nova etapa, novas expectativas · começa nos primeiros anos noventa quando guillermo alonso,...

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NÚMERO 28 DE 15 DE MARÇO A 15 DE ABRIL DE 2005 1 A Junta abre caminho às construtoras entre jazigos romanos ESPECULAÇOM AMEAÇA PATRIMÓNIO HISTÓRICO A que hoje desvendamos começa nos primeiros anos noventa quando Guillermo Alonso, presidente de Caixanova solicita a requalifi- caçom de uns terrenos na refe- rida localidade do Morraço. Anos mais tarde, em 1999, ao vender os terrenos, o conheci- do empresário assegurava à companhia compradora que nom ia ter problemas caso apa- recessem restos arqueológicos no lugar, dado que esta zona fora considerada como de alto interesse arqueológico. E assim foi: os restos arqueológicos apa- recêrom, e entre eles vestígios únicos na história da Galiza, mas a construçom continuou a andar, destruindo um importan- te jazigo romano graças aos con- tactos de Alonso na Direcçom Geral de Património./ Pag. 10 REGANOSA está prestes a converter a Ria de Ferrol numha das áreas mais perigosas da Europa / 12 E AINDA... TRÊS PONTOS DE vista da esquerda portuguesa sobre os resultados das recentes Eleiçons portuguesas / 14 PROPOSTAS PARA o Novo Estatuto descobrem numerosas coincidências entre o BNG e o PSdG-PSOE / 07 Jornais em língua galega por Antom Fernández Escudero / 2 M. BELAMAR/ H. CARVALHO / Bueu, um bloco de edifícios, um importante jazigo romano e um arqueólogo nada imparcial som os protagonistas de umha das histórias que hoje ocupa as nossas páginas centrais. Som his- tórias nada infreqüentes que costumam passar des- percebidas nos meios de comunicaçom convencio- nais, embora as conseqüências do seu desfecho sejam gravíssimas e, pior do que isso, irreparáveis. “Cumpre aproveitar os filmes que se servem da técnica do vídeo digital, mais difíceis de controlar polo sistema” Ramiro Ledo Cordeiro, membro do Cineclube de Compostela. PÁGINA 16 Nova etapa, novas expectativas Maltratadores poderám substituir penas de prisom por cursos de reeducaçom Poderám beneficiar os 80% dos agressores condenados, já que se vai aplicar a todos os que cumprem umha pena inferior aos dous anos de prisom. / 05 Como anunciamos no mês pas- sado, com este número começa- mos umha nova etapa da nossa caminhada. Nele encontrarás, para além dos conteúdos habi- tuais, novas secçons que tencio- nam completar e ao mesmo tempo diversificar o tipo de informaçom que até agora temos vindo a vos oferecer. Assim, com mais quatro pági- nas, recuperamos a Cronologia e o Foi dito que tínhamos dei- xado de publicar a partir do número 6, imprescindíveis para recapitular as declaraçons e notícias mais interessantes de cada dia do mês. Também abri- mos as nossas páginas à actuali- dade internacional, prestando especial atençom a todo o mundo de fala galega com as Novas de além Minho, crónica mensal que assinará Nuno Gomes, o nosso novo correspon- dente em Portugal. Especial mençom merece também, num jornal que se tem destacado polo seu marcado carácter de análise política, o maior espaço com que daqui para diante con- tarám a cultura, os desportos ou o próprio lazer, tam indispensá- veis para a construçom da Galiza que queremos. E, final- mente, aprofundaremos na nossa linha de investigaçom, com umha equipa mais especia- lizada que continuará a aden- trar-se naqueles assuntos que tantas vezes passam desperce- bidos noutros meios de comuni- caçom. E tudo isto num forma- to mais profissional e ágil.

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Page 1: Nova etapa, novas expectativas · começa nos primeiros anos noventa quando Guillermo Alonso, presidente de Caixanova solicita a requalifi-caçom de uns terrenos na refe-rida localidade

NÚMERO 28 DE 15 DE MARÇO A 15 DE ABRIL DE 2005 1 €

A Junta abre caminho àsconstrutoras entre jazigos romanos ESPECULAÇOM AMEAÇA PATRIMÓNIO HISTÓRICO

A que hoje desvendamoscomeça nos primeiros anosnoventa quando GuillermoAlonso, presidente deCaixanova solicita a requalifi-caçom de uns terrenos na refe-rida localidade do Morraço.Anos mais tarde, em 1999, ao

vender os terrenos, o conheci-do empresário assegurava àcompanhia compradora quenom ia ter problemas caso apa-recessem restos arqueológicosno lugar, dado que esta zonafora considerada como de altointeresse arqueológico. E assim

foi: os restos arqueológicos apa-recêrom, e entre eles vestígiosúnicos na história da Galiza,mas a construçom continuou aandar, destruindo um importan-te jazigo romano graças aos con-tactos de Alonso na DirecçomGeral de Património./ Pag. 10

REGANOSA está prestes a convertera Ria de Ferrol numha das áreas maisperigosas da Europa / 12

E AINDA...

TRÊS PONTOS DE vista da esquerdaportuguesa sobre os resultados dasrecentes Eleiçons portuguesas / 14

PROPOSTAS PARA o Novo Estatuto descobremnumerosas coincidências entre o BNG e oPSdG-PSOE / 07

Jornais em língua galegapor Antom Fernández Escudero / 2

M. BELAMAR/ H. CARVALHO / Bueu, um bloco de edifícios,um importante jazigo romano e um arqueólogo nadaimparcial som os protagonistas de umha das históriasque hoje ocupa as nossas páginas centrais. Som his-

tórias nada infreqüentes que costumam passar des-percebidas nos meios de comunicaçom convencio-nais, embora as conseqüências do seu desfechosejam gravíssimas e, pior do que isso, irreparáveis.

“Cumpre aproveitar os filmes que se servem da técnica do vídeo digital,mais difíceis de controlar polo sistema”Ramiro Ledo Cordeiro, membro do Cineclube de Compostela. PÁGINA 16

Nova etapa, novasexpectativas

Maltratadores poderámsubstituir penas de prisompor cursos de reeducaçom Poderám beneficiar os 80% dos agressorescondenados, já que se vai aplicar a todosos que cumprem umha pena inferior aosdous anos de prisom. / 05

Como anunciamos no mês pas-sado, com este número começa-mos umha nova etapa da nossacaminhada. Nele encontrarás,para além dos conteúdos habi-tuais, novas secçons que tencio-nam completar e ao mesmotempo diversificar o tipo deinformaçom que até agoratemos vindo a vos oferecer.Assim, com mais quatro pági-nas, recuperamos a Cronologiae o Foi dito que tínhamos dei-xado de publicar a partir donúmero 6, imprescindíveis pararecapitular as declaraçons enotícias mais interessantes decada dia do mês. Também abri-mos as nossas páginas à actuali-dade internacional, prestandoespecial atençom a todo omundo de fala galega com as

Novas de além Minho, crónicamensal que assinará NunoGomes, o nosso novo correspon-dente em Portugal. Especialmençom merece também, numjornal que se tem destacadopolo seu marcado carácter deanálise política, o maior espaçocom que daqui para diante con-tarám a cultura, os desportos ouo próprio lazer, tam indispensá-veis para a construçom daGaliza que queremos. E, final-mente, aprofundaremos nanossa linha de investigaçom,com umha equipa mais especia-lizada que continuará a aden-trar-se naqueles assuntos quetantas vezes passam desperce-bidos noutros meios de comuni-caçom. E tudo isto num forma-to mais profissional e ágil.

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200502 OPINIOM

Falar de meios de comuni-caçom galegos na actuali-dade nom tem nenhum

tipo de dificuldade. Todos etodas sabemos o que há.Procura na televisom, sintonizaa rádio ou vai ao quiosque eterás, assim de fácil, umha ideiageral da situaçom em que vive-mos. Mesmo assim, as diferen-ças de opiniom sobre a nossaboa ou má saúde mediática sommuitas, todas segundo quemfor o estudioso que tente trans-mitir a imagem do nosso país.

A minha é, por causa da emi-graçom forçosa, fruto de expe-riências do exterior baseadas

em sistemas algo mais normali-zados. Cingindo-me à imprensaescrita, a minha visom actual dopanorama jornalístico é algomais do que negativa. Explico-me: a normalizaçom nos meiosvai paralela à normalizaçom lin-güística destes, quer dizer, queparte da prioridade de empre-gar o galego como instrumentode uso habitual, sem interfe-rências de outras línguas.

O normal, obrigadoLembro que há uns anos, em

Compostela, umha jornalistacatalá foi comprar O CorreoGalego num quiosque da capi-

tal galega. A opçom de escolhereste meio tinha a ver com aideia, muito catalá, diga-se depassagem, de mergulhar na cul-tura visitada. “El normal o elotro”, foi a resposta da vende-dora ao descobrir que o sotaqueda minha amiga era diferente.“Pois o normal, claro”. Qual foia sua surpresa quando o jornalque lhe dérom foi El CorreoGallego. A história bem podeficar por aqui, mas escondeumha situaçom gravíssima de

submissom lingüística. Destemodo, falamos de que estamosa ler “A Regiom”, “O Progresso”ou “A Voz da Galiza”, e nom nosapercebemos do conflito que seprovoca em qualquer visitanteao topar com esta situaçom.

Galego ou gallegoPor mais que as estatísticas

oficiais declarem que a situa-çom da normalizaçom do nossoidioma vai polo bom caminho, arealidade é que, nos últimos

anos, o número de cabeçalhosem galego continuam a ser osmesmos: A Nosa Terra, GaliciaHoxe, A Peneira, Novas daGaliza, O Sil e poucas mais.Ainda contando com o esforçoque está a fazer A Peneira comos novos cabeçalhos comarcaisna Lourinha, Baixo Minho eCondado/ Paradanta, a presen-ça do castelhano na imprensaescrita é muito superior.

As grandes empresas jorna-lísticas da Galiza surgírom, e

Jornais emlíngua galega

O PELOURINHO DO NOVAS

O PELOURINHO DO NOVAS épara expor a tua voz à opiniompública. Se tens algumha crítica afazer, algum facto a denunciar, oudesejas transmitir-nos qualquerinquietaçom, comentário ou mesmoalgumha opiniom sobre qualquerartigo aparecido no NGZ ou noutrosmeios, este é o teu lugar. Para faze-res uso dele envia o texto junto aoteu nome completo, localidade,número de bilhete de identidade,correio electrónico ou telefone decontacto. NOVAS GZ reserva-se odireito de descartar as cartas queostentarem algum género de desres-peito pessoal ou promoverem con-dutas antisociais intoleráveis. Tutens a palavra... Todos e todas teescutamos.

ANTÓN FERNÁNDEZ ESCUREDO

A IMAGEM EXTERIOR QUE DÁ A NOSSA IMPRENSAFICOU BEM REFLECTIDA EM HISTÓRIAS COMO A

DA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO CATALÁMJOSEP LLUÍS CAROD ROVIRA, HÁ UNS DIAS NAUNIVERSIDADE DE VIGO. NO FIM, DEPOIS DERESPONDER EM GALEGO ÀS PERGUNTAS DOSJORNALISTAS (TODOS GALEGOS) PERGUNTOU

“TAM MAU É O MEU GALEGO QUE NENHUMJORNALISTA ME PERGUNTOU NESTA LÍNGUA?”

O PATRIMÓNIO HISTÓRICODE MARIM E O MORRAÇOEM PERIGO

O Colectivo Nacionalista deMarim apresentou um reque-rimento ao Valedor do Povoinformando sobre a situaçom dopatrimónio histórico em Marim eno Morraço. Mais concre-tamente, damos informaçomsobre as actuaçons das admi-nistraçons na hora de realizaremobras de infra-estrutura e adestruiçom de jázigos que estám aprovocar as mesmas.No que diz respeito a Marim,informamos da concesom deumha licença de obra na Ilha doSanto, em Ardám, por parte daCámara Municipal sem que estativesse em conta a legislaçomvigente.Concretamente, foi obviada a Lei8/1995, de 30 de Outubro, doPatrimónio Cultural da Galiza,apesar de ser de cumprimentoobrigatório, para a realizaçom

deste acto admi-nistrativo, aelaboraçom de um relatório porparte da Con-selharia de Cultura.Portanto, entendemos que aCámara Municipal de Marimconcedeu umha licença que nomé legal.Confiamos em que se faga umhachamada de atençom a estasadministraçons que actuam sobreo nosso património histórico, paraque modifiquem a sua prática de"demoliçom" de jazigos.

Pedro Cortegoso Gago (Marim)

CONTRA A REPRESSOM E O SECTARISMONo passado dia 26 de Setembrode 2004, umha grande manifesta-çom percorreu as ruas de Ferrolem defesa do sector naval galego.No final da mobilizaçom, a pre-sença do empresário naval, líderde IF e vice-presidente daCámara municipal de Ferrol, JuanFernández, foi contestada por umsector de manifestantes, receben-

do o impacto de alguns ovos. Transcorridos cinco meses, seisfiliados da CIG na comarca deTrasancos, todos nós militantesindependentistas, recebemosumha denúncia do filho de JuanFernández por umhas supostas"lesons". A denúncia afecta tam-bém umha sétima pessoa quenem sequer participou na mani-festaçom.O julgamento, que ia realizar-seno passado dia 25 de Fevereiro, foifinalmente adiado ao ser apresen-tada umha segunda denúncia polopróprio Juan Fernández. Nomtendo participado nengum de nósem nengumha agressom, nemexistindo portanto nengumhaprova que justifique a acusaçom,bastou que a Polícia utilizasse a"lista negra" de independentistasna comarca para que se activasseum processo repressivo que nomsabemos onde pode acabar.Porém, a sucessom de despropósi-tos nom acaba por aí. Na vésperado 25 de Fevereiro, ante o pedidode solidariedade dirigido ao secre-tário comarcal da CIG, "Milocho"nega-se a que a nossa central poda

dar qualquer apoio à nossa defesae mesmo a fazer pública a sua soli-dariedade. Na sua opiniom o factode fazermos parte do cortejo deNÓS-Unidade Popular na citadamanifestaçom impossibilita qual-quer acçom solidária por parte daCIG.Nom é a primeira vez quedirigentes da CIG ligados ao BNGaplicam medidas sectárias e inso-lidárias a companheiros e com-panheiras em funçom da sua mili-táncia política. Pola nossa parte, nom queremosrenunciar à solidariedade da nossacentral sindical, por mais que oseu máximo representante nacomarca nos tenha virado as cos-tas. E, quanto à burda campanhapolicial e à arbitrária denúncia deJuan Fernández, confirmamos-lhes publicamente que nom con-seguirám que renunciemos amanifestar-nos nas nossas ruas emdefesa dos direitos da nossa classe.

Maurício Castro Lopes, ErnestoLopes Dias, Bruno Lopes Teixeiro,Jaime Mosqueira Moure, ManuelPonce Rodrigues e Paulo RicoPainceiras

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2005 03EDITORIAL

continuam a defender, umhaopçom “gallega” com boca-dinhos cedidos, com muitoboa fé e algo de ajuda institu-cional, à língua própria.Perguntadas, nalgumha oca-siom, pola possibilidade departicipar no progresso lin-güístico do nosso idioma, aresposta voltou a ratificar osprincípios que as fundamen-tárom e justificárom: o mer-cado em castelhano de pro-víncias.

A imagem exterior que dá anossa imprensa ficou bemreflectida em histórias como ada conferência de imprensado Secretário Geral de ERC, ocatalám Josep Lluís CarodRovira, há uns dias naUniversidade de Vigo. Nofim, depois de responder emgalego às perguntas dos jorna-listas (todos os meios presen-tes eram galegos) perguntou“Tam mau é o meu galego quenenhum jornalista me per-guntou nesta língua?”

O esperado jornalJá deixou mesmo de ser

habitual falar nas tertúlias econferências do assuntoestrela de para quando umjornal diário em língua gale-ga. Depois da experiênciafracassada de “O CorreoGalego”, bem podemos tiraralgumhas conclusons quetentem explicar as causasdeste desencontro entre asociedade galega e um meiona sua língua. Tomando comoexemplos outras naçons do

Estado apercebemo-nos queas empresas informativasnom podem considerar o pro-duto como ‘de segunda’.Explico-me. Nom serviria demuito que o Faro de Vigo ouLa Voz de Galicia decidissemcriar um cabeçalho em galegoporque sempre seria “osegundo” do principal, quecontinuaria a ser o escrito emcastelhano. Desta maneira ofuturo projecto deveria sairde umha empresa compro-metida com o galego naactualidade ou, no seu caso,noutra de nova criaçom.

Mas há um entrave funda-mental que, nos dias de hoje,paralisa qualquer projecto desaída de um cabeçalho diá-rio: a divisom dos sectoresque, ainda bem distantes naideologia, som coincidentesna necessidade deste meio.Estou a falar tanto de parti-dos políticos como de mem-bros do tecido empresarial.Isso sim, aguardo que o futu-ro jornal tenha em conta algobásico: o caminho percorridono tempo polos actuaiscabeçalhos semanais, quin-zenais ou mensais. Parte dosseus leitores crescêromtendo-as nas maos comoúnico referente.

Antón Fernandez Escudero éRedactor-chefe d’A Peneira,A Peneira da Lourinha,A Peneira do Condado/Para-danta e A Peneira do BaixoMinho.

Onovo desenvolvimentismo que desfigu-ra a Galiza e se camufla numha propa-ganda incontestada nom precisa, para-

doxalmente, de um autoritarismo explícito queo torne possível. Toda a pessoa com mínimamemória histórica lembrará como a vaga de pro-gresso desenhada pola tecnocracia franquistanom necessitava de mais do que a contundên-cia dos decretos e a intervençom violenta afavor da ordem para cumprir os desígnios dosde sempre: celuloses, montes comunais expro-priados e repovoados, vales alagados, comarcashipertrofiadas por indústrias 'de enclave'... ele-mentos de umha paisagem com que muitos emuitas já nascemos, percebendo-a como pre-sença normalizada de umha aposta na desfeitaque se apoiou numha sucessom contínua dederrotas populares, vontades desarmadas ouresignaçons profundamente enraizadas.

A vaga de produtivismo irracional que como-ve a Galiza de hoje revela-se tam eficientecomo a sua predecessora. Algum dos numero-sos apologistas do actual estado de cousas,esses que engordam a mediocridade dos meiossubvencionados ou vegetam na docilidade dosgabinetes universitários, haveria de explicarcomo, no tam invocado reino da lei, manifes-tas ilegalidades som consumadas com a maiordas soberbas; como inequívocas unanimidadespopulares em prol de um outro desenvolvi-mento se relegam ao silêncio ou à categoriainservível do criminoso ou utópico. A vizin-hança de Trás-Ancos, prestes a acolher a maiorbomba de relojoaria de toda a costa ocidentaleuropeia, bem poderia testemunhar sobre ocacarejado 'garantismo' de um sistema quepermite a activaçom de toda umha série derecursos políticos e legais de autodefesa, sem-pre que estes forem meramente decorativos enom empecerem a culminaçom dos grandes

projectos de depredaçom económica eambiental. A vizinhança ameaçada pola ilegali-dade e irresponsabilidade da central de gás é avizinhança ameaçada pola ilegalidade e irres-ponsabilidade da barragem do Úmia; a dastorres de alta tensom de Merça; a da minicen-tral do Mácara; a da cidade da cultura noGaiás ou da cimenteira de Coirós. Nada novonum país em que recursos, contra-recursos,discretas notas de imprensa, amparos de altostribunais ou sábios conselhos de especialistasdam asinha passagem à via dos factos consu-mados, ao servilismo mediático, à expropria-çom forçosa e ao convencimento dos do capa-cete e o cacete.

Segundo as teses historicamente manejadaspolo nacionalismo e o independentismo, osataques a um modelo de desenvolvimentoendógeno nom só remetem para o nível depobreza material das populaçons afectadas;também se relacionam com outros valoresigualmente transcendentes: a saúde, o modelode ocupaçom do território, a interrelaçomsocial, o património paisagístico. Os planos deREGANOSA projectam a retirada acelerada deum importante jazigo arqueológico da épocaromana, confirmando que, neste planificadoataque global contra o sentido comum e a von-tade popular, as vítimas som valiosas e diver-sas. É esclarecedor que esta direita espanholaque mal governa nem sequer cumpra o vernizdo seu programa. Bêbeda por essa aposta turis-tificadora que sonha em converter a Galizanumha grande empresa de serviços a gerir par-ques e museus, acaba por se manifestar inca-paz de potencializar o nosso rico património egarantir a sobrevivência de um jazigo relevan-te. A incipiente rede de campos de golfe e por-tos náuticos de luxo parece casar melhor com oindustrialismo louco de Tojeiro e companhia.

DESENVOLVIMENTISMOE PATRIMÓNIO

As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico.Os artigos som de livre reproduçom respeitando a ortografia e citando procedência. A informaçom continua periodicamente no sítio web www.novasgz.com e no portal www.galizalivre.org

EDITORA

MINHO MEDIA S.L.

DIRECTOR

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REDACTOR-CHEFE

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CONSELHO DE REDACÇOM

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HUMOR GRÁFICO

Suso Sanmartin, Pepe Carreiro,Pestinho +1, Xosé Lois Hermo,Gonzalo, Aduaneiros sem fronteiras

CORRECÇOM LINGÜÍSTICA

Eduardo Sanches Maragoto

IMAGEM CORPORATIVA

Miguel Garcia

FECHE DA EDIÇOM: 15/03/05

FARRUQUINHO

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2005

NOTÍCIAS

04 NOTÍCIAS

Protocolo de Quioto entra emvigor sem planificaçomadequada para a sua aplicaçom

REDACÇOM / O Protocolo deQuioto entrou em vigor no pas-sado dia 16 de Fevereiro, logodepois de umha espera quevinha desde 1997, quandonaçons de todo o mundo concre-tizaram nele o seu compromissoperante a necessidade de travar amudança climática. 127 paísesratificárom finalmente o docu-mento que os obrigará a reduziras emissons globais de dióxidode carbono (CO2), metano(CH4), óxido nitroso (N2O),hidrofluorocarbonetos (PFC) ehexafluoruro de enxofre (SF6)no período 2008-2012. Concre-tamente 5,5% abaixo dos níveisde 1990.

Para cumprir com o estabeleci-do no acordo, o Estado espanholnom deveria incrementar emmais de um 15% as suas emis-sons. No entanto, em 2002 estastinham aumentado em 38%, oque supunha superar o limite em23 pontos, e o consumo de ener-gia primária passara de perto de90 milhons de toneladas equiva-lentes a petróleo a mais de 130.Além disso, o Conselho deMinistros do Governo centralaprovou em finais de 2003 a'Estratégia espanhola de pou-pança e eficiência energética'para o período 2004-2012, na

qual assume que nesse ano asemissons de gases que contri-buem para o efeito de estufaterám aumentado em 58%. Porsua vez, a Galiza emite 35 mil-hons de toneladas dos mesmos, eem 2001 o incremento registadoera de 27%.

O sector energético é o quemais contribui para a mudançaclimática no território galego,devido principalmente às cen-trais térmicas sediadas nele. Adas Pontes encontra-se no postonúmero 12 da lista das vintemaiores responsáveis por emis-sons de CO2 da UniomEuropeia, e no primeiro da listade dióxido de enxofre (SO2), naqual a de Meirama é quinta.Este gás é um dos principais cau-sadores da acidificaçom (proces-so que provoca a perda da capa-cidade neutralizante do chao eda água por causa do retorno àsuperfície terrestre, em forma deácidos, dos óxidos de enxofre ede nitrogénio descarregados paraa atmosfera, principalmentedevido à queima de combustí-veis fósseis) e, nom obstante,nom se encontra regulamentadopolo Protocolo de Quioto.

A influência do transporte namudança climática é tambémimportante na Galiza. As emis-

sons de gases procedentes domesmo aumentárom 45% entre1990 e 2001, e 91% das mesmasprocede do transporte por estra-da. Nesse ámbito, passou-se de3.587.561 toneladas de gasesemitidos a 5.258.389 no mesmoperíodo de tempo.

Colectivos ambientalistascomo a Greenpeace, Ecologistasem Acçom, Amigos da Terra eWWF Adena tenhem realizadocríticas perante a falta de umplano do Governo espanhol quedelimite de forma clara as futu-ras actuaçons em relaçom a estasquestons. Por sua vez, tambémADEGA quijo tornar manifesta aausência de umha preocupaçom,tanto por parte do executivoespanhol como do galego, polosfactores que estám por detrás damudança climática, e comunicouque, juntamente com a Irlanda,somos o Estado que mais longeestá de cumprir o Protocolo deQuioto, que estabelece no seuartigo número 2 que "cada unhadas partes incluídas, ao cumprircom os compromissos quantifi-cados de limitaçom e reduçomdas emissons contraídos aplicaráe/ou continuará a elaborar políti-cas e medidas de conformidadecom as suas circunstánciasnacionais".

As emissons de gases causadoras do efeito de estufa aumentárom em 27% na Galiza desde 1990

O ar está-se a tornar irrespirável, por efeito da poluiçom, nas grandes cidades europeias / ARQUIVO NGZ

REDACÇOM / Numerosos colec-tivos sociais, políticos e sindi-cais da Galiza estám a preparara resposta à celebraçom do Diadas Forças Armadas na Corunhano próximo dia 28 de Maio.Trata-se de recuperar o movi-mento social organizado naGaliza por ocasiom da guerra doIraque. A oposiçom à presençacastrense começou a fraguar-seapós o anúncio oficial do desfi-le militar, que pretende exaltaros valores da guerra no nossoPaís.

O presidente da Junta,Manuel Fraga, foi quem enviouum pedido ao Ministério daDefesa para que o desfile dasForças Armadas se desenvolves-se em Vigo, para "apoiar" assima realizaçom na cidade olívicada Volta ao Mundo em Vela epara apoiar, de passagem, a pre-sidenta popular Corina Porro. OMinistro José Bono respondeuao convite de Fraga "que secelebrará na Galiza, mas nacidade da Corunha, que acolheumha Capitania maior" e paraapoiar, de passagem, o presi-dente do PSOE, FranciscoVázquez, amigo pessoal, porsua vez, do Ministro espanhol.De todas as formas, as ForçasAéreas estarám presentes tam-bém na saída da Volvo, segundoa "promessa" de José Bono.

Um importante sector dasociedade galega está a expres-sar a rejeiçom a esta exibiçom,que se tem convertido "numlamentável espectáculo itine-

rante, ideado para mostrar cadaano as armas da guerra e a últi-ma tecnologia assassina em quesom esbanjados grande partedos orçamentos do Estado".Para além da mostra de força, odesfile militar na Galiza signifi-ca "rir-se dos direitos democrá-ticos básicos, exibindo o seudesprezo polo direito de auto-determinaçom da Galiza, que,hoje como ontem, continua aestar proscrito pola força dasarmas". Sob estas premissas e arejeiçom da guerra, das despe-sas militares e dos valorespatriarcais que o exercito per-petua, está-se a articular noPaís, em regime de autoconvo-catória, a resposta colectiva àcelebraçom do Dia das ForçasArmadas Espanholas na Corun-ha no próximo dia 28 de Maio.

Iniciou-se também umharecolha de assinaturas contra arealizaçom do desfile.Manifesta-se, no texto do abai-xo-assinado, a oposiçom a "quese utilizem os espaços públicospara exibir armamento e exaltarvalores alheios à convivência,em detrimento dos direitos dacidadania corunhesa. Parece-nos grosseiro e umha vergonhapara a cidadania da Corunhaque aqui se poda fazer umaexaltaçom militarista da guerrae da destruiçom, quando somosumha cidade que sempredefendeu os valores da paz e dasolidariedade. Além disso,trata-se de umha ofensa às víti-mas de qualquer guerra".

Oposiçom à celebraçomdo Dia das ForçasArmadas na Corunha Procuram recuperar o movimento social organizado por ocasiom da guerra do Iraque

REDACÇOM / As mais de três milexploraçons leiteiras fechadasem 2004 obrigárom 12.400 pes-soas na Galiza a abandonarem oagro, segundo um relatório deUnions Agrárias acerca da pro-duçom leiteira no ano passado.O número de granjas é agora de20.861, com o qual se acrescen-ta o volume de abandono deactividades agrárias registadodurante as últimas décadas,intensificado com a entrada naUniom Europeia, chegando nos

últimos anos a atingir númerosrevoltantes para um sector quejá tem sido básico para o País.

Nos últimos anos, o encerra-mento de exploraçons levouconsigo por volta de oito gran-jas diárias. O LaboratórioInterprofissional Galego doLeite (Ligal) tinha indicadoem Fevereiro que as normativasde qualidade europeia provoca-rám, em quatro anos, a desapa-riçom de 20% das granjas sobre-viventes.

Mais de doze mil pessoasabandonam o agro num ano

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2005 05NOTÍCIAS

15.02.05

CCOO dá um “golpe de Estado”na Ence de Ponte Vedra. É revo-gado o Comité de Empresa daEnce de Ponte Vedra onde o sin-dicato nacionalista CIG contavacom a maioria. A estratégia gol-pista de CCOO e FIA-UGTlogra 149 votos frente aos 78partidários do sindicato favorá-vel à retirada da fábrica deLouriçám.

16.02.05

Rede Eléctrica Espanhola po-tencializará na Galiza os 1.100quilómetros de linhas de 220quilovóltios. O objectivo decla-rado é prever o incremento daenergia a evacuar procedentedos parques eólicos e os futurosciclos combinados.

17.02.05

Exposto o PGOM viguês. Apro-vado com os votos do PP e BNGnum plenário boicotado polosvizinhos e vizinhas da cidade, oPGOM chamado O Vigo que tenamorará expom-se na Casa dasArtes da cidade até o dia 15 deAbril. Urbanizaçom selvagem eespeculaçom generalizada carac-terizam o projecto elaboradopolo BNG.

18.02.05

Espanha anuncia fim da condi-çom de Regiom Objectivo 1.Governo espanhol anuncia que“seguramente” a Galiza deixaráde ser Objectivo 1 da UE a par-tir de 2006 e assegura que dis-porá de um “regime transitório”para o período 2007-2013 comoregiom phasing out. A mudançatem a ver com a actualizaçom dorelatório estatístico de coesomda Comissom Europeia com aqual a CAG se situará acima de75% da renda per capita da UE.

20.02.05

Galiza nom aprova a Constitui-çom europeia. 800.811 galegos egalegas (34% do recenseamentoeleitoral) de um total de

CRONOLOGIAAs mulheres continuam a ser asprincipais vítimas do desemprego, da violência e da exploraçom

REDACÇOM / O conselheiro da Justiça da Junta da Galiza, XesúsPalmou, anunciou a assinatura de um convénio com a consel-heira dos Assuntos Sociais, Belém Prado, para permutar as con-denas dos maltratadores por cursos de reeducaçom. Esta medi-da vai estabelecer-sse de acordo com a Fiscalia e o Tribunal

Superior da Justiça da Galiza, para que aqueles homens queexerçam a violência contra as mulheres e tenham sido conde-nados a menos de dous anos de prisom podam substituir estacondena por "cursos ou jornadas de reeducaçom", segundodeclarou o conselheiro.

Maltratadores na Galiza poderám comutar penas com cursos de reeducaçom

O anúncio foi feito porPalmou no dia seguinte àcelebraçom do 8 de Março,dia das Mulheres. O respon-sável de Justiça tambémanunciou que em todos osdistritos judiciais que ten-ham mais de umha sala deaudiências e nas sete cidadesgalegas, serám criadas salasespecializadas em "violênciadoméstica", embora semdedicaçom exclusiva.

Aos 80% dos casos julgadosna Galiza por violência degénero aplica-se umha penainferior aos dous anos quenom implica a entrada emprisom. Quer isto dizer queos 80% dos maltratadores doPaís permutarám as suaspenas por cursos de reeduca-çom, sem ter explicado o con-selheiro em que consistirám,com que recursos contarámou qual será o método empre-gado para a reeducaçom.

O anúncio tampouco tivoem conta as agredidas, ePalmou limitou-se a dizerque "nom haverá risco paraas mulheres ou nom maisque se nom existissem estescursos".

“Discursos” e “recursos”

"Menos discursos e maisrecursos" foi a lema escolhi-do este ano pola MarchaMundial das Mulheres paracomemorar o dia 8 de Março.Umha jornada de reivindica-çom que levou manifesta-çons a Vigo, Ourense,

Corunha, Ponte Vedra,Ferrol, Compostela, PonteAreias e Cee. Nas concentra-çons foi salientado o facto deque "os poderes públicosaprovam leis e planos deigualdade, muitas vezesestéreis por nom irem acom-panhados dos recursosnecessários para os levaremadiante". Foi umha jornadaem que também se tornoumanifesto que o índice dedesemprego das mulheres éo dobro na Galiza, sem quefigure ainda como umhaprioridade a combater pornengumha das diferentesAdministraçons.

MNG em favor de umhasociedade laica

A organizaçom feminista fizofinca-pé neste 8 de Marçono ataque aos direitos dasmulheres recebidos desdeumha instituiçom com tantainfluência social como é aIgreja Católica. Assinala ocolectivo de mulheres que"nos últimos tempos, depoisdo anúncio de mudançasquanto à disciplina de reli-giom, ao matrimónio, e aodivórcio... a Igreja viu amea-çada a sua posiçom". MNGdefende umha sociedadelaica com separaçom totalentre a Igreja e o Estado.Manifestam também quenumha sociedade nom sexis-ta "nom há espaço para asubmissom do político aoreligioso".

Mulheres Transgredindo frente umha loja compostelana de INDITEX / M.T.

Mulheres Transgredindo emulheres da AMI contra Zara

Mulheres Transgredindo fizofinca-pé na situaçom laboraldas mulheres de Inditex comumha acçom com marcadocarácter de denúncia. As mul-heres, sentadas em cadeirasem frente aos estabelecimen-tos de Inditex em Compostela,a coser com a cabeça baixa eem silêncio, levavam lemascomo "Inditex Escravatura" ou"Admitida para oficina clandes-tina". Na empresa de AmancioOrtega trabalham mais de60.000 mulheres com jornadaslaborais de mais de doze horas,perdendo o seu trabalho seficarem grávidas. As MulheresTransgredindo perguntavamtambém se sabíamos que empaíses como Marrocos, a China

ou a Índia trabalham meninhasde 8 anos para Inditex, com-preendendo-se desta maneiracomo Amancio Ortega se con-verteu num dos homens maisricos do mundo.

Também as mulheres daAMI reivindicárom o boicotena madrugada do dia 10 deMarço contra diversas lojas deroupa, especialmente contra asque integram INDITEX. Asmoças colárom cartazes comlemas como: "esta empresalucra com a violência de géne-ro". Acusam Ortega de "fomen-tar doenças contemporáneasgravíssimas como a anorexia e abulimia, ao nom cumprirem asnormas dos tamanhos daspeças de roupa."

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200506 NOTÍCIAS

2.310.067 votantes eventuaisaprovam o Tratado Constitucio-nal da UE num referendo emque 56.96% da populaçom daCAG optou pola abstençom.Apesar da sua falta de legitimi-dade democrática, o texto passa–junto à Constituiçom espanho-la (1978) e o Estatuto deAutonomia (1980), que tampou-co lograram o aval do povo gale-go- a fazer parte do enquadra-mento jurídico-político daGaliza.

22.02.05

Naufrágio do barco SiempreCasina. O volanteiro burelaoSiempre Casina afunda a 20milhas de Ribadeu. Os marin-heiros Camilo Montes, GerardoTaboada, Souleymane Faye,Mousa Npong, Jorge LuisPeña, José Santos Clavijo,Richard Gustavo Manchego eVíctor Jorge Corrella morremno naufrágio.

Julgado colaborador de galizali-vre.org. como suposto autor deum “atentado contra agente daautoridade” quando em23.12.2002 participava emSilheda numha manifestaçompara exigir responsabilidadespola catástrofe do Prestige. Opedido final é de um ano emeio de prisom e 1.032 euros.

24.02.05

Militantes de Agir som agredi-dos em Ponte Areias. Membrosda organizaçom estudantil inde-pendentista som agredidos poragentes da Guarda Civil e pro-fessores do centro religiosoSantiago Apóstolo quando mani-festam a sua rejeiçom à privati-zaçom do ensino. Um moço éconduzido ao ambulatório davila do Condado para receberassistência médica.

25.02.05

Campanha para o encerramentoda Ence. A Plataforma para aDefesa da Ria de Ponte Vedraanuncia umha campanha paraMarço com o lema 2018?...Agora! e aponta que nom é pre-ciso aguardar ao fim da conces-som dos terrenos “porque arecuperaçom da Ria, os postosde trabalho e a nossa saúde nompodem aguardar mais”.

27.02.05

Revolta juvenil em SantaComba pola restriçom do horá-rio de encerramento dos estabe-lecimentos. Moços e moças deSanta Comba organizam barrica-das com contentores incendia-dos e enfrentárom a Guarda

Nove independentistas e sindicalistasjulgados na Galiza no último mêsAs penas solicitadas som, em mais de um caso, de vários anos de prisom e de multasmilionárias pola participaçom activa em mobilizaçons populares

REDACÇOM / Quatro processosjudiciais contra independen-tistas e sindicalistas tivéromlugar na Galiza durante osmeses de Fevereiro e Março.Trata-se de Joám PeresLourenço, Rafael Iglesias,Antolim Alcántara, Xosé LuísCid, Marcos Fernández,Rubém Lopes Quintáns e maistrês militantes da AMI cujasiniciais som M.A., A.M. e P.M.

O processamento judicial deRubém L. Quintáns convocou-se para o dia 28 deste mês deMarço, e apresenta-se comoumha das mostras repressivascontra a luita independentistamais duras dos últimos tem-pos. Este membro da AMI con-fronta-se com umha condenade 2 anos de prisom e o paga-mento de ao redor de 25.000euros por delitos de "desor-dens públicas" e de "danos"durante os sucessos aconteci-dos durante a crise do Prestige,no dia 1 de Dezembro de 2002,quando foi detido e agredidopor elementos da Polícia dechoque. Para além da acusa-çom pública, as entidades ban-cárias Banesto, Cajamadrid eBBVA, que supostamenteteriam sido atacadas com arte-factos incendiários por umgrupo de encapuzados entre osquais se encontraria o acusado,realizárom umha denúncia par-ticular, solicitando 4.500 euroscomo indemnizaçom conjuntae 7.200 por um delito de'danos'. Por sua vez, o governomunicipal compostelano solici-ta para L. Quintáns dous anosde prisom, dous de inabilita-çom para sufrágio passivo,umha indemnizaçom de 2.350euros e umha multa de 6.000euros, que poderia ser permu-tada por outros dous anos de

prisom no caso de nom serpaga.

Por seu turno, o colaboradorde galizalivre.org Joám Peresfoi condenado a um ano de pri-som, ao pagamento de umhaindemnizaçom de 270 euros aoagente da Guarda Civil ÓscarMartínez Casado, e a umhasançom de 90 euros, depois deter sido julgado em PonteVedra no 22 de Fevereiro porum suposto altercado duranteumha concentraçom emSilheda contra os sucessos rela-tivos ao afundamento doPrestige. A falta de anteceden-tes penais evitou a sua entradana cadeia, mas o "delito" nomprescreverá até passarem 3anos, durante os quais o pro-cessado se encontrará emsituaçom de liberdade condi-cional.

Ainda, os membros da CIG

Rafael Iglesias (secretáriocomarcal da Central em PonteVedra), Antolim Alcántara(membro da executiva nacio-nal do sindicato nacionalista),Xosé Luís Cid (secretário deOrganizaçom em Vigo), juntocom o cidadao MarcosFernández, fôrom julgados nosdias 8 e 9 deste mês, acusadosde um delito de danos emautocarros de Monbus aconte-cidos durante a greve de 2001na zona do porto de Ogrobe. Aempresa solicita três anos decárcere para um dos acusados,que se somam ao pedido fiscalde dous anos de prisom paracada um deles e de sançonseconómicas.

Por último, a realizaçom deum mural com a legenda"Trabalho digno no nosso idio-ma" no dia 18 de Setembro de2004 é o motivo polo qual

M.A., A.M. e P.M. (militantesda AMI) fôrom julgados nopassado dia 2 de Março, tendo-lhes sido exigido o pagamentodas custas judiciais, 6 dias detrabalhos de 'serviço à comuni-dade' e 72 horas de localizaçompermanente (prisom domici-liar). Além disso, M.A. foi acos-sado várias vezes por membrosda Guarda Civil, com visitas aoseu domicílio e chamadas àstantas da manhá solicitando asua presença no quartel doMilhadoiro, sem que em nen-hum momento os agentesacompanhassem a sua solicita-çom com umha requerimentoescrito.

Diante das salas de audiên-cia celebrárom-se várias con-centraçons de apoio coincidin-do com cada um dos processos,convocadas por organismoscomo Ceivar ou a própria CIG.

REDACÇOM / A CoordenadoraGalega de Roteiros (COGA-RRO) aprovou o programa deactividades para este ano nasua assembleia anual, realiza-da no passado dia 13 deFevereiro em Compostela. Asrotas propostas no calendáriosom ainda provisórias, poloque a Coordenadora informa-rá com antecedência de even-tuais alteraçons nas datas

deste programa de roteiros,que já vai pola VII ediçom.À partida, no mês de Marçovai repetir-se a já clássicacaminhada polo Canhom doSil entre os dias 24 e 26. AIlha de Ons será visitadaentre os dias 23 e 24 de Abril,o Monte Rois nos dias 14 e 15de Maio e a Serra doForgoselo nos dias 11 e 12 deJunho, dando passagem à rota

polas Terras de Melide nosdias 9 e 10 de Julho. EmAgosto, nos dias 6 e 7, aCOGARRO visitaráBergantinhos. A 20 e 21 deSetembro o destino da camin-hada será o Condado, eviden-temente aproveitando oFestival da Poesia. No mesmoOutono os Ancares tambémreceberám a visita dos camin-heiros e caminheiras da

Coordenadora, entre os dias 1e 2 de Outubro, e a Raia Secaserá o destino dos dias 17 e 18de Dezembro, ficando assimencerrado o calendário anual.Na assembleia anual, os e asconvocadas valorizárom como"muito positiva" a actividadede 2004, ano em que fôromrealizadas oito rotas, e andama preparar para esta época umprograma mais ambicioso.

Vários processos tenhem a sua origem nas mobilizaçons de há dous anos contra a maré negra / NUNCA MAIS

COGARRO apresenta novo calendário de roteiros

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2005 07NOTÍCIAS

Civil como resposta à reduçomdo horários dos bares. O institu-to armado e a Polícia local somrecebidos com lançamento decopos e garrafas e desistem deintervir.

28.02.05

Cria-sse um corpo repressivoespecífico da CAG. O titular deInterior Xesús Palmou entrega oprojecto de criaçom do corpo daPolícia Autonómica da Galiza aoMinistério do Interior. O textoconta com o apoio do PP, BNG ePSOE. Segundo os seus cálcu-los, 1.700 agentes autonómicosestarám activos daqui a trêsanos, junto com a Guarda Civil ea Polícia espanhola.

29.02.05

Temporal destapa o piche ente-rrado em Muros e Carnota.Grandes camadas de fuelóleoaparecem em Areia Maior,Monte Louro, Ximprom,Susinhos, Boca do Rio, Malhou,Maceiras, Baleeiros e Arca.ADEGA exige da administraçomda CAG equipas de inspecçom elimpeza. Técnicos confirmamefeito ‘lasanha’ nesta área dolitoral galego.

05.03.05

Confrarias acusam administra-çom da CAG de manipularnúmeros das capturas após oPrestige. Integrada por 8 enti-dades galegas, 18 asturianas e22 bascas, a Coordenadora deConfrarias de Pescadores preju-dicadas polo Prestige acusa aJunta de “manipulaçom abe-rrante” dos números das captu-ras após a maré negra. Patronsde Ogrobe, Póvoa do Caramin-hal e o gerente da confraria deCangas comparecem com oletrado Alberto Muñoz que afir-ma que “os dados fôrom tergi-versados”. Francisco Iglésias,patrom de Ogrobe, exigiu àConselharia da Pesca a rectifica-çom dos dados e ameaçou comumha queixa-crime colectiva. Amaior parte das confrarias gale-gas aceitárom os dados publica-dos por López Veiga.

06.03.05

Metade dos desempregados daCAG nom recebe qualquer pres-taçom social. Segundo um tra-balho da corporaçom sindicalespanhola CCOO, 50% dos des-empregados e desempregadasgalegas –oficialmente, 198.484pessoas- nom recebe qualquerprestaçom social. Maioria dos700.000 contratos temporáriosassinados em 2004 fôrom “ile-gais”, segundo as CCOO.

A equipa de 'expertos' do BNG tornapúblicas as bases para um Novo EstatutoNacionalistas e PSdG assumem documentos com numerosas coincidências

REDACÇOM / No Fórum para oNovo Estatuto, realizado emCompostela a 26 deFevereiro, a equipa de exper-tos da qual o BlocoNacionalista Galego solicitoua elaboraçom de um docu-mento que servisse de basepara articular a proposta, tor-nou pública a sua resoluçom.

Os redactores defendemum texto que aposte emampliar as competênciasactuais. Consta de 17 bases, enele apresenta-se como sendofundamental a identidadepolítica - "o território daGaliza é o abrangido nos limi-tes da actual ComunidadeAutónoma, sem prejuízo daincorporaçom voluntária deterritórios limítrofes anála-

gos" -, cultural e lingüística -"o galego como língua nacio-nal e obrigatória na represen-taçom política, sendo garanti-dos o uso e ensino do espan-hol, língua cooficial". Galiza,na sua condiçom de naçom"integra-se livre e 'pacciona-damente' como ComunidadeAutónoma na estrutura políti-ca plurinacional do Estadoespanhol".

As novidades do documen-to dizem respeito nomeada-mente à organizaçom dopoder judicial, e som a cria-çom de um Conselho JudicialGalego e um magistrado noTribunal Superior propostopolo Parlamento da Galiza.No plano social o documentopropom, entre outras medi-

das, a garantia de igualdadedas mulheres na participaçome distribuiçom da riqueza, asua segurança e a defesa daliberdade sexual.

O partido nacionalista pre-tende levar a proposta aoParlamento, confiando numhamudança da cor política daJunta após as eleiçons deOutubro. Ánxela Bugallo,adjunta à Porta-voz Nacional,qualificou o texto de "tesouronas maos do BNG", mas estedocumento guarda numerosascoincidências com as "Basespara a reforma do Estatuto"realizadas por Iniciativa 21 eassumidas polo PSdG-PSOE,que assume a maioria das pro-postas nacionalistas.

O independentismo galego

mostrou-se contrário ao textoapresentado, que, segundo

NÓS-UP, supom umha vira-gem do BNG no que diz res-peito à posiçom que vinhamantendo nos últimos meses,contrária a modificar oEstatuto e favorável a recla-mar a plena transferência detodas as competências pen-dentes. A organizaçom inde-pendentista considera que odocumento do Bloco carecede audácia política e reproduzos complexos da direcçompequeno-burguesa do autono-mismo, assim como a lealdadenacionalista com a arquitectu-ra jurídico-política do Estadoespanhol. O documento ínte-gro pode consultar-se emwww.novoestatuto.com.

A equipa da qual o BNG solicitou as bases para o novo Estatuto é composta por diferentes representantes da vida política e académica / ARQUIVO NGZ

REDACÇOM / As organizaçonsindependentistas Agir e Brigaconvocam umha escola de for-maçom para o fim de semanaque começa no dia 18 deMarço em Salvaterra deMinho. Os e as jovens mili-tantes abordarám temas rela-cionados com o "activismoestudantil e juvenil" e a "his-tória da esquerda indepen-dentista", complementandoos actos com jogos populares efestas. O evento, que contacom a colaboraçom da

Sociedade Cultural e Des-portiva do Condado, pretendemelhorar a experiência do anopassado, em que Agir organi-zava a I Escola de Formaçomna Marinha. Na convocatóriaassinalam que a formaçom damilitáncia juvenil "deve serumha constante no nossomovimento", e destacam anecessidade de "reflexionarsobre erros e acertos do passa-do para melhor enfrentar osembates com o capitalismoespanhol".

REDACÇOM / A associaçompatronal do sector têxtil adver-tiu sobre a possibilidade dedeslocalizar a produçom comosaída à crescente concorrênciade produtos internacionais ela-borados por mao-de-obra bara-ta. Esta situaçom pode provo-car a perda de uns 7.000empregos até 2010, o quesupom umha média de 10 pes-soas desempregadas por dia.

A soluçom proposta polosempresários do sector passapor umha "maior flexibilidade

laboral" e a protecçom porparte das instituiçons estataise autonómicas de um sector noqual o custo mínimo por horade trabalho ascende a 2,6euros.

Representantes da Juntamantivérom umha reuniomcom membros das principaisempresas do têxtil galego, àqual nom assistiu Inditex,empresa que está a fomentar adeslocalizaçom da sua produ-çom, como assinalávamos nonúmero 17 de NGZ.

Agir e Briga organizamescola de formaçom

Ameaçados sete milempregos no sector têxtil

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200508 INTERNACIONAL

INTERNACIONAL07.03.05

A Guarda Civil de Trás-Ancosimplicada no «tráfico de bran-cas». José Manuel López López,ex chefe da agrupaçom de trán-sito da GC em Ferrol, é proces-sado pola sua relaçom com umharede de prostituiçom de mulhe-res colombianas. Segundo omagistrado Alejandro MoránLlordén, as cidadás colombianaseram transferidas para locais deprostituiçom “onde, sob coac-çons, ameaças e enganos, eramobrigadas a manterem relaçonssexuais em troca de dinheiro”.

08.03.05

Mais de 2.000 galegas mobili-zam-se no dia 8 de Março.Convocadas polas organizaçonsfeministas, mais de duas milmulheres mobilizam-se em dife-rentes vilas e cidades da Galizapara exigirem políticas e medi-das reais contra a discriminaçome a opressom da mulher. NÓS-Unidade Popular desenvolveumha campanha contra o trata-mento sexista e estereotipadoque os media fam das mulheres.

Repressom sindical contra aCIG. Quatro sindicalistas dacentral nacionalista vam a julga-mento por participarem, supos-tamente, nas sabotagens realiza-das a autocarros da empresa LaUnión a 26 de Junho de 2001.Aos pedidos de sançons econó-micas unem-se penas de 2 anosde prisom. A empresa presididapor Raúl Lopez solicita três anospara um dos sindicalistas. Osprocessados recusam-se a decla-rar. A CIG convoca várias mobi-lizaçons.

09.03.05

CCOO e UGT convocam mani-festaçom a favor da celulose doGrupo Ence. As corporaçons sin-dicais espanholas mobilizam-secom o apoio da Confederaçomde Empresários de Ponte Vedra,a Cámara de Comércio e aAssociaçom de JovensEmpresários a favor da continui-dade do complexo depois de2018.

10.03.05

CIG mobiliza-sse no Dia daClasse Operária Galega. 400pessoas mobilizam-se em Ferrolno 33º aniversário do assassinatodos operários Daniel Niebla eAmador Rei, exigindo direitossócio-laborais e contra a repres-som. Em Ponte Vedra realiza-seumha outra manifestaçom coin-cidindo com a segunda parte dojulgamento contra os sindicalis-tas de La Unión.

NUNO GOMES / Em 20 de Fevereiro tive-ram lugar em Portugal eleições legislativasantecipadas. A vitória foi dos socialistas doPS, liderados por José Sócrates, que conse-guiram 45,05% das intenções de voto, umainédita maioria absoluta socialista. O PPD-PSD, o partido do primeiro-ministro ces-sante Pedro Santana Lopes, conseguiu28,69% dos votos. Ultrapassadas já todas asformalidades, o Primeiro-Ministro indigita-do revelou a formação do XVII GovernoConstitucio-nal. Estas eleições mostraramuma imparável subida da esquerda, e a con-sequente perda de votos pelos partidos dedireita que formavam a coligação governa-mental, PPD-PSD e CDS-PP. Na esquer-da, para além do resultado recorde do PS,surge o Bloco de Esquerda com quase o tri-plo (8) dos mandatos anteriores (3) e oscomunistas do PCP-PEV, que conseguiramparar a trajectória descendente dos últimosanos, conseguindo eleger 14 deputados.

Um tema marcante da actualidade portu-guesa é a seca que se tem vindo a sentir nosúltimos meses, interrompida recentementepor alguma chuva. Apesar de, em todoPortugal, ter havido uma queda nos níveisde precipitação, a região que mais temsofrido é a do Alentejo, onde já houve situa-ções de falta de água em certas localidadese morte de animais por desidratação. NoMinho e Douro Litoral a falta de chuva nãotem sido trágica, pois é uma zona com bas-tante precipitação atmosférica. A seca pro-longada, aliada ao frio intenso que se temsentido, tem levado a uma consciencializa-ção geral das alterações climáticas, e a uminédito pedido, generalizado por todo opaís, de chuva.

As relações luso-ggalegas sofreram umincremento nos últimos meses, destacan-do-se as candidaturas conjuntas à Unesco.Uma é a do Património Imaterial Galego-

Português, que consiste nas "…manifesta-ções da literatura popular, os cantares aodesafio ou regueifas, contos e lendas, a lín-gua, a tradição oral ligada às actividadesagro-marítimas, os ofícios tradicionais e osseus falares e saberes, as formas simbólicas,ornamentais e musicais, os âmbitos festivosem relação com o ciclo anual da natureza".A candidatura, entregue na Unesco emOutubro de 2004, foi apresentada no Portono passado dia 4 de Fevereiro. Estiverampresentes, entre outros, o presidente dacâmara do Porto, Rui Rio, e o Presidente daXunta da Galiza, Manuel Fraga Iribarne.Está também em preparação a Candidaturados Castros do Noroeste Peninsular aPatrimónio da Humanidade, ainda em fasede formulação, e que consiste no "reconhe-cimento pela Unesco como Património daHumanidade de uma rede de castros doNoroeste da Península Ibérica (Portugal eGaliza)".

Os meus pais sempre viajaram muito, e um pouco portodo o lado. Nunca foram aqueles turistas de garrafão,cruzando Portugal inteiro apenas para gozarem umas

horas de sol no Algarve. Também nunca faziam daquelas via-gens estereotipadas a Fátima ou ao Gerês, em dias de sol.Ainda não conhecem alguns continentes, é verdade, mas jáforam a quase todos os sítios a menos de 3 horas aéreas. Podemir para longe agora, mas quando eu era novo e ainda viajava comeles circunscreviam-se ao que havia mais próximo. O dinheiroera pouco, diziam-me. Assim, ficamos a conhecer todo oPortugal e Espanha (quase) toda. Ficávamos na pensão e hostalmais barato que conseguíssemos encontrar, mas íamos, a casa éo sítio onde moramos e não onde vivemos.

O meu pai é transmontano, da zona raiana mais próxima deSalamanca, entre Torre de Moncorvo e Freixo de Espada-à-Cinta. As poucas pessoas que ainda lá restam dizem arriba ecerra a porta, e apelidavam a minha mãe de guapa. Ela é daPóvoa de Varzim, e quando viajávamos de lá para Espanhaíamos para a Espanha da Póvoa, e a outra era Espanha dasQuintas (de Martim Tirado, terra do meu pai). Não percebilogo que se tratava do mesmo país, apesar das diferenças nãome parecerem enormes. A minha mãe dirigia-se às pessoas emcastelhano, estas respondiam-lhe em castelhano, e pouco maisme lembro de então.

A Espanha da Póvoa, a Galiza, tornou-se uma realidadedurante o meu curso universitário. Uma vez por ano rumava aoNorte para participar em conferências, work-shops, mas tam-bém apenas para passear ou visitar amigos. Assim fiquei a con-hecer, por esta ordem, Ponte Vedra, Corunha, Vigo, Ourense eSantiago. Nos anos anteriores ao curso tinha-me apercebidoque os galegos falavam diferente dos outros habitantes deEspanha; mas só quando comecei a ter um contacto mais pró-ximo com galegos me apercebi que, mais do que falarem dife-rente dos espanhóis, falavam igual a nós. A questão histórica,que só nos últimos meses se me aclarou, mostrou-me que anação portuguesa, quando se formou, herdou o território Sul daGaliza de então. A língua romance galega deu origem ao portu-guês moderno.

Quando, nos últimos meses, conheci alguns galegos dacorrente reintegracionista da língua, apercebi-me ainda maisdas nossas afinidades. Às vezes, em conversas pela internet,perguntava-lhes se estavam a escrever em galego ou se faziamalgum esforço de aportuguesar o discurso por estarem a falarcomigo. Fiquei surpreendido quando me disseram que estavama escrever como sempre escrevem.

Na realidade, não é apenas um rio que nos separa, são mui-tas questões políticas que se sobrepõe à vontade dos cidadãos.Mas quando os povos não falam entre si, não comunicam.

NOVAS DE ALÉM MINHO

Parado numa fronteira inexistenteNUNO GOMES

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Qualquer podia estarricar pare-des contra o céu, e chegar a vinte,trinta ou mais andares. Qualquerpodia untar, subornar qualquer equebrar todas as leis do urbanismo.

Xosé Neira Vilas, O Homem de Pau

Avoz da cidadania ergue-secada dia com mais forçana defesa do património

cultural e natural e contra asdesfeitas urbanísticas.

Som muitos, muito fortes einfluentes, os interesses cria-dos em torno dos negóciosurbanísticos que tanto incidemna economia do nosso país.Como bem diz AlejandroNieto, no seu livro 'Balada de lajusticia y la ley', estamosperante um negócio maisimportante que o narcotráfico(às vezes presumivelmenteconectado com ele) porqueenquanto a oferta e o consumode drogas está mais concentra-do e reduzido pois nem todos

os cidadaos som drogados, simquase todos habitam numhavivenda, trabalham num edifí-cio e transitam por umha rua.Os bens e serviços urbanísticostenhem carácter universal eumha clientela assegurada.Edificar e urbanizar som activi-dades lucrativas mas neste tipode negócios, nomeadamentenos últimos anos, foi ultrapas-sada a fronteira do lucro lícito,chegando-se a espectacularesenriquecimentos aos quaisnom som alheios promotores,construtores, intermediários epolíticos.

A especulaçom nom conhecemais limites que os da ambi-çom. Por toda a parte surgemnovos Midas que nadam emouro graças ao que edificam,onde edificam e como edificam.A uns poucos outorga-se bulapara logo se converterem nosmecenas de um clube desporti-vo, de umha programaçom cul-tural, de algumha entidade cari-

tativa ou fundaçom benéfica.Como por arte de magia o espe-culador nato converte-se emfilantropo e as suas férreasgarras, envolvidas em luvas deseda, chegam a, se for necessá-rio, mudar governos e mostrar-se generosas no financiamentode grupos políticos pseudo-independentes afins aos seusinteresses privados.

As verdadeiras intençonsdeste tipo de gentes costumamdisfarçar-se com argumentosque nom som mais do que argú-cias: fam tudo polo bem dopovo, polo progresso e a moder-nidade, para garantirem o direi-to a umha habitaçom digna,edificam em vertical para liber-tarem espaços horizontais e tal-vez para, como os promotoresda torre de Babel, nos aproxi-marem mais da divindade, paraverem se assim deixamos osassuntos terrenais (que deles jáse ocupam os de sempre) e diri-gimos o olhar para o céu. Logo,

quando já a desfeita é imensa ea cidade se torna inabitável ehostil, vem a segunda parte: osprojectos de humanizaçom: é aeterna lei do pêndulo.

Mas nom podemos ficar alamentar e a denunciar, temos aobrigaçom de encarar o futuro.

É preciso melhorarmos anossa arquitectura, da pequenacasa rural até os projectos demaior envergadura urbanística,cumpre potencializar o embele-cimento do nosso entornosemeando na sociedade altasquotas de sensibilidade quantoa isto. O caminho a andar temque estar marcado polo ambien-talismo e a sustentabilidade.

Nom podemos perder ossinais da nossa identidade urba-nístico-territorial, som chega-dos os tempos de pôr freio àdegradaçom que interessesespúrios fomentam. A especula-çom é alheia à cultura e nomgarante a qualidade de vida.

É preciso educarmos as novas

geraçons quanto à valorizaçomdo nosso urbanismo e do patri-mónio arquitectónico próprio.Se quigermos evitar umhaGaliza cheia de pontos negrosurbanísticos cumpre formarmosadequadamente os que um dianom longínquo terám a respon-sabilidade de fazer mais habitá-vel o nosso país. Os adolescen-tes de hoje em dia serám osfuturos presidentes dasCámaras Municipais, vereado-res de urbanismo, arquitectos,construtores, alvanéis ou apa-relhadores.

Somente assim deixarám deser papel molhado os códigos debom governo dos cargos públi-cos, os princípios éticos e deconduta do funcionariado terámconteúdo, palavras como inte-gridade, imparcialidade, trans-parência, honradez ou promo-çom do entorno cultural eambiental deixarám de ser pro-messas inchadas de vento masvazias de significado prático.

Somente assim a legislaçomurbanística servirá para algomais que para encher códigos egerar abundante jurisprudência.

Somente assim os planosgerais e especiais de ordena-çom deixarám de ser documen-tos em chave de benefício paraa imensa minoria, linguagemmisteriosa e secreta para osdemais.

E entretanto cumpre conti-nuar a nos agruparmos ao servi-ço e na defesa do que, levanta-do e conservado com o esforçode outros durante longos sécu-los, nom podemos deixar estra-gar nuns dias.

NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro ao 15 de Março de 2005 09OPINIOM

FOI D

ITO“VAMOS SALVAR OSESTALEIROS E JÁ SABEDESCOMO EU GOSTO DECUMPRIR A MINHAPALAVRA” JL Rodríguez Zapatero(LVG, 15.02.2005)

“O MAIS RARO DE ESPANHASOM OS GALEGOS”Luis Sepúlveda(20.02.2005)

“O TIPO DE SOLDADOQUE A UNIOM NECESSITAPARA OPERAÇONS DEMANUTENÇOM DA PAZASSEMELHA-SE A UMGUARDA CIVIL ESPANHOL”Javier Solana(14.02.2005)

“PARA GALEGUISTAS, NÓS”Manuel Fraga Iribarne (21.02.2005)

“ÀS COMUNIDADES AUTÓ-NOMAS DÍSCOLAS, CUM-PRE LEMBRAR-LHES QUE ACONSTITUIÇOM PREVIU ASUA APARIÇOM E TAMBÉMFÔROM AMEAÇADAS COMA SUA DISOLUÇOM COM OARTIGO 155, JUSTIFICAN-DO TAL DECISOM NA PRO-TECÇOM DO INTERESSEGERAL DE ESPANHA”Manuel Fraga Iribarne(21.02.2005)

“SE TENS UM SOTAQUEMUITO MARCADO (...),ESTÁS OBRIGADA AOCULTÁ-LO PORQUE OQUE SE PROCURA ÉUMHA ENTOAÇOMNEUTRA”María Pujalte(6.03.2005)

Urbanismo versuscorrupçom.Até quando?

XOSÉ MARIA LORES

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200510 A FUNDO

A FUNDO

Junta implicada na destruiçom de um dos

maiores jazigos romanos do noroeste peninsular

OS RESTOS APARECÊROM DURANTE A CONSTRUÇOM DE EDIFÍCIOS EM TERRENOS DA FAMÍLIA DO PRESIDENTE DE 'CAIXANOVA'

A construçom de um bloco de edifícios nos terrenos que ocupava a antiga fábrica

que 'Conservas Antonio Alonso' tinha na localidade Bueu (Morraço) provocou a

destruiçom de um dos maiores jazigos romanos encontrados em todo o norte

peninsular. Guillermo Alonso Jáudenes, um dos sócios da conserveira familiar,

presidente de 'Caixanova' e ex-mmáximo mandatário da Confederaçom de

Empresários de Ponte Vedra, utilizou os seus contactos na Junta da Galiza

para silenciar o achado e evitar que as escavaçons arqueológicas pudessem

frustrar o projecto de urbanizaçom.

M. BELAMAR / H. CARVALHO

Na teoria, a funçom da Direcçom

Geral de Património é velar pola

conservaçom e valorizaçom de

todos os restos arqueológicos que

amiúde aparecem na Galiza. Na

prática, vemos como este organis-

mo subordina dia após dia o patri-

mónio cultural do nosso país aos

interesses económicos. Em conse-

qüência, a maioria dos vestígios

som destruídos no enquadramen-

to de importantes actuaçons imo-

biliárias que reportam substancio-

sos benefícios a umha elite empre-

sarial com conexons na

Administraçom autonómica.

Noutras ocasions, é o próprio

Governo galego o que os fai des-

aparecer para evitar que as suas

grandes obras infra-estruturais

podam sofrer atrasos.

Um dos exemplos mais graves

tivo lugar na localidade de Bueu

durante o ano 2000 quando a cons-

truçom de um bloco de edifícios

provoca a destruiçom de um

importante jazigo da época roma-

na. Segundo os peritos consulta-

dos, tanto a qualidade como a

quantidade dos restos descobertos

permite afirmar que se tratava de

um dos maiores jazigos deste tipo

encontrados até agora em todo o

noroeste da Península Ibérica. O

facto de que os terrenos da urbani-

zaçom pertencessem à família de

Guillermo Alonso Jáudenes, presi-

dente de 'Caixanova' e ex-máximo

mandatário da Confederaçom de

Empresários de Ponte Vedra, fijo

com que a maior parte dos vestí-

gios fossem arrasados polas máqui-

nas com o beneplácito de

Património. Ainda que os dados

oficiais quantificam em 30.000 as

peças extraídas, boa parte delas no

Museu Provincial de Ponte Vedra,

profissionais do sector da arqueolo-

gia afirmam que a parte mais

importante do jazigo está por baixo

dos novos edifícios. Umha amostra

significativa da desídia de

Património perante este achado é o

estado em que actualmente se

encontra um forno oleiro de ánfo-

ras (visível na fotografia), o primei-

ro deste tipo localizado no País. A

peça permanecia à intempérie,

tapado unicamente por umha lona,

num terreno pertencente à Cámara

Municipal de Bueu cinco anos

depois dos trabalhos arqueológicos.

Teoricamente, este e outros ele-

mentos descobertos durante as

escavaçons iam ser depositados na

sala arqueológica que a Cámara

tinha acordado construir num local

que para este fim deveria ceder a

pomotora. Tempo depois, o pro-

jecto continua em suspenso, já

que o rés-do-chao reservado para a

sala pola empresa nom conta com

as medidas necessárias.

A história deste despropósito

remonta-se aos começos dos anos

90, quando Guillermo Alonso soli-

cita na Cámara Municipal de Bueu

a requalificaçom a urbanizáveis

dos terrenos que ocupa a fábrica

que 'Conservas Antonio Alonso',

empresa que comercializa os seus

produtos com a marca 'Palacio de

Oriente', tem na zona de

Pescadoira, nesta localidade do

Morraço. A corporaçom, comanda-

da polo 'popular' Manuel Freire

Lino, acede ao pedido.

Paralelamente, cede à conserveira

10% dos terrenos que a Cámara

possui no parque empresarial de

Castinheiras para que resitue ali a

fábrica. O Governo municipal jus-

tificou esta cessom alegando que o

fazia para evitar que a empresa

partisse para outro lugar.

O projecto permanece em sus-

penso até 1999, ano em que a

Cámara, dirigida nessa altura por

Tomás Barreiro, também do PP,

concede a licença de obra a 'Obras

e Vias SA', imobiliária madrilena

que comprou os terrenos da antiga

fábrica a Alonso Jáudenes. Fontes

empresariais a que tivo acesso

Novas da Galiza assegurárom que

o presidente de 'Caixanova' ven-

deu a parcela com a garantia de

que a construtora nom ia ter pro-

blemas caso aparecessem restos

arqueológicos durante as obras.

Importantes antecedentes

Esta afirmaçom tem sentido se

atendemos ao facto de que nesta

mesma zona tinham aparecido em

ocasions anteriores numerosos ele-

mentos de época romana. No ano

1973, durante umhas obras de

melhoria dos passeios e da rede de

esgotos, fôrom encontrados no

lugar restos de muros, 'tégulas'

(telhas), ánforas e cerámica

comum. Também aparecêrom

duas bases de colunas romanas e

um moinho circular. Já daquela se

pensou que estes restos poderiam

pertencer ao complexo de umha

vila romana que servia de centro de

produçom de salgaçons que seriam

embalados nas ánforas para serem

exportadas via marítima através de

um peirao situado nesta zona.

Hoje em dia ainda se podem apre-

ciar partes da sua estrutura, apesar

de que as pedras do saliente do

embarcadoiro sofrêrom o efeito da

erosom. Os especialistas pensam

que esta infra-estrutura pudo ter

servido de porto romanizado onde

se produziam trocas económicas e

exportaçons marítimas. Depois,

durante a construçom neste

mesmo lugar de dous blocos de

edifícios também se encontrárom

diferentes restos da mesma

época, entre eles um forno oleiro,

ainda que nesta ocasiom de

menor valor histórico. Todos estes

achados motivárom que na carta

arqueológica da província se qua-

lificasse esta zona como altamen-

te propícia para a apariçom de

vestígios arqueológicos.

Por tudo isto, nom estranha que

o ex-presidente dos empresários

de Ponte Vedra tivesse que asse-

gurar aos compradores do terreno

que a possível apariçom de restos

nom ia entorpecer nem encarecer

o projecto de urbanizaçom. No

ano 2000 começam os trabalhos de

acondicionamento do terreno para

realizar a obra e o que temiam os

promotores desta cumpre-se: os

operários de 'Obras e Vias SA' des-

cobrem umha peça romana que foi

datada posteriormente entre os

séculos II e III d.C. Trata-se dos

restos do citado e único forno olei-

ro de ánforas descoberto na Galiza.

Escavaçom de urgência

O achado provocou a paralisaçom

das obras para levar a cabo umha

escavaçom de urgência e poder

determinar tanto o alcance dos ves-

tígios como supervisar a demoli-

çom do edifício que albergava a

fábrica. 'Obras e Vias SA' pom-se

em contacto com umha empresa

arqueológica para que realize as

sondagens. Fontes próximas da

construtora assinalárom que duran-

Edifícios da urbanizaçom levantada nos terrenos da antiga fábrica 'Conservas Antonio Alonso', propriedade da família do

presidente de 'Caixanova' e ex-presidente da Confederaçom de Empresários de Ponte Vedra, Guillermo Alonso Jáudenes.

TANTO A QUALIDADECOMO A QUANTIDADE

DOS RESTOSDESCOBERTOS PERMITE

AFIRMAR QUE SETRATAVA DE UM DOS

MAIORES JAZIGOSDESTE TIPO

ENCONTRADOS ATÉAGORA NA GALIZA. O

FACTO DE QUE OSTERRENOS

PERTENCESSEM ÀFAMÍLIA DE GUILLERMO

ALONSO JÁUDENES,PRESIDENTE DE'CAIXANOVA' E EX-

-MÁXIMO MANDATÁRIODA CONFEDERAÇOM DE

EMPRESÁRIOS DEPONTE VEDRA, FIJOCOM QUE A MAIOR

PARTE DOS VESTÍGIOSFOSSEM ARRASADOS

POLAS MÁQUINAS COM OBENEPLÁCITO DE

PATRIMÓNIO

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2005 11A FUNDO

te a assinatura do contrato também

estivo presente Guillermo Alonso,

apesar de que teoricamente depois

da venda dos terrenos nom tinha

nenhuma vinculaçom com o pro-

jecto de urbanizaçom.

A empresa arqueológica apre-

sentou à promotora um projecto

de escavaçom prévia que foi envia-

do também à Direcçom Geral de

Património. Tempo depois, o orga-

nismo autorizou os trabalhos,

ainda que exigia a reduçom do

número de dias que se iam empre-

gar e de arqueólogos que iam par-

ticipar. Segundo os especialistas

consultados, nom é habitual que

Património interfira nas estima-

çons feitas polos técnicos. As mes-

mas fontes apontam a possibilida-

de de que esta decisom fosse

adoptada ademais de para reduzir

o custo dos trabalhos para evitar

deste jeito a apariçom de um gran-

de número de restos.

Apesar disto, a empresa arqueo-

lógica levou a cabo as prospec-

çons, fruto das quais saírom à luz

importantíssimos elementos:

vários tanques de salgaçom da

época romana, um forno para a

elaboraçom de ánforas e diferen-

tes muros em perfeito estado de

conservaçom. Também aparecê-

rom restos medievais, entre os

que destacava umha zona dedica-

da aos soterramentos, na qual se

extraírom tumbas da época.

Encontrou-se também umha

vila romana associada à indústria

de salgaçom. Os peritos pensam

que se tratava de umha residên-

cia de qualidade (edificaçom

típica da época com planta em

forma de u) propriedade da pes-

soa que estaria à frente da

exploraçom. No centro tinha um

pátio aporticado do qual se con-

servavam também as colunas. A

vila ficara já parcialmente des-

troçada durante a construçom

da pista de ténis da casa adja-

cente à urbanizaçom (reprodu-

zida na capa deste número).

Também se encontrárom ánfo-

ras com asas horizontais, caracte-

rística nunca vista até o momen-

to neste tipo de elementos.

Encontrárom-se também mode-

los de umha vasilha foránea que

só se fabricava na Andaluzia, o

que demonstraria a existência de

relaçons comerciais entre esta

zona e o sul da Península.

Trabalhos sem autorizaçom

Terminados os trabalhos de pros-

pecçom, a empresa realiza um

relatório para Património em que

dá conta da importáncia do jazigo.

O passo seguinte teria que ser a

resposta do organismo público no

sentido de decidir sobre a necessi-

dade ou nom de levar a cabo a

escavaçom em área. Neste caso as

dinámicas tampouco se cumprí-

ron: antes de que o departamento

dependente de Cultura se pro-

nunciasse, outra empresa começa-

va os trabalhos sem o relatório

preceptivo e sem que os anterio-

res investigadores tivessem con-

hecimento da decisom. A autori-

zaçom a esta nova adjudicatária

era concedida no dia posterior à

sua irrupçom nas obras, como

soluçom de emergência para fazer

viável esta irregularidade.

Curiosamente, o novo responsá-

vel das escavaçons era um arqueó-

logo desconhecido até o momento

entre os profissionais do sector na

Galiza. No entanto, este periódico

pudo constatar que esta pessoa

tinha trabalhado anteriormente

com Felipe Criado, companheiro

sentimental da directora do

Serviço de Arqueologia de

Património, Maria Jesús Tallón, a

pessoa que realmente toma as

decisons que depois assina Ángel

Sicart Giménez, o Director Geral

de Património, segundo assegu-

ram fontes do sector consultadas

durante esta investigaçom.

Deste jeito, com um arqueólo-

go da 'casa', asseguravam-se outra

vez de que os trabalhos de

extracçom em área nom duras-

sem mais do necessário, o que

encareceria o projecto de urbani-

zaçom e poderia mesmo pôr fim a

esta operaçom imobiliária.

O citado Felipe Criado é o res-

ponsável do Laboratório de

Arqueologia e Formas Culturais,

entidade herdeira do Grupo de

Investigaçom em Arqueologia

da Paisagem que tinha sido cria-

do no ano 1991 ao abrigo da

Universidade de Santiago para

gerir, entre outras cousas, o tra-

tamento dos vestígios arqueoló-

gicos aparecidos durante a exe-

cuçom de obras de grande

envergadura por parte da Junta.

Falamos nomeadamente de

infra-estruturas catalogadas de

estratégicas como o oleoduto

norte-sul, a rede de gasificaçom

ou as auto-estradas. Este orga-

nismo passou a fazer parte do

Instituto Tecnológico da USC

no ano 1997 e na actualidade

está vinculado como 'unidade

associada' ao Instituto de

Estudos Galegos Padre

Sarmento do CSIC.

Segundo manifestam profis-

sionais do mundo da

Arqueologia, "este organismo,

que funciona como umha

empresa privada, recebe 90%

das adjudicaçons dos trabalhos

de prospecçom" que concerta a

Junta através de Património.

NOVAS DA GALIZA pudo compro-

var as queixas existentes no sec-

tor em relaçom à "concorrência

desleal" que supostamente esta-

ria a exercer este organismo.

Neste sentido, citam expressa-

mente o facto de que, ao terem

a sua origem na Universidade,

contem com os melhores meios

e mesmo com pessoal proceden-

te de bolsas universitárias.

Precisamente, a encarregada

de adjudicar as investigaçons é a

directora do Serviço de

Arqueologia, Maria Jesús Tallón,

unida sentimentalmente com

Felipe Criado, vice-presidente,

por sua vez, do Instituto Padre

Sarmento. Deste jeito, fica nas

mesmas maos o controlo sobre a

maior parte das intervençons

arqueológicas que se fam no País.

Outra das queixas do sector da

arqueologia está recolhida num

relatório crítico com a gestom

actual, que reclama da Junta "a

protecçom e valorizaçom dos

jazigos, garantindo umha conco-

rrência em condiçons de publici-

dade e igualdade, e suprimindo a

habitual discricionariedade nas

adjudicaçons". Este mesmo

documento assinala que o proce-

dimento habitual neste ámbito

se converte "na prática num

imposto revolucionário para calar

politicamente determinadas crí-

ticas e inquietaçons sociais, e

manter artificiosamente umha

profissom liberal, reduzindo o

papel de arqueólogo a cúmplice

legalizador de umha destruçom".

Neste sentido, fontes consulta-

das reconhecêrom ter assinado

"prospecçons fantasma", assu-

mindo a realizaçom de trabalhos

inexistentes derivados da execu-

çom de infra-estruturas por parte

do governo autonómico.

Tallón & Criado

ou o monopólio sobre o

património arqueológico

Profissionais da arqueologia acusam o Laboratório de Arqueologia e

Formas Culturais de exercer competência desleal.

Estado em que se encontra actualmente o forno oleiro de época romana encontrado nas escavaçons.

Trata-se do único exemplar deste tipo localizado na Galiza.

Manuel Fraga junto ao presidente da Cámara Municipal de Bueu na época em que

foi concedida a licença para os edifícios da empresa 'Obras e Vias SA'.

ANTES DE QUEPATRIMÓNIO SE

PRONUCIASSE SOBRE AESCAVAÇOM EM ÁREA,

OUTRA EMPRESACOMEÇAVA OS

TRABALHOS SEM ORELATÓRIO

PRECEPTIVO. AAUTORIZAÇOM ERACONCEDIDA NO DIAPOSTERIOR À SUA

IRRUPÇOM NAS OBRAS,COMO SOLUÇOM DEEMERGÊNCIA PARA

FAZER VIÁVEL AIRREGULARIDADE.

EM DADOS...

URBANIZAÇOM DE BUEU DADOS...

Superfície. 4.125 m2.

Projecto inicial. Contemplava por volta de 70 vivendas,

garagens e locais. Finalmente foi ultrapassada a centena.

Licenças de ocupaçom. A mais de dous anos da

inauguraçom, nom conta com licença de primeira

ocupaçom por superar o número de imóveis

acordados.

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200512 A FUNDO

Forçam transferência de restos arqueológicospara abrir caminho à central de gás em Mugardos

A CENTRAL REGASIFICADORA ELEVARÁ O ALTO RISCO DE CATÁSTROFES NA RIA DE FERROL

A Regasificadora do Noroeste SA (Reganosa) está prestes a converter a Ria de Ferrolnumha das áreas mais perigosas da Europa, ao pretender juntar no interior da baía qua-tro tanques com capacidade para 600.000 metros cúbicos de gás natural liquefeito, aopé de um complexo petro-qquímico com 280.000 m3 de combustíveis e outros produ-

tos químicos. As conseqüências da instalaçom da Central de gás perpetuarám este tipode instalaçons em Ponta Promontoiro, dado que a concessom de Forestal del AtlánticoSA (o complexo petro-qquímico) conclui em 2.017. Por volta de 100 buques carregadosde gás entrariam cada ano na Ria conforme aos planos de Tojeiro.

O poder de Reganosa, lideradapor Roberto Tojeiro, Endesa eFenosa, só pode entender-sepola protecçom da administra-çom autonómica, que autorizouumha transferência apressuradados restos romanos do jazigo deCaldoval para o avanço das obrasda regasificadora. A sua aprova-çom por parte de Patrimónioproduziu-se no dia 31 de Julhodo passado ano, a um mês daemissom da sentença do TSJGque considerava nula aDeclaraçom de EfeitosAmbientais em que se baseavamas autorizaçons para a primeirafase da obra, que conta comdous tanques já presentes na ria.O pedido para construir os novostanques da segunda fase aindanom saiu à luz pública, mas adeslocaçom dos restos de umhavila romana de elevado valorarqueológico está já em processopara lhes deixar o terreno.

Diversos especialistas que ana-lisárom os restos romanos deCaldoval concluírom que era pre-ciso estudar e inventariar aspeças durante três anos antes dasua entrada num museu. Trata-sede um conjunto arqueológicocom vestígios de umha vila roma-na dedicada à pesca entres osséculos II e V a.C., situadosjunto ao Castro de Meá e os res-tos também romanos de SantaLuzia. No entanto, as pressas deReganosa por afastar o jazigoentendem-se pola possibilidadereal de paralisaçom das obras porparte da administraçom espanho-la ou por qualquer dos contencio-sos que enfrenta: dous no TSJG,outros dous no Tribunal Superiorde Madrid e umha resoluçompendente do Supremo que deveresponder ao recurso da referidasentença do poder judicial auto-nómico. Os promotores preten-dem assim que o terreno sejarequalificado quanto antes comosolo industrial.

O projecto está rodeado por"muros de silêncio administrativoe mediático", como dixera o faleci-do José Gabeiras. E o ditame daocultaçom atinge pessoas próxi-mas do trabalho de trasladaçomdos restos, que se recusárom afazer declaraçons perante as con-sultas deste jornal e manifestáromestarem pressionadas, remetendo-

nos para os gabinetes de comuni-caçom da Junta e de Reganosapara obtermos informaçom.

Um polvorinho dentro da RiaO funcionamento conjunto destasinstalaçons provocaria a entrada demais de cem navios de 135.000 m3de gás natural liquefeito cada ano.Estes navios, se se produzisseumha emengência durante a des-carga, nom poderiam sair da ria paramar aberto com os seus própriosmeios nem com a rapidez queexige a normativa europeia aplicá-vel à baía de Ferrol. Ainda por cima,o colossal complexo energético estásituado numha área muito próximada populaçom, rodeada num rádiode três quilómetros por 40.000habitantes da Terra de Trás-Ancos.A questionada central desrespei-

ta a Normativa de Riscos deAcidentes Graves e a Lei deCostas e a de Ordenaçom doTerritório, segundo fontes doComité Cidadao de Emergência.Até o momento a obra já forçouum recheio ilegal da Ria superioraos 120.000 m2 de extensom.

Os interessesO projecto de Reganosa, autori-zado pola directora de PolíticaEnergética em funçons CarmenBecerril no início de 2004, estáabraçado por Uniom Fenosa eEndesa, que somam 42% docorpo de accionistas em partesiguais. O seu interesse está emalimentar as centrais do ciclocompletado em Sabom e nasPontes, que utilizariam gás natu-ral para produzir electricidade.

Também fam parte do capitalda empresa Caixa Galiza,Sonatrach, a Junta, Caixanova, oBanco Pastor e o Grupo Tojeiro.No entanto, segundo o Comitéde Emergência, "desde Setembrode 2003 sabe-se que o grupo pro-motor [leia-se Tojeiro] vendeu oseu 18% ao resto dos accionistas,preocupado pola operaçom imo-biliária-industrial ao redor dePonta Promontoiro".

A Central de Gás do Noroesteabastecerá a décima parte da pro-cura estatal de gás, para a qual oMinistério da Indústria autorizouo canal sul do gasoduto queconectará a regasificadora comSabom e Abegondo, onde conver-girá com a rede de gás do Estado.

Oposiçom socialEm Julho de 2001 numerososcolectivos conformavam o ComitéCidadao de Emergência para a Ria,que apresentou várias denúncias emantém um importante laborinformativo contra a presença daregasificadora no interior da baía. Asua alternativa para a central con-siste em situá-la no CaboPriorinho, onde se está a construiro Porto Exterior. Esta propostatambém é defendida polo BNG eoutros colectivos de esquerda eambientalistas. Porém, no seio doBloco existem diferenças perante oprojecto, que estám por detrás dademissom de Germám Lastra eMarisa Sábio e que se verificam emdiferentes localidades da comarca,como informávamos no número deSetembro das NOVAS DA GALIZA. Anecessidade da regasificadora estáem questom para certos sectores,ainda que os protestos se dirijamprincipalmente contra a sua locali-zaçom no coraçom da Ria.

A organizaçom independentis-ta NÓS-UP entende que as dife-renças perante a localizaçomnom questionam "o grave perigoque em ambos os casos suporáesse projecto para a populaçomda comarca e a persistência emfazer da Ria umha lixeira indus-trial". Por seu turno, o coordena-dor do Comité de Emergência,Carmelo Teixeiro, propom a loca-lizaçom da central quer no citadoPorto Exterior quer em mar aber-to, umha alternativa para situarinstalaçons perigosas fomentadaapós o 11 de Setembro.

DIVERSOSESPECIALISTAS QUEANALISÁROM OSRESTOS ROMANOS DECALDOVALCONCLUÍROM QUE ERAPRECISO ESTUDAR EINVENTARIAR AS PEÇASDURANTE TRÊS ANOSANTES DA SUAENTRADA NUM MUSEU.TRATA-SE DE UMCONJUNTOARQUEOLÓGICO COMVESTÍGIOS DE UMHAVILA ROMANADEDICADA À PESCAENTRES OS SÉCULOS IIE V A.C., SITUADOSJUNTO AO CASTRO DEMEÁ E OS RESTOSTAMBÉM ROMANOS DESANTA LUZIA. O FUNCIONAMENTOCONJUNTO DASINSTALAÇONSINDUSTRIAISPROVOCARIA A ENTRADADE MAIS DE CEM NAVIOSDE 135.000 M3 DE GÁSNATURAL LIQUEFEITOCADA ANO.

Visom geral dos dous tanques já levantados e parte do complexo petro-químico. Na parte superior esquerda vemoso aspecto de Ponta Promontoiro, incluindo os dous novos tanques previstos e as demais empresas já instaladas.

As instalaçons de Reganosa estám muito próximas das casas de Mugardos.

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2005 13A FUNDO

PRESIDENTE1. SUPERMERCADOS CLAUDIO SA2. UNION DE EMP. MADERERAS SA3. AUTO SERVICIO LA CASILLA SA4. TOJEIRO HERMANOS SA5. GALLEGA DE DISTRIBUIDORES DEALIMENTACIÓN SA (GADISA)6. FORESTAL DEL ATLANTICO SA7. ATLANTICA SAGA SA8. ATLANTICA SAGA OURENSE SA9. ATLANTICA SAGA RIBADEO SA10. ATLANTICA SAGA BENAVENTE SA11. CONTRACHAPADOS DEL EUME SA12. GALLEGA DE CONTRACHAPADOS SA13. ASAGA TUY SA14. MUGARDESA DE ENERGIA SA15. GALPARQUET SA16. MANDUKA GALEGA SA17. COCYBAL SOCIEDAD LIMITADA18. XOVE SL19. CISTERNAS MUGARDOS SL20. EUME MADERAS SL21. SERVICIOS POLIGONO PIADELA SL

22. ESTACION DE SERVICIOSAN SATURNINO SL23. DAS RONDAS SL24. TRANSPORTES PIADELA SL25. RIALOURA SL26. CAMPO FORESTAL SL27. NEUMATICOS AS PONTES SL28. TAYBAL SA29. AUTOSERVICIO CANDAMIL SA30. ATLANTICA SAGA OLEIROS SA31. ATLANTICA SAGA CARBALLO SA32. SERVICIOS DE ALIMENTACIONPIADELA SA33. ATLANTICA SAGA O BURGO SA34. SERVICIOS DE COGENERACION DEPIADELA SA35. FORESTAL DEL EUME SA36. NUEVAS ELECTRICAS REUNIDAS SA37. INDUSTRIAS DEL TABLERO SA38. CALERAS DE MOECHE SA39. TOJEIRO ALIMENTACION SA40. TOJEIRO TRANSPORTES SA

VICEPRESIDENTE41. BERGANTIÑOS COMERCIAL SL42. INDUSTRIAS ROKO SA43. IMPREGNACIONES MELAMINICASGALLEGAS SA44. ALMACENES CASAN SA

CONSEJERO DELEGADO45. SUCESORES DE WALDO RIVA SL46. CARLOS DIAZ Y COMPANIA SA

ADMINISTRADOR UNICO47. LAS JUBIAS SL

ADMINISTRADOR48. REGANOSA49. FORESTAL GALAICA S.L.50. BANCO GALLEGO SA51. SOCIEDAD AGRICOLA GALLEGA SA52. TRAINESKO SA53. HANDEM SA54. CORPORACION CAIXA GALICIA SA55. TOJEIRO MADERAS, S.A.

SÓCIO56. FABRICACIONES AGRICOLASY FERTILIZANTES SA57. GALLEGA DE DISTRIBUIDORES DEALIMENTACION SA58. CALERAS DE MOECHE SA59. AUTO SERVICIO LA CASILLA SA60. TOJEIRO ALIMENTACION SA61. TOJEIRO TRANSPORTES SA62. TOJEIRO MADERAS, S.A.63. UNION DE EMPRESASMADERERAS SA64. TOJEIRO HERMANOS SA

APODERADO65. EZEQUIEL ARRIBAS SA66. PESCARMAR SL67. HIPERMERCADOS ECONOMATOS SA

Fonte: Registo Mercantil.

EM DADOS...

O EMPÓRIO DE ROBERTO TOJEIRO

Tojeiro, o chefe de Ponta PromontoiroA construçom da regasificadora em

Ponta Promontoiro obedece aos interessesde Roberto Tojeiro, impulsionador doGrupo Gadisa e presidente de Reganosa,que precisamente tinha comprado em1988 as instalaçons de Forestal delAtlántico SA, o complexo petro-químicoque estará acompanhado pola central degás. A sua sintonia com o poder autonómi-co provocou que Águas da Galiza propu-gesse em Julho do ano passado ampliar osdespejos de Forestal, incluindo os deReganosa, ambos sem terem passado umestudo de impacto ambiental.

O laureado empresário tem boas razonspara escolher Ponta Promontoiro e assegu-rar a continuidade dos seus usos. Nesteperigoso lugar situam-se empresas quepreside, como a citada Florestal delAtlántico SA (onde processa colas, coiro,

borracha e produtos para o sector têxtil)ou a companhia Mugardesa de Energia SA.No mesmo complexo está ImpregnaçonsMelamínicas Galegas SA (papel e pape-lom), entidade da qual é vice-presidente.

Roberto Tojeiro Díaz, empresário multi-facetado, preside também 'NuevasEléctricas Reunidas SA', com sede naCorunha, e comerciará por grosso petróleoe lubrificantes com Reganosa. Em diferen-tes empresas das quais é presidente,administrador ou sócio, dedica-se ao negó-cio de materiais de construçom, vidro,material radioeléctrico e electrónico, silvi-cultura, exploraçom florestal, aquicultura,estaçons de serviço, madeira e promoçomimobiliária, segundo consta no RegistoMercantil. E nom só, o empresário desen-volve todas estas ocupaçons para além dachefia de Gadisa, a cadeia de hipermerca-

dos fornecida, entre outras, por muitasempresas também suas.

Nascido nas Pontes, reside hoje emOleiros, onde dirige um enorme empórioempresarial aos seus 76 anos, o segundogrupo económico da Galiza, só superado polode Amáncio Ortega. No passado dia 26 deFevereiro recebia a Insígnia de Ouro deIniciativa Empresarial do Noroeste (IEN)polo seu "contributo para o desenvolvimen-to empresarial e económico da Galiza",numha homenagem presidida por ManuelFraga à qual nom faltárom vários conselhei-ros, empresários e os responsáveis por todasas entidades financeiras activas naComunidade Autónoma. A promoçom deReganosa é o topo vital deste poderosoempresário que, com defesa institucional etransigência política, pretende manter o seupolvorinho a qualquer custo na Ria de Ferrol.

José Luís Méndez, director de Caixa Galicia, abraçaRoberto Tojeiro na entrega da Insígnia de Ouro.

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200514 REPORTAGEM

REPORTAGEM

ELEIÇONS PORTUGUESAS, TRÊS OLHARES DE ESQUERDAREDACÇOM / As eleiçons do passado dia 20 deFevereiro castigárom a coligaçom da direita forma-da polo PSD e o PP, levando as posiçons conserva-doras aos piores resultados da sua história e subin-

do ao poder o Partido Socialista, que conseguiu amaioria absoluta. Por sua vez, também se podemconsiderar vencedores o Bloco de Esquerda e oPCP, que aumentárom a sua representaçom.

Apresentamos-vvos umha análise a partir da voz des-tes dous partidos, juntamente com a posiçom dodirector da revista comunista portuguesa PolíticaOperária.

OComité Central do PCPsublinha e valoriza quedas eleições de Domingo

passado tenha resultado a concre-tização de dois dos principaisobjectivos inscritos pelo PCP: oaumento de votação e da expres-são eleitoral da CDU e a confir-mação pelo voto da derrota dospartidos da direita.

O resultado obtido pela CDUconstitui um importante elemen-to a valorizar. A CDU passa a sera terceira força eleitoral e reforçaa sua representação parlamentar,tendo aumentado de 12 para 14 onúmero de deputados eleitos.Apesar da redução de um deputa-do em Setúbal (num quadro dereforço do número de votos),deve assinalar-se a eleição demais um deputado em Lisboa,um segundo deputado pelo Portoe a eleição de um deputado porBraga.

A todos e a cada um dos portu-gueses e portuguesas que confia-ram o seu voto à CDU, o ComitéCentral do PCP assegura queagora, como no passado, saberáhonrar e respeitar os compromis-sos e garantir uma intervenção naAssembleia da República e foradela em defesa dos seus interes-ses, direitos e aspirações.

A derrota dos partidos da direi-ta significa a perda de mais de 12pontos percentuais dos dois par-tidos, que no seu conjunto regis-tam a mais baixa votação de sem-pre da direita em eleições realiza-das no nosso país.

A maioria absoluta do PS,resultante sobretudo da capitali-zação do vasto descontentamen-to com os governos do PSD,

constitui um elemento menospositivo e menos tranquilizadorquanto à concretização da neces-sária mudança que a situação dopaís exige.

Sendo necessário esperar peloprograma do governo e pelassoluções governativas que o PSvenha a apresentar, o facto de seencontrar de mãos livres e semnecessidade da procura de con-vergências e acordos à suaesquerda é em si um sinal inquie-tante quanto às opções e orienta-

ções essenciais que possa vir aadoptar, frustrando as expectati-vas da maioria do povo português.

Em coerência com a sua inter-venção e o seu programa eleito-ral, o Comité Central do PCPreafirma a sua mais firme garantiade prosseguir a sua acção emdefesa dos interesses dos trabal-hadores e dos direitos sociais,pela elevação das condições devida do povo português, peladefesa do aparelho produtivonacional e pela afirmação de umapolítica externa soberana, de paze cooperação.

O resultado obtido pelo BEparece confirmar, tendo em contao crescimento eleitoral da CDU,que este partido beneficiousobretudo do voto de muitoseleitores descontentes com ospartidos da direita e com o PS. Asua votação corresponderá tam-bém a um desejo de mudança demuitos eleitores que, por razõesvárias, não quiseram ainda fazer aopção mais coerente e eficaz queo voto na CDU seguramenterepresentaria.

Na vida que continua paraalém deste 20 de Fevereiro osresultados obtidos pela CDU, esobretudo a corrente de apoio àssuas propostas e intervenção, sãoum sólido elemento de confiançae de ânimo para o trabalho e paraa luta pela conquista de umanova política, pela defesa dosinteresses dos trabalhadores epor um Portugal mais justo esoberano.

Extraído do comunicado deanálise eleitoral do PCP em 22 de Fevereiro.

Das eleições legislativasdestacam-se três factosprincipais: a esmagadora

derrota dos partidos da direita, aconquista da primeira maioriaabsoluta pelo Partido Socialista e onotável crescimento do Bloco deEsquerda, que praticamente tri-plicou a sua votação em seis anos.

Os partidos da direita, PSD ePP, no governo desde 2002, tive-ram o pior resultado de sempre:juntos, não valem hoje 36 porcento dos votos. Foram penaliza-dos, entre outras causas, peloaumento galopante do desempre-go, as deslocalizações de empre-sas, o congelamento dos salários,a privatização dos serviços públi-cos, o aumento dos benefícios fis-cais da banca, a permissividade na

fuga fiscal e na corrupção...O PS obteve a seu melhor

resultado de sempre. Depois dearrumar a casa e entronizar JoséSócrates, o PS conquistou a suaprimeira maioria absoluta.Sócrates conquistou o poder,também, com o apoio mais oumenos declarado das associaçõespatronais, bem como da comuni-cação social controlada pelosgrandes grupos económicos. Porisso não houve festejos na noiteda vitória, venceu o silêncioexpectante e vigilante com que amaioria recebeu este resultadomais ou menos adivinhado.

À esquerda, o PartidoComunista-CDU e o BE ultra-passaram as expectativas maisoptimistas. A CDU estancou o

Sim, é possível um PCPmais forte

O que épequeno cresce

CUSTÓDIO BRAGA

O apoio às organizaçons de esquerda cresceu com o descontentamento face aosgovernos da direita. No entanto, José Socrates representa posiçons de centro.

PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS BLOCO DE ESQUERDA

COMITÉ CENTRAL DO PCP

A CDU PASSA A SER ATERCEIRA FORÇA

ELEITORAL E REFORÇA ASUA REPRESENTAÇÃO

PARLAMENTAR, TENDOAUMENTADO DE 12 PARA

14 O NÚMERO DEDEPUTADOS ELEITOS.SENDO NECESSÁRIO

ESPERAR PELOPROGRAMA DO GOVERNO

E PELAS SOLUÇÕESGOVERNATIVAS QUE O PSVENHA A APRESENTAR, OFACTO DE SE ENCONTRARDE MÃOS LIVRES E SEM

NECESSIDADE DAPROCURA DE

CONVERGÊNCIAS EACORDOS À SUA

ESQUERDA É EM SI UMSINAL INQUIETANTE

QUANTO ÀS OPÇÕES EORIENTAÇÕES

ESSENCIAIS QUE POSSAVIR A ADOPTAR

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2005 15REPORTAGEM

Apresentadas pela generali-dade dos analistas comouma espectacular "vira-

gem à esquerda", as últimas elei-ções em Portugal substituíram aequipa governante mas não mar-caram nenhuma mudança políti-ca de fundo.

Primeiro, porque o governo dedireita não caiu por força dosprotestos populares, apesar dodescontentamento crescenteque os seus decretos neoliberaisestavam a causar. Quem precipi-tou a queda do governo PSD-CDS foi a acção conjugada defracções do próprio PSD, dasconfederações patronais e dabanca. A incompetência e ama-dorismo da equipa de Santana-Portas estavam a criar incertezanos meios de negócios.

Durante a campanha eleitoralo PS fez um discurso "democrá-tico" vago mas não se compro-meteu a atender nenhuma dasreivindicações do movimentopopular (combate ao desempre-go, fim do Código do Trabalho,aumentos de salários, alto à pri-vatização dos serviços públicos,

reforma fiscal). Os votos que oPS ganhou em 20 de Fevereirovieram do eleitorado do centro emesmo de parte da direita, des-contente com o governo deSantana.

Assim, tudo indica que o rumopolítico de Portugal vai conti-nuar orientado à direita, com aaplicação de uma série de refor-mas antipopulares exigidas pelocapital, prolongando e agravandoa crise que cai sobre a maioria dapopulação. A dramatização do"terramoto" eleitoral é apenasuma manobra publicitária, desti-nada a criar nos trabalhadoresuma expectativa favorável aonovo governo.

Para já, a constituição dogoverno de José Sócrates confir-ma esta ideia. Para a Economia eFinanças foram chamados minis-tros da área liberal, bem vistospelos meios de negócios,enquanto para o Trabalho, Saúdee Segurança Social entraramministros social-democratas,hábeis a entreter os sindicatos.Ao mesmo tempo, ao escolherpara os Negócios Estrangeiros

um "europeísta" de direita(Freitas do Amaral), Sócratesconfirmou o distanciamento dalinha "atlantista" do governoanterior, à imagem do que acon-teceu em Espanha com a substi-tuição de Aznar por Zapatero.Essa é talvez a única mudançareal na política do novo governo.

Sem dúvida, o crescimentoeleitoral do PCP e do Bloco deEsquerda (no conjunto, 14% dosvotos e 22 deputados), indica odescontentamento crescentedos trabalhadores com o agrava-mento da crise em que o país searrasta. Nos últimos anos,Portugal tem-se tornado umparaíso para o patronato: empre-go precário, liberdade para des-pedir, congelamento salarial,paralisação do sindicalismo debase, favores dos governos,corrupção... Mas o descontenta-mento geral não se traduziu atéagora num aumento das greves ede outras acções populares. Apostura reformista e institucio-nal do PCP, do BE e das centraissindicais tem contribuído paraum marasmo que é urgente rom-per. Infelizmente, a esquerdacombativa portuguesa está longedo reagrupamento necessário.Resta um longo trabalho a fazerantes que seja possível impornas ruas uma real mudança polí-tica em Portugal.

Francisco Martins é director darevista Política Operária

declínio eleitoral que vinhasofrendo e subiu o número dedeputados (apesar de continuara perder 50 mil votos em relaçãoa 1999), e o BE triplicou a suavotação. Estreante nas lides par-lamentares em 1999, com doisdeputados eleitos por Lisboa, oBE conta agora com 8 deputa-dos eleitos por Lisboa, Porto eSetúbal, tendo ficado a escassascentenas de votos de elegermais três, por Aveiro, Braga eFaro. É um caso único emPortugal de afirmação de umaforça política nova que conse-gue romper a tendência para abipolarização. Formado háescassos seis anos a partir devários pequenos partidos do queera costume designar por "extre-ma-esquerda", com escassa ou

nenhuma representação parla-mentar, e por pessoas sem parti-do e com as mais variadas expe-riências e trajectória políticas naesquerda, o BE é porventura amaior revelação destas eleições.

Este movimento político plu-ral, de esquerda socialista epopular conquistou uma confian-ça que parece não parar de cres-cer. Centrando a sua intervençãonas questões do desemprego eda precariedade do trabalho, nadefesa dos serviços públicos con-tra a privatização, na luta contraa corrupção e a evasão fiscal,tanto como na defesa da despe-nalização do aborto e de outrascausas civilizacionais, o BE contaagora com uma influência quenão se restringe aos principaiscentros urbanos e se alarga para ointerior, aumentou a sua presen-ça no meio das classes trabalha-doras, sem deixar de ter acolhi-mento em alguns sectores daschamadas "classes-médias", temo seu maior peso entre os jovens,mas também beneficia de apoioentre os mais pobres dos refor-mados. Parece que estamos aassistir à confirmação de um dosmais felizes slogans do lança-mento do BE, há seis anos atrás:"O que é pequeno cresce".

Custódio Braga é membro daCoordenadora de Braga e daMesanacional do BE

Não houve viragemFRANCISCO MARTINS

É UM CASO ÚNICO EMPORTUGAL DE

AFIRMAÇÃO DE UMAFORÇA POLÍTICA NOVA

QUE CONSEGUEROMPER A TENDÊNCIAPARA A BIPOLARIZAÇÃO.FORMADO HÁ ESCASSOS

SEIS ANOS, O BE ÉPORVENTURA A MAIOR

REVELAÇÃO DESTASELEIÇÕES.

Santana Lopes, como Primeiro Ministro designado por Durão Barroso, acabou pordesacreditar por completo à direita portuguesa. Foi castigado polo eleitorado. “NOS ÚLTIMOS ANOS, PORTUGAL TEM-SE

TORNADO UM PARAÍSO PARA O PATRONATO.A CONSTITUIÇÃO DO GOVERNO DE JOSÉ SÓCRATES

CONFIRMA ESTA IDEIA. PARA A ECONOMIA EFINANÇAS FORAM CHAMADOS MINISTROS DA

ÁREA LIBERAL, BEM VISTOS PELOS MEIOSDE NEGÓCIOS”

POLÍTICA OPERÁRIA

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200516 CULTURA

CULTURA

Em que consiste o projecto?Em vinte curtas de cinco minutosque seguem um pouco o modelode Hay motivo. Estarám prontasantes das eleiçons para se editaremnum DVD.

Como será a vossa curta-mmetragem?Estruturamo-la a partir de umhainformaçom publicada em NOVASDA GALIZA. Carlyle comprouSaprogal em Maio de 2004.Saprogal é proprietaria da empresade raçons Biona e Carlyle represen-ta a fase do capitalismo em queestamos: umha empresa que só sededica a movimentar dinheiro, omáximo expoente do capital finan-ceiro...

Acreditas na possível utilidade ouincidência política de Hai queBotalos?Nom sei, creio que nom vai ser odetonador, mas pode ajudar, comoqualquer outro acto que se faga,

qualquer iniciativa que as pessoaslevem a cabo, como pudo ter ajuda-do o que fijo Michael Moore,embora afinal nom servisse paratirar o Bush da Casa Branca.

Existe um cinema político ou todosos filmes som políticos?Todos os filmes som políticos.Podem-se fazer filmes como os quese veem no cinema na actualidade,que podem custar, os mais baratos,dous ou três milhons de euros, eque dam numha maneira mais dealienaçom do espectador. Nom dei-xam entrar, procuram planos curtís-simos e espectaculares para as pes-soas ficarem atordoadas. Outracousa é fazer filmes em vídeo compoucos meios nos quais conta maisa urgência, a necessidade de fazeralgo num momento determinado,dizer as cousas que realmente somimportantes.

Em relaçom a esse cinema, que

sentido tem o Cineclube hoje?O Cineclube, nos dias de hoje,nom pode cingir-se aos filmes dasdistribuidoras comerciais, aindaque sejam filmes do chamado«fundo de catálogo», clássicos eoutros que nom exibe ninguém,porque os preços continuam a sermuito elevados. Custa mais projec-tar A batalha do Chile que O senhordos anéis. O sentido de um cineclu-be está relacionado com aproveitaros filmes que se servem da técnicado vídeo digital, mais difíceis decontrolar dentro do sistema. OCineclube deve ser um lugar paraas pessoas que estám a fazer cousasinteressantes. Na Argentina, porexemplo, funcionam grupos decineastas -Cine Insurgente, GrupoNavío, Ojo Obrero...- que se juntampara filmarem, para darem a conhe-cer a resistência operária, a ocupa-çom e a autogestom de fábricas,para denunciarem a situaçom polí-tica do seu país.

“Num filme deve contar a urgência,a necessidade de dizer as cousas realmente importantes”

Ramiro Ledo Cordeiro, membro do Cineclube de Compostela

XIANA ÁRIAS / Ramiro Ledo, juntamente com XanGómez e Daniel Salgado, formam um dos gruposparticipantes no filme colectivo Hai que botalos. A

iniciativa , que partiu da Burla Negra e tenta contribuirpara a derrota eleitoral do Partido Popular, vai exibir-se por todo o País antes das eleiçons de Outubro.

Abrolhou umha trovoadacom a publicaçom de ‘Aestrela na Palabra’ por

Laiovento e Espiral Maior,segunda partilha que Beirasgrama e que começara em “Anación incesante” lá para o ano1989. E o certo é que nestesúltimos quinze anos som mui-tas as circunstáncias que per-mitem mais umha análise por-menorizada e lúcida de Beiras,homem chave para a compreen-som da Galiza da segundametade do século vinte. Mas olivro foi publicado muitodepressa e, na verdade, deveriater sido planificado com maisdemora, também no que dizrespeito às suas declaraçons.Muito perto das pulsons e gue-rra interna do nacionalismo,nom se verifica essa distánciaobjectiva e necessária para con-verter a obra num clássico danossa interpretaçom comopovo. Às vezes parece que ocarácter biográfico da obra é sóumha escusa para pressionar evingar politicamente a suaderrota relativa dentro das filei-ras do BNG. Se bem que umhaprimeira vista de olhos permitadescobrir um Beiras lúcido eculturalmente brilhante, com asua análise dos novos reptos emudanças do mundo nestesúltimos tempos (o mito deSísifo esteticamente correctopara a interpretaçom geral donacionalismo, a contradiçomentre o centro e a periferia, aqueda dos blocos, o neo-impe-

rialismo, a sua participaçom noFórum de Porto Alegre), des-emboca num solilóquio sobre opapel da UPG, designadamen-te da figura de FranciscoRodríguez, no desenvolvimentodo BNG. Mas Beiras evade nolivro as suas responsabilidadesna direcçom tomada polo nacio-nalismo nos últimos anos, dei-tando as culpas e alburgadasnumha parte da organizaçomque se bem que tenha bastanteculpa (neste sentido há partesdo livro que contenhem umhaanálise esmiuçada e clara, ver-dadeiras quanto ao fundo e àforma, como aquela em que seinterpreta a UPG como umhaorganizaçom independentistacontraditória) nom pode pre-tender erguer essa culpa aoplano de absoluta. Por outrolado, comete umha verdadeirairresponsabilidade política aopublicar essas roupagens inter-nas em tom depreciativo e ran-coroso a escassos meses deumhas eleiçons chave para ofuturo do BNG.

O espaço dedicado a arejar asua relaçom política com estesector e com a figura deFrancisco Rodríguez é excessi-vo e pouco inteligente, setemos em conta que Beirasassumiu unilateralmente deci-sons dentro do Bloco (como odiálogo institucional com Fraga)e foge agora de responsabilida-des e erros que com certezanom som apenas exclusivos deum sector do nacionalismo.

Xosé Manuel Beiras:entre a vingança e a lucidez

“BEIRAS EVADE NO LIVRO AS SUASRESPONSABILIDADES NA DIRECÇOM TOMADA

POLO NACIONALISMO NOS ÚLTIMOS ANOS,DEITANDO AS CULPAS E ALBURGADAS NUMHA

PARTE DA ORGANIZAÇOM”

RAMOM GONÇALVES

ENTRE LINHAS

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“Som muitas as diferenças que esta raia tem provocado nos falantesde ambas as margens”

NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2005 17CULTURA

Desde que o nosso país ficoudividido em dous, lá nostempos de Afonso

Henriques, tem-se consolidadoumha raia entre as duas Galizas.Umha raia que começou sendopolítica e que cada vez nos foi sepa-rando um algo mais. A sul, encetá-rom um caminho em liberdade queos tornou em naçom plena já nostempos modernos. A norte, fica-mos na escuridade por vários sécu-los, e ainda é hoje pouca a luz quenos ilumina.

Boa prova desta divergência é asorte da língua comum em ambasas beiras da raia. No Sul virou em

língua de cultura, de civilizaçom eaté de colonizaçom, espalhando-sepor vários continentes. No Nortequase se tornou num simples dia-lecto de colonizado. Assim, sommuitas as diferenças que esta raiatem provocado nos falantes deambas as margens. Tantas que até adenominaçom popular nemcomum é, pois uns dizem quefalam galego e outros dizem quefalam português. Científica e lin-güisticamente a mesma cousa é.

Da nossa beira apagar esta raiatem de ser um objectivo estratégi-co se desejarmos preservar (recu-perar) a nossa existência como

povo. Hoje temos muitas ferra-mentas para tentar superar estadivisom entre irmaos. A Internetpode ser umha poderosa ferramen-ta e aliada. A Europa sem frontei-ras, com certeza. Mas o certo é queas relaçons pessoais som o alvo dealta definiçom. Jornadas como avivida em finais de Fevereiro emBraga som a garantia de que pode-remos sobreviver, e quem sabe seaté poderemos apagar totalmente araia, quer dizer, fazermos chegar odia em que em lugar de irmos aPortugal estejamos a ir, simples-mente, ao Minho ou Trás-os-Montes.

Apagar a RaiaMIGUEL R. PENAS

A Jornada de convívio tivo lugar em Fevereiro

Encontro portugalego deBraga foi um sucessoPGL / No passado sábado, 26 deFevereiro, decorreu com grandesucesso na cidade de Braga o pri-meiro Encontro portugalego.Mais de 20 pessoas (metade pelaparte portuguesa e a outra meta-de pela galega) fizeram um con-vívio carregado de actividades. Ainiciativa surgiu dos fóruns doPGL, com a vontade de se criarum cenário que permita aprofun-dar no conhecimento mútuogalego-português.

O encontro começou com umavisita à catedral barroca que, jun-tamente com a de Compostela,foi um dos principais centros deconfluência espiritual no cristia-nismo medieval. A seguir, os e asassistentes deslocaram-se até àCitânia de Briteiros, um dosmaiores complexos arqueológi-

cos escavados da cultura castreja. E ao anoitecer, de volta a

Braga, incorporou-se mais pesso-al ao convívio no local daAssociação Cultural «A Velha aBranca». Um prédio mesmo fan-tástico, com vários andares, umahorta mesmo acolhedora, espaçopara exposições, bar, e sobretu-do, uma gente maravilhosa aorganizar e trabalhar lá.

À noite chegou a hora do jantarcom a melhor comida tradicionalbracarense num restaurante típi-co ao pé do centro histórico:bacalhau e vitela acompanhadosde vinho e cantigas galego-portu-guesas. Após o jantar, houveainda tempo para os copos nal-guns dos bares e locais de Braga,onde continuou a conversa e afesta até altas horas da noite.

Primeira acçompública do grupo da AGAL no CUVI

AGAL-CUVI / Este mês foi criadoem Vigo o primeiro grupo uni-versitário da AGAL. Os seusobjectivos principais som aabertura do debate sobre aidentidade e o futuro da lín-gua, a promoçom da sua pre-sença na vida universitária e adefesa dos direitos lingüísticosdos membros da comunidadeuniversitária.

Assim, aproveitando o ciclode conferências sobre o mode-lo territorial do Estado espan-hol em que participam repre-sentantes de diversas organi-zaçons políticas, o grupoentregou aos participantesumha carta que os informa dasituaçom em que o reintegra-cionismo se encontra naUniversidade de Vigo.

As cartas fôrom entregues aJosep-Lluís Carod-Rovira,Artur Mas, Soraya Sáenz deSantamaría, Josu Jon Imaz, eAnxo Quintana. Para contactaro grupo podem escrever aoendereço [email protected]

Lavamos os pimentos, tirando comumha faca a parte do talo que lhes vaiservir de chapéu . A seguir, levamo-losao forno (já quente) durante meia hora.Entretanto, vamos preparando o molhode pimentos assados do Berzo.Acrescentámo-los a um molho detomate feito por nós: cortamos às rode-las a cebola e em pedacinhos o alho e ospimentos e deitamos tudo numhapanela que vai ao lume (com azeite)até alourar. A seguir, cortamos os toma-tes aos quadradinhos para juntar aoresto. Depois adicionamos umha colher(pequena) de açúcar e outra de sal eumha folha de louro, e no fim polvilha-mos com um pouco de ourego epimenta branca. Deixamos em lume

JOANA PINTO / Ingredientes (4 pessoas): 4pimentos vermelhos de Betanços. Molho: 250 gr. depimentos assados do Berzo, azeite, 1 quilo de tomates, 1cebola, 2 dentes de alho, umha colher (pequena) de açú-car e outra de sal, umha folha de louro, pimenta e oure-go. Arroz: 4 chávenas de arroz, 8 chávenas de água, 2dentes de alho, azeite, pimentom-doce e sal. Refogado:azeite, 500 gr. de cogumelos, 2 dentes de alho, salsa, sal evinho branco.

brando até passá-los pola batedeira paradesfazermos os pedaços.Para o arroz,juntamos o alho cortado aos pedaços edepois o arroz (umha chávena por pes-soa) a um pouco de azeite quentenumha panela. Mexemos tudo e acres-centamos a água (duas chávenas porcada umha de arroz), duas colherinhasde pimentom-doce e sal. Deixamoscozer em lume brando e sem tapar atéficar um pouco de água. Nesse momen-to tira-se do lume e colocamos um panolimpo por cima até ficar completamenteseco. Refogamos os cogumelos com alhoe salsa. Acrescentamos meio copo devinho branco e deixamos apurar.

Agora combinarmos tudo. Juntamoso refogado com o arroz ,rechamos ospimentos com a mistura do arroz, colo-cando-lhes o chapéu com um palito paraque nom abra, embrulhamos em papelde alumínio e voltam ao forno durante30-45 minutos a 180º. Para finalizar,levamo-los ao prato, tirando-lhes o papele fazendo-lhes a cama com o molho depimentos do Berzo.

DANIEL GUDIM / A vergonha dentroda CRTVG materializa-se na rocam-bolesca imagem de Carmen Mella.De ser umha empregada de hotela-ria nas Canárias, passou a ser alvo dassuspeitas e acusaçons da vizinhançade Melide, a sua vila. Assinaladacomo ‘Femme fatale’, estava consi-derada como devoradora de homense tivo como primeira vítima o presi-dente da Cámara Municipal deMelide. Depois os tiros apontárommais alto e os dedos acusadores deconcupiscência atingírom o todo-poderoso Francisco Cacharro Pardo,o presidente da Deputaçom deLugo. Este político cedeu aosencantos de Mella e daí a apresentaro programa Encontros foi um pas-seio para a nossa Carmen.

O processo para chegar ao progra-ma da TVG foi umha troca de favo-res. Francisco Campos, director deCRTVG, conseguiu que Cacharrocolocasse a sua mulher no posto demestra. Em contrapartida, o políticoluguês decidiu que para cobrar ofavor, era já tempo de outorgar aCarmen Mella algum dos seus des-ejos.

Assim entrou a melidense naTVG, compartilhando estúdio como Pemón Bouzas no programa‘Encontros’. Mas depois de passarum tempo, o afám depredador deCarmen, conhecida como “aCacharra”, moveu todos os fios pos-síveis para que Bouzas, a mulher eum cunhado (estes dous últimos“colocados” polo Bouzas) fossem

postos na rua. Ninguém pode negarnada, ninguém pode dizer nada con-tra ela. Ordena e manda.

O mais disparatado da situaçomvem quando em Melide alguém daoposiçom pede os papéis e as contasde Rádio Melide, sobretudo as con-tas da publicidade. Casualmente ascontas levava-as naquela alturaCarmen Mella. Quando a apresen-tadora se deslocou a Melide paraentregar os papéis, estes voáromrepentinamente. Mella denunciouque a meio do caminho, uns indiví-duos lhe tinham roubado os docu-mentos. Muita cacharrada junta,nada claro até o momento.

Caso significativo é o da filha doactual Secretário Geral do PP daGaliza e Conselheiro da Justiça eInterior. Natalia Palmou, estudantede Jornalismo na Universidade deSalamanca (Compostela nom temavondo caché) realizou práticas paraa produtora TV7 no Verao de 2004,umha empresa que funciona comoescudo perfeito para todo o tipo demanobras e manipulaçons. A tarefaencomendada a esta jornalista emformaçom era realizar directos quedepois nom se atreveu a fazer. Ostress e o medo cénico da jovemimpedírom a sua apariçom ao vivodurante os meses de trabalho, carên-cia que foi remediada com gravaçonsque eram apresentadas como direc-tos. Um trabalho simbólico que amantivo num posto privilegiado semcumprir a sua funçom. A TVG nomquijo saber nada, era quem era.

Clientelismo na CRTVGCacharradas, papéis roubados e stress

NOVAS CONFIDÊNCIASPORTAL GALEGO DA LÍNGUA

ARROZ COM CHÍCHAROS

Pimentos de Betanços recheadosde arroz e cogumelos

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 200518 E TAMBÉM...

Sulcam os céus as primeirasandorinhas e as florescobrem salgueiros e mimo-

sas. A Primavera já está aqui.Uma Primavera que nas últimasdécadas vem adiantando progres-sivamente a sua chegada devidoao aquecimento global, conse-quência da intensificação do efei-to de estufa. Foi em 1896, emplena Revolução Industrial,quando um químico sueco,Arrhenius, intuiu que a queimados combustíveis fósseis haveriade provocar uma mudança climá-tica. Mas esta subida das tempe-raturas não era contempladacomo algo negativo por um escan-dinavo do século XIX. PensavaArrhenius que ”por influência dopercentual crescente de CO2 naatmosfera, temos esperança dedesfrutar de épocas com climasmelhores e mais estáveis, sobre-tudo nas regiões mais frias daTerra”. Hoje, no entanto, pareceexistir um consenso quase geralna comunidade científica sobreos efeitos catastróficos do aqueci-mento do Planeta: aumento no

nível dos oceanos por derreti-mento das calotas polares, deser-tificação, grandes incêndios, alte-rações graves nos ecossistemas,extinção de espécies...Os galos-do-monte (Tetrao urogallus) têm(ou tinham?) o seu limite de dis-tribuição sul-ocidental na Galiza.Povoaram estas aves as serras dosAncares, Courel, Pena Trevinca,Montes do Invernadeiro e Gerês.O seu desaparecimento progres-sivo deveu-se à caça indiscrimina-da e, assim, em finais do séculoXX só ficavam “pitas-do-monte”,como ali são conhecidas, na Serrados Ancares. A propósito, que onosso Presidente se gabava,quando ministro, polos muitosque tinha caçado... Era a chamadacaça em Primavera, aproveitandoa época do canto dos machos,que, cegos e surdos na sua dançanupcial, se tornavam alvo fácilpara as espingardas.

Em 1972, perante uma situa-ção já crítica, é proibida a caçadesta galinácea e a populaçãocomeça a recuperar-se devagaraté chegar a atingir em 1980 uns

trinta machos nos AncaresOcidentais (os administrativa-mente galegos). Depois, um gra-dual e nem fácil de explicar declí-nio leva a que em 1995 se registepola última vez a cria e que oscensos de 1998-2000 deem o tris-te resultado de só duas fêmeas enenhum macho...Quais as causasúltimas desta redução de exem-plares que está a afectar toda aCordilheira Cantábrica e osPirineus? Furtivismo? Populaçõesfracas e isoladas entre si?Abertura de pistas florestais?Afluência de turistas?...

Há quem opine que por detrásdeste fenómeno está também amudança climática. Tenhamosem conta que os galos-do-montesão uma espécie boreal, própriade ambientes frios, que o últimoperíodo de glaciações nos deixouem herdança.Em 1962, a bióloganorte-americana Rachel Carsonalertara-nos em Silent Spring, umdos livros que marcaram o séculoXX, sobre os efeitos adversos dospesticidas. Será esta, a do CO2,uma outra Primavera silenciosa?

Anúncio de uma outraPrimavera... silenciosa

JOÃO AVELEDO

Em finais do século XX só ficavam “pitas-do-monte”, como ali são conhecidas, na Serra dos Ancares

PALAVRAS CRUZADAS, por Alexandre Fernandes.

Horizontais:1.- Em inglês e espanhol dizem “cor-ner”, em galego é ... // 2.- As maisreconhecidas facas galegas som desteconcelho galego do leste do País.// 3.-Verbo da expressom muito emprega-da em culinária “q.b.”; quanto ... // 5.-Hipertrofia e espessamento da pele,por qualquer causa / derivado denome de mamífero proboscídeo(com tromba), em perigo de extin-çom; 5b.- Argola de cadeia / ligaçom,uniom.// 7.- Ter ou manter firme /Guardar em seu poder, ou na memó-ria.// 8.- Inspecçom, verificaçom.// 9.-Interjeiçom e grito de dor, lamento eaté alegria.// 10.- Mascote da Expo-98 de Lisboa.// 11.-Nome de um dospares de França do Romanceiro.// 13.-Parafina / palavra muito empregada(e útil) em política.// 14.-Medronheiro, alvedro.// 15.- Jornalem basco dirigido por MartxeloOtamendi, encerrado pola justiçaespanhola.

Verticais:1.- Derivado ou diminutivo do nomeAntónio (hipocorístico).1b.- Naturalou habitante da Gália, comoAsterix.// 3.- Rosmaninho/ apaixona-do por Julieta.// 4.- Tragos, grolos.//5.- Nome da planta cucurbitácea edo fruto muito sucoso, de casca verdee polpa vermelha com sementesnegras.// 6.- Pequena fada voadoracompanheira do Peter Pan.// 8.-Nome do primeiro presidente muni-cipal (nacionalista) da Corunha, apósa morte do ditador.// 10.- Povo quedeu nome ao rio Ebro (plural).// 11.-Nome da serra e maciço máis alto daGaliza, fronteiriço com Castela-Leom.// 12.- Espécie de bandeja outravessa na qual Rodrigues Lapa nosbrindou a sua língua para restaurar-mos a nossa / aplausos unánimes.//13.- Fonte, manancial de um cursode água/ contrário a Poente.// 15.-Capitám do 25 de Abril, autor daAlvorada em Abril. 15b.- Descansaem Bonaval; autora de Flávio.

DESCOBRE O QUE SABES..., por Salva Gomes.

1. Onde se encontram as ilhasPalau?-Oceano Pacífico -Mar Mediterráneo -Oceano Atlántico

2. Quem implanta para a Galiza oarancel do milho?-I República-José António Primo deRivera-II República

3. De onde é o colectivo de mulhe-res Les Filanderes?-Principado da Catalunha -Valência -Astúrias

4. Qual é a procedência da espécieinvasora Eucaliptus GlobulosHabill (eucalipto)?-Austrália e Tasmánia -Austrália-Austrália e Filipinas5. Onde pretendiam explicar aosalunos e às alunas, nas matérias deciências, a teoria da criaçom?-Flandes-Irlanda-Kansas

6. Em que cemitério bonaerenseestivo soterrado Daniel Castelao?-Federal-Sam Diego -Chacarita

PALAVRASCRUZADAS:Horizontais:canto; Taramundi; baste; elefantíase; elo; reter; vistoria; ai; Gil; Gaifeiros; vaselina; érvedo;Egunkaria.Verticais: Tonecas; gaulês; romeu; goles; melancia; Sininho; Domingos; iberos; Cabreira;salva; nascente; Otelo; Rosalia.

DESCOBREOQUESABES:1. Pacífico 2. II República 3. Astúrias 4. Austrália e Tasmánia 5. Kansas 6. Chacarita

A GALIZA NATURAL TEMPOS LIVRES

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NOVAS DA GALIZA15 de Março a 15 de Abril de 2005 19DESPORTOS

DESPORTOS

JOGOS POPULARES

Equipas à rua, o jogo continua!

XERMÁN VILUBA / Para começar-mos, devemos esquecer essaimagem anacrónica de umhomem velho a jogar à bilhardaou aos bolos ao lado de uns rapa-zinhos que tentam imitar a téc-nica do velho. Tampouco esta-mos a falar de crianças quejogam à chave quando umhacomissom de festas organiza umtorneio ao mesmo nível dascorridas de sacos ou de levarovos numha colher. Nom esta-mos a falar disso. Quando nosreferimos aos Jogos Popularesestamos a falar de competiçom.Desportistas marginais que trei-namos regularmente para domi-narem o desporto que amamos,para demostrarmo-nos, a nóspróprios e ao mundo inteiro, queum outro desporto é possível.Cada golpe da pele contra amadeira é um golpe herdado deanos de sofrimento, e nós sabe-mo-lo: o plástico nom é o mesmoque a pedra, nem a fibra de car-bono é o mesmo que a madeira, eestes som elementos fundamen-tais que determinam o carácterdo desportista autóctone.Para além dos flashes e das cáma-ras dos meios de comunicaçomencontramos tentativas e atitu-des muito positivas para dotar-mos a rede desportiva nacionalde umha infra-estrutura porenquanto deficitária. Referimo-nos a iniciativas como as doCentro de Interpretaçom deJogos Populares 'O Palao' de

Ourense, a criaçom da RedeGalega do Jogo Tradicional, oarranque da LNB (LigaNacional da Bilharda)... som ini-ciativas que, como esta secçom,perseguem idêntico objectivo:dignificarem os desportos e osdesportistas galegos.Nos próximos números vamostratar da actualidade de umhasérie de desportos como a bil-harda, os bolos e a chave, aproxi-mando-nos do desconhecidomundo das chegas de bois ouboiadas. Falaremos de quais somos jogadores mais destacados,

conheceremos a difusom quetenhem estes desportos noexterior e reivindicaremosselecçons nacionais para despor-tos que estám em conexom commuitos dos jogos tradicionaispraticados na Europa e nomundo, de Gales à Bélgica, pas-sando por Marrocos.

Umha década depois dairrupçom do "Compos",o Celta e o Desportivo

no chamado melhor campeo-nato do mundo e do começodaquela época que veria osmaiores sucessos na históriado futebol galego, podemosolhar para trás e repararmos,com a vantagem que outorgasabermos o final da história,nas contradiçons e fraquezasdaquela incrível expansom dasnossas grandes equipas.

Muitos compostelanos ecompostelanas ainda se emo-cionam ao lembrarem aquelaépica tarde, véspera de SamJoám de 1991, quando aEssedê subiu à segunda divi-som no mítico e velho estádiode Santa Isabel, ou aquelainesquecível promoçom à pri-meira em Oviedo três anosdepois. Que longe fica jáaquele campeonato deInverno do "Compos" lá para oano 1996.

A nefasta e corrupta gestomde Caneda, o abandono institu-cional e o desinteresse da cida-dania em geral levárom a SDCompostela da elite do futebolao deambular actual pola regio-nal-preferente galega.

As razons da meteóricaascensom do Desportivo somhoje menos misteriosas do quenunca. Depois de que duranteanos se falasse das excelentescapacidades de gestom e doscontactos políticos deLendoiro, o certo é que oDesportivo acumula hoje umhadívida de 180 milhons deeuros, sobre a qual se construiuumha das melhores equipas daEuropa. Mas esta dívida pode

pôr em perigo a viabilidade doclube no futuro, ou polo menoso controlo das suas acçonspolos sócios desportivistas e oempresariado autóctone.

A ampliaçom de capitalempreendida polo clubecorunhês está a ser um fracas-so, e mesmo o proprioLendoiro admite abertamentea possibilidade de que oDesportivo da Corunha acabenas maos de milionáriosAbramovich. Se AmáncioOrtega nom o impedir...

No Celta, a descida à segun-da divisom pode acabar tendo,paradoxalmente, um finalfeliz. A debacle do ano passa-do expujo também as fraque-zas de um modelo de expan-som baseado no endividamen-to e na aposta em jogadoresforáneos escassamente com-prometidos com a entidade.

O perigo de que o Celta aca-basse por correr umha sortesemelhante à do Compostelafijo ligar as alarmes à directivaviguesa, centrada agora emreduzir a dívida e em apostardecididamente numha "can-teira" revitalizada. Aqui jogaum papel determinante o trei-nador Francisco Vázquez,firme defensor da canteira ecomprometido com a necessi-dade de se recuperar a condi-çom de equipa mais represen-tativa da Galiza. O Celta pos-sui capital simbólico para isso:o nome, as cores da bandeiranacional, a rianjeira, o escudo,e o facto de ter sido, historica-mente, o clube galego commais adeptos e melhor reparti-dos pola geografia do País.Faltam os títulos.

Tempo de balanço

Novas da Galiza introduz a partir deste númeroumha secçom para aproximar a sociedade gale-ga a actualidade do seu desporto tradicional.Para isto nasce Jogos Populares, que publicare-

mos de dous em dous meses, para tomar o pulsoao desporto autóctone, dando-llhe o tratamentomerecido que durante anos lhe foi recusado nosespaços audiovisuais e escritos do País.

Nom dizemos nada de novose afirmamos que o futeboltranscende no nosso país asimples prática desportiva.Estamos perante um fenóme-no social habilmente aprovei-tado por enormes conglome-rados económicos e exprimi-do até o esgotamento polosmeios de comunicaçom. Maspara além disso, o futebol

implica na Galiza outros mui-tos aspectos: a dedicaçom aodesporto de elite ou de basede umha sociedade é umexcelente indicativo da suasaúde, e nom só física comotambém das suas práticas derelaçom colectiva. Em tem-pos em que os espectáculosde massas som espaços privi-legiados de expressom políti-

ca, a vontade nacional galegatem-se manifestado insisten-temente nas bancadas deRiaçor, Balaídos, Passarom oua Malata. Que acontece paraque um país virado para ofutebol ofereça tam raquíticorendimento em desportistas?NOVAS DA GALIZA apro-funda na questom no próximonúmero de Abril.

NO PRÓXIMO NÚMERO...

QUÊ ACONTECE COM A CANTEIRA? DOS...

A bilharda é um dos jogos populares galegos que se persegue recuperar

Xermán Viluba é membro fundador daLNB (Liga Nacional da Bilharda), competi-çom na qual já ganhou três torneios com acamisola dos Fungueiros de Lourençá.Dirige a publicaçom"O Varal"(www.ovaral.blogspot.com), onde se trata daactualidade do desporto da bilharda naGaliza e no mundo.([email protected])

XAVIER SÁNCHEZ PAZOS

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APARTADO 1069 (27080) LUGO - GALIZA / TEL: 630 775 820 / PUBLICIDADE: 639 146 523 / [email protected]

OPINIOM 2EDITORIAL 3NOTÍCIAS 4INTERNACIONAL 8

A FUNDO 10REPORTAGEM 14CULTURA 16DESPORTOS 19

O que fazfalta

A última novidade do nacionalis-mo é a criaçom de um conselho desábios. Seica fizérom um Estatutoque é a reóstia. E porque nom lhesdérom muito tempo, que a poucomais já tinhan feito, polo mesmopreço, os decretos e resoluçonsque articulam e desenvolvem omaço de novas competências.Supom-se que incluindo tambémas nomeaçons dos colegas e ami-gos que viriam a ocupar os postose cargos que dimanam de tantaautonomia e instituiçons necessá-rias para assumirem tectos legais eúltimas transferências de Madrid.Um ex-conselheiro, um ex-militar,um ex-deputado, um ex-reitor,umha ex-vereadora... e que estesnom tenhem filhos ou filhas...Todos muito rijos ideologicamen-te falando, mas mais rançosos queo toucinho do caldo feito polosseus parentes e sócios comerciaisde Lalim ao tamén "ex", senhorCuinha. A média de idade andapor perto dos sessenta e tantosanos. Estariam muito bem elabo-rando as suas pletóricas biografiasou contando batalhas num docu-mentário de espécies a caminhoda extinçom, nesse segundo novocanal que seica anda montando oamigo da Carminha Burana.Parecem a lista dos medalhados"Castelao" do primeiro governobipartido e com algumha ausên-cia clamorosa. Nom lhes nego osserviços prestados mas já passá-rom do tempo de maçar o linho.Acaso nom há em todo o naciona-lismo galego gente dessa domundo às avessas, de que fala acançom de Paco Ibañez. Porexemplo um pirata honrado dis-posto a dar a cara. E se apareces-se algum entre os eleitos polodedo de Quintana. Um homosse-xual disposto a partir o peito emdefesa dos direitos dos gays ouumha lésbica polo mesmo, ou esseecologista que pensa que a mesmamerda é a Fábrica de Reganosa oua chuva ácida de Meirama, ou sese achegasse esse empresário gale-go com visom de naçom e dispos-to a defender-se de interessesforáneos, ou um desportista queabandeirara umha selecçom gale-gas permissivos. Claro que tam-pouco é cousa de pô-los ocupandoo posto vinte e tal de umha listado politicamente correcto.

“A tomada de posse de Fraga é um esperpento musical”

- UUm livro e um DVD sobre oNazário González. Porqueinvestigas sobre um gaiteiro?- Eu toquei gaita-de-foles, e naminha adolescência, o Moxenasera para nós quase um ídolo.Depois de ter estudado musico-logia, encontrei-me com elena Universidade popular.Propugem-lhe gravar todas assuas composiçons, que nomestavam recolhidas em partitu-ras. Mais tarde gravamos emvídeo o seu repertório, as con-versa e procurei fotos e materialdiverso. Este livro é o resultado.

- MMas nom só... também recol-hes toda umha vida dedicadaà música tradicional…- Pois. Ele passou por etapasmuito diferentes. Começa nosanos trinta, num contexto

muito determinado, com ogrupo Os Morenos deLavadores, que funcionavacomo santo-e-senha da músicapara gaita. Depois do pós-guerraimplica-se na Secçom femininae no Sindicato vertical, partici-pando de um folclore de exalta-çom do nacionalismo espanhol.Na etapa de Transiçom, aproxi-ma-se do celtismo e mesmo dogaleguismo... Ele incorporounovidades como som as peçascom diferentes tons para gaitas,que na altura tivérom um resul-tado espectacular.

- MMas qual é a verdadeiraimportáncia do Moxenas?- É muita. Porque é intérprete,compositor, poeta popular -comversos onde explicita muitobem o que é para ele o mundo

da música-, e também é mestregaiteiro. Centos e centos de gai-teiros passaram polo seu mes-trado. Umha música que estáviva e é muito conhecida nomundo da gaita-de-foles.

- OO nosso país está por cons-truir em muitos campos.Também na música, Miguel?- Também. Musicalmente asituaçom da Galiza nom estánormalizada, e há excessivaidentificaçom da música galegacom a música folk ou celta. Háoutros tipos que apenas seouvem nem som promovidos.Cumpre valorizarmos e tocar-mos tudo, senom estamos con-denados ao extermínio musical.Eu reivindico umha música popem galego. Por outro lado, res-peito aos registos e estudossobre a música tradicional, acha-se em falta um arquivo sonorosério que se centre na digitaliza-çom e catalogaçom. As que seestán a fazer som privadas.

- OO que opinas das bandas degaitas?- Está claro que a administraçomgalega escolheu um modelo

estereotipado, tanto quanto aoinstrumento - umha gaita comum marcado carácter marcial -,como quanto aos agrupamentos- as bandas. Mas o grave é o factode essa visom da música tradi-cional se ter tornado hegemóni-ca, açambarcando todos os sub-sídios e apoio da administraçom.Os interesses de um grupo arra-sam com todo o que podemfazer outros músicos. A tomadade posse de Fraga, musicalmen-te é um 'esperpento'. Centenasde gaiteiros nom podem tocarafinados.

- SServindo o poder que os sub-sidia...- As publicaçons da banda e dadeputaçom: marchas para Fraga,Moinheira para Letizia... o últi-mo livro é 'Rapsódia para o prín-cipe Felipe'. Estám cheias defotos de Baltar, Fraga e amigos.Trata-se, afinal, de um casa-mento extremo com o poder .Gastam o dinheiro que devia irpara um arquivo sonoro, paracatalogaçom e conservaçom, oupara promover umha música emlíngua galega que abrangessediferentes géneros.

ALONSO VIDAL/ Licenciado na área de musicologia polaUniversidade de Oviedo, com estudos de piano e gaita e professorde música, Miguel Pérez dedica-sse à investigaçom da música tra-dicional galega, nomeadamente sobre questons relacionadas como ámbito da gaita-dde-ffoles. Tem ministrado conferências e cursosde pós-ggraduaçom relacionados com este campo. Nesta entrevis-ta, impregnando da paixom pola música tradicional, fala-nnos do seumagnífico contributo para o panorama editorial galego: 'Moxenas: amemória do som', um trabalho sobre o mítico gaiteiro de Sárdoma.

MIGUEL PÉREZ LORENZO ESPECIALISTA EN MÚSICA TRADICIONAL

XAN CARLOS ÁNSIA