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MÚSICA E ORALIDADE PARA COMPREENSÃO DAS DINÂMICAS SOCIAIS NO CONGO-RD (1930-1961) Evelyn Rosa do Nascimento Introdução Situado nos corredores de um dos maiores acidentes geológicos do planeta, o Congo belga, atualmente denominado como República Democrática do Congo, entrou nos mapas das geopolíticas estratégicas no século XIX quando se tornou um dos maiores fornecedores da borracha do mundo 1 . Este país se tornou com a exploração do látex e mais tarde o uso do urânio e inúmeras outras riquezas minerais, uma região permeada de disputas políticas e econômicas no cenário internacional da Guerra Fria, no qual ocorreu seu processo de libertação. Estas questões também marcaram de forma incisiva a produção historiográfica do país, muitas vezes marginalizando as questões sociais e culturais cotidianas das pessoas comuns que vivenciaram este período. O contexto histórico dos movimentos de independência no Continente Africano se desenvolveu e intensificou-se a partir de uma série de atividades que abarcavam o campo político, cultural e social. As manifestações anticoloniais não somente se deram através de ações diretamente políticas, como a formação de partidos, sindicatos, greves e mobilizações. Esses movimentos de libertação expressaram-se também através de uma profícua produção cultural, artística e intelectual que tinham como preocupação fundamental a expressão da chegada de um novo tempo para o Continente e sua sociedade. Assim as literaturas, artes, entre outras produções intelectuais, a partir de denúncias e ponderações sobre as brutalidades coloniais, tornaram-se valorosos artifícios nas lutas pela conquista da independência política e na busca pela descolonização mental destes povos. Essas produções caracterizaram-se pelo PUC-Rio, doutoranda em História Social da Cultura. 1 O Congo belga, país denominado atualmente de República Democrática do Congo,. Segundo Adams Hoschild, autor do clássico livro O fantasma do Rei Leopoldo, o qual conta uma parte da história do Congo, esta colonização econômica foi responsável por erguer uma das mais ricas potências coloniais da Europa, a Bélgica. A obra de Hoschild destaca como a exploração do látex, importante matéria prima para as indústrias do período, constituiu um dos principais pilares para o desenvolvimento econômico da Bélgica ao mesmo tempo em que ampararam, no Congo, inúmeras perdas de vidas humanas, as quais, segundo o autor, continuam ainda sendo contabilizadas aquém do efetivo morticínio realizado durante a colonização. HOSCHILD, Adam. O Fantasma do Rei Leopoldo: uma história de cobiça, terror e heroísmo na África Colonial . São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

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MÚSICA E ORALIDADE PARA COMPREENSÃO DAS DINÂMICAS SOCIAIS NO

CONGO-RD (1930-1961)

Evelyn Rosa do Nascimento

Introdução

Situado nos corredores de um dos maiores acidentes geológicos do planeta, o Congo

belga, atualmente denominado como República Democrática do Congo, entrou nos mapas das

geopolíticas estratégicas no século XIX quando se tornou um dos maiores fornecedores da

borracha do mundo1. Este país se tornou com a exploração do látex e mais tarde o uso do

urânio e inúmeras outras riquezas minerais, uma região permeada de disputas políticas e

econômicas no cenário internacional da Guerra Fria, no qual ocorreu seu processo de

libertação. Estas questões também marcaram de forma incisiva a produção historiográfica do

país, muitas vezes marginalizando as questões sociais e culturais cotidianas das pessoas

comuns que vivenciaram este período.

O contexto histórico dos movimentos de independência no Continente Africano se

desenvolveu e intensificou-se a partir de uma série de atividades que abarcavam o campo

político, cultural e social. As manifestações anticoloniais não somente se deram através de

ações diretamente políticas, como a formação de partidos, sindicatos, greves e mobilizações.

Esses movimentos de libertação expressaram-se também através de uma profícua produção

cultural, artística e intelectual que tinham como preocupação fundamental a expressão da

chegada de um novo tempo para o Continente e sua sociedade. Assim as literaturas, artes,

entre outras produções intelectuais, a partir de denúncias e ponderações sobre as brutalidades

coloniais, tornaram-se valorosos artifícios nas lutas pela conquista da independência política e

na busca pela descolonização mental destes povos. Essas produções caracterizaram-se pelo

PUC-Rio, doutoranda em História Social da Cultura. 1 O Congo belga, país denominado atualmente de República Democrática do Congo,. Segundo Adams Hoschild,

autor do clássico livro O fantasma do Rei Leopoldo, o qual conta uma parte da história do Congo, esta

colonização econômica foi responsável por erguer uma das mais ricas potências coloniais da Europa, a Bélgica.

A obra de Hoschild destaca como a exploração do látex, importante matéria prima para as indústrias do período,

constituiu um dos principais pilares para o desenvolvimento econômico da Bélgica ao mesmo tempo em que

ampararam, no Congo, inúmeras perdas de vidas humanas, as quais, segundo o autor, continuam ainda sendo

contabilizadas aquém do efetivo morticínio realizado durante a colonização. HOSCHILD, Adam. O Fantasma

do Rei Leopoldo: uma história de cobiça, terror e heroísmo na África Colonial. São Paulo: Companhia das

Letras, 1999.

2

anseio de autonomia, modernidade, reconstrução, resgate de identidades e, por conseguinte,

pelo desejo de implantação de um momento social renovado.

Para vários estudiosos, a década de 1950 comporta os anos em que se estabeleceram

movimentos sociais e expressões artísticas e culturais que marcaram esse período de busca

pela modernidade na sociedade congolesa.2 Juntamente ao desejo de independência, diversas

formas de expressão artísticas - tais como grande variedade de artes plásticas, peças teatrais

de rua, gêneros literários e músicas - intensificaram-se trazendo a representação do progresso

e, muitas vezes transmitindo, por metáforas e outros artifícios criativos, mensagens críticas e

aflições da vivência cotidiana sistema colonial. Destacamos, dentro dessa perspectiva, o

importante papel da música nas sociedades africanas, tratando aqui mais especificamente da

rumba congolesa como instrumento de expressão artística e cultural da sociedade colonial do

chamado Congo belga.3 Tal como o historiador José Geraldo Moraes, acreditamos que “a

canção é uma expressão artística que contém um forte poder de comunicação, principalmente

quando se difunde pelo universo urbano, alcançando ampla dimensão da realidade social.” 4

Partindo da perspectiva do autor, evidenciamos a atribuição da música popular como uma das

manifestações que mais traduz as experiências criativas humanas, uma vez que destaca as

vivências cotidianas, costumes e cultura da sociedade embalada em suas melodias. Esses

elementos históricos do dia a dia do cidadão comum e sua experiência na sociedade congolesa

em um momento de afirmação enquanto nação autônoma e independente no contexto

2 JEWSIEWICKI, Bogumil. Debates sobre Modernidade e Relações de Gênero na Cultura Urbana Pós-Colonial

Congolesa. In: AARAO REIS, Daniel; MATTOS, Hebe; OLIVEIRA, João Pacheco de et. al. (orgs.). Tradições e

Modernidades. Rio de Janeiro: FGV, 2010. 3 Sobre os Estudos Africanos no Brasil que abordam a questão da música em Luanda e Moçambique

podemos destacar recentes trabalhos de pesquisadores como: ALVES, Amanda Palomo. "Angolano

segue em frente": um panorama do cenário musical urbano de Angola entre as décadas de 1940 e

1970. Doutorado em História. Universidade Federal Fluminense, 2015; BITTENCOURT, Marcelo.

Angola: tradição, modernidade e cultura política. In: REIS, Daniel Aarão. (Org.) et al. Tradições e

modernidades. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2010 ; PEREIRA, Matheus Serva. "Grandiosos

batuques" : identidades e experiências dos trabalhadores urbanos africanos de Lourenço Marques

(1890-1930). Campinas, SP: Tese (doutorado), Universidade Estadual de Campinas, Instituto de

Filosofia e Ciências Humanas, 2010; NASCIMENTO, Washington Santo.Liceu Vieira Dias e o N’gola

Ritmos: música e resistência anticolonial em Angola. Revista do programa de pós-graduação em

Relações Étnicas e Contemporâneidade – UESB. Ano 1, número 1, volume 1, Janeiro – Junho de

2016.4 MORAES, José Geraldo. MORAES, José Geraldo Vinci de. História e música: canção popular e

conhecimento histórico. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.20, n.39, 2000, p.204. 4 MORAES, José Geraldo. MORAES, José Geraldo Vinci de. História e música: canção popular e conhecimento

histórico. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.20, n.39, 2000, p.204.

3

internacional de lutas de libertação, surgimento de nações e de Guerra Fria, são de grande

valor para compreensão do período colonial do Congo, a partir de uma perspectiva social,

analisada através da interação das diversos grupos, sobretudo daqueles que se localizam à

margem da sociedade.

Deste modo, a organização deste estudo, o qual faz parte de um momento inicial da

pesquisa do doutorado, se dá a partir de três eixos principais que serão descritos a seguir. A

primeira parte apresenta ao leitor o espaço em que a rumba congolesa se popularizou,

destacando seu impacto e representação cultural, a partir dos processos de urbanização e

expansão colonial em diálogo com as dinâmicas internacionais do período. No segundo

momento, o texto discute com a historiografia o papel de aglutinador social e de formador de

identidades desempenhado pela rumba congolesa. Seguindo para as reflexões conclusivas,

porém não findadas sobre o tema, na terceira parte do trabalho é realizada uma pequena

análise sobre a canção “Independance tcha-tcha”, a qual ilustra a expressão da rumba

congolesa para sensibilizar e arregimentar indivíduos no cenário social do Congo belga

durante sua luta pela libertação. Esperamos, assim, que o presente trabalho possa ajudar no

aprofundamento e diversificação dos estudos sobre os elementos sociais e culturais presentes

no Continente Africano.

Contexto histórico e espaço colonial de estabelecimento da rumba congolesa

O contexto de expansão das dinâmicas culturais no Continente Africano no século XX

foi acompanhado por uma série de mudanças sociais decorrentes da diminuição da ação

colonial e o aumento gradual de autonomia nos territórios africanos, da eclosão de revoluções

de caráter libertário no chamado “Terceiro Mundo” e dos desdobramentos da Guerra Fria.5

Como destaca M'Bokolo, "Os estados nascidos das independências declararam todos que a

'cultura' constituía uma das suas principais prioridades"6 na formação das novas sociedades e

nações independentes que afloravam. Essas manifestações culturais, tal como no caso da

rumba congolesa, desempenhariam o papel de reforçar no imaginário popular - tanto entre os

5HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX : 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,

1995. 6 M’BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Tomo II (Do século XIX aos nossos dias). Tradução

de Manuel Resende, revisada academicamente por Daniela Moreau, Valdemir Zamparoni e Bruno Pessoti.

Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas, 2011, p.676.

4

congoleses quanto entre os demais países africanos recém libertos - a ideia de seus Estados

como instituições emergentes de sociedades autônomas, independentes, livres e coesas.

Assim, o Congo Belga, cuja independência foi alcançada em 1960 sob intensa crítica de

Lumumba ao colonialismo, revelou-se para as lideranças políticas do período como exemplo

típico de utilização de políticas culturais e luta anticolonial para construção de Estado a ser

propagado nos outros territórios africanos. O fato da experiência no Congo figurar-se como

modelo de emancipação africana era evidente e necessário, tendo em vista três fatores

principais: estava entre os pioneiros que avançaram na conquista pela soberania, a estratégica

localização geográfica centrada no coração da África, facilitando a pulverização de ideias e a

atuação de Kwame Nkrumah e Lumumba encampando o discurso de um projeto pan-

africanista de libertação de todo o Continente. Dessa forma, o ciclo de colonização no Congo

e os movimentos que o combatiam precisam ser compreendidos como processos motivadores

e motivados a partir de uma grande circulação de ideias que transitavam não só por todo o

Continente, mas também fora dele.

Durante o período colonial, dentre outros movimentos, houve um intenso processo de

urbanização, que comumente voltou-se para o bem-estar dos colonos ou para beneficiar as

atividades coloniais7. Além disso, esta fase também se caracterizou pela instalação de

empresas, em sua grande maioria, voltadas ao comércio exterior e a intensiva exploração de

mão de obra e dos recursos naturais ali existentes. Associado ao crescimento das cidades, o

espaço colonial presenciou, principalmente a partir dos anos de 1935, o aumento na circulação

de pessoas e a intensificação do fluxo de informações e ideologias decorrentes da imigração e

do afluxo de trabalhadores aos parques industriais e aos mais variados ramos de serviços. O

processo de florescimento dos centros urbanos congoleses pode ser acompanhado abaixo

através dos gráficos do pesquisador Crawford Young, os quais também são utilizados por

7 Ferdinand Oyono no seu romance “Le vieux nègre et la médaille” mostra como a colônia era dividida em duas

cidades: a dos brancos que tinha todas as insfraestruturas urbanas e os negros somente entravam para trabalhar e

voltar para a sua parte que não tinha nenhuma infraestrutura. Além dele, outros autores como: Amadou Hampaté

Ba (Oui mon commandant), Kourouma (Le soleil des independances) René Maran (Batouala) também destacam

os mesmos contextos sócio-urbanos e ao mesmo tempo a presença constante de diversas formas de violência que

assolavam o colonizado.

5

Jesse Samba para demonstrar o desenvolvimento das cidades e o crescimento populacional no

Congo durante o período colonial8:

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

350000

1935 1940 1945 1950 1955

Growth of Major Congolese

Cities

Kinshas a (Leo'vi lle)

Lubumbashi (Elis'vil le)

Kis angani (Stan'ville )

Matadi

Mbandaka (Coq 'ville)

Bukavu

1935

7%

93%

Urban pop.

Total pop.

1955

22%

78%

Urban pop.

Total pop.

8 Crawford Young, Politics in the Congo: Decolonization and Independence (Princeton: Princeton University

Press, 1965).

6

Analisando os gráficos de crescimento populacional urbano do Congo entre os anos de

1935 e 1955 podemos constatar um aumento substancial de 15% no número de pessoas.

Dessa maneira fica evidente que houve uma profunda intensificação no crescimento da massa

citadina a partir da década de 50, com maior evidência para as cidades coloniais de

Leopoldville, que corresponde atualmente à Kinshasa, e Elisabethville, atual Lubumbashi.

Esta repentina expansão demográfica das cidades confere importância à compreensão das

complexas dinâmicas sociais e culturais que se formavam subjacentes ao incremento da

população urbana.

O Congo colonial dentre outras atividades, tinha sua base econômica concentrada,

sobretudo, na produção agrícola e na extração mineral por empresas estrangeiras. Apesar

disso, havia também as chamadas empresas “indígenas”9 pertencentes aos africanos natos

provenientes de regiões diversas. Além da produção agrícola e da extração mineral, essas

empresas também atuavam nos ramos da Indústria Mecânica, da Construção e da

Infraestrutura, havia também Indústrias Têxteis, de vestuário, de calçado e de curtumes, as

quais também contribuíram para formação das estruturas das cidades demandando grande

fluxo de trabalhadores. 10

Desse modo, o período de industrialização do Congo foi acompanhado por uma

relevante diversificação cultural. Somado à multiplicidade étnica dos diferentes povos já

presentes no território congolês11 havia também os imigrantes que chegavam para trabalhar

nessas empresas e indústrias, ou mesmo empreendedores que afluíam das mais variadas e

distantes regiões. É relevante pontuar que diante de uma população geral em torno de 14

milhões de habitantes, apenas 112.753 dessas pessoas eram brancos estrangeiros, os quais se

concentravam absolutamente nas áreas urbanizadas da colônia. Desses “brancos” a maioria

era de nacionalidade belga, depois em menor número havia portugueses, italianos, gregos,

9 Indigénes, traduzido para o português como “indígenas” foi um termo utilizado pelos europeus para classificar

preconceituosamente africanos não considerados civilizados, evoluídos. 10 Annuaire Statistique de la Belgique et du Congo Belge. Royame de Belgique. Ministère des Affaires

Économiques. Institut National de Statistique. Bruxelles, 1958, p. 524. 11 A diversidade do Congo também consiste nas variadas etnias que vivem na região. Segundo Théophile Obeng

aponta a existência de quatorze grandes grupos étnicos: os Ubangi, os Uele, a etnia da região Itimbiri-Ngiri, os

povos da Bacia Central do Congo, os da região BaleseKomo, a etnia de Maniema, os Kongo, os grupos do Bas-

Kasai, do Kwango-Kasai, do Kasai Katanga, os da região Lunda, de Tanganyika-Haut Katanga, pertencentes a

região dos grandes lagos e as etnias da região do nordeste do Congo. OBENGA, Théophile. Le Zaire.

Civilisations traditionnelles et Culture moderne. Paris: Presence Africaine, 1977, p. 42- 48.

7

franceses, ingleses, americanos e holandeses, além de outras nacionalidades com menor

representatividade. A presença de brancos oriundos de diversas nacionalidades mostra por si

só a importância que as riquezas naturais congolesas desempenhavam nas indústrias

ocidentais. 12 Na tabela a seguir, sobre população branca dividida em nacionalidades, é

possível observar de forma mais detalhada a dimensão da pluralidade e quantidade referente à

imigração de indivíduos brancos no Congo.

Fonte: AnnuaireStatistique de laBelgique et du Congo Belge. Royame de Belgique. Ministèredes Affaires

Économiques. Bruxelles: InstitutNational de Statistique, 1958, p. 522.

Em relação aos africanos que se destinavam ao Congo em busca de empregos ou

empreendimento, estes também vinham de diversas partes, principalmente das áreas

pertencentes à África Subsaariana. Este movimento migratório foi facilitado pela posição

geográfica do Congo, localizado na região central do continente, popularmente chamado de

12 Annuaire Statistique de la Belgique et du Congo Belge. Royame de Belgique. Ministère des Affaires

Économiques. Institut National de Statistique. Bruxelles, 1959, p.531. Disponível em: http://extranet.arch.be/fr/

8

“Coração da África”. Além disso, o Congo tem seu território cortado pelo Rio que dá nome ao

país, um dos principais canais de circulação do Continente, e faz fronteira com uma grande

quantidade de outros territórios. Esse contexto acabou levando milhares de congoleses de

várias sociedades para os centros urbanos à procura de trabalho assalariado nas minas,

fazendo dos centros urbanos espaços favoráveis ao florescimento de diversas manifestações

culturais de fundamental importância ao longo dos processos de lutas políticas em prol da

reconquista da independência política. Torna-se, dessa maneira, evidente a dimensão da

música urbana no ambiente colonial congolês e esse espaço como centro dinâmico de

irradiação de ideias e práticas. Ou seja, sublinhando a pluralidade, o mosaico de experiências,

o fervor de culturas e a afluência de energias ali presentes.

Espaços de sociabilidades e estabelecimento da rumba congolesa

O cenário colonial de aumento populacional e da relativa dinamização econômica, foi

seguido também por um forte estímulo ao crescimento dos meios de comunicação já

existentes e ao surgimento de novas experiências com conseqüente incremento da difusão de

informações e o surgimento de estabelecimentos e espaços de sociabilidades. Tendo em vista

que aos africanos natos não eram permitidos residir em áreas destinadas aos considerados

“brancos”, evidenciamos a importância do irreversível processo de surgimento de uma elite

congolesa estimulou novas interações na colônia e estimulou a criação de ambientes de lazer,

de encontros e de socialização entre pessoas das mais diversas nacionalidades, raça e grupos

sociais. Esses lugares e, sobretudo, as criações artísticas neles expressas tornaram-se de

fundamental importância na florescente sociedade congolesa devido ao papel político que

estas manifestações encerravam. Foram nesses ambientes de transformação social e

florescimento cultural que diversas manifestações urbanas, como a rumba, começaram a se

popularizar em várias regiões da África. Dessa maneira, juntamente da música, neste período,

outras expressões artísticas e culturais se propagaram e ganharam maior espaço, como a

9

poesia e o teatro, destacando-se nessa área, entre outros, os intelectuais Aimé Cesaire, David

Diop, Bernard Dadié, Lamine Diakhaté .13

A presença das rádios, o fortalecimento da indústria fonográfica e a abertura dos

primeiros estúdios de gravação pelos gregos14 e os locais de eventos e entretenimento, como

bares, clubes e casas de festas, onde se divulgavam as músicas populares foram determinantes

para a popularização das canções, de seus autores, intérpretes e bandas, possibilitando ainda a

ampliação do poder de comunicação da música nesse contexto colonial congolês. Esses

ambientes de pujante movimentação cultural e de afluência de experiências proporcionadas

pela diversidade de sujeitos que ali transitavam, possibilitaram ao músico popular sobreviver

e divulgar suas atividades musicais e, principalmente, dialogar com as classes populares.

Apoiando-se nos argumentos da antropóloga Karin Barber, apontamos que o emergir de

estilos musicais populares em regiões africanas, tal como ocorreu com a rumba no Congo

belga, foram impulsionadas com as trocas culturais e transformações sociais as quais os

territórios coloniais estavam submetidos diante do movimento urbano e político de crítica ao

colonialismo. Ou seja, as diversas manifestações culturais e artes populares15 foram

impulsionadas pelas novidades e alterações que se colocaram juntamente ao processo

colonial. Sobre o contexto de mudanças no qual se afloram as músicas populares e seu caráter

arrojado Barber enfatiza que:

O contexto que explica o emergir deste vasto campo de novas formas de arte

são as transformações sociais drásticas. São artes que parecem revelar uma

preocupação com as transformações sociais, preocupação essa que constitui

efectivamente a sua principal característica. Não se limitam a sugerir

inovações ou a servir-se ocasionalmente de elementos inovadores: é a

mudança que lhes dá energia, é a partir dela que se formam, e é ela que,

muitas vezes conscientemente, constitui o seu tema (BARBER, 1987, p.14).

13 M’BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Tomo II (Do século XIX aos nossos dias).

Tradução de Manuel Resende, revisada academicamente por Daniela Moreau, Valdemir Zamparoni e Bruno

Pessoti. Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas, 2011, p.685. 14 Em importante obra sobe a história da Rumba congolesa nos Congos, Gary Stewart destaca o papel das

gravadoras Olympia, Ngoma, Opika e Loningisa nas décadas de 1940 e 1950 e a relevante participação dos

gregos no processo de popularização da rumba congolesa através da atuação grega como trabalhadores no setor

mineiro, agrícola e como empreendedores musicais. STEWART, Gary. Rumba on the river: a history of the

popular musico of the two Congos. London/New York: Verso, 2000. 15 BARBER, Karin. “Popular Arts in Africa”, African Studies Review, vol. 30, nº 3 (Sep., 1987).

10

Segundo a pesquisadora, as expressões culturais e artísticas coloniais e pós-coloniais,

consideradas por ela como artes populares, têm em sua especificidade o novo oriundo das

transformações sociais proporcionadas pelo processo colonial, ou seja, constituem-se a partir

das inovações sociais e de elementos resultantes das interações entre as culturas nativas e as

estrangeiras. Da mesma forma, tal como outras expressões artísticas populares, a rumba

congolesa, afamado estilo de música urbana e moderna africana, teve sua expansão no cenário

dos espaços urbanos coloniais do século XX. A música, as danças e os esportes eram espaços

de diálogos onde era constante a interação entre congoleses e europeus, a título de exemplo

pode-se destacar bandas compostas por congoleses e belgas que tocavam em clubes e bares da

época, além de times de futebol também formados por nativos e estrangeiros, os quais podem

ser observados em registros imagéticos, como fotos e vídeos da época. Estes ambientes são

espaços políticos na medida em que a integração entre colonizadores e colonizados já

constituía por si só uma superação das rígidas barreiras raciais, jurídicas, ideológicas impostas

pelo regime colonial.

Nesse sentido, pode-se considerar a rumba congolesa, a exemplo de Elikia M’Bokolo,

“como um dos pólos mais ativos das práticas sociais heterogêneas que interpelam a sociedade

global e uma das linguagens mais fecundas para exprimir as múltiplas aspirações das classes

populares”16 e, como ressalta Karin Barber, as cidades como agentes de transformação social,

consideradas motores do desenvolvimento da África colonial. 17 A rumba possibilitou a

superação de fronteiras ditas raciais e étnicas, constituindo-se a partir da aglutinação de várias

experiências com proposições universalistas. Ela pode ser percebida como um dos pilares

fundantes da identidade nacional, buscando colocar o país nos trilhos da democracia, se

entendermos por democracia a superação de clivagens de ordem étnica para que múltiplas

práticas culturais tenham o mesmo respeito.

Desse modo, o período que constitui o recorte temporal do presente texto retrata o

momento em que o Continente passava por uma grande ebulição artística e cultural, permeada

por elementos multidimensionais de reivindicação, de modernidade, de tradição, de

16 M’BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Tomo II (Do século XIX aos nossos dias).

Tradução de Manuel Resende, revisada academicamente por Daniela Moreau, Valdemir Zamparoni e Bruno

Pessoti. Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas, 2011, p. 595. 17 BARBER, Karin. “Popular Arts in Africa”, African Studies Review, vol. 30, nº 3 (Sep. 1987).

11

reinvenções e de justaposições culturais, religiosas e identitárias. Assim, a notabilidade da

rumba congolesa nos centros urbanos e industriais do Congo e em outras regiões da África

traz consigo a euforia do processo de suplantação das heranças coloniais e de formação de um

novo Estado-nação. Essas músicas circulavam no cotidiano das cidades através do rádio, de

shows, de apresentações fechadas ou públicas e também em comemorações políticas e tratava

de temas amorosos e do dia-a-dia das pessoas comuns.

A Rumba Congolesa e seu papel na sociedade colonial

A rumba é poesia, inteligência, expressão coletiva que transcende os limites

da marginalidade, porque é euforia cubana desde o seu início até os dias

atuais (Ulises Mora,2004).

De acordo com a Enciclopédia de Cultura popular latina, a Rumba foi documentada pela

primeira vez em 1850 e teria surgido como resultado do comércio colonial de africanos

escravizados e da troca cultural cotidiana entre estes africanos e seus descendentes com a

cultura espanhola dominante. A enciclopédia destaca ainda uma forte conexão direta da

Rumba com a cultura Bantu da região do Delta do Rio Congo, combinando também

elementos da cultura Ganga de Serra Leoa, da Costa do Marfim e do norte da Libéria.18 Esses

elementos destacam, assim, a intensa relação cultural entre o Caribe, especialmente Cuba e os

países do Continente Africano. Conhecer suas origens auxilia no entendimento de como a

rumba se tornou um estilo musical de tamanha popularidade e aceitação em vários países da

África. Ou seja, mais que uma vertente musical, a rumba foi inspiração, comunicação e

expressividade no cotidiano colonial africano.

O estilo musical que marcou a cultura cubana carrega em seu ritmo: a energia, a

ancestralidade, a luta, o afeto, a sabedoria e o gingado que representaram a trajetória da

cultura negra que circulou, e ainda circula, trocou, adaptou-se, resistiu e remodelou

sociedades e experiências ao redor do globo. A rumba cativou o mundo ao longo de sua

18 Díaz, Roman, and Berta PalenzuelaJottar. 2004. Rumba. In Encyclopediaof Latino Popular Culture. Vol. II,

M-Z, ed. Cordelia Chávez Candelaria. Westport, CT: Greenwood Press, p. Díaz, Roman, and Berta Palenzuela

Jottar. 2004. Rumba. In: Encyclopedia of Latino Popular Culture. Vol. II, M-Z, ed. Cordelia Chávez Candelaria.

Westport, CT: Greenwood Press, p.712.

12

história. Popularizando-se durante o século XX, expandiu suas interpretações e tornou-se um

dos estilos musicais mais escutados da época. O tcha-tcha-tcha envolvente dos chocalhos das

maracas também foi adotado por artistas congoleses que lá do outro lado do Atlântico,

apoderaram-se do ritmo. Foi acrescentado um tambor aqui, outro arranjo ali, refinando alguns

tons, mantendo outros, adaptando-se assim às culturas, às experiências e preferências locais

próprias. Assim, foi a partir de um emaranhado cultural, de justaposição e combinação de

arranjos, harmonias e instrumentos, resultante de um ir e vir de influências, que surgiu no

Congo o que conhecemos hoje como a rumba congolesa, a vertente da música afro-cubana

que acalorou a África dos anos 50 e 60.

Como já destacado anteriormente, esse estilo musical teve seu nascimento nas áreas

urbanas da colônia congolesa. O período da colonização belga, que se iniciou com a atuação

de Leopoldo II em 1885 até 1960, já sob administração do governo belga, é observado como

fase de grande proliferação de artes populares e espaços recreativos que se expandiram

concomitantemente ao aumento da massa de trabalhadores atraídos aos centros urbanos pelas

indústrias estrangeiras, principalmente, as relacionadas à exploração mineral. Dessa forma, os

apreciadores, cantores e cantoras, e espaços de difusão da rumba congolesa tinham seu

ambiente ideal no fervor citadino do comércio, do trabalho, no fluxo intenso de pessoas, de

informações, de comunicação e de das culturas. Sua circulação através das rádios, os shows

nos bares dos centros das cidades e, sua harmonia sonora que misturava tons tradicionais com

arranjos modernos era própria de uma sociedade que se encontrava em movimento, na

dinâmica típica dos encontros, trocas e tensões entre os diferentes indivíduos e experiências

que viviam e resistiam no meio urbano colonial.

Música muito apreciada nas mais diversas regiões da África, a rumba congolesa teve

como principais regiões percussoras os dois Congos, conhecidos hoje como Congo-Kinshasa

e Congo-Brazzaville. É interessante destacar que esse movimento musical nascido nos centros

urbanos dos Congos também foi divulgado como Rumba Lingala, Música Moderna Zairense,

Música Congolesa entre outras, recebendo diversos nomes por onde passava e ao longo de sua

trajetória. De acordo com o etnomusicólogo americano, Jesse Samba, o qual utiliza o termo

“Rumba Lingala”, esse estilo musical, nas décadas seguintes ao seu estabelecimento, também

recebeu nomes como: Rumba Rock e Música Congolesa Moderna de Guitarra. A alguns

13

desses termos o autor faz duras crítica. Por exemplo, para ele, o termo Rock utilizado na

primeira denominação possui forte referência às músicas norte americana e inglesa. Em

relação às outras denominações Jesse Samba novamente enfatiza sua crítica dizendo que as

designações restringem o gênero musical aos Congos, limitando esse estilo, que teve grande

difusão e popularidade em diversas outras regiões da África e até mesmo fora deste

continente, a uma determinada região. Mesmo considerando válidas as observações de Jesse

Samba aqui será mantida a denominação inicial, “rumba congolesa” por entender que a

denominação “congolesa” não descaracteriza o universalismo que ela adquiriu ao longo de

sua história. O termo defendido por Samba, que seria “Rumba Lingala”, não encontra

consenso pelo fato de que diversas canções foram compostas contendo termos oriundos de

outras línguas, africanas ou não, como kikongo, francês, espanhol entre outras. Além de todas

estas questões, podemos recorrer ao termo “congolesa” pela observação do surgimento deste

estilo musical nas regiões cujas denominações se apropriam da palavra “Congo”.

Compreendemos que o termo não reduz seu caráter cosmopolita, mas sim guarda em si a

interculturalidade presente na sociedade congolesa, o fluxo, circulação e ebulição de cultura,

pessoas, pensamentos que existia na sociedade colonial congolesa e, consequentemente,

várias regiões da África.19

Assim sendo, verifica-se aqui a relevância de compreender o valor social da rumba

congolesa para a sociedade colonial do Congo. Esse estilo de música, além de representar

uma forma de identidade, expressava a modernidade e um cosmopolitismo urbano apreciado e

acessível à sociedade congolesa daquele período. O antropólogo Bob White em uma análise, a

partir de uma perspectiva histórica sobre a importância política e social da música afro-cubana

na sociedade congolesa destaca que a rumba congolesa reproduz a modernidade, bem como o

cosmopolitismo urbano dessa sociedade naquele período. De acordo com Bob White, a

música popular congolesa constituiu-se a partir de três fontes primárias de inspiração: a

música ocidental (a partir das canções de igreja, bem como baladas românticas europeias e

tradições de salão de festas), a música tradicional africana e a música afrocubana. Para ele, foi

19 Não queremos aqui destacar que o período colonial inaugurou essa circulação cultural já que é sabido que

antes mesmo da presença efetiva do sistema colonial era corrente o comércio, troca e diálogos dentro mesmo do

Continente Africano e com países fora dele. Entretanto, é pertinente destacar a região estudada como uma área

não isolada e sem conexões globais.

14

o universalismo peculiar da rumba congolesa que proporcionou a esse estilo de música grande

prestígio dentro e fora do continente africano, evidenciando que:

My central argument is that AfroCuban music became popular in the Congo

not only because it retained formal elements of “traditional” African

musical performance, but also because it stood for a form of urban

cosmopolitanism that was more accessible - and ultimately more pleasurable

- than the various models of European cosmopolitanism which circulated in

the Belgian colonies in Africa (WHITE, 2002, p.663).

Outro ponto enfatizado pelo pesquisador e também valorizado neste trabalho é a

representação de modernidade contida nessas canções afrocubanas. Analisando essa questão a

partir do contexto histórico deve-se considerar que o maior período de popularização e

difusão das rumbas congolesas se deu diante de um cenário de renovação na África, ilustrados

pelos movimentos de libertação e de estabelecimento de Estados-nação. Ou seja, num

ambiente de mudanças, reconstrução e novidades. Em conjunto, observa-se também a

proposta musical desse estilo que se afastava dos ritmos já existentes no período pré-colonial,

sem negligenciar os aspectos tradicionais e aproximava-se de tendências latinas e européias

alinhando-se a modernidade em torno de uma identidade coletiva urbana congolesa que se

fortalecia. Somando-se a esses elementos, ressalta-se também a existência do mercado e

indústria fonográfica, já estabelecida em meados do século XX, que difundia e inovava esse

segmento musical. Segundo Bob White:

The ‘modernity’ of Congolese popular dance music was marked not only by

its accoutrements (electric instruments, expensive European cars, cellular

phones and international high fashion), but also by the degree of its

commercialization and by the way that it represents (or according to some

compromises) Congolese national identity (WHITE, 2002, p.664).

Nesse sentido, a modernidade atrelada à identidade nacional congolesa era divulgada

através das letras das canções, sonoridade, instrumentos adotados, forma de cantar, estilo das

roupas usadas pelos artistas e pelo jeito de dançar e seus comportamentos. A música

afrocubana deve ser analisada, então, como um instrumento social que ao mesmo tempo em

que desempenhou papel de difusor da identidade congolesa e da cidadania moderna, também

15

movimentou, principalmente nos meios urbanos, ideais de união, pensamento igualmente

sustentado pelo pan-africanismo defendido pelos líderes políticos Lumumba e Nkrumah.

Com todas as suas peculiares características de agregação social, a Rumba congolesa

teria se tornado um pertinente instrumento de auxilio no movimento anticolonial, Jesse Samba

destaca que apesar de não ter surgido como uma música cuja finalidade direta estivesse

vinculada a crítica ao sistema colonial, o contexto em que este estilo musical foi concebido,

sua difusão e, principalmente, sua preocupação em unir os diferentes povos congoleses em

oposição a uma segregação provocada pela colonização, fizeram da rumba congolesa o

símbolo natural de uma era em que as nações africanas estavam passando por profundas

transformações de ordem política e social. Assim, compreende-se que a forma com que essa

musica popular se propagou, se comunicou com um público popular, jovem e urbano num

contexto político e social de insatisfação com a colonização, contribui para a formação de

uma rumba congolesa que se incorporava também à crítica social. Por constituir-se como uma

expressão cultural popular apreciada na vida cotidiana, em espaços de sociabilidade e

entretenimento, as rumbas congolesas abordavam questões do cotidiano das pessoas comuns,

as quais compartilhavam de experiências costumeiras que vão desde temas como dilemas no

campo afetivos, na família e nas relações no trabalho, até as questões sociais e políticas mais

gerais.

Discorrendo ainda sobre a questão da consolidação da identidade congolesa através da

música, Jesse Samba, expande sua análise sobre o que seria essa identidade. O autor considera

a rumba como um recurso de busca por uma identidade congolesa num sentido amplo de

nacionalidade, não limitado à simples questão territorial referente aos países, mas sim de

pertencimento e identificação de um grupo de iguais, a um povo. Para ele, os elementos de

formação da identidade congolesa se encontravam presentes e difundidos pela rumba

congolesa e não por elementos como cor, etnia, região entre outros. Acredita-se que essa

questão também deve ser compreendida devido à pluralidade de grupos que haviam na então

região chamada de Congo Belga. O estudioso destaca que:

Congolese identity as exemplified by this music was not defined by any of the

common social divisors such as language group, geographical region,

lineage, skin color, religion, age, career, financial standing, political belief

or any other socially constructed characteristic. Congolese identity was

16

defined by the themes explored by the singers and the music composed by the

musicians. Whosoever related to Rumba Lingala joined the new nation.

What made this nationalist movement radical for communities in modern

times was the following: Its inclusivity required members of the expanding

Congolese nation simply to unify, not necessarily around a specific, central

political issue (WHEELER, 1999, p.6).

De acordo com o historiador congolês Eilikia M’Bokolo, a música reconhecida

atualmente por música moderna africana constitui o exemplo perfeito de um produto cultural

de massas, associado às sociabilidades particulares."20 O pesquisador enfatiza o caráter

dançante, político e sincrético de sua formação que seria resultante de influências de

elementos europeus, americanos e africanos. Entretanto, a rumba congolesa se sobressai

dentre outros estilos musicais afro-americanos, pois “foi desde seu início coisa de classes

populares atraídas para as cidades coloniais pela industrialização"21. Portanto, a notoriedade

desse estilo musical constitui-se pela sua grande circulação nas classes populares, por tratar de

temas cotidianos, pela utilização do lingala como principal idioma e por sua conexão aos

preceitos pan-africanistas. Além de ser cantada frequentemente nessa língua, sua composição

rítmica constituída de sortidas influências culturais e a ampla abordagem de temas foi o que

permitiu à rumba congolesa sua popularidade e difusão em várias regiões da África e também

fora dela.

Como levantado anteriormente, a adoção do lingala como principal idioma nas rumbas

congolesas acentua sua função comunicativa e perfil cosmopolita, tendo em vista que grande

parte dos habitantes que residiam naquela região da África, ou no entorno, como Angola e

Congo-Brazzavile, conheciam a língua ou tinham algum contato com ela. Apesar disso, suas

letras muitas vezes também vinham acompanhadas de palavras ou frases em francês, kikongo,

espanhol ou algum outro idioma, dependendo da banda ou artista. A escolha desse idioma

africano também ressalta a preocupação de interlocução direcionada aos africanos, porém não

restrito a esses, já que muitos europeus também conheciam a língua.

20 M’BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Tomo II (Do século XIX aos nossos dias).

Tradução de Manuel Resende, revisada academicamente por Daniela Moreau, Valdemir Zamparoni e Bruno

Pessoti. Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas, 2011, p.692. 21 Idem, p.693.

17

A experiência da libertação através da canção “Independance tcha-tcha”

O tempo de festejar havia chegado. Em todo lugar ouvia-se o refrão:

Indépendance tcha-tcha toziu e

O Kimpwanza tcha-tcha tubakidi O Table Ronde tcha-tcha ba gagner o

O Dipanda tcha-tcha tozui e (Grand Kallé,1960)

A libertação do Congo estava sendo celebrada. E o entusiasmo com a autonomia foi

musicado, cantado e dançado por aqueles que idealizaram o feito. No dia 27 de janeiro de

1960, em torno de uma mesa redonda, a qual simbolizava a posição de igualdade entre os

presentes naquela conferência, após inúmeras reuniões entre delegados congoleses e belgas,

foi estabelecido o dia da independência. A data escolhida cunharia o tão esperado dia, o

momento em que se conquistaria a libertação dos povos congoleses da subjugação belga.

Assim, o dia 30 de junho seria o dia de anunciar: “Vive l'lndépendance et l'Unité Africaine !

Vive le Congo indépendant et souverain !”22

Foi nesse contexto de euforia, de celebração de um novo tempo que se iniciaria e da

emancipação alcançada que Grand Kallé 23 e sua banda African Jazz 24 lançaram a canção

Independance tcha-tcha. O próprio nome da música já traz ao público sua mensagem. Esta

canção exaltou o feito político e difundiu o sentimento de altivez entre os diversos grupos

sociais, principalmente os populares. De acordo com Hauke Dorsch, esta música foi o

primeiro hit pan-africano, o qual expressou a euforia da oficialização da independência e o

22 Frases proclamadas por Patrice Lumumba, o qual foi bastante aclamado por grande parte da população e

mídias do período, em sua fala como Primeiro Ministro do Congo durante a cerimônia de Oficialização a

Independência, para finalizar seu discurso e convocar a população para comemorar a conquista. 23 Joseph Athanase Tshamala Kabasele, conhecido no meio musical como Le Grand Kallé, foi um famoso cantor

congolês, fundador do grupo de rumba congolesa L’African Jazz, e que se popularizou pela sua atuação na

chamada música moderna congolesa. 24 Fundada em 1953 por Joseph Kabesele, L’african Jazz teve seu auge na década de 1960. Popularizou,

principalmente com as músicas “Table ronde” e “Independance cha cha” , feitas em comemoração a

oficialização da independência no Congo em 1960.Teve como principais membros: Alex Mayukuta, André

"Damoiseau" Kambite, Bombenga, Brazzos, Casimir "Casino" Mutshipule, Charlie (108), Dechaud, Dr. Nico,

Edouard Lutula, Eyenga Moseka, Jean "Rolly" Nsita, Joseph Kabasele, Le Grand Kalle, Manu Dibango, Mathieu

Kuka, Orchestre African Jazz, Pierrot (8), Tabu Ley Rochereau.

18

fim do sistema colonial no território congolês.25 Contrariamente ao que se costuma pensar, é

importante salientar que a independência do Congo iniciou também o processo de

humanização do povo belga. Ela, além de trazer uma mensagem comemorativa da conquista

da libertação, inspirou tempos melhores e propagou o desejo de construção de uma nova fase.

É possível verificar esse discurso alisando a canção diante da conjuntura política e social de

ebulição de movimentos anticoloniais em que se insere, bem como o estudo da letra e dos

instrumentos utilizados, de seu ritmo e, sobretudo, pela pesquisa do perfil da banda que a

canta, elementos estes cuja análise ainda se encontra em processo de aprofundamento. Sendo

assim, este texto trabalha esta canção sobre a independência a fim de iluminar alguns aspectos

da rumba congolesa, bem como analisar seu papel dentro da sociedade do Congo durante

período colonial e os espaços e contextos em que esse estilo musical se estabeleceu.

Sobre o teor das músicas urbanas, o historiador Bogumil Jewsiewicki destaca que “A

força das letras das canções urbanas está em chamar a atenção das pessoas para exemplos,

casos, experiências, e desafios que elas enfrentam.” 26 Nesse sentido, essas músicas tocadas

em grande parte sob ritmo de rumba representavam a vivência dessa sociedade urbana

congolesa e suas experiências no caminho percorrido para alcançar a modernidade. Através

da canção aqui analisada podemos também verificar como esse aspecto da vivência citadina

estava presente. A Indépendance tcha-tcha relata a ocasião da Conferência da Table Ronde e

dentre outros elementos, ela enfatiza o festejar de um desafio conquistado. Ensaia sobre a

independência e simboliza o desejo de união, conciliação política e de reconstrução identitária

para a nova sociedade independente e moderna para a qual se buscava legitimar a soberania.

No decorrer da música são articulados lideranças e partidos representados na Table Ronde,

tais como: Alliance dês Bakongo-ABAKO27, Parti National du Progrés- P.N.P.28, Association

25 Dorsch, Hauke “Indépendance Cha Cha”: African Pop Music since the Independence Era, in: Africa

Spectrum (2010), 45, 3.

26 JEWSIEWICKI, Bogumil. Debates sobre Modernidade e Relações de Gênero na Cultura Urbana Pós-Colonial

Congolesa. In: AARAO REIS, Daniel; MATTOS, Hebe; OLIVEIRA, João Pacheco de et. al. (orgs.). Tradições e

Modernidades. Rio de Janeiro: FGV, 2010, p.118. 27No período da independência era liderado por Joseph Kasa-Vubu. Era Federalista e ganhou 133 dos 170

assentos nas eleições municipais de Dezembro de 1957, em Lépoldville. A ABAKO ganhou conotação partidária

em 1956, mas foi criada como associação cultural em 1950 e fundado como partido em 1956. NASCIMENTO,

Evelyn Rosa do. Entre o silêncio e o Reconhecimento: o processo de independência e os movimentos libertação

no Congo-RDC (1956-1960). Dissertação de Mestrado. Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio de

Janeiro, 2015, p.54.

19

des Ressortissants Du Haut-Congo-ASSORECO29, Confédération des Associations Tribales

du Katanga- CONAKAT30, Union de la Jeunesse du Kongo- UJEKO31, Moviment National

du Congo-M.N.C.32 e Alliance des Bayanzi-ABAZI. Com a finalidade de expressar a

superação de diferenças étnicas, de pensamento e posicionamento político, a letra traz

também a harmonia entre líderes políticos congoleses envolvidos na Conferência dentre eles

Lumumba, Albert Kalonji, Jean Bolikango, Joseph Kasa-Vubu, Moise Tshombe e Cléophas

Kamitatu. Isto posto, a integração desses diferentes partidos e lideranças tinha por finalidade

divulgar a comunhão de partidos políticos e seus líderes que estariam renunciando a suas

divergências em prol da implantação do país recém-nascido. Outro aspecto que pode ser

destacado que se encontra vinculado ao ponto anterior é a divulgação e mesmo apresentação

esses partidos e líderes à população. A presença desses sujeitos anuncia o envolvimento deles

no feito, divulga a agência congolesa e os promove como personalidades condutoras do novo

cenário político. Desse modo, sua composição literária é marcada basicamente por elementos

políticos existentes no cotidiano daquele período cuja finalidade pública pode ser claramente

observada. Comemora, populariza e estimula a libertação colonial. A composição, além disso,

conduz mensagem difusora de orgulho e esperança na conjuntura que se formava.

No que concerne a sua forma pode-se enfatizar a repetição do termo “independance” e

a reiteração do sentido de união, o que resulta num canto fluido e atrativo composto por letra

não extensa, linguagem simples, direta e acessível. Outro aspecto observado é uso de

onomatopéias. As palavras “tcha-tcha” são recorrentes no final das frases que constituem o

refrão para reproduzir o som do agitar das maracas, instrumento musical bem característico

desse gênero que lembra um chocalho, conferindo balanço e cadência de movimentos

sincronicamente leves e dançantes.

28 Considerado um partido moderado, pois apoiava os interesses da administração belga, o P.N.P. foi fundado em

11 de Novembro de 1959, Coquilhatville e tinha como líder Paul Bolya. Idem. 29 Liderado por Jean Bolikango a ASSORECO era conhecido como Aliança dos Bangala. Tornou-se depois o

partido PUNA (Parti de l'Unite Nationale). Idem. 30 Fundada em 11 de Julho de 1959, em Katanga e presidenciada por Moise Tshombe. O partido caracterizava-se

por defender a emancipação da Província de Katanga do restante do Congo. Seu posicionamento era federalista e

tinha como lema a autenticidade Katanguesa para a defesa de seus interesses. Idem. 31 Partido delegado na ocasião da Table Ronde por Emmanuel Nzuzi. 32 Tinha como principal liderança Patrice Lumumba, apesar de suas ramificações. Foi fundado em 10 de Outubro

de 1958, Leopoldville que hoje é a capital Kinshasa. Defensor unidade congolesa e contrário às tendências de

balcanização, foi dividido em julho de 1959 entre a tendência unitarista de Lumumba (Província Oriental) e a

tendência federalista de Kalonji-Ileo-NgalulaAdoula (Balubadu Kasai). Idem.

20

Esses elementos referentes ao seu formato, letra e cadência integram também a

popularidade dessa melodia e de seu estilo musical, os quais conseguem ser observados pelo

leitor através do registro completo exposto abaixo33:

Independance tcha-tcha (Grand Kallé e l’African Jazz)

33 Música de Grand Kallé e African Jazz, Independance tcha-tcha (Grand Kallé e l’African Jazz). Neste link

você pode acessar o vídeo da música e acompanhá-la a partir da letra aqui já disponibilizada:

https://www.youtube.com/watch?v=reModLpEloc&spfreload=1

21

Versão original:

Indépendancetcha-tchatoziu e

O Kimpwanzatcha-tchatubakidi

O Table Ronde tcha-tchabagagner o

O Dipandatcha-tchatozui e

ASSORECO na ABAKO bayokani moto

moko

Na CONAKAT na Cartel balingani na

frontcommun

Bolikango, Kasa-Vubu

Mpe Lumumba naKalonji

Bolya, Tshombe, Kamitatu

O Essandja, MbutaKanza ...

Indépendancetcha-tchatozui e

Na M.N.C. na UGECO

ABAZI na P.N.P.

Basepela(?) African-Jazz

Na Table Ronde mpebagagner

Indépendance [...]

Tradução:

Independência tcha-tcha nós conquistamos

Independência tcha-tcha chegamos lá

Na TableRondetcha-tcha eles ganharam

Independência tcha-tcha nós conquistamos

ASSORECO e ABAKO como se fossem um

CONAKAT e Cartel [Katanga] se amam em

Frente comum

Bolikango, Kasa-Vubu

E Lumumba com Kalonji

Bolya ,Tshombe, Kamitatu

O Essandja, honrosa Kanza ...

Independência cha-cha nós conquistamos

MNC para UEGO

ABAZI para P.N.P.

Comemoramos com African Jazz

E na Table Ronde eles ganharam.

Independência [...] Refrão

Assim, a música aqui é verificada como meio de multiplicar e difundir símbolos

nacionais, tal como reforçar o sentimento de nascimento de um novo país. Dentro dessa

perspectiva, M’Bokolo evidencia o importante papel social que a rumba congolesa

desempenhou como meio de manifestação política durante o período colonial do Congo:

O desenvolvimento da rumba corresponde também a uma necessidade de

autonomia, ou inclusive a uma vontade de resistência em face aos poderes

coloniais, que tinham como política, já desde antes da Primeira Guerra,

orientar e controlar os lazeres dos negros (M’BOKOLO, 2011, p.695).

22

Dentro dessa análise, evidenciamos a importância de compreender a dimensão da

música urbana na África e o papel da rumba congolesa como instrumento social de

exteriorização de um anseio por liberdade, renovação, aglutinação e de expressão crítica ao

modelo colonial, o qual era o maior repressor dos hábitos, costumes e práticas dos locais,

considerando-as atrasadas e primitivas.

Considerações finais

A música Indépendance tcha-tcha ainda hoje é vista como música-hino da

independência do Congo e da África. O fato talvez possa ser explicado devido ao não

desenvolvimento do projeto político nacional defendido por Lumumba de união dos povos e

relacionado aos sucessivos golpes e intervenções estrangeiras sofridas pelo país desde que se

tornou independente.

Não obstante, a partir das questões levantadas e dos elementos analisados ao longo

deste trabalho, observamos que o ritmo, letras, melodia dentre outros elementos que compõem

a música, questionam, poetizam, denunciam, traduzem e veiculam sobre a rotina, os hábitos e

os costumes compartilhados pelos sujeitos comuns da sociedade urbana e, no que concerne ao

nosso trabalho, os estratos mais baixos da estrutura social, ou seja, aqueles sujeitos menos

escolarizados, trabalhadores africanos, ou de outros lugares, que viviam na colônia congolesa.

Ou seja, a rumba congolesa e seu inerente potencial de comunicação, para os mais variados

círculos sociais, se revela como um importante objeto de pesquisa para auxiliar na

compreensão dos fatores sociais e culturais que cooperaram na promoção de sentimentos de

libertação, da descolonização mental e união dos povos africanos. A música popular no

Congo realçou a pluralidade presente em sua sociedade, valorizando essa profusão como uma

virtude e não mais como um problema para formação de um Estado. Tendo isto posto,

verificamos a rumba congolesa como espaço de criação artística que buscou ultrapassar as

fronteiras étnicas, a qual ao mesmo tempo constitui-se como elemento fundamental para

construção de uma identidade nacional e de implantação de uma urbanidade baseada no

respeito às contribuições culturais diversas.

23

Documentos:

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Affaires Économiques. Institut National de Statistique. Bruxelles, 1958.

Entrevista com Ulises Mora, coreógrafo e presidente do projeto cultural internacional

Tymbalaye, sobre rumba, poesia e ancestralidade latino-americana. Disponível em:

http://www.granma.cu/cultura/2016-02-16/la-rumba-es-tambien-poesia-16-02-2016-15-02-33

Les discours prononcés par le Roi Baudouin Ier,le Président Joseph Kasa-Vubu et le Premier

Ministre Patrice-Emery Lumumba lors de la cérémonie de l’indépendance du Congo (30 juin

1960) à Léopoldville (actuellement Kinshasa). Disponível em: http://www.kongo-

kinshasa.de/dokumente/lekture/disc_indep.pdf (acesso em 05/06/2017)

Música “Independance tcha-tcha” de Grand Kallé e African Jazz. (1960). Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=reModLpEloc&spfreload=1 (acesso em 06/06/2017)

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