novos cidadãos e mundo do trabalho

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ELABORADO POR: Teresa PEDROSO NOVOS CIDADÃOS DA UNIÃO EUROPEIA. POLÍTICAS E SERVIÇOS NO TERRITÓRIO DE LISBOA Relatório de investigação realizado para o projeto BY-ME – Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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Page 1: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

ELABORADO POR: Teresa PEDROSO

NOVOS CIDADÃOS DA

UNIÃO EUROPEIA. POLÍTICAS

E SERVIÇOS NO TERRITÓRIO

DE LISBOA

Relatório de investigação realizado para o projeto BY-ME – Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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The European Commission support for the production of this publication

does not constitute endorsement of the contents, which reflects the views

only of the authors, and the Commission cannot be held responsible for any

use, which may be made of the information contained therein.

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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Ficha Técnica

TÍTULO

Relatório de investigação BY-ME “Boosting Young Migrants’ participation in European

cities: transnational solutions to common challenges”

ENTIDADE PROMOTORA E COORDENAÇÃO DO PROJETO

ICEI (Istituto Cooperazione Internazionale Econômica)

ENTIDADE FINANCIADORA

CE (Comissão Europeia)

ORGANIZAÇÕES E PARCEIROS

Itália:

- ICEI - Istituto Cooperazione Internazionale Econômica

- Município de Milão

Portugal:

- ALCC - Associação Lusofonia, Cultura e Cidadania

- Câmara Municipal de Lisboa

Espanha:

- Federação de Catalunya d'Entitats Llatinoamericanes Fedelatina

- Câmara Municipal de Barcelona

ELABORADO POR:

ALCC - Associação Lusofonia, Cultura e Cidadania

Teresa Pedroso

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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Índice

Introdução .................................................................................................................................... 4

1. Metodologia ..................................................................................................................... 6

1.1. População e Amostra ............................................................................................. 6

1.3. Contexto da população imigrante em Lisboa ............................................ 7

1.4. População jovem imigrante................................................................................. 9

1.5. A taxa de imigração em Portugal e nos outros países da União

Europeia ....................................................................................................................................... 10

1.6. Aquisição da nacionalidade .............................................................................. 12

1.7. Cidadania e Participação ................................................................................... 13

1.7.1. Acolhimento .......................................................................................................... 13

1.7.2. Habitação ................................................................................................................ 13

1.7.3. Saúde ........................................................................................................................ 14

1.7.4. Participação cívica ............................................................................................ 15

1.7.5. Associativismo ..................................................................................................... 16

1.7.6. Educação ................................................................................................................ 19

1.7.7. Emprego ................................................................................................................... 19

1.7.8. Relação com o país de origem .................................................................... 22

2.2. Pelouro dos Direitos Sociais da Câmara Municipal de Lisboa ....... 24

2.3. Batoto Yetu Portugal (Associação Cultural e Juvenil) ....................... 25

3. Focus Group .................................................................................................................. 36

4. Propostas ........................................................................................................................ 40

6. Conclusões ..................................................................................................................... 50

Agradecimentos ...................................................................................................................... 52

Bibliografia ................................................................................................................................. 53

Webgrafia .................................................................................................................................... 53

Anexos .......................................................................................................................................... 53

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

4

Introdução

“A migração é o resultado de decisões individuais ou familiares, mas também faz parte de um

processo social. Em termos económicos, a migração é tanto um fenómeno mundial como o

comércio de mercadorias ou de bens manufacturados. Designa o movimento das populações, mas

faz parte de um modelo mais vasto e é um sinal de relações económicas, sociais e culturais em

transformação.”

Fonds des Nations Unies pour la Population, 1993.

O conceito de imigração refere-se ao movimento de entrada em dado país, região ou cidade e não

é um fenómeno constante, ao longo do tempo tem registado alterações. Um imigrante é a uma

pessoa que abandona o seu país de origem de forma voluntária para se estabelecer noutro, que

por sua vez é chamado país de acolhimento. A ideia de acolhimento passa pelo modo como a

sociedade de “destino” e as suas instituições criam as condições necessárias para os receber e

integrar. Mas será que os países estão preparados para acolher os imigrantes?

Devido à crise económica e aos impactos que esta tem no mercado de trabalho, o fluxo

migratório tem vindo a diminuir nos últimos anos. No caso do território de Lisboa, a diminuição

do fluxo não se regista, antes pelo contrário, regista-se algum crescimento anual. Lisboa continua

a ser uma cidade atractiva para a população estrangeira. Tendo constatado ao longo dos anos

uma mudança na nacionalidade da população imigrante, verificou-se um decréscimo das

nacionalidades tradicionais (Angolana, Cabo Verdiana, Guineense, Santomense), para se registar

uma maior incidência de grupos de imigrantes vindos da China, India, Nepal, Bangladesh (Fonte

SEF).

A investigação decorre no âmbito do projecto BY-ME “Boosting Young Migrants’ participation

in European cities: transnational solutions to common challenges” que tem como principal

objectivo contribuir para o fortalecimento da participação cidadã dos jovens de origem

estrangeira e facilitar a sua inclusão no debate sobre as medidas nacionais e europeias, isto

porque a participação social é um elemento fundamental para a integração desta juventude

imigrante. As actividades do projecto irão permitir aprofundar o debate sobre os seus processos

de integração, valorizar a sua contribuição e propostas, em particular. Para alcançar o objectivo

principal foi realizada uma investigação que se dividiu em três etapas, numa primeira fase temos a

investigação que consiste na recolha de dados através de entrevistas, questionários, focus group.

Na segunda, serão realizados seminários internacionais, onde os jovens poderão trocar

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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informações e experiências. Por fim, teremos um Meeting onde os jovens poderão expressar as

suas ideias frente à comunidade europeia.

No presente relatório irão ser apresentados os resultados e as conclusões retiradas desta

investigação. Num primeiro momento iremos fazer uma breve introdução sobre a

imigração em Portugal e na cidade de Lisboa, tendo em conta que as informações

apresentadas estão baseadas na lei de imigração e nacionalidade aplicada à totalidade

dos imigrantes residentes em território português, é importante destacar que existem

acordos bilaterais – principalmente entre países de língua oficial Portuguesa como Brasil e

Cabo Verde, nomeadamente nas áreas da saúde e politica.

Num segundo momento, apresentaremos as instituições e as conclusões retiradas das

entrevistas realizadas. Posteriormente focar-nos-emos nos jovens e nos resultados

qualitativos e quantitativos recolhidos através dos questionários e dos focus groups. Por

fim, serão apresentadas as conclusões gerais de toda a investigação.

A realização deste projecto só foi possível devido à colaboração de todos os parceiros, dos

técnicos das associações envolvidas, dos jovens que se mostraram disponíveis para participar nas

várias etapas do projecto e equipa técnica da ALCC.

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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1. Metodologia

1.1. População e Amostra

O projecto tem destinado três países de intervenção, Itália, Portugal e Espanha. Sendo que a

Associação Lusofonia Cultura e Cidadania ficou responsável por Portugal, mais precisamente por

Lisboa devido a ser o município com mais população estrangeira, como tal, o público-alvo do

projecto são os jovens entre os 18 e os 29 anos provenientes de países terceiros. Devido ao facto

de ser um população muito abrangente e não termos meios de chegar a ela, optou-se por utilizar

uma amostra por conveniência, onde a participação dos elementos é feita voluntariamente.

1.2. Recolha dos dados

Na realização deste estudo foi feita uma investigação qualitativa, realizada através de entrevistas

semi- estruturadas, onde existiu um guião com perguntas já elaboradas, com o objectivo de

chegar à informação pertinente para a investigação. O guião foi construído com questões abertas,

para assim haver a possibilidade do mesmo exprimir-se e apresentar livremente a sua opinião.

Numa primeira fase foram realizadas 20 entrevistas, a técnicos e dirigentes de associações de

Lisboa, previamente seleccionadas, pois tinham que ser associações que trabalhassem com os

jovens ou que já tivessem tido projectos com os mesmos. As entrevistas foram realizadas nas

associações, os investigadores deslocaram-se às mesmas, como tal foram entrevistas presenciais

e gravadas com o consentimento dos técnicos. Devemos ainda mencionar o facto de que a maior

partes dos técnicos mostraram-se disponíveis para colaborar nas outras etapas da investigação.

Foi também realizada uma investigação quantitativa, esta por sua vez foi feita através de 84

questionários de tipo misto, aos jovens. Compostos por 20 preguntas, tanto abertas como

fechadas, sendo as primeiras fechadas e as segundas abertas.

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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1.3. Contexto da população imigrante em Lisboa

A imigração é vista como um fenómeno social, o imigrante é considerado como um actor social,

ele por sua vez contribui para a mudança da sociedade. Alguns autores consideram que a

imigração começou na época dos Descobrimentos, outros posteriormente na revolução industrial,

ou seja, é um fenómeno que tem acompanhado a história, mas não é um fenómeno constante

pois ao longo do tempo tem vindo a sofrer alterações. Inicialmente quando se deu a revolução

industrial, as pessoas saíam do campo para a cidade, posteriormente começaram a circular de

cidade em cidade, hoje devido ao avançar do tempo e ao conhecimento que temos dos outros

países, a imigração já é feita de país para país. Mas desde sempre o que movia as pessoas a

fazerem esta mudança era a procura de melhores condições de vida, esta procura hoje

juntamente com a ideia de ser feliz ainda é uma das principais razões que leva as pessoas a saírem

do seu país.

Quando falamos em imigração devemos salientar três questões. O país de origem, ou seja o

país onde o imigrante nasceu. O país de acolhimento, ou seja o país que o acolhe, e o imigrante,

actor social que sai do seu país de origem para o país de acolhimento. Podemos considerar dois

tipos de imigrantes, aqueles que vão para o país de acolhimento e realizam uma socialização, uma

integração no país escolhido, ou seja aprendem os costumes, regras e começam a viver segundo

as mesmas. Não existe um esquecimento dos costumes e regras do país de origem, este tipo de

imigrantes opta por ensinar, dar a conhecê-los. Por outro lado, existem os imigrantes que optam

por viver segundo os costumes e regras do seu país de origem, sem se integrar no seu novo país.

A imigração apresenta consequências negativas e positivas para o país de acolhimento. Em

termos económicos a imigração contribui para o rejuvenescimento da população, para o seu

crescimento e ainda ajuda a equilibrar os contrastes dos sistemas de protecção social. As

consequências negativas não são só para o país de acolhimento, mas para os próprios imigrantes,

pois estes recebem salários inferiores, muitos não trabalham na área para o qual estão

qualificados, muitas vezes tem problemas com o pagamento dos salários, sofrem descriminação,

etc...

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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A população estrangeira em Portugal tem vindo a diminuir nos últimos anos, mas este decréscimo

não se tem verificado na cidade de Lisboa, antes pelo contrário tem-se registado um aumento de

volume da população estrangeira residente em Lisboa, como podemos verificar no quadro 1. No

ano de 2009 existiam 43.527 estrangeiros e em 2013 já existiam 46.426 estrangeiros

residentes em Lisboa. Podemos ainda verificar o decréscimo da população estrangeira residente

em Portugal, em 2006 existiam 420.189 estrangeiros em Portugal sendo que em 2013 apenas

401.320. Este decréscimo pode ser explicado através da crise económica que se verifica em

Portugal, pois esta tem impactos directos no mercado de trabalho, existe uma maior dificuldade

em encontrar emprego.

Devemos salientar o facto de as nacionalidades estarem a mudar, existe um decréscimo das

principais nacionalidades (Cabo Verde, Angola, Brasil, Guiné Bissau, São Tomé Príncipe) e um

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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aumento do grupo de asiáticos, principalmente chineses, no município de Lisboa (figura 1). Apesar

do decréscimo verificado Brasil continua a ser uma das nacionalidades mais representativas, logo

a seguir a China e Cabo Verde (quadro 2).

1.4. População jovem imigrante

Em relação aos jovens imigrantes residentes em Lisboa não existem dados específicos, ou seja não

existem dados que nos permitam dizer especificamente quantos jovens imigrantes existem nem

as suas nacionalidades, pois apenas existem dados dos nacionais estrangeiros, ou seja dos

imigrantes que já se encontram em situação regularizada em Portugal. Os que se encontram em

situação irregular não estão contabilizados, pois não existe forma para tal. Através de uma análise

podemos verificar que a população de nacionais estrangeiros é maioritariamente jovem/adulto, a

percentagem de idosos não é significativa. Este factor é benéfico na medida que assim existe uma

maior probabilidade do aumento da natalidade. Os países que se destacam devido à sua porção

de jovens são: o Brasil, a India, o Bangladesh, o Nepal e a Roménia (figura 2).

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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1.5. A taxa de imigração em Portugal e nos outros países da

União Europeia

A União Europeia permite a livre circulação dos cidadãos nos Estados-Membros, ou seja é

possível uma livre circulação dentro das suas fronteiras. Esta, por sua vez é uma estratégia para

atrair um determinado perfil de imigrantes, com o objectivo de colmatar algumas necessidades

específicas, como por exemplo o emprego. Para além desta política de incentivo existe ainda um

esforço por parte da União Europeia de prevenir a imigração não autorizada e o emprego ilegal

dos imigrantes e de promover a integração dos mesmos na sociedade. Como podemos verificar

na figura 03 a taxa de imigração de Portugal baixou significativamente em 2013, passando de 4.2

em 1998 para 1.7 em 2013. Este declínio deve-se em muito à crise económica que abalou o país.

Portugal deixou de ser tão atractivo, na medida em que deixou de proporcionar uma melhor

qualidade de vida, devido à falta de emprego, a estagnação dos mercados e consequentemente à

paralisação da economia. Outro país onde houve um decréscimo significativo foi na Croácia,

tendo passado de 11.4 em 1998, para 2.4 em 2013. Todos os outros países, Luxemburgo, Malta,

Chipre, Irlanda, Suécia, Bulgária e Eslováquia, registaram um aumento significativo na taxa de

imigração. Sendo que Luxemburgo foi o país que registou uma taxa mais alta, tendo passado de

27.4 em 1998, para 38.8 em 2013.

Devemos ainda mencionar o facto de em 2013 os imigrantes serem maioritariamente do sexo

masculino nos estados membros da União Europeia (figura 4). Sendo que a Irlanda é uma

excepção, pois apresentou uma taxa mais elevada de mulheres, 52%. E o facto da população

imigrante ser mais jovem que a população nacional do país. O que nos leva a um factor positivo

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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da imigração, o aumento da natalidade e o aumento da mão-de-obra qualificada e não

qualificada. No caso de Portugal é benéfico a imigração jovem, pois permite colmatar o défice de

mão-de-obra, que existe devido ao envelhecimento da população e ao défice da natalidade que

provém também do facto de a população jovem ser inferior à população idosa, mas também

devido à mudança que ocorreu na família. Os casais procuram primeiro uma estabilidade

financeira, a mulher procura estabelecer-se no mercado de trabalho e ter uma carreira de sucesso

antes de ter filhos.

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1.6. Aquisição da nacionalidade

As aquisições de nacionalidade têm vindo a aumentar, subindo 20% no ano de 2013. Dos

cidadãos estrangeiros dos estados membros da União Europeia, 984.8 mil adquiriram a

nacionalidade do país de acolhimento. A Espanha foi o país que registou maior número de

aquisições de nacionalidade, tendo apresentado um total de 225.8 mil, seguidamente segue-se o

Reino Unido com 207.5 mil, a Alemanha com 151.1 mil e a França com 97.3 mil.

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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1.7. Cidadania e Participação

1.7.1. Acolhimento

O país de acolhimento deve acolher os imigrantes da melhor forma possível, as sociedades e as

instituições têm que criar condições para os receber, daí surge a ideia de acolhimento. Esta por

sua vez torna-se essencial, pois condiciona grande parte do processo de integração, é

fundamental que haja um sentimento de pertença a uma nova realidade cultural e social.

No caso português esta dimensão é uma dimensão positiva na medida em que a legislação

toma como ponto de referência a igualdade de direitos entre nacionais e estrangeiros. Em Lisboa

a implantação efectiva dos princípios de acolhimento ocorreu com a criação do Alto Comissariado

para as Migrações através dos Centros Nacionais de Apoio ao Imigrante (CNAI de Lisboa, Porto e

Faro) e da rede complementar de pequenos centros locais de Apoio à Integração de Imigrantes. O

que permitiu a Portugal registar uma posição favorável no Índice de Integração MIPEX, que mede

e compara as políticas de integração de 40 países, tendo como base o quadro legal existente nos

países.

Pontos fracos:

Dificuldade na regularização;

Dificuldade no acesso aos serviços públicos por parte dos imigrantes irregulares;

Vulnerabilidade (ausência de apoio familiar, de redes sociais).

Pontos fortes:

Maior facilidade na obtenção da nacionalidade portuguesa;

Difusão da informação aos imigrantes;

Serviços de tradução telefónica,

Existência de centros de acolhimento e de outras estruturas no domínio da saúde

e protecção social.

1.7.2. Habitação

O direito à habitação é essencial na integração do imigrante. Proporciona o bem-estar na medida

em que oferece segurança e abrigo, evitando situações de exclusão social e até mesmo de

marginalidade por parte dos imigrantes. Em Portugal, Lisboa é o segundo município com o maior

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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número de estrangeiros proprietários e arrendatários do país e é a onde se concentra o maior

número de população estrangeira residente.

Pontos fracos:

Piores condições de habitabilidade;

Vulnerabilidade no acesso ao alojamento por parte dos imigrantes em situação

irregular;

Desconhecimento do direito de acesso ao mercado social de arrendamento e da

necessidade de renovação dos pedidos de habitação anualmente;

Evidências não generalizadas de descriminação no acesso ao mercado residencial;

Situação de subarrendamento e menor acesso aos escalões mais baixos de

rendas.

Pontos fortes:

Projectos específicos de apoio aos imigrantes sem-abrigo;

Presença no mercado de habitação social pública de diversas famílias de

imigrantes;

Existência de projectos de intervenção sócio-urbanística em parceria com as

entidades locais.

1.7.3. Saúde

A saúde é um requisito essencial, para o desenvolvimento individual e social de qualquer ser

humano. Como tal, a lei base da saúde determina que são beneficiários do Serviço Nacional de

Saúde todos os cidadãos Portugueses, todos os cidadãos nacionais do Estados membros da União

Europeia, do Espaço Economico Europeu e da Suíça, mas também os cidadãos estrangeiros

residentes em Portugal. Existe um esforço para que todos os cidadãos resistentes em Portugal

tenham direito à saúde, independentemente das suas condições económicas, sociais e até mesmo

culturais. Portugal tem sido reconhecido com um dos melhores países com as melhores

circunstâncias de integração dos imigrantes. Isto porque com a publicação do Decreto de Lei nº

135/99 os imigrantes que estejam em situação irregular, ou seja não sejam titulares de uma

autorização de residência válida, têm acesso ao Serviço Nacional de Saúde mediante a

apresentação de um documento da junta de freguesia da sua área de residência, onde conste que

se encontra no país há mais de 90 dias. Aos cidadãos estrangeiros legalizados em Portugal é-lhes

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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permitido o acesso ao Serviço Nacional de Saúde, ou seja, o tratamento prestado vai ser

igualitário aos beneficiários do serviço Nacional de Saúde.

Pontos Fracos:

Desconhecimento dos direitos de acesso aos serviços de saúde;

Dificuldade na comunicação com os profissionais do sector da saúde;

Desconhecimento por parte de alguns profissionais de saúde dos direitos e cultura

dos imigrantes;

Receio por parte dos imigrantes irregulares de recorrer ao centro de saúde;

Descriminação institucional;

Ausência de respostas em determinadas áreas (saúde mental).

Pontos fortes:

Universalidade do direito de acesso à saúde;

Acordos de cooperação internacional;

Campanhas de sensibilização dos profissionais de saúde.

1.7.4. Participação cívica

O voto possuiu uma importante dimensão simbólica. Em Portugal existe uma limitação na

participação cívica dos imigrantes, pois os direitos políticos e o acesso a funções públicas cingem-

se apenas a uma parte dos imigrantes. O direito ao voto é apenas acessível a quem possui a

nacionalidade Portuguesa. Mas a Constituição Portuguesa reconhece aos estrangeiros residentes

em território nacional o direito de votar e o direito de ser eleito nas eleições autárquicas, sempre

que se verifiquem condições de reciprocidade, ou seja, sempre que os emigrantes Portugueses

tenham direito a uma participação eleitoral no país de acolhimento.

Pontos fracos:

Défice de direitos políticos para os cidadãos estrangeiros;

Atitude de indiferença dos partidos políticos quanto à integração política dos

imigrantes;

Desconhecimento por parte dos imigrantes dos direitos políticos;

Baixos níveis de recenseamento e de participação eleitoral.

Pontos fortes:

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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Existência e actividades do CMIC em Lisboa;

Participação pontual no debate politico e candidaturas de alguns imigrantes às

eleições locais.

1.7.5. Associativismo

O facto da população imigrante ser maioritariamente jovem, levou ao crescimento do

associativismo em Portugal, isto porque as associações tornam-se a segunda casa, para aqueles

que se encontram sem a família e sem ligações socais. É-lhes permitido partilhar informações,

partilhar memórias e experiências e manter o contacto com os seus familiares, amigos e a cultura

de origem. O Associativismo imigrante em Portugal tem vindo a crescer ao longo dos anos, e tem

vindo a complementar os serviços públicos na área da imigração. Em 2012 estavam contabilizadas

134 associações de imigrantes reconhecidas pelo ACM (Alto Comissariado para as Migrações).

O Conselho Municipal da Interculturalidade (CMIC) da Câmara Municipal de Lisboa foi criado

em 1993, então com a designação de Conselho Municipal para as Comunidades Imigrantes e

Minorias Étnicas, assumiu-se como instrumento de reforço das políticas de integração dos

imigrantes, respeitando as diferentes identidades resultado da diversidade cultural da cidade e

dos princípios democráticos nacionais.

O Conselho Municipal assume um importante papel enquanto estrutura consultiva do município,

integrando diversas associações e promovendo a sua participação ativa na vida cívica da cidade.

Desta forma, contribui para que Lisboa estabeleça um diálogo de proximidade, na sua dimensão

social e cultural, através de uma plataforma de cidadania e tendo em vista uma co-

responsabilidade consertada na promoção do diálogo intercultural.

O Conselho Municipal de Juventude da Câmara Municipal de Lisboa foi criado em 1991 e é um

órgão consultivo que procura dar voz aos jovens que habitam na cidade, através das suas diversas

organizações, associações e grupos informais, possibilitando o seu envolvimento na discussão dos

destinos do município, nomeadamente em matérias relacionadas com a política de Juventude.

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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Pontos fracos:

Existência de fragilidades na relação entre as associações de imigrantes e jovens;

Falta de capacitação das associações para obterem fundos nacionais e

comunitários;

Falta de capacitação das associações para prestar alguns serviços,

Informalidade/ Fragilidade das associações.

Pontos fortes:

Tecido associativo rico e diversificado;

Existência de boas práticas na relação e prestação de serviços a imigrantes e

jovens.

Quadro3 – Associações membro do CMIC

ACAJUCI – Associação Cristã de Apoio à Juventude Cigana

ALCC – Associação Lusofonia Cultura e Cidadania

APARATI – Associação para Timorenses

Associação Caboverdeana de Lisboa

Associação Comunidária

Associação Cultural para o Desenvolvimento – Culturface

Associação de Amizade Luso-Turca

Associação dos Amigos da Mulher Angolana

Associação dos Amigos do Príncipe

Associação dos Ucranianos em Portugal

Associação Guineense de Solidariedade Social

AGUIPA - Associação Guineense e Povos Amigos

Associação Mulher Migrante

Associação Renovar a Mouraria

Associação SOS Racismo

CASA – Centro de Apoio ao Sem Abrigo

Casa de Moçambique

Casa do Brasil de Lisboa

CEPAC – Centro Padre Alves Correia

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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Comunidade Islâmica de Lisboa

Comunidade Israelita de Lisboa

Consulado Geral do Brasil de Lisboa;

CPR – Conselho Português para os Refugiados

FAIASCA – Federação das Associações de Imigrantes e Amigos do Sector de

Calequis

JRS Portugal – Serviço Jesuíta aos Refugiados

Morabeza – Associação para a Cooperação e Desenvolvimento

Obra Católica Portuguesa de Migrações

Obra Social das Irmãs Oblatas do santíssimo Redentor

Secretariado Diocesano de Lisboa da Obra Nacional e Pastoral dos Ciganos

Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna

Associação para a Defesa dos Direitos dos Imigrantes

União dos Sindicatos de Lisboa

ACM – Alto Comissariado para as Migrações

Aliança Evangélica Portuguesa

Associação Bairros

Associação Bangladesh

Associação de Comunidade de São Tomé e Príncipe em Portugal

Associação Internacional Buddhas’s Light

CLUBE - Clube Intercultural Europeu

Comunidade Hindu de Portugal

Comunidade Muçulmana Ismaili

Comunidade Portuguesa do Candomblé Yorúbá

Congregação das Irmãs do Bom Pastor

Fundação Cidade Lisboa

IHMT – Instituto de Higiene e Medicina Tropical

OIM – Organização Internacional das Migrações

Associação para a Defesa do Património, Ambiente e Direitos Humanos

União Budista Portuguesa

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

19

1.7.6. Educação

A integração depende também do grau de relação que desenvolve com os outros indivíduos e

grupos, assim como o desenvolvimento de actividades em determinado território. A escola

desempenha um papel muito importante, ela é pensada como um meio capaz de dar respostas à

diversidade étnica, religiosa, o que significa acolher todos e promover a sua inter-relação. Para os

jovens imigrantes é muito importante, pois é através da escola que conseguem obter informação,

formarem cidadãos conhecedores das leis e normas que regem a sociedade. A declaração dos

Direitos do Homem reconhece que todos os indivíduos têm direito à educação, tendo esta de

assegurar o reforço da personalidade humana e garantir as liberdades fundamentais e a

tolerância. Tal com a saúde a educação é um direito que deve ser assegurado a todos os

indivíduos, incluindo imigrantes independentemente da sua situação. Em 4.415 alunos inscritos,

587 são alunos estrangeiros, provenientes de 40 países.

Pontos fracos:

Desconhecimento dos direitos e deveres no acesso ao sistema de ensino;

Sistema educativo pouco flexível e adaptado à diversidade cultural;

Falta de confiança em alguns dos profissionais do ensino;

Falta de articulação entre a comunidade escolar e as famílias;

Dificuldade de comunicação entre professores e alunos;

Maior taxa de retenção e menor taxa de aprovação entre alunos de origem

imigrante;

Estigmatização de algumas escolas devido ao elevado número de alunos

imigrantes.

Pontos fortes:

Universalidade do direito de acesso à educação;

Acções de intervenção específicas em escolas;

Outros programas de intervenção social em escolas.

1.7.7. Emprego

Segundo o terceiro Principio Básico da Agenda Comum para a Integração o emprego é um

elemento chave no processo de integração e é central para a participação dos imigrantes, para os

contributos que os imigrantes oferecem à sociedade de acolhimento se tornem visíveis. Apesar do

Page 21: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

20

Código do Trabalho Português20 garantir a igualdade no acesso ao emprego e no trabalho

proibindo qualquer discriminação, directa ou indirecta, com base na nacionalidade, origem étnica,

território de origem ou língua, os imigrantes continuam a ser estereotipados devido à sua cultura

e religião, o que os leva a serem direccionados para actividades menos qualificadas, sendo que a

de trabalhadores de limpeza em casas particulares ocupa a maior percentagem, logo de seguida

temos os vendedores em loja, muito devido ao aumento da população asiática (figura 9). No caso

português, a percentagem de população activa entre os estrangeiros é superior à população

activa nacional (figura 7). Esta tendência também se verifica na população residente em Lisboa, a

percentagem de população estrangeira activa é superior à percentagem de nacionais activos.

Sendo que 62,7% são estrangeiros no activo e que 46.9% são nacionais activos. Existe uma grande

diversidade de população estrangeira em Portugal, como tal a barreira linguística tornou-se uma

preocupação. Para colmatar este problema foi criado o Programa Português para Todos, que

permitia aos estrangeiros aprenderem português sem qualquer custo.

Pontos fracos:

Empobrecimento e perda de poder de compra, associados ao desemprego,

irregularidade do trabalho e redução salarial;

Dificuldades de regularização;

Maior percentagem de população desempregada entre os estrangeiros de países

terceiros;

Dependência do subsídio de desemprego em alguns casos;

Dificuldades na acreditação das qualificações;

Os cursos de língua portuguesa não têm em conta a diversidade do perfil dos

imigrantes;

Dificuldade acesso a instituições de crédito financeiro;

Vergonha da situação de vulnerabilidade.

Pontos Fortes:

Maior percentagem de população activa entre os estrangeiros;

Claro predomínio do trabalho como meio de vida;

Mais apetência para criação do próprio emprego;

Inovação em formatos e estratégias comerciais e fornecimento de novos produtos

e serviços;

Cursos de língua portuguesa pagos;

Reforço de redes de solidariedade.

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

21

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

22

1.7.8. Relação com o país de origem

O fluxo migratório em Portugal tem residido essencialmente nas diferenças que existem entre

o país de origem e o país de acolhimento, muitas vezes relacionadas com as questões salariais,

com a falta de emprego, questões de saúde. A integração do imigrante no país e acolhimento

passa também por manter/ estabelecer uma relação com o país de origem. Nesta relação, temos

presente a questão da sua religião, os imigrantes não abdicam da mesma quando vêm para o país

de acolhimento. Lisboa é uma cidade que apresenta uma diversidade religiosa, como tal teve que

se adaptar, para conseguir acolher/ integrar os imigrantes, um exemplo dessa adaptação foi a

construção de mesquitas e a construção de igrejas não cristãs.

Pontos fracos:

Falta de conhecimento das populações locais sobre as novas comunidades

religiosas;

Episódio de descriminação;

Localização de alguns espaços de culto em locais informais, que pode originar em

conflitos com a vizinhança;

Falta de representatividade dos novos grupos imigrantes;

Escassez de oferta cultural nas zonas periféricas da cidade;

Racismo institucional.

Pontos fortes:

Contributo dos imigrantes na oferta cultural;

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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Registo de ausência de conflitos entre fiéis;

Maior diversidade religiosa em Lisboa;

Novas dinâmicas culturais por parte de novos grupos de imigrantes;

Percentagem expressiva do número de casamentos mistos;

Práticas de policiamento de proximidade em bairros com forte presença de

imigrantes.

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

24

2. Instituições que operam na área de Lisboa

2.1. Espaço Lx Jovem

O Espaço Lx Jovem, localizado no Bairro do Armador, em Marvila, foi oficialmente apresentado

no Dia do Estudante, assinalado em 24 de Março de 2015. O Espaço pretende ser um pólo de

criação e desenvolvimento de projectos de juventude na cidade de Lisboa. É um espaço de apoio

à juventude, onde 60% dos 90% dos jovens aderentes são de nacionalidade estrangeira,

encaminhados pela Câmara Municipal de Lisboa e outras associações. Não apresentam nenhum

tipo de problema específico à associação. A maior parte procura um espaço, materiais e

autorizações. Proporcionam aos jovens acesso gratuito a computadores, à internet, disponibilizam

ainda uma sala de ensaios, equipada com vários instrumentos musicais destinando-se a todos os

jovens que desejem ensaiar e desenvolver os seus projectos musicais. Tem também uma pequena

galeria para exposições, uma biblioteca e um auditório à sua disposição.

Neste momento o Lx Jovem está a apoiar alguns projectos na área da juventude,

designadamente com a Associação para o Planeamento da Família, que desenvolve o seu trabalho

no Bairro do Armador; com o grupo de teatro “9Arte” e com a banda “Manifesto”, o que só é

possível com os apoios que recebem de entidades públicas, o que às vezes vem dificultar o

trabalho e por conseguinte as respostas dadas a problemas específicos. Apesar dos jovens não

apresentarem problemas específicos, os técnicos têm alguma dificuldade em chegar a eles e em

divulgar o espaço. Para desacentuar esta dificuldade os técnicos saem à rua à procura dos jovens,

fazem sessões de cinema, exposições e concertos.

2.2. Pelouro dos Direitos Sociais da Câmara Municipal de

Lisboa

A Câmara Municipal de Lisboa é o órgão executivo do município e tem por missão definir e

executar políticas que promovam o desenvolvimento do Concelho em diferentes áreas. No

entanto, a maioria da população desconhece as diversas áreas de actuação da Câmara Municipal.

Neste sentido, a área dos Direitos Sociais tem tomado medidas de forma a melhorar e aumentar a

sua área de actuação com uma maior inclusão e participação principalmente dos jovens. Como

por exemplo, o Pelouro, serviço de base local que tem como missão fazer saber aos cidadãos que

podem ajudar nos diferentes âmbitos. A população usuária deste serviço são os jovens residentes

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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em Lisboa, tanto nacionais como estrangeiros. Para chegar a esta população a Câmara Municipal

utiliza os meios de comunicação e os Conselhos de Interculturalidade e Juventude. Por sua vez os

jovens estrangeiros apresentam dois problemas específicos: a discriminação, que a Câmara tenta

resolver com vigilância e intervenção, e o desconhecimento dos serviços prestados. Para apoiar os

jovens a Câmara tem desenvolvido actividades como a Casa dos Direitos Sociais (incubadora

social). Atualmente trabalham na criação de um programa que una a juventude e a

interculturalidade estabelecendo uma rede de atores locais.

2.3. Batoto Yetu Portugal (Associação Cultural e Juvenil)

A Associação Cultural e Juvenil Batoto Yetu Portugal é uma organização sem fins lucrativos que

foi implementada em Portugal em 1996 pelo coreógrafo e fundador Júlio Leitão, com o apoio da

Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento da Câmara Municipal de Oeiras. A associação

está sedeada no Bairro Dr. Francisco Sá Carneiro, em Laveiras, Caxias. Desenvolve desde essa data

um trabalho de apoio junto das crianças, jovens e adultos da área metropolitana de Lisboa, e,

mais concretamente, do Concelho de Oeiras.

Tem como alvo primordial as crianças e jovens provenientes dos bairros suburbanos da grande

Lisboa, com uma grande actuação sobre descendentes de origem africana e como missão

conseguir a inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade através das artes. Dos utentes

90% são de nacionalidade estrangeira e 50% são jovens. A estes jovens a associação oferece apoio

ao estudo, apoio à regularização, espaços para ensaios e ainda computadores e internet. Apesar

de todo o esforço na dinamização de actividades culturais para a inclusão social e profissional dos

usuários, a associação tem enfrentado alguns problemas na área da regularização, abandono

escolar e pouca oportunidade laboral. Contudo, têm implementado novas formas de inclusão e

participação como a criação de Programas de Intercâmbios desenhados exclusivamente pelos

jovens.

2.4. Associação Lusofonia Cultura e Cidadania – ALCC

A Associação Lusofonia Cultura e Cidadania (ALCC) é uma instituição sem fins lucrativos de apoio

ao imigrante, que iniciou as suas actividades em 2000, mas, no entanto, só foi constituída

legalmente em 2007. Actualmente é reconhecida pelo Alto Comissariado para as Migrações

(ACM), e pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Está localizada no bairro da

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

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Ameixoeira, que é um bairro de população desfavorecida e vulnerável. Para dar resposta às

necessidades da população tanto imigrante como nacional, a associação presta diversos serviços

de apoio, tendo actualmente o apoio psicológico, o apoio ao emprego e formação, apoio social,

programa de apoio ao retorno voluntário, o atelier de costura “ Ameixoeira Criativa” e a loja

social. A associação integra jovens estagiários de várias áreas de formação, bem como recebe

estagiários de programas de intercâmbios europeus.

Em termos do Gabinete de Inserção Profissional (GIP) a população jovem imigrante, procura o

apoio para a elaboração do currículo, para procurar trabalho, para pedir informações de como

conseguir a sua regularização, e alguns para formação. O gabinete tem sucesso, na medida em

que consegue integrar as pessoas no mercado de trabalho, mas a falta de documentos torna o

processo mais complicado. Mesmo assim essas pessoas não deixam de ser atendidas,

aconselhadas e ajudadas sendo encaminhadas para outros parceiros sociais. Muitas vezes vem à

procura de emprego e de ajuda nesta área, mas acaba-se por detectar outras carências.

Detectadas essas carências são encaminhados para os gabinetes apropriados ou para outras

instituições. Para chegar a estes jovens o gabinete de inserção profissional utiliza as redes sociais

mas também os seus utentes, os próprios utentes vão passando a informação da existência do

gabinete aos seus familiares e amigos. Para responder melhor às necessidades da população o

Gabinete de Inserção Profissional faz parte de um grupo intitulado de empregabilidade da Alta de

Lisboa que é formado por uma rede de parecerias que trabalham no sentido de uma procura

activa de emprego para a população.

2.5. Associação Bué Fixe

Bué Fixe é uma associação juvenil, sem fins lucrativos, criada por Jovens com origem nos PALOP

(Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). Inicialmente era uma revista constituída como

grupo informal de jovens, só posteriormente é que o projecto se alargou e foi criada a associação.

Esta situa-se no bairro Quinta da Laje, Município da Amadora. A sua área de trabalho está

directamente relacionada a programas de cariz social com e para a população jovem. Os jovens

são maioritariamente de origem africana, para chegar até eles a associação utiliza os meios de

comunicação tradicionais, como a rádio, mensagens por telefone e a televisão através do seu

próprio canal (Bué Fixe TV). Muitos procuram a associação com dúvidas sobre o HIV, pois

organizam rastreios de doenças de transmissão sexual em parceria com entidades da área da

saúde, e só alguns procuram apoio para encontrar emprego. A maioria deles sentem-se

abandonados e deslocados pois neste Município existe uma grande falta de espaços e serviços

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

27

para os mesmos. Bué Fixe é uma associação com carências de financiamento e Recursos

Humanos, mas não é por isso que deixa de dar resposta às necessidades que surgem. Um dos

grandes exemplos de boas práticas foi a campanha de sensibilização sobre doenças sexualmente

transmissíveis e violência no namoro nas escolas de São Tomé e Príncipe.

Como pontos fortes da Associação Bué Fixe temos as parcerias e relação que tem com as

outras instituições, as instalações, o voluntariado e o reconhecimento internacional devido as

suas actividades em prol dos jovens. Como pontos menos favoráveis temos o acesso as

instalações, visto que fica distante dos meios de transporte, e a falta de respostas perante

situações complicadas que os jovens da região apresentam.

2.6. Renovar a Mouraria

A Associação Renovar a Mouraria nasceu a 19 de Março de 2008 trabalha para a dinamização

cultural, social, turística e económica deste território, ou seja é uma organização de utilidade

pública sem fins lucrativos que tem como fim a revitalização social, cultural, económica e turística

do bairro da Mouraria. O seu público- alvo é muito diversificado, não existe um número

específico de jovens estrangeiros. Para apelar à participação dos jovens a associação Renovar

Mouraria utiliza os projectos, como por exemplo Migrantour e Refaz, a rede de contactos

informal, as redes sociais e o mediador comunitário. O trabalho da associação reflecte-se na

inclusão de todas as pessoas independentemente da sua etnia, religião, na promoção de uma

cultura de inclusão social e de prevenção da violência e ainda no desenvolvimento de acções de

promoção da igualdade de género e de conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal de

homens e mulheres. Todo este trabalho só é conseguido com a ajuda dos voluntariados, com o

empenho dos técnicos e com o financiamento.

2.7. Associação Raízes

A Raízes-Associação de Apoio à Criança e ao Jovem (AACJ) é uma organização sem fins

lucrativos, com o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social. Tem como principal

objectivo promover a inclusão e a melhoria da qualidade de vida da população vulnerável ao

risco, em particular de crianças e jovens sem suporte institucional adequado ou sem suporto

familiar. Este objectivo tende a ser alcançado através da dinamização de projectos e actividades

que contribuam para a capacitação, a responsabilização e para a participação activa de todos na

sociedade. Disponibiliza serviços a nível social, educacional e habitacional.

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

28

Maior parte dos seus usuários são de nacionalidade estrangeira. Procuram a associação com o

intuito de receber apoio social, mas também com intuito de obter respostas quanto à sua

regularização. Acabam por conhecer o serviço através de conhecidos e familiares que já tenham

utilizado o mesmo, para responder às necessidades a associação implementou acções como

"Jovens Embaixadores para a Igualdade" e o Programa Escolhas, também, criação de uma ou mais

instituições de acolhimento para crianças e jovens; núcleos de intervenção social, destinados a

jovens; centros de atendimento e apoio para famílias, etc. Quanto aos pontos fortes temos o

voluntariado, desenvolvimento de projectos de inclusão, e promoção de direitos, parceria com

outras instituições, e quanto aos pontos fracos, falta de recursos humanos, difícil acesso às

instalações, estabelecer relações com outras instituições e problemas na divulgação dos serviços

e projectos.

2.8. Organização Internacional para as Migrações – OIM

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) foi criada em 1951, constituindo-se

actualmente como a principal organização intergovernamental dedicada à área das migrações.

Conta, em finais de 2009, com 127 Estados Membros e 77 ONG's e 17 Estados com estatuto de

observador por todo o mundo. A OIM baseia-se no princípio de que uma migração ordenada e

humana beneficia os migrantes e a sociedade. Atua, sobretudo, nas áreas de combate à migração

forçada, migrações e desenvolvimento, facilitação e regulação/gestão da migração, também na

área de ações humanitárias, vida sustentável, direitos globais. A OIM tem vindo a melhorar

constantemente a forma de actuação e de respostas, chegando mais próximo da comunidade.

Tem ainda diversificado as áreas de actuação, e tem vindo a adaptar as suas acções mediantes os

tempos, as tecnologias e as novas realidades sociais.

Os pontos fortes da OIM são o voluntariado, o desenvolvimento de projectos, a promoção dos

direitos humanos e a integração social, a parceria com instituições nacionais e internacionais e os

recursos humanos, como ponto fraco tem a falta de respostas em algumas situações.

2.9. Associação Cultural para o Desenvolvimento-CULTURFACE

A CULTURFACE surgiu no ano de 2009, a partir de uma iniciativa de grupos de amigos, de

diferentes nacionalidades (Cabo-verdiana, São-tomense, Angolana e Brasileira) que se

aperceberam que tinham aspectos em comum. Então decidiram juntar-se e criar algumas

actividades na margem sul, posteriormente criaram a associação, de cariz artístico e cultural.

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

29

Propõem-se a promover eventos que contribuam para a visibilidade dos grupos menos favoráveis

e os valores sociais, culturais dos nossos países lusófonos.

Os utilitários da associação são maioritariamente jovens, que conhecem a associação através

das redes sociais, de terceiros ou através do site. Os jovens procuram a associação para

orientação, para elaboração de currículo e ajuda na procura de emprego e ainda reconhecimento

através das vias artísticas (dança, gastronomia, música). Os jovens estrangeiros maioritariamente

procuram a associação para recolher informações sobre procedimentos de regularização e para

procura de emprego e de habitação.

2.10. Amizade Luso-turca

A Associação de Amizade Luso-turca foi criada por um grupo de empresários turcos, que sentiram

a necessidade de divulgar a sua cultura entre os portugueses e vice-versa, divulgando a cultura

portuguesa entre os turcos de modo que estes se integrem melhor em Portugal. A Associação está

em constate mudança, principalmente na direcção e como tal todos os anos existe uma

preocupação em melhorar aquilo que já existe, tanto a nível da organização como a nível das

oportunidades disponíveis. Para desempenhar o seu trabalho a associação conta com o apoio de

colegas ou amigos, universidades e outros parceiros informais que apoiam a cultura turca e que

são essenciais para o desenvolvimento do trabalho.

A Amizade Luso-turca tem como exemplos de boas práticas a participação em eventos

culturais, o apoio de recursos materiais a alunos universitários que queiram apresentar a cultura

turca e a oferta de cursos de português para turcos.

A Associação tem dificuldades na estabilização do sistema de trabalho pois a equipa está

sempre a sofrer alterações devido ser constituída por voluntários que trabalham temporariamente

e devido ao retorno dos funcionários turcos ao seu país. Em contrapartida a Associação Amizade

Luso-turca tem uma rede de parceiros informais que consegue dar resposta a grande parte dos

pedidos que são feitos.

2.11. Casa do Brasil de Lisboa

A Casa do Brasil é uma associação sem fins lucrativos fundada em Janeiro de 1992 por

brasileiros residentes em Portugal e portugueses amigos que apoiaram esta causa. A Casa do

Brasil está aberta a todas as nacionalidades. Tem como principal objectivo a integração dos

imigrantes de nacionalidade brasileira, a divulgação da cultura e ainda evitar o isolamento social.

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

30

Trabalha na promoção da cultura brasileira, apoio social e jurídico, apoio ao emprego e formação.

Maior parte dos seus usuários são jovens estrangeiros, que têm conhecimento da associação

através do facebook, twitter, site e órgãos de comunicação social que promovem o trabalho

realizado pela associação, e através dos parceiros que por sua vez também promovem a cultura

brasileira. Estes jovens solicitam ajuda para a integração no mercado de trabalho, apoio jurídico

para a regularização dos documentos, ajuda para obter a equivalência dos diplomas curriculares

para assim poderem continuar a estudar, ou mesmo para ingressar no emprego da sua formação.

Como exemplo boa prática podemos destacar a redacção e publicação do Jornal Sabiá que

funciona com o apoio de jovens voluntários, sendo este o contacto mais próximo com a população

jovem, porém com um número reduzido. A Casa do Brasil neste momento não tem projectos

desenvolvidos especificamente para os jovens, embora haja uma grande participação dos mesmo

nas suas actividades, o que faz com que a população usuária dos seus serviços seja

maioritariamente adulta. Esta Associação oferece uma lista diversificada de formações que vão

desde cultura e lazer a formações para qualificar indivíduos para o mercado de trabalho.

2.12. Clube Intercultural Europeu

O Clube Intercultural Europeu é uma associação sem fins lucrativos fundada em 1998. O seu

objectivo geral é desenvolver competências pessoais, sociais, profissionais, cívicas e relacionais

dos jovens e das pessoas em geral. O seu objectivo específico é o de promover a participação, o

empreendedorismo e a inclusão social de crianças, jovens e adultos em situação vulnerável

através da valorização do seu potencial, o uso desse mesmo potencial enquanto recurso para a

mudança na comunidade e na sociedade e o seu reforço pelo desenvolvimento de competências

essenciais necessárias à realização pessoal, à cidadania activa, à coesão social e à empregabilidade

na sociedade de conhecimento. Para alcançar os objectivos trabalha na área da educação e

formação de jovens. Os usuários são jovens entre os 6 e os 24 anos e as suas famílias, existe uma

grande tendência masculina, e uma tendência para as seguintes nacionalidades: Portuguesa,

Cabo- Verdiana, Angola, Polaca, Guineense e Ucraniana. Por parte desta população é solicitado

apoio no acesso ao mercado de trabalho, apoio à formação e regularização dos documentos.

Muitas vezes esta incapacidade de se integrar no mercado de trabalho, por diversas razões pode

levar a que estes desviem para economias paralelas e marginais para sobreviverem. O clube tenta

que isto não aconteça, apoiando os jovens nas suas necessidades, mas também educando-os e

proporcionando actividades para estes ocuparem o seu tempo livre.

O CLUBE trabalha com o programa Erasmus+ como intermediário onde assegura a preparação

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

31

pedagógica, linguística e cultural dos jovens que participam do mesmo, colocando-os nas

diferentes associações e assegurando o seu acompanhamento e avaliação nos estágios. Tem

também uma rádio online que funciona com os jovens de forma a desenvolver as suas

capacidades e ainda, o projecto Sementes a Crescer-E5G que intervém com crianças e jovens em

situação de vulnerabilidade socioeconómica, onde oferece soluções sociais, educativas,

económicas, laborais e/ou formativas.

Um ponto fraco desta associação é o facto de a equipa ter um número baixo de funcionários o

que dificulta o acompanhamento dos jovens que são muitos. Porém é um programa que tem tido

muito sucesso com os jovens, pois estes gostam de participar, de opinar, de querer ajudar a

melhorar o serviço prestado.

2.13. APPACDM

A APPACDM (Associação de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental) foi fundada em 1962,

por Sheila Stilwell, mãe de uma criança portadora de Trissomia 21 e pela sua pedopsiquiatra Dra.

Alice Mello Tavares. É uma instituição particular de solidariedade social, possuidora de um

certificado de qualidade desde de 2011 ( Equass Assurance Nível I), tem como missão promover a

inclusão das pessoas com deficiência ou incapacidade na sociedade, com qualidade de vida no

respeito pelos princípios que consagram o direito ao exercício de plena cidadania, ou seja,

pretende-se que os usuários desenvolvam capacidades, tenham hipótese de fazer as suas próprias

escolhas e que estas sejam valorizadas pela sociedade. O trabalho da associação consiste na

formação de jovens com deficiência, na integração destes na sociedade e no mercado de trabalho.

De 9 usuários jovens existem 6 jovens estrageiros, que chegam á associação através de

encaminhamentos de outras associações. Chegam com necessidade de obter apoio, informações

sobre os sítios disponíveis para conseguir respostas aos problemas a nível alimentar, de emprego,

de regularização de documentos. Mas também com uma necessidade de orientação para

encontrar uma direcção, isto porque muitos jovens estrangeiros são enviados pelas escolas devido

às dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento, que são originados muitas

vezes pela barreira da língua e da cultura. Para responder a estas necessidades específicas, a

associação tem à disposição dos jovens e da sua família, uma assistente social e uma psicóloga. A

associação faz ainda encaminhamentos para o SEF, com o objectivo de os jovens conseguirem a

legalização e assim integrarem-se na associação. Nem sempre se consegue integrar os seus alunos

já formados no mercado de trabalho, porém, a nível de formação e desenvolvimento dos seus

formandos a APPACDM consegue obter bons resultados.

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

32

Tem como uma boa prática o BEPA (Banco de Empréstimo de Produtos de Apoio) que tem

como objectivo melhorar a qualidade de vida das pessoas com necessidades especiais através de

serviços como limpeza e higienização de equipamentos, reparação, adaptação, entre outros. O

BEPA recebe equipamentos doados (cadeira de rodas, carrinhos de bebé, brinquedos, etc) e

recicla e reutiliza os mesmos fazendo empréstimos para pessoas com necessidades especiais. A

equipa do BEPA também vai a casa das pessoas para avaliar e melhorar a sua situação no que diz

respeito a acessibilidade.

2.14. IBISCO

A Associação Teatro IBISCO (Teatro Inter Bairros para a Inclusão Social e Cultura do Optimismo),

surge, em 2009, como consequência de um processo pioneiro de Inclusão pela Arte que juntou

jovens de seis bairros sociais de Loures e que, através do teatro, os levou a compreender os

valores da disciplina, do trabalho em equipa e da arte como ferramenta para a capacitação,

emancipação e auto-estima. Assim, o IBISCO trabalha na formação, capacitação e

consciencialização cívica, técnica e artística de jovens. O teatro está aberto a todas as pessoas,

desde os 6 anos aos 60 anos, nacionais ou de origem estrangeira, sendo que a população

estrangeira é maioritária. Apresentam problemas de carência económica, familiar, preconceito e

falta de oportunidades. Através da participação no teatro os jovens abrem portas para o mundo e

adquirem ferramentas pessoais, e ganham consciência do mundo à sua volta, dos problemas que

os outros jovens enfrentam.

O Teatro IBISCO tem sido considerado um exemplo de boas práticas, este trabalho provou ser

uma arma contra o preconceito e uma poderosa ferramenta para a capacitação e formação dos

jovens e das comunidades.

Este apresenta alguns problemas relacionados com a língua, que dificulta a comunicação. A

associação IBISCO considera que todos os jovens que participam melhoram a sua qualidade de

vida e desenvolvem capacidades, ou seja, o teatro tem sido uma óptima ferramenta para o

desenvolvimento dos jovens, sendo este o ponto forte do seu trabalho.

2.15. CNAI Lisboa

O CNAI (Centro Nacional para o Apoio ao Imigrante) trabalha com imigrantes no acolhimento e

integração, apoio ao recenseamento, habitação, qualificação, emprego, empreendedorismo, apoio

jurídico, apoio socia, entre outros tipos de apoio. Os seus usuários são cidadãos imigrantes, sendo

a percentagem de jovens imigrantes de 10%. Esta percentagem de jovens apresenta problemas

com a regularização da sua situação no país.

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

33

Algumas das suas melhores práticas são a regularização de documentos, a luta pela integração

do imigrante e seus direitos. Um dos seus pontos fracos é não ter um departamento de finanças,

porém o seu ponto forte é ter vários campos onde consegue responder as mais variadas

necessidades apresentadas pelos imigrantes, e a articulação com outras entidades de forma a

encaminhar os utentes com os quais não se consegue resolver os problemas apresentados.

2.16. Obra Católica Portuguesa das Migrações

A Obra Católica das Emigrações foi criada a 1 de Julho de 1962, pelo Patriarcado de Lisboa e

integrava a União da Caridade Portuguesa. Mais tarde, em 1978, torna-se, por indicação da Santa

Sé, um organismo dependente da Comissão Episcopal de Migrações e Turismo. A Obra tem como

missão, formação de padres, apoio a pessoas em contexto de mobilidade humana e apoio à

evangelização. Presta também auxílio na área de documentação, necessidades básicas (vestuário,

alimentação) e apoio social. A Obra Católica tem implementado um trabalho de campo com as

missões católicas de língua portuguesa, através do envio de missionários e do diálogo entre

bispos. Os seus usuários são maioritariamente jovens estrangeiros, que procuram apoio a nível

jurídico e a nível do emprego.

Apesar do extenso trabalho desenvolvido têm encontrado algumas dificuldades em dar

resposta a todas as áreas como apoio jurídico e trabalho.

2.17. Associação dos Ucranianos em Portugal

A Associação dos Ucranianos foi criada para apoiar e integrar os imigrantes e os descendentes

que residem em Portugal. Presta também auxílio jurídico e social. Dinamiza ainda atividades que

visam a integração e consolidação/divulgação da cultura ucraniana. Os seus usuários são toda a

população ucraniana de todas as faixas etárias, sendo que 50% são jovens estrangeiros. Estes

dirigem-se à associação maioritariamente à procura de apoio jurídico e social. Para chegar à

população a associação utiliza actividades socio-culturais.

Realizam aulas de português para os jovens aos sábados com o objetivo de melhorar a

integração. No entanto, o apoio jurídico e social é ainda uma das grandes carências da associação.

2.18. CLAII Buraca

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BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

34

Criada em 2003 a rede de CLAII (Centros Locais de Apoio à Integração de Imigrantes), tem

como missão facilitar os processos de integração dos imigrantes. Apoiando todo o processo do

acolhimento e integração dos imigrantes, articulando com as diversas estruturas locais, e

promovendo a interculturalidade a nível local. Estes serviços do ACM prestam apoio e informação

geral em diversas áreas, tais como, regularização, nacionalidade, reagrupamento familiar,

habitação, retorno voluntário, trabalho, saúde, educação, entre outras questões do quotidiano.

Realizam também ações de formação no CNAI para os mediadores culturais, como forma de

melhorar a integração dos imigrantes. Porém é difícil dar resposta a todas as áreas como no

acesso a legalização (título de residência e nacionalidade portuguesa) e também no trabalho.

2.19. Raízes- Projeto Claquete

O Projeto Claquete tem como ideia central, a criação de uma produtora juvenil de conteúdos

audiovisuais que visa desenvolver, em conjunto com crianças e jovens, curtas-metragens,

documentários, videoclips, reportagens e outros produtos multimédia como ferramenta

pedagógica no sentido da promoção da inclusão social pela arte. Pretende-se assim de uma forma

inovadora contribuir para a inclusão escolar, promover a empregabilidade e a capacitação dos

jovens. Os seus usuários são de todas as faixas etárias, sendo que 50% são jovens imigrantes, que

procuram a associação com o intuito de receber apoio escolar

Promove também, actividades nas escolas para criar um maior envolvimento dos alunos como

forma de combater o insucesso escolar, um dos grandes problemas dos jovens.

2.20. Comunidade Islâmica de Lisboa

A Mesquita Central de Lisboa é a principal mesquita da comunidade islâmica portuguesa.

Situa-se na Praça de Espanha, em Lisboa. Esta entidade de cariz religiosa realiza actividades na

área social e humanitária. Estas têm como objectivo dar apoio aos mais carenciados. Com visitas

aos hospitais e prisões, actividades culturais, sociais e religiosas. Realizam ainda todos os anos um

almoço de Natal para os mais carenciados e não muçulmanos e também desenvolveram o

projecto “Sopa para todos” para sem-abrigos e carenciados.

Pontos relevantes das entrevistas:

Page 36: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

35

- As instituições acolhem maioritariamente jovens imigrantes e trabalham para a integração

destes;

- Além de darem a conhecer a cultura do país de acolhimento, uma parte das instituições tenta

também dar a conhecer a cultura do país de origem, como por exemplo; Associação Amizade

Luso-turca que promove a cultura portuguesa mas também a cultura turca. Esta promoção da

cultura turca, e de outros países é muito importante na medida em que nos permite conhecer os

princípios, os costumes de uma nova cultura e assim conhecer melhor as suas necessidades;

- Muitas das associações de apoio aos imigrantes também apoiam a população nacional, não

se restringem apenas à população imigrante;

- Maior parte das associações são sem fins lucrativos, o seu financiamento muitas vezes vem

de instituições públicas (embora muitos procuram outras alternativas para a sua

sustentabilidade), o que por vezes dificulta o trabalho e a implementação de boas práticas;

- São desenvolvidas boas práticas sempre com o objectivo de responder às necessidades que

surgem;

- Muitas das boa práticas implantadas têm sucesso, e como tal são projectos de continuidade;

- As instituições enfrentam problemas como a falta de recursos humanos devido à constante

mudança de equipa, pois muitas desenvolvem o seu trabalho através de voluntários. Falta de

recursos financeiros, localização pois muitas instituições são de difícil acesso e linguagem;

- Para chegar à população alvo as associações utilizam os meios de comunicação, as redes

sociais e a forma mais conhecida que é o passa a palavra. Muitos dos jovens são também

encaminhados por outras associações;

- Existe uma articulação entre as várias instituições, para que assim seja possível dar resposta

às necessidades dos jovens;

- Existe uma grande percentagem de jovens imigrantes que usufruem dos serviços das

associações;

- Os jovens procuram as associações com o objectivo de receber informação sobre como

adquirir os seus documentos, apoio social pois muitos deles vêm de famílias vulneráveis ou não

têm nenhum apoio familiar. Apoio na procura de emprego, devido à sua precariedade os jovens

tentam encontrar um emprego para sobreviver e orientação pois muito jovens sentem-se

deslocados, com sentimentos de discriminação;

- A falta de oportunidades dadas aos jovens tem maioritariamente a ver com a sua falta de

documentação, o que dificulta a integração dos jovens. Como já foi referido a escola e o emprego

são essenciais para a integração dos jovens. Muitas vezes não conseguem alcançar estes meios

devido à falta de documentos o que pode levar a sentimentos de frustração e desapego da

sociedade;

Page 37: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

36

- A integração dos jovens é feita através de actividades lúdicas, actividades culturais, apoio e

acompanhamento;

- Existe uma grande taxa de sucesso por parte das instituições, estas vão conseguindo dar

respostas às necessidades dos jovens.

3. Focus Group

O principal objectivo do projecto é sinalizar os pontos fracos e as possíveis melhorias nas

políticas e instrumentos de participação e inclusão dos jovens de origem imigrante. Tendo em

conta este objectivo foi realizado pela equipa de investigação quatro Focus Group com jovens

imigrantes. Focus Group é definido como grupo de discussão, é utilizado para a recolha de dados,

podendo ser utilizada em diferentes momentos da investigação. Morgan (1996,1997) considera

que o Focus Group é uma técnica de investigação de recolha de dados através da interacção do

grupo sobre um tópico lançado pelo investigador. Segundo este, o investigador tem um papel

activo na dinamização da discussão do grupo para efeitos de recolha de dados. Krueger e Casey

(2009) salientam o papel dos participantes na discussão de um determinado assunto, pois estes

contribuem para a compreensão do mesmo, salientam ainda o facto de os participantes terem

alguma característica em comum e relevante face ao tema em discussão.

Foram realizados em quatro locais distintos, o primeiro no CIUL, espaço cedido pela Câmara de

Lisboa, que se situa no centro de Lisboa. O Segundo no teatro IBISCO, situado na Apelação, o

terceiro na associação BUÈ FIXE, que se encontra a desenvolver as suas acções no bairro da Quinta

da Lage, Amadora, e o quarto no espaço LX Jovem, que é um espaço da Câmara situado no bairro

do Armador, Bela Vista, aberto a todos os jovens. A localização dos Focus Group permitiu-nos

chegar a um público diversificado, com características distintas e com problemas diferentes.

Foram abertos a todos os jovens imigrantes de idades compreendidas entre os 18-29 anos que

demostraram interesse em participar. Para chegarmos ao nosso público- alvo contamos com a

ajuda das associações, que desde o início demostraram-se disponíveis para divulgarem o projecto

e encaminharem jovens. Contamos ainda com o impacto que as redes sociais têm nos jovens,

utilizamos a página do facebook da associação para fazer divulgação, e ainda com o impacto que a

música e o teatro têm na vida deste jovens imigrantes. Através de improvisações realizadas no

teatro IBISCO, com improvisações musicais de hip hop realizadas na Associação BUÈ FIXE e

formação musical realizada no espaço LX Jovem conseguimos que os jovens expressassem as suas

ideias, e assim recolher as informações necessárias.

Page 38: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

37

Primeiramente o projecto foi apresentado aos jovens, pois nem todos tinham conhecimento do

seu objectivo e de como este estava a ser desenvolvido. Foi ainda feita uma apresentação de

como a discussão iria decorrer. A mesma foi lançada com algumas questões iniciais, tendo em

consideração os temas como a integração, exclusão social, os serviços disponíveis, os impactos da

União Europeia, barreiras encontradas e a sua linha de pensamento foi mantida pelos

coordenadores.

Os jovens imigrantes enfrentam uma grande dificuldade, a integração na sociedade do país de

acolhimento. Como tal, quando falamos em integração os jovens têm as suas opiniões muito bem

definidas. Para os participantes do Focus Group a integração acontece quando o imigrante sente-

se ligado a um lugar, quando este pertence a um lugar. É um processo, como tal tem diversas

etapas e formas, ou seja a integração é possível fazer-se através da via social, económica, cultural,

habitacional, mas todos os pontos têm de estar presentes para a integração ser plena. Se falhar

um, por exemplo, se o imigrante não tiver acesso a uma vida económica estável, que lhe permita

também ter uma vida social, a sua integração não é plena, pois não vai sentir que tem um lugar na

sociedade. Um outro problema que advém da integração, ou quando esta não ocorre, é a exclusão

que leva ao racismo e aos maus tratos. Maior parte dos jovens tinha uma história para contar de

exclusão social, um momento onde foram tratados de maneira diferente por serem imigrantes,

por terem uma cultura diferente. A exclusão social infelizmente ainda está presente na vida dos

imigrantes. As classes sociais ainda excluem quem não partilha as mesmas características, quem

não tem acesso aos mesmos bens. Esta exclusão leva a problemas mais sérios, a problemas muitas

vezes psicológicos, como por exemplo à depressão e até ao suicídio.

Ligado à exclusão social vem o estigma, o preconceito. A população imigrante é uma população

com carências económicas, e muitas vezes nem acesso à habitação tem, quando tem, as

habitações estão localizadas nas periferias ou nos bairros sociais, o que só por si leva a uma

exclusão. Continua a existir a ideia formada que os bairros sociais são onde as pessoas mais

carenciadas vivem, onde residem os marginais e onde existe uma grande taxa de criminalidade. Os

jovens imigrantes estão presos nesta generalização, o facto de viverem nas periferias ou até

mesmo em bairros sociais não lhes permite aceder a algumas oportunidades, como por exemplo

ao trabalho. Alguns jovens participantes afirmaram terem perdido oportunidades de emprego

porque simplesmente moravam num bairro social, mas também não conseguem ter acesso a

outro tipo de habitação.

O facto de os imigrantes muitas vezes não falarem a mesma língua que o país de acolhimento

dificultada a sua integração. A língua facilita a comunicação, facilita o acesso às informações e

evita a solidão na medida em que permite a socialização com outros membros. Podemos

considerar que a aprendizagem da língua do país de acolhimento é um meio para o imigrante

Page 39: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

38

conseguir-se integrar. Para além da língua é importante a pertença a um grupo, a um grupo que

não seja o grupo de trabalho ou o grupo da escola. Pertencer a um grupo de dança, de desporto

ou de qualquer actividade sociocultural é uma maneira de sentir que se faz parte de algo, mas

também de conhecer novas pessoas, de conhecer a cultura e os costumes. Como exemplo temos

o teatro IBISCO, que permite aos jovens imigrantes pertencerem a algo, mesmo que não estejam

plenamente integrados na sociedade.

Uma outra questão que está interligada à integração e à exclusão, é a aquisição dos

documentos, todos os jovens consideram que a obtenção de documentos é essencial para a

integração, que é o primeiro passo para conseguir acesso a todos os outros serviços que a

sociedade tem para oferecer. A aquisição de documentos é um processo demorado e não é fácil

devido à legislação portuguesa. Como tal, muitos imigrantes têm de viver em situação irregular

numa fase inicial, durante esse período o imigrante está numa situação vulnerável, muitas vezes

numa situação de carência económica e vive em sobressalto, com medo que as autoridades o

apanhem e que o obriguem a retornar para o seu país de origem. Mas não é só os imigrantes em

situação irregular que não conseguem integrar-se. Os jovens imigrantes que venham com visto de

estudante não têm uma integração plena na sociedade do país de acolhimento. A escola é um

bom mecanismo de integração para estes jovens, permite-lhes conhecer novas pessoas e

conhecer a cultura do país, mas tem um reverso. Os imigrantes que chegam com visto de

estudante, apenas podem estudar e não podem trabalhar, têm que ter alguém que se

responsabiliza por eles. Os jovens sentem que fazem parte do grupo estudantil da escola mas

sentem que não estão plenamente integrados na sociedade, pois não têm acesso ao mercado

laboral, ou seja, não chega a ser uma integração plena devido ao facto de apenas terem acesso à

educação mas não ao mercado laboral, deixando em falta um dos pilares da integração. Ter acesso

ao mercado de trabalho muitas vezes não quer dizer que os imigrantes estejam plenamente

integrados pois muitas vezes conseguem apenas trabalhos temporários, ou de classificações mais

baixas do que as que têm. Então não se sentem que pertencem a algo, sentem que lhes são dados

os trabalhos que ninguém quer e que eles aceitam porque precisam.

Existem diversos serviços disponíveis em Lisboa, de apoio ao imigrante. Os mais conhecidos

pelos jovens são o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e o Centro Nacional de Apoio ao

Imigrante (CNAI). Os jovens consideram que os serviços disponíveis em Lisboa poderiam ter maior

visibilidade. O SEF é o mais conhecido, não por ter uma grande visibilidade mas por ser um lugar

obrigatório para a comunidade imigrante, pois é onde conseguem tratar da sua legalização. O

CNAI, já não é um centro de paragem obrigatória e, como tal, é menos conhecido. Muitos jovens

sabem que existe, mas não sabem os serviços que este oferece, não sabem que são serviços

gratuitos. Na comunidade imigrante existe a crença que como imigrantes em situação irregular

Page 40: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

39

não têm direito a nenhum serviço, a nenhuma ajuda que não seja paga, o que leva muitos

imigrantes a desconfiarem da ajuda gratuita e consideram que esta não vai ser benéfica para a

resolução dos seus problemas. Esta falta de confiança leva também à não procura de serviços de

apoio.

Um outro factor que leva a este desconhecimento é a localização dos serviços. Maior parte dos

serviços estão localizados no centro de Lisboa e não onde se centra a população imigrante que é

nas preferias, o que leva ao desconhecimento dos mesmos, ou mesmo que conheçam, não têm os

recursos para se deslocar. Existe uma grande quantidade de serviços disponíveis, mas nem todos

funcionam da melhor maneira. Existem impedimentos que muitas vezes dificultam a ajuda

prestada. Uma grande barreira é a língua, muitos imigrantes não sabem falar a língua do país de

acolhimento, e muitos dos serviços não estão preparados para este factor, o que leva a uma falha

de entendimento entre ambas as partes. Uma outra é o longo período de espera, Este muitas

vezes deve-se à falta de funcionários existentes em cada serviço. Para colmatar estas questões, os

jovens consideram que é necessário uma maior divulgação dos serviços, mais recursos humanos e

principalmente formação não apenas a nível linguístico, mas também a nível comportamental.

Pois consideram que muitos funcionários não têm as características essenciais para lidar com a

população imigrante, perdem a paciência com alguma facilidade, ou tratam as pessoas com

desapego. A crise financeira que hoje se vive, não só no país mas também na União Europeia é um

factor que pode afetar directamente ou indirectamente a integração dos imigrantes do país de

acolhimento. Devido à crise, existem cortes financeiros que prejudicam os imigrantes, na medida

em que os serviços deixam de ter a mesma qualidade.

Podemos concluir que a integração na sociedade é fundamental e que esta tem diversas

formas, podendo ser social, económica e habitacional. Caso os imigrantes não tenham acesso a

uma das formas a integração não é plena. Existem dois elementos muito importantes para ocorrer

a integração, a aquisição dos documentos e a aprendizagem da língua. A aquisição dos

documentos porque permite ao imigrante participar na vida da sociedade, ter acesso a um

trabalho digno e a uma habitação. A língua, pois permite ao imigrante comunicar, expressar-se de

uma forma mais clara e pertencer a grupos, não só a grupos de trabalho mas também a grupos

sociais. Os serviços de apoio aos imigrantes são suficientes, mas apresentam algumas falhas, como

por exemplo, a sua localização que não é acessível para os jovens imigrantes, a falta de divulgação

já que muitos espaços existem e têm diversos serviços disponíveis, mas não são do seu

conhecimento. Apresentam ainda uma grande lacuna em termos de recursos humanos pois

muitos jovens sentem que os funcionários não estão disponíveis nem têm as características

necessárias para lidar com a comunidade imigrante, e a escassez dos mesmos faz com que o

tempo de espera em cada serviço seja demasiado. Devemos ainda referir que a crise em que o

Page 41: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

40

país e a União Europeia vivem, prejudica os imigrantes, pois os serviços prestados são afectados

com os cortes financeiros.

4. Propostas

Em todos os Focus Groups concordaram que a quantidade de serviços existentes é suficiente,

falando de Lisboa no geral, pois consideram que há diversos serviços especializados nas diferentes

áreas. Mas cabe destacar as sugestões de alguns deles para criar espaços de convívio nas

periferias onde os jovens possam juntar-se e desenvolver atividades do seu interesse,

nomeadamente atividades musicais, audiovisuais e informáticas com equipamentos disponíveis e

adequados. Este tipo de espaço existem no centro da cidade, mas os jovens das zonas periféricas

não têm acesso nem condições para se deslocar e consideram que seria um óptimo instrumento

de integração já que muitos deles sairiam das ruas.

Em vistas de já haver uma grande quantidade de serviços em Lisboa os jovens propõem

melhorar a qualidade dos mesmos. Uma das sugestões mais ouvidas nas sessões foi a formação

dos profissionais que trabalham nestes serviços. Esta formação deveria orientar sobre uma forma

protocolar de atendimento a imigrantes. De modo a que haja uma consciencialização das

problemáticas que envolvem a situação dos jovens, ou seja conscientização dos processos para

conseguir a legalização, trâmites legais, e interiorização da existência de barreiras linguísticas e

das diferenças culturais. Para que o atendimento fosse feito com mais paciência, esclarecendo

todas as dúvidas, utilizando uma linguagem mais simples e clara e, sobre tudo, orientando às

pessoas.

Em relação à quantidade e qualidade dos serviços é evidente que o factor da difusão tem uma

grande importância. Existem organizações e entidades ao longo da cidade que promovem

programas e atividades de integração para os jovens imigrantes, mas não funciona por uma

divulgação deficiente. É preciso melhorar os meios através dos quais se tenta atingir aos jovens.

Eles mesmos propõem estratégias inovadoras baseadas no contacto directo, como eventos

outdoors ou promotores nas ruas. A maioria deles confessam não dar atenção aos flyers ou

cartazes afixados nas paredes e muitos não costumam ter acesso a internet. De facto as acções de

maior sucesso são aquelas que contam com a presença da entidade no próprio local de maneira

que os promotores e organizadores conhecem pessoalmente os jovens. Por exemplo, os jovens

do Teatro IBISCO consideram que esta entidade consegue chegar aos jovens imigrantes do bairro

pelo facto dos responsáveis do espaço estarem sempre presentes e acharem que é uma prática

que deveria ser replicada no resto das entidades com os mesmos objetivos.

Page 42: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

41

A maioria dos jovens contactados são estudantes. Um dos desafios propostos neste âmbito foi

a criação de um visto temporário de trabalho que os permita aceder a um emprego remunerado

em território nacional sem ter que voltar ao seu país de origem nem deixar os estudos.

Sendo conscientes da complexidade burocrática relacionada com as questões legais dos

imigrantes, os jovens propõem uma descentralização do SEF permitindo às associações de

imigrantes tomar parte ativa nos processos relativos à documentação. As entidades do terceiro

setor e as públicas como o CNAI têm profissionais especializados nas leis de imigração que

poderiam executar muitos dos processos. A divisão de tarefas tornaria o trabalho mais eficaz e

aproveitaria mais os recursos disponíveis.

Também neste sentido é importante a articulação com as Embaixadas e Consulados dos países

de origem e, infelizmente, a resolução de trâmites burocráticos nalgumas delas é praticamente

impossível. Foi proposto a elaboração de um protocolo entre o Governo português o as

Embaixadas dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). Este acordo facilitaria a

troca de documentos e informação entre países permitindo uma maior velocidade e eficácia na

hora de resolver questões burocráticas.

INQUÉRITOS

Nacionalidade:

Masculino Feminino

16 26

Sem Nacionalidade:

Masculino Feminino

21 21

Data de nascimento dos Jovens:

1982 1

1986 5

1987 4

1988 8

1989 8

1990 5

1991 7

Page 43: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

42

1992 10

1993 12

1994 12

1995 5

1996 2

1997 1

1998 2

1999 1

Habilitações literárias:

1º Ciclo 0

2º Ciclo 2

3º ciclo 17

Ensino secundário 38

Ensino Superior 39

Outro 4

Nível de Português 1 (fraco) /5 (forte)

1 1

2 2

3 7

4 21

5 52

Page 44: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

43

Gráfico 1

Gráfico 2

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Desempregado Trab full time Part-time Estudante

Profissão dos Jovens imigrantes em Portugal

femenino

masculino

0

2

4

6

8

10

12

1 a

6 m

eses

1 a

no

2 a

no

3 a

no

s

4 a

no

s

5 a

no

s

6 a

no

s

7 a

no

s

8 a

no

s

9 a

no

s

10

an

os

11

an

os

14

an

os

15

an

os

16

an

os

17

an

os

18

an

os

19

an

os

20

an

os

22

an

os

25

an

os

26

an

os

34

an

os

Permanência de anos em Portugal

Page 45: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

44

Gráfico 4

Legenda: A- Pedido de informações; B- Práticas Burocráticas; C- Participação em cursos; D-

Procura de emprego; E- Apoio á criação de negócio; F- Participação nos serviços culturais e

recreativos; G- Participação das associações de promoção social, H- Outros

0

10

20

30

40

50

60

70

a b c d e f g h

Razão da utilização dos serviços

Razão da utilização dosserviços

Gráfico 3

05

10152025303540

Profissão dos pais

Feminino ( mae)

Masculino ( pai)

Page 46: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

45

Gráfico 5

Legenda: A- Internet; B- Amigos ou conhecidos; C- Publicidade; D- Família; E- Escola ou

trabalho, F- outros

Gráfico 6

Legenda: A- Dificuldade para chegar ou atingir o serviço; B- Muito tempo de

espera; C- Pouca utilidade; D- São pouco conhecidos, E- Dificuldade linguística,

F- Outros

Modo de conhecimento do serviço

a

b

c

d

e

f

0

5

10

15

20

25

30

35

A B C D E F G

Motivo da não utilização dos serviços

Motivo da nãoutilização dos…

Page 47: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

46

Gráfico 7

Legenda: A- CNAI;B- CLAII;C- Camara Municipal de Lisboa; D- Junta de

Freguesia; E- Santa Casa da Misericórdia, F- GIP/IEFP, G- SEF, H- Loja do Cidadão;

I- Embaixadas e Consulados; J- Associação IBISCO, K- Associação Raízes; L-

Associação Moinho da Juventude; M- Associação Batoto Yetu; N- Associação

DÌNAMO; O- Associação Renovar a Mouraria; Q- Espaço LX Jovem, R- Outros

5. Considerações gerais

No total foram realizados 84 questionários. A população da investigação foram os jovens

imigrantes ou filhos de imigrantes com idades compreendidas entre os 18- 29 anos de idade,

como esta é muito vasta e nós não tínhamos como chegar a todos, escolhemos uma amostra. Esta

foi escolhida por conveniência, ou seja, os investigadores dirigiram-se a locais específicos, onde

saberiam de antemão que seria fácil encontrar estes jovens, utilizaram ainda os seus

conhecimentos, ou seja, recorreram aos seus amigos. A amostra é constituída por 37 jovens do

género masculino e 47 jovens do género feminino, maior parte nascidos entre 1992 e 1994. Das

47 inqueridas 26 têm nacionalidade portuguesa e dos 37 inqueridos 16 têm nacionalidade

portuguesa. Dos jovens, 38 encontram-se a frequentar o ensino secundário e 39, a frequentar o

ensino superior.

Podemos ainda verificar que maior parte dos jovens tanto femininos como masculinos são

estudantes, mas existem mais jovens do sexo feminino a trabalhar em part-time, mas por sua vez

existem mas jovens do sexo masculino a trabalharem a full-time. O desemprego é mais acentuado

nos jovens do sexo masculino do que nos jovens do sexo feminino. Nesta questão do emprego

podemos ainda verificar a questão já mencionada anteriormente, que a população imigrante

0

10

20

30

40

50

60

70

a b c d e f g h i j h L m n o p q r

Serviços Conhecidos e Utilizados:

Conheço os serviços

Já utilizei os serviços

Page 48: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

47

ocupa as profissões de baixa qualificação, apesar das suas habilitações académicas. Esta está

presente no gráfico da profissão dos pais (gráfico 3), como podemos verificar a maior

percentagem do sexo feminino (mãe) está na profissão de doméstico, enquanto o sexo masculino

(pai) se situa na categoria médico, advogado e funcionário e na categoria pedreiro, enfermeiro,

vendedor e agricultor.

Podemos ainda verificar que o nível de português dos jovens é elevado, estando a maior

percentagem no nível 5, este factor pode dever-se aos anos que os jovens estão em Portugal.

Como podemos verificar no gráfico 2 (permanência de anos em Portugal) grande parte dos jovens

encontram-se em Portugal há 3 anos, 5 anos, 8 anos, 10 anos e 19 anos. O que nos leva a concluir

que alguns jovens sejam filhos de imigrantes, ou já tenham nascido cá. Mas não devemos deixar

de ter em conta que a língua, como já foi referido, é um factor essencial para a integração dos

jovens imigrantes. O alto nível de português pode dever-se também à necessidade que os jovens

possam sentir de aprender a língua para se integrarem. Em termos da utilização dos serviços

podemos verificar que os jovens conhecem os mesmos, mas que este conhecimento não significa

que já os tenham utilizado. Podemos concluir que os serviços mais conhecidos são o CNAI, a

Câmara Municipal de Lisboa, a Junta de Freguesia e a Santa Casa da Misericórdia, por outro lado

os serviços mais utilizados são a Junta de Freguesia, o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras),

Loja do Cidadão, Embaixadas e Consulados. É ainda de referir que as Associações que trabalham

com os jovens, que apoiam a integração dos mesmos são pouco conhecidas e pouco utilizadas

pelos jovens em geral. No gráfico 4, analisamos que a razão que leva os jovens a procurar os

serviços são práticas burocráticas (documentos para a cidadania, suporte legal). Como já

tínhamos verificado, a questão dos documentos é também essencial para a integração dos jovens,

sem os mesmos tudo se torna mais complicado. O pedido de informações é outra questão que

leva os jovens imigrantes a procurar estes serviços. Concluímos que a participação nos serviços

culturais e recreativos e a participação nas associações de promoção social tem uma percentagem

baixa de utilização. Maior parte dos jovens não procuram este tipo de serviços, pois consideram

que muitos deles não dão resposta às suas necessidades. Esta não utilização está reflectida no

gráfico (motivos da não utilização dos serviços), muitos dos jovens consideraram que não utilizam

os serviços devido à sua pouca utilidade, mas também devido ao tempo de espera de cada serviço

e ao facto de serem pouco conhecidos.

Um outro factor interessante é o facto da barreira linguística, poucos foram os jovens que

consideraram que a barreira linguística era motivo para a não procura dos serviços. Podemos

ainda acrescentar que o “ passa a palavra” é essencial na divulgação dos serviços. Grande parte

deles considerou que ficaram a saber da existência dos serviços por parte de amigos, conhecidos,

família e só depois pela internet. O que nos leva a concluir que a divulgação feita através da

Page 49: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

48

publicidade, da colocação de cartazes, distribuição de folhetos não surge muito efeito, eles não

ligam muito a este tipo de publicidade.

Em termos dos serviços e da sua utilização podemos destacar algumas questões. Grande parte

dos serviços destacados pelos jovens, são serviços de uso geral, serviços onde é possível adquirir

certos documentos, tirar dúvidas sobre o processo de legalização mas também sobre outros

assuntos e procurar trabalho. Os serviços mais mencionados foram o CNAI, Junta de Freguesia,

Serviço Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Loja do Cidadão, Embaixada e Consulados, Gabinete de

Inserção Profissional/ Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). De uma forma geral os

jovens consideraram que estes serviços são úteis e conseguem dar resposta às suas necessidades.

No caso do SEF e da Loja do Cidadão, os jovens consideram estes serviços úteis pois eles

permitem ter acesso aos documentos. No caso da Embaixada e dos Consulados, permite-lhes

fazer a ligação com o seu país de origem e conseguem documentos sem terem que se deslocar lá,

ou pedir algum familiar que mande pelo correio. Consideram ainda que estes serviços são

acessíveis, têm um atendimento razoável e que os funcionários de uma maneira geral conseguem

responder às suas necessidades. Apontam algumas falhas nos serviços. Consideram que existe um

grande período de tempo de espera e que com uma melhor organização este poderia ser

reduzido. Acham que os horários dos serviços em muitos deles são restritos o que dificulta a ida

ao mesmo e que os serviços de marcações não funcionam da melhor maneira. No caso da Loja do

Cidadão, os jovens queixaram-se do número reduzido de senhas, o que faz com que muitos

tivessem que voltar no dia seguinte mais cedo para conseguir senha. Consideram ainda que o

atendimento dos funcionários muitas vezes não é o melhor, a informação é muito dúbia, na

medida em que não é clara e faz com que seja preciso recorrer a mais que um serviço para chegar

ao foco da questão. Consideram que os funcionários não estão preparados para o atendimento ao

imigrante, pois não têm as informações necessárias para responder às necessidades apresentadas

e não apresentam a maior disponibilidade para os receber. O que muitas vezes leva os jovens a

sentirem-se discriminados, na medida em que são tratados de maneira diferente, são rotulados

logo como imigrantes, devido ao seu aspecto físico quando na realidade já são nacionais, já têm a

nacionalidade do país de acolhimento. Uma outra questão levantada é o espaço das infra-

estruturas dos serviços, são consideradas insuficientes para o aglomerado de pessoas que se

forma nas filas de espera, e o reduzido número de funcionários disponíveis para o atendimento ao

público.

Para resolver estas questões, os jovens prepõem uma rectificação dos serviços existentes.

Sugerem que os serviços se organizem de maneira a que o tempo de espera em cada um deles

diminua, o que passa muito pela marcação prévia, seja a nível de telefone ou mesmo online.

Formação dos funcionários de maneira a que estes estejam mais consciencializados de outros

Page 50: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

49

serviços existentes, das leis da imigração, mas também que estejam mais disponíveis para receber

este tipo de população. Esta formação seria também essencial para criar um maior

profissionalismo para um melhor atendimento. Para obter uma maior rapidez nas respostas, os

jovens consideram que é necessário um maior número de funcionários em cada serviço, melhor

informados, que saibam interagir de forma correcta com a população imigrante. Os jovens

inqueridos não mencionaram muito as associações como serviços já utilizados, os que

mencionaram referiram que as actividades desenvolvidas eram de cariz importante, que quando

recorriam a este tipo de serviços eram bem recebidos, o atendimento era bom e a informação era

consistente. Não tendo apontado nenhum aspecto negativo.

Page 51: Novos cidadãos e MUNDO DO TRABALHO

BY-ME Boosting Young Migrants’ Participation in European Cities

50

6. Conclusões

Após a realização da investigação podemos concluír que a imigração é um fenómeno social em

constante alteração. O imigrante é visto como um actor social, pois provoca alterações, o país

escolhido pelo mesmo é considerado o país de acolhimento, este por sua vez deve criar condições

para a integração do imigrante, através do direito à habitação, saúde, ensino. Por sua vez o país

do imigrante é visto como o país de origem, este não deve ser esquecido. Existe dois tipos de

imigrante, o que opta por viver consoante os costumes, regras do país de acolhimento, não

deixando os seus costumes na totalidade e o imigrante que opta por viver consoante os costumes

do seu país de origem, não se integrando na sociedade do seu novo país. Lisboa é uma cidade

atractiva para os imigrantes. Regista-se um aumento da população estrangeira na cidade lisboeta

apesar de Portugal já não ser um país tão atractivo para estes estrangeiros. Isto porque o país

ainda está a recuperar da crise económica, a economia ainda está estagnada, o mercado ainda

não oferece grandes oportunidades de emprego. Para além desde decréscimo verifica-se ainda

uma mudança nas nacionalidades, os países africanos deixaram de ter a maior população

imigrante, dando lugar ao Brasil e há China e conclui-se que Luxemburgo é o país da União

Europeia que regista o maior aumento de população imigrante. Em relação aos jovens imigrantes

não existem dados que possibilitem a contabilização na cidade de Lisboa, mas podemos verificar

que no país a população imigrante é maioritariamente jovem-adulta, que ocupa as profissões de

baixas qualificações.

Ao longo da investigação foram realizadas 20 entrevistas a associações que trabalham com

jovens imigrantes, foram realizados 84 questionários e 4 focus group onde participaram jovens

imigrantes com idades compreendidas entre os 18-29 anos de idade. As entrevistas foram

realizadas presencialmente, foram semiestruturadas existia um guião que serviu de orientação.

Os focus group foram realizados em 4 locais distintos, o que nos permitiu ter uma amostra

variada, tivemos a presença de jovens estudantes do ensino superior, como jovens que vivem nas

periferias. Não foi fácil conseguir a participação dos jovens, como tal arranjou-se estratégias

alternativas. Um dos focus group foi realizado através de improvisações, outro através da música,

os jovens puderam participar numa formação musical. Através destes métodos de recolha de

dados podemos chegar às seguintes conclusões. As instituições acolhem maioritariamente jovens

imigrantes e trabalham para a integração destes, existe um grande esforço por parte das

associações de dar a conhecer a cultura do país de origem, mas também de dar a conhecer da

melhor forma a cultura do país de acolhimento. A escassez de recursos humanos e a falta de

financiamento são dois grandes problemas que as associações enfrentam no seu dia-a-dia. As

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práticas implementadas têm sempre como principal objectivo responder às necessidades que

surgem, estas por sua vez têm sucesso o que leva a que haja uma continuidade. Os jovens

procuram as associações com o objectivo de receber informação sobre como adquirir os seus

documentos, apoio social pois muitos deles vêm de famílias vulneráveis ou não têm nenhum

apoio familiar. Apoio na procura de emprego, devido à sua precariedade os jovens tentam

encontrar um emprego para sobreviver e orientação pois muito jovens sentem-se deslocados,

com sentimentos de discriminação. A falta de oportunidades dadas aos jovens tem

maioritariamente a ver com a sua falta de documentação, o que dificulta a integração dos jovens.

Como já foi referido a escola e o emprego são essenciais para a integração dos jovens. Muitas

vezes não conseguem alcançar estes meios devido à falta de documentos o que pode levar a

sentimentos de frustração e desapego da sociedade. Que existem diversos serviços de apoio ao

imigrante na cidade de Lisboa, mas estes não são conhecidos pelos jovens pois não são muito

divulgados e a sua localização não é a mais favorável na medida em que grande parte dos jovens

imigrantes encontra-se nas periferias e não no centro de Lisboa. Verifica-se ainda que os serviços

são uteis, os jovens conseguem adquirir respostas, apesar de haver um barreira linguista, devido

ao facto de muitos funcionários não saberem falar a língua do país de origem, apesar do tempo de

esperar ser longo, de muitos serviços terem um horário restrito e um número de senhas limitado.

Os jovens consideram ainda que o atendimento prestado nestes serviços é razoável mas

apresenta algumas falhas o que torna as informações pouco claras na maior parte das vezes.

Os jovens propõem uma reorganização nos serviços, não é necessária a criação de mais

serviços é necessário um aumento de recursos humanos, mas também a formação dos mesmos,

uma estruturação no sistema de marcações, para tornar o mesmo mais eficaz e ainda uma maior

articulação entre as entidades, de maneira a que não haja a necessidade de recorrer a mais de um

serviço. A integração dos jovens imigrantes no país de acolhimento é essencial, estes consideram

que para a integração ser plena tem de haver acesso à habitação, à saúde, ensino mas

essencialmente ao emprego que é a que falha mais devido à falta de documentos. Muitos dos

jovens participantes são estudantes, possuem o visto de estudante que não lhes permite

trabalhar, como tal os jovens propõem a criação de um visto que permita ter acesso aos dois.

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Agradecimentos

A realização deste relatório de investigação contou com importantes apoios e incentivos sem

os quais não se teria tornado uma realidade.

Aos membros das associações, pelo seu interesse e disponibilidade que demonstraram em

participar no projecto.

Aos jovens, pela sua colaboração e disponibilidade, pois não seria possível fazer o estudo sem

esta participação.

Aos investigadores, pelo trabalho realizado durante a investigação e pela disponibilidade

demostrada.

Às minhas colegas da associação, pela apoio e colaboração na finalização deste trabalho.

Aos nossos parceiros, um especial agradecimento à Câmara Municipal de Lisboa, pelo seu

interesse, acompanhamento e disponibilidade demostrados ao longo de todo o processo.

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Bibliografia

CML, Câmara Municipal de Lisboa; Plano Municipal de Integração de Imigrantes de Lisboa

2015-2017,volume 1, Enquadramento, Síntese de Diagnóstico e Estratégia de Intervenção

CML, Câmara Municipal de Lisboa; Plano Municipal de Integração de Imigrantes de Lisboa

2015-2017, volume 2, Diagnóstico de População Imigrante residente em Lisboa

Sousa, José, Maria; Baptista, Sales, Cristina. Como fazer Investigação, Dissertações, Teses e

Relatórios segundo Bolonha. Pactor- Edições de Ciências Sociais, Forense e da Educação

Webgrafia

www.pordata.pt

www.ine.pt

Anexos

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