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ISSN 2176-1396 PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM ESCOLAR: UMA ANÁLISE DA PRÁTICA DOCENTE SOB O OLHAR DOS EDUCANDOS. Sandra Mara de Lara 1- PUCPR Pura Lúcia Oliver Martins 2- PUCPR Eixo Didática Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O estudo focaliza a prática pedagógica de professores do Ensino Fundamental II pela visão dos alunos. Tem como objetivo geral, analisar a presença/ausência dos pressupostos progressistas da educação na prática pedagógica dos professores de educação básica, pela visão dos alunos tendo em vista contribuir com a formação de professores. A metodologia de investigação é de abordagem qualitativa. Os instrumentos de coleta de dados foram questionários semiestruturados e análise documental. O campo de investigação são escolas públicas e particulares envolvendo 16 professores de diferentes áreas do conhecimento e 387 alunos. Os autores que servem de base teórica para o estudo são Saviani (2007), Mizukami (1986); Martins (1998;1989); Paulo Freire (1980, 1991, 1996). O estudo revela (i) a influência dos pressupostos progressistas da educação trabalhados na formação inicial dos professores estão presentes nos discursos desses professores, muito mais que nas suas práticas; (ii) Pelo olhar dos alunos o bom professor valoriza o diálogo, o respeito, o compromisso com a aprendizagem; (iii) os alunos indicam formas que poderiam ser adotas por seus professores que expressam os princípios das abordagens progressistas; (iv) paradoxalmente a prática pedagógica dos professores expressam forte influência da abordagem tradicional cujo eixo de ensino está na transmissão-assimilação dos conteúdos. Além da relação professor-aluno manifestar o autoritarismo na relação unilateral que se estabelece tendo o professor como o centro do processo. Em conclusão, o estudo mostra que a influência das abordagens progressistas da educação trabalhadas na formação inicial dos professores está muito presente no discurso destes enquanto as mudanças na prática ainda ficam no imaginário do aluno ao descrever como faria se fosse professor. Palavras-chave: Formação Inicial e Continuada de Professores. Perspectiva Progressista. Educação Básica. 1 Graduação em Pedagogia. PUCPR. (2016). Mestranda em Educação PUCPR. (2017). Atua na área de Educação com ênfase em formação de professores, processos formativos, qualidade na Educação Básica, projeto e aprendizagem. E-mail: [email protected]. 2 Professora Doutora, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail: [email protected]

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ISSN 2176-1396

PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM ESCOLAR: UMA

ANÁLISE DA PRÁTICA DOCENTE SOB O OLHAR DOS

EDUCANDOS.

Sandra Mara de Lara 1- PUCPR

Pura Lúcia Oliver Martins2- PUCPR

Eixo – Didática

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O estudo focaliza a prática pedagógica de professores do Ensino Fundamental II pela visão dos

alunos. Tem como objetivo geral, analisar a presença/ausência dos pressupostos progressistas

da educação na prática pedagógica dos professores de educação básica, pela visão dos alunos

tendo em vista contribuir com a formação de professores. A metodologia de investigação é de

abordagem qualitativa. Os instrumentos de coleta de dados foram questionários

semiestruturados e análise documental. O campo de investigação são escolas públicas e

particulares envolvendo 16 professores de diferentes áreas do conhecimento e 387 alunos. Os

autores que servem de base teórica para o estudo são Saviani (2007), Mizukami (1986); Martins

(1998;1989); Paulo Freire (1980, 1991, 1996). O estudo revela (i) a influência dos pressupostos

progressistas da educação trabalhados na formação inicial dos professores estão presentes nos

discursos desses professores, muito mais que nas suas práticas; (ii) Pelo olhar dos alunos o bom

professor valoriza o diálogo, o respeito, o compromisso com a aprendizagem; (iii) os alunos

indicam formas que poderiam ser adotas por seus professores que expressam os princípios das

abordagens progressistas; (iv) paradoxalmente a prática pedagógica dos professores expressam

forte influência da abordagem tradicional cujo eixo de ensino está na transmissão-assimilação

dos conteúdos. Além da relação professor-aluno manifestar o autoritarismo na relação unilateral

que se estabelece tendo o professor como o centro do processo. Em conclusão, o estudo mostra

que a influência das abordagens progressistas da educação trabalhadas na formação inicial dos

professores está muito presente no discurso destes enquanto as mudanças na prática ainda ficam

no imaginário do aluno ao descrever como faria se fosse professor.

Palavras-chave: Formação Inicial e Continuada de Professores. Perspectiva Progressista.

Educação Básica.

1 Graduação em Pedagogia. PUCPR. (2016). Mestranda em Educação PUCPR. (2017). Atua na área de Educação com ênfase em formação de professores, processos formativos, qualidade na Educação Básica, projeto e aprendizagem. E-mail: [email protected]. 2 Professora Doutora, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail: [email protected]

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Introdução

O presente estudo focaliza a prática pedagógica de professores do Ensino Fundamental

II pela visão dos alunos com o objetivo de analisar a presença/ausência dos pressupostos

progressistas da educação na prática pedagógica dos professores de educação básica tendo em

vista contribuir com a formação de professores.

Estudo realizado no PIBIC (CARVALHO, 2014) mostrou que a bibliografia utilizada

nos cursos de formação inicial de professores para o ensino fundamental, se inscrevem na

perspectiva progressista de educação. Isso indica que nesse início de século, a formação inicial

de professores para a educação básica, pelo menos teoricamente se faz numa dimensão mais

crítica procurando preparar os professores capazes de analisar criticamente suas práticas, tendo

em vista a sua transformação.

Nessa perspectiva, investigar a prática pedagógica dos professores de educação básica,

pela visão dos alunos, tendo em vista verifica como a formação inicial recebida na perspectiva

progressista da educação se expressa nas suas práticas, foi o desfio colocado para este estudo.

Para realização deste estudo, dadas as características do objeto e os objetivos da

pesquisa, optamos pela abordagem qualitativa de pesquisa a qual tem o ambiente natural como

fonte direta para obtenção dos dados e o investigador com um papel fundamental tendo como

sujeitos professores e alunos de escola pública e particular da cidade de Curitiba. Tendo como

sujeitos da pesquisa, dezesseis professores de várias áreas do conhecimento que atuam no

ensino fundamental II e trezentos e oitenta e sete alunos dessa etapa do ensino, foram realizadas

entrevistas com professores e uma atividade de redação com os alunos a partir da frase “se eu

fosse o professor. . . ” e questionários semiestruturado para os professores.

Prática pedagógica dos professores da educação básica: olhar dos educandos

Para encaminhar as reflexões acerca da prática pedagógica dos professores de educação

básica, pela visão dos alunos, tendo em vista verificar como a formação inicial recebida na

perspectiva progressista da educação se expressa nas suas práticas, inicialmente apresento

suscintamente a prática pedagógica e a formação inicial dos professores descrita por eles com

base nos dados levantados por meio de questionário semi-estruturado. Em seguida traço a

formação inicial dos professores e os pressupostos da abordagem progressista. Dando

continuidade, pela ótica dos alunos, apresento a prática pedagógica desses professores

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caracterizada pelos alunos, levantando os pressupostos progressistas nela presentes. Finlizo, à

guisa de conclusão sistematizando algumas considerações finais.

Prática pedagógicas/ formação inicial de professores da educação básica

Para efeito das análises do objeto deste estudo, considero importante apresentar

suscintamente a concepção de prática pedagógica e a formação inicial dos professores descrita

por eles como também as determinações da LDB 9394/96 acerca da formação de professores.

Na LDB 9394/96, a formação dos professores é tratada no título “Dos profissionais da

educação” em apenas seis artigos. Nesses seis artigos, a lei pretende definir os fundamentos,

delimitar os níveis e o lócus da formação e relacioná-las aos requisitos da valorização do

magistério, e ainda formular uma definição capaz de atender ao contexto histórico e social em

que a educação escolar é oferecida.

Nessa perspectiva, observa-se uma tendência de valorização do resgate das práticas

pedagógicas que contribuam, efetivamente, para a consciência crítica dos professores, para que

possam ser elementos da transformação social, priorizando os saberes da prática docente. A

propósito, Nóvoa (1992) lembra que

A formação de professores deve ser concebida como uma das componentes da

mudança, em conexão estreita com outros setores e áreas de intervenção, e não como

uma espécie de condição prévia da mudança. A formação não se faz antes da mudança,

faz-se durante, produz-se nesse esforço de inovação e de procura dos melhores

percursos para a transformação da escola. É esta perspectiva ecológica de mudança

interativa dos profissionais e dos contextos que dá um novo sentido às práticas de

formação de professores centradas na escola (NÓVOA, 1992, p. 28).

É relevante pontuar que a metodologia e a abordagem utilizada pelo professor formador

são prontamente assimiladas e transferidas para a prática dos alunos, futuros professores, que

na sua vivência na instituição, incialmente tomam como referência para atuar em sala de aula.

Conforme aponta Freire (1996):

Por isso é que, na formação dos professores, o fomento fundamental é o da reflexão

crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se

pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão

crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática

(FREIRE, 1996, p. 39).

Entendemos que cabe ao professor investir em sua formação pedagógica, compreender

os processos educativos, pois a atitude do professor no que diz respeito ao planejamento, ao

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currículo, a avaliação, no processo de ensino e aprendizagem é fundamental. De acordo com

Mizukami (1986)

Evidenciam-se atualmente, no cenário brasileiro, investimentos quanto à elaboração,

implementação e acompanhamento de políticas públicas educacionais voltadas à

formação de professores. Evidencia-se, igualmente, que a ênfase em boa parte das

propostas e experiências atuais recai sobre os processos de formação inicial e

continuada de professores do ensino infantil, fundamental e médio, considerando

diferentes contextos e modalidades de ensino. Docência no ensino superior é ainda

território que apresenta iniciativas tímidas comparada às demais (MIZUKAMI, 1986,

p. 23).

As transformações sociais, associadas `a complexidade da dimensão educativa, fazem

com que a profissão docente seja alvo de um conjunto de tarefas. Segundo Marcelo Garcia

(1999)3, que vale-se dos escritos de Sharron Feiman (1983), podem ser diferenciadas quatro

níveis ou etapas na formação de professores, sendo elas: (i) fase de pré-treino: são as

experiências prévias que os futuros docentes vivenciaram; (ii) fase de formação inicial: é a etapa

de formação que ocorre em uma instituição especifica para tal fim; (iii) fase de iniciação: são

os primeiros momentos de prática efetiva da profissão docente; (iv) fase de formação

permanente: são atividades que dizem respeito a promoção de constante desenvolvimento

profissional e da sua prática de ensino.

Essas fases são consideradas por nós como um norte, tanto para os professores quanto

para as instituições formadoras de professores, a fim de que o processo formativo se torne mais

rico e mais significativo para os futuros profissionais A docência significa ensinar, instruir e,

em seu sentido formal, está relacionada ao trabalho dos professores, mas, na realidade que este

desempenha um papel que vai muito além de ministrar aulas, de acordo com Veiga (2008). A

prática pedagógica entendida, segundo Gimeno Sacristán (1999, p. 74) “[. . . ] toda a bagagem

cultural consolidada acercada atividade educativa, que denominamos propriamente como

prática ou cultura sobre a prática”.

Prática pedagógica é tudo que é feito para o ensino e desenvolvimento dos alunos no

seu processo de aprendizagem, ou seja, como o professor vai fazer o trabalho em sala de aula,

como ele trabalhará com o planejamento dos conteúdos para melhorar o desempenho no ensino

aprendizagem de seus alunos. A professora Orquidea, ao descrever como é a relação professor

aluno conhecimento no seu trabalho, relata:

3 As fases ou níveis da formação de professores são cunhados por Feiman, não há fontes bibliográficas no

documento atual (1983), porém, Marcelo Garcia (1999), as utiliza para conceitualizar os seus escritos sobre esse

tema.

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Considero os alunos como “colegas” de trabalho e que somos uma equipe, no seguinte

sentido: se eles alunos contribuem com o professor ambos podem saírem satisfeitos

de uma aula. No entanto, quando os alunos não colaboram para uma boa aula, ambos

saem insatisfeitos – o aluno tende a achar que a escola não acrescenta nada para sua

vida e o professor, fica coma sensação de não ter cumprido seu papel (professora

Orquídea escola A).

Quando se trata da formação inicial, em relação as disciplinas que abordam o processo

de ensino aprendizagem (didática e metodologia de ensino), as professoras relatam quais os

principais conteúdos trabalhados e como trabalhou a relação teoria e prática Assim elas se

expressam: “Práticas de ensino- Modelos de educação bancária-Escola nova, etc. Metodologias

do ensino aprendizagem. Teoria e prática foram trabalhadas de acordo com as expectativas,

uma vez que na teoria tudo se mostra diferente em termos práticos” (Professor Antúrio).

No que tange à formação inicial de professores para o ensino fundamental, a qualidade

desta formação constitui um dos fatores que interfere diretamente na qualidade do ensino,

oferecido nas escolas da rede pública e privada. A possibilidade de novas metodologias,

técnicas e materiais de apoio são um grande um desafio. Nesse sentido, é importante que o

aluno exercite o pensamento crítico e reflexivo, aprenda a comprometer-se, a assumir

responsabilidades, a utilizar diferentes recursos tecnológicos. Tudo isso pela vivência de uma

prática coerente com os pressupostos do ensino adotado nessa formação.

Nessa perspectiva colocamos aos professores da educação básica a pergunta: Nas

disciplinas pedagógicas do seu curso de graduação, Mestrado ou Doutorado quais os principais

autores que você estudo? Obtivemos várias respostas de autores todos de uma linha

progressista, assim como mostra o quadro abaixo:

Quadro 8:Os autores mais citados

Autor Ano Quantidade de

vezes em que foi

citado

Piaget 2016-2015-2014-2013-2009-2007-2000-1999-1989-1988 10

Paulo Freire 2014-2009-2007-2000-1999-1998-1989-1988 8

Dermeval Saviani 2015-2007-1998-1989-1988. 8

Vygotsky 2014-2013-2009-2007-2000-1999-1998- 8

Wallon 2015-2014-2013-2009 5

Pura Lúcia Oliver Martins 2015. 2

Sírio Possenti 2016-1999. 2

Iram Antunes 2016-1998. 2

Pierre Bourdieu 2013-2007. 2

Libâneo 2015-1989. 2

Edgar Morin 2014-2015. 2

Fonte: A autora.

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Com efeito, a partir a decada de 1980 e confirmada no início deste século, a formação

inicial de professores teve uma forte influência de abordagens mais progressista da educação

as quais passaram a valorizar as práticas desenvolvidas nas escolas de todos os níveis de ensino.

Em outros termos. , passou-se a valorizar a interlocução da universidade com as escolas de

ensino fundamental onde seus egressos atuam. A relação entre teoria / prática passou a ser vista

de forma articuladas de uma maneira que ambas sejam indissociáveis, formulando umas práxis

pedagógica.

Ao perguntar para os professores de educação básica quais foram as contribuições dos

principais autores estudados nas disciplinas pedagógicas durante sua formação inicial para a

sua prática pedagógica nas escola, em sua maioria estes se referem à visão crítica da educação

e à importância de analisar criticamente suas práticas. Assim eles se expressam: “Uma visão

crítica, social baseada no método dialético e numa visão socialista da construção do homem. E

permitam a busca das causas sociais do ser humano. Foi a minha base teórica para exercer a

prática em sala” (Professor Jacinto).

Para este professor, foi a partir da teoria, das pesquisas, dos conhecimentos destes

autores que tornou possível permear a prática pedagógica numa perspectiva crítica que o desafia

e estimula a pesquisar e desenvolver uma prática pedagógica tornando os alunos seres pensantes

e autônomos. Para os professores, sujeitos da pesquisa, a formação inicial desenvolveu neles

uma consciência crítica e a importância de formar seus alunos também como seres capazes de

refletir sobre a realidade e o mundo. Por outro lado, os professores indicam que a formação

pedagógica é continua e vai além da formação inicial, se estendendo pela vida profissional. Nas

palavras do professor Antúrio:

Os conhecimento e experiência adquiridos na formação inicial promovem a

construção primária do profissional do magistério, contudo o processo de formação

pedagógica se estende ao longo da carreira docente por meio das novas

práticas/teorias vivenciadas durante a prática profissional (Professor Antúrio).

Observa-se que a influência das abordagens progressistas da educação se fazem presente

no discurso dos professores. Via de regra os sujeitos da pesquisa manifestam uma concepção

mais progressista da educação.

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Prática pedagógica do professor pela visão dos alunos

Para caracterização da prática pedagógica dos professores pela visão dos alunos tendo

em vista identificar a presença/ausência dos pressupostos progressistas na prática pedagógica

dos professores foram envolvidos 387 alunos que escreveram sua percepção sobre a prática do

professor a partir da frase:”Se eu fosse professor” A redação dos alunos possibilitou levantar

algumas indicações para a prática docente. Considero importante esclarecer o conceito de

prática pedagógica que estará norteando a sistematização dos dados levantados. Segundo Veiga

(2008, p. 17), [...] “a prática pedagógica é, na verdade, atividade teórico-prática, ou seja,

formalmente tem um lado ideal, teórico, idealizado enquanto formula anseios onde esta presente

e subjetividade humana, e um lado real, material, propriamente prático e objetivo” (VEIGA,

2008, p. 17).

Esse lado da prática pedagógica é constituído pela ação do professor em sala de aula,

destacamos as respostas dos alunos os quesitos mais solicitados por eles para a prática docente,

sendo eles: Respeito com os alunos; Interação professor aluno; respeito dos alunos com os

professores; professores que ouvem os alunos; aulas fora do espaço da sala de aula, professores

mais citados. No gráfico abaixo é demonstrado a incidencia de cada uma das categorias.

Grafico 3:A prática pedagógica pela ótica dos alunos

Fonte: a autora

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i. Respeito com os alunos:

A relação do professor com seus alunos é de fundamental importância para a Educação,

nessa categoria de análise quando os alunos se referem ao respeito do professor com os alunos,

eles comentam que esse ato parte dos docentes, com ações positivas como: não gritar na sala

de aula, explicar com paciência as dúvidas dos alunos. Algumas das respostam obtidas foram:

“A primeira coisa que mudaria se eu fosse professora o jeito de ensinar, tipo eles aumentam

demais o tom de voz com a gente (Aluno 2) ”; “Daria aula tranquila não ficaria gritando (Aluno

3) ”.

A atitude do professor gritar com o aluno ou faltar com respeito com este nos remete a

uma concepção mais tradicional da relação professor-aluno-conhecimento. A propósito,

Libâneo (1989) escreve:

No relacionamento do professor-aluno predomina autoridade do professor, que exige

atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre eles no decorrer

das aulas. O professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser absorvida; em

consequência, a disciplina imposta é o meio mais eficaz para assegurar a atenção e o

silêncio (LIBÂNEO, 1989, p. 24).

Outra questão é explicar mais de uma vez e ter paciência, que muitas vezes o professor

responde em alguns momentos os questionamentos feitos pelos alunos em sala de aula de forma

irônica, ou algumas vezes responde que já explicou e o aluno deve prestar mais atenção a aula.

Nas palavras dos alunos: “Quero que os próximos professores sejam mais pacientes com os

alunos, tenho mais paciência (Aluno 6) ”; “Seria legal com os alunos, não metia bronca,

explicava quantas vezes pudesse e fosse necessário” (Aluno 10) ”.

A fala dos alunos indica a importância de os professores estimularem em seus alunos

para a aprendizagem e também a importância do respeito na relação pedagógica. Quando se

referem à Interação professor aluno estes manifestam uma visão de respeito mútuo,

reciprocidade para a devida apropriação da aprendizagem. Segundo eles, para que aconteça a

aprendizagem é importante o bom relacionamento entre o professor e aluno. A esse respeito, os

alunos manifestam: “tentaria além de professor ser amigo, acho que assim ficaria mais fácil de

ensiná-los, ter um bom diálogo, passar conteúdo de um jeito muito legal, mais divertido

(aluno15); ser professor é mais do que educar é se familiarizar com cada um dos alunos. A

aproximação seria algo que eu mudaria em sala” (Aluno 17). A esse respeito, Gadotti (1999)

escreve: “O educador para pôr em prática o diálogo, não deve colocar-se na posição de detentor

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do saber, deve antes, colocar-se na posição de quem não sabe tudo, reconhecendo que mesmo

um analfabeto é portador do conhecimento mais importante: o da vida” (GADOTTI, 1999, p.

2). Os alunos estão nos dizendo que querem mais atenção, eles precisam de professores que se

preocupem com eles, manifestam a vontade de ter professores com novos perfis: um professor

alegre, divertido, criativo em sala de aula.

Outra questão que os alunos trazem é a confiança no professor, para isso faz-se

necessário o diálogo, conforme Libâneo (1994) diz:

O professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas também

ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a

expor opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas

e as opiniões dos alunos mostram como eles estão reagindo à atuação do professor

(LIBÂNEO, 1989, p. 250).

Mostra a importância da confiança no espaço escolar principalmente na relação

professor aluno e assim se manifestam: ”Bem, ele é aquela pessoa que você pode confiar, ele

sabe dar aula sem ter muita matéria, mesmo na explicação, ele brinca com os alunos, zoa e etc.

(Aluno 19)”; “Ela brincava com nós do jeito mais fácil e se eu fosse um professor eu iria seguir

os conselhos que ela me deu” (Aluno 22)”;”Faria de tudo para que o aluno aprendesse, eu acho

uma profissão bem legal por isso tem que valorizar seu professor porque ele quer vai fazer de

tudo para que você tenha um futuro melhor (Aluno 25)”. Abreu & Masseto (1990) afirmam

que:

É o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas características de

personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos;

fundamenta-se numa determinada concepção do papel do professor, que por sua vez

reflete valores e padrões da sociedade (ABREU, MASSETO, 1990, p.115).

Observa-se neste quesito o fato de se colocar no lugar do outro, na qual o aluno, muitas

vezes sente-se prejudicado por algumas situações, em não poder se expressar. O professor

quando interage com o aluno aceitando que ele possui conhecimentos prévios e que a aula pode

ser uma troca de conhecimentos, agrega e contribui para tornar seus alunos cidadãos críticos e

participantes.

ii. Respeito dos alunos com os professores

Um outro aspecto percebido pelos alunos é a questão do respeito dos alunos para com o

professor. Para eles, é necessário que haja um bom relacionamento para que o trabalho possa

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ocorrer de uma boa forma na sala de aula, e para que isso ocorra há que ter respeito para com

os professores. O desrespeito tanto de uma parte quanto de outra irá prejudicar a aprendizagem

de toda a sala de aula. Ao pautar a relação professor-aluno no medo da punição, o primeiro

pode levar seus aprendizes a três tipos de reações segundo Kamii (2000). (i) A primeira é o

cálculo de riscos, onde a criança punida repete o mesmo ato; (ii) A segunda reação por parte da

criança é uma conformidade cega, pois esta lhe gera segurança e respeitabilidade. (iii) A terceira

possibilidade é a revolta, comum em alguns adolescentes, que se envolvem em comportamentos

que vão desde a indisciplina até a delinquência.

O respeito é base de toda relação humana, a sala de aula é um espaço que não pode

dispensar essa virtude. Nessa categoria os alunos escrevem: “A primeira coisa que eu faria se

fosse professora (o) eu ensinaria mais os alunos, não deixava erguer a voz comigo, eu iria querer

respeito dos alunos (Aluno 28) ”; “Eu seria menos rígido e seria mais amigo dos alunos passaria

pouco conteúdo, mas eles entendessem o que é respeito eu ensinava os conteúdos (Aluno 30)

”. O professor sozinho não transforma a sala de aula, é uma relação de respeito mútuo

reciprocidade para a devida apropriação dos conteúdos.

iii. Professores que ouvem os alunos

O aluno, precisa falar, ser ouvido e reconhecido. Se o professor não ouvir, não fizer

essa interação e também não estabelecer um diálogo perde-se uma parte da aprendizagem. É

fundamental ouvir os alunos, seus saberes. Eles possuem curiosidade e conhecimentos prévios

que contribuem para o trabalho escolar, ver o aluno como sujeito. Haydt (1995), sobre a

importância do estabelecimento do diálogo:

Na relação professor-aluno, o diálogo é fundamental. A atitude dialógica no processo

ensino-aprendizagem é aquela que parte de uma questão problematizada, para

desencadear diálogo, no qual o professor transmite o que sabe, aproveitando os

conhecimentos prévios e as experiências, anteriores do aluno. Assim, ambos chegam

a uma síntese que elucida, explica ou resolve a situação-problema que desencadeou a

discussão (HAYDT, 1995, p. 87).

Aquele professor que ouve o aluno, ensina que diálogo é um meio de expressar seus

conhecimentos, pois estes alunos serão os futuros adultos. Isso é importante tanto para a

convivência na sala de aula quanto para o convívio social. Neste quesito os alunos pedem para

serem ouvidos e assim relatam: Eu daria uma aula mais prática usando tipos de jogos, ouviria

a opinião dos alunos (Aluno 32); eu escutaria a proposta que meus alunos falariam, traria novos

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ideias, respeitaria os alunos (Aluno47). Nota-se que os alunos percebem na sala de aula, o que

eles querem são professores ousados, bem-humorados, reflexivos, interativos, que os ouçam.

iv. As aulas fora do espaço da sala de aula

A sala de aula será, cada vez mais, um ponto de partida e de chegada, um espaço

importante, mas que se combina com outros espaços para ampliar as possibilidades de ensino e

aprendizagem, o laboratório de informática é fundamental para os alunos ficarem

familiarizados com novas tecnologias, novas formas de pesquisas. De acordo com Queiroz et

al (2011):

O professor ao utilizar um ambiente não formal, necessita fazer primeiramente o

planejamento da prática, estabelecendo os objetivos e metas a serem alcançadas com

a visita. “O planejamento é um dos primeiros passos a ser dado, e deve ser criterioso”.

Deve-se ainda, levar em consideração as perspectivas da turma, e ligar a visita aos

temas trabalhados na escola. A função do professor é motivar seus alunos,

possibilitando uma postura investigativa, conduzindo as observações dos estudantes

aos conteúdos escolares trabalhados na escola (QUEIROZ et. Al, 2011, p. 20).

Tudo o que não é o processo formal de ensino e aprendizagem que tem lugar na sala de

aula também educa. O jeito que as pessoas se relacionam, as atitudes que os adultos têm com

as crianças, a relação com as famílias e com a comunidade, o funcionamento geral da escola,

como ocorre o intervalo de recreio, o uso da quadra ou do pátio interno. E essa foi uma das

categorias citadas pelos alunos, que eles também pudessem ter aula em outros espaços,

realizassem passeios a museus, enfim espaços culturais etc. Os alunos referem-se assim: “Eu

faria várias provas para os alunos terem notas, algumas atividades práticas como aulas no Pátio”

(Aluno 51); “Bem eu tentaria inovar toda aula, até mesmo brincar de vez em quando, arrumaria

jeitos diferentes de fazer os alunos aprenderem tipo, perguntas espontâneas, charadas,

brincadeiras até que valessem algum prêmio como uma nota bônus ou um doce tentaria fazer

aulas mais ao ar livre, tentaria fazer com que os alunos aprendessem sem perceber Eu ensinaria

de outras formas, não só falando, mas mostrando, fazendo os passeios, levaria a informática

uma vez por semana, ao final do ano antes das férias faria um passeio com os alunos. Levaria

ao laboratório de ciências” (Aluno 58).

O professor quando utiliza outros espaços para realizar atividades variadas proporciona

a apreensão e reflexão de conteúdo. A diversificação de atividades e de recursos didáticos na

prática educativa contribui para a motivação dos estudantes.

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v. Professores mais citados

Não basta cuidar apenas do discurso, é preciso cuidar dos atos e das atitudes na sala de

aula. O professor trabalha para que o aluno aprenda e melhore a sua própria vida. Quando o

docente prepara sua aula é fundamental fazer uma reflexão sobre o conteúdo que vai ensinar se

perguntando: o que de útil esse conteúdo pode ter para esse aluno? Como usarão esses

conhecimentos? O professor de hoje é um permanente aprendiz e precisa a cada momento, a

cada oportunidade ler, reciclar-se, reaprender, conversar com seus colegas, para que o espaço

de sala de aula se transforme em um espaço dinâmico onde permanentemente ele aprenda a

ensinar e o seu aluno aprenda a aprender. Essas considerações nos levam a refletir sobre a

importância do professor se reinventar todos os dias, centrando a prática pedagógica no aluno.

Nesta parte da redação dos alunos destaca-se a indicação de bons professores pela visão

destes. Os professores citados têm em comum atitudes em sala de aula que valorizam o aluno

como ser único que aprende de uma forma diferente e vive em um contexto próprio. Os alunos

se identificam com esses professores e os tomam como modelo. Os alunos relatam: se eu fosse

uma professora, eu seria de matemática, para mim um dos melhores professores que eu acho é

a professora Gérbera de matemática porque ela se esforça, ela quer aprender junto com a gente

ela mostra gostar de ser a nossa professora (Aluno 68); um professor que gostei muito, foi o

Cravo que conseguiu equilibrar as duas coisas (Aluno 71).

Conhecer a realidade do aluno, da sua família e da comunidade em que a escola e estes

alunos estão inseridos. Compreender o aluno de forma integral, buscando identificar suas

necessidades de desenvolvimento no nível intelectual, físico, emocional, social, cultural,

conhecendo os interesses, anseios e/ou o projeto de vida dos seus alunos e apoiá-los a alcançar

seus objetivos. Nas palavras da aluna 88:

A primeira coisa que eu faria se fosse professora (o) eu ensinaria mais alunos, não

deixava erguer a voz comigo, tipo a professora Orquídea, ela é uma pessoa muito legal

e para ela eu tiro chapéu, ela sim nos ensina direito, aprendi várias coisas com ela, o

ensino que dá é um dos melhores que já vi em toda minha vida. Estou indo mal nos

meus estudos, mas por ela vou melhorar só para eu ter aula com ela o ano que vem

(Aluno 88).

Nesta modalidade tivemos 26 professores citados 87 vezes em três escolas aqui

denominadas ABC. Na escola A foram distribuídos duzentos e vinte sete questionários e do

total de professores citados foram 18, sendo que a professora de matemática a Gérbera recebeu

treze citações na fala da aluna: “Então eu não quero ser professora, mas se fosse para ser seria

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igual a professora de matemática, porque ela é legal e conversa com a gente como se fosse uma

amiga, eu não mudaria nada a professora exemplar é a Gérbera” (Aluno 65).

Outra professora da Escola A que foi citada pelos alunos como sendo um exemplo é a

professora Orquídea, ela foi citada quatro vezes, mas nas observações realizadas é a única

professora que cumpre todas as reivindicações dos alunos ou seja: respeito com os alunos;

Interação professor aluno; respeito dos alunos com os professores; professores que ouvem os

alunos; aulas fora do espaço da sala de aula.

A professora Orquídea estabelece uma relação mais dialógica com seus alunos,

reconhecendo seus conhecimentos prévios e legitimando a sua capacidade de contribuição com

seu próprio processo de desenvolvimento. Em conjunto com seus alunos, estimula para que

reconheçam o que precisam fazer para alcançar seus objetivos individuais e coletivos. “Eu daria

uma aula mais prática usando tipos de jogos, ouviria a opinião dos alunos. Um professor que

eu admiro é a professora Orquídea” (Aluno 91).

Na Escola B foram distribuídos oitenta e cinco questionários sendo que apenas cinco

professores foram citados como exemplo, a maioria dos alunos não citaram professores como

exemplo. E lá o professor que se destaca é o professor de matemática o Lírio, ele leciona aos

oitenta alunos questionados e foi citado seis vezes, ao escrever sobre o professor Lírio assim se

manifestam: “Eu iria ser que nem o professor Lírio de matemática brincalhão, parceiro, mas

seria na matéria. Eu ia ser legal é uma boa profissão eu acho” (Aluno 96);

Já a escola C que foram questionados setenta e cinco alunos não houve muitas

referências aos professores como exemplo a ser seguidos, dos três professores citados um se

destaca com três citações, o professor de história Gerânio: “Meu exemplo de professor seria o

professor Ronam, ele é muito paciente mesmo com vários alunos na sala de aula você se sente

especial, ele trata cada aluno de um jeito especial, além de ensinar bem” (Aluno 361).

Existem alunos com grande potencial, e professores qualificados. E são estes

professores que fazem toda a diferença na vida dos alunos: “Daria bastante atividades

diferenciadas, apresentaria o conteúdo usando a linguagem do dia a dia, para ficar mais fácil e

interessante de aprender assim como meu professor, Ronam, que ensina o conteúdo de uma

forma que faz a gente gostar da matéria e aprender mais facilmente” (Aluno 350).

Ser mediador, facilitador e articulador do conhecimento, provocando o aluno a aprender

a partir de seus próprios questionamentos e conhecimentos. Durante a distribuição do

questionário notamos que hoje os alunos querem uma interação maior com o professor, motivar

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os alunos para o novo provocando experiências, e quanto mais experiências eles viverem mais

estarão preparados para enfrentar o dia a dia, como cidadão críticos e pensantes.

Na perspectiva dos alunos, a relação entre professor e aluno é fundamentada no diálogo

onde o professor procura estimular os alunos para se sentirem parte da aula, para que se

interessarem pelos conteúdos que são fundamentais para o pleno desenvovimento da aula. O

professor disponibiliza e media todo o conteúdo ao aluno e este por sua vez procura questionar,

refletir e inferir. O aluno indica a importância do professor mediador que estimula a

participação ativa do aluno no processo de ensino aprendizagem.

Prática pedagógica vista pelo aluno– indicadores progressistas

Ao se colocarem no lugar do professor, os alunos sinalizam o perfil de professor que

atende seus interesses e os colocam como referência de bom professor. No perfil do bom

professor levantado a partir do mais citados por eles, verificamos uma marca de professor

exigente e ao mesmo tempo aberto ao diálogo tanto relacionado com a disciplina que leciona

quanto as relações afetivas. É o professor que ouve o aluno, responde às dúvidas explicando

várias vezes, é paciente e não grita com a turma, trata todos com respeito. Também é um

professor alegre e que gosta de ensinar. Quando trabalhamos com os professores mais citados

pelos alunos como sendo uma referência de um bom professor, temos elementos da prática

pedagógica valorizado pelos alunos e presentas nas práticas desses professores. Um aspecto

fundamental é a abertura ao diálogo com valorização de todos os alunos. Assim eles se

expressam: “Se eu fosse uma professora eu seria de Matemática. Para mim uma das melhores

professoras que eu acho porque ela se esforça para ensinar, ela quer aprender junto com a gente,

ela mostra gostar de ser a nossa professora” (Aluno 303).

Outro aspecto destacado pelos alunos é o processo de ensino com atividades lúdicas

relacionadas com o conteúdo. O professor equilibra bom humor, brincadeiras com exigências

pedagógicas. Assim nos alunos escrevem: “O Professor de Ciências consegue ser brincalhão e

explicar bem a matéria. Gostaria de ser como ele. Legal, sabe dar aula, explica super bem. Ele

é aquela pessoa que você pode confiar. Mesmo durante a explicação ele brinca com os alunos”

(Aluno 59).

Nesses exemplos seguidos por muitos alunos verificamos uma concepção de educação

e ensino orientando a prática desses professores que indicam pontos dos pressupostos

progressistas da educação. Ao mesmo tempo, esses alunos explicitam práticas de professores

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com ênfase na transmissão-assimilação de conteúdos tendo como foco a aprendizagem dos

conteúdos transmitidos que são avaliados, inclusive por arguição. Nas palavras dos alunos: “O

professor de Geografia aplica prova oral. Para mim a prova oral é uma maneira de armazenar

os conteúdos na nossa cabeça” (Aluno 77).

Nas suas escritas indicam possibilidades de ensino diferentes daquelas que observam

com seus professores. Falam de metodologias diferentes, novas formas de avaliação,

preocupação com a motivação dos alunos. Assim eles se expressam:

Se eu fosse o professor, tentaria inovar toda aula, até mesmo brincar de vez em

quando. Arrumaria jeito diferentes de fazer os alunos aprenderem tipo: perguntas

espontâneas, charadas, brincadeiras até que valessem algum prêmio (como uma nota

bônus ou um doce), tentaria fazer aulas mais ao ar livre, tentaria fazer com que os

alunos aprendessem sem perceber (Aluno 45).

Eu conversaria com os alunos que são mais quietos. Tiraria o privilégio de alguns

alunos bagunceiros. Faria atividades em grupo, mas também gritaria quando

precisasse. Iria colocar minha sala com atividades na parede (desenhos, tabuadas).

Ajudaria alunos com dificuldades de aprender e nunca brigaria sem motivos. Para

mim professor chato não é aquele que briga quando é preciso. É aquele que não liga

para os alunos. E se eu fosse professora, eu nunca seria assim (Aluno 76).

A prática pedagógica dos professores vista pelos alunos traz uma riqueza de

informações que indicam a presença, ainda que inicial de pressupostos progressistas, quer seja

ocorrendo na prática, quer seja no desejo dos alunos por uma prática diferente. Observamos

uma valorização do diálogo e do respeito na relação professor-aluno-conhecimento.

Considerações Finais

Analisar a presença/ausência dos pressupostos progressistas da educação na prática

pedagógica dos professores de educação básica, pela visão dos alunos, foi o desafio que

coloquei para o desenvolvimento desta pesquisa. É relevante pontuar que para os professores,

sujeitos da pesquisa a metodologia e a abordagem utilizada pelo professor formador na sua

formação inicial, são prontamente assimiladas e utilizadas nas suas práticas pedagógicas.

Tomam como referência dos professores que marcaram sua formação.

O estudo mostrou que as influências dos pressupostos progressistas da educação

trabalhados na formação inicial dos professores estão presentes nos discursos desses

professores, muito mais que nas suas práticas. Contudo, há indicadores de mudanças também

nas práticas. Por outro lado, os alunos ao manifestarem sua concepção de bom professor,

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valorizam o diálogo, o respeito, o compromisso com a aprendizagem dos alunos. Estes indicam

formas que poderiam ser adotas por seus professores.

Observei também que ainda é muito forte a influência da abordagem tradicional cujo

eixo de ensino está na transmissão-assimilação dos conteúdos. Além da relação professor-aluno

manifestara autoritarismo e relação unilateral tendo o professor como o centro do processo.

Hoje não é só o conhecimento, mas a habilidade e a atuação do professor em sala de

aula é que faz a diferença. Dessa forma, a pesquisa veio em busca de caracterizar a prática

pedagógica dos professores o 6º aos 9º. anos do Ensino Fundamental tendo em vista levantar a

presença/ausência dos pressupostos progressistas presentes na formação inicial de professores

desde a década de 1980.

Dos 387 alunos questionados resultou em 87 professores citados como exemplo a serem

seguidos que compreendem ser necessário haver uma comunicação e um novo jeito de ensinar,

que considera a sala de aula como um ambiente onde a aprendizagem acontece para ambos

alunos e professores.

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