exmo. sr. dr. juiz de direito da ..ª vara cÍvel...

31
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE ............... - SP Processo nº .................., brasileiro, divorciado, industrial, portador do RG nº ..........., inscrito no CPF/MF sob nº .........., residente e domiciliado em ...., Estado de São Paulo, ............., brasileiro, casado, industrial, portador do RG nº ........., inscrito no CPF/MF sob nº ..............., residente e domiciliado em .........., Estado de São Paulo, ............., brasileiro, casado, industrial, portador do RG nº .........., inscrito no CPF/MF sob nº ......................, residente em .........., Estado de São Paulo, ..............., brasileiro, casado, industrial, portador do RG nº ......................, inscrito no CPF/MF sob nº ..............., residente e domiciliado em ..........., Estado de São Paulo, .............., brasileiro, casado, portador do RG nº ................., inscrito no CPF/MF sob nº .............., residente e domiciliado em ........., Estado de São Paulo, por seus advogados que esta subscrevem, nos autos da Medida Cautelar de Produção Antecipada de Provas, processo em referência, proposta por ..........., ........... e ............, vêm, respeitosamente, à presença de V. Exa., com fulcro no artigo 802 do Código de Processo Civil, apresentar sua CONTESTAÇÃO consoante as razões de fato e de direito a seguir aduzidas: I - DOS FATOS Ingressaram, os Requerentes, com a presente Medida Cautelar, objetivando a concessão de medida liminar, a fim de ser procedida a exumação dos cadáveres do Sr. ..............., Sra. ................ e do Sr. ................., e exame de DNA em material colhido dos despojos mortais. Referida Medida Cautelar foi distribuída por dependência de Ação Negatória de Paternidade, cumulada com Investigação de Paternidade e Petição de Herança, proposta neste mesmo Juízo, processo nº ..........., ação esta que se encontra no Colendo Superior Tribunal de Justiça aguardando julgamento de Recursos Especiais interpostos pelos Requeridos, conforme indicam na inicial "no bojo da qual será apreciada a prova aqui produzida" . Em outras palavras, a Medida Cautelar de Antecipação de Provas está totalmente dependente do desfecho daquela ação originariamente proposta. 1

Upload: trantram

Post on 05-Oct-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE ............... - SP Processo nº .................., brasileiro, divorciado, industrial, portador do RG nº ..........., inscrito no CPF/MF sob nº .........., residente e domiciliado em ...., Estado de São Paulo, ............., brasileiro, casado, industrial, portador do RG nº ........., inscrito no CPF/MF sob nº ..............., residente e domiciliado em .........., Estado de São Paulo, ............., brasileiro, casado, industrial, portador do RG nº .........., inscrito no CPF/MF sob nº ......................, residente em .........., Estado de São Paulo, ..............., brasileiro, casado, industrial, portador do RG nº ......................, inscrito no CPF/MF sob nº ..............., residente e domiciliado em ..........., Estado de São Paulo, .............., brasileiro, casado, portador do RG nº ................., inscrito no CPF/MF sob nº .............., residente e domiciliado em ........., Estado de São Paulo, por seus advogados que esta subscrevem, nos autos da Medida Cautelar de Produção Antecipada de Provas, processo em referência, proposta por ..........., ........... e ............, vêm, respeitosamente, à presença de V. Exa., com fulcro no artigo 802 do Código de Processo Civil, apresentar sua

CONTESTAÇÃO consoante as razões de fato e de direito a seguir aduzidas: I - DOS FATOS Ingressaram, os Requerentes, com a presente Medida Cautelar, objetivando a concessão de medida liminar, a fim de ser procedida a exumação dos cadáveres do Sr. ..............., Sra. ................ e do Sr. ................., e exame de DNA em material colhido dos despojos mortais. Referida Medida Cautelar foi distribuída por dependência de Ação Negatória de Paternidade, cumulada com Investigação de Paternidade e Petição de Herança, proposta neste mesmo Juízo, processo nº ..........., ação esta que se encontra no Colendo Superior Tribunal de Justiça aguardando julgamento de Recursos Especiais interpostos pelos Requeridos, conforme indicam na inicial "no bojo da qual será apreciada a prova aqui produzida". Em outras palavras, a Medida Cautelar de Antecipação de Provas está totalmente dependente do desfecho daquela ação originariamente proposta.

1

Page 2: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

Extinta aquela, extinta esta.

Aduzem os Requerentes, serem filhos biológicos do Sr. .........., muito embora tenham sido registrados pelo Sr. ................, como seus filhos, e concebidos na vigência do casamento deste com a Sra. ............., mãe dos Requerentes. Alegam que com a "demora" no desfecho da ação principal, por eles proposta, não podem aguardar referida produção de provas, como se os Requeridos fossem os culpados pelo trâmite daquela ação. Fundam seu receio, para postular tais absurdas e aviltantes medidas, na possibilidade dos Requeridos, parentes dos falecidos, procederem à exumação administrativa dos cadáveres, e com uma agravante, em razão de "desaparecimento" de cadáveres nesta região da Comarca de........ Tais argumentos são ofensivos não só à família dos falecidos como a toda a comunidade e sociedade ............ No entender dos Requerentes, que se julgam parentes dos Requeridos, estes são "exterminadores" de cadáveres e a população da Cidade de ...., ou seus governantes e administradores também são culpados pelo aparecimento "misterioso" de cadáveres, nesta região. Não foi dito pelos Requerentes que os cadáveres que "apareceram" na Cidade de ........... foram provenientes de outras Cidades, principalmente, ............., ...., .... etc. "Data venia", por demais absurdas tais argumentações para justificar a propositura da presente Medida Cautelar. Tratando-se os Requeridos de tradicional e respeitabilíssima família de ...., tais razões vêm a comprovar que nenhum parentesco tem os Requerentes com os Requeridos. Afinal, se os Requerentes têm tanta certeza com a suposta paternidade, em relação ao Sr. ............, e para tanto juntaram documentos e fotografias, arrolam testemunhas, porque razão exigir medidas tão drásticas e aviltantes? Finalizam os Requerentes indicando assistentes técnicos, formulando quesitos e requerendo a expedição de ofícios a médicos e hospitais. A propósito, vale ressaltar, os médicos e demais profissionais da medicina estão protegidos pelo dever de sigilo profissional e quaisquer informações e documentos por eles prestados ou dados configurará crime contra a inviolabilidade do segredo e sigilo profissional (arts. 153 e 154 do Código Penal). Desse modo, muito embora tenha sido deferida por este MM. Juiz a medida liminar pleiteada, a presente ação não reúne condições de prosseguir, como restará demonstrado, devendo ser revogada a medida liminar concedida, e por fim julgada extinta a presente antecipação de provas.

2

Page 3: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

II - DA IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO: Preceitua o Código de Processo Civil em seu artigo 267, inciso VI, que a ação deverá ser julgada extinta, sem julgamento do mérito, quando não reunir qualquer das condições da ação. Ocorre que no caso em tela, há evidente impossibilidade jurídica do pedido, uma vez que, como os próprios Requerentes exaustivamente mencionaram na exordial, a primeira providência, por eles tomada, foi o ingresso de Ação de Impugnação de Paternidade, cumulada com Ação de Investigação de Paternidade e Petição de Herança, a qual foi extinta sem julgamento do mérito. O decreto de extinção da ação se fundou em dois argumentos básicos, quais sejam: ilegitimidade de parte dos Requerentes e impossibilidade de cumulação de ações. Muito embora, pudessem os Requerentes, à época, ingressar com nova ação para obtenção da providência jurisdicional almejada, todavia, optaram pelo caminho mais moroso e ardiloso, ou seja, interpuseram Recurso de Apelação impugnando apenas um dos argumentos adotados por este Juízo, ou seja, apelaram apenas e tão somente com relação à ilegitimidade de parte, ou seja, com relação à impossibilidade de cumulação de ações não se irresignaram. Portanto, em relação aos Requerentes, o processo principal está extinto, fim este a ser ratificado pelo C. Superior Tribunal de Justiça. Por conseguinte, impossível a presente antecipação de provas, para uma ação que, para os Requerentes, está extinta. O ilustre mestre Prof. Moacyr Amaral dos Santos, em sua obra Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, primeiro volume, página 166, traz à baila o seguinte entendimento:

“O direito de ação pressupõe que o seu exercício visa à obtenção de uma providência jurisdicional sobre uma pretensão tutelada pelo direito objetivo. Está visto, pois, que para o exercício do direito de ação a pretensão formulada pelo autor deverá ser de natureza a poder ser reconhecida em juízo. Ou, mais precisamente, o pedido deverá consistir numa pretensão que, em abstrato, seja tutelada pelo direito objetivo, isso é, admitida a providência jurisdicional solicitada pelo autor. Possibilidade jurídica do pedido é condição que diz respeito à pretensão. Há possibilidade jurídica do pedido quando a pretensão, em abstrato, se inclui entre aquelas que são reguladas pelo direito objetivo.”

Em assim sendo, a pretensão ora formulada pelos Requerentes não pode ser admitida em Juízo, porquanto inadmissível a antecipação de prova para uma ação cuja extinção é questão de tempo, apenas.

3

Page 4: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

No mesmo sentido, o ilustre jurista Vicente Greco Filho, em sua obra Direito Processual Civil Brasileiro, 1º Volume, página 84/85, assevera:

“Mas quando o pedido é juridicamente possível, admitindo-se o conhecimento do mérito, e quando é juridicamente impossível, devendo ser repetida a ação sem julgamento do mérito? O problema não é meramente de discussão teórica ou acadêmica, porque se a decisão for de mérito, ocorrerá em relação a ela o fenômeno da coisa julgada material, que impedirá, posteriormente, a repetição da demanda, se a decisão for apenas relativa à condição da ação, admitir-se-á a renovação da demanda. A solução, ou pelo menos um caminho, para essas dificuldades parece que se encontra na razão da existência da condição da ação agora tratada. Sua finalidade prática está em que não é conveniente o desenvolvimento oneroso de uma causa quando desde logo se afigura inviável, em termos absolutos, o entendimento da pretensão porque a ordem jurídica não prevê providencia igual à requerida, ou porque a ordem jurídica expressamente proíba a manifestação judicial sobre a questão. Destarte, quando o Código de Processo Civil estabelece que se considera inepta a petição inicial, devendo ser indeferida quando o pedido for juridicamente impossível, tem por objetivo prático evitar a atividade jurisdicional inútil, apesar de que pode ocorrer a hipótese de o pedido revelar-se impossível somente mais tarde, por exemplo, quando por ocasião da sentença final, caso em que, igualmente deverá ser decretada a carência da ação, extinguindo-se o processo sem julgamento do mérito.”

De outro lado, consoante o artigo 796 do Código de Processo Civil, todo procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso do processo principal e deste é sempre dependente. Ora, seguramente o C. Superior Tribunal de Justiça dará ao processo principal, no caso a Ação Ordinária proposta pelos Requerentes, o mesmo destino já decretado por este douto magistrado de primeira instância, a saber, o decreto de extinção, porquanto é pacífico o entendimento naquele C. Sodalício da aplicação do princípio tantum devolutum quantum appelatum, insculpido no artigo 515 do Código de Processo Civil. (RTJ 126/813; RF 291/243; RTJ 85/1066; RT 499/159; RTJ 84/288; RSTJ 6/459; RSTJ 7/447; RSTJ 39/582; RSTJ 40/464; RT 570/175; REsp. 4.530-RS, DJU 19.11.90; REsp. 50.036-PE DJU 08.05.96; REsp. 3.346-PR, DJU 24.06.92) Só por tal razão, não faz sentido a presente medida de antecipação de provas de um processo já extinto. Ante o exposto e considerando a ausência de uma das condições da ação, esperam os requeridos seja declarada extinta a presente ação, nos termos do artigo 267, VI do Código de Processo Civil, com a devida revogação da liminar ora concedida. III - DA INÉPCIA DA INICIAL

4

Page 5: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

Como toda ação cautelar, a antecipação de prova deve satisfazer os requisitos comumente exigíveis para tais postulações (arts. 282 e 801) (Humberto Theodoro Júnior, Processo Cautelar, 18ª ed., Livraria e Editora Universitária do Direito). Não comprovaram e tampouco demonstraram os Requerentes, a necessidade e utilidade de tal medida antecipatória. Ora, proposta a medida, visando exumação de cadáveres e exame de DNA nos despojos mortais, com base no “suposto e eventual sumiço dos cadáveres” ou “em notícias sobre surgimento misterioso de cadáveres”, em Cidade próxima, mas proveniente de outras localidades, não justificam a necessidade e utilidade da presente Medida Cautelar. Seu objetivo, portanto, tem o condão apenas e tão somente de submeter a família, parentes próximos dos falecidos a constrangimentos e situações de extrema ridicularização social. Atentatória, referida Medida Cautelar, à dignidade humana. É caso de injúria (art. 140 do Código Penal). A submissão dos restos mortais a exumação, com tais justificativas, está a expor toda a família a situações de extremo desconforto e ridicularizações, perante toda a comunidade ............ E o reflexo negativo de tal situação não se resumirá ao meio social e familiar de que desfrutam, pois, tratam todos eles de empresários, com negócios no Brasil e no exterior, onde certamente chegarão tais notícias degradantes, repercutindo, negativamente, em seus próprios negócios. Enfim, os danos morais e materiais sofridos pelos Requeridos, nessas condições, seguramente serão irrecuperáveis. Nessas circunstâncias, era imprescindível que os Requerentes comprovassem a necessidade de providências de tal gravidade. E isto não fizeram. Portanto, a inicial é inepta. À vista das preliminares arguídas, requerem os Requeridos, nos termos do artigo 807 do Código de Processo Civil, a revogação da liminar deferida. IV - QUANTO AO MÉRITO: Malgrado serem suficientes as preliminares acima aduzidas, para amparar a extinção da presente ação, os Requeridos passam a questionar o mérito propriamente

5

Page 6: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

dito, demonstrando, também, sob este prisma, que a pretensão perseguida não tem razão de ser. Afirmam os Requerentes na exordial que ingressaram em 1993, com Ação de Impugnação de Paternidade cumulada com Ação Investigação de Paternidade e Petição de Herança, a qual foi julgada extinta sem julgamento do mérito por este Juízo. Na verdade, os Requerentes “mudaram” a denominação inicialmente dada à primeira das ações. Antes, a denominavam “Negatória de Paternidade”. Inconformados com a decisão de extinção, ingressaram com Recurso de Apelação, impugnando apenas e tão somente um dos motivos da extinção, qual seja, a ilegitimidade de parte. Com relação à impossibilidade de cumulação das ações, nenhuma irresignação manifestaram. Por isso, a extinção da ação, para os Requerentes é inevitável. Entretanto, segundo reza o artigo 808, inciso III do Código de Processo Civil “se o juiz declarar extinto o processo principal, com ou sem julgamento do mérito”, cessa a eficácia da medida cautelar. Com evidência, referido dispositivo trata dos casos em que a medida cautelar é proposta antecedentemente à ação principal.

“O pedido de cessação da eficácia da medida cautelar deve, evidentemente ser feito no processo cautelar e não na ação principal.” (RT 503/151 e JTA 43/73) “Improcedente a ação principal, perde a eficácia a cautela deferida no seu curso ao autor, independentemente de sentença.” (STJ-3º Turma, Resp 24.986-0/GO, rel. Ministro Dias Trindade, j. 25.08.92, deram provimento, v.u., DJU 28.09.92)

Ora, por dedução lógica, se a medida cautelar perde sua eficácia, quando proposta anteriormente à ação principal e esta vem a ser extinta, quão dirá se é preparatória de ação cuja extinção é fatal e iminente. Em outras palavras, a presente medida antecipatória trata-se de ação nati morta. E mais, caso o C. Superior Tribunal de Justiça venha a dar provimento aos Recursos Especiais interpostos pelos Requeridos, o que certamente ocorrerá, a presente medida cautelar perderá totalmente seu objeto, tornando inútil a realização das provas. De outra banda, segundo ensina Humberto Theodoro Júnior (Processo Cautelar, 18ª ed., Livraria e Editora Universitário do Direito), “Mas a medida probatória já no curso do processo principal, mesmo que seja feita antes da fase adequada, não tem caráter cautelar. Integra-se, ao contrário, na própria atividade instrutória do processo.” Também, no dizer do renomado Calmon de Passos (Comentários ao Código de Processo Civil, vol. X) “o processo cautelar é processo a serviço do processo, não

6

Page 7: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

processo a serviço do direito material”, extinto a ação proposta pelos Requerentes, tal medida antecipatória não terá nenhuma utilidade. Ainda que não seja por tal razão, por economia não só processual, mas por questões de ordem puramente morais e financeiras, constitui tal medida extremamente aviltante para a família dos falecidos, com uma agravante, provocando uma atividade jurisdicional inútil, eis que na dicção do artigo 809 do Código de Processo Civil “Os autos do procedimento cautelar serão apensados aos do processo principal”. Ora pois, ainda que se conclua a presente antecipação de provas, os autos serão apensados e arquivados com o da ação principal. Qual então sua finalidade? Outrossim, os Requerentes não atenderam ao disposto nos artigos 848 e 849 do Código de Processo Civil. Como toda ação cautelar, a antecipação de prova deve satisfazer os requisitos comumente exigíveis para tais postulações (arts. 282 e 801)

“A justificação sumária consiste na simples demonstração de que ocorre um dos pressupostos do art. 847 ou de que a natureza da perícia autoriza o fundado receio de que venha a tornar-se, no futuro, impossível ou improfícuo o exame (art. 849) (Humberto Theodoro Júnior, Processo Cautelar, 18ª ed., Livraria e Editora Universitário do Direito). Não comprovaram os requisitos indispensáveis à propositura da ação, neste sentido. Por fim, quanto ao mérito, vale a pena transcrever partes de elucidativo e interessantíssimo artigo publicado na última edição da Revista do Advogado, nº 58, da Associação dos Advogados de São Paulo, da lavra do ilustre advogado Dr. Dilermando Cigagna Júnior.

“Pelas implicações gravíssimas oriundas do processo investigatório, maior rigor é de ser exigido na análise da petição inicial, o relato dos fatos e documentos comprobatórios, principalmente se a tendência natural da lide conduz à perícia hematológica. (....) Sob o argumento do “relevantíssimo” direito à paternidade, esquece-se do não menos “relevantíssimo” direito à cidadania e do não menos “relevantíssimo” direito à honra do investigado e de sua família, expostos a ações despiciendas de qualquer seriedade. (...) Submeter-se, neste caso, à prova técnica, o réu que saiba não ser o pai, é providência que dela não pode afastar-se, diante daquelas provas circunstanciais e indiretas que o Autor contra ele teria colocado nos autos. Sua recusa, nesta hipótese, praticamente induz à paternidade. Já esta mesma recusa, em casos outros, onde o(a) autor(a) não tenha produzido a menor prova do envolvimento ou relacionamento do investigado com a mãe do(a) investigante, jamais poderá conduzir à mesma presunção ou qualquer outro tipo de conclusão a favor do(a) requerente.

7

Page 8: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

Na realidade, tratar-se-ia, isto sim, não de recusa propriamente dita, mas sim de não precisar nem estar obrigado o Requerido a se submeter a tal exame, disto não se podendo tirar ilações, deduções ou conclusão alguma, pelo quanto exposto no artigo 333-I do CPC. Tal enfoque se coaduna perfeitamente com a garantia constitucional do artigo 5º, inciso II, da Carta Magna, bem como na ausência de presunção legal alguma de paternidade pela não realização de exame hematológico (seja pelo Código Civil, seja pelo processo ou mesmo legislação especial), sem se olvidar que o “codex” substantivo, em seu artigo 349-II, até para filiação “legítima”, fala em “veementes presunções resultantes de fatos já certos”. (...) Primeiramente, que não se coloque óbice ao deferimento do exame após a audiência sob o argumento de que o Código de Processo Civil trata da prova técnica a ser realizada antes da audiência, vez que incontáveis são os processos em que o magistrado relega a pertinência de prova pericial para após a tomada de depoimentos, da mesma forma que um sem número de vezes o julgamento, até em instância superior, é convertido em diligência para realização da perícia. (...) Minha preocupação, dessarte, prende-se ao fato de que seja obedecido pelo Poder Judiciário, a norma máxima contida no artigo 125-I da lei processual, de paridade no tratamento das partes litigantes. E é óbvio que o direito do réu tem que ser preservado. Na verdade, é ele que tem o que perder ante ações despiciendas de seriedade. É ele que fica exposto à mídia, sempre sequiosa em encontrar um pai famoso para virar notícia. (...) Daí porque tenho entendido sistematicamente, ao promover a defesa em Investigatória de Paternidade, exigir o cumprimento, pelo Autor, das determinações emanadas do artigo 333-I do C.P.C., desde logo deixando assente, na resposta, que a submissão do Réu ao exame hematológico ficará na dependência de virem aos autos provas ao menos circunstanciais do envolvimento entre o investigado e a mãe do(a) investigante. Caso contrário, não se submeterá o Suplicado à prova pericial, não pela recusa, mas sim pelo seu direito pleno e irrecusável à honra, à privacidade, à cidadania e, basicamente, ao devido processo legal. (...) Esta posição me parece a que mais se amolda ao direito de ambas as partes e, principalmente, ao regular e sério exercício da advocacia, até porque a submissão pura e simples ao exame hematológico, sem mais esta nem aquela, colocaria o advogado na condição de ser absoluta e totalmente prescindível na defesa do investigado, vez que simplesmente exerceria a função de mero fiscal da coleta do material necessário, aguardando que um perito, competente, ou não(?), na verdade desse a sentença ao magistrado.” (sic e grifamos)

Outro aspecto, por demais interessante, abordado, ainda, no artigo acima referido, se refere à prescrição da ação de investigação de paternidade, muito embora não se trata de matéria a ser abordada neste medida de antecipação de provas. Diz o ilustre causídico:

8

Page 9: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

“A razão biológica não pode suplantar a razão moral, esta muito mais próxima da proteção legal. Daí porque imagino que, ante a maioridade relativa (artigo 169-I c.c. artigo 5º, ambos do Código Civil), a ação investigatória por carregar efeitos patrimoniais deveria ser proposta em até cinco anos contados da maioridade, até porque já teriam desaparecido a resistência e eventuais pressões maternas no sentido de obstar a iniciativa ao ajuizamento da ação.”

O fato é que na ação ordinária, em vias de extinção, os Requeridos já haviam alegado a prescrição dos Requerentes em contestar a paternidade, com fundamento no artigo 362 do Código Civil, embora alguns doutrinadores entendem tratar-se de decadência. Ora, os Requerentes possuem mais 35 e 40 anos, não se justificando que somente agora pretendem ver reconhecida a suposta paternidade. Nessas condições, na hipótese do Juiz vir acolher tal prescrição ou decadência, resultaria totalmente inútil a presente antecipação de provas. Outro aspecto a ser abordado, diz respeito ao entendimento, entre os operadores do direito de que a certeza trazida com o exame do DNA não pode ser considerada única, absoluta e infalível.

“O que se tem percebido é que o exame do DNA passou a ser, para muitos operadores do direito, condição sine qua non para a comprovação da paternidade, ao argumento de uma certeza científica incontestável. Entretanto, sabemos que essa suposta certeza, quase inabalável, não pode prosperar, principalmente quando se noticia diariamente pelos meios científicos acerca da imprestabilidade de alguns resultados e métodos de exames hematológicos, quando muitos deles, confeccionados em laboratórios não qualificados, despreparados e sem recursos científicos suficientes para as efetivações desses procedimentos. (....) Outra verdade é que a intimidade pessoal das pessoas está, a cada dia que passa, vasculhada de forma impressionante, dado ao grande poder tecnológico estatal, podendo vê-las e ouvi-las à distância, invadir seu sigilo bancário, bisbilhotar todo seu patrimônio, enfim, o homem está hoje emaranhado na rede que ele próprio teceu. E seu último front, sua derradeira cidadela, é a lei. (...) Diz a Constituição Federal de 1988 no art. 5º, II: “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei.” O mesmo se diga com relação à maioria dos arestos dos nosso tribunais, a começar pelo Pretório Excelso ao se reportar ao assunto dizendo que “ninguém pode ser coagido ao exame ou inspeção corporal, para a prova cível”(RJTJSP 99/35, 111/350, 112/368 e RT 633/70). Cuida-se de prova que envolve a própria pessoa na sua dimensão física e na sua dimensão moral. Portanto, só o investigando pode decidir sobre a conveniência de submeter-se ao teste, certo que arcará com os ônus decorrentes da negativa, mas essa é outra questão. (...)

9

Page 10: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

Aqui não cabe o jargão de que “os fins justificam os meios”, princípio despótico baseado nos modelos fascistas, que não encontram mais guarida em solo democrático. Em suma, o réu recusando-se a submeter-se ao exame hematológico de DNA, mesmo por determinação judicial, não estaria cometendo o crime de desobediência, nem tampouco arcando com as duras conseqüências da confissão ficta; a uma, pela total falta de amparo legal que possa tipificá-lo no delito mencionado; a duas, porque ninguém, por autoridade que seja, poderia estabelecer, com precisão, que o filho gerado foi produto de uma determinada relação sexual, mormente em se tratando da hipótese de plurium concubemtium; então, a negativa do réu implicaria na presunção da paternidade? Em caso positivo, seria um grande absurdo.” (“Exame de DNA - Meio de Prova, por Dr. Genival Veloso de França Filho, in DireitoNet, www.direitonet.com.br)

Por fim, nesta senda, vale ressaltar a observação feita pela advogada Dra. Renata Martin de Castro, Assessora Jurídica da Genomic, laboratório especializado e já utilizado pelos Requerentes:

“É muito importante, antes de propor a Ação de Investigação de Paternidade, ter prova quanto à maternidade e não ter outra paternidade legalmente estabelecida” (in site na Internet, www.genomic.com.br/jur/leis/item03.htm).

Salvo engano, quando a ilustre advogada afirma “paternidade legalmente estabelecida” quer dizer, “constar do registro civil” o nome do pai. Esta recomendação justifica-se porque, segundo entendimento do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, antes da propositura da ação investigatória, o autor deve, primeiro, promover a anulação/alteração do seu registro de nascimento, onde figura, para todos os efeitos legais, o pai (legal), para, ao depois, buscar a paternidade verdadeira. Nem estas recomendações os Requerentes atenderam. V - DA IMPERTINÊNCIA DAS EXUMAÇÕES E EXAME DE DNA A par das argumentações jurídico-processuais externadas, há de se levantar em conta que, falecida a pessoa, a rigor, extingue a personalidade civil, a teor do artigo 10 do Código Civil. No entanto, em diversas hipóteses, atos jurídicos são praticados de modo a externar o último desejo ou a vontade do falecido, com evidência, para depois da sua morte. São os casos de realização de testamentos; doação de órgãos, desejo de serem cremados, dentre outras hipóteses. As vontades externadas em vida, pelo falecido, podem ser de forma implícita e explícitas.

10

Page 11: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

Não por estas razões que, em muitos casos, a pessoa em vida manifesta sua vontade de doar órgãos, legar um bem a determinada pessoa a ela ligada por laços de amizade e gratidão, ou até mesmo de ser cremada, sem contudo deixar escritos neste sentido, vindo seus familiares, posteriormente, realizarem estas manifestações de vontade, externadas sem que estejam de posse de documento escrito corroborando tais atos. Enfim, com a morte de uma pessoa surgem relações jurídicas novas, notadamente aquelas concernentes à preservação da imagem do falecido, disciplinando-se a maneira como os vivos se comportam em relação a eles. Como bem lembra a advogada Dra. Magda Abou El Hosn, em interessante artigo sobre o Direito Funerário, "Honrar os mortos preservando a sua memória, sem causar danos aos vivos, eis a preocupação central. Esta é a tarefa do Direito Funerário." Enfim, inúmeras condutas ou modus vivendi da pessoa em vida, externam, espelham, demonstram sua vontade para diversos atos a serem praticados depois da sua morte. É o caso da paternidade não reconhecida. Durante e ao longo da sua vida, o suposto pai investigando (............) jamais demonstrou sua vontade de reconhecer os Requerentes como seus filhos. Ainda que supostamente tenha convivido maritalmente com sua mãe e os contemplado em seu testamento, mas vontade de reconhecê-los, como filhos, de forma explícita, o que poderia fazê-lo de livre e expontânea vontade, até porque impedimento não havia, no entanto, não o fez. Seguramente, se vivo fosse, jamais se submeteria a qualquer exame, em especial de DNA, mesmo porque obrigado não estaria. Aliás, se enquanto vivo não era obrigado a submeter a tal exame, porque lhe é imposto tal subjugação quando morto? Por que os Requeridos não propuseram a investigatória enquanto o suposto pai era vivo, de modo que, perante este mesmo Juízo se manifestasse a respeito? A razão é singela, qual seja, sabiam que o suposto pai não pretendia reconhecê-los como tal. Ora, neste caso, a prevalecer a exumação do cadáver do falecido e perícia estão todos a aproveitar da ausência do suposto pai, ou seja, da sua morte. Se assim é, estamos a criar um novo axioma segundo o qual, "nas ações de investigação de paternidade, mais vale um pai morto do que vivo", o que configura uma autêntica aberração do comportamento humano.

11

Page 12: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

Em outras palavras, a questão a ser discutida trata de quem deve responder ou manifestar a vontade do morto. Seus parentes e herdeiros, em várias hipóteses, respondem para com suas dívidas e obrigações contraídas em vida. Estes, repetindo, em inúmeros exemplos, permitem a doação de órgãos do falecido, determinam sua cremação, fazem doações de seus bens, dentre outros desejos, porque em vida, embora não tenha se manifestado explicitamente, consistiam da vontade do falecido. Portanto, em se tratando de qualquer ato a ser praticado envolvendo seus restos mortais devem ficar a mercê da vontade de seus familiares. Nestes casos, a vontade da família é a vontade do morto. Se em vida não manifestou de forma diferente, não podem seus familiares contrariar seu desejo. Ambos, vivos ou mortos que arquem com as conseqüências dessa recusa. Ademais, se até os vivos não são obrigados a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, muito menos os mortos, pois, para aqueles atos que deixou expresso, implícita ou explicitamente, somente os vivos, seus familiares é que poderão realizá-los. A vontade do morto está ao arbítrio da vontade dos seus parentes vivos porquanto são estes que realizam seus desejos e vontades.

"É preciso envelhecer para compreender os desejos dos mais velhos, entre os quais o de ser sepultado ao lado de seus entes mais queridos." (Des. Laerte Nordi, in Apelação Cível nº 187.817-4, Primeira Câmara de Direito Privado)

De mais a mais, se ninguém (vivo) pode ser conduzido "debaixo de vara", na expressão utilizada pelo Supremo Tribunal Federal (HC 71.373-4/RS), porque então deveria o morto ser submetido a tal exame, se a família não quer e quando em vida também se recusou ou se furtaria? Aliás, os próprios familiares do falecido se recusaram a se submeter a tal exame. Desta feita, a vontade de ambos (vivos ou mortos) deve ser respeitada, não só por questões de ordem moral, mas principalmente, religiosas e afetivas, e marcadamente pelo respeito que os familiares dedicam aos seus entes queridos e falecidos. Está arraigado em qualquer sentimento familiar, seja de que origem, raça ou religião, o venerando respeito que se dedica aos seus mortos, tanto assim que se "fale mal dos vivos, mas deixem os mortos em paz", até porque estes não mais têm quem os defendem.

"Investigação de Paternidade. Agravo. Juntada de Documentos. Fase. Exame de D.N.A. "Post mortem". Exumação. Recusa. Consequência. É lícito aos autores juntar, em réplica, documentos novos, destinados a prova de fatos constitutivos dos seus direitos, negados na contestação - art. 397 do CPC. A decisão judicial que ordena a exumação de cadáver para exame de DNA afeta os sentimentos profundos do respeito que a família dedica aos seus mortos, devendo a recusa desta, neste plano, ser respeitada, ressalvando-se seus consectários na avaliação final das "questões ligadas à prova dos fatos". (TJDF, Agravo de Instrumento 78435, 21/08/1995, Quarta Turma, Rel. Des. Everards Mota e Matos).

12

Page 13: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

E a violação e aviltamento perpetrados pela exumação atingem não só o suposto pai investigando, mas também, outros despojos que porventura também estão sepultados junto àquele e que possivelmente serão incomodados em seu recanto eterno. E nem se diga que a produção das provas está ao arbítrio e critério do Juiz, ex vi do artigo 130 do Código de Processo Civil. De verdade, em casos tais, o arbítrio do Juiz está limitado à vontade da parte e da Lei. Pode o Juiz conduzir "de baixo de vara" alguém que se recusa a ser examinado? Da parte, porquanto se ela não quer nem pretende produzir as provas que bem entender, principalmente se for ela o objeto a ser examinado, a exemplo do que ocorre nos exames de DNA, pois que ninguém pode ser conduzido "debaixo de vara" para ser a ele submetido. Da Lei, porque ninguém é obrigado a fazer alguma coisa senão em virtude de Lei (art. 5º, II, CF). Ora, se não há Lei que obrigue a parte a se submeter a exames periciais, não como por fazê-lo. E exumação de cadáveres para coleta de material para satisfazer desejos de terceiros não está previsto em diploma legal algum. A propósito, o E. Tribunal de Justiça do Espírito Santo, neste sentido se manifestou:

"Ementa. Paternidade. Investigatória. 1. As pesquisas médicas sobre a comparação dos grupos sangüíneos trazem, atualmente, importantíssima contribuição as ações de investigação de paternidade. 2. Não obstante, a semelhança fisionômica constitui forte subsídio probatório, aliado à perícia e a outras circunstâncias que denunciem o autor da gravidez. 3. Não há obrigatoriedade de realização do exame de DNA, diante da falta de texto legal que a imponha. 4. Recurso a que nega provimento." (Processo nº 040959000007, Terceira Câmara Cível, 31/10/1995, Rel. Des. Pedro Valls Feu Rosa).

"A descoberta da verdade, meio pelo qual se chega à solução do conflito de interesses, deve ser exercida pelas partes e pelo Juiz de forma mais ampla possível, mas tem como limites os direitos inerentes à dignidade da pessoa humana, quer no sentido físico quer no espiritual, pressupostos básicos de qualquer Estado democrático" (Agravo de Instrumento nº 187/93, 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Rel. Des. Carpena Amorim).

Ainda, se extrai do brilhante voto proferido pelo Ilustre Julgador acima referido:

"É certo que o fim do processo é a solução do conflito de interesses e o meio, a descoberta da verdade, e que para conseguí-la é dado às partes e ao Juiz, responsável pela decisão do litígio, lançar mão de todos os meios de prova possíveis e imagináveis. A regra insculpida no Código de 1939 era a seguinte (art. 208: "São admissíveis em Juízo todas as espécies de prova reconhecidas nas leis civis e comerciais."

13

Page 14: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

O atual Código de Processo, sob o influxo de novas idéias, nascidas certamente da necessidade de proteger as pessoas da onipresença sufocante do Estado hodierno, redigiu de forma mais prudente o art. 332, que trata do mesmo tema: "Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação e a defesa." O Código Procesal Civil y Comercial da República Argentina foi muito mais enfático (art. 379): "La prueba deverá produzir-se por los médios previstos expressamente por la ley y por los que el Juez disponga, a pedido de parte o de ofício, siempre que no afecten la moral, la liberdad personal de los litigantes o de terceros o no estean expressamente prohibidos para el caso." Como diz o notável processualista gaúcho, ALCIDES DE MENDONÇA LIMA, in Revista de Processo, nº 43, pág. 138, em artigo sob o título - A eficácia do meio de prova ilícita no Código de Processo Civil brasileiro: "Os meios de prova podem ser legítimos (se configurados em lei expressamente, tanto no C.P.C., como em outros textos) e lícitos (não configurados em leis mas admissíveis, se "morais", como, antes do Código de 73 já se admitia no Brasil, por praxe forense, da inspeção judicial atualmente incluída no C.P.C., art. 440 e ss). Um meio legítimo poderá tornar-se ilícito se for obtido ou for produzido fora dos ditames morais; mas o meio ilícito será sempre, evidentemente, ilegítimo, porque, além de não ser estatuído em lei ainda está maculado por qualquer ato do interessado." A Constituição de 88 também não descuidou do assunto, dizendo, no art. 5º , LVI: "São inadmissíveis no processo as provas obtidas por meios ilícitos." Portanto, já a essa altura, podemos afirmar, com base na normatividade vigente, duas coisas: 1º - que todos os meios de prova destinados à apuração da verdade devem ser utilizados pelas partes; 2º - que são imprestáveis como prova os dados obtidos por meios ilícitos bem como imorais. Isto é, aos superiores interesses da Justiça no esclarecimento dos fatos, devem-se opor os valores éticos e morais tidos pela nossa cultura como violadores da dignidade da pessoa humana. É sabido que o Estado moderno, mais do que em qualquer tempo, agigantou-se, fazendo com que o Levitã de THOMAZ HOBBES parecesse, aos nossos olhos, um pequeno camaleão alado. O Estado de nossos dias, municiado com um arsenal tecnológico nunca sonhado, é capaz de tudo, sufocando o ser humano e empurrando-o até os mais longínquos limites da sua intimidade pessoal. Invade a privacidade das pessoas, pode vê-las e ouvi-las à distância, quer saber quanto dinheiro têm no Banco, quantos imóveis possuem, quais são os seus negócios, enfim, o homem está hoje enredado nos tentáculos de um monstro que ele mesmo criou. A sua última fronteira, a derradeira cidadela, é a lei. A verdade, cuja busca incessante é a meta, não deve ser conseguida de qualquer maneira. Há um preço que ninguém pode pagar: o que compromete a dignidade do homem. Diz a Constituição Federal no art. 5º , II de 1988: "Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei."

14

Page 15: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

E não há lei nenhuma que obrigue o investigando réu a submeter-se ao exame hematológico. Trata-se de prova que envolve a própria pessoa na sua dimensão física e na sua dimensão moral. Portanto, só o agravante pode decidir sobre a conveniência de submeter-se ao teste, certo que arcará com os ônus decorrentes da negativa, mas essa é uma outra questão. Estamos em área dispositiva onde o Estado não pode se sobrepor aos interesses das partes envolvidas. Se estivéssemos lidando com matéria cogente, de ordem pública, o enfoque seria um pouco diferente. Mesmo assim, a descoberta da verdade no processo penal jamais ultrapassou os limites da decência do réu, que tem o direito de silenciar ou de mentir no seu interesse. O marxismo-leninismo na União Soviética, que deu no que deu, tinha como um dos pontos cardeais de seu sistema político-autoritário o princípio de que "os fins justificam os meios". Se isso fosse correto, se a descoberta da verdade não tivesse limites, a probatio probatissima do direito intermediário teria plena atualidade, submetendo-se o réu a todas as torturas e violações da narco-análise, do lie detector, e outros engenhos criados para vilipendiar ainda mais o ser humano, já tão esmago pelas distorções atuais da sociedade, com o único objetivo do esclarecimento da "verdade". Enfim, concluindo, até porque não se trata de um ensaio científico, entendemos que o réu, na investigação de paternidade, pode validamente recusar-se a submeter-se a esse ou a qualquer outro exame que envolva a sua privacidade física ou espiritual. ... Por isso, entendemos de garantir esse direito básico e constitucional de qualquer pessoa - o de conduzir-se de acordo com as suas conveniências, desde que não entre em conflito com as disposições que regem a vida dentro do grupo social. E assim fazendo, não estamos sendo sequer originais, porque em vários dispositivos legais o ordenamento jurídico resguarda certos valores da pessoa humana, em detrimento dos interesses da ordem pública no esclarecimento dos fatos, até mesmo de caráter criminal. Nesse plano, podemos exemplificar com o segredo profissional ou que resulta de ofício ou de fé religiosa, cuja violação implica até em crime (art. 154, do Código Penal).

Afinal, se o Estado garante as liberdades políticas, de pensamento e religiosas, esta garantia também é extensiva aos mortos, pois que seus restos mortais devem ser respeitados naqueles limites, espirituais, morais e religiosos. Há, pois, motivos de ordem legal, moral e religiosa a protegê-los, tanto assim que o Código Penal capitula como crime sua violação. A exumação do cadáver pode não ser, na realidade, uma profanação. Mas o que é inegável é que ela constitui um aparato incompatível com a delicadeza dos nossos sentimentos religiosos e que, por isso, se realiza sempre em meio à consternação geral dos parentes. Por tais razões, a exumação é um procedimento de extrema gravidade, devendo sua realização ser determinada em casos excepcionalíssimos e não em circunstâncias que podem tornar desnecessária, inútil e imprestável o exame pericial.

15

Page 16: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

A Dra. Margherita Mascarenhas da Silva Duarte, ao comentar decisão do Supremo Tribunal Federal (in Tribuna do Direito, Dezembro/1994) assevera que "a admissibilidade dos testes, inclusive de DNA, como prova em processo judicial, depende do respeito aos direitos fundamentais do investigado." Em sua opinião, "não se pode violar a integridade corporal, a dignidade, a honra, e a intimidade dele sob pena de se considerar que a prova foi obtida por meio ilegítimo e ilegal, mesmo se o material objeto do exame, no caso o sangue, tiver sido colhido por ordem emanada do Judiciário." Por fim, conclui a ilustre advogada que "a própria comunidade científica afirma que os testes não podem se constituir em prova única, nem levam, por si só, à certeza absoluta da paternidade ou de sua exclusão." Demais disso tudo, ex vi do artigo 420 do Código de Processo Civil, o Juiz indeferirá a perícia quando "for desnecessária em vista de outras provas produzidas". Portanto, se os Requerentes têm tanta certeza do seu direito, com base nos documentos juntados, a realização de tais exumações se revela inúteis em todos os sentidos. V – DA AUSÊNCIA DO “PERICULUM IN MORA” O artigo 849 do Código de Processo Civil é taxativo quando preceitua que só será admissível exame pericial, caso haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou muito difícil a verificação de certos fatos na pendência da ação. Querem fazer crer os Autores que pelo simples fato de os Requeridos "poderem" fazer "desaparecer" cadáveres ou alguns despojos surgiram em Cidade próxima, traz "periculum in mora" às suas pretensões. Tal postura se revela, no mínimo, inverossímil, para não dizer atentatória, aviltante, ultrajante e injuriosa, não só às pessoas falecidas como aos parentes destes. Pretendessem os Requeridos usar de tão sórdida providência já o teriam feito há muitos anos atrás, ou quando do falecimento do suposto pai investigando ou até mesmo quando os Requerentes propuseram a ação ordinária, em 1993. O argumento de "aparecimento misterioso de cadáveres", em Cidade próxima é uma afronta ao bom senso. Ainda se fosse "desaparecimento misterioso" de cadáveres, poder-se-ia admiti-lo. É cediço que, em tais Medidas, o “periculum in mora corresponde, assim, à probalidade de não ter a parte condições, no momento processual adequado, de produzir a prova, porque o fato é passageiro, ou porque a coisa ou pessoa possam perecer ou

16

Page 17: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

desaparecer. Se não existe esse risco, a medida não tem cabimento e pode, inclusive, ser contestada pelo promovido, como medida desnecessária e onerosa. (Humberto Theodoro Júnior (Processo Cautelar, 18ª ed., Livraria e Editora Universitário do Direito). Os Requerentes estão partindo da presunção de que os familiares são criminosos, não têm o menor respeito para com seus falecidos e ainda assim, toda a comunidade ........ compactua com os tais "aparecimentos" misteriosos de cadáveres. Reiterando, se não ridícula e inverossímil, no mínimo, atentatória à dignidade humana tal postura, por parte dos Requerentes. Impossível, pois, a caracterização de “lesão irreparável” a justificar tal medida antecipatória. (REsp. 81012/SP, 3ª Turma, Min. Waldemar Zveiter, j. 03/09/96). E nem se diga que a demora do processo contribui para o risco de dano argumentado pelos Requerentes. Se não cometem engano, certamente, deturpam fatos ao alegarem que “o momento oportuno para realização da perícia genética está muito distante, uma vez que os autos da carta de sentença se encontram em fase de remessa para o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para julgamento de recurso de apelação.” A uma, porque justificam a urgência da medida em razão da demora do Poder Judiciário, o que faz de tal argumento, absurdo. A duas, porque os autos principais da ação ordinária, em curso no C. Superior Tribunal de Justiça, possivelmente retornarão à primeira instância, antes de qualquer julgamento dos recursos interpostos na Carta de Sentença. A três, tendo em vista que a extinção da ação principal será convolada pela última instância, consequentemente, a Carta de Sentença terá o mesmo destino, ou seja, o arquivo, para seu perpétuo silêncio. A quatro, se a demora do processo por si só justificasse a propositura de outras demandas, em questão de horas, o colapso total do Judiciário seria irremediável e definitivo, obrigando-o a fechar as portas. “Não podemos admitir que a simples demora na prestação jurisdicional possa trazer prejuízos, sendo necessária a existência de um risco de que o provável direito venha a ser frustrado na sua atuação prática. A demora do processo pode servir apenas como fator agravante do risco de um dano.” (Maria Fátima Vaquero Ramalho Leyser, Produção Antecipada de Provas, Ed. Síntese, 1998) Ainda assim, para que se caracterize o periculum in mora o dano deve ser provável, possível de fato. Não basta a eventualidade, e no caso em tela, os Requerentes estão se escorando em hipóteses, em eventualidades, sem qualquer prova cabal ou mesmo circunstancial.

17

Page 18: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

Concluindo, não há, pois, plausibilidade e tampouco lógica no pedido dos Requerentes. “O argumento pode ser lógico, mas isso não quer dizer que a sua conclusão seja necessariamente verdadeira, isto é, corresponda à realidade. Muito pelo contrário, a única garantia que o raciocínio lógico oferece é a de que, sendo verdadeiras as premissas e válida a inferência, a conclusão será verdadeira. Em outros termos, há duas condições para que o raciocínio lógico nos conduza à verdade: a veracidade das premissas e a correção do próprio raciocínio” (Fábio Ulhoa Coelho, Roteiro de Lógica Jurídica, Mas Limonad, 3ª Edição). Nenhuma das premissas utilizadas pelos Requerentes é verdadeira; desaparecimento ou surgimento de cadáveres - daí porque a impertinência da medida. Enfim, sob qualquer ângulo ou aspecto, não há periculum in mora a ser protegido nesta medida antecipatória. VI – DA NÃO CARACTERIZAÇÃO DO “FUMUS BONI JURIS” Quanto ao fumus boni iuris, segundo Sydney Sanches ensina, ”consiste na probalidade da existência do direito invocado pelo autor da ação cautelar. Direito a ser examinado aprofundadamente, em termos de certeza, apenas no processo principal já existente, ou, então, a ser instaurado” (Poder Cautelar Geral do Juiz, São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 1978). Considerando que os Requerentes manejam a presente medida incidentalmente à ação de impugnação de paternidade em face de ..........., cumulada com investigação de paternidade e petição de herança em face destes e de outros Requeridos, processo este em fase de extinção, conforme já reiterado, conclui-se que não há fumus boni iuris invocado pelos Requerentes. Não se pode falar em processo principal já existente, se este está fadado à extinção. De outro lado, afirmam os Requerentes, para justificarem a presença do fumus boni iuris, que o Sr. ........., não é seu pai biológico, segundo exame hematólógico realizado. Ora, o exame hematológico noticiado nada esclarece com relação aos Requeridos, mesmo porque, se efetivamente realizado, o foi ao alvedrio destes. O fato de não serem filhos de um, não significa que são de outro. Com relação às disposições testamentárias feitas pelo suposto pai investigando, não afirmam nem infirmam ser este realmente o pai biológico dos Requerentes. Por outro lado, há questões de alta indagação a serem discutidas e decididas, no processo principal, relacionadas com prescrição, decadência e ilegitimidade de partes.

18

Page 19: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

Portanto, descaracterizado está o fumus boni iuris. VII - DA NECESSIDADE DE AUDIÊNCIA DAS PARTES De acordo com o artigo 797 do Código de Processo Civil, somente em casos excepcionais, expressamente autorizados por lei, poderá o juiz determinar medidas cautelares sem a audiência das partes. No caso dos autos, permissa venia, não houve qualquer motivo que justificasse o deferimento prévio da liminar, sem a manifestação da parte contrária, uma vez que os Requerentes não comprovaram, efetivamente, a necessidade da exumação e exame de DNA. Não só por isso, mesmo que se invocasse o artigo 804 do Código de Processo Civil, não haveria razão da concessão da liminar inaudita altera pars. De fato, prescreve o supracitado dispositivo que é "lícito ao Juiz conceder liminarmente a medida cautelar, sem ouvir o réu, quando verificar que este, sendo citado, PODERÁ TORNÁ-LA INEFICAZ." A liminar foi deferida para a realização de perícia hematológica. Ora, não há como os Requeridos, após citados, tornarem a medida ineficaz. A uma, porque, evidentemente, seria uma sandice "desaparecerem" com os restos mortais de parentes tão próximos. A duas, consoante já afirmado, há outros meios de provas a serem produzidas. A três, porque não há previsão legal para exumação de cadáveres para serem submetidos à perícia. Portanto, a rigor, a citação dos Requeridos, antes do deferimento da liminar, não poderia jamais causar danos aos Requerentes e muito menos tornar qualquer decisão judicial ineficaz, porquanto não os afeta diretamente. “Ademais, alguns doutrinadores entendem que a única hipótese em que o juiz pode conceder a liminar inaudita altera pars é quando se verificar a ineficácia, por atitude do réu” (Maria Fátima Vaquero Ramalho Leyser, Produção Antecipada de Provas, Ed. Síntese, 1998). Pelo respeito que a família dos falecidos desfrutam na Cidade de....., inconcebível que o MM. Juiz pudesse entender nesta possibilidade. Daí a ilegalidade da concessão da liminar, sem justificação prévia e muito menos sem a oitiva dos Requeridos.

19

Page 20: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

Por fim, data venia, este d. magistrado deferiu a liminar pleiteada fundamentando sua r. decisão apenas na demora no trâmite da ação principal ou da carta de sentença. Em outras palavras, com o devido respeito, injustificável a concessão da liminar fundada na demora provocada ou por culpa do próprio Poder Judiciário, segundo já rebatido pelos Requeridos. Afinal, quem deu origem a tais percalços foram os próprios Requerentes. Pleiteiam uma medida alegando urgência em razão da demora do Poder Judiciário e com receio de que pessoas morram durante este tempo. Porque não buscaram o reconhecimento quando o suposto pai ainda era vivo? Porque intentaram somente após três anos após a morte do suposto pai? Convenhamos !!! Socorrer-se do Poder Judiciário é um direito assegurado a todos, porém há limites e regras a serem cumpridas. Culpando o próprio sistema judiciário extrapola a todos eles. Em verdade, se o processo deve proporcionar a quem tem razão em tudo aquilo e naquilo a que julga ter direito, verifica-se que as modalidades de tutela jurisdicional mais conhecidas se mostram incapazes de desempenhar tal missão, até mesmo para aqueles direitos passíveis de plena satisfação pela via jurisdicional. Fala-se, hoje, em tutela jurisdicional diferenciada como fator decisivo para a efetividade da prestação jurisdicional. Trata-se de adaptar a própria prestação jurisdicional e seus instrumentos ao objetivo desejado. Como este varia em cada situação apresentada ao órgão jurisdicional, não se justifica manter-se inflexível à espécie de tutela. Tutela jurisdicional diferenciada significaria uma tutela adequada à realidade do direito material, levando em conta a natureza do direito pleiteado e os mecanismos necessários para sua plena satisfação. Com efeito, determinadas situações não comportam a cognição plena do procedimento comum, pois requerem uma tutela sumária e urgente, ou uma cognição sumária, via de regra, nas cautelares em geral. Mas, tal cognição sumária pode e deve ser utilizada nos processos cautelares, porém, admitida em situações excepcionais, mormente tratando-se de processo autônomo e quando envolve providências de extrema repercussão, como é o caso de exumação de cadáveres. Contudo, tal cognição sumária, preconizada atualmente pelos estudiosos do direito, não se aplica nesta medida de antecipação de provas, em razão da própria

20

Page 21: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

complexidade dos exames requeridos, mas, principalmente, pelas repercussões surgidas, mormente, ligadas aos sentimentos familiares, religiosos. Afinal, está se lidando com despojos mortais de entes queridos. Ademais, se os Requerentes demoraram e aguardaram tanto tempo para virem a juízo, pleiteando um suposto direito, sem demais outras conjecturas, pode-se concluir que o tempo não corre contra eles. Acrescente-se que, até por envolver cadáver, é uma situação excepcional e urgente a justificar uma cognição diferenciada, cuidadosa, criteriosa e muito bem sopesada. A par disso, salvo melhor juízo, afigura-se contraditório, o fato deste d. magistrado ter deferido a liminar inaudita altera pars, sopesando a demora de uma ação ordinária principal na qual já havia sentenciado, decretando sua extinção. Evidente que referida decisão ainda não transitou em julgado, aguardando pronunciamento do C. Superior Tribunal de Justiça. E o mesmo se diz da Carta de Sentença. Mas, no entender dos Requeridos, data venia, até que venha decisão de instância superior, determinando o prosseguimento do feito e julgamento do mérito, salvo melhor juízo, este d. magistrado mantendo a coerência do posicionamento antes adotado, não poderia deferir a liminar porquanto, para V. Exa., a ação principal sob a qual se funda a medida cautelar já estava extinta. E mais, considerando que a recusa injustificada em se submeter ao exame, pode contra as pessoas envolvidas se voltar, conforme já pacificamente decidido pelos Tribunais, e levando em conta que os Requerentes insistem, veementemente, na realização de tal exame, deduz-se que as provas por eles coletadas e juntadas não são suficientes, sequer, circunstancial ou indiciariamente, a sustentar sua pretensão, do contrário, não batalhariam pela realização da perícia. Veja-se que os Requerentes estão com receio até dos exames feitos em parentes próximos do suposto pai investigando. Sob todos os ângulos e aspectos, indubitável e inquestionavelmente sem necessidade, utilidade e praticidade, legal, jurídica ou formal, a antecipação de provas intentada, merecendo ser decretada seu arquivamento. VII - DO "PERICULUM IN MORA" E "FUMUS BONI JURIS" DOS REQUERIDOS A realização de prova pericial consistente de exumação de cadáveres para obtenção de material para exame de DNA, sem que outras questões de alta indagação tenham sido decididas pelos Tribunais Superiores não tem razão de ser.

21

Page 22: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

A uma e com o devido respeito aos falecidos, seus despojos estão lá e lá continuarão, podendo, se for o caso, virem a ser exumados para efeito de exames periciais, se necessário e no momento oportuno. Seguramente, não sofrem riscos de desaparecerem ou se tornarem imprestáveis para os exames pretendidos, em vista do atual estágio da biogenética. A duas, há outros meios e outras provas à disposição dos Requerentes a demonstrar suas pretensões. A três, não se justifica que providências desta natureza venham a ser tomadas, profanando-se seus repousos perpétuos, com uma ação judicial também morta, pois, a extinção do processo, conforme acima assinalado é irremediável, em face da preclusão mencionada. A quatro, carece de previsão legal a exumação de cadáveres para coleta de material para exame de DNA. Não se pode, pois, com a retomada da ação e realização de provas periciais nos despojos mortais do suposto pai, do seu irmão ou da pretensa avó, alegando em seu favor, urgência na medida adotada ou princípio da economia processual. Não há, pois, razões de ordem legal ou moral que justifiquem a violação dos sepulcros dos supostos, pai, tio e avó, em prol de quaisquer princípios, sabendo-se que a pretensão dos Requerentes tem cunho eminentemente econômico. Na verdade, estar-se-á perpetrando uma profanação ao jazigo da família. “Requiescant in pace”.

"Exame de DNA. Inexistência de lei obrigando a parte se submeter a realização daquela prova, sujeitando-se evidentemente as conseqüências de sua recusa. Observância do princípio de que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Art. 5º, II da Constituição Federal. Diante da morte do investigado, sem poder obviamente presumir a sua vontade e considerando a inexistência do exercício regular de um direito, deve ele ficar eqüidistante do interesse das partes, permanecendo em seu natural descanso. Existência de outros meios para que se possa fazer prova das alegações, como ocorria anteriormente em muitos casos, quando não havia aquele exame. Desprovimento do recurso. Decisão unânime." (TJRJ, Agravo de Instrumento, proc. 2000.002.755, 31/05/2000, Décima Quinta Câmara Cível, Rel. Des. José Mota Filho)

A despeito das razões de ordem moral, deve ser frisado que, quando em vida do suposto pai, os Requerentes não se movimentaram no sentido de pleitear a filiação do "de cujus". Aguardaram seu passamento, para intentarem a ação contra a ascendente do pai investigando, ou seja, contra sua suposta avó. Releva ser mencionado que os Requerentes contam com mais de 35 e 40 anos de idade, e, nem quando alcançaram a maioridade, há 15 ou 19 anos se dignaram a

22

Page 23: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

contestar sua filiação, nos termos dos artigos 362 combinado com 178, parágrafo 9º, inciso VI, do Código Civil. Desta feita, não se justificam quaisquer medidas antecipatórias fundadas em argumentos de receio de perecimento de provas, se ao longo de muitos anos quedaram-se silentes. Destarte, há princípios constitucionais e processuais a serem respeitados e obedecidos de modo a não conturbar a ordem processual e evitar o atropelo de direitos e garantias, consoante entendimento esposado pelo Ministro César Asfor Rocha, no Recurso Especial nº 100086/MS, segundo o qual "Antes de determinar prova pericial do DNA, deve o Dr. Juiz produzir outras que objetivem a formação de seu convencimento sobre a pretensão deduzida." De mais a mais, extinto o processo, sem julgamento do mérito conforme decidido pelo magistrado de primeiro grau, não há empecilho de ordem legal ou processual a obstacularizar nova demanda, desta feita, de forma correta. Inconcebível, agora, passarem os familiares do suposto pai investigando pelo constrangimento de verem os restos mortais de entes queridos submetidos a provas periciais, com uma agravante, para um processo cuja extinção é inarredável. Ainda que se admita a realização do exame de DNA nos Requerentes, irmãos do falecido pai investigando, da mesma forma, a submissão deles a tais perícias, neste processo, de nada valerá, eis que, reiterando, tais provas certamente serão sepultadas com o arquivamento do feito, dada a irreversibilidade da sua extinção. Sem que questões de alta indagação, de natureza substantiva e adjetiva, tenham sido ultrapassadas ou examinadas em sede de Recursos Especiais e Extraordinário, a exumação dos despojos mortais de familiares dos Requeridos trará a estes danos morais irreversíveis, principalmente em se tratando de tradicional família da cidade onde residem e convivem. E se este C. Superior Tribunal de Justiça acolher a tese de que o processo está extinto, em razão da sentença de primeira instância? Para quê e de quê servirão as provas produzidas? A propósito, vale citar o entendimento esposado pelo I. Ministro Vicente Leal, no Recurso Especial nº 69.981/PR que, "segundo o cânon inscrito no art. 802, do CPC, os procedimentos cautelares, quer sejam nominados ou inominados, admitem a apresentação de contestação, sendo que, em se tratando de cautelar de produção antecipada de provas requerida com fulcro no artigo 846, a impugnação deve limitar-se à necessidade e à utilidade da tutela que a cautelar visa a garantir". Necessidade não há, para a exumação de cadáveres, mesmo porque, quando e se necessário, os restos mortais a serem exumados seguramente estarão nos mesmos locais onde se encontram.

23

Page 24: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

Acrescente-se a isso, o fato de que os Requerentes dispõem de outros meios e provas a comprovar suas alegações. Utilidade, igualmente, não há, porquanto, com o decreto de extinção do processo a ser corroborado pelo este Colendo Superior Tribunal de Justiça, as provas a serem produzidas em nada se prestarão. Em Acórdão pelo qual negou provimento a Agravo de Instrumento interposto por autor pretendendo a exumação de cadáver para realização de exame de DNA, assim ementou o E. Tribunal de Justiça do Estado de Goiás:

"Nos casos onde a investigação de vínculo genético envolve suposto pai falecido, os exames mais utilizáveis hodiernamente são os do sistema HLA e DNA, não estando indicada a exumação do cadáver, mormente porque a qualidade da análise resultaria comprometida devido, principalmente, ao estado de conservação e aos cuidados reservados na obtenção do material post mortem, notadamente quando decorrido o óbito há mais de dois anos, além de implicar gastos vultosos face a sua complexidade". (TJ Goiás, AgIn. 10.180-9/180, 2ª Câm., j. 25/06/1996, Rel. Des. Fenelon Teodoro Reis)

Neste mesmo diapasão, decidiu o E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, no Agravo de Instrumento nº 95.147-1, no voto proferido pelo então ilustre Desembargador Franciulli Netto, atualmente Ministro do Colendo Superior Tribunal de Justiça:

"Trata-se a exumação de medida a ser determinada com rigorosa prudência em casos de estrita e manifesta necessidade, quando todos os outros meios de prova tiverem se esgotado, posto que, na verdade, é um procedimento de exceção na investigação do vínculo genético. ... Indaga-se: qual a necessidade premente de realizar uma prova que pode tornar-se inócua, se decretada a procedência da ação de anulação do testamento deixado pelo de cujus? A exumação, na realidade, não configura profanação ao cadáver, mas, certamente, viola, no geral, os sentimentos religiosos cultivados pela sociedade e, em particular, acarreta consternação aos parentes, com sério risco de abalo irreversível dos alicerces familiares. Deve-se preservar o sentimento que a sociedade e a família dedicam a seus mortos, de sorte que a recusa a tal exame deve ser respeitada e levada em conta, a menos que se erga questão maior, incontornável, de ordem pública. ... Uma coisa é certa, se esse exame excepcional não for necessário, há de prevalecer o respeito ao sentimento social devotado aos mortos, dado seu relevante valor ético social. Pelo que precede, afastam a realização da exumação e do exame de DNA nos restos mortais de A. A. Posto isso, ACORDAM, em Nona Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por votação unânime, dar provimento ao agravo."

Ainda, deste E. Tribunal, entendimento manifestando pela desnecessidade de exumação, ainda que requerida pelos próprios parentes do suposto pai investigando, em

24

Page 25: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

voto proferido pelo i. Des. Vasconcellos Pereira, pela Segunda Câmara de Direito Privado, na Apelação Cível 96.445-4:

"À míngua de argumentos idôneos, as apelantes negaram-se a participar da perícia, que provavelmente lhes revelaria a existência de um irmão, invocaram - pasme-se - constrangimento. Mas a r. sentença anota de modo preciso e lapidar: "Recusaram-se as rés a fornecer o material para a perícia. Fizeram-no de forma injustificada, negando a colaboração com a Justiça. Esse comportamento em hipótese alguma as favorece; muito pelo contrário, induz à presunção de que temem o resultado positivo do exame pericial. Cômoda é a situação de recusa de colaboração e alegação de que deveria haver a exumação do cadáver. Não se justifica em absoluto a medida extrema de exumação. Este requerimento parece mais ter a finalidade de gerar algum incidente processual ou de preparar alguma alegação em fase de apelação" (fls. 164) Absurda, outrossim, a aviltada exumação do cadáver do pai, para colheita de material para novo DNA."

Também, proveniente do E. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, esclarecedor Acórdão entendendo que medidas desta natureza, dada a excepcionalidade, devem ser relegadas a último caso, "recomendando-se, entretanto, que se deixe a exumação para derradeira oportunidade, por respeito aos mortos". (Agravo de Instrumento 599261666, Rel. Des. José Carlos Teixeira Giorgis, Sétima Câmara). Emerge-se destas considerações o "periculum in mora" em favor dos Requeridos. B) DO "FUMUS BONI JURIS" DOS REQUERIDOS Preliminarmente, o "fumus boni juris" dos Requeridos consiste na iminência de verem seus direitos violados, pelas decisões que deferiram as Medidas Cautelares incidentais. Com efeito, um dos v. Acórdãos será reformado, porquanto, trata-se, com evidência, de decisão extra petita, pois, deu aos Requeridos (Apelados), mais do que pretendiam, em flagrante desrespeito ao princípio tantum devolutum quantum appellatum, insculpido no artigo 515 do Código de Processo Civil. (REsp. 142.667/PR; REsp 147.944/SP; REsp. 127.080/RJ; REsp. 70.609/SP; REsp. 57.614/MG; REsp. 85.899/SP; REsp. 55.363/RJ).

"Impossível o acesso ao recurso especial se a decisão recorrida assenta-se em mais de um fundamento suficiente, por si só, para mantê-la e o recurso não abrange todos eles". (REsp. 5114-0/SP)

Bem por isso, o v. Acórdão é nulo de pleno direito, tendo em vista a falta de prestação jurisdicional, pois, em sede de Embargos de Declaração, o i. Desembargador Relator limitou-se a se defender de supostas críticas cujos Embargos a tanto não se

25

Page 26: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

prestaram, desrespeitando o artigo 535 do Código de Processo Civil. (AR/AI 55.003/SP; REsp. 4.743/RS; REsp. 29.425/SP; REsp. 6.634/PA). E, suspenso o processo devido ao falecimento de quem figurara como parte e sem que tivessem transitadas em julgado as decisões habilitandas, a ação não poderia ter retomado seu normal andamento. Ante tais argumentos, seguramente, os v. Acórdãos, tanto da causa principal quanto o da habilitação, exarados pelo E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, serão reformados pelo C. Superior Tribunal de Justiça, em face das flagrantes violações a dispositivos legais em desfavor dos Requeridos, razão pela qual, a retomada do feito por via de Carta de Sentença e as provas requeridas e deferidas, trarão sérios prejuízos e danos irreparáveis a estes. Assim, a exumação, nesta fase, incidental a uma ação cujo processo está na eminência de ser extinto, caracteriza uma imoralidade e total desrespeito e desprezo pelas relações afetivas e religiosas dos seus familiares. E não é só. Na verdade, a pretensão manifestada pelos Requerentes, padece da prescritibilidade do seu intento, consoante arrazoada na contestação, no recurso de Apelação e no Recurso Especial interpostos pelos Requeridos. Com efeito, "o reconhecimento voluntário da paternidade, realizado quando ainda menor o perfilhado, somente pode ser por este impugnado dentro nos quatro anos que seguirem à sua maioridade ou emancipação", consoante assentado no Recurso Especial nº 38.856-2/RS. Neste mesmo sentido, REsp. 19.244-0/PR, REsp. 1.380/RJ, REsp. 83.685/MG, REsp. 1.380/RJ, cujas decisões consagraram o entendimento daquela Augusta Corte no sentido de que se trata da "exceção legal ao princípio da imprescritibilidade das ações pertinentes ao estado das pessoas". Também, do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, encampando o entendimento da "necessidade de prévia impugnação desse registro até quatro anos após a maioridade ou emancipação - Artigo 348 do Código Civil c.c. o artigo 362 do mesmo diploma - Prescrição ocorrente - Carência da ação investigatória - Processo extinto - Recurso provido para esse fim.", exarado no Agravo de Instrumento nº 90.151-1, Rel. Des. Toledo Cesar. Juntam-se a tais argumentos, a falta de previsão legal permitindo a realização de exame de DNA e, principalmente, da exumação de cadáveres para instrução do processo e convicção do Juiz da causa. Paralelamente, os Requerentes propuseram outra Medida Cautelas visando o depoimento pessoal das partes e inquirição de testemunhas. Presumindo-se que, diante de tais depoimentos e outras provas colacionadas o d. magistrado se convença das alegações dos Requerentes, então as providências de

26

Page 27: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

exumação e exame de DNA, diga-se, medidas a serem adotadas em casos e hipóteses extremas, se revelarão dispensáveis. Daí indaga-se: por que fazer os familiares passarem por tal desiderato? por que aviltar os sepulcros de entes queridos? por que vilipendiar os restos mortais de quem em vida não assumiu conduta hoje a ele atribuída? por que profanar o repouso eterno de Senhora, esposa fiel, dedicada, venerada por seus filhos e netos, respeitadíssima na sociedade e querida por todos que a conheceram? por que e para que submeter toda uma família, tradicional e respeitada, aos constrangimentos e desconfortos de verem os restos mortais de entes queridos serem remexidos, aviltados e profanados? Só por causa da ganância pelo dinheiro? A verdade biológica não está acima destes sentimentos que dizem respeito diretamente à pessoa humana. A sociedade que permite e admite tais despautérios, em nome de uma verdade real, cujos interesses são apenas econômicos, não merece respeito, pois quem não respeita seus mortos, não tem apreço pelos vivos. E o respeito pelos mortos independe da religião, credo ou fé professados pelos seus parentes, razão porque, a ofensa às pessoas falecidas atinge não só os sentimentos familiares, mas aqueles ligados a religião que cultuam. Por isso, a exumação é medida extrema. Afinal, repetindo, os Requerentes possuem outros meios para convencer o magistrado da verdade alegada e este pode se convencer apenas com as provas a ele apresentadas, desde que forem legítimas, lícitas, legais e morais, sem ferir os mais profundos sentimentos da pessoa humana. VIII - CONCLUSÃO De tudo o que foi dito, conclui-se que: 1º) juridicamente impossível o pedido dos Requerentes;

2º) a inicial é inepta;

3º) não foram demonstrados o periculum in mora e o fumus boni iuris;

4º) os Requerentes são carecedores da ação;

5º) a antecipação de provas é totalmente desnecessária, inútil e onerosa em razão da extinção do processo principal;

6º) a presente medida cautelar de antecipação de provas deve ser extinta, sem julgamento do mérito;

7º) trata-se de medida a ser adotada em casos extremos e em última hipótese;

8º) configura afronta, aviltamento e profanação dos restos mortais dos exumados.

27

Page 28: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

Por todas as razões acima arguídas, entendem os Requeridos que a realização das exumações, neste momento, torna-se totalmente despicienda, desnecessária e onerosa, mormente para instrução de uma ação cujo desfecho já está definitivamente traçado, qual seja a extinção. De mais a mais, não há razão, sob qualquer aspecto, para que se tome medidas tão drásticas, no momento, pois, até pela sua própria natureza, passado e circunstâncias atuais, a ação não as exige nem tampouco admite-as. Afinal, o retardamento em propor as ações cabíveis e a própria demora no seu processamento devem ser atribuídos exclusivamente aos Requerentes e se estão tão seguros de suas pretensões, não há razões para atropelos de última hora. Com relação aos fatos mencionados na inicial pelos Requerentes, os Requeridos já os contestaram quando da Ação Ordinária proposta, razão pela qual, neste momento, entendem desnecessária qualquer impugnação. Tudo quanto foi dito em relação ao suposto pai investigando, não corresponde à realidade. IX - DA NOMEAÇÃO DE ASSISTENTES TÉCNICOS Como assistentes técnicos, os Requeridos nomeiam os seguintes profissionais: a) DR. ..............., Mestre em Genética e Bioquímica, inscrito no Conselho Regional de Biologia sob nº ....., Diretor Técnico e Científico do Laboratório ..........; b) DR. ............, Biólogo, Professor Titular em Genética UFU, PhD em Genética Molecular - Purdue University, EUA; Pós Doutor em Diagnósticos Moleculares - Virginia Commonwealth Universty, EUA, Diretor de Pesquisas e Desenvolvimento do Laboratório ......., inscrito no Conselho Regional de Biologia sob nº ...., além de outros técnicos da ............., sociedade profissional, sediada na Av. ............... X - DOS QUESITOS DOS REQUERIDOS AOS PERITOS NOMEADOS Ao Sr. Perito nomeado para proceder ao exame de DNA: 1) Quais foram os cuidados tomados na identificação das pessoas periciadas? 2) Quais as possibilidades e, em caso afirmativo, em que percentuais e com precisão pode-se determinar a paternidade através de exumação de cadáveres e com pesquisa de polimorfismos do DNA? 3) Qual o limite mínimo de aceitação da probalidade de paternidade em perícias envolvendo os autores e seu suposto pai?

28

Page 29: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

4) No caso de exclusão da paternidade do suposto pai investigando em relação aos autores, quais os critérios utilizados para a identificação do cadáver? 5) De quais ossos foram extraídos o DNA para a pesquisa genética? 6) Que material foi obtido dos autores para extração do DNA? 7) Como foram acondicionados e conservados os materiais (ossos) coletados até a realização do exame? e quais os cuidados adotados para evitar a contaminação? 8) Quais foram as providências tomadas para garantir a inviolabilidade dos materiais transportados e coletados? 9) Pode o Sr. Perito, com as investigações realizadas, assegurar que os ossos exumados pertencem ao suposto pai investigando e que seguramente ele não é o pai dos autores? 10) Que metodologia laboratorial foi empregada para a realização desta investigação? e qual o número mínimo de loci aceitável para a conclusão desta investigação; Listar quais e quantos são os loci disponíveis para a realização desta perícia; 11) Quais os procedimentos adotados no sentido de evitar contaminações originadas a partir da manipulação genética (DNA e/ou Produto Amplificado pela PCR)? 12) Qual o poder máximo de exclusão atingido pelos marcadores utilizados pelo laboratório? Ou seja, qual a probalidade de que um indivíduo falsamente acusado, ser provado inocente através dos marcadores utilizados pelo laboratório, considerando-se a(s) metodologia(s) escolhida(s) e empregada(s)? 13) Apresentar evidências na literatura científica internacional que comprove a eficácia, a perfeita adequação e emprego da metodologia laboratorial utilizada para tal finalidade; 14) Se entre os três autores, um ou dois ou mesmo os três forem filhos de pais diferentes é possível identificá-los? Qual a importância de tal determinação? 15) Especificar a procedência e atividade das enzimas da restrição, utilizadas nos testes; 16) Especificar a procedência e atividade das sondas utilizadas. São sondas "multi-loci" ou "single-loci"? 17) Quantas sondas foram utilizadas? Julgou o Sr. Perito suficiente o número? 18) É possível o cálculo da probalidade de paternidade? Caso afirmativo, comentar sobre a origem das freqüências dos alelos encontrados e tecer considerações sobre a magnitude estatística da dita probalidade; 19) A paternidade foi excluída? 20) Mencionar o Sr. Perito os responsáveis técnicos, eventualmente envolvidos e que o auxiliaram nos exames, suas qualificações pessoais e científicas;

29

Page 30: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

21) Qual a experiência do laboratório e do Sr. Perito atual em exames desta natureza? Possui o Sr. Perito Judicial alguma publicação a respeito de investigação de paternidade, relacionada com sua especialidade? Em caso afirmativo pode citar? 22) O Sr. Perito pode citar quantos casos foram conduzidos por ele em que utilizou o método em questão? Qual é especificamente a experiência do Sr. Perito em casos de exames de DNA para atribuição de paternidade, principalmente decorrentes de exumações "post mortem"? 23) Quais são as evidências sobre a especial competência dos responsáveis pela análise dos resultados de DNA sobre a realização dos cálculos estatísticos genéticos do laudo pericial? 24) Caso não seja constatada a exclusão da paternidade do suposto pai investigando, qual o Banco de Dados de frequência populacional utilizado para o cálculo do índice de paternidade? O Banco de Dados refere-se a qual população? Qual o número amostral deste Banco de Dados? Se o Banco de Dados não for próprio, indicar a bibliografia utilizada; À Sra. Perita nomeada para exumação: 1) Quais foram os cuidados tomados na identificação do cadáver? 2) Quais foram os cuidados tomados no transporte do material coletado? 3) Quais foram as providências tomadas para garantir a inviolabilidade dos materiais coletados e transportados? 4) Quais foram as pessoas e suas respectivas qualificações que presenciaram a coleta? Estas presenças foram documentadas? 5) Houve durante a coleta de material algum fato incomum ou inesperado que pudesse, de qualquer forma, despertar suspeita ou prejudicar o resultado final? 6) Mencionar a Sra. Perita os responsáveis técnicos, eventualmente envolvidos e a auxiliaram nos exames, suas qualificações pessoais e científicas; 7) Possui a Sra. Perita Judicial alguma publicação a respeito de investigação de paternidade, relacionada com sua especialidade? Em caso afirmativo pode citar? 8) A Sra. Perita pode citar quantos casos foram conduzidos por ela em que utilizou os métodos praticados para a mesmo finalidade? Dada a complexidade dos exames, aliada ao prazo exíguo, protestam os Requeridos pela formulação de quesitos complementares, suplementares ou adicionais. XI - DO PEDIDO

30

Page 31: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..ª VARA CÍVEL …jobachi.com.br/PDF-pecasprocessuais/Contestacao-acao-exumacao... · CONTESTAÇÃO . consoante as razões ... Paternidade, cumulada

31

Diante do exposto, requerem a revogação da liminar concedida, bem como o julgamento de improcedência total da ação ou, alternativamente, a extinção do processo, sem julgamento do mérito. Requerem, ainda, a condenação dos Requerentes no pagamento dos honorários advocatícios, além de despesas processuais e demais cominações de estilo. Protestam provar o alegado por todos os meios em direito admitidos.

Termos em que, Pede Deferimento.

São Paulo, 10 de maio de 2000

JOÃO BATISTA CHIACHIO OAB/SP Nº 35.082