nilismo filosofia

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Você está aqui: Filosofia >> Niilismo Niilismo - Abandonando Valores e Conhecimento O nome Niilismo se origina da raiz latina nihil e significa nada, ou aquilo que não existe. Esta mesma raiz é encontrada no verbo "aniquilar" – trazer a nada, destruir completamente. Niilismo é a crença que: rotula todos os valores como inúteis, portanto, nada pode ser conhecido ou comunicado. associa-se com extremo pessimismo e ceticismo radical, sem lealdades. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) é mais frequentemente associado com o niilismo. Em Will to Power [notas 1883- 1888], ele escreve: "Toda crença, toda consideração de algo como sendo verdadeiro, é necessariamente falsa porque simplesmente não há mundo real." Para Nietzsche, não há ordem objetiva ou estrutura do mundo, exceto o que lhe damos. O objetivo do niilismo se manifesta em várias perspectivas: Niilismo epistemológico nega a possibilidade do conhecimento e da verdade e está ligado ao extremo ceticismo. Niilismo político defende a destruição prévia de todas as existentes ordens políticas, sociais e religiosas como um pré- requisito para qualquer melhoria futura. Niilismo ético (niilismo moral) rejeita a possibilidade de valores absolutos morais ou éticos. O bem e o mal são vagos, e os valores relacionados são simplesmente o resultado de pressões sociais e emocionais. Niilismo existencial, a visão mais conhecida, afirma que a vida não tem nenhum significado ou valor intrínseco. Niilismo - Um Mundo sem Sentido Macbeth de Shakespeare resume eloquentemente a perspectiva do niilismo existencial, menosprezando a vida: Apaga, apaga, vela breve! A vida é só uma sombra móvel. Pobre ator Que freme e treme o seu papel no palco E logo sai de cena. Um conto tonto Dito por um idiota, cheio de som e fúria, significando nada. As previsões dos filósofos do impacto do niilismo na sociedade são sombrias. O existencialista Albert Camus (1913-1960) rotulou o niilismo como o problema mais preocupante do século 20. Sua obra, The Rebel 1 , pinta um quadro assustador de "como o colapso metafísico muitas vezes termina em negação total e com a vitória do niilismo, caracterizado por profundo ódio, destruição patológica e morte incalculável." A obra de Helmut Thielicke, intitulada Nihilism: Its Origin and Nature, with a Christian Answer 2 , adverte: "O niilismo literalmente tem apenas uma verdade para declarar, ou seja, que em última instância, o nada prevalece e o mundo é sem sentido."

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Você está aqui: Filosofia >> Niilismo

Niilismo - Abandonando Valores e ConhecimentoO nome Niilismo se origina da raiz latina nihil e significa nada, ou aquilo que não existe. Esta mesma raiz é encontrada no verbo "aniquilar" – trazer a nada, destruir completamente. Niilismo é a crença que:

rotula todos os valores como inúteis, portanto, nada pode ser conhecido ou comunicado.

associa-se com extremo pessimismo e ceticismo radical, sem lealdades.

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) é mais frequentemente associado com o niilismo. Em Will to Power [notas 1883-1888], ele escreve: "Toda crença, toda consideração de algo como sendo verdadeiro, é necessariamente falsa porque simplesmente não há mundo real." Para Nietzsche, não há ordem objetiva ou estrutura do mundo, exceto o que lhe damos. O objetivo do niilismo se manifesta em várias perspectivas:

Niilismo epistemológico nega a possibilidade do conhecimento e da verdade e está ligado ao extremo ceticismo.

Niilismo político defende a destruição prévia de todas as existentes ordens políticas, sociais e religiosas como um pré-requisito para qualquer melhoria futura.

Niilismo ético (niilismo moral) rejeita a possibilidade de valores absolutos morais ou éticos. O bem e o mal são vagos, e os valores relacionados são simplesmente o resultado de pressões sociais e emocionais.

Niilismo existencial, a visão mais conhecida, afirma que a vida não tem nenhum significado ou valor intrínseco.

Niilismo - Um Mundo sem SentidoMacbeth de Shakespeare resume eloquentemente a perspectiva do niilismo existencial, menosprezando a vida:

Apaga, apaga, vela breve! A vida é só uma sombra móvel. Pobre ator Que freme e treme o seu papel no palco E logo sai de cena. Um conto tonto Dito por um idiota, cheio de som e fúria, significando nada.

As previsões dos filósofos do impacto do niilismo na sociedade são sombrias. O existencialista Albert Camus (1913-1960) rotulou o niilismo como o problema mais preocupante do século 20. Sua obra, The Rebel1, pinta um quadro assustador de "como o colapso metafísico muitas vezes termina em negação total e com a vitória do niilismo, caracterizado por profundo ódio, destruição patológica e morte incalculável." A obra de Helmut Thielicke, intitulada Nihilism: Its Origin and Nature, with a Christian Answer2, adverte: "O niilismo literalmente tem apenas uma verdade para declarar, ou seja, que em última instância, o nada prevalece e o mundo é sem sentido."

Niilismo – Além do NadaNiilismo - escolher acreditar no nada - envolve um alto preço. Um indivíduo pode escolher "sentir" ao invés de pensar, exercer a sua "vontade de poder" ao invés de orar, dar graças ou obedecer a Deus. Depois de uma impressionante carreira de criatividade literária e filosófica, Friedrich Nietzsche perdeu todo o controle de suas faculdades mentais. Ao ver um cavalo maltratado, ele começou a soluçar incontrolavelmente e caiu em um estado catatônico. Nietzsche morreu no dia 25 de agosto de 1900, diagnosticado como totalmente insano. Apesar de dizer Sim à "vida" mas Não para Deus, o profeta do niilismo perdeu ambos.

Além da trivialidade do niilismo, há Alguém que é maior do que a descrença; Aquele que tocou a humanidade (1 João 5:20) e nos assegura que nossas vidas não são sem sentido (Atos 17:24-28)

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NiilismoPor Ana Lucia Santana

O Niilismo é uma escola que exalta radicalmente a concepção materialista e positivista. Ela retira do âmbito do Estado, da Religião e da Família todo poder, a capacidade de reger os passos do Homem. Esta linha filosófica influi nas mais distintas áreas do conhecimento humano, da literatura e da arte às ciências humanas e sociais, passando pelas esferas da ética e da moral.

Para seus seguidores toda e qualquer possibilidade de sentido, de significação da existência humana, inexiste. Não há forma alguma de se responder às questões levantadas pelo Homem. Eles desprezam convenções, verdades absolutas, normas e preceitos morais. A própria expressão Niilismo já denota seus propósitos, pois vem do latim nihil, ‘nada’. Até mesmo os princípios estéticos são repudiados por eles.

Friedrich Heinrich Jacobi

Seus precursores no campo do conhecimento são Feuerbach, Darwin, Nietzsche, Henry Buckle e Herbert Spencer. Mas a palavra em si foi utilizada primeiramente em 1799, pelo filósofo alemão Friedrich Heinrich Jacobi, embora o movimento niilista tenha nascido no século XIX, na Rússia governada pelos czares. Posteriormente o escritor russo Ivan Turgueniev recorreu a este conceito para revelar que só é real o que é percebido pelos sentidos humanos, o restante simplesmente não existe, seja poder ou convenção.

Seu aspecto positivo resgata o poder humano de escolher e de assumir suas próprias responsabilidades, livre de toda opressão estatal ou religiosa; mas sua face negativa beira a destruição pura dos iconoclastas – adeptos da doutrina que rejeita a devoção às imagens religiosas, mas assume hoje uma significação mais ampla, referindo-se a qualquer um que ousa romper com verdades absolutas ou tradições arraigadas.

O niilismo praticado pelos russos era de natureza mais religiosa, pois rejeitava a Divindade, a essência espiritual, a existência da alma, ideais, preceitos e princípios absolutos. Eles se recusavam a aceitar um mundo que era povoado pelo mal, pela riqueza, por tudo que representasse as esferas da arte, da metafísica e da religião. Todos os esforços deveriam se voltar para a luta dos trabalhadores contra a opressão, as ilusões supersticiosas e as idéias preconcebidas. A civilização ocidental costumava confundir todos os grupos revolucionários russos com a filosofia niilista, mas a maior parte deles não seguia exatamente esta doutrina.

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Nietzsche também nutriu sua própria concepção niilista. Para ele este movimento tinha implicações bem mais vastas e penetrantes. Ele o concebe como uma linha filosófica entretecida no mundo ocidental, mas que remonta a séculos passados, embora aspire transformar o futuro.

Seu núcleo ideológico central está focado, segundo o filósofo, na morte da Divindade Cristã e nos resultados desta extinção. Deus, aqui, deve ser compreendido não apenas como a imagem de Jesus, mas especialmente como o universo transcendental, os valores morais, as idéias, regras, preceitos que dão sustentação a esta esfera situada além da matéria.

O niilismo nietzscheano, assim, não apenas demole valores já ratificados pela Humanidade, mas visa igualmente suprir esta ausência com a gestação de outros princípios. O niilismo seria, então, a fase de transição entre um mundo que se despede e outro que se insinua na aurora, constituído, este sim, semelhante à Humanidade.

Fontes:http://www.pfilosofia.xpg.com.br/geocities/encfil/niilismo.htm

Górgias (485 - 380 a.C)

Górgias para fundamentar sua filosofia toma por base o niilismo, a descrença por razão principal, onde nada existe de absoluto, onde não existem verdades morais e nem hierarquia de valores. A verdade não existe, qualquer saber é impossível e tudo é falso porque é ilusório.

Seu niilismo baseias-se em três tópicos, primeiro na não existência do ser, existe somente o nada. O ser não é uno, não é múltiplo, nem incriado e nem gerado, por conseguinte o ser é nada. Segundo, mesmo que o ser existisse ele não poderia ser conhecido pois se podemos pensar em coisas que não existem é porque existe uma separação entre o que pensamos e o ser, o que impossibilita o seu conhecimento. E terceiro, mesmo que pudéssemos pensar e conhecer o ser nós não poderíamos expressar como ele é porque as palavras não conseguem transmitir com veracidade nada que não seja ela mesma. Quando comunicamos, comunicamos palavras e não o ser.

O filósofo destrói dessa forma a possibilidade de alcançarmos a verdade absoluta. Nossa razão somente pode iluminar as situações em que os homens vivem mas não tem a capacidade de formular regras absolutas. Podemos somente analisar a condição em que nos encontramos e expor o que devemos ou não fazer e mesmo o que devemos ou não fazer muda muito dependendo da situação em que nos encontramos. Uma mesma atividade pode ser boa ou ruim dependendo de quem a pratica e em que situação se encontra.

Como não existe uma verdade absoluta e a falsidade está em tudo as palavras assumem uma autonomia quase sem limites pois estão desligadas do ser. As palavras são independentes e

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estão disponíveis para os mais diversos usos. Um dos principais usos é a retórica que utiliza a palavra para sugerir, para fazer crer e para persuadir os cidadãos. A retórica tem assim grande utilidade para a política. As palavras têm também grande expressão na poesia que diferente da retórica não tem interesses práticos, mas artísticos. Frente ao drama da vida a única consolação é a palavra que adquire valor próprio porque não exprime a verdade mas a aparência. A palavra cia um mundo perfeito onde é belo viver. A palavra exprime da melhor forma as paixões que direcionam a vida dos homens.

Sentenças:

- Assim como a visão não conhece os sons, o ouvido não ouve as cores, mas os sons. Quem fala expressa bem um som, mas não pode falando expressar uma cor ou uma experiência.

- A poesia é um discurso com métrica e quem a escuta é invadido por um arrepio de estupor, uma compaixão que arranca lágrimas, um ardente desejo de dor e pelo efeito das palavras a alma sofre seu próprio sofrimento ao ouvir a sorte ou o azar de fatos e pessoas estranhas.

- Se é eterno não teve princípio, se não tem princípio é infinito, se é infinito não está em nenhum lugar, se não está em nenhum lugar não existe.

- Mesmo que as coisas sejam elas não são conhecíveis.

- O artista é um criador de mundos.

32. Embasados no estudo realizado por Sandro Luiz Bazzanella, aqui naturalmente alterado para atender a necessidade da presente avaliação, solicitamos que assinale "V" para verdadeiro e "F" para falso nas proposições envolvendo o tema "Nietzsche e o Niilismo" e, logo após, marque a alternativa que contenha a ordem correta verticalmente e considerada de cima para baixo. ( ) O niilismo em Nietzsche assume contornos de denúncia do vazio de sentido começando pelo desmascaramento de Deus, de suas verdades e essências, como demiurgo ordenador do universo, do mundo e da vida. ( ) O niilismo anunciado por Nietzsche apresenta-se como única saída do homem ocidental, onde a vontade de vida apresenta-se em sua multiplicidade de situações e opções, manifestando-se e assumindo-se a si mesma como participante ativa do jogo das forças fisiológicas e cosmológicas. ( ) Na visão nietzschiana captar o que significa niilismo exige que o pensemos em processo, como manifestação do desenrolar histórico da existência, do passado, do presente e do futuro existencial humano. ( ) Em Nietzsche a característica marcante do primeiro momento do niilismo (passivo) da ocidentalidade seria a passividade do homem frente a dinâmica da vida, da existência. ( ) Para Nietzsche é com Santo Agostinho que o niilismo começa a se estabelecer, quando o filósofo contribui eficazmente para que a vontade de vida comece a ser amordaçada. A)V,V,F,VeF B)V,F,F,FeV C)F,V,V,FeF D)F,F,V,VeV E)V,V,V,FeF resp letra A

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Uma reflexão sobre o niilismo como 'estado psicológico' no pensamento nietzschiano

Ao se pensar filosofia contemporânea, alguns autores ficam evidenciados por causa da grandeza de seus pensamentos. Dentre estes, destaca-se Friedrich Wilhelm Nietzsche, um dos mais importantes e conhecidos expoentes da reflexão filosófica contemporânea. Este pensador, geralmente, é conhecido pelo senso comum por tratar em suas obras de temas intrigantes e polêmicos que geram grandes discussões nos grupos que debatem filosofia.

A polemicidade do pensamento de Nietzsche ocorre principalmente porque este autor vai na contramão dos pilares do pensamento ocidental ao expor suas idéias. Ele acentua a dimensão "irracional" do ser humano (na abordagem do apolíneo e dionisíaco, dando destaque ao segundo), constata a morte de Deus e depara-se com o niilismo. E é justamente este último que se buscará aprofundar neste artigo acadêmico.

Ao longo da História da Filosofia alguns autores já abordaram o tema do niilismo em seus escritos. No entanto, a abordagem desta temática nem sempre é tão simples quanto a princípio pode parecer. Na reflexão sobre o niilismo uma das dificuldades que se encontra são os mais diversos significados que são dados a este termo e que às vezes afastam-se do que ele significa realmente.

Em Nietzsche, o niilismo tem sua gênese com a constatação da morte de Deus. Esta se comprova no seguinte fragmento da obra Gaia Ciência:

Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente: "Procuro Deus! Procuro Deus!"? – E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está perdido? Perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? Disse outro. Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? Emigrou? – Gritavam e riam uns para os outros. O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar. "Para onde foi Deus?", gritou ele, "já lhes direi! Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! (...) Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – também os deuses apodressem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós, assassinos entre os assassinos? O mais forte e mais sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob nossos punhais – quem nos limpará este sangue?"[1]

A partir do momento que se "tira Deus de cena", os valores que eram prezados pela civilização ocidental perdem o seu sentido, tornando-se ultrapassados. Como conseqüência disto o homem contemporâneo vê-se diante do mais sinistro de todos os hóspedes: o niilismo, que gera a ausência de sentido para a vida.

O mal dos próximos dois séculos. É assim que Nietzsche vê o niilismo em sua obra Frammenti postumi, como se relata na seguinte passagem:

Descrevo aquilo que virá: o advento do niilismo. Posso descrevê-lo agora porque agora se produz algo necessário – e os sinais desse estão em toda a parte, para vê-los faltam apenas os olhos. Aqui não comemoro nem lamento que isso aconteça: acredito que, mesmo na maior crise, deve haver um momento em que o homem se volta para si mesmo de uma forma mais profunda; que o homem consiga restabelecer-se depois, que consiga sair dessas crises, é uma questão de força: é possível... (...) O que estou relatando é a história dos dois próximos séculos.[2]

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Afirmando o niilismo Nietzsche está apenas constatando uma realidade que se fazia presente na Europa na época em que ele vivia. Esse "hóspede sinistro" é resultado de um processo histórico-cultural do Ocidente iniciado com Platão, fruto da dicotomia entre mundo sensível (transitório e aparente) e mundo supra-sensível (verdadeiro e almejado). O primeiro é venerado e o segundo, onde ocorre a existência humana, é deixado de lado.[3] A respeito disto, diz Roberto Machado: "Se a religião judaico-cristã e a metafísica socrático-platônica são por natureza niilistas é porque julgam e desvalorizam a vida temporal a partir do mundo supra-sensível e eterno considerado bom e verdadeiro".[4]

Para o filósofo alemão, inventar um outro mundo como fez o platonismo – mundo do bem e da verdade – é caluniar a vida. Por isso o seu intuito é superar o niilismo iniciado com o platonismo. Do contrário, caso não consiga desvencilhar-se da dicotomia mundo supra-sensível e mundo sensível preconizado por Platão, que influenciou a cultura ocidental, o mundo será sem valor e sentido.

O niilismo acarretaria, na visão nietzschiana, sérias consequências para a sociedade. A mais grave delas seria a extrema forma do niilismo: o nada (o "sem sentido") eterno![5] Com a presença deste mal haveria uma carência de ideais, a perda de valores outrora considerados supremos e por fim uma ausência de Deus como lugar dos valores mais elevados. Diz Nietzsche:

A conseqüência niilista (a crença na ausência de valor) como decorrência da estimativa moral de valor: perdemos o gosto pelo egoístico (mesmo depois da compreensão da impossibilidade de um liberum arbitrium e de uma "liberdade inteligível"). Vemos que não alcançamos a esfera em que pusemos nossos valores – com isso a outra esfera – em que vivemos, de nenhum modo ainda ganhou em valor: ao contrário, estamos cansados porque perdemos o estímulo principal. "Foi em vão até agora!"[6]

Tudo isso levaria o homem a deparar-se com a sensação de vazio, sem que ele encontre uma finalidade para sua existência.

Nietzsche também aponta em suas obras o niilismo como "estado psicológico"[7] sob três formas. Um primeiro tipo ocorre quando se procura em algo um sentido que não existe neste algo. Desta feita, o que ocorre é um desperdício de força, um sentimento de sentir-se enganado, pois de certa forma houve um desperdício de tempo. Há uma busca de algo que deve ser alcançado, mas não o é.

Uma outra forma de niilismo apresentada por ele como estado psicológico pode ser constatada quando "se tiver colocado uma totalidade, uma sistematização, ou mesmo uma organização em todo acontecer e debaixo de todo acontecer".[8] O autor alemão completa:

"O bem do universal exige o abandono do indivíduo" ...mas, vede, não há um tal universal! No fundo, o homem perdeu a crença em seu valor, quando através dele não atua um todo infinitamente valioso: isto é, ele concebeu um tal todo, para poder acreditar em seu valor.[9]

A terceira e última forma de niilismo como estado psicológico apresentada por Nietzsche é a seguinte:

Tão logo, porém, o homem descobre como somente por necessidades psicológicas esse mundo foi montado e como não tem absolutamente nenhum direito a ele, surge a última forma de niilismo, que encerra em si a descrença em um mundo metafísico, que se proíbe a crença em um mundo verdadeiro. Desse ponto de vista admite-se a realidade do vir-a-ser como única realidade, proíbe-se a si toda espécie de via dissimulada que leve a ultramundos e falsas divindades – mas não se suporta esse mundo, que já não se pode negar...[10]

Na tentativa de escapar destes tipos de niilismo, o alemão propõe que se condene o mundo do vir-a-ser como ilusão e que se invente um mundo que esteja para além dele como verdadeiro mundo. No intuito de superar o niilismo, o que Nietzsche propõe é a transvaloração de todos os

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valores completada pela vontade de potência, seguindo o caminho árduo e solitário da grandeza que leva ao "Além-Homem". Isto se confirma na passagem da obra Assim Falava Zaratustra:

Eu vos ensino o Além-Homem. O homem é algo que deve ser superado. (...) Tal deve ser o homem para o Além-Homem: uma irrisão ou uma vergonha. (...) Eis, eu vos ensino o Além-Homem. O Além-Homem é o sentido da terra. Assim fale a vossa vontade: possa o Além-Homem tornar-se o sentido da terra! Exorto-vos ó meus irmãos, a permanecerdes fiéis à terra e a não acreditar naqueles que vos falam de esperança supraterrestre. (...) Blasfemar contra Deus era outrora a maior das blasfêmias; mas Deus morreu, e com ele mortos são os blasfemadores. Agora o crime mais espantoso é blasfemar da terra, e dar mais valor às entranhas do insondável do que ao sentir da terra.[11]

O Além-Homem, como vê Roberto Machado, é todo aquele que supera as oposições terrestre-além, sensível-espiritual, corpo-alma; é todo aquele que supera a ilusão do mundo do além e se volta para a terra. O Além-Homem é, assim, superação, ultrapassagem do homem do passado e sua crença em Deus. Ele é a superação do homem, um novo modo de sentir, pensar, avaliar, uma nova forma de vida. Em resumo é aquele que tem uma vontade viva.[12]

Percebeu-se, portanto, que o tema do niilismo no pensamento nietzschiano veio constatar que com a ausência de Deus, o pensamento é instigado a buscar novos rumos para si mesmo, uma vez que o sentido e o fundamento das coisas, dos objetos do pensar são colocados em descrédito. Consequentemente há um profundo vazio. Contudo, Nietzsche mais a frente irá desenvolver uma temática tendo em vista a superação do niilismo, o qual já foi citado neste trabalho como início do mesmo com a transvaloração de todos os valores e a valorização do Além-Homem. Entretanto, este trabalho se limitou a refletir um dos possíveis caminhos de superação do niilismo, uma vez que os seguintes são conteúdos para outros possíveis artigos.