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Novelas de Faroeste

Volume VI

L P Baçan

Copyright © 2015 L P Baçan

Todos os direitos reservados. Este livro ou

parte dele não pode ser reproduzido ou

usado de qualquer outra forma nem

divulgado sem a expressa autorização do

autor, exceto o uso de partes para referência

ou comentários.

ISBN 978-1-329-81620-6

Lulu Press, Inc. 3101 Hillsborough St, Raleigh, NC 27607

2015

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O Velho e Selvagem Oeste No Velho e Selvagem Oeste, o saloon era

o local mais movimentado e frequentado da

cidade. Ali aconteciam shows, dança, jogo e

muitas brigas. Ali se encontravam mocinhos

e bandidos, pistoleiros e desafiantes,

mulheres bonitas e perigosas. A maior parte

das histórias de faroeste passava por ele.

Dos ambientes mais simples e rudes aos

mais sofisticados, todos, indistintamente

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acolhiam moradores e forasteiros, cada um

com sua história, cada um com seu destino.

Famosos pistoleiros criaram fama nesse

local. Outros ali encontraram a morte, na

boca esfumaçada de um Colt. A fumaça da

pólvora negra era o manto lúgubre que

cobria mais um morto. Um punhado de

serragem era jogado sobre a poça de

sangue. Uma rodada gratuita de uísque

barato era servida e minutos depois

ninguém mais se lembrava do ocorrido.

Afinal, o Oeste era mesmo um lugar

selvagem e as Novelas de Faroeste mostram

isso.

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Terra de Homens

Violentos

Buck Taylor cavalgava pela árida

paisagem, num verão quente do fim do

século dezenove, a leste de Denver, na

direção de um povoado chamado Last

Chance.

Era quase uma cidade fantasma, com

poucos habitantes, segundo lhe fora

informado.

Pouca coisa havia ali, exceto uma estação

da diligência, única atividade importante a

justificar a existência da cidade.

Buck não ia a passeio. Estava à procura

de Ben Sommers, seu amigo de infância e

juventude e que não via mais de cinco anos,

desde que Ben viera para o Colorado.

Buck era assistente de xerife em

Cheyenne, apenas esperando a

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aposentadoria do seu chefe para assumir o

posto.

Não planejava nenhuma grande aventura

nem tencionava se afastar de Cheyenne, no

Wyoming, mas não pudera resistir ao apelo

da Sra. Sommers, alguns dias atrás.

Ela havia servido seus famosos bolinhos.

O cheiro de café recém-coado invadira a

alegre cozinha, com cortinas floridas na

janela.

— Buck, você e Ben sempre foram muito

amigos — dissera ela, sentando-se diante

dele, à mesa, e servindo-lhe os bolinhos

num prato, onde despejara um pouco de

mel.

— Sim, Sra. Sommers, e sinto muita falta

dele.

— Você é um rapaz, Buck. Pena que Ben

sempre tivesse aquele mesmo espírito de

aventuras do pai a lhe pôr cócegas nos pés.

— Por onde ele anda agora? Tem tido

notícias dele?

— Há uns seis meses, recebi uma carta

dele de Denver. Dizia que estava indo para

um lugar de grande futuro chamado Last

Chance, há umas cento e vinte milhas de lá.

Depois disso, não recebi mais nenhuma

noticia.

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— Last Chance? Acho que é só uma

estação de muda da diligência. Não há

muita coisa por lá.

— Ben deve estar à procura de alguma

coisa em sua vida, que jamais encontrará. É

como o pai. Só sossegou depois que juntou

as botas na colina. Só que eu estou muito

velha...

— Ora, Sra. Sommers, eu não diria isso.

Ainda é capaz de quebrar muitos corações

por aí.

Ela riu, olhando-o com ternura e gratidão.

— Você é muito gentil, Buck, mas não

sabe de minha doença.

— Doença? — preocupou-se ele.

— Sim, algo aqui dentro — falou ela,

apontando para o peito, à altura do coração.

— A qualquer momento ele pode falhar e,

antes que isso aconteça, eu gostaria de rever

meu filho. Tenho ainda algum dinheiro

deixado pelo meu marido. É mais do que o

suficiente para eu viver. Eu pagaria sua

viagem até Last Chance para tentar

encontrar o meu Ben.

— Acha mesmo necessário?

— Sim, já escrevi algumas cartas para lá,

aos cuidados do xerife, do homem do

correio, do chefe da estação da diligência e

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até do pastor, se havia um lá. Não obtive

resposta.

— Ben pode não tê-las recebido ainda —

respondeu Buck, pensando no transtorno

que seria uma viagem como aquelas.

— Só que não tenho muito tempo para

esperar, meu filho — disse ela, com seus

olhinhos brilhantes se enchendo de

lágrimas, num apelo irrecusável.

Buck a conhecia desde que se lembrava

como gente. A Sra. Sommers muitas vezes

fizera o papel de mãe para ele, que havia

perdido a sua muito cedo.

Não pôde recusar àquele apelo.

Conseguiu umas férias com o xerife e se

preparou para a viagem.

Quanto mais cedo partisse, mais cedo

teria resolvido aquilo e dado à velha

senhora, antes de sua morte, uma última

alegria.

Ben nunca havia se acertado na vida.

Tentava de tudo, mas a sorte não lhe

favorecia.

Buck tentou imaginar o que ele havia ido

buscar em Last Chance, um lugar árido, sem

muitas perspectivas. Um lugar para onde

ninguém, sem sã consciência, iria.

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Repentinamente, em algum ponto à

frente, após uma colina ouviram-se tiros.

— Que diabos! — exclamou ele, detendo

seu cavalo.

Os tiros continuaram. Pelo menos dois

rifles e um revólver, pelo som que se ouvia.

Esporeou seu animal, contornando a

colina. À frente, havia algumas rochas mais

altas. Dali, dois homens disparavam contra

um terceiro, escondido num plano mais

baixo.

Perto dali, o cavalo do terceiro homem

estrebuchava, após ter sido atingido.

Eram dois contra um, dando toda a

impressão de ter sido uma emboscada, por

isso Buck resolveu tomar partido do mais

fraco.

Apanhou seu rifle. Atirou rapidamente

algumas vezes na direção dos dois homens,

enquanto galopava.

O terceiro homem, ao ver ajuda

chegando, também tratou de disparar, dando

cobertura a Buck, que pôde se aproximar e

se esconder junto com ele.

Ele amarrou o cavalo num arbusto seco e

foi se posicionar ao lado do terceiro

homem.

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— O que está havendo? — indagou

Buck.

— Emboscada... Eles me emboscara... —

disse ele, com dificuldade.

Só então Buck percebeu que ele estava

ferido. Uma mancha vermelha se alastrava

na barriga do seu novo companheiro.

— Eles o atingiram?

— Sim, é sério. Dói como o diabo.

— Quem são eles?

O outro nem teve tempo de responder.

Uma saraivada de balas partiu das rochas

altas, ricocheteando na poeira, cravando-se

na areia atrás deles.

— Bill Huston... É um dos homens lá

encima.

— Como sabe?

— É o único que usa um Calibre

Cinqüenta por estas terras.

— Calibre cinqüenta?

— Sim, arma de matar búfalos... —

ofegou. — Sou Sam Hasting... Procure

minha irmã... Fale sobre mim... — pediu,

com esforço.

O sangue se espalhava com rapidez,

gotejando na areia. Os homens no alto

pararam de atirar.

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— Agüente firme! — disse Buck, tirando

seu lenço e pressionando-o sobre o

ferimento.

Sam gemeu. Seus olhos se fechavam

lentamente. Ele olhava o horizonte, como se

visse alguma coisa importante na distância.

— Avise Hellen... Dê isto a ela... —

pediu, num último esforço, estendendo a

mão fechada.

Buck segurou a mão dele. Sam respirou

fundo, depois aquietou-se. Seus dedos se

abriram. Algo pesado passou para a mão de

Buck.

Examinou. Parecia minério de prata.

Guardou-o no bolso e tentou reanimar Sam,

sem sucesso. Estava morto.

— E agora, demônios? — indagou-se,

cobrindo o rosto do falecido com o chapéu.

Nova saraivada de balas o fez se abaixar,

espremendo-se contra a pedra.

— Ei, vocês! — gritou, assim que houve

uma pausa. — Já conseguiram o que

queriam. Sam Hasting está morto!

Houve uma pausa maior no tiroteio. Os

homens lá encima confabulavam.

— Quem é você? — indagou uma voz.

— E o que importa isso?

— Para onde vai?

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— Para longe!

Nova pausa, deixando Buck na

expectativa. Não tinha nada com aquilo.

— Está bem, forasteiro! Tem um minuto

para dar o fora daí.

Era uma resposta nada interessante.

Quem poderia garantir que não seria

baleado pelas costas?

— Nada feito! Quem me garante que não

irão me enganar?

— Ninguém, estranho. É sua única

chance. Caia fora e não mexa no cadáver.

Estranhou aquilo. O que desejavam com

o morto, mesmo após pô-lo nesta condição?

Lembrou-se do que Sam lhe entregara.

Retirou do bolso o pedaço de minério.

Talvez fosse aquilo que os dois homens lá

encima procuravam.

Guardou-o no bolso da camisa de Sam.

Rastejou até seu cavalo. Recarregou o rifle

e o engatilhou.

— Está bem, estou indo embora — gritou

e começou a andar, de forma que o animal

ficasse entre ele e os emboscadores.

Foi caminhando, preparado para revidar,

caso eles disparassem contra ele.

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Nada ocorreu, no entanto. Quando se viu

em posição segura, saltou para a sela do

cavalo e partiu a galope.

Atrás dele, Bill Huston o acompanhava,

apontando-lhe o seu fuzil de grosso calibre.

— Pena que não seja um rifle para longa

distância — lamentou, desengatilhando-o e

abaixando-o.

— Vamos até lá ver, Bill — falou John

Sutton, deixando seu esconderijo.

Os dois desceram até onde estava o

cadáver de Sam Hasting. John o revistou,

encontrando o pedaço de minério.

— Aqui está, Bill — disse, satisfeito.

— Maldito! Ia nos trair mesmo —

comentou Bill. — Se a noticia chegasse a

Denver, tudo estaria perdido para nós.

— Mas não chegará mais. Pelo menos

não por ele — disse John, chutando o corpo

inerte de Sam. — Vamos enterrá-lo?

— Para quê? Os coiotes e urubus darão

conta dele. Vamos embora. Quero tomar um

bom gole lá na estação da diligência agora

— Bill, apontando o rifle para a cara do

morto e apertando o gatilho.

O estrago foi terrível, deixando o cadáver

totalmente irreconhecível, transformando

sua cara numa máscara retorcida.

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— Pronto! Agora ninguém o reconhecerá

— afirmou. John se apressou em aliviar o

morto de todos os seus pertences, bem

como da sela do cavalo.

Satisfeitos com o resultado da caçada, os

dois homens se foram.

No céu, os abutres começavam a circular.

Quando Buck chegou a Last Chance, já

anoitecia. A vila era o que todos haviam

falado a respeito dela.

Um fileira de casas ao lado da estrada,

tendo entre elas um saloon.

Um pouco distante das casas, havia o

posto de trocas da diligência.

Um curral ao lado da construção exibia

belos animais, espécimes fortes e bem

tratados, próprios para serem atrelados à

diligência.

— Posto Hasting! — leu ele.

Pensou no homem que vira morrer na

estrada. Sam Hasting pedira que avisasse

sua irmã.

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Possivelmente Buck a encontraria ali.

Cavalgou até a estação de mudas.

Quando entrou, o salão estava vazio.

Havia um balcão, ao lado do qual fora

montada uma bilheteria, possivelmente para

a venda de passagens.

Havia garrafas na prateleira e um cheiro

bom de comida quente. Buck imaginou que

servissem refeições ali.

Entrou. Suas esporas tiniram no assoalho.

Uma jovem surgiu na porta que ligava o bar

com os fundos, onde estava localizada uma

cozinha.

Era loura, de longos cabelos e olhos azuis

muito bonitos. Tinha um rosto jovem, mas

endurecido pela vida e pelo trabalho

incansável.

Ela olhou o forasteiro com interesse.

— Olá! — sorriu ele, afinal. — Precisa

de alguma coisa?

— Está cheirando muito bem, moça, e já

faz muito tempo que não como uma

refeição decente.

— Então chegou na hora. Dentro em

pouco a diligencia chegará e os passageiros

irão comer. Pode se juntar a eles. Vai viajar

também?

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— Não... Estou apenas de passagem —

mentiu ele.

— Quer beber alguma coisa enquanto

espera?

— Seria ótimo!

A garota apanhou uma garrafa de uísque

e um copo. Ia servir, mas parou, olhou Buck

por instantes, depois balançou a cabeça num

sinal negativo.

— Não, não vou dar-lhe isto — resolveu

ela, apanhando uma outra garrafa, oculta

sob o balcão.

Serviu, então, uma generosa dose. Buck

bebeu um gole e estalou a língua de

satisfação.

— É do bom mesmo, moça — afirmou

ele, entornando o copo.

Ela sorriu, satisfeita, servindo outra dose.

— Se quiser se lavar, há um banheiro lá

nos fundos. Cobro dez centavos pela toalha

e cinco pelo sabão. A refeição lhe custará

um dólar e a bebida é grátis.

— Certo, me parece justo — falou ele,

retirando algumas moedas e pondo-as no

balcão. — Vai ser bom tirar toda essa

poeira.

Ela o olhou por instantes, sem apanhar as

moedas.

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— Terá tudo isso de graça se me ajudar a

preparar os cavalos para a diligência. Meu

irmão deveria fazer isto, mas ainda não

apareceu, o maldito! Vice sonhando com

grandes fortunas e acaba deixando todo o

trabalho duro para mim. Então, o que me

diz?

Ele pensou por instantes.

— Como é seu nome, moça?

— Hellen Hasting, por quê?

— Quero saber o nome de minha patroa.

É justo, não?

— Certo, muito justo! — concordou ela,

estendendo a mão.

Buck a apertou. Ela serviu outra dose. Ele

ficou pensando como faria para contar-lhe a

respeito do irmão.

Ela sumiu no interior da cozinha,

retornando em seguida com a toalha e o

sabão.

— Quer tomar seu banho antes ou depois

de me ajudar?

— Acho que vou tomar banho agora

mesmo, antes que anoiteça de todo.

— Então apresse-se. O banheiro é lá

atrás. Vai gostar — afirmou ela.

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Buck seguiu na direção indicada por ela.

Um cano trazia água do morro, abastecendo

uma caixa d’água no alto de uma torre.

Canos desciam na direção do posto,

inclusive um, no banheiro. A água caía

constante, fria e agradável para a

temperatura daquele lugar.

Buck sabia que iria adorar aquele banho.

Enquanto isso, Hellen ultimava os

preparativos para o jantar.

Trouxera os pratos de latão e os talheres

para o balcão. Assim que os passageiros

chegassem, traria os caldeirões de comida

para cima do balcão, onde eles se serviriam.

Conferiu tudo. Só faltava mesmo

preparar os cavalos, mas ainda havia tempo

para isso.

Foi até a porta do posto e olhou na

direção da estrada. Não havia sinal de

poeira que indicasse a aproximação da

diligência.

Não se importou. Estava habituada aos

atrasos. Sua preocupação, naquele

momento, era toda em relação ao irmão.

Depois que se metera com os homens do

saloon, andava muito falador e muito cheio

de planos, prometendo coisas que Hellen

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sempre sonhara, mas jamais tivera

oportunidade de ter.

Foi quando viu Bill Huston se

aproximando, juntamente com John Sutton,

dois pilantras de marca maior, que viviam

no saloon e que em algumas ocasiões,

haviam vindo ali conversar com Sam.

Hellen não gostava deles. Era tipos da

pior espécie, que a intimidavam.

Esperou que eles parassem diante do

saloon, mas eles passaram direto, rumando

para o posto.

— Diabos! — praguejou ela, entrando.

— Só me faltavam esses idiotas para

complicar.

Foi para a cozinha, na esperança de que

eles passassem direto.

Minutos depois, no entanto, eles

entraram. Suas esporas batiam sinistramente

no assoalho.

Aproximaram-se do balcão. Bill bateu a

mão espalmada sobre a madeira, fazendo

oscilar a pilha de pratos.

— Chegamos na hora, Bill — disse John.

— Que tal uma janta?

— Quero comer, John, mas outra coisa

— falou Bill, tirando o chapéu e o casaco e

pondo-os sobre o balcão.

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Voltou a bater na madeira. Hellen, lá

dentro, respirou fundo e foi atendê-los.

— O que querem? — indagou,

rispidamente.

— Um drinque! — falou Bill, olhando-a

fixamente.

Hellen apanhou a garrafa do pior uísque

que tinha ali.

— Não, desse não — falou ele. — Do

outro.

— Que outro?

— Aquele especial, que Sam nos servia.

Hellen fez uma careta e apanhou a outra

garrafa. Serviu dois copos.

Bill não bebeu. Quando Hellen ia se

retirar, ele a segurou pelo pulso, sempre

olhando-a fixamente.

John, ao lado, se divertia com o olhar de

espanto da garota, que não conseguia

esconder seu pavor.

— Deixe a garrafa — falou Bill.

Hellen o atendeu. Ele a soltou e ela

correu para dentro da cozinha.

Os dois riram divertidos.

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Enquanto Bill ficava no balcão,

provocando Hellen, John foi até a janela.

Viu, então, o cavalo de Buck, amarrado ao

lado do salão.

— Bill, venha cá! — chamou.

— Não me amole, John. Estou ocupado.

— É melhor vir aqui — falou John.

Pelo tom de voz do amigo, Bill percebeu

que era importante. Foi até a janela.

— Veja aquele cavalo. Você o conhece?

— indagou.

— Diabos! — praguejou Bill, olhando ao

redor.

Hellen começava a acender as luzes do

salão. Bill foi ao encontro dela.

— De quem é aquele cavalo lá fora? —

indagou, rispidamente.

— Deve ser do forasteiro que acabou de

chegar.

— Quem é ele?

— Não sei, vai me ajudar, enquanto Sam

não aparece.

— Ajudá-la em quê?

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— Com os cavalos, por quê? Qual é o

problema?

— Não interessa! Onde está ele?

— Lá nos fundos, por quê?

— Fique aqui! — ordenou ele, sacando

seu Colt.

John fez o mesmo. Os dois deixaram o

salão para contornar a construção e ir até o

banheiro.

Hellen se apressou. Saltou para dentro do

balcão, atravessou a porta e saiu à janela, ao

lado do local onde estava Buck.

— Você, aí dentro, cuidado! — gritou.

Bill e John já haviam dado a volta.

— Cale a boca, maldita! — falou Bill,

chegando à janela e empurrando a garota

para dentro.

John não esperou a ordem de Bill.

Começou a disparar seu revólver contra a

porta.

Bill o imitou. Os dois descarregaram as

armas, perfurando a madeira.

— Acha que foi o bastante? — riu John,

olhando para parceiro.

— Mais do que suficiente. Abra a porta.

Enquanto Bill recarregava a arma, John

foi abrir a porta. Quando o fez, Buck

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encostou o revólver em sua testa,

engatilhando-o.

— Bill! — chamou John, com voz

trêmula e acorvadada.

— Diabos! — exclamou Bill, que não

havia terminado de remuniciar a arma.

— Deixe isso aí bem quietinho, moço —

ordenou Buck, sem se distrair.

John foi recuando lentamente, até

emparelhar com Bill, que mantinha a arma

engatilhada na mão.

Havia posto duas balas no tambor, mas

não podia arriscar a sorte contra aquele

forasteiro.

— Por que fizeram isso? — indagou

Buck.

— Acho que cometemos um engano, não

foi, John? Nós o confundimos com um

assaltante de estrada que encontramos na

viagem, quando voltávamos.

— E atiraram primeiro, para perguntar

depois? — insistiu Buck.

Hellen surgira de novo na janela e

acompanhava a cena com interesse.

Sem que os homens viessem, ela tinha

uma espingarda de dois canos na mão,

pronta para disparar.

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— Não podíamos facilitar. Ele havia

matado um amigo nosso.

— Quem? — indagou Hellen.

Bill e John se entreolharam, simulando

grande pesar.

— Que diabos, homens! De quem estão

falando? — insistiu a garota.

— Foi seu irmão, Hellen. Nós o

encontramos na estrada, morto. Levaram

tudo que era dele. Foi roubado. Julgamos

que o forasteiro pudesse ser o assassino.

Hellen olhou na direção de Buck, em

dúvida.

— Viu alguma coisa? — indagou ela.

— Sim, vi seu irmão morrer ao meu lado,

enquanto dois homens atiravam nele,

ocultos nas rochas.

— Não viu quem era?

— Não, infelizmente não.

— Pode ter sido ele, Hellen. Está

inventando isso para se livrar — acusou

Bill.

— Há um modo de verificar isso. Basta

olhar na minha sela. Se ele foi roubado

como estão dizendo, as coisas deles podem

estar lá — sugeriu Buck.

— A menos que tenha escondido em

algum ponto por aí — contrariou John.

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— Eu permito que me revistem. Vocês

podem fazer o mesmo? — devolveu o rapaz

e os dois homens empalideceram.

— Está duvidando de mim? — falou Bill.

— Ele está nos acusando, Bill — ajuntou

John.

A diligência chegou, com grande alarido.

O cocheiro e o guarda, velhos amigos de

Hellen, entraram, fazendo estardalhaço.

— Mutt e Jud, estes dois estão dizendo

que encontraram Sam morto na estrada. O

forasteiro confirma isso — falou a garota,

mostrando o quanto era forte e calejada pela

dura vida do Oeste.

— Eu digo que podem me revistar e

proponho que se revistem os dois aí —

ponderou Buck.

— O que me dizem? — falou Hellen.

— Não permito que duvidem de mim —

ameaçou Bill.

Naquele momento, atraídos pelos tiros,

um grupo de homens, vindo do saloon,

cercou-os.

— O que está havendo, Bill? — indagou

um deles.

— Um contratempo. Encontramos Sam

Hasting morto na estrada e suspeitamos

deste forasteiro.

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Buck continuava apontando a arma para

Bill e John. Percebeu que os homens recém-

chegado tinham as mãos em seus

revólveres. A situação poderia se tornar

complicada. Não podia enfrentar a todos

eles.

— Não há um xerife aqui? — perguntou

Buck.

— Não, nós somos a lei. Formamos o

Grupo dos Vigilantes — disse um dos

homens.

— Vigilantes? — estranhou Buck.

Para que uma cidadezinha de nada como

Last Chance precisava de algo tão poderoso

e drástico como um grupo de linchadores?

— Revistei a sela do rapaz, Norris. Não

há nada lá — disse um dos homens.

— Sorte sua, rapaz. Acho que está limpo.

Vamos voltar. Eu pago as bebidas — disse

Norris, um pistoleiro da pior espécie.

— Espere um pouco — disse Buck. —

Por que não revistam as selas desses dois?

Norris riu, olhando Buck com cinismo.

— Você é um forasteiro aqui e nada sabe

sobre a gente de Last Chance. Bill e John

são dois dos nossos mais conceituados

cidadões e estão acima de qualquer suspeita.

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Vamos lá, rapazes. Está tudo terminado —

finalizou Norris.

Ia se afastando, mas parou e se voltou

para Buck.

— Espero que faça uma boa viagem.

Pena que não possa ficar e nos conhecer

melhor — acrescentou e virou as costas.

Bill e John olharam fixamente para Buck,

projetando o tronco para breve, depois se

afastaram.

— Muito bem, pessoal! Vamos comer —

falou o cocheiro.

Buck deu a volta e entrou. Os passageiros

estavam se servindo. Não viu Hellen.

Foi até o balcão. Ela estava na cozinha.

Ele contornou o balcão e foi ter com ela.

— Sam me pediu que a procurasse —

disse ele. — Queria que eu lhe entregasse

algo...

— E o que era? — indagou ela, voltando

para ele os olhos vermelhos e cheios de

lágrimas.

— Um pedaço de minério. Não sei o que

significava.

— Onde está?

— Deixei lá, no bolso dele. Parece que

era isso que os seus matadores procuravam.

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— Pobre Sam, sempre cheio de idéias de

riqueza. Morreu sem atingir seu objetivo.

— Conhece Bill Huston? — indagou

Buck.

— Era um dos homens que estavam lá

fora, o que disparou contra você,

juntamente com o outro menos, John

Sutton. Por quê?

— Bill usa um rifle calibre cinqüenta?

— Sim.

— Então foi ele quem matou seu irmão

mesmo.

— Aquele maldito! E se dizia amigo de

meu irmão! — rugiu a garota. — Vou

acertar as contas com ele — ameaçou ela,

apanhando a espingarda.

— Ei, calma! Não faça isso — pediu ele,

segurando-a pelos braços.

— Eu vou matar aqueles bastardos e...

Ele a viu fraquejar e a abraçou. Hellen

apoiou a cabeça no peito dele e chorou

convulsamente.

— Por quê? — indagou ela. — Por que o

matariam?

— Eles o emboscaram. Não sei dizer o

motivo.

Ela se afastou dele, constrangida,

enxugando as lágrimas.

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— É melhor ir jantar. Vou cuidar dos

cavalos — falou ela.

— Não, vou ajudá-la também. Depois eu

como — decidiu ele.

— Como conseguiu escapar dos tiros? —

perguntou a garota, enquanto rumavam para

o curral.

— Quando você gritou, eu me deitei. Foi

a única saída. Obrigado pelo aviso. Salvou a

minha vida. Não me esquecerei disso.

— Está mesmo só de passagem?

— Procuro um amigo.

— Aqui?

— Sim. Seu nome é Ben Sommers.

Ouviu falar dele? Sua mãe não tem noticia

dele desde que saiu de Denver, dizendo que

vinha para cá.

— Ben Sommers? Não, nunca ouvi falar.

Tem certeza que ele veio mesmo para cá?

— Pelos menos foi a última noticia que

tivemos dele.

— Estranho! — finalizou ela, apanhando

um laço para recolher os cavalos que seriam

atrelados à diligência.

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NO Saloon Bluewater, Bill enfiou a mão

no bolso e retirou o pedaço de minério,

pondo-o sobre a mesa.

— Aqui está a prova de tudo que eu

vinha dizendo — falou ele a Norris.

— Maldito! O que ele pretendia, levando

isto para Denver?

— Na certa mandar fazer uma análise ou

coisa assim. Só que com este grau de

pureza, esta prata chamaria a atenção.

Teríamos uma corrida a Last Chance.

— Fez bem em interceptá-lo, Bill. Vamos

avisar Dingus sobre o assunto. E quanto ao

forasteiro?

— Ele estava com Sam, quando este

morreu.

— Pode ter ouvido alguma coisa?

— Não sei. Ele me parece suspeito. Não

acho que esteja só de passagem.

— Azar dele. Se resolver ficar, os

vigilantes darão um jeito nele.

— E como está a situação na mina?

— Dingus já tem uma carga quase

pronta. Vamos levá-la a Forte Morgan, onde

o comprador irá nos encontrar.

— Por que em Forte Morgan?

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— Para que ninguém suspeite onde está a

mina. Se tirarmos uma carga dessas a cada

seis meses, em pouco tempo estaremos

milionários.

— Ótimo! Assim que tiver a minha parte,

vou embora para o Leste.

— E eu vou para a Califórnia — riu

Norris.

Bill entornou uma dose de uísque. Depois

ficou pensando em Hellen.

Com Sam morto, ela estaria sozinha e

acessível. Ninguém iria impedí-lo de tê-la

desta vez.

Norris o observou. conhecia aquela

expressão.

— Está pensando na garota, não?

— Como sabe?

— Sua cara não me engana.

Bill riu.

— Ela será minha agora, Norris.

Ninguém me impedirá de tê-la.

— Cuidado com ela. Ainda tem aquela

espingarda de cano duplo.

— Saberei domá-la. Quando ela

experimentar, garanto que vai adorar e

ficará mansa como uma ovelha.

Os dois riram.

— Quando irá lá?

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— Mais tarde... Quando ela for tomar seu

banho, se é que me entende — riu

cinicamente.

— Você anda espionando a garota, não?

— E como não? É a única mulher

passível neste fim do mundo.

— Temos algumas boas garotas no

saloon...

— Mas nenhuma virgem ainda —

segredou Bill, ao ouvido do amigo.

Não longe dali, a diligencia esperava

apenas a saída da lua para prosseguir sua

viagem.

— Não acha perigoso viajar à noite? —

indagou Buck ao cocheiro.

— Viajo por esta estrada há uns dez anos.

Conheço cada buraco e cada curva de

Denver até Atwood, que é o nosso trecho.

Dificilmente chegamos com atraso, porque

aproveito a noite para recuperar o tempo

perdido.

— E os passageiros, não reclamam?

— Estão loucos para chegar logo.

— Conhece bem este local? Por que Last

Chance atraí gente?

— Não sei do que está falando, rapaz —

disse o cocheiro. — Ninguém vem para

Last Chance, só vai embora daqui.

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— E aquele pessoal que lota o saloon?

— São pistoleiros, gente que procura um

lugar para fugir da lei. Last chance é um dos

refúgios desse tipo de gente. Por isto estão

aí.

Buck não acreditava naquilo. Por que

Ben Sommers viria para Last Chance,

esperando encontrar ali alguma coisa de

futuro?

A diligência, finalmente, havia partido.

Havia muito trabalho a ser feito ainda.

Hellen, no entanto, se sentou numa

banqueta junto a uma mesa, debruçou a

cabeça sobre o braço e começou a chorar de

novo.

Buck se sentiu apiedado. Durante todo o

tempo ela resistira bravamente, não

transmitindo a ninguém seu sofrimento.

— Posso fazer alguma coisa por você? —

perguntou ele.

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— Sim, ajude-me a ir enterrar o corpo de

meu irmão.

— Agora?

— Sim, por que não? Não desejo que os

coiotes o devorem esta noite ou que os

abutres o façam amanhã cedo.

— É uma longa cavalgada.

— Não tenho mais nada a fazer, exceto

limpar esta bagunça. Posso fazê-lo amanhã.

Buck respirou fundo. Estava

tremendamente cansado, mas como negar

um apelo daqueles.

— Tem uma pá por aí? — indagou.

— Sim, lá nos fundos, no quarto ao lado

do banheiro. Vou me trocar e volto já —

disse ela.

Buck foi apanhar a pá e preparar os

cavalos. Hellen surgiu logo depois, vestindo

uma calça comprida justa, camisa e uma

blusa de couro franjada.

— Estou pronta! — disse ela, verificando

a carga de sua espingarda.

— Já preparei os cavalos — avisou ele.

— Então vamos. Acha que pode

encontrar o local?

— Com esta lua será fácil — informou

ele.

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Quando se afastaram, alguém os

observava. Era Bill Huston, enciumado,

sem entender onde os dois iam.

Correu apanhar seu cavalo, disposto a

seguí-los. Quando viu a direção que ambos

tomavam, deduziu que iriam enterrar o

corpo de Sam.

— Isto me facilita tudo — comentou ele,

consigo mesmo, esporeando seu cavalo.

Enquanto os dois seguiam pela estrada,

Bill tomou um atalho, o mesmo atalho que,

naquele dia, ele e John haviam tomado para

preparar a emboscada para Sam.

Chegaria pelo menos meia hora antes dos

dois. Com uma noite tão clara, seria fácil

acertar aquele forasteiro intrometido.

Depois disso, teria Hellen todinha para

ele, ali, no meio da pradaria.

Alheios a isso, Hellen e Buck

cavalgavam. A garota havia conseguido

superar sua tristeza, pelo menos

momentaneamente.

— Eu e Sam tivemos de cuidar sozinhos

do posto de trocas da diligencia, depois que

meu pai morreu. Ele, no entanto, acabava

deixando todo o trabalho para mim. Estava

sempre tendo grandes planos, sonhando

alto.

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— Acha que foi isso que o matou?

— Por que supõe assim?

— Aquele pedaço de minério parecia tão

importante para ele.

— O que seria para ter tanto valor? Para

custar-lhe a vida?

— Não tenho muita experiência, mas

posso lhe garantir que não era ouro.

— Tem de ser alguma coisa valioso para

estar atraindo para cá esse bando de

malfeitores e pistoleiros. Sei que, há muito

tempo atrás, havia uma mina de prata em

Devil Trail, uma antiga trilha dos índios que

cortava de Last Chance para Yuma. Mas

isso foi há muito tempo.

— Teriam eles redescoberto a mina? —

questionou Buck, concluindo que aquele

seria o tipo de coisa que atrairia seu amigo,

Ben Sommers, a um local como aquele.

— Será?

— Sabe onde fica essa mina?

— Mais ou menos. Não é difícil chegar

lá.

— Você me faz um mapa mais tarde?

— Qual é o seu interesse nisso?

— Meu amigo pode estar lá. Ele era

assim como Sam, sonhador, sempre atrás de

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alguma coisa grande, uma oportunidade

única que iria mudar sua vida.

— Por que o procura mesmo?

— A mãe dele está à beira da morte.

Preciso levá-lo até ela, antes que seja tarde.

Ela me pediu isso. Não podia negar-lhe o

último pedido.

— O que faz em Cheyenne, Buck?

— Sou auxiliar do xerife e, se tudo sair

como eu penso, na próxima eleição eu serei

o novo titular.

— Sério?

— Sério. Toda a minha vida eu me

preparei para ser um xerife, pode imaginar

isso?

— Não duvido, Buck! — afirmou ela,

com simpatia.

Voltaram a cavalgar em silencio,

concentrados na estrada. Sozinha com seus

pensamentos, a lembrança do irmão fez

Hellen chorar de novo.

Buck achou melhor que ela desabafasse

tudo que tinha dentro de si. Só assim iria

superar a dor.

Apenas se limitou a cavalgar ao lado

dela, bem próximo, dando-lhe conforto e

segurança.

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Algum tempo depois, aproximavam-se do

local da emboscada. Alguns coiotes

passaram correndo, assustados com alguma

coisa.

Buck ficou alerta. Naquele momento, os

animais deveriam estar se banqueteando

com o corpo do infeliz Sam.

Alguma coisa, no entanto, os fizera

correr. Buck diminuiu a marcha, fazendo

com Hellen o imitasse.

— O que foi? — indagou ela.

— Você viu os coiotes?

— Sim, esses malditos!

— Por que eles fugiam?

Só então ela percebeu o que ele tentava

lhe dizer. Os coiotes não se assustariam,

principalmente durante o banquete.

— Há algum caminho pelas colinas, mas

é um tanto perigoso. Só quem conhece bem

o caminho se aventuraria a fazer esse

trajeto. Por quê?

— Porque alguém pode ter nos visto

saindo e... — interrompeu-se ele, saltando

do cavalo sobre Hellen, no exato momento

em que um tiro de alta potência era

disparado.

Buck sentiu a bala passando rente a sua

cabeça, levando-lhe o chapéu e deixando

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em seu couro cabeludo um ardume forte.

Um cheiro de pêlos queimados saía de sua

cabeça quando caiu na areia com a garota.

— Como percebeu? — perguntou ela,

enquanto os dois se abrigavam.

— Vi o reflexo do luar no cano da arma,

lá encima, no alto daquela rocha. Ele está ao

lado da árvore seca.

— Diabos! É Bill Huston. Só a arma dele

faz esse barulho — concluiu a garota.

— Veja — apontou ele.

A alguns passos deles, estavam os corpos

de Sam e de seu cavalo.

— Oh, pobre irmão! — choromingou

Hellen.

— Pare com isso, Hellen! Temos de nos

preocupar com aquele atirador lá nas rochas

ou iremos nos juntar brevemente ao seu

irmão.

Os dois cavalos haviam se afastado dali.

Buck estava sem sua Winchester e Hellen

sem a espingarda.

Podia contar apenas com o Colt dele.

Buck rastejou para apanhar seu chapéu.

— Caramba! Quase me partiu os miolos

— observou ele, pondo o dedo no buraco

que a bala fizera na copa de seu chapéu.

— Teve sorte, muita sorte mesmo...

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Novo disparo arrancou uma lasca enorme

de pedra, derrubando-a sobre os dois.

— Diabos! Com aquele canhão ele

acabará por nos soterrar aqui — falou Buck,

pensando rapidamente.

Alcançou um galho. Espetou-o no

chapéu.

— Vou tentar dar a volta por trás dele.

Conte até vinte e caminhe três passos

naquela direção, levantando o chapéu. Ele

vai disparar. Você avança de novo. Isso o

manterá ocupado, enquanto eu tento pegá-

lo.

— Acha que dará certo?

— É nossa única chance. Já sei isso antes

e deu certo. Só perdi o chapéu — sorriu ele,

tentando tranquilizá-la.

Verificou a carga do Colt. Respirou

fundo e rastejou para a direita das rochas.

Hellen fez o que ele mandara,

caminhando para a esquerda. O rifle de Bill

Huston disparou de novo e a bala passou

rente ao chapéu.

Hellen aproveitou o momento em que ele

recarregava e correu um pouco mais para a

frente.

Assim que Bill introduziu nova cápsula

na arma, disparou de novo, sem sucesso.

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Buck começou a dar a volta. O rifle

calibre cinqüenta não era uma arma

moderna.

Tinha de ser carregada a cada novo

disparo, engatilhada com a alavanca, para

estar pronta para atirar.

Isso dava a Hellen a chance de distrair a

atenção do atirador e a garota o fazia muito

bem.

Buck deslizou por entre as rochas como

uma cobra, com a arma já engatilhada.

Bill não percebera o truque, Buck

conseguiu se posicionar a poucos passos

dele.

Apontou o revolver para a cabeça do

atirador.

— É melhor ficar bem quietinho, Bill

Huston, ou parto sua cabeça com um

balaço.

— Demônios! — praguejou ele. —

Conseguiu me enganar. Caí como um pato.

— É o que você é, Bill Huston. Um pato

— afirmou Buck, caminhando na direção

dele.

Bill não soltara o rifle, que se encontrava

engatilhado. Buck percebera isso,

mantendo-se atento.

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— Se não pôr esse rifle com muito

cuidado sobre a pedra, vou espalhar seus

miolos pela pradaria — ameaçou Buck, já

próximo dele.

Bill fez o que Buck esperava. Girou o

corpo, tentando se posicionar para atirar.

Calculara mal a distancia. Buck estava

próximo o bastante para bater-lhe na nuca

com o cano do Colt.

Bill gemeu, soltando o rifle e

cambaleando. Buck não lhe deu tréguas.

Chutou-lhe o estômago.

Quando o pistoleiro se dobrou para

frente, Buck jogou seu joelho contra a cara

dele.

Bill caiu para trás, batendo a cabeça

numa pedra e adormecendo profundamente.

Buck o desarmou. Depois o segurou pelo

colarinho da camisa e o arrastou para baixo.

— Você o pegou? — indagou Hellen,

quando Buck surgiu detrás de uma rocha.

— Sim — falou ele, arrastando o

pistoleiro.

— Maldito! Deixe-me acabar com ele —

pediu a garota, furiosa, avançando contra

Buck e tentando se apoderar do rifle de Bill.

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— Calma, Hellen! Talvez ele nos

explique algumas coisas a respeito de Last

Chance — falou Buck, tentando contê-la.

— Não, quero matá-lo — repetiu ela, fora

de si.

Buck soltou o colarinho de Bill e as

armas, agarrando Hellen pelos braços e

chacoalhando-a.

— Não vai matar ninguém, pelo menos

até que Bill nos dê algumas respostas!

— Por favor, Buck — exigiu ela,

tentando se libertar.

Buck não teve outra alternativa.

Esbofeteou-a com força, fazendo-a

imobilizar-se, chocada, olhando-o.

Ela começou a chorar e ele a abraçou.

— Tudo bem agora, Hellen. Tudo bem...

Ela soluçou, a cabeça apoiada no peito

dele.

— Perdoe-me, Buck! — murmurou ela,

voltando à razão.

Naquele momento, ainda atordoado, Bill

viu sua chance. Estendeu a mão para

apanhar o rifle.

— Cuidado, Buck! — gritou Hellen.

Buck se voltou como um raio e sua bota

atingiu a cabeça de Bill, pondo-o para

dormir de novo.

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Buck o amarrou, para garantir. Reuniu os

cavalos, apanhou a pá e abriu uma sepultura

para Sam, enquanto Hellen acendia uma

fogueira.

Os coiotes começavam a retornar,

mantendo-se a uma distancia prudente.

Quando Buck terminou, levaram o corpo

do irmão da garota e o enterraram.

— Quer dizer alguma coisa? — indagou

Buck.

— Não, nada. Só espero que ele alcance,

sei lá onde, o sonho que sempre persegue —

falou ela, com tristeza.

Lágrimas escorriam do rosto dela, mas

ela não soluçava mais. Voltaram-se, então,

para Bill, que voltava a si.

— O que vão fazer comigo? — indagou

ele, furioso, debatendo-se.

— Só queremos algumas respostas. Por

que nos emboscou?

— Porque você é um intrometido.

Buck apanhou um punhado de areia e

enfiou-o na boca do bandido.

— Fale direito comigo ou o farei comer

toda areia que encontrar.

Em resposta, Bill começou a rir com

cinismo.

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— Não sabe no que está se metendo,

rapaz — ameaçou ele.

— É um cínico mesmo — observou

Hellen. — Está a beira da morte e ainda faz

pose.

— Morte? Quem vai me matar? Você? —

indagou a Hellen.

— Talvez eu — afirmou Buck.

— Burrice! Meus amigos sabem que vim

atrás de vocês. Se eu não voltar, saberão

que foram vocês.

— Você está blefando — comentou

Buck, prestando atenção a um ruído.

Olhou ao seu redor. Uma cascavel

passava ali perto, à caça de algum roedor.

O rapaz foi lá e, com agilidade, apanhou-

a. Trouxe-a para junto de Bill, que se

encolheu, atemorizado.

— Hellen, no meu alforje há um saco de

pano. Traga-o para mim — pediu Buck.

Bill o olhou em dúvida, enquanto a

garota atendia o pedido de Buck.

Assim que ela trouxe o saco de tecido, o

rapaz atirou a cascavel lá dentro, fechando a

boca da armadilha.

Agitou-o e a cascavel vibrava seus guizos

sinistramente.

— O que vai fazer, Buck?

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— Os índios tinham um modo de fazer

seus inimigos falarem. Chamavam isso de

Chapéu do Diabo.

— Chapéu do Diabo? — estranhou

Hellen, que nunca havia ouvido falar do

assunto.

— Sim, isso mesmo. Eles pegavam um

saco como este, enchiam de abelhas, ou

formigas vermelhas, aranhas, cobras ou

louva-a-deus. Se a pessoa não confessasse,

eles vestiam o saco na cabeça do infeliz e

amarravam pelo pescoço. Pode imaginar o

sofrimento que isso significava.

— Não vai ter coragem de fazer isso —

duvidou Bill.

— Tem certeza? — desafiou o rapaz,

abrindo a boca do saco e se preparando.

— Espere! — pediu Bill, em dúvida, mas

não querendo se arriscar. — O que quer

saber, afinal?

— Por que Sam foi morto?

— Não sei nada disso...

— O mesmo local, a mesma arma.

Aposto como se esperarmos até o

amanhecer, vamos procurar e encontrar

cápsulas de seu rifle lá no local de onde

você disparou contra nós.

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— Maldito! — rosnou Hellen, contendo

sua indignação, mas desejando rasgar a

garganta do infeliz assassino.

— Calma, Hellen. Não temos dúvida que

foi ele. A questão é saber se ele vai facilitar

as coisas ou dificultar?

— Está bem, eu matei Sam.

— E por que fez isso?

— Fui mandado.

— Por quem?

— Dingus.

— Dingus? — estranhou Hellen.

— Você o conhece? — indagou Buck.

— Nunca ouvi falar.

— Está mentindo para nós, seu bastardo

— rugiu Buck, ameaçando vestir o chapéu

do diabo no pistoleiro.

— Não, eu juro que falo a verdade.

— Por que o Dingus mandou matar Sam?

Foi por causa daquele pedaço de minério?

— aventurou Buck.

— Minério? Que minério? Nada sei sobre

minério com Sam.

— E quem falou que o minério estava

com Sam?

— Você disse — afirmou Bill, confuso.

Buck aproximou a cascavel do rosto do

assassino.

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— Está bem. Sam ia levando uma

amostra para Denver, para ser analisada...

— Amostra de quê? — quis saber Hellen.

— Não sei...

A cascavel foi levantada para cima da

cabeça dele. Buck se preparou para cumprir

a ameaça.

— Está bem... É minério de prata... Um

veio riquíssimo na velha trilha de Yuma...

— Era atrás disso que meu irmão estava?

— Sim, mas ele não confiava em nós.

Planejava roubar a mina. Ia para Denver

mandar fazer a análise e, possivelmente,

registrar a terra em seu nome.

— Sam não faria isso...

— Você não conhecia mesmo seu irmão

— comentou Bill, com cinismo.

Buck libertou a cascavel. Ele e Hellen se

afastaram para conversar.

— O que vamos fazer com ele? —

indagou ela, demonstrando, pelo seu olhar,

seu desejo de liquidá-lo ali mesmo, fazendo

sua própria justiça.

— Só temos duas alternativas, Hellen.

Matá-lo ou soltá-lo.

— Se soltá-lo ele tentará nos matar de

novo.

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— Não nesta noite. Até ele chegar a Last

Chance, estará cansado demais para pensar

em matar alguém.

— Pretende deixá-lo aqui?

— Sim. Uma boa caminhada o fará

refletir.

— Sem botas?

— Sem botas! — concordou ele.

Momentos mais tarde, os dois partiam,

levando as botas e o cavalo de Bill, que

ficou praguejando e ameaçando.

Buck era um homem da lei, jamais

mataria alguém a sangue-frio, embora Bill o

merecesse.

O problema era que estava apenas

adiando o confronto final entre os dois.

Bill não deixaria por menos,

principalmente quando voltasse à cidade e

se juntasse a seus amigos.

Buck concluiu que teria de aproveitar

todo o tempo para dormir o que pudesse.

Calculou que o pistoleiro demoraria umas

duas horas, se tivesse sorte.

Daria a Buck uma vantagem de oito

horas, pelo menos.

— Ainda acho que deveríamos ter

matado aquele maldito e deixado seu corpo

aos coiotes.

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— Temo que tenha toda a razão — falou

Buck. — Mas você mataria um homem a

sangue-frio?

Hellen não sabia responder àquela

pergunta.

Buck seguramente teria dormido o dia

todo, se pouco antes do meio-dia uma outra

diligencia não passasse, na direção oposta à

da noite anterior.

Toda a agitação o despertou e ele se

apressou em ir ajudar Hellen.

haviam chegado no romper do dia. Hellen

preparara uma rápida refeição para os dois.

Buck comera bem, depois caíra na cama

mais macia e acolhedora de toda a sua vida,

apagando, simplesmente.

Com admiração, observava Hellen correr

de um lado para outro, atendendo os

passageiros.

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Não sabia como ela se agüentava em pé.

Enquanto atrelava os cavalos na diligencia,

o cocheiro foi ter com ele.

— É o novo ajudante? E o Sam, onde

está?

— Sam foi morto ontem.

— Morto? Pobre rapaz! Pobre Hellen!

Como foi?

— Uma emboscada, na estrada de Denver

para cá.

— Emboscada? Diabos! A coisa anda

animada nesta estrada. Vindo para cá,

peguei um passageiro a meio caminho

daqui. Disse que foi assaltado. De fato, o

pobre estava sem cavalo, sem armas e, o

que é pior, sem botas. Estava com os pés

que era só bolhas e sangue. Com certeza vai

ficar um bom tempo sem poder calçar nada

— riu o cocheiro.

Buck, no entanto, não achava nada

daquilo engraçado.

— Onde ele foi? — indagou.

— Para lá, para o saloon.

O rapaz percebeu que cavaleiros

chegavam e entravam, indicando grande

agitação.

Essa agitação tinha um nome: Bill

Huston.

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— Pode terminar aqui? — indagou ao

cocheiro.

— Sim, claro!

Sem que Hellen o percebesse, Buck

apanhou o rifle, as armas e as botas de Bill.

Verificou a carga de seu Colt, depois foi

direto para o saloon.

Quando entrou, um silencio de morte

pairou no recinto. Buck estava habituado a

resolver logo seus problemas.

Não gostava de postergar as coisas. Se

Bill e ele tinham contas a ajustar, era bom

que tudo fosse resolvido o mais depressa

possível.

Era a lição que o xerife de Cheyenne

sempre frisava aos seus assistentes.

— Você é muito corajoso mesmo ou

então é o maior idiota que já vi na minha

vida — falou Bill, cujos pés estavam sendo

banhados com água morna e uísque por uma

das garotas do saloon.

Ao ver Buck entrando, ele chutou a

garota e, com dificuldade, se pôs em pé.

Buck se aproximou e jogou as armas e as

botas dele sobre a mesa.

— Aí estão suas coisas. Acho que temos

um assunto a resolver, é bom que seja

resolvido logo. Você já atirou duas vezes

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contra mim e eu ainda não saquei contra

você. Se quer fazer isso de novo, aí terei de

reagir — explicou Buck, recuando e

posicionando-se, pronto para sacar.

Bill olhou para seus amigos. O único

disposto a ajudá-lo era John, que piscou-lhe

um olho, enquanto se movia de modo a ficar

atrás de Buck.

Os outros homens simplesmente se

afastaram.

— Norris, vai deixá-lo sacar contra mim?

Eu cumpri ordens — falou Bill, assustando,

de certa forma.

— Cale a boca, Bill. Não sabe o que está

falando.

— Norris, avise Dingus!

— Cale-se, Bill ou eu mesmo faço ao

rapaz o favor de calar sua maldita boca.

Vire-se! Queria a garota para si, não é? Pois

terá de lutar por ela.

— Ele não está aqui por causa da garota...

— tentou argumentar Bill, agora só

procurando ganhar tempo.

John estava num ponto que não podia ser

percebido por Buck. Bill sorriu, então.

Apanhou seu cinturão. Verificou o Colt.

Guardou-o no coldre. Afivelou o cinto e

amarrou o cordão do coldre na perna.

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— Não é justo! Mal posso fixar em pé —

falou Bill.

— E, acho que tem razão — concordou

Norris, fazendo um sinal para um dos

homens junto ao balcão.

Antes que Buck percebesse, alguém

arrebentou uma garrafa em sua perna,

cortando-a.

— Maldito! — rugiu o rapaz, olhando a

calça cortada e o sangue escorrendo.

— Agora estamos empatados — falou

Bill, levando a mão à arma.

Atrás de Buck, John fez o mesmo,

sacando seu Colt e engatilhando-o para

disparar.

O ruído alertou o rapaz. Não havia outra

alternativa. Ele se ajoelhou, já com o

revólver na mão.

A dor na perna foi violenta, fazendo-o

hesitar. Bill disparou, errando. John fez o

mesmo, mas a bala apenas perfurou a

camisa de Buck, à altura da cintura.

O rapaz apontara cuidadosamente. O

xerife de Cheyenne sempre recomendava.

Mais valia um tiro bem dado que uma carga

desperdiçada.

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Quando apertou o gatilho, a visão foi

coberta pela fumaça, mas ele sentiu o baque

do corpo de Bill no assoalho.

John se aproximara, engatilhando a arma

e, desta vez, não erraria.

O rapaz se atirou para o lado, rolando,

deixando marcas de sangue na madeira suja.

— Pare quieto, seu maldito! — falou

John, confuso.

Calou-se no mesmo momento, quando

uma bala entrou por sua boca e rompeu sua

medula, abrindo um rombo em sua nuca.

Ele desarticou-se todo, como um boneco

de mola, amontoando-se no assoalho,

estrebuchando.

Quando a fumaça dissipou, Bill rastejava

na madeira, tentando alcançar seu rifle.

Ergueu parcialmente o tronco, apoiando-

se na mesa, que tombou sobre ele.

O rifle caiu em suas mãos. Ele

engatilhou, procurando seu alvo.

Viu apenas o cano grosso de um Colt

olhando para ele, décimo de segundo antes

de explodir numa língua de fogo que voou

na direção dele.

Sentiu o impacto em sua testa, depois

tudo se transformou em escuridão.

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Seu corpo foi jogado para trás. Seus

miolos ficaram espalhados na parede atrás

dele, escorrendo como manchas

progressivas que buscavam o assoalho.

O cheiro de sangue e pólvora permaneceu

no saloon. A fumaça foi desaparecendo.

Buck se esforçou para pôr-se em pé. O

sangue descia pela sua perna, enchendo sua

bota.

Precisava de um torniquete urgente ou

morreria. Arrancou a toalha de uma mesa.

Rasgou-a com o dente. Amarrou o

ferimento. Viu que os homens no saloon

retiravam, suas armas e apontavam para ele.

Norris, em sua mesa, havia acompanhado

tudo sem pestanejar. Bill era um porra-louca

mesmo, merecia aquele fim. O que não

podiam, no entanto, era deixar o forasteiro

ir embora.

Principalmente depois que Bill havia

confessado o motivo da morte de Sam.

— Atiro no primeiro que tentar me deter

— ameaçou Buck, engatilhando seu Colt.

Em resposta, mais de uma dezena de

armas também foram engatilhadas, num

ruído metálico assustador.

— Compreende que não podemos deixá-

lo ir embora? — falou Norris.

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— Só porque matei Bill e seu parceiro?

— Não, pelas coisas que Bill lhe contou

na estrada, quando o pegaram.

— Não me importa nada disso. Estou

aqui à procura de um amigo e nada mais.

Como não o encontrei, pretendo dar o fora o

mais depressa possível. Não tenho motivo

algum para atrapalhar seus negócios...

— Mesmo assim, não podemos correr

risco. Há muito em jogo. Acho que

compreende, não?

— Nesse caso, muita gente vai morrer

aqui e agora, moço — falou Buck,

abaixando-se e apanhando a arma de John.

Tinha duas armas e algumas balas. Sabia

que iria morrer, mas o primeiro a ir com ele

era Norris, já em sua mira.

Norris percebeu isso. Incomodou-o o

olhar negro do cano do Colt. Hesitou.

— Está bem, forasteiro. Se quer matar

alguém, por que não tenta comigo? —

indagou alguém, na porta do saloon.

Buck hesitou por instantes. Depois

reconheceu a voz. Virou-se para encarar

Ben Sommers.

— É Dingus! — falou alguém, em voz

alta.

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— Sim, é Dingus Latimer e eu afirmo

que ninguém mais vai morrer aqui, pelo

menos no que depender de mim — disse

Ben, confundindo Buck.

Ele encarou o amigo. Ben piscou-lhe um

olho, querendo lhe dizer alguma coisa.

— Esse aí é Buck Taylor, o filho-da-mãe

mais rápido do Wyoming, responsável por

pelo menos vinte mortes — falou Ben, com

seriedade.

— Vinte e dois — corrigiu Buck,

entrando no jogo.

— E digo mais — continuou Ben. — É

meu amigo. Se ele matou Bill, é porque Bill

era um estúpido e merecia. Buck está aqui a

meu pedido. Está limpo, é ideal para ser o

cocheiro da carga. Sabem o que ele faz em

Cheyenne?

— Não! — responderam os homens, em

uníssono.

— Ele é assistente de xerife. Podem

imaginar alguém mais limpo do que ele?

— Por que não nos avisou, Dingus? —

indagou Norris.

— Porque ninguém precisava saber disso.

Quanto mais sigilosa fosse a vinda dele,

mais chances teríamos de sucesso. E chega

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de explicações. Bebidas por minha conta —

gritou Ben e todos correram para o balcão.

Ben abriu os braços. Buck sorriu,

balançando a cabeça de um lado para outro.

— Sua mula teimosa! — exclamou, indo

abraçar o amigo.

— Meu nome é Dingus Latimer — falou

Ben, bem baixinho no ouvido do amigo. —

Depois eu lhe explico tudo.

— Está bem, Dingus! Como está você?

— Estou me dando bem, como vê!

— O que houve? Sumiu, não deu noticia!

— Encontrei a chance da minha vida,

Buck. Vou lhe contar. Espere-me naquela

mesa — apontou Ben, indo até o balcão e

apanhando uma garrafa e dois copos.

Foi se sentar diante do amigo. Serviu os

dois copos.

— À nossa! — brindou.

Buck tocou seu copo no dele, depois

beberam. Ben encheu de novo os copos e

beberam outra vez. Repetiram isso umas

quatro ou cinco vezes.

— Continua o mesmo, Buck!

— E você também... Dingus!

— Certo! Que bom vê-lo, Buck. A última

pessoa que esperava encontrar aqui era

você. Como veio parar aqui?

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— Sua mãe me pediu para achá-lo.

— Minha mãe? O que houve? — quis

saber o rapaz, preocupado.

— Ela não está bem, ... Dingus! pelo que

sei, é um problema no coração. Ela teme

não voltar a vê-lo antes de... Desculpe-me,

meu amigo. Não queria reencontrá-lo

apenas para lhe dar esta noticia.

Ben abaixou a cabeça, encheu de novo o

copo de uísque e bebeu-o num só gole.

— Pensar que fiz tudo isso por ela e,

agora, corro o risco de nem voltar a vê-la

com vida...

— Em que está metido, afinal?

Ben serviu de novo os copos, olhou para

os lados, depois se inclinou sobre a mesa.

— Buck, nem arriscou lhe contar o que é

para não estragar. Vivi toda a vida pensando

em algo assim e, agora, tudo está sob meu

controle, nas minhas mãos. Quando eu

terminar, terei tudo que sempre sonhei em

toda a minha vida.

Pela maneira como Ben falava, Buck

suspeitou que havia algo de errado com os

planos do amigo.

Ele evitava que os seus companheiros ali

presentes soubessem exatamente de seus

planos.

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Buck já ouvira aquele tom de voz antes.

Não gostou daquilo.

Enquanto cavalgava pela trilha de Yuma,

Buck pensava no que Bill havia dito,

quando o capturara, após a emboscada.

O bandido havia afirmado que Dingus

mandara matar Sam. Se isto era verdade,

Ben Sommers mudara muito.

Não era, na verdade, aquele amigo de

infância que tinha sonhos grandiosos, mas

era inofensivo, incapaz de fazer mal a uma

mosca.

Ben parecia determinado a conseguir o

que queria a todo custo. Era essa a

impressão que seu tom de voz transmitia.

Seu olhar, também, tinha um brilho

diferente, intenso, quase insano.

Haviam deixado o saloon, poquêr Ben lhe

dissera que tinha de lhe mostrar algo.

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Buck passara rapidamente pelo Posto de

Troca de Hellen e avisado a garota que

precisava sair um pouco.

Ela demonstrara muita preocupação, pois

percebera que ele estava saindo com o

pessoal do saloon.

— Vai ficar bem, Buck? — indagara ela.

— Fique tranqüila! Acabo de encontrar o

amigo que vim procurar. Mais tarde

conversaremos, está bem?

Uns dez cavaleiros galopavam pela trilha.

Buck tentava memorizar todos os detalhes,

pois poderia precisar mais tarde.

Ben deixou que os outros sócios

seguissem na frente para poder conversar

com Buck.

Este, por seu turno, precisava passar a

limpo a acusação feita por Bill.

Quando percebeu que poderiam

conversar sem que os outros os ouvissem,

Ben se voltou para o amigo.

— Buck, não estranhe o que eu disse lá

no saloon. Você veio mesmo a calhar.

— Do que está falando?

— De levar a carroça até Forte Morgan.

— O que há de importante nessa carroça?

— Você verá — afirmou Ben, com um

sorriso enigmático.

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— Escute, Ben, Bill me confessou que

você mandou matar Sam, o irmão de

Hellen, lá no posto de trocas da diligencia.

— Tolice! Por que eu faria isso?

— É o que eu gostaria de saber.

— Besteira, Buck. Você sabe que sou

incapaz de fazer mal a uma mosca — sorriu

Ben, com aquele sorriso ingênuo que Buck

conhecia.

Por momentos sondou o olhar do amigo,

tentando se assegurar. havia neles, no

entanto, algo que não agradava Buck.

Só que ele não sabia explicar o que era.

— Estamos quase chegando — apontou

Ben.

Após mais alguns minutos de cavalgada,

chegaram a uma garganta.

Entrando por ela, saíram num vale, onde

se destacava a enorme boca de um túnel,

entrando montanha adentro.

Após deixarem os cavalos diante de uma

cabana, Ben e seu amigo foram inspecionar

o local.

— É o mais rico veio de minério de prata

que já vi, Buck — disse Ben, enquanto

entravam.

Rochas iluminavam o túnel, escorado por

grossas traves de madeira.

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No fundo, homens escavavam as paredes,

outros enchiam carrinhos que era

empurrados pelos trilhos para fora.

— Retiramos daqui o minério e o

levamos para a purificação, onde são

fundidos os lingotes. É um trabalho duro,

mas muito compensador — explicou Ben.

— E onde são fundidos os lingotes?

— Lá fora, vamos dar uma olhada.

Deixaram o túnel e foram para um outro

prédio, onde havia uma enorme forja.

Um cadinho estava suspenso no centro

das brasas, que eram alimentadas por uma

enorme fole, movido constantemente por

um homem suado.

— Aqui já estamos no processo final,

quando a prata é derretida para fundir

naqueles lingotes ali — apontou Ben.

Havia uma pequena pilha de lingotes

prateados num canto. Ben apanhou um

deles e o entregou ao amigo.

— Veja, prata cem por cento pura. Já viu

algo assim?

— É fantástico, Ben. E quando já

conseguiram juntar?

— O bastante para encher aquela carroça

— apontou ele.

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Havia uma carroça ali perto, com rodas

reforçadas e laterais exibindo rabites de

ferro, mostrando que todo o empenho fora

feito no sentido de toná-la resistente.

— Oito cavalos? — observou Ben.

— Sim, para conseguir puxar a carga

toda. Acha que conseguirá guiá-los?

— Sabe que sim, Ben...

— Não. Dingus, lembra-se?

— Certo. E como descobriu isto tudo?

— Em Denver, num jogo de cartaz. Um

velhote apostou um mapa desta mina. Todos

disseram que a mina estava abandonada,

mas o velhote insistia em afirmar que um

novo túnel, aberto naquele ponto onde

estivemos, atingiria um novo veio de prata.

— E você acreditou, sem sombra de

dúvidas.

— Claro. Sabe que sempre fui um

sonhador e que buscava uma chance como

esta.

— E todos os homens que o acompanham

agora?

— Foram necessários para trabalhar na

mina e para proteção do investimento.

— E qual é a participação deles?

— Eles se julgam sócios da mina...

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— Eles se julgam? E o que são, na

realidade? — indagou Buck, desconfiado

daquele tom de voz.

— Esqueça, deixe isto para lá, Buck. O

importante é que nos reencontramos. Você

chegou mesmo na hora. Acho que podemos

fazer as duas coisas. Levar a prata para

Forte Morgan e depois ir visitar minha mãe,

pobrezinha. Espero encontrá-la ainda com

vida.

— Tenho certeza que sim, Dingus —

afirmou Buck, percebendo que o amigo

conseguira, afinal, realizar seu grande

sonho.

Assim que deixaram a forja e rumava

para a cabana, um homem saiu do interior

da mina e foi ao encontro dos dois.

— Dingus, preciso lhe falar — disse e

parecia preocupado com alguma coisa.

— O que foi?

O homem olhou na direção de Buck,

hesitante.

— Está bem! Buck, espere-me na cabana.

Vá tomando um drinque com os rapazes. Eu

vou sem seguida.

Assim que Buck se afastou, Ben

questionou seu interlocutor.

— O que houve, afinal?

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— Está chegando no fim daquele veio,

Dingus, e não há chance de se encontrar

outro. Venho fazendo pesquisas desde que

cheguei aqui. tenho certeza disso. Você

levou sorte. O velhote tinha alguma razão,

mas, fora o que já conseguimos tirar, a mina

está mesmo esgotada.

Ben pensou por instantes. Tudo estava

planejado cuidadosamente. Era hora de

tomar as decisões.

— Ok! Acenda o pavio! — ordenou.

— Vai evacuar a mina?

— Não, são sócios a menos para

repartimos, não concorda?

O outro riu significativamente, rumando

para a mina. Ao invés de voltar para a

cabana, no entanto, Ben esperou um pouco,

depois o seguiu.

Ficou na porta da mina, esperando. Seu

capanga havia acendido um pavio com

dinamite e retornava.

Ben foi ao seu encontro no túnel.

— O que houve, Dingus? Mudou de

idéia?

— Sim, acho que um sócio a menos seria

ótimo — falou Ben, sacando sua arma e

batendo com a coronha na testa do homem a

sua frente.

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Naquele momento, todos os carrinhos se

encontravam no fim da mina, carregando

minério.

Ben deixou o corpo do técnico ali e

recuou. No momento seguinte, toda a

montanha e a terra estremeceu.

Um rolo de fumaça e poeira saiu pelo

túnel, invadindo o vale.

— Desabamento! — gritou Ben, que

havia sido arremessado na poeira pela força

da explosão.

Os homens deixaram a cabana e correram

acudi-lo.

— Desabamento — repetiu ele, sendo

posto em pé, aparentando estar atordoado.

— Tudo bem com você? — indagou

Buck.

— Sim, acho que sim. Joe veio me avisar

que havia alguma coisa estranha no fundo

da mina, talvez gás. Mandei-o retornar e

apagar as tochas, mas não deu tempo. Eu fui

atrás para tentar ajudar, mas a mina

explodiu.

— Há gente lá dentro?

— Sim, todo o pessoal da escavação.

Vamos tentar desobstruir a entrada.

Podemos encontrar alguém com vida ainda

— falou Ben.

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— Acho muito difícil — afirmou Norris.

— Uma explosão dessas acontece no fundo

da mina. De lá até a saída ninguém se salva.

Se não morre pela explosão e pelo

desabamento, morre sufocado pelo gás.

Ben parecia perturbado pelo

acontecimento, mas apenas aparentemente.

— Justo agora que estávamos no auge da

produção. Deve haver pelo menos mais

umas três ou quatro carroças de lingotes

para serem extraídas dali.

— Não importa, Dingus! Vamos esperar

um pouco e abriremos novamente o túnel. O

tesouro lá dentro compensa qualquer

esforço. Enquanto você leva a carga até

Forte Morgam, nós abriremos de novo a

mina. Quando voltar com o dinheiro da

venda, já teremos tudo pronto. Vamos lá,

rapazes! Mãos à obra — falou Norris,

entusiasmado.

Os olhos de Ben brilharam

significativamente. Havia conseguido fazer

com que seus planos funcionassem

perfeitamente.

Cada passo era importante para atingir

seu objetivo final.

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Naquela noite, quando retornou da visita

à mina, Buck foi direto para o posto da

diligencia.

Ao vê-lo, Hellen sorriu de alivio.

— Graças a Deus você está bem! —

afirmou ela.

— Ficou preocupada comigo? —

surpreendeu-se agradavelmente o rapaz.

— Sim, claro que sim! — confirmou ela,

olhando-o demoradamente. — O que foi

isso na perna?

— Um probleminha que tive no saloon

hoje.

— Não reparei quando esteve aqui, mas é

bom dar uma olhada. Vamos, sente-se ali —

ordenou ela, apontando uma banqueta.

Buck a obedeceu. Ela apanhou um estojo

no interior da cozinha e voltou em seguida.

Pôs um lampião ali perto, retirou a toalha

que Buck havia amarrado.

Com a tesoura ela cortou-lhe a calça.

— Não se incomode. Depois eu costuro

de novo — falou ela, observando a ferida.

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A pele e a carne fora rasgada pelas pontas

afiadas da garrafa, ao quebrar-se.

— Se agüentar, eu costuro o ferimento.

— Faço-o, então — concordou ele.

Hellen foi apanhar uma garrafa de uísque.

Estendeu-a ao rapaz.

— Tome um gole!

Ele obedeceu. Em seguida ela tomou a

garrafa da mão dele e despejou o liquido no

ferimento.

Buck trincou os dentes, mas suportou,

sentindo que o uísque havia amortecido o

local.

Hellen foi buscar água fervendo. Molhou

a linha de costura ali dentro por algum

tempo.

Após ter passado a agulha pela chama do

lampião, limpou-a com uísque.

Começou a costurar. A cada ponto,

despejava um pouco mais de uísque.

— É muito valente, Buck.

— E você é muito delicada, Hellen.

Quase nem sinto dor. — confessou ele.

Ela ergueu para ele os lindos olhos azuis.

O cansaço em seu rosto cedeu lugar a um

sorriso radiante.

— Foi muito gentil, sabia? — confessou

ela.

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— Tenho uma porção de coisas para lhe

contar.

— Fale, enquanto termino aqui.

Ele contou a ela tudo que descobrira

sobre a mina.

No dia seguinte, os preparativos foram

feitos com rapidez. Enquanto uma equipe

começava a trabalhar no túnel, outra tratou

de carregar a carroça.

Buck sentia que Ben estava preparando

alguma coisa, mas não conseguia perceber

de que se tratava.

Quando a valiosa carga ficou pronta, eles

acertaram os últimos detalhes.

— Eu irei na frente e acertarei com o

comprador em Forte Morgan. Esperaremos

a chegada de Buck, com a carroça,

receberemos o dinheiro e voltaremos.

— Buck irá sozinho? — estranhou

Norris.

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— Não, vamos pôr dois guardas com ele.

Quem são os nosso melhores atiradores? —

indagou Ben.

— Lanos e Chambers são os melhores —

opinaram os homens.

— Então está resolvido. Lance e

Chambers irão na carroça, com Buck. De

acordo?

Todos concordaram, sem distinção.

— Quando espera voltar, Dingus? —

indagou um dos homens.

— Acho que em dez dias estaremos de

volta.

— Ótimo! Vou pegar a minha parte do

dinheiro e levar para minha família em

Denver.

— Não se esqueça de voltar. Há muito

mais ainda na montanha a nossa espera. Ao

trabalho, pessoal! Lanos e Chambers,

preparem-se para partir. Buck, vamos

conversar um pouco — pediu Ben, levando-

o para junto da carroça. — Vai sobrar uma

parte disso para você, meu amigo.

— Tudo bem, Dingus — concordou

Buck. — Só espero que possa ir até

Cheyenne ver sua mãe, antes de retornar.

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— Claro. Mandarei uma parte para os

rapazes aqui — concordou Ben. — Aí

poderemos ir até lá ver minha mãe.

Tudo parecia perfeito, mas havia algo no

ar, algo que Buck não conseguia identificar.

Ben estava diferente do que era, mas

tinha se mostrado coerente até então.

A única dúvida era quanto à morte de

Sam. Bill não tinha motivo algum para

mentir.

Deveriam partir em breve, mas Buck

tencionava, de passagem por Last Chance,

rever Hellen e se despedir dela.

Haviam desenvolvido uma forte ligação

os dois. A idéia de partir e deixá-la

incomodava o rapaz.

Queria, de alguma forma, poder conciliar

as coisas, mas não via como.

Ben o envolvera sem que percebesse com

aquela historia de conduzir a carroça.

Os homens se reuniram para acompanhar

a partida da carroça. Ben partiu a galope,

enquanto a pesada carroça seguiria mais

devagar.

Quando chegassem ao Forte Morgan, a

carga já estaria vendida, bastando somente

receber o dinheiro.

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Havia ali uma verdadeira fortuna.

Felizmente tudo fora feito em sigilo e

ninguém mais, na região, sabia da prata.

Poderiam viajar tranqüilamente, pois,

sobre os lingotes havia sido colocada uma

carga de madeira, escondendo-os.

— Quando vai voltar? — indagou Hellen,

quando ele passou para se despedir dela.

— Em breve — prometeu ele.

— Foi bom conhecê-lo, Buck.

— Digo o mesmo, Hellen. Pena que foi

naquelas condições.

— Estarei a sua espera.

Abraçaram-se. Um beijo selou a

despedida. A custo o rapaz conseguiu se

separar dela.

Ela ficou na porta, acenando, enquanto

ele chicoteava os cavalos, partindo.

A viagem seria longa. A carga pesada

exigia marcha a passo reduzido. Não

adiantava ter pressa.

Buck conduzia habilmente as quatro

parelhas. Lance se sentava junto dele, no

banco da carroça, enquanto Chambers

cavalgava à frente, examinando tudo com

olhos de lince.

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Ambos portavam seus rifles prontos para

abrir fogo, embora fosse pouco provável

que algo acontecesse.

O primeiro dia foi tranqüilo. Pararam à

margem de um riacho para passar a noite.

Lance e Chambers se revezaram na

guarda constante, deixando que Buck

dormisse.

Ao amanhecer, reiniciaram a viagem. A

região era muito árida. O sol ardia

inclemente. Rochas e cactos pontilhavam a

paisagem.

— A umas cinco milhas daqui há uma

garganta, com um riacho logo à frente.

Podemos parar lá para descansar os cavalos

e comer alguma coisa — avisou Lance.

— Ótimo! Parece-me uma boa idéia,

lance — concordou Buck, já mais à vontade

com tudo aquilo.

A impressão inicial de que havia alguma

coisa errada havia passado. A rotina da

viagem acabou por contagiá-lo.

Conversar e observar a paisagem era as

únicas direções possíveis.

Quando se aproximavam da garganta,

Chambers esporeou seu cavalo e se

adiantou, ansioso por água fresca.

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— Não vá sujar toda a água — pediu

Lance, enquanto o outro se afastava.

A pesada carroça foi se aproximando. De

repente, um tiro cortou o silencio da

paisagem vazia.

Buck freoou a carroça, intrigado.

— Será algum aviso de Chambers? —

indagou.

— Não sei. Chambers é cuidadoso, não

faria isso. Sinto que há algo errado. Vamos

em frente, mas fique alerta.

Buck chicoteou os cavalos e foram se

aproximando da garganta, onde, pouco

antes Chambers havia entrado.

Nenhum outro sinal se fizera notar. Lance

levava sua Winchester engatilhada e pronta.

Buck puxara para perto de si uma

espingarda de cano duplo, com carga

reforçada.

— Algum sinal dele? — indagou Buck.

— Não. Acho melhor eu ir dar uma

olhada. Espere aqui — pediu Lance,

saltando da carroça.

Foi caminhando, buscando proteção nas

rochas, na direção da garganta.

De repente, vindo de algum ponto no

alto, novo tiro se ouviu e Lance cambaleou,

soltando seu rifle.

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Seu peito tingia-se de sangue.

— Fuja, Buck! É uma emboscada! —

gritou ele e novo disparo afundou-lhe o

chapéu na cabeça, jogando seu corpo para

trás.

Buck tentou fazer a carroça contornar,

mas os cavalos se assustaram com os

disparos, debatendo-se inquietamente.

Tentou acalmá-los, mas parou, quando

viu um cavalheiro vindo na direção deles.

Ficou aliviado ao perceber que era Ben.

— Ben, cuidado! Há alguém emboscado

lá no alto daquelas rochas. — avisou-o.

Ben, levantou o rifle para o alto,

tranqüilizando-o. Só então Buck atentou

para o detalhe: o que ele fazia ali?

— Tudo bem? — indagou Ben,

aproximando-se.

— Foi você?

— Sim, tinha de me livrar desses dois

paspalhos.

— Matou-os a sangue-frio, Ben. Logo

você, que se dizia incapaz de fazer mal a

uma mosca...

— Esqueça, Buck. O importante está aí,

nessa carroça. Todo o nosso futuro está

garantido. Terei tudo que sempre quis.

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— Mas o que está dizendo? Quer dizer

que tudo não passou de um plano para se

apoderar da prata?

Ben estacou seu animal bem junto à

carroça. Mantinha em sua mão o rifle

engatilhado. Buck não percebera isso.

— Cansei de lutar em vão, Buck. Quando

o velho perdeu o mapa no pôquer, joguei

todas as minhas fichas nessa idéia. Reuni

um bando de perdedores e os trouxe para cá

para escavar a mina. Havia apenas o filão

que está aí, transformado em lingotes, por

isso tive de explodir a mina...

— Você? Meu Deus, Ben! Entende o que

fez! Matou mais de uma dezena de

homens...

— Ralé, Buck! Quem vai sentir a falta

deles? o plano todo foi meu e deu certo,

finalmente. Agora vamos tratar de dar o

fora daqui. Ao invés de irmos direto para

Forte Morgam, vamos nos ocultar por

algum tempo em Brighton. Lá poderemos

negociar a prata, juntar o dinheiro e partir

para uma vida de fartura.

— Não, Ben, você mudou. Não vou

permitir que faça isso. Há gente confiando

em você, esperando pelo dinheiro lá em

Last Chance...

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— Estão todos condenados. Aquela mina

não agüentará novo túnel. Vai desabar de

qualquer jeito...

— Então vamos voltar a avisá-los...

— Não, Buck, você não pode fazer isso

comigo!

— É loucura, Ben!

— Loucura ou não, é a chance da minha

vida. Você não vai me impedir de realizar

meu sonho — falou Ben, apontando o rifle

para o amigo.

— Ben, está louco!

— Você é o louco, Buck, recusando uma

chance desta. É uma pena, amigo! Poderia

ser rico comigo, mas prefere morrer pobre.

Buck viu, nos olhos dele, que ele iria

mesmo atirar. Tentou sacar sua arma, mas

Ben foi mais rápido.

Apertou o gatilho do rifle e a bala atingiu

o peito de Buck, jogando-o fora da carroça,

imóvel na poeira.

Ben olhou o corpo caído, deu de ombros

e foi amarrar o cavalo na traseira da carroça.

Partiu logo em seguida.

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Um velho meio maluco, que vivia

naquela região caçando serpentes e

procurando ouro encontrou Buck.

A principio o deu como morto. Apanhou

uma picareta e a pá e começou a cavar um

buraco para enterrá-lo.

Interrompeu logo o trabalho ao ouvir o

gemido débil, duvidando, até que, pudesse

ser dele.

— Last Chance... Hellen... — balbuciou

o rapaz, antes de desmaiar de novo.

— Diabos, você tem couro duro mesmo

— falou o velho.

Levou-o até a garganta, junto à água.

Examinou o ferimento. Era muito grave.

Por outros que tinha visto, aquele buraco

significava pouco tempo de vida para o

desconhecido.

— Hellen, em Last Chance... A única que

conhece é a garota da diligencia —

comentou o velho. — Será que você

agüenta a viagem? Mas, de um modo ou de

outro, morrerá mesmo. Além disso, faz

tempo que não vou a Last Chance. Está

certo, rapaz. Você vai para Last Chance —

decidiu-se o velho.

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Tratou de providenciar uma padiola e

atrelá a sua mula. Se o rapaz agüentasse os

dois dias de viagem, talvez tivesse uma

chance.

Buck chegou vivo em Last Chance, mas

febril e muito fraco. Havia perdido muito

sangue.

Ao vê-lo, Hellen se desesperou. Alguns

homens que estavam no saloon se

apressaram em cercá-lo.

— O que houve? — indagou Norris.

— Não sei — disse o velho. — Encontrei

esse aí e mais dois mortos. Já tinha

enterrado os outros dois e ia enterrá-lo,

quando ele deu sinal de vida. Nunca vi

alguém com um couro tão duro.

— E a carroça?

— Que carroça? Não vi nenhuma

carroça!

— Diabos! Vamos ver se encontramos

alguma coisa, rapazes! — falou Norris, em

desespero.

Todas as esperanças deles estavam

naquela carroça e na mina, cuja túnel não

conseguiam reabrir.

Não havia como escorar as paredes. A

explosão abrira um grande buraco e

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revelava, também, total ausência do minério

de prata.

Era como se todo o tesouro que

imaginavam existir ali tivesse se evaporado.

Buck foi levado para um dos quarto do

Posto de Mudas da diligencia.

Hellen, desesperada, não sabia o que

fazer. Não tinham um médico por ali. Teria

de cuidar dele sozinha.

O velhote lhe ensinou alguns remédios

para afastar a febre e combater a infeção.

— E a bala? — indagou a garota.

— Está aí dentro. Parece que o tiro foi à

queima-roupa e isso foi a sorte dele. O ideal

seria retirar esse chumbo.

— Pode fazer isso, vovô?

— Já tirei muito chumbo de gente por aí,

moça. Só não garanto que ele vai viver.

— Ele vai viver, tenho certeza — falou a

garota, com muita fé. — O que precisa?

— Antes de mais nada, um gole de

uísque para firmar o pulso. Depois quero

água quente, toalhas limpas e sua faca mais

afiada, além de agulha e linha.

Hellen tratou de providenciar logo o que

ele pedia.

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Numa bela manhã, a Sra. Sommers

inspecionava o seu jardim, quando uma

elegante carruagem parou diante da casa.

Curiosa, ela ergueu a cabeça para

observar o homem jovem e muito bem

vestido que descia.

Seu coração bateu mais forte. Reconhecia

aquele jeito de olhar e aquele modo de

andar.

Era, sem duvida, seu filho: Ben Sommers

voltava para casa.

— Mamãe! — exclamou ele, ao vê-la.

Ela ficou parada, petrificada, olhando-o.

Nunca o vira tão bonito e tão elegante, com

aquelas roupas caras e aquele chapéu de

almofadinha.

Quase não podia acreditar. Só quando ele

a abraçou foi que ela se convenceu, afinal.

— Ben, meu querido! Você está vivo! —

Graças a Deus! — exclamou ela, beijando-

o.

— Estou mais do que vivo, mamãe. Estou

vivo e rico, muito rico. Você terá tudo que

sempre quis...

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— Eu só queria vê-lo, meu filho...

— Então seu desejo está realizado —

disse ele, levando-a para dentro da casa.

Atrás dele veio o condutor da carruagem,

carregando alguns pacotes.

— Ia me esquecendo — disse Ben. —

Seus presentes — apontou ele.

— Oh, filho! Que alegria! Tudo isso é

para mim?

— Sim, mãe. E tudo o mais que desejar.

— Meus desejos estão satisfeitos. Você

está aqui — falou ela, com ternura,

abraçando-o.

Entraram na casa. Os presentes foram

deixados na sala modesta.

— Parece que você adivinhou, querido.

Fiz torta de amora, sua predileta. Vou lhe

servir um pedaço.

— Que delicia! Você adivinhou mesmo.

— E Buck, como está.

— Buck? O que tem Buck?

— Não foi ele que o achou?

— Não, por que me acharia?

— Eu pedi a ele que fosse a Last Chance

atrás de você...

— Last Chance? Faz muito tempo que saí

de lá. Eu estava em Pueblo, negociando

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com gado. Tive sorte, mãe. Ganhei muito

dinheiro mesmo...

— Pobre Buck! Perdeu a viagem.

— Deverá estar de volta em breve —

descartou Ben, indo apanhar um pacote para

sua mãe abrir.

Quando ela retornou com a torta e café,

ele a fez abrir o pacote.

Dois meses após ter sido ferido, Buck

conseguiu se levantar pela primeira vez.

Estava ainda muito fraco e os meses na

cama haviam afetado sua musculatura.

Apoiado em Hellen e em Jonas, o velhote

que o salvara e que acabara ficando para

ajudar a garota com as diligencias, ele foi

levado para o alpendre.

Sentou-se ao sol após muito tempo.

— Como se sente? — indagou Hellen,

ajoelhando-se diante dele.

— Um pouco tonto, mas feliz por estar

vivo.

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— Você tem mesmo o couro duro. Sim,

senhor, e como é duro — falou Jonas,

deixando-os a sós.

— Salvou minha vida de novo — disse

ele, olhando-a com agradecimento.

Ela debruçou a cabeça, apoiando-a sobre

a coxa do rapaz. Buck acariciou os cabelos

dela.

— Algum sinal de Ben?

— Nenhum, mas vi agitação no saloon

hoje. Parece que os homens estão se

reunindo.

— Por que, será?

— Tenho a impressão que estão indo

embora.

— Embora?

— Last Chance chega, afinal, ao seu fim.

Com a abertura de nova linha entre Denver

e Kansas City, a atual será desativada. Em

trinta dias estarei desempregada.

— O que pretende fazer?

— Ainda não sei. Tenho algum dinheiro,

poderia ir para qualquer ponto da linha e

tentar uma concessão. Mas não posso tocar

isso sozinha.

— Por que não volta para Cheyenne

comigo?

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— Fala sério? — indagou ela, levantando

o rosto para ele.

— Nunca falei tão sério.

— Oh, Buck! Pensei que nunca fosse me

convidar — falou ela, abraçando-o com

ternura e beijando-o.

O tropel de cavalos chamou a atenção

deles. Norris e uns dez pistoleiros se

aproximavam.

— Como se sente? — indagou ele a

Buck.

— Melhor! O que está havendo?

— Um mensageiro retornou hoje. Parece

que andaram vendendo muita prata em

Brighton. Segundo ele apurou, era alguém

de Cheyenne. Isso lhe diz alguma coisa?

— Ele foi para lá, então. O que vocês

pretendem fazer?

— Vamos buscar nossa parte.

— Acham mesmo que o encontrarão lá?

— Tentaremos.

— Procurem o xerife Lodge, tenho

certeza que ele irá ajudá-los e...

Norris retirou do bolso interno de sua

capa um pedaço de tecido vermelho.

Abriu-o diante de si. Era um capuz, com

buracos para os olhos.

— Faremos nossa própria lei, Buck.

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— Não sejam loucos! A lei é rigorosa em

Cheyenne.

— Não se esqueça que seu amigo agora é

um milionário. Sabe-se lá o que fez na

cidade. Acha que a lei não o protegerá

contra nós? Quem somos, Buck? Um bando

de pistoleiros velhos e sem futuro. Somos

perdedores. A lei não nos protegerá. Esta

lei, sim — afirmou, erguendo o capuz.

Os outros fizeram o mesmo. O grupo

partiu a galope, levantando poeira na

estrada.

— Não vão se dar bem — afirmou Buck.

— Conheço o xerife, trabalhei com ele.

— Não se preocupe com eles, agora.

Você tem um longo trabalho pela frente, se

quiser ficar bom logo. A primeira coisa será

aprender a andar sozinho.

— Pode estar certa que, quando a linha

for desativada, eu estarei pronto para ir

embora com você — afirmou ele, decidido.

A vida da Sra. Sommers se transformara

da água para o vinho. Ben mandara buscar

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um médico em Washington, que a tratou e a

curou.

Ben havia subido rapidamente no

contexto social da cidade. Solteiro e

cortejado pelas garotas das famílias

importantes, era convidado para todas as

festas e acontecimentos.

Vestia-se sempre com apuro e elegância e

não fazia questão de ser modesto ao exibir

suas posses.

Comprou um enorme rancho nos

arredores da cidade para criar gado, além de

uma nova casa, onde se alojou com sua

mãe.

O dinheiro que depositara no Banco fazia

dele o maior depositante e o mais

paparicado dos clientes.

Em toda parte da cidade por onde

passasse, era reconhecido e comprimentado.

Como o Xerife Lodge estivesse se

retirando, alguém sugeriu oferecer a Ben o

posto de xerife.

A principio ele recusou. Depois,

pensando em como estava sendo difícil

ocupar seu tempo, acabou achando a idéia

interessante.

Tinha dinheiro e o cargo lhe daria poder.

Não precisaria se arriscar. Bastava contratar

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auxiliares, mesmo que tivesse de pagá-los

com seu próprio dinheiro.

Quando sua candidatura foi lançada, ele

tratou de agradar os cidadões de todas as

formas, presenteando todos

indiscriminadamente.

Quando passava pela rua, todos já o

cumprimentavam como o virtual novo

xerife.

— Não sei dizer ao certo o que é, mas

algo nesse rapaz não me agrada —

comentou o xerife.

— Ben Sommers é um deus nesta cidade,

xerife. Não fale besteiras — repreendeu-o o

prefeito. — Depois que ele chegou a esta

cidade, Cheyenne prosperou muito.

— Sim, ele contribuiu para isso. Está no

negócio de gado, comprou um saloon, tem o

armazém, o rancho, o estábulo onde compra

e vende cavalos... É muita coisa para um

homem que ainda quer ser xerife.

— Você está é com inveja, Lodge —

falou o prefeito, deixando-o.

— Tudo bem. O problema é de vocês.

Amanhã é a eleição e, daqui a uma semana,

entrego meu cargo. Não digam que não os

avisei.

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— Vá fazer a sua ronda. Vi uns maus

elementos lá no saloon — alertou o prefeito.

— Está bem! É para isso que sou pago

mesmo, não? — resmungou o xerife,

entrando na cadeia para apanhar seu rifle.

Foi até o saloon. Havia uma dezena de

homens ocupando três meses no fundo.

Bebiam uísque.

— Muito cedo para uma bebida forte, não

acham? — indagou o homem da lei.

— É para tirar o pó da estrada, xerife —

respondeu Norris.

— Estão vindo de longe. Seus cavalos

estão empoeirados e cansados.

— Assim estamos nós também.

— Estão de passagem?

— Planejamos ficar o mínimo possível.

— Ótimo! Comportem-se! Se precisarem

de alguma coisa, estarei na cadeia.

Assim que o xerife saiu, Norris olhou

para os homens e fez uma careta de enfado.

Um deles, que havia caído para dar uma

olhada pela cidade, voltava naquele

momento. Foi se sentar à mesa, com Norris.

— Descobri onde é a casa dele — falou.

— É no fim da rua, uma das mais bonitas da

cidade. Está gastando dinheiro como um

pródigo e não poupa gastos.

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— Maldito! Fazendo festa com nosso

dinheiro. Mas não importa. Assim que

escurecer, vamos à casa dele buscar o que

nos pertence.

Continuaram bebendo. Assim que

escureceu, o saloon começou a se encher.

Norris e seus homens saíram dali.

Estavam determinados a resgatar a dívida

com Ben Sommers.

Rumaram direto para a nova residência

dele. As luzes estavam acesas. Lampiões de

todos os tipos espalhavam-se pela casa,

iluminando-a profundamente.

— Vamos pelos fundos — ordenou

Norris.

Contornaram a propriedade, entrando

pelo portão de trás. Avançaram até a porta

da cozinha.

Duas criadas preparavam o jantar. Eles

entraram rapidamente, após terem vestido

seus capuzes vermelhos.

As mulheres se assustaram ao ver aquelas

figuras fantasmagóricas.

Eles as dominaram, impedindo que

gritassem.

— Dingus Latimer está em casa? —

indagou Norris.

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— O nome dele aqui é Ben Sommers —

corrigiu o homem que havia descoberto a

casa.

— Seja lá como for, diabos! O dono da

casa está?

— Não, o Sr. Sommers ainda não

chegou.

Naquele momento, a Sra. Sommers

entrou. Trazia um lampião acesso na mão.

— Mary, preciso que uma de vocês

venha comigo até o deposito lá fora e... —

interrompeu-se, tomando um susto, ao ver

os homens encapuzados.

O lampião caiu de suas mãos e explodiu

no assoalho. O fogo subiu pelas roupas dela.

A pobre mulher gritou, horrorizada,

debatendo-se em pânico.

— Norris, faça alguma coisa! — gritou

um dos homens.

A mulher entrou casa adentro, gritando

como louca. Norris e os outros ficaram sem

ação.

— Diabos! Vamos dar o fora daqui —

gritou ele.

Fugiram da casa rapidamente, enquanto

os outros criados atendiam a Sra. Sommers,

procurando apagar o fogo em suas roupas.

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Quando o conseguiram, era tarde demais.

Ela havia sofrido queimaduras graves, além

de ter respirado entre as chamas, afetando

seriamente o pulmão.

Quando Ben chegou, algum tempo

depois, em desespero, foi para ver o rosto

da mãe, terrivelmente queimado, acalmar-se

após o último suspiro.

Ficou possesso, apanhando suas armas e

chamando as mulheres que haviam sido

atacadas pelos mascarados.

— Quem eram eles? O que queriam?

—Queriam o dono da casa... — disse

uma delas.

— É, mas falaram num tal de Dingus

Latimer — acrescentou Mary.

— Como?

— Sim, isso mesmo. Queriam um tal de

Dingus Latimer...

— Ah, e um deles se chamava Norris.

Quando as roupas da Sra. Sommers

pegaram fogo, alguém gritou esse nome

para o que parecia ser o chefe.

Ben empalideceu, sentindo-se ameaçado.

Aqueles malditos tinham vindo à procura

dele e acabaram causando a morte da pobre

velhinha.

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Diversas pessoas foram até a casa, entre

elas o prefeito e o xerife.

— Eu o alertei, Lodge — falou o

prefeito.

— Eu fui ter com eles no saloon, mas

quem poderia suspeitar que eram ladrões?

— desculpou-se o xerife.

— O que estão falando, afinal? — quis

saber Ben.

— Esses homens estavam bebendo no

saloon. O xerife foi falar com eles, mas não

suspeitou de nada.

— Sim, como eu poderia imaginar?

Pareciam viajantes...

— É por isso que esta cidade precisa de

um novo xerife mesmo. Está perdendo o

faro, xerife. Ou talvez a coragem.

Enquanto falava, Ben fez um sinal para

um pistoleiro que estava ali perto. Era um

de seus capangas.

— Reuna os rapazes. Vamos sair atrás

deles agora mesmo — ordenou.

— Não pode tomar a lei em suas mãos,

Sommers — repreendeu-o o xerife.

— Pois já a estou tomando, xerife.

Aqueles homens pagarão pelo que fizeram,

eu juro.

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— Vou chamar meus ajudantes e iremos

juntos...

— De modo algum, xerife. É problema

meu e vou resolvê-lo. Não se meta —

ameaçou-o Ben.

O xerife pensou por instantes. Por que se

meter, afinal? Ben seria mesmo o novo

xerife. Que se danassem ele e a cidade.

Ben saiu com mais de duas dezenas de

pistoleiros, indo até os limites da cidade.

— Um bando desses não passa

desapercebido. Quero que perguntem nos

quatros cantos da cidade se alguém viu

alguma coisa. Não iriam longe no escuro,

principalmente porque não conhecem a

região. Vou esperar aqui.

Os homens se dispersaram. Ben pensou

em sua mãe, mas já se embrutecera demais

para chorar por ela.

Lamentava não tê-la por mais tempo e

fazê-la recuperar o tempo perdido.

O importante agora era afastar Norris e os

outros de sua cidade. Se abrissem o bico,

muita coisa poderia se complicar para o

rapaz.

Não demorou muito e os homens

começaram a voltar.

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— Viram um bando galopando na

direção de Laramie.

— Não irão muito longe naquela estrada.

Quando atingirem o terreno pedregoso terão

de acampar. Quero que dois de vocês vão na

frente e fiquem atentos a qualquer fogueira.

Se virem isto ou alguma outra coisa que

indique a presença deles, voltem

imediatamente para nos avisar.

Os dois homens partiram rapidamente.

Como conheciam a estrada, não

encontrariam dificuldades para cumprir as

ordens de Ben.

O restante do bando, aguardou um pouco,

depois tomou o mesmo rumo, indo mais

devagar.

A noite estava bem escura, mas a lua logo

surgiria e tudo ficaria mais fácil.

Haviam cavalgado umas quatro ou cinco

milhas, quando encontraram os dois

batedores.

— Você os viu?

— Sim, estão a umas duas milhas daqui.

Fizeram uma grande fogueira. É visível do

alto daquela colina ali na frente.

— Puseram guardas?

— Sim, há homens guardando a volta

toda.

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— Não tem importância. Sei como pegá-

los. São uns trouxas. Hartley, venha cá —

chamou ele.

Um dos pistoleiros se apresentou.

— Você é o que melhor sabe se

expressar. Quero que vá até lá, com uma

banheira branca, e diga a Norris que desejo

negociar. Isso fará com que eles abaixem a

guarda. Se prometerem me ouvir, eu irei até

lá para acertarmos tudo. Quando eu fizer

isso, vocês aproveitarão a distração deles

para cercá-los...

— Não acha isso muito arriscado, Sr.

Sommers? — indagou Hartley.

— Fique tranqüilo. Conheço aqueles

homens. Estão ansiosos para negociar

comigo. Quero pegá-los vivos e fazê-los

pagarem pela morte de minha mãe —

sentenciou ele.

— Está bem, Sr. Sommers — concordou

Hartley, esporeando seu cavalo, após ter

improvisado uma bandeira.

Ben esperou pacientemente. Sabia que

Norris e os outros não perderiam a chance

de recuperar seu dinheiro.

Foi realmente o que recebê-lo, Sr.

Sommers. Querem que vá só e desarmado.

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— Tudo bem. Vocês desmontem aqui e

caminhem até lá. Irei devagar, para dar

tempo de vocês se posicionarem. Eles estão

ansiosos demais para me verem.

Os homens trataram de cumprir o que ele

ordenara. A lua começava a surgir no céu

lentamente.

Ben cavalgou sem pressa na direção da

luz da fogueira ao longe.

Havia sido uma longa viagem. Os

homens estavam cansadas e aborrecidos

com os resultados daquela visita.

Jamais esperavam que daquilo resultaria

na morte de uma pobre velha, mesmo sendo

ela a mãe de Ben Sommers.

Quanto mais cedo terminasse aquela

aventura, melhor para eles. Queriam apenas

pegar o dinheiro e dar o fora dali.

Ben que ficasse com o que desejasse,

contanto que cada um deles pudesse gozar

um pouco daquela fortuna.

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Reuniram-se no centro do acampamento,

ao redor da fogueira. Conversavam entre si,

alguns achando que Ben hão honraria o

compromisso.

Outros achavam que o melhor era matá-

lo, mesmo que isso significasse a perda do

dinheiro.

Quando ele se aproximou, no entanto,

todos ficaram em silencio.

Ben foi até o centro deles e desmontou.

Olhou-os com desprezo. Eram mesmo uns

perdedores.

— Minha mãe está morta, mas não quero

vingança. Só desejo saber por que fizeram

isso, rapazes? — indagou, fingindo

sofrimento.

— Você nos traiu, Dingus... Ou Ben

Sommers, seja lá qual for o seu nome —

começou Norris. — Matou dois amigos

nossos, praticamente aleijou um terceiro e

levou toda a prata...

— Espere aí, Norris. Vocês ficaram com

toda a mina. Deveria haver pelo menos mais

duas cargas como aquela...

— A mina estava podre. Não há mais

minério nem como sustentar o túnel. Ela

está desabando.

— E como eu podia saber disso?

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— Não sei, mas alguma coisa me diz que

você sabia.

— Então não sobrou mesmo nada para

vocês?

— Claro que não. Por isso estamos aqui.

— E por que não me procuraram para

conversarmos? Tinham que entrar lá como

um maldito grupo de vigilantes, assustando

minha mãe, levando-a morte? Que diabos,

rapazes! Quem pensam que eu sou?

— Acho bom nem tocarmos no assunto,

Ben. Queremos saber se está disposto a dar

a nossa parte.

— Mas claro que sim... Só que está no

banco. Terão de esperar até amanhã cedo —

falou Ben, observando que seus homens já

estavam a postos.

— Quanto rendeu a carga? — quis saber

Norris.

— Muito dinheiro, rapazes. Dinheiro

demais para uns perdedores como vocês. Se

olharem para os lados, verão meus homens

apontando armas para vocês. Quero que

todos, bem devagar, soltem o cinturões.

— Maldito bastardo! — exclamou

Norris, percebendo que, mais uma vez,

havia sido enganados.

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Tinham abrido a guarda, não deixando

ninguém para vigiar o acampamento.

Norris mediu suas chances. Ben estava

desarmado e merecia a morte pelos seus

atos.

— Não vai sair ganhando de novo, Ben

— afirmou ele, levando a mão à arma.

Ele apertou o gatilho. O chapéu de Norris

voou para trás, caindo na fogueira com

parte do cérebro dele.

Ben engatilhou de novo.

— Ainda tenho mais uma bala. Mais

alguém se arrisca?

Os homens praguejaram e começaram a

soltar os cinturões. Os pistoleiros de Ben

Sommers se aproximaram.

— O que vamos fazer com eles — quis

saber Hartley.

— Antes de mais nada, amarre-os! —

ordenou, olhando ao seu redor.

Uma árvore enorme e seca recortava sua

silhueta contra o céu enluarado.

— Acho que vamos ter um julgamento e

uma execução agora — falou ele.

Os amigos de Norris olharam na direção

que ele havia fitado. Perceberam o que ia

acontecer.

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— Não vai me linchar, maldito! — disse

um deles, avançando contra Ben.

Um dos pistoleiros passou-lhe uma

rasteira, derrubando-o. Quando tentou se

levantar, a coronha de um rifle bateu em sua

espinha, tirando-lhe o fôlego.

Ben pisou-lhe no pescoço, afundando sua

cara na areia. O homem se debateu,

sufocando-se.

Ele o chutou em seguida, recuando.

— Por favor, Ben, não me mate... Pelos

velhos tempos — falou o homem caído,

com o rosto sangrando, tentando se pôr de

joelhos.

Era uma figura patética implorando

inutilmente pela vida. Ben o olhou com

desprezo.

— Está certo, Joe. Pode ir — falou ele.

Os olhos do homem brilharam,

incrédulos.

— Sério?

— Sim, pegue seu cavalo e caia fora,

antes que eu me arrependa.

O homem tentou se levantar. Saiu

cambaleando. Antes que se aprumasse, Ben

apontou para ele e disparou. A bala do

Derringer atingiu a nuca do pistoleiro que

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foi jogado para frente, caindo sobre a

fogueira.

— Mais alguém deseja implorar pelos

velhos tempos? — indagou ele, apanhando

seu cinturão e afivelando-o.

Os homens haviam sido amarrados. Ben

ordenou que eles fossem levados até a

árvore seca.

— Há galhos para todos — falou ele. —

Vamos pendurá-los e vê-los dançando,

rapazes — ordenou.

Cruelmente, sem piedade nenhuma, os

homens foram sendo erguidos um a um pelo

pescoço.

Praguejavam contra Ben, gritavam,

imploravam clemência, mas acabavam

dançando macabramente, como frutos

estranhos naquela árvore fatídica.

Todos eles, inclusive Norris e Joe, foram

pendurados pelo pescoço.

A lua iluminava a cena macabra. Os

homens de Ben festejavam o massacre.

— As bebidas são por minha conta,

rapazes. Vejam o que há de valor com eles e

peguem para vocês. É o prêmio pelo bom

trabalho, além de uma gratificação de cem

dólares que darei a cada um na cidade.

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— Viva o Sr. Sommers! — gritou um

deles.

— Sim, o melhor patrão a Oeste de

Kansas City — ajuntou outro.

— Que isto sirva de lição para todos os

pistoleiros da região. Pensarão duas vezes

antes de entrarem na cidade do Xerife Ben

Sommers! — falou um outro.

Ben gostou daquilo. Seria marcante em

seu papel de xerife. Havia perseguido e

enforcado os assassinos de sua mãe.

Seria uma boa historia para ser escrita.

Um escritor do Leste havia chegado na

cidade e estava ansioso para escrever algo a

respeito dele.

Ben havia pago a estadia dele, por isso o

rapaz, agradecido, queria retribuir de

alguma forma.

Aquela seria uma boa maneira de

começar o livro.

Buck passava agora seus dias se

exercitando de todas as formas possíveis.

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Havia ficado muito tempo parado. A

musculatura doía a cada movimento, por

menor que fosse.

No inicia, Hellen o levava até o rio e ele

andava e nadava o máximo que podia, até

sentir que seus músculos iam arrebentar.

Hellen elogiava sua força de vontade e

ele encontrava nela o motivo para todo o

sacrifício a que se submetia.

Logo começou a treinar de novo com o

revólver. Era-lhe difícil os movimentos de

engatilhar o Colt e apertar o gatilho

disparando.

Quando conseguiu fazer isso, tentou

disparar mesmo, usando munição.

O revolver simplesmente pulou de sua

mão. Hellen ficou apavorada.

— Deus do céu, Buck! Pare antes que

acabe se matando.

— Tenho de fazê-lo, Hellen. Se não

conseguir sacar nem disparar, jamais

poderei acertar minhas contas com Ben.

— Não pode confiar no xerife, como

aconselhou a Norris?

— Como ele mesmo disse, não sei o que

Ben é naquela cidade agora. Sei que um

homem poderosos e rico tem um outro

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tratamento, querida. Não importa quão ruim

ele possa ser.

Ele apanhou de novo o revolver.

Engatilhou-o e apontou para frente.

Disparou.

Conseguiu manter o revolver em sua

mão, mas a bala se perdera no terreno árido

à frente.

A tarefa seguinte era treinar a pontaria,

depois o saque. Ainda faltavam uns cinco

dias para o fechamento do posto. Até lá, ele

precisava estar pronto.

Alguns dias mais tarde, quando a

diligência passou, na manhã de um dia

quente, deixou um passageiro na cidade.

Vestia-se de preto e usava um cinturão

duplo, com Colts cromado e cabos de

madrepérola.

Ben estava no rio exercitando. Hellen e o

velhote haviam atendido os passageiros.

Aquele estranho ficou, após a partida,

diante de um prato de comida e uma garrafa

de uísque, numa das mesas do fundo.

— O que está acontecendo com este

lugar? — indagou ao velho, quando este

começou a limpar o local.

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— Last Chance? Está a um passo de se

transforma numa cidade-fantasma. E você?

Por que ficou aqui?

— Tem um cavalo para vender?

— Não sei, terá que falara com a dona.

Ela está lá dentro agora.

— Só estão vocês aqui?

— Agora, só.

— Não há um outro homem? Um que

ficou aleijado?

— Refere-se ao Buck?

— Sim, esse mesmo. Onde está ele?

— Deve estar no riacho agora.

— Pescando, eu imagino.

— Pode-se dizer que sim — riu o velho e

o forasteiro não entendeu.

Mas se deu por satisfeito. Continuou

bebendo seu uísque. Jonas,

despistadamente, foi para o fundo.

— Hellen, não estou gostando daquele

sujeito lá dentro. Perguntou por Buck.

— Eu tive um pressentimento quando ele

desceu. Parece-me um matador, não?

— Sim, da pior espécie.

Ela pensou por instantes. Precisava avisar

Buck, para que não fosse pego de surpresa.

— Vá distraindo-o, Jonas. Vou ao riacho

avisar Buck — disse ela.

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Jonas voltou para o salão.

— Quer mais comida? Vai sobrar mesmo

— disse ao forasteiro.

— Não, estou satisfeito.

— Uísque?

— Ainda tenho — respondeu o estranho,

percebendo alguma coisa errada com o

velho.

Ficou alerta. Jonas continuou parado,

olhando-o. O tropel de uma cavalo atraiu a

atenção do forasteiro.

Ele se levantou e foi até a porta. Viu

Hellen se afastando.

— Onde ela está indo?

— Não sei, acho que foi dar uma volta.

— Velho idiota! — murmurou o

pistoleiro, indo até o curral.

Laçou um cavalo e começou a selá-lo.

Jonas apareceu de repente, com uma

espingarda na mão.

— Acho melhor deixar esse cavalo aí

mesmo, moço.

— Só vou pegá-lo emprestado para dar

uma volta...

— Não vai a lugar até Hellen voltar com

Buck.

O pistoleiro não lhe deu atenção.

Continuou selando o animal.

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— Estou falando com você, moço —

disse Jonas, disparando para o alto.

Foi seu erro fatal. O pistoleiro se voltou,

enquanto Jonas empurrava a alavanca da

Winchester, ejetando a cápsula deflagrada.

O Colt já estava na mão direita do

pistoleiro, quando Jonas puxou a alavanca,

deixando o rifle pronto para atirar.

Quando levantou a cabeça, viu a língua

de fogo surgindo do cano do revólver a sua

frente.

Depois tudo escureceu, enquanto seu

corpo era arremessado para trás com

violência.

— Idiota! — falou o pistoleiro com

desprezo, retirando a cápsula de seu Colt e

repondo-a.

O cavalo ficou pronto. Ele olhou na

distancia a poeira que o animal de Hellen

deixava para trás.

Tomou aquela direção. Não tinha pressa.

Sabia que iria enfrentar um aleijado.

Quando Ben Sommers o convidara para

aquela missão, dissera que teria de matar

um aleijado.

Era tudo que o novo xerife sabia. Um dos

homens da carroça havia sobrevivido. Podia

ser Buck, lance ou Chambers.

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O pistoleiro tinha estes três nomes. Jonas

facilitara tudo, informando que Buck estava

vivo.

Só tinha que ir lá, matá-lo, matar a garota

também para não deixar testemunhas,

depois rumar para Colorado Springs, onde

poderia descansar uns tempos, graças ao

fantástico pagamento que Ben lhe adiantara.

Para um matador como ele, aquela

missão era um passeio, uma das mais fáceis

de sua vida.

Não demorou para chegar ao riacho. Viu

o cavalo que Hellen utilizara e um homem

sentado na beira da água.

Não viu a garota, mas não se incomodou.

Talvez ela tivesse saído só para dar uma

volta mesmo, acabando por levá-lo

involuntariamente onde estava o aleijado.

— Ei, você! — chamou, aproximando-se.

O homem, cabisbaixo, parecia dormir. O

pistoleiro se aproximou ainda mais.

— Pare aí mesmo! — ordenou uma voz

atrás dele, acompanhada do estalido de um

Colt sendo engatilhado. — Levante as

mãos.

O pistoleiro ficou imóvel. A figura

cabisbaixa a sua frente se ergueu. Era

Hellen, com o chapéu de Buck.

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— Bom truque, garota, mas isso não vai

ajudá-lo em nada — ironizou ele, virando-

se lentamente, enquanto mantinha as mãos a

meia altura.

— Quem é você? — indagou Buck.

— Meu nome é Dingus Latimer,

conhece? — respondeu o outro, com uma

expressão de zombaria no rosto.

— Ben Sommers o mandou, não?

— Xerife Ben Sommers agora.

— Xerife? Aquele bastardo? Como

conseguiu enganar toda a cidade?

— Dinheiro, muito dinheiro — falou o

pistoleiro, medindo seu oponente.

Buck se mantinha ereto e empunhava a

arma firmemente. Onde estava o aleijado?

— E você, quem é?

— Buck Taylor!

— Então é você mesmo que eu vim matar

— falou o forasteiro. Levando a mão à

arma.

Hellen fechou os olhos. Buck disparou

certeiramente, em pleno peito do pistoleiro,

que já havia conseguido empunhar o seu

Colt.

Por momentos ficou em pé, empunhando

a arma, tentando erguêr-la.

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A arma parecia pesar uma tonelada. Seus

olhos incrédulos se fixaram em Buck,

depois no cano fumegante do Colt.

— Vencido por um aleijado... —

murmurou ele, caindo de joelhos.

Segurou o Colt com as duas mãos,

tentando levantá-lo de novo.

— Não faça isso — avisou Buck.

— Tenho... Que... Matá-lo... — insistiu o

outro, esforçando para engatilhar a arma.

Buck resolveu não facilitar. Apertou de

novo o gatilho, mirando a testa do

desconhecido.

Um jato de sangue e miolos atrás do

homem ajoelhado e ele caiu para trás, com

os braços abertos, os olhos arregalados

fitando o céu.

Hellen correu abraçar Buck.

— Tive tanto medo, querido! — disse

ela, trêmula.

— Tudo bem, está acabado. Tivemos

sorte. Era muito rápido mesmo.

— Ben sabe que você está vivo, Buck. Se

ele é o xerife agora, tem um motivo a mais

para não querê-lo por lá.

— Mas ele vai ter que me engolir, eu

prometo. Estou quase bom. Um pouco mais

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de prática e estarei em forma. Então iremos,

querida.

— Não poderíamos simplesmente

esquecê-lo e ir para um outro lugar? A

Wells Fargo me convidou para cuidar do

posto em Goodland, no Kansas...

— Enquanto Ben não tiver certeza de

minha morte, continuará mandando

pistoleiros no meu encalço. Não quero ter

de fugir todas as vezes que um deles

aparecer. Acho melhor ir lá e resolver logo

o assunto.

Ela se apertou ainda mais nele, cheia de

medo, mas decidida a acompanhá-lo onde

quer que fosse.

À medida que se aproximavam de

Cheyenne, Buck e Hellen iam tomando

conhecimento da fama de Ben Sommers.

Ele simplesmente se transformara no

homem mais poderoso da cidade, graças ao

seu dinheiro e aos capangas que

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trabalhavam para ele, tranvestidos de

auxiliares.

Os pistoleiros e malfeitores se mantinham

longe de lá e isto agradava os cidadões.

Desde que enforcara os homens que

haviam causado a morte de sua mãe, Ben se

transformara num ídolo.

Obviamente, as gordas ofertas em

dinheiro a todos que podiam de alguma

forma prestigiá-lo foram decisivas nisto.

Fora eleito xerife com uma votação

estrondosa. Tomara posse prometendo que

nenhum malfeitor se daria bem em

Cheyenne e vinha cumprindo isso.

Alguns ex-rancheiros, que percorriam a

estrada com suas carroças e pertences,

acusavam-no de ter-se apossado de suas

terras de modo infame.

A ambição dele se tornava incontrolável.

Todos o elogiavam abertamente, mas, às

escondidas, Ben Sommers era um nome que

despertava temor.

Para Buck, essas descrições não se

pareciam em nada com a de seu ex-amigo.

Só que ele sabia da mudança que se

operava nele. Ben havia se transformado

num homem sem caráter, sem alma e sem

escrúpulo de forma alguma.

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Era esse o homem que ele teria de

enfrentar. Da mesma forma que tomava

conhecimento dos últimos acontecimentos

sobre a vida de seu ex-amigo, Ben logo

ficou sabendo que Buck estava indo para

Cheyenne.

— Tem certeza? — indagou ele a um

vaqueiro que viera de Denver à procura de

emprego.

— Claro. Estávamos num restaurante em

Loveland e meu amigo que é daqui,

reconheceu Buck. Até conversaram.

— E como ficou sabendo que tenho

negócios a resolver com esse tal de Buck

Taylor?

— Foi seu assistente ali — apontou ele.

— Eu disse que estava vindo de Denver e

ele me perguntou sobre três pessoas: Buck

Taylor, Lance Smith e John Chambers. Eu

me lembrei do Buck e lhe disse o que tinha

visto.

— Fez muito bem, rapaz. Está à procura

de emprego, não?

— Sim, Sr. Sommers!

— Vá ao meu rancho e procure o meu

capataz. Entregue-lhe este papel. Você está

empregado.

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O rapaz agradeceu e saiu, deixando Ben

pensativo.

— O matador que mandou para Last

Chance deve ter dado o golpe, patrão —

falou um dos pistoleiros.

— Não, acho que não. Buck não mudou.

Continua esperto como antes. Se estava

aleijado, deve ter sarado. Ou então, Norris

deve ter exagerado.

— Então esse Buck é um osso duro, não?

— Está me parecendo, mas vamos acabar

logo com isso. Reuna meia dúzia dos

melhores atiradores e vá ao encontro desse

sujeito. Quero-o morto de uma vez por

todas.

— Certo, patrão. Seguremos pela estrada

e o pegaremos. Pode começar a esqueçê-lo

— prometeu o pistoleiro.

No entroncamento da estrada que ia de

Cheyenne a Denver onde era cruzada pela

que levava de Forte Collins a Ault, havia

uma parada da diligencia.

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Ali Hellen e Buck resolveram fazer uma

pausa na viagem para comer e descansar.

Entraram ambos no salão. Um cheiro de

comida quente e café recém-coado enchia

deliciosamente o recinto.

— Será que podemos ter uma refeição

quente e um quarto para esta noite? —

indagou Buck.

— Claro, vocês têm sorte. A diligencia

não parou para pernoitar aqui hoje. Podem

se sentar ali, que já vou serví-los. Se

quiserem se refrescar, há um cano de águas

lá nos fundos.

— Vou adorar isso — falou Hellen.

— Eu também — concordou Buck.

Foram até lá. O rapaz tirou o chapéu, o

cinturão e a camisa, banhando o tronco.

Em seu peito destacava-se uma enorme

cicatriz. Hellen lavou os cabelos e o rosto,

deixando a água escorrer para dentro de sua

blusa.

Seus seios ficaram colados no tecido.

Buck a olhou com carinho e desejo. Ela

entendeu e sorriu.

Buck vestiu a camisa, pôs o chapéu, mas

não afivelou o cinturão. Levou-o no braço e,

quando se sentaram, ele o apoiou no braço

da cadeira.

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Tinha escolhido uma mesa nos fundos,

sem ninguém atrás deles. A janela ficava do

lado e a porta diretamente a sua frente.

Se alguém entrasse ou chegasse, Buck

queria ter certeza de poder ver quem era.

A comida foi servida, juntamente com

uma cerveja gelada. Estavam ambos

famintos e com sede.

Quanto mais próximos chegavam de

Cheyenne, mais cuidadoso Buck se tornava.

Sabia que Ben logo estaria sabendo que

Hellen e ele estavam a caminho.

Se havia mandando um matador, com

certeza mandaria outros. Não queria

facilitar.

Hellen havia percebido isso, no entanto.

— O que o preocupa, querido?

— Estamos próximos de Cheyenne,

Hellen. Até lá são umas quarenta milhas e,

se tudo der certo, amanhã à tarde estaremos

lá. A esta altura, acredito que Ben já saiba

que estamos indo.

— Foi o que imaginei. Toda cautela é

pouca, não?

— Sim, pode estar certa que sim.

Quando foram dormir, puderam escolher

qualquer um dos quartos, já que todos

estavam vazios.

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Buck avisou à dona do estabelecimento

que ficaria com o último quarto.

— As chaves estão nas portas, fiquem à

vontade!

Buck apanhou um lampião e subiram. Ao

invés de entrar no último quarto, no entanto,

ele deteve Hellen e apanhou o penúltimo.

— Para quê?

— Nunca se sabe — disse ele,

empurrando a porta e entrando.

Foi verificar a janela. Havia uma sacada

lá fora, que era comum a todos os quartos.

Buck fechou logo a cortina. Hellen estava

cansadíssima. Havia deixado as armas que

trouxera sobre um móvel e se deitara por

um instante.

No momento seguinte, já ressonava.

Buck olhou-a e sorriu. Era melhor assim,

julgou ele.

Verificou seu Colt. Depois completou a

carga de sua Winchester e pôs dois

cartuchos na espingarda de Hellen.

Trancou a porta. Pegou uma jarra de água

que estava ao lado da cama e a pôs do

parapeito da janela, do lado de dentro. Se

alguém tentasse entrar por ali, fatalmente a

derrubaria.

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Deitou-se e, cansado como estava, logo

adormeceu, para acordar algum tempo

depois.

Seus ouvidos atentos haviam captado o

barulho de cavalos. Homens conversavam,

enquanto se detinham.

Buck foi à janela, tirando a armadilha que

ali deixara. Um dos homens desmontou e

entrou. Pôde ouvir as esporas dele tinindo lá

embaixo.

Foi para a porta e a entreabriu. As

esporas tiniram apressadamente para fora do

salão inferior para, sem muita demora,

outras tinirem de volta.

Ouviu-as subindo a escada e não teve

dúvidas. Tudo indicava que estavam a sua

procura.

Foi acordar Hellen.

— Calma, querida! Acho que vamos ter

visitas — disse ele, tirando-a da cama.

Sonolenta, ela ficou parada no meio do

quarto. Quando ouviu o rangido no

corredor, pareceu despertar de todo.

Buck lhe estendia a espingarda, que ela

apanhou e engatilhou prontamente.

Recuaram, escondendo-se atrás de um

móvel, no canto oposto da cama.

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Ouviram a porta do outro quarto ser

chutada e aberta com violência.

— Demônios, eles não estão aqui! —

gritou alguém.

No momento seguinte, novo pontapé

estourou a porta do quarto deles. Um

homem entrou. Viu a cama desarrumada e

se virou.

Buck disparou seu rifle, atingindo-o na

cabeça, que se rachou como um melão

podre.

— Aqui dentro! — falou alguém no

corredor.

Três homens entraram disparando. Hellen

apertou os gatilhos de sua espingarda e a

tremenda e mortal carga apanhou os

bandidos em plena corrida, jogando seus

corpos sobre a cama, amontoando-se

grotescamente.

Alguém quebrou o vidro da janela. Buck

disparou seu rifle duas vezes seguidas.

Ouviu um grito e o som de um corpo

batendo na madeira, antes de despencar até

a poeira da rua.

Hellen foi se levantar, mas Buck a

deteve. Havia contado sete cavalos na rua.

Apenas cinco homens haviam sido atingidos

até aquele momento.

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Logo entendeu o motivo, quando ouviu

as esporas tinindo escada abaixo.

Correu para a janela. Os dois pistoleiros

saltaram sobre seus cavalos e saíram em

disparada na escuridão.

— Acho que Ben ficará sabendo logo

sobre nós — falou ele, indo ajudá-la. —

Você está bem?

— Sim, e você?

— Estou ótimo. Acho que demos um

bom susto neles, mas não estamos salvos.

Ben estará a nossa espera agora.

A dona do estabelecimento subiu

correndo a escada, desesperada. ao vê-lo

com vida, suspirou aliviada.

— Eles me obrigaram... Não pude fazer

nada...

— Tudo bem, não se preocupe — falou

Buck, indo examinar os cadáveres.

Os quatros que estavam mortos ali no

quarto tinham estrelas de ajudantes de

xerife.

— Está vendo isso? — perguntou à dona.

— Sim, por isso não pude fazer nada...

— Crime legalizado. Ben está ficando

sofisticado — comentou o rapaz,

arrancando os distintivos e guardando-os.

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Ben ficou possesso quando os dois lhe

contaram do fracasso da missão. O dia

amanhecia em Cheyenne e ele estava em

seu rancho, tomando o café da manhã.

— Seus covardes incompetentes — rugiu

ele, atirando o bule de café quente sobre os

dois.

Os homens gritaram de dor. Ben chutou-

os, derrubando-os. Depois, não satisfeito,

golpeou-os com um chicote que tinha na

parede, sobre os olhares vigilantes de seus

capangas.

— Sumam com estes dois covardes —

ordenou ele. — Pago mil dólares pela

cabeça de Buck Taylor. Vão agora!

Tragam-me a pele dele.

Uma dezena de homens correram apanhar

seus cavalos e partir em busca daquela

recompensa.

Ben apanhou seu cavalo e foi para a

cidade, onde reuniu seus auxiliares.

— Aqueles idiotas que mandei atrás de

Buck Taylor falharam. Ele está vindo para a

cidade. Mandei outro grupo ao encontro

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dele, mas quero que vocês fiquem atentos,

para o caso dele aparecer aqui, de algum

modo. Estarei no saloon, em caso de

qualquer necessidade.

Saiu pela rua, respondendo vagamente os

cumprimentos que recebia.

O prefeito teve de correr atrás dele para

poder alcançá-lo.

— Ei, xerife, o que está havendo? Por

que toda essa movimentação?

Ben parou e ia responder qualquer coisa,

mas mudou de idéia. Poderia simplificar as

coisas.

— Bem, prefeito, é que soubemos que

um perigoso malfeitor está vindo para cá. É

um pistoleiro da pior espécie e temo que

cause problemas. Estou pensando

seriamente em mandar evacuar as ruas. O

que acha?

— Excelente idéia, xerife. Pelo menos

nenhum inocente correrá perigo de levar

uma bala perdida. Vou convocar os

voluntários agora mesmo para dar o aviso.

— Ótimo, prefeito! Isso me deixará mais

tranqüilo — finalizou Ben rumando para o

saloon.

Pelo menos estava livre de ter de prestar

contas à população depois. Se de alguma

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forma Buck conseguisse chegar, estaria

desimpedido para liquidá-lo de uma vez por

todas.

No saloon, ficou na janela olhando a rua.

Em pouco tempo, os voluntários trataram de

espalhar a noticia.

Carroças e cavaleiros se apressaram na

rua. As lojas fecharam. Mães recolheram as

crianças. Todos foram se abrigar nos locais

mais seguros das casas, longe das temidas

balas perdidas.

Ben sentiu que tinha toda a cidade sob

seu controle. Se Buck insistisse na loucura

de vir atrás dele, Ben estaria à espera dele e

preparado.

Muitos caminhos levavam a Cheyenne e

Buck conhecia todas as trilhas, até aquelas

que ninguém mais utilizava.

Uma delas passava pelo pequeno rancho

do Xerife Lodge, onde Buck esperava

encontrar ajuda.

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Encontrou o xerife plantando mudas em

seu pomar. Quando o viu, Lodge acenou e

sorriu.

— Diabos, homem! Pensei que estivesse

morto — comentou, assim que o rapaz se

aproximou.

— Não fiquei muito longe disso, xerife.

Se não fosse este anjo salvador aqui, eu não

viria lhe contar o que se passou.

— Vamos entrar. Desmontem. Tenho

café no fogo e bacon que acabei de

defumar.

— Está se dando bem, xerife! —

comentou Buck, ajudando Hellen a

desmontar.

— Estou em paz comigo mesmo agora,

Buck. Eu e a terra, estabelecendo uma

amizade que será definitiva, se é que me

entende.

— Muito cedo para essa conversa, xerife

— disse Buck. — Quero que conheça

Hellen Hasting, minha noiva e futura

esposa.

— Garota, se você quiser desistir dessa

paspalho aí, tenho uma boa proposta a lhe

fazer — brincou o xerife.

— Vamos ouví-la, então. Quem sabe eu

mude de idéia...

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— Sobre meu cadáver — esbravejou

Buck e todos riram.

O xerife preparou uma refeição rápida

para eles e lhes serviu também café.

Enquanto comiam, Buck o pôs a par de

toda a sua aventura, desde que saíra de

Cheyenne, a pedido da Sra. Sommers, até

ser caçado pelos capangas de Ben, quando

vinham.

Em troca, o xerife lhe contou a rápida

ascensão do novo xerife, desde sua chegada

até sua nomeação como xerife.

— Há rumores que anda expulsando

rancheiros que possuem propriedades ao

redor do rancho dele, mas ninguém quer

acreditar nisso. Ben soube comprar toda a

cidade. Todos preferem ignorar isso,

enquanto se mantém sob a proteção dele.

— Tenho certeza que ele está a minha

espera, xerife, mas imagino que seria

loucura ir até lá desafiá-lo, não só pelo

apoio da cidade, mas principalmente pela

proteção de seus inúmeros capangas.

— Buck tem um plano maluco, xerife. Se

conseguisse distrair os capangas, poderia

enfrentar Ben cara a cara.

— Teríamos de criar uma diversão para

eles. Não deve ser algo muito difícil, se eles

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estão a sua espera e, com certeza com

medo.

— Medo? — estranhou Hellen.

— Sim, moça. Medo. Para se cercar de

tantos capangas como faz Ben, é porque

teme alguma coisa. E acho que sabemos

qual é o pior pesadelo dele.

— Buck?

— Sim, com certeza. Vamos fazer o

seguinte. Vocês ficam aqui e descansam. Eu

vou à cidade e verifico o que está havendo.

Assim que eu voltar, nós traçaremos um

plano.

— Obrigado, xerife.

— Sabe que não sou mais xerife, não?

— Será, depois que Ben for

desmascarado.

— Não, meu tempo já passou. Deixo essa

tarefa para você, meu amigo. Afinal, eu o

tenho preparado há algum tempo para isso,

lembra-se?

Buck agradeceu a atenção e o carinho do

amigo, que selou seu cavalo e partiu logo

em seguida para a cidade.

Ele e Hellen estavam cansadíssimos.

— Sabe o que eu gostaria de fazer? —

indagou ela.

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— Nem imagino, de tantas coisas que

pode estar desejando.

— Gostaria de um banho completo.

Ele sorriu, cheio de malícia.

— Há um lago aqui no rancho, com as

águas mais cristalinas e frescas da região. O

que me diz?

— Só nós dois?

— Só nós dois.

— Vou adorar — respondeu ela,

correspondendo à malícia que havia no

olhar dele.

Buck saiu à procura de toalhas. Depois

tomou Hellen pela mão e a levou ao lago.

Ela merecia aquele descanso e aquela

atenção. Afinal, ninguém podia dizer o que

o inferno reservava para eles em Cheyenne.

Quando Lodge voltou da cidade, Buck o

esperava, fumando no alpendre da casa.

Hellen estava lá dentro, adormecida,

descansando da extenuante viagem.

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Lodge foi apanhar um garrafão de uísque

e duas canecas. Sentou-se diante de Buck,

que o esperava com curiosidade.

— O que descobriu?

— Estão a sua espera. Espalharam pela

cidade que um perigo pistoleiro estava

vindo. As ruas estão limpas. Ben está no

saloon, esperando. Seus capangas patrulham

a cidade. Há uma recompensa de mil

dólares pela sua cabeça, Buck.

— Tudo isso?

— Sim, fiquei tentado com a oferta.

— Você está acima disso, Lodge.

— É o que você pensa, mas não sei se

Ben pensaria assim.

— Por que diz isso?

— Porque tive uma idéia interessante.

— Qual?

— Ir até o Ben e dizer que você e Hellen

estão escondidos aqui.

Buck não entendeu, à principio.

— Você não faria isso! — afirmou Buck.

— É como eu disse! Você sabe disso,

mas Ben sabe? Precisamos encontrar uma

distração para afastar os capangas de lá. O

que acha que farão quando souberem disso?

Virão como loucos para cá. Ben ficará

sozinho. Você poderá acertar suas

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diferenças com ele e eu ainda serei sua

testemunha.

— É um bom plano, xerife. Gostei dele.

— Eu sabia que gostaria! — falou o ex-

xerife, servindo o uísque para os dois.

Ben jogava paciência no saloon, cercado

por seus pistoleiros. Estava apreensivo.

Passara o dia todo em tensão, esperando a

chegada de Buck.

Os homens que haviam ido ao encontro

dele, pela estrada, retornaram sem sucesso.

Sabia que Buck estava preparando algo.

Apesar de toda a proteção com que contava,

tinha medo.

As ruas vazias da cidade reforçavam

aquele clima de tensão, expectativa e

prenúncio de tragédia.

A noite havia chegado tornando maior

ainda o medo que dominava seu coração.

Foi quando o Xerife Lodge apareceu no

saloon.

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— A que devo a honra, xerife? —

indagou Ben, com ironia, interrompendo

seu jogo.

O ex-homem da lei foi se sentar à mesa,

diante dele.

— Soube que está pagando uma

recompensa de mil dólares a quem

encontrar Buck Taylor, é verdade?

— Por que quer saber? — retrucou Ben,

olhando-o com desconfiança.

— Por que talvez eu saiba onde ele está.

Ben não se convenceu, hesitando ainda

em acreditar na sinceridade do homem

diante dele.

— E se for verdade, o que me faz

acreditar que você o trairia? Afinal, pelo

que soube vocês eram muito amigos.

— Eu ganhava pouco como xerife e

agora ganho muito menos ainda com meu

rancho. Tenho algumas dívidas. Mil dólares

resolveriam o meu problema.

— Está bem, se me disser onde encontrá-

lo, eu lhe dou mil dólares.

— Não. Primeiro quero o dinheiro.

Ben sorriu.

— Só que vai esperar aqui até meus

homens voltarem — exigiu ele.

— Tudo bem por mim.

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— Desarmado.

— Como queira — concordou Lodge,

pondo o revolver sobre a mesa.

Ben retirou uma maço de notas do bolso

do seu paletó e começou a contá-las.

Os capangas acompanhavam tudo com

interesse.

— Pronto, aí está — finalizou Ben. —

Onde posso encontrar Buck?

— Ele e a garota estão no meu rancho.

Chegaram à tarde. Comeram alguma coisa e

foram dormir. Estão muito cansados. Não

terá dificuldade em prendê-los.

— Prendê-los? — ironizou Ben,

chamando um de seus homens. — Buck

está no rancho do xerife. Vão até lá e o

peguem. Tragam-me a pele dele e da garota.

Mil dólares para vocês dividirem entre si —

ofereceu ele.

O pistoleiro convocou os demais e, pouco

depois, partiam ruidosamente.

Apenas três, armados de rifles, ficaram

protegendo o saloon. Ben voltou a jogar

paciência. Um pesado silêncio caiu no

recinto, quebrado apenas pelo tinir das

esporas dos homens que faziam a guarda.

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Lodge ficou atento a sua arma sobre a

mesa. Queria tê-la ao seu alcance, quando

as coisas esquentassem.

Buck entrou pelos fundos. Hellen viera

com ele, mas ficaria esperando por ele do

lado de fora, com sua espingarda.

Armado com o rifle, o rapaz passou pela

cozinha do saloon e saiu atrás do balcão.

O barman, ao vê-lo, se assustou. Buck

fez-lhe um sinal para se calar e entrar.

O homem obedeceu. Tão logo ficou

longe das vistas dos outros no salão, Buck

golpeou-lhe a nuca com a coronha da

Winchester, segurando-o antes que caísse.

Arrastou-o para um canto e foi se

esconder atrás do balcão, de onde sondou o

ambiente.

Havia dois homens junto à porta e uma

na janela. Ben estava numa das mesas do

fundo, juntamente com Lodge.

Buck respirou fundo. Teria de ser muito

rápido. Ergueu-se, gritando:

— Ninguém se mexa!

Os homens se voltaram surpresos. Ben

olhou com ódio para Lodge e, antes que o

ex-homem da lei pudesse fazer algo, o atual

xerife apanhou a arma sobre a mesa e a

apontou para a testa dele.

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— É melhor você não se mover, Buck, ou

estouro os miolos do seus amigo aqui. Eu

devia imaginar que tentariam algo assim.

Foi um longo caminho em vão.

— Não se preocupe comigo, Buck. Faça

o que tem que fazer — pediu Lodge.

— Não seja por isso — falou Ben, sem

piedade, apertando o gatilho.

A cabeça de Lodge explodiu como uma

abóbora e seus miolos se espalharam pelo

saloon.

Os pistoleiros engatilharam os rifles.

Buck atingiu o que estava na janela,

jogando-o para fora, no meio de uma chuva

de estilhaço.

Abaixou-se rapidamente e uma chuva de

balas foi arrebentando as garrafas da

prateleira.

O enorme espelho de cristal se espatifou,

jogando cacos sobre eles.

Ele rastejou para umas das pontas do

balcão. Quando os pistoleiros esgotaram as

cargas de suas armas, Buck se ergueu.

Ben estava protegido atrás de uma mesa e

rapidamente disparou o Colt contra Buck,

que revidou, sem êxito.

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Os dois pistoleiros recarregavam suas

armas, também ocultos atrás de uma mesa

tombada.

Buck se sentiu preso numa armadilha.

— Valeu a tentativa, Buck. Daqui a

pouco meus homens estarão de volta. Por

que não simplifica tudo se entregando?

Prometo que terá uma morte rápida —

ironizou Ben.

— Você foi longe demais, Ben. Sua

ambição não tem mais medida.

— Ainda podemos ser sócios, amigo...

— Não sou mais seu amigo, Ben. Você

me deixou para morrer, após ter me

baleado.

— Você foi cabeça-dura, jogando fora

uma chance única em toda a sua vida.

— Antes isso que ter a consciência

pesada para sempre.

— Buck, não seja ingênuo. Nada melhor

que champanhe francês e uma bela mulher

para acabar com qualquer peso na

consciência. Eu falo isso por experiência

própria, pode ter certeza — falou Ben,

fazendo sinal para que seus homens

avançassem.

Buck ouviu o tinir das esporas se

aproximando. Pelos pedaços do espelho

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ainda fixo na parede ele pôde ver os dois

homens caminhando na sua direção, com

rifles engatilhados.

Sabia que Ben estava no outro extremo

do saloon, deixando o balcão no centro do

fogo cruzado.

Repentinamente, porém, a porta da frente

se abriu e Hellen surgiu, com sua

espingarda.

Apertou os dois gatilhos ao mesmo

tempo. Com um coice violento, a arma

disparou suas cargas mortais, apanhando os

dois pistoleiros pelas costas, desarticulando-

se e jogando-os no assoalho como bonecos

de mola cobertos de sangue.

— Que diabos foi isso? — indagou Ben,

voltando-se na direção da porta e vendo

Hellen, com a arma fumegante na mão.

Apontou a arma para ela. Buck se ergueu

e viu o que iria acontecer.

Disparou sem mirar, instintivamente. A

bala arrancou lascas da madeira, jogando-as

contra o rosto de Ben, que gemeu e

praguejou.

Hellen saiu da mira de Ben, recuando

para fora do saloon.

— Está bem, Hellen? — quis saber Buck.

— Sim, estou bem.

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— Que lindo! — zombou Ben. — Casal

que mata unido permanece unido?

— Vá para o inferno, Ben. Acho que

agora você está perdido. Por que não

simplifica tudo se entregando? Garanto que

terá um julgamento justo.

Ben riu, divertido com a oferta.

— Só o que tenho que fazer é ficar aqui e

esperar, Buck. Meus homens logo estarão

de volta.

— E como vai explicar tudo isso à

cidade?

— Quem precisa explicar alguma coisa?

Basta eu distribuir dólares e eles me darão

uma medalha por tê-lo matado, Buck. São

uns idiotas vendidos e perdedores de toda

sorte. Com meu dinheiro e meu poder posso

fazer o que quiser...

— Realmente, xerife — indagou Hellen.

— Sim, garota. Pena que não tivemos

tempo de nos conhecermos melhor quando

estávamos em Last Chance. Eu teria

adorado isso.

— Lamento não poder dizer o mesmo,

xerife. E acho que tem mais gente que não

concorda com você.

— Como assim?

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— Está aqui fora comigo o prefeito, o

diretor do Banco e alguns outros amigos

seus, chocados com sua impressão a

respeito deles.

— Está blefando!

— Não, xerife, ela fala sério — disse o

prefeito lá fora, num tom de voz pouco

amistoso.

— Maldito! Você armou tudo, Buck! —

falou Ben, percebendo que a situação

começava a se inverter.

Levantou-se, mantendo-se atento ao que

acontecia atrás do balcão.

Buck o viu em pé, com a arma abaixada.

Levantou-se também, encarando-o. Tinha o

rifle atravessado à frente do peito, pronto

para disparar.

— Você foi muito esperto, Buck, mas

isso não vai mudar nada. Ainda sou o xerife

da cidade e meus auxiliares me ajudarão a

combater qualquer resistência.

— Só que eles não estão aqui para ajudá-

lo agora, Ben.

— Não faz diferença, Buck. Eu sempre

fui mais rápido que você...

— Isso foi há muito tempo atrás, Ben. Eu

andei praticando.

— Não acredito.

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— Então tente.

Ben mediu seu oponente. Buck estava

mesmo decidido. Não havia outra forma de

resolver aquilo.

— Adeus, Buck! Vou sentir sua falta —

falou Ben, levantando o Colt.

— Eu também! — respondeu Buck, sem

pestanejar, apontando o rifle e fazendo

fogo.

Ben recuou alguns passos, olhando

incrédulo para a mancha vermelha em seu

estômago.

Buck aproveitou para saltar sobre o

balcão. Ben levantou a arma, apontando-a

de novo na direção do rapaz.

Hellen deu uns passos à frente e disparou

de novo, protegendo seu amor.

A carga dupla cortou Ben ao meio,

jogando seu corpo contra a parede, onde

deixou uma enorme mancha de sangue,

antes de deslizar para o assoalho.

A garota suspirou aliviada e correu ao

encontro de Buck.

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Terra Sem Lei

Os lagos ao redor de Tulsa faziam

daquela a melhor região de Oklahoma para

a pecuária. A terra fértil tinha boa irrigação

e umidade suficiente para manter os pastos

sempre verdes, mesmo no verão mais

intenso.

Os ranchos rodeavam a cidade e o grande

negócio era engordar o gado e depois levá-

lo para venda em Kansas City, numa

viagem demorada, mas compensadora.

A cidade crescia com a prosperidade dos

ranchos, já que os vaqueiros, nos dias de

pagamento, invadiam os saloon e cantinas,

cheios de dinheiro para gastar, sedentos por

um gole de uísque e alguns momentos com

uma mulher bonita.

Aquele sábado não era diferente dos

outros, ao entardecer. Eles chegavam em

bandos, amarrando seus cavalos diante das

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casas de banhos e barbearias, embelezando-

se, gastando alguns centavos com perfume

barato que os fazia se sentirem mais

atraentes.

Num dos principais saloons de Tulsa, um

vaqueiro havia acertado o preço de alguns

momentos com a mulher mais bonita e

cobiçada da cidade.

Economizara durante um mês para fazer

aquilo valer a pena.

— Negócio fechado, vaqueiro! — disse

ela, com sua voz rouca e sensual, olhando-

os nos olhos.

O vaqueiro estremeceu, aproximando-se,

deslumbrado com o sorriso e o belo olhar de

Sally Brown.

Ele tivera que tomar alguns uísques para

criar coragem, afinal, de realizar aquele

sonho, mas não estava de todo embriagado.

As promessas contidas naquele olhar e

naquele corpo magnifico o faziam ter

certeza de que valera mesmo o sacrifício.

Ela se levantou e estendeu a mão para

ele, num convite irrecusável.

— Venha, vaqueiro! Hoje seus sonhos

vão se tornar realidade — prometeu ela,

num sussurro.

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— Eu a seguirei até o inferno, se for

preciso, Sally — gaguejou Joe Smith,

estendendo a mão calejada e prendendo nela

os dedos finos e macios da garota.

— Vamos para o paraíso, querido! Não

falemos em inferno agora — pediu ela,

levando-o consigo.

Os dois subiram as escadas até o

pavimento superior do saloon, onde ficavam

os quartos. O de Sally era o último e o

maior, com uma porta dupla. Aquele

aposento era o orgulho do saloon Little

Cow.

Assim que entraram, Joe soltou o

cinturão, que caiu pesadamente no assoalho.

Sally aproximou-se da cama, coberta com

uma colcha vermelha de cetim. Tirou-a,

descobrindo lençóis alvos como a neve.

O vaqueiro, todo atrapalhado, retirou um

maço de notas do bolso e contou,

depositando-o quase todo sobre a

penteadeira.

— Aqui está, Sally. Faça valer cada nota

dessas, por favor — pediu ele, caminhando

devagar na direção da cama.

— Você terá tudo que deseja, Joe. Está é

sua noite — prometeu, Sally, deitando-se na

cama com provocação.

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Seus cabelos longos, negros e sedosos se

espalharam no lençol branco, criando uma

moldura belíssima, que encheu os olhos do

vaqueiro apaixonado.

— Quer que eu o ajude a se despir? —

perguntou ela.

— Sim, claro... Tudo que tiver direito...

— gaguejou ele, aproximando-se mais da

cama.

Naquele momento, com um estrondo, a

porta se abriu e a figura temida do Xerife

W. Bonney avançou alguns passos,

encarando ameaçadoramente o vaqueiro

assustado.

— O que foi que eu fiz, xerife? —

indagou ele, trêmulo.

— Dê o fora, vaqueiro. O negócio não é

com você.

— Não estou fazendo nada contra a lei.

Eu e Sally vamos...

— Vai coisa nenhuma. Sally é minha

garota. Todos na cidade sabem disso.

— Sally é uma garota do saloon e

pertence a quem puder pagar seu preço —

falou o vaqueiro, agora desafiadoramente.

— Está me chamando de mentiroso,

vaqueiro? — perguntou o homem da lei,

ameaçadoramente.

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O vaqueiro o encarou, muito embora seu

cinturão, com a arma, estivesse junto aos

pés do homem da lei. Joe franziu a testa e,

de repente, compreendeu o que acontecia.

— Está com ciúme, xerife? Não pode

pagar o preço dela e julga que, com isso,

tem o direito de...

O rapaz não chegou a terminar o que

estava dizendo. O punho de Bonney atingiu

seu queixo violentamente, jogando-o sobre

a cama.

— Você pode ser o diabo que for, xerife,

mas juro como vai me pagar por isso —

esbravejou o vaqueiro, sacando uma faca

oculta em uma das botas.

Ergueu-se num salto, mas parou, imóvel,

diante dos dois revólveres engatilhados que

o xerife havia sacado.

— Não, xerife! — gritou Sally.

— Não se meta! — rugiu ele, apertando

os gatilhos.

O lençol da cama tingiu-se de vermelho,

quando o corpo de Joe rodopiou, com os

braços abertos, e foi cair sobre ele. Tentou

se erguer, mas os disparos haviam sido

mortais. Ficou imóvel, enquanto o sangue

se alastrava sobre o lençol branco.

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— Seu animal assassino! — gritou Sally,

após verificar que Joe estava morto.

— Ele tentou me matar, foi legítima

defesa e você testemunhou isso.

— Não pense que me assusta, xerife. Foi

assassinato a sangue-frio.

O xerife engatilhou de novo suas armas e

as apontou para o rosto furioso de Sally.

— Você sabe o quanto a amo, Sally. Vive

me obrigando a fazer loucuras. Um dia eu

faço a loucura maior, compreendeu? —

intimidou ele, olhando-a nos olhos.

— Vá embora daqui! — ordenou ela.

— Não pode me dar ordens, Sally. Como

disse o vaqueiro, você é uma garota de

saloon e...

— Sou, sim, mas não para o seu bico.

Quando você tiver dinheiro para pagar o

meu preço, apareça. Até lá, fique longe de

minha vida e dos meus clientes, ouviu? —

berrou ela, fora de si.

Pessoas começaram a chegar, atraídas

pelos tiros. O xerife desengatilhou as armas

e as devolveu aos coldres. Olhou Sally com

um rancor que mesclava amor e ódio,

depois virou as costas e saiu, passando

arrogantemente pelas pessoas à porta.

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Foi para a cadeia. Mandou Bill Cody, seu

auxiliar, ir buscar o cadáver de Joe Smithe e

levá-lo para a funerária. Abriu uma gaveta

da mesa e retirou um copo e uma garrafa de

uísque. Serviu uma dose generosa e bebeu-a

num só gole.

As palavras de Sally ainda feriam seus

ouvidos. Fora humilhado mais uma vez por

ela. Já não suportava mais aquela situação.

Concluiu que era hora de tomar uma

decisão drástica e mudar aquele estado de

coisa.

Tomou mais um gole e foi até a janela.

Ainda havia luz no escritório de Ted

Bacley, um dos maiores compradores de

gado da região.

Pensou por instantes, depois saiu,

atravessou a rua e foi até o escritório.

— Olá, xerife! O que posso fazer por

você? — indagou Ted, sempre

acompanhado por, no mínimo, dois de seus

pistoleiros guarda-costas.

O sucesso de Ted em seu negócio estava

baseado justamente no trabalho de seus

pistoleiros. Todos na cidade sabiam de seus

métodos nada ortodoxos e muitas vezes

drásticos, que lhe permitiam realizar sempre

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ótimos negócios, comprando gado da

melhor qualidade por preços vis.

Nada podia ser provado contra ele, no

entanto, pois as testemunhas e os rancheiros

lesados jamais haviam se apresentado para

fazer uma queixa que fosse.

Os poucos que tentaram fazer isso,

morreram a caminho da cidade. Com isso

ele continuava nos negócios, enriquecendo-

se rapidamente.

— Preciso lhe falar — disse o xerife, com

decisão.

— Esperem lá fora, rapazes — ordenou

Ted.

Enquanto eles saíam, o xerife se

acomodou numa das poltronas diante da

mesa de Ted. O comprador de gado serviu

seu melhor uísque para o homem da lei.

— Soube que se meteu num tiroteio há

pouco, xerife — comentou Ted.

— Sim, por causa de Sally novamente.

— Continua apaixonado por ela, não?

— Aquela mulher me enlouquece —

afirmou o xerife, servindo-se de mais

uísque.

— Ela continua lhe dando o fora, não?

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— Sim, só porque não posso pagar seu

preço. Só que decidi não ser mais

humilhado por ela!

Ted franziu a testa e reclinou-se em sua

em sua poltrona, esperando que o outro

continuasse.

— Quero ganhar dinheiro! — falou o

xerife.

— Resolveu aceitar minha oferta?

— Sim, desde que eu possa ganhar

mesmo muito dinheiro, o suficiente para

pagar o preço de Sally sempre que eu

quiser.

— Claro, Bonney! você vai ganhar muito

dinheiro, o suficiente para comprar os

carinhos de Sally e, sem sombra de dúvidas,

até mesmo aquele saloon inteiro.

Os olhos do xerife brilharam de cobiça e

paixão.

— Qual é a idéia?

— Tenho agido em pequena escala ainda,

pois as complicações podem ser muitas, se

eu não tiver proteção. O que você, como

xerife e responsável pela lei tem que fazer, é

o seguinte: dê-me cobertura em tudo que eu

fizer.

— Cobertura? Como assim?

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— Às vezes tenho que pressionar alguém

para comprar gado a um preço que seja

lucrativo para mim. Tenho sido até certo

ponto delicado nessa questão, mas posso

endurecer o jogo, usando métodos mais

eficazes, se você me ajudar.

— Quanto poderei ganhar nessa jogada?

— Muito, Bonney. Muito mesmo.

— E quanto é isso?

— Poder ter Sally todas as noites.

O xerife pensou, fazendo mentalmente

suas contas.

— Está certo, o que devo fazer?

— Vou lhe dar um exemplo. O Rancho

W tem uma manada de cinco mil cabeças

das melhores reses que já vi. Em Kansas

City conseguirei um preço excelente por

elas. Só preciso convencer All Wood a

vendê-las para mim por um preço razoável.

— Fez-lhe alguma oferta?

— Ele recusou.

— Qual é o plano, então?

— Tirar os vaqueiros dele do caminho.

— Os vaqueiros? Não entendi!

— Sem sua ajuda, All Wood não poderá

levar a manada até Kansas City.

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— Entendo. Se é assim, já comecei a

trabalhar, pois matei Joe Smith, do rancho

W.

— Bem lembrado, mas não precisamos

matá-los todos. Um pouco de sutileza

resolverá o problema.

— O que sugere, então?

— Eles receberam o pagamento hoje e

estão festejando, como tantos outros

vaqueiros. Normalmente ficam unidos, em

bandos.

— Como sempre, vão se embebedar e

acabarão presos — lembrou o homem da

lei.

— Sim, só que desta vez precisamos algo

mais do que apenas uma noite na cadeia.

Eles precisam ser presos por um tempo

maior, compreendeu?

— Sim. Acho que posso conseguir isso.

— Excelente! Sem sua equipe, Wood terá

que me vender o gado ao preço que eu

quiser. Lucraremos muito, xerife.

— Você sabe que só estou fazendo isso

por dinheiro, Ted. Por dinheiro e por causa

daquela maldita mulher. Diga-me quanto

ganharei no meu primeiro trabalho?

— Meio dólar por cabeça de gado que eu

comprar.

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Os olhos do xerife brilharam de cobiça.

— isso quer dizer dois mil e quinhentos

dólares só na manada do Wood?

— Isso mesmo. E para provar que nossa

sociedade será muito lucrativa, vou lhe

adiantar mil dólares.

O xerife estremeceu. Aquele dinheiro

significava quase um ano de trabalho

honesto. Mal pôde acreditar quando Ted

abriu o seu cofre e retirou dali alguns maços

de notas, pondo-o diante dele.

— Acha que poderá pagar o preço de

Sally com isto? — indagou Ted.

— Sim. Vou poder fazê-la engolir todo

aquele orgulho esta noite mesmo! — disse,

pegando o dinheiro e guardando-o.

— Primeiro lembre-se do trabalho que

tem a fazer.

— Não me esquecerei.

— Então um brinde a nossa sociedade —

propôs Ted, servindo os copos novamente.

Beberam e acertaram mais alguns

detalhes. Depois o xerife saiu para tomar

suas primeiras providências.

Sabia que os vaqueiros do rancho W

estariam no saloon, por causa da morte de

Joe. Convocou seus auxiliares, armaram-se

de espingardas e foram para lá.

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Como ele previra, um grupo de vaqueiros

lamentava a morte de Joe Smith, que era

muito amigo de todos da equipe.

Uns quinze vaqueiros do Rancho W

bebiam e choravam pelo parceiro morto,

não deixando também de manifestar sua

revolta pelo ato do xerife.

Assim, quando os homens da lei

entraram, armados daquela forma, todos

esperaram por encrencas, por muita

encrenca.

— Eu precisava mesmo falar com você,

xerife — disse Burt Hawkins, o capataz.

— Estou ouvindo — respondeu o homem

da lei, atento a qualquer movimento.

— Por que matou o Joe?

— Ele tentou me matar com uma faca e...

— Não foi o que Sally nos disse —

cortou-o Hawkins, indignado.

— Não gosto que duvidem de mim...

— Você o matou por puro despeito,

xerife.

— É melhor se calar, Hawkins, ou terei

de tomar uma providencia.

— Então o que está esperando, xerife. Só

que tome cuidado! Eu não estou tão bêbado

quanto o Joe. Não me deixarei matar

desarmado.

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Bonney percebeu que o capataz estava

facilitando seu trabalho, só que os vaqueiros

estavam em maior número e todos pareciam

dispostos a vingar o amigo.

— Está ameaçando um homem da lei,

Hawkins?

— Sim, e o estou acusando também.

Naquele momento, para alívio do xerife,

Ted Bacley entrou no saloon, acompanhado

de uma dúzia de pistoleiros armados até os

dentes.

— Precisa de ajuda, Bonney? — indagou

o chefão.

— Sim, parece que o pessoal do Rancho

W está à procura de encrenca.

— Nós lhe daremos toda cobertura de

que precisar.

Ao ouvirem aquilo, os vaqueiros do

Rancho W se intimidaram, pois conheciam

a reputação dos pistoleiros de Bacley.

Hawkins, no entanto, estava mesmo

disposto a vingar o amigo morto.

— Está certo, xerife! — disse,

desafiadoramente. — Só nós dois agora.

— Quando quiser, Hawkins.

— Esperem aí, não quero tiroteios em

meu saloon. Já morreu gente aqui suficiente

para um dia — protestou Sally.

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— Cale a boca, depois cuidarei de você

— ameaçou-a ele, olhando-a seriamente.

Sally se aproximou, com audácia no

olhar.

— Quem você pensa que é para...

Bonney não a deixou terminar a frase.

Aplicou-lhe uma sonora e violenta bofetada,

fazendo-a rodopiar e cair sobre uma das

mesas, com a face em fogo e sangue

escorrendo de seus lábios.

— Você só é bom mesmo contra

mulheres e bêbados, xerife — zombou

Hawkins.

— Acabou de assinar sua sentença de

morte, tagarela.

— Pare de falar e saque.

— Você não tem chance alguma. É um

homem morto, Hawkins — falou o xerife,

apertando os dois gatilhos de sua

espingarda.

O corpo do capataz foi jogado como um

fardo para trás, batendo no balcão, onde ele

tentou se agarrar. O sangue escorria de todo

lugar. Algumas garrafas tombaram e o

cheiro de bebida barata juntou-se ao de

sangue e pólvora, numa mistura enjoativa.

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Hawkins, agonizante, levantou os olhos

suplicantes e assustados para o homem da

lei.

Bonney sacou seu revólver e disparou

contra a testa dele, jogando sangue e miolos

no espelho atrás do balcão.

— Covarde! — gritou um dos vaqueiros,

tentando sacar sua arma.

— Mate-o, Bull — ordenou Ted a seu

pistoleiro mais próximo.

Uma arma surgiu na mão do pistoleiro

como passe de mágica, disparando

certeiramente.

O vaqueiro esbugalhou os olhos e foi

arremessado para trás, com o Colt na mão e

um buraco no coração.

— Todos quietos agora ou teremos um

massacre aqui — gritou o xerife. —

Obrigado, Ted! — disse ao comprador de

gado.

— O que fazemos com eles, xerife? —

indagou Bill Cody, o assistente-chefe.

— Desarme-os e tranque-os. Serão

julgados assim que o juiz passar por aqui.

— Julgados? De que está falando, xerife?

Temos um trabalho a fazer — protestou um

deles.

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— Serão julgados por conspiração,

desacato, tentativa de morte e mais uma

porção de outras coisas que pensarei depois.

— Não fizemos nada...

— Com sorte o juiz lhes dará trinta dias,

mas ele só deverá passar por aqui no final

do verão. Agora chega! leve-os, Bill! A

calma voltou, pessoal. Vamos beber com

tranqüilidade agora.

O saloon se acalmou gradativamente,

enquanto os vaqueiros eram retirados.

— Bom trabalho, xerife! Você entendeu

bem o espirito da coisa — elogiou Ted.

— Quando terei todo o meu dinheiro?

— Calma, não precisa se apressar. Basta

me dizer de quanto precisará e eu cuido

disso. Amanhã, quando eu convencer Wood

a me vender o gado, você terá o resto do

dinheiro. Só que haverá muitos trabalhos

como este. Sally numa mais o repudiará.

— Pode apostar que não — disse ele,

rumando imediatamente na direção de uma

das mesas, onde Sally bebia com um

freguês.

Quando ele parou ao lado da mesa, ela o

olhou com desprezo, esfregando a mão na

face ainda manchada pela bofetada dele.

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— Vamos, Sally! — ordenou ele,

rispidamente.

— Para onde?

— Para o seu lugar, lá em cima.

— Você sabe o meu preço!

— Não estou discutindo isso, sua

vagabunda. Venha e mantenha sua boca

fechada — ordenou ele mais uma vez,

puxando-a pelo braço.

— Espere aí, xerife. A dama está comigo

— protestou o homem que a acompanhava.

O xerife o conhecia. Era um jogador que

sempre estava por ali, trapaceando.

— Dama? Não vejo nenhuma dama por

aqui — respondeu-lhe o homem da lei, com

ironia.

— Então é cego, xerife!

O rosto de Bonney se alterou. Por mais

impiedoso que fosse, sempre haveria um

idiota para enfrentá-lo e fazer bonito na

frente de Sally.

— Se quer continuar vivendo e

trapaceando nas cartas, dê o fora, seu idiota!

— Por que não espera a sua vez, xerife.

Estou acertando o preço com a dama.

Aquecerei os lençóis para você — ironizou

o jogador.

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— Seu bastardo! — exclamou o xerife,

dando um murro no alto da cabeça do

jogador.

Agilmente o xerife chutou a perna da

cadeira, derrubando o outro no assoalho.

como uma cobra, o braço do jogador se

estendeu, fazendo um Derringer na palma

da mão.

O xerife estava preparado para aquilo.

Pisou no braço do outro, mantendo-o

imobilizado. Sacou uma das armas e

apontou-a para a mão que ainda segurava a

pequena arma.

— Isto é para você jamais trapacear nas

cartas nem sacar uma porcaria dessas contra

mim — vociferou, disparando contra a mão

do jogador, despedaçando-a.

O homem urrou de dor, rolando pelo

assoalho. Bonney segurou Sally pela mão e

a arrastou na direção da escada. Levou-a ao

primeiro quarto que encontrou desocupado.

Jogou-a sobre a cama.

— Você é um animal, Bonney! Um

assassino!

— Continue, gosto quando você me

elogia. Em breve todo esse orgulho estará

domado — afirmou ele.

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— Não pense que me terá com suas

ameaças. Não tenho medo de você.

— Isto a convence? — indagou ele,

retirando os maços de notas e atirando-os

sobre ela, na cama.

‘ Sally podia ser um tanto orgulhosa, mas

sua maior virtude era a ambição. Ali tinha

muito dinheiro. Muito dinheiro mesmo.

— Onde conseguiu isto?

— O que lhe interessa saber? Estou aqui

e pretendo pagar o seu preço.

Sally mudou inteiramente de estratégica,

passando a se desmanchar em carinhos.

Bonney se sentiu no paraíso, dominando

definitivamente a mulher que ele amava.

Enquanto isso, no saloon, jogador

lastimava o que havia acontecido com sua

mão, envolta agora em ataduras

improvisadas. Além disso, estava

inconformada com o que o xerife fizera com

a garota.

— Deixe isso, Sonny! — falhou-lhe o

barman. — Acho que você já teve sorte

demais para uma noite.

— Ao diabo com isso! Você viu como

ele humilhou Sally?

— E você pensa que ela se importa com

isso? Faz parte do trabalho dela.

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— Só que não vou engolir isto — disse,

mostrando a mão.

— O que pretende fazer?

— Vou pegá-lo de surpresa — disse o

jogador, verificando a carga de seu

Derringer.

Subiu a escada e ficou ao lado da entrada

do corredor. Os outros nada perceberam. Só

mais tarde, quando o xerife saiu com Sally,

foi que Sonny tentou seu jogada mais

desesperada.

— Vou matá-lo, xerife — disse,

apontando a pequena arma.

O xerife disparou apenas uma vez. A bala

atingiu a testa de Sonny, jogando-o lá de

cima, sobre as mesas do saloon. Um

silencio de morte pairou no ar.

— Bebidas por conta da casa! — gritou

Sally, abraçando-se ao xerife.

Todos se convenceram, desta vez

definitivamente, que Sally era agora

propriedade exclusiva do xerife.

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Charles Longman entrou no saloon Cow

acompanhado de sua linda filha.

A jovem e bela Laurie atraiu a atenção

dos presentes. Um silencio respeitoso

pairou no recinto.

— Ouçam-me, rapazes! Tenho uma

manada para levar para Kansas City e

pagarei o dobro para aqueles que me

ajudarem — ofereceu Longman.

Aquela oferta revelava todo o seu

desespero. Os vaqueiros ali presentes se

entreolharam. Charles vinha tendo

problemas em conseguir novos vaqueiros,

desde que metade de sua equipe fora morta

num tiroteio com os pistoleiros de Ted

Bacley.

— Não é muito saudável trabalhar para

você, Longman — disse um dos vaqueiros.

— De que tem medo? — desafiou-o

Laurie.

— Não tenho medo de nada, só não sou é

estúpido. O preço não compensa o risco.

— Eu pago o triplo então, se for esse o

caso — ofereceu Longman.

— Ainda é pouco. Minha vida vale muito

mais — respondeu o vaqueiro.

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— Por que jogar tanto dinheiro fora,

Longman? — indagou Ted Bacley,

entrando no saloon.

Vira quando Charles entrará lá e fora até

a porta, onde ouvira as ofertas desesperadas

do rancheiro.

Como sempre, vinha escoltado por dois

de seus melhores pistoleiros.

Longman se voltou e o encarou com

desprezo e ódio.

— Você sabe meus motivos, não,

Bacley?

— Teimosia sua. Se me vendesse o

gado...

— No seu preço, nunca!

— Seus prejuízos serão maiores.

— Arriscarei.

— Preferimos conduzir o rebanho

sozinhos do que vendê-lo a você, Ted

Bacley — disse Laurie.

O comprador de gado olhou a garota com

provocação, admirando-a.

— Por que desprezar um bom negócio?

— Por que sabemos que esse bom

negócio apenas será lucrativo para você.

— Mas acontece que...

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— Seus argumentos não nos interessam

— cortou-o ela. — Já basta o que seus

pistoleiros nos causaram.

— Está me acusando de alguma coisa —

devolveu ela, olhando-o da mesma forma.

— Se está tão certa de que eu os estou

prejudicando, por que não comunica a lei?

— Porque o xerife é um vendido e todos

sabem que você o está pagando — afirmou

ela, com desprezo.

— Alguém falou em mim? — indagou o

Xerife Bonney, surgindo no alto da escada.

Ao seu lado vinha Sally, linda como

nunca, enroscada nele como se ele fosse

propriedade dela.

— Parece que a garota aqui tem uma

acusação a fazer, xerife — falou Bacley,

com ironia.

— Tenho mesmo — falou ela, resoluta.

— Laurie, por favor! — pediu-lhe o pai,

assustado com o que poderia acontecer.

— Não, pai! Acho que é hora de alguém

dar um basta em tudo que está acontecendo

por aqui...

— E o que está acontecendo, Laurie? —

indagou ele, começando a descer a

escadaria.

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— Sabe muito bem do que estou falando,

xerife. Há muito Ted Bacley e seus

pistoleiros vêm pressionando os rancheiros

daqui e os obrigando a vender o gado a

preços irrisórios...

— É a lei da oferta e procura. Há muito

gado aqui e poucos compradores —

zombou Bacley.

— E até agora nenhum rancheiro

apresentou uma queixa contra isso —

lembrou Bonney.

— Porque são covardes ou foram

assustados demais para fazer alguma coisa

contra.

— É uma acusação muito pesada, garota.

— Pois eu a sustento, xerife, porque é

verdade. Não sei como pôde se sujeitar a

isso.

— Do que está falando? — intimou ele,

próximo dela.

Laurie manteve seus olhos fixos nos dele.

— Acho que sabe o que eu estou falando,

xerife. Basta olhar ao redor para perceber

— frisou a garota, olhando para Sally e

depois para o xerife.

— Explique-se melhor — ordenou ele,

lívido e tenso.

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— É um vendido, xerife. Esta é a

verdade! — afirmou ela, corajosamente.

O xerife estremeceu. Os músculos de seu

rosto se contraíram, traindo sua irritação.

— Olhe aqui, Laurie! Se tem alguma

coisa para provar o que disse, vá falando.

Caso contrário, esquecerei que você é

mulher e a farei calar a boca da maneira

mais rude possível. Depois a mando prender

por ofensa e desacato.

— Pois faça isso, xerife. Mostrará que

grande homem você é, capaz de bater e

prender mulheres, deixando que pistoleiros

assassinos circulem livremente pela cidade.

— Quer um bom conselho? Pois vá para

casa cuidar da cozinha, onde é seu lugar,

garota insolente!

-- Está bem, Laurie! Já basta — disse-lhe

Charlies, tentando controlá-la.

Conhecia a filha, sabia do que ela era

capaz.

— Não, pai — protestou ela. — Isso não

está certo. Você tem medo, assim como os

outros rancheiros. Não vê que esses

vaqueiros são uns covardes, fazendo o jogo

de Ted Bacley? Jamais encontraremos ajuda

aqui — desabafou ela.

— É inútil argumentar, filha.

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— Covardes! Vocês são todos uns

covardes — gritou ela, furiosa.

— Pois vou lhe mostrar quem é covarde

— disse um dos pistoleiros de Bacley,

erguendo a mão para esbofeteá-la.

Laurie trazia um pequeno chicote na mão.

Vibrou-o certeiramente, deixando um

vergão no rosto do pistoleiro, que rugiu de

dor e surpresa.

— Maldita cadela! — gruiu ele, levando

a mão na direção do revólver.

Antes de mais nada, olhou na direção de

Bacley, que fez um sinal para que ele nada

fizesse.

— Vamos lá, valentão! Saque sua arma.

Estou desarmada. Mostre sua coragem —

zombou Laurie.

— Retire o que disse, miserável!

— Confirmo tudo que disse. Vocês são

covardes mesmo.

— Cale-se ou...

— Ou você me meterá uma bala, não é?

que homem valente é você! Aposto como

está morrendo de medo de enfrentar uma

mulher desarmada.

— Vou lhe mostrar o que merece —

disse o pistoleiro.

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— Basta, Bull — ordenou Bacley e o

capanga ficou imóvel, tremendo de ódio.

— Eu não tenho o rabo preso com

ninguém e vou fazê-la engolir suas palavras,

moça — disse um vaqueiro, avançando para

Laurie.

— Pare! — ordenou o xerife, apontando-

lhe um a arma.

O vaqueiro estacou indignado, trêmulo de

cólera, olhando a garota nos olhos.

— Você não perde por esperar —

ameaçou ele, saindo apressadamente.

— Pronto, Laurie! Já arrumou encrencas

demais para um só dia. Por que não dá o

fora daqui enquanto pode? — intimou o

xerife.

— Vamos, querida, é inútil ficarmos aqui

— disse-lhe o pai.

Ela olhou mais uma vez os presentes.

Seus lindos olhos destilavam cólera.

Ela se deixou, então, levar pelo pai. Lá

fora, ela o olhou quase com piedade.

— Pai, vai se deixar roubar dessa

maneira?

— Não vejo outra alternativa.

— Lute! Está no seu direito.

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— Olhe para mim, filha. Seja realista.

Estou velho demais para usar uma arma.

Quer que me deixe matar inutilmente?

— Oh, não, pai! Perdoe-me! — soluçou

ela, abraçando-o emocionadamente,

percebendo que estava sendo dura demais

para com ele.

— Muito bem, mocinha! Temos uma

conversa para terminar — disse o vaqueiro

que Laurie havia ofendido no saloon.

— Deixe-nos em paz e dê o fora —

sugeriu ela.

— Perdeu o veneno da língua, agora que

não tem o xerife para protegê-la?

— Não preciso de um covarde para me

defender de um outro covarde.

— Vou fazê-la engolir essa língua ferina

— disse o vaqueiro, aproximando-se com

um chicote na mão.

— Se pensa que permitirei que faça isso

com minha filha... — ia dizendo Charles

Longman, mas suas palavras foram

interrompidas por um grito de dor.

O vaqueiro fizera estalar o chicote em

pleno rosto do rancheiro, abrindo-lhe um

talho, por onde o sangue começou a

escorrer.

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— Maldito bastardo! — rugiu a garota,

vendo o pai cobrir o rosto cortado com as

mãos, tentando estacar o sangue.

— Vai precisar disso, garota — disse

alguém, jogando um chicote aos pés de

Laurie.

Ela se abaixou e o apanhou,

desenrolando-o.

— Ora, ora, vamos ter um duelo

interessante — comentou Ted Bacley,

saindo do saloon em companhia do xerife e

de seus pistoleiros.

— Por favor, alguém ajude minha filha!

— pediu Charles Longman, em desespero.

— Espero que sua filha saiba manejar o

chicote longo tão bem quanto o curto,

Longman. Uma boa lição a fará mais

educada com a língua no futuro —

respondeu o xerife.

Laurie e o vaqueiro mediam distância,

atirando o chicote à frente e o recolhendo

em seguida. O vaqueiro estava bêbado e

muito confiante. Laurie era astuta quanto

faladora.

O vaqueiro se distraiu, respondendo a um

gracejo feito por um de seus amigos. A

garota vibrou o chicote, atingindo-o nas

costas.

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Antes que ele se refizesse, nova chicotada

o acertou no peito. Uma terceira atingiu-o

no ombro e, com rapidez, ele enrolou a

ponta no chicote no braço, puxando com

força.

Laurie se viu desequilibrada, caindo de

joelhos na poeira da rua. O chicote foi

arrancado de sua mão. Ela ficou a mercê da

raiva do vaqueiro.

— Vou lhe dar uma lição que jamais

esquecerá, sua potranca chucra. Vou domá-

la como se doma uma égua selvagem —

ameaçou ele, brandindo o chicote.

Neste momento, um cavaleiro avançou,

pondo seu cavalo entre os dois.

— Saia daí, forasteiro — ordenou o

vaqueiro, furioso e aborrecido.

— Está falando comigo?

— Sim, sua besta!

O forasteiro se fez de desentendido.

Olhou a garota caída de um lado e o

vaqueiro do outro, brandindo o chicote.,

— Você não pretende surrar a garota,

pretende?

— É o que vou fazer e, se você não sair

da frente logo, vai entrar na dança também.

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O cavaleiro olhou para o rosto assustado

de Laurie e depois para a expressão raivosa

do vaqueiro.

— Olhe, parceiro, não vai ser uma boa

idéia! — comentou desmontando sem

pressa.

— Eu lhe dei uma chance, estranho.

Agora vou fazê-lo se arrepender de sua

ignorância — rugiu o vaqueiro, cujo nome

era Jab Wellington.

O forasteiro bem se abalou. Continuou

olhando Jab com um riso irônico e

desafiador nos lábios.

O vaqueiro começou a fazer algumas

firulas com o chicote, estalando-o. O

forasteiro, inesperadamente, adiantou-se

com rapidez e segurou o braço do vaqueiro,

tomando-lhe o chicote.

— Seu intrometido! Vai ver com quem

está se metendo — vociferou Jab,

desferindo um murro na direção do rosto do

seu agressor.

Este apenas se afastou para o lado e o

vaqueiro, desequilibrou-se, quase foi ao

chão.

— Ei, Jab! Não consegue se manter em

pé? — zombou alguém.

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— Dá uma lição nele, Jab! — gritou

outro.

— Sim, quebra ele — emendou um

terceiro.

Jab parou por instantes para medir seu

oponente, um homem alto, de ombros

fortes, pele curtida e olhar frio.

O vaqueiro, porém, tinha bons músculos

e sabia brigar. Avançou decididamente,

tentando golpear o desconhecido.

Desta vez, o desconhecido além de se

esquivar de novo com extrema facilidade,

golpeou secamente a testa de Jab com um

potente murro.

O vaqueiro cambaleou para trás, indo se

apoiar na trave de amarrar cavalos. O

desconhecido avançou alguns passos e

golpeou o estômago dele com força,

fazendo-o tossir e se ajoelhar na poeira.

O forasteiro ia dar o golpe de

misericórdia, um chute na cabeça do

vaqueiro, mas parou, ao ver os olhos

esgazeados do outro, que tossia e vomitava,

após aquela pancada tão forte na barriga.

O forasteiro foi ajudar Laurie a se

levantar. Naquele momento, um murmúrio

percorreu a multidão, alertando-o. Ele se

voltou.

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— Vai me pagar, estranho. Minha

paciência já se esgotou — ameaçou Jab, a

mão baixando na direção de coronha do

Colt.

— Não faça isso, seu idiota! — alertou o

forasteiro.

— Ninguém me diz o que fazer nem me

humilhar sem levar o troco.

— Estou lhe dando o conselho que

salvará sua vida, vaqueiro. Aproveite-o.

— Não aceito o seu conselho. Saque sua

arma, maldito!

-- Está bem, mas não diga lá no inferno

ao demônio que eu não o avisei antes. Você

é um homem morto — afirmou o

desconhecido, com convicção e frieza.

Jab sentiu seu corpo estremecer, diante da

segurança com que o forasteiro havia

pronunciado aquelas palavras.

— Quem pensa que é? — indagou, com a

confiança abalada.

— Sou seu carrasco. Fuja de mim e ficará

vivo — disse o estranho, virando as costas

para apanhar as rédeas de seu cavalo.

Jab olhou ao redor. Todos esperavam que

ele sacasse. Se não o fizesse, passaria por

covarde. Além disso, o outro estava de

costas, facilitando tudo.

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— Saque! — gritou, levando a mão na

direção de sua arma.

Os que assistiam interessados àquela cena

mal puderam acreditar no que viram. O

forasteiro deu um passo para o lado, girando

o corpo. Tudo em fração de segundo.

Quando ficou de frente para Jab, que

ainda sacava sua arma, o forasteiro já

disparava seu Colt.

O corpo de Jab estremeceu, sendo jogado

de volta sobre a trave, onde ficou

grotescamente dependurado.

Laurie se aproximou, olhando-o com

admiração.

— Obrigado, forasteiro. Salvou minha

vida.

— Meu nome é Billy Roger, senhorita —

disse ele, tocando a aba do chapéu com o

polegar.

— Meu nome é Laurie Longman. Procura

trabalho, Billy?

— Talvez.

— Há um lugar em nosso rancho, se

estiver disposto — disse o pai da garota,

aproximando-se. — Sou Charles Longman.

— Obrigado pela oferta, Longman. Estou

acabando de chegar. Quero tirar a poeira do

couro e da garganta, comer um bom bife e

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depois descansar. Depois verei o que quero

fazer.

— Quando se decidir, procure-nos no

Rancho Longman — falou Laurie, olhando-

o com visível interesse.

— Pode estar certa que o farei — sorriu

ele, apanhando as rédeas de seu cavalo e

indo amarrá-la na trave onde pendia o corpo

imóvel de Jab.

O xerife examinava o cadáver, admirando

com a precisão do tiro que o atingira.

Billy nem ligou para ele. Entrou no

saloon. Ao redor, todos comentavam e

olhavam com espanto aquela figura alta,

coberta de poeira.

Chegou ao balcão e pediu uma cerveja

gelada. O xerife havia entrado atrás dele e

tocou-o no ombro.

— Como é seu nome, estranho?

— Billy Roger, xerife.

— O que fez em Tulsa?

— Procuro trabalho.

— Que tipo de trabalho?

— Qualquer um.

O xerife mediu-o dos pés à cabeça. Billy

vestia uma capa longa, de viajante. Não

parecia um vaqueiro, com aquelas botas de

couro fino.

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— Não gosto de encrenqueiros em minha

cidade — disse o homem da lei.

— Nisso nós dois estamos de acordo,

xerife. Eu também detesto encrenqueiros.

Não importa de que tipo ele seja.

— Vá com calma — recomendou. —

Estarei de olho em você, Billy Roger —

disse, afastando-se na direção da saída.

À porta do saloon ele se encontrou com

Ted Bacley.

— E então, quem é ele? — indagou

Bacley, interessado.

Vira como o estranho agora. Parecia ser

um homem da confiança, decidido e

valente. O tipo de gente que ele gostava de

ter sob suas ordens.

— Com certeza é um pistoleiro à procura

de trabalho.

— Deve ser mesmo.

— Vou a maneira como ele sacou a

arma? Há muito tempo não vejo alguém tão

hábil assim.

— Ele pode ser útil em nosso esquema,

xerife.

— Por que não fez faz uma proposta?

— Sim, acho que farei isso, xerife —

decidiu-se Bacley, indo se juntar ao

forasteiro, no balcão.

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Seus dois pistoleiros se postaram atrás

dele, de olho no recém-chegado.

— Vi como usou sua arma, estranho.

— O nome é Billy Roger — explicou ele,

sem olhar para o outro.

Havia bebido metade do copo de cerveja

e estava mais preocupado agora em

terminar a outra metade.

— Não deve falar assim com o Sr. Bacley

— advertiu um dos capangas, pondo a mão

no ombro de Billy.

Este voltou a cabeça e olhou para o

pistoleiro. Seu olhar era frio e ameaçador.

— Se não tirar essa mão daí, vai perdê-la

— avisou.

O pistoleiro, intimidado, retirou a mão

rapidamente. Billy terminou a cerveja

tranqüilamente.

— Procura trabalho?

— Talvez.

— Que tipo?

— O que tem a oferecer? Todos os

trabalhos são iguais. O que realmente

importa é quanto se pode ganhar com ele —

ponderou o recém-chegado.

— Essa é minha filosofia também. Acho

que poderemos nos dar muito bem, Billy.

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Você pode começar ignorando a proposta

que recebeu dos Longman.

Billy voltou a cabeça e encarou Ted

Bacley.

— Ninguém me diz o que fazer — falou,

com coragem e frieza, olhando o outro nos

olhos. — Por isso detesto ter patrão.

— Cuidado como fala — advertiu de

novo o pistoleiro.

— Por que tem que se meter na conversa

dos outros, seu bocudo? — rugiu Billy,

perdendo a paciência e vibrando uma

violenta bofetada no rosto do pistoleiro, que

se chamava Amos Gantry.

— Sossegue, Amos! — ordenou Bacley,

quando o pistoleiro tentou sacar a arma.

Amos olhou com ódio para Billy. Depois,

pouco a pouco foi relaxando os músculos

retesados.

— Tudo bem, Billy. Eu entendo o que

quer dizer, mas podemos conversar, não? —

indagou Bacley.

— Sem a presença dos abutres aí —

exigiu ele, olhando para os dois pistoleiros.

Bacley riu. Estava dando um desconto

porque o novato na cidade não sabia ainda

como as coisas funcionavam em Tulsa.

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— Quero que entenda uma coisa, Billy!

Eu dou as ordens nesta cidade, quer você

queira ou não. Foi assim e sempre será —

falou Bacley, num tom levemente

ameaçador.

— Você pode dar ordens a seus lacaios,

menos a mim — respondeu Billy, com

tranqüilidade, encarando o outro.

— É muito arrogante, Billy. Talvez o

clima aqui não lhe faça bem — alertou o

comprado de gado.

Billy sorriu. Virou-lhe as costas e foi para

a outra ponta do balcão, dando a entender

que aquela conversa o aborrecia. Apesar de

tudo, Bacley admirou-lhe a coragem.

Um homem que agia daquela merecia

respeito.

— Quer que a gente dê uma lição nele,

chefe? — indagou Amos, olhando Billy

com ódio.

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— Acalme-se, Amos. Gosto do estilo

dele. É um homem que pode me ser útil,

desde que perca toda aquela arrogância.

— A gente amansa ele sem muita

violência.

Ted pensou por instantes, concluindo que

não custava tentar. Se Billy não cedesse,

pior para ele.

— Está bem, Amos, ele é todo seu.

Amos fez um sinal de cabeça para Bill,

seu parceiro, e ambos caminharam até onde

estava Billy, ficando um de cada lado dele.

Billy continuou imperturbável,

saboreando uma dose de uísque que o

barman lhe servira.

— Que uísque está tomando? — quis

saber Amos.

— O melhor — respondeu Billy, sem

levantar a cabeça.

— Enganaram você. Não devia beber

essa porcaria — falou o pistoleiro,

apanhando o copo e jogando seu conteúdo

nos pés de Billy.

Depois se voltou para o barman e

ordenou:

— Abner, quero que dê uma dose do

uísque especial para nosso amigo aqui.

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À distancia, Ted Bacley acompanhava

tudo com ar divertido no rosto.

O barman, ao receber a ordem, olhou

para Amos, que piscou um dos olhos. O

barman riu, então, apanhando uma garrafa

na prateleira.

— Este é o nosso uísque especial —

disse, servindo uma dose.

— Garanto que ficará melhor com uma

pitada disso — falou Amos, apanhando um

vidro de molho de pimenta e despejando um

pouco no copo.

Depois apanhou um cigarro, acendeu-o,

deu algumas tragadas e depois o apagou no

copo.

— Agora beba! — ordenou Amos,

secamente.

Billy sorriu. Os presentes haviam

percebido o que estava acontecendo e

acompanhavam atentamente o desenrolar

dos acontecimentos.

— Você ouviu o que ele disse. Beba! —

insistiu Bull, apoiando o amigo.

— Acho que estão fazendo um pequena

confusão — falou Billy, endireitando o

corpo.

— Explique-se! — ordenou Amos.

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— De onde venho não se bebe esse tipo

de coisa. Dá-se aos porcos. Por isso está aí,

para vocês, amigos, amigos suínos — falou,

com, frieza, encarando Amos.

O pistoleiro estremeceu de cólera,

enquanto empalidecia diante de tanta

arrogância e pouco caso.

— Beba! Já disse! — insistiu Amos.

— Vê se me esquece — falou Billy,

pondo a mão aberta na cara do pistoleiro e

empurrando-o com força para trás.

Amos foi se estatelar sobre uma das

mesas, enquanto Bull apanhava uma garrafa

sobre o balcão e tentava golpear Billy.

Um murro bem aplicado o fez imobilizar-

se e recuar alguns passos em seguida,

balançando a cabeça, atordoado.

— Vai se arrepender disso — rugiu

Amos, avançando como um touro bravo.

Billy esquivou-se habilmente, afastando-

se para o lado e aproveitando o impulso de

Amos para empurrá-lo de cabeça contra o

balcão.

— Cuidado! — gritou uma voz feminina.

Billy se abaixou instintivamente, após

ver, pelo espelho, Bull sacando a arma.

A bala assobiou sobre sua cabeça e foi

arrebentar o espelho do saloon. Billy sacou

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sua arma com incrível rapidez, disparando

duas vezes.

Bull cambaleou, depois tombou para trás

no assoalho, com o peito coberto de sangue.

— Obrigado, senhorita! -- disse Billy,

aproximando-se da garota que havia salvado

sua vida.

— Meu nome é Billy Roger. E o seu?

— Sally Brown.

— Não vá embora! Tenho um assunto

para terminar — falou o rapaz, percebendo

que Amos se levantava.

Foi até ele e o desarmou. Depois o

segurou pelo pescoço e o imobilizou diante

do copo sobre o balcão.

— Agora beba seu drinque especial,

bastardo — ordenou.

— Eu não... — ia dizer Amos, mas Billy

o fez se calar com uma joelhada nos rins.

— Beba ou eu o farei engolir com o copo

e tudo!

A mão tremula de Amos estendeu para o

copo. Quando ia segurá-lo, uma bala o

arrebentou.

Billy empurrou Amos para o lado,

enquanto girava o corpo e sacava sua arma.

Ao ver a estrela do xerife, seu dedo se

deteve no gatilho.

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— Cuidado, rapaz! Poderia ter morrido

— falou Billy ao auxiliar do xerife que

empunhava um Colt.

— O que está havendo aqui? — indagou

o representante da lei.

— Apenas uma ligeira discussão —

informou Sally, adiantando-se. — Amos e

Bull provocaram o forasteiro. Frank tentou

matá-lo pelas costas, mas o forasteiro foi

mais rápido.

— O xerife não vai gostar nada disso —

comentou Cody.

— Eu me entendo com o xerife, Cody.

Está tudo resolvido — disse ela,

despedindo-o.

Cody pediu ajuda a alguns vaqueiros para

levarem o corpo de Bull para a funerária.

Amos se aproximou de Billy, trêmulo de

ódio e encarando-o com provocação.

— Assinou sua sentença de morte,

estranho. De agora em diante, olhe bem em

todas as direções antes de dar um passo.

— Sei me cuidar e o aviso serve para

você também — devolveu-lhe Billy, sem se

intimidar.

— Ele tem razão, Billy Roger. Se eu

fosse você, daria o fora da cidade. O ar aqui

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não lhe será saudável — falou Ted Bacley,

encarando Billy.

— Eu decidirei isso. Não sou covarde a

ponto de me assustar com latidos de cães

viralatas.

Ted ficou lívido. Seu desejo era meter

logo uma bala na testa daquele forasteiro,

mas não sabia até onde iam suas chances.

Vira Billy em ação. Era rápido mesmo.

— Não perde por esperar — disse

Bacley, saindo.

Amos o seguiu, jurando vingança. Billy

se voltou para a garota ao seu lado,

examinando-a melhor. Era uma mulher

muito bonita e provocante.

— Obrigado mais uma vez — disse ele,

devorando-a com os olhos.

Sally sentiu o desejo naquele olhar e isso

a envaideceu muito.

— É um homem valente, Billy, mas

acaba de comprometer sua estada em Tulsa.

Venha tomar um uísque por minha conta,

depois dê o fora da cidade.

— Não seria mais cavalheiresco eu lhe

pagar uma bebida?

— Não se preocupe, eu sou a dona, se

ainda não percebeu.

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Billy inclinou respeitosamente a cabeça,

tocando a aba do chapéu com o Polegar.

Sally sorriu. Não podia esconder sua

admiração por aquele homem forte e

valente.

Beberam e conversaram durante algum

tempo. O pianista se dispôs a tocar alguma

coisa.

— Ei, vamos dançar! — convidou Billy.

Sally olhou para as outras pessoas no

saloon. Billy era muito valente, mas estava

arrumando inimigos com uma rapidez

impressionante. Não podia empurrá-lo na

direção do mais perigoso deles, o Xerife

Bonney.

— Há muita coisa nesta cidade que você

ainda não sabe, Billy — lamentou ela.

— Não pode aceitar meu convite? Por

quê?

— Pode ser fatal para você.

— Isso me parece um defeito desta

cidade, Sally —a firmou ele, tomando-a nos

braços e levando-a para um canto, onde não

havia mesas.

Começaram a dançar. Os presentes

ficaram abobalhados com a audácia daquele

homem. Até o pianista, surpreso,

interrompera a música.

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— Por que parou, pianista? — indagou-

lhe Billy.

O homem olhou para Sally, sem saber o

que fazer.

— Dançarei com você se me prometer

que dará o fora logo em seguida — pediu

ela.

— Agora que a conheci, tenho um

motivo a mais para ficar.

— Não quero que você morra.

— Não morrerei.

Sally hesitou por instantes, fascinada por

aquele olhar. Fez um sinal para o pianista,

que voltou a tocar. Um dos homens que

estava junto à porta saiu correndo e foi

avisar o xerife.

— Agora chega! — disse Sally, livrando-

se dos braços de Billy, com muito esforço,

após dançarem por algum tempo.

— Como quiser, Sally — falou ele,

retendo uma das mãos dela para beijá-la

numa reverência.

Naquele momento, tudo silenciou no

saloon. Apenas os passos do xerife no

assoalho soaram, como um prenúncio de

morte.

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Ele estacou, incrédulo com o que via.

Suas mãos penderam na direção das armas.

Seu rosto estava tenso e furioso.

— A gente se vê — disse Billy a Sally,

que recuava na direção da escada.

Quando se voltou, encontrou o olhar duro

do xerife. Ignorou-o e caminhou na direção

da porta.

O xerife o deixou passar, depois suas

mãos se firmaram nas coronhas de seus

Colts.

— Não foi nada, querido — disse Sally,

abraçando-o e impedindo-o de sacar.

— Eu disse que mataria quem a tocasse.

— Ele não sabia. Eu o alertei.

— Por que aceitou dançar com ele? —

indagou, possesso.

— Só assim ele iria embora...

O xerife a olhou com frieza e crueldade.

— Venha, vamos ter uma conversa.

Aprenderá a não me desobedecer mais,

Sally — disse ele, segurando-a pelo braço e

a obrigando a subir as escadas na direção do

quarto dela.

Lá fora, Billy levava seu cavalo até um

estábulo, onde o deixou aos cuidados de um

rapaz.

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Apanhou seu alforje e foi procurar um

hotel. Queria um banho, fazer a barba e pôr

roupas limpas. Quando assinava seu nome

no livro de registros, uma voz o intimou:

— Fique com as mãos sobre o livro.

Billy reconheceu imediatamente aquela

voz. Tratava-se de Cody, o auxiliar do

xerife.

— O que há desta vez, rapaz?

— O xerife quer vê-lo.

— Diga-lhe que vou tomar um banho e...

Calou-se, quando Billy apontou-lhe a

espingarda, engatilhando-a.

— Não se trata de um convite.

— De que se trata, então?

— De uma intimação.

— Quer dizer que estou preso?

— Não. O xerife quer apenas que você

saiba de alguns detalhes sobre esta cidade,

caso pretenda ficar por algum tempo.

— Quem disse que ficarei aqui?

— Se vai partir, melhor ainda. Amanhã

de manhã, quando o sol nascer, esteja longe

daqui. É para o seu bem.

— Obrigado pela preocupação —

agradeceu Billy, com ironia.

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Billy deu de ombros e virou-lhe as costas.

Pagou o hoteleiro e apanhou a chave. Foi

para o quarto que lhe fora destinado.

Cody voltou à cadeia, onde narrou ao

xerife sua conversa com Billy, deixando-o

satisfeito por saber que o forasteiro iria

embora no dia seguinte, embora sentisse

uma vontade enorme de mandar surrá-lo por

dançar com Sally.

— Está bem, Cody, mas fique de olho

nele. Se ela estiver na cidade amanhã cedo,

traga-o para mim. E avise-me se ele se

aproximar do saloon novamente.

No hotel, Billy tomou um banho,

barbeou-se, depois se deitou para descansar

um pouco. Havia sido uma longa e estafante

viagem, por isso adormeceu pesadamente.

Já era noite, quando acordou. Vestiu-se,

passou pelo restaurante e comeu um bife

suculento. Saiu para a rua. Toda a animação

parecia estar concentrada no saloon Little

Cow. Foi para lá.

Assim que o viu, Cody correu avisar o

xerife.

— Que tal uma partida de pôquer? —

indagou um dos homens sentados na mesa.

— Não sou muito bom nesse jogo —

respondeu Billy.

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— Sente-se aí, vamos apenas nos divertir

um pouco — falou outro, empurrando uma

cadeira com o pé.

Billy se sentou, preparando-se para jogar.

Enquanto isso, na cadeia, o xerife

examinava suas armas, antes de ir para lá.

Na porta cruzou com Ted Bacley.

— Onde vai com tanta pressa?

— Aquele bastardo voltou ao saloon.

— O que pretende fazer a respeito?

— Mantê-lo longe de Sally.

— Espere um pouco, não precisa se

comprometer. Deixe que mando meus

rapazes cuidarem disso.

— Quero para mim o prazer de matá-lo

— exigiu o xerife, demonstrando o quanto

Sally significava para ele.

Seu ciúme era doentio e beirava a

loucura.

— Vamos com calma, Bonney —

acalmou-o Ted. — Temos um negócio

muito rendoso aqui. Estamos ganhando

muito dinheiro com ele. Por isso não posso

permitir que seu ciúme estrague tudo. Meus

rapazes cuidarão dele, está bem?

— Quero assistir a isso — decidiu-se o

xerife.

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Foram para o saloon. À porta observaram

e viram Billy jogando cartas.

— Estamos com sorte — disse Ted. Ele

está jogando cartas com meus pistoleiros.

— Dê instrução a eles para que matem o

bastardo.

— Espere, xerife! Eu tenho motivos para

desejar dar uma lição nele, pela humilhação

de hoje à tarde. Mesmo assim, tenho de

reconhecer que é o tipo certo de homem

para nos ajudar em nossos negócios.

— Está maluco que acha que pode

contratá-lo.

— E por que não? Pretendo apenas

amansá-lo um pouco.

— Como fará isso?

— Pensei em algo. Ordenarei aos meus

homens que o deixem liso. Sem dinheiro,

ele será obrigado a trabalhar para mim. O

que acha?

— Está bem, mas faça-o entender logo no

inicio que Sally é minha ou ele não viverá

muito para lhe prestar serviços, Ted.

— Deixe comigo. Eu cuidarei de tudo.

Ted mandou chamar um dos homens que

estavam à mesa. Deu-he instruções para

que, junto com os outros, trapaceassem,

tomando todo o dinheiro de Billy.

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Foram para o balcão e esperaram para ver

o resultado. Billy continuou jogando, mas

não era nenhum inexperiente.

— Não faça isso de novo — disse ele,

sem alterar a voz, ao homem que dava as

cartas.

— O que está insinuando? — indagou

Peter Alson, o pistoleiro.

— Vamos anular esta rodada. Dê cartas

novamente — ordenou Billy, jogando suas

cartas sobre a mesa.

Os três pistoleiros com quem jogava se

entreolharam, surpresos.

— Espere aí! Ninguém vai me acusar de

trapaça impunemente — falou Peter.

— Eu não o acusei de nada. Você se

denunciou.

Sally estava na escada e observava o que

acontecia. Percebeu que os homens, todos

pistoleiros de Bacley, preparavam uma

armadilha para Billy.

Caminhou até a mesa, sem perceber que

o xerife assistia a tudo. Ao vê-la, Billy

sorriu.

— Está mais linda do que hoje à tarde —

elogiou ele.

— Por favor, vá embora deste saloon.

Não sabe em que encrenca está se metendo.

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Já causou problemas demais por um dia —

pediu a garota.

— Por que todos me desejam fora daqui?

— indagou ele, examinando-a melhor.

Viu, então, as marcas no rosto,

disfarçadas com maquiagem. Levantou-se e

afastou os cabelos que caíam diante do rosto

dela.

— Quem fez isso? — indagou ele, os

olhos brilhando do mais puro ódio.

— Por favor! você não entende mesmo,

não? Vá embora, será melhor para todos

nós.

— Quem foi o bastardo covarde que fez

isso, Sally? — indagou ele de novo.

— Você ouviu bem o que a moça disse

— falou Peter, levantando-se da mesa,

juntamente com seus amigos.

Billy encarou os três pistoleiros, que

haviam recebido os sinais de Ted Bacley

para que matassem o rapaz, já que seria

impossível conter o xerife.

— Desculpe-me, Sally, mas parece que

alguém sempre aparece, quando estou

conversando com você — disse ele,

voltando-se ameaçadoramente para o trio

que o encarava.

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O clima, no saloon, tornou-se novamente

muito tenso.

— Você disse alguma coisa, amigo? —

indagou Billy, encarando Peter.

— Não sou seu amigo — falou Peter,

com arrogância.

— Se não é meu amigo, então é meu

inimigo —a firmou Billy. — E vou lhe

dizer algo mais. Para mim chega. Esta

cidade fede e é por causa de gente como

você.

— vai engolir suas palavras agora mesmo

— prometeu Peter.

Billy empurrou Sally delicadamente para

o lado, tirando-a da linha de tiro. Depois

ficou na defensiva, aguardando um

movimento da parte dos três.

Seu olhar frio e aguçado percorreu um a

um os rosto de seus oponentes. A morte

estava estampada em cada um deles.

— Agora! — gritou Peter, levando a mão

à coronha do revólver.

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Um tiro arrebentou sua cabeça como se

fosse uma abóbora podre espatifando-se. O

homem a sua direita curvou-se, enquanto

recuava, com as mãos pressionando o

estômago. O terceiro pistoleiro rodopiou,

abrindo os braços num balé macabro, até

chocar-se com uma das mesas e cair sobre

ela, rolando para o assoalho, numa poça de

sangue.

— É mais rápido que o próprio xerife —

comentou alguém, enquanto a fumaça se

dissipava.

— Não vai demorar para sabermos isso

— ajuntou outro.

— Esse forasteiro vai se dar mal se

continuar cortejando Sally dessa forma...

Billy, de costas para o balcão, não

percebia Ted tentando controlar o xerife a

todo custo.

— Fuja, Billy! Por favor! — pediu Sally.

Ele acariciou suavemente o rosto dela.

— É algo que a põe em risco?

— Sim, por favor! Outra hora eu lhe

explico isso.

— Certo, isso me dá a chance de vê-la de

novo — disse ele, tocando o chapéu com o

polegar e saindo.

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Ted havia conseguido levar o xerife para

a sala dos fundos, lutando para impedir que

ele cometesse alguma besteira, já que

desejava a morte de Billy a todo custo.

— Vou deixá-lo fazer isso, Bonney, mas

não na frente de todo mundo.

— Todos vão zombar de mim, depois do

que aconteceu.

— Ninguém será louco o bastante para rir

de você, xerife. Não se preocupe quanto a

isso. Se quer vingança, mande seus

auxiliares atrás dele. Levem-no para a

cadeia, onde você poderá dar-lhe a lição

merecida.

— Está bem, Ted. No fundo você está

com a razão, só que perco a cabeça

quando...

— Eu sei, não precisa me explicar.

Vamos sair daqui agora, com calma,

entendeu?

Ted e o xerife atravessaram o saloon e

foram para a rua, onde se encontraram com

Billy Cody.

— Você viu para onde foi o forasteiro?

— indagou-lhe o xerife.

— Sim, eu estava de olho nele. Ele foi

para o hotel.

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— Ótimo! — murmurou o xerife, cheio

de satisfação. — Leve Boots consigo e

conduza aquele bastardo até a cadeia. Tenho

algo a acertar com ele.

— E se ele se recusar?

— Não sejam educados com ele. Quero-o

na cadeia, vivo e lúcido para entender tudo

que vou fazer com ele.

Billy estava em seu quarto, quando

bateram na porta.

— Entre! — ordenou ele.

Cody e Boots entraram, apontando suas

espingardas para ele.

— Levante-se, você está preso! —

informou Cody.

— Qual é a acusação? — quis saber

Billy, sem se mexer.

— Isso importa?

— Bem, acho que não — concordou

Billy, levantando-se.

Ergueu os braços, aproximando-se dos

dois. Boots inclinou-se para desarmá-lo,

enquanto Cody pressionava o cano da

espingarda contra seu peito.

— Durma bem, rapazes — falou ele,

golpeando o queixo de Cody com um

certeiro murro e atingindo o rosto de Boots

com uma joelhada.

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Os dois auxiliares do xerife foram a

nocaute. Ele saiu rapidamente, trancando a

porta pelo lado de fora.

Foi até o estábulo, onde apanhou seu

cavalo. Antes de partir, indagou ao rapaz

que trabalhava ali!

— Onde fica o Rancho Longman?

— Siga a estrada, saindo da cidade. Em

meia hora chegará a uma encruzilhada.

Tome o caminho da direita e logo verá a

casa e tudo o mais.

Billy agradeceu-o e o gratificou.

Cavalgou na direção indicada por ele. Após

pouco mais de meia hora de cavalgada,

avistou o Rancho Longman.

Havia luzes acesas na casa principal.

— Fico contente que tenha se decidido a

aceitar o emprego — falou charles

Longman, satisfeito.

— Concluí que precisava, de ajuda.

— Sim, e você é o tipo de ajuda que

precisamos.

— Pensei que precisasse apenas de

vaqueiros, Sr. Longman.

— Precisamos de homens de coragem, e

que saibam usar uma arma — interrompeu-

os Laurie, surgindo na sala.

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— Então farei o que for preciso para

ajudá-los. Gostaria que me dessem todos os

detalhes do que está acontecendo aqui.

— Tenho café quente e bolinhos lá dentro

— ofereceu Laurie.

— Foi a proposta mais generosa que já

me fizeram hoje — sorriu ele, aceitando.

Pouco depois, conversavam, enquanto

tomavam café com bolinhos, Laurie o pôs a

par de tudo que estava acontecendo.

— Então Ted Bacley tem comprado

todos os rebanhos por aqui? — indagou ele,

ao final da narrativa.

— Sim. Seus métodos para convencer os

rancheiros e seus concorrentes também

foram eficazes.

— E o que o xerife tem feito a respeito?

— Nada. Ted Bacley conseguiu

amedrontar todo mundo. Ninguém até agora

apresentou uma queixa contra ele.

— E mesmo que o fizessem, estou certo

que o Xerife Bonney não tomaria nenhuma

providencia — completou Charles

Longman.

— Sim, ninguém duvida hoje que o

xerife e Bacley trabalhem em conjunto, com

o xerife lhe dando toda a cobertura.

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— É isso mesmo — continuou Charles.

— O xerife passa a maior parte do tempo

com aquela garota, no saloon.

— Refere-se a Sally?

— Sim, você a conheceu?

— Claro. E só agora começo a entender

certas coisas.

— Como assim? — quis saber a garota.

— Não vem ao caso — descartou ele.

Não queria discutir aquelas marcas no

rosto de Sally nem o medo que ela

transparecia no olhar.

— Há um capataz no rancho? — indagou

Billy.

— Não, desde que o último foi morto

pelos pistoleiros de Bacley.

— E a equipe de vaqueiros?

— Desfalcada. Além disso, não creio que

poderei segurar os rapazes por mais tempo.

Eles estão assustados e sem confiança.

— Tudo bem, Sr. Longman. Verei o que

posso fazer por eles.

— Aceita o emprego, então?

— Sim, como seu capataz.

— Fico contente com isso — afirmou

Laurie, sorridente. — Sabe os perigos que

correrá, não?

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— Pediu alguém decidido e corajoso, não

foi? Eu preencho os requisitos.

— Pretende falar com os vaqueiros?

— Sim, mas amanhã, pela manhã.

— Eu o levo até o alojamento para

indicar suas acomodações — prontificou-se

Longman.

— Está bem, Sr. Longman.

— Pode me chamar de Charles.

Billy despediu-se de Laurie, que ficou à

porta observando-o se afastar na companhia

de Longman.

Os vaqueiros já dormiam. Billy escolheu

uma das camas.

— A propósito, Charles: quantas reses

possui?

— Três mil e quinhentos, mais ou menos.

— Pois esteja certa de que elas serão

todas vendidas no mercado em Kansas City.

— Deus o ouça, meu filho! — murmurou

o velho, retirando-se.

Naquela noite, ainda, um outro forasteiro

chegou à cidade de Tulsa.

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Prendeu seu cavalo diante do saloon e

entrou. Amos Gantry bebia e desabafava a

humilhação que passara nas mãos de Billy.

— O que vai tomar, forasteiro? —

indagou o barman.

— Uísque.

O barman serviu o copo e ia se afastar

com a garrafa. O forasteiro segurou-o pelo

braço, fazendo um sinal para que ele

deixasse a garrafa sobre o balcão.

— Vai lhe custar um dólar.

— Aqui está — disse o estranho,

depositando duas moedas sobre o balcão.

Amos precisava, de alguma maneira,

desabafar e vingar o que havia sofrido

naquele dia. Quando viu a garrafa sobre o

balcão, apanhou-a e serviu seu próprio

copo.

— Não faça isso de novo — ordenou o

estranho.

— Cale sua boca ou eu a encho de

chumbo — rosnou Amos.

— Você está bêbado como um gambá,

parceiro. Por que não leva seu fedor para

longe daqui?

— Não me amole! Não estou mais

recebendo ordens de ninguém. Hoje estou

com sede, sede de uísque e de sangue,

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entendeu? Por isso Fique quieto e me deixe

beber.

— Tudo bem para mim, desde que você

beba seu próprio uísque.

— Cale-se, já disse! — berrou Amos,

fora de si.

O saloon ficou em silencio. O forasteiro

levantou calmamente a aba do chapéu e

encarou Amos.

— Eu o mato se levantar de novo a voz

para mim — murmurou para o pistoleiro.

A principio Amos ficou surpreso e

assustado. Depois começou a rir. Alguns de

seus amigos foram se juntar a ele.

— Estão com sede, amigos? Por que não

se servem? — indagou ele, apontando a

garrafa sobre o balcão.

— Boa idéia, Amos — disse um deles,

mais animado, estendendo o braço para

apanhar a garrafa.

Antes que a tocasse, no entanto, o

forasteiro sacou sua faca e pregou a mão do

abusado no tampo do balcão. O pistoleiro

urrou de dor e recuou alguns passos, quando

a faca foi arrancada.

— Agora chega! — falou Amos, tentando

sacar sua arma.

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O estranho desferiu um golpe curto e

seco com o cabo da faca, batendo-o na testa

do pistoleiro. Um filete de sangue correu,

enquanto o pistoleiro desabava.

— Está bem, rapazes. Levem Amos

daqui — ordenou Ted Bacley, que havia

acompanhado tudo de uma das mesas ali

perto.

O forasteiro voltou-se para o balcão e

continuou bebendo silenciosamente.

Ted Bacley sondou aquele homem.

Conhecia o tipo. Era um pistoleiro, só que

muito rápido e com muito sangue-frio.

— vi o que fez, forasteiro — disse,

aproximando-se. — Poderia ter matado

aqueles dois facilmente. Por que não o fez?

— Porque eu não lucraria nada com isso.

— Está à procura de trabalho? —

perguntou Ted, interessado.

— Hoje, não.

Ted riu da resposta.

— Quando?

— Amanhã, talvez. Depende...

— Depende de quê?

— Do tempo que vou levar para gastar o

dinheiro que ainda tenho.

— Sabe lidar com uma arma?

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O forasteiro sacou sua arma e disparou

contra uma das velas que iluminavam as

laterais do saloon, apagando-a. A bala ficou

cravada na madeira, à altura do pavio.

— Isto responde sua pergunta?

— Estou convencido. Acho que podemos

entrar num acordo. Preciso de um homem

decidido e bom no gatilho.

— Quanto paga?

— Quanto quer ganhar?

— Qual será o trabalho?

— Obedecer-me cegamente e agir sem

perguntas.

— Mil dólares por mês.

— Está maluco! Esse é o preço de cinco

de meus pistoleiros.

— Pois traga cinco deles aqui e verá

como valho por todos eles. Se quer

quantidade e não qualidade, falou com a

pessoa errada.

Naquele momento, o xerife entrou no

saloon, atraído pelo disparo. Estava fazendo

sua última ronda, antes de recolher-se.

— Algum problema, Ted?

— Está tudo bem, xerife.

— E o tiro que ouvi? Veio daqui do

saloon, não?

— Foi apenas uma demonstração.

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O xerife percebeu a presença do

forasteiro, medindo-o dos pés à cabeça.

— Quem é ele?

— Vai trabalhar para mim — informou

Ted.

— Como é seu nome, estranho? —

perguntou-lhe o xerife.

— Mark Douglas, xerife.

Por momentos ainda o homem da lei

manteve seu olhar cravado nos olhos de

Mark.

— Ok! Se vai trabalhar para Ted Bacley,

está tudo bem.

— Estávamos apenas acertando a questão

do preço.

— Eu aceito sua proposta, Mark. De

agora em diante chefiará meus homens e me

ajudará nos negócios.

— Que tipo de negócios?

— Você saberá com o tempo. Terá

apenas que obedecer e não fazer perguntas,

lembra-se?

— Como quiser, Bacley. Começarei a

trabalhar amanhã. Hoje à noite pretendo me

divertir um pouco. Vejo muitas garotas

bonitas por aqui.

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— Só que uma coisa precisa ficar bem

clara logo de inicio — apressou-se em dizer

o xerife.

— E o que é?

— Pode escolher qualquer uma das

garotas aqui presentes, menos aquela que

está na mesa, jogando cartas.

— Algum problema com ela?

— Sim, já tem dono!

— Entendo — percebeu Mark, pelo tom

de voz do xerife, quem era esse dono.

— Foi bom você ter vindo, xerife. Tenho

alguns detalhes a conversar com você —

falou Ted.

— Certo, vamos ao meu gabinete, na

cadeia, então.

Os dois homens deixaram o saloon. Mark

ficou bebendo durante algum tempo,

sempre de olho na mesa, onde aquela linda

mulher jogava cartas.

Chamou o barman.

— Qual é o seu nome, bom homem?

— Abner, senhor.

— Muito, Abner! Qual é o nome daquela

linda senhorita que joga cartas com aqueles

marmanjos?

— Sally Brown, mas aceite um conselho:

não se meta com ela.

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— Sim, obrigado! Você é o segundo a me

dar o mesmo conselho. Sabe até que horas

ela jogará cartas?

— Sally nunca passa da meia noite

jogando.

— Tem certeza?

— Trabalho aqui há cinco anos.,

— Qual é o quarto dela?

— Está procurando encrenca da grossa,

forasteiro.

— Seja camarada, Abner. Qual é o quarto

dela? — insistiu Mark, pondo algumas

moedas sobre o balcão.

— Quarto número dez.

— Há uma banheira lá?

— Sim, por quê?

— Mande subir água quente, Abner.

Quero tomar um bom banho — pediu Mark.

— Sabe no que está se metendo?

— Acho que sim.

— Então não diga que não o avisei —

disse Abner, indo providenciar o que lhe

fora ordenado.

Mark ficou bebendo e olhando

insistentemente para Sally. Esta percebeu os

olhares do desconhecido, sentindo-se

atraída por ele. Era um tipo diferente, mais

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atrevido do que Billy, o forasteiro que a

encantara naquele dia.

Estava cansada de sofre nas mãos do

xerife. No inicio fora divertido, mas, com o

tempo, ele se tornara possessivo e

arrogante. Tinha dinheiro e achava que

podia ser o dono dela. Isso exasperava a

garota, acostumada a ser dona de seu nariz.

O xerife a estava sufocando com todo

aquele ciúme doentio.

Mais tarde, quando o jogo terminou,

Sally já ia subir para o seu quarto, quando

Cody veio-lhe trazer um recado do xerife.

— Ele avisa que não poderá vir hoje.

Um suspiro aliviado demonstrou a

satisfação da garota, que procurava, com o

olhar, aquele forasteiro. Só que não o via

mais no saloon. — Obrigada, Cody! Tome

um gole por minha conta — disse ela.

Depois subiu para o seu quarto. Quando

abriu a porta, percebeu o forasteiro deitado

em sua cama, com os lençóis puxados até o

queixo.

— O que faz aqui? — indagou ela,

assustada.

Aquele atrevimento poderia custar a vida

dos dois.

— Esperando você.

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— Como é seu nome?

— Mark Douglas, Sally. Quanto ao

conselho que pretende me dar, esqueça-o.

Venha se deitar comigo — convidou ele,

carinhosamente.

Na cadeia, o xerife e Ted Bacley bebiam

e conversavam naquele fim de noite.

— E depois de agredir Cody e Boots, ele

fugiu. Vasculharam a cidade e os arredores,

mas não encontraram sinal dele — dizia o

homem da lei.

— Na certa deu o fora da cidade. Com

essa você não precisa mais se preocupar.

— Maldito! Gostaria de tê-lo pela frente.

Iria matá-lo como a um cão.

— Da próxima vez, eu prometo que não

vou mais tentar detê-lo desde que você não

perca a cabeça e faça as coisas de modo a

não comprometê-lo.

— Eu saberei como agir. Não se

preocupe.

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— Ótimo, é bom ouvir isso. No momento

estou mais interessado nas três mil e

quinhentas cabeças de gado do Rancho

Longman.

— Parece que esse vai ser mais difícil do

que os outros. O velho é duro na queda.

— É só uma questão de tempo e

Longman cederá. No momento ele está mais

preocupado do que nós em relação ao

assunto. Seu gado está no ponto para ser

vendido. Todo e qualquer atraso significará

prejuízos. Além disso, sua equipe de

vaqueiros está desfalcada.

— Deseja que eu faça mais alguma coisa

quanto a isso?

— Sim, seria bom se prendesse mais

alguns deles.

— Está ficando difícil inventar

acusações. Eles estão evitando ao máximo

qualquer tipo de encrenca. Em breve

deixarão de vir para a cidade.

— Você é bom nisso, Bonney. Pense em

algo.

— Não é tão fácil quanto parece.

— E se eu disse que ao invés de

cinqüenta centavos por cabeça de gado você

terá um dólar? Pense, portanto, em termos

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dos três mil e quinhentos dólares que irá

lucrar com o negócio desta vez.

— Está certo, você sabe como fazer a

gente trabalhar — riu o xerife, com os olhos

brilhando de cobiça.

— Veja se consegue fazer alguma coisa

amanhã cedo. Muitos deles vêm assistir ao

culto e, depois, passam pelo saloon para o

trago de domingo. Farei com que meus

homens os provoquem.

— Está certo. Três mil e quinhentos

dólares podem fazer um homem acordar

mais cedo no domingo — afirmou o xerife,

concordando com o plano.

Na manhã seguinte, porém, quando os

vaqueiros no Rancho Longman se

preparavam para ir à cidade, Charles os

convocou para uma reunião, diante da casa

principal.

— Este é Billy Roger, pessoal. De agora

em diante ele é o nosso novo capataz.

— Está bem, Sr. Longman, mas não

poderíamos deixar esta reunião para outra

hora? — perguntou um dos vaqueiros.

— Por que a pressa, vaqueiro? — quis

saber Billy.

— Já estamos atrasados para o culto...

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— Lamento informar, mas não haverá

culto.

— Como não? Fazemos isso desde que...

— Estou dizendo que agora acabou —

frisou Billy, autoritariamente.

— Um momento, Roger, — falou um

vaqueiro. — Se vai ser nosso capataz, tudo

bem, é decisão do Sr. Longman. Só não

precisamos aceitar ordens durante o nosso

dia de folga...

— De agora em diante não haverá mais

dia de folga, até que tenhamos resolvido a

situação. Lembrem-se do que tem

acontecido com seus amigos, mortos pelos

capangas de Ted Bacley.

— Não vamos aceitar isso. Este dia é

sagrado para nós — protestou outro deles.

— Vocês serão pagas em dobro por este

dia trabalhado. Pensem na sobrevivência do

rancho. O gado precisa ser vendido o mais

depressa possível.

— Não será este domingo que resolverá o

problema — ajuntou outro vaqueiro.

Estavam todos inconformados com a

perda do dia de folga.

— Está bem, rapazes! Estamos perdendo

tempo com discussões inúteis — falou

Billy. — Temos um problema sério neste

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rancho e pretendo resolvê-lo com ou sem a

ajuda de vocês. Quem está comigo levante a

mão.

— O que vai exigir de nós? — quis saber

um dos vaqueiros.

— Que obedeçam ordens, mais nada.

Ninguém volta à cidade, até que o gado seja

vendido. Vamos começar a levar a manada

hoje mesmo.

— E como espera levar toda a manada

até Kansas City?

— Não precisamos levar toda a manada

até Kansas City — explicou ele.

— Como não?

— Podemos levar parte do gado até

Wichita e embarcá-lo pela ferrovia. Chegará

antes que qualquer outra manada a Kansas

City e obterá um preço que compensará o

custo, já que não precisaremos contratar

novos vaqueiros.

— Mas teremos que fazer duas viagens

seguidas até Wichita — protestou um

vaqueiro.

— É o trabalho de vocês, alguém tem

alguma reclamação?

— Não me sujeitarei a isso.

— Recebeu seu pagamento ontem. Pode

dar o fora se quiser.

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— Pois é justamente é o que farei. Além

do mais, não anda muito saudável trabalhar

neste rancho ultimamente — resmungou o

cowboy.

— Dê o fora, rapaz, e mantenha seu bico

fechado. Não gosto de covardes falastrões.

O vaqueiro que caminhava resmungando

na direção do estábulo parou e se voltou

para encarar Billy.

— Não gostei do que disse, capataz —

disse ele, agressivo e irônico.

— Não tive a menor intenção de agradá-

lo, rapaz. Além do mais, se a verdade o

incomoda, o que pretende fazer a respeito?

— devolveu-lhe Billy, sem se alterar.

A mão do vaqueiro desceu na direção de

sua arma. Antes que seus dedos tocassem a

coronha, no entanto, Billy já lhe apontava

seu Colt engatilhado.

— Não quero desperdiçar uma bala em

seu couro inútil, vaqueiro. Caia fora logo

antes que eu perca a minha paciência e

mude de idéia.

O vaqueiro analisou suas chances e

percebeu que o melhor a fazer era apanhar

seu cavalo e dar o fora.

Billy olhou na direção dos vaqueiros que

haviam permanecido.

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— Se mais alguém desejar partir,

aproveite a carona com ele. Aqueles que

ficarem não se arrependerão.

— Está bem, Billy. Você dá as ordens,

nós obedecemos — falou um dos vaqueiro.

— Sim, nós aceitamos sua oferta —

ajuntou outro e todos manifestaram sua

aprovação.

— Ótimo! Vamos separar metade do

rebanho e levá-la hoje mesmo para Wichita.

Com um pouco de sorte, em dez dias

teremos levado todo o gado para lá. A

ferrovia fará o resto.

— Pode garantir esses prazos, Billy? —

quis saber Longman. — Se o fizer, partirei

para Kansas City para negociar o preço.

— Pois pode fazê-lo, Charles. Eu

cuidarei de tudo. O gado estará em menos

de quinze dias.

— Vou acreditar em você. Cuide de tudo

por mim, especialmente de Laurie. Ela é

mais importante que qualquer coisa que eu

tenha.

— Não precisa se preocupar comigo,

papai. Eu sei me cuidar — falou a garota,

que escutara o que seu pai havia dito.

— É um trabalho que farei com todo

prazer — frisou Billy, sorrindo para ela.

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O vaqueiro que havia deixado o rancho,

expulso por Billy, foi direto para a cidade.

Em seu íntimo, pensava num modo de se

vingar do capataz pela humilhação a que

fora submetido.

Assim que chegou, foi direto ao saloon.

Amos Gantry já estava lá e, assim que o viu,

aproximou-se, disposto a provocá-lo.

— Deixe-me em paz, Amos! Não quero

encrenca com você. Acabo de ser despedido

do Rancho Longman.

— Não trabalha mais para o velho?

— Não — respondeu o vaqueiro,

demonstrando todo o seu estado de espirito.

— O que houve por lá?

O vaqueiro, que se chamava Allan

Martin, bebeu um gole de seu uísque, antes

de responder.

— Algo que, com certeza, vai interessar

ao seu patrão.

— Como assim?

— Sei que ele está interessado no que se

passa no Rancho Longman. Antes de vir

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embora, fiquei por perto para ouvir alguma

coisa. Seu patrão adoraria saber o que sei.

— O que sabe, por exemplo?

— Direi pessoalmente a ele, desde que

valha a pena.

Amos pensou por instantes.

— Se for algo realmente importante, será

recompensado, dou-lhe a minha palavra. Se

for conversa fiada, pagará caro por tomar o

tempo do Sr. Bacley.

— Deixe que ele decida isso. Onde posso

achá-lo?

— Eu o levo até ele.

Amos conduziu o vaqueiro até o

escritório.

— O que tem a dizer, vaqueiro? —

indagou Ted, curioso.

— Antes eu preciso saber o que lucrarei

com isso.

— Eu lhe direi quanto, depois que ouvir

sua historia. Se for interessante, não menos

de cinqüenta dólares.

— Combinado! Acho que gostará de

saber que Charles Longman está indo para

Kansas negociar seu gado. Seu novo

capataz teve a idéia de dividir a manda em

duas partes, levando-a até Wichita, onde

será embarcada na ferrovia.

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— Engenhoso! — comentou Ted,

interessado.

Ao invés de conduzir a manda rumo

noroeste, até Kansas City, seguindo a trilha

normal, pretendiam fazer o contrário,

rumando para nordeste, até Wichita. A

viagem pela ferrovia compensaria em muito

o tempo aparentemente perdido, fazendo o

gado chegar ao mercado em Kansas City a

tempo de pegar bom preço.

— Quem é esse novo capataz? —

perguntou ao vaqueiro.

— Temos aí mais uma informação, Sr.

Bacley.

— Certo, pago cem dólares pelas duas.

— Adiantados?

— Claro — confirmou Bacley, separando

algumas notas de sua carteira e entregando-

as para Allan, que as emboleou com

satisfação.

— O nome dele é Billy Roger, é um

forasteiro que ninguém sabe de onde veio.

— Billy Roger?

— Sim, parece entender do riscado.

— E entendo mesmo. Devo reconhecer

que ele inovou o transporte de gado. Está

bem, vaqueiro. Já deu seu recado e já

recebeu seu pagamento. Pode ir agora.

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Allan retornou as abas de seu chapéu com

as mãos nervosas.

— Talvez possa fazer algo mais por mim,

Sr. Bacley.

— Como assim?

— Fui despedido do rancho e estou

desempregado. Pensei que...

Enquanto ele falava, os olhos de Ted

brilharam, com a idéia que se formava em

sua mente.

— Acho que tenho um trabalho para

você, rapaz. Vai poder ganhar em dobro.

Vai voltar e pedir seu emprego de volta no

Rancho Longman.

— Como? Não posso fazer isso...

— Pois volte para lá e diga que se

arrependeu ou coisa assim.

— Para quê?

— Para me manter informado de tudo

que se passa lá. Se o novo capataz pretende

levar o gado até Wichita, preciso saber que

trilha ele vai usar.

— Entendo — afirmou o vaqueiro. —

Poderei descobrir isso. Como passarei a

informação?

— Mandarei meus homens rondarem o

rancho. Assim que você tiver a informação,

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procure-os. Além disso, quero saber tudo a

respeito desse tal Billy Roger.

— E quanto ganharei com isso?

— Além do seu salário no rancho, eu lhe

pagarei mais duzentos dólares.

— Pode estar certo que farei um bom

trabalho, Sr. Bacley —a firmou eles,

despedindo-se.

Assim que ele saiu, Ted disse a Amos.

— Cuide para que ele seja bem

recompensado após nos fornecer a

informação que precisamos, Amos.

— Quer que eu...

— Sim, exatamente.

— Deixe comigo, chefe.

— E veja se consegue localizar aquele

forasteiro que chegou ontem à noite.

— O que quer com ele, patrão? —

indagou Amos, passando a mão pelo galo

em sua testa, resultado do golpe que Mark

lhe desferira na noite anterior.

— Agora ele chefiará vocês.

Os olhos do pistoleiro fuzilaram, mas ele

não contestou a decisão do seu patrão.

— Sabe onde posso achá-lo?

— Possivelmente no saloon, dormindo

com alguma das garotas.

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Amos saiu à procura de Mark.

Estremeceu, ao vê-lo saindo do saloon

naquele momento. Aproximou-se dele,

medindo-o dos pés à cabeça.

— Vejo que está melhor — falou Mark.

— O patrão quer vê-lo — avisou Amos,

sem muita conversa.

— Onde está ele?

— Ali, no escritório. Eu o levarei até lá.

Atravessaram a rua juntos. Antes que

entrassem, porém, Amos deteve Mark,

segurando-o pelo braço.

— Vai nos chefiar, estranho, por decisão

do patrão, mas não pense que esqueci o que

houve ontem. Eu estava bêbado, por isso

você levou vantagem.

— Claro que sim, mas se vai manter esse

ressentimento, acho melhor resolvermos as

coisas de uma vez por todas. Não vou

trabalhar com alguém que, a qualquer

momento, pode me balear pelas costas —

falou Mark, acariciando a coronha de seu

Colt.

— Quando tiver de acontecer, será a meu

modo.

— Pelo que conheço de você, devo estar

mesmo preparado. Você me parece do tipo

que só tem coragem de atirar pelas costas.

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— Já está avisado — finalizou Amos,

levando a mão na direção do trinco da porta

e abrindo-a.

Antes que entrasse, porém, Mark o

segurou pelo colarinho, puxando-o para

trás.

— Fique para trás, onde é seu lugar. Não

se esqueça que eu mando em você. E se

tentar alguma coisa, vai estar morto antes de

terminar de pensar no que vai fazer.

— É o que veremos — ruminou Amos,

rubro de cólera.

Amos se apresentaram diante de Ted.

— Muito bem, Mark. Quero ver você

fazer jus ao salário que pediu.

— Quais são as ordens?

— Um grupo de vaqueiros vai tentar

levar uma manada até Wichita. Quero que

os impeça. Conhece bem a região?

— Não, sou novo aqui.

— Amos lhe dará todas as informações

que precisar.

— Como quer que eu faça?

— Você tem duas armas, use-as.

— Quais são as minhas garantias?

— Como assim?

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— Quando uso as minhas armas, quero

ter certeza de que não terei a lei nos meus

calcanhares depois.

— Não se preocupe quanto a isso. Você

está garantido.,

— Está com medo da lei, Mark? —

ironizou Amos.

— Se abrir de novo a boca, fecho-a com

um murro.

— Acalme-se, rapazes. Sem discussão.

Acha que pode dar conta do trabalho? —

indagou Ted a Mark.

— Sim, deixe comigo.

— Espere no saloon. Amos irá avisá-lo

quando chegar a hora da ação.

Mark deixou o escritório e saiu para a

rua. O culto havia terminado. Ele ficou

observando as pessoas que voltavam da

igreja. Alguns homens entraram no saloon.

Resolveu ir também.

Alguns homens estavam ansiosos para

jogar pôquer. Ele aceitou fazer parte de uma

das mesas. Pouco mais tarde, Sally desceu e

foi se encostar no balcão.

Ao vê-la, Mark deixou o jogo e foi até

ela.

— É mais bonita ainda de manhã — disse

ele, num sorriso que a deixou encantada.

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— Não o vi sair esta manhã, Mark —

observou ela, em voz baixa.

Seu tom era meloso e apaixonado. Mark

a fizera sentir de novo e sensação de ser

mulher em toda a sua plenitude, brindando-

a com carinhos e gentilezas a que não

estava acostumada.

— Não quis acordá-la.

— Poderia tê-lo feito. Adoraria tomar

café com você.

— Ainda está em tempo.

— Volte para o seu jogo. Não quero

chamar a atenção de ninguém.

— Eu pouco me importo com isso.

— É bom que o que aconteceu fique

apenas entre nós, seu atrevido!

— Fique tranqüila! Não pretendo contar a

nossa história para o jornal da cidade, se é

isso que a preocupa — brincou ele.

— É bom que não o faça mesmo —

respondeu ela.

Naquele momento, o Xerife Bonney

entrou no saloon. Ao ver Sally conversando

com Mark, caminhou na direção deles.

— Eu lhe dei um aviso ontem, Mark —

falou o xerife, cego de ciúme.

— E eu o ouvi, xerife.

— Então caia fora!

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— Não precisa ser tão rude, xerife —

intercedeu Sally.

— Cale a boca, sua vagabunda! —

ordenou ele.

— Vamos com calma, xerife. Afinal de

contas, estamos todos no mesmo barco —

disse Mark, com firmeza.

— Entenda uma coisa, Mark. Não sei

quem você é nem me interessa saber. Quero

que saiba, no entanto, que não costume

repetir meus avisos.

— Tudo bem, xerife — concordou Mark,

percebendo a tensão e a angustia no rosto de

Sally.

Afastou-se, então, voltando à mesa de

jogo, onde se concentrou, até que Amos

veio ter com ele.

— O recreio acabou. Temos um trabalho

a fazer — falou o pistoleiro.

— Vejo que é ruim de ouvido, amos.

Você apenas me avisa, nada mais,

entendeu? — criticou-o, com severidade.

— Está bem, chefe — falou Amos, com

deboche. — Já temos todos os detalhes.

Mark deixou o jogo e saíram juntos do

saloon. Quando montavam, Mark indagou:

— Quantos homens temos?

— Doze.

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— Que trilha usarão para levar o gado?

— Eu o levarei até lá.

— Como soube dos detalhes dessa

viagem?

— Por que tantas perguntas? Não basta

apenas saber onde deve agir?

— Está certo, vamos em frente, antes que

eu perca a cabeça com você, sua mula —

falou Mark.

Pouco depois cavalgavam na direção do

Rancho Longman.

O rebanho havia sido dividido e os

preparativos haviam sido feitos para uma

viagem não muito longa mas nem por isso

menos penosa.

Laurie foi se despedir dos vaqueiros e de

Billy, quando estava tudo pronto.

— Tome cuidado, Billy — recomendou

ela, não escondendo sua preocupação.

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— Tudo bem, Laurie! Cuide-se você

também. Prometi ao seu pai que tomaria

conta de você.

— Todos temos um trabalho a fazer

agora, Billy. Eu farei a minha parte.

— Jamais conheci uma mulher tão

corajosa como você — falou ele, com

admiração.

— Obrigada! — agradeceu ela, sorrindo

envaidecidamente. — Acha que os rapazes

agüentarão o ritmo?

— Saberei conduzi-los.

— Realizar duas viagens como esta em

dez dias não será um sacrifício enorme para

todos?

— Estamos levando cavalos de sobra,

para a volta. Quando ao gado, se perderem

algum peso, vão recuperá-lo no pátio da

ferrovia, enquanto esperam o transporte

para kansas City.

— Como sabe de tudo isso? Quero dizer,

haverá comida mesmo para o gado?

— Passeio por Wichita, quando vinha

para cá. Estavam inaugurando este novo

serviço. Até que comece a ser usado vai

demorar algum tempo, pois nem todos

sabem disso ainda. Estamos com sorte.

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Seremos os primeiros a iniciar essa

modalidade.

— Foi bom para nós você ter aparecido,

Billy. É nosso anjo salvador.

— Você exagera, Laurie. A propósito, o

que achou da volta de Allan Martin? Você

está aqui há mais tempo, conhece-o melhor,

não?

— Allan nunca nos deu trabalho antes.

— Ele lhe pareceu sinceramente

arrependido?

Ela estranhou a pergunta. Não

compreendia as suspeitas de Billy.

— Sim, e por que não? Suspeita de algo?

— Não sei ainda, Laurie, mas é uma

espécie de sexto sentido, compreende?

— O que pode ser?

— É o que estou tentando compreender.

Sua historia não me convenceu. Ele parecia

muito ansioso para voltar, mas não senti um

pingo de arrependimento nele.

— Pensando bem, não o vi mais depois

que ele voltou.

— Tem razão — concordou Billy.

Como que respondendo a suas

indagações, naquele momento um vaqueiro

foi ter com os dois. Pareciam muito

assustado.

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— O que houve, Mike? — indagou Billy.

— Acabo de encontrar Allan Martin lá na

trilha. Ele está morto. Foi esfaqueado.

— Allan? Morto? Não estou entendendo

isso — comentou Billy, intrigado. —

Verificou se alguma coisa foi roubada?

— Não, mas o cavalo estava lá, as armas

e tudo o mais. Não acho que o mataram

para roubar. Além do mais, alguém que

fosse assaltar uma outra pessoa não usaria

uma faca. Há pegadas no local. Outros

cavaleiros estiveram lá. Allan teria de

conhecê-los, senão fugiria ou sacaria sua

arma. Só que ele morreu com o Colt no

coldre.

— Estranho mesmo! E isso nos leva a

uma outra pergunta: o que Allan fazia lá?

— questionou Billy. — Não me lembro de

tê-lo mandado fazer qualquer coisa na

trilha.

— Sim, é verdade. Allan deveria estar na

turma que separou o gado.

— Não estou gostando disso, Mike.

Reuna o pessoal, por favor. Precisamos

conversar.

Enquanto o vaqueiro ia cumprir a ordem,

Laurie olhou Billy com apreensão.

— O que acha que está havendo, Billy?

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— Não sei ainda, mas está me parecendo

que Allan só retornou aqui para espionar.

— Ted Bacley?

— Quem mais poderia ter interesse em

saber o que estamos fazendo? Allan deve ter

ido à cidade e dado com a língua nos

dentes.

— Se isso aconteceu, é sinal que Bacley

já sabe de todos os nosso planos. Se for

assim, não nos deixará levar o gado, Billy.

Possivelmente estará preparando uma

emboscada para vocês.

— Isso é preocupante. Tenho de fazer

alguma coisa a respeito ou todo o plano

poderá ir por água abaixo.

Algum tempo depois, os vaqueiros

estavam reunidos diante da casa. Billy lhe

contou da morte de Allan e de suas

suspeitas quanto a uma emboscada.

— Se formos atacados, levando a

manada, poderemos perder toda ela num

estouro — alertou um dos vaqueiros.

— Sem contar que poderemos todos

morrer — lembrou Billy. — Tínhamos

definido a trilha a seguir. Allan pode ter

passado esta informação para seus

assassinos.

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— Poderemos ir por uma outra trilha? —

indagou um dos vaqueiros.

— É nisso que estou pensando. Quem

conhece melhor a região toda?

Alguns vaqueiros levantaram suas mãos.

Billy pensou por instantes.

— Se houvesse um bando de pistoleiros a

nossa espera na trilha que pretendíamos

seguir, que rota alternativa poderíamos

utilizar, sem perder muito tempo e passando

longe deles?

Os vaqueiros começaram a confabular.

Billy deixou que eles mesmos encontrassem

a solução.

Algumas horas mais tarde, Mark e os

pistoleiros de Ted Bacley já estavam

impacientes, esperando inutilmente pela

passagem da manada, conforme Allan havia

informado.

Amos era o mais inquieto de todos, pois

fora ele quem matara Allan após obter a

informação.

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Deixou seu posto no alto de uma rocha e

foi direto para junto de Mark, que o olhava

interrogativamente.

— Muito bem, Amos! Onde esta o

maldito gado? — indagou ao pistoleiro,

com rispidez.

— Tem que estar a caminho.

— Já esperamos muito. Mais algumas

horas e irá escurecer. Tem certeza que

entendeu bem a informação?

— Não sou nenhum idiota, se é que quer

saber — respondeu Amos, irritado

realmente.

— Ninguém conduz gado no escuro. Se

não partiram até agora, só partirão amanhã.

Não compensaria deixar o rancho para

caminhar apenas algumas horas.

— E o que quer que eu faça?

Mark estava furioso com as constantes

respostas idiotas de seu comandado.

Percebia que logo perderia a paciência com

ele e o despacharia desta para melhor.

— Por que não vai verificar, ao invés de

ficar aí com essa cara de palhaço que caiu

do cavalo? — recomendou Mark.

— Por que eu tenho de fazer tudo aqui?

— Porque não aprendeu ainda a fazer as

coisas certas. É burro como uma pedra.

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— Não venha me criticando agora —

protestou Amos, incapaz de conter sua

irritação.

— Sossegue, imbecil. Palavras não

matam. Vá até o rancho e veja o que está

acontecendo, antes que anoiteça.

— Há outros que podem fazer este

serviço.

— Eu mandei você, seu idiota! Não me

faça repetir — repreendeu-o Mark

Amos ficou tenso, olhando para seus

companheiros sem saber que atitude adotar.

Sua ira contra Mark aumentava a cada

minuto. Em breve explodiria.

— Está certo, mas isso não vai ficar

assim.

— Cale a boca! Pare de rosnar como um

cão viralata e faça o que estou lhe

ordenando — gritou Mark.

Amos estremeceu, a mão parando a meio

caminho da arma.

— Eu não faria isso se fosse você —

recomendou Mark, olhando noutra direção.

Amos ainda hesitou por alguns instantes,

depois relaxou o corpo gradativamente.

Olhou com ódio para Mark, depois foi

apanhar seu cavalo.

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Mark riu alto e zombeteiramente, o que

fez Amos esporear seu cavalo e se afastar a

galope.

Algum tempo depois ele retornou,

furioso.

— Fomos enganados. Aquele maldito

Allan Martin mentiu para nós — foi falando

ele, enquanto desmontava.

— O que descobriu? — indagou Mark.

— Não há nenhum sinal dos vaqueiros no

rancho. Além disso, há marcas indicando

que uma manada saiu dali.

— E o que concluiu disso, espertinho? —

insistiu Mark, com ironia.

— Na certa tomaram outra trilha, por

entre os lagos.

— Diabos, homem! Diabos! —

murmurou Mark, indo apanhar seu cavalo.

Amos estranhou aquela atitude.

— Onde vai? — indagou a Mark.

— Vamos todos voltar à cidade.

— Voltar? Está maluco! Podemos ir atrás

deles. A pista esta fresca e não será difícil...

— Com alguém como você ajudando,

acho que não conseguiríamos nem seguir a

pista de uma manada inteira, seu idiota. E se

o conseguíssemos, de nada nos adiantaria

isso.

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— Por quê? O gado não pode caminhar

tão rápido. Terão de para, quando anoitecer.

Nós podemos cavalgar à noite e alcançá-los.

— Amos, caia morto! — zombou Mark,

montado.

— O que faremos, Mark? — indagou um

dos pistoleiros.

— Vocês ouviram as ordens. Vamos

voltar à cidade. Acho que o Sr. Bacley

saberá o que fazer. Não temos mais nada a

fazer por aqui.

O grupo montou e, momentos depois,

cavalgavam na direção da cidade.

Ao saber do ocorrido, Ted Bacley ficou

possesso.

— Eu queria ir atrás deles mesmo assim,

mas Mark achou que... — ia dizendo Amos.

— Cale a boca, Amos! Não demonstre

tão abertamente a sua burrice. Ninguém

pediu sua opinião. — cortou-o Mark. —

Seguí-los seria suicídio. Na certa

encontraram o corpo de Allan, o sujeito que

você matou. Suspeitaram, por isso mudaram

de rumo. Estariam em alerta o tempo todo.

Acabaríamos sendo apanhados por eles.

— Diabos! Você tem razão, Mark! —

concordou Ted Bacley. — Se Charles

Longman tiver sucesso nessa empreitada, a

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noticia vai se espalhar e eu não conseguirei

pressionar mais nenhum dos rancheiros.

Isso quer dizer que nosso negócio aqui

estará acabado — lamentou o comprador de

gado.

— E qual é exatamente esse negócio,

Bacley? — indagou Mark. — talvez eu

possa ajudar mais, se souber de todos os

detalhes da operação.

— Está bem, acho que você deveria

mesmo saber de tudo. Afinal, é o único aqui

que parece pensar um pouco mais que a

média. O resto só sabe pensar com o dedo

do gatilho — falou Bacley, passando a

contar a Mark todo os detalhes de seus

negócios ali em Tulsa.

No final, Ted indagou a Mark se havia

algo que podia ser feito para melhorar os

negócios. Antes que o rapaz respondesse,

porém chegou o xerife.

Ted, então, contou-lhe o que havia

acontecido, indagando:

— O que acha que poderíamos fazer

neste caso, xerife? Se Longman tiver

sucesso, estaremos acabados.

— Bom uma situação como esta merece

uma ação drástica. Por que não

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aproveitamos a ausência dos vaqueiros e

atacamos o rancho?

— Com que finalidade?

— Longman merece uma lição, bem

como aquela sua filha tagarela — falou o

xerife, pensando nos três mil e quinhentos

dólares que perdia com aquele fracasso. —

Você pode mandar alguns pistoleiros ao

rancho para raptarem a garota.

— Raptar Laurie Longman? Não sei,

Bonney. Não é nosso ramo. Acho isso

exagerado demais.

— Digamos que ela será nossa hóspede,

então. Com ela em nosso poder, será mais

fácil negociar com charles Longman, não

concorda?

— Vai ser difícil. Charles Longman já

esta viajando para kansas City, onde vai

negociar seu gado.

— Então use-o como exemplo para os

outros. Mande estourar o resto do gado. Os

outros pensarão duas vezes, antes de tentar

transportar o gado através de Wichita.

— São quase duas mil cabeças do melhor

gado da região — lamentou Bacley.

— A perda será compensada de outra

forma. O importante é preservar o nosso

negócio. Quando Longman conseguir reunir

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de novo seu gado, o outono já terá chegado,

inviabilizando o transporte. Os mercados

estarão abarrotados, ninguém comprará o

gado dele. Você poderá tê-lo por uma

pechincha e soltá-los durante o inverno.

Dará um enorme lucro quando chegar a

primavera, só com as crias.

Ted Bacley pensou por instantes, havia

lógica na sugestão do xerife.

— E quem garante que ele não soltará o

gado durante o inverno?

— Longman não terá vaqueiros e

precisará de algum dinheiro para saldar suas

dividas. Com a metade do rebanho não

conseguirá pagar tudo. O transporte por

ferrovia de apenas metade vai inviabilizar

todo o plano dele.

— É uma boa idéia, xerife.

— E vai ser um trabalho fácil —

continuou o homem da lei. — Não há

defesas no Rancho Longman, com os

vaqueiros em viagem.

— Tem toda razão, Bonney. Pode cuidar

disso para nós, Mark? — indagou Ted ao

rapaz.

— Acho que este é um trabalho que o

próprio Amos poderia fazer, juntamente

com o resto do pessoal. Atacar um rancho

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indefeso, assustar uma garota e espantar seu

gado é uma ofensa a minha inteligência.

Bacley não ficou surpreso com aquela

resposta. Havia percebido que Mark

demonstrara qualidade para realizar tarefas

complicadas e difíceis.

— Acho que sou obrigado a concordar

com você, Mark. Amos e o resto do pessoal

cuidará disso — decidiu Bacley.

Amos olhou Mark com ódio novamente,

depois se retirou para cumprir a ordem.

Ted serviu uísque e todos beberam e

conversaram animadamente durante algum

tempo.

Pouco mais tarde, Mark deixou o

escritório e foi para o saloon, onde se

encontrou com Sally.

Esta, ao vê-lo, temeu que algum dos

pistoleiros presentes a denunciasse ao

xerife, por isso rumou para seu quarto.

Mark a seguiu tranqüilamente. As

ameaças do xerife em nada o assustavam.

Aquela mulher era digna de qualquer

sacrifício, por mais perigoso que fosse.

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Amos e seu grupo de pistoleiros

cavalgavam na direção do Rancho

Longman. Após ter sido humilhado de

novo, o dia todo, por Mark, o pistoleiro

estava ansioso para realizar aquela tarefa

com perfeição e redimir-se diante dos olhos

do patrão.

— Muito bem, pessoal! Vamos fazer um

trabalho perfeito desta vez, como

costumava ser antes — falou ele aos

amigos, quando chegaram próximo do

rancho.

— Qual é o plano, amos? — indagou um

deles.

— Dez de vocês vão cuidar do gado.

Façam bastante barulho para que ele estoure

e se espalhe. Não importa se caírem nos

lagos e morrerem. Morgan chefiará vocês.

O restante vem comigo para a sede do

rancho.

Amos e mais três homens cavalgaram

para a frente da casa principal do rancho.

Assim que chegaram, amos desmontou,

ordenando:

— Quero aquela garota para mim. Hoje

eu vou domar aquela cadela vagabunda!

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O restantes dos homens, que havia

seguido na direção dos pastos, sacou suas

armas para começar o barulho.

Naquele momento, inesperadamente,

surgindo de um grupo de árvores, os

vaqueiros do rancho, liderados por Billy

Roger, caíram sobre os pistoleiros.

O tiroteio foi violento e furioso, mas os

pistoleiros, pegos de surpresa, foram feridos

ou mortos.

— Ótimo trabalho, rapazes — elogiou

Billy. — Vejam se há alguns deles com vida

ainda.

— Billy, olhe lá, na casa. Há cavalos

diante dela. Acho que alguns deles pararam

lá e, com certeza, vão molestar Laurie —

apontou um dos vaqueiros.

— Maldição! Cuidem de tudo aqui! —

ordenou ele, esporeando seu cavalo.

Em poucos instantes chegava à casa,

onde foi recebido a bala pelos três homens

que haviam ficado de guarda.

As balas zuniram ao seu redor. Billy

pensou em Laurie e na promessa que fizera

ao pai dela, enquanto se atirava do cavalo,

procurando abrigo atrás do estábulo.

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— Vamos atrás dele — convidou um dos

pistoleiros, sem saber ainda com quem

estavam lidando.

Rumaram para o estábulo, julgando que

tivesse atingido o cavaleiro. Billy estava por

demais preocupado com Laurie para ser

sutil. Decidiu enfrentá-los aberta e

rapidamente.

Amos, dentro da casa, fora alertado pelos

tiros, enquanto tentava atacar Laurie.

— Que diabos está havendo agora? —

indagou ele, interrompendo seu assédio à

garota, que se defendia, mantendo-se à

distancia, com auxílio de uma faca de caça.

— Por que não fica e descobre, seu

bastardo? — desafiou ela, corajosamente.

Amos correu à janela. Viu, vindo dos

pastos, um grupou de cavaleiros e percebeu

que não eram seus amigos pistoleiros, pois

alguns corpos vinham atravessados nas

selas.

— Eu ainda me vingarei — disse ele,

saindo pela janela e correndo apanhar seu

cavalo.

Nem percebeu seus três amigos, que

procuravam por Billy, oculto no estábulo.

— Quem saiu a cavalo? — indagou um

deles.

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— Foi o amos — respondeu o outro, após

verificar.

— Diabos! Para onde ele está indo?

— Para a cidade.

— E a garota?

— Como vou saber?

— Tem coisa errada por aqui —

comentou um deles. — Vamos tratar de dar

o fora.

— Não vão a parte alguma — disse uma

voz raivosa.

Os três desviaram os olhos. Billy os

encarava, com as armas ainda nos seus

coldres.

— Se querem se manter vivos, rendam-se

— recomendou ele.

— Terá de vencer nós três — desafiou

um deles.

— Isto não será problema — falou o

rapaz, sacando suas armas.

Um dos pistoleiros teve o chapéu e o

crânio perfurado. O segundo recebeu um

balaço entre os olhos. O último teve seu

coração varado certeiramente.

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Toda a preocupação de Billy estava

centrada em Laurie. ele verificou

rapidamente se os três pistoleiros estavam

mortos, depois correu para a casa.

Entrou cautelosamente. Tudo estava em

silencio. Ele temeu pela vida de Laurie. Por

sua cabeça passavam mil e uma coisas que

pudessem ter acontecido com ela.

— Laurie! — gritou ele, com as armas

em punho.

— Estou aqui, Billy! — respondeu ela.

— Onde?

— Em meu quarto.

— Tudo bem? — indagou ele, enquanto

caminhava para lá, sempre com cautela.

Não sabia o que poderia vir pela frente.

— Sim, está tudo bem — respondeu ela,

mas isso não o convencia.

Alguém poderia estar intimando-a, com

uma arma apontada para sua cabeça.

Seria a mais traiçoeira das emboscadas,

por isso ele tomou todo o cuidado. Sempre

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com as armas engatilhadas, ele subiu as

escadas para o andar superior.

— Laurie! — chamou ele, de novo.

— Estou aqui, já disse, Billy —

respondeu ela, irritada com a insistência

dele.

Pela voz Billy localizou a porta.

Aproximando-se sorrateiramente. Com um

pontapé ele arrebentou o trinco. Seus corpo

voou para o interior do quarto.

— Billy! — gritou ela, protegendo o

corpo com uma peça de roupa.

Ela estava acabando de trocar de blusa

que Amos havia rasgado na luta com ela.

— Desculpe-me! Eu pensei que... — ia

dizendo ele, todo embaraçado, estendido no

assoalho.

— Eu disse que estava tudo bem. Agora

temos um trinco para ser consertado,

percebeu?

— Eu cuido disso... Mais tarde. É que...

Não tem importância. eu a espero lá

embaixo — completou ele, guardando as

armas e saindo.

Pouco depois ela foi se juntar a ele, no

lado de fora da casa.

— Reconheceu os homens? — indagou

ele.

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— Sim, eram homens de Ted Bacley. O

que me atacou era Amos Gantry, você o

conhece.

— Fiquei preocupado. Pensei que algo

pudesse ter lhe acontecido. Não saberia

como explicar isso ao seu pai — confessou

ele.

— Felizmente nada aconteceu. E lá nos

pastos?

— Conseguimos pegá-los todos. A

sugestão dos vaqueiros estava correta. Eles

imaginaram que Ted Bacley poderia

aproveitar-se do fato do rancho ter ficado

desprotegido para tentar alguma coisa.

— Só que, com isso, perdemos um dia

precioso — lembrou a garota.

— Sei disso. Além do mais, temos alguns

feridos. Nossa situação começa a ficar mais

delicada. Prometi ao seu pai que o gado

estaria em Kansas a tempo.

— Não podemos nos esquecer que o

prejuízo poderia ter sido maior, se eles

conseguissem roubar ou espantar o nosso

gado. Pelo menos ele está totalmente a

salvo até agora.

Os vaqueiros chegavam, trazendo os

mortos e feridos. Laurie e Billy foram

verificar.

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— Ainda há alguns pistoleiros com vida,

Billy. O que faremos com eles? — indagou

um dos vaqueiros.

— Enforquem-nos — sentenciou Billy.

— Como? — espantou-se Laurie.

— Isso mesmo, Laurei. Somo a lei agora.

O que mais podemos fazer?

— Mas é tão chocante!

— Não esqueça dos propósitos que os

trouxeram aqui. Eles vieram matar e

destruir. Não tiveram a chance que

esperavam, mas devem pagar por isso e

pelos outros crimes que já cometeram em

Tulsa, contra outros vaqueiros e rancheiros.

— Acho que tem razão, Billy —

percebeu a garota.

— Além disso, não podemos levá-los à

cidade e confiá-los ao xerife. Em dois

tempos eles estariam soltos e ainda viriam

em nosso encalço.

Os vaqueiros obedeceram as ordens de

Billy. Momentos mais tarde, meia dúzia de

pistoleiros morriam dependurados pelos

pescoço.

Seus corpos ficaram balançando nos

galhos de uma grande árvore perto do

estábulo.

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— Prendam seus corpos nos cavalos —

ordenou Billy. — Espantem-nos na direção

da cidade. Quero ver a cara do xerife e de

Ted Bacley quando virem os cadáveres.

Após cumprirem as ordens, os vaqueiros

foram se reunir com Laurie e Billy.

— Quantos feridos nós temos? —

indagou ele.

— Quatro estão impossibilitados de

cavalgar — informou um vaqueiro chamado

Gaynor.

— Isso atrapalha todos os nosso planos.

Vamos precisar reforçar a equipe de

qualquer maneira. Alguém tem alguma

sugestão?

— Bem, Billy, o único pessoal disponível

que eu conheço na cidade são aqueles

mexicanos que ficam na cantina, na saída da

cidade. Formam um bando de desocupados

que sobrevive de pequenos roubos entre

eles mesmos. Às vezes fazem algum

trabalho, depois se embebedam até gastar

todo o dinheiro recebido.

— Mexicanos, não? Acho que os vi,

diante da cantina, bebendo.

— Isso mesmo. São eles. Não gostam

muito de trabalho, mas quando bem

motivados, são ótimos.

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— E eles não temem Ted Bacley e seus

pistoleiros?

— Não, são numerosos demais para

serem molestados. Não causam problema ao

Bacley, por isso ele os tolera. O xerife

também os deixa em paz. Não teria lugar na

cadeia para prender todos eles. No fundo,

são inofensivos mesmo.

— E por que ninguém pensou nesta idéia

antes? — quis saber Billy.

— Papai não confia neles. Podem muito

bem dar o grande golpe, levando o gado

para o México — explicou Laurie.

— Seriam capazes disso, Gaynor?

— Difícil dizer, Billy. É um bando

imprevisível e só fica por aqui porque não

tem dinheiro para retornar.

— Quem os lidera?

— Jesus Hernandez, El Gato, um

fanfarrão metido a caudilho e general.

Billy pensou por instantes. Não tinha

outra alternativa, senão tentar contratá-los.

O prazo estava correndo. Aquele gado

precisava estar em Kansas City a tempo, ou

charles Longman perderia os negócios

contratados.

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— É a nossa única chance. Não podemos

ficar parados. Vamos ter que arriscar —

decidiu ele.

— Qual é o seu plano, Billy? — indagou

Laurie, percebendo que ele pensava em algo

arrojado.

— Levar toda a manda de uma só vez

para Wichita, com o auxílio dos mexicanos.

— Haverá vagões para transportar todo

esse gado? — quis saber Gaynor.

— Problema da ferrovia. Eles não

venderiam um serviço se não pudessem

realizá-lo.

— Quando vai falar com os mexicanos?

— Agora mesmo. Não podemos perder

mais tempo. Amanhã cedo teremos que

partir.

Billy foi apanhar seu cavalo, decidido a ir

até a cidade e conversar com os mexicanos.

— Billy, espere! — pediu Laurie,

demonstrando sua preocupação na

expressão carregada de seu lindo rosto. —

Você não pode ir à cidade o xerife vai

prendê-lo, se Bacley não o pegar antes e

mandar matá-lo pelo que fez aos capangas

dele.

— Estou certo que não.

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— Como pode ter tanta certeza? Pelo

menos leve os vaqueiros com você.

— Eles precisam ficar para agrupar o

restante do gado e preparar a partida.

— Então vou com você. Não o deixarei ir

sozinho até lá e esta resolvido — falou ela,

com convicção.

Billy ainda pensou em argumentar, mas

desistiu em seguida. Conhecia o gênio dela.

Vira-a na cidade, enfrentando um vaqueiro

com um chicote. Seria inútil tentar demovê-

la.

Muitos depois os dois partiam rumo à

cidade.

Amos Gantry tentava explicar o fracasso,

no escritório de Ted, que ficou possesso e

mandou chamar o xerife e Mark para ajudá-

lo a resolver aquele novo problema.

— Este imbecil falhou de novo — falou

Barcley, assim que se reuniram.

— Ninguém esperava aquilo. Fomos

emboscados. Eles não tinham partido —

explicou amos novamente.

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— Isso não justifica seu fracasso, idiota.

Você levava um grupo de bons pistoleiros.

Era só fazer a coisa certa e nada disso teria

acontecido.

— Não adianta argumentar com essa

besta, Bacley. Amos nunca primou pela

inteligência mesmo — ironizou Mark,

procurando ofender ainda mais o pistoleiro.

— Chega! Já me ofendeu demais. Já me

humilhou demais, seu bastardo! — gritou

Amos, tentando sacar.

Duas armas surgiram nas mãos de Mark.

Amos ficou olhando para os Colts

engatilhados. Ofegava, de tanta fúria. Mais

uma vez Mark zombara dele.

— Eu devia fazer um favor ao Sr. Bacley

e matá-lo, Amos. Você é um inútil mesmo

— comentou Mark.

— Parem com isso, rapazes! Já temos

muitos problemas para ficarmos criando

outros. Nada de brigas entre nós —

ponderou o xerife.

— Bonney tem razão, rapazes.

Precisamos reorganizar e agir para valer

contra esse tal de Billy. É ele quem está

causando toda essa confusão.

— Por que o xerife simplesmente não o

prende, como fez com outros vaqueiros do

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rancho? — sugeriu Amos, só que num tom

de zombaria.

— Acha que isso será fácil? Você já teve

uma amostra do modo como ele age. Quer

tentar de novo?

— É seu dever, não o meu — replicou

Amos.

— Acho que sei quem irá cuidar desse

Billy por nós — afirmou Ted Bacley,

seguro de si, interrompendo a nova

discussão que surgia.

— Quem? — quis saber o xerife.

— Mark é o homem indicado para isso! -

- explicou Ted.

-- Sim isso mesmo ele vive dizendo que é

o tal. Chegou a hora de parar de falar e

começar a agir — provocou-o Amos,

satisfeito por ter uma chance de ir à forra.

— É o que deseja que eu faça, Bacley?

— indagou Mark, sem se importar com o

comentário de Amos.

— Sim, Mark. Mate aquele bastardo.

Faça-o sofrer bastante antes de morrer.

— Atacar o rancho já se mostrou uma

temeridade — ponderou Mark. — O

negócio é encontrar uma forma de atrair

Billy até a cidade.

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— Aquele Billy é esperto como uma

raposa — comentou o xerife. — Não vejo

como conseguiria isso.

— Vou pensar em algo.

— Sim, pense em algo, Mark, depois

mate o miserável. Enquanto isso, quero que

aquele rancho seja vigiado constantemente.

Eles devem estar preparando alguma coisa.

Na certa vão levar o gado de alguma forma.

Naquele momento, gritos horrorizados

vieram da rua, causando uma comoção nas

pessoas que passavam.

Os homens no escritório correram para

fora para ver de que se tratava. Eram os

cavalos com os pistoleiros mortos,

grotescamente amarrados nas selas.

— Maldito! Quero aquele homem morto,

Mark! Morto! E isso não pode demorar

muito!

Um grupo de mexicanos, numa taberna

nas imediações da cidade, bebia vinho e

fazia arruaça, brigando entre si.

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O taberneiro não se incomodava com

aquilo. Afinal, os homens de El Gato já

eram velhos conhecidos. Apesar de toda

bagunça, sempre pagavam pelos prejuízos.

— Muito bem, hombres! — gritou Jesus

Hernandez. — Vamos esquentar um pouco.

— Sim, queremos música para dançar e

vinho para nos aquecer o estômago —

gritou um de seus comandados. — El Gato

pagará a conta.

— Cale a sua maldita boca, Pablito! você

pensa que meu dinheiro nasce em cactos?

— Só você tem dinheiro aqui, El Gato.

Tudo que fazemos fica com você.

— Porque sou o protetor e devo cuidar de

tudo por vocês.

— Então dê-nos vinho!

— Está certo. Vinho para eles também,

Miguel — ordenou ele, alisando os bigodes

após entornar a jarra que tinha nas mãos.

Billy e Laurie entraram naquele

momento. A presença dos dois provocou

um silencio mortal na taberna, onde

raramente os gringos entravam.

Jesus Hernandez observou Laurie com

interesse. Gostava de mulheres bonitas e ali

estava uma delas. Aproximou-se,

observando-a com atrevimento.

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— Quero falar com Jesus Hernandez —

disse Billy.

— Está diante dele. O que quer?

— Preciso de homens experientes para

levar uma boiada até Wichita.

— Paga bem?

— Sim, o pagamento é bom e haverá um

extra se a manada não se atrasar.

— Por que não procurou os gringos para

ajudá-lo? — indagou o mexicano,

desconfiado da oferta.

— Não vim em busca de conselhos nem

para responder perguntas. Vim à procura de

homens valentes e dispostos — replicou o

capataz.

— Tem a língua muito afiada e ligeira,

gringo.

— Não tenho tempo a perder. Quem se

habita?

— Primeiro queremos saber para que

vamos trabalhar.

— Para o Rancho Longman.

— Isso é mau, muito mau. Aquela boiada

já está nos planos do Sr. Bacley.

— Não sabia que você devia satisfação

ao Bacley. Se é assim, desisto de contratá-

los. Esperava encontrar aqui homens de

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verdade e não crianças submissas e

assustadas.

Jesus Hernandez cuspiu no chão

raivosamente, depois bateu no peito.

— Nenhum gringo chama El Gato de

medroso — berrou ele.

— Todos ficaram em silencio,

observando a cena. Apenas o taberneiro

deixou o local sorrateiramente.

— Você grita muito bem, El Gato, o

bastante para assustar galinhas — falou

Billy, voltando-lhe as costas.

O mexicano urrou humilhado e atacou

como um touro. Billy empurrou Laurie para

o lado e desviou-se no momento certo. O

valentão foi se chocar contra a parede.

— Ei, Jesus! Que liso é o gringo, não? —

zombou um dos mexicanos.

El Gato apanhou uma garrafa na mesa

mais próxima e arremessou-a contra a

cabeça do outro.

— Muito bem, gringo! Vamos ver se é

tão bom nos punhos quanto é nas palavras

— desafiou o mexicano.

— Vamos fazer uma aposta, então.

— Que aposta?

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— Se você me vencer, dou-lhe cem

dólares. Se eu vencer, você e seus homens

me ajudarão a levar aquela manada.

O mexicano ficou em silencio por

instantes, olhando com admiração o gringo

atrevido diante dele. Depois rompeu numa

gargalhada que contagiou os outros

presentes.

Billy apenas os observava, sorrindo

divertido.

— Ouviram isso, hombres? Ele pensa que

pode me vencer.

— Você ainda não não respondeu se

aceita ou não a minha aposta — cobrou

Billy.

— Billy, é loucura o que pretende fazer.

Não precisa se arriscar assim. Pensaremos

num outro modo de levar o gado —

advertiu Laurie.

— Está tudo sob controle —

tranqüilizou-a ele. — Segure meu cinturão.

— Está feita a aposta. Se você me vencer,

eu e meus homens trabalharemos para você.

— Então já estão contratados — afirmou

Billy, preparando-se para lutar.

— Só que há mais uma coisa que gostaria

de deixar bem clara — foi dizendo El Gato,

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enquanto se aproximava, tentando distrair a

atenção de seu oponente.

Inesperadamente, jogou-se contra Billy,

derrubando-o. Os dois rolaram pelo

assoalho por algum tempo, derrubando

mesas e cadeiras, até que Billy golpeou o

estômago de Jesus Hernandez, livrando-se

dele.

Ergueu-se desafiadoramente.

— Levante-se, homem, ou prefere

rastejar como uma cobra? — ironizou Billy,

deixando o outro realmente furioso.

— Vou lhe arrancar os dentes e a pele —

vociferou o mexicano, avançando

resolutamente.

Um murro bem aplicado fez o sangue

esguichar de seu nariz, manchando o

assoalho.

Um outro, no alto de sua cabeça, o fez

cambalear, revirando os olhos. Billy

segurou-o pelos ombros e empurrou-o para

baixo, fazendo-o flexionar o tronco,

enquanto lançava o joelho ao encontro do

rosto do outro.

El Gato foi jogado para trás, até bater as

costas no balcão, onde tentou se agarrar,

com a língua de fora e os olhos esgazeados.

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Billy não lhe deu trégua. Seu punho

golpeou novamente o estômago dele, depois

o queixo, fazendo-o cair pesadamente no

assoalho.

Todos fizeram silencio respeitoso.

— Fique onde está, Billy — ordenou uma

voz autoritária na porta da taberna.

Billy se voltou rapidamente. O xerife lhe

apontava uma arma.

— Finalmente eu o peguei. Vai se

arrepender de tudo que fez até agora.

— É, reconheço que você me pegou,

xerife. Está armado e eu sem meu cinturão.

— Não pense que vou lhe dar alguma

chance — falou o homem da lei,

engatilhando a arma e apontando-a para a

cabeça do rapaz.

— Antes de apertar o gatilho, gostaria de

visse algo, xerife — disse Billy.

— Sem chance, Billy. Não caiu nesse

truque.

— Nada tem a temer, xerife. Vai me

agradecer por avisá-lo. Está aqui, no bolso

de minha camisa.

O xerife hesitou por instantes. Todos os

olhares estavam centrados nele.

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— Está bem, apanhe, mas bem devagar.

Um movimento em falso e arrebento sua

cabeça.

Billy enfiou a mão no bolso da camisa e

retirou uma carteira de couro, com o selo

dos Estados Unidos na frente, em metal.

— Que diabos é isso? — quis saber o

xerife.

— Veja por si mesmo — replicou Billy,

atirando-a na direção dele.

A carteira caiu aberta no assoalho. Uma

estrela de delegado federal reluziu.

— Você é um maldito delegado federal?

— Sim, e recebemos denúncia do que

estava acontecendo aqui. Fui mandado para

investigar.

— Não pense que isso me assusta. É um

motivo a mais para matá-lo agora.

— Há muitas testemunhas aqui.

— Quem acreditará num bando de

bêbados desordeiros? Será fácil fazer o

povo acreditar que o mexicano o matou.

— E como convencerá os mexicanos?

— Uma garrafas de vinho barato

comprarão o silencio deles. É o que valem

— disse o homem da lei, com desprezo.

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— Não acredite inteiramente nisso, xerife

— afirmou Jesus Hernandez, levantando-se

e apanhando suas armas.

— Deixe de ser idiota, mexicano!

Mais de uma dezena de armas foram

engatilhadas e apontadas para o xerife.

— Solte seu canhão ou vai virar peneira,

xerife — ameaçou El Gato.

Encurralado e sem alternativa, o xerife

foi obrigado a fazer o que lhe era ordenado.

Billy se aproximou dele e o golpeou no

queixo violentamente, pondo-o para dormir.

— Eu pago minhas apostas, gringo.

Vamos trabalhar para você agora — decidiu

o chefe dos mexicanos.

Foram todos apanhar seus cavalos.

Enquanto montavam, Laurie indagou a

Billy.

— Por que não nos disse antes que era

um delegado federal?

— Precisava agir em segredo, até

descobrir quem era quem por aqui. Espero

que me entenda.

— Sim, eu entendo, Billy. E só tenho a

agradecer pelo que está fazendo por nós.

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Assim que se recuperou da pancada, o

xerife se levantou e correu para fora da

taberna, mas já era tarde demais para

qualquer reação.

Billy e o bando de mexicanos já haviam

tomado uma boa dianteira.

Imediatamente, então, o xerife correu

para o escritório de Ted Bacley, onde

contou que tinha descoberto.

— Entendo o que isto significa, Ted?

Temos um delegado federal em nossa cola.

Acho melhor darmos o fora o mais depressa

possível. Não há como lutar contra essa

raça. Você nunca sabe o que eles estão

tramando — falou o xerife, ao final de seu

relato, apavorado.

Bacley caminhou pensativo pelo seu

escritório. O xerife tinha razão quanto a ter

um delegado federal ali.

— Sou obrigado a concordar com você,

Bonney. Já ganhamos um bom dinheiro

para uma temporada. Acho que devemos

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parar por uns tempos, até as coisas

esfriarem.

— Vamos ter que fugir?

— Não, não precisamos fugir. Ele pode

ser um delegado federal, mas acha que

deixaria você livre se tivesse provas para

condená-lo?

— Sob esse aspecto, você está coberto de

razão. Ele apenas me socou e me deixou lá.

— Então estamos sossegados. Vamos

encerrar os negócios por este ano, após

cuidarmos da manada do Rancho Longman.

— Está maluco! Acabou de me dar razão

e agora pretende fazer uma besteira dessas?

— E por que não? Será o último exemplo

para os rancheiros. Tudo ficou mais fácil

para nós. Poderemos até nos livrar

impunemente daquele delegado.

O xerife olhou-o sem querer acreditar em

tamanha ousadia. Talvez fosse isso que

fizesse de Ted Bacley um homem tão rico e

tão poderoso.

— O que tem em mente? — quis saber.

— Os mexicanos levarão a culpa de tudo.

Reuniremos todo o nosso pessoal e

atacaremos a manada. Vamos matar todo

mundo e levar o gado para o México.

Assim, para todos os efeitos, os mexicanos

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foram os autores do roubo e,

consequentemente, da morte do delegado.

— É, pode dar certo!

— Vá chamar Amos e Mark. Eles devem

estar no saloon. Vou precisar de todos os

meus homens.

O xerife deixou o escritório e rumou para

o saloon. Quando entrou, viu Amos

encostado no balcão.

— O patrão quer vê-lo. Sabe onde está

Mark?

— Quer mesmo saber? — retrucou

Amos, com ironia.

Aquela era a chance que ele vinha

esperando havia muito tempo para se vingar

de Mark.

— Deixe de perguntas idiotas e vá

procurá-lo. É ordem de Bacley.

— Por que não vai você mesmo, xerife?

O homem da lei olhou ao seu redor,

vendo todos os olhares centrados nele.

Alguns riam zombeteiramente, olhando para

cima, para o corredor no alto das escadas.

— Onde está ele? — indagou o xerife,

quase erguendo Amos pelos colarinhos.

— Lá em cima — apontou amos, rindo.

O xerife percorreu o saloon de novo com

o olhar. Não viu Sally. Percebeu o

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significado daqueles olhares. Seu sangue

ferveu nas veias. Ele subiu a escada aos

saltos.

Todos no saloon se agruparam para ver

melhor a cena. o xerife foi até a porta do

quarto de Sally e arrebentou a porta com um

violento pontapé.

Sobre a cama, Mark e Sally trocavam

beijos apaixonados.

— Seu bastardo maldito! — rugiu

Bonney, sacando suas armas.

— Vai atirar num homem desarmado,

xerife? ouvi dizer que sempre foi muito

valente — ainda zombou Mark.

O xerife hesitou, olhando para Sally, que

parecia desafiá-lo como sempre.

— Está bem, seu maldito! Apanhe suas

armas. Vou lhe dar a última chance de sua

vida.

Mark ainda beijou mais uma vez a

trêmula Sally, depois apanhou seu cinturão,

afivelando-o nos quadris.

Caminhou para a porta. O xerife recuou

até o fim do corredor, próximo da escada.

— Vou matá-lo e depois arrancar a pele

daquela vagabunda — rugiu ele.

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— Você está tremendo, xerife? É medo

ou despeito por eu haver roubado sua

garota? — zombou Mark.

— Ninguém jamais me desrespeitou e

ficou vivo para contar. Prepare-se para

morrer.

— Por que não fecha sua boca fedorenta

e saca logo essas suas armas, xerife?

Foi a gota d’água. Com uma rapidez

impressionante, o Xerife Bonney sacou suas

armas, engatilhando-as para atirar.

Por uma fração de segundo antes, as

armas de Mark dispararam primeiro.

O corpo do xerife rodopiou, batendo

contra a parede. Ele ficou imóvel, olhando o

sangue que se alastrava em seu peito. Os

braços pendiam imóveis ao longo do corpo,

ainda empunhando os Colts engatilhados.

— Seu bastardo! — gemeu o homem da

lei, tentando levantar as armas.

Elas pareciam pesar demais para suas

forças. Seu sangue começou a gotejar no

assoalho.

O suposto homem da lei ergueu os olhos

para seu oponente, como que suplicando

pela própria vida.

Mark não lhe deu chance. Apertou o

gatilho mais uma vez. O corpo do xerife foi

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jogado contra a amurada, no alto da escada,

despencando sobre uma das mesas, com um

baque seco e macabro.

Ficou estendido ali, braços abertos, olhos

arregalados, completamente imóvel.

Sally saiu correndo do quarto e foi

abraçar Mark com força. A garota tremia de

medo.

— Está tudo terminado agora, boneca.

Ele não vai mais ameaçá-la nem incomodá-

la.

— Ei, conquistador! — chamou Amos,

zombeteiro, mas respeitoso. — O patrão

espera por nós.

Mark o olhou com desprezo, depois

beijou Sally longamente, tranqüilizando-a.

Depois foi atender o chamado de Ted

Bacley.

Naquela noite, ao rancho, Billy parecia

nervoso. Laurie notou isso, indagando:

— Espera barulho, Billy?

— Sim, Laurie, com toda certeza.

— Acha que eles atacarão de novo?

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— Penso que sim. Estarão jogando tudo

ou nada. Além disso, agora sabem que sou

um delegado federal e isso deve ser

incomodo para eles.

— O que pretende fazer?

— Há algum lugar onde possa ficar em

segurança por esta noite?

— Não vou a parte alguma. Este é meu

rancho e vou ficar aqui. Se alguém vai lutar

por ele, quero estar junto.

— Eu vou me sentir mais tranqüilo

sabendo que você estará segura. Por favor!

preciso dessa tranqüilidade. Tenho um

trabalho a fazer, mas não posso admitir que

você corra nenhum risco. Faça isso por mim

— pediu ele, de um modo todo especial que

a convenceu.

Laurie suspirou, olhando-o nos olhos.

— Está bem, Billy. Posso ficar no rancho

vizinho. São amigos nosso.

— Então prepare-se para ir. Mandarei

alguns homens com você.

Após cuidar desse detalhe que ele

considerava o mais importante em todos os

seus planos, ele convocou os vaqueiros

restantes, bem como os mexicanos.

— Estou certo que teremos barulho esta

noite —a visou.

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— Estamos aqui para o que for preciso,

Billy. O que quer que façamos? — indagou

Jesus Hernandez.

— Vamos nos agrupar lá nas pastagens,

protegendo o gado.

— Todo mundo?

— Todo mundo. E vamos acender uma

bela e enorme fogueira e fazer um

churrasco.

— Mas é o mesmo que convidá-los

para... — ia dizendo o líder dos mexicanos,

mas interrompeu-se, olhando Billy com

olhos brilhantes e matreiros.

— É essa a idéia, Jesus.

— Vai preparar uma armadilha.

— Exatamente.

Billy deu as ordens. A noite avançou. Os

homens protegiam o gado, mas após

comerem todos dormiam aparentemente.

Apenas Billy e alguns homens montavam

guarda.

Não se afastavam do ponto iluminado

pela fogueira, porém. A idéia era que

fossem vistos.

Não demorou muito e ruídos sutis na

noite denunciaram a aproximação de um

grupo de homens. Billy fez sinal às

sentinelas para que seguissem o plano.

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Repentinamente, duas dezenas de

homens, armados de rifles, cercavam os

vaqueiros. Mark Douglas os liderava.

— Todos quietos. Quem der um pio vai

ter indigestão esta noite — falou Mark.

— Vamos matar todos eles

imediatamente — propôs Amos.

— Cale a boca, idiota! Quando vai

aprender que eu dou as ordens aqui?

Billy avançou na direção de Mark,

olhando-o nos olhos. Os dois homens

ficaram frente a frente.

— Olá, Mark!

— Como vão as coisas, Billy?

— Levando.

— Parece que vamos ter uma boa festa

esta noite, não concorda comigo?

— Já jantou? Temos churrasco.

Amos acompanhava aquele diálogo sem

entender nada do que estava se passando.

— Vocês se conhecem? — indagou,

aturdido.

— Somos colegas de profissão.

— Quer dizer que... — ia dizendo Amos.

— Sim, somos delegados federais —

explicou Mark, apontando suas armas para

ele.

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— Malditos! — berrou Amos, tentando

sacar.

As balas de Mark o acertaram na cabeça,

jogando-o sobre a fogueira, levantando uma

nuvem de fagulhas.

A uma ordem de Billy, os vaqueiros que

pareciam dormir jogaram as cobertas para o

lado.

Estavam todos de armas nas mãos,

preparados para o tiroteio que se seguiria.

A fuzilaria foi terrível, enchendo o céu de

fumaça e cheiro de morte. Billy e Mark

disparavam suas armas com uma precisão

surpreendente.

Em pouco tempo os pistoleiros de

Bacley, pegos de surpresa, foram

dizimados.

Quando tudo se acalmou, Billy ordenou.

— Banner, leve alguns homens e

tranqüilize o gado. Os outros verifiquem se

há alguns deles ainda com vida.

Billy mandou aplicar de novo a lei mais

antiga do Oeste. Os pistoleiros ainda com

vida foram pendurados nas árvores mais

próximas.

— Foi um bom trabalho, Billy —

comentou Mark, quando as coisas se

acalmaram.

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— Sim, mas eu temi que você não

estivesse junto com os pistoleiros de

Bacley. Já pensou no que teria acontecido?

tudo o que planejei teria ido para água

abaixo.

— Para dizer a verdade, quase que isso

aconteceu. O xerife me surpreendeu com a

garota dele.

— Sally Brown? você é maluco.

— Ela mesmo. Andou me contando tudo

sobre as negociatas de Bacley e do xerife.

— Ela está disposta a testemunhar?

— Sim, sabe de muita coisa sobre os

dois.

— Ótimo! Isso liquida o assunto. O que

fez com o xerife?

— Não tive escolha. Eu o matei.

— Um a menos para ser julgado. Só

sobrou Bacley, que foi o mentor de tudo que

aconteceu.

— Deve haver uma meia dúzia de

pistoleiros com ele ainda.

— Só que ele deve estar confiante,

imaginando que vocês liquidaram com o

Rancho Longman, não?

— Seguramente.

— Vamos cuidar dele, então.

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Após dar instruções aos vaqueiros que

ficavam, Billy e Mark rumaram para a

cidade.

— Quer dizer que conquistou Sally, então

— indagou Billy.

— Sim. Até recebi uma proposta de me

tornar sócio dela no saloon.

— Duvido.

— Vou experimentar, por algum tempo,

até que surja uma nova missão. para ser

sincero, estou ficando velho para correr de

um lado para outro resolvendo broncas. E

você? Ouvi dizer que Laurie Longman é

uma bela mulher.

— Sim, sem sombra de dúvidas. Talvez

eu o imite, Mark, e acabe me tornando um

rancheiro.

— Rancheiro? pagarei para ver isso.

— E por que não? Se você pode ser dono

de saloon, por que eu não posso ser

rancheiro?

— Por que não mesmo? — concordou

Mark, rindo e esporeando sua montaria.

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Na cidade, Ted Bacley a alguns

pistoleiros estavam no saloon, bebendo e

conversando animadamente. Ted estava

certo de que sairia por cima, por isso estava

sendo generoso.

As garotas todas do saloon estava à

distancia dele e de seus homens. Tudo

indicava uma grande festa para aquela noite.

Para ele, encerrava-se a temporada de

negócios e começava a de lazer. Havia

ganhado dinheiro demais para um só

homem gastar.

Inesperadamente, porém, quando menos

se esperava, a porta vaivém do saloon foi

aberta e dois homens resolutos entraram,

pisando firme, fazendo as esporas tinirem

no assoalho.

Rindo de satisfação, Ted se voltou para

olhar quem era.

— Mas o que significa isso? — indagou,

num fio de voz, deixando cair o copo de

bebida que segurava.

— Caiam fora, garotas! — ordenou

Mark.

As moças do saloon correram para a

escada. Os pistoleiros de Bacley ficaram

tensos, à espera do momento de sacar.

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— Cadê Amos e os outros? — indagou

Ted.

— Estão todos mortos — explicou Mark.

— O que faz com esse delegado ao seu

lado?

— Estamos aqui para prendê-lo por

roubo, assassinato, formação de quadrilha e

mais uma dúzia de acusações, Ted Bacley.

Ele é Billy Roger, delegado Federal, assim

como eu.

O comprador de gado empalideceu.

— Fui traído miseravelmente! —

exclamou.

— Você pediu isso, quando deu inicio a

suas negociatas desonestas, Bacley. Tem

duas opções. Ou se entrega por bem e será

julgado ou nos dá um bom motivo para

matá-lo aqui mesmo.

Bacley analisou suas possibilidades.

— Somos sete contra os dois. Vai ter de

me levar à força.

— Melhor para nós. Evitaremos as

despesas e os transtornos de um julgamento.

— Estão blefando!

— Então por que não arriscam suas

chances?

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Ted Bacley olhou para seus pistoleiros.

Naquele momento, porém, os auxiliares do

xerife chegavam silenciosamente.

Postaram-se atrás de Billy e Mark, sem

que estes percebessem. Ao vê-los, Bacley

exultou de satisfação.

— Foi um erro terem vindo aqui — disse,

recuperando a confiança Billy.

— Não há mais chance para você,

Bacley. Está perdido! — avisou Billy.

— Pelo contrario. Vocês estão mortos e

eu irei reiniciar meu negocio em algum

ponto do país, não importa onde. Sempre

haverá espaço para gente esperta como eu.

No alto da escada, alertada pelas garotas,

Sally viu os auxiliares prontos para disparar.

Correu até seu quarto, de onde retornou

com uma espingarda de cano duplo que o

xerife deixará lá um dia.

Enquanto avançava pelo corredor, ela

engatilhou a arma, após se certificar de que

estava carregada.

Apoiou-a na amurada, no alto da escada,

apontando-a na direção dos auxiliares do

xerife.

Sabia o que uma arma daquelas podia

fazer, mas tinha de atirar com segurança,

senão correria o risco de atingir Billy e

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Mark. Conhecia armas o suficiente, porém,

para um tiro seguro, se fosse preciso.

Ted Bacley estava confiante e fez um

sinal a seus homens e aos auxiliares do

xerife. Billy e Mark se prepararam para o

duelo.

— Os três da esquerda são meus — disse

Billy.

— Os da direita ficam para mim. E Ted?

— Quem tiver chance, dispara nele

primeiro, Ok?

— Certo, parceiro.

Os dois, no entanto, suspeitaram que

havia alguma coisa errada, Pois Bacley

estava confiante demais.

— Estão mortos! — sentenciou o

comprador de gado. — Fogo neles!

O barulho ensurdecedor de um disparo

duplo de espingarda de grosso calibre se

antecipou aos tiros de revolveres.

Os auxiliares do xerife foram varridos

contra a parede pelas devastadoras

descargas de chumbo.

Billy e Mark sacaram suas armas com

impressionante agilidade abatendo logo dois

dos pistoleiros.

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Os outros sacaram e atiraram contra eles,

forçando-os a buscarem proteção atrás de

uma mesa.

— Mil dólares perla cabeça de cada um

— gritou Ted Bacley, tentando subir as

escadas.

Agarrou o braço de uma das garotas e

puxou-a diante de si, usando-a como

escudo.

Billy e Mark se entreolharam.

— Olho direito para mim — disse Mark.

— O esquerdo é meu — falou Billy.

Os dois dispararam ao mesmo tempo. O

corpo de Ted desabou na escada e foi

escorregando para baixo, enquanto a garota,

apavorada, buscava proteção no alto da

escada.

Quando viram aquilo, os pistoleiros

perderam a motivação para a luta.

— Vamos fazer um acordo, delegado —

gritou um deles. — Deixem-nos ir e

entregaremos as armas.

— É um pouco tarde para isso. Não

fazemos acordos com ratos — respondeu

Billy.

Os pistoleiros restantes tentaram, então,

um ato desesperado, pretendendo fugir

pelos fundos do saloon.

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As armas impiedosas de Mark e Billy

puseram fim às pretensões deles.

Quando a fumaça se dissipou, os dois se

levantaram. Olharam os auxiliares do xerife

jogados contra a parede.

— Você tinha visto aqueles?

— Não. Devemos a vida a Sally.

— Agradeça-a por mim. Preciso rever

alguém agora.

— Vá logo, rancheiro. Aparece mais

tarde para um drinque — disse Mark,

enquanto Billy deixava o saloon.

Ele caminhou até o pé da escada. No alto

dela, radiante, Sally sorria para ele.

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Trilha de Sangue

Quando um homem tinha a cabeça a

prêmio por muito tempo, acostumava-se a

reconhecer os sinais de perigo. A maneira

como um viajante se aproximava, como

conduzia o cavalo, com a rédea na esquerda

e a direita caída sobre o coldre, o rifle solto

no coldre da sela, os joelhos firmados

contra o arreio, esperando o momento de

esporear e surpreender, tudo isso ficava

gravado na memória.

O olhar que sondava rapidamente o

ambiente, observando a colocação das

armas e das defesas, o tipo de cavalo, o

arreio leve, para galope ou mais pesado,

para viagens longas, nada escapava ao

homem cuja vida dependia desses mínimos

detalhes.

Buck Johnson era um velho pistoleiro

procurado em mais da metade dos

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territórios do Oeste. Mas estava ficando

velho e só queria voltar para casa, no

Missouri, pendurar as armas e viver

sossegado com o filho e a nora que, em

breve, iriam presenteá-lo com um neto.

De toda aquela vida de aventureiro, de

todas as mortes, nada restara ao pistoleiro

além do cansaço e da sensação de

inutilidade. Era disso que ele queria se ver

livre definitivamente e seu filho prometera

ajudá-lo.

Noutros tempos isso seria mais difícil.

Agora, porém, poderia até sonhar em viver

em paz. Billy Johnson era o xerife de

Lamar, ao sul de Kansas City. Morava na

cidade, mas tinha um pequeno rancho onde

Buck ficaria hospedado.

Ninguém conhecia Billy. Ninguém sabia

que Buck tinha um filho. Ninguém iria

procurá-lo ali, tão perto de Kansas City,

onde tudo começara vinte e cinco anos

antes.

Vinha do Arkansas e ainda faltavam

umas trinta milhas para chegar ao seu

destino. Parou junto a um riacho, onde

pretendia passar a noite.

Soltou o cavalo para pastar, acendeu a

fogueira e preparou alguma coisa para

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comer. Havia cavalgado muito naquele dia e

o corpo doía terrivelmente.

Queria comer alguma coisa logo e

descansar.

Tinha terminado de jantar e preparava um

pouco de café, quando os dois estranhos

chegaram. Um deles era alto e magro. O

outro era baixo.

Ambos portavam armas em coldres muito

baixos, próprios de pistoleiros. Seus cavalos

tinham arreios leves, embora eles levassem

alforjes e cobertores.

Eram homens que viajavam muito e em

velocidade. Era o tipo de gente que Buck

não apreciava.

— Noite! — disse o mais alto, sem

desmontar, sondando o terreno. —

Estivemos cavalgando todo o dia. Podemos

aproveitar a sua fogueira?

— Sim, como não — respondeu ele. —

Estava mesmo me sentindo muito só por

aqui. Desmontem, estou fazendo um pouco

de café. Se quiserem comer, tenho comida,

mas terão que preparar — disse ele,

percebendo que o magro mantinha o rifle ao

alcance da mão e que a presilha de couro

que prendia a arma estava solta.

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— Não se incomode com isso.

Aceitaremos seu café, com prazer. Só

vamos descansar um pouco e depois seguir

viagem. Meu nome é Samuel Corey e meu

parceiro se chama Slim Patterson.

— Sou Buck Sommer — mentiu o velho

o pistoleiro, mantendo-os sob suas vistas,

evitando falar seu verdadeiro nome.

Os dois olharam-se por instantes.

Desmontaram, retirando de seus alforjes

canecas de folha.

Buck terminou o café e serviu-os. Depois

apanhou uma caneca para ele e foi se

encostar no arreio, onde estendera o

cobertor de lã de carneiro.

Seu cinturão estava junto à sela. Nele se

sobressaía um moderno Colt Peacemaker,

de seis tiros, com uma fileira de cartuchos

novos inseridos nas pregas de couro do

cinto.

— É uma arma especial essa que tem aí

— observou Samuel, olhando para o

pistoleiro.

— Sim, é um Colt... A arma preferida do

Delegado Wyat Earp. Comprei-a em Dodge

City há alguns meses.

— Conheceu o Delegado?

— Sim, é um homem justo...

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— Só que não muito correto, pelo que

entendi... Está se metendo numa briga feia,

pelo que ouvi dizer...

— Ele se sairá bem. Seus irmãos estão

com ele. Além disso, Doc Hollyday está

com eles.

— Doc? Aquele maluco já deveria estar

morto com aquela tuberculose...

Enquanto conversavam, Buck apenas se

certificava de que aqueles homens viajavam

rápido mesmo. Estavam com as últimas

notícias na ponta da língua.

— Para onde estão indo? — indagou o

café e começando a enrolar um cigarro.

— Para longe... Vamos voltar para Sioux

City, no Iowa — respondeu Samuel.

— Estão aqui a negócios, então...

— Sim. Pretendemos concluí-lo hoje à

noite e voltar o mais depressa possível...

Enquanto Samuel falava, Slim rodeava o

velho pistoleiro, postando-se de modo a

deixá-lo entre dois fogos. Os anos naquela

vida haviam aguçado a percepção de

Johnson.

Sua experiência alertou-o e ele ficou de

sobreaviso, pronto para agir, se fosse

necessário. A arma estava livre no coldre.

Bastaria puxá-la e a teria na mão.

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— Como podem tratar de algum negócio

nessa escuridão? — indagou ele.

— Não vamos longe e a lua cheia deve

sair logo...

— Não há nada por perto daqui, moço.

Além disso, estamos na lua minguante.

Samuel jogou para trás a aba de seu

paletó, descobrindo o Smith & Wesson.

Slim fez o mesmo. Buck continuou como

estava, memorizando a posição dos dois.

Slim continuou se movendo. Buck começou

a se levantar lentamente.

Sua arma estava ao lado, encostada à

sela.

— Procuravam por mim, não? —

indagou, com os músculos prontos para a

explosão.

— Na verdade, nós o seguimos desde que

passou por Little Rock, há duas semanas.

Estamos em sua pista há três meses.

— Eu sabia disso... O que querem

comigo?

— Você tem sua cara e seu nome em

cartazes de todos os Estados a Oeste de

Kansas City, Buck Johnson.

— E vieram arriscar suas chances?

— Está velho e acabado agora — disse

Slim.

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— Acha mesmo isso, filho? Durante os

últimos vinte e cinco anos não tenho feito

outra coisa a não ser sacar minha arma.

Nem sempre matei gente inocente. Matei

alguns bastardos que mereciam morrer. E

nunca gostei de gente como vocês. Deixam-

me com vontade de matar...

Os dois pistoleiros se olharam.

— Está ficando velho, Johnson. Há

tempos que não saca contra alguém, pelo

que sabemos. É só um velho, agora. Além

disso, sua arma esta aí, ao lado da sela. Terá

de se abaixar para apanhá-la. Acho que vou

lhe dar esta chance, velho.

— E quem precisa de uma chance?

— Lamento, velho, não é nada pessoal.

Para nós é apenas trabalho — disse Samuel.

Buck olhou-os mais uma vez, depois

abaixou-se para apanhar sua arma. Quando

fez isso, Samuel sacou sua arma com

incrível rapidez, disparando.

Buck já havia se abaixado e a bala a ele

endereçada foi atravessar o peito de Slim,

atirando-o contra umas pedras.

— Maldito filho da mãe! — berrou

Samuel, mas seus olhos se esbugalharam e

sua voz lhe morreu na garganta, quando a

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bala disparada por Johnson atingiu-lhe a

cara, deformando-a.

Ele rodopiou e caiu sobre a fogueira.

Slim, ferido no peito, pôs-se de joelhos,

segurando sua arma com as duas mãos e

tentando levantá-la para disparar contra o

velho pistoleiro.

O velho ouviu o estalido do gatilho e

jogou-se para o lado, disparando contra a

testa de Slim.

O chapéu do pistoleiro ficou grudado na

rocha atrás dele, depois começou a deslizar

para baixo, deixando uma trilha de restos de

sangue e miolos na pedra. Buck se voltou na

direção do outro homem, mas não precisou

atirar de novo.

Um silêncio mortal pairou no

acampamento. Buck começou a trocar os

cartuchos usados de sua arma, olhando os

dois homens imóveis, iluminados pelas

chamas.

De repente, um tiro de Winchester ecoou

na noite. A bala assobiou a polegadas da

cabeça dele.

Percebeu que havia um terceiro homem

ou, talvez, até mais. Estava ou estavam

ocultos em algum ponto próximo dali.

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Uma bala assobiou a sua frente, bateu

numa pedra e ricocheteou tetricamente,

como um grito de agonia perdendo-se na

escuridão. Atirou-se para trás de uma rocha,

tentando localizar seu agressor. Novas balas

arrancavam lascas de pedra, sem que ele

pudesse revidar.

Mudou de posição para olhar melhor.

Localizou de onde vinham os tiros pelos

disparos. Mirou naquele ponto e fez fogo

algumas vezes. Ouviu um grito.

— Peguei-o! — exclamou ele, com

satisfação, respirando aliviado.

Percebeu que poderia correr e ir abrigar-

se atrás de um tronco e, dali, aproximar-se

mais do atirador. Quando se levantou para

correr, ouviu nitidamente o galope de um

cavalo afastando-se rapidamente.

Billy Johnson sempre tivera o sono leve,

mas não ouviu o barulho dos cavalos

descendo a rua. Nada ouviu depois, quando

os homens deixaram os cavalos e

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avançaram, com as esporas tinindo

abafadamente na poeira.

Billy apenas acordou quando ouviu o

gatilho estalando e o cano frio da arma

tocando seu ouvido. Alguém acendeu um

lampião.

— Não faça um gesto, xerife, ou morre

aqui mesmo — disse o homem a seu lado.

— Levante-se bem devagar.

Billy foi levado para a sala, onde Delle,

sua esposa, já se encontrava sob a mira das

armas de mais três homens.

— Pensei que fosse mais difícil —

comentou um deles, olhando para Delle

com desejo.

— Quem são vocês? O que querem aqui?

— indagou Billy.

— Estamos aqui a trabalhado, xerife —

respondeu um deles. — Somos pistoleiros e

fomos pagos para matar você, seu pai...

— Meu pai? De quem estão falando? —

surpreendeu-se Billy, já que aquele era um

segredo que poucas pessoas conheciam.

Os homens riram zombeteiramente.

— Não nos engana, xerife. Sabemos que

seu pai é um homem perigoso e está vindo

para cá.

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— Meu marido fala a verdade — afirmou

Delle.

— Ninguém a chamou na conversa, dona.

Mulheres não foram feitas para se meter na

conversa dos homens — disse um

pistoleiro, estendendo a mão.

Com um gesto rápido e inesperado,

rasgou a camisola que ela vestia,

desnudando seus seios.

— Bastardo! — rugiu Billy, socando-o

no estômago.

A resposta foi imediata. O pistoleiro

sacou sua arma e, a queima-roupa, disparou

contra Billy.

— Maldito! — urrou o rapaz, ferido na

barriga, tentando partir para cima do

pistoleiro, mas foi contido por dois outros.

Alguém golpeou sua nuca e ele caiu de

joelhos.

— Malditos sejam vocês e toda a sua

escória — gemeu, caído de joelhos.

— Por que não cala a boca e morre,

xerife? — falou o pistoleiro que ele socara

no estômago.

Billy tentou se erguer, mas o outro

levantou a bota, atingindo-o com um

pontapé na cabeça e jogando-o para trás.

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— Ergam-no. Quero que ele veja isso

antes de morrer.

Billy foi posto em pé e mantido imóvel,

enquanto o pistoleiro continuava rasgando

as roupas de Delle.

Em desespero, ela o arranhou no rosto.

Ele a socou com força, desmaiando-a.

Ela foi posta sobre a mesa, então, já nua.

— Eu serei o primeiro, rapazes — disse o

pistoleiro. — Vocês disputam na moeda

quem serão os próximos.

Billy foi amarrado numa cadeira,

enquanto os homens disputavam sua

mulher. Delle resistiu. Não estava

desacordada de todo. Girou o corpo e caiu

da mesa. Correu abraçar Billy.

Um dos pistoleiros socou-a de novo,

jogando-a no assoalho. Ali, sob as vistas do

xerife, que se debatia como um animal

aprisionado, Delle foi brutalizada por eles.

Billy se sentiu à beira da loucura, incapaz

de fazer alguma coisa para ajudar a esposa.

Estava alucinado, quando os pistoleiros

terminaram seu cruel trabalho.

— Agora vamos terminar o serviço —

falou um deles.

Delle jazia no assoalho, imóvel, como se

estivesse morta.

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— Deixe-me acabar com ele — pediu

alguém, sacando sua faca.

— Sim, mas não precisa ter pressa. Esse

aí não vai mais para lugar nenhum. Não nos

dará trabalho. Essa bala em seu couro já

decretou a morte dele.

— Como quiser, — disse o outro,

cravando inesperadamente sua faca na coxa

direita de Billy, que gemeu e ficou vendo o

sangue brotar e ensopar sua calça.

— É isso mesmo, Villas. Mate-o bem

devagar.

O mexicano retirou a faca da coxa do

homem da lei e, com um sorriso sádico no

rosto, espetou-a na outra coxa, depois

apoiou as duas mãos no cabo para fazê-la

entrar lentamente.

— Agora solte-o — ordenou Bill. —

Quero que ele rasteje.

Os pistoleiros fizeram o que ele mandava.

Billy tentou caminhar na direção do corpo

da esposa, mas acabou caindo de joelhos. O

sangue continuava jorrando de suas coxas

feridas.

— Vamos deixá-lo aí. É um homem

morto — decidiram eles, deixando a casa

um a um.

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Só que, antes sair, cada um chutou-lhe as

costelas e a cabeça. Um silêncio mortal

pairou na casa. Billy tentou gritar, mas não

conseguia articular nenhuma palavra.

Arrastou-se um pouco mais, até que seus

dedos tocassem os dedos crispados de sua

esposa.

Não resistiu mais. Desmaiou.

Quando Billy acordou, estava em sua

cama. Tudo parecia ter sido um pesadelo, se

não fosse a dor dos ferimentos ainda. Ao se

lembrar do que acontecera, começou a

chorar.

Estava arrasado. Seu primeiro

pensamento foi para a esposa. A porta se

abriu. Um homem surgiu, apoiando-se no

batente.

— Quem é você? — indagou Billy.

— Sou Buck, seu pai.

O rapaz ficou em silêncio, olhando

aquele rosto marcado pelo sol e pelo tempo.

Havia algo de sombrio e bondoso ao mesmo

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tempo no rosto de Buck, numa mescla que

Billy não conseguiu entender.

— Onde está Delle?

— Nós a enterramos ontem. A cidade

deu-lhe um enterro digo.

Billy engoliu seco, lutando contra as

lágrimas que teimavam em escorrer de seus

olhos. Seu pai continuava parado no mesmo

lugar.

Era um homem alto, com um chapéu de

abas largas. Usava um cinturão do tipo

saque rápido, onde luzia um Colt

novíssimo, com coronha branca de

madrepérola.

— O que houve?

— Pensei que se o lembrasse...

O rapaz apenas chorou de novo. Algo lhe

doía intimamente, mas ele não conseguia se

lembrar o que era.

— Como eu estou?

— Agora está melhor, mas perdeu muito

sangue e levou algumas pancadas feias.

Tem duas ou três costelas fraturadas. O

nariz está partido, por isso cuidado se ele

coçar. Dois cortes nas coxas... Acho que é

tudo.

— Como eles souberam? — indagou

Billy.

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— Como assim?

— Estavam atrás de você?

Buck não demonstrou surpresa. Ficou

parado, olhando para o rosto do filho.

— Fique bom logo. Eu cuidarei de tudo

por aqui...

— Não devia estar andando pela cidade.

Alguém pode reconhecê-lo.

— Pouco importa isso agora, filho. Acho

que o nosso sossego acabou. Além disso,

não sou procurado no Missouri... ainda!

— Como eles souberam? — insistiu em

indagar Billy.

— Não tenho a menor idéia. Tentaram

me pegar na estrada também. Matei dois

deles. O terceiro fugiu. Eram caçadores de

recompensa, mas não parecia do tipo que

sai por aí, caçando qualquer um. Estavam

atrás de mim apenas.

— Encontrou a pista desse que fugiu?

— Não. Ela se misturou às outras

pegadas na trilha que leva para Kansas City.

— Kansas City? Não foi lá que tudo

começou?

— Sim, foi lá. Há vinte e cinco anos

atrás.

— Por que fugiu?

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— Eu matei o pai da mulher que eu

amava, Billy. Eu matei seu avô.

— Minha mãe disse que você a protegia.

Era legítima defesa...

— Seria, se ele não fosse o xerife de

Kansas City e seus ajudantes não fossem

seus filhos, seus tios, Billy.

— Por que não ficou e os enfrentou?

— Eu já havia matado o pai dela... Não

podia ficar e matar também seus irmãos...

— Mamãe morreu cedo... Eu tinha pouco

mais de dez anos... Senti muito a falta

dela...

— E eu sinto a falta dela até hoje, Billy.

Outra hora continuamos essa história.

Agora descanse. Logo a vizinha virá lhe

trazer uma canja. Fique bom logo, filho! —

falou ele, saindo.

Parou no alpendre da casa e começou a

enrolar um cigarro. Lamentava que aquilo

tivesse acontecido com seu filho, por culpa

dele. Sua volta já começava a provocar

mortes.

Por onde passava, era sempre a mesma

coisa. As pessoas começavam a morrer.

Acendeu o cigarro, lembrando-se do dia

em que tudo começara. Ele era apenas um

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jovem cowboy em Kansas City, mas tivera

o azar de se apaixonar pela filha do xerife.

O homem da lei e seus dois filhos não

queriam que Buck se aproximasse da

garota. Até o dia em que os pagaram juntos.

O xerife fora severo com os dois, mas

perdeu a razão quando soube que ela estava

grávida. Agrediu-a. Buck teve de detê-lo.

Foi esmurrado. Ele tentou novamente. O

xerife sacou a arma. Lutaram e a arma

disparou.

Foi a desgraça para ele. Uma desgraça

que se transformou na maldição de sua vida,

fazendo-o ser caçado como um animal,

quando apenas tentara defender a mulher

que amava.

Quando pensava que tudo poderia ser

esquecido, aquele passado maldito

retornava, com nova tragédia.

Respirou fundo, olhando o céu. Retirou

um cartaz do bolso. Era algo que o estava

intrigando. Tirara-o de um dos alforjes dos

homens que havia matado.

Era um aviso para um grande Torneio de

Pôquer que iria acontecer no Belle Star, o

barco mais famoso do Rio Mississipi, em

breve.

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Desejou saber o que ele fazia no alforje

daquele homem. Precisava pensar naquilo,

mas algo na rua chamou-lhe a atenção. Um

homem, vestindo uma capa de viagem,

oscilando na sela, parou diante da casa do

médico.

Um pressentimento passou pela cabeça

do velho pistoleiro.

Buck Johnson esperou que o homem

entrasse no consultório, depois atravessou a

rua e foi examinar o cavalo que ele deixara

amarrado ali.

Usava o mesmo tipo de sela daqueles

usados pelos homens que haviam tentado

matá-lo no caminho. O cavalo não estava

cansado, dando a entender que não havia

galopado, apesar de seu cavaleiro estar

ferido.

Havia marcas de sangue na sela. O

homem que o montava deveria estar com

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um ferimento bem feio. Um ferimento feito

com um rifle, por exemplo.

Hesitou por instantes, após ter olhado

pela janela. Além do homem ferido, havia

algumas mulheres lá dentro. Buck preferiu

agir com cautela.

Retornou para o alpendre da casa de Billy

para poder acompanhar à distância.

— Sr. Johnson, Billy deseja vê-lo —

avisou-o a vizinha, que viera preparar

alguma comida para eles.

— Está bem — concordou Buck.

Aquele homem ferido não poderia ir

muito longe mesmo. Foi ter com Billy,

então.

— O que pretende fazer, pai? — indagou

o rapaz.

— Vou atrás deles.

— Até Kansas City?

— Talvez sim, talvez não.

— Como assim?

— Quando tentaram me matar, no

caminho para cá, atirei num homem e o feri.

Talvez ele esteja lá no médico agora.

Poderá me dar as respostas que procuro.

— Se vai atrás deles, quero ir com você

— disse o rapaz, agitado.

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Buck percebeu alguns sinais que não o

agradavam. Seu filho estava febril e o

curativo que tinha na barriga estava

manchado de sangue.

O médico fizera um bom trabalho, mas

Billy recebera um balaço de quarenta e

cinco na barriga. Era o pior lugar para um

homem ser ferido.

Sem contar que perdera muito sangue

com aqueles dois ferimentos na perna.

— Claro, Billy. Eu nem pensaria em

começar nada sem contar com a sua ajuda,

filho — respondeu ele.

— Obrigado, pai! Isso me deixa mais

aliviado — falou o rapaz, com os olhos

vermelhos e o rosto descorado.

Aquietou-se, fechando os olhos. Buck

olhou para a vizinha, que acompanhara tudo

da porta.

A mulher havia perdido o marido e dois

filhos baleados em tiroteios. Sabia a

gravidade daquele tipo de ferimento, por

isso, balançou a cabeça de um lado para

outro, com o rosto revelando toda sua dor e

sua pena.

Buck engoliu seco e saiu para o alpendre.

A mulher o seguiu.

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— Não podemos lhe dar comida, Sr.

Buck.

— Sim, eu sei, mas com comida ou sem

comida, ele... — interrompeu-se ele,

mordendo os lábios.

A mulher entendeu o que ele queria dizer.

— O que devo fazer? — questionou ela.

— Por favor... Se ele vai ter que morrer,

que não morra com fome, pelo menos... —

decidiu-se o velho pistoleiro, com o coração

amargo e um gosto de vingança ardendo em

sua boca.

Voltou seu olhar na direção do

consultório do médico. Sentou-se numa

cadeira de balanço e ficou ali, olhando

naquela direção como se não tivesse mais

nada na vida para fazer.

Todos aqueles anos sendo caçado lhe

deram aquela aparente tranqüilidade. A

tranqüilidade de um homem que sabia que a

morte o espreitava a todos os momentos.

Ficar imóvel e em silêncio, interpretando

as coisas ao seu redor, fora algo que ele

aprendera, após todos aqueles anos.

Viu quando o homem saiu, finalmente,

do consultório, apanhou a rédea do cavalo e

caminhou, apoiado na sela, na direção do

hotel.

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Buck atravessou a rua e foi até o médico.

— Como está Billy? — quis saber o

doutor.

— Mal...

— Aquele tipo de ferimento... —

comentou o médico.

— O homem que saiu daqui ainda há

pouco, qual era o problema dele?

— Por que pergunta?

— Atirei num homem, no caminho para

cá. Só o feri, mas era noite e não pude

seguí-lo.

— Acha que tem alguma coisa a ver com

o que aconteceu a Billy e sua mulher?

— Pode ser.

O médico apanhou algo sobre uma

mesinha e mostrou-o a Buck.

— Este era o problema dele — informou,

mostrando uma bala de rifle. — Pegou-o no

peito, no lado direito, mas sem atingir nada

vital. Apenas perdeu um pouco de sangue.

Acha mesmo que pode ter alguma coisa a

ver com o que aconteceu ao Billy?

— É o que pretendo descobrir — disse

Buck, agradecendo e saindo.

Caminhou na direção do hotel. Havia

pouco movimento nas ruas naquele horário.

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Diante do hotel só havia um cavalo

amarrado, o do homem ferido.

Aproximou-se cuidadosamente da porta.

Antes de entrar, sondou o interior.

Apenas um rapaz conversava com outro

no balcão da portaria. Buck entrou e se

dirigiu calmamente até lá.

— O que vai ser, forasteiro? — indagou o

rapaz do outro lado do balcão.

— Procuro o dono daquele cavalo lá fora.

Acabou de entrar aqui.

— Depende de quem quer saber —

respondeu o rapaz, medindo o pistoleiro,

com um ar superior.

— Eu quero saber — falou ele.

— E quem é você?

— Meus amigos me chamam de Buck.

Meus inimigos costumavam me chamar de

Johnson — afirmou ele, exibindo seu Colt

Peacemaker com coronha de madrepérola.

— Buck Johnson? É o parente do xerife,

não?

— Sim, você ouviu bem, rapaz. Cadê o

homem que entrou aqui ainda há pouco?

— Quarto dez, no fim do corredor, à

direita. Ele parecia ferido...

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Johnson retirou o Colt do coldre,

verificando sua carga. Guardou-o em

seguida. Caminhou na direção da escada.

— Espere um pouco, homem! O que

pretende fazer?

— Uma visita — respondeu Johnson,

sem se deter.

Johnson subiu cautelosamente a escada

até o corredor, no alto. Caminhou, então, até

o fim, parando diante de uma das portas.

Não sabia o que encontraria pela frente,

mas sabia como enfrentar uma situação

como aquelas. Não era diferente de muitas

que enfrentara antes.

Sacou a arma, engatilhando-a. Em

seguida, meteu o pé na porta, bem na

fechadura. Com um estrondo, a porta se

abriu até o fim, batendo na parede ao lado.

Na cama, o homem com o tronco

desnudo se assustou ao ver o outro entrar

com a arma apontada para ele.

— O que está havendo aqui? — indagou,

assustado, enquanto olhava para o coldre de

seu cinturão, que pendia ao lado de sua

cabeça, preso na cabeceira da cama. —

Quem é você? O que pensa que está

fazendo aqui? — quis ele saber,

recuperando o controle de si.

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Johnson aproximou-se, apanhou o

cinturão do outro e jogou-o na direção da

porta. Olhou o ferimento no peito do

homem na cama diante dele.

— Onde conseguiu esse ferimento? —

indagou.

— Não da sua conta — respondeu o

outro, examinando-o atentamente.

Havia medo em seu olhar, como se ele

reconhecesse o homem que tinha a sua

frente.

— Detesto gente teimosa — falou Buck,

aproximando-se ameaçadoramente.

— Por que quer saber? — insistiu o

ferido.

Johnson inclinou-se sobre ele como se

fosse dizer-lhe alguma coisa. Ao invés

disso, a coronha de seu Colt atingiu o local

ferido do outro, que urrou de dor.

O sangue começou a escorrer pelo o peito

dele, enquanto encolhia-se contra a

cabeceira.

— Foi numa briga...

— Há umas trinta milhas daqui? —

completou Buck. — Onde deixei os

cadáveres de dois de seus amigos

estendidos?

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O pavor no rosto do outro indicava que

Buck estava certo.

— Espere aí... Eu não tive culpa... Fomos

contratados para fazer o serviço...

— Quem os contratou?

— Não sei dizer... Recebemos um

envelope, com um cartaz que mostrava

você, um bilhete e mil dólares... Teríamos

outros mil, quando você morresse...

— Maldito! Eu devia matá-lo por isso...

— Por favor... Não me mate!

Buck pensou por instantes.

— Onde está esse bilhete?

— No alforje de minha sela...

— Vou lá ver isso. Espere-me aqui...

Posso ter ainda mais algumas perguntas

para você — ordenou Buck, saindo e

trancando a porta.

Por precaução ele levou o cinturão do

outro, deixando-o com o rapaz da portaria.

Foi examinar o cavalo lá fora. Não havia

nenhum envelope nem bilhete, mas ele

encontrou um outro cartaz, falando do

torneio de pôquer que iria acontecer no Rio

Mississipi.

Voltou para o hotel, agora disposto a

fazer aquele homem falar. Subiu

rapidamente a escada.

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Correu até a porta, ao perceber que estava

aberta. Nenhum sinal do ferido lá dentro.

O rapaz da portaria surgiu no fim do

corredor.

— Por onde ele pode ter saído? — gritou-

lhe Johnson.

— Pela porta dos fundos — respondeu o

rapaz, apontando-a.

— Diabos! — praguejou Buck, olhando

na direção da porta apontada pelo rapaz.

Estava aberta. Correu até lá. Uma escada

conduzia ao beco, ao lado do hotel.

Johnson desceu rapidamente por ali.

Quando chegou à rua, não viu sinal do

cavalo do homem ferido.

— Maldição! — praguejou ele.

Dois garotos estavam brincando ali perto.

Chamou-os.

— Viram um homem sair daquele beco e

vir aqui para a rua?

— Sim, ele desceu, pegou um cavalo

malhado que estava ali, na frente do hotel e

fugiu a galope.

— Para onde ele foi?

— Para lá — apontou o garoto.

— O que tem naquela direção?

— Ele fugiu na direção de Springfield —

acudiu o outro garoto.

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Buck jogou uma moeda para os dois

meninos e foi rapidamente até o estábulo,

onde deixara seu cavalo.

Selou-se e montou-o rapidamente.

Aquele homem ferida levava uma

pequena vantagem, mas Johnson sabia que

o alcançaria. Seu cavalo estava descansado

e o do outro, não.

Ao tentar escapar, com certeza o fugitivo

forçaria seu animal até a exaustão.

Depois teria de parar para descansá-lo ou

correria o risco de perdê-lo.

Mesmo assim, sabia que o alcançaria

logo. Aquele homem estava ferido e fraco.

Só torcia para encontrá-lo com vida ainda.

Após algum tempo de cavalgada,

Johnson viu um cavalo sem cavaleiro logo à

frente.

Preocupou-se, porque poderia tratar-se de

uma emboscada. Diminuiu a marcha e

apanhou sua Winchester.

Viu um corpo caído no meio de uns

arbustos. Era o homem a quem perseguia.

— Água... Água, por favor! — pediu ele.

Johnson se aproximou e desmontou. O

outro estava incrivelmente pálido e fraco

pela perda de sangue.

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Pensou em dar-lhe água, mas desistiu.

Aquele homem estava morrendo e, acima de

tudo, não merecia nenhuma consideração.

Era um maldito caçador de recompensas.

Abaixou-se junto dele.

— Quem os mandou me matar? —

indagou.

— Água... Água... — repetia o ferido.

Johnson percebeu que o ele estava com

febre e que, possivelmente, logo começaria

a delirar.

— Maldição! — praguejou, percebendo a

ironia de tudo aquilo.

Tinha de fazer de tudo para que aquele

bastardo não morresse, antes de lhe contar o

que sabia.

Arrastou-o para a sombra de uma árvore.

Deu-lhe água. Apertou o curativo,

impedindo que sangrasse.

Sabia, porém, que aquele era um homem

morto. Buck não iria deixar barato a

tragédia que aquele homem e seus amigos

haviam trazido para ele, quando pretendia

apenas paz e sossego.

— Muito bem, seu maldito! — falou-lhe

Johnson. — Quem os mandou?

Ele abriu os olhos sem brilho, encarando-

o e reconhecendo-o. Começou a rir.

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— Eu menti para você... — murmurou

ele.

— Quem foi, maldição? — indagou

Johnson, sacando a arma e enfiando a ponta

do cano na boca do rapaz.

O ferido encolheu uma perna. Sua mão

tateou a bota, encontrando o cabo da faca.

Puxou-a.

Encarou Johnson e começou a rir,

enquanto encostava a faca nas costelas do

pistoleiro.

— Maldito! — berrou Johnson,

apertando o gatilho e quase decepando o

pescoço do outro com o tiro.

Ele ficou ali, o corpo estremecendo, os

olhos esbugalhados e um arremedo de riso

borbulhando em sua boca estourada.

Johnson levantou-se e caminhou de um

lado para outro, desesperado.

Aquela havia sido sua única esperança,

sua única pista. Precisava saber quem estava

por trás de todos aqueles homens.

Revistou os bolsos do falecido, tentando

achar alguma pista, alguma indicação que

denunciasse o mandante daqueles homens.

Encontrou perto de trezentos dólares nos

bolsos dele, juntamente com um recibo de

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inscrição ao torneio de pôquer, em nome de

Ben Carson.

Todas as pistas que tinham pareciam

apontar para aquele torneio, no Rio

Mississipi, embora as respostas só

pudessem estar em Kansas City.

Foi até o cavalo do morto e retirou os

arreios, soltando-o. Apanhou o alforje, que

se abrira. Retirou tudo lá de dentro.

Descobriu um papel. Abriu-o e leu-o.

Um vinco de preocupação desenhou-se

em sua testa.

— Maldição! — murmurou ele.

Era um recibo do Telégrafo de Lamar.

Aquilo não o agradou, mas preocupou-o.

Não se preocupou em enterrar o cadáver

de Ben Carson. Os abutres e os coiotes

fariam bom proveito daquele covarde.

Retornou imediatamente à cidade e foi

direto para o telégrafo.

— Sou Buck Johnson, pai do xerife.

Estou investigando o ataque a ele e a sua

casa. Pode me dizer que tipo de mensagem

este homem mandou?

Solícito, o empregado apanhou um papel

sobre a mesa, entregando-o a Buck.

— Não conte a ninguém que fiz isso, mas

se for para ajudar a pegar os bastardos que

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fizeram aquilo, eu não me importo de

perder meu emprego.

Buck agradeceu e apanhou o papel.

Estava endereçado a um tal de John

Lubock, em Kansas City.

— Ele está em Lamar. Falhamos.

Assinado, Ben Carson — leu o pistoleiro,

em voz alta.

— Conhece esse tal de John Lubock? —

indagou o rapaz.

— Não, nunca ouvi falar nele. Sabe quem

é?

— Lubock é dono de um saloon em

Kansas City. É um sujeito desprezível, pelo

que sei, chefe de uma quadrilha de

caçadores de recompensas que...

— Caçadores de recompensas? —

interrompeu-o Buck.

— Sim, gente desprezível em todos os

sentidos, não?

— Da pior espécie — confirmou Buck,

que não gostava particularmente desse tipo

de gente.

— Cuidado ao se envolver com eles —

alertou o rapaz.

Agradeceu o rapaz e foi para a casa de

Billy. O médico estava lá, chamado pela

vizinha.

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— Eu sinto muito — disse, quando Buck

entrou no quarto.

Billy estava ainda mais pálido. Seus

olhos avermelhados e sem brilho se

agitaram, ao ver o pai entrar.

— Pai... Vai ter que esperar um pouco,

até eu melhorar, mas prometo que ficarei

bom logo... Então iremos atrás daqueles

bastardos... Quero pegá-los um por um... os

quatro miseráveis...

— Não se preocupe, filho. Apenas fique

bom, depois cavalgaremos juntos... Eu e

você...Vamos pegá-los... Com certeza —

falou Buck, lutando contra as lágrimas que

teimavam em brotar de seus olhos.

— Nós vamos vingar Delle, pai. Aqueles

assassinos pagarão por isso — falou o

rapaz, estendendo a mão na direção dele.

Buck segurou com firmeza a mão de seu

filho. Sentiu a força do desespero e da

morte naquele aperto de mão forte, que

durou alguns instantes, depois foi se

afrouxando, enquanto o rapaz dava seu

último suspiro.

O pistoleiro, então, chorou

silenciosamente, deixando as lágrimas

rolarem pelo seu rosto vincado pelo tempo e

pelo sol.

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Buck enterrou o filho ao lado do túmulo

da esposa. Fechou a casa, levando todos os

pertences para o pequeno rancho, nas

proximidades de Lamar.

Ainda não havia decidido por onde

começar, mas sabia que não precisaria ir

atrás de ninguém, pelo menos por enquanto.

Aquele telegrama, passado pelo homem

que ele havia matado, com certeza iria atrair

novamente os assassinos para ele.

No rancho ele deixou a mudança

empilhada no celeiro e foi se sentar na

varanda da pequena casa, olhando na

direção da trilha que avançava desde a

estrada até ali.

Algumas cabeças de gado pastavam

preguiçosamente no pasto que circundava a

casa. A tarde avançava lentamente.

Enquanto fumava, tentou se lembrar de

alguém chamado John Lubock, mas não

havia ninguém assim em seu passado.

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Imaginou, então, que poderia ser algum

dos irmãos da mãe de seu filho, buscando

uma vingança tardia, mas não tinha muito

sentido.

Como eles ficaram sabendo de sua vinda?

Apenas Billy e, com certeza, sua esposa, a

pobre Delle, sabiam disso.

Não havia como justificar a emboscada

nem o ataque à casa.

Logo iria entardecer. Buck inspecionou a

casa, então. Havia uma boa cama num dos

quartos. Ele havia trazido um pouco de

comida, por isso foi acender o fogão.

Concluíra que o melhor a fazer era

esperar seus perseguidores ali mesmo, no

rancho. Assim não punha em risco vidas

inocentes na cidade, pegas no meio de um

tiroteio.

Já vira e até participara de cenas assim.

Infelizmente não havia como controlar as

balas perdidas. Elas fatalmente faziam

vítimas.

Estava na cozinha, cortando toucinho

para fritar, quando ouviu o ranger de uma

tábua.

Não se alterou, pois sabia exatamente o

que fazer. Já enfrentara situações como

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aquela diversas vezes, em todos aqueles

anos de fugitivo.

Quando inspecionara a casa, procurara

justamente essas tábuas que rangiam,

memorizando-as. Por isso sabia exatamente

onde estava a pessoa que acabara de chegar.

Apenas estranhou que fosse um só.

Talvez um outro caçador de

recompensas, seguindo sua trilha até ali.

— Fique aí mesmo, moço — disse a voz

masculina atrás dele.

Buck apenas inverteu a faca em sua mão,

segurando-a pela ponta.

— Deixe o cinturão cair — ordenou a

voz.

Buck soltou a fivela com a mão esquerda,

enquanto mantinha a faca em sua direita. O

cinturão com o Colt caiu pesadamente no

assoalho.

— Agora vire-se... Bem devagar! —

mandou o outro.

Buck começou a se mover devagar, até

perceber o vulto que segurava uma

Winchester, parado na porta do quarto.

Com certeza seu atacante havia entrado

pela janela do quarto. Isso agora pouco

importava. Com um movimento rápido

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demais para ser detido, ele arremessou a

faca, que se enterrou no ombro do rapaz.

Ele gemeu e recuou, sem conseguir

sustentar o rifle em suas mãos. Buck

avançou na direção dele, tomou-lhe a arma

e golpeou-o na testa, jogando-o para trás.

— Maldição! — resmungou ele,

contendo sua raiva.

Detestava caçadores de recompensa.

Toda a sua vida lhe parecia ter tido um em

seus calcanhares, fazendo-o acordar no

meio da noite suado, obrigando-o a se

sentar com as costas contra a parede ou

cavalgar pelos piores terrenos, para não

deixar pistas.

Mesmo assim, como verdadeiras pragas

ou abutres famintos, eles conseguiam

seguir-lhe a trilha.

Ficou olhando para o rapaz caído. Não

parecia um caçador de recompensas, pois

não usava um cinturão. Pelas roupas que

vestia, parecia mais um rancheiro.

O sangue escorria de seu ombro. Buck

rasgou-lhe a camisa para observar o

ferimento. Aparentemente não atingira

nenhum nervo ou órgão vital.

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Olhou na direção do fogão. O ferro de

mexer a lenha estava em brasa, com a ponta

no meio do fogo.

Foi lá e apanhou-o. Segurou com firmeza

a faca e puxou-a. O sangue surgiu mais

abundante. O velho pistoleiro encostou a

ponta em brasa no ferimento.

O rapaz gemeu, abrindo os olhos e

sentindo o cheiro de carne queimada,

desmaiando de novo.

Em sua testa um galo enorme se formara.

Buck não o moveu, até ter certeza que a

ferida havia parado de sangrar. Só então o

levou para o quarto, acomodando-o na

cama.

Foi buscar uma toalha molhada e pô-la na

testa do rapaz. Depois saiu da cabana, à

procura do cavalo que o outro montava,

localizando-o afastado da casa.

Trouxe-o consigo, tirando-lhe o alforje.

Foi abrí-lo sobre a mesa. Havia cartuchos

de munição para o rifle, uma muda de

roupas, um pouco de comida e uma carta

endereçada a um tal de Kyle Davidson, em

Maryville, no extremo norte do Missouri.

Abriu-a. Alguém informava que Frank

Davidson havia sido morto em um tiroteio

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em Last Chance, no Colorado, quando

comprava mantimentos no armazém local.

Um caçador de recompensas havia

tentado prender um pistoleiro chamado

Buck Johnson. No tiroteio, uma bala

perdida atingira Frank, matando-o.

— Maldição! — exclamou Buck.

Ter caçadores perseguindo-o era algo a

que estava habituado. Ter alguém

procurando-o para uma vingança, era pior.

Gente com esse objetivo eram as piores.

Em outros tempos, Buck saberia exatamente

o que fazer, como já o havia feito antes.

Simplesmente mataria aquele rapaz e

deixaria seu corpo para os abutres.

Agora, no entanto, tinha muito em que

pensar. Toda a sua vida havia sido

desperdiçada por uma loucura. A mulher

que ele amara estava morta. Seu filho e sua

nora também. Nada lhe restara de toda a sua

vida.

Foi até o quarto. O rapaz continuava

adormecido. A ferida não sangrava. Ele foi

apanhar algo em seu alforje. Era uma

pomada que o próprio Doc Hollyday lhe

dera, excelente para cicatrizar feridas.

Espalhou um pouco sobre o ferimento,

depois enfaixou-o cuidadosamente.

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Pelo visto o rapaz dormiria um bom

tempo ainda. Cobriu-o e foi para a cozinha

preparar o jantar.

John Lubock olhou o telegrama estendido

na sua escrivaninha, depois para os quatro

homens diante dele. Estava contrariado e

isso se refletia em seu semblante.

Era um homem de gostos refinados.

Vestia-se bem, com um terno bem talhado e

um colete bordado com fios de ouro. Um

cinturão estava afivelado em sua cintura.

Colts de canos curtos e cabos de ébano

reluziam no couro negro.

— Eu não entendo vocês. Se começaram

o trabalho, por que não esperaram pelo

homem e terminaram com tudo?

— Pensamos que Ben e os outros já

haviam feito o serviço, pois o velho não

apareceu — disse um deles.

— Demônios! — praguejou, batendo

com o punho fechado sobre o tampo de

madeira. — Desde quanto vocês são pagos

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para pensar? Eu só lhes pedi que

cumprissem ordens. Apenas isso, diabos!

— Foi um mal entendido, Lubock.

Podemos voltar lá e...

— Podemos? Vocês vão voltar lá e

encerar esse caso, entendido? Parto amanhã

cedo para pegar o Belle Star em Saint

Louis. Quero conhecer o local, antes do

torneio de pôquer. Vocês vão, fazem o

trabalho, depois informem os resultados,

mandando um telegrama para Memphis,

entendido?

— Sim, pode ficar tranqüilo. Nós

faremos o trabalho completo desta vez, nem

que tenhamos que seguí-lo até o inferno...

— É problema de vocês. Duvido que ele

vá ficar lá esperando.

— Teremos uma pista de partida para

seguir — comentou um dos pistoleiros.

— Certo. Agora saiam da minha frente

— ordenou Lubock, com irritação.

Os quatro homens se apressaram em

deixar o escritório. Lubock foi até um cofre

num canto e abriu-o. Havia dinheiro novo,

preso com fitas do Banco do Missouri

ainda. Contou-os, enquanto pensava no

torneio.

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Aquele era um jogo que ele queria e iria

vencer. A cada cinco anos, o Belle Star

promovia aquele torneio, reunindo

jogadores de pôquer de todo o país e do

exterior também.

O último campeão fora Lorde Cartridge,

um inglês frio como o gelo e duro como

uma rocha. As lendas que se contavam a

respeito dele tornavam-no imbatível.

Lubock não via a hora de enfrentá-lo.

A inscrição para o torneio era cara.

Custava cinco mil dólares, mas dava ao

ganhador um prêmio de cem mil.

Não havia segundo lugar nem prêmios de

consolação. Apenas o melhor era premiado.

Guardou o dinheiro no bolso interno do

paletó. Saiu para o saloon que, àquela hora,

começa a se encher com os vaqueiros que

vinham tirar o pó da garganta.

Cumprimentou alguns dos fregueses

costumeiros.

— Vai mesmo disputar o torneio, John?

— indagou o ferreiro, que toda tarde, depois

e fechar seu local de trabalho, ia tomar um

uísque e conversar com as garotas.

— Sim, estou mais preparado do que

nunca.

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— Dizem que o Lorde vai estar lá de

novo — falou o barbeiro, sentado à mesma

mesa.

— Não vejo a hora de enfrentá-lo.

— Eu o vi jogar uma vez, em Little Rock,

no Arkansas...

Quem falava agora era o dono do

armazém, um indivíduo muito astuto e

sagaz.

— Realmente, Sr. Batlefield?

— Sim e fiquei observando bem.

— Conseguiu descobrir o ele faz quando

blefa? — indagou Lubock, rindo.

— Ele leva o charuto à boca e fecha o

olho direito... Faz assim — disse o homem,

levando o cigarro aos lábios.

No momento em que tragou, a fumaça

escapou de sua boca e subiu pelo seu rosto.

Ele fechou o olho direito e abriu ainda mais

o esquerdo.

Lubock olhou-o com interesse. Peter

Batlefield era um homem observador, todos

sabia disso. Mas como ninguém ainda havia

descoberto o ponto fraco do Lorde?

O dono do saloon olhou ao seu redor. Viu

Mary Singleshot numa das mesas de jogo.

Fez um sinal para que ela fosse ter com ele.

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Agradeceu às pessoas na mesa e foi

esperar por Mary no pé da escada que

levava ao pavimento superior do saloon,

onde estavam os quartos.

— Pronto para a viagem, John?

— Sim, Mary. E você?

— Minha bagagem já está toda pronta.

Não vejo a hora de partirmos.

— Vamos nos divertir muito — disse ele,

subindo a mão pelo braço dela, resvalando

em seu seio e indo acariciar seu rosto.

Ela sorriu e dobrou a cabeça contra a mão

dele, esfregando o rosto nela.

— Já jogou alguma vez com o Lorde?

— Não, mas já joguei contra quem jogou

contra ele.

— Sabe se ele tem algum tique quando

blefa?

— O Lorde? É imperturbável como uma

rocha.

— Ele fuma?

— Sim, um maldito charuto atrás do

outro, quando está jogando.

— Acha que conseguiremos jogar

algumas partidas com ele antes do torneio,

só para sentir seu estilo?

— É o que ele mais gosta de fazer.

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— Ótimo! Volte ao seu jogo. Eu vou

terminar minha mala. Depois nos

encontramos. Amanhã quero sair bem cedo.

Temos mais de duzentas milhas para

percorrer, querida.

— Estarei em sua companhia. Nada me

agradará mais. Além disso, vamos viajar de

trem, querido — afirmou ela, pondo-se nas

pontas dos pés para beijar-lhe a boca.

Depois de jantar, Buck foi se sentar na

varanda da casa. Tudo estava escuro e em

silêncio ao seu redor. Apenas grilos

cricrilavam nas redondezas.

Preparou um cigarro e acendeu-o.

Pensava nos homens que viriam a sua

procura. De Kansas City a Lamar a

distância era de umas cem milhas, ou dois

dias de viagem.

Sabia que eram homens que se moviam

rapidamente. Assim, a partir daquela noite,

a qualquer momento eles poderiam aparecer

por ali.

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Com certeza procurariam por ele na

cidade. Saberiam que ele estava no rancho.

Apareceriam na calada da noite, como

haviam feito com Billy.

Eram uma raça de coiotes.

Buck sabia que teria de estar atento, de

procurar ficar acordado à noite e dormir

durante o dia.

Era um velho hábito que ele usava com

freqüência, quando tinha que fugir. Achou

que chegando em Lamar jamais iria precisar

disso. Jamais se enganara tanto em toda a

sua vida.

De qualquer foram, estaria preparado

para aqueles homens. Assim como Ben, eles

dariam as respostas que ele queria, por isso

não podia matar todos eles.

Tinha de capturar pelo menos um dele e

fazê-lo falar. Tinha que entender tudo

aquilo, antes de ir em busca de vingança.

Ouviu um barulho na sala, depois o ruído

da alavanca de uma Winchester sendo

acionada.

Estranhou, mas pelos passos incertos

deduziu que fosse o rapaz que ele ferira, por

isso não se alterou.

A porta se abriu. Kyle surgiu diante dele,

empunhando o rifle.

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— Vou matá-lo, maldito! — disse o

rapaz.

— Não vai matar ninguém. Por que não

solta esse rifle e volta para a cama? Esse

ferimento em seu ombro ainda vai lhe dar

trabalho. Com certeza vai infeccionar e

teremos de fazer uma nova cauterização,

depois de fazê-lo vazar. Quando mais forte

estiver para isso, melhor.

O rapaz hesitou, olhando para o ombro

enfaixado. Parecia confuso.

— Por que está dizendo isso?

— Porque não quero que morra por causa

disso. Foi estúpido chegando daquela

forma. Eu poderia tê-lo morto de verdade,

sabia?

— Você matou meu pai...

— Foi uma bala perdida.

— Como sabe disso?

— Li a carta em seu alforje.

— Você estava lá...

— Eu e um caçador de recompensas

chamado Deathkiss. Pelo que li na carta,

deduzo que seu pai estava no armazém. Eu

havia acabado de sair do armazém, onde

fora comprar munição. Desci a rua.

Deathkiss saiu do Saloon Double Bar. Ao

me ver, atirou, depois foi se esconder atrás

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de um bebedouro. Eu respondi ao fogo.

Trocamos tiros. Se alguém acertou seu pai

foi ele.

— Está mentindo... — afirmou o rapaz,

atordoado.

— E por que eu mentiria? Teria sido mais

fácil para mim levá-lo para o meio do pasto

e deixá-lo lá para sangrar como um porco.

Assim estaria livre de você.

— Eu... Eu não... — balbuciou Kyle.

— Além disso, não mataria ninguém com

um rifle sem balas. Eu retirei todas.

O rapaz deixou cair a arma e recuou,

apoiando-se na parede. Buck jogou fora o

cigarro que fumava e foi ampará-lo.

— Eu falei que não devia ter saído da

cama — afirmou ele, ajudando o rapaz a

voltar para o quarto.

Acomodou-o, depois cobriu-o.

— Isso não muda nada, Johnson.

— O que não muda? — indagou o velho

pistoleiro.

— Vim aqui para matá-lo e vou fazer

isso.

— Ótimo! Mas fique bom antes. E depois

trate de dar o fora daqui bem depressa.

— Por que devo fazer isso?

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— Porque isto aqui vai virar um inferno,

quando eles voltarem...

O rapaz calou-se, olhando-o de modo

diferente agora. Soubera na cidade o que

havia acontecido.

Não sabia se devia sentir ou não sentir

piedade daquele homem que perdera o filho

e a nora.

Para ele, Buck era alguém que sempre

vivera pelas armas. Devia estar acostumado

com matanças.

— Fala dos homens que mataram seu

filho e sua nora? — indagou ele.

— Sim.

— Como sabe que eles vão voltar?

— Porque eles queriam a mim. Estão a

caminho. Sinto em meus ossos. Portanto,

não esteja aqui quando eles chegarem.

— Talvez eu faça um favor para eles e o

mate primeiro — falou o rapaz, incisivo.

Buck olhou-o nos olhos. Sabia

reconhecer um assassino pelo olhar. Kyle

não era um deles.

Mesmo assim, o velho pistoleiro sacou

seu Colt, girou-o na mão e segurou-o pelo

cano.

Estendeu-o para o rapaz.

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— Se quer fazer isso, faça-o agora —

falou, com a arma ao alcance da mão de

Kyle.

Este o olhou com surpresa nos olhos.

— Vamos, pegue — insistiu Buck.

O rapaz segurou o Colt. Seu polegar

apoiou-se no cão do gatilho, pronto para

puxá-lo para trás.

Buck continuava olhando-o nos olhos.

Kyle fazia ao mesmo. De repente, a arma

em sua mão parecia não ter mais sentido.

— Estava de costas mesmo para o

armazém? — indagou, timidamente.

— Sim, estava. Naquele tiroteio eu

disparei três balas. Uma acertou a coxa de

Deathkiss. A segunda pegou em sua barriga.

A terceira rachou sua cabeça.

— E ele?

— Disparou as cargas de duas pistolas

Scolfield, de seis tiros cada uma.

— Não acertou nenhuma?

Buck hesitou por instantes, depois soltou

os botões da camisa e abriu-a.

Havia diversas cicatrizes em sua pele.

— Ele me acertou duas vezes. Uma aqui

— disse, mostrando uma cicatriz ao lado do

mamilo esquerdo. — E outra aqui —

continuou, mostrando o lado direito da

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barriga. Nas duas as balas vararam meu

couro e não acertaram nada mortal.

— Teve sorte — afirmou o rapaz e o Colt

em sua mão agora repousava sobre a cama.

Buck fechou a camisa.

— Trate de dormir — disse ao rapaz,

indo abaixar a chama do lampião.

Quando ia sair, Kyle chamou-o.

— Johnson!

— Sim?

— Sua arma — falou o rapaz, segurando-

a pelo cano e estendendo-a para o pistoleiro.

Conforme Buck havia previsto, no dia

seguinte Kyle amanheceu febril. Ao

examinar o ferimento, o pistoleiro notou os

sinais visíveis de uma infecção.

— Não vou morrer, vou? — indagou o

rapaz, tremendo.

— Vou ter que ir à cidade buscar o

médico para ver isso. Está pior do que eu

pensava.

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— Não! Você não vai me deixar aqui

sozinho.

— Preciso...

— Aqueles homens podem voltar...

— E você pode morrer com essa

infecção. O médico vai ter que abrir isso e

limpar. Não posso fazer nada...

— Vi seu peito... Vi suas cicatrizes.

Como as curava?

— É diferente, Kyle. Era comigo...

— Você pode cuidar de mim... Sei que

pode. Não vá. Se eles vierem, não poderei

me defender. Talvez eles me matem...

O pistoleiro pensou por instantes, depois

examinou novamente o ferimento. Estava

feio, mas não mais do que todos os que

haviam acontecido com ele.

Foi até a cozinha e apanhou uma garrafa

de uísque.

— Beba um pouco disso — ordenou ele.

Kyle o obedeceu sem pestanejar,

tomando alguns goles. Buck molhou um

pano e aplicou-o sobre o ferimento. O rosto

do rapaz crispou-se de dor e ele tomou a

garrafa da mão do pistoleiro, tomando mais

um gole.

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Buck deixou que ele bebesse mais um

pouco, depois derramou uísque sobre o

pano.

Kyle nem fez careta dessa vez.

— Vou passar mais um pouco desta

pomada. Vai ajudar — disse.

O rapaz ficou quieto, enquanto ele

terminava o curativo e o enfaixava.

— Você se parece um pouco com meu

pai — falou Kyle, com a voz embargada.

— Eu não me pareço com ninguém,

garoto.

— Verdade. Olhando-o assim, de perto...

— Não! — afirmou Buck, saindo.

Voltou algum tempo depois, com a

Winchester de Kyle.

— Fique com ela sob o cobertor. Está

carregada e com uma bala na câmara.

Bastará puxar o gatilho e...

— Eu sei como funciona uma

Winchester, Johnson...

— Me chame de Buck. Fico parecendo

seu parente com esse Johnson...

Kyle riu, apanhando o rifle e pondo-o sob

o cobertor.

— Quando acha que eles chegarão? —

indagou.

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— Talvez já estejam por aí, esperando a

chegada da noite...

— Acha que não atacarão durante o dia?

— Acho que sim. São covardes. Foi

assim que pegaram meu filho, na calada da

noite. Como é seu sono, Kyle?

— Tenho o sono pesado, Buck. Minha

mãe dizia que, quando eu dormia, nem um

estouro de boiada me acordava.

— Isso é mau... — comentou o pistoleiro.

— Acho que vou ter que fazer alguma coisa

a respeito — continuou, olhando ao seu

redor.

— Por que não faz um varal de latas? —

sugeriu Kyle.

— E como funciona isso?

— Prenda um arame liso ao redor da casa

e pendure latas nele. Quando alguém

esbarrar...

— Saberá que nós sabemos que eles estão

vindo. Perderemos o efeito surpresa...

— Como assim?

— Tenho de pensar em algo que me

alerte aqui dentro, mas não os deixe saber

que eu estou esperando por eles.

— E como fará isso?

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— Acho que já sei — falou Buck,

olhando uma caixa de costura sobre um

móvel do quarto.

Foi até lá e abriu-a. Retirou um novelo de

linha grossa.

— Isto vai servir — disse, deixando o

quarto.

Kyle ficou curioso, tentando entender o

que ele estava fazendo. Buck cravou quatro

estacas ao redor da casa, passando a linha

por elas, à meia altura.

Depois voltou para casa, após ter

prendido uma ponta do carretel naquela

linha que ficara esticada lá fora.

Pela porta do quarto aberta Kyle o viu

trazer uma lata grande, de mantimentos,

pondo-a ao lado de um catre que Buck

havia armado para dormir.

— O que é isso? — indagou o rapaz.

— Vou prender a linha neste sino —

explicou Buck, mostrando um sino de

prender ao pescoço do gado.— O sino

ficará dentro da lata e a lata ficará ao meu

lado. Quando alguém arrebentar a linha lá

fora, o sino cairá aqui dentro e me acordará.

— Tem certeza disso?

— Tenho. Meu sono é leve — garantiu

Buck.

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O velho pistoleiro passou o resto do dia

sentado no alpendre, olhando a trilha.

ã medida em que a noite se aproximava,

ele se preocupava. Era terrível ficar

esperando pela chegada da morte.

Kyle estava febril, mas Buck considerava

aquilo normal, comparando-se ao que

enfrentara, nas diversas vezes em que fora

ferido.

O rapaz era jovem e saudável e poderia

resistir, só que era algo incerto. Buck já vira

gente morrer por ferimentos menores do

que aquele.

O melhor a fazer era ir buscar o médico,

só que não poderia fazê-lo naquela noite. Os

homens que o caçavam poderiam aparecer.

Fazendo os cálculos, se não fosse naquela

noite, seria na noite seguinte.

Se a febre aumentasse, no entanto, seria

apenas um estorvo para ele, quando

chegassem os caçadores de recompensa.

— Kyle, se você não melhorar até

amanhã, vou levá-lo para a cidade. Há uma

carroça lá no celeiro. Se eu for devagar,

acho que você resistirá.

— Não quero ir, Buck. Estou bem, pode

apostar...

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— Não, Kyle, não vou apostar nisso —

decidiu Buck.

O saloon do Hotel De Soto, da

Companhia de Navegação Mississipi-

Missouri, en Saint Louis, estava repleto. Os

jogadores haviam começado a chegar havia

uma semana.

Vinham de toda parte, com a esperança

de ganhar os cem mil dólares, desde os

novatos até os mais experientes, como o

último campeão, Lorde Cartdrige.

— É aquele — apontou Mary, quando ela

e Lubock entraram no saloon.

Os olhos do jogador se dirigiram para a

direção apontada pela garota.

Um homem, trajando-se formal e

impecavelmente, jogava cartas com outros

cinco.

John Lubock se aproximou e se juntou às

pessoas que observavam o jogo. Prestou

atenção nas reações daquele inglês que

fumava muito, acendendo um charuto atrás

do outro.

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Podia observar as cartas dele e perceber

quando blefava. Assim que isso ocorreu, ele

ficou atento, tentando ver se ocorreria

aquilo que Batlefield lhe havia dito no

saloon, dias antes.

O Lorde levou o charuto à boca e baforou

imperturbavelmente. Não moveu um

músculo, olhando fixamente para o jogador

a sua direita, que deveria cobrir a aposta ou

correr.

— Você ganhou — desistiu o outro,

jogando as cartas na mesa.

O Lorde juntou as suas ao baralho e

recolheu as apostas sobre a mesa.

— Percebeu alguma coisa quando ele

blefou? — indagou John a Mary, algum

tempo mais tarde, quando foram para o bar.

— Não. Ele é muito firme, percebeu?

— Mas tem que ter um ponto franco.

Todos têm — assegurou John.

— Você tem?

— Com certeza.

— E qual é o seu ponto fraco? —

indagou ela, interessada.

Ele riu.

— Jamais contarei. Você ganharia todo o

meu dinheiro e ficaria com o saloon.

— E eu, tenho um ponto fraco?

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— Sim, quando você blefa, você coça a

orelha esquerda.

— Eu faço isso? — surpreendeu-se ela.

— Sim. Pode olhar todos os jogadores

aqui. Cada um deles tem a sua marca

registrada. É isso que pretendo descobrir

nos próximos dias, até a partida do Belle

Star e o começo do torneio.

— E o Lorde é o mais difícil de todos...

Por isso estava interessado nele.

— Com certeza ela será o ganhador de

novo. Observei o jogo dele. É realmente

muito bom e tem sorte. Quando não sai com

cartas, sabe blefar muito bem. Num jogo

valendo cem mil dólares, isso é decisivo.

— Vai continuar observando-o?

— Sim, e jogarei contra ele também.

Deixarei que ele me julgue um candidato

inofensivo, enquanto tento descobrir seu

ponto fraco.

— Vai jogar contra ele?

— Sim, e preciso que você me ajude,

anotando as mãos que ele ganhar blefando.

— Se me pegarem fazendo isso...

— Seja discreta. Isso vai me ajudar. Se

eu ganhar esse torneio, você terá a sua

parte.

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— Isso é muito bom, querido. Mas se vai

jogar contra ele, vai perder dinheiro com

certeza. Está tão bem assim de grana?

— Sim, recebi metade do dinheiro para

resolver aquele negócio de que lhe falei.

— E está tudo resolvido?

— Quase. Só falta um pequeno detalhe e

meus homens foram para Lamar, acertar

isso.

— Quem está pagando vinte mil para

isso?

— Segredo. Não posso lhe contar.

— Deve ser alguém muito rico mesmo

para pagar tão alto pela solução de um

negócio que talvez pudesse resolver

pessoalmente.

— Deixe isso para lá. Vamos jogar um

pouco — disse ele, retirando algumas notas

do bolso. — Vá comprar fichas para nós.

Tenho que começar a estudar meus

adversários — completou ele.

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Naquela noite, Buck resolveu trazer uma

caixa de documentos que estava no celeiro e

que viera coma mudança.

Depositou-a sobre a mesa. Kyle dormia.

A febre continuava estável. O ferimento não

infeccionara, conforme ele imaginara a

princípio. A pomada que Doc lhe dera era

mesmo muito boa.

Começou a examinar aqueles

documentos. Nada havia de importante,

além da escritura da casa na cidade e do

rancho.

Buck concluiu que tudo aquilo era dele

agora, com a morte de Billy e da esposa.

Pensou sobre isso. Não sabia se queria

ficar ali. Se iria se habituar, depois de tanto

tempo fugindo.

Encontrou uma carta endereçada a Delle.

Abriu-a. Era de um advogado em Kansas

City, informando sobre uma herança. Era

algo com que ela não mais se preocuparia.

Deixou tudo aquilo de lado e foi apanhar

um café. Abaixou a chama do lampião e

caminhou até a janela. Ficou olhando lá

para fora. Não haveria lua. A escuridão era

total.

Era uma ótima noite para um ataque.

Estava inquieto. Apanhou sua espingarda e

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levou-a, juntamente com material de

limpeza, para a mesa.

Desmontou-a. Começou a limpar os

canos, esfregando uma vareta com um

abrasivo numa bucha da ponta.

Para verificar o trabalho, ele examinava,

pondo os canos contra a luz do lampião.

De repente, percebeu algo. Os grilos

estavam silenciosos lá fora. Começou a

montar rapidamente a espingarda, olhando a

todo momento para a lata onde estava o

sino.

Quando a espingarda ficou pronta,

carregou-a e enfiou uma porção de

cartuchos no bolso, depois abaixou ainda

mais a chama do lampião.

Foi até o quarto onde Kyle dormia. O

rapaz nem se mexia, profundamente

adormecido.

Caminhou, então, até a janela. Havia uma

fresta, por onde podia espreitar lá fora.

Nada via nem ouvia. Os grilos continuavam

em silêncio.

Do outro lado do pátio, atrás do celeiro,

quatro homens se esgueiraram na escuridão,

observando a casa.

— O que me diz, Villas? — indagou um

deles ao mexicano.

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— Ele está lá. Deve estar indo dormir,

pois abaixou a chama do lampião, Bill.

— Vamos esperar, então.

— Por que não vamos logo e acabamos

com isso? Poderemos voltar ao saloon e

festejar. Vi algumas belas garotas lá —

sugeriu um terceiro, demonstrando

impaciência.

— Calma, Ted, vamos fazer isso direito.

Não vai demorar muito mesmo. É apenas

um velho. Logo estará dormindo

profundamente e não nos causará

problemas.

— Acho que vocês todos estão ficando

malucos. Estamos falando de Buck Johnson,

pessoal. O homem que se tornou uma lenda

e já matou mais gente sozinho do que nós

quatro juntos. Por que Ben e os outros não

apareceram?

— Sei lá, Bull, na certa estão de porre em

algum muquifo por aí e...

— Ben e os outros estão mortos, pode

apostar nisso.

— Ben passou um telegrama informando

que haviam falhado, lembra-se?

— E depois sumiu — acrescentou Bull.

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— Está certo, Bull pode ter razão e não

convém facilitar. Vamos esperar aquele

homem dormir, depois iremos até ele.

— Pois então vou aproveitar e dormir um

pouco. Avisem-me quando chegar a hora da

ação — falou Ted, acomodando-se com as

costas contra a parede do celeiro.

Os outros três continuavam olhando a

casa, esperando ver algum movimento.

Lá dentro, Buck estava imóvel na janela,

atento, esperando. Os grilos haviam voltado

a fazer barulho, mas apenas os que estavam,

nos lados da casa.

No pátio e no celeiro, eles estavam

calados. Se havia algum perigo a caminho,

viria de lá.

Tanto podia ser uma raposa caçando ratos

como poderiam ser ratos caçadores de

homens.

Com a espingarda apoiada nos braços,

Buck não se movia. A tensão estampava-se

em seu rosto, mas ele não movia um

músculo.

Seu olhar já conseguia perceber os

contornos do celeiro, a carroça parada

diante dele e as estacas, onde havia

prendido a linha.

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No quarto, repentinamente, Kyle gemeu e

resmungou.

— Diabos! — praguejou o velho

pistoleiro, olhando na direção da porta que

deixara aberta.

O lampião clareava o corpo do rapaz e

ele se agitava na cama. Buck deduziu que

era a febre.

Se fosse até lá, qualquer movimentação

poderia alertar quem estava lá fora.

Esperou, torcendo para que o rapaz se

acalmasse, mas ele ficou cada vez mais

agitado.

— Buck! — chamou ele.

O pistoleiro não teve outra alternativa,

senão esgueirar até lá, com a espingarda nas

mãos.

Ao vê-la e ao perceber a maneira como o

outro se movera pela casa, Kyle entendeu o

que estava acontecendo.

— Eles chegaram?

— Imagino que sim. O que você tem?

— Sede... Muita sede...

— Fique aqui. Vou buscar água. Como

está a febre? — indagou, pondo a mão na

testa do rapaz.

— Acho que está na mesma.

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— Pelo menos não piorou. E o ferimento,

ainda dói?

— Não, parou. Sério — respondeu Kyle,

retirando a Winchester de sob o cobertor.

Buck cautelosamente foi buscar água

para o rapaz. Quando retornou, ele estava

tentando se levantar.

— Demônios, garoto! Onde pensa que

vai? — repreendeu-o o pistoleiro.

— Não vou estar nesta cama quando eles

chegarem.

— Posso estar enganado... Pode não ser

eles...

— Um homem como você não se engana

nessas coisas, Buck. Posso sentir a tensão

em sua voz. O sino caiu?

— Não, ainda não. Acho que estão

esperando. Devem ter visto a luz, quando

chegaram. Abaixei a chama há algum

tempo. Devem estar esperando que eu

durma. Não vão se arriscar.

— O que vamos fazer?

— Acho que o melhor a fazer é você ficar

aqui no quarto, vigiando essa janela. Se

alguém forçá-la e abrí-la, atire.

— E você?

— Vou ficar na sala. Posso vigiar as

janelas e as portas.

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Kyle foi se acomodar num canto do

quarto, com a Winchester nos braços.

Buck levou-lhe um cobertor, depois foi

para a janela, onde estava antes.

Ficou olhando lá fora, acostumando sua

visão com a escuridão novamente.

Após algum tempo, ficou visível a

movimentação nos fundos do celeiro. Podia

ver os homens. Estavam tão tranqüilos que

um deles acendera um cigarro.

— Kyle, está me ouvindo? — indagou.

— Sim, o que foi?

— Estão atrás do celeiro.

— Quantos são?

— Três... talvez quatro.

— Quando atacarão?

— Quando se sentirem seguros.

— Não seria mais fácil ir pegá-los?

— Não com essa escuridão. Se tivesse

lua, até poderia dar certo. E não vou

acender as tochas só por isso.

O rapaz apareceu na porta do quarto.

— Por onde acha que atacarão?

— Possivelmente entrarão pela frente.

Não têm o que temer.

— Vão ter uma surpresa...

— Prepare-se! — alertou-o Buck,

engatilhando sua espingarda.

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— Estão vindo?

— Sim — afirmou o pistoleiro, tirando a

tranca da janela.

— Vai atirar neles antes de entrarem?

— Não, preciso pegar pelo menos um

deles vivo. Fique aí e fique quieto. Se eles

entrarem pela porta da frente, ficarão entre

dois fogos.

Kyle ficou de olho na porta. Buck

acompanhou o avanço dos quatro homens lá

fora.

Viu-os aproximando-se das estacas. A

linha foi arrebentada. O sino caiu dentro da

lata, sobressaltando Kyle, que

inadvertidamente disparou seu rifle.

— Maldição! — praguejou Buck, vendo

os homens lá fora estacarem, surpresos.

Abriu a janela e apontou rapidamente a

espingarda para as pernas deles.

Apertou um, depois outro gatilho. O

chumbo grosso varreu as pernas dos

pistoleiros, jogando-os no chão.

Apenas Villas conseguiu correr na

direção do celeiro. Os outros três ficaram

caídos, disparando suas armas na direção da

casa.

— Você os pegou? — quis saber Kyle.

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— Atirei nas pernas deles. Três estão

caídos diante da casa. Um outro correu para

o celeiro.

— E agora?

— Vou acender as tochas. Vá até a outra

janela e me dê cobertura. Eles pararam de

atirar.

Kyle o atendeu. Buck esgueirou-se até a

porta.

— Vai funcionar?

— Espero que sim — respondeu Buck.

Naquela tarde ele amontoara no pátio

algumas pilhas de lenha, gravetos e capim

seco, depois esparramara pólvora por cima.

Fizera um rastilho que vinha terminar na

porta da casa. Bastaria acender e esperar

que a pólvora fizesse o resto. Com aquela

luz, poderia ver melhor os homens lá fora.

Abriu ligeiramente a porta. Os homens lá

fora gemiam e rastejavam na direção do

celeiro.

Buck riscou um fósforo e encostou no

rastilho, depois fechou de novo a porta.

Uma saraivada de balas bateu

sinistramente contra a madeira maciça da

porta.

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Lá fora o rastilho principal se dividiu em

quatro outros, que chegaram às pilhas de

lenha, incendiando-a.

Os três pistoleiros caídos estavam entre

elas e a casa, sendo um alvo perfeito para

Buck e Kyle.

Villas, no celeiro, porém, além das

fogueiras, tinha também uma ótima visão da

casa e podia dar cobertura a seus amigos.

Buck examinou a situação e percebeu que

estavam num impasse. Os três homens

caídos haviam esgotado a munição de suas

armas e gritavam pelo auxílio de Villas, que

estava no celeiro.

Ao tentar abrir uma fresta da porta, uma

bala passou a milímetros de sua cabeça.

— Diabos! Ele pode nos ver lá do celeiro,

mas não podemos vê-lo.

— Ele está na parte de cima do celeiro,

eu vi o brilho do disparo — falou Kyle.

— Não vamos poder fazer nada.

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— Pelo menos aqueles três ali não vão

nos dar trabalho.

Lá fora, no entanto, Villas gritava para

seus amigos.

— Rastejem para cá, rapazes! Eu lhes

dou cobertura.

— Se vocês se moverem, serão mortos —

respondeu Buck, voltando-se para Kyle. —

Abra sua janela — ordenou, fazendo o

mesmo depois do seu lado. — Eles não

sabem que somos dois aqui. Quando eu

apontar a espingarda do lado de cá, mire

perto daqueles homens e atire.

Buck pôs a espingarda para fora da

janela. Villas disparou seu rifle lá do

celeiro. Buck se abaixou e fez um sinal.

Imediatamente Kyle atirou perto dos

homens que se arrastavam na poeira.

— Posso matar cada um de vocês —

gritou Buck.

— Ajude-nos, Villas! — gritou Ted, em

desespero.

— Fiquem calmos, rapazes! Vou dar um

jeito.

— Ei, Buck! Eles não sabem mesmo que

somos dois aqui. Por que eu não fico aqui

atraindo a atenção do atirador no celeiro e

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você sai pelos fundos da casa, dá a volta e

vai pegá-lo?

Buck pensou por instantes.

— Sim, acho que pode dar certo. Fique

com a espingarda e os cartuchos. Dispare de

vez em quando, mas mude de janela

sempre, para confundí-lo. Acha que vai

ficar bem?

— Só vou ficar depois que você o pegar,

é claro — brincou o rapaz, mas estava

suando frio, tremendo de febre ainda.

Buck verificou seu Colt, depois foi para

os fundos da casa. Abriu a porta e olhou lá

fora com cuidado.

As fogueiras jogavam claridade até ali.

Não havia ninguém. Ele correu até a

privada. Dali avançou rente à cerca do

curral, até a pocilga.

Quem estivesse no celeiro não o veria ali.

Ele avançou até uma plantação de milho.

Dali pode chegar até os fundos do celeiro,

sem ser visto.

Kyle disparava a espingarda de instante a

instante. O homem no alto do celeiro

respondia.

Buck contornou e entrou pela porta da

frente rapidamente, sem ser visto. Ouviu

barulho lá no alto.

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O mexicano gritava para seus amigos

rastejarem, afirmando que lhes daria

cobertura.

Buck foi até a escada e subiu lenta e

silenciosamente. Pôde ver um homem com

sombrero na abertura por onde içavam o

feno.

Sacou seu revólver e foi se aproximando.

Quando engatilhou a arma, o mexicano

imobilizou-se, pressentindo o perigo.

Buck percebeu que ele havia detectado

sua presença.

— Não se mexa! — ordenou.

O mexicano se voltou com rapidez,

apontando o rifle. Buck disparou. A bala

acertou a coronha da arma, partindo-a e

tirando-a das mãos do atirador.

— Vete al infierno! — berrou o

pistoleiro, avançando contra Buck.

No último momento ele viu na mão do

outro uma faca.

— Maldição! — praguejou, desfiando o

corpo.

Mesmo assim, a lâmina afiada riscou sua

barriga e cortou o tecido de sua camisa com

extrema facilidade.

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— Não sei como fez isso, gringo, mas vai

se arrepender de ter vindo aqui — falou o

mexicano, brandindo a faca.

— É um idiota, homem — afirmou Buck,

sacando seu Colt e apontando-o para a

cabeça dele.

Villas hesitou. Olhou para o piso do

celeiro, lá embaixo. Buck pressentiu o que

ele ia fazer.

Antes que pudesse evitá-lo, porém, Villas

saltou lá do alto, caindo sobre alguns sacos

de milho.

— Diabos! — berrou Buck, procurando

ver para onde ele ia, mas o mexicano

simplesmente sumira, após a queda.

Percebeu que teria que descer para caçá-

lo, mas era quase certo que ele estaria lá

embaixo a sua espera.

Na abertura a sua frente havia uma viga

do telhado que se prolongava pra fora. Na

ponta estava uma roldana. Uma corda

pendia ali.

Pensou por instantes, depois guardou sua

arma. Foi até lá. A corda descia até o chão.

Testou-a. Começou a descer.

Quando chegou ao chão, foi até a porta.

Villas estava oculto próximo da escada,

esperando-o com um revólver na mão.

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Buck não hesitou. Apontou seu Colt e

disparou. O mexicano urrou de dor, quando

a bala atravessou seu braço.

O velho pistoleiro foi ao encontro dele,

então. Villas sacou a faca, brandindo-a com

a mão esquerda. Seus olhos estavam

arregalados, como os de um demente.

— Não me pegará vivo, gringo! — rugiu

ele.

— Ao diabo com você, idiota! Para que

eu preciso de você? — respondeu Buck,

erguendo de novo a arma.

Villas era jovem e ágil. Mesmo ferido,

atirou-se ao chão e rolou na direção de

Buck.

A faca rebrilhava em sua mão, enquanto

ele avançava de maneira fulminante.

Buck estava velho, mas seus reflexos de

defesa ainda eram perfeitos. Ele chutou no

momento certo, atingindo a cabeça do

mexicano, que rolou, gemendo de dor.

Antes que Villas entendesse o que tinha

acontecido, Buck agarrou-o pelo colarinho e

levantou-o.

Jogou-o contra um pilar de madeira, onde

ele bateu as costas com força e gemeu de

novo.

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Buck não teve piedade. Agarrou-o

novamente e jogou-o na direção da parede,

ao lado da porta.

Villas bateu de frente e o sangue que

espirrou de seu nariz manchou a madeira.

— Ficou louco, gringo? — berrou ele,

atordoado.

— Sim, sempre fico louco quando atiram

em mim, maldito covarde — respondeu

Buck, segurando Villas pelo pescoço e

jogando-o para fora do celeiro.

O mexicano foi se esparramar na poeira,

junto de seus amigos.

— Está tudo bem, Kyle! — gritou o

velho ao rapaz na casa.

— Maldito! Eram dois! — percebeu Bill.

Buck desarmou todos eles, depois

examinou os feridos. Bill, Ted e Bull

tinham suas pernas crivadas de chumbo.

Kyle se aproximou.

— O que vamos fazer com eles agora? —

indagou.

— Enforcá-los.

— Enforcá-los? — surpreendeu-se Kyle.

— Sim, pendurá-los pelo pescoço

naquela árvore ali na frente. Tem quatro

bons galhos nelas. Vá até o celeiro e traga

codas, Kyle.

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— Espere aí, Buck! Não pode enforcá-los

— falou o rapaz.

— Sim, ouça o que o rapaz está dizendo

— ajuntou Ted, com uma expressão de dor

e pavor no rosto.

— E por que não? Só vamos poupar

trabalho à justiça. Posso lhe garantir que

foram estes homens os que mataram meu

filho e minha nora...

— Não foi nossa culpa — berrou Ted. —

Recebemos ordens para isso..

— Cale-se, Ted! — ordenou Bill.

Buck se voltou para Kyle e piscou um

olho.

— Eu não falei? Tenho o direito de fazer

isso. Vá pegar a corda Kyle.

— Está bem, Buck. Se você acha que

deve pendurar esses bastardos pelo pescoço

e fazê-los espernear até botar um palmo de

língua para fora, problema seu. Só que eu

não vou ajudá-lo a descer esses homens

depois. A sujeira que um homem que morre

enforcado faz nas calças é coisa que eu não

ajudarei a limpar... — comentou o rapaz,

enquanto ia até o celeiro.

— Vamos, levantem-se e caminhem na

direção daquela árvore!

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— Espere! Não pode nos matar.

Merecemos um julgamento — lembrou

Ted.

— Aqui vocês não merecem nada. A

menos que possa me contar alguma coisa

que não sei...

— Eu conto — falou Ted.

— E o que tem para me contar?

— Eu lhe dou o nome do homem que nos

mandou aqui...

— Fala de John Lubock?

— Sim, como sabe?

— Sei mais do que vocês imaginam,

rapazes.

— Só que não sabe onde achá-lo — falou

Villas, cuspindo sangue.

— Sim, ele não está em Kansas City.

— E onde ele estaria, então? — indagou

Buck.

— Solte-me e eu lhe contarei —

choromingou Ted.

Kyle voltou com as cordas. Vinha

trançando nós de força. ã medida que

terminava, ia pondo nos pescoços dos

pistoleiros.

— Espere! Posso lhe contar onde ele está

— insistiu Ted.

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Buck se lembrou de algo, então. Lubock

era dono de um saloon. Possivelmente

gostava de jogar.

— Eu sei onde encontrá-lo — afirmou.

— No torneio de pôquer.

Os homens ficaram em silêncio. Kyle pôs

a corda no pescoço de Villas. O mexicano

fez o sinal da cruz e começou a rezar

baixinho.

Os outros se desesperaram. Ted começou

a chorar e a suplicar. Buck ficou olhando

pra eles e pensando que eles haviam matado

seu filho e sua nora impiedosamente.

Tinha todo o direito de matá-los. Olhou

para Kyle, que esperava sua decisão.

— Amarre-os, Kyle. Vamos levá-los para

a cidade amanhã. Aliás, você vai levá-los

com a carroça.

— E você?

— Vou para Springfield, pegar o trem

para Saint Louis. Vou ao encontro de John

Lubock. Tenho algumas perguntas a fazer

para ele.

— Quero ir junto — disse o rapaz.

— Por quê? — surpreendeu-se o velho

pistoleiro.

— Vai precisar de ajuda.

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— Há um quarto de século cuido de

minha vida sozinho, rapaz. Não vai ser

agora que precisarei de ajuda...

— Precisou hoje. Se eu não estivesse

aqui, você não teria conseguido sair dessa.

Buck olhou-o sem saber o que decidir. O

rapaz estava ferido e febril. Que ajuda

poderia lhe dar?

— Vamos amarrá-los primeiro e depois

conversaremos — decidiu o pistoleiro.

Amarraram os quatro homens e os

levaram para o interior da cabana. Buck

improvisou curativos para todos eles,

embora a retirada dos chumbos só pudesse

ser feita pelo médico, na cidade.

Nenhum deles, no entanto, corria risco de

vida. Quando terminaram, Buck foi

esquentar o café. Kyle foi ter com ele junto

ao fogão.

— E então? — quis saber o rapaz.

— Você está doente e ferido. Não poderá

viajar.

— Só vamos cavalgar até Springfield,

depois iremos de trem. Verei o médico

amanhã. Ele fará um curativo, se for o caso.

— Façamos o seguinte, então — sugeriu

Buck. — Amanhã vamos todos para a

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cidade. O médico vai examiná-lo e se

liberá-lo para viajar, eu o deixo vir comigo.

— Então pode estar certo que viajaremos

juntos. Estarei melhor amanhã, você vai ver.

Onde está aquela pomada? Quero trocar

meu curativo.

A noite avançava movimentada no saloon

do Hotel De Soto. As mesas de jogo

estavam agitadas. Algumas grandes paradas

já haviam sido saudadas pelos que

assistiam.

Garotas com bandejas, uísque e comida

circulavam por entre as mesas. Guardas-

costas vigiavam atentamente. Todos aqueles

homens que estavam ali valiam, no mínimo,

cinco mil dólares cada um.

Na mesa, jogando contra o Lorde, John

prestava atenção a qualquer mudança, a

qualquer alteração nos momentos em que

seu adversário apostava.

O inglês, no entanto, em nada modificava

sua fisionomia nem se alterava. Era uma

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rocha realmente, conforme Mary o havia

descrito.

Numa das mãos, alguém apostou alto.

John desistiu de continuar e aproveitou para

ir ao banheiro. Quando retornou, as apostas

haviam subido ainda mais.

Um dos jogadores apostara quinhentos

dólares. O inglês repicara os quinhentos,

pondo mais quinhentos. Buck examinou as

cartas dele. O maldito tinha apenas um par

de dez.

Estava blefando contra um jogador que

tinha cartas para superá-lo com folga.

Buck deu a volta e se sentou de novo à

mesa, olhando a reação do inglês.

— Está blefando! — falou o jogador,

encarando o Lorde.

— É do jogo — respondeu, levando o

charuto à boca.

— Seus quinhentos e mais mil — apostou

o jogador.

O Lorde baforou o charuto e

inconscientemente fechou o olho direito

quando fez isso.

John percebeu. O inglês voltou a pôr o

charuto no cinzeiro. Separou mil dólares em

ficha e empurrou para o centro da mesa.

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— Seus mil dólares — disse ele,

enquanto contava outro tanto de fichas.

As pessoas ao redor se surpreenderam e

ficaram maravilhadas. Nenhuma, porém,

estava mais satisfeita por estar ali do que o

próprio Lubock.

— E mais dois mil — acrescentou o

Lorde, empurrando as fichas para o centro

da mesa.

Ficou olhando para o seu oponente com

uma expressão absolutamente

imperturbável.

— Diabos! — praguejou o outro, olhando

aquela mesa altíssima.

Tinha um bom jogo, mas não o suficiente

para enfrentar uma aposta como aquela.

Ao redor, a multidão acompanhava em

silêncio e com expectativa. O jogador abria

e fechava as cartas em suas mãos, olhando-

as, olhando as fichas na mesa e olhando os

olhos inexpressivos do Lorde.

— Maldição! Não vou apostar conta

você, Lorde — disse, desistindo.

Jogou as cartas sobre a mesa. O Lorde

pôs suas cartas sobre o baralho e começou a

juntar as cartas. John olhou para Mary, que

lhe piscou um olho. Ela também havia

percebido aquela ponto fraco do Lorde.

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Debruçou-se sobre John, como se fosse

beijá-lo no pescoço.

— Viu? — indagou ela.

— Sim. E vou tirar a prova.

— Como?

— Observe — falou ele, beijando-a.

Nova mão foi iniciada. Cinco cartas

foram distribuídas para cada jogador. John

examinou as suas. Tinha um par de setes e

três cartas desparceiradas.

Quando chegou sua vez, trocou três

cartas. Juntou-as sobre a mesa e foi abrindo

uma por uma.

Seu coração bateu mais rápido. Iria

arriscar de qualquer maneira, mas tinha uma

quadra de setes nas mãos, o que era um jogo

que justificava uma aposta alta.

As apostas iniciais foram baixas. Ele, no

entanto, não deixou barato.

— Vamos começar a separar os homens

dos meninos — disse ele, empurrando

quinhentos dólares na mesa.

Seu olhar se concentrou no inglês que,

inicialmente, estavam imperturbável.

— Não, de novo não! — afirmou o

jogador que havia perdido na mão anterior,

jogando as cartas sobre a mesa.

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Os outros jogadores foram desistindo, até

que chegou o momento do Lorde falar.

Todos esperaram com atenção. Os que

estavam atrás dele esperavam uma nova

jogada de arrojo e coragem. O jogador tinha

apenas dois pares, um de seis e outro de

noves.

Ele fixou o olhar em John Lubock,

medindo-o. Numa aposta como aquela, no

mínimo era preciso uma trinca de cartas

altas para apostar.

O Lorde não resistiu, porém, ao desejo de

impressionar.

Empurrou quinhentos dólares em fichas

para o centro da mesa, junto das outras.

— Seus quinhentos — disse ele. — E

mais mil — falou, empurrando as fichas

sobre a mesa, depois apanhando seu

charuto.

John acompanhou o gesto com atenção.

O inglês baforou. A fumaça subiu pelo seu

rosto. Ele fechou o olho direito.

Mary olhou para seu namorado. John

hesitou, apenas para criar suspense. Sabia

que poderia apostar com segurança.

— Está bem — afirmou. — Pago mil

para ver suas cartas — falou John e o inglês

empalideceu.

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Esperava que John repicasse a aposta

para impressioná-lo com uma parada mais

alta.

Ficou olhando direto nos olhos de seu

oponente, enquanto abria suas cartas na

mesa. Naquela noite, era a primeira vez que

perdia.

— Não é um cavalheiro — falou o Lorde.

— E por que deveria?

— Ninguém corre assim tão fácil.

Poderia ter ganho mais.

— Ou poderia ter que correr de uma

aposta maior. Isto foi sorte de principiante,

Lorde. Se eu cobrisse sua aposta, com

certeza você cobriria a minha e eu teria de

fugir. Quem se arriscaria a enfrentar um

blefe do grande Lorde Cartdrige?

O inglês ficou sério por instantes, depois

começou a rir. Parecia lisonjeado, mas não

gostara nada do que lera nos olhos daquele

adversário.

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O auxiliar de Billy Johnson havia

assumido o posto de xerife, até que um

novo fosse eleito. Buck parou a carroça

diante da cadeia e ordenou aos homens que

descessem.

Mal havia amanhecido o dia. O dono do

armazém varria a calçada diante de sua loja.

O ferreiro começava a acender sua forja.

Algumas donas-de-casa caminhavam na

direção da carroça que trazia verduras e

vegetais frescos toda manhã.

Aquela carga humana sendo descarregada

diante da cadeia chamou logo a atenção de

todos, que reconheceram logo o pai do

xerife assassinado.

— Quem são eles, Sr. Johnson? —

indagou alguém.

— Ladr·es, creio eu. Eu os peguei lá no

rancho...

Eskridge, o xerife provisório, surgiu à

porta, com cara sonolenta.

— O que está acontecendo aqui?

— Ajude-me a levar estes homens para

dentro. Mande alguém chamar o médico —

pediu-lhe Buck.

— Mas quem diabos são eles?

— Depois eu lhe digo, imbecil — falou

Buck, entredentes.

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Eskridge percebeu logo quem eram

aqueles homens.

— Deus do céu, homem! Não os que

mataram... — ia dizendo.

— Sim, são eles e se não quer ter um

linchamento nas mãos, é melhor se calar.

— Ei, esses homens passaram aqui ontem

à tarde, perguntando de senhor, Sr. Johnson

— lembrou-se o barman do saloon, que

passava a caminho do trabalho e parou para

ver o que estava acontecendo.

— São assassinos! — gritou alguém.

— São os assassinos do xerife e de sua

esposa — ajuntou outro e a multidão ficou

em silêncio, olhando para os homens que

desciam da carroça, para Buck e para o

xerife.

— Maldição! — praguejou Buck,

empurrando os pistoleiros para dentro das

cadeia. — Tranque-os logo e se prepare

para o pior! — alertou.

— E aquele? — indagou Eskridge,

apontando pra Kyle.

— Esse é meu amigo, ajudou-me a

enfrentar esses bastardos.

Lá fora meia dúzia de pessoas havia se

espalhado em todas as direções. As demais

permaneceram diante da cadeia, olhando

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para a porta e para a janela absolutamente

imóveis.

O xerife provisório notou isso e teve

medo.

— O que vai acontecer agora? —

indagou. — Não estou gostando nada das

caras daquelas gente lá fora.

Buck e Kyle foram até a janela olhar.

— Já vi isso acontecer antes — falou

Buck.

— O que vai acontecer? — quis saber

Kyle.

— O diabo! A questão é saber se vamos

lutar para preservar as vidas daqueles

assassinos lá dentro.

— Por que diz isso? — indagou o xerife.

— Porque vamos ter um linchamento

aqui e não vai demorar.

O rapaz olhou assustado para o velho

pistoleiro.

— Linchamento?

— Sim, isso mesmo. O que pretende

fazer a respeito, filho?

O rapaz pensou por instantes, depois

olhou para e estrela espetada em seu peito.

— Quando me pediram para ficar aqui

como xerife provisório, ninguém me falou

nada sobre linchamentos — disse ele,

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retirando a estrela e pondo-a sobre a

escrivaninha. — Fique aqui se quiser,

senhor. Eu vou dar o fora agora mesmo —

afirmou, saindo.

A multidão continuava em silêncio.

— Ei, gringo! Você tem que nos tirar

dessa. Você nos trouxe aqui, agora tem que

dar um jeito de nos livrar.

— Eu não quero ser linchado —

choromingou Ted.

— Ora, cale a boca, seu maricas! —

ordenou-lhe Bull, irritado.

— O que vamos fazer, Buck? — quis

saber Kyle.

— Acho que vamos ao médico antes de

mais nada — decidiu Buck.

— E eles?

— Eles são problema da cidade agora —

sentenciou o pistoleiro, segurando o braço

do rapaz e empurrando-o para fora.

As pessoas chegavam e ficavam ali,

diante da cadeia. Buck e Kyle passaram por

elas.

— O que vai acontecer agora?

— Espere e verá — falou Buck.

Homens e mulheres foram chegando e se

aglomerando, até que alguém surgiu com

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um laço, na ponta do qual já havia feito um

nó de forca.

Imediatamente outros laços como aquele

foram chegando.

— Foram eles que mataram Billy e Delle

— gritou alguém.

Um grupo de homens se destacou e

entrou na cadeia.

— Não merecem piedade! — falou uma

mulher.

Lá dentro da cadeia os prisioneiros

gritavam em desespero. Sons de pancadas e

gemidos se juntaram aos gritos.

Pouco depois, o primeiro deles, coberto

de sangue, era jogado da porta da cadeia

para o meio da rua. Pedras e pedaços de pau

caíram sobre seu corpo.

Ele tentou rastejar, mas era socado e

esmurrado. Seus amigos, um a um, foram se

juntar a eles, para serem atacados pela

multidão.

Os homens com os laços agiram

prontamente, impedindo que eles fossem

massacrados. Puseram o nó de forca em

seus pescoços, depois os arrastaram pela

rua, na direção da praça, onde havia uma

enorme árvore.

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Alguém já levara uma carroça para lá.

Ted e seus amigos clamavam por piedade,

mas seus pedidos eram calados por murros e

pancadas.

Kyle acompanhava tudo aquilo

absolutamente chocado, percebendo que a

multidão parecia hipnotizada com o que

fazia.

Buck, por seu turno, já vira linchamentos

demais para se impressionar.

Os bandoleiros, cobertos de sangue,

foram postos de pé encima da carroça. Os

laços foram esticados. A multidão pedia a

morte deles. Pedras foram jogadas contra

seus corpos. Villas rezava. Ted chorava.

Bill olhava tudo como se não fosse com ele

que estivesse acontecendo aquele pesadelo.

Bull sorria como um idiota.

Chicotearam o cavalo. A carroça

avançou. O grito de pavor na garganta dos

pistoleiros foi calado, quando a corda

apertou suas gargantas.

Eles espernearam, dançando

macabramente, com os olhos arregalados, o

rosto se avermelhando e a boca se abrindo.

Suas línguas surgiram, à medida em que

o laço mais e mais os sufocava.

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A multidão urrava, ainda atirando pedras.

Quando eles foram se imobilizando um a

um, a ira do povo começou a se desfazer.

Por algum tempo eles ficaram observando

os corpos imóveis oscilando na ponta da

corda.

Depois, aos poucos, foram virando as

costas e saindo, em silêncio, cada um para o

seu afazer ou o seu trabalho, como se nada

tivesse acontecido.

Ficaram apenas os cadáveres balançando

na árvore para indicar que aquele havia sido

um começo de dia anormal em Lamar.

— E agora? — indagou Kyle.

— O que aconteceu correrá o país e os

bandoleiros passarão ao largo de Lamar por

um bom tempo. É uma justiça cruel, mas

funciona, Kyle. Agora vamos ver esse

ferimento — decidiu Buck.

— Já tinha visto alguma coisa assim

antes? — indagou o rapaz, enquanto

caminhavam para a casa do médico.

— Muitos...

— Já tentaram linchá-lo?

— Sim, uma vez.

— Onde?

— Em Kansas City, no lado de lá do rio.

— O que fez?

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— Matei um xerife... O pai da mulher

que eu amava. Mas não gosto de falar nisso.

Aconteceu há muito tempo.

— Por isso foi procurado?

— Sim.

— Por que voltou para cá, se estamos tão

perto de Kansas City.

— Porque meu filho me convidou para

vir morar com ele.

— Não é procurado aqui?

— Não, o crime aconteceu do outro lado

da fronteira estadual, no Kansas. Por isso

não sou procurado no Missouri.

— Acha que virá mais gente atrás de

você?

— Não, não aqui em Lamar. Não depois

do que aconteceu com aqueles quatro.

Kyle voltou a cabeça para olhar. Os

cadáveres estavam imóveis, dependurados

na árvore, como estranhos e macabros

adornos.

Alguém abriu uma janela e afastou as

cortinas. O sol entrou generosamente no

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saloon esfumaçado, fazendo os homens

cobrirem os olhos.

— Ei, feche isso! — gritou alguém.

— Não, deixe que abra. Vamos arejar isto

aqui — pediu outro.

— Só então os homens consultaram seus

relógios, depois esfregaram os olhos

vermelhos e cansados.

— Bem, senhores, acho que por hoje

chega. Continuaremos à noite — sentenciou

o Lorde, como se todos ali dentro esperasse

apenas a sua decisão.

Estavam todos cansados. Começaram a

reunir suas fichas. Os que haviam perdido

saíram lamentado. Os que ganharam

deixavam fichas de gorjeta para as garotas e

para os carteadores.

Lorde Cartridge olhou com respeito para

o homem a sua frente. Havia blefado três

vezes naquela noite e nas três vezes fora

apanhado por ele.

John Lubock estava exultante. Tinha

certeza que poderia vencer o Lorde. Provara

isso naquela noite.

— É um adversário de respeito, John —

elogiou ele.

— Tive sorte, apenas isso — falou o

outro, com falsa modéstia.

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— Tudo será diferente no torneio.

— Tenho certeza disso — afirmou John.

O Lorde ainda o olhou por instantes,

fixando seu olhar no dele. Definitivamente

havia algo no olhar de Lubock que não o

agradava.

Lubock era esperto, esperto demais,

talvez. Assim que o Lorde se afastou, John

abraçou Mary, erguendo-a no ar.

— Eu o peguei, Mary. Você viu como eu

o peguei?

— Sim, foi maravilhoso, John. Como fez

aquilo?

— O ponto fraco. Peguei o ponto fraco

dele. Quando blefa, ele sinaliza e eu o

peguei assim

— De que forma?

— Ele leva o charuto à boca, solta uma

baforada e fecha o olho direito. Faz isso de

forma muito rápida, como se a fumaça

tivesse entrado em seu olho e ardesse. É

quase imperceptível, mas eu percebi.

Levou suas fichas no caixa para serem

trocadas. Conferiu o resultado, contando o

dinheiro em seguida. No total havia ganho

quatro mil e quinhentos dólares, todos nas

paradas altas que jogara contra blefes do

Lorde.

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Apanhou uma champanhe no bar e foi

para o quarto com Mary. Assim que fechou

a porta, começou a rir de satisfação, de

forma quase histérica.

— Está bem, eu concordo que foi uma

bela jogada, mas precisa ficar assim? —

comentou Mary.

— Eu o venci, Mary. Sabe o que isso

significa? Que posso ganhar esse maldito

torneio — falou ele, saltando na cama e

espalhando os maços de dinheiro ao seu

redor.

— O torneio é outra coisa, John. Ele não

vai blefar assim...

— Pelo contrário. É quando mais blefará.

O Lorde tem algo que os outros não têm.

Ele não se importa se vai perder ou não. É

isso que faz a diferença. Quando ele blefa,

não lhe passa pela cabeça que vai perder,

por isso continua apostando, cada vez mais

alto.

Mary abriu o champanhe e saltou para a

cama, junto dele. Abraçaram-se. Ela tomou

um gole direto no gargalo, depois beijou-o,

servindo-lhe a bebida na taça de seus lábios.

John se sentia o homem mais feliz da

face da terra. Ganhar aquele torneio era

tudo que desejava. Não apenas pelo prêmio,

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que o livraria de se meter com bêbados e

caçadores de recompensa para o resto da

vida, mas pelo reconhecimento.

Seria convidado para todos os torneios e

jogos importantes que aconteciam no país.

Seria uma vida movimentada e interessante,

longe de tudo que já fizera na vida.

Enquanto eles comemoravam, próximos

dali, o Lorde conversava com dois

estivadores.

— Ele está no quarto vinte e sete, com

uma mulher. Quero que ele apanhe um

pouco, mas não o machuquem seriamente.

Está com dinheiro. Roubem tudo que ele

tem, entendido?

— E o que fazemos com o dinheiro?

Entregamos a você? — indagou um dos

homens.

— Não, é tudo de vocês.

— E ele tem muito? — insistiu o

estivador.

— Acredito que sim... No mínimo uns

dez mil.

Os olhos dos homens brilharam de

cobiça.

— E o pessoal do hotel?

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— Não vai interferir. Dêem-me cinco

minutos para acertar isso, depois podem

entrar — finalizou o inglês.

Ele voltou para o hotel e os dois o

seguiram à distância. Viram quando ele

entrou e foi até a portaria. Conversou com o

rapaz que atendia. Deu-lhe algum dinheiro,

depois se afastou.

Os dois entraram em seguida, passaram

pela portaria e subiram a escadaria de

mármore, até o segundo pavimento.

Caminharam pelo corredor, até o quarto

escolhido. Um deles tocou a maçaneta e

torceu-a. A porta não estava trancada. Ele

empurrou a porta e os dois entraram ao

mesmo tempo, fechando a porta atrás de si.

Na cama, Lubock começara a despir

Mary.

— Que diabos vocês... — ia dizendo,

saltando da cama.

Um dos homens já estava junto dele,

brandindo um porrete. Bateu com força no

baço do jogador, que gemeu e sentiu suas

pernas fraquejarem.

Antes que pudesse se endireitar de novo,

o porrete atingiu-o no ombro, logo abaixo

do pescoço.

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O choque paralisou seu braço e o fez cair

de cara no assoalho. Mary ia gritar, mas a

pesada mão do outro estivador atingiu-a no

queixo, jogando-a para trás, desmaiada.

Seu corpo ficou caído numa posição

reveladora. O estivador lambeu os lábios,

olhando as coxas e o ventre da mulher.

— Deixe disso, seu imbecil! — falou o

outro, chamando-lhe a atenção. — Segure

este infeliz aqui.

Lubock fora pego de surpresa, mas não

era um homem fácil de ser vencido. Mesmo

atordoado, ele jogou a bota contra o joelho

do homem que batera em Mary.

— Maldição! — gemeu o homem,

cambaleando.

O outro reagiu imediatamente, voltando a

golpeá-lo, desta vez no alto da cabeça, com

o porrete.

John rolou no assoalho e sua mão buscou

a faca que sempre trazia oculta na bota.

O homem de quem ele chutara o joelho

veio para cima dele, disposto a chutar-lhe a

cabeça. John moveu a faca no ar e cortou o

tecido da calça do outro.

— Ele me cortou... Você acreditar nisso?

Ele me cortou — disse o homem, olhando

para a perna.

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Um filete de sangue escorreu dela e ficou

gotejando no assoalho. John aproveitou para

se levantar, mas o homem com o porrete se

apressou em golpeá-lo nos rins, duas ou três

vezes, fazendo o jogador cair de joelhos,

sem fôlego.

O homem com a perna cortada vingou-se,

chutando seu rosto e jogando-o desacordado

para trás. Ainda assim ele se aproximou e

continuou chutando a barriga e as costelas

de Lubock.

— Pare! Não devemos matá-lo —

deteve-o o outro. — Olhe o dinheiro, é todo

nosso. Vamos pegá-lo.

— Sim, mas deve haver mais por aí.

Enquanto um deles reunia o dinheiro

sobre a cama, o outro revistava gavetas,

malas, colchão, tudo, até encontrar o

envelope no fundo falso de uma valise.

— Mas... É muito dinheiro... —

murmurou, examinando o conteúdo.

— Vamos dar o fora daqui. É dia e não

quero ser visto. Amarre um pano nessa

perna. Está perdendo muito sangue...

— E o que importa isso, quando nós

temos todo este dinheiro? — respondeu o

outro, saltitando alegremente.

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— Não quero que isso chame a atenção

de ninguém — falou o outro, cortando um

pedaço do lençol e jogando-o para o outro.

O ferido enfaixou a perna ferida, depois

os dois saíram do aposento e deixaram

calmamente o hotel.

Pela porta entreaberta de seu quarto, o

Lorde observava. Assim que os homens

saíram, ele caminhou até o quarto de

Lubock.

A porta estava aberta. A mulher estava

desmaiada na cama e Lubock estava caído

no assoalho. O Lorde sorriu com satisfação.

— Vamos ver como vai entrar no torneio

sem dinheiro, meu amigo — murmurou,

puxando a porta e fechando-a.

Voltou para o seu quarto. Mary se agitou

na cama logo em seguida, sentando-se e

tentando se lembrar do que havia

acontecido.

Viu as marcas de sangue no chão, depois

o corpo de John caído.

— Oh, meu Deus! — exclamou ela,

correndo até ele.

Examinou-o. Estava desacordado, mas

não estava ferido, com exceção de um galo

no alto da cabeça.

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— Por que fizeram isso? — indagou ele,

repousando a cabeça dele em seu colo.

Olhou ao seu redor, ainda aturdida.

— O dinheiro! — murmurou, num fio de

voz, olhando a cama.

John havia espalhado o dinheiro ali. Ela

se voltou para o armário. A valise estava

aberta. O fundo falso fora arrancado. O

envelope com todo o dinheiro de Lubock

havia desaparecido.

— Oh, não, maldição! — praguejou ela,

agitando o corpo de seu namorado para

acordá-lo. — John, acorde! Fomos

roubados!

Deixou-o ali e foi apanhar uma toalha.

Molhou-a com água e pôs na fronte dele.

John gemeu e tentou se mexer.

— Oh, Deus! Como dói! — exclamou.

— John, o dinheiro... O dinheiro... —

repetia Mary, afobada e aturdida.

— Que dinheiro? O que houve?

Ele girou a cabeça e olhou a cama.

Depois olhou o armário. Viu a valise.

Arrastou-se ela, examinando-a

ensandecidamente.

— O dinheiro... Todo o meu dinheiro...

Como vou pagar a conta do hotel... Como

vou jogar... Eu o tinha nas mãos... Eu o ia

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vencer... — ficou murmurando

pateticamente.

Mary se arrastou até ele, abraçando-se.

— Por que eles fizeram isso?

— Eu não sei... Preciso pensar... Tenho

de conseguir mais dinheiro...

— Vamos procurar o xerife...

— Está louca! Jamais encontraremos

esses homens de novo... Malditos! Não

quero ser detido aqui... Quando o Belle Star

chegar, eu terei de partir com ele... Eu tenho

de jogar... Eu tenho de ganhar dele...

— Como vai fazer isso sem dinheiro?

Ele pensou por instantes.

— Eu sei onde arrumar mais dinheiro.

— Onde?

— Não se preocupe. Vou conseguí-lo, é o

bastante. Fique aqui e tranque a porta.

— Onde vai?

— Eu não demoro. Depois eu conto... —

falou ele, apanhando seu paletó e saindo.

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John Lubock sentia dores pelo corpo

todo, mas dentro dele ardia uma firme

determinação. Sonhara em participar

daquele torneio por muito tempo.

Além do mais, havia conseguido

descobrir o ponto fraco do jogador

campeão. Tinha tudo nas mãos para ganhar

aqueles cem mil dólares.

Deixou o hotel e foi até o telégrafo.

Mandou que expedissem uma mensagem

para Kansas City. Quando não encontrou

nos bolsos dinheiro para pagá-la.

— Espero uma resposta urgente. Poderia

mandá-la para o Hotel De Soto? —

indagou.

— Sim, claro — concordou o

encarregado.

John agradeceu e saiu, sentindo-se mais

aliviado. Mesmo assim, quando começou a

pensar no que lhe haviam roubado, ficou

furioso consigo mesmo por ter sido tão

estúpido.

Enquanto caminhava lentamente de volta

para o hotel, pensava naqueles homens que

o haviam atacado. Tinham toda a aparência

de gente que trabalhava ali, no cais do

porto.

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Pensou em sair à procura deles. Seria

uma alternativa para o seu problema, mas

hesitou quanto a isso.

— O que conseguiu? — indagou Mary,

com uma mancha roxa no queixo, onde

aplicava um pano com gelo.

— Precisamos esperar agora — disse ele,

caindo na cama.

Estava exausto e dolorido.

— Durma um pouco — falou ela, com

carinho.

— Está bem. Acho mesmo que preciso

dormir. Quando eu acordar, tudo isso já

estará resolvido... Tenho certeza... —

murmurou ele, adormecendo quase que

imediatamente.

Mary deitou-se ao lado dele, abraçando-

se a ele. Adormeceu em seguida.

Os dois foram acordados no meio da

tarde por um mensageiro do hotel que,

cansado de bater na porta, enfiou um

envelope por debaixo dela.

John se levantou ainda sonolento. As

dores no corpo pareciam mais fortes agora.

Apanhou o envelope. Era a resposta à

mensagem que mandara. Mary também

acordara e fora ter com ele.

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— Ele não vai me pagar o restante... Diz

que Villas e os outros foram linchados em

Lamar e que... Buck Johnson está vindo

atrás de mim... — leu ele, atônito.

— Não vai conseguir o dinheiro? —

indagou Mary.

— Aqueles bastardos falharam de novo...

E ainda me entregaram para aquele maldito

pistoleiro... Oh, Deus! Eu preciso mesmo

ganhar esse torneio para não ter que

conviver mais com essa raça de

incompetentes... — falou ele, raivoso,

amassando o papel e jogando-o para longe.

Caminhou de um lado para outro.

— O que vamos fazer, John? — indagou

a garota.

— Deixe-me pensar... Deixe-me pensar...

Isso não pode ficar assim. Não esperei tanto

tempo em vão...

Enquanto falava, ele foi até o seu

cinturão, que estava enroscado nos pés da

cama.

Apanhou-o. Afivelou-o na cintura. Viu

sua faca no assoalho. Colocou-a na bainha

da bota.

Verificou a munição dos Colts que trazia

nos coldres de couro negro. Estavam

municiados.

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— O que vai fazer, John? — indagou a

garota.

— Vou buscar meu dinheiro.

— Onde?

— Vou descobrir.

— Vou com você.

— Não, fique aqui e tranque a porta. Eu

volto com o meu dinheiro — afirmou ele,

saindo.

Foi até a portaria.

— Diga-me uma coisa — pediu ele ao

rapaz. — Se eu tivesse que procurar dois

estivadores cheios da grana, onde iria?

O rapaz estremeceu. Sabia quem eram os

estivadores e quem os havia mandado. O

Lorde havia pago muito bem para que ele

deixasse os dois entrar.

— Depende, senhor — respondeu.

— Depende do quê?

— Depende de quem sejam esses

estivadores.

John olhou-o nos olhos. O rapaz estava

pálido e começara a suar. Era mais do que

significativo.

— E como eu faço para lhe descrever

esses homens?

O rapaz fez um sinal com os dedos da

mão, simbolizando dinheiro.

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— Dinheiro? — indagou John.

— Sim...

— Acontece que eles levaram todo o meu

dinheiro...

— Eu sinto muito, senhor.

— Só tenho mesmo estes revólveres

agora — falou John, afastando as abas do

paletó para mostrar o magnífico cinturão de

couro negro e os reluzentes Colts com cabos

de madrepérola.

Os olhos do rapaz brilharam de cobiça.

Só que John sacou um deles e, agarrando o

rapaz pelos colarinhos, trouxe-o para cima

do balcão e encostou a arma em seu

pescoço.

— Agora estou entendendo tudo — falou,

decidido. — Você estava aqui quando eles

entraram...

— Eu não sei de nada...

John soltou-o, pois seu gesto chamara a

atenção de algumas pessoas. Ele sorriu e

recompôs as roupas do rapaz, que tremia,

agora mais pálido e suando mais.

— Pois bem, quem são eles? Responda-

me ou vou esperar você sair daqui. Vou

seguí-lo até sua casa e matar toda a sua

família na sua frente. Depois vou arrancar o

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seu couro, como aprendi a fazer com os

índios apaches, no Novo México.

— Por favor, senhor! Não faça isso. Eles

são Fred Merluze e Tony Grove. Vai

encontrá-los no saloon de Winona Truman,

no cais.

John soltou-o, empurrando-o para trás.

— Se eu não encontrá-los, voltarei para

conversarmos — ameaçou, saindo.

Kyle cochilava no banco, embalado pelo

balanço do trem. Na janela, Buck olhava a

paisagem passar ao lado, com o pensamento

distante.

Haviam passado pela estação de

Waynesville, havia meia hora. Em breve

chegariam à metade do caminho.

Kyle acordou sobressaltado, esperneando

e agitando os braços.

— Ei, calma! — disse-lhe Buck. —

Andou tendo um pesadelo?

O rapaz olhou aturdido ao seu redor,

depois olhou para fora, localizando-se,

afinal.

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— Sonhei que estavam tentando me

linchar — explicou.

— É normal, depois do que passamos.

Como foi a sensação?

— Meu Deus, que coisa impressionante.

Nunca tive tanto medo assim em minha vida

— contou o rapaz.

Diante deles, dois homens que viajavam

juntos começaram a rir. Buck havia

reparado que todo o tempo os dois o

observavam disfarçadamente, só que não

davam a impressão de serem caçadores de

recompensa. Isso não era sinônimo de

tranqüilidade, porque Buck já vira até um

padre caçando recompensas.

— Do que estão rindo? — indagou Kyle,

esquentado.

— Acalme-se, filho! Só achamos graça

da maneira como você acordou — falou um

dos homens e sua voz tinha um tom

levemente ameaçador e superior.

— Danem-se — resmungou Kyle,

percebendo a ameaça naquele tom de voz.

Aquietou-se, puxando o chapéu para

cima dos olhos. Buck, pelo contrário, olhou

alternadamente para os dois homens.

Vestiam ternos sob a capa de viagem. Os

cinturões eram colocados retos nos quadris,

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com o coldre alto e a ponta virada para a

frente.

Conhecia aquele tipo de coldre. Eram os

chamados Slim Jim, coldres despojados de

qualquer enfeito e montados para dar

velocidade no saque da arma.

Pessoas normais não os usariam.

— Algum problema? — indagou um

deles, incomodado agora com a insistência

com que Buck os olhava.

— Não, nenhum — respondeu,

examinando as armas que eles usavam.

Eram Colts Peacemaker, de cano menor

que o comum. Eram as armas preferidas dos

xerifes naquela época, porque o cano menor

facilitava o saque.

Não restava a menor dúvida. Aqueles

dois homens eram pistoleiros, matadores de

homens e, com certeza, caçadores de

recompensa também.

— Você é Buck Johnson, não é? —

perguntaram-lhe.

— Eu não sei. Sou?

— Eu digo que é.

— É a sua palavra.

— Você vale dois mil e quinhentos

dólares, somando-se os prêmios oferecidos

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por sua cabeça em todo o Oeste —

comentou o homem, sondando-o.

.— Se eu fosse Buck Johnson — afirmou

o velho pistoleiro, puxando o chapéu sobre

os olhos e cruzando os braços.

Kyle, ao lado, ouvira a conversa.

— Vamos demorar para chegar? —

indagou o rapaz.

— Só chegaremos perto da meia-noite.

— Como vai achar o indivíduo? Só sabe

o nome dele?

— As pessoas usam seus nomes para se

registrarem nos hotéis, sabia?

Os dois homens no banco da frente se

levantaram. Caminharam pelo corredor até

o vagão restaurante. Sentaram-se numa das

mesas e pediram uísque.

— Acha que é ele?

— É ele. Eu o vi enfrentar um homem em

Sioux City...

— Quando foi isso?

— Há uns dois anos. Ele não mudou

nada. A mesma barba, inclusive, só que

mais branca.

— O que faremos?

— Ele vale dois mil e quinhentos.

Podemos matá-lo e reclamar as

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recompensas. O chefe do trem nos dará uma

declaração da morte dele.

— Mas só nós podemos identificá-lo...

— Não, aquele rapaz que viaja com ele

poderá confirmar isso também.

— Certo. Como faremos isso, então?

— Simples. Vamos voltar lá e, quando

nos sentarmos, sacamos e atiramos contra

ele.

— Está bom para mim — concordou o

outro.

Os dois pagaram pela bebida e se

levantaram, saindo. Quando passavam do

vagão-restaurante para o de passageiros,

Buck os esperava, encostado na porta do

vagão.

Os dois homens se olharam.

— Acho que ele quer facilitar as coisas

para nós — disse um deles, jogando a capa

e a aba do paletó para trás.

Buck examinou aqueles coldres. Ficavam

mais altos do que os normais e, segundo

diziam, permitiam que o sujeito sacasse

mais rápido.

Tinha curiosidade a respeito desses novos

coldres, feitos por artesãos em Laredo e no

Texas.

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Doc Hollyday e o Xerife Earp usavam

um deles, só que escondidos sob o braço.

— Acho que não temos mais dúvidas —

disse um dos pistoleiros. — Você é mesmo

Buck Johnson.

— Sim, sou eu mesmo. O que pretendem

fazer a respeito?

— Como eu disse, você vale dois mil e

quinhentos...

— Se me pegarem.

— É o que tentaremos fazer, moço.

Naquele momento, a porta do vagão de

passageiros se abriu e Kyle surgiu.

— Ei, Buck! Fiquei preocupado, você

sumiu e... — interrompeu-se ele, quando

viu os três homens em posição de saque. —

Diabos, acho que cheguei na hora errada!

— acrescentou, recuando.

Por uma fração de segundos os dois

pistoleiros se distraíram com Kyle.

Buck levou a mão ao seu Colt. Os dois

homens perceberam e fizeram o mesmo.

Um deles chegou a ser mais rápido ainda

que ele, sacando primeiro o revólver. Na

hora de atirar, no entanto, demorou-se para

engatilhá-lo e quando disparou o fez

apressadamente, errando.

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Buck não perdeu tempo com isso. Sua

mão esquerda bateu com força no cão da

arma, enquanto o indicador da mão direita

mantinha o gatilho apertado.

O cão foi para trás e retornou livre para

fazer explodir a bala que estava na câmara.

O impacto fez um dos pistoleiros recuar,

enquanto uma mancha de sangue surgia no

meio de seu peito, onde o elegante colete

deixava aparecer sua camisa branca

impecável.

— Maldito! — berrou o outro,

disparando.

Buck havia caído de joelhos no momento

exato. A bala roçou seu chapéu, enquanto

ele disparava de novo, de baixo para cima,

mirando a barriga do ouro.

A bala o atingiu no umbigo e subiu,

fazendo-o erguer-se do chão e cair para trás

pesadamente, sobre o outro que se erguia.

— Ele me pegou... — gemeu o homem,

sem sentir dor em seu corpo, mas incapaz

de respirar.

A bala furara seu estômago e subira para

um de seus pulmões, traspassando-o. Antes

de sair, atingiu uma costela, partindo-a e

espetando para fora suas lascas.

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Os tiros atraíram a atenção dos guardas

da composição, que chegaram em seguida,

apontando suas espingardas.

— São caçadores de recompensa.

Quiseram me pegar e eu os matei —

explicou Buck.

Um dos guardas apanhou as armas dos

homens e examinou-as.

— Ambas foram disparadas — informou.

— Eu vi tudo — falou Kyle. — Estava

indo para o restaurante. Esses dois cercaram

o moço aí, depois sacaram suas armas.

Aquele caído debaixo do outro atirou

primeiro, mas errou. Levou um tiro no peito

em seguida. O outro atirou e se o homem ali

não se abaixasse, teria levado um tiro na

barriga. Ele disparou de volta e deu nisso aí.

Os guardas se entreolharam.

— É, parece que tudo aconteceu assim

mesmo. Vamos fazer uma declaração. Os

dois assinarão. Quando pararmos na

próxima estação, deixaremos os feridos com

o xerife. Não vemos motivos para detê-lo,

senhor.

Buck agradeceu, depois olhou para Kyle.

Se o rapaz não tivesse vindo com ele,

estaria perdido naquele momento.

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John Lubock era um jogador de pôquer

por excelência e, por isso, um homem frio e

calculista.

Quando viu os dois cercados de garotas

num canto do saloon, conteve seu desejo de

sacar as armas e matá-los um por um.

Manteve-se oculto entre os outros

freqüentadores, até que uma garota se

interessou por ele.

— Podemos ir para um dos quartos lá nos

fundos — disse ela.

John sondou o ambiente, olhou na

direção dos dois homens que se divertia

com o dinheiro dele, depois sorriu para a

garota.

— E por que não?

— Cobro cinco dólares adiantados —

disse ela, tomando-o pela mão e levando-o.

— Que tal ganhar cinqüenta?

— Cinqüenta? Que diabos terei de fazer

para ganhar isso? — surpreendeu-se ela,

examinando-o.

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— Eu lhe digo lá dentro.

Foi com ela até o quarto. Havia uma

cama, uma penteadeira com um espelho

manchado, uma bacia com uma jarra de

água e uma toalha encardida.

Ela começou a tirar a roupa.

— Espere, não é isso que quero de você.

— Não? — surpreendeu-se ela.

— Não, de forma alguma...

— E como vou ganhar cinqüenta dólares?

— Conhece Fred Merluze e Tony Grove?

— Aqueles dois que tiraram a sorte

grande?

— Eu fui a sorte grande deles...

— Perdeu dinheiro para eles?

— Não, eles roubaram meu dinheiro.

A garota olhou para os olhos de John,

depois para o cinturão com duas armas que

ele usava. Começou a recuar na direção da

porta.

— Espere aí, moço... — murmurou ela.

— Fique calma, garota. Só quero que

você atraia os dois até aqui.

Ela estava com a mão no trinco da porta.

— Cem dólares... Eu lhe pago cem

dólares... — aumentou ele.

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A garota hesitou. Para ganhar cem

dólares teria que se deitar com pelo menos

vinte homens em seguida.

— Só tenho que trazê-los aqui?

— Sim, só isso.

— O que vai fazer com eles?

— Devolver-lhes as pancadas que me

deram.

— Pague-me cento e cinqüenta e eu faço

isso.

— Serei mais generoso ainda. Traga-os

aqui e lhe darei duzentos.

Os olhos dela brilharam de cobiça. Ela

sorriu.

— Qual deles devo trazer primeiro?

— Qualquer um deles.

— Está bem. Então prepare-se! — disse

ela, saindo.

Assim que ela fechou a porta, os olhos

dele pousaram numa barra de ferro que era

usada para trancar a porta, encaixando-se

em passadores de ferro.

Estava encostada na parede, ao lado da

porta. Foi até lá e apanhou-a. Ficou

esperando ali mesmo.

Fred Merluze não demorou para aparecer.

Vinha excitado, pois a garota lhe dissera

que uma grata surpresa o esperava ali.

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Assim que entrou, olhou ao seu redor,

sem ver nada. Avançou um passo. John

empurrou a porta, fechando-a. Quando Fred

se voltou, surpreso, a barra de ferro o

atingiu no joelho, com um estalo sinistro.

Ele gemeu, caindo pesadamente.

Levantou os olhos surpresos para o homem

que se aproximou dele.

— Minha perna... Você quebrou a minha

perna — gemeu o estivador.

— Azar o seu — respondeu John,

golpeando-o no alto da cabeça, fazendo o

osso estalar.

Fred revirou os olhos e ficou imóvel.

John revistou-o rapidamente, encontrando o

envelope com todo o seu dinheiro no bolso

dele.

— Graças a Deus! — murmurou,

guardando-o.

Pensou no dinheiro que ganhara jogando

contra o Lorde. Deveria estar com o outro.

Tratou, então, de levar Fred para a cama.

A cabeça dele estava rachada e um filete de

sangue foi marcando o assoalho, enquanto

John o arrastava.

Acomodou-o e cobriu. A garota bateu na

porta, depois entreabriu-a.

— Pode trazer o outro — ordenou John.

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Ela saiu. Ele foi se postar de novo atrás

da porta.

— Que diabos de surpresa é essa que...

— foi dizendo Tony Grove, enquanto

entrava.

Primeiro viu Fred na cama. Depois viu as

marcas de sangue. John empurrou a porta.

Tony se voltou, levando a mão ao porrete

que trazia preso no cinto.

A barra de ferro o pegou no braço, na

altura do cotovelo e o osso se partiu,

aflorando à pele.

Tony ficou olhando aquela grotesca

aparição. O sangue gotejou no assoalho.

— Por que fez isso? — indagou Tony,

levantando os olhos surpresos para John.

— Mexeu com o jogador errado — falou

John, levantando a barra de ferro acima da

cabeça.

— Não foi nada pessoal... Foi ele que nos

mandou...

John deteve o movimento.

— Ele? Quem?

— O jogador inglês...

— Lorde Cartdrige? Por quê?

— Apenas nos mandou surrá-lo e tomar-

lhe o dinheiro...

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John entendeu, então, o que aquilo

significava. Abalara o campeão. Isso

reforçava suas chances. Tinha certeza que

poderia vencê-lo, não havia mais dúvida.

Se o Lorde ficara tão preocupado a ponto

de tentar impedir que John participasse do

torneio, era sinal que aqueles cem mil

dólares e a glória estavam cada vez mais

perto de suas mãos.

— Olhe... Aqui está seu dinheiro... Só

gastamos uns trocados com bebidas... —

falou Tony, retirando o maço de notas do

bolso e estendendo.

John sorriu, apanhou o dinheiro e

guardou-o.

— Posso ir? — indagou o estivador.

— Sim, claro, meu amigo. Faço questão

que vá logo... para o inferno! — completou,

golpeando a cabeça do outro, que estalou e

ele caiu para trás.

Uma poça de sangue começou a se

formar. John jogou a barra de ferro sobre o

corpo do homem caído.

Pensou por instantes. Pegou algumas

notas de um e de cinco dólares, jogando-as

sobre os dois corpos e no assoalho.

Depois saiu. A garota o esperava do lado

de fora.

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— E daí, fiz direitinho?

— Sim, direitinho. Aqui estão seus

duzentos dólares e mais cem se fizer algo

para mim.

— O quê? — quis ela saber.

— Diga que os dois brigaram por causa

de dinheiro e se mataram.

Ela arregalou os olhos.

— Você os matou?

— Sim, eu os matei. Vai fazer isso?

Ela o mediu de alto a baixo.

— Acho que uma mentira dessas vale

muito mais do que cem dólares... Que tal

quinhentos?

— Razoável — concordou ele, dando-lhe

o dinheiro.

Passava um pouco da meia-noite quanto a

composição da Pacific Railroad chegou à

sofisticada estação de Saint Louis, um

importante entroncamento ferroviário na

época.

Kyle ficou deslumbrado com toda aquela

agitação.

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— De onde vem toda essa gente

estranha? — indagou ele, observando as

pessoas que passavam, vestindo os mais

diferentes trajes.

— São imigrantes, estão indo para o

Oeste, principalmente para a Califórnia, o

novo paraíso.

— Eu adoraria ir para a Califórnia —

comentou o rapaz.

— Ilusão!

— Por quê?

— Porque as coisas estão onde você quer

que elas estejam.

— Acho que não é tão fácil assim, Buck.

— É sim, garoto. Pode acreditar —

afirmou o pistoleiro, enquanto passavam

por entre a multidão.

— O que vamos fazer agora?

— Vamos tentar achar John Lubock.

— Como? Esta cidade parece ser

enorme...

Havia um guichê, onde um homem

sonolento dava informações. John foi até lá.

— Onde se hospedam os jogadores que

vão participar do torneio de pôquer? —

indagou-lhe Buck.

— No Hotel De Soto.

— E onde fica?

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— Saia da estação. Verá uma avenida a

sua frente. Desça por ela. Vai ver o De

Soto.

Buck agradeceu, apanhou seu alforje e

jogou-o no ombro.

— Estamos a caminho — disse a Kyle.

— O que vai fazer quando encontrá-lo,

Buck?

— Quero interrogá-lo primeiro.

— Por quê?

— Porque ele não tinha interesse nenhum

na minha morte nem na morte de Billy.

— E como sabe disso?

— O negócio de Lubock é um saloon e

um bando de caçadores de recompensa que

trabalham para ele. Na certa alguém pagou

a ele para me matar.

— E você quer descobrir quem foi?

— Sim, isso mesmo.

— Vai matá-lo depois?

Buck parou e olhou para o rapaz. Os

lampiões a gás na avenida jogavam uma

claridade pálida no rosto dele.

— Não sei, Kyle. Estou ficando enojado

de tanta matança, sabia? Acho que é preciso

começar a confiar na lei e na justiça...

— Isso vindo de um pistoleiro soa

estranho — comentou o rapaz.

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— Os tempos mudaram, Kyle. Os

homens também mudam, sabia?

— Acho que tem razão, Buck — falou o

rapaz.

Logo avistaram o Hotel De Soto, que

regurgitava àquela hora. Gente chegava a

todo momento para se hospedar. Eram os

que participariam do torneio ou pessoas que

vinham para ver os grandes jogadores se

enfrentando no saloon, numa prévia do que

seria aquele magnífico torneio.

— É aqui? — surpreendeu-se Kyle.

— Sim, enorme, não?

— Vão nos deixar entrar assim? —

indagou ele, olhando suas roupas e as

roupas das pessoas que desciam das

carruagens, usando seus melhores trajes de

noite.

— Você tem o que paga para ter, Kyle.

Vamos lá — convidou-o Buck.

Foram até a portaria.

— Olá, vieram para o torneio? —

indagou o rapaz no balcão.

— De certa forma sim.

— Têm reservas?

— Como?

— Não reservou um quarto com

antecedência?

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— Não, estamos chegando agora e...

— Então, infelizmente, não temos mais

quartos. Tudo isso aqui está uma loucura,

com a proximidade do torneio. Acho que

encontrarão onde ficar no cais. Há alguns

bons hotéis por lá, podem ter certeza.

— Sim, claro... É que ficamos de

encontrar um amigo aqui... Pode ver se ele

já chegou? Seu nome é John Lubock.

— Lubock? John Lubock de Kansas

City?

— Sim, esse mesmo.

— Ele está hospedado. Passou agora

mesmo para ir até o saloon jogar. Ontem ele

venceu o Lorde. Sabem o que é isso?

Buck e Kyle se entreolharam.

— Lorde Cartdrige, o campeão do torneio

passado. John Lubock o venceu ontem,

acabou com a arrogância do inglês.

Possivelmente se encontrem de novo esta

noite. Se quiserem ficar e observar, não há

problemas. O saloon é por aquela porta ali

— apontou ele.

— Pode guardar isso pra nós? — indagou

Buck, pondo seu alforje sobre o balcão.

Kyle fez o mesmo.

— Sim, claro — afirmou o rapaz, pondo-

os do lado de dentro do balcão.

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Os dois caminharam para o saloon,

misturando-se aos outros freqüentadores

que se apressavam para assistirem aos jogos

daquela noite.

Instantes depois, Mary Singleshot

passava por ali para ir ao encontro de John.

— Ei, senhorita! — chamou-a o rapaz.

Ela foi até ele, intrigada.

— Dois amigos do Sr. Lubock acabaram

de chegar. Eu os mandei para o saloon.

— Amigos de John? Quem eram eles?

— Um velho e um rapaz. Deixaram os

alforjes aqui e...

Mary empalideceu, lembrando-se do

telegrama que John havia recebido. Correu

para o saloon.

John estava jogando numa das mesas. Ela

olhou ao seu redor, mas não viu um velho

nem um rapaz. Aproximou-se da mesa,

inclinando-se no ouvido dele.

— Avisaram-me na portaria agora. Um

velho e um garoto chegaram aqui a sua

procura.

— Um velho e um garoto? — estranhou

ele.

— Aquele problema que seus homens

foram resolver e não conseguiram...

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John empalideceu, olhando ao seu redor,

procurando algum rosto ameaçador.

— O que vamos fazer?

— Fale com o segurança ali na entrada.

Mande-o se informar com a portaria e peça

para localizarem esses dois. Dê-lhes isto —

falou, passando um punhado de notas pra

ela.

O Lorde entrou no saloon e avançou por

entre as mesas. Seu sorriso revelava toda a

sua satisfação com o mundo. Estava seguro

de sua posição de melhor jogador daquele

torneio.

O único empecilho que tinha pela frente

havia sido removido eficientemente.

Ao se aproximar da mesa ocupada por

John, este foi se levantando para encarar o

outro com um sorriso cínico nos lábios.

Ao vê-lo, o Lorde empalideceu.

— Olá, Lorde. Quer uma revanche?

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O inglês olhou para a mesa. A quantidade

de fichas na frente de John indicava que ele

não tinha problema nenhum com dinheiro.

Ficou sem entender.

Um dos jogadores se levantou.

— Sente-se aqui, Lorde. Vencer esse

sujeito ali é impossível. Com você na mesa,

não tenho a menor chance.

O inglês agradeceu e se sentou.

— A propósito — disse John, com calma,

olhando o outro nos olhos. — Dois amigos

seus lhe mandaram lembranças.

— Amigos meus? — surpreendeu-se o

jogador.

— Sim, Fred Merluze e Tony Grove. Não

puderam vir.

— Não conheço ninguém com esse nome

— disfarçou o inglês.

— É uma pena. Falaram muito bem de

você. Só pediram desculpas por não

poderem estar aqui hoje à noite. Estão

ambos com uma dor de cabeça terrível... Se

é que me entende — riu John, percebendo

que suas palavras haviam desestruturado

totalmente seu adversário no jogo.

— Eu... Eu não estou muito disposto

hoje... Acho que não vou jogar, cavalheiros.

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Desculpem-me — falou o inglês,

levantando-se e saindo.

John ficou rindo. As pessoas olhavam e

não entendiam, mas percebiam que o

pôquer tinha um novo rei.

— Vamos ao jogo, senhores! —

convidou-os John, apanhando um baralho

novo e abrindo-o.

Havia recuperado sua tranqüilidade, após

aquela bravata. O que lhe restava de

preocupação começava a se dissipar, na

medida em que via Mary, dois seguranças

do saloon e o rapaz da portaria examinando

os presentes.

A cadeira continuava vazia diante dele.

Um homem sentou-se. Vestia-se como um

cowboy, com um chapéu gasto e desbotado,

a aba caída na frente, jogando sombras em

seus olhos.

Uma barba onde pontilhavam fios

brancos o fez se lembrar do que Mary havia

dito. Ele olhou desesperadamente,

procurando por ela. Um rapazola postou-se

atrás do velho.

— Vai jogar? — indagou.

— Sim — afirmou Buck.

— Precisamos ver a cor do seu dinheiro,

então — riu forçadamente John.

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Buck retirou um maço de notas, pondo-o

sobre a mesa. Não era muito, mas era o

bastante para iniciar no jogo.

— Por que não se apresenta, cavalheiro?

— indagou John.

— Por que você não me apresenta? —

retrucou Buck, olhando-o sempre nos olhos,

fazendo o jogador estremecer.

— Senhores, este é... Buck Johnson, um

pistoleiro com a cabeça a prêmio em meia

dúzia de Estados do Oeste, responsável por

mais de duas dúzias de mortes ao longo de

uma carreira de vinte e cinco anos.

— Exato. E este, senhores, é John

Lubock, líder de uma quadrilha de

caçadores de recompensa e assassinos de

aluguel, que não hesita em mandar matar

uma família inteira para garantir o seu

dinheiro de sangue — acusou-o Buck, em

voz alta.

John começou a dar cartas. Um silêncio

mortal pairou no saloon. Todas as outras

mesas pararam. As atenções se

concentraram naquele estranho jogo.

Os jogadores na mesa desistiram e se

levantaram. Ostensivamente John abriu seu

paletó, exibindo o cinturão negro. Buck

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desabotoou a capa de viagem e deixou a

mostra seu Peacemaker de seis tiros.

— Cartas? — indagou John.

— Não! — afirmou Buck, sem olhar as

cartas que o outro lhe dera.

— Está jogando o jogo errado, pistoleiro

— falou o jogador.

— Engano seu. Este é o meu jogo —

respondeu Buck, com frieza.

John examinou suas cartas. Tinha um par

de noves. Podia melhorar. Arriscou trocar

três cartas. Recebeu mais um par de cincos.

Tinha dois pares. Não deixava de ser um

bom jogo.

— Você aposta — falou John.

Buck empurrou todo o seu dinheiro para

o centro da mesa.

— Aposto tudo isto.

— Quanto tem aí? — riu John, sem

disfarçar seu nervosismo.

Alguém se debruçou sobre a mesa,

contou o direito e endireitou-se

rapidamente.

— Cento e vinte e cinco dólares —

informou.

— Está bem, pistoleiro. Seus cento e

vinte e cinco — falou John, jogando as

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fichas sobre a mesa. — Mais cinco mil —

finalizou, empurrando o resto.

Por instantes Buck ficou atônito, sem

entender o que estava acontecendo. John

iria ganhar aquela mão, simplesmente

porque Buck não tinha mais dinheiro para

cobrir a aposta.

— Seus cinco mil e mais dez mil! —

falou o Lorde, depositando uma caixa de

fichas no centro da mesa.

John estremeceu, olhando atônito para o

inglês.

— Está maluco! Ele nem viu as cartas

dele — falou John, aturdido.

— Ele não é obrigado. Não há regra

nesse jogo quanto a isso.

— Você é tão louco quanto ele... Não

pode ter nada... Ninguém teria nada numa

jogada assim... É absurdo! — protestou.

Mary, os seguranças e o porteiro

encostaram-se na mesa, mas ficaram sem

saber o que fazer diante do que se passava.

— É pegar ou largar, homem — falou

Buck, olhando John nos olhos.

O jogador olhou para o inglês, para o

rapazola atrás do velho e para Buck. Olhou

as fichas sobre a mesa, Mary, as pessoas ao

redor. O silêncio era total ali dentro.

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Ele enfiou a mão no bolso e tirou o

envelope. Contou as notas, enquanto

pensava. Era um risco muito grande, mas o

idiota não vira as cartas.

Teria que sair com um jogo feito, no

mínimo dois pares maiores ou uma trinca

para ganhar dele.

— Não, John! — falou Mary.

Ele ainda hesitou por instantes, mas o

sorriso cínico e provocador do inglês era um

convite. Se ganhasse aquela mão, seria

imbatível.

— Seus dez mil! — falou, jogando o

dinheiro na mesa. — Eu pago para ver —

afirmou, abrindo suas cartas sobre o pano

verde.

Os dois pares ficaram esperando o jogo

de Buck. O pistoleiro, sempre olhando para

John, abriu a primeira carta.

Era um cinco de paus. Depois um cinco

de Ouros, um de espadas, um quatro e um

rei.

— Trinca de cinco ganha! — falou o

inglês, começando a rir com satisfação. —

O lucro é seu, senhor — acrescentou,

retirando as fichas que pusera no jogo.

— Você ganhou tudo isso, Buck? —

exclamou Kyle, surpreso.

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John se levantou de repente, jogando a

cadeira pra trás. Suas intenções eram claras.

As pessoas se afastaram em duas alas,

fugindo da linha de tiro.

Buck continuou sentado, olhando o

homem diante dele.

— É um assassino, Buck Johnson.

Buck começou a recolher o dinheiro da

mesa.

— Deixe isso aí mesmo. Para onde vai

não precisará dele — afirmou.

— E para onde vou?

— Para o inferno! — decretou John, mas

parou, quando a porta do saloon se abriu

com força e um homem entrou desarmado.

Trazia uma bandagem manchada de

sangue envolvendo sua cabeça e uma tala

imobilizando seu braço.

Todos os olhares se voltaram para ele.

— Você matou meu amigo — falou

aproximando-se.

John recuou. Tony Grove enfiou a mão

no bolso da calça. O jogador se apavorou.

Pensou que ele sacaria uma arma.

Sacou sua arma e disparou, atingindo o

peito de Tony, que caiu para trás. Sua mão

apertava com força o velho cachimbo.

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— Ele ia atirar em mim — balbuciou

John, com a arma na mão.

— Com um cachimbo? — indagou o

segurança, mostrando o objeto que Tony

estava tirando do bolso.

O xerife destacou-se da multidão. John

olhou para o Lorde, depois para Buck.

— Malditos! — falou, apontando para o

inglês.

O tampo da mesa se levantou. Lascas de

madeira vararam o pano verde, quando o

tiro disparado por Buck atravessou a mesa e

pegou o ombro do jogador, jogando-o para

trás.

Lorde Cartdrige, pálido, olhou para Buck

e esboçou um sorriso de agradecimento.

— Agora estamos quites, amigo! — falou

Buck, ensaiando um sorriso também.

Buck havia retornado de Saint Louis e

passado pelo rancho. O gado se virava na

medida do possível.

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— Acho que vou contratar um vaqueiro,

antes de ir para Kansas City, resolver esse

negócio.

— Por que não vamos juntos, Buck?

Quando voltarmos, eu serei seu vaqueiro.

— Não poderei pagar muito no

princípio...

— Não seja pão-duro, Buck. Eu sei que

você tem dinheiro.

— Vou depositá-lo no Banco. Na hora

certa compraremos mais gado e talvez até

aumentemos o rancho...

— Reparou que está pondo as palavras no

plural?

— Certo, sócio! Foi proposital —

afirmou Buck e Kyle sorriu de satisfação.

Foram se preparar para a viagem. Buck

foi pegar a caixa de documentos. Separou a

carta que viera endereçada a Delle.

— O que é isso? — quis saber Kyle.

— Veja! — falou o velho pistoleiro,

mostrando o nome do remetente da carta.

— O bastardo! — disse o rapaz, cheio de

ódio.

A viagem para Kansas foi rápida. Os dois

levaram cavalos extras e enquanto havia luz

eles cavalgavam, comendo na própria sela.

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Entardecia, quando chegaram a Kansas

City, afinal.

— Como vai resolver isso, Buck? — quis

saber Kyle.

— Tenho duas formas, garoto. Uma seria

a minha maneira. Outra seria da forma

correta.

— Como assim?

— Vai aprender — afirmou o pistoleiro.

Algum tempo mais tarde estavam no

escritório de um importante advogado de

Kansas City.

— Eu estou de saída, cavalheiros. Não

poderíamos deixar para resolver isso

amanhã? — indagou o Dr. James Morton,

abrindo a porta do seu gabinete.

Sua secretária já havia saído e ele estava

pronto para ir embora também.

— Viemos de longe para resolver isso —

falou Buck. — Se pudermos acertar isso

hoje, amanhã cedo já estaremos voltando.

O advogado olhava para ele fixamente,

com certa inquietação. Reconhecia aquele

rosto.

— Está bem — concordou, voltando para

sua escrivaninha.

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Abriu uma das gavetas. Um Colt reluzia

ali dentro. Buck e Kyle entraram, deixando

a porta aberta.

— O que posso fazer pelos senhores? —

indagou o causídico, inquieto.

— É sobre isto — falou Buck,

estendendo a carta endereçada a Delle, sua

nora.

O advogado empalideceu e começou a

suar. Suas mãos tremeram quando abriu o

envelope.

— Delle não tem mais nenhum parente

— afirmou Buck. — Acho que isso me

torna o único parente dela vivo ainda.

O advogado gaguejou.

— Não é bem assim... Vamos ter que

identificá-lo... Você...

— Por quê? — indagou Buck.

O advogado olhou-o nos olhos. Pelo

olhar do pistoleiro, percebeu que não

adiantaria negar nem fazer jogos.

— É uma fortuna muito grande... Estive

em Lamar e conversei com sua nora, após

ter remetido a carta e após descobrir que ela

não tinha mais nenhum parente. Ela me

contou que você estava voltando para morar

com eles. Eram três pessoas que me

separavam do maior golpe que um

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advogado poderia dar. Só tinha que me

livrar de vocês, depois manipular os papéis

e ficar com tudo. Como descobriu?

— Falei com John Lubock. Está preso

por assassinato em Saint Louis. Deverá ser

enforcado em breve. Possivelmente o

mesmo que acontecerá com você.

Confessou por escrito que você o contratou

para matar minha família. Todo o tempo

pensei que estivessem atrás de mim por

vingança. Jamais suspeitei que tudo fosse

por essa maldita herança...

— Eu sabia que todos pensariam assim...

Eu tinha de fazê-lo — falou o advogado,

apanhando a arma.

Engatilhou-a e apontou-a para a cabeça

de Buck. O velho pistoleiro nem piscou.

— Está tudo perdido — falou ele.

— Não! Você é um pistoleiro. Tenho

uma cópia do seu cartaz de procurado. Direi

que tentou me assaltar e eu tive que matá-

lo...

— Vai matar o rapaz também?

— Sim, um a mais não custará nada. Já

fui o responsável pela morte de seu filho e

de sua nora, Buck Johnson, e não me

importarei em sê-lo da sua e de seus

amigos.

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— O xerife já está de posse da confissão

de Lubock.

— Está blefando?

— Não, James, ele não está — falou o

xerife, surgindo pela porta aberta. — Eu

ouvi tudo que disse. Está perdido.

A mão do advogado tremeu, empunhando

a arma. Ele se distraiu, olhando o xerife.

Buck sacou sua arma e apontou para ele.

— Tem duas chances: entregar-se ou

morrer.

Kyle acompanhou a cena com interesse.

O homem atrás das escrivaninha olhou para

as armas apontadas para ele. Lentamente

baixou a sua para a mesa.

— Teria dado certo... Teria... —

balbuciou, enquanto o xerife se aproximava.

— Podia ter-se vingado — observou o

xerife, falando com Buck.

— Acabou-se o tempo da matança —

falou o pistoleiro, guardando seu Colt.

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L P Baçan O Mago das Letras

1975: escreveu e publicou seu primeiro

livro de bolso, a novela Uma Tese

para o Amor, pela Editora Cedibra,

Rio de Janeiro, passando, daí, a

escrever mensalmente novelas por

encomenda para essa e outras

editoras.

1985: teve 11 letras incluídas no LP

Saudação ao Mato Grosso, da dupla

Estudante & Caminhoneiro.

1986: teve 6 letras incluídas no LP

Oração de Um Caminhoneiro, da

mesma dupla.

1991: participou da Coletânea do I

Concurso Nacional de Literatura da

FENAE, com um conto premiado

em 1º. lugar.

1994: participou da Antologia Os Poetas,

do V Concurso Helena Kolody de

Poesia, Governo do Paraná, Curitiba

– PR.

1995: traduziu a obra El Contuberneo

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Judeo-Maçónico-Comunista, de José

Antonio Ferrer Benimelli, em 2

volumes intitulados Maçonaria &

Satanismo, para a Editora "A

Trolha".

1996: publicou a novela rural Sassarico,

sobre o fim do ciclo do café, início

da rotação de culturas (soja e trigo)

e surgimento dos bóias-frias e editou

os livros Vida Minha, de Emília

Ramos de Oliveira (biografia) e

Círculo Vicioso, de Arlene Cirino de

Oliveira.

1997: participou da coletânea Poema,

Poesia... Maçom, Maçonaria,

organizada por Mário Cardoso para

a Editora Arte Real.

1998: publicou o livro de poemas

Alchimia.

1999: publicou o livro Redação Passo a

Passo e editou o livro URAÍ - Nossa

Terra, Nossa Gente, 2 volumes, de

Emília Ramos de Oliveira.

2000: teve 2 letras incluídas no CD

Nosso Negócio É Cantar, da dupla

Márcio Rogério & Luciano e 3 letras

no CD Mais, do cantor Cícero de

Souza. Publicou, neste ano de 2000,

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Brincando nos Caminhos do Senhor,

revista infantil cristã, Editora e

Gráfica Cotação da Construção,

Londrina – PR.

2001: editou e prefaciou o livro

Templários, de Lori Andrei Perez

Baçan.

2002: foi o autor da letra do hino da Loja

Maçônica Londrina, em parceria

com o músico Wilmar Cirino.

2004: organizou, editou e participou do

livro I Antologia do Portal "Cá

Estamos Nós".

2006: organizou, editou e participou do

livro II Antologia do Portal "Cá

Estamos Nós".

2007: publicou os livros A Sabedoria dos

Salmos, A Sociedade Secreta dos

Templários e O Livro Secreto da

Maçonaria, pela Universo dos

Livros Editora Ltda.

2010: publicou os livros Manual da

Futura Mamãe, Quem Disse Que

Cozinha Não è Lugar de Homem e

Receitas Naturais pela editora

Universo dos Livros. Editou o livro

de contos Solidariedade, do autor

baiano João Justiniano da Fonseca.

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Produziu, dirigiu e apresentou uma

série de 7 (sete) programas

radiofônicos Vila das Artes, na

Rádio Boa Nova FM, de Pérola, PR,

sobre literatura atual.

2012: traduziu, editou e publicou o livro

A Origem do Satanismo na

Maçonaria, de Arthur Edward

Waite.

2013: traduziu, editou e publicou em

formato eletrônico os livros Carmila,

de J Sheridan LeFanu, e Teoria da

Esgrima a Cavalo, de Alex Muller,

Anjos, o Caminho de Volta, Os Olhos

do Carrasco, Novelas de Terror

(Volumes I e II) Novelas Policiais

(Volumes I a 7) e Novelas de Faroeste

(Volumes I a IX) pela Lulu Press, Inc.

e Editora Saraiva.

1975 até 2015: hoje escreveu mais de 700

livros, publicados em sua maioria

em formato de bolso, sobre os mais

diferentes assuntos, como:

romances, erotismo, palavras

cruzadas, charadas, passatempos,

literatura infantil, passatempos

infantis, horóscopos, esoterismo,

simpatias populares, rezas, orações,

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intenções, anjos, fadas, gnomos,

elementais, amuletos, talismãs,

estresse, manuais práticos, religião e

outros livros de bolso com os mais

diversos temas e letras para músicas.

Já editou em formato eletrônico

mais de 1000 títulos, entre

publicações individuais e antologias,

de autores de Língua Portuguesa e

Espanhola.

Publicou ao longo dos últimos 40 anos

poemas e contos em jornais de

circulação regional. Ultimamente,

Tem traduzido e editado livros

eletrônicos e empenhado em editar

todos seus títulos em formato

eletrônico para serem

disponibilizados a seus leitores.

www.acasadomagodasletras.net