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Informativo 578-STJ (03 a 06/03/2016) Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Todos os julgados foram comentados. ÍNDICE DIREITO CIVIL RESPONSABILIDADE CIVIL Termo final de pensão mensal por ato ilícito com resultado morte. Responsabilidade da instituição financeira por danos decorrentes de desvios de valores feitos por gerente de conta bancária. CONTRATO DE LOCAÇÃO Período de incidência do valor estipulado em ação revisional de aluguel de imóvel não residencial. Processamento de ação de despejo cumulada com cobrança de aluguéis durante o recesso forense. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE Legitimidade da viúva para impugnar ação de investigação de paternidade post mortem. PETIÇÃO DE HERANÇA Ilegitimidade da viúva meeira para figurar no polo passivo de ação de petição de herança. DIREITO DO CONSUMIDOR CLÁUSULAS ABUSIVAS Nulidade de cláusula de renúncia à entrevista qualificada para contratar plano de saúde. PLANO DE SAÚDE Migração de plano de saúde coletivo empresarial para plano individual ou familiar e inexistência de direito de que o valor da mensalidade permaneça o mesmo. DIREITO EMPRESARIAL CONTRATOS EMPRESARIAIS Vedação de repasse ao sacado de despesas referentes a tarifa de emissão de boleto bancário. PROPRIEDADE INDUSTRIAL Termo inicial para o pagamento da retribuição quinquenal prevista no art. 120 da Lei 9.279/96. RECUPERAÇÃO JUDICIAL Não sujeição a recuperação judicial de direitos de crédito cedidos fiduciariamente. DIREITO PROCESSUAL CIVIL DEPOSITÁRIO JUDICIAL Possibilidade de o depositário judicial exercer direito de retenção.

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Informativo 578-STJ (03 a 06/03/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante Todos os julgados foram comentados.

ÍNDICE DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL Termo final de pensão mensal por ato ilícito com resultado morte. Responsabilidade da instituição financeira por danos decorrentes de desvios de valores feitos por gerente de conta

bancária. CONTRATO DE LOCAÇÃO Período de incidência do valor estipulado em ação revisional de aluguel de imóvel não residencial. Processamento de ação de despejo cumulada com cobrança de aluguéis durante o recesso forense. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE Legitimidade da viúva para impugnar ação de investigação de paternidade post mortem. PETIÇÃO DE HERANÇA Ilegitimidade da viúva meeira para figurar no polo passivo de ação de petição de herança.

DIREITO DO CONSUMIDOR

CLÁUSULAS ABUSIVAS Nulidade de cláusula de renúncia à entrevista qualificada para contratar plano de saúde. PLANO DE SAÚDE Migração de plano de saúde coletivo empresarial para plano individual ou familiar e inexistência de direito de que

o valor da mensalidade permaneça o mesmo.

DIREITO EMPRESARIAL

CONTRATOS EMPRESARIAIS Vedação de repasse ao sacado de despesas referentes a tarifa de emissão de boleto bancário. PROPRIEDADE INDUSTRIAL Termo inicial para o pagamento da retribuição quinquenal prevista no art. 120 da Lei 9.279/96. RECUPERAÇÃO JUDICIAL Não sujeição a recuperação judicial de direitos de crédito cedidos fiduciariamente.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

DEPOSITÁRIO JUDICIAL Possibilidade de o depositário judicial exercer direito de retenção.

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ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA Aplicação da multa do art. 774, IV, do CPC 2015 é restrita ao processo de execução. MANDADO DE SEGURANÇA Prazo decadencial para impetrar MS contra redução de vantagem de servidor público. Efeitos financeiros da concessão de ordem mandamental contra ato de redução de vantagem de servidor público.

DIREITO PENAL

EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA Atipicidade penal do exercício da acupuntura. EVASÃO DE DIVISAS Não se aplica o princípio da insignificância para remessa de divisas por meio de dólar-cabo ainda que em valores

inferiores a 10 mil reais. Complexidade do esquema criminoso como circunstância negativa na dosimetria da pena.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

REVISÃO CRIMINAL Revisão criminal na hipótese em que a questão atacada também tenha sido enfrentada pelo STF em HC.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IPI Direito ao creditamento de IPI em caso de aquisição de matéria-prima tributada e saída do produto desonerada.

DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL Termo final de pensão mensal por ato ilícito com resultado morte

O fato de a vítima de ato ilícito com resultado morte possuir, na data do óbito, idade superior à expectativa média de vida do brasileiro não afasta o direito de seu dependente econômico ao recebimento de pensão mensal, que será devida até a data em que a vítima atingiria a expectativa de vida prevista na tabela de sobrevida (Tábua Completa de Mortalidade) do IBGE vigente na data do óbito, considerando-se, para os devidos fins, o gênero e a idade da vítima.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.402-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/2/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética: Carlos, de forma culposa, atropelou João, causando-lhe a morte. Diante disso, Maria, viúva de João, ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra Carlos. O juiz julgou procedente a demanda e condenou o réu a pagar em favor da viúva: a) as despesas que ela realizou com o funeral da vítima; b) pensão mensal de 1 salário mínimo; c) indenização por danos morais no valor de 100 salários mínimos. Tese do réu (recorrente) O réu interpôs recurso questionando unicamente a condenação "b" (pensão mensal). O recorrente argumentou que, realmente, segundo a jurisprudência, em caso de morte, será devida pensão mensal aos dependentes do falecido. No entanto, esta pensão deve durar até a data em que a vítima provavelmente iria falecer caso não tivesse ocorrido o acidente. Esta data é calculada com base na

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tabela de expectativa de vida do IBGE. Assim, por exemplo, a tabela do IBGE afirma que a expectativa de vida do brasileiro é de 72 anos. Se a vítima morreu com 52 anos, isso significa que seus dependentes irão receber a pensão por mais 20 anos. No caso concreto, contudo, quando João morreu, a expectativa de vida do IBGE era de 72 anos e João já possuía 76 anos. Logo, Carlos argumentou que a viúva não teria direito à pensão, tendo em vista que João morreu depois da idade considerada como expectativa de vida. A tese do réu foi aceita pelo STJ? NÃO. O fato de a vítima de ato ilícito com resultado morte possuir, na data do óbito, idade superior à expectativa média de vida do brasileiro não afasta o direito de seu dependente econômico ao recebimento de pensão mensal, que será devida até a data em que a vítima atingiria a expectativa de vida prevista na tabela de sobrevida (Tábua Completa de Mortalidade) do IBGE vigente na data do óbito, considerando-se, para os devidos fins, o gênero e a idade da vítima. STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.402-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/2/2016 (Info 578). Na jurisprudência nacional, é assente o entendimento de que, nos casos em que há acidente com morte, cabe, como forma de reparar o dano material sofrido, entre outras medidas, a fixação de pensão mensal a ser paga ao dependente econômico da vítima. Nos casos em que a vítima é jovem, a orientação do STJ é a de que referida obrigação deve perdurar até a data em que a vítima vier a atingir a idade correspondente à expectativa média de vida do brasileiro na data do óbito. No entanto, este mesmo critério não pode ser utilizado como forma de obstar (negar) o direito daquele que é dependente econômico de vítima cuja idade era superior à expectativa média de vida do brasileiro na data do falecimento, na medida em que representaria a adoção do entendimento segundo o qual, quando a vítima tivesse superado a expectativa média de vida do brasileiro, o seu dependente econômico direto simplesmente não teria direito ao ressarcimento material representado pelo pensionamento, o que não seria razoável. O direito à pensão mensal surge exatamente da necessidade de reparação por dano material decorrente da perda de ente familiar que contribuía com o sustento de quem era economicamente dependente até o momento do óbito. Nesse contexto, o fato de a vítima já ter ultrapassado a idade correspondente à expectativa média de vida do brasileiro, por si só, não é óbice ao deferimento do benefício, pois muitos são os casos em que referida faixa etária é ultrapassada. Em outras palavras, esta é uma tabela de expectativa de vida, mas não significa que a pessoa não possa viver mais que isso. Mas qual será, então, o critério a ser adotado para fixar o termo final da pensão? Até quando a viúva irá receber a pensão mensal? Neste caso em que a vítima já possuía mais idade do que a expectativa de vida, deverá ser utilizado como critério a tabela de sobrevida (Tábua Completa de Mortalidade correspondente ao gênero da vítima) do IBGE em vigência na data do óbito. Com base nesta tabela, pode-se fixar a expectativa de vida da vítima e, consequentemente, consegue-se estabelecer o termo final da pensão. Ex: nesta tabela, que está disponível no site do IBGE, é possível verificar, em relação ao ano de 2005, que para o adulto de 76 anos do sexo masculino, havia uma expectativa de vida de mais 10,3 anos. Somando-se, pois, esses anos à idade da vítima, teríamos uma expectativa de vida total de 86,3 anos. Logo, o réu deveria pagar pensão à viúva até o ano em que a vítima completaria 86,3 anos de idade.

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RESPONSABILIDADE CIVIL Responsabilidade da instituição financeira por danos decorrentes

de desvios de valores feitos por gerente de conta bancária

A instituição financeira deverá restituir os valores desviados por gerente que, conquanto tivesse autorização do correntista para realizar aplicações financeiras, utilizou-se das facilidades de sua função para desviar, em proveito próprio, valores constantes da conta bancária do cliente.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.569.767-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação adaptada: Rodrigo era jogador de futebol e atuava em um clube da Europa. Ele abriu uma conta no banco X em Porto Alegre (RS), onde morava antes de ir jogar no exterior. O jogador depositava, frequentemente, parte do salário que recebia nesta conta bancária, com o intuito de utilizar o dinheiro no futuro, quando voltasse ao Brasil. Rodrigo era amigo do gerente da agência bancária e este ficava responsável por administrar o dinheiro do jogador, fazendo supostos investimentos em aplicações. Ao retornar ao Brasil, Rodrigo percebeu que havia sido vítima de um golpe. O gerente não investia os valores remetidos pelo jogador. Ao contrário, desviava-os para uma conta bancária sua. Rodrigo ajuizou ação de indenização contra o banco que, em sua defesa, alegou que o cliente deu autorização para o gerente realizar os investimentos e que este agiu de forma arbitrária, contra as normas da instituição financeira. Diante deste cenário, Rodrigo terá direito de ser indenizado pelo banco? SIM.

A instituição financeira deverá restituir os valores desviados por gerente que, conquanto tivesse autorização do correntista para realizar aplicações financeiras, utilizou-se das facilidades de sua função para desviar em proveito próprio valores constantes da conta bancária do cliente. STJ. 3ª Turma. REsp 1.569.767-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

Tendo o gerente se utilizado das facilidades da função para desviar valores da conta do cliente, deve o banco, como empregador, responder pelos danos materiais causados, nos termos do art. 932, III, do CC:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

O banco deverá indenizar mesmo o gerente tendo atuado fora dos limites de suas atribuições? SIM. A doutrina, ao interpretar a expressão "em razão dele" prevista no art. 932, III, do CC, confere uma interpretação extensiva para abranger casos em que o vínculo com o trabalho é bastante tênue. A título de exemplo, confira-se a doutrina de Sérgio Cavalieri Filho:

"Diferentemente de outros países, basta que o dano tenha sido causado em razão do trabalho – importando, isso, dizer que o empregador responde pelo ato do empregado ainda que não guarde com suas atribuições mais do que simples relação incidental, local ou cronológica. Na realidade, a fórmula do nosso Código Civil é muito ampla e bastante severa para o patrão. Bastará que a função tenha oferecido ao preposto a oportunidade para a prática do ato ilícito; que a função tenha lhe proporcionado a ocasião para a prática do ato danoso. E isso ocorrerá quando, na ausência da função, não teria havido a oportunidade para que o dano acontecesse." (Programa de Responsabilidade Civil. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 203)

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CONTRATO DE LOCAÇÃO Período de incidência do valor estipulado em ação revisional

de aluguel de imóvel não residencial

O valor estabelecido em ação revisional de aluguel de imóvel não residencial não tem sua incidência limitada ao período compreendido entre a citação e o termo final do contrato original de locação, devendo incidir até a efetiva entrega das chaves caso a locação venha a ser prorrogada por prazo indeterminado em razão da permanência do locatário no imóvel (art. 56, parágrafo único, da Lei nº 8.245/91).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.566.231-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "A" era proprietária do imóvel "X", que estava alugada para a empresa "B". O contrato de locação tinha vigência de 10 anos (iniciou em março/2005 e só terminaria em março/2015). O valor do aluguel era o mesmo desde o início da vigência do contrato e a locatária não aceitava reajustá-lo. Diante disso, em 2013, a empresa "A", ajuizou ação revisional de aluguel objetivando readequar o valor do contrato, que estava defasado. O pedido da autora foi baseado no art. 19 da Lei nº 8.245/91:

Art. 19. Não havendo acordo, o locador ou locatário, após três anos de vigência do contrato ou do acordo anteriormente realizado, poderão pedir revisão judicial do aluguel, a fim de ajustá-lo ao preço de mercado.

O art. 19 da Lei nº 8.245⁄1991, ao regular a possibilidade de revisão judicial do aluguel avençado, a fim de ajustá-lo ao preço de mercado, "consagrou a adoção da teoria da imprevisão no âmbito do Direito Locatício, oferecendo às partes contratantes um instrumento jurídico para a manutenção do equilíbrio econômico do contrato" (AgRg no REsp nº 1.206.723/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe de 11/10/2012). Vale ressaltar que o valor do aluguel era de R$ 10 mil e a autora queria fixá-lo em R$ 30 mil. O juiz julgou o pedido procedente e, com base em laudo pericial, fixou o valor do aluguel mensal em R$ 30 mil, condenando a ré/locatária (empresa "B") a pagar este novo valor de forma retroativa à data da citação. A ré interpôs recurso de apelação contra a sentença. Enquanto o recurso não é julgado, a ré já terá que pagar o novo valor fixado na sentença (R$ 30 mil)? SIM. Segundo a Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/91), os recursos interpostos contra a sentença que julga ação revisional de aluguel devem ser recebidos apenas no efeito devolutivo:

Art. 58. Ressalvados os casos previstos no parágrafo único do art. 1º, nas ações de despejo, consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação, revisionais de aluguel e renovatórias de locação, observar-se-á o seguinte: (...) V - os recursos interpostos contra as sentenças terão efeito somente devolutivo.

Dessa forma, mesmo enquanto aguarda o recurso, a ré já terá que pagar o novo valor fixado na sentença (R$ 30 mil). Chegou ao fim o prazo de vigência do contrato Suponha que chegou o termo final do contrato (março/2015), mas mesmo assim a locatária (empresa "B") decidiu permanecer no imóvel sem oposição formal do locador ("A").

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Neste caso, o contrato, que era por prazo determinado, tornou-se indeterminado, nos termos do parágrafo único do art. 56:

Art. 56. Nos demais casos de locação não residencial, o contrato por prazo determinado cessa, de pleno direito, findo o prazo estipulado, independentemente de notificação ou aviso. Parágrafo único. Findo o prazo estipulado, se o locatário permanecer no imóvel por mais de trinta dias sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação nas condições ajustadas, mas sem prazo determinado.

Aí, no entanto, surgiu mais uma polêmica. A empresa "B" (locatária) fez o seguinte: a partir do momento em que o contrato tornou-se por prazo indeterminado, ela voltou a pagar somente R$ 10 mil de aluguel, argumentando que, conforme estabelece o parágrafo único acima transcrito, a locação foi prorrogada "nas condições ajustadas" e, segundo o contrato, o valor era de apenas R$ 10 mil. O valor de R$ 30 mil não estava previsto no contrato, sendo pago por força de decisão judicial. A tese da locatária foi aceita pelo STJ? NÃO.

O valor estabelecido em ação revisional de aluguel de imóvel não residencial não tem sua incidência limitada ao período compreendido entre a citação e o termo final do contrato original de locação, devendo incidir até a efetiva entrega das chaves caso a locação venha a ser prorrogada por prazo indeterminado em razão da permanência do locatário no imóvel (art. 56, parágrafo único, da Lei Nº 8.245/91). STJ. 3ª Turma. REsp 1.566.231-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

Nas hipóteses de prorrogação de contrato por prazo indeterminado, o locatário deverá observar o valor reajustado do aluguel. Isso porque a razão de ser da revisão de aluguéis é justamente assegurar a manutenção do equilíbrio do contrato de locação diante das modificações da realidade do mercado, a fim de evitar injusto prejuízo ou enriquecimento sem causa a ambas as partes. Seria ilógico admitir que o Poder Judiciário apontasse o novo valor dos aluguéis para o período de vigência do contrato de locação, mas tal valor fosse desconsiderado em caso de prorrogação da avença por prazo indeterminado. Desse modo, uma vez reajustado o valor do aluguel por meio do ajuizamento de ação revisional, é o valor revisado, e não o originalmente pactuado, que será devido na hipótese de prorrogação da avença perpetrada nos moldes do previsto no parágrafo único do art. 56 da Lei nº 8.245/91.

CONTRATO DE LOCAÇÃO Processamento de ação de despejo cumulada com cobrança de aluguéis durante o recesso forense

A Lei nº 8.245/91 prevê que alguns processos envolvendo locações urbanas tramitam mesmo durante as férias forenses e não se suspendem mesmo neste período (art. 58, I). São eles: a) ações de despejo; b) ações de consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação; c) ações revisionais de aluguel; d) ações renovatórias de locação.

A ação de despejo cumulada com ação de cobrança de alugueis irá tramitar durante as férias forenses? Não. A ação de despejo enquadra-se no art. 58, I, mas a ação de cobrança não. Assim, a partir do momento em que o autor ajuíza ambas, de forma cumulada, a situação não mais se amolda ao dispositivo legal acima mencionado.

Em suma, nos casos em que há cumulação da ação de despejo com a cobrança de aluguéis, os prazos processuais (inclusive para recursos) ficam suspensos durante o recesso forense.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.414.092-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

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Tramitação durante as férias forenses Em regra, durante as férias forenses (recesso forense do final do ano), os processos e prazos judiciais ficam suspensos. A Lei nº 8.245/91 prevê, no entanto, que alguns processos envolvendo locações urbanas tramitam mesmo durante as férias forenses e não se suspendem mesmo neste período (art. 58, I). São eles:

Ações de despejo;

Ações de consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação;

Ações revisionais de aluguel;

Ações renovatórias de locação. Se o locador ajuíza contra o locatário ação de despejo cumulada com ação de cobrança de aluguéis, esta demanda se enquadrará no art. 58, I, da Lei nº 8.245/91? Em outras palavras, a ação de despejo cumulada com ação de cobrança de alugueis irá tramitar durante as férias forenses? NÃO. A ação de despejo enquadra-se no art. 58, I, mas a ação de cobrança não. Assim, a partir do momento em que o autor ajuíza ambas, de forma cumulada, a situação não mais se amolda ao dispositivo legal acima mencionado. Portanto, o processo que envolve ação de despejo cumulada com cobrança de aluguéis não tramita durante o recesso forense. Este processo ficará suspenso. Foi o que decidiu o STJ: Nos casos em que há cumulação da ação de despejo com a cobrança de aluguéis, o prazo recursal fica suspenso durante o recesso forense. STJ. 3ª Turma. REsp 1.414.092-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE Legitimidade da viúva para impugnar ação de investigação de paternidade post mortem

Importante!!!

Mesmo nas hipóteses em que não ostente a condição de herdeira, a viúva poderá impugnar ação de investigação de paternidade post mortem, devendo receber o processo no estado em que este se encontra.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.466.423-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética: João, casado com Maria, morreu e deixou dois filhos que estão registrados em seu nome: Pedro e Tiago. Um mês após a morte, apareceu Lucas afirmando que João era também seu pai biológico, apesar de nunca tê-lo registrado. Se João ainda estivesse vivo, contra quem deveria ser proposta a ação? Contra quem é proposta a ação de investigação de paternidade? Contra João. A ação de investigação de paternidade deve ser proposta em face do suposto pai. E neste caso, em que João já está morto, contra quem Lucas terá que ajuizar a ação? Quem deverá figurar obrigatoriamente no polo passivo da ação de investigação de paternidade post mortem? A ação de investigação de paternidade post mortem deve ser proposta contra os herdeiros do suposto pai. Isso é o que está previsto no art. 27 do ECA:

Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.

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A ação de investigação post mortem terá que ser proposta, obrigatoriamente, contra os herdeiros do falecido porque, se esta for julgada procedente, o resultado da demanda irá afetar diretamente a situação dos herdeiros, que poderão perder o direito à herança ou ficar com ela reduzida. Em nosso exemplo, Lucas terá que propor a ação de investigação contra Maria (a viúva)? Depende. A viúva é herdeira necessária (art. 1.845 do CC), mas se o falecido tiver deixado descendentes (filhos, netos etc.), a viúva poderá não ter direito à herança, a depender do regime de bens. A regra está no art. 1.829, I, do CC:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;

Esse inciso é muito confuso e mal redigido, o que gera bastante polêmica na doutrina e jurisprudência. O que se pode extrair dele é o seguinte: o cônjuge é herdeiro necessário, mas há situações em que a lei deu primazia (preferência) para os descendentes do morto. Assim, foram previstos alguns casos em que o cônjuge, a depender do regime de bens, não irá ter direito à herança, ficando esta toda com os descendentes. Vejamos:

I – Situações em que o cônjuge herda em concorrência com os descendentes

II – Situações em que o cônjuge não herda em concorrência com os descendentes

Regime da comunhão parcial de bens, se existirem bens particulares do falecido.

Regime da separação convencional de bens (é aquela que decorre de pacto antenupcial).

Regime da comunhão parcial de bens, se não havia bens particulares do falecido.

Regime da separação legal (obrigatória) de bens (é aquela prevista no art. 1.641 do CC).

Regime da comunhão universal de bens.

Assim, por exemplo, se Maria era casada com João sob o regime da separação convencional de bens, ela terá direito, juntamente com Pedro e Tiago, à herança deixada pelo marido. Logo, neste caso, Lucas terá que propor a ação de investigação de paternidade contra Maria, Pedro e Tiago. Por outro lado, se Maria era casada com João sob o regime da comunhão universal de bens, ela não terá direito à herança. Neste caso ela será meeira, mas não herdeira. Desse modo, Lucas terá que propor a ação apenas contra Pedro e Tiago. Se os consortes são casados no regime da comunhão universal, isso significa que, quando a pessoa morre, seu cônjuge tem direito à meação, ou seja, metade dos bens do falecido já pertencem obrigatoriamente ao cônjuge supérstite. A outra metade é que será a herança. Ora, o legislador pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens pelo fato de ser meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em prejuízo dos descendentes; vamos excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda para os descendentes.” Voltando ao nosso exemplo: Vamos supor que Maria era casada sob o regime da comunhão universal de bens. O advogado de Lucas descobriu isso ao examinar a certidão de óbito de João, onde lá constava essa informação. Sabendo que Maria não tinha direito à herança, o advogado de Lucas preparou a ação de investigação de paternidade post mortem apenas contra Pedro e Tiago (herdeiros). Agiu corretamente o advogado de Lucas? SIM. Isso porque, como vimos, sendo a viúva casada no regime da comunhão universal de bens, ela será meeira, mas não herdeira.

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Pedro e Tiago foram citados e apresentaram contestação. Realizou-se audiência, na qual foi ouvida uma testemunha, e o juiz remarcou o restante da audiência em razão de as duas testemunhas restantes estarem comprovadamente doentes. Foi, então, que Maria soube que estava tramitando este processo e ficou chateada porque queria participar e provar que seu marido nunca a havia traído e que "não tinha outro filho coisa nenhuma". Maria, por meio de advogado, peticiona ao juiz requerendo: 1) seu ingresso no feito no polo passivo a fim de impugnar a ação de investigação; 2) que a instrução do processo seja reiniciada, reabrindo o prazo para que ela apresente contestação, sendo novamente ouvida a testemunha já inquirida. Os pedidos de Maria deverão ser aceitos? Um deles sim, o outro não. Pedido 1: SIM. Na hipótese de a viúva não ser herdeira do investigado, ela não ostentará, em princípio, a condição de parte ou litisconsorte necessária na ação de investigação de paternidade post mortem. Em outras palavras, o autor da ação não precisa propor a demanda contra ela. A relação processual estará, em regra, completa com a citação de todos os seus herdeiros, não havendo nulidade pela não inclusão no polo passivo de viúva não herdeira. Ocorre que o Código Civil autoriza que qualquer pessoa que tenha interesse possa contestar a ação de investigação de paternidade (art. 1.615). No caso concreto, Maria não possui interesse patrimonial na demanda, considerando que, mesmo que Lucas seja reconhecido como filho, o que irá mudar é que Pedro e Tiago terão que dividir a herança com ele. A meação de Maria permanecerá intacta. A viúva possui, no entanto, interesse moral na causa. Em regra, o interesse meramente moral não autoriza a intervenção como assistente. No entanto, a interpretação da doutrina e da jurisprudência é que, no caso do art. 1.615 do CC, o interesse moral permite que a viúva intervenha no polo passivo da ação de investigação de paternidade post mortem. Dessa forma, Maria poderá assumir o polo passivo da ação, juntamente com os demais réus, pelo fato de possuir interesse moral na causa, o que satisfaz a exigência do art. 1.615 do CC:

Art. 1.615. Qualquer pessoa, que justo interesse tenha, pode contestar a ação de investigação de paternidade, ou maternidade.

Pedido 2: NÃO Maria, pelo fato de não ter direito à herança, não era litisconsorte necessária. Em outras palavras, Lucas, o autor da demanda, não era obrigado a incluí-la no polo passivo. Ele não fez nada errado ao intentar a demanda apenas contra os herdeiros (Pedro e Tiago). Logo, não há motivo para se retroceder o curso processual. Aplica-se aqui o raciocínio expresso no parágrafo único do art. 119 do CC:

Art. 119. (...) Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre.

Resumindo: Mesmo nas hipóteses em que não ostente a condição de herdeira, a viúva poderá impugnar ação de investigação de paternidade post mortem, devendo receber o processo no estado em que este se encontra. STJ. 4ª Turma. REsp 1.466.423-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016 (Info 578).

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PETIÇÃO DE HERANÇA Ilegitimidade da viúva meeira para figurar no polo passivo de ação de petição de herança

A viúva meeira que não ostente a condição de herdeira é parte ilegítima para figurar no polo passivo de ação de petição de herança na qual não tenha sido questionada a meação, ainda que os bens integrantes de sua fração se encontrem em condomínio "pro indiviso" com os bens pertencentes ao quinhão hereditário.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.500.756-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética: Carlos era casado em comunhão universal de bens com Francisca. Dessa união nasceram dois filhos: Hugo e Fábio. Carlos morreu deixando apenas uma casa no valor de R$ 1 milhão. Diante disso, indaga-se: Francisca, Hugo e Fábio terão direito a este valor? Qual é a participação de cada um e a que título? Vimos no julgado anterior que se o falecido tiver deixado descendentes (filhos, netos etc.), a viúva poderá ter ou não direito à herança, a depender do regime de bens. Isso está previsto no art. 1.829, I, do CC. Como Francisca era casada com João sob o regime da comunhão universal de bens, ela não terá direito à herança. Neste caso, ela será meeira, mas não herdeira. Significa que ela terá direito à metade do patrimônio deixado pelo falecido (meação), mas não terá direito a nada da outra metade, que consiste na herança. A herança ficará apenas com os descendentes. No caso do regime da comunhão universal, o legislador, ao fazer a regra do art. 1.829, I, do CC, pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens pelo fato de ser meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em prejuízo dos descendentes; vamos excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda para os descendentes.” Logo, podemos dizer que o panorama será o seguinte:

Francisca terá direito a 50% do patrimônio (R$ 500 mil) como meeira.

Hugo terá direito a 25% (R$ 250 mil) como herdeiro.

Fábio terá direito a 25% (R$ 250 mil) como herdeiro. Ação de petição de herança Ação de petição de herança é aquela proposta por alguém que quer ser reconhecido como herdeiro do falecido e, como via de consequência, ter direito à herança (no todo ou em parte). Petição = pedido. Logo, petição de herança significa pedir a herança. Ex1: mulher vivia em união estável com o morto, mas isso não estava oficializado e os filhos do defunto não a reconhecem como sua companheira. Ela poderá ajuizar ação de reconhecimento de união estável post mortem cumulada com petição de herança. Ex2: filho não reconhecido pelo morte poderá ajuizar ação de reconhecimento de paternidade post mortem cumulada com petição de herança. Voltando ao nosso exemplo: Imagine que aparece Beatriz, uma menina de 14 anos, dizendo-se filha não reconhecida de Carlos. Beatriz, assistida por sua mãe, propõe ação de investigação de paternidade post mortem cumulada com petição de herança contra Francisca, Hugo e Fábio. Francisca, ao ser citada, argui a sua ilegitimidade passiva ad causam e diz que não tem nada a ver com a demanda, pedindo para ser excluída da lide. O pedido de Francisca deverá ser aceito? SIM.

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A viúva meeira que não ostente a condição de herdeira é parte ilegítima para figurar no polo passivo de ação de petição de herança na qual não tenha sido questionada a meação, ainda que os bens integrantes de sua fração se encontrem em condomínio pro indiviso com os bens pertencentes ao quinhão hereditário. STJ. 4ª Turma. REsp 1.500.756-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016 (Info 578). Mesmo que a referida ação seja julgada procedente, isso não irá refletir na esfera de direitos da viúva meeira, tendo em vista que sua participação não será afetada. Em outras palavras, sendo ou não reconhecida a autora como filha do morto, a meação continua sendo a mesma. O cálculo da meação não muda se houver mais ou menos herdeiros. A meação será sempre a metade do patrimônio do cônjuge falecido. A outra metade é a herança. Logo, o cônjuge meeiro não pode ser qualificado como litisconsorte passivo necessário. Vale ressaltar que o fato de o bem deixado pelo falecido ser uma coisa indivisível (uma casa) não faz com que a viúva meeira passe a ter legitimidade para estar na lide. Ela continua sendo parte ilegítima porque, se a autora for reconhecida como filha, a viúva continuará tendo 50% da fração ideal da casa (o que ela já tinha antes) e os 50% restantes serão divididos entre os três herdeiros.

DIREITO DO CONSUMIDOR

CLÁUSULAS ABUSIVAS Nulidade de cláusula de renúncia à entrevista qualificada para contratar plano de saúde

É nula a cláusula inserta por operadora de plano privado de assistência à saúde em formulário de Declaração de Doenças ou Lesões Preexistentes (Declaração de Saúde) prevendo a renúncia pelo consumidor contratante à entrevista qualificada orientada por um médico, seguida apenas de espaço para aposição de assinatura, sem qualquer menção ao fato de tal entrevista se tratar de faculdade do beneficiário.

A inserção de cláusula de renúncia em declaração de saúde é abusiva por induzir o segurado a abrir mão do direito ao exercício livre da opção de ser orientado por um médico por ocasião do preenchimento daquela declaração, notadamente porque se trata de documento que tem o condão de viabilizar futura negativa de cobertura de procedimento ou tratamento.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.554.448-PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/2/2016 (Info 578).

Preenchimento da "declaração de saúde" No ato de assinatura do plano de saúde, a operadora exige que o beneficiário ou seu representante legal preencha e assine uma "declaração de saúde", que consiste em um questionário no qual a pessoa informa as doenças ou lesões de que saiba ser portador. Isso é muito importante porque caso a pessoa seja portadora de doença ou lesão preexistente, a operadora poderá negar ao paciente, durante um período de carência e de cobertura parcial temporária, que ele se utilize do plano para custear procedimentos de alta complexidade, cirurgias e leitos de alta tecnologia (UTI, CTI etc.) relacionados à doença declarada. Ex: se a pessoa, antes de contratar o plano, já possuía um grave problema de coração, ela não poderá, antes de completar o período de carência, fazer uma cirurgia custeada pelo plano para tratar desta enfermidade.

O que acontece se a pessoa souber que é portadora de doença ou lesão preexistente, mas omitir essa informação na declaração de saúde? Haverá uma fraude, que poderá acarretar a suspensão ou rescisão do contrato, após julgamento em processo administrativo que tramita na Agência Nacional de Saúde (ANS).

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Além disso, a operadora poderá cobrar de volta do beneficiário os gastos que teve com algum tratamento que tenha sido realizado envolvendo esta doença ou lesão. Existem várias regras envolvendo este tema. Se quiser aprofundar ou tiver dúvidas específicas, recomendo que consulte a Resolução Normativa DC/ANS nº 162/2007. Dúvidas sobre o preenchimento Nem sempre esta declaração de saúde é muito clara, porque algumas vezes possui termos médicos que geram dúvidas na pessoa que está preenchendo. Sabendo que isso pode acontecer, a ANS exige que o contrante seja informado de que, antes de preencher a declaração, possui o direito de consultar um médico para tirar suas dúvidas. Veja o que prevê a Resolução da ANS:

Art. 5º (...) § 1º O beneficiário tem o direito de preencher a Declaração de Saúde mediante entrevista qualificada orientada por um médico pertencente à lista de profissionais da rede de prestadores credenciados ou referenciados pela contratada, sem qualquer ônus para o beneficiário. § 2º Caso o beneficiário opte por ser orientado por médico não pertencente à lista de profissionais da rede assistencial da contratada, poderá fazê-lo, desde que assuma o ônus financeiro dessa entrevista. § 3º O objetivo da entrevista qualificada é orientar o beneficiário para o correto preenchimento da Declaração de Saúde, onde são declaradas as doenças ou lesões que o beneficiário saiba ser portador ou sofredor, no momento da contratação ou adesão ao plano privado de assistência à saúde, além de esclarecer questões relativas aos direitos de cobertura e consequências da omissão de informações.

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação: O plano de saúde "XX" fornecia aos seus clientes um modelo de "declaração de saúde" no qual existia um campo escrito: "Renuncio à entrevista qualificada orientada por um médico". Ao lado desta afirmação, havia um campo em branco para que o cliente assinasse. No contrato e na declaração de saúde não havia nada explicando ao contratante em que consistia esta entrevista qualificada. Também não era informado ao consumidor que ele não era obrigado a assinar neste campo e que possuía a faculdade de pedir a ajuda de um médico para preencher a declaração. Diante disso, o Ministério Público ajuizou ação civil pública contra o plano de saúde pedindo que esta prática fosse considerada abusiva. O pedido do MP foi aceito pelo STJ? SIM. É nula a cláusula inserta por operadora de plano privado de assistência à saúde em formulário de Declaração de Doenças ou Lesões Preexistentes (Declaração de Saúde) prevendo a renúncia pelo consumidor contratante à entrevista qualificada orientada por um médico, seguida apenas de espaço para aposição de assinatura, sem qualquer menção ao fato de tal entrevista se tratar de faculdade do beneficiário. A inserção de cláusula de renúncia em declaração de saúde é abusiva por induzir o segurado a abrir mão do direito ao exercício livre da opção de ser orientado por um médico por ocasião do preenchimento daquela declaração, notadamente porque se trata de documento que tem o condão de viabilizar futura negativa de cobertura de procedimento ou tratamento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.554.448-PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/2/2016 (Info 578). A transparência e a informação são deveres dos prestadores de serviços e constituem direito do consumidor de ter pleno conhecimento acerca do produto ou serviço que está adquirindo. É o que dispõe o CDC em seus arts. 4º e 6º, os quais devem ser analisados conjuntamente com a cláusula geral da boa-fé (art. 51). Não há manifestação de vontade livre e consciente se o interessado não detém as informações necessárias para formar seu convencimento. Transportando esse entendimento para o caso em análise, observe-se que a seguradora deve:

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a) esclarecer o pretenso segurado acerca do que consiste uma declaração de doenças e lesões preexistentes e das consequências do incorreto preenchimento dos dados ou de eventuais equívocos nas respostas às indagações ali formuladas; e b) esclarecer que, no caso de o segurado ter dúvida acerca da alguma questão, teria direito à orientação de um médico durante o preenchimento do documento, oportunidade em que o profissional de saúde iria elucidar o que estava sendo indagado, por exemplo, os termos técnicos para definir eventuais doenças e/ou lesões que o segurado ou parente pudessem ter sofrido antes daquela data.

PLANO DE SAÚDE Migração de plano de saúde coletivo empresarial para plano individual ou familiar e inexistência

de direito de que o valor da mensalidade permaneça o mesmo

A migração de beneficiário de plano de saúde coletivo empresarial extinto para plano individual ou familiar não enseja a manutenção dos valores das mensalidades previstos no plano primitivo.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.471.569-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética: João trabalhava na empresa "X", que tinha um contrato com o plano de saúde "Z" por meio do qual era oferecido um plano de saúde coletivo para os funcionários da empresa que quisessem contratá-lo. Assim, após João ter aceitado participar deste plano coletivo, todos os meses era descontado R$ 300 de seu salário e repassado para o plano de saúde. Ocorre que o contrato da empresa "X" com o plano de saúde acabou e, por divergências entre as partes, não foi renovado. O plano de saúde ofereceu aos usuários do plano coletivo (funcionários da empresa) que migrassem para planos individuais. João queria continuar contando com a assistência e por isso procurou a sede do plano de saúde para fazer a migração. No entanto, ao ver o preço, ele se assustou. No plano individual, a sua mensalidade, que era de R$ 300, passava para R$ 500. Diante disso, ajuizou ação de obrigação de fazer contra o plano de saúde pedindo que os valores das mensalidades do plano de saúde individual oriundo da migração fossem os mesmos praticados quando vigente o contrato coletivo empresarial rescindido. O pedido de João foi acolhido pelo STJ? NÃO. A migração de beneficiário de plano de saúde coletivo empresarial extinto para plano individual ou familiar não enseja a manutenção dos valores das mensalidades previstos no plano primitivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.471.569-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

Os planos de saúde variam segundo o regime e o tipo de contratação. De acordo com art. 16, VII, da Lei nº 9.656/1998, há três modalidades: a) individual ou familiar; b) coletivo empresarial e c) coletivo por adesão.

O plano de saúde individual é aquele em que a pessoa física contrata diretamente com a operadora ou por intermédio de um corretor autorizado. A vinculação de beneficiários é livre, não havendo restrições relacionadas ao emprego ou à profissão do usuário em potencial (art. 3º da RN n. 195/2009 da ANS).

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O plano de saúde coletivo é aquele contratado por uma empresa, conselho, sindicato ou associação junto à operadora de planos de saúde para oferecer assistência médica e/ou odontológica às pessoas vinculadas às mencionadas entidades, bem como a seus dependentes. São dois os regimes de contratação de planos de saúde coletivos: b) o coletivo empresarial, o qual garante a assistência à saúde dos funcionários da empresa contratante em razão do vínculo empregatício ou estatutário (art. 5º da RN nº 195/2009 da ANS); e c) o coletivo por adesão, contratado por pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial, como conselhos, sindicatos, cooperativas e associações profissionais (art. 9º da RN nº 195/2009 da ANS). Quanto à formação de preços dos serviços de saúde suplementar e ao reajuste das mensalidades, o cálculo difere entre as três modalidades de plano de saúde. Com efeito, no plano coletivo empresarial, o empresário ou o órgão público tem condições de apurar, na fase pré-contratual, qual é a massa de usuários que será coberta, pois dispõe de dados dos empregados ou servidores, como a idade e a condição médica do grupo. Diante disso, considerando-se a atuária mais precisa, pode ser oferecida uma mensalidade inferior àquela praticada aos planos individuais. Ademais, ao se constatar, na execução contínua do contrato, um desequilíbrio econômico-financeiro devido à alta sinistralidade da massa e à inflação acumulada no período, pode a operadora, em livre negociação com a estipulante, pactuar um reajuste que viabilize a manutenção dos serviços de saúde suplementar. Em outras palavras, o reajuste anual nesse tipo de contratação é apenas acompanhado pela ANS, para fins de monitoramento da evolução dos preços e de prevenção de práticas comerciais abusivas, não necessitando, todavia, de sua prévia autorização. Assim, não havendo mais interesse na prestação dos serviços por qualquer das partes, os contratos de planos privados de assistência à saúde coletivos podem ser rescindidos imotivadamente, cumpridas algumas formalidades. Por sua vez, no plano de saúde individual ou familiar, não existe livre negociação de preço sobre a mensalidade que será paga diretamente pelo beneficiário, visto que os valores praticados devem ser aqueles compatíveis com o mercado e previamente aprovados pela ANS, mediante notas técnicas, devendo ser cobrados indistintamente de todos que contratem aquela cobertura específica no mesmo período, segundo a faixa etária de cada um. Nessa modalidade, o preço e os reajustes anuais são vinculados à prévia autorização da ANS, não guardando o índice de reajuste correlação com a sinistralidade do plano de saúde em si, mas com outros parâmetros adotados em metodologia particular. Não existe na legislação qualquer norma que assegure, em caso de migração do plano coletivo para o individual, a permanência dos mesmos valores de mensalidade praticados no plano coletivo empresarial rescindido. E nem poderia. Isso porque, conforme já explicado, no plano coletivo existe uma prévia negociação com base na quantidade de pessoas que irá aderir, o que permite a prática de preços mais baratos. Assim, não existe direito de manutenção do mesmo valor das mensalidades aos beneficiários que migram do plano coletivo empresarial para o plano individual, haja vista as peculiaridades de cada regime e tipo contratual (atuária e massa de beneficiários), que geram preços diferenciados.

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DIREITO EMPRESARIAL

CONTRATOS EMPRESARIAIS Vedação de repasse ao sacado de despesas referentes a tarifa de emissão de boleto bancário

É abusiva a cobrança ou o repasse, pelo atacadista (beneficiário) ao varejista (pagador), de despesa referente a tarifa de emissão de boleto bancário.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.568.940-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "DistriDroga" é uma grande distribuidora de remédios. Ela é responsável por comprar os remédios das indústrias farmacêuticas e distribuí-los (revendê-los) para todas as drogarias do Estado. Quando a drogaria encomenda os remédios que quer comprar, a distribuidora emite um boleto bancário para que a farmácia efetue o pagamento. A distribuidora é a cedente do título e a drogaria que comprou o medicamento é o sacado. Ocorre que a distribuidora cobra R$ 1,80 das drogarias por cada boleto bancário que emite, afirmando que faz isso para cobrir os custos, já que os bancos exigem dela este valor. As drogarias (varejistas) são pequenas e não têm condições de, individualmente, discutir cláusulas contratuais com a distribuidora (atacadista), que é maior em termos de poderio econômico. Diante disso, o sindicato das drogarias e farmácias ingressou com ação de obrigação de fazer contra a distribuidora requerendo que esta seja condenada a se abster de cobrar ou repassar as despesas para as varejistas quanto aos custos de emissão dos boletos bancários. Após ser julgado pelo juiz e pelo TJ, a questão chegou até o STJ. O pedido do sindicato foi aceito? SIM. É abusiva a cobrança ou o repasse, pelo atacadista (beneficiário) ao varejista (pagador), de despesa referente a tarifa de emissão de boleto bancário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.568.940-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 1º/3/2016 (Info 578). A tarifa bancária pela emissão de boletos é algo cobrado pelos bancos com base em um contrato firmado exclusivamente entre a instituição financeira e o cedente do título, no caso, o fornecedor, com a finalidade de remunerar pelo fato de este fornecedor estar se utilizado da rede bancária como um mecanismo de arrecadação pela venda de seus produtos. Logo, considerando-se que referida tarifa é fruto de negociação entre o cedente (fornecedor/atacadista) e o banco, não se pode perder de vista que a discussão aqui travada encontra-se no âmbito específico da atividade bancária, matéria que, nos termos da Lei nº 4.595/64, rege-se pelas disposições do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco Central do Brasil (BC). Nesse contexto, foi editada a Resolução nº 3.919/2010, que estabeleceu o seguinte:

Art. 1º (...) § 2º É vedada a realização de cobranças na forma de tarifas ou de ressarcimento de despesas: (...) II - do sacado, em decorrência da emissão de boletos ou faturas de cobrança, carnês e assemelhados.

Dessa forma, o referido dispositivo proíbe que seja cobrado do sacado o ressarcimento das despesas realizadas com a emissão de boletos. Nesse contexto, não se afigura razoável o repasse da cobrança de tarifa que, por força de Resolução do

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CMN, é considerada ilegal e cuja pactuação não foi negociada com o sacado. A proibição deste repasse ao sacado não fere os princípios da liberdade de contratar, da probidade e da boa-fé. Isso porque a matéria não é apenas contratual e está inserida também no âmbito do sistema financeiro, especialmente no que tange à atividade de intermediação financeira, de modo que a liberdade de contratar encontra limites que se operam em prol da higidez e da estabilidade de todo o sistema. Vale ressaltar, por fim, que os bancos não podem mais cobrar tarifas pela emissão de boletos, conforme expresso em entendimento sumulado do STJ:

Súmula 565-STJ: A pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, é válida apenas nos contratos bancários anteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n. 3.518/2007, em 30/4/2008.

PROPRIEDADE INDUSTRIAL Termo inicial para o pagamento da retribuição quinquenal prevista no art. 120 da Lei 9.279/96

O prazo para o pagamento da "retribuição quinquenal" prevista no art. 120 da Lei nº 9.279/96 conta-se da data do depósito do pedido de registro do desenho industrial no INPI, e não da data do certificado de registro.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.470.431-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/2/2016 (Info 578).

Desenho industrial Desenho industrial é a forma ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto (art. 95 da Lei nº 9.279/96). Ex: um novo formato de relógio, de brinquedo, de carro etc. Em palavras mais simples, desenho industrial é o design. O autor de um desenho industrial pode pedir o seu registro no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), que é uma autarquia federal situada no Rio de Janeiro (RJ). Vale ressaltar que, no Brasil, o desenho industrial é protegido por meio de "registro", e não de patente, como ocorre em outros países. Requisitos Para que um desenho possa ser registrado como "desenho industrial", ele deverá preencher os seguintes requisitos: a) Novidade (é um conceito difícil de explicar; significa que o desenho não pode ser nenhum que já existe segundo o estado atual da técnica); b) Originalidade (deve ter uma configuração visual diferente dos outros já existentes); c) Utilização ou aplicação industrial (deve ser possível reproduzir este desenho industrialmente). Procedimento para registro O autor de um desenho industrial, para solicitar seu registro no INPI, deverá pagar uma taxa mediante guia de recolhimento da União (GRU), preencher um formulário de depósito e apresentar as figuras do desenho. É possível fazer o pedido pela internet ou em papel. Inicia-se, então, um procedimento interno no INPI, onde o pedido passará por diversos setores. Pode ser que os técnicos da autarquia solicitem mais documentos e esclarecimentos do autor a fim de verificar se estão presentes os requisitos acima elencados. Vale ressaltar que o autor que faz o pedido de registro de um desenho industrial possui apenas uma expectativa de direito. Isso quer dizer que ele ainda será examinado e o INPI poderá conceder ou não o certificado de registro.

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Prazo de proteção O prazo de vigência do registro é de 10 anos, contados da data de depósito. Este prazo poderá ser prorrogado por mais três períodos sucessivos de 5 anos. Enfim, no total, o titular poderá ter uma proteção do seu desenho industrial por 25 anos. Retribuição quinquenal O titular do registro deverá pagar um valor chamado de "retribuição quinquenal", que serve como uma espécie de taxa de manutenção do registro. Esta taxa encontra-se prevista no art. 120 da LPI:

Art. 120. O titular do registro está sujeito ao pagamento de retribuição qüinqüenal, a partir do segundo qüinqüênio da data do depósito. § 1º O pagamento do segundo qüinqüênio será feito durante o 5º (quinto) ano da vigência do registro. § 2º O pagamento dos demais qüinqüênios será apresentado junto com o pedido de prorrogação a que se refere o art. 108. § 3º O pagamento dos qüinqüênios poderá ainda ser efetuado dentro dos 6 (seis) meses subseqüentes ao prazo estabelecido no parágrafo anterior, mediante pagamento de retribuição adicional.

Desse modo, de cinco em cinco anos o autor deverá pagar esta taxa. A partir de quando é contado o prazo de 5 anos para pagamento da retribuição quinquenal? Deverá ser contado a partir do dia em que o autor fez o depósito do pedido de registro ou da data em que o INPI concedeu o certificado de registro? Da data do depósito. O prazo para o pagamento da "retribuição quinquenal" prevista no art. 120 da Lei nº 9.279/96 conta-se da data do depósito do pedido de registro do desenho industrial no INPI, e não da data do certificado de registro. STJ. 3ª Turma. REsp 1.470.431-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/2/2016 (Info 578). Este é o texto expresso do art. 120: "o titular do registro está sujeito ao pagamento de retribuição quinquenal, a partir do segundo quinquênio da data do depósito."

RECUPERAÇÃO JUDICIAL Não sujeição à recuperação judicial de direitos de crédito cedidos fiduciariamente

Não se submetem aos efeitos da recuperação judicial do devedor os direitos de crédito cedidos fiduciariamente por ele em garantia de obrigação representada por Cédula de Crédito Bancário existentes na data do pedido de recuperação, independentemente de a cessão ter ou não sido registrada no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor.

Ex: determinada empresa recebeu um empréstimo de um banco. Como garantia de que iria pagar este empréstimo, ela cedeu fiduciariamente uma CCB. Posteriormente, esta empresa entrou em recuperação judicial. O banco possui, portanto, um crédito a ser pago pela empresa representado por meio da CCB. Este crédito do banco não entrará na recuperação judicial.

A situação enquadra-se no art. 49, § 3º da Lei nº 11.101/2005.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.412.529-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/12/2015 (Info 578).

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RECUPERAÇÃO JUDICIAL

A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência. FASES DA RECUPERAÇÃO

De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases: a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento; b) Processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva; c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial. JUÍZO FALIMENTAR

A Lei n. 11.101/2005, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual. PLANO DE RECUPERAÇÃO

Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de recuperação em falência. Este plano deverá conter: discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50); demonstração de sua viabilidade econômica; e laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional

legalmente habilitado ou empresa especializada. CRÉDITOS QUE ESTÃO SUJEITOS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Na recuperação judicial, a empresa devedora, que está “sufocada” por dívidas, irá pagar os seus credores de uma forma mais “suave”, a fim de que consiga quitar todos os débitos e se manter funcionando. Assim, os credores da empresa em recuperação judicial são inscritos no “quadro geral de credores”, e cada um receberá seu crédito de acordo com o que for definido no plano de recuperação. Um dos temas importantes sobre esse assunto é saber quais créditos estão sujeitos à recuperação judicial, ou seja, quais credores irão ter que receber seus créditos conforme o plano de recuperação e quais poderão seguir com seus contratos como estavam originalmente previstos.

Regra: Em regra, estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido de

recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput, da Lei n. 11.101/2005). Ex: a empresa tem que pagar uma dívida com um fornecedor daqui a 9 meses; se o pedido de recuperação foi feito hoje, esse crédito já será incluído nas regras da recuperação judicial, mesmo que ainda não tenha chegado a data do vencimento.

Consequência dessa regra: Como vimos acima, tendo sido decretada a recuperação judicial, os credores irão receber conforme o plano. Como consequência disso, em regra, as ações e execuções que tramitam contra a empresa em recuperação são suspensas para poder não atrapalhar a execução do plano. Veja:

Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o

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curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário. (...) § 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial.

Exceções à regra: A regra acima exposta (caput do art. 49) possui exceções que estão elencadas nos §§ 3º e 4º. Dessa feita, nesses parágrafos estão previstos determinados créditos que não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial. Imagine agora a seguinte situação adaptada: A empresa "LWS" recebeu mútuo bancário de R$ 2 milhões e emitiu em favor da instituição financeira uma Cédula de Crédito Bancário (CCB). Além disso, como garantia, fez a cessão fiduciária para o banco de títulos e direitos que ela possuía para receber. Em outras palavras, a empresa tinha valores para receber no futuro (daqui a alguns dias, meses ou anos) de alguns devedores e cedeu fiduciariamente tais créditos para o banco. Se ele pagasse o empréstimo, o banco "devolveria" os créditos; caso se tornasse inadimplente, o banco se tornaria, em definitivo, proprietário dos valores. Cédula de Crédito Bancário com garantia A Cédula de Crédito Bancário (CCB) é um título de crédito extremamente comum na atividade empresarial, estando disciplinada nos arts. 26 a 45 da Lei nº 10.931/2004. Quando uma pessoa física ou jurídica adquire um empréstimo bancário, a instituição financeira exige que este mutuário emita, em favor do banco, uma cédula de crédito bancário, que é um papel no qual o emitente se compromete a pagar para o beneficiário determinada quantia ali prevista. Este papel (CCB) fica em poder do credor. Caso o emitente não cumpra a sua promessa e não pague a dívida no prazo, o credor poderá executar a CCB, que é um título de crédito e, portanto, título executivo extrajudicial. A CCB poderá ser emitida com ou sem garantia (art. 27 da Lei nº 10.931/2004). Em caso de empréstimo de pequenos valores, os bancos normalmente não exigem garantia, bastando a CCB, que é, como vimos, título executivo. No entanto, se a quantia for grande, as instituições exigem que o mutuário, além de emitir a cédula, forneça uma garantia (ex: hipoteca de um bem imóvel, cessão fiduciária de bens móveis etc.). Em nosso exemplo, o banco exigiu a garantia. Voltando ao exemplo Após alguns meses, a referida empresa "LWS" entrou em recuperação judicial. Diante disso, os demais credores da empresa queriam que este título e os créditos que foram cedidos para o banco fossem trazidos para a recuperação judicial a fim de que servissem para pagar as dívidas. O pedido dos credores deverá ser aceito? Estes créditos cedidos fiduciariamente pela empresa para o banco deverão se submeter às regras da recuperação judicial? NÃO. Estes créditos cedidos ao banco fiduciariamente como garantia da dívida não deverão entrar na recuperação judicial, ou seja, estarão excluídos das regras da recuperação judicial porque se tratam de uma exceção à regra do caput do art. 49, nos termos do § 3º do mesmo artigo. Veja:

§ 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais,

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observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.

Encontra-se sedimentado no STJ o entendimento de que: - a alienação fiduciária de coisa fungível; - a cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis; - a cessão fiduciária de títulos de créditos, ... por possuírem a natureza jurídica de propriedade fiduciária, não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial, nos termos do § 3º do art. 49 da Lei nº 11.101/2005. Os credores argumentaram que esta cessão fiduciária dos créditos não teria validade porque não foi registrada no cartório do Registro de Títulos e Documentos. Esta tese foi acolhida pelo STJ? NÃO. Não é necessário que a cessão de crédito realizada tenha sido registrada em cartório. Mesmo sem registro no RTD, esta cessão feita pela sociedade empresária ao banco é válida. Foi o que decidiu o STJ: Não se submetem aos efeitos da recuperação judicial do devedor os direitos de crédito cedidos fiduciariamente por ele em garantia de obrigação representada por Cédula de Crédito Bancário existentes na data do pedido de recuperação, independentemente de a cessão ter ou não sido registrada no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.412.529-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/12/2015 (Info 578). A alienação fiduciária de bens móveis fungíveis, quando o credor fiduciário for instituição financeira, é regida pelo art. 66-B da Lei nº 4.728/65. Esta Lei não exige o registro para que haja a constituição da propriedade fiduciária. A constituição da propriedade fiduciária em caso de cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis e de títulos de crédito dá-se a partir da própria contratação, afigurando-se, desde então, plenamente válida e eficaz entre as partes. O único efeito extra no caso de as partes decidirem fazer o registro do contrato é que, com essa providência, ele passará a produzir efeitos em relação a terceiros, ampliando a sua publicidade. No entanto, repita-se, o contrato já é válido mesmo que celebrado apenas entre as partes e sem registro.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

DEPOSITÁRIO JUDICIAL Possibilidade de o depositário judicial exercer direito de retenção

O particular que aceita exercer o múnus público de depositário judicial tem o direito de reter o depósito até que sejam ressarcidas as despesas com armazenagem e conservação do bem guardado e pagos os seus honorários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.300.584-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 3/3/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "A" ajuizou execução contra a empresa "B". No curso do processo, foram penhorados 5kg de soja pertencentes à executada. A soja foi guardada em um dos galpões da "Silva Armazém", empresa privada especializada em armazenar

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mercadorias para outras empresas. O depósito na "Silva Armazém" foi determinado pela Justiça e o gerente da referida empresa ficou como depositário judicial da soja. As empresas "A" e "B" resolveram fazer um acordo e, por essa razão, a execução foi extinta. A empresa "B" foi, então, buscar a soja de volta no galpão, mas a "Silva Armazém" afirmou que só devolveria o produto após ser indenizada pelas despesas que teve com a armazenagem e conservação do bem, além de receber a remuneração pelo serviço prestado. A "Silva Armazém" tem direito de ser indenizada pelas despesas de armazenagem e de receber uma "contraprestação" pelo serviço que desempenhou mesmo exercendo um múnus público, qual seja, o de depositário judicial? SIM. A pessoa física ou jurídica que aceita o encargo de se tornar depositária de coisa ou bem apreendido em juízo tem o direito de ser ressarcida das despesas que efetuou, além de perceber uma remuneração pelo exercício do encargo público (honorários), nos precisos termos do art. 160 do CPC 2015:

Art. 160. Por seu trabalho o depositário ou o administrador perceberá remuneração que o juiz fixará levando em conta a situação dos bens, ao tempo do serviço e às dificuldades de sua execução.

A conduta do depositário de reter a mercadoria foi lícita? Ela poderia ter feito isso? SIM. O depositário judicial pode se valer do direito de retenção previsto no art. 644 do Código Civil, que assim dispõe:

Art. 644. O depositário poderá reter o depósito até que se lhe pague a retribuição devida, o líquido valor das despesas, ou dos prejuízos a que se refere o artigo anterior, provando imediatamente esses prejuízos ou essas despesas.

Essa é também a opinião da doutrina de José Miguel Garcia Medina e Fábio Caldas de Araújo: "Direito de retenção. O depositário tem o direito de retenção quando não sejam pagas as despesas de conservação em relação à custódia do bem depositado. Trata-se de exercício regular de direito, sobre o qual não incide qualquer ilicitude. A retenção ainda deverá ser feita quando o depósito for judicial (iussu iudicis), ou quando exista suspeita de origem ilícita." (Código Civil comentado. São Paulo: RT, 2014, p. 644.) Em suma: O particular que aceita exercer o múnus público de depositário judicial tem o direito de reter o depósito até que sejam ressarcidas as despesas com armazenagem e conservação do bem guardado e pagos os seus honorários. STJ. 3ª Turma. REsp 1.300.584-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 3/3/2016 (Info 578).

ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA Aplicação da multa do art. 774, IV, do CPC 2015 é restrita ao processo de execução

A multa por ato atentatório à dignidade da Justiça, prevista no art. 774, IV, do CPC 2015, somente pode ser aplicada no processo de execução, em caso de conduta de deslealdade processual praticada pelo executado.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.231.981/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/12/2015 (Info 578).

Sobrepartilha A sobrepartilha é uma ação judicial (processo judicial) proposta quando, após ser concluída a partilha, descobre-se que ainda existem mais bens que pertenciam ao falecido e que deveriam ter entrado na

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partilha, mas ficaram de fora indevidamente. A sobrepartilha está prevista nos arts. 669 e 670 do CPC 2015 e segue o mesmo procedimento do inventário e da partilha. Dessa forma, é como se fosse uma partilha, mas de bens que ficaram de fora. Imagine a seguinte situação hipotética: Durante um processo judicial de sobrepartilha, o juiz determinou ao banco que, no prazo de 10 dias, apresentasse extratos de uma aplicação financeira que estava em nome do falecido. A instituição financeira não apresentou os documentos requisitados, razão pela qual o magistrado expediu nova intimação ao banco para que fornecesse os extratos, no prazo de 48 horas, sob pena de multa por ato atentatório ao exercício da jurisdição. Mesmo sendo novamente intimada, a instituição quedou-se inerte, motivo pelo qual o magistrado aplicou multa por ato atentatório à dignidade da Justiça, invocando o art. 774, IV, do CPC 2015:

Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta comissiva ou omissiva do executado que: (...) IV - resiste injustificadamente às ordens judiciais;

A decisão do juiz foi tecnicamente correta? NÃO. A multa por ato atentatório à dignidade da Justiça, prevista no art. 774, IV, do CPC 2015, somente pode ser aplicada no processo de execução, em caso de conduta de deslealdade processual praticada pelo executado. STJ. 4ª Turma. REsp 1.231.981/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/12/2015 (Info 578). Desse modo, esta multa não tem aplicação no caso concreto, que cuidava de pedido incidental de exibição de documentos em autos de ação de sobrepartilha - demanda tratada como de procedimento especial de jurisdição contenciosa. Mas existe alguma outra sanção que o magistrado poderia aplicar ao banco recalcitrante? SIM. O magistrado poderia: a) determinar a busca e apreensão dos documentos requisitados; e b) aplicar a multa por ato atentatório à dignidade da justiça (contempt of court) prevista no § 2º do art. 77 do CPC 2015:

Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo: (...) IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua efetivação; (...) § 1º Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá qualquer das pessoas mencionadas no caput de que sua conduta poderá ser punida como ato atentatório à dignidade da justiça. § 2º A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à dignidade da justiça, devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do valor da causa, de acordo com a gravidade da conduta.

Dessa forma, existia a possibilidade de aplicação de multa por ato atentatório à dignidade da justiça, mas o fundamento legal invocado pelo magistrado foi incorreto.

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MANDADO DE SEGURANÇA Prazo decadencial para impetrar MS contra redução de vantagem de servidor público

O prazo decadencial para impetrar mandado de segurança contra redução do valor de vantagem integrante de proventos ou de remuneração de servidor público renova-se mês a mês.

A redução, ao contrário da supressão de vantagem, configura relação de trato sucessivo, pois não equivale à negação do próprio fundo de direito. Assim, o prazo decadencial para se impetrar a ação mandamental renova-se mês a mês.

• Ato que SUPRIME vantagem: é ato ÚNICO (o prazo para o MS é contado da data em que o prejudicado tomou ciência do ato).

• Ato que REDUZ vantagem: consiste em prestação de TRATO SUCESSIVO (o prazo para o MS renova-se mês a mês).

STJ. Corte Especial. EREsp 1.164.514-AM, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 16/12/2015 (Info 578).

PRAZO DO MS

Prazo para impetração do mandado de segurança A Lei nº 12.016/2009 prevê um prazo para o ajuizamento do mandado de segurança:

Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Novo CPC O art. 219 do CPC 2015 prevê que "na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis". Este art. 219 do CP 2015 é aplicado para o prazo do mandado de segurança? A partir de agora o prazo de 120 dias deverá ser contado em dias úteis?

Regra: NÃO. O art. 219 aplica-se apenas aos prazos processuais, ou seja, àqueles prazos para a prática de atos dentro do processo. O prazo de impetração do MS, em regra, não é processual, de forma que ele deve ser contado de forma corrida (e não em dias úteis).

Exceção: no caso de mandado de segurança contra ato judicial, o prazo máximo para impetração será contado em dias úteis. Isso porque, neste caso, ele terá natureza processual, já que corre dentro do processo. Assim, por exemplo, se é prolatada uma decisão judicial irrecorrível, a parte prejudicada terá 120 dias úteis para impetrar mandado de segurança.

A posição acima é defendida por CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 562. Natureza deste prazo A posição majoritária afirma que se trata de prazo decadencial. Sendo prazo decadencial, ele não pode ser suspenso ou interrompido. Súmula 430-STF: Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o mandado de segurança. Vale ressaltar, no entanto, que o STJ afirma que se o marco final do prazo do MS terminar em sábado, domingo ou feriado, deverá haver prorrogação para o primeiro dia útil seguinte. Nesse sentido: STJ. 1ª Seção. MS 14.828/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 08/09/2010.

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A previsão de um prazo para o MS é constitucional? SIM. Súmula 632-STF: É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado de segurança. Termo inicial do prazo Em regra, o prazo para impetrar o MS inicia-se na data em que o prejudicado toma ciência do ato coator praticado.

(...) Considerou, ainda, que a ofensa ao direito líquido e certo não se conta a partir da expedição da resolução (ato impugnado no mandado de segurança), mas sim do momento em que produzir efeitos. Tal entendimento harmoniza-se com a jurisprudência do STJ de que o prazo decadencial no mandado de segurança tem início na data em que o interessado teve ciência inequívoca do ato atacado. (...) REsp 1.088.620-SP, Rel. para o acórdão Min. Castro Meira, julgado em 18/11/2008.

Vale ressaltar, no entanto, que, se a pessoa estiver sendo prejudicada por uma omissão do Poder Público, poderá impetrar o MS a qualquer tempo enquanto perdurar a omissão. Persistindo a omissão, o prazo renova-se dia a dia. PRAZO DO MS EM CASO DE ATO QUE SUPRIME VANTAGEM PAGA A SERVIDOR

Imagine a seguinte situação hipotética 1: João, servidor público, recebia há anos a gratificação “X”. A Administração Pública entendeu que esta gratificação era indevida e deixou de pagá-la a partir do mês de janeiro de 2010. Desse modo, em janeiro o servidor não mais recebeu a gratificação. Nos meses que se seguiram, ele continuou sem a verba em seu contracheque. Em outubro de 2010, o advogado do servidor impetrou um mandado de segurança contra o administrador público alegando que a retirada da gratificação foi um ato ilegal e requereu a sua reinclusão. A Procuradoria do Estado ingressou no feito apresentando contestação (art. 7º, I da Lei nº 12.016/2009) e alegando, como preliminar, que houve decadência do MS porque este foi proposto mais de 120 dias após a cessação do pagamento da verba (o que ocorreu em janeiro de 2010). O autor do MS já havia alegado, em sua petição inicial, que não havia decadência porque, no caso, haveria uma prestação de trato sucessivo, de forma que o ato coator se renovaria todos os meses. Em outras palavras, para o impetrante, a cada mês que a Administração deixou de pagar a verba, reiniciou-se o prazo para impetrar mandado de segurança. Qual das duas teses é acolhida pela jurisprudência do STJ, a do autor ou da Fazenda Pública? A tese da Fazenda Pública. Assim, houve realmente decadência no caso exposto acima. Nesse sentido: STJ. Segunda Turma. RMS 34.363-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/12/2012. PRAZO DO MS EM CASO DE ATO QUE REDUZ VANTAGEM PAGA A SERVIDOR

Imagine a seguinte situação hipotética 2: Pedro, servidor municipal, recebia remuneração de R$ 13 mil. O Prefeito determinou a redução da remuneração de Pedro para R$ 10 mil (remuneração do Prefeito e teto do funcionalismo naquele Município). Isso foi em janeiro de 2010. Desse modo, em fevereiro Pedro recebeu apenas R$ 10 mil. Nos meses que se seguiram, ele continuou recebendo esta quantia. Em outubro de 2010, o advogado do servidor impetrou um mandado de segurança contra o Prefeito alegando que a redução da remuneração foi inconstitucional. Neste caso, pelo fato de já terem se passado mais do que 120 dias da data do ato, houve decadência? NÃO.

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O prazo decadencial para impetrar mandado de segurança contra redução do valor de vantagem integrante de proventos ou de remuneração de servidor público renova-se mês a mês. A redução, ao contrário da supressão de vantagem, configura relação de trato sucessivo, pois não equivale à negação do próprio fundo de direito. Assim, o prazo decadencial para se impetrar a ação mandamental renova-se mês a mês. STJ. Corte Especial. EREsp 1.164.514-AM, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 16/12/2015 (Info 578). Resumindo: O ato que SUPRIME ou REDUZ vantagem de servidor é ato único ou prestação de trato sucessivo? Como é contado o prazo para o MS no caso de a Administração Pública suprimir ou reduzir determinada vantagem paga ao servidor? Para o STJ, é preciso fazer a seguinte distinção:

Ato que SUPRIME vantagem Ato que REDUZ vantagem

Ato único. Prestação de trato sucessivo.

O prazo para o MS é contado da data em que o prejudicado toma ciência do ato.

O prazo para o MS renova-se mês a mês (periodicamente).

O ato administrativo que suprime vantagem de servidor é ato único e de efeitos permanentes, iniciando-se o prazo decadencial para MS no dia em que ele tem ciência da supressão.

A redução de vencimentos sofrida por servidores denota prestação de trato sucessivo, em que o prazo decadencial renova-se mês a mês.

(...) 2. A Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que a supressão de vantagem pecuniária devida a servidor público caracteriza-se como ato comissivo, único e de efeitos permanentes, não havendo, pois, que se falar em prestações de trato sucessivo. (AgRg no Ag 909.400/PA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 15/04/2010)

(...) Esta Corte vem definindo que quando houver redução, e não supressão do valor de vantagem, fica configurada a prestação de trato sucessivo, que se renova mês a mês, pois não equivale à negação do próprio fundo de direito, não havendo que se falar, portanto, em decadência do mandado de segurança. (...) (AgRg no REsp 1110192/CE, Rel. Min. Celso Limongi (Des. Conv. do TJ/SP), Sexta Turma, julgado em 04/05/2010)

Em síntese: • Redução de vantagem: prestação de TRATO SUCESSIVO (prazo para o MS se renova). • Supressão de vantagem: ato ÚNICO (prazo para o MS não se renova)

Essa distinção já foi exigida em concurso público. Veja: (Juiz Federal TRF2 2011 – CESPE) Consoante entendimento do STJ, a supressão, pelo poder público, de gratificação que esteja sendo paga a servidor público configura ato comissivo, de efeitos permanentes, e não de trato sucessivo, razão pela qual a impetração de mandado de segurança para impugnar o ato deve ocorrer no prazo de cento e vinte dias contados da sua edição. (CERTO)

No caso de a Administração Pública ter reajustado a pensão de uma pessoa em valor inferior ao que seria devido, como é contado o prazo para que a interessada impetre um MS? O prazo renova-se mês a mês. Segundo entende o STJ, esta hipótese consiste em uma conduta omissiva ilegal da Administração, que envolve obrigação de trato sucessivo. Logo, o prazo decadencial estabelecido pela Lei do Mandado de Segurança se renova de forma continuada mês a mês. STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 243.070-CE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/2/2013 (Info 517). Aplica-se a mesma regra que vimos acima para os casos de ato da Administração que reduz vantagem.

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Veja o quadro como fica:

Ato que SUPRIME vantagem Ato que REDUZ vantagem Ato que reajusta benefício em

valor inferior ao devido

Ato único. Prestação de trato sucessivo. Prestação de trato sucessivo.

O prazo para o MS é contado da data em que o prejudicado toma ciência do ato.

O prazo para o MS renova-se mês a mês (periodicamente).

O prazo para o MS renova-se mês a mês (periodicamente).

MANDADO DE SEGURANÇA Efeitos financeiros da concessão de ordem mandamental contra ato de redução de vantagem de servidor público

Tema polêmico!

Em mandado de segurança impetrado contra redução do valor de vantagem integrante de proventos ou de remuneração de servidor público, os efeitos financeiros da concessão da ordem retroagem à data do ato impugnado.

STJ. Corte Especial. EREsp 1.164.514-AM, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 16/12/2015 (Info 578).

Observação:

Deve-se ter muito cuidado com este entendimento. Isso porque, apesar de ele ter sido proferido pela Corte Especial do STJ, ele é contrário às Súmulas 269 e 271 do STF e ao art. 14, § 4º da Lei do MS:

Súmula 269-STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.

Súmula 271-STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais, em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.

Art. 14 (...) § 4º O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em sentença concessiva de mandado de segurança a servidor público da administração direta ou autárquica federal, estadual e municipal somente será efetuado relativamente às prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da inicial.

Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro, servidor municipal, recebia remuneração de R$ 13 mil. Em 10/01/2010, o Prefeito determinou a redução da remuneração de Pedro para R$ 10 mil (remuneração do Prefeito e teto do funcionalismo naquele Município). Desse modo, em fevereiro de 2010 Pedro recebeu apenas R$ 10 mil. Nos meses que se seguiram, ele continuou recebendo esta quantia. Em outubro de 2010, o advogado do servidor impetrou um mandado de segurança no Tribunal de Justiça contra o Prefeito alegando que a redução da remuneração foi inconstitucional. O TJ negou a liminar, mas ao final, o acórdão julgou procedente o pedido de Pedro. Em outubro de 2011, a decisão favorável ao impetrante transitou em julgado e a partir desta data a remuneração do autor voltou a ser de R$ 13 mil. Examine novamente as datas:

Em fevereiro de 2010, houve uma redução de R$ 3 mil na remuneração mensal do autor.

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Em outubro de 2010 (8 meses depois do início dos descontos), ele impetrou o MS.

Em outubro de 2011 (12 meses depois do início do MS), os R$ 3 mil voltaram para a remuneração mensal do autor.

Pedro precisará propor ação judicial cobrando os valores atrasados que correspondem ao período entre o dia da impetração do MS (10/2010) e a data da efetiva implementação da verba (10/2011)? NÃO. É pacífico o entendimento de que não é necessário ajuizar ação autônoma cobrando valores que venceram durante processo do mandado de segurança. Neste caso, a própria decisão concessiva do mandado de segurança poderá ser executada e o autor receberá a quantia atrasada por meio de precatório ou RPV (caso esteja dentro do limite considerado com de pequeno valor).

Pedro precisará propor ação judicial cobrando os valores atrasados que correspondem ao período entre o dia da redução da verba (02/2010) e a data da propositura do MS (10/2010)?

Entendimento tradicional: SIM Julgado do STJ: NÃO

Os valores anteriores à propositura não podem ser exigidos no mandado de segurança. Existem duas súmulas antigas do STF que espelham este entendimento: Súmula 269-STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança. Súmula 271-STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais, em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria. Vale ressaltar que se trata também de texto expresso da Lei nº 12.016/2009 (Lei do MS): Art. 14 (...) § 4º O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em sentença concessiva de mandado de segurança a servidor público da administração direta ou autárquica federal, estadual e municipal somente será efetuado relativamente às prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da inicial. Assim, o pagamento de verbas atrasadas, em sede de mandado de segurança, restringe-se às parcelas existentes entre a data da impetração e a concessão da ordem. Cabe à parte impetrante, após o trânsito em julgado da sentença mandamental concessiva, ajuizar nova demanda de natureza condenatória para reivindicar os valores vencidos em data anterior à impetração do mandado de segurança.

Alterando o entendimento até então majoritário, o STJ decidiu que: Em mandado de segurança impetrado contra redução do valor de vantagem integrante de proventos ou de remuneração de servidor público, os efeitos financeiros da concessão da ordem retroagem à data do ato impugnado. STJ. Corte Especial. EREsp 1.164.514-AM, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 16/12/2015 (Info 578). Em outras palavras, não seria necessário ajuizar nova ação cobrando estes valores porque eles já estariam abarcados pela decisão concessiva do MS. Segundo decidiu o STJ, a exigência de nova ação contida nas súmulas 269 e 271 não apresenta nenhuma utilidade prática e atenta contra os princípios da justiça, da efetividade processual, da celeridade e da razoável duração do processo. Ademais, essa imposição estimula demandas desnecessárias e que movimentam a máquina judiciária, de modo a consumir tempo e recursos de forma completamente inútil, e enseja inclusive a fixação de honorários sucumbenciais, em ação que já se sabe destinada à procedência. Assim, nas hipóteses em que o servidor público deixa de auferir seus vencimentos ou parte deles em razão de ato ilegal ou abusivo do Poder Público, os efeitos financeiros da concessão de ordem mandamental devem retroagir à data do ato impugnado, violador do direito líquido e certo do impetrante. Isso porque os efeitos patrimoniais são mera consequência da anulação do ato impugnado que reduz o valor de vantagem nos proventos ou remuneração do impetrante.

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Observação: Deve-se ter muito cuidado com este entendimento. Isso porque, apesar de ele ter sido proferido pela Corte Especial do STJ, o que se observa é que, mesmo após a sua prolação, o próprio Tribunal já aplicou novamente as Súmulas 269 e 271 do STF:

A Primeira Seção deste Superior Tribunal firmou entendimento segundo o qual o mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais pretéritos, motivo pelo qual os eventuais valores devidos, anteriores à data impetração, deverão ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria. Súmulas 269/STF e 271/STF. (...) (STJ. 1ª Turma. AgRg no RMS 47.640/RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 10/03/2016)

Além disso, a posição divulgada no julgado do STJ é manifestamente contrária ao art. 14, § 4º da Lei do MS. Resta aguardar, portanto, para se saber se o novo entendimento irá realmente prevalecer. Por enquanto, fiquem atentos porque nas provas poderá ser cobrada tanto a redação literal do art. 14, § 4º como também a transcrição do julgado do STJ. Se ocorrer a segunda hipótese, é provável que a banca examinadora coloque alguma expressão como "segundo a jurisprudência..." ou "segundo o STJ".

DIREITO PENAL

EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA Atipicidade penal do exercício da acupuntura

Importante!!!

O exercício da acupuntura por indivíduo que não é médico não configura o delito previsto no art. 282 do CP (exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica).

Não existe lei federal prevendo que a acupuntura é uma atividade privativa de médico (art. 22, XVI, da CF/88).

STJ. 6ª Turma. RHC 66.641-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 3/3/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética: João Lin mantém, há anos, um consultório em sua casa chamado de "Centro de Acupuntura Chinesa", onde atua como acupunturista. Vale ressaltar que João não possui faculdade de Medicina. O Ministério Público, ao saber da existência da clínica, denunciou João pela prática de exercício ilegal da medicina, crime previsto no art. 282 do CP, alegando que a acupuntura é considerada uma especialidade médica segundo o Conselho Federal de Medicina.

Art. 282. Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa.

A denúncia do MP deverá ser julgada procedente? João praticou o crime do art. 282 do CP? NÃO. O exercício da acupuntura por indivíduo que não é médico não configura o delito previsto no art. 282 do CP (exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica).

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Não existe lei federal prevendo que a acupuntura é uma atividade privativa de médico (art. 22, XVI, da CF/88). STJ. 6ª Turma. RHC 66.641-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 3/3/2016 (Info 578). Norma penal em branco O tipo penal descrito no art. 282 do CP é norma penal em branco e, por isso, deve ser complementado por lei ou ato normativo em geral para que se discrimine e detalhe as atividades exclusivas de médico, dentista ou farmacêutico. A complementação do art. 282 deve ser feita por meio de lei federal que regulamenta as profissões de médico, dentista ou farmacêutico. Acupuntura não é privativa de médico O exercício da medicina é regulamentado por três leis federais: a) Lei nº 12.842/2013; b) Lei nº 3.268/57; c) Decreto nº 20.931/32 (que tem status de lei). Em nenhuma delas é previsto que a acupuntura é uma atividade privativa de médico. Atividades privativas de médico (Lei nº 12.842/2013) Vale ressaltar que a Lei nº 12.842/2013, em seu art. 4º, traz um rol de atividades que são privativas de médico. O inciso II do § 4º do art. 4º previa como atividade privativa de médico: II - invasão da pele atingindo o tecido subcutâneo para injeção, sucção, punção, insuflação, drenagem, instilação ou enxertia, com ou sem o uso de agentes químicos ou físicos; O objetivo velado deste inciso era fazer com que a acupuntura se tornasse atividade privativa de médico. Ocorre que o dispositivo foi vetado pela Presidente da República que apresentou a seguinte justificativa: “Ao caracterizar de maneira ampla e imprecisa o que seriam procedimentos invasivos, os dois dispositivos atribuem privativamente aos profissionais médicos um rol extenso de procedimentos, incluindo alguns que já estão consagrados no Sistema Único de Saúde a partir de uma perspectiva multiprofissional. Em particular, o projeto de lei restringe a execução de punções e drenagens e transforma a prática da acupuntura em privativa dos médicos, restringindo as possibilidades de atenção à saúde e contrariando a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde. O Poder Executivo apresentará nova proposta para caracterizar com precisão tais procedimentos.” Acupuntura não é ainda regulamentada em lei Não existe ainda lei federal regulamentando a prática da acupuntura, sendo da União a competência privativa para legislar sobre o tema, nos termos do art. 22, XVI, da CF/88 (STJ. 2ª Turma. RMS 11.272-RJ, DJ 4/6/2001). Voltando ao nosso caso concreto, como não existe lei afirmando que a acupuntura é ato privativo de médico, está ausente a complementação da norma penal em branco e o fato narrado é atípico. Observação O Conselho Federal de Medicina (CFM) há anos pleiteia em ações movidas no Poder Judiciário para que a acupuntura seja reconhecida como uma prática exclusiva médica, sob o argumento de que é uma técnica que trata doenças e o diagnóstico e tratamento de doenças são atividades exclusivas de médicos. O tema ainda não foi decidido, de forma definitiva, pelo STJ ou STF. O julgado acima explicado, apesar de ser de uma turma que julga matéria criminal (6ª Turma do STJ) é um importante precedente em sentido contrário aos interesses do CFM. Vamos aguardar os desdobramentos do tema.

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EVASÃO DE DIVISAS Não se aplica o princípio da insignificância para remessa de divisas

por meio de dólar-cabo, ainda que em valores inferiores a 10 mil reais

Nos casos de evasão de divisas praticada mediante operação do tipo "dólar-cabo", não é possível utilizar o valor de R$ 10 mil como parâmetro para fins de aplicação do princípio da insignificância.

STJ. 6ª Turma. REsp 1.535.956-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

O simples fato de enviar dinheiro para o exterior é considerado algo ilícito? NÃO. No entanto, para a pessoa enviar recursos para o exterior, ela deverá cumprir as condições previstas na legislação. O que a legislação exige para a remessa de valores ao exterior? REGRA: para que a pessoa envie dinheiro (nacional ou estrangeiro) para fora do Brasil, ela deverá fazê-lo por meio de instituição autorizada a operar no mercado de câmbio (art. 65 da Lei nº 9.069/95). Ex: o indivíduo tem uma filha que mora na Alemanha e deseja enviar dinheiro a ela; para isso, será necessário que procure uma instituição autorizada para remeter a quantia. EXCEÇÃO A ESSA REGRA: O dinheiro poderá ser enviado para o exterior mesmo sem a intervenção de instituição autorizada, desde que o indivíduo leve os valores consigo, pessoalmente. Neste caso, é necessário distinguir duas situações: I - se o valor que o viajante está levando é de até R$ 10 mil (não importa se é em real ou o equivalente em moeda estrangeira): ele não precisará declarar nada. Pode viajar tranquilo levando o dinheiro. É o que acontece com a maioria dos turistas que viaja para o exterior. II - se o valor que o indivíduo está levando é superior a R$ 10 mil (não importa se é em real ou o equivalente em moeda estrangeira): ele precisará, antes de viajar, entrar no site da Receita Federal, fazer uma "Declaração Eletrônica de Porte de Valores" (DPV) e imprimir um recibo disso. Além disso, terá que levar consigo o comprovante de que comprou os valores em instituição financeira autorizada (ou, então, outro comprovante de como obteve o dinheiro estrangeiro). Esta regra e exceções encontram-se previstas no art. 65 da Lei nº 9.069/95. Dólar-cabo Existe muita gente que possui dinheiro de origem ilícita e, como uma forma de proteger estas quantias ou de gastar "tranquilamente" este numerário, decide mandar tais valores para fora do país. Ocorre que, como são quantias obtidas ilegalmente, a pessoa não poderá mandar este dinheiro por meio das instituições autorizadas pelo Banco Central, já que ficaria provado que ela possui mais recursos do que declarou ao imposto de renda. Tais pessoas procuram, então, formas de remeter os recursos para o exterior por meios não oficiais. Um desses meios é chamado de "dólar-cabo". Existem algumas variações, porém o tipo mais comum de dólar-cabo consiste no seguinte: o corrupto procura um doleiro no Brasil e entrega a este determinada quantia em moeda nacional (ex: 4 milhões de reais), pedindo que este envie para Miami (EUA). O doleiro entra em contato com um parceiro seu no exterior (outro "doleiro") e este abre uma conta ou uma empresa em nome do corrupto ou de um "laranja" e lá deposita o equivalente em dólar (ex: 1 milhão de dólares). Vale ressaltar que estes doleiros não estavam autorizados a fazer esta transação e nem a comunicaram ao Banco Central. Em suma, dólar-cabo consiste na prática de negociar dólar no mercado paralelo para depósito em

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instituição no exterior (www.bcb.gov.br/glossario). Se a pessoa fosse fazer a remessa de forma correta, deveria procurar uma instituição autorizada e o envio das quantias seria realizado mediante transferência bancária. A prática de dólar-cabo é crime? SIM. A prática de dólar-cabo configura o crime de evasão de dividas, previsto no art. 22, parágrafo único, 1ª parte, da Lei nº 7.492/86 (Lei dos Crimes contra o Sistema Financeiro):

Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão de divisas do País: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, promove, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitos não declarados à repartição federal competente.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João procurou um doleiro para remeter dólares para o exterior. Ele entregou R$ 9 mil ao doleiro, que entrou em contato com seu parceiro em Nova York, que depositou U$ 2 mil em uma offshore pertencente a João. Ocorre que a Polícia Federal já estava investigando o doleiro e, em uma busca e apreensão realizada em seu escritório, descobriu esta operação ilegal. Diante disso, João foi denunciado pelo MPF por evasão de divisas. Em sua defesa, o réu afirmou que o art. 65 da Lei nº 9.069/95 autoriza que a pessoa leve para o exterior, em mãos, moeda estrangeira em valor equivalente a R$ 10 mil sem declaração ao Banco Central. Logo, o mesmo raciocínio deveria ser aplicado para o presente caso, o que geraria a atipicidade de sua conduta. A tese de João foi aceita pelo STJ? Em caso de remessa ilegal de quantia em valor inferior a R$ 10 mil, é possível aplicar o princípio da insignificância? NÃO. Nos casos de evasão de divisas praticada mediante operação do tipo "dólar-cabo", não é possível utilizar o valor de R$ 10 mil como parâmetro para fins de aplicação do princípio da insignificância. STJ. 6ª Turma. REsp 1.535.956-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 1º/3/2016 (Info 578). As transações conhecidas como operações "dólar-cabo" - nas quais são efetuados pagamentos em reais no Brasil, com o objetivo de disponibilizar, por meio de quem recebe tal pagamento, o respectivo montante em moeda estrangeira no exterior - preenchem os elementos do delito de evasão de divisas, na forma do art. 22, parágrafo único, primeira parte, da Lei nº 7.492/86. Não prospera a tese de que deve ser considerado atípico o envio de moeda ou divisas ao exterior se o volume de cada operação não exceder a R$ 10 mil. Isso porque, em primeiro lugar, ressalvada a hipótese do porte de valores em espécie, o ingresso no país e a saída do país, de moeda nacional e estrangeira "serão processados exclusivamente através de transferência bancária, cabendo ao estabelecimento bancário a perfeita identificação do cliente ou do beneficiário" (art. 65, caput, da Lei nº 9.069/95). Ou seja, a legislação excepcionou, em relação ao valor inferior a R$ 10 mil (ou seu equivalente em moeda estrangeira), apenas a saída física de moeda. No caso de transferência eletrônica, saída meramente escritural da moeda, a lei exige, de forma exclusiva, o processamento através do sistema bancário, com perfeita identificação do cliente ou beneficiário. Além disso, no caso da transferência clandestina internacional, por meio de operações do tipo "dólar-cabo" ou equivalente, existe uma facilidade muito grande na realização de centenas ou até milhares de operações fragmentadas sequenciais. É muito mais simples do que a transposição física, por diversas vezes, das fronteiras do país com valores inferiores a R$ 10 mil. Admitir a atipicidade das operações do tipo "dólar-cabo" com valores inferiores a R$ 10 mil é deixar a porta aberta para a saída clandestina de divisas.

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Evasão de divisas não é crime tributário Vale ressaltar, por fim, que, em caso de crimes tributários, se o valor dos tributos sonegados for inferior a R$ 10 mil é possível a aplicação do princípio da insignificância. Este entendimento não vale para o presente caso porque a evasão de divisas é crime contra o sistema financeiro e não delito tributário.

EVASÃO DE DIVISAS Complexidade do esquema criminoso como circunstância negativa na dosimetria da pena

Na fixação da pena do crime de evasão de divisas (art. 22, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86), o fato de o delito ter sido cometido por organização criminosa complexa e bem estrutura pode ser valorado de forma negativa a título de circunstâncias do crime.

STJ. 6ª Turma. REsp 1.535.956-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro foi condenado pela prática de evasão de divisas, na modalidade prevista no art. 22, parágrafo único, 1ª parte, da Lei nº 7.492/86. Na sentença, o juiz, ao realizar a dosimetria da pena, afirmou o seguinte: "As circunstâncias do crime são desfavoráveis, considerando que o esquema criminoso engendrado pelo réu era extremamente bem articulado e contava com diversos dispositivos voltados a inviabilizar sua descoberta. Diante disso, aumento a pena-base para XX anos de reclusão". Agiu corretamente o magistrado? A sofisticação e a complexidade do esquema voltado à prática de operações financeiras clandestinas podem ser consideradas circunstâncias judiciais desfavoráveis? SIM. Na fixação da pena do crime de evasão de divisas (art. 22, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86), o fato de o delito ter sido cometido por organização criminosa complexa e bem estrutura pode ser valorado de forma negativa a título de circunstâncias do crime. STJ. 6ª Turma. REsp 1.535.956-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 1º/3/2016 (Info 578). A evasão de divisas pode ser praticada de diversas formas, desde meios muito rudimentares - como a simples saída do país com uma mala contendo dinheiro em valor superior a R$ 10 mil sem comunicação às autoridades brasileiras - até a utilização de complexos esquemas de remessas clandestinas. Assim, não parece justo punir da mesma forma condutas tão distintas, sendo correta, no caso de sofisticado esquema de remessa ilícita, a valoração negativa das circunstâncias do delito na fixação da pena-base do delito.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

REVISÃO CRIMINAL Revisão criminal na hipótese em que a questão atacada

também tenha sido enfrentada pelo STF em HC

O julgamento pelo STF de HC impetrado contra decisão proferida em recurso especial não afasta, por si só, a competência do STJ para processar e julgar posterior revisão criminal.

João foi condenado em 1ª instância, tendo apelado ao TJ, que manteve a sentença. Em seguida, ele interpôs recurso especial ao STJ, que conheceu do Resp (examinou o mérito), mas negou provimento, mantendo a condenação. Houve o trânsito em julgado. Contra o acórdão do STJ, o réu impetrou habeas corpus no STF. A 1ª Turma do STF conheceu do habeas corpus, mas não concedeu a ordem por entender que não houve ilegalidade.

A competência para julgar eventual revisão criminal será do STJ.

STJ. 3ª Seção. RvCr 2.877-PE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 25/2/2016 (Info 578).

Revisão criminal é... uma ação autônoma de impugnação de competência originária dos Tribunais (ou da Turma Recursal, no caso dos Juizados) por meio da qual a pessoa condenada requer ao Tribunal que reveja a decisão que a condenou (e que já transitou em julgado) sob o argumento de que ocorreu erro judiciário. Revisão criminal e ação rescisória A revisão criminal se parece com a ação rescisória do processo civil. Existem, no entanto, duas diferenças principais:

Revisão criminal Ação rescisória

Pode ser interposta a qualquer tempo após o trânsito em julgado (não há prazo de decadência para ajuizar a revisão).

Deve ser interposta até o prazo de 2 anos após o trânsito em julgado.

Só pode ser ajuizada em favor do condenado (só existe revisão criminal pro reo; não existe revisão criminal pro societate).

A ação rescisória pode ser proposta pelo autor ou pelo réu.

Então a revisão criminal pode ser proposta a qualquer tempo? SIM. A revisão poderá ser requerida em qualquer tempo, mesmo após já ter sido extinta a pena (art. 622 do CPP). Natureza jurídica A revisão criminal NÃO é um recurso. Trata-se de uma ação autônoma de impugnação, mais precisamente uma ação penal de natureza constitutiva (tem por objetivo desconstituir uma decisão transitada em julgado). Pressupostos: A revisão criminal tem dois pressupostos: a) existência de decisão condenatória (ou absolutória imprópria) com trânsito em julgado; b) demonstração de que houve erro judiciário.

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Quem pode propor a revisão criminal?

O próprio réu;

procurador legalmente habilitado pelo réu;

o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do réu, caso este já tenha morrido.

CPP/Art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

O MP pode propor revisão criminal em favor do réu? Há divergência na doutrina. No entanto, para fins de prova objetiva, deve-se afirmar que não é possível, considerando que o CPP não prevê essa legitimidade. Juízo rescindente e juízo rescisório: No julgamento da revisão criminal, se o Tribunal decidir desconstituir a decisão impugnada, diz-se que houve juízo rescindente. Se, além de desconstituir a decisão impugnada, o próprio Tribunal proferir uma outra decisão em substituição àquela que foi rescindida, diz-se que houve juízo rescisório. Vamos comparar essas duas situações:

Juízo rescindente (juízo revidente) (juízo de cassação)

Juízo rescisório (juízo revisório) (juízo de reforma)

Haverá juízo rescindente quando o Tribunal desconstituir a decisão impugnada.

Haverá juízo rescisório quando o Tribunal, após desconstituir a decisão impugnada, proferir uma nova decisão em substituição àquela que foi rescindida.

Repare que, após realizar o juízo rescindente, pode acontecer (ou não) de o Tribunal realizar o juízo rescisório. Quando haverá juízo rescisório na revisão criminal? O CPP prevê o seguinte:

Art. 626. Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da infração, absolver o réu, modificar a pena ou anular o processo.

Dessa feita, julgando procedente a revisão (juízo rescindente), o Tribunal poderá: alterar a classificação da infração (juízo rescindente + juízo rescisório); absolver o réu (juízo rescindente + juízo rescisório); modificar a pena (juízo rescindente + juízo rescisório); ou anular o processo (nesse caso, só haverá juízo rescindente, porque o processo será devolvido à 1ª

instância, onde será proferida nova sentença). Hipóteses em que caberá a revisão criminal:

Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida: I — quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos; II — quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos; III — quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena.

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Competência 1ª regra: a revisão criminal é sempre julgada por um Tribunal ou pela Turma Recursal. Não existe revisão criminal julgada por juiz singular. 2ª regra: se a condenação foi proferida por um juiz singular e não houve recurso, a competência para julgar a revisão criminal será do Tribunal (ou Turma) ao qual estiver vinculado o magistrado.

Ex: juiz de direito condena o réu e não há recurso das partes, havendo trânsito em julgado. Caso seja proposta revisão criminal contra a sentença, esta será julgada pelo TJ.

Ex: juiz federal condena o réu. A defesa interpõe apelação fora do prazo e esta não é conhecida. Ocorre o trânsito em julgado. Caso seja proposta revisão criminal contra a sentença, esta será julgada pelo TRF.

Ex: juiz do juizado especial criminal condena o réu e as partes não interpõem recurso inominado, havendo trânsito em julgado. Caso seja proposta revisão criminal contra a sentença, esta será julgada pela Turma Recursal.

3ª regra: se a condenação foi mantida (em recurso) ou proferida (em casos de competência originária - foro privativo) pelo TJ, TRF ou Turma Recursal e contra este acórdão não foi interposto RE ou Resp, a competência para julgar a revisão criminal será do TJ, TRF ou Turma Recursal.

Ex: juiz de direito condena o réu, que apela para o TJ. Este, no entanto, mantém a condenação. Contra este acórdão não houve recurso, ocorrendo o trânsito em julgado. Caso seja proposta revisão criminal, deverá ser ajuizada contra o acórdão do TJ (que substituiu a sentença) e esta revisional será julgada pelo próprio TJ.

Ex: Prefeito é condenado pelo TRF (competência originária do TRF para julgar prefeitos por crimes federais). Contra este acórdão, não houve recurso, ocorrendo o trânsito em julgado. Caso seja proposta revisão criminal, deverá ser ajuizada contra o acórdão do TRF e esta revisional será julgada pelo próprio TRF.

Ex: juiz do juizado condena o réu, que interpõe recurso inominado para a Turma Recursal. Esta, no entanto, mantém a condenação. Contra este acórdão não houve recurso, ocorrendo o trânsito em julgado. Caso seja proposta revisão criminal, deverá ser ajuizada contra o acórdão da TR (que substituiu a sentença) e esta revisional será julgada pela própria TR.

4ª regra: se a condenação foi mantida ou proferida pelo TJ ou TRF e contra este acórdão foi interposto RE ou Resp, de quem será a competência para julgar a revisão criminal? Depende: 1) Se o RE ou o Resp não forem conhecidos: a competência será do TJ ou TRF (regra 3 acima explicada). 2) Se o RE ou Resp forem conhecidos: 2.1) Caso a revisão criminal impugne uma questão que foi discutida no RE ou no Resp: a competência será do STF ou do STJ. 2.2) Caso a revisão criminal impugne uma questão que não foi discutida no RE ou no Resp: a competência será do TJ ou TRF. Exemplo do 2.1: o réu foi condenado em 1ª instância e sua condenação foi mantida pelo TJ. Contra o acórdão, ele interpôs recurso especial alegando que a dosimetria da pena não obedeceu ao art. 59 do CP, mas o STJ, apesar de conhecer o Resp, não deu provimento ao recurso. Após o trânsito em julgado, o réu quer ajuizar revisão criminal afirmando que a condenação foi contrária ao texto expresso da lei penal (art. 621, II, do CPP). Neste caso, a revisão deverá ser proposta contra o acórdão do STJ e será julgada pelo próprio STJ. Exemplo do 2.2: o réu foi condenado em 1ª instância e sua condenação foi mantida pelo TJ. Contra o acórdão, ele interpôs recurso especial alegando que a dosimetria da pena não obedeceu ao art. 59 do CP,

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mas o STJ, apesar de conhecer o Resp, não deu provimento ao recurso. Após o trânsito em julgado, o réu quer ajuizar revisão criminal alegando que a condenação se baseou em depoimento comprovadamente falso (art. 621, II, do CPP). Neste caso, a revisão deverá ser proposta contra o acórdão do TJ e será julgada pelo próprio TJ. Esta questão não foi analisada pelo STJ. Obs: não poderão julgar a revisão criminal Desembargadores ou Ministros que participaram do primeiro julgamento (art. 252, III, do CPP). Imagine agora a seguinte situação hipotética: João foi condenado em 1ª instância, tendo apelado ao TJ, que manteve a sentença. Em seguida, ele interpôs recurso especial ao STJ, que conheceu do Resp (examinou o mérito), mas negou provimento, mantendo a condenação. Houve o trânsito em julgado. Contra o acórdão do STJ, o réu impetrou habeas corpus no STF. A 1ª Turma do STF conheceu do habeas corpus, mas não concedeu a ordem por entender que não houve ilegalidade. João é brasileiro e não desiste nunca. Agora ele quer propor revisão criminal, mas seu advogado ficou na dúvida sobre a competência. Vale ressaltar que a tese de defesa é uma só (atipicidade da conduta) e foi examinada por todos as instâncias (TJ, STJ e STF). Neste caso concreto, de quem será a competência para julgar a revisão criminal: STJ ou STF? STJ. Mesmo o STF tendo julgado o habeas corpus contra o acórdão do STJ? SIM. O julgamento pelo STF de HC impetrado contra decisão proferida em recurso especial não afasta, por si só, a competência do STJ para processar e julgar posterior revisão criminal. STJ. 3ª Seção. RvCr 2.877-PE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 25/2/2016 (Info 578). Compete ao STF processar e julgar, originariamente, a revisão criminal de seus julgados (art. 102, I, "j", da CF), sendo que, no Regimento Interno desse Tribunal, existe a previsão de se admitir a revisão criminal dos processos findos cuja condenação tenha sido proferida ou mantida no julgamento de ação penal originária, recurso criminal ordinário (art. 263) ou, se o fundamento coincidir com a questão federal apreciada, recurso extraordinário (art. 263, § 1º). Assim, o STF não é competente para o julgamento de revisão criminal proposta contra julgado proferido em HC. Isso já foi reconhecido pelo próprio STF:

(...) O Supremo Tribunal Federal é competente apenas para processar e julgar revisão criminal quando a condenação tiver sido por ele proferida ou mantida no julgamento de ação penal originária, em recurso criminal ordinário ou em recurso extraordinário com conhecimento do mérito. (...) STF. Plenário. RvC 5448 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/03/2016.

Portanto, desde que observados os demais requisitos, conclui-se que o fato de a questão haver sido julgada pelo STF em HC não afasta a possibilidade de que seja apresentada no STJ a revisão criminal.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

IPI Direito ao creditamento de IPI em caso de aquisição de matéria-prima tributada e saída do produto desonerada

Obs.: este julgado somente interessa aos candidatos a concursos que exijam Direito Tributário de forma mais intensa.

O direito ao creditamento do IPI decorrente da aquisição de matéria-prima, produto intermediário e material de embalagem utilizados na fabricação de produtos isentos ou sujeitos ao regime de alíquota zero, surgiu apenas com a vigência da Lei nº 9.779/99.

STJ. 1ª Turma. REsp 811.486-RN, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 16/2/2016 (Info 578).

IPI IPI é a sigla para Imposto sobre Produtos Industrializados. Trata-se de um tributo federal e que incide sobre a produção e a circulação de produtos industrializados. O IPI foi instituído por meio da Lei nº 4.502/64. Princípio da não-cumulatividade O IPI é um imposto não cumulativo (art. 153, § 3º, II, da CF/88), o que significa que é possível compensar o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores, ou seja, o valor pago na operação imediatamente anterior pode ser abatido do mesmo imposto em operação posterior (art. 49 do CTN). "A cada aquisição tributada de insumo, o adquirente registra como crédito o valor do tributo incidente na operação. Tal valor é um "direito" do contribuinte, consistente na possibilidade de recuperar o valor incidente nas operações subsequentes (é o "IPI a recuperar"). A cada alienação tributada de produto, o alienante registra como débito o valor do tributo incidente na operação. Tal valor é uma obrigação do contribuinte, consistente no dever de recolher o valor devido aos cofres públicos federais ou compensá-los com os créditos obtidos nas operações anteriores (trata-se do "IPI a recolher"). Periodicamente, faz-se uma comparação entre os débitos e créditos. Caso os débitos sejam superiores aos créditos, o contribuinte deve recolher a diferença aos cofres públicos. Casos os créditos sejam maiores, a diferença pode ser compensada posteriormente ou mesmo, cumpridos determinados requisitos, ser objeto de ressarcimento." (ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário esquematizado. São Paulo: Método, 2016, p. 586). Imagine agora a seguinte situação hipotética: Determinada indústria adquiriu matéria-prima para sua produção, pagando R$ 110 mil. Desse total, R$ 10 mil foi de IPI. Suponha agora que a indústria irá utilizar esta matéria-prima para fabricar produtos que são isentos de IPI. Esta indústria poderá aproveitar esses R$ 10 mil que ela pagou a título de IPI como crédito junto à Receita Federal?

Antes da Lei nº 9.779/99: NÃO Depois da Lei nº 9.779/99: SIM

Não havia este direito de creditamento. O saldo credor do IPI pago na entrada era anulado pelo Fisco gerando a impossibilidade de se utilizar este crédito.

A Lei nº 9.779/99 previu o direito ao creditamento em seu art. 11: Art. 11. O saldo credor do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI, acumulado em cada trimestre-calendário, decorrente de aquisição de matéria-prima, produto intermediário e material

Informativo 578-STJ (03 a 06/03/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 38

As indústrias questionavam isso afirmando que esta prática do Fisco de anular o crédito violava o princípio da não-cumulatividade. O STF, contudo, decidiu que a anulação do crédito em caso de saída da mercadoria não tributada não violava a CF/88 (RE 562980, Rel. p/ Ac. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 06/05/2009).

de embalagem, aplicados na industrialização, inclusive de produto isento ou tributado à alíquota zero, que o contribuinte não puder compensar com o IPI devido na saída de outros produtos, poderá ser utilizado de conformidade com o disposto nos arts. 73 e 74 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996, observadas normas expedidas pela Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda.

Em suma: O direito ao creditamento do IPI decorrente da aquisição de matéria-prima, produto intermediário e material de embalagem utilizados na fabricação de produtos isentos ou sujeitos ao regime de alíquota zero, surgiu apenas com a vigência da Lei nº 9.779/99. STJ. 1ª Turma. REsp 811.486-RN, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 16/2/2016 (Info 578).