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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA CRISE FINANCEIRA DE 2008: CAUSAS & LEGADO Por: Alcinda Cilene Chantre Da Luz Orientador Prof.ª Ana Cláudia Morrissy Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

CRISE FINANCEIRA DE 2008: CAUSAS & LEGADO

Por: Alcinda Cilene Chantre Da Luz

Orientador

Prof.ª Ana Cláudia Morrissy

Rio de Janeiro

2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

CRISE FINANCEIRA DE 2008: CAUSAS & LEGADO

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão de Instituição

Financeira

Por: Ana Cláudia Morrissy

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AGRADECIMENTOS

Agradeço: aos meus pais Manuel e

Eugénia, manos, primos, família toda

por acreditar.

Ao meu amigo Sebastião que me

ajudou durante a pesquisa, também ao

Gustavo e Giliardo.

À minha família brasileira, do trabalho,

da igreja, faculdade, enfim a todos os

amigos de Cabo Verde, Brasil e

Portugal. E por fim, não menos

importante, agradeço a Deus pela fé e

coragem.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia aos meus pais,

meus maninhos, família em geral de Cabo

Verde pela confiança demonstrada. À

minha família aqui no Brasil, amigos da

faculdade e não só, professores,

orientadora, a todos que de alguma forma

contribuíram.

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RESUMO

O estudo em questão cinge-se sobre análise das possíveis causas, legados e

tendências que a crise proporcionou o mercado global. Este tema continua

merecendo destaque na maioria dos especialistas em economia e finanças.

Assim como tem incomodado os formuladores que regularizam as ações do

mercado. Várias medidas foram tomadas para conter o avanço da crise e

superar as lacunas apresentadas pelo sistema econômico. Este trabalho

procurou analisar as possíveis causas que viabilizaram a existência da crise,

bem como o que esta crise pode proporcionar para o futuro do mercado dos

países. O objetivo é levantar informações que permitam analisar o papel da

crise no mercado. Para tal, adotou-se uma pesquisa exploratória descritiva

baseada em levantamento bibliográfico. Os resultados apontam que várias

foram as causas que fomentaram a crise, como: 11 de Setembro, a postura do

Federal Reserve System, mercado imobiliário, entre outras, e como tendência

pode-se destacar as reivindicações sociais. Em suma, a crise foi um problema

que gerou inovação (em processos, métodos e capacitação).

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Lista de Abreviaturas e Siglas.

AIG – American International Group

BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul

BP – Balança de Pagamentos

CDS – Swaps de Risco de Incumprimento

CEF – Crise Econômica e Financeira

DE – Dívida Externa

DP – Dívida Pública

EUA – Estados Unidos da América

FED – Federal Reserve System

FMI - Fundo Monetário Internacional

IOF – Imposto sobre Operações Financeiras

IPI – Imposto de Produto Industrializado

IRPF – Imposto de Renda Pessoa Física

OMC – Organização Mundial do Comércio

ONU – Organizações das Nações Unidas

PIB – Produto Interno Bruto

PSI – Programa de Sustentação do Investimento

SCC – Saldo da Conta Corrente

SELIC – Sistema Especial de Liquidação e de Custódia

UE – União Europeia

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Lista de Tabelas e Gráficos

Figura Página Figura 1.1: O ciclo vicioso da crise financeira. 10 Figura 2.1: Evolução do PIB e dívida externa dos EUA 28 Figura 2.2: Evolução da dívida pública dos EUA 30 Figura 2.3: Exportação dos EUA 31 Figura 2.4.: Importação dos EUA 31 Tabela Tabela 1.1: Países com maior dívida externa em 2012 13 Tabela 1.2: Taxa de crescimento real do PIB 16 Tabela 1.3: PIB, dívida externa e dívida pública dos EUA. 18 Tabela 2.1: Relação PIB e Dívida Externa dos países durante a última década 27 Tabela 2.2: Balança de Pagamento 28 Tabela 3.1: Despesas do exército dos EUA 35 Tabela 4.1: Evolução da taxa Selic 2008 a 2011 44

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Sumário AGRADECIMENTOS ......................................................................................... 3

DEDICATÓRIA ................................................................................................... 4

RESUMO............................................................................................................ 5

Lista de Abreviaturas e Siglas. ........................................................................... 6

Lista de Tabelas e Gráficos ................................................................................ 7

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10

CAPÍTULO I ..................................................................................................... 12

ABORDAGEM SOBRE A CRISE ECONÔMICA E FINANCEIRA .................... 12

1.1. Origem do trabalho ................................................................................ 12

1.2. Relevância do tema ............................................................................... 13

1.3. Objetivos ................................................................................................ 14

1.3.1. Objetivo geral .................................................................................. 14

1.3.2. Objetivos específicos ...................................................................... 14

1.4. Referencial Teórico ................................................................................ 14

1.4.1. O papel do PIB ................................................................................ 16

1.4.2. Abordagem sobre a dívida e BP...................................................... 17

1.5. Procedimentos metodológicos ............................................................... 19

1.5.1. A Pesquisa ...................................................................................... 20

1.5.2. Estratégia de Pesquisa ................................................................... 21

CAPÍTULO II .................................................................................................... 23

SITUAÇÃO ECONÔMICA E FINANCEIRA DOS ‘ASES’ DA CRISE DE 2001 A 2012 ................................................................................................................. 23

2.1. Conceptualização sobre a crise ............................................................. 23

2.2. A CEF durante o período 2001 a 2012 .................................................. 26

2.2.1. Variável PIB e Dívida ...................................................................... 26

2.2.2. BP ................................................................................................... 27

2.3. Análise gráfica: PIB, Dívida e BP ........................................................... 29

CAPÍTULO III ................................................................................................... 32

A CRISE DE 2008 – CAUSAS, LEGADO E TENDÊNCIAS. ............................ 32

3.1. Causas da crise de 2008 ....................................................................... 32

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3.2. Legado da crise de 2008 ........................................................................ 39

3.3. Tendência da crise ................................................................................. 41

CAPÍTULO IV ................................................................................................... 44

O PAPEL ATUAL DA CRISE NA ECONOMIA BRASILEIRA ........................... 44

CONCLUSÃO ................................................................................................... 46

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INTRODUÇÃO

Durante a primeira década do século XXI, vários aconteceram ações que

proporcionaram preocupações alarmantes para a suposta estabilidade

econômica e financeira do mercado norte-americano. Essas ações foram de

diversas ordens, tais como: militares (atentado de 11 de Setembro), imobiliário,

financeiro, tecnológico, entre outros. O atentado11 de Setembro de 2001 pode-

se considerar como o marco do inicio das ações negativas que aumentaram os

gastos norte-americanos com a segurança territorial. Todos esses fatores

contribuíram para que em 2008 o mundo pudesse conhecer uma das piores

crises da história da humanidade.

A crise financeira se tornou um processo vicioso que exige constantemente

superação em processos e procedimentos falhos identificados ao longo da

crise. Krugman (2009) argumenta que esse ciclo começa com a perda de

confiança do mercado e dos seus agentes, passando posteriormente para

desvalorização cambial, aumento das taxas de juros e queda da atividade

econômica, isto em função da falta de credibilidade apresentada pelo mercado

nos últimos tempos. A última parte do ciclo são os problemas financeiros para

empresa, bancos e famílias, isto é, a falta de valores monetários para suprir

suas necessidades e investimentos.

Figura 1.1: O ciclo vicioso da crise financeira.

Fonte: Krugman, 2009.

Perda de confiança

Desvalorizaçao Cambial, aumeto das taxas de juros , queda

da atividade economica

Problemas financeiros para empresa, bancos e

familias

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Com o propósito de analisar a tendência deste ciclo, assim como as causas

que levaram com que a crise fosse disseminada aliada ao legado que a

mesma deixará às sociedades, foi realizado este estudo. O objetivo

fundamental deste estudo é levantar dados e informações para constatar

quais foram os fatores que contribuíram para o surgimento e aceleração da

crise financeira mundial deflagrada em 2008.

Para atingir este objetivo definiu-se como metodologia os fundamentos dos

critérios adotados por Collis e Hussey (2009) como um estudo exploratório-

descritivo, de natureza qualitativa. Combinado com o procedimento adotado

por Vergara (2004) como pesquisa bibliográfica. Com isso, definiram-se três

grupos como objeto de estudo: G1 (Produto Interno Bruto); G2 (Dívida

Externa) e G3 (Balança de Pagamentos).

Através desses objetos, se chegou aos resultados presentes neste trabalho

em que, foi possível levantar algumas das possíveis causas da crise, seu

legado e a tendência para os mercados.

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CAPÍTULO I

ABORDAGEM SOBRE A CRISE ECONÔMICA E

FINANCEIRA

1.1. Origem do trabalho O assunto Crise Econômica e Financeira (CEF) ganhou espaço maior no

campo da ciência e pesquisa no ano de 2008 e subsequentes. Até então, a

abordagem era apenas sobre os problemas financeiros nos bancos norte

americanos e o elevado gasto de verbas com armamento bélico depois do

atentando de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos da América (EUA).

Tal como afirma o professor Simão Davi Silber, (do departamento de economia

da Universidade de São Paulo, USP) "Depois da ofensiva terrorista, o governo

americano se envolveu em duas grandes guerras, no Iraque e Afeganistão, e

começou a gastar mais do que deveria". A crise foi se tornando uma presença

constante com a pressão política que forçou a Casa Branca não mais interferir

no Banco Lehman Brothers, deixando-o quebrar. Este fechamento, do quarto

maior banco de crédito dos Estados Unidos, causou pânico e travou o crédito.

As opções de crédito no país ficaram escassas e mais limitadas.

Com a realidade da falência do banco de investimento Lehman Brothers no dia

15 de setembro de 2008, após a recusa do Federal Reserve (Fed, banco

central americano) em socorrer a instituição, trouxe impactos tremendo sobre o

estado de confiança dos mercados financeiros, rompendo a convenção

dominante de que a autoridade monetária norte-americana iria socorrer todas

as instituições financeiras afetadas pelo estouro da bolha especulativa no

mercado imobiliário. Essa falência afetou os mercados financeiros dos EUA e

do resto do mundo, acompanhado de perto pelo mercado europeu.

A crise que se mostrava passageira, seus efeitos perduram até atualidade, com

forte presença em países europeus como Espanha, Grécia, Portugal, Turquia,

etc. Inclusive alguns países emergentes como o Brasil sentem aos poucos os

efeitos da crise, apesar de suportá-la em 2008.

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Esse trabalha vai procurar resgatar alguns conceitos sobre a CEF, suas causas

e entender o legado que ela continua deixando para as demais nações do

mundo atual.

1.2. Relevância do tema O tema é de extrema relevância levando em consideração que às economias

dos países precisam estar equilibradas para poder manter um mercado

financeiro e monetário competitivo.

Mercado financeiro corresponde ao conjunto e instituições em que

concorrentes e demandantes podem realizar transações a curto e longo prazo,

em que os principais são o mercado de dinheiro e de capital. Enquanto que o

mercado monetário aos pedidos de fundos de empréstimos de curto prazo.

Esses dois mercados têm influência na balança de pagamento do país, por

isso, é necessário que haja equilíbrio financeiro e monetário.

Os problemas minimizados em 2008 em vários países ganharam força anos

depois, com manifestações da insatisfação da população. A Grécia foi o

exemplo primário, seguiram-se a Espanha, Itália, Portugal e alguns países

latinos americanos.

As dívidas dos países continuam aumentando a um ritmo bastante acelerado

impulsionado pelos efeitos negativos da crise de 2008. Países como os EUA,

Reino Unido, França, Alemanha, Japão, Itália e Espanha apresentaram em

2012 dívidas externas bastante elevadas. Os EUA com uma dívida estimada,

rondando os 14,710 bilhões de dólares, como pode ser observado na tabela

1.1. Apesar de ter PIB cada vez crescentes, movidos por gastos internos e

externos a dívida destes países também cresce.

Tabela 1.1: Países com maior dívida externa em 2012

Países Dívida (em bilhões de dólares)

EUA 14,710

Reino Unido 9,836

França 5,633

Alemanha 5,624

Japão 2,719

Itália 2,684

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Países Baixos 2,655

Espanha 2,570

Fonte: Adaptado de Index Mundi, disponível em

http://www.indexmundi.com/map/?v=94&l=pt, acesso

06/07/2013.

O aumento considerável da dívida dos países europeus e dos EUA ajuda a

entender a importância e a atualidade da abordagem ligada a CEF de 2008.

Pois, grandes consequências ela deixou para os países e os grandes

importadores e exportadores da esfera universal.

1.3. Objetivos

1.3.1. Objetivo geral O trabalho tem como objetivo geral levantar dados e informações para

constatar quais foram os fatores que contribuíram para o surgimento e

aceleração da crise financeira mundial deflagrada em 2008.

1.3.2. Objetivos específicos De entre os vários objetivos específicos que o trabalho se propõe alcançar,

destacam-se:

Reunir referências que contribuam para os dados da pesquisa.

Analisar os possíveis fatores que ajudaram a desencadear a crise

financeira.

Analisar as balanças de pagamento antes de 2008 dos países onde a

crise teve maiores impactos no ano de 2008.

Analisar os principais legados que a crise financeira mundial de 2008

deixou para os países mais afetados pela mesma.

1.4. Referencial Teórico Para Amaral (2009), até ao final de 2007, os sucessivos sinais de crise

puderam ainda ser interpretados como manifestações controláveis, idênticas ao

minicrash de Wall Street de 1987 ou à chamada "crise das dotcom" de finais

dos anos 1990 ou ao breve pânico subsequente aos ataques de 11 de

Setembro de 2001. Em todas essas circunstâncias, a ação determinada das

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autoridades monetárias americanas tinha restabelecido rapidamente a

confiança, tendo-se associado apenas a pequenos episódios recessivos ou

meros sobressaltos. Era de esperar que assim voltasse a suceder. Como

sempre se verifica durante longos períodos de prosperidade, muita gente

prestou-se a anunciar o fim das crises. Isto explica o fato de que a maioria dos

países não encarava os indícios da crise como algo bastante sério. Confirmou-

se com a queda das economias da União Europeia (UE) como se verificou na

Grécia, Turquia, Espanha, Itália, Portugal, entre outros. Crise esta que motivou

as manifestações sociais das manifestações sociais da população.

Alguns autores estabelecem uma correlação dependente entre a CEF 2008 e a

crise do capitalismo fundamentando-se no trecho de Marx, n´O Capital,

"a transformação dos meios de produção individualizados e

pulverizados em meios de produção socialmente concentrados; a

transformação, portanto, da propriedade anã de muitos na

propriedade gigante de poucos e a expropriação do solo da grande

massa da população […] forma a pré-história do capital. […] A

propriedade privada que é detida pessoalmente […] é suplantada

pela propriedade priva-da capitalista, que se baseia na exploração

de trabalho alienado, embora formalmente livre." MARX apud

AMARAL, 2009.

Apesar das previsões de Marx citada acima o capitalismo edificou suas bases e

tem estrutura que lhe permitiu permanecer viva na crise e após a crise. Essa

estrutura é suportada pelas decisões políticos, econômicos e sociais. São os

estados que fortalecem o capitalismo, tal como abordava Ianni (1996), “o

Estado é, em ultima instancia um órgão da classe dominante. (...) o aparelho

estatal é a condição básica do exercício da dominação” IANNI apud PINTO,

2008, p.25. Isto complementa a ideia de que realmente são os estados regulam

as ações que movem o capitalismo.

A primeira reflexão após 2008 resultava na ideia que existia a “Chimérica”

(Amaral, 2009), ou seja, excesso de poupança que permitiu a expansão do

crédito, que acompanhavam os novos produtos financeiros e todo o processo

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que culminou com o colapso de 2007-2008. Isso quer dizer, por um lado, havia

excesso de poupança na China e carência dos EUA.

1.4.1. O papel do PIB A economia de um país é movida pelos seus fatores de produção e pelas

entradas e saídas capitais externos. Essas variáveis compõe o Produto Interno

Bruto (PIB). O PIB corresponde à riqueza de um país e é um indicador

importantíssimo para avaliar o desempenho da economia da nação. Para

MANKIW (2010), PIB é “a renda total gerada internamente, incluindo a renda

gerada por fatores de produção de propriedade estrangeira; o gasto total com

bens e serviços produzidos internamente”. Este conceito indica que qualquer

problema com os fatores de produção ou crise afetará o país, ou seja, a maior

parte das classes sociais. Se o país tiver grande influencia na economia

internacional ou global a crise ou problema se generaliza atingindo os outros

mercados.

Em 2008, economias como a norte-americana, chinesa, inglesa, indiana e

alemã tiveram crescimento positivo, apesar de inferior ao ano anterior, isto

porque foram atingidas pelo efeito da crise. Segundo WOLF (2009), “os custos

com que arcaram esses países não foram apenas fiscais. (...) ocorreram

grandes perdas acumuladas de produção.” Essas perdas afetaram a economia

como um todo, ou seja, o PIB. Ainda o mesmo autor afirma que “conforme os

dados do Banco Mundial, quarenta e sete países sofreram perdas acumuladas

de 10% do PIB ou mais, em consequência de crises financeiras”. Este

argumento pode ser verificado na tabela 1.2, em que apesar de alguns países

apresentarem taxas de crescimento real do PIB positiva, é inferior aos anos

anteriores, mostrando uma queda constante entre 2002 a 2011.

Tabela 1.2: Taxa de crescimento real do PIB

Países PIB - TAXA DE CRESCIMENTO REAL (%) 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

EUA 2,45 3,1 4,4 3,2 3,2 2 1,1 -2,6 -2,8 1,7 CHINA 8 8 9,1 9,1 10,2 11,9 9 9,1 10,3 9,2 JAPÃO -0,3 2,7 2,9 2,6 2,2 2 -0,7 -5,2 3,9 -0,7 ÍNDIA 4,3 8,3 6,2 8,4 9,2 9 7,4 7,4 10,4 7,2

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17

ALEMANHA 0,4 -0,1 1,7 0,9 2,7 2,5 1 -4,7 3,5 3,1 RÚSSIA 4,2 7,3 6,7 6,4 6,7 8,1 5,6 -7,9 4 4,3 REINO UNIDO 1,6 2,2 3,2 1,9 2,8 3,1 0,7 -5 1,3 0,7 BRASIL 1 -0,2 5,1 2,3 3,7 5,4 5,1 -0,2 7,5 2,7 FRANÇA 1 0,5 2,1 1,2 2,1 2,1 0,3 -2,5 1,5 1,7 ITÁLIA 0,4 0,4 1,3 0,1 1,9 1,4 -1 -5,1 1,3 0,4 ESPANHA 2 2,4 2,6 3,5 3,9 3,8 1,2 -3,7 -0,1 0,7 PORTUGAL 0,8 -1,3 1,1 0,4 1,3 1,8 -0,1 -2,6 1,4 -1,5 GRÉCIA 3,5 4,7 3,7 3,7 4,2 4 2,9 -2 -4,5 -6,9 TURQUIA 7,8 5,8 8,2 7,4 5,3 4,5 1,1 -4,7 8,2 8,5 IRLANDA 5,2 1,4 5,1 5,5 6 6 -3 -7,6 -1 0,7 Fonte: adaptado de Index Mundi, disponível em

http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?v=66&c=us&l=pt. Acessado entre 01/06 a

31/07 de 2013

1.4.2. Abordagem sobre a dívida e BP

O governo como entidade, tem suas obrigações, projetos e atividades que

fortaleçam a economia nacional. Para exercer boa parte de suas atividades o

governo necessita de fonte de renda que provém mediante a carga tributária.

Porém, nem sempre os valores arrecadados são suficientes para cobrir o custo

de todas as atividades. Assim sendo, o governo recorre a empréstimos interno

ou externo. A dívida pública corresponde ao endividamento de qualquer divisão

administrativa, desde uma cidade até um país. A literatura segmenta a dívida

em duas vertentes: interna e externa. A primeira diz respeito ao endividamento

do governo com entidades do próprio país, ou seja, deve dinheiro ao setor

produtivo interno, já a externa representa o somatório dos débitos de um país,

resultantes de empréstimos e financiamentos contraídos no exterior, (Lopes,

2009; Mankiw, 2010; Wolf, 2009; Sachs e Larrain, 2010; Gonçalves e Pomar,

2002).

A referência principal deste estudo é a economia dos EUA e sua dívida pública

teve oscilações nos anos 2004, 2007, 2009 e 2011, registrando taxas na ordem

de 65%; 60,8%; 58,9% e 67,7% respetivamente. Tanto o PIB quanto a dívida

deste país foi subindo ano pós ano, como mostra a tabela 1.3. O cenário de

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crise contribuiu para o aumento do PIB, da DE e do DP dos EUA e seus

aliados.

Tabela 1.3: PIB, dívida externa e dívida pública dos EUA.

Ano PIB DE DP (%)

2004 11750 1400 65 2007 13780 10040 64,7 2009 14120 13640 58,9 2011 15290 13980 67,7

Fonte: elaborada pela autora

Outro instrumento importante para análise à crise é a balança de pagamentos.

Para a literatura pesquisada (Lopes, 2009; Mankiw, 2010; Wolf, 2009; Sachs e

Larrain, 2010; Gonçalves e Pomar, 2002; Bacha, 2004; Feijó, 2003; Paulani,

2000, Rossetti, 1995), a BP é um instrumento da contabilidade nacional que

descreve as relações comerciais de um país com o resto do mundo. Ele

registra o total de dinheiro que entra e sai de um país, na forma de importações

e exportações de produtos, serviços, capital financeiro, bem como

transferências comerciais. Para o FMI (Fundo Monetário Internacional) é o

registro sistemático das transações econômicas realizadas, durante

determinado período de tempo, entre residentes e não residentes de um País.

Apresenta três contas: Transações correntes (à movimentação de mercadorias

e de serviços), pagamentos e recebimentos de rendas de capital e trabalho e

transferências unilaterais de renda unilaterais; Conta Capital (registram

transferências unilaterais de ativos reais, ativos financeiros ou ativos

intangíveis entre residentes e não residentes); e Conta Financeira (registra

todos os tipos de fluxos de capitais entre o país e o resto do mundo).

O BP comporta atualmente 09 contas:

I. Balança Comercial

II. Balanço de Serviços

III. Balanço de Rendas

IV. Donativos ou Transferências Unilaterais Correntes

V. Saldo do BP em transações correntes (I + II + III + IV)

VI. Conta capital e financeira

VII. Erros e Omissões

VIII. Saldo total BP (V + VI + VII)

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IX. Haveres da Autoridade monetária (são as variações das Reservas

Internacionais – VIII).

Essa estrutura tem outros desdobramentos que não serão analisados neste

estudo, devido ao foco do mesmo. Importa salientar que a conta IX vai revelar

as reservas internacionais (os ativos estrangeiros mantidos pelos bancos

centrais como um amortecedor contra infortúnios econômicos nacionais). Isso é

importantíssimo em questões de crise, pois permite observar a mobilidade

monetária nacional.

A BP vai expor se o país tem superávit ou déficit. O déficit faz com que

medidas ajustes sejam tomadas para evitar que o fluxo de capitais vindos do

exterior não seja interrompido além de outras ocorrências que possam

desestabilizar por completo a economia. O melhor para o país é ter superávit

que lhe permite criar reservas e poder manter relação de igualdade com

economias fortes.

1.5. Procedimentos metodológicos Os métodos de investigação podem ser classificados segundo várias

perspectivas. A mais utilizada é a classificação em métodos quantitativos e

qualitativos. Os métodos que se baseiam na modelação matemática, na

experimentação laboratorial e nas especificações formais, classificam-se como

métodos quantitativos. Os métodos qualitativos surgiram na investigação nas

ciências sociais com o objetivo de potenciar o estudo das pessoas e sua

integração no meio que as rodeia, (Gil, 2009; Sampieiri et al., 2003).

Diante desses argumentos, este estudo utilizará fontes bibliográficas

(dissertações, teses, artigos e livros); fontes documentais escritas (jornais,

documentos oficiais, revistas, panfletos e outros); fontes iconográficas (fotos,

imagens e vídeos).

Quanto à metodologia, o trabalho se fundamenta nos critérios de Collis e

Hussey (2009): quanto aos seus objetivos constitui um estudo exploratório-

descritivo; quanto ao processo será qualitativo; e quanto à lógica se classifica

como pesquisa analítica.

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O tipo de procedimento adotado é a pesquisa bibliográfica, para Vergara

(2004), a pesquisa bibliográfica é um estudo desenvolvido baseado em material

que foi publicado em livros, revistas científicas, jornais de grande credibilidade,

sites entre outros, isto é, materiais acessíveis ao público. Propõe-se

desenvolver uma relação entre a literatura existente com a realidade

pesquisada.

O estudo tem enfoque teórico visando demonstrar as causas, as

consequências e os procedimentos que fizeram com que a crise pudesse ser

desencadeada, desenvolvida e fortalecida desde 2008.

1.5.1. A Pesquisa

A pesquisa estará concentrada em três grupos (G) diferentes:

G1: PIB

Serão avaliados os países com os maiores PIB´s entre os períodos de 2001 a

2012. Levando em consideração, sobretudo o aumento considerado durante

nos anos após a crise (2008). Isto para que se possa fazer uma análise

comparativa entre os períodos antes e depois da crise.

O PIB será utilizado como critério de análise das causas e consequências da

CEF com vista a entender se a evolução deste está atrelada aos efeitos da

crise ou é um crescimento gradual do aumento da produtividade industrial do

país em relação ao resto do mundo.

G2: Dívida (externa)

A dívida do país será adotada como critério de análise da CEF para se

entender a progressão da mesma durante os períodos em estudo. Observar se

a evolução da dívida é uma consequência da CEF ou é fruto da mobilidade

empreendedora do país. Acredita-se que a característica da dívida dos países

mudou com o novo perfil das economias e finanças impulsionadas pela CEF de

2008.

Este indicador poderá ajudar a entender melhor as causas que contribuíram

para a crise e como essas causas continuam atormentando às grandes

economias do mundo atual.

G3: BP (balança de pagamentos)

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Entende-se que as relações comerciais de um país com o resto do mundo é de

extrema importância e tem um papel essencial nas ações de investimentos

estrangeiros. Se o mercado estiver em crise de confiança isso afetará

diretamente os investimentos e reduzirá a projeção do crescimento da balança

de pagamento.

A CEF em que estão mergulhadas as economias dos países sofre influência da

BP. As diversas atividades de importações e exportações de produtos,

serviços, capital financeiro, bem como transferências comerciais são levadas

em consideração para se avaliar o crescimento ou decrescimento do BP.

A inclusão do BP para avaliar a CEF deve-se pelo fato da sua importância e

ligação íntima com economias de outros países. Os dados do BP ajudarão a

entender melhor a crise e a efetuar uma análise comparativa antes de 2008 e

após este ano, assim, se saberá como o BP dos países se comportou nos

períodos de crise e antes dela.

1.5.2. Estratégia de Pesquisa

A coleta das informações qualitativas corresponde aos grupos citados no tópico

anterior, serão feitas mediante pesquisa bibliográfica, obedecendo as seguintes

etapas:

Levantamento dos materiais bibliográficos para compor a pesquisa

primária. Essas informações corresponderão aos grupos BP, PIB e

Dívida, por constituírem parte essencial para a compreensão do tema.

Levantar informações correspondentes ao PIB de cada país selecionado

para descrever e explicar os motivos que levaram com que a crise fosse

deflagrada em 2008 e, como os estados trabalharam para contornar

essa situação.

Pesquisar informações sobre a dívida quer interna quer externa dos

países pioneiros da crise antes de 2008 e como a mesma se comportou

após o ano de 2008. Analisando os motivos que fizeram com que a

mesma aumentasse. Essa informação vai permitir entender se a

evolução da dívida é consequência da crise.

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Levantar informações sobre a composição da BP dos países

selecionados e comparadas antes, durante e após a crise. A análise da

BP vai permitir observando se os países foram influenciados pela crise

nas importações/exportações de bens e prestações de serviços, por

isso, far-se-á análise comparativa entre os períodos de 2001 a 2008 e

depois desde ano. O resultado vai contribuir com informações

importantes sobre a CEF, suas causas e legado para os países.

As informações serão levantadas quer em materiais impressos (livros, revistas,

jornais, etc.) quer digital (periódicos, artigos, revistas, diversos acervos online

etc.).

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CAPÍTULO II

SITUAÇÃO ECONÔMICA E FINANCEIRA DOS ‘ASES’ DA CRISE DE 2001 A 2012

2.1. Conceptualização sobre a crise

Em 2008 o mundo conheceu uma das suas maiores crises que devastou a

maior parte da economia dos países desenvolvidos e, inibiu o crescimento

econômico dos países emergentes. Esta crise passou a ser denominada Crise

Econômica e Financeira de 2008 (CEF), que atingiu a economia de todo o

planeta, deixando as instituições ou ativos financeiros se desvalorizarem

continuamente.

O termo crise foi associado nestes últimos anos ao conceito marxista de crise

do capitalismo, como referencia à crise financeira econômica de 2008. A crise

do capitalismo corresponde a um período em que o andamento normal de um

processo econômico, sofre de uma avaria provisória.

Porém, a CEF é uma crise econômica global que ainda hoje se faz sentir após

a crise financeira internacional precipitada pela falência do tradicional banco de

investimento estadunidense Lehman Brothers, fundado em 1850. Em efeito

dominó, outras grandes instituições financeiras quebraram, no processo

também conhecido como "crise dos subprimes" (segundo Evans-Pritchard,

2010 e Zuckerman, 2011).

Abaixo se destacam alguns conceitos importantes para compreensão do tema:

Excedentes comerciais: ocorre quando o país exporta mais bens e

serviços do que importa.

Défices comerciais: ocorre quando o país importa mais bens e serviços

do que exporta.

Desequilíbrios globais na economia mundial: ocorre quando alguns

países registram excedentes elevados e persistentes, enquanto que

outros países registram défices elevados e persistentes.

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Países credores: são os países com elevados excedentes comerciais,

como é o caso da Alemanha, da China, do Japão e dos países

exportadores de petróleo.

Países devedores: são aqueles com elevados défices comerciais, como

é o caso da Grécia, Espanha, Irlanda, em que as exportações não são

suficientes para pagar as importações e têm de recorrer a empréstimos

juntos dos mercados financeiros internacionais.

Crédito hipotecário de risco (subprimes): esteve na origem da crise e

acabou por expor a fragilidade dos critérios aplicados pelos bancos na

concessão de crédito. Os empréstimos hipotecários de risco foram

concedidos a mutuários que só os poderiam pagar se os preços da

habitação se mantivessem em alta, se a economia tivesse continuado a

crescer e se as taxas de juro se tivessem mantido baixas. Estes

pressupostos revelaram-se falsos, levando os mutuários ao

incumprimento e os bancos a grandes perdas financeiras.

Excedentes e défices orçamentais: acontecem quando, num

determinado ano, um governo recebe mais dinheiro em impostos do que

gasta em bens e serviços (excedente) ou gasta mais do que recebe em

impostos (déficit). A má situação financeira da banca fez com que os

governos e vissem obrigados a injetar milhares de milhões de euros nos

bancos para cobrir as perdas resultantes do crédito malparado. Isto

significa que, face à diminuição das receitas fiscais resultante da

recessão, os orçamentos governamentais registraram elevados défices.

Dívida governamental ou dívida pública: a quantidade de dinheiro que

um governo deve aos seus credores também aumentou. É igualmente

designada como dívida pública, na medida em que, no final, é aos

contribuintes que compete o seu pagamento. Se um governo gastar

mais do que recebe em impostos, tem de recorrer a dinheiro

suplementar, geralmente através da venda de bens públicos.

Obrigações: promessa feita pelo vendedor de uma obrigação – o

governo, por exemplo – de retribuição, com juros, do dinheiro que foi

emprestado pelos compradores dos títulos (bancos, fundos de pensões,

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etc.). A venda de obrigações permite satisfazer as necessidades de

financiamento orçamental. Por outro lado, os investidores contam,

obviamente, com o ressarcimento futuro, acrescido de juros, do dinheiro

investido.

Spread da taxa de juro corresponde à diferença entre as taxas de juro

aplicadas nas obrigações consideradas mais seguras (as obrigações

alemãs na zona euro) e nas outras obrigações. Esta diferença é

calculada de acordo com a fórmula 1%=100pb.

Refinanciar a dívida: pagar a dívida com mais dinheiro emprestado.

Quando as obrigações estão a vencer, o governo pode emitir novas

obrigações, utilizando as receitas para pagar aos investidores das

obrigações anteriores. Os Tesouros Públicos de todo o mundo utilizam

regularmente este mecanismo. O problema coloca-se quando os

investidores não estão preparados para o refinanciamento por o

considerarem demasiado arriscado, querendo apenas o seu dinheiro de

volta.

Swaps de risco de incumprimento (CDS): oferecem aos investidores

uma garantia contra incumprimento, ou seja, o risco de incumprimento é

transferido para o vendedor do Swap. Se um país não conseguir

cumprir, o detentor de um Swap de risco de incumprimento receberá

sempre o seu dinheiro, sendo as perdas suportadas pela entidade

vendedora. Os investidores podem adquirir estes Swaps e proteger-se

contra perdas junto de diversas instituições financeiras, entre as quais

bancos e fundos de investimento.

Swaps especulativos de risco de incumprimento: são swaps detidos por

investidores que não detêm as obrigações subjacentes. Os

especuladores podem adquirir CDS contando com o incumprimento por

parte dos governos: quanto maior a probabilidade de incumprimento,

maior o valor do CDS, que funciona como garantia contra o

incumprimento. A União Europeia está a considerar proibir esta prática.

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2.2. A CEF durante o período 2001 a 2012

2.2.1. Variável PIB e Dívida

Pode-se verificar na tabela 2.1 que países aliados dos EUA tiveram fortes

impactos após 11 de Setembro, acumulando sucessivas dívidas e aumentando

o seu PIB, em função dos compromissos com a segurança “internacional” e

combate ao descrédito monetário que acompanhou a crise.

Observando os EUA em 2001, pode-se averiguar que a sua divida externa foi

subindo ano após ano, chegando ao patamar de mais de US$ 13980 bilhões

em 2011, sendo em 2001 foi de mais de US$ 862 bilhões em relação ao PIB do

mesmo ano. É de salientar que neste ano (2001) ocorreu o atentado às torres

gêmeas (World Trade Center) que motivou os excessivos gastos com a

segurança norte-americana e a “caça” aos autores dos atentados. Este ato teve

consequência nas contas públicas nos anos subsequentes.

De 2001 a 2008 o PIB dos EUA cresceu 17% enquanto que de 2008 a 2011

cresceu 3%, isto explica o período em que a maioria dos planos dos governos

da Casa Blanca focava mais na segurança nacional e em buscar os culpados

pelo atentado de 11 de Setembro.

Em 2008 com o auge da crise o foco mudou para salvar os bancos e o

mercado imobiliário. Com este novo cenário, a dívida externa passou a crescer

em proporções alarmantes. Por exemplo, de 2001 a 2008 o crescimento foi

aproximadamente 87%, levando em consideração os valores da tabela

referente aos 2001 e 2008. Enquanto que após 2008 o crescimento foi cerca de

7%. Neste tópico, está-se a levar em consideração o PIB norte americano e a

sua dívida externa. Esta opção foi feita devido ao fato de os EUA serem o

berço da crise em estudo. Através dele os demais mercados, como o europeu,

africano, asiático e sul-americano, também entraram na crise, isto a forte

influência que a economia norte-americana ainda possui sobre o mercado

internacional.

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Tabela 2.1: Relação PIB e Dívida Externa dos países durante a última década

Países

2001 2005 2008 2011 PIB

(bilhões US$)

DE (bilhões

US$)

PIB (bilhões

US$)

DE (bilhões

US$)

PIB (bilhões

US$)

DE (bilhões

US$)

PIB (bilhões

US$)

DE (bilhões

US$) EUA 10082 862 12310 1400 14260 12250 15290 13980 CHINA * 162 8883 233,3 7973 363 11440 406,6 JAPÃO * * 4025 * 4329 1492 4497 2441 ÍNDIA * 99,6 3666 117,2 3297 149,2 4515 237,1 ALEMANHA * * 2480 * 2918 4489 3139 4713 RÚSSIA * 163 1584 169,6 2266 356,5 2414 480,2 REINO UNIDO * * 1818 4710 2226 10450 2290 8981 BRASIL 1340 232 1536 219,8 1993 229,4 2324 310,8 FRANÇA * 106 1794 * 2128 4396 2246 4698 ITÁLIA * * 1667 913,9 1823 996,3 1871 2223 ESPANHA * 90 1033 771,1 1403 1084 1432 2166 PORTUGAL * 13,1 200,6 274,7 236,5 461,2 252,2 497,8 GRÉCIA * 57 238,2 67,23 343 86,72 298,1 532,9 TURQUIA * 109 584,5 16,9 902,7 247,1 1087 270,7 IRLANDA * 11 165,1 11 188,4 1841 183,9 2253

* dados indisponíveis

Fonte: elaborada pela autora

Ainda analisando a dívida externa dos países aliados, a China, por exemplo,

teve crescimento de aproximadamente 69% da sua dívida externa entre 2001 a

2008 e um crescimento de aproximadamente 52% entre 2008 a 2011 da sua

dívida externa.

2.2.2. BP

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Balanço de Pagamentos é o

registro sistemático das transações econômicas realizadas, durante

determinado período de tempo, entre residentes e não residentes de um país.

O saldo da conta corrente representa os registros do comércio líquido de bens

e serviços de um país, lucro líquido de rendas, juros, lucros, dividendos e

pagamentos de transferência líquida (tais como pagamentos de fundos de

pensão e as remessas) e do resto do mundo durante um certo período de

tempo.

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Sachs & Larrain enfatizam que conta corrente de uma economia “é uma

variável de fluxo que mede a taxa pela qual os habitantes de um país estão

concedendo ou tomando empréstimos do resto do mundo” SACHS & LARRAIN

(2000, p. 39).

O levantamento feito presente na tabela 2.2 demonstra que os EUA tiveram um

saldo negativo durante os anos em estudo (2004, 2008 e 2011). Os números

da tabela foram calculados em referência a atual taxa de câmbio de 2011.

Essa tabela revela que países “berços” da crise, como os EUA tiveram saldos

negativos na conta corrente entre os anos 2004 a 2011 e, a tendência é

aumentar em função da instabilidade do mercado financeiro internacional,

agravado pela crise na União Europeia. Isto pode ser observado com o Reino

Unido que no mesmo período colecionou déficits na conta corrente, assim

como a França, a Itália, Espanha, Portugal, Grécia, Turquia. Exceção à

economia Alemã que se manteve positiva nos referidos períodos.

Tabela 2.2: Balança de Pagamento

Fonte: adaptado de Index Mundi, disponível em

http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?v=65&c=ei&l=pt. Acessado entre 01/06 a 31/07 de 2013

A análise do BP foi incluída como objeto de estudo deste trabalho pelo fato de

constituir uma ferramenta importante na manutenção e controle das operações

monetárias e nas relações entre países. O BP dá uma visão abrangente da

situação do País em relação ao mercado global. Isto é, revela os movimentos

de importação e exportação realizadas em determinado período. Borio &

Países 2004 (bilhões) 2008 (bilhões) 2011 (bilhões) Exp Imp SCC Exp Imp SCC Exp Imp SCC

EUA 714,5 1260 -646500000000,00 1291 2112 -673300000000,00 1497 2236 -473400000000,00

CHINA 436,1 397,4 -30320000000,00 1435 1074 426100000000,00 1904 1743 201700000000,00 JAPÃO 447,1 346,6 170200000000,00 746,5 708,3 156600000000,00 788 808,4 120500000000,00 ÍNDIA 57,24 74,15 4897000000,00 176,4 305,5 -37510000000,00 299,4 461,4 -41400000000,00 ALEMANHA 696,9 585 73590000000,00 1498 1232 243300000000,00 1408 1198 188600000000,00 RÚSSIA 162,5 92,91 46040000000,00 471,6 302 102300000000,00 520,9 322,5 101300000000,00 REINO UNIDO 304,5 363,6 -33460000000,00 464,9 636 -44960000000,00 479,7 639,5 -46470000000,00 BRASIL 73,28 48,25 8000000000,00 197,9 173,1 -28190000000,00 256 219,6 -52590000000,00 FRANÇA 346,5 339,9 -305000000,00 601,9 692 -52910000000,00 587,1 688,5 -65600000000,00 ITÁLIA 278,1 271,1 -21100000000,00 546,9 546,9 -78030000000,00 523,9 556,4 -70100000000,00 ESPANHA 159,4 197,1 -30890000000,00 285,4 414,5 -131800000000,00 303,6 363,1 -55100000000,00 PORTUGAL 31,13 43,73 -8120000000,00 56,42 87,83 -29600000000,00 55,8 77,25 -15100000000,00 GRÉCIA 5,9 33,27 -8000000000,00 29,14 93,91 -51530000000,00 28,16 66,04 -29320000000,00 TURQUIA 49,12 62,43 -15300000000,00 140,8 193,9 -41600000000,00 143,5 232,9 -77160000000,00 IRLANDA 98,31 57,54 -2881000000,00 119,6 80,94 -12320000000,00 118,7 68 177000000,00

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CAPÍTULO III

A CRISE DE 2008 – CAUSAS, LEGADO E TENDÊNCIAS.

Para muitos economistas esta crise tem certa semelhança com a crise de

1929, para outros não tem comparação, até porque o mercado de 2008 é mais

global do que da crise anterior. Atualmente verifica-se uma interdependência

de mercados que alarga a proporção da crise, isto implica que problemas

ocorridos nos EUA afetam de imediato os demais mercados (europeus, sul

americanos, asiático e africano), em maior ou menor proporção dependendo da

dimensão e configuração do mercado. Os mercados emergentes (Brasil,

Rússia, Índia, China, África do Sul) ou simplesmente os BRICS conseguiram

manter a sua economia mais ou menos estável no ano de 2008 a 2009. A

China e a Índia, por exemplo, registrou crescimento da sua indústria em 9,3%;

9,9%; 11%; 13,9% nos anos de 2008, 2009, 2010 e 2011 respectivamente,

conforme tabela 1.4. O mesmo sucedeu com a Índia que teve crescimento

positivo nos anos citados, exceção feita ao Brasil (crescimento negativo em

5,5% em 2009) e a Rússia (com crescimento negativo de 13,1% em 2009).

Nesta secção vai se abordar algumas causas que fizeram com que a crise se

disseminasse, os legados que esta mesma crise deixou e a tendência que as

economias vão tomando ano após ano.

3.1. Causas da crise de 2008 Várias foram às hipóteses levantadas sobre o que originou a crise de 2008. O

que se levanta é que a origem da crise coincide com a falência técnica e real

do Banco Lehman Brothers e pela ausência de créditos monetários que

conduziu os bancos na falta de dinheiro no mercado.

O Wolf (2009) adianta 12 catálogos de erros que podem indicar as possíveis

causas da crise de 2008, são elas:

1. Liberação bloqueada: este erro aponta que houve alguma coisa

estranha no mercado que empurrou as instituições, os investidores e os

reguladores, que os induziu a cometerem erros.

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2. Influências das decisões tomadas anteriormente: indica que tanto os

formuladores de políticas e os investidores não entenderam

perfeitamente as limitações da capacidade das suas instituições em

assumir as decisões tomadas no passado. Estas decisões não

controladas, não foram levadas em considerações no momento, por

exemplo, de conceder crédito, em que a ausência real desde levaria a

hipoteca, o que nem sempre o tomador do credito possuía as condições

para pagar.

3. Profusão de obrigações: a ausência de condições de pagamento de

crédito criou ao mercado a ilusão monetária, isto é, a existência fictícia

de crédito e que na realidade não existia, assim como os tomadores não

tinha condição de pagar fazendo com que os bancos não gerassem

lucros.

4. Falhas no sistema financeiro: apesar da rigidez tecnológica, a maioria

dos países apresentou falhas inadmissíveis em seus sistemas, inclusive

nas garantias da propriedade privada.

5. As garantias expressas e tácitas do governo ao setor financeiro eram

efetivamente ilimitadas em muitos países. Essa situação ampliou ainda

mais a ilusão monetária.

6. Controle financeiro: era quase impossível para muitos investidores e

reguladores manter um controle das operações financeiras inclusive das

próprias demonstrações contábeis e da balança de pagamentos.

7. Capital estrangeiro: a oferta deste capital estimulou o governo, as

famílias e as empresas a apostarem cada vez mais no capital externo

sob a forma de empréstimos, com fraca regulamentação e controle.

8. Probidade das finanças públicas: a maioria das economias de mercados

emergentes apresenta falta de confiança na probidade das finanças

públicas e na estabilidade do poder compra. Essa falta de confiança

gera consequências extremas e vulnerabilidade do movimento das taxas

de câmbio.

9. Grandes défices econômicos: registrou-se aumento do endividamento

dos países que se traduziram em grandes défices em conta corrente, em

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défices fiscais ou surtos de investimento do setor privado financiado com

empréstimo. Essa situação agravou a vulnerabilidade e oscilações da

confiança dos investidores e consequentemente ocorreram mudanças

na oferta de financiamentos.

10. Taxa de câmbio de livre flutuação: apesar da crise já estar disseminada,

a maioria das economias emergentes e até mesmo de algumas

economias evoluídas (Europa Ocidental) continuavam praticando taxas

de câmbio fracas, situação quase inevitável quando os movimentos

entre as grandes moedas eram muito grandes. A atrelagem da moeda

de menor valor à de maior valor gerava ilusão de segurança nas

concessões e tomadas de empréstimos em moeda estrangeira, embora

essa não fosse uma realidade.

11. Todos os riscos se revelam mais altos nas economias de mercado

emergentes, onde predominam instituições subdesenvolvidas, pouca

experiência com mercados financeiros liberalizados, ineficácia dos

governos, e práticas difusas de corrupção, suborno, uso de informações

privilegiadas, transações com partes relacionados e comportamentos

semelhantes. Isso revela como características típicas das economias

emergentes

12. Os aspectos citados demonstram o processo global de liberação

exacerbada, gerando impacto adverso na tendência dos mercados

financeiros, passando a experimentar ciclos de ganância e pânico, na

medida em que a incerteza intrínseca se manifesta sob a forma de

excessos de confiança ou de ansiedade.

Estes erros contribuíram para que a crise viesse à tona. Através deles e com

suporte das demais abordagens literárias pesquisadas (Lopes, 2009; Mankiw,

2010; Sachs e Larrain, 2010; Gonçalves e Pomar, 2002), é possível destacar

algumas das possíveis causas que contribuíram para o surgimento da crise:

11 de Setembro

Essa data foi para muitos o início de um jogo sem vencedor, isto porque se

avizinhava uma busca tremenda para apurar e condenar os verdadeiros

autores do desastre trágico das Torres Gêmeas. Essa busca exigiria altos

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gastos o que afetaria o crescimento da economia dos EUA e do mercado

global, pelo fato de se criar uma instabilidade internacional. O que se veio a

concretizar anos depois, com alto investimento do Estado voltado para o

exército e, sobretudo a segurança.

Tanto o governo Bush quanto o Obama investiram pesado em segurança

(cibernética e internacional) para se “caçar” os autores de 11 de Setembro.

Encontrar o autor principal funcionaria como um bálsamo para as famílias

norte-americanas e uma resposta de que o governo está trabalhando para o

benefício da sociedade e solução dos seus problemas. Que veio a suceder

com a morte de um dos suspeitos em maio de 2011.

As operações que culminaram em 2011 geraram gastos nas contas do governo

e na economia como um todo.

Segundo a Sipri (2008) os EUA, por exemplo, detinham 41,5% dos gastos com

exército no mundo em um total de US$ 1464 bilhões que a humanidade destina

ao exército. Isso revela o compromisso norte-americano no que tange à

segurança.

A tabela 3.1 mostra a evolução das despesas militares dos EUA desde 2001.

Importa salientar o aumento em 2002, influenciado pelo atentado do 11 de

setembro. Daí para diante o percentual das despesas foi aumentando ano após

ano juntamente com o PIB. Nos dados de 2013 do Sipri é possível visualizar

que a maior redução do percentual de despesas ocorreu em 2012 em

consequência do desaparecimento físico do suspeito principal sobre os

atentados de 2001. A diferença percentual entre 2001 (3%) e 2011 (4,7%) é de

1,7% o que revela que houve um crescimento dos gastos com o exército

motivados por questões levantadas pelo 11 de setembro.

Tabela 3.1: Despesas do exército dos EUA

Ano PIB ($tri) Despesa ($bi) (%)

2001 10082 312743 3,0 2002 10400 356720 3,4 2003 10990 415223 3,7 2004 11750 464676 3,9 2005 12310 503353 4,0 2006 13130 527660 3,9 2007 13780 556961 4,0

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2008 14260 621138 4,3 2009 14120 668604 4,8 2010 14660 698281 4,8 2011 15290 711402 4,7

Fonte: elaborada pela autora

Postura do Fed (Federal Reserve System)

A maior critica sobre a postura do Fed e do governo em geral cinge-se em não

socorrer a situação precária em que se encontravam o Banco Lehman

Brothers, permitindo a sua falência 158 anos após a sua fundação. Esta

decisão provocou instabilidade nas bolsas de valor do mundo inteiro, isto

porque ocorreu na mesma altura que o Merrill Lynch foi vendido para o Bank of

América por US$ 50 bilhões, que revelou incapacidade destes bancos

americanos em resistir à crise do mercado imobiliário do país.

Essa postura inicial do Fed aparentemente agressiva não deveria continuar

uma vez que a crise foi se alastrando pelo mercado global, pelo que o governo

teria de mudar a sua atitude e oferecer proteção à economia nacional de modo

a salvaguardar os interesses econômicos do próprio Estado e buscar a

estabilidade econômico-monetária, o que veio a suceder.

Ao observar o tamanho do problema, o governo dos Estados Unidos começou

a editar um grande pacote de resgate econômico. O próprio Senado americano

autorizou o Tesouro a gastar até 700 bilhões de dólares para estabilizar o

sistema financeiro.

Entre as várias medidas adotadas destaca-se a aquisição de ações das

companhias que apresentavam problemas financeiros, de forma a compensar

as perdas sofridas e de municiar os bancos de recursos que pudessem

emprestar a empresas e pessoas. O Citigroup (dono do Citibank) beneficiou

dessa medida, num plano de compra de ações do governo avaliado em 20

bilhões de dólares (que se somariam aos 25 bilhões já concedidos pelo

Tesouro ao grupo quantia retirada do pacote de 700 bilhões de dólares). O

banco já contabilizava, então, perdas de 306 bilhões de dólares em ativos de

alto risco.

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Outro gigante salvo foi a American International Group (AIG) com 85 bilhões de

dólares. Em troca, o Fed anunciou que ficaria com 79,9% de participação na

seguradora. Ao ver a confiança no mercado desmoronar, o banco também

injetou 70 bilhões de dólares no sistema bancário americano, o maior aporte

deste tipo feito pela instituição desde os atentados terroristas de 2001. Além

disso, o Fed participou de uma ação coordenada com os bancos centrais da

Europa, Canadá, Japão, Suíça e Grã-Bretanha, e anunciou a liberação de mais

180 bilhões de dólares. O banco central britânico, por sua vez, faria uso de 40

bilhões de dólares, e o europeu, de 55 bilhões. A última ação de resgate do

Fed aconteceu em 25 de novembro. Em parceria com o Tesouro dos EUA, o

banco formulou um programa que prevê a liberação de 600 bilhões de dólares

para a compra de dívidas relacionadas a hipotecas e ativos e outros 200

bilhões para a aquisição de ativos ligados à dívida de consumidores. O plano,

mais uma vez, é garantir o crédito.

Mercado imobiliário

Este foi outro problema que a economia norte-americana apresentou durante o

ano de 2008 e que se alastrou por outros mercados, como europeu, asiático,

africano e sul americano. O mercado imobiliário dos EUA sucumbiu diante das

necessidades populares e da falta de credibilidade. Estes aspectos

contribuíram para que a crise imobiliária se alastrasse aos demais setores da

economia do país e além-fronteiras.

Mercado imobiliário corresponde ao setor da economia que negocia com

terreno e qualquer coisa construída nele.

Atuantes no mercado são (entre outros) as imobiliárias que agem na

intermediação de venda ou locação de imóveis, tais como, casas e

apartamentos, salas e escritórios, bem como proceder a administração de

imóveis locados, bancos que concedem créditos hipotecários e créditos de

risco (subprime), advogados especializados em direito imobiliário, orgãos

públicos envolvidos no registro de imóveis e na manutenção do cadastro e

notários que formalizam juridicamente a vontade das partes envolvidas numa

compra/venda de imóvel.

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A queda do mercado imobiliária (especialmente a queda nos preços de

imóveis) foi uma das razões da crise do subprime, uma crise financeira

desencadeada em 2006.

Política econômica protecionista dos mercados globais

O cenário de crise forçou os governos a adotarem medidas que protejam seus

mercados e garanta o poder de compra dos cidadãos. O protecionismo

abrange um conjunto de medidas a serem tomadas no sentido de favorecer as

atividades econômicas internas, reduzindo e dificultando ao máximo, a

importação de produtos e a concorrência estrangeira. Essas medidas são

fiscalizadas pela OMC (Organização Mundial do Comércio) que é responsável

pelos atos que regem o comércio internacional. Basicamente, são dois tipos de

instrumentos para criarem requisitos de proteção aos produtos: por

regulamentos técnicos e padrões ou normas técnicas. Como exemplos,

destacam-se:

- Criação de altas tarifas e normas técnicas de qualidade para produtos

estrangeiros, reduzindo a lucratividade dos mesmos;

- Subsídios à indústria nacional, incentivando o desenvolvimento econômico

interno;

- Fixação de quotas, limitando o número de produtos, a quantidade de serviços

estrangeiros no mercado nacional, ou até mesmo o percentual que o acionário

estrangeiro pode atingir em uma empresa.

Tanto os EUA como os demais governos recorreram às medidas do tipo para

proteger seus mercados, assim como, injetaram altos valores na economia e

reduziram às taxas de juros. O Brasil, por exemplo, zerou o IPI (Imposto de

Produto Industrializado) em 2009 da maioria dos produtos para manter o poder

de compra do cidadão e impedir a entrada de produtos externos, que no caso

entraria com todos os impostos e ficaria mais caro em relação aos produtos

nacionais.

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Especulação monetária e financeira

Este tópico revela que dentro do mercado norte-americano não existia simetria

da informação, pelo que alguns tomavam decisões em função do poder

informacionário que detinham, ficando em vantagem em relação aos demais

agentes do mercado.

Aliado a isso, a baixa rigidez das leis regulamentadoras permitiam que a

especulação funcionasse como uma moeda de troca em que uns saíam

vitoriosos do movimento especulativo, expandindo assim incerteza no mercado.

Foi adotada como critério de analise da crise por desestabilizar a economia e

deixar lacunas dentro do sistema monetário e financeiro. Estas lacunas

acabam por exigir esforços maiores dos formuladores de políticas monetárias.

3.2. Legado da crise de 2008 A crise que assolou os mercados globais trouxe aspectos negativos e positivos

para as economias, é possível visualizar, por exemplo, melhora no sistema de

gestão financeira e redução da vulnerabilidade do referido sistema.

Vários autores já abordaram os prováveis legados que a crise financeira e

econômica mundial de 2008 proporcionou aos países. Segundo Wolf (2009),

adianta como o legado ou desfecho da crise dois aspectos, o primeiro é a

melhoria dos sistemas financeiros e o segundo é a redução da própria

vulnerabilidade em relação às versões nas entradas de capital. Para ele a

consequência benigna é que os sistemas financeiros melhoram

consideravelmente e a consequência maligna é que muitos formuladores estão

com medo de gerar déficits em conta corrente. Com isso, a responsabilidade

fica nas mãos dos formuladores de políticas públicas, ou seja, o governo e

seus agentes reguladores.

O autor (WOLF, 2009, p.56 a 58) aborda as razões poderosas que fazem com

que os formuladores não aceitem ter déficits em suas contas correntes, elas

são:

1. O déficit em conta corrente, no final das contas, sempre gera posições

cambiais descasadas no balanço patrimonial de qualquer país que

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depende de empréstimos (não da entrada de investimentos diretos) para

cobrir seu déficit externo.

2. Grandes déficits em conta corrente parecem ser um dos gatilhos das

saídas de capital.

3. A correção de grandes déficits em conta corrente exige desvalorização

da taxa de cambio real – talvez muito grande – o que acarretará sérios

problemas para a economia interna, se houver posições cambiais

descasadas no balanço patrimonial agregado.

4. A conscientização quanto a esse fato é boa razão para as saídas de

capital que detonam a depreciação da moeda.

5. A mesma constatação também tende a reduzir cada vez mais o prazo

dos empréstimos, que, em consequência, se tornam cada vez mais

arriscados, na medida em que os credores tentam aumentar a liquidez

das suas posições.

6. A correção rápida dos déficits em conta corrente é sempre dolorosa e

tanto quanto possível deve ser evitada.

Esses seis pontos mostram como a crise ajudou a revelar as debilidades do

sistema financeiro global, assim como ajudou a fortalecer o referido sistema,

pois as instituições monetárias criaram medidas para superar as falhas que o

sistema apresentou em 2008, tanto no nível tecnológico quanto nos

procedimentos e capacitação dos agentes.

Adicionalmente, podem-se destacar outros legados proporcionados pela crise

de 2008:

Aspectos negativos

Vulnerabilidade do sistema financeiro – a crise revelou que o sistema

financeiro não era tão forte como aparentava ser. O sistema imobiliário

norte americano contribuiu para mostrar as lacunas que o sistema

financeiro apresentava.

Reguladores de políticas monetárias – os procedimentos do sistema

financeiro apresentou pouca mobilidade para acompanhar a dinâmica do

mercado imobiliário. A ausência de um controle monetário rigoroso

facilitou o desencadeamento da crise.

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Balança de pagamentos – os formuladores de políticas estavam

preocupados em não terem saldo negativo em conta corrente, o que

acabou acontecendo. Os EUA, por exemplo, apresentaram sucessivos

saldos negativos em sua conta corrente desde 2004 (tabela 1.5), esse

fato é semelhante à maioria dos aliados dos EUA, com exceção dos

asiáticos (Japão, China e Índia).

Aspectos positivos

Melhorias dos sistemas financeiros – com a crise, várias medidas foram

tomadas para superar as debilidades do sistema financeiro, essas

medidas tomadas em quase todos os países permitiram fortalecer o

sistema financeiro monetário global.

Formuladores de políticas financeiros – várias medidas foram tomadas

pelos agentes reguladores de políticas financeiras. As que mais se

destacaram nos EUA foram as taxas de juros. Alan Greenspan afirma

que “as taxas de juros de longo prazo caíram em praticamente todos os

lugares” (apud WOLF, 2009). A redução da taxa de juro foi uma medida

tomada para manter o poder de compra do consumidor.

Saldo da conta corrente (BP) – os países tomaram conhecimento de que

os saldos das suas contas correntes eram negativos, pelo que novas

medidas devem ser tomadas para reverter essa situação. A atuação dos

bancos centrais acaba sendo fundamental no controle e circulação da

moeda e nas divisas. Bem como, os fatores que permitem obter

superávits primários.

3.3. Tendência da crise A crise tem dupla faceta, por um lado ela é ameaça, por outro é oportunidade,

isso levando em consideração a interpretação chinesa. Para a China, a crise é

um perigo ou ameaça iminente, mas também pode significar uma oportunidade,

dependendo apenas da forma como será abordada pelas partes envolventes.

Aliás, segundo John Kennedy a palavra crise em chinês significa: perigo e

oportunidade (Weiji: Wei = perigo; ji = oportunidade).

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No entanto, desde 2008 várias foram às ameaças iminentes, mas também,

várias foram as oportunidades e melhoria do sistema. É possível destacar

algumas tendências da crise que ao longo tem-se manifestado nas sociedades:

Inovação – a crise revelou que o sistema financeiro da maioria dos

países não era tão sólido como aparentava, possuíam debilidades que

necessitavam de intervenção quer estrutural quer tecnológica. Após o

período tenebroso, os agentes reguladores e os participantes (empresas

e bancos ou instituições financeiras em geral) apostaram na melhoria

tecnológica e em procedimentos mais rígidos para superar as falhas e

limitar que elas ocorrem no futuro. A tendência à inovação se dá tanto

nos procedimentos como na estrutura tecnológica do sistema financeiro

e imobiliário.

Crise social mundial – esta crise levantou sérios problemas sociais dos

países. A Europa foi a primeira a revelar os efeitos da crise no âmbito

social. As medidas econômicas tomadas pela Grécia para contrariar a

crise deixava em perigo o nível de vida social, pelo que as diversas

classes saíram às ruas para se manifestar contra tais medidas e

preservar os seus direitos. Depois dela, outras nações como Portugal,

Espanha, Turquia seguiram o mesmo caminho. No outro extremo estão

as manifestações do mundo Árabe que, combina os efeitos da crise,

problemas políticos e carência do nível de vida social, além dos direitos

humanos. Entende-se que as medidas tomadas para conter o avanço da

crise facilitaram as manifestações sociais na maioria dos países, visto

que tais decisões mexiam com a vida do cidadão (seguridade,

empregabilidade, mobilidade, saneamento, entre outros).

Maior presença das economias emergentes – com a crise se questionou

o elevado papel exercido pelo dólar na economia global, visto que o

poder econômico dos EUA estava em xeque e a crise revelava desgaste

do dólar como moeda mundial. As economias tidas como inferiores

passaram a ter papel de destaque por conseguirem superar a crise no

ano de 2008 e 2009 (garantindo crescimento do PIB, tabela 1.2) e tendo

superávit primário e dinheiro para emprestar. Essas economias

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emergentes (incluindo os BRICS) passaram a ter opinião mais efetiva

nas reuniões dos G20 (as vinte economias mais forte do mundo), FMI,

Banco Mundial e ONU (Organizações das Nações Unidas).

Regulamentações mais rígidas do sistema financeiro – o senado norte

americano e o seu governo começaram a adotar mecanismos mais

rígidos para regulamentação do mercado financeiro e imobiliário do país,

o mesmo sucedeu com os demais países. As políticas de austeridade

adotadas por quase todos os países da união europeia e outros ao redor

do mundo são exemplos claros de regulamentações rígidas para superar

a crise e solidificar o mercado econômico.

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CAPÍTULO IV

O PAPEL ATUAL DA CRISE NA ECONOMIA

BRASILEIRA

Aparentemente o Brasil em 2008 não sentiu o efeito da crise, visto que possuía

superávit primário e suas reservas eram suficientes para contrapor os efeitos

da crise. Porém, a ausência de um plano pós-crise facilitou que anos depois as

consequências viessem à tona.

Várias ações do governo permitiram que a taxa Selic (Sistema Especial de

Liquidação e de Custódia) tivesse oscilações ao longo dos anos. Essas

oscilações acompanharam a redução do IPI.

Tabela 4.1: Evolução da taxa Selic 2008 a 2011

Periodo de Vigência Taxa Selic %

24-01-2008 05-03-2008 11,18 11-12-2008 21-01-2009 13,66 22-10-2009 09-12-2009 8,65 21-10-2010 08-12-2010 10,66 01-12-2011 31-12-2011 10,90

Fonte: Adaptado do Banco Central do Brasil, disponível em

http://www.bcb.gov.br/?COPOMJUROS. Acessado em 20/08/2013.

Diante da escassez de crédito disponível no mercado, o governo injetou uma

série de estímulos na economia com o intuito de aumentar o consumo no país.

Entre as medidas estavam à redução da alíquota do depósito compulsório dos

bancos (parcela de recursos que os bancos precisam recolher no Banco

Central e não podem emprestar aos clientes), redução do Imposto sobre

Produtos Industrializados para automóveis, construção civil e eletrodomésticos,

a criação do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), redução do

Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), alterações no formato de

cobrança do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) e estímulo ao crédito em

bancos públicos. De entre os objetivos destas medidas destacam-se o estímulo

para manter a economia aquecida e garantir o poder de compra do

consumidor. A isenção do IPI na linha branca e produtos afins permitiu a

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integração de classes sociais, por exemplo, a C e D começaram a consumir

produtos que aparentemente eram apenas para a classe B ou ate mesmo da A.

Com isso, o governo conseguiu retardar os efeitos da crise para o bolso do

cidadão, porém, não criou mecanismos ou instrumentos que permitissem repor

as divisas utilizadas no processo de redução dos impostos e taxa de juro, como

tudo um dia acaba o governo teve que rever os seus gastos. Essa revisão fez

com que tanto o IPI como a taxa Selic tivessem ligeiras altas e o cidadão

sentisse os efeitos.

Aliado a isso, estão os gastos com eventos internacionais, como Taça das

Confederações de 2013, Mundial de 2014, Olimpíadas de 2016. A reposição

dos valores gastos com os preparativos desses eventos não é imediata e o

cidadão é que no final das contas paga os impostos, logo sente os efeitos da

crise.

Para agravar a situação o crescimento do PIB Brasil tem oscilando, por

exemplo, em 2009 foi negativo (-0.2 %), em 2010 teve uma alta, crescendo

7,5%, enquanto que em 2011 decresceu (2,7%), como consta na tabela 1.2.

A tendência é que os efeitos da crise se transportem para as questões sociais,

como aconteceu na Europa e no mundo Árabe. Juntando problemas

econômicos, sociais e políticos, isto porque a revolta popular acaba sobrando

para os formuladores de políticas públicas do Estado.

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CONCLUSÃO

Abordar a crise de 2008, assim como suas causas e legado é bastante

pertinente visto que além de envolver questões globais, envolve vários fatores

econômicos, sociais, políticos e ambientais. Este assunto mereceu abordagem

de vários pesquisadores, por se caracterizar um tema bastante atual com a

característica de ser pesquisa-ação, ou seja, à medida que os pesquisadores

analisam fenômeno da crise, também sugerem medidas que podem ser

imediatamente aplicadas pelos tomadores de decisões do mercado, como

agência reguladora e os agentes econômicos.

A crise apesar de ser vista como algo negativo pela maioria das sociedades,

ela pode ser abordada em duplo sentido: ameaças e oportunidades. Sendo que

a maioria só leva em consideração a ameaça, deixando de lado umas das

vertentes mais interessantes que é a oportunidade. Foi assim os mercados

conseguiram levar avante a inovação nos processos e em medidas que

permitissem superar os problemas revelados pela crise.

Este trabalho procurou analisar a crise econômica de 2008, suas possíveis

causas, assim como, o legado que deixa para a sociedade. No final de tudo é

possível visualizar que o objetivo geral (levantar dados e informações para

constatar quais foram os fatores que contribuíram para o surgimento e

aceleração da crise financeira mundial deflagrada em 2008) foi alcançado,

assim como os objetivos específicos.

Os levantamentos efetuados demonstraram alguns dos fatores que

contribuíram para que a crise fosse disseminada e os mercados, revelassem as

suas fragilidades. Ao detectar que o sistema mercadológico norte-americano

apresentava sérios problemas funcionais e de controle, medidas mais rígidas

foram tomadas para superar a situação vigente.

O estudo constatou que a crise foi uma oportunidade para que os setores

sociais pudessem apresentar suas reivindicações sobre as medidas de

austeridade impostas por países ou instituições que possuíssem capital

disponível, como ocorreu inicialmente na Grécia, Turquia, Portugal, etc. Países

como Alemanha, Reino Unido (...) e instituições como União Europeia, FMI,

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Banco Mundial (...) definiam pacotes que os países deviam cumprir para

adquirir o tão esperado empréstimo.

Com tudo, é possível visualizar que a crise trouxe oportunidades para as

nações emergentes mostrarem seu potencial e se posicionarem para ocupar

um lugar de destaque na recuperação das economias pós-crise. Países como

China e Índia mantiveram seu crescimento nos anos da crise. Apesar de

sentirem aos poucos os efeitos negativos da crise, sobretudo nas relações

entre países.

Entende-se que a abordagem feita por esse estudo não é terminal, visto que o

tema é atual, e é possível visualizar ano após ano um aumento da insatisfação

popular por questões que abrangem a economia dos países. Assim como, o

aumento dos gastos do governo para acudir problemas que a crise levantou.

Sugere-se que seja possível analisar em trabalhos futuros:

Relação crise X tomadas de decisões dos formuladores de políticas.

A influência das reivindicações sociais nas decisões dos formuladores

de políticas monetárias e financeiras, levantadas pela crise.

Confrontar o legado da crise com os planos de contenção da crise dos

formuladores de políticas monetárias e financeiras, assim como,

socioeconômicas.

A crise não é tão ruim como parece, porém para ser positivo precisa de

proação e não reação.

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