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9 ENTRE CLIO E THEMIS: GÉRMENS DO DIREITO INTERNACIONAL NA ANTIGUIDADE JORGE LUÍS MIALHE 1 SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Elementos do Direito Internacional na Me- sopotâmia, no Egito e na Babilônia. 3. Elementos do Direito Internacional em Cartago. 4. Elementos do Direito Internacional na Antiguidade Greco- Romana. 4.1. Grécia. 4.2. Roma. 5. Considerações finais. 6. Referências bibliográficas. Resumo: A contribuição do “proto-direito” internacional na Antigui- dade merece ser resgatada, tendo em vista algumas de suas ca- racterísticas que muito o aproxima dos modernos instrumentos jurídicos de Direito Internacional contemporâneo, notadamente em matéria de extradição, assistência militar recíproca, troca de prisioneiros, restituição de cidades, cláusulas tributárias, comércio e navegação. Palavras-chave: História do Direito Internacional – Antiguidade Orien- tal – Antiguidade Greco-Romana – Tratado de Kadesh – Tratados na Guerra do Peloponeso. Abstract: The contribution of the “proto” international law international in Antiquity should be rescued, taking on some of its features that much closer to the modern instruments of contemporary international law, especially on extradition, mutual military assistance, exchange of prisoners, return of cities, tax provisions, trade and navigation. Keywords: History of International Law, Oriental Antiquity, Greco- Roman Antiquity, Treaty of Kadesh, Treaties in Peloponnesian War. 1 Doutor, mestre e bacharel pela USP. Pós-doutorado, com bolsas da FAPESP e da CAPES, nas universidades de Paris e Limoges (França). Professor do UNISAL/ Campinas, da UNESP/Rio Claro e do Curso de Mestrado em Direito da UNIMEP/ Piracicaba. E-mail: [email protected]

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9ENTRE CLIO E THEMIS: GÉRMENS DO DIREITO

INTERNACIONAL NA ANTIGUIDADE

JORGE LUÍS MIALHE1

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Elementos do Direito Internacional na Me-

sopotâmia, no Egito e na Babilônia. 3. Elementos do Direito Internacional

em Cartago. 4. Elementos do Direito Internacional na Antiguidade Greco-

Romana. 4.1. Grécia. 4.2. Roma. 5. Considerações finais. 6. Referências

bibliográficas.

Resumo: A contribuição do “proto-direito” internacional na Antigui-dade merece ser resgatada, tendo em vista algumas de suas ca-racterísticas que muito o aproxima dos modernos instrumentos jurídicos de Direito Internacional contemporâneo, notadamente em matéria de extradição, assistência militar recíproca, troca de prisioneiros, restituição de cidades, cláusulas tributárias, comércio e navegação.

Palavras-chave: História do Direito Internacional – Antiguidade Orien-tal – Antiguidade Greco-Romana – Tratado de Kadesh – Tratados na Guerra do Peloponeso.

Abstract: The contribution of the “proto” international law international in Antiquity should be rescued, taking on some of its features that much closer to the modern instruments of contemporary international law, especially on extradition, mutual military assistance, exchange of prisoners, return of cities, tax provisions, trade and navigation.

Keywords: History of International Law, Oriental Antiquity, Greco-Roman Antiquity, Treaty of Kadesh, Treaties in Peloponnesian War.

1 Doutor, mestre e bacharel pela USP. Pós-doutorado, com bolsas da FAPESP e da CAPES, nas universidades de Paris e Limoges (França). Professor do UNISAL/Campinas, da UNESP/Rio Claro e do Curso de Mestrado em Direito da UNIMEP/Piracicaba. E-mail: [email protected]

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CADERNOS JURÍDICOS JORGE LUÍS MIALHE

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1. INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo resgatar a contribuição da quase desconhecida historiografia acerca das raízes do Direito Internacio-nal presentes na Antiguidade. No mesmo sentido, pretende ilustrar com textos antigos a variedade de elementos jurídicos presentes na-quilo que poderíamos definir como gérmens do Direito das Gentes e verificar similitudes entre esse “protodireito” e o Direito Interna-cional contemporâneo.

Ao iniciar o primeiro capítulo do seu Droit International Public, NGUYEN QUOC DINH, PATRICK DAILLIER e ALAIN PELLET ressaltam que o Direito Internacional, plus que toute autre branche du droit, est inséparable de son histoire parce qu´il est um droit essentiellement évolutif.2 Raciocínio complementado por AGUILAR NAVARRO no primeiro volume do seu Derecho Internacional Público: faltos de la contemplación histórica, el Derecho Internacional resulta incomprensible.3 Nesse sentido, a história do Direito Internacional é, em boa medida, um reflexo da própria história da Europa e de suas instituições.

Analisando a bibliografia referente à história do Direito Inter-nacional Público, GEORG STADTMÜLLER,4 ex-professor da Universidade de Munique, fazia referência a mais antiga e “gigantesca” exposição compediada da história geral do Direito Internacional: a Histoire du droit des gens et des relations intenationales, de LAURENT, publicada em Gand, entre 1850-1868, em quatorze tomos. Destacava, ainda, a obra de WEGNER, Geschichte des Völkerrechts5 (1936), principalmen-te pela exposição detalhada das “concepções e instituições jurídico-internacionais da antiguidade greco-romana”.6 É possível, portanto, identificar-se nestas e em outras referências historiográficas os gér-mens do Direito Internacional presentes em diversas civilizações.

2 DINH, NQ, et al. Droit International Public, p. 41. Tradução: “Mais do que qualquer outro ramo do direito, é inseparável da sua história, uma vez que é um direito essencialmente evolutivo”.

3 AGUILAR NAVARRO, M. Derecho Internacional Público, t.1. Madrid, 1952.4 STADTMÜLLER, G. História del Derecho Internacional Público. Madrid: Aguilar,

1961. Traduzido do alemão (Geschichte des Völkerrechts. Hannover: Hermann Schroedel Verlag, 1951).

5 História do Direito Internacional.6 Id. id. p.3.

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De fato, há quem acredite – escreveu TRUYOL Y SERRA7 – que o Direito Internacional Público “surgiu com o moderno sistema de Es-tados, como princípio normativo” das suas relações. Ora, prossegue o professor da Universidade de Madri, “o que com o sistema de Es-tados surge, não é o Direito Internacional Público, mas sim uma das suas formas históricas, a forma especificamente moderna” (grifei). Além disso, sempre houve um direito das gentes fragmentário nos quais certos princípios, como a santidade do pacto celebrado, os privilégios e imunidades atribuídos aos enviados, os costumes de guerra, mostram-se como instituições do Direito Internacional cujas origens encontram-se nas antigas civilizações.8 Nessas circunstân-cias, o entendimento do termo “Estado” deve circunscrever-se à fase latente de desenvolvimento dessa organização jurídico-política, não se confundindo, portanto, com sua moderna noção westphaliana.

Por tratar-se de um estudo preliminar, optou-se neste artigo pela identificação dos elementos do Direito Internacional observa-dos tão somente nas civilizações mesopotâmica, egípcia, babilônica, cartaginesa e greco-romana, buscando aproximar Clio de Themis.

2. ELEMENTOS DO DIREITO INTERNACIONAL NA MESOPOTÂMIA, NO EGITO E NA BABILÔNIA

Alguns historiadores do Direito frequentemente confundiam a história do Direito Internacional com a história do Direito Romano.9 Por um longo período, os estudiosos que reconheciam a existên-cia do Direito Internacional na Antiguidade, em geral, relatavam sua emergência com o Direito Romano. Tal fato se deve à crença de que o jus gentium e o jus fetiale eram vistos como os precursores ime-diatos do moderno Direito Internacional.10

Contudo, o documento mais antigo impregnado de elementos de um “protodireito” internacional é uma pedra, com inscrição su-mérica, de 4.000 a.C., contendo um tratado firmado entre a cidade-Estado de Lagash, sob o domínio de Eannatum (ou Eutemena) e os habitantes de Umma (ou Ummah), na Mesopotâmia, o qual de-signava como árbitro o rei Mesilin (ou Misilin), da vizinha cidade

7 Apud LUZ, NF. (1963: 196).8 Cf. LUZ, N.F. (1963: 196).9 Cf. as análises de BUTKEVYCH, O. V. (2003: 193).10 Id.ibid.

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de Kish. O tratado “regulava a estabilidade das fronteiras dos signa-tários e era garantido a seis ou sete deuses sumérios comuns aos contratantes”.11

Relativamente à importância documental para as relações jurí-dicas internacionais, os liames bilaterais entre o Egito e a Babilônia apresentam o marco lapidar para a História do Direito Internacional, o tratado de paz de Kadesh (1269 a.C.)12, celebrado entre o faraó Ramsés II e o rei dos hititas Khattuschil III, redigido em duas ver-sões: uma hieroglífica, em lâmina de prata, e outra em escrita cunei-forme, em língua acadia (assírio-babilônica), o idioma da diplomacia da época, indicando o mútuo reconhecimento como elemento es-sencial para as relações estáveis entre ambas as partes.

Uma cópia hieroglífica sobrevive nos muros de Ramesseum – templo mortuário de RAMSÉS II construído para si mesmo em Tebas – e em inscrições no templo de Karnak. Todavia, ressalta PASINLI (2009: 203)13, as escavações de Winckler, na capital dos hititas, Hattusha, na Anatólia, trouxe à luz uma terceira cópia em escrita acadiana. Essa é a versão disponível atualmente no Museu Arqueológico de Istambul. O tablete está quebrado em dois fragmentos: o maior, com 45 linhas (13,8 cm X 17,6 cm X 5,1 cm) e o menor, com 28 linhas (9,2 cm X 4 cm X 2,7 cm). Uma cópia dessa versão do tratado, em grande forma-to, foi produzida pelo Prof. SADI ÇALIK como parte da decoração da entrada do edifício sede das Nações Unidas, em Nova York.

No curso destas atividades integrativas, particularmente aque-las de natureza religiosa, as partes começaram a desenvolver proce-dimentos comuns para a celebração de tratados, acompanhados por numerosos rituais, v. g. atos de ereção de totens compartilhados, comemoração de feriados religiosos comuns e a prática de orações pelos sacerdotes nas cerimônias de sacrifícios aos deuses de ambas as partes.14

Diante da sua importância como marco inicial da história do Direito Internacional e, sobretudo, pela dificuldade em obter-se na

11 Informa LUZ (1963: 199).12 Todavia, informa KOVÁCS (2004: 174), a literatura científica também considera

plausíveis a assinatura nos anos de 1259 a.C., 1283 a.C e 1296 a.C.13 PASINLI, A. Istambul Archaeological Museums. 5ª ed. Istambul: A Tarizni Yayinlan,

2009.14 BUTKEVYCH (2003: 197).

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bibliografia jurídica a tradução do tratado para o português, optou-se pela reprodução integral do Tratado de Kadesh na forma de ane-xo ao presente artigo. (Documento nº. 1).

Assim, os interessados terão a oportunidade de estudar uma das mais antigas fontes primárias do Direito Internacional conhecido.15

3. ELEMENTOS DO DIREITO INTERNACIONAL EM CARTAGO

Prosseguindo sua jornada pela história do Direito Internacional em direção ao norte da África, STADTMÜLLER (1961:20) afirma que a co-lônia fenícia de Cartago (próximo da atual Túnis), fundada por volta de 813 a.C., foi a potência marítima hegemônica no Mediterrâneo ocidental. Por conta disso, desenvolveu-se um autêntico sistema de tratados internacionais para assegurar o seu monopólio comercial e naval na região. Os tratados entre Cartago e Roma, registrados pelo historiador POLÍBIO,16 circunscreviam uma zona reservada aos cartagi-neses que ia do Cabo Bon (entre Túnis e Bizerta, extremo norte da Tunísia) até Mastia (ou Nova Cartago, atual Cartagena, no sudeste da Espanha). Aos barcos romanos só se permitia deter-se transitoria-mente na região em caso de perigo de naufrágio ou de perseguição inimiga. Para tais casos excepcionais, foram estabelecidas condições muito precisas: “Se alguém precisar fazer uma parada forçada, não poderá comprar nem assenhoriar-se de nada, a não ser para reparar a embarcação, ou obter o necessário para os sacrifícios (aos deuses). E a estadia não poderá exceder cinco dias”.17

Num segundo tratado, Roma teve que reconhecer as águas ma-rítimas da Sardenha e da Líbia como zonas reservadas aos Cartagi-neses. Por sua vez, a parte ocidental cartaginesa da Sicília e o porto de Cartago, poderiam ser abordados por embarcações romanas. Fi-nalmente, num terceiro tratado, ambas as potências concluíram uma aliança contra Pirro.18

15 Cuja versão em escrita cuneiforme está em exibição no Museu Arqueológico de Istambul.

16 Historiador grego (200 a.C-125 a.C.).17 POLÍBIO, III, 22,6.18 Rei de Épiro (atual território localizado no noroeste da Grécia e sul da Albânia)

a partir de 307 a.C. Autor da frase: “Mais uma vitória como esta e estaremos completamente perdidos”.

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Para Cartago, o fundamental era a manutenção de sua extensa rede de feitorias e centros comerciais. Para tanto, conservavam seu poderio naval e assinavam tratados com outras potências.

“A bandeira segue o comércio”. Nesse sentido, em Cartago foi pouco desenvolvida a ideia tradicional de soberania territorial, pro-va disso é que até inícios do século V a.C. a rica metrópole pagava tributos aos chefes berberes da Líbia e mostrava desinteresse pelo domínio do interior da norte da África. Desde o século V a.C., diante das incessantes discórdias entre as cidades gregas na Sicília, Cartago soube manter uma prudente neutralidade, foi-se introduzindo pro-gressiva e paulatinamente na cultura grega e no sistema de equilí-brio das potências helenísticas.

4. ELEMENTOS DO DIREITO INTERNACIONAL NA ANTIGUIDADE GRECO-ROMANA

Conforme STADTMÜLLER (1961: 22-26), as principais fontes para o estudo das concepções e instituições gregas do Direito das relações internacionais são a História da Guerra do Peloponeso, de Tucídi-des (séc.V a.C.) e a obra do orador Isócrates (436 a.C.-338 a.C.), constituída por 21 discursos e 9 cartas.

Tucídides faz uma exposição realmente única da luta entre os sistemas de alianças (em torno de Esparta e de Atenas). Particular-mente importantes são os tratados entre as pólis gregas, amplamente discutidos por Tucídides e reproduzidos parcialmente no final des-tas notas (Documentos nºs 2 e 3). Já os grandes discursos políticos de ISÓCRATES constituem nossa fonte mais importante para a história das ideias políticas do século IV a.C. que também incidiram no de-senvolvimento do Direito internacional.

4.1. Grécia

É visível a evolução das normas internacionais ao longo dos vários períodos da história grega: por exemplo, o direito do mais forte e a prática da vingança de sangue, plenamente vigente na época homérica, foram extintos na época clássica (séculos V-IV a.C.). A lei do Estado, originariamente fundamentada no direito sacro ( Themis), desprendeu-se de sua origem religiosa e se tornou um direito profano (Diké). A ilustração sofística trouxe consigo o predomínio da concepção racionalista do Direito. Desde então, o

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Direito ante a consciência pública se manifestou preponderante-mente como encarnação da vontade do Estado que, na democra-cia ateniense, coincidiu com a vontade da correspondente maioria popular, constituída tão somente por cidadãos atenienses. Com muita rapidez foram decaindo, no transcurso dos séculos V e IV a.C., as vinculações religiosas e morais da consciência jurídica. A explicação de STADTMÜLLER para esse fenômeno deve-se, em parte, ao caráter extramoral da crença nos deuses olímpicos e na tendên-cia intelectualista da ética grega.19

O primitivo Direito internacional das pequenas cidades-Esta-do gregas conheceram, prossegue STADTMÜLLER, uma multiplicidade de concepções e instituições que se distinguem entre sí por uma terminologia jurídica finamente desenvolvida. “Merecem destaque as concepções acerca do direito dos embaixadores (presbeis) e arautos (kerykes); a instituição dos proxenoi”20, semelhante a dos cônsules modernos; a evolução diferenciada das várias formas de tratados internacionais; as regras para a realização do bloqueio na guerra marítima; os princípios acerca do direito de passagem por terra e por mares territoriais; da forma justa de declarar a guerra; do tratamento de prisioneiros e da entrega dos cadáveres dos ini-migos para receber honras fúnebres em sua pátria21, o direito de asilo nos templos, o uso do sacrifício ritual do exército ao sair do próprio território. Todas essas manifestações oferecem, em suma, a

19 STADTMÜLLER, p. 23.20 Id. ibid. p. 24. VBO. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. “gr. próksenos,ou ‘próxeno, a

saber, o hospedeiro público, título honorífico conferido a gregos ou estrangeiros que houvessem prestado serviço a uma cidade; cidadão que se ocupava em sua pátria dos interesses nacionais de uma outra cidade’. lat. proxenéta ou proxenétes,ae ‘mediador nos contratos, compras, etc., corretor de mercadorias’ < gr. proksenétês,oû ‘agente, aquele que serve de intermediário, mediador’, der. do v. proksnéó ‘ser hospedeiro de um estado, de uma cidade; ser hospedeiro público; ser patrão ou protetor de alguém, servir de intermediário, de mediador’; cp. fr. proxénète (1521) ‘intermediário numa transação comercial; posteriormente alcoviteiro’”.

VBO. Dicionário Jurídico da Academia Brasileira de Letras Jurídicas. “Indivíduo que, no estrangeiro era incumbido de receber seus conacionais que tivessem de tratar com o governo. Precursor do Cõnsul Honorário”.

21 Por exemplo, no século XIX, o destino dos restos mortais de NAPOLEÃO BONAPARTE, trazidos da Ilha de Santa Helena para serem sepultados na Igreja do Hôtel des Invalides, com todas as honras militares, após a negociação de LOUIS PHILIPPE com britânicos em 1840.

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imagem de Direito internacional muito desenvolvido, que se basea-va, predominantemente, não nos acordos de natureza contratual entre distintos Estados, mas em antigos costumes jurídicos aplica-dos entre eles.

As legações, lembra CAMARGO (1983: 104), podiam subscrever di-versos tipos de tratados: políticos e militares (symmachia), tratados sobre estrangeiros (isotelia e isopolitia), alianças, tréguas e acordos de paz, delimitações de fronteiras, convênios de comércio, acordos sobre assistência recíproca (Cf. Documentos nºs. 2 e 3 dos Anexos) e contra a sublevação de escravos. Esses tratados estavam garantidos por juramentos religiosos, mas alguns deles também incluíam san-ções de caráter econômico.

Para concluir o tratado de paz, escreveu COULANGES (1998: 228), realizava-se um culto religioso relatado na Ilíada:

os arautos sagrados levando as oferendas destinadas aos jura-mentos dos deuses, isto é, os cordeiros e o vinho; o chefe do exército, com a mão sobre a cabeça das vítimas, dirige-se aos deuses e lhes faz as suas promessas; depois imola os cordeiros e verte a libação, enquanto o exército pronuncia esta fórmula de oração: Ó deuses imortais! Fazei com que, assim como esta vítima foi ferida pelo ferro, assim também seja despedaçada a cabeça do primeiro que infrinja seu juramento.

No mesmo sentido, destacava COULANGES (1998:228), esse ritual era praticado durante toda a história grega e que “selava-se qualquer tratado com um sacrifício. Os chefes do povo, pousando a mão so-bre a vítima imolada, pronunciavam certa fórmula de oração, obri-gando-se perante os deuses”. O juramento e a oração obrigavam as partes contratantes. “Os gregos não diziam: assinar o tratado; mas sim: degolar a vítima do juramento, órkia témnein, ou fazer a liba-ção, spéndesthai”.

Os gregos também conceberam a arbitragem. Conforme assina-lam DINH et alii (2002:47), “a arbitragem internacional, desconheci-da dos Orientais, é estrita criação dos gregos. Num período de cinco séculos, até o século IV a.C. contaram-se 110 arbitragens. Praticava-se igualmente a arbitragem comercial, na sequência do desenvolvi-mento do comércio internacional”. Assim, por exemplo, um tratado de aliança entre Esparta e Argos, celebrado em 418 a.C., estipulou que ambas as cidades-Estado deveriam submeter suas diferenças a

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arbitragem “em termos justos e iguais, de acordo com os costumes ancestrais”. Igualmente os atenienses e os beócios, afirma CAMARGO (1983: 104), acordavam, por tratado, a submissão de suas futuras divergências a arbitragem da pólis Lamia.

Para a conservação da paz, os gregos se serviram das anfiktyonias, que eram ligas pacíficas, de caráter religioso, nas quais as cidades-Estado se coligavam em torno dos grandes santuários para adorar uma divindade. A mais importante foi a anfictionia do santuário de Apolo, em Delfos, composta de um conselho integrado por mem-bros de cada um dos doze povos reunidos, destinados à conservação e à administração do templo e à organização das festas sagradas.

Devem, ainda, ser mencionadas as anfictionias de Termópilas, Kalauria e Delos. Essa última constitui-se numa symachia, organi-zação de defesa coletiva baseada num tratado de aliança e de assis-tência militar. CAMARGO (1983: 104) vê nessas ligas os precedentes das organizações internacionais. DINH et alii (2004: 47) consideram algumas symachias “verdadeiras associações federais que aplicam as duas regras federais da liberdade de adesão e da igualdade entre os membros”. Todavia, “a igualdade não foi respeitada por muito tem-po por Atenas que transforma rapidamente em imperialismo a sua preponderância no sistema”. É necessário também observar, com CAMARGO (1983: 104), que apenas a Liga de Corinto ou Liga Helêni-ca, fundada por FILIPE DA MACEDÔNIA, tornou-se uma confederação de pólis gregas, cuja finalidade era a de promover a guerra contra os persas.

De todas as manifestações de hostilidades entre cidades-Estado, ressalta GARLAN (1991: 88), “a violação de fronteiras é a que apresenta maiores consequências; é ela que tem verdadeiro valor de declara-ção de guerra, quaisquer que sejam as acusações anteriores entre as partes”. Assim, a unidade e o controle sobre o território eram na Grécia antiga “o principal ponto de referência do Direito internacio-nal”.

Na Grécia, os sujeitos de Direito internacional são as pólis, pois possuem plena capacidade jurídica e de ação, sujeitas apenas às limi-tações por elas mesmas decididas, decorrentes da conclusão de trata-dos. Claro está que a formação das grandes ligas (ou confederações) conduziu muitas vezes a uma restrição da soberania de cada uma das cidades-Estado associadas. Ao povo da cidade-Estado pertencia todo

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cidadão pleno, quer dizer, todo aquele que tinha nascido no territó-rio da cidade-Estado, filho de pai com plena cidadania.

O direito de cidadania poderia conceder-se, desde logo, a um estrangeiro, mas também a coletividades em bloco (decretos sobre naturalização de particulares, tratados sobre isopoliteia e sympoliteia de comunidades inteiras). O território da cidade-Estado se distinguia claramente dos seus vizinhos por fronteiras naturais. Marcos de pedra e tratados de delimitação cuidavam, em espaços litigiosos, de fixar nitidamente seus limites. Tanto a bordo de um navio quanto em uma colônia se aplica o direito da mãe pátria. Al-gumas colônias com poder crescente lograram, todavia, desenvolver sua própria soberania jurídica.22 O poder da cidade-Estado era exer-cido de maneira diversa em cada uma das comunidades políticas (aristocracia, democracia, resíduos de monarquia, tirania). A noção de divisão de poderes lhes era desconhecida. Todavia – como bem demonstra a Antígona, de SÓFOCLES (496 a .C.-406 a .C.)23 – se encon-tra expressa repetidamente a ideia de que toda lei do Estado só tem força obrigatória dentro dos limites éticos de uma “lei não escrita” (άγραφος υόμος) superior.

O tema principal da Antígona é o embate entre o direito natu-ral, defendido pela personagem principal que dá nome à tragédia, e o direito positivo, personalizado no rei de Tebas, CREONTE.24 Antígona desobedece o edito de CREONTE que proibia o sepultamento de seu

22 STADTMÜLLER, p. 24.23 De acordo com KURY (2002:7), “durante sua longa vida SÓFOCLES presenciou

a expansão do império ateniense, seu apogeu com Péricles e finalmente sua decadência após a derrota na Sicília durante a Guerra do Peloponeso. O poeta participou ativamente da vida política da sua pátria; foi tesoureiro-geral (hellenotamias) de Atenas em 442-442 a . C. e foi eleito no mínimo duas vezes estratego (strategôs, comandante do exército em expedições militares)”.

24 Como bem destacou KURY (2002:14), nesta peça SÓFOCLES “levantou questões fundamentais para o espírito humano, principalmente a do limite da autoridade do Estado sobre a consciência individual, e a do conflito entre as leis da consciência – não escritas – e o direito positivo. A sua Antígona é o primeiro grito de protesto contra a onipotência dos governantes e a prepotência dos adultos”. [...] “Nela Creontre encarna o dever de obediência às leis do Estado, e a heroína simboliza o dever de dar ouvidos à própria consciência. Esta obra de SÓFOCLES é o único exemplo em que o tema central de um drama grego é um problema prático de conduta, envolvendo aspectos morais e políticos, que poderiam ser discutidos, com fundamentos e interesse idênticos, em qualquer época e país”.

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irmão POLINICES: “foi ditado que cidadão algum se atreva a distingui-lo com ritos fúnebres ou comiseração: fique insepulcro o seu cadáver e o devorem cães e aves carniceiras em nojenta cena”.25 Ao ser in-quirida sobre o conhecimento do referido edito, Antígona confirma: “Sabia. Como ignoraria? Era notório”.26 Em seguida, questiona-lhe CREONTE: “E te atreveste a desobedecer às leis”.27 Antígona contesta o edito do rei de forma categórica:

Mas Zeus não foi arauto delas para mim, nem essas leis são as ditadas entre os homens pela Justiça” [...] “e não me pareceu que tuas determinações tivessem força para impor aos mortais até a obrigação de transgredir normas divinas, não escritas, inevitáveis; não é de hoje, não é de ontem, é desde os tempos mais remotos que elas vigem, sem que ninguém possa dizer quando surgiram. E não seria por temer homem algum, nem o mais arrogante, que me arriscaria a ser punida pelos deuses por violá-las”.28

Como bem observou STADTMÜLLER,29 na base de tais princípios foi possível mais tarde desenvolver-se, já no cristianismo, a teoria do direito de resistência. A esfera jurídica-pública do Estado e a esfera jurídica-privada do cidadão particular não se distinguiam tão nitida-mente como em Roma.

Na consciência jurídica internacional dos gregos, o mundo dos Estados de então se dividia em dois grandes grupos: helenos e bár-baros. De um lado, o Direito internacional positivo, desenvolvido em numerosos acordos contratuais, apenas regia as relações entre as cidades-Estado gregas. Por outro lado, com os bárbaros ocorria o

25 Antígona, versos 232 a 236. Ensina FUSTEL DE COULANGES (1998:9-10), que “a alma que não tivesse o seu

túmulo não teria morada. Era errante.” [...] “ficava condenada a errar sempre, sob a forma de larva ou de fantasma, sem jamais parar, sem nunca receber as oferendas e os alimentos de que tanto carecia”. [...] “Toda a antiguidade se persuade de que, sem sepultura, a alma vive desgraçada e que só pelo seu enterramento adquiria a feleicidade para todo o sempre. Não era para mostrar dor que se realizava a cerimônia fúnebre, mas para repouso e felicidade do morto” [...] “Na cidade antiga a lei pune os grandes culpados com um castigo sempre considerado terrível: a privação da sepultura. Punia-se-lhes assim a sua própria alma, infligindo-lhe um suplício quase eterno”.

26 Antígona, verso 504.27 Antígona, verso 510.28 Antígona, versos 511 a 523.29 Op. cit, p.25

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marco da comitas gentium, aquele Direito internacional consuetudi-nário, não escrito, que se limitava a aplicação de alguns princípios ge-rais de Direito natural (v. g., a inviolabilidade dos embaixadores).30

A comunicação entre os Estados somente se realizava por meio de legados. Havia diversas classes, nitidamente hierarquizadas e bem definidas terminologicamente, desde o simples parlamentario31 até o embaixador. Em compensação, tanto os gregos quanto os roma-nos, desconheciam as embaixadas permanentes como instituição. A representação dos interesses gerais dos estrangeiros que habitavam as pólis poderia ser assumida por um próxenos.32

4.2. Roma

As principais fontes para o estudo da história do Direito das relações internacionais em Roma, lembra STADTMÜLLER (1961: 32-33), são os escritos do grego POLÍBIO de Megalópolis (séc. II a .C.), de JÚ-LIO CÉSAR (100 a.C.-44 a.C.); os textos de TITO LÍVIO (59 a.C.-17 d.C.) e de TÁCITO (55 d.C.-120 d.C.). Para o período imperial, o Codex Theodosianus e o Codex Justianianus.

Diferentemente dos gregos, o ponto de partida para a formação do Império romamo foi uma única cidade, que, mediante a conquis-ta e a anexação dos povoados vizinhos, foi aumentando cada vez mais o âmbito de sua soberania.

A importância da religião é sentida na fé manifestada aos deuses pelos colégios de sacerdotes (pontífices) em sua tarefa de guardiões do antigo direito sacro (fas). Como decorrência deste direito, a cus-tódia das regras, usos e costumes para a prática das relações interna-cionais foi incumbida ao colégio sacerdotal dos fetiales (collegium fetialium), composto de vinte sacerdotes. Daí a denominação jus fetiale que, posteriormente, afastando-se de sua origem sacerdotal, foi denominado jus belli ac pacis (direito da guerra e da paz).33

30 STADTMÜLLER, p.25.31 VBO. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. “Mensageiro enviado por

um dos beligerantes à autoridade militar inimiga para apresentar proposta ou transmitir informação de interesse comum”.

32 Cf. nota 18.33 STADTMÜLLER (1961:34).

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TITO LÍVIO, lembra COULANGES (1998: 229), indica a importância dos feciais na celebração dos tratados que tinham “caráter sagrado e inviolável”:

O tratado não poderia concluir-se sem a presença dos feciais e sem se cumprirem todos os ritos sacramentais; na verdade, um tratado não é uma convenção, uma sponsio, como entre os homens: conclui-se um tratado pelo enunciado de uma oração, precatio, em que se encomenda que o povo faltoso às condições acabadas de enunciar seja ferido pelos deuses, como a vítima acaba de ser pelo fecial.

O direito de embaixada sempre foi considerado especialmente sagrado em Roma. Nos tempos mais antigos era da competência dos membros do colégio sacerdotal dos feciais a entrega de mensagens solenes a governos estrangeiros. Posteriormente, eram enviados ci-dadãos notáveis como legati. Não se conhecia nenhuma hierarquia entre tais representantes: a expressão legatus designava qualquer espécie de embaixada.34

Um membro do collegium fetialium tinha que deslocar-se, na qualidade de legado, ao território do “Estado estrangeiro” e aí, em local de destaque, formular publicamente as reivindicações e exigir para Roma uma reparação – clarigatio,35 repetitio rerum.36 Se tal petição fosse rechaçada, ao final do prazo de trinta e três dias tinha início o estado de guerra: atirava-se um dardo no campo do adver-sário, o que significava declaração de guerra justa e piedosa (bellum iustum et pium).37 Portanto, a declaração de guerra (belli indictio) obedecia a uma forma jurídica solene e poderia ser declarada de boa fé como guerra justa (bellum iustum).

Na análise de STADTMÜLLER (1961: 37), em extraordinária oposi-ção com o escrupuloso esmero com que se praticavam as adequadas formalidades jurídicas para declarar a guerra (assim como para os gregos) estava a ausência de toda restrição jurídica no modo de con-duzi-la. O país conquistado e a população submetida, eram destituí-

34 Id. ibid., p.35.35 VBO. TORRINHA, F. Dicionário Latino-Português. “Ação de reclamar do inimigo

aquilo que ele tomou injustamente; reclamação nacional. Direito de se apoderar da pessoa ou dos bens do inimigo”.

36 Restituição ou reparação de algo. 37 LUZ (1963:206).

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dos de todo direito e não gozavam de nenhuma consideração.38 Sua sorte dependia do arbítrio do vencedor. Era completamente normal o aniquilamento, a mutilação ou a redução a escravidão de mulhe-res, crianças e cativos; a deportação e o assentamento forçado de populações inteiras, a execução dos reféns; o saque e o incêndio de cidades e aldeias; a morte de adversários políticos aprisionados (v.g. o caso de Vercingetorix). As descrições de César em “As Gálias” são alguns dos exemplos que confirmam essas práticas.39

Os romanos, observa CAMARGO (1983:105), adotaram regras es-peciais sobre os problemas da guerra e da paz. A guerra como tal era uma instituição jurídica e apenas quatro causas a justificavam: a violação dos territórios romanos, o desrespeito das imunidades dos embaixadores, a violação de tratados e a ajuda de uma nação amiga dos romanos a um adversário em guerra com Roma. A guerra termi-nava com o pleno aniquilamento militar do adversário (debellatio) e a ocupação do seu país mediante a rendição incondicional (deditio) ou por conquista (ocupatio).

Nas suas Institutiones, ULPIANO tentou sistematizar o jus belli ac pacis incluindo a ocupação e a fortificação dos lugares, a guerra, o cativeiro, a escravidão, os tratados de paz, as tréguas e o dever sa-grado de não ofender os embaixadores. O jus postliminii (de post e linem) era aplicado por Roma ao povo estrangeiro com o qual man-tinha um tratado de amizade; se este acordo não existisse ou já não estivesse mais em vigor, os romanos que penetravam em território inimigo poderiam também escravizá-los e expropriar os seus bens.40

38 KEEGAN (1995:280) lembra que POLÍBIO relata como CIPIÃO, o Africano, após invadir Nova Cartago (atual Cartagena), em 209 a.C., por ocasião da Segunda Guerra Púnica, “dirigiu [seus soldados], segundo o costume romano, contra a população da cidade, dizendo-lhes para matar todos os que encontrassem e não poupar ninguém, e para só começar a pilhagem quando recebessem ordem. O objetivo desse costume é espalhar o terror. Dessa forma, pode-se ver em cidades capturadas pelos romanos não apenas seres humanos que foram mortos, mas até cães cortados em dois e os membros de outros animais cortados fora”.

39 STADTMÜLLER (1961: 37). No mesmo sentido, COULANGES (1998:227) informa que a guerra não se fazia apenas contra os humanos: “a guerra fazia-se igualmente aos campos e às colheitas. Queimavam-se as casas, abatiam-se as árvores, e a colheita do inimigo era, quase sempre, dedicada aos deuses infernais e, por consequência, queimada. Exterminavam-se os animais e destruíam-se até as sementeiras que produziriam no ano seguinte”.

40 Observa O’CONNELL (1995: 89) que “a existência provada de spolia optima (literalmente, o “o espólio mais rico”, concedido apenas quando um comandante

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Como observou KOROVIN,41 os costumes bélicos dos romanos se ca-racterizavam por sua severidade contra os povos vencidos; todavia, as legiões não recorriam às substâncias venenosas e concediam tré-guas a seus inimigos para que sepultassem os seus mortos.

TITO LÍVIO se pronunciou contra a guerra sine causa. CÍCERO, por sua vez, justificou as guerras de dominação, mas reconheceu a todo gênero humano o direito a “cidade universal, Estado de povos e deuses”. No mesmo sentido, SÊNECA referiu-se a “um Estado que compreenda toda a raça humana” e MARCO ANTONIO autodenominou-se “cidadão do universo”.42

Desde as Guerras Púnicas (que opuseram Roma a Cartago na disputa pela hegemonia do Mediterrâneo ocidental entre 264 a.C. a 146 a.C.), as concepções jurídico-internacionais dos romanos foram vinculadas ao projeto de supremacia romana. A capacidade jurídica de um Estado ou de um governo dependia, em última análise, de serem ou não reconhecidos por Roma. A Pax Romana não era outra coisa senão o conjunto de tratados celebrados pelo Império romano com outras nações. É evidente que os tratados eram desequilibrados, já que Roma impunha suas condições aos povos conquistados.43

Em matéria de tratados, prossegue CAMARGO, os romanos distin-guiram entre tratados de capitulação (deditio), de amizade (amici-tia), alianças (foedum) e hospitalidade (hospitium).44

O foedum, informa LUZ (1962: 207), era o pacto em vigência, isto é, já ratificado pelas partes. “Havia o foedum aequum quando as partes se manifestavam em situação de igualdade; e o inniquum foe-dus, quando Roma assumia posição de superioridade”. Importantes também eram os acordos relacionados à conquista (occupatio).

Os tratados celebrados por Roma foram sempre utilizados como meio para ampliar a sua soberania. Diversamente do que ocorriam com os gregos, para os romanos esses tratados tinham, em princí-pio, validade perpétua. A única exceção era a convenção de armistí-

romano matava pessoalmente o seu homólogo em combate singular) já em 435 a.C. indica que o combate individual era de há muito uma preocupação romana”.

41 Apud CAMARGO, p. 105.42 Id. ibid., p. 106.43 Id. ibid., p. 105.44 Id. ibid., p. 105.

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cio (indutiae), que se concluía por certo tempo. Nesse sentido, sua significação equivalia aos tratados de paz por tempo determinado dos gregos.45

Os tratados concluídos pelos generais romanos com potências estrangeiras necessitavam, antes de entrar em vigor, serem confir-mados pelo Senado. Porém, no caso dos Senadores negarem tal ra-tificação, o general que negociou aquele acordo, segundo a tradição romana, deveria ser entregue ao inimigo.46

O povo romano (populus Romanus), conjuntamente com o Senado (Senatus populusque Romanus – SPQR), era o titular da soberania. Nos tempos mais antigos havia uma diferença de esta-tuto jurídico civil entre os cidadãos de Roma e os aliados latinos. Posteriormente concedeu-se o direito de cidadania romana a estes. Os estrangeiros estabelecidos em Roma (peregrini) não estavam su-jeitos ao direito dos cidadãos romanos (jus civile), mas ao direito dos estrangeiros (jus gentium), administrado nas suas relações pelo Praetor peregrinus. Com a expansão da soberania de Roma, foi-se estendendo progressivamente o direito de cidadania romana aos povos dos territórios conquistados: primeiramente ao Lácio, em 90 a .C.; depois ao restante da Itália; e, em 212 d.C., a todos os habi-tantes do Império pela Constitutio Antoniana, do imperador Cara-calla.47

Salienta STADTMÜLLER que o território do Estado romano era de-limitado dos demais “Estados vizinhos” pelos usos ou convênios. Neles vigiam unicamente o poder de Roma (imperium). A ideia do poder estatal em si, desconectado do seu eventual detentor, foi defi-nida de forma muito mais clara pelos romanos do que por nenhum outro povo da antiguidade.48

Uma distinção jurídico-internacional comparável à grega (entre helenos e bárbaros) era desconhecida para os romanos. Para estes, não havia mais aquela discrepância entre romanos e não romanos. O direito interestatal, na esfera da res publica, era válido em igual medida nas relações com todos os Estados estrangeiros.49

45 Id. ibid., p. 35.46 Id. ibid., p. 36.47 STADTMÜLLER, pp. 34-35.48 Id. ibid., p. 35.49 Id. ibid., p. 35.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se que na Antiguidade vários elementos de um “proto-direito” das relações internacionais que podem ser identificados nos contatos entre os povos do oriente, das pólis gregas, da República e do Império romanos.

A compreensão da história do Direito Internacional pode auxi-liar o seu estudioso a estabelecer correlações entre alguns institutos, princípios e práticas jurídicas contemporâneas e suas origens mais remotas e evolução. Grafadas em tratados celebrados há milhares de anos, continuam a nos surpreender pela clareza dos seus textos e por suas fórmulas atuais.

O tratado e a diplomacia foram instrumentos utilizados em lar-ga escala nas relações internacionais dos povos antigos, reforçando a tese da existência de determinada comunidade jurídica.

A título exemplificativo seguem nos anexos abaixo, três exem-plos de tratados que ilustram algumas das relações jurídicas apre-sentadas ao longo deste artigo.

6. ANEXO

DOCUMENTO Nº 1 TRATADO DE KADESH (1270 A.C.)

(Fonte: BRIEND J, LEBRUN R, PUECH E. Tratados e Juramentos no Antigo Oriente Próximo. São Paulo: Paulus, 1998, p. 56 e segs.)

Tratado Egipto-Hitita entre Ramsés II e Hattusili III (versão babilônica completada pela versão egípcia)

PREÂMBULO

“Tratado que Reamasesa, mai-Amana ( Ramsés II), o grande, o rei (do país do Egito, firmou em uma grande placa de prata) com Hattusili, o grande rei, o rei do país do Hatti, seu irmão, em favor do país do Egito e do país do Hatti, a fim de estabelecer uma boa paz e uma boa fraternidade entre eles para sempre.

Assim (fala) Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito, o herói de todos os países, filho de Min-mua-rea (Séthi I), o grande rei, o rei do país do Egito, o herói, tio de Min-paktarea

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( Ramsés I), o grande rei, o rei do país do Egito, o herói, a Hattusili, filho de Mursili (Mursili II), o grande rei, o rei do país hitita, o herói, tio de Suppiluliuma (Suppiluliuma I), o grande rei, o rei do país hitita, o herói.

Olha, estabeleci agora uma boa fraternidade e uma boa paz en-tre nós para sempre, a fim de estabelecer, assim, uma boa paz e uma boa fraternidade entre o país do Egito e o país hitita para sempre.

Olha, no que concerne ao relacionamento do grande rei, o rei do país do Egito, e do grande rei, o rei do país hitita, desde a eter-nidade o deus não permita, por causa de um tratado eterno, que a inimizade se instale entre eles.

Olha, Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egi-to, estabelecerá o vínculo que o deus solar (Re) quis e que o deus da Tempestade (o grande deus hitita) quis para o país do Egito e o país hitita, segundo o vínculo de eternidade, para não deixar introduzir-se entre eles nenhuma inimizade.

Mas agora, Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito, estabeleceu este vínculo por tratado (escrito) em uma pla-ca de prata com Hattusili, o grande rei, o rei do país hitita, seu irmão, a partir deste dia, para estabelecer entre eles uma boa paz e uma boa fraternidade para sempre.

É ele um irmão para mim e está em paz comigo; e eu sou um irmão para ele e estou em paz com ele para sempre. Olha, somos aliados, e já existe entre nós um vínculo de fraternidade e de paz que existia outrora entre os reis do Egito e do país hitita.

Olha, Reamasesa, o grande rei, o rei do país do Egito, está em boa paz e boa fraternidade com Hattusilli, o grande rei, o rei do país hitita”.

PARTE DISPOSITIVA (CLÁUSULAS)

“Olha, os filhos de Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito, estarão, para sempre, em estado de paz e de frater-nidade com os filhos de Hattusilli, o grande rei, o rei do país hitita. Permanecerão eles na linha de nosso vínculo de fraternidade e de paz; o país do Egito e o país hitita estarão para sempre em estado de paz e de fraternidade, como nós, Reamasesa, mai-Amana, o grande

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rei, o rei do país do Egito, não deve nunca atacar o país hitita para se apossar de uma parte (desse país). E Hattusili, o grande, o rei do país hitita, não deve nunca atacar o país do Egito para se apoderar de uma parte (desse país).

Olha, a ordem fixada pela eternidade a qual o deus solar e o deus da Tempestade criaram para o país do Egito e o país hitita, (a saber) paz e fraternidade, para não deixar lugar entre eles a nenhu-ma inimizade; olha, Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito, a assumiu para estabelecer a paz, a partir deste dia.

Olha, o país do Egito e o país hitita estão em paz e fraternidade para sempre.

Se algum inimigo estrangeiro avança contra o país hitita e se Hattusili, o rei do país hitita, me envia esta mensagem: ”Vem em meu socorro contra o inimigo”, Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito deve enviar suas tropas e seus carros e extermi-nar esse inimigo e dar satisfação ao país hitita.

Se Hattusili, o grande rei, o rei do país hitita está furioso em relação a seus súditos, após cometerem um delito contra ele, e se, por esta razão, o mandas (dizer) a Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito, então Reamasesa, mai-Amana, deve enviar suas tropas e carros e estes devem exterminar todos aqueles com que Hattusili está encolerizado.

Se algum inimigo estrangeiro marcha contra o país do Egito e se Reamasesa, mai-Amana, o rei do país do Egito, teu irmão, envia a Hattusili, o rei do país hitita, seu irmão a seguinte mensagem: “Vem em meu socorro contra o inimigo!”, então, Hattusili, o rei do país hitita, deve enviar suas tropas e seus carros e matar meu inimigo.

Se Reamasesa, mai-Amana, o rei do país do Egito, está encoleri-zado com seus súditos por terem cometido alguma falta grave contra ele e, por causa disso, envio (uma mensagem) a Hattusili, o grande rei, o rei do país hitita, meu irmão, então, Hattusili, o grande rei, o rei do país hitita, meu irmão, deve enviar suas tropas e seus carros que devem exterminar todos aqueles com os quais estou enfureci-do.

Olha, o filho de Hattusili, rei do país hitita, no lugar de Hattusili, se pai, após os numerosos anos de Hattusili, rei do país hitita. Se

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os filhos do país hitita cometerem algum pecado contra ele, então Reamasesa, mai-Amana, enviará, em seu auxílio, tropas e carros, para lhe dar satisfação.

Se algum maioral foge do país hitita e vem para junto de Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito, então Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito, deve prendê-lo e entregá-lo nas mãos de Hattusili, o grande rei, o rei do país hitita, seu senhor.

Se um homem vem (ou dois homens não conhecidos) e vem para junto de Reamasesa, mai-Amana, para servir a outro e, então Reamasesa, mai-Amana, deve prendê-lo e entregar nas mãos de Hattusili, rei do país hitita.

Se um maioral foge do país do Egito e vai para o país de Amurru (Estado vassalo do país hitita na Síria) ou para outra cidade junto do rei de Amurru, então, Benteshina, rei do país de Amurru, deve prendê-lo e mandá-lo ao rei do país hitita, seu senhor, e Hattusilli, o grande rei, o rei do país hitita, deve providenciar que o levem a Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito.

Se um homem foge (ou dois homens desconhecidos) e se foge do rei do país do Egito e não quer servi-lo, então Hattusili, o grande rei, o rei do país hitita deve entregá-lo nas mãos de seu irmão, o rei do Egito, e não deve deixá-lo habitar no país hitita.

Se algum nobre foge do país hitita ou dois homens, e não que-rem mais servir ao rei do país hitita e se fogem do país do grande rei, o rei do país hitita, para não mais o servir, então Reamasesa, mai-Amana, deve prendê-los e fazê-los voltar para Hattusili, o grande rei, o rei do país hitita, seu irmão, não devendo deixá-los permanecer no país do Egito.

Se algum nobre ou dois homens fogem do país do Egito e se dirigem para o país hitita, então Hattusili, o grande rei, o rei do país hitita deve prendê-lo e fazê-los voltar para Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito, seu irmão.

Se um homem ou dois homens ou três homens fogem do país hitita e vão para junto de Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito, o irmão, então Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito, deve prendê-los e fazê-los voltar para

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Hattusili, seu irmão, porque ambos são irmãos. Quanto à falta deles, não se lhes deve imputá-la; sua língua e seus olhos, não se devem arrancá(los); suas orelhas e seus pés, não se devem amputá-los; suas casas, com suas mulheres e filhos, não se devem exterminá-(los).

Se um (homem foge do pais de Reamasesa, mai-Amana, o gran-de rei, o rei do país do Egito) ou se fogem ainda dois homens ou três homens e vão (para junto de Hattusili, o grande rei,) o rei do país hitita, meu irmão, então Hattusili, o grande rei, o rei do país hitita, meu irmão, deve prendê-los e fazê-los voltar a Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito, porque Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito, e Hattusili são ir-mãos. Quanto à falta deles, não se lhes deve imputá-la; sua língua e seus olhos, não se devem arrancá(los); suas orelhas e seus pés, não se devem amputá-los; suas casas, com suas mulheres e filhos, não se devem exterminá-(los).

Se um homem foge do país hitita ou duas pessoas, e se fogem do país hitita e vêm ao país do Egito, e se um nobre foge do país hitita ou de uma cidade, e se fogem do país hitita para ir ao país do Egito, então, Reamasesa deve fazer que os levem a seu irmão. Olha, os filhos do país hitita e os filhos do país Egito estão em paz.

Se as pessoas fogem do país do Egito para ir ao país hitita, então Hattusili, o grande rei, o rei do país hitita deve fazê-los voltar a seu irmão.

Olha, Hattusili, o grande rei, o rei do país hitita, e Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito, teu irmão, estão em paz”.

LISTA DOS DEUSES TESTEMUNHAS (VERSÃO EGÍPCIA)

“No que concerne a estas palavras do tratado que o grande príncipe do Hatti firmou com Ramsés Meri-Amon, por escrito, nesta placa de prata; no que concerne a estas palavras, os mil deuses do país do Egito, deuses e deusas, são comigo, testemunhas, de que ouviram estas palavras: o sol, senhor do céu, a divindade solar da cidade de Arinna, Seth, senhor do céu, Seth da cidade do Hatti, Seth da cidade de Arina, Seth da cidade de Hissashapa, Seth da cidade de Sarissa, Seth da cidade de Halab, Seth da cidade de Lihzina, Seth da cidade de Hurna (texto lacunoso), Seth da cidade de Sahpina,

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Astarte do país do Hatti, o deus de Zithariya, o deus de Karzis, o deus de Hapantalliyas, a deusa da cidade de Karahana, a deusa de Ser, a deusa da cidade de Ninuwa, a deusa de Sem (Ishtar), o deus de Ninatta, o deus de Kulitta, o deus de Hebat, a rainha do céu, os deuses, senhores do julgamento, a deusa, senhora da terra, Ishhara senhora do juramento, os deuses e as deusas, montanhas e rios do país do Hatti, os deuses e as deusas do país Kizzuwatna; Amon, o deus solar, os rios do país do Egito; céu, a terra, o grande Mar, o vento e as nuvens”.

MALDIÇÃO E BENÇÃO

“Se Reamasesa, mai-Amana, e os filhos do país do Egito não observam este tratado, então os deuses e as deusas do país do Hatti devem exterminar a semente de Reamasesa, mai-Amana, o grande rei, o rei do país do Egito.

Se Reamasesa, mai-Amana, e os filhos do país do Egito obser-vam este trabalho, então os deuses do juramento devem protegê-lo e a sua face.

No que diz respeito àquele que observa as palavras que estão na placa de prata, os grandes deuses do país do Egito e os grandes deuses do país do Hatti devem deixá-lo viver e permitir-lhe de estar com boa saúde no ambiente de sua casa, de seu país e de seus ser-vidores.

Quanto àquele que não observar as palavras que estão nesta placa de prata, os grandes deuses do país do Hatti, exterminarão sua casa, seu país e servidores”.

DESCRIÇÃO DO SELO DE PLACA DO TRATADO (VERSÃO EGÍPCIA)

“O que está no centro da placa de prata, na face anterior: repre-sentação de uma imagem de Seth, enlaçando a imagem do grande príncipe do Hatti, rodeada de uma inscrição; “Selo de Seth, senhor do céu; selo do tratado que concluiu Hattusili, o grande príncipe do Hatti, o herói.”

O que está no interior do quadro, que rodeia a representação: selo de Seth, senhor do céu. O que está no centro, na outra face (da placa): a representação da imagem da deusa do Hatti, rodeada por uma inscrição: “Selo da divindade solar da cidade de Arinna, senhor

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do país; selo de Putuhepa (esposa de Hattusili), princesa do país do Hatti, filha do país de Kizzuwatna, sacerdotisa da divindade solar de Arinn, sacerdotisa do país, servidora da deus.” O que está no interior do quadro de representação: selo da divindade solar Arinna, senho-ra de todo o país”.

DOCUMENTO Nº 2

TRATADO ENTRE ATENIENSES, ARGIVOS, ELEUS E MANTINEUS

(Fonte: TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso, p. 265)

“Por ocasião de sua volta, ao saberem que nada havia sido feito na Lacedemônia os atenienses ficaram irritados e, crendo-se lesados e vendo os embaixadores argivos e de seus aliados, casualmente pre-sentes, aparecerem conduzidos por Alcibíades, fizeram uma aliança com eles nas seguintes condições:

“Os atenienses, argivos, eleus e mantineus fizeram um tratado por cem anos, por si mesmos e por seus aliados sobre os quais têm autoridade, a ser cumprido sem dolo e sem ofensa, tanto por terra quanto por mar.

Não será permitido portar armas com ânimo agressivo, seja pe-los argivos, eleus e mantineus e seus aliados contra os atenienses e aliados sobre os quais os atenienses têm autoridade, seja pelos ate-nienses e aliados sobre os quais os atenienses têm autoridade contra os argivos, eleus e mantineus e seus aliados, nem por astúcia, por artifício.

Os atenienses, argivos, eleus e mantineus serão aliados por cem anos nas seguintes condições: se inimigos invadirem o território dos atenienses, os argivos, eleus e mantineus socorrerão Atenas, median-te notificação dos atenienses, com todos os meios efetivamente ao seu alcance e até o limite de suas forças; se os invasores se retirarem após devastar as terras, a sua cidade será inimiga dos atenienses, dos argivos, dos eleus e dos mantineus, e sofrerá represálias destas cidades; a cessação de hostilidades contra a cidade agressora não será permitida a qualquer destas cidades a não ser que todas con-cordem.

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Da mesma forma os atenienses socorrerão Argos, Mantinéia e Elis se inimigos invadirem o território dos eleus, dos mantineus ou dos argivos, mediante notificação de suas cidades, com todos os meios efetivamente ao seu alcance, até o limite de suas forças; se os invasores se retirarem após devastar as terras, sua cidade será inimi-ga dos atenienses, dos argivos, dos mantineus e dos eleus, e sofrerá represálias destas cidades; a cessação de hostilidades contra a cidade invasora não será permitida a qualquer destas cidades, a não ser que todas concordem.

Não será permitido o trânsito com armas, com ânimo bélico, quer por seus territórios ou pelos de aliados sobre os quais tenham autoridade, quer por mar, salvo se o trânsito for aprovado por todas as cidades, dos atenienses, dos argivos, dos mantineus e dos eleus.

Para as tropas de socorro, a cidade que as enviar fornecerá pro-visões para trinta dias após a sua chegada à cidade que pedir socor-ro, e nas mesmas condições quando regressarem; se desejar usá-las por um período mais longo, a cidade que pedir socorro fornecerá provisões para as tropas de infantaria pesada, tropas ligeiras e ar-cheiros à razão de três óbolos eginetas por dia, e para a cavalaria à razão de um dracma egneta.

A cidade que pedir as tropas terá o comando das mesmas sem-pre que a guerra for em seu território. Quando for julgado conve-niente por todas as cidades fazer uma expedição conjunta a qualquer parte, todas as cidades participarão igualmente do comando.

Os atenienses ratificação o tratado por si mesmos e por seus aliados, mas o argivos, mantineus e eleus e seus aliados o ratificarão cidade por cidade. Cada uma delas prestará juramento da maneira mais solene, com o sacrifício de vítimas perfeitas. O juramento será o seguinte: “Serei fiel a esta aliança de conformidade com suas es-tipulações, justamente, sem ofensa e sem dolo, e não a violarei por qualquer astúcia ou artifício”.

O juramento será prestado em Atenas pelo Conselho e pelas autoridades locais, sob a direção dos prítanes; em Argos, pelo Con-selho, pelos Oitenta e pelos Artinos, sob a direção dos Oitenta; em Mantinéia, pelos demiurgos, pelo Copnselho e por outras autori-dades, sob a direção dos teores e dos polemarcas; em Élis, pelos

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demiurgos e pelos Seiscentos, sob a direção dos demiurgos e dos guardiães das leis.

Para a renovação do juramento os atenienses irão a Elis, a Manti-néia e a Argos trinta dias antes dos jogos Olímpicos; os argivos, eleus e mantineus irão a Atenas dez dias antes das Grandes Panatenéias.

As estipulações relativas a este tratado, aos juramentos e à alian-ça serão inscritas em lápides de mármore: pelos atenienses, na acró-pole; pelos argivos, na agora, no templo de Apolo; pelos mantineus na agora, no templo de Zeus; uma placa de bronze será dedicada conjuntamente por estas cidades nos jogos Olímpicos deste ano.

Se parecer conveniente a estas cidades fazer acréscimos às pre-sentes estipulações, as decisões tomadas mediante deliberação con-junta serão compulsórias para todas”.

DOCUMENTO Nº 3

TRATADO ATENIENSE E LACEDEMÔNIO

(Fonte: TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso, p. 251)

“Os atenienses e os lacedemônios e seus respectivos aliados concluíram um tratado e juraram cumpri-lo, cidade por cidade, nas seguintes condições:

Sobre o uso dos santuários comuns, quem quiser poderá ofere-cer sacrifícios e consultar os oráculos e enviar peregrinações de acor-do com os costumes ancestrais, por terra ou por mar, sem temor.

O santuário e o templo de Apolo em Delfos serão autônomos, tendo os seus próprios sistemas tributário e judiciário para as pes-soas e para as terras, de acordo com os costumes ancestrais.

A trégua vigorará por cinquenta anos entre os atenienses e seus aliados e os lacedemônios e seus aliados, sem dolo e sem ofensa, por terra ou por mar.

Não será permitido portar armas com ânimo agressivo, seja pe-los lacedemônios e seus aliados contra os atenienses e seus aliados, seja pelos atenienses e seus aliados contra os lacedemônios e seus aliados, nem por astúcia nem por artifícios. Se houver qualquer di-

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vergência, as partes recorrerão aos tribunais e a juramentos, ratifi-cando os seus acordos.

Os lacedemônios e seus aliados restituirão Anfípolis aos ate-nienses. No caso de cidades restituídas pelos lacedemônios aos atenienses, seus habitantes poderão ir-se embora, se o desejarem, levando os seus bens; essas cidades, enquanto pagarem o tributo estipulado no tempo de Aristides, serão independentes. Não será permitido aos atenienses e seus aliados, após a ratificação do trata-do, empunhar armas contra as cidades seguintes para prejudicá-las, enquanto as mesmas pagarem o tributo. Elas são Árgilos, Stágiros, Acantos, Stolos, Olintos e Spártolos. Elas não serão aliadas nem dos lacedemônios nem dos atenienses; se, porém, os atenienses pude-rem persuadi-las, ser-lhes-á permitido torná-las suas aliadas por livre e espontânea vontade das mesmas.

Os meciberneus, os saneus e os síngios permanecerão em suas cidades nas mesmas condições dos olíntios e dos acântios.

Os lacedemônios e seus aliados restituirão Pânacton aos ate-nienses. Os atenienses restituirão aos lacedemônios Corifásion, Citera, Mêtana, Ptêleon e Atalantes, e também os homens lacedemô-nios presos em cárceres públicos em Atenas ou em cárceres públi-cos em qualquer lugar em poder dos atenienses, e os peloponésios sitiados em Cione e todos os outros aliados dos lacedemônios em Cione e aqueles que mandaram para o mesmo lugar, e todos os alia-dos dos lacedemônios presos em cárceres públicos em Atenas ou em cárceres públicos em qualquer lugar dominado pelos atenienses. Nas mesmas condições os lacedemônios e seus aliados restituirão quaisquer atenienses e seus aliados em seu poder.

Quanto aos habitantes de Cione, Torone, Sermile ou qualquer outra cidade, em poder dos atenienses, os atenienses decidirão a respeito deles e dos de outras cidades como lhes parecer melhor.

Os atenienses prestarão juramento aos lacedemônios e seus aliados, cidade por cidade, e cada cidade prestará o juramento da maneira mais solene, devendo cada cidade ser representada por de-zessete homens. O juramento será o seguinte: “Cumprirei este acor-do e este tratado lealmente e sem dolo”. Os lacedemônios e seus aliados prestarão juramento aos atenienses nas mesmas condições. O juramento será renovado anualmente por ambas as partes.

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Serão dedicadas lápides comemorativas em Olímpia, em Delfos e no istmo, na acrópole de Atenas e no templo de Apolo Amicleu na Lacedemônia.

Se qualquer das partes houver esquecido algum ponto referen-te a qualquer assunto, será compatível com seus juramentos que ambos os lados, por meio de negociações, introduzam modificações em qualquer ponto onde possam parecer convenientes a ambas as partes, atenienses e lacedemônios.

O tratado entra em vigor na Lacedemônia sendo éforo Plistolas, no quarto dia antes do fim do mês Artemísion, e em Atenas sen-do arconte Alceus, no sexto dia antes do fim do mês Elafebôlion. Prestaram juramento e ratificaram o tratado: pelos lacedemônios, Plistoânax, Agis Plistolas, Damagetos, Quíonis, Metágenes, Acantos, Dáitos, Iscágoras, Filocaridas, Zeuxidas, Ântipos, Télis, Alcinadas, Empedias, Menos e Láfilos; pelos atenienses, Lâmpon, Istmiônicos, Nícias, Laquês, Eutídemos, Procles, Pitódoros, Hágnon, Mírtilos, Trásicles, Teágenes, Aristócrates, Iôlcios, Timócrates, Leon, Lâmacos e Demóstenes”.

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