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www.alice.ces.uc .pt “Conversas do Mundo: Novas Propostas Metodológicas para Novos Conhecimentos” VIII Congresso Português de Sociologia: 40 anos de democracias [Évora, Abril 2014] Boaventura de Sousa Santos (Investigador Principal) | Élida Lauris (Investigadora) | Francisco Freitas (Investigador) Centro de Estudo Sociais – Universidade de Coimbra | [email protected] Fotografia 1: Silvia Rivera Cusicanqui e Boaventura de Sousa Santos, Bolívia (2013) Fotografia 2: Rodagem da Conversa do Mundo na Bolívia (2013) [Financiamento] A investigação apresentada faz parte do projeto de investigação "ALICE: Espelhos Estranhos, Lições Imprevistas", coordenado por Boaventura de Sousa Santos (alice.ces.uc.pt). O projeto recebe fundos do Conselho Europeu de Investigação, 7.º Programa Quadro da União Europeia (FP/2007-2013) / ERC Grant Agreement n. [269807]. Referências Bibliográficas Barthes, R. (1981). Camera Lucida: Reflections on Photography. London: Vintage. Becker, H. S. (2007). Telling About Society. Chicago: The University of Chicago Press. Pink, S. (2004). Visual Methodologies. In C. Seale, G. Gobo, J. F. Gubrium, & David Silverman (Eds.), Qualitative Research Practice (pp. 391–406). London: Sage Publications. Pink, S. (2006). The Future of Visual Anthropology: Engaging the Senses. Oxon: Routledge. Santos, B. de S., & Meneses, M. P. (Eds.). (2009). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina. Conclusões As Conversas do Mundo estão ainda numa fase de construção. É importante a sua partilha com a comunidade. É crucial e desafiadora a avaliação da receção das mesmas por parte de quem as visualiza. Esse foi um exercício central para o ajuste de resultados ao longo das diferentes edições. Para futuro, estão em preparação novas edições. Os conteúdos incluem imagens, transcrições das conversas, o próprio contexto de produção ou até a informação paralela fornecida pelos anotadores de cada edição ou por demais participantes. Cada Conversa do Mundo constitui um ponto de partida para uma reflexão mais abrangente e para lá do próprio registo em si. Adivinham-se diferentes leituras destes meios, algo que está em consonância com o princípio de valorização das experiências que se pretende estimular com estes elementos. Métodos Porquê as Conversas do Mundo? Qual a sua originalidade? Não são documentário tradicional Não obedecem a estruturação rígida prévia Partem de guião indicativo Visam a indução de um diálogo São assumidamente um exercício de escuta profunda Componente multissensorial e de ativação de sentidos (Pink, 2006) Racional Os métodos visuais têm sido utilizados pelos cientistas sociais desde há muito na sua prática reflexiva, com momentos de maior ou menos proeminência, inserindo-se no grupo das metodologias de natureza qualitativa. O Projeto ALICE tem apostado claramente nas metodologias visuais. As Conversas do Mundo estão em atualização e são disponibilizadas no portal do Projeto “ALICE - Espelhos Estranhos, Lições Imprevistas”: alice .ces.uc.pt (via Aprendizagem Global/Conversas do Mundo), a decorrer no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (www .ces.uc.pt). Objetivos As Conversas do Mundo colocam frente a frente homens ou mulheres de origens diversas que partilham a luta pela dignidade humana e a vontade de reflexão sobre um outro mundo possível e necessário. Constam, assim, do registo em vídeo, não documental, com pós-produção, de um diálogo pleno de horizontalidade entre dois intervenientes. Através da recuperação da importância da oralidade, assumindo-se que o registo oral comporta uma expressão completamente distinta do registo escrito, esta é uma metodologia visual que pretende adicionar outras teorias de conhecimento à prática sociológica, concretamente as Epistemologias do Sul (Santos & Meneses, 2009). Partindo do princípio da imensa diversidade existente do mundo, procura, como tal, visibilizar conhecimentos que tenham sido colocados na margem pelas estruturas de conhecimento dominantes. Ilustração 1: Conversas do Mundo no Website ALICE Operacionalização As Conversas do Mundo implicam naturalmente planificação, meios técnicos e humanos, como custos de vária ordem. Normalmente constam de um dia de gravação e registo do diálogo entre os participantes. Segue-se um processo de análise e seriação dos conteúdos a constar no vídeo final, que poderá chegar a 2 horas de duração. Este tem sido um processo reflexivo e dialógico, em que no final da preparação de cada conversa, a mesma é difundida pelo grupo de investigação para avaliação e proposta de melhorias por parte de cada um. A recolha e edição de vídeo é assegurada por equipas locais em cada país. O número de intervenientes é variável. O tempo de preparação é, também, variável, mas implica vários meses de preparação pré-evento e vários meses já após a conversa até à disponibilização do vídeo. Existe, como é notório, a participação de elementos externos à própria equipa de investigação ALICE. Resultados Os métodos de investigação visuais nunca são puramente visuais, uma vez que estes métodos são geralmente acompanhados por outros meios de investigação ditos tradicionais, tais como entrevista ou observação, e que o visual é usualmente acompanhado pelo não visual, concretamente texto, como permitem a incorporação de conhecimento não verbalizado (Pink, 2004). Será esse o caso das Conversas do Mundo. Cada edição comporta em média 8 horas de gravações vídeo, registo de áudio e fotografia. Parte de um guião prévio, indicativo. Gera um diálogo com informação rica que pode ser recolhida e facultada para análise em profundidade numa fase ulterior. Não se pretende que seja reproduzido algo que é associado à utilização de imagens: a colocação de texto como elemento parasita ou foco último de atenção, tal como sugerido por Barthes (1981). Estão previstas mais 4 edições até 2016 a decorrer com participantes de países como Índia, África do Sul e Equador. Fotografia 3: Conversa do Mundo na África do Sul (2014) Histórico As Conversas do Mundo inspiram-se no projeto Vozes do Mundo, um livro resultante de um projeto de investigação internacional (EMANCIPA - Reinventar a Emancipação Social) que destaque às entrevistas em profundida conduzidas por sociólogos com líderes e ativistas, de diferentes partes do mundo. Como parte do Projeto ALICE, as Conversas do Mundo procuram refletir e ampliar os princípios subjacentes ao próprio projeto, repensando e renovando o conhecimento científico-social, através do entrecruzamento de diferentes saberes, a partir das Epistemologias do Sul e com vista a desenvolver novos paradigmas teóricos e políticos de transformação social.

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Page 1: “Conversas do Mundo: Novas Propostas Metodológicas para ...... “Conversas do Mundo: Novas Propostas Metodológicas para Novos Conhecimentos” VIII Congresso Português de Sociologia:

www.alice.ces.uc.pt

“Conversas do Mundo: Novas Propostas Metodológicas para Novos Conhecimentos”

VIII Congresso Português de Sociologia: 40 anos de democracias [Évora, Abril 2014]Boaventura de Sousa Santos (Investigador Principal) | Élida Lauris (Investigadora) | Francisco Freitas (Investigador)

Centro de Estudo Sociais – Universidade de Coimbra | [email protected]

Fotografia 1: Silvia Rivera Cusicanqui e Boaventura de Sousa Santos, Bolívia (2013)

Fotografia 2: Rodagem da Conversa do Mundo na Bolívia (2013)

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Referências BibliográficasBarthes, R. (1981). Camera Lucida: Reflections on Photography. London: Vintage.Becker, H. S. (2007). Telling About Society. Chicago: The University of Chicago Press.Pink, S. (2004). Visual Methodologies. In C. Seale, G. Gobo, J. F. Gubrium, & David Silverman (Eds.), Qualitative Research Practice (pp.

391–406). London: Sage Publications.Pink, S. (2006). The Future of Visual Anthropology: Engaging the Senses. Oxon: Routledge.Santos, B. de S., & Meneses, M. P. (Eds.). (2009). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina.

Conclusões

As Conversas do Mundo estão ainda numa fase de construção. É importante a sua partilha com a comunidade. É

crucial e desafiadora a avaliação da receção das mesmas por parte de quem as visualiza. Esse foi um exercício

central para o ajuste de resultados ao longo das diferentes edições. Para futuro, estão em preparação novas

edições. Os conteúdos incluem imagens, transcrições das conversas, o próprio contexto de produção ou até a

informação paralela fornecida pelos anotadores de cada edição ou por demais participantes. Cada Conversa do

Mundo constitui um ponto de partida para uma reflexão mais abrangente e para lá do próprio registo em si.

Adivinham-se diferentes leituras destes meios, algo que está em consonância com o princípio de valorização das

experiências que se pretende estimular com estes elementos.

Métodos

Porquê as Conversas do Mundo? Qual a sua originalidade?

Não são documentário tradicional

Não obedecem a estruturação rígida prévia

Partem de guião indicativo

Visam a indução de um diálogo

São assumidamente um exercício de escuta profunda

Componente multissensorial e de ativação de sentidos (Pink, 2006)

Racional

Os métodos visuais têm sido utilizados pelos cientistas sociais

desde há muito na sua prática reflexiva, com momentos de

maior ou menos proeminência, inserindo-se no grupo das

metodologias de natureza qualitativa. O Projeto ALICE tem

apostado claramente nas metodologias visuais. As Conversas do

Mundo estão em atualização e são disponibilizadas no portal do

Projeto “ALICE - Espelhos Estranhos, Lições Imprevistas”:

alice.ces.uc.pt (via Aprendizagem Global/Conversas do Mundo),

a decorrer no Centro de Estudos Sociais da Universidade de

Coimbra (www.ces.uc.pt).

Objetivos

As Conversas do Mundo colocam frente a frente homens ou mulheres de origens diversas que partilham

a luta pela dignidade humana e a vontade de reflexão sobre um outro mundo possível e necessário.

Constam, assim, do registo em vídeo, não documental, com pós-produção, de um diálogo pleno de

horizontalidade entre dois intervenientes. Através da recuperação da importância da oralidade,

assumindo-se que o registo oral comporta uma expressão completamente distinta do registo escrito, esta

é uma metodologia visual que pretende adicionar outras teorias de conhecimento à prática sociológica,

concretamente as Epistemologias do Sul (Santos & Meneses, 2009). Partindo do princípio da imensa

diversidade existente do mundo, procura, como tal, visibilizar conhecimentos que tenham sido colocados

na margem pelas estruturas de conhecimento dominantes.

Ilustração 1: Conversas do Mundo no Website

ALICE

OperacionalizaçãoAs Conversas do Mundo implicam naturalmenteplanificação, meios técnicos e humanos, como custos devária ordem. Normalmente constam de um dia degravação e registo do diálogo entre os participantes.Segue-se um processo de análise e seriação dosconteúdos a constar no vídeo final, que poderá chegar a2 horas de duração. Este tem sido um processo reflexivoe dialógico, em que no final da preparação de cadaconversa, a mesma é difundida pelo grupo deinvestigação para avaliação e proposta de melhorias porparte de cada um. A recolha e edição de vídeo éassegurada por equipas locais em cada país. O númerode intervenientes é variável. O tempo de preparação é,também, variável, mas implica vários meses depreparação pré-evento e vários meses já após a conversaaté à disponibilização do vídeo. Existe, como é notório, aparticipação de elementos externos à própria equipa deinvestigação ALICE.

ResultadosOs métodos de investigação visuais nunca são puramentevisuais, uma vez que estes métodos são geralmenteacompanhados por outros meios de investigação ditostradicionais, tais como entrevista ou observação, e que ovisual é usualmente acompanhado pelo não visual,concretamente texto, como permitem a incorporação deconhecimento não verbalizado (Pink, 2004). Será esse o casodas Conversas do Mundo. Cada edição comporta em média 8horas de gravações vídeo, registo de áudio e fotografia. Partede um guião prévio, indicativo. Gera um diálogo cominformação rica que pode ser recolhida e facultada paraanálise em profundidade numa fase ulterior. Não se pretendeque seja reproduzido algo que é associado à utilização deimagens: a colocação de texto como elemento parasita oufoco último de atenção, tal como sugerido por Barthes(1981). Estão previstas mais 4 edições até 2016 a decorrercom participantes de países como Índia, África do Sul eEquador.

Fotografia 3: Conversa do Mundo na África do Sul (2014)

Histórico

As Conversas do Mundo inspiram-se no projeto Vozes do Mundo, um livro resultante de um projeto de

investigação internacional (EMANCIPA - Reinventar a Emancipação Social) que dá destaque às

entrevistas em profundida conduzidas por sociólogos com líderes e ativistas, de diferentes partes do

mundo. Como parte do Projeto ALICE, as Conversas do Mundo procuram refletir e ampliar os princípios

subjacentes ao próprio projeto, repensando e renovando o conhecimento científico-social, através do

entrecruzamento de diferentes saberes, a partir das Epistemologias do Sul e com vista a desenvolver

novos paradigmas teóricos e políticos de transformação social.