja, todas as informações relevantes postadas por eles possuem credibilidade e não há restrições quanto ao uso dessas fontes nas matérias. Em segundo lugar vêm as organizações como clubes, assessorias, associação e entidades desportivas. Apenas para um jornalista a preferência de informação é para usuários comuns que postam notícias relevantes sobre o esporte local. Este jornalista é responsável pelo blog de basquete e precisa desse tipo de interatividade e relacionamento para postar no blog. Em último lugar, para os seis jornalistas estão os usuários comuns que são usados, mas não com tanta frequência. Dessa forma, podemos concluir que houve a migração dos critérios do jornalismo clássico para o jornalismo feito no ciberespaço e principalmente na utilização dos sites de redes sociais.

Novas fontes velhos critérios?

Este cenário de multiplicação de difusores de informação altera a relação do jornalista com a fonte, visto que quaisquer usuários do ciberespaço e de sites de rede socais podem ser potenciais fontes de informação. Esta mesma multiplicação ajuda os jornalistas a rastrear dados importantes e significativos para a elaboração de matérias, pois tudo o que é postado no ciberespaço e nos sites de redes sociais ficam armazenados. Logo, este novo cenário beneficia a produção jornalista ao mesmo tempo em que complicam o seu trabalho devido ao maior número de informações, podendo prejudicar o tempo de apuração.

Se antes existia uma série de critérios na hora da escolha da fonte, agora não se tem nenhum que diga respeito à escolha dessas fontes nas redes sociais. E é por conta desta falta de critérios que, em alguns casos, passam a valer os antigos critérios nas novas ferramentas de busca de fontes de informação, o que faz com que tornemos à estaca zero. São os velhos métodos em um novo cenário.

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Independente deste cenário, ainda pouco estudado e cercado de dúvidas, a rotina de trabalho do jornalista está sendo montada e é preciso documentar como ela está acontecendo e quais são os critérios que tem sido adotado para minimizar as falhas e melhorar a apuração. Realmente hoje qualquer pessoa pode ser fonte potencial para o jornalista, mas as redações ainda não têm confiança nem critérios de escolha que viabilizem o uso dessas fontes em matérias, exceto em casos fortemente repercutidos nesses espaços. Porém, o uso dessas redes sociais na Internet é ainda muito recente e há ainda muito para os jornalistas e suas redações evoluírem com a exploração dessa ferramenta. O que não se pode deixar acontecer é adotar os mesmos critérios e mesmo tipos de relacionamento num cenário completamente mais aberto e flexível que é o ciberespaço. E esta opção parece que está sendo a mais comumente aceita nas redações de jornais.

Referências

CAVRERA et al. “Métodos y técnicas de investigación para el estúdio de la profesión em las rutinas productivas em ciberperiodismo”. In: Metodologia para o Estudo dos Cibermeios: Estado da arte e perspectiva, Org. NOCI, J.G; PALACIOS. Salvador: EDUFBA, 2008.

MACHADO, Elias. O ciberespaço como fonte para os jornalistas. Biblioteca Online de Ciências da Comunicação, Universidade Beira Interior, 2002. Disponível aqui, acesso em: 26/06/2011.

RECUERO, Raquel. “Redes Sociais na Internet, Difusão de Informação e Jornalismo: Elementos para discussão”. In: SOSTER, Demétrio de Azeredo; FIRMINO, Fernando.(Org.). Metamorfoses jornalísticas 2: a reconfiguração da forma. Santa Cruz do Sul: UNISC, 2009.

TRAQUINA, Nelson. 2ª Parte: As Teorias. IN: TRAQUINA, Nelson (org.). Jornalismo: Questões, Teorias e “Estórias”. 2ª Ed. Lisboa: Ed. Vega, 1999.

TRAQUINA, Nelson. O estudo do jornalismo no século XX. São Leopoldo: Ed. Unisinus, 2003.

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WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. 5ª Ed. Lisboa: Ed. Editorial Presença, 1999.

[Ana Paula Bessa é jornalista e trabalha como Consultora em Mídias Sociais no Grupo Máquina da Notícia. Esta pesquisa foi realizada enquanto cursava como aluno-especial a disciplina Jornalismo Digital do Mestrado em Comunicação Social na Universidade de Brasília (UnB)]

25. As verbas públicas de propagandaPor Marino Boeira – www.sul21.com.br - Opinião Pública - 21/09/12 | “Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei”. “Aos amigos, tudo; aos indiferentes, a lei; aos inimigos, nada” . “Aos amigos, tudo; aos indiferentes, a lei e aos inimigos, os rigores da lei.” São várias versões da mesma frase e muitos autores para elas, inclusive Getúlio Vargas, mas o sentido é sempre o mesmo: quem está no governo deve ajudar os amigos e não dar trégua aos inimigos políticos. Parece, porém, que a Presidente Dilma Roussef não segue esta cartilha ou ainda não percebeu quem são os maiores inimigos do seu governo.Quem vê televisão ou lê jornais no Brasil sabe que, mais do que divulgar notícias, alguns veículos de comunicação se especializaram na critica sistemática ao Governo Federal desde que Lula foi eleito Presidente. Dito assim, parece até que estes veículos estão cumprindo uma das funções básicas do jornalismo que é de apontar os erros dos governantes. Seria perfeito se fosse assim. Não é o que ocorre porém. São veículos de comunicação transformados em partidos políticos, cumprindo uma agenda diária em busca da desestabilização do Governo.Dois exemplos, apenas, para confirmar essa afirmação: a TV Globo, com uma longa história de desserviços ao País, desde a época da ditadura, quando se fortaleceu com o apoio dos militares, passando pelo famoso episódio da transformação do debate Collor x Lula numa peça de propaganda anti-PT, continuando depois com a defesa do neoliberalismo do governo FHC e a Editora Abril, com a sua revista Veja, porta voz do golpismo mais escancarado do País.Há alguns anos atrás, um dramaturgo brasileiro, Pedro Bloch, criou uma peça teatral que ficou mais conhecida pelo significado do seu nome do que pela peça em si:“Os Inimigos não mandam flores”. O Governo da Presidenta Dilma, mais do que flores, dá a esses “inimigos” a maior fatia das verbas diretas do Governo Federal em publicidade. Dados oficiais do SECOM – a Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal –

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revelam que, desde o início do governo de Dilma até junho último, a TV Globo ficou com quase um terço de toda a verba federal: 52 milhões de reais, dos 161 milhões investidos no total. A Editora Abril, incluída a operação na internet, recebeu mais de 1.5 milhão de reais. Do total de 161 milhões investidos em propaganda, inclui ndo emissoras de tv, jornais, revistas, sites e blogs, 111 milhões se concentraram em 10 empresas, especialmente as emissoras de TV.Obviamente, a explicação da ministra do SECOM, Helena Chagas, é de que o governo segue critérios técnicos de audiência. “É inevitável que o maior volume de pagamentos seja dirigido aos meios e veículos de maior audiência que atingem um maior público, como é o caso da televisão”.Obviamente, também, esses investimentos se transformam num círculo vicioso: a TV Globo recebe mais porque tem maior audiência que a TV Record ( 52 milhões contra 24 milhões) e, porque tem maiores recursos advindos da publicidade, pode investir mais em seus programas e com isso tem maior audiência.Os valores citados acima se referem apenas à publicidade direta – institucional e de utilidade pública – do Governo Federal e não às suas empresas de caráter público, como Petrobrás, Caixa, Banco do Brasil e Correios, que não divulgam suas verbas por causa de suas estratégias de marketing em relação à concorrência.Cálculos do mercado revelam que essas empresas devem ter investido mais de 10 bilhões de reais no ano passado em propaganda, dos quais mais de 6,5 bilhões se endereçaram á televisão.Todos esses dados mostram a dependência absoluta dos maiores meios de comunicação do Brasil para sua continuidade como empresas,ao aporte de verbas não privadas de propaganda.Ou seja, em última análise, considerando o grau de influência que o Governo Federal exerce sobre as decisões das empresas públicas, é ele quem garante a existência das maiores emissoras de televisão e rádio, jornais e revistas do Brasil.No Rio Grande do Sul, segundo informações do próprio governo estadual, os contratos de publicidade dos órgãos diretos somam 63 milhões de reais. Fora isso, o Banrisul, com verba própria, investe em propaganda e promoções 92 milhões de reais anualmente.Fica difícil saber até que ponto todos esses investimentos são necessários, embora seja claro para os que se interessam pelo tema, que a comunicação é mais do que nunca a principal arma que os governos dispõem para a consolidação de suas estratégias de controle social de seus povos. Para o bem ou para o mal, a unidade nacional hoje depende mais da comunicação do que qualquer outro tipo de coerção.Além disso, ao investir pesadamente em veículos que são seus maiores críticos, o Governo Federal dá um exemplo de isenção política e desmente afirmações feitas muitas vezes por estes próprios veículos de que ele não respeita as regras da democracia formal.Resta saber se estes veículos, que dominam o ranking de investimentos do Governo Federal e que defendem um estado mínimo para o Brasil, incluem nesse esvaziamento do estado, a diminuição de suas verbas publicitárias.Marino Boeira é professor universitário

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26 . Bomba! 72% da publicidade do governo na web vai pro PIG

21/02/2013

“Nós somos o que vocês foram; nós seremos o que vocês são”, era o refrão

nacionalista dos esparciatas. Segundo Renan (o filósofo, não o alvo dos

udenistas), essa frase, em sua simplicidade, seria o hino resumido de toda pátria.

Ela representa uma verdade triste, gloriosa ou feliz, a depender do país e da

maneira como seus líderes e seu povo superam os desafios.

Neste momento em que um campo político comemora dez anos de poder, eu

acho que, mais importante do que louvar os avanços, é mais consequente, para a

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nação, discutir os erros. No caso da política de comunicação, e mais

especificamente na política de comunicação para a internet, temos um quadro

estarrecedor de retrocesso.

Eu passei a tarde inteira analisando os números da Secretaria de Comunicação

da Presidência da República (Secom), de 2011 e 2012, compilando, editando,

tabelando, sintetizando. Os resultados que obtive são surpreendentes. Faço aqui

um recorte político, como eu acho que deve ser feito, porque na esfera da

comunicação se discutem os valores que forjarão o caráter nacional. Entendam

bem: não acho que os debates políticos devam ser liderados ou guiados por

governos. Não acho que governos ou mesmos partidos tenham desenvoltura ou

criatividade para guiar qualquer debate cultural, moral, político ou ideológico. Eles

participam do debate, como qualquer um dos atores do circo social. Mas não o

lideram. Isso é uma responsabilidade da sociedade civil.

Entretanto, num país cujo ambiente jornalístico foi devastado por grupos de mídia

que apoiaram e sustentaram uma ditadura justamente para isso, para ampliarem

seu poder e seu controle sobre o pensamento nacional, cabe ao Estado defender

os princípios mais importantes da Carta Magna, o pluralismo político e a liberdade

de expressão. É preciso, por assim dizer, reflorestar o meio ambiente jornalístico

e cultural.

Infelizmente, não é isso a que estamos assistindo. Segundo a Secom, a maioria

esmagadora da publicidade federal veiculada na internet concentrou-se em mãos

de grupos de mídia conservadores, o famigerado PIG (partido da imprensa

golpista). Se considerarmos que Globo, UOL, Folha, Estadão, Abril, RBS, e

também as americanas Microsoft, Fox e Yahoo, podem ser classificadas,

sociologicamente, na categoria PIG, então esta recebeu, em 2012, nada menos

que 72,2% de toda publicidade oficial investida na rede mundial de computadores,

ou seja, R$ 4,77 milhões de um universo de R$ 6,6 milhões.

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Observe que o site da Fox, um canal ligado à mais extremista direita norte-

americana, recebe mais de 40 vezes mais que o blog do Nassif. Apenas o UOL,

pertencente ao grupo Folha, recebe 16% de toda publicidade federal voltada para

a web.

O pior, contudo, ainda está por vir. Os mesmos grupos que drenam para si quase

toda a verba federal veiculada na internet são os mesmos que recebem a maior

parte dos recursos destinados para outras mídias. O PIB de 2012 pode ter sido

fraco, subindo apenas 1,6% sobre o ano anterior (ou 1,35% em números

dessazonalizados), mas a publicidade federal destinada às empresas do grupo

Globo cresceram 36% em 2012, atingindo R$ 49,64 milhões, ou 43,6% de toda a

publicidade federal no ano.

Os números da Secom não incluem estatais e agências reguladoras: referem-se

apenas à publicidade da presidência e dos ministérios. A lógica que regula a

publicidade das estatais, porém, é a mesma.

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Em 2012, o governo aumentou em 110,2% a verba destinada à internet. Parece

muito, mas não é, visto que o aumento da publicidade destinada a jornais cresceu

mais, 120%. Ou seja, o único instrumento que a sociedade democrática possui

para tentar reestabelecer o equilíbrio no debate de ideiais, a internet, tem sido

sobejamente negligenciada pelo governo. E uma reforma no direcionamento da

publicidade federal não precisa, necessariamente, de uma nova regulamentação

da mídia para ser levada a cabo (embora isso fosse o ideal). Precisa sim de

vontade política e o senso de que há mudanças que não podem mais ser

adiadas.

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As verbas federais para internet, se comparadas à participação dos jornais, ainda

são muito pequenas. A pluralidade e o alcance da internet hoje são muito

superiores aos da imprensa escrita.

Alguém poderia me acusar de estar atuando em causa própria. Estou sim!

Francamente, não consigo entender qual o estímulo ao pluralismo polítco e à

liberdade de expressão existe em dar todo o dinheiro para Globo, UOL e Abril e

quase nada para a blogosfera. Ao contrário, o governo está contribuindo para a

concentração midiática e para a pobreza de ideias. Nesse momento, em que a

grande mídia começa a atacar diariamente a blogosfera, com editoriais

agressivos, acusações hipócritas de receber dinheiro público (quando ela é que

engole quase tudo), e até agressões jurídicas, como a feita por Ali Kamel contra

Rodrigo Vianna, e o processo da Folha contra o blog Desculpe nossa Falha, é

muito decepcionante que um governo supostamente de esquerda, e que também

supostamente representa o campo popular, se posicione, na prática, ao lado de

nossos adversários. O preço político por esse erro não será pago apenas pelo PT,

mas por todo o povo brasileiro. Este será vítima daquele que talvez seja a pior

tipo de injustiça: através da manipulação astuta des informações, imagens, e

símbolos, setores da mídia convencem o cidadão a agir contra si mesmo.

27. Dilma: a ilusão de um acordo com a mídia

09/10/2012 - Rodrigo Vianna

Já nos primeiros meses de governo, tudo estava claro. O governo Dilma significou um movimento rumo ao centro. Parecia uma estratégia inteligente, como escrevi na época aqui: Lula tinha já o apoio da “esquerda” tradicional – com sindicatos, movimentos sociais e também a massa de eleitores de baixa renda beneficiados pelos programas sociais. Dilma avançou para o centro, com acenos para a classe média que preferira Serra e Marina em 2010. A agenda “técnica” e a “faxina” são a face visível desse giro ao centro. Não é à toa que Dilma alcançou mais de 80% de aprovação.

Mas ela não fez só isso. Abriu mão de conquistas importantes dos anos Lula: houve retrocessos na Cultura e na área Ambiental, pouca disposição para dialogar com os movimentos sociais, nenhuma disposição para qualquer avanço na área de Comunicações. São apenas alguns exemplos.

Concentro-me nesse último ponto: o Brasil tem uma legislação retrógrada e um mercado de mídia dominado por meia dúzia de famílias. Não é só um problema de falta de concorrência, mas um problema político – na medida em que essas famílias impedem a diversidade de opinião e interditam o debate no país. No segundo mandato, Lula percebeu a necessidade de mexer nessa área; convocou a Confecom (Conferência Nacional de Comunicação) e

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encomendou a Franklin Martins um novo Marco Regulatório para o setor. Dilma preferiu o silêncio, mandou o ministro Paulo Bernardo guardar o projeto de Franklin numa gaveta profunda.

Dilma foi a festinhas em jornais e TVs, logo após a posse, e aceitou as pressões da velha mídia para barrar a investigação da “Veja” e de Policarpo na CPI do Cachoeira. O governo foge do confronto. Ao mesmo tempo, entope de anúncios – e de dinheiro – as empresas que são as primeiras a barrar qualquer tentativa de avanço no país – como escreveu Paulo Henrique Amorim.

A turma que cuida da Comunicação no governo Dilma parece dividir-se em duas: uma tem medo da Globo e da Abril, a outra quer garantir empregos na Globo e Abril quando terminar o mandato.

Dilma segue popular. Mas a base tradicional lulista está ressabiada.

A velha mídia e os tucanos perceberam a possibilidade de abrir uma cunha entre Dilma e o lulismo. A estratégia é simples: poupa-se Dilma agora, concentra-se todo o ódio no PT e em Lula. Com PT e Lula fracos, ficará mais fácil derrotar Dilma logo à frente.

A presidente, pessimamente aconselhada na área de Comunicações, parece acreditar na possibilidade de uma “bandeira branca” com a mídia. Não percebe que ali está o coração da oposição.

A velha mídia, derrotada por Lula em 2006 e 2010, mostra que segue fortíssima com esse episódio do ”Mensalão”. Colunistas de quinta categoria pautaram os ministros do STF, capas da “Veja” e manchetes do “JN” empurraram o julgamento para as vésperas da eleição municipal. O STF adota uma linha “nova” para o julgamento, que rompe com a jurisprudência adotada até aqui, e aceita indícios como elementos para a condenação.

Evidentemente que – nesse episódio do chamado “Mensalão” – dirigentes do PT erraram feio: está claro que a rede de promiscuidade e troca de favores entre agências de publicidade, bancos privados e entes públicos precisava ser investigada e punida. Não era “mensalão”, mas era ilícito.

O que chama atenção é o moralismo seletivo da Justiça e da velha mídia. Querer transformar o arranjo mambembe – e desastrado – feito pelo PT de Delúbio Soares no ”maior escândalo da história republicana” é quase uma piada.

O fato é que a velha mídia ganhou esse jogo até aqui. Outro fato: ninguém acredita que “indícios” serão suficientes para condenar mensalões tucanos, nem banqueiros ou publicitários que tenham se lambuzado em operações com outras forças políticas. Não. O roteiro está preparado para condenar o PT. E só isso. É parte da estratégia de retomar o Estado brasileiro.

No dia em que o julgamento começou, Dilma anunciou o tal “pacote de concessões” para a iniciativa privada, na área de infra-estrutura. Não foi à toa. Era como se a presidenta tentasse se desvincular: o “velho PT” vai pro banco dos réus; ela não, é “moderna” e confiável. Hum…

Imaginem Zé Dirceu condenado. Na manhã seguinte, o alvo será Lula. Consolidado o ataque a Lula, as baterias estarão voltadas contra Dilma. Rapidamente, a sucessora de Lula perceberá que a ilusão de um trato

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“republicano” com a velha mídia brasileira não era nada além disso: ilusão.

Será que Dilma deu-se conta do erro que é apostar na lua-de-mel com os conservadores? Afinal, bateu pesado em FHC, quando este último escreveu sobre a “herança” pesada que Lula teria deixado pra ela. Mas e a relação com a mídia? Preocupante saber que Dilma teria confirmado presença no Congresso da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) [de 12 a 16 de outubro, em São Paulo]. Trata-se de uma espécie de Instituto Millenium, maior e mais articulado em todas as Américas. FHC e Marina estarão lá na SIP. Se Dilma também for, o círculo estará fechado.A questão é a seguinte: Lula teve 8 anos para iniciar um processo contra-hegemònico da mídia no Brasil. Em vez de atacá-la favorecer a concorrência, criando oportunidade para a atuação de outros grupos, inclusive fortalecendo a ´TV estatal. O q fez? Nada.Cel

28 .PEQUENO ENSAIO SOBRE A MÍDIA- MODUS OPERANDI E DOMINÂNCI

Marcelo Cajueiro

O poder da mídia dominante é incomensurável - Pelo poder de penetração e influência em larga escala, pela capacidade de edição (recorte) da realidade, pelo uso de linguagem subliminar, o poder da mídia dominante é assustador. Ela transforma calça rasgada em moda; chinelo de peão em calçado de artista; derruba presidentes e alça ao poder ilustres desconhecidos; e faz você beber até o que não sabe o que é. Tem também a capacidade de demonizar ou absolver quem queira ao seu bel prazer.

O principal problema da mídia dominante não é o que ela diz, mas o que se exime de dizer - A mídia dominante atua como um filtro da realidade, exibindo apenas e somente o que interessa aos seus patrocinadores. Seu papel se cumpre mesmo que não se lhe dê atenção, ou que o espectador não tenha capacidade para entender o significado do que lhe está sendo transmitido (ex.: “o Brasil não cumpriu a meta do superávit primário em novembro”). Neste sentido, o fato de o espectador estar no conforto do seu lar com a TV ligada em um noticioso, mas envolvido em outras atividades e alheio a ela, não tem a mínima importância; o poder midiático subsiste. Por consagrar-se como intermediário entre o espectador e a suposta realidade, por ocupar este espaço de honra, a mídia “eleita” não dá margem a que outras visões/leituras da realidade emirjam ou sejam levadas a sério. Ao conceder a uma determinada mídia este poder, o espectador tende a excluir automaticamente visões alternativas/questões não tratadas pela mesma. Apaga de seu campo de visão ou, no melhor dos casos, rotula como não-importante tudo o que não é tratado pela mídia a quem consagrou o direito de informar-lhe (mídia (con)sagrada).

Não há liberdade de imprensa - Tudo o que é exibido no jornal, rádio, televisão, e parte da Internet passa pelo crivo dos editores, quem, por sua vez, estão sujeitos à censura e subordinados aos desígnios do patrocinador. O discurso da liberdade, visa, no fundo, ausência de controle social. A confusão de controle social com censura pura e simples almeja ludibriar o espectador e demovê-lo da ideia absolutamente legítima (apoiada pela Constituição) e democrática de sujeitar os meios de comunicação ao interesse público. Afinal, todo veículo de comunicação é uma concessão pública – e não privada.

Supermercado – A mídia dominante se parece com um grande supermercado, onde cada patrocinador reserva seu espaço para veicular ideias e propostas, mercadológicas ou não, neste “balcão” disfarçado de neutro.

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Desmobilização (a campanha contra o Estado) – Os meios de comunicação também fomentam a desmobilização quando focalizam diuturnamente a deterioração dos serviços públicos, sem que nenhuma providência seja tomada para aplacá-la. Este mantra veiculado incansavelmente, em vez de despertar a reação enfurecida das massas e a mobilização em torno de uma possível solução de seus problemas, gera apatia e desilusão (paralisia), deixando o território da política livre para os aproveitadores de sempre. Assim, transgressores e oportunistas se apropriam do Estado, que, a rigor, deveria ser de todos (povo, eleitor, cidadão, contribuinte).

Segmentação do mercado televisivo - Com o surgimento da TV fechada (paga), a mídia dominante foi segmentada entre “ilustrados” e “não ilustrados”, que passaram a receber rações diferentes:

· Aos ilustrados, deformou-se o conteúdo da informação objetiva, para que estes se investissem automaticamente em porta-vozes dos interesses dos patrocinadores midiáticos;

· Para os não ilustrados, atuou-se basicamente no campo da subjetividade, no emocional, ao oferecer-lhes altas doses de conteúdo sexual, violência, intriga (BBB’s, novelas) e sensacionalismo (catástrofes, epidemias, terrorismo), visando o entorpecimento intelectual e o controle físico das massas. Este modus operandi paralisante potencializou-se em contexto onde as instituições de ensino já estavam fragilizadas e sucateadas. Neste jogo, as mulheres (e seus atributos sexuais) foram e continuam sendo usadas e abusadas (e são centrais) enquanto vetor prioritário de paralisia e alienação.

Os patrocinadores da mídia dominante querem ver o espectador mergulhado em seu mundinho – Homens e mulheres se tornam prisioneiros inexoráveis dos padrões estéticos ditados pela mídia dominante, vendo-se obrigados a destinar uma grande energia e tempo para aproximar-se dos padrões estabelecidos, sob pena de não serem aceitos socialmente. Os meios tiram proveito do detalhismo do sexo feminino e lhe apresentam um leque interminável de frivolidades e trivialidades com as quais poderia se entreter até o fim dos tempos. A tergiversação é utilizada em seu grau máximo para afastar o espectador comum de questões mais relevantes.

Atores, modelos, jogadores de futebol e outras celebridades são fundamentais para os patrocinadores da mídia dominante. Seus salários, comissões são elevados porque eles cumprem duas importantíssimas funções (além do clássico empurrão que dão à venda de produtos):

· Galvanizam a atenção do espectador, (dis)traindo-lhe e afastando-lhe do enfrentamento das questões do “mundo real” (seus interesses são aprisionados pelo mundo lúdico);

· Fixam o “teto-limite” da ambição dos mais jovens, o modelo inspirador definitivo para as massas. Portanto, são usados como expedientes para controle e subjugação de suas aspirações.

Redes sociais e mecanismos de busca: liberdade ou controle? - O Facebook, Google, e o Yahoo têm quebrado muitas barreiras geográficas. Mas estão, em contrapartida, gerando novas prisões e desmobilização física (“cada um no seu quadrado”) e vêm se afirmando como mecanismos, inéditos há 20 anos, de controle e registro sobre o indivíduo, suas preferências, atitudes e valores. A massa de informação gerada e controlada de forma coletiva vem acumulando conhecimento sem precedentes (não só mercadológico) na mão de poucas corporações sobre cada um de nós, que, por sua vez, o transbordam sem cerimônia para seus sócios - as agências de inteligência – cujo interesse geopolítico nestas novas formas de interação já não é segredo para ninguém.

Fragmentação - A mídia dominante (especialmente as redes sociais) estimula e reforça as diferenças, o surgimento das tribos. Ninguém é igual a ninguém e, com isto, a identificação com uma determinada classe fica prejudicada (no máximo, a

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identificação se dá com a tribo). O relacionamento do indivíduo passa a se dar diretamente com o todo, sem intermediários de peso para encaminhamento de demandas ou reivindicações. O conceito de classe, como consequência, perde peso político, bem como o manejo de soluções por meio desta via.

MAS POR QUE ELA É DOMINANTE?

Tamanho não é documento – O espectador intui de modo falacioso que grupos de mídia tecnologicamente mais bem equipados e com maior poder de mercado são necessariamente mais competentes ou produzem conteúdos mais fidedignos. Tamanho, infelizmente, não tem origem na competência jornalística, mas na aposta que os capitais fazem ao criar veículos bem equipados (RH e tecnologia) para defender seus interesses. Como a maioria das pessoas crê nessa premissa falaciosa (tamanho = autenticidade jornalística) e como, no imaginário popular, “a maioria tem sempre razão”, acaba-se reforçando, através da audiência ou da tiragem, a falácia anterior. Entretanto, o senso comum nem sempre é bom conselheiro.

Oniscientes, onipotentes e onipresentes - O que está implícito na relação mídia dominante e sua plateia é um jogo-de-faz-de-conta: o espectador ilude-se ao fiar-se nos meios para informar-se sobre a realidade; os meios, por sua vez, trasvestem-se de intermediários confiáveis e fidedignos do “mundo real”; oniscientes, onipotentes e onipresentes. No entanto, o espectador não percebe a falácia ou o erro de origem neste processo de delegação de poder: que a realidade, por sua grandiosidade, não é accessível a nenhuma entidade humana, por maior e bem-estruturada que seja, restando a qualquer ente midiático apenas a humilde capacidade concreta (e honesta) de ofertar cortes limitados e interpretações parciais do real. O espectador pensa que está recebendo um resumo isento, confiável e multifacetado da realidade que o cerca, quando, na verdade, o que obtém é uma coletânea pobre de assuntos cuidadosamente manipulados com o intuito de refletir apenas os interesses do(s) patrocinador(es). Estamos, portanto, diante de doutrinamento, e não de imparcialidade, fidedignidade e diversidade.

Não há Democracia - Convergência entre os meios – O espectador crê na mídia dominante porque parte de outra premissa enganosa: a de que uma mesma informação, quando propagada por veículos diferentes, só pode ser verdadeira. Todavia, a convergência/exibição simultânea de conteúdos programáticos equivalentes tem origem: 1) na concentração de capital no setor midiático que garante que hoje este setor esteja na mão de poucas famílias/grupos econômicos (poucas agências de informação); 2) nas reuniões de pauta entre os vários veículos de comunicação de controles distintos. Ambos fornecem ao espectador a falsa impressão de que o que está lendo/vendo/ouvindo é o universo relevante de informações. O controle remoto não é capaz de salvar o espectador desta armadilha.

PELO EMPODERAMENTO DA MÍDIA ALTERNATIVA DE QUALIDADE

A mídia alternativa de qualidade já existe, mas é desconhecida da maioria da população, já que se encontra dispersa e diluída em vários veículos e meios de comunicação, especialmente na Internet. Cabe a nós propagar, utilizando-nos dos instrumentos já disponíveis, esta “novidade”. Mas temos que ir além. O empoderamento da mídia alternativa de qualidade passa pela desconstrução do paradigma da neutralidade e onisciência, onipotência e onipresença da mídia dominante (e de qualquer outro tipo). Passa pelo entendimento de que escala, escopo e tecnologia, se implicam em mais influência e penetração à primeira vista, não são definitivamente lastro para melhores conteúdos. Passa pela defesa de uma escola voltada para a formação de cidadãos críticos e engajados politicamente, e não de consumidores passivos e prontos para reproduzir e responder cegamente aos comandos do sistema. Passa, por fim, pelo imprescindível controle social dos meios. Somos todos responsáveis por esta luta se queremos interferir na atual, perversa e injusta relação de poder que tem na mídia dominante um dos seus pilares e vetores principais.

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" ---19/03/2013 14:48:22---Amigos

30 . A era da blogosfera30/10/2011 |LUIZ NASSIF

http://portal.cruzeirodosul.inf.br/acessarmateria.jsf?id=340038

Notícia publicada na edição de 30/10/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 002 do caderno B - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

O 1º Encontro Internacional dos Blogueiros, em Foz do Iguaçu, pode ser considerado um marco na história

da blogosfera. Vieram blogueiros de mais de 15 países e alguns analistas de renome internacional.

Participei da mesa de abertura, ao lado do porta-voz do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson e do criador do Le

Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet.

***

Dias antes surgiram notícias de que o Wikileaks fecharia as portas, em função do bloqueio econômico que

tem sofrido de instituições financeiras internacionais, que praticamente o impede de receber doações. Hrafnsson

explicou que o site está procurando alternativas tanto financeiras quanto tecnológicas para continuar seu

trabalho. No dia 28 de novembro abrirão novamente os sistemas para receberem informações de forma segura.

Hrafnsson se disse decepcionado com a parceria firmada com grandes jornais internacionais. Seria a maior

aliança midiática da história, um grande jornal em cada grande país. Mas a experiência terminou por não ser

bem sucedida. Não receberam suporte adequado nem de alguns campeões da democracia, como The New

York Times e The Guardian, disse ele.

Mesmo assim, considera que os documentos ajudaram a desvendar uma das maiores tramas midiáticas da

história, os falsos argumentos das armas de destruição de massa, que levaram à guerra do Iraque.

***

Um dos principais pensadores mundiais sobre mídia, o francês Ramonet não foi bem aproveitado. Merecia

ser desafiado com um tema específico sobre os novos tempos e ter tido mais tempo. Mesmo assim, passou

conceitos relevantes sobre o papel da nova mídia.

***

De minha parte procurei passar a seguinte visão. Não se pode falar em blogueiros como um movimento

homogêneo. Tem blogueiros de todos os extratos, linhas políticas. Há um certo movimento blogueiro, primo-

irmão do movimento do software livre, com características libertárias. Lembram um pouco os antigos

anarquistas. São contra todas as formas de Estado, mas também contra partidos políticos, contra a velha mídia.

Acreditam no trabalho colaborativo e na afirmação pessoal de cada um perante o grupo. Mas são apenas um

grupo em meio a uma variedade cada vez maior.

***

Ramonet lembrou que as formas de comunicação estarão em permanente mutação. Hoje é o Twitter e o

Facebook. Amanhã serão novas ferramentas. Mais importante do que as ferramentas serão as formas de

organização da informação.

Hoje em dia já é possível recorrer a uma quantidade enorme de informações não disponíveis em outras

épocas. Quer acesso à última coletiva do Banco Central, a uma agência de notícias de graça (Agência Brasil),

ao conteúdo de blogs de todas as partes do país, às palestras de determinado seminário, aos vídeos do

Youtube? Esse mundo já está disponível. É enorme a desproporção entre esse novo modelo, ainda verde,

caótico, e o velho modelo.

***

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Haverá jogos de aliança fantásticos entre blogues locais, regionais e nacionais, mídia regional e todos os

veículos que de alguma forma tenham público e produzam conteúdo. O trabalho colaborativo não permitirá mais

veículos "donos" da notícia - no sentido de produzirem uma notícia fechada e ficarem donos absolutos da

versão veiculada. É um mundo novo pela frente, com enormes possibilidades para quem conseguir enxergar o

futuro.

31. Audiência de Vídeos on Line no Brasil

43 MILHÕES EM 12/2012!

(Pesquisa ComScore) 1. A ComScore (NASDAQ: SCOR), líder em medições do mundo digital, divulgou (06) uma análise sobre a atividade de vídeo online no Brasil, com base em insights do Video Metrix. O estudo revelou que o YouTube é o maior destino de vídeos no Brasil, e que Facebook.com é o de crescimento mais rápido nos Top 10. O estudo também mostrou que o Brasil é o sétimo maior mercado de Vídeo Online no mundo, com uma audiência de espectadores de 43 milhões em dezembro.

2. A análise revelou que os Brasileiros estão entre os 10 maiores mercados do mundo, em termos de espectadores únicos, alcançando 43 milhões de espectadores em dezembro de 2012. O ranking reflete o consumo de vídeo on-line em todos os mercados analisados pela comScore, e mostra a China como líder do grupo, com mais de 1,2 bilhão de espectadores únicos em dezembro.

3. Conheça os 10 maiores mercados globais por espectadores únicos.

4. Conheça as 10 principais propriedades de vídeo online no Brasil.

32. O Governo é uma graçaMilton Ribeiro – FB 23 abril 2013

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O governo é uma graça. Apanha, apanha, apanha e paga para apanhar. O deputado Paulo Pimenta tem toda a razão ao propor à Ministra Helena Chagas um grupo para discutir mídia publicitária do Governo.

E, bem, apesar da promessa de transparência da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, é importante perguntar: quais são as “demais emissoras”? Afiliadas da TV Globo, como a RBS ou a TV Verdes Mares, de Fortaleza? Se sim, não deveriam contar nas verbas da Globo?

Quanto à TV fechada, estamos falando da SporTV, da GloboNews, da GNT, do Futura, todos canais ligados às Organizações Globo?

Hein?

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33. Por que o governo deve apoiar a mídia alternativa

Venício Lima - publicado em 16 de janeiro de 2013 às 15:13PUBLICIDADE OFICIALPor que o governo deve apoiar a mídia alternativaPor Venício A. de Lima em 15/01/2013 na edição 729no Observatório da ImprensaEm audiência pública na Comissão de Ciência & Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados, realizada em 12 de dezembro último, o presidente da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom), Renato Rovai, defendeu que 30% das verbas publicitárias do governo federal sejam destinadas às pequenas empresas de mídia.Dirigentes da Altercom também estiveram em audiência com a ministra da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom-PR), Helena Chagas, para tratar da questão da publicidade governamental.

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Eles argumentam que o investimento publicitário em veículos de pequenas empresas aquece toda a cadeia produtiva do setor. Quem contrata a pequena empresa de assessoria de imprensa, a pequena agência publicitária, a pequena produtora de vídeo, são os veículos que não estão vinculados aos oligopólios de mídia.Além disso, ao reivindicar que 30% das verbas publicitárias sejam dirigidas às pequenas empresas de mídia, a Altercom lembra que o tratamento diferenciado já existe para outras atividades, inclusive está previsto na própria lei de licitações (Lei nº 8.666/1993).Dois exemplos:1. Na compra de alimentos para a merenda escolar, desde a Lei nº 11.947/2009, no mínimo 30% do valor destinado por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar, do Fundo de Desenvolvimento da Educação, do Ministério da Educação, gestor dessa política, deve ser utilizado na aquisição “de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas”.2. No Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), destinado ao desenvolvimento da atividade audiovisual, criado pela Lei nº 11.437/2006 e regulamentado pelo Decreto nº 6.299/2007, a distribuição de recursos prevê cota de participação para as regiões onde o setor é mais frágil. Do total de recursos do FSA, 30% precisam ser destinados ao Norte, Nordeste e Centro Oeste. Vale dizer, não se podem destinar todos os recursos apenas aos estados que já estão mais bem estruturados (ver aqui, acesso em 11/1/2013).A regionalização das verbas oficiaisA reivindicação da Altercom é consequência da aparente alteração do comportamento da Secom-PR em relação à chamada mídia alternativa.A regionalização constitui diretriz de comunicação da Secom-PR, instituída pelo Decreto n° 4.799/2003 e reiterada pelo Decreto n° 6.555/ 2008, conforme seu art. 2°, X:“Art. 2º – No desenvolvimento e na execução das ações de comunicação previstas neste Decreto, serão observadas as seguintes diretrizes, de acordo com as características da ação:“X – Valorização de estratégias de comunicação regionalizada.”Dentre outros, a regionalização tem como objetivos “diversificar e desconcentrar os investimentos em mídia”.De fato, seguindo essa orientação a Secom-PRtem ampliado continuamente o número de veículos e de municípios aptos a serem incluídos nos seus planos de mídia. Os quadros abaixo mostram essa evolução.

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Trata-se certamente de uma importante reorientação histórica na alocação dos recursos publicitários oficiais, de vez que o número de municípios potencialmente cobertos pulou de 182, em 2003, para 3.450, em 2011, e o número de veículos de comunicação que podem ser programados subiu de 499 para 8.519, no mesmo período.Duas observações, todavia, precisam ser feitas.Primeiro, há de se lembrar que “estar cadastrado” não é a mesma coisa que “ser programado”. Em apresentação que fez na Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), São Paulo, em 16 de julho de 2009, o ex-secretário executivo da Secom-PR Ottoni Fernandes Júnior, recentemente falecido, citou como exemplo de regionalização campanha publicitária em que chegaram a ser programados 1.220 jornais e 2.593 emissoras de rádio – 64% e 92%, respectivamente, dos veículos cadastrados.Segundo e, mais importante, levantamento realizado pelo jornal Folha de S.Paulo, a partir de dados da própria Secom-PR, publicado em setembro de 2012, revela que nos primeiros 18 meses de governo Dilma Rousseff (entre janeiro de 2011 e julho de 2012), apesar da distribuição dos investimentos de mídia ter sido feita para mais de 3.000 veículos, 70% do total dos recursos foram destinados a apenas dez grupos empresariais (ver “Globo concentra verba publicitária federal”, CartaCapital, 13/9/2012, acesso em 12/1/2013).Vale dizer, o aumento no número de veículos programados não corresponde, pelo menos neste período, a uma real descentralização dos recursos. Ao contrário, os investimentos oficiais fortalecem e consolidam os oligopólios do setor em afronta direta ao parágrafo 5º do artigo 220 da Constituição Federal de 1988, que reza:“Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de oligopólio ou monopólio”.Democracia em jogoA mídia alternativa, por óbvio, não tem condições de competir com a grande mídia se aplicados apenas os chamados “critérios técnicos” de audiência e CPM (custo por mil). A prevalecerem esses critérios, ela estará sufocada financeiramente, no curto prazo.Trata-se, na verdade, da observância (ou não) dos princípios liberais da pluralidadee da diversidade implícitos na Constituição por intermédio do direito universal à liberdade de expressão, condição para a existência de uma opinião pública republicana e democrática.Se cumpridos esses princípios (muitos ainda não regulamentados), o critério de investimentos publicitários por parte da Secom-PR deve ser “a máxima dispersão da propriedade” (Edwin Baker), isto é, a garantia de que mais vozes sejam ouvidas e participem ativamente do espaço público.Como diz a Altercom, há justiça em tratar os desiguais de forma desigual e há de se aplicar, nas comunicações, práticas que já vêm sendo adotadas com sucesso em outros setores. Considerada a centralidade social e política da mídia, todavia, o que está em jogo é a própria democracia na qual vivemos.Não seria essa uma razão suficiente para o governo federal apoiar a mídia alternativa?***[Venício A. de Lima é jornalista e sociólogo, pesquisador visitante no Departamento de Ciência Política da UFMG (2012-2013), professor de Ciência Política e

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Comunicação da UnB (aposentado) e autor de Política de Comunicações: um Balanço dos Governos Lula (2003-2010), Editora Publisher Brasil, 2012, entre outros livros]http://www.viomundo.com.br/falatorio/venicio-lima-por-que-o-governo-deve-apoiar-a-midia-alternativa.htmlParte inferior do formulário

34.Cai confiança do leitor na imprensa tradicionalBlog cidadania

http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/88151/Cai-confian%C3%A7a-do-leitor-na-imprensa-

tradicional-Cai-confian%C3%A7a-leitor-imprensa-tradicional.htm

Pesquisa Datafolha mostra que o percentual de pessoas que "confiam muito" na imprensa caiu de 31% para 22%. Por outro lado, a taxa daqueles que "não confiam" de jeito nenhum nos jornais subiu de 18% para 28%. Explicação estaria na partidarização dos grandes grandes grupos de mídia

17 de Dezembro de 2012 às 06:01

247 - Pesquisa Datafolha sobre confiança nas instituições mostra que o percentual de pessoas que "confiam muito" na imprensa caiu de 31% para 22%. Já a proporção daqueles que "confiam um pouco" teve queda leve, de 51% para 50%. Por outro lado, a taxa daqueles que "não confiam" de jeito nenhum nos jornais subiu de 18% para 28%, um percentual maior do que os que "confiam muito".

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Como a pesquisa chega após meses de intensa cobertura do julgamento do mensalão e após um processo eleitoral, o resultado vem sendo visto por analistas (como Emir Sader, por exemplo) como decorrência da partidarização dos grandes veículos de comunicação. O resutado disso é que, aproximadamente, apenas um a cada cinco brasileiros confia plenamente na imprensa.Leia abaixo análise do Blog da Cidadania:

Pesquisas revelam que maioria vê imprensa como partido políticoBlog da Cidadania - Nos últimos dias, duas pesquisas de opinião (do Ibope e do Datafolha) sobre quem é quem hoje na grande política nacional revelaram um quadro de polarização e de cristalização de posições políticas entre a sociedade, com vantagem renitente para os atuais detentores do poder federal, que, nessas pesquisas, aparecem com popularidade inabalada.

Mas, apesar da reiterada pregação desta e de tantas outras páginas da internet e de pequenos exércitos de militantes virtuais no sentido de que seria "inútil" a campanha da grande imprensa contra Lula, PT e – por tabela – Dilma Rousseff, as pesquisas revelam que, cada um a seu modo, direita e esquerda têm – ou pensam que têm – razão em suas táticas atuais.

Ter razão, claro, no sentido de que ambos os lados confiam em suas estratégias com base em elucubrações racionais e amplamente discutidas internamente. É, pois, ingenuidade achar que a passividade do PT e a virulência da oposição midiática derivam de não saberem o que estão fazendo.

Não há bobinhos no Palácio do Planalto; não há bobinhos no PT; não há bobinhos no PSDB e tampouco há bobinhos na Globo, na Folha, na Veja ou no Estadão. A forma como agem – ou reagem, conforme o lado – ao jogo político é produto de intensa reflexão, de sondagens do eleitorado e de sólidas teorias políticas.

Então você dirá, leitor petista, que a perenidade da aprovação de Lula, Dilma e PT revelada pelas pesquisas mostra que ao menos do lado da direita midiática, se não há "bobinhos", há dementes, pois quanto mais batem nos petistas mais eles se fortalecem perante a opinião pública. E, em alguma medida, pode estar certo. Mas não totalmente.

Vejamos o que acontece do outro lado. As lideranças e os militantes da direita midiática serão tão alucinados que não enxergam que foi inútil tudo o que fizeram de agosto para cá, desde o início concomitante da campanha eleitoral de 2012 e do julgamento do mensalão?

Nem a militância destro-midiática é alucinada nem foi inútil sua campanha anti-Lula, anti-PT e – sempre por tabela – anti-Dilma. Já conversei com muitos desses militantes e sei por que persistem na artilharia incessante contra esses três eixos da situação hoje no Brasil, mas nem precisaria.

Todos se lembram da pregação de dona Judith Brito no Instituto Milenium no sentido de que cabia à imprensa fazer oposição ao governo federal, explicando que a debilidade da oposição, decorrente do desenvolvimento econômico e social do país, requeria o concurso dos meios de comunicação para evitar a "hegemonia lulopetista".

Para quem não sabe, em entrevista ao jornal O Globo, em 2010, no âmbito da campanha eleitoral à Presidência da República, a presidente da Associação Nacional de Jornais e executiva da Folha de S. Paulo, Maria Judith Brito, fez a seguinte declaração:

"A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão

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fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo"

Leia agora, abaixo, comentário do verbete "Partido da Imprensa Golpista" na Wikipedia.

"A declaração de Maria Judith Brito foi bastante criticada por repórteres e intelectuais, bem como por autoridades ligadas ao governo. As críticas focaram no aparente reconhecimento de que a imprensa estaria, de fato, assumindo um papel de oposição.

Em artigo publicado na Carta Maior, Jorge Furtado afirmou que a presidente da associação teria assumido que a grande imprensa do país virou um 'partido político' e a criticou por não questionar a 'moralidade de seus filiados [ao] assumirem a 'posição oposicionista deste país' enquanto, aos seus leitores, alegam praticar jornalismo'

Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa, fez crítica semelhante, afirmando que 'o risco maior para a imprensa vem da própria imprensa, quando os jornais se associam para agir como um partido político'.

O ministro Paulo Vannuchi, titular da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, também criticou a declaração, afirmando que a imprensa 'vem confundindo um papel que é dela — informar, cobrar e denunciar — com o papel do protagonismo partidário'.

Washington Araújo, no Observatório da Imprensa, questiona: 'será papel dos meios de comunicação substituir a ação dos partidos políticos no Brasil, seja de situação ou de oposição? (...) Em isso acontecendo... não estaremos às voltas com clássica usurpação de função típica de partido político? E não seria esta uma gigantesca deformação do rito democrático?'"

Você pode concordar ou discordar da posição da grande imprensa brasileira – ou de seus maiores componentes –, mas não se pode discordar de que há uma lógica no que faz. Vamos a ela.

É claro que sem as campanhas acusatórias aos petistas e aos aliados deles, estariam com popularidade muito mais alta. Há pouco, Dilma anunciou duas medidas que têm um potencial imensurável de beneficiar a sociedade. O que seja, a forte redução nos juros e no valor da conta de luz.

Imagine você, leitor, o que aconteceria se essas medidas fossem implantadas sem que ninguém tentasse minimizar e até desmentir, ainda que de forma absurda, o potencial delas para melhorar a vida da sociedade e fomentar o desenvolvimento. A esta altura, Dilma teria 99,99% de aprovação.

A mídia, pois, apela à idiotia ou ao preconceito ou à falta de instrução ou ao egoísmo ou à falta de caráter de setores da sociedade – ou a tudo isso junto – para formar seu exército antilulista e antipetista. E consegue. E esse êxito está expresso nos números da pesquisa Datafolha divulgada neste domingo pela Folha de São Paulo, com destaque para Lula, que continua forte como nunca apesar de estar sofrendo uma das maiores ofensivas de seus adversários.

As pessoas, porém, confundem aprovação com intenção de voto e é por isso que alguns não entendem por que Dilma tem 78% de aprovação pessoal, mas só 53% a 57% de intenções de voto para presidente da República.

A explicação é muito simples: aprovação não é pesquisada só entre eleitores, mas também entre quem não vota ainda ou entre quem não vota mais. E também entre quem não quer votar.

Uma analogia pode explicar melhor esse aparente paradoxo: a pessoa pode gostar muito de ir à praia, mas isso não significa que deseje ou pretenda morar na praia, da mesma forma que reconhecer que o governo está indo bem não significa que a pessoa não julgue que pode ir melhor.

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A estratégia midiática, portanto, é, sim, racional. É questionável? Claro que é. Afinal, por mais que o engajamento político-partidário da grande imprensa tenha tido êxito no que se propôs (formar uma militância ampla de resistência à possibilidade de "hegemonia lulopetista"), Ibope e Datafolha acabam de mostrar que todo esse esforço tem sido insuficiente.

O contraponto à estratégia da direita midiática é o de auto vitimização dos detentores do poder, o que não seria possível se não houvesse um imenso fundo de verdade na premissa de que Lula, PT e Dilma são alvos de injustiças e violações de seus direitos civis.

Essa estratégia também tem tido largo êxito. E, à diferença da estratégia oposicionista, um êxito majoritário, pois se estão cristalizadas posições contra o governo, igualmente se cristalizaram as posições no sentido de que a imprensa está sendo vista como um legítimo partido político, o que, por si só, não condena, mas descredencia para a crítica.

É claro, evidente e cristalino que quem não é corintiano ou palmeirense não irá levar em conta a opinião de um torcedor do Corinthians sobre o Palmeiras e vice-versa. É o que ocorre com a disputa entre situação petista e oposição demo-tucano-midiática. A maioria já se convenceu de que não dá para levar em conta o noticiário "da Globo" porque "a Globo" odeia o PT.

Resta, pois, a insinuação que o Partido da Imprensa tenta contrabandear dentro do noticiário sobre essas recentes pesquisas Ibope e Datafolha, a de que, aos poucos, a campanha midiática está surtindo efeito. Isso porque os pesquisados revelaram um pouco mais de desagrado com aspectos da governança do país, com destaque para a Segurança, por exemplo.

Essa premissa ignora o fato de que não há nada de inédito ou de espantoso em um contingente maior, mas ainda muito pequeno dos pesquisados, desaprovar aspectos da condução do país pelo governo do PT, pois governos estaduais e municipais de oposição têm sofrido revés muito maior – pesquisas recentes mostram, por exemplo, que 71% dos paulistas não confiam no governador tucano Geraldo Alckmin para resolver os problemas de Segurança que assolam São Paulo.

Além disso, sempre que aumenta o nível de crítica ao governo, a Lula e ao PT na mídia, o efeito imediato é o de aumentar, de alguma maneira, a visão crítica da sociedade sobre este ou aquele aspecto, e essas pesquisas estimulam isso ao fazerem perguntas ao pesquisado que o induzem a refletir sobre o que possa existir de negativo em um governo que considera bom.

Sobre a economia, apesar de a mídia agir como se o crescimento não estivesse diminuindo fortemente no mundo inteiro, praticamente tentando vender que esse é um problema brasileiro, quem não sabe que enquanto aqui não decorre nenhum grande problema por conta da crise internacional nos países que sempre foram o oásis do bem-estar social as famílias estão sendo despejadas de suas casas aos milhares, o desemprego grassa e aquele bem-estar vai sumindo?

Apesar do fato de uma parcela da sociedade entrar nessa onda da mídia, a grande maioria – que as pesquisas dizem ser de quase 80% – sabe muito bem que estamos nos saindo brilhantemente ao navegar por uma crise que assola o planeta inteiro.

Essa é a fraqueza da estratégia da direita midiática, e é devido a ela que o governo federal e a sua titular vão conseguindo não apenas cristalizar, mas aumentar o contingente dos que apoiam o rumo da administração do país. A maioria dos brasileiros está convencida de que a grande imprensa virou mesmo o que até já assumiu que é: um partido político.

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35.O último suspiro de influência da mídia

Artigo publicado no blog Diário do Centro do Mundo

http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/90974/O-último-suspiro-de-influência-da-mídia.htm

\PAULO NOGUEIRA 18 DE JANEIRO DE 2013 ÀS 10:18

A imprensa construiu e destruiu Collor. Depois disso, se dedicou a defender seus próprios interesses

A queda de Fernando Collor de Mello, há 20 anos, foi a última demonstração de força e influência da imprensa brasileira, para o bem e para o mal. Collor, um político provinciano e oco, tagarela e bonitão, se tornou uma figura nacional graças à mídia, que viu nele uma alternativa salvadora a – sempre ele – Lula na presidência.

Collor seria consagrado como "o caçador de marajás" por jornais e revistas. Era descrito pela mídia como o homem perfeito: combatia marajás – os funcionários públicos de altos salários – e era moderno. Este foi o primeiro empurrão em Collor, e lhe permitiu chegar ao segundo turno das eleições presidenciais.

Sua plataforma era a versão tosca em português da de Margaret Thatcher, que então era tida como uma semideusa. Não haviam aparecido ainda os efeitos sinistros do thatcherismo. Hoje eles são claros, impressos que estão na grande crise econômica e financeira mundial. Mas quando Collor virou um pretendente sério à presidência a fórmula de Thatcher – desregulamentar e privatizar — parecia funcionar.

Como um Thatcher de calças, Collor cortejou e conquistou Roberto Marinho, à época considerado amplamente o homem mais poderoso do país. Isso foi essencial para o segundo empurrão dado em Collor: a edição mal-intencionada da TV Globo do debate entre ele e Lula às vésperas da eleição. Lula não foi bem no debate, mas na edição da Globo – vista por uma audiência gigantesca que já não existe mais para a emissora – ele foi ainda muito pior. E então nosso Thatcher virou presidente.

Collor cometeu o erro de achar que, porque andara de avião, podia voar sozinho. Foi fatal. Não buscou alianças políticas, e não soube manter sequer o apoio da mídia que tanto contribuíra para sua vitória. Sem base política, foi jogado para o abismo pela mesma mídia que o alçara ao Planalto.

Foi o apogeu da imprensa como força política.

Em 1964, ela participara ativamente das ações para a derrubada do presidente João Goulart – mas o papel principal coube aos militares. Em 1992, o protagonismo foi da mídia. Passados vinte anos, o poder da imprensa é uma sombra do que foi. Em parte porque a internet foi ocupando um espaço cada vez maior. Mas também porque as grandes corporações de jornalismo não souberam captar o zeitgeist, o espírito do tempo. E isso é fatal no jornalismo.

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Em 1992, por exemplo, ler a Folha era considerado coisa de gente bacana. Ela captara o espírito do tempo na campanha das Diretas Já. Hoje, na nova geração de leitores, quem se importa com a Folha? O espírito do tempo agora se manifesta em coisas como a inconformidade com a iniquidade social monstruosa que varreu o mundo. Na agenda de que grande empresa de mídia se vê algum traço desse inconformismo?

A maior demonstração da crescente falta de potência está nos resultados das três últimas eleições presidenciais. Ganharam candidatos – Lula e Dilma – que jamais gozaram do apoio da mídia, para dizer o mínimo.

É bom ou ruim o enfraquecimento da mídia estabelecida para o Brasil? É difícil lamentar a perda de influência. O Brasil que as grandes empresas de jornalismo ajudaram a construir era simplesmente insustentável em sua iniquidade, na forma absurda com que era distribuído o bolo, no número abjeto de miseráveis amontoados em favelas.

No mundo perfeito, a mídia teria apontado esse drama e lutado para corrigi-lo. Não fez. Fez o oposto, na verdade: se alinhou à manutenção de privilégios e de mamatas. Por isso, vinte anos depois da queda de Collor, fala apenas para os privilegiados – e não todos eles, mas aqueles que em seu egoísmo sem limites ignoram e desprezam os desfavorecidos.