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Órgão Oficial de Divulgação da Assembléia Nacional Constituinte 397 Brasília, 15 a 21 de agosto de 1988 - 58 Turno de seis horas A jornada de trabalho em turnos ininterruptos foi mantida em seis horas. Um acordo de líderes excluiu do texto a expressão "máxima" r para possibilitar que ela seja fixada acima ou abaixo desse número mediante acordo coletivo de trabalho entre empregador e empregado. Licença-paternidade Em geral - por sólidas e às vezes por esmagadora maioria - a Assembléia Nacional Constituinte manteve, na semana passada, praticamente todos os chamados avan- ços sociais ou conquistas obtidas pelos trabalhadores no primeiro turno de votação. Assim, ficaram assegurados o turno de seis horas para a jornada ininterrupta de traba- lho; a licença-maternidade de 120 dias e a licença-pater- nidade (esta a ser regulamentada em lei); a ampliação dos prazos de prescrição das ações trabalhistas (regula- mentadas nas disposições transitórias); a igualdade de direi- tos entre o trabalhador com vínculo empregatício e o avul- so; a liberdade de associação profissional ou sindical; o adicional de férias; o trabalho extraordinário com remune- ração aumentada em 50% e outras medidas de igual relevo. A Constituinte não frustrou a classetrabalhadora, ape- sar das insistentes pressões advindas de certos setores em- presariais. (Páginas 3,4 e 5). o texto inicial dizia: "jornada máxima de seis horas para trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvonegociação cole- tiva". Com a retirada da "máxima", poderá haver exceções para algumas categorias profissionais que já adotam o sistema de plantão de 12 horas ou outro qualquer. No caso da indústria, a jornada que era de oito horas tende a ficar em seis horas, o que obrigará as empresas a contratarem cinco turmas para se revezarem nos quatro turnos de trabalho. Foi o resultado mais comemorado nas votações em segundo turno, até agora. Toda a polêmica travada em torno da emenda que fixou em oito dias, no primeiro turno, a licença- paternidade, acabou sepultada por um acordo de lideranças. O assunto será disciplinado em lei complementar, mas enquanto isso não acontece, a medida já vigora. Essa solução híbrida foi obtida ao se definir, nas disposiçõestransitó- rias, que, enquanto não for elaborada a lei complementar, o prazo será de cinco dias. Na verdade, tal acordo permitirá que a inovação seja experimentada na prática, até que se obtenha uma definição formal e definitiva. Alguns setores tentaram tratar o assunto na base da pilhéria, mas as próprias mães realizaram uma forte campanha junto aos consti- tuintes procurando demonstrar a importância da presença do pai junto a elas e ao filho, na hora do parto e logo após o nascimento. TRABALHADOR GARANTIDO ADIRP/Reynaldo S..!avale ,,:, Os constituintes estão plenamente conscientes da importância de votar logo a Carta e lotaram o plenário.

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Page 1: N~ TRABALHADOR GARANTIDO · mos do povo brasileiro, a de elaborarmos a nova Carta, mesmo correndo o risco de al gum artigo inadequado e im perfeições decorrentes. Ainda restam algumas

Órgão Oficial de Divulgação da Assembléia Nacional Constituinte

397

Brasília, 15 a 21 de agosto de 1988 - N~ 58

Turno de seis horas

A jornada de trabalho em turnosininterruptos foi mantida em seishoras. Um acordo de líderes excluiudo texto a expressão "máxima" r parapossibilitar que ela seja fixadaacima ou abaixo desse númeromediante acordo coletivo de trabalhoentre empregador e empregado.

Licença-paternidade

Em geral - por sólidas e às vezes por esmagadoramaioria - a Assembléia Nacional Constituinte manteve,na semana passada, praticamente todos os chamados avan­ços sociais ou conquistas obtidas pelos trabalhadores noprimeiro turno de votação. Assim, ficaram asseguradoso turno de seis horas para a jornada ininterrupta de traba­lho; a licença-maternidade de 120 dias e a licença-pater­nidade (esta a ser regulamentada em lei); a ampliaçãodos prazos de prescrição das ações trabalhistas (regula­mentadas nas disposições transitórias); a igualdade de direi­tos entre o trabalhador com vínculo empregatício e o avul­so; a liberdade de associação profissional ou sindical; oadicional de férias; o trabalho extraordinário com remune­ração aumentada em 50% e outras medidas de igual relevo.

A Constituinte não frustrou a classe trabalhadora, ape­sar das insistentes pressões advindas de certos setores em­presariais. (Páginas 3,4 e 5).

o texto inicial dizia: "jornada máxima de seis horas para trabalhorealizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvonegociação cole­tiva". Com a retirada da e~pressão "máxima", poderá haver exceçõespara algumas categorias profissionaisque já adotam o sistema de plantãode 12 horas ou outro qualquer. No caso da indústria, a jornada queera de oito horas tende a ficar em seis horas, o que obrigará as empresasa contratarem cinco turmas para se revezarem nos quatro turnos detrabalho. Foi o resultado mais comemorado nas votações em segundoturno, até agora.

Toda a polêmica travada emtorno da emenda que fixou em oitodias, no primeiro turno, a licença­paternidade, acabou sepultada porum acordo de lideranças. Oassunto será disciplinado em leicomplementar, mas enquanto issonão acontece, a medida já vigora.

Essa solução híbrida foi obtida ao se definir, nas disposiçõestransitó­rias, que, enquanto não for elaborada a lei complementar, o prazo seráde cinco dias. Na verdade, tal acordo permitirá que a inovação sejaexperimentada na prática, até que se obtenha uma definição formale definitiva. Alguns setores tentaram tratar o assunto na base da pilhéria,mas as próprias mães realizaram uma forte campanha junto aos consti­tuintes procurando demonstrar a importância da presença do pai juntoa elas e ao filho, na hora do parto e logo após o nascimento.

TRABALHADOR GARANTIDOADIRP/Reynaldo S..!avale

,,:,-"~,

Os constituintes estão plenamente conscientes da importância de votar logo a Carta e lotaram o plenário.

Page 2: N~ TRABALHADOR GARANTIDO · mos do povo brasileiro, a de elaborarmos a nova Carta, mesmo correndo o risco de al gum artigo inadequado e im perfeições decorrentes. Ainda restam algumas

o acordo necessário Concluir a CartaNos dias de dificuldades que a na­

ção enfrenta, o brasileiro encerrauma jornada de trabalho sem imagi­nar o que o aguarda na manhã se­guinte. E raramente consegue esca­par do impacto das bruscas altera­ções decretadas pelas decisões isola­das dos tecnocratas, que, assim,tentam corrigir os rumos da nossafrágil estrutura econômica. Pormero de famigerados decretos-leis(felizmente em vias de extinção, porforça das novas regras da futuraConstituição), as áreas financeirasdo governo impõem ou ameaçama população com regras improvisa­das, atingindo duramente a bolsa daclasse média.

Às vezes, as novas normas me­xem com a prestação da casa pró­pria, em outras ocasiões, descobre­se que os mutuários estão pagandoalguns percentuais além do que de­veriam amortizar a cada mês, equem ainda espera firmar um con­trato com a Caixa Econômica ficaà mercê de incríveis flutuações econstantes ameaças de fechamentode crédito para novos financiamen­tos. Isto apesar de existir no paísum ministério exclusivamente paratratar da habitação.

Ao lado disso, prospera o mer­cado financeiro, uma ciranda enga­nosa que ilude quem aplica suas

_economias sem saber que, quandomuito, está apenas resguardandoseu dinheiro da incrível velocidadecom que ele se desvaloriza. A pro­pósito, recentemente a imprensamostrou uma face do país que, mes­mo não sendo inusitada, provocaperplexidade em nosso meio: umempresário de Minas Gerais resol­veu vender duas fábricas de queijose manteiga para jogar o dinheirono apeno E cinco meses depois, odinheiro obtido na especulação fi­nanceira havia crescido tanto quedaria para comprar cinco indústriasdo mesmo porte das duas que haviavendido.

Lamentavelmente, as distorçõesnão I!aram aí. O própno setor públi­co ve-se compelido a buscar o mer­cado financeiro, enquanto as popu­lações se mostram cada vez maisconfusas, sem saber ao menos noque acreditar, nem como exercitar,Sem risco, sua reduzida capacidadede poupança.

O brasileiro, que vive sufocado,sujeita-se a um quase pesadelo, te­meroso, por exemplo, de taxaçõessobre os ganhos pouco expressivosde suas economias na caderneta depoupança. Faz pouco, a classe mé­dia assustou-se diante do vazamen­to de informações a respeito de es­tudos nessa direção, felizmente não

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consumados. A classe média, naverdade, usa a poupança para, maistarde, dispor de meios para ajustaras contas com o Imposto de Renda,principalmente para enfrentar sur­presas extras, como ocorre agoracom a controvertida e complicadorafigura do trileão, nada mais do queo leão da Receita Federal três vezesmais voraz e dono de um insaciávelapetite.

Nos estados, como costumam osparlamentares observar em suasviagens, o quadro de desânimo éassustador. As populações interio­ranas, distantes das fontes oficiais,não dispõem de informações preci­sas, sendo, pois, natural que fiquemperplexas diante do ritual de anún­cios e desmentidos sobre alteraçõesna ordem econômica. Não é possí­vel avaliar se o que merece créditoé a primeira informação ou as pala­vras de porta-vozes improvisados,desautonzando tudo. E fácil imagi­nar a conseqüência de uma tal situa­ção na vida diária dos brasileiros eo quanto são prejudiciais à Nação,como um todo, a indefinição econô­mica e o conseqüente desestímuloà produção.

É natural que, num quadro as­sim, a população passe a acalentara pronta solução dos problemas na­cionais apenas com a simples pro­mulgação da futura Constituiçãobrasileira. Ocorre que a crise dopaís é sobretudo econômica e porISSO precisamos de muito mais queum texto constitucional, mesmo queo que está em fase final de elabo­ração seja progressista e reflita operfil do país. O projeto, na verda­de, representa tão-somente o pré­requisito para soluções duradouras.A busca dessas soluções é possível,mas depende de um esforço adicio­nal, que pode ser encontrado pelavia de um entendimento nacional,a partir do presidente da República,da mesma forma como a Espanhaconse~uiusuperar suas graves crisesatraves dos Pactos de Moncloa, ogrande e simples segredo para tran­sição democrática.

Devemos aproveitar a oportuni­dade e, tão logo seja o texto promul­gado, buscar esse entendimento.Urge que nos sentemos à mesa dasnegociações, distanciados de ideo­logias partidárias, para que se tornepossível, juntamente com o gover­no, estabelecer um elenco de priori­dades e assim afugentarmos o fan­tasma da crise.

Constituinte Humberto Lucenapresidente do Congresso Nacional

Breve teremosa nova Carta

A Assembléia NacionalConstituinte prosseguiu es­ta semana na tarefa de revi­sar o texto aprovado em pri­meiro turno, definindo osdireitos e deveres indivi­duais e coletivos e pratica­mente concluindo o capítu­lo que trata dos direitos so­ciais. Aí estavam muitasquestões de grande reper­cussão, como a licença-ma­ternidade, a jornada de seishoras para o trabalho reali­zado em turnos ininterrup­tos de revezamento, a licen­ça-paternidade, a liberdadede associação profissional esindical e a prescrição dosdireitos trabalhistas.

Apesar da expectativa eaté mesmo tensão que cer­cava tais votações, o traba­lho da ANC transcorreutranqüilo e proveitoso. Acapacidade de negociaçãopermitiu que as liderançasrepresentativas das váriasforças sociais encontrassemformas de superação de difi­culdades de possíveis im­passes.

Na realidade, o segundoturno se caracteriza pelapreocupação de aperfeiçoa­mento do texto aprovadoem primeiro turno, onde asgrandes questões já se defi­niram.

O Jornal da Constituinteapresenta, em detalhes, as

votações desta semana, per­mitindo aos leitores o acom­panhamento das principaisdecisões. Nas páginas cen­trais, analisa a autonomiaconquistada pelo municípiono concerto da federação.A Constituinte está traba­lhando, firme, para dar aoBrasil, muito breve, a suanova Carta.

Daniel MachadoCoordenador do JC

Tive a oportunidade de dizeranteriormente que não será nabase do confronto que vamosestabelecer a melhor decisãoem matéria de Carta constitu­cional. É lamentável que, nestesentido, o Brasil esteja seguin­do o exemplo da triste expe­riência portuguesa, que tantocustou àquele país. O primei­ro-ministro Cavaco e Silva,quando aqui esteve, lembroua experiência e o tempo queo povo lusitano levou pagandoas conseqüências do confronto.

Poderíamos ter seguido oexemplo da Espanha - o con­senso -, mas como não temsido possível, muito pior queisso seria, após 18 meses detantas expectativas, não che­garmos a um desiderato, à con­clusão de uma missão de tantaresponsabilidade que recebe­mos do povo brasileiro, a deelaborarmos a nova Carta,mesmo correndo o risco de al­gum artigo inadequado e im­perfeições decorrentes. Aindarestam algumas possibilidadespara o consenso em tomo decorreções mais gritantes.

Neste segundo turno, etapafinal da Constituinte, estamossujeitos a ver confirmados notexto alguns artigos inconve­nientes. Se isso ocorrer, con­tendo decisões inviáveis doponto de vista econômico­financeiro, como parece quefatalmente acontecerá dianteda eniocionalidade em queaconteceram as últimas elei­ções sob o embalo eleitoreirodo Plano Cruzado, paciência.Com algum tempo, mesmo quecom um custo maior ou menor,haveremos de corrigi-Ias.

Paciência diante do inevitá­vel, eis que de tal forma se co­locaram as pressões e a mobili­zação de opinião pública, como conseqüente comprometi­mento da maioria que vota edelibera em plenário, que tal­vez somente nos restará a alter­nativa de enfrentar a experiên­cia, até porque será a única al­ternativa de comprovar-se a in­viabilidade prática do texto edaí a possível revisão e corre­ção.

Para quem não aproveita aexperiência e ponderação dos

mais avisados, mesmo quetransmitidos gratuitamente,resta o caminho de pagar paraver. E parece que isto é o quequer a maioria nesta hora. Secustar mais caro depois, pararevisar e corrigir será outroproblema. Mas que fiquemdesde logo estabelecidas as res­eectivas responsabilidades.

Paralisar ou zerar a Consti­tuinte significaria pura e sim­plesmente o vazio institucional- impasse político. E aí o re­sultado poderia ser ainda maisadverso; seria o retrocesso etalvez a triste argentinização dapolítica brasileira.

O governo da Nova Repú­blica já conseguiu argentinizara nossa economia e agora querargentinizar a política indus­trial, que tanto custou àquelepaís. Nós, gaúchos, que esta­mos mais perto dos argentinos,sentimos mais que qualqueroutro brasileiro quanto eles so­freram e estão sofrendo, quan­to pagaram e estão pagando.Querem também argentinizaro processo político? Ou borda­beryzar o Brasil?

Deve-se lembrar que a con­seqüência na Argentina, deIsabelita Peron, ao fracassar ademocracia, foi a morte demais de 35 mil argentinos, cu­jos corpos até hoje estão sendoreclamados pelas mães, espo­sas, irmãs e namoradas, as cha­madas "loucas da Plaza deMayo".

Espero que haja bom sensona Assembléia Constituinte.Se o bom senso não tem conse­guido caracterizar a ação dogoverno, que pelo menos, naConstituinte, os 559 represen­tantes do povo brasileiro consi­gamos finalizar os trabalhos deelaboração constitucional combom senso, com efetivo e ele­vado espírito público.

Não será na base da contem­porização ou do confronto queconstruiremos o melhor para oBrasil e para todos os brasilei­ros.

Constituinte Victor FaCCIOniPDS-RS

Jornal da Constituinte - Veículo semanal editado sob. aresponsabihdade da Mesa Diretora da Assembléia NacionalConstituinteMESA DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE

Presidente - Ulysses Guimarães; Primeiro-Vice-Presidente- Mauro Benevides; Segundo-Vice-Presidente - Jorge Arbage;Primeiro-Secretário - Marcelo Cordeiro; Segundo-Secretário- Mário Maia; Terceiro-Secretário - Arnaldo Faria de Sá.Suplentes: Benedita da Silva, Luiz Soyer e Sotero Cunha.APOIO ADMINISTRATIVO

Secretário-Geral da Mesa - Paulo Affonso M. de OliveiraSubsecretárío-Geral da Mesa - Nerione Nunes CardosoDiretor-Geral da Câmara - Adelmar Silveira SabinoDiretor-Geral do Senado - José Passos PôrtoProduzido pelo Serviço de Divulgação da Assembléia Na­

cional Constituinte.

2 Jornal da Constituinte

Diretor Responsável - Constituinte Marcelo CordeiroEditores - Alfredo Obliziner e Manoel V. de MagalhãesCoordenador - Daniel Machado da Costa e SilvaSecretário de Redação - Ronaldo Paixão RibeiroSecretários de Redação Adjuntos - Paulo Domingo R. Nevese Sérgio ChaconChefe de Redação - Osvaldo Vaz MorgadoChefe de Reportagem - Victor Eduardo Barrie KnappCh-efe de Fotografia - Dalton Eduardo Dalla CostaDiagramação - Leônidas GonçalvesIlustração - Gaetano RéSecretário Gráfico - Eduardo Augusto Lopes

EQUIPE DE REDAÇÃO

Maria Valdira Bezerra, Henry Binder, Carmem Vergara, Re­gina Moreira Suzusi, Maria de Fátima J. Leite, Vladimir Meire-

les de Almeida, Mana Aparecida C. Versiani, Marco AntônioCaetano, Eurico Schwinden, Luiz Carlos R. Linhares, Hum­berto Moreira da S. M. Pereira, Clovis Senna, Marlise Ilhesca,Ijoanilde Américo Ferreira, Henda Fouad H. Jawabiri e FrancyLourdes Pereira Borges.

EQUIPE FOTOGRÁFICAReinaldo L. Stavale, Benedita Rodrigues dos Passos, Gui­

lherme Rangel de Jesus Barros, Roberto Stuckert, Wilhan Pres­cott e João José de Castro Júntor.

Composto e impresso no Centro Gráfico do Senado Federal-CEGRAF

Redação: CÂMARA DOS DEPUTADOS - ADIRP- 70160 - Brasília - DF - Fone: 224·1569- Distribuição gratuita

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CARTA, ::: ACOM'PAI'lHE'OTEXTO NA NOVA CARTA ........ .. ACOMPAI\}HE" O~TEXTO NA N' OAB

Para a frente é que se anda

As sucessivas votações em plenâno aliviaram tensões e afastaram o pessimismo sobre o futuro

lho, a licença-paternidade, a remuneraçãodas férias em um terço a mais sobre o salárionormal, são alguns exemplos da disposiçãodos constituintes de perenizar as conquistassociais. O mesmo ocorreu com relação aosdireitos individuais, do que são exemplos amanutenção do habeas data, a garantia dosdireitos do consumidor, a manutenção dosdireitos adquiridos. Enfim, até o momento,.não tem havido recuos.

viessem a ser subtraídas do texto constitu­cionaI. Mas o que até agora se viu, no prosse­guimento do segundo turno de votação, éque muitas dessas conquistas vieram paraficar.

No decorrer da semana, o plenário ga­rantiu a manutenção de dispositivosque mo­dernizam as relações sociais no país: a licen­ça-maternidade de 120 dias, a jornada deseis horas em turnos ininterruptos de traba-

PENA DE MORTE

Votaram: 393Sim: 93Não: 289Abstenção: 11

a, que no projeto de Constitui­ção já aprovado não fazia refe­rência ao art. 86, XIX (que cui­da da atribuição do presidenteda República em declarar guer­ra no caso de agressão estran­geira).

Com esse resultado, o plená­rio decidiu pela rejeição deemenda assinada pelo consti­tuinte Amaral Netto (PDS ­RI) propondo a exclusão da le­tra a do inciso XLVII, o qualadmite apena de morte somenteem casos de guerra declarada.Se aprovada, aproposta abririauma possibilidade de a pena demorte vir a ser adotada no país.

XLVIII - a pena será cum­prida em estabelecimentos dis­tintos, de acordo com a natu­reza do delito, a idade e o sexodo apenado.

Novamente a reunião deemendas trouxe mais uma mo­dificação, dessa vez simplifi­cando as condições exigidas pa­ra que a pena seja cumprida emestabelecimentos penais distin­tos. Além das prescrições deter­minadas pela redação vencedo­ra, o texto-base estabelecia quea escolha das penitenciárias de­penderia também da gravidadedo crime, das condições em quefoi praticado e os antecedentescriminais do apenado.

XLIX - é assegurado aospresos o respeito à integridadefísica e moral;

L - às presidiárias serão as­seguradas condições para quepossam permanecer com seusfilhos durante o período deamamentação;

LI - nenhum brasileiro se­rá extraditado, salvo o natura­lizado, em caso de crime co­mum, praticado antes da natu­ralização ou de comprovadoenvolvimento em tráfico ilícitode entorpecentes e drogasafins, na forma da lei.

Mais uma vez, outra modifi­cação: foi desqualificado o trá­fico internacional como motivopara extraditar um brasileiro

ou militares, contra a ordemconstitucional e o estado de­mocrático;

XLV~nenhuma pena pas­sará da pessoa do condenado,podendo a obrigação de repa­rar o dano e a decretação doperdimento de bens ser nos ter­mos da lei', estendidos aos su­cessores e contra eles execu­tadas, até o limite do valor dopatrimônio transferido;

XLVI - a lei regulará a in­dividualização da pena e ado­tará, entre outras, as seguintes:

a) privação da liberdade;b) perda de bens;c) multa;d) prestação social alterna­

tiva.A mesma reunião de emen­

das suprimiu o que seria a letra"e" do inciso que, pelo texto­base, seria a "suspensão ou in­terdição de direitos".

XLVII - não haverá penas:a) de morte, salvo em caso

de guerra declarada, nos ter­mos do art. 86, XIX;

b) de caráter perpétuo;c) de trabalhos forçados;d) de banimento;e) cruéis.Aqui, no inciso XL VII, a

reunião de emendas ainda pro­duziu outra mudança: na letra

dos, por ele respondendo osmandantes, os executores e osque, podendo evitá-los, seomitirem;

Esse inciso sofreu uma modi­ficação, segundo reunião deemendas que veio possibilitar,além dessa, outras mudançasem incisos a seguir. Nesse casoa proposta foi corretiva, acres­centando a palavra "crime"não constante do texto-base.

Com esses votos o plenáriorejeitou emenda do constituin­te José Genoíno (PT - SP)que propunha suprimir do inci­so XLIII do art. 59 do texto­base a expressão "o terroris­mo". Permanece portanto, aredação que torna inafiançá­veis e insuscetíveis de graça ouanistia a prática de tortura, otráfico ilícito de entorpecentese drogas afins, o terrorismo eos crimes hediondos.

XLIV - constitui crime ina­fiançável e imprescritível aação de grupos armados, civis

Votaram: 406Sim: 68Não: 335Abstenção: 3

ato jurídico perfeito ou a coisajulgada;

XXXVII -não haverá juí­.zo ou tribunal de exceção;

XXXVIII - é reconhecidaa instituição do júri, com a or­ganização que lhe der a lei, as­segurados:

a) o sigilo das votações;b) a plenitude de defesa;'c) a soberania dos veredi­

tos'(i) a competência para o jul­

gamento dos crimes dolososcontra a vida;

XXXIX - não há crimesem lei anterior que o defina,nem pena sem prévia comina­ção legal;

XL - a lei penal não retroa­girá, salvo para beneficiar or~u;

XLI - a lei punirá qualquerdiscriminação atentatória dosdireitos e liberdades funda­mentais;

XLII - a prática do racismoconstitui crime inafiançável eimprescritível, sujeito a penade reclusão, nos termos da lei;

XLIII - a 'lei consideraráinafiançáveis a insuscetíveis degraça ou anistia a prática datortura, o tráfico ilícito de en­torpecentes e drogas afins, oterrorismo e os crimes hedion-

Um país socialmente justo foi um dosanseios que provocou a convocação da As­sembléia Nacional Constituinte. Assim, nãoterá sido por acaso que, no campo dos direi­tos sociais, houve significativos avanços notexto do projeto de Constituição aprovadoem primeiro turno. Iniciada a votação emsegundo turno, havia a perspectiva (ou te­mor, para os beneficiados - trabalhadores,principalmente) de que aquelas conquistas

ADIRPlReynaldo Stavale

Título II Dos Direitos e Garantiaskn~mmm~C~~wID@D"ffl@

e Deveres Individuais e Coletivos (con­tinuação)

XXVIII - É assegurada nostermos da lei:

a) a proteção às participa­ções individuais em obras cole­tivas e à reprodução de ima­gem e voz humanas, inclusivenas atividades desportivas;

b) aos criadores, aos intér­pretes e às respectivas repre­sentações sindicais e associati­vas, o direito de fiscalização doaproveitamento econômicodas obras que criarem ou deque participarem;

XXIX - a lei assegurará.aos autores de inventos indus­triais privilégio temporário pa­ra sua utilização, bem comoproteção às criações indus­triais, à propriedade das mar­cas, aos nomes de empresas ea outros signos distintivos, ten­do em vista o interesse sociale o desenvolvimento tecnoló­gico e econômico do país;

XXX - é garantido o direi­to de herança;

XXXI - a sucessão de bens.de estrangeiros situados nopaís será regulada pela lei bra­sileira, em benefício do cônju­ge ou dos filhos brasileiros,sempre que lhes não seja favo­rável a lei pessoal do de cujus;

XXXII - o estado promo­verá, na forma da lei, a defesado consumidor;

XXXIII - todos têm direitoa receber dos órgãos públicosinformações de interesse parti­cular, coletivo ou geral, que se­rão prestadas no prazo da lei,sob pena de responsabilidade,ressalvadas aquelas cujo sigiloseja imprescindível à seguran­ça da sociedade e do estado;

XXXIV - são a todos asse­gurados, independentementedo pagamento de taxas:

a) o direito de petição aospoderes públicos em defesa dedireitos ou contra ilegalidadeou abuso do poder;

b) a obtenção de certidõesem repartições públicas, paradefesa de direitos e esclareci­mentos de situações de interes­se pessoal;

XXXV - a lei não excluiráda apreciação do Poder Judi­ciário lesão ou ameaça a direi­to;

XXXVI - a lei não preju­dicará o direito adquirido, o

Jornal da Constituinte 3

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C~A.J1rrA ::: ACOM~PAJ\IHE o ~rEXT() ltlA NOVA CARTA ::: AC A.PAI'lHE OTEXTO NA I\JOVli OAB

Esse o resultado que apro­vou reunião de emendas dosconstituintes Mário Lima(PMDB - BA), Iovanni Ma­sini (PMDB - PR), Juarez

Votaram: 415Sim: 410Não: 3Abstenção: 2

XI - participação nos lu­cros, ou resultados, desvincu-

lada da remuneração, e, excep­cionalmente, na gestão da em-

presa. conforme definido emlei;

Essa votação aprovou emen­da do constituinte Luís RobertoPonte (PMDB - RS) que veioa criar a licença-paternidade,porém remetendo para a legis­lação ordinária sua regulamen­tação. A aprovação dessaemenda fez parte de um acordode lideranças que ainda envol­ve, nesse caso, o compromissode aprovar, nas DisposiçõesGerais e Transitórias, a deter­minação de que, enquanto a leinão se pronunciar, a licença­paternidade será de cinco dias.

XX - proteção ao mercadode trabalho da mulher, me­diante incentivos específicos,nos termos da lei;

379365

77

Votaram:Sim:Não:Abstenção:

XII - salário-família aosdependentes;

XIII - duração do trabalhonormal não superior a oito ho­ras diárias e 44semanais, facul­tada a compensação de horá­rios e a redução da jornada,mediante acordo ou convençãocoletiva de trabalho;

XIV - jornada máxima deseis horas para o trabalho reali­zado em turnos ininterruptosde revezamento, salvo nego­ciação coletiva;

XV - repouso semanal re­munerado, preferencialmenteaos domingos;

XVI - remuneração do ser­viço extraordinário superior,no mínimo em 50% à do nor­mal;

XVII - gozo de fériasanuais remuneradas em, pelomenos, um terço a mais do queo salário normal;

XVIII -licença à gestante,sem prejuízo do emprego e dosalário, com a duração de 120dias;

XIX -licença-paternida­de, nos termos fixados em lei;

Annibal Barcellos (PFL ­AP), Ronan Tito (PMDB -

MG), Ivo Lech (PMDB ­RS), Antonio Mariz (PMDB- PB), Theodoro Mendes(PMDB - SP), Ruberval Pi­lotto (PDS - SC), CarlosSant'Anna (PMDB - BA),Vasco Alves (PSDB - ES),José Genoíno (PT - SP), JoséMoura (PFL - PE), MaguitoVilela (PMDB - GO), ValterPereira (PMDB - MS), Seve­ro Gomes (PMDB - SP), Má­rio Covas (PSDB - SP), JoséIgnácio Ferreira (PMDB ­ES), Marluce Pinto (PTB ­RR), Alércio Dias (PFL ­AC), Ivo Cersôsimo (PMDB- MS), Pompeu de Sousa(PSDB - DF), Myriam Porte­lla (PDS - Pf), Antonio Gas­par (PMDB - MA), ChagasNeto (PMDB- RO) e Fernan­do Bezerra Coelho (PMDB­PEJo

Art. 6°- São direitos so­ciais a educação, a saúde, o tra­balho, o Jazer, a segurança, aprevidência social, o amparo àmaternidade e à infância, a as­sistência aos desamparados, naforma desta, Constituição.

Art. 79 - São direitos dostrabalhadores urbanos e ru­rais, além de outros que visema melhoria de sua condição so­cial:

I - relação de emprego pro­tegida contra despedida arbi­trária ou sem justa causa nostermos de lei complementarque preverá a indenizaçãocompensatória, dentre outrosdireitos;

I! - seguro-desemprego,em caso de desemprego involu­tário;

III - fundo de garantia dotempo de serviço;

IV - salário mínimo, fixadoem lei, nacionalmente unifica­do, capaz de atender às suasnecessidades vitais básicas e àsde sua família com moradia,alimentação, educação. saúdelazer, vestuário, higiene, trans­porte e previdência social, rea­justado periodicamente. demodo a preservar o poder aqui­sitivo, vedada sua vinculaçãopara qualquer fim;

V -=-- piso salanal proporcio­nal à extensão e à complexi­dade do trabalho;

VI - irredutibilidade do sa­lário, salvo o disposto em con­venção ou acordo coletivo;

VII - garantia de salário,nunca inferior ao mínino, paraos que percebem remuneraçãovanável;

VIII - décimo terceiro sa­lário com base na remuneraçãointegral ou no valor da aposen­tadoria;

IX - remuneração do tra­balho noturno superior ao dodiurno;

X - proteção do salário naforma da lei, constituindo cri­me sua retenção dolosa;

CAPÍTULO 11DOS DIREITOS

SOCIAIS

Votaram 414Sim: 398Não: 5Abstenção: 11

Essa foi a votação que apro­vou a reunião de emendas e des­taques de 29 constituintes quepossibilitou uma votação glo­bal dos incisos finais do art. 5°,exceção para alguns dispositi­vos ressalvados, em número detrês, sendo dois rejeitados (ape­na de morte e o crime de terro­rismo como passível de não serconsiderado inafiançável e isus­cetível de graça ou anistia) e umaprovado, o inciso LXI, queproibiu a prisão senão por fla­grante delito ou por ordem es­crita e fundamentada de autori­dade judiciária. Os autores dareunião foram os constituintes:Luiz Eduardo (PFL BA),Henrique Córdova (PDS ­SC), Humberto Lucena(PMDB - PB), Antônio Brit­to (PMDB - RS), Angelo Ma­galhães (PFL - BA), AlfredoCampos (PMDB - MG),

biente e ao patrimônio histó­rico e cultural, ficando o autor,salvo comprovada má-fé, isen­to de custas judiciais e do ônusda sucumbência;

LXXIV -o Estado presta­rá assistência jurídica integrale gratuita aos que comprova­rem insuficiência de recursos;

LXXV-o Estado indeni­zará o condenado por erro ju­diciário, assim como o que fi­car preso além do tempo fixadona sentença;

LXXVI - serão gratuitas,na forma da lei:

a) o registro civil de nasci­mento;

b) a certidão de óbito;c) os atos necessários ao

exercício da cidadania;LXXVII - são gratuitas as

ações de habeas corpus e ha­beas data.

§ 10 - As normas definido­ras dos direitos e garantias fun­damentais têm aplicação ime­diata.

§ 20- Os direitos e garan-

tias previstos neste artigo nãoexcluem outros decorrentesdos princípios e do regime ado­tado pela Constituição e dostratados internacionais em quea República Federativa doBrasil seja parte.

ASILO POLÍTICOArt. 4Ç1X-conceder-se-ã asilo pó­lítico.

Por força da reunião deemendas que veio trazer as mo­dificações ao art. 5°, este, queseria o último inciso, foi trans­ferido para o texto do art. 4°,o que fundamenta as relaçõesinternacionais do Brasil. Dessaforma, fica acrescido o art. 4°de mais um inciso, o de númeroX.

LXII - a prisão de qual­quer pessoa e o local onde seencontre serão comunicadosimediatamente ao juiz compe­tente e à família do preso ouà pessoa por ele indicada;

LXIII - o preso será infor­mado de seus direitos, entre osquais o de permanecer calado,assegurada a assistência da fa­mília e de advogado;

LXIV - o preso tem direitoà identificação dos responsá­veis por sua prisão ou interro­gatório policial;

LXV - a prisão ilegal seráimediatamente relaxada pelaautoridade judiciária;

LXVI - ninguém será leva­do à prisão ou nela mantido,quando a lei admitir a liber­dade provisória, com ou semfiança;

LXVII - não haverá prisãocivil por dívida, salvo a do res­ponsável pelo inadimplementovoluntário e inescusável deobrigação alimentícia e a dodepositário infiel;

LXVIII - conceder-se-áhabeas corpus sempre que al­guém sofrer ou se achar amea­çado de sofrer violência oucoação em sua liberdade de lo­comoção, por ilegalidade ouabuso de poder;

LXIX - conceder-se-ámandado de segurança paraproteger direito líquido e cer­to, não amparado por habeascorpus ou habeas data, seja oresponsável pela ilegalidade ouabuso de poder autoridade pú­blica ou agente de pessoa jurí­dica no exercício de atribuiçõesdo poder público;

LXX -é assegurada a im­petração de mandado de segu­rança coletiva em defesa dósinteresses de seus membros ouassociados, por:

a) partido político com re­presentação no Congresso Na­cional;

b) organização sindical, en­tidade de classe ou associaçãolegalmente constituída em fun­cionamento há pelo menos umano;

LXXI - conceder-se-ámandado de injunção sempreque a falta de norma regula­mentadora torne inviável oexercício dos direitos e liber­dades constitucionais, e dasprerrogativas inerentes à na­cionalidade, à soberania e à ci­dadania;

LXXII - conceder-se-á ha­beas data:

a) para assegurar o conheci­mento de informações relati­vas a sua pessoa, constantes deregistros ou bancos de dadosde entidades governamentaisou de caráter público;

b) para retificação de da­dos, em não se preferindo fazê­lo por processo sigiloso, judi­cial ou administrativo;

LXXIII - qualquer cida­dão é parte legítima para pro­por ação popular visando aanular ato lesivo ao patrimôniopúblico ou de entidade de queo Estado participe, à moralida­de administrativa, ao meio am-

naturalizado, conforme estavaprescrito no projeto constitu­cional. Assim, qualquer formade tráfico pode ocasionar umprocesso de extradição.

LI! - não será concedidaextradição de estrangeiros porcrime político ou de opinião;

UII - ninguém será priva­do da liberdade ou de seus benssem o devido processo legal;

LIV - ninguém será pro­cessado nem sentenciado se­não pela autoridade competen­te;

LV - aos li tigantes, emprocesso judicial ou adminis­trativo, e aos acusados em ge­ral são assegurados o contra­ditório e a ampla defesa, comos meios e recursos a ela ine­rentes;

LVI - são inadimissíveis,no processo, as provas obtidaspor meios ilícitos;

LVII - ninguém será consi­derado culpado até o trânsitoem julgado de sentença penalcondenatória;

LVIII - o civilmente iden­tificado não será submetido àidentificação criminal, salvonas hipóteses previstas em lei;

UX - será admitida açãoprivada nos crimes de ação pú­blica. se esta não for intentadano prazo legal;

LX - a lei só poderá res­tringir a publicidade dos atosprocessuais quando a defesa daintimidade ou o interesse socialo exigir;

LXI - ninguém será presosenão em flagrante delito oupor ordem escrita e fundamen­tada de autoridade judiciáriacompetente, salvo nos casos detransgressões militares e cri­mes propriamente militares,definidos em lei;

Votaram: 449Sim: 317Não: 128Abstenção: 4

Através dessa votação, o ple­nário acolheu uma mudança noinciso LXI, nos termos de reu­nião de emendas assinada por14 constituintes, em nome deseus respectivos partidos, esta­belecendo dessa forma umacordo de lideranças. A dife­rença entre o texto-base e o quefoi acolhido pelo plenário é queeste ressalva os casos de trans­gressões militares definidos emlei. Assinaram a proposta os lí­deres Nelson Jobim (PMDB­RS), José Lins (PFL - CE),Artur da Távola (PSDB ­RI), Bonifácio de Andrada(PDS - MG), Gastone Righi(PTB - SP), Iosé Genoíno(PT - SP), Vivaldo Barbosa(PDT - RJ), Roberto Freire(PCB - PE), Haroldo Lima(PC do B - BA), Ademir An­drade (PSB - PA), AdolfoOliveira (PL - RI), MauroBorges (PDC- GO), ArnaldoFaria de Sá (PI - SP) e PauloRamos (PMN - RJ).

4 Jornal da Constituinte

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CJiRT11 ::: ACOMPA~IHE () TEXTO NA NOVA CARTEXTO

XXII - redução dos riscosinerentes ao trabalho, pormeio de normas de saúde, hi­giene e segurança;

CART_A ::: ACOlt1PAJ\TH"EAntunes (PDT - RJ), Lídiceda Mata (PC do B - BA), eMárcio Lacerda (PMDB ­MT), que veio a retomar o textooriginal aprovado em primeiroturno, o qual faz referência ao"mercado de trabalho da mu­lher", enquanto que a redaçãodo relator referia-sesomente ao"trabalho da mulher". A mes­ma reunião ainda modificou oinciso XXXIV de igual manei­ra, recompondo a mesma reda­ção do primeiro turno.

XXI - aviso prévio propor­cional ao tempo de serviço,sendo no mínimo de 30 dias,nos termos da lei;

XXIII - adicional de remu­neração para as atividades pe­nosas, insalubres ou perigosas,na forma da lei; O caminho para o plenário foi ocupado pelos trabalhadores e jovens que pediam votos e apoio

II - é vedada a criação demais de um sindicato, em qual­quer grau, representativo decategoria profissional ou eco­nômica, na mesma base terri­torial, que será definida pelostrabalhadores ou empregado­res interessados e não inferiorà área de um município.

Esse inciso ainda não estádefinido, quanto à sua reda-

Com essavotação, o plenárioacolheu os dispositivos comple-

< mentares ao inciso XXIX doart. 7°, conforme acordo de li­deranças, a constarem nas Dis­posições Gerais e Transitórias.Dessa maneira, ficou reguladaa questão da prescrição dasações trabalhistas para os tra­balhadores urbanos e rurais.Assinaram aproposta os líderesNelson Jobim (PMDB-RS),José Lins (PFL-CE), Artur da

~ Távora (PSDB-RJ), Bonifáciode Andrada (PDS-MG), Gas­tone Righi (PTB-SP), José Ge­noíno (PT-SP), Vivaldo Bar-

o bosa (PDT-RJ), Roberto Frei­re (PCB-PE), Haroldo Lima(PC do B -BA), Ademir An­drade (PSB-PA), Adolfo Oli­veira (PL-RJ), Siqueira Cam­pos (PDC-GO), Arnaldo Fariade Sá (PMB-SP) e Paulo Ra­mos (PMN-RJ).

Art. 80 É livre a associa­ção profissional, ou sindical,observado o seguinte:

I - a lei não poderá exigirautorização do estado para afundação de sindicato, ressal­vado o registro no órgão com­petente, vedadas ao poder pú­blico a interferência e a inter­venção na organização sindi­cal;

XXIV - aposentadoria;

XXV - assistência gratuitaaos filhos e dependentes de atéseis anos de idade, em crechese pré-escolas;

XXVI - reconhecimentodas convenções e acordos cole­tivos de trabalho;

XXVII - proteção em faceda automação na forma de lei;

XXVIII - seguro contraacidentes de trabalho, a cargodo empregador, sem excluir aindenização a que este estáobrigado, quando incorrer emdolo ou culpa;

XXIX - ação com prazoprescricional de:

a) cinco anos, quanto a cré­ditos resultantes das relaçõesde trabalho, para o trabalha­dor urbano, até o limite de doisanos após a extinção do con­trato;

b) até dois anos após a ex­tinção do contrato, quanto acréditos resultantes das rela­ções de trabalho, para o traba­lhador rural.

Através de um acordo de li­deranças e com a anuência dopresidente Ulysses Guimarães,não foi preciso que o plenáriovotasse para que fosse retoma­da a redação - vencedora noprimeiro turno de votação doinciso XXIX. A decisão da pre­sidência da Constituinte foi cal­cada no fato de que havia umareunião de emendas buscandoo retorno do texto original assi­nada por todas as lideranças,cujo caráterera de correção, aomesmo tempo em que o relatorBernardo Cabral desistia daforma como redigiu o inciso.

XXX - proibição de qual­quer discriminação no tocantea salário e critérios de admis-

são do trabalhador portador dedeficiência;

XXXI - proibição de dife­rença de salário, de exercíciode funções e de critério de ad­missão por motivo de sexo,idade, cor ou estado civil;

XXXII - proibição de dis­tinção entre trabalho manual,técnico e intelectual ou entreprofissionais respectivos;

XXXIII - proibição de tra­balho noturno, perigoso ou in­salubre aos menores de dezoitoanos e de qualquer trabalho amenores de 14 anos, salvo nacondição de aprendiz;

XXXIV -igualdade de di­reitos entre o trabalhador comvínculo empregatício perma­nente e o trabalhador avulso.

Aqui foi refeito o textoaprovado no primeiro turno,ainda segundo termos da reu­nião de emendas dos constituin­tes Mário Lima (PMDB-BA),Jovanni Masini (PMDB-PR),Juarez Antunes (PDT-RJ), Lí­dice da Mata (PC do B-BA)e Mário Lacerda (PMDB­MT).

A diferença é que o relator nãousou a palavra "permanente".

§ 10_ São assegurados à

categoria dos trabalhadoresdomésticos os direitos previs­tos nos incisos IV, VI, VIII,XV, XVII, XVIII, XIX, XXIe XXIV, bem como a integra­ção à previdência social.

PRESCRIÇÃO DE AÇÕESDISPOSIÇOES GERAIS

Para efeito do incisoXXIX do art. 79, o empre­gador rural comprovará,de cinco em cinco anos,perante a Justiça do Tra­balho, o cumprimento dassuas obrigações trabalhis-

tas para com o empregadorural, na presença deste ede seu representante sin­dical.

§ 19 - Uma vez com­provado o cumprimentodas obrigações menciona­das neste artigo, fica o em­pregador isento de qual­quer ônus decorrente da­quelas obrigações no pe­ríodo respectivo. Caso oempregado e seu repre­sentante não concordemcom a comprovação doempregador, caberá àJustiça do Trabalho a so­lução da controvérsia.

§ 29 - Fica ressalvadoao empregado, em qual­quer hipótese, o direito depostular, judicialmente,os créditos que entenderexistir, relativamente aosúltimos cinco anos.

§ 3° - A comprovaçãomencionada neste artigopoderá ser feita em prazoinferior a cincoanos, a cri­tério do empregador.

DISPOSIÇÕESTRANSITORIAS

Na primeira comprova­ção do cumprimento dasobrigações trabalhistaspeloempregador rural, naforma do art. , após apromulgação desta Cons­tituição, será certificadaperante a Justiça do Tra­balho a regularidade docontrato e das atualiza­ções das obrigações traba­lhistas, de todo o período.

Votaram:Sim:Não:Abstenção:

433414

613

ção, sendo que existem emen­das para serem votadas com ointuito de trocar a palavra "sin­dicato" por "organização sin­dical", conforme foi votado noprimeiro turno de votação. Po­de ser também que a presidên­cia da Constituinte venha a de­cidir pela recondução da reda­ção original sem a necessidadede votação em atendimento asolicitações das lideranças. To­davia, o assunto ainda está emaberto.

III - ao sindicato cabe a de­fesa dos direitos e interessescoletivos ou individuais da ca­tegoria, inclusive em questõesjudiciais ou administrativas;

IV - a assembléia geral fi­xará a contribuição da catego­ria que, se profissional, serádescontada em folha, para cus­teio do sistema confederativode sua representação sindical,independentemente da contri­buição prevista em lei;

V - ninguém será obrigadoa filiar-se ou manter-se a sindi­cato;

VI - é obrigatória a partici­pação dos sindicatos nas nego­ciações coletivas de trabalho;

VII - o aposentado filiadotem direito de votar e ser vota­do nas organizações sindicais;

VIII - é vedada a dispensado empregado sindicalizado, apartir do registro da candida­tura a cargo de direção ou re­presentação sindical e, se elei­to, ainda que suplente, até umano após o final do mandato,salvo se cometer falta gravenos termos da lei.

Parágrafo único - Essasdisposições aplicam-se à orga­nização de sindicatos rurais ede colônias de pescadores, ob­servadas as condições que a leiestabelecer.

Jornal da Constituinte 5

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Privatizaçãonão empolgaconstituintes

Críticas ao programa de pri­vatização das empresas estataise a defesa veemente da Assem­bléia Constituinte contra astentativas de interferência emseu trabalho foram os princi­pais assuntos na semana passa­da, quando o plenário estevesempre cheio em função do rit­mo intenso de votações.Amaury Müller (PDT - RS),José Costa (PSDB - AL),Fernando Santana (PCB ­BA) e Olívio Dutra (PT - RS)levantaram dúvidas sobre asconseqüências ao país do pro­cesso de privatização iniciadopelo governo sem consultas aoLegislativo. Ivo Lech (PMDB- RS), Virgílio Galassi (PDS- MG), Divaldo Suruagy

~PFL - AL), Jorge UequedPMDB - RS), Luiz SoyerPMDB - GO), Abigail Fei­

tosa (PSB - BA), Moema SãoThiago (PSDB - CE), MauroMiranda (PMDB - GO), Fa­rabulini Júnior (PTB - SP)Mário Lima (PMDB - BA),e Francisco Küster (PSDB ­Se) defenderam aspectos posi­tivos e avanços contidos noprojeto da nova Carta.

DESESTATIZAÇÃOO constituinte Amaury Müller

(PDT - RS) considerou a atualpolítica de desestatização promo­vida pelo Governo Federal comouma afronta não somente à sobe­rania nacional, mas igualmente aotrabalho que vem sendo desenvol­vido pela Assembléia NacionalConstituinte. "O Presidente JoséSarney ao anunciar a criação doConselho Nacional de Desestati­zação, cujo projeto inclui a priva­tização de varias empresas estataisrentáveis e de fundamental impor­tância para a própria segurança dopovo, está se opondo de forma in­sólita e inaceitável àquilo que aConstituinte aprovou no primeitoturno e consagrará no segundo".

Amaury Müller leu, em plená­rio o artigo 21 que estabelece co­mo competência da União "explo­rar, diretamente ou mediante con­cessão a empresas sob controleacionário estatal, os serviços tele­fônicos, telegráficos, de transmis­são de dados e demais serviços pú­blicos de telecomunicações, asse­gurada a prestação de serviços deinformações por entidades de di-

. reito privado através de rede pú­blica de telecomunicações explo­rada pela União".

À REVELIAPor sua vez, o constituinte José

Costa, representante do estado deAlagoas na Assembléia Nacional,lembrou que a iniciativa de priva­tizar diversas empresas estatais cu­jos ativos representam, segundoele, vários bilhões de dólares, serátomada pelo Governo "à revelia

do Congresso Nacional, e sem ou­vir sequer os segmentos mais im­portantes da sociedade".

Entre as empresas sujeitas à de­sestatização, de acordo com JoséCosta, está a Telebrás. "E precisoque se diga que a Telebrás já éprivatizada, porque, em verdade,o sistema Telebrãs pertence a qua­tro milhões de acionistas brasilei­ros e, nesses 21 anos de existência,conseguiu levar o País da posiçãoda inferiondade em que se encon­trava no campo das comunicaçõespara uma situação que já pode serconsiderada satisfatória nos diasde hoje".

O parlamentar alagoano consi­derou este ponto como de segu­rança nacional e "a AssembléiaConstituinte, que vai apreciardentro de poucos dias um dos arti­gos do Projeto de Constituição,Já aprovado em primeiro turno,que cuida das comunicações, te­nho certeza de que irá manter osistema atual, ou seja, estatizado,porque isso consulta os interessesdo País no estágio em que se en-'contra atualmente".

PETROBRÁSTambém o constituinte Fernan­

do Santana (PCB - BA) conde­nou o processo de desestatizaçãopromovido pelo Governo. "Paranossa absoluta inconformidade,verificamos aqui que se pretendeprivatizar a BR-Distribuidora S.A., Empresa pertencente à Petro­brás. Agora queremos saber por-vque o Governo quer privatizar anossa filial da Petrobrás, no setorde distribuição de petróleo. Inda­gamos ao Presidente da Repúblicao porquê da privatização da BR-­Distribuidora, que tem hoje umafatia mais ou menos de 30% domercado". O parlamentar lem­brou ainda que este setor de distri­buição é considerado, dentro doramo petrolífero, como o "filémignon."

Fernando Santana questionouamda os motivos apresentados pa­ra dar início ao processo de priva­tização da Telebrás. "Esta empre­sa resulta do Código Brasileiro deTelecomunicações, que deu aoPaís uma independência em rela­ção a firmas internacionais queaqui faziam esses serviços ante­riormente" .

CONSELHOJá o constituinte Olívio Dutra

(PT - RS) lembrou a instalaçãodo Conselho Federal de Desesta­tização, ocorrida na semana passa­da, que será presididopelo Minis­tro do Planejamento. Esse Conse­lho, na opinião do parlamentargaúcho, agiliza uma política quevem sendo desenvolvida pelo go­verno da Nova República há maisde um ano. "Esta política, entre­tanto, não tem sido traçada de for­ma transparente e tem como fina­lidade atender os ditames do gran­de capital nacional e as regras doFundo Monetário Internacional".

ADIRPlReynaldo Stavale

José Costadiscordou daprivatizaçãoda Telebrás.

FernandoSantana citoua Petrobrás e

Amaury Müllerdenunciou queo governo se

opõe ànova Carta

"O Partido dos Trabalhadores- enfatizou Olívio Dutra achaque há inúmeras empresas preci­sando ser saneadas para que pres­tem bons serviços ao povo brasi­leiro, e que até algumas podeme devem desaparecer. Mas as em­presas que estão sendo ameaçadasde privatização, na sua maioria,são as que preservam a soberanianacional no setor energético; detransporte, e em outras áreas fun­damentais".

CONQUISTA"O novo texto constitucional­

ao contrário do que apregoam osarautos do pessimismo - repre­senta importante conquista social,econômica e política para toda asociedade brasileira, ditado quefoi pela vontade soberana do povoaqui legitimamente representa­do."

A declaração é do constituinteIvo Lech, do PMDB do Rio Gran­de do Sul, que aplaude a posiçãoassumida pelo Presidente da As­sembléia Nacional Constituinte,Ulysses Guimarães, contra pres­sões de certos grupos e destaca osgrandes avanços da nova Carta.

Como exemplos, cita o resgatedos direitos aos aposentados e ex­tensão dos benefícios da Previdên­cia Social a todos os que dela ne­cessitarem, independentementede contribuição à seguridade so­cial; e a adoção de mecanismosreferentes aos direitos e garantiasindividuais e coletivos, como o ha­beas data, habeas corpus coletivoe o mandado de injunção.

No entanto, afirma o parlamen­tar, que o maior avanço da novaCarta Magna foi a outorga da cida­dania, que, a seu ver, nunca antesfora exercida em toda sua pleni­tude no país.

"Raramente presente nos esta­tutos políticos, até mesmo das na­ções mais modernas, o exercícioda soberania popular - garantidano capítulo dos Direitos Políticosatravés do plebiscito, do referen­do, da iniciativa popular e do vetopopular - enche-nos de justo or­gulho cívico, pois vem ao encontrodas indestrutíveis aspirações dosmais diversos segmentos da socie­dade", afirmou.

PRÀZOSO constituinte Virgílio Galassi

(PDS - MG) defendeu propostade sua autoria, a qual, segundoo parlamentar, corrigiria gravedistorção observada por ele emdois dispositivos do projeto consti­tucional aprovado no primeiroturno de votação. Para o deputadomineiro no artigo 7° fica estabe­lecido que "o prazo prescricional,nas ações trabalhistas, será de cin­co anos, quando se tratar de crédi­tos resultantes das relações de tra­balho, para o trabalhador urbano,e dois anos após a extinção do con­trato de trabalho, quanto a crédi­tos resultantes das relações de tra­balho, para o trabalhador rural".

Virgílio Galassi diz que suaemenda pretende unificar os crité­rios referentes aos prazos prescri­cionais nas ações trabalhistas dosempregados urbanos e rurais. Oparlamentar mineiro salientouque se for mantido o atual textoserá consagrada "uma odiosa dis­criminação relativamente ao em­presário rural, um fato prejudicialao trabalhador que permanecerásobre a sua cabeça como uma es­pada de Dâmocles".

DEMOCRÁTICO"Muito embora tenha enxerga­

do vícios no texto do projeto cons­titucional aprovado em primeiroturno, principalmente na parte dasDisposições Gerais e Transitó­rias", o constituinte Divaldo Su­ruagy (PFL - AL) considerou otrabalho realizado pela Consti­tuinte, até o momento, como de­mocrático. Ele explicou sua posi­ção observando que a maioria nãoesmagou a minoria e nem esta seopôs intransigentemente às solu­ções possíveis e negociadas.

O parlamentar sustentou que otexto, que já foi aprovado em suatotalidade pelo Plenário em se­gundo turno, não é a Constituiçãoalmejada pelos brasileiros, mas é,seguramente, a Constituição queconsumará o processo de restau­ração democrática e consagrará atransição política em que a naçãoestá empenhada. A nova Consti­tuição, como já se delineia. desta­cou o constituinte, é. em quasesua totalidade, fruto do consenso,do entendimento, da negociaçãoe dos ajustamentos coletivos emque todos os segmentos sociais re­presentados no plenário cederamum pouco e, quando a concessãose tornou impossível, a decisão sedeu democraticamente pelo con­fronto do voto.

O "vício "no texto apontadopor Divaldo Suruagy, esta no fatode o título das Disposições Geraise Transitórias ter se constituídoem excesso de dispositivos que,por sua própria natureza, não sãoconstitucionais. O parlamentarexplicou essa tendência como sen­do uma atitude de autodefesa doLegislativo contra o imobilismodas legislaturas ordinárias, que, aseu ver, não foram suficientes paracomplementarem os sucessivostextos constitucionais dos 160anosde vida republicana. Porém, oconstituinte salientou ser possível,no segundo turno, sanar as incon­gruências, especialmente, disse,no que tange às matérias que con­sensualmente estariam melhortratadas em legislação ordinária.

Não obstante, Divaldo Suruagyelogiou todos os dispositivos rela­cionados com a seguridade social- "seguramente uma das melho­res". No seu entender, tanto nocorpo permanente do projeto co­mo nas disposições transitórias otexto da seguridade e da previdên-

6 Jornal da Constituinte

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O constituinte Mário Lima(PMDB - BA) considerou quea não inclusão da estabilidade deemprego no texto constitucionaltorna a situação do trabalhadorbrasileiro mais incerta. O parla­mentar apresentou inclusive pro­posta de modificação em que fica­ria estabelecido que a "relação deemprego protegida contra despe­didas arbitrárias ou sem justa cau­sa" deveria ser posteriormente,em legislação ordinária, reguladade modo a impedir que abusos fos­sem cometidos contra o trabalha­dor, "permitindo ao trabalhadorum mínimo de segurança, reme­tendo para a legislação ordináriaos detalhes deste instituto".

Mário Lima afirmou que a der­rota de sua proposição se deve aofato de que "parecia difícil apro­var num plenário onde a maioriados constituintes se liga à ala con­servadora, ao mesmo tempo queos setores progressistas não ti­nham uma visão realista do qua­dro político". Para o parlamentar,quem votou em sua proposição co­locou os interesses do trabalhadoracima dos interesses partidáriosou mesmo pessoais.

DIREITOS

ESTABILIDADE

"É fundamental que os consti­tuintes confirmem seus votos a fa­vor da manutenção das conquistasdos trabalhadores na futura CartaMagna, a fim de chegarmos, no.mínimo, a uma économia agiliza­da e modernizada."

O apelo é do constituinte Fran­cisco Küuster (PSDB - Se) aoenumerar os cinco pontos que con­sidera fundamentais para a con­cretização desses direitos, quaissejam: a prescrição dos direitosdos trabalhadores, a estabilidadedo dirigente sindical, o direito degreve ao servidor público, o turnode seis horas e o substituto proces­sual do representante do trabalha­dor para acionar na justiça'os pa­trões.

Por sua vez, com relação à licen-'ça-paternidade, Francisco Küsterfaz algumas ressalvas.

. ~ ~ /'

Ao defender os direitos dos tra­balhadores, o constituinte catari­nense contestou ainda declaraçõesde algumas autoridades, empresá­rios e-"falsos" líderes sindicais, aoafirmarem que a concretizaçãodesses direitos invíabilizaria a eco­nomia brasileira.

Por fim Francisco Küster consi­derou imprescindível a agilizaçãodos trabalhos da Constitumte paraque se obtenha o mais rápido pos­sível a promulgação da nova CartaMagna.

prerrogativas, com os trabalhos'constituintes, de acordo com oparlamentar paulista. "Fizemos aestruturação ao Estado e o sistemade governo, e, na estruturação do

. Estado, procuramos; com todas asfiligranas, dar à segurança pública

- uma estrutura capaz de permitirao povo brasileiro um pouco maisde tranqüilidade. E, neste setor desegurança, invadimos também aárea do Poder Judiciário e que re­cairá igualmente sobre a ação doPoder Executivo." Farabulini Jú­nior disse igualmente que foramformecidos, com a nova Carta, to­dos os instrumentos capazes depermitir, à estrutura dos poderes,meios convenientes para protegera sociedade.

PRERROGATIVAS

O constituinte Farabulini Júnior(PTB - SP) afirmou que uma dasgrandes preocupações do Gover­no é a volta das prerrogativas doPoder Legislativo. "E exatamenteeste ponto que está ferindo susce­tibilidades, porque, lá fora, mem­bros do Poder Executivo sentem,desde já, que as prerrogativas fo­ram devolvidas a este Poder. AoPoder Legislativo, que é justa­mente onde se encontra alojadaa força da democracia", acrescen­tou.

Mas não foi somente o PoderLegislativo que avançou em suas

grando rede regionalizada e hie­rarquizada, com a constituição desistema único e com direção únicaem cada esfera de governo, consti­tuem pontos dos mais significati­vos no fortalecimento do podermunicipal." A afirmativa é doconstituinte Mauro Miranda(PMDB - GO), que exalta asconquistas alcançadas na ANC I?e­lo poder municipal e que criticao poder central por ter exercido,durante muitos anos, forte in­fluência em outros poderes, arro­gando a si o direito de invervirconforme suas conveniências.

Segundo o parlamentar, nasquestões da repartição das receitastributárias e do orçamento, os mu­nicípios obtiveram maior canaliza­ção de recursos com a instituiçãodos impostos de transmissão intervivos, com a venda de combus­tíveis líquidos e gasosos a varejo,exceto do óleo diesel, e sobre ser­viços de qualquer -natureza, quenão tenham relação com a circu­lação de mercadorias e prestaçõesde serviços de transportes interes­taduais e intermunicipal e de co­municações.

Já na área educacional, MauroMiranda considera fatores funda­mentais para o fortalecimento dosmunicípios e para a consolidaçãodo regime de colaboração entrea União, Estados, Distrito Federale municípios na organização dossistemas âe ensino a obrigatorie­dade da aplicação de 25% dos im­postos do município na manuten­ção e no desenvolvimento do ensi­no e a assistência técnica e finan­ceira da União.

FranciscoKüster pediu

apoio aosdireitos dos

trabalhadores.Mário Limadefendeu aestabilidadeno emprego.Legislativo,o tema de

Frabulini Jr.

aunca assisti a momento tão graveno país como o de agora".

A constituinte cearense lem­brou que esta conjuntura adversanão se deve, em absoluto, às medi­das definidas no projeto de Cons­tituição, uma vez que elas aindanão entraram em vigor. Desta for­ma, acredita Moema São Thiagoo presidente da República não po­de acusar os constituintes de geraruma situação onde o país ficariaingovernável, pois afinal, em suaopinião, o "Brasil já está ingover­nãvel", Esta ingovernabihdade,prosseguiu a- parlamentar, podeser creditada à própria inconstân­cia da equipe ministerial nos mo­mentos de definição de uma polí­tica econômica.

MUNICípIO

"A descentralização político­administrativa na execução deprogramas de assistência social,com a participação da população,e a descentralização das ações eserviços públicos de saúde, inte-

lIIroo::

As conversas e negociações aconteceram no plenário: ninguémqueria sairatéo fim dassessões

. Salientou Luiz Soyer em con­clusão que a floresta amazônica,a Mata Atlântica, a Serra do Mar,o Pantanal Mato-grossense e a Zo­na Costeira serão, de acordo coma nova Constituição, preservadoscomo patrimônio nacional, só per­mitida sua utilização na forma dalei, sendo indisponíveis as terraspúblicas necessárias à proteçãoaos ecossistemas naturais, permi­tida, para esse fim, a desapropria­ção.

DEFESAAbigail Feitosa, constituinte pe­

la Bahia, considerou a defesa daANC tarefa prioritária de todosos verdadeiros democratas brasi­leiros, neste momento em que se­tores arbitrários atacam as Impor­tantes conquistas sócio-econômi­cas inscritas no novo texto consti­tucional.

Segundo a representante doPSB, o grande avanço em matériade direitos civis, consagrado nonovo texto, está certamente inco­modando "àqueles que se acostu­maram a não-resistência dos seto­res mais oprimidos da nossa socie­dade, os quais, de forma organi­zada, apresentam notável sentidode articulação social para fazer va­ler os seus direitos".

Dentro do mesmo contexto,Abigail Feitosa considerou aindaoportuno transcrever o artigo"Chegamos a 1789, enfim", de au­toria do professor da USP PauloSérgio Pinheiro, publicado no Jor­nal do Brasil, edição de 8 de agos­to, onde assinala, entre outras coi­sas, a importância da aproximaçãodo texto constitucional com a for­malidade consagrada das liberda­des fundamentais para derrubadado regime de exceção paralelo".

CRISE

A constituinte Moema SãoThiago (PSDB - CE) analisou acrise econômica que se abate so­bre o país, que, segundo ela, teriaalcançado no atual período o seuclímax com a perda, por parte dogoverno, do controle dos índicesinflacionários. "Ahiperinflação jáé uma possibilidade real". A par­lamentar chegou a lembrar um de­poimento recente do ministro doPlanejamento, João Batista deAbreu, em que ele teria afirmadoque "em 14 anos de vida pública,

.cia social terminou consagrandoum dos maiores avanços de todoo projeto. Destacou ele que foiresgatada a dignidade dos aposen­tados na exata e precisa definiçãodos recursos correspondentes quedevem custear os novos encargosprevidenciários.

CAMPANHA

Oconstítuinte Jorge Uequed(PMDB - RS), por sua vez, ana­lisou a campanha deflagrada pelogoverno, no sentido de tentar le­var os parlamentares a rever asconquistas consolidadas no capí­tulo da Seguridade Social da novaConstituição. Dentro 'desta cam­panha, muitos membros do Go­verno, segundo Jorge Uequed,têm-se apressado em divulgar da­dos e números em que procurammostrar a inviabilidade prática dasnovas medidas.

Entretanto, no entender do par­lamentar gaúcho, o que os gover­no procura com essa campanha éimpedir a descentralização do po­der da Previdência Social. "Esteé o maior enfoque, porque a partirda nova Carta, não apenas o Go­verno, através do seu novo minis­tro, vai comandar a área da seguri­dade social, mas terá a participa­ção de trabalhadores, -aposenta­dos, empresários e da comunidadena gestão desses negócios públi­cos. Uma grande fatia de podervai escapar das mãos dos gover­nantes para ser devolvida à socie­dade, que terá com mais eficiên­cia, zelo e cuidado a capacidadede fiscalizar os atos praticados ouprojetados neste setor."

AVANÇO

O constituinte Luiz Soyer(PMDB - GO) considerou umavitória a inclusão de dispositivo nafutura Constituição que disciplinaa preservação da ecologia, afir­mando que o dispositivo é tido co­mo um dos mais avançados domundo, pois assegura um meioecologicamente equilibrado, deuso comum e essencial à melhorqualidade de vida.

Já ao poder público, destacou,foi imposta a obrigação de defen­dê-lo; e à coletividade, o dever depreservá-lo para as presentes e fu­turas gerações.

De acordo com Luiz Soyer al­guns itens são merecedores de re­gistro, destacando-se a preserva­ção e restauração dos processosecológicos indispensáveis e provi­mento da defesa das espécies e doecossistema; preservação da di­versidade e da integridade do pa­trimônio genético, fiscalizando-seas entidades de pesquisa e mani­pulação desse material; definição,em todas as unidades da Federa­ção, de espaços territoriais e seuscomponentes, para proteção eco­lógica, só se permitindo a altera­ção através de lei, vedada utiliza­ção que comprometa a integridadedos atributos .que justifiquem suaproteção; exigência, por lei, deaprovação prévia para qualquerobra ou atividade capaz de alteraro ambiente; controle da produção,comercialização e emprego de téc­nicas, medidas e substâncias quedegradem à ecologia.

O parlamentar destaca ainda apromoção da educação ambientale a conscientização publica paraa preservação do' meio ambiente,protegendo-se a flora e a faunae vedando-se, por lei, as práticasprejudiciais à ecologia, punidas asque possam provocar a extinçãode espécie ou que submetam ani­mais a crueldades.

Jornal da Constituinte 1

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· ~ . .unicipios, en tm, co

É uma certeza entre os 559 constituintes:só pela reforma do sistema tributário, textoaprovado em primeiro turno, garantiu-se quetudo teria valido a pena. O próprio presidenteUlysses Guimarães, no célebre discurso de de­fesa da Constituinte, no dia 27 de julho desteano, incluiu a reforma tributária como um dosmomentos altos 40 processo constitucional:

- Após 500 anos, o projeto redime a geo­grafia do Brasil. Nossa geografia é violentadapela concentração nacional de rendas e de com-

petência. Nossa geografia é regional, é local -a idéia de uma Federação na qual a prefeitura I

e municipal, com municípios maiores do que' dependa de verbas do governo federal patamuitos países. construir uma calçada ou aumentar o número

E disse mais: de ofertas de vagas no ensino básico. i

- As urnas dão votos para os governa- _ _ , . .dores e prefeitos administrarem. Mas só a au- Mas na? sao so os novos percen!uals destetêntica Federação, que estamos organizando, oU; daqu~!~ IIl?-POS~O ou a recuperaçao do cOJ;l­dá o dinheiro para que tais governos dêem res- cetto?e justiça fiscal que definem a.no~a Fe­postas às necessidades localizadas. dera~ao esboçada no novo texto constitucional.

O que Ulysses, falando por todos os cons- Desde os primeiros dias, ainda na Subcomissãotituintes, deixou claro é que não se concebe dos Municípios e Regiões, o debate constituiu-

E levado à maioridade no con­texto da Federação, o muni­

cípio ganhou ainda sua indepen­dencia institucional. Diz o artigo30 do novo texto: "O municípioreger-se-á por lei orgânica, votadaem dois turnos, com interstício mí­nimo de dez dias, e aprovada pordois terços dos membros da Câ­mara Municipal, que a promulga­rá, atendidos os princípios estabe­lecidos nesta Constituição, naConstituição do respectivo esta­do" ...

Pelos textos constitucionais an­teriores, inclusive o que está emvigor, a lei orgânica dos municí­pios é de competência do Estado,que a ditava para todos os municí-.pios. Exceção feita ao Rio Grandedo Sul que, por circunstâncias his­tóricas, permitiu que seus municí­pios decidissem sobre sua leimaior.

Observa o constituinte VilsonSouza (PSDB - Se) que essa al­forria legal faz com que os municí­pios recuperem a autonomia quetinham nos tempos do Brasil colô­nia, "quando eram de fato o cen­tro das decisões locais".

Neste caso, o município passaa ter competência concorrentecom a União para legislar sobreo meio ambiente, o abastecimen­to, o zoneamento do solo urbano,o patrimônio cultural, o esporte,o lazer. "Se a lei orgânica muni­cipal deverá seguir os mesmosprincípios da Carta federal ­acrescenta Vilson Souza - tudoé possível, até mesmo o voto decensura para funcionários munici­pais, a instituição de normas pro­visórias (um sucedâneo do atualdecreto-lei). Tudo vai dependerda criatividade dos legisladoresmunicipais", arremata o consti­tuinte catarinense.

Tudo se disse sobre a voraci­dade da União na partilha do bolotributário. Mas, expressões como"hipertrofia do Executivo fede­ral" ou "centralismo" podem sersubstituídas por uma mais simp'les:avareza, seja, na hora de distnbuiras fatias, do bolo a União deixava(e ainda deixa, pelo texto constitu­cional em vigor) apenas as miga­lhas para os estados e municípios.

A Carta de 1967, repetindo opercentual da Constituição de1946, determinava que 80% da ar­recadação do Imposto de Renda(IR) e do Imposto sobre ProdutosIndustrializados (IPI) ficassemcom a União, enquanto os min­guados 20% fossem destinados,em partes iguais, aos estados e mu­nicípios onde o tributo fosse arre­cadado.

Muito mais pela força do movi­mento municipalista do que pela

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generosidade do poder central,em 1983, com a Emenda PassosPôrto, e já na nova República,houve uma alteração nesses per­centuais. Dos 20% que repassava,a União passou a distribuir 31%para estados e municípios, ficandocom 67%, já que 2% se destinamao Fundo Especial para a aplica­ção em regiões mais carentes. (Es­te Fundo, no novo texto foi am­pliado para 3% e tem destinaçãoespecífica para as regiões Norte,Nordeste e Centro-Oeste). Nasmudanças ocorridas, os municí­pios passaram a receber também50% da antiga Taxa Rodoviáriaúnica (TRU), hoje IPVA, e 30%do Imposto Federal sobre Trans­portes.

AS CONQUISTAS

Economista e com longa vivên­cia executiva, inclusive como Se­cretário de Economia e Planeja­mento de São Paulo, o constituin­te José Serra (PSDB - SP) avaliaas conquistas dos municípios comotimismo e anuncia que os ganhosde 'receitas dos municípios sãosempre equivalentes ao dobro dosganhos dos estados - "da ordemde 30% para 15% aproximada­mente".

São dez os principais ganhos dosmunicípios, segundo o constituin­te de São Paulo:

1 - Elevação da participaçãodos municípios no ICM de umquinto para um quarto, ou seja,um aumento de 25%.

2 - Com esta elevação, o ICMpassa a ser base de cálculo paracinco outros impostos que são ex­tintos: Imposto sobre Minerais(IUM), Imposto sobre Combus­tíveis Líquidos e Gasosos(IUCLG), Imposto sobre EnergiaElétrica (IUEE), Imposto sobreTransportes Rodoviários (1ST) eImposto sobre Telecomunicações(ISC). Nos casos do IUM,IUCLG, IUEE e 1ST, as partici­pações atuais dos municípios quesão, respectivamente, de 20%,20%,10% e 30%, passarão agoraa 25%.

3 - Elevação do Fundo de Par­ticipação dos Municípios (FPM)de 17% para 22,5% (os estadospassaram de 14% para 21,5%).

4 - Participação de 25% aosmunicípios, através de um fundonovo, para compensar a não co­brança de ICM nas exportaçõesindustriais.

5 - Transferência aos municí­pios da responsabilidade pela co­brança e a arrecadação integral doimposto sobre transmissão inter­vivos de bens imóveis. No sistemavigente, os municípios recebemapenas 50% do imposto de trans-

(

missão de bens imóveis, hoje decompetência estadual.

6 - Competência municipalpara instituir imposto sobre asvendas a varejo de combustíveis,exceto <} óleo diesel.

7 - E dado ao município o pro­duto de arrecadação do Impostode Renda incidente na fonte sobrerendimentos pagos, a qualquer tí­tulo, por eles, suas autarquias epelas fundações que instituírem oumantiverem.

8 - Viabiliza-se , definitiva­mente, a cobrança da contribuiçãode melhoria, instrumento impor­tante ao financiamento de infra­estrutura urbana.

9 - Vedou-se à União a con­cessão de isenções de tributos decompetência dos estados ou dosmunicípios; vedou-se qualquerrestrição à entrega e ao empregode recursos repartidos pela Uniãoe pelos estados com os municípios.

10 - Estabeleceu-se o acompa­nhamento do cálculo das cotas pe­los interessados e a publicação, naimprensa oficial, pela União e pe­los estados, dos montantes de cadaum dos tributos arrecadados, dos

Jornal da-C- - ~ I -

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quistam a autonomiat~ fixou-se no cerne da questão: afinal, o muni­cípio é ou não é integrante da Federação?Aquilo que à primeira vista parece elementarnão é a realidade constitucional vigente. Bastaler o art. 19 da Carta de 67, ainda em vigor.Lã diz que "o Brasil é uma República Federa­tira, constituída, sob o regime representativo,pela união indissolúvel dos estados, do DistritoFederal e dos territórios".I Diz em estudo do Instituto Brasileiro de

Administração Municipal que, "para vários

efeitos práticos, o município brasileiro, desdea Cons.tituição de 1934, com exceção do perío­do do Estado Novo, é considerado como parteconstitutiva no pacto federal". Só que isto nãoestava claro nos textos constitucionais.

Com o novo texto, o município ganha logono art. 10, do título I, "dos princípios funda­mentais" , o seu statusde componente da Fede­ração: "A República Federativa do Brasil, for­mada pela união indissolúvel dos estados e mu­nicípios, do Distrito Federal e dos territórios,

constitui-se em Estado democrático de direi­to ... "

Deixa assim o município de ser uma unida­de inferior e apenas derivada para tornar-secomponente e parceiro da Federação. Consti­tui-se claramente no texto os três níveis de com­petência: nacional, estadual e local. Afinal, éno município que vive o cidadão, cercado decarências e anseios. Só por isso a nova Consti­tuição já merece o apelido que lhe deu o presi­dente da Constituinte: "Constituição Cidadã".

dato de cinco anos para o atualpresidente".

Prefeito de Fortaleza, entremarço de 1978 e maio de 1982,O constituinte Lúcio Alcântara(PFL- CE) diz que é preciso aca­bar com o mito da incompetênciae da corrupção nas administraçõesmunicipais. Na sua opinião, estesempre foi o argumento dos cen­tralizadores. "O argumento não sesustenta porque é exatamente so­bre o prefeito que recai a maiorpressão popular. Essa pressão sedilui quando se trata do governoe muito mais em relação ao podercentral".

O importante é que a peregri­nação dos prefeitos acaba. E ­acredita Lúcio Alcântara - quecom os recursos bem definidos notexto constitucional, fatalmente osencargos serão equilibrados, "atécomo conseqüência do emagreci-,menta da União". Satisfeito como texto, Alcântara ressalva quemaiores avanços na partilha do bo­lo tributário seria praticar um"matricídio", referindo-se àUnião que, aliás, sempre foi maismadrasta do que mãe.

PARTICIPAÇÃOKoyu lha foi prefeito de São Vi­

cente (SP) de 1977a 1981, quandorenunciou ao mandato por nãoconcordar com sua prorrogação.Hoje na Constituinte e no PSDB,o parlamentar aplaude o avançodo texto constitucional, mas lançao desafio da sua materializaçãoaos vereadores e administradores.

No caso dos municípios que envol­vem grandes aglomerados urba­nos, ele entende que a eficiênciadependerá, da articulação dos es­paços regionais...

Mas importante mesmo paraKoyu lha é o novo quadro institu­cional do país com a nova Carta,fazendo com que o cidadão exerçade fato a sua cidadania, o que na­turalmente implica maior partici­pação e pressão junto ao podermunicipal.

" A Nova Constituição como umtodo - explica - dará ao cidadãoum instrumento muito forte paraa cobrança das ações administra­tivas" . Mas seu temor ficapor con­ta do que ele chama de "inérciada Constituinte e dos governado­res". "Prefeitos e governadoresdeveriam estar pressionando osconstituintes para que a Carta sejaaprovada o mais rápido possível.

Assim, no próximo ano, todos te­riam mais recursos para seus desa­fios administrativos".

- "valores entregues e a entregar e 'da expressão numérica dos crité­rios de rateio dos mesmos, possibi­litando melhor fiscalização dosprocedimentos e verificação dacorreta entrega dos recursos per­tencentes a municípios, que aUnião e estados arrecadam.

IGUALDADE"Uma micronação", assim o

constituinte José Tavares, candi­dato a prefeito pelo PMDB à Pre­feitura de Londrina (PR), defineo município que surgirá do novotexto constitucional. Mas, no ca­so, uma "nação" muito mais real,porque é onde o cidadão vive osproblemas do dia-a-dia e tem ocontato direto com o poder públi­co. "A nação mesmo e uma ficção,porque a cidadania é diluída", sus­tenta o constituinte do Paraná.

Qualificando-se como munici­palista e integrado à luta pela au­

_tonomia desde os primeiros diasda Constituinte, Tavares reconhe­ce que se alcançou "igualdade depoderes", mas não é tão otimistaassim quando se trata da repar­tição do bolo tributário: "Ficouum pouco melhor, mas ainda estáaquém das necessidades dos muni­cípios" .

José Tavares não aceita o argu­mento de que haverá mais repassede recursos, enquanto os encargosmunicipais continuarão os mes­mos: "Não é verdade. Nada fun­ciona no município que não tenhaa participação efetiva da prefeitu­ra". Como exemplo, cita até o ór­gão alistador do serviço militar eo Funrural, que só funcionam coma infra-estrutura municipal.

SEM SOLAVANCOSArtenir Werner (PDS - Se) foi

prefeito de Rio do Sul entre 1970e 1973. Hoje constituinte, avaliaos avanços do novo texto constitu­cional da forma mais objetiva: "Oimportante são os recursos". Paraele, com o centralismo atual, umprefeito gasta mais de 80% do seutempo correndo atrás do deputadofederal, do secretário de estado,do ministro e até do presidenteda República para buscar recursosque lhe são de direito.

"O prefeito - diz o constituinte-de Santa Catarina - agora vai po­der sentar na sua cadeira e gover­nar. Poderá fazer projeções de re­ceitas e planejar sua administra­ção. Não haverá solavancos nasobras".

Essa dependência do poder cen­tral torna os atuais prefeitos ver­dadeiros mendigos. E pior, na opi­nião de José Tavares, gera cumpli­cidades, que "faz até com que sevote aqui nesse plenário um man-

~

Wilson SouzaArtenirWernerJosé Tavares

onstítuínte 9

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CAMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO

GABINETE DO VEREADOR MAURícIO AZÊDO

Quero cumprJ..mentá.-lo pela alta quaLadade do Jor­nal da üonstu tuarrte , que, com excelente padrão e dí eor-iaj e g~co, graças a presença em seus quadros de pr-ot'as s í.onaaa de gran=de competêncJ.a, vem oferecendo um relato amplo e, quando necessá­rio, 1'1J.nUCJ.Oso doe trabalhos da Aaeemb LeLa Nacional õonata cuan ­te. Além do acompanhamento da votação dos dispasi tn.voe da futu­ra Carta, o Jornal da Consti tUlnte tem pe rrm 't a do o conhecimentodas opiniões dos seus a ntiegr-antie e , sem da s t ançáo de partJ.dos,atr~

ve a das enta-evi srtas que, com c eencâo e e racaénc í a , publ aoa em to­das as auas edacôee,

A Assembléia Nacional Constituinte entrou emsua última etapa: a da votação em segundo turno,pelo plenário, do projeto de Constituição. A socie­dade participou desse trabalho desde o início, suge­rindo, reivindicandol, criticando e apoiando. Agorasó é permitido, pelo Regimento, suprimir díspõsítivosaprovados no primeiro turno. Mas você aínda podecontribuir, oferecendo sugestões para enxugar o textoconstitucíonal. Escreva a sua carta.

MandatoEletivo

Srs. Constituintes,Não permitir que ocupantes de

cargos eletivos os abandonem,através de renúncias, licença, ououtro artifício, antes do términodos mesmos, sob pena de toma­rem inelegíveis," (... ) Quem foreleito para determinado cargo de­ve nele permanecer até o final doseu mandato e se assim não proce­der se tomará inelegível pelo pra­zo dobrado do mandato que teriade cumprir.

Alberto GrochicoffGoio-Erê - PR

or.i ca o GVMA ne 318/88

Senhor Deputado,

Em 8 de julho de 1988

Sugestão de um Modelo de Carta Diretamente ao ConstU:.u1nte

t...~ itr..u.: ,(Local)

Exmo. Sr.

conaea tu inte

Ref.: DlRElTOS AmoRAlS, MQSlCA SACRA

Por ser anjusto e ecnexâxao aos a.ncexeaaea dos autores, ccnpoeatc-.res, antiêcpreues , eaxeoxae e gravadoras de mâaacas sacras, solJ.citamossua parta.capeçâo e votação pela

SOPREssAo do Art. 56 (D1sposlções Trans1.tór1.as) que estabelece:

"Art. 56. O da.sposto no S 32 do ArtJ.go 6Q não se ept.aca à músJ.­

ca sacra baseada em textos bíbh.cos, quando utu.La.aada em pro­gramas de caráter relJ.glosO."

Maioridadeaos 16

Srs. Constituintes,Que haja o direito de voto ao

jovem a partir dos 16 anos, poismuitos jovens de nossa populaçãotêm total capacidade de elegermembros para os representarem.E que também aos 16 anos de ida­de o jovem possa adquirir a Car­teira de Habilitação.

Wagner Barbosa FloresBrasília - DF

Dada a tmpor-cânc i a da publicação, agora e no fu-turo, venho consultá-lo sobre a posslbilidade de me enviarem osnúmero~ue faltam em mlnha coleção. a saber: 1 ao 28. 32, 33. 451-

~

Ao mesmo tempo, consulto-o sobre a poes ani.La.da ­de de doação de uma coleção completa dos números Já eda tados e da

remessa dos pr-cx.unos números à Biblioteca da Aasoc i.açào Br-aaa.Le a>­r-a de Imprensa, aedaada na Rua <\raúJo Porto Alegre,71,12 2 andar,a~ual mantém uma das maa s ampo r-t arrte s coleções de per-ãóõ rcos do P..'!

'6.Agradecendo a atenção de Vossa ExceLenc a a , ceco­

lhe que ace a te e transmita a seus companhe i ros da equipe de prod,!;!çãe do J ornaI da Constl tuinte as expressões de meu apreço.

Exmo s Sr-,Deputado l'>1ARCELO CORDEIRO"Jornal da consta t.u i.nte''Câmara dos DeputadosBr-aai Laa , DF - Cep-70.160

MA./nss.

Atenc1.osamente, !!!!~ra(ãO das Colônias de p,c o I ô nr ===-escadores do ES6:O"O ..

m a cf e Pe Se luU' uO PiauiFundada a d o r e s Z 1 -=-

em 29 de Ju -n nho de 1929- 0"",.,. _ PI.ul--

MaiorControle

TerrasImprodutivas

Srs. Constituintes,Gostaria de ver aprovado que

todo cidadão que tenha 16 anoscompletos deva ser considerado"maior" para ter direito ao votoe uma participação ativa nos vá­rios segmentos da sociedade. A re­forma agrária deve começar pri­meiro pelas terras do Governo fe­deral e estadual, porque existemvárias terras férteIS improdutivasque são do governo, e, em segui­da, a ocupação das grandes fazen­das no~ vários estados da Fede­ração.

Paulo A. CostaSumaré- SP

Srs. Constituintes,- Senadores, deputados federais,deputados estaduais, vereadoresincompetentes deveriam ser cassa­dos, por votação, pelos própriospares. Incompetência seria nãocomparecer às sessões e recebi­mentos de vencimentos e vanta­gens sem fazer jus aos mesmos.Privatização das estatais e autar­quias. Controle dos emprestado­res de dinheiro ao país, fiscaliza­ção dos desempenhos políticos nopagamento do 'principal e nasamortizações. So seriam feriadosnacionais, com a proibição do tra­balho no país, os 48 domingos decada ano, acrescidos do dia da In­dependência do Brasil e da Sexta­Feira Santa (... ).

Jayme Corrêa MendesMaceió- AL

LUiz n ­yorre.ia(PI),

09 de jUnho de 1.988.B!:ma. Sr.

Clonstitu.in'te MarcllD. Diretor R el~ Cordeiro;lira , esponeavel do~ BOrnal da Cons"t:r.tu.inte

E",celant!sa:1lloSenhor,

JlleSlllO 'tempo solici ter Tam.u.oa a liberdade dJORlin D a V.:Ei:o' e cUlnpr<-

""" ~ CONSTIWIN -ca, Se digne """'entartamoB de Posse d TE, graças ~ a um concedet' receb e ao

o COJllPanh., _ :Lznento doo qUtil no e"'8JIU>lar de no ~·o s1ndi

e traduz JllUi t 47, de 16 a caJ.~sta, eaJlla Tribut' as Causas 22 de .Illa.io d -1:lras~le lIria, A Po:nna de Gov ,COlllo a Ret'o:nna Agrári e 1988 ,

~ro e a Aopoaentad emo, A NaciolalJ. _ a, Ao Ret'ol'-oria. 2açao do SUbaolo /

.:t:'rant. desta cl S.nhor ConetiSUas 1 asae, classe tuinte, nós

U'taa, pode.D:l; esta que "taznb I' ' qtae estamos àdo' Os oiter al8UJn - J!lll tem Se

, A. au'tOllOlIl1a as ~ -como' A. ua prOblemasAsai t- e o .Illa.ior llIll • d•.:t:'eaa d e

s .noia SOCial Paro àa Colôni o noaso P.sc....tlllti .Illa.iSjut; asd.Pe

neantivo .Illa.io s a, lllna politi Soador.s; UJna~e:re 3:' POr Par'te I' ca 'p9Sque:tr08<101' o aum.nto da prOdUtividâ:os Orgàoa 0<llll.Petentes a lllais 3Usta;

ertaZ8llaJ.. e, Vis!ll1do a no qUe se re-malhoria .

SOo:Lal do Pe.!

Obs. :Env~o ac:u:na uma sl.egestão ao Jornal da Const:ltuinte e~IlIU.J.i;o e!l.­tusJ.asta,quero :recebê-l.o a partJ.:r da pr6x:u:na ed:Lç:ão.Meu endereço é:R.MartJ.n11o A. Ornel.las ~ 53 ;Centro;,Formoso-JJG;Cep:38.690.

WaldJ..vJ.no 1,~endes,Formoso-t:IGô

":2.3TE s: OLtTI') O

SUg:J.:ro-lhes que seja Lncoz'poz-ada â .futura Carta 1iagna aanetatartção de UI:1 Concurso polítJ.ca bem como para representantt::s dosPoderes Exectrtavo e LegJ.~latJ.vo a nível munacapaj, e estadueJ..Este,porsua ,vez,serJ.a dado atravea de uma dJ.dátJ.ca sd.eberaa-taeada em matéria cEPol3;tJ.ca J.nclw.ndo prJ.ncJ.palmente,entre outros reqUJ.sJ.tos,exames pSJ.­

cotecmcos e prova escrata. tendo por .f~nalidade precípua instnu..r oHomem Ptí1;lJ.co, disciplJ.nando-o e conecaenta.zanâo-o da tarefa que deve­rá cumprct-ãa COnhecendo com arrteca.paçãc os seUS fundamentos básJ.cosantes mesmo que se candJ.date a um cargo elenvo de natureza pol:LtJ.ca.DJ.r;J.a com certeza absoluta que esta seria a man.eJ.ra mais :fácl.l e prá­tJ.ca. uSclvel para com'bat ....:rmos a J.nConscJ.ência e a maptidâo dos nossosestad:Lstas ;face às suas :re.PI'esenta.t~vidades para Com o pgvo.

Srs.Const:l.-suanbcc ,

10 Jornal da Constituinte

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Subsolo é fonte não renovávelADIRPlWllliam Prescott

Abigail: temos de mudar o modelo agrfcola - dar terra a quem trabalha na terra

os recursos públicos, gastando-osna campanha. Mas, mesmo assimterminou perdendo por um mi­lhão e meio de votos. O gover­nador tem feito um esforço tre­mendo para recuperar as finançasdo estado, inclusive dá um saltoqualitativo na administração pú­blica. Sabemos que isso é diffcil,principalmente neste ano de elei­ção, em que esta havendo repassede recursos diretamente para osprefeitos que são do PFL e doPDS, portanto contra o governa­dor. Mas, mesmo assim, a confian­ça no governador continua.

JC - Que análise faz da atualsituação político-econômica e so­cial do país?

Abigail Feitosa - Péssima.Com a inflação que está aí, é umasituação de insegurança. A quematrapalha mais essa inflação? E aotrabalhador, que tem seu saláriocorroído.de um dia para o outroele não consegue mais comprar co­mida. Numa cidade como Salva­dor há 400 invasões. As pessoasque antes tinham condições de pa­gar um aluguel não conseguemmais, moram em invasões, emcondições subumanas, com esgotona porta, sem nada, com casas co­bertas com plástico. Então, caiuacentuadamente o nível de vidado trabalhador brasileiro e con­centrou-se a renda. A situação dopaís é a pior possível, por isso plei­teávamos eleições diretas parapresidente e quatro anos para opresidente Sarney, para se ter umarenovação. Lamentavelmente, amaioria dos constituintes se entre­gou, e aí votou-se cinco anos parao presidente Sarney, que é a deses­perança do povo. Mas a luta vaicontinuar e vamos estar juntoscom os trabalhadores, dizendoque nossa força é para manter oque lhes foi concedido no primeiroturno.

JC - Terminado o segundo tur­no de votação, com as correçõesque vão ocorrer, que Constituiçãoteremos?

Abigail Feitosa - Seguramenteuma Constituição melhor do quea que temos, porque esta Consti­tuição que hoje nos rege, feitadentro de quatro paredes, pormeia dúzia de juristas, enquantoque esta que aí está, porquantonão seja a que nós ~ueremos, por­que eu própria já disse que defen­do o sociahsmo, mas, de qualquermodo, avançou. Este país, nesteprocesso de discussão, revolveusuas entranhas, discutiu seus pro­blemas todos; por aqui passaramlegiões de mulheres, de crianças,de garimpeiros, de índios, de tra­balhadores, de empresários e todasociedade brasileira civil se mobi­lizou na maneira do possível paravir discutir seus problemas. Muitose conseguiu de avanço, falta ain­da uma questão que tem de serresolvida: a questão agrária, quetem que ser revista, Vamos verse, no segundo turno, tiramos essacoisa da terra produtiva não serpassível de desapropriação. Por­que se este país não fizer reformaagrária não tem condições de darum salto de mudanças. Imagineque os Estados Unidos fizeram re­forma agrária há 100 anos e a Eu­ropa fez reforma agrária há 200anos. E aqui ainda estamos discu­tindo se se faz ou não se faz. Temque mudar o modelo agrícola dopaís, tem que dar terra a quemtrabalha na terra.

até dois salários mínimos é gran­de, quase 80% da população. Essamullier quando tem filho necessitaajuda, porque, se for parto natu­ral, sempre tem uma estrutura e,se for parto artificial, será umapessoa que fez cirurgia. ~ aí ocompanheiro vai ajudá-la. E pre­ciso também educar. Fazer comque isso seja início já de uma edu­cação diferente, para dizer ao ho­mem que o filho não é só da mu­lher, que o filho é da mulher edo homem. Ele tem que começara ajudar desde cedo na criação dofilho.

JC - Qual a perspectiva do seupartido, o PSB, para as eleiçõesmunicipais deste ano?

Abigail Feitosa - O partidocresceu muito. Na Bahia, porexemplo, temos 15 municípioscom candidaturas a prefeito comchance de ganhar a eleição. Váriosmunicípios com vice-prefeitos, in­clusive municípios como Ilhéus,um dos mais fICOS do estado, emque estamos saindo com candida­tos à vice-prefeitura. Tenho ficadoentusiasmada pela maneira comoo partido está crescendo, porquetem uma linha política firme naluta pelo socialismo, que, no nossoponto de vista, é somente o socia­lismo que vai fazer com que estepaís seja respeitado, este conti­nente que é o Brasil, na hora emque fizer mudanças em que valo­nzar mais a pessoa do que o lucro,é que vamos conseguir deslanchare melhorar a condição de vida docidadão brasileiro.

JC - Deputada, como está aBahia?

Abigail Feitosa - A Bahia estánuma situação difícil, porgue co­mo o governador Waldir PIres te­ve a coragem de se posicionar con­tra a maneira com que o presi­dente José Sarney vem conduzin­do a política econômica do país,inclusive com total submissão aoFundo Monetário Internacional,está pagando o preço, o preço daretahação. Sei, por exemplo, queaté hoje o MEC não repassou asverbas à Secretaria de Educação.O governador recebeu o estadodevastado. O governador anteriorfez uma verdadeira devassa com

Teremos umaConstituição

melhor do quea que temos.

Muito seconseguiu de

avanço,falta ainda

uma questão ase resolver:a reforma

agrária

Constituinte conseguiu foi esse: aquestão da mineração do subsolo.Vamos lutar para que se mante­nha.

JC - Isso também se aplicariaaos contratos de risco?

Abigail Feitosa - Também aoscontratos de risco. Acho que opaís tem condições. Naturalmentenão se vai dizer que o capital inter­nacional não entre aqui, mas temde ser gerido de uma maneira dife­rente. Este país tem de zelar porsua soberania, não deixando queo capital internacional e as multi­nacionais digam o que fazer aquidentro.

JC - O governo também estápreocupado com a licença-paterni­dade.

Abigail Feitosa - O índice denatalidade deste país caiu exagera­damente. Há uns 30 anos tínha­mos um índice de natalidade de7.4, hoje temos 2.1. Então, o nú­mero de filhos caiu muito. E amassa de trabalhadores que ganha

ficado, sendo estendido o direitode greve aos funcionários.

JC - A Constituição deve tabe-lar juros, deputada? ,

Abigail Feitosa - Deve. E umamaneira, porque, veja bem, nestepaís, quem ganha dinheiro? Osbanqueiros. Então, foi feito todoum modelo econômico montadopara facilitar a vida dos banquei­ros. E aí, é mais importante, a essaaltura, investir no open e no over,na ciranda mesmo, do que na fa­zenda, na fábrica ou no comércio.E por que isso? Porque o próprioGoverno começou a subir os jurosbancários, que, em contrapartida,lhe dão o lucro financeiro. Então- acho - tem de haver uma ma­neira de baixar isso, inclusive faci­litando que se invista na produção,ou -seja, que esse dinheiro todoque está aí parado vá para a produ­ção gerar empregos.

JC - O jovem deve votar a par­tir dos 16 anos?

Abigail Feitosa - Deve, porquehá toda uma campanha querendodizer que os jovens são irrespon­sáveis. Quero dizer que a juven­tude deste país não é respeitada,pois não tem escola e tem um ensi­no que é desatualizado. No instan­te em que o homem está colocan­do tudo por satélite, a escola aindaadota a apostila decorada e o estu­do desinteressante. Portanto, amaneira de fazer o jovem integrar­se como cidadão é fazê-lo parti­cipar não só da política escolar,das disputas dos grêmios, mas dapolítica em geral do país, votandoaos 16 anos.

JC - Com relação a área de mi­neração, o Governo acha que de­veria haver a possibilidade de o ca­pital estrangeiro também partici­par. Concorda com isso?

Abigail Feitosa - Sou contra.Acho que o subsolo é a alma dopaís. O país que entrega o seu sub­solo ao capital internacional estáentregando sua alma, efetivamen­te, porque isso aí é uma safra quenão se renova. E o que se viu noBrasil foi esse abuso: 20% do terri­tório nacional nas mãos das multi­nacionais, exatamente os terrenosque tinham mais riquezas mine­rais. Agora, o avanço que esta

JC - Deputada, e governo pre­tende, no segundo turno de vota­ção, suprimir vários itens aprova­dos na primeira parte, entre elesa jornada de seis horas de trabalhoininterrupto nas indústrias. O quea deputada acha disso?

Abigail Feitosa - Esse turno deseis horas tem de ser mantido por­que, inclusive, é uma maneira atéde diminuir o desemprego, por­quanto o trabalhador não agüentatrabalhar, em turnos, tantas horasseguidas, e a produtividade delediminui. E aí, se você bota as seishoras, ele diminui a hora na em­presa, ficando mais livre e saudá­vel para trabalhar. E também hácondições de nomear mais pessoaspara as tarefas porquanto o grandeproblema que o Brasil tem hojeé o desemprego, que é terrível.E, no trabalho - faço política nu­ma cidade, na cidade de Salvador,basicamente - sente-se a cadadia, embora as estatísticas nemsempre mostrem, que o númerode desempregados tem aumenta­do acentuadamente. E caso, inclu­sive, da violência que há nas gran­des cidades, pois, se o trabalhadortem um salário justo e um empre­go certo, termina não tendo neces­sidade de apelar à violência, fican­do sua família garantida.

JC - Outro ponto que o gover­no pretende derrubar é o direitode greve ilimitado. Ele quer restrin­gir o direito nos serviços que consi­dera essenciais.

Abigail Feitosa - Funcionáriopúblico é igual ao trabalhador defábrica. Tem direito à greve, poisé a única maneira de pressionare mudar sua condição de trabalho.Mas, sabe-se, inclusive, que osprofissionais da saúde, nos hospi­tais, funcionários públicos, consi­derados essenciais, são pessima­mente pagos. Imaginem que a pre­feitura de Salvador está pagandoCz$ 30.000,00 a um médico. Co­mo pode um profissional de nívelsuperior, ao qual toda a comuni­dade cobra competência, paciên­cia e segurança, ganhar Cz$30.000,00? Então, se ele não fizergreve, qual a arma que terá? Por­tanto, acho, isso tem de ser modi-

"O subsolo é a alma do país.O país que entrega o seu sub­solo ao capital internacionalestá entregando sua alma, efe­tivamente, porque isso aí éuma safra que não se renova.E o que se viu no Brasil foiesse abuso: 20% do territórionacional nas mãos das multina­cionais, exatamente os terre­nos que tinham mais riquezasminerais". As palavras são daconstituinte Abigail Feitosa(PSB - BA), para quem de­vem ser mantidas várias medi­das aprovadas no primeiro tur­no de votação, como a jornadade seis horas de trabalho inin­terrupto nas empresas, o direi­to de greve ilimitado, o tabela­mento de juros, o voto a partirdos 16 anos, a proibição doscontratos de risco e a licença­paternidade. Abigail Feitosaanalisa também as perspectivasdo PSB nas eleições municipaisdeste ano, a situação da Bahia

- e a atual fase político-econô­mico e social do país.

Jornàl da Constituinte 11

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~ .sera cnme

A retençãode salário

Nesse caso concreto, acho queo repúdio ao racismo nos pOSSIbi­litará exigir do governo brasileiro,desse ou do próximo, o rqmpi­mento de relações com a Afncado Sul. Ou, na melhor das hipóte­ses.jíe colocar nossa embaixada,na Africa do Sul, a serviço da lutacontra o racismo. Seria talvez maiseficaz do que propriamente rom­per relações. De qualquer forma,obriga o Brasil a uma postura maisagressiva em relação à questão.

Mas o racismo é ainda pior, por­que é a prática do .crime organi­zado pelo Estado. E o terronsmode Estado e organizado contrauma raça. Essa emenda natural­mente teve muita presença da mi­nha cidade, do meu estado, a Ba­hia, Salvador. E ele era uma fór­mula - eu sabia - que tinha maispossibilidade de passar do queaquela apresentada pela compa­nheira Benedita da Silva, que dire­tamente visava ao rompimento derelações internacionais. E claroque eu sabia que era mais difícilcolocar na Constituição um dispo­sitivo específico de rompimentode relações, até porque essa é umapolítica ~ue varia. Ela não podeficar enrijecida em uma Constitui­ção. A nossa prática de estabele­cimento de rompimento de rela­ções diplomáticas depende muitode circunstâncias no contexto in­ternacional.

JC - O deputado também temuma emenda que trata da represen­tatividade das associações.

Domingos Leonelli - Nós ten­tamos incluir, ainda no períododas subcomissões, uma espécie deestatuto das associações de mora­dores. Nossa idéia era de que aConstituição reconhecesse de ma­neira mais explícita e mais deta­lhada esse novo elemento da orga­nização social brasileira, que sãoas associações dos moradores. In­felizmente isso não foi considera­do como razoável. O que fizemos,nossa proposta iniciar foi apenasparcialmente aproveitada. Mas,de qualquer forma, hoje, atravésda nova Constituição, as associa­ções já têm representação jurídicaassegurada. Nossa idéia era criar,inclusive, jurisdições de represen­tações e possibilitar à associaçãode moradores de status semelhan­te ao que tem o sindicato.

Também de nossa autoria, nessamesma área da organização popu­lar, está a emenda que foi final­mente aprovada - uma das emen­das aprovadas que garantem a uni­cidade sindical, Acreditamos que asorganizações populares e os sindi­catos devem-se basear na unidadedo povo, na unidade da represen­tação, e a pluralidade serve maisaos interesses daqueles que detêmo poder, na medida em que repre­sentam uma visão liberal e frag­mentária da sociedade. Em nossaproposição, defendemos a unici­dade na área sindical, tanto quan­to defendíamos, também, a repre­sentação única por bairro de cadaassociação. Isso não passou. Pas­sou a unicidado na área sindical.Não passou a unicidade na áreacomunitária. Tentamos e, infeliz­mente, fomos derrotados. Até,nesse caso, foi uma divisão de opi­niões na própria área da esquerda.Aliás, esse é um dos poucos pon­tos em que a esquerda não conse­guiu uma visão comum nessaquestão da organização popular,tanto no que diz respeito aos sindi­catos como no que diz respeito àorganização comunitária.

seja possível o patrão ir para a ca­deia em função de uma ação deli­tuosa em relação ao trabalho.

JC - Há também uma emendasua que trata do racismo.

Domiógos Leonelli - Nósacrescentamos nos fundamentosdas relações internacionais doBrasil, está aqui no art. 40

, inciso80

, onde tinha repúdio ao terro­rismo, repúdio ao terrorismo e aoracismo. Inclusive porque o racis­mo é uma forma de terrorismo.E mais. Nós compreendíamos queo Brasil não podia continuar con­vivendo com o racismo, ao mesmotempo em que repudiava o terro­rismo. Quer dizer, não podia ha­ver dois pesos e duas medidas. Oterrorismo, que vem sendo umaprática delituosa de deformação(la esquerda, estava sendo conde­nado na Constituição, em nossasrelações internacionais. E o racis­mo, que é uma forma delituosa,criminosa, um crime social prati­cado normalmente pela direita,não estava sendo contemplado.Com isso, acreditamos que pode­mos exigir do governo brasileiroo. rompimento de relações com aAfrica do Sul. O Brasil não podemanter relações diplomáticas comum país que pratica aquilo que elerepudia nos fundamentos das suasrelações internacionais.

JC - Essas coisas não são umtanto quanto diferentes, o raciscmoe o terrorismo?

DomingosLeonelli- Sim. Elessão elementos, digamos assim, sãopráticas delituosas de origens di­versas. Uma normalmente vem darevolta mal dirigida, da conduçãopolítica equivocada, que é o casodo terrorismo. Mas, de qualquerforma, é uma coisa inadmissível,porque o terrorismo se volta con­tra órgãos civis.Ele é cego. E umaprática política de facções equivo­cadas da esquerda, normalmente,mas, também, praticada pela di­reita, muitas vezes.

'"Leonelli: racismo é terrorismo de Estado contra uma raça

Outra emendade minhaautoria,

aprovada,garante aunicidadesindical: a

pluralidadeserve aosinteresses

daqueles quedetêm o poder

lar, para comprar novos equipa­mentos, para jogar no mercado decapitais, atrasando o salário dotrabalhador, transformando-o emcapital adicional irregularmente, omáximo que acontecia era o traba­lhador fazer uma reclamação naJustiça do Trabalho e levar doisanos; e quando em dois ou trêsanos, na melhor das hipóteses, seo patrão fosse condenado, o traba­lhador receberia de volta aquiloque lhe foi roubado. Agora, comessa emenda, vai ser possívelfazeruma lei - sei que vai ser difícilfazer essa lei, já estou trabalhandonela -, uma lei que protegerá osalário do roubo realizado porqualquer mau patrão, e pela pri­meira vez na História, talvez nahistória do capitalismo ocidental,

ADIRPlReynaldo Stavale

JC - O custo em média para asempresas seria de 0,5% em termossalariais no turno de seis horas?

Domingos Leonelli - Dependedo setor; nos setores de ponta, nasatividades de ponta. E a maioriadas empresas em turno de reveza­mento é de tecnologia de ponta.O item mão-de-obra tem um pesomuito pequeno, alguma coisa co­mo 6%, e apenas uma parte, umterço ou um quarto do pessoál éque opera em turno de reveza­mento. Então, é realmente umacoisa insignificante em termos decusto geral, em termos de fatura­mento. Mas, tirando a palavra"máxima" - que foi um acordoque o deputado João Paulo e oPT promoveram com forças doempresariado, que acho muitoprejudicial, eu discordei, discordoem princípio disso, vou até argu­mentar contra a exclusão da pala­vra "máxima", mas que a essa al­tura é um acordo e-, já reduz mui­to o impacto da emenda, reduzmuito a efetividade da redução dajornada, porque fica praticamentedependendo do acordo.

Agora, uma outra coisa que es­tamos esquecendo neste deus-nos­acuda a respeito da jornada de seishoras é que está escrito com todasas letras que esse princípio, essedispositivo, só se aplica quandonão houver acordo coletivo, por­que está ressalvado o acordo cole­tivo.

JC - Outra emenda de sua au­toria, deputado, torna crime dolo­so a retenção do salário

Domingos Leonelli - Essa, di­gamos assim, é a de que tenhomais orgulho, é a minha principalmarca na nova Constituição. Pelaprimeira vez numa Constituiçãodo mundo ocidental vai-se consi­derar crime a retenção de salário,vai-se considerar crime a manipu­lação do salário do trabalhador,Até então a propriedade era pro­tegida pelo Código Penal e o tra­balho protegido pelas leis traba­lhistas apenas. A Justiça do Tra­balho é aparentemente uma ins­tância de proteção do trabalho,mas, na verdade, é uma instânciade proteção do capital, porquequando o trabalhador comete umcrime contra a propriedade, quan­do ele rouba uma chave de fenda,quando ele rouba uma ferramen­ta, se ele for flagrado, paga coma liberdade imediatamente aguelecrime, além da pena pecumária,além de perder direitos como fé­rias remuneradas e uma série deoutras coisas, como o próprio em­prego, que é um bem do trabalha­dor, mas o capital, a propriedade,tem a proteção do Código Penal,enquanto que no trabalho um cri­me contra o salário, que é umamercadoria que o trabalhadortem, é uma mercadoria já reali­zada - o salário é uma merca­doria, parte de um copo, uns ócu­los, uma caneta. Quando o patrãoretinha esse salário para especu-

"Pela primeira vez numaConstituição do mundo oci­dental vai-se considerar crimea retenção de salário, vai-seconsiderar crime a manipula­ção do salário do trabalhador.E a minha principal marca nanova Carta. "Assim o consti­tuinte Domingos Leonelli ana­lisa emenda de sua autoria,aprovada no primeiro turno,informando que já está traba­lhando numa "lei que prote­gerá o salário do roubo reali­zado por qualquer mau pa­trão. Leonelli frisa que é tam­bém o primeiro autor da emen­da que.estabelece uma jornadade trabalho de seis horas nasindústrias de trabalho ininter-

rupto: "O que está em discus­são é se o capitalismo nacionalé capaz de dar uma contribui­ção social. "Na entrevista, Do­mingos Leonelli comenta ain­da emendas que apresentoutratando do racismo e da repre­sentatividade de associações.

Domingos LeoneUi - Essa pro­posição apresentei inicialmente naSubcomissão dos Direitos do Tra­balhador e ela já havia sido pro­posta antes na legislaçãoordináriae foi inclusive aprovada na Câma­ra, é o Projeto de Lei n° 3.332,se bem que limitado aos petrolei­ros e petroquímicos. Na Consti­tuição, procuramos ampliar essaproposição para todos os trabalha­dores. O pnmeiro caso que se temque admitir é que isso representaalgum risco para as grandes em­presas estatais. A Petrobrás du­rante 23 anos trabalhou em turnode revezamento de seis horas, e,absolutamente, não faliu, ao con­trário, se fortaleceu. Dezenas decategorias profissionais, inclusivea dos jornalistas, já operam, mes­mo sem revezamento, em turnosreduzidos. O setor bancário é umdos que apresentam mais alto índi­ce de lucratividade e trabalha hádezenas de anos em turnos de seishoras, mesmo sem turno de reve­zamento.

Então, o que se está discutindoé se as grandes empresas brasilei­ras perdem ou não perdem, ouconcedem ao trabalhador menosde 1% dos lucros com coisas quesignificam menos de 1% do custototal dessas empresas. Já está maisdo que demonstrado que em ne­nhum caso ultrapassa a 1,3% docusto total das empresas. O queestá em discussão é se o capita­lismo nacional é capaz de dar umacontribuição social.

JC - Deputado, certos setorespretendem derrubar no segundoturno de votação a jornada de seishoras de trabalho nas indústrias detrabalho ininterrupto. Como autorda primeira emenda nesse sentido,como vê a questão?

12 Jornal da Constituinte

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Após a Carta, novos partidosJC - Alguns analistas afirmam

que a Carta está extensa em funçãode que havia um desordenamentojurídico no país, por isso não foipossível fazer uma Carta de prin­cípios.

Homero Santos - Acho isso umpouco de, não vou dizer demago­gia, mas é uma maneira de querermascarar um' problema que nãoexiste. Ordenamento sempre exis­tiu nesse país. Temos leis. Temosos tribunais funcionando. Nãoconcordo.

JC - Esperava-se que haveriauma reformulação partidária am­pla, uma acomodação das diversastendências após a promulgação danova Carta, mas isso já está aconte­cendo agora. Como acha que fica­rá o quadro partidário daqui parafrente?

Homero Santos - Vou dar-lheuma' opinião muito sincera. Achoque se deveria zerar tudo depoisdesta Constituição. Deveremosacabar com todos esses partidos.Não podemos continuar nessa.Tanto o meu partido, o PFL, co­mo o PMDB estão numa luta terrí­vel. Por quê? O problema, a meuver, são colocações doutrináriasdentro do partido. Seria até bomque, após a elaboração destaConstituição, organizássemos no­vos partidos.

JC -' Como vê as eleições muni­cipais deste ano?

Homero Santos - Já estou mui­to preocupado com tanta coisa emrelação a iSSO. Temos eleições esteano e vamos ter também no anoque vem e em 1990. Vamos falharapenas 1991, porque já em 1992teremos eleições. Com essa criseeconômica que o nosso país estáatravessando, essas eleições preo­cupam-me muito. Sou a favor deeleições, acho que devemos tê-las,mas não numa instabilidade eco­nômica como a que está atraves­sando o nosso país. Os clamorese as reivindicações estão me assus­tando, porque todo mundo estáfalando em quantias fabulosas pa­ra se ganhar uma eleição num mu­nicípio, hoje.

JC - Quais as perspectivas doseu partido nessas eleições?

Homero Santos - São relativa­mente boas, embora sabendo quetemos apenas um governador, queé o de Sergipe. Sabemos que umgovernador tem uma influênciamuito grande, pois é ele quem no­meia os diretores, é quem mandaasfaltar as estradas, de modo quepossui uma influência muito gran­de, Acho que o PFl, que tem comosua grande bandeira essa figuranotável de honestidade e de com­petência, que é o ministro Aure­liano Chaves, terá, nao tenho dú­

vida nenhuma, um resultadobom nessas eleições.

JC - Como será a futuraConstituição?

Homero Santos - TeremosUJJla boa Constituição. Ainda maisque ela própria está nos dandouma oportumdade de, daqui a cin­co anos, realizarmos uma modifi­cação. Existe um artigo que per­mite uma revisão em 1993. Achoque esse tempo é bastante amplopara que se possa sentir os efeitos(lo que foi votado e fazer as corre­ções devidas. Essa Constituição éimportante, é boa e trará bons re­sultados para o país.

Campos e outros companheiros deGoias ficaram, assim como JoséFreire, lutando para a criação doEstado de Tocantins e gastaram12 anos, nós começamos nossa lu­ta agora, eu acho que é das maisjustas. O Triângulo Mineiro temque se transformar num estado,não tenho a menor dúvida disso.

Agora, minha dúvida é no art.20: "Os estados podem incorpo­rar-se entre si e subdividir-se oudesmembrar-se, para se anexar aoutros ou formarem novos esta­dos, mediante aprovação das po­pulações diretamente interessa­das, através de plebiscito e doCongresso Nacional." A minhadúvida é com relação às popula­ções diretamente interessadas.Acho que vamos precisar, ou atra­vés de uma lei complementar ouentão ingressarmos em juízo parauma melhor interpretação diSSO,porque diretamente interessadas,por ser quem ganha e quem perde, .quer dizer, no caso o Triânguloe parte interessada, mas o restodo estado de Minas também é.

JC - Cabe uma redivisão terri­torial maior no Brasil?

Homero Santos - Sou inteira­mente favorável a uma redivisãoterritorial do país. Acho que estepaís não pode continuar com 24,agora 25 estados. Acho que o Bra­sil precisava ter, no mínimo, 50estados. Nós temos exemplos dis­so, os países da Europa são bemdivididos, nos Estados Unidos têm44 estados, todos nós deveríamosdar as mãos e lutar para essa redi­visão total do país.

JC - O deputado diz que ogrande trabalho do Congresso Na­cional vai ser a votação das leiscomplementares ou ordinárias.Por quê?

Homero Santos - Porque temmuita coisa que está ficando paradepois, e muita coisa está sendo

votada sem necessidade. Demodo que esta Constituição

poderia ser uma Consti­. tuição realmente com

menos artigos, e nóspassaríamos a votar,através do CongressoNacional, quer dizer,

da Câmara e doSenado, essas

matérias de realinteresse da

população.

Vamos teruma boa

Constituição.Ainda mais

que elaprópria está

nos dando umaoportunidadede,daquiacinco anos,realizarmosmodificações

• ~<_"';;i~

Santos: A anistia fiscaldeveabranger só o periododo PlanoCruzado, que é o ano de 86

blica. Agora, não sei se um rapazde 16 anos está bastante maduroe consciente para decidir uma elei­ção.

JC - Uma emenda aprovada. que está gerando uma polêmicamuito grande é essa que anistia osjuros e multas de quem deve aofisco até 31 de dezembro de 1987.É uma medida justa?

Homero Santos - Durante oano de 1986 é justo, mas até de­zembro de 1987, acho que a emen­da avançou muito, porque o PlanoCruzado, que foi o que causourealmente todo o transtorno naeconomia brasileira, foi implanta­do durante o ano de 1986; então,não é justo que se coloque 87 tam­bém. Acho que se deve dar essaanistia, mas só para 86.

JC - Acredita que a Previdên­cianão terá condições de arcarcomas futuras despesas?

Homero Santos - Tenho queme basear nas informações, por­que não estou no ministério, nãosei realmente o que se passa ládentro. Mas pelo que ouvi do ex­ministro da previdência JarbasPassarinho, e as informações da­das pelo governo, a conclusão éde que, se for implantada da ma­neira que foi votada, o Governonão terá condições.

JC - Deputado, ainda há umapossibilidade de se levantar a ques­tão da formação do Estado doTriângulo, através de um plebiscitodas populações diretamente inte­ressadas. O deputado vê uma certaambigüidade no dispositivo apro­vado. Como assim? a luta conti­nua?

Homero Santos - Continua,não tenho a menor dúvida de quemais cedo ou mais tarde acriação do estado virá,nós. temos aí oexemplo deTocantins.Siqueira

o constituinte Homero San­tos (PFL - MG), primeiro-vi­ce-presidente da Câmara dosDeputados, defende, após apromulgação da nova Carta, ofim dos atuais partidos políti­cos. Entre outros assuntos, elequer que sejam mantidas asconquistas sociais, prega alte­rações na reforma tributária("A União vai ficar numa si­tuação muito difícil") e achajusto o direito de greve ilimita­do, o voto aos 16 anos e a redi­visão territorial.

JC - Deputado; o texto apro­vado em primeiro turno consagrauma série de conquistas sociais.Que análise faz dessas conquistas?Acredita que serão mantidas na vo­tação em segundo turno?

Homero Santos - Eu entendoque as conquistas sociais terão queser mantidas, pois nós não pode­mos retroagir aquilo que foi vota­do pela Assembléia NacionalConstituinte com os melhores pro­pósitos. Vivemos hoje inegavel­mente uma fase muito importante.Muita gente acha que a Consti­tuinte está demorando na elabo­ração da nova Constituição, maseu já entendo ao contrário: achoque para que possamos ter real­mente um bom texto nós podere­mos levar essa discussão por maisalgum tempo e acho que nada da­quilo que foi votado deverá sermodificado.

JC - A reforma tributária deveser mantida nos termos em que foiaprovada?

Homero Santos - Entendo quealgumas alterações deveriam serfeitas. Acho que a União vai ficarnuma situação muito difícil, poisnão poderá manter no todo todosesses programas do governo fede­ral para os estados e municípios.Ela terá que repassar isso para osmunicípios e os estados, porquepela reforma tributária acho queaté o pagamento do funcionalismovai ter problemas.

JC - Os encargos não serão aomesmo tempo repassados?

Homero Santos - Não, falamnisso, mas até agora não tem nadadefinido claramente...

JC - No prazo de cinco anos.

Homero Santos - Mesmo as­sim, veja que cinco anos é muitacoisa, cinco anos é um mandatodo presidente da República.

JC - Deputado, outro item quese pretende limitar é o direito degreve. O deputado concorda?

Homero Santos - Não. Não hánecessidade de limitar, um gover­no bem preparado, bem estrutu­rado é capaz de, através de umaação efetiva positiva, realmenteatender aos reclamos, as reivindi­cações, principalmente destes quetrabalham nessas áreas, e acreditoque todos aqueles que forem aten­didos nas suas reivmdicações nãonecessitarão de maneira algumade fazer greve. Acho que haverácompreensão.

JC - E o voto aos 16 anos?

Homero Santos - Não sou con­tra, sou um homem que respeitamuito esse ímpeto da mocidade,também fui jovem e também sentivontade de participar da vida pú-

Jornal da Constítuinte_ 13

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Povo deveopinar sobre

tema polêmico

Lavoisier Maia - Votei pelo re­gime presidencialista e votei cons­cientemente, apesar de reconhe­cer que o regime parlamentaristaé um regime muito democráticoe que existem paísespnde está fun­cionando, está dando certo. Masem que países? Países ricos, compartidos estáveis, com a burocra­cia também estável, com todas ascondições para o funcionamentodo parlamentarismo. No Brasilexistem estas condições? Lamen­tavelmente não existem. Lutareipara que estas condições possamexistir. Partidos fortes, consolida­dos, dois, três, quatro, cinco parti­dos fortes, como nos Estados Uni­dos da América do Norte, que temmais de um - dois principais efortes: o Partido Republicano e olpartido Democrático.

JC - Os parlamentaristas di­zem que esses requisitos viriamcom a implantação daquele sistemade governo.

Lavoisier Maia - Já tivemosuma experiência amarga. O parla­mentansmo no Brasil fracassou,quando instituído em um momen­to de crise. Estamos na maior criseque esta República já viveu emtoda a sua história. Falta de autori­dade, falta de competência políti­ca, o poder não imprime respeitoe credibilidade. Temos uma infla­ção de 25%, juros de mais de 30%ao mês. Poderei até votar, no futu­ro, no regime parlamentarista,mas não agora, nesta crise maiorque estamos vivendo.

JC - Como ex-governador, con­sidera justa a reforma tributáriaaprovada? Ela permanecerá no se­gundo turno?

Lavoisier Maia - Justa não,justíssima. Acho que a reformatributaria que votamos e que vaiser aprovada é condição sine quanon para que o sistema democrá­tico e a vida administrativa do paísfuncionem. E a chamada descen­tralização. Falo isto com autori­dade, porque fui governador deum estado pequeno. Quantas via­gens fiz do meu estado a Brasília,quase semanalmente, atrás de re­cursos, porque não os tínhamos,nem o estado e nem os municípios.Então, o governador e os prefei­tos, com pires na mão, viviam im­plorando ao governo central re­cursos para governar o seu estado,o seu município.

Com relação à luta do Presiden­te Sarney contra a reforma tribu­tária, eu acho que não vai ter êxi­to, graças a Deus, porque o PoderLegislativo está consciente do quevotou: distribuir mais recursos,21,5% para os estados e 22,5%para os municípios.

Uma outra emenda minha - eagora você me deu oportunidadede falar sobre ela -, que teve afinalidade de minorar a desigual­dade regional existente no Brasil- regiões mais ricas, mais desen­volvidas, como as do Centro-Sul,regiões subdesenvolvidas, pobres,como o Norte, Nordeste e Centro­Oeste - propunha que 5% dosrecursos do Imposto de Renda edo IPI, Imposto sobre ProdutosIndustrializados, fossem para asregiões mais pobres. Houve umadiscussão muito grande, váriosconstituintes se posicionaram con­tra, entramos em uma negociaçãoe graças a Deus foram aprovados3% para as Regiões Norte, Nor­deste e Centro-Oeste, para tentar­mos diminuir essas desigualdadesque são flagrantes e altamenteprejudiciais ao sistema federativo.

.muito à vontade para defender es­sa emenda que, lamentavelmente,não foi aprovada. Mas quem vo­tou contra, hoje, lamentavelmen­te no segundo turno, não pode vol­tar a apresentá-la, porque se tratade emenda supressiva.

JC- Foi concedida aposentado­ria aos professores de primeiro esegundo graus, para as mulheresaos 25 anos e para os homens aos30 anos de trabalho. O Senadorquer estender a medida aos profes­sores de terceiro grau, ou seja, aosprofessores universitários. Porquê?

Lavoisier Maia - Eu sou pro­fessor. Não estou defendendo emcausa própria. Sou professor uni­versitário. Eu acho que o trabalhodo professor de primeiro grau émuito importante. Aquele que en­sina nos municípios mais longín­quos do território nacionaL Paraos do segundo grau, também. Exi­ge muito esforço, muita dedica­ção. Na verdade, este trabalho,que é diário, é muito desgastante,tanto para a mulher, como parao homem. O trabalho é igual paraos 1°,2° e 3°graus. O desgaste quesofre o professor ou a professorado 1° ou 2° grau também é igualao do 3° grau. Por que discrimi­ná-lo? Por que discriminar o pro­fessor do 39 grau, que tem tambémo esforço de preparar as aulas, detransmitir conhecimentos, de serhonesto? Isto requer esforço mui­to grande e um desgaste, conse­qüentemente, enorme. Por isso,defendo o direito igualitário, quesempre defendi na minha vida:acho que o professor de 3° graunão pode, não poderá ser discrimi­nado na nova Constituição brasi­leira.

JC- Na questão do sistema deI governo, o senador votou pelo pre­J sidencialismo.

Propus que 5%dos recursos

do Imposto deRenda e doIPI fossem

para asregiões mais

pobres. Aflnalídade

era minorar adesigualdade

regionalconcedido pelo povo. Então, de­fendi isso. Não e que se vá esten­der a imunidade do vereador a to­do o estado, não. O sentido é najurisdição, no município, por ondeele foi eleito. Eu acho que tambémé importante com relação ao cha­mado direito igualitário de man­datos eletivos: o municipal, o esta­dual e o federal. Muita gente quevotou contra hoje está arrependi­do.

Entendo que a base '<ta demo­cracia está nos municípios. Eu soumunicipalista. E defendi isso co­mo governador do estado. Presti­giei muito os prefeitos e os verea­dores, Hoje, estou me sentindo

Maia: não temosnem partidosnem burocracia estáveis, básicos parao-ij;;zrÍamentarismo

vor do plebiscito. Então, são con­sultas que antecedem a Constitui­ção. E outras que sucedem áConstituição. Por exemplo: elabo­rada a nova Carta do país, o povovai referendá-la. O povo vai apro­var ou não a nova Constituiçãobrasileira. Então, são dois instru­mentos de amplo significado de­mocrático que dão uma amplitudemaior à democracia no Brasil. Osenador Nelson Carneiro, que eurespeito muito, me parabenizoupela emenda e disse: "Senador La­voisier, essa foi a emenda mais im­portante aprovada nesta novaCarta Magna do país". Eu com­pletei: "Não, V. Ex' está sendomuito generoso. Se não foi amaior, pelo menos foi importan­te". Então, eu me orgulho de terdado essa contribuição de alto sen­tido democrático para a nova Car­ta brasileira.

JC- Gostaria que o senador des­se sua opinião sobre pena de mortee redivisão territorial.

Lavoisier Maia - Primeiro as­sunto: sobre pena de morte. Eusou terminantemente co~tra a p~­

na de morte. Guerra interna,guerra externa. Eu acho que a pe­na de morte não resolve o proble­ma. Nos países onde ela está legal­mente instituída, não resolve oproblema. Então, sou totalmentecontra a pena de morte. Eu soua favor da redivisão territorial, euacho que cabe. Acho que o plebis­cito ai pode - aí é que eu uso,e votarei contra a pena de morte,em qualquer situação, e a favorda redivisão territorial.

Por exemplo: eu acho de umaimportância muito grande o Esta­do do Tocantins. Como passaramrecentemente os dois estados doMato Grosso: Mato Grosso e Ma­to Grosso do Sul. Acho que emum estado de dimensão continen­tal como o Amazonas, o Pará, co­mo Goiás - Mato Grosso já foidividido em dois -, acho que po­de-se perfeitamente criar estadosnovos. Já com relação à divisãode Minas Gerais, eu voteia favor,mas não foi aprovado. E muitodiscutida essa emenda. Acho queo plebiscito deve ser feito em todoo território mineiro, para saber sea população é a favor ou não dacriaçãode um novo estado em ter­ritório brasileiro.

JC- O senador tem uma emendaque estende ao vereador, no âm­bito do seu município, a imunidadeparlamentar.

Lavoisier Maia - Defendi essaemenda, porque acho que, nósque fazemos a vida pública, deve­mos ser protegidos, como são osenador, o deputado federal, o de­putado estadual, contra muitas in­Justiças. O vereador de um peque­no município, lá dos confins deum estado longe, do Amazonas,do Pará, ou do Rio Grande doNorte, que é meu estado, às vezes,é violentado pela autoridade poli­cial ou até judicial. Não tem ins­trumento algum que o proteja, pa­ra valorizar seu mandato, que foi

Para o constituinte LavoisierMaia (PDS - RN), emenda­de sua autoria, aprovada, e queinclui o instituto do referendumno novo texto constitucional,é da maior importância paraesta fase da democracia brasi­leira. Ele quer que a sociedadese manifeste sobre assuntos po­lêmicos como, por exemplo, apena de morte, o aborto e aredivisão territorial. Maia la­menta a não aprovação de umaoutra sua emenda que dava aovereador imunidade parlamen­tar, no âmbito de seu municí­pio: "Ela é importante tam­bém com relação ao chamadodireito igualitário de mandatoseletivos - o municipal, o esta­dual e o federal. Muita genteque votou contra hoje está ar­rependida". Outro tema queele considera discriminador éa não concessão ao professoruniversitário da aposentadoriaespecial aprovada aos profes­sores de 19 e 2° graus. Comoex-governador de estado, Maiadefende a reforma tributáriacomo condição primeira paraque o "sistema democrático ea vida administrativa do paísfuncionem. E a descentraliza­ção"

JC- Senador, emenda de sua au­toria inclui no novo texto constitu­cional o instituto do referendum.Como funcionaria?

Lavoisier Maia - Tem a maiorimportãncia, para esta nova faseda democracia brasileira, a partirda eláboração da Carta Magna, es­se instituto do plebiscito, aprova­do no primeiro turno da Assem­bléia Nacional Constituinte. Háum tema polêmico: pena de mor­te, que foi levantado e derrotado,e votei duas vezes contra a penade morte. Mas o plebiscito foi umatese levantada pelo constituinteque defendia a pena de morte. Vo­tei a favor do plebiscito para a opi­nião pública se manifestar. Na ver­dade, foi derrotado, mas dá umaamplitude maior de ouvir o povo.

Outro exemplo: aborto. Abortoé altamente discutível e controver­tido. O problema do aborto é sese aprova ou não aprova o aborto,mas voto a favor do plebiscito. Va­mos submeter à opmião do povobrasileiro se aceita ou não a legali­zação do aborto. A opinião, amaioria do povo brasileiro vai opi­nar democraticamente. Eu, na ho­ra do plebiscito votarei contra oaborto, porque tenho convicçõespr6prias de ser contra o aborto;contra todo e qualquer tipo deaborto, a não ser aquele previstoem lei. Há outros tipos também,outros problemas polêmicos quepodem ser levantados.

JC- A redivisão territorial, porexemplo.

Lavoisier Maia - A redivisãoterritorial, por exemplo. Sou a fa-

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Page 15: N~ TRABALHADOR GARANTIDO · mos do povo brasileiro, a de elaborarmos a nova Carta, mesmo correndo o risco de al gum artigo inadequado e im perfeições decorrentes. Ainda restam algumas

Líderes defendem a AssembléiaOs líderes do PMDB,

PSDB, PCB, PT, PSB e PMNsaíram em defesa da Assem­bléia Nacional Constituinte emdocumento entregue ao presi­dente Ulysses Guimarães, noqual manifestam estranhezacom as críticas do ministro Os­car Corrêa a dispositivos doprojeto da futura Carta e pe­dem à presidência "um posi­cionamento, sempre vigorosoe claro, jamais omisso, na defe­sa da Constituinte".

Numa semana agitada pordenúncias e suspeitas de queestá em curso uma manobraconduzida por forças antide­mocráticas destinada a inviabi­lizar a conclusão dos trabalhosde elaboração da nova Consti­tuição, a liderança do Partidoda Social Democracia Brasilei­ra - PSDB alertou, tambémem nota endereçada ao depu­tado Ulysses Guimarães, paraa necessidade de promulgaçãodo novo texto a tempo de pro­duzir efeitos nas eleições denovembro, acentuando:"Qualquer procedimento oumanobra em contrário significauma ameaça à normalidade datransição".

As colocações do presidentedo Tribunal Superior Eleitorale membro do Supremo Tribu­nal Federal, Oscar Corrêa,neste contexto, foram repudia­das pelos líderes do PMDB,Nelson Jobim; do PSDB, Ar­tur da Távola; do PT, PlínioArruda Sampaio; do PCB, Ro­berto Freire; do PSB, AdemirAndrade, e ainda do PartidoMunicipalista Nacional ­PMN, Paulo Ramos, e motiva­ram vários pronunciamentosno plerrãrio da Assembléia.

americano perguntou ao deputado Ulysses Guima­rães sobre diversos aspectos do funcionamento daAssembléia e as matérias em votação. As relaçõescomerciais entre o Brasil e Estados Unidos foramigualmente objeto das conversações de que tambémparticiparam os embaixadores Marcího MarquesMoreira e Harry Schlaudemann.

A preocupaçãocom a ausência dosconstituintes e com assuspeitas de manobras daparte do Poder Executivocontra a Assembléia não serestringiu aos líderes,aos partidos e constituintes.Os trabalhadores,mobilizados para assegurarno segundo turno osavanços sociais contidos notexto do projeto da Carta,também se manifestaram.

Trabalhadores:votação já

Shultz visita o Legislativoo secretário de Estado norte-americano, George

Shultz, visitou a Assembléia Nacional Constituinte,durante sua recente passagem pelo Brasil, sendorecebido pelo presidente Ulysses GUImarães e porparlamentares de todos os partidos.

Durante os 40 minutos que durou sua reuniãocom os constituintes brasileiros, o secretário norte-

ADIRP/Caslro Júmor

ESTATAIS.

Q;~~IlElROS. PARCaAKO..:JOOITAAlADANAÇAO, ES'TMHIJIGNAOOS CCM A ATITlIlE Gl1PI5TAI;(E VEM

SEJfXIT()W)A PlJl: CERTOS QU'OS I:E aJCSt1lUIHTES sce INSP1RA.ÇAO 00 QMJIIJ Fm!RAL..

bzCJ.JT11OLJlm, aJCS1'IllJDffESSSUOSE ~-.as IWI VEM tEDINXI ESfmços. PMA LEVAR A ElJ.l TEFMJ o ffiO­

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bIcDes.a:M) ELEl~A REftI'o'MA DEDIATA oosTRJeH..I:m W\~tlIlQtHIl.~. SE IiiCESSA.

RIO"A'TAAvEs DA ccwcr..AÇltG-t:QS SlFl.ENTES EHSLeSTITlJIÇlID .10S

PNl..NENTN'IES-RIEVMIODR:S.

constituintes candidatos, a cau­sa falta de quorum.

Qualquer procedimento oumanobra em contrário significauma ameaça à normalidade datransição democrática, cujaresponsabilidade histórica re­cairá sobre os que nesse sen­tido se organizam.

O PSDB entende que emquatro semanas os trabalhosconstituintes poderão ser con­cluídos, adotada pela Mesa daAssembléia Nacional Consti­tuinte esta decisão de convo­cação, inclusive aos sábados edomingos. O PSDB, antecipa­damente, assume o compro­misso de presença permanen­te.

Por tudo isso, reivindicamosdo Presidente da AssembléiaNacional Constituinte provi­dências, as mais enérgicas, re­gimentalmente previstas, coma responsabilização plena dequem esteja, por ação ou omis­são, compactuando com esseplano de verdadeira traição na­cional.

tentaram diminuir o espaço desua soberania, não deve silen­ciar diante de declarações im­pertinentes que visam criar naopinião pública perplexidadeprejudicial à consolidação danossa VIda democrática.

Encaminhando esse mani­festo a V. Ex', ficamos noaguardo de seu posicionamen­to, sempre vigoroso e claro, ejamais omisso na defesa daConstituinte.

Nelson Jobim (PMDB - 'RS)

Artur da Távola (PSDB ­RJ)

Roberto Freire (PCB - PE)Plínio Arruda Sampaio (PT

-SP)Ademir Andrade (PSB ­

PA)Paulo Ramos (PMN - RJ)

A Bancada do PSDB - Par­tido da Social Democracia Bra­sileira - considera ser um in­declinável dever levar ao co­nhecimento do presidente daAssembléia Nacional Consti­tuinte a mensagem que nestemomento reputa indispensáveltrazer de público à consciêncianacional.

A sistemátIca ausência deconstituintes notoriamente nãocomprometidos com a plenarestauração do poder democrá­tico está conduzindo a um pro­cesso de descrédito da institui­ção perante a opinião pública,agravado pela nítida ação doPoder Executivo, protelatóriaao término dos trabalhos daelaboração constitucional.

O PSDB considera absoluta­mente indispensável a votaçãoe promulgação do texto daConstituição a tempo de pro­duzir efeitos na própria eleiçãode 15 de novembro próximo.E nem se alegue a realizaçãodesta, pela participação de

Os constituintes presentes àMesa de negociações das lide­ranças manifestam sua estra­nheza diante das declaraçõesdo sr. ministro Oscar Corrêa,a respeito do conteúdo do textoconstitucional.

Contrariando louvável dis­crição que o Supremo TribunalFederal manteve até hoje, o sr.ministro investe contra a Cons­tituinte, exatamente na horaem que pesam sérias suspeitasde que setores antidemocráti­cos estejam procurando umconfronto para esvaziar o pro­cesso de reconstitucionalizaçãodo país.

A Constituinte, que tem re­pudiado, com veemência, essetipo de investida, todas as vezesem que ministros de Estado,autoridades militares e inclusi­ve o presidente da República

PSDB denuncia manobras

Partidos reafirmam soberania

ADIRP/Wl1ham-Prescott

Lideranças do PSDB entregam ao presidente Ulysses Guimarães documento em defesa da Constituinte e repudiando manobras para atrasar votação.

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.Democraciadeve começarpelo ensino

Convocados pela Confederaçãode Professores do Brasil,rep'resentantes do ensinopublico de todo o Paísreuniram-se num dos auditóriosdo Congresso Nacional paradebater o futuro da escolapública. Um dos temores entãomanifestado foi o de que,tendo de repassar, após apromulgação da Carta, maioresrecursos financeiros aosmunicípios, a União e osestados queiram, emcompensação, reduzir suasresponsabilidades quantoao ensino público quepassana por um processode municipalização. Achamos mestres que se isso viera <?correr, a escola públicaVai perder recursos materiaise humanos, além de sofrera ingerência do clientelismopolítico e dos setorespnvados. Contra a ameaçaos professores divulgaram ummanifesto no qual condenamtais manobras, bemassim as investidas de setoresque tentam desmoralizar aescola e os demais serviçospúblicos. No manifesto osprofessores defendem umaescola pública universal,gratuita, democrática, laica,que ofereça um ensino bom eigual para todos, naperspectiva da construçãode uma sociedade democráticae igualitária. Para tanto,a Confederação dosProfessores conclama pais,alunos e setores popularesa um movimento permanente emdefesa da escola pública,que "insere-sena luta pela democracia".O ensino público, tema

Fotos- ADIRP Revoaldo Stavale

apaixonante da ANC, deveráser def!n~do em.segundo turnonos proxlmos dias. No artigo248 Já está garantido, em1°turno, que os recursospúblicos serão destinados àsescolas públicas, ressalvandoas escolas comunitáriasconfessionais e filantrópicas.Para os professores, o artigodeve encerrar-se na "escolapública", sem exceções.Afinal, há muito tempo aescola deixou de ser"risonha e franca". O queos professores queremé que, doravante, ela sejaséria e franqueada.Para que isso aconteça,eles entendem que o governodeve priorizar o ensinopúblico. Não há nenhumcaminho para o futurosem que passe pelaeducação. E esta tem deser atendida pelo poderpúblico na maior escalapossível. Foi assim nospaíses que mais sedesenvolveram. Não serádiferente aqui.

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