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4 REFLEXÃO

LUTAS CONTRA AS RESTRIÇÕES

Fechamento da FEB

7 MEDIUNIDADE

ROMANCES MEDIÚNICOS - PARTE II

Esclarecimentos quanto à qualidade dos textos

mediúnicos

14 CAPAGÊMEOS SIAMÊSES

Expiação de faltas passadas e adiantamento

espiritual

18 CIÊNCIA

CIÊNCIA ESPÍRITA - REFLEXÕES FILOSÓFICAS

Religião, milagres, profecias, prodígios e dogmas

irracionais

22 ESTUDO

UM OLHAR SOBRE A MEDIUNIDADE

Entrevista com o médium Divaldo Pereira Franco

27 COM TODAS AS LETRAS

A CRASE TEM CASOS ESPECIAIS

Importantes dicas da nossa língua portuguesa

SUMÁRIO

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E ADICIONE O NOSSO ENDEREÇO:

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Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”Rua Luís Silvério, 120 – Vila Marieta 13042-010 Campinas/SPCNPJ: 01.990.042/0001-80 Inscr. Estadual: 244.933.991.112

AssinaturasAssinatura anual: R$45,00(Exterior: US$50,00)

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EDITORIAL

Edição

Centro de Estudos Espíritas

“Nosso Lar” – Depto. Editorial

Equipe Editorial

Adriana Levantesi

Leandro Camargo

Rodrigo Lobo

Sandro Cosso

Thais Cândida

Zilda Nascimento

Jornalista Responsável

Renata Levantesi (Mtb 28.765)

Projeto Gráfico

Fernanda Berquó Spina

Revisão

Equipe FidelidadEspírita

Administração e Comércio

Elizabeth Cristina S. Silva

Apoio Cultural

Braga Produtos Adesivos

Impressão

Citygráfica

O Centro de Estudos Espíritas

“Nosso Lar” responsabiliza-se

doutrinariamente pelos artigos

publicados nesta revista.

[email protected] (19) 3233-5596

Um lago agitado internamente acabará distorcendo as mar-

gens refletidas em seu espelho d’água.

O exemplo, embora pobre, ilustra a importância da disciplina

emocional para o intercâmbio mediúnico.

Ansiedade é ruído interior, interferindo na comunicação com o

Além.

Impaciência é agitação na alma, perturbando o campo psíquico.

A mente inquieta bloqueia os canais mediúnicos, impedindo a ex-

pansão da consciência para além dos sentidos sensoriais.

Por essa razão, Allan Kardec recomenda calma e recolhimento,

sustentados numa vontade séria, a fim de que o intercâmbio ocorra

em condições favoráveis.

A pressa é ponte para a frustração, tanto quanto a precipitação

responde, muitas vezes, pelos desvirtuamentos.

Olha para ti mesmo, examinando o cenário que te caracteriza o

interior.

Estuda e estuda-te.

Constatarás que a tua personalidade resulta de experiências mui-

to particulares no ciclo constante de amadurecimento espiritual, o

que faz de ti um ser único, portador de ritmo próprio no campo

mental e emocional.

Por essa razão, evita comparações de qualquer tipo, respeitando

os próprios limites, certo de que cada pessoa atende aos propósitos

da vida segundo o momento evolutivo em que se encontra.

Aprende a fazer silêncio interior, para que a sintonia mediúnica se

consolide de forma natural, espontânea e segura. Assim, “ouvirás”

melhor os espíritos que buscam sintonizar contigo para as tarefas

edificantes.

Não confundas, porém, serenidade com inércia. A prática

mediúnica direcionada para os objetivos elevados requer esforço e

dedicação, impondo ao trabalhador não apenas uma atitude calma,

mas também uma calma ativa, capaz de conjugar equilíbrio e traba-

lho em favor do bem integral.

Augusto

LEVY, Clayton. Mediunidade e Autoconhecimento. CEAK. 2003

ASSINE : (19) 3233-55964 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Novembro 2006

REFLEXÃO

Lutas contra as Restrições- Fechamento da FEB

6 – 4 – 1945

“(...) Muito grato pela remessa de“O Psicógrafo” e “Materialização”com as instruções. Ótima lembran-ça! Ao recebê-la, recordei o nossoDr. Guillon, em 1942, quando seorganizou o “Reportagens de Além– Túmulo”. Ele e eu, embora dis-tantes um do outro, combinamoso esforço para o mesmo fim. (...)Meus parabéns pelo trabalho que foiefetuado, junto à Chefatura de Po-lícia. Hoje, os jornais, aqui em Mi-nas, já noticiam a decisão adminis-trativa de fazer cessar as restriçõescontra as nossas atividades religio-sas.

A notícia me alegrou muito e fe-licito-te pela medida. (...) Admiro-te a fibra de trabalhador incansávele peço a Jesus te fortaleça na Obrade Ismael, na restauração do Evan-gelho de Nosso Senhor Jesus Cris-to. (...)”

Guillon Ribeiro e Wantuil deFreitas, convocados ambos a tarefaspioneiras e de grandes responsabili-dades, na implantação da DoutrinaEspírita em nosso País, tiveram –como não podia deixar de ser – vín-culos muito profundos no desem-penho da missão que lhes fora con-

fiada. Ambos subiram à Presidênciada Federação Espírita Brasileira edurante o período em que exerce-ram o labor administrativo enfren-taram graves dificuldades, talvez asmais difíceis e cruciais vividas peloEspiritismo no Brasil. Ambos sou-beram agir com fidelidade aos com-promissos assumidos, procurandovivenciar, em cada instante de teste-munho, o Evangelho do Cristo quetão bem traziam no coração.

Foi na presidência de GuillonRibeiro que Chico Xavier inicioupublicamente a sua atividademissionária, com a publicação, pelaFEB, do seu primeiro livropsicografado, “Parnaso de Além-Túmulo”, em 1932.

É bastante óbvia a posição deGuillon Ribeiro à frente da Casa deIsmael, no momento em que ChicoXavier vai iniciar, na vida pública, asua singularíssima missão. Pratica-mente, todos os que estavam vincu-lados a Chico Xavier estão, àquelaaltura, em suas posições estratégicas,determinadas numa programaçãotraçada na Espiritualidade Maior, edando cumprimento aos compro-missos assumidos.

Com a desencarnação Dr.

Guillon Ribeiro (em 26-10-1943),Wantuil de Freitas, que era Gerentede “Reformador”, é escolhido paraassumir a Presidência da FederaçãoEspírita Brasileira, conforme já nosreferimos na primeira carta deste li-vro.

No trecho da carta acima, Chicorefere-se a Guillon Ribeiro e de-monstra, pelas suas palavras, o quan-to havia também de afinidade entreambos. Diz Chico a Wantuil: “Aorecebê-la, recordei o nosso Dr.Guillon, em 1942, quando se orga-nizou o “Reportagens de Além-

por Suely Caldas Schubert

Novembro 2006 | FidelidadESPÍRITA

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : 0800 770-5990 5ASSINE : (19) 3233-5596 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

... a Federeção Espírita Brasileira teve

fechadas as suas portas por quase 72

horas

REFLEXÃO

Túmulo”. Ele e eu, embora distan-tes um do outro, combinamos oesforço para o mesmo fim.” Comose observa, os dois, sintonizadoscom o trabalho do Alto, emboraestivessem separados no espaço, vi-bravam uníssonos, conjugando es-forços para um objetivo comum.

No trecho seguinte, assinalamosuma das mais significativas passagensda História do Espiritismo no Bra-sil. Chico Xavier cumprimentaWantuil de Freitas: “Meus parabénspelo trabalho que foi efetuado, jun-to a Chefatura de Polícia. Hoje, osjornais, aqui em Minas, já noticiama decisão administrativa de fazer ces-sar as restrições contra as nossas ati-vidades religiosas. A notícia me ale-grou muito e felicito-te pela medi-da.” Este pequeno texto traz ao nos-so conhecimento uma grande vitó-ria conquistada pelo extraordináriotrabalho de Wantuil de Freitas. Tra-balho este que fora, porém, inicia-do pelo Dr. Guillon Ribeiro e aoqual Wantuil deu prosseguimentoe levou avante, com seu dinamismoe decisão, até obter o êxito almeja-do.

Essas restrições, a que Chico serefere, tiveram início na administra-ção do Dr. Luiz Olympio GuillonRibeiro, mais precisamente no dia27 de outubro de 1937, quando –pela primeira vez – a Federação Es-pírita Brasileira teve fechadas as suasportas por quase 72 horas. O segun-do fechamento da FEB ocorreu em10 de Abril de 1941, também aotempo do Dr. Guillon Ribeiro.

Para melhor entendermos essesacontecimentos, transcrevemos apalavra abalizada do então Presiden-te da Casa-Máter do Espiritismo,em seu relatório de 15-7-1941.

Estes dados, extraímo-los dosubstancioso trabalho do confradeClóvis Ramos, intitulado “Documen-tos e depoimentos para a História doEspiritismo no Brasil” (2ª parte), pu-blicado em “Reformador”, n° 1.835,de fevereiro de 1982. Eis a narraçãominuciosa de Guillon Ribeiro:

“Se bem vos acheis a par de todoo ocorrido, não podemos, nem de-vemos, para conhecimento dos que,de futuro, tratando da marcha doEspiritismo em nosso país, estudemo período que ora transcorre, dei-xar de dizer alguma coisa acerca dofato singularíssimo do fechamento�

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FidelidadESPÍRITA | Novembro 2006

REFLEXÃO

de todas as agremiações espíritasdesta Capital, a Federação inclusi-ve, em virtude de uma Portaria doChefe de Polícia, datada de 9 deAbril do ano corrente e publicadano dia seguinte.

Segundo rezava a ordem de fecha-mento, cujas determinantes reaisainda desconhecemos e não perqui-rimos, por nos parecer inútil, quan-do não ocioso, tinha ela por fimobrigar aquelas agremiações, parapoderem funcionar normal e regu-larmente, a se registrarem no depar-tamento policial, mediante a apre-

sentação dos documentos que aPortaria indicava.

Obedecendo sem hesitar, comolhe cumpria, de conformidade como espírito da doutrina cristã, à refe-rida ordem, a Federação cerrou suasportas a 10 daquele mês (...).

Tendo requerido, ainda em cum-primento da Portaria em questão, oseu registro, instruindo o pedidocom os documentos que esta últi-ma exigia, a Federação, que já nodia 14 obtivera permissão para ofuncionamento da sua Secretaria eTesouraria, da sua Biblioteca e do ser-viço de pagamento de pensões, foiautorizada, no dia 17, a funcionar li-vremente, até que o seu requerimen-to de registro fosse despachado.

Esse despacho saiu publicado fazpoucos dias, em termos que não nossurpreenderam menos do que os dopróprio ato com que nos ocupamos,

mas que nos abstemos de apreciar,uma vez que, seja como for, permi-tem que a casa de Ismael prossigasem constrangimento em suas ativi-dades e labores habituais.

................................................................................................................................................................Com relação às Sociedades des-

ta Capital que lhe são adesas, a Fe-deração, como não podia deixar deagir de outra maneira, em favor de-las, visto que cada uma tinha de sa-tisfazer individualmente às exigênci-as da Portaria, exigências que se es-tendiam até a identificação pessoaldos respectivos diretores, fez o que

estava no seu alcance, orientando-assobre a forma de se conduzirem nocaso ocorrente, ministrando-lhestodas as instruções e esclarecimen-tos de que necessitavam e dizendo-lhes de que modo deveriam proce-der, uma vez requerido o registro,para desde logo reencetarem seustrabalhos ordinários. Assim se hou-ve na emergência a Federação, côns-cia de estar cumprindo estrito de-ver, mas, por isso mesmo, sem es-trépito e sem alardear a prestação deserviços excepcionais, ao que, aliás,sempre e sempre se furta, por incom-patível semelhante atitude com ospostulados básicos da Doutrina dosEspíritos, acorde, natural elogicamente, em todos os pontos,com a Doutrina Cristã.”

Quando Wantuil de Freitas as-sume a Presidência da FederaçãoEspírita Brasileira, as Portarias poli-

ciais ainda vigoravam constrangen-do as instituições espíritas a cum-prirem exigências descabidas, emdesacordo com a liberdade de cultoexistente no país. Wantuil lançou-se então, à luta, para que o Espiri-tismo tivesse igualdade de direitosconcedidos às demais religiões.

Extraímos da 3ª parte de “Docu-mentos e depoimentos para a His-tória do Espiritismo”, publicada em“Reformador” n° 1.836, de marçode 1982, o trecho do relatório deWantuil de Freitas, no período dejulho de 1944 a junho de 1945:

“Conforme noticiou o nossoórgão, a Diretoria nomeou uma co-missão para se entender com o Che-fe de Polícia, Sr. Ministro JoãoAlberto, a respeito das celebérrimasPortarias policiais, criadas desde háalguns anos e que impediam os nos-sos confrades de exercer livrementeo direito de liberdade de culto, as-segurado pela Constituição do País.Diante da exposição que essescompanheiros fizeram àquela autori-dade, as Portarias foram revogadas e oEspiritismo teve os seus direitos res-peitados quanto à liberdade de se reu-nirem os espíritas, sem necessidade dese registrarem na Polícia, em perfeitaigualdade com os direitos sempre con-cedidos às demais religiões.”

E como diz Clóvis Ramos em seucomentário: “Uma vitória que ain-da nos felicita!” �

Wantuil lançou-se então, à luta, para que

o Espiritismo tivesse igualdade de

direitos concedidos às demais religiões

Fonte:

SCHUBERT, Suely Caldas. Testemunhos de

Chico Xavier. Pág. 54 - 59. Feb

Novembro 2006 | FidelidadESPÍRITA

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MEDIUNIDADE

Romances Mediúnicos - Parte II

por Yvonne do Amaral Pereira

Existem ditados mediúnicos,mesmo romances – e poderíamoscitá-los – considerados imitações pormuitos observadores, porque não

trazem o característico do estilo li-

terário daquele que espiritualmen-

te o concedeu. No entanto, sabe-mos que a obra, realmente, é daque-le cujo nome figura no volume. Oque passa é que transmitir o estilo

integral é uma tortura para certosmédiuns, como trabalho exaustivopara o autor, razão por que nem sem-pre este obrigará seus medianeirosao penoso labor, visto o intento deuma obra espírita ser a sua finalida-de moral-educativa-doutrinária enão propriamente a simples realiza-ção literária. De outras vezes, por-que o médium não apresente os re-

cursos necessários, dá-se uma comotradução no seu pensamento. Este,o médium, recebe o ditado e trans-mite-o para o papel empregando suaprópria linguagem, o que resulta nadesfiguração do estilo literário doescritor comunicante, se se tratar deliterato conhecido na Terra. Alguns,devido a tais fatores, adotam pseu-dônimo, encobrindo o próprio

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FidelidadESPÍRITA | Novembro 2006

MEDIUNIDADE

1 Mediunidade pelo sonho. Revelações através do sonho. A Bíblia está repleta de informações a respeito.

nome até mesmo de seu instrumen-to mediúnico. Todavia, o pensamen-to foi do escritor e não do médium,e por isso a obra deverá ser conside-rada mediúnica. Muitas vezes, des-de que não se positive o fenômenoespírita propriamente dito, será

mais conveniente que tais trabalhosapareçam a público sob o nome dopróprio médium, visto que, desti-tuídos do estilo do escritor conhe-cido, a que se atribua o trabalho,será difícil provar que, efetivamen-te, houve o fenômeno mediúnico,muito embora se tenha dado, e as-sim se contornarão controvérsias epolêmicas muito prejudiciais à Dou-trina. Tal sutileza da faculdademediúnica opera-se, comumente,entre alguns escritores e será, então,o a que chamaremos inspiração, nãoobstante conheçamos tais casos nosetor psicográfico, também.

Alguns escritores desencarnados,como Camilo Castelo Branco, quefoi um estilista inconfundível, umpurista do idioma português, nãofazem, em absoluto, questão de queo seu antigo vigor literário sereproduza, integralmente, através deum cérebro mediúnico. O que que-rem é se desincumbir de tarefas quelhes desanuviem a consciência dassombras dos deslizes passados, rea-bilitando-se, pela literatura Além–Túmulo, da antiga feição ociosa ou

nociva da literatura cultivada no es-tágio terreno. É o resgate, pois, quese verificará. Preferentemente, tais es-critores tomarão pseudônimo, en-cobrindo-se do próprio médium,que poderá não guardar o devidosegredo, entusiasmando-se com o

próprio feito de que foi instrumen-to. Outros, como Léon Denis, pre-ferirão não ditar obras mediúnicasa vê-las desfiguradas no seu estilopessoal. O que querem é a provainsofismável do fenômeno espírita.Continuam, no Além, as pesquisase experiências encetadas na Terra.

Um mesmo espírito poderá di-tar uma obra dando a ver ao mé-

dium as cenas antes ou no momen-

to do ditado, e poderá ditar outra,ainda pelo mesmo médium, valen-do-se tão-somente da psicografia,sem que o intermediário veja coisaalguma, ou, pelo menos, sem queeste se recorde do que viu, poispode dar-se o fato de ele ter presen-ciado o drama, posteriormentepsicografado, durante um desdobra-mento, e de nada se recordar em vi-gília. De outro modo, o fato de re-

cordar será uma disposição particu-lar do aparelho mediúnico. Vimosque João Evangelista, ao despertardo transe em que obteve oApocalipse, recordou tudo o quevira e ouvira. Os profetas antigos,do mesmo modo, se recordaram das

visões tidas durante os chamadostranses “oníricos”1 e os desdobra-mentos em corpo astral.

Do que particularmente nos dizrespeito, lembraremos que o livro“A Tragédia de Santa Maria”, pornós escrito sob a direção da entida-de espiritual Adolfo Bezerra deMenezes – trabalho em que tivemosa maior facilidade de recepção, den-tre os que nos têm cabido transmi-tir – ofereceu-nos todas as modali-dades possíveis em um ditadomediúnico: visão antes e no mo-mento da recepção, audição,psicografia isolada (desacompanhadade visão e audição), psicografiaacompanhada de outros fenômenose intuição acompanhada de visão.Consideramos essa época de nossaexistência (quatro meses), das maisfelizes, entre as poucas horas dito-sas que fruímos nesse mundo, dadaa suavidade, o enternecimento dasfaixas vibratórias que nos envolve-ram durante o período consumidono ditado do trabalho. Que de vi-sões outras, então, obtivemos davida espiritual! Que surpresas cati-vantes! E como convivemos com osseres invisíveis, mostrados à nossarespeitosa contemplação naquelasnoites magníficas, quando, abstraí-da da vida terrena, aliviado o nossocoração de sofrimentos e humilha-ções oriundos da vida social terrena,a assistência de Bezerra de Menezesse tornava positiva e integral, paraque o seu feito romântico se reali-zasse sem que nenhum esgotamen-to físico, nenhuma fadiga mentalnos abatesse a saúde! Esse venerávelespírito é seguido, por assim dizer,por grande número de entidades ain-

Alguns escritores desencarnados não

fazem questão de que o seu antigo vigor

literário se reproduza integralmente

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Não obstante, nem sempre o médium

consegue transcrever na íntegra o que

avista no Espaço

MEDIUNIDADE

da vacilantes, porém, submissas,cuja readaptação ao estado espiritualé operada sob sua desvelada direção.Vimos e falamos a varias delas, en-quanto trabalhávamos naquela obra.

Entrementes, as visões do dramaque então nos eram fornecidas de-corriam em ambiência branca,lucilante, mesclada de tons doura-dos, como se raios de sol puríssimosiluminassem a transparência branca,efeito, ao que julgamos, inédito so-bre a Terra, a nós outra impossívelde descrever, e como se todas as ce-nas e panoramas fossem desenhosdelicadíssimos, a se movimentaremem cenários celestes. No entanto,em “Uma história triste”, que inte-gra o volume “Nas Telas do Infini-to”, o drama se desenrolou em sua-ve ambiente azul, levementeesbatido de nuanças brancaslucilantes, quais neblinastenuíssimas, enquanto que em “Leo-nel e os Judeus”, obra ainda inédi-

ta, do mesmo autor, a história sedesenrola sob colorações fortes, mascom algumas cenas muito sombri-as, tais como salas de suplícios daInquisição, em Portugal, e outrasmuito nítidas, como o rumor daságuas de um repuxo de jardim, aose despenhar no tanque, o brilho decandelabros de prata sob a luz dasvelas e o som da cítara com que umapersonagem se acompanhava, ento-ando salmos de David.

Não obstante, nem sempre o

médium consegue transcrever naíntegra o que avista no Espaço, con-cedido por seus mestres instrutores.Parece, mesmo, que cenasbelíssimas, admiráveis pela perfei-ção, deixam de ser psicografadas nodecurso da obra, porque assim odeterminaria o próprio autor, vistoque a escrita não reproduzia fielmen-te o encantamento que a visão espi-ritual alcançou. Na obra “Nas Vora-gens do Pecado”, por exemplo, aentidade “Charles”, Espírito quesabemos ser o de um completo ar-tista, e que no-la havia mostrado ma-gistralmente, durante um arrebata-mento do nosso espírito, por ele mes-mo provocado, deixou de escreveruma cena das mais belas, que nos foradado a apreciar na ocasião precisa:

- A personagem “Otília deLouvigny” ao ter conhecimento domassacre da família de La-Chapelle,durante a chamada “Matança de SãoBartolomeu”, no qual sucumbira

seu noivo, Carlos Felipe, tem aces-sos de loucura verdadeiramente pa-téticos, emocionantes. Em desespe-ro, sai em correria pelo parque doseu castelo e pelos campos adjacen-tes, ou sobe aos terraços e torres damesma vetusta habitação, bradando,em lágrimas, pelo nome do noivo,entre mil queixas pungentes e revol-tas blasfemas. O jogo de luzes queenvolviam essas cenas, as nuanças doluar e do crepúsculo da tarde, os cla-ros e sombras que tudo adornavam e

Dr. Bezerra de Menezes

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FidelidadESPÍRITA | Novembro 2006

MEDIUNIDADE

embelezavam, entre azuis e rosa, quese mesclavam ao infinito, a suavidadeda coloração, as harmonias dos sons,que repetiam seus lamentos em ecosimpressionantes, pela vastidão local,e onde até o canto das cotovias sedeixava ouvir, eram de uma perfeiçãoe beleza tais que acreditamos nemmesmo o cinematógrafo, que muitose assemelha a essas citações do Invisí-vel, conseguiria reproduzir na íntegra.

No entanto, tal cena, das maispatéticas e belas de toda a obra, nãofoi dada à psicografia, quando oautor da mesma voltou para escrevê-la. Em vão esperamos a sua transcri-ção. O impulso vibratório dapsicografia não a delineou! Aliás,nem sempre se poderão aproveitartodos os detalhes e nuanças dos dra-mas assim relatados ao médium, noInvisível, porque a obra se alongariademasiadamente, o que seria contra-producente. É fácil, porém, compre-ender que a dita cena, destituída dequalquer valor moral ou doutriná-rio, embora artisticamente perfeita,fora suprimida para que a parte dou-trinária não ficasse sacrificada pelaextensão da obra, pois sabemos queo móvel dos romances espíritas é apropaganda da Doutrina por meiosuave e convidativo, tributando osInstrutores Espirituais grande apre-ço a essas obras, por julgá-las imen-samente úteis em virtude dos exem-plos vivos oferecidos aos leitores.

Conquanto os Espíritos-Guiasdêem preferência à parte doutriná-ria, à moral elevada que vemos pre-sidindo a tudo quanto a RevelaçãoEspírita tem concedido generosa-mente aos homens, também obser-vamos que jamais se descuram elesde embelezá-las com os traços vigo-rosos de uma Arte pura, elevada e,

por assim dizer, celeste. Jamais, po-rém, presenciamos tantas e tão gran-diosas expressões de Arte e Beleza,superiores a tudo quanto nossamente fosse capaz de conceber,como no ano de 1931, ao nos serrevelada, durante um longo desdo-bramento, a história de “Amor eÓdio”, já publicada pela FEB, des-dobramento que nos levou a visitara cidade de Florença, na Itália, exa-minar suas obras de arte, visitar seuspalácios e admirar o jogo das luzesirisadas através dos vitrais, contem-plando-a, tal como era há dois sécu-los! E assim, nesse exame, que mui-to naturalmente era realizado, dis-tinguíamos até mesmo os brocadose cortinados dos grandes leitos se-nhoriais, as pinturas decorativas dasparedes, o brilho do verniz dosmóveis, os raios de sol coados atra-vés dos vitrais multicores, tocandotudo de uma forte sugestão.

Na noite de 30 de junho de1931, o Espírito co-autor da ditaobra, isto é, “Charles”, arrebatou-nos em espírito, levando-nos consi-go para uma região que supomosdedicada à Arte, no Mundo Invisí-vel. Concluímos que as regiões es-pirituais mais achegadas à Terra se-jam azuis, com nuanças brancas ra-diosas, pois são as cores que maisfreqüentemente divisamos nos am-bientes invisíveis felizes que temosvisitado. Acreditamos mesmo, tra-tar-se de um estado, de uma modifi-cação do fluido invisível, trabalha-do pela vontade dos obreiros espiri-tuais, e que a própria Terra nele seencontre mergulhada. O certo é que,arrebatada pela entidade protetora,bem cedo nos reconhecemos pairan-do em local florido, espécie de par-que ou jardim, artisticamente deli-

Novembro 2006 | FidelidadESPÍRITA

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Arrebatada pela entidade protetora,

bem cedo nos reconhecemos pairando

em local florido

MEDIUNIDADE

neado, verdadeiro cenário celeste,onde nenhum traço de beleza falta-va, percebendo-se até mesmo a me-lodia de pássaros e mil cativantesperfumes de flores. Todo o conjun-to se esbatia de um como luar azulmatizado, lembrando os coloridosde Rembrandt, isto é, partindo detons mais fortes, como sombreados,para decrescerem de coloraçãogradativamente, até o branco cinti-lante, pois essas nuanças são lumi-nosas, como neblinas que se ilumi-nassem por lampadários inteligen-tes, caprichosos.

Nessa encantadora estância en-contravam-se Victor Hugo eFrederico Chopin2. Vendo-os, ne-nhuma surpresa nos assaltou, pois

não temos memórias de quaisquersurpresas que nos assaltassem duran-te tais escapadas espirituais. Presen-te estava igualmente a entidade“Gaston”, que figura na obra comoa sua personagem central. Acredita-mos que, nos ambientes esclarecidosdo Espaço, quando um dos seushabitantes, ou componentes, se pre-para para a reencarnação, os que fi-cam lhe oferecem festividades dedespedida, homenagens que dão emresultado essas solenidades espiritu-ais, onde o Belo atinge proporçõesinconcebíveis à mente humana, por

mais artisticamente dotada que seja,visto que o Belo, no Invisível, éapanágio do virtuoso, do moraliza-do, do coração humanitário e fra-terno, já identificado com as vibra-ções inerentes ao verdadeiro bem.

A pura intelectualidade,desacompanhada de princípios ex-celentes, que somente as qualidadesdo coração produzem, assim comoa Arte, por si só, com o séqüito davaidade, do orgulho, da falta de boamoral, não permitem a ascensão doseu cultor aos planos rutilantes doBelo, existentes no Além... o que equi-vale a asseverar que nenhuma conquis-ta feliz, no Além-Túmulo, será possí-vel sem a renovação do Espírito, ouseja, a sua reeducação moral.

Percebemos que Victor Hugopresidiria à tarefa de Gaston, auxili-ando-o nas narrativas com o poderdo próprio gênio, pois teria sidoamigo e protetor deste, quando en-carnados ambos, em Paris. Tendo-olivrado mesmo da guilhotina,coadjuvado, nos esforços para pa-tentear a inculpabilidade do mes-mo, pelo Professor Denizard Rivail(Allan Kardec), de quem o jovemteria sido discípulo.

No entanto, era Charles quemnos esclarecia, e aqui tentaremos re-produzir suas palavras de então, atra-

2 É possível que nosso espírito não atingisse realmente a dita região, e sim tudo contemplasseatravés de quadros a distância. Tão sugestivos e intensos esses quadros (espécie da nossatelevisão, muito aperfeiçoada), que o médium mantém a impressão de que realmente estápresente em tudo o que vê.

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FidelidadESPÍRITA | Novembro 2006

MEDIUNIDADE

Victor Hugo, de quem ele foi grande

admirador e amigo, prontificou-se a

auxiliá-lo no tentame

vés das recordações que nos ficarame das intuições que nos afloram àmente, sob as irradiações do mesmodedicado amigo, sob cuja vigilânciaestas páginas são escritas.

- “Trata-se da solenidade de des-pedida de Gaston de... (jamais nospudemos apossar do verdadeironome dessa entidade, que no volu-me “Amor e Ódio” vemos alterado),antigo amigo nosso, companheirode ideais republicanos de Hugo, em

Paris... Sua beleza física foi célebre,pois sua plástica e mesmo afisionomia apresentavam semelhan-ça mui pronunciada com a estátuade Apolo de Belvedere. Sua vida, noentanto, primou pelos grandes infor-túnios, verdadeiras desgraças, quesobre ele se abateram... Despede-sehoje dos amigos da Espiritualidade,porque entrará em preparativos paraa reencarnação, o que absorverá suasatenções, e cercará a liberdade de queaté agora vem desfrutando entrenós... Ele se sente cansado da Euro-pa... como que aterrorizado dos férre-os costumes, dos preconceitos exces-sivos, do materialismo desanimadorali existente... e reencarnará, por isso,no Brasil, de cujas plagas se enamo-rou, para novos ensaios de progres-so à sombra generosa doConsolador, que lhe acalentou ocoração nos dias do passado...

“Deseja ele narrar a sua históriaatravés do feito mediúnico e oferecê-la à mocidade de sua futura Pátria

como lição esclarecedora que mos-trará, aos jovens descuidados documprimento do dever, até ondepoderão levar as inconseqüênciasde uma juventude leviana e des-regrada... Seus mentores espiritu-ais aprovaram a pretensão, vistoque o intento seria de utilidadegeral... Todavia, Gaston de..., nãoobstante intelectual primoroso,na Espiritualidade não possui opoder mental nem a ascendência

moral necessários à produção deum fenômeno tão transcendentee complexo, tal o dia da criação,transmissão e conclusões morais-filosóficas adequadas a uma obraeducativa em moldes evangélico-espíritas, e por isso não concedediretamente ao médium o que setornou, de há muito, seu arden-te desejo... Victor Hugo, de quemele foi grande admirador e ami-go, prontificou-se a auxiliá-lo notentame, pois Hugo possui todosos requisitos exigidos naEspiritualidade para a exposiçãoposterior ditado de uma obradentro desses moldes.

“Frederico Chopin, alma sen-sível e bondosa, não conheceupessoalmente Gaston sobre a Ter-ra, não obstante haver sido este,até hoje, um dos melhores intér-pretes de sua música; porém, afei-çoou-se a ele no Espaço, visto queGaston fora admirador sincero doseu gênio. Assim sendo, colabo-

Victor Hugo (1802 - 1885)

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MEDIUNIDADE

é comum o médium se emocionar ante

as belezas que à sua visão se rasgam

em cenas indescritíveis

...CONTINUA NAPRÓXIMA EDIÇÃO

Fonte:

PEREIRA, Yvonne A. Devassando o Invisível.

Págs. 138 a 173. Feb.

ra aqui, no momento, com a sua arte,para homenagear o amigo que se des-pede... Quanto a mim, que milito depreferência na Terra, incumbido, mer-cê de delicados deveres, de procurarum cérebro mediúnico-espírita paraas necessárias experiências – pois apresente reunião é composta de enti-dades convictamente espíritas -, arras-tei-me até aqui, visto ser esse o meudever, como teu assistente espiritualque sou... Entretanto, para o ditadoque se verificará, neste momento, pre-

cisará o médium ter conhecido a Fran-

ça e lá vivido pela época, a que o as-

sunto se reporta... Precisará, igual-

mente, ter vivido na Itália, particu-

larmente em Florença por ocasião de

um episódio ali desenrolado, assim

como precisará ter conhecido a aris-

tocracia, de uma forma ou de outra,através das reencarnações, pois que, anão ser assim, dificilmente encontra-ríamos em seus arquivos mentais, ou

subconsciência, elementos parapositivarmos o que irá ser narrado.Falo-te particularizando uma obra aser modelada.

No entanto, os informes que te for-neço são a regra geral para os demaislabores dessa espécie. Além disso, aparte doutrinária evangélico-espírita,sendo o móvel de uma obra literáriamediúnica deverá ser assaz cuidada, eao médium será, pois, indispensávelpossuir conhecimentos de tais maté-rias, a fim de tornar possível acionar-mos sua mente à nossa vontade, atra-vés do mecanismo das vibrações, dassugestões, de uma qualquer obramediúnica, é o trabalho fatigante epenoso para os doadores do Além...razão pela qual insistiremos em acon-selhar aos médiuns, em geral, incansá-veis esforços em prol da aquisição dosconhecimentos da causa em quallaboram, caso se interessem realmen-te pelos ideais em apreço.”

Entrementes, eis que uma tona-lidade vigorosa de voz, ou seja, a vi-bração do pensamento genial deVictor Hugo, repercutiu poderosa-mente em nossas potências espiritu-ais, dando a entender, exatamente,a frase inicial do primeiro capítulodo drama que seria publicado sobo nome de “Amor e Ódio”. Umavertigem intraduzível se apossou donosso espírito. Desapareceu de nos-sa visão todo aquele conjunto beloe feliz, que nos rodeava... Desapare-ceram Charles, Frederico Chopin,o jovem Gaston e o próprio VictorHugo... e nos reconhecemos em Pa-ris, na época evocada pela primeirafrase do livro, isto é, pelo reinadode Luís Filipe. Desenrolou-se, en-tão, a história sob o irresistível in-fluxo do grande Hugo, que a “nar-rou”, e cuja “voz” ouvíamos sempre,forte e dominadora, sem todavia vê-lo. Sua palavra, portanto, tornou-

se, vida, cenas, fatos, drama, seqüên-

cia admirável de uma realidade in-

contestável. Nós nos víamos presen-te em todas as cenas, qualexpectadora muda do imenso dra-ma, sem, contudo, perder nossa atu-al personalidade. Sentíamos, po-rém, ecoando em nossas sensibilida-des, as emoções e impressões que aspersonagens deveriam viver, perma-necendo as mesmas emoções emnosso ser, incomodando-nos mes-mo, afligindo-nos, até que a obra foiescrita e terminada.

Claude Monet, Saint Lazare Station, Paris, 1876-77

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Gêmeos Siamêses

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“Os Espíritossó chegam à perfeição depois de ha-verem passado pelas provas da vidacorporal. Os que estão naerraticidade esperam que Deus lhespermita voltar a uma existência quedeverá proporcionar-lhes os meiosde adiantamento, seja pela expiaçãode suas faltas passadas, mediante asvicissitudes a que estiverem sujeitos,seja pelo cumprimento de uma mis-são útil à Humanidade. Seu progres-so e sua felicidade futura serão pro-porcionais ao emprego que deremao tempo de sua nova passagem pelaTerra. O encargo de lhes guiar osprimeiros passos, dirigindo-os parao bem, é confiado aos pais, que res-ponderão perante Deus pela manei-ra com que se desincumbirem doseu mandato. É para facilitar-lhes aexecução, que Deus fez do amorpaternal e do amor filial uma lei danatureza, lei que jamais será violadaimpunemente”.

“A união começa na concepção,mas só é completa por ocasião donascimento. Desde o instante daconcepção, o Espírito designadopara habitar certo corpo a este se ligapor um laço fluídico, que cada vezmais se vai apertando até ao instan-te em que a criança vê a luz. O gri-to, que o recém-nascido solta, anun-cia que ela se conta no número dosvivos e dos servos de Deus”.

Surpreendentemente é, quandojunto ao grito anunciando a vida,há também duas criaturas, não uni-das somente pelas almas, mas uni-das de corpos e almas; foi o queaconteceu com os irmãos Chang eEng Bunker, nascidos no Sião (hoje

Tailândia), de onde decorre a deno-minação genérica “siamêses”.

Os irmãos Bunker, que nasceramunidos pelo apêndice terminal doosso esterno¹ situado no tórax –denominado xifóide, por isso o

¹ Osso ímpar, situado na parte anterior do tórax, e com o qual se articulam as clavículas e as cartilagens costais das sete primeiras costelas.

A união começa na concepção, mas só

se completa por ocasião do nascimento

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Os irmãos podem ter sido incomuns

somente pela singularidade genética,

mas agiam como pessoas comuns

nome xifópagos, ainda jovens, mu-dam para os Estados Unidos em1839 e lá se estabelecem na peque-na e simples cidade, com ares deinteriorana Mounty Airy, na Caro-lina do Norte, cujo sobrenome ado-taram quando se tornaram cidadãosamericanos.

Os Garotos Duplos, como eramconhecidos, tinham lá suas façanhas:eram excelentes carpinteiros - fize-ram suas próprias cadeiras, eram ca-çadores e cavaleiros, ginastas, joga-vam xadrez, andavam pelas ruas gra-ciosamente ao mesmo tempo; de es-pírito empreendedor, lotavam tea-tros, fizeram fortuna. Aos 21 anosde idade passaram eles mesmos a ad-ministrar suas carreiras.

Através de suas palestras conhe-ceram médicos, e foram à procurade diversos especialistas em separargêmeos xifópagos, mas Chang e Engnão tiveram essa opção; todos os di-

agnósticos indicavam que a opera-ção seria fatal.

Aos 32 anos de idade decidemconstruírem suas próprias famílias,conhecem e se casam com as irmãsYates, de família local. Chang casa-se com Adelaide e Eng com Sarah,tornando assim realidade as bodasduplamente duplas. Dessas uniõesnascem 21 filhos, e seus descenden-

tes tiveram 11 pares gêmeos, masnenhum deles xifópago. Depois demorarem juntos por 14 anos, a con-vivência entre os casais já não era tãoharmoniosa como no início; deci-dem, então, morar em lares separa-dos. Construíram suas casas e con-cordaram em passar três dias em umadas casas com uma das famílias e osoutros três dias na outra casa, coma outra família. Assim, os laços en-tre as famílias continuaram estreitos.

Os irmãos podem ter sidoincomuns somente pela singularida-de genética, mas agiam como pesso-as comuns e assim queriam ser con-siderados, tanto é que gostavam debons charutos, literatura e roupasda atualidade. Aprenderam a respei-tar suas próprias diferenças, uma vezque Eng de personalidade calma,gostava de jogar pôquer, tinha queconviver com o irmão que aprecia-va a bebida e era temperamental.

Aos 63 anos de idade dá-se o fa-lecimento de Chang, por conse-qüências respiratórias, que a cami-nho de um hospital para as ocor-rências médicas, Eng não concordacom a xifopagotomia, cirurgia paraseparação dos corpos, vindo tam-bém a falecer poucas horas depois.

A deficiência não os incomodava,era a opinião de um bisneto de Eng.

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À luz da Doutrina Espírita:

“Mesmo que a formação do cor-po físico apresente qualquer defici-ência ou problema, para o espíritoo novo corpo sempre será umabenção divina, porque nele estarátendo a oportunidade de se reajus-tar ante as leis divinas, ser útil navida universal e obter o seu próprioprogresso intelecto-moral. Na

encarnação, o que importa não é abeleza e perfeição corpórea, mas oque o espírito possa realizar atravésdo novo corpo”.

Deus sendo justo, bondoso epoderoso, cria todos os seres iguais,e a todos dá as mesmas oportunida-des. Cada um, porém, está em de-terminado grau de evolução, porisso apresenta diferentes possibilida-des e enfrenta diferentes situações,todas úteis e necessárias, agora, parao seu desenvolvimento. Dá a cadaum segundo as suas obras, mas nun-ca os condena de modo irremissível.Todos teremos tantas oportunida-des quantas forem necessárias pararesgatarmos erros e alcançarmosnossa evolução.

Para a evolução espiritual, duasalmas encarnaram em dois corposfísicos, que por circunstâncias da

vida evolutiva, nasceram em corposfisicamente ligados, devendo assimcumprir seu caminho inseparáveis.Mas ambos, dentro de suas peculia-ridades, tiveram a oportunidade de,nessa encarnação, desenvolver suaspróprias individualidades, para atin-gir o progresso nos planos do espí-rito.

Tendo nos criado para a perfei-ção e a felicidade, seu desígnio secumprirá integralmente. Através daevolução e em vidas sucessivas, to-dos nós nos aperfeiçoaremos e sere-mos felizes. Louvado seja Deus, nos-so Criador e Pai, em sua sabedoria,poder, justiça e bondade! �

O que importa não é a beleza e

perfeição corpórea, mas o que o espírito

possa realizar através do novo corpo

Bibliografia:

National Geographic Brasil outubro/2006.

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Religião – milagres,profecias, prodígios edogmas irracionais.

Na condenação de Galileu ele foiobrigado a refugiar-se em sua pró-pria casa e renunciar aos princípioscientíficos que divulgava. A Igreja daépoca estava dando o recado de quenão suportaria a perversão dos fun-damentos aristotélicos que ela ado-tava. O sistema do mundo criadopor Deus correspondia ao queAristóteles e Ptolomeu haviam de-cifrado. Deus, como Ser supremo eonipotente, criou e pôs o mundoem movimento e, desde então, tudofunciona com perfeição e harmonia,com ou sem a sua presença. Ele es-tabeleceu a ordem para o Universoe nada pode mudá-la. As estrelas queestão fixadas e imóveis nas abóba-das do firmamento são formadas deuma substância divina diferente daque existe no mundo sublunar. ATerra ocupa o centro do Universo eo Sol, que vai de um extremo a ou-tro do horizonte, serve de lâmpadaque ilumina o céu. Tudo que é per-feito e escapa ao entendimento hu-mano é obra de Deus. O círculo étido como figura perfeita impondoaos planetas uma órbita circular nas

suas trajetórias em volta do Sol. Nãohá qualquer ligação entre a vida dohomem e a dos animais. Eles fazemparte da criação para povoar o mun-do. O Homem conhecido na épocaera o homem branco, criado no pa-raíso, de onde foi expulso por ce-der à tentação do sexo. Condenadoa viver na Terra, terá de seguir osmandamentos da Lei de Deus, quesó a Igreja é competente para reve-lar, podendo ser salvo ou condena-do a penas eternas conforme suasubmissão. Como doutrina que es-clarece o início e o fim do Homem,a Religião da época era um sistemaacabado, pronto e que não admiti-ria mudanças desnecessárias. Seuconteúdo era completo e suficientepara consolar e aliviar nossas dores,ensinar a tolerância aos nossos so-frimentos. Justificar a incoerênciaaparente da Justiça divina e garantira salvação para os fiéis submissos aosseus sacerdotes. As desigualdadestambém ocorrem por obra e vonta-de de Deus e não nos competedesafiá-lo em seus desígnios.

Conseguindo “explicar” os mis-

térios do mundo e da vida, as con-cepções religiosas desempenhavamum papel superior ao da ciênciainiciante da época. A religião forne-ce segurança, conforta no sofrimen-to, alivia nossos medos, faz torçacom nossos “pecados” e assegura aesperança numa vida futura, ondeconseguiremos obter o que a Terranão nos privilegiou.

Ciência – o estatuto doconhecimento verdadeiro,racionalismo,indeterminação,pensamento livre para criara sua verdade

Galileu usa o raciocínio matemá-tico para comprovar a tese deCopérnico deslocando o Sol para ocentro e colocando a Terra no cor-tejo dos planetas ao seu redor. Nummundo tido como regular e perfei-to ele descobre as irregularidades dasuperfície lunar onde viu suas crate-ras. Num sistema imutável ele acres-centou luas a Júpiter que não foramdescritas por Aristóteles.

CIÊNCIA

Ciência Espírita- reflexões filosóficaspor Nubor Orlando Facure

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O alicerce da Igreja viu-se abala-do por novas descobertas que suce-deram rápidas. Ticho Brahe teste-munhou por dois meses a passagemde uma estrela nova no firmamentoque a Igreja supunha fixo e invariá-vel. Johanes Kepler comprovoumatematicamente que as órbitas dosplanetas são elípticas e não círculosperfeito como se supunha. RenéDescartes construiu um sistema fi-losófico que permitiria separar ocorpo da alma, e André Vessáliusinaugurou o estudo da anatomiahumana num corpo que lhe pareciacomportar-se como uma máquina,capaz de mover-se com músculossem a ajuda do espírito.

Mais tarde, Isaac Newton identi-ficou a “força atrativa” que mantémos astros em suas órbitas, que movi-menta as águas dos oceanos no sobee desce das marés e provoca a quedados corpos.

Gradativamente as forçasimateriais que produziam o movi-mento e a ordem do Universo fo-ram reconhecidas como forças dagravidade. As leis divinas que man-têm a regularidade dos fenômenosfísicos foram substituídas por prin-cípios matemáticos. Os mistériosque sustentam a vida foram compre-endidos como combustão do oxi-gênio, fermentação dos alimentosou metabolismo celular. Os “espíri-tos animais” que transitam pelo cor-po produzindo seus reflexos e mo-vimentos foram identificados quimi-

camente como neurotransmissores.A regularidade dos acontecimentosfoi violada pelo princípio da incer-teza. O determinismo linear de umacasualidade circular em que o pa-drão de resposta determina a inten-sidade da causa.

O paradoxo “ciência comoreligião” – dogmas, rituais,hierarquia, o sagrado e oprofano

Historicamente a Religião tembase na tradição cultural dos seusseguidores. Seu conteúdo, que ori-enta o comportamento dos fiéis,

está redigido em textos sagrados quepersistem inalterados por séculos. Alinguagem aí empregada é quase sem-pre simbólica permitindo interpre-tações conflitantes. Daí a importân-cia do sacerdote e do sistema de hi-erarquia que os classifica. Entre es-ses sacerdotes são distribuídas as re-galias materiais e o poder divino queos pressupõe representantes deDeus na Terra.

Por outro lado, a construção dosaber produzido pela ciência é umaconquista do esforço individual ou

de um grupo de pesquisadores. Seustextos, embora redigidos em lingua-gem técnica, procuram ser o maisclaro possível para compreensão dosinteressados. A verdade é procura-da exaustivamente pela observaçãoou pela experimentação. Textos es-critos ou opiniões pronunciadas porpersonalidades hierárquicas destaca-das têm importância relativa e, paraserem aceitas, precisarão submeter-se à comprovação realizada porexperimentadores independentes. Oconhecimento científico tem dura-ção relativamente curta, costuma sereunir em conjunto de proposiçõesteóricas que constituem um

paradigma e, de tempos em tempos,os cientistas envolvem-se na tentati-va de propor novos e mais adequa-dos paradigmas.

A ciência não deixou de ocupar-se, também, com dilemas que sem-pre estiveram sob o domínio dasreligiões. Ela tem, a seu modo, umaproposta para a origem do Univer-so e da vida na Terra. É apropriadopara a Ciência pesquisar o mecanis-mo que desencadeia os fenômenos,como eles acontecem, mais do quetentam explicar porque eles aconte-

CIÊNCIA

...de tempos em tempos, os cientistas

envolvem-se na tentativa de propor

novos e mais adequados paradigmas

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O texto da doutrina espírita teve início

com as revelações transmitidas por

Espíritos desencarnados

cem. Ela se ocupa minuciosamentecom a causa da dor e muito poucocom o porquê do sofrimento huma-no. A opção da Ciência é esclarecer,mais do que consolar.

Já é aceito por todos que parafazer ciência é preciso adotar o mé-todo científico. Classicamente apesquisa precisa estar enquadrada naliturgia do método. Usa-se a dedu-

ção ou a indução, a observação oua experimentação. Os fenômenosestudados fornecem os elementosque, aplicados a raciocínios matemá-ticos, fornecem o valor da verdadedescoberta.

Algumas proposições científicas

já estão de tal forma comprovadas eaceitas que deverão ter a duraçãoeterna das verdades sagradas das re-ligiões: a gravidade existe como for-ça de atração em todo o universo; aenergia tem valor inviolável, ela setransforma, mas não se cria nem seperde; o calor tende a se dispersar,assim como toda energia do univer-so onde a tendência é o caos; a luz é

um fenômeno eletromagnético; amatéria visível em todo o universo éda mesma natureza da matéria exis-tente na Terra; as moléculas de todasubstância estão em constante movi-mento; a variedade das espécies se deveà evolução pela seleção natural.

A Ciência Espírita –Fundamentos teóricos,controle experimental,filosofia espiritualista econteúdo moral

O texto da doutrina espírita teveinício com as revelações transmiti-das por Espíritos desencarnados denatureza superior, com o propósitode esclarecerem e orientarem a hu-manidade.

Os objetos de estudo da doutri-na espírita incluem o mundo espiri-tual, os seres que o habitam, suasrelações com o mundo material e asconseqüências dessa relação.

Para o Espiritismo, agrandiosidade do Universo e as leisinteligentes que o governam são pro-vas suficientes para comprovar a exis-tência de Deus.

Deus é criador de tudo o queexiste e sua criação é incessante. Nasituação evolutiva em que se encon-tra a humanidade, ainda não temos

CIÊNCIA

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Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : 0800 770-5990 21ASSINE : (19) 3233-5596 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

Deus atua através de Leis que a

inteligência humana irá

gradativamente descobrindo

CIÊNCIA

condições de compreender a origemdo Universo e da vida na Terra. Oque se tem como certo é que Deussempre criou e sempre continuarácriando.

Existem dois elementos funda-mentais no Universo, o espiritual eo material. O elemento espiritualtem início como “princípio inteli-gente”. Essa “centelha espiritual”transita do mundo espiritual aomundo material ocupando corposque lhe permite evoluir na escala davida inteligente na Terra. O Univer-so é preenchido por um “fluido” denatureza sutil, com propriedadesque ainda escapam ao nosso enten-dimento. É dele que se origina todamatéria conhecida. As propriedadesdas substâncias só existem em fun-ção desse fluido e pela sua atuaçãoessas propriedades podem sofrer asmais diversas alterações. A acidez oua alcalinidade é dada pela presençadesse fluido e por sua atuação umcopo de água pode curar ou produ-zir malefícios.

Existe um propósito divino nacriação. Estamos todos destinadosa caminhar pela extensa fieira dasexistências, na terra ou em outrosmundos, buscando a condi-ção de espíritos angélicos que umdia atingiremos.

Deus atua através de Leis que ainteligência humana irágradativamente descobrindo.Estamos todos mergulhados no pen-samento de Deus e nada que ocorreno Universo escapa ao seu consen-timento. Somos livres para agir eobrigados a arcar com as conse-qüências dos nossos atos. Cada umé responsável pelo seu próprio des-

tino. As Leis morais são pressenti-das pela consciência de todos nós eà medida que a humanidade avan-çar na sua evolução o Homem serácada vez mais consciente da aplica-ção dessas leis.

O mundo espiritual está perma-nentemente em íntimo contato como mundo material. Um e outro pro-cessam trocas fluídicas entre si e exer-cem influência recíproca sobre ooutro. Essa interferência recíprocaé tão intensa que não há como per-

manecer sem sua convivência. Umamultidão de espíritos desencarnadostransita com cumplicidade em to-dos ambientes da Terra. Eles nosacompanham e nós os atraímos com-partilhando com eles nossa intimi-dade. Os pensamentos quefreqüentemente temos como sendonossos são, muitas vezes, os pensa-mentos deles. Dentro das Leis divi-nas está estabelecido que atraímospara nossa companhia aqueles comquem sintonizamos nossos propó-sitos. O bem atrai os bons e o malconviverá com a ignorância.

Por envolver o mundo espirituale os Espíritos que aí habitam, nãotemos controle da comunicação es-piritual, e os métodos da ciênciahumana, seu sistema de controle eexperimentação, não se aplicam àciência do Espírito. Entretanto, al-guns homens têm em sua constitui-

ção uma disposição especial que lhespermite entrar em contato lúcidocom os espíritos desencarnados. Tra-ta-se do fenômeno da mediunidadeque se registra em todos os povos eem todas as épocas da humanidade.A mediunidade é o grande campode experimentação em que a dou-trina espírita se apóia para revelaçãoe comprovação dos seus postulados.A expectativa futura é de que nodecorrer dos séculos todos os ho-mens possam estar conscientes do

seu intercâmbio com o mundo es-piritual. Os fenômenos mediúnicosexplicam uma série de ocorrênciasfreqüentemente tidas como sobre-naturais ou produzidos por umaenergia desconhecida. A transmissãodo pensamento, a visão à distância,as premonições, a xenoglossia, apsicografia e a psicofonia são exem-plos já bem estudados e esclarecidospelo espiritismo. �

Fonte:

Jornal O Imortal. Outubro/2006 . Pág 3 e

1 3

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FidelidadESPÍRITA | Novembro 2006

ESTUDO

Um Olhar sobre a Mediunidadesegundo o médium Divaldo Pereira Franco

por Elsa Rossi - de Londres

Na paz do anonimato, realizam-se

os mais belos e mais nobres serviços

humanos

- Divaldo, percebe-se quehá um departamento dahumanidade para a busca dolado espiritual. A que seatribui isso?Divaldo P. Franco – A ciência e

a tecnologia solucionaram inúmerosproblemas do pensamento humano,mas não equacionaram o problemada paz. O homem moderno quepenetra nas galáxias e nasmicropartículas não logra conscien-temente penetrar no âmago dos seussentimentos. As metas estabelecidaspela cultura hodierna sãoimediatistas e quando o indivíduoas alcança, elas perdem o sentido.Eis por que o ser que se aventura najornada reencarnacionista, nos diasde hoje, sente um grande vazio no

coração, numa ânsia imensa pelaeternidade. Desse modo, de acordocom os níveis de consciência os se-res humanos estão buscando respos-tas espirituais e viajando na direçãoda imortalidade. Esta é a razão fun-damental da grande busca do espiri-

tismo em todas as suas denomina-ções na terra dos nossos dias.

- A mediunidade tambémestá presente noespiritualismo em geral?Qual a sua finalidade?Divaldo – Somente através do

fenômeno mediúnico é que se podeter a prova científica da imortalida-de da alma. As religiões ortodoxasdo passado e algumas outras do pre-sente castraram os dons atribuídospelo apóstolo Paulo às criaturashumanas e também referidos porJesus, quando ele asseverou que nóspoderíamos fazer tudo o que ele fezse tivéssemos fé. Então amediunidade tem por objeto essen-cial provar que a morte daqueles que

saíram da terra não encerrou a vida.A mediunidade tem por finali-

dade essencial ensejar os espíritos asua comunicação demonstrando asobrevivência da alma após o decessotumular. Na história ela sempre es-teve presente como profecia, nas re-

velações das sibilas, dos hierofantes,por cujos meios eles se comunica-vam sempre. Graças a Allan Kardec,esta adquiriu cidadania cultural,tornando-se o instrumento peloqual a vida que permanece depoisdo túmulo pode ser pesquisada emlaboratório.

- Como se processa o seudesenvolvimento?Divaldo - Segundo Allan Kardec

todos somos portadores de faculda-des mediúnicas. Uns sãos os mé-diuns ostensivos, aqueles nos quaisa mediunidade aparece sem avisoprévio, outros são os médiuns na-turais que Charles Richet denomi-nava portadores do chamando sex-to sentido. A sua educação como a

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ESTUDO

da inteligência e da memória dá-seatravés do exercício, do conheci-mento das suas funções, das refle-xões profundas, da meditação e daprece.

- Há técnicas especiais parase adquirir a mediunidade?Divaldo – Quando ela não se

apresenta espontaneamente, cadaum de nós pode exercitar a concen-tração interior de modo que,aprofundando nosso pensamentono âmago do ser, passamos a captaras vibrações parafísicas e lentamen-te vamos ampliando o campo daspercepções até o fenômeno tornar-se mais ostensivo, mais vigoroso.Através do exercício, portanto, éque educamos a mediunidade, é quelhe ampliamos as possibilidades, éque dispomos de uma técnica parti-cularmente na mediunidade espíri-ta, que nos exige a reforma interiorpara melhor, a adoção dos postula-dos de Jesus a fim de melhor sinto-nizarmos com os espíritos nobres.

- Como saber se umaobsessão é umamediunidade desorientada?Divaldo – Na raiz de todo fenô-

meno obsessivo há um espírito de-vedor. Para que haja o fenômeno daobsessão é necessário que o indiví-duo seja portador de uma faculda-de mediúnica, seja ela a intuiçãoaguçada que irá permitir a telepatiado adversário, seja psicofônica atra-vés da qual o Espírito, em seimantando ao perispírito do enfer-mo, transmite-lhe as sensações com-patíveis ao seu estado, de mal-estar,de vingança ou de ressarcimento domal que lhe foi feito. Portanto, daío dizer que nas mediunidades ator-

mentadas existem invariavelmenteobsessões e nas obsessões o fenôme-no dá-se o da interferência do espí-rito adversário, graças à faculdademediúnica não disciplinada.

- Qual o seu conselho paralidar com a obsessão oumelhor, qual sua orientaçãopara as pessoas que sesentem ligadas a fenômenosde obsessão na família?Divaldo – Allan Kardec em “O

Livro dos Médiuns”, capítulo 23,assevera-nos que a melhor terapiapara a libertação da mazela é a preceacompanhada pela paciência, pela

ação da caridade que proporcionaao indivíduo méritos para ressarciros males anteriormente praticados.A paciência com a entidadeperturbadora para demonstrar-lheque já não é mesmo indivíduo. Noínterim entre o crime e a desforrahouve uma grande transformaçãomoral e naturalmente, se a famíliase pode reunir para o estudo doevangelho e da oração, isto é de sa-lutar importância. O Espiritismodispõe de uma outra ferramenta demuita significação, que é o trabalhomediúnico específico, terapêutico,a que nós chamamos de desobsessão,no qual o inimigo se apresenta e re-cebe orientação compatível para suafelicidade, sendo induzido a deixaraquele que ele considera seu adver-sário, seguindo adiante porque a

Divina Lei encarregar-se-á de reeducá-lo, não lhe cabendo o trabalho decobrar dívidas. Compreendendoque ao fazer o mal, o Espírito desis-te e ao desistir o paciente recupera asaúde, mas deve retratar-se para quenada de pior lhe aconteça, caso con-tinue na vida descuidada ou na prá-tica de erros e perturbações.

- É possível receberorientação do Espírito-guiapara o afastamento dosEspíritos perseguidores?Divaldo - Sem qualquer dúvida,

porquanto os guias espirituais sãoos mentores das nossas existências,

entidades elevadas que nos acompa-nham desde há muito, encarregadasde trabalharem conosco em favor donosso progresso. Conhecendo nos-so passado como daquele que seapresenta na condição de justiceiro,os seus conselhos são eficientes edevem ser seguidos pois graças a es-sas palavras e orientação o indivíduomais rapidamente habilita-se e oadversário mais rapidamente desis-te do seu intento.

- Por que eles, osdesencarnados, perseguemas pessoas?Divaldo – Allan Kardec ouviu

deles próprios que assim agem porinveja, por despeito, por mágoa, res-sentimento, por ódio relacionadosa acontecimentos desta como de

Para enfrentar os naturais óbices da

caminhada,os envolvidos traziam

consigo reservas espirituais compatíveis

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FidelidadESPÍRITA | Novembro 2006

ESTUDO

Devemos ter em mente que os Espíritos

que conosco se comunicam são as almas

daqueles que viveram na Terra

existências anteriores. Devemos terem mente que os Espíritos queconosco se comunicam são as almasdaqueles que viveram na Terra e quese transferiram de uma para outravibração mantendo os mesmos pro-

pósitos e hábitos. Se foram atrasa-dos permanecem ignorantes, se fo-ram perversos prosseguem cruéis, seforam gentis, bons e nobres conti-nuam elevados. Por isso é que naclassificação dos Espíritos temos osinferiores e os superiores. Os inferi-ores constituem a grande categoriados infelizes, perturbados,perturbadores, odientos, etc. Dessemodo, eles nos perseguem porquenão são capazes de olvidar o mal quelhes fizemos, outras vezes porque nosinvejam a existência e encontramem nós a ressonância psicológicapara que as suas ondas mentaisperturbadoras nos alcancem.

- Divaldo, diga-nos quais sãoas faculdades mediúnicas equais você utiliza a serviço doespiritismo?Divaldo – Todos nós somos por-

tadores de faculdades variáveis.Com o tempo uma e outra predo-minam por serem mais úteis ao mi-nistério que todos desempenhemos.No meu caso, as primeiras manifes-tações foram visuais e auditivas nainfância. Mais tarde em face de um

distúrbio obssessivo com o próprioirmão, passei a viver fenômenos físi-cos. Logo depois ao adotar o estu-do do Espiritismo vieram os fenô-menos da psicofonia e psicografia.Mais tarde alguns fenômenos de efei-

tos físicos, biolorização (odor per-fumado, agradável ao corpo). Naatualidade, a clarividência, aclariaudiência, incorporação oupsicofonia, a psicografia, são os maisconstantes. De fato, uma faculdadecompleta a outra no exercício dadivulgação da Doutrina Espírita.

- Divaldo, você já recebeumais de 200 livros. Como é oprocesso de receber tantoslivros psicografados?Divaldo – Considerando o pou-

co tempo de que disponho desdequando trabalhava, que eram 8 ho-ras diárias, e após a aposentadoria aampliação das viagens, porque viajodesde 1947, foi necessário criar umadisciplina muito rígida. Os livrosque são coletâneas de mensagens euos recebo nas sessões mediúnicas denossa casa, em uma sessão públicaespecializada para cartas do além,diante do público. Nas viagens,Joanna de Ângelis convida amigosespirituais para que abordem o temaque foi discutido naquela noite sobum outro ângulo e vamos forman-do os livros sob a orientação dessa

Novembro 2006 | FidelidadESPÍRITA

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : 0800 770-5990 25ASSINE : (19) 3233-5596 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

ESTUDO

Para minha surpresa veio uma

mensagem escrita em inglês

entidade generosa. Quando tratamosde revelações do além-túmulo, comoas obras de Manoel Philomeno deMiranda, os romances de VictorHugo, os livros de AméliaRodrigues, sempre são reservadosvários dias em que eu, não viajan-do, possa dedicar-me de 16 a 18horas diárias exclusivamente para essemister. E graças a Deus em apenas

20 a 28 dias os benfeitores conse-guem escrever uma obra que logovai publicada.

- Quantos Espíritos escrevempor seu intermédio?Divaldo – O Dr. Washington Luís

Nogueira Fernandes, que me tem bi-ografado e feito estatísticas das minhasatividades graças a documentação deque disponho, chegou a contabilizar263 que já foram publicados. Mas,como venho psicografando cartas par-ticulares do além-túmulo para pesso-as que não as publicam por motivoscompreensíveis, eu acredito que já ul-trapassam 400.

- Tivemos conhecimento deque recentemente no Con-gresso Espírita em Paris. Re-alizado em 2004, você rece-beu uma mensagempsicografada espelhada emfrancês, na frente de 1.800pessoas. Isso acontece comfreqüência?

Divaldo – Não acontece com fre-qüência. A minha primeira experi-ência foi num programa de TV nacidade de Uberaba quando fui agra-ciado com o título de CidadãoUberabense. Após a cerimônia, nodia seguinte, em um programa cha-mado “A Bigorna” – porque osentrevistadores bigornavam o entre-vistado – então estava o materialis-

ta, o professor da Universidade,outras personalidades que me entre-vistaram em tom de debate muitoacalorado. Ao término o mediadordo programa perguntou se eu pode-ria psicografar. Expliquei que nãodependia de mim mas, como via amentora Joanna de Ângelis presen-te, aquiesci e disse que iríamos ten-tar. Para minha surpresa veio umamensagem escrita em inglêsespecularmente para ser lida atravésdo próprio espelho. A surpresa foigeral, Chico Xavier ainda estava en-carnado e acompanhou o programapela televisão como me disse depois.Posteriormente eu psicografei outrana cidade de Elton College na Ca-rolina do Norte, na residência dosenhor Haddad, em uma reuniãoíntima. Mais tarde, voltei apsicografar em uma atividade numaigreja na cidade de San Antonio noTexas, em uma reunião promovidapelo Dr. John Zerio, quando maisuma vez eu tive a experiência eminglês. Essa em francês em Paris foi

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FidelidadESPÍRITA | Novembro 2006

ESTUDO

...o conhecimento vem do mundo

espiritual para o terreno e não deste

para aquele

uma grande surpresa. No entanto jáhavia escrito linearmente em francês,em italiano, alemão e até mesmo emárabe, de cujas mensagens conserva-mos os originais com muito carinho.

Recebi também duas mensagensem alemão, uma em público e ou-tra em Salvador, dirigida ao engenhei-ro André Studer, que a publicou nolivro que ele estava escrevendo denome “Manur”. Foi muito curiosoporque André Studer é uma almamuito querida, um grande amigonosso e benfeitor e um dia Joannade Ângelis apareceu e queria man-dar a ele uma mensagem, que pen-sei ser uma mensagem convencionalem português. Ela escreveu para eleem alemão antigo a respeito do li-

vro que ele estava escrevendo, de queninguém sabia, só ele e a esposa.Então mandei-lhe a mensagem semsaber do conteúdo e mais tarde eleme confidenciou que foi a maiorprova da excelência do livro e queteve da mediunidade. Ele bem sabeque eu não falo alemão, e sabia queeu não estava informado de manei-ra nenhuma sobre o livro.

Recebi outra mensagem em itali-ano na Comunità Vita Nuova, emMilão. Estava em uma reunião eErnesto Bozzano veio e escreveu emitaliano, sem ninguém esperar. Pos-teriormente eu recebi uma segundamensagem em italiano dirigida ao en-tão presidente do Vita Nuova, Anto-nio Rosa Spina, hoje desencarnado.

- Você escreve muitos livrosna linha psicológica que sãoutilizados por váriosestudantes de psicologia.Qual a posição da ciênciaem relação às obrasmediúnicas?

Divaldo - Graças à psicologiatranspessoal há hoje uma visão mui-to digna em torno do trabalho quevem do além-túmulo pela visão, pelaobservação dos seus estudiosos.Quando Joanna de Ângelis começoua escrever a série psicológica, quehoje totaliza 12 livros, a mim cau-sou uma grande surpresa e pergun-tei-lhe como é que ela, tendodesencarnado em 1822, poderia es-crever sobre assuntos da atualidade,

referir-se a autores e a escritores, apsicólogos, psicanalistas, psiquiatrasdo século 20. Ela explicou-me, coma clareza do seu raciocínio, que oconhecimento vem do mundo espi-ritual para o terreno e não deste paraaquele. Ela não foi uma psicólogaacadêmica, mas que no mundo es-piritual muitos daqueles que vieramtrazer a psicologia estiveram em con-vívio com ela e outros, debatendotemas, construindo os processos dadoutrina e reencarnaram sob suaassistência e assistência do grupo.Quando retornaram foram avalia-dos, comentados, e outros missio-nários do pensamento vieram à Ter-ra. Desse modo ela estava muito fa-miliarizada, particularmente com a

doutrina de Carl Gustave Jung porabrir na sua psicologia profundauma possibilidade muito ampla paraa psicologia transpessoal, porque odesejo da querida Benfeitora é defazer uma ponte entre a psicologia eo Espiritismo, demonstrando queAllan Kardec foi o primeiro psicó-logo não-acadêmico, porque ele pe-netrou no âmago dos conflitos hu-manos e ofereceu as respostas hábeise as terapias mais edificantes. Então,hoje, os psicólogos, não apenas ostranspessoais, examinam a produçãomediúnica e a aceitam, com as exce-ções compreensíveis. Havemos noBrasil os que estão adotando nosseus cursos universitários algumasdas obras de Joanna de Ângelis,como grupos de psicólogos que asestudam em todo o território naci-onal. Eu tenho relacionado mais de30 nomes de instituições espíritasque tiveram a gentileza de mandarcomunicar-me que Joanna deÂngelis foi estudada sob a orienta-ção de psicólogos. �

Fonte:

Jornal O Imortal. Outubro/2006. Págs.

8 e 9.

Novembro 2006 | FidelidadESPÍRITA

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : 0800 770-5990 27Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : (19) 3233-5596

Fonte:

MARTINS, Eduardo. Com Todas as Letras.

Pág. 52. Editora Moderna. São Paulo/SP,

1999.

COM TODAS AS LETRAS

A Crase tem Casos Especiaispor Eduardo Martins

Alguns usos especiais da crase nem sempre ficam claros pela simples

aplicação das regras vistas na edição anterior.

Assim, emprega-se a crase:

a) Nas indicações de horas, desde que determinadas. Chegou às 2 horas, às 16 horas, à 1hora. Zero e meia incluem-se na regra: O aumento entra em vigor à zero hora. / Venho à meianoite em ponto. Aliás, a substituição por palavras masculinas mostra a equivalência: Veio aomeio-dia em ponto. / Chegou aos 12 minutos de hoje. A indeterminação afasta a crase: Irá auma hora qualquer.

b) Antes de que, qual e quais, desde que o a ou as possa ser substituído por a ou aos. É umafazenda semelhante à (fazenda) que compramos. Equivalente: É um sítio semelhante ao (sítio)

que compramos. / Eis a moça à qual (moça) você se referiu. Equivalente: Eis o rapaz ao qual(rapaz) você se referiu. / Elogiou as experiências às quais (experiências) nos submetemos.Equivalente: Elogiou os testes aos quais (testes) nos submetemos.

c) Nas formas àquele, àqueles, àquela, àquelas, àquilo (resultantes da contração da preposição

a com os pronomes aquele, aqueles, aquela, aquelas e aquilo) Não me refiro àquele (a +

aquele) homem nem àqueles (a + àqueles) outros. / Irei amanhã àquela (a + aquela)

cidade ou àquelas (a + aquelas) duas mais próximas. / Não o vinculo àquilo (a + aquilo).

Agora talvez seja o momento de perguntar: existem casos de crase opcional? Existem.

a) Pronome Possessivo. Como é facultativo o uso do artigo antes de pronome possessivo, o

mesmo ocorre com a crase. Assim: Dirigiu-se a (ou à) sua irmã. / Deu ajuda a (ou à) nossa amiga.A crase, em geral, dá clareza a esse tipo de oração.

Observação. Não se pode empregar o a com acento se o pronome possessivo fizer parte de uma

forma de tratamento. Não me referi a Vossa Excelência. / Pediu perdão a Nossa Senhora.b) Nome de mulher. O artigo também é opcional antes de nome de mulher. Por isso, a crase

também é facultativa. De qualquer forma, prefira aplicar a crase quando a mulher for pessoa

íntima. Assim: Deu o livro à Maria (presume-se que seja amiga ou parente). / Declarou-se àVerônica (ninguém vai declarar-se a uma estranha, imagina-se). Em casos mais formais, usa-se o

a sem acento: Fez boas referências a Fernanda Montenegro (só os amigos da atriz poderiam

fazer boas referências à Fernanda).

c) Até. A festa irá até as 23 horas (ou até às 23 horas). / Até a volta! (ou: Até à volta!) / Foram comele até a porta (ou até à porta). Uma sugestão: evite a crase, uma vez que a forma até a dá ao

texto idéia de erudição ou rebuscamento.

Chico Xavier - Emmanuel

Vinha de Luz

Executar BemExecutar BemExecutar BemExecutar BemExecutar Bem“E ele lhes disse: - Não peçais mais do que o que vos está ordenado.” João Batista

(Lucas, 3:13.)

A advertência de João Batista à massa inquieta é dos avisos mais preciosos do Evangelho.

A ansiedade é inimiga do trabalho frutuoso.

A precipitação determina desordens e recapitulações conseqüentes.

Toda atividade edificante reclama entendimento.

A palavra do Precursor não visa anular a iniciativa ou diminuir a responsabilidade, mas

recomenda espírito de precisão e execução nos compromissos assumidos.

As realizações prematuras ocasionam grandes desperdícios de energia e atritos inúteis.

Nos circuitos evangélicos da atualidade, o conselho de João Batista deve ser especialmente

lembrado.

Quantos pedem novas mensagens espirituais, sem haver atendido a sagradas recomendações

das mensagens velhas? quantos aprendizes aflitos por transmitir a verdade ao povo, sem haver

cumprido ainda a menor parcela de responsabilidade para com o lar que formaram no mundo?

Exigem revelações, emoções e novidades, esquecidos de que também existem deveres

inalienáveis desafiando o espírito eterno.

O programa individual de trabalho da alma, no aprimoramento de si mesma, na condição de

encarnada ou desencarnada, é lei soberana.

Inútil enganar o homem a si mesmo com belas palavras, sem lhes aderir intimamente, ou

recolher-se à proteção de terceiros, na esfera da carne ou nos círculos espirituais que lhe são

próximos.

De qualquer modo, haverá na experiência de cada um de nós a ordenação do criador e o

serviço da criatura.

Não basta multiplicar as promessas ou pedir variadas tarefas ao mesmo tempo. Antes de

tudo, é indispensável receber a ordenação do Senhor, cada dia, e executá-la do melhor modo.

4 REFLEXÃO

ART. 282 E 284 DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO

O Espiritismo enfrentando a política

7 MEDIUNIDADE

ROMANCES MEDIÚNICOS - PARTE III

Esclarecimentos quanto à qualidade dos textos

mediúnicos

14 CAPAO SEGREDO DA GRANDE ESFINGE

A poder da Igreja durante todos os tempos

24 DIVULGAÇÃO

MÃE REENCONTRA FILHOS DE EXISTÊNCIA PASSADA

Filme lançado em DVD retrata caso verídico

25 ESTUDO

CENTRO ESPÍRITA E ADMINISTRAÇÃO

Organização faz parte do bom funcionamento da

Casa Espírita

27 COM TODAS AS LETRAS

LOCUÇÕES CRIAM POLÊMICAS SOBRE A CRASE

Importantes dicas da nossa língua portuguesa

SUMÁRIO

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Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”Rua Luís Silvério, 120 – Vila Marieta 13042-010 Campinas/SPCNPJ: 01.990.042/0001-80 Inscr. Estadual: 244.933.991.112

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EDITORIALEdição

Centro de Estudos Espíritas

“Nosso Lar” – Depto. Editorial

Equipe Editorial

Adriana Levantesi

Leandro Camargo

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Zilda Nascimento

Jornalista Responsável

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Projeto Gráfico

Fernanda Berquó Spina

Revisão

Equipe FidelidadEspírita

Administração e Comércio

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Impressão

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O Centro de Estudos Espíritas

“Nosso Lar” responsabiliza-se

doutrinariamente pelos artigos

publicados nesta revista.

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Realmente, a faculdade mediúnica independe da fé para ex-pressar-se em fenômenos de toda ordem. A sociedade estárepleta de pessoas que, mesmo sem acreditar, atuaram como

intermediários da Espiritualidade, confirmando a realidade do inter-câmbio.

Entretanto, para aquele que já se conscientizou das próprias possi-bilidades psíquicas, e decidiu assumi-las com dedicação e responsabili-dade, a fé passa a representar fator imprescindível.

Uma semente atirada ao solo, embora conserve em si a possibilida-de natural de germinar, nem sempre produzirá a contento, por estarsujeita às intempéries do tempo e às imperfeições do terreno.

Todavia, se recebe adubação adequada, potencializa suas energias,desenvolvendo-se de forma robusta e produtiva.

Em se tratando de mediunidade responsável, ninguém prescindedo adubo da fé fortalecendo o solo da alma.

No intercâmbio com o Além, a fé raciocinada atua como agenteindutor predispondo o médium para a libertação das forças psíquicasnecessárias ao fenômeno.

Meditemos nisso, e constataremos facilmente a importância da ati-tude mental no momento do intercâmbio.

Abrir-se para receber;Receber para transmitir;Transmitir para auxiliar.Certamente, não se trata de adotar uma postura mística, incompa-

tível com a seriedade que o ato mediúnico exige. Em Espiritismo, fénão é sinônimo de fanatismo.

A fé a que Allan Kardec se refere é aquela sustentada na base doraciocínio e do estudo, mediante os quais se adquire a convicção raci-onal acerca da imortalidade do espírito e da possibilidade de comuni-cação entre os dois lados da vida.

Imbuído da fé sincera e dos objetivos elevados, o tarefeiro atrairápara si, de forma natural, a presença de amigos espirituais que o cir-cundarão em suas atividades, conferindo-lhe segurança e orientação.

AugustoLEVY, Clayton. Mediunidade e Autoconhecimento. CEAK. 2003

ASSINE : (19) 3233-559632 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

FidelidadESPÍRITA | Dezembro 2006

REFLEXÃO

Art. 282 e 284 do Código Penal

Brasileiro - Política

por Suely Caldas Schubert

26 – 4 – 1945

“(...) Tenho consagrado todas asminhas horas disponíveis ao traba-lho de André Luiz. Recebi as men-sagens publicadas em“Reformador”, a que te referes. Hádias, ouvi Emmanuel sobre o assun-to, sendo que ele aconselhou fossemtodas elas (com exceção de algumas)colocadas em futura edição prová-vel do “Novas Mensagens”. Diz eleque não será útil fazer uma novapublicação com esses trabalhos e, deagora em diante, o nosso velho ami-go é o “Irmão X” para todos efeitos,sendo de esperar que ele nos dê algo,de novo, mais tarde, sob esse nomeigualmente novo, não é? Recebi on-tem a 3ª edição do “Novas Mensa-gens”, o que te agradeço e, assim,esperaremos o futuro e teremos bas-tante tempo para tratar do caso, nãoachas? A propósito, envio-te a novamensagem que recebi do “Irmão X”,ontem, e que passo para tuas mãos.Achei-a muito interessante.

Muito grato pelas notícias donosso estimado e bom amigo Sr.Figner. Espero em Jesus, que, con-forme me contas, possa eu, em bre-ve, ouvi-lo ao telefone. (...)

Muito grato pela notícia do“Parnaso” nas alturas. Creio que é aprimeira vez que as suas páginas te-

rão sido lidas em avião, não é mes-mo?”

Chico se dedica, como declara-va, ao novo livro de André Luiz,cujo título ele informa a Wantuilna próxima carta.

Em seguida, refere-se às mensa-

gens de Humberto de Campos e quelevariam agora – conforme fora com-binado – a assinatura de “Irmão X”.Naturalmente, tanto ele quantoWantuil têm ainda em mãos algu-mas mensagens com o verdadeironome do célebre escritor brasileiroe, prudentemente, segundo a orien-tação de Emmanuel, não fariamnova publicação com esses traba-lhos. Aguardariam, assim, que como pseudônimo de Irmão X ele trans-mitisse outras páginas mediúnicas.Como o próprio Chico diz, estavasendo lançada a 3ª edição do “No-vas Mensagens”, onde consta o

nome de Humberto de Camposcomo autor espiritual.

O último parágrafo do trecho dacarta acima refere-se a uma viagemaérea que Wantuil tinha realizado,tendo este informado ao Chico queaproveitara o tempo do percursopara rever as provas de máquina de

nova edição do “Parnaso de Além-Túmulo”.

“Estou rogando a proteção deJesus para as tuas providências “anti-282 e 284”. Que Jesus nos projeta,a fim de que possamos intensificaros serviços do bem”.

Chico faz, no texto acima, im-portante menção ao trabalho verda-deiramente brilhante de Wantuil deFreitas no sentido de conseguir amodificação dos artigos 282 e 284do Código Penal Brasileiro, os quaisatingiam, especialmente, os mé-

buscando assegurar a todos os médiuns o

direito de ajudar o próximo, Wantuil de

Freitas irá até o Presidente da Republica!

Dezembro 2006 | FidelidadESPÍRITA

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : 0800 770-5990 33ASSINE : (19) 3233-5596 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

REFLEXÃO

diuns curadores. Na defesa destes,isto é, buscando assegurar a todosos médiuns o direito de ajudar opróximo e de praticar a caridade emnome de Jesus, Wantuil de Freitasirá até o Presidente da República!Só este fato bastaria para assinalarindelevelmente a presença deWantuil na História do Espiritismono Brasil.

Também aqui, valemo-nos dotrabalho de Clóvis Ramos, “Docu-mentos e depoimentos para a His-tória do Espiritismo no Brasil”, emsua 3ª parte, publicada em“Reformador” n° 1.836, de marçode 1982, transcrevendo um trechodo relatório de Wantuil de Freitas,no período de julho de 1944 a ju-nho de 1945, apresentado à Assem-bléia Deliberativa da FEB. Primei-ro, a explicação de Clóvis Ramos.

“A luta maior foi, e tem sido,conta o que os inimigos do Espiri-tismo fizeram constar do CódigoPenal Brasileiro, com o fito de atin-

gir os médiuns curadores, que tan-tos serviços prestavam, e ainda pres-tam, aos pobres deste País, dandode graça o que de graça recebem,como manda o Evangelho. Lutou,a FEB, com denodo, contra os arti-gos 282 e 284, do nosso Códigoem vigor.”

E agora a palavra do Dr. Wantuilde Freitas:

“Não se descuidou também aDiretoria de defender o nosso pon-to de vista relativo à interpretaçãoque o judiciário vem dando aos ar-tigos 282 e 284 do Código Penal.Todas as nossas exposições anterio-res foram mandadas arquivar pelosSrs. Ministros da Justiça, diante dospareceres dos Consultores Jurídicosdo Ministério; no entanto, no cor-rer do exercício, nova exposição enovos argumentos dirigimos ao Sr.Presidente da República, solicitan-do alteração, modificação ou revo-gação dos referidos artigos. Sobreessa última exposição de motivos,

felizmente, nos é dado comunicar-vos,com absoluta segurança, que ela me-receu ser informada favoravelmentepelos juristas do Ministério; todavia,como o Sr. Ministro lhe desse o des-pacho – “Examine-se oportunamen-te” – resolvemos apelar para o Sr. Pre-sidente da República, pedindo-lheuma audiência, na qual lhe expuse-mos, em data de 16 de julho(*),as ra-zões em que nos baseamos.”

Pode-se imaginar gesto mais po-sitivo, mais firme, mais direto e de-cidido em defesa do Espiritismo?Por incrível que pareça, Wantuil deFreitas teria não apenas essa, masoutras atitudes igualmente arrojadase decisivas, defendendo a nossa Dou-trina, numa época em que era preci-so lutar até mesmo pelo direito deser espírita. Pelo direito de ir aoCentro. Pelo direito de ver a Dou-trina Espírita reconhecida e respei-tada como religião.

E o “Reformador” de agosto de1946 traz o relato complementar deWantuil:

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FidelidadESPÍRITA | Dezembro 2006

REFLEXÃO

“Em 16 de julho (*) estivemos empresença do Sr. Presidente da Repú-blica, em audiência previamentemarcada, a fim de conseguirmos queo S. Exa. examinasse as ponderaçõesque lhe apresentamos quanto à in-justiça dos artigos 282 e 284 doCódigo Penal, criados pelos adver-sários do Espiritismo, em desrespei-to à Constituição do País. Prome-teu-nos S. Exa. que iria estudar oprocesso que se encontrava em mãosdo seu Ministro da Justiça, aliás,segundo fomos informados, comparecer favorável; no entanto, enca-

minhado pelo Sr. Ministro para oConsultor Geral da República, oprocesso não voltou às mãos do Pre-sidente, visto que as Forças Arma-das entregaram a direção do País aoPoder Judiciário. Dessa forma, de-veremos esperar que a Nação volteao seu estado normal, para prosse-guirmos em nossos trabalhos.”

Vejamos agora o que estatui onosso Código Penal e que é tão pre-judicial ao Espiritismo, ao livre exer-cício da caridade que visa a aliviaros males do corpo e da alma:

(*) trata-se de 16 de julho de1945. (Nota da Editora.)

“Tratando do exercício ilegal damedicina (esclarece Clóvis Ramos,acima citado), arte dentária e artefarmacêutica, diz o seguinte:

Art. 282. Exercer, ainda que atítulo gratuito, a profissão de médi-

co, dentista ou farmacêutico, semautorização legal ou excedendo-lheos limites:

Pena – detenção, de seis meses adois anos.

Parágrafo único. Se o crime é pra-ticado com o fim de lucro aplica-setambém multa, de um a cinco con-tos de réis.

Tratando do charlatanismo:Art. 284. Inculcar ou anunciar

cura por meio secreto ou infalível:Pena – detenção, de três meses a

um ano, e multa de um a cinco con-tos de réis.

Da interpretação desses disposi-tivos legais (prossegue Clóvis Ra-mos), aconteceram, e ainda aconte-cem, perseguições aos médiuns, que,de vez em quando, se vêem às voltascom a polícia, acusados do “exercí-cio ilegal da medicina”, confundi-dos, muitos deles, com mestres docharlatanismo...”

“O que me dizes sobre a política é o

que eu penso. Nossa tarefa é com Cristo

de Deus. As “sereias estão cantando”,

mas a verdade é que o nosso coração não

foi chamado para esse gênero de luta. O

Bispo de Maura me escreveu uma carta

longa (cuja cópia com a cópia de minha

resposta enviarei, breve, à leitura confi-

dencial com o Ismael), acreditando eu

que ele também está interessado em mo-

vimento político. Estou respondendo a

ele, com instruções de Emmanuel (a mim,

particularmente) lembrando que o nosso

trabalho não pode esquecer aquele

ensinamento do Divino Mestre – “ a César

o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Logo que eu voltar da viagem te enviarei

as cópias para leres com o Ismael. (...)”

Chico utiliza a interessante ima-gem “as sereias estão cantando” parasimbolizar o fascínio, a atração quea política exerce sobre muitas pes-soas. Também ele não escapou de“ouvir o canto das sereias” isto é, deser convocado a entrar no jogo po-lítico, com a promessa de ofertastentadoras, caso desse seu apoio aalgum político. Entretanto, apesarde ouvir-lhes o canto, não hesita emprosseguir na sua caminhada. E so-bre isto comenta com o amigo, di-zendo: “Nossa tarefa é com Cristode Deus (...) nosso coração não foichamado para esse gênero de lutas.”É evidente que Chico sabe não seressa a tarefa de ambos.

Como detalhe curioso, a revela-ção de que o Bispo de Maura lheescreve longa carta, supondo queChico estaria interessado em se pro-jetar no cenário político. A respos-ta de Chico Xavier, sob a orienta-ção de seu Mentor Espiritual,enfatiza junto ao Bispo oensinamento do Divino Mestre paraaqueles que estão a Seu serviço: “ACésar o que é de César e a Deus oque é de Deus”. Chico promete aWantuil enviar-lhe, para que leia,juntamente com Ismael, a cópia dacarta do Bispo de Maura e a cópiada resposta que ele lhe remeteu. �

Fonte:

SCHUBERT, Suely Caldas. Testemunhos de

Chico Xavier. Págs. 54 - 59. Feb

...ainda acontecem, perseguições aos

médiuns, que, de vez em quando, se

vêem às voltas com a polícia

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MEDIUNIDADE

Romances Mediúnicos - Parte III

por Yvonne do Amaral Pereira

Jamais nos fora possível concebercenas tão belas, tão artisticamentedelineadas, paisagens tão esmeradase tão encantadores pormenorescomo ao nosso espírito deram acontemplar nessa madrugada feliz,em que nos vimos arrebatada parao Espaço. Os fatos se desenvolviamem cores que iam do azul pervinca,cintilante, ao branco igualmente cin-

tilante, ornados de efeitos de luz esombreados em azul mais forte, lem-brando quadros de Rembrandt1.Nenhum detalhe de salão ou de al-gum jardim, nenhum pormenor devestuários femininos ou masculinos,e nem mesmo os perfumes escapa-vam à nossa observação ou à nossasensibilidade. A certa altura, ouvi-mos que Hugo comunicava:

- “A quarta Parte será narrada emgrifo...”

Não compreendemos o que que-ria ele dizer. Nada perguntamos, noentanto. Acreditamos, mesmo, queo médium, em tal situação, absolu-tamente não poderá “falar”, ou seja,externar a própria vontade, senãoobedecer à vontade alheia. Pensáva-mos, porém. E meditamos em que

1 Rembrandt Harmeszoon Van Ryn– Ilustre pintor da escola holandesa. Nasceu em Leyde, em 1606, e morreu em Amsterdão, em 1669. Esse inconfundível artista brilha pelo vigor

e riqueza do pincel, pela ciência do claro-escuro, cuja multiplicidade de recursos foi o primeiro a mostrar, pela vida das encarnações, vigor dassombras e brilhos da luz. Deixou 350 pinturas e outras tantas águas-fortes. É célebre o seu auto-retrato.

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MEDIUNIDADE

Cenas, impressões e emoções

repercutiam em nossas sensibilidades

com intensidade profunda

Pinturas de Rembrandt - A Festa de Balthazar (1635) e A Noiva Judia (1666)

o grifo é um sinal na escrita ma-nual ou tipográfica, um tipo de le-tra de imprensa diferente dos demaiscaracteres em que o texto de umaobra foi impresso, embora os dicio-nários expliquem tratar-se tambémde um enigma, de algo embaraçadoou ambíguo. Dentro em pouco, no

entanto, era realmente exposta aQuarta Parte do livro, exatamenteo trecho iniciado em Florença e ter-minando em Paris, “pelos alboresdo XVIII século”. Mas, as cenas, ago-ra, bem assim as paisagens, os ambi-entes, eram inteiramente modeladosem cores vivas, diferentes, portantodo resto do trabalho, que fora emazul e branco. Aí estaria o grifo...Nos episódios verificados em Floren-ça, as colorações eram mais inten-

sas, porém claras e cintilantes, comose um sol vivo e ardente recobrisseos ambientes. Mas, naqueles vividosem Paris, durante essa Quarta Parte,as cores eram mais brandas e delica-das, destacando-se o azul e o rosa,como em “Nas Voragens do Peca-do”, mas tudo envolvido em discre-

ta penumbra, como se chovesse.No decurso das cenas, nós nos

sentíamos, por toda a parte, comoque acompanhante das personagens,a ponto de ingressar em um túmulocom o cadáver de um suicida, cujoEspírito se debatia no período dasconfusões, e chegando até a sentir ofétido da decomposição cadavérica.Reconhecemo-nos, igualmente, de-tida no horror das antigas prisõeseuropéias, cuja realidade antes não

nos preocupava e nos era impossí-vel avaliar. Conhecemos, então, de-talhes repugnantes e atrozes, ali exis-tentes, tais como imundícies e féti-dos, o que até então ignorávamoshouvesse existido nos ditos presídi-os. Chorávamos e sofríamos, exata-mente como faziam as personagens.Cenas, impressões e emoções reper-cutiam em nossas sensibilidadescom intensidade profunda einexplicável, não isenta de sofrimen-tos. Cremos que todas as potênciascom que Deus prendou nosso seranímico encontravam-se, naquelesmomentos sagrados, hiperestasiadas,ou seja, todas as nossas energiasvibratórias se haviam exaltado aograu máximo de nossas resistênciasespirituais. Por vezes, sobrevinha afadiga. Mas Charles reconduzia-noso espírito para junto do corpo – outínhamos a impressão de que talacontecia, não sabemos ao certo. –Víamo-lo, então, o corpo, arquejan-te a suspirar profundamente. Vultosaéreos, não reconhecidos por nós,cremos que o tonificavam com tera-

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será necessário que exijamos do

aparelho transmissor todas as energias

vibratórias de que puder dispor

MEDIUNIDADE

pêuticas celestes aplicáveis ao caso,pois que, então, sobrevinha grandealívio no estado geral eretornávamos aos acontecimentos,como dantes. Indagado, certa vez,da generosidade dos amigos espiri-tuais sobre a razão por que nos eramfacultadas tais visões, tão belas eempolgantes, antes que a entidadeescrevesse psicograficamente a obra,favor que absolutamente não julgá-vamos merecer, eis a respostafornecida pelo próprio EspíritoCharles:

- “Não se trata de favor... É ape-nas um dom natural, que possuis,assaz desenvolvido, como outrosmédiuns o possuirão, conquantonão seja tão comum como os de-mais dons. Um tipo de faculdadeque, de outro modo, facilita o dita-do psicográfico, porque armazena ocabedal necessário nas camadas men-tais do instrumento mediúnico.Tornar-se-á indispensável a tal fenô-meno, entretanto, a absoluta afini-dade com o Espírito operante, umasintonia de vibrações, por assim di-zer integral, do médium com o“narrador”... Daí a dificuldade deação e o fato de tornar-se o fenôme-no pouco comum... Ainda assim,será necessário que exijamos do apa-relho transmissor todas as energiasvibratórias de que puder dispor, asquais ainda serão por nós outros ele-vadas por processos delicados, a fimde que se atinja a comunhão preci-sa, ou transfusão plena das suas men-tes, que se deverão interpenetrar.Um fenômeno mediúnico, enfim,como qualquer outro. Processar-se-á, então, a sugestão forte, projetadapela entidade criadora da peça lite-rária sobre o médium, e a que as ten-

dências e disposições destegostosamente se acomodem. Nãopoderíamos, assim sendo, fornecerassuntos que ao médium repugnas-sem, senão aqueles que exaltassemas suas sensibilidades. Esse é, aliás,o mesmo processo de obsessão. Oobsidiado é um passivo queprazerosamente, por assim dizer, sesubmete ao fato e que conjuga vi-brações, de modo completo, comseus obsessores. E quando ele afir-ma que está vendo isso e mais aqui-lo, realmente o vê, porque o seudominador criou o fato, ou a figu-ra, para ele, visto que o poder de

criar é uma força natural do pensa-

mento, um ato da vontade de cada

um. Nesse caso, porém, em se tra-tando de forças inferiores, fatos e fi-guras serão deploráveis, porqueoriundos de vibrações nocivas, emdesarmonia com as leis do Bem e doBelo, causando, então,desequilíbrios impressionantes àsduas forças que se chocam. Mas, aomédium espírita, já enfronhado nosmeandros de tais fenômenos, taisanomalias deixarão de acontecer,uma vez que estará habilitado a en-frentar, com sinceridade, as sutilezasda faculdade psíquica. Daí o afirmar-mos nós outros a soberana convivên-cia de os homens em geral se alista-rem nas hostes do Consolador, a fim

de se reeducarem, reconhecendo emsi próprios os valores que possuem,

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as faculdades e possibilidades deque são dotados e os meios de diri-gi-las para culminânciasrecompensadoras, pois todos essesmagníficos dons anímicos lhes foramconferidos pelas leis da Criação paraque, através deles, possam servir àsua própria glória, servindo ao pró-ximo e à causa da Vida Imoral...”

Não encerraremos o capítulo semnarrar o mais curioso fenômenoocorrido na mencionada ocasião.

No desenvolver do drama assimentrevisto, há uma festa, um bailena residência de uma das persona-gens do romance, exatamente aque-le Georges de Soissons, que encarnao homem de bem na moral da li-ção. A certa altura do referido bai-le, a que assistíamos como se pre-sente estivéssemos, a personagemcentral, Gaston d’Arbeville, põe-sea cantar uma “romanza” aos tons daharpa, cujos versos, de uma maestriae beleza patética, ouvíamos e com-preendíamos. Perguntar-nos-ão, po-rém, se ouvíamos os versos em fran-cês ou em português, visto as perso-nagens da história serem francesas...

Responderemos que, no Além,durante nossos transportes, jamaisqualquer dificuldade lingüística nosperturbou, não obstante conhecer-mos exemplos de entidades, muitomaterializadas e inferiores, incapazesde adicionarem as forças do pensa-mento, as quais usam o linguajar aque se habituam quando encarna-das. Possuímos amigos espirituaisfranceses, brasileiros, espanhóis, umpolonês,um russo, vários mestreshindus e egípcios. Todos nos falam,nos aconselham e escrevem com onosso lápis, ou se valem da nossa

audição. Nós os entendemos perfei-tamente, transcrevemos o que di-zem... mas não sabemos em que idi-oma falam... Sabemos é que, acimade tudo, pensam! No entanto, dis-tinguimos o “tom vocal” particularde cada um, pois que se trata de vi-brações do pensamento e as vibra-ções diferem segundo o caráter decada entidade, a tal ponto que co-nheceríamos a “voz” o de cada umadelas dentre centenas de “vozes”.

Ouvíamos, pois, e compreendíamosos versos da canção, eis tudo. E,como judiciosamente lembrouAllan Kardec, ninguém, e ainda me-nos um Espírito desencarnado deordem elevada, pensa neste ou na-quele idioma. Pensa, simplesmente.E aquele que possuir percepções ca-pazes de compreender seu pensamen-to, entendê-lo-á naturalmente. To-davia, repetimos, Espíritos inferio-res, e que foram de outras naciona-

No Além, durante nossos transportes,

jamais qualquer dificuldade lingüística

nos perturbou

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lidades quando homens, já nos fala-ram em idiomas que não nos foipossível compreender. Cremos tra-tar-se, esse fato, de particularidadepara nossos estudos.

Entretanto, Charles atraía-nospara a beira do corpo carnal em le-targia, justamente quando a perso-nagem “Gaston” cantava sua“romanza”. Esse quadro deslum-brante, isto é, o salão feérico, inun-dado de uma cintilante luz azulmuito pálido, regurgitante de con-vidados; o luxo e o brilho dos ves-tuários, Gaston, tangendo a harpa ea cantar a melodia comovente, e atéfulgurância das jóias por ele usadasno momento, tudo nos acompanha-ra para o nosso aposento de dormire agora pairava no ar, clareando orecinto com a sublime luz em azul ebranco que coloria as cenas. Talvez,porém, o quadro não nos acompa-nhasse propriamente e sim nossavisão espiritual se distendesse,favorecida pelos recursos operantes,produtores do fenômeno, permitin-do-nos alcançar, do aposento referi-do, as cenas mantidas naEspiritualidade, visto tratar-se deexperiências feitas pelos obreiros doInvisível para possíveis revelaçõessobre o mundo espiritual. Não fo-mos informada a respeito e aquiapenas registramos as duas possibi-lidades. À proporção que os versoscaíram da voz do artista, porém, nósos víamos escritos – agora em bom

português -; pelo menos, essa foi atradução feita por nossa mente. Elespairavam no ar, como uma tela, aolado da cena e não abaixo, como emcinematografia aparecem as legendas,em enormes caracteres tipográficosestilizados, como góticos, lumino-sos, irradiantes, tremeluzentes como

tudo pairava no ar, clareando o recinto

com a sublime luz em azul e branco

que coloria as cenas

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No entanto, a chama espiritual que

nos acionava se apagara

estrelas, parecendo estruturadosem essências líquidas, igualmentebrancos com irradiações azuladas. ECharles ordenou, meio ansioso, re-velando muita pressa:

- “Levanta-te, toma do papel etraça, ligeira, esses versos...”

Mas nós nos sentíamos tãofatigada e sem forças! Respondemosnegativamente, à beira do própriocorpo, a este vendo qual um cadá-ver:

- “Não posso! Estou muito can-sada! Não posso...”

- “Sim, poderás! Levanta-te e es-creve! Será a única forma de obteresversos do Além! Não és médiumpoeta! Escreve!”

- “Não, não poderei! Amanhã,quando despertar, sim, escreve-rei!...”

- “Será agora ou nunca mais!...”E manifestava ansiedade, talvez

contrariedade, enquanto repetía-mos:

- “Amanhã escreverei, prometo...prometo...”

Certamente, a delicadeza e a bon-dade desse afetuoso Espírito não nosdesejava obrigar a novo sacrifício, queexigiria de nós maior percentagemde esforços, pois não há dúvida deque ele nos poderia obrigar a atendê-lo. Na manhã seguinte, efetivamen-te, despertando de prolongado tran-se, recordamo-nos incontinênti dofato, ainda recitando os versos e tra-zendo impressa na alma a melodia,

que lembrava algo do primeiro mo-vimento da “Sonata ao Luar”, deBeethoven, melodia que por maisde uma vez Charles nos tem dado aouvir, quando desses transes. Toma-mos do lápis, ligeira, excitada, recor-dando a advertência do reino ami-go, pois conservamos sempre à ca-beceira os utensílios de escrita, jus-tamente para tais circunstâncias. Noentanto, a chama espiritual que nosacionava se apagara, porque nem um

único verso da bela peça foi possí-vel tratar! Esquecemo-la completa-mente, ao reapossar definitivamen-te da matéria! Nem mesmo posteri-ormente, quando Charles se apre-sentou para escrever o romance, talcoisa foi possível!

Terminada a exposição de Gatone de Victor Hugo, vimo-nos levadapelo instrutor Charles à presença dogrande escritor, que nos agraciaracom uma peça literária, como sóifazer-se na Espiritualidade. Compre-endemos que aquele amigo nos apre-sentava como possível instrumentopara transmissão da história aoshomens, no feitio educativo demoldes espíritas. Victor Hugo fitou-nos com olhar profundo,perscrutador, como que devassandotodos os escaninhos das nossas pos-sibilidades psíquicas. Depois, vol-tou-se para Charles:

- “Haveria muito trabalho emprepará-la a meu gosto... Escreve tu,

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FIM

Fonte:

PEREIRA, Yvonne A. Devassando o Invisível.

Págs. 138 a 173. Feb.

através dela, pois conheces os fatosexpostos, és intelectual, conheces aFilosofia e a Moral espíritas e pos-suis ascendência sobre ela, a mé-dium... Tece o enredo à tua vonta-de, adaptando-o à Filosofia que es-posamos...”

Alguns dias mais e Charles traça-va, através da psicografia, a exposi-ção romântica do citado drama, semconclusões morais e filosóficas. Eadvertiu, em seguida:

- “Guarda o trabalho. Posterior-

mente obterás instruções...”Vinte e cinco anos mais tarde,

isto é, ao findar o ano de 1955, apre-sentou-se novamente esse amigo,com as prometidas instruções:

- “Fui incumbido de escrever de-finitivamente a história de Gaston...Ele se encontra desde o ano de1931... e certamente lerá a própriahistória nesse livro, porquanto tam-bém milita nas hostes doConsolador, já que, graças aos Céus,perseverou no ideal espírita, uma vezreencarnado...”.

Com efeito, rapidamente,Charles reviveu o enredo românti-co, adaptando-o à Doutrina Espíri-ta... e o drama, assim desenroladono Além, como num teatro mode-lar, durante um arrebatamento do

nosso espírito, narrado pelo talen-to de um escritor genial, e escritopelo instrutor espiritual Charles,intelectual e artista de grandes pos-

sibilidades, através da psicografiamediúnica, foi publicado pela FEBpara homenagear o Centenário daCodificação, sob o nome de “Amore Ódio”.

Quando terminada a leitura dolivro já impresso, nós o colocávamosem nossa humilde estante, amargodesapontamento adveio e murmu-ramos tristemente:

- “Não transmiti fielmente o queos nobres expositores espirituaisdesejavam dizer aos homens! A obra

escrita ficou muito aquém da reali-dade que me deram a presenciar noEspaço. Meu Deus! A palavra dosEspíritos, seus recursos criadores sãopoderosos demais, demasiadamen-te intensos e lindos para que nós,pobres seres humanos, possamos re-almente traduzi-los para a nossa im-perfeita e tão rude linguagemterrena...” �

A obra escrita ficou muito aquém da

realidade que me deram a presenciar

no Espaço

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O Segredoda GrandeEsfingepor Hermínio C. Miranda

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Muita gente esperava re-formas bem mais pro-fundas do Concílio

Ecumênico Vaticano II, cuja reali-zação custou catorze bilhões de cru-zeiros, segundo balanço divulgadopelo “Osservatore Della Documenta”.E não apenas os leigos ou até mes-mo indiferentes de toda questão re-ligiosa, mas também muitos sacer-dotes católicos, nos vários escalõesda hierarquia eclesiástica, ficaramum tanto decepcionados. Nãoobstante, a tradição da Igreja nãojustificava tal esperança, nem a sualogística. Mesmo admitindo-se quea primeira pudesse ser desrespeita-da ou pelo menos abandonada, aessência mesma do arcabouço dou-trinário da Igreja é necessariamenterígida. Sem essa rigidez, que garantea estabilidade dos dogmas, não ha-veria doutrina católica, tal como aconhecemos. Claro que os teólogosmais esclarecidos já descobriram, dehá muito, que os dogmas que pare-ciam rochedos inabaláveis se reduzi-ram a seixos e calhaus que, longe deindicarem o caminho da salvaçãoaos fiéis, se transformaram em ver-dadeiros tropeços. Aí, porém, estáo dilema inescapável da Igreja: se nãopode sobreviver sem os seusdogmas, como é que vai sobrevivercom eles?

Um exame panorâmico da His-tória da Igreja revela que, basicamen-te, há três fases distintas no desen-volvimento da instituição: um perí-

odo em que só pregavam e pratica-vam os ensinamentos recebidos di-retamente de Jesus, por via daque-les que conviveram com o Mestre;um período em que se “reformou”a Igreja, introduzindo a era dos teó-logos criadores de dogmas, e, final-mente, o período atual em que osdogmas já se vão tornando incômo-dos diante do progresso.

A primeira fase durou poucomais de três séculos. Era o Cristia-nismo ainda incontaminado pelasinterpretações teológicas, emboracom os retoques doutrinários de

Paulo. A tradição histórica de Jesusainda estava muito próxima e os tex-tos deixados por escritores que con-versaram diretamente com os após-tolos ainda não tinham sido muti-lados e interpelados.

A segunda fase começa com oConcílio de Nicéia, em 325, quan-do se decidiu, por votação, que Jesusera Deus, uma das pessoas daSantíssima Trindade, e se redigiu odocumento básico da fé católica, oCredo. Daí em diante é tudo elabo-ração sobre doutrinas preexistentese não mais criação original. Os teó-logos apenas procuravam conciliar

as doutrinas católicas com os novosconhecimentos que iam emergindo,numa sociedade eminentementeprogressista como é a Humanidade.Até hoje, os dois vultos máximosda teologia católica continuam sen-do Agostinho e Tomás de Aquino ea obra que deixaram se consagroucomo praticamente definitiva, quan-to à fixação das principais correntesteológicas.

No entanto, à medida que avan-ça o homem na excogitação dosgrandes problemas, vão aparecendoos buracos e os remendos na

tessitura doutrinária do catolicismo.Não é segredo para ninguém que aIgreja fez o que pôde, tenazmente,para deter, ou, pelo menos, retardara marcha do conhecimento. Tam-bém isso é da mais legítima tradi-ção teológica. Lá está no Gênesisque, ao colocar as suas criaturas noparaíso, o Senhor lhes proibiu queprovassem o fruto do conhecimen-to. Deveriam viver pela eternidade afora na mais angelical das ignorânci-as. Quando desobedeceram, foramexpulsas e condenadas e uma exis-tência de trabalhos e sofrimentos,deixaram a convivência do seu Cria

a Igreja fez o que pôde, tenazmente,

para deter ou, pelo menos, retardar a

marcha do conhecimento

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Até 1822, a Igreja só admitia que se

referisse ao heliocentrismo como

hipótese

dor e, segundo os teólogos cató-licos, o demônio adquiriu poder so-bre elas, o que dantes, ao que sesupõe, não acontecia. Essa lingua-gem simbólica só quer dizer umacoisa: que do ponto de vista teoló-gico seria melhor que o homem vi-vesse na santa ignorância, deixandoaos teólogos o duro trabalho depensar por ele. Ao que tudo indica,entretanto, não é essa a vontade deDeus, porque dotou o homem deinteligência e curiosidade, tornandoo progresso e a evolução inelutáveis.

Às vezes a Igreja põe as idéiasnovas em quarentena apenas porprudência, a ver como se desenvol-vem, para então pronunciar-se. Ali-ás, age da mesma forma quanto aosseus próprios membros. Não basta

que se vá dizer ao Papa que alguémviveu e morreu em santidade, paraser imediatamente canonizado. Oprocesso é lento e custoso. De ou-tras vezes, porém, a Igreja se lançacom todo o seu prestígio e podercontra uma idéia ou uma descober-ta porque vai contrariar frontalmen-te um mais de seus dogmas. Sem-pre o dogma...

O exemplo mais dramático des-sa atitude foi a teoria doheliocentrismo de Copérnico. Paraos teólogos, de bíblia na mão, a Ter-ra, e não o Sol, era o centro de todoo mecanismo celeste. Mas a obra deCopérnico passou algo despercebi-da e circulou mais tarde entre osentendidos e, por isso, não provo-cou grande celeuma. Quando

Galileu retomou a questão, maistarde, aí sim, a Igreja entrou em açãoe, além de obrigar Galileu aoretratamento, proibiu qualquer re-ferência escrita ao sistema deCopérnico. Acontece que os astrô-nomos do mundo inteiro, mesmocom seus instrumentos ainda primi-tivos, começaram a confirmar a teo-ria de Copérnico e Galileu. Nãoapenas astrônomos leigos, ateus eheréticos, mas até mesmo sacerdo-tes católicos estudiosos, como sem-pre os houve, especialmente entreos eruditos Jesuítas. A coisa durouséculos. Até 1822, a Igreja só admi-tia que se referisse ao heliocentrismocomo hipótese. A doutíssima e pode-rosa Inquisição só então decidiutolerar (notem bem: tolerar) obrasque cuidassem “do movimento e daimobilidade do Sol, de acordo coma opinião comumente admitida pe-los astrônomos modernos”.

Está no livro “Os Jesuítas, seusSegredos e seu Poder”, do escritoralemão René Füllop Miller.

Não se precisa dizer mais nadapara se compreender o quanto cus-tou esse retratamento, o quantodoeu à Igreja recuar de uma posiçãoque havia assumido com tamanhaintransigência. Também se compre-ende que daí em diante tenha sidocada vez mais cautelosa em colocaro peso da sua autoridade em apoioou contra esta ou aquela idéia.

Não vai nestas observações cen-sura alguma ao modo de agir dosresponsáveis pela política da Igrejae pela sua estrutura teológica. É asua verdade e tem que ser defendidaa qualquer custo. Também os pro-testantes investiram contra a teoriade Copérnico, com tanto ou maiszelo teológico quanto o dos católi-

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A Fé tinha que ser absolutamente cega

e só pela Fé poderia alguém salvar-se

cos. Há, a respeito, o pronunciamen-to veementíssimo de Melanchthon,o primeiro teólogo da Reforma.

Aliás, por falar em Reforma, con-vém lembrar que Lutero e seus se-guidores, ao perceberem a significa-ção do conflito inevitável entre ci-ência e dogmatismo, tentaram, numesforço desesperado, “libertar” aReligião do jugo da Razão. A Fé ti-

nha que ser absolutamente cega e sópela Fé poderia alguém salvar-se.Não importa a falta de lógica dadoutrina da expiação eterna ou daexistência do demônio que, sendouma criatura de Deus, anjo decaí-do, tenha sido investido de poderesbastante para perturbar a obra doseu Criador e até tentar a Jesus, umadas pessoas da Divindade. Nada dis-so importa. A Fé mandou aceitar –a Razão que se arranje... Ponto devista diametralmente oposto adota-ria Kardec, configurando claramen-te que a fé só é legítima quando pas-sada pelo crivo da razão.

Sob muitos aspectos, o ponto devista do Luteranismo foi apenas umaenfatização do que, mais discreta-mente, sempre defendeu o próprioCatolicismo. Os teólogos católicosque se arriscaram a invocar a razão,para examinar certas doutrinas, pas-saram por maus pedaços, quandonão foram sumariamente excomun-gados ou destroçados.

O progresso, no entanto, éinexorável e quem não vai com ele

fica esmagado. Por isso, de temposem tempos, em face da verdadeiramassa de incongruências e contro-vérsias que se acumulam em tronode certos princípios doutrinários, aIgreja reúne um Concílio. Mas queninguém se iluda. Por mais que seinsista na tese do espírito de reno-vação e progressista a Igreja, a verda-de dura e pura é que a convocação

de um concílio revela um estado decrise relativamente aguda, tão certoquanto a febre indica um estado deinfecção. Vejam a História, que háabundante literatura profana sobrecada um dos concílios. Às vezes paraerradicar uma heresia, de outras, pararecuperar a unidade interna ou re-forçar ou restabelecer a autoridadedo Papa, mas sempre em épocas di-fíceis para a Igreja.

O primeiro Concílio realizou-seno ano 49, ao que parece por suges-tão do apóstolo Paulo, a fim de di-rimir a primeira crise de grandes pro-porções do Cristianismo nascente eque consistia em resolver a impor-tantíssima questão Judaísmo versus

helenização. Seria o Cristianismoapenas uma seita judaica? era neces-sário ser judeu e circuncidado paraser cristão? ou o Cristianismo seriauma religião universal a ser pregadatambém aos gentios?

“O problema – diz Daniel Ropsna sua insuspeita “História da Igrejade Cristo”, Vol. I, pág. 95 – (era)demasiado grave para poder ser en

Martinho Lutero (1483-1546)

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carado de esguelha e ao acaso dascircunstâncias.” A desinteligênciaentre Paulo, que era universalista, eos demais apóstolos, que se batiampor um Cristianismo judaico, foiseríssima. Outros concílios de me-nor significação foram realizadoscom relativa freqüência, especial-mente na igreja oriental. Vamos daruma rapidíssima olhada, apenas nosmais importantes.

Em Nicéia, no ano de 325, orga-nizou-se o primeiro Concílio chama-do ecumênico, ou seja, universal.Esse foi o padrão e modelo para osdemais. Nesse tempo – diz Rops –“pesava sobre a Igreja uma graveameaça de divisão, bem pior aindado que aquela que ele (Constantino)julgava ter hesitado na África”. Eraa heresia do arianismo, que negavaa divindade de Jesus. Quando, empleno Concílio, Árius declarou que,como homem, Jesus poderia errar eaté pecar, levantou-se um grito unís-sono de horror.

Foi tão forte essa heresia que em381 ainda se lutava contra ela e ou-tro Concílio foi convocado paraConstantinopla, “onde ela era ain-da poderosa e seus últimos prota-gonistas... tiveram de dar lugar aoscatólicos...” É o que diz Rops eacrescenta que o Concílio, depoisde muitas discussões, punha fim atodas as discussões dogmáticas sus-citadas depois de Nicéia pela proli-feração do erro...”

Em Pisa, em 1409, reuniram-se24 cardeais para discutir o proble-ma do cisma e da heresia. Esse con-cílio depôs dois Papas e elegeu ou-tro, como os dois não quiseramdeixar o poder, ficou a Igreja comtrês pontífices em vez de dois: umem Roma, outro em Pisa e um ter-ceiro em Avignon, na França.

Em 1414, diante do Grande Cis-ma, em que a Igreja se repartia portrês Papas, reuniu-se o Concílio deConstança, com o objetivo de “pôrtermo ao escândalo da grandedilaceração”, decretar medidas quesuprissem os abusos de simonia (co-mércio de coisas sagradas e de posi-ções eclesiásticas) e do nicolaísmo(existência de mulheres comuns amuitos homens) e aniquilar as here-sias. As heresias do momento eramas de Wyclif, que, embora morto,tivera suas idéias revitalizadas porJoão Huss. Esse foi o concílio quemandou queimar Huss.

Em Basiléia, em 1431, conti-nuou o grande debate iniciado emSena, sete anos antes. A época eraconturbada, dentro e fora da Igreja.Na Boêmia fumegava a guerra doshussitas; Filipe, o Bom, disputavacom Frederico da Áustria; Joanad’Arc estava às vésperas da fogueirae a França anarquizada, política esocialmente. O próprio Rops decla-ra que a reunião foi “... uma espéciede conciliábulo em que um quar-teirão de abades, uns cinqüenta clé-

rigos e uma porção de universitári-os se fartaram de gritar em voz altaque estavam ali para representar aIgreja Universal”

O Papa Eugênio IV cassou a au-toridade do Concílio e convocououtro para a Bolonha. Em respos-ta, os eclesiásticos reunidos disseramque não sairiam senão pela força. Em1433, Eugênio recuou, reconhecen-do a autoridade do Concílio e con-vocando os demais sacerdotes paracomparecerem. “A Cristandade – dizDaniel Rops – tinha medo de verrenascer o cisma.”

Em 1545, sob a tremenda pres-são da Reforma Protestante, a Igre-ja, novamente em crise, viu que pre-cisava também reformar-se e reuniuo Concílio de Trento. Nova here-sia, novas crises. “Dialeticamente –reconhece Rops – foi da Igreja queWittenberg e da Confissão deAugsburg (ou seja do Protestantis-mo) que saiu, em grande parte, aIgreja do Concílio de Trento.”

Assim também o ConcílioVaticano II foi determinado pelagrande crise cujo espírito ficou tãobem sintetizado na sua própria do-cumentação, num papel que seintitulou “A Igreja e o Mundo Mo-derno”. Esse foi o leit motiv do Con-cílio. Os teólogos mais esclarecidosestão perplexos diante do mundomoderno que as suas doutrinas nãomais explicam; seus fiéis fazem per-guntas a que eles não podem respon-

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A Igreja admite a liberdade religiosa,

mas continua a declarar enfaticamente

que a única verdade é a sua

der de maneira satisfatória e apresen-tam objeções para as quais não sãomais aceitas as velhas explicações doministério ou da fé cega. Além domais, as forças que se constituem àmargem, ou em oposição à Igreja deRoma são hoje imensas e poderosastambém. Não podem mais ser igno-radas. É o caso do Protestantismo,que, a despeito de algumas divergên-cias mais ou menos ponderáveis,tem mais pontos de contacto do queoposição diante do Catolicismo.Têm em comum, praticamente, amesma Bíblia, os mesmos Evange-lhos, reconhecem o mesmo Mestre,e muitas das doutrinas mais queri-das e enraizadas são as mesmas ouquase iguais de um lado e do outro.Por que, então, se maltratam quan-do se podem unir contra os terrí-veis inimigos de ambas, como omaterialismo agnóstico ou o comu-nismo ateu? Quanto aos judeus,como insistir na política de ódioracista pelo fato de há quase doismil anos alguns judeus assassinaramo Cristo? Não faz muito sentido.

Daí por que as reformas do Con-cílio do Vaticano II foram exatamen-te aquelas que eram de se esperar datradição eclesiástica. Nem mais, nemmenos. Sem nenhuma intençãotrocadilhista, os documentos que oConcílio produziu são declaraçõesconciliadoras. Acenam para protes-tantes, anglicanos, ortodoxos e ju-deus com uma nova mentalidade deespírito desarmado em relação a es-ses irmãos separados. Notem bem apalavra separados. Quem se separa,afasta-se de alguém, de algum lugarou de alguma idéia. O que fica é,presumivelmente, o melhor. Aliás,não se faz segredo disso. Em todosos papéis se insiste em que a Igreja

admite a liberdade religiosa paratodos, mas continua a declarar en-faticamente que a única verdade é asua. Também isso é lógico, dentrodo ponto de vista filosófico. Quemvai continuar a respeitar uma verda-de em que não acredite com toda aforça do seu espírito? O dia em quea Igreja declarar que “os outros” tam-bém podem estar certos, então teráassinado a sua sentença de morte.

Bem pensado, o argumento podeser revertido: o Judaísmo poderiausá-lo com idêntica motivação, clas-sificando-as igrejas cristãs de “irmãsseparadas” e propor-lhes o retornoà lei de Moisés...

Dessa forma, o espírito desarma-do é o primeiro passo cauteloso masdecidido, no sentido de se conse-guir, pelo menos, lutar pela uniãode todos os credos sob a tutela daIgreja Católica Apostólica Romana,evidentemente. Os irmãos separadosque venham até a Igreja e se reúnemsob a mesma bandeira, sob os mes-mos dogmas, sob o mesmo Papa.Protestantes, judeus, ortodoxos eanglicanos que se acolham ao seiocarinhoso da Santa Madre Igreja,que esse é o sonho bimilenar de to-das as cabeças que têm sustentado atiara papal. A idéia é belíssima, res-peitável, compreensível e, até certoponto, exeqüível pelo menos quan-to aos protestantes, penso eu, e aosortodoxos. Removidos alguns obs-táculos – com o tempo, naturalmen-

te -, não seria de admirar-se que, nomínimo, algumas denominações pro-testantes aderissem ao esquema cató-lico, senão como um movimentounificado totalmente, ao menos comoforças paralelas e complementares quese estimam e apóiam. A Igreja tam-bém fará algumas concessões mais oumenos inócuas, mas de considerávelalcance nesse sentido, para obter aque-le prêmio. Já vimos que se hoje, noCatolicismo a comunhão em duasespécies, pão e vinho, em ocasiões es-peciais. Ora, a comunhão sob duasespécies foi o grande cavalo de bata-lha da Reforma protestante. O celi-bato sacerdotal católico também mos-

tra sinais de preagonia, ainda que ve-nha a durar decênios...

De modo que o tema central doConcílio foi a posição diante doProgresso e, em conseqüência, a ne-cessidade de uma atitude mais con-ciliatória com relação aos irmãosseparados. (Não sei se nós, espíritas,também fomos considerados comoirmãos separados...) Observa-se cla-ramente isso das decisões tomadas.Aliás, o acompanhamento dos aca-lorados debates pelos jornais foiuma aventura emocionante para oleitor comum, mesmo quando sa-bemos que somente extravasou paraa imprensa um mínimo possível.Muita coisa ficou no segredo das dis-cussões intramuros, fechadíssimas, ouno murmúrio das ante-salas e doscorredores do Vaticano.

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Os debates em torno da liberdade

religiosa foram sempre nesse tom

áspero

Houve, porém, o suficiente parase sentir o verdadeiro corpo-a-corpoque se travou entre a ala conserva-dora minoritária, mas tremenda-mente ativa e bem representada, e aala mais liberal, progressista e refor-mista. Tivesse prevalecido a opiniãoda minoria conservadora, não teriasaído praticamente nenhum dosdecretos que vimos. A dominar demodo mais declarado a corrente li-beral, a reforma seria realmente degrande envergadura, muito mais pro-funda e revolucionária que imagina.

Vejam, para isso, os fragmentosde opiniões que transpiraram paranós leigos. Enquanto o CardealSpellman, de Nova Iorque, declara-va que a liberdade religiosa “é a ver-dade sobre a qual se fundam todosos direitos humanos e sociais”, oCardeal Benjamin de Arriba y Cas-tro, de Tarragona, Espanha, levanta-va-se imediatamente para proclamar

que “somente a Igreja Católica tem odireito de pregar o Evangelho”.

Os debates em torno da liberda-de religiosa foram sempre nesse tomáspero, embora diplomático e civi-lizado, e consumiram um tempoenorme. Monsenhor Luigi Carli,Bispo de Segni, na Itália, achou quea redação dada à declaração sobre aliberdade religiosa fora feita por sa-cerdotes interessados em “deformare distorcer as Sagradas Escrituras,para pô-las de acordo com uma idéiamoderna”.

Enquanto isso, MonsenhorEmílio Tagle Covarrubias, deValparaíso, é mais enfático, dizendoque o documento, embora mereçaapoio em certos aspectos, “demons-tra uma benevolência indevida paracom as falsas religiões”.

Mas que são falsas religiões? E porque são falsas?E a finalidade não eramesmo a de estender a mão a todos?

De certa forma, o Concílio foitambém um monumental e resso-nante muro de lamentações, diantedo qual sacerdotes do mundo intei-ro fizeram ouvir verdadeiras confis-sões públicas das mais veementes. Umdesinibido eclesiástico inglês,Monsenhor John Heenan, CardealArcebispo de Westminster, afirmouque “seria uma falsidade tentar des-mentir o bem conhecido fato das per-seguições sofridas pelos protestantesem certos países por parte dos católi-cos”, e pediu uma nítida “declaraçãoque erige em doutrina da Igreja o prin-cípio da liberdade religiosa”.

Mais adiante acrescenta que ondeo Catolicismo é minoritário, insis-te em liberdade religiosa; onde émajoritário e apoiado pelo podertemporal, somente “falamos noschamados direitos da verdade”. Edepois: “na verdade, não passa deuma farsa a doutrina católica queprega uma lei, quando somos ricose fortes, e outra muito diferentequando somos pobres e fracos.”

No entanto, essa tem sido a tô-nica na política mundial da Igreja.Nos países em que o Catolicismodominava de cima para baixo, exer-cendo influência, às vezes tirânica,sobre príncipes, reis e governantesem geral, pregava-se o princípio“cuius régio, eius religio”, ou seja, opovo era obrigado a seguir a religiãodo seu rei. Quando, porém, os sa-cerdotes dominavam segmentosimportantes das massas, mas nãotinha acesso aos heréticos ou ateusno poder, ensinavam que o povotem o direito de questionar a vali-dade da religião de seus dirigentes.

A despeito de toda argumenta-ção da ala reformista, os conserva-dores, liderados pelo poderoso e

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Deus atua através de Leis que a

inteligência humana irá

gradativamente descobrindo

dinâmico Cardeal Ottaviani – quequase foi Papa e ainda poderá sê-lo,proclamavam que a declaração so-bre a liberdade religiosa era “abso-lutamente inaceitável”, enquantoque Monsenhor Custódio Alvim,Arcebispo de Lourenço Marques, naÁfrica, taxava essa papel de “verda-deiro insulto à Igreja Católica”.

E o debate prosseguia; os conser-vadores punham em ação todo oseu calculado dispositivoobstrucionista. Um dia levantou-seo Cardeal Josef Beran, que acabarade ser libertado após 16 anos deprisão em poder dos comunistas,para dizer que a Igreja estava sendovítima de vinganças atrás da Corti-na de Ferro, “em conseqüência dosdefeitos e pecados cometidos nopassado”.

Nos velhos tempos, o nobre Car-deal estaria correndo um riscogravíssimo, somente em admitir quea Igreja erra e comete pecados. Masele insistiu em exortar a assembléiaa compensar tais erros, promulgan-do, por unanimidade, o direito ine-rente a toda liberdade de crença.“Em meu país – disse ele – a Igrejaestá sofrendo agora pelos erros epecados cometidos em tempos pas-sados em seu nome e contra a liber-dade religiosa”. Lembrou, então, alamentável combinação de JoãoHuss, o brilhante reformista e edu-cador da Boêmia, mandado queimarvivo em praça pública pelos carde-ais reunidos no Concílio deConstança.

Por fim, a declaração sobre a li-berdade religiosa entrou em agonia.A ala conservadora, poderosa e re-nitente não cedia um milímetro,estando mesmo a ponto de conse-guir, pela terceira vez em três anos,

adiar a votação da matéria. Foi quan-do um grupo de eclesiásticos libe-rais procurou imediatamente o Papa– já era Paulo VI – e convenceu SuaSantidade a comparecer pessoalmen-te à Sessão em que houver todo opeso de sua autoridade em suporteda declaração; caso contrário, elavoltaria a sepultar-se na papelada, atéque se tornasse totalmente esqueci-da e abandonada. Pelo teor da notí-cia, mesmo no seu laconismo estu-dado e discreto, não é difícil imagi-

nar qual o argumento que conven-ceu o pontífice a uma intervençãopessoal. Diz o jornal: “O Papa inter-veio hoje (21-9-1965) no ConcílioEcumênico e evitou uma crise ao or-denar uma votação do discutido tex-to sobre a liberdade religiosa”.(Os grifos são meus.)

Que se deduz disso? Que, se oPapa não se decidisse a ordenar a vo-tação, a ala reformista criaria umverdadeiro “impasse”, do qual oprestígio da Igreja sairia profunda-mente danificado, talvezirreparavelmente, pois num Concí-lio convocado para fortalecer a Igre-ja não se poderia admitir que semostrassem as rachaduras de seusmilenares alicerces.

Só assim se votou a matéria e o“resultado da votação – dizem osjornais da época (22-9-1965) – foium duro golpe para a minoria con-servadora do concílio que esperavaobter uns 500 votos”. Talvez, por

respeito à autoridade papal, os qui-nhentos votos se reduziram para224, contra 1997 da ala liberal!

A atuação do Papa, no caso, foidecisiva, pois a Comissão Coorde-nadora do Concílio já resolvera,mais uma vez, em três anos, adiar avotação da matéria pelo Plenário.Nessa comissão, de 28 membros, 19votaram pelo adiamento. Por aí sevê o poder triturador dos mecanis-mos políticos internos das grandesorganizações, especialmente na Igre-

ja Católica, que possui disso umaexperiência e uma tradição quasebimilenar.

Mas os debates prosseguiram so-bre outros pontos menos essenciais,como também as confissões públi-cas das crenças e opiniões dos sacer-dotes mais francos e leais.Monsenhor André Charue, bispobelga de Namur, declarou que con-siderava indispensável uma declara-ção da Igreja sobre a “era espacial,até mesmo sobre a possibilidade daexistência de criaturas inteligentesnoutros planetas”; e acrescentou:“Na era espacial, a tradicional con-vicção acerca do paraíso, situado nocéu, já não pode ser aceita pelo ho-mem moderno.”

Segundo a notícia, MonsenhorCharue acha mesmo superados osconceitos de céu e inferno. Mas comisso vai-se a doutrina da salvação eda redenção! Às vezes, a gente tem aimpressão de que alguns desses emi�

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O progresso é a grande esfinge, cujo

segredo a Igreja terá de decifrar

para sobreviver

nentes sacerdotes agiram comoverdadeiros enfantis térribles, dizendoinconveniências diante de visitas, tala franqueza e a candura de certasdeclarações de tremendas conse-qüências.

Por outro lado, a ala conserva-dora, aferrada aos seus preconceitos,não perdia tempo e nesse mesmo diaD. Giuseppe Marafini, da Itália, in-sistia em que a Igreja devia lembraraos homens “que o demônio estápresente na vida moderna”.

Demônio, nesta altura do conhe-cimento humano?

Foi assim, em linhas muito ge-rais, o Concílio EcumênicoVaticano II, iniciado sob a inspira-ção e a coragem moral de JoãoXXIII. A figura desse Papa fascinoutodo o mundo, cristão e não-cris-tão, pelo que tinha de conteúdohumano. Eleito quase que comoum Papa interino, numa espécie demandato-tampão, como se usa di-zer hoje, João surpreendeu a todoscom seu dinamismo. Das suas mãos– houvesse ele tido mais tempo –talvez a Igreja saísse mais renovada.Suas forças, porém, como as de

todo Papa, são limitadas pelas con-tingências da própria estrutura daIgreja. Tem que prevalecer, em ulti-ma análise a política da Igreja, coe-rente consigo mesma e não as idéiaspessoais de cada bispo, cardeal ouPapa.

De qualquer forma, como disse

um comentarista do “Time”, JoãoXXIII abriu as janelas do vaticano epor elas entrou um sopro renova-dor. Ninguém mais poderá fechá-las,porque há em tudo isso um proces-so irreversível, embora lento.

Não obstante, não é preciso serprofeta para prever que grandes difi-culdades ainda estão pela frente, nahistória futura da Igreja, e serãotrazidas em quantidade e força cadavez maiores, pela avalanche arrasado-ra do pregresso e da evolução doconhecimento. O progresso é a gran-de esfinge, cujo segredo a Igreja teráde decifrar para sobreviver.

Por tudo isso e para não ficar,mais cedo ou mais tarde, diante des-ses dilemas, é que o Espiritismo seplanejou e se instituiu de maneirainteiramente diversa de todas as re-ligiões e doutrinas anteriores. OEspiritismo não teve o seu profeta,o seu messias, e erram aqueles queassim querem fazer entender. Ne-nhum nome está ligado a ele, nosentido em que está Maomet à reli-gião do Islã, Buda ao Budismo,Moisés ao sistema religioso dos ju-deus, ou o Cristo ao Cristianismo.

Por mais destacada que fosse a atua-ção de Allan Kardec, ele próprio nãoavocou a si a tiara espiritual domovimento; ao contrário, procurouapagar-se como pessoa humana, paraque a obra sobrelevasse a sua condi-ção de codificador. Os próprios Es-píritos, com a singela franqueza que

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sempre lhes caracteriza os elevadospronunciamentos, o advertiram deque, se ele não pudesse ou não qui-sesse assumir o encargo, outros seri-am convocados. Por outro lado, omovimento revestiu-se, logo de iní-cio, de um caráter universal, prega-do simultaneamente em todo omundo, por muitos Espíritos, atra-vés de inúmeros médiuns, em todosos ambientes sociais, a todos ospovos, em todas as línguas, mas co-erente com as idéias básicas sempreque os pronunciamentos foram di-tados por Espíritos equilibrados ede elevada moral e conhecimentos.

Sempre ficou bem claro que oespiritismo não teria dogmas, nemigrejas, nem sacerdotes, nem ritosnem dirigente universal, entre osencarnados, nem qualquer coisa quefizesse lembrar a estrutura das religi-ões do passado. Não precisamos deConcílios, nem estamos preocupa-dos com o avanço da Ciência. Aocontrário, aguardamos com verda-deira ansiedade esse avanço. O pro-gresso vai confirmar todo o imensoacervo de conhecimento contido naDoutrina Espírita. Virão, a seu tem-po, a comprovação científica dapluralidade dos mundos habitados,a da sobrevivência do espírito, a dareencarnação e a dacomunicabilidade entre Espíritos ehomens. Vão descobrir que o in-consciente do eminente Prof.Sigmund Freud é o repositório daslembranças de todas as passadas exis-tências, até o ponto em que a me-mória se perde nas trevas dairracionalidade. Descobrirão tam-bém que as doenças orgânicas, qua-se todas, se curam através do espíri-to e que não se pode inverter o pro-cesso e tentar curar mazelas do Es-

pírito através de intervenções nocorpo físico.

Nos domínios da moral, serácomprovada a estrita responsabilida-de pessoal de cada um pelos seusatos, mas também a oportunidadede recuperação e reparo. Que tole-rância é a palavra de ordem univer-sal, porque nem todos os Espíritostêm o mesmo nível de compreen-são e apreensão. Que a caridade é alei suprema, porque beneficia tantoo que a pratica quanto aquele que arecebe.

Descobrirão, enfim, que todas asgrandes idéias humanas, aquilo aque já se chamou “os grandes sonhosda Humanidade”, estão contidas,em maravilhosas sínteses do pensa-mento, dentro dos conceitos funda-mentais da Doutrina Espírita. É sóestudá-los, pesquisá-los e desenvolvê-los, que o próprio mecanismo daevolução se encarregará de ir mos-trando o caminho a seguir.

E ao contemplarmos toda essaextraordinária massa de trabalho ede estudo a ser atacada, sentimo-nostomados por invencível melancoliaquando vemos, de outra banda, oshomens empenhados acirradamenteem questiúnculas, como a do casa-mento misto, ou em declaraçõesacerca da liberdade religiosa que es-tão saindo penosamente, sofrida-mente, vencendo oposições tenazese com um atraso de pelo menos doismil anos! Tanta estrela no céu e ohomem procurando grãozinhos depó na sola dos sapatos... �

Fonte:

MIRANDA, Hermínio C. Candeias na Noite

Escura. Pág. 101 – 115. Feb

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FidelidadESPÍRITA | Dezembro 2006

DIVULGAÇÃO

A música é linda e a histó-ria real. O tema é a reen-carnação e o filme, ora

lançado em DVD pela Versátil HomeVídeo, está baseado em fatos reais re-latados em livro autobiográfico.

Minha Vida na Outra Vida contaa história de Jenny, uma mulher dointerior dos Estados Unidos, quetem visões, sonhos e lembranças desua última encarnação, como Mary,uma mulher irlandesa que faleceu nadécada de 30. Intrigada, Jenny saiem busca de seus filhos da vida pas-sada. Tem início uma jornada emo-cionante. Jenny é magistralmenteinterpretada pela renomada atrizJane Seymour, de Em Algum Lugar

do Passado. Só que, desta vez, não setrata de ficção, mas de realidade.

Com direção de Marcus Cole, 93minutos de duração, nos idiomasinglês e português, legendado e du-blado, e produzido nos EstadosUnidos no ano de 2000, o filmeemociona pelas profundas reflexõesque provoca a quem o assiste. Éimpossível não se emocionar.

Abordando conflitos familiares,vida e morte, mas especialmente lem-branças de outras vidas e reencarna-ção, a produção soube bem reprodu-zir a realidade vivida por JennyCockell. Ela via-se em outra época elugar, como jovem mãe, em recorda-ções domésticas de sua pequena casa

de campo. Mãe de vários filhos, mor-reu de complicações de parto, 21 anosantes do nascimento dela própria, atu-almente na personalidade de Jenny.

As visões e sonhos levaram-na apesquisar o próprio passado e a re-encontrar os filhos da existênciaanterior, agora idosos. Num reen-contro que traz grandes emoções,reconhecem-se em circunstânciasque não deixam dúvidas, face a de-talhes impressionantes que ficaramgravados no tempo e no espaço, oratrazidos às lembranças vivas do pre-sente. As preocupações com os fi-lhos pequenos, na existência anteri-or, fizeram-na buscá-los atualmente.

Uma autêntica lição de amor en-volve os personagens, trazendo toda alógica da reencarnação de maneiramuito clara, simples, objetiva. E fazpensar. Especialmente para aquelesque duvidam da realidade das existên-cias sucessivas. E para quem aceita, ofilme é um brado de imortalidade.

O DVD apresenta extras com de-poimentos de lideranças do movi-mento espírita. Entre eles, MarleneNobre, Nestor Masotti e ZalminoZimmermman. Também apresentaalgumas perguntas e respostas da co-nhecida escritora Therezinha Olivei-ra e uma galeria de fotos de Jennycom os filhos da existência passadae da cidade onde os reencontrou,na Irlanda.

A Versátil tem oferecido excelen-tes trabalhos na área de filmes emDVD, resgatando preciosidades paradivulgação do pensamento espírita.

O assunto foi tema de matériade capa da Revista Internacional deEspiritismo, de fevereiro de 2001,através de contato com a amiga YedaHungria, de Niterói-RJ, que gentil-mente nos enviou, à época, textos efotos da reportagem publicada.

Trata-se, realmente, de uma ocor-rência notável de recordações deoutras existências. Embora já conhe-cesse a história, pelo texto da queri-da Yeda, o filme levou-me às lágri-mas. As emoções são muito fortes.

O trabalho na Candeia propi-ciou-me ver o DVD imediatamenteao seu lançamento, por gentileza doprodutor, Oceano Vieira de Melo,a quem, de público, desejo cumpri-mentar pelo excelente trabalho dedivulgação da Doutrina Espírita. AVersátil (www.dvdversatil.com.br),dirigida pelo Oceano, possui ou-tros extraordinários trabalhos nes-sa área de DVDs, inclusive excelen-tes documentários e palestras deexpressivos eventos do movimen-to espírita.

Temos o dever de falar do que ébom. Meus parabéns à Versátil. Mi-nha recomendação aos amigos lei-tores, exatamente pela qualidade daprodução. �

Mãe Reencontra Filhos de existência PassadaFilme lançado em DVD retrata caso verídico

por Orson Peter Carrara - Catanduva/SP

Dezembro 2006 | FidelidadESPÍRITA

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : 0800 770-5990 53ASSINE : (19) 3233-5596 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

ESTUDO

tendo bons resultados, necessita deuma boa administração.

Diante dessa reflexão, responde-mos a questão do início do artigo:sim, devemos nos preocupar com aadministração do Centro Espírita,pois, nós espíritas, queremos traba-lhar por um mundo melhor comeficiência, esclarecendo, consolan-do, ajudando da melhor maneirapossível, isto é, com qualidade e,também, atingindo o maior públi-co possível com trabalho e divulga-

ção adequada. Porém, deixamos cla-ro que qualidade vem antes de quan-tidade. De que adiantaria um Cen-tro freqüentado por cem pessoas seeste não oferece condições para queestas almas sejam estimuladas a rea-lizar sua reforma moral e trabalharna construção de um mundo cris-tão? Se dez pessoas freqüentam aCasa Espírita, mas estão trabalhan-do no bem, se educando espiritual-mente, semeando amor, não há dú-vida; o Centro estará produzindobem mais e com qualidade.

Centro Espírita e Administração

por Wellington Santiago

Será que devemos nos preocu-par com o aspecto adminis-

trativo da Casa Espírita?Administração, segundo o dici-

onário Aurélio, tem por uma de suasdefinições a seguinte: conjunto deprincípios, normas e funções quetem por fim ordenar a estrutura efuncionamento de uma organização(empresa, órgão público, etc.).

Destacamos o verbo ordenar pararefletirmos sobre o que pode funci-onar sem ordem, sem organização.

Instituições, núcleos ou até mesmovidas se não possuem o quesito or-dem, como irão produzir e alcançarseus objetivos? Imaginem uma em-presa onde os produtos não são or-ganizados e os trabalhadores nãopossuem funções definidas. O tra-balho se torna difícil, complicado,lento. Talvez, até produzam, mas seráque estão trabalhando com toda asua potencialidade? Tudo em nossomundo, para o seu melhor funcio-namento, ou seja, para produzir sa-tisfatoriamente, com eficiência, ob-

Tudo em nosso mundo, para o seu

melhor funcionamento, necessita de

uma boa administração

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FidelidadESPÍRITA | Dezembro 2006

ESTUDO

Dedicar ao Centro Espírita o mesmo

carinho que dedicamos ao nosso lar

Por isso, é necessária uma admi-nistração adequada no Centro, parafuncionar de maneira a atender seusobjetivos. Essa administração envol-ve desde os recursos materiais epatrimoniais, até a administração nocampo das relações humanas, semdeixar de observar suas finalidadesdentro da atividade espírita.

A diretoria da Casa necessita pro-videnciar a legalização de todos osaspectos (as obrigações com o Fis-co, Órgãos Públicos do Estado,Município e União, as questões tra-balhistas, etc.) para cumprí-los deacordo com a Lei humana, nuncaesquecendo a ética cristã do Espiri-tismo. Caso não haja interesse poressas questões, a Casa não funcio-nará de maneira segura, pois estáameaçada de a qualquer momentosofrer abalos e prejuízos nestas áre-as, o que pode prejudicar sua ativi-dade prioritária de viver e divulgar aDoutrina Espírita. A instituição quefunciona em propriedade irregular,

está ameaçada de encerrar suas ati-vidades por questões burocráticasou administrativas.

No campo doutrinário, tambémdeve ser utilizada a administraçãoconsciente, devido à programação deeventos, organização de horários,atividades e delegação de funções.Deve ser considerada a mesma preo-cupação na área assistencial, tendocritério na utilização de bens e re-cursos à disposição, para não haver

desperdício e para o trabalho ser efi-ciente.

Devemos compreender que aCasa Espírita, como instituição, nãodeve funcionar sem organização econtrole. Ela também requer cuida-dos administrativos como aquelesque utilizamos na condução de nos-sas atividades rotineiras em casa ouno trabalho. Dedicar ao Centro Es-pírita o mesmo carinho que dedica-mos ao nosso lar. Isto envolve pla-nejamento, organização, visão defuturo, direcionamento de recursoscom acompanhamento e controle.São princípios humanos sim, masnecessários a uma instituição quedeseja ser organizada.

Nas relações humanas, a adminis-tração também deve ser utilizadacom democracia, companheirismo.Daí a necessidade de preparação eintegração dos trabalhadores doCentro, sempre motivando e reco-nhecendo seus trabalhos. A impor-tância da união deve ser considera-

da, assim como o trabalho em equi-pe, cujo teor administrativo envol-ve o respeito, a decisão conjunta emfavor do grupo, sem autoritarismoou imposição.

O quadro de sócios que com-põem a Assembléia Geral, não fogeda necessidade de organização, poiselegem a diretoria que tem Manda-to. A renovação ou a manutençãodos diretores, obedecendo a vonta-de da Assembléia Geral, determinao andamento e o futuro da entida-de. Todos estes aspectos devem serlembrados.

De fato, a administração requerexperiência, análise, tempo e, prin-cipalmente, boa vontade. Se pos-suirmos boa vontade, desejo since-ro de fazer o melhor, certamentevamos obter ótimos resultados queirão melhorar com a experiência. Oimportante é criar condiçõesobjetivando o fortalecimento dainstituição e exercendo suas ativida-des com qualidade, porque, o quebuscamos é a vivência e a divulga-ção da Doutrina Espírita. Estandoa instituição organizada e bemconduzida, o trabalho se torna maisprodutivo, mais fácil, obtendo me-lhores resultados e ainda, estimulan-do pessoas para também coopera-rem no Movimento Espírita em prolde um mundo melhor, mais feliz,repleto de amor, ou seja, um mun-do cristão. �

BIBLIOGRAFIA:

CARRARA, Orson Peter: Causa e Casa Espí-

ritas. Edições Carrara, 1ª Edição, 1999, Mi-

neiros do Tietê – SP.

Dezembro 2006 | FidelidadESPÍRITA

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : 0800 770-5990 55Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : (19) 3233-5596

Fonte:

MARTINS, Eduardo. Com Todas as Letras.

Pág. 53. Editora Moderna. São Paulo/SP,

1999.

COM TODAS AS LETRAS

Locuções criam polêmica sobre a crase

por Eduardo Martins

Assim, existe crase no a das locuções adverbiais (exprimem uma circunstância do verbo epor isso funcionam como advérbio): Fez o trabalho às pressas. / Virou à direita, à esquerda.

/ Cumpriu a ordem à risca. / Às vezes ficava muito deprimido. / Queria estar sempre àfrente. / Tinha medo de andar sozinho à noite. / Foi levado à força. / Passou o dia à toa.

Veja agora algumas das locuções prepositivas (formadas por a mais palavra feminina maisde): Venceu à custa (à força) de muito empenho. / Vestia-se à maneira (à moda) da mãe.

/ Estava à procura de emprego. / Ficou à mercê dos adversários. / Continuava à esperados companheiros.

Conjuntivas são locuções que ligam duas orações ou termos de uma oração (têm o valorde conjunção): Sua tristeza aumentava à medida ou à proporção que os amigos partiam.

Chegamos agora ao caso que mais divide os gramáticos. Segundo a corrente mais numerosade defensores do a com acento nessa situação, a crase deve ser empregada nas locuções quedesignam meio, instrumento, e em outras “nas quais a tradição lingüística o exija”.

Veja alguns exemplos: Só gostava de vender à vista. / Escrevia melhor à mão, à máquina.

/ Feriu o inimigo à bala, à faca, à espada. / Fechou a porta à chave. / Fez o trabalho àforça. / Pôs a casa à venda.

Os adversários da crase em exemplos como os citados apontam como justificativa o fatode, se a palavra for masculina, não existir ao, mas apenas a preposição a. Assim diz-se pagamento

a prazo (e não “ao” prazo). Também: Feriu o inimigo a tiro (e não “ao” tiro).

Os defensores da crase (a maioria esmagadora dos gramáticos modernos) dizem que osinal, neste caso, dá clareza à frase e corresponde a um acento diferencial, para evitar duplosentido. Assim, segundo esta ótica, pôr a venda, sem crase, poderia dar a entender que apessoa vai cobrir os olhos com uma faixa. O mesmo poderia ocorrer com vender a vista, quesignificaria negociar o olho de alguém.

Muitos gramáticos consideram facultativo o emprego da crase neste tipo de locução. Querum conselho? Adote a crase pelo menos naquelas locuções em que essa prática se consagrou,como à venda, à vista, à mão, à máquina, à chave, à força. Já com àbala, à faca, à espada, etc., veja se há possibilidade de confusão. Sehouver, recorra à crase. Se não, pode deixar o a sem o acento (ounão).

O caso mais polêmico da crase diz respeito à sua presença nas

locuções. A razão: a substituição da palavra antes da qual secoloca o à por outra, masculina, nem sempre resulta no ao.

Com uma série delas, as adverbiais, prepositivas e conjuntivas, quase nãohá problemas, que vão aparecer, porém, num caso que veremos a seguir.

Chico Xavier - Emmanuel

Vinha de Luz

Porta Estreita

“Porfiai por entrar pela porta estreita, porque eu vos digo que muitos

procurarão entrar, e não poderão.”

- Jesus. (Lucas, 13:24.)

Antes da reencarnação necessária ao progresso, a alma estima na “porta estreita”

a sua oportunidade gloriosa nos círculos carnais.

Reconhece a necessidade do sofrimento purificador. Anseia pelo sacrifício que

redime. Exalta o obstáculo que ensina. Compreende a dificuldade que enriquece a

mente e não pede outra coisa que não seja a lição, nem espera senão a luz do

entendimento que a elevará nos caminhos infinitos da vida.

Obtém o vaso frágil de carne, em que se mergulha para o serviço de retificação e

aperfeiçoamento.

Reconquistando, porém, a oportunidade da existência terrestre, volta a procurar

as “portas largas” por onde transitam as multidões.

Fugindo à dificuldade, empenha-se pelo menor esforço.

Temendo o sacrifício, exige a vantagem pessoal.

Longe se servir aos semelhantes, reclama os serviços dos outros para si.

E, no sono doentio do passado, atravessa os campos de evolução, sem algo realizar

de útil, menosprezando os compromissos assumidos.

Em geral, quase todos os homens somente acordam quando a enfermidade lhes

requisita o corpo às transformações da morte.

“Ah! se fosse possível voltar!...” – pensam todos.

Com que aflição acariciam o desejo de tornar a viver no mundo, a fim de

aprenderem a humildade, a paciência e a fé!... com que transporte de júbilo se

devotariam então à felicidade dos outros!...

Mas... é tarde. Rogaram a “porta estreita” e receberam-na, entretanto, recuaram

no instante do serviço justo. E porque se acomodaram muito bem nas “portas

largas”, volvem a integrar as fileiras ansiosas daqueles que procuram entrar, de

novo, e não conseguem.