universidade presbiteriana mackenzie · maria da graça nicoletti mizukami são paulo 2014 ....

108
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE SANDRA REGINA PAES PADULA DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE: APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR São Paulo 2014

Upload: trinhngoc

Post on 20-Jan-2019

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

SANDRA REGINA PAES PADULA

DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE:

APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE

NO ENSINO SUPERIOR

São Paulo

2014

Page 2: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

SANDRA REGINA PAES PADULA

DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE:

APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE NO

ENSINO SUPERIOR

Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Educação, Arte e História da Cultura.

Orientadora: Profª. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami

São Paulo

2014

Page 3: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

P125d Padula, Sandra Regina Paes.

Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento profissional docente no ensino superior / Sandra Regina Paes Padula. – 2014.

108 f. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014.

Referências bibliográficas: f. 96-106.

1. Aprendizagem. 2. Desenvolvimento profissional. 3. Docência. 4. Ensino superior. 5. Formação de professores. I. Título.

CDD 378.125

Page 4: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

SANDRA REGINA PAES PADULA

DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE:

APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE NO

ENSINO SUPERIOR

Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Educação, Arte e História da Cultura.

Aprovada em 20/05/2014.

BANCA EXAMINADORA

Profª. Dra. Maria da Graça Nicoletti Mizukami Universidade Presbiteriana Mackenzie

Profª. Dra. Maria Dalva Silva Pagotto Universidade Estadual Paulista- UNESP

Profª. Dra. Regina Maria Simões Puccinelli Tancredi Universidade Presbiteriana Mackenzie

Page 5: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

Dedico este trabalho aos meus pais Fátima e Gilberto, e filhos Gabriela e Gustavo, com todo o meu amor.

Page 6: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a Deus por me fortalecer e me conduzir nesta caminhada.

A minha família que em muitos momentos soube compreender a minha ausência

para que eu pudesse levar adiante meu projeto profissional.

A minha querida filha Gabriela que esteve o tempo todo ao meu lado, ajudando com

toda paciência do mundo e ao Gustavo pela compreensão das minhas “faltas”

durante os meus momentos de trabalho.

À minha orientadora, Prof.ª Drª Maria da Graça Mizukami, por sua orientação e

sugestões indispensáveis auxiliando no direcionamento do trabalho.

Ao Fundo Mackenzie de Pesquisa – MACKPESQUISA, pelo apoio.

Às professoras Dra. Maria Dalva Silva Pagotto e Dra. Regina Maria Simões

Puccinelli Tancredi pelas importantes sugestões no momento da qualificação.

Aos professores do Programa, pelo aprendizado proporcionado durante o curso.

Um agradecimento especial aos professores que participaram da pesquisa, sem os

quais este trabalho não teria sido possível. Terei oportunidade de mencioná-los no

contexto do trabalho.

A todos (as) aqueles (as) que, de alguma forma, estiveram e estão próximos de mim, pelo carinho e amizade.

Page 7: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

RESUMO

O foco deste trabalho é sobre a aprendizagem e desenvolvimento profissional

docente no ensino superior. A pesquisa e de cunho qualitativo e se desenvolveu em

torno do seguinte problema: como professores do ensino superior egressos do PPG

- EAHC – UPM de diferentes áreas do conhecimento caracterizam suas trajetórias

de aprendizagem da docência? O objetivo geral foi como professores do ensino

superior egressos do PPG - EAHC – UPM de diferentes áreas do conhecimento

caracterizam suas trajetórias de aprendizagem da docência. Para isso, recorremos

de um estudo exploratório-descritivo, com professores egressos do PPG-EAHC que

estão exercendo a docência em instituições no ensino superior, por meio de

entrevistas. A discussão e análise dos aspectos relevantes dos dados pelo método

descritivo-analítico revelam que o início da docência possui experiências próprias e

merece atenção na constituição da formação docente. Os professores sentem falta

de uma formação pedagógica específica para o ensino superior e reconhecem a

necessidade de continuar os estudos na pós-graduação, relatam a importância da

formação em serviço uma vez que o docente nunca encerra sua formação. Além

disso, indicam as dificuldades encontradas no ensino superior: vencer a insegurança

que a falta de experiência gera; aprender e encontrar soluções com a

heterogeneidade e diversidade dos alunos que chegam hoje aos bancos escolares

com defasagens nos conteúdos, e com salas de aula numerosas; e ainda, a

importância de dialogar com os pares para compartilhar experiências e

aprendizagens. O estudo realizado enfatizou que a autonomia e a constituição da

profissão docente é um processo em construção e se desenvolve com a experiência

adquirida no exercício da própria docência. Confirmou também que a formação

pedagógica do docente do ensino superior também se apoia informalmente nas suas

aprendizagens como aluno universitário, em especial, nas suas memórias dos bons

professores, um profissional que adquire e desenvolve conhecimentos a partir da

prática e no confronto com as condições da profissão ao longo de sua trajetória

profissional. E a necessidade de uma profissionalização dos professores e, sobre a

necessidade de tornar se reflexivos sobre e que sua aprendizagem.

Palavras-chave: Aprendizagem e Desenvolvimento profissional da docência,

Docência do Ensino Superior, Formação de professores do Ensino Superior.

Page 8: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

ABSTRACT

The focus of this work is on learning and teacher professional development in higher

education. The survey and qualitative nature and developed around the following

problem: how teachers of higher education graduates PPG - EAHC - UPM different

areas of knowledge characterize their learning trajectories of teaching? The overall

objective was to graduates as teachers of higher education PPG - EAHC - UPM

different areas of knowledge characterize their learning trajectories of teaching. For

this, we used an exploratory descriptive study with graduates of the PPG-EAHC

teachers who are serving as teaching in higher education institutions, through

interviews. The discussion and analysis of relevant data aspects by descriptive-

analytical method reveal that the early teaching experiences and has its own merits

attention in the constitution of teacher education. Teachers feel the lack of a specific

teacher training for higher education and recognize the need to continue their studies

in graduate school, report the importance of in-service training once the teacher

never finishes his training. Also, indicate the difficulties found in higher education:

overcoming the insecurity that lack of experience generates; learn and find solutions

with heterogeneity and diversity of students who come to school today with banks

lags in the contents, and numerous lecture halls; and also the importance of dialogue

with peers to share experiences and learning. The study emphasized that the

autonomy and constitution the teaching profession is an ongoing process and

develops with experience in the teaching profession itself. Also confirmed that the

pedagogical training of teachers in higher education also relies informally in their

learning as a university student, in particular, on their memories of the good teachers,

a professional who acquires and develops knowledge from practice and in

comparison with the conditions of profession throughout his professional career. And

the need for professionalization of teachers and on the need of becoming reflective

about their learning and that.

Keywords: Higher Education Teachers, Learning in Teaching, Professional

development of teaching, teacher education.

Page 9: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Número de professores que participaram do estudo ............................... 18 Tabela 2 - Anos de atuação dos participantes no Ensino Superior ........................... 19

Page 10: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição da escolaridade e titulação de funções / 2009 ..................... 47 Gráfico 2 - Funções docentes em exercício por titulação nas IES públicas .............. 48 Gráfico 3 - Funções docentes em exercício por titulação nas IES privadas .............. 48 Gráfico 4 - Formação e ao preparo para o exercício da docênciaErro! Indicador não definido. Gráfico 5 - Saberes dos docentes ................................ Erro! Indicador não definido. Gráfico 6 - Material e fonte de Apoio ........................... Erro! Indicador não definido. Gráfico 7 - Contribuições do Programa EAHC-UPM .... Erro! Indicador não definido. Gráfico 8 - Especificidade da docência do Ensino SuperiorErro! Indicador não definido. Gráfico 9 - Primeiras experiências no Ensino Superior Erro! Indicador não definido. Gráfico 10 - Principiantes no Ensino Superior .............. Erro! Indicador não definido. Gráfico 11 - Dificuldades encontradas pelos docentes no Ensino Supeiror ......... Erro! Indicador não definido. Gráfico 12 - Atividades solicitadas pela instituição em que o professor trabalha, além de ensinar..................................................................... Erro! Indicador não definido.

Page 11: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

ANPED Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em

Educação

CAPES Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior

CAPES Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível

Superior

CES Conselho de Educação Superior

CFE Conselho Federal de Educação

CNE Conselho Nacional de Educação

CNPq Conselho Nacional de desenvolvimento Científico e Tecnológico

ENDIPE Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino

FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FORGRAD Fórum Brasileiro de Pró-Reitores de Graduação

IES Instituição de Ensino Superior

IFES Instituição Federais de Ensino Superior

INEP Instituto nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LDB Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação e Cultura

SESU Secretaria da Educação Superior

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura

Page 12: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

CAPÍTULO 1 - A PESQUISA .................................................................................... 15

CAPÍTULO 2 - APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DA DOCÊNCIA ............................................................................................................... 20

2.1 OS CICLOS DE VIDA DOCENTE .................................................................... 36

2.2 A CONSTITUIÇÃO DO PROFESSOR E O PROFISSIONALISMO DOCENTE ............................................................................................................................... 38

2.3 DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR ............................................................. 45

CAPÍTULO 3 - A DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR SOB A ÓTICA DOS ALUNOS EGRESSOS DO PPG- AEHC ................................................................... 55

3.1 FORMAÇÃO DOCENTE E CONTEXTO DA ATUAÇÃO ................................. 55

3.2 PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR ............................................................................................................................... 71

3.3 ESPECIFICIDADES DA INSTUIÇÃO DO ENSINO SUPERIOR E DIFICULDADES ENCONTRADAS NA AÇÃO DOCENTE ..................................... 79

3.4 AS INCONSISTÊNCIAS DAS FALAS, OS ANSEIOS... ................................... 85

CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 89

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 95

APÊNDICE (A) ........................................................................................................ 104

Page 13: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

10

INTRODUÇÃO

O interesse em pesquisar o processo de aprendizagem e

desenvolvimento profissional da docência e a formação para a docência no

ensino superior do professor universitário, como se apresenta nesta pesquisa

que desenvolvi para a dissertação de mestrado, surgiu a partir da minha longa

experiência de 22 anos na área da educação da rede pública municipal do

município de Mauá – na região da Grande São Paulo.

Comecei a trabalhar na Prefeitura Municipal de Mauá no início de 1992,

como professora de Educação Infantil. Em 1999, assumi a direção de uma

escola municipal na qual funcionava a Educação Infantil durante o dia e a noite

a EJA – Educação de Jovens e Adultos. Nesta época o diretor exercia função

administrativa e pedagógica da escola. Em 2001 tive o convite para compor a

equipe de Supervisão Técnica de Ensino da Secretaria de Educação, onde

permaneci por quatro anos. Uma das responsabilidades dessa equipe foi

promover a formação continuada dos professores da rede municipal. Tínhamos

a assessoria da empresa “Espaço Pedagógico” – do pesquisador Paulo Freire

com a administração de sua filha Madalena Freire. Para o grupo de

supervisores a formação acontecia semanalmente e a discussão principal nos

nossos encontros referia-se à reflexão sobre as práticas pedagógicas

realizadas na rede municipal.

Com a mudança da gestão política no município voltei para a função de

diretora de escola na qual atuo até hoje. Diferente do cenário anterior,

atualmente as escolas do município de Mauá são administradas por uma

equipe gestora, composta pelo diretor de escola, vice-diretor e professor

coordenador pedagógico, com funções bem específicas. O diretor de escola

tem seu trabalho direcionado para as questões administrativas, financeiras e de

supervisão do trabalho pedagógico exercido pelo PCP (Professor Coordenador

Pedagógico).

O interesse em focalizar a temática do profissionalismo docente e suas

interfaces no exercício da docência do Ensino Superior está relacionado à

vontade de oxigenar e aprender novos conhecimentos na área da educação.

Page 14: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

11

Revisito minha trajetória profissional e está inserida na educação básica desde

o início da minha carreira, por isso a necessidade de mudar. Dentro desse

contexto direcionei minha pesquisa para a formação do professor do ensino

superior e seus processos de aprendizagem e desenvolvimento profissional.

É interessante destacar que esse percurso desafiou-me a refletir sobre a

formação do professor e seu processo constitutivo. Poderá a aprendizagem

dos docentes que atuam em diferentes níveis de ensino ocorrer do mesmo

modo ao longo de sua trajetória profissional? Será que o professor que tem sua

formação inicial como bacharel obtém conhecimentos didático-pedagógicos

como os professores que têm sua formação inicial em licenciatura? Como a

formação continuada pode contribuir em seu processo formativo como

docente? Assim, iniciou o ciclo de motivações investigadoras sobre a prática e

a aprendizagem docente no ensino superior.

Considero que a formação dos professores deve ser objeto de

preocupação, que a aprendizagem docente é condição para o desenvolvimento

e concretização do fazer-se professor ao longo da trajetória pessoal e

profissional. Por isso realizei com os professores do ensino superior, egressos

do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Educação, Arte e História da

Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie a pesquisa, envolvendo a

aprendizagem e a formação docente.

Justificando-se, esta pesquisa, pela demanda crescente por uma

formação pedagógica do docente do ensino superior baseada na reflexão

sobre a prática/teoria e na “construção” do professor reflexivo, uma vez que

sua prática pedagógica contribui para mudanças na universidade, no currículo,

no ensinar e aprender dos alunos e dos próprios docentes. Como a Pós-

Graduação stricto sensu é exigência para os docentes lecionarem no ensino

superior a expectativa desta pesquisa é analisar o lugar da formação dos

professores desse nível de ensino e como os processos de aprendizagem da

docência estão ocorrendo, uma vez que os saberes necessários para a

docência exigem uma preparação acadêmica numa perspectiva teórica e

prática. A importância dessa pesquisa também se justifica pela pouca clareza

da função que os Programas de Pós-Graduação representam na formação de

Page 15: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

12

uma “pedagogia universitária”, constituindo-se num lugar de formação dos

professores da educação superior.

Para Mizukami (2005), “A docência no ensino superior é ainda território

que apresenta iniciativas tímidas – comparativamente às demais -, embora

mais recentemente também tenha passado a fazer parte do debate da área de

forma mais sistemática”. Espaços de discussão como ENDIPE – Encontro

Nacional de Didática e Prática de Ensino, ANPED – Associação Nacional de

Pós-Graduação e Pesquisa e ultimamente a CAPES – Coordenação de

Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior, que a partir de 2005,

estabelece à obrigatoriedade de estágio de docência no ensino superior para

pós-graduandos (atuais ou potenciais professores do ensino superior) bolsistas

(e, mais recentemente, possibilidades de bolsistas virem a se tornar

professores substitutos em universidades).

A maioria das iniciativas, no entanto, tem permanecido no âmbito das

políticas institucionais de cada universidade; essas iniciativas, por sua vez, não

têm formalmente explicitado um currículo direcionado à formação professor do

ensino superior, envolvendo o que ele deve saber.

Vejamos, neste caso a afirmação de Cunha (2008, p. 186),

[...] precisamos assumir que a docência é uma atividade complexa, que

exige tanto uma preparação cuidadosa, como singulares condições de

exercício, o que pode distingui-la de algumas outras profissões. Ou

seja, ser professor não é tarefa para neófitos, pois a multiplicidade de

saberes e conhecimentos que estão em jogo na sua formação, exige

uma dimensão de totalidade, que se distancia da lógica das

especialidades, tão cara a muitas outras profissões na organização

taylorista do mundo do trabalho.

É importante fazer-se uma reflexão mais rigorosa sobre a formação do

professor universitário. Geralmente os programas de pós-graduação em

educação recebem profissionais de diferentes áreas do conhecimento.

Algumas vezes professores do ensino superior e formadores de professores.

Mesmo com constantes reivindicações desses professores quanto a espaços

Page 16: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

13

destinados para a realização da prática pedagógica e a vivência de situações

de aprendizagem e desenvolvimento profissional da docência, não se tem

espaço para tal, bem como para a discussão de aspectos específicos dessa

prática, de forma mais sistemática.

Pode-se dizer que não há uma preparação formal para os professores

do ensino superior. Muitos são contratados em Instituições de Ensino Superior

pela linha de pesquisa e não pela docência. A formação desse professor não

surge como prioridade nas políticas públicas, pois os processos de

aprendizagem da docência e o desenvolvimento profissional ficam na

dependência das IES, segundo suas concepções e respectivos planos de

desenvolvimento profissional.

Devemos desta maneira, reforçar a necessidade de se estudar a

formação dos professores do ensino superior para contemplar as exigências do

mundo moderno. O exercício docente no ensino superior exige capacitação

própria e específica, “que não se restringe a ter um diploma de bacharel, ou

mesmo mestre ou doutor, ou ainda, apenas o exercício de uma profissão”

(Masetto 2012, p.11). Assim, exige o domínio de base de conhecimentos a

serem transmitidos por um professor como também “um profissionalismo

semelhante aquele exigido para o exercício de qualquer profissão” (Masetto

2012, p.13); esse relatório de pesquisa encontra-se estruturado em quatro

capítulos, como se segue.

No primeiro capítulo, apresentamos a pesquisa, o problema de pesquisa,

os objetivos, a metodologia e os procedimentos.

No segundo capítulo, buscamos a fundamentação teórica que serve de

base a esta pesquisa sobre a aprendizagem e desenvolvimento profissional da

docência.

No terceiro capítulo apresentamos a análise dos dados das entrevistas

realizadas e os resultados.

Finalmente no quarto capítulo apresentamos as considerações finais da

pesquisa.

Page 17: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

14

Com esse trabalho pretendemos estudar, conhecer e investigar a

aprendizagem na docência e desenvolvimento profissional do professor do

ensino superior, bem como a formação do docente analisando questões

teórico-metodológicas que permeiam os processos de formação inicial e

continuada de professores e a investigação de tais processos.

Page 18: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

15

CAPÍTULO 1 - A PESQUISA

Apresentamos a pesquisa: o problema, objetivo geral e objetivos

específicos, fonte de coleta de dados e tratamento da coleta de dados.

Caracteriza-se como um estudo descritivo e analítico, de natureza

qualitativa. Foi desenvolvido com egressos do Programa de Pós-graduação em

Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie,

como parte de um projeto mais amplo intitulado Processos de Aprendizagem e

Desenvolvimento Profissional da Docência: Egressos do PPGEAHC-UPM,

financiado pelo Mackpesquisa durante o período de fevereiro de 2013 a janeiro

de 2014. Os alunos participantes do Programa de Pós-graduação tem sua

preparação básica em diferentes áreas do conhecimento, envolvendo as

grandes áreas das ciências exatas e das ciências humanas.

O programa forma pesquisadores e docentes através da

interdisciplinaridade a partir de três áreas do saber: educação, Arte e História

da Cultura com ênfase na contemporaneidade. Tendo as seguintes linhas de

pesquisa:

- Formação de Educador para a interdisciplinaridade

Investiga-se processos de ensino e aprendizagem a partir de dimensões

cognitivas, técnicas, políticas, histórico-culturais e artísticas, tendo como eixo

questões postas pela tecnologia e contemporaneidade.

- Culturas e artes na contemporaneidade

Tendo como cenário referencial as sociedades contemporâneas, esta

linha de pesquisa se compromete a investigar as artes em suas expressões

eruditas, populares e folclóricas em diálogo com as mais diversas expressões.

- Linguagens e Tecnologias

Page 19: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

16

Desenvolvem pesquisas de cunho histórico-crítico das linguagens e das

tecnologias nos processos de comunicação humana, seus impactos nas áreas

das artes, da história e da educação, tendo como eixo as expressões das

novas mídias.

A Questão da pesquisa dessa investigação é explicitada como segue:

Como professores do ensino superior egressos do PPG - EAHC –

UPM de diferentes áreas do conhecimento caracterizam suas trajetórias

de aprendizagem da docência?

Em decorrência desta questão, tem-se, como objetivo geral:

Como professores do ensino superior egressos do PPG - EAHC – UPM

de diferentes áreas do conhecimento caracterizam suas trajetórias de

aprendizagem da docência com relação aos objetivos específicos, proponho

analisar:

a) Analisar aprendizagens ocorridas durante os percursos profissionais

no ensino superior;

b) Compreender concepções manifestas em relação à profissão

docente;

c) Compreender desafios atuais postos pela profissão docente;

d) Identificar os espaços que são por eles considerados como de

formação e de desenvolvimento profissional da docência;

Considerando a dimensão qualitativa desse estudo, é importante referir-

se a Minayo (2005, p.82) que ressalta que “a abordagem qualitativa levando

em conta a compreensão, a inteligibilidade de fenômenos sociais e o

significado e a intencionalidade que lhe atribuem os atores”. Nesse sentido, o

estudo está focado em uma realidade próxima, ou seja, o local de atuação

docente, uma vez que investigar a trajetória da docência dos professores que

atuam no ensino superior é o nosso objetivo maior.

A abordagem qualitativa nos permite compreender o espaço em que as

ações e as relações humanas não se exprimem em dados estatísticos. Pode-

se acrescentar o que afirma Chizzotti (1998, p.78): “[...] a complexidade

Page 20: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

17

criadora das relações interpessoais e sociais”. A escolha pela abordagem

qualitativa foi essencial porque podemos explorar o subjetivo e o pessoal do

entrevistado na sua experiência vivida. O pesquisador participa, compreende e

interpreta.

O caminho da pesquisa qualitativa, segundo Minayo (2003, p.22-23)

[...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,

crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais

profundo das relações, dos processos, dos fenômenos que não podem

ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

O foco principal na pesquisa qualitativa é a interpretação dos dados

obtidos através dos sujeitos. Em uma pesquisa qualitativa os pesquisados são

sujeitos que possuem experiências e percepção própria acerca do mundo que

os cerca, é extremamente importante que esta visão de mundo e as atitudes

possam ser consideradas como dados relevantes.

A opção pelo método descritivo-analítico se explica também pela

necessidade de compreendermos como os docentes analisam suas trajetórias

de aprendizagem da docência.

Tendo como base essas orientações a pesquisa foi desenvolvida por

meio de entrevista com roteiro semiestruturado, buscamos obter as

informações necessárias para responder a questão. A escolha pelas

entrevistas explica-se por se tratar de uma técnica que possibilita desenvolver

uma relação pessoal entre pesquisador e pesquisados. Os docentes

entrevistados se disponibilizaram a colaborar a partir de um convite

endereçado via e-mail para agendar a entrevista.

O estudo foi realizado em duas etapas. A primeira delas foi a de

identificar os participantes e estabelecer os critérios para participação da

pesquisa. Os participantes entrevistados foram professores do ensino superior

egressos do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, Arte e

História da Cultura dos cursos de mestrado ou doutorado da Universidade

Presbiteriana Mackenzie.

Page 21: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

18

O critério utilizado para a seleção dos participantes foi: está no exercício

na docência no ensino superior e ser egressos do Programa de participação na

pesquisa. O grupo escolhido é composto por doze professores, dentre os

participantes havia aqueles que eram oriundos em cursos de licenciatura como

formação básica e os que haviam frequentado apenas bacharelado, sem

acesso formal em termos de formação profissional para a docência a cursos

que contemplassem conhecimentos pedagógicos de forma mais sistemática, o

grupo foi dividido em dois, de forma que a quantidade fosse párea: 6

professores com formação em Licenciatura e 6 professores com formação em

Bacharelado.

Tabela 1 - Número de professores que participaram do estudo

Formação – Licenciatura Nº de professores

Matemática 1

Pedagogia 4

Filosofia 1

Formação - Bacharelado N° de professores

Administração 1

Interpretação Teatral 1

Relações Internacionais 1

Publicidade e Propaganda 1

Medicina 1

Designer Gráfico 1

Quanto ao gênero, 6 (50%) eram do gênero feminino e 6 (50%) do

gênero masculino. Esses dados refletem uma realidade nacional, conforme

ilustra a tabela 1, em que no magistério do nível superior há certo equilíbrio

entre a atuação masculina e feminina, o que já não ocorre, por exemplo, no

Ensino Fundamental, onde a maioria dos professores é a figura feminina.

No que se refere à titulação, 5 (42%) estão cursando o doutorado, 3

(25%) são mestres e 4 (33%) estão cursando o mestrado.

Page 22: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

19

Tabela 2 - Anos de atuação dos participantes no Ensino Superior

Nº de anos Nº de professores

01 até 05 5

06 até 10 3

11 até 15 2

16 até 20 0

21 até 25 1

26 até 30 1

Pode-se constatar através da tabela 2 que os professores entrevistados

possuem diferentes anos de docência, mas a maioria dos professores

entrevistados têm de 1 a 5 anos na docência do ensino superior.

A coleta de dados foi realizada através das entrevistas semiestruturada,

conduzidas por mim, em dia e horário agendados previamente com cada um

dos participantes do estudo.

O principal instrumento de coleta de dados do presente trabalho é a

entrevista com roteiro semiestruturado (Apêndice A); tal roteiro considerou os

seguintes focos: formação inicial e atual; experiências anteriores e atuais

profissionais no magistério; experiência na Educação Superior; como e quando

aprenderam a ensinar no ensino superior; de que forma o Programa EAHC-

UPM contribuiu para sua aprendizagem como professor; quais espaços e

processos voltados são considerados pelos participantes como propícios para

a formação continuada; experiências em “ser” ou “estar” professor; dificuldades

no exercício da docência. Esses focos aglutinaram as narrativas dos

participantes quando se empreendeu a análise dos dados.

As entrevistas foram gravadas e transcritas posteriormente para garantir

autenticidade do material e maior fidedignidade em relação aos dados obtidos.

Page 23: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

20

CAPÍTULO 2 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DA

DOCÊNCIA

É amplo o universo teórico de pesquisa para o presente trabalho. De

forma a fundamentar essa investigação, o capítulo presente é constituído por

três eixos inter-relacionados: Os ciclos de vida docente; A Constituição do

Professor e o Profissionalismo Docente e Docência no Ensino Superior.

A escola considerada um espaço para desenvolvimento profissional

docente e espaço de formação continuada do professor são referências para a

compreensão da questão sob investigação, quanto ao contorno metodológico

da pesquisa e análise dos dados.

Considerando-se, essa perspectiva, é dado um grande valor à

experiência como fonte de conhecimento sobre o ensino e o aprender a

ensinar. Zeichner (apud Marcelo Garcia et al., 1999 p.40) “as experiências

práticas em escolas contribuem necessariamente para formar melhores

professores. Acredita-se que algum tempo de prática é melhor que nenhum, e

que quanto mais tempo se dedicar às experiências práticas melhor será”, A

esse respeito, Feiman (apud Marcelo Garcia et al., 1999 p.31) afirma que “esta

visão do ensino mostra que se aprende a ensinar através de uma combinação

de experiências diretas e interações com colegas e mentores sobre situações

problemáticas. Através destas experiências são iniciados numa comunidade de

práticos e no mundo da prática”.

É fundamental pensar, nesse contexto, uma concepção de formação em

que o professor e as instituições ensino superior construam um espaço de

conhecimento orientado para a compreensão dos processos de aprendizagem

da docência, com base na consideração de sua relação com o contexto e com

sua trajetória de formação. O docente deixa de ser um transmissor de

conteúdos e torna-se um mediador que busca proporcionar o significado da

informação e possibilita a interação entre os diferentes campos do

conhecimento; assim, assumindo a função de conectar os conteúdos

curriculares com os conhecimentos que vêm de fora dos espaços escolares

Page 24: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

21

auxiliando os alunos a relacionar o aprendizado com o mundo das instituições

de ensino.

Assumindo tal ideia, o trabalho do professor deve estar baseado na

reflexão sobre a ação pedagógica considerada uma estratégia poderosa e

formativa para professores do ensino superior, em uma perspectiva de

formação continuada no espaço da universidade.

Nas últimas décadas alguns autores como Schön (1983, 1987, 1988),

Schulman (1986, 1987, 1996), Nóvoa (1992), Vasconcelos (1995), Perrenoud

(2002), Masetto (2003), Mizukami (2003), Cunha (2004), discutem sobre a

profissionalização do professor e mostram a necessidade de superação de um

paradigma de reprodução e repetição, tanto da prática docente como os

processos de formação dos mesmos.

Segundo Schoenfeld, (1997), não se pode considerar que as múltiplas

variáveis podem configurar ou co-determinar o que os professores fazem na

sala de aula e no desenvolvimento do processo instrucional, mas a literatura

atual apresenta algumas indicações sobre modelos descritivos de processos de

ensino, de base de conhecimento para o ensino e de processos de raciocínio

pedagógico, descrições de crenças e tipos de conhecimentos dos professores,

histórias construídas e narradas pelos docentes.

As pesquisas realizadas pelos autores citados acima divergem quanto às

orientações teóricas e nos referenciais em que se apoiam, porém, não se pode

deixar de analisar as contribuições de Schön (1983, 1987), ao tentar construir

uma epistemologia da prática, abrindo espaço para a investigação até então

não pensada, uma revisão dos paradigmas existentes e a preocupação com o

modelo processo/produto.

Aprender a ensinar e a se tornar professor são [...] processos e não

eventos (Cole & Knowles, apud Mizukami, Tancredi et al., 2002, p.47)

Com base nesta afirmação de Cole & Knowles, podemos dizer que os

processos de aprendizagem dos professores estão pautados nas experiências

diversas e modos de conhecimento, que iniciam antes mesmo da formação

Page 25: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

22

inicial, que prosseguem ao longo da carreira docente permeando a prática

profissional vivenciada.

A concepção de aprendizagem da docência bem com a formação dos

professores deve estar associada com o desafio da utilidade social do

conhecimento que é transmitido e construído, isso significa uma nova

imposição nos papéis para os professores.

A palavra mudança aparece cada vez no discurso pedagógico devido à

necessidade de uma nova postura, de um novo olhar para a aprendizagem do

professor do ensino superior e sua formação. Para Fullan (apud Marcelo Garcia

et al., 1999 p.47) reconhecia que qualquer tipo de mudança no ensino, no

currículo, depende em grande parte dos professores. Cabe aqui ressaltar que

existem múltiplas dimensões inerentes aos processos de mudança do

professor, em especial à dimensão pessoal, se realmente pretende-se que algo

mude. Cada vez mais se assume que o professor é um construtivista (Clark e

Peterson, apud Marcelo Garcia et al., 1999 p. 196) que processa informações,

toma decisões, gera conhecimento prático, possui crenças, rotinas, etc., que

influenciam a sua atividade profissional. Portanto, e o professor que determina

as situações, seu comportamento é pessoal e particular, assim as teorias da

prática constituem o conhecimento profissional.

Os professores desenvolvem, nessa direção, em sua experiência

docente, teorias implícitas e concepções pedagógicas (Marcelo, 1999) que

contribuem para dar um “contexto de estabilidade” ao professor, de tal modo

que muitas vezes aparecem como explicações interiorizadas, embora tácitas,

da prática docente; assim, essas teorias muitas vezes estão enraizadas no

pensamento do professor, ao longo dos seus anos de estudante e a sua

mudança implica um processo de autoconsciência e autorreflexão. Para Schön

(1987), “[...] que deve ser considerado por aqueles que planejam as atividades

de desenvolvimento profissional”.

Pesquisadores como Schön (1983) e Dewey (1989), têm investigado o

pensamento e o conhecimento profissional do professor enfatizando como esse

se desenvolve e se relaciona com o processo ensino-aprendizagem.

Page 26: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

23

A Aprendizagem é compreendida como um processo vital de

crescimento e desenvolvimento, ao longo da vida (life long learning), com uma

dimensão significativa que explicita o significado e a importância do que se

aprende em tempo e espaços escolares, aprendizagem em qualquer idade.

(Mazetto 2009, p.8).

Na produção do conhecimento no ensino o ato dos professores de

descrever, analisar, fazer inferências sobre eventos de sala de aula e

estabelecer princípios pedagógicos os tornam em professores práticos

reflexivos. O conceito de professor como prático reflexivo reconhece a

importância da experiência que reside na prática dos bons professores.

“Reflexão significa o reconhecimento de que o processo de aprender a ensinar

se prolonga durante toda a carreira do professor” (Zeichner, 1993, p.17).

Atualmente, o conceito de ensino reflexivo está fundido com as

preocupações e a experiência pessoal e com a prática na formação e no

desenvolvimento profissional de docentes. A premissa básica do ensino

reflexivo considera que as crenças, os valores, as hipóteses que os

professores têm sobre o ensino, a matéria que lecionam o conteúdo curricular,

os alunos, e a aprendizagem estão na base de sua prática de sala de aula

(Mizukami, 2002, p.49). A ação reflexiva possibilita a oportunidade dos

professores de avaliar constantemente sua prática, transformando-os em

sujeitos conscientes de suas crenças e participativos, discutindo e refletindo

sobre suas próprias ações.

A reflexão oportuniza o professor objetivar suas teorias

práticas/implícitas, através da auto avaliação de crenças e práticas

pedagógicas cotidianas, mudanças de postura percebidas em suas histórias,

em suas interações com os diferentes campos do conhecimento, em situações

de problematização no ato de ensinar.

Quando se trata de teorias práticas estas frequentemente são implícitas,

havendo conflito entre elas e as práticas profissionais existentes. Alguns

professores mesmo antes de sua formação formal conduzem suas aulas com

base em várias teorias da prática, muitas vezes não conhece tais teorias,

tomam decisões, avaliam estratégias de ensino e aprendizagem, baseando-se

Page 27: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

24

em seus pensamentos, valores e assim comprometendo o trabalho educativo.

Zabalza (1988) “salienta que o valor da experiência não pode ser tornar um

mito e fazer que os professores acreditem que são as experiências de campo

as que realmente formam o professor, não pode haver separação entre a

formação teórica e prática no currículo da formação inicial”.

Ao se discutir sobre o desafio da formação é preciso expor a

necessidade que essa seja centrada nas práticas e na análise das práticas

(Nóvoa 2007, p.14). Quando relacionamos os diversos conceitos como

‘processo reflexivo’, o ‘pensamento reflexivo’, o ‘ensino reflexivo’, a ‘prática

reflexiva’, não existe um consenso entre os pesquisadores porque consideram

diferentes aspectos, como fatores pessoais, organizacionais, éticos e políticos.

Para Ciriello et al. (1992), esse vê a reflexão como um processo deliberativo

relacionado às considerações de valores implícitos em práticas alternativas,

envolve questões éticas, morais e políticas nas decisões em sua prática

cotidiana. McCaleb et al. (1992), considera o ensino reflexivo como utilização

de uma base de conhecimento profissional. Mizukami (2002, p.51), o

“componente básico para se tornar professor reflexivo consiste no

desenvolvimento de uma linguagem que podem ser adquiridas por meio do

exame crítico de pesquisas/estudos empíricos”. Ross et al. (1992), o professor

que tem uma filosofia pessoal sobre o ensino é considerado um professor

reflexivo. Segundo Dewey, cada professor vê a realidade de modo diferente o

que serve de barreira, impedindo-o de reconhecer e experimentar pontos de

vista alternativos, a primeira atitude é permitir novas possibilidades,

alternativas.

[...] a ausência de preconceitos, de parcialidades e de qualquer hábito

que limite a mente e a impeça de considerar novos problemas e de

assumir novas ideias e que integra um desejo ativo de escutar mais do

que um lado, de acolher os fatos independentemente da sua fonte, de

prestar atenção sem melindres a todas as alternativas, de reconhecer o

erro mesmo relativamente àquilo em que mais acreditamos (1989, p.

43).

Page 28: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

25

Finalmente, Calderhead (1989, p.44-45, apud Zeichner, 1993, p.31) ao

analisar os diferentes conceitos de ‘ensino reflexivo’, esse considera cinco

dimensões.

[...] variam na forma como consideram o processo de reflexão (por

exemplo, reflexão na ação, deliberação curricular), no conteúdo da

reflexão (por exemplo, os valores próprios dos professores, o contexto

social, a teoria educacional), nas condições prévias à reflexão (por

exemplo, as atitudes em relação à reflexão, o contexto de orientação

no qual ocorre a reflexão) e no produto da reflexão (por exemplo, a

eficiência do ensino, a emancipação, a compreensão da relação entre

valores e prática). Há ainda uma variação considerável na forma como

os conceitos têm sido justificados, defendidos e relacionados no

contexto da formação profissional. O ensino reflexivo tem sido

justificado em campos que se situam desde a responsabilidade moral

até a eficiência técnica, e a reflexão tem sido incorporada em cursos de

formação de professores bem divergentes, desde aqueles que

recorrem à abordagem comportamentalista, segundo a qual a reflexão

é considerada como uma forma de realização das práticas prescritas,

até os que recorrem à abordagem crítica, na qual a reflexão é

considerada como um meio em direção à emancipação e à autonomia

profissional.

Quando se refere à prática reflexiva, os conceitos de reflexão na ação,

para a ação e sobre a ação, é necessário que o professor desenvolva à

importante atitude de analisar e interpretar o que ocorre em sala de aula

enquanto os alunos executam as atividades propostas. Assim, a prática

enquanto objeto de reflexão, constitui numa fonte de desenvolvimento de

processos de ensinar e aprender no decorrer do desenvolvimento profissional

dos professores.

Para Marcelo (1999, p.29) a formação do professor deve ser baseada na

reflexão epistemológica da prática, de modo que aprender e ensinar seja

realizado através de um processo em que o conhecimento prático e o

conhecimento teórico possam integrar-se em um currículo orientado para ação.

Page 29: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

26

Como estabelece Pérez Gómez, (1988, apud Marcelo et al., 1999, p.29) “a

prática é concebida como espaço curricular especialmente delineado para

aprender a construir pensamento prático do professor em todas as suas

dimensões”. Para esse autor os processos de reflexão sobre a ação, supõem

um conhecimento-na-ação e uma análise sobre a reflexão-na-ação, constituem

“o pensamento prático do profissional (nesse caso o professor), que se depara

com situações que divergem da prática” (grifo do autor). Vale ressaltar que os

três processos são interdependentes e se completam para garantir uma efetiva

intervenção. A prática se torna repetitiva e rotineira com o tempo e, por isso,

[...] o conhecimento-na-ação é cada vez mais tácito, inconscientes e

mecânico, o profissional corre o risco de reproduzir automaticamente a

sua aparente competência prática, e de perder valiosas oportunidades

de aprendizagem pela reflexão na e sobre a ação. Desta forma, o seu

conhecimento prático vai-se fossilizando e repetindo, aplicando

indiferentemente os mesmos esquemas a situações cada vez menos

semelhantes (Pérez Gómes, 1997, p. 105).

Para o autor, o professor não consegue conciliar um diálogo criativo

numa situação de sala de aula (complexa e real). Passa a desperceber as

características que fogem aos padrões do seu pensamento prático sem elenco

e não percebe os erros cometidos.

A prática não pode ser concebida como uma atividade assistemática,

mecânica, apenas seguindo os princípios teóricos, mas deve ser entendida

como uma oportunidade para se adquirir conhecimento. Como refere Pérez

Gómez (1992, apud Marcelo et al., 1999, p.39) “o ensino como uma atividade

complexa, que se desenvolve em cenários singulares claramente determinada

pelo contexto, com resultados em grande parte sempre imprevisíveis e

carregada de conflitos de valor que exigem opções éticas e políticas”. Com

isso, pretendemos dizer que o professor não aprende a ensinar de forma

mecânica, rotineira e previsível.

[...] aprendizagem e desenvolvimento profissional da docência

constituem processos que se desenvolvem ao longo da vida. A

Page 30: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

27

formação inicial do professor, sob essa ótica, deve ser destacada como

um momento formal em que os processos de aprender a ensinar e

aprender a ser professor começam a ser construídos de forma mais

sistemática, fundamentada e contextualizada”. (Mizukami, 2013, p.27).

Atualmente o conceito de desenvolvimento profissional de professores,

tem uma conotação de evolução e continuidade, pressupõe uma abordagem na

formação de professores que valoriza o seu caráter contextual, organizacional

e orientado para a mudança. Apresenta uma concepção onde o professor é um

profissional do ensino, que pesquisa, questiona e busca soluções.

Um processo concebido para o desenvolvimento pessoal e profissional

dos indivíduos num clima organizacional de respeito, positivo e de

apoio, que tem como finalidade última melhorar a aprendizagem dos

alunos e a auto renovação contínua e responsável dos educadores e

das escolas” (Dillon-Peterson, 1981 apud Marcelo et al, 1999 p.137)

O desenvolvimento de professores está para além de uma etapa

informativa; implica a adaptação às mudanças com o propósito de

modificar as atividades instrucionais, a mudança de atitudes dos

professores e melhorar o rendimento dos alunos. O desenvolvimento

de professores preocupa-se com as necessidades pessoais,

profissionais e organizacionais” (Heidman, 1990 apud Marcelo et al,

1999 p.138)

Define-se como o processo que melhora o conhecimento,

competências ou atitudes dos professores.” (Sparks e Loucks-Horsley,

1990 apud Marcelo et al, 1999 p.138)

Diante desse cenário a pedagogia deve ser reinventada na sociedade

contemporânea para que consiga responder não apenas as necessidades dos

alunos, das instituições escolares, das novas tecnologias, em especial da

aprendizagem. “A pedagogia precisa respirar. Os professores precisam se

apropriar de um conjunto de novas áreas científicas que são muito mais

estimulantes das que serviram de base e fundamento para a pedagogia

moderna. Como, por exemplo, todas as descobertas das neurociências, sobre

Page 31: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

28

o funcionamento do cérebro, as questões dos sentimentos e da aprendizagem,

sobre maneira de produzir a memória, sobre as questões da consciência”

(Nóvoa, 2007, p.7).

No início do século XXI, “os professores reaparecem elementos

insubstituíveis na só na promoção da aprendizagem, mas também no

desenvolvimento de processos de integração que respondam aos desafios da

diversidade e de métodos apropriados de utilização das novas tecnologias”

(Nóvoa, 2007 p. 2).

Diante dessa citação é indispensável uma valorização do conhecimento

docente. Precisamos entender o ensino como atividade de criação, e não como

uma atividade de transmissão de um conhecimento preexistente como matéria-

prima, que no próprio ato pedagógico elabora um novo conhecimento. Nesse

sentido Nóvoa (2009, p.202), diz: “então faz sentido conceber modelos

universitários de formação de professores. A procura de um conhecimento

profissional, que não é mera aplicação prática de qualquer teoria, mas que

exige um esforço próprio de elaboração e reelaboração está no âmago do

trabalho docente”.

As oportunidades adequadas de aprendizagem profissional, onde os

professores possam ter chances de investigar, experimentar, consultar, avaliar,

devem estar garantidas na organização de seu trabalho diário.

Estudos mostram que para a construção do conhecimento profissional,

para o desenvolvimento profissional ao longo da trajetória docente e para a

construção pessoal desse tipo de conhecimento é necessário considerar

alguns elementos como o ensino reflexivo, sobre a base de conhecimentos

para o ensino, sobre as teorias implícitas/tácitas etc., referenciais teóricos e

metodológicos diversos; outro fator relevante é que os conhecimentos, as

crenças e as metas dos professores são elementos fundamentais para a

determinação do que eles fazem em sala de aula e por que fazem. Aprender a

ensinar é um processo que requer tempo e recursos para que os docentes

modifiquem suas práticas. É preciso rever conceitos dos processos

educacionais, instrumental e da prática docente, são necessárias mudanças

que contemplem as novas exigências sociais e de políticas públicas. São de

Page 32: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

29

extrema importância que o professor determine a estrutura e o conteúdo de

processos de desenvolvimento profissional, os programas de formação sejam

adaptados para a realidade das escolas das quais os professores estão

inseridos, reconhecer a necessidade de estudar o processo de aprendizagem

docente enquanto pessoas adultas, e não esquecer que as necessidades dos

alunos ocupam a preocupação central nas propostas educacionais atuais

(Torres, 1998, 1999; Darling-Hammond, 1994; Marcelo, 1998; Calderhead,

1996; Schoenfeld, 1997).

Nas referências acima vimos à importância do ensino reflexivo, a

reflexão sobre a prática do professor. A seguir explanaremos outros elementos

fundamentais para a construção do conhecimento e desenvolvimento

profissional do docente.

Base de conhecimento

Alguns docentes acreditam que o professor nasce feito, para ser docente

basta ser um bom profissional em sua área, essa afirmação é uma

argumentação da qual é inaceitável quando pensamos no papel de ser

professor. A prática, por si só não fornece subsídios para o domínio dos

conteúdos específicos e não propicia, de forma sistematizada e articulada, a

base se conhecimento que o professor necessita para ensinar, bem como

continuar seu processo de aprendizagem e desenvolvimento profissional. É

importante um repertório de diferentes tipos de conhecimentos para que o

professor desempenhe suas funções ao exercício da docência.

[...] o conhecimento é um recurso flexível, fluído, em processo de

expansão e mudança incessante. Na economia do conhecimento, as

pessoas não apenas evocam e utilizam o conhecimento “especializado”

externo, das universidades e de outras fontes, mas conhecimento,

criatividade e inventividade são intrínsecos a tido o que elas fazem”

(Hargreaves, 2004 apud Masetto et al, 2012, p.17).

O que diz Hargreaves (2004, apud Masetto et al, 2012, p.17) como

sociedade do conhecimento, Manuel Castells a chama de ‘sociedade

Page 33: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

30

informacional’ centrada e orientada para o conhecimento e para a

aprendizagem, onde a expressão utilizada é ‘learning society’.

O tipo de conhecimento hoje exigido e esperado pelos professores é

aquele que ultrapassa os limites de uma especialidade, é necessário que se

abra para outras áreas e formas de conhecimento com integração, diálogo,

compreensão do que está acontecendo no mundo e com a humanidade.

Portanto, uma das novas dimensões que o professor do ensino superior

precisa é trabalhar com a interdisciplinaridade na área do conhecimento,

assumindo uma nova visão da realidade e dos paradigmas que ultrapassam o

modelo tradicional, onde a produção de um novo conhecimento científico parte

de diferentes áreas de conhecimento.

Uma base de conhecimento para o ensino consiste de um corpo de

compreensões, conhecimentos, habilidades e disposições que são necessários

para que o professor possa propiciar processos de ensinar e aprender, em

diferentes áreas de conhecimento, níveis, contextos e modalidades de ensino.

(Shulman, 1986, 1987 apud Mizukami, et al., 2004), o autor explicita várias

categorias dessa base de conhecimento; conhecimento do conteúdo

específico, conhecimento dos contextos formativos escolares, conhecimento de

processos de aprendizagem da docência, conhecimento historicamente

contextualizado e fundamentado de políticas públicas educacionais e das

teorias que as embasam e o conhecimento pedagógico do conteúdo. Cada

conhecimento deverá envolver:

Conhecimento do conteúdo específico - compreendido como eixo

articulador da base de conhecimento para a docência e para a

promoção de processos de raciocínio pedagógicos ricos e

flexíveis, possibilita a compreensão das inter-relações entre os

conteúdos dos diferentes componentes curriculares e os

contextos de aprendizagem dos alunos e dos professores, das

especificidades de cada série e níveis de escolarização;

Page 34: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

31

Professores bem sucedidos não podem, simplesmente, ter uma

compreensão intuitiva ou pessoal de um conceito, princípio ou teoria

particular. De forma a fomentar compreensão, eles devem

compreender formas de representar o conceito para os alunos. Eles

devem ter conhecimento das formas de transformar o conteúdo

considerando os propósitos de ensino [...] que inclua compreensão

pessoal do conteúdo específico, assim como conhecimento das formas

de comunicar tal compreensão, a propiciar desenvolvimento do

conhecimento da matéria na mente dos alunos” (Wilson; Shulman;

Richert, 1987, apud Mizukami et al, 2004 vol. 29 n2).

Conhecimento dos contextos formativos escolares - como as

escolas funcionam (espaços, tempos, dinâmicas, condições,

objetivos e organizações de trabalho do docente, alunos etc.);

Os professores devem ser adaptar o seu conhecimento geral da

matéria às condições particulares da escola e dos alunos que a

frequentam (Leinhardt, 1992, apud García et al, 1999).

Conhecimento de processos de aprendizagem da docência –

implica em reconhecer e explorar concepções, teorias pessoais

do professor, seja no sentido de reafirmar tais concepções ou

alterá-las;

[...] aprendizagem não é descobrir o que os outros já sabem, mas

solucionar nossos próprios problemas de acordo com nossos próprios

propósitos, pelo questionamento, pensamento e testagem da solução

até que esta faça parte de nossa vida. (Handy, 1989, apud Mizukami et

al, 2002, p. 83 ).

Conhecimento historicamente contextualizado e fundamentado de

políticas públicas educacionais e das teorias que embasam – para

Page 35: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

32

assegurar que os professores não levem distorções e ou

simplificações indevidas levadas para a sala de aula, por

exemplo, a exploração equivocada de erros, contribuições,

concepções prévias em nome de referências teóricas

compreendidas de forma simplista e fragmentadas;

“A experiência pode conduzir a lições erradas e a cristalização de

práticas inadequadas e discriminadoras” (Kennedy, 1989, p.3, apud

Mizukami et al, 2002, p. ).

Conhecimento pedagógico do conteúdo – professor é o único que

o detém, abrange o conhecimento sobre a promoção de

processos de aprendizagem da docência e o conhecimento sobre

a prática profissional como eixo do processo formativo;

Influenciado tanto pelo conteúdo específico da disciplina quanto pelo

conteúdo pedagógico, o conhecimento de conteúdo pedagógico

emerge e cresce quando os professores transformam seu

conhecimento de conteúdo específico, tendo em vista os propósitos do

ensino. Como essas espécies de conhecimento se relacionam umas às

outras constitui, ainda, um mistério para nós (Wilson et al., 1987, apud

Mizukami et al, 2002, p. 68 ).

Instituição educativa (comunidades de aprendizagem)

O conceito de desenvolvimento profissional está fundamentado no fato

de que a aprendizagem dos professores se estabelece de forma individual e

coletiva inserida num contexto das instituições educativas. Um dos grandes

desafios que as instituições de ensino têm, é o de promover a construção e

manutenção de uma comunidade de aprendizagem no local de trabalho, que

estabeleça relações entre processos de formação vivenciados durante a

formação inicial do e os vivenciados na escola.

Page 36: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

33

McDiarmid (1995, apud Mizukami et al, 2002, p. 80), “a escola como local de

trabalho, assume importância considerável na promoção de desenvolvimento

profissional de seus participantes (professores, corpo técnico-administrativo,

alunos, famílias, comunidade), o que pode reverter em benefícios para a escola

e para os processos de ensino-aprendizagem nela realizados”.

O desenvolvimento profissional deve ser planejado e desenvolvido não

no vazio, e sim no contexto escolar, assim entendido como unidade básica

para aprender, mudar e melhorar o ensino. Os processos de desenvolvimento

profissional também devem ser determinados pelos próprios professores, onde

os professores possam tomar decisões sobre o ensino, sobre as questões

organizacional e profissional.

Rosenholtz (1989, apud Hargreaves & Fullan, 2000) fala sobre escolas

“em movimento”, os professores trabalham em conjunto, reconhecem que

ensinar é difícil e que dar e receber ajuda não implica incompetência: faz parte

da busca de aperfeiçoamento contínuo. Ter seus pares como colaboradores e

comunicar-se mais com eles traz maior confiança e a certeza de que se

conseguirá atingir um objetivo. Compartilhar e valorizar conhecimento, buscar

conselhos, oferecer e pedir ajudam dentro ou fora da instituição escolar faz

com que o docente se torne cada vez melhor em sua profissão.

Hargreaves & Fullan destacam:

As culturas cooperativas em termos de se sentir parte de um grupo de

trabalho em equipe possibilitam que a diversidade seja valorizada e

esteja acessível, ao mesmo tempo em que a interdependência entre as

pessoas seja estimulada, uma vez que elas aprendem umas com as

outras, identificam preocupações comuns e trabalham em conjunto na

solução de problemas (2000, p.69).

A instituição educativa deve garantir espaço e tempo para a construção

do processo de desenvolvimento profissional, num trabalho coletivo e

participativo, que inclua comunidades de aprendizagem que se organizem de

forma sistemática, sendo um lugar de vida relacional. Na literatura há vários

termos relacionados a tais comunidades: ‘comunidade de aprendizagem’,

Page 37: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

34

‘comunidade escolar’, ‘comunidade de aprendizes’, ‘comunidade de discurso’,

‘comunidade da prática’, Grossman, Wineburg e Woolworth (2001), os mesmos

utilizam referenciais teóricos que abordam como uma comunidade deve

funcionar em ambientes escolares. Quando se fala em teoria sobre

comunidades de aprendizagem, há cinco temas comuns: interdependência,

interação/participação, interesses partilhados, preocupação em relação às

diferentes visões das pessoas e os relacionamentos significativos entre os

participantes; assim, os docentes podem construir juntos, uma história a se

constituir de fato, uma ‘comunidade de memória’ através das narrativas dos

membros do grupo.

[...] Métodos de casos, assim, se tornam estratégias para ajudar

professores a ‘agrupar’ suas experiências em unidades que podem se

tornar o foco para prática reflexiva. Podem se tornar a base para

aprendizagem individual do professor, assim como uma forma com a

qual comunidades de professores, tanto local como mais ampliada,...

podem armazenar trocar e organizar experiências (Shulman, 199 apud

Mizukami et al, 2004 vol.29 n2).

Em uma comunidade de professores dois focos devem ser

considerados: a melhoria da prática profissional, focalizando a melhoria

da aprendizagem do aluno e a crença de que os docentes são

estudantes de sua área de conhecimento específico ao longo de sua

trajetória profissional.

Segundo Nóvoa (1992), o trabalho coletivo e compartilhado abre

perspectivas de emancipação profissional. A consolidação da profissão

docente está assentada na autonomia e no profissionalismo exercido pelos

professores em sua atuação em sala de aula e com seus pares na escola.

Atitude investigativa

A imagem do professor como investigador está ligada ao movimento de

investigação-ação, é o eixo articulador da formação do professor.

Do ponto de vista da investigação-ação, o professor é concebido como uma

pessoa capaz de refletir sobre sua própria atividade docente, que pode

Page 38: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

35

identificar e diagnosticar problemas da sua própria prática, capaz de realizar a

reflexão-na-ação (Schön, 1987). Ao refletir sobre sua própria prática, ao

identificar e diagnosticar problemas que nela ocorre, ao se colocar

intencionalmente a possibilidade de intervir em tal situação utilizando

metodologias apropriadas, o professor converte-se em investigador da sua

própria prática, desenvolve o seu profissionalismo e competência

epistemológica (GIMENO, 1983).

O professor como investigador assume um novo papel, para que o

professor desempenhe com eficácia este papel, é necessário que a formação

do professor contemple no seu currículo o objetivo de formar professores que

reflitam sobre sua própria prática, dotados de conhecimentos e competências

que permitam concretizar esta função de indagação (GIMENO, 1983).

A atitude investigativa surge como objeto de construção da

profissionalização do professor, através de um aprofundamento da sua

capacidade de análise crítica das condições que desenvolve seu trabalho com

os alunos, e com os outros professores, assim como das estruturas

educacionais. Para Zabalza (1987, p.294) “[...] consiste em desenvolver a

capacidade de autoanálise de autorreflexão, porque na ação profissional

coexistem a ação e o discurso sobre a ação. Sabe-se que os professores

podem conseguir serem melhores profissionais refletindo sobre o que fazem”.

Desde que surgiu o conceito de atitude investigativa se comprometeu

com o desenvolvimento profissional dos professores, na medida em que seu

foco é formar um professor autoconsciente. A formação do professor é

conceptualizada (Cochran-Smith, 2003) como processo contínuo e sistemático

de investigação, na qual os docentes questionam suas suposições a de seus

pares e constroem conhecimento local e público apropriado para contextos em

mudança.

Para Cochran-Smith (2003, apud Mizukami, 2005-2006, v1, n1) a atitude

investigativa do professor é considerada como ferramenta formativa por

excelência, envolvendo suposições e valores, conhecimentos profissionais e

práticas, contextos educacionais e de diferentes instituições de ensino.

Segundo o autor “a atitude investigativa é uma atividade intelectual, uma forma

Page 39: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

36

de questionar, dar sentido e relacionar o trabalho diário ao trabalho de outros e

a contextos sociais, históricos, culturais e políticos mais amplos”.

Pode-se dizer que os elementos fundamentais para elaborar processos

formativos do professor com relação à aprendizagem e desenvolvimento

profissional docente em políticas públicas de educação, devem focalizar o

desenvolvimento da atitude investigativa como eixo de formação, a construção

de uma base de conhecimento tendo como especificidade a aprendizagem na

docência, construção de estratégias de desenvolvimento profissional que

permitam objetivação de crenças, valores, teorias pessoais, assim como a

necessidade de construção de comunidades de aprendizagem.

2.1 OS CICLOS DE VIDA DOCENTE

Para complementar a compreensão do processo de aprendizagem e

reflexão do professor, não se pode deixar de citar os estudos realizados por

Huberman (1986), através de uma ampla pesquisa realizada durante cinco

anos, por meio de entrevistas com mais de 160 professores, que estabelece

relações entre as idades e ciclos de vida vitais dos professores e as suas

características pessoais e profissionais.

As investigações realizadas por Huberman sobre o ciclo de vida dos

professores defendem que existem diferentes etapas da vida pessoal e

profissional que influenciam o professor como pessoa, portanto, o processo de

reflexão dos professores é de cunho pessoal, individual que perpassa pelas

diferentes fases da vida do docente ao longo de sua trajetória profissional.

Existem situações pessoais, profissionais e contextuais que influenciam

os docentes na sua profissionalidade. Partindo da afirmação de Jennifer Nias

(1991, apud Candau et al., 2007, p.148), “o professor é a pessoa, e uma parte

importante da pessoa é o professor”. Do ponto de vista pessoal os fatores que

mais influenciam os professores são: as relações familiares, as crises pessoais,

etc. E com relação à vida profissional são: a valorização profissional, gestão da

instituição no qual o docente trabalha e as expectativas sociais, etc.

Page 40: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

37

[...] o desenvolvimento de uma carreira é, pois, um processo, não uma

série de acontecimentos. Para alguns, este processo pode parecer

linear, mas para outros há oscilações, regressões, becos sem saída,

declives, descontinuidades. O fato de se encontrar sequências-tipo não

nega que existem pessoas que não deixam nunca de explorar, ou que

jamais chegam a estabilizar, ou que se desestabilizam por razões

psicológicas (tomada de consciência, mudança de interesses, mudança

de valores) ou externas (acidentes, mudanças políticas, crises

econômicas. (Huberman, apud Marcelo et al., 1999, p. 63).

Em seus estudos, o autor identifica cinco etapas básicas que não são

estáticas nem lineares, identificadas como; a entrada na carreira, tempo de

sobrevivência e descobertas; a fase de estabilização, etapa de identificação

profissional; a fase de diversificação, momento de buscas plurais e

experimentações; a etapa de distância afetiva, lugar de serenidade e

lamentação; e finalmente, o momento de desinvestimento, próprio do final de

carreira profissional.

Diante dessas considerações, podemos compreender que o ciclo da vida

profissional é complexo, sofrendo de interferências de múltiplas variáveis,

portanto o desempenho da profissão muitas vezes, é comprometido pelas

mudanças e o pelo aspecto psicossocial do docente.

Contribuições como essas são de grande valia para a discussão sobre a

aprendizagem do professor, visto que é imprescindível o conhecimento das

necessidades dos interesses e das dificuldades enfrentadas pelo docente ao

longo de sua trajetória. Essa compreensão nos permite pensar em programas

de formação que não padronizem os docentes, considerando a

heterogeneidade do processo que permitam aos docentes explorar e trabalhar

os diferentes momentos de seu desenvolvimento profissional.

Isaía (2008, p.619) cita a investigação de Huberman (1998), ao dar-se

voz e vez aos professores, possibilita-se a retomada de suas vidas

profissionais, convertendo em objeto de autorreflexão, assim podendo significá-

las e transformá-las possibilitando a organização dos movimentos construtivos

de ser professor e sua aprendizagem docente.

Page 41: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

38

Dentro dessa nova busca para compreender como a aprendizagem do

docente ocorre e para pensar em uma renovação da formação seja ela inicial

ou continuada é preciso considerar algumas questões: a escola como espaço

fundamental de formação continuada, valorizar o saber docente e reconhecer o

ciclo de vida profissional dos professores.

Torna-se urgente “devolver à experiência o lugar que merece na

aprendizagem dos conhecimentos necessários à existência (pessoal, social e

profissional)”. DOMINICÉ (1990, apud Candau et al., 2007, p.150).

2.2 A CONSTITUIÇÃO DO PROFESSOR E O PROFISSIONALISMO

DOCENTE

Devido às rápidas transformações que estão ocorrendo na atualidade e

que, de certo modo, trazem implicações no modo de ser professor (Mizukami,

1996; Carrolo, 1997; Silva, 1997; Gonçalves, 2000; Marchesi, 2008). Os

estudos sobre o processo de constituição e desenvolvimento dos professores

enquanto profissionais têm se tornado cada vez mais relevante.

Marchesi (2008, p. 26) enfatiza

O aumento das exigências que pesam sobre o professor vem

acompanhado de uma ruptura do consenso social sobre a educação e

do crescimento das contradições no seio da docência, ao mesmo

tempo em que permanecem inalteradas a forma como o ensino está

organizado e a distribuição do tempo de trabalho dos docentes, como s

e não houvesse ocorrido mudança alguma, o que sobrecarrega e

causa inquietação nos professores.

Considerando que vivemos na sociedade da informação e do

conhecimento, torna-se urgente a necessidade de (re) discutimos quem é esse

profissional e qual o seu papel nessa sociedade.

O profissional de hoje não pode ter mais o mesmo perfil de épocas

passadas, em que o domínio de um conjunto de conhecimentos e de

determinadas técnicas era o suficiente para exercer o ofício de professor.

Page 42: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

39

Carrolo (1997, p.30) salienta que:

Ao contrário do que vulgarmente se pensa que ser professor é fácil e

qualquer um o pode fazer, nós sustentamos que esta profissão é

altamente complexa e especializada, não só quanto ao seu saber

profissional específico e à forma como é avaliada a sua legitimação,

como quanto ao seu processo de formação/socialização inicial.

Para Gonçalves (2000, p. 145) o percurso do professor pode ser

discutido a partir de dois eixos de análise com especificidades próprias, mas

que de certo modo, encontram-se inter-relacionadas. Sob o ponto de vista do

desenvolvimento profissional encontra-se o primeiro eixo, esse focaliza o

percurso profissional e o segundo busca analisar o processo de construção da

identidade profissional.

No percurso profissional do professor, são consideradas as seguintes

perspectivas:

[...] a do desenvolvimento pessoal, que concebe o desenvolvimento

profissional como resultado de um processo de crescimento individual;

[...] a da profissionalização, segundo a qual o desenvolvimento

profissional é o resultado de um processo de aquisição de

competências, tanto de eficácia no ensino como de organização do

processo de ensino e aprendizagem; [...] a da socialização, também

chamada de socialização ou socialização do professor, que se

centra na adaptação do professor ao seu meio profissional, tanto em

termos normativos como interativos (GONÇALVES, 2000, p. 145 (grifo

do autor)).

O desenvolvimento pessoal, com olhar de uma perspectiva integral da

pessoa do professor, resgate e rompe, com a dicotomia entre as dimensões

pessoal e profissional. Ou seja, os docentes não se constituem apenas com

conhecimentos teóricos e metodológicos, mas também nesse processo

constitutivo os conteúdos que viabilizam e promovem uma formação pessoal

são fundamentais (ISAIA, 2000; NÓVOA, 1999, 2000).

Page 43: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

40

Para Cunha (1998, p. 53), “o conjunto de valores e crenças que dão

escopo à performance dos docentes são fruto de sua história e suas

experiências de vida dão contornos ao seu desempenho”.

Reforçando essa questão, Pimenta e Anastasiou (2002, p. 259),

referindo-se ao processo de docência do ensino superior, dizem que:

O avançar no processo de docência e do desenvolvimento profissional

mediante a preparação pedagógica não se dará em separado de

processos de desenvolvimento pessoal e Institucional: este é o desafio

a ser hoje, considerado na construção da docência no ensino superior.

Silva (1997, p. 171) salienta que o professor precisa construir um saber

que é específico de sua profissão, ou seja,

[...] um saber profissional próprio. Os professores entendem-no como

uma necessidade, sobretudo para que o professor seja capaz de

ajustar o seu magistério às características, projetos, interesses e

necessidade educativas dos alunos. E tem de ter, como já se afirmou

um modo particular de ser e de estar ou, dito de outro modo, põe-se

em relevo o requisito de que para se exercer a docência se exige

daquele que a exerce que possua qualidades pessoais, isto é: não é

um qualquer que está em condições de a exercer – tem de se sentir

chamado a fazê-lo.

Quanto à profissionalização docente, Libâneo (2004, p.75-76) explicita

que o professor precisa ter a consciência de ele ter um:

[...] desempenho competente compromissado dos deveres e

responsabilidades que constituem a especificidade de ser professor e

ao comportamento ético e político expresso nas atitudes relacionadas à

prática profissional. Na prática, isso significa ter o domínio da matéria e

dos métodos de ensino, a dedicação ao trabalho, à participação na

construção coletiva do projeto-curricular, o respeito à cultura de origem

dos alunos, a assiduidade, o rigor no preparo e na condução das aulas,

o compromisso com um projeto político democrático.

Page 44: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

41

O docente necessita ter desenvolvido determinadas habilidades e

competências, tais como: capacidade de mobilizar recursos cognitivos, atitudes

para enfrentar situações problemáticas, imaginar, refletir e articular as

condições que possibilitem a aprendizagem dos alunos da melhor forma. Além

disso, para oportunizar ao seu aluno diferentes formas de aprendizagem, o

docente competente deve utilizar estratégias em suas ações educativas

(Libâneo, 2004).

Outro componente fundamental para a profissionalização do ofício do

professor se constituir num constante inovador e pesquisador do seu fazer

pedagógico. Para ser realizável o surgimento de práticas educativas

inovadoras, é necessário que o docente possua acesso a novos

conhecimentos, a troca de experiência, à reflexão sobre sua prática e a

articulação entre os múltiplos saberes e fazeres, pois o cotidiano escolar é

permeado por situações diversas. A Instituição de Ensino Superior, enquanto

espaço privilegiado de formação de docentes, precisa ser entendida como um

espaço renovável com a possibilidade de vivenciar a dinâmica e complexa

atividade de elaborações de projetos e de tomada de decisões.

A terceira perspectiva, a da socialização, diz respeito às influências que

a inserção e atuação do docente no contexto educativo exercem sobre a sua

constituição profissional. O professor, fazendo parte de uma coletividade

juntamente com seus pares que “[...] são diferentes entre si, e carregam para

esse espaço de interação tais diferenças. Para a instituição convergem os

diferentes interesses profissionais, as habilidades individuais, os

posicionamentos políticos, entre tantas outras diferenças” (Archangelo, 2004,

p.12). Portanto, sua socialização pressupõe uma adaptação ao contexto

profissional, abrangendo desde as relações com o corpo administrativo,

professores, alunos, pais, ambiente educativo; trazendo diversidade na

convivência reproduzindo para o campo pessoal e profissional.

No eixo dois, o interesse incide sobre o processo de construção da

identidade profissional. A construção da identidade do professor é entendida

como “[...] relação que o professor estabelece com a sua profissão e o seu

Page 45: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

42

grupo de pares e, ao mesmo tempo, da construção simbólica, pessoal e

interpessoal, que ela implica”. (Gonçalves, 2000, p. 145). Assim, nesse

contexto, o docente tem a oportunidade de refletir sobre as situações que

ajudam no seu desenvolvimento profissional e pessoal, utilizando esse espaço

de construção da sua identidade com outros professores, pois é desse

processo de socialização e reflexão crítica que se forma sua identidade

docente.

A individualidade e a individualização podem ser positivas, já que o

(a) professor (a) precisa de momentos para repensar seu “projeto de

vida”. Pode ser bom realizar práticas individuais e isso pode comportar

certo isolamento. Toda prática profissional e pessoal necessita, em

algum momento, de uma situação de análise e reflexão que deve ou

pode se realizar de forma solitária (IMBERNÓN, 2009, p. 58-59), (grifo

do autor).

Nóvoa (1995, p. 34-35) expõe que no processo identitário do professor é

preciso levar em conta o que ele denomina como sendo “os três As” (adesão,

ação e autoconsciência):

A de Adesão, porque ser professor implica sempre a adesão a

princípios e valores, a adoção de projetos, um investimento positivo

nas potencialidades das crianças e dos jovens.

A de Ação, porque também aqui, na escolha das melhores maneiras

de agir, jogam-se decisões do foro profissional e do foro pessoal.

Todos sabem que certas técnicas e certos métodos “colam” melhor

com a nossa maneira de ser do que outros. Temos conhecimento,

também, que o sucesso ou o insucesso de certas experiências

“marcam” a nossa postura de trabalhar na sala de aula.

A de Autoconsciência, porque em última análise tudo se decide no

processo de reflexão que o professor leva a cabo sobre a sua própria

ação. É uma dimensão decisiva da profissão docente, sob pena deste

“trabalho de pensar o trabalho” ser assumido por outros atores sociais,

transformando o ensino numa atividade proletarizada do ponto de vista

Page 46: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

43

de suas funções. A mudança e a inovação pedagógica estão

intimamente dependentes desse pensamento reflexivo. A identidade

não é um ato adquirido, não é uma propriedade, não é um produto. A

identidade é um lugar de lutas e de conflitos, é um espaço de

construção de maneiras de ser e de estar na profissão. Por isso, é mais

adequado falar em processo identitário, realçando a mescla dinâmica

que caracteriza a maneira como cada um se sente e se diz professor; E

vice-versa. (grifo do autor).

Para Nóvoa (2000, p. 17), “o processo identitário passa também pela

capacidade de exercemos com autonomia a nossa atividade, pelo sentimento

de controlamos o nosso trabalho”. O autor continua:

A maneira como cada um de nós ensina está diretamente dependente

daquilo que somos como pessoa quando exercemos o ensino. [...] E as

opções que cada um de nós tem de fazer como professor, as quais

cruzam a nossa maneira de ser com a nossa maneira de ensinar e

desvendam na nossa maneira de ensinar a nossa maneira de ser. É

impossível separar o eu profissional do eu pessoal. (Idem, p. 17).

Imbernón (2009, p. 76-77), ao problematizar o conceito de identidade

docente, refere que:

O atual conceito de identidade docente permite questionar muitas

coisas, como por exemplo, que já não existe uma etapa determinada

na qual o professorado se forma e outra na qual está na prática

educativa, como indica a tradição dos itinerários formativos (embora

haja diferenças de identidade, visto que a identidade é mutante, pois é

a amálgama de representações, sentimentos, experiências, biografia,

influências, valores etc., que vão mudando). A consciência da

subjetividade docente que leva em conta a identidade coletiva permitirá

detectar as mais significativas necessidades tanto como do contexto,

favorecendo que a situação da formação do professorado seja parte

intrínseca da profissão ao longo de toda sua carreira docente. É o

apoderamento da formação passando a ser parte intrínseca da

profissão se o professorado quer ser protagonista de sua formação e

desenvolvimento profissional.

Page 47: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

44

Mizukami (1996, p. 60) sinaliza para a amplitude do processo constante

e permanente para aprender a ser professor. Para autora, várias dessas

aprendizagens ocorrem, na maioria das vezes, no fazer pedagógico da sala de

aula. Portanto, segundo a autora, é fundamental conhecer o professor e o seu

modo de ser professor, pois ele:

[...] é o principal mediador entre os conhecimentos socialmente

construídos e os alunos. É ele, igualmente, fonte de modelos, crenças,

valores, conceitos e pré-conceitos, atitudes que constituem, ao lado do

conteúdo específico da disciplina ensinada, outros tipos de conteúdos

por ele mediados. Conhecer quem é esse profissional, sua trajetória

escolar, sua formação básica, como ele se desenvolve ao longo de sua

trajetória profissional é, sob essa perspectiva, de fundamental

importância quando se pensa em oferecer um ensino de qualidade [...].

A autora apresenta a ideia de processualidade remetendo ao

pensamento de Freire (2005, p. 23), o autor cita que o educador não nasce

pronto, pois vai se construindo gradativamente num processo formativo

constante. A formação, na sua concepção, deve contemplar a formação de ser

humano em sua totalidade. O docente deve ser sentir um sujeito ativo nesse

processo, sabendo que:

[...] quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado

forma-se e forma ao ser formado. É nesse sentido que ensinar não é

transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um

sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e

acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e

seus sujeitos apesar das diferenças quer os conotam, não se reduzem

à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e

quem aprende ensina ao aprender (grifo do autor).

Para finalizar, nessa perspectiva, vale lembrar a posição de Perrenoud

(2002, p. 64) quando o autor enfatiza;

Page 48: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

45

No ofício de professor, a partir da perspectiva da profissionalização,

encontramos uma capacidade de capitalizar a experiência, de refletir

sobre a sua prática para reestruturá-la. Esta é a importância da

construção deliberada, na fase de formação inicial, de um habitus

profissional capaz de suscitar uma autotransformação contínua. A

transformação de alguém em profissional reflexivo não pode ser

improvisada. Uma cultura teórica não é suficiente, ainda que seja uma

condição necessária (grifo do autor).

2.3 DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na

busca, não aprendo nem ensino. Paulo Freire (1997)

A docência universitária tem provocado discussões, exige se qualidade

do ensino, porém não se têm claro a questão do ensinar e a formação didático-

pedagógica do docente. Os próprios professores buscam dar continuidade à

sua formação, ou cada instituição de ensino organiza essa formação. Para

Veiga (2006), as políticas públicas não fixam um plano diretor para a formação

didático-pedagógica de magistério superior, pois, para a autora:

O governo (MEC/Sesu/Capes/Inep) determina os parâmetros de

qualidade institucional de educação superior, e muitas instituições de

educação superior organizam e desenvolvem um programa de

preparação para seus docentes, orientadas por tais parâmetros.

Nesse bojo ainda devemos considerar as transformações institucionais

ocasionadas pelas políticas econômicas e sociais e seus contextos

históricos (VEIGA, 2006, p. 89) (grifo da autora).

Considerando que ao docente não basta dominar os conteúdos

específicos para o exercício da docência, a ausência ou a precariedade de uma

formação didático-pedagógica pode trazer consequências para o exercício da

docência. A Declaração Mundial sobre Educação superior no Século XXI

(UNESCO, 1998) trata que:

Page 49: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

46

Devem ser tomadas providências adequadas para pesquisar, atualizar

e melhorar as habilidades pedagógicas, por meio de programas

apropriados de desenvolvimento de pessoal, estimulando a inovação

constante dos currículos e dos métodos de ensino e aprendizagem,

que assegurem as condições profissionais e financeiras apropriadas ao

profissional, garantindo assim a excelência em pesquisa e ensino, de

acordo com as provisões da Recomendação referente ao Estado do

Pessoal Docente da Educação Superior aprovado pela Conferência

Geral da UNESCO em novembro de 1997.

Mudanças são fundamentais, bem como novos paradigmas e articulação

com encaminhamentos nessa direção para a qualidade do ensino superior,

pois as políticas públicas estabelecem parâmetros de qualidade, mas não deixa

claro como deve ser a formação pedagógica dos professores.

A legislação para a docência no ensino superior se restringe ao que é

tratado No Art. 66 da LDB 9394/96: “A preparação para o exercício da docência

superior, far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas

de mestrado e doutorado” (BRASIL, 1996). Portanto, não há a exigência de

formação específica para atuar nesse nível de ensino.

Apenas a titulação não basta. O título concede ao professor o

conhecimento científico dentro de um determinado campo. “[...] o exercício do

magistério de educação superior deve ser desempenhado por doutores e

mestres, com evidente prioridade para os primeiros” (FORGRAD, 2004, p.242).

Nesse aspecto Veiga (2006, p.91) ressalta que a formação requer pós-

graduação “stricto sensu”, preferencialmente no nível do doutorado, com

permanente atualização, além da titulação da sua área de conhecimento.

De acordo com o Censo da Educação Superior, a distribuição da

escolaridade e das titulações das funções docentes no Brasil está representada

no gráfico abaixo:

Page 50: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

47

Gráfico 1 - Distribuição da escolaridade e titulação de funções / 2009

Fonte: MEC. Sinopse Estatística da Educação Superior, 2009.

As Instituições de Ensino Superior precisam buscar continuadamente a

qualidade do trabalho pedagógico e oferecer à sociedade, seja por sua visão

filosófica, pelas práticas de mercado ou por determinação da lei. A qualidade

do ensino superior será consolidada a partir de uma política de formação

continuada para os docentes universitários. No entanto, é necessário ter

presente, conforme Imbernón (2009, p.35), que:

Atualmente, programa-se e se oferece muita formação, mas também é

evidente que há pouca inovação ou, ao menos, a inovação não é

proporcional à formação que existe. Talvez um dos motivos seja que

ainda predomina a formação de caráter transmissora, com a

supremacia de uma teoria ministrada de forma descontextualizada,

distante dos problemas práticos do professorado e de seu contexto,

baseada num professorado médio, que tem uma problemática sempre

comum, mesmo ciente de que nenhuma dessas coisas existe.

Segundo Masetto (2009,) refletir hoje sobre a formação pedagógica do

docente do ensino superior nos remete a pensar a formação de professores

que atuam em uma Sociedade do Conhecimento. Com a tecnologia da

informação e da comunicação, a produção de conhecimentos e a socialização

das pesquisas que antes era privilégio apenas das universidades, passaram a

Page 51: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

48

serem compartilhadas por espaços como a internet, laboratórios, ONGs,

empresas, institutos de pesquisa nem sempre vinculado à universidade. É

possível através de uma simples pesquisa no computador obter informações do

mundo todo.

De acordo com o Censo da Educação superior Brasileira, a evolução do

número de funções docentes em exercício, por titulação, segundo Categoria

Administrativa, está representada nos gráficos abaixo:

Gráfico 2 - Funções docentes em exercício por titulação nas IES públicas

Fonte: MEC. Sinopse Estatística da Educação Superior, 2009.

Gráfico 3 - Funções docentes em exercício por titulação nas IES privadas

Fonte: MEC. Sinopse Estatística da Educação Superior, 2009.

Page 52: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

49

Diante desse cenário, é fundamental que as IES sustentem não só os

programas de pós-graduação, mas ofereçam a seus professores espaços e

tempo para formação a fim de suprir as carências dos docentes, “a fim de

garantir a síntese entre a titulação e bom desempenho”. Autores como Morosini

(2001; 2006), Zabalza (2004) e Masetto (2000; 2003) ressaltam que as

instituições sabem que os professores são os formadores dos futuros

profissionais e mesmo assim a maioria das IES e as políticas voltadas para a

educação superior não valorizam a formação desses docentes. Para Morosini

(2006), o descaso se comprova devido aos critérios adotados para a seleção e

progressão funcional, que estão centradas nos títulos e na produção cientifico-

acadêmica. Isso, não é uma indicação de uma educação de qualidade.

A pedagogia universitária no Brasil é exercida por professores que não

têm identidade única. A cultura da instituição e a política que ela desenvolve é

que exercem influência na atuação do professor universitário (MOROSINI,

2001). Além disso, com exceção daqueles professores das áreas de educação

ou Licenciaturas que abordaram questões referentes ao ensino e

aprendizagem de crianças e adolescentes, uma grande parte dos docentes que

atuam na educação universitária não teve em seu processo formativo

conteúdos didático-pedagógicos no âmbito da graduação ou da pós-graduação,

geralmente prosseguem seus estudos na área de formação inicial.

Podemos afirmar que ainda prevalece o mito de que os profissionais, os

técnicos que dominam sua área de conhecimento, são competentes para

ensinar; nesse sentido é oportuno mencionar o que aponta Isaía (2006, p. 65):

Chama atenção a ausência de compreensão de professores e de

instituição sobre a necessidade de preparação específica para exercer

a docência. Assim, os docentes, mesmo estando cientes de sua função

formativa, não consideram a necessidade de uma preparação

específica para exercê-la. Como se o conhecimento específico

desenvolvido nos anos de formação inicial e/ou ao longo da carreira e

também o exercício profissional bastassem para assegurar um bom

desempenho docente. Essa constatação vai ao encontro de outras

pesquisas como as de Zabalza (2004); Marcelo Garcia (1999);

Mizukami et al.(2002); Behrens (1996).

Page 53: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

50

Ter o domínio dos conteúdos é importante para o docente, porém não

garante que o professor seja eficiente em seu trabalho. A educação formal

tende a valorizar o conteúdo, tanto qualitativo como quantitativo. Geralmente

no ensino superior, o conhecimento chega ao aluno por meio de aulas

expositivas. Dessa maneira, o aluno não tem a possibilidade de pensar,

questionar, de estabelecer uma relação com o real, pois o conhecimento é

apenas transmitido.

Anastasiou (2006) explica esse modelo, com aulas expositivas, com o

conhecimento formatado para o aluno, como jesuítico, uma vez que o conteúdo

chega pronto e acabado. Essa transmissão passiva, descontextualizada, não

garante uma aprendizagem significativa. Em suas pesquisas, a autora fala em

“insuficiência pedagógica acerca dos saberes docentes” (p. 147). Completa que

o ensino torna-se repetitivo, assim, os professores acabam repetindo o que

vivenciaram como alunos.

A literatura sobre o ensino superior nos revela que desde a expansão

quantitativa das IES no final da década de 1960, a questão da formação do

professor acompanhou as discussões sobre a qualidade do ensino. As IES “se

multiplicaram”, mas os professores ingressaram no magistério superior

despreparados e sem políticas públicas direcionadas para essa formação.

Segundo Vasconcelos, (1996, p. 3), a subestimação do trabalho pedagógico

“emana tanto das instituições como do próprio professor”. Os docentes

contratados no final da década de 1960 não possuíam experiência e não eram

preparados para trabalhar no ensino superior.

Quando o professor inicia no ensino superior, sem estar preparado ou

em formação para atuar. Acreditamos que os professores comprometidos com

a educação desejam sanar as deficiências e lacunas, uma vez conscientes dos

seus déficits, se organizam no sentido da mudança. É o que defende

Vasconcellos (2005) quando expõe que os próprios professores devem

colaborar nas propostas de formação. “Sem olhar para si mesmo e para sua

própria prática não é possível receber um treinamento, como supõem muitos

docentes” (VASCONCELLOS, 2005, p. 230) (grifo da autora).

Page 54: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

51

Em pesquisas realizadas por Vasconcellos (2005), vários docentes

pesquisados compartilham a ideia de que o docente do ensino superior

competente ensina o aluno a pensar, a indagar, a buscar soluções para

solucionar um problema. O aluno se torna ativo no processo ensino-

aprendizagem. Para a autora, o professor competente deve obter algumas

características técnicas como ter o domínio escolar e administrar este saber de

forma de que o aluno aprenda. Contudo, para se tratar em competência é

importante considerar as dimensões: técnica, estética, política e em especial a

ética, uma vez que outras competências são guiadas pelos princípios éticos.

Constata-se dentro desse panorama a necessidade de mudanças para o

ensino superior. Masetto (2003, p. 19) destaca quatro pontos de mudança no

ensino superior; “[...] no processo de ensino, no incentivo à pesquisa, na

parceria e coparticipação entre professor e aluno no processo de

aprendizagem e no perfil docente”. No que se refere ao processo de

aprendizagem, não é mais possível conceber o professor como mero

transmissor de conhecimentos. Não cabe mais a seguinte expressão “quem

sabe, sabe ensinar” (Masetto 2003, p.11). Desse modo, a abordagem

metodológica adotada no ensino superior precisa ter como eixo condutor a

problematização, a reflexão, a criticidade, a investigação dentre outros.

A sociedade atual cuja característica principal é a constante

transformação, essa requer um perfil de egresso da Educação Superior com

competências e habilidades para agir e tomar decisões. Para tanto, a pesquisa

é imprescindível para os processos de produção, divulgação e socialização de

conhecimento. Masetto (2003, p. 22) questiona:

[...] será que este incentivo à pesquisa faz sentir seus efeitos nos

cursos de graduação? Não de forma tão extensa, nem há tanto tempo

como na pós-graduação, mas mais recentemente, os cursos de

graduação vêm-se dedicando a valorizar a pesquisa mediante,

principalmente, três caminhos: o desenvolvimento do ensino por

projetos e da introdução das tecnologias de informação e comunicação

(informática e telemática) como formas de estudo e aprendizagem e

não apenas como meio de se modernizar a transmissão de

informações.

Page 55: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

52

Outro fator a ser discutido é a corresponsabilidade nos processos de

ensino-aprendizagem. Um objetivo a ser trilhado na educação superior é a

autonomia cognitiva do discente, com base na ideia que o aluno é construtor e

protagonista de sua formação. Assim, no entender de Masetto (2003, p. 23):

[...] se entendemos que, no ensino superior, a ênfase deva ser dada ás

ações do aluno para que ele possa aprender o que se propõe; que

aprendizagem desejada engloba, além dos conhecimentos

necessários, habilidades, competências e análise e desenvolvimento

de valores, não há como se promover essa aprendizagem sem a

participação e a parceria dos próprios aprendizes. Aliás, só eles

poderão “aprender” (grifo do autor).

O exercício da profissão docente exige uma sólida formação e contínua,

não apenas nos conteúdos específicos, como também nos aspectos

correspondentes a sua didática e ao encaminhamento das diversas variáveis

que caracterizam a carreira do professor, esses elementos trazem implicações

no perfil do professor que exerce à docência no Ensino Superior, ou seja,

incidem sobre “[...] as competências básicas e necessárias para se realizar a

docência” (MASETTO, 2003, p. 25). Em termos gerais, o autor refere às

seguintes competências básicas para a docência: conhecimentos e práticas

profissionais atualizadas; produção científica decorrente de estudos e reflexões

críticas sobre temas teóricos ou experiências pessoais; domínio na área

pedagógica, contemplando saberes pertencentes ao processo de ensino-

aprendizagem, à gestão do currículo, à compreensão sobre a relação

professor-aluno e teoria prática da tecnologia educacional e ao exercício da

dimensão política.

A docência no Ensino Superior inevitavelmente nos traz a importância da

reflexão e a discussão acerca da formação do professor e as condições pelas

quais esses profissionais atuam no contexto acadêmico. Assim, a formação:

[...] deveria apoiar-se, criar, cenários e potencializar uma reflexão real

examinar suas teorias implícitas, seus esquemas de funcionamento,

suas atitudes etc., potencializando um processo constante de auto

Page 56: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

53

avaliação do que se faz e analisando o porquê se faz (IMBERNÓN,

2009, p.47).

É reconhecido que os professores do ensino superior precisam deter

diferentes conhecimentos (do sistema, conteúdo, desenvolvimento de currículo,

estratégias de ensino, pedagógica, avaliação da aprendizagem, etc.). Ou seja,

a docência universitária é uma atividade complexa que requer uma

multiplicidade de saberes, por isso é importante promover uma formação para

o exercício da docência e realizar investigações sobre sua natureza e o seu

caráter. Para Perrenoud (2002a, p.75):

Na formação profissional, deparamo-nos com um problema muito mais

difícil. Com certeza, existem saberes em questão – acadêmicos

científicos e técnicos-, mas também há saberes próprios de cada

profissão, os quais não derivam da ciência nem da técnica, mas que

não deixam de ser indispensáveis. Uma formação universitária apurada

não impede que um profissional também tenha de mobilizar saberes

profissionais constituídos, os quais não são acadêmicos no sentido

clássico do termo, ainda que tenham sido codificados. Ele também tem

de recorrer a saberes provenientes de sua experiência pessoal os

quais são ainda menos organizados, formalizados e verbalizados que

os saberes profissionais.

Os “saberes pedagógico-didáticos” muitas vezes são provenientes da

experiência, da memória como aluno ou do exercício da profissão não apoiado

nos conhecimentos da educação (teorias, concepções), e sim, a saberes

práticos sem a reflexão sobre o que fazem.

Os professores, quando chegam à docência universitária, trazem

consigo inúmeras e variadas experiências do que é ser professor.

Experiências que adquiriram como alunos de diferentes professores ao

longo de sua vida escolar. [...] O desafio, então, que se impõe é o de

colaborar no processo de passagem de professores que se percebem

como ex-alunos da universidade para ver-se como professores nessa

instituição. Isto é, o desafio de construir a sua identidade de professor

universitário, para o que os saberes da experiência não bastam.

(Pimenta e Anastasiou 2002, p.79).

Page 57: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

54

Por isso, para ensinar o professor do ensino superior necessita de

conhecimentos e práticas que ultrapassem sua especialidade, além disso,

precisa construir sua identidade. Sua prática não deve ser baseada na

racionalidade técnica, mas sim na sua consciência de ampliar seus

conhecimentos em especial os pedagógicos, que facilitam o confronto de suas

práticas cotidianas com as produções teóricas, contextualizando-as com um

saber significativo.

Nossa identidade profissional ou nosso saber não se constrói em torno

do grupo que atendemos ou da disciplina que lecionamos, mas em

torno do projeto formativo de que fazemos parte (Zabalza, 2004, p.

126).

É desejado, nessa perspectiva, que através da formação os professores

adquirissem a consciência que é preciso uma nova atitude como grupo de

profissionais da educação, discutam e planejam juntamente, dialoguem,

troquem ideias, apoiando uns aos outros, que os encaminhamentos de sua

ação sejam avaliados e juntos buscam novas saídas.

[...] formar professores universitários implica compreender a

importância do papel da docência, propiciando uma profundidade

científico-pedagógica que os capacite a enfrentar questões

fundamentais da universidade como instituição social, uma prática

social que reflete as ideias de formação, reflexão, crítica (VEIGA, 2006,

p.88).

O docente do Ensino Superior, enquanto profissional da educação,

precisa instrumentalizar-se revendo, redimensionando e agregando elementos

significativos na constituição da sua profissionalidade, pois somente com a

intersecção dos conhecimentos específicos da área, com os conhecimentos

pedagógicos e com o amadurecimento das relações humanas, é que se

constrói uma prática eficiente, capaz de formar profissionais e cidadãos,

críticos e conscientes, exigência hoje da sociedade contemporânea.

Page 58: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

55

CAPÍTULO 3 A DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR SOB A ÓTICA DOS

ALUNOS EGRESSOS DO PPG- AEHC

A análise dos dados das entrevistas foi sistematizada nos seguintes

eixos. São eles:

3.1. Formação docente e contextos da atuação;

3.2. Primeiras experiências como professor do ensino superior;

3.3. Especificidades da Instituição do Ensino Superior e as dificuldades

encontradas na ação docente;

3.4. As inconsistências das falas, os anseios...

3.1 FORMAÇÃO DOCENTE E CONTEXTO DA ATUAÇÃO

Conforme (NÓVOA, 1999, p. 26), “a formação de professores é,

provavelmente, a área mais sensível das mudanças em curso no sector

educativo: aqui não se formam apenas profissionais; aqui se produz uma

profissão”.

Os doze professores participantes da pesquisa já lecionavam antes de

ingressar no programa. Oito dos doze docentes lecionavam no ensino superior.

Portanto a inserção dos professores na docência no ensino superior iniciou

antes do curso de Pós-Graduação Stricto Sensu.

No que se refere à formação e ao preparo para o exercício da docência,

foi perguntado a professores como aprenderam/estavam aprendendo a

ensinar. Obtiveram-se as respostas que podem ser visualizados no Gráfico 4.

Page 59: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

56

Gráfico 4: Formação e preparo para o exercício da docência

P4 – Eu entrei no magistério por acaso, trabalhava em teatro, iniciando

a dar aulas artes cênicas, fazia faculdades de letras e fui chamado para

o magistério. A experiência do teatro me ajudou na sala de aula como

presença de palco, diálogo com o aluno a partir do que o aluno sabe

fazer.

P5 – Percebo que tenho aprendido por teoria e reflexão sobre a prática,

observando colegas e professores atuais e os que já tive.

P9 – Experiência diária, estudos e pesquisas.

P6 – Aprendo estudando, com colegas trabalho, com os professores do

doutorado, na sala de aula como aluna e na sala de aula com os

alunos.

P10 – Sempre trabalhei na Universidade exercendo função técnica,

como acompanhava as aulas dos professores no estúdio de fotografia,

observava as aulas dos professores, foi assim que aprendi. Quando

eles faltavam, nós técnicos que ensinávamos os alunos.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

reflexão sobre aprática

estudos /pesquisas

outros colegas no exercício daprofissão

reflexão sobre a prática

estudos / pesquisas

outros colegas

no exercício da profissão

Page 60: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

57

Percebe-se nos relatos dos professores entrevistados que o

desenvolvimento profissional do professor é um processo de aprendizagem

que se realiza antes da formação formal com antigos professores, com

docentes na família, durante a formação acadêmica, na troca com outros

professores e ao longo de sua trajetória profissional.

Os dados apresentados antes remetem à posição de Cunha (1998, p. 35),

quando a autora menciona:

[...] o valor que os professores dão à prática docente enquanto a sua

grande inspiração para a mudança e ao saber que constroem a partir

daí. Nela localizam a possibilidade de aprenderem com colegas de

trabalho, com alunos e de, refletindo sobre sua própria docência,

reformularem sua forma de pensar e de agir. Há confirmação de que a

prática é um elemento importante na aprendizagem e que a

experiência que o indivíduo vive é insubstituível no seu significado

educativo. O fazer e o refletir sobre este fazer têm sido no dizer dos

bons professores, um mecanismo fundamental para delinearem seu

desempenho docente.

Alguns docentes sinalizam para a fragilidade de sua formação para o

exercício da docência, seja em nível de graduação e/ou pós-graduação. Fica

evidente na fala dos docentes:

P3 - Apesar de ter feito curso de licenciatura, eu acredito que só

aprendemos ensinando, mesmo a faculdade dando o suporte, você

precisa saber conduzir as aulas. Hoje o aluno vem para sala de aula

mais crítico e com influência da mídia, a internet ajuda muito, mas uma

minoria. A maioria vem te desafiar sem conhecimento, mas esse jogo

de cintura é somente por experiência na sala de aula.

P7 - esta pergunta é sempre muito difícil de responder, devido ter

apenas o bacharelado. Eu não fiz nenhuma matéria que me colocasse

em contato com a educação, acredito que fui aprendendo a ter contato

com a sala de aula e com os professores com mais experiência,

Page 61: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

58

pegando algumas dicas e toques, mas você só aprende mesmo no dia

a dia, na sala de aula.

No entender dos professores P8 e P11 os cursos de graduação,

principalmente de bacharelado, não preparam o professor para a prática da

sala de aula “[...] no início considerava muito que aprendi no cotidiano da

prática clínica, o curso em si não me ajudou nas dificuldades no exercício da

medicina para a sala de aula (P 11)”, “[...] meu aprendizado se deu no primeiro

dia de aula (P 8)”.

Tais discursos remetem ao que defende Enricone (2009, p. 123-124),

quando enfatiza que “o professor precisa aprender para ensinar, caminho sem

fim a percorrer, indispensável, que demanda esforço e atitude de busca, de

criatividade, de reflexão, de articulação entre teoria e prática e de

transformação de pensamentos em ação”.

Quando questionados sobre o que um professor precisa saber para

ensinar os participantes ofereceram várias respostas e o gráfico foi construído

a partir do total de respostas e não sobre o total de participantes como pode

ser visualizado pelo Gráfico 5.

Gráfico 5: O que um professor precisa saber para ensinar

0123456789

10domínio do conteúdo

refletir sobre a prática

conhecimento da área em queatuam

técnica para saber transmitirconhecimentos

estudar, pesquisar e atualizar

ouvir os alunos

Page 62: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

59

Estudar muito, pesquisar, refletir sobre suas práticas, ouvir seus alunos

e colegas (P 1).

Precisa ter conhecimento do conteúdo, técnica, conhecimento do saber

fazer na prática (P 5).

Temos que saber o que ensinar, temos que saber o conteúdo, mas

também é preciso saber como transmiti-lo, isso foi o programa quem

me ensinou (P7).

Acredito que o professor deve ter uma base sólida na área do

conhecimento em que pretende ministrar aulas, sem essa base acho

difícil organizar as ideias e transmitir o conhecimento sem distorções (P

10).

Atualização em tecnologia, conhecer a realidade da sua profissão

incluindo as exigências do mercado, e saber que todo conhecimento é

mutável (P11).

O professor P3, que revelou “ter domínio do conteúdo, caso contrário

você fica muito limitado”. A preocupação do professor citado é conhecer

profundamente a matéria que ministra, porém isso não é garantia de uma boa

aula. Nesse sentido Mizukami (2000) adverte:

Aprender a ensinar pode ser considerado um processo complexo –

pautado em divergências, experiências e modos de conhecimentos –

que se prolonga por toda a vida profissional do professor, envolvendo

entre outros, fatores afetivos, cognitivos, éticos e de desempenho

(MIZUKAMI, 2000, p. 140).

Através das experiências relatadas pelos professores pode-se verificar a

importância dos saberes pedagógicos para a docência e a necessidade de uma

formação ao longo da trajetória profissional.

Page 63: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

60

Tardif (2009 p. 51) refere que:

Em educação, quando se fala de um professor experiente, é,

normalmente, dessa concepção que se trata: ele conhece as manhas

da profissão, ele sabe controlar os alunos, porque desenvolveu com o

tempo e o costume, certas estratégias e rotinas que ajudam a resolver

os problemas típicos. Resumindo, um pouco como um artesão, diante

dos diversos problemas concretos, ele possui um repertório eficaz de

soluções adquiridas durante uma longa prática do ofício.

A partir das respostas apresentadas pelos professores, é possível

concluir que a constituição docente, assim como o aprimoramento da docência,

ocorre também no exercício da profissão, através do aprendizado contínuo da

reflexão da teoria sobre a prática e da prática com a teoria reformulando seus

conhecimentos e contribui para um delineamento das suas competências

profissionais.

Quando se fala em competência, pode-se citar a definição apresentada

por Perrenoud (1997). O autor considera que os dois aspectos da competência

são: o conhecimento e a capacidade de mobilização do conhecimento.

Competência significa ter um saber aprofundado de um determinado

conhecimento e a capacidade de mobilização do conhecimento frente uma

situação problema, pois:

[...] um especialista é competente porque simultaneamente: (a) domina,

com muita rapidez e segurança, as situações mais comuns, por ter à

sua disposição esquemas complexos que podem entrar imediatamente

e automaticamente em ação, sem vacilação ou reflexão real; (b) é

capaz de, com um esforço razoável de reflexão, coordenar e diferenciar

rapidamente seus esquemas de ação e seus conhecimentos para

enfrentar situações inéditas (p. 27).

O domínio do conhecimento agregado ao saber fazer é, portanto,

aspecto fundamental para o projeto de formação continuada dos docentes e

deve ser compreendido como um objeto essencial para seu crescimento

pessoal e profissional.

Page 64: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

61

Na questão oito foi perguntado aos professores em que materiais e

fontes eles se apoiam para ensinar. As respostas obtidas estão no Gráfico 6.

Gráfico 6: Qual material e fonte os professores se apoiam para ensinar

Do universo dos 12 participantes, 11 docentes utilizam materiais teóricos

(livros, apostilas), 7 docentes utilizam vídeos/ internet, 4 docentes utilizam

pesquisas acadêmicas, 2 docentes troca de experiências com colegas de

trabalho, 03 docentes jornais e revistas.

Eu me apoio em materiais teóricos, livros, internet e também nas

experiências que eu vejo e discuto com outros colegas (P1).

Nos teóricos, nos livros (P2).

Cada vez mais o mundo educativo parece chamar por materiais

eletrônicos, eu particularmente não gosto, acho necessário, mas não

me identifico, uso filmes, internet, mas a melhor fonte e o livro físico

mesmo (P7).

0

2

4

6

8

10

12

utilizam materiais teóricos(livros, apostilas)

utilizam vídeos / internet

utilizam jornais e revistas

utilizam pesquisas acadêmicas

troca de experiências comcolegas de trabalho

Page 65: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

62

É possível perceber no gráfico 6 a ênfase dada pelos professores ao

organizar seus estudos para os materiais de referência teórica como autores,

livros, apostilas. É importante aqui salientar a integração dos saberes para que

o docente possa agregar qualidade metodológica na sua tarefa de ensinar,

passando pelo desenvolvimento de valores, saber técnico e habilidades e

competências, como elementos constitutivos de uma prática educativa de

excelência.

Pimenta e Anastasiou (2002) salientam a importância de considerarmos

os saberes pedagógicos, os didáticos e os da experiência. Segundo as autoras:

[...] é preciso considerar a importância dos saberes das áreas de

conhecimentos (ninguém ensina o que não sabe), dos saberes

pedagógicos (pois o ensinar é uma prática educativa que tem

diferentes e diversas direções de sentido na formação do humano), dos

saberes didáticos (que tratam da articulação da teoria da educação e

da teoria de ensino para ensinar nas situações contextualizadas), dos

saberes da experiência do sujeito professor (que dizem respeito ao

modo como nos apropriamos do ser professor na nossa vida), Esses

saberes dirigem-se às situações de ensinar e com elas dialogam,

revendo-se, redirecionando-se, ampliando-se, e criando [...] são as

demandas da prática que vão dar a configuração desses saberes

(PIMENTA E ANASTASIOU, 2002, o. 71 (grifo das autoras)).

Em entrevista foi perguntado de que forma o programa EAHC-UPM

contribuiu para sua aprendizagem como professor. Os participantes

responderam como visualizado pelo Gráfico 7.

Page 66: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

63

Gráfico 7: Como o programa EAHC-UPM contribuiu para sua aprendizagem como professor

Conforme relatos de sete professores pode-se perceber o quanto o

programa contribuiu de forma significativa para sua atuação profissional.

Como professor contribuiu em ferramentas que uso em sala de aula,

com recursos de outras áreas, contribuiu para refletir sobre a forma de

agir e pensar (P 2).

Contribuiu muito, porque é um programa interdisciplinar, onde a

discussão em sala de aula é rica, e aborda olhares sobre os demais

assuntos tão diferentes (P 4).

Contribuiu bastante, tanto para os conhecimentos técnicos como

teóricos, acadêmicos e pedagógicos (P 5).

A contribuição foi por dois motivos, pelo conteúdo do curso e também

pela possibilidade de refletir sobre a educação (P 7).

Apresentando e instigando a busca de novos conhecimentos em uma

área desconhecida para mim (educação) (P 9).

6

1

3

1 1

01234567

novosconhecimentosde outras areas

de formação

ferramenta parasala de aula

conhecimentoteórico,

academico epedagógico

não contribuiu momento paraestudo

novos conhecimentos de outras areas de formação

ferramenta para sala de aula

conhecimento teórico, academico e pedagógico

não contribuiu

momento para estudo

Page 67: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

64

Verificando por intermédio dos textos discutidos nas disciplinas, as

questões dos problemas e das práticas docentes (P 10).

Está sendo bom, trouxe-me o conhecimento pedagógico que às vezes

falta quando não se tem na formação inicial (P 11).

As narrativas acima evidenciam o significado da Pós-Graduação stricto

sensu na construção da carreira docente, demonstrando a grande contribuição

no preparo na Educação Superior, seja através das aulas, da pesquisa ou da

produção acadêmica exigida no curso. Dessa maneira, para Ribeiro Gonçalves

(2000, p. 27-28), a formação dos professores apresenta-se como:

[...] um novo desafio que é o de estarmos conscientes de que o papel

das instituições de ensino superior na formação dos seus docentes não

pode (nem deve) parar na sua formação inicial, mas encarar a nova

sociedade emergente e que nos obriga a admitir que aqueles (em

nome do seu desenvolvimento pessoal e profissional) devem assumir a

sua carreira como algo cuja qualidade depende de sistemas de

formação permanente (ou, mais especificamente, formação ao longo

da vida).

Na opinião da professora 12: “No Mackenzie fiz um curso de metodologia

do ensino superior que não ajudou muito, aprendi dando aula”, podemos

afirmar que o distanciamento entre a formação acadêmica e os processos

formativos no Ensino Superior, é ressaltado nessa fala.

Com relação à questão: como você aprimora seus conhecimentos sobre

o ato de ensinar, escola, sua matéria etc., não teve resposta unânime, cada

professor aprimora seus conhecimentos de um jeito bem particular.

A fala do professor 3 remete à importância de um processo contínuo de

aprendizagem: “[...] apesar de ter feito o curso de licenciatura, eu acredito que

só aprendemos ensinando, mesmo com o suporte da faculdade é preciso saber

conduzir as aulas, ter jogo de cintura e, além disso, continuar fazendo alguns

cursos de formação para atualização”; “Com formação constante, estudando as

teorias, fazendo cursos, refletindo como posso melhorar minha prática em sala

Page 68: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

65

de aula” (P 4); “Não tive preparação para ser professor no curso de teatro, fui

aprendendo aos poucos no exercício da docência, por isso sinto falta de me

especializar na profissão de docente” (P8).

O relato dos docentes revela, ao mesmo tempo, uma preocupação e

uma mudança de postura para exercer a docência. Quando o docente declara

que deseja melhorar sua prática educativa percebemos a preocupação com os

alunos. Pimenta e Anastasiou (2002, p. 196) “enfatizam o fato de o professor

pesquisar a própria prática porque está realizando uma ação intencional, o que

revela a profissionalidade do docente: rever a própria prática, debruçar-se e

refletir sobre ela é necessário a toda profissão”.

No relato do professor 1 fica evidente sua preocupação com a

aprendizagem aos seus alunos: “Tenho a preocupação de saber se o que

estou fazendo está certo, se ele está aprendendo? O que tenho que fazer para

o aluno aprender? ”. Na entrevista essa professora verbalizou que ao término

de suas orientações sempre pergunta a seus alunos se conseguiram entender

sua proposta, pois seu objetivo é se certificar de que o aluno aprendeu o que

ela se propôs a ensinar “Eu sempre pergunto no final da orientação: - Você

entendeu? ”.

Corroborando, neste aspecto, Freire (2007) afirma que:

[...] quanto mais me assumo como estou e percebo a ou as razões de

ser de porque eu estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar,

de promover-me [...]. Para mudar e de cujo processo de faz

necessariamente sujeito também (p. 39).

Quando questionados sobre as especificidades da docência do Ensino

Superior os participantes manifestaram-se como pode ser visualizado pelo

Gráfico 8.

Page 69: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

66

Gráfico 8: Quais as especificidades da docência do Ensino Superior

Alguns relatos apresentados:

Ela é complexa, onde tem muitas fraquezas, porque dependendo do

que você está ensinando para quem está ensinando (P1).

Tem uma grande diferença, você aprenda ter uma percepção diferente,

o aluno do ensino médio está ali para decorar a matéria para passar de

ano, no ensino superior o aluno tem outro olhar, para a formação

profissional. Tenho outra postura na sala de aula com o ensino

superior. Caso o professor cometa um erro os alunos percebem

principalmente se ele não domina o conteúdo. O aluno é mais

responsável que no ensino médio, te respeita mais, mas a qualquer

momento ele pode “te passar para trás", você tem que ter moral sobre

os alunos (P2).

2

8

1 1

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

complexidade/construção crítica

conhecimentoespecífico (área

profissional)

objetivo dainstituição

não respondeu aquestão

complexidade/ construção crítica

conhecimento específico (área profissional)

objetivo da instituição

não respondeu a questão

Page 70: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

67

Existe uma complexidade que não tem em outros níveis de ensino. No

ensino médio o aluno quer passar de ano. Na faculdade principalmente

quando você trabalha com alunos mais velhos, o desejo é se formar

em uma profissão para trabalhar depois (P6).

Hoje no ensino superior o professor não necessariamente precisa ter o

domínio na forma de lecionar e sim no conteúdo, por esse motivo,

acredito que deveria ter avaliações, um professor do ensino superior

não saberia trabalhar “flex”, quero dizer com alunos com dificuldades.

No ensino superior o aluno tem que correr atrás, caso um aluno tenha

dislexia esse aluno vai ter dificuldade do conteúdo que é passado para

ele, acho que todos os professores do ensino superior deveriam ter

uma formação pedagógica, orientado com carinho e atenção, entender

as particularidades do aluno, e tornar o ensino acessível para todas as

pessoas, sem ser um professor preocupado apenas com o conteúdo,

até mesmo para acabar com a insegurança que nós professores

carregamos (P7).

O conteúdo a forma de lidar com os alunos, o clima da universidade. O

próprio objetivo do ensino superior faz que todos tenham uma postura

diferente (P11).

A questão abordada perpassa pela questão da profissionalidade

docente, o saber ensinar. Ao observar as falas dos professores percebe-se que

novamente a grande preocupação é “dominar, conhecer profundamente o

conteúdo”. Estamos diante de um tema atual e com o qual nos defrontaremos

por diversas vezes.

Roldão (2005) discute que, para saber ensinar, não basta ter o domínio

de um conhecimento científico e de procedimentos didático-pedagógicos. É

preciso ter competência para transformar esse conhecimento em material e

processos de aprendizagem. É esse saber científico que distingue a atuação

do professor e ao qual hoje atribuímos o conceito de profissionalidade docente.

Page 71: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

68

Para Masetto (2013, p. 106) a especificidade de ser professor no ensino

superior, vai além de ministrar aulas para que os alunos aprendam, também

inclui:

a. a gestão das atividades educacionais que pratica na interface com a

legislação e a organização do sistema educativo em que está inserido

(diretrizes curriculares, projeto pedagógico, autonomia do professor, etc.);

b. a adaptação às condições de trabalho que lhe são oferecidas (características

educativas da instituição, nível intelectual dos alunos, instalações físicas,

material didático, etc.);

c. a interação com a comunidade educacional (em seu papel de professor) e

com o mercado profissional de sua área de atuação (como especialista em

determinado assunto).

Supõe-se, portanto, que o perfil do docente do ensino superior deva ser

um profissional com capacidade de docência, investigação e gestão, que

analise, compreenda e interprete o contexto no qual está inserido, de modo a

poder partilhar com os discentes a possibilidade de intervenção nessa

realidade.

Segundo Perrenoud (2002 p. 106), a profissionalização é uma

“transformação estrutural, por isso não se decreta [...] é uma aventura coletiva,

mas que se desenrola também por meio de opções pessoais dos professores,

de seus projetos, de suas estratégias de formação”.

A questão que abordou a formação em serviço. Quando questionados

sobre os momentos de formação para os professores possibilitados pela

instituição os participantes manifestaram-se da seguinte forma.

Dos 12 docentes entrevistados 11 disseram que sim: 7 docentes

disseram que a instituição possibilita bolsas de estudo, 4 disseram participação

em congressos, seminários e cursos 2 docentes reuniões

formativo/pedagógicas, apenas 1 docente afirmou que a instituição onde

trabalha não possibilita momentos de formação e isso ocorreu nas quatro

instituições por qual passou.

Page 72: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

69

Sim, em cursos para eu abater nas aulas na minha carga horária, e

bolsas de estudo para cursos que a própria universidade oferece (P3).

Sim, cursos oferecidos pela instituição como especialização, reuniões

formativas e pedagógicas (P6).

Treinamentos, apoio à pesquisa, apoio financeiro para participação de

eventos, seminários. Estímulo à formação de grupo de estudo (P9).

Na minha carreira acadêmica estive em quatro instituições como

docente, em nenhuma delas foi oferecido tal complemento (P12).

Quanto à formação docente, a condição da sociedade atual cada vez

mais exige um novo perfil do professor universitário, o remete à necessidade

de formação permanente para enfrentar novos desafios.

O êxito da formação docente depende do envolvimento da instituição

para a efetiva produção do conhecimento, as iniciativas isoladas correm o risco

de não terem sucesso. Segundo Nóvoa (1997, p. 26), “A troca de experiências

e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais

cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de

formador e formando”. O autor explica:

A formação de professores deve ser concebida como um dos

componentes de mudança, em conexão estreita com outros setores e

áreas de intervenção, e não como uma espécie de condição prévia de

mudança. A formação não se faz antes da mudança, faz-se durante,

produz-se nesse esforço de inovação e de procura dos melhores

percursos para a transformação da escola (NÓVOA, 1997, p. 28)

(grifos do autor).

Page 73: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

70

Para a qualidade do exercício docente ações como compartilhar

experiências, refletir sobre a própria prática, entre outras, contribuem para o

aprendizado e desenvolvimento da docência. Cada situação é singular, não

existem receitas ou modelos para o trabalho cotidiano docente, mas o

professor pode se fortalecer para o seu desenvolvimento profissional. Nóvoa

(1997, p. 27) explica que “As situações que os professores são obrigados a

enfrentar (e a resolver) apresentam características únicas, exigindo, portanto,

respostas únicas [...]”.

Como aponta Freire (2007, p. 136), “O sujeito que se abre ao mundo e

aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma

como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento

na história”.

Ao refletir sobre o significado da fala de Freire (2007), verifica-se que

quando o autor fala em “inconclusão permanente”, remetendo-se ao sentido do

inacabado, no sentido da formação permanente. A educação é assim, exigente

com aqueles que lidam com ela.

Foi perguntado aos professores se além da docência, realizam outro trabalho

educativo em escolas regulares ou outras instituições1.

Dos doze docentes entrevistados oito realizam outro trabalho educativo,

porém desses oito, três trabalham como educadora na igreja que frequentam,

cinco trabalham dentro da área da educação como, educador em recursos

humanos, elaborador de questões do ENEM para Editora Abril, orientador no

curso de especialização na ECA, docentes ministrando cursos da sua área de

atuação (dois), quatro docentes não realizam nenhum tipo de trabalho

educativo em outras instituições.

Através desses dados percebe-se que a maioria dos docentes realiza

outro trabalho educativo, seja dentro de uma instituição religiosa ou dentro de

uma instituição com foco educacional. Isso corrobora a visão de autores, como

Nóvoa (2000) e Gonçalves (2000) que salientam as inter-relações entre as

dimensões pessoal no caso de docentes que trabalham de forma voluntária e a

1 Literatura predominantemente da educação básica foi utilizada no estudo

Page 74: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

71

dimensão profissional na trajetória de vida do educador exercendo atividades

educacionais fora da instituição educativa trajetória de vida do educador.

A reflexão de Nóvoa (2000, p. 65) quando se refere que “grande parte

das nossas vidas transcorre em locais de trabalho, gastamos horas

desenvolvendo tarefas que, aparentemente, não possuem um relacionamento

estreito com a nossa própria pessoa”. Quando refletimos para o aspecto do

ambiente de trabalho, considerando que a maioria dos docentes permanece

mais tempo em seu local de trabalho do que em sua casa, esse espaço, de

certa forma, influencia na constituição desse profissional/ pessoa.

Pode-se afirmar que a interação do desenvolvimento profissional e ao

crescimento pessoal, pois se pode compreender a dinâmica de caráter

interior: a motivação para o seu fazer.

3.2 PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS COMO PROFESSOR NO ENSINO

SUPERIOR

O início de carreira docente, segundo a literatura, é caracterizado por

algumas particularidades, a saber: muitos professores ingressam na docência

do ensino superior sem ter claro o que é esperado deles e do seu ensino.

Com relação ao professor iniciante a pesquisa bibliográfica revelou

algumas teorias interessantes. Para Marcelo Garcia (1999), o início de carreira

docente possui características próprias. Vários autores concordam que os

primeiros anos são determinantes no processo de desenvolvimento docente,

apenas divergem quanto ao tempo de duração. Tardif (2000), o período em que

o docente é considerado iniciante se estende até os sete anos. Huberman

(1992) reduz esse período para apenas três anos.

O início de carreira docente, segundo os autores Tardif (2000) e Marcelo

Garcia (1999), provoca nos docentes a sensação de insegurança, ocasionando

uma falta de confiança em si mesmos.

Page 75: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

72

É comum o professor iniciante, enfrentar problemas e desafios na

maioria das vezes por conta da não formação pedagógica ou de outras

deficiências.

Para análise do início da carreira docente, foi questionado aos docentes

como foram seus primeiros dias no ensino superior. Como pode ser visualizado

pelo Gráfico 9 os professores se manifestaram da seguinte maneira:

Gráfico 9- Os primeiros dias no ensino superior

Para 5 docentes foi uma experiência tranquila, para 7 docentes foi um

tempo de dúvidas, insegurança, angústia e medo; dos 5 docentes que tiveram

uma experiência tranquila nas primeiras experiências como professor de ensino

superior, 4 docentes fizeram licenciatura. Dos 7 docentes que tiveram suas

experiências carregadas de sentimento de insegurança, 5 cursaram

bacharelado. Citação da fala dos professores 3, 6, 7 e 8:

Dei aula para uns 60 alunos e para o coordenador do curso sem saber

que ele era o coordenador (P3 – licenciatura).

Nossa que medo! Insegurança de não saber ensinar e também achava

que o eu sabia era pouco (P6 – licenciatura).

5

7

0

1

2

3

4

5

6

7

8

positivo/ sem dificuldade ansiedade, insegurança, medo e tensão

positivo/ sem dificuldade ansiedade, insegurança, medo e tensão

Page 76: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

73

Foi difícil pela minha insegurança, não de conhecimento, mas de

atitude mesmo, como o grupo vai me receber (P7 – bacharelado).

Foi fluindo com uma conversa sobre a história do teatro (P8 –

bacharelado).

Os dados mostram que os docentes que fizeram o curso de licenciatura

tiveram menos dificuldade nas primeiras experiências. Vale aqui ressaltar que

os cursos de licenciaturas visam o ensino/aprendizagem da criança e do

adolescente. Como explica Vasconcelos (1996), “a formação pedagógica, se

destina aos professores que cursam as licenciaturas visando o

ensino/aprendizagem da criança e do adolescente. Para atuar na graduação,

isto é, com o adulto, os professores não recebem nenhuma formação

pedagógica”.

O professor 4 afirma que sua facilidade no início de carreira como

professor do ensino superior se justifica por ter cursado a licenciatura e ter

experiência com adolescentes. Vejamos:

Eu ia completar 15 anos de Estado, minha formação inicial é letras,

quando eu recebi o convite para trabalhar na Uninove. Não tive

dificuldades em dar aula para 60 alunos, isso já acontecia no Estado

(P4 – licenciatura).

O docente cuja fala se pauta na experiência profissional como condição

para uma boa prática docente, no entender de Pimenta e Anastasiou (2002, p.

211) referem-se à questão do paradigma tradicional.

O paradigma tradicional do professor palestrante e aluno ouvinte foi-

nos ensinado pela nossa vivência de aluno, sendo, portanto, o que

sabemos fazer, por experiência ou hábito, em contraposição a uma

crescente necessidade da construção de um paradigma atual, em que

o enfrentamento do conhecimento científico utilize um processo

diferenciado, no qual a construção e a parcela sejam elementos

fundamentais da relação.

Page 77: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

74

Apesar de um número elevado de bacharéis se referir em sua

experiência inicial no ensino superior como “assustadora”, não podemos

afirmar que esse fato se dá pela sua formação inicial, há professores relatam

que não tiveram problemas nesse aspecto, pois gerenciaram uma forma de

trabalhar em sala de aula. Pimenta e Anastasiou (2002) explicam que os

professores quando iniciam o exercício da docência trazem uma bagagem com

várias experiências do que é a profissão docente, o que isso se deve aos

modelos de professores que foram significativos enquanto eram alunos.

Nóvoa (2009, p. 32) explica que existe um efeito cumulativo e seletivo

das experiências anteriores em relação às experiências subsequentes. Assim,

o que foi retido das experiências familiares ou escolares dimensiona ou, pelo

menos, orienta os investimentos e as ações durante a formação inicial.

No entender do professor 3 o que o auxiliou nesse início de carreira foi

estabelecer um diálogo com seus pares. Segue o relato do professor:

Muita ansiedade antes de entrar em sala, apesar da experiência em

treinamentos corporativos. Não tinha ideia de como seria a

receptividade e se conseguiria comunicar-me adequadamente com os

alunos. Tive muito apoio de minha coordenação e ajuda dos colegas

experientes que mostraram modelos, atitudes e ações diversas para eu

enfrentar o momento (P3).

A questão de buscar modelos ou auxílio junto aos professores mais

experientes é uma prática recorrente citada na literatura. Entre os docentes

iniciantes a falta de experiência é um dos condicionantes para essa prática.

Nóvoa (1997, p. 26) aponta que “o diálogo entre professores é

fundamental para consolidar saberes emergentes da prática profissional”. É

necessária uma mudança de postura para que os docentes interajam entre si,

possibilitando adquirir confiança em si mesmo. Compartilhar experiências e

saberes do processo ensino/aprendizagem através do diálogo entre os pares e

assumir a responsabilidade e o comprometimento de sua formação.

Page 78: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

75

Conforme Garcia (1999, p. 23), a formação inicial do professor

universitário deveria correr através do desenvolvimento de programas de

iniciação na profissão docente para aqueles professores universitários que

iniciam na docência, pois a sua organização pode ser mais flexível e

prolongada.

De acordo com Huberman (1995), os professores podem trilhar novos

caminhos, diferentes dos apresentados, e o período de permanência em cada

uma das fases pode variar.

O ciclo de desenvolvimento profissional que a maioria dos professores

percorre durante sua carreira, Huberman (2000) afirma que esses ciclos não

são formados por uma sequência linear de acontecimentos, mas por um

processo que pode ser percorrido de forma diferente pelos professores, devido

à sua individualidade e à sua subjetividade, que perpassam suas experiências

e suas histórias de vida, as quais, por sua vez, influenciam a maneira como

cada um vivencia essas etapas.

Outra questão importante para a pesquisa era saber dos docentes as

dificuldades encontradas nas primeiras experiências no ensino superior como

docente e como essas dificuldades foram superadas os participantes

manifestaram-se como pode ser visualizado pelo Gráfico 10.

Gráfico 10 – Dificuldades encontradas nas primeiras experiências no ensino superior

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

insegurança de ministraraulas

como ensinar

domínio do conteúdo

questões burocráticas

sem dificuldades

Page 79: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

76

Dos 12 docentes entrevistados, 03 docentes disseram que foi a

insegurança para ministrar aulas, 02 como ensinar, 02 dominar o conteúdo, 1

entender as questões burocráticas do ensino superior e 2 docentes não

encontraram dificuldades.

As respostas dos docentes foram semelhantes às questões 10 e 16 do

questionário.

O professor 1 fez o seguinte relato: “Tive dificuldade sobre o conteúdo,

onde adquirir mais conhecimento, o que pesquisar como pesquisar, meu medo

era o aluno perguntar e eu não saber responder, mas deu tudo certo com os

alunos, correu tudo bem”.

Para reforçar essa ideia, Cavaco (apud Marcelo Garcia et al., 1999 p.

112) destaca que:

[...] a complexidade e as contradições vividas nos primeiros anos de

trabalho, quando há que enfrentar dia-a-dia, no cenário da profissão,

situações novas e imprevisíveis, obstáculo frequentes a exigir

respostas rápidas, adequadas, convincentes. É o tempo da

instabilidade, da insegurança, da sobrevivência, mas também da

aceitação dos desafios, da criação de novas relações profissionais e da

redefinição das amizades e de amor, da construção de uniões

familiares, da construção do sonho de vida.

Segue algumas falas semelhantes dos docentes:

No ensino superior, encontrei sérias dificuldades porque o aluno entra

cada vez menos preparado, de responder, de raciocinar. Existe uma

diferença da universidade pública e privada. Na particular já cheguei

pegar alunos analfabetos. A falta de comprometimento do aluno

atrapalha o caminhar da aula (P2).

Em geral, sou bem prevenida, jamais entro em uma sala de aula sem

conhecer profundamente o conteúdo. A minha maior dificuldade foi

chegar à sala de aula e encontrar aluno que não sabe fazer uma

equação (P3).

Page 80: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

77

Sentia-me muito insegura, como ensinar, o que ensinar. Você chega à

faculdade e ninguém explica nada. Você é quem tem que perguntar

para um para outro como as coisas funcionam (P6).

Como é um curso de Medicina, os alunos entram com bastante

conhecimento. No início da minha carreira a dificuldade era minha uma

vez que nunca tive na minha formação a questão pedagógica. Então

fazia como os meus professores faziam (P11).

Nas falas citadas acima dos professores existem elementos importantes

referentes à sua formação e sua atuação profissional. Desse modo, ressalta a

ideia de que o processo de formação inicia desde a opção inicial por um curso

superior.

Tardif (2010, p. 53) ressalta que:

A prática cotidiana da profissão não favorece apenas o

desenvolvimento de certezas “experienciais”, mas permite também

uma avaliação dos outros saberes, através da sua retradução em

funções das condições limitadoras da experiência. Os professores não

rejeitam os outros saberes totalmente, pelo contrário, eles incorporam à

sua prática, retraduzindo-os, porém em categorias de seu próprio

discurso.

O exercício da docência exige alguns saberes que devem ser

construídos e experienciados de forma reflexiva, de modo a contribuir para o

aperfeiçoamento e o crescimento profissional.

Segundo Nóvoa (1995), a carreira docente passa por algumas etapas,

sendo uma delas a estabilização, em que o profissional domina bem sua área

de trabalho, seus papéis e suas responsabilidades. Para muitos professores a

profissão docente, no decorrer da sua linha de tempo, possibilita a maturidade

e o discernimento para desenvolver a capacidade de interagir com o outro e

aprender com ele.

Para conhecermos como se dá à reflexão sobre a prática do docente do

ensino superior. Foi solicitado ao professor que pensasse em uma aula que ele

Page 81: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

78

deu como foi elaborado o planejamento, a execução e análise e o que se

aprendeu com ela.

Através da fala do professor 3 pode-se observar o amadurecimento de

sua profissionalidade ao longo de sua trajetória profissional no ensino superior,

seu envolvimento com a aprendizagem dos alunos.

Em uma aula de matemática, eu precisava fazer uma apresentação

gráfica, depois introduzir o conceito. Eu resolvi fazer o inverso, foi mais

produtivo. Estar ensinando um conteúdo muito clássico, e eu inverti o

caminho do estudo que passava para meus alunos. Aquilo foi para mim

muito gratificante. Eu percebi que posso ensinar o conteúdo de

diversas maneiras, desde que eu domine o conteúdo e a forma de

ensiná-lo (P3).

Masetto (2013, p. 108) afirma que,

A busca pela profissionalidade valoriza a ação docente, pois é fonte de

saber que permite ao professor libertar-se das práticas rotineiras,

avalia-las e implantar, sempre fundamentos no diálogo com a teoria, os

processos e os ajustes que forem convenientes. É uma reflexão que

ajuda a recompor o equilíbrio entre as práticas dominantes e a teoria

que as sustenta”.

Partindo do relato do professor 4, percebo que a opção pelo magistério

do ensino superior é a oportunidade que ele encontrou para desfrutar de uma

profissão gratificante, que lhe permite reconhecimento e um envolvimento tal

que a docência, é uma profissão capaz de proporcionar realização profissional

e pessoal. Segue o relato do professor:

Todas as aulas eu levo um aprendizado, onde o ser humano é

imprevisível, que levanta dúvidas diferentes, onde as respostas são

totalmente opostas do que eu havia pensado a relação que a sala tem

de um determinado assunto, iniciamos com um assunto e acabamos

em outro. Eu constantemente reformulo meus conceitos, todo dia tenho

um aprendizado novo, tanto para mim e para o aluno. Obviamente

Page 82: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

79

pontuo algumas questões, mas o caminho que o grupo percorre e

diferente do outro grupo (P4).

Para a professora 12, um aspecto importante no exercício docente é a

complexidade e a confiança em si mesma:

Fui abordar um tema de publicidade, de repente o assunto mudou

completamente. Entendi que a sala de aula tem uma dinâmica, um

movimento que muitas vezes nos pega de surpresa e temos que dar

conta, então começar a tirar informações do fundo do baú.

Concordo com a posição de Imbernón (2009, p. 92), quando o autor

conclui que:

Reconhecer a complexidade do pensamento e da prática docente

significa reconhecer que a educação como fenômeno social é uma

rede aberta e que essa abertura faz com que às vezes se tomem

decisões sem refletir (ou intuitivas); ao promover uma formação que

facilite a reflexão e a intuição, é possível fazer com que os professores

se tornam melhores planejadores e gestores do ensino-aprendizagem

e, por que não, agentes sociais, capazes de intervir também nos

complexos sistemas éticos e políticos que compõem a estrutura social

e de trabalho.

3.3 ESPECIFICIDADES DA INSTUIÇÃO DO ENSINO SUPERIOR E

DIFICULDADES ENCONTRADAS NA AÇÃO DOCENTE

Exercer a docência é uma atividade complexa que vai além de chegar à

sala de aula e dar aulas. É necessário avaliar todo o contexto, que nem sempre

revela alunos ideais, mas alunos reais, com dificuldades e deficiências em seu

aprendizado, para os quais muitas vezes o professor não está preparado.

Os professores ao serem questionados sobre as dificuldades

enfrentadas por eles atualmente, manifestaram-se como pode ser visualizado

pelo Gráfico 11.

Page 83: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

80

Gráfico 4 - Dificuldades encontradas pelos docentes no Ensino Superior

Nas respostas dos docentes surgiram várias dificuldades que os

incomodam no seu trabalho pedagógico, porém dos 12 professores

entrevistados a dificuldade que 7 docentes indicaram como um dos problemas

para atuar no ensino superior, foi “não saber lidar com alunos que chegam à

sala de aula sem base para aprofundar os conhecimentos”, Todos docente

expuseram a falta de conhecimento que o aluno chega ao ensino superior e 2

docentes a falta de interesse por parte dos alunos.

Seguem relatos:

Os alunos decoram para prova e não para adquirir o conhecimento

necessário, assim vão passando de um ano para outro sem bagagem

necessária, sem contar com o número elevados de alunos por sala 90,

100 alunos (P3).

Eu não vejo uma dificuldade minha, mas vejo uma dificuldade no

ensino superior, o aluno vem sem preparo acadêmico (P4).

Encontro dificuldades em sala de aula. Os conhecimentos que os

alunos chegam até a faculdade é muito deficitário. Deveria ter um

ensino paralelo para ajuda-los (P6).

0

1

2

3

4

5

6

7

8

alunos semconhecimentos

falta de interessedos alunos

falta de experiência

alunos sem conhecimentos

falta de interesse dos alunos

falta de experiência

Page 84: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

81

Os alunos com quem trabalho chegam cansados, não tão animados

para algumas coisas, eles são cansados para outras, sem motivação

(P9).

A dificuldade enfrentada por mim hoje é a falta de interesse dos alunos

e de alguns docentes. E a falta de conhecimento prévio, os alunos não

conseguem fazer inferências dos conteúdos ministrados em outras

áreas, prejudicando assim o aprendizado (P 10).

As declarações dos professores retratam como os alunos chegam aos

bancos da educação superior. Para entender os problemas e desafios

enfrentados hoje pelos professores, se faz necessário explicar quem são os

alunos que frequentam as instituições ensino superior. As políticas públicas

para o ensino superior facilitaram o acesso a esse nível de ensino. Na década

de 1990 duas situações marcaram e mudaram o cenário do ensino superior: o

Estado diminuiu o investimento para o ensino público superior e a privatização

tomou espaço, com a mercantilização da educação superior; dessa forma, foi

instituído pelo governo o FIES – Programa de Financiamento Estudantil e o

PROUNI – Programa Universidade para Todos, para que as classes menos

favorecidas pudessem frequentar a educação superior, em instituições

privadas. (Pimenta e Anastasiou, 2002, p.27).

Muitos alunos provenientes do ensino médio de escolas públicas

chegam sem o domínio dos conteúdos básicos necessários para cursar o

ensino superior, por isso essa dificuldade em massa.

Para Imbernón (2009, p. 51-52):

É evidente já há tempo que na realidade do professorado não há tantos

problemas genéricas, e sim muitas situações problemáticas que se dão

em contextos sociais e educativos determinados e, ultimamente, essas

situações problemáticas e esses contextos tornaram-se ainda mais

complexos. Na formação, o contexto no qual se dão as práticas

educativas, ou seja, a própria instituição educativa e a comunidade que

esta envolve, assume assim uma importância decisiva.

Page 85: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

82

Ao pensar sobre essa questão que não é tão simples, mas existem

possibilidades de solução, desde que assumidas em suas especificidades, o

caminho a ser percorrido envolve a participação da instituição e o envolvimento

do grupo de professores. Pimenta e Anastasiou (2002, p. 39) explicam que,

Não se trata de ignorar as dificuldades constatadas; ao contrário, trata-

se de conhecê-las e programar, o mais coletivamente possível, ações

entre docentes e discentes a fim de superarem as dificuldades

constatadas. Esse projeto pode ser até escalonado conforme as

diversas fases do curso em questão. Quanto mais cedo forem

percebidas as dificuldades e traçadas as linhas de ação, maiores serão

as possibilidades de superação dos problemas no decurso dos anos,

semestres ou fases do curso.

As autoras alertam que para o aluno cursar a graduação alguns

requisitos são essenciais, como o domínio da leitura, da interpretação, redação.

Para a superação das dificuldades dos alunos é preciso realizar um diagnóstico

para desenvolver ações em conjunto entre professores e alunos. Pimenta e

Anastasiou (2002) sugerem a aplicação de atividades e correção das mesmas

na própria sala de aula, para que os alunos reconheçam suas dificuldades e

assumam coletivamente o caminho a ser trilhado. “Adiar o conteúdo

programático estabelecido por uma ou duas semanas para retomada de itens

essenciais, tem sido prática adotada com sucesso, envolvendo professores e

alunos em torno de ações conjuntas e necessárias” (PIMENTA; ANASTASIOU,

2002, p. 234).

Exercer a profissão docente, desse modo, implica unir seus

conhecimentos e suas experiências e desenvolvê-los em contextos educativos.

A formação é fundamental desde o início do trabalho docente, efetivando o

ensino com qualidade na prática social. Nóvoa (1997, p. 28) faz o seguinte

questionamento:

Page 86: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

83

Formar um professor é possível? Formar não, formar-se! O professor

forma a si mesmo através das suas inúmeras interações, não apenas

com o conhecimento e as teorias aprendidas nas escolas, mas com a

prática didática de todos os seus antigos mestres e outras pessoas,

coisas e situações com os quais em situações de ensino durante toda a

sua vida.

Ao serem questionados sobre as atividades solicitadas pela instituição

onde trabalham, além de ensinar, os professores são unânimes em afirmar que

elas são de cunho burocrático, como preenchimento de documentos, relatórios,

protocolos etc. Os participantes manifestaram-se como pode ser visualizado

pelo Gráfico 12.

Gráfico 5 - Atividades solicitadas pela instituição em que o professor trabalha, além de ensinar.

Tarefas como essas são colocadas como uma dificuldade encontrada

pelos docentes, uma vez que não encontram tempo para dedicar-se à pesquisa

e a produção. Todos os docentes entrevistados, disseram que a instituição

exige preenchimento de documentos e relatórios; 6 citaram orientação a alunos

(iniciação científica ou estágios), 4 docentes publicações, 3 docentes

atualização e pesquisas, 2 docentes em participação em reuniões

pedagógicas.

0

2

4

6

8

10

12

14

solicitações burocráticas

orientação aos alunos

publicações

reunões pedagógicas

atualizações e pesquisas

Page 87: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

84

Os professores 2, 6, 11 expuseram a exigência de publicações,

orientações a alunos “a instituição exige periodicamente publicações, relatórios

e orientações a alunos (P2)”, “participar de reuniões pedagógicas, relatórios,

publicações e orientação para alunos (P 6)”, “A universidade solicita muitas

publicações, pesquisas e algumas orientações para os alunos (11)”.

O envolvimento dos docentes em pesquisas, produções tanto dos

docentes como dos discentes, artigos, reuniões pedagógicas, orientações a

alunos, necessita do compromisso dos professores, podendo assim ser

traduzido em ações favoráveis para a qualidade do ensino superior. Autoras

como Pimenta e Anastasiou (2002, p. 126) argumentam que,

Ao participar legalmente de um colegiado, o docente da IES teria maior

suporte institucional para sua profissionalização continuada. O trabalho

individualizado e solitário a que é habitualmente submetido em nossa

cultura institucional, fica dessa forma mais próximo a “uma venda de

horas/trabalho”, acentuando a possibilidade do aumento do magistério

superior como atividade de complementação salarial ou bico, como é

vulgarmente chamado o respectivo aumento numérico do profissional

dador de aulas, absolutamente o oposto do que é necessário hoje

(grifos das autoras).

A pesquisa, para Demo (2001, pag.42), “é a forma de o docente ter sua

própria elaboração, ser um profissional pesquisador, mas é preciso que veja a

pesquisa como aprendizagem e atualização permanente”.

Não devemos esquecer que sem a pesquisa o ensino poder ser uma

mera reprodução. No ensino superior um docente que ministra boas aulas não

tem a devida valorização caso não escreva, produza. Não tenho a pretensão

de diminuir o valor da pesquisa, uma vez que deve fazer parte da formação do

professor/aluno; por outro lado, a produção traz notoriedade à instituição que

desenvolve a pesquisa. A educação superior deve estar alicerçada no tripé

ensino, pesquisa e extensão. O projeto pedagógico das IES deve contemplar

este tripé. Para os pesquisadores que discutem a formação no ensino superior,

é consenso que uma formação acadêmica sólida, ideal e de qualidade deve se

primar pela indissocialidade do ensino, pesquisa e extensão.

Page 88: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

85

No entender do professor 12, “No final de semestre o trabalho

burocrático se multiplica. Colocar notas em sistema, fazer provas substitutivas

para outras matérias que não a sua. Corrigir materiais online. Muito trabalho

que não tem nada a ver com lecionar”. “Estou na Universidade São Judas há

20 anos, fora a docência o que me exigem é o trabalho administrativo, esse sim

me consome (P3)”.

A instituição de ensino superior particular, segundo Pimenta e

Anastasiou (2002), é grande empregadora dos docentes. Através dessa

pesquisa podemos confirmar a afirmação das autoras, os 12 docentes que

fizeram parte desse estudo, lecionam em instituição privada, sendo que 2

docentes participam de projetos também na instituição pública. Geralmente as

IES privadas solicita aos docentes um grande número de trabalhos

administrativos não pertinentes à docência. Na maioria das vezes são as

instituições públicas que acabam se envolvendo com a pesquisa. Freire (2007,

p. 29), ressalta a importância da pesquisa para a formação do professor: “Não

há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. [...]. Pesquiso para constatar,

constatando, intervenho intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer

o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar novidade”.

3.4 AS INCONSISTÊNCIAS DAS FALAS, OS ANSEIOS...

É preciso considerar a própria realidade, e nela atuar, construindo um

campo profícuo para desenvolver ações que contribua para a qualidade do

ensino superior. Os autores pesquisados revelam possibilidades e soluções,

mas só serão exitosos se as IES, os docentes e as políticas públicas atuarem

em conjunto.

Para viabilizar a pesquisa nos aproximamos dos docentes por meio de

uma entrevista. As respostas obtidas, acreditamos, foram de certa forma de

encontro do problema proposto: como professores do ensino superior analisam

suas trajetórias de aprendizagem da docência? Obtivemos nos relatos e

depoimentos dos docentes, situações vivenciadas e situações que os afligiam,

bem como seu posicionamento com sugestões para lidar com essas questões.

Page 89: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

86

Podemos considerar que alcançamos nosso objetivo maior que foi de

analisar o processo de aprendizagem e desenvolvimento profissional do

docente no ensino superior, identificando problemas e desafios vivenciados,

com vistas ao aprimoramento da atuação docente neste nível de ensino.

Observamos que a escolha pelo ofício de ser professor trouxe implicações na

vida desses docentes, porque propiciaram novos valores, crenças, atitudes e

ideias, no âmbito profissional e pessoal.

Apoiados na literatura citada ao longo da pesquisa, as questões que

emergiram com a pesquisa mostraram que as situações que acometem os

docentes do ensino superior não acontecem exclusivamente no Brasil. O

estudo revelou que os problemas, as deficiências, as carências do início da

docência na educação superior existem e, por isso, é imprescindível uma

atenção nesse sentido.

Masetto (2013, p. 9) relata,

Esse início pode ocorrer de diversas maneiras, envolvendo desde

profissionais que exercem determinada atividade no mercado de

trabalho e depois de alguns anos decidem enveredar pelo caminho da

docência, até mestre e doutores, muitas vezes ainda bem jovens e

quase sem experiência profissional ou de magistério, que se

candidatam a lecionar no ensino superior.

A fala de Masetto vem ao encontro dos dados obtidos no estudo. Foi

possível constatar que todos os professores entrevistados estão preocupados

com sua formação, e que há um comprometimento por parte deles em

continuar sua formação formal.

Com relação à insegurança pontuada pelos professores deste estudo,

ela se se refere à falta de experiência como docente uma vez que não tiveram

uma formação pedagógica para atuar no ensino superior. Outros docentes

alegam que exercem à docência com qualidade, devido suas experiências

profissionais anteriores. As opiniões sobre o papel da experiência profissional

foram contraditórias, pois, para alguns professores, a minoria, essa experiência

é que lhes possibilita ser um bom docente.

Page 90: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

87

Pode-se verificar as preocupações que os docentes têm com os alunos

que chegam ao ensino superior desprovidos dos conhecimentos básicos para

cursar uma graduação. Como sugestão para resolver o problema, esses alunos

deveriam ter aulas paralelas para diminuir a defasagem e acompanhar os

conteúdos acadêmicos.

Os docentes verbalizam as dificuldades para lidar com alunos

desinteressados em sala de aula, bem como trabalhar com turmas numerosas.

Alguns docentes revelam que sentem falta de uma formação pedagógica

específica. A questão do domínio de conteúdo é um aspecto significativo para

os professores, pois acreditam que dominar os conteúdos é fundamental para

realização do trabalho em sala de aula. O conteúdo tem sua importância,

porém é o modo que esse conteúdo é desenvolvido com os discentes é que

qualifica o trabalho do docente, por isso apontam a questão da formação

pedagógica.

No grupo de docentes entrevistados é unânime a importância de se

atualizar, porém apenas um docente cita a necessidade do uso da tecnologia a

serviço do ensino e usufruir dos benefícios dessa ferramenta.

Atualmente a IES privada é uma grande empregadora dos docentes do

ensino superior. Geralmente são as instituições de ensino são as que oferecem

a oportunidade de contratar docentes inexperientes para a docência

universitária.

Com relação à autonomia docente, predominou o conceito de que é um

processo, é uma construção e se desenvolve ao longo da trajetória profissional.

À medida que o professor sabe resolver conflitos, toma decisões no cotidiano

educacional irá, conquistando sua autonomia.

Freire (2007) enfatiza que as experiências nos possibilitam tornamo-nos

autônomos. A reflexão se faz necessária nas ações docentes, individual e

coletivamente. Percebe-se a preocupação por parte dos docentes em

reformularem suas práticas educativas em função do que consideram que

poderiam melhorar em sala de aula, mas não é suficiente, é preciso ter a

consciência do que mudar e porque mudar.

Page 91: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

88

Os professores relatam que uma das formas em manter-se aprimorados

dos conhecimentos necessário para a docência do ensino superior é o diálogo,

a troca de experiências com os colegas de trabalho. É o que defende Nóvoa

(1997). Esse é o caminho para o êxito na qualidade da docência, pois o

trabalho coletivo ganha força.

Ressalte-se ainda que os participantes da pesquisa se mostraram

interessados pelo o estudo e, manifestaram desejo de ter acesso aos

resultados da pesquisa como forma de obterem respostas para suas

demandas.

Para o aprimoramento das práticas pedagógicas no ensino superior e a

superação dos problemas/desafios, há a necessidade de uma conscientização

geral e de um compromisso por parte de todos os envolvidos com este nível de

ensino.

Na análise dos dados coletados por meio das entrevistas foi possível

constatar, ao mesmo tempo aspectos comuns nas respostas obtidas, algumas

especificidades, porém, as diferenças são representativas em cada caso. Os

resultados também apontam que não ocorrem diferenças significativas entre os

professores de bacharelado e de licenciatura.

Page 92: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

89

CAPÍTULO 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao se realizar a pesquisa com professores do ensino superior, com

alunos egressos do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Educação,

Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie,

estabeleceu-se como foco: aprendizagem ocorrida durante o percurso

profissional no ensino superior; os espaços que são considerados de

formação; os desafios atuais postos pela profissão docente; concepções

relacionadas à profissão docente.

Revendo um pouco da história do ensino superior no país percebemos que não

se pensou nos docentes que ingressaram no magistério superior sem a

formação para esse nível de ensino. Os cursos stricto sensu nem sempre se

ocupam da formação pedagógica, havendo prioridade para a pesquisa. Vale

lembrar que nem sempre uma titulação é suficiente para trabalhar com a sala

de aula do ensino superior.

Na sociedade contemporânea em que vivemos, com a velocidade da

informação influenciando os vários setores do conhecimento é fundamental

uma formação acadêmica. As salas de aula das IES passam a ser ocupados

por alunos das camadas populares, com diferentes interesses, de diferentes

idades e com defasagens no conteúdo básico para acompanhar um ensino

superior.

Para contemplar as demandas dessa sociedade, é fundamental uma

continuidade na formação docente, que deve ser sólida e possibilitar reflexão

sobre a prática ressignificando-a, dentro e fora da sala de aula universitária,

pois, somente assim o professor terá condições de lidar com a diversidade e a

heterogeneidade dos alunos.

Considero que a formação acadêmica não se deve pautar apenas nos

conteúdos, mas valorizar os aspectos éticos e humanos na formação do aluno.

A educação como prática social, só se concretiza na medida em as IES

promover um ensino de qualidade, que reproduza no profissional que se está

formando.

Page 93: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

90

Os docentes pesquisados valorizam a formação stricto sensu e a

consideram necessária para a docência no ensino superior. O contexto revela

uma estrutura no qual os docentes, por conta própria não medem esforços para

investir no desenvolvimento profissional e na sua formação.

Ao concluir o percurso dessa investigação, acredito que trouxe

elementos para a discussão e possibilitamos aos docentes uma oportunidade

de reflexão sobre sua própria prática pedagógica, pois, ao responderem sobre

duas dificuldades, desafios, necessidades e aprendizagem ao longo de sua

trajetória profissional, inevitavelmente precisaram refletir.

Afirmo, também, que consegui identificar e analisar com a pesquisa as

necessidades, os problemas, as carências e os desafios vivenciados pelos

docentes no início de carreira.

Considero relevante no estudo a questão da formação docente, que

permeia os dilemas e desafios que enfrentam os docentes iniciantes ou não.

Porém, a formação docente que privilegie a reflexão da prática, a base do

conhecimento, as comunidades de aprendizagens e as atitudes investigativas

seria um único caminho possível para responder aos anseios dos docentes

participantes da pesquisa, que a apontam como deficiente.

Para pontuar alternativas, ou possíveis caminhos incluímos no trabalho,

a contribuição de especialistas e estudiosos do ensino superior, que buscam

maneiras de tratar a questão. Buscar alternativas para solucionar a questão da

formação do professor revela fundamental para a qualidade desse nível de

ensino.

A intenção, ao iniciar e ao concluir o trabalho, foi trazer elementos para

contribuir com os estudos a respeito da aprendizagem dos docentes do ensino

superior ao longo de sua carreira profissional, mas nesse espaço reconheço

que a presente pesquisa repercutiu muito em proveito pessoal, uma vez que o

aprendizado foi grande.

Com este estudo, foi possível evidenciar muitos aspectos da profissão

docente e o que fica evidente é a questão da formação, da preparação para a

docência, que grande parcela dos professores aponta como imprescindível

Page 94: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

91

para o trabalho efetivo na sala de aula do ensino superior. Por isso, buscamos

na literatura suporte para discutir a formação docente, que tem sido tema de

muitos estudos atualmente.

O conhecimento para atuar na docência no ensino superior envolve

múltiplos olhares. O início da docência universitária merece uma atenção das

políticas públicas e de todos os envolvidos com o ensino superior – alunos,

professores, IES e a própria sociedade.

É preciso avançar e muito nas investigações que abordem aspectos

relevantes da docência na educação superior. Esse trabalho será mais uma

semente que lançamos no campo fértil da pesquisa acadêmica, que poderá

frutificar com mais estudos nessa mesma perspectiva, pois o contexto é

dinâmico, assim como a prática docente. É fundamental que novos estudos a

respeito do mesmo tema apareçam, a possibilidade de buscar outros

elementos que contribuam para a qualidade do ensino na educação superior,

uma vez que especificamente a aprendizagem docente há muito que investigar

e analisar.

A pesquisa foi realizada em universidade particular de grande porte.

Seria interessante um estudo semelhante em uma universidade pública, com

possibilidades de trazer novos elementos para os estudos.

Espera-se que o trabalho contribua para despertar interesse sobre a

aprendizagem do docente no ensino superior, como os espaços de formação e

a concepção da educação nesse nível de ensino, sinalizando que esses

aspectos são fundamentais para a profissionalidade docente. A profissão

docente no ensino superior exige muito mais que uma formação acadêmica, ou

experiência na área do conhecimento, pois se trata de uma profissão dinâmica

na qual os docentes se deparam cada dia com novos desafios, para os quais

não existem receitas ou modelos, pois cada momento da sala de aula é único.

Sabe-se que a literatura mostra que os anos iniciais da docência são

fundamentais, para aprendizagem da docência, pois definirão a prática docente

futura. Com o passar dos anos na atividade docente os professores passa por

Page 95: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

92

fases com características singulares e o início da profissão é um importante

momento de intensas aprendizagens e desafios.

Acredita-se que a formação inicial e continuada dos professores do

ensino superior no Brasil não é satisfatória, não recebe a atenção devida. As

IES públicas realizam menos matrículas da graduação do que nas IES

particulares. Assim, a grande empregadora são as IES particulares, sendo a

maior parte dos alunos matriculados dos cursos noturnos oferecidos em

instituições não universitárias.

Os professores pesquisados relataram aspectos relativos à deficiência

de conteúdos da educação básica desses alunos e disseram que encontram

dificuldades para lidar com essa questão. É preciso pensar também na

formação deficiente que algumas IES privadas propiciam aos alunos.

A formação docente deve contemplar à complexidade das situações

existentes no ensino superior. Alguns professores que participaram da

entrevista manifestou a necessidade de uma formação docente para o

magistério superior. O processo de ensino/aprendizagem ainda não é

compreendido por muito professores. O fato do ensino não ter recebido a

valorização devida e por ser confundido coma mera transmissão de

conhecimentos, prevalecendo por muito tempo o modelo jesuítico que exige a

memorização do conteúdo transmitido. Esse modelo de ensino não se

enquadra mais aos alunos nos dias atuais, por isso ainda herdamos uma

educação básica precária.

Muitas IES privadas conseguiram driblar problemas dessa natureza,

investindo na formação docente e realizando um trabalho pedagógico paralelo

com os alunos.

Investir na formação docente e estruturar um Projeto Pedagógico (PP)

compatível com as deficiências e dificuldades de cada realidade com propostas

para resolver tais dificuldades, somente se obterá êxito com a participação

efetiva dos docentes, numa reflexão compartilhada.

A docência no ensino superior tem se constituído com base na

experiência da própria formação do professor como aluno e no confronto da

Page 96: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

93

sala de aula. A prática docente vai se estruturando nos erros e acertos

cotidianos. No entanto as políticas públicas responsabilizam as IES pela

formação dos docentes. Na prática isso não vem ocorrendo. As IES perdem

uma ótima oportunidade de se sobressaírem nesse aspecto, porque ao se

pensar sobre a formação docente se investe na qualidade da educação

oferecida.

O fato é que um docente nunca termina sua formação, e que sua

aprendizagem ocorre ao longo de sua trajetória profissional, por isso deve se

formar continuamente. A formação a que se refere deve levar em conta além

das questões didáticas e metodológicas os aspectos éticos e políticos já

citados por diferentes autores. Conhecer profundamente a área de estudo não

é suficiente para ser um bom professor, é preciso modificar essa ideia. O

desenvolvimento pessoal e profissional se promove através da formação

pedagógica e também de conhecimentos, de valores, atitudes e crenças.

É necessário, neste sentido, um esforço coletivo para superar as

dificultadas com relação a formação de qualidade, o que tem sido foco de

muitas discussões. O trabalho coletivo reforça as iniciativas, mas é preciso que

os professores realizem uma leitura de sua realidade e da própria formação

numa reflexão compartilhada através das comunidades de aprendizagens. A

formação dos docentes nos cursos de Mestrado e Doutorado qualificando e

ampliando os conhecimentos dos professores. Para uma mudança e

transformação é imprescindível pensar essa formação como um ato político.

Almeja-se que os resultados obtidos nesta investigação possam

contribuir significativamente para reflexões que levam em consideração uma

proposta de excelência para o ensino superior. Além disso, espero que

contribua para a melhoria de processos de aprendizagem docente, com

resultados nos alunos, pois sinaliza questões de reflexão e o aprimoramento de

processos e de práticas de formação continuada dos docentes, em direção a

um melhor conhecimento, pessoal e profissional.

Dentre as possibilidades de continuidade da pesquisa, percebo a

possibilidade de interligar o papel da formação continuada na constituição do

Page 97: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

94

profissionalismo docente e as interfaces com o exercício da docência no ensino

superior.

Page 98: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

95

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTET, Marguerite. As competências do professor profissional: entre

conhecimentos, esquemas de ação e adaptação, saber analisar. IN: PAQUAY,

Léopold (Org.). Formando professores profissionais: quais estratégias? Quais

competências? Porto Alegre: Artmed, 2001.

ANASTASIOU, Lea das G. C. Docência na educação superior. In: RISTOFF,

Dilvo; SEVEGNANI, Palmira (Org.). Docência na educação superior: Brasília,

1º e 2º de dez. 2005. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira, 2006. 20 p. (Coleção educação superior em

debate, v. 5). p. 147-72. http://www.publicações.inep.gov.br/arquivo/%7B928C27BC-

D549-4EC3-8F69-2723A87A0E7E%7D_Volume%205.pdf. Acesso em: 17 out. 2013.

ARCHANGELO, Ana. O amor e o ódio na vida do professor: passado e

presente na busca de elos perdidos. São Paulo: Cortez, 2004.

BEHRES, Marilda Aparecida. A formação continuada pedagógica e os desafios

do mundo moderno. In: MASETTO, Marcos Tarciso (OTG.). Docência na

universidade Campinas SO. Campinas: Papirus, 1998.

BEHRES, Marilda Aparecida. Formação continuada dos professores e a prática

pedagógica. Curitiba: Champagnat, 1996.

BRASIL. Lei nº 9394, de 20 de novembro de 1996: estabelece as diretrizes e

bases da educação nacional. Diário Oficial (da) República Federativa do Brasil,

Brasília, DF, 23 dez. 1996.

Page 99: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

96

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Censo Escolar e Censo da

Educação Superior. Brasília, DF, 2008. Disponível em:

<http://www.inep.gov.br/superior/censosuperior/sinopse/.> Acesso em: 25 nov.

2013.

CANDAU, Maria Helena. Formação continuada de professores. In: CANDAU,

Vera Maria (Org.). Magistério: construção cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1997. p.

51-68.

CARROLO, Carlos. Formação e identidade profissional dos professores. In:

ESTRELA, Maria T. (Org.). Viver e construir a profissão professor. Porto: Porto

Editora, 1997.

CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais.

Petrópolis: Vozes, 2011.

COCHRAN-SMITH, M. Learning and unlearning: the education of teacher

educators. Teaching and Teacher Education, n.19, p. 5-28, 2003.

COELHO, Emília Aparecida Durães. Docência no ensino superior: dilemas e

desafios do professor iniciante. 2009. Dissertação (Mestrado em Educação) –

Universidade Estadual de Londrina. Centro de Educação, Comunicação e

Artes, Programa de Pós-Graduação em Educação, Londrina, 2009.

Page 100: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

97

COSTA, Nadja Maria de L. A formação contínua de professores: novas

tendências e novos caminhos. Holos, Natal, ano 20, dez. 2004. Disponível em:

<www.cefetrn.br/ojs/index.php/HOLOS/article/viewPDFInterstitial/48/52.>

Acesso em: set. 2011.

CUNHA, Maria Isabel (Org.). O professor universitário na transição de

paradigmas. Araraquara, SP: JM, 1998.

______. Reflexões e práticas em pedagogia universitária. Campinas: Papirus,

2007.

ENRICONE, Délcia (Org.). Professor como aprendiz: saberes doentes. Porto

Alegre: EDIPUCRS, 2009.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio. Rio de

Janeiro: Nova Fronteira, 1975.

FORGRAD. Política Nacional de Graduação. Resgatando espaços, construindo

ideias. 3. ed. Uberlândia: Edufu, 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica

docente. 36. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

GATTI, Bernardete Angelina (Org.). Por uma política nacional de formação de

professores. São Paulo: Editora UNESP, 2013.

Page 101: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

98

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo:

Atlas, 2002.

GONÇALVES, José Alberto M. A carreira das professoras do ensino primário.

In: NÓVOA, Antonio (Org.). Vidas de professores. 2. ed. Porto: Porto Editora,

2000.

HUBERMAN, Michael. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA,

Antonio. Vida de professores. Porto: Porto Editora, 1995.

IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional: formar-se para a

mudança e a incerteza. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

______. Formação permanente do professorado: novas tendências. São Paulo:

Cortez, 2009.

ISAÍA, Silvia Maria de A. Desafios à docência superior: pressupostos a

considerar. In: RISTOFF, Dilvo; SEVIGNARI, Palmira (Org.). Docência na

educação superior. Brasília: Instituto nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira, 2006. (Coleção educação superior em debate

v.5). p. 63-84. Disponível em:

<http://www.publicações.inep.gov.br/arquivo/%7B928C27BC-D549-4EC3-

8F69-2723A87A0E7E%7D_Volume%205.pdf>. Acesso em: 17 out. 2013.

______. Professor universitário no contexto de suas trajetórias como pessoa e

profissional. In: MOROSINI, M. (Org). Professor do ensino superior: identidade,

Page 102: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

99

docência e formação. 2. ed. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais, 2000.

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed.

Goiânia: Alternativa, 2004.

MARCELO, C. Formação de professores para uma mudança educativa. Porto:

Porto Editora, 1999.

MASETTO, Marcos Tarciso. Competência pedagogia do professor universitário.

2. ed. São Paulo: Summus, 2012.

______. Docência na universidade. Campinas, SP: Papirus, 2012.

______. O professor iniciante no ensino superior: aprender, atuar e inovar.

Cecília Gaeta, Marcos T. Masetto. São Paulo: Senac, 2013.

______. Professor universitário: um profissional da educação na atividade

docente. Campinas: Papirus, 2000.

_______. (Org.). Professor e os desafios da realidade nacional. In: _____

(Org.). Professor do ensino superior: identidade, docência e formação. Brasília:

Plano, 2000. p. 10-20.

Page 103: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

100

MINAYO, Maria Cecília S.; ASSIS, Simone G.; SOUZA, Edinilsa R. (Org.).

Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de programas sociais. Rio

de Janeiro: FIOCRUZ, 2005.

______. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 22. ed. Rio de

Janeiro: Vozes, 2003.

MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. A instrumentalização para a realização da

prática do ensino de 3º grau. In: DÁNTOLA, A. (Org.). A prática docente na

universidade. São Paulo: EDU, 1992.

_______. Caso de ensino e aprendizagem profissional da docência. In:

ABRAMOWICZ, Anete; MELLO, Roseli R. de (Org.) Educação pesquisas e

práticas. Campinas: Papirus, 2000.

______. Docência, trajetórias pessoais e desenvolvimento profissional. In:

MARCHESI, Álvaro. O bem estar dos professores: competências, emoções e

valores. Porto alegre: Artmed, 2008.

_______. Docência, trajetórias pessoais e desenvolvimento profissional. In:

REALI, Aline M. M. R., MIZUKAMI, Maria da Graça N. Formação de

professores: tendências atuais. São Carlos: EDUFSCAR, 1996.

_______. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EDU, 1986.

______. et al. Escola e aprendizagem da docência: processos de investigação

e formação. São Carlos: EDUFSCAR, INEP, COMPED, 2003.

Page 104: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

101

NÓVOA, Antonio (Org.). Formação de professores e trabalho pedagógico.

Lisboa: Educa, 2002.

______(Org.). O passado e o presente dos professores. In: ______. (Org.).

Profissão professores. Porto: Porto Editora, 1999.

______. (Org.). Os professores e as histórias da sua vida. In: ______. (Org.).

Vidas de professores. 2 ed. Porto: Porto Editora, 2000.

______. (Org.). Vidas de professores. Porto: Porto Editora, 1995.

PÉREZ GÓMEZ, Angel. O pensamento prático do professor ; a formação do

professor como prático reflexivo. In: NÓVOA, António (Coord.) Os professores

e a sua formação. 3. ed. Lisboa: Dom Quixote, 1997.

PERRENOUD, Philippe. A prática reflexiva no ofício do professor. Porto Alegre:

Artmed, 2002.

______. Dez novas competências para ensinar. Porto alegre: Artmed Editora,

2000.

______. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação: perspectivas

sociológicas. Lisboa: Dom Quixote, 1997.

PIMENTA, Selma G.; ANASTACIOU, Léa da Graças. C. Docência no ensino

superior. São Paulo: Cortez, 2002.

Page 105: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

102

_____. Formação de professores: identidade e saberes da docência. In:

______. (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez,

1999. p. 15-34.

RICHARDSON, Roberto, Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. São

Paulo; Atlas, 2007.

ROLDÃO, M. do C. Profissionalidade docente em análise: especificidades dos

ensinos superiores e não superior. Nuances: estudos sobre educação,

Presidente Prudente, ano 11, v. 12, n. 13, jan./dez. 2005.

SCHÖN, Donald. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o

ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000.

SHULMAN, L. Just in case: reflections on learning from experience. In:

COLBERT, J.; TRIMBLE, K.; DESBERG, P. Ed. The case for education:

contemporary approaches for using case methods. Needham heights. [S.l.:s.n.].

SILVA, Maria de Lourdes. A docência é uma ocupação ética. In: ESTRELA,

Maria T. (Org.). Viver e construir a profissão professor. Porto: Porto Editora,

1997.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ:

Vozes, 2010.

Page 106: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

103

______. ; RAYMOND, D. Saberes, tempo e aprendizagem do trabalho no

magistério. Educação e Sociedade, Campinas, v. 21, n. 73, dez. 2000.

VASCONCELOS, Maria Lucia Marcondes Carvalho. A formação do professor

de 3º grau. São Paulo: Pioneira, 1996.

VASCONCELLOS, Maura Maria Morita. Desafios da formação do docente

universitário. 2005. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual

de Campinas – UNICAMP, Campinas, 2005.

VEIGA, Ilma Passo. A. Veiga. Docência universitária na educação superior. In:

RISTOFF, Dilvo; SEVIGNARI, Palmira (Org.). Docência na educação superior.

Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira, 2006. (Coleção educação superior em debate, v. 5). p. 85-96.

Disponível em: <http://www.publicações.inep.gov.br/arquivo/%7B928C27BC-

D549-4EC3-8F69-2723A87A0E7E%7D_Volume%205.pdf.> Acesso em: 10

dez. 2013.

ZABALZA, Miguel A. O ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas.

Porto Alegre: Artmed, 2004.

Page 107: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

104

APÊNDICE (A)

Roteiro da entrevista usado com os professores do Ensino Superior

Nome:__________________________________________________________

Formação: ______________________________________________________

Instituição de Ensino que atua: ______________________________________

1. Você lecionava antes de ingressar no Programa de Pós-Graduação EAHC-

UPM? Se sim, onde e em qual nível de ensino?

2. Qual seu tempo total no magistério?

3. E no magistério do Ensino Superior?

4. Além da docência realiza outro trabalho educativo em escolas regulares ou

em outras instituições? Se sim, quais?

5. Como você aprendeu/ ou tem aprendido a ensinar?

6. Em sua opinião o que um professor precisa saber para ensinar?

7. Além de ensinar, que outros tipos de atividades sua instituição solicita de

você?

8. Em que materiais e fontes você apoia para ensinar?

9. Quais as dificuldades encontradas por você nas suas primeiras experiências

como professor do ensino superior? Como foram superadas?

10. Atualmente, quais as dificuldades enfrentadas por você? Como pretende

enfrentá-las?

11. Como você aprimora seus conhecimentos sobre o ato de ensinar, escola,

sua matéria etc.? Qual o tempo destinado a isso?

Page 108: UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE · Maria da Graça Nicoletti Mizukami São Paulo 2014 . Padula. P125d Padula, Sandra Regina Paes. Docência na universidade : aprendizagem e desenvolvimento

105

12. De que forma o Programa de Pós-Graduação EAHC-UPM contribuiu para

sua aprendizagem como professor?

13. A partir das respostas que você deu, quais seriam as especificidades da

docência do Ensino Superior?

14. A instituição em que você trabalha possibilita momentos de formação para

o professor? Quais? Como?

15. Como foram seus primeiros dias no ensino superior? Cite exemplo

16. Pense em uma aula que você deu. Como planejou? Executou e Analisou?

O que você aprendeu com ela?