n e s t a edição -...

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EDITORIAL A publicação das mensagens mediúnicas 03 NOSSA CAPA Explicando - Da Redação 04 MEDIUNIDADE Os Problemas da Psicografia - Caroline Brandão 05 HAGIOGRAFIA Vicente de Paulo - O Santo da Caridade Da Redação 06 LITERATURA O Céu e o Inferno - USE/SP 09 COMPORTAMENTO Etnocentrismo? Que é isso? - Joseana Hypólito 10 INTERPRETAÇÃO O Dilúvio Bíblico - Leandro Camargo 12 CURIOSIDADES BÍBLICAS Você Sabia... - Julieta Closer 17 RECORDANDO CHICO XAVIER Dr. Bezerra 16 CAPA Ciência e Religião - Prof. Dr. Nubor Orlando Facure 18 ACONTECEU COMIGO O Espírito de Papai nos Acompanhava Julieta Côva Checchia 26 CONTO A Restauração do Inferno - Vinícius 28 ARGUMENTANDO Dez Motivos para Conhecer o Espiritismo Ricardo Rodrigues Escodelario 31 ANÁLISE Ramatis é um Autor Espírita? - Fabiano Possebon 32 INFORMAÇÃO O Editor Recomenda - O Editor 35 VALORIZANDO O Elemento de Sustentação - Henrique Gonçalves 27 Edição FidelidadESPÍRITA - JANEIRO DE 2003 Nesta Nesta REVUE SPIRITE Organização do Espiritismo - Allan Kardec 14 Reprodução Reprodução Reproduçaõ Reprodução Reprodução

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EDITORIALA publicação das mensagens mediúnicas03

NOSSA CAPAExplicando - Da Redação04

MEDIUNIDADEOs Problemas da Psicografia - Caroline Brandão05

HAGIOGRAFIAVicente de Paulo - O Santo da Caridade Da Redação

06

LITERATURAO Céu e o Inferno - USE/SP09

COMPORTAMENTOEtnocentrismo? Que é isso? - Joseana Hypólito10

INTERPRETAÇÃOO Dilúvio Bíblico - Leandro Camargo 12

CURIOSIDADES BÍBLICASVocê Sabia... - Julieta Closer17

RECORDANDO CHICO XAVIERDr. Bezerra16

CAPACiência e Religião - Prof. Dr. Nubor Orlando Facure18

ACONTECEU COMIGOO Espírito de Papai nos Acompanhava Julieta Côva Checchia

26

CONTO A Restauração do Inferno - Vinícius28

ARGUMENTANDODez Motivos para Conhecer o EspiritismoRicardo Rodrigues Escodelario

31

ANÁLISERamatis é um Autor Espírita? - Fabiano Possebon32

INFORMAÇÃOO Editor Recomenda - O Editor 35

VALORIZANDOO Elemento de Sustentação - Henrique Gonçalves27

Ed i çãoFidelidadESPÍRITA - JANEIRO DE 2003

Nes ta Nes ta

REVUE SPIRITE Organização do Espiritismo - Allan Kardec14

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Fidelidade Espírita é uma publicação

do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”.

CNPJ: 01.990.042/0001-80

Inscr. Estadual: Isento

R$ 45,00R$ 4,50

US$ 35,00

E-mail: [email protected]

Diretor Presidente

Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”Departamento Doutrinário

Equipe Editorial

Adriana PersianiJulieta CloserLeandro CamargoLino BittencourtPaulo RossiRicardo R. EscodelárioRogério Gonçalves Sandro Cosso

Revisão Ortográfica

Rosemary C. Cabral

Jornalista Responsável

Renata LevantesiMtb 28.765

Diagramação e Ilustrações

Alessandra Persiani

Administração

Rogério GonçalvesViviam B. S. Gonçalves

Capa

Fotolito

Octano Design 19 3294.2565

Rip Editores Gráficos Associados

Apoio Cultural

Braga Produtos AdesivosAlvorada Gráfica & Editora

Impressão

Alvorada Gráfica & Editora 19 3227.3493

EditorialEditorialpossuem livre arbítrio e uma opi-nião sobre os homens e as coisas, compreender-se-á que a prudência e a conveniência mandam afastar esses perigos. No interesse da Dou-trina convém, pois, fazer uma esco-lha muito severa em semelhantes casos e pôr de lado, com cuidado, tudo quanto pode, por uma causa qualquer, produzir uma ruim im-pressão. É assim que o médium, conformando-se a essa regra, pode-rá apresentar uma compilação ins-trutiva, capaz de atrair as atenções e ser lida com interesse; mas é tam-bém assim que, publicando tudo quanto recebe, sem método e sem discernimento, será capaz de apre-sentar muitos volumes detestáveis, cujo inconveniente menor será o de não serem lidos.

É preciso que se saiba que o Espiritismo sério se faz patrono, com alegria e apressuramento, de toda obra realizada com critério, qualquer que seja o país de onde provém, mas que, igualmente, repu-dia todas as publicações excêntri-cas. Todos os espíritas que, de cora-ção, vigiam para que a Doutrina não seja comprometida, devem, pois, sem hesitação, denunciá-las, tanto mais porque, se algumas delas são produtos da boa fé, outras cons-tituem trabalho dos próprios inimi-gos do Espiritismo, que visam desa-creditá-lo e poder motivar acusa-ções contra ele. Eis porque, repito, é necessário que saibamos distinguir aquilo que a Doutrina Espírita acei-ta daquilo que ela repudia”.

A publicação das mensagens mediúnicasA publicação das mensagens mediúnicas

Allan KardecAllan Kardec

Viagem Espírita em 1862.2ª edição Editora O Clarim,

pág. 126-128

sua publicação tanto pode ser útil, se feita com discer-Animento, quanto pernicio-

sa, em caso contrário. No número dessas comunicações, algumas há que, por muito boas que sejam, não interessam senão àqueles que as re-cebem e que pareceriam, aos olhos dos leitores estrangeiros, simples banalidades. Outras, apenas têm in-teresse nas circunstâncias em que são transmitidas. Sem o conheci-mento dos fatos a que se relacio-nam, surgem insignificantes aos olhos do observador. Todo esse in-conveniente estaria circunscrito apenas aos bolsos dos editores; to-davia, ao lado disso, algumas há que são evidentemente nocivas, tanto por sua forma quanto por seu conteúdo e que, sob nomes respei-táveis, logicamente apócrifos, reve-lam um contexto absurdo ou trivi-al, o que, naturalmente, se presta ao ridículo e oferece armas à críti-ca. Tudo se torna ainda pior quan-do, sob o manto desses mesmos no-mes, formulam-se sistemas excên-tricos ou grosseiras heresias cientí-ficas. Não haveria nenhum incon-veniente em publicar-se essas espé-cies de comunicações, se as fizes-sem acompanhar de comentários, seja para refutar os erros, seja para lembrar que constituem a expres-são de uma opinião individual, da qual não se assume absolutamente a responsabilidade. Assim, talvez revelassem um lado instrutivo, pondo a descoberto a que aberra-ções de idéias podem se entregar certos Espíritos. Mas publicá-las pura e simplesmente, apresentá-las como expressão da verdade e ga-rantir a autenticidade das assinatu-ras, que o bom senso não pode ad-mitir, nisso está o inconveniente!

Uma vez que os Espíritos

Nossa Capa

nasceu em Urbino a 6 de abril de 1483 e morreu em Roma a 6 de abril de 1520, aos 37 anos. Começou a pintar ainda meni-no, revelando grande sensibili-dade espacial e delicadeza no traço. Em Perugia estudou com Perugino. Aperfeiçoou seu de-senho adquirindo o domínio técnico que marca sua obra.

Chamado a Roma pelo papa Júlio II em 1508, incum-biu-se de numerosos projetos de envergadura, nos quais deu mostras de uma imaginação variada e fértil, trabalhando nas salas do Vaticano por 12 anos.

O afresco traz duas figu-ras especiais ao centro. O da es-querda apontando o dedo para cima é Platão, o da direita a-

odas as nossas capas são cuidadosamente estuda-Tdas para refletirem a ma-

téria principal da revista, cuja chamada fica sempre no canto superior direito, na vertical.

Nesta edição de Janeiro, com a matéria do Prof. Drº Nu-bor Orlando Facure - Ciência e Religião, julgamos que a ilus-tração de Rafael a “Escola de Atenas", seria ideal para tradu-zir em imagem a referida maté-ria.

Todavia a “Escola de Atenas", pintada em 1511 na sala della Segnatura (sala da assinatura) do Vaticano, não é apenas um monumento no campo das artes, é praticamen-te o resumo de toda a filosofia antiga, demonstrando que seu criador, Rafael, era exímio co-nhecedor das tradições filosófi-cas.

Raffaello Santi ou San-

zio, “O Príncipe dos Pintores"

“Escola de Atenas"

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200304

pontando com a mão para a natureza física é Aristóteles. Todo o grupo do lado de Platão representa as idéias transcen-dentais, os pensamentos sobre o mundo espiritual, a imortali-dade da alma e a reencarnação. Os que estão ao lado de Aristó-teles simbolizam as pesquisas no campo da natureza física, a ciência material.

Rafael pretendeu ex-pressar o seguinte: “O supremo ideal filosófico está em uma síntese capaz de unificar a me-tafísica da transcendência, a fi-losofia da natureza e a teolo-gia", em outras palavras: a união entre Ciência e Religião.Ciência e Religião

Para saber mais, consulte:1) Reale, Giovanni. História da Filosofia, vol. II, pág.14-42-60-86, Ed. Paulus.

2) Enciclopédia Barsa 2000.3) Enciclopédia Mirador.

Da Redação

O Pintor

A obra: “Escola de Atenas”

Reprodução

Explicando

Mediunidade

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200305

ro dos bons Espíritos. Através das obras mediúni-

cas, o abnegado Chico passou a ser conhecido, até internacionalmente; pessoas passaram a cercá-lo desde os primeiros momentos de sua tare-fa mediúnica. Muitos almejam essa projeção, que no caso do querido médium de Uberaba, não foi plane-jada por ele. Muitos desconhecem os problemas e perigos da fama! O que os candidatos a esse tipo de ta-refa esquecem é que primeiramente não foi por sua vontade, tudo de-pendia de uma programação prévia do plano espiritual. Sem contar que o medianeiro precisará possuir boas condições morais; os testemunhos certamente virão, o assédio de Espí-ritos ainda presos a sentimentos in-feriores também, sem contarmos a inveja, o estímulo ao orgulho e ao ganho fácil que estarão sempre pre-sentes na vida desses seareiros.

A vida de Chico Xavier de-veria ser um exemplo. A infância difícil, a pobreza, as enfermidades, as noites não dormidas, os testemu-nhos junto aos adversários, os aten-dimentos aos sofredores, as críticas atrozes. Trata-se de uma tarefa lin-da e enobrecedora, mas, infeliz-mente, muitos nela naufragam.

Pensamos que alguns médi-uns realmente possuam a tarefa de serem intermediários de Espíritos que produzem boas obras literárias, entretanto, em decorrência dos ar-gumentos já expostos, não compre-endem que muitas mensagens são apenas exercícios, treinos, um teste para o médium, que poderá vir a de-senvolver uma tarefa no campo lite-rário.

O próprio Chico Xavier te-ve mensagens de aproximadamente

dez anos de psicografia inutilizadas pela orientação do Espírito Emma-nuel. Divaldo P. Franco passou a ter o efetivo amparo dos mentores espi-rituais, após dez anos de tarefa no bem. Ivone A. Pereira guardou a mais portentosa obra mediúnica, produzida por seu intermédio, por mais de trinta anos, até ser publica-da. Será que os exemplos desses ex-poentes da mediunidade psicográfi-ca não são o bastante?

É uma pena que médiuns e dirigentes despreparados se incli-nem tanto pela psicografia. Se es-ses, ao menos se esforçassem em buscar o melhor para a causa espíri-ta, resultados positivos certamente viriam.

Não há mal em desejarmos cooperar neste ou naquele campo. Todavia, devemos ser conscientes e sinceros quanto às nossas reais con-dições e intenções, para não atrapa-lharmos o avanço do Espiritismo. Mediunidade é acima de tudo, re-núncia, dedicação e absoluto com-promisso com a verdade. Somente assim, médiuns e dirigentes espíri-tas estaremos contribuindo com uma divulgação de qualidade dos postulados Espíritas.

causa espíri-ta

Caroline Brandão - São Paulo/SP

Os Problemas da PsicografiaOs Problemas da Psicografia

Para saber mais, consulte:1) Allan Kardec - O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. 10 e 15, 20ª edição, Ed. LAKE.2) Therezinha Oliveira - Mediunidade, vol. 2, 10ª edição, pp. 175/178, Ed. CEAK.3) Ivone A. Pereira - À Luz do Consolador, 3ª edição, pp. 183/188, Ed. FEB.4) Daisy Jurgensen - Revista FidelidadES-PÍRITA, n.º 1, pp. 16/17.

Ver matéria de Daisy Jurgensen, publica-da nesta Revista n.º 1, pp. 16/17.

1

É preciso que o medianeiro possua boas condições morais e que se dedique ao estudo doutrinário, para enfrentar os testemunhos que certamente virão...

lgo que nos chama a aten-ção no que toca ao tema me-Adiunidade, é o valor excessi-

vo que algumas pessoas e Casas Espíritas vêm atribuíndo às mensa-gens psicografadas.

O fenômeno da psicografia em si é de grande valia nos Centros Espíritas, seja recebendo, do Mais Alto, orientações ou estímulos para determinado grupo ou Casa, até mensagens de consolo para certas pessoas, todavia, o interesse tem se voltado apenas para a produção de obras “literárias”.

A localização do problema reside exatamente neste fato: a pro-dução desenfreada de obras mediú-nicas, que se mostram, em muitos casos, incoerentes, repetitivas, po-bres literariamente e algumas até contrárias aos postulados da Dou-trina Espírita.

Talvez, a falta de análise das mensagens psicografadas este-ja agravando o problema, uma vez que nem toda mensagem transmiti-da pelos Espíritos, deve ser publica-da. Como já dissemos, muitas ser-vem apenas para instrução interna da Casa Espírita ou como exercício para o médium e não para o público geral; elas possuem seu valor, mas não para publicação.

O que autoriza que uma produção psicográfica seja publica-da é exatamente a sua qualidade doutrinária, o compromisso com as verdades Espíritas e a edificação in-telecto-moral da Humanidade.

As 412 obras psicografadas pelo notável médium Chico Xavier talvez tenham estimulado os inici-antes na mediunidade, que iludidos, desconhecem a necessidade de ele-vação moral, para merecer o ampa-

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Hagiografia

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200306

Da Redação

Vicente de PauloVicente de PauloO Santo da Caridade

Reprodução

o século XVI, quando a Europa era assolada por Ndiversas perturbações re-

ligiosas, como a guerra dos Trinta Anos, as desordens da Fronda, os ataques dos navios piratas, a França se encontrava encharcada de ruínas materiais e morais. Os pobres em número cada vez mai-or, formavam bandos inquietan-tes. Milhares de cristãos agoniza-vam sem esperança sob o jugo dos infiéis.

Foi nessa época, em 24 de abril de 1576, entre lutas e deses-peranças, que a Providência Divi-na colocou no seio da França na cidade de Pouy aquele que viria a ser conhecido mais tarde como São Vicente de Paulo, o Santo da Caridade.

Filho de camponeses, de humilde condição, e, embora não

São Vicente de Paulo

estivessem reduzidos à miséria, Vicente de Paulo, passou sua in-fância numa casa de lavoura, co-meçando a trabalhar desde cedo guardando o rebanho de seu pai.

Por volta de seus oito ou dez anos de vida já era capaz de demonstrar sua grandeza de al-ma. A generosidade era marcante na vida daquele pequeno rebento, colocando certa vez, todas as mo-edas que possuía e que tinha amealhado aos poucos, nas mãos de um miserável. Ato incomum para garotos de sua idade.

O pai de Vicente, obser-vava com interesse as disposições do filho. Notava que era piedoso, inteligente, refletido, bondoso, julgando que, com tais qualida-des, a vocação eclesiástica era uma excelente opção, momento em que não hesitou em suportar encargos pesados para permitir-lhe estudar, matriculando-o no colégio franciscano em Dax. Vi-cente contava, então, doze pri-maveras.

Aos 21 anos, Vicente fize-ra com destaque os cursos de gra-mática, retórica e filosofia, estava concluída sua formação clássica, mas foi na Universidade de Tou-louse que estudou ciências teoló-gicas, recebendo no dia 23 de se-tembro de 1600, a ordenação sa-cerdotal.

Após essas conquistas in-telectuais, Vicente recusou coo-perar na grande paróquia de Thil nos arredores de Dax, motivado pela oposição de um rival. Com essa postura de evitar desaven-ças, Vicente passou anos de gran-des dificuldades materiais, até que recebeu uma pequena heran-ça de uma pessoa devotada na ci-

dade de Marselha. No retorno da viagem, que havia efetuado para buscar a herança, foi preso por corsários e vendido como escra-vo, permanecendo em cativeiro por dois anos, todavia, aprovei-tou-se da escravatura para exer-cer profícuo apostolado, que cul-minou na conversão de seu pro-prietário que permitiu a fuga do futuro Santo.

Encontrava-se agora, dez anos após ter sido ordenado pa-dre, em Paris, e ainda não possuía uma situação estável, as curiosas aventuras que passara o haviam afastado do sacerdócio, todavia, visitava todas as manhãs os do-entes do Hospital da Caridade, lo-cal em que conheceu o padre Bé-rulle, que teve a sensibilidade de discernir a grandeza de Vicente, para nomeá-lo posteriormente, capelão da Rainha Margarida, es-posa separada de Henrique IV. A situação melhorava.

Todavia, Vicente de Pau-lo, não era igual aos outros e aca-bou por renunciar à capelania re-al em troca da capela de Clichy, composta por pobres lavradores. Ali, ele fez maravilhas visitou um a um todos os paroquianos; esta-beleceu entre eles a prática da co-munhão mensal; reconstruiu a igreja; instalou no presbitério uma espécie de escola eclesiásti-ca. Em menos de um ano tinha transformado a paróquia.

“Monsieur Vicent” passou por diversas cidades e paróquias, sofrendo uma súbita elevação de-pois de tantos anos de dificulda-des e pobreza, chegando a ocupar uma função preponderante no Conselho da Rainha, era reveren-ciado pelos mais ilustres senhores

e senhoras, mas a modéstia do Santo não murchava ao sol da corte. Permanecia simples, aces-sível e doce. Nem sequer trocava as vestes surradas, mas sempre limpas, para dialogar com a Rai-nha. Nunca pediu nem quis acei-tar nada para si ou para os seus.

Um fato bem retrata sua grandeza de alma. Narra-se que uma Duquesa, mãe de um jovem sacerdote, havia solicitado à Rai-nha o Bispado de Poitiers para o filho. Essa, favorável a fazê-lo, consultou Vicente sobre a condu-ta do jovem. A resposta foi since-ra e conscienciosa. Aquele jovem sacerdote, não possuía as quali-dades morais que sua genitora imaginava. Era dado a freqüentar as tabernas, onde abusava das be-bidas. Mediante tal fato, a Rainha retirou a nomeação pretendida, mas a tarefa de comunicar à Du-quesa seria do Santo. Ela não a-ceitou as comunicações de Vi-cente e após injuriá-lo, atirou um banco em seu rosto. Vicente de Paulo saiu com o rosto sangran-do e sem nada reclamar disse a um amigo: “Veja meu Irmão, co-mo é forte a ternura de uma mãe...” São esses e outros fatos que nos conduzem ao respeito e à admiração pelo Apóstolo da Cari-dade!

Vicente tinha como uma de suas maiores qualidades a ca-ridade; a visita a enfermos, pre-sos, a educação das crianças, o consolo às almas desesperadas, foram uma constante em sua vida apostólica.

Fato que merece destaque é a grande facilidade que possuía em mobilizar a mais alta aristo-cracia na prática da caridade, sen-

ca-ridade

FidelidadESPÍRITA Janeiro 2003 07

do que as mais distintas Senhoras de Paris e da Corte eram vistas tratando dos pobres e enfermos.

Aconselhou Reis, fundou duas congregações religiosas pa-ra cooperar em suas obras. Envi-ou missionários por todo o mun-do (Irlanda, Escócia, Tunísia, Argélia e até Madagascar). Não houve miséria que deixasse de so-correr! Triunfou onde tinham fra-cassado os poderosos do mundo! Foi um verdadeiro mensageiro de Deus na Terra! Um apóstolo da caridade!

Temos notícias de Vicente de Paulo depois de seu desencar-ne. Foi o mentor do grande médi-um da cidade de Sacramento, Eu-rípedes Barsanulfo. O encarrega-do por direcionar e orientar a al-ma de Eurípedes em sua vultosa tarefa. Mas as notícias do plano espiritual não param por aí. O es-critor Humberto de Campos, pela psicografia de Chico Xavier, em seu livro Contos e Apólogos, no cap. 13 traz uma de suas lindas crônicas ressaltando a caridade de Vicente.

Ao contrário do que per-cebemos na vida de outros San-tos, São Vicente de Paulo não conviveu de forma ostensiva com os fenômenos mediúnicos, ire-mos encontrar, na biografia pes-quisada para este artigo, apenas um relato referente à mediunida-de, foi um fenômeno de vidência mediúnica, quando já avançado em anos, vislumbrou, o espírito de Santa Joana Chantal subindo aos céus sob a forma de um globo em chamas no momento da de-sencarnação.

Deixar-se guiar por Deus, renunciar à própria vontade para

tornar-se instrumento do Senhor, unir-se ao Criador, este fora o método utilizado pelo inesquecí-vel São Vicente de Paulo.

Sem sombra de dúvidas, São Vicente de Paulo foi uma das almas de escol, que Deus enviou à Terra com o fito de alavancar a evolução do ser humano através de seus ensinamentos e exem-plos. Trabalhou na codificação da Doutrina Espírita, trazendo men-sagens valiosas, encontradas es-pecialmente em O Evangelho Se-gundo o Espiritismo, como a constante no cap. XIII, item 12 que trata sobre “A Beneficência”. E em O Livro dos Espíritos em sua Introdução.

Apesar de constatarmos a presença da vidência mediúnica na vida desse Espírito de grande evolução, na realidade o que nos salta aos olhos são suas indiscutí-veis e notórias qualidades morais.

Trata-se de uma modali-dade mediúnica extremamente ra-ra, podendo ser conceituada como a faculdade que “permite ver seres, ambientes, formas, luzes, cores e cenas do plano espiritual”. Ocorre na esfera subjetiva do médium (so-mente ele vê). Não podendo ser confundida com o fenômeno de ver os Espíritos apenas por so-nhos. Não se confunde ainda, com a clarividência que se trata de fa-culdade anímica, produzida com os recursos do encarnado, permi-tindo a este ver pessoas, coisas e cenas à distância no plano físico.

São Vicente de Paulo.O Espiritismo nos ensina

que caridade e humildade são a única via de salvação; egoísmo e orgulho, a da perdição. Todavia, esse princípio, vivenciado por São Vicente de Paulo e ensinado pela Doutrina Espírita, já existia em termos precisos nos dizeres de Jesus: “amarás a Deus de toda a tua alma, e ao teu próximo como a ti mesmo” e como não se pode amar a Deus sem praticar a ca-ridade, todos os deveres do ho-mem se resumem nesta máxima: “Fora da caridade não há salva-ção”, em oposição à máxima de algumas doutrinas que pregam que: “Fora da Igreja não há sal-vação”.

Compreendemos que a fe-licidade ou não do homem, é construída com seus atos e a cari-dade independente de credo é o caminho para a bem-aventuran-ça, encontrando no Santo da Ca-ridade um de seus maiores exem-plos.

“Fora da caridade não há salva-ção”

Santo da Ca-ridade

Para saber mais, consulte:1) Titãs da Religião - Lázaro Liacho, Col. Os Titãs, vol. VI, p. 463 - Ed. Livraria “El Ate-neo” do Brasil.

2) São Vicente de Paulo - Thomas de Saint-Laurent - Ed. Civilização.

3) O Livro dos Médiuns - Allan Kardec, 2ª parte, cap. VI e XIV , 20ª edição - Ed. LAKE.4) O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec, cap. XIII e XV - Ed. LAKE.5) Mediunidade - Therezinha Oliveira, 10ª edição, cap. 28 - Ed. CEAK.

1) Vidência Mediúnica:1) Vidência Mediúnica:

2) Caridade:2) Caridade:

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200308

Análise Espírita:Análise Espírita:

Maiores esclarecimentos em O Livro dos Médiuns, cap. VI e XIV.

Maiores esclarecimentos em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XV.

1

2

1

2

se processa a Justiça Divina,

em concordância com o princí-

pio evangélico: “A cada um, se-

gundo suas obras”.

Literatura

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200309

livro é dedicada

ao Passamento;

Kardec reuniu vá-

rias dissertações

de casos reais, a

fim de demonstrar

a situação da al-

ma, durante e

após a morte físi-

ca, proporcionan-

do ao leitor am-

plas condições pa-

ra que possa com-

preender a ação

da Lei de Causa e

Efeito, em perfeito

equilíbrio com as

Leis Divinas; as-

sim, constam dessa parte, nar-

rações de Espíritos infelizes,

Espíritos em condições media-

nas, sofredoras, suicidas, cri-

minosos e Espíritos endureci-

dos.

O Céu e o Inferno coloca

ao alcance de todos o conheci-

mento do mecanismo pelo qual

enominado, também,

“A Justiça Divina Se-Dgundo o Espiritismo”,

este livro oferece o exame com-

parado das doutrinas sobre a

passagem da vida corporal à vi-

da espiritual.

Na primeira parte, são

expostos vários assuntos: cau-

sas do temor da morte, porque

os espíritas não temem a morte,

o céu, o inferno, o inferno cris-

tão imitado do pagão, os lim-

bos do inferno pagão, esboço

do inferno cristão, purgatório,

doutrina das penas eternas, có-

digo penal da vida futura, os

anjos segundo a Igreja e segun-

do o Espiritismo; aborda, tam-

bém, vários pontos relaciona-

dos com a origem da crença

nos demônios, segundo a Igreja

e o Espiritismo, intervenção

dos demônios nas modernas

manifestações, a proibição de

evocar os mortos.

A Segunda parte deste

Fonte:Transcrito do folheto “Comece pelo co-meço" USE/SP.

publicado em agosto de 1865

“Comece pelo começo” “Comece pelo começo”

O Céu e o Inferno

Rep

roduçã

o

Etnocentrismo?Etnocentrismo?Comportamento

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200310

o receber a missão de ir pregar junto aos selvagens, Aum pastor se preparou du-

rante dias para vir ao Brasil e inici-ar no Xingu seu trabalho de evan-gelização e catequese. Muito gene-roso, comprou para os selvagens contas, espelhos, pentes, etc; mo-desto, comprou para si próprio ape-nas um mo-derníssimo relógio di-gital capaz de acender luzes, alar-mes, fazer c o n t a s , marcar se-g u n d o s , c r onome-trar e até dizer a hora sempre absolutamente certa, infalí-vel. Ao chegar, venceu as burocra-cias inevitáveis e, após alguns me-ses, encontrava-se em meio às so-ciedades tribais do Xingu distribu-indo seus presentes e sua doutrina-ção. Tempos depois, fez-se amigo de um índio muito jovem que o acompanhava a todos os lugares de sua pregação e mostrava-se admi-rado de muitas coisas, especialmen-

te, do barulhento, colorido e estra-nho objeto que o pastor trazia no pulso e consultava freqüentemente. Um dia, por fim, vencido por insis-tentes pedidos, o pastor perdeu o re-lógio dando-o, meio sem jeito e a contragosto, ao jovem índio.

A surpresa maior estava, porém, por vir. Dias depois, o índio

chamou-o apressada-mente para m o s t r a r -lhe, muito feliz, seu t r a b a l h o . Apontando s e g u i d a-mente o ga-lho superi-or de uma árvore al-

tíssima nas cercanias da aldeia, o índio fez o pastor divisar, não sem dificuldades, um belo ornamento de penas e contas multicores tendo no centro o relógio. O índio queria que o pastor compartilhasse a alegria da beleza transmitida por aquele novo e interessante objeto. Quase indis-tinguível em meio às penas e contas e, ainda por cima, pendurado a vá-rios metros de altura, o relógio, ago-

O Livro dos Espíritos, questão 793: “Por que sinais se pode reconhecer uma civi-lização completa?

R: - Vós a reconhece-reis pelo desenvolvimento moral. Acreditais estar mui-to adiantados por terdes feito grandes descobertas e inven-ções maravilhosas; porque estais melhor instalados e melhor vestidos que os vos-sos selvagens; mas só tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizados quando houverdes banido da vossa sociedade os vícios que a de-sonram e quando passardes a viver como irmãos, prati-cando a caridade cristã. Até esse momento, não sereis mais do que povos esclareci-dos, só tendo percorrido a primeira fase da civiliza-ção.”

O Livro dos Espíritos, questão 793: “Por que sinais se pode reconhecer uma civi-lização completa?

Joseana Hypólito - Jundiaí/SP

Reprodução

Na Codificação Espírita encontramos a lucidez

do Consolador no trato com as civilizações

Que é isso?Que é isso?

FidelidadESPÍRITA Janeiro 2003 11

ra mínimo e sem nenhuma função, contemplava o sorriso inevitavel-mente amarelo no rosto do pastor. Fora-se o relógio.

Passados mais alguns me-ses, o pastor também se foi de volta para casa. Sua tarefa seguinte era entregar aos superiores seus relató-rios e, naquela manhã, dar uma últi-ma revisada na comunicação que iria fazer em seguida aos seus cole-gas, em congresso sobre evangeli-zação. Seu tema: “A catequese e os selvagens”. Levantou-se, deu uma olhada no próprio relógio novo, quinze para as dez. Era hora de ir. Como que buscando uma inspira-ção de última hora, examinou deta-lhadamente as paredes do seu escri-tório. Nelas, arcos, flechas, tacapes, bordunas, cocares e até uma flauta formavam uma bela decoração. Rústica e sóbria ao mesmo tempo, trazia-lhe estranhas lembranças.

Com o pé na porta ainda pensou e sorriu para si mesmo:

- Engraçado o que aquele índio foi fazer com o meu relógio...”

Na marcha da Humanidade, muitos povos, tomados por orgulho e vaidade, impuseram sua hegemo-nia sobre outras raças humanas sentindo-se superiores. Os israelitas se intitulavam o “povo eleito” e não valorizavam outras nações; os egíp-cios, gregos e romanos orgulha-

vam-se das conquistas bélicas e de suas tradições teológicas e cultu-rais. Enfim, a história é pródiga em exemplos.

A resposta dos imortais a Allan Kardec, representa a lucidez do Consolador no trato com as civi-lizações.

É preci-so que as bar-reiras dos pre-conceitos e do etnocentrismo (tendência dos indivíduos em tomar a sua pró-pria cultura ou sociedade como modelo de referên-cia e norma, rejeitando, assim, a di-versidade cultural de outros povos) sejam rompidas.

Delicado, porém, quando os homens utilizam-se do aspecto reli-gioso para dominar, explorando e maltratando o “outro”.

O Cristianismo, em várias fases, sofreu deturpações; por exemplo: no séc. IV, o Estado Ro-mano, passa a perseguir os denomi-nados pagãos. No séc. XI instaura as Cruzadas; no XIII, a Inquisição; no XVI católicos e protestantes lu-tam e milhares dos adeptos das idéi-as de Lutero caem mortos sob o ar-gênteo da noite de São Bartolomeu; séc. XVII Galileu Galilei, um dos ex-poentes da revolução científica, é constrangido pela Igreja a renunci-ar à teoria do heliocentrismo!

Entretanto, Jesus orientou bem quanto à necessidade da fra-ternidade universal na parábola do bom samaritano. Não importa quem seja a criatura, ela é digna do nosso respeito. E no campo teológico te-mos o direito da observação, do es-tudo das diferenças, mas o dever de respeitar as expressões culturais e religiosas, além da necessidade de diálogo a fim de que não nos trans-formemos no pregador que, ridicu-larizando o índio, agiu da mesma forma e se esqueceu da prática cris-tã.

O espírita, contudo, seguin-do as orientações de Jesus é frater-no e indulgente, não é proselitista, evita o mal e promove o bem, am-para sem preconceito e deve carre-gar consigo o lema de Allan Kardec: Trabalho, solidariedade e tolerân-cia.

Portanto, amar ao próximo como a si mesmo é a regra áurea que nos livrará do etnocentrismo conduzindo-nos ao estado de civili-zação completa, tal como apontam os Espíritos da Codificação.

Trabalho, solidariedade e tolerân-cia.

1

O que é Etnocentrismo. Everaldo P. Guima-rães. São Paulo. Brasiliense, 1986.

Neologismo formado a partir do grego etnos, raça, e do lat. Centrum (grego kentron), ponto central de uma circunferência.

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É nosso deverrespeitar as diferentesexpressões culturais ereligiosas dos nossos

irmãos em humanidade

É nosso deverrespeitar as diferentesexpressões culturais ereligiosas dos nossos

irmãos em humanidade

Interpretação

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200312

Bíblia, talvez o mais por-tentoso livro que a Huma-Anidade tenha conheci-

mento, traz em seu bojo aspectos interessantes e curiosos. Dentre estes, podemos recordar o tão co-nhecido dilúvio bíblico, também denominado como o grande dilú-vio asiático, narrado em Gênesis, cap. 6/10, onde Deus ordena a Noé que construa uma arca de madeira, medindo trezentos côva-dos de comprimento, cinqüenta de largura e trinta de altura, uma vez que viria uma grande inundação, de 40 dias e 40 noites, levando à ruína tudo e todos que houvessem sobre a Terra, mas para garantir a repovoação, deveriam adentrar à arca, dois animais, macho e fê-mea, de toda espécie existente, le-vando ainda alimentação para to-dos, e assim aconteceu e após 150 dias as águas minguaram...

Qualquer um de nós, ao ler essas e outras passagens do Ve-lho Testamento, não pode deixar de duvidar da veracidade literal do texto, concluindo que se trata de uma explicação dada, suposta-mente, por Moisés para um fenô-meno ocorrido em determinada época.

dilúvio bíblicoo grande dilú-

vio asiático

Não temos dúvidas no que toca à ocorrência do dilúvio, toda-via, guardamos ressalvas quanto à forma descrita na Bíblia. O que se deu, quando muito, foi um cata-clisma regional e não universal, como bem comprovou sir Charles Leonard Wooley, em 1929, desco-brindo, através de suas escava-ções arqueológicas, ao norte de Basora, próximo ao Golfo Pérsico, uma camada de lodo que revelava os indícios de uma catástrofe dilu-viana, ocorrida exatamente há 4.000 anos a.C. Trabalhos poste-riores comprovaram o fato, mos-trando que houve um dilúvio lo-cal entre o delta dos rios Tigre e Eufrates, na data assinalada pela Bíblia.

Não obstante a compro-vação científica do dilúvio parcial narrado na Bíblia, esse mesmo fa-to já havia sido relatado por ou-tros povos, como o dilúvio babilô-nico de Gilgamesh, o dilúvio gre-go de Deucalião, sem contarmos que índios do México e da Nova Califórnia, também tiveram seu dilúvio, neste caso, Noé chamava-se Coxcox e ao invés de uma pom-ba ser solta à procura de terra se-ca, foi um colibri. Curioso, não?

Não temos dúvidas no que toca à ocorrência do dilúvio

Podemos e devemos con-siderar que Moisés, criado em lar egípcio, teve acesso a toda inte-lectualidade egípcia, conhecendo a história de diversos povos (que possuíam a narrativa diluviana), oferecendo, a partir daí, uma nova versão aos fatos, incutindo todo seu patriotismo no reforço à idéia, predominante à época, de que eram o povo eleito por Deus.

É de bom alvitre elencar fatos, descritos na passagem em comento, que se contradizem com as mais recentes análises científi-cas sobre o tema, confirmando que a narração bíblica é alegórica e assim deve ser interpretada, sob pena de caminharmos para o des-filadeiro da ignorância e do fana-tismo.

Para que uma quantidade de água cobrisse todas as monta-nhas da Terra teria que ser equi-

oferecendo, a partir daí, uma nova versão aos fatos

a narração bíblica é alegórica e assim deve ser interpretada

Leandro Camargo - Hortolândia/SP

O Dilúvio BíblicoO Dilúvio BíblicoSaber interpretar corretamente a alegoria bíblica nos

afasta do desfiladeiro da ignorância e do fanatismoSaber interpretar corretamente a alegoria bíblica nos

afasta do desfiladeiro da ignorância e do fanatismo

Inserimos o vocábulo supostamente, uma vez que estudiosos da Bíblia afirmam que possivelmente a Gênesis e todo o pentateuco bíblico não tenham sido escritos todos por Moisés e sim por uma sucessão de escritores ao longo de mais de mil anos, sendo essa in-formação corroborada pela encíclica Divino Afflante Spiritu escrita pelo Papa Pio XII, há mais de 50 anos.

1

A mesma narrativa em outros povos

A realidade do dilúvio

A impossibilidade dos fatos narrados

1

de cada espécie, para posterior re-povoação do planeta. Ora, sabe-mos que as espécies de animais conhecidas, excedem a 2.000.000 (só de insetos existem 1.000.000 conhecidas), muitos dos animais são de grande porte (girafas, ele-fantes, rinocerontes), sem contar, por exemplo, que apenas as sala-mandras ultrapassam a cifra de 2.000 gêneros e as aves 25.000 es-pécies, todas extremamente frá-geis, exigindo habitats próprios para sobreviverem.

Fica difícil imaginar como todos se acomodariam na Arca, que possuía pouco mais de 150 metros (300 côvados) por 25 me-tros de largura e 15 metros de al-tura, mesmo com seus 3 andares.

Devemos ressaltar, que inúmeras espécies de animais ain-da não foram identificadas e um número grande de espécies são tão semelhantes entre si que só podem se distinguir aos olhos de um especialista, a exemplo das já citadas salamandras.

E as plantas, como se sal-varam das águas? O relato nada diz. E os répteis, que também fo-ram postos a salvo na Arca? Como não morreram ao se misturarem as águas doces com as salgadas?

A Arqueologia nega tam-

valente a 7.000 metros de altura (encobrindo a maior montanha do Mundo, o pico do Everest), consi-derando-se, ainda, que a extensão de nosso orbe é de 509.880.000 Km². Nas regiões em que os índi-ces pluviométricos são altíssimos, dificilmente haverá um aumento de 5 metros por ano! Em casos ra-ros, chove mais de 20 centímetros em um só dia. Chuvas excepcio-nalmente intensas são inferiores a 5 centímetros por hora e de dura-ção efêmera, além de atingirem regiões muito pequenas.

Para efetivação da descri-ção bíblica teria que ter chovido mais de 7 metros por hora, pelo interregno de 40 dias e 40 noites ininterruptamente e ainda sobre toda a superfície terrestre. Esse volume de água é quase 3 vezes o volume atual da água existente nos oceanos, levando, ainda se-gundo a Bíblia, 10 meses para se-car, gerando, aí, um novo proble-ma: para onde teria ido toda essa água, após a evaporação?

Toda a biodiversidade existente, isto é, todas as espécies de animais estariam dentro da Arca, representados por um casal

bém que se puderam conservar, sem deterioração, pinturas primi-tivas como as de Catal Hüuk, na Turquia, que datam de 7.000 a.C. (portanto, anteriores ao dilúvio), ou as de Teleilat Jassul, perto do Mar Morto.

O Espiritismo interpreta a Bíblia, especialmente a passagem em análise, como figura alegórica, escrita de forma figurada, não sendo errônea, e sim, mal inter-pretada pelos homens. O dilúvio efetivamente ocorreu, mas não foi universal e sim parcial, a sobrevi-vência de toda a biodiversidade não se deu consoante a narrativa bíblica e sim prosseguiu seu curso natural, uma vez que o dilúvio não foi total e sim localizado.

FidelidadESPÍRITA Janeiro 2003 13

Para saber mais, consulte:1) A Bíblia Sagrada, tradução de João Fer-reira de Almeida, Imprensa Bíblica Brasile-ira, 64ª impressão, Gênesis, cap. 6/10 pp. 7/11.

2) Evolução das Espécies, Samuel Murgel Branco, Ed. Moderna, Coleção Polêmica 3ª edição, cap. 1, pp. 8/10.3) Visão Espírita da Bíblia, José Herculano Pires, Edições Correio Fraterno, 3ª edição, pp. 61/62 e 66/67.4) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, Ed. LAKE, tradução de José Herculano Pires, questão 59, pp. 69/71.5) A Gênese, Allan Kardec, Ed. LAKE, tra-dução de José Herculano Pires, cap. IX, itens 4 e 5, pp. 151/152.6) O que sabemos sobre a Bíblia?, Ariel Álvarez Valdés, Ed. Santuário, 6ª edição, pp. 15/24.

E os animais?

Conclusão

A Arca deNoé

Reprodução

s adeptos do Espiritismo se surpreendem com seu núme-Oro; e como a similitude de i-

déias inspira o desejo de aproxima-ção, procuram reunir-se e fundar so-ciedades. Assim, de toda parte nos pedem instruções a propósito... É, pois, chegado o momento de nos o-cuparmos do que se pode chamar a organização do Espiritismo. Sobre a formação das sociedades espíritas, O Livro dos Médiuns contém observa-ções importantes, às quais remete-mos os interessados, pedindo-lhes meditem com cuidado. Diariamente a experiência vem lhes confirmar a justeza, que lembraremos de modo sucinto, acrescentando instruções mais circunstanciadas.

A princípio podem trabalhar por conta própria, penetrar-se da Doutrina pela leitura e meditação das Obras Básicas; quanto mais se aprofundarem, mais verdades conso-ladoras descobrirão, confirmadas pe-la razão.

Em virtude de sua posição, tem uma bela e importante missão a cumprir: espalhar a luz em seu redor. Os que aceitarem essa missão e não se deixarem deter pelas dificuldades, serão recompensados pelo sucesso e pela satisfação de terem feito uma coisa útil. Sem dúvida encontrarão oposição; serão motivo de sarcasmos e da malevolência. Mas onde estaria o mérito se não houvessem obstácu-los a vencer?... Mas aos que têm a co-ragem de sua opinião, que estão aci-ma das mesquinhas considerações mundanas, diremos que o que tem a fazer se limita a falar abertamente do Espiritismo, sem afetação, como de uma coisa muito simples e natural,

organização do Espiritismo

Revue Spirite

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200314

sem buscar nem forçar convicções, nem fazer prosélitos a todo custo. O Espiritismo não deve ser imposto: vem-se a ele porque dele se necessi-ta, e porque ele dá o que não dão as outras filosofias.

O aumento incessante dos adeptos demonstra a impossibilidade material de construir numa cidade, sobretudo numa populosa, uma soci-edade única. Além do número, há a dificuldade das distâncias, que é obs-táculo para muitos... É necessário, pois, multiplicar os grupos... vinte grupos de quinze a vinte pessoas ob-terão mais e farão mais pela propa-ganda que uma sociedade única de quatrocentos membros. Os grupos se formam naturalmente, pela afinida-de de gostos, de sentimentos, de há-bitos.

As sociedades propriamente ditas estão sujeitas a numerosas vi-cissitudes. Mil e uma causas, depen-dentes ou não de sua vontade, po-dem conduzir à dissolução. Supo-nhamos que uma sociedade espírita tenha reunido todos os adeptos de uma mesma cidade e que, por uma circunstância qualquer, cesse de e-xistir. Eis os membros dispersos e de-sorientados. Agora, se em vez disto, houver cinqüenta grupos, se alguns desaparecem, sempre restarão ou-tros, e outros se formarão.

Admitida, em princípio, a formação dos grupos, resta o exame de várias questões importantes. A primeira é a uniformidade na Doutri-na... Quer a sociedade seja una, ou fracionada, a uniformidade será a

conseqüência natural da unidade de base, que os grupos adotarem. Ela se-rá completa em todos os que segui-rem a linha traçada por O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns. Um contém os princípios da filosofia e da ciência; o outro, as regras da par-te experimental e prática. Essas obras estão escritas com bastante clareza para não dar lugar a inter-pretações divergentes.

O segundo ponto é a consti-tuição dos grupos. Uma das primei-ras condições é a homogeneidade, sem a qual não haveria comunhão de pensamentos. Uma reunião nem po-de ser estável, nem séria, se não hou-ver simpatia entre os componentes. E não pode haver simpatia entre pes-soas que tem idéias divergentes e fa-zem uma oposição surda, quando não aberta... cada um pode e deve emitir sua opinião; mas há pessoas que discutem para impor a sua e não para esclarecer.

Em O Livro dos Médiuns tra-çamos o caráter das principais varie-dades de Espíritas.

Pode pôr-se em primeira li-nha os que acreditam pura e simples-mente nas manifestações. Para eles o Espiritismo é apenas uma ciência de observação, uma série de fatos mais ou menos curiosos; a filosofia e a moral são acessórios de que pouco se ocupam e cujo alcance não os preo-cupa. Chamamo-los Espíritas Expe-rimentadores.

Vêm a seguir os que vêem no Espiritismo algo além dos fatos. Compreendem o seu alcance filosófi-co, admiram a moral dele decorrente, mas não a praticam... A influência

Espíritas Expe-rimentadores

Allan Kardec

O que fazer na ausência de médiunse de coparticipantes do Espiritismo?O que fazer na ausência de médiunse de coparticipantes do Espiritismo?

Multiplicação dos GruposMultiplicação dos Grupos

Organização do EspiritismoOrganização do Espiritismo

Homogeneidade dos GruposHomogeneidade dos Grupos

Os Verdadeiros EspíritasOs Verdadeiros Espíritas

Uniformidade na DoutrinaUniformidade na Doutrina

Organização do EspiritismoOrganização do Espiritismo

sobre o seu caráter é insignificante ou nula; nada mudam em seus hábi-tos e não se privam de nenhum pra-zer: o avarento é sempre sovina, o orgulhoso sempre cheio de si, o inve-joso e o ciumento sempre hostis; pa-ra eles a caridade cristã é apenas uma bela máxima e os bens deste mundo os arrastam na sua estima so-bre os do futuro. São os Espíritas Imperfeitos.

Ao lado destes há outros, mais numerosos do que se pensa, que não se limitam a admirar a mo-ral espírita, mas a praticam e a acei-tam em todas as suas conseqüências. Convencidos de que a existência ter-rena é uma prova passageira, tratam de aproveitar estes curtos instantes para avançar na via do progresso, es-forçando-se por fazer o bem e repri-mir suas más inclinações; suas rela-ções são sempre seguras, porque a convicção os afasta de todo mau pensamento. Em tudo a caridade é sua regra de conduta. São os Verda-deiros Espíritas, ou melhor, os Espí-ritas Cristãos.

Daí se segue que, na forma-ção de grupos, deva exigir-se a per-feição? Seria simplesmente absurdo, pois seria querer o impossível... Ten-do por objetivo a melhora dos ho-mens, o Espiritismo não vem procu-rar os perfeitos, mas os que se esfor-çam por sê-lo, pondo em prática os ensinamentos dos Espíritos. O verda-deiro Espírita não é o que alcançou a meta, mas o que seriamente quer atingi-la. Sejam quais forem os seus antecedentes, será bom espírita des-de que reconheça suas imperfeições e seja sincero e perseverante no pro-pósito de se emendar. Para ele o Es-piritismo é a verdadeira regeneração, porque rompe com o passado; indul-gente para com os outros, como que-reria que fossem para consigo, de sua boca não sairá nenhuma palavra malévola contra ninguém.

Aquele que tem a intenção de organizar um grupo em boas con-dições deve, antes de tudo, assegu-rar-se do concurso de alguns adeptos

Espíritas Imperfeitos

Verda-deiros Espíritas Espí-ritas Cristãos

sinceros, que levam a Doutrina a sé-rio e cujo caráter conciliatório e be-nevolente seja conhecido. Formado esse núcleo, ainda que de três ou quatro pessoas, estabelecer-se-ão re-gras precisas, quer para as admis-sões, quer para a realização de ses-sões e para a ordem dos trabalhos, regras às quais os recém-vindos te-rão que se conformar. Essas regras podem sofrer modificações conforme as circunstâncias; mas umas há que são essenciais.

Sendo a unidade de princí-pios um dos pontos essenciais, ela não pode existir naqueles que, não tendo estudado, não podem ter opi-nião formada. A primeira condição a impor, se se não quiser ser distraído, a cada instante, por objeções ou per-guntas ociosas é, então, o estudo pré-vio. A segunda é uma profissão de fé categórica e uma adesão formal à doutrina de O Livro dos Espíritos, além de outras condições especiais, julgadas a propósito. Isto quanto aos membros titulares e dirigentes. Para os que buscam adquirir um pouco mais de conhecimento e convicção, pode ser-se menos rigoroso.

A ordem e a regularidade dos trabalhos são igualmente essen-ciais. Consideramos eminentemente útil a leitura de algumas passagens de O Livro dos Médiuns e de O Livro dos Espíritos. Por esse meio teremos sempre presentes à memória os prin-cípios da ciência e os meios de evitar os escolhos encontrados a cada pas-so na prática. Assim, a atenção se fi-xará sobre muitos pontos que, por vezes, escapam numa leitura parti-cular e poderão ocasionar comentá-rios e discussões instrutivas.

É incontestável que um gru-po formado nas condições indicadas funcionará com regularidade, sem entraves e de maneira frutuosa. O que um grupo pode fazer, outros também o podem. Suponhamos, en-tão, numa cidade, um número qual-quer de grupos constituídos nas mes-

Adaptado do artigo:Organização do Espiritismo - Allan Kar-dec - Revista Espírita - Dezembro de 1861, pg. 386 à 400 - Editora Cultural Espírita.

mas bases; haverá necessariamente entre eles unidade de princípios, pois seguem a mesma bandeira; união simpática, pois sua máxima é amor e caridade; numa palavra, são os mem-bros de uma mesma família, entre os quais nem haveria concorrência, nem rivalidade de amor-próprio, desde que todos animados dos mesmos sen-timentos para o bem.

Contudo, seria útil que hou-vesse entre eles um ponto de ligação, um centro de ação... Um grupo cen-tral, formado de delegados de todos os grupos, tomaria o nome de grupo diretor. Na impossibilidade de nos correspondermos com todos, com es-te teríamos relações mais diretas.

O que é possível entre os grupos de uma mesma cidade, tam-bém o é entre os grupos diretores de diversas cidades, desde quando entre eles haja comunidade de vistas e de sentimentos.

Como se vê, tudo isto é de execução muito simples; mas tudo depende do ponto de partida, isto é, da composição dos grupos primiti-vos. Se formados de bons elementos, serão outras tantas boas raízes que darão bons renovos. Se, ao contrário, forem formados de elementos hetero-gêneos e antipáticos, de Espíritas du-vidosos, mais ocupados com a forma do que com o fundo, que consideram a moral como parte acessória e se-cundária, há que esperar polêmicas irritantes e sem saída, pretensões pes-soais, embates de suscetibilidades e, em conseqüência, conflitos precurso-res da desorganização. Entre verda-deiros Espíritas, tais quais os defini-dos, que veêm o objetivo essencial do Espiritismo na moral, que é a mesma para todos, haverá sempre abnega-ção da personalidade, condescendên-cia e benevolência e, por conseguin-te, segurança e estabilidade nas rela-ções.

Reforma ÍntimaReforma Íntima

Regimento InternoRegimento Interno

União das Sociedades EspíritasUnião das Sociedades Espíritas

Disciplina e Estudo em GrupoDisciplina e Estudo em Grupo

Unidade de PrincípiosUnidade de Princípios

FidelidadESPÍRITA Janeiro 2003 15

na desencarnou e eu a estou ven-

do".

Quando a palestra termi-

nou, ela aproximou-se, estendeu-

me a mão. Aturdido e surpreso,

perguntei:

- Mas você... que houve?

- Você se lembra daquele

dia em Uberaba?

- Como poderia esquecê-lo?

- Então... três dias depois

sonhei que o Dr. Bezerra estava

no meu quarto e operava-me.

Quando acordei, meu travesseiro

estava todo manchado de sangue

e pus. Desde então, comecei a me-

lhorar e veja como sarei, disse ela

com voz embargada pela emoção.

Também eu não pude dizer

nada. Abraçamo-nos emociona-

dos e felizes.”

Dr. Bezerra

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200316

Recordando Chico Xavier

uma das vezes em que

fui a Uberaba, encon-Ntrei, muito doente, uma

grande amiga, que não via há bom

tempo.

Quando pôde conversar

com o Chico, disse-lhe que se

achava condenada. Não queria

morrer sem vê-lo e seu marido a

trouxe. Não vinha lhe pedir um

milagre. Queria apenas que orasse

para que ela tivesse serenidade na

hora da morte. Os médicos a ha-

viam desenganado.

Lembro-me das palavras

que o Chico lhe dirigiu:

- Não tem mais jeito do la-

do de cá, mas e do lado de lá? Ore

e confie. Deus nos ajudará.

O tempo passou.

Certo dia, estava falando

numa cidade, quando esta amiga

entrou um pouco atrasada. Vesti-

da de longo, branco, fez-me pen-

sar de imediato: "Meu Deus, fula- Fonte:1) Chico de Francisco - Ed. Cultura Espí-rita União - SP.

Reprodução

Julieta Closer - Campinas/SP

Curiosidades Bíblicas

V o c ê S a b i a . . .V o c ê S a b i a . . .

FidelidadESPÍRITA Janeiro 2003 17

stamos no limiar do terceiro ano do século vinte e um!EAno Novo lembra vida nova, esperanças renovadas, novos objetivos, um renascer de

sentimentos, assim, associamos esses conceitos à "semente", portadora potencial de nova vida.

A semente foi muito importante nos ensinos de Jesus, tanto que 2003 anos após, eles continuam a nos exortar à renovação íntima. Vamos saudar este novo ano, recordando as palavras de Jesus sobre as sementes.

- Na Parábola da Semente que germina por si só, Jesus explica o que

acontece com a semente lançada na terra. Marcos 4, 26-29.

- Na Parábola do Joio, Jesus conta como o homem (comparado ao Reino dos Céus)

semeou a boa semente de trigo, mas o inimigo semeou joio entre elas. Ensina que é preciso deixá-las crescerem juntas e só arrancá-las no tempo certo e, aí sim, cada uma terá a destinação certa. Mateus 13, 24-30.

- Jesus referiu-se à menor semente da Terra, o grão de mostarda, quando

comparou-a ao Reino de Deus, na Parábola do Grão de Mostarda. Marcos 4, 30-32.

- Jesus explica a Parábola do Semeador dizendo que a semente é a Palavra de Deus, que cai nos

mais diferentes solos e somente produzem as que caem em "terra boa", isto é, os que tendo ouvido com coração nobre e generoso conservam-se e produzem frutos pela perseverança. Lucas 8, 11-15.

- Apóstolo Pedro ensina em sua primeira

carta, sobre a regeneração pela Palavra, comparan-do-a à semente e explicando que “...fostes regene-rados, não de uma semente corruptível, mas incor-ruptível...". I Pedro 1, 23.

Fonte:

1) Bíblia de Jerusalém - Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus 1985.2) Bíblia Sagrada - Sociedade Bíblica do Brasil 1969.3) Bíblia Sagrada - Edição Claretiana 1998.4) Bíblia Sagrada - Imprensa Bíblica Brasileira 1971.

& &

aprendemos a fragmentar os proble-mas em suas partes menores para sa-bermos como as coisas funcionam. Esse método de análise nos permitiu realizar as grandes descobertas e usufruir as invenções que o gênio humano produziu. A produção tec-nológica tornou-se tão volumosa que criou uma sociedade totalmente dependente dela. A cultura da tec-nologia é tão eficiente que conse-guiu criar artificialmente várias “ne-cessidades” para que depois seu pro-duto seja consumido por se tornar indispensável. É bem provável que o

homem atual não consiga mais so-breviver da caça e da pesca por seu próprio esforço. Basta-nos ver, por curiosidade, que o computador, o au-tomóvel, a televisão e o celular são instrumentos totalmente incompe-tentes, tanto para caçar como para pescar.

O homem conseguiu produ-zir instrumentos que o fazem ir mais depressa, enxergar mais longe, er-guer-se às alturas, comunicar-se a qualquer distância, livrar-se de inu-meráveis perigos, destruir toda a sua espécie, revelar as sub-partículas da matéria, mas, toda essa tecnologia não resolveu suas contradições, seu vazio interior, sua falta de paz, sua incerteza diante do amanhã e ainda não sabe responder que partícula cri-ou a vida, o que é a sua consciência, de que é feita a sua mente e qual é o destino que a evolução lhe reserva. A Ciência ainda não se convenceu de que ela não é o único ponto de vista capaz de explicar nossa pre-sença no mundo.

Nossa participação nos sei-os das Religiões foi também mescla-da de ganhos expressivos ao lado de

Ciência & Prof. Dr.º Nubor Orlando Facure - Campinas/SPExclusivo para FidelidadESPÍRITA.

“Saiba para acreditar e creia para compreender” Santo Agostinho.

Capa

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200318

relação entre Ciência e Reli-gião no decurso da história Ahumana esteve sempre cheia

de contradição e conflitos. Dos dois lados ocorreram proposições e dis-putas irreconciliáveis. A Ciência es-tabelece sua Verdade particular e não arreda o pé do que estabelece como Lei. A maioria das Religiões decretam dogmas e se recusam a re-pensar as contradições que eles evi-denciam. As Religiões institucionais chegaram a perturbar o desenvolvi-mento científico por séculos e, não raramente, destruíram suas obras, perseguiram ou eliminaram os per-sonagens que ousaram contestar seu poder.

Por outro lado, representan-tes da Ciência, postulando princípios materialistas, estão atrasando a Hu-manidade e comprometendo seu de-senvolvimento espiritual não sabe-mos por quanto tempo ainda.

O caminhar da Ciência nos permitiu acumular conhecimentos a partir da observação e da experiên-cia que a inteligência humana soube utilizar para compreendermos o mundo. Com nossa inteligência

Reprodução

Aristóteles

Rep

roduçã

o

400 livros. Conta-se, que Aristóteles dispunha de mais de mil auxiliares que coletavam as espécies de plantas e animais que colecionava para des-crever. Com esse material ele elabo-rou uma “escala da natureza” na qual estabeleceu uma hierarquia

destacando o Homem como um ser superior e os outros animais ocu-pando um nível inferior na escala. Aristóteles admitia a geração espon-tânea para certos animais, como os peixes que se desenvolviam nas po-ças d'água resultantes da seca do Rio Nilo. Esses dois princípios, o da hie-rarquia colocando o Homem no topo das criaturas e o da geração espon-tânea, estavam bem de acordo com o modelo criacionista de referência bí-blica defendido pela Igreja. Aristóteles considerava que todo o nosso conhecimento tinha de ser percebido previamente pelos sen-tidos. Não haveria conhecimento inato, o saber tinha de ser produzido pela observação. Este método deu certo na Biologia, enquanto, na Físi-ca, por não utilizar a comprovação experimental, as opiniões de Aristó-

retrocessos inconseqüentes. Os prin-cípios que deveriam libertar nossa consciência foram usados para es-cravizar e oprimir. Enquanto a Ciên-cia se enriquecia com as descober-tas, as Religiões se construíam com as “revelações”. Os métodos de uma não se harmonizavam com os da ou-tra. Era temerário especular usando a força da experimentação, contra qualquer uma das “verdades” defen-didas pela fé. Mesmo que fosse visí-vel o absurdo ou a contradição.

Por outro lado, embora re-jeitando toda mudança de paradig-ma que em diversas ocasiões a Ciên-cia propunha, a “Religião” ainda ho-je, tenta se valer da assinatura da “confirmação científica” para acei-tação maior dos fatos que pressupõe representar seus “milagres”. É a con-tradição da fé, quando ela não tem bases racionais.

A Ciência pressupõe que pa-ra todo efeito existe uma causa e que esta pode ser constatada pelas suas formulações racionais ou experi-mentais. A Filosofia, por outro lado, abre um leque de discussões envol-vendo múltiplas interpretações que podem apresentar cada uma, a ver-são da sua “verdade” particular. Não

é de se estranhar, portanto, que as instituições religiosas tivessem mais facilidade em harmonizarem-se com o saber filosófico, escolhido confor-me a conveniência da ocasião. O co-nhecimento científico exige, conti-nuamente, mudanças de interpreta-ção e nos choca com os seus avan-ços, irritando o espírito conservador das igrejas humanas.

A nossa História não tem re-gistros suficientes sobre o conteúdo das Religiões de inúmeros povos que na Antigüidade floresceram na gló-ria das suas conquistas e desapare-ceram deixando pouco mais que tra-ços nas ruínas dos seus Templos sa-grados. Por isso, a cultura ocidental que nos instrui, está fortemente im-pregnada apenas da herança que os sábios da Grécia antiga nos deixa-ram. Vale a pena revermos alguns trechos desta filosofia que oportu-namente serviu de apoio para posi-ções dogmáticas da Igreja, por mais de um milênio.

o campo da Nbiologia, Aris-tóteles fez descrições extraordinárias, acre-

dita-se que tenha escrito mais de

Religião

A Religião e a Filosofia

FidelidadESPÍRITA Janeiro 2003 19

O nó górdio a serdesatado agorapela Ciência é o

seu encontro coma consciência.

O nó górdio a serdesatado agorapela Ciência é o

seu encontro coma consciência.

Galeno

Rep

roduçã

o

A Teoria da Evoluçãodas Espécies não écapaz de resolver

o dilema daorigem da vida.

A Teoria da Evoluçãodas Espécies não écapaz de resolver

o dilema daorigem da vida.

teles, podem ser vistas hoje, como desapontadoras. Mesmo assim, elas dominaram o cenário cultural de to-da a Idade Média prestando-se ade-quadamente aos propósitos da Igre-ja.

Aristóteles aceitava a idéia vigente de que a Terra, o Ar, o Fogo e a Água constituíam os elementos primitivos a partir dos quais todos os outros derivavam. Ele seguia an-tigas escolas filosóficas que admi-tiam que as propriedades das coisas podiam ser explicadas em termos de serem secas, quentes, úmidas ou fri-as. Este conceito produziu intensa repercussão na Medicina da época que relacionava as doenças com es-tas mesmas propriedades.

Para Aristóteles, o céu era feito de elementos que não muda-vam nunca. Este céu estável e confi-gurado com um material divino era muito adequado à doutrina da Igreja que pregava a existência de um céu onde a felicidade seria gozada pela eternidade. Quando Giordano Bru-no, um sacerdote italiano, passou a ensinar para seus alunos que tudo o que existe provém de uma “substân-cia única”, ele foi afastado de suas funções, aprisionado por quase uma década e queimado vivo em praça pública pelas chamas da Inquisição.

Aristóteles admitia, tam-bém, que os astros do firmamento realizavam um movimento circular ao descreverem suas órbitas. O cír-culo era tido por ele como a figura perfeita. Estando o céu e o movi-mento circular ligados à perfeição, não é de se estranhar a grande difi-culdade que tiveram Nicolau Copér-nico e Galileu Galilei para renun-

ciarem à idéia de uma órbita circular para os astros que povoavam este céu, manifestando a perfeição de seu Criador.

Quando Johannes Kepler, em 1618, publicou seu trabalho so-bre o “movimento planetário” com-provando as órbitas elípticas para os planetas, ele estava desfazendo par-te de um gigantesco edifício no qual a Igreja se sustentava. Por causa dis-so, Kepler acreditava que seu livro jamais seria lido ao trocar os círcu-los pelas elipses. Ele teria dito que talvez esperasse um século por um leitor, assim como Deus esperou 6 mil anos (idade presumida para a Terra nessa ocasião) por um obser-vador. É extremamente curioso o re-lato de Kepler quando descreveu que para compreender a órbita elíptica de Marte, dizia que se sentia trans-portado para o espaço, numa posi-ção privilegiada, que lhe permitia vislumbrar a posição do Sol e a tra-jetória de Marte em relação à Terra e ao Sol. Situado na Terra, o observa-dor tem a impressão de ver os plane-tas indo ora para frente ora para trás. Muitos de nós já vivemos uma experiência muito ilustrativa para compreendermos o que relatou Ke-pler. Quem está dentro de um trem veloz que ultrapassa outro mais len-to tem a impressão de que o trem que ficou para trás está se afastando de marcha ré. Só um observador que se situasse do lado de fora veria os dois trens indo à mesma direção em-bora com velocidades diferentes. Essa foi a posição de Kepler desloca-do para o espaço sideral observando a Terra e Marte contornando o sol com velocidades diferentes. Talvez esse seja um belíssimo exemplo de desdobramento espiritual produzin-do ciência.

Na doutrina aristotélica, os astros no céu seriam invariáveis e os objetos situados abaixo da lua sofre-riam suas mudanças a partir de “ten-

dência” que lhes são características. Assim, a “tendência” do fogo é su-bir, da água é descer e ficar na su-perfície da Terra e o ar tende a ficar acima da Terra e abaixo do fogo.

Observando a queda de uma pedra e de uma folha, Aristóteles afirmava, sem testes práticos, que um objeto duas vezes mais pesado que outro cai duas vezes mais de-pressa que o mais leve. Ele não fez qualquer referência a uma possível força que pudesse agir atraindo os objetos. Uma pedra jogada para ci-ma voltaria para a Terra por estar presa a ela por um fluido ou éter.

Os movimentos das marés eram atribuídos à “tendência” da água em se acomodar sobre a Terra. Foi só depois que Newton nos reve-lou a força da gravidade que este fe-nômeno foi esclarecido. Kepler acre-ditava na existência de forças mag-néticas que atuariam produzindo o movimento do mar. Galileu tentou convencer ao Papa Urbano VIII de que o vai-vem das marés era provo-cado pelo movimento de rotação da Terra. Mas, o Papa insistia com Gali-leu, que os movimentos das marés ocorriam porque Deus tinha poderes para querer que as águas se moves-sem assim.

inguém exerceu Ninfluência na Medicina tão mar-cante e duradoura

quanto Galeno. Ele trabalhou em Roma entre o primeiro e o segundo

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200320

Moisés, Jesus e Kardec:coube a eles a missãode trazer a verdadeira

interpretação daReligião e da Ciência.

Moisés, Jesus e Kardec:coube a eles a missãode trazer a verdadeira

interpretação daReligião e da Ciência.

GalileuRep

roduçã

o

das células. A idéia de um ser imate-rial para processar a vida foi grada-tivamente escorraçada da Medicina. A Ciência, quando “matou” a Alma, afastou-se definitivamente da Reli-gião.

contribuição de AGalileu foi tão inovadora que o que chamamos hoje de

Ciência, pode-se dizer que se ini-ciou com os seus trabalhos. Ele in-troduziu a matemática na interpre-tação dos fenômenos físicos e ini-ciou a experimentação como méto-do de estudo na observação desses fenômenos. Conseguiu interpretar corretamente as Leis do movimento e da queda dos corpos, surpreenden-do a observação corriqueira quando provou que os corpos caem com a mesma velocidade independente do seu peso. Aquela pedra e aquela fo-lha que Aristóteles viu caírem em tempos diferentes teriam caído ao chão, com a mesma velocidade sob o controle experimental de Galileu.

Observando o balançar do candelabro da igreja que freqüenta-va, Galileu, conseguiu imaginar a construção de um pêndulo para me-dir o tempo com a precisão que as suas experiências exigiam. Reduzin-do o atrito no corrimão da escada de sua casa conseguia fazer deslizar os objetos que lhe permitiam medir o tempo com uma interferência menor sobre o movimento de queda.

Galileu envolveu-se numa

século da era cristã e seus livros fo-ram seguidos à risca por toda a Ida-de Média. Não resta dúvida de que sua maneira de ver os fenômenos clínicos e sua capacidade de relatar a anatomia e experimentar com a fi-siologia dos animais era um avanço extraordinário para a época. Os prin-cípios que admitia para explicar o funcionamento do organismo in-cluíam a existência de um “espírito” vital, situado no coração e que man-tinha a vida. Este princípio seguia pela circulação até ao cérebro onde se transformava em “espírito” ani-mal que nos permitiria perceber as sensações e elaborar os movimentos do corpo. E, finalmente, o “espírito” natural, situado no fígado que reali-zava a transformação dos alimentos e a produção do sangue.

A existência de elementos imateriais, os “espíritos” ou “pneu-mas” no dizer de Galeno, que manti-nham a vida e dominavam nossas sensações e movimentos era aprova-da e estimulada pelo pensamento da Igreja Medieval. Era a Alma, este ser “espiritual” que nos representa, quem administrava nosso livre-arbítrio permitindo as sensações e os movimentos.

Existiam inúmeros erros nas interpretações e nas descrições ana-tômicas, constantes nos tratados de Galeno. Eles só foram corrigidos, gradativamente, e muito cautelosa-mente, no início do Renascimento, às custas do sacrifício da própria vi-da de abnegados estudiosos que ou-saram desafiar o peso do poder que a Inquisição exercia na época. O vita-lismo implícito nos “espíritos” de Galeno foi aos poucos perdendo es-paço para os “mecanicistas”, cujas experiências foram revelando o fun-cionamento do organismo através da química da digestão, das trocas gasosas na respiração, dos impulsos nervosos que produziam o movi-mento e do metabolismo no interior

contenda histórica com o Papa Urba-no VIII ao publicar o seu Diálogo so-bre os dois sistemas do mundo. Nes-se livro, Galileu defendia e compro-vava com argumentos irrefutáveis que o Sol ocupava uma posição cen-tral, enquanto a Terra e os seis pla-netas conhecidos giravam em torno dele.

A teoria heliocêntrica fora defendida por Nicolau Copérnico quase um século antes. A Revolução dos Corpos Celestes, publicada por Copérnico, teve pouca divulgação por ter sido redigida em latim, que já vinha caindo em desuso. Sua maior repercussão talvez se deva às críticas atribuídas a Martinho Lutero que di-zia que “este tolo vai subverter toda a arte da Astronomia”. Outros dizi-am que Copérnico “queria por o mundo de cabeça para baixo”.

O céu de Ptolomeu que pre-valeceu até as descobertas de Gali-leu, tinha plena aceitação pela Igreja por estabelecer os princípios aristo-télicos da invariabilidade do mundo dos astros acima da lua e a perfeição das órbitas circulares, mais condi-zentes com a suprema perfeição de Deus.

Provocar uma rotura na dis-posição dos astros retirando a Terra do centro do Universo e imobilizan-do o Sol, provocava um confronto com as afirmações bíblicas que des-creviam nos Salmos a trajetória do Sol de um extremo ao outro no fir-mamento “sua ascensão principia em um dos extremos do céu, e seu percurso vai até ao outro” (Salmo 19).

FidelidadESPÍRITA Janeiro 2003 21

O choque cultural doRenascimento separandoCiência de Religião

O paradoxo de Newton:as Leis que afastarammais ainda a Ciência

da Religião foramdescobertas por um

homem extremamentereligioso.

O paradoxo de Newton:as Leis que afastarammais ainda a Ciência

da Religião foramdescobertas por um

homem extremamentereligioso.

Isaac Newton

Rep

roduçã

o

René DescartesRep

roduçã

o

Nem Copérnico nem Galileu estudaram corretamente as órbitas dos planetas e permaneceram admi-tindo a órbita circular em suas traje-tórias. Incluir mais este atrito com a Igreja talvez não fosse suportado pe-lo arrojo e o temor desses revolucio-nários da Ciência.

Galileu construiu, engenho-samente, um telescópio rudimentar que lhe permitiu identificar a pre-sença de luas em torno de Júpiter, que por não terem sido descritas por Aristóteles, suas existências não eram admitidas pela Igreja. Para a época seria inadmissível, também, observar mais de um movimento re-lacionado com um único astro. Mas, o olhar aguçado de Galileu lhe per-mitiu determinar o tempo da órbita da lua de Júpiter e comprovar o a-fastamento e a aproximação do pla-neta e suas luas em relação ao Sol. Para que isso acontecesse era indis-pensável admitir-se a posição cen-tral do Sol, com os planetas girando à sua volta.

O telescópio de Galileu lhe permitiu ver as montanhas e crate-ras da Lua, sugerindo que ela não se-ria tão homogênea como exigia o céu de Aristóteles e de Ptolomeu.

Defendendo a Teoria Helio-cêntrica, os movimentos das luas de Júpiter, as irregularidades do mundo lunar e os movimentos das marés, Galileu se colocava em pé de guerra com os dogmas fundamentais da Igreja. As pressões de um tribunal sob as ordens de Urbano VIII fize-ram o sábio abdicar às suas idéias, mas, já não havia mais condições pa-ra que essas comprovações fossem desmentidas e sua força renovadora

se espalhou por toda a Europa, e des-de então começou a ruir a opressão da Religião sobre a Ciência.

ste grande Efilósofo francês, mesmo sabendo das ameaças que paira-

vam sobre Galileu, foi capaz de fazer o mundo pensar uma Ciência inde-pendente das limitações exercidas pelo poder religioso da época. Não realizou a ciência pela observação ou pela experiência como Galileu, René Descartes, utilizando-se do in-telecto, criou no seu “Discurso do Método” as condições para se produ-zir Ciência. A partir da suposição de poder duvidar para depois compro-var, ele elaborou o seu princípio fun-damental: “penso, logo existo”. A partir daí, enunciou a divisão do mundo em dois domínios: o das “coisas físicas” e o das “coisas men-tais”. Dentro deste quadro ele esta-beleceu a separação entre o corpo e a Alma, o Espírito e a matéria.

Essa dicotomia liberou aos poucos a possibilidade de se estudar o corpo humano nas mesas de ne-cropsias. A heresia de se mutilar o corpo e comprometer sua ressurrei-ção no final dos tempos estava ame-nizada.

Ao expor o funcionamento do corpo humano, Descartes não descartou o pensamento dominante na época, que exigia a existência da Alma para governar suas funções. Ele imaginava que essa Alma se lo-calizava na glândula pineal devido a sua situação no meio do cérebro, permitindo a integração das nossas percepções realizadas à esquerda e à direita dos nossos sentidos.

Descartes deu grande im-portância e independência ao nosso cérebro onde ele dizia ocorrer a per-

cepção da dor que trafegava pelos nervos a partir da nossa pele. Essa idéia revolucionária dava à Igreja a impressão de que Descartes estava eliminando a necessidade da presen-ça da Alma na interpretação das nossas sensações. Para a publicação do seu livro sobre o Homem, o filó-sofo instruiu ao seu editor que o fi-zesse doze anos após a sua morte, procurando evitar atritos com a au-toridade Papal.

om 23 anos de Cidade e um raci-ocínio mental bri-lhante, o jovem New-

ton começou a descobrir as Leis fun-damentais da natureza num período em que foi obrigado a permanecer na fazenda de sua mãe. Ele conse-guiu reunir em 3 princípios funda-mentais, toda uma série de fenôme-nos físicos que, até então, não apa-rentavam ter ligações entre si. Com as leis da inércia, dos movimentos acelerados e da atração das massas provocada pela gravidade, Newton conseguiu revelar o segredo da osci-lação dos pêndulos, o fluxo e o re-fluxo das marés, o movimento dos planetas e o mitológico fenômeno da queda da maçã.

Estudando a luz através de um prisma ele conseguiu desdobrar a luz branca revelando a somatória de cores que a compõem. Newton afirmava que a luz se propagava às custas de corpúsculos que se movi-mentavam pelo espaço.

As leis do movimento e a mecânica dos astros revelada por Newton, o faziam supor que o Uni-verso podia ser visto como um reló-gio inteligentemente criado por Deus. Ao lado de um pensador ex-traordinário, Newton mantinha um comportamento religioso conscien-

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200322

O mundo quânticoabriu o conhecimentohumano para além dafronteira da realidadematerial que nos toca.

O mundo quânticoabriu o conhecimentohumano para além dafronteira da realidadematerial que nos toca.

São inúmeros os nomes que deveriam constar na criação dos pa-radigmas da Ciência na atualidade. Indiscutivelmente, Einstein e Max Planc seriam os primeiros da lista. A Teoria da Relatividade e a Física Quântica produziram uma revolução estrondosa na interpretação do Uni-verso. Seria muito extensa a lista de produções tecnológicas desencadea-das pelas duas Teorias e nosso pro-pósito é deixar registradas algumas das contribuições que elas produzi-ram no pensamento humano e sua interação com o mundo que nos cer-ca.

Algumas revelações dos fe-nômenos quânticos chegam a pro-vocar espanto pela sua enorme apro-ximação com os fenômenos trans-cendentes que os místicos de todas as épocas têm descrito em suas ex-periências.

A física quântica é extrema-mente complexa e sua compreensão muito difícil, mesmo assim, com o uso de metáforas ilustrativas, os seus princípios têm sido traduzidos para uma linguagem que o leigo vem assimilando cada vez mais. De qualquer forma, o mundo quântico abriu o conhecimento humano para além da fronteira da realidade mate-rial que nos toca. Desde então, essa solidez que aparenta existir nos fe-nômenos físicos que observamos, só se concretiza com a participação da nossa consciência. Os fenômenos da nossa realidade material só existem às custas do colapso que nossa onda mental faz ocorrer na energia que dá substrato a essa matéria.

Nosso mundo é por sua pró-pria natureza, indeterminado e é nossa mente quem faz as opções pa-ra a forma com que ele se expresse. Isso nos leva a imaginar a possibili-dade de existirem outras opções,

te, recusando-se a aceitar o dogma da “santíssima trindade”, vigente na Igreja, e mantinha envolvimento com a alquimia e a astrologia que beiravam o misticismo.

Newton chegou a revelar preocupação com o dilema da Cria-ção. Imaginava a possibilidade de Deus ter criado o Universo, e ter da-do corda no relógio, produzindo o movimento dos astros. A partir daí, corria-se o risco da Sua presença tornar-se desnecessária. Ele acredi-tava que se Deus deu a corda no re-lógio, ele deverá funcionar com per-feição não sendo necessárias as nos-sas preces para pedir qualquer mu-dança nas nossas vidas. Conjeturava Newton, que certas irregularidades observadas nos movimentos dos pla-netas poderiam fazer o sistema solar sair do eixo. Estava, porém, seguro de que Deus, interviria e poria as coi-sas novamente em ordem. Observa-se, portanto, a mente de um homem genial envolvida com um conflito de religiosidade artificial e pequena.

As descobertas de Newton não acrescentaram qualquer outro cisma de maior importância com a Igreja, como ocorrera com Giordano Bruno, Galileu e Descartes. A Ciên-cia, no entanto, enriqueceu-se com os conhecimentos das leis físicas que regem os fenômenos fundamen-tais do Universo e fazia-se, a partir de então, dispensável, o enigma da Criação e o dedo de Deus para por o Universo em funcionamento. Para-doxalmente, essas Leis, que afasta-ram mais ainda a Ciência da Reli-gião, foram descobertas por um ho-mem extremamente religioso.

portanto, outras realidades ou fa-lando mais amplamente, admite-se existirem outros Universos para além do que nós expressamos como real.

No jogo de cara ou coroa, só quando a moeda cai no chão é que fica determinado quem foi que ga-nhou. Nosso Universo real é prede-terminado pela nossa mente, já exis-tia antes de se expressar como tal de uma maneira indeterminada, assim como a moeda enquanto girava cara ou coroa caindo pelo ar. Esse princí-pio nos permite afirmar que nós não procedemos do nada, sendo obriga-tória a existência de um Universo in-determinado antes de nós.

Segundo o princípio da in-certeza, só podemos medir isolada-mente a velocidade ou a localização de uma partícula subatômica. Nunca as duas medidas podem ser proces-sadas simultaneamente. Quando de-cidimos por um tipo de experimento que nos informa uma das medidas, estaremos fixando a partir daí, toda uma série de eventos que resultam da opção que fizemos. Este e outros princípios quânticos sugerem que ao fazermos determinadas escolhas fi-camos comprometidos com os even-tos futuros que essa escolha deter-mina. Em termos comportamentais podemos dizer que nosso futuro está previamente escrito pelas escolhas

Max Planc

Rep

roduçã

o

Um dos expoentesda Ciência

moderna

FidelidadESPÍRITA Janeiro 2003 23

A Ciência moderna

Com o Discurso doMétodo, Descartescriou as condições

para se produzirCiência

Com o Discurso doMétodo, Descartescriou as condições

para se produzirCiência

Algumas revelaçõesdos fenômenos

quânticos provocamespanto pela aproximação

com os fenômenostranscendentes.

Algumas revelaçõesdos fenômenos

quânticos provocamespanto pela aproximação

com os fenômenostranscendentes.

que fizermos no presente.Fica muito claro que a física

quântica, queiram ou não os materi-alistas, trouxe uma nova leitura do espírito humano. Ela é muito próxi-ma dos textos espiritualistas trans-mitidos há milênios. O nó górdio a ser desatado agora pela Ciência é o seu encontro com a consciência, não em termos filosóficos ou teológicos, mas, como figurante no palco de to-dos os fenômenos que a vida nos faz testemunhar.

vida é o Afenômeno mais complexo que existe no Universo. Apesar

disso, o texto bíblico que descreve a sua origem, optou por um simbolis-mo de uma simplicidade poética en-cantadora. Os Gêneses fizeram de Deus um oleiro, que usou o barro da Terra e dele fez o Homem. Soprou o seu Hálito em suas narinas e lhe deu a vida. Podemos ver aí que a nossa carne provém da própria Terra, mas, o Espírito é um “sopro” divino.

A idéia de uma criação pronta e acabada, determinada por decisão de um Supremo Criador predominou no pensamento domi-nante até 1859 quando Charles Dar-win publicou a Evolução das Espé-cies. Agora foi a vez do homem ser retirado do centro da criação para dar lugar a uma seqüência de trans-formações que vão fazer sobreviver as espécies melhor adaptadas.

Em 1860, o palco da Uni-versidade de Oxford serviu de arena

para o grande debate entre os criaci-onistas e os evolucionistas. A re-jeição principal da Igreja era admitir nossa ligação de parentesco tão ínti-ma com os macacos. Esse debate até hoje ainda não se pode dar por en-cerrado. O pensamento retrógrado de alguns clérigos continua re-jeitando a evolução como princípio fundamental para a compreensão do mundo e a vida que o povoou de for-mas tão diversificadas.

Convém registrar que a Teo-ria da Evolução das Espécies, embo-ra nos esclareça o porquê da diversi-dade nas expressões da vida, não é capaz de resolver o dilema da sua origem. Darwin, nas suas anotações, sugere que a vida foi “inicialmente infundida pelo Criador em algumas formas, ou em uma única”. Sua grande dúvida era o processo de co-mo se realizariam as variações e mo-dificações nos organismos para sub-seqüentemente sobreviverem às transformações mais bem adapta-das. Embora existisse nos estúdios de Darwin um exemplar do artigo de Mendel, publicado em 1865, talvez ele não o tenha lido ou como tantos outros, não conseguiu perceber o nascimento da genética e as varia-ções produzidas pelas mutações que Mendel tinha revelado nos cruza-mentos das ervilhas do jardim do seu mosteiro.

Na Ciência de hoje, duas no-vas Teorias estão contribuindo para o esclarecimento da origem da vida. A Teoria do Caos e da Complexidade que sugerem que pequenos eventos caóticos, conforme o tempo e o local em que ocorrem, podem desenca-dear fenômenos complexos organi-

zados. Uma boa metáfora que nos ajuda a compreender esse fenômeno é, por exemplo, o bater de asas de uma borboleta movimentando as moléculas de ar que poderiam pro-duzir uma grande tempestade.

A vida funciona como um sistema aparentemente fechado para produção entrópica de energia. Na Teoria da Complexidade admite-se que um sistema fechado, que tende a se expandir de forma anárquica, de-sorganizada, em sendo um sistema complexo, pode se auto-organizar. Um exemplo que nos permite com-preender esse fenômeno pode ser visto quando colocamos água para ferver em um vasilhame de vidro. No início, a temperatura aumenta e faz vaporizar de maneira anárquica as moléculas de água que começam a subir. A seguir poderemos ver a água se aderindo nas paredes do re-cipiente fechado, formando de ma-neira organizada inúmeras gotículas na tampa do vasilhame. Assim, pres-supõem-se que o material orgânico representado pelo carbono, nitrogê-nio e oxigênio foi submetido a uma determinada energia que a partir de um princípio de aparente desorgani-zação o fez sediar a vida. Resta aos cientistas identificarem quais foram e qual a natureza das forças que pro-duziram essas transformações.

De maneira surpreendente, vários cientistas têm percebido que os enunciados da física moderna, es-tão revelando um caminho conver-gente entre suas proposições e os en-sinamentos dos místicos, do antigo Egito, da China e da Índia. Os co-nhecimentos milenares dos sábios da Antigüidade procedem da inspi-ração que o contato com a espiritua-

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200324

A Sabedoria Antiga ea Nova Física

Charles Darwin

Rep

roduçã

o

A Origem da Vida ea Evolução das Espécies

Nosso futuro estápreviamente escrito

pelas escolhas que fizermosno presente

Nosso futuro estápreviamente escrito

pelas escolhas que fizermosno presente

Allan Kardec Rep

roduçã

o

Coube a ele a

tarefa de Codificar

a Doutrina Espírita

lidade lhes permitia desenvolver. Ainda temos muitos segredos a des-vendar dentro destes textos que o futuro deverá nos esclarecer. Os que já podemos confrontar nos dias de hoje, conseguem revelar uma ante-cipação extraordinária no conheci-mento do mundo e as forças que nos dirigem.

Além de um saber profundo, esses textos expressam uma simpli-cidade poética insuperável.

Diziam os místicos:“Tudo está em tudo”. “Tudo

é movimento”. “Toda partícula con-tém a história do Universo”. “Cortar uma folha abala uma estrela”. “Tudo é um”. “O Cosmo está no Homem”. “O semelhante cura o semelhante”. “O não visto é o visível próximo”.

Estão aí, registrados, os princípios quânticos que revelam a importância do homem na observa-ção dos fenômenos, o movimento incessante dos átomos, o plasma quântico que nos une a todos, a in-terferência que uma vibração pro-duz na outra, a certeza de que o va-zio e o nada não existem e de que tu-do no Universo provém de uma só origem primitiva.

Nem todos aceitam a seme-lhança que existe nos dois enuncia-dos. Para alguns, é visível que esta-mos abrindo um vastíssimo campo de observação que vai nos por dian-te das realidades espirituais.

Os Espíritos deram destaque às três grandes revelações enuncia-das para a Humanidade. Foram ex-pressas por Moisés, Jesus Cristo e Allan Kardec. Moisés expulsou os adoradores do bezerro de ouro, Jesus polemizou com os Doutores da Lei e disse que seus ensinos não seriam compreendidos pelos sábios e Kar-dec diz que o Espiritismo não é do

domínio da Ciência. Temos que com-preender que esses três missionários nos vieram trazer a verdadeira inter-pretação para a Religião e para a Ciência.

Pretendemos nos limitar apenas a Allan Kardec para dar des-taque às novas feições que Kardec expôs nestes dois domínios.

Na Religião destacamos:

O Espiritismo não constitui uma instituição religiosa e nem criou

Templos ou Igrejas onde ele possa ser cultuado;

Não existe hierarquia entre os seus membros e nem sacerdotes

ou autoridade que o possa represen-tar;

Seu conhecimento não se estru-tura em dogmas de qualquer es-

pécie;Não tem indulgências para se-rem distribuídas ou negociadas;Ninguém ocupa ou representa o lugar de Deus;Suas atividades não admitem ri-tuais, liturgias ou sacramentos;Nenhum objeto material tem qualquer valor abençoado ou sa-

grado, nem existem lugares privile-giados com o título de santuário.

Entre seus postulados cien-tíficos destacamos para nosso estu-do:

O ser humano é constituído de corpo, Alma e perispírito;

A reencarnação possibilita a continuidade da nossa evolução

espiritual;Os Espíritos desencarnados se comunicam a todo instante co-

nosco através da mediunidade;A comunicação se processa atra-vés da sintonia mental;Tudo que existe no Universo provém de uma substância pri-

mordial chamada Fluido Cósmico Universal;

O Espírito por sua vontade pode circular pelo passado e pelo fu-

turo;Os Espíritos não precisam da luz para enxergar. Eles vêem pela

vibração que todo objeto irradia;O Espírito imprime suas vibra-ções nos objetos que examina.

Cada um de nós traz na per-sonalidade as experiências de múlti-plas vidas que percorreu.

As Revelações

FidelidadESPÍRITA Janeiro 2003 25

O articulista é médico, formado pela Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, em Uberaba. Fez especialização em Neurologia e Neurocirurgia no Hospital das Clínicas da Uni-versidade de São Paulo. Lecionou na Faculdade de Medicina de Campinas UNICAMP - durante 30 anos, onde fez doutorado, livre-docência e tor-nou-se professor titular. Fundador do Instituto do Cérebro em Campinas, em 1987, tendo ultra-passado a marca de 100.000 pacientes neurológi-cos registrados em sua clínica particular. Além disso, é espírita sobejamente conhecido, respeita-do e querido dentro e fora do nosso movimento.

Seus artigos guardam, sempre, absoluta Fideli-

dadESPÍRITA.

oi em 1989. Meu pai, Primo Côva, havia desencarnado há Fmais ou menos três anos. Mi-

nha mãe, Elvira Fanger, morava so-zinha num apartamento próximo ao Bosque dos Jequitibás em Cam-pinas/SP. Havíamos combinado ir-mos juntas à cidade comprar avia-mentos de costura. Como a manhã estava fria resolvemos caminhar e dispensamos a condução.

Conversando sobre diver-sos assuntos, chegamos à pequena loja de armarinhos onde meu pai sempre comprava os aviamentos, posto que fora alfaiate. Fizemos as compras e tomamos o caminho de volta.

Ao passarmos pelo Largo do Pará, no centro da cidade, ma-mãe quis sentar-se um pouco para descansar. Ali, começou a recordar-se do tempo em que, aos sábados à tarde, vinha comigo àquela praça para esperarmos papai que chegava de bonde do trabalho. (Eu era bem pequena e não me lembro disso). Naquela época morávamos na rua Francisco Glicério, hoje avenida, poucos metros acima do local.

Em meio à conversa, ma-mãe indagou:

- Como será que está seu pai?

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200326

E eu respondi prontamente:- Acho que está muito bem,

porque foi um bom homem, conhe-cia a Doutrina Espírita que esclare-ce e prepara para o evento da mor-te. E o assunto encerrou-se.

Fomos para casa, ela pri-meiro, eu em seguida e esquecemos aquela conversa.

No dia seguinte, quinta fei-ra, como de costume, fomos ao Cen-tro Espírita “Allan Kardec”, que fre-qüento desde menina. Enquanto eu participava da reunião mediúnica, minha mãe assistia às preleções de preparação para os passes e depois me aguardava no corredor.

O trabalho do qual eu parti-cipava como dialogadora era dirigi-do por d. Nina Ortolan, senhora muito querida e mãe de duas gran-des amigas, a Marcília Ortolan e a Marília Ortolan Oliveira, esta últi-ma, casada com outro grande ami-go, o Léo Ferrer Oliveira, que tam-bém participava do trabalho como médium.

Naquela noite, no decorrer da reunião, percebi que o Léo cho-rava mansamente, por isso me a-proximei para atender a entidade que lhe provocava emoção. Ele me deu sinal de que não conseguia fa-lar e pediu papel para escrever. Per-

cebi que escreveu pouco, dobrou a folha e ao final da reunião entre-gou-me. Qual não foi a minha sur-presa ao ler o seguinte recado:

- “Filha, diga a todos que estou muito bem. Seu Pai”.

Depois, o Léo me explicou que meu pai desejava conversar co-migo mas que ele, Léo, não conse-guiu falar preso de grande emoção por ter visto o meu progenitor. No entanto, a resposta à pergunta feita por minha mãe, no dia anterior, chegou-lhe às mãos rapidamente, o que nos deu grande alegria e con-forto.

Hoje, treze anos depois des-se dia e um ano após a desencarna-ção de minha mãe, tenho a certeza de que ambos estão juntos e muito bem no plano espiritual.

O Espírito de Papai nos Acompanhava

Encaminhe para a redação fatos espíritas como esse, absolutamente verídicos. Envie no-me, telefone e endereço completos, estando disponível para eventual encontro com a reda-ção. Após análise publicaremos seu caso na coluna: “Aconteceu Comigo”. Ressaltamos, ainda, que as histórias serão, após doação au-toral, de propriedade exclusiva dessa revista.

Nosso endereço: R. Luis Silvério, 120, Vl. Marieta, Campinas/SP, CEP 13043-330.

Nota da redação:O editor garante a veracidade dessa história.

ComigoACONTECEU

Julieta Côva Checchia - Campinas/SP

O Elemento de SustentaçãoValorizando

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200327

s reuniões mediúnicas não são constituídas ape-Anas de dirigente, médiuns

ostensivos e dialogadores. Outros companheiros, sem mediunidade ostensiva, também participam dos grupos mediúnicos e são comu-mente conhecidos como “elemen-tos de sustentação” ou “elementos de apoio”. Como a denominação bem retrata, tais companheiros têm a nobre função de serem as “colunas”, os “sustentáculos” do serviço mediúnico; são aqueles que oferecem vibrações amorosas para que os amigos espirituais possam utilizá-las no consolo de espíritos em dificuldades e no re-fazimento dos médiuns, que po-dem se desgastar durante o inter-câmbio mediúnico.

Podemos denominar o “elemento de sustentação” com as palavras do ilustre pesquisador e escritor espírita, Hermínio C. Mi-randa, como o “dínamo de vibra-ções amorosas”.

As incumbências desses dedicados tarefeiros não param aí, devemos considerar que muitos podem estar sendo experimenta-dos pela providência Divina, para o desenvolvimento de outras tare-fas; pode ser que através dessa

“elemen-tos de sustentação” “elementos de apoio”

“elemento de sustentação”

função, aparentemente apagada e sem importância, companheiros estejam aprendendo e até teste-munhando seus valores morais, como a paciência, a perseverança e o sincero desejo de ajudar.

Assim, os “elementos de apoio” devem perseverar, não pe-lo desejo de possuírem tarefas de maior vulto em um futuro próxi-mo, mas pelo desejo sincero de co-operar com a obra do Senhor, compreendendo que não existem tarefas mais nobres que outras e sim trabalhadores mais dedicados que outros; enfim, por terem ple-na consciência de que todos de-vem cumprir sua função e que to-do e qualquer mérito deverá ser reportado ao Senhor do Universo.

O venerando apóstolo dos gentios, Paulo de Tarso, já sabia disso, quando em sua Primeira Carta aos Coríntios, cap. 12, vs. 12 e ss., nos ensina: “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo... Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo corpo fosse ouvido, onde estaria o olfa-to? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis... E o olho não pode di-

aparentemente

“elementos de apoio”

fosseestariafosse estaria

zer à mão: ‘Não tenho necessidade de ti'. Nem ainda a cabeça aos pés: ‘Não tenho necessidade de vós'. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são ne-cessários”.

Como observamos, a me-diunidade ostensiva não é mais importante que a tarefa de diri-gente e essa não é de maior valia que a da sustentação ou o diálogo, cada qual contribui da melhor ma-neira possível e os “elementos de sustentação” possuem um grande valor e importância, devendo ser tão estimulados como os demais participantes, tendo em vista que nos cabe florescer sempre, sem de-sânimo, seja qual for o lugar em que Deus nos semeou...

“elementos de sustentação”

Henrique Gonçalves - Campinas/SP

Através da doação de vibrações amorosas,muitos companheiros se tornam verdadeiros

“sustentáculos” do serviço mediúnico

Para saber mais, consulte:1) Missionários da Luz - André Luiz/Chico Xavier, cap. 17, 33ª edição, Ed. FEB.

2) Diálogo com as Sombras - Hermínio C. Miranda, pp. 81/86, 14ª edição, Ed. FEB.3) A Bíblia Sagrada - Tradução de João Ferreira de Almeida, 64ª impressão, I aos Coríntios, cap. 12, vs. 14 e ss.v.

Diálogo com as Sombras , 14ª edição, pp. 83, Ed. FEB.

A Bíblia Sagrada , 64ª impressão, Tradução de João Ferreira de Almeida.

1

2

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Conto

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200328

atanás, o príncipe dos de-mônios, encarando o Naza-Sreno, cujo corpo pendia do

madeiro erguido no topo do Cal-vário, exclamou: Miserável! Mor-reste graças às insinuações que sugeri aos Pontífices e Fariseus, mas de que me serve este vão tri-unfo, se tua Doutrina já foi com-preendida e assimilada por mui-tos que a praticam e propagam? Maldição! Meu reino está destruí-do para sempre. Vinguei-me, é certo, arrastando-te ao patíbulo da cruz, porém, que te importa isso, uma vez que estavas dispos-to ao sacrifício?

Balbuciando estas últimas apóstrofes em voz estentórica, Sa-tanás encurvou as negras asas so-bre o esguio arcabouço e desapa-receu por entre larga fenda que se abriu no solo, qual suicida que se precipita na voragem de um abis-mo.

Caindo nas profundezas do inferno, ali permaneceu desa-cordado, num ambiente silencio-so e tétrico onde as trevas da noi-te seriam sóis, se dado fosse pene-trar a luz em semelhante antro, sede do reinado diabólico.

Um século, dois séculos, três séculos se passaram. Satanás permanecia imóvel, de chavelhos entre as garras, esforçando-se por

A Restauração Vinícius

Rep

roduçã

o

FidelidadESPÍRITA Janeiro 2003 29

esquecer o fato que lhe havia pro-duzido a ruína; mas, mau grado seu, não pensava noutra coisa.

De repente, num dado mo-mento, após largo ciclo de tempo decorrido, ouviu certo movimen-to em torno de si. Perscrutou atentamente e distinguiu o ruído sinistro de correntes que se arras-tavam, a par de gemidos lanci-nantes, gritos, imprecações e ran-ger de dentes.

Ergueu-se, então, Satanás nas veludosas patas, mal acredi-tando no que ouvia. Agitou a cau-da, distendeu as membranas e lu-zidias asas, a fim de despertar completamente daquele torpor e se pôs a escutar. Era tudo real! O inferno mantinha seu comércio em franca atividade. Tudo em mo-vimento e vida nas tenebrosas masmorras de Belzebu.

Satanás discorria consigo mesmo: Como conseguiram resta-belecer o meu reino após a vitória do Crucificado, vitória que pre-senciei e cujos pormenores acom-panhei até ao transe derradeiro? Que teriam feito os meus sequa-zes? Vejamos.

Dito isso, soltou um silvo agudo e prolongado, que repercu-tiu, sibilante, nas abóbadas infer-nais.

Incontinenti, abriu-se so-bre o alto daquele subterrâneo um buraco que deixava ver labaredas

vivas de um fogo rubro-azulado, precipitando-se por ali uma tur-bamulta de diabos de toda casta e feitio, que se vieram grupar em torno de Satanás, como bando de urubus ao redor de um corpo em putrefação.

Dentre eles, havia um que se postou mesmo em frente ao chefe das trevas, mostrando-se satisfeito em ter ocasião de relatar suas façanhas.

Satanás, sequioso de notí-cias, não se fez esperar e, dirigin-do-se a ele, travou o seguinte diá-logo:

- Então, o inferno foi res-taurado? Que foi feito da Doutri-na de Jesus Cristo?

- Saiba, respeitável Chefe, que nosso reinado continua fir-me como outrora. Diariamente, abrem-se as portas do inferno pa-ra dar entrada a centenares de pe-cadores.

- Zombas comigo. Então, depois da Doutrina do Cristo de Deus, cujo nome tremo em pro-nunciar, ainda caem almas no in-ferno às centenas?

- Pois é tal como digo. Os ensinamentos do Divino Mestre não nos incomodam, porque lo-gramos destruí-los.

- Mentes, cão infame. Aquela Doutrina é indestrutível.

- Expressei-me mal, emi-nente chefe. Queira perdoar-me.

do Inferno (Paródia a Tolstoi)

Nós conseguimos adulterá-la, in-troduzindo-lhe falsos conceitos.

- Conta-me como foi isso.- Sim, adulteramo-la de

tal maneira e com tanta astúcia e habilidade, que os homens ado-tam a nossa doutrina, supondo ser aquela que o chefe tanto teme.

- Estupendo! Como con-seguiram semelhante proeza?

- Aproveitamo-nos de certas circunstâncias, conforme passo a expor.

Logo depois da destruição do nosso império, procuramos ob-servar os homens que praticavam a temível doutrina do filho de Ma-ria. Viviam felizes. Amavam-se uns aos outros, tinham as propri-edades em comum. Não havia, nem podia haver ciúme, nem con-tendas, nem rivalidades entre eles. Pagavam o mal com o bem, perdoavam sempre. As pessoas que a eles se chegavam torna-vam-se logo adeptas daquela Fé, tal a força viva da exemplifica-ção. Ora, em tais condições, eram inacessíveis às nossas influências, por mais esforços que empregás-semos.

Vi tudo perdido. Mas, as tais circunstâncias, a que antes me referi, vieram em nosso auxí-lio. Levantou-se entre eles uma li-geira divergência sobre meras questões de formalidades.

Assim, diziam uns que a

Transcrito do livro: Em torno do Mestre - Vinícius - Ed. FEB.

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200330

circuncisão era indispensável. Outros se reportavam às demais cerimônias de ritual judeu, opi-nando que não deviam desprezá-las de todo. Falavam sobre o je-jum, as abluções, o batismo da água, a hóstia, etc. Entramos, en-tão, em ação, sugerindo a cada grupo que nada cedesse sobre seu modo de ver aquelas questões im-portantíssimas para a salvação das almas. O veneno foi-se infil-trando. O egoísmo e o orgulho co-meçaram a despertar. As discus-sões acaloravam-se. Deu-se o cis-ma. As figuras mais importantes e que se haviam distinguido nas controvérsias instituíram um for-te partido, com sede em Roma, aliando-se ao poder civil e à força política do século. Criaram um tri-bunal de onde passaram a decre-tar os novos artigos de fé.

O povo tinha que aceitar as deliberações dos concílios reu-nidos em Roma. Uma onda de sangue inundou a Terra. Milhares de vítimas foram sacrificadas por se haverem insurgido contra os dogmas estatuídos.

- Dogma? Que vem a ser esse termo, para mim desconheci-do?

- Dogma é um processo que inventamos e inspiramos aos membros do tal tribunal e que consiste em impor à razão e à consciência de outrem um absur-do qualquer, que convenha à nos-sa obra.

- Esplêndido! Continua a narrativa dos fatos, sem nada omitires.

- Uma vez os aconteci-mentos no estado já exposto, nos-so império ficou de novo estabe-lecido. O inferno foi restaurado e a terrível doutrina desapareceu

entre esses escombros de dogmas, fórmulas, ritos e cerimônias que conseguimos inspirar aos ho-mens, no momento em que, es-quecidos da essência e da base do Cristianismo, se preocupavam com as aparências e formas exte-riores. Eis aí, valoroso chefe, em ligeiros traços, a história da res-tauração dos nossos domínios.

Satanás, cofiando a pera com as aguçadas garras, perma-neceu por algum tempo perplexo, depois de ouvir a narrativa do seu dedicado súdito. Despertando da-quela meditação, disse:

- Muito bem. Agiste com sabedoria: hei de gratificar-te co-mo mereces.

Neste tempo, saltam os demais demônios, pretendendo, cada um, fazer jus a propinas, pe-los seus trabalhos particulares.

- Afastem-se, bradou Sa-tanás, em voz imperativa; não se-jam idiotas. Uma vez que a Dou-trina do Crucificado foi desnatu-rada em suas bases e que os ho-mens, por isso, não fazem um juí-zo real do objetivo da vida, temos completo ganho de causa. Os fei-tos isolados carecem de impor-tância. A base é tudo e a base foi desvirtuada. Enquanto pudermos conservar esta situação, as portas do inferno não se fecharão. Esfor-cemo-nos, pois, pela estabilidade deste estado de coisas. Estou in-teirado de tudo e declaro a Assembléia dissolvida. Cada um no seu posto: marchem.

E um novo e prolongado silvo dissolveu o congresso dia-bólico.”

ExplicandoQuem foi Vinícius?Quem foi Vinícius?

spírita da cidade de Piracica-Eba/SP, de grande importância para o Espiritismo, cujo nome ver-dadeiro era: Pedro de Camargo. Vi-nícius era o seu pseudônimo. Escre-veu várias obras publicadas pela Fe-deração Espírita Brasileira.

Objetivo do texto:Objetivo do texto:

ostrar os desvios do Cristia-Mnismo.

Segundo o Espiritismo, Satanás existe?Segundo o Espiritismo, Satanás existe?

ão. A doutrina dos demônios Ntem a sua origem na antiga crença no princípio do bem e do mal.

A palavra satanás quer di-zer simplesmente adversário. À luz do Espiritismo, Deus não criou enti-dades más. Segundo a Lei de Pro-gresso, a evolução é uma necessida-de para todos os espíritos.

Vinícius se utiliza da ima-gem mitológica para simbolizar co-mo os adversários da verdade, os homens orgulhosos, vaidosos, polí-ticos inescrupulosos, se utilizaram do Cristianismo para dominar o po-vo, fazendo dos ensinos de Jesus uma doutrina dogmática.

E o inferno?E o inferno?

ambém não é uma região geo-Tgráfica e, sim, estado de cons-ciência.

Convite:Convite:

onvidamos o leitor para estudar Co capítulo IX do livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec, onde en-contramos um estudo completo acerca da inexistência de satanás enquanto entidade criada por Deus.

Argumentando

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200331

Por ser uma Doutrina calca-da em fatos, tendo como ob-

jeto de estudo os Espíritos e os fe-nômenos espirituais existentes em vários povos, em todos os tem-pos, sendo pesquisados com serie-dade e métodos por cientistas, fi-lósofos, religiosos, que comprova-ram, através dos fatos, a veracida-de das manifestações e a realidade do mundo espiritual em diversas circunstâncias;

Pelos seus princípios: Deus, criação, imortalidade e co-

municabilidade da alma, evolução dos seres vivos através da reen-carnação, pluralidade dos mundos habitados;

Por ser a Doutrina do Bom Senso (aplicação correta da

lógica e da razão em cada caso particular da vida) que dá respos-tas lúcidas para as questões fun-damentais do Ser humano, tais co-mo: Quem somos? O que ocorrerá conosco após a morte? Quem nos criou? Existindo Deus, por que há tanto sofrimento e injustiças na Terra? Qual o objetivo da existên-cia humana?;

Pela concordância com os ensinos de Jesus. Assim co-

mo o Cristo disse: “Não vim des-

truir a lei, porém cumpri-la”, tam-bém o Espiritismo diz: “Não ve-nho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução.” “Nada ensina em contrário ao que ensinou Jesus; mas desenvolve, completa e expli-ca, em termos claros e para toda a gente, o que foi dito apenas sob forma alegórica;”

Por não desrespeitar e preju-dicar ninguém, fazendo o

oposto, estimulando e concla-mando para o auto aperfeiçoa-mento intelecto-moral, tendo por divisa a bandeira da caridade;

Porque facilita o conheci-mento espiritual através dos

livros básicos da codificação, sen-do eles: O Livro dos Espíritos, O Li-vro dos Médiuns, O Evangelho Se-gundo o Espiritismo, O Céu e o In-ferno e A Gênese, constituindo a Doutrina Espírita;

Por não exigir uma crença cega, ofertando a quem o

compreende a fé inabalável, que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanida-de;

Por conduzir o seu adepto à resignação nas vicissitudes

da vida, ampliando sua visão de

mundo, encorajando-o diante das tribulações que o acompanham;

Por ser a Terceira Revelação, o Consolador prometido por

Jesus “Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Con-solador, para que fique eterna-mente convosco, o Espírito da Verdade, a quem o mundo não po-de receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e esta-rá em vós. Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensi-nará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito;”

Por conduzir a um aprimo-ramento intelecto-moral,

por ser, o Espiritismo, uma doutri-na filosófica de bases científicas e conseqüências morais.

Ricardo Rodrigues Escodelario - Campinas/SP

DEZ MOTIVOS PARA CONHECER O ESPIRITISMO

O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. I, item 07, Ed. FEB.

João, cap. XIV: 15 a 17; 26.

1

2

10º

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2

Análise

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200332

o Paraná, nos anos cin-qüenta, um médium cha-Nmado Hercílio Maes, come-

çou a psicografar mensagens em sua própria residência. O Espírito assinava o nome de Ramatis e dizia ter, numa determinada existência, vivido na Índia e, ainda, devido ao seu grau evolutivo, não teria mais necessidade de reencarnar. Asseve-rava que sua missão era trazer no-vas revelações à Terra e que havia tido a permissão de Espíritos supe-riores para tanto.

Logo o médium começou a publicar grossos volumes, sempre no esquema perguntas e respostas, técnica que perdura até hoje. Rama-tis teve vários médiuns após a de-sencarnação de Hercílio Maes.

Lendo-o, percebe-se que a construção das frases está gramati-calmente correta, há muita retórica, o Espírito possui, realmente, uma cultura geral e um domínio em dife-rentes áreas do conhecimento. Isso acabou deixando muita gente fasci-nada com o seu estilo e o seu saber e surgiram muitos Ramatisistas por esse Brasil afora.

As obras tratam de vários assuntos: tais como: mediunidade, vida pós morte, reencarnação, evo-lução espiritual, homeopatia, psico-

logia, curas espirituais, a missão de Allan Kardec, Esperanto, vida de Je-sus e os Evangelhos.

Possuem títulos curiosos: Magia da Redenção, O Evangelho à Luz do Cosmo, Mediunidade de Cu-ra, O Sublime Peregrino, Mensagens do Astral, A Vida Além da Sepultu-ra, Fisiologia da Alma, Brasil: Terra de Promissão, A Missão do Espiri-tismo, Chama Crística, etc.

Em certa ocasião as livra-rias espíritas, vendiam mais Rama-tis do que Kardec. Houve quem afir-masse mais ou menos o seguinte: “Kardec está ultrapassado, agora nós temos Ramatis. Os espíritas são muito ortodoxos, não se atualizam nunca. Esse Espírito tem uma mis-são sublime: unir o Ocidente com o Oriente, trazer toda a filosofia ori-ental, a milenar sabedoria oriental para dentro do Espiritismo, isto é uma coisa que estava faltando. Ele veio completar a obra de Kardec,

enriquecê-la com a cultura do Ori-ente”.

Em seus livros, verifica-se o uso e abuso de termos como “cha-cra”, “duplo etérico”, “avatar”, que são vocábulos próprios da Teosofia e da Rosacruz e há, outrossim, ex-pressões típicas do Catolicismo.

Apresenta-nos, e este é o seu forte, muitas profecias com pe-ríodos marcados e que não se con-cretizaram. Fala muito sobre a ver-ticalização do eixo da Terra, tam-bém fala sobre um astro intruso que se aproximaria de nós, o que ele chama de “planeta chupão”, que atrairia aqueles que não estão a-companhando o progresso do nosso orbe. Predisse muitos cataclismas por volta do ano 2000. O Brasil te-ria, e segundo as datas seria os dias de hoje, um Presidente da República altamente espiritualizado e o Vati-cano seria transferido para Brasília, tendo o último papa o nome de Pe-dro II. Todas essas profecias já deve-riam ter acontecido no final do sé-culo XX, e pensar que já atravessa-mos esse período e não vimos nada disso acontecer!

O interessante é que as obras continuam sendo reeditadas!

Os Espíritos sérios não fa-zem previsões com datas marcadas

é um Autor é um Autor

Espírita?Espírita?RAMATIS RAMATIS Fabiano Possebon - São José do Rio Pardo/SP

“Caríssimos, não acrediteis em todos os espíritos, mas provai se os espíritos são de Deus, porque são muitos os falsos profetas que se levantaram no mundo”

(João, I Epístola, cap. IV: 1)

“Caríssimos, não acrediteis em todos os espíritos, mas provai se os espíritos são de Deus, porque são muitos os falsos profetas que se levantaram no mundo”

(João, I Epístola, cap. IV: 1)

Nas entrelinhasnotamos os absurdos,as idéias fantasiosas,próprias de espíritos

pseudo-sábios

Nas entrelinhasnotamos os absurdos,as idéias fantasiosas,próprias de espíritos

pseudo-sábios

para amedrontar o povo. Imaginem quanta gente não deve ter ficado apavorada lendo essas idéias! É pre-ciso tomar muito cuidado com o que se fala e se escreve, muita gente não se dá conta da responsabilidade que é comunicar alguma coisa atra-vés da mídia e da tribuna.

Ramatis fala demais na Atlântida, esse é outro tema recor-rente. Segundo ele, o câncer teve origem naquele continente, fala também do enorme mal que é ser carnívoro (A Fisi-ologia da Alma) e do perigo dos anti-concepc i ona i s (Mensagens do Astral). Observa-se um exagero em quase todos os as-suntos abordados.

Há idéias difíceis de se aceitar como estas: Je-sus sorveu todos os seus ensina-mentos nas fontes essênicas, numa encarnação anterior viveu na Atlântida, foi um sacerdote chama-do Antúlio e deixou seguidores: os antulianos e foi ele, também, uma espécie de Médium do Cristo Cós-

mico. Quem é esse Cristo Cósmico? Ramatis não esclarece.

Mostra-se como um espíri-to “novidadei-ro”, pois está sempre trazen-do notícias em primeira mão. Ele gosta de re-velar, por exem-plo, encarna-ções anteriores de personalida-des conhecidas: o profeta Daniel, o evangelista João e Francisco de Assis seriam as reencarnações de um mesmo Espírito, em outras pala-vras, a mesma pessoa.

Nota-se que ele quer, a to-do instante, passar muito conheci-mento científico e abordar assuntos atuais, tendo resposta para tudo. Essa característica também está pre-

sente em uma de suas obras mais recentes: Flores do Ori-ente, psicogra-fada por Már-cio Godinho. Há, em certo capítulo, refe-rência à AIDS.

Neste livro, de tamanho mais redu-zido e frases mais sintéticas, obser-va-se o cuidado com as palavras, não faz profecias, fala muito em Psicologia, mas, mesmo assim, ain-da percebem-se algumas idéias fan-tasiosas. Na verdade, Ramatis vem falando dos mesmos temas há mais

de quarenta anos. Parece estar “con-gelado” em certas idéias.

Depois de alguns livros de grande sucesso aqui no Brasil, sem-pre com a psicografia de Hercílio Maes, eis que surge a “grande reve-lação”, o “best-seller”: A VIDA NO PLANETA MARTE E OS DISCOS VOADORES. Nele, Ramatis apre-senta tudo sobre o Planeta Verme-lho, pode-se dizer que é um verda-

deiro trata-do sobre o a s s u n t o : mostra a su-perioridade moral e tec-nológica do marc i ano , sua psicolo-gia, costu-

mes, esportes, entretenimentos, a geografia, história, etc.

No capítulo final há mais uma grande novidade, que só apa-receu nas primeiras edições, tendo sido suprimida posteriormente.

Hei-la: um avião norte-americano, em certa época, tendo se aproxima-do demais de um OVNI acabou sendo destruí-do por este. Mais tarde, foram encontrados os destroços do aeroplano e os restos mortais do comandante. Trata-se de um fato verídico, vários jornais no-ticiaram esse fato. Porém, Ramatis nos informa que os marcianos se apoderaram do Espírito do aviador e o levaram para que encarnasse em Marte. É possível isso? Então, esses Ets estão acima de Deus?!

Os Espíritos reconhecida-mente sérios são discretos e caute-losos quando abordam questões so-bre a vida e habitantes de outros or-bes.

Lendo esse autor espiritual, vemos que há pontos de ligação com o Espiritismo, ele não é total-

Rep

roduçã

o

Com traje extravagantee exótico: assim o espíritode Ramatis se apresentaaos médiuns videntes

FidelidadESPÍRITA Janeiro 2003 33

As obras de Ramatis nãodevem ser consideradas

espíritas, pois apresentampontos conflitantes com

os postulados daDoutrina

As obras de Ramatis nãodevem ser consideradas

espíritas, pois apresentampontos conflitantes com

os postulados daDoutrina

Analisemos comcuidado tudo o que

tem vindo do mundoespiritual, passemos

tudo pelo crivo darazão e do bom senso

Analisemos comcuidado tudo o que

tem vindo do mundoespiritual, passemos

tudo pelo crivo darazão e do bom senso

mente contrário à Doutrina Espírita. Mas, são nas entrelinhas que vamos notando os absurdos, idéias fantasi-osas, próprias de Espíritos pseudo-sábios, que querem mostrar domí-nio de tudo, que se julgam superio-res, que se julgam missionários por-tando grandes revelações para a Humanidade.

Assim, as obras de Ramatis não devem ser consideradas espíri-tas, pois demonstram pontos con-flitantes com os postulados da Doutrina. Somos da opinião de que os livros desse autor espiritual não deveriam ser publicadas por edito-ras espíritas, o que infelizmente, tem acontecido.

Caros leitores, temos mais de cento e setenta editoras espíritas no Brasil e muitos livros são edita-dos a todo momento. Cabe a nós mesmos, usando nossa razão e bom senso, ir selecionando o que é realmente espírita, o que guarda fi-delidade à doutrina codificada por Allan Kardec. Precisamos manter a pureza do Espiritismo.

Mesmo nas casas espíritas, muita novidade tem aparecido, co-mo a cromoterapia, uma ginástica sueca para se aplicar passes e uso de veste especial para aquele que irá receber a assistência espiritual, introdução da transcomunicação instrumental, isto é, recebimento de mensagens através de aparelhos eletrônicos e não pelo médium, centros que ficam na dependência total do que os Espíritos falam, sem

critério algum, mais estudos de Roustaing do que Kardec, etc. Fi-quemos atentos a tudo isso, estu-demos as Obras Básicas, evitando, com isso, os sincretismos.

Quando coisas estranhas começam a acontecer, é sinal de que precisamos estudar mais Kar-dec.

Analisemos com bastante cuidado tudo o que tem vindo do mundo espiritual e sido publicado, passemos tudo pelo crivo da razão e bom senso.

Vejamos o que diz Kardec: (O Evangelho Segundo o Espiritis-mo, cap. XXI, item 6 e 7):

“O Espiritismo vem revelar outra categoria de falsos Cristos e falsos profetas, bem mais perigosa, e que não se encontra entre os ho-mens mas entre os desencarnados. É a dos Espíritos enganadores, hi-pócritas, orgulhosos e pseudo-sábios, que passam da Terra para a erraticidade e se disfarçam com no-mes veneráveis, para procurar, a-través da máscara que usam, tor-nar aceitáveis as suas idéias, fre-qüentemente as mais bizarras e ab-surdas(...)

São João nos põe de guar-da contra eles, quando adverte: “Caríssimos, não acrediteis em to-dos os Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus, porque são muitos os falsos profetas que se le-vantaram no mundo”.

FidelidadESPÍRITA Janeiro 200334

Para saber mais, consulte:1) Ramatis Sábio ou Pseudo-Sábio? Artur Felipe de A. Ferreira - Ed. EME, 1997.2) O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec, cap. XXI - Ed. FEB.

Os espíritosreconhecidamente

sérios são discretose cautelosos

Os espíritosreconhecidamente

sérios são discretose cautelosos

errata

R: Dr. Luiz Silverio, 120

Vila Marieta - CEP 13043-630

Campinas - SP - Brasil

Fone/Fax (19) 3233.5596

E-mail: [email protected]

Dúvidas sobre os artigos publicados,

críticas, sugestões?

Entre em contato com

Cartas e mensagens de-vem trazer o nome e endereço do autor.

A redação poderá, em razão do espaço e clareza, publi-car apenas uma síntese das car-tas.

redação

No artigo Ainda o Sudário de Turim (edição nº 03, dezem-bro/2002), na página 21, onde se lê:

“Na praça de Turim, estão localizados de um lado o Palácio da família de Savoia e de outro a Bi-blioteca Real onde permanece guar-dado o único auto-retrato conheci-do de Leonardo Da Vinci que é pro-priedade da família de Savoia. O au-to-retrato e o Sudário são mantidos em cofre de vidro climatizado, dis-tante da luz, no subsolo da Biblio-teca, sendo expostos em raras oca-siões.”

Leia-se:“Na praça de Turim, onde

hoje de um lado está o Palácio da família de Savoia, do outro está a Biblioteca Real, onde permanece guardado o único auto-retrato co-nhecido de Leonardo Da Vinci.

Da mesma forma que o Sudário, o auto-retrato, que tam-bém é propriedade da família de Sa-voia, é mantido em cofre de vidro climatizado, distante da luz, no sub-solo da Biblioteca, sendo exposto em raras ocasiões.”

Autor: Léon DenisEditora: FEB - 329 páginasPedidos Fone: 0(xx)21- 2589.6020

Léon Denis, um dos maiores filósofos espíritas, apresenta nessa obra um resumo das antigas religiões, uma reflexão sobre os grandes enig-mas da Humanidade, o mundo espiritual, a vida pós morte e as conseqüên-cias morais a que o Es-piritismo conduz. Obra prima da literatura espírita. Guarda, ao mesmo tempo, a poesia e a lógica nas argumentações lumino-sas acerca das civilizações, do homem e sua imortalidade.

Foi esta obra, Depois da Morte, o primeiro livro espírita que Eurí-pedes Barsanulfo, o extraordinário apóstolo e médium de Sacramento, re-cebeu de seu tio “Sinhô”, tendo-o lido em apenas uma noite, exclamando no dia seguinte: “Muito obrigado meu tio, isto é um monumento”.

Autor: Cairbar SchutelEditora: O Clarim - 323 páginasPedidos Fone: 0(xx) 16-282.1066 / 282.1471

A interpretação Espírita dos principais ensinos de Jesus reuni-dos num livro especial. A pesca maravilhosa; A multiplicação dos pães; O Batismo; As tentações de Pedro; A Cura de um epiléptico; A questão do jejum e as Previsões de Jesus, são alguns dos 72 temas abor-dados pelo bandeirante do Espiritismo.

DEPOIS DA MORTE

O ESPÍRITO DO CRISTIANISMO

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