música ltda - o negócio da musica - leonardo salazar

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  • Leonardo Salazar

    Sebrae

    O negcio da msica para empreendedoresMsica Ltda

    Atualizado de acordo com a Lei Complementar 133/09 (Simples da Cultura)

    Recife, 2010

    Inclui um Plano de Negcio para uma banda

  • Copyright @ 2010, Leonardo Salazar

    SebraeConselho Deliberativo - Pernambuco

    Banco do Brasil - BB

    Banco do Nordeste do Brasil - BNB

    Caixa Econmica Federal - CEF

    Federao da Agricultura do Estado de Pernambuco - Faepe

    Federao das Associaes Comerciais e Empresariais de Pernambuco - Facep

    Federao do Comrcio de Bens, Servios e Turismo do Estado de Pernambuco - Fecomrcio

    Federao das Indstrias do Estado de Pernambuco - Fiepe

    Instituto Euvaldo Lodi - IEL

    Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas - Sebrae

    Secretaria de Desenvolvimento Econmico do Estado de Pernambuco - SDE

    Servio Nacional de Aprendizagem Comercial- Senac/PE

    Servio Nacional de Aprendizagem Industrial-Senai/PE

    Servio Nacional de Aprendizagem Rural - Senar/PE

    Sociedade Auxiliadora da Agricultura do Estado de Pernambuco

    Universidade de Pernambuco - UPE

    Presidente do Conselho Deliberativo Estadual

    Ricardo Essinger

    Diretor-superintendente

    Nilo Simes

    Diretora tcnica

    Roberta Correia

    Diretor administrativo-financeiro

    Gilson Monteiro

    Unidade de Negcio Turismo, Cultura e Gastronomia

    Alexandre Ferreira Gomes (gerente)

    Superviso editorial

    Unidade de Comunicao e Imprensa - Sebrae

    Janete Lopes (gerente)

    Comisso de Editorao Sebrae 2010

    Roberta Correia

    Jussara Leite

    Janete Lopes / Carla Almeida

    Eduardo Maciel

    Ana Cludia Dias / Silvana Salomo

    Angela Miki

    Roberta Amaral

    Tereza Nelma Alves

    Reviso

    Betnia Jernimo

    Projeto grfico e diagramao

    Z.diZain Comunicao | www.zdizain.com.br

    Impresso

    F&A Grfica e Editora

    SALAZAR, Leonardo Santos.

    Msica Ltda: o negcio da msica para empreendedores

    (inclui um Plano de Negcio para uma banda) / Leonardo Santos

    Salazar. Recife: Sebrae, 2010.

    168 p. : 32 tabelas; 3 grficos; 20,5 x 23 cm.

    Atualizado de acordo com a Lei Complementar 133/09

    (Simples da Cultura).

    ISBN 978-85-88135-57-4

    1. Msica. 2. Empreendedorismo. 3. Sebrae. I. Salazar,

    Leonardo Santos. II. Ttulo.

    S 161 m

    CDU 78

    CDD - 780

    Sebrae

    Rua Tabaiares, 360 - Ilha do Retiro - CEP 50750-230 - Recife/PE

    Telefones: 0800 570.0800 / 81 2101.8400 | www.sebrae.com.br/uf/pernambuco

  • Aos artistas, tcnicos e empresrios que decidem empreender no negcio da msica.

    s bandas e artistas que cruzaram meu caminho, especialmente Fim de Feira, Devotos, Parafusa, Wander Wildner, Del Rey, Seu Chi-co, Eddie, Bruno Pedrosa e Mula Manca.

    Aos professores Luiz Mrcio Assuno, Roberto Ferreira, Srgio Buarque, Joo Fernando de Melo, Esdras Souto, Jamesson Coutinho e Wilma Morais.

  • Esse mundo inconcluso; alm h continuao.Invisvel como a msica, evidente como o som.Emily Dickinson

    Estudar tambm e, sobretudo, pensar a prtica.E pensar a prtica a melhor maneira de pensar certo.Paulo Freire

  • SumRIO

    LISta de fIguRaS 11

    agRadecImeNtOS 13

    mSIca, maeStRO! 15

    INtROduO 17

    O NegcIO da mSIca 19

    estgios da atividade quanto ao grau de profissionalizao 22

    Amador 23

    Semiprofissional 23

    Profissional 23

    Oportunidades de negcios 23

    diferenas entre empresrio, agente e produtor executivo 25

    contratante, produtor e artista: uma confusa relao 26

    Show, palco e bastidores 27

    Negociando cach, transporte, hospedagem e alimentao 29

    turn ou excurso 31

    disco: da gravao distribuio 33

    Organograma do show business 35

    atores envolvidos no negcio da msica 37

    Advogado 37

    Agente (booking) 37

    Artista (intrprete) 38

    Autor (compositor) 38

  • Contador 39

    Contratante 39

    Designer 39

    Distribuidora 40

    DJ (Disc Jockey) 40

    Ecad 40

    Editora 42

    Empresrio artstico (manager) 42

    Fornecedores 43

    Fundao Biblioteca Nacional (FBN) 43

    Governo 43

    Gravadora (selo) 44

    Imprensa 44

    Msico autnomo 45

    Ordem dos Msicos do Brasil (OMB) 45

    Pirataria (carrocinha de CDs) 46

    Produtor executivo 47

    Produtor fonogrfico 48

    Produtor musical 48

    Promoter 48

    Pblico consumidor 48

    Sindicatos 49

    Sociedades de autor 49

    Tour manager 50

    Varejista 50

    exerccio da profisso de msico 50

    Nota contratual de trabalho para msicos profissionais 51

    Numerao de discos e ISRc 52

    direitos autorais, flexibilizao, registro e edio de obras musicais 53

    meia-entrada em eventos culturais 56

    exportao da msica 57

    artista e empreendedor 58

    diviso de tarefas entre msicos da banda 59

    O emPReeNdedORISmO 61

    comportamentos empreendedores 65

    autnomo 65

  • empresrio 67

    empreendedor individual 68

    microempresa 72

    Plano de Negcio 76

    abrindo uma empresa 79

    Princpios de administrao 80

    Planejamento estratgico 82

    fINaNaS 85

    conjuntura 87

    economia da cultura 88

    consumo de produtos musicais 90

    tributos 92

    Oramento 95

    formao de preo 96

    Pagamento 98

    faturamento gastos = lucro 100

    demonstraes contbeis 102

    Indicadores de desempenho 104

    avaliao de alternativas de investimento 108

    Servios bancrios 110

    Plano Nacional de apoio cultura (Pronac) 112

    Programa BNdeS para o desenvolvimento da economia da cultura 114

    Marketing 117

    Mix de marketing 120

    mercado 121

    clientes 123

    Precificao 124

    distribuio 125

    comunicao 125

    Marketing cultural 126

    Marketing de servios 129

    a cauda longa: uma nova dinmica de marketing e vendas 129

    mOdeLO de PLaNO de NegcIO PaRa uma BaNda 133

    Sumrio executivo 135

  • Scios e atribuies 135

    Dados cadastrais 135

    Misso 137

    Atividade econmica 137

    Forma jurdica 137

    Enquadramento tributrio 137

    Capital social e cotas 137

    Fonte de recursos e integralizao 137

    anlise de mercado 138

    Segmentao e mensurao 139

    Pblico-alvo 140

    Concorrentes 141

    Fornecedores 142

    Plano de marketing 142

    Descrio dos produtos 143

    Preo 143

    Promoo 143

    Comercializao 144

    Distribuio 144

    Plano operacional 145

    Capacidade produtiva 145

    Processos operacionais 146

    Necessidade de pessoal 146

    Custos fixos 148

    Capital de giro 148

    Custos variveis 149

    Estimativa de faturamento 149

    Projeo do fluxo de caixa 150

    Demonstrativo de resultados 150

    Indicadores de viabilidade 153

    construo de cenrio negativo 153

    avaliao estratgica 154

    avaliao do Plano de Negcio 155

    cONcLuSO 157

    fONteS de PeSquISa 161

  • 11

    LISta de fIguRaS

    taBeLaS

    TABELA 1 Clculo mensal do IRPF para o ano calendrio 2010 67

    TABELA 2 Partilha do Simples Nacional Anexo III

    (servios e locao de bens mveis) 74

    TABELA 3 Partilha do Simples Nacional Anexo I (comrcio) 74

    TABELA 4 Etapas do Plano de Negcio 77

    TABELA 5 Estilo musical mais assistido na RMR 92

    TABELA 6 Clculo mensal do IRPF para o ano calendrio 2010 94

    TABELA 7 Pagamento com retenes para a pessoa fsica 99

    TABELA 8 Pagamento com retenes para a pessoa fsica isenta de ISS 99

    TABELA 9 Pagamento de pessoa jurdica com adio de CPP 99

    TABELA 10 Receita gastos = lucro 100

    TABELA 11 Fluxo de caixa 103

    TABELA 12 - Demonstrao do Resultado do Exerccio (DRE) 104

    TABELA 13 Comparativo entre as taxas dos servios bancrios dos bancos oficiais 111

    TABELA 14 - Para venda de shows (anexo III da LC 123/06 - servios) 137

    TABELA 15 - Para venda de discos (anexo I da LC 123/06 - comrcio) 137

    TABELA 16 Contratantes no mercado nacional 139

    TABELA 17 Contratantes no mercado internacional 139

    TABELA 18 Preo de venda de um show 143

    TABELA 19 Preo de venda de um disco 143

    TABELA 20 Meta de venda de shows em cinco anos 144

    TABELA 21 Meta de venda de discos em cinco anos 144

  • TABELA 22 Investimento inicial (R$) 147

    TABELA 23 Custo fixo mensal (R$) 148

    TABELA 24 Projeo dos custos fixos para cinco anos 148

    TABELA 25 Custo de um show (custo varivel unitrio) 149

    TABELA 26 Projeo dos custos variveis para cinco anos (R$) 149

    TABELA 27 Projeo do faturamento para cinco anos (R$) 149

    TABELA 28 Projeo do fluxo de caixa para cinco anos (R$) 150

    TABELA 29 Demonstrao de resultados dos exerccios 2010 a 2014 150

    TABELA 30 Metas de vendas de shows (pessimista) 153

    TABELA 31 Metas de vendas de discos (pessimista) 153

    TABELA 32 Projeo do fluxo de caixa (pessimista) (R$) 153

    quadROS

    quADRO 1 Estgios na carreira do msico 23

    quADRO 2 Diferenas entre empresrio, agente e produtor executivo 26

    quADRO 3 Etapas da realizao de um show 28

    quADRO 4 - Funes da equipe tcnica de uma banda 29

    quADRO 5 Manual de ajuda do Plano de Negcio 77

    quADRO 6 Variveis do mix de marketing 121

    quADRO 7 Scios e atribuies 136

    quADRO 8 Custo mdio de produtos consumidos pelo pblico-alvo 140

    quADRO 9 Responsveis e tarefas especficas 145

    quADRO 10 Etapas de um show 146

    quADRO 11 Equipe tcnica da banda Brazuca 146

    dIagRamaS

    Diagrama 1 21

    ORgaNOgRamaS

    ORGANOGRAMA 1 As relaes do show business 36

    gRfIcOS

    GRFICO 1 Custos de produo x Situao econmica 138

    GRFICO 2 Mapa de palco e backline 147

    GRFICO 3 Anlise Swot (ou Fofa) 154

    fLuXOgRamaS

    FLuXOGRAMA 1 Diviso de tarefas entre msicos 60

    FLuXOGRAMA 2 Espcies de tributo 93

  • 13

    agRadecImeNtOS

    Agradeo a Deus, famlia Cox Santos, famlia Salazar, Marcelo e Amlia, Vivi, Mar-celinho e Marcela, Arthurzinho e toda sua famlia, Ricardinho Baltar e famlia, Ana Paula e os meninos, Filipe Gomes, Manoel Barbosa, Juliano Ribeiro, Heitor Pontes, Bruno Lins, Ricardo Mendes, Theo, Bruno Pontes, Alexandre Moraes, Paulo Andr, Sonally Pires, Me-lina Hickson, Roger e Paula de Renor, Bruno Lisboa, Mrcia Xavier, Nvea, Fernando Bur-burinho, Marc Regnier, Frabrice Gervais, Rob van den Bosch, Roberto Brasileiro, Carlota, Tam, Linde, Rodrigo Arajo, Jeff, Gutie, Csar Insano, Henrique Figueira, Tito Lvio, Simo-ne Malta, Lula Sampaio, Roseane Cabral, Gustavo da Lua, Keops Ferraz, Cris Pontual, F-bio Cabral, Wilson Farias, Hibys, Gal Cunha Lima, Gisela Ferrari, Villas, Fernanda Couto, Daniel K, Rosana Pavanelli, Jorge Ayres, Fabrcio Nobre, Rodrigo Barata, Marta e Ossos do Ofcio, Rei Magro, Laura Leiner, Rogrio Ceneviva, Robrio Pitanga, Rose Mary Souza, Pa-trcia Raposo, Mariana Ribeiro, Rosa Santana, Jair Pereira, Sebastio, Lo Lira, Kleber Ma-gro, Rogrio Robalinho, Maguila, Felipe Cabral, Joo Falco, Guilherme Calheiros, Eduar-do Carneiro, Maria Arraes, Lucas Pitbull, Rodrigo Maia, Leo Milfont, Gustavo H. Almeida, Fernando Duarte, Renato L, Dbora Nascimento, Luciana Veras, Jos Teles, Marcelo Perei-ra, Marcos Toledo, Paula Schver, Thiago Soares, Bruno Nogueira, Jlio Cavani, Michelle de Assumpo, Lo Antunes, Marcelo Soares, Gabriel Furtado, Berna Vieira, Lo D, Willian P, Pablo Lopes, Joo e Joaquim Souza Leo, Adriano Arajo, Clayton Soares, Thalles Siqueira, Gilberto Freyre Neto, Alexandre Ferreira e todo o pessoal do Sebrae/PE.

  • 15

    mSIca, maeStRO!

    Em 1993, o consagrado maestro brasileiro Jlio Medaglia esteve no Recife para produ-zir a trilha sonora da srie "Rabo de saia", ambientada em Pernambuco e baseada no livro "Penso Riso da Noite", do caruaruense Jos Cond. Numa entrevista publicada na edio de 16 de abril daquele ano, do Jornal do Commercio, o respeitado maestro desabafou: "Per-nambuco tem mais musicalidade que a Europa inteira e o Estado mais rico musicalmente do Brasil".

    Foi lembrando dessa entrevista que li, com particular interesse, o livro de Leonardo Salazar e pensei como ele seria til para transformar essa riqueza em oportunidade, propor-cionando sustento no apenas para autores e intrpretes, mas para todos aqueles que vivem de e para a msica.

    "Msica Ltda: o negcio da msica para empreendedores" , pois, veredas e desafios. Trilhas que certamente vo levar a diversificados e gloriosos caminhos; desafios que tambm sero transformados em vitrias, aliando as mltiplas oportunidades que a msica enseja, so-bretudo, para as pequenas empresas, na produo de instrumentos musicais, na formao de jovens e no encantamento que os mais diversos intrpretes dessa arte proporcionam.

    Parceiro desta obra, o Sebrae sente-se particularmente realizado. Ela nos coloca como trao de unio entre a capacidade humana e a inspirao divina que a msica traduz.

    Nilo SimesSuperintendente do Sebrae em Pernambuco

  • 17

    INtROduO

    Este documento foi escrito originalmente como trabalho de concluso do curso de espe-cializao em Gesto de Negcio. Agora ele foi adaptado, revisto e atualizado para ser publi-cado como livro de consulta para empreendedores sejam eles msicos, tcnicos, empres-rios, gestores pblicos ou estudantes. O objeto de estudo deste livro a indstria da msica pela tica socioeconmica.

    O presente trabalho tem o objetivo de elaborar um modelo de microempresa para uma banda de msica. O principal produto da microempresa ser o show ao vivo. Com a crise da indstria fonogrfica, o show se reafirma como principal fonte de renda do artista, atesta a cantora carioca Marisa Monte em seu documentrio Infinito ao meu redor.

    O disco ser tratado como produto secundrio, mas no como produto sem valor econ-mico. Ronaldo Lemos e Oana Castro, no livro Tecnobrega, apuraram que no mercado tec-nobrega, em Belm, as bandas vendem em mdia 77 discos e 53 DVDs por show, a um preo mdio de R$ 7,46 o disco e R$ 10 o DVD, totalizando um faturamento mdio de R$ 1.104,42 por show. So cifras considerveis. Que tipo de empreendedor abriria mo dessa fatia do bolo?

    A importncia deste estudo reside no fato de que grande parte dos agentes da msica no possui conhecimentos especficos e habilidades tcnicas necessrias para empreender seu prprio negcio. Abrir a prpria empresa mais do que realizar um sonho. Na maioria dos ca-sos, uma resposta ao desemprego; em outros, uma fonte de renda complementar.

    A metodologia utilizada consistiu na investigao atravs da pesquisa bibliogrfica, da pesquisa documental e da pesquisa na Internet. Foram consultados obras audiovisuais, livros tcnicos, relatrios oficiais, pesquisas acadmicas, revistas especializadas, jornais, arquivos e documentos privados, websites, alm da experincia do autor no ramo.

    Esperamos, com a publicao deste livro, contribuir para a difuso da cultura empreen-dedora principalmente entre os msicos. Desejamos que este trabalho contribua para reafir-mar a importncia da formalizao de toda a cadeia produtiva da msica.

  • O NegcIO da mSIca

  • 21

    O autor considera o negcio da msica um gnero do qual fazem parte trs espcies: o show business, a indstria fonogrfica e a propriedade intelectual. O show business diz respei-to cadeia produtiva que gira em torno da apresentao musical e do artista. J a indstria fonogrfica envolve a comercializao do disco e dos produtos afins vinil, DVD e forma-tos digitais. E a propriedade intelectual considera as licenas de uso e os direitos autorais, conexos e fonomecnicos.

    Em outras palavras, existem resumidamente trs formas de se ganhar dinheiro com m-sica: receita com venda de servios (shows), receita com venda de produtos (discos) e receita com explorao de direitos (royalties). Hoje em dia, as quedas nas vendas de discos e as mu-danas nas prticas relativas aos direitos autorais transformaram o show na principal fonte de renda dos artistas. Na cadeia produtiva da msica, o show o motor que move toda a engrenagem. O artista a gasolina, o combustvel, o incio de todo o processo. Sem combus-tvel, o motor no funciona.

    A msica a manifestao artstica mais entranhada na sociedade, presente em todos os grupos sociais e em diferentes faixas etrias. Chris Anderson demonstrou no livro A cau-da longa que o negcio da msica composto por milhares de nichos. Msica para ninar, msica para brincar, msica para danar, msica para se apaixonar, msica para protestar, msica para relaxar. Do brega ao jazz, do ax MPB, do pagode ao blues, do forr msica clssica, do sertanejo ao rock. No h mais o grande mercado, o grande hit, a grande estrela da msica. Mas milhares de micromercados, de mini hits e de artistas satlites.

    Parafraseando um famoso comercial, o brasileiro apaixonado por msica. A msica es-t presente o ano inteiro em todo lugar: em casa, no trabalho, nas ruas e, principalmente, no lazer. Alm dos shows, ouve-se msica em aparelho de som, rdio, televiso, cinema, com-putador, iPod, bares, restaurantes, consultrios, elevadores, supermercados, estdios, colgios, festas particulares, eventos oficiais e comemoraes de todo tipo.

    dIagRama 1 O NegcIO da mSIca e SuaS eSPcIeS

    20

    Indstria fonogrfica

    Propriedade intelectual

    Show business

    Negcio da msica

  • 1 A exploso do entretenimento: a entrada de grandes investidores no setor cultural aquece o cenrio das artes e cria um novo e lucrativo filo da economia.

    O negcio da msica est repleto de atores. So artistas, tcnicos, produtores, empres-rios, profissionais liberais, afora a mdia publicitria e os veculos informativos. Existem em-presas que fornecem produtos e servios, rgos e entidades que regulam e fiscalizam o setor. Essa cadeia de pessoas, processos, produtos e servios alm do pblico consumidor for-ma o que se chama indstria da msica, uma indstria limpa, no poluente, talvez um pouco barulhenta, mas que emprega milhares de pessoas no mundo inteiro.

    Os jornalistas Ivan Cludio e Natlia Rangel, em reportagem publicada na revista Isto , em 11 de agosto de 20081, enfocam a dimenso econmica da indstria cultural bra-sileira, registrando o aumento de investimentos privados no setor e citando exemplos na rea musical:

    Quem primeiro detectou uma demanda reprimida foram os donos de casas de espetculos como a Via

    Funchal, em So Paulo, ou o Citibank Hall, no Rio de Janeiro. "Antes do surgimento destas casas, os

    shows pequenos aconteciam em teatros e os grandes iam para os estdios. Era um setor muito informal,

    que carecia de investimentos profissionais", diz o empresrio Cssio Maluf, scio, com o irmo Jorge

    Maluf, da Via Funchal. Eles possuam uma fbrica de papel e decidiram mudar de ramo quando lhes

    caiu nas mos uma pesquisa que apontava as grandes possibilidades do novo setor. Desde a criao

    da Via Funchal, h uma dcada, o negcio dos irmos Maluf cresceu 50% e hoje a casa funciona com

    uma ocupao de 70%. Ou seja, dos sete dias da semana, cinco trazem alguma atrao, muitas delas

    na segunda-feira, dia em que as pessoas no reservavam para o lazer. "Estamos colhendo o fruto de ter

    investido na hora certa", diz Jorge. "Agora todo mundo quer entrar nesse campo. (...) A sensibilidade na

    identificao de nichos de pblico outro fator que vem contribuindo para a profissionalizao do setor

    cultural. (...) No terreno musical, dando de ombros diante do desmantelamento da chamada indstria

    fonogrfica, a empresria Kati Almeida Braga, do Banco Icatu, decidiu investir e criou a gravadora Bis-

    coito Fino. Levou para o seu catlogo pesos pesados da MPB como Chico Buarque e Maria Bethnia,

    e hoje lder naquilo que faz. Outra empresa que decidiu investir pesado na rea cultural foi a Gvea

    Investimentos, de Armnio Fraga no ano passado, ele adquiriu por US$ 150 milhes, em socieda-

    de com o empresrio Fernando Altrio, a Corporao Interamericana de Entretenimento, que rene,

    entre outras casas, o Credicard Hall e o Citibank Hall, tanto em So Paulo quanto no Rio de Janeiro.

    Estgios da atividade quanto ao grau de profissionalizao

    Observando a relao do msico com a carreira na msica, percebemos diferentes vn-culos estabelecidos entre aquele e esta. Propomos uma classificao focada no retorno fi-

  • 23

    Ms

    ica

    Ltda

    | O

    neg

    cio

    da

    ms

    ica

    nanceiro que a atividade proporciona ao msico. Deixaremos de lado formao acadmica, durao da carreira, qualidade artstica ou qualquer outra valorao de natureza esttica, tcnica ou moral. Desta forma, em relao remunerao recebida pelo desempenho da atividade, existem trs estgios na carreira do msico: amador, semiprofissional e profissio-nal2, conforme o Quadro 1.

    Amador

    O msico amador exerce outra atividade econmica para se sustentar, sendo a msica uma atividade extra, exercida sem remunerao ou com remunerao inconstante.

    Semiprofissional

    Alm da msica, o msico semiprofissional precisa de outra atividade remunerada pa-ra complementar suas receitas correntes, a fim de equilibrar o seu oramento. Seu tempo dividido entre a msica e outra atividade.

    Profissional

    Neste estgio, o msico profissional vive da msica, e a msica a sua principal fonte de renda, capaz de arcar com todos os custos pessoais e contribuir para o sustento da sua famlia. A msica tem prioridade na sua agenda.

    Oportunidades de negcios

    Assim como o sonho de todo jogador de futebol ser da Seleo Brasileira, o sonho de quase todo jovem msico fazer sucesso com sua banda autoral e auferir renda exclusi-

    2 No confundir amador com amadorismo. O amador se dedica atividade por prazer, sem fazer desta um meio de vida. Amadorismo fazer de qualquer jeito, um processo sem qualidade artstica ou tcnica. De modo que um msico amador pode desenvolver um projeto sem amadorismo, mas com qualidade tcnica e artstica.

    22

    quadRO 1 eStgIOS Na caRReIRa dO mSIcO

    eStgIOS PaRtIcIPaO da atIvIdade muSIcaL Na ReNda meNSaL

    amador At 25%

    Semiprofissional De 25% a 75%

    Profissional De 75% a 100%

  • vamente desse trabalho. Mas, sinceramente, este sonho alcanado pela minoria dos msi-cos. O msico precisa ampliar sua viso acerca das possibilidades que sua atividade oferece. Nem s de banda autoral vive o msico.

    Assim, o msico precisa entender que essa profisso possibilita a diversidade de proje-tos, s vezes uns esteticamente distintos dos outros. Isto traz uma vantagem, porque sua ren-da a soma de todos os trabalhos, reduzindo o grau de incerteza da sua remunerao men-sal, j que no existe dependncia econmica de apenas um projeto especfico. Pode (e deve) haver o projeto principal, mas este no o nico a lhe retribuir financeiramente. Tambm uma precauo contra a possibilidade do projeto principal vir a ser encerrado no futuro, de forma abrupta, e o msico ficar sem outra opo de rendimento.

    Outra analogia que cai bem com a profisso de msico atualmente: o mdico possui vrios trabalhos planto aos domingos, ambulatrio tarde durante a semana, planto noite duas vezes por semana em outro hospital, atendimento pela manh trs vezes por se-mana em clnica particular, e assim por diante.

    Da mesma forma, o msico precisa enxergar vrias possibilidades de trabalho na rea musical. A seguir, as oportunidades de negcios mais comuns, direta ou indiretamente, na indstria da msica na atualidade:

    banda autoral;

    banda tributo ou cover;

    banda ou orquestra de baile;

    sonorizao para eventos;

    montagem de estrutura;

    empresariamento artstico (management);

    agenciamento (booking);

    produo executiva (show ou disco);

    produo de turn (tour manager);

    tcnica (som, luz, palco);

    direo artstica (disco ou show);

    casa de show, teatro, boate, bar (msica ao vivo);

    produo fonogrfica (gravadora);

    edio musical (editora);

    distribuio de discos (distribuidora);

    comrcio de disco, DVD e afins;

    comrcio de instrumentos, equipamentos e acessrios;

    fabricao e reparo de instrumentos, equipamentos e acessrios;

    composio (autor);

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    instrumentista ou intrprete (tocando/cantando/gravando para terceiros);

    cantor independente (voz e violo);

    arranjador;

    maestro;

    trilha sonora (publicidade, jogos, teatro, cinema, moda);

    DJ (rdio, show, festa, boate);

    sinfnica (emprego pblico);

    ensino (licenciatura);

    estdio de ensaio;

    estdio de gravao;

    estdio mvel;

    mixagem;

    masterizao;

    replicao de mdia (vinil, CD, DVD);

    organizao de eventos (festivais, concursos, prmios, shows);

    marketing cultural (elaborao e captao de projetos musicais);

    design (capas de disco e material grfico);

    web (programao ou design para o setor);

    assessoria de imprensa (especializada em msica);

    produtora de vdeo (clipes, documentrios, DVDs);

    tecnologia da informao (produtos para o setor).

    Lembrando que uma opo no exclui a outra, e considerando tambm as caractersti-cas e aspiraes pessoais, a ideia que o msico preencha sua agenda com trabalhos ligados atividade musical, de forma geral, sem se prender unicamente ao trabalho com banda auto-ral. Ou seja, assim como aconselha um prudente gerente bancrio, o msico deve diversificar seus investimentos.

    Diferenas entre empresrio, agente e produtor executivo

    A produo de artistas pode ser realizada por apenas uma pessoa o produtor ou por at trs profissionais distintos, com funes e remuneraes diferentes: empresrio, agen-te e produtor executivo (Quadro 2).

    O mais comum no mercado brasileiro a figura de um nico produtor recebendo 20% dos rendimentos para acumular as trs funes. H livros que chamam esta figura polivalen-te de empresrio, enquanto outros chamam simplesmente de produtor executivo. Mas tanto faz. O que importa a funo que eles exercem. No livro Manual de produo de CDs e

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  • fitas demo, os autores Marcelo Oliveira e Rodrigo Lopes afirmam que cabe ao empresrio fazer tudo o que for necessrio para colocar o nome do artista em evidncia, principalmente produzindo shows em teatros e casas noturnas de prestgio e o incluindo em espetculos de grande repercusso.

    Existem grandes agncias que cuidam de vrios artistas. A vantagem que o dono da agncia tem bons contatos e conhece bem o mercado onde atua e o tamanho do bolso do contratante. Em geral, para cada artista existe um produtor para represent-lo na agncia e para trabalhar por ele fora dela. A desvantagem o tratamento diferenciado entre os artis-tas, causando sobrecarga de trabalho para uns e ociosidade para outros.

    Por outro lado, agentes especializados em vender um determinado gnero de msica pa-ra uma regio conhecem muito bem os contratantes e sabem como funciona a negociao e quanto se pode pagar. Este modelo de agenciamento privilegia o artista que der mais retorno financeiro em detrimento dos demais. Exemplos: agente que vende show de forr para pre-feituras no interior do Nordeste, ou agente que vende show de World Music para festivais de vero na Europa.

    H carncia de empresrios artsticos. Na realidade, existe muita banda no mercado e, por isso, o pequeno msico empreendedor necessita ser seu prprio empresrio, agente ou produtor executivo, pelo menos enquanto seu trabalho no atrair a devida ateno. No final das contas, a experincia servir para o msico avaliar o trabalho desses profissionais.

    Contratante, produtor e artista: uma confusa relao

    O trabalho do produtor representar os interesses do artista. O produtor o olho do artista fora do palco. Normalmente o produtor fica com 20% da remunerao do artista. Isto de praxe no mercado em quase todo o mundo. O produtor, na realidade, uma espcie de

    quadRO 2 dIfeReNaS eNtRe emPReSRIO, ageNte e PROdutOR eXecutIvO

    Produtor

    empresrio (management)

    Foco na carreira artstica Planejamento de longo prazo

    20% sobre o cach e outras rendas

    agente (booking)

    Foco na venda de shows Planejamento de mdio prazo

    10% a 20% sobre o cach

    Produtor executivo

    Foco nas necessidades dirias Planejamento de curto prazo

    Cach fixo ou %

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    gerente. Ele administra o negcio, mas o verdadeiro dono o artista. A carreira do artista segue adiante mesmo quando h mudanas na administrao. Mas esta verdade no est bem esclarecida na cabea de muitos profissionais.

    Fazendo um mapeamento do processo de trabalho da venda de um show, pela tica do produtor, encontram-se didaticamente oito etapas:

    1) envio ou recebimento da proposta de show (incio do processo);2) fechamento com o contratante;3) reunio com o artista para passar informaes do evento;4) envio de informaes do show para a equipe tcnica do contratante (backline, input list,

    mapa de palco, mapa de luz, room list, catering);5) envio de dados do artista para a produo do contratante (CD, foto, release, nota con-

    tratual, repertrio);6) contato com fornecedores do artista;7) recebimento do cach, retendo a comisso de 20%, e pagamento de todos os fornecedo-

    res, repassando o restante para o artista;8) prestao de contas.

    O dinheiro depositado pelo contratante na conta da empresa do produtor, que retm 20% do valor. Este o rastro do dinheiro: contratante > produtor > artista. Desta forma, fica caracterizado que o produtor um scio que possui 20% da cota do negcio do artista, e no apenas um funcionrio (gerente) dele.

    Esse processo causa confuso, sendo motivo de desentendimento entre artista e produ-tor. A sugesto simplificar e dar mais transparncia ao processo com outro procedimento, cujo dinheiro seguiria o seguinte caminho: contratante > artista > produtor.

    Assim, a empresa do artista receberia o cach do contratante e o produtor (gerente da empresa) faria uma srie de pagamentos a terceiros pelos servios prestados tcnicos, mo-torista, inclusive ele prprio. Agora est configurado de forma clara e precisa quem funcio-nrio e quem dono do negcio. preciso que o artista tenha seu negcio formalizado, com CNPJ prprio. Este o nus do artista ser dono do prprio nariz.

    Show, palco e bastidores

    Vender disco barato nos shows uma forma de auferir renda de dois produtos em uma nica oportunidade. Por isso o artista precisa investir em shows. No lugar de perder tempo com a elaborao de projetos para conseguir patrocnio para gravar um disco, mais vanta-joso, econmica e estrategicamente, investir em apresentaes ao vivo e em turns.

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  • Quando se fala em show, muito importante destacar dois aspectos distintos, ligados apresentao musical ao vivo:

    direo artstica;

    produo executiva.

    A direo artstica do show diz respeito ao palco, msica, aos msicos, ao repertrio, ao cenrio, ao figurino e iluminao. A produo executiva se refere ao trabalho por detrs do palco os bastidores, os equipamentos, os tcnicos, a venda do show e sua logstica.

    No livro Vocabulrio de msica pop, Roy Shuker ensina que os concertos de msica popular so fenmenos culturais complexos, constitudos por uma mistura de msica e neg-cios, de ritual e prazer, para os artistas e para o pblico.

    Se for importante o artista ter cuidados com a qualidade de um disco, em relao ao show esses cuidados devem ser dobrados. Um show sem emoo e com um som ruim acaba com a imagem de qualquer artista. O pblico dificilmente dar uma segunda chance. J um bom show emociona, transmite energia e motiva o pblico para comprar o disco do artista no final da apresentao.

    A msica um elemento importante do show. Boas composies e bonitas melodias cativam a plateia. Mas o show formado por outros elementos no auditivos. O figurino, a iluminao, o cenrio, o desempenho dos msicos, tudo influencia o conceito do pblico sobre a obra do artista e tambm sobre o show como um todo. Trata-se de uma mistura de elementos sonoros, visuais, sensitivos e performticos.

    A realizao de um show pode ser dividida em trs fases: pr-produo, produo e ps-produo (Quadro 3).

    Normalmente a equipe tcnica de uma banda formada por quatro profissionais: pro-dutor, tcnico de som, iluminador e roadie (ou contraregra), conforme o Quadro 4.

    quadRO 3 etaPaS da ReaLIzaO de um ShOw

    etapa atividades

    Pr-produo O processo tem incio com o acerto do show e o fechamento do contrato. Em seguida, a equipe tcnica da banda envia as necessidades operacionais para o contratante, alm de release, fotos e discos. Nesta fase, acontecem as liberaes junto ao Ecad e Ordem dos Msicos.

    Produo A banda desloca-se at o local do show com antecedncia para a passagem de som onde o palco ser montado, os equipamentos checados e o som regulado. Aps o show, esse palco desmontado.

    Ps-produo A banda recebe o cach e emite nota fiscal e recibo.

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    quadRO 4 - fuNeS da equIPe tcNIca de uma BaNda

    Profissional atribuies

    Produtor Logstica e operacionalizao

    Tcnico de som Sonorizao

    Iluminador Efeitos visuais

    Roadie Montagem e desmontagem do palco

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    As necessidades tcnicas variam de uma banda para outra. Em geral, dizem respeito aos equipamentos necessrios para a realizao do show. Existem trs documentos muito impor-tantes que o artista precisa enviar com antecedncia para que o contratante tome as devidas providncias:

    mapa de palco;

    backline;

    input list.

    O mapa de palco mostra a arrumao do palco onde cada msico se posicionar; o ba-ckline informa as necessidades quanto aos equipamentos amplificadores, bateria, estantes, bancos etc; e o input list diz a relao de canais e microfones com instrumentos e equipamen-tos perifricos.

    Ainda existem outros documentos mais especficos: room list (necessidades de hospeda-gem e quantidade de pessoas em um apartamento, afora seus dados pessoais) e catering (exi-gncias do artista para o camarim quanto ao servio de alimentos e bebidas).

    Negociando cach, transporte, hospedagem e alimentao

    Tem gente que se acha um pssimo negociador. Besteira. Negociao um processo e no uma guerra. Tambm no algo pessoal. As tcnicas de negociao podem ser estuda-das e colocadas em prtica por qualquer pessoa. A negociao nem sempre agradvel, mas o professor Esdras Souto ensina algumas habilidades de relacionamento para obter sucesso em um processo de negociao:

    mostrar as foras e eliminar as fraquezas;

    conhecer a outra parte, principalmente as suas necessidades;

    deixar a outra parte falar, saber ouvir e falar pouco;

    solucionar conflitos o mais rpido possvel;

  • colocar-se no lugar do outro;

    ser flexvel, buscar modelos onde todos saiam ganhando.

    A negociao no ocorre do dia para a noite. Leva tempo. melhor que seja assim pa-ra evitar arrependimentos. Existem seis etapas at o fechamento da negociao:

    1) valor cobrado;2) valor possvel;3) primeira oferta;4) processo de negociao;5) oferta mantida ou refeita;6) negcio fechado ou no.

    Em termos de cach, o artista deve conhecer o valor mdio de mercado e o tamanho do bolso do contratante, de forma que possa maximizar o valor dele na negociao.

    Quando o artista desconhecido do contratante, este no vai abrir o bolso at que fique provado o seu poder de fogo em atrair pblico pagante para a casa de show. Uma boa sada negociar uma percentagem da bilheteria. O montante arrecadado servir de base para os prximos cachs.

    O artista diferenciado pode exigir um pouco mais da mdia do mercado. Mas cuidado para no sufocar o contratante e perder um importante parceiro. Em outros casos, tem sido muito comum o acerto da percentagem da bilheteria com um valor mnimo de ga-rantia. Exemplo: o artista leva R$ 1.000 ou 50% da bilheteria o que for mais vantajoso para ele.

    Quanto forma de pagamento, o mais comum o acerto de contas no dia do evento, antes ou depois do show. No entanto, a forma mais segura para o artista o pagamento de uma parte na assinatura do contrato e de outra na passagem de som. Se o show for promo-vido pelo governo ou por outra pessoa jurdica de natureza pblica, em regra o pagamento sai depois do evento, mediante processo administrativo, com emisso de nota de empenho e posterior depsito bancrio3.

    Acertado o cach, a negociao segue para as demais condies: transporte, hospe-dagem, alimentao. O contratante tem a obrigao de arcar com essas despesas, caso o artista precise se deslocar da sua cidade para realizar o show4. Na prtica as coisas no fun-cionam bem assim. Por isso, preciso ter jogo de cintura para avaliar a relao de custo e benefcio em cada caso. Algumas casas de show pagam cach e no pagam despesas de via-

    3 Lei 8.666/93 (licitaes e contratos), especialmente o art. 25.4 Portaria 3.347/86, do Ministrio do Trabalho e Emprego, especialmente o Anexo I (clusula sexta).

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    gem, alguns festivais independentes no pagam cach e pagam despesas de viagem. O cri-trio que deve pesar mais, nestes casos, a repercusso que o show pode ter para o artista.

    Turn ou excurso

    Conceitualmente, turn uma srie de apresentaes em vrias cidades. Mais se parece com uma excurso, um pacote de viagem no melhor estilo p na estrada. Cada noite um pal-co. A maior parte do tempo gasta com a viagem.

    Bruce Thomas, baixista da banda Attractions, que acompanhava Elvis Costello, tem registros no livro The big wheel de uma de suas excurses:

    Viajvamos milhares de quilmetros, ficando hospedados em Holiday Inns, e vi algumas das mais

    famosas atraes tursticas da janela de um automvel cruzando a cidade. Outras vezes, fiquei em

    lugares que desejaria nunca ter visto. Ou ento dormia enquanto atravessvamos os mais espetaculares

    cenrios do mundo, no porque no estivesse interessado, mas porque estava exausto.

    As turns so extremamente necessrias para promover o lanamento do disco na m-dia regional, aumentar o pblico do artista e gerar um maior faturamento. Sites de relacio-namento e comunidades como MySpace, Orkut, Facebook e Twitter servem para divulgar o artista e difundir o seu repertrio, mas no geram renda ou remunerao. A passagem do artista pela cidade resulta em pauta na mdia local jornal, rdio, televiso e gera uma receita com a venda de ingressos e discos. Tambm uma oportunidade para o contato pes-soal do artista com o seu pblico atravs da visita a uma loja de disco, de um pocket show ou de uma seo de autgrafos aps a apresentao ao vivo.

    Um aliado estratgico nas turns o assessor de imprensa. Este profissional entra em contato com os veculos de comunicao de cada cidade, envia discos e releases pelo correio, e influencia o jornalista do veculo de comunicao para que publique matria no dia do show. O assessor de imprensa tambm deve agendar entrevistas em programas de rdio e televiso. Se o artista no tiver dinheiro suficiente para contratar um assessor de imprensa, deve ao menos combinar com o contratante do show a divulgao do seu material para a imprensa local, que geralmente no concede espao para os artistas independentes de outra regio. preciso ter um gancho, como um show na cidade, para que uma matria ou uma simples nota seja publicada na imprensa local. Alm disso, preciso que algum esteja per-manentemente em contato com os jornalistas para conseguir a pauta.

    As gravadoras costumavam arcar com as despesas de turns, ou mesmo davam algum suporte logstico. Hoje, com a crise da indstria fonogrfica, isto soa como um conto de fa-das. A turn um investimento sob conta e risco do artista. Uma alternativa buscar patro-

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  • cnio, pblico ou privado, a fim de cobrir pelo menos as despesas de transporte, hospedagem e alimentao da equipe. O contratante da cidade entra no risco arcando com os custos do show espao, estrutura, divulgao. A bilheteria pode ser dividida entre o artista e o con-tratante.

    Este um modelo vivel de turn para artistas independentes.Alguns cuidados operacionais devem ser tomados, principalmente em relao a equipa-

    mentos e instrumentos. Deve-se levar o necessrio para evitar custos com excesso de baga-gem e transtornos com manuseio e acomodao desse material. A equipe tambm deve ser enxuta.

    A turn deve ser programada com antecedncia por dois motivos: o primeiro, de ordem executiva, para conseguir entrar na programao dos principais festivais e casas de show. Eventos importantes comeam a fechar a programao com seis meses de antecedncia. Se o evento internacional, o prazo de um ano de antecedncia; o segundo, de ordem econmi-ca, para conseguir pacotes promocionais para transporte e hospedagem.

    O incio da organizao de uma turn deve comear pelo fechamento de um evento im-portante que justifique o investimento. Pode ser um show num grande festival ou uma apre-sentao em um programa de televiso em rede nacional. Esse evento ser o marco inicial que indicar o perodo e a regio da turn. A partir da, considerando o roteiro e a poca, os demais shows sero fechados nas outras cidades. Nunca demais lembrar que para assinar o contrato necessrio estipular cach, condies, obrigaes e deveres de cada parte em rela-o ao show e viagem.

    Se a turn for internacional, devem ser providenciados com antecedncia passaporte e visto de trabalho para toda a equipe. A legislao sobre o trabalho de msico estrangeiro muda de um pas para outro e por isso o responsvel pelo visto deve ser o contratante do show. A dica que os principais contratantes dos grandes shows providenciem ou ajudem a providenciar os vistos de trabalho. Os shows de menor porte, em clubes, podem ser docu-mentados como promocionais. No planejamento financeiro, devem constar impostos e reten-es incidentes sobre o cach, se houver.

    Roy Shuker, no livro j citado, apresenta uma variante de turn onde vrios artistas viajam e tocam juntos. Diz que este modelo foi muito popular na dcada de 60, principal-mente por grupos britnicos. um modelo sustentvel: junta foras, divide custos e une p-blico de dois ou mais artistas. Desse encontro podem resultar outros produtos como CD ou DVD. Tambm interessante convidar pelo menos um artista local para participar do show em cada cidade. Num segundo momento pode haver uma troca de papis, onde o artista an-fitrio o prximo a excursionar, por exemplo.

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    Disco: da gravao distribuio

    O disco ou lbum uma reunio de fonogramas em uma nica mdia. Antigamente, na poca do vinil (LP), o artista era avaliado pela quantidade e qualidade de discos que havia lanado ao longo da carreira. O forrozeiro Luiz Gonzaga, por exemplo, lanou 40 discos en-tre 1961 e 1989, sem falar nas coletneas e nos discos de 78 rotaes. Lanar um disco inde-pendente, sem apoio de uma gravadora, era algo muito caro e por isso quase impossvel na-quela poca. Os artistas independentes dificilmente lanavam discos no mercado. Existiram algumas excees, como o disco Satwa, de Lula Crtes e Lalson, um dos primeiros discos brasileiros independentes, gravado em 1973, nos estdios ociosos da gravadora Rozenblit, em Recife.

    No entanto, desde a dcada de 70, com o movimento punk, o lema DIY (Do It Your-self faa voc mesmo) contagiou uma multido de pessoas que tomaram coragem para empreender seu prprio talento. Se eles podem, ns tambm podemos, pensavam os artistas em potencial.

    Esse antigo lema ganhou fora nos anos 90, consolidando-se na primeira dcada do s-culo XXI, com o surgimento de quatro fatores que contriburam para a queda de barreiras na indstria fonogrfica:

    massificao da informtica, com o computador pessoal;

    acesso a tecnologias de produo, com os softwares de gravao;

    desenvolvimento da comunicao, com a banda larga e a telefonia mvel;

    ferramentas de divulgao e distribuio Google, MySpace, Youtube, Orkut.

    Novas tecnologias de produo e distribuio esto surgindo e exigem atualizao do msico e empresrio artstico. S para se ter uma ideia das mudanas ocorridas recentemen-te, em 1997 os arquivos MP3 eram praticamente desconhecidos da populao mundial. Em 2002, no existia Orkut, Youtube ou MySpace, ferramentas de comunicao onde artistas renomados e novos artistas tm disponveis os mesmos recursos.

    Com um computador porttil (laptop) moderno, um software de gravao gratuito, equi-pamentos de som decentes e um tcnico de udio talentoso, possvel gravar um disco com menos custos e mais recursos do que os disponveis poca do Rei do Baio. Existem vrios softwares de gravao digital uns mais profissionais e outros mais simples. O Audacity, por exemplo, de edio de udio e est disponvel para Mac, Windows e Linux. Dentre os principais recursos, destacam-se gravao, edio e mixagem em mltiplas faixas, plug-ins de efeito, remoo de rudos e facilidade de uso. At mesmo softwares populares como o Nero possibilitam alguns recursos de edio de udio.

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  • A tecnologia atual prova que possvel obter bons resultados com poucos recursos. Mas a tecnologia apenas uma ferramenta e no cria nada. A criatividade do artista continua sendo o diferencial de cada composio, cada disco, cada carreira artstica.

    A qualidade da gravao deve ser uma preocupao do artista. Afinal de contas, o dis-co o seu carto de visitas, uma amostra do seu talento, uma exteriorizao da sua arte. Mas ele no est s nessa batalha. Para lhe ajudar existe a figura do produtor musical. O tcnico de gravao e o produtor musical so responsveis pelo resultado sonoro do disco. Marcelo Oliveira e Rodrigo Lopes afirmam que duas coisas so fundamentais em um produ-tor musical:

    Ele tem que saber o que quer musicalmente e como conseguir isso no estdio. Ele deve ter experincia

    e sensibilidade suficientes para transformar a criao musical do artista em produto fonogrfico. Alm

    disso, deve preocupar-se tambm em criar uma boa atmosfera para a gravao.

    Na mixagem, os vrios sons gravados sero equilibrados em cada msica. Alguns artis-tas preferem escolher, para realizar a mixagem do disco, outra pessoa que no tenha partici-pado do processo de gravao. Isto se torna necessrio em alguns casos para a obteno de um resultado imparcial, realizado por um ouvido descansado, no viciado nos erros e acertos da gravao.

    A masterizao a fase do polimento da gravao, da correo das frequncias do som do disco. Tambm nesta fase que so inseridas as informaes digitais na mdia, tam-bm chamada de master: ttulo do lbum e das faixas, artista ou intrprete, produtor fono-grfico e cdigo ISRC.

    Para fazer as cpias, fase tambm chamada de prensagem ou replicao, o artista tem uma alternativa similar ao CD tradicional. Uma nova mdia surgiu no mercado brasileiro em 2003, uma tecnologia patenteada pelo artista Ralf, da dupla sertaneja Chrystian & Ralf, com a assessoria do Ministrio da Cincia e Tecnologia: o SMD5 ou Semi Metalic Disc, com um custo de produo 30% inferior ao do compact disc. O diferencial que o disco sai da fbrica com o preo tabelado e impresso na capa com o valor popular de R$ 5. Perfeito para vender direto ao pblico em shows. Muitos artistas j experimentaram lanar seus discos no formato SMD: Comadre Fulozinha, Zeca Baleiro, Arnaldo Antunes, Chrystian & Ralf, Orquestra Imperial, dentre outros. Tambm existe o SMDV ou Semi Metalic Disc Video, equivalente mdia DVD, que sai da fbrica com o preo impresso de R$ 8. Em 2007, a Microservice, empresa lder na fabricao de CDs e DVDs no Brasil, assinou com a Ralf Produes um contrato de exclusividade para explorar a nova mdia por 20 anos.

    5 Mais informaes: http://www.portalsmd.com.br.

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    6 Livro Tecnobrega: o Par reinventando o negcio da msica.

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    A distribuio digital gratuita do disco acontece notadamente atravs de sites como MySpace, Orkut, Youtube, alm da pgina oficial do artista na Internet, que hoje faz o papel desempenhado pelas rdios no passado: levar msica e informao para o pblico.

    Mas o disco no pode ser tratado como um produto sem valor econmico. Ronaldo Le-mos e Oana Castro apuraram6 que no mercado tecnobrega, em Belm, as bandas vendem em mdia 77 discos e 53 DVDs por show, a um preo mdio de R$ 7,46 o disco e R$ 10 o DVD, totalizando um faturamento mdio de R$ 1.104,42 por show.

    O modelo de distribuio de discos mais lucrativo para o artista a venda direta ao pblico nos shows. dinheiro vista no bolso do artista. No entanto, as lojas de discos per-manecem na cidade, mesmo quando o artista segue viagem, no podendo por isso ser despre-zadas. O artista deve estabelecer parceiras com uma ou duas lojas de disco em cada cidade, porque alm de vender os discos, os lojistas atuam como termmetro do mercado. As lojas de discos tambm so pontos para venda de ingressos e divulgao de shows.

    Trabalhar com uma distribuidora nacional vantajoso pela capilaridade dos divulga-dores, presentes nos 27 Estados brasileiros. O comrcio digital uma tendncia no Brasil e no mundo, e o artista deve pegar esse bonde. Por enquanto, um bonde puxado a cavalo, mas depois ser eltrico e mais veloz. De acordo com a E-bit, empresa especializada em informa-es do varejo on-line, em 2009 o comrcio eletrnico cresceu 25% no Brasil. O destaque da pesquisa ficou para o aumento da participao de varejistas de pequeno e mdio portes.

    Tambm existe o modelo de distribuio de discos atravs de bancas de revista, popula-rizado pelo roqueiro Lobo com o lanamento, em 2004, da revista Outra Coisa, que trazia encartado em cada edio o disco de um artista pelo preo de R$ 12,90 (revista + CD).

    Outra estratgia interessante usar o disco como brinde, ou seja, dando-o para quem comprar o ingresso do show do artista. Esta estratgia indicada principalmente para pene-trao em novos mercados, em novas cidades. Assim, o artista estar aumentando o interesse do pblico pelo seu show, ao mesmo tempo em que o pblico levar dois produtos em uma nica oportunidade.

    Todos esses modelos de distribuio so vlidos e devem ser pensados conjuntamente, e no isoladamente.

    Organograma do show business

    A seguir, um organograma resumido do show business.

  • ecad Centraliza a arrecadao

    e distribuio dos direitos autorais de execuo pblica msical, inclusive por meio da radiodifuso e transmisso por qualquer modalidade e da exibio de obras audiovisuais

    artista/intrprete Show Direito conexo Contrato com a gravadora Contrato de exclusividade

    com o agente Informar rider tcnico,

    room list, informaes pessoais para o agente

    autor Criador Direito moral Direito patrimonial Cesso dos direitos

    patrimoniais editora

    Produo Datas Logstica Equipamentos Hotel Alimentao Horrios Livro da turn Confeccionar o rider geral

    tour manager Executa a turn Contorna eventuais

    problemas, imprevistos

    Pblico Principal consumidor Relao direta com o

    artista e sua obra

    empresrio/agente Envio de material para os

    promotores Contrato com promotores Roteiro da turn Viabilizar

    estrategicamente a turn Enviar rider tcnico, room

    list e dados gerais para promotores

    editora Tem o direitos exclusivo de

    reproduo, licenciamento e cesso das obras

    Tem o dever de divulg-las Explora comercialmente

    a obra

    Rdio, tv, jornal, revistas, sites

    Executar os fonogramas Promover os artistas Informar o pblico

    Promotores Festivais Casas de show Boates e clubes Prefeituras e governos

    estaduais Fundaes culturais rgos diversos Ceder informaes do

    show/festival para o agente

    gravadora Explorao comercial do

    fonograma atravs da venda ou licenciamento

    Detentora dos direitos dos fonogramas

    Suporte financeiro para a turn

    Ceder material promocional como pster, camisa, CD, release, foto, e fazer assessoria de imprensa, pagar anncios

    Sociedades de autor (uBc, por exemplo)

    Administrao dos direitos autorais de execuo pblica de obras musicais

    Associados: compositores, autores, editoras, msicos, gravadoras e intrpretes

    Tambm administra os direitos conexos de intrpretes, msicos e gravadoras

    ORgaNOgRama 1 aS ReLaeS dO show business

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    Atores envolvidos no negcio da msica

    Elaboramos uma sequncia com os principais atores envolvidos direta e indiretamente no negcio da msica, discorrendo sobre as atribuies e especificidades de cada um.

    Advogado

    Profissional bacharel em Direito e inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. So suas atribuies: prestar consultoria e assessoria jurdica, elaborar e analisar contratos comerciais (representao exclusiva, agenciamento, gravao, edio, cesso de direitos autorais, apre-sentao artstica, prestao de servios, locao, patrocnio etc), visar contrato e distrato so-cial na Junta Comercial local, postular e dar andamento aos processos na Justia, representar e defender os interesses do cliente, solicitar alvar para a entrada de menor em show.

    Existe advogado especializado em direito autoral e leis de incentivo cultura. O valor das custas processuais e dos honorrios definido pela OAB e pelos Tribunais de Justia de cada Estado. Em alguns casos, o advogado recebe 20% do valor da causa defendida e ganha.

    Em relao aos Juizados Especiais de Pequenas Causas, as pessoas fsicas, as microem-presas e as empresas de pequeno porte esto dispensadas da obrigao de constituir advogado para ajuizar aes e arcar com o nus da sucumbncia. A ao de habeas-corpus tambm independe de advogado.

    Agente (booking)

    Profissional que assume, por prazo determinado e regio certa, a obrigao de promover, mediante retribuio, o show do artista. Geralmente recebe do artista uma comisso (10% a 20%) sobre o valor do cach acertado com o contratante. A depender do acordo, essa comis-so pode ser calculada sobre a receita bruta ou sobre a receita lquida (depois de abater os im-postos). No exterior, este profissional recebe a denominao de agent booking ou simplesmente booking. So suas atribuies: enviar material promocional do artista para o contratante com a inteno de vender o show, celebrar contrato com o contratante do show, informar rider tcnico, mapa de palco e room list do artista para a produo do evento, repassar para o artis-ta todos os detalhes da negociao.

    O agente deve agir com responsabilidade e compromisso, cumprindo as instrues rece-bidas do artista. Um mesmo agente pode representar mais de um artista numa mesma regio. O artista pode ter um agente para cada regio ou pas. Salvo ajuste entre as partes, o artista no pode constituir, ao mesmo tempo, mais de um agente em uma mesma regio com a mesma incumbncia; salvo estipulao diversa, todas as despesas do agenciamento (telefone, postagens, locomoo etc) correm a cargo do agente.

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  • A remunerao ser devida ao agente tambm quando o show deixar de ser realizado por fato causado pelo artista. Se o contrato for por tempo indeterminado, qualquer das partes poder encerr-lo, mediante aviso prvio de 90 dias, desde que transcorrido um prazo compa-tvel com a natureza e o vulto do investimento do agente. Se a dispensa se der sem culpa do agente, ele ter direito comisso devida, inclusive sobre os shows pendentes. Ainda quando dispensado por justa causa, o agente ter direito a ser remunerado pelos servios teis presta-dos ao artista7.

    Artista (intrprete)

    Artista o intrprete, cantor ou msico que execute obra artstica. No necessariamente o artista o autor da obra. Ele fornece o material promocional para o agente trabalhar. So suas atribuies: ensaiar o repertrio, executar o show, produzir fotos e videoclipes, conceder entrevistas imprensa, dar autgrafos aos fs. assegurado ao intrprete o direito de fiscali-zao do aproveitamento econmico das obras que criar ou participar. So fontes de renda do intrprete o cach por show, o direito conexo, o direito de imagem, o direito fonomecnico (pela venda de discos), o cach para campanhas publicitrias e para gravao em estdio.

    Autor (compositor)

    Autor a pessoa fsica criadora de obra artstica. No necessariamente o autor o artis-ta que sobe ao palco. Ele tambm pode ser pessoa jurdica, em alguns casos previstos na Lei 9.610/98. A Constituio Federal de 1988 diz que livre a expresso da atividade artstica, in-dependentemente de censura ou licena. So suas atribuies: criar a obra musical e mostr-la para que intrpretes a gravem ou executem. A proteo dos direitos autorais independe de registro da obra. No entanto, ele pode optar pelo registro na Fundao Biblioteca Nacional ou ainda em qualquer cartrio da sua cidade.

    Ao autor pertence o direito exclusivo de utilizao, publicao ou reproduo de suas obras, transmissvel aos herdeiros at 70 anos aps a sua morte. assegurado ao autor o direi-to de fiscalizao do aproveitamento econmico das obras que criar ou participar. So fontes de renda do autor os direitos autorais e fonomecnicos (pela venda de discos). O autor precisa se filiar a alguma sociedade de autor para receber rendimentos de direitos autorais de execu-o pblica musical. Ele pode ou no editar sua msica, ou seja, ceder os direitos patrimoniais a terceiros, temporariamente, para explorao econmica.

    7 Ver captulo XII do Novo Cdigo Civil.

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    Contador

    Profissional bacharel em Cincias Contbeis ou tcnico em Contabilidade, inscrito no Conselho Regional de Contabilidade. Pode ser funcionrio da empresa ou autnomo terceiri-zado. So suas atribuies: organizar livros contbeis (caixa, dirio e razo), fazer conciliao bancria, elaborar demonstraes contbeis principalmente o balano patrimonial e os re-sultados do exerccio, instruir sobre emisso de nota fiscal/recibos/pagamentos, calcular e emitir guias de pagamento dos impostos, fazer declarao do Imposto de Renda da empresa e dos scios, enviar obrigaes acessrias (GFIP, Caged, Rais etc).

    So duas as principais funes da contabilidade: administrativa e econmica. A funo administrativa diz respeito ao controle do patrimnio da organizao controle do ativo (bens e direitos), do passivo (obrigaes) e do patrimnio lquido (capital social e reservas); a econ-mica diz respeito aos resultados da organizao lucro ou prejuzo em determinado perodo.

    As microempresas tm suas obrigaes contbeis simplificadas. O empreendedor indivi-dual est dispensado de obrigaes contbeis, devendo apenas manter um controle bsico de compras, recebimentos e pagamentos.

    Contratante

    O contratante a pessoa fsica ou jurdica que contrata os servios artsticos e os oferece ao pblico-alvo: casa de show, boate, bar/restaurante, festival, governo, fundaes, empresas, cerimoniais. So suas atribuies: receber proposta de show dos agentes e empresrios, acom-panhar a mdia especializada procura de novos talentos, fazer pesquisa de mercado para saber o que o pblico quer assistir.

    O contratante celebra o contrato de show com o agente, com o empresrio ou ainda di-retamente com o artista. Ele contrata os servios terceirizados para a realizao do evento (pu-blicidade, som, luz, estrutura, pessoal) e capta patrocnio para tal. Tambm pode incrementar o faturamento da bilheteria com a ajuda de patrocinadores para bancar parte das despesas do evento, e ainda aumentar seu lucro com a venda de bebidas e alimentos no local.

    O contratante fica com o lucro obtido com o evento, assumindo os riscos do mesmo. Ele responsvel civil e criminalmente pelos acidentes que venham a ocorrer na rea interna do evento.

    comum o contratante, no lugar de negociar um cach fechado com o artista, destinar-lhe uma percentagem da renda da bilheteria.

    Designer

    Profissional que cuida da identidade visual do artista ou do evento. O designer tem a res-ponsabilidade de traduzir uma mensagem artstica em imagens e cores. So suas atribuies:

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  • criar capas de discos, encartes, marcas, cartazes, e-flyers, banners e demais materiais promo-cionais. Para capas de discos independentes, geralmente o designer um amigo ou conhecido que curte a banda e se identifica com a proposta ou mesmo com o som que a banda faz. Atu-almente, as capas de disco constituem um importante elemento de marketing. Um artista julgado, a priori, pela capa do disco.

    Distribuidora

    Atividade de comrcio atacadista de discos, CDs e DVDs, que tem por atribuio co-locar o produto na praa (lojistas, supermercados, magazines). A distribuidora fica com uma percentagem que varia de 40% a 60% do preo passado ao lojista. Tambm paga impostos estaduais e mantm uma ampla rede de divulgadores espalhados pelas cidades em que atu-am. Dependendo do contrato de distribuio, ela pode fabricar o disco ou apenas envi-lo para o varejo.

    DJ (Disc Jockey)

    Profissional responsvel pela execuo da msica mecnica, a fim de colocar o pblico para danar em festas, boates, casas de show, festivais. Alguns DJs so criadores de obras e produtores de remix. Um remix de uma obra j existente considerado uma nova obra, por-que uma adaptao, com um novo arranjo, muitas vezes totalmente diferente da msica original.

    DJs tambm podem trabalhar em rdios. E ser profissionais autnomos ou empregados. So fontes de renda dos DJs o salrio, o cach por show e por remix produzido, os direitos autorais e fonomecnicos.

    Uma tendncia recente tem sido este profissional formar uma banda para acompanh-lo em apresentaes ao vivo.

    Ecad

    O Ecad (Escritrio Central de Arrecadao e Distribuio) uma instituio privada sem fins lucrativos, criada pela Lei 5.988/73 para centralizar a arrecadao e distribuio dos direitos autorais de execuo pblica musical, como tambm a documentao de obras musi-cais e de fonogramas no Brasil.

    O banco de dados do Ecad atualmente conta com cerca de 341 mil usurios de msica, 1,4 milho de obras musicais, 665 mil fonogramas, 51 mil obras audiovisuais e mais de 279 mil titulares de msica cadastrados.

    A instituio administrada por uma superintendncia que executar as determina-es da Assembleia Geral e dar cumprimento s normas legais, estatutrias e regimentais.

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    A Assembleia Geral do Ecad formada por 10 associaes: Abramus, Amar, Sbacem, Sicam, Socinpro, UBC, Abrac, Anacim, Assim e Sadembra.

    Para utilizar msicas em local de frequncia coletiva, preciso solicitar uma autoriza-o prvia ao Ecad, que o representante legal dos autores, intrpretes e demais titulares. O pagamento do direito autoral a retribuio ao autor pelo uso de sua msica. Os principais usurios do Ecad so casas de show, boates, bares/restaurantes, emissoras de rdio e televiso, festas juninas, desfiles de carnaval, micaretas, shows ao ar livre, governos, cinemas, hotis/motis, academias de ginstica e dana, shopping centers, formaturas, casamentos, lojas, con-sultrios, sales de beleza, enfim, qualquer pessoa, fsica ou jurdica, que promova a veicula-o de msica, mecnica ou ao vivo, fora do ambiente residencial.

    Em 2008, a instituio arrecadou aproximadamente R$ 332 milhes. O clculo do direi-to autoral realizado de acordo com as regras contidas no regulamento de arrecadao, sen-do a sua tabela de preos definida pelas associaes que integram o Ecad. Os valores variam de acordo com a atividade do usurio, o tipo de utilizao da msica (ao vivo ou mecnica), a rea sonorizada e a regio socioeconmica. Podem tambm ser calculados atravs de um percentual sobre a receita bruta.

    Uma crtica que o Ecad no arrecada de todos os usurios de msica. Vrias televises e rdios comerciais, salas de cinema e prefeituras municipais no pagam ao Ecad. Nos lti-mos anos, a gerncia jurdica da instituio vem combatendo esta prtica. Em 2008, o Ecad conseguiu na Justia que a Rede Bandeirantes de Rdio e Televiso pagasse instituio 2,5% do faturamento como condio de licena. Em outra ao, o Instituto Franco Brunni, a MTV e a rede de lojas C&A tambm foram condenados solidariamente ao pagamento dos direitos autorais pela execuo pblica de obras musicais no show U2 Pop Mart Tour, ocorri-do em 1998 no Rio de Janeiro.

    Outra forte crtica ao trabalho do rgo que ele no distribui o dinheiro de forma equilibrada e justa, mas atravs da proporcionalidade ou da amostragem. Existem trs formas de distribuio previstas no regulamento de distribuio do Ecad:

    direta (shows, circo, micaretas/festejos populares, cinema, obras audiovisuais);

    indireta (direitos gerais, rdio, televiso);

    indireta especial (carnaval, festa junina e msico acompanhante).

    O valor distribudo em 2008 aos titulares de direitos autorais (autores, intrpretes, m-sicos, editores e produtores fonogrficos) foi de aproximadamente R$ 271 milhes. Segundo o Ecad, entre 2000 e 2008 a distribuio de direitos autorais deu um salto de 222% no Brasil.

    Mas o Ecad no repassa o dinheiro diretamente para o autor. Retm 17% da receita ar-recadada, usando-a para o pagamento de despesas operacionais e de seus funcionrios. Ento

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  • o Ecad repassa a receita lquida para as sociedades de autor. A sociedade de autor retm 6% (calculado sobre o valor bruto arrecadado) e repassa o restante para a editora, a gravadora ou diretamente para o autor.

    Exemplificando um caso concreto: um promotor de evento paga ao Ecad, atravs de uma guia prpria, o valor de R$ 100 pela execuo pblica de obras musicais. O Ecad vai re-ter o valor de R$ 17 e repassar o valor lquido para a UBC (sociedade de autor), que vai ficar com R$ 6 e repassar R$ 77 para os titulares dos direitos autorais.

    O autor tem o direito de dispensar a arrecadao de seus direitos autorais. Para isso, ele deve solicitar, com antecedncia, o no recolhimento (renncia) desses direitos em determi-nado show, citando data, local e repertrio do show. O autor deve encaminhar a solicitao de liberao do show para a sua editora (caso suas obras sejam editadas) ou para a sua socie-dade de autor (caso seja vinculado a alguma), ou ainda diretamente para o Ecad da regio onde o show ocorrer (caso no seja filiado sociedade de autor).

    Editora

    Pessoa fsica ou jurdica que detm o direito exclusivo de reproduo da obra e o dever de divulg-la. Representa os interesses do autor e pode ser conveniada com alguma sociedade de autor para recolhimento do direito autoral de execuo pblica.

    No contrato de edio, o autor cede os direitos patrimoniais para a editora. Os direitos morais do autor so inalienveis e intransferveis. O contrato geralmente dura cinco anos. A editora fica com 25% da receita gerada pelos direitos autorais da obra e repassa 75% para o autor.

    Tem sido muito comum o prprio artista, ao abrir a sua microempresa, tambm inserir, no contrato social, a atividade de edio musical. Agindo desta forma, ele poder se associar sociedade de autor que mais lhe convier. Da ter direito ao software para gerar o prprio c-digo ISRC e deter os direitos patrimoniais sobre as suas obras. Em regra, quem emite o ISRC o dono do fonograma.

    Empresrio artstico (manager)

    A principal atribuio do empresrio artstico cuidar do desenvolvimento da carreira do artista a longo prazo, estabelecendo metas, cumprindo prazos, coordenando toda a equipe (artista + produo). Geralmente sua receita formada por uma comisso calculada sobre 20% dos rendimentos do artista (show, propaganda etc), excetuando-se os direitos autorais. Se tiver agente envolvido na negociao do cach de um show, geralmente o empresrio divide sua parte ao meio com ele. O empresrio pode ter agente, produtor e tour manager trabalhan-do para ele, ou mesmo sozinho pode acumular essas funes.

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    A figura do empresrio artstico assemelha-se com a do gerente que toca o negcio adiante. Mas o artista o dono do negcio. De modo que o empresrio deve zelar pela cor-reta administrao da carreira do artista. A responsabilidade do empresrio envolve todos os aspectos da gesto de um negcio produo, marketing, vendas, contabilidade, finanas, comunicao etc.

    Fornecedores

    Fornecedores so pessoas ou empresas que prestam servios ou fornecem produtos para o produtor e o artista. Cada prestador de servio tem sua tabela de preo especfica e sua for-ma de trabalhar. So fornecedores de um artista e de um produtor: empresas de locao de equipamentos de udio/iluminao/montagem de palco, tcnicos de som/luz, roadies, moto-ristas de van, estdios de ensaio e de gravao, tcnicos de mixagem e masterizao, fbricas de discos, jornalistas, designers, grficas rpidas.

    Fundao Biblioteca Nacional (FBN)

    O escritrio de direitos autorais da Fundao Biblioteca Nacional um rgo auto-rizado pela Lei 5.988/73 para fazer o registro de obras musicais e emitir uma certido cor-respondente. Este documento goza de f pblica. A FBN recebe o pedido de registro, analisa a obra e emite um certificado de registro de obras musicais. O solicitante deve pagar uma taxa de cerca de R$ 20 por obra (cheque nominal ou comprovante de depsito bancrio), entregando cpia de RG, CPF e comprovante de residncia. O autor deve encaminhar a partitura com letra. Existe um prazo de 40 a 60 dias para o recebimento do certificado na residncia do solicitante. O Escritrio de Direitos Autorais da Fundao Biblioteca Nacional (EDA/BN) fica na Rua da Imprensa, 16/1205, no Rio de Janeiro (21 3220-0039 / 3240-9179).

    A Escola Nacional de Msica do Rio de Janeiro tambm goza de legitimidade, tambm autorizada pela Lei 5.988/73 para registro e arquivamento de obras musicais.

    Governo

    A funo do governo regular o mercado e fiscalizar o setor. A Constituio Federal de 1988 diz que a explorao dessa atividade econmica exclusiva da iniciativa privada. O governo tem o papel de estimular a competitividade das microempresas, corrigir falhas de mercado e incentivar atividades relevantes para o Estado e a sociedade de forma geral.

    Os artigos 215 e 216 da CF falam sobre as trs dimenses da cultura: simblica, cida-d e econmica. Neste contexto, surgem leis e editais de incentivo cultura como fonte de financiamento pblico do setor. A proteo do patrimnio (material e imaterial) histrico e

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  • artstico nacional, o acesso do brasileiro cultura e o exerccio da atividade cultural como fonte geradora de emprego e renda so aspectos assegurados pela Carta Magna.

    O governo tambm promove festas populares, festivais temticos, feiras, cerimnias e eventos institucionais. Contrata atravs de processo administrativo baseado no art. 25 (ine-xigibilidade de licitao) da Lei 8.666/93, diretamente com o artista ou atravs de empre-srio exclusivo. E paga cach mediante empenho. Em geral, celebra contrato com pessoas jurdicas mediante apresentao de todas as certides negativas de dbito com a Secretaria da Fazenda (federal, estadual e municipal).

    Gravadora (selo)

    A palavra selo geralmente empregada para se referir gravadora independente ou pequena gravadora. A gravadora explora comercialmente o fonograma atravs da venda ou do licenciamento. As responsabilidades da gravadora so financiar a gravao e promover o produto. A gravadora detm o direito patrimonial sobre o fonograma e tambm o direito de autorizar a sua veiculao e uso. Fonograma a msica gravada em algum suporte fsico ou digital. Em alguns casos, a gravadora fornece suporte financeiro ou logstico para as turns dos artistas contratados.

    Atualmente as gravadoras no passam de um escritrio em um edifcio empresarial. Terceirizam todo o processo de produo do disco gravao, mixagem, masterizao e fabricao. Em alguns casos, a gravadora sequer arca com esses custos, cuidando apenas da distribuio do produto e funcionando apenas como escritrios de marketing. Universal, Warner, Sony/BMG e EMI so consideradas grandes gravadoras (majors).

    Ao abrir a prpria microempresa, o artista est respaldado para ser a sua prpria grava-dora, editora e produtora.

    Imprensa

    A imprensa fundamental no mercado brasileiro para divulgar a msica independente na grande mdia. Sem dinheiro para investir em campanhas miditicas, resta ao artista in-dependente recorrer aos espaos jornalsticos dos cadernos de cultura dos jornais, s revistas especializadas, aos blogs, aos programas de rdio e televiso. O papel da imprensa informar o pblico, analisar a obra, promover o artista, executar o fonograma (rdio ou televiso). O salrio dos jornalistas pago pelas empresas nas quais eles trabalham. Alguns jornalistas so autnomos e trabalham para mais de um veculo de comunicao. Geralmente eles so bem receptivos em relao aos novos artistas. Cabe destacar a figura do assessor de impren-sa, profissional igualmente jornalista que faz a ponte entre o veculo de comunicao e o artista.

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    Msico autnomo

    Msico autnomo o profissional (cantor ou msico) que presta servios a mais de um artista ou produtora. Grava, ensaia e toca com outros artistas. So suas fontes de renda o cach por show, o cach para trilha sonora ou jingle, o cach para gravao em estdio, o direito conexo (gravaes). A tabela de preos do Sindicato dos Msicos do Rio de Janeiro fixou o cach do msico autnomo em R$ 785 por show. Ele tambm pode incrementar sua receita ministrando aulas particulares.

    Ordem dos Msicos do Brasil (OMB)

    Autarquia criada pela Lei 3.857/60, com a finalidade de exercer, em todo o pas, a seleo, a disciplina, a defesa da classe e a fiscalizao do exerccio da profisso de msico, mantidas as atribuies especficas dos sindicatos locais. Na prtica, a OMB exerce apenas a funo de fiscalizao. A funo de defesa da classe musical, talvez a mais importante, no tem sido colocada em prtica como deveria.

    Mas a OMB est com os dias contados. A procuradora-geral da Repblica, Deborah Duprat, acatou uma representao protocolada no Ministrio Pblico Federal pelo deputa-do estadual Carlos Giannazi, que foi vice-presidente da CPI do Ecad na Assembleia Legisla-tiva de So Paulo. Na ao, o parlamentar pedia que o MPF entrasse no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma Arguio de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), a fim de suspender vrios artigos da Lei (federal) 3.857/60.

    E foi isso que a procuradora fez no dia 15 de julho de 2009, ao entender tambm que os artigos questionados pelo deputado no foram recepcionados pela Constituio Federal de 1988, que garante, no seu artigo 5, a liberdade do exerccio profissional.

    Na ADPF, a procuradora contesta 22 artigos dessa lei que criou a Ordem dos Msicos do Brasil (OMB), estabeleceu requisitos para o exerccio da profisso de msico e instituiu o poder de polcia sobre esta atividade artstica. Segundo o artigo 18, todos que se anuncia-rem como msicos ficam sujeitos s penalidades aplicveis ao exerccio ilegal da profisso, se no estiverem devidamente registrados nos rgos competentes. J o artigo 16 determina que somente pode exercer a profisso de msico quem estiver regularmente registrado no Ministrio da Educao e Cultura e no Conselho Regional dos Msicos, com jurisdio na regio de atividade do artista.

    A procuradora lembra que, ao anular a obrigatoriedade do diploma de jornalista, no primeiro semestre de 2009, o STF afirmou que as restries liberdade profissional somen-te seriam vlidas em relao s "profisses que, de alguma forma, poderiam trazer perigo de dano coletividade ou prejuzos diretos aos direitos de terceiros, sem culpa das vtimas". Ela questiona que tipo de interesse justificaria a restrio liberdade profissional do msico e

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  • qual risco social estaria envolvido nesta profisso. Segundo Duprat, "se um profissional for um mau msico, nenhum dano significativo ele causar sociedade". E completa: "Na pior das hipteses, as pessoas que o ouvirem passaro alguns momentos desagradveis".

    Para ela, no cabe "ao Estado imiscuir-se nesta seara, convertendo-se no rbitro autorit-rio dos gostos do pblico". Duprat ressalta ainda que um dos campos mais relevantes da liber-dade de expresso o das manifestaes artsticas, inclusive a msica. Assim, essa liberdade violada com a exigncia dos msicos profissionais se filiarem Ordem dos Msicos do Brasil. E acrescenta: "Da mesma maneira, indiscutvel a ofensa liberdade de expresso consubs-tanciada na atribuio a rgo estatal do poder de disciplinar, fiscalizar e punir pessoas em razo do exerccio de sua atividade artstica".

    Os dispositivos questionados pela ADPF so os artigos 1 (parcial); 16; 17, caput (par-cial) e pargrafos 2 e 3; 18; 19; 28; 29; 30; 31; 32; 33; 34; 35; 36; 37; 38; 39; 40; 49, caput; 50; 54, alnea b (parcial); e 55 (parcial) da Lei 3857/60. A procuradora-geral pede a suspenso destes dispositivos at o julgamento final da ao. Ela alega que "essas normas criam inadmis-sveis embaraos aos msicos profissionais sobretudo para os mais pobres, sem formao musical formal e que muitas vezes no dispem de recursos para pagar sua anuidade, dificul-tando o exerccio da profisso e cerceando o seu direito livre expresso artstica", alm de privar "toda a sociedade do acesso obra desses artistas".

    Pirataria (carrocinha de CDs)

    A pirataria domina cerca de 50% do mercado nacional de produtos fonogrficos. Pode-se definir pirataria como a prtica de copiar, distribuir e vender CDs e DVDs sem autorizao do produtor fonogrfico e sem recolher impostos e direitos autorais, conexos ou fonomecnicos.

    Para reprimir a pirataria, a Associao Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD) criou, em 1995, a Associao Protetora dos Direitos Intelectuais Fonogrficos (Apdif), que tem como objetivo o combate reproduo no autorizada de gravaes musicais. Cabe ainda Apdif a representao de seus associados em questes judiciais ou extrajudiciais na defesa dos direitos autorais dos produtores fonogrficos associados. Em 2007, as atividades antipi-rataria da Apdif foram transferidas para uma nova entidade a Associao Antipirataria Cinema e Msica (APCM), que foi criada em conjunto com o setor de udio e vdeo.

    Segundo dados da APCM, em 2008 foram realizadas 3.591 operaes no Brasil. Ao to-do, foram 195 condenaes pelo crime de pirataria, tendo por base o art. 184 do Cdigo Pe-nal brasileiro. As aes tiveram uma peculiaridade que foi o aumento no nmero de apreen-ses de mdias virgens. Do montante, foram mais de oito milhes de CDs e de 17 milhes de DVDs apreendidos. Quanto mdia gravada, foram mais de quatro milhes de CDs e de dois milhes de DVDs.

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    Em vrias regies metropolitanas do pas, encontra-se a figura do vendedor ambulante de discos com a sua carrocinha de CDs e DVDs. Muitos artistas optam por abrir mo de seus direitos autorais, conexos e fonomecnicos, em troca da divulgao amplificada, em tempo real, feita por essas carrocinhas. Sai mais barato para o artista do que pagar o jab s emisso-ras de rdio e TV. Esta atitude no configura a pirataria, j que, neste caso, existe a autori-zao do produtor fonogrfico para a comercializao do produto, visto que o prprio artista fornece a master para replicao. O artista espera com esta estratgia alcanar popularidade e reverter esse sucesso de vendas em contratos para apresentaes ao vivo e, desta forma, obter receita prpria. um modelo de negcio onde todos saem ganhando, tanto o vendedor ambulante autorizado de discos quanto o artista independente.

    E mais, por que o artista e a gravadora independente ainda no despertaram para essa estratgia de venda de discos e promoo da marca? Cada artista ou gravadora independente deveria ter a sua prpria carrocinha autorizada. Pelo menos poderia se associar a outro artista ou gravadora e dividir os custos de uma.

    Com a LC 128/08, o comerciante (inclusive o ambulante) de CD e DVD pode se ins-crever como empreendedor individual, desde que comercialize produtos legais, ou seja, com autorizao do produtor fonogrfico.

    importante no confundir pirataria com carrocinha de discos. A carrocinha por si s no configura violao ao art. 184 do Cdigo Penal. Trata-se de uma forma de vender discos de porta em porta.

    Em reportagem publicada na revista Continente Multicultural, na edio de maro de 2009, o jornalista Diogo Guedes apurou que a fabricao de uma carrocinha pode custar en-tre R$ 500 e R$ 1.000 j com os equipamentos e aparelhos sonoros. Segundo o jornalista, que investigou esta prtica no centro comercial do Recife, cada carrocinha vende em mdia 35 discos por dia, por um preo mdio de R$ 2,50 o CD. O lucro de R$ 1,50 por disco. Ou seja, trabalhando de segunda a sexta-feira, um comerciante pode lucrar cerca de R$ 1.155 mensais com a venda ambulante de discos em carrocinhas.

    Produtor executivo

    Profissional que pe a mo na massa: coordena todas as etapas de um projeto, acom-panha o seu desenvolvimento e cobra resultados dos envolvidos. Ele pode ganhar um cach fixo pelo projeto inteiro, bem como por dirias ou por etapas, ou ainda comisso (%) sobre a verba total.

    O produtor executivo cuida da parte logstica e das necessidades cotidianas do artista. Seu planejamento de curto prazo.

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  • Produtor fonogrfico

    Pessoa fsica ou jurdica que toma a iniciativa e tem a responsabilidade econmica da primeira fixao do fonograma, qualquer que seja a natureza do suporte utilizado, exploran-do-o comercialmente atravs da sua venda ou licenciamento. Cabe ao produtor fonogrfico autorizar o uso e a veiculao do fonograma.

    O produtor fonogrfico a gravadora (e vice-versa).

    Produtor musical

    O produtor musical dirige a gravao no estdio, dando orientaes ao tcnico de som e aos msicos. o responsvel pelo som do disco. Sua remunerao varia muito, dependen-do da sua experincia e fama, bem como do tempo de gravao e da quantidade de msicas a serem gravadas.

    Um bom produtor musical deve ter sensibilidade artstica e, ao mesmo tempo, conheci-mento tcnico.

    Promoter

    No Brasil, promoter quem divulga o evento e distribui convites. Trata-se de uma esp-cie de relaes pblicas. Geralmente ele funcionrio da casa de show ou da boate. E recebe uma percentagem (10% a 20%) sobre a bilheteria ou sobre o lucro do evento. Tambm pode ter salrio fixo pago pela casa de show ou boate.

    Nos Estados Unidos ou na Inglaterra, promoter o responsvel pela realizao do show. Vale dizer, promoter o prprio organizador do evento e no algum que trabalha apenas na sua divulgao.

    Pblico consumidor

    O pblico o apreciador da obra artstica, o consumidor dos produtos musicais, o orga-nizador do f-clube do artista. Se o autor o incio de tudo, o pblico representa o elo final da cadeia produtiva da msica.

    Algumas pesquisas foram realizadas com o objetivo de estudar o consumo dos produtos musicais no Brasil.

    Uma delas, realizada pela Fecomrcio/RJ e Ipsos, com mil entrevistados domiciliares em 70 cidades do pas, incluindo nove regies metropolitanas, concluiu que o show de msica a segunda atividade cultural mais frequentada pelo brasileiro.

    Os entrevistados tambm foram perguntados sobre quanto acham justo pagar pelo con-sumo de determinados produtos culturais. As respostas obtidas:

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    R$ 16 por um show;

    R$ 9 por um CD;

    R$ 13 por um DVD;

    R$ 9 para ir ao cinema;

    R$ 15 para ir a uma pea de teatro;

    R$ 20 por um livro.

    Sindicatos

    A atual Constituio Federal diz que nenhum trabalhador ser obrigado a associar-se ou a permanecer associado. No entanto, as entidades associativas como os sindicatos tm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente. Os sindicatos tam-bm gozam de legitimao para instituir e fazer valer a tabela de piso de remunerao da categoria, bem como para negociar com a classe patronal sobre o reajuste de salrios.

    Existem dois importantes sindicatos no setor musical espalhados por quase todos os Es-tados da federao. O Sindicato dos Msicos representa os interesses de msicos e cantores. J o Sindicato dos Artistas e Tcnicos em Espetculos de Diverses (Sated) representa ou-tros artistas, como atores e bailarinos, e ainda tcnicos de som e iluminao e contrarregra.

    Existe uma contribuio sindical cobrada anualmente dos filiados. Em contrapartida, os sindicatos defendem os interesses dos trabalhadores do setor e tambm prestam alguns servi-os adicionais como assessoria jurdica, plano de previdncia complementar fechado (Cultu-raPrev), atendimento mdico e odontolgico, clube de recreao, dentre outros.

    Sociedades de autor

    Sociedade de autor de obra musical uma associao civil, sem fins lucrativos, criada para a administrao dos direitos de execuo pblica de obras musicais, que retm 6% do que o Ecad repassa e faz o pagamento do restante para a editora, gravadora ou autor. Os as-sociados podem ser compositores, autores, editoras, msicos, gravadoras e intrpretes.

    As sociedades de autor so:

    Abramus (Associao Brasileira de Msica e Artes);

    Amar (Associao de Msicos, Arranjadores e Regentes);

    Sbacem (Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Msica);

    Sicam (Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais);

    Socinpro (Sociedade Brasileira de Administrao e Proteo de Direitos Intelec-tuais);

    UBC (Unio Brasileira de Compositores);

    Abrac (Associao Brasileira de Autores, Compositores, Intrpretes e Msicos);

    Anacim (Associao Nacional de Autores, Compositores, Intrpretes e Msicos);

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  • Assim (Associao de Intrpretes e Msicos);

    Sadembra (Sociedade Administradora de Direitos de Execuo Musical do Brasil).

    A Assembleia Geral do Ecad, formada por essas associaes musicais, responsvel pela fixao de preos e regras de cobrana e distribuio dos valores arrecadados. Os titulares de direitos autorais so filiados a tais associaes, que por sua vez so responsveis pelo controle e pela remessa ao Ecad das informaes cadastrais de cada scio e dos seus respectivos reper-trios, a fim de alimentar seu banco de dados e possibilitar a distribuio dos valores arreca-dados dos diversos usurios de msica.

    Tour manager

    O tour manager responsvel por executar a turn. Ele contorna os imprevistos, cumpre a agenda de compromissos, cuidando dos horrios, do traslado, das viagens, do check in e do check out em hoteis.

    O tour manager pode receber dirias ou cach fixo por show. Ou ainda percentagem do cach.

    Ele uma figura muito comum na Europa. No Brasil, o produtor geralmente acumula a funo.

    Varejista

    O varejista a pessoa (ou a loja) que recebe o disco do distribuidor e revende ao consu-midor. Em mdia, o varejista vende o produto (CD ou DVD) com 50% de lucro em cima do preo de custo.

    Os principais varejistas so lojas de discos, magazines, livrarias e bancas de revista.Atualmente o comrcio digital tem crescido muito no Brasil. Pesquisas apontam que,

    enquanto no comrcio de discos no varejo tradicional houve um aumento, em 2008, de 4,9% em relao a 2007, o mercado digital de msica aumentou 79,1%, quando comparado com o ano anterior.

    Exerccio da profisso de msico

    A Lei 3.857 foi sancionada pelo presidente Juscelino Kubitschek em 1960, criando a Or-dem dos Msicos do Brasil (OMB) com a finalidade de exercer em todo o pas a seleo, a disciplina, a defesa da classe e a fiscalizao do exerccio da profisso de msico, mantidas as atribuies especficas dos sindicatos locais. Mas, na vida real, as coisas so bem diferentes.

    Regulamentada no sculo passado, os msicos atuais tm o desafio de colocar em ordem o exerccio da profisso no Brasil. Isto porque a OMB transformou-se num fim em si mesma.

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    Na prtica, a OMB exerce apenas as funes de fiscalizao, cobrando anuidades e taxas pa-ra manter a prpria estrutura e pagar o salrio dos funcionrios. A funo de defesa da classe musical, talvez a mais importante, no tem sido colocada em prtica como deveria.

    A referida lei diz que a durao normal do trabalho de msico de cinco horas. Todos os preceitos da legislao de assistncia e proteo ao trabalho, assim como da Previdncia Social, so aplicados