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  • 8/2/2019 Norberto Bobbio e a Democracia

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    NORBERTO BOBBIO E A DEMOCRACIA

    NORBERTO BOBBIO AND DEMOCRACY

    Paulo Mrcio Cruz1

    Cesar Luiz Pasold2

    Resumo: O presente ensaio tem como referente a apreenso de aspectos estratgicos do relacionamentoque , na teoria e na prtica, Norberto Bobbio teve com a Democracia, e como e em at que dimenso eleo expressou. O objeto a categoria Democracia e o objetivo a configurao dela no pensamentobobbiano. Os resultados da investigao so expostos, a partir de uma preliminar necessria, paraconsagrar a adequada relao compreensiva direta entre a teoria e a prtica que Bobbio consumou com aDemocracia.Palavras-chave: Norberto Bobbio. Democracia.

    Abstract: This essay aims to expose how the Italian thinker Norberto Bobbio has expressed his conceptof democracy, in his life and in his writings. Our object is democracy and our objective is to explorehow it appears in Bobbian thought and in his concrete acts. The results of our investigation are thenexplained from the premise of connecting life and thought, always in relation with the concept ofdemocracy.Keywords: Norberto Bobbio. Democracy.

    1 INTRODUO

    O presente ensaio tem como referente a apreenso de aspectosestratgicos do relacionamento que , na teoria e na prtica, Norberto Bobbio, tevecom a Democracia, e como e em at que dimenso ele o expressou.

    Portanto, o objeto a categoria Democracia e o objetivo a configuraobobbiana dela.

    O mtodo empregado para a consecuo deste ensaio, tanto na fase deinvestigao quanto aqui no relato dos resultados, o indutivo. O mtodo deabordagem tem compromisso forte com elementos descritivos, na busca desustentao slida para os momentos objetivamente analticos neste ensaio. Comosuportes principais aos mtodos foram operadas as tcnicas de pesquisabibliogrfica e da categoria.

    Os resultados so expostos a seguir, partindo de uma preliminar necessriaque a breve caracterizao do intelectual Norberto Bobbio, to bem enfatizadanas homenagens sua memria no centenrio de seu nascimento, no ano de 2009.

    1 Ps-Doutor em Direito do Estado Pela Universidade de Alicante, na Espanha, Doutor em Direito doEstado pela Universidade Federal de Santa Catarina e Mestre em Instituies Jurdico-Polticas tambmpela Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Coordenador e professor do Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica da Universidade do Vale do Itaja UNIVALI, cursos deDoutorado e Mestrado. Foi Secretrio de Estado em Santa Catarina e Vice-Reitor da UNIVALI. professor visitante nas universidades de Alicante, na Espanha, e de Perugia, na Itlia. E-mail:[email protected] Doutor em Direito do Estado pela Faculdade de Direito do Largo So Francisco - Universidade de SoPaulo-USP; Ps-doutor em Direito das Relaes Sociais pela Universidade Federal do Paran-UFPR;Mestre em Sade Pblica pela Universidade de So Paulo-USP; Mestre em Instituies Jurdico-Polticas pela Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC ; Especialista em Sade Pblica pelaUniversidade de So Paulo-USP ; Graduado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina.Docente da Universidade do Vale do Itaja. E-mail: [email protected].

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    2 PRELIMINAR NECESSRIA: O CENTENRIO DE NASCIMENTO DENORBERTO BOBBIO E SUA VIDA EM FAVOR DA DEMOCRACIA

    Durante todo o ano de 2009 e destacadamente na semana de 18 a 24 de

    outubro do mesmo 2009, a partir das iniciativas do Centro di Studi Piero Gobetti diTorino3, da Universit degli Studi di Torino e doArchivio di Stato di Torino, sob acoordenao do Comitato nazionale per le celebrazioni del centenario dellanascita di Norberto Bobbio, intelectuais e polticos italianos dedicaram-se ahomenagear a memria de Norberto Bobbio por ocasio do centenrio de seunascimento ocorrido no dia 18 de outubro de 1909.

    Quem teve o privilgio e a honra de estar naquela semana em Torino,Itlia4, epicentro da homenagem que se espraiou para o mundo, constatou o quantoo filsofo, jurista, cientista poltico e democrata Norberto Bobbio respeitado pela

    sua obra e por sua vida pblica.Merece realce a edio de um caderno/livro especial do jornal LASTAMPA. Trata-se do maior jornal de Torino, sucessor do La GazzettaPiemontese,e que a partir da Segunda Guerra Mundial, merc da atuao de umasrie de grandes chefes de redao alcanou projeo nacional na Itlia5.

    O caderno/livro especial, intitulado Bobbio e il suo mondo- Storie diimpegno e di amicizia nel 900 6. O contedo uma seleo de fotos da vida deBobbio e uma interessante coleo de frases de sua autoria e de alguns de seuscompanheiros da vida pblica e da academia.

    O resultado , do ponto de vista esttico, um belssimo volume em formade livro no tamanho 21 cm x 24,5 cm.Do ponto de vista do contedo, o volume apresenta um completo, ainda

    que sucinto, panorama da vida pessoal, pblica e cientfica de Norberto Bobbio.alm de um feliz mosaico de seu pensamento, em feliz coleo de expresses desua inteligncia.

    Merece nfase o destaque para a seleo de frases, feita com primor,conciliando abrangncia temtica com profundidade de contedo.

    E entre tantas e por oportuna ao presente ensaio, importante trazer a de

    Bobbio7

    na qual afirma que In nessun paese dei mondo il mtodo democrticopu perdurare senza diventare un costume.Ma pu diventare un costume senza ilriconoscimento della fratellanza Che unisce tutti gli uomini in un comune destino?

    Un riconoscimento tanto pi necessario oggi Che di questo comune destino

    3 Bobbio presidiu o Centro de 1961 a 1993. Conforme: VIOLI, Carlo. Nota Biogrfica. In VIOLI, Carlo(org.). Bibliografia degli scritti di Norberto Bobbio. 1934-1993. Roma: Gius.Laterza & Figli, 1995, p.XXXIV.4 Um dos autores do presente ensaio, Cesar Luiz Pasold, esteve em Torino/Itlia naquela semana,assistindo eventos em homenagem a Bobbio e testemunhando o respeito e a reverncia a ele prestadosnaquela cidade.5 Vide http://www.presseurop.eu/pt/content/source-information/10731-la-stampa . E, recomeda-se avisita ao www.lastampa.it para melhor percepo da dinmica diria do jornal.6 AGOSTI, Paola e REVELLI ,Marco (org.). Bobbio e il suo mondo- storie di impegno e di amicizia nel900. Torino: Nino Aragno Editore, 2009.7 Conforme consta em AGOSTI, Paola e REVELLI ,Marco (org.). Bobbio e il suo mondo-storie diimpegno e di amicizia nel 900.cit. p.157.

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    diventiamo ogni giorno pi consapevoli e dovremmo, per quel poo lume di

    ragione Che rischiara il nostro cammino, agire di conseguenza8..

    A vida intelectual de Bobbio caracterizou-se, dentro de uma temticaampla, por uma produo cientfica plena em quantidade e qualidade sobre aDemocracia.

    Tambm em sua vida pblica, Bobbio lutou muito significativamente emfavor da Democracia.

    Assim o fez j em 1939, ano a partir do qual passou a integrar de maneiraativa o movimento antifascista na clandestinidade o que lhe viria a trazer muitosdissabores pessoais e profissionais por um bom tempo.

    Quanto atuao poltico-partidria, preciso enfatizar que Bobbio filiou-se, ao longo de toda a sua vida, to somente a um Partido Poltico, por um certoperodo: o Partito dAzione, formado e organizado no perodo de 1940 a 1942, ecuja proposta era na linha do que se denomina socialismo democrtico.

    Bobbio colaborou com este partido desde a sua organizao, eespecialmente na edio do primeiro nmero do seu jornal, o LOra dellAzzione,em 1944. Mais adiante e j com a Itlia liberta do jugo nazista, foi colaborador, nacondio de jornalista poltico9, do jornal Giustiza e Liberta, um dirio especficodo Partido da Ao em Torino, de abril de 1945 a outubro de 1946.

    O momento mais significativo e traumtico, contudo, desta curtamilitncia poltico-partidria ocorreu em 2 de junho de 1946, data das eleies paraa Assembleia Constituinte italiana e do referendo sobre Monarquia ou Repblica.

    Bobbio foi candidato, na circunscrio Pdua-Rodivo-Vicenza e Verona,pelo Partido da Ao, realizando a nica campanha eleitoral de sua vida.

    No se elegeu!O seu Partido obteve somente 1,5% dos votos10.Sobre esta experincia, Bobbio escreveu muito tempo depois, entre outros,

    o seguinte texto que merece transcrio: Os partidos de elite em uma democraciaesforam-se para sobreviver. Nas primeiras eleies, o Partito dAzione, lembrobem, porque foi a nica campanha eleitoral que fiz , em 1946, para Constituinte,no obteve nenhuma cadeira. Fez sete deputados conseguidos daqueles que

    naquela lei eleitoral eram os restos. Sete deputados, diante dos cento e quatro doPartido Comunista e dos duzentos e sete da Democracia Crist.

    E arremata: Pense no que significou uma experincia desse gnero parauma pessoa como eu, que ento se defrontava pela primeira vez com a vida pblica

    8 "Em nenhum pas do mundo o mtodo democrtico pode perdurar sem tornar-se um costume (hbito).Mas pode tornar-se um costume sem o reconhecimento da fraternidade (comunidade) que une todos oshomens em um destino comum? Um reconhecimento to necessrio hoje que deste destino comumtornamo-nos a cada dia mais conscientes e devemos, por aquela pouca luz de razo que clareia nossocaminho, consequentemente agir.9 Esta condio de jornalista poltico foi Bobbio quem se auto atribuiu, conforme se constata emBOBBIO, Norberto. O tempo da memria. De senectute e outros escritos autobiogrficos. TraduoDaniela Versiani. Rio de Janeiro: Campus, 1997.Ttulo original: De senectute. p. 129.10 O Partido vencedor naquela eleio foi o da Democracia Crist que obteve 32,5% dos votos vlidos.A este respeito, vide : BOBBIO, Norberto. Dirio de um sculo: Autobiografia.Traduo de DanielaBeccaccia Versiani. Rio de Janeiro: Campus,1998.Ttulo original: Autobiografia. p.76. Tambm emPOLITO, Pietro (org.).Notas biogrficas. In BOBBIO, Norberto. O tempo da memria. De senectute eoutros escritos autobiogrficos, cit. p. 187.

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    ( em 1945 eu tinha trinta e seis anos), que se d conta de que o seu partidopoliticamente no conta nada. 11.

    Dali em diante, ele dedicou-se mais ainda e de forma intransigente, defesa da Democracia, que era indubitavelmente um dos seus valores bsicos12,

    mas sempre na condio de Cientista Poltico, de Filsofo da Poltica e de Jurista e,insista-se, no mais como poltico militante inscrito num partido.

    Ainda no plano da vida poltica, um momento relevante se destaca em suabiografia.

    Em 1984, mais precisamente no dia 18 de julho, o ento Presidente daRepblica Italiana, Sandro Pertini, nomeou Norberto Bobbio como SenadorVitalcio (senatore a vita), com fundamento no artigo 59 da Constituio Italiana,reconhecendo expressamente os altssimos mritos no campo social, cientfico,artstico e literrio13.

    Passando sua produo bibliogrfica, um levantamento no exaustivomostra que Bobbio cuida exclusivamente da Democracia numa obra intitulada OFuturo da Democracia-uma defesa das regras do jogo, publicada na Itlia pelaprimeira vez em 1984, a ser analisada objetivamente, mais adiante, no presenteEnsaio14.

    Alm desta obra, a Democracia se faz presente tambm em grande partedas suas obras, sempre de forma objetiva e racional, ora como categoria central doraciocnio exposto, ora como categoria incidente em outra categoria que se fazcentral no raciocnio expresso.

    Um rol no exaustivo destas obras e exemplos ser fornecido neste ensaio,no momento apropriado.

    A Democracia e seu futuro foi tema tambm de palestras e confernciasque proferiu ao longo de muitos anos, entre as quais destaca-se a conferncia noPalcio das Cortes, em Madrid, a convite de seu Presidente Professor GregrioPeces-Barba, sob o ttulo O Futuro da Democracia, proferida em em novembrode 198315.

    Este texto/palestra, revisto, foi a base, logo no ano seguinte, em maio de1984, da conferncia de abertura no seminrio internacional intitulado Il futuro

    gi cominciato (O futuro j comeou), ocorrido em Locarno, sob a direo doProfessor Francisco Barone.16

    11 BOBBIO, Norberto e VIROLI, Maurizio. Dilogo em torno da Repblica: os grandes temas dapoltica e da cidadania. Traduo de Daniela Beccaccia Versiani. Rio de Janeiro: Campus, 2002. Ttulooriginal: Dilogo intorno alla republica.p. 125.12 Sobre a Democracia como um dos valores fundamentais de Norberto Bobbio na dimenso deproposta melhor vida poltica em Sociedade, vide : PASOLD, Cesar Luiz. Ensaio sobre a tica deNorberto Bobbio. Florianpolis:Conceito Editorial,2008, especialmente da p. 247 a 280.13 POLITO, Pietro (org.).Notas biogrficas.In BOBBIO, Norberto. O tempo da memria. De senectutee outros escritos autobiogrficos. Traduo Daniela Versiani. Rio de Janeiro: Campus, 1997.Ttulooriginal: De senectute. p. 195.14 Na Itlia, a obra foi publicada pelaEunadi Editore, em 1984, sob ttuloIl futuro della democrazia. NoBrasil, a referncia bibliogrfica da obra em destaque : BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia.Uma defesa das regras do jogo. Traduo de Marco Aurlio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz eTerra,1986.Ttulo original: Il futuro della democrazia. Uma difesa delle regole del gioco.15 A informao consta em BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Uma defesa das regras dojogo, p.10.16Idem, ibidem. Este texto de palestra serve como primeiro ensaio constante na obra e fornece o ttuloprincipal ao referido livro.

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    Enfim, a Democracia , sem dvida, tema muito importante nopensamento de Norberto Bobbio que possui, com ela, uma conexo decompreenso cientfica aberta dinamicidade epistemolgica e de adesointelectual.

    E mais, se ideologia for entendida como forma de encarar a vida emSociedade, a Democracia elemento estratgico na ideologia de Bobbio, como sepercebe em sua atuao e em sua produo bibliogrfica.

    3 A CIRCUNSCRIO DO PENSAMENTO DE NORBERTO BOBBIOSOBRE DEMOCRACIA

    3.1 Parmetros da verificao

    At onde vai o pensamento de Bobbio sobre Democracia?

    Qual a abrangncia de suas reflexes e de suas expresses sobre este temade muito interesse e de grande relevncia para a vida poltica da sociedade?Enfim, qual a circunscrio do pensamento de Norberto Bobbio sobre

    Democracia?Optou-se, no presente ensaio, por trabalhar com tres parmetros para

    determinar a circunscrio:1- em que perspectivas epistemolgicas a categoria Democracia pode ter

    sido observada por Bobbio;2- quais os pontos temticos que podem delimitar a abrangncia da

    percepo e/ou da concepo de Bobbio da Democracia; e,3- quais os pontos nucleares sua concepo?

    3.2 As perspectivas epistemolgicas

    Bobbio diferenciou a Cincia Poltica da Filosofia Poltica de modopreciso, contribuindo para a melhor adequao de percepo das abordagens e , deoutra parte, para a mais efetiva identificao do tipo de compromissoepistemolgico assumido pelo estudioso em suas manifestaes sobre qualquertema que diga respeito Poltica.

    Segue-se uma objetiva exposio das perspectivas epistemolgicas para oestudo da Poltica, entendida como forma de atividade ou de prxis humana 17,conforme Norberto Bobbio.

    3.2.1 Cincia Poltica

    Na Cincia Poltica se realiza a observao e descrio da realidade dasrelaes humanas sob a gide do poder, ou, nas prprias palavras de Bobbio: ...cincia poltica compreendida como estudo dos fenmenos polticos conduzidocom a metodologia das cincias empricas e utilizando todas as tcnicas de

    pesquisa prprias da cincia do comportamento...18

    17 BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionrio de poltica, cit.p.954. Vol. 2.18 BOBBIO, Norberto. (org. Michelangelo Bovero) Teoria geral da poltica: a filosofia poltica e aslies dos clssicos, cit. p. 67.

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    Mas o cientista poltico precisa ir alm da mera observao e descrio dosfenmenos polticos, devendo explicar como os Estados nascem, organizam-se edeclinam, e no a justificativa deste ou daquele Estado existente19.

    Portanto, no se trata apenas de levantamento da realidade presente, mas e

    tambm da realidade histrica do ordenador da vida poltica e sua dinmica, oEstado.20

    Bobbio lembra que sendo a Cincia Poltica uma cincia do homem e docomportamento humano, ela tem, como todas as outras cincias humansticasdificuldades especficas que derivam de certas caractersticas do homem, entre asquais enfatiza trs: o homem como animal teleolgico; o homem como animalsimblico; e, o homem como animal ideolgico. 21

    Na Cincia Poltica, a Democracia pode ser observada e descrita nas suasprticas em realidades estatais de um dado momento, ou ao longo de certo perodo

    histrico, sem descuidar da trilogia da condio humana acima mencionada ( ateleolgica, a simblica e a ideolgica).

    Bobbio tratou da Democracia sob a perspectiva da Cincia Poltica emimportantes momentos de sua produo intelectual, a comear pelos enfoqueshistricos sustentados em autores clssicos na sua obra A Teoria das Formas deGoverno22.

    3.2.2 Filosofia Poltica

    No que concerne Filosofia Poltica, Bobbio elaborou uma proposta

    de mapa deste campo do saber, o qual considera composto por quatroterritrios, ou seja, explicita a admisso de quatro possibilidades de estudos ereflexes que lhe delimitem circunscries epistemolgicas.

    A respeito da diferena entre os territrios, Bobbio apresenta um alerta,nestes termos: ... para cada acepo de filosofia poltica corresponde um mododistinto de se propor a questo das relaes entre filosofia e cincia poltica,colocando assim de sobreaviso qualquer um que esteja tentando a acreditar que oproblema tenha uma soluo nica.23

    19 Vide: BOBBIO, Norberto. Ensaios sobre cincia poltica na Itlia . Traduo de Maria Celeste F.Faria Marcondes. Braslia: Editora Universidade de Braslia- So Paulo : Imprensa Oficial do Estado,2001. Ttulo original: Saggi sulla scienza poltica in Italia. P. 197.20 Um dos autores do presente ensaio realizou uma abordagem cientfica da poltica , propondoinicialmente o seguinte conceito para Cincia Poltica: Cincia Poltica a rea de conhecimento,dentro do mais amplo marco das cincias sociais, que, pretendendo transcender a opinio e a meradiscrio, se orienta ao conhecimento sistemtico, livre de valores,rigoroso,explicativo, metdico epotencialmente aplicado das questes polticas de um modo geral. Os resultados esto em CRUZ,Paulo Mrcio. Poltica, Poder, Ideologia e Estado Contemporneo. 2 ed. ver. amp. Curitiba: JuruEditora,2002. O conceito acima transcrito se encontra na p. 31 da op.cit.21 Vide BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco (org.). Dicionrio depoltica. Traduo de Carmen C. Varriale et all, cit.. Vol.1, p.168. Verbete : Cincia Poltica ( Autor dotexto do verbete : Norberto Bobbio)22 Vide BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. Traduo de Srgio Bath. 2 ed. Braslia:Editora Universidade de Braslia,1980. Ttulo original : La teoria delle forme di governo nella storia delpensiero politico: anno accademico 1975-76.23 BOBBIO, Norberto. (org. Michelangelo Bovero) Teoria geral da poltica: a filosofia poltica e aslies dos clssicos. Traduo de Daniela Beccaccia Versiani. Rio de Janeiro: Campus, 2002. Ttulooriginal: Teoria Generale della Poltica, p 67.

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    E especifica 24: Acredito que se possam distinguir pelo menos quatrodiferentes significados de filosofia poltica: O modo mais tradicional e coerentede se compreender a filosofia poltica entend-la como descrio, projeo,teorizao da tima repblica ou, se quisermos, como a construo de um modeloideal de Estado, fundado sobre alguns postulados ticos ltimos, a respeito do qualno nos preocupamos se, quanto e como poderia ser efetivamente e totalmenterealizado. Dessa forma de pensamento participam tambm certas utopias savessas das quais tivemos exemplos muito conhecidos, sobretudo no ltimosculo -, que consistem na descrio ou no da tima republica, mas da pssimarepublica, ou, se quisermos, do modelo ideal de Estado que no se deve realizar.

    No primeiro territrio, Bobbio atuou, por exemplo, na Teoria dasFormas de Governo j referida e, em bons trechos, em Futuro da Democracia.

    Neste, destaque-se a formulao: A democracia nasceu de umaconcepo individualista da sociedade, isto , da concepo para a qual contrariamente concepo orgnica, dominante na idade antiga e na idade mdia,segundo a qual o todo precede as partes a sociedade, qualquer forma desociedade, e especialmente a sociedade poltica, um produto artificial da vontadedos indivduos.25

    De outra parte e no tocante ao segundo Territrio, expe que o segundomodo de se compreender a filosofia poltica consider-la como a busca dofundamento ltimo do poder, que permite responder pergunta: A quem devoobedecer? E por qu?... Nesta acepo, filosofia poltica consiste na soluo do

    problema da justificao do poder ltimo, ou, em outras palavras, na determinaode um ou mais critrios de legitimidade do poder... Todas as filosofias polticas, deacordo com essa acepo, poderiam ser classificadas segundo os diferentescritrios de legitimao do poder em cada circunstncia adotados.

    Este segundo territrio entende-se possa ser identificado como sendo o daTeoria Poltica, que compreendida, pois, como uma das partes da Filosofia daPoltica ou Filosofia Poltica e no como campo de conhecimento que dela sejaautnomo.

    Neste territrio, como se viu, faz-se o exame da ontologia do poder,

    procurando o seu fundamento ltimo para responder s perguntas estratgicas: aquem obedecer? por que obedecer?

    As respostas s indagaes podem sustentar critrios de reconhecimentoda legitimidade do exerccio do poder.

    Aqui estariam abertas as possibilidades de o estudioso efetuar incursesprescritivas, doutrinando a respeito do poder como elemento estratgico dapoltica, e sobre as categorias que lhe dizem respeito em termos de sistemas e dedisciplinamento.

    E, enfim, na Teoria Poltica, o estudo da Democracia h de se realizar,

    portanto, sob compromissos de compreenso e aprofundamento das suas relaescom o Poder considerado em sua essncia, e dos fundamentos para legitimao desua aquisio e para a legitimidade de seu exerccio.

    Tal aspecto Bobbio trabalha muito diretamente no item intitulado Ofundamento do poder no livro Estado, Governo, Sociedade- para uma teoria

    24 BOBBIO, Norberto. (org. Michelangelo Bovero) Teoria geral da poltica: a filosofia poltica e aslies dos clssicos, p.. 67 a 69.25 Conforme BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Uma defesa das regras do jogo, p. 22.

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    geral da poltica26, no qual indaga se o problema da justificao do poder nasceda pergunta: `Admitido que o poder poltico o poder que dispe do uso exclusivoda fora num determinado grupo social, basta a fora para faz-lo aceito poraqueles sobre os quais se exerce, para induzir os seus destinatrios a obedec-

    lo?27.Retorna-se proposta original de Bobbio, para registrar que ele descreve o

    terceiro territrio desta maneira: Por filosofia poltica pode-se entendertambm a determinao do conceito geral de poltica, como atividade autnoma,modo ou forma do Esprito, como diria um idealista, que tem caractersticasespecficas que as distinguem tanto da tica quanto da economia, ou do direito, ouda religio.

    Neste territrio Bobbio ensina28 que quando se opta pelo conceito depoltica como forma ou de atividade ou prxis humana h uma estreita ligao

    com o conceito de poder.Enfatize-se, desde logo, que aqui, no terceiro territrio da Filosofia

    Poltica, a relao se faz com o conceito de poder, enquanto que no territrioanterior, o segundo territrio,repita-se, a preocupao fundamentalmente coma ontologia do poder.

    Quanto ao conceito de poder, Bobbio afirma que o poder tem sidotradicionalmente definido como aquele que ... consiste nos meios adequados obteno de qualquer vantagem (Hobbes) ou, analogicamente, como conjuntodos meios que permitem alcanar os efeitos desejados (Russell). Sendo um destes

    meios, alm do domnio da natureza, o domnio sobre os outros homens, o poder definido por vezes como uma relao entre dois sujeitos, dos quais um impe aooutro a prpria vontade e lhe determina, malgrado seu, o comportamento.29

    Sob tal inteleco, a nfase se encontra na eficcia do poder, vale dizer, noquanto ele atinge dos seus objetivos pretendidos, e no na eficincia, ou seja, noquanto se faz a utilizao dos recursos tcnicos disponveis.30

    Neste territrio, pois, a Democracia dever ser observada precipuamenteno do ngulo de sua instrumentalidade para a eficcia legtima do exerccio dopoder, mas sim da sua prpria legitimao como sistema de composio do

    poder31

    . E, por fim ,Bobbio explica o quarto modo de falar de filosofia poltica: afilosofia poltica como discurso crtico, voltado para os pressupostos, para as

    26 Veja BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade; por uma teoria geral da poltica. Traduo deMarco Aurlio Nogueira. 6 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. Ttulo original: Stato, governo,societ. Per uma teoria generale della poltica, p. 86 a 93..27 BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade; por uma teoria geral da poltica, p. 86.28 Veja BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco (org.). Dicionrio depoltica. 2 ed.Traduo de Carmen C. Varriale et all, vol.2, p.934 a 962. Verbete : Poltica (Autor dotexto do verbete : Norberto Bobbio)29 BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionrio de poltica. 2 ed.Traduo de Carmen C. Varrialle et ali: Braslia: Editora Universidade de Braslia, 1986. Titulooriginal: Dizionario di politica. p. 954.30 Vide propostas de conceito para eficcia e eficincia em PASOLD, Cesar Luiz. Personalidade ecomunicao. 2 ed. rev.amp. Florianpolis: Plus Saber Editora, 2005,em especial p. 39, notas 24 e 25.31 Isto no significa, entretanto, que o autor tenha abandonando sua viso de Democracia como mtodo.Ele a define como governo do povo, mas, simultaneamente, a acolhe como um procedimento. para queo governo possa ser do povo, necessrio que este participe dele. Neste caso, a participao pode serdireta ou indireta, com a configurao, respectivamente, da Democracia direta ou da representativa.

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    condies de verdade, para a pretensa objetividade, ou no valorizao(avalutativit) da cincia poltica.

    Nessa acepo, pode-se falar de filosofia como metacincia, isto , doestudo da poltica em um segundo nvel, que no aquele direto da busca cientficacompreendida como estudo emprico dos comportamentos polticos, mas aquele,indireto, da crtica e legitimao dos procedimentos atravs dos quais conduzidaa pesquisa no primeiro nvel. 32

    Como se verifica, neste derradeiro territrio, a postura demetacincia, comprometida com afazeres crticos quanto aos procedimentos esua legitimao na pesquisa no primeiro nvel, ou seja, na metodologia empregadanos estudos dos comportamentos polticos no plano emprico.

    Aqui, portanto, no se coloca a Democracia como objeto direto de examese consideraes, mas to somente se viabiliza a apreciao quanto adequaometodolgica e epistemolgica dos estudos sobre Democracia no campo daCincia Poltica e, na Filosofia Poltica, nos seus trs primeiros territrios.

    3.3 Pontos temticos de delimitao da abrangncia

    Pesquisa anteriormente realizada por um dos autores do presente ensaio,que teve por objeto o levantamento de consideraes prescritivas e descritivas deBobbio sobre a Democracia em diversas de suas obras e textos 33, redundou emuma seleo de trechos de transcrio literal 34 para possibilitar uma percepopanormica.

    Cada um dos textos eleitos recebeu chamada designativa, e o conjunto dospontos temticos em suas denominaes pode ser considerado como capaz dedelimitar, no definitivamente mas sim significativamente, a abrangncia dasconcepes e reflexes de Bobbio a respeito da Democracia.

    Do referido levantamento, privilegia-se, aqui e agora, um rol revisto dasdenominaes de pontos temticos, que fica assim recomposto35: a base dasConstituies Democrticas Modernas; a Constituio Democrtica; acaracterstica do Estado Democrtico; a fora da Democracia; a natureza da tcnicae a Democracia; Consenso e Dissenso; Democracia e Autocracia; Democracia e

    Burocracia; Democracia e Rascismo; Democracia na Sociedade CapitalistaAvanada; Democracia Moderna X Democracia Antiga; Democracia XTecnocracia; Dinmica da Democracia como Instrumento; Efeito do SufrgioDemocrtico; Eleio Democrtica; Mediocracia; Mtodo Democrtico, SistemaCapitalista e Sistema Socialista; o Futuro da Democracia; Limite da DemocraciaDireta; Participao Democrtica; Partidos Polticos; Pluralismo e Dissenso; PoderDemocrtico e Poder Autocrtico; Requisitos da Boa Democracia; Segredo;

    32 Vide a interpretao de DEntreves para a proposta de Bobbio em : DENTREVES, AlessandroPasserin. Filosofia da Poltica (Verbete).In BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO,Gianfranco (org.). Dicionrio de poltica. Traduo de Carmen C. Varriale et all. 12 ed. Braslia:Editora Universidade Braslia, 2004. Ttulo original: Dizzionario di politica. Vol.1, em especial p.493.DEntreves utiliza como sinnimas as expresses Filosofia Poltica e Filosofia da Poltica.33 O resultado do referido levantamento pode ser examinado em PASOLD, Cesar Luiz. Ensaio sobre atica de Norberto Bobbio, p. 248 a 277.34 Naquele trabalho a parfrase foi considerada como extremamente inconveniente pelos elevadosriscos de deturpar as concepes de Bobbio, e por isto a opo foi por transcries literais.35 Em ordem alfabtica da primeira letra da formulao.

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    Soberania dos Cidados; Sociedade Real e Democracia; Tolerncia e SociedadesDemocrticas.

    Considerada esta ampla, mas no imprecisa, moldura, Bobbio pode serclassificado, sem favor algum, como um dos mais importantes estudiosos da

    Democracia no sculo XX, e sua contribuio a este proeminente tema para a VidaPoltica, tem elevada e indiscutvel relevncia.

    Dentro da circunscrio temtica, Bobbio produziu conceitos e estmulos reflexo quanto Democracia, insertos coerentemente no conjunto do seupensamento sobre esta categoria.

    A ttulo de ilustrao, traz-se ao presente ensaio, cinco trechos (de umgrande elenco de possibilidades, enfatize-se) de Bobbio sobre Democracia, que seencontram transcritos em sua verso literal, para, deliberadamente, afastar os riscosde uma parfrase que no seja capaz de dizer exatamente o que ele escreveu, e para

    permitir a verificao da propriedade ou no dos comentrios objetivos que assucedero ao final.

    O primeiro destaque est composto assim: ...a democracia uminstrumento e apenas um instrumento. Mas um instrumento sem o qual a liberdaderelativa no se transforma por encanto em liberdade absoluta convertendo-se noseu contrrio, na escravido, e a justia em opresso e a felicidade na infelicidadegeral. A democracia no impede ningum de lutar pela consecuo dos prpriosfins, mas exige uma condio: que cada um permita aos outros lutarem pelos finsque acharem melhor e que todos cheguem a um acordo sobre o critrio

    possivelmente mais objetivo para decidir de quando em quando, e nuncadefinitivamente, quais so os fins que devem prevalecer. 36

    O segundo destaque: Os cidados de um Estado democrtico se tornam,atravs do sufrgio universal, mais livres e mais iguais. Onde o direito de voto restrito, os excludos so ao mesmo tempo menos iguais e menos livres.37

    O terceiro destaque: Elemento essencial da democracia integral semprefoi a concepo laica da poltica.38

    O quarto destaque: No h boa democracia sem costume democrtico, ecostume democrtico significa ser honesto no exerccio dos prprios negcios, leal

    na trocas( e isto vlido tambm nas relaes de mercado), respeitar a si e aosoutros, estar consciente das obrigaes, no somente jurdicas, mas tambmmorais, que cada um de ns tem para com prximo, da mesma forma como no sedeve munca cansar de repetir em um pas, no qual fraco o sentido da moral eainda mais fraco o jurdico; enfim, saber distinguir e no confundir interessesprivados e pblicos.39

    E, o quinto destaque: Desde quando a democracia foi elevada condiode melhor forma de governo possvel (ou da menos m) o ponto de vista a partir doqual os regimes democrticos passaram a ser avaliados o das promessas no

    cumpridas. A democracia no cumpriu a promessa do autogoverno. No cumpriu a

    36 BOBBIO,Norberto. As ideologias e o poder em crise. p. 133 e 134.37 BOBBIO, Norberto. Igualdade e liberdade. Traduo de Carlos Nelson Coutinho. 5. ed. Rio deJaneiro: Ediouro, 2002. 96 p. Ttulo original: Eguaglianza e liberta,p.9.38 BOBBIO, Norberto. Entre duas repblicas : as origens da democracia italiana. Traduo de MabelMalheiros Bellati. So Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2001. Ttulo original: Tra due repubbliche-Alle origini della democrazia italiana, p. 114.39 BOBBIO, Norberto. Da democracia para uma certa ideia da Itlia. In. OLIVEIRA JNIOR, JosAlcebades (org.). O novo em direito e poltica. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997. p. 116.

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    promessa da igualdade no apenas formal mas tambm substancial. Ter cumpridoa promessa de debelar o poder invisvel? 40

    Como se percebe nas cinco formulaes eleitas, Bobbio consagra algunsaspectos podem ser considerados como fundamentais para a compreenso terica ea prtica efetiva da Democracia, a saber:

    1 - o carter instrumental da Democracia, mas sempre sob a gide docomprometimento com um fim a alcanar que guarde relao de legitimidade coma Sociedade respectiva;41

    2 - o carter nodal da eleio para a prtica democrtica, e cujauniversalidade condio sine qua non;42

    3- a essencialidade do carter laico da poltica, vale dizer, o seudescolamento de comprometimento com opes religiosas;

    4- valorizar o bem comum ou interesse coletivo, sabendo-o diferente dointeresse particular e, sobretudo, respeitar esta diferena;

    5- a democracia no um sistema completo, pronto, acabado; ela carregapromessas no cumpridas que a fazem um instrumento no integralmentecomposto, seja substantiva seja adjetivamente falando.43

    3.4 Em sntese

    Norberto Bobbio trabalhou com a Democracia tanto como CientistaPoltico quanto como Filsofo da Poltica.

    No primeiro papel, o de Cientista Poltico, ele foi realidade histrica e a

    certos eventos de sua contemporaneidade, sob aprumo metodolgico, semprefocado :

    1- nos fenmenos polticos e2- na dinmica do Estado.No segundo papel, o de Filsofo Poltico ou Filsofo da Poltica, Bobbio

    exercitou pesquisas e reflexes no mbito dos quatro territrios, e o fez , sempre,de modo magistral, guardando coerncia com alguns de seus valores bsicos, entreos quais se destacam, na sua condio de intelectual, a humildade cientfica e oaprumo metodolgico, e no plano da vida pblica, a defesa intransigente da

    Democracia e da Paz.

    40 Vide BOBBIO, Norberto. O Futuro da democracia. Uma defesa das regras do jogo, p. 100.41 Serve continuidade da reflexo sobre este primeiro comentrio, a frase de Nietsche, cujairreverncia fica desde j perdoada: "As instituies democrticas so estabelecimentos de quarentenacontra a velha peste das invejas tirnicas:como tais, muito teis e muito aborrecidas". Assim est em:NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm.O Viajante e sua Sombra. Traduo de Antonio Carlos Braga e CiroMioranza.So Paulo : Escala, 2007. Ttulo original : Der Wanderer und sein Schatten,p.137.42 Sobre o impasse vivido pela regra da maioria e as limitaes das alternativas a ela, leia :CAMPILONGO,Celso Fernandes, Direito e democracia.So Paulo: Max Limonad,1997, em especialp.121.43 Serve continuidade da reflexo sobre este quinto aspecto, a postulao de Randolph Lucas,conforme a qual : Democracia um substantivo, mas deveria ser um adjetivo. E porque umsubstantivo, tendemos a pensar que h algo um sistema particular de governo ao qual ele se refere, eque todos os pases podem ser dispostos em alguma ordem de mrito, de acordo com o seu grau deaproximao com a verdadeira democracia. Em LUCAS, Randolph. Democracia e participao.Traduo de Cairo Paranhos Rocha. Braslia: Editora Universidade de Braslia, 1985.Ttulo original:Democracy and Participation. p.3. Itlico no original.

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    4 O NCLEO DO PENSAMENTO DE BOBBIO SOBRE A DEMOCRACIA

    4.1 Do pensamento geral ao ncleo

    Vistas as caractersticas bsicas da circunscrio do pensamento deNorberto Bobbio sobre Democracia, parte-se para a verificao do ncleo de suapercepo desta categoria.

    Como j enfatizado no presente ensaio, Bobbio espargiu expresses emanifestaes a respeito da Democracia em muitos de seus textos.

    Entre tantos, ressaltam-se os contidos em: Entre dos Repblicas44; AEra dos Direitos 45; As Ideologias e o Poder em Crise46; Norberto Bobbio: ofilsofo e a poltica 47; Qual Socialismo? Discusso de uma Alternativa? 48; Teoria Geral da Poltica: a filosofia poltica e as lies dos clssicos49; DaDemocracia para uma certa Ideia da Itlia 50; Dilogo em torno da Repblica: os

    grandes temas da poltica e da cidadania 51; Direita e Esquerda: razes esignificados de uma distino poltica 52 ;Dirio de um Sculo- Autobiografia53 ;O Tempo da Memria 54; Elogio da Serenidade e Outros Ensaios Morais55;Igualdade e Liberdade56; Ensaios Escolhidos57 ;e, last but not least, O Futuroda Democracia- em defesa das regras do jogo58.

    Examinadas todas estas obras na busca de uma na qual se encontre ocerne, o centro nuclear do pensamento de Bobbio sobre Democracia, elege-se OFuturo da Democracia - em defesa das regras do jogo.

    E assim se faz no por encanto pelo ttulo, mas sim pela lgica estrutural e

    pelo contedo estrategicamente colocado neste livro, como se demonstra emseguida.

    44 BOBBIO, Norberto. Entre dos repblicas- em los origines de la democracia italiana.Taduccin deOmar Alvarez Salas.Mxico,D.F.: Siglo Veintiuno Editores, 2002. Titulo original : Tra duerepubbliche- alle origini della democrazia italiana.45 BOBBIO, Norberto. A Era dos direitos. Traduo de Carlos Nlson Coutinho. 5 reimp. Rio de

    Janeiro: Campus, 1992. Ttulo original: L Ett dei Diritti46 BOBBIO,Norberto. As ideologias e o poder em crise. .47 BOBBIO, Norberto. (org. Jos Fernndez Santilln). Norberto Bobbio: o filsofo e a poltica.Traduo de Cesar Benjamin e Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2003. Ttulo original:Norberto Bobbio: el filosofo y la politica48 BOBBIO, Norberto. Qual socialismo?Discusso de uma alternativa. Traduo de Iza de Salles Freaza.3 ed. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1987.Ttulo original : Quale Socialismo?49 BOBBIO, Norberto. (org. Michelangelo Bovero) Teoria geral da poltica: a filosofia poltica e aslies dos clssicos.50 BOBBIO, Norberto. Da democracia para uma certa ideia da Itlia. In. OLIVEIRA JNIOR, JosAlcebades (org.). O novo em direito e poltica. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997.51BOBBIO, Norberto e VIROLI, Maurizio. Dilogo em torno da repblica: os grandes temas da polticae da cidadania.52 BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: razes e significados de uma distino poltica.53 BOBBIO, Norberto. (org. de Alberto Pappuzi). Dirio de um sculo. Autobiografia. Traduo deDaniela Versiani. Rio de Janeiro: Campus, 1998. Ttulo original: Autobiografia54 BOBBIO, Norberto. O tempo da memria. De senectute e outros escritos autobiogrficos.55 BOBBIO, Norberto. Elogio da serenidade e outros ensaios morais.Traduo de Marco AurlioNogueira. So Paulo: Editora UNESP, 2002. Ttulo original: Elogio della mitezza e altri scritti morali.56 BOBBIO, Norberto. Igualdade e liberdade.57 BOBBIO, Norberto. Ensaios escolhidos Histria do Pensamento Poltico. Traduo de Srgio Bath.So Paulo: C.H. Cardime Editora, s/d. (sem ttulo original no exemplar utilizado).58 BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. Uma defesa das regras do jogo .

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    4.2 Panorama de O Futuro da Democracia

    Do ponto de vista estrutural, a obra est composta de uma Premissa emais sete ensaios originalmente publicados na Itlia nos anos 1984, 1978, 1983,

    1980,1981,1982, 1983, nesta ordem.Os ttulos dos ensaios denotam a abrangncia temtica e j insinuam e/oudeclaram pontos nodais , assim : O futuro da democracia; Democraciarepresentativa e democracia direta; Os vnculos da democracia; A democraciae o poder invisvel; Liberalismo velho e novo; Contrato e contratualismo nodebate atual; Governo dos homens ou governo das leis?.

    A leitura destes textos evidencia que, neles, Bobbio exercita suasqualidades especiais, tanto as do Cientista Poltico, quanto as do Filsofo daPoltica e, nesta, em seus quatro territrios.

    4.3 Na Premissa: cinco pontos nucleares

    Na Premissa, Bobbio estabelece parmetros do tratamento conferido nosensaios , bem como esclarece aspectos da abordagem que neles realizada, e nestemister acaba por fornecer alguns dos aspectos componentes do centro nuclear deseu pensamento sobre Democracia.59

    Destacam-se cinco premissas, a seguir especificadas em transcriesliterais, sob o temor de quebra de fidelidade ao contedo no caso de emprego deparfrase, dadas algumas sutilidades que devem ser preservadas em sua

    integralidade.A sua primeira premissa : A democracia no goza no mundo de timasade, como de resto jamais gozou no passado, mas no est beira do tmulo.60

    A segunda: Para um regime democrtico, o estar em transformao seuestado natural: a democracia dinmica, o despotismo esttico e sempre igual asi mesmo. 61

    A terceira: Enquanto a presena de um poder invisvel corrompe ademocracia, a existncia de grupos de poder que se sucedem mediante eleieslivres permanece, ao menos at agora, como a nica forma na qual a democracia

    encontrou a sua concreta atuao.62

    A quarta: ... o ausente crescimento da educao para a cidadania, segundoa qual o cidado investido do poder de eleger os prprios governantes acabaria porescolher os mais sbios, os mais honestos e os mais esclarecidos dentre os seusconcidados, pode ser considerado como o efeito da iluso derivada de umaconcepo excessivamente benvola do homem como animal poltico: o homempersegue o prprio interesse tanto no mercado econmico como no poltico.63

    59 na Premissa, Bobbio afirma que os ensaios contidos no livro so textos que em outros tempos seriamchamados de filosofia popular. Assim est em BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. Umadefesa das regras do jogo, p. 14. Esta classificao no encontra respaldo na leitura atenta dos textos ,porque, insista-se, na verdade os textos so excelentes trabalhos tanto de Cincia Poltica, quanto deFilosofia Poltica..60 BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Uma defesa das regras do jogo, p. 9.61Idem, ibidem.62Idem, p.11.63Idem, ibidem.

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    A quinta premissa: ... uma preocupao essencial: fazer descer ademocracia do cu dos princpios para a terra onde se chocam corposos [ sic]interesses. 64

    4.4 Os elementos nodais extrados dos ensaiosA leitura dos sete ensaios permite a identificao de mais alguns

    elementos nodais do pensamento de Bobbio sobre a Democracia, alm daquelesencontrados na Premissa, como segue.

    4.4.1 No ensaio O FUTURO DA DEMOCRACIA 65

    1 Neste ensaio, ressalta-se inicialmente uma definio mnima dademocracia , conforme a qual: a Democracia uma contraproposta a qualquerautocracia , e, se configura por um conjunto de regras (primrias ou

    fundamentais) estabelecidas para fixar quem est autorizado a tomar as decisescoletivas e com quaisprocedimentos.;

    2- o Estado Liberal se constitui em pressuposto histrico e jurdico doEstado Democrtico;

    3- de um lado, a Democracia nasceu de uma concepo conforme a qual asociedade poltica produto artificial da vontade dos indivduos, vale dizer, elaveio de uma matriz individualista; de outra banda, ela nasceu como mtodo delegitimao e de controle das decises polticas em sentido estrito, ou do governopropriamente dito;

    4- a relao entre Democracia e Tecnocracia se caracteriza comoantittica.

    4.4.2 No ensaio Democracia Representativa e Democracia Direta 66

    1- o significado genrico da expresso democracia representativa o deque as deliberaes pertinentes toda a coletividade sejam tomadas pelas pessoaseleitas para tal mister;

    2- o referendum um expediente extraordinrio para circunstnciasextraordinrias e se caracteriza como o nico mecanismo da democracia direta

    de concreta aplicabilidade e de efetiva aplicao na maior parte dos estados dedemocracia avanada;

    3 - da essncia da Democracia dos modernos a liberdade melhor :a liceidade do dissenso, que deve ser, contudo, circunscrito por regras do jogodemocrtico.67

    64 BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Uma defesa das regras do jogo, p. 14.65Idem, p. 17 p. 40.66Idem, p. 41 p. 64.67 Serve continuidade de reflexes sobre este aspecto, a formulao de Kelsen: Uma vez que oprincpio de liberdade e igualdade tende a minimizar a dominao, a democracia no pode ser umadominao absoluta, nem mesmo uma dominao absoluta da maioria. Assim est em KELSEN, Hans.A Democracia.Traduo de Ivone Castilho Benedetti, Jefferson Luiz Camargo e Vera Barkow. SoPaulo: Martins Fontes,1993. Ttulo original: Vom wesen und wert der Demokratie.

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    4.4.3 No ensaio Os Vnculos da Democracia 68

    1- o conceito preliminar de sistema democrtico proposto por Bobbio ode que ele deve ser entendido como um conjunto de regras de procedimento, sendo

    que a regra da maioria a principal mas no a nica ;2- o sistema democrtico legitimado na periodicidade de eleieslivres e com sufrgio universal;

    3- o grau de democraticidade de um sistema determinado peloposicionamento e pelo deslocamento dos limites incidentes sobre as liberdades, emespecial a de associao e a de opinio.

    4.4.4 No ensaio A Democracia e o Poder Invisvel 69

    1- a distino entre poder democrtico e poder autocrtico est no fato de

    que apenas o primeiro pode desenvolver em si mesmo os anticorpos e consentirem formas de desocultamento, e o faz abrindo-se livre crtica e da liberdade deexpresso dos pontos de vista dos integrantes da Sociedade;

    2- a publicidade dos atos de poder o verdadeiro marco de transformaodo estado absoluto para o estado de direito.

    4.4.5 No ensaio Liberalismo Velho e o Novo 70

    Neste ensaio, destaca-se um elemento nodal do pensamento de Bobbio,que merece transcrio literal pela sua contundncia e elevada polemicidade: o

    estado paternalista de hoje a criao no do prncipe iluminado, mas dosgovernos democrticos.71

    4.4.6 No ensaio Contrato e Contratualismo no Debate Atual72

    Tambm aqui h um elemento nodal que se optou por destacar, pela suacondio de componente fundamental ao pensamento de Bobbio sobreDemocracia.

    Trata-se da declarao da importncia mor da Constituio e de seucontedo para a vida democrtica, assim : A vida poltica se desenvolve atravs

    de conflitos jamais resolvidos em definitivo, e cuja resoluo acontece medianteacordos momentneos, trguas e esses tratados de paz mais duradouros que so asconstituies.73

    Importante destacar, aqui, que do ponto de vista da teoria da democracia, aconsequncia fundamental da leitura bobbiana das democracias grega erousseauniana um certo distanciamento de sua concepo de democraciaparticipativa em relao mais importante tradio desse tipo de democracia, que a tradio da democracia direta, constituda precipuamente por elas.

    E isto, no apenas porque ambas aquelas concepes clssicas so diretas,

    mas, primordialmente, por serem excessivamente participativas e, assim, compossibilidades de contaminao por contedo totalitrio.

    68 BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Uma defesa das regras do jogo, cit. p. 65 p.82.69Idem, p. 83 p.106.70Idem, p. 107 p.128.71Idem, p.122.72Idem, p. 129 149.73Idem, p. 132.

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    4.4.7 No ensaio Governo dos Homens ou Governo das Leis 74

    Deste Ensaio colhe-se um componente fundamental da Teoria Poltica deBobbio sobre a Democracia, que a sua explcita e enftica preferncia pelo

    governo das leis em detrimento ao governo dos homens, porque no primeiro quetriunfa a Democracia!

    5 CONSIDERAES FINAIS

    indiscutvel a vocao de Norberto Bobbio para trabalhar temaspolticos, em patamar de elevada qualidade metodolgica, epistemolgica eaxiolgica, como Cientista Poltico e como Filsofo da Poltica.

    Bobbio costumava operar o mtodo indutivo na fase de investigao,trabalhando tanto com a forma descritiva quanto com a prescritiva, sob o suporte

    da aplicao zelosa, na abordagem, do mtodo analtico devidamentecompatibilizado com o mtodo histrico.Utilizava, de maneira predominante a dicotomia e a, s vezes, a trade

    como tcnicas, sabendo, como poucos, expressar as dades e explor-las aomximo na funo de informar e fornecer elementos de formao ao seu leitor.

    Disto resultaram textos cujos contedos so primorosos seja na sua lgicaseja na sua capacidade de estimular debates e reflexes.

    Especificamente quanto Democracia, tambm pontificam todas estasqualidades extraordinrias de um Intelectual responsvel e extremamente

    competente como foi Norberto Bobbio.O alcance das ideias de Bobbio sobre Democracia e, destacadamente, oncleo bsico sustentador de seus exerccios a respeito dela conforme expostos nopresente ensaio, demonstram a excelncia dos seus fundamentos epistemolgicos ede seus fundamentos axiolgicos, e confirmam a efetiva qualidade estimuladora deseus textos.

    Talvez seja possvel arriscar que a maior qualidade de Bobbio em suaprofcua produo sobre a Democracia seja a adequada relao compreensivadireta entre a teoria e a prtica75 que ele consegue estabelecer com solidez e

    clareza. Enfim, pretende-se que o presente ensaio signifique mais uma contribuio continuidade do cultivo da memria de Norberto Bobbio que, nas homenagens aoseu centenrio de 2009, foi devidamente reverenciada por todos aqueles que oadmiram, mas que no deve cessar ali.

    6 REFERNCIAS

    AGOSTI, Paola e REVELLI, Marco (org.). Bobbio e il suo mondo- storie diimpegno e di amicizia nel 900. Torino: Nino Aragno Editore, 2009.

    BOBBIO, Norberto. O tempo da memria. De senectute e outros escritosautobiogrficos. Traduo Daniela Versiani. Rio de Janeiro: Campus, 1997.Ttulooriginal: De senectute.

    74 BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Uma defesa das regras do jogo, p. 151 171.75 A respeito da relao compreensiva entre teoria e prtica , vide SARTORI, Giovanni. A poltica.Traduo de Srgio Bath. Braslia: Editora Universidade de Braslia, 1981. Titulo Original: La poltica:logica e metodo in scienze sociali, especialmente p. 75 a 80.

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    Paulo Mrcio Cruz e Cesar Luiz Pasold Norberto Bobbio e a democracia 73

    BOBBIO, Norberto e VIROLI, Maurizio. Dilogo em torno da repblica: osgrandes temas da poltica e da cidadania. Traduo de Daniela BeccacciaVersiani. Rio de Janeiro: Campus, 2002. Ttulo original: Dilogo intorno allarepublica.

    BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Uma defesa das regras do jogo.Traduo de Marco Aurlio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1986.Ttulooriginal: Il futuro della democrazia. Uma difesa delle regole del gioco.

    BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: razes e significados de uma distinopoltica. Traduo de Marco Aurlio Nogueira. 2 ed. So Paulo: Unesp, 2001.

    BOBBIO, Norberto. As ideologias e o poder em crise. 4 ed. Traduo de JooFerreira. Braslia: Editora Universidade de Braslia, 1995.Ttulo original: Ideologie

    e il potere in crise.BOBBIO, Norberto. (org. Michelangelo Bovero) Teoria geral da poltica: afilosofia poltica e as lies dos clssicos. Traduo de Daniela BeccacciaVersiani. Rio de Janeiro: Campus, 2002. Ttulo original: Teoria Generale dellaPolitica.

    BOBBIO, Norberto. Ensaios sobre cincia poltica na Itlia . Traduo de MariaCeleste F. Faria Marcondes. Braslia: Editora Universidade de Braslia- So Paulo :Imprensa Oficial do Estado, 2001. Ttulo original: Saggi sulla scienza poltica in

    Itlia.BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco (org.).Dicionrio de poltica. Traduo de Carmen C. Varriale et all. 12 ed. Braslia:Editora Universidade Braslia, 2004. Ttulo original: Dizzionario di politica. Vol.1e Vol.2.

    BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. Traduo de Srgio Bath. 2ed. Braslia: Editora Universidade de Braslia,1980. Ttulo original : La teoria delleforme di governo nella storia del pensiero politico: anno accademico 1975-76.

    BOBBIO, Norberto. Igualdade e liberdade. Traduo de Carlos Nelson Coutinho.5. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. 96 p. Ttulo original: Eguaglianza e liberta.

    BOBBIO, Norberto. Entre duas Repblicas : as origens da democracia italiana.Traduo de Mabel Malheiros Bellati. So Paulo: Imprensa Oficial do Estado,2001. Ttulo original: Tra due repubbliche- Alle origini della democrazia italiana.

    BOBBIO, Norberto. Entre dos Repblicas- em los origines de la democraciaitaliana.Taduccin de Omar Alvarez Salas.Mxico,D.F.: Siglo Veintiuno Editores,2002. Titulo original : Tra due repubbliche- alle origini della democrazia italiana.

    BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Traduo de Carlos Nlson Coutinho. 5reimp. Rio de Janeiro: Campus, 1992. Ttulo original: L Ett dei Diritti.

    BOBBIO, Norberto. (org. Jos Fernndez Santilln). Norberto Bobbio: o filsofoe a poltica. Traduo de Cesar Benjamin e Vera Ribeiro. Rio de Janeiro:Contraponto, 2003. Ttulo original: Norberto Bobbio: el filosofo y la politica.

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    74 Direitos Culturais, Santo ngelo, v. 5, n.8, p. 57-74, jan./jun. 2010

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    Data de recebimento: 10 de maio de 2010

    Data de aprovao: 24 de maio de 2010