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Embora nªo possamos adivinhar o tempo que serÆ, temos, sim o direito de imaginar o que que- remos que seja. Eduardo Galeano Joana Darc Faria de Souza e Silva Celebrar o 8 de maro e o Ano Internacional da Mulher Latino Americana e Caribenha signi- fica rever a histria da luta das mulheres, que hoje resultaram em polticas afirmativas com a colaboraªo internacional para os direitos da mulher. Muitas aıes jÆ estªo sendo feitas e muitas estªo por fazer. Vivemos um tempo em que as mulheres con- tinuam desafiando o poder, com mais estudo e competŒncia para ocupar os espaos e transfor- mar a sociedade capitalista, que as oprime. Or- gulhosas e ousadas elas se identificam como fe- ministas, contra a discriminaªo, a violŒncia, a pobreza e a desigualdade. Sabemos que nada causa mais horror ordem do que mulheres que lutam e sonham. A Marcha Mundial das Mulheres, um movi- mento que surgiu em 2000, se consolidou, no sentido de organizar as mulheres em torno de uma agenda radical feminista e anticapitalista, para levar s ruas o chamado construªo de um mun- do justo e de paz. Esse chamado aªo imediata para mudar o mundo traduz o sonho das mulheres e dos ho- mens, onde a diversidade representa nossa maior riqueza e opulŒncia. A trincheira das mulheres negras Ø uma situa- ªo parte, pois no IDH ˝ndice de Desenvolvi- mento Humano, elas se encontram em desvanta- gem em todos os setores. Nascemos para acreditar, confiar e sermos feli- zes ao lado dos homens, mas para isso precisa- mos todas e todos combater a intolerncia e a de- sigualdade de gŒnero. Na verdade, hÆ muito tem- po ns marchamos para exigir o fim dos privilØgi- os, da opressªo, do egosmo que o capitalismo pro- duziu. Na escola onde trabalhamos, damos a vida, tro- camos idØias e nem sempre se percebe esta reali- dade e atØ cometemos o agravante de reproduzir preconceitos e discriminaªo contra a mulher. preciso que ns profissionais da Educaªo analisemos o que Ø ser melhor, o que Ø ser ho- mem e o que ensinamos. Por que nªo falamos todos e todas, meninos e meninas, na sala de aula? Por que os homens nªo trabalham na cozi- nha ou as mulheres na vigilncia da escola? Pre- cisamos desconfiar do que Ø natural no espao escolar e em toda sociedade. Entendemos que a escola Ø tambØm o lugar de questionamentos, cr- ticas e resistŒncia, para uma educaªo libertadora. Ns, educadoras, rejeitamos esse mundo onde a desigualdade Ø normal, com a convicªo de que Ø possvel transformÆ-lo, comeando pela esco- la, atravØs de um currculo e uma prÆtica peda- ggica que norteia uma educaªo nªo sexista, como tambØm a superaªo da discriminaªo ra- cial e de classe. Assim, ns, mulheres educadoras, estamos contribuindo para realizar o sonho de um outro mundo possvel e necessÆrio, onde os direitos e as liberdades sejam respeitados. Joana Darc Faria de Souza e Silva Ø secretÆria de Aposentados(as) do Nœcleo Sindical de Toledo e integra os Coletivos de Promoªo da Igualdade Racial e de GŒnero e Classe. Nos, Nos, Nos, Nos, Nos, Mulheres ulheres ulheres ulheres ulheres Educadoras ducadoras ducadoras ducadoras ducadoras ·

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Março d e 2 0 0 6 Jornal 30 de Agosto - edição especial - 08 de março dia Internacional da Mulher

�Embora não possamos adivinhar o tempo queserá, temos, sim o direito de imaginar o que que-remos que seja�.

Eduardo Galeano

Joana Darc Faria de Souza e Silva

Celebrar o 8 de março e o Ano Internacionalda Mulher Latino Americana e Caribenha signi-fica rever a história da luta das mulheres, quehoje resultaram em políticas afirmativas com acolaboração internacional para os direitos damulher. Muitas ações já estão sendo feitas emuitas estão por fazer.

Vivemos um tempo em que as mulheres con-tinuam desafiando o poder, com mais estudo ecompetência para ocupar os espaços e transfor-mar a sociedade capitalista, que as oprime. Or-gulhosas e ousadas elas se identificam como fe-ministas, contra a discriminação, a violência, apobreza e a desigualdade. Sabemos que �nadacausa mais horror à ordem do que mulheres quelutam e sonham�.

A Marcha Mundial das Mulheres, um movi-mento que surgiu em 2000, se consolidou, no

sentido de organizar as mulheres em torno de umaagenda radical feminista e anticapitalista, paralevar às ruas o chamado à construção de um mun-do justo e de paz.

Esse chamado à ação imediata para mudar omundo traduz o sonho das mulheres e dos ho-mens, onde a diversidade representa nossa maiorriqueza e opulência.

A trincheira das mulheres negras é uma situa-ção à parte, pois no IDH � Índice de Desenvolvi-mento Humano, elas se encontram em desvanta-gem em todos os setores.

Nascemos para acreditar, confiar e sermos feli-zes ao lado dos homens, mas para isso precisa-mos todas e todos combater a intolerância e a de-sigualdade de gênero. Na verdade, há muito tem-po nós marchamos para exigir o fim dos privilégi-os, da opressão, do egoísmo que o capitalismo pro-duziu.

Na escola onde trabalhamos, damos a vida, tro-camos idéias e nem sempre se percebe esta reali-dade e até cometemos o agravante de reproduzirpreconceitos e discriminação contra a mulher.

É preciso que nós profissionais da Educaçãoanalisemos o que é �ser melhor�, o que é �ser ho-

mem� e o que ensinamos. Por que não falamostodos e todas, meninos e meninas, na sala deaula? Por que os homens não trabalham na cozi-nha ou as mulheres na vigilância da escola? Pre-cisamos desconfiar do que �é natural� no espaçoescolar e em toda sociedade. Entendemos que aescola é também o lugar de questionamentos, crí-ticas e resistência, para uma educação libertadora.

Nós, educadoras, rejeitamos esse mundo ondea desigualdade é normal, com a convicção de queé possível transformá-lo, começando pela esco-la, através de um currículo e uma prática peda-gógica que norteia uma educação não sexista,como também a superação da discriminação ra-cial e de classe.

Assim, nós, mulheres educadoras, estamoscontribuindo para realizar o sonho de um outromundo possível e necessário, onde os direitos eas liberdades sejam respeitados.

Joana Darc Faria de Souza e Silva é secretária de

Aposentados(as) do Núcleo Sindical de Toledo e

integra os Coletivos de Promoção da Igualdade

Racial e de Gênero e Classe.

Nos, Nos, Nos, Nos, Nos, MMMMMulheres ulheres ulheres ulheres ulheres EEEEEducadorasducadorasducadorasducadorasducadoras´

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Março d e 2 0 0 6 Jornal 30 de Agosto - edição especial - 08 de março dia Internacional da Mulher

d

0202020202

EXPEDIENTE

Edição Especial do Jornal 30 de Agosto - março de 2006APP-Sindicato - Filiada à CUT e à CNTESindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do ParanáRua Voluntários da Pátria, 475, 14º andar, CEP 80.020-926, Curitiba/PR -Fone (41) 3026-9822, Fax (41) 222-5261Sítio eletrônico www.app.com.brGestão Independência, Democracia e Luta - 2005-2008José Rodrigues Lemos - PresidenteJosé Ueldes Camilo - Secretaria GeralSaionara Cristina Bocalon - Secretaria de FinançasMarlei Fernandes de Carvalho - Secretaria EducacionalJosé Valdivino de Moares - Secretaria de FuncionáriosMiguel Angel Alvarenga Baez - Secretaria de Políticas SindicaisÉlide Bueno - Sec. Adm. e PatrimônioEdilson Aparecido de Paula - Secretaria de MunicipaisLuiz Carlos Paixão da Rocha - Sec. Imprensa e DivulgaçãoSérgio Marson - Secretaria de Assuntos JurídicosSabina da Silva Turbay - Secretaria de AposentadosSilvana Prestes Rodacoswiski - Secretaria de Políticas SociaisHermes Silva Leão - Secretaria de OrganizaçãoMaria Madalena Ames - Sec. de Formação SindicalMaria do Carmo Resniszek Mendes - Secretaria de SindicalizadosProdução do Coletivo Estadual de Gênero e Classe da APP-SindicatoEndereço eletrônico: [email protected]ção: Maria Rosa Chaves Künzle, Giselle Moura Schnorr, Silvana Prestes eRosani MoreiraProgramação Visual: Jacqueline Licadiedoff (DRT 4672-PR)Jornalista responsável: Luiz Herrmann (DRT 2331-PR)Impressão:Tiragem de 60 mil exemplares

das enormes filas de espera na

frente às padarias...�

Em 1921, realiza-se em

Moscou a Conferência das Mu-

lheres Comunistas que adota o

dia 8 de março como data uni-

ficada do Dia Internacional das

Operárias. Essa conferência,

espalhará o 8 de março como

data das comemorações da luta

das mulheres. Na Rússia comu-

nista, após a vitória da Revolu-

ção de Outubro, nos primeiros

anos do novo regime, no dia 8

de março se realizava o Dia In-

ternacional da Mulher Comu-

nista. O dia, pouco a pouco, per-

deu seu interesse e o adjetivo

comunista foi caindo à medida

que o ímpeto revolucionário da

União Soviética começou a se

arrefecer. Nos anos 30 o Dia In-

ternacional da Mulher se per-

derá na tormenta que se abateu

sobre o mundo. A ascensão do

nazismo na Alemanha, o triun-

fo do stalinismo na URSS, o de-

clínio da social democracia na

Europa e o vendaval da IIª Guer-

ra Mundial, enterrarão as ma-

nifestações do Dia da Mulher.

A humanidade só voltará a fa-

lar nisto no final dos anos 60.

Neste lapso de tempo, o marco

do 8 de março, data da greve

das operárias de Petrogrado, de

1917, foi esquecido. A data da

vitória das revolucionárias re-

beldes russas, que impôs a der-

rota do absolutismo do czar e

deslanchou a Revolução Russa,

não interessava aos comunistas

Estamos nos acostumando a

comemorar o Dia da Mulher

em 8 de Março. Porém, é preci-

so ter atenção para o fato desta

data estar sendo apropriada

muito rapidamente pelo siste-

ma, se tornando não só palatável

como lucrativa.

Para fugir do viés comercial

e manter viva na memória que a

data surgiu para transformar a

humanidade, precisamos conhe-

cer os vários fatos que envolvem

o 8 de março e qual a influência

do movimento socialista na luta

das mulheres e vice-versa.

A história conta que o 8 de

março marca uma greve de 129

operárias de uma indústria no-

vaiorquina, em 1857, que rei-

vindicavam a jornada de traba-

lho de 10 horas. Os patrões tran-

caram as operárias na fábrica e

atearam fogo, matando-as quei-

madas e por sufocamento. Em

1910, a feminista alemã Clara

Zetkin propôs que este dia fos-

se lembrado como o Dia Inter-

nacional da Mulher. No ano se-

guinte, mais de 1 milhão de mu-

lheres se manifestaram na Eu-

ropa, selando o dia 8 de março

como o dia de luta das mulhe-

res, em homenagem às operári-

as mortas.

Em 1917, na Rússia, as so-

cialistas realizaram seu Dia da

Mulher no dia 23 de fevereiro,

pelo calendário russo, que, no

calendário ocidental, corres-

ponde a 8 de março. Nesta data,

em Petrogrado, um grande nú-

mero de mulheres (operárias,

na maioria tecelãs e costurei-

ras), contrariando a posição do

Partido Comunista, que avaliou

que aquele não era o momento

oportuno para qualquer greve,

saíram às ruas em manifesta-

ção por pão e paz. Declararam-

se em greve. Esta manifestação

foi o estopim da primeira fase

da Revolução Russa, conhecida

como a Revolução de Fevereiro.

Alexandra Kollontay, gran-

de líder do Partido Operário

Social Democrata Russo decla-

rou: �O dia das operárias, 8 de

março, foi uma data memorá-

vel na história. Neste dia as

mulheres russas levantaram a

tocha da revolução.� Esta greve

foi também documentada nos

escritos de Trotsky, no primei-

ro volume do seu livro �Histó-

ria da Revolução Russa�: �Na

véspera, ninguém teria imagi-

nado que este Dia das Mulhe-

res pudesse ter inaugurado a

revolução�. E continua: �Contra

todas as orientações do Parti-

do, as operárias abandonaram

o trabalho em várias fábricas e

enviaram delegadas aos meta-

lúrgicos para pedir-lhes que

apoiassem a greve. Foi a con-

tragosto que os bolcheviques,

seguidos pelos operários

mencheviques e pelos socialis-

tas de esquerda se juntaram à

marcha. Como se tratava de

uma greve de massa, era neces-

sário comprometer todo mundo

para sair às ruas e estar à fren-

te do movimento. Pelos fatos, é

então certo que a Revolução de

Fevereiro foi iniciada por ele-

mentos da base que passaram

por cima da oposição das suas

organizações revolucionárias e

que a iniciativa foi tomada es-

pontaneamente por um contin-

gente do proletariado explo-

rado e oprimido mais que to-

dos os outros, as operárias têx-

teis. (...) O empurrão final veio

08 de março é socialista e revolucionárioHistória

do mundo todo. Estes, quase to-

dos, viviam anestesiados pelos

encantos ou pelo terror stalinis-

ta. Retomar a lembrança da-

quele 8 de Março também não

interessava à social democracia,

rejuvenescida após a destruição

da guerra e em conflito aberto

com o comunismo dos países do

bloco soviético. Menos ainda, a

data do 8 de março de 1917, na

nascente URSS, interessava ao

bloco capitalista, inimigo mor-

tal da Rússia comunista. Foi as-

sim, sem precisar de uma cons-

piração organizada por um su-

posto império do mal, que na

Alemanha comunista, em

1966, a Federação das Mulhe-

res Comunistas retomou o Dia

da Mulher, misturando fatos

com fantasias, inventando da-

tas e detalhes. E foi assim, sem

nenhuma deliberação conspira-

tória, que o mito que acabava

de ser criado, em 1966, no Les-

te Europeu, começou a ser di-

vulgado e foi depois enriqueci-

do fartamente, nos EUA do fi-

nal dos anos 60. Depois disso

era só enriquecer o mito. O que

foi feito, até sua cristalização

em 1975, com a ONU e logo de-

pois com a Unesco.

Uma data a enriquecer

Lembrar o 8 de março sig-

nifica enriquecer a comemora-

ção deste dia com a retomada

de seu sentido original, de raí-

zes socialistas. Significa inte-

grar os novos e importantíssi-

mos aspectos da luta da liberta-

ção da mulher, descobertos com

a evolução da humanidade no

século XX. Integrar à clássica

luta socialista/comunista do co-

meço do século, as contribui-

ções de Wilhelm Reich, Simo-

ne de Beauvoir, Herbert

Marcuse, Samora Machel, Betty

Friedann, Rose Marie Muraro e

milhares de ativistas, militan-

tes e organizadoras da luta das

mulheres, no mundo inteiro.

Sem medo de lutar por uma re-

volução, que deverá ser social,

sexual, e profundamente cultu-

ral. Sem medo de levantar as

bandeiras vermelhas da luta

pela libertação da humanidade,

homens e mulheres.

Nota: texto baseado em tra-

balho de Vito Gianotti, veicula-

do em 2004 pelo Núcleo

Piratininga de Comunicação.

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Março d e 2 0 0 6 Jornal 30 de Agosto - edição especial - 08 de março dia Internacional da Mulher

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O mês de março é de am-pla mobilização de professo-res e funcionários da Educa-ção na luta pelos seus direi-tos. Diversas atividades estãoprogramadas, culminandocom a paralisação das ativi-dades no dia 28 de março.

Neste ano, o Dia Interna-cional da Mulher está inseri-

08 de março é dia de debater valorização

Maria Rosa Chaves Künzle

Em 1910, o governador doPiauí fez um discurso para areabertura da Escola Normalespecialmente para o sexo fe-minino. Ele explica as razõesdesta escola ser reservada àsmulheres:

�Duas razões principaisatuaram no meu espírito parasemelhante preferência. A pri-meira e mais poderosa foi anatural aptidão para desem-penhar melhor esta funçãoque a mulher possui; maisafetiva que o homem, elaestá, por isso, muito maisapta a ensinar crianças eacompanhar-lhes os primei-ros albores da inteligência. Asegunda razão foi a exigüida-de dos vencimentos que o Es-tado oferece aos professores.Com a carestia da vida atu-al, é absurdo pensar em ob-ter preceptores dedicados aomagistério, pagando os min-guados ordenados. A mulher,porém, mais fácil de con-tentar e mais resignada equase sempre assistidapelo marido, pelo pai e pelo

irmão, poderá aceitar o pro-fessorado e desempenhá-locom assiduidade e dedica-ção, não obstante a parci-mônia da retribuição dosserviços�. (Fonte: KULESZA,

Wojciech � A institucionalizaçãoda Escola Normal no Brasil � 1870-1910, in: Revista Brasileira de Es-tudos Pedagógicos. Brasil, MEC/INEP, set/dez 1998, vol 79, pp. 63-

71).

As palavras do governa-dor do Piauí nos faz pensarsobre o significado históricodas mulheres na área da edu-cação. �Resignadas para re-ceberem parcos salários enaturalmente aptas para omagistério�. As mulheres fo-ram se voltando para o traba-lho com a educação e esta áreafoi sendo, paulatinamente,reservada às elas. Diante dis-to, porém, podemos nos per-guntar: será que já supera-mos totalmente esta idéia so-cialmente construída? A so-ciedade ainda vê a professo-ra e a funcionária de escolacomo aquelas que �ajudam�em casa, que deve ser �pro-vida por um homem? O queainda sobrevive desta repre-

sentação na sociedade e/ouem nós mesmas?

Sabemos que os temposmudaram e que hoje tanto asprofessoras como as funcio-nárias de escola têm impor-tância capital na manutençãoda família. Todos sabemosque as mulheres estão nomercado de trabalho, em es-feras que eram apenas doshomens há alguns anos atrás.Porém, ainda existem �ni-chos� reservados aos homens,como por exemplo a política,a defesa, a tecnologia e os car-gos de chefia e/ou gerência,ou seja, pilares importantesdo sistema e melhor remune-rados, sendo que as mulhe-res estão, majoritariamente,nas áreas sociais, menor re-muneradas, como é o caso dasaúde e da educação.

Estas duas áreas profis-sionais têm sofrido sistemá-tica desvalorização por partedos governos. No caso daeducação, os salários dimi-nuem na medida que dimi-nui o nível de ensino � me-nores para as creches e mai-ores para as universidades.

Não por coincidência, o nú-mero de mulheres é maiornos níveis iniciais, com osmenores salários. Este pro-blema estrutural se reproduzem todo o mundo.

Esta lógica que combinaelementos econômicos e cul-turais se repete no Estado doParaná, que tem no magisté-rio os menores salários dofuncionalismo. Qualquer pro-fissional contratado pelo Es-tado por 40 horas semanaisem cargo que exige formaçãoem curso superior começarecebendo R$ 1.525,25. Coma nova tabela de agente pro-fissional, a partir de julho osalário será R$ 2.088. NoQuadro Próprio do Magisté-rio, o salário inicial para doispadrões é R$ 1.030.

As funcionárias de esco-la, em especial dos serviçosgerais, estão entre os meno-res salários do Estado, mes-mo com a nova tabela salari-al.

Uma categoria dominadapor mulheres � 83% � temsido discriminada sistemati-camente com salários bem

abaixo das necessidades e daescolaridade. Nunca nos con-formamos com os saláriosminguados reservados às fun-cionárias e às professoras �por isso lutamos bravamen-te, no passado e no presen-te. Já mostramos à sociedadee à história que as idéias dogovernador do Piauí, do co-meço do século XX, estãoultrapassadas, mesmo que al-guns governadores rebaixemos salários do magistério. Es-tamos num outro tempo e va-mos continuar lutando. Es-peramos que este material sir-va para nossas reflexões naescola, com nossos alunos enossas companheiras (e nos-sos companheiros de magis-tério, explorados em seussalários como nós). E que este8 de março, socialista e revo-lucionário, reacenda nossoânimo para o debate, para aorganização e para luta.

Maria Rosa Chaves Künzle éassessora da Secretaria Edu-cacional da APP-Sindicato.

Categoria com mais mulheres têm salários mais baixos

do na Campanha Salarial deprofessoras, professores, fun-cionárias e de funcionáriosda Educação. Isto porqueesta é uma categoria majori-tariamente feminina e quetem os mesmos problemasrelativos às categorias em quea participação feminina é pre-ponderante, entre eles, os

� Equiparação salarial paraprofessores - A luta é paraequiparar os salários com osdemais trabalhadores cujoscargos exigem formação su-perior. Um agente profissio-nal ingressa no Estado rece-bendo no mínimo R$ 1.525. Apartir de julho receberá R$2.088. Professor com a mes-ma carga horária tem salário

Campanha Salarial

inicial de R$ 1.030. A propos-ta é incorporar o auxílio-trans-porte de R$ 150 e reajustaros salários em 56,94%.

� Plano de Carreira dos Fun-cionários - O projeto já foi ne-gociado com a Secretaria daEducação e basta o governoenviá-lo à Assembléia Legis-lativa para aprovação.

� Melhores condições de tra-

O que queremosO que queremosO que queremosO que queremosO que queremos

salários mais baixos.Por esta peculiaridade, o

Conselho Estadual da APP-Sindicato decidiu incentivaras escolas para promoveremdebates em 8 de março sobrea valorização da mulher e dasprofissões onde elas são mai-oria.

Outra proposta é de que

este debate seja levado às Câ-maras de Vereadores e à As-sembléia Legislativa.

Além do Dia da Mulher,outras atividades estão pro-gramadas. Nos dias 14 e 22de março haverá debates nasescolas, com aulas de 30 mi-nutos. A APP-Sindicato estáelaborando material para ori-

entar os debates.No dia 18 haverá assem-

bléia estadual.No dia 25 os Núcleos Sin-

dicais promoverão panfleta-gens para informar à popula-ção sobre o movimento dacategoria.

No dia 28 de março ocor-rerá paralisação estadual.

balho.� Ascensão universal ao nível

III da carreira.� A sanção e implantação da lei

que limita o número de alu-nos por sala.

� Programa de saúde no mo-delo do antigo IPE.

� Implantação do cargo de 40h.� E o atendimento de toda a

pauta de reivindicações.

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Março d e 2 0 0 6 Jornal 30 de Agosto - edição especial - 08 de março dia Internacional da Mulher

dQue não te despojemDe teu sentido inicialÉ fácil crer no queCrê a multidãoFortalece teu entendimentoDe um modo naturalDifícil é saberO é diverso

Goethe

Sabina da Silva Turbay

Uma das características davida humana é o fato das pes-soas envelhecerem de manei-ra espontânea, pois, por mais

que se tente, não existe fór-mula para evitar a chegada da�velhice�, da �melhor idade�,da �terceira idade� ou sejaqual for o título que se dê.

Hoje esse fenômeno natu-ral faz o nosso olhar se vol-tar para novas concepções dotornar-se idoso. Idosa hoje éaquela pessoa que tornou-se,no universo familiar, em mui-tos casos, o esteio da família,a principal renda fixa da casae, no mínimo, participanteatuante na divisão das des-pesas e responsabilidades fi-

A Marcha Mundial dasMulheres é uma ação do mo-vimento feminista internaci-onal de luta contra a pobre-za e a violência sexista. Suaprimeira etapa foi uma cam-panha entre 8 de março e 17de outubro de 2000, em queaderiram 6 mil grupos de 159países e territórios.

As manifestações de en-cerramento dessa primeirafase mobilizaram milhares demulheres em todo o mundo.Nesta ocasião foi entregue àONU abaixo-assinado comcerca de 5 milhões de ade-sões às reivindicações daMarcha.

A mobilização de mulhe-res gerada pela Marcha nãoparou por aí. Os contatos fei-tos entre variados grupos dediferentes países criou umarede feminista que pretendese preservar, para assim for-talecer a luta das mulheres.

No Brasil, a MarchaMundial das Mulheres reu-

niu setores como o Movi-mento Autônomo de Mulhe-res, movimento popular esindical, rural e urbano;ampliou o debate econômi-co entre as mulheres e astrouxe para as ruas. Cons-truiu uma plataforma nacio-nal: a �Carta das MulheresBrasileiras� que exige terra,trabalho, direitos sociais,autodeterminação das mu-lheres e soberania do país.O combate à pobreza e à vio-lência feita às mulheres con-tinua a ser o eixo de inter-venção, sempre com umaforte ação feminista eanticapitalista na luta pelaigualdade, justiça, distribui-ção de renda, recursos e po-der.

Depois de 17 de outubrode 2000, a Marcha estevepresente nos Fóruns SociaisMundiais, nas manifestaçõesdo 8 de Março, na Marchadas Margaridas e em váriascampanhas nacionais e in-

ternacionais. Continua o de-bate com a mulheres em te-mas como:e a subordinação do gover-no aos interesses do capitalfinanceiro;e a luta contra a Alca;e o corte dos gastos públicosnas áreas de saúde, educação,ciência e tecnologia e acesso aterra, entre outros;e a negociação da dívida ex-terna;e a impunidade nos crimescontra as mulheres.A Marcha acredita que omovimento antiglobalizaçãoneoliberal, que emergiu comtoda a força em Seattle e Pra-ga, está impondo uma der-rota ao pensamento único eque o movimento das mulhe-res deve ser parte ativa e pro-tagonista nesta luta.

Para maiores informa-ções, consultem o site daMarcha: www.sof.org.br

Mulheres marcham por um outro mundo possível

A mulher idosa necessita de políticas públicasnanceiras.

Se não bastasse a partici-pação efetiva da pessoa ido-sa na realidade familiar finan-ceira, ela ainda tem de enfren-tar uma realidade política esocial de não atendimento desuas necessidades e a falta depesquisas aplicadas às áreasreferentes ao envelhecimen-to populacional. Nossa po-pulação está envelhecendo ea maior parte desta popula-ção é feminina. Assim, temosmais um problema: se faltampolíticas direcionadas à mu-

lher, o que dizer da falta depolíticas sobre a mulher ido-sa?

A mulher idosa já foi mãee se dedicou ao trabalho. Me-recia ter um pouco mais detranqüilidade, usufruindo deuma certa liberdade, com di-reitos garantidos. Mas não éisso que acontece. Deve as-sumir papéis que já foramcumpridos por ela mesma nopassado: arrimo de família,responsável pelos netos, ad-ministradora de várias ativi-dades da família. Com tudoisto, ainda tem que enfrentaroutros fatores que a fragili-zam, como a solidão, as do-enças, a idade, e, em muitoscasos, o total silêncio.

Não há necessidade deperguntarmos quem é essamulher. Num passado nãomuito distante ela estava pro-dutiva e jovem, atuando comoprofessora, secretária, meren-deira, advogada, enfermeira,entre tantas outras profis-sões. Que lugar reservaremosa estas mulheres que estão navelhice? Além de contribuí-rem com todo o seu potenci-

al e dedicação no passado,ainda são parte integrante eparticipativa da comunidade,do país.

Precisamos considerar olugar da mulher idosa no ce-nário atual, com políticas pú-blicas de inclusão, de reco-nhecimento, de oportunida-des. Fazem-se necessárias po-líticas direcionadas aos cida-dãos na terceira idade, comespecial atenção às especifi-cidades das mulheres.

Sabina da Silva Turbay ésecretária de Aposentados daAPP-Sindicato.

Sugestões de leituraHELLER, Agnes � O cotidia-no e a história. São Paulo,Paz e Terra, 1989, 3ª ed.PEREIRA, D.M (org.) - Ido-so: Encargo ou Patrimônio?O envelhecer em São Paulo,1992BARÓ, I.M � La NaturalezaSocial del Ser Humano (tex-to xerox)STREY, M.N � IndivíduoCultural e Sociedade (textofotocopiado)

Lutas

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