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Novelas de Faroeste

Volume I

L P Baçan

Copyright © 2015 L P Baçan

Todos os direitos reservados. Este livro ou

parte dele não pode ser reproduzido ou

usado de qualquer outra forma nem

divulgado sem a expressa autorização do

autor, exceto o uso de partes para referência

ou comentários.

ISBN 978-1-329-81609-1

Lulu Press, Inc. 3101 Hillsborough St, Raleigh, NC 27607

2015

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O Velho e Selvagem Oeste

No Velho e Selvagem Oeste, o saloon era

o local mais movimentado e frequentado da

cidade. Ali aconteciam shows, dança, jogo e

muitas brigas. Ali se encontravam mocinhos

e bandidos, pistoleiros e desafiantes,

mulheres bonitas e perigosas. A maior parte

das histórias de faroeste passava por ele.

Dos ambientes mais simples e rudes aos

mais sofisticados, todos, indistintamente

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acolhiam moradores e forasteiros, cada um

com sua história, cada um com seu destino.

Famosos pistoleiros criaram fama nesse

local. Outros ali encontraram a morte, na

boca esfumaçada de um Colt. A fumaça da

pólvora negra era o manto lúgubre que

cobria mais um morto. Um punhado de

serragem era jogado sobre a poça de

sangue. Uma rodada gratuita de uísque

barato era servida e minutos depois

ninguém mais se lembrava do ocorrido.

Afinal, o Oeste era mesmo um lugar

selvagem e as Novelas de Faroeste mostram

isso.

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As Armas de um

Pistoleiro

Frank Spade já começava a se sentir

incomodado, após alguns dias de

permanência em Frisco, aguardando

noticias.

Steve Grant devia-lhe uma informação

preciosa, talvez a mais importante de toda a

vida de Frank.

Aquele distintivo especial, de agente da

Pinkerton, havia pesado tempo demais em

seu peito. Precisava saber da solução de seu

processo de anistia.

Tão logo fosse considerado um homem

livre, partiria para o sul. Um lugar especial

o esperava no Texas. Lá planejava se

estabelecer e esquecer para sempre aquela

vida de pistoleiro a serviço da lei.

Penduraria suas famosas armas e tentaria

se tornar um homem comum, com desejos e

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aspirações comuns, numa comunidade

pacata, sem atropelos, mortes, perseguições

e toda sorte de atribulações de um homem

da lei, especializado em caçar bandidos.

Sua espera era amenizada pela bela e

fogosa corista do Saloon Aces, que agora

repousava, seminua, ao seu lado, na cama

do hotel.

A cabeça perfumada, de longos e

ondulados cabelos, pesava gostosamente no

seu peito másculo, de músculos definidos e

fortes.

— Posso sentir sua impaciência, querido

— ronronou ela, erguendo a cabeça.

Frank aproveitou para girar o corpo,

apanhar um cigarro e acendê-lo. A garota

beijou-lhe o peito, depois sentou-se na

cama. Começou a se vestir

preguiçosamente.

Frank continuou deitado, o trono nu

coberto de pelos reluzindo algumas gotas de

suor.

— Não suporto ficar muito tempo no

mesmo lugar — respondeu ele,

acomodando melhor a cabeça para olhá-la.

— Quando pretende partir?

— Assim que receba a informação que

estou aguardando.

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— Estou sedenta. E você?

Frank olhou para a janela. O sol se

refletia nas ondas da baía.

Sorriu preguiçosamente para a garota,

que estava terminando de se vestir.

— Por que não vai até o bar e apanha

uma garrafa pata nós? — propôs ele.

— Oh, não! Está muito abafado aqui.

Quero algo gelado — pediu ela, fazendo

beicinho.

Frank esmagou o cigarro no cinzeiro,

depois espreguiçou-se ruidosamente.

— Vamos, querido, eu o ajudo — disse

ela, apanhando o cinturão dele.

— Está bem, você me convenceu —

concordou ele, finalmente, levantando-se.

Vestiu-se preguiçosamente. A garota

passou-lhe o cinturão. Frank o prendeu à

cintura. Verificou as armas. Depois vestiu o

paletó elegante, ajeitou o chapéu e saíram.

Enquanto caminhavam pelo corredor, Frank

podia ouvir as vozes exaltadas no saloon.

Quando chegaram no final do corredor, no

topo da escadaria que conduzia ao amplo

salão, no entanto, um silencio mortal pairou

no ar.

Conhecia aquela reação e,

instintivamente, desabotoou o paletó e

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empurrou-o para trás, liberando o cabo do

Colt.

Desceu a escada com os olhos cinzentos

atentos aos movimentos dos presentes.

Um grupo de homens junto ao balcão o

olhava ostensivamente. Um deles dobrou

vagarosamente um pedaço de papel, pondo-

o no bolso do colete.

O clima pesado que pairava no ar

mantinha os instintos do pistoleiro em

alerta.

— Um uísque e duas cervejas geladas —

ordenou ele, cuidando para que a garota

ficasse a sua esquerda, mantendo livre sua

mão direita.

O barman atendeu-os rapidamente,

afastando-se para um canto mais seguro do

balcão.

O homem que Frank vira dobrando o

papel aproximou-se passo a passo,

medindo-o dos pés à cabeça.

Frank encarou-o, intrigado. O outro parou

junto dele, olhando fixamente.

O pistoleiro conhecia aquele tipo de

olhar. Significava provocação e encrenca.

— O que posso fazer por você? —

indagou, entornando o copo de uísque de

uma só vez.

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Apanhou, em seguida, a cerveja e bebeu

um generoso gole, sempre mantendo os

olhos no homem ao seu lado.

— É Frank Spade? — indagou o outro.

— Quem quer saber? — retrucou,

terminando a cerveja e fazendo um gesto

para o barman lhe servir outra.

O homem ao lado dele sorriu

provocadoramente, depois se voltou para

dois outros atrás dele. Os homens estavam

imóveis e portavam espingardas de cano

curto.

— Vejo que ainda conserva sua famosa

dupla de Colts? — observou o outro,

apontando para o cinturão do pistoleiro a

serviço da lei.

— O que quer, afinal? — insistiu Frank,

aborrecido com aquela atitude.

Percebeu que o barman fazia sinais para a

garota se afastar do balcão. Ele entendeu o

que se estava para acontecer e recuou

vagarosamente.

Os dois homens atrás daquele que

interrogava Frank se afastaram para o lado.

Suas espingardas apontavam para os joelhos

do pistoleiro.

Frank conhecia aquele tipo de arma.

Sabia do estrago que poderiam causar.

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— Há um monte de gente em Abilene

querendo sua pele, sabia? — comentou o

homem ao lado de Frank.

— Não tenho mais contas a ajustar com a

lei. Já cumpri minha parte no acordo. Sou

um homem livre agora. Trabalho para a lei

— disse ele, retirando cautelosamente o

distintivo do bolso interno de seu paletó.

O homem inclinou-se para olhá-lo. Um

sorriso cínico desenhou-se em seus lábios.

— Deve ter matado alguém para roubá-lo

— comentou, provocando risos nos homens

que portavam as espingardas.

Frank sentiu seus músculos tensos, seus

sentidos aguçados ao máximo.

Seu corpo retesou-se como o de uma fera

prestes a dar o bote. Seus olhos cinzentos

cintilaram. Ele analisou rapidamente sua

situação.

Já estivera em encrencas piores. E já

tivera mais paciência, também.

— Escute, seu idiota — rugiu. — Sei o

que está pretendendo fazer. Muitos já

tentaram antes de você e se arrependera...

— Ouviram isso, rapazes? — indagou

aos demais. — O nosso homem aqui é

valente.

Todos riram no saloon. A mão de Frank

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desceu na direção da coronha do Colt

direito.

— É melhor ficar quietinho, Frank

Spade. Você vale muito mais vivo do que

morto, mas não hesitarei em matá-lo, se não

se comportar. Não se mexa. Mantenha suas

armas nos coldres e tudo ficará bem. Solte

seu cinturão. Quero ver de perto essas

armas. Aposto que conseguiu esses

serrilhados nas coronhas matando galinhas

por aí — zombou o desconhecido.

Frank respirou fundo, apoiando-se no

balcão. Ficou imóvel, aguardando o

próximo movimento de seu oponente.

— Não vão colaborar, não é? Não tem

importância. Eu mesmo tiro suas armas —

disse o outro, dando um passo à frente.

Apoiado ao balcão, Frank jogou as pernas

para o alto. O salto de uma das botas atingiu

o nariz do seu adversário, fazendo o sangue

jorrar generosamente.

As espingardas de cano curto soaram ao

mesmo tempo, abrindo um rombo no

balcão.

Frank girou o corpo em pleno ar, caindo

em pé, diante dos dois, que tentavam

remuniciar suas espingardas.

Os Colts deixaram o abrigo de seus

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coldres e cuspiram chumbo e morte. Cada

um disparou duas vezes, certeiramente.

Atingidos na testa e no meio do peito, os

dois homens deixaram cair as espingardas e

tombaram para trás, os olhos esbugalhados

refletindo a surpresa.

O pistoleiro se voltou, então, para o outro

provocador, que ajoelhado no assoalho,

tentava estancar com as mãos o sangue que

escorria de seu nariz estraçalhado.

— Tem as respostas para as minhas

perguntas agora? — indagou-lhe Frank,

agarrando-o pelo colarinho e jogando-o

contra o balcão.

— Clemência! — gemeu o homem,

perdendo toda sua pose e sua arrogância.

— O que queriam comigo? — indagou

Frank, erguendo-o e apoiando-o no balcão.

— O cartaz... Ganhamos num jogo de

pôquer de um caçador... Ele disse que nós o

encontraríamos aqui...

Frank retirou o papel dobrado do bolso

do colete do homem que sangrava.

Começou a desdobrá-lo, aparentemente

distraído. Um sorriso de triunfo surgiu no

rosto coberto de sangue de seu desafiador.

Sem olhar para ele, Frank sacou uma das

armas e disparou certeiramente, metendo

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uma bala no centro da testa do homem que

estrebuchou, apoiando no balcão.

À medida que a vida se esvaía de seu

corpo, ele foi deslizando para o assoalho,

onde ficou imóvel.

Frank ia terminar de desdobrar o cartaz,

quando a porta do saloon se abriu e o xerife,

juntamente com dois ajudantes, surgiram,

de armas engatilhadas em punho.

— Fique aí mesmo, homem — ordenou o

xerife.

— Está tudo certo, xerife. Sou agente da

lei e estes homens me provocaram. Foi

legítima defesa...

— Ele não é homem da lei coisa

nenhuma — disse o barman. — É um

foragido da justiça. Está naquele cartaz...

— É verdade o que ele está dizendo? —

insistiu o xerife.

— Já fui um homem procurado, xerife,

mas paguei minha divida servindo à justiça.

Sou um agente da Pinkerton, fui anistiado

pelo governador e pelo próprio presidente,

em Washington.

O xerife sondou-o desconfiadamente.

Baixou os olhos para os Colts que Frank

trazia à cintura. As coronhas eram de

madrepérola, com serrilhados marcando

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suas vitimas.

— Essas não são armas de um homem da

lei. Costuma marcá-las sempre que mata

alguém?

— Há muito parei de fazer isso, xerife.

Agora, se me deixar provar, posso mostrar-

lhe minhas credenciais...

— Mesmo que seja um homem da lei,

acabou de matar aquele ali a sangue-frio,

xerife — disse o barman, apontando o

homem ao pé ao balcão.

O xerife se aproximou lentamente. Frank

suspirou resignadamente. Aquela era a

historia de sua vida.

— Deixe-me ver esse cartaz aí — pediu o

xerife.

Frank passou-lhe o cartaz, após desdobrá-

lo. Depois retirou suas credenciais e

estendeu-as para o xerife.

— Há junto um documento de anistia

provisória, xerife. O bastante para me livrar

de aborrecimentos como este — explicou,

pacientemente.

— Pode ser — ponderou o xerife. — Mas

o barman o acusa de matar um homem a

sangue-frio.

— Esse homem é um idiota completo,

xerife, que não consegue enxergar um

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palmo adiante do nariz — disse Frank, com

rispidez.

— É verdade, xerife, eu vi — insistiu o

barman. — Todos viram. Ele não deu a

menor chance ao outro.

— Vá até o defunto e olhe em sua mão

direita, xerife — disse Frank, com

tranqüilidade.

O xerife fez o que Frank lhe pedira.

Levantou o braço direito do morto. Da

maga do casaco escorregou uma afiada faca.

Frank olhou na direção do barman, que

empalideceu e recuou, assustado.

— Tudo explicado agora, xerife?

— Está tudo certo... Só que não gosto de

encrencas em minha cidade e um homem

como você é encrenca pura, Frank Spade.

— E o que se há de fazer, xerife? —

indagou-lhe Frank, olhando-o

resignadamente.

Os olhos do xerife se fixaram nos olhos

cinzas do pistoleiro. Por trás daquele brilho

mortal havia um homem solitário.

— Limpem esta bagunça — ordenou o

xerife aos seus ajudantes. — Vejam se eles

tem algum valor consigo. Confisquem tudo

para as despesas do funeral.

Um empregado do saloon surgiu com um

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balde de água e uma vassoura.

— Quanto lhe devo? — perguntou Frank

ao barman.

— Dez dólares — respondeu o outro,

secamente.

— Dez dólares por estas bebidas? —

surpreendeu-se o pistoleiro.

— Um dólar pela bebida e o resto pelos

estragos — cobrou-o o barman, aborrecido

por ter sido contrariado ao perceber que

acusara Frank injustamente.

— Cobre o prejuízo deles — disse Frank,

jogando uma moeda sobre o balcão.

— Não é o bastante — insistiu o barman.

Frank respirou fundo e debruçou-se sobre

o balcão, olhando a prateleira de garrafas

diante de si.

— Quanto custa aquela garrafa de

bourbon? — indagou.

— Cinco dólares!

— Dê-me — ordenou, retirando um bolo

de notas do bolso do paletó e separando

algumas.

O barman depositou a garrafa diante dele.

— Cinco dólares pela garrafa, um pela

bebida, nove pelos estragos e mais cinco

para os curativos — disse Frank, enquanto

depositava as notas sobre o balcão.

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— Curativo, que curativo? — indagou o

barman, com a cara de tolo.

— Estes! — respondeu Frank,

estendendo o braço e agarrando-o pelo

pescoço.

Como se fosse um boneco de trapos,

Frank o trouxe por cima do balcão até

diante de si. O homem tremia como uma

vara verde.

— Piedade! — suplicou, perdendo toda a

pose.

— Eu teria, se não fosse tarde demais

para isso — murmurou Frank, entredentes.

Seus olhos cinzentos cintilaram. Seu

rosto se manteve impassível, como que

talhado na pedra mais fria e dura do deserto.

Seu punho abateu-se pesadamente na

boca do barman, que foi jogado para trás,

contra o balcão.

Ele tossiu, engasgando, antes de cuspir

alguns pedaços de dente e sangue.

— Lembre-se disso da próxima vez que

provocar um homem — intimou-o Frank,

dando-lhe as costas e rumando para a porta.

A corista correu pendurar-se no braço

dele.

— Onde vai? — indagou ela.

— Ao posto do telégrafo.

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— Posso esperá-lo?

— Depende das noticias que receber —

respondeu ele, desvencilhando-se dela e

saindo para a rua.

Foi até o posto telegráfico. Assim que

entrou, o encarregado levantou-se com um

papel na mão.

— Acabou de chegar — disse, passando-

o ao pistoleiro.

Frank leu com interesse o conteúdo,

apesar de seu rosto demonstrar um certo

descontentamento.

— Carson City — murmurou em voz

alta. — Aquele bastardo me espera em

Carson City — repetiu, guardando o

telegrama.

Foi até o hotel e arrumou sua bagagem.

— Precisa mesmo partir? — indagou a

garota.

— Sim, preciso — respondeu ele, como

se não mais a conhecesse.

Algum tempo depois deixava o hotel. Seu

cavalo, selado, alimentado e escovado o

esperava na frente. Um garoto sorridente

segurava as rédeas.

Frank prendeu o alforje com as roupas na

garupa da sela. Sorriu para o garoto,

atirando-lhe uma moeda.

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Quando montou, levantou os olhos para

as janelas do hotel. Atrás de uma das

vidraças, a corista lutava para disfarçar as

lágrimas.

Frank esporeou seu cavalo e galopou pela

rua principal.

Em alguma parte do sul de Carson City,

ao pé das montanhas, reinava uma grande

agitação num acampamento mineiro, oculto

entre as rochas, num pequeno vale.

Homens armados patrulhavam

ostensivamente o local. Vigias atentos

mantinham-se em alerta, enquanto

cavaleiros iam e vinham a galope.

Alguns tiros soaram ao longe. Algum

tempo depois, um bando a cavalo retornou

ao acampamento, parando diante da

construção principal, abrigada junto à

encosta rochosa.

Um homem envergando um sobretudo do

exercito confederado surgiu à porta.

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Era algo de impressionante aquela figura

alta e magra, de espessas barbas brancas e

olhar sem brilho.

Trazia um chicote curto na mão direita e

brincava com ele, girando-o entre os dedos.

— Encontraram aquele maldito amarelo?

— indagou, a voz soando grave e forte.

— Sim, chefe, nós o pegamos e lhe

demos uma lição definitiva — disse o

homem que parecia comandar os outros,

enquanto desmontava de seu cavalo suado.

— O que fizeram com ele?

— Está morto, chefe. Nós o teríamos

trazido para servir de exemplo, mas ele

despencou numa ravina e não nos demos ao

incomodo de resgatar o que sobrou de sua

maldita pele.

— Está certo. Não podia ser de outra

forma. Servirá de lição aos outros.

— Pode deixar que faremos com que

todos saibam o seu destino e o daqueles que

tentam fugir do acampamento.

— Faça-os trabalhar dobrado agora.

Estamos chegando perto daquele veio. Sei

que ele está lá, esperando por mim.

Precisamos de mais gente...

— E de mais suprimentos.

— Vá a Carson City. Fale também com o

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xerife. Veja se ele conseguiu mais

trabalhadores para nós.

— Certamente, chefe.

— E traga a dinamite também. Ela vai

ajudar a apressar as coisas — recomendou o

velho.

Os homens se dispersaram. Ele ficou ali,

olhando orgulhosamente ao seu redor,

respirando fundo o ar quente daquela tarde

seca.

Gritos imperativos ecoavam, vindo da

mina. Ele caminhou até uma encosta,

descendo por uma trilha escavada na rocha

solida, até o local de onde vinha todo aquele

movimento.

A entrada da mina parecia uma boca

escancarada na montanha, engolindo os

homens que entravam por ela, empurrando

vagões.

Chicotes estalavam. Gemidos e gritos de

dor se misturavam às ordens ríspidas. O

velho se sentia em casa.

Passou por entre homens molambentos,

com as costas cortadas por chicotadas

impiedosas.

Havia muitos chineses entre eles, alguns

negros e homens brancos também, todos

exibindo em seus corpos as marcas da

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crueldade e do sol inclemente.

— Piedade! — gemeu um deles, correndo

atirar-se nos pés no velho.

Um dos guardas se adiantou, brandindo o

chicote. O velho fez um gesto, detendo-o.

— O que há, meu bom homem? —

indagou ao farrapo humano caído a seus

pés.

Sua voz soava com uma falsa brandura.

— Por favor, senhor... Estamos

morrendo...

O velho se abaixou, até que seus olhos

pudessem encarar o outro de frente.

Segurou-o pela garganta, com uma das

mãos, e apertou com força.

A mão inclemente continuou apertando.

Os olhos do preso se injetaram, tintos de

sangue. Sua língua se estendeu, azulando-

se. O velho empurrou o corpo frágil para

trás, na poeira.

— Nunca mais me toque — vociferou,

num fio de voz indignado. — Nunca mais

me toque porque vou arrancar seus dedos e

enfiá-lo goela adentro. Vá trabalhar,

miserável vagabundo. Vá trabalhar ou

mandarei matá-lo de pancadas — prometeu

o velho, erguendo-se, aprumando-se e

caminhando na direção das estrelas, onde

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minério era triturado e lavado.

Olhos atentos examinavam o cascalho

que descia, carregado pela força da água,

sobre estrados inclinados de madeira e tela.

— E então, Mark, estamos chegando

perto do veio? — indagou a um jovem de

boa aparência, que fiscalizava todo o

trabalho.

— Tenho absoluta certeza que sim, papai.

Estudei muito estas rochas. Não há mais

dúvida. É o veio mais rico de todo o oeste e

vamos atingi-lo em breve.

— Que acha de usarmos a dinamite?

— É cedo para pensar nisto, pai. Veja

isto. Estamos próximos demais para ter

pressa — disse o rapaz, fechando a mão

sobre um largo recipiente.

Aproximou-se do velho. Estendeu a mão

fechada e, lentamente, foi abrindo os dedos.

Enormes pepitas de ouro surgiram,

fazendo com que os olhos do velhos se

arregalassem.

— Eu sabia... Eu sempre soube...

Teremos tudo de volta, meu filho. Tudo.

Eles voltarão a sentir a força desta mão —

disse o velho, fechando com força o punho

e erguendo-o contra o sol.

— Vamos precisar de mais gente, pai —

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disse Mark.

— Você terá todos os homens que

precisar — prometeu o velho, apanhando as

pepitas de ouro da mão do filho.

Retornou à casa principal do

acampamento. Sua sombra alongada

espalhava respeito e temor. O velho general

sulista tinha um coração duro como as

pedras que o rodeavam.

A sorte lhe havia sido adversa. A guerra

tirara-lhe tudo que tinha no sul. A fazenda

fora confiscada para cobrir os impostos.

Seus outros filhos estavam mortos. Sua filha

morrera. Só sobrava ele, Mark, o filho mais

novo, que estudava no Norte, quando a

guerra explodira.

De volta ao seu quartel general, o velho

John Scottsfield olhou a garrafa de uísque

aberta sobre a escrivaninha. Era seu

consolo. Era o que embrutecia seu coração e

o mantinha firme e decidido na busca

daquele veio de ouro, o filão mais rico do

oeste, aquele que resgataria de novo a velha

tradição do nome Scottsfield, outrora

poderoso.

Abriu a garrafa.

— Brindo a você, montanha maldita, que

vai parir de suas entranhas o veio mais rico

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de todo o oeste — disse ele, mordendo a

rolha e cuspindo-a para longe.

Bebeu vorazmente. O uísque tinha um

sabor adocicado de sangue e John

Scottsfield adorava isso.

Frank não gostou da maneira como

aquele homem o olhava, no interior do

melhor saloon de Carson City.

Estava na cidade havia uma semana e não

conseguira falar com o maldito Steve Grant,

seu superior para os trabalhos sujos e legais

que fazia para a Agencia Pinkerton de

Detetives.

— Outra cerveja — pediu ele, ao barman,

mantendo sob vigília, através do amplo

espelho a sua frente, o homem que o

encarava ostensivamente.

Conhecia aquele tipo de olhar. Conhecia

aquela tensão que se estampava nos rosto

daqueles que o identificavam.

Carregava consigo a maldição de um erro

da juventude. Tivera sua cabeça a prêmio.

Cartazes haviam sido espalhados pelo Oeste

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em todas as direções.

Alguns sabiam de sua anistia. Outros não.

Aquele homem no fundo do saloon parecia

estar longe da civilização por um longo

tempo. Tempo demais.

Frank apanhou a cerveja, tomou um gole

e depositou o copo no balcão. Desabotoou o

paletó. Jogou as abas para trás, descobrindo

as coronhas serrilhadas de seus Colts.

Virou-se. Apanhou o copo de cerveja

com a mão esquerda e caminhou na direção

do homem no fundo do saloon.

Parou diante dele. Tomou um gole. Seus

olhos cinzentos se fixaram nos olhos

escuros e repuxados do homem sentado

diante dele. Pelos traços, parecia um

mestiço índio. Sangue ruim, o pior deles.

Seguramente um caçador de recompensas.

— Sou Frank Spade e estou anistiado. Se

você carrega um daqueles malditos cartazes,

está perdendo seu tempo.

— Quem perguntou? — retrucou o outro,

a voz soando daquela forma que Frank tão

bem conhecia.

Sentiu vontade de dizer ao outro que ele

falava como um homem morto, mas

desistiu. Retornou ao balcão, mas manteve

seus olhos fixos no espelho, observando seu

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oponente.

Viu quando ele se levantou, empunhando

um rifle de caçar búfalos.

Sem se voltar para seu oponente, Frank

tomou um gole de cerveja e disse:

— Quer tentar a sorte?

O caçador de recompensa pareceu

analisar a situação. Viu o espelho. Percebeu

que Frank o vigiava.

Pesou suas possibilidades. O rifle estava

engatilhado, mas o cano estava abaixado.

Bastava erguê-lo e disparar. Se a bala

atingisse Frank, sua espinha seria partida ao

meio como um graveto pelo projétil calibre

cinqüenta.

— Tenho um papel que diz que sua pele

vale mil dólares — disse o mestiço.

— Tenho outro que diz que sou um

homem livre — respondeu Frank, sem se

voltar.

— Papéis se sepulturas não discriminam.

Aceitam o que você puser neles.

Frank terminou a cerveja. Depositou o

copo numa mesa a seu lado. Virou-se para

seu oponente.

O mestiço era frio. Frank já vira aquele

tipo de olhar antes. Ficavam muito bem em

cadáveres.

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O ambiente do saloon se modificou. As

pessoas se afastaram da linha de tiro dos

dois contendores.

Um silencio de morte pairou no

ambiente. Ninguém respirava. Frank sabia

que teria que matar aquele idiota a sua

frente. Por isso amaldiçoou Steve Grant.

Estava ali havia uma semana e não

conseguira falar com o bastardo.

Não gostava de ficar tempo no mesmo

lugar. Dava-lhe nos nervos. tirava-lhe a

paciência. Punha comichão em seus dedos.

E se não bastasse tudo isso, sempre havia

um idiota com um maldito cartaz no bolso,

querendo ganhar mil dólares que jamais

seriam pagos.

— Eu lhe dou uma chance — disse

Frank, de olho no rifle calibre cinqüenta.

Sabia o estrago que uma arma daquelas

podia fazer. Mas era uma arma pesada.

Jamais dispararia com a rapidez de seus

Colts.

Qualquer homem inteligente, que

conhecesse a fama de Frank, analisaria isso.

Pesaria isso. Mas não se arriscaria. Aquele

rifle era a única opção do caçador de

recompensa. Tinha de ser um único e

certeiro tiro, de uma arma mortal e

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devastadora.

Só que Frank confiava mais em seus

Colts.

Tudo parecia ser uma repetição de cenas

anteriores. Olhando nos olhos do mestiço,

Frank antecipava todos os acontecimentos.

Sabia que o rosto do outro ficaria tenso. Um

tique nervoso qualquer demonstraria o

momento do disparo.

— Não desperdice sua chance. Pode ser a

última de sua vida — insistiu Frank.

Suas palavras calaram fundo no mestiço.

Frank percebeu a vacilação. O mestiço tinha

medo.

— Que diabos está acontecendo aqui —

indagou um dos homens que entrava

acompanhado de meia dúzia de outros.

Todos pararam, observando a cena. De

um lado, no meio do saloon, Frank

mantinha as mãos relaxadas, mas ao nível

de suas pistolas mortíferas.

De outro lado, o mestiço apertava a

coronha do rifle, pesando suas

possibilidades.

O olhar cinza e frio de Frank venceu.

— Não terminamos ainda — disse o

mestiço.

— A qualquer momento, em qualquer

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lugar, a qualquer hora — respondeu Frank,

virando-lhe as costas e caminhando na

direção do balcão.

O mestiço ergueu o rifle. Frank viu o

movimento no espelho. Moveu o corpo para

o lado.

A bala passou zumbindo ao lado ao lado

de seu corpo e foi espatifar o espelho. O

mestiço soltou o rifle e levou a mão à

cintura.

— Você está morto — disse Frank,

sacando com a esquerda e disparando.

A bala atingiu o centro do pescoço do

mestiço, que ficou indeciso entre sacar o

Colt e estancar o sangue que esguichava de

sua garganta.

Frank viu seu oponente olhá-lo com

surpresa, refletindo nos olhos embaçados a

perplexidade daqueles que sabem que vão

morrer.

Ele já tinha visto aquele olhar antes.

Muitas vezes.

Amaldiçoou Steve Grant por ter de passar

por tudo aquilo de novo.

Um dos homens que havia chegado com

o grupo que os interrompera se adiantou,

encarando Frank.

— Você é rápido com os Colts.

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Ninguém se movia no saloon.

— Não conheço outra forma de usá-lo —

disse Frank.

— Procura trabalho?

— Não, estou de passagem.

— É uma pena. Um homem como você

poderia ser útil.

— Útil, com certeza, mas caro demais

para vocês — disse Frank, irritado,

deixando o saloon.

O grupo de homens se aproximou do

balcão. O chefe deles indagou ao barman:

— Quem é a boneca sensível, afinal?

— Frank... Frank Spade, o assassino de

Joshua Tree!

Os homens se entreolharam.

— Ele? — indagou surpreso, o chefe.

— Ele — confirmou o barman, olhando

nos olhos nublados pela morte do mestiço,

que rouquejava, expelindo o resto de sangue

que sobrava em seu corpo.

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Frank estava deitado no catre da cela,

sentindo o suor escorrer pelo seu corpo,

molhando suas roupas. O xerife não lhe

dera trégua. Prendera-o na saída do saloon e

não o soltaria até que estivesse satisfeito

com as investigações.

O pistoleiro não cessava de amaldiçoar

Steve Grant por fazê-lo esperar.

Detestava ficar muito tempo em um

mesmo lugar. Já estava em Carson City

havia tempo demais.

Tempo suficiente para ter sido localizado

por mais um daqueles caçadores de

recompensa desatualizados.

Ouviu barulho. Sentou-se

preguiçosamente. O xerife parou diante da

porta da cela.

— Parece que você disse mesmo a

verdade — comentou o homem da lei. —

Além disso, há alguém que fala por você —

emendou.

— Ninguém fala por mim — afirmou

Frank, enraivecido, pondo-se em pé.

— Ora, ora! O mesmo esquentado de

sempre — comentou Steve, surgindo por

detrás do xerife.

— Seu maldito bastardo! — rugiu Frank,

avançando na direção dele.

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Não fossem as grades, que o prendiam,

Frank teria agarrado Steve e esmurrado seu

rosto sorridente.

— Se quiser, eu o mantenho aí dentro até

se acalmar — ponderou o xerife.

— Não se preocupe, Connors, Frank me

adora. Pode soltá-lo — pediu Steve.

O xerife o atendeu. Steve estendeu a mão.

A contragosto Frank a apertou.

— Você se fez esperar por uma semana

nesta maldita cidade — vociferou Frank.

— Trabalho, meu amigo. Trabalho!

— Não importa. Agora que está aqui, só

quero que me dê a maldita anistia e pegue

isto de volta — disse Frank, estendendo a

carteira com suas credenciais e o distintivo

da Pinkerton.

— Calma, Frank! Não se precipite. Antes

de finalizarmos isto, há algo que preciso

mostrar-lhe. Aliás, há duas coisas que

preciso lhe mostrar.

Frank olhou-o desconfiadamente.

Conhecia aquele tom de voz. Steve estava

preparando algum coisa.

O xerife apareceu novamente, trazendo as

armas de Frank, entregando-as.

— Estas armas são famosas — comentou.

— Apenas me deram dor de cabeça,

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xerife. Por mim eu as penduraria numa

parede e as esquecerei para sempre — disse

Frank, prendendo o cinturão.

— Depois você pensa nisso. Agora venha

comigo — pediu Steve, deixando a cadeia.

Frank o seguiu pela rua principal de

Carson City, até a casa do médico.

Assim que entraram, Steve apontou um

homem estendido num canto da sala, que

funcionava como uma espécie de

ambulatório médico e enfermaria.

— Veja aquilo — disse o detetive.

Frank foi até a cama onde gemia

fracamente um velho chinês. Seu corpo

estava horrivelmente torturado. Havia cortes

por toda parte. Braços e pernas pareciam

fraturados.

— O que houve com ele? — indagou

Frank.

— É o que gostaríamos de saber. Foi

encontrado se arrastando nas proximidades

da cidade. Não pode nos contar nada, mas

há algo que nos chamou a atenção. Observe

isto! — disse Steve, descobrindo o

tornozelo do ferido.

Frank se debruçou. Conhecia aquele tipo

de marca. Era feito por algemas.

— Prisioneiro? — surpreendeu-se.

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— Talvez escravo.

— Escravo? Do que está falando?

— De gente que anda sumindo em

Carson City. Este velho passou por aqui,

vindo de San Francisco, há coisa de uns

dois meses. Sumiu de uma hora para outra e

reaparece agora, neste estado. Curioso, não

acha?

— Está bem — disse Frank, tentando se

manter neutro.

Já havia feito sua parte. Queria apenas

finalizar o trato que tivera com Steve e

partir para o Texas o mais depressa

possível.

— Frank, vamos precisar de você

novamente — disse Steve, com ar

suplicante.

Frank o encarou. Sabia que havia alguma

coisa por trás de tudo aquilo.

— Nada feito, Steve. Temos um trato. Eu

cumpri a minha parte. Estou deixando a

Pinkerton. Dê-me o que me prometeu e irei

embora para sempre.

— Frank, o oeste é uma terra difícil,

precisamos de homens como você.

— Há outros.

— Problema de seu patrão. Tenho meus

próprios problemas e quero resolvê-los o

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mais depressa possível e ir embora. Se um

china levou uma surra, nada posso fazer.

— Ainda não lhe contei tudo...

— Desista, Steve. Não vou poder ajudá-

lo. Tenho meus planos feitos...

— Está bem! Pedi para mostrar-lhe duas

coisas. Uma é este velho. Vamos ver a

outra. Se não mudar de idéia, eu lhe darei o

que veio buscar e você poderá partir.

— Está certo!

— Só que apenas poderei fazer isto à

noite, durante o jantar.

— O que está tramando, afinal? —

indagou Frank, irritado com Steve.

— À noite você vai saber. Aproveite o

tempo para fazer a barba, tomar um banho e

pôr uma roupa limpa — ordenou Steve.

— Vá para o inferno, homem. Quer parar

de me dizer o que fazer?

Steve riu.

— Vá para o inferno você, Frank Spade.

Faça o que estou mandando ou ponho todos

os xerifes do oeste atrás de você novamente

— prometeu Steve.

— Faça isso e será um homem morto.

— Será? — ironizou Steve, com um

olhar de desafio que irritou definitivamente

o pistoleiro.

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— Não me provoque, Steve!

O detetive da Pinkerton sorriu e virou as

costas para o pistoleiro.

Mark Scottsfield recolheu as pepitas de

ouro e depositou-as num saquinho de ouro.

Fechou-o e rumou para a casa principal do

acampamento.

A tarde morria lentamente, com o sol

projetando sombras na muralha de pedra

que se sobressaía sobre o acampamento.

Enquanto caminhava, o jovem sulista

refinada ainda se fazia presente.

Pensou que não precisava ser daquela

forma. Era poderoso agora. Tinha ouro,

muito ouro e, em breve, teria mais, muito

mais.

Comandava um pequeno exército.

Trabalhava bastante, tinha direito de se

divertir e compensar todo o tempo que

perdera estudando no Norte.

Sim, merecia isso. Merecia começar a

gastar um pouco daquele ouro que tanto

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sacrifício lhe custava.

— Acho que vou à cidade, pai — disse,

assim que entrou.

John Scottsfield olhava a garrafa vazia

diante de seus olhos, como se buscasse ver

alguma coisa em seu interior.

— Só não vá sozinho — recomendou. —

E traga-me uma caixa deste uísque, se eles

tiverem recebido mais lá no saloon.

— Farei isso, pai.

Foi até o enorme cofre, num canto da

sala. Abriu-o. Lá dentro havia diversos

saquinhos de couro iguais aos que tinha na

mão.

— As pepitas estão ficando cada vez

maiores, pai... Em poucos dias chegaremos

ao veio principal.

— Sim, ele está lá, nos esperando. Não

vejo a hora de topar com ele...

Mark fechou o cofre. Ao se levantar, seu

ombro resvalou no coldre militar pendurado

na parede.

Apanhou-o e prendeu-o à cintura. Abriu-

o, sacando um velho Colt.

— Precisa me ensinar a atirar um dia, pai

— pediu ele.

— Não, filho, você não precisa saber

atirar. Basta ter dinheiro e sempre terá quem

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atire por você — ponderou o velho.

Mark brincou rapidamente com o Colt,

depois guardou-o no coldre. Pendurou-o de

volta na parede.

— Mesmo assim, acho que vou comprar

uma nova para mim. Há uns Colts com

coronhas de madrepérola, modelo novo, que

calça balas de Winchester. São muito

práticos porque podem ser remuniciados

com rapidez e...

— Faça como quiser, Mark. Compre

dois, os melhores que encontrar. Afinal, é

para isso que serve o ouro.

Algum tempo mais tarde, Mark chegava à

cidade, acompanhado de mais meia dúzia de

capangas. Foram direto para um dos

saloons.

Assim que entrou, Mark foi saudado pelo

proprietário, que o levou para uma sala, nos

fundos.

— O uísque de seu pai chegou — disse

Robertson, o proprietário do saloon.

— Ótimo, meu pai vai adorar.

— E como estão as coisas lá na mina?

— Estamos próximos do veio. As pepitas

já são do tamanho de ovos de pombas.

— Grandes assim?

— Haverá maiores, tenho certeza. Mas

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precisamos de mais gente, Robertson.

— Está difícil, Mark. Ninguém aparece

por aqui. Há apenas um pistoleiro, perigoso

demais para que se mexa com ele. Ainda

ontem ele matou um mestiço aqui dentro do

saloon.

— Não precisamos de mais um

encrenqueiro. E o china, como está?

— Pode considerá-lo morto. Não falará,

pode ficar tranqüilo quanto a isso.

— Viu novamente aquela garota de que

lhe falei? — indagou Mark, demonstrando

todo o seu interesse.

— Sim, ela continua na casa do xerife.

Mas descobri algo que não vai agradá-lo,

Mark.

— E o que foi?

— Lembra-se daquele rapaz louro e forte,

que capturamos há cerca de uns três meses?

— Sim, é um dos melhores escravos que

temos.

— É irmã dele.

— Não!

— E tem mais.

— O quê?

— Ela contratou um homem da Pinkerton

para tentar localizar o irmão. Parece que ele

escreveu uma carta para ela daqui, antes que

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o pegássemos e o mandássemos para a

mina.

— Não importa. O acampamento é

inexpugnável e, além disso, muito bem

vigiado. Se o agente da Pinkerton chegar

por perto, vai sumir sem deixar pistas. Tente

arrumar-me mais alguns homens. Meu pai

quer usar a dinamite, mas acho arriscado.

Estamos perto demais para uma ação tão

drástica agora.

— Verei o que posso fazer.

Deixaram a sala e foram para o saloon.

Assim que entraram, a atenção de Mark foi

atraída por aquele homem vestindo um

elegante paletó, encostado no balcão,

bebendo.

As abas do paletó estavam presas para

trás, nas coronhas de dois reluzentes Colts,

com cabos de madrepérola.

Aproximou-se, interessado, vigiando por

seus capangas, espalhados pelo saloon.

— Belas armas — comentou.

Frank desviou seus olhos cinzas para o

rapaz, encarando-o.

— As melhores — respondeu, depois

terminou o copo de uísque, num só gole.

Impacientava-se. Steve ficara de apanhá-

lo no saloon às sete da noite e meia hora já

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se passara desde então.

— Posso lhe pagar um drinque? —

ofereceu Mark.

Frank sondou o rapaz. Não parecia

ameaçador e, além de tudo, estava

desarmado. parecia um bom garoto.

— Se faz questão.

Mark fez um sinal para o barman,

pedindo o uísque especial que lhe era

reservado.

— A sua saúde! — brindou Mark.

— A nossa! — respondeu Frank,

entornando.

Saboreou a bebida, melhor que a que lhe

era servida.

— Você deve ser alguém muito especial

— comentou para o rapaz. — Estou aqui há

uma semana e só tenho bebido álcool puro,

da pior qualidade.

— Robertson, sempre que o cavalheiro

aqui pedir, sirva-lhe o melhor — disse

Mark, ao dono do saloon, com certa

arrogância.

— Claro que sim, Sr. Scottsfield.

— Neste caso, permita-me que lhe

retribua o drinque — ofereceu Frank.

— Nada feito. Você é meu convidado

nesta noite — devolveu Mark, envaidecido.

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Nova rodada foi servida. Mark fixou seu

olhar no serrilhado da coronha de um dos

Colts.

— Essas marcas representam o que estou

pensando? — indagou ao pistoleiro.

— Sim e não me orgulho disso.

— É um pistoleiro?

— Não gosto de ser chamado assim. Já

fui um. Hoje gostaria de ser esquecido.

— E essas armas, não gostaria de vendê-

las?

— Por que pergunta?

— Adoraria tê-las para mim.

Frank tomou mais um gole. Lembrou-se

de quando era jovem e de como desejara um

par de pistolas como aquela. Só que o preço

que tivera de pagar fora alto demais.

Matara Joshua Tree numa luta limpa.

Joshua Tree era o xerife de uma

cidadezinha. Seus ajudantes caçaram Frank.

Matou três deles numa luta limpa também,

mas espalhou-se que fora numa emboscada.

Afinal, Joshua Tree era considerado o mais

rápido pistoleiro do oeste e jamais fora

batido.

— Esqueça isso, rapaz. Armas só atraem

encrencas e nada mais.

— Quantos homens já matou?

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— E o que isso importa? — retrucou,

incomodado com aquele tipo de conversa.

— Não se ofenda, por favor! É apenas

curiosidade. Vamos beber, não está aqui

mais quem perguntou — descartou Mark,

apanhando a garrafa e servindo mais uma

dose para o pistoleiro.

Neste momento Steve chegou. Bateu nas

costas de Frank, que se voltou sem surpresa.

Havia acompanhando sua chegada pelo

espelho a sua frente.

— Você não muda, Frank. Sempre diante

de espelhos, vigiando as costas — observou

o homem da Pinkerton.

— Está atrasado — disse Frank,

aborrecido.

— Vamos lá, então.

Frank agradeceu Mark pela bebida e saiu,

acompanhado de Steve. Quando estava na

rua, Mark lhe gritou da porta do saloon.

— Se mudar de idéia e desejar vender as

pistolas, eu as compro.

— Acho que não tem dinheiro o bastante,

rapaz — respondeu Frank, sem se voltar.

— Não gostaria de descobrir isso? —

devolveu Mark, surpreendendo o pistoleiro.

— Quem é esse? — indagou Steve.

— Um garoto pretensioso — respondeu.

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— E agora, qual é a surpresa?

— Vamos a um jantar.

— Jantar? Onde?

— Na casa do xerife.

— E o que há de especial lá?

— Uma pessoa que você precisa

conhecer.

Frank parou.

— Vamos lá, Frank. Você não perde

nada. Depois poderá ir embora.

— Acho bom que seja assim mesmo —

murmurou o pistoleiro, acompanhando

Steve.

Momentos depois chegavam à casa do

xerife, que estava no alpendre. Havia

algumas cadeiras ali e uma pequena mesa,

com uísque e copos.

— Vamos beber alguma coisa, rapazes,

enquanto as senhoras se aprontam.

Frank olhou interrogativamente para

Steve, que não lhe deu atenção e tratou de

servir um uísque.

— Dia quente! — comentou o xerife.

Frank suspirou resignadamente e foi se

servir de uísque. Sentou-se e ficou olhando

a rua deserta e escura.

De longe vinha a música de um dos

saloons ali nas redondezas. Aquela era uma

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parte calma da cidade, com casas sem

cercas e jardins floridos.

Jamais se vira morando numa casa como

aquela. Sua vida atribulada sempre fora um

inferno.

Agora, com a anistia, podia começar a

pensar nisso. Acharia o seu lugar no Texas.

Uma boa mulher. Paz, afinal.

Risos femininos vieram do interior da

casa. Frank se voltou. Duas mulheres se

aproximavam, conversando alegres.

Uma era de meia idade, mas ainda

conservando no rosto traços de uma beleza

sem igual.

A outra era jovem e, quando parou na

porta e encarou o pistoleiro, Frank sentiu-se

estremecer.

Aqueles olhos azuis eram a coisa mais

bonita que ele já vira em toda a sua vida.

O jantar transcorreu agradavelmente,

embora Frank se sentisse realmente

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incomodado, pois não entendia qual o

objetivo de Steve ao convidá-lo.

Aquele clima acolhedor e familiar

despertaram recordações no pistoleiro, mas

não o bastante para sensibilizá-lo. A vida já

o havia embrutecido demais.

Incomodava-o aquela paz r aquela

tranqüilidade. Não estava mais acostumado

a isso.

Quando o jantar terminou, a esposa do

xerife serviu café, depois se retirou.

A garota, Frank, Steve e o xerife ficaram

na sala.

— Sandy — disse Steve à garota. — Por

que não conta ao Frank o que a trouxe a

Carson City?

— Está bem — disse ela, voltando

aqueles olhos azuis maravilhoso para o

pistoleiro, que ocultou sua perturbação atrás

de longas baforadas em seu cigarro.

— O que é tudo isso, Steve? — indagou

Frank.

— Ouça apenas — pediu o outro.

— Recebi uma carta de meu irmão,

remetida aqui de Carson City. Ele contou

que havia encontrado um emprego num

rancho e que em breve mandaria me

buscar...

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— Quando foi isso? — indagou Frank.

— Há uns três meses — respondeu ela.

— Respondi à carta de meu irmão e

aguardei uma noticia, mas,

inexplicavelmente, ele havia desaparecido.

— Não teve mais noticias dele?

— A carta que eu mandei retornou. Pedi

a um amigo que estava indo para San

Francisco que procurasse por Peter, meu

irmão, aqui na cidade. O mais estranho foi

que esse amigo descobriu que Peter havia

levado suas coisas para o rancho onde

trabalharia, mas jamais apareceu por lá. A

última noticia que deram dele foi que

estivera comemorando o novo emprego

num saloon aqui na cidade. Alguém o viu

por lá, bêbado e nunca mais voltou a vê-lo

de novo.

Frank ficou analisando o que a garota

contara, juntando as peças do quebra-cabeça

onde Steve desejava metê-lo.

Primeiro o china todo arrebentado. Agora

a estória da garota. Se conhecia Steve, as

duas coisas estavam relacionadas.

Encarou seu parceiro na Pinkerton.

— E onde eu entro nisso? — indagou?

— Como eu disse antes, precisamos de

você — afirmou Steve.

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— Por favor! — suplicou a garota,

encarando Frank com ar ansioso.

— Espere aí, Steve... — tentou descartar

Frank.

— Frank, as duas coisas estão

relacionadas. O xerife tem mais

informações a acrescentar — insistiu Steve.

— Sim, há coisas estranhas acontecendo

em Carson City. Viajantes desaparecem

com muita facilidade. O caso do irmão de

Sandy não é o único. Há outras denúncias.

Além disso, há rumores de um

acampamento mineiro, ao pé das

montanhas, oculto em alguma parte naquele

labirinto de rochas. Falam de um filão de

ouro, o maior já encontrado em todo o

Oeste.

— Esperem aí, amigos — pediu Frank,

um tanto confuso com todas aquelas

informações. — Primeiro o china todo

quebrado...

— O chinês trabalhava nesse

acampamento. A marca da algema em seu

tornozelo indica que trabalhava como

escravo. Acho que tentou fugir e foi

maltratado daquela forma.

— Ele falou alguma coisa?

— Não e duvido que falará. Deve morrer

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de uma hora para outra. Por ele jamais

saberemos.

— Está bem! Então há um acampamento

mineiro em algum lugar nas montanhas

usando viajantes como escravos. Peter, o

irmão de Sandy deve estar lá, se não

estiver... — ia dizendo Frank, mas calou-se

ao perceber o olhar de espanto e dor no

rosto de Sandy.

— É isso mesmo, Frank — continuou

Steve. — Precisamos que você investigue.

Frank esmagou o cigarro no cinzeiro,

compreendendo onde Steve quisera levá-lo

todo o tempo.

Encarou Sandy. Como suportar aquele

olhar suplicante e aqueles olhos azuis

marejados?

Diabos! Deveria ter evitado tudo aquilo.

— Diga que vai nos ajudar — pediu

Sandy. — O Sr. Pinkerton me assegurou

pessoalmente que você é um dos melhores

homens de toda a agência.

Frank se voltou e encarou Steve. Havia

aceitado trabalhar na Pinkerton porque teria

sua anistia total.

Até então, recebia algum dinheiro para as

despesas, nada que pudesse juntar para sua

vida futura.

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— Você contratou a agência? — indagou

Frank à garota.

— Sim, e por um preço generoso.

— Não entendo — intrigou-se Frank. —

Se dependia de seu irmão...

— Oh, entendo — sorriu ela. — Muita

coisa aconteceu, desde que meu irmão se

separou de mim. Eu me casei com um

homem rico e generoso que, infelizmente,

morreu logo depois em um tiroteio. Tinha

propriedades no Norte, principalmente ao

redor de Washington e foi quem me

apresentou pessoalmente o Sr. Pinkerton.

— Oh, sim — comentou Frank.

Encarou Steve.

— Acho que precisamos falar de

negócios, meu amigo — disse, num tom que

não admitia contestação.

— Está certo, Frank, você pode entrar na

folha de pagamento normal. Não vai se

arrepender. Poderá ter um dinheirinho para

dar de sinal num rancho no Texas — disse

Steve.

— Texas? — surpreendeu-se Sandy. —

Tenho um rancho no Texas, mais

precisamente em Austin. Preciso

desesperadamente de um homem que me

ajude a administrá-lo — disse a garota,

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sedutoramente.

Frank se sentiu caindo numa grande e

ardilosa armadilha.

— Não acho que deva ir — recomendou

Robertson.

— Meta-se com sua vida — disse Mark,

rispidamente, entornando mais um copo.

Robertson conhecia bem o garoto. Era

excelente quando sóbrio. Bêbado, se

tornava um transtorno.

Prometera, porém, ao velho Scottsfield

cuidar dele. Mark, no entanto, não

colaborava.

— Mark — insistiu. — Você está bêbado

e a garota está na casa do xerife. Pode

imaginar a encrenca que irá arrumar se

perder o controle?

— Dane-se! Quero vê-la de novo.

Prometo não arrumar encrenca — prometeu

ele, rumando para a porta.

Robertson fez um sinal para os capangas

que estavam no saloon, pedindo que

acompanhassem o rapaz.

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Mark caminhou pela rua principal até a

igreja, depois dobrou a direita e rumou para

a parte residencial da cidade.

Viu a casa do xerife, com luz no

alpendre. Animou-se. Talvez a garota

estivesse lá, aproveitando o frescor da noite.

O que viu logo adiante, porém, não o

agradou. O homem que conhecera no bar,

aquele pistoleiro, conversava com a dama

na frente da casa.

Parou, indeciso. Os capangas atrás dele

ocultaram-se nas sombras.

— Diabos! — resmungou o rapaz.

Sabia o tempo todo que seus homens o

seguiam e lhe davam proteção. Não tinha

uma arma, mas lembrou-se do que seu pai

havia dito naquela tarde.

Tinha poder. Podia pagar para que

usassem a arma por ele. E era o que aquela

meia dúzia de homens que o seguia iria

fazer, se preciso fosse.

Aproximou-se, tentando manter-se firme.

Frank conversava com Sandy, envolvido

definitivamente pela armadilha que Steve

lhe havia preparado.

Ao aceitar a missão de tentar localizar o

irmão dela, ganharia não apenas o salário de

agente, mas a possibilidade de administrar

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um rancho no Texas, coisa com a qual vinha

sonhando havia muito tempo mesmo.

— Quando me dará noticias? — indagava

ela.

— Eu lhe darei relatórios diários, a

menos que fique impedido de alguma forma

e... — interrompeu-se ele, vendo Mark

surgir das sombras.

Havia algo no rosto do rapaz que não o

agradou. Conhecia aquilo. Seus instintos

ficaram em alerta.

— Ora se não é nosso amigo das belas

pistolas — disse Mark e, apesar de tentar ao

máximo manter a compostura, Frank

percebeu o quanto ele estava alcoolizado.

— Posso fazer alguma coisa por você? —

indagou Frank, os olhos examinando as

sombras da rua.

No saloon, diante do espelho,

conversando com Mark, vira a

movimentação daqueles capangas.

Deveria haver pelo menos uma meia

dúzia deles, sempre atentos aos movimentos

de Mark.

Agora, ali, na rua escura e deserta, não

era diferente. Seus olhos, acostumados ao

perigo, viam mais do que os de um mortal

comum.

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Isso o havia mantido vivo até então.

— Por que não me apresenta a bela

dama? — indagou Mark, os olhos

fascinados pela beleza de Sandy.

Frank já havia feito um balanço da

situação, tendo conseguido localizar pelo

menos quatro dos homens que protegiam

aquele rapaz.

Lamentou que Steve e o xerife tivessem

saído. Steve se propusera a acompanhar o

xerife em sua ronda.

Frank ficara ali, envolvido

definitivamente por Sandy.

— Por que não faz isso você mesmo? —

devolveu Frank, os olhos percorrendo a rua,

atentos.

Localizou um quinto homem e, logo em

seguida, o sexto. Memorizou suas posições.

— Como não! — disse o rapaz,

esforçando-se ao máximo para demonstrar

galanteria. — Sou Mark Scottsfield — disse

ele, fazendo uma mesura tipicamente sulista

diante da dama.

— Sandy Tipton — devolveu ela, numa

mesura idêntica.

Mark riu envaidecido, julgando que a

garota correspondia ao seu galanteio.

— Acho que é melhor se retirar, Sra.

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Tipton — disse Frank, com formalidade,

lançando um olhar para a jovem, que

pareceu entender o perigo que se anunciava.

— Foi um prazer conhecê-lo, Sr.

Scottsfield — disse ela, fazendo menção de

se voltar.

Mark estendeu a mão e agarrou o braço

da garota, impedindo que ela se afastasse.

— Não vá embora por minha causa —

disse ele.

Frank estendeu a mão e agarrou o punho

dele com firmeza, lançando seu olhar mais

mortal.

Mark levantou os olhos para ele,

surpreso. Não estava acostumado a ser

contrariado.

Percebeu que Frank havia agarrado seu

pulso com a mão esquerda e que, com a

direita, desabotoara o paletó e jogara a aba

para trás, descobrindo a coronha serrilhada

de seu Colt.

— Por favor, não entenda mal — disse o

rapaz, soltando o braço de Sandy.

— Boa noite, Sra. Tipton — disse o

pistoleiro, com um tom de voz intimidou a

garota.

Ela se afastou, entrando na casa. Frank

soltou o braço do garoto.

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— Que tal um drinque? — propôs Mark,

mudando de estratégia repentinamente.

Aquele olhar frio e cinzento do pistoleiro

o intimidava e, ao mesmo tempo, o

espicaçava.

O maldito parecia ter tudo aquilo que ele,

com todo o seu ouro, não conseguia obter: o

mais belo par de pistolas do oeste e a

atenção da mulher mais bonita que ele já

vira.

Sabia que seus pistoleiros o protegiam,

mas nada lhe garantia que a primeira bala

de Frank não seria para ele.

— E por que não? — falou o pistoleiro,

aceitando o convite.

Caminharam rumo ao saloon. Nas

sombras, Frank percebia os movimentos

furtivos dos capangas.

— É uma bela dama — comentou Mark.

— Sim, pode-se dizer que sim.

— Eu não quis ser rude e...

— Esqueça — pediu Frank, instintos

atentos, a mente trabalhando nas

informações que tinha sobre o

desaparecimento do irmão de Sandy.

Uma coisa o estava intrigando agora. A

maneira como Mark, quando fizera a oferta

pela compra das armas de Frank, havia dado

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a impressão de ter muito dinheiro.

Isso se confirmava pelo fato de ter meia

dúzia de capangas para protegê-lo.

Por que aquele rapaz era tão importante?

E porque tinha aquele tratamento especial

no saloon, com uma marca especial de

uísque dos melhores?

Para ter tudo isso, alguém precisava ter

dinheiro, muito dinheiro mesmo.

— O que faz para viver? — indagou

Frank, o tom de voz sem demonstrar a

menor emoção.

Mark riu.

— Eu sou rico — disse, com desprezo,

mas, ainda assim, um certo respeito.

— Gado? — insistiu Frank.

— Não, algo mais pesado — continuou

Mark, cheio de mistérios.

Frank indagou-se o que poderia ser mais

pesado que o gado.

— E tão valioso? — continuou.

— Mais... Muito mais... O bastante para

mandar fazer milhares de pistolas como a

sua... — disse Mark.

— E por que não faz isso?

— Porque ela jamais teria esses

serrilhados nas coronhas, como as suas. Não

teria captado em cada marca dessas a marca

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de um homem morto.

Aproximavam-se do saloon, já na rua

principal. Robertson respirou aliviado, ao

ver o garoto retornado.

Assim que o dois chegaram, Mark pediu

que Frank se adiantasse, enquanto

conversava com Robertson.

— Vamos pegá-lo. É forte e, além disso,

tem duas coisas que desejo mais que tudo

neste mundo — murmurou o rapaz.

— E o que deseja tanto?

— As armas de um pistoleiro e a atenção

de uma bela dama — comentou Mark,

decidido.

— Vamos embebedá-lo primeiro. É um

tipo perigoso, posso lhe assegurar isso —

disse o dono do saloon.

Frank tentou se desviar, mas a coronha da

arma, endereçada a sua cabeça, resvalou em

seu ombro sem maiores danos.

Girou o corpo, no escuro da rua, tentando

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atingir seu agressor.

Estiver no saloon, ouvindo as

fanfarronices de Mark, aumentando à

medida em que ele mais se embriagava.

Por fim, percebeu que o rapaz

ultrapassado os limites, despediu-se e

deixou o saloon, não sem antes ouvir Mark

disser:

— Diga quanto quer por elas que eu as

compro — insistiu, referindo-se às pistolas.

Tão logo Mark saiu, Robertson fez um

sinal para os capangas de Mark, que saíram

no encalço do pistoleiro.

Três deles tentavam, agora, imobilizá-lo.

Apesar de bêbado, Frank ainda oferecia

muito perigo.

Sentiu o salto de sua bota bater no corpo

de um dos homens, que gemeu, caindo de

joelhos na poeira da rua deserta e escura.

— Maldito! — ouviu alguém resmungar.

— Pegue-o agora — disse o outro,

tentando segurar Frank pelas costas,

prendendo seus braços.

Frank jogou a cabeça para trás, atingindo

o nariz de seu atacante, que gemeu, sentindo

o sangue escorrer pelo rosto.

Alguém atingiu Frank nos rins, com um

golpe seco e forte. O pistoleiro sentiu seus

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joelhos fraquejarem.

Sua única saída agora eram as armas.

Tentou sacá-las, mas a coronha de um rifle

atingiu-o na testa, jogando-o para trás.

— Vamos amaciá-lo um pouco —

comentou um dos homens.

Frank foi erguido e desarmado. Dois

homens seguraram seus braços, enquanto o

outro se pôs a golpear ritmadamente o corpo

do pistoleiro, atingindo seu estômago e o

queixo alternadamente.

Frank sentiu um gosto amargo em sua

boca. Tentou erguer uma das pernas para

interromper aquele ataque, mas sua bota

parecia pesar uma tonelada.

Os punhos continuaram martelando

impiedosamente. Os dois homens soltaram

os braços de Frank, que desabou na poeira.

Os três se juntaram na tarefa cruel de

chutar-lhe o corpo já sem forças.

O sol surgia lentamente, jogando luzes no

acampamento, despertando os homens.

Em pouco tempo, toda a movimentação

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recomeçou. Homens alquebrados

reiniciaram sua faina diária, empurrando

vagões, brandindo picaretas.

Frank gemeu dolorosamente, tentando

acomodar melhor o corpo manietado.

Abriu vagarosamente os olhos. Não sabia

onde estava, mas não gostava nada do que

via.

Estava numa jaula, com as mãos

firmemente amarradas, o corpo dobrado

para caber em tão exíguo espaço.

Diante dele desfilavam aqueles homens

maltrapilhos, empurrando vagões de um

lado para outro, indo e vindo daquela mina.

Vigias brandiam chicotes e gritavam

ordens, incentivando os trabalhadores.

Logo adiante, pendurado no galho de

uma árvore seca, um homem balançava

preso pelo pescoço.

Estava sem camisa e todo o seu tronco

estava cortado por chicotadas. A morte

possivelmente lhe fora um consolo, após

tanta tortura.

Um grupo de homens armados se

aproximou. Entre eles sobressaia-se aquele

velho alto, de barbas brancas e postura

militar.

— Ora, temos um novo voluntário —

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comentou o velho, quando o grupo parou

diante da jaula.

— O que está havendo por aqui, afinal?

— indagou Frank, sentindo que todos os

seus músculos doíam quando falava.

— Nada especial, meu caro rapaz.

Apenas trabalho...

— Eu já tenho o meu trabalho —

interrompeu-o Frank.

— Acaba de mudar — afirmou o velho,

que parecia de bom humor naquela manhã.

— Você deve estar louco — murmurou

Frank.

— Cale-se! Tenha mais respeito! —

ordenou um dos homens, tentando atingir

Frank com o cabo do chicote.

— Calma, Hollister! — interrompeu-o o

velho. Deixe-o, pelo menos por enquanto.

Acho que já o maltrataram demais.

Precisamos de homens fortes para o

trabalho. Se tiver um gênio ruim, saberemos

como domá-lo, mas não vamos estragá-lo

para a tarefa. Temos perdido homens

demais — ponderou John Scottsfield.

— O que querem de mim, afinal? E

minhas armas? Onde estão minhas pistolas?

Os homens riram com desprezo.

— Queremos apenas que trabalhe direito

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e não cause encrencas — disse o velho. —

Vai viver mais se fizer isso.

— E se eu me recusar?

O velho apontou na direção da árvore

seca, onde pendia o corpo de enforcado.

— Não se recusará — afirmou.

Frank percebeu a situação. Sua atenção

foi atraída, porém, na direção de Mark, que

passava por ali.

Preso em sua cintura ia o precioso

cinturão de Frank e as duas pistolas de

coronhas serrilhadas.

— Maldito! — murmurou em voz baixa.

— Como disse? — indagou-lhe o velho.

Frank apenas o olhou com um ódio

profundo.

— Trabalhe direito e será bem tratado e

alimentado. Dê-nos problemas e farei com

que se arrependa — prometeu o velho. —

Preparem uma bola para ele — acrescentou,

afastando-se.

Um dos homens foi até um barracão, de

onde retornou com uma pesada bola de

ferro de onde pendia uma corrente,

finalizando com uma algema.

— Saía daí devagarinho — ordenou um

dos capangas, abrindo a jaula.

Frank moveu com dificuldade o corpo

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dolorido. Armas foram apontadas para ele,

desaconselhando qualquer reação.

Obedeceu, resignadamente. A algema se

fechou ao redor de seu tornozelo, assim que

lhe retiraram a bota.

— Tire a outra bota também —

ordenaram.

Frank olhou os homens que caminhavam

descalços sobre os pedregulhos. Havia

sangue em seus pés.

— Temos um trabalho especial para

gente como você: lá dentro, escavando a

mina. Apanhe a bola e siga em frente —

ordenaram novamente e Frank obedeceu.

Apanhou a bola de ferro. Sabia que

qualquer reação era loucura naquele

momento.

Precisava sondar o terreno e se manter

vivo, até descobrir uma forma de sair dali.

As suposições de Steve estavam corretas.

Se aquela era a mina e aqueles eram os

escravos, possivelmente o irmão de Sandy

estivesse ali, a menos que tivesse sido

morto, como aquele pobre coitado

pendurado na árvore.

Foi levado para o fundo da mina. Deram-

lhe uma picareta. Frank se pôs a golpear

ferozmente a muralha de rocha a sua frente.

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Assim que seus olhos se acostumaram

totalmente com a escuridão, percebeu

outros homens, cavando como ele.

Afastados e livres da poeira, de armas em

punho, pistoleiros vigiavam o trabalho.

Os vagões chegavam vazios. Eram

carregados de entulho e empurrados para

fora, numa rotina monótona e constante.

— Ei, vocês! — disse Frank, aos outros.

— Há uma forma de escapar daqui?

Os homens esboçaram sorrisos

desconsolados e continuaram brandindo

suas picaretas.

— É morte certa — assegurou um deles.

— Se ficarmos também morreremos —

ponderou Frank.

— Muitos já tentaram e falharam.

— É preciso saber como fazer. Alguém

aqui conhece a região?

— Muito pouco. Somos todos viajantes,

de passagem pela região o que nos torna

inúteis para seguir quem quer que seja.

— Quando poderemos conversar melhor?

— continuou Frank.

— À noite estaremos cansados demais

para isso — comentou um dos homens.

— Força nessas picaretas — berrou um

dos vigias, aproximando-se.

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O chicote estalou nas costas de Frank,

que sentiu o gosto de sangue em sua boca.

A ferida ardeu como fogo. Com o canto

dos olhos fitou o homem que o chicoteara.

Seus olhos cinzentos e frios juraram

vingança.

Aquele trabalho estafante durou o dia

todo, com uma pequena pausa para um

almoço.

Quando o dia chegou ao fim, o trabalho

interrompeu-se finalmente. Todos foram

conduzidos a um galpão, onde receberam

um prato de comida.

— Demônios! Isto parece comida de

animais — comentou Frank.

— Cale-se e coma. Não é gostosa mas

manterá suas forças. Vai precisar de todas

elas a cada dia.

Frank apanhou o prato e foi se sentar

num canto. Só quando se sentou, apoiando

as costas contra a parede, foi que percebeu o

quanto estava cansado.

Além disso, os pés doíam terrivelmente,

lanhados pelos pedregulhos. A algema

cortava a pele de seu tornozelo.

Reparou, então, que nem todos os

prisioneiros tinham aquela bola de ferro

presa ao corpo. Devia haver um motivo para

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aquilo.

— Acho que formamos um time —

comentou ele, apontando as bolas de ferro

dos outros.

— Isto é só o começo. Depois você fica

tão fraco e tão cansado que nem tem

coragem em pensar em outra coisa a não ser

voltar para este galpão e dormir — explicou

um dos prisioneiros.

— Então preciso fazer algo antes que

chegar a esse estado — concluiu Frank. —

Deve haver uma forma de sair daqui.

— Sim, apressadinho — continuou outro

deles. — Primeiro você se livra da bola de

ferro. Depois pega a única trilha que sai

daqui. Se passar pelos quatro ou cinco

postos de guarda sem se perder no labirinto

de rochas que esconde este lugar, terá de

andar a pé até a cidade. Tudo isso se os

coiotes não o pegarem antes. Ou os

caçadores de fugitivos.

— Não parece muito animador, não? —

concluiu o pistoleiro.

— Bote uma coisa em sua cabeça: não há

como escapar daqui — afirmou um deles.

— Se eu acreditar nisso, aí então estarei

morto. Deve haver uma forma e haverei de

encontrá-la.

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— Comece tentando se livrar da bola de

ferro — desafiou alguém e todos riram.

Frank se manteve sério. Retirou o cinto.

Com a fivela ele forçou o orifício da

algema.

Com um sorriso nos lábios o pistoleiro

viu a algema se abrir com facilidade. Todos

começaram a olhá-lo com respeito.

— Você é esperto, homem, muito esperto

— elogiou um dos prisioneiros.

— Aposto como aquelas armas que o

Mark está usando são suas — disse um

outro.

— Sim e vou recuperá-las.

— Ninguém poderia impedi-lo de tentar.

Acho que agora ele conseguirá fazer bonito

para aquela garota da cidade — comentou

alguém.

O assunto interessava Frank. Tinha quase

que certeza que a garota em questão era

Sandy.

— Por que diz isso? — indagou ele.

— Ele está tentando conquistar uma

garota lá na cidade, mas está um tanto

difícil. Ouvi o pessoal da cozinha comentar

que ele vai até à cidade de novo esta noite.

Frank ficou pensativo, imaginando o que

aquele bastardo, com tanto poder, poderia

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desejar com Sandy. Ela jamais o receberia e

isso poderia ser o pior.

Mark parecia acostumado a ter tudo que

desejava, mesmo que, para isso, precisasse

usar a força.

E estaria sempre cercado por aqueles

capangas, verdadeiras sombras na

escuridão, protegendo-o o tempo todo.

Eram como sombras.

— Sombras!

Uma idéia surgiu em sua mente, a

principio hesitante, mas ganhando força em

seguida.

— Onde fica o estábulo? — indagou.

— Lá no alto, à direita da casa principal.

Frank terminou de soltar a algema de seu

tornozelo. Esgueirou-se pelo galpão até a

janela.

Sondou lá fora. Homens vigiavam,

portando espingardas de cano duplo.

— Demônios! — praguejou, voltando ao

seu lugar. — Há vigias por toda parte.

— A única maneira de sair daqui é

voando — disse um dos prisioneiros,

apontando para o alto.

Frank levantou os olhos para o telhado.

Era simples, de madeira sobreposta.

Percebeu que não havia janela numa das

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paredes.

— O que tem ali atrás? — indagou.

— Um barranco íngreme. Só voando

mesmo você chegaria ao alto, rapaz.

— Talvez — comentou Frank, pondo-se

em pé, analisando suas possibilidades.

— Vai tentar assim mesmo?

— Com um pouco de sorte... Há aqui um

rapaz chamado Peter?

— Peter, o Louro?

— É possível — respondeu Frank. — Foi

capturado há uns três meses. É alto e forte...

— Há alguém assim, mas trabalhava na

dinamite.

— E onde está ele agora?

— Quem pode saber? Andaram

detonando explosivos há algum tempo atrás.

Quem pode dizer o que aconteceu?

Frank não gostou de ter de levar aquela

noticia para Sandy. Mas deixou para se

preocupar com Peter mais tarde. Precisava

agora encontrar uma forma de escapar.

— Pode me ajudar aqui? — pediu,

trazendo uma mesa para o centro do galpão.

Um dos homens segurou a cadeira que

Dank equilibrou sobre a mesa.

Dolorosamente Frank subiu na mesa, depois

na cadeira.

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Conseguiu, assim, alcançar uma das

traves do telhado. Todos os músculos de seu

corpo doíam.

Lentamente ele foi se erguendo, até que

seu corpo se enroscasse à trave de madeira

e, finalmente, ele conseguisse se sentar nela.

Ficou algum tempo imóvel, esperando as

dores passarem. Depois ficou em pé e

removeu a madeira do telhado, abrindo uma

abertura.

Reuniu todas as suas forças e saiu para o

frescor da noite.

— Eu voltarei para ajudá-los —

prometeu.

— Boa sorte! — desejaram os

prisioneiros.

Frank recolocou a madeira, fechando a

abertura. Deslizou até o paredão de pedras.

Começou a escalá-lo lentamente.

Podia ouvir os vigias conversando lá

embaixo. Seu corpo parecia querer explodir

de tanta dor, mas sua vontade férrea

prevalecia acima de tudo.

Chegou ao alto e sondou o terreno. Havia

um pátio enorme e aberto. Ao fundo, uma

casa maior. Vislumbrou o estábulo.

Havia uma chance, mínima, mas

possível, de escapar dali, juntando-se àquele

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séquito de sombras que seguia Mark.

Esgueirou-se rapidamente, esquecido das

dores, até o estábulo. Procurou um

esconderijo.

Havia selas e animais em quantidade.

Mal havia se ocultado, ouviu vozes. Um

grupo se aproximava.

— É sua vez de selar o cavalo do garoto

— dizia um deles.

— Está bem, deixe comigo. Vamos ver

se, nesta noite, ele consegue finalmente

falar mais de um minuto com aquela garota.

— Aposto como vai conseguir. Ele ficou

muito macho com aquelas duas pistolas...

— Que, por sinal, são boas demais para

ele.

— Está se sentindo o máximo.

Continuaram conversando, enquanto

selavam os cavalos. Frank permaneceu

atento, esperando sua oportunidade.

Steve estava deveras preocupado com

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Frank. Conhecia seus métodos. Frank

jamais iniciaria nada sem discutir o melhor

caminho com seu chefe.

Podia ser um tanto esquentado, mas

conhecia seu oficio e trabalhava melhor que

ninguém.

Steve estava tentando, a todo custo,

mantê-lo na agência. Frank era bom demais

para se afastar.

Além disso, era valente e rápido com as

armas. Sabia impor respeito e encontrar

sempre a melhor solução para os casos de

que era encarregado.

E havia sido muitos, enquanto aguardava

a prometida anistia. Sabia que Pinkerton

estava tratando disso, mas iria prolongar ao

máximo o assunto, como firma de manter

Frank no quadro de agentes.

Steve achou melhor procurar o xerife e

discutir o desaparecimento de Frank.

— Não o localizou ainda? — indagou o

xerife, ao vê-lo entrando.

— Ainda não!

O ar pensativo do xerife preocupou

Steve.

— O que acha que houve? — indagou ao

homem da lei.

— Parece que ele sumiu como os outros

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— ponderou. — Ou se amigo é muito

esperto ou, neste momento, está onde estão

todos os que andaram sumindo da cidade

nos últimos tempos.

— É muita coincidência. Frank estava

aqui havia uma semana. Por que teria de

sumir logo agora?

— E Sandy, você a viu por aí? —

questionou o xerife.

— Sandy? Por que pergunta? — retrucou

Steve, preocupado.

— Ela saiu ao entardecer para dar uma

volta. Passei pela minha casa há coisa de

uns quinze minutos e ela não retornara

ainda.

— Visitando alguém?

— Acho difícil. Sandy não conhece mais

ninguém na cidade, além de nós. Desde que

chegou não sai de casa.

— Estranho! Que tal darmos uma volta

por aí? — convidou Steve.

— Certo — concordou o xerife, dando

algumas ordens a um de seus ajudantes e,

depois, saindo na companhia de Steve. —

Vamos até minha casa novamente. Talvez

ela tenha voltado.

Steve achou uma boa idéia e rumaram

para lá. Para sua preocupação, no entanto, a

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garota, a garota ainda não havia aparecido.

Apanharam seus cavalos e saíram dar

uma olhada pelos arredores, embora não

tivessem a menor idéia de por onde começar

a procurar pela garota.

Steve não estava gostando do rumo que

as coisas estavam tomando.

Sem que ele soubesse, naquele momento,

Sandy era empurrada rudemente para o

interior de um quarto de saloon.

Robertson sorriu satisfeito, olhando a

garota encolher-se assustada na cabeceira da

cama.

— Não sei que diabos aquele garoto viu

em você, dona, mas só sei que posso lutar

muito com isso — comentou ele, fechando

a porta atrás de si.

Olhou a garota assustada. Tinha uma

certa beleza. Além disso, seu corpo era

provocante, roliço e tentador.

O desejo estampou-se em seu rosto.

Poderia entregá-la ao garoto Scottsfield,

mas antes poderia muito bem aproveitar um

pouco de todo aquele prazer oculto no corpo

desejável de Sandy.

Sentou-se na beirada da cama e estendeu

a mão, segurando o queixo da garota, que

tremia.

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— O que quer de mim? — indagou ela,

apavorada.

— Ora, ora, dona! Aposto como você

sabe muito bem — respondeu ele, a outra

mão indo pousar sobre um dos seios dela.

— Não, por favor! — pediu ela,

debilmente, mas isso apenas provocava

Robertson.

Sandy tentou manter a frieza e recuperar

o controle da situação. Estava passeando e

escurecera rapidamente.

Não percebera que estava sendo seguida.

Robertson e um outro homem a viram e a

seguiram.

Agarraram-na e a levaram para um beco

e, dali, para o saloon. A mão firme dele

apertava rudemente seu seio agora.

— Por favor — pediu ela, mudando de

estratégia. — Assim não... Dê-me um

tempo... Não gosto das coisas apressadas...

Além disso, gostaria de um banho... Um

pouco de perfume... — disse ela,

sedutoramente.

Robertson pareceu engolir a isca,

convencido de que a garota iria colaborar.

— Está certo, beleza. Vou mandar

alguém para ajudá-la — aceitou ele,

levantando-se e deixando o quarto.

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— Nojento! — exclamou a garota,

levantando-se e correndo até a porta.

Girou o trinco, mas a porta havia sido

trancada pelo lado de fora, aprisionando-a.

Foi então, até a janela. Era alta, sem

parapeito, dando para os fundos do saloon.

Tentar sair por ali era arriscar quebrar a

perna, mas Sandy concluiu que isso ainda

era preferível a se submeter a um homem

como Robertson.

Ouviu barulho na porta, que se abriu logo

em seguida. Uma garota entrou. Usava um

vestido decotado e exagerava na

maquilagem do rosto.

— Olá, querida! Meu nome é Mark e

Robertson me mandou para cuidar de você.

Vou lhe preparar um banho quente. Trouxe-

lhe estas roupas também — disse, jogando

sobre a cama um vestido de seda

escandaloso.

Sandy olhava na direção da porta, que

Mark deixara aberta. A outra percebeu isso

e deu de ombros.

— É bobagem tentar sair agora, querida.

Não há como fugir.

— Vou tentar sair pela janela...

— Terei de gritar e avisar Robertson...

— Por quê?

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— Porque ele me mataria se eu a

deixasse escapar.

— Como? Não entendo? Você não é

escrava dele e...

— Espere, espere! Acho que você acertou

na mosca. Sou uma espécie de escrava,

como você também o será logo.

— Jamais!

— Escute, querida — disse Sandy e seu

tom de voz era amigo e consolador. — No

começo eu pensava assim, como você.

Depois a gente se acostuma e acaba até

gostando desse bastardo. Ainda prefiro isso

a ser mandada para a mina...

— Mina? Que mina? — interessou-se

Sandy.

— Para onde vão todos os que somem

desta cidade, querida — explicou Mary. —

Agora vá se despindo. Vou lhe preparar um

banho.

— Espere um pouco, Mary. Conte-me

mais a respeito disso.

Ouviram-se vozes lá no saloon, depois

uma agitação que ganhou as ruas.

— Venha comigo, vou lhe mostrar algo

— disse Mary, segurando Sandy pela mão e

levando-a para o corredor e, dali, para um

quarto que dava para a rua.

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Aproximaram-se da janela.

— Veja aquilo — apontou.

Um grupo de cavaleiros montava em seus

cavalos, apressados para partirem numa

missão.

— Para onde vão? — quis saber Sandy.

— Caçar escravos. Souberam que um

grupo de colonos acampou norte da cidade.

Pode apostar como todos os homens válidos

sumirão. E se houver mulheres bonitas...

Bem, você poderá cruzar com uma delas

por estes corredores...

— Se sabe tudo isso, por que não vai até

o xerife e conta tudo?

— Não daria um níquel furado pela

minha vida depois disso. Eles sabem ser

duros, querida. Muito duros — disse Mary,

soltando o zíper do seu vestido e

descobrindo as costas.

Sandy horrorizou-se ao ver as marcas

profundas deixadas por um chicote.

— E então, não é preferível ficar longe de

tudo isso? — ponderou Mary.

— Não, não posso me conformar com

isso.

— Pois é melhor ir se acostumando.

Acho que Robertson está lhe preparando

algo especial. Presumo que seja a garota

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que encantou o garoto Scottsfield.

Sandy se lembrava desse nome, mas

estava aturdida demais para se lembrar.

Tudo aquilo fedia. Não podia estar

acontecendo.

Steve e o xerife acabavam de retornar à

cadeia, quando um cavaleiro parou junto

deles.

— Frank! — surpreendeu-se Steve. —

Por onde andou?

— É uma longa estória, meu amigo, e

prefiro contá-la diante de um copo de

uísque.

— Tenho o melhor deles lá dentro —

ofereceu o xerife.

Entraram rapidamente. Frank vestia

roupas comuns, sem nenhuma elegância.

Além disso, tinha o rosto marcado por

hematomas e cortes horríveis.

— O que fizeram com sua cara? —

surpreendeu-se o amigo.

— Precisava ver o que fizeram com o

resto do meu corpo também — respondeu o

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pistoleiro, aceitando o copo que o xerife lhe

estendia.

Bebeu num só gole e devolveu-o,

pedindo mais. Nova rodada foi servida.

Frank apanhou ele mesmo a garrafa e

somente após ter tomado meia dúzia de

tragos, se dispôs a falar.

— Fui atacado ontem à noite e levado

para a maldita mina. Parece que todos os

que desaparecem da cidade são levados para

lá. Estão escavando ouro e parece ser um

veio promissor.

— Encontrou o irmão de Sandy? — quis

saber Steve.

— Viram-no por lá, mas não o localizei.

Tudo foi muito rápido. Trabalhei o dia todo

no interior da mina e, à noite, consegui

escapar. Tomei o lugar de um dos capangas

que vinham para a cidade. Quando estava

chegando aqui perto, separei-me deles. Na

escuridão não perceberam nada porque vesti

a roupa do capanga.

— Quem são esse homens afinal? —

indagou o xerife.

— O nome Scottsfield lhe é familiar,

xerife? — retrucou Frank.

— Scottsfield... Sim, um velho sulista e

seu filho passaram por aqui alguns meses...

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Estavam em busca de terras, mas queriam

algo lá para os lados das montanhas e... Não

me diga que...

— Sim, são os donos da mina.

— Então a lenda estava certa —

comentou o xerife.

— Lenda? Que lenda? — quis saber

Steve.

— Durante a guerra, um grupo de

confederados andou se escondendo no sopé

das montanhas, ao sul de Carson City.

Contas que encontraram pepitas de ouro e

que haveria por lá um filão inimaginável...

Precisamos tomar providencias. Pode nos

levar ao local. Frank?

O pistoleiro sorriu desconsolado,

tomando mais um gole.

— Era noite e eu apenas seguia o grupo.

É um labirinto intricando que, muitas vezes,

julguei que eles próprios estavam perdidos.

— Uma pista, uma forma de sabermos

ainda que vagamente o local — insistiu o

xerife.

— É impossível, xerife! Como disse, era

noite. Não conheço a região. Jamais sairia

de lá sozinho, da mesma forma que jamais

poderia voltar lá de novo.

— Mas espere aí! Você disse que o grupo

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veio para a cidade, não? — atentou o xerife.

— Sim, sei até onde encontrá-los. Parece

que o antro deles é o saloon Arrows.

— Robertson! Sim, as coisas começam a

se encaixar. Robertson também é um sulista

e chegou aqui alguns meses antes do velho

Scottsfield. Podem estar juntos nessa sujeira

— deduziu o homem da lei.

— E aquela mulher disse que viu Sandy

nas proximidades do saloon. E foi a última a

vê-la — comentou Steve.

— Sandy? O que houve com ela —

explicou o xerife.

Frank sentiu seu sangue ferver e todas as

dores de seu corpo se aplacarem.

— Malditos! Agora entendo tudo —

murmurou.

— Do que está falando? — insistiu Steve.

— O garoto, Mark Scottsfield, encantou-

se com Sandy, da mesma forma como se

encantou com minhas pistolas. Conseguiu

as pistolas e, acredito, pretendo conseguir

Sandy. Acho que sei onde ela está —

afirmou o pistoleiro.

— Então vamos para lá imediatamente —

decidiu o xerife. — Vou convocar meus

ajudantes e...

— Não, xerife! Por favor, deixe-me

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resolver isto a minha maneira — pediu

Frank. — Como homem da lei você terá de

respeitar os livros. Eu posso simplificar as

coisas com isto — disse Frank, sacando a

pistola que tomara do capanga, lá no

acampamento, antes de fugir.

— Essa não faz muito seu estilo —

opinou o xerife. — Acho que se sentirá

melhor com estas — acrescentou, abrindo

um armário e retirando um cinturão duplo.

Nos coldres pendiam duas pistolas com

coronhas de ébano luzidio.

Frank apanhou as armas. Examinou-as.

— São ótimas! — concluiu, prendendo o

cinturão.

Verificou as armas. Examinou-as.

— São ótimas! — concluiu, prendendo o

cinturão.

Verificou as armas e recarregou-as. Steve

fez o mesmo.

— Onde pensa que vai? — indagou-lhe

Frank.

— Vou deixar todo o trabalho sujo para

você e apenas ficar cobrindo sua retaguarda.

Pode ser? — ironizou Steve.

— Não se meta. Este assunto agora é

pessoal. Há alguém naquele saloon usando

as minhas pistolas e eu as quero de volta —

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afirmou Frank.

— Se é assim, quanto mais cobertura,

melhor — acrescentou o xerife, apanhando

um espingarda de cano duplo.

Frank resignou-se e se deixou

acompanhar pelos seus amigos. Desceram a

rua principal. Espalhados espaçadamente,

lampiões iluminavam precariamente, o

bastante para permitir a caminhada.

Pouco a pouco o barulho de música e de

risos foi se acentuado, à medida em que se

aproximavam do saloon.

— Qual é o plano, Frank? — quis saber

Steve.

— Conhece o saloon, xerife? — retrucou

Frank.

— Sim, por quê?

— Há uma saída pelos fundos?

— Há uma sim, se não me engano.

— Um de vocês poderia entrar por lá.

— Eu faço isso — ofereceu-se o xerife.

Estavam próximos do saloon. Frank

parou, seguido pelos outros dois. Observou

a fachada do saloon.

— Steve, acha que consegue escalar

aquela lateral e entrar por cima?

— Seguramente, Frank.

— Se pretendem me dar cobertura, nada

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melhor que um entrando pelos fundos,

pegando-os pelas costas. Seguramente do

alto você do alto terá uma boa visão do

salão e poderá ficar atento, Steve.

— Tem toda razão. Dê-me alguns

minutos. Tomarei posição. Vou esperar até

Steve escalar a fachada — afirmou o xerife.

— Só agirei quando vocês estiverem

prontos — decidiu Frank.

Frank ficou observando, até que os dois

estivessem prontos. Depois caminhou na

direção da entrada do saloon.

Havia um homem na frente, apoiado a

um pilar, fumando distraidamente. Ao

pressentir a aproximação de Frank, voltou-

se para olhá-lo.

Por momentos ficou surpreso. Depois, fez

menção de recuar, na direção da porta.

Frank já o havia reconhecido. Era o

mesmo que o chicoteara o dia todo, no

fundo escuro daquela mina.

Segurou-o pelo ombro e puxou-o com

força, enquanto lançava seu punho na

direção do rosto dele.

Com um estalido seco, Frank sentiu o

maxilar do outro se partindo com a pancada.

O capanga gemeu, o rosto deformado, a

boca aberta e caída para o lado.

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— Vamos consertar isto — murmurou o

pistoleiro, esmurrando do outro lado.

Não parou para ver o estado em que

ficara o rosto daquele bastardo. Suas

pistolas o esperavam lá do saloon.

Quando Frank entrou no saloon, fez-se

um silencio de morte. Robertson, ao fundo,

empurrou Mark rapidamente para o interior

da sala reservada.

— O que houve? — surpreendeu-se o

rapaz.

— Encrenca! — explicou o outro,

apontando pela porta entreaberta.

Frank caminhava até o balcão.

— Posso enfrentá-lo — fanfarronou

Mark, batendo as mãos nas coronhas

serrilhadas das pistolas.

— Não seja louco! Você nem sabe atirar

direito — afirmou Robertson, preocupado.

Mark já havia bebido uns drinques e,

após isso, ficava insuportável e

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incontrolável.

— Poupe suas forças — disse, então, ao

rapaz. — Tenho algo especial esperando por

você lá encima. Deixe-me apenas eu me

livrar desse pistoleiro bastardo.

— O que tem para mim?

— Algo que você deseja muito... Mas vai

lhe custar caro, muito caro, meu amigo —

disse Robertson, com malícia.

— Se for o que eu estou pensando, você

será recompensado como um rei —

prometeu Mark.

— Então fique aqui, por favor. Vou

cuidar de tudo lá fora — disse Robertson,

saindo.

Frank se apoiara no balcão e sondava o

ambiente. Reconhecia os capangas

espalhados pelo saloon, mas não via Mark.

Ao mesmo tempo, ficou atento até ver

seus amigos tomando posição.

No alto da escada, Steve fez um sinal

tranqüilizando-o, dando a entender que

encontrara Sandy.

Nos fundos, semi-oculto, o xerife tinha

sua espingarda pronta para abrir fogo se

necessário.

— O que houve com suas pistolas? —

indagou-lhe Robertson, apontando para as

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duas que Frank portava.

— Foram roubadas por um bastardo,

filho de uma cadela, que espero encontrar

logo. Ele e mais uns cachorrinhos ensinados

e covardes, que atacam nas sombras e pelas

costas — disse, em voz alta.

Percebeu o movimento dos homens,

demonstrando inquietação. havia cinco

deles. Um era vigiado por Steve; o xerife

cobria um segundo, mas sobravam três

diante de Frank, sem contar Robertson e,

com toda certeza, o grande barman que se

posicionara num ponto determinado do

balcão, possivelmente onde estava

escondida uma arma.

— Por que não toma um drinque e se

acalma? Gostaria de ouvir sua historia —

pediu o dono do saloon, fazendo um sinal

para que o barman os servisse.

Frank se manteve atento aos homens

espalhados pelo saloon. Apanhou o copo

servido e tomou um gole.

— Tome outro e me conte o que houve

— insistiu Robertson, servindo um outro

copo.

Pelo canto dos olhos Frank viu o barman

posicionado atrás do balcão. Já segurava a

coronha de uma arma, possivelmente uma

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espingarda de cano serrado.

— Tudo é muito simples — falou Frank.

— Minhas armas foram roubadas e tenho

certeza que o bastardo está aqui, nesta

pocilga — continuou, encarando Robertson

desafiadoramente.

O proprietário do saloon estremeceu

diante daquele olhar mortal e frio.

Frank o viu tremer. Já virá homens

naquela situação antes. Eram, cadáveres

ambulantes à espera da bala que os

transformaria em defuntos definitivos.

O estalido duplo atrás de si avisou que o

barman engatilhara a arma. Tudo foi muito

rápido, pois Robertson também se moveu,

bem como os capangas espalhados pelo

saloon.

As armas voaram para fora dos coldres.

Frank meteu uma bala na testa do barman,

que caiu para trás, disparando para o alto

sua espingarda, fazendo um rombo no forro.

Na mão de Robertson surgiu um

Derringer, mas ele não chegou a usá-lo.

Uma bala traspassou seu peito, jogando-o

para trás, sobre uma mesa.

Dois estampidos haviam soado em

seguida. O xerife abatera um dos capangas e

Steve acertara o outro.

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Fumaça e cheiro de pólvora deram ao

saloon um aspecto tétrico. O perfume de

sangue fresco completou a cena macabra.

— Maldito! — berrou um dos capangas,

com a espingarda engatilhada e apontada

para Frank.

— Matem-no — gritou o outro,

posicionando da mesma forma.

Frank atirou-se no assoalho, no exato

momento em que as espingardas

disparavam.

Uma chuva de chumbo quente passou por

cima dele e foi estraçalhar o balcão.

— Pior para vocês! — disse o pistoleiro,

disparando certeiramente.

O primeiro deles foi atingido no peito,

bem no coração. Rodopiou e bateu na

janela, quebrando os vidros e ficando

debruçado para fora, numa posição

macabra.

O segundo teve seu chapéu arrancado.

Junto com o chapéu também foi parte de

seu cérebro.

O terceiro teve mais sorte. Para ele, Frank

reservava algo muito especial.

Uma bala certeira atingiu-lhe o braço.

Outro, o joelho. O capanga gemeu, caindo e

se contorcendo.

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Frank foi até ele e o desarmou. O xerife e

Steve se aproximaram rapidamente.

— O que vai fazer com esse? — quis

saber Steve.

— Vou fazer o passarinho cantar — disse

Frank, enigmaticamente. — Há coisas que...

— interrompeu-se, levantando os olhos para

o alto da escada.

Ali, vestindo um escandaloso traje de

seda vermelha, Sandy estava maquilada

como uma garota de saloon.

Longe de ser aquela viuvinha toda

recatada, ela lhe surgia encarnando o tipo de

mulher que o agradava.

— É linda! — balbuciou.

O xerife e Steve se voltaram para olhá-la.

— Está tudo bem com ela? — quis saber

Frank.

— Sim — disse Steve. — foi apenas um

susto.

Frank caminhou até o pé da escada.

Sandy desceu lentamente, olhos fixos nos

do pistoleiro, que jamais havia

experimentado uma emoção tão forte como

aquela.

Seu desejo foi agarrá-la, beijá-la e fazer

amor com ela ali mesmo, naquela escadaria.

Havia algo, também, no olhar daquela

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mulher. Vira Frank sacando as armas,

disparando e matando.

Nunca havia presenciado algo tão

violento, tão brutal e inesperado. Estava

trêmula e excitada.

— Venham vamos embora daqui. Vou

levá-la comigo — disse Frank. — Não vai a

parte alguma com ela, maldito! —

interrompeu-o Mark, surgindo no saloon.

Portava desafiadoramente as duas

pistolas roubadas de Frank. Ao vê-las com

ele, Frank empurrou Sandy suavemente na

direção de Steve e do xerife.

Caminhou devagar na direção de Mark.

— É melhor parar aí mesmo — disse

Mark, fazendo menção de sacar as armas.

— Você cale a boca! — cortou-o o

pistoleiro, com a voz fria e tétrica.

Frank conhecia aquele tipo frangote e

fanfarrão.

— Quero as minhas armas de volta —

intimou.

— Venha pegá-las.

— Você não vai sacar contra mim,

frangote covarde. Não vai me dar a chance

de meter-lhe uma bala em cada olho seu.

Antes que possa tocar a coronha de uma

arma, eu já terei disparado meia dúzia de

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vezes — continuou Frank, avançando

decididamente.

Viu o tremor nos olhos de Mark. Viu-o

estremecer e recuar, à medida em que Frank

avançava.

— Vamos, saque as armas... Dê-me essa

chance — pediu Frank, cada vez mais

próximo.

Mark recuou até a parede. Encolheu-se.

Frank parou diante dele, ameaçadoramente.

— Quero as minhas armas de volta.

— Sim... Por favor... Perdoe-me... —

acovardou-se Mark.

Desafivelou o cinturão e entregou-o a

Frank. O pistoleiro olhou o rapaz bem

dentro dos olhos.

— Não se aproxime de mim novamente

ou o mato. Temos contas a acertar ainda,

mas não tenho pressa — ameaçou, virando-

se de costas para se afastar.

— Cuidado! — gritou Sandy.

Mark havia apanhado uma garrafa de

cima de uma mesa e brandiu-a na direção da

cabeça de Frank.

— É um covarde que só ataca pelas

costas mesmo — rugiu Frank aparando o

golpe com facilidade.

Desta vez não teve piedade. Seu punho

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afundou-se no estômago de Mar, que gemeu

e dobrou-se para a frente.

Frank levantou o joelho violentamente,

atingindo o nariz do rapaz.

O sangue esguichou, enquanto ele caía

para trás. Frank o segurou pelos colarinhos

e o levantou diante de si.

Esbofeteou-o repentinamente, depois o

arremessou sobre uma das mesas.

— Deixe-o, Frank! Pode matá-lo —

alertou o xerife.

— É tudo que ele merecia — respondeu o

pistoleiro. — Vou levar Sandy até sua casa,

xerife. Levem esse bastardo consigo para a

cadeia, Aliás, levem os dois. Aquele rapaz

pode ser a chave que nos levará até aquela

mina.

— O que houve com você? Esta horrível

— comentou Sandy, enquanto ele a

conduzia pela rua.

A suave pressão que a mão dele exercia

em seu braço lhe dava a sensação de

proteção total.

Jamais um homem a fizera se sentir

daquela forma. Seus desejos de mulher

vibravam à flor da pele.

— É uma longa estória. Fui raptado e

levado para uma mina. Acredito que todos

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os desaparecidos tenham acabado lá...

— E meu irmão? Você o viu? Teve

noticias dele? — indagou ela, ansiosa.

— Não, infelizmente não. Alguns

homens disseram que o viram por lá, mas

não sabia dele. O que seu irmão sabia fazer?

— Como assim?

— Ele tinha alguma habilidade

específica? Estava na guerra?

— Sim... Era especialista em explosivos.

— Dinamite?

— Também!

— Há uma chance. Um especialista em

explosivo pode estar recebendo um

tratamento especial. Vamos descobrir isso

logo — prometeu ele à jovem.

Haviam chagado na casa do xerife.

Olharam-se. Os olhos cinzas do pistoleiro

brilhavam. Os olhos azuis da garota

cintilavam como as estrelas no céu.

— Conversaremos mais amanhã. Fique

tranqüila quanto ao seu irmão. Prometo-lhe

que vou encontrá-lo — afirmou ele, com

sinceridade.

— Não saberei como lhe agradecer por

isso — respondeu ela, o rosto tenso.

Frank olhou-a fixamente. Já vira aquela

reação nas mulheres. Eram mulheres de

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saloon, reconhecia, mas não deixavam de

ser mulheres.

Aquela reação era expontânea, de puro

desejo.

— Beije-me — suplicou ela e, antes que

terminasse, Frank a envolvia fortemente em

seus braços.

Seus lábios esmagaram os dela, sugando

a saliva morna e saborosa. Ela ofegou,

quase desfalecendo em seus braços.

Desejou-a. Ali mesmo.

Mas havia coisas a fazer.

Soltou-a e se afastou, deixando-a

entontecida na porta da entrada.

O acampamento improvisado ardia. As

chamas provocavam uma curiosa e tétrica

dança de sombras nas árvores do bosque ao

redor. Gritos de dor e impropérios cortavam

a noite.

Quatro homens estavam amarrados

fortemente com cordas. Mulheres gritavam.

Crianças choravam.

— Não há aí nenhum que preste — disse

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Lawson, que chefiava o grupo de caçadores

de escravos. — Apenas os homens servirão.

Formam um bom grupo e são fortes.

— O que faremos com as mulheres e

crianças? — questionou outro dos

mascarados.

— Deixem-nas. Nada poderão fazer

contra nós.

Os homens amarrados foram postos sobre

cavalos. O grupo partiu, disparando tiros

para o alto.

Rumaram para a cidade, mas, quando

estavam próximos, num entroncamento,

pararam.

— Levem os escravos para a mina. Nós

voltaremos para a cidade para avisar

Robertson.

Lawson e um outro caçador de escravos

retornaram para a cidade. Assim que

chegaram ao saloon, surpreenderam-se com

o que os esperava.

— Maldição! Parece que houve um

furacão por aqui?

— Pior que isso — explicou umas das

garotas.

O papa-defuntos e seus ajudantes

circulavam pelo saloon com grande alegria,

medindo os cadáveres, que haviam sido

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alinhados diante do balcão.

— Quem pagará por tudo isso? —

indagou o papa-defuntos.

— Eu me responsabilizo. Pode cuidar de

tudo — disse Lawson, sabedor que, agora, o

saloon lhe pertencia.

Robertson já não mais existia.

— Quem fez isso?

— Aquele pistoleiro — explicou Mary.

— Qual?

— O das pistolas serrilhadas.

— Mas ele estava preso lá na mina... —

comentou Lawson, surpreso.

— Acho que escapou. Fez toso esse

estrago e ainda levou um dos capangas e

Mark Scottsfield para a cadeia.

— Diabos! Isto não pode estar

acontecendo. Na certa vão tentar fazê-lo

falar. Aquele rapaz, o Mark, é um frangote

cobarde e abrirá o bico com facilidade.

Ficou uns instantes pensativos. Sabia que

havia muito dinheiro em jogo naquela

operação.

Robertson estava se saindo muito bem.

Havia um cofre na sala reservada cheio de

pepitas de ouro.

Agora tudo pertenceria a Lawson, mas

não era o bastante. Queria mais, muito mais.

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Queria o peso de Mark em ouro. Era o

que o pai dele pagaria para mantê-lo livre

de encrenca.

Só que isso não seria uma tarefa muito

fácil. Bastava olhar aqueles cadáveres

estendidos no assoalho.

— Fred — chamou ele e um dos

caçadores se apresentou. — Vá até a mina e

avise o velho do que aconteceu aqui.

— E por que eu deverei fazê-lo?

— Por que eu estou ordenando.

O outro o encarou desafiadoramente.

— Que fique claro para todos aqui:

Robertson está morto e eu sou o novo

encarregado. Quem não aceitar, sabe o que

fazer — disse, apontando a porta.

— Estou com você — disse Mary, indo

se enroscar nele.

O caçador de escravos hesitou por

instantes. Conhecia Lawson. Sabia que era

rápido no gatilho.

— Está bem! O importante é que o

dinheiro continue caindo — concordou

Fred, afinal, deixando o saloon.

Lawson ficou pensando se haveria

alguma coisa a mais que pudesse fazer.

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Frank se sentia outro, usando suas

pistolas. Elas já faziam parte dele e não

podia imaginar-se sem elas.

Mark Scottsfield e seu capanga haviam

sido medicados. Assim que o doutor saiu,

Frank entrou na cela onde eles se

encontravam presos.

— Foi pura perda de tempo todo esse

trabalho do médico — disse ele.

— Vá com calma, Frank! — pediu o

xerife.

— Steve, por que não vai com o xerife

verificar se está tudo bem com Sandy? —

perguntou Frank, dando a entender que

desejava ficar a sós com os dois bastardos.

— Não faça isso, xerife. Meu pai fará

com que se arrependam disso — rosnou

Mark, a face inchada pelos golpes recebidos

de Frank.

— Quem tem medo de seu pai, garoto?

Aliás, tenho contas a ajustar com ele —

cortou-o Frank.

— Não conhece meu pai. Quando souber

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que estou aqui, virá com todos os homens e

arrasará a cidade...

— Estou torcendo para que isso aconteça

logo, garoto, pois quando seu pai chegar, a

primeira coisa que verá será seu corpo

dependurado numa árvore, com uma bala

nessa sua boca grande — ameaçou-o Frank.

— Mas não tenciono esperar a visita de seu

pai. Quero visitá-lo primeiro.

— Jamais conseguirá entrar no

acampamento!

— Isso nós veremos. Principalmente se

você nos guiar até lá, garoto — sugeriu

Frank.

— Nunca!

— Ou você ou o bastardo aqui — disse

Frank, apontando para o capanga, que se

encolheu no catre.

O médico havia costurado seu braço e seu

joelho, mas as dores eram terríveis.

— Parece disposto a colaborar —

observou Frank, dirigindo-se ao ferido.

— Não diga nada — ordenou Mark.

— Esqueça-o. Aqui ele não tem nenhum

poder — ironizou Frank, sentando-se ao

lado do prisioneiro.

— Ele não falará! — continuou Mark.

— Cale-se ou quebro-lhe todos os dentes

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— vociferou Frank, num tom de voz

intimidador.

Mark recuou, assustado. Frank inclinou-

se sobre o ferido.

— E então, como poderemos entrar no

acampamento? Talvez nesta noite mesmo.

Como são os turnos de guarda? Não creio

que todos fiquem acordados...

— Eles dormem...

— Como?

— Os guardas... Dormem... Quem

conseguiria entrar lá? Se durante o dia já é

difícil, quanto mais à noite? Nem precisaria

de guarda...

— Bom, muito bom! Está disposto a nos

guiar até o interior do acampamento?

— O que eu ganho com isso?

— Sua colaboração poderá livrar sua cara

— prometeu Frank. — Posso testemunhar a

seu favor.

— Não acredite nisso — berrou Mark.

— Mandei-o calar-se — gritou-lhe Frank,

pondo-se de pé num salto.

Mark não teve tempo de recuar. O punho

de Frank abateu-se pesadamente na boca do

rapaz, que foi atirado para trás, batendo

contra a parede.

Cuspiu sangue, aturdido.

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— Sua situação está complicada, rapaz!

Só piora as coisas agindo dessa forma.

— Meu pai vai me tirar daqui. Vou fazê-

lo se arrepender de tudo isso — prometeu o

rapaz.

Frank deixou-o de lado e se dirigiu

novamente ao prisioneiro ferido.

— E então? Acha que poderá nos guiar

até o acampamento nesta noite ainda?

— Como vou cavalgar com estes

ferimentos?

Frank deu-lhe razão. Poderiam esperar

até a noite seguinte, mas tinha certeza de

que o pai do garoto logo saberia de sua

prisão e tentaria alguma coisa.

Se não pudessem invadir o acampamento

naquela noite, tinham de tomar outra

providencia.

— Quantos homens trabalham como

capangas lá na mina? — indagou ao

prisioneiro.

— Não responda! — gritou Mark.

Frank o olhou furiosamente. Depois se

voltou novamente para o ferido.

— E então? Quantos?

O prisioneiro pareceu refletir melhor.

Não estava sendo inteligente.

Sabia que mais de trinta homens

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trabalhavam para o velho sulista. Todos

pistoleiros, dispostos a tudo.

Colaborar com a lei não era

recomendável, pois cedo ou tarde o velho

invadiria a cidade e libertaria o filho. Se

ficasse contra ele seria um homem morto.

Frank notou a mudança no rosto dele. O

maldito não falaria, a menos que fosse

incentivado.

Pôs a mão sobre o joelho ferido do

capanga. Pressionou ligeiramente. O

homem gemeu.

— Isso dói! — acrescentou.

— Vai doer mais se não me contar —

ameaçou Frank.

O capanga olhou para Mark, indeciso. A

pressão aumentou. A dor ia se tornando

insuportável.

— Uns cinqüenta! — berrou, para

satisfação de Mark.

— Tudo isso? — insistiu Frank,

pressionando ainda mais a perna ferida.

— Sim, um pouco mais, um pouco menos

— confirmou o outro.

Frank se levantou, pensativo.

— Viu agora em que encrenca se meteu?

— ironizou Mark.

— Quebro-lhe todos os dentes se não

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calar essa maldita boca — ordenou Frank.

Saiu, trancando a cela. Foi encontrar

Steve e o xerife fumando no lado de fora da

cadeia.

— E então? — quis saber Steve.

— Acho que estamos encrencados. Há

meia centena de pistoleiros naquele

acampamento e virão com tudo para cima

de nós, tão logo o velho saiba da prisão do

filho.

— Tantos assim? — surpreendeu-se o

xerife.

— Creio que sim. Vi muitos homens

armados por lá. Com quantos ajudantes

poderemos contar por aqui?

O xerife ficou pensativo.

— Não acho que seja uma boa idéia

deixar que eles invadam a cadeia —

ponderou o homem da lei. — Muitos

inocentes poderiam sair feridos.

— Que outra saída temos então? —

questionou Steve.

Frank acendeu um cigarro. Sentou-se na

escada. O corpo estava cansado demais para

continuar pensando, mas não podia

desconsiderar a possibilidade mencionada

pelo xerife.

Um grupo de bandidos invadindo uma

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cidade poderia causar muito transtorno. Um

outra idéia começou a tomar corpo em sua

mente.

— O que aconteceria se soltássemos o

rapaz? — ponderou.

— Soltá-lo? Acho que ele é nosso maior

trunfo em toda essa história — discordou

Steve.

— A menos que você pretenda seguí-lo

— observou o xerife, notando que Frank

sorria significativamente.

— É essa a idéia, ?Frank? — indagou

Steve.

O pistoleiro concordou com um aceno de

cabeça.

— Façam uma encenação qualquer com

ele, para que se convença de que está livre e

vá direto para o acampamento. Estarei aqui

fora, vigiando-o e seguindo-o.

— Lembre-se, Frank. Não precisa seguí-

lo naqueles labirintos de pedra. Basta que

consiga marcar a direção do acampamento.

Há alguns rastreadores que já caçaram por

aquela região e que podem nos ajudar.

— Farei isso. Não quero ficar preso por

lá novamente. Só espere algum tempo.

Preciso dormir um pouco — pediu o

pistoleiro.

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— Vá para o hotel, Frank. Tome um

banho quente e descanse. Eu o acordarei de

madrugada. Será mais fácil seguí-lo no

amanhecer. — disse Steve.

O velho estava possesso. Havia sido

acordado no meio da noite para receber uma

seqüência de péssimas noticias. Robertson,

um importante aliado, estava morto. Meia

dúzia de bons homens também mortos e o

estúpido Mark preso como um bêbado

idiota.

— Como esse homem escapou daqui? —

indagou.

— Acho que ele saiu do galpão, de

alguma forma, e tomou o ligar de Andrew,

entre os homens que seguiam para a cidade

com Mark. Achamos Andrew com o

pescoço partido lá no estábulo — explicou

um dos capangas.

O velho foi até a parede e apanhou o

cinturão. Prendeu-o na cintura. Abriu-o e

sacou o Colt antigo.

Gostava daquela arma. Já o servira

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inúmeras vezes.

— O que vamos fazer, patrão? — quis

saber um dos homens.

— Preciso pensar... Uma estratégia... Não

tenciono invadir a cidade para libertar

Mark, mas garanto que ele não ficará lá por

muito tempo.

Lembrou-se rapidamente de sua atuação

na guerra. Liderava um bando de

guerrilheiros, que atacavam fazendas e

povoações, disseminando o terror.

Aquela experiência poderia ser útil agora.

Como fazer com que libertassem seu filho,

através do terror?

Bastaria atacar as pessoas que os

aprisionadores de seu filho adoravam.

Esposa, filhos, esse tipo de coisa.

Poderia tentar isso contra o xerife, mas

como atingir aquele maldito pistoleiro?

Os homens continuavam imóveis,

observando os movimentos nervosos do

velho, aguardando suas ordens.

— Fale-me um pouco mais sobre essa tal

garota — pediu ele ao homem que viera

trazer a noticia da prisão de Mark.

O homem contou-lhe o que sabia.

— Acha que há alguma coisa entre ela e

o pistoleiro?

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— Uma das garotas de saloon afirma que

sim.

— Onde mora essa garota?

— Com o xerife. Está a procura do

irmão, Peter, o Louro.

O velho sorriu satisfeito.

— Ela é irmã de Peter?

— Parece-me que sim.

— Muito interessante. Acho que já sei

como nos livrarmos desse pistoleiro. Quero

que meia dúzia de vocês vão à cidade e

capturem a garota. Tragam-na para cá.

Basta dizer que têm noticias do irmão dela

e, seguramente, ela virá com vocês, sem

maiores problemas. Partam assim que o dia

amanhecer.

— E os outros? O que faremos?

— Fiquem preparados. Em breve teremos

Mark de volta e aquele maldito pistoleiro

em nossas mãos — prometeu o velho,

confiante em seus planos.

Sentiu-se até satisfeito que tudo aquilo

estivesse ocorrendo. Tudo estava se

tornando muito monótono por ali.

Um bom desafio era o que precisava para

agitar as coisas. Aquele pistoleiro poderia

ser um bom adversário.

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O xerife estava às voltas com aquele

bando de mulheres e crianças que

choramingava ao seu redor.

— Farei o que puder para encontrar seus

maridos — dizia ele, tentando convencê-las.

Tudo estava muito conturbado. Na certa

os homens haviam sido levados para o

acampamento.

— Em breve tudo se resolverá, senhoras.

Voltem ao acampamento e confirme na lei

— insistiu.

Aquela madrugada estava sendo por

demais confusa. Tudo parecia estar

acontecendo de uma só vez.

Assim que conseguiu tranqüilizar as

mulheres e mandá-las de volta para o

acampamento, o xerife foi observar Mark e

o prisioneiro ferido.

Haviam sido postos em selas separadas.

Dormiam profundamente. Steve também

dormia numa das celas. O xerife o acordou.

Apenas um sinal entre eles e Steve soube

que deveria ir acordar Frank. Se seu pai tem

um exército realmente, a ultima coisa que

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desejo é que ele invada esta cadeia.

— É um homem inteligente, xerife —

murmurou Mark, satisfeito com aquela

decisão.

— Onde está seu cavalo?

— No saloon.

— Vou acompanhá-lo até lá. Pegue seu

cavalo e suma da cidade. não apareça mais

por aqui. Fiquem com seus problemas por lá

e não os tragam por mim.

— Não se arrependerá, xerife.

— Parta o mais depressa possível. Não

conseguiria deter aquele pistoleiro, se o

visse solto por aí — disse, referindo-se a

Frank.

— Ainda juro como ajustarei contas com

ele, xerife. Custe o que custar.

— Se eu fosse você, esqueceria isso.

Aquele pistoleiro é morte certa.

— Isso nós veremos um dia, xerife.

Mark apanhou seu cavalo e partiu. O dia

ainda demoraria um pouco para nascer.

O xerife olhou ao redor, observando as

sombras da noite. Sabia que, em algum

ponto por ali, Frank se preparava para

seguir o garoto.

Na realidade, Frank já esperava o garoto

fora da cidade. Assim que pôde percebê-lo

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rumando para o acampamento, tratou de

seguí-lo a uma distancia prudente, de forma

que não pudesse ser percebido.

Procurou gravar bem a região. Podia

observar as montanhas ao longe, direção

tomada por Mark.

Pouco a pouco o dia amanhecia. Teria de

ser mais cuidadoso para não ser visto.

Algo ocorreu, então. Quando a manhã

surgiu, um grupo de cavaleiros veio ao

encontro de Mark.

Pararam e conversaram durante algum

tempo. Houve um momento de hesitação,

depois Mark e o grupo retornaram, na

direção da cidade.

— Diabos! O que está havendo agora? —

indagou-se.

Não gostava daquela decisão do garoto.

Deveria estar preparando alguma coisa, por

isso tratou de se antecipar e voltar para a

cidade.

Julgou que Mark iria em seu encalço, por

isso rumou para o hotel. Ficou em seu

quarto, esperando.

Suas armas estavam prontas, seus

sentidos atentos. Quando os pistoleiros

chegassem, iriam encontrá-lo preparado.

Sem que ele soubesse, no entanto, Mark

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havia tomado outra decisão.

Gostara da idéia de seu pai, de capturar

Sandy. Isso unia o útil ao agradável.

Teria a garota e, ao mesmo tempo, uma

forma de atrair Frank. Iria se vingar dele a

qualquer custo.

Ficou um pouco distante da cidade,

enquanto seus homens iam até a casa do

xerife, falar com Sandy.

Não precisou muito para convencê-lo a

seguí-los. No principio ela hesitou, mas os

homens insistiram que Peter estava ferido e

precisava de ajuda.

Ainda pensou em procurar Mark ou

Steve, mas seu coração de irmã falou mais

alto.

Queria encontrar o irmão a qualquer

custo.

— Deixou um bilhete para alguém? —

indagou um dos homens, quando ela saiu.

— Boa idéia! Vou fazer isso e...

— Não dá tempo. Vamos logo. Seu irmão

pode estar à morte — insistiu o pistoleiro e

Sandy o atendeu imediatamente.

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Frank impacientou-se. Tudo estava muito

quieto. Calmo demais. Houvera tempo

suficiente para os capangas de Mark

aparecerem, se esse fosse o interesse.

— Demônios! — resmungou, andando

pelo quarto, com as armas nas mãos. — Por

que teria ele voltado para a cidade? Qual o

seu interesse aqui a não ser...

Interrompeu-se, julgando ter encontrado a

resposta e não gostou do que imaginou.

— Sandy! — murmurou, deixando

rapidamente o quarto.

Seu instinto o salvou no ultimo momento.

— Maldição! — gritou, ao perceber o

vulto no fim do corredor erguer a

espingarda.

Jogou-se no assoalho e a carga dupla de

chumbo passou zumbindo como abelhas

mortíferas por cima de sua cabeça.

Um outro pistoleiro surgiu em seguida,

disparando com uma Winchester repetidas

vezes.

Frank disparou duas vezes certeiramente

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e o homem do rifle caiu para trás, rolando

pela escada.

O outro remuniciava a espingarda. Frank

disparou, mirando o ombro direito.

— Maldito bastarda! — gritou o capanga,

caindo para trás.

Frank não lhe deu tréguas. Correu pelo

corredor e saltou sobre o ferido,

imobilizando-o.

Desarmou-o e conduziu-o até a entrada

do hotel.

— Estou sangrando... Você tem que me

levar a um médico — reclamou o ferido.

— Ao diabo seu ferimento! — rosnou

Frank, dando-lhe um tapa na nuca.

— Não pode fazer isso... Estou ferido...

Frank o segurou pelos colarinhos e o

obrigou e encará-lo.

— Se eu quisesse, você estaria morto

agora, como aquele amigo seu lá na escada.

Agora me diga, onde estão os outros?

— Não há mais ninguém.

— Não tente me enganar. Eu os vi vindo

para a cidade, juntamente com o garoto

Scottsfield.

— Não sei do que está falando —

descartou o outro.

O punho de Frank afundou-se no

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estômago do capanga, que ofegou,

dobrando-se para frente.

— Não ouvi o que disse — comentou

Frank.

— Leve-se para o xerife... Você é louco

— disse o bandido, em voz alta, tentando

chamar a atenção das pessoas que iam se

ajuntando ao redor deles.

— Essa é uma boa idéia mesmo —

concordou Frank, empurrando-o pela porta.

Cruzaram a rua até a cadeia. Um dos

ajudantes foi avisar o xerife. Steve chegou

logo em seguida, pois dormia no mesmo

hotel de Frank.

— O que foi desta vez? O que está

fazendo aqui? Não ia seguir aquele garoto?

— Ele se encontrou com um bando de

capangas e retornaram à cidade. Julguei que

fariam uma emboscada contra mim. Acertei

em parte...

— Por que m parte?

— É o que este bastardo vai me contar

agora — afirmou Frank, empurrando o

capanga para uma das celas.

— Vocês não podem deixá-lo fazer isso

— reclamou o prisioneiro, mas calou-se

quando o punho de Frank o atingiu no alto

da testa, lançando-o contra a parede.

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Frank tirou o paletó e arregaçou as

mangas da camisa. O pistoleiro se encolheu

num canto da cela.

— Onde estão os outros?

— Eu já disse que...

Não chegou a terminar, Frank estendeu a

perna e o salto de sua bota pousou sobre o

ferimento do outro, que gemeu,

empalidecendo de dor.

— Quer pensar melhor? — indagou-lhe

Frank, aliviando a pressão.

— A garota... Foram buscar a garota...

— Malditos! — exclamou Frank.

— O que houve, Frank? — quis saber

Steve.

O xerife também chegava naquele

momento.

— Onde está Sandy? — indagou ao

xerife.

— Não sei... Levantei-me agora e...

— Acho que ela foi raptada por Mark e

seus capangas.

— Pensei que ele tivesse voltado para o

acampamento...

— Era o que fazia, até se encontrar com

um grupo de capangas no caminho. Voltou

para a cidade. Mandou dois homens atrás de

mim e, com os outros, de alguma forma,

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conseguiu levar Sandy.

O xerife ordenou que um dos ajudantes

fosse até sua casa verificar se Sandy se

encontrava lá.

O ajudante voltou logo depois, quando o

xerife havia terminado de fazer um café.

— A garota não está lá — disse.

— Eu sabia — comentou Frank,

aceitando a xícara de café.

Bebeu um gole, pensativo. Aquele garoto

era mesmo teimoso. Lastimou não tê-lo

matado quando tivera a chance.

— O que podemos fazer agora? —

questionou Steve.

— Você percebeu que eu nem aceitei a

missão e já estou enterrado nela até o

pescoço? — ironizou Frank, terminando o

café.

Retirou as armas, renunciando-as,

enquanto pensava. O garoto fora, de certa

forma, esperto.

Sabia que Frank iria atrás de Sandy.

Talvez fosse isso o que o jovem queria:

levar Frank até o acampamento de novo.

Agora, porém, havia como entrar lá.

Frank tinha um dos homens em condições

de guiá-los até lá.

Foi até a cela, onde o prisioneiro estava

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sendo medicado. Assim quer o médico

terminou o curativo, Frank agarrou o

capanga pelos colarinhos e levantou-se

diante de si.

— Só vou lhe dizer uma vez —

murmurou, entredentes. — Hoje à noite

você vai nos guiar para dentro daquele

acampamento...

— Serei um homem morto —

interrompeu-o o capanga.

Frank sacou uma das armas e enfiou o

cano na boca do outro.

— Será um homem morto se não

concordar. O que escolhe?

O outro sacudiu a cabeça, num gesto

afirmativo.

— É um homem bastante persuasivo,

Frank — brincou Steve, sorrindo.

— Só há uma forma de tratar com esses

animais — rosnou Frank enfurecido.

— Vai mesmo tentar entrar lá? —

indagou o xerife.

— Seguramente, xerife. Posso até apostar

como é isso que eles esperam que eu faça.

Enquanto isso, lá fora, um dos homens de

Mark, que ficara para verificar se tudo

corria bem na emboscada contra Frank,

observava o acontecido.

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Um de seus amigos estava morto e o

outro, ferido, fora levado para a cadeia.

Com certeza seria forçado a falar e

denunciar a localização do acampamento.

Nada havia, porém, que pudesse fazer

quanto a isso. Uma pequena multidão se

juntara diante da cadeia e qualquer

iniciativa seria loucura.

O melhor a fazer era voltar a narrar tudo

ao seu patrão. Mais uma vez aquele

pistoleiro tinha levado a melhor contra eles.

O velho ouviu atentamente toda a estória

contada por Mark, mas não conseguia

compreender exatamente o que houvera.

— Eles o soltaram sem mais nem menos?

— insistiu.

— Sim, o xerife ficou com medo de que

você invadisse a cidade, pai.

— Se ele o soltou, não havia necessidade

de capturar a garota, então.

— Pai, aquele pistoleiro não nos dará

tréguas. A única forma de nos vermos livres

dele é matando-o. A garota vai atraí-lo para

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nós, se os homens que mandei não fizeram

um bom trabalho.

— E realmente não fizeram — informou

o capanga que acabava de chegar da cidade.

— O que houve, Rick? — indagou Mark,

ansioso.

— O que era de se esperar. Brown está

morto e Jones foi capturado.

— Maldito pistoleiro! — vociferou Mark.

— E a garota? Onde está? — quis saber o

velho.

— Eu a deixei na cabana, junto com o

irmão. Peter já se recuperou bem dos

ferimentos que sofreu naquela explosão e a

companhia da irmã servirá como consolo

para ele.

O velho sondou o rosto do velho.

— E o que acontecerá com ela depois que

matarmos o pistoleiro? — indagou.

— Ela será minha, pai.

— Pode estar se metendo numa encrenca

maior do que imagina, filho. Terá de

conviver com uma mulher que

constantemente desejará vê-lo morto.

— Tratarei disso. Em pouco tempo eu a

domarei, pai. Nisso os Scottsfield não bons

— ironizou o rapaz, apanhando um chicote

e fazendo-o estalar.

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Os homens riram, divertidos com a

brincadeira e com a fanfarronice do garoto.

Perto dali, numa cabana, Sandy chorava,

abraçada ao irmão.

— Está tudo bem agora, querida

irmãzinha — tentava ele consolá-la.

Era um rapaz forte e um tanto abatido.

Bandagens envolviam sua testa e o alto da

cabeça. O peito ainda mostrava sinais de

ferimentos profundos.

— O que houve com você, Peter?

— Um pavio curto demais e a dinamite

explodiu antes que eu pudesse sair. As

pedras me atingiram, mas estou bem agora.

Você é que não devia estar aqui. Como a

trouxeram?

— Estou confusa até agora, mas

agradecida àquele jovem, por incrível que

pareça. Primeiro ele me parece um mau

elemento. Depois manda me buscar para vir

ao seu encontro, Peter.

— Maldição! — praguejou Peter. —

Estamos no próprio inferno, irmã. Não sei

qual a intenção deles trazendo-a para cá,

mas precisa saber de uma coisa —

acrescentou, com seriedade.

— E o que é?

— Não sairemos daqui tão fácil. Há

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trabalhadores escravos por aqui. Gente

morre a toda hora. Quando precisam de

gente, alguém na cidade providencia isso...

— O homem do saloon...

— Sim com certeza.

— Mas deve haver alguma coisa que

possamos fazer — disse ela, levantando-se e

indo a janela da cabana.

Olhou lá fora. Havia homens armados por

toda parte. O acampamento parecia

escavado no meio da rocha.

Lembrou-se da trilha que usaram para

chegar lá. Um labirinto de pedras e

desolação.

Sandy temeu pelo seu destino ali.

— Por que eles me trariam para cá?

— Para trabalhar na mina não será, com

certeza — descartou Peter.

Sandy pensou em Mark, em como se

mostrara mudado, quando a encontrou, fora

da cidade. Demonstrou muita gentileza, em

nada se parecendo com aquele valentão que

tentara enfrentar Frank no saloon e fora

subjugado.

Lembrou-se de Mark, da maneira como

ele o olhara e daquele beijo furioso na noite

anterior.

Jamais sentira seu corpo vibrar daquela

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forma. Jamais experimentara, como mulher,

sensação de calor e umidade como aquela.

Retornou pata junto do irmão.

— Pode se levantar? — indagou.

— Agora sim.

— Não quer se sentar ali na janela, ao

sol?

— Acho que é uma boa idéia. Ajude-me

aqui — pediu ele.

Apoiada nela, Peter foi até a cadeira que

ela pudera junto à janela. sentou-se, o sol

batendo em seu peito.

— Oh, como isto é bom — murmurou,

no momento que a porta da cabana se abria.

Sandy se voltou e encarou Mark. Havia

um outro brilho nos olhos dele agora. Não

parecia tão gentil como o demonstrara

durante toda a viagem.

— O que quer de mim, afinal de contas?

— questionou ela, furiosa.

Mark sorriu. A fúria a deixava mais

bonita e desejável. Saber que ela estava ali,

a sua mercê, dava-lhe uma sensação de

poder muito boa.

— Quero você e vou tê-la, querida —

murmurou ele, com convicção.

— Jamais — respondeu ela, num sopro

de voz enfurecido.

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— Pensará melhor nisso, querida, quando

ouvir o que tenho a lhe propor.

— Não quero tratos com você —

descartou ela.

Mark foi até a cadeira onde Peter estava

sentado. Sorriu gentilmente.

— Está melhor? — indagou.

— Sim, logo estarei de pé...

Não chegou a terminar a frase. Com a

bota, Mark empurrou a cadeira para trás e

Peter caiu, batendo a cabeça no assoalho.

— Maldito miserável! — gritou Sandy,

saltando em defesa do irmão.

Mark a afastou com um forte empurrão,

jogando-a sobre a cama. Sua bota pisou o

pescoço de Peter, que jazia atordoado.

— Vai ouvir minha proposta agora? —

indagou.

— Diga o que quer — pediu Sandy,

contendo sua raiva e sua indignação.

— Assim está melhor — disse Mark,

caminhando até ela.

Peter se arrastou, apoiando-se contra a

parede, tonto demais para qualquer reação.

Sandy encarou Mark.

— O que quero é muito simples —

murmurou Mark, o olhar descendo pelo

corpo carnudo de Sandy.

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— Como pode ser tão nojento e...

— Cale-se! Se não for boazinha e

educada, você e seu irmão irão morrer.

Primeiro ele, é claro. Depois você.

— É um ser desprezível!

— Chega de elogios e me ouça. Quero

você, garota. Quero você sete noites

seguidas. Depois a levarei e ao seu irmão

para fora daqui. Eu lhes darei um saco de

pepitas de ouro...

— Não preciso de seu ouro maldito...

— Tanto faz. Pense bem em minha

proposta. Tenho um outro assunto para ser

resolvido. Quando terminar com ele,

voltarei para ouvir sua resposta.

Retirou-se, deixando a garota agoniada.

Correu ajudar o irmão e retornar para a

cama.

— Aquele bastardo! — gemeu Peter,

atordoado.

— Fiquei quieto, tudo acabará bem —

prometeu-lhe Sandy, acomodando-o.

Velou-o até que adormecesse. Depois se

levantou e foi até a janela. Ficou olhando

aquelas paredes de pedra, como gigantescas

lapides.

— Oh, Frank! Onde está você? —

lamentou, sem saber que, naquele momento,

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na cidade, Frank fazia preparativos para ir

até o acampamento e resgatar Sandy.

— Vou com você — decidiu Steve.

— Vou apreciar sua companhia, Steve,

mas sabia que vamos entrar no próprio

inferno.

— Isso não me assusta. Mas onde está

indo, afinal? — perguntou, seguindo-o pela

rua.

— Ao armazém. Vou fazer compras, não

percebeu? — retrucou Frank, exibindo uma

lista.

— O que há aí? — quis saber Steve,

apanhando-a. — Munição, muita munição

e... Dinamite? — surpreendeu-se.

— Sim, acho que será útil naquele lugar.

— Espera tanta encrenca assim?

— Toda encrenca do mundo.

— É alentador ouvir isso...

— Prepare-se você também, Steve. Não

irá a um piquenique...

— Disso eu estou certo — concordou

Steve, devolvendo-lhe a lista de compras.

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Amanhecia tranqüilamente sobre o

acampamento. A calma e o silencio foram

quebrados pelas primeiras ordens ríspidas

soando no galpão onde os escravos

dormiam.

Na casa principal, Mark acordou cedo,

como sempre. Seu pai, no entanto, já estava

em pé, tomando um xícara de café, diante

da janela.

— Vamos começar a agir, filho. Mande

alguém à cidade procurar aquele pistoleiro.

Digam a ele que, caso deseje a garota com

vida, que venha desarmado ao nosso

encontro.

— Certo, pai. Se eu conheço aquele

bastardo, ele virá só cheio de pose e com

aquelas suas pistolas de coronhas

serrilhadas que desejo para mim.

— Ouça bem como desejo que as coisas

aconteçam: no caminho para cá, mande um

grupo aguardá-lo. Assim que ele se

aproximar, deve ser morto e enterrado por

lá mesmo.

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— Mas, pai! Eu gostaria de matá-lo com

minhas próprias mãos...

— Então vá com o grupo que irá

emboscá-lo. Quero um serviço rápido e

limpo, sem surpresas.

— Pode deixar comigo, pai — concordou

o rapaz, antegozando o prazer de matar

Frank.

Deixou a casa e foi providenciar o que

seu pai ordenara. Ao sair para o pátio, seu

olhar se voltou para a cabana, onde Sandy

estava prisioneira.

Sorriu deliciado. Logo a teria nos braços

e, então, sua vingança seria completa.

Matara Frank, ficaria com suas pistolas e

com a mulher que ele gostava.

Mal sabia ele que, naquele momento,

seus movimentos eram vigiados por Frank

que, juntamente com Steve, ocultavam-se

no andar superior do estábulo, onde era

guardado o feno para os animais.

— Eu poderia meter-lhe uma bala daqui

mesmo — disse Frank, furioso.

— Calma. Depois de ter circulado por aí

a noite, poderia me explicar o que andou

planejando?

— Vou pôr fogo neste inferno, tão logo

consiga descobrir onde Sandy se escondeu.

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— Tem alguma pista?

— Aquela cabana, próxima da casa

principal. Parece-me que o irmão dela está

sendo tratado lá, depois de um acidente com

uma explosão. Com certeza Sandy foi posta

com ele.

— E o que mais preparou você?

— Distribuí algumas armas para os

prisioneiros. No momento certo eles me

ajudarão. Além disso, espalhei algumas

cargas de dinamite por aí. Vê aquele

paredão? — apontou.

— Sim, claro, mas o que há de especial

lá.

— Consegue ver o pedaço de peno

vermelho?

— Está junto com a dinamite?

— Sim, e vou deixar este trabalho para

você. Vai disparar e provocar a confusão.

Vou correr até a cabana e me certificar se

Sandy está lá. As explosões atrairão a

atenção dos guardas. Os prisioneiros

atacarão. Nós invadiremos, então, a casa

principal deste inferno.

— Está certo. E quando começará a

festa?

— Dê-me dois minutos para eu me

posicionar, depois atire no explosivo.

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— Deixe comigo — concordou Steve,

mirando cuidadosamente com sua

Winchester.

Frank posicionou-se rapidamente e

esperou. Steve disparou certeiramente. A

explosão ressoou como o ribombar de mil

trovões entre os paredões de rocha.

A confusão formou-se rapidamente.

Frank espantou os cavalos do interior do

estábulo e, oculto na poeira provocada por

eles, correu até a cabana.

Quando entrou, Sandy estava parada em

frente da janela, pálida e assustada com a

explosão.

— Frank! Que bom revê-lo — murmurou

ela, lançando-se nos braços dele.

O pistoleiro a abraçou com força,

apertando-a contra o peito, satisfeito por ver

que tudo estava bem com ela.

— Como chegou aqui?

— Um dos capangas trouxe Steve e a

mim durante a madrugada. preparamos

tudo. Vamos enfrentar esses bastardos.

Tiros soaram do lado de fora. Os

prisioneiros se rebelavam, disparando

contra os guardas. À medida em que os

matavam, iam se armando.

— Que diabos está havendo aqui? —

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berrou Mark, entrando na cabana.

Ao ver os olhos cinzas frios e mortíferos

de Frank, o garoto empalideceu e recuou.

— Maldito miserável! — exclamou,

correndo para fora, na direção da casa

principal.

Lá fora, no alpendre da casa, o velho

dava ordens a seus homens, empunhando

seu Colt.

— Pai, ele está aqui! — gritou Mark, se

aproximando.

— De quem está falando?

— O pistoleiro, está lá na cabana —

apontou.

— Fogo nele então — ordenou o velho.

Meia dúzia de armas se voltaram para a

cabana, disparando incessantemente. La

dentro, Frank obrigava Sandy e o irmão a se

deitarem, enquanto as balas assobiavam,

arrancando lascas por todos os lados.

Do alto do estábulo, Steve mirou

cuidadosamente. Apertou o gatilho e um

dos capangas do velho voou para trás,

atingindo em plena testa.

Aquilo surpreendeu os homens, que

trataram de se abrigar. O velho e Mark

correram para o interior da casa.

— Ele não está sozinho — observou o

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velho. — Como entrou aqui o maldito?

— Não sei, mas está havendo uma

revolta lá fora, pai.

Neste momento, um grupo de cavaleiros,

chefiados por Lawson, parou diante da casa,

desmontando rapidamente.

Lawson correu para dentro.

— Fiquei sabendo lá na cidade que o

pistoleiro viria para cá. Andou comprando

armas, munição e dinamite, Sr. Scottsfield.

— Foi bom ter vindo para cá, Lawson.

Veja se consegue, com seus homens,

desalojá-los. Há um naquela cabana e outro

no estábulo. Haverá uma enorme

recompensa se conseguir isso.

Os olhos de Lawson brilharam de cobiça.

Se o velho prometia uma recompensa, seria

algo generoso, realmente de valer a pena.

— Vamos, homens! — gritou, deixando a

casa. — Vamos cercar a cabana e o

estábulo. Preciso da ajuda de todos.

Os homens esgueiraram-se, buscando

proteção e tratando de cumprir as ordens

dadas.

Do estábulo, Steve não perdia um tiro. A

cada vez que apertava o gatilho, um homem

se estatelava na poeira.

Por seu turno, Frank fazia o mesmo com

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suas famosas pistolas. Cada tiro era um

corpo estendido ao sol que surgia

inclemente.

— Vamos ter que sair daqui — disse

Frank.

— Não há para onde fugir! — exclamou

Sandy.

Atrás deles estava uma encosta rochosa,

por não onde jamais escalariam. Frank

observava o movimento dos capangas lá

fora. Em breve estariam cercados.

Não contava, porém, com a revolta dos

prisioneiros. Guardas jaziam aos montes à

mina e próximos do galpão.

Armados, os escravos subiam a encosta

para o cenário da batalha entre Frank e seus

agressores.

Os pistoleiros do velho Scottsfield pegos

de surpresa, com o ataque dos prisioneiros.

Caíram aos montes, numa nuvem de

fumaça e chumbo.

— Vamos dar o fora daqui — gritou

alguém.

— Eu mato o covarde que fugir —

ameaçou Lawson, mas todo o seu corpo se

abalou repentinamente e o chapéu lhe voou

da cabeça.

Um orifício surgiu no meio de sua testa,

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por onde um filete de sangue escorreu.

Seu corpo tombou pesadamente na

poeira.

— Não atirem... Nós nos entregamos...

— ouviu-se.

— Piedade... — começaram a gritar os

capangas da mina.

Os prisioneiros, no entanto, tinham muito

o que vingar. Dias e dias de maus tratos,

chicote e crueldade jamais seriam

esquecidos com facilidade.

Um a um foram dizimando os homens

que se rendiam inutilmente.

Frank não sentiu a menor piedade por

eles, enquanto levava Sandy e o irmão para

fora da cabana.

A fumaça se dissipava. O cheiro de

pólvora e morte pairava no ar. Steve se

aproximou.

— Foi mais fácil do que eu esperava —

comentou.

— Onde está o garoto e o velho?

— Lá dentro — mostrou um dos

escravos.

— Vamos até lá prendê-los, Steve —

convidou Frank.

— Agora que não têm mais a proteção de

seus capangas, são dois pobres infelizes —

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afirmou Frank, recarregando suas armas.

Rumaram para a casa. Frank abriu a porta

com um pontapé. Mar se escondia todo

trêmulo, atrás do pai, ereto e imponente no

centro da sala.

— É o homem por trás de toda essa

carnificina — comentou o velho.

— Não fui eu quem começou tudo isso.

— Há muito aqui para todos nós. Ouro,

muito ouro, o filão mais rico de todo o

oeste...

— De nada vai lhe adiantar para o lugar

onde vai — disse Steve.

— Não irei a parte alguma — afirmou o

velho. — Aqui é meu lugar.

— Posso lhe dar duas escolhas — propôs

Frank.

— E quais são as alternativas?

— Saiam conosco e os levaremos para

serem julgados ou fiquem e os

entregaremos aos escravos lá fora.

— Não, pai, jamais! — gritou o garoto,

apavorado, sacando o Colt que o pai tinha

no coldre.

Frank e Steve reagiram da mesma forma.

Suas armas disparam, atingindo o jovem

Scottsfield, que foi jogando para trás.

O sangue escorreu pelo assoalho.

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— Malditos! — berrou o velho, correndo

em socorro do filho.

O garoto estava com a boca aberta e os

olhos escancarados, refletindo a surpresa.

Uma bala o atingira na testa. Outra, no

peito. Já estava morto antes de cair no

assoalho.

O velho se voltou para os dois com um

ódio irracional.

— Vocês pagarão por isso — prometeu,

abraçando o corpo inanimado do filho.

— O que fazemos com ele? — indagou

Steve.

— Vamos deixá-lo ser julgado —

afirmou Frank, virando as costas e saindo.

Steve fez o mesmo. Apenas seus passos,

pisando o assoalho de madeira, soaram por

alguns instantes.

Depois, distinto de tudo, o estalido seco

do cão do Colt sendo engatilhado.

Barulho inconfundível.

Alerta!

Ambos se voltaram ao mesmo tempo, as

armas disparando na direção do velho, que

tombou sobre o corpo do filho.

— Foi melhor assim — comentou Steve.

Sandy entrou correndo na casa. Ao ver

que tudo estava bem com Frank, suspirou

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aliviada, correndo abraçá-lo.

Frank a apertou contra o peito.

— E agora, o que vai ser? — indagou um

dos escravos, aproximando-se, seguido

pelos outros.

Steve olhou ao seu redor. Havia um cofre

num canto da sala. Foi até lá. Não estava

trancado.

Abriu-o. Havia sacos e sacos de ouro lá

dentro.

— Há muito ouro aqui dentro, o bastante

para que cada um de vocês possa voltar para

suas casas com um bom lucro — disse

Steve.

— E quanto ao resto da mina? Há muito

ouro lá ainda.

— Quem de vocês quer continuar

trabalhando aqui, depois de tantas mortes?

— indagou Steve.

— Sim, com certeza, nas noites escuras,

os fantasmas destes homens virão infernizar

os que se aventurarem a vir aqui — disse

Frank, com voz tétrica.

Os homens se encolheram, assustados.

— Acho que tem toda a razão — disse

um dos escravos. — Vamos dividir esse

ouro e dar o fora daqui. Há o bastante para

todos.

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Steve coordenou a divisão. Cada um

recebeu sua parte, apanhou um cavalo e

tratou de dar o fora dali o mais depressa

possível.

Apenas Frank, Steve, Sandy e Peter

ficaram.

— Peter, há algum túnel vazio na mina?

— indagou-lhe Steve.

— Inúmeros.

— Acho que temos um trabalho a fazer

— continuou Steve, olhando para Frank.

— Está pensando o mesmo que eu?

— Acho que sim!

— Então, ao trabalho!

A Mina Double Colt se tornou a mais

famosa do oeste, impulsionando o

desenvolvimento de Carson City e atraindo

para aquela região gente de toda parte,

disposta a trabalhar duro para obter um

pouco de ouro.

Frank e Steve deixaram a Pinkerton e se

dedicaram ao novo negócio com afinco,

auxiliados por Peter, a quem Sandy

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transferiu a sua parte, pois preferiu ficar na

cidade.

De quebra, Frank e Steve passaram a

administrar o saloon que fora de Robertson.

Durante algum tempo tiveram de

trabalhar duro. Frank mal via Sandy e isso o

fez sentir falta da garota.

Certa noite, na mina, após um dia duro de

trabalho, Frank comentou com Peter.

— Peter, por que sua irmã não vem mais

à mina como antes?

— Acho que está preocupada com o

enxoval agora — disse Peter, com

displicência.

— Enxoval? De que diabos está falando?

— Enxoval de casamento, homem! Acha

que uma viuvinha tenra e bonita como ela

ficaria a solta por muito tempo?

— Mas... Como? — surpreendeu-se o

pistoleiro.

— Se eu fosse você, iria logo tratar disso,

Frank. Senão ela vai se casar com outro...

— ia dizendo Steve, mas não precisou

terminar.

Frank já havia ido selar seu cavalo e,

pouco depois, partia, sem perceber o quanto

Peter e Steve estavam se divertindo.

— Muito boa essa, Peter — elogiou.

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— Mas é verdade. Minha irmã está

fazendo um enxoval.

— Fala sério?

— Sim, mas todo o tempo ela vem

dizendo que é para se casar com Frank.

— E ele não sabia disso?

— Deve adorá-la, mas não decide. Achei

que um empurrãozinho iria ajudar.

— E como ajudou — riu Steve.

Frank cavalgou como um desesperado

pela noite. De repente, percebia o quanto

Sandy era importante em sua vida.

Envolvido com o trabalho na mina, havia

se esquecido de dar mais atenção à jovem.

O medo de perdê-la, agora, o assustava,

enquanto esporeava seu cavalo.

Sandy havia comprado um rancho

próximo da cidade. Vendera suas

propriedades em Washington para ficar

perto de Peter e do homem a quem amava.

Preparava-se para ir dormir, quando

ouviu o galope de cavalo no pátio.

Frank desmontou como um possesso e

invadiu a casa. Quando deu por si, estava no

quarto de Sandy, que vestia uma provocante

e transparente camisola...

— Eu... Você... Casamento... —

balbuciou ele, todo confuso, trocando os pés

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pelas mãos.

— Se estou entendendo, você está me

pedindo em casamento? — indagou Sandy

e, antes que ele respondesse, lançou-se nos

braços dele, colando sua boca aos lábios do

pistoleiro.

Frank a apertou com força, sem entender

o que estava acontecendo, mas adorando o

sabor daqueles lábios.

Era algo que ele desconhecia totalmente,

mas que estava tentando a experimentar.

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Coiotes da Fronteira

Numa tarde quente de verão, uma

carroça carregada percorria a trilha que ia

de San Antônio a Laredo, na fronteira do

Texas com o México, puxada por três

parelhas de fortes animais.

Era uma carga pesada e Phill Dumbey e

Harry Storm a conduziam. Seus olhos

estavam atentos à trilha e os arredores.

Enquanto Phill manobrava com perícia as

rédeas, Harry apertava com nervosismo a

coronha de sua Overland, uma espingarda

de canos curtos e grosso calibre, muita

usada por cocheiros e guardas.

— Ainda tenho comigo que foi burrice

termos aceitado este trabalho por tão pouco

— reclamava Phill.

— Não seja idiota, Phill. Quem mais nos

pagaria o que receberemos da Sra. Spell?

Quando lhe entregarmos a carroça, teremos

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um bom dinheiro nas mãos.

— Não sei se vale a pena tanta tensão,

Harry. Não consigo tirar da cabeça o que

aconteceu com as outras duas carroças.

Você se lembra também?

— Ora, não deixe que aquilo o

impressione. Phill. Vou azar deles, apenas

isso. Os índios que fizeram aquilo já foram

escorraçados de volta para o México. O

Exercito fez um bom trabalho aqui na

região e ainda continua patrulhando a

fronteira. Não teremos problemas, pode

estar certo.

O condutor pensou por algum tempo,

lembrando-se do que vira daquele massacre.

Tinha algumas dúvidas a respeito do

assunto. Dúvidas que apontavam em outra

direção. Estava sendo muito cômodo culpar

os índios por crimes como aqueles.

— Sabe de uma coisa, Harry?

— O quê?

— Eu vi os corpos daqueles homens...

Índios teriam feito pior. E tem outra:

coioteros não atacam homens armados

como eles estavam. Não há coisa que eles

temam mais que uma Overland carregada

com bons cartuchos.

— Ora, cale a boca, Phill. Vai acabar me

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deixando mais nervoso ainda...

— Então reconhece que está preocupado,

não?

— Cale-se! — reagiu Harry,

nervosamente.

— Apanhe uma garrafa de uísque aí na

carga e vamos tomar um trago. O Sr. Spell

disse que poderíamos tomar alguns goles,

desde que chegássemos com a carga inteira.

— Boa idéia! Acho que um gole vai me

fazer muito bem agora — falou Harry,

virando-se no assento para levantar a lona

que cobria a carga.

Apanhou uma garrafa de uísque de uma

caixa. Retirou a rolha com os dentes,

cuspindo-a em seguida. Tomou um gole

generoso, depois entendeu a garrafa para o

companheiro de viagem.

Phill o imitou, tomando um gole

demorado, sempre de olho na trilha.

Devolveu a garrafa para o companheiro de

viagem.

Phill o imitou, tomando um gole

demorado, sempre de olho na trilha.

Devolveu a garrafa a Harry, que tomou

novo gole, estalando a língua de satisfação.

— Como se sente agora? — indagou

Harry, sentindo a bebida acamá-lo.

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— Melhor, só que ainda não chegamos

ao pior trecho do caminho — lembrou ele.

— Fique tranqüilo! Quando deixarmos a

trilha de Laredo e tomarmos a de San Juan,

nosso destino final, tudo será mais fácil. É

campo aberto e os coioteros jamais

atacariam.

— O diabo vai ser chegar até lá. Não se

esqueça que foi antes da trilha de San Juan

que aqueles homens foram...

— Cale a boca, Phill — cortou-o Harry,

irritado. — Pare de falar naquelas mortes —

acrescentou, tomando mais um gole e

redobrando a atenção.

Ficou segurando a garrafa com a mão

esquerda, enquanto a direita descansava

sobre a coronha da espingarda. Dentro em

pouco deixariam a trilha para Laredo e

tomariam rumo oeste, na direção de San

Juan.

Olhou o céu e calculou a distância que

ainda teriam de percorrer.

— Estamos com sorte, Phill — comentou

Harry, procurando tranqüilizar o amigo. —

Vamos chegar antes do anoitecer, nesta

marcha.

— Estou achando isso muito bom. Eu

não agüentaria passar mais uma noite junto

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desta carroça.

Harry não o ouvia. Seus olhos estavam

atentos a alguma coisa à frente.

— Veja, Phill — apontou, enquanto

empunhava a espingarda. — O que é

aquilo?

— Demônios? Parece que há uma árvore

caída no meio da estrada — observou Phill.

— Não estou gostando disso —

comentou Harry, engatilhando a espingarda.

— Para passar teremos de descer e removê-

la.

— Também não estou gostando disso —

acrescentou Phill, procurando sua

espingarda sob o assento da carroça.

Ergueu-a engatilhando-a. Os dois ficaram

atentos, olhando na direção de um grupo de

árvores de um lado ou de algumas rochas,

do outro. Tudo estava calmo.

— Vou dar uma olhada. Cubra-me —

disse Harry, levantando-se cautelosamente.

Um tiro de Winchester ecoou

sinistramente na planície. Harry oscilou

com o impacto e gemeu, abrindo os braços e

caindo para trás, sobre a carga. Uma enorme

marcha de sangue tomava conta de seu

peito.

Phill demorou um segundo para entender

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o que se passava. Com a espingarda na mão,

pulos rapidamente da carroça. Novo tiro

ecoou e, antes dele tocar o solo, o cocheiro

sentiu algo quente e dolorido penetrar seu

ombro, desequilibrando-o e fazendo-o rolar

na poeira.

Ficou imóvel e ofegante, sentindo o

sangue escorrer mornamente de seu ombro.

Ouviu cascos de cavalos se aproximando.

Percebeu que não teria chance alguma. A

morte vinha ao seu encontro.

Como um desesperado ele se levantou,

apertando os dois gatinhos da espingarda,

apontada na direção do primeiro alvo que

viu a sua frente.

— Maldição! Ele me acertou! — gritou o

cavaleiro com o rifle na mão, recebendo

uma carga dupla de chumbo em plena

barriga.

— Ele está vivo. Fogo nela! — gritou

outro.

Phill atirou a espingarda para o lado e

tentou sacar seu Colt para reagir. Diversas

balas penetraram seu corpo, fazendo-o

rodopiar, crivado de chumbo.

Seu corpo tombou na poeira,

encharcando-a com seu sangue. No céu um

grupo de abutres parecia saber da presença

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da morte lá embaixo.

A tarde findava tranqüilamente na

cidadezinha de San Juan. A calma

permanente que reinava ali só não era

compartilhada por John Spell, que

caminhava nervosamente diante de seu

armazém. Rose, sua linda filha, o observava

preocupada, comentando com Susy, sua

melhor amiga.

— Detesto quando ele fica assim. A

qualquer momento parece que vai explodir.

— O que o preocupa tanto, afinal?

— A nova carroça de suprimentos para o

armazém está a caminho e já deveria ter

chegado.

— O caminho é longo, Rose. Pode ter

acontecido algum imprevisto.

— Sei disso, mas papai se preocupa por

causa do que aconteceu com as outras duas

carroças. Você sabe de toda a história, não

é?

— Sim, sei, mas aquilo foi obra dos

índios. O Exército já os expulsou da região.

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— Meu pai parece não acreditar nisso,

Susy. Penso que ele tenha uma outra teoria

a respeito do que aconteceu. Viu ver se

consigo acalmá-lo — disse a garota,

deixando seu posto atrás do balcão e indo

até lá fora.

Tocou o ombro do pai.

— Papai, por que não se senta e se

acalma um pouco? Os rapazes estarão aqui

em breve, acredite nisso.

— Estou com um mal pressentimento,

filha. Eu sei que alguma coisa aconteceu de

novo...

— É só impressão sua, pai. O que pode

haver de errado? O Exército garantiu que

não teríamos mais problemas com aqueles

índios...

— Eu não consigo explicar o que é, Rose,

mas cada vez que olho para o outro lado da

rua e vejo Steve Morgan diante do saloon

olhando para cá, sinto algo aqui dentro me

dizendo para tomar cuidado redobrado.

— Steve Morgan? Ora papai! Steve é um

homem distinto e rico. O que poderia ele ter

a ver com o que aconteceu com aquelas

carroças?

— Pois é isso que fica martelando

constantemente aqui dentro da minha

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cabeça.

— É só impressão sua. Verá como tudo

ficará bem, quando a carroça chegar —

tranqüilizou-o ela.

A tarde foi morrendo lentamente. As

horas foram passando. A noite baixou sobre

San Juan mansamente, sem que a carroça

tivesse chegado.

John Spell chegara ao limite de sua

impaciência.

— Rose, feche o armazém e vá me

esperar em casa, querida. Vou falar com o

xerife. Alguma coisa precisa ser feita —

disse ele, saindo nervosamente.

Rose nada pôde fazer para impedí-lo,

principalmente porque ela estava, agora,

igualmente preocupada com a demora e não

conseguia pensar em nada que pudesse

tranqüilizar seu pai e a si mesma. Havia um

cheiro de tragédia no ar e ela podia sentí-lo

naquele começo de noite quente.

Fechou o armazém, depois caminhou ao

longo da rua, na direção de sua casa.

— Olá, beleza! — disse um homem,

aproximando-se e começando a andar junto

dela.

— Laramie, dê o fora, por favor! Você

me aborrece, sabia? — reagiu ela, com

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irritação.

Conhecia aquele homem. Era um

pistoleiro que trabalhava no saloon. Havia

algum tempo ele vinha molestando Rose,

que tentava evitá-lo, sem sucesso. Laramie

se julgava um sujeito irresistível para as

mulheres.

— Por que não deixa essa pose de rainha

e me olha de frente? — indagou ele,

segurando-a pelo braço e fazendo-a girar o

corpo na direção dele.

Rose parou, decidida, encarando-o com

um brilho furioso nos olhos.

— E então? O que acha de mim, querida?

— insistiu ele, fazendo pose.

— Quer mesmo saber?

— Sim, vamos lá, doçura! Não me deixe

impaciente!

— Está bem, você pediu. Para mim,

Laramie, você não passa de um rato,

paspalho e covarde. Um indivíduo

desprezível e nojento. Agora faça-me um

favor! Deixe-me em paz! — finalizou ela,

virando-lhe as costas.

Laramie ficou estático por instantes,

depois foi no encalço dela. Segurou-a pelo

ombro, obrigando-a a se voltar.

— Vamos ver se continua pensando o

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mesmo do velho Laramie depois disso —

falou ele, beijando-a violentamente.

Rose se debateu, tentando se libertar, mas

os braços dele eram muito fortes e quase a

sufocavam. Em desespero, ela cravou suas

unhas no rosto dele, fazendo-o gemer de

dor.

— Sua maldita! — vociferou ele, cego de

ódio e dor, tentando esbofeteá-la.

Rose foi mais esperta que ele,

desvencilhando-se dos braços dele e

correndo para casa.

— Você ainda vai me pagar por isso —

prometeu ele, furioso, vendo-a se afastar.

— Melhor sorte da próxima vez, Laramie

— ainda gritou ela, de longe.

— Maldita! — disse ele, com um sorriso

cínico nos lábios, esfregando o rosto

arranhado. — Você não perde por esperar

— acrescentou, rumando para o saloon,

tentando imaginar um modo de se vingar

dela.

Quando John Spell entrou no xerifado,

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todo o seu nervosismo e sua preocupação

estavam espantadas em seu rosto. Stuart

Ford, o xerife, levantou os olhos para

encará-lo. Percebeu logo que havia alguma

coisa errada com ele.

— O que foi desta vez, John? — indagou

logo.

— A carroça com os novos suprimentos

para o meu armazém deveria ter chegado ao

anoitecer e ainda não apareceu, Stuart.

Estou com um mau pressentimento...

— Acalme-se, homem. Não acha que é

cedo para se preocupar com a carroça?

Muita coisa pode acontecer no caminho.

Uma roda quebrada iria atrasar...

— Era uma carroça nova, xerife,

reforçada, própria para cargas pesadas,

puxada por três parelhas de bons cavalos.

Não acho que esse tenha sido o problema.

— Está bem, pela manhã eu irei pela

trilha verificar se descubro algo. Até lá,

sugiro que espere. Elas podem aparecer a

qualquer momento, no meio da noite...

— Pela manhã? — explodiu John,

incapaz de conter por mais tempo sua

impaciência. — Pode ser tarde demais,

xerife, como o foi nas duas outras vezes.

— O que espera que eu faça, John? Que

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saia no meio da noite pela trilha,

procurando uma carroça?

— Pois é o mínimo que poderia fazer,

xerife. Reuna uma patrulha e vá atrás dessa

carroça, demônios! Aqueles homens podem

estar mortos agora.

— Você está exagerando, John. Não há

perigo nessa trilha, depois que o Exército

fez aquela limpeza. E tem mais, John —

falou o xerife, levantando-se da sua cadeira.

— Não preciso que você venha aqui me

dizer o que fazer. Se tem uma queixa,

registre-a e deixe que eu tome as

providências.

— Pois estou registrando a minha queixa,

xerife. Dois cidadãos podem estar mortos

neste momento, já pensou nisso?

— Pois você me dá novos motivos para

não fazer o que me pede. Já pensou

friamente no que pode ter acontecido?

Vamos imaginar que, apesar do trabalho

feito pelo Exército, um novo bando cruzou

novamente a fronteira e veio para cá. Sair

com uma patrulha à noite é o mesmo que

pedir para morrer.

— Não vá me dizer que também

acreditou na história contada pelos

militares?

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— E o que havia de errado com elas,

John? — indagou o xerife, olhando com

apreensão seu interlocutor.

— Nós já vimos homens mortos pelos

coioteros antes, xerife. Eles não matam

apenas e roubam. O desprezo deles pela

vida humana é muito maior. Eles mutilam,

marcam, deformam e escalpelam suas

vítimas. Meus cocheiros foram mortos por

homem branco, xerife. Homens brancos que

apenas encheram seus corpos de chumbo

para roubar a carga — devolveu John,

raivosamente.

— Está delirando, John, só pode ser isso.

Que homem branco teria interesse em

roubar uma carga como a sua?

— É o que estou lhe pedindo para

descobrir, xerife.

Stuart percebeu que não tinha mais

argumento para contestar o dono do

armazém. Só que, como responsável pela

lei, tinha de dar a palavra final.

— Ouça bem o que pretendo fazer, John

— disse, entredentes, encarando o outro. —

Amanhã cedo sairei com minha patrulha

para ver o que houve, se a carroça não

chegar até lá. Não pretendo arriscar vidas

por nada, saindo agora à noite.

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— É a sua decisão final?

— Sim.

— Então eu mesmo farei seu trabalho,

xerife —decidiu-se Spell.

— Está sendo precipitado, homem...

— Estou desesperado e à beira da

falência. Se perder mais uma carga estarei

perdido. Tenho de zelar pelo que é meu —

falou ele, contendo a indignação.

Deixou o xerifado apressadamente e foi

para casa. Rose percebeu, pela sua

expressão, o quanto ele estava exaltado.

Jamais vira seu pai naquela situação antes.

— O que pretende fazer, papai? —

indagou ela, surpresa por ver o velho abrir

um velho baú e retirar dali um Colt.

Examinou-o rapidamente, depois

carregou-o. Afivelou o cinturão nos quadris.

— Vou ao encontro daquela carroça! —

informou ele.

— É loucura, pai! Por que não espera

amanhecer? Se aconteceu alguma coisa aos

rapazes, não haverá como remediar isso...

— Se você pensa que ficarei aqui parado,

esperando para ver o que acontece, também

está enganada, Rose — disse ele, decidido.

— Por favor, filha, vá para casa de Susy e

fique por lá esta noite, até eu voltar.

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— Pelo menos leve alguém com você —

pediu ela.

— E quem se atreveria a sair comigo

agora, no meio da noite, à procura de uma

carroça na trilha? — indagou ele, antes de

abraçá-la rapidamente e deixar a casa.

Rose ficou angustiada, rezando para que

nada de ruim acontecesse a ele.

Enquanto John Spell selava seu cavalo

e saía na escuridão da noite, à procura de

sua carroça, o xerife se dirigia ao saloon,

onde procurou Steve Morgan, o manda

chuva.

Steve era um homem requintado, mas

sinistro em sua aparência geral. A ambição

era seu lema e ganhar dinheiro fácil era uma

de suas principais diversões.

— Precisamos conversar — disse o

xerife, encostando ao balcão.

Steve terminou de examinar o movimento

do amplo saloon, antes de se voltar para o

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homem da lei.

— Vamos até os fundos. Não quero que

bisbilhotem nossa conversa — disse,

conduzindo o xerife até os fundos do

saloon, onde havia um espaçoso escritório.

— Qual é o problema?

— Seus homens conseguiram interceptar

o novo carregamento para o armazém do

Spell?

— Sim, acabaram de chegar com a carga.

Por que pergunta?

— Spell esteve no xerifado, informando

me da demora na chegada da carroça. Pediu

que eu agisse, mas eu descartei a idéia, pelo

menos durante a noite. Ele resolveu ir

sozinho. Pedi-lhe que esperasse o

amanhecer, mas ele não concordou. Tive a

nítida impressão de que ele estava

desconfiado de alguma coisa.

— Como assim?

— Desconfiado do modo como os

cocheiros anteriores foram mortos. Segundo

ele, e nisso eu concordo também, os

coioteros não matam apenas. Apenas se dão

por satisfeitos depois de barbarizarem os

cadáveres.

O rosto de Steve demonstrou

contrariedade.

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— Isso era fatal acontecer. John Spell é

um homem experiente. Eu sabia que não

conseguiríamos enganá-lo por muito tempo.

Só que, agora, conseguimos nosso objetivo.

Ele deve estar preparando para vender seu

armazém.

— Ouvi dele mesmo que estaria falido,

caso a terceira carroça não chegasse.

— Foi o que pensei.

— Quando vai propor o negócio a ele?

— Amanhã mesmo.

Bateram na porta dos fundos. Quando o

xerife a abriu, um homem ainda coberto de

poeira entrou.

— Está terminado, Sr. Morgan. Já

descarregamos toda a mercadoria e

enterrarmos o pobre Joe. Há uma coisa que

me preocupa e que só vim a perceber depois

que chegamos aqui...

— O que foi, Harry?

— Bem, o problema é que não

encontramos o chapéu do Joe, quando

fomos enterrá-lo, ainda há pouco. Talvez

tenha caído em algum ponto da entrada,

mas talvez tenha caído quando ele levou o

tiro. Na hora nem me preocupei com esse

detalhe. Tratamos de transferir a carga para

as carroças e, depois, acomodar o corpo

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dele...

— Não vejo onde isso possa nos trazer

problema — observou o xerife, sem

entender a preocupação.

— Pois é, xerife, o problema é que o

chapéu de Joe é por demais conhecido na

cidade. Se for encontrado junto aos corpos

dos cocheiros, vão ligá-lo ao Joe, que

trabalha para mim, que trabalhamos todos

para o Sr. Morgan.

— Diabos! — comentou Steve Morgan,

contrariado. — John Spell está indo ao

encontro daqueles corpos agora mesmo. Se

encontrar aquele chapéu, vai desconfiar de

tudo e estaremos em apuros para explicar o

que aconteceu...

— Quer que eu dê um jeito nele, patrão?

— sugeriu Hank.

Steve olhou para o xerife, esperando

algum comentário.

— É a única coisa a ser feita agora, Steve

— aconselhou-o o xerife. — Tudo será mais

fácil com o velho fora do caminho,

inclusive negociar com a filha. Não acredito

que Rose vá querer tocar aquele armazém

cheio de dívidas.

— Está bem, vocês me convenceram.

Hank, vá no encalço do velho e mate-o —

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ordenou, secamente.

— Será feito, Sr. Morgan — afirmou

Hank Crawford, deixando o xerifado pela

porta que o ligava ao saloon.

Passou pelo balcão, onde conversou

rapidamente com alguns homens que

bebiam. Momentos mais tarde, um grupo de

cavaleiros deixava a cidade, tomando a

mesma direção que John Spell tomara

algum tempo antes.

Cavalgando com uma pequena dianteira

deles, o velho negociante percebeu que seus

ossos já não estavam mais habituados ao

balanço da sela. Diminuiu a marcha,

contendo sua impaciência.

Estava por demais preocupado com seus

homens e sua mercadoria, mas não o

bastante para não perceber o tropel de

cavalos que vinha atrás dele, aproximando-

se rapidamente.

Julgou que fosse o xerife com uma

patrulha, por isso, com alívio, parou e

esperou por eles.

— Olá, rapazes! — cumprimentou-os ele,

efusivamente. — Onde está o xerife? —

acrescentou, assim que o grupo de

cavaleiros o rodeou.

Hank começou a rir, seguido pelos

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outros. John Spell não entendeu o que

estava acontecendo.

— De que estão rindo, imbecis? Não

entendem que lá na frente, em algum ponto,

os condutores de minha carroça podem estar

mortos?

— Estão mortos, pode ter certeza disso

— falou, com um sorriso sádico nos lábios.

— Mortos? como assim?

— Os dois estão bem mortos, Sra. Spell.

Eu os matei pessoalmente.

— Você? Mas... Não entendo... Por quê?

— balbuciou o comerciante, todo confuso.

— Talvez o demônio em pessoa possa lhe

responder as perguntas, velho — falou

Hank, sacando sua arma e disparando

friamente diversas vezes.

Seus amigos o auxiliaram naquela

macabra tarefa. O corpo de John Spell foi

arrancado da sela e jogado na poeira,

coberto de sangue. Não satisfeito, pisoteou-

o com seu cavalo.

— Agora você deve estar convencido de

que foram os coioteros que mataram os

condutores, não? — comentou, com ironia.

— O que faremos com ele, Hank? —

Quis saber um dos homens.

— Amarrem uma corda nele e arrastem-

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no até junto da carroça. Deixem-no junto

com os outros cadáveres. Os abutres terão

comida para amanhã — ordenou ele, com

desprezo.

Ignorando totalmente o que havia

acontecido com seu pai, Rose conversava

nervosamente com Susy, que tentava

acalmá-la, sem muito sucesso.

— Vai ver os rapazes foram apanhados

pela chegada da noite e resolveram

acampar. A trilha não é muito segura à

noite. Com certeza seu pai vai encontrá-los

e todos estarão aqui amanhã cedo, você vai

ver — dizia Susy.

— Não sei, Susy. Tenho um estranho

pressentimento. Se ao menos o xerife

tivesse tomado uma providência...

— Acalme-se, Rose. Não há nada que

você possa fazer. Não queira ser mais

teimosa que seu pai — repreendeu-a

brandamente a amiga.

Rose caminhou de um lado para outro do

quarto, antes de ir até a janela e ficar

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olhando a escuridão lá fora. Sentia-se tensa,

pressionada.

— Talvez haja algo que eu possa fazer,

Susy — disse, de repente, com um brilho

nos olhos. — Você tem papel e um

envelope por aí?

— Sim, claro. O que pretende fazer?

— Vou escrever para o meu irmão, em

Abilene. Ele saberá como resolver tudo

isso.

— Acha que Johnny virá — indagou

Susy, com um suspiro de alento nos lábios.

— Sim, tenho absoluta certeza que ele

virá. É o único que poderá ajudar papai

agora.

— Mas o que Johnny poderá fazer de

concreto, Rose? Ele foi para lá estudar e...

— Ele é um homem, Susy, e os homens

têm habilidade para enfrentar esse tipo de

situação.

— Está bem. Vou apanhar o que você

precisa. A idéia de rever Johnny me agrada

muito, sabia?

— Você não conseguiu esquecê-lo, não?

— sorriu Rose, com cumplicidade.

— Não passávamos de crianças, quando

ele partiu, mas nunca pude esquecê-lo.

Deve estar um homem agora — comentou

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ela, com olhos sonhadores.

— Sim, dez anos é um longo tempo,

Susy. Eu também tenho saudades dele.

Johnny raramente responde minhas cartas...

— E o que ele faz agora? Continua

estudando?

— Não sei ao certo. Suas informações a

respeito disso sempre foram muito vagas.

Mas vá logo, pegue papel, envelope e lápis.

Ficarei muito tranqüilo ao saber que esta

carta seguirá na diligência de amanhã.

Na manhã seguinte, o xerife e uma

patrulha foram ao encontro do fato

consumado. Os corpos de John Spell e seus

dois empregados foram encontrados ao lado

da carroça vazia. A trilha tomada pelos

ladrões foi apagada pelos cascos dos

cavalos da patrulha e nada se pode apurar

sobre as mortes.

Durante o funeral de seu pai, Rose se

sentia desolada e revoltada pela forma

estúpida como ele morrera. Se tivesse

esperado o dia seguinte...

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Susy, sua melhor amiga, tentava em vão

consolá-la.

— Rose, já aconteceu e nada há que você

possa fazer que mudará isso...

— Eu sei, Susy, mas poderia ter tentado

impedí-lo. Ele era teimoso às vezes, eu sei

disso, mas não estava certo deixá-lo sair no

meio da noite ao encontro de bandoleiros.

Jamais poderei esquecer a maneira estúpida

como ele morreu.

Mais tarde, à saída do cemitério, o xerife

se aproximou dela, estendendo-lhe a mão.

— Sinto muito pelo que houve com seu

pai, Rose. Todos nós gostávamos dele, mas

ele era muito teimoso. Se tivesse me

escutado...

Rose olhou com desprezo para a mão

estendida em sua direção. Seu ódio não

podia ser medido por palavras. Jamais

poderia aceitar tamanha hipocrisia do

homem que deveria fazer cumprir a lei na

cidade.

— Bastardo covarde! — rugiu ela,

entredentes. — Jamais vou esquecer como

você recusou ajuda ao meu pai, quando ele

precisou. Você o deixou ir ao encontro da

morte, xerife e eu não o perdoarei por isso

enquanto viver.

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— Rose, seja sensata — pediu ele,

incomodado.

— Você fugiu ao seu dever como um

covarde que é. Deveria ter honrado essa

estrela de lata em seu peito...

— Espere aí, mocinha! — cortou-o ele.

— Não vou admitir que você...

— Ótimo, xerife, vá em frente! Nisso

você é muito bom mesmo. Ameaçar

mocinhas indefesas e prender bêbados

desmaiados é coisa que sabe fazer com

perfeição. Quando se trata, porém, de jogar

sua vida no cumprimento do dever, encontra

sempre uma boa desculpa...

As palavras da garota haviam sido

pronunciadas em voz alta, raivosamente.

Assim, muitas pessoas que se encontravam

por ali passaram a prestar atenção na

conversa.

Ao perceber aquilo, o homem da lei

resolveu se afastar, não sem antes grunhir

um palavrão em voa baixa para a garota.

Rose o humilhara diante de todos, por

isso jurou vingança. Aquela idiotazinha não

perdia por esperar, prometeu-se ele.

— Não devia ter dito aquilo daquela

forma, Rose — repreendeu-a Susy.

— Ele mereceu cada uma das palavras —

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afirmou Rose, enxugando os olhos, ainda

trêmula.

— Mesmo assim, você não pode se

esquecer que ele é o xerife da cidade.

— Xerife? para quê? Quando chega a

hora de agir de verdade ele faz corpo mole.

— Está bem, é difícil argumentar com

você, Rose. Vamos para casa, acho que o

melhor a fazer é descansar um pouco.

As duas garotas foram para a casa de

Rose. Ali, cercada de lembranças, ela

conseguiu chorar e desabafar todo o seu

sofrimento.

Susy deixou-a quieta, sozinha com suas

emoções, curtindo sua saudade. Rose

adormeceu. Quando acordou, mais tarde,

Susy levou-lhe um café quente.

— Tome, vai se sentir melhor — disse

ela.

Profundas olheiras marcavam os olhos de

Rose. A tristeza estampava-se em seu rosto.

Ela aceitou o café. Tomou em pequenos

goles, sempre pensativa.

— O que pretende fazer agora, Rose?

— Ainda não sei, Susy. Está tudo tão

confuso em minha cabeça, depois do que

aconteceu.

— Acho que deveria vender o armazém e

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ir embora daqui, se é que posso lhe dar esse

conselho. Vou sentir sua falta, mas aqui

sempre terá lembranças que irão magoá-la.

— Ir para onde, Susy? — indagou ela,

pateticamente.

— Não sei... Talvez ao encontro de

Johnny...

Rose pensou por instantes, depois

balançou a cabeça num movimento

negativo.

— Não, eu jamais poderia fazer isso.

Papai não me perdoaria se eu fugisse sem

ter visto a justiça ser feita. Eu preciso ficar,

Susy. Eu vou ficar. Não posso me

conformar com o que aconteceu. Estive

pensando em tudo que houve. Não pode ter

sido apenas coincidência o fato de três

carroças terem sido assaltadas

seguidamente. Deve haver alguma coisa por

trás disso tudo.

— Como assim? — estranhou Susy.

— Lembra-se do que meu pai dizia? Ele

nunca aceitou a hipótese de ter sido roubado

pelos índios.

— E quando pode se certificar disso, não

viveu para contar — observou tragicamente

a amiga.

— Sim, e isso é terrível. Já não sei mais o

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que pensar. O melhor talvez seja esperar

pela chegada de Johnny. Ele saberá o que

fazer, tenho certeza disso.

— Enquanto isso, se você quiser, poderá

ficar morando em minha casa. Acho que vai

se sentir melhor lá...

— Não, Susy, querida! Vou ficar aqui.

Agradeço sua oferta, mas esperarei pelo seu

irmão aqui mesmo.

— Então está resolvido. Eu virei morar

com você, pelo menos até a chegada de

Johnny. Está bem assim?

Rose sorriu e abraçou a amiga.

— Mais uma vez eu fico grata a você,

Susy. É a melhor amiga que tenho.

Após haver sido destratado por Rose, o

xerife rumou direto para o saloon, onde

tomou um gole para acalmar-se. Morgan o

viu e percebeu que havia alguma coisa

errada na expressão do rosto do comparsa.

— O que houve, xerife? Nunca o vi

bebendo neste horário —observou ele.

— Aquela maldita garota me humilhou

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diante de todo mundo, lá no cemitério...

— Calme-se, isso não importa. O que ela

significa? nada. Nossos planos são mais

importantes...

— Pois isto é o que você vem me dizendo

todo o tempo. Até agora ainda não sei quais

são esses planos. Concordarei em ajudá-lo

porque me prometeu muito dinheiro, mas

até agora não vi nada...

— Tenha paciência. Tudo estará bem,

quando eu comprar o armazém da garota.

— Por que não deixa de mistérios e me

conta logo quais são esses planos tão

misteriosos e lucrativos?

— Está bem, vou satisfazer a sua

curiosidade. Venha comigo até meu

escritório — convidou o dono do saloon.

O xerife o seguiu até lá. Morgan pôs

sobre a mesa uma garrafa de seu melhor

uísque e dois copos. Serviu-os e beberam

juntos.

— Muito bem, Morgan, qual é seu plano?

— A idéia é vender armas aos coioteros,

aos bandoleiros mexicanos ou qualquer

outro bando que nos pague o melhor preço.

Além de armas, vamos vender também

munição e uísque. O que me diz?

— Está maluco! Vamos dar armas para

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essa gente nos atacar?

— O que vale é isto aqui, Stuart — disse

Steve Morgan, abrindo uma gaveta e

retirando dali uma pepita de ouro.

Estendeu-a para que o xerife a

examinasse. Seus olhos brilharam

imediatamente de cobiça.

— Onde conseguiu esta?

— De um chefe de um desses bandos.

Veio ao saloon, certa madrugada, propor-

me negócio. Estão cheios de ouro, só que

não conseguem gastá-lo, pois estão sendo

perseguidos aqui e no México.

— Estou começando a entender — falou

o xerife. — Mas por que precisa do

armazém?

— Desde que o Exército interveio nesta

região, tem havido um controle muito

rigoroso do transporte de armas. Eu poderei

trazer quantas desejar, ocultas sob a carga

das carroças de suprimentos. Entendeu

agora?

— Sim, claro! Muito esperto!

— E tem mais. Quando estourar uma

guerra contra os bandoleiros novamente, eu

terei um estoque de mercadorias para

vender por cinco vezes o preço normal, já

que haverá escassez.

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— E não será molestado pelos bandos?

— Faz parte de nosso acordo. Nenhuma

de minhas carroças será atacada, enquanto

eu lhes fornecer armas, munição e bebidas.

— Muito engenhoso. Acha que vai

conseguir convencer a garota a vender-lhe o

armazém?

— Estou certo disso.

— E se ela se recusar?

— Mandarei alguns homens assustarem-

na um pouco.

— Mas lembre-se: Nada que me obrigue

a intervir.

— Não se preocupe. Isso será feito com a

maior discrição — garantiu Morgan.

— E quando falará com ela?

— Hoje mesmo. Penso que este é o

melhor momento para convencê-la —

assegurou o dono do saloon.

Steve Morgan passou pelo armazém e,

encontrando-o fechado, foi procurar Rose

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na casa dela. Susy o atendeu, intrigada com

a inesperada visita.

— Preciso falar com a Rose — pediu

Steve Morgan.

Susy sentiu calafrios olhando aquele

homem sinistro, vestido tão formalmente.

Convidou-o para entrar, depois foi avisar a

amiga.

— Rose ficou tão intrigada quanto ela a

respeito da visita dele.

— Primeiramente, sinto muito pelo que

houve com seu pai, Rose. Foi uma perda

irreparável. Se houver alguma coisa que eu

possa fazer por você, por favor, não hesite

em me procurar — pediu ele, cheio de

gentileza.

— Está tudo bem, Sra. Morgan. Eu

agradeço a sua oferta. Mas o que o traz

aqui?

— Estive pensando no assunto, Rose.

Acredito que vai ser difícil para você cuidar

sozinha do armazém, agora que seu pai se

foi...

— Talvez tenha razão, mas não vejo

como não possa dar conta de tudo sozinha

— falou ela, corajosamente.

— Admiro sua coragem, Rose, mas

penso que não será tão fácil assim. Sei que

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seu pai estava endividado e, com o roubo

das carroças, o prejuízo aumentou...

— Onde quer chegar, Sr. Morgan?

— Vou ser franco com você, Rose. Se

fixar um preço justo, estou disposto a

comprar seu armazém.

— Está me fazendo uma oferta?

— Sim, abra o preço.

Rose ia responder, mas calou-se,

lembrando-se do que seu pai dissera

naquela tarde, antes de morrer, a respeito da

maneira como Steve Morgan olhava para o

armazém.

Era algo que ela não entendera no

momento, mas que começava a ter sentido

naquele instante.

Inegavelmente, Steve Morgan estava

interessado naquele armazém. Rose não

conseguia entender o motivo, já que o ramo

dele era o saloon.

— Sinceramente, Sr. Morgan, eu não

tinha pensado em vender a propriedade...

— Por favor, não se apresse. Terá todo o

tempo necessário para refletir sobre o

assunto, só que rogo-lhe que me dê uma

resposta definitiva o mais depressa possível.

— Está bem, tem a minha promessa. Não

vou lhe garantir que venderei ou não

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venderei. Esperarei a chegada de meu irmão

para lhe dar uma resposta definitiva.

— Seu irmão? — estranhou o outro.

— Sim, eu lhe escrevi, pedindo que

viesse. Parte do armazém é dele, não seria

honesto vendê-la sem consultá-lo.

— Está bem, Rose. Eu aguardarei.

Quando se decidir, sabe onde me encontrar.

— Sim, eu sei, Sr. Morgan. Obrigada por

se preocupar comigo! — finalizou ela,

despedindo-se.

Após a saída dele, Susy olhou para a

amiga com uma expressão pensativa.

— Está pensando o mesmo que eu, Rose?

— indagou.

— Estranho este repentino interesse, não?

— Sim, muito estranho. Que interesse

teria ele em comprar o armazém?

— Não faço a menor idéia, Susy. Ele

pode estar sendo muito gentil e sincero de

verdade ou pode estar escondendo algo...

— Apesar de tão distinto, eu sinto

calafrios quando vejo esse homem.

— Confesso que também não me sinto

muito à vontade na presença dele. —

reconheceu Rose.

Após deixar a casa da garota, Steve

retornou ao saloon, onde encontrou o xerife

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a sua espera, ansioso para saber as notícias a

respeito da visita.

— E então, o que conseguiu? — indagou

logo.

— Nada feito, por enquanto.

— O que houve?

— Rose está esperando a chegada de seu

irmão, que é dono de metade de tudo. O que

você sabe sobre ele?

— Sobre Johnny Spell? eu me lembro

dele vagamente. Era um rapazola ainda,

quando deixou a cidade e foi para Abilene

estudar, pelo que me lembro. Nunca mais

tive noticias dele.

Steve pensou por instantes.

— Acho que posso usar isso para

convencer a garota a vender logo o

armazém — disse ele.

— O que tem em mente?

— Mandarei um comitê de recepção ao

encontro dele.

— Por que se incomodar tanto? Não seria

mais fácil montar um estabelecimento

concorrente simplesmente?

— Essa é uma alternativa que estou

deixando de reserva. Rose tem um bom

estoque ainda e posso comprá-lo por um

preço baixo. Além disso, não adianta ter

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pressa. Preciso de tempo para reunir as

armas junto aos meus fornecedores em San

Antônio.

— Entendo. Se vai agir desta forma,

mande seus homens esperarem no posto de

trocas da Curva do Homem Morto, na trilha

que vem de San Antônio. Qualquer homem

a cavalo ou outro meio de transporte acaba

parando ali.

— Deixarei que Hank cuide disso para

mim. Ele escolherá alguns homens para

fazerem o serviço.

Após cinco horas de mais uma etapa da

estafante viagem, a diligência que vinha de

San Antônio parou no posto de trocas,

envolta numa nuvem de poeira.

Os dois passageiros espanaram as roupas,

ainda no interior do veiculo.

— Como se sente, Johnny? — indagou o

homem diante dele, levantando o chapéu de

sobre os olhos para olhá-lo.

— Estou moído, meus ossos estão todos

fora do lugar. Os solavancos desta maldita

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diligência estão me matando — reclamou

ele.

— Eu lhe disse que deveríamos ter vindo

a cavalo — opinou o texano alto, cujo nome

era Sam Harrison.

— Isso destoaria da imagem que

pretendia mostrar ao voltar a minha cidade

— argumentou Johnny. — Eu queria voltar

como um vencedor.

— Está conseguindo, pelo estado de suas

roupas — ironizou Sam. — Por que não

descemos para esticar um pouco as canelas

e tomar um trago? Estou com a garganta

seca e cheia de poeira.

Os dois desceram da diligência,

terminando de espanar as roupas. Sam

entrou no posto à frente de Johnny. Quando

este entrou no recinto, sonoras gargalhadas

partiram de uma das mesas, ocupada por

três elementos mal-encarados, que pareciam

se divertir muito com as roupas que o rapaz

vestia.

— Acho que estão rindo de você —

zombou Sam, encostando ao balcão,

saboreando um uísque.

— Será? — duvidou Johnny. — Não vejo

por que...

Os homens apontavam para ele e riam

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ainda mais alto, irritando-o. O rapaz foi ao

encontro deles.

— De que estão rindo, idiotas? —

indagou, sério.

Sam, divertido, tomava seu segundo

uísque, mas seus olhos frios e penetrantes

acompanhavam a cena atentamente. A mão

esquerda segurava o copo. A destra pendia

ao lado do Colt de modo aparentemente

displicente.

— Estamos rindo de suas roupas, seu

janota — respondeu um dos homens,

ironicamente.

— O que há de errado com elas?

— Nada — respondeu o mesmo homem,

levantando-se e alisando as costuras do

elegante terno que Johnny vestia.

Quando, porém, o desconhecido levantou

a mão para tocar o chapéu coco, Johnny

segurou-o pelo pulso e, inesperadamente,

empurrou-o para trás.

Os outros dois homens se levantaram da

mesa imediatamente. O estalido seco de um

gatilho os fez olhar na direção do balcão,

onde um Colt os encarava.

— Por que vocês dois não se sentam,

ficam calminhos e deixam os dois

resolverem sozinhos a questão? — indagou

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Sam, levando o copo aos lábios, em mover

um músculo do rosto.

Sem outra alternativa, os dois pistoleiros

obedeceram, sentando-se calmamente.

— Ouça bem o que eu vou lhe dizer,

forasteiro — falou o terceiro pistoleiro. —

Qualquer homem que usa esse tipo de roupa

não merece ser chamado tratado como tal.

Johnny desabotoou seu paletó. Um par de

reluzentes Colts, com cabos de

madrepérola, pendiam de seus quadris.

— Talvez tenha razão, estranho, mas

estou com pouco me danando para o que

você pensa — falou Johnny, calma e

ameaçadoramente. — Só que ainda prefiro

esta minha roupa. Pelo menos não fede

como essa que você está usando. Na

verdade, já vi cavalos mais perfumados que

você.

Uma careta de desprezo desenhou-se no

rosto do pistoleiro.

— Você está me provocando?

— Não, estou apenas elogiando você...

— Está bem, forasteiro. Vou lhe dar uma

chance. Sabe com quem está falando?

— Com um imbecil fedido que tem a

boca grande demais.

O outro empalideceu.

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— Sou Billy Prescott e não admito que

alguém me desafie dessa forma — falou ele,

com voz lúgubre.

— Quer um conselho, Billy Prescott? Vá

até aquele bebedouro lá fora e tome um

banho. Vai se sentir mais humano depois

disso — zombou Johnny, virando-lhe as

costas e começando a caminhar para o

balcão.

Tudo se passou numa fração de segundos.

Billy levou a mão ao seu revolver, mas

Johnny parecia esperar aquele movimento.

Girou o corpo com espantosa rapidez. Suas

armas surgiram em suas mãos como num

passe de mágica.

— Não atire! Minha arma ainda está no

coldre — gritou Billy, levantando

covardemente os braços.

Por um triz Johnny não o acertou. Olhou-

o com desprezo. Detestava covardes.

Estendeu, então, uma das mãos e retirou o

revolver do coldre de Billy, jogando-o pela

janela.

Novamente virou-lhe as costas para

caminhar para o balcão. Billy apanhou a

garrafa sobre a mesa e avançou sobre ele. O

rapaz desviou-se e sua bota atingiu o joelho

do seu agressor, derrubando-o no assoalho.

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— Só há um modo de tratar covardes

como você, Billy Prescott — falou Johnny,

aproximando-se do homem ajoelhado a sua

frente.

Sua bota atingiu o rosto dele, jogando

para trás. Depois ele se inclinou, agarrando-

o pelos colarinhos e erguendo-o. Seus

punhos martelaram impiedosamente o rosto

de Billy, sem que este esboçasse a menor

reação.

— Agora suma de minha frente ou eu o

matarei como uma cobra nojenta —

ordenou Johnny, chutando-o na direção da

porta.

Billy praticamente se arrastou para fora

do local. Seus dois amigos o seguiram,

sempre de olho na arma que Sam lhes

apontava.

— Você lhe deu uma boa lição, parceiro,

mas aceite o meu conselho. Trate de pôr

outro tipo de roupa. Esse terno vai estar

imprestável ao fim da viagem e você terá de

quebrar cabeças daqui até San Juan.

— Estou começando a pensar que você

tem razão, maldição! Um homem não pode

ser elegante nesta terra esquecida de Deus?

— Pode, mas tem que pensar também na

poeira, nos gozadores e numa porção de

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outras coisas.

— Está bem, você me convenceu.

Johnny foi até as bancas que havia num

dos cantos do posto de trocas e escolheu

algumas roupas mais adequadas para a

região, depois tratou de vesti-las.

— E então, como estou agora? —

indagou a Sam.

— Muito melhor. Agora que resolveu

modificar sua imagem, por que não

compremos dois cavalos e seguimos a

viagem montados. Vamos ganhar tempo e a

sela sempre é mais confortável que aquele

banco da diligência.

— Demônios! Desde o principio você

estava certo, Sam. Eu estava errado,

pensando que poderia impressionar as

pessoas de minha cidade, chegando de

diligência e com aquelas roupas elegantes,

mas ridículas para eles.

Sam riu daquela afirmação e os dois

decidiram, então, comprar os cavalos, mas

não havia nenhum a venda.

— Diabos! Vamos enfrentar o resto da

viagem com a diligência mesmo —

conformou-se Sam.

Após tomarem alguns goles, retornaram

para a diligencia, que estava de partida.

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Quando saíram do posto de trocas, no

entanto, dois laços inesperados caíram sobre

eles, prendendo-os.

— O que está havendo? — indagou

Johnny, surpreso.

— Acho que Billy Prescott não se

convenceu após a lição que teve —

observou Sam.

— Vou lhe dar uma lição que jamais

esquecerão — falou Billy, brandindo um

chicote.

Johnny e Sam se debateram, procurando

se livrar dos laços, mas os homens nos

cavalos arrancaram, fazendo-os cair na

poeira. Foram arrastados por alguns metros.

— Aí está bom, rapazes — falou Billy a

seus amigos — Fiquem atentos! Vou tomar-

lhes as armas.

Os dois homens nos cavalos afrouxaram

os laços, mas sacaram suas armas,

mantendo Sam e Johnny sob a mira delas.

Billy se aproximou com cuidado, sempre

brandindo o chicote.

— Se vocês fizerem um movimento,

serão mortos por meus amigos — falou

Billy.

— Ouça meu conselho, Billy — falou

Sam, num tom ameaçador. — Já errou

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permanecendo aqui. Mesmo assim, estou

disposto a lhe dar uma chance. Se recusar,

será morto, juntamente com seus amigos.

— Você não está em condições de me

ameaçar — falou Billy, começando a

gargalhar.

Seu rosto ferido era uma máscara

grotesca que se tornou pior, quando o riso

morreu-lhe nos lábios. Sam havia sacado

sua arma e disparado contra ele. Sua testa

estalou e seu chapéu voou para o alto,

recheado de ossos, miolos e cabelos.

Ele tombou para trás, enquanto Johnny

girava o corpo no chão, sacando as armas e

disparando contra os homens a cavalo, que

nem chegaram a entender o que estava

acontecendo.

Os pesados projéteis dos quarenta e cinco

os atingiram no peito, jogando-os fora da

sela. Ficaram estrebuchando na poeira,

enquanto os dois se levantavam e

espanavam as roupas.

— Esta foi por pouco — comentou Sam.

— Eles não tinham chance. Morreram

como imbecis que eram.

— Ainda bem. São três idiotas a menos

na face da terra...

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Rose estava só no armazém, tendo em

suas mãos um telegrama de Johnny,

comunicando que estava a caminho. Ela

torcia para que ele chegasse na diligência

que passaria por San Juan ao anoitecer. A

todo momento ia até a janela observar se ela

estava chegando. Estava ansiosa para rever

o irmão.

Estava muito preocupada com os

negócios também. Os estoques de provisões

estavam no fim. Além disso, havia algumas

dívidas a serem pagas. Confiava que Johnny

pudesse solucionar tudo aquilo.

Levantou a cabeça ao ouvir passos.

— O que quer aqui? — indagou ela,

rispidamente, a Laramie, que acabara de

entrar.

— É assim que recebe seus fregueses?

— Duvido que você queira comprar

alguma coisa...

— Só saberá se me deixar olhar por aí.

Tenho o direito de fazer isso.

— Não venha me aborrecer, Laramie.

Posso perder a cabeça com você...

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— E daí, o que acontecerá?

Rose nada respondeu. Apenas tateou a

mão sob o balcão e trouxe uma Overland de

dois canos engatilhada. Apontou-a na

direção de Laramie, que sorriu

nervosamente.

— Calma, garota! Cuidado com esse

canhão aí! Eu só queria comprar um

chapéu...

— Naquela prateleira encontrará o que

precisa, mas tem apenas um minuto para

fazer isso. Escolha seu chapéu pague e vá

embora ou começarei a atirar.

— Está bem — concordou Laramie, indo

até lá e escolhendo um dos chapéus mais

caros.

— Quer levar esse?

— Sim, quanto é?

— Doze dólares.

— Bom, muito bem. Um pouco caro, mas

vou aceitar assim mesmo — disse ele,

pondo o chapéu na cabeça.

— Que história é essa? — rugiu ela,

furiosa.

— É isso mesmo, querida. Você acaba de

me presentear com este belo chapéu.

— Está ficando maluco, só pode ser isso

— disse ela, fora de si. — Ponha isso de

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volta e dê o fora daqui imediatamente —

ordenou em seguida, contornando o balcão

e caminhando direto para ele.

Quando ia retirar o chapéu da cabeça

dele, Laramie a agarrou pelo pulso e a fez

girar, puxando-a para si. Enlaçou-a por trás,

segurando a arma que ela trazia na mão.

— Vamos, confesse — murmurou ele, os

lábios próximos do ouvido dela. — Está

apaixonada por mim, não está? — insinuou

ele, mantendo-a presa.

— Vou matá-lo quando me soltar...

— Só se me der um beijinho primeiro.

— Vai se arrepender quando meu irmão

chegar...

— Seu irmão nunca chegará — afirmou

ele, com ironia.

— Espero que possa repetir isso hoje à

tarde, quando a diligência passar por aqui...

O rosto dele ficou sério.

— Ele está chegando mesmo? Será? —

ironizou, tomando-lhe a arma e

empurrando-a.

Retirou os cartuchos da espingarda,

depois jogou-o para um canto. Tirou o

chapéu e arremessou-o na direção da garota.

— Fique com ele! Não gostei mesmo da

cor — afirmou, passando por ela e

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caminhando para a porta.

— Você vai me pagar — murmurou ela,

entredentes.

Laramie foi até o saloon tomar um

drinque, aproveitando para contar a Steve

Morgan o que acabara de ouvir de Rose, a

respeito da vinda do irmão dela.

— Não é nenhuma novidade, mas não o

esperava tão cedo assim — comentou o

dono do saloon.

— Precisa de mim para alguma coisa? Eu

poderia cuidar desse irmãozinho, caso ele

seja algum problema.

— Não, não se preocupe com ele. Hank

selecionou alguns homens. Está mandando

Allan e sua equipe ao encontro do rapaz.

Quanto a você, prefiro que fique por aqui.

Talvez precise de seus serviços para

convencer a garota.

— Quando quiser, patrão — afirmou o

pistoleiro.

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— E faça-me outra coisa. Procure Allan,

antes que ele parta, dando-lhe instruções

precisas. Reforce o que Hank deve ter dito.

Não admitirei falhas e não quero

testemunhas em hipótese alguma,

compreendeu?

— Certo, eu transmito o recado. Mas

como eles irão reconhecer o irmão da garota

na diligência?

— Não precisa. Basta que matem todos,

inclusive os cavalos. Não quero mesmo

nenhuma espécie de testemunha.

— Agora tudo está muito claro, patrão.

Vou fazer isso agora mesmo — disse

Laramie, saindo à procura de Allan Corby e

sua equipe de pistoleiros.

Algumas horas mais tarde, quando a

diligencia já havia tomado a trilha para San

Juan, Johnny acordou com um solavanco

maior, aprumando o corpo no assento.

Olhou a paisagem lá fora, tentando se

situar.

— Ainda falta muito? — indagou Sam.

— Não sei ao certo —respondeu Johnny,

pondo a cabeça para fora da janela para

olhar. — Faz muito tempo que fui embora.

Além do mais, estas planícies são todas tão

iguais...

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— Pois eu daria tudo isso para estar no

lombo de um cavalo agora, cavalgando lá

fora, ao invés de estar aqui,

desconjuntando-me todo — falou Sam.

Johnny riu, voltando a deitar-se no seu

assento. Eram os únicos passageiros da

diligência.

— Desculpem-me havê-lo forçado a isso,

Sam. É que eu sempre imaginei voltar em

grande estilo, sabe como é? Quando saí de

lá era apenas um rapazola...

— Eu sei como você se sente, mas uma

roupa bonita não vai provar nada. Você é o

que é e pronto.

— Não é bem assim. Um pouco de

charme faz bem à vaidade, não acha? E tem

mais. Quando estivermos chegando, vou

recolocar o meu terno.

— Vão rir de você novamente. Talvez

tenha que brigar de novo para provar sua

elegância — ironizou Sam.

— Pois estarei pronto para tapar a boca

de quem fizer isso — respondeu o rapaz,

erguendo o punho fechado.

— Prepare-se para brigar com a cidade

inteira — riu Sam, cujo olhar estava atento

a alguma coisa que se passava lá fora.

— Algum problema, Sam? — indagou

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Johnny.

— Não, nada. Você me disse que na carta

de sua irmã havia referência aos coioteros,

não?

— Sim, e daí?

— Já lutei com os coioteros antes. Este é

o tipo de terreno que não os agrada.

Geralmente preferem locais menos abertos,

onde podem se abrigar e atacar de

emboscada, aos bandos. São como coiotes,

avançando inesperadamente, surgindo do

nada e fugindo rapidamente.

Johnny levantou-se novamente para se

sentar junto da janela e olhar a imensidão da

planície.

— Rose mencionou que meu pai estava

desconfiado desses ataques. Acho mesmo

que ele suspeitava que não eram coioteros.

— É um caso para se pensar, meu amigo.

Ouvi dizer que o Exército esteve na região,

espantando os bandos de saqueadores que

havia por aqui. Precisaria saber mais sobre

o que houve realmente para poder fazer um

julgamento correto.

— isso dá o que pensar.

Naquele momento, a diligência começou

a diminuir a marcha. Sam olhou pela janela

e viu a tosca construção de mais um posto

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de mudas, onde os cavalos seriam trocados

por outros, descansados.

— Curva do Homem Morto! —

comentou Johnny, lembrando-se daquele

local.

Inesperadamente, o cocheiro freou a

diligência.

— Algum problema, cocheiro — indagou

Sam, com metade do corpo para fora da

janela.

— Não sei, amigo. Está tudo muito

quieto lá na frente. Não vejo ninguém a

nossa espera.

Os dois amigos trocaram olhares tensos.

— Vejam, há um grupo de homens

saindo do posto — avisou o guarda.

— Acha que poderemos ter problemas?

— perguntou Sam.

— Não sei, mas esta região tem sido

perigosa ultimamente. Não tivemos

problemas, mas carroças com mercadorias

são assaltadas e gente morre por aqui.

— Ok, vá em frente com cautela.

estaremos alertas aqui dentro,

Vagarosamente a diligência se moveu até

parar diante do posto de trocas. O pessoal

que normalmente correria providenciar a

substituição dos cavalos não apareceu.

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Apenas aqueles homens mal-encarados,

cobertos de poeira e de olhares sinistros.

— Pode nos ajudar? — indagou um

deles. — Temos um amigo nosso lá dentro.

Ele caiu do cavalo e quebrou a perna. Não

temos como levá-lo para a cidade sem

causar maiores danos.

— Está bem, vamos ver o que se pode

fazer. Onde está ele?

— Lá dentro sobre o balcão.

— E o pessoal do posto?

— Cuidando dele.

O cocheiro começou a descer lentamente,

enquanto o guarda que viajava ao seu ledo

da boléia ficava atento, com a Overland

pronta em sua mão.

— São os únicos passageiros? — indagou

o homem a Sam, que descia, juntamente

com Johnny.

— Sim — respondeu o cocheiro,

avançando na direção da porta.

Quando se aproximava, um rifle ergueu-

se e o cano foi apontado diretamente para

seu rosto. O tiro à queima-roupa o jogou de

costas, sob os cavalos, com o crânio

arrebentado.

O guarda tentou engatilhar sua

espingarda, mas foi derrubado de seu posto

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por uma saraivada de balas

Johnny e Sam estavam preparados para a

encrenca. Assim que perceberam a intenção

dos pistoleiros, atiraram-se ao chão, rolando

na poeira, buscando abrigo.

— Acertem aqueles dois! — ordenou

Allan Corby, de arma em punho, disparando

também.

As balas que foram cuspidas pelo

revólver de Johnny, porém calaram

definitivamente a boca de Allan, que foi

atirado para dentro do posto de trocas.

Com seu Colt fumegando e cuspindo

labaredas e fumaça, Sam acertou os outros

pistoleiros, que se amontoaram,

estrebuchando, na poeira.

A reação dos dois havia sido inesperada.

A pontaria infalível e a rapidez no gatilho

surpreenderam mortalmente os pistoleiros.

— Que diabos significou tudo isso? —

indagou Sam, quando tudo se acalmou.

— Sei tanto quanto você, Sam. Pelo que

eu vi, nada havia de valioso na diligência,

nenhum carregamento importante.

— Estranho! Estes homens sabiam

exatamente o que estavam fazendo. Vá dar

uma olhada no cocheiro e no guarda. Verei

se sobrou alguma coisa dos pistoleiros.

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Johnny foi ver os dois condutores da

diligência. Estavam ambos mortos.

— Nenhum sobreviveu, Sam —

informou.

— Há um deles com vida ainda — avisou

Sam.

Levaram o ferido e o encostaram a uma

das rodas da diligência. O homem tinha um

enorme buraco no peito, por onde o sangue

minava incessante.

— Que diabos são vocês? Por que

fizeram isso? — indagou-lhe Sam.

— Socorro... Estou morrendo... Preciso

de um médico... — gemeu o pistoleiro,

tentando estancar o sangue com as mãos.

— Não sou conhecido pela minha

paciência, homem, por isso é melhor ir

falando logo o que sabe — ameaçou Sam,

sacando de uma faca de sua boca e

espetando a ponta numa das narinas do

ferido.

— Por favor... Eu não sei de nada... —

balbuciou o outro, cuja vida se esvaía com

rapidez.

— Qual o motivo do assalto? O que

pretendiam com ele? Vamos fale! —

insistiu Sam.

— Matar... Matar Johnny Spell...

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Os dois amigos se entreolharam,

surpresos.

— Por que queriam me matar? —

indagou Johnny, agarrando-o pelo colarinho

da camisa.

— Ordens... Recebemos ordens...

— De quem? Vamos, vamos! Fale logo,

seu bastardo! Fale ou o matarei com minhas

próprias mãos — ordenou Johnny,

agitando-o como um possesso.

Sam pôs a mão no ombro do amigo,

detendo-o. Johnny olhou-o sem entender.

— Agora é inútil, Johnny. ele já está

morto.

— Diabos! — praguejou o rapaz,

atirando o corpo inanimado na poeira.

levantou-se pensativo.

— Por quê? — indagou-se ele. — Não

posso entender... Só Rose sabia da minha

vinda. Por que alguém desejaria me matar?

— Estou tão intrigado quanto você,

parceiro, mas posso lhe garantir que

estamos indo na direção de encrencas da

grossa.

— O que faremos com eles? — indagou

o rapaz, apontando os cadáveres.

— O cocheiro e o guarda devem ir para a

cidade. Quanto aos pistoleiros, deveríamos

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deixá-los para os abutres, mas tenho um

palpite melhor. Penso que descobriremos

algo se levarmos seus corpos para a cidade.

O que me diz?

— Boa idéia, Sam! Eles devem trabalhar

para alguém. Será muito interessante

descobrir quem era o patrão deles —

concordou Johnny.

Os dois amigos, então, trataram de

carregar a diligência com os cadáveres. As

pessoas que cuidavam do posto de troca

estavam vivas, presas em um aposento e se

mostraram muito agradecidos quando foram

libertadas.

Pela maneira como os pistoleiros agiram,

seriam lógico que nenhum deles escaparia

com vida daquele aposento.

Sam assumiu as rédeas da diligência,

pouco mais tarde e, com sua macabra carga,

tomaram a direção de San Juan, numa

viagem sem mais paradas.

Ao entardecer chegaram à cidade,

parando diante do xerifado. Stuart Ford

estava à porta e olhou intrigado para os dois

ocupantes da boléia.

— Algum problema, rapazes? O que

houve com Simon e Cameron? — indagou.

— É o xerife? — indagou-lhe Sam.

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— É o que diz esta estrela — respondeu

Stuart.

— O cocheiro e o guarda está aí dentro,

juntamente com os homens que os mataram.

— O quê? — surpreendeu-se o homem

da lei, indo abrir a porta.

Esperava que ali dentro estivessem os

corpos dos condutores e de Johnny Spell.

Com surpresa, no entanto, percebeu que

Allan Corby e seus amigos acompanhavam

os empregados da diligência.

— Você os conhece? — quis saber Sam.

— Sim, estão sempre por aí. Eram um

bando de imprestáveis e beberrões...

— Sabe para quem trabalhavam?

Stuart pensou, antes de responder à

pergunta.

— Não, não trabalhavam para ninguém

em particular — mentiu ele. — Pelo que

sei, viviam de biscates. Não eram boa gente.

O acontecimento já havia atraído uma

pequena multidão, que observava com

interesse a macabra carga da diligência.

Steve Morgan havia se aproximado

também, atraído pelo ajuntamento.

— O que houve, xerife? — indagou ele,

satisfeito, imaginando que o seu plano fora

bem sucedido e que Johnny estava morto.

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— Esses homens foram mortos...

Morgan já havia se debruçado na janela.

— Diabos! É Allan Corby e seus amigos!

— exclamou, empalidecendo e recuando.

Sam e John notaram aquela reação

imediatamente.

— Sabe para quem eles trabalhavam? —

questionou-o Sam.

havia muita gente ao redor que sabia

perfeitamente que Allan e seus homens

trabalhavam para Steve Morgan. O dono do

saloon percebeu que mentir não seria uma

boa política naquele momento, por isso

tratou de pensar rápido e inventar uma boa

história para se justificar.

— Trabalhavam para mim até esta

manhã. Eu os despedi porque não prestavam

— disse.

— É verdade, eu os vi saindo da cidade

— disse Hank.

Johnny e Sam se entreolharam. Ambos

desejariam saber por que aqueles homens

tinham interesse na morte do primeiro. A

resposta teria de esperar um pouco, no

entanto.

— E vocês, quem são? — perguntou-lhes

o xerife.

— Éramos passageiros — respondeu

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Sam.

— Sim, não tivemos escolha. Eles

iniciaram o tiroteio, matando o guarda e o

cocheiro. A família que cuida do posto de

troca na Curva do Homem morto

comprovará nossa história.

Um murmúrio percorria a multidão.

Todos conheciam Allan Corby e sua equipe.

Sabiam que eram bons no gatilho e que

dificilmente seriam batidos por apenas dois

homens.

O xerife olhou para Morgan. Havia

incredulidade nos olhares de ambos.

— Está tentando me dizer que vocês dois

sozinhos mataram meia dúzia dos piores

pistoleiros da região? — questionou o

xerife, num tom zombeteiro.

— Eles estão mortos e nós estamos vivos.

Isto prova alguma coisa, não? — devolveu

Sam, com ironia.

— Vou precisar que me contem essa

história com maiores detalhes —

determinou o homem da lei.

— Amanhã cedo, xerife. Eu e meu amigo

estamos muito cansados para falar —

descartou Sam.

— Vão ficar na cidade por muito tempo?

— O bastante para resolvermos nossos

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assuntos.

— Está bem, compareçam amanhã cedo

no xerifado. Vou precisar de seus nomes

agora.

— Amanhã, xerife — descartou

novamente Sam, empurrando Johnny para

fora dali.

Apanharam suas bagagens e se afastaram.

— É bom que ninguém tenha certeza a

respeito de quem você é, meu amigo. Se

tentaram matá-lo uma vez, vão tentar de

novo.

— Não gostei da cara daquele homem

para quem os pistoleiros trabalhavam, Sam.

— Nem eu. Não gostei também da

resposta dele. Pensou muito antes de

responder. Há dente de coelho nisso tudo,

pode apostar que sim e nós vamos descobrir

o que é.

— Agora vamos para a minha casa

primeiro. Estou ansioso para rever minha

irmão — falou Johnny, situando-se na

cidade e tomando a direção correta.

Não muito longe dali, Rose estava aflita e

aborrecida. Havia fechado o armazém mais

cedo, porque Laramie estivera lá

incomodando-a mais uma vez.

Foi para casa, esperar a chegada da

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diligência, mas Laramie a estivera

rondando. O pistoleiro pretendia se vingar

das marcas de unhas que ela deixara em sua

cara.

Percebendo que chegara a hora de agir, o

pistoleiro foi bater na porta da casa dela.

— A diligência chegou, doçura! — gritou

ele. — Acho que seu irmãozinho não vem

mais...

— Vá para o inferno! — respondeu ela,

lá de dentro, furiosa com ele.

Laramie estava confiante, porque vira o

ajuntamento ao redor da diligência.

Calculou logo que o irmão da garota estava

morto, conforme os planos.

Isso deixava o caminho livre para ele

agir, por isso resolveu assustá-la mais um

pouco.

Bateu de novo na porta, com força. Como

ela não atendia, ele passou a desferir

pontapés, tentando arrombar.

— Aquela é minha casa — apontou

Johnny, dobrando a esquina e reconhecendo

a construção.

— Tem certeza? Há um maluco lá,

chutando a porta.

— Diabos! Não é que você tem razão? —

observou ele, começando a correr naquela

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direção.

Após chutar repetidas vezes a madeira,

Laramie conseguiu, finalmente, abrir a

porta. Quando se preparava para entrar, foi

seguro por uma forte mão, que o puxou pelo

colarinho e o jogou para o lado.

— Vai morrer por isso — falou Laramie,

mas não teve tempo de mover um músculo.

O punho do rapaz abateu-se em seu

queixo, atordoando-o e fazendo-o dançar

como um boneco de mola no alpendre da

casa, até cair de joelho.

Sem lhe dar trégua, Johnny meteu-lhe a

ponta da bota no rosto, com força, fazendo-

o rolar pela escada, até o jardim. O rapaz

saltou sobre ele, ergueu-o pelos cabelos e

enterrou o punho em seu estômago,

fazendo-o arfar e amarelar-se.

Empurrou-o, então, na direção de Sam,

que vinha entrando pelo portão. Este não se

fez de rogado. Com um certeiro pontapé

atirou o pobre Laramie no meio da poeira

da rua.

— Johnny! — exclamou Rose, parada na

porta.

— Rose, querida! — exclamou ele em

resposta, indo abraçá-la com força.

Sam ficou parado, observando a cena

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com emoção e, ao mesmo tempo,

admirando a beleza daquela garota.

— Meu irmão, que bom que você veio!

— soluçou ela, apertando-se contra ele.

— Acalme-se. Está tudo bem agora.

Quem era aquele sujeito? Não me diga que

minha doce irmã anda despertando amores

violentos nos rapazes da cidade, o que não

seria de se admirar. Você está linda! Já é

uma bela mulher! — elogiou ele.

— Vamos entrar. Tenho muito a lhe dizer

— convidou Rose. — E quanto àquele

traste, a última coisa que posso dizer dele é

que não vale o chão que pisa nem o ar que

respira.

— Sam, venha cá! — chamou Johnny. —

Quero que conheça a minha irmã. Eu dizia

que ela era linda, mas ela é muito mais do

que linda, não acha?

— Tem toda razão, parceiro — falou

Sam, apertando a mão da garota e olhando-a

nos olhos por instantes.

— Ela é ainda mais bonita que tudo que

você disse, Johnny — afirmou ele.

— Chega de paparicá-la, Sam — falou

Johnny, segurando a irmã pelo braço e

entrando na casa. — Onde está papai?

passamos pelo armazém, mas estava tudo

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fechado...

Sua irmã o encarou com tristeza.

Lágrimas rolaram dos olhos de Rose.

— Johnny, eu sinto muito... — soluçou

ela.

— Papai? — murmurou ele, incrédulo.

— Como aconteceu?

— Ainda não sei ao certo, por isso

esperava sua vinda com tanta ansiedade...

— Quando ele morreu?

— Na noite em que lhe escrevi a carta.

Pela manhã, após despachá-la na diligência,

é que tomei conhecimento da morte dele.

Fiquei tão desorientada...

— Pobre Rose! Agora eu estou aqui...

— Venham, vou preparar uma refeição

para nós. Contarei tudo que houve em

seguida — decidiu ela, enxugando as

lágrimas.

Os acontecimentos recentes haviam

deixado Steve Morgan apreensivo. Seus

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homens não haviam conseguido matar o tal

de Johnny Spell e acabaram mortos, o que

era pior.

Aqueles dois recém-chegados também

despertavam suspeitas. Não quiseram se

identificar. Steve suspeitava que fossem

inimigos e que um deles era o filho de

Johnny Spell.

Estava em seu saloon, numa das mesas,

jogando, quando Laramie apareceu, todo

estropiado.

— Que diabos, homem? Foi atropelado

por uma carroça? — indagou Steve,

surpreso.

Envergonhado, Laramie conservou o

lenço sobre o rosto, enxugando o sangue

que ainda teimava em escorrer. Estava com

o corpo dolorido da surra inesperada que

recebera.

— Não vá me dizer que foi a garota que

fez isso com você — zombou o dono do

saloon.

— Eu estava indo muito bem, até

aparecer aqueles dois homens e me pegaram

à traição.

— Dois homens? Quem são eles? — quis

saber Morgan, já imaginando o que havia

acontecido.

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— Eram os dois homens que chegaram

com a diligência — informou o pistoleiro.

— Você os encontrou na casa da garota?

— Sim e isso explica tudo, não? Um

deles era o tal de Johnny Spell, Morgan, o

homem que deveria ter sido morto por Allan

e seus pistoleiros.

— Diabos! — pregueou Morgan, jogando

as cartas sobre a mesa e rumando para seu

escritório.

Laramie o seguiu. Lá dentro, Morgan

serviu-se de uma dose de uísque e entornou-

a de uma só vez, com uma careta.

— Eu sabia! Imaginei logo que os vi. O

mais novo é muito parecido com Rose.

— Sim, é ele mesmo. Foi o que me

agrediu.

— E o outro, sabe quem é?

— Não, não posso imaginar. Talvez um

amigo. Mas o que houve, afinal de contas?

Allan deveria ter liquidado todos naquela

maldita diligência.

— Allan falhou e pagou com a vida.

Aqueles forasteiros o mataram, bem como

ao resto dos homens que mandei.

— Está brincando! Não posso acreditar

que Allan e sua equipe tenham sido mortos

dessa forma.

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— Pois trate de acreditar, Laramie. Vi os

corpos de Allan e dos outros. Estavam

muito bem esburacados. Isso me deixou

apreensivo. Aqueles dois podem nos dar

trabalho e dificultar os planos que tracei.

— Quer que eu dê um jeito neles?

— Não, vamos agir de outra forma.

— Como?

— Vamos fazer isso dentro da lei.

— Vai usar o xerife?

— Sim, ele tem que justificar a parte que

receberá dos lucros. Estou pensando em

algo. Farei com que o xerife prenda os dois

bastardos. A história deles é um tanto

fantástica, para quem conhecia Allan e os

outros. Poderemos manobrar os jurados e

induzi-los a condenar os dois.

— Engenhoso! Pode dar certo, patrão.

— Conto com isso, Laramie. Será melhor

ainda se fizermos com que alguns dos

membros do júri sejas nossos rapazes. Vá à

procura do xerife e o mande aqui. Darei as

instruções a ele e espero que possamos nos

livrar logo daqueles intrometidos. Uma boa

corda será a melhor solução para isso.

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Johnny e Sam ouviram estarrecidos a

narração de Rose, a respeito da morte de

John Spell, da participação negativa do

xerife e do inesperado interesse de Steve

Morgan em comprar o armazém.

— Não sei entendi direto, Rose, mas

sinto que você quis dizer claramente que

Steve Morgan está envolvido com tudo o

que aconteceu, desde o princípio, não?

— Isso mesmo, Johnny. Primeiro, pela

suspeita de papai e pelo que ele sentia

quando Steve sondava o armazém.

Segundo, pelo interesse dele em comprar

logo, assim que papai morreu.

— Mesmo assim, não vejo nada de

interessante nesse negócio todo, Rose. O

que poderia atrair um homem ambicioso

como Morgan no negócio de secos e

molhados? Acho que o estilo dele é mais

para coisas fáceis, dinheiro rápido, esse tipo

de coisa — opinou Sam.

— Também penso assim, Sam, mas essas

ligações surgiram tão naturalmente que não

há como não desconfiar. Ele deve estar

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planejando alguma coisa e, para isso,

precisa do armazém. Não hesitou em roubar

as cargas e em matar papai. Agora quer

completar o trabalho, ficando com tudo.

— Você contou a alguém sobre minha

vinda? — perguntou seu irmão.

— Ao próprio Morgan, quando ele esteve

aqui, fazendo a oferta para a compra.

— Não sei, Sam. Acho que devemos

investigar melhor tudo isso — concluiu o

rapaz. — E aquele tipo que encontramos

aqui, quem é ele?

— Laramie, um dos homens de Steve

Morgan.

— E o que ele queria, afinal de contas?

— Vive me importunando. Já estive

prestes a explodir-lhe a cabeça com a

espingarda de papai...

— Está bem, Rose, fique calma. De agora

em diante, eu e Sam cuidaremos de tudo —

decidiu ele.

— Vamos começar pelo princípio, Rose.

Quem encontrou o corpo de seu pai? —

quis saber Sam.

— O xerife e seus homens.

— Chegou a vê-lo?

— Não. Quando terminaram de preparar

o corpo foi que o trouxeram para cá.

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— Quem preparou o funeral?

— O Sr. Alfred, o papa-defuntos da

cidade.

— Acho que poderemos começar por ele.

O que acha, Johnny?

— Acho que é um bom início, Sam.

Antes vamos consertar aquela porta e

reforçá-la. Não quero aquele tipo por aqui

novamente, senão terei de matá-lo.

Após consertarem a porta arrebentada, os

dois amigos deixaram Rose em casa e

saíram para a rua.

— Meu faro não me engana, Johnny.

Tem coisa errada por aqui. Sinto nos ossos.

— Você tem razão, Sam. Sinto o mesmo.

Vamos começar pelo papa-defuntos?

— Sim, acho que ele poderá nos

esclarecer algumas coisas.

— O quê, em especial?

— Precisamos, antes de mais nada, ter

certeza de que seu pai não foi morto por

coiotes. Se estou certo, o roubo das carroças

e a morte dele foram encenadas para jogar a

culpa nos saqueadores. Para mim não

passou de uma farsa.

— Vamos até lá, então.

Momentos mais tarde estavam na

funerária, falando com o velho proprietário,

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que reconheceu Johnny, apesar dos dez anos

que o rapaz estivera fora.

Após conversarem amenidades, Johnny

conduziu a conversa para o assunto que o

interessava, a morte de seu pai.

— Sr. Alfred, gostaria que me

respondesse algumas perguntas sobre a

morte de meu pai.

— Sim, foi uma tragédia. Eu era muito

amigo dele. O que quer saber, Johnny?

— Notou alguma coisa estranha no

corpo, quando foi trazido para cá? — quis

saber o rapaz.

— Estranha? como assim? Era o cadáver

de um homem morto a tiros, como tantos

outros que já enterrei...

— Tente se lembrar. Sr. Alfred, por

favor. É importante para mim.

— Eu sinto muito, Johnny, mas não me

lembro de nada que fosse incomum...

— Já enterrou uma pessoa morta pelos

coioteros? — indagou Sam.

— Sim e posso lhe garantir que não é

uma visão agradável, meu rapaz.

— Acredita, então, que meu pai foi morto

por um desses bandos?

O papa-defuntos ficou pensativo por

algum tempo, parecendo refletir sobre a

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situação. Seu rosto demonstrou certa

confusão, como se a indagação suscitasse

dúvidas em seu íntimo.

— Eles usam armas de fogo agora, não

mais arcos e flechas... Só que os coioteros

são cruéis... O corpo de seu pai foi

pisoteado por cavalos...

— Foi mutilado de alguma forma? —

insistiu Sam.

— Não, exceto por isso.

— Escalpelado?

— Também não.

— Quando viu alguém morto pelos

coioteros pela última vez, Sr. Alfred? —

continuou Sam.

— Quando o Exército esteve aqui. Um

batedor foi apanhado. Estava horrível.

Mutilado, escalpelado e... Diabos! Não é

que vocês têm razão? Os cocheiros, então,

foram apenas baleados e nada mais. Acho

que, no fundo, vocês têm razão mesmo.

— Meu pai estava armado?

— Sim, o revólver estava no coldre...

— Carregado?

— Sim, todas as balas intactas. Atiraram

nele à queima-roupa... — acrescentou, cada

vez mais se convencendo de que John não

fora morto por bandoleiros.

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— Tem certeza desse detalhe, Sr. Alfred?

— insistiu Sam.

— Sim, havia marcas de pólvora em

alguns ferimentos.

— Acho que já nos prestou um enorme

favor, Sr. Alfred. Obrigado — agradeceu

Johnny, retirando-se com Sam.

Na rua, ambos pararam, pensativos,

olhando-se, como se partilhassem das

mesmas conclusões.

— Meu pai não deixaria um bando de

renegados se aproximar dele sem sacar a

arma ou tentar fugir — observou Johnny. —

Aliás homem nenhum o faria.

— Era nisso que eu pensava também,

parceiro. Tudo nos leva a crer que quem

disparou nele era conhecido o bastante para

se aproximar sem despertar suspeitas.

— Homens brancos, não mestiços e

índios. Além disso, gente da cidade, com

certeza.

— Não sei, Johnny, mas compartilho do

mesmo pressentimento de sua irmã. Sempre

que penso no assunto, tudo parece apontar

numa só direção: Steve Morgan.

— Mas eu não entendo! Por que ele se

interessaria pelo armazém e por cargas de

secos e molhados que não conseguiria

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vender sem despertar suspeitas? Acho que

aquele saloon deve render muito mais

dinheiro.

— Só há uma forma de descobrir isso.

Podemos fazer uma visita a ele e exercer

um pouco de pressão, só para ver no que dá

— propôs Sam.

— Feito. Vamos nessa, parceiro.

Os dois subiram a rua, entrando no

saloon, bastante movimentado àquela hora

da noite. Aproximaram-se do balcão.

Johnny havia percebido Laramie, encostado

ali, tentando derramar um pouco de uísque

através dos lábios inchados.

Propositadamente esbarrou nele, fazendo

com que o uísque se derramasse sobre o

outro.

— Maldito desastrado! — praguejou

Laramie, virando o corpo, pronto para

esmurrar quem provocara o acidente.

Ao ver de quem se tratava, sua mão parou

no ar e ele empalideceu.

— Não sabia que ratos bebiam nesta

cidade — comentou Johnny, alto o bastante

para ser ouvido por todos ali dentro.

A mão de Laramie pendeu na direção do

Colt.

— Tente, por favor! — desafiou-o

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Johnny. — Não está diante de uma garota

indefesa agora. Posso muito bem continuar

o que comecei e mudar definitivamente essa

sua cara na direção de cavalo morto.

Laramie estremeceu. Seu olhar se

desviou na direção da mesa onde estava

Steve Morgan, que lhe fez sinal para que se

acalmasse. O pistoleiro estremeceu. Sentia-

se extremamente humilhado para deixar

passar a ofensa.

— Por que não some daqui? — sugeriu

Sam. — Você fede como um gambá morto

— acrescentou, empurrando-o para ocupar

seu lugar junto ao balcão.

— Calma, Laramie! — recomendou

Steve Morgan, aproximando-se e

percebendo que seu pistoleiro estava prestes

a reagir. — Fique calmo. Parece que nossos

amigos aí estão loucos para encontrar

encrenca.

— As encrencas já existiam aqui antes

nós chegarmos — falou Johnny. —

Encrencas e covardia, como a morte de meu

pai.

Morgan ficou lívido, procurando se

controlar.

— Todos nós lamentamos o que houve

com ele...

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— É um bastardo mentiroso, Morgan! —

afirmou Johnny, cara a cara com o outro.

— É bom levar seu amigo para fora daqui

— disse Morgan a Sam. — Ele parece

muito nervoso com a morte do pai e só vai

conseguir se encrencar por aqui.

— Deixe-me lhe dar um aviso, Morgan

— falou Johnny, encostando o indicador no

nariz de seu desafeto. — Tão logo eu possa

provar seu envolvimento na morte de meu

pai, providenciarei para que seja enforcado.

— Está louco! — exclamou Morgan,

pálido e trêmulo de indignação.

— Não pense que não percebemos logo o

que está acontecendo por aqui — continuou

Johnny. — Sei que teve participação nesses

crimes e vou provar isso de qualquer

maneira.

Steve Morgan estava lívido, imóvel,

incapaz de uma reação. Havia muita gente

no saloon, ouvindo as acusações. Para sua

sorte, o xerife entrou naquele momento.

— Estava à procura de vocês — foi

dizendo, enquanto se aproximava dos dois

amigos.

— Já nos encontrou. O que deseja? —

respondeu Sam.

— Vocês estão presos!

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Johnny e Sam se entreolharam, surpresos,

depois começaram a rir.

— Só pode ter ficado maluco, xerife.

Qual é a acusação?

— Aquela história sobre as mortes não

me convenceu...

— Pois é a verdade e vai ter que acreditar

nela, xerife — intimou Sam, com

autoridade.

— Não tenho que acreditar nada. Vamos

deixar que um júri decida isso...

— Não iremos para a cadeia nem

seremos submetidos a julgamento, xerife.

Vai ter de acreditar em nossa palavra.

— Sua palavra e estrume têm o mesmo

valor para mim.

— Talvez isso o faça mudar de idéia —

falou Sam, retirando algo de seu bolso e

praticamente esfregando-o na cara do

homem da lei, que empalideceu e

estremeceu.

— E agora, acredita em nós? — indagou

Johnny, fazendo o mesmo.

— Sim, claro — respondeu o outro, num

fio de voz.

— Xerife, esses dois homens entraram

em meu saloon com o intuito de promover

arruaça, provocar meus homens e me acusar

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injustamente... — ia dizendo Steve.

— Cale-se, seu idiota! Não viu o que ele

estava exibindo? São emblemas da guarda

Rural do Texas. Ambos são patrulheiros,

com o posto de capitães.

Steve Morgan ficou sem fala.

— E lhe digo mais uma coisa, xerife.

Ainda não aceito o fato de você ter recusado

ajuda ao meu pai na noite em que ele foi

morto. Quando tudo isso terminar, cuidarei

para que seja punido por aquilo — finalizou

Johnny.

Ambos iam se afastar dali, mas Steve

Morgan, em desespero, fez um sinal para

Laramie e alguns pistoleiros que estavam

ali.

— Espere um pouco, seu boca grande! —

ordenou Laramie, confiante no apoio dos

demais pistoleiros.

Johnny e Sam se viraram para olhá-lo.

Outros quatro homens ladearam Laramie,

todos mal-encarados.

— Temos um assunto inacabado —

lembrou Laramie.

— Já está cansado da vida? — zombou

Johnny, aborrecido com a provocação.

— Você se julga muito esperto. Talvez

um pouco de chumbo quente o faça pensar

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antes de falara bobagens — continuou

Laramie.

— E você acha que pode fazer isso?

— Vou fazê-lo agora mesmo — decidiu o

pistoleiro, tentando sacar sua arma, no que

foi imitado por seus comparsas.

O inferno se abateu sobre o saloon. Antes

que alguém pudesse piscar, as armas dos

dois patrulheiros já haviam sido sacadas e

cuspiam chumbo e morte, envoltos num véu

de fumaça.

Laramie teve sua cabeça partida e seu

chapéu, recheado de miolos e cabelos, foi

cair na prateleira de bebidas, onde ficou

gotejando sangue.

Os outros quatros pistoleiros tiveram

sorte idêntica. Morreram sem ao menos

conseguir sacar suas armas. Quando a

fumaça se dissipou, os cinco desafiadores

jaziam numa mesma poça de sangue.

— Entenda isso como um sinal, Morgan

— falou-lhe Sam, antes de saírem os dois.

Steve Morgan ficou possesso, olhando os

cadáveres de seus pistoleiros.

— Ficou maluco, Morgan? —

repreendeu-o o xerife. — Vamos conversar

lá dentro.

O xerife empurrou-o até o escritório,

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onde lhe serviu uma dose reforçada de

uísque.

— Percebe o que tentou fazer lá fora? —

insistiu o homem da lei.

— Ao diabo você e aqueles dois! O que

os rurais estão fazendo aqui? Como foram

alertados? Eles desconfiam de mim, você os

ouviu...

— Acalme-se, Morgan! Acho que tudo

não passou de coincidência e azar de nossa

parte. O rapaz é irmão da garota e filho de

Johnny Spell, por isso veio para cá. Está

apenas jogando verde. Você não pode entrar

no jogo dele.

— Diabos! — explodiu Morgan,

arremessando o copo contra a parede.

Respirou fundo, procurando se acalmar.

— Está bem, xerife, mas não será nada

fácil afastarmos aqueles dois bisbilhoteiros.

— Vamos por etapas. Eliminá-los não é

uma boa política. Antes de mais nada.

Precisamos descobrir se eles estão aqui

numa missão específica ou se foi mesmo

coincidência.

— E como fará isso?

— Telegrafando ao quartel deles.

— E o que isso irá adiantar?

— Se não estão aqui em missão, farei

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com que sejam chamados de volta. Alegarei

que estão obstruindo a justiça e provocando

tumulto. Com a partida dos dois, teremos

apenas que assustar um pouco mais a garota

para que ela vá embora também.

— Está bem, vamos fazer do seu jeito,

então.

Enquanto isso, na rua, voltando para casa,

Johnny e Sam comentavam os últimos

acontecimentos.

— Acha que foi uma boa idéia nos

identificarmos, Sam? — indagou Johnny.

— Não houve outro meio de fazer aquele

xerife perder a pose. Percebeu como ele

queria nos encrencar? Suspeito que ele e o

tal Morgan estão juntos.

— Tive a mesma impressão —

confirmou Johnny.

Em casa, Rose os esperava apreensiva,

pois ouvira o tiroteio. Johnny lhe explicou o

que acontecera, tranqüilizando-a.

— É bom termos verdadeiros

representantes da lei por aqui — disse ela,

com alivio.

— Nunca lhe escrevi contando a respeito

porque não queria deixá-la apreensiva nem

desgostar papai, que esperava que eu

estudasse. Ser um membro da Guarda Rural

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do Texas sempre foi meu sonho.

— Sinto orgulhosa de você, Johnny —

disse ela.

Naquele momento, bateram na porta.

Sam foi atender com cautela. Era Susy, à

procura de Rose. Quando a garota entrou e

viu Johnny, ficou petrificada.

O mesmo aconteceu com o rapaz, que se

lembrava muito bem dela. Só que Susy

crescera. Era agora uma linda mulher.

Os quatro amigos conversaram durante

algum tempo, pondo os assuntos em dia.

Susy e Johnny entendiam-se muito bem e

tinham ambos muitas lembranças de quanto

eram crianças.

Rose, no entanto, resolveu por um fim da

conversa amena e tratar de coisas mais

sérias.

— Há algo que precisamos resolver de

imediato, Johnny. Estava apenas esperando

sua chegada — falou ela.

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— De que se trata?

— Com o roubo das duas carroças,

estamos com nosso estoques quase a zero.

Temos de decidir se vamos continuar com o

armazém. Se for o caso, precisaremos ir

buscar novas provisões em San Antônio e

novamente correr o risco de um outro

assalto...

— E como estamos de dinheiro?

— Temos muito pouco. As carroças

roubadas esgotaram as reservas de papei.

Tenho um pouco comigo. Acho que dará

para comprar o essencial.

— Eu me pergunto para onde foram as

mercadorias roubadas — falou Sam. — A

menos que fossem destinadas aos bandos de

saqueadores, que utilidade teriam,

escondidas por aí? Que interesse teria Steve

Morgan em conservar essas mercadorias.

— Só tenho uma resposta. Se ele comprar

o armazém, terá onde vendê-las

honestamente.

— Pode ser. Isso justificaria em parte o

interesse dele na compra.

— Vocês desconfiam de Steve Morgan?

— quis saber Susy, atenta à conversa.

— Achamos que ele teve alguma coisa a

ver com tudo isso. Vai ser difícil provar, é

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claro, mas tentaremos — respondeu Johnny.

— Vocês já sabiam que ele mandou

buscar pistoleiros em Laredo? — perguntou

Susy.

— Como soube disso? — retrucou Sam.

— Meu pai comentou isso. Estava no

saloon e ouviu essa conversa.

— Parece que ele está se preparando —

comentou Johnny. — Matamos uma porção

de pistoleiros dele. Está repondo o estoque.

— Uma coisa de cada vez — falou Sam.

— Vamos cuidar das mercadorias primeiro.

Afinal, o armazém abastece toda a região,

não é, Rose?

— Sim, por isso vejo urgência nisso —

ajuntou Rose. — Se algum espertalhão

resolver montar um novo armazém,

estaremos em apuros.

— Talvez possamos conseguir crédito

com os próprios fornecedores de papai —

falou Johnny. — Além disso, tenho algum

dinheiro guardado. De qualquer jeito, acho

que poderemos fazer uma boa compra.

— Ótimo, Johnny! quando poderemos

fazer isso? — quis saber Rose.

— Eu e Sam cuidaremos disso. Reuna o

dinheiro que possuiu. Partiremos ao

amanhecer. Temos uma carroça?

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— Sim, está no estábulo e é própria para

grandes cargas. Temos também meia dúzia

de bons cavalos.

— Então está decidido. Partiremos ao

amanhecer mesmo e estaremos preparados

para o que der e vier.

Os dois amigos partiram antes do dia

clarear. Inevitavelmente foram vistos por

um dos capangas de Morgan, que tratou de

comunicar o fato ao patrão.

Quando chegou ao saloon pela manhã, foi

a primeira informação que recebeu.

— Partiram com a carroça de carga. Isso

quer dizer que foram buscar mais

mercadorias. É a melhor coisa que poderia

ter acontecido. Vá chamar o xerife! —

ordenou Morgan, satisfeito da vida.

Momentos depois o xerife comparecia no

saloon. Steve lhe contou o que se passava.

— É a chance que esperávamos para nos

livrarmos desses imbecis — falou o homem

da lei, exultante. — Se eles forem mortos

no caminho de volta, como os outros, a

culpa recairá mais uma vez nos coioteros.

— Ótimo! Estou aguardando a chegada

de Bob Heston e seus pistoleiros, que

contratei em Laredo. Assim que chegarem,

sairão no encalço da carroça. Vão preparar

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uma boa emboscada, tenho certeza.

— Aqueles dois pagarão por tudo que

fizeram...

— A garota terá que vender o armazém.

Nosso planos estão indo bem de novo,

xerife.

— Excelente! — exultou o homem da lei.

Em San Antônio, Johnny conseguiu

crédito facilmente junto aos fornecedores,

conhecidos de seu pai. Todos ficaram

consternados com o que acontecera ao

velho e se dispuseram a ajudar os filhos a

manter o negócio.

Em razão disso, a carroça voltava

carregada até seu limite máximo, levando as

mercadorias necessárias para suprir o

estoque desfalcado pelos roubos anteriores.

Todo o tempo não enfrentaram nenhum

problema, embora se mantivessem atentos e

tomando todas as precauções. Em breve

deixavam a trilha de San Antônio para

avançar pela trilha que conduzia a San Juan.

Tudo estivera tranqüilo até ali, mas os

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dois sabiam que os assaltos anteriores

haviam acontecido naquela trilha. Enquanto

Johnny cuidava das rédeas, Sam ia atento a

tudo que se passava ao redor deles.

— É difícil mesmo que um bando de

renegados se movimente nesta planície sem

ser visto — comentou Johnny.

— Concordo com você. Não é o estilo

deles atacar em campo aberto. O único que

vejo é justamente onde ocorreram os

assaltos anteriores, naquele grupo de rochas.

É o único ponto para uma emboscada.

— O terreno aqui é acidentado.

Poderíamos contornar aquele trecho de

estrada — sugeriu Johnny.

— Mas aí perderíamos a chance de nos

certificarmos a respeito desses ataques.

— Entendo. É o único modo de

descobrirmos quem são os responsáveis, se

brancos ou renegados. Tem algum plano?

— Vamos ter de improvisar. Talvez tirar

um dos cavalos da parelha e ir à frente

verificar.

— Acho que tenho uma idéia melhor. Há

uma fonte algumas milhas antes do local.

Poderemos acampar lá esta noite, deixar a

carroça e irmos a cavalo até as rochas,

investigar.

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— É uma idéia bem melhor que a minha.

Se vamos ter alguma surpresa a nossa

espera, já está lá, com certeza.

— Seguramente — concordou Johnny.

Ao anoitecer eles desatrelaram os cavalos

da carroça e seguiram em frente,

aproximando-se daquele grupo de rochas.

Quando estavam mais perto, perceberam o

brilho de uma fogueira e movimentação de

homens e cavalos.

— Há alguém lá — observou Johnny. —

Estou curioso para saber de quem se trata.

Vou lhe dizer o que vamos fazer. Eu vou até

lá, pela trilha. Você contornará as rochas e

ficará atrás deles, para o caso de alguma

surpresa.

— Não acho muito prudente, mas não

temos escolha. Tome muito cuidado. Se

forem os homens que estão a nossa espera,

atirarão primeiro e perguntarão depois.

— Tomarei, fique tranqüilo — disse

Johnny, seguindo em frente, enquanto Sam

contornava o terreno para se aproximar por

trás das rochas.

A fogueira brilhava na noite e havia no ar

um cheiro de comida e café quente.

— Alto lá! — ordenou um homem

armado de rifle, assim que o rapaz se

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aproximou do acampamento.

— Calma, amigo — pediu ele. — Só

gostaria de me aquecer um pouco nessa

fogueira e de provar um pouco desse café

— acrescentou ele, contando cinco homens,

todos armados de rifles.

Um deles, que parecia ser o chefe,

aproximou-se cheio de pose e arrogância.

— Quem é você? — perguntou ao recém-

chegado.

— Meu nome é John — respondeu o

rapaz.

— Onde está a sela de seu cavalo?

— Eu a perdi num jogo de pôquer em

San Antônio. Como vê, fiquei sem minha

sela e sem provisões. Estou exausto e um

pouco de café iria bem...

— Nada disso forasteiro. Siga seu

caminho, não queremos estranhos rondando

nosso acampamento. San Juan não está tão

longe assim.

— Amigo, entenda, já está escuro e eu

não...

— Problema seu, amigo — respondeu o

outro, rispidamente, erguendo o rifle que

tinha nas mãos.

Johnny não havia conseguido as respostas

que procurava, embora a intenção daqueles

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homens estivessem bem evidentes para

estarem acampados ali.

Resolveu blefar um pouco para se

certificar.

— Hoje não é mesmo meu dia de sorte —

lamentou ele. — Primeiro foram aqueles

dois, na carroça. Agora vocês...

— Espere um pouco! O que foi que

disse? — interessou-se o homem que

chefiava o grupo.

Seu nome era Ted Strong e fazia parte do

grupo que Morgan mandara buscar em

Laredo. Eram todos homens sem

escrúpulos, acostumados a alugar suas

armas pelo melhor preço.

— Eu disse alguma coisa errada? —

devolveu Johnny, percebendo o quanto

aquilo havia interessado os homens ao seu

redor.

— Quem eram esses dois homens? —

insistiu Ted.

— Conduziam uma enorme carroça de

carga...

— É o bastante. São eles. Onde os viu?

— Estão há umas três milhas para trás, na

trilha...

— Muito bom! Agora vá desmontando,

forasteiro — ordenou Ted, apontando-lhe a

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arma.

— O que está havendo? O que vai fazer

comigo?

— Você levou azar, meu amigo. Meteu-

se em algo que não deveria e terá de morrer

por isso.

Os outros riram, engatilhando suas armas.

Sob o cavalo, Johnny viu Sam surgir atrás

dos pistoleiros.

— Se pretende me matar, é bom que

olhem para trás primeiro — recomendou

Johnny.

Ted voltou a cabeça. Sobre uma rocha,

Sam lhes apontava dois Colts prontos para

cuspir chumbo e morte.

— O que significa isso? — indagou Ted,

surpreso.

— Significa que não haverá nenhuma

emboscada desta vez — informou Sam,

caminhando na direção deles, após saltar da

rocha.

Johnny desmontou e começou a desarmar

os pistoleiros. Um deles, no entanto, reagiu

inesperadamente, atingindo o rapaz com um

pontapé, derrubando-o, enquanto tentava

sacar o revolver.

Sam não lhe deu trégua. Seu Colt

disparou apenas um tiro, acertando o peito

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do pistoleiro, que foi estrebuchar na poeira.

A distração foi o bastante para que os outros

homens se atirassem para o lado, apanhando

suas armas.

— Abrigue-se, Johnny! — gritou Sam,

enquanto balas assobiavam ao seu redor.

Os dois as juntaram atrás de uma pedra,

respondendo ao fogo que se abatia

selvagemente sobre eles.

— Precisamos apanhar pelo menos um

deles com vida — falou Sam.

— Vai ser difícil agora. Eu estava muito

confiante e me distraí — desculpou-se

Johnny.

— Pior para eles. Mantenham-nos sob

fogo. Vou tentar contorná-los.

Os pistoleiros estavam atentos e o local

estava bem iluminado pela fogueira. Mesmo

assim, Sam ainda conseguiu ir até uma

outra rocha.

Sam não esperava, porém, que os outros

homens também tivessem a mesma idéia.

Assim, quando ele correu para a outra

pedra, um dos pistoleiros fez o mesmo.

Nem tiveram tempo de usar as armas,

engalfinhando-se numa luta sem tréguas.

Enquanto isso, Johnny disparava sem

cessar, até o momento em que suas armas

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ficaram sem munição.

— É agora, rapazes! — gritou Ted.

Três homens correram na direção do

rapaz, disparando suas armas. Johnny se viu

perdido, pois não havia tempo para

recarregar seus Colts.

Perto dali, Sam conseguia, finalmente,

pôr seu oponente fora de combate,

desarmando-o com um potente murro no

queixo.

— Sam, cadê você? — gritou Johnny,

vendo a morte se aproximando rapidamente.

Um dos pistoleiros saltou para cima da

pedra onde ele se escondia. Apontou sua

arma para a cabeça do rapaz e ia disparar

sem piedade.

A arma de Sam detonou primeiro. O

pistoleiro rodopiou espetacularmente sobre

a rocha, estatelando-se na poeira com a

cabeça aberta pelo disparo.

Johnny precipitou-se sobre a arma que

escapara da mão do seu agressor. Uma bala

raspou-lhe a perna e outra quase o acertou

na cabeça.

Ele disparou sobre o homem mais

próximo, fazendo-o cair para trás com os

braços abertos.

Ted Storm ia atingir Johnny mortalmente,

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mas Sam se antecipou, acertando-o com

dois balaços. O pistoleiro caiu de joelhos e

ainda tentou puxar o gatilho de sua arma.

Johnny disparou o tiro de misericórdia,

varando-lhe o coração. O silencio voltou a

reinar na planície.

— Caramba! Esta foi por pouco.

Obrigado, parceiro! — falou Johnny,

ofegante, examinando o buraco que uma

bala fizera na perna de sua calça.

— Esqueça! Acho que temos um deles

com vida — avisou Sam, indo até o local

onde deixara o pistoleiro desacordado.

Sam agarrou o pistoleiro pelo colarinho e

o arrastou para perto da fogueira. Johnny

apanhara um cantil que estava ali.

Derramou água no rosto do pistoleiro.

Este despertou assustado, tentando reagir,

mas Sam plantou sua bota no peito dele,

mantendo-o quieto.

— Fique quieto, amigo! Quem é você?

— indagou-lhe.

— Meu nome é Buck Storm.

— Estavam esperando por nós, não?

— Não sei de nada... Estávamos apenas

acampados para passar a noite e...

— Mentiroso! — exclamou Sam,

apertando o salto de sua bota contra o peito

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dele.

— Por favor, tem de acreditar em mim.

Não íamos fazer mal a ninguém...

— É tão comovente — falou Johnny,

apanhando uma acha de lenha em chamas e

se aproximando do pistoleiro subjugado.

— Se quer um conselho, é bom falar

logo. Meu amigo é um tanto impaciente —

recomendou Sam. — Pode querer fazer sua

barba com o tição.

— Não sei de nada — gritou o pistoleiro,

em desespero, segurando o tornozelo de

Sam e girando o corpo, desequilibrando-o.

Ao se ver livre, Buck rolou o corpo e

tentou se levantar após apanhar uma arma

caída ao lado de um cadáver. Johnny não

lhe deu chance.

A acha de lenha em brasa atingiu o rosto

de Buck, fazendo-o gritar de dor.

— Você está bem, Sam? — indagou o

rapaz ao amigo, enquanto pisava a mão com

que Buck empunhava o revólver.

O pistoleiro soltou a arma, gemendo.

Johnny aproximou a acha de lenha do rosto

dele, indagando:

— Está disposto a colaborar ou prefere

morrer de modo horrível?

— Está bem, eu falo — gritou Buck, ao

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perceber que um de seus amigos ainda

estava com vida e apontava uma arma para

Johnny.

Este, porém, graças a sua experiência,

percebeu o olhar de Buck e entendeu o

perigo.

— Cuidado, Sam! — gritou ele, jogando-

se para o lado, já com a arma na mão.

O tiro disparado pelo homem ferido

atingiu a boca de Buck, que se levantava

esperançoso. Johnny respondeu ao fogo,

cravando dois balaços na cabeça do

pistoleiro, matando-o instantaneamente.

— Diabos! — praguejou. — Acho que

perdemos a grande chance que estávamos

esperando.

— Sim, nenhum deles falará agora —

ajuntou Sam.

— O que vamos fazer com os cadáveres?

— Vamos deixá-los aqui os abutres.

Levá-los para a cidade será perda de tempo.

Se forem homem de Morgan, ele vai alegar

que os despediu esta manhã, como fez com

aquele que assaltaram a diligência.

— Tem razão, mas não posso aceitar a

idéia de ter perdido a chance de incriminar

Morgan.

— Talvez não! — comentou Sam, com

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uma expressão matreira no rosto.

— O que tem em mente?

— Apenas nós sabemos o que se passou

aqui. Poderemos acrescentar um pouco mais

de pressão sobre Morgan. Vamos falar

novamente com ele e dizer-lhe que seus

homens confessaram antes de serem mortos.

— Isso pode abalá-lo...

— Talvez ele comete um erro que não

possa remediar. Aí, então, nós o

apanharemos.

— Bem pensado, Sam. Mal posso esperar

para ver a cara daquele patife.

— Mas teremos de estar alertas porque

ele vai reagir. Minha preocupação principal

é Rose.

— Ela ficará bem. Se for o caso, nós a

esconderemos na casa de Susy.

— Mesmo assim, não podemos nos

arriscar, Johnny. Steve Morgan pode

declarar guerra contra nós todos que

ficarem entre as duas partes.

— Tem razão. Temos de ser cautelosos

em todos os sentidos, mas espero liquidá-lo

o mais depressa possível. Só assim isso

terminará.

— Saiba que compartilho de sua opinião.

Gente como Steve Morgan só fica bem

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quando está pendurada por uma corda...

— E não podemos nos esquecer daquele

xerife também. Ele terá de ser punido por

seu envolvimento.

Steve Morgan jogava cartas e conversava

animadamente com os novos pistoleiros

chegados de Laredo. Eram todos homens

perigosos e bons no gatilho.

Para o maioral, tudo estava perfeito

agora. Sentia-se de novo dono da situação e

em breve poderia concretizar o plano que

iria encher seu cofre de ouro.

Repentinamente, o barulho de uma

carroça alertou seus sentidos.

— Silêncio! — ordenou ele.

— Algum problema, Sr. Morgan? —

indagou-lhe um pistoleiro cujo nome era

Stigg Boy.

— Veja quem chegou nessa carroça.

Stigg Boy se levantou. Mal chegou à

porta, porém, Johnny e Sam vinham

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entrando, quase esbarrando nele. Steve

Morgan ficou pálido, como se visse

fantasmas a sua frente.

— Desta vez não deu certo, Morgan —

falou-lhe Sam.

— Não sei do que está falando...

— É um covarde mentiroso, Morgan —

acusou-o Johnny, em voz alta.

O silêncio reinou no saloon. Todos

esperavam que Morgan fosse reagir, mas

este já conhecia a rapidez e a determinação

de seus dois adversários.

— Acabamos de matar cinco de seus

capangas a caminho daqui — avisou Sam.

— Vocês estão me acusando sem provas.

Eu não admito que...

— Cale a boca, verme! — ordenou

Johnny. — Saiba que um deles confessou

que trabalhava para você, antes de morrer.

Pena que não pudemos trazê-lo para

testemunhar contra você. Se isso tivesse

acontecido, amanhã cedo você estaria

pendurado numa corda.

Steve Morgan não conseguiu pronunciar

uma só palavra. Tomou um gole de uísque

para recuperar a calma. Se Sam e Johnny

sabiam de alguma coisa, não poderiam

prová-lo. Isso o deixava mais tranqüilo, mas

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a pressão estava sendo terrível sobre ele.

— Vocês me aborrecem com essas

histórias — disse ele, voltando a se

concentrar em suas cartas, dominando a

raiva.

Johnny chutou a mesa, derrubando

Morgan. Este, porém, não fez menção de

reagir.

— Um momento, rapaz. Acho que você

já foi longe demais — observou Stigg, com

as mãos à altura das armas.

— Não se meta ou vai sobrar para você,

imbecil — recomendou-lhe Johnny.

— Ninguém faz isso com meu patrão na

minha presença...

— Se está se doendo por ele, por que não

tenta logo sacar suas armas e me dá o

pretexto para matá-lo logo e calar sua boca

fedorenta?

Stigg ficou possesso. Jamais alguém

falara com ele naquele tom. Johnny

demonstrou muita segurança e também

mantinha as mãos à altura dos coldres.

— Vai se arrepender disso, rapaz —

rosnou Stigg.

O pistoleiro ainda hesitou um instante,

depois suas mãos voaram para as coronhas

de seus revólveres.

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Os outros pistoleiros no saloon ficaram

alertas, prontos para assistirem à morte de

Johnny.

Ficaram todos surpresos, porém, quando

Stigg foi jogado para trás, após receber dois

balaços. Suas armas mal haviam saído dos

coldres, enquanto as de Johnny já

fumegavam, tendo cuspido chumbo e morte.

— Cuidado, Johnny! — alertou Sam,

pois um outro pistoleiro, rente ao balcão,

sacava sua arma. Os dois patrulheiros

atiraram ao mesmo tempo. O pistoleiro

estrebuchou, depois caiu lentamente,

tentando se firmar no balcão, enquanto suas

forças se esvaíam.

— Mais alguém deseja morrer? —

indagou Johnny.

Steve Morgan, caído no assoalho, olhava

tudo com surpresa. Em fração de segundo,

dois de seus pistoleiros mais recomendados

haviam sido mandados para o inferno.

— Quanto a você, Morgan, esteja

preparado. Sua hora chegará muito mais

depressa do que pode imaginar — avisou-o

Sam.

— Será divertido vê-lo espernear na

ponta de uma corda, Morgan, mas eu me

sentirei mais satisfeito se você me der a

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chance de matá-lo pessoalmente, o que farei

com grande prazer, bastardo — finalizou

Johnny.

Ele e Sam iam deixando o saloon, quando

o xerife, atraído pelos tiros, entrou

apressado, com a arma na mão.

— O que houve por aqui? — indagou. —

O que significa esses homens mortos?

— Apenas um pouco de limpeza, xerife

— informou Sam.

— Significa que eles tentaram nos matar

e não tiveram sorte — informou Johnny.

— Vocês dois estão passando das

medidas. Saibam que telegrafei para o

quartel de vocês — avisou o homem da lei.

— E daí? O que conseguiu com isso? —

quis saber Sam.

— Fui informado que vocês estão em

licença e que, por isso, não podem se

intrometer em assuntos de minha jurisdição

— respondeu o xerife, entregando o

telegrama a Sam, que o leu contrariado.

Aquilo não deixava de conter um alerta

de seus superiores.

— Fique tranqüilo, Sam. Isso aí não são

ordens. Mesmo em licença, podemos atuar

em casos de comprovada injustiça ou para

deter crimes em andamentos. Foi o que

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fizemos apenas.

— Não pense que vai me enganar com

essas desculpas legais, rapaz...

— Sou Guarda Rural e conheço as leis,

xerife.

— Não vou permitir que virem minha

cidade de pernas para cima. Telegrafei

novamente ao seu quartel, pedindo que

mandem ordens expressas para os dois. Não

admito que se intrometam em meu

trabalho...

— Reconhece, então, que está havendo

alguma coisa por aqui? — argumentou Sam.

— Não tenho satisfação a lhes dar...

— Pois então ouça bem, xerife. Se os

assaltos às carroças e as mortes que

houveram forem obras dos coioteros, então

estamos diante de um problema estadual e a

jurisdição é nossa. Se, por outro lado, você

admitir que foram homens brancos que

atacaram e roubaram as carroças, então eu

aceito que a jurisdição é sua — falou

Johnny.

O xerife ficou estático, pego pela palavra.

— Bem lembrado, Johnny. Sem esquecer

que, se há então um complô de homens

brancos para fazer os ataques, tudo nos leva

a acreditar que você os está acobertando,

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xerife. O que nós dá também o direito de

intervir na cidade, para impor novamente a

lei.

— Terão de provar cada acusação que

estão fazendo. Esta cidade ficará quente

demais para vocês, eu prometo isso.

— Está nos ameaçando, xerife? —

questionou-o Sam.

— Estou dando um aviso.

— Que também serve para você.

Os dois patrulheiros deixaram o saloon.

Steve Morgan foi para seu escritório,

seguido pelo xerife.

— Nunca fui tão humilhado em minha

vida — reclamou Steve, servindo-se de uma

dose de seu melhor uísque.

— Eu também. Nada me daria mais

satisfação do que fazer aqueles dois

engolirem a própria língua.

— Enquanto estiverem juntos, são

imbatíveis. Agem como se um lesse o

pensamento do outro. Além disso, são

muito rápidos com as armas.

— Espere um pouco, Steve. Acho que

você me deu uma idéia. Precisamos

encontrar uma forma de dividi-los. Se não

podemos vencer os dois juntos, vamos

cuidar primeiro de um e depois do outro.

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— A idéia é interessante, mas como vai

conseguir isso?

— Vou pensar em algo, deixe comigo.

Na manhã seguinte, Johnny e Sam

estavam descarregando a carroça, suprindo

assim os estoques do armazém. Quando já

haviam terminado, Rose foi até eles,

apreensiva.

— Algum problema, Rose? — observou

Johnny.

— Sim. Acabo de receber um bilhete da

Sra. Silver. Lembra-se dela, não?

— Como poderia me esquecer? Ela

praticamente nos criou, após a morte de

mamãe. O que houve com ela?

— Não sei. Ela apenas pede que eu vá ao

rancho dela o mais depressa possível.

Gostaria que você fosse comigo. Não gosto

de sair sozinha por aí, após os últimos

acontecimentos.

— Eu vou com ela, Johnny —

prontificou-se Sam. — Afinal, alguém tem

que ficar no armazém, principalmente hoje,

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que as mercadorias chegaram.

— Sam tem razão, Johnny — disse Rose.

— Acha que poderá cuidar das coisas por

aqui?

— Sem problema. Se precisar de ajuda,

mando chamar Susy.

Pouco mais tarde, Sam e Rose

cavalgavam na direção do rancho Silver,

algumas milhas distantes da cidade.

Conversaram durante todo o caminho,

conhecendo-se melhor.

— Lá está o rancho da velha senhora —

apontou Rose, após uma colina.

— Ela vive só?

— Não, ainda é casada. Os dois cuidam

de um pouco de gado. Apenas o bastante

para o sustento.

— Criam cavalos também?

— Não que eu saiba. Por que perguntou?

— Estou vendo alguns cavalos no curral

— observou Sam.

— Não são tantos. Devem pertencer aos

dois. Por que a preocupação?

— Não é preocupação. É apenas um

hábito que adquiri.

— Entendo. Sempre atento a todos os

detalhes, não?

— É uma profissão perigosa, Rose. Estar

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alerta é um modo de se manter vivo.

Quando já estavam próximos da casa, um

tiro ecoou sinistramente na planície. O

cavalo de Rose estacou, estremecendo,

ferido mortalmente. Depois tombou,

arremessando a garota na relva.

Imediatamente Sam desmontou e ajudou-

a a se levantar. Correram para trás de um

tronco, enquanto novos disparos eram feitos

contra os dois, arrancando lascas da madeira

seca.

— Entendeu o que eu quis dizer? —

indagou Sam, tentando localizar seus

atacantes. — Tudo não passou de um plano

para nos atrair a uma emboscada, Rose.

— Sendo assim, algo deve ter acontecido

à pobre senhora e seu marido...

— Temo que sim, Rose, mas temos que

nos preocupar com nossas vidas agora. Não

poderemos fugir em apenas um cavalo.

Seríamos facilmente alcançados,

principalmente porque seus cavalos são de

carga, não de montaria.

As balas continuaram zumbindo ao redor

deles. Algumas atingiam o tronco e as

lascas voavam para o alto, enquanto o

chumbo encravava-se profundamente.

Sam se viu numa posição incômoda. Não

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podia responder ao fogo pois era arriscado

levantar-se.

Naquele momento, um tropel de cavalos

obrigou-o a se voltar. Dois cavaleiros,

surgidos do nada, galopavam na direção

deles, disparando rifles.

— Abaixe-se, Rose! — ordenou ele,

sacando suas armas e respondendo ao fogo

com precisão mortal.

Os dois cavaleiros foram arrancados de

suas selas. Um rolou na poeira,

estrebuchando. O outro ficou com o pé

preso no estribo, enquanto o cavalo em

disparada o arrastava.

— Não saia daqui, Rose! — ordenou

novamente ele, mais uma vez, à garota.

Foi uma arriscada manobra que poderia

ter-lhe custado a vida, mas ele conseguiu se

firmar. O corpo do cavalo o protegia dos

tiros que vinham do rancho.

Sam pode, então, contar três armas que

disparavam contra ele e Rose. Uma delas

estava na casa principal. Outra se escondia

no celeiro e a terceira estava atrás de uma

cerca, para onde os cavalos se dirigiam.

— Ele está aqui! — gritou o pistoleiro,

quando Sam se soltou do cavalo e se atirou

sobre ele.

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Rolaram ambos na poeira, engalfinhados

numa luta mortal.

— Fogo nele! — ordenou o homem na

casa principal.

— Cuidado para não ferir o Jim —

alertou o outro.

— Dane-se o Jim!

Sam percebeu o perigo e se livrou

rapidamente do pistoleiro, pondo-o para

dormir com um potente murro. Correu,

então, para trás de um bebedouro, mas ficou

entre dois fogos.

O homem com quem acabara de lutar

recuperou-se rapidamente voltando a atirar

contra o patrulheiro. Sam girou o corpo com

rapidez. As balas zumbiam, levantando

poeira ao se encravar no chão.

A morte parecia prestes a firmar suas

garras no rural, mas ele não se deu por

vencido. Seu corpo, com incrível agilidade,

continuou girando, até se abrigar atrás de

uma parede.

— Venham para cá, ele está encurralado.

Podemos pegá-lo agora — gritou um dos

homens.

— Cuidem dele. Eu vou atrás da garota

— falou o homem que saía da casa. Assim

que se viu protegido, Sam recarregou suas

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armas e aguardou. Um pistoleiro surgiu

correndo diante dele. Sam apertou os

gatilhos de suas armas. O pistoleiro levou as

mãos ao peito e rodopiou, caindo numa

poça de sangue.

— Não vai escapar de mim, maldito rural

— gritou o homem que havia saído do

celeiro, apertando os gatilhos de suas armas

desesperadamente.

As balas cravaram-se na parede, a

milímetros da cabeça de Sam, alertando-o.

Ele respondeu ao fogo e não errou. O

pistoleiro girou o corpo no ar e caiu

estendido, com dois balaços no peito.

— Rose! — exclamou Sam, ao ouvir

gritos da garota.

Precipitou-se, então, na direção do local

onde a deixara escondida. O último dos

pistoleiros que participaram da emboscada

tentava arrastar a garota, que se debatia.

Diante da reação da garota, ele a

esbofeteou com força, derrubando-a. Estava

prestes a matá-la, já que engatilhara a arma

e a apontara para a cabeça da jovem.

Antes que pudesse concretizar seu

intento, Sam saltou sobre ele como um leão

da montanha furioso, disposto a fazer o

bandido pagar por aquela bofetada.

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Ambos rolaram na relva. O pistoleiro

conseguiu se livrar de Sam e retomar a

arma, que havia caído.

Sam viu a morte lhe acenar dentro do

cano escuro daquele quarenta e cinco. Um

disparo inesperado soou, no entanto, e o

pistoleiro rodopiou, com as contas crivadas

de chumbo.

Próximo dali, um velho de cabelos

brancos segurava sua Overland ainda

fumegante, após o disparo fatal de seus dois

canos.

— Rose! — gritou a Sra. Silver,

aproximando-se, juntamente com o marido.

A garota se levantou, ainda aturdida. Ao

ver os dois velhinhos ficou muito

emocionada.

— Graças a Deus vocês estão bem —

exclamou ela, abraçando-os.

— O que houve afinal, Rose? Esses

homens chegaram aqui pela manhã e nos

ameaçaram. Forçaram-me a escrever aquele

bilhete...

— Acho que já entendi tudo, Rose —

falou Sam. — Tudo isso foi um ardil para

nós matar. Pensavam que Johnny viria com

você, então eles teriam conseguido o que

sempre desejavam desde o princípio.

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— Talvez... Talvez eles tenham feito isso

por outro motivo — ponderou ela,

pensativa.

— Qual?

— Separar vocês dois. Juntos são

imbatíveis...

— Sendo assim Johnny pode estar em

grande perigo agora — concluiu Sam,

preocupado. — Vamos voltar para a cidade

imediatamente. Poderemos usar os cavalos

desses bandidos.

— Depois explicarei tudo o que está

acontecendo — disse Rose ao casal de

velhos.

— E enterrem esses pistoleiros, se

tiverem oportunidade — pediu Sam.

Os dois selecionaram os melhores

cavalos dos pistoleiros e, no momento

seguinte partiam na direção da cidade,

apreensivos pelo que poderia estar

acontecendo a Johnny.

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O pai de Susy era o ferreiro da cidade.

Seu nome era Max Mork e, naquele

momento, estava às voltas com o seu

trabalho. Não percebeu a aproximação de

quatro dos pistoleiros de Steve Morgan.

— Tem uma bela oficina aqui, homem —

falou um deles, chamando Stone Granger.

— Oh, obrigado, rapazes! Precisam de

alguma coisa?

— Olá, papai! — disse Susy, chegando

naquele momento. — O almoço está pronto.

— Tem uma bela filha também, ferreiro

— falou Stone, acariciando ousadamente o

rosto de Susy.

Ela se livrou dele com um repelão.

— Espere um pouco, rapaz — ia dizendo

Max, mas calou-se, surpreso, quando uma

arma foi engatilhada diante de seu nariz.

— É melhor ficar quietinha, velho, ou vai

se dar mal — ameaçou um outro pistoleiro.

Susy percebeu que a intenção daqueles

homens não eram das melhores e tentou

correr para longe dali, mas um deles a

segurou pelo braço com firmeza.

Max deixou sua mão pender ao lado da

bigorna. Seus dedos seguraram firme o cabo

de uma pequena marreta.

O pistoleiro que lhe apontava a arma

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havia se distraído com Susy. Max vibrou a

marreta com violência, atingindo a mão de

seu oponente, quebrando-a.

O pistoleiro gritou de dor, chamando a

atenção de seus amigos, que tomaram suas

dores.

Não devia ter feito isso, moço —

ameaçou Stone, avançando contra Max.

— Se tocar em minha filha novamente,

eu lhe quebro a cabeça — falou o velho.

O homem que a segurava soltou-a. Susy

percebeu que aqueles homens iriam surrar

seu pai e tratou de correr à procura de ajuda.

Enquanto isso, Max, com a marreta na mão,

ameaçando Stone e seus amigos, que se

divertiam com as ameaças do velho.

Um deles apanhou uma tenaz e, com ela,

retirou um ferro em brasa da forja, atirando-

a contra o ferreiro.

— Maldito! — gritou Max, quando o

ferro em brasa o atingiu no peito,

queimando, fazendo-o soltar a marreta.

Três homens saltaram sobre ele,

agredindo-o selvagemente. Max ainda

conseguiu jogar um deles de encontro à

bigorna, onde bateu a cabeça com força,

cortando-se. Os outros, no entanto, não lhe

deram trégua, agredindo com pontapés e

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socos violentos.

A briga atraiu a atenção de alguma

pessoas, mas ninguém se animou em

socorrer o pobre homem.

— Vamos moê-lo de pancadas! — rugiu

Stone, apanhando uma corrente.

Max cobriu o rosto com os braços. Os

golpes impiedosos atingiram seu corpo,

fazendo-o rolar e gemer de dor a cada nova

pancada.

Naquele momento, um vulto se

aproximou na corrida, jogando-se no ar

sobre Stone e derrubando-o.

Ambos rolaram no interior da oficina,

mas, em seguida, desvencilharam-se,

pondo-se rapidamente em pé. Os três

pistoleiros que ainda podiam sacar suas

armas encararam Johnny.

— Caiam fora daqui ou eu os matarei

como animais que são — ameaçou o rapaz

— Não me faça rir, seu idiota. Quem

pensa que é para nos assustar? — indagou

Stone, com ironia.

Seus amigos riram e baixaram suas mãos

em direção das armas.

— Está bem, Sr. Max? — indagou

Johnny ao ferreiro.

— Penso que sim, mas tenho contas

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pesadas a ajustar com esses covardes...

— Pois então pegue uma arma, velho, e

venha receber sua conta — desafiou Stone.

— Eu lutarei por ele — antecipou-se

Johnny, resoluto.

Os três pistoleiros se afastaram,

espalhando-se com intenção de dificultar o

trabalho do patrulheiro, que teria de atirar

em três direções diferentes para manter-se

vivo.

As pessoas diante da oficina se

dispersaram, passando a observar os

acontecimentos de lugares mais seguros.

— Estamos prontos, garoto. Saque

quando quiser — desafiou Stone.

— Dê-me uma arma, Johnny, e eu o

ajudarei — falou o ferreiro.

— Não, Sr. Max. Ficarei mais tranqüilo

se afastar, por favor!

— Mas eu sei que posso a...

— Faça como eu disse. Não quero vê-lo

ferido. Vá ao encontro de Susy cuidar

desses ferimentos. Ela está muito

preocupada.

O ferreiro, ainda aturdido pelos golpes

que receberá, deixou o local. Johnny

examinou melhor, então, a situação em que

se encontrava.

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Teria de se mover com agilidade incrível

para poder atingir seus três oponentes,

coisas que não seria fácil, já que um estava

a sua frente, outro à direita e outro à

esquerda, sem contar com o pistoleiro com

a mão quebrada, que retirara a arma e a

pusera no cinto, podendo sacar com a

esquerda.

— Muito bem, rapaz. Já teve sua chance.

Prepare-se para morrer.

— Você fala demais! — exclamou

Johnny, sacando sua arma e metendo uma

bala na testa de Stone, que foi jogado para

trás.

Instintivamente Johnny se atirou para trás

da bigorna. As balas dos outros pistoleiros

se achataram contra o metal resistente.

Tratou, então, de responder imediatamente

ao fogo.

O pistoleiro a sua esquerda caiu sobre o

tonel de água ao lado da forja, entornando-

a. O outro rodopiou e bateu o peito contra a

parede, escorregando em seguida, deixando

uma mancha enorme de sangue na madeira.

— Morra, maldito! — berrou o pistoleiro

com a mão quebrada, apontando sua arma

diretamente para a cabeça do patrulheiro.

— Não desta vez — falou o rural,

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atirando-se para o lado.

A bala roçou seu corpo, quando o

pistoleiro disparou. Antes mesmo de tocar o

solo, Johnny já havia disparado duas vezes.

O pistoleiro se dobrou sobre os joelhos,

depois tombou pesadamente.

— Johnny! — gritou Susy, correndo ao

encontro dele.

Abraçaram-se com emoção. O corpo da

garota tremia assustado.

— Está tudo bem agora, Susy. Eles não

molestarão seu pai.

Naquele momento apareceu o xerife,

esperando encontrar Johnny morto, mas

estacou surpreso ao ver os cadáveres dos

pistoleiros estendidos em poças de sangue.

— Você é especialista em chegar

atrasado, xerife. Nunca está por perto

quando se precisa de você.

— Eu o adverti. Está cidade ainda vai

ficar mais quente para você.

— Aposto como não conhece nenhum

desses defuntos, não é mesmo?

— Realmente, não os conheço.

— Mas eu os vi ontem à noite no

saloon...

— E daí? Muitos forasteiros entram e

saem daquele saloon diariamente.

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— Estes não pareciam de passagem.

— Por que não pergunta a eles, se quer

saber de alguma coisa? — zombou o

homem da lei.

— Deixe-me dizer uma coisa, xerife —

falou Johnny, encarando-o. — Cada vez que

o vejo por perto, sinto um cheiro de

podridão no ar.

O xerife ficou lívido. sua vontade inicial

foi de sacar contra Johnny, mas hesitou,

analisando melhor suas chances.

— Ouça bem, patrulheiro! Minha

paciência tem limites e uma hora eu...

— Você o quê, xerife? — respondeu o

rapaz, afastando Susy do seu lado e pondo-

se em posição.

A mão do xerife tremeu à altura da

coronha de seu Colt, mas não seira desta

vez que ele sacaria. Humilhado, virou as

costas e deixou o local. Momentos depois,

Sam e Rose chegavam a galope.

— Tudo bem com você, Johnny?

— Sim, Sam, mas quase me pegaram de

novo.

— O mesmo aconteceu conosco. Era uma

emboscada.

— Creio que nosso plano de pressionar

Morgan está dando resultado, só que

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estamos nos expondo demais — ponderou

Johnny.

— Agora temos que ir até o fim, parceiro.

— Se é assim, então proponho que o

incomodemos ainda mais — sugeriu

Johnny. — Vamos para o armazém. Eu lhe

falarei do meu plano.

O xerife entrou esbaforido no escritório

de Morgan, que havia escutado o tiroteio e

imaginava que seus homens houvessem

matado Johnny.

— Esses pistoleiros que você contratou

não valem nada. O rapaz matou os quatro.

Além disso, acabo de ver o outro chegar

com Rose.

— Diabos! eles não são humanos! —

exclamou Morgan.

— As coisas estão ficando quentes

demais, Morgan. Acho que você deveria

deixar o plano de lado por algum tempo, até

tudo se acalmar.

— Não posso mais fazer isso, xerife.

Tenho de me livrar desses dois. Chegou a

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hora de agir sem medir conseqüências.

— Como assim?

Morgan foi até a porta do escritório. O

xerife o acompanhou.

— Vê aquele mexicano no balcão?

— Sim, já o vi por aí algumas vezes.

— É o emissário dos coioteros. Eles estão

ansiosos pelas armas. Além disso, já me

mandaram isto como pagamento adiantado

— falou Morgan, indo até sua mesa e

apanhando dois sacos de ouro numa gaveta.

Espalhou o conteúdo sobre a mesa. Eram

pepitas de ouro.

— Demônios! Há uma pequena fortuna

aí.

— E há muito mais de onde veio isto,

quando entregar as armas que eles precisam.

— Agora entendo sua pressa. Tem

alguma nova idéia?

— Vamos ser drásticos desta vez. Há um

modo de livrarmos deles, sem despertar

suspeitas nem atrair outros rurais.

— Como?

— Queimando-os com o armazém.

— Você perderá a chance de adquirir um

bom estoque e...

— Ao diabo com o estoque deles. É

ninharia, perto do que posso conseguir com

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os coioteros.

— A idéia parece bem prática. Se eles

morrerem lá dentro, será fácil justificar a

morte deles aos rurais e evitar novos

aborrecimentos. Farei um relatório bem

detalho para o quartel dos Guardas Rurais e

estaremos livres do problema.

— Além disso, a presença desses rurais

aqui na cidade pode incomodar a população,

que começará a fazer perguntas indiscretas.

Pretendo dar cabo deles esta noite —

sentenciou Morgan, confiante.

Enquanto isso, no armazém, Johnny

acabava de expor sua idéia ao parceiro. —

Pode dar resultado, Johnny. Nós dois nos

revezaremos, mantendo aquele saloon sob

vigia permanente. Pressionado com está, é

certo que Morgan vai tentar algum ato

desesperado.

— Entendi, parceiro.

‘ Na parte da tarde, Sam estava sentado

diante do armazém, sempre observando a

entrada do saloon, no outro lado da rua.

Percebeu enquanto estava ali, que Morgan

viera até a porta para se despedir de um

mexicano de aparência suspeita.

Os dois pareciam muito amigos.

— Rose, conhece aquele homem que está

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com Morgan agora? — indagou ele à

garota, sentada ao lado dele.

— Eu o tenho visto freqüentemente por

aqui, sempre entrando ou saindo do saloon.

— Não sabe de onde ele vem?

— Não, mas ele pode trabalhar em algum

rancho por aí, muito embora, depois dos

ataques dos bandoleiros, poucos mexicanos

tenham ficado por aqui.

— Parecem muito amigos, não?

— Está suspeitando de alguma coisa?

— Não sei, mas pode ser algo importante

— disse Sam, levantando-se e indo ao

encontro de Johnny, no interior do prédio.

— Algum problema?

— Acabo de ver um mexicano

despedindo-se de Morgan. Os dois pareciam

muito chegados.

— Mexicano? viu para onde ele está

indo?

— Está deixando a cidade agora.

— Um mexicano... Acho que não custaria

nada seguí-lo. As coisas estão calmas por

aqui hoje. Rose e Susy poderão cuidar do

armazém.

Momentos mais tarde, ambos cavalgavam

em perseguição ao mexicano. Seguiram-no

até que atravessasse o Rio Bravo, passando

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para o lado mexicano.

— Gostaria de saber para onde ele está

indo — comentou Johnny, intrigado.

— Não se lembra da região?

— Vagamente. Acho que há um povoado

nesta direção, mas foi abandonado há

muitos e muitos anos atrás, após uma

epidemia que dizimou a maioria da

população.

— O mexicano parece não ter muita

pressa. Por que você não vai na frente,

evitando-o, e dá uma olhada nesse tal

povoado? Eu continuarei mantendo o nosso

amigo ali sob vigilância.

— Pode ser. Vamos ver o que descubro

— disse Johnny, esporeando seu cavalo e

deixando a trilha, para passar à frente do

mexicano, sem que este o percebesse.

Sam continuou a perseguição, evitando

ser percebido, até que, após algum tempo,

Johnny retornou.

— O que descobriu? — quis saber Sam.

— Diabos, homem! Há um bando de

renegados naquele povoado, todos armados

e prontos para infernizar.

— Coioteros?

— Com toda certeza. Se havia um bando

por aqui e foi expulso pelo Exército, bem

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que pode ser esse.

— Que ligação poderia ter Morgan com

eles? Consegue entender isso? — indagou

Sam, intrigado.

— Há alguém que talvez possa nos dar

algumas respostas — sugeriu Johnny,

fazendo um sinal de cabeça na direção do

mexicano.

— Acho que tem razão, parceiro —

concordou Sam e ambos esporearam seus

cavalos, alcançando rapidamente o

mexicano.

Este não demonstrou surpresa. Ao

contrário do que os patrulheiros esperavam,

o mexicano olhou-os com arrogância.

— O que desejam? São homens do

Senhor Morgan? — perguntou, num tom de

voz autoritário, de quem não estava

habituado a receber ordens.

— Descobrirá em breve, meu caro amigo

— respondeu Sam, apontando-lhe uma

arma. — Desça logo desse cavalo para

termos uma conversinha.

O mexicano relutou, a principio, em dar

as respostas que os patrulheiros buscavam,

mantendo-se calado. Sam teve de usar de

toda a sua sutileza e, após quebrar alguns

ossos e dentes, fez o mexicano se dispor a

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falar.

— Quais suas ligações com Morgan? —

indagou.

— Temos negócios.

— Que tipo de negócios?

— Armas... Morgan iria nos dar armas

em troca de ouro...

— Então era isso. Morgan pretendia

vender armas aos índios — entendeu Sam,

finalmente.

— Por isso precisava do armazém, para

disfarçar suas atividades ilegais. Poderia

trazê-las de San Antônio, junto com a carga

normal, sem despertar suspeitas. Quando

penso que meu pai foi morto por causa de

um plano sórdido desses, sinto vontade de

matar Morgan com minhas próprias mãos.

— Acalme-se, meu amigo. Tudo será

feito ao seu tempo. Agora temos de resolver

um pequeno problema.

— A que se refere?

— Aquele bando de renegados que você

viu ao povoado. Com certeza esperam

apenas uma chance para voltar a atacar. Já

causaram muitos aborrecimentos. Gostaria

de dar um fim neles.

— Eu sei como fazer isso. Há algumas

milhas, na fronteira, há uma guarnição do

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Exército mexicano.

— Bem pensado. Na certa eles têm

contas a ajustar com esses bandoleiros.

— E poderão cuidar deste nosso amigo,

caso precisemos de uma testemunha. Estará

bem guardada e longe do conhecimento de

Morgan.

— Ótima idéia!

Havia anoitecido, quando Steve Morgan

convocou Bob Heston ao seu escritório.

Bob era tido como um pistoleiro rápido e

eficiente, que não precisava pensar muito

para matar um homem pelas costas. Aliás,

sua fama fora feita encima dessa habilidade.

— Tenho um trabalhinho especial para

você está noite — foi dizendo Morgan.

— É a respeito daqueles patrulheiros? Eu

estava ansioso pela oportunidade.

— Vai ter sua chance agora, Bob.

Quantos homens nos restam ainda?

— Oito, Sr. Morgan — informou Bob,

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após pensar por instantes.

— Apenas oito?

— Sim, conte comigo: quatro foram

mortos durante...

— Está bem, está bem — exasperou-se

Morgan. — Não precisa me lembrar de

todas as ações que fracassaram. Creio que

você e os oito homens serão suficientes para

o trabalho.

— Qual é o plano?

— Primeiro vocês vão incendiar aquele

maldito armazém.

— Incendiar o armazém? Pensei que...

— Deixe-me terminar e já entenderá.

Preciso resolver o assunto rapidamente,

Bob. A idéia é eliminar os patrulheiros a

qualquer preço. Quanto ao armazém, posso

montar outro com as mercadorias que já

roubei.

— Entendo. E onde entramos nós?

— Durante o incêndio, você e os homens

tratarão de matar os rurais. Após terem feito

isso, jogarão os corpos nas chamas,

entendeu?

— E todos pensarão que eles morreram

tentando salvar alguma coisa de seus bens...

— Exatamente. Agora preste atenção:

quando incendiarem o armazém, empilhem

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algumas caixas de munição perto do fogo.

Assim, as explosões abafarão os tiros,

quando os matarem.

— Boa sugestão, Sr. Morgan!

— Reuna o pessoal imediatamente e

comece o espetáculo.

Johnny e Sam haviam acabado de chegar,

para tranqüilidade de Rose, que se mostrava

apreensiva. Estava agora na casa dela. Rose

preparava a refeição, enquanto lhe

contavam o que haviam descoberto.

— Por que não prendem Morgan

imediatamente, já que têm uma boa

testemunha? — indagou ela.

— Temos de ser cautelosos com Morgan.

Uma testemunha mexicana, neste momento,

não teria muito peso em San Juan, não

concorda? Além disso, ele ainda está

cercado de pistoleiros, que farão tudo para

livrá-lo — falou Sam.

— Sim — ajuntou Johnny. — Não

sabemos ainda quantos homens Morgan tem

ao seu lado.

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— Acho que estou entendendo o ponto de

vista de vocês dois — falou ela. — A

solução, então, não seria pegá-lo de

surpresa?

— Certo, essa é a idéia, mas, antes de

qualquer ação, precisamos medir a

resistência que vamos encontrar. Além

disso, a cidade vai virar um inferno e muitos

inocentes poderão pagar com a vida

qualquer ato impensado. Preocupo-me

também com você, Rose. Gostaria de saber

que está a salvo, antes de qualquer

providencia — falou Johnny.

— Não tenho medo de Morgan e de sua

turma. Se eu pudesse ajudaria vocês, eu...

— Você nos ajudará muito se ficar em

local seguro, Rose — reforçou Sam.

Naquele momento, Susy chegou. Johnny

recomendou que as duas procurassem ficar

juntas num local seguro, quando eles

saíssem. Com relutância elas acabaram

concordando.

Após termina a refeição, a dupla se

preparou para sair, checando e recarregando

as armas.

— Lembrem-se vocês duas: aconteça o

que acontecer lá fora, só saiam quando tudo

estiver acabado. Vocês prometem? —

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insistiu Johnny.

— Está certo, faremos como você nos

pediu —a firmou Rose.

Após se despedirem rapidamente, os dois

saíram.

— Johnny, se tudo isto acabar bem, terei

algo muito importante a lhe pedir. — falou

Sam.

— É sobre Rose?

— Sim, acho que nós nos apaixonamos...

— Eu também sinto o mesmo em relação

a Susy. É algo muito antigo Nunca a

esqueci, ao longo desses dez anos. Sempre

pensei em voltar aqui para buscá-la.

— É, talvez tenha chegado a hora de nós

dois deixarmos esta vida de perigos e

pendurarmos as armas. O futuro não parece

muito promissor para quem, como nós, vive

das armas...

— Creio que não, Sam. Sempre haverá

gente como Morgan e seus pistoleiros,

exigindo a presença de policiais como nós...

— Fogo! Fogo! Fogo! — gritou alguém,

na rua.

Os dois se precipitaram naquela direção.

— Demônios! O armazém está pegando

fogo — gritou Johnny.

— Temos de fazer alguma coisa — falou

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Sam.

As pessoas corriam para a rua, dispostas

a ajudar. Uma brigada contra o fogo foi

organizada rapidamente, mas todos se

dispersaram quando as caixas de munição

começarão a explodir.

— A munição está pegando fogo —

gritaram. — Corram!

Um pipocar sinistro se misturou ao

barulho das chamas. Sam e Johnny

procuraram abrigo junto à parede do prédio

ao lado.

— Temos de fazer qualquer coisa —

desesperou-se Johnny.

— Não enquanto aquela munição estiver

explodindo.

— Tem razão. Olhe onde uma das balas

acaba de se encravar — apontou Johnny

para um ponto perto de sua cabeça.

— Isso não veio do armazém, Johnny. A

menos que as balas agora façam curva —

alertou Sam, empurrando o amigo para o

chão.

Outras balas arrancaram lascas da parede.

— Estão atirando em nós — gritou Sam.

— Agora entendo. O fogo foi só um

modo de nos atrair para uma nova

armadilha.

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— Diabos! Pode ver algum deles?

— Lá naquele telhado — apontou

Johnny, sacando suas armas em seguida e

abrindo fogo.

Com um grito de dor, um pistoleiro

despencou do telhado. Seu corpo bateu

pesadamente na poeira da rua, onde

estrebuchou.

— Há mais ali — alertou Sam, quando

dois homens saltaram por uma porta,

disparando suas armas.

Johnny sentiu o impacto quente e pesado

em sua perna. Sam teve seu chapéu

arrancado por uma bala. Ambos não se

intimidaram. Suas armas vomitaram

chumbo quente.

Os dois pistoleiros estacaram

repentinamente, como se tivessem trombado

com um muro. Suas armas caíram de suas

mãos e eles tombaram para trás,

fulminados.

— Pode ser mais alguém? — indagou

Sam.

— Caramba, como dói — reclamou

Johnny.

— Está ferido?

— Minha perna...

Sam amarrou seu lenço e improvisou um

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torniquete. A munição continuava

explodindo no armazém, só que mais

espaçadamente.

— Gostaria de saber quantos ainda

restam — falou Sam, observando

atentamente ao seu redor.

— Parece que se acalmaram...

— Dê-me cobertura. Vou tentar

atravessar a rua.

— isso pode ser fatal.

— É o único modo de descobrirmos onde

estão os outros.

— Está certo, vá em frente. Eu estou

pronto — disse Johnny, engatilhando seus

Colts.

Sam se levantou e correu velozmente

através da rua, saltando para trás de um

bebedouro de água, no outro lado.

Um homem surgiu de um beco com uma

espingarda. Johnny disparou imediatamente.

O pistoleiro foi jogado contra a parede,

antes de cair.

Novos disparos partiram de uma janela.

Johnny e Sam disparam naquela direção,

mas não tiveram certeza de nada. Sam

percebeu então, a espingarda que caíra das

mãos do pistoleiro morto.

— Johnny, fique atento! — gritou para o

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amigo.

— Está certo, deixe comigo!

Sam correu na direção do beco e apanhou

a espingarda, rolando para o lado

rapidamente, para fugir aos disparos em sua

direção.

Balas assobiaram no ar e foram se

encravando na madeira atrás dele.

Do outro lado da Rua, Johnny percebeu

que havia alguém no telhado, acima dele,

mas não podia atingí-lo na posição onde

estava.

— Sam, aqui! -0- gritou ele para o

parceiro, apontando para o alto.

— Já vi — respondeu Sam, apertando um

dos gatilhos da espingarda.

O pistoleiro que estava sobre aquele

telhado desabou como um fardo, após ter

recebido uma carga de chumbo grosso em

pleno peito.

Outros disparos partiram do interior de

uma loja. Sam fez um sinal para Johnny,

apontando uma janela. Sam escondeu-se nas

sombras, depois sumiu pelo beco.

Momentos mais tarde, sua espingarda

disparava novamente.

Um corpo foi arremessado através de

uma janela, indo se estatelar na rua, em

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meio aos cacos de vidro.

A munição no armazém havia acabado de

explodir. O fogo, porém, consumia

vorazmente tudo que encontrava pela frente.

Quando só restou o barulho das chamas

crepitando, o povo começou a voltar à rua.

Trataram, então, de apagar o incêndio.

Johnny se levantou, preocupado com a

sorte de Sam. Este, porém, surgiu instantes

depois, ileso.

— Adivinhe o que foi que descobri num

barracão nos fundos daquela loja — falou

Sam.

— Diabos, Sam! Não tenho a menor

idéia...

— Há um estoque de mercadorias lá.

Com certeza é tudo o que foi roubado de

meu pai durante aqueles ataques às

carroças.

— E o que há mais na loja?

— A parte da frente está vazia.

Um rapaz passava por eles. Sam o deteve,

indagando a quem pertencia a loja.

— parece que o Sr. Morgan a comprou.

Ninguém sabe o que ele vai montar ali...

— Morgan pensou em tudo — comentou

Sam, agradecendo o rapaz.

— Acho que temos um caso contra ele

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agora — falou Johnny. — É hora de lhe

fazermos uma última visita.

Steve Morgan estava no saloon, bebendo

com o xerife, aguardando informações a

respeito da morte dos patrulheiros. Ouviram

os tiros e a correria das pessoas na rua.

Repentinamente, Bob Heston e um outro

pistoleiro entraram apressadamente, pelos

fundos do saloon.

— Conseguiram? — indagou Morgan.

— Não... Aqueles homens são uns

demônios... — falou Heston, apavorado.

— Demônios! O que vamos fazer agora,

Morgan? — indagou-lhe o xerife.

— O que sugere, xerife? Creio que não

há nada que se possa fazer agora. De

qualquer forma, aqueles dois nada podem

provar contra nós. Vou tentar me organizar

novamente e insistir no golpe. Quero aquele

ouro dos coioteros — falou Morgan, indo

até o balcão e pedindo nova garrafa de seu

uísque especial.

Quando ia retornar, uma bala certeira

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arrebentou a garrafa, espalhando estilhaços

por toda parte e surpreendendo-o.

— Que diabos está... — ia protestar ele,

mas calou-se quando seus olhos pousaram

em Sam e Johnny, parados na porta.

A arma de Johnny ainda fumegava.

—Você pagará pela morte de meu pai,

Morgan, e por todos os seus outros crimes.

— Não sei do que está falando, rapaz.

Você não pode provar nada. Xerife, como

permite que esses dois entrem em meu

saloon e me acusem?

— Cale a boca, Morgan. Deixe de

hipocrisia. Sabemos de tudo.

— E daí? O que podem provar contra

nós?

— Conhece Pablo Bermudas?

O rosto de Morgan ficou pálido e suas

mãos tremeram ligeiramente.

— Não sei de quem se trata...

— Pois ele o conhece muito bem — falou

Johnny, com ironia. — contou-nos uma bela

história. Uma história que vai custar seu

pescoço, maldito criminoso. Sem falar

numa certa loja aqui na cidade, com um

misterioso estoque nos fundos...

— Do que estão falando, afinal? —

indagou o xerife, tentando se fazer de

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inocente.

— Sabemos também sobre você, seu

vendido — acusou-o Sam. — Desde o

principio deu proteção aos crimes desse

bastardo aí.

Morgan e o xerife se entreolharam. Bob

Heston e Hank perceberam que teriam que

lutar por suas vidas.

— Somos quatro contra os dois — falou

Heston.

— Acha que isso é o bastante para nos

derrotar? — ironizou Sam.

— Saiba que eu nunca fui vencido antes

num duelo — disse Heston, com arrogância.

— Então sua hora pode estar chegando,

pistoleiro. Saque quando achar que está

pronto — desafiou-o Johnny, guardando sua

arma no coldre.

Morgan percebeu que,

momentaneamente, as atenções de Sam e

Johnny se voltaram para Bob Heston,

dando-lhe a chance de tentar algo, ainda que

desesperado.

Num salto felino, jogou-se na direção da

porta de seu escritório, tentando procurar

abrigo ali ou escapar pelos fundos do

saloon.

Uma bala disparada pela arma de Johnny,

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no entanto, colheu-o em pleno ar, jogando

seu corpo contra o batente da porta. Ele caiu

pesadamente no assoalho, o corpo

estremecendo.

O xerife e os outros sacaram suas armas

com rapidez ao perceberem que não teriam

nenhuma outra oportunidade de tentar lutar

por suas vidas.

Bob ainda conseguiu disparar um tiro.

Sua bala roçou a cabeça de Sam,

desequilibrando-o. Em sua queda, Sam

disparou seus Colts com precisão, apesar de

tudo.

Bob rodopiou espetacularmente, caindo

sobre uma das mesas e tombando-a sobre o

próprio corpo. Johnny disparou

simultaneamente contra o xerife e Hank.

Os dois facínoras mal haviam conseguido

tocar as coronhas de suas armas. Com os

olhos esbugalhados eles recusaram, ante ao

impacto do projétil, atingindo-os no peito.

— Maldito! — gemeu o xerife, caindo de

joelhos, olhando para seu matador.

Hank tombou para trás, imóvel. Johnny

aproximou-se do xerife, que ainda tentou

puxar seu revólver. O rapaz ergueu seu Colt

e disparou novamente, desta vez entre os

olhos do homem da lei.

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O corpo dele tombou para trás, numa

poça de sangue, estrebuchando, antes de

imobilizar-se.

— Parece que não teremos um

julgamento em San Juan — falou Sam.

— Sim, teria sido divertido ver esses

vermes balançando na ponta de uma corda.

De qualquer forma, a cidade está livre dessa

escória.

— Vamos ver o que sobrou do armazém.

Ainda bem que encontramos aquele estoque

roubado...

Os dois amigos iam se afastar, voltando

as costas para os cadáveres. Steve Morgan,

que não fora ferido mortalmente, apanhara

uma espingarda no escritório e saía à porta,

apoiando-se à parede.

Os estalidos secos dos gatilhos sendo

armados mal foram percebidos por Johnny e

Sam. Com as mão manchadas de sangue e a

visão turvada pela dor do ferimento,

Morgan apontou a arma para os dois

patrulheiros.

— Sam! — gritou Johnny, percebendo o

perigo pelo reflexo na janela.

— Diabos! — gritou em resposta Sam,

enquanto ambos se atiravam para o lado.

A devastadora carga de chumbo

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arrebentou tudo a sua passagem, deixando

um roubo na parede, perto da porta de saída.

As armas de Johnny e Sam dispararam ao

mesmo tempo, repetidas vezes. O corpo de

Morgan foi jogado contra a parede onde

ficou por instantes, sustentado pelos

impactos. Quando a fuzilaria terminou, ele

tombou para frente pesadamente.

Os dois amigos se levantaram.

— Esta foi por pouco — comentou Sam.

— Vamos embora! As garotas devem

estar preocupados conosco — respondeu

Johnny, guardando as armas ainda

fumegantes.

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Covil de Facínoras

A cidade de Quemados, a Oeste de San

Antonio, entre Eagle Pass e Del Rio era um

povoado tranqüilo, com ranchos de gado

espalhados ao seu redor.

Próxima de Jiménez, no México, tinha o

Rio Grande separando-as, num ponto onde

sua profundidade facilitava o trânsito de

carroças e animais para o outro lado.

Por esse motivo, bandoleiros e fugitivos

de todo o Estado e dos Estados vizinhos

passavam por Quemados, quando buscavam

exílio e proteção no país vizinho, fugindo a

perseguições ou quando cometiam seus

crimes.

A lei, infelizmente, não dispunha de

homens suficientes para patrulhar toda a

fronteira com o México.

Isso vinha se constituindo num dos

principais problemas para o Estado, que se

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tornava presa fácil de renegados e

bandoleiros que atravessavam o Rio Grande

para roubar no lado americano.

Com a criação da Patrulha do Texas, esta

tarefa se tornou mais fácil.

No entanto, principalmente nos anos

posteriores à Guerra da Secessão, que

espalhou desesperados por todo o país, esta

se tornou uma missão inglória.

Se não bastasse todas as facilidades que

os malfeitores tinham para atravessar a

fronteira, homens sem escrúpulos viram

naquilo uma forma de ganhar dinheiro

desonestamente.

Assim, algumas cidades se

transformaram em paraísos para os

malfeitores, transformando-se em autênticos

covis de bandidos da pior espécie,

protegidos à sombra da lei.

Isso exigiu um trabalho insano da

Patrulha do Texas, com seus homens se

empenhando ao máximo para erradicar de

uma vez por todas essa verdadeira praga

que ameaçava assolar o Oeste.

Em Quemados, como em outras cidades

da fronteira, homens ambiciosos se

associaram para fazer da a cidade num covil

desses.

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O Xerife Ives Lang entrou no Saloon

Rose Star e examinou os presentes.

Distinguiu Irah Wilkinson numa das mesas

ao fundo, conversando com Duff Allister.

Aproximou-se deles.

— Soube que queria falar comigo, Irah

— disse ele.

— Sim, sente-se.

— É importante?

— Pode acreditar que sim, xerife. Sei que

é um homem ocupado, não o incomodaria

por nada...

O xerife hesitou por instantes, olhando ao

seu redor. Irah insistiu amigavelmente. Ele

se sentou, então, sem maiores cerimônias.

Duff Allister empurrou um copo sobre a

mesa e encheu-o de uísque.

— Beba, é por minha conta — disse.

Duff era dono do saloon e amigo

inseparável de Irah.

— Pois bem, o que desejava? —

perguntou Ives.

— Há muito eu e Duff estamos pensando

num negócio muito rendoso para todos

nos...

— E onde eu entro nisso?

— Calma, Ives, eu chego lá. Para realizar

nosso intento, precisamos de sua

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colaboração.

— Que tipo de colaboração?

— Fechar os olhos a determinadas

pessoas que passarão a freqüentar a nossa

cidade.

— E o que ganharei com isso?

— Será nosso sócio... O lucro é ilimitado.

Ives se remexeu na cadeira,

demonstrando interesse.

— Está bem, dê-me os detalhes.

— A todo momento sabemos de homens

que vão se refugiar no México, após algum

golpe rendoso. Resumindo a coisa, esses

homens não precisariam ir para o México.

Poderiam ficar aqui mesmo, em Quemados,

gastando o dinheiro no saloon do Duff e

pagando uma espécie de taxa de

hospedagem à cidade, representada, no

caso, por nós três

— Está sugerindo que tornemos esta uma

cidade aberta?

— Sim, claro. Temos o que oferecer.

Além de estarmos isolados pelo deserto,

temos, em último caso, a fronteira com o

México. Caso os Patrulheiros do Texas

resolvam fazer uma batida, podemos

mandar os homens cruzar o rio e esperar no

México até as coisas se acalmarem.

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Teremos lá um local para abrigá-los e onde

continuarão gastando o seu dinheiro, em

nosso benefício.

— É uma idéia interessante, mas

arriscada... — ponderou o xerife.

— Eu não disse que seria fácil. Disse que

seria rendoso para todos nós. E muito

rendoso, diga-se de passagem.

— Está bem, mas precisaríamos de um

disfarce para esses homens, um local onde

hospedá-los, coisas desse tipo — lembrou o

xerife.

— Já pensamos nisso tudo. Eles se

passarão por vaqueiros...

— Vaqueiros? E em que rancho eles

ficariam?

— É aí que temos um pequeno problema

que precisamos resolver logo — contou

Irah.

— Como assim? — quis saber o homem

da lei.

— Duff, mostre-lhe o mapa — ordenou

Irah.

O dono do saloon retirou um papel do

bolso de seu casaco e o estendeu sobre a

mesa.

— Concluímos que o ideal seriam estas

terras — indicou Duff, pondo o dedo

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indicador no mapa.

— Sim, parecem boas... Ficam próximas

da fronteira, o que favoreceria a fuga dos

homens para o México, em caso de algum

problema — ponderou o xerife.

— Pois foi por isso que as escolhemos —

falou Irah.

— Só que essas terras pertencem aos

ranchos de Noah Murray e Bob Mathew.

Como esperam conseguir aquelas terras?

Aqueles dois jamais as venderão.

— Talvez pudéssemos convencê-los a

isso — disse Irah.

— Só se for pela força...

— Se esta for a única solução, nós a

usaremos. Aí você entra com sua parte,

dando-nos cobertura.

— Mas esperem aí, as coisas não podem

ser feitas assim. A cidade me pressionaria,

exigindo providências.

— Precisamos apenas pressionar um

pouco aqueles dois, para começar. Talvez

resolvam vender logo os ranchos,

poupando-nos aborrecimentos — falou Irah.

— Não sei... Aqueles dois não são fáceis

assim — comentou Ives, esfregado a mão

no queixo barbado.

— Iremos por etapas. Primeiro falaremos

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com eles. Se não concordarem com a venda

pura e simplesmente, decidiremos o que

fazer em seguida — disse Irah. Sei apenas

que não podemos deixar passar a

oportunidade de ganhar um rio de dinheiro

com esta idéia. Dois cabeças-duras não

serão obstáculos — afirmou Duff.

— Além disso, nós temos também outros

planos — adiantou Irah.

— Que tipo de planos?

— O México é um barril de pólvora,

sempre intranqüilo e prestes a explodir.

Soubemos que há uma revolução em

andamento. Poderíamos fazer uma fortuna

contrabandeando armas.

— Fala sério?

— Sim, não pode imaginar o dinheiro

que circula nesse negócio. É muito mais do

que podemos imaginar.

— E então, Ives, o que decide? — quis

saber Irah. — Sem sua ajuda, nada

poderemos fazer.

— Preciso pensar...

— Não há tempo. Cada minuto que

perdemos pensando significa muito dinheiro

que poderia estar entrando em nossos bolsos

— insistiu Irah.

— Eu continuou achando que é muito

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arriscado...

— Não temos nada a temer — explicou

Irah. — Depois que tudo estiver em

andamento, estaremos cercados por

pistoleiros de verdade, homens que estarão

prontos para lutar ao nosso lado, caso

alguma coisa ameace nossos planos e a

tranqüilidade deles.

— Isso sem falar nas garotas que

contratarei para o saloon. Afinal, não vai ser

fácil divertir um pessoal como esse que

esperamos trazer para cá. Você poderia ficar

com a melhor — ofereceu Duff, sabendo

que Ives era um mulherengo de primeira e

que apreciaria a idéia.

Os olhos do xerife brilharam de interesse.

— É um plano grandioso... — murmurou.

— Sim, Ives. É a chance de nossas vidas.

Em poucos meses estaremos ricos. Não há

razão para hesitar.

O xerife olhou para os dois homens,

depois para algumas garotas que

conversavam junto ao balcão.

— Promete que poderei escolher a garota

que me interessar? — indagou a Duff.

— Até duas, se quiser — riu o dono do

saloon.

— Está bem, estamos combinados então

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— concordou, afinal, estendendo a mão.

Um dos homens do saloon que estivera à

porta o tempo todo se aproximou da mesa.

— Ei, Duff! Noah Murray acaba de

chegar.

— Tem certeza?

— Sim, ele acaba de parar diante do

armazém.

— Está bem, obrigado, Tom — disse

Duff Allister, dispensando-o com um aceno

de mão.

— Vão falar com ele? — quis saber Ives.

— Sim, começaremos a pôr tudo em

prática a partir de agora. Você vem

conosco?

— Por que não?

Os três homens se levantaram e deixaram

o saloon. Cruzaram a rua. Noah Murray, um

texano alto e forte, com seu chapéu de abas

largas, estava descendo de sua carroça.

— Olá, Noah! — cumprimentou-o Duff.

O rancheiro olhou-o com desprezo, pois

não o tolerava.

— Deseja alguma coisa, Duff?

— Sim, tenho uma proposta a lhe fazer...

— Que proposta?

— Quanto quer pelo seu rancho?

— Meu rancho não está a venda.

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— Talvez mude de idéia, quando souber

de nossa oferta...

— Não estou interessado — disse Noah,

virando-lhes as costas e caminhando para o

armazém.

— Espere um pouco, Noah — pediu Ives.

— Por que não fica e ouve a proposta?

— Já lhe disse, Mar, meu rancho não está

à venda.

— É sua última palavra?

— Sim, e não se fala mais nisso —

finalizou o rancheiro, entrando no armazém.

Os três homens se entreolharam.

— Eu disse que não seria fácil — falou

Ives.

— É agora que você entra, Ives — disse

Irah.

— Eu? Como assim?

— Eu a Duff já havíamos pensado na

hipótese dele resistir. Há um meio de

pressioná-lo.

— Como?

— O plano é o seguinte... — disse Irah,

dando discretamente os detalhes para o

homem da lei.

Ao final, Ives o olhou espantado.

— Eu não posso fazer isso... Não é

legal...

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— E quem disse que as coisas deveriam

ser feitas legalmente? Você representa a

justiça e a lei por aqui. Suas ordens deverão

ser cumpridas.

— Isso mesmo, Ives. Vá lá e faça como

Irah lhe disse. Agindo assim, aparentemente

estará apenas tentando proteger os

interesses da cidade — insistiu Duff.

— Pense na fortuna que vamos fazer —

insinuou Irah, sabendo ser convincente.

Ives esfregou a mão no queixo, depois

verificou se sua arma saía facilmente do

coldre.

Sabia que encontraria barulho ao fazer o

que Irah determinara. Sua ambição, porém,

impulsionava-o.

— Certo, deixem comigo, então.

Entrou decididamente no armazém. Noah

Murray estava sendo atendido pelo velho

Clark, dono do estabelecimento.

— Olá, xerife! — cumprimentou-o

rapidamente o velho. — Já o atendo.

— Espere um pouco, Clark. Ainda vende

a crédito para Noah Murray?

— Sim, sempre fiz isso — respondeu o

velho, surpreso.

— O que há, Ives? Qual é o motivo dessa

pergunta idiota? — indagou Noah, pondo-se

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na defensiva.

— Não estou falando com você, Noah —

respondeu-lhe rispidamente o xerife.

— Mas falou de mim num tom de voz

que não me agradou.

— Fique fora disso, homem!

— Quer me explicar o que está havendo,

Ives? — indagou Clark.

— De agora em diante você não venderá

mais a crédito para Noah Murray.

O velho ficou surpreso e indagou:

— E por que não deveria fazê-lo? Noah

sempre me pagou direito...

— Não estamos discutindo isso. Soube

que Noah Murray pretende dar o fora da

cidade. Assim, estou apenas evitando que

você tenha maiores prejuízos...

— Espere aí, Ives. Quem lhe contou essa

história fantástica? — protestou Noah,

pondo a mão no ombro do xerife.

Ives deu-lhe um safanão, fazendo-o

perder o equilíbrio.

— Se tentar me agredir de novo, eu o

mato, Noah — ameaçou.

— Mas eu não estava... — ia se

defendendo o rancheiro.

— Cale-se! — gritou-lhe Ives.

O rancheiro ficou estupefato, sem

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entender a razão de tudo aquilo.

— Tem certeza do que está falando, Ives?

— indagou Clark.

— Sim, certeza absoluta. Soube de fonte

segura. Noah lhe deve muito?

— Bem, sim... Deve-me todo o

fornecimento do inverno. Mais ou menos

uns trezentos dólares...

— Então é bom tentar encontrar uma

forma de receber isso, Clark, o mais

depressa possível ou ficará com o prejuízo

— alertou o homem da lei.

— Espere um pouco, Ives! O que está

dizendo é uma infâmia — falou o rancheiro,

avançando para o xerife.

— Nem mais um passo ou atirarei em

você, Noah. Agora apanhe sua carroça e dê

o fora daqui. Ninguém na cidade lhe dará

mais crédito agora.

— Você sabe que isso vai ser meu fim.

Só vou começar a reunir meu gado daqui a

um mês...

— Problema seu. Enquanto não pagar o

que deve, está impedido de entrar na cidade.

— Mas é um absurdo!

— Entenda como quiser, mas faça o que

estou lhe ordenando.

— Com isso não conseguirei ninguém

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para trabalhar para mim... Meu gado está

espalhado nos pastos... É só vendê-lo e terei

dinheiro...

— Dê o fora, Noah!

O rancheiro engoliu seco, depois se virou

e saiu. Lá fora, junto à carroça, Irah e Duff

o aguardavam, olhando-o com ar de

zombaria.

— Parece que está tendo problemas,

Noah — observou Irah, sorrindo de modo

sarcástico.

— Talvez agora possa considerar aquela

nossa proposta — acrescentou Duff.

Noah olhou-os com surpresa, depois

começou a rir, começando a entender toda

aquela encenação feita pelo xerife.

— Então é isso! Não sei por que diabos

vocês querem meu rancho, mas não vão

forçar-me a vendê-lo desse modo.

— Use a cabeça, Noah, e poupe

aborrecimentos para todos nós — disse Irah.

— Quanto quer pelo rancho? — indagou

Duff.

— O dinheiro de vocês não me interessa.

Só os aviso que encontrarão muito barulho

se insistirem nessa idéia maluca... — falou

o rancheiro, já aborrecido com tudo aquilo,

fazendo menção de subir na carroça e

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afastar-se dali o mais depressa possível.

Percebia claramente que havia alguma

sujeira sendo preparada contra ele, embora

não soubesse definir exatamente o que era e

qual o motivo de tudo aquilo.

Ives os olhava e ouvia, parado à porta do

armazém. Ciente disso, Irah tratou de

provocar Noah, falando ao xerife.

— Viu só, xerife? Noah acaba de nos

ameaçar.

— Não estou ameaçando ninguém —

defendeu-se Noah. — Mas não posso deixar

de reconhecer que me daria muita satisfação

encher as barrigas de dois trapaceiros como

vocês de chumbo.

— Cuidado com o que diz, Noah —

alertou-o Ives.

— Quanto a você, Ives, estou surpreso

que tenha se envolvido com tipos tão

desprezíveis e covardes como esses dois —

falou Noah, corajosamente.

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— Ninguém fala assim comigo — disse

Irah, tentando sacar sua arma.

Noah foi mais rápido, apanhando o

chicote da carroça e desarmando.

Duff tentou fazer o mesmo e ganhou um

vergão enorme nas costas de sua mão,

sendo chicoteado da mesma forma que fora

seu parceiro.

Ives, porém, sacou sua arma e disparou,

varando o ombro do rancheiro. O chicote

caiu no chão, aos pés de Noah, manchando-

se

do sangue que escorria do ferimento.

— Maldito seja, Ives! — praguejou

Noah, avançando para ele com um ódio

mortal.

Seu ferimento, porém, tirou-lhe a

mobilidade. Ives se esquivou do primeiro

soco desferido por Noah, retribuindo com

uma violenta coronhada na cabeça do

rancheiro.

— Miseráveis! — vociferou Noah,

aturdido, caindo de joelhos diante do

homem da lei.

Duff, cego pela dor produzida pela

chicotada em sua mão, avançou pelas costas

dele e chutou-lhe a cabeça.

Irah se uniu a ele e ambos golpearam

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impiedosamente o corpo do pobre homem.

— Agora chega, rapazes — falou Ives.

— Mais um pouco e todos os nossos

problemas estarão resolvidos — disse Irah,

furioso ainda.

— Já há muita gente olhando, não

convém arriscar — ponderou o xerife.

Irah pareceu retornar à consciência,

olhando ao seu redor. Diversas pessoas

presenciavam a cena, sem saber o que

acontecia realmente.

Ives se encarregou de contar-lhes sua

versão dos fatos, dispersando-os em

seguida.

— Nunca confiei realmente nesse Noah

Murray — falou um cidadão.

— Sempre me pareceu desonesto —

acrescentou outro, com desprezo na voz.

— Talvez a surra o ensine a negociar

honestamente agora — acrescentou um

outro.

Irah e Duff acompanharam isso tudo com

satisfação, pois demonstrava que ninguém

suspeitava que tudo aquilo não passara de

uma armação contra Murray.

Noah Murray estava caído e coberto de

sangue e poeira. Respirava fracamente.

— A cidade já está do nosso lado, Ives.

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Entende agora o que eu queria lhe dizer? —

observou Irah, sorrindo de satisfação.

— Sim, mas o que faremos com Noah

Murray agora? — quis saber Ives.

— Vamos deixá-lo aí como exemplo —

sugeriu Irah.

— Ele pode morrer nesse estado —

alertou Ives.

— E daí? Seria o ideal para nós.

— Não, não podemos agir assim. Temos

de ser discretos — disse o xerife. — Como

representante da lei, tenho de agir com

coerência. Levarei Noah ao médico e depois

o prenderei. Assim ninguém nos acusará de

nada posteriormente.

— Está bem, Ives. Faça como quiser.

Depois iremos fazer-lhe uma visitinha na

delegacia. Lá estaremos tranqüilos e à

vontade para convencer Noah Murray a

vender seu rancho.

— E quanto a Bob Mathew?

— Poderemos ir até o rancho dele ou

esperar que ele venha à cidade — sugeriu

Irah.

— Não podemos esperar muito tempo —

lembrou Duff. — Quanto antes terminarmos

esses detalhes, mais cedo poderemos

começar a agir.

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— Duff tem razão, Irah — concluiu Ives.

— Talvez devêssemos mandar chamá-lo à

cidade.

— Sim, não deixa de ser uma boa idéia

— concordou Irah.

— Podemos mandar alguém do saloon —

lembrou o xerife.

— Sim, Tom pode fazer isso — propôs

Duff.

— Acha que ele virá ainda hoje? —

indagou Ives.

— Viria se você o intimasse — falou

Irah.

— Sob que pretexto?

— O mesmo que usamos contra Noah

Murray. Bob, assim como todos os outros

rancheiros, também deve dinheiro no

armazém e nas lojas da cidade —

argumentou Irah.

— Está bem, mas primeiro

conversaremos pacificamente com ele,

como tentamos com Noah Murray. Se ele

não aceitar, pensaremos em outras medidas

— decidiu Ives.

Assim que o xerife se afastou, arrastando

o corpo ensangüentado de Noah Murray,

Irah e Duff rumaram para o saloon.

— Ives não me parece muito seguro do

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que faz — comentou Irah, assim que se

acomodaram numa das mesas.

— Ele é um dos nossos, fará tudo

conforme lhe ordenarmos, pode estar certo

disso.

— E quanto à idéia de chamar Bob

Mathew à cidade? Não acho que seja

interessante. Poderíamos resolver isso de

um modo mais rápido.

— Sim, mas agindo como Ives

recomendou, teremos a cidade do nosso

lado e não despertaremos suspeitas. Bob

teve problemas com seu gado durante o

inverno, é quase certo que não venderá o

resto da manada por um bom preço. Soube

que ele tem uma hipoteca no banco. Se

todos os seus credores o pressionarem, ele

venderá.

— Sendo assim, vamos mandar Tom à

delegacia para receber instruções — falou

Duff, fazendo um sinal para que Tom se

aproximasse.

Este se apresentou imediatamente.

— Vá até a delegacia e fale com o xerife

Lang. Ele tem algo que precisa ser feito

imediatamente.

— Certo, patrão — respondeu o

pistoleiro, saindo rapidamente.

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Duff fez um sinal para o barman e este

levou uma garrafa de uísque e dois copos.

— Quando mandaremos um emissário

avisar os homens que estão refugiados no

México?

— Creio que poderemos fazer isso agora

mesmo — respondeu Irah. — Se tudo correr

bem e do modo como estamos planejando,

logo teremos os ranchos à nossa disposição.

— Sim e esta será a parte mais fácil do

trabalho. Uma vez que a notícia se espalhe,

os fugitivos virão diretamente para cá, no

futuro.

— E quanto às armas?

— Oh, sim, precisava falar-lhe sobre isso.

Recebi notícias de que o arsenal do

Exército, em Houston, foi roubado.

Sumiram duzentos fuzis Enfield e vinte mil

cartuchos.

— Isso quer dizer que nossos rapazes

estão trabalhando direitinho — sorriu Duff.

— Sim, mas o melhor está para vir. Há

um trem que deverá chegar a Houston

amanhã, com um carregamento dez vezes

maior do que isso.

— Mas deverá estar muito vigiado, não?

— Contratei um bom homem para esse

tipo de serviço. Garanto que ele não vai nos

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decepcionar. Lembra-se de Texas Charly?

— Sim, você o contratou?

— Como vê, não perdi tempo em minha

última viagem.

Continuaram conversando e bebendo, até

que Tom retornou do rancho de Bob

Mathew, informando que o rancheiro estava

a caminho da cidade.

— Vamos esperá-lo na delegacia? —

propôs Irah.

— Sim, aproveitaremos para ver como

está Noah Murray. Ele não pode morrer

antes de assinar um recibo de venda,

embora isso não faça muita diferença para

nós. De uma forma ou de outra poremos as

mãos na propriedade mesmo.

Rumaram, então, para a delegacia.

Quando entraram, Ives os encarou,

apreensivo.

— Eu ia sair à procura de vocês — disse

ele.

— Algum problema?

— Sim, Noah Murray acaba de morrer.

— Diabos! Isso não podia acontecer —

vociferou Duff, caminhando nervosamente

pelo aposento.

— Como faremos agora? Aposto como a

filha dele nos criará uma porção de

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encrencas?

— Deixe-me pensar, Irah. Estaremos em

maus lençóis, quando a cidade tomar

conhecimento disso. Forçosamente seremos

acusados, de alguma forma, e temos de

evitar isso.

— Sim, isso mesmo. Mas como vamos

nos livrar dessa? — indagou Irah.

Ives Lang, então, acomodou-se em sua

escrivaninha, olhando seus amigos. Havia

um sorriso calmo e misterioso em seus

lábios.

— O que há com você, Ives? Não

entende a gravidade da situação? —

indagou Duff, irritado.

— Vocês me decepcionam — falou Ives.

— Em que está pensando? — quis saber

Irah, intrigado com tudo aquilo.

— Ninguém ficará sabendo que a morte

dele se trata na verdade de um homicídio.

Eu cuidarei de tudo.

— E como pretende fazer isso? —

indagou Duff.

— Estive falando com o doutor, enquanto

ele medicava Noah. Ele comentou que Noah

vinha tendo problemas com o coração.

Sabem o que isso quer dizer?

— Sim, estou entendendo agora — falou

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Irah, com um sorriso.

— Basta que o médico confirme isso e

tudo ficará resolvido para nós.

— Acha que pode convencer o médico a

fazer isso?

— Não se preocupe, eu e ele somos

velhos amigos. Tudo ficará arranjado.

— Isso resolve um dos problemas, mas

nos deixa na mesma situação de antes. Não

será fácil lidar com a filha de Murray. Eu a

conheço. Ela tem um gênio explosivo —

falou Duff.

— Quando se fizer um levantamento das

dívidas de Noah Murray, a garota vai se

apavorar. Não terá como conseguir dinheiro

de imediato — lembrou Irah.

— Sim, você está certo — concordou

Duff. — Mas se não funcionar, teremos que

usar a força.

— Cuidado com isso. Não podemos fazer

nada errado neste início — alertou Ives. —

Apenas um pouco de pressão e tudo se

resolverá. Posso apressar o processo de

cobrança contra a garota. Se ela não puder

pagar, tomaremos o rancho e o levaremos a

leilão. Com a ajuda do juiz, será fácil

comprá-lo por uma bagatela.

— Sim e o mesmo poderá ser feito com

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Bob Mathew — lembrou Irah.

— Mas aí teremos que ter o juiz também

do nosso lado — lembrou Duff.

— O que não é muito difícil. Um bom

barril de uísque é tudo que ele precisa para

aceitar qualquer proposta nossa.

— Se é assim, posso mandar isso hoje

mesmo para a casa dele.

— Sim, faça isso, Duff.

— Ótimo, Ives! Você cuida desses

detalhes e nós vamos tratar dos outros

assuntos — finalizou Irah.

Becky estava sentada no alpendre da

casa, preocupada.

— Maria, tem certeza que meu pai saiu

cedo mesmo para ir à cidade? — indagou

ela à cozinheira.

— Sim, ele ia comprar mantimentos e ver

se selecionava alguns vaqueiros para

começar a recolher o gado.

— Já deveria ter voltado, não?

— Penso que sim, o Señor Murray nunca

se atrasa.

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— Está bem, talvez tenha parado para

descansar... — disse a garota, embora

intimamente continuasse preocupada.

Sabia que seu pai havia ido ao médico e

este lhe dissera que ele tinha problemas com

o coração.

Se não estivesse cavalgando quando ele

saiu, teria ido com ele e não precisaria

passar por aquela aflição agora.

Esperou mais um pouco. Como ele não

chegava, ela resolveu ir até à cidade,

verificar o que havia acontecido.

Vestiu roupas de montaria, depois foi

selar seu cavalo. Quando saía do estábulo,

viu a carroça que se aproximava ao longe.

Estranhou que ela rebocasse um cavalo.

Não reconheceu o homem que vinha na

boléia.

— Papai! — murmurou ela. — Oh, não!

— acrescentou, certa agora da tragédia.

Galopou desesperadamente ao encontro

da carroça. Era Loomis, um ajudante do

xerife quem a conduzia.

Quando freou seu animal ao lado, viu o

caixão lá dentro e desesperou-se.

— Oh, Deus, Loomis! O que aconteceu

com meu pai?

— Ele está morto, Becky. Eu sinto

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muito...

— Como aconteceu isso, meu Deus! —

murmurou ela, saltando do cavalo para a

carroça e tentando abrir a tampa.

— Eu não faria isso, Becky.

— Por que não? — surpreendeu-se ela.

— O médico fez o possível, mas o rosto

dele está muito machucado...

— Machucado? — espantou-se ela.

— Sim, machucado.

— Como assim? Ele caiu da carroça...

— Não, ele se meteu numa briga lá na

cidade.

— Briga, Loomis? Está falando de meu

pai, Noah Murray, dizendo que ele se meteu

numa briga?

— É isso mesmo. Eu não sei mais o que

lhe dizer. Se for à cidade o xerife lhe

explicará tudo.

Ela pensou por instantes, terrivelmente

confusa. Não sabia exatamente o que fazer,

mas o fato estava ali, diante dela. Seu pai

estava morto. Nada havia que ela pudesse

fazer.

— Faça-me um favor, Loomis! Não

temos nenhum vaqueiro ainda no rancho. Só

estamos eu e Maria, a cozinheira. Pode

cavar uma sepultura e enterrar meu pai?

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— Posso, mas o que você pretende fazer?

— Vou descobrir o que houve — falou

ela, decidida.

Estava se esforçando ao máximo para não

se desesperar, embora lágrimas escorressem

pelo seu rosto.

Ela saltou de volta para o seu cavalo e

retornou ao rancho. Foi até um armário e

retirou dali um Colt. Verificou a munição,

prendeu-o no cinto e disparou para a cidade.

Quando chegou, o xerife estava entrando

no saloon.

— Espere, xerife! — deteve-o ela.

O homem da lei viu logo a pistola que ela

trazia presa ao cinto e imaginou que a

garota procurava encrenca.

Talvez isso, longe de ser um problema,

pudesse se transformar na solução definitiva

dos problemas dele e dos sócios em relação

ao rancho.

— O que quer, Becky?

— O que houve com meu pai?

— Eu sinto muito, Becky. Ele se meteu

numa briga...

— Mentira! Meu pai nunca foi de

brigar...

— Pois perdeu a calma desta vez, Becky.

Estava devendo no armazém e foi cobrado...

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— Cobrado? Como assim?

— Alguém comentou que ele estava se

preparando para dar o fora da cidade e...

— Espere um pouco, xerife! Do que está

falando, afinal? — indagou ela, totalmente

confusa.

— Acho melhor se acalmar — pediu ele.

Naquele momento, Irah e Duff surgiram

atrás do xerife.

— Algum problema, xerife?

— Não, tudo sob controle.

— Quem surrou meu pai?

— Nós — respondeu Irah. — Veja —

acrescentou, mostrando o vergão causado

pela chicotada.

— Se meu pai lhe fez isso, você deve ter

feito por merecer...

— Becky, aceite o meu conselho: vá

embora, enterre seu pai e acalme-se.

Quando estiver melhor, volte e

conversaremos — finalizou o xerife, dando-

lhe as costas e entrando.

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Becky Murray olhava com desconfiança

para o homem sentado a sua frente, na

diligência que se dirigia para Quemados. As

abas largas do chapéu impediam-na de ver o

rosto dele, onde se destacava uma barba

cerrada.

Desde que fora obrigada a deixar o

rancho de seu pai, a garota andava em

sobressaltos.

Tinha, no entanto, coragem o bastante

para retornar à cidade, após haver feito uma

visita ao Quartel General dos Patrulheiros

do Texas, em Houston.

A diligência deu um solavanco. Sua bolsa

caiu do assento. O homem a sua frente se

antecipou, apanhando-a.

— Obrigada! — agradeceu ela, na

defensiva.

— Por nada — respondeu o homem,

levantando a cabeça.

Apesar da barba espessa e escura, o

desconhecido tinha algo de simpático e

bondoso no rosto.

— Parece assustada, dona — observou

ele.

— Eu? Por que diz isso?

— A maneira como olha para os lados e

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para as pessoas... Parece um animalzinho

acuado — disse ele, com certa doçura.

— Desculpe-me — pediu ela.

— Tudo bem. Mas deve reconhecer que

está mesmo assustada ou tensa com alguma

coisa.

— Você tem toda razão. Tenho andado

mesmo com os nervos à flor da pele.

— Algum problema sério?

— Sim, muitos. Primeiro mataram meu

pai, depois tomaram o nosso rancho.

Finalmente, os Patrulheiros do Texas dizem

que nada podem fazer porque tudo que

aconteceu foi legal. Pode entender uma

coisa dessas?

— E foi legal?

— Aparentemente.

— Não quer me explicar melhor? Temos

tempo mesmo...

— Não há muito o que contar. Eu só sei

que foi um plano muito bem tramado. Só

não posso entender porque fizeram isso.

Não há uma razão lógica...

— Onde aconteceu tudo isso?

— Em Quemados.

O desconhecido pareceu ficar ainda mais

interessado ao ouvir o nome da cidade.

— Meu nome é Kit Bacley. Se houver

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algo que eu possa fazer por você...

— Já não há mais o que fazer, Kit.

— Se é assim, por que está indo para lá?

— Porque desejo descobrir o que há por

trás de tudo isso. Quero saber por que o

rancho de meu pai era tão importante. Sei

que foi a leilão para pagamento das dívida.

Deve ter me sobrado alguma coisa, pois as

dívidas eram mínimas, comparadas ao valor

do rancho.

— Recebeu alguma ameaça depois disso?

— Sim, muitas, não abertamente, mas

veladas.

— De alguém em especial?

— Dos asquerosos que causaram a morte

de meu pai.

— E quem são eles?

— Irah Wilkinson e Duff Allister.

— E como eles causaram a morte de seu

pai?

A garota narrou todo o acontecido.

Depois ficou intrigada com tantas

perguntas. O forasteiro estava

demonstrando um interesse incomum pela

história.

Becky resolveu, então, calar-se, já que

podia estar dizendo coisas à pessoa errada.

— Vamos demorar muito para chegar a

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Quemados? — indagou o estranho, algum

tempo depois.

— Não muito agora. Umas duas ou três

horas — informou ela, olhando pela janela.

— Esteve muito tempo fora?

— Um mês apenas.

Kit balançou a cabeça enigmaticamente,

calando-se também até o final da viagem.

Quando chegaram à cidade, ele a ajudou

descer e se despediu com delicadeza e

educação.

Becky dirigiu-se imediatamente à

delegacia. Ao vê-lo, o Xerife Ives Lang

empalideceu.

— O que veio fazer aqui? — indagou ele.

— Buscar o que é meu. Nada consegui

com os Patrulheiros do Texas, mas sei que

meu pai foi covardemente assassinado.

— Foi perda de tempo mesmo, Becky. Eu

mandei um relatório detalhado para lá. Eu

sabia desde o princípio que sua viagem seria

inútil.

— Agora eu sei disso. A quem eu devo

procurar para receber o que tenho direito?

— Receber? Direito? De que está

falando? — surpreendeu-se ele.

— Ora, xerife, entre o que meu pai devia

e o que valia o rancho há uma grande

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diferença...

— Está maluca, garota! O dinheiro

arrecadado no leilão mal deu para pagar as

dívidas...

— Louco está você, xerife!

— Tenho todos os documentos para

comprovar...

— Quem comprou o rancho? — indagou

ela, num fio de voz.

— Irah Wilkinson e Duff Allister...

— Aqueles patifes! Agora entendo tudo.

Eles queria o rancho desde o princípio.

Devem ter armado toda essa trama... Vão

me pagar por isso...

— É bom ir com calma, Becky. Não a

quero provocando encrencas na cidade. Está

tudo consumado. Aproveite que a diligência

só parte mais tarde, pegue suas malas e dê o

fora daqui.

— Será que é tão cego que não vê que fui

roubada, xerife?

— Fui uma decisão do juiz. O leilão foi

honesto. Não há o que protestar.

— Não estou gostando disso, xerife. Há

um cheiro de trapaça no ar e estou certa que

você tem alguma coisa a ver com isso tudo,

não?

— Bob Mathew alegou a mesma coisa,

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mas acabou se convencendo.

— O que houve com ele?

— Teve o mesmo problema que seu pai.

O rancho foi a leilão.

Becky fechou os punhos com força,

contendo sua cólera. Depois virou-se e saiu,

furiosa.

Ives se dirigiu imediatamente ao saloon,

onde contou aos seus sócios o que ocorrera.

— Então ela teve coragem de voltar —

comentou Irah.

— E está louca para arrumar confusão —

emendou Ives.

— Vamos cuidar dela.

— É apenas uma garota atrevida... —

opinou Duff. — Só tem pose.

— Mandaremos alguns rapazes darem

um susto nela, só isso será o bastante para

expulsá-la daqui — decidiu Irah.

— Façam tudo direito.

— Não se preocupe. Vamos apenas dar

um susto nela. Garanto que ela irá embora

na diligência ainda hoje — prometeu Irah,

chamando dois homens que estavam

encostados no balcão.

Deu-lhes algumas instruções e eles

saíram. Irah convidou Ives para que se

sentasse.

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— Como estão indo nossos planos? —

indagou ele, assim que se sentou.

— Chegaram mais dois homens hoje,

procurados por assalto. Cada um nos pagou

duzentos e cinqüenta dólares. Com isso já

lucramos perto de cinco mil dólares em

apenas um mês e estamos só no começo. O

grosso virá do carregamento de armas que

vamos entregar amanhã.

— Ótimo! Logo quero começar a ver a

cor desse dinheiro.

— Não se preocupe, sua parte está bem

guardada.

Enquanto isso, Becky se dirigia ao hotel,

onde pretendia se hospedar. Sentia-se

confusa diante dos acontecimentos e

tremendamente revoltada com o que

acontecera ao seu rancho.

Súbito um homem esbarrou nela,

derrubando sua mala. Sem nada dizer, o

homem chutou com força a mala, abrindo a

tampa e espalhando peças de roupa no chão.

— Eu ajudo! — disse o homem,

abaixando-se para recolher as roupas.

— Pode deixar que eu faço isso, seu

estúpido!

— Deixe que ele faça isso — falou um

segundo homem, segurando-a pelo braço.

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— Solte-me, seu brutamontes — ordenou

ela.

— Veja só que beleza — falou o homem

que recolhia as roupas, exibindo um corpete

tirado da mala.

— Dê-me isso — gritou a garota,

debatendo-se, mas o homem que a segurava

pelo braço a mantinha presa com firmeza.

Ela chutava, tentando atingir o homem

que revirava suas roupas e zombava dela.

— Já viu que coisa mais excitante? —

insistiu o homem, exibindo agora um sutiã.

Uma sombra avançou, cobrindo-o. Ele

levantou os olhos e encarou os olhos

cinzentos daquele texano alto e de chapéu

de abas largas.

— É bom fazer o que a garota disse —

falou Kit Bacley, olhando-o furiosamente.

— Dê o fora, homem. Não há nada que

possa interessá-lo aqui — disse o homem

abaixado.

— Eu decido isso. Agora vamos começar

por você — falou ele, apontando para o

outro. — Solte a garota.

— Como quiser, forasteiro — disse o

pistoleiro, empurrando a garota para o lado

e encarando Kit.

O outro pistoleiro se levantou, indo

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juntar-se ao amigo. Estavam ambos prontos

para sacar. Kit encarou-os com um sorriso

de desprezo nos lábios.

— Agora vão andando — ordenou ele.

Os dois pistoleiros se entreolharam,

zombando da audácia do forasteiro.

— Vai se arrepender disso — disse um

deles, avançando para Kit.

Seus movimentos, porém, foram lentos

demais. Kit desviou o corpo do golpe que

pretendia atingí-lo na cabeça.

Com agilidade e força, retribuiu

imediatamente com um murro no queixo de

seu atacante.

O homem revirou os olhos e abriu os

braços, enquanto caía para trás, derrubando

seu amigo consigo.

Antes que pudessem se levantar, Kit

completou o trabalho, chutando a cabeça de

cada um e pondo-os para dormir naquele

mesmo instante.

— Obrigada! — disse a garota, após

juntar suas roupas e as recolocar na mala.

— De nada, moça — falou Kit. — Já

resolveu seus negócios em Quemados?

— Não, mas não sei o que fazer.

Simplesmente fui roubada. Imagine que não

receberei nada. O rancho foi vendido pelo

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valor das dívidas, o que é um absurdo!

— Entendo. Se é assim, por que não vai

embora da cidade? Aproveite a diligência...

— De forma nenhuma. Quero reunir

provas de que alguma coisa errada está

acontecendo aqui. Vou mandá-las para o

Quartel General dos Patrulheiros. Eles terão

de rever a decisão anterior...

— Pode se dar mal com isso. Já viu que

isto que aconteceu aqui não foi por acaso...

— Obrigada pelo aviso e pela ajuda, mas

sei cuidar de mim. Eles não vão me

intimidar...

— De qualquer forma, cuide-se.

Ela agradeceu, apanhou a mala e

caminhou apressadamente na direção do

hotel.

— Muito bem, espertinho! — disse um

dos pistoleiros caídos, apontando uma arma

para Kit.

— Por que não guarda esse brinquedinho

e continua vivo? — falou ele.

O pistoleiro riu da ameaça, pondo-se em

pé. Seu amigo o imitou. Duas armas foram

apontadas para o recém-chegado.

— Saque sua arma! — ordenou um deles.

As pessoas que haviam parado para

observar a cena imediatamente se

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dispersaram. Kit ficou só, encarando a

morte.

— Guardem essas armas, rapazes —

ordenou o Xerife Lang, aproximando-se do

local.

— Ele é nosso, xerife. Fomos

provocados...

— Guarde a arma, Beef — ordenou

novamente o xerife, desta vez asperamente.

— Todos aqui viram o que ele fez

conosco — insistiu Beef, furioso.

— Eu cuido dele agora. Dêem o fora —

ordenou Ives, intrometendo-se entre Kit e os

dois pistoleiros.

— Isso não termina aqui, pistoleiro —

afirmou Beef, guardando sua arma.

Lentamente eles se afastaram, jurando

vingança.

— Muito bem, quem é você? — quis

saber o homem da lei,

— Kit Bacley.

— O que faz por aqui?

— Nada... Estou à procura de trabalho.

— Pelo que vi, acaba de arranjar

encrencas apenas. Se até a tarde não

conseguir um emprego, apanhe a diligência

e dê o fora daqui. A próxima só daqui a

quinze dias.

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— Entendi o recado, xerife — falou Kit,

com ironia, afastando-se.

Caminhou diretamente para o saloon.

Encostou-se no balcão e pediu um uísque.

Momentos depois, Beef e seu amigo

entravam, com as caras inchadas e ainda

sujas de sangue e poeira.

Quando viram Kit, fizeram menção de

partir para cima dele. Duff, no entanto,

chamou-os antes.

— O que houve com vocês?

— Estávamos assustando a garota,

quando aquele forasteiro ali se intrometeu.

Quase nos arrebentou as cabeças —

explicou Beef.

— Olhe o que ele fez no meu queixo —

falou o outro pistoleiro, chamado Max.

— Quem é ele?

— Não sei, chegou na diligência de hoje.

— Acha que pode ser um cliente nosso?

— indagou Duff a Irah.

— Não creio. Os homens que nos

procuram viajam cercados de precauções.

Jamais viriam numa diligência.

— Deixe a gente descobrir isso, chefe.

Temos contas a acertar com ele — pediu

Beef.

— Está bem, mas faça parecer que ele os

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provocou.

— Entendido — falou Beef, fazendo um

sinal para Max.

Ambos se aproximaram do balcão,

postando-se um de cada lado de Kit. O

forasteiro não moveu um músculo ao vê-los.

— Parece que nos encontramos de novo,

forasteiro — falou Beef.

Kit virou o rosto para olhá-lo com

desprezo e fazer uma careta.

— Você não sente um mau cheiro aqui?

— comentou Kit. — Acho que vem de

vocês dois. Estão fedendo.

Beef empalideceu de raiva e ficou sem

reação. Max deixou sua mão escorregar

lentamente na direção do coldre.

— Você é muito arrogante, forasteiro —

falou Beef.

— Por que vocês dois não caem fora,

enquanto ainda podem usar as pernas? —

indagou Kit, sem pestanejar.

— Está nos desafiando?

— Não, estou lhes dando a chance de

continuarem vivos, só isso.

— Não nos assusta — continuou Beef.

— Sim. E vai nos pedir desculpas

pagando-nos uma bebida — ajuntou Max.

— E se eu me recusar?

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— Não estamos pedindo, forasteiro. Será

que não entendeu que estamos ordenando?

Kit se voltou para o barman e fez um

sinal, pedindo que servisse dois uísques.

Enquanto o barman os servia, Kit acendeu

uma cigarrilha.

— Beba! — ordenou ele a Beef, enfiando

a cigarrilha no copo.

Beef recuou um passo. Kit o agarrou pelo

colarinho, levantando-o do assoalho. Max

levou a mão à arma, mas Kit foi mais

rápido, atirando-lhe um copo de uísque nos

olhos.

— Beba! — voltou a ordenar Kit, desta

vez apontando seu Colt engatilhado para o

nariz de Beef.

O pistoleiro, trêmulo e assustado,

apanhou o copo e o levou aos lábios, sob os

olhares atentos de todos no saloon.

Ele hesitou. Kit socou o copo contra a

boca dele, fazendo o sangue molhar a

camisa do pistoleiro.

— Vai morrer por isso — gritou Max,

cego pelo uísque, já de arma em punho.

Os que estavam no saloon se

estarreceram com a rapidez do forasteiro.

Max caiu varado por dois balaços, antes

que pudesse apertar o gatilho de sua arma.

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Beef tentou a mesma coisa e teve o

mesmo destino. Texas Charly, o pistoleiro

de confiança de Irah e Duff, levantou-se da

mesa e caminhou na direção de Kit

— Tudo bem, Texas — falou Duff,

seguindo-o e interpondo-se entre ele e Kit.

— Esses idiotas tiveram o que mereciam.

Quanto a você, forasteiro, acho bom deixar

a cidade agora mesmo.

— Não recebo ordens de qualquer um —

disse Kit, calmamente.

— Insolente! — vociferou Texas Charly,

levando a mão à arma.

Antes que ele tocasse a coronha de sua

arma, Kit já lhe apontava seu Colt.

— Não gosto de matar de graça, mas

posso fazer a terceira exceção hoje, se você

insistir em morrer — disse ele a Charly.

— Está arrumando uma porção de

inimigos por aqui, forasteiro. Isso pode não

ser muito bom para a sua saúde — advertiu

Duff.

— Da minha saúde cuido eu — falando

Kit, pagando a bebida e saindo.

Encontrou-se, na porta, com o xerife que

chegava apressado.

— O que houve esta vez? — indagou,

segurando Kit pelo braço.

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O forasteiro olhou gelidamente para o

homem da lei. Ives soltou-lhe o braço,

intimidado com aquele olhar mortal.

— Eles me provocaram. Todos são

testemunhas de que eles sacaram antes —

falou Kit, saindo.

Ives foi até a mesa ocupada por Duff e

Irah, que não pareciam satisfeito com o que

haviam presenciado.

— Quem é ele? — indagou Duff.

— Não sei, mas penso que já vi aquele

rosto antes — falou Ives, que estivera

intrigado com isso desde que encontrara Kit

lá fora.

— Lembra-se dele?

— Não, não consigo me lembrar...

— Então trate de se lembrar logo. Ele é

muito bom com uma arma, bom demais

para ser um pistoleiro comum.

Naquele momento, o ajudante do xerife

entrou no saloon, trazendo um cartaz em

suas mãos.

— O que foi, Bob? — indagou-lhe Ives.

O rapaz trazia nas mãos um cartaz de

procurado, que estendeu para o xerife.

— Quando me disse que já havia visto o

rosto daquele forasteiro antes, lembrei-me

de dar uma olhada nos cartazes que

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chegaram hoje, pela diligência. Veja!

Ives apanhou o cartaz que o rapaz

estendia, olhou-o, depois passou-o para seus

sócios.

— Kit Bacley, procurado por assalto a

mão armada e assassinato — comentou

Irah.

— Penso que temos aí mais um cliente,

amigos — falou Duff. — Por que não o

convidamos para uma conversa amigável?

— Sim, boa idéia! Charly, vá à procura

dele e traga-o aqui — ordenou Irah.

Os três sócios ficaram conversando e

bebendo animadamente, enquanto Texas

Charly saía à procura de Kit que, naquele

momento, estava no hotel, alugando um

quarto.

Quando caminhava para o aposento que

lhe fora destinado, Becky Murray, que

estava hospedada no quarto diante do dele,

chamou-o.

— Olá! Posso ajudá-la em alguma coisa,

moça? — indagou Kit.

— Antes de mais nada, pode me chamar

pelo nome? É Becky, está bem?

— Como quiser, Becky.

— Entre aqui, precisamos conversar.

Kit estranhou, mas seguiu-a para dentro

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do quarto. A garota fechou a porta, depois

encarou-o.

— Foi você quem disparou ainda há

pouco lá no saloon, não foi?

— Sim, matei aqueles dois pistoleiros

que a molestaram.

— É um pistoleiro Kit?

— Por que deseja saber?

— Se for um pistoleiro, quero contratá-

lo.

— Para quê?

— Para me ajudar a recuperar meu

rancho.

— Não acha isso uma causa perdida?

— Não. Eu conversei com o porteiro do

hotel. Ninguém sabia da data do leilão,

apenas aqueles dois, o juiz e o xerife. É

totalmente contra a lei e o leilão pode ser

anulado por isso, desde que eu proteste.

— Então faça isso...

— É o que pretendo fazer, mas preciso

me assegurar de que não serei morta ao

fazer isso.

— Acha mesmo que eles tentarão matá-

la?

— Sim, acho que há muita coisa em jogo

por aqui. Pude ver coisas estranhas desde

que cheguei.

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— Como o que, por exemplo?

— Vaqueiros que não estão no pasto

cuidando do gado, mas no saloon, bebendo

e jogando. Gastam mais do que ganham e

parecem, na verdade, estar aqui em férias.

— Como sabe disso?

— Já lhe disse, o porteiro do hotel me

contou algumas coisas. Imagine que aqueles

homens vêm para cá todos os dias, ficam

jogando e se divertindo com as garotas.

Alguns chegam a perder pequenas fortunas

numa noite de jogo e parece não se importar

com isso. Onde vaqueiros que não

trabalham conseguem tanto dinheiro?

Kit esfregou a mão na barba, pensativo.

— Acho tudo isso muito interessante,

mas não me diz respeito...

— Não pensei que fosse um covarde, Kit

— falou ela, com profundo desprezo.

Ele a olhou com seriedade, fazendo-a

estremecer.

— Aceite meu conselho, Becky. Dê o

fora da cidade, pelo menos por algum

tempo.

— Nunca. Vou recuperar aquele rancho,

custe o que custar...

— Então faça como quiser, mas sinto não

poder ajudá-la.

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A garota pareceu se sentir decepcionada

com a recusa de Kit.

— Saia! — ordenou ela.

— Como quiser — respondeu ele,

deixando o quarto.

Quando ia abrir a porta de seu quarto, Kit

ouviu passos e esporas soando na escada,

ficando na defensiva. Ao ver que se tratava

de Texas Charly, baixou a mão na direção

da arma.

— Vim em paz, forasteiro — apressou-se

em dizer o pistoleiro.

— Meu nome é Kit, se não se importa.

— Está bem, Kit. Meu patrão quer falar

com você.

— Está bem, mande-os aqui. Eu os

receberei.

— Acho que não entendeu. Você deve ir

lá falar com eles — intimou Texas, com

arrogância.

Kit se aproximou de Texas Charly,

mediu-o dos pés à cabeça, depois agarrou-o

pelo colarinho.

— Pois volte lá e diga a eles que Kit

Bacley não aceita ordens de ninguém, muito

menos de um garoto de recados como você

— finalizou, atirando Texas no assoalho.

Humilhado ao extremo, o pistoleiro se

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sentiu tentado a sacar sua arma, mas já

tivera uma amostra da rapidez de Kit.

Desafiá-lo seria morte certa, por isso

levantou-se com a cólera estampada no

rosto e retirou-se rapidamente, rumando

para o saloon.

— Quem ele pensa que é? — berrou

Duff, indignado.

— Acalme-se, Duff — aconselhou Irah.

— Você leu o cartaz. Kit Bacley não é um

ladrãozinho comum. Ele tem estilo.

— Mas eu não gosto de ser desafiado.

Esta cidade é nossa e nós mandamos aqui.

Ninguém que queira permanecer sob a

nossa proteção tem o direito de fazer o que

ele fez. Já pensou se todos começassem a

agir da mesma forma?

— Mesmo assim, vamos com calma —

ainda insistiu Irah.

— Texas, mande quatro dos nossos

homens mais fortes buscar esse insolente —

ordenou Duff. — Não me importo se

tiverem de lhe quebrar alguns ossos para

isso.

— Será um prazer, chefe — falou o

pistoleiro, sorrindo com satisfação.

Esperava apenas por uma chance para

fazer Kit engolir toda a humilhação a que o

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submetera.

Pouco depois os quatro homens subiam

as escadas e paravam diante do quarto

ocupado por Kit.

O mais forte deles, chamado Hugh

Brown, arrebentou a porta com um pontapé,

entrando como um furacão.

Kit, porém, havia ouvido o barulho de

botas e esporas parando diante de sua porta,

ficando na defensiva. Imaginou mesmo que

voltariam a sua procura.

Assim, quando aquele brutamontes

entrou no quarto como um touro bravo, já o

esperava com uma cadeira nas mãos.

Lascas de madeira voaram pelo quarto e

Hugh foi se estatelar contra a parede, após

ter sido golpeado na cabeça.

Os outros três homens entraram, mas

foram igualmente surpreendidos. Com o

que restara da cadeira, Kit derrubou mais

um.

Os outros dois foram esmurrados

violentamente. Ao fim da luta, os quatro

atacantes estavam estendidos no assoalho.

— Você aí, levante-se! — ordenou Kit a

Hugh, apontando-lhe a arma.

— Você tem muita sorte, forasteiro —

falou o pistoleiro.

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— Quem os mandou aqui?

— Meus chefes... Irah Wilkinson e Duff

Allister...

— Oh, sim. Parece que eles resolveram

ser mais convincentes no convite, não?

— Se quer um conselho, vá logo ver o

que eles querem...

— Caiam fora!

— Se não for por bem, acabará indo

por... — ia dizendo Hugh, mas calou-se

quando Kit enfiou-lhe o cano da arma entre

os dentes.

— Caiam fora! — repetiu ele, gritando

furiosamente.

Os quatro homens se arrastaram para fora

do quarto. Kit apanhou seu chapéu e saiu

atrás deles.

Quando chegou ao saloon, foi direto à

mesa que os pistoleiros lhe apontaram.

— Não gosto desse tipo de convite,

amigos. Da próxima vez que quiserem falar

comigo, venham pessoalmente...

— Sente-se! — ordenou Irah.

— Há um cheiro de ratos por aqui que me

enoja — disse Kit, virando as costas para se

afastar.

— Antes de ir, veja isto — falou Duff.

Kit se voltou para eles. Duff lhe estendia

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um cartaz de procurado.

— Por que não se senta e conversamos

como bons amigos? — falou Irah.

— Está bem — cedeu Kit. — O que

desejam? — indagou, apanhando o cartaz

das mãos de Duff e rasgando-o.

— Isso não vai mudar nada — falou

Duff.

— Sei disso.

— O que faz aqui nesta cidade?

— Soube que Quemados é um bom local

para um período de descanso, se é que me

entendem...

— Sim, entendemos perfeitamente e

podemos assegurar-lhe que estará a salvo,

enquanto estiver sob nossa proteção.

— Proteção? Como assim? — indagou

ele, intrigado, mas demonstrando interesse.

— Você terá um local para ficar e todas

as facilidades para fugir para o México, em

caso de alguma complicação. Poderá andar

livremente pela cidade, freqüentar o saloon

e se divertir com as garotas. Se gosta de

jogar, temos todos os tipos de jogos...

— Muito cômodo tudo isso — comentou

Kit.

— Deve reconhecer que para se ter tudo

isso você terá que pagar um preço —

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mencionou Duff.

— E onde isso nos leva?

— A uma pequena taxa mensal,

indispensável para assegurar sua

tranqüilidade — falou Irah.

— Traduzindo em miúdos...

— Duzentos e cinqüenta dólares por mês

— informou Duff.

Kit esfregou o queixo barbado, enquanto

refletia sobre a proposta.

— O que acontecerá quando meu

dinheiro acabar?

— Você vai embora e faz um trabalho,

arruma mais dinheiro e volta. Ou então,

poderia considerar uma oferta melhor.

— Que tipo de oferta?

— Vimos como usou sua arma. Um

homem, com a sua habilidade, pode nos ser

muito útil.

— Entendo!

— O que nos diz, então? — quis saber

Duff.

— O que terei a ganhar com isso?

— Não terá que pagar a taxa mensal e

poderemos lhe pagar um salário de

cinqüenta dólares por semana, mais casa,

comida e toda munição que precisar —

especificou Duff.

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Kit pensou por instantes, esfregando a

barba, olhando alternadamente para um e

outro.

— É pouco! — afirmou ele.

— Está louco? — indagou Duff. —

Quem pensa que é?

— Alguém que quer participação nos

lucros. Vejo que têm uma operação

montada aqui, senhores. É o tipo de coisa

que me agrada.

— Vá com calma, forasteiro — falou

Irah. — Tivemos muito trabalho para

organizar tudo, não pense que vamos

entregar uma parte do bolo com tanta

facilidade.

— Não sem antes submetê-lo a um teste

para vermos se é tão bom como diz —

ajuntou Duff, observando aquele forasteiro.

— Acho que devemos testá-lo, Irah.

— Não deixa de ser uma boa sugestão.

Eu gosto da idéia — falou Irah.

— Temos o carregamento para entregar.

Com as mortes de Beef e Max, que eram os

encarregados disso, vamos ter que nomear

outros. Penso que seria uma boa chance de

testar nosso amigo aqui.

— Sim, tem razão — concordou Irah,

sorrindo.

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— O que deverei entregar?

— Saberá no devido tempo — informou

Duff.

— Só terei que fazer isso e mais nada?

— Acha que é muito fácil?

— Penso que sim. Gostaria de algo mais

desafiador — falou Kit, convencido.

— Pois então surpreenda-nos. Mostre que

é um homem que sabe ver e aproveitar as

oportunidades — desafiou-o Irah.

— Terei autonomia?

— Não sei, isso você terá que descobrir.

Vai entregar mercadorias para nós e receber

o pagamento. Deve cuidar dele e nos trazê-

lo de volta — esclareceu Duff.

— Está bem, senhores. Verei o que posso

fazer. Quando e onde vou ter mais detalhes

sobre o assunto?

— Texas Charly lhe dará os detalhes. Vá

com ele agora. Ficará hospedado no rancho.

— Tenho as minhas coisas no hotel...

— No rancho é mais seguro. Além disso,

o trabalho que vai fazer para nós partirá do

rancho. É bom que esteja familiarizado com

as coisas até então.

— Entendido. Vou pegar minhas coisas

no hotel, então — finalizou Kit, saindo.

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Enquanto Texas Charly se encarregava de

conduzir Kit ao rancho, onde ele passaria a

morar, Irah e Duff permaneceram no

saloon, conversando.

— Vamos deixar bem claro uma coisa,

Irah. Não trabalhamos duro para chegar

onde estamos e simplesmente entregar isso

para um espertinho qualquer.

— Claro que não, Duff. Acho que ambos

pensamos da mesma forma. Já percebi que é

do tipo ambicioso, que não vai se contentar

em apenas prestar serviços. Se deixarmos

por conta dele, logo vai querer ser o dono.

— O que faremos a respeito dele, então?

— Vou encarregá-lo de acompanhar a

carga de rifles até o México. Uma vez

concluído o trabalho, ele será morto.

— Ele já mostrou que é perigoso. Quem

fará o trabalho?

— Temos uma porção de homens que

adorariam esse trabalho, mas acho que

Texas Charly vai ter um prazer especial

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nisso. Já tem um caso pessoal com esse

sujeito.

— Ótimo, isso resolve a questão. E o que

faremos quanto a Becky Murray?

— Não se preocupe com ela. Temos tudo

em nossas mãos.

— A documentação é mesmo legal?

— Sim, o juiz fez tudo direitinho. Vamos

dar um susto de verdade nela e espantá-la

da cidade. Falarei com Ives a respeito disso.

Como xerife ele encontrará um meio de

expulsá-la daqui facilmente.

Os dois riram, satisfeitos com o

andamento de seus negócios. Um pouco

mais tarde, Kit e Texas Charly chegavam ao

rancho.

— Você ficará aqui. Temos um trabalho

amanhã, mas isso não significa que você

deva desperdiçar sua noite. Há uma porção

de garotas bonitas no saloon, além das

mesas de jogo.

— Irah e Duff têm um bom lucro com

tudo isso, não?

— Isso não é de sua conta...

— Talvez seja. Posso me tornar sócio

deles.

— Se viver para isso.

Kit sorriu zombeteiramente.

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— Parece que você não aprovou minha

presença aqui, não?

— Tenho meus motivos.

— Por que não acertamos nossas

diferenças agora mesmo? — indagou Kit,

descendo de seu cavalo.

Texas Charly ficou rubro de cólera, mas

se conteve. Se soubesse que teria uma

chance, por menor que fosse, teria sacado

contra Kit.

— O alojamento é ali — apontou ele,

acovardado.

Kit e ele caminharam até lá.

— Pode escolher uma das camas — falou

Texas. — As que estão sem cobertor estão

livres.

— Ainda bem que não terei de pagar para

dormir numa espelunca dessas — falou Kit,

escolhendo sua cama.

Enquanto fazia isso, Texas deixou o

alojamento, indo ao encontro de alguns

homens que jogavam dados sob uma árvore.

— Quem é o novo hóspede? — indagou

um pistoleiro chamado Billy Bough.

— Um ladrão qualquer — informou o

pistoleiro. — Mas é muito arrogante.

Imagine que matou Beef e Max.

— Então deve ser muito bom com a

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arma.

— Sim, não é dos piores. Mesmo assim,

acho que devemos dar-lhe as boas-vindas

— propôs Texas, sorrindo.

— Não contem comigo — falou Billy

Bough. — Nunca me meto com alguém

cujas habilidades desconheço. Isso é

trabalho para El Toro — sugeriu Billy,

apontando na direção de um mexicano.

— Acha que pode vencer aquele

grandalhão? — indagou Texas ao

mexicano.

— Nunca fui vencido, meus punhos

podem ser mais mortais que uma arma,

Texas — falou o mexicano, levantando-se.

Era enorme e musculoso, com a pior das

carrancas no rosto. Texas sorriu,

concordando.

— Então vamos ver do que é capaz, El

Toro.

— Mas esperem aí! O que é que eu ganho

com tudo isso? — quis saber ele.

— Está bem, peça o que quiser.

— Bem, dinheiro não é o meu problema

no momento. Gosto realmente daquela sua

garota lá no saloon.

— Diabos, El Toro! Não tinha outra coisa

para pedir? — indagou Texas, coçando o

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alto da cabeça.

— É pegar ou largar — insistiu o

mexicano.

— Está bem. Se der uma lição no

forasteiro, pode ficar com a garota.

— Palavra?

— Sim, você tem a minha palavra.

— Então negócio fechado — concordou

o mexicano.

Rumaram, então, para o alojamento.

Diversos homens seguiram-nos, ansiosos

por um pouco de diversão. Eram bandidos

da pior espécie e a expectativa de uma boa

briga os deixava excitados.

Texas Charly, em particular, era o mais

interessado naquela briga.

Quando El Toro entrou no alojamento,

Kit estava deitado na cama que escolhera. O

mexicano caminhou diretamente para ele,

parando diante da cama.

— Algum problema? — indagou Kit,

levantando a cabeça a cabeça para encarar o

brutamontes.

— Quem o mandou pegar minha cama?

— Esta estava vaga...

— Não interessa. Estou dizendo que é a

minha cama.

— Ora, não me amole. Estou cansado —

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falou Kit, virando para o lado.

— Olhe para mim quando eu falar com

você, forasteiro — gritou o mexicano.

— Meu nome é Kit Bacley — falou ele,

sem olhar o outro. — Agora por que não dá

o fora e me deixa em paz?

— Só vou lhe dizer mais uma vez,

forasteiro. Quero esta cama.

Kit levantou a cabeça e olhou

demoradamente para El Toro, depois fez um

aceno de cabeça, recusando-se a fazer o que

o outro determinava.

— Acho que não entendeu bem —

continuou El Toro.

— Você é que não entendeu — falou Kit,

sacando sua arma e apontando-a para a

cabeça do mexicano.

— Estou desarmado, como pode ver —

mostrou o mexicano.

— Entendo — disse Kit, levantando-se e

atirando sua arma sobre a cama.

Havia percebido os outros homens nas

janelas e na porta. Entendeu que teria de

lutar ou seria ridicularizado.

— Aposto cem no forasteiro — falou um

dos pistoleiros.

— Eu aceito — respondeu Texas.

No momento seguinte, diversas apostas

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foram feitas. A maioria delas a favor de El

Toro, que tirou a camisa, exibindo a

musculatura exuberante.

Kit fez o mesmo. Não era tão corpulento

quanto o mexicano, mas tinha um bom

físico.

El Toro exibia um sorriso confiante nos

lábios, mas seu rosto se tornou sério ao errar

o primeiro golpe desferido.

Kit, em contrapartida, acertou-o no

estômago, fazendo-o recuar alguns passos.

— É muito esperto, forasteiro, mas acaba

de assinar sua sentença de morte — disse,

com o olhar destilando cólera.

— Por que não cala essa boca e luta de

verdade? — zombou Kit.

El Toro, possesso, avançou para Kit,

tentando novamente atingí-lo. Este, no

entanto, demonstrando agilidade e força

impressionantes, desviou-se e desferiu uma

saraivada de murros no rosto do mexicano,

cobrindo-o de sangue.

Cego pela dor, El Toro golpeou o vazio.

Kit atingiu-lhe um pontapé no estômago e

depois aplicou-lhe um formidável murro na

nuca, derrubando o brutamontes.

— Ele está morto! — exclamou um

pistoleiro que examinou o corpo imóvel do

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mexicano.

Todos olharam com respeito para Kit,

que apanhou sua arma sobre a cama,

guardando-a no coldre.

— Eu fico com as coisas de El Toro —

falou Texas Charly, caminhando na direção

do cadáver.

Kit sacou sua arma e disparou uma vez, a

poucos milímetros da bota de Texas Charly,

que parou e o encarou assustado.

— Eu venci o mexicano. As coisas dele

me pertencem.

— Não conhece as regras aqui — falou

Texas, tentando demonstrar confiança,

diante dos olhares dos outros pistoleiros.

— Pois eu digo que esta é a minha regra

e vai valer aqui —argumentou Kit,

disparando mais uma vez, desta vez perto

do pé do pistoleiro. — Se não concordar,

poderemos discutir isso de outra forma —

ameaçou Kit.

Texas já vira o bastante para saber que

não seria páreo para Kit. Assim, não teve

outra alternativa senão recuar, o que

provocou gargalhadas nos presentes.

Humilhado, Texas jurou vingança.

— Estarei a sua disposição para quando

quiser — disse-lhe Kit, abaixando-se para

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revistar os bolsos do mexicano.

Depois de retirar tudo que havia de valor,

levantou os olhos para os outros homens,

que o olhavam com curiosidade.

Logo eles se dispersaram, intimidados

pelo olhar daquele homem estranho e

impiedoso.

Na cidade, o Xerife Ives Lang recebia a

visita de um forasteiro que acabava de

chegar à cidade.

— Meu nome é Hewke Lawrence —

falou o recém-chegado, exibindo uma

carteira de couro, onde reluzia um distintivo

dos Patrulheiros do Texas.

Ao ver aquilo, o xerife empalideceu.

— Sou Ives Lang — falou ele.

— Sim, eu sei, xerife. Espero que possa

me ajudar.

— É só dizer, patrulheiro...

— Estou seguindo a pista de um

homem...

— Que homem?

— Este — falou o patrulheiro, exibindo

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um cartaz. — Não o viu por aqui, viu?

— Não, creio que não — gaguejou o

xerife, ao reconhecer a figura estampada no

cartaz. — O que ele fez?

— Assaltou um banco e matou um

funcionário. Eu o estou seguindo desde

Abilene.

— Sinto muito, patrulheiro, mas creio

que não posso ajudá-lo...

— Está bem. De qualquer forma,

pretendo ficar alguns dias na cidade, até

reencontrar a pista de Kit Bacley.

— Claro. Conte comigo para o que

precisar.

— Para começar, preciso de um lugar

para ficar...

— No fim da rua vai encontrar o nosso

melhor hotel.

— Está bem. Obrigado por enquanto,

xerife.

Ives esperou que o patrulheiro saísse,

depois correu à janela para observá-lo. Era

alto e forte. Portava duas armas no estilo

dos patrulheiros.

Assim que o viu entrando no hotel,

correu para o saloon, onde encontrou Irah e

Duff.

— O que houve, Ives? Parece que viu um

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fantasma? — indagou Irah.

— Pior que isso, rapazes — falou o

xerife, ofegante. — Adivinhem quem acaba

de sair da delegacia.

— Garanto que não foi o governador —

brincou Duff.

— O assunto é sério e você vai perder

todo o senso de humor quando souber.

Temos um Patrulheiro do Texas em nossa

cidade.

— Está brincando! — exclamou Irah.

— Eu jamais brincaria com algo tão

sério.

— O que ele faz aqui? — quis saber

Duff.

— Está à procura de Kit Bacley e vai

permanecer na cidade até encontrar a pista

novamente.

— Diabos! Ele não pode ficar aqui, é um

risco muito grande para nós. Poderá

reconhecer os homens que protegemos.

Sabem o que isso significa?

— Está bem, vamos pensar com calma.

Se ele quer Kit Bacley, vai tê-lo. O que

temos a fazer é evitar que os homens do

rancho venham à cidade, até que o

patrulheiro vá embora. Tudo estará sob

controle, Duff — garantiu Irah.

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— Onde está Kit Bacley agora? — quis

saber o xerife.

— Foi para o rancho. Amanhã ele

acompanhará o carregamento de armas.

Assim que tudo estiver terminado, Texas se

encarregará de matá-lo. Trará o corpo para a

cidade e o entregará ao patrulheiro. Tudo

ficará resolvido assim — ponderou Irah.

— Espero que nada dê errado — falou o

xerife, já mais aliviado, porque a situação

parecia estar sob controle.

— Está tudo bem, xerife, não se

preocupe.

— Vi uns homens rondando o hotel ainda

há pouco, quando observava o patrulheiro...

— Ah, sim, eu mandei alguns homens

para lá. Vão dar um susto em Becky Murray

— falou Irah.

— Diabos! Podem dar de cara com o

patrulheiro — lembrou Duff.

— Tem razão! — concordou Irah. — Vai

ser difícil explicar isso, principalmente se a

garota falar com o patrulheiro. Ives, esteja

preparado para responder perguntas. Vamos

tentar deter os homens.

— Farei isso agora mesmo — disse Duff.

Naquele momento, porém, três pistoleiros

avançavam pelo corredor do hotel, parando

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diante da porta do quarto de Becky.

— Estão prontos, rapazes? — indagou o

líder, um pistoleiro de nome Hank Trevor,

procurado por roubo de gado.

— Sim, estamos — responderam os

outros.

— Lembrem-se, mandaram-nos assustá-

la apenas... — disse ele, com malícia.

Hank bateu vigorosamente na porta.

Quando esta se abriu, ele empurrou a garota

para dentro, tapando-lhe a boca com a mão.

— Fique quieta, mocinha, ou vai se dar

mal — advertiu ele, esfregando seu corpo

no dela.

— Como vamos fazer para assustar essa

pombinha tão tenra e deliciosa? — indagou

um dos pistoleiros, começando a desabotoar

sua camisa.

Becky tentou desvencilhar-se dos braços

que seguravam, mas foi inútil. Um dos

homens a esbofeteou.

— Ei, Ted! Vamos disputar quem será o

primeiro com ela — falou Hank. — Cadê os

dados? Quem fizer o maior número de

pontos terá o privilégio de ser o primeiro

com esta coisinha gostosa.

— Boa idéia! — concordaram os outros.

Becky, horrorizada ante a idéia de ser

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brutalizada por aqueles homens, reuniu

todas as suas forças para golpear fortemente

o baixo-ventre de Hank, fazendo-o soltá-la.

Livre da mão que quase a sufocava, a

garota gritou por socorro. Furioso com

aquilo, Hank a esbofeteou novamente,

fazendo-a cair sobre a mesa e derrubar um

lampião.

— Segurem-na! — ordenou Hank,

colérico. — Essa gata vai ter o que merece

— rugiu ele.

Quando ia desferir outra bofetada na

garota, alguém bateu na porta.

— Quem está aí? — indagou ele.

Ninguém respondeu do lado de fora, mas

voltou a bater.

— O que está acontecendo aí? —

indagou agora uma voz masculina.

— Nada que possa interessá-lo. Caia fora

daqui antes que se machuque — ordenou o

pistoleiro.

— Tem certeza de que está tudo bem? —

insistiu a voz.

Becky, ao ouvir aquilo, viu a sua única

chance de obter ajuda. Cravou os dentes na

palma da mão que cobria sua boca e gritou

novamente.

— Socorro! Preciso de ajuda!

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— Abram esta porta! — gritou o homem

do lado de fora.

— Demônios! — praguejou Hank,

empurrando a garota para trás e olhando

para seus parceiros.

— Que sujeito idiota é esse aí fora. Dê

logo um jeito nele, Hank! — falou um

deles.

Hank, aborrecido com aquela

interrupção, escancarou a porta, sacando sua

arma, disposto a dar uma rápida lição

naquele intrometido que vinha atrapalhá-

los.

Hewke precisou menos de um segundo

para perceber a cena. Um homem segurava

firme uma garota, que olhava de modo

suplicante e assustado.

— O que deseja, seu bastardo

intrometido? — falou asperamente Hank,

levantando a arma na direção do rosto do

homem diante dele.

Recebeu um murro sobre o nariz e foi

arremessado do outro lado do aposento,

batendo contra a parede.

— Maldição! — gritaram os outros dois,

em uníssono.

Os dois pistoleiros imediatamente

tentaram sacar suas armas, mas não foram

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tão rápidos quanto o estranho.

Hewke percebeu que nenhum daqueles

homens parecia disposto a conversar, por

isso não hesitou de novo.

Cada um deles recebeu um balaço entre

os olhos, estrebuchando no assoalho com o

rosto transformado numa máscara de

sangue.

— Vai se arrepender disso! — gritou

Hank, levando a mão ao coldre de sua arma.

— Não faça isso — ainda avisou Hewke,

mas o bandido não quis ouví-lo.

Antes que pudesse tocar a coronha de seu

Scolfield, uma bala certeira arrebentou-lhe

os miolos.

— Há mais algum? — indagou ele à

garota, que respondeu com um movimento

negativo de cabeça.

Hewke certificou-se de que os homens

estavam mortos, antes de guardar sua arma

e olhar para a garota.

Ela empalideceu e seus sentidos

falharam. Ele correu ampará-la em seus

braços fortes.

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Hewke ajudou Becky a se recuperar e se

acomodar numa poltrona. A garota estava

pálida e assustada.

— Obrigada — agradeceu ela, após haver

tomado fôlego. — Por pouco eles não me

apanhavam realmente.

— Quem são eles? O que desejavam com

você?

— É uma longa história e penso que

ninguém se interessa por ela.

— Talvez eu me interesse. Meu nome é

Hewke Lawrence, sou capitão dos

Patrulheiros do Texas.

— Fico contente em conhecê-lo, capitão,

mas nem os Patrulheiros se interessaram

pelo meu problema.

— Você procurou meus superiores?

— Sim, estive no quartel-general, mas foi

tudo inútil.

Hewke puxou uma outra poltrona para

junto de Becky e se sentou, olhando-a

atentamente.

— Porque não me conta tudo, então?

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— Quer mesmo saber?

— Sim, claro.

— Bem, tudo começou quando... — ia

começar ela, quando passos apressados

soaram no corredor.

Hewke se levantou rapidamente de sua

poltrona, já com suas armas nas mãos,

prontas para disparar.

— O que está havendo aqui? — indagou

o xerife, entrando naquele momento.

— Tive de matar estes homens, xerife.

Estavam atacando esta mulher...

Ao ver que se tratava dos homens que

haviam sido mandados para intimidar

Becky, Ives sentiu um calafrio percorrer sua

espinha. Havia chegado tarde demais.

— E por que eles faziam isso? —

indagou Ives, gaguejando nervosamente.

— E o que ela iria me contar agora,

xerife.

— O xerife já sabe de todos os detalhes

— alertou Becky.

— Conhece o problema dela, xerife?

— Sim, mas não há nada que se possa

fazer — gaguejou Ives, percebendo que

deveria fazer alguma coisa para evitar que

Becky conversasse com o patrulheiro.—

Becky Murray está lutando por uma causa

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perdida. Até a Patrulha do Texas

reconheceu isso.

— Ela já me falou sobre isso, mas não

importa. Gostaria de saber de todos os

detalhes — insistiu Hewke.

— Então por que não vem à delegacia?

Terei o máximo prazer em pô-lo a par dos

acontecimentos — sugeriu Ives.

— Prefiro ouvir a garota primeiro, xerife.

Depois eu o procurarei para saber a sua

versão, xerife. Enquanto isso, seria bom

mandar o papa-defuntos vir limpar o local.

— Eu farei isso — disse Ives, sem outra

alternativa.

Convocou alguns homens que haviam se

aproximado, atraídos pelos tiros, levando os

cadáveres para a funerária.

— Pode me contar tudo aqui, Becky —

pediu Hewke, assim que se viram a sós.

— Obrigado, patrulheiro. Meu nome

completo é Becky Murray — começou ela,

narrando tudo que havia acontecido, até a

perda do rancho.

— Há muita coisa ilegal nisso tudo —

concluiu Hewke, assim que ela terminou.

— O xerife disse que tem cópias dos

documentos. Diz que são perfeitamente

legais, mas não discuto isso. É o modo

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como tudo foi feito que torna isso ilegal.

— Sim, e concordo com você. Não sei

por que, mas farejo uma trapaça a milhas de

distância. Se os fatos aconteceram como

você me narrou, sinto que há trapaça em

tudo isso. Só não posso entender o motivo

de tudo isso.

— Há alguma coisa que possa fazer para

me ajudar? — indagou ela, esperançosa.

— Posso bisbilhotar por aí. Se descobrir

provas de alguma coisa errada, posso

intervir.

— Por favor, então. Ajude-me! Garanto

que houve trapaça nisso tudo.

— Está certo, Becky. Esse não é o meu

trabalho no momento, mas vou ver o que

posso fazer — prometeu ele.

— Obrigada! — agradeceu ela, olhando-

o de modo especial.

Hewke despediu-se dela e foi acomodar

suas coisas no quarto que alugara. Após

isso, dirigiu-se à delegacia.

— Quero que me conte sua versão nos

fatos, xerife — pediu ele, sentando-se

diante da escrivaninha de Ives.

— A respeito de quê? - confundiu-se o

xerife, que demonstrava estar muito

nervoso.

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— A respeito do que houve com aquela

garota, já se esqueceu? — lembrou-o

Hewke, sondando-o.

— Oh, sim — falou Ives, lembrando-se.

Evidenciando cada vez mais seu

nervosismo, ele contou todo o acontecido a

sua maneira.

— Tem certeza de que tudo foi mesmo

legal, xerife?

— Sim, claro, o juiz esteve presente em

todos os atos. Além disso, os documentos

são públicos, você pode olhá-los à vontade.

— Não posso entender, porém, como o

leilão daqueles ranchos foi feito sem um

edital público.

— Engana-se. Houve um. O juiz mandou

afixá-lo no quadro de editais — mentiu o

xerife, pois era algo que ninguém poderia

provar agora.

— Estranho, porque ninguém viu esse

edital. Acho que tudo está muito confuso,

xerife. Acho que não se importará se eu

fizer algumas investigações, não?

Ives Lang sentiu o suor escorrer pelo seu

rosto. Aquilo era algo que não agradaria

seus sócios.

— Não vejo motivos para fazer isso,

capitão. A Patrulha do Texas recebeu um

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relatório completo dos acontecimentos. Eu

mesmo o encaminhei.

— Tudo bem, xerife, mas isso não quer

dizer que não possamos retomar o caso,

xerife.

— Por outro lado, ninguém tem direito de

contestar uma decisão que foi feita na

presença do nosso juiz.

— Não estou contestando nada, xerife.

Só disse que gostaria de investigar um

pouco.

— Se fizer isso, comunicarei o fato a seus

superiores — falou Ives, cada vez mais

nervoso.

Hewke o olhou, demonstrando surpresa.

Depois se levantou e caminhou até a porta.

Antes de abrí-la, virou-se e disse:

— Diga que se trata do Capitão Hewke

Lawrence, xerife.

O xerife estava lívido.

— E tem mais um detalhe: eu acho que

você tem alguma coisa a ver com isso tudo.

— Como assim? — indagou o xerife,

num fio assustado de voz.

— É o que pretendo descobrir — falou

Hewke, saindo.

O patrulheiro apanhou seu cavalo e foi

levá-lo até a estrebaria. Enquanto isso, Ives

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corria avisar Irah e Duff.

— Eu sabia que teríamos encrencas com

esse patrulheiro — falou o xerife.

— Não se preocupe, se ele chegar perto

demais, daremos um jeito nele — falou

Duff. — Temos muitos homens que

poderiam acertá-lo. Podemos fazer as coisas

de modo a parecer um acidente.

— É algo que precisa ser bem feito ou

teremos toda a Patrulha por aqui — alertou

Ives.

— Não se preocupe — tranqüilizou-o

Duff. — Tudo será feito com o máximo de

cuidado.

Naquele momento, Hewke deixava a

estrebaria. Parou um pouco à porta,

pensando no que fazer a seguir. Nesse

instante, um cavaleiro entrava na cidade.

Ao vê-lo, Hewke teve certeza de que o

conhecia. Era um homem na casa dos trinta

anos, com uma barba espessa e dois

revólveres pendentes do cinturão.

O cavaleiro notou a presença de Hewke e

pareceu se intimidar por momentos. Depois

seguiu em frente, parando diante do saloon.

Hewke foi naquela direção.

— O que houve, Slim? — indagou Duff,

ao ver o pistoleiro ficar à porta, observando

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a aproximação do patrulheiro.

— Conheço aquele homem. É um

patrulheiro — disse Slim.

— Sim, acaba de chegar à cidade.

— Tenho certeza de que ele me

reconheceu...

Hewke olhou significativamente na

direção de seus sócios. Ives foi se esconder

nos fundos do saloon, com a arma

engatilhada.

— Vocês já se encontraram antes? —

indagou Duff.

— Sim, ele fez tudo para pôr as mãos em

mim — informou Slim.

— O xerife está ali nos fundos, com uma

arma pronta para atirar no patrulheiro.

Precisamos apenas de um pretexto.

Provoque-o. Assim que ele for morto, você

retorna ao rancho por algum tempo, até as

coisas esfriarem.

— É uma temeridade enfrentar Hewke

Lawrence — falou o pistoleiro.

— Só terá que distraí-lo. No entanto,

acha que mil dólares ajudariam?

Os olhos do pistoleiro brilharam de

cobiça.

— Posso confiar na habilidade do xerife?

— Absolutamente. Ele lhe dará proteção.

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Faça apenas o patrulheiro ficar de costas

para ele. Tudo acabará bem.

Slim concordou e foi se postar numa das

pontas do balcão. Quando Hewke chegou e

pediu uma bebida, Slim ficou preparado

para sacar a arma.

— Olá, Slim! — disse Hewke, sem olhar

na direção do pistoleiro, muito embora seus

sentidos estivessem atentos a tudo que se

passava ao seu redor. — Faz muito tempo,

não?

— Sabia que cedo ou tarde nós nos

encontraríamos, capitão.

— Está disposto?

— Disposto a quê?

— A se entregar.

Slim gargalhou. Os que estavam

presentes no saloon pressentiram barulho e

trataram de sair da linha de tiro.

Hewke franziu a testa, encarando o outro.

— Você não me serve morto, Slim.

— Estou vivo e pretendo continuar assim,

capitão.

— Você está muito confiante para o meu

gosto, Slim. Sempre foi um rato covarde.

Sou capaz de apostar como há algum

cúmplice seu escondido por aí, pronto para

disparar contra mim.

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— É um risco que terá de correr.

Hewke havia notado que Slim olhava

muito na direção dos fundos do saloon e

concluiu que ali deveria estar seu cúmplice.

Afastou-se do balcão e caminhou até a

porta do saloon, de onde tinha uma ampla

visão de todo o ambiente.

— Agora posso cuidar dos dois, Slim.

Dou-lhe um minuto para terminar sua

bebida e jogar suas armas fora.

Ao perceber a ação do patrulheiro, o

xerife tratou de fugir dali rapidamente, para

não ser descoberto.

Vendo-se só, Slim acovardou-se.

— Está bem, eu me entrego, mas posso

garantir que não ficarei por muito tempo na

cadeia. Tenho amigos. Se eles não me

ajudarem a sair de lá, poderemos até fazer

um acordo, patrulheiro — falou Slim,

olhando na direção de Irah e Duff.

— Que acordo? — interessou-se Hewke.

— Vamos esperar, por enquanto — disse

Slim, deixando cair se cinturão.

Hewke o levou até a delegacia e o

trancou numa das celas. Quando ia saindo,

encontrou-se com Ives Lang, mais nervoso

do que nunca.

— Há um prisioneiro lá dentro, xerife.

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Cuide bem dele. É procurado por

assassinato em Houston.

— Não acha que está se intrometendo em

minha jurisdição, capitão?

— Eu decido isso, lembra-se, xerife? —

finalizou Hewke, afastando-se.

Ives entrou na delegacia. Ao vê-lo, Slim

exclamou, indignado:

— Seu rato covarde! Quase fui morto por

sua culpa.

— Acalme-se, homem! Está tudo bem.

Vamos resolver isso logo.

— Quero sair logo daqui ou aquele

patrulheiro vai ficar sabendo de algumas

coisas que andam acontecendo por aqui —

ameaçou Slim.

— Não se preocupe, já vou dar um jeito

na situação — falou Ives, que havia

conversado com Irah e Duff a respeito de

Slim.

— O que vai fazer?

— Tome esta arma. Vou soltá-lo. Você

dará uns tiros por aqui, apanhará seu cavalo

ali na rua e dará o fora, está bem? Vá direto

para o rancho.

— Gostei de ver. Está fazendo a coisa

certa, xerife, mas como vai explicar minha

fuga ao patrulheiro?

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— Direi que você tinha uma arma oculta

na bota — falou Ives, abrindo a porta da

cela.

Slim sorriu satisfeito, caminhando até a

porta.

— Tentarei ser convincente, xerife —

falou o pistoleiro, engatilhando a arma e

apontando-a para o teto.

Um estalido seco indicou que a arma

estava descarregada. Antes que Slim

pudesse entender o que estava acontecendo,

Ives sacou sua arma e fulminou-o com dois

certeiros balaços.

Rapidamente substituiu a arma

descarregada de Slim por outra municiada.

— O que houve? — indagou Hewke,

surgindo apressadamente com suas armas

nas mãos.

— Devia ser mais cuidadoso, capitão —

falou Ives, com ironia. — Ele tinha uma

arma oculta. Quase foi morto por ele.

— Agiu com muita rapidez, xerife —

observou Hewke, sem argumentos para

contestar as palavras de Ives.

Uma pequena multidão se reuniu às

portas da delegacia. Entre as pessoas que ali

estavam, encontrava-se um pistoleiro que

acabava de chegar à cidade, vindo do

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rancho, e era amigo de Slim.

Ao tomar conhecimento do que havia

acontecido, correu à procura de Irah e Duff.

— Eu vou matar aquele xerife pelo que

ele fez — disse ele.

— Calma, Bronson! O xerife não teve

nada a ver com a morte de Slim. Foi tudo

culpa daquele guarda rural.

— Então eu o matarei — rugiu Bronson.

— Acalme-se — continuou Irah. — Nós

o vimos em ação. Ele é veloz demais para

você, mas penso que não conseguiria

escapar de uma emboscada. Por que não

reúne alguns amigos e vão esperá-lo no

Passo do Abutre? Eu cuidarei para que ele

apareça por lá.

— Não preciso de ninguém. Não há outro

melhor do que eu com um rifle por aqui.

Posso matá-lo a meia milha de distância.

— Sei disso, Bronson, mas faça a coisa

bem feita. Haverá uma boa recompensa em

dinheiro para vocês.

— Está bem, farei como me pede, mas

desejo acabar logo com ele.

— Vá para o Passo. Terá sua chance.

Após a saída de Bronson, Duff indagou a

Irah:

— Qual é o plano? Como espera levar o

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patrulheiro até lá?

— Ele veio aqui à procura de Kit Bacley,

não? Pois ele vai ao encontro de Kit Bacley.

— E como fará isso?

— Não se preocupe, já sei como fazê-lo

— disse Irah, indo até a porta do saloon e

chamando um mexicano que dormitava

apoiado na parede.

— Si, señor! — atendeu ele,

prontamente.

— José, quero que me faça um favor

muito grande. Poderá beber todo o uísque

que puder depois, está entendendo? —

indagou Irah.

— Si, señor! Gracias, señor!

Irah deu-lhe as instruções. O mexicano

saiu em disparada pela rua, indo ao

encontro de Hewke, na delegacia.

— Está à procura de um gringo chamado

Kit Bacley? — indagou o mexicano ao

patrulheiro.

— Sim, como soube disso?

— As notícias aqui se espalham

rapidamente, señor!

— O que sabe sobre Kit Bacley?

— Há um gringo com esse nome no

Passo do Abutre.

— Como sabe que esse é o nome dele?

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— Passei por lá. Falei com ele.

— Está bem, vou verificar. Obrigado!

O mexicano se afastou. Hewke indagou a

uma das pessoas ali por perto onde ficava o

Passo, depois foi apanhar seu cavalo na

estrebaria.

Irah e Duff ficaram satisfeitos ao vê-lo

sair da cidade.

— Desse estamos livres, Duff — falou

Irah, com um suspiro de alívio.

— Já não era sem tempo. Acho que agora

poderemos falar com calma sobre o

carregamento de armas, não?

— Sim, o emissário mexicano chega logo

mais com todas as indicações do local onde

deveremos entregar a carga.

— E quanto a Kit Bacley?

— Parece que Texas Charly resolveu

solucionar aquela sua rixa com ele — falou

Irah, sorrindo significativamente.

— Ótimo! Sinto que tudo volta à

normalidade.

Algum tempo depois, dois mexicanos

entraram no saloon e foram direto para a

mesa deles, onde se sentaram sem

cerimônias.

— Sou Alberto, vim falar sobre os fuzis.

— Ótimo, Alberto. Sou Irah e este é meu

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sócio, Duff. É só dizer para onde devemos

mandar a carga e amanhã mesmo vocês a

receberão.

— Quanto custará cada fuzil?

— Cinqüenta dólares.

— Estão em boas condições?

— Estão em excelentes condições, sem

contar com toda a munição, conforme

prometemos.

— Ficamos com todos eles. Sabem onde

fica San Juan?

— Sim, um povoado ao norte de Piedras

Negras...

— Exatamente. Estaremos lá esperando.

Pagaremos em ouro.

— Vou mandar o máximo de fuzis que

tiver a nossa disposição — prometeu Irah.

— Gracias, señores! — agradeceu o

mexicano, retirando-se em seguida.

Irah sorriu satisfeito.

— Agora sim eu sinto que está tudo

caminhando conforme planejamos, sócio!

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Bronson engatilhou seu rifle e olhou para

seus companheiros, sorrindo de satisfação.

O sol ardente produzia reflexos nos canos

reluzentes das armas prontas para disparar.

— Lembrem-se que o primeiro tiro é meu

— advertiu Bronson.

— Não se preocupe, Bronson. Estamos

aqui apenas para conferir — falou um

pistoleiro chamado Maddock.

— Nunca errei um tiro — disse Bronson,

frisando bem as palavras.

— Sabemos disso, Bronson.

— Se não fosse a exigência de Irah e

Duff, nenhum de vocês estaria aqui. Eu

poderia muito bem cuidar de tudo sozinho.

— Eu não fazia muita questão de vir

tomar sol aqui, quando poderia estar

tomando uma cerveja gelada no saloon —

informou Maddock, aborrecido.

— Parece que há um cavaleiro se

aproximando — avisou um pistoleiro que

estivera, até então, oculto na parte mais alta

da encosta.

— Deve ser ele — falou Bronson,

impaciente.

— Fique pronto, Bronson. O primeiro

tiro é seu. O resto é conosco.

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— Combinado. Até vocês precisam

treinar de vez em quando a pontaria — riu

Bronson, olhando na direção da entrada do

passo.

O ruído de cascos de cavalo foi

aumentando. Os pistoleiros, com os dedos

nos gatilhos, esperavam apenas a figura

montada aparecer por trás de umas rochas

para ser fuzilada.

— Que diabos está havendo? — indagou

Bronson, pondo-se em pé e olhando

surpreso para o cavalo sem cavaleiro.

— Estavam à espera de alguém? —

indagou uma voz firme e ameaçadora atrás

deles.

— Como, diabos, foi parar aí? —

indagou, indignado.

— Vi os reflexos do sol nos canos de

suas armas e não gostei do comitê de

recepção que haviam preparado.

— Foi muito esperto, patrulheiro, mas...

— Então sabe que sou um patrulheiro?

Interessante! Como descobriu isso? E por

que estavam a minha espera? — quis saber

Hewke.

— Não temos satisfações a lhe dar. Não

pense que é senhor da situação. Está diante

de cinco homens, acha que pode com todos

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nós?

— Terão que descobrir isso sozinhos,

rapazes. Eu os aconselho a soltarem as

armas. Caso contrário, serei obrigado a

matá-los como vermes que são.

— Está sendo muito convencido,

patrulheiro — observou Bronson, fazendo

um sinal para seus companheiros.

Imediatamente eles levantaram as armas

para disparar. Com rapidez impressionante,

porém, o patrulheiro se antecipou a eles.

Suas armas vomitaram chumbo quente e

morte.

Os corpos rodopiaram, atingidos em

cheio, rolando macabramente pela encosta

pedregosa.

— O que tem a dizer agora? — indagou

Hewke a Bronson.

O pistoleiro era o único que não estava

morto ainda. Hewke o havia ferido

propositadamente no ombro.

Os outros quatro estavam espalhados

agora pela encosta, banhados de sangue e

imóveis.

— Por que não termina logo com isso?

— indagou Bronson, em desespero,

tentando sacar seu revólver.

Hewke chutou-lhe o ombro ferido,

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fazendo-o gemer de dor. Tomou-lhe a arma

e depois o fez se levantar.

— Antes de terminar com você, quero

que me responda algumas perguntas.

— Não tenho nada a lhe dizer. Exijo que

me leve para a cidade e que me entregue ao

xerife.

— Por que tanta pressa em ir para a

cadeia? — estranhou Hewke.

Bronson calou-se, dando a entender que

nada mais iria dizer ao patrulheiro.

Hewke foi até um dos cavalos dos

pistoleiros e apanhou um laço. Bronson

tentou correr, mas uma bala assobiou junto

ao seu ouvido, fazendo-o parar.

— O que vai fazer comigo? — indagou

ele, trêmulo.

— Vou apenas poupar trabalho à justiça

— falou Hewke, trançando um nó de forca.

— Não pode fazer isso —protestou

Bronson, olhando para o macabro nó na

ponta da corda.

— A menos que me responda algumas

perguntas.

— Está bem, o que deseja saber?

— Para quem trabalha?

— Para ninguém. Sou dono do meu nariz.

— E por que tentou me matar?

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— Por vingança.

— Não me lembro de ter feito nada

contra você antes...

— Você foi o responsável pela morte de

Slim. Eu e ele éramos amigos.

— Ah, entendo! — falou Hewke,

fechando o nó ao redor do pescoço de

Bronson.

— Espere aí, eu estou colaborando com

você. Não pode fazer isso — protestou o

pistoleiro, apavorado ao extremo,

percebendo que Hewke iria mesmo enforcá-

lo.

— Quero respostas melhores ou vou

pendurá-lo na primeira árvore que

encontrar.

— Dê-me um tempo, estou sangrando.

Posso morrer. Preciso de um médico.

— A pressa é sua, parceiro.

— Está bem, eu falo tudo que quiser

saber — prontificou-se Bronson,

cambaleando.

A perda de sangue o havia enfraquecido.

Suas pernas cederam e ele tombou

desmaiado.

Hewke lamentou a má sorte, depois o

amarrou sobre um cavalo. Teria de levá-lo

para a cidade e esperar até que se

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recuperasse para contar o que ele desejava

saber.

Na manhã seguinte, Kit Bacley, Texas

Charly e um outro pistoleiro de nome Peter

Dave haviam atravessado a fronteira e

penetrado em território mexicano.

Levavam um carregamento de armas que

deveria ser entregue a um grupo de

revolucionários. Kit dirigia a carroça,

enquanto Texas e Peter cavalgavam um

pouco adiante.

— Quando vamos matá-lo? — quis saber

Peter.

— Calma. Podemos precisar dele ainda

— respondeu Texas, sem esconder seu ódio

por Kit.

— Para quê?

— Até entregarmos as armas e

recebermos o ouro, precisamos contar com

ele e suas pistolas. Não quero nenhuma

surpresa. Um homem como Kit saberá se

impor, caso os mexicanos tentem algum

truque.

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— Espera alguma surpresa, então?

— Não, não creio que isso aconteça. Eles

precisam de nós para o fornecimento

constante de armas e munição. Em todo

caso, é bom estar sempre preparado.

Uma hora depois chegavam a um

povoado sonolento chamado San Juan, a

algumas milhas da fronteira.

— Muito bem, pessoal. Os mexicanos

estão nos esperando naquela cantina —

apontou Texas. — Vamos para lá terminar

logo com isso.

— Prefiro ficar aqui e esperar junto com

as armas — falou Kit, descendo da carroça.

— Eu lhe dei uma ordem, insolente! —

vociferou Texas.

— Não obedeço ordens de um rato como

você — respondeu Kit, calmamente.

— Você esgotou a minha paciência, Kit.

Acho que é hora de acertarmos nossas

contas — falou Texas, desmontando.

Peter continuou em seu cavalo,

manobrando-o para posicionar-se às costas

de Kit.

Este, porém, percebeu logo a manobra.

Texas estava mesmo muito confiante, por

isso pôs-se na defensiva, aguardando apenas

um movimento de seu oponente.

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— Estou pronto, Texas. Aliás, isto é algo

que eu já devia ter feito antes.

— Pare de falar e prepare-se para morrer.

— Você fala demais — disse Kit,

sacando velozmente.

Texas Charly levou um balaço no meio

da testa e foi jogado para trás, de braços

abertos, na poeira.

Peter mal conseguiu tocar na coronha de

sua arma e já era arremessado ao chão por

um certeiro balaço em pleno peito.

Algumas horas mais tarde, Kit Bacley

entrava no saloon e atirava um saco de

couro com moedas de ouro sobre a mesa

ocupada por Irah e Duff.

Estes, quando o viram, ficaram pálidos,

mas o ouro chamou-lhes mais a atenção.

— Contem — disse Kit, sentando-se e se

servindo de uísque.

— É mais do que havíamos combinado

com os mexicanos — exclamou Irah,

surpreso.

— O que fez? — quis saber Duff.

— Achei que cinqüenta dólares por arma

nova era pouco, por isso pedi oitenta. As

usadas foram por cinqüenta mesmo. Como

estão vendo, também sei negociar. E agora,

podemos ser sócios?

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— Onde estão Texas e Peter?

— Eu os matei.

— Você o quê?

— Eu os matei — frisou bem Kit. —

Texas nunca me apreciou mesmo. Mal pôde

esperar uma chance para me acertar. E

então, o que dizem da minha proposta?

Passei no teste?

Irah e Duff se entreolharam. Kit havia

provado que não só era bom com suas

armas, mas muito esperto.

Além disso, ainda poderia ser usado para

resolver uma séria ameaça que pairava

sobre eles, já que Bronson e os outros

haviam falhado vergonhosamente.

— Há um patrulheiro na cidade —

informou Irah, observando-o.

— Sim, e daí? — respondeu o pistoleiro,

com tranqüilidade.

— Ele está a sua procura.

— Então deve ser Hewke Lawrence.

— Sim, esse mesmo.

— Esse patrulheiro já está me

aborrecendo, sempre em meus calcanhares.

Acho que chegou o momento de tirá-lo

definitivamente de minha vida — falou Kit,

ameaçadoramente.

— Acha que pode vencê-lo? — indagou

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Duff, afoitamente.

— Sim, já o fiz antes.

— Então mate-o.

Kit olhou-o surpreso e intrigado.

— Por que você deseja que ele morra?

— Porque ele é uma ameaça para nosso

ramo de negócio. Anda bisbilhotando pela

cidade e pode pôr a perder toda a nossa

operação, entendeu?

Kit pensou por instantes, observando os

dois homens. Pareciam nervosos.

— Se eu fizer isso, serei aceito como

sócio?

— O que acha, Irah? — indagou Duff.

— Bem, não temos outra escolha.

— O que decidem? — insistiu Kit.

— Está bem. Seja bem-vindo à

sociedade. Agora é preciso cuidar daquele

patrulheiro o mais depressa possível. Ontem

ele prendeu um de nossos amigos e vai

interrogá-lo logo mais. Poderá descobrir

tudo a nosso respeito.

— Está bem, eu topo essa parada, mas

não posso fazer isso abertamente, com

testemunhas.

— E por que não? — indagou Duff. —

Todos na cidade já sabem que ele está atrás

de você. Se os dois se encontrassem e você

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o matasse num duelo, tudo estaria resolvido.

— Sim, só que a partir de então eu teria

toda a Patrulha do Texas nos meus

calcanhares. Conheço aquela gente. São

unidos ao extremo.

— Nós lhe daremos toda a proteção

necessária. O xerife poderá inventar uma

boa história para convencê-los de que você

também foi morto e isso encerrará a

questão. Não iriam sair por aí atrás de um

morto e você estaria tranqüilo para ficar e

gozar do resultado de nosso trabalho.

— É uma boa idéia, mas prefiro fazer

isso a meu modo.

— Como?

— Deixem comigo. Eu cuidarei do

patrulheiro. Ele não os aborrecerá mais.

— E quando será isso?

— Esta noite.

— Ótimo, sócio! Enquanto isso, suba e

descanse um pouco. Mandarei uma das

garotas para lá.

— Excelente idéia — concordou Kit,

com um sorriso.

Assim que ficaram a sós, Duff sorriu com

desprezo, olhando para Irah.

— Vamos mesmo cumprir nossa parte no

acordo? — indagou Irah.

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— Nem pensar. Vamos esperar que ele

mate o patrulheiro. Depois daremos um

jeito nele. Não gosto desse tipo. É esperto

demais para podermos ficar constantemente

de olho nele.

— Só que vamos precisar sempre de um

homem de confiança, que saiba mesmo usar

as armas.

— Temos uma porção de homens assim

lá no rancho. Basta escolher um deles, o

melhor, se quiser.

— Pensando bem, há um rapazola que

chegou há poucos dias e passa o dia todo

treinando tiro-ao-alvo. Eu já o vi sacar.

— Sim, sei de quem está falando. É tão

rápido quanto Kit Bacley. Como é mesmo o

nome dele?

— Billy Hustin.

— Isso mesmo. Falaremos com ele.

Agora precisamos pensar num modo de

evitar que Bronson fale até à noite, quando

o patrulheiro será morto.

— Ives cuidará disso, não se preocupe.

As palavras de Irah estavam se realizando

naquele momento, na delegacia.

Hewke havia passado a noite vigiando

Bronson, após ele ter sido medicado.

Não queria que nada lhe acontecesse,

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porque Bronson poderia esclarecer muita

coisa que acontecia naquela cidade.

— Você tem que manter a boca fechada,

Bronson — falou Ives, fingindo que o

examinava.

Hewke, tomando um café, não percebia o

que estava acontecendo atrás dele.

— Não poderei evitar. Esse patrulheiro

sabe ser violento. Ele me matará se eu não

falar.

— Não se ficar aí deitado e fingir que

ainda está dormindo.

— Acha que isso o convencerá?

— Sim, ele não poderá força-lo a nada,

enquanto julgar que não está em condições

de falar. Eu também estarei aqui para

impedí-lo.

— Está bem, mas eu me sentiria melhor

se você me desse uma arma...

— Está maluco? Quer pôr tudo a perder?

— indagou Ives, mas, em seguida, ao

raciocinar melhor, passou uma faca para as

mãos de Bronson, que a escondeu sob as

cobertas.

— Como está ele? — indagou Hewke,

aproximando-se

— Está mal, não sei se acordará.

— Não entendo. O médico disse que ele

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estaria melhor hoje pela manhã...

— Mas você pode olhar e se certificar.

Por mim esse sujeito está às portas da

morte.

— Diabos! Isso é mesmo uma pena.

Poderia me responder algumas questões

realmente interessantes — falou Hewke,

indo até o fogão e apanhando um pouco

mais de café fumegante.

Olhou para o prisioneiro estendido no

catre e teve uma idéia. Aproximou-se dele

e, simulando um acidente, derrubou um

pouco de café quente no peito de Bronson

que, ao se sentir escaldado, pulou do lugar

onde estava.

— Maldito seja, patrulheiro! —

praguejou ele, brandindo a faca.

A lâmina reluziu no espaço, indo cravar-

se no ombro esquerdo de Hewke, fazendo o

sangue escorrer, manchando sua camisa.

Mesmo pego de surpresa, Hewke ainda

pode aplicar um golpe no estômago de

Bronson, que cambaleou.

O xerife se afastou alguns passos, sem

fazer menção de intervir. Hewke tentou

estancar o sangue que corria de seu ombro.

Sua distração deu tempo a Bronson de se

recuperar e atacar novamente.

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A faca, desta vez, passou a milímetros da

garganta de Hewke, que se desviou e

atingiu um potente murro no queixo de

Bronson, atirando-o desacordado contra a

parede.

O xerife, então, sacou sua arma e

disparou duas vezes contra o corpo de

Bronson, fulminando-o.

— Você é uma cavalgadura, xerife! —

explodiu Hewke, avançando contra Ives,

tomando-lhe a arma e esbofeteando-o.

— Está indo longe demais, patrulheiro —

protestou o xerife.

Em resposta, Hewke enfiou o revólver no

coldre do xerife, depois deixou sua mão cair

à altura do seu Colt.

— Está com alguma idéia, xerife? —

desafiou.

Ives mordeu os lábios nervosamente.

Seus dedos tremeram, próximos da coronha

da arma.

Já vira aquele patrulheiro sacar e achou

melhor não se arriscar. A morte de Bronson

já solucionava o problema mais imediato.

— Desculpe-me, acho que me excedi —

falou o xerife, relaxando o corpo.

— É a segunda vez que atrapalha meu

trabalho, matando uma testemunha

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importante, xerife. E não pense que suas

atitudes me convencem. Eu suspeito de

você e vai se arrepender se eu provar

alguma coisa. Alguma coisa fede por aqui e

acho que é você, Ives Lang — falou Hewke,

ainda furioso.

— Não pode estar falando sério...

— Pois espere e verá — finalizou

Hewke, deixando o local apressadamente.

Passou por entre as pessoas que se

acotovelavam diante da delegacia.

Uma delas comentou.

— Está morrendo muita gente por aqui,

desde que esse patrulheiro chegou.

— Sim, isso mesmo — concordou outra.

— Por que ele não dá o fora e nos deixa

cuidar de nossa cidade em paz? — emendou

um almofadinha.

Hewke parou e se virou para eles. Seus

olhos fuzilavam de raiva.

— Bando de cegos e covardes! Não

percebem o que há de errado por aqui? Eu

devia mesmo deixá-los a mercê dessa

quadrilha, se não fosse minha obrigação

acabar com ela...

As pessoas se calaram diante da fúria do

patrulheiro.

— Quanto a suas opiniões ridículas,

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apenas refletem a covardia que há dentro de

vocês — finalizou ele, afastando-se na

direção da casa do médico.

Becky precisou correr para alcançá-lo.

— Você está bem, Hewke?

— Ainda não sei. O ferimento não parece

profundo.

— Vai à procura do médico?

— Sim...

— Não o encontrará em sua casa agora,

pode acreditar. Eu o vi sair da cidade para ir

atender um chamado de emergência num

rancho aqui perto.

— Diabos! Logo agora que eu precisava

dele.

— Deixe-me ver isso — pediu ela,

retirando a mão dele que cobria o ferimento.

Examinou o local. A faca resvalara no

osso ao entrar e isso deveria estar

provocando muita dor.

Ele estava perdendo sangue, mas a

hemorragia não era séria, pois bastava

pressionar a ferida para que o sangue

estancasse imediatamente.

Morando há tanto tempo em um rancho,

Becky já se habituara a ver feridas como

aquelas.

Tinha experiência suficiente para

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concluir que aquela não era das piores e

nem das mais feias que já tinha visto.

— Venha comigo ao hotel, eu cuidarei

disso para você tão bem quanto o próprio

médico.

— Você?

— Sim, por que não?

— Acha mesmo que poderá fazê-lo? —

indagou ele, com surpresa e admiração.

— Sim, já remendei cavalos e vaqueiros

feridos em arame farpado e brigas muitas

vezes. Se prometer que ficará quieto, acho

que poderei dar um jeito nisso também.

— Eu ficarei quieto — prometeu ele.

— Então vamos, apoie-se em mim —

pediu ela, rumando na direção do hotel. —

O que houve lá dentro?

— Aquele xerife idiota de novo... Matou

uma preciosa testemunha que estava

disposta a contar o que está havendo nesta

cidade.

— Eu nunca confiei nesse xerife. É um

espertalhão e não duvido que esteja metido

com Irah e Duff, aqueles dois facínoras que

roubaram meu rancho.

— Acho que você tem razão, Becky. Eu

sinto que ele tem alguma coisa a esconder...

— Vamos cuidar disso agora, antes de

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mais nada, depois você poderá continuar

suas investigações. Vou pegar uma garrafa

de uísque para desinfetar a ferida...

Becky ajudou Hewke a chegar até a porta

do hotel. Naquele momento, uma charrete

chegava à cidade e passava diante deles. A

garota que a conduzia olhou e gritou:

— Hewke!

— Belle! O que faz aqui? — indagou

Hewke, parando e olhando a garota.

— Quem é ela? — indagou Becky, mal

disfarçando seu ciúme.

— Uma amiga muito querida, mas muito

louca — respondeu ele.

A garota recém-chegada saltou da

charrete e correu na direção de Hewke.

Era morena e muito bonita. Sua presença

chamou a atenção das pessoas que

passagem, que paravam para olhá-la.

— Puxa, o que houve com você? —

indagou ela, ao ver o ombro ferido.

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— Nada grave, não se preocupe.

— E onde está Kit Simon? Soube que

estavam juntos numa missão e...

— Cale-se, Belle! — ordenou Hewke,

visivelmente preocupado.

— Eu disse alguma coisa errada?

— Sim, venha para dentro, onde

conversaremos — convidou-a.

Um dos homens que havia parado para

observar a cena com interesse, virou as

costas e foi direto para o saloon, enquanto

Hewke e as garotas entravam no hotel.

— Acho que há alguma coisa errada por

aqui, Duff — comentou ele, assim que

entrou no saloon.

— Por quê, Ted?

— Não sei ainda, mas uma garota acabou

de chegar numa charrete...

— Não vi garota nenhuma.

— Ela entrou no hotel, em companhia do

patrulheiro e da filha de Murray.

— E o que há de errado nisso? —

estranhou Duff.

— Pelo que ela deu a entender, deveria

haver dois patrulheiros na cidade.

— Dois? — surpreendeu-se Duff,

olhando para Irah.

— Explique-se melhor, Ted — ordenou

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Irah.

— Bem, ela cumprimentou o patrulheiro,

depois perguntou por um tal de Kit Simon,

porque sabia que os dois estavam juntos

numa mesma missão.

Os dois chefões se entreolharam,

apreensivos.

— Não estou gostando disso — falou

Duff.

— Isso quer dizer que a Patrulha do

Texas anda farejando coisas por aqui. Mas

quem seria o segundo patrulheiro?

— Não tenho a menor idéia, a menos

que... — interrompeu-se Duff,

empalidecendo.

— O que foi, Duff? — quis saber logo

Irah.

— Talvez nosso amigo Kit Bacley tenha

um outro nome.

— E impossível! Você viu o cartaz de

procurado. O próprio patrulheiro disse que

estava caçando Kit Bacley...

— Essa gente é pior do que cobra, Irah.

— Por que diz isso?

— Porque tudo pode ser um plano para

nos apanhar. Não se esqueça de que a garota

esteve no quartel da Patrulha. E se eles

resolveram investigar as denúncias dela

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secretamente? Kit Bacley chegou primeiro e

já descobriu muito a nosso respeito. Se for

um patrulheiro, tem bastante para nos

mandar para a prisão pelo resto de nossas

vidas.

— Diabos! Estava tudo indo tão bem e

agora surge esta confusão.

— Vamos ficar calmos. Acho que

podemos nos sair bem de tudo isso ainda.

— Como?

— Esta noite, talvez até possamos matar

dois coelhos com uma só cajadada.

— Não, acho que não devemos nos

arriscar. Se Kit Bacley é um guarda rural,

temos de eliminá-lo o mais depressa

possível. Ele sabe demais sobre nós. Não

quero correr esse risco.

— Quer começar a agir logo, então?

— Sim, acho que é o melhor a fazer.

— Está bem, então. Vamos fazer do seu

modo. No fundo acho que tem toda razão.

Ted, vá ao rancho e traga alguns de nossos

rapazes. Vamos preparar uma surpresa para

nosso sócio Kit Bacley.

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No hotel, Hewke acabava de contar todos

os detalhes de sua missão em Quemados.

Becky era a mais surpresa das duas,

comentando:

— Quer dizer, então, que a Patrulha do

Texas acreditou em mim desde o princípio?

— Sim — informou Hewke. — Apenas

mantivemos tudo em segredo para não

precipitar as coisas. Irah, Duff e o xerife

montaram uma grande operação ilegal por

aqui. Já sabemos, inclusive, que estão

também envolvidos no contrabando de

armas para os revolucionários do México.

— Como descobriram isso?

— Através de Kit Simon, ou Kit Bacley,

como é conhecido aqui, nesta missão.

— Todo o tempo eu pensei que ele não

passasse de um pistoleiro barato e covarde.

— Não diga isso de Kit, Becky —

protestou Belle. — Ele é um dos homens

mais valentes que eu conheço.

— Ainda continuo achando que você não

deveria ter vindo, Belle. Alguém pode ter

ouvido você lá na porta do hotel. Se isso

aconteceu, as coisas poderão se complicar

para Kit, acabando com seu disfarce.

— Mas onde está ele?

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— Não sei, mas penso que entrará logo

em contato comigo. Já deve ter reunido as

provas sobre o contrabando de armas. Mais

um pouco e acabaremos com toda essa

trama montada aqui na cidade.

— Eu sinto muito. Não sabia que poderia

atrapalhar. Queria apenas me encontrar com

o Kit. Vocês nunca entraram em operações

assim, disfarçados, pelo que eu sei.

— Tem razão, Belle, mas sempre

operamos no norte do Estado, por isso nos

mandaram para cá.

— Agora entendo e vejo o erro que

cometi — lamentou-se Belle.

— Agora vamos torcer para que ninguém

tenha ouvido você. Caso contrário, pode ter

decretado a sentença de morte de Kit.

— Oh, não, tudo menos isso! —

exclamou a garota.

Kit apenas conversava com a garota

mexicana, quando bateram na porta.

— Quem é? — indagou ele.

— O patrão quer falar com você.

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— Já vou descer.

— Seja rápido, o assunto é importante —

frisou a pessoa do outro lado da porta.

Kit pôs o cinturão e verificou a munição

das armas.

— Já vai? Nós ainda nem começamos a

nos divertir — lamentou a garota.

— Fica para outra vez, querida — sorriu

ele, depois abriu a porta e desceu ao

encontro de Irah e Duff.

Eles estavam na mesa de sempre,

esperando por ele.

— Qual é o problema, sócios? —

indagou Kit, servindo-se de uma dose de

uísque.

— Queremos saber como fará para se

livrar daquele patrulheiro — indagou Duff.

— Eu já disse que cuidarei dele a minha

maneira. Não se preocupem quanto a isso.

— Mas fazemos questão de saber como

fará isso — insistiu Irah.

Kit sentiu o clima pesado, como se uma

ameaça pairasse no ar, acima de sua cabeça.

— Está bem. Se insistem nisso, eu lhes

direi como farei — decidiu-se ele.

Naquele momento, meia dúzia de homens

que estava no balcão se virou. Um deles se

adiantou.

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— Kit Simon! — chamou ele, em voz

alta.

Nenhum músculo se moveu no rosto de

Kit. Ele continuou falando com Irah e Duff.

— Simon! — insistiu o pistoleiro,

chamado Tab Further.

— Acho que aquele homem está

chamando por você — disse Duff, sondando

sua reação.

— A mim? — surpreendeu-se Kit,

fazendo-se de desentendido e se virando

para encarar o pistoleiro.

Percebeu logo os outros junto dele e

sentiu que estava em apuros.

— Lembra-se de mim, Simon? —insistiu

Tab.

— Acho que está cometendo um engano,

parceiro. Nunca nos vimos antes.

Tab riu zombeteiramente.

— Deixe-me refrescar-lhe a memória,

então. Não quer saber notícias de Belle,

aquela vagabunda?

Kit estremeceu de ódio, analisando a

armadilha em que estava metido e como

faria para se safar dela.

— Seu maldito patrulheiro! — gritou

Irah, começando a se levantar furioso.

Com um pontapé Kit fez com que a mesa

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virasse sobre os dois sócios, derrubando-os.

— Fogo nele, rapazes! — ordenou Tab.

Kit sacou suas armas, tentando antecipar-

se a todos os pistoleiros, mas eles também

eram rápidos.

Balas assobiaram ao redor dele, quando

correu e se lançou pela janela, arrebentando

a vidraça e caindo do outro lado.

Rapidamente apanhou seu cavalo e

disparou pela rua principal da cidade.

— Atrás dele, rapazes. Quinhentos

dólares para quem trouxer a sua cabeça —

berrou Irah a todos os pistoleiros no saloon.

Tab e os outros saíram imediatamente em

perseguição a Kit. Ives Lang, o xerife,

chegou correndo.

— O que houve? — quis saber.

— Kit Bacley é um maldito patrulheiro

também — informou Duff.

— Maldição! Temos que matá-lo agora.

Sabe do contrabando de armas.

— Sim, Tab e seus amigos saíram no

encalço dele. Vão apanhá-lo, não se

preocupe.

— Se Kit Bacley é um patrulheiro, na

certa já tem elementos para nos mandar para

a cadeia — observou o xerife.

— É bem possível, mas vamos ter de

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encontrar uma forma de resolver isso.

Hewke Lawrence chegou naquele

momento. Sentia-se um pouco fraco em

virtude do ferimento, mas Becky havia feito

um bom remendo em seu ombro.

— O que houve, xerife? — indagou.

— Kit Bacley, o homem que procura,

esteve aqui no saloon. Meus homens quase

o pegaram, mas ele fugiu. Eles foram atrás.

Tenho certeza que o pegarão — falou Duff,

com satisfação, observando a reação do

patrulheiro.

— Kit Bacley? Demônios — praguejou

Hewke, sem entender o que se passava. —

Para que lado foram?

— Para o sul.

Hewke correu e apanhou o primeiro

cavalo que viu pela frente.

— Espere, também vou com você —

disse o xerife, sorrindo de modo

significativo para seus sócios.

— Boa idéia, xerife! — disse Duff.

Enquanto isso, Kit cavalgava

furiosamente, fugindo a seus perseguidores,

mas não conhecia bem aquela região.

Apesar de não saber para onde estava se

dirigindo, não se importou. O que contava

eram aqueles homens atrás dele, disparando

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sem cessar.

Num dado momento, uma bala atingiu

seu cavalo e Kit foi arremessado ao chão,

rolando aturdido na poeira.

Recuperou-se rapidamente e apanhou o

rifle na sela, correndo para trás de uma

rocha.

Quando seus perseguidores se

aproximavam, ele disparou, derrubando

dois deles certeiramente.

— Protejam-se, rapazes — ordenou Tab.

Os homens desmontaram rapidamente e

cercaram o local onde Kit estava escondido.

— E agora, Tab? —indagou um

pistoleiro de nome Joe Parks.

— Ele está encurralado, não poderá fugir.

Dentro de pouco tempo anoitecerá e

poderemos nos aproximar dele um pouco

mais.

—Mas pode ser que ele consiga escapar

na escuridão —lembrou o outro.

— Vamos dar um jeito para isso não

acontecer.

— O que tem em mente?

— Diga aos rapazes para jogarem toda

lenha que encontrarem na direção daquela

rocha. Depois, preparem tochas. Quando

anoitecer, nós o veremos se ele se mover,

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mas ele não nos verá.

— Entendi. Boa idéia, Tab. Tenho

certeza que dará certo.

— Sim, agora vá cuidar disso. Quero uma

fogueira ao redor daquele homem, quando

anoitecer.

Hewke e Ives haviam escutado o tiroteio,

que cessara pouco depois, porém.

— Eles foram para lá — apontou Ives.

— Sim, mas parece que este cavalo

perdeu uma ferradura — informou Hewke,

freando e desmontando.

Ives desmontou também, analisando a

situação. Hewke mal podia mover um

braço, em virtude do ferimento. Além disso,

estava pálido, possivelmente fraco, sem

muitos reflexos.

— Foi como eu disse. Este cavalo perdeu

uma ferradura — falou Hewke, virando-se

para o xerife.

— Então é o fim da linha para você,

patrulheiro.

— Ainda não, xerife. Podemos continuar

no seu cavalo.

— Acho que não entendeu, Hewke —

falou Ives, preparando-se para sacar.

— Acho que agora entendo o que quer

dizer, xerife — observou o rapaz, pondo-se

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na defensiva.

— Não devia ter vindo a esta cidade,

patrulheiro. Foi um erro fatal e isso vai lhe

custar a vida.

— Você vai tentar sacar contra mim?

Sabe que não terá chance, xerife.

— Engana-se. Você está fraco e ferido.

Não sei se conseguirá sacar com a mesma

rapidez de sempre.

— Mesmo assim, ainda posso vencê-lo,

xerife.

— É o que veremos.

— Então por que não saca logo, xerife?

Vai constatar seu erro, quando eu lhe meter

uma bala entre os olhos.

— Já falamos demais.

— Talvez ainda não. Pensei que pudesse

me contar algumas coisas, já que está tão

certo de minha morte.

O xerife riu com ar de superioridade.

— Não negarei esse privilégio a um

homem condenado à morte — afirmou ele.

— O que quer saber?

— Conte-me o motivo disso tudo?

Porque se apossaram do rancho do pai de

Becky, para começar?

— Está bem, de nada lhe adiantará saber

isso.

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— Só irei para o inferno melhor

informado - riu Hewke.

O xerife riu com ele e contou-lhe todo o

plano, inclusive sobre o contrabando de

armas que estavam sendo roubadas do

Exército.

— Devo reconhecer que foi um bom

plano. Vocês foram muito espertos, mas não

irão aproveitar o que construíram.

— Agora já sabe o que queria saber.

Chega de conversa. Saque sua arma! —

gritou Ives, levando a mão direita na

direção das coronha de seu Colt.

A mão de Hewke foi mais rápida. Seu

Colt cuspiu chumbo. O corpo de Ives se

abalou numa convulsão, depois rodopiou e

caiu de braços abertos na poeira.

Seu chapéu, levando junto miolos e

cabelos, voou longe e ficou girando no chão

como um pião ensangüentado.

— Eu o avisei, xerife — falou Hewke,

montando o cavalo do outro e cavalgando

na direção de onde ouvira o tiroteio.

Enquanto isso, lá no local, Tab indagava

a Joe:

— O que foi esse tiro?

— Não tenho a menor idéia.

— Acho melhor verificarmos. Pegue dois

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homens e vá dar uma olhada nisso.

— Sim, já terminamos com toda a lenha

que encontramos por aqui. Penso até que

poderemos assá-lo vivo imediatamente, sem

ter que esperar a noite.

— Você se arriscaria a levantar a cabeça

para atirar uma tocha, sabendo da pontaria

daquele patrulheiro?

— Tem razão, eu não tinha pensado nisso

— ponderou Joe, chamando mais dois

pistoleiros e se afastando do local.

Cavalgaram meia milha, quando viram o

cavaleiro que se aproximava.

— É aquele maldito patrulheiro —

alertou o pistoleiro chamado Dan Ferguson.

— Maldição! — exclamou Joe.

— Vamos ter que matá-lo.

— Não quero nem pensar em enfrentá-lo

cara a cara, rapazes. Vamos armar uma

emboscada para ele. Naquelas rochas ali

teremos um bom local.

Os três homens foram para lá, e

prepararam suas armas. Hewke se

aproximava rapidamente, sem suspeitar da

ameaça que pairava sobre ele.

Quando o teve em sua mira, Joe disparou

a arma, seguido por seus amigos.

Hewke caiu de seu cavalo como se

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tivesse sido mortalmente atingido.

— Com trabalho, rapazes! — elogiou os

Joe, enquanto caminhavam na direção do

patrulheiro caído.

— Ele não teve a menor chance...

Quando estavam próximos, no entanto,

Hewke se pôs em pé num salto. O Colt em

sua mão disparou apenas três vezes.

Os corpos de Joe e seus amigos, com os

olhos arregalados de surpresa, tombaram

juntos numa mesma poça de sangue.

Rapidamente o patrulheiro apanhou seu

cavalo e tomou um outro rumo, a fim de

evitar novas emboscadas.

Momentos depois, do alto de uma colina

que dominava toda a região, ele podia

examinar o cenário daquela batalha.

Kit estava cercado, mas seus

perseguidores não podiam atingí-lo. Só

então ele percebeu aquela lenha toda

acumulada ao redor de Kit.

Deduziu logo o que os bandidos iriam

fazer, por isso tratou de pensar logo numa

forma de livrar seu amigo.

— Vocês aí embaixo! Rendam-se! Estão

cercados — gritou ele, tentando um blefe

para amedrontar os pistoleiros.

— Que diabos está acontecendo agora?

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— indagou Tab, assustado.

— Não sei, mas acho que nos cercaram.

Mas quem? — falou um dos pistoleiros ao

seu lado.

— Aqueles tiros... Acho que pegaram Joe

e os outros. Não vamos deixar barato,

rapazes. Vamos começar ateando fogo

agora mesmo naquela lenha. Quero

patrulheiro sendo assado vivo — decidiu

Tab.

Hewke começou a disparar seu rifle. Os

pistoleiros buscaram novos esconderijos.

Alguns tentaram atirar tochas, mas foram

derrubados pela pontaria certeira de Kit.

Um deles, porém, conseguiu atirar uma

tocha, antes de cair varado por uma bala.

— Kit, caia fora daí ou será assado vivo

como um frango. Eu lhe dou cobertura —

gritou Hewke.

— Está bem, isso aqui vai começar a

ficar muito quente. Acha mesmo que pode

me dar proteção?

— Vai ter que confiar em mim.

— Está bem, mas não erre nenhum tiro.

Lá embaixo, porém, Tab percebia que

tudo aquilo fora um blefe.

— Há apenas um sujeito lá encima —

observou Tab.

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— Diabos, ele quase ia nos enganando...

— Fogo nos dois — ordenou Tab.

Sob intensa fuzilaria, Kit conseguiu

correr por entre as pedras, entre lascas que

voavam e balas que ricocheteavam,

zumbindo macabramente.

Após algum tempo e muitos riscos,

conseguiu chegar até onde estava seu

parceiro.

— Você está bem? — indagou-lhe

Hewke.

— Sim, mas o mesmo não se pode dizer

de você. O que foi aí no ombro?

— Isso não aconteceu agora. Estou bem,

não se preocupe.

— Eles estão se aproximando.

— Tenho um cavalo ali atrás.

— Não conseguiremos escapar assim.

Vamos ter que lutar.

— Como nos velhos tempos?

— Sim, como nos velhos tempos — disse

Kit, engatilhando seu rifle.

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Ao final do tiroteio, os cadáveres dos

pistoleiros jaziam ao sol poente, manchados

de sangue, alguns ainda estrebuchando ou

rastejando e tentando chegar aos cavalos,

mas feridos demais para se salvarem.

Kit olhou para Hewke, enquanto

recarregava suas armas.

— Não entendo... Estava tudo indo bem.

De repente, o inferno se abateu sobre mim

— comentou Kit.

— Assim sem mais nem menos?

— É... De repente suspeitaram de mim...

Apareceu um indivíduo que me conhecia...

Falou inclusive de Belle...

Hewke começou a rir.

— Acho que foi ela a causadora de tudo

isso.

— Belle? Mas como?

— Ela está na cidade.

— Diabos! Aquela maluca veio a minha

procura?

— Sim, isso mesmo.

— E quase me mata com isso?

— Você a conhece. Acho que devia

tomar logo uma providência e se casar com

ela. Sabe como Belle é apaixonada por você

há muito tempo.

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— Pois eu acho que vou ter que me casar

mesmo com ela. Vai ser o único modo de

fazê-la sossegar.

— Sim e já devia ter feito isso há muito

tempo. Eu não vou fazer como você.

— Olhe só quem fala. Primeiro vá

encontrar a garota de seus sonhos, depois

venha me dar conselhos.

— Pois eu acho que já a encontrei, Kit —

falou Hewke, com os olhos brilhantes.

Kit olhou-o com incredulidade. Ao ver a

expressão no rosto do amigo, no entanto,

não viu motivos para duvidar.

— Quem é ela, afinal? — indagou.

— Você a conhece, é Becky Murray.

— Sim, eu a conheço. É uma garota

corajosa.

— Isso mesmo, muito corajosa mesmo.

— Meus parabéns! Fez uma ótima

escolha. Posso perguntar quando será o

casamento?

— Ainda não sei...

— Mas você disse que...

— Eu sei, mas não me apresse. Antes de

mais nada eu preciso falar com ela para ver

se ela aceita.

Kit riu divertido, balançando a cabeça.

Hewke era um homem corajoso, mas nada

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entendia de garotas e de noivados.

— Bem, Hewke, acho que nada mais

temos a fazer aqui. Descobri uma coisa que

esclarece a respeito do que anda

acontecendo nesta cidade, além do

contrabando de armas no México. Estão

tornando isto aqui num covil de facínoras.

— Sim, descobri isso também. O xerife

me deu todos os detalhes dos planos deles

— falou Hewke, contando ao amigo o que o

xerife havia confessado, antes de morrer.

— Muito esperto eles — reconheceu Kit.

— O que vamos fazer agora? Neste

momento devem estar cercados por todos os

pistoleiros e bandidos que abrigavam. Não

será fácil chegar até eles.

— Sei disso. Estive no rancho, onde fica

o covil. Há muitos homens por lá. Teríamos

que ter um batalhão para enfrentá-los

abertamente.

— Só que não há tempo para comunicar a

Patrulha e esperar providências. Se

suspeitarem que estamos vivos, fugirão para

o México, com certeza, onde nós jamais os

apanharemos. Mas já que você falou em um

batalhão...

— Tem alguma idéia?

— Sim, talvez dê certo.

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Naquele momento, na cidade, Irah e Duff

acabavam de reunir todos os pistoleiros que

se abrigavam sob sua proteção.

— Muito bem, rapazes — falou Duff. —

Talvez o problema já tenha sido resolvido,

mas devo avisá-los de que há dois

Patrulheiros do Texas na cidade, prontos

para acabar com o nosso negócio e o

sossego de vocês.

— Para resumir — continuou Irah, —

talvez tenhamos que contar com a ajuda de

vocês para dar um sumiço neles.

— Está bem, podem contar conosco,

desde que isso signifique nosso sossego —

falou um dos homens.

— Ótimo! Era isso o que eu queria ouvir.

Somos vinte homens ao todo, o suficiente

para derrotá-los, caso já não tenham sido

mortos.

— Como que fazendo eco às palavras de

Irah, a voz de Hewke soou forte lá fora, na

rua.

— Vocês aí dentro, têm um minuto para

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sair e falar conosco.

— É o patrulheiro — reconheceu Duff.

— Diabos! São piores que demônios! —

vociferou Irah, indo até a porta. — O que

desejam?

— Posso matá-los daqui — falou um dos

pistoleiros.

— Calma, vamos ver o que querem. São

cheios de truques e não iriam se expor dessa

forma se não tivessem um trunfo nas mãos

— comentou Irah. — O que vocês querem?

— gritou para os patrulheiros.

— Vocês aí, saibam que há um batalhão

da Patrulha do Texas cercando a cidade e

pronto para invadi-la, caso vocês não se

entreguem — falou Hewke.

— Está brincando!

— Se olhar para a colina na entrada da

cidade verá que falo sério.

Irah, Duff e os outros olharam naquela

direção. Havia um bando de cavaleiros lá,

como que à espera de um sinal para avançar

sobre a cidade.

— Ele falava sério. Onde está a proteção

que compramos? Vocês nos disseram que

estaríamos seguros aqui — protestou um

dos pistoleiros, furioso.

— Calma, deixem-nos pensar. Que

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diabos! Como eles conseguiram a vinda

daquele batalhão? — questionou Irah,

irritado com tudo aquilo.

— Isso não interessa agora. O que

importa é que eles estão lá fora. Somos

muitos, mas nunca seríamos páreo para

esses malditos patrulheiros.

Irah olhou para Duff, sem saber que

decisão tomar.

— Peça um pouco de tempo para

pensarmos — aconselhou Duff.

— Sim, boa idéia!

— Tem que haver um meio de

escaparmos daqui...

— Como? Nossos cavalos estão todos aí

na rua. Não conseguiríamos sair.

— A noite está chegando depressa. A

escuridão será nossa aliada.

Irah voltou-se para a porta e gritou:

— Está bem, dê-nos algum tempo para

pensar, patrulheiro.

— Vocês têm cinco minutos — gritou

Hewke.

Kit, ao lado dele, não estava gostando

muito da idéia, mas o plano, apesar de

maluco, podia dar resultado. Tinha de

reconhecer isso.

— O que está achando, Hewke? —

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indagou.

— Até aqui, tudo bem. Parece que

conseguimos assustá-los um pouco...

— Mesmo assim, acho melhor ficarmos

preparados. Talvez tenhamos de lutar.

— Se ao menos pudéssemos contar com

alguma ajuda...

— Não conte com o pessoal da cidade,

Kit. A esta hora estão todos debaixo de suas

camas. Não se intrometerão.

Subitamente, sem que os patrulheiros

pudessem impedí-lo, um cavaleiro desceu a

rua a toda, desmontando diante do saloon e

entrando como um raio.

Estava apavorado e correu ao balcão

apanhar um drinque, que bebeu com mãos

trêmulas.

— O que houve, Doug? — indagou Duff,

curioso.

— Não sei... Não posso entender, mas vi

Tab, o xerife e alguns rapazes mortos e

amarrados em suas celas, lá no alto da

colina. Pensei que estivessem vivos e me

aproximei. Parei para falar com eles...

— Espere um pouco! — falou Duff,

olhando para Irah.

Os dois logo perceberam de que se

tratava tudo aquilo.

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— Quer dizer que aqueles cavaleiros lá

no alto da colina são nossos rapazes

mortos?

— Sim, isso mesmo...

— Foi um blefe! — exclamou Irah.

— E quase funcionou. Estão vendo,

rapazes? Aqueles patrulheiros estão sós.

Vamos pegá-los.

— Não é tão fácil assim. Eles não nos

deixarão sair por aquela porta e matá-los —

antecipou-se um dos foragidos.

— É claro que não. Vamos sair pelos

fundos. Metade fica aqui, vigiando-os e

distraindo a atenção deles. A outra metade

sairá e tentará cercá-los.

— Parece-me um bom plano — elogiou

Irah.

Assim, em pouco tempo, Hewke e Kit se

transformaram de caçadores em caçados.

— Não estou gostando desse silêncio —

disse Kit.

— Aquele cavaleiro veio da colina. Deve

ter descoberto nosso blefe e estragado tudo.

Duff e Irah devem estar tramando alguma

coisa. Não sabemos quantos homens eles

têm lá dentro...

— De qualquer forma, vamos nos

precaver. Vamos nos esconder ali no

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armazém. Assim que começamos a falar

com os homens no saloon, o proprietário o

fechou e deu o fora. Pelo menos teremos

munição ao nosso alcance para enfrentar

todos eles.

Quando tentaram se levantar, balas

zuniram ao redor deles. Eles responderam

ao fogo com extrema pontaria, arrancando

gritos de dor de seus perseguidores, que

trataram de se abrigar melhor.

Os dois aproveitaram a chance para

chegar até o armazém, arrombando a porta e

entrando.

Buscaram proteção atrás do balcão. Kit

encontrou espingardas, carregando-as e

deixando-as ao seu alcance.

— Há rifles naquela estante ali —

apontou Hewke.

Kit foi apanhá-los. Os dois carregaram

essas armas.

— Pelo menos temos armas e munição

para enfrentar um exército — comentou Kit.

— Pois penso que será isso que teremos

de fazer.

Sombras cruzaram a rua com rapidez.

Momentos depois, uma terrível fuzilaria se

abateu contra o armazém, crivando-o de

balas, arrebentando vidraças e tudo que

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estava em seu interior.

Os dois patrulheiros continuaram

escondidos atrás sólido balcão, enquanto, lá

fora, Irah e Duff se exasperavam.

— Diabos! Não vamos conseguir tirá-los

de lá com facilidade — disse Irah.

— Vamos ter que entrar lá...

— Certo, vou passar a ordem para os

rapazes. Um grupo dará cobertura.

Lá dentro, Kit percebeu pelo cessar-fogo

momentâneo que alguma coisa aconteceria

em seguida.

— Acho que tentarão entrar — opinou.

— Apanhe as espingardas. Serão

decisivas para contê-los.

Repentinamente, dois homens se atiraram

para dentro do armazém, saltando através da

janela arrebentada.

Kit e Hewke apertaram instintivamente

os gatilhos das espingardas. As cargas

duplas de chumbo atingiram os bandidos

em pleno salto.

Eles tombaram, estrebuchando cobertos

de sangue.

— Ouça! — disse Kit, apontando para a

porta dos fundos.

Dois homens tentaram entrar, após

arrombar a porta, mas foram barrados por

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uma muralha de chumbo que os fez em

pedaços.

— Isto aqui está ficando quente demais

— disse Hewke.

— E estamos só no começo. Vai

esquentar ainda mais!

No mesmo momento, mais três homens

tentaram entrar pela porta da frente.

Kit acertou o primeiro deles, mas os

outros dois conseguiram se abrigar atrás de

algumas caixas.

— Fogo neles! — ordenou Duff, lá fora.

Kit e Hewke tiveram que manter as

cabeças abaixadas, enquanto as balas

arrebentavam tudo ao redor deles.

— Estamos num beco sem saída. Aqueles

dois que entraram poderão cair sobre nós a

qualquer momento...

— Então tome isso — falou Kit,

passando outra espingarda carregada para o

amigo.

Como que adivinhando, os dois

pistoleiros pularam para cima do balcão,

assim que cesso o tiroteio que vinha lá de

fora.

Com incrível reflexo, Kit e Hewke

dispararam as espingardas

instantaneamente.

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Os dois pistoleiros tiveram suas cabeças

separadas do corpo, sendo jogados para trás

fulminados.

Meia dúzia de homens, vinda pela porta

dos fundos, rolou pelo assoalho do armazém

disparando suas armas.

Kit e Hewke saltaram para os lados,

disparando seus revólveres com incrível

pontaria e sem piedade.

Nenhum dos pistoleiros que rolava pelo

assoalho se levantou mais.

— Não está dando certo. São uns

demônios! — falou Irah, exasperado.

— Não posso entender. Já perdemos mais

da metade dos homens e nem conseguimos

chegar perto deles ainda...

— Só há um maldito jeito — falou Irah,

indo até o saloon e apanhando um lampião.

Acendeu-o. A chama iluminou seu rosto

crispado e furioso.

— Diabos, homem! Isso pode incendiar

toda esta maldita cidade.

— E daí? Quemados já não será um lugar

seguro para nenhum de nós.

— Nisso você tem razão. Ateie fogo no

armazém. Eu vou até o saloon apanhar

nosso dinheiro no cofre. Encontro-o em

seguida. Acho que chegou a hora de dar o

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fora daqui.

— Certo, irei em seguida!

Irah atravessou a rua e se aproximou da

janela do armazém, atirando lá dentro o

lampião aceso.

Quando este se espatifou, espalhando o

querosene, tudo começou a pegar fogo.

— Assim que eles saírem, matem-nos,

rapazes! — ordenou Irah, espantado ao

perceber que poucos haviam sobrado vivos.

Deixou-os à espera dos patrulheiros e

correu para o saloon ao encontro de seu

sócio.

Dentro do armazém, Kit e Hewke

perceberam que não tinham outra

alternativa, a não ser sair e enfrentar a

morte.

— Como vai ser agora, parceiro? —

indagou Hewke.

— Do jeito que o capeta gosta, Hewke —

respondeu Kit, recarregando suas armas. —

Vamos ter que abrir caminho a bala.

— Só gostaria de saber quantos mais

ainda há lá fora...

— Não creio que haja muitos. Acertamos

uma porção deles.

— Por onde sairemos?

— Tenho uma idéia — disse Kit, após

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olhar ao redor. — Veja aquela janela lateral.

Vamos nos atirar por ela. Na certa eles estão

vigiando a frente e os fundos. É nossa única

chance.

Ambos verificaram bem suas armas,

depois tomaram posição. Kit correu na

frente, arremessando seu corpo contra a

vidraça, que se espatifou.

Hewke veio atrás. Os dois caíram num

beco ao lado do armazém, rolando para a

rua.

Os pistoleiros que vigiavam a frente,

mesmo de armas nas mãos, foram

apanhados de surpresa e mal tiveram tempo

de apertar os gatilhos de suas armas.

Hewke e Kit derrubaram-nos

impiedosamente com uma saraivada de

balas.

Os que vigiavam os fundos correram pelo

beco, ao encontro das armas dos

patrulheiros, que terminaram a limpeza,

fuzilando-os também.

Os dois ficaram abrigados atrás de um

bebedouro, observando.

— Parece que está tudo limpo agora —

falou Hewke.

— Onde estarão aqueles dois covardes,

Irah e Duff? — observou Kit.

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— Lá estão eles — apontou Hewke, no

exato momento em que os dois saíam do

saloon e pulavam para as selas de seus

cavalos.

— Estão vindo nesta direção — alertou

Kit.

Os dois patrulheiros foram para o meio

da rua, fazendo sinais para que os dois fora-

da-lei se entregassem. Desesperados, Duff e

Irah atiraram seus cavalos sobre os dois

patrulheiros, enquanto disparavam suas

armas como loucos. Hewke e Kit pularam

para os lados, rolando na poeira, ao mesmo

tempo em que disparavam certeiramente

seus revólveres. Duff e Irah foram jogados

fora de suas montarias, caindo pesadamente

na poeira. Ainda tentaram se levantar e

disparar suas armas, mas nova descarga das

armas dos patrulheiros prostrou-os sem

vida, no meio da rua principal. Quando tudo

silenciou, os habitantes da cidade

começaram a sair à rua.

— Apaguem esse fogo ou esta maldita

cidade será riscada do mapa — gritou Kit.

Imediatamente foram formadas algumas

brigadas com baldes, pás e machados,

dispostas a lutar contra o incêndio.

Hewke e Kit não se importaram com

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mais nada. Dois vultos de mulher deixaram

o hotel e correram pela rua na direção deles.

— Você me tirou um peso dos ombros

quando confessou estar apaixonada por Kit

— falou Becky.

— Estou tentando levá-lo ao altar há

cinco anos... Espero que não demore tanto

com Hewke...

— Acha mesmo que ele gosta de mim?

— Claro que sim... Eu posso jurar que ele

a ama — afirmou Becky. — É uma mulher

de sorte, Becky. Hewke é um bom rapaz...

Os dois patrulheiros haviam guardado

suas armas e caminhavam agora, resolutos e

satisfeitos, na direção daqueles braços

abertos.

— Vai se declarar a ela? — indagou Kit.

— Só se você pedir Belle em

casamento...

— Pois então prepare-se, porque é isso

que eu farei — confessou Kit.

Hewke sorriu e seu olhar cravou-se na

figura emocionada que corria em sua

direção.

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L P Baçan O Mago das Letras

1975: escreveu e publicou seu primeiro

livro de bolso, a novela Uma Tese

para o Amor, pela Editora Cedibra,

Rio de Janeiro, passando, daí, a

escrever mensalmente novelas por

encomenda para essa e outras

editoras.

1985: teve 11 letras incluídas no LP

Saudação ao Mato Grosso, da dupla

Estudante & Caminhoneiro.

1986: teve 6 letras incluídas no LP

Oração de Um Caminhoneiro, da

mesma dupla.

1991: participou da Coletânea do I

Concurso Nacional de Literatura da

FENAE, com um conto premiado

em 1º. lugar.

1994: participou da Antologia Os Poetas,

do V Concurso Helena Kolody de

Poesia, Governo do Paraná, Curitiba

– PR.

1995: traduziu a obra El Contuberneo

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Judeo-Maçónico-Comunista, de José

Antonio Ferrer Benimelli, em 2

volumes intitulados Maçonaria &

Satanismo, para a Editora "A

Trolha".

1996: publicou a novela rural Sassarico,

sobre o fim do ciclo do café, início

da rotação de culturas (soja e trigo)

e surgimento dos bóias-frias e editou

os livros Vida Minha, de Emília

Ramos de Oliveira (biografia) e

Círculo Vicioso, de Arlene Cirino de

Oliveira.

1997: participou da coletânea Poema,

Poesia... Maçom, Maçonaria,

organizada por Mário Cardoso para

a Editora Arte Real.

1998: publicou o livro de poemas

Alchimia.

1999: publicou o livro Redação Passo a

Passo e editou o livro URAÍ - Nossa

Terra, Nossa Gente, 2 volumes, de

Emília Ramos de Oliveira.

2000: teve 2 letras incluídas no CD

Nosso Negócio É Cantar, da dupla

Márcio Rogério & Luciano e 3 letras

no CD Mais, do cantor Cícero de

Souza. Publicou, neste ano de 2000,

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Brincando nos Caminhos do Senhor,

revista infantil cristã, Editora e

Gráfica Cotação da Construção,

Londrina – PR.

2001: editou e prefaciou o livro

Templários, de Lori Andrei Perez

Baçan.

2002: foi o autor da letra do hino da Loja

Maçônica Londrina, em parceria

com o músico Wilmar Cirino.

2004: organizou, editou e participou do

livro I Antologia do Portal "Cá

Estamos Nós".

2006: organizou, editou e participou do

livro II Antologia do Portal "Cá

Estamos Nós".

2007: publicou os livros A Sabedoria dos

Salmos, A Sociedade Secreta dos

Templários e O Livro Secreto da

Maçonaria, pela Universo dos

Livros Editora Ltda.

2010: publicou os livros Manual da

Futura Mamãe, Quem Disse Que

Cozinha Não è Lugar de Homem e

Receitas Naturais pela editora

Universo dos Livros. Editou o livro

de contos Solidariedade, do autor

baiano João Justiniano da Fonseca.

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Produziu, dirigiu e apresentou uma

série de 7 (sete) programas

radiofônicos Vila das Artes, na

Rádio Boa Nova FM, de Pérola, PR,

sobre literatura atual.

2012: traduziu, editou e publicou o livro

A Origem do Satanismo na

Maçonaria, de Arthur Edward

Waite.

2013: traduziu, editou e publicou em

formato eletrônico os livros Carmila,

de J Sheridan LeFanu, e Teoria da

Esgrima a Cavalo, de Alex Muller,

Anjos, o Caminho de Volta, Os Olhos

do Carrasco, Novelas de Terror

(Volumes I e II) Novelas Policiais

(Volumes I a 7) e Novelas de Faroeste

(Volumes I a IX) pela Lulu Press, Inc.

e Editora Saraiva.

1975 até 2015: hoje escreveu mais de 700

livros, publicados em sua maioria

em formato de bolso, sobre os mais

diferentes assuntos, como:

romances, erotismo, palavras

cruzadas, charadas, passatempos,

literatura infantil, passatempos

infantis, horóscopos, esoterismo,

simpatias populares, rezas, orações,

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intenções, anjos, fadas, gnomos,

elementais, amuletos, talismãs,

estresse, manuais práticos, religião e

outros livros de bolso com os mais

diversos temas e letras para músicas.

Já editou em formato eletrônico

mais de 1000 títulos, entre

publicações individuais e antologias,

de autores de Língua Portuguesa e

Espanhola.

Publicou ao longo dos últimos 40 anos

poemas e contos em jornais de

circulação regional. Ultimamente,

Tem traduzido e editado livros

eletrônicos e empenhado em editar

todos seus títulos em formato

eletrônico para serem

disponibilizados a seus leitores.

www.acasadomagodasletras.net