no entanto #58

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Bipolaridade: entre extremos #58 o entanto Jornal experimental do 4 período de jornalismo da Ufes. Maio 2012 N , o

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Primeira edição do ano de 2012 do Jornal No Entanto, prosuzido pela turma 2010/2.

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Page 1: No Entanto #58

Bipolaridade:entre extremos

#58

o entantoJornal experimental do 4 período de jornalismo da Ufes. Maio 2012

N ,o

Page 2: No Entanto #58

O No Entanto é o jornal experimental do curso de Comunicação Social com ha-

bilitação em jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo, Ufes. Feito por

alunos do 4‘ período. Av. Fernando Fer-rari, 514, Goiabeiras/ Vitória-ES.

Professor OrientadorVictor Gentilli

EdiçãoCecília Moronari - Karina MauroLívia Pádua - Mariana Massariol

Paula Tessarolo - Víviann Barcelos

EquipeAndressa Andrade - Cecilia Moronari

Cristian Favaro - Edberg FrançaGilberto Medeiros - Ismael Inoch

Jéssica Lopes Rebel - Jhones CorbellariKarina Mauro - Karoline Lyrio

Klebert Silva - Lais LorenzoniLetícia Comério - Livia Padua Fonseca

Luis Zardini Jr - Magalli LimaMariana Bolsoni - Mariana Massariol

Mariana Salomão - Paula GamaPaula Tessarolo - Raquel Henrique

Samylla Estofel -Tamiris MazinVanessa Ferrari -Vilcyene Rangel

Viviann Barcelos

DiagramaçãoCristian Favaro Carriço

Karol LyrioKlebert Silva

Letícia ComérioMagalli Souza Lima

Ilutração de capaFernanda Barata - aluna do 7º período de

Publicidade e Propaganda da Ufes

Tiragem Impressão1.000 exemplares Gráfica Universitária

Ilustração: Karol Lyrio

Necessidade de dizerEquipe de edição

Imagine ser um jornalista iniciante e se deparar com um mundo de ideias para colocar no papel! Porém, ideias que devem ter seus caracteres contados, compromisso ético e que, principalmente, tem a obrigação de despertarem o interesse do leitor.

Foi exatamente assim que nós, estudantes do 4º período de jornalismo da Ufes, nos senti-mos nesta primeira edição do No Entanto 2012/1. Sugerir pautas, procurar fontes, entre-vistar pessoas, cumprir prazos, refazer matérias e correr contra o tempo nos fez sentir responsáveis pela tarefa que escolhemos para a vida: comunicar.

Durante o caminho percebemos que política é uma simples palavra que determina desde o nosso lanche na cantina até o nosso voto; e, por isso, deve ser valorizada. Descobrimos histórias, carregadas de simplicidade, que precisavam sair dos bastidores para tornarem-se exemplos de superação, de vida. Foi a oportunidade de aprender a ouvir para falar através das palavras.

Por fim, Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio, nos ajuda muito nessas horas. Ele diz assim: “Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz hu-mana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos ohos, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada. (Celebração da voz humana/2, O livro dos abraços)”.

E você, o que tem a nos dizer?Boa leitura!

No Entanto, edição 58, Maio de 2012

3 AquaviárioNovo terminal sem data para sair do papel

4 Cantinas da UfesComer, é o melhor para poder crescer?

6 BipolaridadeEntre extremos

10 PolíticaPara quem precisa de política

9 MulheresElas enfrentaram o machismo e assumiram o controle da situação

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Quem Faz

Foto: Gilberto Medeiros

Page 3: No Entanto #58

,3No Entanto, edição 58, Maio de 2012

Apesar das promessas, o novo Aquaviário não tem data para funcionar

Terminal aquaviário: um sonho ainda distante

Os três novos terminais aquaviários entre Vitória e Vila Velha auxiliarão no trânsito das duas cidades. Entretanto, os capixabas ainda terão que aguardar o projeto sair do papel

Gilberto Medeiros

Apesar das constantes promessas feitas pelos governantes capixa-bas nos últimos anos, vai demo-

rar para um novo sistema de transporte aquaviário de passageiros público en-tre Vitória e Vila Velha sair do papel e botar na água as quatro lanchas previs-tas pelo governo do estado para operar.

Mesmo após o governador Renato Casa-grande prometer, no final do ano passado, que o aquaviário voltaria em 2013, o go-verno não tem data marcada e a fase atual é de estudos. A Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) infor-mou que os dados vão servir para elaborar o modelo de gestão, o tipo e a quantidade de embarcações, locais dos terminais de embarque e desembarque de passageiros.

O primeiro passo vai ser a demolição do Ter-minal Dom Bosco, na Ilha de Santa Maria.A unidade está abandonada e a Setop informou que o projeto de demolição

está em andamento, mas também não há data fixada para por abaixo o Dom Bosco. Pesou na decisão pela demolição o fato de cerca de 20 moradores de rua utilizarem o prédio para morar.

Guilherme Pires de Souza, 17 anos, estu-dante, queixou-se de depender dos ôni-bus para sair de casa, em Vila Velha, para vir para Vitória. “De minha casa até o aquaviário da Prainha de Vila Velha eu vou de bicicleta e chego em dez minutos. Era só ter um bicicletário grande em cada terminal que muita gente ia deixar de pegar ônibus”, acredita.

Quatro lanchas e 3 termi-nais para dois municípios

Inicialmente previsto para iniciar o trans-porte entre continente e ilha em 2010, o sistema aquaviário vai operar com quatro lanchas para 200 passageiros

cada. Elas vão ligar três terminais de em-barque e desembarque de passageiros.

Dois pontos ficam em Vitória: um, no Cen-tro, e outro na Praça do Papa, na Enseada do Suá. Em Vila Velha, os passageiros terão somente a estação da Prainha. Os estudos também avaliam a possibilidade futura de pontos em Cariacica e Paul (Vila Velha).

Embora o governo evite marcar uma data para o início da operação e, com o mistério, faça aumentar as dúvidas so-bre a volta do transporte aquaviário de passageiros público, o esboço de como será esse sistema já consta de documen-tos oficiais de planejamento de governo.

Desde 2007 o aquaviário está nas pá-ginas de dois documentos norteadores dos investimentos do Executivo es-tadual: o Plano de Desenvolvimento Espírito Santo 2025 e o Programa de Gerenciamento Intensivo de Projetos.

Foto: Gilberto Medeiros

Page 4: No Entanto #58

No contrato está estabe-lecida a proibição de comer-cialização de qualquer bebida alcoólica e cigarros nas depen-dências do campus da Ufes, conforme determinação da re-solução do Conselho Universi-tário nº 36/87.

Ir à cantina é um hábito frequente dos universitários da Ufes e de quem frequenta a instituição. De 7h às 21h,

as cantinas funcionam a todo vapor, esperando as filas que se formam entre os intervalos das aulas. Mal sabemos, porém, que para o cafezinho nosso de cada dia estar na cantina à nossa espera são necessários procedimentos, fiscalizações e regulamentações

De acordo com Fernando Antonio Maia, diretor do Departamento de Serviços Ge-rais da Prefeitura Universitária, a Ufes possui seis cantinas nos campi de Goia-beiras e Maruípe. Todas regulamentadas. Para a abertura é preciso, primeiramente, ser constatada a necessidade do estabele-cimento naquele lugar. “É feito um estudo para saber dessa necessidade e depois é fei-to um projeto. Após a aprovação é aberto um processo licitatório. Qualquer espaço público necessita de licitação. Os contra-tos têm validade de um ano, podendo ser

renovado por até cinco anos e, por isso, periodicamente é iniciado todo esse pro-cesso novamente. Qualquer empresa pode se inscrever para conseguir a concessão.”, afirma.

As duas cantinas que estavam no Centro de Artes funcionavam em local irregular e não possuíam contrato. “E não tinha

como elas se regularizarem? Só por meio de licitação. Alegaram não valer a pena já que, pelo lucro mensal, não conseguiriam pagar aluguel, água e energia”, disse Fer-

nando. Porém, apesar de irregulares, elas funcionavam naquele espaço há décadas e nunca houve mobilização, de nenhuma das gestões anteriores, de tentar regulari-zar a situação. Após o fechamento dessas cantinas, houve a constatação da necessi-dade de uma cantina naquelas imediações. Por isso está sendo construída uma cantina central, para atender a todo Centro de Ar-tes. A previsão de término das obras é de 120 dias, ou seja, o prazo é até meio do ano.

No contrato, é regulamentado o horário de funcionamento, a concessão de uso, justifi-cativa para abertura da cantina, garantias de execução do contrato e a prorrogação, que quase sempre é concedida. Aluguel, água e energia são pagos a partir de um boleto, gerado pelo Departamento de Con-tabilidade e Finanças (DCF). Esse montan-te é depositado no banco e vai diretamente para a conta da universidade, sem passar por terceiros.

Além das cláusulas burocráticas, atual-mente a preocupação com o meio am-biente também é analisada. Normas de sustentabilidade ambiental já constam no projeto de regulamentação, não só das can-tinas, mas também de todo estabelecimen-to aberto dentro do espaço federal. Outro ponto relevante no contrato é a existência de um cardápio básico, obrigatório em to-das as cantinas. E ainda, normas de tipos de salgados, bolos, sucos, sachês individuais e qualidade dos produtos. A Prefeitura Mu-nicipal de Vitória e a Vigilância Sanitária fiscalizam as cantinas, além dos fiscais da Prefeitura Universitária (PU), que visitam cada estabelecimento mensalmente.

Saiba como funcionam as cantinas na UfesJéssica Rebel e Samylla Estofel

4 No Entanto, edição 58, Maio de 2012

Fotos: Tamires Mazin

Canteiro de obras do Centro de Artes

Page 5: No Entanto #58

algumas sugestõesVeja

alternativas

Cafés, pães de queijo, mistos, coxi-nhas, x-tudo, refrigerantes. A lista de coisas gostosas e calóricas que

as cantinas da Ufes possuem é enorme e, por isso, temos que prestar atenção no que estamos comendo. Será que coxinha e re-frigerante é um belo café da manhã? E o tão desejado cafezinho com pão de queijo? Tá liberado?

Segundo a coordenadora do curso de Nu-trição da Ufes, Luciane Bresciane Salaroli, “a sugestão de cardápio básico dada pela Ufes é variada e possui tanto alimentos saudáveis (pouca quantidade) como não saudáveis. Pelo que vejo em algumas can-tinas, a disposição de alimentos nas vitri-nes, desfavorece o consumo de alimentos saudáveis, uma vez que em grande parte ficam disponível salgados, que mesmo assados, possuem grande quantidade de carboidratos e gorduras e o aluno/profes-sor acaba escolhendo o que vê disponível”. Luciane afirma que falta espaço para ex-por sanduiches naturais e frutas in natura, além das saladas de frutas. Cartazes com alimentos saudáveis também seriam uma

boa ideia para estimular as pessoas, pen-sando no combate à obesidade entre jovens e adultos.

Em uma série de entrevistas com qua-renta estudantes da Ufes de Goiabeiras, em vários pontos do campus, foi con-cluído que os alimentos mais consumi-dos são salgado assado, alimentos com pão – na chapa/ misto/ com salada –, sucos, Guaravita e refrigerante. Quatro estudantes entrevistados afirmaram não lanchar na Ufes, devido à pequena va-riedade de alimentos saudáveis. Disseram ainda que preferem trazer lanches, não só pelo aspecto nutricional, mas também pelo financeiro.

Para a nutricionista “A cantina não deveria estimular o consumo de refrigerantes. As vezes o suco em caixa ou lata possui quan-tidade elevada de açúcar, porém é um há-bito melhor.” E ainda completou: “O mais indicado é consumir suco da fruta ou polpa com nenhum ou pouco açúcar. O salgado assado com o tipo de massa similar ao da empada, tem elevada quantidade de gor-dura saturada e do tipo trans, prejudicial

Quem está certo e o que tem de diferenciado

A cantina do Centro de vivên-cia e do CCJE são do mesmo dono, portanto os preços são os mesmos e cardápio também. É encontrado o cardápio base exigido.

A cantina da Educação Físi-ca possui o cardápio básico exigido. Nesta, o que há de diferente são os sanduíches estilo “X” (X-burger, X-Tudo, X-Egg e o inusitado X-Vasco).

Cantina do IC e/ou CCHN (essa cantina atende aos dois centros), também possui o cardápio básico exigido. De diferente tem: pão, bacon, sanduíches estilo “X”, cachorro quente, pastel de camarão, pizza role e sanduíche natural light. Como um todo esta é a cantina mais barata localizada na Ufes de Goiabeiras.

O CT tem, em sua cantina, o cardápio base exigido. Além deste, vende iogurte e sanduíches estilo “X”.

,5 No Entanto, edição 58, Maio de 2012

Curiosidades

• A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere que a quantidade de açúcar ingerida por dia seja menor que 50g. Para o sal, a sugestão é de 2,5g.

• Cinco quadradinhos de uma barra de chocolate têm 21,26g de açúcar.

• Um copo americano de Nescau líquido contém 30g de açúcar.

• Um copo americano de Coca-Cola possui 21g de açúcar.

Cantina do IC

O segredo para uma ali-mentação saudável é sem-

pre procurar alimentos fres-cos, menos industrializados

e que possuem menores quantidades de açúcar e

sal.

Page 6: No Entanto #58

Bipolaridade. Falar sobre ela pode ser até fácil. Aquela doença que aquele seu amigo diz ter, só

porque vive a mudar de humor repenti-namente . A única coisa que há de se lem-brar é de que: todas as pessoas do mun-do também mudam de humor a ponto de começar o dia tristes e acabá-lo salti-tantes. Não, definitivamente, o Trans-torno Afetivo Bipolar, ou TAB, não se resume a algumas simples mudanças de temperamento durante uma rotina. A bipolaridade é uma doença difícil de ser diagnosticada, demorada de ser recon-hecida e complicada até na nomeação.Inicialmente foi designada como “Es-tados Mistos”, depois passou para “Psi-cose Maníaco-Depressiva” e, devido ao nome ser tão estigmatizado, a ba-tizaram como TAB .

A ideia era que o “maníaco ou psicóti-co” (assim era chamada a pessoa com a doença) não fosse vista como alguém como distúrbios mentais ou incapaz de viver em sociedade. Então, o “maníaco/psicótico” se tornou o bipolar. E com a nova nomeação, a doença passou a ser vista como algo atrativo a mui-tas pessoas, a ponto de banalizarem. Mas é preciso pontuar que apenas 1,5% da população mundial é bipolar.

Não se sabe, ao certo, a origem da bi-

Bipolaridade: entre extremos

Origem

t o -dos e s -t ã o a g i n d o para lhe pro-vocar ou intimidar. O lítio é a substância base para controlar a bipolari-dade, usada como estabilizado-ra de humor . Antes dessa desco-berta o tratamento era difícil, quase experimental. Depois dela, as coisas se tornaram mais fáceis para alguns, mas ainda assim, ex-tremamente difícil para outros. Cada caso apresenta sua particularidade. Cada pessoa enfrenta seus própri-os problemas e dilemas. E assim, não dá para julgar quem aceita o tratamento, e quem não consegue levá-lo a diante. O único fator em comum a todos que sofrem de bipo-laridade é a busca pelo autocontrole.

polaridade. O que se sabe, é que ela não tem cura.Possui tratamento, sim. Pos-sui medicamento específico, também. No entanto, a doença se instaura sem oferecer motivos. De acordo com Elizeu Borloti, doutor em psicologia e especia-lista em terapia comportamental e cog-nitiva, é possível desenvolver, ou herdar o transtorno. E os sintomas também dependem do grau de reação. Há pes-soas com variações de ciclos de humor mais leve, que também não deixa de ser grave, e outras com estados mais sérios. “O padrão de comportamento é carac-terizado por uma perturbação mista de humor, da depressão à euforia”, diz ele.

Essa é a grande questão da doença. Uma pessoa bipolar sofre com os ci-clos extremos da variação de humor. A ponto de passar semanas, meses ou até anos, em depressão. E esses ciclos surgem acompanhados de delírios, isolamento, queda na autoestima, tendências de autodestruição, proble-mas de concentração e de memória, medo, insegurança, entre outros. Já nas fases de euforia, a exaltação excessiva é a grande característica. Não é preciso nenhum motivo para a excitação. A pessoa fica agitada demais, fala exces-sivamente, não se priva das situaçõe e, se torna eufórica e egocêntrica a ponto de achar que

Entender o que se passa com pessoas que sofrem de transtorno bipolar é algo difícil. E mais complicado que isso, é entender a bipolaridade como uma doença grave. Aqui, além de uma breve explicação, há quatro casos de pessoas que vivem entre a depressão e a euforia.

Magalli Souza Lima

6 No Entanto, edição 58, Maio de 2012

Page 7: No Entanto #58

Cariê Lindemberg, um dos donos da Rede Gazeta. O homem que construiu um im-pério de comunicação dentro do Espírito Santo. O mesmo homem que descobriu, por volta dos 40 anos, que era bipolar. Na época, não percebeu que sofria de uma doença, apenas achava que possuía um defeito particular. Hoje, analisando o passado, sentado na cadeira da sala de visitas, relembra que foram as pessoas que trabalhavam com ele, as primeiras a perce-berem algo de diferente e estranho, em seu comportamento. O pai, o ex-governador Carlos Fernando Lindemberg, foi avisado sobre a euforia do filho. E, resolveu então surpreendê-lo com uma consulta repen-tina. “Levaram-me ao psiquiatra. Um ve-lhinho muito simpático, de topete, que me

atendeu. Ele ficou comigo numa sala umas duas horas conversando.

Depois, mandou meu pai e

“Não vamos fazer disso um mistério”

meu tio entrarem e falou: O garoto não tem nada”. Cariê conta essa história e ri, na época não era um garoto, mas real-mente não sabia o que estava acontecendo.Nesse período da década de 70, o lítio ai-nda não havia sido descoberto como trata-mento para o transtorno. Dessa forma, receitaram a Cariê um remédio para con-ter a euforia. “Esse tal remédinho para desacelerar me fez ir ao fundo do poço”. O tratamento era inconstante. Da de-pressão à euforia. Da euforia à depressão. “Era penoso porque você não tinha como regular a dosagem do remédio para al-cançar uma estabilidade. Era uma gang-orra.” Mas, com a chegada da década de 80, nascia a salvação de Cariê. O trata-mento a base de lítio. E assim, as crises foram embora, as emoções alcançaram o controle e a normalidade da vida voltou. Já faz 20 anos que Cariê não passa por ne-

nhuma crise. Falar sobre bipolaridade nun-ca foi um problema para ele, pois descobriu de uma forma mais tardia, em que não lhe cabia esconder nada a ninguém. Nunca deixou de tomar o remédio. E frisa a todo o momento que sem a medicação não teria conseguido levar uma vida normal. “O cu-rioso dessa doença, é que você pode supe-rar uma crise sem tomar qualquer tipo de medicação. Mas, é claro que você terá uma recaída em outro momento. Eu não arrisco mais. Vivo sob controle. Meu médico já suspendeu minha medicação, mas eu não paro. Tenho medo de acontecer alguma coisa”. No livro “Eu e Sorte”, escrito por Cariê, ele resume em um conto a época em que viveu a enfrentar a bipolaridade. Lá afirma que, se pudesse escolher outra doença no lugar do TAB, não seria nada relacionada à depressão, pois ela pode ser pior, até mesmo, que o câncer ou a aids.

E s s e é o caso

uma jovem de 21 anos, estu-

dante universitária de psicologia. Escolheu

tal profissão não por acaso. Além de gostar da área, sem-

pre quis entender melhor o que acontecia em seu organismo. Apesar de jovem, já tem ‘ex-

periência’ no quesito bipolar. Aos 14 anos teve um ataque de pânico na sala de

aula, em uma prova de geografia. De-pois desse episódio desenvolveu um

quadro de depressão, anorexia profunda e isolamento. Pas-

sava dias dentro do quarto. Tinha pensamentos desco-nexos, delírios e medo. Medo

de tudo, até dos pais. “Eu acreditava que meus pais estavam enve-

nenando minha comida, minha água. Não

me alimentava por insegurança. Emagreci sete quilos em uma semana. Achava que estava no inferno”. Ela não conversava com ninguém e entrou em um estado de delírio constante, até que os pais a le-varam para uma psicóloga. Lá, foi diag-nosticada com uma crise da adolescência.Quando voltou para escola não era mais a mesma. “Não conseguia conversar direito com as pessoas, ficava de cabeça baixa. Eu estava muito diferente e todos notaram. Alguns perguntavam o que tinha aconte-cido, mas como eu iria dizer que estava com depressão, aos 14 anos?”. Enquanto não conseguia descobrir de que problema sofria, ela trocou de psicólogo por algu-mas vezes. Frequentou psiquiatras. Fez terapia. E, enfim, receitaram um medica-mento a base de lítio e a diagnosticaram como bipolar. Há dois anos não apresenta nenhuma recaída. Mas até alcançar essa estabilidade, passou por algumas crises e, a maioria delas, não foram de depressão, mas sim de euforia. “Meus ciclos aconteciam de 6 em 6 meses. Ou até de ano em ano”.“Nas fases de euforia eu me expus demais. Passei muita vergonha. Dá uma dor só de lembrar. Fiquei ridicularizada.” Ao contar

às histórias que passou, ela se confunde com vários fatos, devido aos delírios. “Eu pensava que tinha poderes sobrenaturais. Tentava controlar as pessoas. Gritava. Chorava sem motivos. Achava que todos estavam me provocando, me irritando. Era um egocentrismo extremo”. Quando morou por um período longe dos pais, resolveu suspender por conta própria o medicamento. Queria se divertir, mas as coisas não saíram como o esperado. “Lembro de meus pais me buscando no aeroporto. Eu gritava, batia neles. Meu medo era ser internada em uma clínica.” Hoje, ela fala muito bem sobre o assunto, se mostra uma pessoa bem resolvida con-sigo mesma. Ainda assim, resolveu não contar a todos sobre a doença, apenas às pessoas mais próximas. “Não saio expondo para todos, até porque não quero que me chamem de louca ou que duvidem da minha situação, como já fizeram”. Ao perguntar sobre um possível lado positivo da doença, ela conta que não existe. Que talvez o fato de se atribuir mais importância, de apren-der friamente a não se envolver em situa-ções de risco. Mas, lado bom, não existe.

“Tive que fazer uma releitura da minha vida”

,7No Entanto, edição 58, Maio de 2012

Page 8: No Entanto #58

Para essa jovem estudante universitária, de 22 anos, a bipolaridade é mais do que uma simples mudança de humor. É um estado de espírito. E essa conclusão veio após ter encarado o transtorno desde muito cedo. O pai descobriu que sofria da doença aos 30 anos. Mas, o susto em famí-lia veio mesmo, quando ela, a filha, foi diagnosticada aos sete anos. Um quadro incomum. Uma criança que, na escola, se mostrava extremamente sociável, mas em questão de semanas, se privava do con-vívio social. “O bipolarismo não é acor-dar triste e dormir alegre. É você pensar em um dia que não pode nem levantar da cama porque tudo sempre vai dar errado e, tempo depois, se achar o Superman.”A superproteção da família veio acompa-

A frase acima pode parecer agressiva. Ler em um jornal a palavra “merda” é extremamente desconfortável. Mas aqui, é importante, e imprescindível, manter a fala intacta, sem amenizar expressões. Isso porque ela transpassa exatamente a con-clusão a que se chegou, depois de dois anos conturbados na vida de um jovem. O diag-nóstico veio aos 17 anos, logo após um mo-mento traumático em família. No início, era apenas uma vontade de não levantar da cama e não encarar ninguém. As coi-sas se tornaram mais sérias quando os sin-tomas de depressão se agravaram a ponto de atrapalhar completamente a rotina uni-versitária dele. “Tive que trancar meu cur-so por um período. Foi terrível. Me isolei, e minha rede de amigos diminuiu muito. Mas sei que se não tivesse feito isso, não estaria aqui hoje”. Foram oito meses em casa, em busca de autocontrole, de entendimento.A família reagiu com um susto quando o

“Eu só vou ser um ‘merda’ se eu quiser ser um merda”

outros te acham descoladinha”

jovem pediu ajuda médica. E o diagnostico de TAB veio apresentado junto ao trata-mento. Mas para uma pessoa bipolar, é preciso que além do tratamento, a famí-lia se importe com o caso. E para que isso acontecesse, o jovem precisou extrapolar. Uma overdose de comprimidos foi o que alertou os familiares. “Não faria de novo, sabe. Mas, não me arrependo. Se não tivesse feito isso, sei que minha família me trata- ria da mesma forma de antes, sem se im-portar, sem expressar nada. E eu me tornei muito mais maduro depois ter feito tanta besteira. Hoje estou bem mais completo”. A overdose desencadeou um problema de estômago e no cérebro. E depois disso, o tratamento foi abandonado. Hoje, a busca pelo autocontrole é inteiramente individual.Os ciclos de variação de humor dele acon-tecem em semanas. “Quando eu acordo muito mal - coisa que já é comum - tento apenas me lembrar de que quando estou

bem, adoro ir para aula e seguir minha ro-tina. Eu digo para mim mesmo: Segue em frente, porque uma hora tudo vai voltar a melhorar. Antes não tinha esse pensamento, eu acordava e queria acabar com a minha vida”. Hoje ele tem 19 anos, já voltou às aulas e segue uma vida normal, com apoio da família e de alguns amigos. “Não é fácil me aceitar assim. Saber que muita gente não vai conviver comigo, por eu ser desse jeito. Eu precisei parar tudo para pensar. Para me importar comigo mesmo. Espe-rava muito das pessoas, descontava tudo em cima delas, e hoje sei que tudo depende de mim.” Diante de tantos episódios séri-os em que passou, ele prefere não expor a muitas pessoas o fato de ser bipolar. Não usa a bipolaridade como bandeira para justificar a relação com o próximo, e assim, conquistar a piedade ou o título de problemático. Afinal, esses não são os termos para designar alguém bipolar.

nhada do diagnóstico que demorou a ser concluído. E assim, a menina foi crescendo tímida, com bons desempenhos na escola e sem grandes variações de humor. Mas aí, veio a adolescência. E com essa fase, crises fortes. Porém, o tratamento nunca foi mantido regularmente, devido a dificul-dade em aceitar a dependência da medica-ção e as limitações que ela traz. “Faço e paro sempre. Comecei depois que fui diagnosti-cada... mas acabo abandonando. Agora es-tou firme há mais de um ano, controlando a dosagem dos remédios e tentando desen-volver melhor o autocontrole. Porque essa ideia me assusta. Enquanto muitos por aí acham ‘cool’ ser como uma personagem de filme ou livro, com pílulas, drogas e destrui-ção, acho triste demais para a vida real”.

Ela não gosta de ser tratada como alguém diferente das outras pessoas. E, foi por isso, que resolveu não expor a bipolaridade a todos. Até porque o transtorno bipolar desenvolve tendências que a sociedade julga ferrenhamente. “Eu pratiquei au-tomutilação por um tempo, quando mais nova. Pensei em suicídio várias vezes, mas nunca cheguei a tentar para valer. Tenho pensamentos autodestrutivos até hoje, infelizmente.” Com o tempo, preferiu se isolar, mas não se limitou a realizar o que quis. Hoje vive uma vida tranquila, ainda a procura de autocontrole e com o re-ceio de que a chamem de ‘tadinha’, coisa que ela, definitivamente sabe que não é.

“Uns te chamam de louca,

8 No Entanto, edição 58, Maio de 2012

Page 9: No Entanto #58

Elas já ocuparam profissões con-sideradas femininas, mas hoje se sentem realizadas trabalhando

como motoristas. Rozeni Pereira Marques e Marinalva de Almeida dirigem, todos os dias, para garantir o sustento da família. Elas enxergaram nessa ocupação a opor-tunidade de se des-tacarem no trabalho e atuarem em uma área, até então, consi-derada masculina. Apesar das dificuldades, elas enfrentaram o preconceito e agora es-tão cheias de planos para o futuro.

Rozeni tem 32 anos e há mais de um ano trabalha como motorista de caminhão na Wilson Sons Logística, empresa que pres-ta serviços para a Vale, em Vitória. De acordo com a necessidade, ela pode dirigir o caminhão pipa, que faz o abastecimen-to de água das áreas operacionais, ou o caminhão vassoura, que faz a limpeza das vias internas da Vale. A motorista conta que, quando ainda trabalhava como auxi-liar de serviços gerais, ficou sabendo que havia uma vaga para trabalhar como mo-torista de caminhão. “Eu já trabalhei em outras áreas, mas quando fiquei sabendo que havia uma vaga para trabalhar como motorista de caminhão aqui na empresa, eu corri atrás e consegui tirar a carteira de habilitação categoria D”, disse.

Além disso, Rozeni conta que já trabalhou como vendedora, operadora de caixa, bal-conista e auxiliar de serviços gerais sem-pre buscando crescer profissionalmente. Quando começou a trabalhar como mo-torista, sofreu com a discriminação e o ma-chismo de alguns colegas de trabalho. “Eles acham que ser motorista é um espaço só deles. Tentaram me desanimar inúmeras vezes, mas mantive o meu foco”, afirma.

Como toda a mulher que exerce uma ocu-pação popularmente considerada mascu-lina, ela também já viveu situações inusi-tadas. “Uma vez, quando fui ao hospital para uma consulta, a médica que me aten-deu perguntou qual era a minha profissão,

e eu respondi que sou motorista de cami-nhão. Ela riu e não acreditou. Só depois que mostrei meu crachá, e outros documentos que estavam comigo, ela acreditou em mim. Depois disso, ela ainda foi dizer para os outros funcionários do hospital que eu era motorista”.

Apesar do ciúme, ela sempre contou com o apoio e o incentivo do marido. Já quan-do o assunto é vaidade, ela dispara: “Sou bem vaidosa, me cuido e sou feminina. Sou casada e tenho um filho de três anos”, mostrando que, apesar de trabalhar em um ambiente onde os homens são maio-ria, não deixa a feminilidade de lado. De olho em novas oportunidades, ela pretende fazer um curso para operar uma máquina chamada pá mecânica, outra ocupação considerada masculina.

No caso de Marinalva, 40 anos, que an-tes de trabalhar como taxista já utilizava o carro para efetuar vendas, tudo começou quando ela precisou cobrir a folga da cunhada, que também é taxista. “Traba-lhei uma vez e gostei. Então decidi cobrir outras folgas e trabalhar como taxista”, disse. Há seis meses trabalhando como taxista, no ponto do supermercado Epa, em Laran-jeiras, na Serra, ela conta que o marido deu todo o apoio necessário para que ela entrasse na profissão. O local tem aproxi-madamente 15 taxistas, que se revezam no atendimento aos clientes da região. Como no caso de Rozeni, Marinalva também enfrentou o machismo e a discriminação. Ela rebate com muito bom humor o ditado machista “Mulher no volante, perigo cons-tante”, com o novo ditado “Homem do lado, perigo dobrado”, para mostrar que é tão capaz quanto os homens na direção. Apesar da violência, a motorista não sai de casa sem antes pedir segurança e proteção à Deus. “Entrego minha vida nas mãos de Deus, todos os dias, quando saio de casa

para trabalhar. Sou recompensada e valo-rizada em minha profissão, é dela que retiro o meu sustento, não posso ser controlada pelo medo. A fiscalização da polícia con-tribui muito para o nosso trabalho. Além disso, nossos veículos têm rastreadores, uma forma de acionar a polícia no caso de um sequestro, por exemplo”. Com ensino médio completo, Marinalva revelou que, quando jovem, tinha o sonho de entrar para a carreira militar para atu-ar como bombeiro ou policial federal. De acordo com ela, essas profissões são muito respeitadas, e oferecem condições para que as mulheres possam crescer profis-sionamente. Mesmo não tendo realizado esse sonho, ela afirma que gosta de sua profissão e que sente realizada no que faz. Ela não é a única motorista da família. A cunhada, Edir Cardoso, também é taxista e proprietária de dois veículos utilizados como táxi, em Laranjeiras. Um dos veícu-los que Edir possui, é o que Marinalva di-rige hoje, mas ela não esconde a vontade que tem de ter o seu próprio carro no fu-turo. “Sempre busquei ser independente e sempre batalhei muito nesta vida. Por isso, pretendo ter o meu carro em breve e con-tinuar trabalhando como taxista”, afirma.

Com muito orgulho, ela conta que muitos clientes preferem fazer uma corrida com mulheres taxistas, pelo fato de elas trans-mitirem segurança. “As mulheres são muito cuidadosas ao volante. Tenho carteira de habilitação há sete anos e, neste período, nunca bati o carro e nunca sofri nenhum acidente”, afirma. Rozeni e Marinalva concordam que, para trabalhar como motorista, gostar de di-rigir é um pré-requisito indispensável. Preenchendo este requisito, segundo elas, vale a pena trabalhar nesta profissão que tem espaço de sobra para quem tem ta-lento.

Sem medo do machismo, elas assumem o comando da direção.Luiz Zardini Jr.

,9No Entanto, edição 58, Maio de 2012

O volante também é delas!À esquerda, Rozeni Pereira Marques e à direita, Marinalva de Almeida: elas dirigem todos os dias

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Política para quem não entende Política

O conceito de política baseia-se no princípio de que o coletivo precisa ser organizado e coman-

dado de alguma forma. Política é então, uma maneira de organizar a sociedade em seus variados campos, o que evita que esta chegue a um caos social, consideran-do que tratamos da convivência de pessoas diferentes, com interesses e opiniões dife-renciadas. É exatamente isso que torna a política tão complexa e, ao mesmo tempo, tão interessante.

O prefeito é o chefe do poder executivo na esfera municipal. É ele que representa o município e cuida de seus interesses, desempenhando funções de administração e responsabilidade pública - é ele que comanda, organiza, planeja, controla e realiza ati-vidades locais.

A câmara municipal deve relacionar-se com a prefeitura, aprovando, sancionando e vetando projetos de leis visando sempre o bem-estar da população.

O vice-prefeito é quem auxilia o represen-tante máximo do poder executivo no mu-nicípio. Em casos de substituição, é ele que assume o cargo de prefeito. Se por algum motivo, os dois estiverem impossibilitados de assumir a prefeitura, quem o faz é o vereador que está ocupando a presidência da câmara mu-nicipal.

Os vereadores também são representantes do povo, mas com atribui-ções diferentes. Ao passo que o prefeito é representante do poder executivo, os vere-adores são representantes do poder legisla-tivo. A câmara municipal (onde os verea-dores se reúnem) tem a competência para editar as leis. O vereador é responsável, em parte, pela criação de projetos de leis que favoreçam a sociedade e visem o bem estar da população. Além disso, tem a responsa-

bilidade e a obrigação de vigiar os gastos públicos do poder executivo, e fazer uma ligação entre a população e a prefeitura, colhendo as reclamações e necessidades e levando-as ao prefeito. O número de ve-readores é estabelecido proporcionalmente ao número de habitantes de cada municí-pio, e seus mandatos têm a mesma duração do prefeito, quatro anos.

Existe, atualmente, uma polêmica acerca do número de vereadores de cada cidade, com propostas de aumento e diminuição. Uma emenda à Constituição estabeleceu parâmetros a respeito da proporcionali-

dade entre o número de vereadores e o número de habitantes de deter-minado localidade. No entanto, o aumento do número de vereadores está previsto na Cons-tituição, e essa mudan-

ça pode ser aceita ou não pelo legislativo municipal. É importante ressaltar que o aumento do número de vereadores resulta em um aumento das despesas municipais. O tema é polêmico.

Para Ricardo Conde, professor da Ufes e presidente municipal do PSB em Gua-rapari, política é uma prática de relacio-

namento. “A política é a principal forma de transformação social. Todas as decisões, ou grande parte delas, passa pelas mãos dos políticos gestores. Isso vai desde os horário dos

ônibus até o atendimento na saúde e a educação. Enfim, políticas públicas regem a vida das pessoas. Política é uma força transformadora muito grande.”

Ainda de acordo com Ricardo, o desinte-resse da população por política nos dias de hoje vem se transformando há muito tem-po. “Nossa sociedade traz uma caracterís-tica, há bastante tempo, de não comprome-

timento social. A sociedade brasileira não é voltada para o coletivo nem para o comu-nitário”. Isso, segundo ele, faz com que as pessoas não entendam a política como um grande fator de ligação e transformação. Outro fator que afeta o interesse pelo as-sunto é que “política está muito atrelada ao que é sujo”. A mídia dá grande evidên-cia, pelos meios de comunicação, aos maus políticos. “Você não vê uma matéria como ‘ deputado cumpriu todas as promessas de campanha’... Você só vê que deputado não cumpriu, que o prefeito roubou... A parte boa não é notícia”.

O lado negativo do meio político é muito valorizado. “Isso faz com que as pessoas te-nham uma repulsa, como se todo o proces-so político fosse contaminado, e isso não é verdade. É uma coisa que nós precisamos tentar mudar, porque tem mais políticos bons, por incrível que pareça, do que polí-ticos ruins.” Segundo o professor da Ufes, é isso que tem afastado a população do processo político e o que abre espaço para aqueles que são mal intencionados e que querem fazer da política um meio de vida fácil. Ele finaliza dizendo: “Se você não gosta ou se você se recusa a participar do processo político, você estará fadado a ser governado por aqueles que se propõem a isso, e muitas vezes, pelos maus políticos. É uma coisa que a gente tem que vencer.”

Lívia Pádua Fonseca e Vanessa Ferrari

O cargo do prefeito existe há mais de dois séculos. Foi num processo de centralização que Napoleão Bona-

parte cria a função, visando pacificar o país e estabelecer a autoridade do

Estado, em 1800.

A primeira Câmara Municipal foi criada em 1532, quando Martim

Afonso de Sousa fundou a Vila de São Vicente. Os vereadores não eram eleitos, e sim nomeados por ricos proprietários de terra que detinham muito poder.

Para saber mais sobre voto, justiça, eleições e outras questões referentes à política, fique de olho nas próximas edições do No Entanto.

A Justiça Eleitoral, criada pelo Código Eleitoral de 1932, é composta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e pelas juntas e juízes eleitorais.

É o ramo do Poder Judiciário responsável por todo o processo eleitoral do país. Compete a ela fiscalizar, organizar, e realizar as eleições, além de registrar candidatos e inscrever eleitores. Tem atuação em três diretrizes: jurisdicional, que julga questões eleitorais; administrativa, responsável pela organização e real-ização de eleições, referendos e plebiscitos; e regula-mentar, que elabora normas referentes ao processo eleitoral.

Justiça Eleitoral

10No Entanto, edição 58, Maio de 2012

Estamos em ano eleitoral. 2012 é ano de escolher novos representantes municipais. Precisamos votar naqueles que vão comandar as cidades. Vamos entender melhor como isso funciona?

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1930 1940

19601980

2000Ainda sob o regime ditatorial de Vargas, o Brasil participa da Segunda Guerra Mundial e há a consolidação das leis tra-balhistas. Após 15 anos de go-verno ininterrupto, o ditador é deposto por um golpe militar em 1945, o que provoca a que-da do Estado Novo. Em 1946, promulga-se uma nova consti-tuição, a primeira constituição efetivamente democrática no Brasil.

Getúlio volta à presidência por eleições diretas. Pressiona-do, diante do atentado da rua Toneleros, Vargas comete suicídio, em agosto de 1954. Juscelino Kubitschek é eleito. É necessário o contragolpe preventivo do general Lott para que Juscelino tome posse. Neste período, Brasília é cons-truída.

Getúlio Vargas assume a pre-sidência em 1930, rompendo a política do Café com Leite. Sete anos após sua posse, em 1937, Getúliio Vargas impõe o Estado Novo, implantando a ditadura.

Em 1964, João Goulart é de-posto por um golpe militar que implanta uma nova ditadura, que dura até 1985. Uma nova constituição é promulgada em 1967, incorporando os atos in-stitucionais responsáveis por endurecer ainda mais a dita-dura militar. O AI-5, decreto que dava poder absoluto ao presidente foi o mais duro de-les, chegando a fechar o Con-gresso Nacional por quase um ano.

Com a posse do presidente Médici, que substituiu a Junta Militar, a ditadura entra em seu regime mais duro e en-frenta a oposição armada. O período foi marcado pelo au-mento da repressão política, da tortura aos presos políticos, dos desaparecimentos e da censura aos meios de comunicação. No fim desta década é aprovada uma anistia e uma reforma partidária que permite surgi-mento de novos partidos. Mas a ditadura perdurará até 1985.

Com José Sarney na presidên-cia, acontece no Brasil a se-gunda redemocratização. A campanha “Diretas Já” mobi-liza o país em 1983 e 1984, mas é derrotada. Tancredo Neves é eleito indiretamente com José Sarney como vice que ter-mina assumindo com a morte dramática do presidente eleito. Nova Assembleia Constituinte institui um regime com am-plas liberdades democráticas. Em 1989, Fernando Collor de Melo é eleito, em eleições livres e diretas, mas é cassado por um processo de impeachment em 1992.

Sucedendo FHC, Luiz Inácio “Lula” da Silva, maior lideran-ça sindical surgida na década de 1970, é eleito presidente. Seu governo mantém as linhas essenciais do governo anterior, mas é marcadamente popular. Nesta década, vários casos de corrupção vieram à tona, como os escândalos do Men-salão. Apesar da crise política decorrente das denúncias de corrupção, Lula é reeleito em 2006.

Itamar Franco assume o poder após o impeachment de Col-lor, governando por apenas dois anos. Em 1994, o então ministro da Fazendo Fernan-do Henrique Cardoso é eleito presidente. Sua eleição foi mar-cada pelo Plano Real, que após sucessivas experiências fracas-sadas consegue acabar com a hiperinflação. Seu governo é marcado por privatizações e ele consegue alterar a consti-tuição, permitindo a reeleição. FHC permanece no governo por dois mandatos, até 2002.

Em 2010, é eleita a primeira mulher presidente do país, Dil-ma Rousseff.

1950

1970

1990

2010

,11No Entanto, edição 58, Maio de 2012

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Cia de Dança Mítizi Marzzuti

Lais

Lorenzon

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